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INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

2017
* Até o Informativo 887

DIREITO CONSTITUCIONAL
Organizado por assunto

Sumário
DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................................................................. 1
Poder Judiciário ............................................................................................................................. 2
Controle de Constitucionalidade ................................................................................................ 3
ADPF ........................................................................................................................................... 18
Ministério Público ..................................................................................................................... 23
Conselho Nacional de Justiça........................................................................................................ 24
Tribunal de Contas ..................................................................................................................... 30
Direito de Resposta ................................................................................................................... 37
Competências Legislativas ......................................................................................................... 38
Defensoria Pública...................................................................................................................... 44
Direito à Informação .................................................................................................................. 45
Medidas Provisórias.................................................................................................................... 46
Nacionalidade .............................................................................................................................. 47
Direito à Educação ..................................................................................................................... 50
Poder Executivo.......................................................................................................................... 56
Poder Legislativo ........................................................................................................................ 65
Imunidade Parlamentar .............................................................................................................. 67
Cotas Raciais ................................................................................................................................ 71
Medidas Provisórias .................................................................................................................... 74
Organização do Estado .............................................................................................................. 75
Conselho Nacional do Ministério Público .............................................................................. 76
Exercício Profissional................................................................................................................. 77
Sigilo Bancário ............................................................................................................................. 79
Comunicação Social.................................................................................................................... 80
Saúde ............................................................................................................................................. 87

Poder Judiciário
Informativo nº 851
(Plenário)
Direito Constitucional - Magistratura. Resolução e cargos de direção de tribunal de
justiça
O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta para
declarar a inconstitucionalidade do art. 3º da Resolução TJ/TP/RJ 1/2014 do Plenário do
Tribunal de Justiça do Rio Janeiro, que dispõe sobre regras de processo eleitoral no Poder
Judiciário estadual.
O Colegiado entendeu que a norma impugnada viola o art. 93, ―caput‖, da
Constituição, segundo o qual a regulamentação da matéria afeta à elegibilidade para os
órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei complementar de iniciativa do Supremo
Tribunal Federal.
Considerou que, ao estabelecer a possibilidade de ―o Desembargador ser
novamente eleito para o mesmo cargo, desde que observado o intervalo de dois
mandatos‖, o art. 3º da Resolução impugnada contraria as balizas estabelecidas no art. 102
da Lei Complementar 35/1979 (LOMAN), recepcionado pela Constituição, nos termos do
seu art. 931.
Asseverou que as disposições da LOMAN definem regime jurídico único para a
magistratura brasileira e viabilizam tratamento uniforme, válido em todo o território
nacional, para as questões intrínsecas ao Poder Judiciário, garantindo a necessária
independência para a devida prestação jurisdicional. Desde que não contrariem a

1LOMAN: Art. 102 - Os Tribunais, pela maioria dos seus membros efetivos, por votação secreta, elegerão
dentre seus Juízes mais antigos, em número correspondente ao dos cargos de direção, os titulares destes, com
mandato por dois anos, proibida a reeleição. Quem tiver exercido quaisquer cargos de direção por quatro
anos, ou o de Presidente, não figurará mais entre os elegíveis, até que se esgotem todos os nomes, na ordem
de antigüidade. É obrigatória a aceitação do cargo, salvo recusa manifestada e aceita antes da eleição.
CF/88: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)

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Constituição, essas normas devem ser obrigatoriamente observadas pelos tribunais ao
elaborarem seus regimentos internos e demais atos normativos.
Vencidos os ministros Luiz Fux, Dias Toffoli e Marco Aurélio, que julgavam o
pedido improcedente. O ministro Luiz Fux, com base na orientação fixada pelo Plenário
no julgamento da Rcl 13.115 MC-AgR/RS (DJE de 5.6.2013), reputou ser o art. 3º da
Resolução norma compatível com a Carta Magna, exarada com fulcro na competência
conferida aos tribunais pelo art. 96, I, ―a‖, da Lei Maior, resguardando-se, assim, a
autonomia administrativa da Corte estadual.
ADI 5310/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 14.12.2016. (ADI-5310)

Controle de Constitucionalidade
Informativo nº 851
(Plenário)
Direito Constitucional - Controle de Constitucionalidade. Depositário infiel de valor
pertencente à Fazenda: proporcionalidade e devido processo legal
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 8.866/1994, resultante da conversão da Medida Provisória
427/1994, reeditada pela Medida Provisória 449/1994. A lei impugnada trata do
depositário infiel de valor pertencente à Fazenda Pública.
De início, o Colegiado assinalou que, ainda que a ação tenha sido ajuizada,
originalmente, em face de medida provisória, não cabe falar em prejudicialidade do pedido.
Não há a convalidação de eventuais vícios existentes, razão pela qual permanece a
possibilidade do exercício do juízo de constitucionalidade. Na espécie, há continuidade
normativa entre o ato legislativo provisório e a lei que resulta de sua conversão.
No que diz respeito à análise dos requisitos de urgência e relevância da medida
provisória, no caso, não cabe ao Poder Judiciário examinar o atendimento desses requisitos.
Trata-se de situação tipicamente financeira e tributária, na qual deve prevalecer, em regra, o
juízo do administrador público.
Afastada a hipótese de abuso, deve-se adotar orientação já consolidada pelo STF e,
portanto, rejeitar a alegação de inconstitucionalidade por afronta ao art. 62 da CF.
Ademais, a medida provisória atacada foi posteriormente convertida em lei, ou seja,
recebeu a chancela do Poder Legislativo, titular do poder legiferante por excelência. Assim,
o reconhecimento da existência de inconstitucionalidade formal poderia ser interpretado
como ataque ao princípio da separação dos Poderes.

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No mérito, a Corte explicou que a lei: a) cria a ação de depósito fiscal, com o
escopo primordial de coagir, sob pena de prisão, o devedor a depositar o valor referente à
dívida na contestação, ou após a sentença, no prazo de 24 horas; b) chancela a possibilidade
de submeter o devedor a sofrer processo judicial de depósito, sem que tenha ocorrido a
finalização do processo administrativo fiscal; e c) dispõe sobre a proibição de, em se
tratando de coisas fungíveis, seguir-se o disposto sobre o mútuo (CC/1916, art. 1280;
CC/2002, art. 645), com a submissão do devedor a regime mais gravoso de pagamento, em
face dos postulados da proporcionalidade, do limite do direito de propriedade e do devido
processo legal.
Diante desse cenário, admitir que seja erigido à condição de ―depositário infiel
aquele que não entrega à Fazenda Pública o valor referido neste artigo, no termo e forma
fixados na legislação tributária ou previdenciária‖ (Lei 8.866/1994, art. 1º, § 2º) para o fim
de coagi-lo a pagar a dívida tributária ou previdenciária da União, dos Estados-Membros e
do Distrito Federal, cria situação mais onerosa do que a prevista no ordenamento jurídico
até então vigente, consistente nas garantias constitucionais e nas já previstas disposições do
CTN (CF, art. 5º, LV; e CTN, arts. 142, 201 e 204).
À época da edição da Medida Provisória 427/1994, já existia a Lei de Execução
Fiscal (Lei 6.830/1980) e a medida cautelar fiscal (Lei 8.397/1992), as quais são
instrumentos suficientes, adequados e proporcionais para a cobrança tributária.
Cumprindo o mandamento constitucional do devido processo legal, ambos os
dispositivos estipulam ritos e privilégios para a tutela da arrecadação ao erário e garantias ao
contribuinte.
Sem guardar qualquer correspondência com o postulado da proporcionalidade e
seus subprincípios da necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito, a lei
em questão possibilita o ajuizamento de demanda que coage ao depósito da quantia devida
com ou sem apresentação de contestação, sob pena de decretação de revelia.
E mais: a legislação questionada admite o ajuizamento de demanda judicial apenas
com base em ―declaração feita pela pessoa física ou jurídica, do valor descontado ou
recebido de terceiro, constante em folha de pagamento ou em qualquer outro documento
fixado na legislação tributária ou previdenciária, e não recolhido aos cofres públicos‖ (Lei
8.866/1994, art. 2º, I), sem que ocorra a finalização do processo administrativo fiscal, o que
fere postulados constitucionais (CF, art. 5º, LIV e LV).

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É corolário do princípio do devido processo legal que aos litigantes sejam
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a eles inerentes. O
postulado também se aplica aos processos que contenham relação jurídico-tributária, razão
pela qual aquela medida vulnera a garantia do contribuinte ao devido processo legal.
Nesse sentido, determinar que a contestação seja apresentada com o depósito do
numerário sob pena de revelia equivale a exigir depósito prévio como requisito de
admissibilidade de ação judicial, o que é manifestamente proibido pela Suprema Corte, nos
termos da Súmula Vinculante 28.
Ao contribuinte é facultado ajuizar ação de depósito em face do Fisco, a fim de
obter certidão negativa de débito (ou positiva com efeito de negativa). Porém, ele não pode
ser coagido a assim proceder, sob pena de vulneração ao princípio da proporcionalidade,
do contraditório e da ampla defesa. De outro lado, não há nenhuma lesão ao patrimônio
público, haja vista os instrumentos processuais à disposição da Fazenda Pública.
Demonstrado, pois, que, se o incremento da arrecadação era o resultado
almejado, o ordenamento jurídico já contém modos e formas de chegar a resultado
semelhante, quais sejam, ação de execução fiscal ou medida cautelar fiscal. Sob esse
aspecto, a lei em comento não guarda compatibilidade com a norma constitucional e
ainda apresenta outras incompatibilidades.
É cediço que há o dever fundamental de pagar tributos, entretanto os meios
escolhidos pelo Poder Público devem estar jungidos à necessidade da medida, à
adequação e à proporcionalidade, em sentido estrito, de restringir os meios de
adimplemento em caso de cobrança judicial, as quais não estão presentes na apreciação
da legislação ora questionada.
O Estado brasileiro baseia-se em receitas tributárias. Um texto constitucional
como o nosso, pródigo na concessão de direitos sociais e na promessa de prestações
estatais aos cidadãos, deve oferecer instrumentos suficientes para que possa fazer frente
às inevitáveis despesas que a efetivação dos direitos sociais requer. O tributo é esse
instrumento. Considera-se, portanto, a existência de um dever fundamental de pagar
impostos. No caso da Constituição, esse dever está expresso no § 1º do art. 145.
Existe inegável conflito entre os cidadãos e os agentes privados no sentido de
transferir para os demais concidadãos o ônus tributário, furtando-se, tanto quanto
possível, a tal encargo. Ao disciplinar de maneira isonômica, segundo a capacidade
econômica do contribuinte, a distribuição dos ônus tributários e ao operar por meio da

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fiscalização tributária para conferir efetividade a esse objetivo, o Estado está
verdadeiramente a prestar aos cidadãos a função de árbitro de um conflito entre agentes
privados.
Igualmente, o Colegiado observou a lei à luz do disposto no inciso LIV do art.
5º da Constituição. Constatou que o instrumento de agir em juízo, lá estabelecido,
restringe o cumprimento da obrigação pelo devedor tributário, quando determina
apenas o depósito da quantia em dinheiro, em claro desrespeito ao direito de
propriedade. Isso ocorre porque o diploma normativo em questão suprime, parcial ou
totalmente, posições jurídicas individuais e concretas do devedor vinculadas ao
pagamento da dívida tributária, que repercutem em sua propriedade, ante a existência
de rol normativo-legal que já disciplina a matéria com completude. A restrição acaba
conflitando com a existência da ação de execução fiscal, na qual coincide tal
possibilidade, aliada a outras.
A medida legislativa-processual criada não é adequada, tampouco necessária
para obtenção de fins legítimos, por restringir a propriedade do devedor e estabelecer
uma única forma de pagamento: depósito da quantia devida em dinheiro no prazo de 24
horas, situação flagrantemente inconstitucional.
A retirada das disposições relativas à prisão civil por dívidas acaba com o
escopo da legislação em comento. Afinal, não existe plausibilidade para manutenção da
tutela jurisdicional díspar com o ordenamento jurídico, a qual cria situação
desproporcional e, portanto, inconstitucional para o fim de otimizar a arrecadação
tributária.
Por fim, a possibilidade de manejo da ação de depósito fiscal está em franco
desuso, ante a existência de outros meios de que o Fisco se pode valer para cobrança de
seus créditos, tal como execução fiscal ou medida cautelar fiscal, fato que não afasta a
inconstitucionalidade.
No entanto, para evitar insegurança jurídica ou qualquer prejuízo ao erário em
relação aos prazos prescricionais, o Tribunal definiu que as ações de depósito fiscal em
curso deverão ser transformadas em ação de cobrança, de rito ordinário, com
oportunidade ao Poder Público para a sua adequação ou para requerer a sua extinção.
ADI 1055/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 15.12.2016. (ADI-1055)

Informativo nº 852
(Plenário)

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Repercussão Geral
ADI estadual e subsídio - 4
Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis
municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate
de normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de
terço de férias e décimo terceiro salário.
Com base nas teses acima fixadas, o Plenário, em conclusão e por maioria, deu
parcial provimento a recurso extraordinário para reformar o acórdão recorrido na parte em
que declarava a inconstitucionalidade dos arts. 6º e 7º da Lei 1.929/2008 do Município de
Alecrim/RS (―Art. 6º. Ao ensejo do gozo de férias anuais, o Prefeito Municipal perceberá o
subsídio acrescido de um terço. § 1º. O Vice-Prefeito terá direito à mesma vantagem se
tiver atividade permanente na Administração. § 2º. O gozo de férias correspondentes ao
último ano do mandato poderá ser antecipado para o segundo semestre daquele exercício.
Art. 7º. Além do subsídio mensal, o Prefeito e o Vice-Prefeito perceberão, em dezembro de
cada ano, na mesma data em que for pago o décimo terceiro dos servidores do Município,
uma quantia igual aos respectivos vigentes naquele mês. Parágrafo Único. Quando houver
pagamento da metade da remuneração de um mês aos servidores, a título de adiantamento
do décimo terceiro salário, na forma da Lei Municipal, igual tratamento será dado ao
Prefeito e ao Vice-Prefeito‖). Entretanto, o Colegiado manteve a declaração de
inconstitucionalidade do art. 4º [―Art. 4º. Será pago ao Prefeito Municipal, a título de
indenização, o valor mensal de R$ 2.200,00 (dois mil e duzentos reais)‖] — v. Informativo
813.
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso. Asseverou que a citada verba
prevista no art. 4º não é verba de representação, uma vez que não possui caráter
indenizatório.
Afirmou também que o regime de subsídio é incompatível com outras parcelas
remuneratórias de natureza mensal.
No entanto, sustentou não ser o caso do décimo terceiro salário e do terço
constitucional de férias, pagos a todos os trabalhadores e servidores com periodicidade
anual. Desse modo, o art. 39, § 4º, da CF não é incompatível com o pagamento dos citados
adicionais.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (Relator), Edson Fachin, Ricardo
Lewandowski e Cármen Lúcia (Presidente), que negavam provimento ao recurso.

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Pontuavam que os agentes políticos estão submetidos à regra do § 4º do art. 39, mas não
figuram no rol de beneficiários da exceção criada pelo § 3º do art. 39 da CF.
O ministro Marco Aurélio não participou da fixação do segundo enunciado de tese.
RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
1º.2.2017. (RE-650898)

Informativo nº 856
(Plenário)
Guerra fiscal e modulação de efeitos
O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta para
declarar, com efeitos ―ex nunc‖, a inconstitucionalidade da Lei 15.054/2006 do Estado do
Paraná. A norma restabelece benefícios fiscais relativos ao ICMS, cancelados no âmbito
dos programas ―Bom Emprego‖, ―Paraná Mais Emprego‖ e ―Desenvolvimento
Econômico, Tecnológico e Social do Paraná‖ (PRODEPAR).
O Colegiado afastou as preliminares de inconstitucionalidade formal por vício de
iniciativa, de ofensa ao princípio da isonomia e de descumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Adotou, contudo, o fundamento da guerra fiscal, em virtude da
―causa petendi‖ aberta. 2 No caso, ao ampliar benefício fiscal no âmbito do ICMS de
maneira unilateral, a lei impugnada incidiu em inconstitucionalidade.
No que se refere à modulação de efeitos da decisão, a Corte registrou que a sua
jurisprudência não a tem admitido em casos de leis estaduais que instituem benefícios sem
o prévio convênio exigido pelo art. 155, § 2º, XII, da CF, o que consistiria em incentivo à
guerra fiscal.
Ressaltou, entretanto, que, nas hipóteses de a lei haver vigorado por muitos anos, a
não modulação apenaria as empresas que a tivessem cumprido. Por essa razão, o
entendimento do Tribunal evoluiu no sentido de permitir a modulação a fim de que a
declaração de inconstitucionalidade produza efeitos ―ex nunc‖.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgava a ação improcedente.
ADI 3796/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 8.3.2017. (ADI-3796)

2 Simplificando: O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado
aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de
pedir (causa petendi) é aberta. Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do
restante do bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para
declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional.
(CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Dizer o Direito – Informativo esquematizado: Informativo 856-STF.
2017. Disponível em: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2017/03/info-856-stf.pdf).

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Informativo nº 857
(Plenário)
FGTS e prescrição trintenária - 4
O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a
recurso extraordinário interposto em face de decisão do Tribunal Superior do Trabalho
(TST) que havia considerado ser de trinta anos o prazo para exigir judicialmente dos
empregadores e tomadores de serviços o depósito de valores relativos ao FGTS, ainda que
depois da Constituição em vigor — v. Informativo 634.
O Colegiado declarou, ainda, a inconstitucionalidade do art. 23, § 5º, da Lei
8.036/1990 e do art. 55 do Decreto 99.684/1990, com eficácia ―ex nunc‖, de modo a
alcançar apenas os processos ajuizados posteriormente à data deste julgamento (Lei
9.868/1999, art. 27).
Destacou que o tema, quanto ao prazo prescricional, deveria ser revisto à luz da
ordem constitucional vigente, com o exame das consequências da constitucionalização do
instituto levado a efeito apenas com a promulgação da nova Carta. Nesse contexto,
observou que o art. 7º, XXIX, da CF contém determinação expressa acerca do prazo de
prescrição referente à propositura de ações atinentes a ―créditos resultantes das relações de
trabalho‖.
Apontou que a aplicabilidade daquele dispositivo constitucional à cobrança judicial
dos valores devidos ao FGTS foi reconhecida pelo TST, ao editar o Enunciado 3621.
No entanto, frisou que o entendimento da Corte trabalhista de ser aplicável apenas
parte do dispositivo constitucional é, além de contraditório, dissonante do postulado
hermenêutico da máxima eficácia das normas constitucionais. Sinalizou que o prazo deve
ser o de cinco anos, previsto no inciso XXIX do art. 7º da CF. Em seguida, ponderou que,
por mais de vinte anos, tanto o STF quanto o TST mantiveram posicionamento de que o
prazo prescricional do FGTS é de trinta anos.
Aludiu à possibilidade de se modularem os efeitos em sede de controle incidental.
Por fim, assinalou que, no caso, o princípio da segurança jurídica recomendaria fosse
mitigado o princípio da nulidade da lei inconstitucional, com a consequente modulação de
efeitos da decisão. 3 Assim, seria possível resguardar as legítimas expectativas dos
trabalhadores brasileiros, que se pautavam em manifestações, até então inequívocas, do

3
Simplificando: É possível, de modo excepcional, a modulação temporal dos efeitos da decisão em
controle difuso de constitucionalidade.

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tribunal competente para dizer a última palavra sobre a interpretação da Constituição e da
corte responsável pela uniformização da legislação trabalhista.
Ressaltou que essa tese foi acolhida pelo Plenário do STF no julgamento do ARE
709.212/DF (DJE de 18.2.2015) efetuado sob a sistemática da repercussão geral. Na
ocasião, os efeitos da declaração de inconstitucionalidade foram modulados, de modo que a
nova orientação jurisprudencial valeria apenas para as ações propostas a partir da data
daquele julgamento.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que dava provimento ao recurso. Afirmava que,
observado o biênio, seria possível pleitear, na inicial da reclamação trabalhista, as parcelas
dos últimos cinco anos.
1. Enunciado 362/TST: ―É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o
não recolhimento da contribuição para o FGTS, observado o prazo de 2 (dois) anos após o
término do contrato de trabalho‖.
RE 522897/RN, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 16.3.2017. (RE-522897)

Informativo nº 872
(Plenário)
Competência legislativa concorrente e direito ambiental
O Plenário julgou improcedente ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo
governador do Estado de Santa Catarina, contra os arts. 4º (1) e 8º, parágrafo único (2), da Lei
estadual 11.078/1999, que estabelece normas sobre controle de resíduos de embarcações,
oleodutos e instalações costeiras.
No caso, aponta-se ofensa ao art. 22, ―caput‖ e I (3), da Constituição Federal (CF), por
ser competência privativa da União legislar sobre direito marítimo e civil. Alega-se, ainda, a
existência de ofensa à Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de
Resíduos e Outras Matérias, concluída em Londres, em 29.9.1972, e promulgada no Brasil pelo
Decreto 87.566/1982.
Primeiramente o Colegiado não conheceu do pedido de declaração de
inconstitucionalidade quanto à ofensa à referida convenção, promulgada pelo Decreto
87.566/1982. Esclareceu que a jurisprudência da Corte não admite o exame de contrariedade à
norma infraconstitucional em sede de controle concentrado de constitucionalidade.4

4Simplificando: o parâmetro suscitado no caso foi a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por
Alijamento de Resíduos e Outras Matérias, concluída em Londres, em 29.9.1972, e promulgada no Brasil pelo
Decreto 87.566/1982. Tal Convenção não foi aprovada segundo a regra do art. 5, §3º da CF/88. Logo, trata-se de
norma de status infraconstitucional (lei ordinária). Não cabe ADI - controle concentrado de constitucionalidade – em casos

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No mérito, o Plenário entendeu que as questões atinentes a direito marítimo não
constituem o objeto principal do art. 4º da Lei 11.078/1999, do Estado de Santa Catarina. A
tutela ao meio ambiente é o seu principal escopo. Na mesma linha, afirmou que não se trata, no
art. 8º desse diploma estadual, de legislação sobre responsabilidade civil. O caso é de
responsabilidade do agente causador por dano ao meio ambiente, nos limites do disposto no
art. 24, VIII (4), da CF. É, portanto, matéria de competência legislativa concorrente.
Nesse contexto, o Colegiado esclareceu que cabe à União editar normas gerais que
traçam um plano, sem estabelecer pormenores. A competência legislativa dos Estados-
membros e do Distrito Federal é de caráter suplementar [CF, art. 24, § 2º (5)].
Todavia, diante da ausência de lei com normas gerais, o Estado-Membro pode legislar
amplamente, até que seja editada referida lei [CF, art. 24, §§ 3º e 4º (6)]. Assim, tendo em vista
que, à época da edição da Lei 11.078/1999, não havia lei geral sobre o tema, o Estado de Santa
Catarina tinha competência legislativa plena nessa matéria.
(1) Lei 11.078/1999 do Estado de Santa Catarina: ―Art. 4º - As embarcações deverão contar com sistemas
adequados para receber, selecionar e dispor seus próprios resíduos, que serão descartados somente em
instalações terrestres‖.
(2) Lei 11.078/1999 do Estado de Santa Catarina: ―Art. 8º - Em caso de derrame, vazamento ou deposição
acidental de óleo, em trato d’água ou solo, as despesas de limpeza e restauração da área e bens atingidos,
assim como a destinação final dos resíduos gerados, serão de responsabilidade do porto, terminal,
embarcação ou instalação em que ocorreu o incidente. Parágrafo único – É proibido o emprego de produtos
químicos no controle de eventuais derrames de óleo‖.
(3) Constituição Federal/1988: ―Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil,
comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho‖.
(4) Constituição Federal/1988: ―Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico‖.
(5) Constituição Federal/1988: ―Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados‖.
(6) Constituição Federal/1988: ―Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre
normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário‖.
ADI 2030/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 9.8.2017. (ADI-2030)

de lei ou ato normativo que suspostamente violem tratado internacional. Exceto quando tratar de direitos humanos
e tenha sido aprovado na forma do art. 5, §3º da CF/88, quando terá status de emenda constitucional.

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Informativo nº 874
(Plenário)
Direito à saúde e amianto - 2
Em julgamento desprovido de eficácia vinculante por não alcançar o quórum
exigido pelo art. 97 (1) da Constituição Federal (CF) em razão de impedimento dos
ministros Roberto Barroso e Dias Toffoli, o Plenário, em conclusão, não pronunciou juízo
de constitucionalidade ou inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/1995 (2), que
disciplina a extração, industrialização, utilização, comercialização e transporte do
asbesto/amianto crisotila e dos produtos que o contenham5. (vide Informativo 873).
Os ministros Rosa Weber (relatora), Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Celso de
Mello e Cármen Lúcia (presidente) julgaram procedente o pedido e declaram a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/1995.
A relatora consignou que, diante das determinações constitucionais direcionadas ao
legislador, a tolerância ao uso do amianto crisotila, tal como positivada no art. 2º da Lei
9.055/1995, não protege adequada e suficientemente os direitos fundamentais à saúde e ao
meio ambiente, tampouco se alinha aos compromissos internacionais de caráter supralegal
assumidos pelo Brasil, sendo caso de inconstitucionalidade por proteção insuficiente.
O ministro Edson Fachin reconheceu a existência de omissão caracterizada por
proteção insuficiente à saúde e ao meio ambiente, precisamente, porque, 22 anos depois da
entrada em vigor da norma atacada, o conjunto das circunstâncias técnico-científicas
precisa ser revisitado.

