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FIGURA EPISTEMOLÓGICA
Resumo
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Graduação em Biologia e Pedagogia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Formação Docente
Interdisciplinar da UNESPAR/Campus Paranavaí - Pr. E-mail: fabybotta@hotmail.com
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Graduação em Ciências e Química. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Formação Docente
Interdisciplinar da UNESPAR/Campus Paranavaí - Pr. E-mail: santinelo@gmail.com
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Graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental, Matemática e Administração. Mestranda do Programa de
Pós-Graduação em Formação Docente Interdisciplinar da UNESPAR/ Campus Paranavaí – Pr. E-mail:
soniamcm@sanepar.com.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
Neste artigo será abordado um breve recorte na história da Ciência sob a influência
notadamente de Thomas Samuel Kuhn. Sua obra A Estrutura das Revoluções Científicas, cuja
primeira edição surgiu em 1962, é a obra mais importante e precursora para entendermos a
influência do seu pensamento sobre a análise do progresso do desenvolvimento científico. A
partir de seus princípios sobre “paradigma”, “ciência normal”, “crise” e “revolução”, ocorreu
uma assimetria na recepção e na avaliação da reconstrução da ciência.
Kuhn defendeu um modelo de desenvolvimento científico alegando que a
racionalidade era uma característica intrínseca, defensor da seguinte questão: o que significa
ser racional em ciência?
A repercussão da publicação do seu livro foi tão relevante na comunidade acadêmica
que, na publicação da segunda edição, no ano de 1970, seus argumentos foram repensados e
modificados. E para se auto defender sobre as críticas de irracionalismo, escreve no ano de
1974 um ensaio intitulado chamado Reconsiderando os paradigmas, destacando nesta obra
que as ciências evoluem através de paradigmas determinados como pressupostos das ciências.
Thomas Kuhn apresenta a Revolução Científica como um processo de transferência de
um paradigma a outro, onde ocorre, a partir de uma crise, uma nova concepção a respeito de
um determinado fenômeno. A este fato, se refere:
Com base nos aspectos referidos, Thomas Kuhn defende um pensamento em que a
revolução da ciência é concebida como um processo não cumulativo, isto é, uma ideia será
substituída por outra, completamente.
Kuhn cogita que a ciência não está baseada em uma irracionalidade, mas sim em um
contexto diferente daquele proposto pelos demais epistemólogos, ou seja, a ciência insere-se
não num processo de busca da melhoria das teorias e seu paradigma, mas como um processo
de busca da manutenção do paradigma vigente. Demonstra como ocorre a ruptura
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Kuhn fala de uma “revolução historiográfica” nos estudos da ciência, na Estrutura das Revoluções Científicas
(KUHN, 1962, p. 22) e em um artigo de 1970 chamado Alexandre Koyré and the History of Science on an
Intellectual Revolution (publicado na revista Encounter ), que ocorreu ao longo do século XX. Essa “revolução
historiográfica” permitiu a compreensão de que a ciência não se desenvolve em um progresso sucessivo de
substituição de teorias antigas por teorias presentes melhores em um movimiento de conquista da “verdade”.
Essa mudança de concepção historiográfica permitiu também compreender que a História da Ciência não é
apenas um conjunto de acúmulo de informações cronológicas e de narração de grandes descobertas feitas por
eminentes cientistas.
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Será esboçada a concepção da ciência defendida por Thomas Kuhn em sua principal
obra, A Estrutura das Revoluções Científicas, publicada em 1962. Inicialmente por ser um
volume da Encyclopedia of Unified Science, mas devido ao tamanho da obra, o volume foi
produzido em um livro. Para fins introdutórios, o autor inicia com a definição do conceito de
um paradigma, classificando basicamente em um conjunto de suposições teóricas que
direcionam a atividade científica. Ou seja, é um conjunto de saberes e fazeres, que asseguram
a realização de uma pesquisa científica por uma comunidade, no qual a ciência normal seja
concretizada e consequentemente envolva toda a pesquisa com implicação na produção do
conhecimento científico:
A pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade científica pense ter
adquirido respostas seguras para perguntas como as seguintes: quais as entidades
fundamentais que compõem o universo? Como interagem essas entidades umas com
as outras e com os sentidos? Que questões podem ser legitimamente feitas a respeito
de tais entidades e que técnicas podem ser empregadas na busca de soluções?
(KUHN, 2006, p. 23).
