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Zanella
Embrapa Suínos e Aves, BR‑153, Km 110, Distrito de Tamanduá, CEP 89715‑899 Concórdia, SC, Brasil. E‑mail: janice.zanella@embrapa.br
(1)
Resumo – Os fatores para a emergência ou a reemergência de doenças são pouco conhecidos e entendidos,
mas o principal é a expansão da população humana. Outros fatores incluem mudanças climáticas, globalização
e intensificação da produção animal. Isto é preocupante, já que 75% das doenças humanas emergentes ou
reemergentes do último século são zoonoses, isto é, doenças de origem animal, que, além de causarem
fatalidades humanas e animais, afetam a economia de países. Estima-se que o impacto das doenças animais
exceda 20% das perdas na produção animal mundialmente. O Brasil é um grande produtor agrícola e tem
grande parte de seu território em região tropical, abrigando a maior biodiversidade ambiental do globo. Estudos
tem apontado a região Amazônica entre um dos “hot spots” onde doenças surgiram ou poderão emergir. Nesse
contexto, recomenda-se a formação de uma rede de cooperação com ações estratégicas em vigilância, pesquisa,
comunicação e capacitação. É fundamental fomentar parcerias nas áreas de saúde, agricultura e meio‑ambiente
para pronta‑resposta nacional e global. O objetivo deste trabalho foi abordar os principais fatores envolvidos
na emergência ou na reemergência de zoonoses, bem como as ameaças futuras e a importância estratégica da
pesquisa e da vigilância no Brasil.
Termos para indexação: ameaças sanitárias, doenças animais, pesquisa, sanidade animal, Uma Saúde.
acima de 30 milhões de toneladas de leite anualmente, Mundial da Saúde (WHO), a Organização da Nações
o que, por sua vez, contribui para a desnutrição e a Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e
diminuição da resistência a doenças em crianças e idosos a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE),
(Seimenis, 2008). Além das quedas em produtividade, o termo zoonose emergente é definido como um
países perdem oportunidades comerciais devido ao seu patógeno recém‑reconhecido ou que sofreu evolução
status sanitário e não recebem investimentos (Vallat & recente ou já tenha ocorrido anteriormente, mas que
Wilson, 2003). mostra aumento na sua incidência ou expansão na
A Agência dos Estados Unidos para o área geográfica quanto ao número de hospedeiros ou
Desenvolvimento Internacional (USAID) publicou um vetores (Cutler et al., 2010).
relatório que indicou que mais de 75% das doenças O estudo das zoonoses, termo introduzido pelo
humanas emergentes do último século são de origem médico alemão Rudolph Virchow (1821–1905),
animal (United States Agency for International incluía todas as doenças infecciosas sob o conceito de
Development, 2009). Também aponta a região “Medicina Comparada”. No entanto, após a Segunda
Amazônica, na América do Sul, entre um dos futuros Guerra Mundial, as pesquisas em medicina veterinária
“hot spots”. e medicina humana seguiram caminhos diferentes.
O objetivo deste trabalho foi abordar os principais Apesar disso, desde 1990, esse velho conceito voltou à
fatores envolvidos na emergência e na reemergência de tona em razão do grande número de doenças que devem
zoonoses, bem como as ameaças futuras e a importância ser combatidas por meio de esforços multidisciplinares,
estratégica da pesquisa e da vigilância no Brasil. o que levou à criação do conceito de “Uma Saúde”
(Wieler et al., 2009). Desse modo, hoje, a definição de
Um mundo, uma saúde e uma medicina medicina visionada por Virchow, no século passado, é
centrado na saúde pública (Brown, 2003).
Ameaças globais necessitam de uma resposta No último século, emergiram ou reemergiram pelo
global, e doenças novas ou emergentes devem ser menos 14 doenças infecciosas ou parasitárias, com
contidas quando surgem. Neste cenário, quais seriam destaque para ebola, dengue, chikungunya, zika, febre
as estratégias para combater a transmissão de agentes amarela, tuberculose, SARS, sarampo, varíola, HIV/
patogênicos e qual o papel dos atores da saúde AIDS, gripes (influenzas humana, aviária ou suína) e
pública? Seriam essas doenças uma consequência da parasitoses (tripanossomíases). Mais de 75% delas são
globalização? Algumas lições foram aprendidas com originárias de agentes microbianos de animais e podem
a emergência da síndrome respiratória severa e aguda ser uma ameaça como armas biológicas, por exemplo
(SARS) e da influenza aviária, doenças infecciosas que, (Tumpey et al., 2002; Seleem et al., 2010).