5 O art. 97 da CF/88 prevê a chamada Cláusula de Reserva de Plenário, ou full bench, que estabelece
―Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público‖. Como o STF possui 11 ministros, a maioria
absoluta equivale a 6 ministros. Paralelamente, a Lei 9.868/99 (Processo e julgamento de ADI e ADC),
dispõe, em seu art. 22, que ―A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo
somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros‖. Logo, temos que o quórum para que seja iniciada
sessão para examinar constitucionalidade pelo Supremo é de 8 ministros (quórum de sessão), ao passo que o
quórum para que seja declarada a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo é de 6 ministros (quórum de
julgamento). Assim, para que seja declarada eventual inconstitucionalidade, imperioso que 6 ministros votem
nesse sentido.
No caso do julgado:
Rosa Weber, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, 5 ministros Votaram pela inconstitucionalidade
Celso de Mello e Cármen Lúcia
Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Gilmar Mendes e 4 ministros Votaram pela constitucionalidade
Marco Aurélio
Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli 2 ministros Declararam-se impedidos
Não! Não foi atingido o número mínimo de votos
Houve declaração de inconstitucionalidade? para a declaração de inconstitucionalidade, qual seja
6 votos (Art. 97 CF/88). Assim, não houve
declaração de (in)constitucionalidade, tampouco o
julgamento teve eficácia vinculante.

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O ministro Ricardo Lewandowski afirmou não haver dúvida, na comunidade
científica mundial e brasileira, quanto ao potencial cancerígeno de todas as variedades do
amianto, inclusive do crisotila. Para ele, ainda que houvesse alguma dúvida com relação à
lesividade do amianto crisotila para a saúde humana, é o caso de se aplicar o princípio da
precaução, segundo o qual, para que o ambiente seja protegido, serão aplicadas pelos
Estados, de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas. Onde existam ameaças
de riscos sérios ou irreversíveis, não será utilizada a falta de certeza científica total como
razão para o adiamento de medidas eficazes, em termos de custo, para evitar a degradação
ambiental.
O ministro Celso de Mello ressaltou que a legislação federal ora em exame mostra-
se incompatível com valores básicos e direitos fundamentais consagrados pela ordem
constitucional, pois não dispensa tutela adequada e proteção suficiente ao direito à saúde, a
revelar situação configuradora de inconstitucionalidade por omissão, resultante da falta ou
da realização incompleta e imperfeita de um programa social que deveria ter sido
efetivamente assumido e implementado pelo Estado. Segundo o ministro, o conteúdo
material do preceito normativo em causa também vulnera a cláusula inscrita no art. 225 da
Constituição da República, que consagra o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
A ministra Cármen Lúcia assentou a importância do princípio da precaução para a
manutenção do meio ambiente equilibrado.
Já os ministros Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Marco Aurélio
reputaram improcedente o pleito e declaram constitucional a norma impugnada.
O ministro Alexandre de Moraes salientou que, ao autorizar somente a variedade
amianto crisotila, a norma visou proteger a saúde e o meio ambiente equilibrado. O caráter
protetivo da legislação ficou demonstrado na medida em que veda expressamente outras
formas de amianto. Ademais, ao permitir a exploração do amianto crisotila, a norma impõe
inúmeras restrições, além de observância contínua e permanente da evolução da legislação
sobre segurança, higiene, medicina do trabalho, acordos e convenções internacionais e dos
acordos entre sindicatos de empregados e empregadores.
O ministro Luiz Fux enfatizou que há uma profunda controvérsia na comunidade
científica em relação ao amianto, o que recomenda a autorrestrição do Poder Judiciário.
O ministro Gilmar Mendes ponderou que esse é um caso limítrofe, em termos de
jurisdição constitucional. Para ele, talvez se devesse adotar um juízo sensório na

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constatação de uma possível caminhada rumo à inconstitucionalização. Seria o caso de
recomendar que o Congresso reavaliasse o sistema adotado, o que poderia levar até,
eventualmente, à supressão da exploração. Entretanto, sublinhou que a hipótese não seria
de declaração de inconstitucionalidade de caráter cassatório.
O ministro Marco Aurélio afirmou que, ao declarar a inconstitucionalidade do
dispositivo legal, o Poder Judiciário substituiu o Congresso Nacional, em ofensa a
independência e a harmonia entre os Poderes.
(1) Constituição Federal/1988: ―Art. 97 Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público‖.
(2) Lei 9055/1995: ―Art. 2º O asbesto/amianto da variedade crisotila (asbesto branco), do grupo dos minerais
das serpentinas, e as demais fibras, naturais e artificiais de qualquer origem, utilizadas para o mesmo fim,
serão extraídas, industrializadas, utilizadas e comercializadas em consonância com as disposições desta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, consideram-se fibras naturais e artificiais as comprovadamente
nocivas à saúde humana‖.
ADI 4066/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 23 e 24.8.2017. (ADI-4066)

Informativo nº 886
(Plenário)
ADI: amianto e efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade
O Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, julgou improcedentes pedidos
formulados em ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra a Lei nº 3.579/2001
do Estado do Rio de Janeiro. O referido diploma legal proíbe a extração do
asbesto/amianto em todo território daquela unidade da Federação e prevê a substituição
progressiva da produção e da comercialização de produtos que o contenham.
A Corte declarou, também por maioria e incidentalmente, a inconstitucionalidade
do art. 2º(1) da Lei federal nº 9.055/1995, com efeito vinculante e ―erga omnes‖. 6 O

6 Importante! Trata-se de um julgado cujo debate foi bastante relevante no que concerne ao Controle de
Constitucionalidade no direito brasileiro, sobretudo quanto aos efeitos da decisão de declaração
incidental de inconstitucionalidade. Segundo entendimento clássico, a declaração de inconstitucionalidade
em sede de controle difuso possui efeitos inter partes, o que se ampliaria, passando a erga omnes, se atendido o
rito do art. 52, X da CF/88. É dizer, o Senado poderia suspender a execução do ato declarado
inconstitucional, por meio de resolução. Neste ponto, havia o questionamento sobre a possibilidade de se
estabelecer mutação constitucional ao art. 52, X da CF/88, tese encampada pelo Ministro Gilmar Mendes, na
qual se atribuiria ao Senado apenas o simples dever de publicação e nada mais. Desse modo, a resolução pelo
Senado não seria constitutiva, mas sim simplesmente declaratória. A própria decisão do Supremo já conteria
força normativa capaz de lhe conferir eficácia geral. Esta foi a tese acolhida pela maioria neste julgamento.
Nesse sentido, há um movimento na mídia especializada divulgando que, a partir de então, o STF passou a se
filiar à Abstrativização do Controle Difuso (aproximando-o do controle concentrado, conferindo os mesmos efeitos,
quais sejam eficácia erga omnes e vinculante), bem como se aproximando à Teoria da Transcendência dos

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dispositivo já havia sido declarado inconstitucional, incidentalmente, no julgamento da
ADI 3.937/SP (rel. orig. min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. min. Dias Toffoli, julgamento
em 24.8.2017).
A partir da manifestação do ministro Gilmar Mendes, o Colegiado entendeu ser
necessário, a fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, equalizar a decisão que se
toma tanto em sede de controle abstrato quanto em sede de controle incidental. O ministro
Gilmar Mendes observou que o art. 535 (2) do Código de Processo Civil reforça esse
entendimento. Asseverou se estar fazendo uma releitura do disposto no art. 52, X (3), da
CF, no sentido de que a Corte comunica ao Senado a decisão de declaração de
inconstitucionalidade, para que ele faça a publicação, intensifique a publicidade.
O ministro Celso de Mello considerou se estar diante de verdadeira mutação
constitucional que expande os poderes do STF em tema de jurisdição constitucional. Para
ele, o que se propõe é uma interpretação que confira ao Senado Federal a possibilidade de
simplesmente, mediante publicação, divulgar a decisão do STF. Mas a eficácia vinculante
resulta da decisão da Corte. Daí se estaria a reconhecer a inconstitucionalidade da própria
matéria que foi objeto deste processo de controle abstrato, prevalecendo o entendimento
de que a utilização do amianto, tipo crisotila e outro, ofende postulados constitucionais e,
por isso, não pode ser objeto de normas autorizativas. A ministra Cármen Lúcia, na mesma
linha, afirmou que a Corte está caminhando para uma inovação da jurisprudência no
sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo, mas a própria
matéria que nele se contém. O ministro Edson Fachin concluiu que a declaração de
inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão consumativa da matéria.
Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem fim. E essa afirmação
não incide em contradição no sentido de reconhecer a constitucionalidade da lei estadual
que também é proibitiva, o que significa, por uma simetria, que todas as legislações que são

Motivos Determinantes (efeitos irradiantes ou transbordantes dos motivos determinantes – seria atribuir efeitos
vinculantes, não somente ao dispositivo da decisão, como também aos fundamentos determinantes da decisão, a chamada ratio
decidendi). Quanto à Teoria da Transcendência dos Motivos Determinantes, o Supremo possui precedentes a
rechaçando, por isso é temeroso afirmar algo categoricamente. Embora, bem verdade, venha manifestando
apreço à teoria. Como bem colocou a Ministra Cármen Lúcia, a Corte estaria caminhando para uma
inovação da jurisprudência, no sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo, mas a
própria matéria que nele se contém. Quanto à abstrativização, de fato foi o que aconteceu, muito embora a
teoria não tenha sido citada expressamente. A questão merece ainda maior atenção quando à luz do
CPC/2015, tendo em vista o significativo sistema de precedentes vinculantes.
À vista de tudo isso, é preciso cautela, mas, sobretudo, é preciso observar os próximos passos do Tribunal a
fim de saber como irá se posicionar daqui para frente.

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permissivas — dada a preclusão consumativa da matéria, reconhecida a
inconstitucionalidade do art. 2º da lei federal — são também inconstitucionais.
Em divergência, o ministro Marco Aurélio afirmou que o fenômeno previsto no
inciso X do art. 52 da CF — regra que atende a independência e harmonia entre os poderes
— é constitutivo e não simplesmente declaratório, visto que diz respeito à suspensão da
execução da lei no território nacional.
(Devido à extensão do informe, optou-se por dividi-lo, sendo este o trecho que interessa ao
ponto. Quanto ao mérito, ver arquivo referente ao Direito Ambiental).
(1) Lei nº 9.055/1995: “Art. 2º O asbesto/amianto da variedade crisotila (asbesto branco), do grupo dos minerais das
serpentinas, e as demais fibras, naturais e artificiais de qualquer origem, utilizadas para o mesmo fim, serão extraídas,
industrializadas, utilizadas e comercializadas em consonância com as disposições desta Lei”.
(2) CPC: “Art. 535 (...)§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal
como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso”.
(3) CF: “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: (...)X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”.
ADI 3406/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 29.11.2017. (ADI-3406)
ADI 3470/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 29.11.2017. (ADI-3470)

Informativo nº 887
(Segunda Turma)
Reclamação e índice de atualização de débitos trabalhistas -2
A Segunda Turma declarou improcedente reclamação ajuizada pela Federação
Nacional (Fenaban) contra decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que
determinou a alteração de índice de atualização de débitos trabalhistas.
No caso, o TST declarou a inconstitucionalidade, por arrastamento, da expressão
―equivalentes à TRD‖ contida no ―caput‖ do art. 39 da Lei 8.177/91 (1) e determinou a
revisão da Orientação Jurisprudencial – OJ 300 (2) SbDI-1, que reconhece a TR como
índice de atualização monetária de débitos trabalhistas. Para tanto, o TST se apoiou nos
acórdãos das ADI 4.357/DF (DJE de 6.8.2015) e na ADI 4.425/DF (DJE de 6.8.2015),
propostas em face da EC 62/2009, que alterou a sistemática dos precatórios. Além disso,
adotou a técnica de interpretação conforme à Constituição para que o texto remanescente
do dispositivo impugnado preservasse o direito à atualização monetária dos créditos
trabalhistas. O TST ainda definiu a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo

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Especial (IPCA-E) como fator de atualização a ser utilizado na tabela de atualização
monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho. (vide Informativo 877).
A Turma entendeu que a Fenaban é parte ilegítima para propor reclamação.
Ressaltou que o reclamante não demonstrou como o seu interesse jurídico teria sido
afetado pelo acórdão reclamado. No mérito, julgou improcedente o pedido formulado.
Rememorou que o Plenário se manifestou contrariamente à chamada ―transcendência‖ ou
―efeitos irradiantes‖ dos motivos determinantes das decisões proferidas em controle
abstrato de normas7 e que a jurisprudência de ambas as Turmas deste Tribunal é no sentido
de inexistir estrita aderência entre o conteúdo das decisões que determinam a utilização de
índice diverso da TR para atualização monetária dos débitos trabalhistas e o decidido no
julgamento da ADI 4.357/DF e da ADI 4.425/DF.
Além disso, observou haver recurso interposto contra o acórdão do TST e a
reclamação não pode ser utilizada como sucedâneo de recurso.
Vencidos o ministro Dias Toffoli (relator) e o ministro Gilmar Mendes, os quais
compreenderam que a decisão do TST extrapolou os limites de sua competência ao aplicar
entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em controle abstrato de
constitucionalidade com efeito vinculante, em hipótese por ele não abrangida.
(1) Lei 8.177: ―Art. 39. Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando não satisfeitos pelo empregador
nas épocas próprias assim definidas em lei, acordo ou convenção coletiva, sentença normativa ou cláusula
contratual sofrerão juros de mora equivalentes à TRD acumulada no período compreendido entre a data de
vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento‖.
(2) OJ 300 ―Não viola norma constitucional (art. 5°, II e XXXVI) a determinação de aplicação da TRD,
como fator de correção monetária dos débitos trabalhistas, cumulada com juros de mora, previstos no artigo
39 da Lei nº 8.177/91 e convalidado pelo artigo 15 da Lei nº 10.192/01‖.
Rcl 22012/RS, rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 12.9.2017. (Rcl-22012)

7 Atenção! A Segunda Turma confirma, neste julgamento, a não adoção por parte do Supremo
Tribunal Federal, da Teoria da Transcendência dos Motivos Determinantes. Perceba que ao se filiar a
esta teoria, haveria uma ampliação no cabimento da Reclamação no STF, que hoje apenas caberia para
preservar a competência do Tribunal, bem como garantir a observância de suas decisões. E, tradicionalmente,
o que vincula na decisão é o dispositivo, não a fundamentação. Neste ponto, caso acolhida a teoria, a
inobservância dos fundamentos, ou seja, dos motivos determinantes das decisões exaradas pelo Tribunal,
passariam a desafiar reclamação. Apesar de ter se aproximado da teoria em julgamentos anteriores, o STF, por
sua Segunda Turma, confirma que não a adota, sobretudo quando sustentada para cabimento de reclamação
no tribunal.

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ADPF
Informativo nº 869
(Plenário)
ADPF e expropriação de recursos administrados pelo poder público estadual
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria, deferiu parcialmente liminar
em ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), para suspender, até o
julgamento de mérito, os efeitos de todas as decisões judiciais do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT1)
que tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de
valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro, para atender a demandas
relativas a pagamento de salários, a satisfação imediata de créditos de prestadores de
serviços e tutelas provisórias definidoras de prioridades na aplicação de recursos públicos,
exclusivamente nos casos em que estas determinações tenham recaído sobre recursos
escriturados, com vinculação orçamentária específica ou vinculados a convênios e
operações de crédito, valores de terceiros sob a administração do Poder Executivo e
valores constitucionalmente destinados a municípios, devendo, ainda, ser devolvidos os
recursos que ainda não tenham sido repassados aos beneficiários dessas decisões judiciais.
Preliminarmente, o Tribunal reconheceu a legitimidade ―ad causam‖ ativa do
governador do Estado do Rio de Janeiro para o ajuizamento da ação, nos termos dos arts.
2º, I, da Lei 9.882/1999 (1) e 103, V, da Constituição Federal (2).
A Corte, por maioria, também reputou cabível a ADPF, que tem por objeto, na
forma do art. 1º, ―caput‖, da Lei 9.882/1999, evitar ou reparar lesões a preceitos
fundamentais resultantes de ―atos do Poder Público que determinam a expropriação de
recursos administrados pelo Poder Executivo estadual‖. Nesse sentido, citou a orientação
fixada no julgamento da ADPF 33/PA (DJ de 27.10.2006), que afirma não se configurar
lesão a preceito fundamental apenas quando verificada possível afronta a um princípio
fundamental, tal como assente na ordem constitucional, mas também quando observada
ofensa a regras que confiram densidade normativa ou significado específico a esse
princípio.
O Colegiado aduziu que a ADPF desempenha, no conjunto dos mecanismos de
proteção da higidez da ordem constitucional, função específica de evitar, à falta de outro
meio eficaz para tanto, a perenização no ordenamento jurídico de comportamentos estatais
– ostentem eles ou não a natureza de atos normativos – contrários a um identificável
núcleo de preceitos – princípios e regras – tidos como sustentáculos da ordem

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constitucional estabelecida. Consignou que, sem risco de vulgarizar o conteúdo do
núcleo essencial merecedor da proteção singular da ADPF, pode-se afirmar que o
descumprimento de preceito fundamental acionador do mecanismo de defesa da ordem
constitucional [art. 102, § 1º, da CF (3)] se manifesta na contrariedade às linhas mestras
da Constituição, àquilo que, mesmo não identificado com esta ou aquela fração do
texto positivado, tem sido metaforicamente chamado, por escolas do pensamento
jurídico, de seu espírito, pilares de sustentação, explícitos ou implícitos, sem os quais a
ordem jurídica delineada pelo Poder Constituinte, seja ele originário ou derivado, ficaria
desfigurada na sua própria identidade. A própria redação do art. 102, § 1º, da CF, ao
aludir a preceito fundamental ―decorrente desta Constituição‖, é indicativa de que esses
preceitos não se restringem às normas expressas no seu texto, incluindo também
prescrições implícitas, desde que revestidas dos indispensáveis traços de essencialidade
e fundamentalidade.
Sustentou, nesse sentido, parecer restarem poucas dúvidas de que a lesão ao
postulado da separação e independência entre os Poderes, ao princípio da igualdade ou
ao princípio federativo, considerada a centralidade da posição por eles ocupada no
complexo deontológico e político consubstanciado na Constituição, desfigura a própria
essência do regime constitucional pátrio. O mesmo pode ser dito quanto à garantia de
continuidade dos serviços públicos, na medida em que estes assumem, no regime
previsto na Carta de 1988, instrumentos particularmente relevantes de distribuição de
direitos materiais subjetivos, notadamente os de natureza prestacional.
Observou, no entanto, que é preciso reconhecer a dificuldade em se incluir,
entre os preceitos fundamentais da ordem constitucional, normas veiculadoras de
opções políticas relativas a determinados arranjos financeiros e orçamentários, caso dos
invocados ―princípios e regras do sistema orçamentário‖ [art. 167, VI e X, da CF (4)], e
―regime de repartição de receitas tributárias‖ [arts. 34, V (5); 158, III e IV (6); 159, §§
3º e 4º (7); e 160 da CF (8)] e da alusão à ―garantia de pagamentos devidos pela
Fazenda Pública em ordem cronológica de apresentação de precatórios‖ [art. 100 da CF
(9)]. Nada obstante, reconheceu que tais aspectos têm relação com a efetividade do
modelo de organização da Administração Pública preconizado pela Lei Maior e, em
alguma dimensão, com a interação entre os Poderes e a dinâmica do modelo federativ o.
Tendo isso em conta, a Corte reputou enquadrar-se a controvérsia, tal como
apresentada, em hipótese de lesão a preceitos fundamentais indicados na inicial.

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Registrou, ademais, que, em certo sentido, a tutela sobre o descumprimento de preceito
constitucional alcança um universo de comportamentos estatais mais amplo do que o
de inconstitucionalidade, a abranger a lesão à Constituição resultante de ―ato do Poder
Público‖ outro que não apenas a ―lei ou ato normativo‖, sempre que traduza efetivo e
material descumprimento da Constituição. Citou, no ponto, o que decidido na ADPF
101/DF (DJE de 4.6.2012) e na ADPF 144/DF (DJE de 26.2.2010).
Concluiu que o conjunto de decisões do TJRJ e do TRT1 analisado amolda-se
ao conceito de ato do poder público passível de impugnação pela via da ADPF e
considerou demonstrada, ao menos em juízo delibatório, a insuficiência dos meios
processuais ordinários para imprimir solução satisfatória à controvérsia objeto da
ADPF [Lei 9.882/1999, art. 4º, § 1º (10)].
Ressaltou, ainda, não ter o condão de elidir o cabimento da ADPF o
deferimento das medidas liminares requeridas no MS 34.483/RJ (DJE de 1º.12.2016) e
na Rcl 25.581/RJ (DJE de 25.11.2016), em que tratada a questão relativa ao repasse do
duodécimo orçamentário do Poder Judiciário fluminense para fins de pagamento de
salários e subsídios de servidores e magistrados. Tais decisões estão contidas no escopo
da ADPF, cujo objeto, no entanto, é mais amplo e abrange contrições de receitas que
objetivam atender, além de determinações de imediato pagamento de salários de
servidores estaduais ativos e inativos (objeto das liminares citadas), a satisfação imediata
de créditos de prestadores de serviços e o cumprimento imediato de tutelas provisórias
que estabelecem prioridades políticas para a aplicação de recursos públicos.
Quanto ao pedido de liminar, o STF esclareceu, de início, ser o pano de fundo
das decisões judiciais impugnadas na presente ADPF a notória situação de grave
dificuldade econômica e financeira pela qual passa o Estado do Rio de Janeiro,
especialmente ante as mudanças ocorridas no mercado petrolífero mundial, a sensível
redução na receita dos ―royalties‖ da exploração do petróleo, a grave crise pela qual
passa a Petrobras e toda a sua cadeia de produção, e a desaceleração da economia, com
a consequente redução das receitas tributárias do Estado.
Consignou que os documentos trazidos aos autos apontam que as sucessivas
expropriações de numerário existente nas contas do Estado do Rio de Janeiro, para
saldar os valores fixados nas decisões judiciais, têm alcançado recursos de terceiros,
escriturados contabilmente, individualizados ou com vinculação orçamentária
específica. Essas determinações judiciais de bloqueio, penhora, arresto, sequestro e

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liberação de verbas públicas alteram a destinação orçamentária dos recursos públicos,
remanejando-os de uma categoria de programação para outra, sem prévia autorização
legislativa. Por isso, pelo menos aparentemente, são dificilmente conciliáveis com as
vedações contidas no art. 167, VI e X, da Constituição da República.
A aparente usurpação de competências constitucionais reservadas ao Poder
Executivo (exercer a direção da Administração) e ao Poder Legislativo (autorizar
transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de
programação para outra ou de um órgão para outro) sugere configurada, na hipótese,
provável lesão aos arts. 2º (11); 84, II (12); e 167, VI e X, da Carta Política.
O Tribunal, por fim, asseverou ser passível de tutela jurisdicional a realização de
políticas públicas, sobretudo para atender mandamentos constitucionais e assegurar
direitos fundamentais. No entanto, a subtração de qualquer margem de
discricionariedade do chefe do Poder Executivo na execução das despesas sugere haver
indevida interferência do Poder Judiciário na administração do orçamento e na
definição das prioridades na execução de políticas públicas, em conflito com o disposto
nos arts. 2º e 84, II, da Carta Política, o que suscita preocupações também sob o prisma
da harmonia entre os Poderes. Além de comprometer a autonomia administrativa do
Estado, por retirar do chefe do Poder Executivo os meios essenciais à alocação de
recursos financeiros, a proliferação de decisões judiciais que determinam constrições
imediatas, em descompasso com o cronograma de desembolso orçamentário, parece
colocar alguns credores em situação mais vantajosa do que outros em igual condição
fática e jurídica, quebrando a isonomia. Reputou presente, portanto, o ―fumus boni
iuris‖ e devidamente preenchido o requisito do ―periculum in mora‖ em face do
elevado risco de comprometimento do patrimônio e das receitas correntes do Estado
do Rio de Janeiro.
Vencidos os ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski.
O ministro Marco Aurélio, preliminarmente, entendeu pelo não cabimento da
arguição e, no mérito, votou pela improcedência dos pedidos.
O ministro Ricardo Lewandowski concedeu parcialmente a liminar em menor
extensão.
(1) Lei 9882/1999: ―Art. 2o Podem propor argüição de descumprimento de preceito fundamental: I - os
legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade‖.
(2) CF/1988: ―Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade: (...) V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal‖.

