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Macroeconomia I 1E201 2010/11 materiais complementares

4. A procura do sector privado


4.1. Consumo

Materiais complementares

Nota

Este ficheiro apresenta um conjunto de materiais que complementam, em alguns


aspectos, as matérias leccionadas na secção 4.1 Consumo do capítulo 4. A procura
do sector privado de Macroeconomia I 1E201 2010/11.

Estes materiais estruturam a matéria em torno da função Consumo e formalizam


analiticamente alguns tópicos que não foram formalizados nas aulas. Podem
contribuir para a melhor compreensão dos tópicos em causa. Contudo, a avaliação
de 1E201 2010/11 incidirá sobre a matérias tal como foram leccionadas nas aulas e
constam dos respectivos slides de apoio e do manual (designadamente Burda &
Wyplosz, 5ª Edição, Capítulo 8).
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- Função consumo Keynesiana (Keynes, 1936):

C = C0 + c Y d
- Consumo autónomo (C0)
- componente exógena
- independente do rendimento disponível
- neste modelo, variações na confiança dos consumidores são captadas por uma
alteração da ordenada na origem
- para níveis baixos do rendimento, o modelo prevê poupança negativa:
S = ─ C0 + (1─c) Y d

- Propensão marginal ao consumo (c)


- c = dC / dY d , 0 < c < 1
- a propensão marginal ao consumo tende a ser elevada,
- c afecta positivamente o multiplicador da procura agregada

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- Consumo, poupança e rendimento disponível, segundo a função consumo de


Keynes.

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- Previsão do modelo: a propensão média a consumir ( C / Y d ) diminui com o


rendimento disponível, ou seja:
- a taxa de poupança (S/Yd) aumenta com o rendimento disponível
- famílias com Yd superior têm uma maior taxa de poupança.

- Empiricamente, o modelo Keynesiano do consumo apresenta falhas:


- análise cross-section:
- acontece que famílias com maior rendimento poupam mais; famílias com menor
rendimento poupam menos, podendo acontecer que têm poupança negativa
- no curto prazo, o modelo prevê que a taxa de poupança caia numa recessão e
aumente numa expansão.

- análise time-series:
- ao longo das décadas, a propensão média ao consumo tem-se revelado
relativamente estável;
- Kuznets encontrou evidência empírica para a estabilidade da propensão média a
consumir nas décadas subsequentes à II Guerra Mundial; nos anos 50 e 60, o Y d
cresceu a um ritmo sustentado na Europa e nos EUA, mas esta evolução não
conduziu a um aumento da taxa de poupança
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- Conclusão:
- O modelo de Keynes é incompleto, não capta aspectos fundamentais do consumo
agregado, particularmente num horizonte de longo prazo.

- Vamos estudar outros modelos:


- Teorias do consumo agregado:
- Rendimento permanente
- Ciclo de vida
- Expectativas racionais e random walk

- Mas antes, vamos observar alguns dados estatísticos para a economia dos E.U.A.

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- E.U.A.: Consumo, poupança e rendimento disponível – cross-section


- Os resultados de uma análise cross-section para os EUA, na figura abaixo,
corroboram a previsão da função consumo de Keynes.

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- E.U.A: Consumo, poupança e rendimento disponível - time series


- A função consumo de Keynes não explica a evolução de longo prazo da taxa de
poupança.

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3.3. Rendimento Permanente e Ciclo de Vida


- Referências bibliográficas:
- Gordon, capítulo 15, pontos 4-5
- Burda e Wyplosz, capítulo 6, ponto 2

- Em geral, os indivíduos e as famílias gostam de manter um nível de consumo


estável ao longo do tempo.
- Franco Modigliani (Prémio Nobel em 1985) desenvolveu no início dos anos
50 a Hipótese do Ciclo de Vida, a qual viria a ser publicada num artigo em
conjunto com um estudante seu (Richard Brumberg), em 1954.
- Milton Friedman (Prémio Nobel em 1976) apresentou em 1957 a Hipótese do
Rendimento Permanente, que acabou por complementar a lógica subjacente
aos trabalhos de Modigliani.
- Ambas as hipóteses permitem conciliar o comportamento time series com o
comportamento cross section da taxa de poupança, como vimos a propósito da
crítica à função consumo de Keynes. 8
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A Hipótese do Rendimento Permanente

- Pressuposto: agentes preferem manter o nível de consumo estável, evitando


grandes variações de período para período; a diferença principal em relação à teoria
anterior consiste em considerar a irregularidade dos rendimentos.

