2007
Coordenação Editorial
Casa da Ciência da UFRJ
Coordenação Acadêmica
Ismar de Souza Carvalho
Departamento de Geologia da UFRJ
Coordenação Oficinas
Exposição Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro
Adriana Vicente
Luciane Correia
Rita Cassab - MCTer/DNPM
_____________________________________________
F752 Fósseis? Rochas? Minerais? / editores Casa da Ciência.
Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ,
Departamento de Geologia da UFRJ, Instituto Ciência
Hoje. – Rio de Janeiro: UFRJ, Casa da Ciência, 2007.
56 p. : il. ; 21 cm
CDD: 551.7
_____________________________________________
Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Processamento Técnico - SIBI/UFRJ
Editores
Casa da Ciência da UFRJ
Rua Lauro Müller, 3, Botafogo, Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290.160
Tel./Fax: (21) 2542-7494 www.casadaciencia.ufrj.br
Despertando
, a curiosidade
41 A genealogia do petróleo
João Graciano Mendonça Filho
Experimentos divertidos
46 Pegadas quentes
Ismar de Souza Carvalho
48 Aprendendo a ler rochas
Celso Dal Ré Carneiro
50 Reciclando petróleo
Aline Meneguci
52 Dobre trilobitas
Diogo Jorge de Melo e Vinícius de Morais Monção
Saiba mais...
54 Sugestões de pesquisa
Apresentacão
,
Caminhos do passado,
mudancas
, no futuro
O
tínua inquietação e renovação, é o que o evento
propõe aos visitantes, além de atividades
planeta Terra já mudou muitas vezes planejadas para alunos e professores, com
ao longo da história geológica. Continentes desdobramentos em sala de aula.
nem sempre estiveram onde estão hoje, Os textos e as atividades aqui reunidos
mares se formaram e secaram, formas de foram selecionados dos volumes Evolução e
vida diversas surgiram e desapareceram, Geologia, da série Ciência Hoje na Escola,
deixando pistas para que o homem procu- além de artigos de professores do Depar-
rasse desvendar essa história. Cada vez tamento de Geologia da UFRJ e oficinas
mais as pessoas têm se interessado pelos oferecidas na programação especial da ex-
acontecimentos do passado geológico, bus- posição. Os textos fornecem as primeiras
cando compreender os fenômenos que pistas para quem quiser se aventurar e
ainda ocorrem e as possibilidades de mu- conhecer a Terra, seus ambientes e ele-
danças no futuro. Vestígios como fósseis, mentos. E os experimentos despertam ainda
rochas e minerais são peças de um grande mais a curiosidade para o estudo de fósseis,
quebra-cabeça, que aos poucos vão se encai- rochas e minerais, de maneira lúdica e cria-
xando e desvendando enigmas. tiva. Um panorama de livros, revistas, filmes
Esta publicação integra a exposição e sites completa esta edição, para estimular
Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro, a pesquisa e o debate sobre o tema, em um
sobre as grandes transformações ocorridas trabalho interdisciplinar.
no planeta que deram origem ao território Professor, desafie seus alunos a ler, pesqui-
brasileiro e às nossas jazidas de petróleo, sar, experimentar, descobrir e compartilhar
matéria-prima que lança desafios ao futuro. um pouco mais dessa grande aventura sobre
Uma viagem nesse tempo geológico, de con- as Ciências da Terra!
Despertando
a curiosidade
Fósseis:
registro geológico
da história da vida
na Terra
atividade de campo
inesperado e inédito, ou por nenhuma
descoberta. O êxtase na compreensão
de outros mundos, de outros tempos e
da busca incansável pelo significado da
existência. Sensações renovadas a cada ciências, como Biologia, Geociências, Fí-
fóssil encontrado. sica, Química e Matemática, permitindo
A Paleontologia dedica-se ao estudo uma compreensão integrada das trans-
dos diferentes organismos que habita- formações de nosso planeta. O grande
ram a Terra no transcorrer do tempo geo- fascínio que exerce origina-se da percep-
lógico. Possui interfaces com outras ção, mesmo que inconsciente, do sentido
de nossa existência e do quanto somos e- Dependendo das condições ambien-
fêmeros. Trata-se da descoberta de nossa tais, após a morte, os organismos podem
insignificância, materializada pela exis- se preservar de diferentes maneiras:
tência dos fósseis — algumas vezes micros- impressão em sedimentos, substituição
cópicos, como os protistas, outras gigan- das partes moles por substâncias mine-
tescos, como os dinossauros. rais, mumificação, congelamento, apri-
sionamento em âmbar, entre outras.
Icnofósseis são pegadas, coprólitos (fe-
zes), ninhos e marcas de raízes que regis-
Baurusuchus salgadoensis,
tram a atividade biológica dos organismos
90 milhões de anos
quando vivos.
Teorias evolutivas
Fósseis e icnofósseis e os fósseis
Os fósseis registram organismos, ou par- Desde o surgimento da vida na Terra,
tes deles, que viveram em épocas geológi- as adaptações, transformações e inova-
cas passadas. Os animais que possuem ções dos organismos evidenciam uma
partes duras (conchas, ossos, dentes) têm temporalidade que transcende a dimen-
maiores chances de se preservar e, em são da existência humana. A Paleonto-
condições excepcionais, suas partes mo- logia possui grande multiplicidade de
les (pele, músculos, vasos sanguíneos) elementos para o entendimento da
também. O mesmo acontece com as par- origem e evolução da vida. Estes ele-
tes mais resistentes dos vegetais (troncos mentos paleobiológicos podem ser de
e galhos). Animais que não apresentam natureza microscópica, como polens,
esqueleto, como os invertebrados sem esporos e microfósseis, ou macroscó-
concha, e as partes mais delicadas dos pica, fósseis de invertebrados, verte-
vegetais (flores e frutos) possuem baixo brados e vegetais.
potencial de fossilização.
vegetal fóssil
arqueobactérias, que se
preservaram como mi-
foraminífero
invertebrado fóssil
crofósseis e estromató-
litos, estruturas de ori-
gem sedimentar que ti-
veram origem nos pri-
meiros momentos da
vida na Terra. Os estro-
matólitos ocorrem com
freqüência no território brasileiro, em
Os primeiros conceitos de origem e
antigas áreas marinhas com mais de 1
evolução das espécies devem-se a Charles
bilhão de anos, no interior dos estados
Darwin (1809-1882), que, em 1859, pu-
de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais
blicou A origem das espécies. Durante
e Bahia.
cinco anos, viajou pela América do Sul,
coletando dados relacionados a fósseis,
fauna e flora, fundamentais para a formu- Jazigos fossilíferos
lação das idéias que revolucionariam a do Brasil
percepção do significado da presença hu-
mana sobre a Terra. O território brasileiro é recoberto por
Os fósseis compõem um documen- áreas de bacias sedimentares, com impor-
tário de evolução, transformação e tantes jazigos fossilíferos, pela sua qua-
desaparecimento de muitas formas de lidade e diversidade. Um grande desafio
vida. Através dos fósseis-químicos ou para o futuro da Paleontologia brasileira
biomarcadores — restos de compostos or- é a preservação desse legado cultural da
gânicos preservados em rochas —, conhe- história geológica, possibilitando a com-
cemos os registros mais antigos, como preensão de transformações ambientais,
o Grupo Issua, da Groenlândia, com, evolução das espécies, bem como do
aproximadamente, 3,8 bilhões de anos. significado da vida em nosso planeta.
Em rochas com 3,5 bilhões de anos, são
encontradas bactérias, cianobactérias e
Estromatólitos do Pré-Cambriano coníferas das mudanças climáticas da
Uma das evidências mais antigas de vi- passagem meso-neotriássica.
da na Terra, os estromatólitos ocorrem em
rochas carbonáticas, com 2,5 a 700 mi- Dinossauros de Uberaba
lhões de anos, nos estados de São Paulo, Fósseis de vertebrados abundantes na
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. região, principalmente de dinossauros
do período Cretáceo, podem ser conhe-
Fósseis dos Mares Devonianos cidos no Museu dos Dinossauros, em
Há 350 milhões de anos, regiões do inte- Peirópolis, Minas Gerais.
rior do Brasil (Amazonas, Pará, Piauí, Per-
nambuco, Mato Grosso, Paraná e Santa Chapada do Araripe
Catarina) eram cobertas por mares rasos, Localizada no sul do estado do Ceará e
em que dominavam moluscos primitivos, oeste do estado de Pernambuco, a diver-
como trilobitas e braquiópodes. sidade da fauna e flora da região, nos
períodos Jurássico e Cretáceo, está pre-
Grande Floresta Petrificada Permiana sente no acervo do Museu de Paleonto-
do Brasil Central logia da Universidade Regional do Cariri.