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(3) CF/1988: ―Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe: (...) § 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei‖.
(4) CF/1988: ―Art. 167. São vedados: VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia
autorização legislativa; (...) X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos,
inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras,
para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios‖.
(5) CF/1988: ―Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...) V -
reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por
mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios
receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei‖.
(6) CF/1988: ―Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...) III - cinqüenta por cento do produto da
arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus
territórios; IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação‖.
(7) CF/1988: ―Art. 159. (...) § 3º Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por
cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios estabelec idos no art.
158, parágrafo único, I e II. § 4º Do montante de recursos de que trata o inciso III que cabe a cada
Estado, vinte e cinco por cento serão destinados aos seus Municípios, na forma da lei a que se refere o
mencionado inciso‖.
(8) CF/1988: ―Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos
atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos
adicionais e acréscimos relativos a impostos. Parágrafo único. A vedação pr evista neste artigo não
impede a União e os Estados de condicionarem a entrega de recursos: I – ao pagamento de seus
créditos, inclusive de suas autarquias; II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e
III‖.
(9) CF/1988: ―Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de
pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim‖.
(10) Lei 9.882/1999: ―Art. 4o A petição inicial será indeferida liminarmente, pelo relator, quando não for
o caso de argüição de descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos
nesta Lei ou for inepta. § 1 o Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental
quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade‖.
(11) CF/1988: ―Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário‖.

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(12) CF/1988: ―Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) II - exercer, com o
auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal‖.
ADPF 405 MC/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 14.6.2017. (ADPF-405)

Ministério Público
Informativo nº 851
(Plenário)
Direito Constitucional - Ministério Público. Conflito de atribuições e origem de
verba - 2
O Plenário, em conclusão e por maioria, deu provimento a agravo regimental em
petição para não conhecer de conflito negativo de atribuições entre Ministério Público
estadual e Ministério Público Federal e determinou a remessa dos autos à Procuradoria-
Geral da República.
Na espécie, o Ministério Público estadual instaurou inquérito civil público com base
em denúncias de munícipes contra a prefeitura, para fins de apurar irregularidades em
projeto de intervenção urbana. Segundo eles, haveria o risco de danos ao meio ambiente e à
segurança da população local.
Declinada a atribuição, o procedimento veio a ser remetido ao Ministério Público
Federal, ante o fato de constar que a aludida obra teria sido executada a partir de verbas de
programa mantido pela União. Na sequência, o Ministério Público Federal declinou da
atribuição por entender inexistir interesse a ser tutelado e reencaminhou os autos para o
Ministério Público estadual, que, por sua vez, suscitou o conflito — v. Informativo 812.
O Tribunal adotou a mesma orientação fixada em recentes pronunciamentos (ACO
924/PR 8 , DJE de 26.9.2016; Pet 4.863/RN, Pet 4.706/DF e Pet 4.863/RN, DJE de

8Ementa: CONSTITUCIONAL. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MINISTÉRIOS PÚBLICOS.


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER A TUTELA COLETIVA DE
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DOTADOS DE RELEVÂNCIA SOCIAL.
POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO PARQUET EM FAVOR DE MUTUÁRIOS EM CONTRATOS
DE FINANCIAMENTO PELO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. QUESTÃO
PRELIMINAR. ALCANCE DO ARTIGO 102, INCISO I, ALÍNEA F DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. DISPOSITIVO DIRECIONADO PARA ATRIBUIR COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO
STF EM CASOS DE CONFLITO FEDERATIVO. REVISITAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
ASSENTADA PELA CORTE (ACO 1.109/SP E PET 3.528/BA). MERO CONFLITO DE
ATRIBUIÇÕES QUANTO À ATUAÇÃO ENTRE DIFERENTES ÓRGÃOS MINISTERIAIS DA
FEDERAÇÃO. SITUAÇÃO INSTITUCIONAL E NORMATIVA INCAPAZ DE COMPROMETER O
PACTO FEDERATIVO AFASTA A REGRA QUE ATRIBUI COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO STF.
NÃO CONHECIMENTO DA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA E REMESSA DOS AUTOS AO
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA (PGR) – (PRECEDENTE FIXADO PELA ACO 1.394/RN).
1. In casu: (i) cuida-se de conflito negativo de atribuições entre diferentes órgãos do ministério público para
se definir a legitimidade para a instauração de Inquérito Civil em investigação de possível superfaturamento

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27.5.2016), no sentido de que a natureza da controvérsia não se qualifica como conflito
federativo apto a atrair a incidência do art. 102, ―f‖, da Constituição.
Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator), Ricardo Lewandowski e Celso de
Mello, que negavam provimento ao recurso.
O ministro Marco Aurélio confirmou o voto proferido na sessão anterior e
acrescentou que o procurador-geral da República, chefe do Ministério Público da União,
não teria ascendência sobre o Ministério Público estadual, não podendo ser árbitro do
conflito. Relembrou o posicionamento anterior do Colegiado de que, quando a
Constituição não prevê um órgão do Judiciário competente para a análise do caso, a
competência seria do Supremo Tribunal Federal.
O ministro Celso de Mello, na mesma linha, asseverou não haver sentido,
considerada a autonomia institucional dos Ministérios Públicos estaduais, submetê-los ao
poder decisório ou poder de supervisão do procurador-geral da República, tendo em conta
ser a Constituição muito clara ao atribuir, ao Procurador-Geral da República, a chefia do
Ministério Público da União. Concluiu que a solução mais adequada seria a de preservar a
competência do Poder Judiciário.
Pet 5586 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgamento em
15.12.2016. (Pet-5586)

Conselho Nacional de Justiça


Informativo nº 851
(Plenário)
Direito Constitucional - Conselho Nacional de Justiça. CNJ: interpretação do art. 102, I,
―r‖, da Constituição Federal e não aplicação de lei inconstitucional

na construção de conjuntos habitacionais no Município de Umuarama/PR; e (ii) há suspeita de que


construtoras obtiveram, por intermédio da Caixa Econômica Federal, verbas do Sistema Financeiro de
Habitação, em valor superior ao necessário para a construção dos conjuntos habitacionais, excesso esse que
teria sido repassado aos mutuários da CEF. 2. Em sede preliminar, o tema enseja revisitação da jurisprudência
assentada por esta Corte (ACO 1.109/SP e, especificamente, PET 3.528/BA), para não conhecer da presente
Ação Cível Originária (ACO). Nesses precedentes, firmou-se o entendimento no sentido de que simples
existência de conflito de atribuições entre Ministérios Públicos vinculados a entes federativos diversos não é
apta, per si, para promover a configuração de típico conflito federativo, nos termos da alínea f do Inciso I do
art. 102 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988). O caso dos autos remete,
consectariamente, a mero conflito de atribuições entre órgãos ministeriais vinculados a diferentes entes
federativos. 3. Em conclusão, essa situação institucional e normativa é incapaz de comprometer o pacto
federativo e, por essa razão, afasta a regra que, em tese, atribui competência originária ao STF. Ademais, em
consonância com o entendimento firmado por este Tribunal no julgamento da ACO 1.394/RN, o caso é de
não conhecimento da ação cível originária, com a respectiva remessa dos autos ao Procurador-Geral da
República para a oportuna resolução do conflito de atribuições. (ACO 924, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 19/05/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 23-09-2016
PUBLIC 26-09-2016)

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O Plenário julgou improcedente pedido formulado por sindicato em ação
anulatória cujo objetivo era anular decisão administrativa do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), que determinou a exoneração de todos os nomeados para os cargos em comissão
criados pela Lei 8.223/2007 do Estado da Paraíba.
Considerou válida a atuação do CNJ e declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do art. 5º da mencionada lei paraibana. Denegou, ainda, uma série de
mandados de segurança, nos quais suscitadas as mesmas questões postas na ação
anulatória, com a consequente cassação das liminares deferidas na ação cautelar
preparatória da ação anulatória e nas referidas impetrações.
O Tribunal, preliminarmente e por maioria, decidiu manter sua competência para o
processamento e o julgamento da ação anulatória.
Prevaleceu o voto da ministra Cármen Lúcia (relatora) no sentido de que deveria ser
mitigada, no caso, a interpretação restritiva às ações de natureza mandamental, conferida ao
art. 102, I, ―r‖, da Constituição no julgamento da AO 1.814 QO/MG (DJE de 3.12.2014) e
da ACO 1.680-AgR/AL (DJE de 1º.12.2014).
A relatora entendeu que a mencionada restrição resultaria em conferir à Justiça
Federal de primeira instância a possibilidade de definir os poderes atribuídos ao CNJ para o
cumprimento de sua missão, subvertendo, assim, a relação hierárquica constitucionalmente
estabelecida.
Ademais, considerou que, se aplicado o entendimento de restrição formal da alínea
―r‖ do permissivo constitucional, a ação ordinária deveria ser submetida ao regime de
competência estabelecido pelas normas comuns de direito processual e encaminhada à
Justiça Federal de primeira instância, nos termos do art. 109, I, da CF. Entretanto,
continuariam no STF os mandados de segurança individuais apensados à ação ordinária. A
reunião dessas ações teria sido determinada para garantir, com a tramitação e o julgamento
conjuntos, a prolação de decisões harmônicas sobre a legitimidade da situação jurídica
afetada pelo CNJ. As dificuldades resultantes do encaminhamento da ação ordinária
coletiva ao juízo de primeiro grau seriam evidentes, se considerada a ausência de correlação
entre os efeitos do seu julgamento e os mandados de segurança individuais.
Vencido, no ponto, o ministro Marco Aurélio, que mantinha a orientação fixada no
julgamento da Ação Originária 1.814 QO/MG e reputava a Corte incompetente para julgar
a ação.

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No mérito, o Plenário concluiu que o CNJ teria agido com base no art. 103-B, § 4º,
II, da CF, nos limites da sua competência, ao afastar a validade dos atos administrativos e a
aplicação de lei estadual na qual embasados e reputada contrária ao princípio constitucional
de ingresso no serviço público por concurso público, pela ausência dos requisitos
caracterizadores do cargo comissionado. Ressaltou o fato de a Corte, no julgamento da
ADI 3.233/PB (DJU de 14.9.2007), já ter declarado a inconstitucionalidade, por ofensa ao
art. 37, V, da CF, de dispositivos de leis paraibanas anteriores que teriam criado cargos
comissionados de agente judiciário de vigilância com as atribuições de prestar serviços de
vigilância e segurança.
Salientou entendimento doutrinário segundo o qual as leis inconstitucionais não são
normas atendíveis, porque colidem com mandamento de uma lei superior, que é a
Constituição. Embora o enfoque desse entendimento se dirija à atuação do chefe do Poder
Executivo, as premissas seriam aplicáveis aos órgãos administrativos autônomos,
constitucionalmente incumbidos da tarefa de controlar a validade dos atos administrativos,
tais como o TCU, o CNMP e o CNJ.
No que se refere ao CNJ, o Plenário mencionou fundamento constante do
julgamento da ADI 12 MC/DF (DJE de 1º.9.2006), no sentido de se extrair do núcleo
normativo implícito do art. 103-B, § 2º, II, da CF competência do órgão de controle
administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura nacional para dispor, primariamente,
sobre cada qual dos quatro núcleos expressos, na lógica pressuposição de que a
competência para zelar pela observância do art. 37 da CF e ainda baixar os atos de sanação
de condutas eventualmente contrárias à legalidade é poder que traz consigo a dimensão da
normatividade em abstrato, que já é forma de prevenir a irrupção de conflitos.
Asseverou, portanto, ter-se entre as competências constitucionalmente atribuídas ao
CNJ a possibilidade de afastar, por inconstitucionalidade, a aplicação de lei aproveitada
como base de ato administrativo objeto de controle e determinar aos órgãos submetidos a
seu espaço de influência a observância desse entendimento, por ato expresso e formal
tomado pela maioria absoluta de seus membros.
Frisou, ademais, não ter havido declaração de inconstitucionalidade da qual
resultasse a anulação ou revogação da lei discutida, com exclusão de sua eficácia. Ou seja,
houve a nulidade dos atos questionados por ser considerada inaplicável,
administrativamente, lei estadual com vício de inconstitucionalidade, com a vinculação
apenas da atuação de órgão judicial cujos atos administrativos foram submetidos ao

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controle do CNJ. Assim, não se haveria de cogitar de usurpação da competência do STF, a
qual seria passível de impugnação por meio constitucional próprio, como se dera por meio
da ADI 4.867/PB.
O Tribunal reconheceu, também, não ter havido desrespeito ao contraditório dos
servidores atingidos pela decisão do CNJ. Explicou que, sendo exoneráveis ―ad nutum‖ e
não configurando a exoneração punição por ato a eles imputado, seria prescindível a
atuação de cada um dos interessados no processo administrativo, notadamente pela
ausência de questão de natureza subjetiva na matéria discutida pelo órgão de controle do
Poder Judiciário.
Ressaltou, ainda, que deveria ser examinada a higidez constitucional do dispositivo
da lei paraibana, de forma incidental, diante da mera possibilidade de ser julgado
improcedente o pedido formulado na ADI 4.867/PB. Isso evitaria o risco de se afastarem
desnecessariamente os ocupantes dos cargos criados pelo dispositivo discutido, com a
consequente interrupção dos serviços por eles prestados para o Poder Judiciário local e
com a supressão do pagamento da remuneração percebida, com grave implicação no
orçamento familiar desses servidores. Ademais, o sindicato autor teria sustentado,
expressamente, a constitucionalidade do dispositivo afastado pelo CNJ, não sendo possível
que o STF se abstivesse do exame dessa matéria, sob pena de negar a prestação
jurisdicional requerida.
Concluiu, que, além dos indícios de ofensa ao que decidido na ADI 3.233/PB, a
leitura das atribuições conferidas ao cargo criado pelo art. 5º da Lei paraibana 8.223/2007
evidenciaria burla ao art. 37, V, da CF. O dispositivo questionado não explicita as
atividades a serem desenvolvidas pelos nomeados para o exercício do cargo comissionado
de ―assistente de administração‖. Limita-se a atribuir-lhes o desempenho de ―atividades
administrativas‖, expressão de conceito jurídico indeterminado a legitimar a conclusão do
CNJ no sentido de que os comissionados não passam de ―assistentes para múltiplas
funções, ou seja, comandados para execução de operações materiais burocráticas‖.
Pet 4656/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 19.12.2016. (Pet-4656)

Informativo nº 875
(Primeira Turma)
Aposentadoria compulsória de magistrado: processo disciplinar e prova emprestada
A Primeira Turma, por maioria, negou provimento a agravo regimental em que
questionada a legalidade de ato do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) quanto à aplicação

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da pena de aposentadoria compulsória a magistrado estadual por prática de infração
disciplinar grave.
O agravante alegou ofensa ao princípio da subsidiariedade, dada ausência de análise
prévia da suposta falta pela Corregedoria local; invalidade das provas, as quais haviam sido
obtidas durante a investigação de outras pessoas; possibilidade de apontamento de
nulidades por meio de petição após o prazo previsto no art. 23 da Lei 12.016/2009 (1);
incompatibilidade entre o ato de instauração do processo administrativo disciplinar e o
acórdão impugnado; e descabimento da sanção imposta por insuficiência probatória.
Primeiramente, a Turma evidenciou entendimento consolidado pela Corte no
sentido da competência originária e concorrente do CNJ conferida pela Constituição, na
aplicação de medidas disciplinares. Em seguida, reafirmou a possibilidade de utilização de
dados obtidos por descoberta fortuita em interceptações telefônicas devidamente
autorizadas como prova emprestada em processo administrativo disciplinar.
Ademais, não verificou a ocorrência de atraso indevido no envio das provas aos
órgãos competentes no que se refere a indivíduos detentores de foro por prerrogativa de
função. Destacou, ainda, a incongruência entre dilação probatória e mandado de segurança.
Afastou também a hipótese de incompatibilidade entre a portaria de instauração do
processo e o ato contrariado, visto que a defesa no processo administrativo disciplinar se
dá em relação aos fatos descritos na própria portaria de instauração.
Outrossim, ausente conclusão do juízo criminal pela prova da inexistência do fato
ou pela negativa de autoria, não estão presentes circunstâncias suscetíveis de autorizar
excepcional comunicabilidade das esferas penal e administrativa.
Por fim, a Turma concluiu pela ausência de ilegalidade do ato e entendeu por
justificada a pena de aposentadoria compulsória, haja vista demonstração probatória de
infração disciplinar grave.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que entendeu haver dúvidas em relação à
culpabilidade do acusado e destacou a impossibilidade de condenação a partir de simples
indícios. Desse modo, sem julgar o aspecto material do caso, votou pelo provimento do
agravo regimental.
(1) Lei 12.016/2009: ―Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120
(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado‖.
MS 30361 AgR/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 29.8.2017. (MS-30361)

Informativo nº 885

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(Primeira Turma)
Conselho Nacional de Justiça e controle de controvérsia submetida ao Judiciário
Descabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são
exclusivamente administrativas, o controle de controvérsia submetida à apreciação do
Poder Judiciário.
Com base nesse entendimento, a 1ª Turma indeferiu mandado de segurança
impetrado contra o ato, por meio do qual o CNJ determinou o arquivamento de processo
administrativo, ante a alegada inviabilidade de controle, pelo Órgão, de questão submetida
ao crivo do Supremo Tribunal Federal (STF).
A impetrante postulava no CNJ a sua recondução à titularidade interina de
Tabelionato de Notas e Ofício de Protesto de Títulos e o consequente afastamento de
aprovado em concurso público que assumiu o acervo do cartório. Afirmava o
descumprimento da decisão liminar em mandado de segurança que suspendeu o
mencionado certame.
A Turma considerou, inicialmente, que o eventual descumprimento de decisão
proferida pelo STF não se resolve na seara do CNJ, mas, sim, na do próprio Tribunal,
mediante reclamação.
Entendeu, ademais, que o CNJ observou, com acerto, o fato de a controvérsia estar
submetida ao Judiciário, quadro impeditivo da própria atuação, tendo em conta o disposto
nos parágrafos 4º e 5º do artigo 103-B da Constituição Federal.
MS 28845/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 21.11.2017. (MS-28845)

Informativo nº 886
(Segunda Turma)
Conselho Nacional de Justiça: processo disciplinar e competência autônoma
A competência originária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a apuração
disciplinar, ao contrário da revisional, não se sujeita ao parâmetro temporal previsto no art.
103-B, § 4º, V (1) da Constituição Federal.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma negou provimento a agravo
regimental em mandado de segurança em que se discutia deliberação do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) que aplicou pena de aposentadoria compulsória a magistrado em processo
disciplinar administrativo.

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As acusações do processo administrativo disciplinar se referiam a demonstrações de
proximidade com grupo político local, nepotismo, violação do dever de imparcialidade e
atuação jurisdicional eivada de vícios.
A defesa alegou que um dos fatos que constitui objeto da denúncia já havia sido
julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendo o agravante sido eximido da
responsabilidade por decisão de mérito. Sustentou também que, arquivado o processo, a
revisão disciplinar só poderia ser instaurada a menos de um ano do julgamento, conforme
o art. 103-B, § 4º, V (1) da Constituição.
A Turma, entendeu que o CNJ tem preponderância sobre os dos demais órgãos do
Poder Judiciário com exceção do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Colegiado compreendeu, ainda, que o processo administrativo disciplinar
instaurado pelo CNJ se deu em virtude de reclamação disciplinar autônoma, não estando
relacionado à decisão do TSE. Ademais, asseverou não haver evidências de ilegalidade ou
abuso de poder na atuação do CNJ, que apresenta capacidade correicional e autônoma para
apreciar o atendimento, pelo magistrado, dos deveres jurídicos da magistratura.
Por fim, dada a ausência de comprovação quanto à parcialidade da atuação do CNJ,
a Turma entendeu não caber ao STF adentrar no mérito do julgado disciplinar, visto que
não constatado vício procedimental.
(1) Constituição Federal/1988: ―Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze)
membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: ... § 4º Compete ao Conselho
o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura: ... V rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de
tribunais julgados há menos de um ano‖.
MS 34685 AgR/RR, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 28.11.2017. (MS-34685)

Tribunal de Contas
Informativo nº 851
(Plenário)
Direito Constitucional - Controle de Constitucionalidade. Procuradoria de Tribunal de
Contas e cobrança judicial de multas
É constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de tribunais de contas
estaduais, vedada a atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio
tribunal.

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Com base nessa orientação, o Plenário julgou parcialmente procedente pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do inciso V do art. 3º da LC
399/2007, do Estado de Rondônia, que dispõe sobre a organização e o funcionamento da
Procuradoria-Geral do Tribunal de Contas estadual, na forma do art. 253 da Constituição
rondoniense.
Inicialmente, o Plenário rejeitou as preliminares de prejuízo e de não conhecimento
da ação.
Quanto ao alegado prejuízo, considerou que os artigos da LC 399/2007 revogados
pela LC 658/2012 tratavam de subsídios, mantidos hígidos os dispositivos concernentes à
organização e ao funcionamento da Procuradoria-Geral do Tribunal de Contas estadual.
Relativamente ao não conhecimento da ação, o Plenário afirmou que a análise
da constitucionalidade das normas contidas na lei complementar impugna da
independeria, em princípio, da análise da constitucionalidade dos dispositivos da
Constituição estadual que também cuidaram da matéria (art. 253 e parágrafos).
Asseverou a possibilidade de ser inconstitucional a norma regulamentadora de
determinada matéria sem que o seja também a norma que lhe serve de fundamento.
Observou que as normas da Constituição de Rondônia em que o legislador rondoniense
se pautou para criar a lei impugnada já foram objeto da ADI 94/RO (DJE de
15.12.2011). Assim, inviável que as normas ora impugnadas fossem objeto da referida
ADI, porque editadas em 2007 (oito anos após o seu ajuizamento). Por outro lado, não
remanescem dúvidas sobre a desnecessidade de se reiterar pedido de declaração de
inconstitucionalidade de normas já sob análise do Supremo Tribunal Federal.
No mérito, quanto ao inciso V do art. 3º da lei complementar rondoniense, que
prevê a competência da Procuradoria-Geral do Tribunal de Contas estadual para cobrar
judicialmente as multas aplicadas em decisão definitiva pela Corte de Contas e não
saldadas em tempo devido, o Colegiado reportou-se à orientação fixada em
precedentes, no sentido de que o art. 71, § 3º, da CF, norma a ser observada pelos
tribunais de contas estaduais em face do princípio da simetria (CF/1988, art. 75),
apenas conferiu eficácia de título executivo às decisões do TCU, de que resulte
imputação de débito ou multa, sem, contudo, outorgar àquela Corte de Contas
legitimação para executá-las.
Por outro lado, reputou não haver qualquer vício de inconstitucionalidade dos
arts. 1º, §§ 1º e 2º; 2º, ―caput‖, I e II, e §§ 1º; 3º, ―caput‖, I, II, III, IV, VI, VII, VIII,

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IX, X, XI, XII, §§ 1º a 3º; 4º, I a X e parágrafo único; 5º; 6º (com alteração da LC
658/2012) e 7º da LC rondoniense 399/2007.
Adotou, para tanto, o entendimento fixado no julgamento da ADI 1557/DF
(DJ de 18.6.2004) e da ADI 94/RO, no sentido de reconhecer a possibilidade de
existência de procuradorias especiais para representação judicial de assembleia
legislativa e de tribunal de contas nos casos em que necessitem praticar em juízo, em
nome próprio, uma série de atos processuais na defesa de sua autonomia e
independência em face dos demais poderes, as quais também podem ser responsáve is
pela consultoria e pelo assessoramento jurídico de seus demais órgãos.
ADI 4070/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 19.12.2016. (ADI-4070)

Informativo nº 858
(Primeira Turma)
TCU: multa e prescrição da pretensão punitiva
A Primeira Turma, por maioria, denegou a ordem em mandado de segurança
impetrado contra decisão do TCU, que aplicou multa ao impetrante, em decorrência de
processo administrativo instaurado para verificar a regularidade da aplicação de recursos
federais na implementação e operacionalização dos assentamentos de reforma agrária Itamarati
I e II, localizados em Ponta Porã/MS.
Na impetração, alegava-se a ocorrência de prescrição. O impetrante, que à época da
aludida implementação era superintendente regional do INCRA, foi exonerado do cargo em
2003, e a auditoria para apuração de irregularidades iniciou-se em 2007. Em 2008, o impetrante
foi notificado para apresentar justificativa, e, em 2012, foi prolatada a decisão apontada como
ato coator.
Inicialmente, a Turma assinalou que a lei orgânica do TCU, ao prever a competência do
órgão para aplicar multa pela prática de infrações submetidas à sua esfera de apuração, deixou
de estabelecer prazo para exercício do poder punitivo. Entretanto, isso não significa hipótese de
imprescritibilidade. No caso, incide a prescrição quinquenal, prevista na Lei 9.873/1999, que
regula a prescrição relativa à ação punitiva pela Administração Pública Federal Direta e Indireta.
Embora se refira a poder de polícia, a lei aplica-se à competência sancionadora da União em
geral.
Estabelecido o prazo quinquenal, o Colegiado entendeu que, no caso, imputava-se ao
impetrante ação omissiva, na medida em que não implementou o plano de assentamento,
conforme sua incumbência, quando era superintendente. Assim, enquanto ele permaneceu no

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cargo, perdurou a omissão. No momento em que ele deixou a superintendência, iniciou-se o
fluxo do prazo prescricional. Entretanto, a partir daquele marco temporal, não decorreram
cinco anos até que a Administração iniciasse o procedimento que culminou na punição
aplicada.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que concedia a segurança.
MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 21.3.2017. (MS-32201)

Informativo nº 873
(Primeira Turma)
TCU: redução de pensão e direito individual
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, indeferiu a ordem em
mandado de segurança impetrado em face de decisão do Tribunal de Contas da União (TCU),
que determinou, em 2015, a redução no valor de pensão percebida em decorrência do
falecimento do marido da impetrante, que era servidor público.
A impetração sustentou óbice à revisão implementada, em razão da decadência, pois o
benefício foi deferido em 2007. Além disso, alegou cerceamento de defesa e violação do devido
processo legal, pela ausência de participação da beneficiária no processo administrativo.
A Turma salientou que o TCU atuou não apenas no sentido de alterar a pensão
recebida pela impetrante, mas realizou auditoria relativa a proventos e pensões oriundos do
órgão onde trabalhava o marido dela. Assim, a defesa de um direito individual não poderia ser
exercida quanto àquele ato 9 , porque, se admitidos todos os possíveis interessados em um
pronunciamento do TCU, estaria inviabilizada a fiscalização linear, externa, da corte de contas.
A irresignação, portanto, deveria ser dirigida ao órgão em que trabalhava o falecido, e não o
TCU.
Vencido o ministro Alexandre de Moraes, que deferiu a ordem.
MS 34224/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 15.8.2017. (MS-34224)

9 Simplificando: Quando o TCU atua em fiscalização linear, a relação é apenas entre o órgão fiscalizador
(TCU) e o órgão fiscalizado. Não há que se falar em presença de litígio neste tipo de atuação, o que dispensa
a participação de terceiros e o exercício do contraditório. Nesse caso, o contraditório deve ser exercido no
órgão de origem. Além do mais, na fiscalização o Tribunal de Contas não aprecia ato específico de efeitos
favoráveis ao administrando. O que é existe é um exame da regularidade de determinado órgão. Assim, os
reflexos dessa fiscalização em direito individual são indiretos. Lembrando que ―o ato concessivo de
aposentadoria, pensão ou reforma configura-se como ato complexo, cujo aperfeiçoamento somente ocorre
com o registro perante a Corte de Contas, após submissão a juízo de legalidade. Assim, a aplicação do prazo
decadencial previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99 somente se opera a partir da publicação do referido
registro‖ (STF. MS 32683 AgR-segundo, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
23/08/2016).