Esse trabalho viria a exercer uma influência decisória nos caminhos da filosofia da
ciência. Embora em uma linguagem clara, Kuhn destaca nesta obra, conceitos sobre o
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Os termos “racionalidade”, “irracionalidade”, “objetividade” e “subjetividade”, sempre que citados no decorrer
da obra, designam aspectos relacionados à atividade científica. Subentende-se, desse modo, “racionalidade”,
“irracionalidade”, “objetividade” e “subjetividade” científica ou na ciência.
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Ciência normal
Quando, por essas razões ou outras similares, uma anomalia parece ser algo mais do
que um novo quebra-cabeça da ciência normal, é sinal de que se iniciou a transição
para a crise e para a ciência extraordinária. A própria anomalia passa a ser mais
comumente reconhecida como tal pelos cientistas. Um número cada vez maior de
cientistas eminentes do setor passa a dedicar-lhe uma atenção sempre maior. Se a
anomalia continua resistindo à análise (o que geralmente não acontece), muitos
cientistas podem passar a considerar sua resolução como o objeto de estudo
específico de sua disciplina. Para esses investigadores a disciplina não parecerá mais
a mesma de antes. Parte dessa aparência resulta pura e simplesmente da nova
perspectiva de enfoque adotada pelo escrutínio científico. (KUHN, 1962, p. 114)
[...] os copernicanos que negaram ao Sol seu título tradicional de “planeta” não
estavam apenas aprendendo o que “planeta” significa ou o que era o Sol. Em lugar
disso, estavam mudando o significado de “planeta”, a fim de que essa expressão
continuasse sendo capaz de estabelecer distinções úteis num mundo no qual todos os
corpos celestes e não apenas o Sol estavam sendo vistos de uma maneira diversa
daquela na qual haviam sido vistos anteriormente. (KUHN, 1962, p. 164)
Diante dessas observacões, pode-se vislumbrar que é a ciência que determina as regras
ou modelos de paradigmas. No entanto, o autor defende que a mudança de paradigmas não é
um processo racional, assim esses são incomensuráveis, ou seja, incomparáveis. Reafirma
Kuhn:
A meu ver, o cientista “normal”, tal como Kuhn o descreve, é uma pessoa da qual
devemos ter pena. (consoante as opiniões de Kuhn acerca da história da ciencia,
muitos grandes cientistas devem ter sido “normais”; entretanto, como não tenho
pena deles, não creio que as opiniões de Kuhn estejam muito certas). O cientista
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“normal”, a meu juízo, foi mal ensinado. Acredito, e muita gente acredita como eu,
que todo ensino de nível universitário (e se possível de nível inferior) devia consistir
em educar e estimular o aluno a utilizar o pensamento crítico. O cientista “normal”,
descrito por Kuhn, foi mal ensinado. Foi ensinado com espírito dogmático: é uma
vítima da doutrinação. Aprendeu uma técnica que se pode aplicar sem que seja
preciso perguntar a razão pela qual pode ser aplicada (sobretudo na mecánica
quântica). Em consequência disso, tornou-se o que pode ser chamado cientista
aplicado, em contraposição ao que eu chamaria cientista puro. (POPPER, 1979,
p.65)
Outro intelectual, Paul Karl Feyerabend, pensador austríaco (1924- 1994), doutor em
Física pela Universidade de Viena e doutor honoris causa em Letras e Humanidades, pela
Universidade de Chicago foi também, um dos críticos mais perspicazes na trajetória
epistemológica das reflexões sobre a natureza da ciência. Uma de suas obras mais conhecidas,
Contra o Método (1977), é a favor do que se refere ao termo anarquismo epistemológico e
que se traduz, em termos metodológicos, na defesa de um pluralismo metodológico logo em
seu primeiro capítulo:
nesse sentido que propõe seu “tudo vale” (anything goes), que, mais que uma regra, é uma
forma de afirmar que nenhuma regra é satisfatória:
Conclusão: nas ciências (e, se vamos a isso, em qualquer campo) uma investigação
interessante conduz amiúde a uma imprescindível revisão de critérios, ainda que esta
possa não ser a intenção. Ao basear nosso juízo nos critérios aceitos, o único critério
que podemos estabelecer sobre esta investigação é, por tanto, tudo vale.
