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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de.

A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o


foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR NO DIREITO DE FAMÍLIA:


UMA VISÃO SOB O FOCO DO DEVER AVOENGO

Giuliana Bertolin1
Mauro Afonso de Gásperi2

SUMÁRIO

Introdução. 1 Alimentos; 1.1 Conceito; 1.2 Alimentos devidos pela relação de


parentesco; 2 Obrigação alimentar; 3 Responsabilidade alimentar dos avós; 3.1
Alimentos avoengos; 3.2 A complementação da pensão pelos avós; 3.3 Fixação da
obrigação alimentar aos avós; 4 Inadimplemento dos alimentos avoengos; 4.1 Prisão
civil dos avós idosos versus princípio da dignidade humana; Considerações finais;
Referência das fontes citadas.

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar a responsabilidade alimentar dos avós
em relação aos netos. Cabe aos pais o dever de sustento aos filhos, mas a lei
determina que na impossibilidade destes arcar com o sustento dos seus filhos,
compete aos avós arcar com essa responsabilidade. Tal entendimento já é pacifico
em nosso ordenamento jurídico, admitindo a propositura de ação de alimentos
contra os avós, para isso bastando apenas a comprovação da incapacidade dos
genitores de prover alimentos aos seus filhos. Mas até que ponto esta imposição de
lei é favorável, uma vez que depõe contra a dignidade da pessoa humana, pois é o
direito da criança em detrimento ao direito do idoso. A questão é que quando o pai
não paga os avós pagam e assim sucessivamente, observando a linha de
parentesco. Em síntese aborda-se os aspectos mais relevantes, como a obrigação e
o dever dos avós em relação a responsabilidade de prestar alimentos aos netos, os
requisitos que se fazem necessários para a complementação, a fixação do valor da
pensão, e as consequências do inadimplemento, que é a parte mais desastrosa de
toda essa relação quando se chega ao ponto da prisão civil. O trabalho foi concebido
segundo o método indutivo, utilizando especialmente a técnica da pesquisa
bibliográfica, doutrinaria e jurisprudencial. Nas diferentes fases da Pesquisa, foram
acionadas as Técnicas do Referente, da Categoria, e do Conceito Operacional.

Palavras-chave: Alimentos. Obrigação alimentar. Responsabilidade avoenga.


Parentesco.

INTRODUÇÃO

1
Acadêmica do 8º período do Curso de Direito da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí, Campus
de Balneário Camboriú – SC. E-mail: giulianabertolin@hotmail.com.
2
Mestre em Ciência Jurídica, Advogado e Professor na Graduação do Curso de Direito da UNIVALI –
Universidade do Vale do Itajaí, Campus de Balneário Camboriú – SC. E-mail:
mgasperi@hotmail.com.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Quando falamos em avós, sempre soa como uma doce e afável lembrança
de infância, aquele carinho que somente eles podem proporcionar aos seus netos, é
indiscutível a questão do afeto e amor que os avós transmitem aos seus “filhos com
açúcar” como o dito popular fala em relação aos netos.
Mas esse laço familiar tão importante para a vida do ser humano está sendo
quebrado pelo triste conflito familiar existente entre os indivíduos.
Não é de hoje que existe na lei o dispositivo que obriga os avós a pagar
pensão alimentícia aos netos, mas nunca se viu tanto como ocorre hoje, essas
discussões irem parar nos tribunais, avós e netos frente a uma briga judicial.
Lamentável tal questão chegar a esse ponto, não se pode determinar
motivos nem razões que levam um indivíduo romper um laço de afeto tão grandioso
por simples valores materiais.
Recente reportagem em um telejornal nacional3 trouxe a tona essa
discussão, quando uma senhora de 74 anos teve decretada sua prisão por estar em
atraso com as prestações alimentícias que paga aos seus netos, caso que comoveu
e revoltou a população. A partir daí vários noticiários passaram a destacar casos de
avós que estão passando por situações de dificuldades financeiras e acabam sendo
presos por não terem condições de pagar a pensão alimentícia aos seus netos,
obrigação esta que inicialmente deveria ser imposta por lei apenas aos genitores,
pois aos avós deveria caber apenas a obrigação moral e afetiva, a de sustento
apenas dentro das suas possibilidades, e não dentro das condições e obrigações
que a lei impõe.
Sob esse aspecto faremos uma análise e reflexão a respeito do assunto,
abordando os aspectos mais relevantes da questão alimentar avoenga.

1 ALIMENTOS

1.1 Conceito e considerações gerais

O tema alimentos é de uma complexidade muito abrangente, podemos falar


sobre alimentos em diversos aspectos, mas sempre é fundamental destacar que o

3
Em GO, avó deixa de pagar pensão alimentícia por 6 meses e vai presa. Disponível em:
<http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/03/em-go-avo-deixa-de-pagar-pensao-alimenticia-por-6-
meses-e-vai-presa.html>. Acesso em: 05 nov. 2012.

