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APROXIMAÇÃO AO CONCEITO DE FÉ

Iniciamos este 2º trimestre com um conceito central: Fé. Ninguém duvida que fé seja um conceito religioso.
No entanto, utilizamos a palavra fé numa gama de significados que nada, ou muito pouco, tem relação com
religião. É um fenômeno humano que abrange mais que apenas a crença num transcendente.
Para entender melhor, vamos diferenciar três tipos de Fé. Em primeiro lugar, falaremos de Fé Religiosa. É a
fé que dá origem às religiões. Caracteriza-se por acreditar que há um ou mais seres transcendentes, cujo nome
varia de religião para religião. Temos como exemplo o Deus do cristianismo e do judaísmo, ou ainda as divindades
egípcias.
Outro uso da palavra fé está ligado a pequenas coisas cotidianas que pouca ou nenhuma influência trazem à
nossa existência. Entendamos com exemplos. Alguém diz ‘creio que posso atravessar a rua e não ser atropelado’,
ou ‘tenho fé que meu time será campeão’, ou ‘espero poder arrumar um bom emprego’ e ainda ‘eu confio em
você’. São formas aproximadas da palavra fé, e não exatamente fé. Podem ser perspectivas futuras, ou ainda
coisas óbvias (que não carecem de fé) ou para objetivos de vida que podem não nos caracteriza. Chamaremos de
Fé Comum, e está não será o tema de nossas discussões.
Por último, temos a Fé Antropológica, chamada assim por ser uma característica de todos os seres
humanos. Todos acreditamos em alguns valores e sobre eles constituímos nossa vida. Acreditamos que é melhor
ser de uma forma que de outra, e assim agimos. Então a fé antropológica constitui a estrutura de significação do
agir humano. Diferencia-se da Fé comum por pautar nossa existência, ainda que não tenhamos claro quais são os
valores que constituem nossa vida.
A Fé Antropológica constitui a estrutura de significação do agir humano. Ninguém pode viver sem fé. Todo
ser humano tem alguma fé, pois pauta seu agir segundo determinada escala de valores. Fé antropológica não tem
conotação religiosa. É algo anterior, mais amplo e mais originário. Uma das formas da fé pode ser a fé religiosa e,
dentre estas, a fé cristã. Mas não é a única. No entanto, só a fé não explica o agir humano, mas apenas a
motivação do agir.
Ninguém inventa a própria fé, mas aprende socialmente formas de ser e de compreender o mundo. Por
isso, está enraizada numa cadeia de tradição, provêm do testemunho e é essencialmente comunitária. Somente a
partir de testemunhas referenciais, cuja vida admiramos e por viver determinados valores e princípios, abraçamos
esta ou aquela fé.
No sentido da fé antropológica, é tão fé a aposta na lei do mais forte e do mais esperto como a aposta num
projeto de justiça, solidariedade, fraternidade. Aceitam-se valores em questão (no primeiro caso o egoísmo, no
segundo o altruísmo) como realizadores da vida humana e digno, portanto, de a pautarem constantemente. O
ponto de comparação com a fé cristã não é o conteúdo, mas a estrutura formal própria a essa realidade
antropológica. De modo semelhante, é tão fé o ateísmo como a adesão ao Deus revelado em Jesus Cristo.
Texto de autoria do professor, inspirado em: TABORDA, Francisco Nas Fontes da vida cristã: uma teologia do batismo-crisma. São
Paulo: Loyola, 2001. p. 43-45.

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