Você está na página 1de 12

Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

Pedro Natale Ferreira Fernandes

RELATO DE CASO: TRANSTORNO DO DÉFCIT


DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA INFÂNCIA

Belo Horizonte
2019

Pedro Natale Ferreira Fernandes

RELATO DE CASO: TRANSTORNO DO DÉFCIT


DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA INFÂNCIA

Trabalho apresentado à disciplina Internato de Saúde Mental da graduação em


Medicina da Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais.

Orientador: Professor Lucas Machado Mantovani

Belo Horizonte
2019

SUMÁRIO

1. RESUMO.........................................................................................................4

2. INTRODUÇÃO ...............................................................................................5

3. DESCRIÇÃO DO CASO.................................................................................6

4. DISCUSSÃO BASEADA EM REVISÃO DE LITERATURA ..........................7

5. CONCLUSÃO................................................................................................. 9

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................10
5

1. RESUMO

INTRODUÇÃO: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)


caracteriza-se por sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade que
se não tratados acarretam custos sociais consideráveis.

DESCRIÇÃO DO CASO: Paciente do sexo masculino, 7 anos apresenta


queixas relacionadas a agitação e baixo desempenho escolar. A escola solicita
aos pais que seja procurado um especialista para avaliação das queixas.

DISCUSSÃO: De acordo com as informações obtidas com os pais e o relatório


escolar, a criança preenche os critérios para diagnóstico de TDAH misto,
apresentando desatenção e hiperatividade. Avalia-se iniciar o tratamento
medicamentoso

CONCLUSÃO: O diagnóstico e abordagem terapêutica adequada são muito


importantes em pacientes com TDAH para que evitem prejuízos para o
paciente no futuro.
6

2. INTRODUÇÃO

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é hoje um


dos temas mais estudados em crianças em idade escolar. Estima-se que seja
uma das principais fontes de encaminhamento de crianças ao sistema de
saúde​1​.

Trata-se de uma condição psiquiátrica com uma prevalência de 5% em


crianças entre 4-17 anos. Caracteriza-se por sintomas de desatenção,
impulsividade e hiperatividade. Acredita-se que sua manifestação se dá no
início da infância, apesar do diagnóstico geralmente se estabelecer durante a
idade escolar​2​.

O TDAH costumeiramente está associado a diferentes comorbidades


psiquiátricas como o Transtorno Opositor Desafiador (TOD), de conduta, humor
e ansiedade além do abuso de substâncias. Os custos sociais do TDAH não
tratado são consideráveis, o que inclui insucesso acadêmico/profissional,
inadimplência e dificuldades em relacionamentos​3​.
7

3. DESCRIÇÃO DO CASO

Paciente PAOS, sexo masculino, 7 anos, natural e procedente de Belo


Horizonte, cursa o 2º ano sem histórico de repetência, mora com os pais.
Paciente deu entrada no serviço do Ambulatório Ciências Médicas,
acompanhado dos pais que se queixavam da agitação psicomotora do filho. A
mãe relata que o paciente se encontra agitado, tanto em casa quanto na escola
e que isso vem acompanhado de uma baixa no desenvolvimento escolar. Em
casa vive correndo o dia inteiro, sem dar atenção ao que os pais falam, como
se ele “fosse surdo”, e tenta realizar várias brincadeiras ao mesmo tempo
(pintar, correr, ver televisão) Na escola não fica parado na própria mesa e vive
atrapalhando os colegas, porém sem registro de agressividade. Foi
apresentado um relatório escolar que confirma esse comportamento.
Pai confirma que PAOS o obedece, porém ele costuma não obedecer
tanto a mãe, esta se queixando de certo cinismo quando chama sua atenção.
Realiza todas as obrigações quando comandado, porém a contragosto e sem
sinais de luta. Costuma alimentar bem e de forma equilibrada, porém se agita
ainda mais com o consumo de cafeina. Pratica atividades físicas 2 vezes na
semana (futebol e volei) e apresenta sono adequado (20:30 até as 6:00),
apesar de falar e rir enquanto dorme. Negada alergias, cardiopatias e uso
contínuo de medicações.
A gestação de PAOS foi tranquila, desejada e com pré-natal adequado.
Nasceu com 38 semanas e recebeu alta hospitalar com a mãe. Apresentou
sepsemia no 12º dia de vida, sendo internado por certo período de tempo. Foi
amamentado até os 4 meses, substituindo o leite materno por aptamil (mãe não
produzia o leita). Andou e falou com 1 ano de vida aproximadamente.
Durante a consulta a criança se mostra tranquila e cooperativa. Brincou
adequadamente com os brinquedos ofertados e foi capaz de desenhar o que
lhe era solicitado. Apresentava conhecimento adequado dos números e letras,
escrevendo o próprio nome e lendo sem dificuldades frases apresentadas
pelos acadêmicos. Sem dificuldade na fala. Ao ser aplicada a escala SNAP IV
para os pais, pontuou 8/9 para desatenção e 9/9 para hiperatividade.
8

4. DISCUSSÃO BASEADA EM REVISÃO DE LITERATURA

A patogênese do TDAH ainda não é conhecida. Segundo alguns estudos


por imagens cerebrais, estudos em animais e resposta a medicamentos com
atividade noradrenérgica (metilfenidato), suspeita-se fortemente de um
desequilíbrio do metabolismo de catecolaminas como principal etiologia​4​. As
evidências para uma base genética do TDAH são apoiadas por estudos com
gêmeos que demonstram concordância de até 92% em gêmeos monozigóticos
e 33% em gêmeos dizigóticos​5​.