Trata-se de uma das maiores áreas da
América do Sul, com registros da fauna
e flora do Permiano (Bacia do Parnaíba,
Formação Pedra de Fogo). Localizada en-
tre os estados de Tocantins, Maranhão e
Piauí, possui espécimes únicos, ainda não
descritos formalmente, de caules e fo-
lhagens de pteridófitas.
Chapada do Araripe
Localizada no estado do Rio Grande do
Sul (Bacia do Paraná, Formações Santa
Maria, Caturrita e Arenito Mata), apre-
senta lenhos fósseis de gimnospermas de
São mais de três mil exemplares de tron- Ao todo, já foram classificados mais de
cos silicificados, impressões de conife- 395 dinossauros. A área mais importante
rófitas, moluscos, artrópodes, peixes, an- de distribuição de suas pegadas, locali-
fíbios e répteis, com as melhores condi- zada em Passagem das Pedras, foi tom-
ções de preservação orgânica do mundo. bada como “Monumento Natural Vale dos
Dinossauros”.
Parque Vale dos Dinossauros
Na região de Sousa, Paraíba, já foram Fósseis de Monte Alto
identificados 22 sítios icnofossilíferos, Na região de Monte Alto, há grande
296 pistas de grandes terópodes (dinos- quantidade de fósseis do período Cre-
sauros carnívoros); 29 de pequenos teró- táceo. A cidade e os municípios vizinhos
podes; 42 de saurópodes; 2 de ornitís- localizam-se sobre uma bacia sedimen-
quios quadrúpedes e 28 de ornitópodes. tar (Bacia Bauru), onde são encontrados
10
dinossauros, crocodilos, tartarugas, molus- mamente fossilíferos, como a Formação
cos bivalves, icnofósseis e microfósseis. Solimões (Mioceno Superior, Plioceno),
Para conhecer a diversidade da fauna revelando rica fauna de biválvios, gas-
que existiu na região, você pode visitar o trópodes, decápodes, crocodilomorfos,
Museu de Paleontologia de Monte Alto. quelônios, mamíferos. Além de troncos
permineralizados, que testemuham as
Ilha do Cajual — Maranhão transformações ambientais e climáticas
Área de proteção ambiental, com aflo- da região.
ramentos de rochas cretácicas extrema-
mente fossilíferos, na baía de São Marcos, Megafauna do Pleistoceno
município de Alcântara. A maior concen- cavernas de Minas Gerais e Bahia
tração de fósseis situa-se na proximidade Nas grutas calcárias, há amplo registro
da Estação Ecológica AMAVIDA, na Laje de mamíferos pleistocênicos, como mar-
do Coringa, com cerca de 4.000m2 de supiais, quirópteros, edentados, prima-
afloramentos, com ossos e dentes de di- tas, roedores, carnívoros, litopternos,
nossauros, crocodilos, escamas, placas notoungulados, proboscídeos, equídeos,
ósseas de holósteos e troncos de tra- camelídeos, taiassuídeos e cervídeo,
queófitas de grande porte. que podem ser conhecidos no Museu
de Ciências Naturais da Pontifícia Uni-
Parque Paleontológico São José de Itaboraí versidade Católica de Minas Gerais e no
Na região, existiam depósitos paleo- Museu de História Natural da Univer-
cênicos da bacia sedimentar de São José sidade Federal de Minas Gerais. O estudo
de Itaboraí, Rio de Janeiro, com desta- desses fósseis teve início no século XIX,
que para fósseis de fungos, polens, an- com o paleontólogo dinamarquês Peter
giospermas, moluscos, crustáceos, anfí- Wilhelm Lund, responsável pela primeira
bios, répteis, aves e mamíferos. descoberta de fósseis humanos (Homem
de Lagoa Santa).
Megafauna do Neógeno
da Região Amazônica Ismar de Souza Carvalho
Em toda a Amazônia, são encontrados Depto. de Geologia
importantes depósitos do Neógeno extre- Instituto de Geociências, UFRJ
11
Registros do
passado
A maioria de nós já escutou falar
dos dinossauros. Eles sempre se tornam
da existência de seres vivos no passado
de nosso planeta.
assunto do noticiário quando partes de Mas, cuidado, não é qualquer resto
seus corpos — os ossos, os dentes ou as de ser vivo encontrado por aí que pode
garras — são encontradas enterradas. ser considerado um fóssil. Apenas os
Esses “restos” de dinossauros recebem o “candidatos” que passaram pelo processo
nome de fósseis, assim como os insetos de fossilização são aprovados nesse
encontrados no âmbar. Também são teste. Isso acontece porque a fossilização
considerados fósseis outras partes duras modifica a constituição original do “resto”
de seres vivos que ficaram preservadas e permite que ele seja conservado por
por longo período de tempo, como as muito tempo. É assim que acontece
conchas dos moluscos, as sementes, os quando uma madeira vai parar em um
caules, as raízes dos vegetais etc. Pouca lago com bastante sílica dissolvida na
gente sabe, no entanto, que as fezes, água. A sílica cristaliza-se nos poros da
os ovos e pegadas, que são resultado da madeira e torna-a dura como uma rocha.
atividade vital dos organismos, também Outro tipo de fóssil comum são os moldes.
podem virar fósseis e tornarem-se prova As conchas da praia são o seu melhor
12
exemplo. Quando passeamos na praia, é
comum encontrarmos conchas que estão
A aventura da
preenchidas por areia endurecida. O que fossilizacão
,
acontecerá se a concha desaparecer? O
Quando os restos de um organismo
resultado será um molde da concha, por
são encontrados em estado fóssil, é
dentro, feito de areia.
sinal de que ele pode haver passado
por uma grande aventura. Imagine que
uma dessas aventuras se iniciou com
a queda de uma semente na água.
Ela pode ter caído em um rio, lago,
manguezal ou no mar, pois esses locais
facilitam a fossilização. Na água, ela foi
transportada — às vezes para bem longe
de onde habitava originalmente — até
se depositar no fundo de um lago. Todo
esse sistema, desde onde o rio nasce,
por onde ele passa até desembocar em
cabeça de peixe fossiilizda um lago ou no mar, é chamado de bacia
hidrográfica. Ao material depositado
nessas bacias hidrográficas chama-
mos sedimento.
Quando uma bacia hidro-
gráfica antiga chega a ficar
totalmente preenchida por sedi-
mentos, ela recebe o nome de bacia
sedimentar. Agora imagine: lá está a
semente que iniciou essa aventura,
cefalópode
soterrada por camadas de sedimento.
Ano após ano, as camadas foram se de-
fóssil de mariposa positando, umas sobre as outras, como
13
um “bolo de mil folhas” ou “as páginas e nos seres vivos podem ser estudadas. Esse
de um livro”. Com o passar do tempo, registro funciona também como um relógio,
o processo de fossilização se iniciou: a marcando o “tempo geológico”. O tempo,
pressão provocada pelo peso das camadas em geologia, é extremamente longo, e por
superiores e mais novas comprimiu as isso foi dividido em Éons, Eras e Períodos.
camadas inferiores, entre elas aquela Estamos vivendo, por exemplo, no Período
em que estava a nossa semente. Os Quaternário, da Era Cenozóica. Já os dinos-
grãos do sedimento foram ficando sauros predominaram nos períodos Jurássico
colados (cimentados, por exemplo pela e Cretáceo, da Era Mesozóica, por cerca de
sílica que estava dissolvida na água) uns 200 milhões de anos.
aos outros e formaram uma rocha sólida Estudando o Registro Geológico, pode-
e dura, onde se encontra agora a nossa mos afirmar que nem sempre o nosso pla-
semente fóssil. neta foi igual ao que conhecemos hoje. Ao
longo dos bilhões de anos de sua existência,
a geografia e a paisagem da Terra mudaram
As marcas do bastante. E como a vida se desenvolve em
nosso planeta em relação estreita com o
tempo geológico ambiente (em condições bem definidas pelo
clima, pela configuração dos continentes,
As primeiras camadas a se deposita-
pela altitude, por exemplo), as mudanças
rem em uma bacia sedimentar serão as
sofridas pela Terra também foram ampla-
mais antigas e, as últimas, as mais novas.
mente sentidas, ao longo do tempo, pelos
Sabendo, portanto, de que camada provém
organismos que nela habitaram.
