Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
RESUMEN
276
rellevancia y son alzados al statusde norma, al lado de las reglas. Por fin, analiza el
papel del juez en la interpretación, aplicación y concretización de los principios
juridicos expuestos, en especial en la Constitución del Estado Democratico de Derecho,
y hace la comparación entre la actuación jurisdicional en el período positivista y la
nueva postura del modelo pos-positivista.
INTRODUÇÃO
Como ciência dinâmica que é, o Direito caminha em sentido de evoluir para melhor
atender à sua finalidade primordial de distribuir Justiça, pacificar e organizar o convívio
da sociedade.
Neste caminhar, muitas escolas e modelos jurídicos surgiram, tiveram seu auge e
declinaram, num processo natural de evolução do Direito e do próprio homem e do
paradigma estatal por ele adotado. Assim, entender o fenômeno jurídico para pensá-lo,
entendê-lo, interpretá-lo e aplicá-lo corretamente passa pela compreensão dos modelos
jurídicos que se apresentam em determinado período da sociedade.
Esta é uma exigência que se coloca a qualquer profissional do Direito, mas de modo
sobremaneira importante ao juiz, a quem é dado decidir, pacificar. Importante dizer que
o exercício da função jurisdicional sofre inegável impacto decorrente do modelo estatal
e jurídico que se adota.
Assim, é correto afirmar que o positivismo refletia não apenas características jurídicas,
mas também sociais e políticas da época. E do mesmo modo acontece com o pós-
positivismo. Embora não seja este o foco central do trabalho, não se pode deixar de
dizer que a compreensão do Direito em determinado espaço de tempo reflete os anseios
da sociedade em que se insere.
Desta forma, apresentam-se também as críticas sofridas pelo movimento e que mais
tarde levariam à necessidade de sua superação, nascendo, então, o modelo pós-
positivista como forma de reação à formalidade do juspositivismo. Também nesta fase
277
do trabalho se busca contextualizar o pós-positivismo dando o seu significado e
contornos.
E, por fim, diante deste novo contexto social e político (representado pelo Estado
Democrático de Direito) e jurídico (representado pelo modelo pós-positivista) a atuação
do juiz modifica-se sobremaneira, exigindo-se dele nova postura, adequada à carga
principiológica do paradigma atual.
278
matemáticas, naturais e sociais. Ora, a característica fundamental da ciência consiste em
sua avaloratividade, isto é, na distinção entre juízos de fato e juízos de valor e na
rigorosa exclusão destes últimos do campo científico: a ciência consiste somente em
juízos de fato. O motivo dessa distinção e dessa exclusão reside na natureza diversa
desses dois tipos de juízo: o juízo de fato representa uma tomada de conhecimento da
realidade, visto que a formulação de tal juízo tem apenas a finalidade de informar, de
comunicar a um outra a minha constatação; o juízo de valor representa, ao contrário,
uma tomada de posição frente à realidade, visto que sua formulação possui a finalidade
não de informar, mas de influir sobre o outro, isto é, de fazer com que o outro realize
uma escolha igual à minha e, eventualmente, siga certas prescrições minhas. (BOBBIO,
1995, p. 135).
A Teoria Pura do Direito e uma teoria do Direito positivo - do Direito positivo em geral,
não de uma ordem jurídica especial. É teoria geral do Direito, não interpretação de
particulares normas jurídicas, nacionais ou internacionais. Contudo, fornece uma teoria
da interpretação.
Como teoria, quer única e exclusivamente conhecer o seu próprio objeto. Procura
responder a esta questão: o que é e como é o Direito? Mas já não lhe importa a questão
de saber como deve ser o Direito, ou como deve ele ser feito. É ciência jurídica e não
política do Direito.
Quando a si própria se designa com "pura" teoria do Direito, isto significa que ela se
propõe garantir um conhecimento apenas dirigido ao Direito e excluir deste
conhecimento tudo quanto não pertença ao seu objetivo, tudo quanto não se possa,
rigorosamente, determinar como Direito. Quer isto dizer que ela pretende libertar a
ciência jurídica de todos os elementos que lhe são estranhos. Esse é o seu princípio
metodológico fundamental.
