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HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Ives Gandra Martins Filho

OS PRÉ-SOCRÁTICOS

SÓCRATES é divisor de águas na filosofia antiga, sendo o primeiro dos


grandes filósofos da Antiguidade. Os filósofos anteriores a ele são denominados
genericamente como pré-socráticos e se caracterizam por seu naturalismo: na
Natureza se encontram todas as respostas. Buscam o princípio do qual derivam
originariamente e no qual se ultimam todos os seres (vêem o divino como algo
imanente ao mundo).

A) OS JÔNIOS

Os mais antigos filósofos gregos conhecidos são da região da Jônia (Costa


da Turquia que se defronta com a Grécia), das cidades de Mileto (Tales,
Anaximandro e Anaxímenes) e de Éfeso (Heráclito). Caracterizam-se por uma visão
monista (um único princípio) do mundo, a par do reconhecimento de um dinamismo
universal. Vêem na matéria physis) o fundamento primeiro.

1) TALES DE MILETO (625-545 a. C) - tido na antiguidade como um dos 7 sábios e


considerado por ARISTÓTELES como o Pai da Filosofia, dele se conta a história
da moça trácia que se riu quando ele caiu no poço ao estar fitando pensativo a
natureza.
o O arkhé (princípio de tudo) seria a água (pois compõe todo ser animado).
Constatação de que a nutrição de todas as coisas é húmida. A alma seria o
princípio motor de tudo (a alma do imã é que atrai e move o ferro): seria algo
de divino (“Todas as coisas estão cheias de deuses”).

2) ANAXIMANDRO (610-545 a. C.) - autor do primeiro escrito filosófico do Ocidente,


intitulado “Sobre a Natureza”.
o O arkhé seria o apeiron (ilimitado). O mundo é constituído de contrários, que
tendem a predominar um sobre o outro (concepção órfica, da injustiça por
uma culpa original): movimento eterno desfazer-se e refazer-se). Todas as
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coisas vivas teriam se originado do lodo e a espécie humana teria se


desenvolvido a partir de organismos menos complexos.

3) ANAXÍMENES (600-525 a. C.) - discípulo de ANAXIMANDRO.


o O arkhké seria o ar (as coisas seriam produzidas por processos de rarefação
ou condensação), que teria natureza divina. Causa dinâmica para explicar as
oposições (movimento contínuo do ar, em incessante produção).

4) HERÁCLITO (545-485 a. C.) - cognominado “O Obscuro”.


o O que existe é o devir (“Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”).
Admite uma lei que o regula. O arkhé seria o fogo (de onde tudo surge por
oposição). Harmonia dos contrários. Cai num relativismo universal.

B) OS PITAGÓRICOS

Seguidores de PITÁGORAS, que viveram na Magna Grécia (Sul da Itália e


Sicília). Vêem na forma o fundamento primeiro.

5) PITÁGORAS (570-490 a. C.) – natural de Samos, estabeleceu-se em Crotona,


tendo fundado uma verdadeira ordem religiosa, buscando na ciência a purificação
(bios theoretikós) – vida contemplativa), uma vez que a alma seria imortal, mas
sujeieta a contínuas transmigrações. Celebrizou-se como matemático.
o O arkhé seria o número, considerado como algo sólido e real (pontos () e não
uma abstração ental *idéia de ordem e harmonia no universo): “A língua que
os deuses falam entre si é a dos números” (deduzir matematicamente todas
as verdades de princípios básicos, não dependendo assim dos sentidos). Os
números pares representam o ilimitado e a imperfeição (pela sua
divisibilidade), sendo os ímpares a limitação e consequente perfeição (pela
sua unicidade e indivisibilidade).

C) OS ELEATAS

Filósofos que formaram a Escola da Eléia (cidade do Sul da Itália),


manifestando preocupação metafísica com o ser.
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6) XENÓFANES (580-485 a.C.) - natural de Colofon (Jônia), fixou-se depois na Elea,


onde fundou sua escola de filosofia.
o Superação do politeísmo grego pela sustentação da existência de um único
Deus estático e imanente ao mundo (crítica à mitologia grega
antropomórfica).

