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São Cristóvão – SE
fevereiro de 2017
Universidade Federal de Sergipe
Centro de Ciências Exatas e Tecnologia
Programa de Graduação em Matemática
Graduação em Matemática
por
sob a orientação do
São Cristóvão – SE
Fevereiro de 2017
Catalogação na publicação
Biblioteca da UFS
xxxxxxxxxx.
Orientador: Wilberclay Gonçalves Melo
xxxxx.
xxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxx.
por
Banca Examinadora:
Lista de Notações 1
Introdução 1
1 Preliminares 2
i
3.5 Relação entre as Integrais de Riemann e Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Referências Bibliográficas 61
ii
Lista de Notações
1
Introdução
1
Capı́tulo 1
Preliminares
2
Capı́tulo 2
Neste capı́tulo, nossa meta é determinar o caminho para podermos definir a Medida de Le-
besgue na reta. Sendo assim, começaremos definindo o significado de medida exterior e quais são
suas propriedades mais elementares; porém, imprescindı́veis à teoria da Integração de Lebesgue
introduzida neste trabalho. Por fim, apresentaremos como conceituar a Medida de Lebesgue em R
para subconjuntos especı́ficos, constituı́dos de números reais, intitulados Conjuntos Mensuráveis.
Nesta seção, estaremos interessados em discorrer sobre a Medida de Lebesgue na reta. Esta
é, de forma sucinta, uma aplicação que associa um Conjunto Mensurável a um valor do intervalo
estendido [0, ∞]. Além disso, gostarı́amos de ressaltar que, a definição deste medida é dada através
de uma outra denominada medida exterior; a qual apresenta como domı́nio o conjunto das partes de
R. Com estas ideias em mente, permita-nos desenvolver uma teoria introdutória que estuda estas
medidas estabelecendo resultados, os quais serão devidadamente provados e aplicados, de forma
logicamente bem estruturada.
Definição 2.1. Definimos e denotamos a medida exterior do conjunto A ⊆ R como sendo o seguinte
ı́nfimo: {∞ }
∑
∗
m (A) = inf |Ik | : A ⊆ ∪k∈N Ik ,
k=1
onde (Ik )k∈N é uma coleção enumerável de intervalos abertos e |Ik | representa o comprimento do
3
intervalo Ik . Aqui o ı́nfimo é considerado sobre a coleção (Ik )k∈N e esta é dita cobrir A devido à
inclusão A ⊆ ∪k∈N Ik .
Note que, a partir da definição 2.1, podemos concluir que m∗ (∅) 6 0. Com efeito, esta afirmação
segue do fato de considerarmos Ik = (ak , ak ) (k ∈ N) para obtermos ∅ ⊆ ∪k∈N Ik e, consequente-
mente,
∞
∑ ∞
∑
m∗ (∅) ≤ |Ik | = (ak − ak ) = 0. (2.1)
k=1 k=1
Por outro lado, a mesma definição acima nos garante que m∗ (∅) ≥ 0. Por conseguinte, m∗ (∅) = 0.
Permita-nos listar abaixo algumas propriedades elementares satisfeitas pela medida exterior de
um conjunto constituı́do de números reais.
v) [Invariância por translação] Dado h ∈ R, tem-se que m∗ (A + {h}) = m∗ (A), para todo A ⊆ R.
Aqui A + {h} = {a + h : a ∈ A}.
Agora suponha que A ⊆ B com o objetivo de provar ii). Sendo assim, vamos verificar que
m∗ (A) ≤ m∗ (B). Para isso, considere os conjuntos
{ ∞
} { ∞
}
∑ ∑
X= |Ik | : A ⊆ ∪k∈N Ik e Y = |Jk | : B ⊆ ∪k∈N Jk .