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Informativo nº 883
(Plenário)
Extinção de Tribunais de Contas dos Municípios
A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos
Municípios.
Esse é o entendimento do Plenário que, por maioria, julgou improcedente pedido
formulado em ação direita de inconstitucionalidade ajuizada contra emenda à Constituição
do Estado do Ceará, que extinguiu o Tribunal de Contas dos Municípios desse ente
federado.
A requerente asseverou que a promulgação da citada emenda consiste em desvio do
poder de legislar. Sustentou que o ato atacado foi aprovado como retaliação por
parlamentares que tiveram, na condição de gestores municipais, as contas rejeitadas pelo
Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará.
O Colegiado entendeu que a fraude na edição de lei com o objetivo de alcançar
finalidade diversa do interesse público deve ser explicitada e comprovada. A mera menção
à existência de parlamentares com contas desaprovadas não conduz à conclusão de estarem
viciadas as deliberações cujo tema é a atividade de controle externo.
As alegações de ausência de economia orçamentária e perda de eficiência com a
promulgação da emenda questionada são insuficientes para configurar a
inconstitucionalidade do ato. É impertinente, no processo objetivo, adentrar questões
fáticas como, por exemplo, a produção do Tribunal de Contas dos Municípios e do
Tribunal de Contas do Estado.
Afastado o desvio de poder de legislar arguido na petição inicial, cumpre analisar o
argumento segundo o qual o art. 31, § 1º e § 4º1, da Constituição Federal impede a extinção
de Tribunais de Contas dos Municípios mediante norma de Constituição estadual.
Os Estados, considerada a existência de tribunal de contas estadual e de tribunais
de contas municipais 10 , podem optar por concentrar o exame de todas as despesas em

10Cuidado! Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de Contas do Município (Municipal) são
órgãos diferentes. O Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão estadual, que auxilia as Câmaras
Municipais de todos os municípios de um determinado estado no exercício do controle externo, com previsão
constitucional no art. 31, §1º da CF/88. Por sua vez, o Tribunal de Contas do Município (ou Municipal) é
órgão municipal, que auxilia a Câmara Municipal de um município específico. Existem dois Tribunais de
Contas do Município, o Tribunal de Contas do Município de São Paulo e o Tribunal de Contas do Município
do Rio de Janeiro. A CF/88 vedou a criação de novos Tribunais de Contas Municipais (art. 31, §4º),
mas não vedou a criação de Tribunal de Contas dos Municípios (existem Tribunais de Contas dos Municípios
do Estado da Bahia, de Goiás e do Pará).

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apenas um órgão, sem prejuízo do efetivo controle externo. O meio adequado para fazê-lo
é a promulgação de norma constitucional local.
O legislador constituinte permitiu a experimentação institucional dos entes
federados, desde que não fossem criados conselhos ou tribunais municipais, devendo ser
observado o modelo federal, com ao menos um órgão de controle externo.
É possível, portanto, a extinção de tribunal de contas responsável pela fiscalização
dos Municípios por meio da promulgação de Emenda à constituição estadual, pois a
Constituição Federal não proibiu a supressão desses órgãos.
Não se faz necessária a participação dos Municípios no processo, sobretudo
quando considerado que a estrutura de controle externo é integralmente arcada pelo
Estado.
Quanto à iniciativa, a requerente sustenta a inconstitucionalidade da propositura
por parlamentar.
O poder constituinte originário viabilizou aos tribunais de contas disporem sobre a
própria organização e funcionamento, e o fez com o propósito de assegurar-lhes a
autonomia necessária para exercer atividade fundamental à integridade do erário.
Essa norma protetiva não impede a extinção do Tribunal de Contas dos Municípios
mediante emenda cujo processo de elaboração tenha sido deflagrado por deputados
estaduais. O rito de emendamento constitucional observa regras próprias no tocante à
iniciativa. Ante a densidade representativa envolvida no procedimento de reconfiguração da
ordem constitucional, a regra para apresentação de emenda é mais rigorosa, atingindo as
entidades políticas que efetivamente traduzam a vontade popular manifestada por meio do
sufrágio.
Segundo a Constituição do Estado do Ceará, propostas de emendas constitucionais
podem ser apresentadas por 1/3 dos membros da Assembleia Legislativa, pelo Governador
do Estado ou por mais da metade das Câmaras Municipais. No caso, o foi por deputados
estaduais, consoante determinado na Carta Estadual.
É inviável, a partir de leitura sistemática dos preceitos constitucionais, assentar a
impossibilidade de emenda à Constituição, de iniciativa parlamentar, versar a extinção de
tribunal de contas estadual.
A requerente sustenta que a tramitação da proposta de emenda à Constituição
violou o princípio democrático, a inviabilizar a plena atuação da minoria parlamentar.
Descreve, na petição inicial, atos praticados no processamento da emenda (pedido de vista,

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questões de ordem e recursos), que alega contrariarem o Regimento Interno da Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará e a Constituição Federal.
Descabe potencializar o princípio democrático, transformando-o em alavanca para
ingerência do Supremo Tribunal Federal (STF) no Legislativo. A intervenção judicial
pressupõe, no campo do controle concentrado, ofensa à Constituição Federal. As alegadas
violações ao Regimento Interno não autorizam, por si sós, a atuação do STF no campo do
controle concentrado, exceto quando revelam a subversão de norma constitucional, à qual
a produção legislativa deve amoldar-se. No caso concreto, não foi o que ocorreu. Ademais,
o princípio democrático não pode ser utilizado como guarda-chuva de regras regimentais
em vigor no território nacional, o que transformaria o STF no guardião de todo e qualquer
procedimento legislativo.
Vencido o ministro Alexandre de Moraes, que julgou procedente o pedido,
acompanhado pelo ministro Gilmar Mendes.
Pontuou que o art. 752 da Constituição Federal impede a extinção desses órgãos de
controle. Além disso, entendeu haver ocorrido desvio de finalidade e que a referida emenda
violou o princípio sensível previsto no art. 34, VII, ―d‖3, da Constituição Federal.
CF/1988: ―Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante
controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 1º O
controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou
do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. [...] § 4º É vedada a
criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.
CF/1988: ―Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos
Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.‖
CF/1988: ―Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: [...] VII -
assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: [...] d) prestação de contas da administração
pública, direta e indireta.‖
ADI 5763/CE, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26.10.2017. (ADI-5763)

Informativo nº 883
(Segunda Turma)
Ministério Público comum e especial e legitimidade processual
A Segunda Turma negou provimento a dois agravos regimentais em reclamações,
ajuizadas por membros do Ministério Público Especial junto aos Tribunais de Contas. Em
ambos os casos, se trata de concessão indevida de aposentadoria especial a servidor público
civil, em suposta afronta ao que decidido pelo STF na ADI 3.772/DF (DJE de 7.11.2008).

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A Turma concluiu pela ausência de legitimidade ativa de causa, visto que a
legitimidade processual extraordinária e independente do Ministério Público comum não se
estende ao Ministério Público junto aos Tribunais de Contas, cuja atuação se limita ao
controle externo, nos termos da Constituição.11
Rcl 24156 AgR/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 24.10.2017. (Rcl-24156)
Rcl 24158 AgR/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 24.10.2017. (Rcl-24158)

Direito de Resposta
Informativo nº 851
(Primeira Turma)
Direito Constitucional - Reclamação. Reclamação e necessidade de aderência
A Primeira Turma negou provimento a agravo regimental por considerar não ser
possível o exame ―per saltum‖ do ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF, bem
assim estar clara a ausência de precedente desta Corte apto a permitir o acesso pela via
estreita da reclamação.
No caso, o reclamante sentiu-se ofendido após emissora de telecomunicação ter
veiculado, em telejornal, reportagem sobre denúncia oferecida em desfavor dele.
Em seguida, depois de ter o pedido de resposta indeferido extrajucialmente, o
agravante ajuizou ação de direito de resposta, que foi julgada improcedente sob o
fundamento de que, para a concessão do direito de resposta, seria preciso ―ofensa mais
virulenta‖ e ―intento deliberado de se transmitir apenas uma aparência de informação‖.
Diante disso, foi apresentada esta reclamação, alegando que a decisão do juízo teria
afrontado o entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado na ADPF 130/DF (DJE
de 6.11.2009).

11―2. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não dispõe de fisionomia institucional
própria, não integrando o conceito de Ministério Público enquanto ente despersonalizado de função
essencial à Justiça (CF/88, art. 127), cuja abrangência é disciplina no art. 128 da Constituição
Federal. 3. O Parquet especial não detém legitimidade para propor reclamação, uma vez que não se encontra
no rol de legitimados do caput do art. 988 do CPC/2015. 4. A cláusula de garantia inscrita no art. 130 da
CF/88 é de ordem subjetiva e, portanto, refere-se a direitos, vedações e forma de investidura no cargo dos
membros do Ministério Público junto às Cortes de Contas, não constituindo regra de ampliação da atribuição
institucional do Parquet especial. 5. Os integrantes do Parquet especial possuem atuação funcional
exclusiva perante as Cortes de Contas, não detendo legitimidade ad causam para executar as decisões
formadas no âmbito administrativo por meio de ação desenvolvida pelos meios ordinários ou pela via
reclamatória. Precedentes. 6. Agravo regimental não provido.‖ (Rcl 24162 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 22/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-260 DIVULG 06-
12-2016 PUBLIC 07-12-2016).
Assim, o membro do MPTC não possui atribuições jurisdicionais, com uma exceção! O membro do
MPTC terá legitimidade de capacidade postulatória para impetrar mandado de segurança, quando
se tratar da defesa das suas prerrogativas institucionais, contra acordão prolatado pela respectiva
Corte de Contas. (STJ, RMS 52.741-GO – Info 611).

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A Turma consignou não haver aderência entre o paradigma apontado e o ato
reclamado. Ao julgar a ADPF 130, o Plenário pronunciou-se sobre a compatibilidade da
Lei de Imprensa de 1967 com a Constituição de 1988. Porém, não fixou entendimento de
que os requisitos do direito de resposta são extraídos do art. 5º, V, da Constituição — que
não estabelece qualquer requisito para sua aplicação — e, portanto, interpretados de forma
ampla.
Rcl 24459 AgR/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 13.12.2016. (Rcl-24459)

Competências Legislativas
Informativo nº 856
(Plenário)
Bolsas de estudo e dedução do ICMS
O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do art. 3º da Lei 11.743/2002 do Estado do Rio Grande do Sul,
conferindo à decisão efeitos ―ex nunc‖, a partir da publicação da ata deste julgamento. A lei
impugnada assegura às empresas patrocinadoras de bolsas de estudo para professores que
ingressam em curso superior a possibilidade de exigir dos beneficiários serviços para
implementação de projetos de alfabetização ou aperfeiçoamento de empregados dessas
empresas, bem como outras atividades compatíveis com a sua formação profissional. O
art. 3º da lei impugnada autoriza o Poder Executivo a conceder à empresa patrocinadora
incentivo equivalente a 50% do valor da bolsa, a ser deduzido do ICMS.
De um lado, a Corte entendeu que o princípio federativo reclama o abandono de
qualquer leitura inflacionada centralizadora das competências normativas da União, bem
como sugere novas searas normativas que possam ser trilhadas pelos Estados-Membros,
Municípios e Distrito Federal. A ―prospective overruling‖, antídoto ao engessamento do
pensamento jurídico, possibilita ao STF rever sua postura em casos de litígios
constitucionais em matéria de competência legislativa, viabilizando o prestígio das
iniciativas regionais e locais, ressalvadas as hipóteses de ofensa expressa e inequívoca a
norma da Constituição. Dessa forma, a competência legislativa de Estado-Membro para
dispor sobre educação e ensino, prevista no art. 24, IX, da CF, autoriza a fixação, por lei
local, da possibilidade de concessão de bolsas de estudo a professores em aprimoramento
do sistema regional de ensino.

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Por outro lado, considerou que o pacto federativo reclama, para preservação do
equilíbrio horizontal na tributação, a prévia deliberação dos Estados-Membros para
concessão de benefícios fiscais relativamente ao ICMS, na forma prevista no art. 155, § 2º,
XII, ―g‖, da CF e como disciplinado pela LC 24/1975, recepcionada pela atual ordem
constitucional. Por esse motivo, o art. 3º da Lei 11.743/2002 padece de
inconstitucionalidade. Ao conceder benefício fiscal de ICMS sem a antecedente deliberação
dos Estados-Membros e do Distrito Federal, caracteriza-se hipótese típica de exoneração
conducente à guerra fiscal, em desarmonia com a Constituição.
Vencido, em parte, o ministro Marco Aurélio, que julgava improcedente o pedido.
Para o magistrado, não se trataria, no caso concreto, de guerra fiscal, por não ter havido
implemento de um benefício fiscal propriamente dito, mas simples contrapartida para as
empresas que resolvessem adentrar esse campo e financiar o aprimoramento da classe dos
professores.
ADI 2663/RS, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.3.2017. (ADI-2663)

Informativo nº 857
(Segunda Turma)
Competência legislativa dos Municípios e Direito Ambiental
Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente.12 Com base nesse entendimento, a Segunda Turma negou provimento
a agravo regimental.
A Turma afirmou que os Municípios podem adotar legislação ambiental mais
restritiva em relação aos Estados-Membros e à União. No entanto, é necessário que a
norma tenha a devida motivação.
ARE 748206 AgR/SC, rel Min. Celso de Mello, julgamento em 14.3.2017. (ARE-748206)

Informativo nº 870
(Plenário)
Meio ambiente e poluição: competência municipal - 5

12 A decisão teve como fundamento constitucional os seguintes dispositivos:


Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição;
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

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O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da
poluição, quando se tratar de interesse local.
Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria,
negou provimento a recurso extraordinário em que se debateu a competência dos
Municípios para legislar sobre proteção do meio ambiente e controle da poluição. Cuida-se,
na espécie, de recurso extraordinário contra acórdão de tribunal estadual que, ao julgar
apelação em mandado de segurança, reconheceu a legitimidade de legislação municipal com
base na qual se aplicaram multas por poluição do meio ambiente, decorrente da emissão de
fumaça por veículos automotores no perímetro urbano (vide Informativos 347, 431 e 807).
O Colegiado, preliminarmente e por decisão majoritária, conheceu do recurso.
Entendeu viável a utilização de mandado de segurança, uma vez ter sido impugnado, no
caso, ato concreto fundado na legislação municipal, cuja alegada não recepção pelo
ordenamento constitucional vigente é objeto de controvérsia no recurso.
Vencido, no ponto, o ministro Dias Toffoli, que reputou extinto o mandado de
segurança e, subsequentemente, prejudicado o recurso. Aduziu não caber mandado de
segurança contra lei em tese (1).
No mérito, o Plenário considerou que as expressões ―interesse local‖, do art. 30, I,
da Constituição Federal (CF), e ―peculiar interesse‖, das Constituições anteriores, se
equivalem e não significam interesse exclusivo do Município, mas preponderante. Assim, a
matéria é de competência concorrente (CF, art. 24, VI), sobre a qual a União expede
normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal editam normas suplementares e, na
ausência de lei federal sobre normas gerais, editam normas para atender a suas
peculiaridades (2). Por sua vez, os Municípios, com base no art. 30, I e II, da CF (3),
legislam naquilo que for de interesse local, suplementando a legislação federal e a estadual
no que couber.
Vencidos os ministros Cezar Peluso, Eros Grau e Gilmar Mendes, que proveram o
recurso. Asseveraram que a matéria de fundo diz respeito ao art. 22, XI, da CF (4).
(1) Enunciado 266 da Súmula do STF: ―Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.‖
(2) Constituição Federal/1988: ―Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição. § 1º No âmbito da legislação
concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União
para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei

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federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.‖
(3) Constituição Federal/1988: ―Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse
local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber.‖
(4) Constituição Federal/1988: ―Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XI – trânsito e
transporte.‖
RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgamento em 29.6.2017. (RE-194704)

Informativo nº 871
(Plenário)
Lei estadual e prestação de serviço de segurança
Lei estadual que impõe a prestação de serviço de segurança em estacionamento a toda
pessoa física ou jurídica que disponibilize local para estacionamento é inconstitucional, quer por
violar a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, quer por violar a livre
iniciativa.
Lei estadual que impõe a utilização de empregados próprios na entrada e saída de
estacionamento, impedindo a terceirização, viola a competência privativa da União para legislar
sobre direito do trabalho.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido
formulado em ação direta para declarar integralmente inconstitucional a Lei 1.748/1990 do
Estado do Rio de Janeiro, que obriga pessoas físicas ou jurídicas a oferecer estacionamento ao
público, cercar o local e manter funcionários próprios para garantia da segurança, sob pena de
pagamento de indenização na hipótese de prejuízos ao dono do veículo.
Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Ricardo
Lewandowski, que julgaram parcialmente procedente o pedido. Afirmaram que os Estados-
Membros podem dispor sobre a prestação de serviço de segurança em estacionamento por se
tratar de matéria afeta ao Direito do Consumidor, portanto, de competência concorrente entre
União e Estados-Membros.
ADI 451/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 1º.8.2017. (ADI-451)

Informativo nº 871
(Plenário)
Lei estadual e serviço de empacotamento
Lei estadual que torna obrigatória a prestação de serviços de empacotamento nos
supermercados é inconstitucional por afrontar o princípio constitucional da livre inciativa.

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Ofende a competência privativa da União para legislar sobre Direito do Trabalho a
mesma norma, ao exigir que o serviço seja prestado por funcionário do próprio
estabelecimento.
Com base nesses entendimentos, o Plenário julgou procedente pedido formulado
em ação direta para declarar inconstitucional a Lei 2.130/1993 do Estado do Rio de
Janeiro.
Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes (relator), Edson Fachin e
Ricardo Lewandowski, que julgaram parcialmente procedente o pedido. Afirmaram que o
serviço de empacotamento é norma afeta ao Direito do Consumidor, matéria, portanto, de
competência concorrente entre a União e os Estados-Membros. Além disso, entendem que
a norma não viola o princípio da livre inciativa.
ADI 907/RJ, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgamento em 1º.8.2017. (ADI-907)

Informativo nº 871
(Plenário)
Competência legislativa: proteção do consumidor e lealdade à Federação
O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação
direta para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II, III e IV do art. 2º da Lei
1.939/1991 do Estado do Rio de Janeiro. A norma impugnada dispõe sobre a
obrigatoriedade de informações nas embalagens dos produtos alimentícios comercializados
naquele Estado-Membro e estabelece as respectivas sanções.
Inicialmente, o Colegiado afastou preliminar no sentido de que o exame da
constitucionalidade da lei passaria pelo cotejo com o Código de Defesa do Consumidor
(CDC). O foco da análise, no caso, refere-se às regras constitucionais de repartição da
competência legislativa e não ao exame da validade dos atos impugnados em face da
legislação infraconstitucional.
No mérito, o Tribunal repisou sua jurisprudência no sentido de que, em sede de
competência concorrente, o livre espaço para a atividade legislativa estadual é autorizado na
hipótese de não existir legislação nacional a contemplar a matéria. Ao existir norma geral, a
legislação estadual poderá preencher eventuais lacunas.
No caso, a lei impugnada entrou em vigor quando já havia ampla legislação
nacional sobre a matéria, e boa parte do conteúdo da norma local estava disciplinada por lei

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federal. Nesse sentido, a lei estadual especifica exigências mais rígidas do que o previsto na
legislação federal, ponto em que fica claro o conflito normativo.
Esse conflito fica explícito quando se nota que um mesmo produto não pode ter
dois rótulos ou embalagens, um nacional e outro estadual, ainda que as informações
contidas no produto em circulação local sejam mais completas, em benefício do
consumidor. Isso implicaria, em última análise, criar uma autorização para que houvesse
tantos rótulos quantos são os Estados-Membros.
A intenção do constituinte foi de, por um lado, promover a integração e a
cooperação entre os entes federados e, por outro, combater todas as práticas que
estimulem a concorrência predatória ou a criação de barreiras ao comércio ou à livre
circulação de bens e pessoas no território nacional.
Além disso, os dispositivos impugnados também não se justificam diante do
princípio da proporcionalidade. Se admitido que os Estados-Membros possuem
competência para legislar sobre informações contidas em embalagens de produtos que
circulam em seu território, o fim de proteção ao consumidor é alcançado por meio
excessivo, pois são criadas dificuldades a produtos provenientes de outros Estados-
Membros. Isso significa ferir o denominado princípio da lealdade à Federação, que fomenta
uma relação construtiva, amistosa e de colaboração entre os entes federados. Nesse
sentido, os dispositivos impugnados também estão em desconformidade do o art. 22, VIII,
da Constituição Federal (CF).
Assim, justifica-se a necessidade de o tema ser tratado privativamente pela União,
de modo a uniformizar o comércio interestadual e, consequentemente, evitar que os laços
federativos sejam embaraçados. Há clara predominância de interesse federal a evitar
limitações que possam dificultar o comércio interestadual.
Ainda que tenha havido casos em que o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou
a constitucionalidade de legislações estaduais que determinam o aumento do número de
informações que devem ser fornecidas a consumidores locais, tratava-se de produtos
específicos, e não de todos os produtos alimentícios comercializados no local, como nesse
caso.
Vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, que
julgaram o pedido totalmente procedente, com fulcro no art. 24, § 4º, da CF. Incluíram, na
declaração de inconstitucionalidade, as penalidades previstas na legislação adversada. Para

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eles, a superveniência de legislação federal (Lei 9.782/1999) que regule a matéria de forma
detalhada implica perda de eficácia da lei estadual que a contrarie.
Vencidos, também, os ministros Edson Fachin, Celso de Mello e Cármen Lúcia,
que julgaram o pedido totalmente improcedente. Consideraram que a máxima efetividade
da proteção ao consumidor, derivada do seu direito de informação, sustenta a lei em
debate.
ADI 750/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.8.2017. (ADI-750)

Defensoria Pública
Informativo nº 856
(Primeira Turma)
Tramitação em tribunal superior e intimação de defensoria pública estadual
A Primeira Turma, por maioria, não admitiu a impetração de ―habeas corpus‖ em que
discutida a possibilidade de atuação de Defensoria Pública estadual perante o STJ.
No caso, Defensoria Pública estadual interpôs, em favor do paciente, agravo em face
da não admissão de recurso especial perante o STJ. Ocorre que a Defensoria Pública da União,
e não a estadual, foi intimada da decisão proferida no agravo, o que, segundo a defesa, implicou
o trânsito em julgado do pronunciamento e a subsequente expedição de mandado de prisão
contra o paciente.
O Colegiado entendeu ser inadequada a via eleita por se tratar de ―habeas corpus‖
substitutivo de agravo regimental, uma vez que foi impetrado contra decisão monocrática de
ministro do STJ.
Asseverou que, consoante a jurisprudência desta Corte, a intimação há de ser feita à
DPU, já organizada e no desempenho regular de suas atividades perante os tribunais
superiores.
Ademais, salientou que a DPU foi estruturada sob o pálio dos princípios da unidade e
da indivisibilidade para dar suporte às Defensorias Públicas estaduais e fazer as vezes daquelas
de Estados-Membros longínquos, que não podem exercer o múnus a cada recurso endereçado
aos tribunais superiores.13

13
Enquanto os Estados, mediante lei específica, não organizarem suas Defensorias Públicas para atuarem
continuamente nesta Capital Federal, inclusive com sede própria, o acompanhamento dos processos em
trâmite nesta Corte constitui prerrogativa da Defensoria Pública da União - DPU. Precedentes. (AgRg no
AREsp n. 230.296/AL, Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, DJe 4/6/2013). (STJ. AgRg no HC
378.088/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe
16/12/2016)

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Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia a ordem. Para ele, haveria de presumir-
se que, tendo a Defensoria Pública estadual interposto o recurso especial, ela estaria
acompanhando-o e que a falta de representação em Brasília não poderia motivar o
direcionamento da intimação à DPU.
HC 118294/AP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento
em 7.3.2017. (HC-118294)

Direito à Informação
Informativo nº 857
(Plenário)
Reclamação: direito à informação e sessões secretas do STM
O Tribunal julgou procedente reclamação ajuizada contra ato do Superior Tribunal
Militar (STM), para determinar à autoridade reclamada dê fiel e integral cumprimento à
ordem concedida no julgamento do RMS 23.036/RJ (acórdão publicado no DJ de
25.8.2006).
No referido julgado, a concessão da ordem foi para que os impetrantes tivessem
acesso a registro documentais de sessões do STM ocorridas na década de 1970. Não
obstante, feito um novo requerimento, o STM o deferira somente ao que se refere às
sessões públicas.
Inicialmente, o Colegiado observou que a decisão proferida no julgamento do
citado RMS 23.036/RJ não limitou o acesso dos então impetrantes a documentos e
arquivos fonográficos relacionados apenas às sessões públicas dos julgamentos do STM.
Naquela ocasião, pelo contrário, a Corte assentou não haver campo para a
discricionariedade da Administração em restringir o amplo acesso que os então recorrentes
deveriam ter aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no período em
referência. Conferiu, assim, induvidosa amplitude àquela decisão e concluiu que o ato
impugnado estava em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente, que
erigiu o direito à informação ao ―status‖ de direito fundamental.
Por esse motivo, é injustificável a resistência do STM de se opor ao cumprimento
da decisão pelo STF, que taxativamente afastou os obstáculos erigidos para impedir fossem
trazidos à lume a integralidade dos atos processuais lá praticados, seja na dimensão oral ou
escrita, cujo conhecimento cidadãos brasileiros requereram, para fins de pesquisa histórica
e resguardo da memória nacional.