- O rendimento permanente é o rendimento médio que os agentes esperam obter ao


longo da sua vida): YP.

- A Hipótese do Rendimento Permanente (HRP) propõe que os agentes consomem


uma fracção k do seu rendimento permanente, YP :
C = k ⋅Y P

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- Admite-se que a revisão da estimativa do rendimento permanente é baseada em


expectativas adaptativas:
- em cada período surgem novos acontecimentos que poderão levar a uma
revisão da estimativa do rendimento permanente por parte dos agentes,

- a HRP propõe que a estimativa do rendimento permanente do período t (YPt)


seja feita com base no rendimento permanente estimado no período t-1 (YPt-1),
corrigido por uma fracção j da diferença entre:
- o rendimento do período corrente t (Yt)
- e a expectativa do rendimento permanente para o período t, efectuada
em t-1 (YPt-1) :

Yt P = Yt −P1 + j ⋅ (Yt − Yt −P1 )

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- A HRP propõe uma explicação do consumo corrente tomando por base as


seguintes variáveis:
- o consumo individual do período corrente (C ) ,
- o rendimento do período presente (Yt ) e
- a estimativa do rendimento permanente do período anterior ( YPt-1 ):

- Admitindo uma propensão marginal ao consumo do rendimento permanente k ,


a HRP propõe a seguinte função consumo:

C = k ⋅Y P

vimos que: Y t P = Y t −P1 + j ⋅ ( Y t − Y t −P1 )

donde: C = k ⋅ Yt −P1 + k ⋅ j ⋅ (Yt − Yt −P1 )


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- Nota: Formação de expectativas acerca do rendimento permanente do período t,


com base na informação corrente do rendimento do período t

- A expressão do rendimento permanente do período t pode ser reescrita como


uma média ponderada do rendimento presente e do rendimento permanente do
período anterior:
Yt P = Yt −P1 + j ⋅ (Yt − Yt −P1 )
Yt P = (1 − j ) ⋅ Yt −1
P
+ j ⋅ Yt

- Esta expressão analítica pode ser lida como:


- um processo de actualização de expectativas, de modo adaptativo;
- ou seja, como a actualização das expectativas acerca da variável
rendimento permanente do período t ( YP ), com base em nova informação
sobre o Y corrente ( Y t ) .

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- O consumo fica dado, portanto, por:

C = k ⋅ Yt P = k ⋅ Yt −P1 + k ⋅ j ⋅ (Yt − Yt −P1 )


- De acordo com esta formulação, encontramos duas propensões marginais ao
consumo relativamente a:
- rendimento transitório ou temporário: Y ─ Y P
- rendimento permanente YP .

- O consumo de uma família irá reagir de forma diferente a:


- variação temporária do rendimento: a PMgCons. é igual a k j (kj < k)
- variação permanente do rendimento: a PMgCons. é igual a k .
∆C ∆C
PMgCons.LP = = k ; PMgCons. = = kj
∆Y ∆Y
P CP

- Admitindo que a decisão de consumo presente tem em consideração um horizonte temporal


futuro longo (ou seja, que kj tem um valor baixo), prevê-se que, perante variações
temporárias do rendimento, o efeito maior seja sobre a poupança do período.
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- A Hipótese do Rendimento Permanente é compatível com os dados cross-


section e time series.

- Numa perspectiva cross-section:


- prevê as taxas de poupança mais elevadas dos indivíduos com níveis
superiores de rendimento na medida em que estes tendam a possuir níveis
mais elevados de rendimento temporário;
- assim sendo, o alisamento do consumo das famílias de elevado rendimento
gera uma taxa de poupança superior.

- Numa perspectiva intertemporal (time series):


- domina o efeito do rendimento permanente;
- e, assim sendo, variações permanentes do rendimento não tendem a gerar
alterações da taxa de poupança.

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- Como vimos:
C = k ⋅ Y −P1 + k ⋅ j ⋅ ( Y 0 − Y −P1 )
C = k (1 − j ) ⋅ Y −P1 + kj ⋅ Y 0
C = k YP t
C

Consumo LP

a = k j (Y0 – YP-1) Consumo CP


F com YP superior

Consumo CP
original
C0
B
(a
C-1 )
A C = k (1– j) YP–1 + k j Y0

k
P P Y0
Y-1 Y0 Yd
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- A propensão média ao consumo no período t é, segundo a Hipótese do


Rendimento Permanente uma função do peso de YPt no Yt :
C YP
PMdCons. = =k
Y Y
- Assim, a Hipótese do Rendimento Permanente sugere que:
- Quando, num dado período t, o rendimento corrente se eleva
temporariamente (curto prazo):
- o peso do YP no Y ( YP / Y ou propensão média ao consumo) diminui;
- logo, a taxa de poupança nesse período aumenta.
⇒ compatibilização com a análise empírica cross-section.