k=1 k=1
∞
∑
É fácil ver que Y ⊆ X. De fato, dado y ∈ Y , tem-se que y = |Jk |, onde (Jk )k∈N é uma coleção
k=1
de intervalos abertos que cobre B, isto é, B ⊆ ∪k∈N Jk . Como A ⊆ B, podemos concluir que esta
4
mesma coleção também cobre A (pois, A ⊆ ∪k∈N Jk ). Logo, y ∈ X. A partir daı́, resulta que
Agora vamos checar a veracidade de iii). É fato que, se considerarmos m∗ (An0 ) = ∞ para
∞
∑
∗
algum n0 ∈ N, então a desigualdade m (A) ≤ m∗ (An ) segue de i). Deste modo, considere que
n=1
m∗ (An ) < ∞, para todo n ∈ N, e assuma que ε > 0 é dado arbitrariamente. Como, para cada
n ∈ N, temos que { }
∞
∑
∗
m (An ) := inf |In,k | : An ⊆ ∪k∈N In,k ,
k=1
então obtemos uma coleção de intervalos abertos (In,k )k∈N tal que An ⊆ ∪k∈N In,k e
∞
∑ ε
|In,k | ≤ m∗ (An ) + , ∀ n ∈ N. (2.2)
2n
k=1
∞
∑
∗
Passando ao limite, quando ε → 0, podemos concluir que m (A) ≤ m∗ (An ). Isto prova o item
n=1
iii).
Para provar iv) vamos, inicialmente, supor que A = [a, b] com a, b ∈ R. Sendo assim, dado
ε > 0, podemos escolher I1 = (a − 2ε , b + 2ε ) e Ik = ∅ (k > 1) para encontrar
∞
∑
m∗ (A) ≤ |Ik | = |I1 | = b − a + ε = |A| + ε, ∀ ε > 0,
k=1
pois A ⊆ ∪k∈N Ik (ver definição 2.1). Isto nos diz, passando ao limite, quando ε → 0, que m∗ (A) ≤
|A|.
Agora, devemos verificar que m∗ (A) ≥ |A|. Com efeito, dada uma cobertura de A através
5
de intervalos abertos (Ik )k∈N , podemos usar o fato de A ser compacto para garantir que A ⊆
I1 ∪ I2 ∪ ... ∪ In (n ∈ N), renumerando, se necessário. Reorganizando os ı́ndices deste intervalos,
temos que existe aj (j = 1, 2, ..., n), tal que (aj , aj+1 ) ⊆ Ij (j = 1, 2, ..., n); sendo que, a = a1 e
b = an+1 (A = [a, b]). Deste modo, obtemos
∑
n ∑
n ∞
∑
|A| = b − a = [aj+1 − aj ] = |Ij | ≤ |Ij |.
j=1 j=1 j=1
Isto nos diz, através da definição 2.1, que |A| ≤ m∗ (A). Portanto, m∗ (A) = |A|, se A = [a, b].
As outras possibilidades para o intervalo A são: R, (−∞, b), (−∞, b], (a, ∞), [a, ∞), (a, b), (a, b]
e [a, b). Suponha, primeiramente, que A = (a, b). Daı́, para ε > 0, considere o intervalo [a+ n1 , b− n1 ],
onde n ∈ N. Tal intervalo é compacto e; pelo que foi discutido acima e item ii), deduzimos que
([ ]) [ ]
1 1 1 1 2
∗
m (A) ≥ m ∗
a + ,b − = a + , b − = b − a − , ∀ n ∈ N.
n n n n n
Passando ao limite, quando n → ∞, obtemos que m∗ (A) ≥ b − a = |A|. Para mostrar que
m∗ (A) ≤ |A|, basta considerar a cobertura (Ik )k∈N constituı́da pelos intervalos I1 = (a − 2ε , b + 2ε )
(ε > 0), Ik = ∅ para k > 1, e aplicar a definição 2.1 com a finalidade de obter
∞
∑
m∗ (A) ≤ |Ik | = |I1 | = b − a + ε, ∀ ε > 0.
k=1
Passando ao limite, quando ε → 0, chegamos a m∗ (A) ≤ b − a = |A|. Isto conclui que m∗ (A) = |A|.
É importante frisar que, os casos em que A = (a, b] ou A = [a, b) são análogos.
