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Administração

Administração Pública x Privada

Professor Rafael Ravazolo

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Administração

CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS ENTRE


A GESTÃO PÚBLICA E A GESTÃO PRIVADA

A clara separação entre esfera pública e esfera privada é a marca distintiva das sociedades
capitalistas e democráticas contemporâneas em relação às demais. Dessa separação
fundamental decorrem todas as outras diferenciações relevantes no interior dessas sociedades,
como a existente entre Direito Público e Direito Privado; entre Estado e sociedade civil; e entre
poderes do Estado e direitos do cidadão.
A Gestão Pública pode ser entendida como sendo o modo de gestão do aparelho do Estado,
ou seja, a forma como são aplicados os processos de planejamento, organização, direção e
controle pelas diversas entidades que formam o Estado.
A Gestão Privada utiliza processos semelhantes de planejamento, organização, direção e
controle, porém com alcance, objetivos e regramentos distintos da área pública.

Os poderes do Estado
Max Weber caracteriza o Estado como o monopólio do exercício legítimo da força em uma
sociedade. O Estado não admite concorrência e exerce de forma monopolista o poder político,
que é o poder supremo nas sociedades contemporâneas.
Norberto Bobbio fala da Universalidade – o Estado toma decisões em nome de toda a
coletividade que ele representa, e não apenas da parte que exerce o poder; e da Inclusividade
– em princípio, nenhuma esfera da vida social encontra-se fora do alcance da intervenção do
Estado.
Para Montesquieu, o Estado possui três funções fundamentais:
•• Legislativa: produzir as leis e o ordenamento jurídico necessários à vida em sociedade.
•• Executiva: assegurar o cumprimento das leis.
•• Judiciária: julgar a adequação, ou inadequação, dos atos particulares às leis existentes.
A primazia do público sobre o privado normativamente está fundamentada na contraposição
entre interesse coletivo e interesse individual. O bem comum não resulta da soma dos bens
individuais, razão pela qual os interesses individuais (privados) devem ser subordinados aos
interesses coletivos (o bem público).
A soberania que o Estado exerce sobre o conjunto da sociedade justifica-se sempre pelo
interesse social.
O poder extroverso caracteriza-se pela capacidade de gerar unilateralmente obrigações para
os demais entes sociais, exorbitando suas próprias fronteiras. Somente o Estado tem o poder

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de criar normas jurídicas, legais e administrativas que regulam a ação e o comportamento dos
demais membros da sociedade.
O poder de polícia é exercido pela Administração Pública com a finalidade de conter os abusos
de indivíduos e grupos na sociedade civil, defendendo o interesse público no seu sentido mais
amplo.
O direito positivo determina a esfera de poder do Estado sobre a sociedade. Além disso, o
princípio da Legalidade diz que a Administração Pública, e, por extensão, o agente público, só
pode fazer o que a lei permite.
Uma vez que a lei tenha delimitado o espaço público e, por exclusão, definido também a
extensão da esfera privada, os particulares que nesta se encontrarem – sejam eles indivíduos
ou empresas – poderão fazer tudo aquilo que a lei não proibir e deixar de fazer aquilo que a lei
não os obrigar.
A essa liberdade e autonomia de ação da sociedade civil (privada) convencionou-se chamar de
liberdade negativa. Simplesmente porque essa esfera de liberdade – de fato, bastante extensa
– é claramente delimitada por dois “não”:
•• pode-se fazer o que a lei não proibir; e
•• pode-se deixar de fazer o que a lei não obrigar.
Essa é a regra geral que orienta todo o direito privado – isto é, aquele que regula as relações
entre os entes privados na sociedade, como os direitos Civil, Comercial, Penal etc.

