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Licenciatura em Sociologia

PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR

Evolução dos Direitos Sociais

ELIANE GOMES VASCONCELOS


RA: 1658394

POLO DE MATRÍCULA
IBHES

2018
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Evolução dos direitos sociais

Introdução
A luta social pela melhoria das condições sociais do povo brasileiro está
atrelada na evolução dos direitos sociais no ordenamento jurídico. É possível traçar
um paralelo da luta e conquistas sociais e a evolução dos direitos sociais na
Constituição vigente na época. Por sua vez, é muito abrangente o estudo da
sociologia brasileira, haja vista que a luta social na conquista de direitos remonta
desde o passado com o fim da escravidão e a introdução do trabalho livre nas
lavouras de café, por exemplo.
Lado outro, os direitos sociais também constituem uma gama de valores
axiológicos que devem ser garantidos a todos os cidadãos, esses direitos estão
plenamente garantidos em todo o Capítulo II - Dos Direitos Sociais, está previsto na
Constituição Federal de 1988. Assim, pode realizar a opção de estudo genérico ou
ainda, mais específico, no presente caso foi delimitado o estudo da evolução dos
direitos sociais para uma determinada classe de trabalhadores, ou seja, os
agrícolas, aqueles que trabalham no campo.
A razão da escolha pode ser das mais variadas, no entanto considerando
que cada vez mais os estudantes vivem apenas nos centros urbanos, muitos
desconhecem o universo de uma sociedade rural com suas complexidades,
características, sujeitos que não podem ser encontrados nos meios urbanos. Assim,
cabe ao professor realizar a inserção do aluno neste contexto, e ainda, promover
uma viagem ao passado, para entender a evolução dos direitos sociais.
Dessa forma, é necessário realizar um corte no estudo, a fim de traçar um
estudo mais específico sobre um determinado período histórico na evolução dos
direitos sociais. Lado outro, a presente proposta pedagógica de ensino poderá ser
adaptada para determinados períodos.
Nas palavras de VITA:

A expansão da cultura do café pelo Oeste paulista acentuaria ainda mais


essa tendência ao predomínio de alguns centros urbanos - São Paulo e Rio
de Janeiro - sobre a agricultura. (...) Trata-se, enfim, de um conjunto de
transformações muito significativas que ocorreram na sociedade brasileira
na segunda metade do século XIX. A decadência do trabalho escravo, a
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introdução do trabalho livre, a chegada dos trabalhadores europeus, a


crescente importância das atividades urbanas ( o comércio, o sistema
bancário, as primeiras indústrias), o surgimento de uma malha ferroviária
em São Paulo, tudo isso indicava uma modernização, um início de
desenvolvimento capitalista do País. (1994, p.29-30)

Pela pequena exposição, acima constata-se que o início da evolução dos


direitos sociais começou no campo e depois migrou para a cidades, a partir do
desenvolvimento da industrialização.
Nesse sentido, diante do extenso material letivo para ser desenvolvido neste
trabalho de seis páginas, propõe a elaboração de uma plano didático de ensino para
lecionar a respeito do desenvolvimento do capitalismo e lutas sociais no campo,
durante o período de 1940-1964. O ensino da sociologia no ensino médio é
desafiante.
Dessa forma, a reflexão permanentemente sobre os conteúdos ensinados
favorece uma forma de trabalhá-los sem dogmatismos, ao mesmo tempo que
desvenda articulação entre as diferentes esferas da vida. (BRIDE, 2009, p.28)
Diante disso, a proposta de ensino sobre a evolução dos direitos sociais não
pode apenas se ater ao conhecimento de leis, é necessário contextualizar a
situação, para tanto verifica que muitos diplomas trabalhistas são antigos como a
CLT (1943), ou primeiro Estatuto do Trabalhador Rural (1963).
Um dos desafios para a Sociologia está o de levar os alunos a
compreenderem as várias dimensões da realidade – política, econômica, cultural,
ideológica, científica, religiosa-, bem como diferentes visões interpretativas, de
maneira articulada e simultânea. (BRIDI, p.29) Consequentemente, está proposto o
estudo da evolução dos direitos sociais com o enfoque e visão sociológicas dos
principais autores.