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Asseverou que o direito à informação, a busca pelo conhecimento da verdade sobre
sua história, sobre os fatos ocorridos em período avassalador do sentimento nacional e do
espírito democrático que exsurgia, assim como sobre suas razões, integra o patrimônio
jurídico de todo e qualquer cidadão e constitui dever do Estado assegurar os meios para o
seu exercício.
Dessa forma, o Plenário concluiu que a autoridade reclamada deve permitir o
acesso do reclamante aos documentos descritos no requerimento administrativo objeto da
impetração em questão, ressalvados apenas aqueles indispensáveis ao resguardo de
interesse público legítimo e à defesa da intimidade e aqueles cujo sigilo se imponha para
proteção da sociedade e do Estado, o que há de ser motivado de forma explicita e
pormenorizada pelo reclamado, a fim de sujeitar esse exame administrativo ao controle
judicial.
Rcl 11949/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 15.3.2017. (Rcl-11949)

Medidas Provisórias
Informativo nº 857
(Plenário)
Medida provisória: emenda parlamentar e ―contrabando legislativo‖
O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta
ajuizada em face dos arts. 113 a 126 da Lei 12.249/2010, incluídos por emenda
parlamentar em projeto de conversão de medida provisória em lei.
Os dispositivos impugnados: a) alteram os limites das unidades de conservação
federais Floresta Nacional do Bom Futuro, Parque Nacional Mapinguari e Estação
Ecológica de Cuniã; b) autorizam a União a doar ao Estado de Rondônia imóveis rurais
de sua propriedade inseridos na área desafetada da Floresta Nacional do Bom Futuro,
sob condição de que em parte dela sejam criadas uma área de proteção ambiental e uma
floresta estadual; c) determinam sejam doadas ao Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pelos órgãos e pelas entidades federais que
as detenham, as terras da União contidas nos novos limites do Parque Nacional
Mapinguari e da Estação Ecológica de Cuniã; e d) declaram de utilidade pública, para
fins de desapropriação pelo ICMBio, os imóveis rurais privados existentes nas áreas de
ampliação do Parque Nacional Mapinguari e da Estação Ecológica de Cuniã.

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Porém, a medida provisória que originou a lei em questão contemplava,
originalmente, matérias distintas das tratadas nos citados artigos.
O Colegiado reportou-se ao decidido na ADI 5.127/DF14 (DJE de 11.5.2016),
no sentido de ser incompatível com a Constituição CF apresentar emendas sem relação
de pertinência temática com a medida provisória submetida à apreciação.
Asseverou que a prática de inserção, mediante emenda parlamentar, no processo
legislativo de conversão de medida provisória em lei, de matérias de conteúdo temático
estranho ao objeto originário da medida provisória viola a Constituição, notadamente o
princípio democrático e o devido processo legislativo (CF, arts. 1º, ―caput‖ e parágrafo
único, 2º, ―caput‖, e 5º, ―caput‖ e LIV).
Entretanto, nos termos do citado precedente, deliberou pela manutenção dos
atos normativos atacados, por conta do princípio da segurança jurídica. Naquele caso, o
Plenário manteve hígidas todas as leis de conversão fruto dessa prática promulgadas até
a data do julgamento, ocorrido em 15.10.2015.
A ministra Rosa Weber (relatora), com ressalva de seu entendimento pessoal,
endossou a orientação quanto aos efeitos prospectivos daquela decisão.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgava a ação procedente.
ADI 5012/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 16.3.2017. (ADI-5012)

Nacionalidade
Informativo nº 859
(Primeira Turma)
Extradição e perda de nacionalidade brasileira
A Primeira Turma, por maioria, julgou procedente pedido formulado em extradição
ajuizada pelo Governo dos Estados Unidos da América para assentar a possibilidade de
entrega da extraditanda, brasileira nata naturalizada americana, acusada da suposta prática
de homicídio doloso contra seu marido naquele país.
Inicialmente, a Turma relembrou que a perda da nacionalidade brasileira da
extraditanda, decretada pelo Ministério da Justiça, teria sido validada no julgamento do
Mandado de Segurança 33864/DF15 (DJE de 9.12.2016).

14
A decisão versa sobre o contrabando legislativo, declarado inconstitucional no julgamento da ADI 5127,
no ano de 2015. Devido à segurança jurídica, o STF modulou os efeitos da decisão para que não alcançasse os
dispositivos aprovados antes daquele julgamento (15/10/2015). É o caso dos dispositivos impugnados nesta
ADI (5012), que uma vez aprovados antes de 15/10/2015, foram tolerados e mantidos.

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Asseverou que, na ocasião, a Turma, por maioria, firmou entendimento no sentido
de que a Constituição Federal (CF), ao tratar da perda da nacionalidade brasileira,
estabeleceu duas hipóteses: a) o cancelamento judicial da naturalização, em virtude da
prática de ato nocivo ao interesse nacional, o que somente alcança brasileiros naturalizados
(art. 12, § 4º, I); e b) a aquisição voluntária de outra nacionalidade secundária, o que
alcança, indistintamente, brasileiros natos e naturalizados. Nesta última hipótese — a de
aquisição de outra nacionalidade —, não se perde a nacionalidade brasileira em duas
situações que constituem exceção à regra: a) tratar-se não de aquisição de outra
nacionalidade, mas do mero reconhecimento de outra nacionalidade originária, considerada
a natureza declaratória deste reconhecimento (art. 12, § 4º, II, ―a‖); e b) ter sido a outra
nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, ―b‖). Entretanto, a situação
da então impetrante não se enquadra em nenhuma dessas exceções, porque ela já detinha,
desde muito antes de 1999, quando requereu a naturalização, o denominado ―green card‖,
cuja natureza jurídica é a de visto de permanência e que confere, nos Estados Unidos da
América, os direitos que alega ter pretendido adquirir com a naturalização: a permanência
em solo norte-americano e a possibilidade de trabalhar naquele país. Em razão disso,
desnecessária a obtenção da nacionalidade norte-americana para os fins que
constitucionalmente revelam exceção à regra da perda da nacionalidade brasileira (CF, art.
12, II, § 4º, ―a‖ e ―b‖). Ao contrário, a extraditanda pretendeu integrar-se àquela comunidade
nacional, o que justamente constitui a razão central do critério adotado pelo constituinte
originário para a perda da nacionalidade brasileira, critério este não excepcionado pela

15Veiculado no Info 822: Ementa: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA


NATURALIZADA AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O
BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO REGULAR. HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO
OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O
Supremo Tribunal Federal é competente para o julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato
do Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC 83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello). 2. A
Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o
cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de outra nacionalidade. Nesta última
hipótese, a nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações que constituem exceção à regra: (i)
reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade
imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu território ou para o exercício de
direitos civis (art. 12, § 4º, II, b). 3. No caso sob exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer
das exceções constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da
nacionalidade brasileira. 4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida. (MS 33864,
Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-09-2016)

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Emenda Constitucional 3/1994, que introduziu as exceções previstas nas alíneas ―a‖ e ―b‖
do § 4º do inciso II do art. 12 da CF.
Em seguida, a Turma considerou preenchidos todos os requisitos previstos na Lei
6.815/1980 e no Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e os Estados Unidos.
Também não vislumbrou nenhum dos óbices fixados no art. 77 da Lei 6.815/1980 ao
deferimento do pedido: a) a extraditanda não é nacional brasileira; b) sua extradição foi
requerida por Estado que mantém Tratado de Extradição com o Brasil; c) a pena máxima
prevista para os crimes comuns — pelo qual responde — é superior a um ano de privação
de liberdade (art. III do Tratado de Extradição); d) a prisão foi decretada por juízo
regularmente instituído; e) o Brasil não é competente para o julgamento do crime; e f) o
crime não tem conotação política.
No que concerne à alegação de não ter sido apresentada tradução juramentada em
língua portuguesa dos documentos que instruem o pedido, o Colegiado entendeu que a
expressão ―tradução oficial‖, utilizada pelo art. 80 do Estatuto do Estrangeiro, refere-se à
tradução cuja autenticidade é certificada pelas autoridades do Estado requerente e cujo
encaminhamento se dá por órgãos oficiais, o que confere a mencionada autenticidade, nos
termos do art. IX do Tratado e da jurisprudência desta Corte (Ext 1100/República do
Chile, DJE de 3.10.2008; Ext 1171/República da Argentina, DJE de 25.6.2010).
Observou que, no caso, a tradução foi certificada pelo Departamento de Estado
dos Estados Unidos da América, e os documentos encaminhados a esta Corte pelo
Ministério da Justiça e pela via diplomática, não havendo falar-se em defeito de tradução.
Por fim, a Turma salientou não ser possível prosperar a cooperação quando houver
o risco de imposição ao extraditando de penas não admitidas no ordenamento jurídico
brasileiro. Assim, pode o Estado que coopera em matéria penal exigir o compromisso
formal de que tais penas não serão eventualmente aplicadas ao extraditando entregue ao
Estado requerente.
Dessa forma, deferiu o pedido de extradição e condicionou a entrega ao Estado
requerente ao compromisso formal de: a) não aplicar penas interditadas pelo direito
brasileiro, em especial a de morte ou prisão perpétua (CF, art. 5º, XLVII, ―a‖ e ―b‖); b)
observar o tempo máximo de cumprimento de pena previsto no ordenamento jurídico
brasileiro de trinta anos (CP, art. 75); e c) detrair da pena o tempo que a extraditanda
permaneceu presa para fins de extradição no Brasil.

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Vencido o ministro Marco Aurélio, que indeferia o pedido, ao fundamento de
persistir a condição de brasileira nata da extraditanda.
Ext 1462/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 28.3.2017. (Ext-1462)

Direito à Educação
Informativo nº 862
(Plenário)
Repercussão Geral

Gratuidade de ensino e cobrança de mensalidade em curso de especialização


A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por
universidades públicas de mensalidade em cursos de especialização.
Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso
extraordinário para denegar segurança.
Preliminarmente, o Colegiado, também por maioria, indeferiu pedido de
sustentação oral do advogado do ―amicus curiae‖ da Associação Nacional dos Pós-
Graduandos (ANPG) já ter se exaurido a fase de sustentação oral na sessão anterior, e
tendo ele se inscrito apenas na sessão subsequente. Vencidos, no ponto, os ministros
Marco Aurélio, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, que deferiam o pleito, ao
fundamento de que, se há inscrito terceiro, sem que ainda tivesse sido proferido
qualquer voto, se deveria, em prestígio ao devido processo legal, viabilizar a
sustentação.
Quanto ao mérito, inicialmente, o Colegiado observou que, a despeito da
Súmula Vinculante 12 (1), alargar a sua aplicação para os cursos de extensão seria
interpretação equivocada do verbete sumular.
Asseverou haver no texto constitucional uma diferenciação entre ―ensino‖,
―pesquisa‖ e ―extensão‖, que formam tripé harmônico e essencial para a educação de
qualidade. Nos termos do art. 206, IV, da Constituição Federal (CF), a gratuidade do
ensino é um princípio aplicável a todos os estabelecimentos oficiais. Para tanto,
conforme exige o art. 212, ―caput‖, da CF, um percentual da receita pública deve ser
destinado à ―manutenção e desenvolvimento do ensino‖. O art. 213, § 2º, da CF
autoriza, ―argumentum a contrario‖, a captação de recursos destinados à pesquisa e à
extensão porque os recursos públicos, a que se refere o art. 212, ―caput‖, da CF, têm
destinação precípua às escolas públicas. Já as atividades descritas no art. 213, § 2º, da

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CF não necessariamente contam com recursos públicos. Seria incorreto, porém,
concluir que a Constituição não exige financiamento público para a pesquisa e
extensão.
Explicou que a indissolubilidade entre ―ensino, pesquisa e extensão‖, princípio
previsto no ―caput‖ do art. 207 da CF, exige que o financiamento público não se
destine exclusivamente ao ensino, visto que, para a manutenção e desenvolvimento do
ensino, são necessários, nos termos do art. 207, pesquisa e extensão.
Entretanto, há um espaço de conformação no texto constitucional para a
definição das atividades que integram a manutenção e o desenvolvimento do ensino.
De fato, o regime constitucional de pós-graduação deve derivar das exigências
constitucionais contidas no art. 207 da CF. Impossível afirmar, com base na leitura
estrita da CF, que as atividades de pós-graduação são abrangidas pelo conceito de
manutenção e desenvolvimento do ensino, parâmetro constitucional para a destinação,
com exclusividade, dos recursos públicos. Por isso, para a solução do presente caso, é
preciso examinar se a instituição de cursos de pós-graduação (especialização) implica,
necessariamente, gratuidade.
O Colegiado frisou competir ao legislador a tarefa de disciplinar quais
características determinado curso assumirá. Caso a atividade preponderante se refira à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino, a gratuidade deverá ser observada, nos
termos do art. 206, IV, da CF.
Para matéria relativa a ensino, pesquisa e extensão, a competência regulamentar
é concorrente entre a União e os Estados-Membros (CF, art. 24, IX), mas também é
afeta à autonomia universitária. Quanto a este último aspecto, a universidade pode
contar, por expressa previsão constitucional (CF, art. 213, § 2º), com recursos de
origem privada. Ademais, embora não disponham de competência para definir a origem
dos recursos a serem utilizados para a manutenção e o desenvolvimento do ensino, as
universidades podem definir quais são as atividades de pesquisa e extensão passíveis de
realização em regime de colaboração com a sociedade civil. No exercício de sua
competência para definir normas gerais (CF, art. 24, § 1º), a União editou a Lei
9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Dessa lei é
possível depreender que os cursos de pós-graduação se destinam à preparação para o
exercício do magistério superior (arts. 64 e 66) e, por isso, são indispensáveis para a
manutenção e o desenvolvimento das instituições de ensino (art. 55).

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Porém, é preciso observar que apenas os cursos de pós-graduação que se
destinam à manutenção e ao desenvolvimento do ensino são financiados pelo Poder
Público. Novamente é a Lei 9.394/1996, em seus arts. 70 e 71, que fixa as regras para
contabilizar essas despesas.
Segundo o Tribunal, não se deve, evidentemente, ler a Constituição com
fundamento na lei, mas sua referência exemplifica o fato de que ao legislador é possível
descrever as atividades que, por não se relacionarem com a manutenção e o
desenvolvimento do ensino, não dependem de recursos exclusivamente públicos. É
lícito, dessa forma, às universidades perceber remuneração pelo seu desempenho.
Além disso, a elaboração da lei não retira das universidades a competência para,
por meio de sua autonomia, desenvolver outras atividades voltadas à comunidade que
não se relacionem precisamente com a exigência constitucional da manutenção e do
desenvolvimento do ensino. Essa observação vai ao encontro do próprio texto
constitucional, ou seja, não há, na previsão de autonomia das universidades (CF, art.
207), remissão à regulamentação por lei, diversamente do que ocorre com as regras
sobre a carreira dos professores (CF, art. 206, V), com a forma de gestão democrática
(CF, art. 206, VI) e com a contratação de professores estrangeiros (CF, art. 207, § 1º ).
Há, aqui, potencialmente, um choque entre as competências legais do Poder
Legislativo e normativas das universidades, ou do órgão encarregado de sua
organização (CF, art. 211, § 1º). Esse conflito tem, em tese, assento constitucional e
não legal. No caso, contudo, não há conflito a exigir a intervenção por parte do
Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto a CF quanto a lei dão margem ao juízo de
conformação a ser realizado pelas universidades para definir se determinado curso de
especialização destina-se à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, hipótese em
que, por expressa previsão constitucional, os recursos para seu financiamento deverão
ser exclusivamente públicos. Nesse sentido, o art. 71 da Lei 9.394/1996 exclui das
despesas de manutenção e desenvolvimento a formação de quadros especiais para a
administração, caso em que, desde que restrita aos cursos de especialização, não haveria
impedimento para as universidades, por analogia, disciplinarem outros cursos cuja
cobrança de mensalidade fosse possível.
O Colegiado afirmou ser evidente que as universidades não são completamente
livres para definir suas atividades. O desempenho precípuo de suas funções exige que,
no mínimo, haja completa realização daquelas que se relacionem com a manutenção e o

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desenvolvimento do ensino. Nada impede que, para além dessas atividades, a
universidade possa definir outros cursos para a comunidade, como cursos de extensão,
que, embora se relacionem ao ensino, guardam independência quanto a ele.
Afastou o argumento de que, por ostentarem natureza autárquica ou
fundacional, as universidades somente poderiam adotar o regime tributário para a
obtenção de receitas, a implicar que o serviço desempenhado passasse a ser remunerado
por taxa. Isso porque, em primeiro lugar, a adoção do regime de direito público,
previsto no art. 37 da CF, não impõe, necessariamente, que a obtenção de receita seja
exclusivamente pela via tributária. Ademais, o princípio da gratuidade veda,
precisamente, a cobrança de prestação compulsória (CF, art. 205), como ocorre nas
atividades de manutenção e desenvolvimento do ensino. Além disso, por serem as
atividades extraordinárias desempenhadas de modo voluntário pelas universidades,
pode ser estabelecida uma tarifa como contraprestação.
Relembrou que, no julgamento da ADI 800/RS (DJE de 27.6.2014), se
reconheceu que o traço característico de uma prestação estatal remunerada por taxa é a
compulsoriedade, prevista no art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN). Na mesma
direção aponta ainda o Enunciado 545 da Súmula desta Corte (2). Essa diferenciação é
fundamental para também estender às atribuições desempenhadas pelas universidades o
entendimento sumulado pelo STF. Dessa forma, por não ser taxa a cobrança de
mensalidade para os cursos não relacionados com a manutenção e o desenvolvimento
do ensino, não está sujeita à legalidade estrita. Noutras palavras, podem as
universidades regulamentar a forma de remuneração do serviço desempenhado.
Ainda no que tange às limitações impostas às universidades, é mister registrar
que os professores são servidores públicos e, como tal, destinam-se ao desempenho das
tarefas indicadas nos seus cargos. Não podem, consequentemente, eximir-se de suas
obrigações ordinárias para desempenhar aquelas que, por conveniência, a universidade
decidiu oferecer ao público, mediante pagamento.
Além disso, embora tenham autonomia para definir as atividades ofertadas ao
público, as universidades devem ter em conta que prestam serviço público e, portanto,
devem garantir os direitos dos usuários (CF, art. 175, II), observar a modicidade
tarifária (CF, art. 175, III) e manter serviço de qualidade (CF, art. 206, VII), atendidas
as exigências do órgão coordenador da educação (CF, art. 211, § 1º). Finalmente, a

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regulamentação dessas atividades deve ainda observar o princípio da gestão
democrática do ensino (CF, art. 206, VI).
Em suma, o Plenário concluiu ser preciso reconhecer que nem todas as
atividades potencialmente desempenhadas pelas universidades se referem
exclusivamente ao ensino. A função desempenhada por elas é muito mais ampla do que
as formas pelas quais elas obtêm financiamento. Assim, o princípio da gratuidade não
as obriga a perceber exclusivamente recursos públicos para atender sua missão
institucional. Ele exige, porém, que, para todas as tarefas necessárias à plena inclusão
social, missão do direito à educação, haja recursos públicos disponíveis para os
estabelecimentos oficiais. O termo utilizado pela CF é que essas são as tarefas de
manutenção e desenvolvimento do ensino. Consequentemente, são a elas que se
estende o princípio da gratuidade. Nada obstante, é possível às universidades, no
âmbito de sua autonomia didático-científica, regulamentar, em harmonia com a
legislação, as atividades destinadas preponderantemente à extensão universitária, sendo -
lhes, nessa condição, possível a instituição de tarifa.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que negava provimento ao recurso.
Considerava que o inciso IV do art. 206 da CF prevê um princípio inafastável que
garantiria a gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais, sem distinção, se de
ensino básico, fundamental, superior, graduação ou pós-graduação. Além disso, o inciso
I do art. 206 da CF asseguraria a igualdade de condições de acesso e permanência na
escola. Não caberia ao intérprete, portanto, fazer distinção onde o texto constitucional
não o fez, sob pena de gerar privilégio apenas aos que têm condições de arcar com os
valores cobrados para os cursos. Em suma, as universidades públicas deveriam prestar
o serviço educacional com base nas receitas previstas de forma exaustiva no texto
constitucional (CF, art. 212) e, por serem públicas, haveriam de viabilizar, sem
necessidade de qualquer pagamento, o acesso dos cidadãos em geral.
(1) Súmula Vinculante 12: ―A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto
no art. 206, IV, da Constituição Federal‖.
(2) Enunciado 545 da Súmula do STF: ―Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque
estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu‖.
RE 597854/GO, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 26.4.2017. (RE-597854)

Informativo nº 879

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(Plenário)
Ensino religioso em escolas públicas-3
O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, julgou improcedente pedido
formulado em ação direta na qual se discute o ensino religioso nas escolas públicas do país.
Conferiu interpretação conforme à Constituição ao art. 33, ―caput‖, e §§ 1º e 2º (1), da Lei
9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), e ao art. 11, § 1º (2),
do acordo Brasil-Santa Sé aprovado por meio do Decreto Legislativo 698/2009 e
promulgado por meio do Decreto 7.107/2010, para assentar que o ensino religioso em
escolas públicas pode ter natureza confessional16 (Informativos 875 e 878).
Entendeu que o Poder Público, observado o binômio laicidade do Estado [CF, art.
19, I (3)] e consagração da liberdade religiosa no seu duplo aspecto [CF, art. 5º, VI (4)],
deverá atuar na regulamentação integral do cumprimento do preceito constitucional
previsto no art. 210, § 1º da CF (5), autorizando, na rede pública, em igualdade de
condições, o oferecimento de ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos
formais de credenciamento, de preparo, previamente fixados pelo Ministério da Educação.
Dessa maneira, será permitido aos alunos se matricularem voluntariamente para que
possam exercer o seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários
normais das escolas públicas. O ensino deve ser ministrado por integrantes, devidamente
credenciados, da confissão religiosa do próprio aluno, a partir de chamamento público já
estabelecido em lei para hipóteses semelhantes (Lei 13.204/2015) e, preferencialmente, sem
qualquer ônus para o Poder Público.
A Constituição garante a liberdade de expressão às ideias majoritárias e a
minoritárias, progressistas e conservadoras, políticas e ideias religiosas. Assim, não se pode,
previamente, censurar a propagação de dogmas religiosos no ensino religioso para aquele
que realmente quer essas ideias. Os dogmas de fé são o núcleo do conceito de ensino
religioso. Dessa forma, o Estado violaria a liberdade de crença ao substituir os dogmas da
fé, que são diversos em relação a cada uma das crenças, por algo neutro. A neutralidade no
ensino religioso não existe. O que deve existir é o respeito às diferenças no ensino
religioso.
Vencidos os ministros Roberto Barroso (relator), Rosa Weber, Luiz Fux, Marco
Aurélio e Celso de Mello, que julgaram o pedido procedente, para dar interpretação
conforme à Constituição aos preceitos impugnados, por considerar que o ensino religioso

16Entende-se ―ensino religioso de natureza confessional‖ aquele em que se seguem ensinamentos de uma
religião específica.