7) PARMÊNIDES (540-470 a.C.) - natural da Eléia e discípulo de XENÓFANES,


redigiu a constituição de sua cidade. Nega o devir (movimento) e afirma o ser: “É
necessário afirmar e pensar que o Ser é”. Nega os opostos e afirma um único ser
indiferenciado, finito, esférico, estático e eterno (do nada não pode brotar o ser);
o Enuncia o princípio da não contradição: “uma coisa não pode ser e não ser
ao mesmo tempo”;
o Identifica o ser com o pensar (pois o ser só se revela ao pensamento): “O
pensamento é ser”;
o Além do caminho da verdade (fundado no intelecto), há o caminho da
opinião (que se funda nos sentidos).

8) ZENÃO (490-430 a. C.) - natural da Elea e discípulo de PARMÊNIDES, deixou-


nos sua obra “Sobre a Natureza”.
o Fundador do método da dialética (usado não para provar suas teses, mas
para mostrar o absurdo das contrárias). Autor de muitas aporias: argumentos
sem saída.
o Nega o movimento, por entender que a noção de mudança envolve um
paradoxo: para mudar completamente é preciso antes mudar parcialmente, e
assim infinitamente, o que levaria a concluir que o movimento não existe
(Aquiles e a tartaruga; os pontos de percurso de uma flecha).

9) MELISSO (480-420 a. C.) – natural de Samos, estabeleceu-se depois na Elea,


tendo sistematizado a doutrina eleata do ser.
o O ser é uno, infinito e informe.

D) TEORIAS DO CONHECIMENTO
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Preocupação com o modo como o homem conhece as coisas e visão


pluralista dos princípios que origem às coisas. Confusão entre física e filosofia.

10) EMPÉDOCLES (492-432 a. C.) – natural de Agrigento (Sicilia), foi poeta,


taumaturgo e médico. Autor dos “Hinos Purificatórios”.
o As 4 raízes (água, ar, terra e fogo) compõem todas as coisas, animadas por 2
forças contrárias (amor e ódio).
o O conhecimento humano se daria através de partículas materiais que entram
nos sentidos, como por poros os semelhantes se conhecem: a água conhece
a água).

11) ANAXÁGORAS (500-420 a. C.) – levou a filosofia jônica a Atenas, mas foi
perseguido, tendo de abandonar sua pátria.
o Princípio: o nous (espírito; a Mente que dirige e ordena). Conceitos de ordem
e finalidade: o “nous” é a origem do movimento universal e princípio
ordenador do que existe (teve o mérito de captar a existência de uma causa
final e do Ser como de natureza espiritual e inteligente).
o Homeomerias (“partes semelhantes”) – todas as coisas existentes seriam
compostas de sementes que se dividem infinitamente e se misturam, sendo
que em todas as coisas estariam presentes todas essas sementes em
proporções diferentes, distinguindo-as (nada nasce ou morre, mas tudo se
transforma). Infinidade de elementos (diferença qualitativa entre as coisas).

12) LÊUCIPO DE MILETO (470-390 a. C.) – fundador da Escola de Abdera.


o A verdade está nas coisas; a opinião (doxa) naquilo que captam os nossos
sentidos (fenômenos).

13) DEMÓCRITO (460-357 a. C.) – discípulo de LÊUCIPO, foi o maior expoente da


Escola.
o Princípio: os átomos (todos da mesma qualidade), como partículas
indivisíveis componentes de todas as coisas.
o O conhecimento humano se daria através de pequenas imagens que, como
eflúvios dos átomos, partem das coisas e atingem nossos sentidos (no
entanto, os sentidos nos enganariam).
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o A verdade se encontra nas profundezas e não poderia ser conhecida. O que


chamamos de “verdade” seria apenas uma convenção: variaria conforme os
costumes de cada povo (relativismo).