um fóssil é possível estimar a sua idade: os
Os seres vivos, sejam eles plantas,
fósseis encontrados nas camadas inferiores
animais ou bactérias, não vivem isolados
serão quase sempre mais antigos do que os
— “cada um por si”. Eles se encontram re-
encontrados em camadas superiores, pois
unidos em comunidades de organismos,
foram depositados e fossilizados antes. As
que dependem uns dos outros para se
camadas da Terra e os fósseis nelas encon-
alimentarem. Ao mudarem as condições
trados formam, assim, um Registro Geoló-
(temperatura, chuva, umidade, vento,
gico, onde as mudanças ocorridas na Terra
14
geografia etc.), as comunidades de seres Comparando os fósseis que aparecem
vivos também mudam; aqueles que con- em camadas geológicas da mesma idade
seguem sobreviver às mudanças estabe- e em várias partes do mundo, podemos
lecem novas relações entre si e com o obter informações importantes sobre a
ambiente, permitindo a evolução das es- distribuição de um ser vivo sobre o pla-
pécies. A maioria dessas mudanças, seja neta. Assim como hoje encontramos
no ambiente ou em populações de seres um mesmo tipo de concha em lugares
vivos, ocorre de forma lenta, podendo diferentes, ou até mesmo em outros con-
durar milhões de anos (ver encarte: Tempo tinentes, no passado o mesmo aconte-
Geológico). cia. É comum encontrarmos os mesmos
Podemos entender agora por que os fósseis em lugares muito distantes, o
fósseis ou conjuntos de fósseis encontrados que prova que aquele ser vivo possuía
nas camadas inferiores são mais antigos uma ampla distribuição geográfica, habi-
e, muitas vezes, diferentes de outros tando, por exemplo, toda a costa de
organismos que vivem atualmente: eles um continente ou mesmo continentes
são representantes de um período em que diferentes. Nesses estudos, o principal
as condições de sobrevivência na Terra problema é definir se as camadas em que
eram bem diferentes das atuais. Além encontramos os fósseis são da mesma
de um registro geológico, as camadas de idade. Afinal, estamos falando em “mi-
sedimento contêm informações valiosas lhões de anos” e nessa escala qualquer
sobre a evolução das espécies nesse pla- diferença pode ser significativa.
neta. Nelas encontramos os primeiros re-
presentantes de muitos seres que vivem
atualmente. Com as informações contidas
nelas, podemos, inclusive, descrever como
os seres vivos foram evoluindo ao longo do
tempo até chegarem aos dias atuais. Nas
camadas, encontramos também espécies
Chapada do araripe, CE
15
a que fazem as plantas e os animais que
Os fósseis mais antigos habitam em terra firme. Por isso, os fósseis
Os fósseis mais velhos conhecidos têm de animais marinhos são especialmente
cerca de 3,5 bilhões de anos. Eles foram utilizados em estudos que comparam
produzidos por seres microscópicos duas ou mais regiões hoje distantes. Esses
que possuíam apenas uma célula. Seus estudos buscam conhecer melhor qual era
parentes atuais são as bactérias e as a distribuição dos seres vivos em tempos
cianobactérias, chamadas popularmente passados. Fósseis que possuem ampla
de “algas azuis”. Estudando as distribuição geográfica e um curto
camadas geológicas, pode-se registro são muito úteis para se
perceber que, desde que determinar a idade relativa
essas “primeiras” bactérias de uma camada. Eles
apareceram, o número funcionam como “pistas”
e o tipo de fósseis — o para o pesquisador e,
“registro da vida” — vem por isso, são chamados
aumentando e tornando- de “fósseis guias”. Em
se cada vez mais rico geral, os melhores guias
e diverso, camada após são fósseis de organismos
camada, milhão a milhão microscópicos (como fora-
de anos, até os dias atuais. miníferos e diatomáceas)
Os fósseis de seres vivos que conseguiram estabelecer
marinhos com partes duras como diatomácea uma ampla distribuição geográfica,
conchas, caracóis, corais e outros são em um curto espaço de tempo. Ou seja,
facilmente encontrados, pois possuem essas espécies surgiram, se espalharam
maior possibilidade de serem preservados rapidamente e logo se extínguiram. Hoje,
porque habitam um ambiente favorável seus “restos” podem ser encontrados em
à fossilização — o mar. A viagem que muitos lugares do planeta, fossilizados
fazem para se depositarem em uma em camadas com a mesma idade.
bacia sedimentar é bem menor do que
16
Fósseis do Brasil Devoniano: uma comunidade marinha de
águas frias conhecida como Fauna Malvi-
Durante a Era Paleozóica, há cerca de nocáfrica e composta de animais com
400 milhões de anos, uma parte do Brasil concha (braquiópodes), animais extintos
esteve coberta por um grande mar interior. (trilobites) e estrelas do mar, entre outros.
Ele cobria o território dos atuais estados
de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Fim do Devoniano e Carbonífero:
Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso ocorreu um intenso período de glaciação. O
do Sul, o sul de Goiás e pequena parte de sul do Gondwana e a Bacia do Paraná, que
Minas Gerais. Também cobria o Paraguai, estava localizada nesse antigo continente,
Uruguai e parte da Argentina. Como os ficaram cobertas por grandes massas de
continentes da América do Sul e da África gelo. Com o fim da glaciação, lentamente a
estavam ainda unidos em um grande con- vegetação começou a instalar-se nas áreas
tinente chamado Gondwana (ver A dança secas que rodeavam as bordas do mar, antes
dos continentes, p. 13), esse grande mar cobertas pelos glaciares continentais.
cobria também parte da África do Sul, Encontram-se muitos fósseis das plantas
formando uma enorme bacia sedimentar, que formavam essa vegetação.
onde muitos fósseis foram formados. Em
Permiano: teve origem uma exuberante
razão disso, hoje, nas rochas da porção sul
mata de clima temperado, conhecida como
da Bacia do Paraná (na América do Sul) e da
Flora de Glossopteris, nome de uma planta
Bacia do Karroo (na África), encontramos
fóssil encontrada em toda a porção sul do
muitos fósseis semelhantes. Eles foram
Gondwana. No fim do Permiano, o clima
formados entre os períodos Devoniano
mudou, passando de temperado a semi-
e Triássico e constituem um dos mais
desértico, e a Bacia do Paraná começou a
fascinantes registros de mudanças e de
secar. Aparecem, então, pequenos lagartos
evolução dos seres vivos, dos ambientes e
aquáticos (os mesossaurídeos).
dos ecossistemas no planeta. Veja só: nas
Os mesossaurídeos foram répteis com
bacias do Paraná e do Karroo, portanto
cerca de 60cm de comprimento, estru-
dos dois lados do Atlântico, encontramos
tura frágil e que, possivelmente, alimen-
o seguinte no Registro Geológico:
tavam-se de crustáceos parecidos com
17
camarões atuais. A presença desses la-
18
continentes O mapa da Terra que conhecemos e estudamos já mudou muitas
vezes na história do planeta. Muitas bacias já foram preenchidas
por sedimentos e secaram deixando evidências de mudanças
enormes no clima, na geografia e na distribuição dos seres vivos. Os
, dos
continentes nem sempre estiveram onde se encontram hoje. Eles já
estiveram, por exemplo, reunidos em um grande bloco chamado Pangea
(do grego “todas as terras”). Veja abaixo como os continentes vêm se
“comportando” nos últimos 400 milhões de anos:
A danca
Há 400 milhões de
anos, havia dois
grandes continen-
tes: o Gondwana
(que incluía o que
hoje é a Antártica,
a Austrália, a Áfri-
ca, a América do
Sul e a Índia) e o
Laurásia (formado
pela maior parte
da América do
Norte e da Eurásia O Laurásia e o Gondwana uniram-
- Europa e Ásia). se há cerca de 250 milhões de anos
e formaram o supercontinente
chamado Pangea. Todos os conti-
nentes atuais da Terra estavam
unidos.
O mapa do mundo há
50 milhões de anos
já é parecido com o
atual, mas repare que a
América Central ainda
não tinha se formado.
Ainda hoje os continen-
tes estão se movendo
Há 150 milhões de anos, começa em um ritmo lento e
a se produzir a separação entre imperceptível para nós.
a América do Sul e a África. No
período seguinte, ou Cretáceo,
como produto dessa separação
terá origem o oceano Atlântico. Fresia Ricardi-Branco
Instituto de Geociências, Unicamp
ilustração: Cláudio Roberto
19
Os microfosseis
I
e os
mares
do passado
O ecossistema marinho e sua com-
plexa estrutura sempre foram objetos
As belezas do ambiente marinho sem-
pre impressionaram o homem, porém os
de estudo dos cientistas. Nos campos da cientistas do mar, em cada faceta do seu
Biologia e da Geologia, a importância dos estudo, descobrem nessas maravilhas
oceanos pode ser entendida de algumas importantes pesquisas para a Geologia
formas: os mares foram o berço e o e Biologia marinhas. Os seres e as paisa-
começo da vida, ocupam a maior parte gens marinhas observadas a olho nu
da superfície terrestre e a evolução, no escondem um mundo microscópico igual-
tempo, dos diversos ambientes quase mente belo e sem parâmetros. Nesse
sempre teve uma origem marinha. mundo, incluem-se os microfósseis, repre-
A importância dos mares para o homem sentados por esqueletos e carapaças de
vem não só da sua origem primordial, pequenos habitantes, que ficaram depo-
que é a própria origem da vida, mas sitados nos sedimentos antigos.
também do destino da espécie humana, O estudo dos microfósseis tem uma
devido à excessiva exploração dos larga aplicação na Paleoecologia, que é o
recursos continentais pela Humanidade, estudo dos ambientes onde a vida se
enquanto que os recursos marinhos só desenvolveu no passado, e também na Bio-
agora estão sendo explorados na maioria estratigrafia, que é a datação das cama-
das suas reservas. das antigas de rochas sedimentares atra-
vés do estudo dos fósseis encontrados.