279
A esse respeito, também faz Tércio Sampaio Ferraz Junior, ao prefaciar a obra "Para
entender Kelsen", de Fábio Ulhoa Coelho, faz as seguintes observações:
Foi com este propósito que Kelsen propôs o que denominou princípio da pureza,
segundo o qual método e objeto da ciência jurídica deveriam ter, como premissa básica,
o enfoque normativo. Ou seja, o direito, para o jurista deveria ser encarado como norma
(e não como fato social ou como valor transcendente). Isso valia tanto para o objeto
quanto para o método. (COELHO, 2001, p. xv, Prefácio).
Para Hans Kelsen, portanto, o Direito deveria ocupar-se e preocupar-se tão somente
com a norma posta. Trata-se, portanto, de concepção normativista do Dirieto, que exigia
do jurista uma postura puramente científica, despida de impressões subjetivas, próprias
de outros ramos do conhecimento, tais como a sociologia, a filosofia ou a psicologia.
Neste ponto é conveniente abrir parênteses para explicar em rápidas palavras que a
concepção kelseniana não é a única manifestação do positivismo jurídico, apesar de,
acredita-se, ter sido a mais difundida dentre os estudiosos brasileiros. Todavia, não se
280
pode esquecer de outra manifestação também importante, materializada no pensamento
de Herbert Hart.
Sobre o positivismo concebido pelo filósofo britânico, explica Sérgio Alves Gomes:
Herbert Hart, após longa discussão sobre a obra de John Austin, que concebia o Direito
como um conjunto de comandos do soberano, concluiu que, ao invés de "comandos", o
que se tem como Direito é "uma união de regras primárias e secundárias"[1].
Por outro lado, Norberto Bobbio, ao destacar os pontos por ele considerados
fundamentais da doutrina juspositivista observa o seguinte:
Feito este registro, importa dizer que por questões didáticas, de construção deste estudo,
optou-se pela concepção positivista kelseniana[3], o que não implica que características
próprias de outras manifestações do positivismo não possam ser mencionadas.
Ora, o conhecimento jurídico dirige-se a estas normas que possuem o caráter de normas
jurídicas e conferem a determinados fatos o caráter de atos jurídicos (ou antijurídicos).
Na verdade, o Direito que constitui objeto deste conhecimento, é uma ordem normativa
da conduta humana, ou seja, um sistema de normas que regulam o comportamento
humano. Com o termo "norma" se quer significar que algo deve ser ou acontecer,
especialmente que um homem deve se conduzir de determinada maneira. (...). Neste
ponto importa salientar que a norma, como o sentido específico de um ato intencional
dirigido à conduta de outrem, é qualquer coisa de diferente do ato de vontade cujo
sentido ela constitui. Na verdade, a norma é um dever-ser e o ato de vontade de que ela
constitui o sentido é um ser. (...).
281
Portanto, a conduta estatuída numa norma como devida (como devendo ser) tem de ser
distinguida da correspondente conduta de fato. (...). (KELSEN, 2003, p. 5-7).
O modelo de ciência do direito pensado por Kelsen em sua Teoria Pura do Direito (...) é
formalista (...). Para a elaboração de normas válidas é suficiente a observância da forma
prevista em norma hierarquicamente superior. Em outras palavras: basta a observância
formal do procedimento legislativo para que as normas dele resultantes sejam válidas.
(...). De acordo com ele, é juridicamente possível converter qualquer conteúdo em
norma válida, sem preocupação com a justiça ou injustiça de tal conteúdo. Desde que, é
claro, sejam observadas as formalidades previstas legalmente para a elaboração daquela
norma. O procedimento normativo é suficiente para legitimar as normas dele oriundas.
(GOMES, 2008, 136-137).
De modo semelhante, Luis Fernando Barzotto faz referência à norma fundamental como
pressuposto de validade das normas integrantes do ordenamento jurídico. O autor
ressalta, inclusive, a sua característica ficcional, tal como Hans Kelsen a concebeu em
sua obra póstuma, "Teoria Geral das Normas". Diz o jurista brasileiro:
Kelsen não pode recorrer a uma instância moral para alcançar uma fundamentação do
direito positivo, uma vez que, para ele, recorrer a uma norma moral acarretaria uma
"moralização" do fenômeno jurídico. (...).
A norma fundamental não é uma norma posta, positiva. É uma norma meramente
pensada, uma norma pressuposta. (...).