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alimento é a necessidade vital de qualquer ser humano, que “por natureza, é carente
desde a sua concepção; como tal, segue o seu fadário até o momento que lhe foi
reservado como derradeiro; nessa dilação temporal mais ou menos prolongada, a
sua dependência dos alimentos é uma constante, posta como condição de vida”.4
A respeito do assunto, Venosa5 dispõe que:

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de


amparo de seus semelhantes e de bens essenciais ou necessários
para a sobrevivência, Neste aspecto, realça-se a necessidade de
alimentos. Desse modo, o termo alimentos pode ser entendido, em
sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário para sua
subsistência. Acrescentemos a essa noção o conceito de obrigação
que tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra e
chegaremos facilmente a noção jurídica. No entanto no Direito a
compreensão do termo é mais ampla, pois a palavra, além de
abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também a
satisfação de outras necessidades essenciais da vida em sociedade.

Acerca deste posicionamento Cahali6 leciona:

A palavra “alimentos” vem a significar tudo o que é necessário para


satisfazer aos reclamos da vida; são as prestações com as quais
podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si; mais amplamente, é a contribuição periódica a
alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem, como
necessária à sua manutenção.

Ante o exposto pelos autores acima, claramente pode-se observar que


alimentos não se referem somente à alimentação propriamente dita, mas sim a tudo
aquilo que é necessário para a sobrevivência do ser humano.
O Código Civil Brasileiro de 2002, não preceitua no capítulo que trata dos
alimentos o seu conceito. Mas é possível observar no artigo 19207 da referida lei, o
conceito legal de alimentos quando a lei refere-se ao legado: “o legado de alimentos
abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da
educação, se ele for menor”.
Sábio conceito de alimentos nos dizeres de Silvio Rodrigues8:

4
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p.
15.
5
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de familia. São Paulo: Atlas, 2009, p. 351.
6
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. p. 15-16.
7
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. p.1343.
8
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. . p. 418.

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Alimentos, em direito, denomina-se a prestação fornecida a uma


pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às
necessidades da vida. A palavra alimentos tem conotação muito mais
ampla do que na linguagem vulgar, em que significa o necessário
para o sustento. Aqui se trata não só do sustento, como também de
vestuário, habitação, assistência médica, em caso de doença, enfim
de todo o necessário para atender às necessidades da vida; e, em se
tratando de criança, abrange o que for preciso para sua instrução.

Com esses entendimentos doutrinários fica demonstrado que alimentos é


tudo que proporciona ao ser humano o necessário para suprir as suas necessidades
básicas, tais como, a alimentação propriamente dita acrescida de moradia,
vestuário, saúde, educação, transporte e lazer.

1.2 Alimentos devidos pela relação de parentesco

Segundo a Lei 10.046 de janeiro de 2002, os parentes são obrigados a


prestar alimentos uns aos outros para suprir suas necessidades básicas e vitais.
Como bem determina o art. 1.694, do Código Civil9: “Podem os parentes, os
cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem
para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender as
necessidades de sua educação”.
Maria Helena Diniz10 conceitua o termo “parentesco”:

Parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas


que descendem uma das outras ou de um mesmo tronco comum,
mas também entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do
outro, entre adotante e adotado e entre pai institucional e filho
socioafetivo.

O conceito jurídico de parentesco nos dizeres de Pablo Stolze11:

Entende-se por parentesco a relação jurídica, calcada na afetividade


e reconhecida pelo Direito, entre pessoas integrantes do mesmo
grupo familiar, seja pela ascendência, descendência ou
colateralidade, independentemente da natureza (natural, civil ou por
afinidade).

9
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. p. 1200.
10
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 467.
11
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. p. 643.

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É lógico que quando se fala em parente, se faz necessário entender em que


grau de parentesco se ligam uns aos outros, para então poder determinar se
realmente existe entre si a obrigação de prestar alimentos.
No que diz respeito à natureza, o parentesco poderá ser natural (decorrente
de vínculo consanguíneo), civil (decorrente de vínculo jurídico) ou por afinidade
(travado entre um dos cônjuges ou companheiros e os parentes do outro)12.
Importante ressaltar que “o dever de prestar alimentos fundamenta-se na
solidariedade familiar, sendo uma obrigação personalíssima devida pelo alimentante
em razão de parentesco que o liga ao alimentado ou alimentário”13.
Mas é evidente que nem todos os parentes estão obrigados a prestá-los, eis
que a lei restringe tal obrigação aos parentes em linha reta (ascendentes e
descendentes) e aos colaterais até o 2º grau (irmãos germanos ou unilaterais), não
havendo previsão de alimentos entre os afins.
Para bem entender quem são os parentes em linha reta e colateral, Silvio
Rodrigues14 esclarece:

Parentesco em linha reta é o que se estabelece entre pessoas que


estão uma para com as outras na relação de ascendentes e
descendentes; assim, são parentes na linha reta ascendente o pai, o
avô, o bisavô etc; são parentes na linha reta descendente o filho, o
neto, o bisneto etc.
Parentesco em linha colateral é o liame que liga as pessoas que
provêm de um só tronco comum, sem descenderem umas das
outras.

Deve-se sempre levar em consideração que os parentes de grau mais


distante somente serão obrigados a prestar alimentos se os de grau mais próximos
não estiverem em condições de suportar o encargo, assim se manifestando o seu
caráter substitutivo.

Dispõe o art. 1.698, do Código Civil15:

12
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. p. 644.
13
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática. 2. ed. rev. atual. e ampl. Leme, SP:
Imperium, 2009. p. 34.
14
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 319.
15
Diniz, Maria Helena. Código civil anotado. p. 1206.