Divergências Público x Privado

Princípios: a Administração Pública brasileira, em todas as suas esferas, é regida pelos princípios
constitucionais da legalidade, da impessoalidade, da moralidade; da publicidade e da eficiência.
A gestão privada não tem princípios tão bem definidos como os que regem a administração
pública. A direção das empresas privadas tem liberdade e flexibilidade para criar sua própria
filosofia e segui-la.
Interesse: a gestão pública procura satisfazer o interesse e bem-estar geral (bem público),
enquanto a gestão privada procura satisfazer os interesses de determinados indivíduos ou
grupos (bem privado).
Pessoas: na esfera pública, os indivíduos são concebidos como cidadãos, seja na posição de
servidores do Estado, seja na condição de usuários dos serviços públicos ou sujeitos submetidos
às leis e normas impostas pelo Estado. Já na esfera privada, os indivíduos são concebidos como
pessoas físicas à procura da satisfação de seus interesses particulares, podendo se associar
e constituir pessoas jurídicas com a finalidade de perseguir os mais diferentes objetivos –
econômicos, políticos, religiosos, culturais etc.
Objetivos: a gestão pública visa a consecução de seus objetivos em prol do interesse coletivo
e, em regra geral, sem buscar lucro em suas atividades (atentar às empresas públicas). Já
os empresários são motivados pela busca do lucro, ou pela satisfação de outros interesses
privados.

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Organizações: Instituições públicas são entes criados por lei para atingir objetivos específicos
(missão perene), cumprindo papéis típicos ou de interesse do Estado (saúde, educação,
proteção, regulação etc). Cada empresa privada segue sua própria filosofia e pode mudá-la a
qualquer momento - decidir em que mercados atuar, como concorrer, que metas atingir, enfim,
tudo aquilo que a lei não proíba.
Clientes/Cidadãos: a administração pública não pode fazer acepção de pessoas, deve tratar a
todos igualmente e com qualidade. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos
previstos em lei. Por outro lado, as organizações privadas utilizam estratégias de segmentação
de “mercado”, estabelecendo diferenciais de tratamento para clientes preferenciais.
Estrutura: na administração pública, a estrutura é mais verticalizada e burocratizada,
enquanto a gestão privada há mais flexibilidade e variedade nos modelos, tendendo a ser mais
horizontalizada.
Recursos: as atividades públicas são financiadas com recursos públicos, oriundos de
contribuições compulsórias de cidadãos e de empresas, enquanto a gestão privada lida com
recursos próprios ou de investidores.
Mercado: as empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam
habitualmente o sistema de monopólio.
Privacidade/Publicidade: o principio da Publicidade obriga a ampla divulgação dos atos
praticados pela Administração Pública, seja através de diários oficiais, jornais, editais, etc. (salvo
em áreas específicas ligadas a segurança e soberania). As empresas privadas fazem o contrário,
escondem suas estratégias como forma de evitar espionagem e garantir posição no mercado.
Compras/Contratações: na gestão pública o interesse é coletivo e as ações impessoais, daí a
necessidade da realização de compra por licitações e recrutamento de pessoal por concursos
públicos (exceto CCs). Uma empresa privada pode comprar de qualquer fornecedor e contratar
qualquer pessoa de acordo com seus critérios.
Carreiras/promoções: as carreiras e promoções são mais flexíveis no setor privado, podendo
passar por reestruturações a qualquer momento de acordo com as necessidades da gestão; na
gestão pública, as regras estipuladas em lei são seguidas estritamente.
Erros: o impacto de um erro administrativo na gestão pública prejudica toda população (que
em última instância paga compulsoriamente por tal serviço), enquanto nas empresas o prejuízo
é restrito.

Convergências
As principais convergências entre gestão pública e privada ocorrem na área meio, ou seja, na
forma como empresas e instituições públicas se organizam e agem para alcançar seus objetivos.
Dentre semelhanças práticas, destaca-se:
•• Têm objetivos a serem alcançados;
•• Para alcançar tais objetivos, estruturam-se e realizam um certo conjunto de atividades;
•• Para executar estas atividades, mobilizam uma determinada quantidade de recursos
(humanos, materiais, tecnológicos, financeiros etc.);

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•• Usam o planejamento e a gestão estratégica;
•• Buscam avanços tecnológicos visando ao acesso facilitado a serviços;
•• Eficiência – usar os recursos adequadamente. O princípio da Eficiência, incluído na
Constituição Federal em 1998, é resultado da incorporação, pelo Estado, de técnicas de
administração privada.
•• Eficácia – alcançar objetivos – resultados;
•• Efetividade – atender às expectativas e necessidades dos stakeholders (partes interessadas
em determinado produto/serviço). Mudar a realidade.