282
A norma fundamental é um dos mais importantes conceitos kelsenianos. Ela tem uma
dupla função em Kelsen. A primeira, de ordem epistemológica: ela é a condição lógico-
transcendental de possibilidade do conhecimento jurídico. É uma hipótese necessária
ciência do direito de corte positivista. A Segunda, ontológica: a norma fundamental é
necessária para fundar a validade do ordenamento jurídico. (...). (BARZOTTO, 2007, p.
37-39).
Assim, se todo e qualquer conteúdo pode se tornar norma jurídica válida, é certo inferir
que não há, para Hans Kelsen, valores absolutos. Segundo Manuel Atienza, citado por
Sérgio Alves Gomes:
(...). os únicos valores que podem considerar-se internos ao Direito são de caráter
formal: a ordem (que protege os indivíduos do uso da força por parte dos outros), a
segurança coletiva e a paz (que, de todas as formas, é só relativa, pois o Direito não
assegura a ausência do uso da força). (GOMES, 2008, 136-137).
283
O sistema de validade normativo baseado tão somente no procedimento legislativo e na
estrutura hierarquizada do ordenamento transformou-se em um dos motivos que levou o
pensamento juspositivista ao declínio, vez que não se aceitava - especialmente no
cenário da época, em que se deu a II Guerra Mundial e o terror do holocausto - que
qualquer conteúdo pudesse ser convertido em norma, independentemente de sua
conexão com o sentido do Justo, e da Moral[6].
A esse respeito, Tércio Sampaio Ferraz Junior, em prefácio da obra de Fábio Ulhoa
Coelho afirma o seguinte:
Nunca foi intenção de Hans Kelsen, tampouco de qualquer outro doutrinador positivista,
reduzir o ordenamento jurídico a apenas um conjunto normativo, sem qualquer ligação
com a realidade dos jurisdicionados, ou então, apartado do sentido de justiça.
Igualmente não havia intenção, nem se podia prever efeitos nefastos que muitas vezes
são atribuídos ao positivismo, com alguma dose de injustiça ou desconhecimento.
Pelo contrário, o filósofo austríaco pretendia com sua teoria pura resguardar o Direito
daqueles que pudessem deturpá-lo a partir de elementos subjetivos e axiológicos que
aparentemente fossem legitimados pelo sistema, mas que, na realidade, servissem
apenas a arbitrariedades[7].
Logo no início de sua "Teoria Pura do Direito", Hans Kelsen esclarece essa situação:
284
A obra de Kelsen ainda o mantém vivo. Suas implicações para a ciência jurídica, para a
lógica da norma, para a aplicação do direito são tão fecundas que, por mais que o
critiquemos, não deixam de desvendar novos ângulos, novos encaminhamentos.
(ULHOA, 2001, p. xx, Prefácio).
Entretanto, ao estudar o tema, Sérgio Alves Gomes chama a atenção para conseqüências
negativas do positivismo jurídico (sem, contudo, renegar suas contribuições), no que
pertine ao ensino jurídico. Trata-se de enriquecedora análise, cujos termos ora se
transcreve:
Margarida Maria Lacombe Camargo traduz bem a questão ora posta, reconhecendo a
existência de tensão constante entre segurança e justiça, durante o século XIX, no auge
285
do modelo positivista. Foi no século XX, porém, que dessa tensão, aliada ao natural
declínio do positivismo, fez-se o cenário propício à construção de outro modelo
jurídico. Para a autora:
Verifica-se uma variação entre extremos radicalmente opostos durante todo o século
XIX: de um lado a Escola da Exegese, com todo o seu rigor, como forma de transmitir
segurança ao direito, e de outro o Movimento para o Direito Livre, muito menos
rigoroso, cuja preocupação era principalmente com relação à justiça. O despertar do
século XX dá ensejo a um movimento crítico, que questiona as reais contribuições da
dogmática jurídica tradicional para a sociedade, ganhando força a sociologia. A filosofia
dos valores veio também compor este quadro, ocupando-se da questão da justiça.
(CAMARGO, 2001, p. 139).