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Art. 1698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não


estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão
chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas
obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção
dos respectivos recursos e, intentada ação contra uma delas,
poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Posicionamento de Yussef Said Cahali citado por Diniz16: “Há uma ordem
sucessiva ao chamamento à responsabilidade de prestar alimentos. O alimentando
não poderá, a seu bel-prazer, escolher o parente que deverá prover seu sustento”.
Alguns doutrinadores entendem que a responsabilidade não se limita ao
dispositivo do artigo 1697, do Código Civil17, atingindo todos os parentes.
É o que se pode observar na lição de Maria Berenice Dias18:

Na falta dos parentes mais próximos, são chamados os mais


remotos, começando pelos ascendentes, seguidos dos
descendentes. Portanto, na falta de pais, avós e irmãos, a obrigação
passa aos tios, tios-avós, depois aos sobrinhos-netos e, finalmente
aos primos.

Mas é fato que “os alimentos impetrados contra tios, sobrinhos e primos não
são bem vistos pela jurisprudência e nem pelos doutrinadores, acreditando estes
que o encargo na linha colateral não excede o segundo grau”19.
Diante desse entendimento, explica Maria Berenice Dias20:

Ainda que reconhecendo ser mais ampla a ordem de vocação


hereditária, de forma maciça, a doutrina não admite que a
responsabilidade alimentar ultrapasse o parentesco de segundo
grau. Trazer à lei algumas explicações quanto à obrigação entre
ascendentes e descendentes, bem como explicitar o dever dos
irmãos, não exclui o dever alimentar dos demais parentes. O silêncio
não significa que tenham os demais sido excluídos do dever de
pensionar. O encargo segue os preceitos gerais: na falta de parentes
mais próximos são chamados os mais remotos, começando pelos
ascendentes, seguidos dos descendentes. Mas esta não é a lógica

16
CAHALI, apud DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 636.
17
BRASIL. Código civil. “Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes,
guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais”.
18
DIAS, Maria Berenice. Conversando sobre alimentos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006,
p. 47-48.
19
CUNHA, Tainara Mendes. Da obrigação avoenga na prestação de alimentos. Conteúdo Jurídico,
Brasilia-DF: 29 nov. 2011. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/
?artigos&ver=2.34644&seo=1>. Acesso em: 29 out. 2012.
20
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2010.

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foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
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da justiça, tendo o STJ negado a obrigação alimentar entre tios e


sobrinhos.

Por isso se faz necessário a exata identificação dos vínculos de parentesco,


para assim evitar as sequelas jurídicas que podem gerar.

2 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

A obrigação alimentar no direito de família primeiramente incumbe aos pais,


na falta destes recai nos parentes mais próximos, excluindo os mais remotos.
O art. 1697 do Código Civil21 assim dispõe: “Na falta dos ascendentes cabe
a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes,
aos irmãos, assim germanos como unilaterais”.
Segundo o disposto na Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002, são
obrigados a prestar alimentos, reciprocamente, os ascendentes, os descendentes,
os irmãos, os cônjuges e os companheiros.
A obrigação alimentar é, sem dúvida, baseada no princípio da solidariedade
familiar.
Afirma Arnold Wald22, “a obrigação alimentar caracteriza a família moderna.
É uma manifestação de solidariedade econômica que existe em vida entre os
membros de um mesmo grupo, substituindo a solidariedade política de outrora”.
Dentre os direitos elencados no art. 227 da Constituição Federal23, o
legislador constitucional tratou de assegurar à criança e ao adolescente o direito a
alimentação, assim dispondo:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

21
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 15. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010, p.1205.
22
WALD, Arnoldo. O novo direito de família. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 39.
23
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 227, caput.

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É importante fazer uma diferenciação entre obrigação alimentar e dever de


sustento. Dever de sustento é atributo inerente ao poder familiar, conforme se
constata pelo art. 229 da Constituição Federal24, art. 1.566, IV, do CCB/200225, e art.
22 do Estatuto da Criança e do Adolescente26. É a forma que socorre o filho, até
completar a maioridade ou ser emancipado, de ver suas despesas satisfeitas por
seus genitores. Enquanto que o fundamento da obrigação alimentar encontra-se no
art. 1.694 do CCB/200227, ou seja, fulcra-se na regra geral de alimentos, que
favorece àqueles que não tem condições de se autoprover28.

3 RESPONSABILIDADE ALIMENTAR DOS AVÓS

3.1 Alimentos Avoengos

Alimentos avoengos são os alimentos que os avós prestam aos netos,


quando os genitores estão sem condições ou impossibilitados de fazê-los.
Em regra, a responsabilidade primeira em prestar alimentos aos filhos é dos
pais, conforme preleciona Maria Helena Diniz29:
Quem necessitar de alimentos deverá pedi-los, primeiramente, ao pai ou à
mãe. Na falta destes, por morte ou invalidez, ou não havendo condição de os
genitores suportarem o encargo, tal incumbência passará aos avós paternos ou
maternos; na ausência destes, aos bisavós e assim sucessivamente.
A responsabilidade alimentar avoenga encontra respaldo em nosso
ordenamento jurídico nos termos do artigo 1696 do Código Civil Brasileiro30, que
assim dispõe:
24
BRASIL. Código civil. “Art. 229. Os pais tem o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
25
BRASIL. Código civil. “Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: [...] IV – sustento, guarda e
educação dos filhos”.
26
BRASIL. Código civil. “Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos
filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais”.
27
BRASIL. Código civil. “Art. 1694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos
outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender as necessidades de sua educação”.
28
CAHALI, Francisco José; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Alimentos no código civil. São Paulo:
Saraiva, 2007, p. 15.
29
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família p. 509.