E) VOLTA AO MONISMO

14) DIÓGENES DE APOLÔNIA (460-390 a. C.) – discípulo de ANAXÁGORAS.


o Retorna à idéia de que o primeiro princípio deve ser uno: o ar (que seria
infinito e inteligente).
o Concepção teológica da Natureza, a partir da observação da construção do
ser humano.

15) ARQUELAU DE ATENAS (450-380 a.C.) – mestre de SÓCRATES.


o Tem uma visão finalística do Universo, onde o ar infinito é dirigido por uma
Inteligência.

F) OS SOFISTAS

Suas idéias são conhecidas especialmente através dos “Diálogos” de


PLATÃO, que levam seus nomes. Deslocam o eixo da reflexão filosófica do cosmos
para o homem e aquilo que concerne à vida do homem em sociedade (humanistas).
Buscam a “areté” (virtude), mas encarada como habilidade (pragmatismo). Buscam
alunos, cobram pelo ensino (a cultura deixa de ser privilégio da aristocracia, cujo
ócio era condição para a vida intelectual, dada a ausência de preocupação com a
subsistência): “iluminismo” sofístico.

16) PROTÁGORAS (481- 411 a. C.) – natural de Abdera, participou na vida política
de Atenas, terminando processado e foragido.
o O homem seria a medida de todas as coisas (utilitarismo).
o Preocupação principal: retórica (arte de falar e persuadir).
o Antilogias – “em torno de cada coisa há 2 raciocínios que se contrapõem”.

17) GÓRGIAS (483-375 a. C.) – orador e mestre de retórica, participou da política


ateniense.
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o Relativismo universal: nada existe; se existe, não pode ser conhecido; se


conhecido, não pode ser transmitido (não existe a verdade – nihilismo).
o Poesia – um discurso com métrica, que engana o ouvinte (gerando
sentimentalismo).
o Sofismas – raciocínios capciosos e enganosos, aproveitando a polivalência
semântica.

18) PRÓDIGO (465-405 a. C.) – autor de “Sobre as Idades da Vida”.


o Sinonímia – determinação das nuanças diferenciativas.
o Deuses – hipostatização do útil e do vantajoso.

G) DIREITO NATURAL

Conhecidos também pelos “Diálogos” de PLATÃO, preocupam-se com o


fundamento da ordem social, que seria distinto das leis humanas. No entanto, não
chegam a captar a essência racional da lei natural, confundindo-a com o elemento
instintivo no ser humano (“cupiditas naturalis”).

19) HÍPIAS (450-400 a. C.) - natural de Élida e constante viajante, desenvolve a arte
da memória (enciclopedismo).
o Lei natural: igualdade entre todos os homens (as leis humanas é que
dividem e separam).

20) ANTIFONTE (445-395 a. C.) - natural de Atenas, sustentava que a lei da


natureza é que seria a verdadeira e a lei positiva opinião (por isso, poderia ser
desrespeitadas: declara que podemos tranquilamente transgredir as leis, desde que
ninguém o saiba). Sua concepção de lei natural, no entanto, se confunde com as
paixões naturais. As leis humanas seriam, muitas vezes, contrárias a essas
tendências.

21) CRÍCIAS (440-390 a. C.) - discípulo de GÓRGIAS.


o Os deuses seriam espantalhos introduzidos pelos políticos para fazerem
cumprir as leis.
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22) TRASÍMACO (440-395 a. C.) – natural da Calcedônia, desenvolve sua atividade


em Atenas.
o “O justo é a vantagem do mais forte”.

23) CÁLICLES (445-395 a. C.) – discípulo de GÓRGIAS.


o “Por natureza, é justo que o forte domine o fraco”.