Desenvolvimento
Primeiramente, anote o conceito de direitos sociais: conjunto de direitos
relativos ao bem-estar econômico e social, desde a segurança até o direito de
partilhar do nível, segundo os padrões prevalecentes na sociedade (conquistas do
século XX) (MEDEIROS, 2017, p.21)
Medeiros esclarecer que os direitos sociais começaram a ser instituídos no
regime do Estado Novo entre 1930 e 1945. A primeira Constituição a estabelecer os
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direitos sociais foi a e 1934, e implementou a Consolidação das Leis Trabalhistas


(CLT)
Necessário salientar, que o trabalhador rural diferentemente do trabalhador
urbano, não teve a mesma tutela de proteção que o proletariado das cidades. Isso
constata-se facilmente, pois a CLT de 1943 não se aplica aos trabalhadores,
conforme está previsto no art. 7º, alínea "b".
Deve-se ainda ressaltar que os trabalhadores rurais também não foram
protegidos pelas Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967.
Somente a Constituição Federal de 1988 estabeleceu proteção igualitária entre os
trabalhadores rurais e urbanos, conforme o art.7º (Capítulo II - Dos Direitos Sociais).
Após, a pequena exposição inicial acerca dos diplomas legislativos,
constata-se que os trabalhadores rurais tiveram uma proteção desigual pelo
legislador, as razões para essa diferenciação na tutela não poderão ser respondidas
facilmente. Porém, será objeto de estudo as lutas sociais da classe trabalhadora na
sociedade no período de 1940-1964.
Ocorreram grandes transformações sociais desde o fim da escravidão e a
substituição por mão de obra livre. O Brasil, durante o início da república tinha como
principal fonte de economia a agricultura, com destaque para o café, que era produto
principal e exportado. As rendas acumuladas formaram um capital que teve como
destino o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Durante esse período os
trabalhadores das fazendas eram imigrantes da Europa, sendo que estabeleceram
nas fazendas não como trabalhadores assalariados, mas como colonos.
Pode-se conceituar como colonos os trabalhadores rurais que moravam na
"colônia", o conjunto de habitações destinadas na fazenda, eles viviam na própria
fazenda, e tinham como fonte de subsistência o cultivo de pequena lavoura para
consumo próprio. (VITA, 1994, p. 38)
No início da república, não havia organizações sindicais ou políticas
consistentes, as classes populares não ficaram "ausentes". Ocorrerão dois
movimentos messiânicos no Brasil (não mais únicos) A Guerra de Canudos e
Contestado. Ambos, movimentos tinham atrelados valores religiosos
A Guerra de Canudos foi resultado de tensões sociais e políticas como mão
de obra barata e massa agregada de "coronéis" locais. (NAPOLITANO, 2016 p. 23)
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Segundo VITA o surgimento de uma classe de trabalhadores rurais surgiu


apenas a partir de 1950, quando os colonos e moradores passaram, em algumas
regiões, a serem expulsos das terras das fazendas e substituídos por trabalhadores
temporários (ou boias-frias). (1994, p.45)
Nesse sentido, constata que inexistia nenhuma forma de proteção aos
trabalhadores rurais, tidos como colonos por exemplo.
A expulsão dos colonos das fazendas ocorreu sobretudo com a conhecida
crise internacional de 1929 e foi um duro golpe na economia brasileira e afetou
sobretudo a produção do café. A produção de café passou a ser substituída por
pastagens ou por outras culturas, principalmente, a cana-de-açúcar.
Assim, surgiu o proletariado agrícola com a agroindústria açucareira passou
a assumir o lugar de predominância que antes cabia às fazendas de café. O
trabalhador assalariado, passou a ser os conhecidos boias frias, e passaram a
residir na periferia das cidades próximas, ainda foram obrigados a depender parte e
seus reduzidos salários, para pagar pensões ou moradias alugadas, sendo que
parte do salário era pago com alimentos ou com moradia.
Verifica-se as condições de vida dos trabalhadores assalariados rurais eram
precárias, não havendo nenhum dispositivo legal de proteção ou garantia de uma
vida mais justa ou digna.
Outro ponto que merece ser destacado, e que na transição do trabalho
escravo para o trabalho livre, as propriedades, fazendas, as terras passaram a
constituir a mais importante fonte de riqueza. Dessa forma, os fazendeiros buscaram
se assegurar no monopólio sobre a terra. VITA explica que nos finais do século XI, o
controle das terras devolutas passou para os Estados - que, eram dominados por
oligarquias. Surgiu, então a República dos "coronéis" e das oligarquias, seria a de
constante instabilidade de precariedade na posse da terra. (1994, p.63-64)
Nesse contexto, os movimentos sociais no campo, tem como pano de fundo
a luta contra a monopolização da terra, crise de vínculos de dependência pessoal. A
luta por uma reforma agrária radical significava a eliminação do monopólio da terra.
A substituição do cultivo do café pela cana-de-açúcar resultou, na expulsão
dos colonos ou a conversão em boias frias, mão de obra temporária para a colheita
da cana. A situação acarretou na formação de organizações sociais conhecidas
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como Ligas Camponesas. Assim, passaram a lutar por reforma agrária, defendia o
fim dos latifúndios.
O ponto alto desse movimento resultou no I Congresso Nacional de
Lavadores e Trabalhadores Agrícolas, em Belo Horizonte em 1961. Contudo, o golpe
militar de 1964 derrubou o governo de João Goulart, e foi interrompido o processo
de organização dos camponeses. (VITA, 1994, p.97)
Sendo que a luta pela reforma agrária relutou numa importante conquista
que foi o Estatuto do Trabalhador Rural de 1963 (Revogada pela Lei nº 5.889, de
1973, atual diploma dos trabalhadores rurais). Esse primeiro estatuto de 1963
estendia direitos trabalhistas aos camponeses rurais. A partir de 1963 as ligas
camponeses foram sendo substituídas por sindicatos rurais como principal forma de
organização de ex-camponeses que se tronaram lavadores e assalariados agrícolas.
O autor VITA cita MARTINS que conclui:

É muito significativo, para a compreensão das contradições do processo


político brasileiro, que a proposta do Estatuto do Trabalhador Rural tenha
passado pelo Congresso e que a proposta de reforma agrária tenha
encontrado resistências tão acentuadas que acabou funcionando como
detonador da deposição do Presidente da República e do Golpe de Estado.
(MARTINS apud VITA, 1994, p.99)

A luta das massas de trabalhadores rurais representou na verdade o desejo


de uma reforma agrária contra o monopólio das terras nas mãos de uma minoria,
preciso compreender que a sociedade brasileira durante as fases de transição
sofreu mudanças radicais e levou a mudança de classes, organizações ou ainda o
surgimento de novos grupos. Nesse sentido, a evolução dos direitos sociais
específicos para os trabalhadores tinha como ponto principal a reforma agrária,
sendo que direitos trabalhistas
Importante destacar que durante toda a pesquisa foi utilizado termos que
não pode ser desenvolvido nessa pesquisa, assim deve buscar pesquisar os
conceitos de Oligarquias, clientelismo, coronelismo, por exemplo são termos que
designam grupos ou práticas sociais algumas até hoje. Dessa maneira, a proposta
de ensino deverá abordar o significado desses termos no plano de ensino. Ressalto,
que será necessário também realizar o estudo de conceitos de direitos sociais e sua
amplitude de proteção presente na Constituição da República de 1988.
Cumpre ressaltar que os saberes pedem contextualização constante,
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redimensionamento dos conceitos e do próprio presente. (BRIDI, 2009, p.29)

CONCLUSÃO
O presente estudo tem como objetivo compreender o desenvolvimento do
capitalismo e lutas sociais no campo, durante o período de 1940-1964. Para a
realização do estudo foi necessário compreender também a história do início da
República, a transição do trabalho escravo para o livre, para depois compreender a
sociedade rural da época e sua luta por conquistas. Não há dúvidas que adoção de
livros sobre o tema serão a principal ferramenta, porém outros textos devem ser
elaborados, a fim de compreender o contexto social da evolução dos direitos sociais.
A proposta pedagógica para lecionar sociologia de ensino médio é tarefa
árdua e não existe fórmula pronta, portanto é desafiadora. Assim, são proposta as
seguintes atividades para melhor dinamizar o ensino.
Confeccionar um jornal mural tendo como tema a situação e a vida dos boias
-frias no Brasil de hoje. Pode também apresentar um jornal mural com os direitos
dos trabalhadores na Constituição de1988 e na Lei nº 5.889, de 1973 Pesquisar em
arquivos e jornais impressos e eletrônicos.
Pode-se propor a leitura, ainda de livros específicos como: Lutas
Camponesas pelo acesso à terra e por melhores condições de trabalho, de Manuel
Correia de Andrade (Editora Ártica). Esta proposta de ensino é mais passiva, pode
alguma parte ser inserida na confecção do texto base a ser estudado pelos alunos.
Não é preciso dizer que a leitura é imprescindível para o estudo da realidade social.
Outra proposta é a utilização de filmes sobre importantes acontecimentos
ocorridos, para contextualizar grandes acontecimentos a serem estudados, podem
ser utilizados.
Guerra de Canudos (1997) Direção: Sérgio Rezende;
Jango (1984) Direção: Silvio Tendler.
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REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição da República Federal de 1988. Constituição Federal da


República Federativa do Brasil, 1988. Vade Mecum. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.

______, CLT , DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943 Vade Mecum. 17.
ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

______, LEI Nº 5.889, DE 8 DE JUNHO DE 1973. São Paulo: Saraiva, 2014.

BRIDI, Maria Aparecida. Ensinar e aprender Sociologia no ensino médio. São Paulo:
Contexto, 2009.

MEDEIROS, Analuce Danda Coelho. Política e cidadania:construção de uma nação


democrática. [livro eletrõnico]. Crutiba:InterSaberes, 2017.

NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil república: da queda da Mornaquia ao fim


do Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016.

VITA. Álvaro de. Sociologia da sociedade brasileira: com atividades e leituras


complementares em todos os capítulos. 3.ed. São Paulo:Ática. 1994.

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