20
Dentre esses pequenos seres marinhos, Através do estudo de classificação
incluem-se os protoctistas ou protistas sistemática, as espécies são conhecidas,
(nanofósseis, radiolários e foraminíferos, podendo identificar o período geológico
medindo apenas dezenas ou centenas de em que viveram, e até o tipo de corren-
microns), formados por célula nucleada. te oceânica ou massa d’água a que per-
Envolvendo, sustentando e protegendo tenceram. A distribuição das espécies
essas células, existem carapaças ou es- estudadas e sua sucessão nas camadas
queletos, que, após a sua morte, permane- de sedimentos antigos fornecem dados
cem nos sedimentos, como testemunhos para a datação dessas camadas no tem-
de sua época. Constituem parte de impor- po geológico, através da Bioestratigra-
tantes registros geológicos, estudados pa- fia, constituindo-se zoneamentos bio-
ra a reconstrução do passado do planeta. estratigráficos.
21
Esses três tipos de microfósseis repre-
sentam um grupo importante para a Geo-
logia. São pequeninas ferramentas geoló-
gicas que fornecem dados utilizados na
Foraminíferos exploração e produção de petróleo, por
exemplo, no estudo de bacias oceânicas
Os foraminíferos são formados de pe- petrolíferas, como a Bacia de Campos, no
queninas carapaças (tecas calcárias) ou estado do Rio de Janeiro.
podem aglutinar partículas de sedimento Além dessa importante aplicação, os
(areia, minerais, conchas de moluscos) em foraminíferos são utilizados para avaliar a
torno do seu citoplasma. Essas carapaças saúde dos ambientes recifais, através de
são formadas por câmaras que se inter- associações de macroforaminíferos (com
comunicam por aberturas chamadas forâ- cerca de 500 microns a alguns milímetros),
men. Podem ser bentônicos, que vivem no ali encontradas.
fundo marinho, ou planctônicos. Possuem Outra aplicação dos foraminíferos está
incrível variedade de formas, que se adap- na avaliação da poluição humana em baías
tam a diversos habitats, como os bentô- e estuários. Por viverem em ambientes cos-
nicos, que podem viver sobre os sedimen- teiros, algumas associações desenvolvem
tos ou dentro dos mesmos, fixos em subs- formas resistentes, multiplicadas em espé-
tratos rochosos ou recifes de corais, ou cies oportunistas, que se adaptam a am-
ainda sobre algas do fundo marinho. Dis- bientes poluídos quando outras espécies não
tribuem-se formando associações adap- resistem e morrem. O estudo dessas espé-
tadas a ambientes costeiros rasos e plata- cies no registro geológico pode fornecer um
formas continentais até grandes profundi- acompanhamento dos níveis de poluição,
dades abissais. Quando bem preservados desde o início do desenvolvimento das
em registros sedimentares antigos, apre- grandes cidades costeiras, como o Rio de
sentam importantes informações sobre Janeiro, às margens da baía de Guanabara.
Paleoecologia marinha e Bioestratigrafia.
Na Paleoecologia, fornecem dados sobre Claudia Gutterres Vilela
profundidade, temperatura, salinidade, Depto. de Geologia
Instituto de Geociências, UFRJ
luminosidade, oxigênio, pH e nutrientes.
22
A geologia
em nosso dia-a-dia
O s geólogos atuam
em diferentes setores
Através de indícios
como vulcões e terre-
e contribuem para o motos, já se descobriu
desenvolvimento do que seu interior está vi-
país. Mas como a socie- vo e cheio de energia,
dade, de um modo ge- em constante transfor-
ral, percebe a atuação mação. Na superfície da
desse profissional, o signi- Terra, há um conjunto de
ficado da Geologia e o que placas rígidas que se movi-
ela representa em nossas mentam em diversas direções
vidas? Afinal, o que fazem os placas tectônicas e, nessa dança dos mares e dos
geólogos? A resposta mais comum continentes, placas se afastam
é que estudam a estrutura da Terra, para e se chocam.
compreender como se formaram os di- A partir da teoria conhecida como
versos tipos de rochas e a sua distribuição “tectônica de placas”, entendemos que
desde a superfície até o interior mais os terremotos mais destrutivos ocorrem
profundo do planeta. nas bordas das placas. O território brasi-
23
leiro localiza-se, aproximadamente, no Esse processo, conhecido como erosão,
centro de uma dessas placas (sul-ameri- é freqüente em terrenos essencialmente
cana) e, por isso, não há registros de arenosos, embora também ocorra em ou-
atividades sísmicas muito intensas, como tros tipos de solos. A erosão pode deixar
as que ocorrem nos países andinos da cicatrizes, levar à perda de solos férteis
América do Sul. As conseqüências dos para a agricultura e avançar sobre cons-
terremotos todos conhecemos, portanto truções, colocando-as em perigo e cau-
pode-se dizer que é mais seguro morar sando prejuízos econômicos, mas rara-
no Brasil do que em muitos outros países! mente causa mortes, pois não se processa
A Terra possui uma dinâmica interna com grande velocidade.
que interfere na parte
externa, onde vivemos. Em
superfície, as rochas e seus pro-
dutos derivados, os solos e os
sedimentos, interagem com a
atmosfera, originando fenôme-
nos que afetam milhões de
pessoas em todo o mundo. O
principal agente desses pro-
cessos externos é a água, que,
em conjunto com o calor,
erosão de rio
“apodrece” as rochas e forma
os solos, um material muito
menos resistente. Assim, as
águas dos rios, da chuva e dos Por outro lado, os escorregamentos (ou
mares são capazes de arrancar partículas deslizamentos) podem ser altamente des-
dos solos (minerais e fragmentos de outras trutivos e velozes. Essas características,
rochas) e transportá-las para bem longe. infelizmente, fazem com que pessoas per-
24
cam suas vidas com freqüência, quando
habitam áreas consideradas de risco.
Em cidades e países organizados, os
geólogos atuam nos órgãos gestores
e indicam áreas seguras e adequadas
para o crescimento das cidades, pro-
tegendo vidas e o patrimônio público.
Mas há situações em que a especulação
imobiliária e a pobreza levam parte da
população a viver em áreas perigosas.
A sua presença nesses locais, cortando barragem
encostas de forma inadequada, lançando
lixo nos morros e entupindo (assoreando) geólogo ajuda a projetar e a construir, ao
rios, aumenta os riscos. No Brasil, as po- estudar os melhores locais em uma bacia
pulações de cidades como Rio de Janeiro, hidrográfica para a implantação de usinas
Petrópolis, Recife e Ouro Preto já se acos- hidrelétricas. Esses locais devem ser aque-
tumaram a ver trágicos acidentes geoló- les onde haja disponibilidade de mate-
gicos, principalmente nos meses de verão. riais de construção (pedra, areia e terra)
Mas não é apenas monitorando, plane- e condições naturais do terreno que per-
jando e executando ações para redução de mitam aproveitar de forma mais econômi-
riscos que a atuação do geólogo pode trazer ca e segura a energia gerada pelos rios.
uma vida melhor para todos. Na área de A energia elétrica também pode ser
energia, indispensável no mundo moderno, gerada nas centrais nucleares, onde o
a Geologia tem um papel fundamental, pois combustível são pastilhas de elementos
há sempre um profissional envolvido na radioativos, como o urânio. Esses elemen-
descoberta de suas fontes ou na produção tos se encontram associados a determi-
da energia consumida diariamente em casa, nados minerais, encontrados em locais
no trabalho e nas ruas. Assim é com a ener- com volume suficiente para seu uso eco-
gia elétrica derivada das barragens que o nômico (jazida). Outra forma de energia
25
Além disso, os metais encontrados em
nosso dia-a-dia derivam de minerais que
os geólogos buscam nas rochas, como, por
exemplo, o nióbio, usado na produção de li-
gas resistentes às altas temperaturas (apli-
extração de pedra
26
o que você sempre
quis saber sobre
as pedras
e nunca teve
a quem perguntar...
E ncontramos pedras em nosso caminho
todos os dias, mas será que já paramos para
ou mesmo na resistência. Podem também
ser formadas por diferentes substâncias ou,
pensar sobre o que é uma pedra? Será que caso tenham a mesma composição, podem
todas são iguais? Qual a diferença entre apresentar uma organização diferente.
pedra e rocha? Pode não parecer, mas há Descrever rochas em detalhes é tão im-
muito o que saber sobre as pedras em que portante que existe até um tipo de geólogo
tropeçamos. especializado em fazê-lo — é o petrólogo!