- Quando, num dado período t, o rendimento tem um aumento permanente


(numa perspectiva de longo prazo), tendem a manter-se constantes:
- o peso do YP no Y ;
- a taxa de poupança.
⇒ compatibilização com análise empírica time series.
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A Hipótese do Ciclo de Vida


- Pressuposto: os agentes planeiam o seu consumo e poupança com um
horizonte temporal longo, com a intenção de manter o seu consumo estável ao
longo do ciclo de vida (alisamento do consumo).

- Toma por base a restrição orçamental intertemporal de acordo com o modelo


de escolhas intertemporais , mas tendo como base o horizonte de vida: o
consumo de um agente ao longo da vida iguala o seu rendimento adicionado dos
activos que possui.

- Pressupõe que o bem estar intertemporal é maior numa situação de


estabilidade do consumo. Assim, e perante a variabilidade do rendimento ao
longo da vida do indivíduo, o modelo dá um papel fundamental à poupança.

- Nesta versão simples da Hipótese do Ciclo de Vida, pressupõem-se:


- a inexistência de juros,
- ausência de rendimento durante o período da reforma do indivíduo.

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- Um indivíduo que espera viver L períodos e planeia reformar-se na data R


(L > R), deverá poupar durante o período em que trabalha, para poder manter o
nível de consumo após a reforma.

- Sendo C0 nível de consumo que o indivíduo planeia ter por período de tempo,
então o nível de consumo total da sua vida será: C0 L

- Pressupondo um nível de rendimento por período de tempo constante e igual a


Y0, o indivíduo receberá até à idade da reforma: Y0 R

- Logo, a sua restrição orçamental intertemporal será:

C0 L = Y0 R

- Ou seja, o nível de consumo estável será:


R
C0 = Y0
L
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- Restrição orçamental:
C 0 ⋅ L = Y0 ⋅ R

- Plano de consumo estável:


R
C 0 = ⋅ Y0
L
- Valor dos activos em t < R :
A = (Y0 − C0 ) ⋅ t

- Valor dos activos em t > R :

A t = (Y0 − C0 ) ⋅ R − C0 ⋅ (t − R )

AR
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- Com activos iniciais, a restrição


orçamental fica dada por:

C0 ⋅ L = A1 + Y0 ⋅ R

- Plano de consumo estável:


A1 R
C0 = + ⋅ Y0
L L

- Valor dos activos em t < R :


A t = A1 + (Y0 − C0 ) ⋅ t

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- A Hipótese do Ciclo de Vida sugere que:

1. Em fases de expansão cíclica, a taxa de poupança deverá aumentar, porque um


aumento temporário do rendimento irá ser consumido ao longo de toda a vida
do indivíduo, e não apenas no presente.

- De igual modo, em fases de recessão a taxa de poupança deverá diminuir.

- Exemplo: Se a esperança de vida de um indivíduo é de mais 40 anos e ele


recebe:
- um aumento inesperado e temporário do seu rendimento de 4 000 € ,
a Hipótese do Ciclo de Vida prevê que
- o seu nível de consumo anual aumentará, em média, 100 € por ano:
- a poupança actual vai variar positivamente em 3 900 € .
- um aumento permanente, ou seja, existe a expectativa certa de que ocorre um
aumento do rendimento anual durante o resto da sua vida de 4 000 €, a Hipótese
do Ciclo de Vida prevê que:
- o seu consumo anual vai aumentar em 4 000 € , nos 40 anos futuros;
- a poupança actual permanece constante. 21
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2. A taxa de poupança da economia depende da proporção de agentes em cada


fase do ciclo de vida.
- O envelhecimento populacional é acompanhado por uma redução da taxa
de poupança (esta é uma causa importante da redução da taxa de
poupança verificada nas décadas recentes em grande parte das
economias ocidentais).
- Se a proporção de agentes em cada fase do ciclo de vida se mantiver
estável, será de esperar uma taxa de poupança constante ao longo do
tempo.
- Esta implicação permite conciliar a Hipótese do Ciclo de Vida com o
comportamento time series da taxa de poupança.