Todavia, a perspectiva humanista do estudo do Direito revela cada vez mais que, sem a
inclusão dos valores no âmbito jurídico, o Direito se resumiria a um arcabouço de
normas passíveis de qualquer conteúdo, inclusive daqueles que ao invés de dignificar o
ser humano poderiam convertê-lo em mera "coisa", como foi típico dos tempos de
escravidão oficial sempre disciplinada e "legitimada" pelo ordenamento jurídico.
Também não basta dizer que o Direito envolve valores, para que este seja um direito
justo. Há que se verificar qual a pauta de valores com a qual o Direito se compromete.
No Estado Democrático de Direito, tais valores estão explicitados no texto
constitucional e todos eles - segundo a consciência ético-jurídica que os selecionou - são
fundamentais ao pleno desenvolvimento e expressão democrática de todo ser humano.
(GOMES, 2008, p. 216).
Eis o pós-positivismo.
O termo, de acordo com o jusfilósofo Willis Santiago Guerra Filho, tem significado
relevante, pois não se trata de negar o positivismo jurídico, tampouco implica desprezo
ao legado que referido modelo deixou à Ciência do Direito e que não podem ser
extirpados. Aquilo que se conquistou com o positivismo e a cientificidade do Direito é
definitivo. Ou seja, os benefícios do árduo caminho trilhado não podem ser esquecidos;
não há volta. Por outro lado, é preciso ir além. Buscar novos horizontes. E daí a
importância etimológica - quase sempre despercebida - do termo pós-positivismo. É
assim que o mencionado autor apresenta o novo modelo do pensamento jurídico. Para
ele:
286
Inicialmente, cabe frisar que não se pretende aqui expor idéias que sejam
"antimodernas" ou "antipositivistas". Fazer isso seria colocarmo-nos em uma posição
anterior àquelas defendidas na modernidade e pelo positivismo, quando na verdade se
pretende buscar o que está mais para além de ambos. (GUERRA FILHO, 1998, p. 61).
Me parece que más que la superación del positivismo estamos ante um desplazamiento
de la agenda de problemas que interesan y, em algunos casos, a un cierto
distanciamiento de algunas de las tesis que eram sostenidas de forma mayoritaria por las
teorías positivistas. Algunos autores han llegado a defender que el positivismo es
autodestructivo porque si se llevan sus tesis hasta sus últimas consecuencias se
desemboca en el antipositivismo (Tuori, 1997 y Goldsworthy, 1990, Shiner, 1992). (...).
(...).
Ahora bien, el post positivismo acepta que las fuentes del derecho no ofrecen respuesta
a muchos problemas y que se necesita conocimiento para resolver estos casos. (...).
(CALSAMIGLIA, ?, p. 210-212).
(...) as correntes que vêem a aplicação do direito como atividade criadora insurgem-se
em opor severas críticas ao positivismo kelseniano, apontando para a falibilidade do
modelo lógico-dedutivo. Acredita-se que o direito existe concretamente e não de forma
287
virtual, ou melhor, que ele vale à medida que é capaz de compor interesses,
desconsiderando-se a sua força meramente potencial. Este movimento, que encerra o
predomínio da dogmática jurídica tradicional, é denominado pós-positivismo.
(CAMARGO, 2001, p. 140).
Embora não se trate do foco deste trabalho, é importante frisar que as mudanças de
paradigmas estatais, até que se chegasse no modelo atual tem toda relevância no
estabelecimento e desenvolvimento do pós-positivismo. Cada vez mais o Estado
Democrático de Direito se identifica com as características pós-positivistas.
(...).
Entretanto, não despreza as suas raízes sociais, humanísticas e axiológicas, que foram a
tônica do positivismo jurídico. Retira, pois, a frieza e o formalismo da lei deixada - não
intencionalmente - pelos positivistas, como forma permitir a concretização do Direito
como instrumento viabilizador de Justiça.
288
O surgimento do pós-positivismo é marcado pelo retorno do Direito à sua matriz
axiológica, antes extirpada pela doutrina positivista, pois pensava-se que a supressão de
elementos subjetivos e valorativos pudesse resguardar o Direito do comentimento de
arbitrariedades, além de atribuir-lhe cientificidade tão almejada àquele tempo.
Neste contexto, os princípios jurídicos retomam sua força, e adquirem status próprio e
papel importante no pós-positivismo. Pode-se dizer, então, que uma das características
marcantes dessa fase metodológica do Direito é o recurso aos princípios de uma
maneira muito específica, conforme se verá nas linhas a seguir.