Para começar, é bom esclarecer que o Além de útil, estudar as características par-
que todos chamam de pedra é, na realidade, ticulares de cada rocha, pode ser muito
o fragmento de uma rocha. E, por mais legal! Elas nos revelam a “história de vida”
insignificante que uma pedra possa lhe de cada rocha — em que condições ela se
parecer, ela sempre tem uma longa história formou e por quais processos passou em seu
para contar... Para descobrir o que está por ciclo de transformações. Revelam também
trás disso, repare: nem sempre duas pedras fatos surpreendentes da história de nosso
são iguais. Elas podem diferir na cor, no brilho planeta.
27
um acúmulo de areia muito grande, o
Rocha tem idade? que faz os geólogos pensarem que, há
Um petrólogo famoso foi o inglês Arthur muito tempo, naquele local, existia uma
Holmes (1890-1965). Ele dizia que “as praia. Quem diria? Segundo os registros
rochas são como páginas da história da nas rochas, São Paulo já teve praia...
Terra”. Ele tinha razão. Afinal, há cerca Indiretamente, também a história da
de 4,6 bilhões de anos, quando se formou vida na Terra pode ser “lida” nas rochas,
o nosso sistema solar, as rochas vêm se pois nelas se encontram os fósseis. De
transformando ou sendo “escritas” ao acordo com as técnicas para a datação
longo da história da Terra. de rochas, as rochas mais antigas da Terra
Nas rochas estão os principais registros têm cerca de 4 bilhões de anos. As rochas
do que ocorreu no passado do nosso mais antigas com evidências de vida
planeta, há milhões ou bilhões de anos. (marcas fósseis) têm mais de 3 bilhões de
Mas também em cada pequena amostra anos. As rochas com as primeiras marcas
de rocha ou nos pontos em que elas estão de existência de plantas terrestres têm
expostas (como em barrancos, cortes de cerca de 400 milhões de anos e as rochas
estrada e pedreiras), encontramos sinais com vestígios dos primeiros dinossauros
do que aconteceu no planeta e naquela têm cerca de 240 milhões de anos; e assim
rocha em especial. Quer um exemplo? por diante... A evolução dos seres vivos
Aí vai: as rochas que formam o Pico do na Terra ficou registrada nas sucessivas
Jaraguá, na cidade de São Paulo, mostram camadas de rocha que se formaram.
formação rochosa
28
,, ,, ambiente ou se as condições ambientais
O nascimento mudarem, ela iniciará um processo de
de uma rocha adaptação às novas condições. Como esse
processo é lento e leva muitos anos para
Falar que uma rocha nasce não é
ser concluído, não pode ser percebido
exatamente correto! Pense bem: em
pelos nossos sentidos. Daí não podermos
geral, quando dizemos que algo nasce,
observar o surgimento das rochas.
estamos nos referindo a um ser vivo.
Como minerais e rochas são inanimados,
é errado dizer que eles nascem... O ,, ,,
mais correto é dizer que rochas surgem A extincão
, das rochas
de uma reorganização de materiais pré-
existentes. Para os casos em que uma rocha inicial
O cascalho e a areia de um rio, por deixa de existir e dá lugar a uma nova rocha
exemplo, não são rochas, mas se forem ou ao solo, já sabemos que um bom termo é
soterrados, comprimidos e compactados transformação. No entanto, há rochas que
por longo tempo se transformarão em não se transformam, elas simplesmente
uma. Transformação é um bom termo! deixam de existir... Como assim?
Rochas surgem da transformação de Pense, por exemplo, em rochas que
outras, quando o ambiente se modifica. surgiram há alguns bilhões de anos, como
Os componentes da rocha inicial, que resultado das condições ambientais que
estavam ajustados às condições de existiam na Terra naquele período. Elas
pressão e temperatura de um local, foram formadas no início da história do
transformam-se em outros, quando as planeta e não podem mais ser formadas
condições se modificam. O resultado é na atualidade, porque as condições
a formação de uma nova rocha, a partir ambientais mudaram.
da transformação da rocha antiga. Os depósitos de ferro das jazidas do
Por isso, podemos dizer que cada ro- Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais,
cha, durante sua formação, é testemunha por exemplo, foram formados há cerca de
das condições do ambiente em que foi 3 bilhões de anos, quando ainda não existia
formada. Se a rocha for colocada em outro oxigênio livre na atmosfera da Terra. Nas
29
condições ambientais atuais, em que a
atmosfera contém 21% de gás oxigênio,
não são formadas as mesmas quantidades
de ferro. Isso significa que essas rochas
podem desaparecer da face da Terra,
caso sejam totalmente transformadas a areia se transforma
numa rocha chamada
pela ação humana, porque nunca mais arenito
serão formadas naturalmente.
30
de ouro. Se não são abundantes, como estes
Rochas, minerais metais podem ser extraídos dos minerais
e minérios: qual a das rochas para fazer parte de materiais
diferenca?
, por nós utilizados?
Grandes concentrações de minerais
As rochas compõem-se de um agrega- contendo metais importantes não são
do de minerais que são constituídos por encontradas facilmente na superfície
um ou mais elementos químicos que se terrestre, pois dependem de raros fenô-
combinam de forma organizada na sua menos geológicos. Eles são encontrados
estrutura interna. Todos os metais que apenas em certos locais, chamados depó-
utilizamos, como o ferro, o manganês, sitos minerais, cujas condições favorece-
o alumínio, o cobre, o ouro, o chumbo, ram o seu acúmulo nas rochas em quan-
e muitos outros, são extraídos dos tidades muito superiores à sua concen-
minerais. Porém, o mais interessante é tração média. Logo, depósitos minerais
que os metais úteis não são abundantes são concentrações de minerais na crosta
na crosta terrestre e, geralmente, terrestre a partir dos quais é possível a
ocorrem em quantidades muito pequenas extração de metais ou compostos úteis
na estrutura dos minerais mais comuns para a sociedade. Por exemplo, o chumbo,
das rochas. Por exemplo, o o zinco e o cobre podem ser extraídos
cobre ocorre na crosta em dos seguintes minerais: galena (sulfeto de
uma concentração de chumbo), esfalerita (sulfe-
0,005% e o ouro de to de zinco) e a calcopi-
0,0000005%. Para rita (sulfeto de ferro e
se ter uma idéia, cobre). Se a extração
imagine que de do metal destes mine-
cada um bilhão rais for viável econo-
(1.000.000.000) de micamente, ou seja,
átomos na crosta, se houver lucro, a
apenas 50.000 são concentração de mi-
de cobre e 5 são exemplares de rochas
nerais nas rochas é
31
considerada minério. Na realidade, então, uma observação: ele deve ter reparado
o minério é uma rocha, pois é formado que certas pedras verdes derretiam e
por minerais, mas é uma rocha que tem liberavam um metal avermelhado quando
valor econômico. colocadas diretamente no fogo. Essas
pedras, na realidade, são compostas de
um mineral de cobre chamado malaquita
A extracão dos e, quando aquecidas, liberam o cobre.
Descoberto o segredo, a extração de
metais das rochas cobre, a partir da malaquita e outros
minerais de minérios, tornou-se comum.
O uso de alguns metais é muito antigo
na história da humanidade. Há quase dez
mil anos o homem já usava o cobre no
Oriente Médio. Foi um dos primeiros metais
utilizados para confecção de objetos, armas
e ferramentas. Imagina-se que o uso do
cobre se iniciou quando ele foi encontrado
hematita
em sua forma metálica, pura ou nativa, na
superfície da terra. Mas não é sempre que
isso acontece. A maior parte do cobre é Nem todos os metais, porém, têm
encontrada na forma de minérios, fazendo extração fácil assim. O ferro, por exemplo,
parte de outras substâncias minerais. Para é encontrado em minerais, como a
extraí-lo e ampliar o seu uso, a humanidade magnetita e a hematita, combinado com
precisou desenvolver processos cada vez outros elementos, principalmente com
mais eficientes. Por isso, os registros o oxigênio. Para extraí-lo, não basta
mostram que, apesar de conhecido há mais aquecê-lo. É necessário aquecê-lo em
de dez mil anos, o cobre só passou a ser contato com carvão, produzindo, dessa
utilizado em maior quantidade há cerca de forma, uma liga de ferro e carbono. Por
oito mil anos. isso, o uso do ferro só se tornou comum
Uma hipótese é de que o homem tenha muito depois do cobre, há apenas 3.500
aprendido a extrair o cobre a partir de anos. Nessa época, nos arredores do Mar
32
Negro, descobriu-se que era necessário Quando pensamos em contaminação, o
aquecer uma mistura de ferro e carvão perigo é um pouco maior. Rochas graníti-
para obter uma liga mais resistente do cas, que, normalmente, possuem potássio
que as de cobre. em sua composição, são comuns na natu-
Atualmente, para se obter o ferro, em- reza. Acontece que o isótopo radioativo
pregam-se fornos especiais (altos-fornos), do potássio, que costuma existir junto aos
nos quais as temperaturas são muito não radioativos, emite energia radioativa
altas. O minério é moído e aquecido em que, em excesso, pode causar danos à
altas temperaturas formando um líquido saúde humana. Isso pode ser considerado
vermelho e incandescente, chamado ferro- um tipo de poluição natural, para o qual
gusa. O ferro-gusa é formado de ferro e não existe prevenção possível, já que
carbono. Quando o excesso de carbono é essas rochas encontram-se naturalmente
eliminado do ferro-gusa, forma-se o aço, nos ambientes. Em locais onde há esse
tão utilizado na fabricação de máquinas, problema, deve existir acompanhamento
automóveis, ferramentas, utensílios do-
mésticos, na construção civil, e em mais
uma infinidade de processos.