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Art. 1696 O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e


filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos
mais próximos em grau, uns em falta de outros.

Porém, os avós só devem ser chamados a complementar ou mesmo a suprir


o pagamento de prestação alimentícia aos netos, na impossibilidade ou ausência do
pagamento pelos pais, cabe aos avós essa obrigação somente quando de fato se
esgotarem todas as possibilidades de se receber ou executar o devedor principal,
que são os pais.
Leciona a respeito do assunto Yussef Said Cahali31 que:

O avô só esta obrigado a prestar alimentos ao neto se o pai deste


não estiver em condições de concedê-lo, estiver incapacitado ou for
falecido; assim a ação de alimentos não poderá contra o ascendente
de um grau sem a prova de que o mais próximo não pode satisfazê-
la.

O judiciário tem entendido que quando o pai não tem condições econômicas,
ou não assume a obrigação por estar doente ou, desempregado, e desde que
esgotadas todas as possibilidades de execução, a obrigação então passa a ser dos
avós.
Como se pode ver neste julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul32:

APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO AVOENGA.


CABIMENTO. O genitor da alimentada é devedor contumaz e furta-
se ao cumprimento da obrigação fixada mediante acordo. A
alimentada já buscou a via executiva para coagir o pai a cumprir a
obrigação. Contudo, mesmo cumprindo a prisão decretada o genitor
continua inadimplente. Nesse contexto, a alimentada, que é menor e
encontra em idade escolar, não pode ficar à mercê da desídia
paterna. Tal circunstância lhe possibilita acionar os avós que
possuem condições de arcar com o pensionamento. ACOLHERAM
OS EMBARGOS. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Embargos Infringentes
Nº 70016159956, Quarto Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 20/10/2006).

30
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. p.1204.
31
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. p. 677.
32
TJRS. Embargos Infringentes Nº 70016159956. Disponível em: < http://www1.tjrs.jus.
br/busca/?q=Embargos+Infringentes+N%BA+70016159956%2C+&tb=jurisnova&pesq=ementario&p
artialfields=> Acesso em: 28 out. 2012.

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Esse também tem sido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, em


situações de pais falecidos, que não deixaram rendimentos suficientes para o
sustento de seus filhos.
Como se pode ver o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul33 manteve a
decisão que condenou os avós paternos ao pagamento de pensão alimentícia as
netas, cujo pai é falecido.

APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO AVOENGA.


VERBA PROVISÓRIA. PAI FALECIDO E DESEMPREGO PELA
GENITORA. DEMONSTRAÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE DOS PAIS
EM PROVER O SUSTENTO DAS FILHAS MENORES. RENDA DOS
AVÓS SUFICIENTE PARA PENSIONAR AS NETAS. Compete aos
genitores a obrigação de sustento dos filhos e, na falta de um, ao
outro, primordialmente, em decorrência do poder familiar. A
obrigação alimentar dos avós, nos termos do art. 1.696 do Código
Civil, detém característica subsidiária ou complementar, somente se
justificando nos casos em que restar comprovada a incapacidade
absoluta dos pais. O fato do pai das menores ser falecido e de a
genitora se encontrar momentaneamente desempregada, autorizam
a fixação da obrigação alimentar provisória aos avós, que detém
possibilidades, enquanto a instrução deverá definir o cabimento ou
não dos alimentos avoengos. NEGARAM PROVIMENTO AO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº
70044679686, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS.
Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 19/10/2011).

Nesse tipo de situação os avós podem assumir a responsabilidade de arcar


com o sustento dos netos.
Da mesma forma havendo a ausência do devedor principal, os devedores
subsidiários tem essa responsabilidade, Importante ressaltar que entre esses
devedores deve haver a solidariedade, ou seja, tanto os avós paternos quanto os
avós maternos são obrigados a suprir as necessidades do neto.
Com esse entendimento, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça34
atendeu ao pedido de um casal de avós paternos que chamaram a demanda os
avós maternos.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS.


INSUFICIÊNCIA DOS ALIMENTOS PRESTADOS PELO GENITOR.
AJUIZAMENTO EM FACE DOS AVÓS PATERNOS. PEDIDO DE

33
TJRS. Agravo de Instrumento Nº 70044679686. Disponível em:<http://www.tjrs.jus.br
/busca/?q=alimentos+avoengos+pai+falecido&tb=jurisnova> Acesso em: 23 out. 2012.
34
TJPR. Agravo de Instrumento n. 831863-6. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/21453420/8318636-pr-831863-6 acordao-tjpr>. Acesso em: 28 out. 2012.

843
BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

INCLUSÃO DOS AVÓS MATERNOS NO POLO PASSIVO


CABIMENTO INTELIGÊNCIA DO ART. 1698 DO CÓDIGO CIVIL.
1. "Nos termos da mais recente jurisprudência do STJ, à luz do Novo
Código Civil, há litisconsórcio necessário entre os avós paternos e
maternos na ação de alimentos complementares." (STJ, REsp
958513/SP, Quarta Turma, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
julg. 22/02/2011).
2. Recurso conhecido e provido.