Para Paulo Bonavides "a juridicidade dos princípios passa por três distintas fases: a
jusnaturalista, a positivista e a pós-positivista" (BONAVIDES, 2003, p. 259). Com isso
percebe-se que os princípios sempre acompanharam o Direito, inclusive no período de
predomínio do positivismo. Ocorre que, em cada uma dessas fases tiveram papéis e
importâncias distintos. Ao discorrer sobre as fases de juridicidade dos princípios, o
autor afirma:
(...).
289
(...).
(...).
Ensina, por fim, Paulo Bonavides a respeito da importância dos princípios no cenário
pós-positivista:
(...) que agora positivados nos novos textos constitucionais, assentam os principais
padrões pelos quais se investiga a compatibilidade da ordem jurídica aos princípios
fundamentais de escalão constitucional (...). Nesta fase, os princípios jurídicos
conquistam a dignidade de normas jurídicas vinculantes, vigentes e eficazes para muito
além da atividade integratória do Direito. (ESPÍNDOLA, 2002, p. 64).
Como se nota, os princípios passam a ser, juntamente com as regras, espécie do gênero
norma. Essa diferenciação é fruto especialmente da obra de Ronald Dworkin e Robert
Alexy, tomadas como fonte do estudo dos princípios. Citado por Sérgio Alves Gomes, o
jurista alemão entende que:
290
Tanto las reglas como los principios son normas porque ambos dicen lo que debe ser.
Ambos pueden ser formulados com la ayuda de las expresiones deónticas básicas del
mandato, la permisión y la prohibición. Los principios, al igual que las reglas, son
razones para juicios concretos de deber ser, aun cuando sean razones de un tipo muy
diferente. La distinción entre reglas y principios es pues una distinción entre dos tipos
de normas. (GOMES, 2008, p. 220, nota de rodapé n. 444).
Ainda com base na obra de Robert Alexy, Sérgio Alves Gomes destaca os elementos
diferenciadores entre regras e princípios:
(...) los principios son mandatos de optimización, que están caracterizados por el hecho
de que pueden ser cumplidos en diferente grado y que la medida debida de su
cumplimiento no sólo depende de las posibilidades reales sino también de las jurídicas.
(...). En cambio, las reglas son normas que sólo podem ser cumplidas o no. (...). Por lo
tanto, las reglas contienen determinaciones en el ámbito de lo fáctica y no de grado.
Toda norma es o bien una regla o un principio. (GOMES, 2008, p. 221, nota de rodapé
n. 445).
As regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra
estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece deve ser
aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribui para a decisão.
(...).
Os princípios possuem uma dimensão que as regras não têm - a dimensão do peso ou
importância. Quando os princípios se intercruzam (por exemplo, a política de proteção
aos compradores de automóveis se opõe se opõe aos princípios de liberdade de
contrato), aquele que vai resolver o conflito tem de levar em conta a força relativa de
cada um. Esta não pode ser, por certo, uma mensuração exata (...).
291
Ao contrário, as regras "...determinam as conseqüências normativas de forma direta..."
(ÁVILA, 2004, p. 29), razão pela qual Ronald Dworkin se refere ao juízo de tudo-ou-
nada. Significa dizer que as antinomias entre regras implica descarte daquela que venha
a ser considerada inválida.
Antônio de Pádua Ferraz Nogueira, analisando o tema sob a ótica de magistrado, faz a
seguinte observação:
Cabe ao juiz e às partes, destarte, uma atuação sempre dentro da razoabilidade -sem
exageros ou posicionamentos radicais-, propugnando soluções que possam levar à
modernidade do processo e a decisões que mais se amoldem aos fins sociais e às
exigências do bem comum. Com isso terá o cidadão não só maior e melhor acesso á
Justiça, fortalecida pela segurança de critérios humanistas adotados no exame da lei,
processual ou civil".(NOGUEIRA, 2001, p. 34-35).