Rochas que
trazem perigo
Só podemos falar em perigos relaciona-
dos a rochas, se pensarmos em termos de
acidentes e de contaminação.
Áreas com grandes rochas expostas,
cortes em estradas ou pedreiras estão
deslizamento
sujeitas a queda ou rolamento de pedras
que podem ser bastante destrutivos. Mas
bastam alguns cuidados preventivos e se
torna muito fácil evitar o problema.
33
constante dos efeitos da radioatividade nas pessoas. O acúmulo de arsênio e
sobre a população, e, como se sabe, os cui- chumbo pode causar problemas de saúde
dados com o povo dependem dos padrões e até mesmo a morte.
sanitários de cada país. É bom lembrar, porém, que as mes-
Um exemplo de poluição natural causado mas propriedades que estão sendo consi-
por rochas acontece em algumas regiões deradas perigosas, como a radioativi-
do Brasil. Há pouco tempo, constatou-se dade, por exemplo, podem ter algo
a existência de chumbo e arsênio — dois de positivo: certos locais com elevada
elementos tóxicos — em quantidades supe- radioatividade natural muitas vezes
riores às normais, na urina e no sangue das tornam-se estações hidrominerais, pro-
pessoas que moram próximas a certos rios curadas pelos efeitos benéficos de suas
na Amazônia. Também os peixes desses rios águas. Também é importante saber que
estavam contaminados. Como nesses locais na natureza existem mecanismos para
não há garimpo (em geral, o culpado pela controlar possíveis excessos. Se o equilí-
contaminação do ambiente por metais brio natural for mantido, o perigo será
pesados) ficou a dúvida: qual a origem da reduzido.
contaminação? Estudos realizados na região Você entende, agora, por que existem
mostraram que é bem possível que o arsênio profissionais, como os geólogos, que es-
e o chumbo se originem das rochas locais. tudam em profundidade as rochas, os
A água subterrânea dissolve os minerais e como eles se formam na cros-
minerais, extraindo deles os metais que ta terrestre? Pois é, agora, você também
contêm. Quando essa água aflora, alimen- vai passar a olhar as pedras à sua volta
tando os igarapés, contamina natural- de uma maneira diferente, não vai?
mente as águas superficiais. Plantas e
microorganismos absorvem os metais
pesados da água, que passam, assim, a
Pedro Wagner Gonçalves
fazer parte da cadeia alimentar. Todos Depto. de Geociências Aplicadas ao Ensino
os animais têm dificuldade de eliminar Roberto Perez Xavier
metais pesados, por isso eles se acumu- Depto. de Metalogênese e Geoquímica
lam nos peixes, em outros animais e até Instituto de Geociências, Unicamp
34
Colecões
, de
rochas e
minerais
V ocê já teve um aquário de peixes
ornamentais? Muita gente gosta de tê-
Muito além da beleza
los em casa para apreciar a variedade Na verdade, o reino Mineral sempre
de cores e formas desses animais. Outras fez parte de nossas vidas. Toda a vida
pessoas preferem plantas, cultivando-as na Terra está fundamentada nele: são
em casa para admirá-las de perto. Outras os minerais que, associados entre si,
ainda gostam de observar pássaros e constituem as rochas, que são a base
borboletas na natureza. Assim como os física para todas as formas de vida que se
seres vivos, também os minerais têm conhece, incluindo a nossa própria, e que
grande diversidade de cores, brilhos tornam possível seu desenvolvimento.
e beleza, e podem ser deslumbrantes Em segundo lugar, os minerais, quando
quando observados com atenção. Por isso absorvidos pelas plantas, acabam por
muita gente gosta de coleções de pedras fazer parte da cadeia alimentar e,
e, por isso tantos minerais são usados assim, fazem parte também de toda a
como jóias e objetos de decoração. vida existente no planeta.
35
Como matéria-prima, os minerais partir do petróleo, que não é mineral, e
também estão presentes em nosso os tecidos naturais e a madeira, que são
dia-a-dia. Quase todos os produtos produzidos a partir das plantas, todo o
inorgânicos que utilizamos, sejam eles resto é resultado da industrialização e do
naturais ou artificiais, são constituídos beneficiamento de minerais. O tijolo, a
por minerais que podem ser encontrados areia e o cimento das paredes, as telhas,
naturalmente na superfície da Terra. Ou as ferragens dos muros e as esquadrias
então, por substâncias produzidas pelas metálicas das janelas, o piso cerâmico e
transformações naturais ou artificiais os azulejos que revestem as paredes, os
(induzidas pelos homens) desses minerais. vidros, a pia de mármore ou granito, o
Olhe para o interior da casa em que fogão e a geladeira, os talheres, a louça
mora e você terá uma confirmação disso. e os outros utensílios de cozinha, as tintas
Veja só: tirando os e a cal e muitas outras coisas de nossas
plásticos, que são casas são produtos obtidos, direta ou
produzidos a indiretamente, do reino Mineral.
36
Os recursos minerais foram fundamen-
tais para a humanidade desde que ela
Os minerais
começou sua aventura na Terra, desde o O que é um mineral, afinal? Se você
tempo em que o homem pré-histórico tri- tivesse que defini-los para alguém, o que
lhava enormes distâncias atrás de sílex poderia dizer? Será que existem minerais
(um tipo de mineral) para confecção de de espécies diferentes, como animais e
suas ferramentas. Eles são tão importantes plantas? Como os minerais se agrupam para
que a evolução da civilização costuma ser formar as rochas da crosta terrestre?
dividida em fases cujos nomes se baseiam O nome mineral vem do latim “mina”.
nos avanços na utilização de minerais pa- Os romanos utilizavam essa palavra para
ra a confecção de instrumentos. dar nome aos poços ou galerias de onde
Nos primórdios da humanidade está a extraíam as substâncias utilizadas em
Idade da Pedra, que pode ser dividida em construções ou na confecção de ins-
Idade da Pedra Lascada, quando os ins- trumentos e utensílios diversos, como
trumentos não passavam de lascas de ferramentas, vasos e objetos de adorno.
pedras, e Idade da Pedra Polida, quando Assim, em uma primeira definição, po-
os homens aprenderam a polir as pedras de ser considerado mineral tudo o que se
para dar a elas formas de acordo com suas extrai de minas.
necessidades. Quando o homem aprendeu Com a evolução da exploração de mine-
a obter metais dos minérios, sucederam- rais, percebeu-se que existiam locais que
se as Idades do Ferro e do Bronze. Na acumulavam grandes quantidades de cer-
atualidade, estamos em plena Idade to tipo de mineral, e que diferentes luga-
do Alumínio, do Silício e das Cerâmicas res, a grandes distâncias uns dos outros,
Semicondutoras. podiam conter os mesmos minerais. Per-
cebeu-se que os minerais ou “pedras”
podiam ser classificados por tipos ou espé-
cies conforme as características físico-
químicas que apresentavam, não importa
se vinham de um único local ou de locais
diferentes. Assim, minerais de mesmo tipo
37
Tipos de cristalização
(ou espécie) eram os que apresentavam as cristais, formas geométricas perfeitas, que
mesmas características, ou seja, apresen- apresentam simetria. Existem seis tipos
tavam o mesmo tipo de cristalização, a de organização de cristais (veja o quadro
mesma dureza, a mesma densidade, igual acima), ou seja, seis tipos de cristalização,
resistência e iguais propriedades ópticas. dependendo do número, do comprimento
Isso acontece porque são formados pelas e da posição de seus eixos.
mesmas substâncias, ou seja, cada tipo tem
uma composição química definida.
Portanto, se você agora quisesse definir Como se formam os cristais?
mineral, poderia dizer que mineral é toda
Os cristais são formados na natureza
substância sólida não viva encontrada quando acontece o resfriamento de um
naturalmente na crosta terrestre, com uma material sólido fundido. Ou quando um
composição química definida e caracte- líquido que contenha um mineral dissolvido
rísticas físico-químicas que não mudam. se evapora lentamente.