Mas vale ressaltar que se não tiverem sido esgotados todos os meios
judiciais disponíveis ao cumprimento da obrigação contra o genitor, o entendimento
dos Tribunais tem sido pelo não provimento da ação contra os avós, como se pode
obervar nesse recente julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina35:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS AVOENGOS. GENITOR


OBRIGADO A PRESTAR ALIMENTOS EM ACORDO JUDICIAL.
ALEGAÇÃO DE NÃO CUMPRIMENTO DO DEVER ALIMENTAR E
DE DESCONHECIMENTO DO PARADEIRO DO ALIMENTANTE
ORIGINÁRIO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
IMPOSSIBILIDADE DO PAI DE HONRAR COM O ENCARGO. NÃO
CONFIGURAÇÃO DA SITUAÇÃO PREVISTA NO ART. 1.696 DO
CÓDIGO CIVIL. ASCENDENTES MAIS PRÓXIMOS QUE
PREFEREM AOS MAIS REMOTOS. ACIONAMENTO DOS AVÓS
PARA PRESTAR ALIMENTOS APENAS EM CARÁTER
EXCEPCIONAL E SUBSIDIÁRIO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
À luz do art. 1.696 do CC/2002, "o direito à prestação de alimentos é
recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes,
recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de
outros". Logo, para o dever alimentar ser atribuído aos avós,
necessário que se prove a falta/impossibilidade dos genitores (grau
mais próximo), estes ordinariamente obrigados ao sustento da prole.
"A obrigação alimentar dos avós é subsidiária e complementar à dos
pais, e só se justifica na impossibilidade de ambos os genitores
arcarem com as necessidades básicas dos filhos. Não esgotados
todos os meios judiciais disponíveis ao cumprimento da obrigação
contra o obrigado primitivo - genitor - injustificável o acionamento dos
avós para que assumam a prestação" (Apelação Cível n.
2010.004741-8, de Blumenau, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves,
j. 28-7-2011 – DJ: 16/07/2012).

Não basta simplesmente demandar uma ação contra os avós, necessário se


faz esgotar todos os meios de cobrança contra os principais obrigados que sãos os
pais.

35
TJSC. Apelação Cível n. 2010.004741-8. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/
busca.do> Acesso em: 28 out. 2012.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

3.2 A complementação da pensão pelos avós

Também podem ser chamados os avós a complementar a pensão


alimentícia dos netos. Não é necessário que os genitores estejam totalmente
desprovidos de recursos ou não estejam arcando com os alimentos de seus filhos,
para que os avós sejam compelidos à obrigação de prestar alimentos aos seus
netos.
Os avós são chamados a complementar a pensão paga pelos genitores,
quando esta é insuficiente para a mantença do alimentando, conforme previsto no
artigo 1698, do Código Civil36.
Se comprovado que a prestação alimentícia que os genitores prestam aos
filhos é insuficiente para a sua sobrevivência e que os pais não tem condições de
pagar além do que já pagam, podem os netos demandar numa ação conjuntamente
contra o pai e os avós.
A respeito do assunto Yussef Said Cahali37 comenta:

A inclusão do avô, desde logo, no polo passivo da ação, junto com o


devedor principal, funda-se em um argumento expressivo: se a
pretensão de alimentos é sempre urgente, a necessidade de prévio
ajuizamento de ação contra o pai para somente no final dela ser
movida ação contra o avô estaria desconforme com a celeridade
indispensável ao procedimento.

A responsabilidade dos avós, sendo de caráter complementar, diz respeito


exclusivamente às necessidades básicas do alimentando. Por essa razão o binômio
necessidade x possibilidade não deve ser aplicado na sua plenitude. Como se pode
ver na explicação do Desembargador José S. Trindade:

Sr. Presidente, com a devida vênia do eminente Relator, vou


discordar do seu voto. Há uma afirmação, no voto do eminente
Relator, no sentido de que, “com efeito, pode-se dizer que a fixação
da obrigação alimentaria aos avós deve-se limitar proporcionalmente
às suas possibilidades”.

36
BRASIL. Código civil. “Art. 1698. Se o parente que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver
em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato,
sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos
respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais se chamadas a
integrar a lide.”
37
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. p. 471.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Na verdade quando os avós são chamados a intervir, em matéria


alimentícia como esta, esse chamamento é feito de forma subsidiária
ou suplementar. As necessidades dos netos que devem ser
atendidas são, essencialmente, aquelas básicas, nada mais além
dessas necessidades básicas. Então, não se deve guardar
proporcionalidade entre as necessidades dos netos e as
possibilidades dos avós, porque sendo as necessidades dos netos
aquelas básicas, desaparece essa proporcionalidade que o emitente
Relator inseriu em seu voto38.