(FEYERABEND, 1988, p. 41)
Segundo a citação, a maior parte das divergências em relação à sua proposta intervém
em torno da interpretação confundida sobre a questão de que, se duas teorias são
incomensuráveis elas podem ser evidenciadas em linguagens intraduzíveis.
Kuhn defende a incomensurabilidade como uma concepção central de qualquer
história da ciência, afirmando no artigo intitulado O caminho desde a estrutura, publicado em
1990, que:
Assim sendo, a ciência deve ser repensada como uma apuração empírica sistemática,
transportada mediante a utilização de quaisquer hipóteses metodológicas que sejam
relacionadas à obtenção do entendimento através de diversas abordagens, defendendo uma
posição pluralista.
Considerações finais
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Diante deste novo paradigma da ciência imposto no século XX, conhecido como pós-
moderno, passa-se também a adquirir uma nova ética científica influenciada mais pela
contemplação da realidade do que pela dominação da natureza. Este período foi denominado
pela revolução epistemológica, responsável por modificar o modelo vigente de racionalidade
à época, sobretudo em virtude do reconhecimento de fenômenos que caracterizavam o
determinismo. Por tal razão, o filósofo Thomas Samuel Kuhn propõe-se a então estudar tais
modificações nas ciências, e definiu os posicionamentos científicos que foram substituídos
por ideias novas, como exemplo o surgimento do heliocentrismo que substituíra o
geocentrismo. Inseriu todos os elementos essenciais para a reconstrução racional da ciência,
no qual desafia a incomensurabilidade, identificando que esta não representa nenhum desafio
insuperável para a comparação teórica.
Quando o paradigma anterior é considerado aluído em relação à suas estruturas, inicia-
se o processo de revolução científica. No entanto, ocorrem debates filosóficos na comunidade
científica a cerca de novas visões e análises que tentam refutar determinadas teorias. Essa
modificação de paradigma porém não ocorre de forma linear e sistemática, sendo necessário
muitos estudos para que um novo paradigma seja aceito pela comunidade científica.
Visualizando o contexto histórico da ciência, Kuhn nos leva a reflexão de
compreender como esta se comporta através da comunidade científica. No qual, pesquisadores
remetem à uma concepção baseada em determinadas críticas.
Popper critica a filosofia do positivismo lógico, propondo o que chamamos de
“falseabilidade” ou “falibilismo”, sendo que a ciência se desenvolve a partir de revoluções
constantes, renovando-se permanentemente. Thomas Kuhn, ao contrário de Karl Popper,
afirma que através das revoluções científicas, os paradigmas se renovam e os “velhos”
paradigmas são substituídos depois de um período de crise dentro da própria ciência. As
crises se manifestam a partir de controvérsias ao redor de metodologias, teorias, valores e
conceitos no campo científico.
Já o pensador anarquista Paul Karl Feyerabend nos reflete uma grande repercussão
quando faz uma crítica aos conceitos de razão e de objetividade; é contra ao método e além
disso critica as noções de racionalidade impostas por Kuhn. Feyerabend determina uma nova
concepção de ciência caracterizado como pluralismo de ideias.
Sendo que o filósofo Hugh Lacey, defende o argumento kuhniano por meio do qual a
história da ciência apresenta-se como uma atividade interpretativa, estabelece que diferentes
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interpretações são capazes de fornecer explicações dos objetos de investigações das ciências
naturais quanto das ciências humanas. Se por um lado as estratégias podem complementar-se,
por outro elas competem entre si. Lacey, assim, justifica que, o que Kuhn chama de
"incomensurabilidade" deriva da “incompatibilidade prática entre estratégias concorrentes”.
Desta forma, observou-se a importância dos conceitos abordados por Kuhn, presentes
nos demais autores revisados, pois sua obra tem contribuído no que concerne aos conceitos de
paradigmas e revolução científica.
REFERÊNCIAS
FEYERABEND, Paul Karl. La ciencia en una sociedad libre. 2. ed., Cidade do México:
Siglo Veintiuno, 1988, 228 p.
KUHN, Thomas Samuel. Estrutura das Revoluções Científicas. 2.ed. São Paulo:
Perspectiva, 1978.
KUHN, Thomas Samuel. Estrutura das Revoluções Científicas. 9. ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2006.
POPPER, Karl. A ciência normal e seus perigos. In: LAKATOS, Imre. MUSGRAVE, Alan.
A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. Tradução de Octávio Mendes Cajado. São
Paulo: Cultrix: EDUSP, 1979. p. 63-71.