CAPÍTULO III
A FILOSOFIA ÁTICA

Representa a ápice do pensamento grego, desenvolvido na própria Grécia (Ática) e


não nas Colônias gregas da Jônia ou da Itália.

A) ORIGEM

24) SÓCRATES (470-399 a. C.) – Considerado como um dos sofistas, superou a


sofística, por buscar valores objetivos e universais. Filho de um escultor e de uma
parteira, ensinou em Atenas, onde foi condenado a beber cicuta (suicidar-se), por
“corromper a juventude”, negando os deuses da cidade e utilizar um método
pedagógico que levava quem com ele dialogava a “prestar contas da própria vida”.
Não deixou nada escrito, sendo seu pensamento transmitido por PLATÃO.

a) Preocupação maior: saber (areté, como verdadeira virtude) – “Conhece-te a ti


mesmo”.
o Valores morais (ética baseada numa clara consciência do divino) – dizia que
ouvia uma “voz divina” dentro de si, que não lhe ordenava fazer coisas mas o
vetava de as fazer (daemonium).
o Todas as virtudes se resumiriam no conhecimento (o cultivo da alma vale
mais que toda a riqueza material) e o vício na ignorância (ninguém pecaria
voluntariamente, mas por ignorância do bem). Olvidou que conhecer o bem é
condição necessária, mas não suficiente, para praticá-lo (sua concepção
imperfeita advinha da não distinção entre inteligência e vontade).
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o A base das virtudes está no domínio da racionalidade sobre a animalidade


(autodomínio; liberdade frenteaos instintos), que leva à verdadeira felicidade
(eudaemonia). O prazer e a dor são indiferentes.

b) Método: ironia (colocar em contradição as opiniões comuns) e a maiêutica (fazer


com que os conceitos aflorem ao espírito) – “Só sei que nada sei” (fomentar a
humildade diante do conhecimento divino).

c) Eidos: busca da essência das coisas – o universal (abstrair).

B) SOCRÁTICOS MENORES

25) ARISTIPO DE CIRENE (430-350 a.C.) – o bem-estar físico é o supremo bem:


hedonismo, mas no qual deveria haver autodomínio no prazer, para que os instintos
não superem a racionalidade (temperança para fruir melhor os bens). Não deixa de
ser puro hedonismo.

26) EUCLIDES DE MÉGARA (435-365 a.C.) – atribuiu caráter de purificação à


dialética, por destruir as falsas opiniões, purificando do erro (erística).

27) FÉDON DE ÉLIDE (430-350 a. C.) – na obra “Zópiro”, desenvolve a idéia da


capacidade de se deduzir da fisionomia dos homens o seu caráter moral
(fisiognomismo). Manifesta verdadeiro determinismo biológico na conduta humana.

C) MEDICINA

Nas suas origens, a Medicina fazia parte do conhecimento geral e


indiferenciado que o homem tinha de si mesmo, baseado em concepções filosóficas,
míticas ou experimentais singelas. Segundo a concepção da época, as doenças
eram tidas como variações de quente e frio, seco e húmido, no organismo humano,
ligadas às estações do ano.

28) HIPÓCRATES (460-370 a. C.) – considerado o pai da Medicina, dá-lhe o caráter


de ciência (explicações racionais para as doenças e não curas por sortilégios dos
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sacerdotes), ao mesmo tempo que a desmembra da filosofia: “o que o homem é em


relação com aquilo que come, bebe, e seu regime de vida e que consequências
derivam de cada coisa” (tratado sobre “A Natureza do homem”). A Medicina começa
a ser uma ciência particular.

D) EXPOENTES

Os dois grandes expoentes de toda a filosofia antiga são PLATÃO e ARISTÓTELES.


A profundidade e extensão com que trataram de todas as principais questões
filosóficas torna-os figuras universais. Neles está incoado todo o desenvolvimento
posterior da Filosofia. RAFAEL os retrata em seu célebre afresco da “Escola de
Atenas” (que se encontra no Museu Vaticano), com PLATÃO apontando para o Céu
(Idealismo) e ARISTÓTELES apontando para a terra (realismo), numa síntese de
posturas cujos desdobramentos serão os mais variados ao longo de toda a História
da Filosofia.