No mesmo raciocínio, a Sétima Câmara Cível do TJ-RS39, em Apelação


Cível de relatoria da Des. Walda Maria Melo Pierro, reconheceu que:

A responsabilidade alimentar dos avós, por ser excepcional e


subsidiária, só tem lugar mediante prova da impossibilidade
financeira absoluta do genitor. Para fixação da obrigação, na forma
de complementação, há de vir prova escorreita de que o valor
alcançado pelo pai, somado ao valor propiciado pela mãe, é
insuficiente, o que não ocorre no presente caso. Não se pode
confundir dificuldades oriundas das modestas condições econômicas
dos genitores, a que devem se adaptar os filhos, com incapacidade
de sobrevivência. O padrão de vida dos avós não serve de
parâmetro para tal fim. (grifo nosso)

Diante deste entendimento, conclui-se que mesmo que os avós tenham


rendimentos elevados, a pensão devida aos netos é limitada as suas necessidades
básicas, não sendo possível fixar a pensão proporcional às possibilidades dos avós.
Mas por outro lado, se os avós auferirem renda reduzida, os alimentos serão
proporcionais, ainda que a prestação não seja suficiente para garantir ao neto o
mínimo necessário para sua sobrevivência.
E muito bem complementa Maria Aracy Menezes da Costa40: “Não existe a
obrigação de um irmão garantir a condição social de outro; nem de um avô
proporcionar ao neto o padrão de vida que mantinha na casa dos pais”.
Cabe aos pais o dever de proporcionar aos filhos as melhores condições de
vida possíveis para a sua subsistência, buscando os recursos para suportar tal

38
TJRS. Agravo de Instrumento nº 70005419205, 8ª Câmara Cível, Rel. Rui Portanova, julgado em
13/03/2003. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?q=Agravo+de+Instrumento+
n%BA+70005419205%2C+&tb=jurisnova&partialfields=>. Acesso em: 25 out. 2012.
39
TJRS. Apelação Cível nº 70009321951, 7ª Câmara Cível, Relatora: Des.Walda Maria Melo Pierro,
julgado em 23/02/2005. Disponível em: http://www1.tjrs.jus.br/busca/?q=Apela%E7%
E3o+C%EDvel+n%BA+70009321951&tb=jurisnova&pesq=ementario&partialfields=>. Acesso em:
25 out. 2012.
40
COSTA, Maria Aracy Menezes da. Os limites da obrigação alimentar dos avós. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2011. p. 65-66.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
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encargo, todos os seus esforços e sacrifícios devem ser no sentido de arcar com as
necessidades dos seus filhos, esta obrigação é tão somente sua e não dos parentes.

3.3 Fixação da obrigação alimentar aos avós

Não existe na lei uma fixação do percentual a ser pago, o que se busca
atender é a necessidade de quem recebe e a possibilidade de quem paga, é o
chamado binômio necessidade x possibilidade.
O binômio é confirmado pelo art. 1.695 do CC em vigor, que aduz: “São
devidos s alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode
prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam,
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”. Deve-se
compreender que o dispositivo inclui do mesmo modo aquele que pode trabalhar,
mas não consegue emprego41.
E ainda dispõe o art. 1694 do Código Civil no seu § 1º “os alimentos devem
ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada”.
Interessante citação de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho42:

A fixação de alimentos não é um “bilhete premiado de loteria” para o


alimentando (credor), nem uma “punição” para o alimentante
(devedor), mas, sim, uma justa composição entre a necessidade de
quem pede e o recurso de quem paga.

É preciso que satisfaça a necessidade de quem recebe sem sacrificar quem


vai pagar.
É o entendimento da Terceira Turma Cível do Distrito Federal43:

PROCESSO CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE


ALIMENTOS – AVÔ PATERNO – RESPONSABILIDADE
COMPLEMENTAR – POSSIBILIDADE – ALIMENTOS

41
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. – v.5. 7. ed. rev. atual.
e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012, p. 419.
42
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil – direito de
família. VI v. – São Paulo: Saraiva, 2011, p. 675.
43
TJDF. Agravo de Instrumento n. 0023171-34.2011.807.0000; Distrito Federal; Terceira Turma
Cível; Rel. Humberto Adjuto Ulhôa; Julg. 15/05/2012. Disponível em: <http://www.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/21360885/agravo-de-instrumento-ai 231713420118070000-df-0023171-3420
118070000-tjdf> - Acesso em: 26 out. 2012.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

PROVISÓRIOS – FIXAÇÃO – “QUANTUM” – BINÔMIO


NECESSIDADE/POSSIBILIDADE – RAZOABILIDADE – DILAÇÃO
PROBATÓRIA – IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA – DECISÃO
MANTIDA. Na dicção do artigo 1696 do novo Código Civil, os avós
podem ser chamados a complementar o pensionamento prestado
pelo pai que não supre de modo satisfatório a necessidade da
alimentanda. Precedentes. Deixando o genitor do menor de cumprir
integralmente com a pensão alimentícia a que se obrigou, uma vez
proposta ação de alimentos complementar contra o avô paterno da
alimentanda, o juiz deve fixar desde logo alimentos provisórios a
serem pagos pelo devedor. Na fixação dos alimentos é preciso
buscar o equilíbrio entre as necessidades do alimentando e a
capacidade do alimentante, fixados os alimentos provisórios em
valor razoável com observância das regras legais e na conformidade
da prova então carreada aos autos, aconselhável sua manutenção
frisando-se que na via estreita do agravo de instrumento não há
possibilidade de dilação probatória, matéria essa reservada ao Juízo
“A quo”. Os alimentos provisórios poderão, se o caso, ser revistos no
curso do processo, tudo a depender das provas produzidas nos
autos originários. É dizer, as diferenças serão afastadas com o
julgamento da ação principal, oportunidade em que a questão será
definitivamente elucidada pela instância “a quo”, na qual o juiz
avaliará toda a prova produzida e formará sua convicção. AGRAVO
DE INSTRUMENTO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJDF –
Agravo de Instrumento: AI 0023171-34.2011.807.0000; Distrito
Federal; Terceira Turma Cível; Rel. Humberto Adjuto Ulhôa; Julg.
15/05/2012; DJ 28/02/2012). (grifou-se)