em um país, são uma ameaça para os outros (Breiman Um dos fatores mais prováveis para explicar a
et al., 2004). A perda de mercados para produtos de ocorrência recente de novas doenças é a expansão
origem animal, por exemplo, é uma realidade quando a da população humana (Panda et al., 2008). Apesar
saúde pública está em jogo. da preocupação com a escassez de recursos naturais
A detecção precoce e a notificação de doenças, bem e com o meio ambiente, estima-se que a população
como o compartilhamento de informações e de agentes mundial alcançará 10 bilhões em 2050 (Brown, 2003).
patogênicos entre países, são ponto‑chave para uma Essa estimativa vem acompanhada de um aumento
pronta‑resposta no âmbito nacional e global. Para a chocante de urbanização da população de 39%, em
contingência de doenças emergentes, as autoridades 1980, para 46%, em 1997, previsto em 60% em 2030,
locais – das áreas de saúde, agricultura e meio‑ambiente o que significa elevação de densidade humana em
– devem colaborar de forma transparente, e os centros urbanos (Cutler et al., 2010).
governos devem utilizar a colaboração internacional
para prevenção, vigilância, biossegurança, controle Fatores para emergência ou
da infecção em hospitais e tratamento de doenças reemergência de zoonoses
infecciosas.
A maioria dessas doenças é de origem animal, Além do aumento da população humana, outros
isto é, são zoonoses. De acordo com a Organização fatores globais favoreceram a emergência de agentes
de doenças zoonóticas, como: comércio e viagens, selvagem. Uma dessas interações é a domesticação
mudanças no habitat terrestre, poluição e expansão da de animais, que forneceu um ambiente propício para
produção animal. Os fatores de risco favoráveis para infecção de doenças de animais silvestres em seres
que esses eventos ocorram estão citados na Figura 1 e humanos (Pearce‑Duvet, 2006). Entretanto, um estudo
serão comentados a seguir. filogenético de agentes zoonóticos mostrou que ocorre
tanto a transmissão de origem animal (doméstica ou
Produção animal e alteração das práticas de manejo silvestre) para humanos quanto de origem humana para
Muitas hipóteses apontam a expansão da pecuária animais. Exceções incluem os casos da tuberculose
como fonte mantenedora de agentes patogênicos para e de teníases, em que não há evidência de origem
humanos (Graczyk et al., 2000; Panda et al., 2008; doméstica, pelo contrário, a origem e a transmissão
Lejeune & Kersting; 2010). Há uma crescente demanda são de humanos para animais (Pearce‑Duvet, 2006;
mundial por proteína animal, com consequente Chomel et al., 2007). A domesticação de animais
aumento na criação de animais produtores de carne em silvestres também levou à reemergência de zoonoses.
confinamento, situação predisponente a várias doenças Dois exemplos de doenças em que os animais silvestres
(Guo et al., 2015). O excesso de confinamentos e de se tornaram reservatórios e recontaminaram os animais
processamento de nutrientes para alimentação do domésticos são: tuberculose bovina em populações de
gado pode ter levado ao surgimento da encefalite cervos capturados ou manejados intensivamente – os
espongiforme bovina (Jacobson et al., 2009), também cervos que viviam em densidade populacional baixa
conhecida como doença da vaca louca. A mistura e em vida livre eram menos susceptíveis; e infecção
de animais de diferentes espécies e em condições pela bactéria Brucella suis biovar 2, transmitida de
estressantes também favoreceu o surgimento da SARS javalis, suínos silvestres, considerados reservatórios,
na Ásia (Stavrinides & Guttman, 2004). para suínos criados ao ar livre (Godfroid et al., 2005).
mutações e recombinações, como ocorre com os vírus Adaptação do patógeno à nova espécie hospedeira
influenza (“antigenic drift” ou “antigenic shift”, por As populações antes resistentes estão se tornando
exemplo), agentes causadores das gripes (Meulemans susceptíveis a novos patógenos antes inofensivos, o
et al., 1999; Alexander & Brown, 2000). O vírus que quebra o equilíbrio entre defesa imune e infecções.