No caso em que A = (a, ∞), sabemos que |A| = ∞ − a = ∞. Por isso, basta considerar
[a + 1, a + n], com n > 1, e usar ii) para deduzir que
Por fim, pelo que foi demonstrado no caso anterior e por ii), resulta que
6
Resta somente provarmos o item v). Assim, dado ε > 0, pela definição 2.1, temos que existe
uma coleção enumerável de intervalos (Ik )k∈N que cobrem A (isto é, A ⊆ ∪k∈N Ik ) e
∞
∑
m∗ (A) ≤ |Ik | ≤ m∗ (A) + ε.
k=1
Note que A + {h} ⊆ ∪k∈N (Ik + {h}). Isto nos diz que a coleção, formada por intervalos abertos,
(Ik + {h})k∈N forma uma cobertura para A + {h}. Sendo assim,
∞
∑ ∞
∑
m∗ (A + {h}) ≤ |Ik + {h}| = |Ik | ≤ m∗ (A) + ε, ∀ ε > 0.
k=1 k=1
Passando ao limite, quando ε → 0, resulta que m∗ (A + {h}) ≤ m∗ (A). Por outro lado, é fácil ver
que A = (A + {h}) − {h} (aqui C − {α} = C + {−α}, com C ⊆ R e α ∈ R). Daı́, podemos concluir,
pelo que provamos acima, que
A proposição a seguir nos diz que conjuntos de medida exterior positiva não são enumeráveis.
Em particular R é não enumerável (ver prova da Proposição 2.1).
Demonstração. Assuma que A = {a1 , a2 , ..., an , ...} e considere dado ε > 0. Assim sendo, escolha
ε ε
Ik = (ak − , ak + ), ∀ k ∈ N.
2k+1 2k+1
Isto nos mostra que A ⊆ ∪k∈N Ik . Dessa forma, usando a definição 2.1, inferimos que
∞
∑ ∞
∑ ∞
∑
ε 1
m∗ (A) ≤ |Ik | = k
= ε = ε, ∀ ε > 0.
2 2k
k=1 k=1 k=1
Passando ao limite, quando ε → 0, obtemos que m∗ (A) = 0 (ver Proposição 2.1). Como querı́amos
demonstrar.
7
já que N, Z e Q são enumeráveis.
A partir de agora, definiremos uma classe de conjuntos que se estenderão por toda a teoria
introduzida neste trabalho. Tais conjuntos serão de grande importância quando falarmos sobre
funções mensuráveis, por exemplo.
m∗ (E) = m∗ (E ∩ A) + m∗ (E ∩ Ac ), ∀ E ⊆ R, (2.3)
Na verdade para que a igualdade (2.3) seja verdadeira basta verificar que o lado direito desta
é menor ou igual ao esquerdo. Com efeito, dado E ⊆ R, tem-se que E = (E ∩ A) ∪ (E ∩ Ac ).
Consequentemente, podemos utilizar a Proposição 2.1 iii) e concluir que
m∗ (E) ≤ m∗ (E ∩ A) + m∗ (E ∩ Ac ).
Os primeiros exemplos de conjuntos mensuráveis que daremos nesta dissertação são R e ∅. Esta
afirmação é confirmada através da seguinte igualdade:
Note que ∅ e R são conjuntos complementares. Na verdade, o próximo resultado nos garante que,
a mensurabilidade de um deles implica na do outro.
m∗ (E ∩ Ac ) + m∗ (E ∩ (Ac )c ) = m∗ (E ∩ Ac ) + m∗ (E ∩ A) = m∗ (E), ∀ E ⊆ R,
pois A é mensurável. Isto mostra, através da definição 2.2, que Ac é mensurável. Como querı́amos
demonstrar.
A próxima proposição nos apresenta uma condição suficiente para que um determinado conjunto
seja mensurável.
8
Proposição 2.4. Seja A ⊆ R. Se m∗ (A) = 0, então A é mensurável.
0 ≤ m∗ (E ∩ A) ≤ m∗ (A) = 0 e m∗ (E ∩ Ac ) ≤ m∗ (E).
m∗ (E) ≥ m∗ (E ∩ Ac ) + 0 = m∗ (E ∩ Ac ) + m∗ (E ∩ A).