O diamante, o ouro e o quartzo são três ti- À medida que o líquido evapora, o mineral
pos de minerais, e existem muitos outros. forma cristais. Quanto mais lentamente
Vários minerais diferentes podem agrupar- o líquido se evapora, maior será o cristal
se formando estruturas maiores, as rochas. formado.
A maioria dos minerais possui estrutura Se você quiser observar a formação de
cristalina. Ou seja, são formados por par- cristais em sua casa, dissolva uma colher
tículas (os átomos) que ocupam posições de sal de cozinha (um mineral) em um
bem definidas e formam estruturas bem pires de água e coloque a solução perto de
uma janela. Deixe que a água evapore por
organizadas, dando origem aos belíssimos
alguns dias e veja o que acontece.
38
Existem mais de três mil espécies de mi-
Os principais tipos nerais no mundo, mas se você for analisar
de minerais quantas, desse total, são responsáveis pela
constituição das rochas da crosta terrestre,
O homem é um incansável classificador, e
terá uma surpresa. Descobrirá que pouquíssi-
também para os minerais criou sistemas de
mos minerais formam as rochas.
classificação. Eles são, em geral, agrupados
Veja na tabela quais são os principais
em classes de acordo com sua composição
minerais:
química. Veja na tabela a seguir, exemplos
das principais classes de minerais:
Tipos de rochas Constituição mineral
elementos nativos ouro, prata, enxofre
(praticamente puros) Graníticas Principalmente feldspato (silica-
e gnáissicas tos de sódio, cálcio e potássio)
sulfetos pirita, galena, esfalerita e quartzo (óxido de silício), com
alguma coisa de mica (alumino-
sais halóides sal de cozinha silicato de sódio, cálcio e potás-
sio) e anfibólios e piroxênios (alu-
óxidos óxido de ferro, chamado mino-silicatos de cálcio, ferro,
hematita magnésio, manganês, sódio e
potássio)
carbonatos calcita, dolomita, mala-
quita Mármores Quase que exclusivamente calci-
e calcários ta (carbonato de cálcio), mas, às
silicatos berilo, topázio, quartzo, vezes, contêm alguma quanti-
turmalina, minerais de ar- dade de dolomita (carbonato de
gila e muitos outros cálcio e magnésio)
Micaxistos Mica
e magnésio)
39
outros colecionadores ou, em último caso,
O prazer de adquirindo-os em lojas, minas e de outros
colecionar minerais comerciantes de pedras.
Para quem se interessa por minerais,
Quase tão variados como são os minerais,
não existe lugar melhor que o Brasil, que
são os motivos que levam alguém a organizar
possui grande abundância de minerais,
uma coleção deles. Os minerais podem
principalmente os associados às gemas
ser decorativos, apenas, ou, até mesmo,
e pedras de coleção. Praticamente não
instrutivos. Podem trazer alegria e “elevar
existe um estado sequer de nosso país que
o astral” de quem se dedica a colecioná-los.
não tenha garimpos ou extrações de ao
É muito bom poder ter, em sua própria casa,
menos um tipo de pedra.
cristais coloridos e reluzentes, que vieram
E se você puder viajar, terá a oportuni-
de diferentes locais do mundo, organizados
dade de visitar feiras de gemas e minerais,
em uma vitrine. São a melhor lembrança que
onde poderá apreciar e adquirir amostras de
se pode ter de lugares visitados e pessoas
beleza inimaginável e qualidade digna dos
distantes, pois são duradouros, tornando
maiores museus do mundo. Existem cores,
duradouras as recordações de momentos e
formas e cristalizações deslumbrantes. Em
aventuras vividas.
exposições ou na própria natureza, você
Experimente! Poderá ter uma agradável
também poderá ver grupos de cristais
experiência, e, “de quebra”, você poderá
que formam esculturas fantásticas.
aprender muito organizando uma coleção.
Elas foram elaboradas pela natureza no
Verá como se pode ter prazer ao ver sua
interior da Terra há milhões de anos e
coleção aumentar lentamente e (quem
são os testemunhos dos lentos processos
sabe?) daqui a alguns anos, você talvez
tectônicos que fazem da Terra um planeta
tenha uma coleção digna de um museu
único e maravilhoso.
de minerais. Você pode conseguir os seus
minerais de diversas maneiras: coletando-
os em minas, pedreiras, cortes de estradas, Andrea Bartorelli
afloramentos de rocha, trocando-os com geólogo, colecionador de minerais e gemas
40
A genealogia
do petroleo
I
O petróleo é uma mistura de diversos
componentes, principalmente de carbono
damental de organismos vivos). Atual-
mente, geólogos e geoquímicos atribuem
e hidrogênio (hidrocarbonetos) e quanti- origem orgânica para o petróleo, mas não
dades menores de oxigênio, nitrogênio e contestam a existência de hidrocarbo-
enxofre, encontrado no estado gasoso ou netos por processos inorgânicos.
líquido, em seu reservatório natural. Em A natureza complexa do petróleo é re-
sua composição, as frações leves das ca- sultado de mais de 1.200 combinações de
deias de hidrocarbonetos formam os gases hidrocarbonetos, formados por proces-
e as pesadas formam o óleo cru. A distri- sos de decomposição e transformação
buição desses percentuais é que define os de matéria orgânica (restos de vegetais
tipos de petróleo existentes no mundo. e microalgas marinhas e de água doce)
Suas principais formas são: gás natural durante centenas de milhões de anos.
(não condensa em temperatura e pressão As condições para sua formação são: a
normais), condensado (gasoso em sub- presença de quantidade e qualidade
superficie; condensado em superfície) e adequadas de matéria orgânica e a sub-
óleo bruto (parte líquida). missão dessa matéria a temperaturas
Para explicar a gênese do petróleo, elevadas para conversão em hidrocar-
após séculos de pesquisas e experimen- bonetos gasosos e líquidos.
tações, duas classes de teorias foram ide- Embora semelhante à composição do
alizadas: inorgânicas (sem intervenção de carvão, possui características especiais:
organismos vivos) e orgânicas (papel fun- por ser fluido, pode migrar para além de
41
quenas, aumentando, sem alteração es-
trutural, em torno de 100ºC. Mas, ao atin-
gir 150ºC, ocorre o craqueamento (quebra
das moléculas), gerando petróleo.
Além do gradiente geotérmico, que
varia em cada bacia sedimentar, o tempo
também é importante, pois diferentes
volumes de petróleo são formados de
microfósseis - camadas de rochas
rochas geradoras similares, sujeitas à
imagem cedida pela Petrobras mesma temperatura, mas em intervalos
de tempo diferentes.
sua fonte geradora e acumular-se em es-
Após sua geração, o petróleo passa por
truturas sedimentares. O petróleo ocorre
processos de migração (da rocha geradora)
normalmente em rochas sedimentares
e acumulação (rocha reservatório). Seu
depositadas sob condições marinhas
destino depende do conduto em que está
As rochas geradoras são finas (folhe-
se movendo e da natureza e eficiência
lhos) e contêm cerca de 90% da matéria
da trapa (armadilha para aprisionar o
orgânica. O maior volume dessas rochas
petróleo), que inclui rocha reservatório
é juro-cretácica, períodos responsáveis
(porosa e permeável) e rocha selante
por mais de 70% dos recursos mundiais
(impermeável), capazes de impedir a
de petróleo. A principal fonte de óleo
migração ou armazenar petróleo em sub-
cru é o fitoplâncton (microalgas mari-
superficie.
nhas e de água doce), presente em
Fonte de energia não-renovável e
restos de plantas terrestres, bactérias e
matéria-prima da indústria petrolífera e
zooplâncton.
petroquímica, a origem do petróleo é,
A formação de petróleo e gás natural
para muitos pesquisadores, um dos mis-
não depende apenas da composição da
térios mais bem guardados pela natureza.
matéria orgânica, mas também do au-
mento de temperatura em sub-super-
ficie (gradiente geotérmico). Em torno
João Graciano Mendonça Filho
de 50ºC, as quantidades são muito pe- Depto. de Geologia
Instituto de Geociências, UFRJ
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O que torna a procura por
petróleo e gás natural
tão especial?
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plataforma exploração Bacia de Santos
bacias sedimentares. No Brasil, ao longo
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Experimentos
divertidos
Pegadas As pegadas de dinossauros são hoje um dos
únicos vestígios da passagem desses animais
Como fazer:
1
Preparação da forma. Se a areia
estiver seca, umedeça-a, até fi-
car boa para a modelagem. Des-
peje-a na forma.
3
Do que Com o punho fechado, compacte to-
você precisa: da a superfície da areia, socando
1 forma de bolo bem. Alise-a novamente com a ré-
1 quilo de areia
gua. Deixe sem cobrir de areia os quatro
1 quilo de gesso*
1 litro de água cantos da forma para ter um lugar onde
4
1 pote plástico para misturar pegar na hora de desenformar.