da influenza aviária H5N1, de alta patogenicidade Isso se deve ao envelhecimento da população mundial
(H5N1‑HP), pode causar uma epidemia se ultrapassar e ao uso de terapias que modulam a susceptibilidade
essa barreira (Suarez Fernandez, 2005; Van Reeth, a doenças, em razão da imunodeficiência ou da
2007), o que pode, de fato, ocorrer, uma vez que, imunossupressão.
no epitélio do intestino humano, há receptores
permissíveis à infecção pelo H5N1‑HP, caso a carne Mudanças climáticas e uso do solo
dos animais infectados seja consumida (Arzt et al., O aquecimento climático, a exploração de novas
2010). O H5N1‑HP é originário de um rearranjo fronteiras agrícolas e a introdução de vetores, como
genômico (“reassortment”) entre duas estirpes de roedores e mosquitos, em áreas urbanas muda a
vírus (Harboe, 1976; Hsieh et al., 2006; Vincent et al., dinâmica da transmissão de doenças. Um exemplo
2008), diferentemente do vírus de influenza H1N1, de é o vírus da Ebola, identificado em 1976, no centro
origem aviária, que causou as pandemias mundiais, da África, que reemergiu no início de 2014 em países
como a gripe espanhola de 1918–1920. O H5N1‑HP da África Ocidental (Libéria, Serra Leoa, Gana e
já causou centenas de mortes e, desde 2003, houve Nigéria), com mais de 20 mil casos desde então.
aumento na sua distribuição geográfica (Ásia, Europa, Na atual epidemia, o caso índice foi decorrente da
Meio‑Oriente e Oeste da África) e no número de exposição a uma colônia de morcegos insetívoros
espécies afetadas (aves domésticas e silvestres para (Mops condylurus) (Marí Saéz et al., 2015). A redução
gatos, tigres e humanos). Por ser um vírus instável na abundância de hospedeiros naturais faz com que
(em constante mutação), versátil e imprevisível, é um os vetores procurem hospedeiros alternativos, o que
grande risco (Breiman et al., 2004). Somente no Egito, aumenta as oportunidades para a transmissão de
o H5N1‑HP causou 11 mortes em 2014, e, em janeiro doenças, como ocorreu nos casos humanos da
de 2015, foram registrados 12 novos casos em humanos borreliose, ou doença de Lyme, da erliquiose
no País (Arafa et al., 2015; Promed‑Mail 2015b). Já o e da anaplasmose (Cutler et al., 2010). Já o
vírus de influenza aviária H7N9, que emergiu na China desenvolvimento de áreas próximas a florestas
em março de 2013, causou aproximadamente 500 tropicais para a exploração da borracha está
casos de problemas respiratórios, na maioria severos, relacionado ao aumento de esquistossomoses (Meltzer
até janeiro de 2015, sendo que a transmissão ocorreu et al., 2006). O desmatamento, a invasão do habitat
por exposição a aves ou ambientes contaminados silvestre pelo desenvolvimento urbano e as atividades
(Lam et al., 2015). Não há evidência de transmissão mineradoras são fatores de risco associados à
humano‑humano do novo H7N9 na China; no entanto, reemergência de morcegos transmissores do vírus da
há potencial pandêmico devido à característica de raiva em humanos. Na Bacia Amazônica, em 2004,
constante evolução dos vírus influenza (Millman et al., 46 pessoas morreram vitimas desta virose (Chomel
2015; Promed‑Mail, 2015a; Yuan et al., 2015). O novo et al., 2007). Mudanças climáticas ou intervenções do
vírus de influenza pandêmico 2009 H1N1 (pH1N1), homem no meio‑ambiente também têm sido causa do
por exemplo, é originado de um rearranjo entre vírus aparecimento de doenças em animais, como o surto da
de influenza de três espécies: suína, humana e aviária febre viral Rift Valley na África, em 1987, 1997–1998
(Garten et al., 2009). O suíno é uma espécie‑chave no e 2006–2007, associado a mudanças no curso do rio
estudo dos rearranjos dos vírus de influenza, por ter, e em enchentes ocasionadas por represas ou chuvas
nas células de seu sistema respiratório, receptores para torrenciais na região (Cutler et al., 2010).