O resultado a seguir, mostra-nos que a recı́proca da Proposição 2.4 não é válida em geral. Mais
especificamente, a proposição a seguir nos informa que o intervalo (0, 1) é mensurável; porém,
Com efeito, dado ε > 0, podemos exibir uma coleção enumerável (Ik )k∈N de intervalos abertos que
cobrem E (E ⊆ ∪k∈N Ik ) tal que
∞
∑
|Ik | ≤ m∗ (E) + ε. (2.4)
k=1
(Esta última igualdade segue de uma simples observação geométrica das possibilidades de interseção
9
de I com Ik ). Por outro lado, como E ⊆ ∪k∈N Ik , tem-se que
E ∩ I ⊆ (∪∞ ∞ c ∞ c ∞
k=1 Ik ) ∩ I ⊆ ∪k=1 Jk e E ∩ I ⊆ (∪k=1 Ik ) ∩ I ⊆ ∪k=1 Lk .
m∗ (E) ≥ m∗ (E ∩ I) + m∗ (E ∩ I c ).
Isto nos diz que I é mensurável. Os outros casos para o intervalo I são análogos.
A seguir, apresentamos um resultado que nos garante que união e interseção de conjuntos
mensuráveis são conjuntos da mesma categoria.
Agora, usando o fato que A e B são mensuráveis e usando (2.5), deduzimos que
Agora, vamos mostrar que A ∩ B é mensurável. De fato, como A e B são mensuráveis, tem-se
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que Ac e B c são mensuráveis (ver Proposição 2.3). Usando o que fizemos acima, sabemos que
Ac ∪ B c é mensurável. Portanto,
para todo E ⊆ R. Isto nos diz que A ∩ B é mensurável (ver definição 2.2). Como querı́amos
demonstrar.
Permita-nos informar que a Proposição 2.6 pode ser facilmente generalizada, através de um
argumento de indução finita, a uma quantidade finita de conjuntos mensuráveis.
Abaixo, apresentamos uma ferramenta que será útil na prova de um resultado que estuda a
medida de uma união enumerável de conjuntos mensuráveis.
Lema 2.1. Sejam n0 ∈ N, A1 , A2 , ..., An0 conjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos e E é um
subconjunto qualquer de R. Então, vale a seguinte igualdade:
∑
n0
m∗ (E ∩ [∪nk=1
0
Ak ]) = m∗ (E ∩ Ak ).
k=1
Bn = ∪nk=1 Ak , n = 1, 2, ..., n0 .
∑
n0
∗
m (E ∩ Bn0 ) = m∗ (E ∩ Ak ). (2.7)
k=1
Permita-nos provar (2.7). Primeiramente, note que o caso n0 = 1 é trivial e está precisamente
representado na igualdade a seguir.
m∗ (E ∩ B1 ) = m∗ (E ∩ A1 ), pois B1 = A1 .
11
Além disso, suponha que já foi provado que
∑
r
m∗ (E ∩ Br ) = m∗ (E ∩ Ak ), ∀ 1 ≤ r < n0 .
k=1
A seguir veremos que a união enumerável de conjuntos mensuráveis, dois a dois disjuntos,
pertence a esta mesma categoria; além disso, mostraremos que a medida desta união é igual a soma
das medidas de cada conjunto que a compõe.
Teorema 2.1. Seja (An )n∈N uma sequência de conjuntos mensuráveis e dois a dois disjuntos.
Então, a união ∪n∈N An é mensurável e; além disso, vale a igualdade
∞
∑
∗
m (∪n∈N An ) = m∗ (An ). (2.8)
n=1
Bn = ∪nk=1 Ak e B = ∪k∈N Ak , ∀ n ∈ N.
Usando a Proposição 2.6, concluı́mos que (Bn )n∈N é uma coleção enumerável de conjuntos men-
suráveis. Consequentemente, pela definição 2.1 e pelo Lema 2.1 (pois, An ∩ Am = ∅ para n ̸= m),
tem-se que
∑
n0
∗ ∗ ∗
m (E) = m (E ∩ Bn0 ) + m (E ∩ Bnc 0 ) = m∗ (E ∩ Ak ) + m∗ (E ∩ Bnc 0 ), (2.9)
k=1
Por outro lado, como Bn0 ⊆ B, infere-se que E ∩ B c ⊆ E ∩ Bnc 0 . Por conseguinte, aplicando a
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Proposição 2.1 ii), chegamos a
m∗ (E ∩ Bnc 0 ) ≥ m∗ (E ∩ B c ). (2.10)
∑
n0
∗
m (E) ≥ m∗ (E ∩ Ak ) + m∗ (E ∩ B c ), ∀ n0 ∈ N. (2.11)
k=1
E ∩ B = E ∩ (∪k∈N Ak ) = ∪k∈N (E ∩ Ak ).
m∗ (E) ≥ m∗ (E ∩ B) + m∗ (E ∩ B c ), ∀ E ⊆ R.