1 colher de pau pequena
1 régua Para moldar o pé. Coloque
1 pincel macio médio a forma no chão, ao lado de
*compre gesso de estuque uma mesa. Apóie-se na mesa
em casa de material de e coloque lentamente o pé
construção
sobre a areia. Em seguida
retire o pé com cuidado.
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5 Para moldar a mão. Coloque a forma so-
bre um banquinho de cozinha. Coloque a
mão lentamente sobre a areia, faça
6
pressão para baixo. Depois retire a mão com cuidado.
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Preparação do gesso. Despeje um litro de
é grande. Faça o seguinte:
água no pote para a mistura. Em seguida
despeje devagarinho ½ quilo de gesso e
Coloque uma proteção de papelão ou ma-
aguarde um minuto.
deira ao redor da pegada, com cerca de dez
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Depois misture bem o gesso com água, com a centímetros de altura, deixando-a um pouco
ajuda da colher de pau (fazendo movimentos afastada da pegada propriamente dita (como
circulares, como quando misturamos a massa se fosse uma moldura para a pegada). Passe
de um bolo), até fazer uma massa uniforme. óleo em toda a superfície da pegada (pode ser
óleo de cozinha ou vaselina).
9 Sem perder tempo (mas com calma), despeje a
massa na forma a partir do canto (bem devagar
mesmo, de modo a não derrubar a areia e nem fazer
Recorte várias tiras de pano (de preferência
sacos de estopa ou aniagem). Prepare o gesso
bolhas no gesso).
e nele misture as tiras de pano. Com essa
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Espere trinta minutos até o gesso en- massa, preencha toda a pegada, até atingir
durecer e retire a figura moldada. Para a proteção que você colocou ao redor dela.
tirar o excesso de areia, use o pincel. Espere secar e desenforme.
Atenção: não jogue água com gesso na pia.
Atenção: se você achar uma pegada fóssil,
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Do que você precisa:
Visite uma marmoraria e converse com os res- Nesses lugares, costumam sobrar restos de
ponsáveis pelos trabalhos de corte e polimento rochas que são imprestáveis para eles, mas im-
de rochas. Pergunte quais são os tipos de rocha portantes para quem quer montar uma coleção.
mais utilizados e como se distinguem umas das Procure recolher alguns pedaços descartados
outras. Mas, cuidado! Seja crítico em relação à de rochas. Escolha pedaços relativamente pe-
resposta, pois, para eles, geralmente, só há dois quenos e que tenham faces quebradas (não
tipos de rochas: o granito e o mármore — que são serradas). Nessas superfícies, podem ser obser-
os nomes comerciais das rochas de revestimento vados os minerais que constituem a rocha,
mais comuns. Assim, qualquer “pedra” que não geralmente, cristais, cujas faces planas refletem
for um “granito”, provavelmente será chamada, a luz, dependendo de como estiverem sendo
por eles, de “mármore”. iluminadas.
Como fazer:
1 Escolha uma ou mais amostras que lhe agradem
mais e tente fazer um esboço do que está vendo.
Se a amostra que separou for daquelas normalmente
2 Examine a rocha com uma lupa. Se conseguir
perceber alguma orientação dos cristais,
isso pode significar que a rocha é metamórfica.
chamadas de “granito”, faça algumas observações. Se a rocha não possuir qualquer cristal visível
Lembre-se de que: a olho nu, isso pode significar que é uma rocha
vulcânica, porque o rápido resfriamento não
a) rochas vulcânicas formam-se a partir da
permite a formação de cristais de tamanho
solidificação de material fundido que, através de
razoável.
fendas e crateras de vulcões, atingiu a superfície;
b) rochas plutônicas formam-se a partir de
resfriamento de material fundido, durante milhões
de anos, no interior da crosta terrestre;
3 Se a amostra escolhida for classificada
como “mármore”, você também pode fazer
observações, mas saiba que muitas dessas
rochas não são mármores verdadeiros. Mármo-
c) rochas metamórficas formam-se da
res são rochas metamórficas, compostas por
transformação de uma rocha pré-existente sub-
microcristais de um mineral chamado calcita,
metida a variações de temperatura e pressão,
identificado sem dificuldade porque podemos
abaixo da superfície terrestre;
riscá-lo facilmente com um canivete e porque
d) rochas sedimentares formam-se a partir “efervesce” quando atacado por algum ácido.
da consolidação de sedimentos depositados em
camadas na superfície terrestre.
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Reciclando
petróleo pterossauro
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Do que você precisa:
1 garrafa PET de 2 litros, tesoura, linha, caneta
para retroprojetor de ponta fina, martelo, prego, a
dinórnis
tampa da garrafa, o anel da garrafa e os moldes dos
animais (desenhados nestas páginas)
perereca
Como fazer:
3
Com o prego,faça
2
Recorte a parte de cima da um furo no fundo
1
Recorte a garrafa como nas garrafa em forma de espiral, e seis na lateral
fotos. Separe a parte que pa- como uma casca de laranja. da parte de baixo da
rece uma folha curva. garrafa, e mais dois na
tampa.
5
Depois disso, atarra-
4
xe a parte de cima da
6
Amarre com a linha, na parte de garrafa na tampa.
cima, o anel e, no fundo, a tam- Agora, com a parte
pa. Os fios passam pelos furos. da garrafa que foi
Deixe a tampa encostada no fundo separada, desenhe as
da garrafa e corte o excesso de fio. silhuetas dos animais do
molde e depois recorte.
8
No final, o seu
móbile de Tempo
Geológico vai fi-
7
car com esse visual.
Fure cada uma das silhue- libélula
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Dobre trilobitas
Como fazer:
1 Copie a matriz abaixo em uma folha de
papel. Dobre para trás as linhas 1 e 2.
4
2 Dobre as linhas 3 para trás e
depois volte à posição inicial.
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Documentários Discovery Channel/EUA Inst. Virtual de Paleontologia do Rio de Janeiro
A origem do homem (2001) www.ivprj.com
Por dentro das avalanches (2000) Museu da Terra e da Vida
Quando os dinossauros reinavam na Terra (2001) www.mfa.unc.br/cenpaleo
Série Dino Planet – A jornada de Tip / Museu de Geociências da USP
As aventuras de Pod (2004) www2.igc.usp.br/museu/home.php
Terra: um planeta fascinante (2002) Museu de Minerais e Rochas “Heinz Ebert”
Terremotos e colisões cósmicas: o homem e a www.rc.unesp.br/museudpm
ciência contra o inevitável (2003) Museu de Paleontologia
Tsunami: os segredos das ondas gigantes (2005) da Universidade Regional do Cariri
Tudo sobre vulcões (2005) www.museu.urca.br
Museu de Paleontologia de Monte Alto
Institucionais www.montealto.sp.gov.br/index.php?url=turismo/museu_pale
Petróleo! Petróleo! (Petrobras, 2004) Museu de Paleontologia Vingt-Un Rosado
Retomada dos levantamentos geológicos básicos www.esam.br/paleontologia
(CPRM, 2005) Museu dos Dinossauros - Peirópolis
http://acd.ufrj.br/geologia/sbp/ceprice.htm
Museu Geológico Valdemar Lefèvre
www.mugeo.sp.gov.br
Museu Nacional
www.museunacional.ufrj.br
O Planeta Terra - Geociências na Escola
A Importância da Geologia na Educação Salto para o Futuro - TVE
www.ofitexto.com.br/5pedrinhas www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2007/ptge/index.htm
Ciência Hoje Petróleo
http://cienciahoje.uol.com.br www.comciencia.br/reportagens/petroleo/pet01.shtml
Departamento de Geologia - UFRJ Programa Nacional da Racionalização do Uso dos
www.geologia.ufrj.br Derivados do Petróleo e do Gás Natural
Departamento de Recursos Minerais RJ www.conpet.gov.br
www.drm.rj.gov.br Serviço Geológico do Brasil
Departamento Nacional de Produção Mineral www.cprm.gov.br
www.dnpm.gov.br Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Educational Resources www.unb.br/ig/sigep/sitios.htm
www.chronos.org/education/elementary.html Terra Planeta Vivo
Espaço Conhecer Petrobras http://domingos.home.sapo.pt
www2.petrobras.com.br/espacoconhecer/index.asp The Paleontology Portal
Geologia – USP www.paleoportal.org
www.igc.usp.br/geologia XX Congresso Brasileiro de Paleontologia
Iniciação à Paleontologia e à História da Terra www.xxcongressobrasileirodepaleontologia.com
http://fossil.uc.pt
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Publicação concebida especialmente para a exposição Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro.
Suas 56 páginas foram compostas com fontes Flubber e Trebuchet, em papel offset 90g, e a capa, em cartão
supremo 250g. Encarte produzido em papel couché matte 90g. Projeto gráfico elaborado por Elisa Folly,
Ivan Faria e Paula Wienskoski. Impressão em setembro de 2007 com tiragem de 5.000 exemplares.
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