vírus de origem humana, aviária e suína (Shinya &
Kawaoka, 2006). No sistema respiratório suíno, os vírus Transporte de pessoas e animais doentes
de influenza das espécies diferentes da suína (humana Agentes infecciosos dentro de mosquitos ou
ou aviária) podem infectar o animal, se rearranjar e se animais podem dar meia‑volta ao redor do planeta em
replicar, dando origem a uma nova progênie de vírus 24 horas e causar novos surtos de doenças. Enquanto
emergentes (Chen et al., 2011). no século 19 se levava várias semanas ou meses para
os agentes de doenças viajarem de um continente et al., 2007). Zoonoses associadas a essas práticas
para o outro, hoje eles podem ser transportados abrangem uma variedade de riquetisioses, brucelose,
para terras mais longínquas em menos tempo que hepatite E, hantaviroses, leptospiroses, encefalites
o período de incubação de muitas doenças (Brown, transmitidas por carrapatos e esquistossomose (Cutler
2003). Além disso, a globalização da tecnologia, et al., 2010). Um exemplo recente é a emergência da
da informação e da economia está criando forças de síndrome respiratória do Oriente Médio, Middle East
mercado para que indústrias, culturas e organismos Respiratory Syndrome – Coronavirus (MERS‑Cov),
se conectem. As barreiras geopolíticas não existem causada por um coronavírus, na Arábia Saudita, em
mais. Um exemplo disso é o aparecimento do vírus junho de 2012 (Centers for Disease Control and Prevent,
do Nilo Ocidental (West Nile Virus) na costa leste dos 2015; Feikin et al., 2015). Até janeiro de 2015, foram
Estados Unidos, onde causou surtos. A globalização do reportados 835 casos, com 358 mortes, ou seja, 43% de
comércio – pneus importados do Japão – pode ter sido mortalidade (Promed‑Mail, 2015c). A MERS‑Cov foi
responsável pela entrada do vetor deste vírus, o Aedes detectada em morcegos e em camelos (Gossner et al.,
albopictus, no Estado americano do Texas e pela sua 2016; Sabir et al., 2016). Portanto, a recomendação dos
atual disseminação no país (Brown, 2003). Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)
O tráfego de pessoas, animais vivos ou produtos de dos Estados Unidos para viajantes é evitar contato com
origem animal continua a crescer (Seimenis, 2008). camelos e o consumo do leite cru e carne mal passada
Apesar de não ser uma zoonose clássica, a febre aftosa desses animais (Gautret et al., 2013; Fanoy et al., 2014;
foi introduzida no Brasil, em 1870, com a importação Centers for Disease Control and Prevention 2015;
de bovinos da Europa, onde a doença era conhecida Sabir et al., 2016).
desde 1546 (Buainain & Batalha, 2007). Assim como Animais de companhia
a febre aftosa, quase a totalidade de doenças animais A presença de animais de companhia é muito popular
introduzidas no Brasil foi de origem europeia, sendo em lares do mundo todo. Criar animais de estimação
que, de 1960 a 1980, foram identificadas mais de 50 pode ser um risco para a transmissão de doenças,
“novas” doenças (Ministério da Agricultura, Pecuária como sarna, salmonelose e Larva migrans, e de outros
e Abastecimento, 2011). Neste contexto, a origem e a parasitas, vírus ou bactérias presentes nos organismos
procedência da proteína animal podem ser estudadas destes animais e que podem ser transmitidos para
pela análise dos isótopos estáveis do carbono e do humanos, principalmente os imunocomprometidos
nitrogênio da carne, o que também permite estabelecer (Une & Mori, 2007; Okulewicz & Bunkowska, 2009).
como carnes produzidas em diferentes países viajam A peste bubônica é um exemplo de doença que tem
pelo mundo (Martinelli et al., 2011). Cabe ressaltar reemergido no Oeste dos Estados Unidos, onde o maior
que os animais também são transportados para uso em risco da peste vem de gatos, que, ao caçar roedores,
atividades esportivas, como caça, pesca, corridas de contagiaram-se com pulgas infectadas com Yersinia
cavalos, entre outros. pestis (Cutler et al., 2010).
