Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Mais non, tout será mort. Plus rien dans cette plaine
qu’un peuple évanoui dont elle est encore pleine.
________________
* Die Moderne
Sobre alguns temas de Baudelaire
II
III
Sob seu véu de viúva, velada por ser tacitamente transportada pela
multidão, uma desconhecida cruza seu olhar com o olhar do poeta. O
significado do soneto é, numa frase, isto: a aparição que fascina o
habitante da metrópole — longe de ter na multidão apenas sua
antítese, apenas um elemento hostil — somente pode surgir para ele
da multidão. O êxtase do citadino é um amor não tanto à primeira
quanto à “última vista”. É uma despedida para sempre, que coincide
na poesia com o instante do encanto. Assim, o soneto apresenta o
esquema de um choque, incluindo o esquema de uma catástrofe.
Porém a catástrofe golpeia não apenas o sujeito, mas também, a
natureza de seu sentimento. Isto que contrai convulsivamente o corpo
— “crispé comme un extravagante” — não é a beatitude daquele que se
sente invadido por Eros em todos os pontos do seu ser; mas é, antes, a
comoção sexual que pode surpreender o solitário. Dizer, como
Thibaudet, que “estes versos só podiam nascer numa grande cidade“,
é ainda insuficiente. Eles fazem vir a tona os estigmas que a vida
numa grande cidade inflige ao amor. Não foi de outra forma que
Proust entendeu o soneto, e por isso deu à cópia tardia da mulher de
luto, como lhe apareceu um dia Albertine, a alcunha significativa de
“La parisienne”.
Quando Albertine tornou a entrar em meu quarto, tinha um
vestido de cetim preto que a fazia mais pálida, tornando-a a parisienne
lívida, ardente, entristecida pela falta de ar, pelo clima das multidões
— e talvez pela influência do vício — e cujos olhos pareciam ainda
mais inquietos por não serem avivados pelo róseo das maçãs do rosto.
Assim, ainda se vê em Proust o objeto de um amor, como apenas o
homem citadino o conhece, conquistado por Baudelaire para a poesia
e do qual se poderá dizer, frequentemente, que o cumprimento não
lhe foi tanto recusado, quanto, ao contrário, poupado.
VI
VII
IX
... Vois se pencher les défuntes années Sur les balcons du ciel, en
robes surannées.
Quando digo: vejo esta coisa, não interponho uma equação entre
mim mesmo e a coisa... No sonho, em troca, subsiste uma equação. As
coisas que vejo me vêm como eu as vejo.
Como? Você aqui, meu amigo? Você num lugar de má fama? Você, o
bebedor de quintessências! Realmente, surpreende-me.
— Meu amigo, você conhece meu pavor por cavalos e carruagens.
Há pouco, quando atravessava a rua à toda, saltando na lama, através
desse caos em movimento, onde a morte chega a galope de toda parte, ao
mesmo tempo, minha auréola, devido a um movimento brusco, deslizou-
me da cabeça para a lama do asfalto. Não tive coragem de apanhá-la.
Considerei menos desagradável perder minhas insígnias do que ter
estraçalhados todos os meus ossos. E ademais, disse-me, a desdita tem
sua utilidade. Agora posso passear incógnito cometer ações vis e
entregar-me à libertinagem como simples mortal. Eis-me aqui, tal como
me vê, idêntico a você!
— Deveria ao menos pôr um anúncio sobre essa auréola, ou pedir ao
comissário que a recupere.
— Homem, não. Estou bem aqui, só você me reconheceu. Ademais a
dignidade me aborrece. E penso com alegria que algum mau poeta
recolheu-a e a colocará na cabeça impudicamente! Fazer alguém feliz,
que alegria! E sobretudo, alguém que me fará rir! Pense em X ou em Z!
Hein! Que engraçado será!
Perdu dans ce vilain monde, coudoyé par les foules, je suis comme
un homme lassé dont l’oeil ne voit en arrière, dans les années profondes,
que desábusement et amertume, et, devant lui, qu’un orage où rien de
neuf n'est contenu, ni enseignement ni douleur.
Potemkin
Um retrato de infância
O homenzinho corcunda
Ajoelho-me no banquinho
para as rezas fazer
vejo um marrequinho
que se põe a dizer
querido menino, sê bonzinho
reza também pelo marrequinho
Sancho Pança
________________
* Franz Kafka: Zur zehnten Wiederker seines Todestages.
** Na tradição hassídica, o profeta Elias aparece sob a forma de