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ministrado em escolas públicas deve ser de matrícula efetivamente facultativa e ter caráter
não confessional, vedada a admissão de professores na qualidade de representantes das
religiões para ministrá-lo.
(1) LDB: ―Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do
cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º Os sistemas
de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e
estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os sistemas de ensino ouvirão
entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino
religioso‖.
(2) Acordo Brasil-Santa Sé: ―Art. 11. A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade
religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino
religioso em vista da formação integral da pessoa. §1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões
religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a
Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação‖.
(3) CF: ―Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público‖.
(4) CF: ―Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades
civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;‖.
(5) CF: ―Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar
formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino
religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental‖.
ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 27.9.2017. (ADI-4439)

Poder Executivo
Informativo nº 863
(Plenário)

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Processamento de governador: autorização prévia da assembleia legislativa e suspensão de
funções - 3
Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa para o
recebimento de denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra governador de
Estado, por crime comum, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ato de
recebimento ou no curso do processo, dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação
de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. 17
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou
parcialmente procedente pedido formulado em ação direta para: a) dar interpretação
conforme ao art. 92, § 1º, I, da Constituição do Estado de Minas Gerais para consignar
não haver necessidade de autorização prévia de assembleia legislativa para o
recebimento de denúncia e a instauração de ação penal contra governador de Estado,
por crime comum, cabendo ao STJ, no ato de recebimento da denúncia ou no curso do
processo, dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,
inclusive afastamento do cargo; e b) julgar improcedente o pedido de declaração de
inconstitucionalidade da expressão ―ou queixa‖ do art. 92, § 1º, I, da Constituição do
Estado de Minas Gerais — ver Informativos 851 e 855.
O referido dispositivo prevê que o governador será submetido a processo e
julgamento perante o STJ nos crimes comuns e será suspenso de suas funções, na
hipótese desses crimes, se recebida a denúncia ou a queixa pelo STJ.
Preliminarmente, o Colegiado, por maioria, conheceu da ação. Vencidos os
ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello.
No mérito, prevaleceu o voto do ministro Edson Fachin (relator), reajustado
nesta sessão com os acréscimos do voto do ministro Roberto Barroso no sentido do
afastamento do cargo não se dar de forma automática.
O relator afirmou a necessidade de superar os precedentes da Corte na
dimensão de uma redenção republicana e cumprir a promessa do art. 1º, ―caput‖, da
Constituição Federal (CF), diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência
deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado
a deferir o processamento de governadores. Asseverou ser refutável a referida
autorização prévia em razão de: a) ausência de previsão expressa e inexistência de

17Atenção!! Houve superação de jurisprudência consolidada e mutação constitucional! (Vide próxima


decisão – ADI’s 4764, 4797 e 4798). O STF entendia pela necessidade e constitucionalidade da norma que
condicionasse o recebimento da denúncia à prévia autorização da assembleia legislativa.

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simetria; b) ofensa ao princípio republicano (CF, art. 1º, ―caput‖); c) ofensa à separação
de poderes (CF, art. 2º, ―caput‖) e à competência privativa da União (CF, art. 22, I); e d) ofensa
à igualdade (CF, art. 5º, ―caput‖).
Esclareceu não haver na CF previsão expressa da exigência de autorização
prévia de assembleia legislativa para o processamento e julgamento de governador por
crimes comuns perante o STJ. Dessa forma, inexiste fundamento normativo-constitucional
expresso que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas Constituições
estaduais.
Não há, também, simetria a ser observada pelos Estados-membros. No ponto, o
relator considerou que, se o princípio democrático que constitui nossa Repúblic a (CF,
art. 1º, ―caput‖) se fundamenta e se concretiza no respeito ao voto popular e à eleição
direta dos representantes do povo, qualquer previsão de afastamento do presidente da
República é medida excepcional e, como tal, é sempre prevista de forma expressa e
taxativa, sem exceções.
O afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de
crime comum, seu processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da
Câmara dos Deputados (CF, arts. 51, I; e 86, ―caput‖ e § 1º, I). Essa exigência foi
expressamente prevista apenas para presidente da República, vice-presidente e
ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências que
moldam e constituem o cargo de presidente da República, mas que não se obse rvam no
cargo de governador.
Diante disso, verifica-se a extensão indevida de uma previsão excepcional válida
para o presidente da República, porém inexistente e inaplicável a governador. Sendo a
exceção prevista de forma expressa, não pode ser transladada como se fosse regra ou
como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para governador. As
eventuais previsões em Constituições estaduais representam, a despeito de se
fundamentarem em suposto respeito à Constituição Federal, ofensa e usurpação das
regras constitucionais.
Segundo o relator, afastado o argumento de suposta obediência à simetria, a
consequência da exigência de autorização prévia de assembleia legislativa para
processamento e julgamento de governador por crime comum perante o STJ é o
congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial das eventuais
responsabilizações dos governadores por cometimento de crime comum. Essa previsão

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afronta a responsividade exigida dos gestores públicos, o que viola o princípio
republicano do Estado.
A exigência viola, ainda, a separação de poderes, pois estabelece condição não
prevista pela CF para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Assim, o STJ fica
impedido de exercer suas competências e funções até a autorização prévia do Poder
Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar expresso
na CF. Além disso, a previsão do estabelecimento de condição de procedibilidade para
o exercício da jurisdição penal pelo STJ consiste em norma processual, matéria de
competência privativa da União (CF, art. 22, I), portanto impossível de ser prevista
pelas Constituições estaduais.
O relator afirmou que estabelecer essa condição de procedibilidade equivale a
alçar um sujeito à condição de desigual, supostamente superior por ocupar relevante
cargo de representação. No entanto, tal posição deveria ser, antes de tudo, a de servidor
público. A autorização prévia de assembleias estaduais para o processamento e
julgamento de governador por crime comum perante o STJ é, portanto, afronta
cristalina à cláusula geral de igualdade estabelecida na CF.
Destacou que a Emenda Constitucional (EC) 35/2001 alterou a redação do art.
53, § 1º, da CF e aboliu a exigência de autorização prévia das casas legislativas para o
processamento e julgamento de deputados federais e estaduais. O mesmo entendimento
de valorização da igualdade e ―accountability‖ dos representantes do povo deve ser
aplicado aos governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e
restrições não autorizados pela CF.
Por fim, sustentou inexistir inconstitucionalidade na expressão ―ou queixa‖, por
considerá-la coerente com o disposto no art. 105, I, ―a‖, da CF. Explicou que a CF não
fez nenhuma distinção ao se referir a ―crimes comuns‖, ou seja, não fez di ferenciação
entre crimes de ação penal pública ou crimes de ação penal privada. Da mesma forma, a
Constituição do Estado de Minas Gerais previu o afastamento do governador no caso
de recebimento de denúncia ou queixa.
Nesta assentada, o ministro Roberto Barroso esclareceu acompanhar o relator, e
o ministro Marco Aurélio esclareceu, ultrapassada a preliminar de admissibilidade da
ação, também acompanhar o relator.
Vencidos os ministros Dias Toffoli e Celso de Mello, que julgaram
improcedente a ação, na linha da jurisprudência até então prevalecente na Corte no

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sentido de considerar legítimas as normas de Constituições estaduais que subordinam a
deflagração formal de um processo acusatório contra o governador a um juízo político
da assembleia legislativa local.
ADI 5540/MG, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 3.5.2017. (ADI-5540)

Informativo nº 863
(Plenário)
Autonomia federativa: crimes de responsabilidade e crimes comuns praticados por
governador - 3
É vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a
instauração de ação penal contra governador por crime comum à previa autorização da
casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive
afastamento do cargo. 18
Com base nesse entendimento, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou
procedente pedido formulado em ações diretas para declarar a inconstitucionalidade de
dispositivos das Constituições dos Estados do Acre, de Mato Grosso e do Piauí. Os
preceitos tratam da competência privativa da assembleia legislativa local para processar
e julgar o governador nos crimes de responsabilidade e cuidam do processo e
julgamento de chefe do Executivo estadual em crimes comuns, mediante admissão da
acusação pelo voto de 2/3 da representação popular local — ver Informativo 793.
O Supremo Tribunal Federal (STF) alterou o entendimento a respeito da
necessidade de autorização prévia das assembleias legislativas para instauração de ação
penal. Afirmou que a orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos Estados-
membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio
republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou que, ao
longo do tempo, as assembleias legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra governadores.
Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de
jurisprudência consolidada: a) mudança na percepção do direito; b) modificações na realidade
fática; e c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento. Para o
Colegiado, as três hipóteses estão presentes no caso concreto.
18Atenção!! Houve superação de jurisprudência consolidada e mutação constitucional! O STF
entendia pela necessidade e constitucionalidade da norma que condicionasse o recebimento da denúncia à
prévia autorização da assembleia legislativa.

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Fora as situações expressamente previstas na Constituição Federal (CF), o poder
constituinte estadual não pode alterar a competência e o desempenho das funções
materialmente típicas do Poder Judiciário e do Ministério Público.
A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.
Isso consta da Súmula Vinculante 46.19
Por fim, o afastamento do governador não é automático no caso de abertura de
ação penal. O simples recebimento de uma denúncia, ato de baixa densidade decisória,
não pode importar em afastamento automático do governador. Esse afastamento
somente pode ocorrer se o STJ entender que há elementos a justificá-lo 20 . O
governador pode ser afastado, mas não como decorrência automática do recebimento
da denúncia.
Vencido em parte o ministro Celso de Mello (relator), que julgou parcialmente
procedentes os pedidos nos três casos. Pontuou que o crime de responsabilidade, por sua
natureza jurídica político-constitucional, tem caráter extrapenal, razão pela qual o Estado-
membro pode legislar a respeito.
ADI 4764/AC, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgamento em 4.5.2017. (ADI-4764)
ADI 4797/MT, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgamento em 4.5.2017. (ADI-4797)
ADI 4798/PI, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento
em 4.5.2017. (ADI-4798)

Informativo nº 872
(Plenário)
Julgamento de governador por crimes comuns e de responsabilidade e competência
legislativa
É vedado às unidades federativas instituírem normas que condicionem a
instauração de ação penal contra o governador por crime comum à prévia autorização da
casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) dispor fundamentadamente
sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive o afastamento do cargo.

19 Súmula Vinculante 46: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.
20 O STJ poderá aplicar, além do afastamento do cargo, outras medidas cautelares também previstas no art.

319 do CPP, até mesmo a prisão preventiva (art. 311 do CPP).

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Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou
procedentes pedidos formulados em ações diretas para declarar a inconstitucionalidade de
dispositivos e expressões contidas em normas das Constituições dos Estados da Bahia e do
Rio Grande do Sul e da Lei Orgânica do Distrito Federal. As normas questionadas tratam
do condicionamento de instauração penal contra governador por crime comum à prévia
autorização da casa legislativa; do julgamento de governador, por crime de
responsabilidade, pela casa legislativa; e do afastamento automático do governador de suas
funções quando recebida a denúncia ou a queixa-crime.
O Colegiado citou a Súmula Vinculante 46, segundo a qual a definição dos crimes
de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento
são da competência legislativa privativa da União. São, portanto, inválidas as normas de
constituição estadual que atribuam o julgamento de crime de responsabilidade à assembleia
legislativa, em desacordo com a Lei 1.079/1950.
Além disso, a constituição estadual não pode condicionar a instauração de processo
judicial por crime comum contra governador à licença prévia da assembleia legislativa. A
República, que inclui a ideia de responsabilidade dos governantes, é princípio constitucional
de observância obrigatória, de modo que a exceção prevista no art. 51, I (1), da CF é norma
de reprodução proibida pelos Estados-Membros.
Ademais, tendo em vista que as constituições estaduais não podem estabelecer a
chamada ―licença prévia‖, também não podem autorizar o afastamento automático do
governador de suas funções quando recebida a denúncia ou a queixa-crime pelo STJ.
Vencido o ministro Dias Toffoli (relator), que julgou parcialmente procedentes os
pedidos, para considerar válidas as normas que determinam a necessidade de autorização
prévia da casa legislativa para instauração de ação penal contra governador. Salientou que, à
época de seu voto, era essa a orientação jurisprudencial do STF sobre o tema.
(1) Constituição Federal/1988: ―Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos
Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo
contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado‖.
ADI 4777/BA, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgamento em 9.8.2017. (ADI-4777)
ADI 4674/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgamento em 9.8.2017. (ADI-4674)

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ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgamento em 9.8.2017. (ADI-4362)

Informativo nº 878
(Plenário)
Art. 86 da CF: apreciação das teses da defesa e necessidade de aguardar juízo de
admissibilidade da Câmara dos Deputados
O Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem — em inquérito que apura
supostos delitos de obstrução de justiça e organização criminosa praticados pelo presidente
da República — no sentido de que o juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara
dos Deputados [CF, art. 86, ―caput‖ (1)] precede a análise jurídica pelo STF para conhecer
e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo denunciado.
A Corte decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou
parcial, de acordo de colaboração premiada, devidamente reconhecido pelo Poder
Judiciário, em decorrência de descumprimento de deveres assumidos pelo colaborador, não
propicia conhecer e julgar alegação de imprestabilidade das provas, porque a rescisão ou
revisão tem efeitos somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.
No caso, fatos alegadamente delituosos vieram à tona por meio de acordos de
colaboração premiada celebrados entre o Ministério Público Federal e integrantes de grupo
empresarial. Entretanto, diante de indícios de omissão de informação no acordo de delação
premiada, a PGR abriu investigação para apurar supostas irregularidades na celebração do
acordo. A defesa, então, alegou que as provas produzidas estavam maculadas e requereu a
sustação da denúncia.
O Tribunal afirmou que, somente após a autorização da Câmara dos Deputados, é
que se pode dar sequência à persecução penal no âmbito do STF. Essa conclusão ressai
cristalina quando se atenta para a redação do art. 86, § 1º, I (1), da CF, o qual determina o
afastamento do Presidente da República das suas funções se recebida a denúncia ou a
queixa-crime pelo STF.
A realização de um juízo de admissibilidade positivo por parte do STF, prévio ao da
Câmara dos Deputados, implicaria admitir que a CF tivesse imposto ao presidente da
República enfrentar o juízo predominantemente político, a ser realizado pela Câmara dos
Deputados, fora do exercício de suas funções.
Essa concepção teria o condão de aniquilar o próprio escopo protetivo da
Presidência da República buscado pela Constituição ao submeter a acusação por crime

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comum a um juízo prévio, predominantemente político, a ser realizado pelos deputados
federais.
Afinal, condicionando o processamento do Presidente da República à autorização
da Câmara dos Deputados, tem a CF, justamente, a finalidade de proteger a soberania do
voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só seja afastado do exercício de
seu mandato com a autorização dos representantes do próprio povo.
Essa é a razão, também, pela qual a CF elegeu a Câmara dos Deputados para
realizar esse juízo político, eis que se trata da Casa do Congresso Nacional tradicionalmente
associada à representação do povo.
Assim, somente após a autorização da Câmara dos Deputados, o STF determinará,
nos termos do art. 4º da Lei 8.038/1990 (2), a notificação do denunciado para, no prazo de
15 dias, apresentar sua resposta à acusação.
Não cabendo ao STF proferir juízo de admissibilidade sobre denúncia oferecida
contra o presidente da República antes da autorização da Câmara dos Deputados,
igualmente não cabe proferir juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas, cuja
ambiência própria é o momento previsto no art. 4º da Lei 8.038/1990, o qual prevê a
apresentação de resposta à acusação após o oferecimento da denúncia.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção, ou mesmo a
respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria afeta à configuração da justa causa, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade a ser levado a efeito
pelo Plenário do STF, após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
O ministro Dias Toffoli ressaltou que, teoricamente, o relator, antes de encaminhar
a denúncia ao Congresso Nacional, pode trazê-la ao Plenário para a sua rejeição, quando
não estiverem presentes pressupostos processuais, quando houver carência da ação ou
quando não houver justa causa.
Vencido o ministro Gilmar Mendes, que resolveu a questão de ordem no sentido de
devolver os autos à PGR para que esta limite a imputação dos atos do presidente aos fatos
relativos ao seu mandato. O ministro se manifestou, ainda, no sentido da possibilidade de
se suspender o envio da acusação à Câmara dos Deputados, até a conclusão das
investigações sobre a participação de membros do Ministério Público nos fatos narrados
em gravação apresentada pelos investigados.

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(1) CF: ―Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. § 1º O Presidente ficará suspenso de
suas funções: I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal
Federal; II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal. § 2º Se,
decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do
Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. § 3º Enquanto não sobrevier sentença
condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. § 4º O Presidente
da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de
suas funções‖.
(2) Lei 8.038/1990: ―Art. 4º. Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do
acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias‖.
Inq 4483 QO/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 20 e 21.9.2017. (Inq-4483)

Poder Legislativo
Informativo nº 863
(Primeira Turma)
Perda do mandato parlamentar e declaração da mesa diretora da casa legislativa
A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, julgou procedente ação penal e
condenou deputado federal à pena de 12 anos, 6 meses e 6 dias de reclusão, em regime
inicial fechado, mais 374 dias-multa no valor de 3 salários mínimos, pela prática dos crimes
de corrupção passiva [Código Penal, art. 317 (1)] e lavagem de dinheiro [Lei 9.613/1998,
art. 1º, V (2)]. Como efeitos da condenação foram determinadas a perda do mandato
parlamentar e a interdição para o exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza
e de diretor, membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas
citadas na lei de combate à lavagem de dinheiro (redação anterior), pelo dobro da duração
da pena privativa de liberdade.
No caso, foi revelado esquema criminoso que atuou em vários Estados, com o
objetivo de desviar recursos públicos por meio da aquisição superfaturada, por prefeituras,
de ambulâncias e equipamentos médicos, como resultado de licitações direcionadas.
Segundo a acusação, cabia ao deputado condenado apresentar emendas ao orçamento geral
da União, destinadas a Municípios das regiões norte e nordeste do Estado do Rio de
Janeiro, para beneficiar grupo empresarial.
Em relação ao crime de corrupção passiva, o Colegiado considerou haver nos autos
elementos de provas que demonstram o recebimento de vantagens indevidas por meio de

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depósitos em contas-correntes de terceiros. O livro-caixa da empresa apreendido na
operação continha registros de pagamento ao acusado com as datas e os valores dos
repasses. Além disso, em acordo de colaboração premiada, os proprietários afirmaram
haver acertado o pagamento de comissão de 10% sobre o valor de cada emenda
apresentada, fato comprovado por meio de recibos de operações de crédito efetuadas em
nome de pessoas ligadas ao parlamentar condenado.
Quanto ao crime de lavagem de dinheiro, a Turma concluiu que as provas colhidas
nos autos indicam que os valores recebidos por terceiros foram utilizados para pagamento
de despesas do deputado com aluguel de imóveis, aquisição de veículos e quitação de
impostos. Essa foi a forma como o acusado efetivou a circulação dissimulada dos valores,
por terceiros e em benefício próprio, convertendo dinheiro oriundo de corrupção em bens
e serviços incorporáveis ao seu patrimônio formal. Quanto a esse crime, ficou vencido o
ministro Marco Aurélio, que votou pela absolvição do acusado.
Relativamente à fixação da pena e aos efeitos da condenação, a ministra Rosa
Weber (relatora) ressaltou que a corrupção ocorreu em momento singular de cooptação de
parlamentar federal para esquema criminoso, planejado e infiltrado nos altos cargos da
Administração Pública. Além do descrédito para a democracia, o crime drenou recursos da
saúde pública, área extremamente carente na sociedade brasileira. A motivação foi criar
fonte perene de recursos ilícitos provenientes da corrupção associada a métodos de
lavagem de capitais diretamente conectados ao mandato parlamentar.
Quanto à pena, prevaleceu o voto da relatora, também por maioria. Vencido o
ministro Alexandre de Moraes, que majorou a pena em relação a cada crime, presente a
continuidade delitiva, na metade.
O Colegiado, nos termos do voto do ministro Roberto Barroso e por decisão
majoritária, decidiu pela perda do mandato com base no inciso III do art. 55 da
Constituição Federal (CF) (3), que prevê essa punição ao parlamentar que, em cada sessão
legislativa, faltar a 1/3 das sessões ordinárias. Nesse caso, não há necessidade de
deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser automaticamente declarada pela
Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Salientou que, como regra geral, quando a condenação ultrapassar 120 dias em
regime fechado, a perda do mandato é consequência lógica. Nos casos de condenação em

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regime inicial aberto ou semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo,
que inexiste em condenação em regime fechado.21
Ressaltou que a CF é clara ao estabelecer que o parlamentar que não comparecer a
mais de 120 dias ou a 1/3 das sessões legislativas perde o mandato por declaração da Mesa,
e não por deliberação do Plenário. Assim, para quem está condenado à prisão em regime
fechado, no qual deva permanecer por mais de 120 dias, a perda é automática. Vencido,
quanto à interdição, o ministro Marco Aurélio.
Por último, a Turma assentou a perda do mandato e sinalizou a necessidade de
declaração pela Mesa da Câmara, nos termos do § 3º do art. 55 da CF (4).
(1) CF/1988: ―Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem.‖
(2) Lei 9.613/1998: ―Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação
ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (...) V –
contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de
qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos;‖
(3) CF/1988: ―Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...) III – que deixar de comparecer, em
cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão
por esta autorizada;‖
(4) CF/1988: ―Art. 55. (...) § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da
Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.‖
AP 694/MT, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 2.5.2017. (AP-694)

Imunidade Parlamentar
Informativo nº 865
(Primeira Turma)
Crime de divulgação de informação falsa sobre instituição financeira e imunidade
parlamentar
A Primeira Turma, por maioria, admitiu a impetração e, por unanimidade, concedeu
ordem de ―habeas corpus‖ para cassar acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que

21O tema não foi pacificado, há três correntes: 1ª) Quem decide se haverá a perda do mandato é a Câmara
dos Deputados ou o Senado Federal (caso Ivo Cassol – AP 565/RO; Info 714); 2ª) Se condenado
criminalmente o parlamentar, for determinado pelo STF a perda do mantado, a Câmara ou o Senado apenas
formalizará a perda (caso ―Mensalão‖ – AP 470/MG; Info 692); 3ª) Se o parlamentar for condenado a mais
de 120 dias em regime fechado, a perda do cargo é consequência lógica. Entretanto, se condenado a pena em
regime aberto ou semiaberto, a Câmara ou o Senado deliberam se o parlamentar perde, ou não, o mandato.
Esta foi a corrente adotada no julgamento da AP 694/MT, Info 863.

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condenou parlamentar pela prática do delito de divulgação de informação falsa ou
prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira, previsto no art. 3º da Lei 7.492/1986
(1).
No caso, o parlamentar convocou a imprensa e, no exercício da Presidência da
Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, opinou sobre a conveniência da
privatização do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), ante a existência de dívida
no valor de R$ 500 milhões.
A Turma pontuou que a declaração revelou a satisfação do parlamentar com a
privatização do Banco, que implicaria desoneração de dívida do Estado. Entendeu que não
ficou configurado, na conduta do paciente, o dolo de divulgar informação falsa ou
incompleta sobre instituição financeira, pois as afirmações do parlamentar estavam ligadas
a análises de operações realizadas pelo Banestes.
Nesse contexto, o Colegiado asseverou haver ligação entre o que foi veiculado e o
exercício do mandato parlamentar. Tal aspecto foi potencializado pelo fato de as
declarações terem ocorrido dentro da assembleia. Concluiu pelo não afastamento da
imunidade parlamentar relativa às opiniões, palavras e votos, prevista no art. 53 (2),
combinado com o art. 27, § 1º (3), da Constituição Federal.
(1) Lei 7.492/1986: ―Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira:
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa‖. Crime contra o Sistema Financeiro Nacional.
(2) Constituição Federal/1988: ―Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos‖.
(3) Constituição Federal/1988: ―Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao
triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será
acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato
dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas‖. HC 115397/ES, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 16.5.2017. (HC-115397)

Informativo nº 881
(Plenário)
Imunidade parlamentar e medida cautelar
O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente ação direta de
inconstitucionalidade na qual se pedia interpretação conforme à Constituição para que a
aplicação das medidas cautelares, quando impostas a parlamentares, fossem submetidas à
deliberação da respectiva Casa Legislativa em 24 horas.