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3. O consumo depende do valor dos activos dos agentes:


- um crash no mercado de acções provoca uma diminuição do consumo;
- um boom no mercado de acções provoca um aumento do consumo.

- Na realidade, pode haver quebras/acréscimos do valor dos activos ao longo


da vida (e não só no momento inicial); a previsão desta teoria é que esta
situação gera o constante alisamento do consumo:
- Modigliani estimou que o acréscimo de 1 USD no valor real dos
activos aumenta o consumo real anual em 0,06 USD, o que evidencia um
alisamento do consumo durante um período de cerca de 15 anos.

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3.4. A Função Consumo


- Referências bibliográficas:
- Gordon, capítulo 15, pontos 6-9
- Burda e Wyplosz, capítulo 6, ponto 2

- Extensões da HRP e da HCV


- Nas décadas mais recentes, foram incluídos na análise macroeconómica
factores adicionais para a explicação do comportamento do consumo, tais
como:
- Expectativas racionais
- Bens de consumo duradouro
- Restrições financeiras
- Incerteza
- Heranças 24
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a) Expectativas racionais

- Ao contrário das expectativas adaptativas que a HRP contempla, a teoria das


expectativas racionais assume que os agentes económicos tomam em conta toda a
informação disponível com vista à formação das expectativas sobre o seu
rendimento futuro:
- a estrutura da economia
- o estado da economia,
- as políticas económicas passadas e
- as políticas anunciadas para o futuro, atendendo a credibilidade desses
anúncios (por exemplo, anúncios de reduções de impostos).

- Toma-se por base o princípio básico da HRP de que existe incerteza sobre o
rendimento futuro e que os agentes tomam a sua decisão de consumo com base na
estimativa que fazem do rendimento intertemporal.

- Considera-se que os consumidores têm expectativas racionais.

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- Dado o modo de formação de expectativas proposto, toda a informação que já


estava disponível no período anterior foi incorporada na estimativa do rendimento
permanente desse período.

- Apenas acontecimentos não antecipados vão levar a uma revisão da estimativa do


rendimento permanente, no período corrente, e assim provocar uma variação no
consumo do período.

- Aconclusão central é de que o consumo agregado na economia segue um random


walk : C t +1 = C t + ε t +1

- A teoria das expectativas racionais propõe que a melhor previsão sobre o consumo
agregado feita no período t sobre o consumo agregado no período t+1 é o nível de
consumo do período actual t :
- alterações antecipadas no rendimento já foram incorporadas no rendimento
permanente esperado e, como tal, não afectam o consumo;
- apenas variações inesperadas afectam o consumo; apenas variações inesperadas e
permanentes do rendimento afectam significativamente o consumo. 26
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- Uma implicação particularmente importante desta extensão tem a ver com questões
de política económica - alterações de política apenas afectarão o consumo se forem
imprevisíveis.
- como já vimos, uma decisão governamental de redução de impostos com vista a
estimular a procura agregada apenas terá esse efeito desde que os consumidores
respondam a esse aumento do rendimento disponível aumentando o consumo;
- de acordo com a Hipótese das Expectativas Racionais, se essa medida de política
tiver sido antecipadamente credivelmente anunciada ou prevista, não terá o efeito
desejado no momento em que é, de facto, implementada; o efeito significativo da
medida anunciada terá ocorrido na data do anúncio.

- Na realidade, observa-se que esta teoria não encontra verificação empírica exacta:
- o consumo tanto pode revelar excessiva volatilidade face ao previsto pela teoria
(revelando-se muito sensível às variações previsíveis do rendimento): observado em
períodos de recessão forte: 1974-75, 1980-81 e 1990-91;
- como apresentar um excessivo alisamento (reagindo de forma demasiadamente
pouco significativa às variações-surpresa do rendimento):

- Contudo, os dados empíricos, para a maior parte dos países e do tempo, apontam no sentido
de que o consumo agregado é menos volátil que o rendimento agregado.
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b) Bens de consumo duradouro

- Ao contrário do consumo de bens não duradouros e de serviços, os bens


duradouros, apesar de adquiridos com despesas pontuais, fornecem um nível de
utilidade que se faz sentir ao longo de vários períodos.

- Assim sendo, a despesa de consumo não é alisado, embora o seja a utilidade


do uso do bem.