isoladamente, há acordos com a OMS desde 1960, e, Secretarias dos Estados e de órgãos de classe, como
em 2006, a FAO passou a fazer parte deste grupo. o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
A vigilância de vírus e de bactérias resistentes a
medicamentos também é fundamental. Para isso, deve- Considerações finais
se usar estratégia baseada em análise de riscos e investir
em defesa sanitária animal, treinamento e resposta ao A pesquisa, aliada a parcerias, é capaz de gerar
foco em áreas geográficas onde essas ameaças são conhecimento e ferramentas para a solução de problemas
prováveis de emergir. Pesquisa em epidemiologia sanitários referentes às cadeias de produção animal do
molecular aplicada terá imenso valor no futuro, para Brasil. Conhecimento, vigilância e cooperação são
reconhecer as associações entre genótipos do hospedeiro forças que devem ser unidas para propor estratégias e
e do patógeno. Especialistas em saúde humana e animal evitar que o País seja berço de uma doença emergente,
devem construir uma rede de detecção precoce da o que pode prejudicar as áreas de economia e saúde.
doença no âmbito local, regional e nacional. Essa rede A estratégia já está sendo traçada para que o Brasil
requer laboratórios de diagnóstico, resposta rápida na se defenda de possíveis barreiras não tarifárias no
contingência de doenças e diminuição dos riscos. comércio internacional ou de fatores que possam afetar
As estratégias devem focar nas seguintes ações: a produção animal. O importante é produzir com baixo
detecção de patógenos em vida selvagem (animais custo, ao poupar trabalho do produtor, com menor
silvestres) que podem causar doenças em humanos; impacto ao meio‑ambiente, e, principalmente, prevenir
análise e caracterização de riscos potenciais e métodos doenças para reduzir o impacto econômico dentro e
de transmissão de doenças específicas de origem fora da porteira e nas importações, o que garante um
animal, o que inclui verificar o comércio e o trânsito produto seguro para o consumo.
de animais e produtos; institucionalização da estratégia A prevenção e o controle de agentes de doenças são
de “Uma Saúde” em vários setores que atuam na saúde prioridades da pesquisa em sanidade animal. No caso
pública, com pesquisas para o desenvolvimento de específico da Embrapa, as ações estão divididas em três
novos medicamentos para o tratamento de doenças vertentes: segurança alimentar; apoio à defesa sanitária,
emergentes, como, por exemplo, de bactérias resistentes que inclui doenças emergentes, exóticas ou aquelas que já
a antimicrobianos; resposta a surtos que seja adequada ocorrem no País e são riscos para a exportação; e doenças
no âmbito nacional, o que envolve a distribuição de produção, com as quais os rebanhos convivem, mas
e a obtenção de estoque de antivirais, bem como a que causam prejuízos econômicos. A ideia é proteger a
produção de vacinas contra doenças pandêmicas; produção e a competitividade das cadeias produtivas de
e redução dos riscos, para prevenir, minimizar ou carne bovina, suína, de frango, caprina, ovina, equina,
eliminar o potencial para emergência e transmissão de bubalina, além daquelas relacionadas às atividades
novas doenças. aquícolas (peixes, crustáceos e moluscos) e das de outros
Além disso, a rede deve trabalhar em cinco planos, que derivados, como as de ovos e de leite. Os resultados
focam em: i, vigilância; ii, investigação e treinamento obtidos com as pesquisas e as tecnologias geradas por
de resposta a surtos; iii, rede de laboratórios; iv, projetos em sanidade animal devem proteger e assegurar
formulação de estratégias para conter as ameaças de a segurança da pecuária nacional por meio da detecção,
doenças, ao avaliar seu comportamento; e v, preparo da prevenção, do controle e do tratamento dos agentes
para desastres e pandemias de acordo com cada situação das enfermidades animais.
(United States Agency for International Development,
2009). É vital fomentar parcerias com organizações Agradecimentos
que tenham experiência em monitoramento de vida
silvestre (fauna), epidemiologia e treinamentos em Ao Pesquisador da Embrapa, Ladislau Martin
campo, além de apresentarem excelente infraestrutura Neto, por incentivar a escrever esse artigo; ao Fiscal
laboratorial, boa comunicação e planejamento no Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura,
âmbito nacional. Para isso, é necessário o apoio do Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Henrique
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Pizarro Borges, pela revisão do artigo; e aos colegas
(Mapa), Ministério da Saúde, Ministério do Meio do portfólio de Sanidade Animal da Embrapa, pela
Ambiente, entre outros, bem como as correspondentes discussão do tema.
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