29) PLATÃO (427-347 a. C.) – Fundador da Academia de Atenas (formação de


homens de Estado, que seriam os filósofos ou sábios, buscando a virtude), não foi
bem-sucedido em sua experiência política em Siracusa.

Autor de 24 diálogos (“O Banquete”, “Teeteto”, “O Sofista”, “Fedro”, etc),


recorre muito aos mitos, como a filosofia nos limites de suas possibilidades. Intuiu a
idéia de universal e de participação no Ser, mas equivocou-se ao pretender a
existência “in se” dos universais, fora da mente humana.

a) Doutrinas não escritas – os ensinamentos sobre o Bem (realidades últimas e


supremas) não poderiam ser transmitidos senão através de uma adequada
preparação (“Sobre essas coisas não há nenhum escrito meu, nem nunca haverá”).
b) Idealismo (Mundo das Idéias) – Hiperurânio
o O único mundo verdadeiro é o das idéias, que contém os arquétipos das
coisas visíveis. No mito da caverna (desenvolvido em “A República”), coloca
os homens como agrilhoados numa caverna de costas para a entrada e só
podendo olhar para o fundo, onde se projetam as sombras do que se passa
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fora: o homem que consegue se libertar das cadeias da caverna e ver a


realidade, deve voltar para libertar seus companheiros.
o Teoria das formas: “eidos” – formas imanentes (singulares)
“ideas” – formas transcendentes (universais)
o Os seres individuais participam da essência (forma ideal) que é o modelo
perfeito da espécie (os indivíduos seriam formas singulares imperfeitas).
o O mundo sensível não se explica a si mesmo – as verdadeiras causas devem
ser supra-sensíveis (ser inteligível).
o As idéias não seriam simples pensamentos, mas o verdadeiro ser das coisas
(aquilo que o pensamento pensa quando libertado do sensível).
o Hierarquia no mundo das Idéias – a Idéia de Bem (o Uno) no ápice, e as
demais idéias vão sendo geradas com a colaboração do princípio da Díade
(dualidade indefinida).
o Criação do mundo – Haveria um Demiurgo (Deus artífice pessoal, mas inferior
à Idéia de Bem) que pensa e quer um mundo físico, tomando por modelo as
Idéias; as coisas existem por participação das idéias (cria por um ato de
bondade: quer que o caos físico se ordene e que seja espelho do Bem).

c) Conhecimento – “anamnese”: recordação daquilo que já existe sempre dentro de


nossa alma (doutrina fundada na metempsicose órfico-pitagórica).
o do sensível – opinião (doxa): intermediário entre o ser (cognoscível) e o não-
ser (incognoscível).
o do inteligível – ciência (epistéme).
o “dialética”: processo de captação do mundo das idéias (simultaneamente
discursivo e intuitivo).

d) Arte – distancia da verdade, pois constitui imagem do mundo sensível (que busca
retratar), que já é imagem do mundo das Idéias (seria “imitação da imitação”).

e) Retórica – arte de persuadir através do discurso, sem, no entanto, dispor de


conhecimento do que se defende (criticada por PLATÃO).

f) Amor platônico nostalgia do Absoluto (busca da Idéia do Belo, que se confunde


com o Bem e com o Uno).
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g) Concepção dualista do Homem: o corpo como cárcere da alma; pré-existência


das almas que, sorteadas para escolher as vidas possíveis, elegem melhores ou
piores, encarnando-se (em virtude de uma culpa original) e recebendo no final um
prêmio ou castigo, a ser cumprido por mil anos, devendo depois se reencarnar até a
purificação total pela via do conhecimento do Bem Supremo (imortalidade da alma e
destino final eterno).