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Público X Privado
• Gestão Pública
‒modo de gestão do aparelho do Estado.
‒forma como são aplicados os processos de planejamento,
organização, direção e controle pelas diversas entidades que
formam o Estado.

• Gestão Privada
‒planejamento, organização, direção e controle, porém com
alcance, objetivos e regramentos distintos da área pública.

Estado Moderno

• Sociedades capitalistas e democráticas contemporâneas:


‒Clara separação entre esfera pública e esfera privada;
o Direito Público e Direito Privado;
o Estado e sociedade civil;
o Poderes do Estado e direitos do cidadão.

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Poderes do Estado
• Max Weber:
‒Monopólio do exercício legítimo da força em uma sociedade.
‒Não admite concorrência e exerce de forma monopolista o
poder político, que é o poder supremo nas sociedades
contemporâneas.
• Norberto Bobbio:
‒Universalidade - toma decisões em nome de toda a
coletividade que ele representa, e não apenas da parte que
exerce o poder;
‒Inclusividade - em princípio, nenhuma esfera da vida social
encontra-se fora do alcance da intervenção do Estado.
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Poderes do Estado

• Montesquieu – três funções


‒Legislativa: produzir as leis e o ordenamento jurídico
necessários à vida em sociedade.
‒Executiva: assegurar o cumprimento das leis.
‒Judiciária: julgar a adequação, ou inadequação, dos atos
particulares às leis existentes.

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Poderes do Estado
• Primazia do público sobre o privado
‒fundamentada na contraposição entre interesse coletivo e
interesse individual
• Soberania do Estado sobre a sociedade justifica-se
sempre pelo interesse social.
‒Poder extroverso - capacidade de gerar unilateralmente
obrigações para os demais entes sociais, exorbitando suas
próprias fronteiras.
‒Poder de polícia - condicionar e restringir o uso/gozo de
bens ou direitos individuais com a finalidade de conter os
abusos de indivíduos e grupos na sociedade civil.
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Poderes do Estado

• Direito positivo:
‒Esfera de poder do Estado sobre a sociedade;
‒Legalidade - só pode fazer o que a lei permite.

• Liberdade negativa
‒pode-se fazer o que a lei não proibir; e
‒pode-se deixar de fazer o que a lei não obrigar.

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Divergências Gestão Pública Gestão Privada
Princípios Regida pelos princípios constitucionais. Liberdade para criar a própria filosofia.
Interesse Satisfazer o interesse geral (bem público) Satisfazer interesses individuais (bem privado)
Pessoas físicas à procura da satisfação de seus
Pessoas São concebidas como cidadãos.
interesses particulares.
Objetivos Em prol do interesse coletivo. Lucro, interesses privados.
Criadas por lei para atingir objetivos Cada empresa privada segue sua própria filosofia
Organizações
específicos, cumprindo papéis do Estado. e pode mudá-la a qualquer momento.
Tratar a todos igualmente (exceto em casos
Clientes / Cidadãos Estratégias de segmentação de mercado.
previstos na lei)
Estrutura Tende a ser mais verticalizada. Maior flexibilidade e variedade nos modelos.
Oriundos de contribuições compulsórias de
Recursos Recursos próprios ou de investidores.
cidadãos e de empresas.
Mercado Habitualmente monopolistas. Normalmente há competição.
Ampla divulgação dos atos praticados pela Geralmente escondem estratégias como forma de
Publicidade
Administração Pública. garantir posição no mercado.
Contratações Licitações e concursos públicos (exceto CCs) Compra/contrata de acordo com seus critérios.
Carreiras Regras gerais estipuladas em lei. São mais flexíveis.
O impacto de um erro administrativo
Erros O prejuízo é restrito.
prejudica toda população.
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Convergências Público x Privado


• Área-meio:
‒Têm objetivos;
‒Estruturam-se para realizar atividades;
‒Mobilizam recursos (humanos, materiais etc.)
‒Usam o planejamento e a gestão estratégica;
‒Buscam avanços tecnológicos visando ao acesso facilitado a
serviços;
‒Eficiência
‒Eficácia
‒Efetividade
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