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2.4 Modelo de Kaldor (1955-56) e de Pasinetti (1961-2)


Bibliografia Básica:
KALDOR, N. Alternative theories of distribution. review of economic, Vol. xxiii, N2. In.:
Essays on value and distribution. pp. 209-236, 1955-56.*
KALDOR, N. Un modelo de desarrollo económico. In.: Ocampo., J. A. (1988) Economía
poskeynesiana. Fondo Cultura Económica, México, pp. 319-360, 1957.
JONES, H.G. Modernas teorias do crescimento. Ed. Atlas: São Paulo, 1979, p. 160-168.*
PASINETTI, L. L. Crescimento e distribuição de renda: ensaios de teoria econômica. Rio
de Janeiro: Zahar, 1974. (1961-62).
OREIRO, J. L. C. Uma revisão das controvérsias sobre a equação de Cambridge. Nova
Economia, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, 2005, p. 119-149.

• A incompatibilidade entre as previsões do modelo HD e a experiência histórica das


economias desenvolvidas levou ao desenvolvimento de duas soluções para o assim
chamado “dilema Harrod-Domar” (Pasinetti, 1974, p. 121)1: O Modelo de Solow; e,
a Equação de Cambridge (Críticos ao modelo neoclássico de crescimento
econômico: Kaldor, Pasinetti, Robinson e Sraffa – teoria pós-keynesiana da
distribuição da renda).

• Em oposição as críticas de Cambridge surgiram os economistas do Massachutes


Institute of Tecnology (M.I.T.) em Cambridge: Samuelson, Solow, Meade,
Modigliani. Debate: conceito de capital e crescimento econômico.

1 – Modelo de Kaldor ou teoria alternativa da distribuição de renda

• Propõe que a fração poupada da renda nacional pode se ajustar endogenamente,


através de variações apropriadas na distribuição funcional da renda, de forma a
solucionar o primeiro problema de Harrod.

Equações:

1
PASINETTI, L. The rate of profit in an expanding economy. In: Growth and distribution: essays in
economic theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1974.
16

Y  W + P (1)
Sw = sw .W ( 2 ) Sw = poupança de salário

S p = s p .P ( 3) Sp = poupança dos lucros.

sw e sp = propensões médias (marginais) a poupar de salários e lucros.

• Presume que a fração poupada da renda nacional não é uma constante, mas uma
média ponderada das propensões a poupar a partir dos lucros e dos salários.
Portanto: supõe que: sp  sw.

Para Kaldor, a diferenciação entre as propensões a poupar segundo a classe de rendimentos


é uma decorrência do fato de que:
i. a contínua expansão da capacidade produtiva das empresas só é possível, no
longo prazo, se parte do financiamento necessário a essa expansão advir dos
lucros retidos pelas empresas;
ii. em função da existência de retornos crescentes de escala, a posi- ção
competitiva de qualquer empresa num dado mercado depende do seu market
share;
iii. a contínua expansão da firma individual é necessária para manter inalterada a
sua posição competitiva na indústria.

• Poupança total (S):

S = sw .W + s p .P ( 4 )
De (1) temos:

W  Y − P ( 5)

Substituindo (5) em (4):


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S = sw (Y − P ) + s p .P
S = swY − sw P + s p P
S = ( s p − sw ) P + swY ( 6 )
Sendo S= Sy :

O equilíbrio requer como condição: I = S. Substituindo I em (6) temos:

I = ( s p − sw ) P + swY ( 7 )
Dividindo (7) por Y:

= ( s p − sw ) + sw
I P Y
Y Y Y
I P P
= s p − sw + sw
Y Y Y

− sw = ( s p − sw )
I P
Y Y
I sw P
− = (8)
Y ( s p − sw ) ( s p − sw ) Y
P
• Onde é a participação dos lucros na renda.
Y
Dividindo a equação (7) por K:

= ( s p − sw ) + sw
I P Y
K K K

− sw = ( s p − sw )
I Y P
K K K
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I swY P
− = (9)
K ( s p − sw ) ( s p − sw ) K K
P
Onde é a taxa de lucro.
K
P P
• Em equilíbrio e dependem das propensões a poupar dos salários e lucros.
Y K

• Supondo sw = 0, a equação (9) se reduz:


P I
= (10 )
K K .s p
I
• é a taxa de crescimento do estoque de capital. K = I.
K
• Em equilíbrio ela seria igual a taxa de crescimento natural de L, ou seja, n.
P
• Como n é dada exogenamente, em equilíbrio a taxa de lucro, , é determinada pela
K

propensão a poupar das rendas de lucro, sp. Os capitalistas determinam seu rendimento.

• Kaldor oferece uma saída ao primeiro problema de Harrod. No modelo de Harrod, o


crescimento em estado estável com pleno emprego exige:

s
g= =n
v
o 1º problema: s, v e n são todas constantes e independentemente determinadas.
Segundo Kaldor, s não é uma constante. Da equação (6) temos:

S = ( s p − sw ) P + swY
Dividindo (6) por Y:

= = ( s p − sw ) + sw
S I P
s=
Y Y Y
I
Onde é a taxa de crescimento do investimento.
Y
19

P
o Existe uma razão de lucros por renda, , que assegurará que a propensão a poupar
Y
s
global é aquela requerida para igualar a n.
v
o Segundo Kaldor o crescimento estável com pleno emprego no pós guerra é
explicado por uma distribuição de renda apropriada.
o Kaldor supõe que os preços e salários são flexíveis e que as margens de lucro são
flexíveis.
o Para Kaldor o que sobrar de lucros vira salário. Assim o salário é residual.

s = ( s p − sw )
P
+ sw
Y
P
Se para ocorrer equilíbrio = 0,40.
Y
Caso aumente a demanda → aumentam os preços → aumenta a margem de lucro →
P
aumenta os lucros → aumenta . A renda é dada. A taxa de equilíbrio não é mantida. A
Y
taxa de salários deve se elevar, então, de acordo com a produtividade.

2 – Modelo de Pasinetti

o Suposição: Quem poupa parte da renda, deve ser proprietário de tal renda.
o Uma parte dos lucros deve dirigir-se aos trabalhadores.

Hipóteses:
o Hipótese 1: produto resultado de K e L e retornos constantes de escala.

y = f (k )
Y K
y= k=
L L
Onde: K não se deprecia e não há progresso técnico.
o Hipótese 2: Trabalhadores e capitalistas detêm capital.
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K  K c + K w (1)
Dividindo (1) por L, temos;

k = kc + kw ( 2 )
K Kc Kw
k= kc = kw =
L L L

o Hipótese 3:

L
=n
L
o Hipótese 4: taxa de lucro r = PMgK.
Taxa de salário w = PMgL.
Sendo que f ´( k ) = PMgK = r e sendo w = f ( k ) − Kf ´( k ) .

o Hipótese 5: Ambas as classes poupam.

Sc = sc Pc ( 3)
Onde: Sc = poupança total dos capitalistas
Pc = lucros totais.

Lucro total (Pc):

K c .r
Como r = f ´( k ) :

K c f ´( k )
Pc = K c f ´( k )
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Reescrevendo (3), temos:

Sc = sc Kc f ´( k )( 4 )

o Renda total dos trabalhadores = W + Pw.

Sw = sw (W + Pw )( 5)

Y W + P
Y = W + Pc + Pw
W + Pw = Y − Pc
Reescrevendo (5), temos:

Sw = sw (Y − Pc )( 6 )
Como vimos Pc = f ´( k ) K c , reescrevemos a (6):

Sw = sw (Y − f ´( k ) .K c ) ( 7 )
Transformando os termos entre parêntese de (7) em variáveis por trabalhador,
temos:

Y K 
Sw = sw .L  − f ´( k ) . c  (8)
L L
ou ainda,

Sw = sw .L  y − f ´( k ) .kc 
onde:

Kc Y
kc = y=
L L
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Equações Fundamentais e crescimento balanceado

o 2 equações: uma que descreva a taxa de kc e outra que descreva kw.