Nesse contexto, a análise do critério de fixação da pensão alimentícia


quando avós idosos e netos menores figuram em igualdade de condições é de
fundamental importância, pois não se pode desconsiderar ou minimizar as
necessidades de cada parte, na fase da vida em que se encontram44.
Importante se faz delimitar as necessidades do alimentado e a possibilidade
do alimentante, para que não se cometa injustiça a nenhuma das partes.

4 INADIMPLEMENTO DOS ALIMENTOS AVOENGOS

4.1 Prisão civil dos avós idosos versus princípio da dignidade humana

44
MONTEIRO, Fernanda Maria Castelo Branco. O parâmetro para a fixação dos alimentos entre
avós idosos e netos menores igualmente necessitados. Disponível em:
<http://www.mp.ce.gov.br/esmp/biblioteca/monografias/dir.familia/o.parametro.para.a.fixacao.dos.ali
mentos.entre.avos.idosos.e.netos.menores.igualmente.necessitados.pdf> Acesso em: 26 out. 2012.

848
BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Consequência desastrosa em relação à obrigação dos avós pagar pensão


alimentícia aos netos é quando estes por alguma razão deixam de pagar e tem sua
prisão decretada.
O maior constrangimento acontece quando a prisão é decretada contra avós
idosos, por agredir a integridade física em razão da idade avançada, podendo
referida medida causar danos irreversíveis em relação à saúde do devedor.
Situação esta que tem se tornado muito corriqueira atualmente, inclusive
durante esta pesquisa uma idosa de 87 anos teve sua prisão decretada por estar
com a pensão em atraso, triste e revoltante para a sociedade ver aquela senhora de
cabelinhos brancos numa situação tão constrangedora e humilhante a esta altura de
sua vida, por isso os magistrados tem que ter muita sensibilidade e cautela ao
aplicar a lei diante de uma situação destas, que é uma afronta ao princípio da
dignidade humana do idoso.
Tem que se levar em consideração que se por um lado existe a necessidade
do menor também deve existir o respeito a integridade desse avô que já é idoso.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 assegura no
princípio da dignidade da pessoa humana que todo ser humano deve ser respeitado
em todos os aspectos, físico, moral e principalmente psicológico. Reza o art. 1º da
Carta magna:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III – a dignidade da pessoa humana;
[...]

Conceito de Princípio da dignidade humana na lição de Pablo Stolze e


Rodolfo Pamplona Filho45:

Princípio solar em nosso ordenamento, a sua definição é missão das


mais árduas, muito embora arrisquemo-nos a dizer que a noção
jurídica de dignidade traduz um valor fundamental de respeito à
existência humana, segundo as suas possibilidades e expectativas,
patrimoniais e afetivas, indispensáveis à sua realização pessoal e à
busca da felicidade.

45
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. p. 74.

849
BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Mais do que garantir a simples sobrevivência, esse princípio assegura o


direito de se viver plenamente, sem quaisquer intervenções espúrias – estatais ou
particulares – na realização dessa finalidade46.
Com base nesse princípio procura-se assegurar a dignidade comum a todas
as pessoas, tratando-se do respeito e proteção atinentes a todos os indivíduos que
compõem a sociedade.
Dessa forma, Rodrigo da Cunha Pereira47, identifica a dignidade da pessoa
humana como:

Um princípio ético que a história mostrou ser necessário incluir entre


os princípios do Estado, é um macroprincípio sob o qual irradiam
outros princípios e valores essenciais como a liberdade, a autonomia
privada, cidadania, igualdade, alteridade e solidariedade.

Ingo Wolfgang Sarlet apud Flávio Tartucce48 conceitua o princípio em


questão como sendo:

o reduto intangível de cada indivíduo e, neste sentido, a última


fronteira contra quaisquer ingerências externas. Tal não significa,
contudo, a impossibilidade de que se estabeleçam restrições aos
direitos e garantias fundamentais, mas que as restrições efetivadas
não ultrapassem o limite intangível imposto pela dignidade da pessoa
humana.

Razão pela qual os magistrados devem analisar com muita cautela quando
se chega ao ponto de expedir um mandado de prisão contra avós idosos, nesse
sentido os tribunais já vêm admitindo a prisão domiciliar aos avós idosos devedor de
Alimentos.
Esse foi o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul49, ao analisar tal questão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. AVÔ


DOENÇA DO ALIMENTANTE. PRISÃO CIVIL. REGIME

46
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. 2011, p. 74.
47
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores para o direito de família.
Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 94.
48
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. p. 6.
49
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento n. 70023896889. Disponível
em:<http://www1.tjrs.jus.br/busca/?q=%28Agravo+de+Instrumento+N%BA+70023896889&tb=juris>.
Acesso em: 25 out. 2012.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

DOMICILIAR. Embora a prisão domiciliar não encontre amparo legal,


diante da excepcionalidade do caso concreto, porquanto os
alimentos são exigidos do avô doente, impõe-se que se cumpra a
prisão em regime domiciliar. Agravo parcialment e provido. (Agravo
de Instrumento Nº 70023896889, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em
12/06/2008).