Logo, na aplicação dos princípios o juiz encontrará orientação, bem como limitações à
sua atuação. É de se perceber a preocupação com a atuação do juiz, razão pela qual deve
ele estar atento e conectado ao sentido e alcance dos princípios. Sobre o tema, Sérgio
Alves Gomes explica com clareza o seguinte:
Sendo assim, o juiz que o pós-positivismo requer é aquele não mais compromissado
apenas em ser "a boca da lei", escravo do formalismo excessivo, e apartado dos valores
sociais, éticos e morais da sociedade onde se insere. Requer-se, sim, um juiz capaz de
292
interpretar e aplicar o Direito da forma mais adequada ao alcance e realização, tanto
quanto possível, da Justiça ao caso concreto, como se espera no Estado Democrático de
Direito. É o que apregoa ainda Sérgio Alves Gomes:
Este "novo juiz" caracteriza-se não em razão da idade mas da mentalidade, isto é, do
pensamento que orienta suas ações. Trata-se do juiz intérprete preocupado com a
concretização dos valores constitucionais, por meio da efetividade dos direitos humanos
e fundamentais. (...).
Diante disso, o intérprete-juiz há de estar em sintonia com tais premissas. Está ele
jurídica, ética e politicamente comprometido com a sociedade democrática, com o
paradigma de Estado e o modelo jurídico por esta engendrados a fim de ordenar,
segundo princípios constitucionais que a todos vinculam, o convívio social.
(...).
293
constitucionais fundamentais, de modo a atribuir aos textos normativos o significado
mais justo, razoável e adequado aos valores por estes salvaguardados. (GOMES, 2008,
p. 361-362).
CONCLUSÃO
Apesar das severas críticas sofridas pelo positivismo kelseniano - especialmente por ser
considerado reducionista - não se pode negar suas contribuições ao Direito.
Academicamente alcançou o status de ciência, além de desenvolver os vários ramos do
Direito, estruturados com seus próprios institutos. Por outro lado, o formalismo
característico da cientificidade alcançada pelo Direito contribuiu em grande parte para a
sua setorização (perda da visão integral do Direito) inclusive no campo do ensino
jurídico, e ainda, levou o exercício da judicatura a apenas raciocínios lógicos-dedutivos.
294
Neste contexto, pareceu inevitável o declínio do pensamento positivista, que deu lugar a
um novo paradigma filosófico-jurídico que pretende senão aperfeiçoar a Ciência do
Direito sem, contudo, desprezar as contribuições do positivismo.
Diante disso, a atuação do juiz precisa estar conectada a esta nova mentalidade pós-
positivista e, principalmente, aos objetivos do Estado Democrático de Direito. Sua
atuação, portanto, deixa de ser tão apegada ao formalismo frio da lei para dar lugar ao
manejo e aplicação de princípios.
BIBLIOGRAFIA
295
BARZOTTO, Luis Fernando. O positivismo jurídico contemporâneo: uma introdução
a Kelsen, Ross e Hart, 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen, 4 ed, rev. São Paulo: Saraiva, 2001.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito, 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
296
PRADO, Lídia Reis de Almeida. O juiz e a emoção. Aspectos da lógica da decisão
judicial. Campinas: Millennium, 2003.
[1] Sobre isso, ver a obra de Herbert Hart, O conceito de Direito, em que o autor expõe
suas críticas ao modelo positivista de John Austin e propõe sua própria concepção de
ordenamento jurídico.
[3] Nada obstante, ressalte-se que o positivismo encontra também suas raízes na Escola
Analítica do Direito ou Escola Analítica de Jurisprudência, cujo representante de
destaque foi John Austin. De acordo com o jusfilósofo brasileiro João Baptista
Herkenhoff (2004, p. 38), tal movimento de interpretação do Direito concebia o
ordenamento jurídico sob a perspectiva normativa, eis que "... o Direito tinha por objeto
apenas as leis positivas, não lhe interessando os valores ou conteúdo ético das normas
legais".
[5] Mais adiante essa questão será objeto de crítica neste trabalho, apresentando-se
como um dos indicativos de superação do modelo positivista, no sentido de sua rigidez
formal.
[6] Essa situação será abordada com mais vagar, em tópico específico, quando se falar a
respeito do declínio do positivismo jurídico, que deu lugar ao pós-positivismo.
[7] A esse respeito, vide texto Judiciário como superego da sociedade - o papel da
atividade jurisprudencial na "sociedade órfã", de Ingeborg Maus, autora alemã que
analisando o papel do Judiciário naquele país, se reporta aos impactos do positivismo
ali.
297