A – Capitalistas

Kc
kc =
L
• •
kc K c L
= − (9)
kc K c L
Exemplo:
K1: 100 K2: 200
L1: 100 L2: 200

K 100 K 200
kc = = =1 kc = = =1
L 100 L 200
kc = 0 e taxa de crescimento = 0.

kc 100 100
= − =0
kc 200 200

∆ K c = I = Sc
Então, reescrevendo (9), a partir de (4):

kc s f ´( k ) Kc L
= c − (10 )
kc Kc L
L
Como = n , então reescrevendo (10), temos:
L

kc =  sc f ´( k ) − n  Kkcc (11)(11)
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Equação Fundamental

B – Trabalhadores

Kw
kw =
L
• •
kw K L
= w−
kw Kw L

Como Sw = sw L  y − f ´( k ) Kc  :


kw sw L  y − f ´( k ) Kc 
= − n (12 )
kw Kk
ww

Kw
kw = (hipótese 2):
L
L 1
=
Kw kw
Kw
Multiplicando (12) por k w = e como y = f ( k ) , temos:
L
• L Kw Kw
kw = sw .  f ( k ) − f ´( k ) K 
kcc  − n
Kw L L

kw = sw  f ( k ) − f ´( k ) K  − nkw (13)
kcc 

Equação Fundamental
24

• •
o Crescimento balanceado: kw = 0 e kc = 0 .

Equações (11) e (13):

sc f ´( k * ) K nkcc* = 0 (14 )
kcc*− nK
* *

sw  f ( k * ) −-kK
c*c f ´( k )  − nkw = 0 (15)
* *

*

* = variáveis relevantes para crescimento balanceado.


Como f ´( k * ) = r , reescrevendo (14), temos:

c = n.Kc
*
sc.scr..rk.cK*= nkc* *

nK c*
r=
sc K c*
n
r= (16 )
sc
o A equação (16) → taxa de crescimento balanceado depende da taxa de crescimento
da força de trabalho e da propensão a poupar dos capitalistas.
o Kaldor chegou ao mesmo resultado supondo sw = 0. Pasinetti mostrou que o
cresciemnto depende de n e sc e é independente de sw.

O grande desafio que a “Equação de Cambridge” havia colocado para a teoria neoclássica
do crescimento e da distribuição de renda era o seu elevado grau de generalidade. Com
efeito, esse resultado pode ser derivado sob qualquer hipótese a respeito do formato da
função de produção ou do grau de substitubilidade dos fatores de produção (Pasinetti, 1974,
p. 127; Jones, 1979, p. 167).
Dado que a teoria neoclássica não é válida no caso em que os fatores de produção são
complementares perfeitos – tal como no modelo HD –, segue-se que a teoria pós-
keynesiana da distribuição de renda seria então válida sob hipóteses mais gerais a respeito
do formato da função de produção do que a teoria neoclássica.
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Por outro lado, se a “Equação de Cambridge” for correta, então a produtividade marginal
dos fatores de produção não desempenha nenhum papel na determinação da distribuição
funcional da renda ao longo da trajetória de crescimento balanceado com pleno-emprego.

A teoria pós-keynesiana mostra que o dilema “Harrod-Domar” pode ser resolvido por outro
mecanismo que não a flexibilidade da relação capital-produto. Esse é um aspecto
importante porque mostra que a hipótese tradicional neoclássica de substitubilidade dos
fatores de produção não é necessária para a obtenção de uma trajetória de crescimento com
pleno-emprego.

Nesse contexto, a teoria neoclássica do crescimento e da distribuição de renda seria uma


teoria com baixo nível de generalidade, em comparação com a teoria pós-keynesiana, e
construída a partir de hipóteses dispensáveis a respeito do formato da função de produção.

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