De acordo com o DSM-V, para caracterizar diagnóstico de Transtorno de


Deficit de Atenção e Hiperatividade é necessário preencher os seguintes
critérios​6​:
9

O diagnóstico é essencialmente clínico e pode ser feito com o auxílio de


uma boa anmnese, exame físico observando o comportamento da criança e
com a participação dos pais, seja na hora de relatar a história do paciente ou
pelo uso de tabelas específicas como a de SNAP IV​3​. Busca-se avaliar a tríade
sintomática desatenção-hiperatividade-impulsividade. A desatenção se
manifesta por mudanças freqüentes de assunto, falta de atenção no discurso
alheio, distração durante conversas, desatenção ou não cumprimento de regras
em atividades lúdicas, alternância constante de tarefas, além de relutância no
engajamento de tarefas complexas que exijam organização. A hiperatividade
caracteriza-se pela fala, movimentação diurna e noturna (durante o sono) de
forma excessiva, dificuldade de ficar sentado, enquanto a impulsividade
envolve o agir sem pensar, mudança de atividades, dificuldade de organizar
10

trabalhos, necessidade de supervisão e dificuldade do sujeito esperar sua vez


em atividades lúdicas ou em situações de grupo​1​.

Três subtipos do transtorno foram definidos para o TDAH, com


predomínio de: (1) desatenção, (2) hiperatividade/impulsividade e (3)
combinado. Avaliando o paciente podemos perceber que ele se encaixa no
padrão combinado do transtorno, visto que pontuou 8/9 critérios para
desatenção e 9/9 para hiperatividade/impulsividade, sendo que 6 pontos em
alguma das categorias confirma o diagnóstico​3​.

Independente do subtipo, o tratamento do TDAH pode envolver


intervenções comportamentais, medicamentosas e psicoterapia, sempre
contando com a participação do paciente (quando este for capaz) e de seus
responsáveis legais para que seja traçada a melhor estratégia. Para crianças
em idade escolar (≥6 anos de idade) é sugerido o tratamento inicial com
medicação estimulante combinada com terapia comportamental para melhorar
os sintomas principais e os resultados-alvo​7​. Apesar de ser o tratamento
medicamentoso de primeira linha, o metilfenidato não se encontra disponível
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Considerando também o fato do paciente
ser virgem de tratamento, o medicamento de escolha é o metilfenidato de curta
duração, por estar disponível em menores doses (comprimidos de metilfenidato
de 10mg que podem ser partidos ao meio) e baixo custo relativo às outras
apresentações. Além disso, utiliza-se essa forma para poder determinar a dose
diária ideal antes de mudar para um agente de ação prolongada​8​. Além dessas
medidas, é necessário o acompanhamento periódico do paciente, para
avaliação de dosagens e possíveis efeitos colaterais como ​redução de apetite,
insônia, dor abdominal, cefaléia ​ansiedade, tristeza, desinteresse e "olhar
parado"​9​.

5. CONCLUSÃO

Selecionei o caso em questão pela grande prevalência de casos de


TDAH que compareceram para consulta no ambulatório de psiquiatria infantil.
Além disso, sabe-se da dificuldade de diagnósticos precisos dessa condição,
considerando o desconhecimento e a subvalorização das queixas que
acompanham o quadro por parte do profissional de saúde.
11

A leitura de artigos referentes ao transtorno, utilizando-se de bases de


dados como o UpToDate, Scielo e Pubmed, foi fundamental para poder
aprimorar meus conhecimentos sobre essa condição e me preparar para caso
encontre casos semelhantes ao dessa criança no futuro.

Concluo que se faz necessário possuir a capacidade de reconhecimento


e início de manejo desses quadros na atenção básica até que seja possível o
atendimento por parte de especialistas interdisciplinares, de forma que o
desenvolvimento da criança seja minimamente prejudicado pelo TDAH e os
outros transtornos que podem acompanhá-lo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SANTOS, Letícia de Faria; VASCONCELOS, Laércia Abreu. Transtorno do


déficit de atenção e hiperatividade em crianças: uma revisão interdisciplinar.
Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. 4, p. 717-724, Dec. 2010 . Available
from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722010000400
015&lng=en&nrm=iso>. access on 06 Sept. 2019.
12

2. Matthews M, Nigg JT, Fair DA. Attention deficit hyperactivity disorder. Curr Top
Behav Neurosci. 2014;16:235–266. doi:10.1007/7854_2013_249
3. Wilens TE, Spencer TJ. Understanding attention-deficit/hyperactivity disorder
from childhood to adulthood. Postgrad Med. 2010;122(5):97–109.
doi:10.3810/pgm.2010.09.2206
4. Dickstein SG, Bannon K, Castellanos FX, Milham MP. The neural correlates of
attention deficit hyperactivity disorder: an ALE meta-analysis. J Child Psychol
Psychiatry 2006; 47:1051.
5. Gillis JJ, Gilger JW, Pennington BF, DeFries JC. Attention deficit disorder in
reading-disabled twins: evidence for a genetic etiology. J Abnorm Child Psychol
1992; 20:303.
6. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
7. Subcommittee on Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder, Steering Committee
on Quality Improvement and Management, Wolraich M, et al. ADHD: clinical
practice guideline for the diagnosis, evaluation, and treatment of
attention-deficit/hyperactivity disorder in children and adolescents. Pediatrics
2011; 128:1007.
8. Pliszka S, AACAP Work Group on Quality Issues. Practice parameter for the
assessment and treatment of children and adolescents with
attention-deficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry
2007; 46:894.
9. PASTURA, Giuseppe; MATTOS, Paulo. Efeitos colaterais do metilfenidato.
Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 31, n. 2, p. 100-104, 2004 . Available
from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-6083200400020
0006&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Sept. 2019.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832004000200006.

Você também pode gostar