h) Ética – as formas ideais seriam também modelos fixos para os seres individuais (a
verdade das proposições morais é tão imutável quanto das proposições
matemáticas: o “bem” e o “Uno” se confundem).

i) Política:
o classes sociais (projeto ideal de sociedade, desenvolvido em “A República”;
divisão que se assemelha à alma humana; a virtude da justiça seria a
harmonia entre as 3 classes):
i. produtores (prover de bens econômicos): nos quais prevalece o apetite
concupiscível (devendo exercitar especialmente a virtude da temperança).
ii. guardiães (militares encarregados da defesa): nos quais prevalece o apetite
irascível (devendo exercitar especialmente a virtude da fortaleza).
iii. governantes (cidadãos-filósofos): nos quais prevalece a alma racional
(exercitando a prudência ou sabedoria).

o Formas de Governo (governo possível, desenvolvido nas obras “Política” e


“As Leis”):

GOVERNO FORMAS MÁS FORMAS BOAS


De um só Tirania Monarquia
De vários Oligarquia Aristocracia
De todos Democracia Timocracia
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o Leis (“nomos”) Superior: lei natural como Vontade de Deus


Sentidos: (“quem obedece às leis, obedece aos
Deuses”).

Médio: as leis promulgadas na sociedade


(tradições e costumes).

Inferior: as decisões dos tribunais ou decretos


Dos governantes (muitas vezes
Injustos, como na condenação de
SÓCRATES).

30) ARISTÓTELES (384-322 a. C.) – Discípulo de PLATÃO (de cujas idéias foi
divergindo com o passar do tempo), fundador do Peripato (ensino ao ar livre,
caminhando) e mestre de ALEXANDRE MAGNO: enquanto PLATÃO transmitiu seus
ensinamentos através do método dialético (descoberta nos diálogos),
ARISTÓTELES sistematizou o conhecimento filosófico (escritos em forma ordenada
e discursiva). Suas principais obras são: “Organon”, “Ética a Nicômaco”, “Metafísica”
e “Política”. Seus princípios filosóficos nos domínios da metafísica, da lógica e da
teoria do conhecimento têm caráter de perenidade. Porém, como filho de sua época
e dos conhecimentos científicos até então existentes, apresenta uma física e
cosmologia distante da realidade.

a) Realismo: o que existem são os seres singulares e não as idéias.

b) Metafísica (ou “filosofia primeira”): estudo do ser enquanto ser (as primeiras
causas do ente).
- Ciências: - teoréticas – buscam o saber em si mesmo (livres: não úteis)
- práticas – buscam o saber para a perfeição moral úteis (instru
- poiéticas (produtivas) – o saber em função do fazer mentais)

- Causas: - material – matéria estáticas (explicam o


- formal – essência ou forma ser)
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- eficiente – origem ou motor dinâmicas (explicam o


- final – fim ou objetivo devir)

- Categorias do Ser: Substância

Quantidade
Qualidade
Relação Aciden
Ação (Agir) tes (Ser
Paixão (Sofrer) Casual
Lugar (Locus) – Ordem das Partes ou
Tempo Formal
Ter (Habitus)
Jazer (Situs) – Externo

- Teoria Hilemórfica (Composição dos Seres) – com ela supera a controvérsia entre
HERÁCLITO e PARMÊNIDES, afirmando simultaneamente o ser e o devir, através
da distinção entre:
Matéria – potencialidade indeterminada
Forma – princípio que determina e concretiza a matéria

Ato – o que a coisa é no momento


Potência – o que pode vir a ser (potencialidade)

Ex.: a semente é semente em ato e árvore em potência; a árvore é árvore em ato e


papel em potência.

- substância Supra-Sensível: Inteligência Divina (1º Motor Imóvel; Ato Puro), que
pensa a si esma e atua como causa final (atração) e não como causa eficiente (o
Universo sempre teria existido).

c)Física (ou “filosofia segunda”): estudo da substância sensível ( o enfoque ainda é


metafísico).
* movimento – passagem do ser em potência para o ser em ato.
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* tempo – medida do movimento segundo um antes e um depois.