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Primeiramente, a Corte assentou que o Poder Judiciário dispõe de competência
para impor, por autoridade própria, as medidas cautelares a que se refere o artigo 319 (1)
do Código de Processo Penal (CPP). Vencido, nesse ponto, o ministro Marco Aurélio que
julgou ser inaplicável a referida norma legal.
Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, também por votação majoritária,
deliberou encaminhar, para os fins a que se refere art. 53, §2º (2), da Constituição Federal
(CF), a decisão que houver aplicado medida cautelar sempre que a execução desta
impossibilitar direta ou indiretamente o exercício regular do mandato legislativo.
Salientou que, na independência harmônica que rege o princípio da separação dos
Poderes, as imunidades parlamentares, assim como a vitaliciedade na magistratura, a
irredutibilidade de vencimentos e a inamovibilidade, na independência harmoniosa que rege
o princípio da separação de Poderes, são instrumentos de vital importância, visto
buscarem, prioritariamente, a proteção dos parlamentares no exercício de suas funções,
contra os abusos e pressões dos demais Poderes. Constitui-se, pois, um direito instrumental
de garantia de liberdade de opiniões, palavras e votos dos membros do Poder Legislativo
bem como de sua proteção contra prisões arbitrárias e processos temerários.
O Plenário asseverou que essas imunidades não dizem respeito à figura do
parlamentar em si, mas à função por ele exercida, ao Poder que ele representa, no intuito
de resguardar a atuação do Legislativo perante o Executivo e perante o Judiciário,
consagrando-se como garantia de independência perante os outros dois Poderes
constitucionais.
Afirmou que, no tocante à imunidade parlamentar processual em relação à prisão, a
―ratio‖ da norma constitucional é somente permitir o afastamento do parlamentar do
exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única hipótese: prisão em flagrante
delito por crime inafiançável. O art. 53, §2º, da CF protege o integral exercício do mandato
parlamentar, ao referir, expressamente, que a restrição à liberdade de ir e vir do parlamentar
somente poderá ocorrer na referida hipótese. Dessa forma, a norma constitucional
estabeleceu, implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar.
Nesse contexto, a Corte ponderou que, sendo a finalidade da imunidade formal
proteger o livre exercício do mandato parlamentar contra interferências externas, a ―ratio‖
da norma constitucional não pode ser contornada pela via das medidas cautelares diversas
da prisão.

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Assim, ato emanado do Poder Judiciário que houver aplicado medida cautelar que
impossibilite direta ou indiretamente o exercício regular do mandato legislativo, deve ser
submetido ao controle político da Casa Legislativa respectiva, nos termos do art. 53, § 2º,
da CF.
Vencidos os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux, Rosa Weber e
Celso de Mello, que julgaram improcedente o pedido. Entenderam que os poderes
conferidos ao Congresso para sustar processos penais em curso são estritos, circunscritos
às hipóteses especificamente limitadas na CF, pois as medidas cautelares penais não são
instrumentais apenas ao processo penal, mas também meios de tutela da fase pré-
processual investigativa e da ordem pública.
Nesse sentido, a outorga constitucional de poder para sustar um processo penal não
compreende a concessão de poderes para impedir a adoção de providências cautelares
necessárias à tutela da ordem pública (visando a impedir reiteração delitiva), bem como, à
tutela da investigação e completa elucidação dos fatos.
(1) CPP: ―Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no
prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou
frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou
acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter
contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou
acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e
nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do
exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio
de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de
crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem,
para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de
resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica‖.
(2) CF: ‖Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos. (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão‖.
ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 11.10.2017. (ADI-5526)

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Cotas Raciais
Informativo nº 868
(Plenário)
Cotas raciais: vagas em cargos e empregos públicos e mecanismo de controle de
fraude -2
É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da Administração Pública
Direta e Indireta.
É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o
pedido formulado em ação declaratória de constitucionalidade em que se discutia a
legitimidade da Lei federal nº 12.990/2014.
A norma reserva aos candidatos que se autodeclararem pretos ou pardos 20% das
vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos e empregos públicos.
Prevê também que, na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será
eliminado do concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua
admissão, após procedimento administrativo. A lei ainda dispõe que a nomeação dos
candidatos aprovados respeitará os critérios de alternância e proporcionalidade, que
consideram a relação entre o número de vagas total e o número de vagas reservadas a
candidatos com deficiência e a candidatos negros (vide Informativo 864).
Inicialmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentou a questão das cotas
raciais em três planos de igualdade, tal como compreendida na contemporaneidade: a)
formal; b) material; e c) como reconhecimento.
A igualdade formal impede a lei de estabelecer privilégios e diferenciações
arbitrárias entre as pessoas, isto é, exige que o fundamento da desequiparação seja razoável
e que o fim almejado seja compatível com a Constituição. No caso analisado, o
fundamento e o fim são razoáveis, motivados por um dever de reparação histórica e por
circunstâncias que explicitam um racismo estrutural na sociedade brasileira a ser
enfrentado.
Quanto à igualdade material, o Colegiado observou que o racismo estrutural gerou
uma desigualdade material profunda. Desse modo, qualquer política redistributivista
precisará indiscutivelmente assegurar vantagens competitivas aos negros.

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Enfatizou, em relação à igualdade como reconhecimento, que esse aspecto
identifica a igualdade quanto ao respeito às minorias e ao tratamento da diferença de um
modo geral. Significa respeitar as pessoas nas suas diferenças e procurar aproximá-las,
igualando as oportunidades. A política afirmativa instituída pela Lei 12.990/2014 tem
exatamente esse papel.
Frisou haver uma dimensão simbólica importante no fato de negros ocuparem
posições de destaque na sociedade brasileira. Além disso, há um efeito considerável sobre a
autoestima das pessoas. Afinal, cria-se resistência ao preconceito alheio. Portanto, a ideia de
pessoas negras e pardas serem símbolo de sucesso e ascensão e terem acesso a cargos
importantes influencia a autoestima das comunidades negras. Ademais, o pluralismo e a
diversidade tornam qualquer ambiente melhor e mais rico.
O STF concluiu que a lei em análise supera com facilidade o teste da igualdade
formal, material e como reconhecimento.
Afastou a alegada violação ao princípio do concurso público. Afinal, para serem
investidos em cargos públicos, os candidatos negros têm de ser aprovados em concurso
público. Caso não atinjam o patamar mínimo, sequer disputarão as vagas. Observou que
apenas foram criadas duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de
reparações históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência.
Rejeitou a apontada violação ao princípio da eficiência. Registrou ser uma visão
linear de meritocracia a ideia de que necessariamente os aprovados em primeiro lugar por
um determinado critério sejam absolutamente melhores que os outros. Tal conceito já
havia sido rechaçado pelo ministro Ricardo Lewandowski no julgamento da ADPF
186/DF (DJE de 20.10.2014), segundo o qual a noção de meritocracia deve comportar
nuances que permitam a competição em igualdade de condições.
Afirmou haver um ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas
de competência técnica, ou de capacidade de pontuar em concurso, mas, sim, de uma
dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A eficiência pode ser muito
bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público.
A Corte também não vislumbrou ofensa ao princípio da proporcionalidade. A
demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi suprida pelo simples fato de
existirem cotas para acesso às universidades públicas. O impacto das cotas raciais não se
manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até que
essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. Ademais, seria necessário

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supor que as mesmas pessoas que entraram por cotas nas universidades estariam
disputando as vagas nos concursos.
Reputou que a proporção de 20% escolhida pelo legislador é extremamente
razoável. Se essa escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido
estrito, também não haveria problema, porque 20%, em rigor, representariam menos da
metade do percentual de negros na sociedade brasileira.
Quanto à autodeclaração, prevista no parágrafo único do art. 2º da Lei federal
12.990/2014, o Supremo asseverou que se devem respeitar as pessoas tal como elas se
percebem. Entretanto, um controle heterônomo não é incompatível com a Constituição,
observadas algumas cautelas, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar
que houve abuso na autodeclaração.
Assim, acrescentou que é legítima a utilização de critérios subsidiários de
heteroidentificação para concorrência às vagas reservadas. A finalidade é combater
condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam efetivamente
alcançados, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e assegurados o
contraditório e a ampla defesa. Citou, como exemplos desses mecanismos, a exigência de
autodeclaração presencial perante a comissão do concurso, a apresentação de fotos e a
formação de comissões com composição plural para entrevista dos candidatos em
momento posterior à autodeclaração.
A reserva de vagas vale para todos os órgãos e, portanto, para todos os Poderes da
União. Os Estados e os Municípios não estão obrigados por essa lei, mas serão
consideradas constitucionais as leis estaduais e municipais que adotarem essa mesma linha.
Quanto aos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos
candidatos, o Plenário exemplificou a forma correta de interpretar a lei. No caso de haver
vinte vagas, quatro seriam reservadas a negros, obedecida a seguinte sequência de ingresso:
primeiro colocado geral, segundo colocado geral, terceiro colocado geral, quarto colocado
geral, até que o quinto convocado seria o primeiro colocado entre os negros, e assim
sucessivamente. Dessa forma, evita-se colocar os aprovados da lista geral primeiro e
somente depois os aprovados por cotas.
Os ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli consignaram que a lei é
constitucional apenas quanto ao provimento inicial dos cargos e empregos públicos. Após
o ingresso na carreira, o sistema de cotas não deve ser usado na ascensão interna, a qual se

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dá mediante concursos internos de promoção e remoção com critérios específicos,
determinados pela Constituição, de antiguidade e merecimento.
Os ministros Edson Fachin e Luiz Fux entenderam que o art. 4º da Lei
12.990/2014 se projeta não apenas na nomeação, mas em todos os momentos da vida
funcional dos servidores públicos cotistas, tais como remoção e promoção.
O ministro Roberto Barroso (relator) esclareceu que a questão da promoção não foi
enfrentada porque não consta do pedido nem foi discutida em memoriais.
Para o ministro Luiz Fux, por se tratar de política pública calcada no preâmbulo da
Constituição Federal, a lei vale para todas as unidades federadas.
ADC 41/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 8.6.2017. (ADC-41)

Medidas Provisórias
Informativo nº 870
(Plenário)
Interpretação do art. 62, § 6º, da CF e limitação do sobrestamento - 3
O Supremo Tribunal Federal, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou
a ordem em mandado de segurança impetrado por parlamentares contra decisão do
presidente da Câmara dos Deputados em questão de ordem. No ato coator, foi fixada a
orientação de que a interpretação adequada do art. 62, § 6º (1), da Constituição Federal
(CF) implicaria o sobrestamento apenas dos projetos de lei ordinária, apesar de o
dispositivo prever o sobrestamento de todas as deliberações legislativas da Casa em que
estiver tramitando medida provisória não seja apreciada em 45 dias (vide Informativos 572
e 778).
O Colegiado entendeu que a interpretação emanada do presidente da Câmara dos
Deputados reflete, com fidelidade, solução jurídica plenamente compatível com o modelo
teórico da separação de poderes. Tal interpretação revela fórmula hermenêutica capaz de
assegurar, por meio da preservação de adequada relação de equilíbrio entre instâncias
governamentais (o Poder Executivo e o Poder Legislativo), a própria integridade da
cláusula pertinente à divisão do poder.
Nesse contexto, deu interpretação conforme ao § 6º do art. 62 da CF, na redação
resultante da Emenda Constitucional 32/2001, para, sem redução de texto, restringir-lhe a
exegese. Assim, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, fixou-se entendimento
de que o regime de urgência previsto no referido dispositivo constitucional — que impõe o

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sobrestamento das deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional — refere-se
apenas às matérias passíveis de regramento por medida provisória. Excluem-se do
bloqueio, em consequência, as propostas de emenda à Constituição e os projetos de lei
complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo, de lei ordinária, desde que
veiculem temas pré-excluídos do âmbito de incidência das medidas provisórias [CF, art. 62,
§ 1º, I, II e IV (2)].
Vencido o ministro Marco Aurélio, que concedeu a ordem. Para ele, o dispositivo
constitucional em debate é claro no sentido de que a não aprovação de medida provisória
após 45 dias deve paralisar toda a pauta, de modo a compelir a Casa Legislativa a se
pronunciar de forma positiva quanto à aprovação, ou de forma negativa, considerado o
teor da medida provisória.
(1) Constituição Federal/1988: ―Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (...) §
6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará
em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver
tramitando.‖
(2) Constituição Federal/1988: ―Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º
É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos
políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c)
organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos
plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto
no art. 167, § 3º; II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo
financeiro; (...) IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção
ou veto do Presidente da República.‖
MS 27931/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 29.6.2017. (MS-27931)

Organização do Estado
Informativo nº 872
(Plenário)
Alteração de limites de municípios e plebiscito - 4
O Plenário, em conclusão de julgamento, reputou parcialmente procedente pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 3.196/1999 e para
não conhecer da ação quanto à Lei 2.497/1995, ambas do Estado do Rio de Janeiro. As

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normas impugnadas estabelecem os novos limites territoriais dos Municípios de Cantagalo
e Macuco — Informativos 495, 776 e 786.
No que se refere à Lei estadual 3.196/1999, o Colegiado apontou ofensa ao § 4º do
art. 18 da Constituição Federal (CF) (1), tendo em conta a ausência de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos.
A respeito da Lei estadual 2.497/1995, entendeu que o diploma foi elaborado antes
do parâmetro constitucional estabelecido pela EC 15/1996, tido por violado.
Por fim, o Colegiado, por maioria, decidiu não modular os efeitos da decisão, em
razão da impossibilidade de repristinação da Lei 2.497/1995 para disciplinar os limites
territoriais entre os Municípios de Cantagalo e Macuco, haja vista o trânsito em julgado de
mandado de segurança, julgado pelo TJ/RJ, em que expressamente declarada a invalidade
do aludido diploma legal.
Vencidos, quanto à modulação, os ministros Teori Zavascki e Celso de Mello.
(1) Constituição Federal/1988: ―Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos
desta Constituição. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por
lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei‖.
ADI 2921/RJ, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgamento em
9.8.2017. (ADI-2921)

Conselho Nacional do Ministério Público


Informativo nº 875
(Plenário)
Alegação de nulidade e aproveitamento de atos processuais
A Segunda Turma negou provimento a agravo regimental em mandado de
segurança em que discutida a nulidade de procedimento administrativo avocado pelo
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
No caso, o CNMP rejeitou a alegação de que a suspeição de autoridades locais
conduziria necessariamente à nulidade de todo o feito por elas instruído, e concluiu
pela aplicação da pena de suspensão de membro do ministério público por 45 dias.
A Turma afirmou que o Regimento Interno do CNMP permite o
aproveitamento dos atos processuais [arts. 107 (1) e 108 (2)].

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Assinalou que, conforme destacado pelo voto condutor do acórdão do CNMP
nos autos do procedimento avocado, os atos que foram objeto de aproveitamento são
basicamente as provas documentais e os depoimentos das testemunhas ouvidas sob o
crivo do contraditório. Esses atos foram praticados pela comissão processante
designada para instruir o feito, sem qualquer atuação da corregedora ou de sua
substituta, ambas declaradas suspeitas. Não houve, assim, demonstração de prejuízo
pelo acusado.
Não vislumbrou, desse modo, ilegalidade no apontado ato coator, o qual
afastou, fundamentadamente e com observância das normas legais, as suscitadas
nulidades no procedimento avocado.
(1) Regimento interno do CNMP: ―Art. 107. O Relator ouvirá em dez dias o membro ou o servidor do
Ministério Público e o órgão disciplinar de origem. § 1º Findo o prazo do caput deste artigo, com ou sem as
informações, o Relator pedirá a inclusão do processo em pauta, para deliberação pelo Plenário. § 2º
Decidindo o Plenário pela avocação, a decisão será imediatamente comunicada ao Ministério Público
respectivo, para o envio dos autos no prazo máximo de cinco dias‖.
(2) Regimento interno do CNMP: ―Art. 108. Recebidos os autos do feito avocado, serão estes novamente
autuados como distribuição ao mesmo Relator, por prevenção. (…) § 2º Ao Relator ou Corregedor,
conforme o caso, caberá ordenar e dirigir o procedimento avocado, podendo aproveitar os atos praticados
regularmente na origem.‖
MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 29.8.2017. (MS-34666)

Exercício Profissional
Informativo nº 879
(Plenário)
Atividades privativas de nutricionista e livre exercício profissional
É constitucional a expressão ―privativas‖, contida no ―caput‖ do art. 3º (1) da Lei
8.234/1991, que regulamenta a profissão de nutricionista, respeitado o âmbito de atuação
profissional das demais profissões regulamentadas.
Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido
formulado em ação direta ajuizada contra o referido dispositivo legal.
O Tribunal afirmou que a Constituição, ao admitir que lei restrinja o exercício das
profissões, especificando requisitos mínimos ao exercício de atividades técnicas, apresenta-
se como exceção à regra geral da liberdade de exercício profissional. Essas restrições legais
precisam ser proporcionais e necessárias e estão restritas às ―qualificações profissionais‖ —
formação técnico/científica indispensável para o bom desempenho da atividade.

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O caso da profissão de nutricionista requer conhecimentos técnicos e científicos
específicos para o desempenho de suas funções.
O Colegiado ressaltou que as atribuições dos profissionais de nível médio são
essencialmente diversas daquelas atribuídas com exclusividade aos profissionais de nível
superior.
A norma impugnada enumerou como privativas dos nutricionistas atividades
eminentemente técnicas que não se confundem com aquelas desempenhadas por outros
profissionais de nível médio.
Portanto, não há inconstitucionalidade na exigência de nível superior em nutrição
para atividades eminentemente acadêmicas, a exemplo da direção, coordenação e
supervisão de cursos de graduação; planejamento, organização, direção, supervisão e
avaliação de estudos dietéticos; ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação
em nutrição; e ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da
área de saúde e outras afins.
Por outro lado, as atividades de planejamento, organização, direção, supervisão e
avaliação de serviços pertinentes à alimentação e nutrição, consultório de nutrição e
dietética, e de assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e em consultório de nutrição
não impedem nem prejudicam aquelas pertinentes a outras áreas de nível superior,
notadamente referentes a bioquímicos e médicos nutrólogos.
Assim, é imperativo destacar que existem ressalvas com relação a outras categorias
profissionais, tais como gastroenterologistas, nutrólogos, bioquímicos e demais profissões
que, conquanto lidem com atividades correlatas, não têm seu exercício tolhido pela
regulamentação da profissão de nutricionista.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente o pedido formulado para
declarar a inconstitucionalidade do vocábulo ―privativas‖, constante do art. 3º da referida
lei. Pontuou que o art. 5º, XIII (2) da CF revela a liberdade no exercício de qualquer
trabalho, ofício, ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
(1) Lei 8.234/1991: ―Art. 3º São atividades privativas dos nutricionistas: I - direção, coordenação e supervisão
de cursos de graduação em nutrição; II - planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de
serviços de alimentação e nutrição; III - planejamento, coordenação, supervisão e avaliação de estudos
dietéticos; IV - ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição; V - ensino das
disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins; VI - auditoria,
consultoria e assessoria em nutrição e dietética; VII - assistência e educação nutricional e coletividades ou
indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas e em consultório de nutrição e dietética;

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VIII - assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultórios de nutrição e dietética,
prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos‖.
(2) CF: ―Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer‖.
ADI 803/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28.9.2017. (ADI-803)

Sigilo Bancário
Informativo nº 879
(Segunda Turma)
Quebra de sigilo bancário de contas públicas e requisição pelo Ministério Público -
2
A Segunda Turma, em conclusão, negou provimento a recurso ordinário em
―habeas corpus‖ em que se pretendia trancar ação penal instaurada para apurar crimes de
desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. Argumentou-se que
as provas seriam ilícitas, pois teriam sido colhidas por meio de quebra de sigilo bancário
solicitada por ofício encaminhado pelo Ministério Público (MP), sem autorização judicial, a
gerente de instituição financeira. O Tribunal de origem entendeu que as contas públicas,
por força dos princípios da publicidade e da moralidade [CF, art. 37 (1)], não têm, em geral,
direito à intimidade e à privacidade. Por conseguinte, não são abrangidas pelo sigilo
bancário. A defesa alegou que não estaria em discussão a publicidade inerente às contas
públicas, conforme consignado no acórdão recorrido, mas sim a violação ao direito
fundamental à intimidade da pessoa humana. Sustentou que a ação penal movida contra os
recorrentes estaria edificada em provas obtidas por meio inidôneo, pois a autorização
judicial é indispensável para a quebra de sigilo bancário (Informativo 844).
O Colegiado asseverou que o sigilo de informações necessário à preservação da
intimidade é relativizado quando há interesse da sociedade em conhecer o destino dos
recursos públicos.
Diante da existência de indícios da prática de ilícitos penais envolvendo verbas
públicas, cabe ao MP, no exercício de seus poderes investigatórios [CF, art. 129, VIII (2)],
requisitar os registros de operações financeiras relativos aos recursos movimentados a
partir de conta-corrente de titularidade da prefeitura municipal. Essa requisição
compreende, por extensão, o acesso aos registros das operações bancárias sucessivas, ainda

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que realizadas por particulares, e objetiva garantir o acesso ao real destino desses recursos
públicos. 22
Decidir em sentido contrário implicaria o esvaziamento da própria finalidade do
princípio da publicidade, que é permitir o controle da atuação do administrador público e
do emprego de verbas públicas. 23
(1) CF: ―Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:‖.
(2) CF: ―Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) VIII - requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações
processuais;‖.
RHC 133118/CE, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 26.9.2017. (RHC-133118)

Comunicação Social
Informativo nº 884
(Plenário)
Lei 12.485/2011 e TV por assinatura – 7

22 No mesmo sentido entende o STJ:


Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de informações
bancárias de titularidade de prefeitura municipal para fins de apurar supostos crimes praticados por
agentes públicos contra a Administração Pública. É pacífico na doutrina pátria e na jurisprudência dos
Tribunais Superiores que o sigilo bancário constitui espécie do direito à intimidade/privacidade, consagrado
no art. 5º, X e XII, da CF. No entanto, as contas públicas, ante os princípios da publicidade e da moralidade
(art. 37 da CF), não possuem, em regra, proteção do direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não
são protegidas pelo sigilo bancário. Na verdade, a intimidade e a vida privada de que trata a Lei Maior
referem-se à pessoa humana, aos indivíduos que compõem a sociedade e às pessoas jurídicas de direito
privado, inaplicáveis tais conceitos aos entes públicos. Ademais, entendeu o STF que as "Operações
financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a Lei
Complementar nº 105/2001, visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da
administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal" (MS 33.340-DF, Primeira Turma, DJe
de 3/8/2015). Decisão monocrática citada: STJ, RCD no HC 301.719-CE, DJe 13/3/2015. STJ. Quinta
Turma, HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/10/2015, DJe
26/10/2015. (Info 572)
23 O STF já havia se manifestado no mesmo sentido quanto à possibilidade de o TCU requisitar informações

bancárias envolvendo recursos públicos:


―O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está diante do
interesse da sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos. 4. Operações financeiras que
envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº
105/2001, visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública
insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal
[TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos públicos.‖ (STF. MS 33340,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 26/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
151 DIVULG 31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015)

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O Plenário concluiu o julgamento de ações diretas ajuizadas em face de diversos
dispositivos da Lei 12.485/2011, que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso
condicionado (Informativos 791 e 793).
O Colegiado, por maioria, julgou procedente em parte o pedido formulado na ADI
4.679/DF para declarar a inconstitucionalidade apenas do art. 25 da Lei 12.485/2011 (1); e,
por unanimidade, improcedentes os pedidos formulados nas demais ações diretas.
Asseverou que a norma adversada, ao instituir o novo marco regulatório da TV por
assinatura no Brasil, almejou unificar a disciplina normativa aplicável ao setor, até então
fragmentada em diplomas diferentes, a depender da tecnologia usada para a transmissão do
sinal ao consumidor. Em linhas gerais, a lei em referência promove a uniformização
regulatória do setor de TV por assinatura frente ao processo de convergência tecnológica;
reduz as barreiras à entrada no mercado; restringe a verticalização da cadeia produtiva;
proíbe a propriedade cruzada entre setores de telecomunicação e radiodifusão; e, por fim,
institui cotas para produtoras e programadoras brasileiras.
No tocante à alegada inconstitucionalidade formal dos artigos 9º, parágrafo único,
10, 12, 13, 15, 19, §3º, 21, 22, 25, § 1º e 42, todos da Lei 12.485/2011, em razão de suposta
violação à iniciativa legislativa privativa do Chefe do Poder Executivo, a iniciativa
normativa verificada quando da edição da lei em questão está amparada, em primeiro lugar,
na competência da União para legislar sobre telecomunicações (CF, art. 22, IV), e, em
segundo lugar, na autoridade do Congresso Nacional para dar concretude a diversos
dispositivos do Capítulo V (―Comunicação Social‖) do Título VIII (―Da Ordem Social‖) da
Constituição, no que têm destaque, em especial, os princípios constitucionais incidentes
sobre a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão (CF, art. 221).
Esse entendimento não implica ab-rogação hermenêutica da sistemática
constitucional aplicável ao processo legislativo, notadamente no que respeita às matérias
sujeitas a iniciativa reservada. A Constituição contém diversas regras sobre o tema, sendo
todas de observância compulsória e passíveis de exigibilidade judicial sempre que
descumpridas. Contudo, não se pode interpretar o art. 61, §1º, da CF sem maiores
considerações sobre a dinâmica da separação de Poderes, sob pena de, em vez de
harmônicos entre eles (CF, art. 2º), ter-se Poderes rivais uns dos outros.
Por outro lado, os referidos dispositivos da lei impugnada não criam novas
atribuições para a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Na realidade, apenas promovem
a adaptação das regras que estabelecem a competência da referida agência para regular e