Mas nem sempre é esse o entendimento quando se trata da prisão civil dos
avós pelo inadimplemento de alimentos, na grande maioria são igualmente
condenados como a lei prevê ao devedor de alimentos.
Como podemos observar em decisão unânime do mesmo Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul50, não conhecendo o pedido de prisão
domiciliar de uma avó.

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


PRISÃO. IMPOSSIBILIDADE ECONOMICA DA EXECUTADA E
EXIGIBILIDADE DA SENTENÇA. PRISÃO DOMICILIAR.
CABIMENTO. É exigível a sentença que fixou alimentos contra a
avó, porquanto o recurso de apelação contra a sentença foi recebido
somente no efeito devolutivo. Via de regra, não se presta a ação de
"habeas corpus" para discussão das possibilidades econômicas do
executado de alimentos. Ainda que assim não fosse, a paciente não
logrou êxito em demonstrar impossibilidade financeira. Pedido para
cumprimento de prisão em regime domiciliar não conhecido.
CONHECERAM PARCIALMENTE E NA PARTE CONHECIDA
DENEGARAM A ORDEM. UNÂNIME. (Habeas Corpus Nº
70040672057, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Rui Portanova, Julgado em 17/03/2011).

É indiscutível que na maioria dos casos “a prisão civil seja a única forma
eficaz de obrigar o devedor de alimentos a saldar sua dívida, mas fatalmente essa
medida agride a integridade física e às vezes até psicológica do devedor,
principalmente neste caso em questão, quando se trata dos avós em idade
avançada, se vendo impedido no seu direito de ir e vir, podendo inclusive sofrer
danos irreversíveis em suas condições de saúde”51.

50
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Habeas Corpus n. 70040672057. Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/busca/?q=Habeas+Corpus+n.+70040672057&tb=jurisnova&partialfields>.
Acesso em: 25 out. 2012.
51
WANDERLEY, Juliana Cristina. Prisão civil dos avós. Do inadimplemento aos meios de execução
da obrigação alimentar. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2459, 26 mar.2010 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/14578>. Acesso em: 5 nov. 2012. p. 7

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Dessa maneira, deve o julgador ter maior cautela quando o decreto versar
sobre um avô, eis que a grande maioria deles se encontra numa categoria própria,
chamada de “terceira idade”52.
Diante de tais questões abordadas, é importante que haja entendimento
entre as partes, para que uma ação na justiça não chegue ao ponto da prisão civil,
situação muito humilhante e desgastante para a relação dos avós com os netos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação familiar de afeto e amor deveria prevalecer acima de qualquer


situação, mas nem sempre é assim, o fato é que os tribunais estão julgando
inúmeros casos de pedidos de pensão dos netos aos avós, e se não bastasse,
poucos casos chegam a um entendimento, por isso necessário se faz a intervenção
judicial para resolver esse conflito.
Conclui-se, portanto, que os alimentos podem ser prestados pelos avós
quando os pais, comprovadamente não puderem arcar com essa prestação que em
primeiro lugar cabe a eles.
É necessário esgotar todas as possibilidades de cobrança em relação aos
genitores, para somente então chamar a juízo os avós para suprir esta
responsabilidade junto aos seus netos.
Foi observado que para a fixação da obrigação alimentar aos avós se faz
necessária vasta prova documental, que comprove que os genitores realmente não
podem arcar integral ou parcialmente com o sustento dos filhos.
Importante se faz que o magistrado atente para as reais possibilidades do
alimentante, neste caso os avós, mediante a verificação das possibilidades de
prestarem alimentos aos netos, a situação em que se encontram é relevante para
determinar a fixação da pensão, levando em consideração que muitos avós idosos
estão sendo chamados a cumprir com esta obrigação.
Mas o fato real é que surgindo a obrigação e não havendo o adimplemento
por parte dos avós, estes são coagidos à prisão civil da mesma forma que outros
indivíduos inadimplentes.
52
WANDERLEY, Juliana Cristina. Prisão civil dos avós: do inadimplemento aos meios de execução
da obrigação alimentar. p. 7.

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BERTOLIN, Giuliana; GÁSPERI, Mauro Afonso de. A obrigação alimentar no direito de família: uma visão sob o
foco do dever avoengo. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.2, p. 834-854, 2º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044

Diante dessa situação tão delicada, os magistrados, no caso dos avós


idosos, deveriam buscar outros meios coercitivos que visem a satisfação do débito
alimentar, devendo ser mais cautelosos, levando em consideração as condições
físicas e psicológicas que a maioria desses indivíduos apresentam, a prisão nesses
casos fere a honra, a imagem e a integridade física dos avós, afrontando ao maior
princípio da Constituição Federal, que é a dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de
Edições Técnicas, 2008.

CAHALI, Francisco José; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Alimentos no código civil.


São Paulo: Saraiva, 2007.

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2012.

COSTA, Maria Aracy Menezes da. Os limites da obrigação alimentar dos avós.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.

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