* lugar (espaço) – primeiro limite imóvel do continente (não se admite o vácuo).
* Mundo – Sublunar – ar, água, terra, fogo (geração e corrupção; lugar natural de
cada coisa; movimento retilíneo de subir e descer)
- Supralunar – éter (“quinta essência”): 55 esferas celestes, com as demais
substâncias supra-sensíveis, incorruptíveis, com movimento circular.

d) Matemática: Abstração do sensível (os números existem em ato na mente (entes


de razão) e em potência nas coisas sensíveis).

e) Psicologia – diferenciação entre as almas:


* vegetativa: nascimento, crescimento e nutrição (assimila a matéria)
* sensitiva: instintos animais (capta a forma sensível das coisas – conhecimento
concreto); sentidos internos: sentido comum (objetos captáveis por mais de um
sentido), imaginação, memória e a estimativa.
* racional: inteligência (capta as formas inteligíveis – abstração); intelecto: passivo
(em potência) e agente (que forma o conceito universal e seria imortal, incorruptível);
apetite: sensível (instintivo) e racional (vontade).

f) Ciências Práticas:
* Ética – estudo da conduta (ou fim) do homem como indivíduo.
- as ações humanas tendem a fins (bens): fim último (bem supremo) –
felicidade (não consiste no prazer ou na riqueza, mas em aperfeiçoar-se como
homem: vida contemplativa).
- virtudes: hábitos adquiridos (in médio virtus – justo meio entre 2 extremos);
vitória da razão sobre os instintos.
- natureza: princípio de operação dos seres.

- Política – estudo da conduta (ou fim) do homem como partede uma sociedade.
- homem: animal político (ser social por natureza).
- cidadão: apenas aquele que participa do governo da cidade (a escravidão
seria algo natural, decorrente da prisão dos bárbaros em guerras, que seriam
naturalmente inferiores aos gregos).
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- Civitas: sociedade política, que tem por fim não o progresso material, mas
espiritual dos indivíduos (viver em paz e contemplar as coisas belas). Não se faz
uma cidade com 10 homens, mas também não seria possível com mais de 100 mil
(que todos, ao menos se conhecessem de vista; que nas assembleias os oradores
pudessem ser ouvidos por todos sem necessidade de “stentoreios”).

g) Lógica (“Organon” – instrumento):


* predicamentos – são as categorias do ser.
* conceito (ou definição) – discurso que expressa a essência (natureza ou
substância) das coisas, através do gênero próximo e da diferença específica.
* juízo – proposição em que se estabelece um nexo entre sujeito e predicado (pode
ser falso ou verdadeiro).
* silogismo – sequência de juízos conexos, que levam a uma conclusão (premissa
maior e premissa menor, com um termo médio que as une): o raciocínio é a
sequência de silogismos, em que se parte do universal ao particular (dedução).
* indução – procedimento através do qual se extrai do particular o universal (intuição
dos primeiros princípios).
* as demonstrações podem partir de primeiros princípios indemonstráveis (para não
haver regressão ao infinito).
* princípios transcendentais (comuns a todas as ciências):
- não contradição: não se pode afirmar e negar dois predicados contraditórios do
mesmo sujeito no mesmo tempo e na mesma relação.
- terceiro excluído: não é possível haver um termo médio entre dois contraditórios.

h) Retórica – metodologia do persuadir: deve partir não de premissas científicas,


mas das convicções comumente admitidas pelas pessoas, utilizando-se
especialmente dos exemplos (que torna imediatamente evidente aquilo que se quer
provar, sem necessidade de mediação lógica).

i) Poética – mimese da realidade (não do que existe, mas do que poderia ter
acontecido) e catarse (purificação das paixões, descarregando a emotividade):
prazer estético.

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