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fiscalizar as atividades de comunicação audiovisual, contidas no art. 7° da Medida
Provisória 2.228-1/2001, às hipóteses em que a prestação dessas atividades ocorre por
meio do serviço de acesso condicionado. Com efeito, a citada medida provisória, ao criar a
Ancine, lhe atribui, dentre outras missões, a de ―fiscalizar o cumprimento da legislação
referente à atividade cinematográfica e videofonográfica nacional e estrangeira nos diversos
segmentos de mercados‖. Portanto, o que se está a promover é exatamente o cumprimento
das atribuições da Ancine, sem a criação de nenhum órgão ou ministério (CF, art. 61), que
conduza à inconstitucionalidade formal dos dispositivos.
Em relação à impugnação aos artigos art. 5º, ―caput‖ e §1º, e 6º, I e II, da Lei
12.485/2011 — dispositivos que estabelecem restrições à propriedade cruzada entre os
setores de telecomunicações e de radiodifusão, bem como segmentam a cadeia de valor do
audiovisual, separando as atividades de produção de conteúdo e de transmissão do produto
ao consumidor final —, não há que se falar em inconstitucionalidade. As diretrizes
constitucionais antitruste (CF, arts. 173, § 4º, e 220, § 5º), voltadas a coibir o abuso do
poder econômico, e a evitar concentração excessiva dos mercados, permitem combater a
ineficiência econômica e a injustiça comutativa tendentes a florescer em regimes de
monopólio e oligopólio. No setor audiovisual presta-se também a promover a
diversificação do conteúdo produzido, impedindo que o mercado se feche e asfixie a
produção de novas manifestações. Nessa senda, as normas impugnadas pretendem, de
forma imediata, concretizar os comandos constitucionais inscritos nos referidos
dispositivos constitucionais, com o objetivo de realizar de forma mediata a dimensão
objetiva do direito fundamental à liberdade de expressão e de informação, no que tem
destaque o papel promocional do Estado no combate à concentração do poder
comunicativo.
No que se refere à alegada inconstitucionalidade dos artigos 9º, parágrafo único, 21
e 22 da Lei 12.485/2011, que estenderam os poderes normativos conferidos à Ancine, são
legítimos os dispositivos. A moderna concepção do princípio da legalidade, em sua acepção
principiológica, ou formal-axiológica, chancela a atribuição de poderes normativos ao
Poder Executivo, desde que pautada por princípios inteligíveis, capazes de permitir o
controle legislativo e judicial sobre os atos da Administração. Na espécie, as normas
impugnadas, apesar de conferirem autoridade normativa à Ancine, estão acompanhadas por
parâmetros aptos a conformar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na

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disciplina do setor audiovisual, o que impede que qualquer delas se transforme em órgão
titular de um pretenso poder regulatório absoluto.
No que toca à restrição à participação de estrangeiros nas atividades de
programação e empacotamento de conteúdo audiovisual de acesso condicionado verificada
no art. 10, ―caput‖ e §1º, a CF/1988 não estabeleceu qualquer regra jurídica que interdite a
distinção entre brasileiro e estrangeiro, ao contrário do que acontece com a situação do
brasileiro nato e do naturalizado. Para esses, há explícita reserva constitucional acerca das
hipóteses de tratamento diferenciado, na forma do art. 12, § 2º, da CF. Mas é juridicamente
possível ao legislador ordinário fixar regimes distintos — respeitado o princípio geral da
igualdade — revelando fundamento constitucional suficiente para a diferenciação, bem
como demonstrando a pertinência entre o tratamento diferenciado e a causa jurídica
distintiva.
No caso, o art. 10º, ―caput‖ e § 1º, da lei referida, ao restringir a gestão, a
responsabilidade editorial e as atividades de seleção e de direção — inerentes à
programação e ao empacotamento —, a brasileiros natos e naturalizados há mais de dez
anos, representou típica intervenção legislativa evolutiva do comando constitucional
encartado no art. 222, § 2º, da CF. Isso é condizente com os vetores axiológicos que
informam, em âmbito constitucional, a atividade de comunicação de massa, entre os quais a
preservação da soberania e identidades nacionais, o pluralismo informativo e a igualdade
entre os prestadores de serviço, a despeito da tecnologia utilizada na atividade.
Descabe falar, ademais, em inconstitucionalidade dos artigos 12, 13, 31, ―caput‖, §§
1º e 2º, da lei sob análise, que estabelecem: a) a exigência de prévio credenciamento junto à
Ancine para exercício das atividades de programação e empacotamento, b) o dever de
prestação de informações solicitadas pela agência para fins de fiscalização do cumprimento
das obrigações de programação, empacotamento e publicidade; e c) a vedação à
distribuição de conteúdo empacotado por empresa não credenciada pela Ancine.
Em realidade, trata-se de exercício típico do poder de polícia preventivo do Estado,
24
ou mesmo do chamado direito administrativo ordenador . O poder de polícia

24Atenção! Nomenclatura! Direito Administrativo Ordenador foi usado pelo STF como sinônimo de
Poder de Polícia. Em verdade, trata-se do resultado da crítica à noção de Poder de Polícia após o advento do
Estado Democrático de Direito. É que o Estado passa do típico absenteísmo, característico do liberalismo,
para sustentar um papel prestacional, em especial das obrigações de cunho social. Consequentemente, há um
abalo na Teoria do Direito, sobretudo no que diz respeito à legalidade, uma vez que o Estado passou a ser
agente transformador, superando a simples aplicação da lei. Haveria a necessidade de novo enfoque. Nesse
sentido ensina Carlos Ari Sundfeld (2003): ―Administração ordenadora é a parcela da função administrativa,

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administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente, traduzindo-se ora no
consentimento prévio para o exercício regular de certas liberdades, ora na sanção aplicada
ao particular em razão do descumprimento de regras materiais aplicáveis à atividade
regulada. Em qualquer caso, a ingerência estatal, fiscalizatória e punitiva, é garantia da
efetividade da disciplina jurídica aplicável.
Os artigos 12 e 13 da Lei 12.485/2011 simplesmente fixam deveres instrumentais
de colaboração das empresas para fins de permitir a atividade fiscalizatória da Ancine
quanto ao cumprimento das novas obrigações materiais a que estão sujeitos todos os
agentes do mercado audiovisual. Já o art. 31, ―caput‖, §§ 1º e 2º, da mesma lei,
consubstancia engenhosa estratégia do legislador para conduzir as empacotadoras ao
credenciamento exigido pela nova disciplina normativa, bem como induzir o cumprimento
das respectivas cotas de conteúdo nacional.
No que diz com a fixação de cotas de conteúdo nacional, nos moldes em que
estabelecida nos artigos 16, 17, 18, 19, 20 e 23 — dispositivos também impugnados nas
ações diretas em apreciação —, necessário saber se o legislador agiu com excesso, impondo
restrições arbitrárias ou desproporcionais aos direitos do cidadão. Nesse passo, constata-se
que a legitimidade constitucional de toda intervenção do Estado sobre a esfera jurídica do
particular está condicionada à existência de uma finalidade lícita que a motive, bem como
ao respeito ao postulado da proporcionalidade. As referidas normas, ao fixarem cotas de
conteúdo nacional para canais e pacotes de TV por assinatura, promovem a cultura
brasileira e estimulam a produção independente, dando concretude ao art. 221 da CF e ao
art. 6º da Convenção Internacional sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das
Expressões Culturais.
Também não há que se falar em inconstitucionalidade em relação ao art. 24 da Lei
12.485/2011, dispositivo que fixa limites máximos para a publicidade comercial na TV por
assinatura. A citada norma encontra-se em harmonia com o dever constitucional de
proteção do consumidor (CF, art. 170, V), haja vista o histórico quadro registrado pela
Anatel de reclamação de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de
programação dos canais pagos.
Com referência ao art. 25 da Lei 12.485/2011, o argumento de
inconstitucionalidade merece acolhida, em virtude da violação ao princípio constitucional

desenvolvida com uso do poder de autoridade, para disciplinar, nos termos e para os fins da lei, os
comportamentos dos particulares no campo das atividades que lhe é próprio‖.

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da isonomia (CF, art. 5º, ―caput‖), núcleo elementar de qualquer regime republicano e
democrático. Esse princípio, regra de ônus argumentativo, exige que o tratamento
diferenciado entre os indivíduos seja acompanhado de causas jurídicas suficientes para
amparar a discriminação, cujo exame de consistência, embora preserve um pequeno espaço
de discricionariedade legislativa, é sempre passível de aferição judicial por força do
princípio da inafastabilidade da jurisdição. O art. 25 da lei proíbe a oferta de canais que
veiculem publicidade comercial direcionada ao público brasileiro contratada no exterior por
agência de publicidade estrangeira, estabelecendo uma completa exclusividade em proveito
das empresas brasileiras e não apenas preferência percentual, sem prazo para ter fim e
despida de qualquer justificação que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de
publicidade, sendo, portanto, inconstitucional.
Com relação à impugnação ao art. 29 da Lei 12.485/2011, que estabelece a
possibilidade de outorga do serviço de distribuição de acesso condicionado por autorização
administrativa, sem necessidade de prévia licitação, não se verifica qualquer
inconstitucionalidade. O dever constitucional de licitar, previsto no art. 37, XXI, da CF,
somente incide nas hipóteses em que o acesso de particulares a alguma situação jurídica de
vantagem relacionada ao Poder Público não pudesse ser universalizada. Descabe cogitar de
certame licitatório quando a contratação pública não caracteriza escolha da Administração e
todo cidadão pode ter acesso ao bem pretendido. Ademais, no campo das
telecomunicações, seria certo que Constituição admitiria a outorga de serviço mediante
simples autorização, como previsto no art. 21, XI, da CF.
O art. 29 viabiliza que a atividade de distribuição de serviço de acesso condicionado
seja outorgado mediante autorização administrativa, sem necessidade de prévio
procedimento licitatório. Isso se justifica diante da nova e abrangente definição desse
serviço de acesso condicionado previsto no art. 2º da lei, apta a abarcar todas as possíveis
plataformas tecnológicas existentes, e não apenas cabos físicos e ondas de radiofrequência,
bem como diante da qualificação privada recebida pela atividade no novo marco
regulatório da comunicação audiovisual.
Quanto à suposta inconstitucionalidade do artigo 32, §§ 2º, 13 e 14, da Lei
12.485/2011, impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta pelas distribuidoras
e geradoras de programação de TV por assinatura não ofende a liberdade de iniciativa nem
os direitos de propriedade intelectual, porquanto o serviço de radiodifusão é hoje

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inteiramente disponibilizado aos usuários de forma gratuita. A lei do serviço de acesso
condicionado apenas replicou, no âmbito desse serviço, a lógica vigente na televisão aberta.
No que diz respeito ao art. 36 da Lei 12.485/2011, que permite o cancelamento do
registro de agente econômico perante a Ancine, por descumprimento de obrigações legais,
do mesmo modo não há que se falar em inconstitucionalidade. De fato, a norma representa
a garantia de eficácia das normas jurídicas aplicáveis ao setor, sendo certo que há evidente
contradição ao se impedir o início da atividade sem o registro, por não preenchimento
originário das exigências legais, e, ao mesmo tempo, permitir a continuidade da sua
exploração quando configurada a perda superveniente de regularidade. Desse modo, a
possibilidade de cancelamento do registro é análoga à possibilidade do indeferimento do
credenciamento.
Por fim, é constitucionalmente válido o regime jurídico de transição, fixado no art.
37, §§ 1º, 5º, 6º, 7º e 11, da Lei 12.485/2011, que fixa regras sobre a renovação das
outorgas após o fim do respectivo prazo original de vigência de normas pertinentes a
alterações subjetivas sobre a figura do prestador de serviço. Não há direito definitivo à
renovação automática da outorga, sendo, ademais, possível a margem de conformação do
legislador para induzir os antigos prestadores a migrarem para o novo regime.
Outrossim, o art. 37, §§ 1º e 5º, ao vedar o pagamento de indenização aos antigos
prestadores dos serviços, em virtude das novas obrigações não previstas no ato de outorga
original, não viola qualquer previsão constitucional. Isso porque, em um cenário regulatório
e contratual marcado pela liberdade de preços, descabe cogitar de qualquer indenização
pela criação de novas obrigações legais, desde que constitucionalmente válidas.
É que eventuais aumentos de custos que possam surgir em razão dessa transição
obrigatória deverão ser administrados exclusivamente pelas próprias empresas, que podem,
inclusive, repassá-los aos consumidores, bem como retê-los em definitivo. É, assim,
impertinente a invocação, no âmbito privado, do equilíbrio econômico-financeiro dos
contratos, regra essa que se aplica aos contratos administrativos.
Vencido o Ministro Edson Fachin, que divergiu parcialmente do entendimento do
Colegiado e julgou totalmente improcedentes os pedidos formulados nas ações. Assim,
reputou constitucional inclusive o referido art. 25 da Lei 12.485/2011.
(1) Lei 12.485/2011: ―Art. 25. Os programadores não poderão ofertar canais que contenham publicidade de serviços e
produtos em língua portuguesa, legendada em português ou de qualquer forma direcionada ao público brasileiro, com
veiculação contratada no exterior, senão por meio de agência de publicidade nacional‖.
ADI 4747/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.11.2017. (ADI-4747)

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ADI 4756/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.11.2017. (ADI-4756)
ADI 4923/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.11.2017. (ADI-4923)
ADI 4679/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.11.2017. (ADI-4679)

Saúde
Informativo nº 886
(Plenário)
ADI e Programa Mais Médicos
O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada contra diversos preceitos da Medida Provisória 621/2013, que
instituiu o Programa Mais Médicos e foi, posteriormente, convertida na Lei 12.871/2013.
Inicialmente, o Colegiado, por maioria, acolheu preliminar de ilegitimidade ativa ―ad
causam‖ da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários
Regulamentados (CNTU) e determinou a extinção da ADI 5037/DF, cujo objeto era mais
abrangente que o da ADI 5035/DF.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes, que aduziu a falta de
legitimidade com fundamento na ausência da pertinência temática e na invalidação do
registro sindical da CNTU por decisão judicial transitada em julgado. No particular, reportou-
se à ADI 4380/DF (DJE de 27.3.2017), extinta por perda superveniente da legitimidade ativa
―ad causam‖ da mesma Confederação.
Os ministros Roberto Barroso, Rosa Weber e Celso de Mello observaram que a
invalidação do registro impede que se atribua à CNTU a condição de entidade sindical de
grau superior.
Vencido o ministro Marco Aurélio, relator, que reconheceu a legitimidade ativa da
Confederação.
No exame da ADI 5035/DF, o Pleno afastou a preliminar de irregularidade da
representação processual da Associação Médica Brasileira (AMBR), em face da superveniente
regularização.
Aferiu não haver transgressão direta ao texto constitucional, a ensejar a
admissibilidade da ação, no tocante aos argumentos envolvendo a falta de domínio do
idioma, a indevida interferência na autonomia dos conselhos regionais e a necessidade de
tratamento recíproco para validação de diploma obtido no exterior. Embora mencionadas

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normas constitucionais supostamente infringidas, todo o raciocínio veiculado pela requerente
é desenvolvido a partir do cotejo com dispositivos infraconstitucionais.
As supostas antinomias jurídicas, se existentes, devem ser resolvidas com base nos
critérios hierárquico, cronológico ou da especialidade, revelando-se inadequado o controle
normativo abstrato.
O Supremo Tribunal Federal (STF) ponderou ser a conversão em lei incapaz de sanar
eventuais nulidades inerentes à medida provisória, permanecendo hígida a possibilidade de
controle.
Sob o ângulo formal, reconheceu caber ao Chefe do Executivo a avaliação de
conveniência e oportunidade, ressalvados os casos de excesso de poder. O controle de
constitucionalidade das medidas provisórias, quanto aos requisitos de relevância e urgência,
ainda que excepcional, mostra-se viável quando manifesto o abuso.
Rechaçou as alegações de inconstitucionalidade formal e material suscitadas,
porquanto ausente tema constitucional vedado e configurada, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS), a situação de relevância e urgência a justificar a edição de normas provisórias
pelo Presidente da República.
Sob o ângulo material, descabe conferir aos conceitos de nacionalidade e cidadania
sentido alargado, a abranger contratação e concessão de visto temporário para médicos
intercambistas estrangeiros e dependentes legais. O texto impugnado não dispõe sobre o
vínculo jurídico-político por meio do qual passam a conviver com os nacionais, nem versa
acerca da participação nos negócios políticos do Estado ou em outras áreas de interesse
público.
Também é inadequado agasalhar a tese de que a medida provisória disciplinou
matéria orçamentária. O ato normativo não trata de planejamento e execução de finanças
públicas, tampouco contempla previsão de receitas e fixação de despesas. Veicula política
pública referente à saúde, cumprindo ao Poder Executivo implementar, mediante
instrumentos próprios, as providências necessárias ao custeio do programa.
Na análise da alegada ofensa ao princípio da autonomia universitária, consagrado no
art. 207 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) (1), acentuou subordinar-se a autonomia
universitária aos preceitos constitucionais e legais. Não se pode confundi-la com soberania ou
interpretá-la como independência.

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Lembrou que a Constituição Federal, no art. 22, XXIV, confere à União competência
para estabelecer normas gerais sobre a educação nacional, fixando as diretrizes e bases que
devem informar o ensino ministrado no país.
Assentou haver limites legitimamente impostos à autonomia didático-científico.
Avaliou que as orientações veiculadas na Lei 12.871/2013 estão em harmonia com os
parâmetros fixados pelo art. 214 da CF/1988, segundo o qual um dos objetivos do plano
nacional de educação consiste em definir diretrizes com o fim de assegurar a manutenção e o
desenvolvimento do ensino por meio de ações integradas dos poderes públicos voltadas à
―formação para o trabalho‖ e à ―promoção humanística‖.
É impróprio considerar ofensivas à autonomia universitária as diretrizes fixadas
quanto à autorização para o funcionamento de curso de graduação em medicina, à adequação
da matriz curricular e ao aperfeiçoamento dos médicos participantes do programa.
No tocante aos demais tópicos, salientou que o Projeto Mais Médicos é
prioritariamente oferecido aos profissionais diplomados no Brasil. Na sequência, aos médicos
formados no exterior.
Assinalou que a ocorrência de problemas na aplicação da lei não afeta a
constitucionalidade do modelo, opção legítima para a maior preocupação da sociedade que é
a saúde. A norma atacada pode não ter sido a melhor opção do ponto de vista técnico, mas
foi opção de política pública válida para tentar minimizar a dificuldade de se fazer chegar a
possibilidade de atendimento médico aos locais mais distantes. Com esteio nos arts. 3º, III
(2); 170 (3) e 198 (4) da CF/1988, verificou-se forma para que se pudesse levar o serviço
médico a todos os rincões.
Eventuais ilicitudes ou falhas na execução dessas políticas públicas devem ser
investigadas e corrigidas.
O Plenário apurou que o art. 16 da Lei 12.871/2013 (5), antigo art. 10 da medida
provisória, não estaria permitindo o exercício ilegal da medicina ao dispensar a revalidação do
diploma estrangeiro do médico intercambista. O próprio art. 5º, XIII, da CF/1988 firma a
liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer. Não foi a Constituição que determinou a obrigatoriedade
de revalidação. A partir do comando constitucional, a legislação geral prevê essa revalidação.
Estimou ser uma excepcionalidade para o médico intercambista, exclusivamente no
âmbito das atividades de ensino, pesquisa e extensão do Projeto Mais Médicos para Brasil, a
dispensa da revalidação nos três primeiros anos de participação.

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Não significa que essa lei específica deixou de exigir a qualificação necessária ao
exercício da medicina, porque os demais artigos da lei colocam que o médico intercambista
será supervisionado, a bolsa está ligada a uma universidade, a uma organização de ensino. Há
fiscalização do conselho de medicina. O profissional tem todas as suas qualificações atestadas
e fiscalizadas.
Nada impede que o Congresso Nacional venha a editar lei transformando essa regra
específica em geral, dizendo que não é preciso a validação do diploma para determinados
países.
Reafirmou dizer a lei que isso é temporário, somente para o Projeto Mais Médicos.
Para os que não tiverem a revalidação, não é permitido praticar a medicina, no Brasil, em
outras questões distintas do programa.
Constatou que o arcabouço legal do Programa Mais Médicos trouxe métodos de
fiscalização para que não houvesse problemas no exercício da medicina. Ademais, a norma
adversada exige expressamente que a carteira de identificação do médico intercambista
contenha a mensagem explícita sobre a vedação fora das atividades do Projeto Mais Médicos.
Participou ser admitida, em outros países, a prática da não revalidação, exatamente
para possibilitar o atendimento a determinadas comunidades.
Nesse aspecto, concluiu pela constitucionalidade da lei.25
Noutro passo, entendeu que a prioridade estabelecida no SUS, com o Programa Mais
Médicos, foi o binômio ensino e serviço. Assim, ao longo da especialização, há a
obrigatoriedade da prestação de serviços supervisionada por médicos brasileiros. Em vez de
se investir na especialização para depois auferir o retorno, o programa pensou em resolver
isso fazendo a questão do ensino/serviço ao mesmo tempo.
Em virtude disso, reputou não se tratar de vínculo empregatício. É forma acadêmico-
profissional que foi encontrada e que é utilizada também em outros países, muito semelhante
ao que se faz ao conscrito médico ou dentista.
Como resultado, afastou a assertiva de violação ao concurso público. A regra é de um
chamamento. Prioriza o médico brasileiro e, somente na falta, procede à sequência. Portanto,
identificou inexistir relação trabalhista.
Desse ponto de vista, é relação que se faz com entidades, países, de bolsas oferecidas,
sem se dar diretamente entre o Brasil e o médico específico.

25Simplificando: O Programa ―Mais Médicos‖, instituído pela Medida Provisória 621/2013, posteriormente,
convertida na Lei 12.871/2013, é constitucional.

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No que concerne a Cuba, há um intermediário que realiza a escolha de médicos ou
faz a implantação, mas não é uma diferenciação realizada pelo Brasil. Os médicos que se
inscrevem sabem as condições da bolsa. O Brasil não trata desigualmente a bolsa que oferece
no programa, faz o chamamento.
A bolsa é oferecida a certas entidades e, no caso de Cuba, a entidade supervisora,
ligada àquele governo, controla e fica com uma parcela. Entretanto, nada obriga o médico
cubano a aceitar essa bolsa.
Frisou não haver tratamento diferenciado em todos os requisitos para o médico
intercambista. O que acontece é que cada país se estrutura de uma determinada maneira
dentro dos pactos tratados com o Brasil ou, nesta situação, das bolsas oferecidas.
Vencido o relator no ponto em que deferiu parcialmente o pedido, no que foi
acompanhado pela ministra Rosa Weber.
(1) CF/1988: ―Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. §
1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. § 2º O
disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica.‖
(2) CF/1988: ―Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) III -
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;‖
(3) CF/1988: ―Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre
concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX -
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.‖
(4) CF/1988: ―Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I -
descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade
para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. §
1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2º
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços
públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I - no caso da
União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15%
(quinze por cento); II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos

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a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e
do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de
que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo
menos a cada cinco anos, estabelecerá: I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; II - os
critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução
das disparidades regionais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas
esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV - (revogado). § 4º Os gestores locais do sistema único de
saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de
processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e r equisitos
específicos para sua atuação. § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional
nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário
de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência
financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do
referido piso salarial. § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º d o art. 169 da
Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de
agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos
específicos, fixados em lei, para o seu exercício.‖
(5) Lei 12.871/2013: ―Art. 16. O médico intercambista exercerá a Medicina exclusivamente no âmbito das
atividades de ensino, pesquisa e extensão do Projeto Mais Médicos para o Brasil, dispensada, para tal fim,
nos 3 (três) primeiros anos de participação, a revalidação de seu diploma nos termos do § 2º do art. 48 da
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. § 1º (VETADO). § 2º A participação do médico intercambista
no Projeto Mais Médicos para o Brasil, atestada pela coordenação do Projeto, é condição necessária e
suficiente para o exercício da Medicina no âmbito do Projeto Mais Médicos para o Brasil, não sendo
aplicável o art. 17 da Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957. § 3º O Ministério da Saúde emitirá número
de registro único para cada médico intercambista participante do Projeto Mais Médicos para o Brasil e a
respectiva carteira de identificação, que o habilitará para o exercício da Medicina nos termos do § 2º. § 4º A
coordenação do Projeto comunicará ao Conselho Regional de Medicina (CRM) que jurisdicionar na área de
atuação a relação de médicos intercambistas participantes do Projeto Mais Médicos para o Brasil e os
respectivos números de registro único. § 5º O médico intercambista estará sujeito à fiscalização pelo
CRM.‖
ADI 5035/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 30.11.2017. (ADI-5035).
ADI 5037/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 30.11.2017. (ADI-5037).

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