- Os gastos em bens de consumo duradouro aumentam em períodos em que o


rendimento corrente aumenta, fazendo diminuir a taxa de poupança, o que
contraria as HCV e HRP.

- Assim sendo, a validade das análises de Modigliani e de Friedman é mais


apropriada para explicar as despesas de consumo em serviços e bens não
duradouros. (Nota: poder-se-ia, alternativamente, considerar as despesas em bens de
consumo duradouro como poupança.)

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c) Restrições financeiras

- Quando um agente económico não consegue endividar-se no montante desejado, de


acordo com a optimização intertemporal, diz-se que tem uma restrição financeira

- A restrição financeira pode tomar a forma de:


- taxas de juro elevadas;
- limitações ao crédito ou mesmo incapacidade total de obtenção de crédito.

- Para poderem manter um nível de consumo em função do rendimento permanente,


muitas famílias necessitam de recorrer ao crédito; em particular, os jovens e aqueles
afectados por quebras temporárias de rendimento. Estima-se que afectem uma parte
importante das famílias (15%).
=> restrições de liquidez limitam a aplicabilidade da HRP e HCV.

- Para os agentes sujeitos a restrições financeiras, a propensão marginal ao consumo


tende a ser substancialmente superior ao previsto pelas HRP e HCV, estando a
PMgCons. do rendimento transitório próxima de 1.
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d) Incerteza e herança

- A incerteza quanto à duração da vida pode levar a algumas despesas em bens e


serviços, por motivos de precaução, que não chegam a ser utilizadas (poupança para
cuidados de saúde, imóveis, etc.)
⇒ são transferidos para os herdeiros, ou seja, uma parte das heranças é
involuntária.

- Esta incerteza (associada eventualmente a aversão ao risco) dará lugar a herança.


Aqui, existe herança por causa de um seguro da pessoa face a essa incerteza. Note-
se todavia que pode existir herança para servir outros objectivos racionais.

- A existência de herança não altera substancialmente as premissas e conclusões da


Hipótese do Ciclo de Vida alteradas;
- é como se o horizonte temporal relevante se estendesse para além da
esperança média de vida (L).
- ou seja, a herança faz com que o horizonte temporal relevante para as
decisões de consumo e de poupança vá para além da idade esperada da morte.
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- Função Consumo:

C = C (Y , Ω ) = C (Y , Ω 0 , Y , r )
d d e

∂C ∂C ∂C ∂C
d > 0; > 0; e > 0; <0
∂Y ∂Ω0 ∂Y ∂r

Yd - função consumo keynesiana: consumo depende do Yd sinal ?


Ω - HRP e HCV: consumo depende da riqueza sinal ?
r - sinal ?

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- A riqueza actual do agente inclui:


- o valor actual dos rendimentos esperados no futuro,
- um conjunto de activos detidos pelo agente económico, avaliados ao
preço de mercado actual.
Y2 Y3
Ω = Ω0 + Y1 + + + ...
1 + r (1 + r) 2

- HRP e HCV: consumo presente depende da riqueza, e logo, das expectativas dos
agentes sobre o rendimento esperado futuro (Ye), que podem ser avaliadas por
indicadores de confiança dos consumidores.

- Quando consideramos o fluxo de rendimentos presente e futuro, previmos que o


efeito total da taxa de juro real (r) no consumo corrente é ambíguo (como vimos a
propósito da decomposição em efeito substituição e efeito rendimento).

- Mas se consideramos que os indivíduos possuem activos financeiros ou reais (


Ω0), um aumento da taxa de juro tende a reduzir o valor da riqueza, pelo que o
efeito total no consumo tende a ser negativo.

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- Resultados empíricos:
- A correlação do consumo com o rendimento disponível (Yd) é superior à
correlação do consumo com a riqueza actual (Ω0: valor actual dos activos
detidos pelas famílias).
- Factores explicativos:
- Devido ao maior peso dos activos financeiros no portfolio das famílias,
actualmente, as flutuações nos preços dos activos financeiros torna a
percepção da riqueza mais volátil: nessa medida, uma parte do valor da riqueza
medida estatisticamente será percebida pelos indivíduos como de natureza
temporária.
- Riqueza é difícil de medir: relutância das famílias em divulgar o valor dos
seus activos; rendimentos futuros esperados não são devidamente incluídos na
estimativa do cálculo da riqueza actual.
- Restrições ao crédito: impedem a antecipação de rendimentos futuros em
despesas de consumo no presente.
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