13
Em particular, assumindo que E = B, obtemos
∞
∑ ∞
∑ ∞
∑
m∗ (B) = m∗ (B ∩ Ak ) + m∗ (B ∩ B c ) = m∗ (Ak ) + m∗ (∅) = m∗ (Ak ).
k=1 k=1 k=1
É importante destacar aqui que o Teorema 2.1 nos leva a concluir que
∑
n
m∗ (∪nk=1 Ak ) = m∗ (Ak ),
k=1
se (Ak )nk=1 é uma coleção finita de conjuntos mensuráveis e dois a dois disjuntos (basta considerar
Aj = ∅, para todo j = n + 1, n + 2, ...).
O resultado a seguir nos mostra que a união e a interseção enumerável de conjuntos mensuráveis,
não necessariamente dois a dois disjuntos, gera um conjunto da mesma classe.
Teorema 2.2. Seja (Bn )n∈N uma coleção enumerável de conjuntos mensuráveis. Então, os con-
juntos ∩n∈N Bn e ∩n∈N Bn são também mensuráveis.
∪nk=1
0
Ak = ∪nk=1
0
Bk , n0 ∈ N.
14
Vamos verificar que (2.16) é valida para n = n0 + 1. Com efeito, é fácil ver que
∪nk=1
0 +1 n0
Ak = (∪k=1 Ak ) ∪ An0 +1 = (∪nk=1
0
Ak ) ∪ [Bn0 +1 ∩ (∪nk=1
0
Bk )c ]
n0
= (∪k=1 Bk ) ∪ [Bn0 +1 ∩ (∪nk=1
0
Bk )c ]
= [(∪nk=1
0
Bk ) ∪ Bn0 +1 ] ∩ R
= (∪nk=1
0
Bk ) ∪ Bn0 +1
= ∪nk=1
0 +1
Bk .
Além disso, a coleção (An )n∈N é uma coleção enumerável de elementos disjuntos dois a dois. De
fato, suponha, por absurdo, que x ∈ An ∩ Am (com 1 ≤ n < m). Deste modo, x ∈ Bn e x ∈
/ Bk ,
para todo k = 1, 2, .., m − 1. Isto é uma contradição (1 ≤ n ≤ m − 1)!
Dessa forma, como An é mensurável, para cada n ∈ N (ver Proposições 2.6 e 2.3), podemos
usar o Teorema 2.1 e concluir que ∪n∈N An é mensurável.
Por outro lado, a partir de (2.16), podemos escrever ∪n∈N Bn = ∪n∈N An . Logo, ∪n∈N Bn é
mensurável. Por fim, usando o fato que ∩n∈N Bn = (∪n∈N Bnc )c , resulta, pela Proposição 2.3 e o que
fizemos acima, que ∩n∈N B é mensurável. Como querı́amos demonstrar.
Nesta seção, definiremos a bem conhecida medida de Lebesgue sobre R e apresentaremos fer-
ramentas que nos possibilitarão fazer um estudo sobre os tipos de funções reais que são integraveis
com respeito a essa mesma medida.
Através da definição 2.3 é possı́vel obter alguns exemplos de algumas medidas de certos conjuntos
constituı́dos por números reais. Mais especificamente, através das Proposições 2.1 e 2.5, podemos
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escrever:
• m(∅) = m∗ (∅) = 0;
• m(R) = m∗ (R) = ∞;
Gostarı́amos de ressaltar que na Proposição 2.1 iv) e no Teorema 2.1, através da definição 2.3
e Proposição 2.5, podemos substituir a medida exterior pela medida de Lebesgue sobre R.
Vejamos um resultado de extrema importância nesta dissertação que apresenta como encontrar
a medida de uma união, e de uma interseção, enumerável de conjuntos mensuráveis “encaixados”,
através do conceito de limite no infinito.
Teorema 2.3. Sejam (An )n∈N e (Bn )n∈N coleções enumeráveis de conjuntos mensuráveis tais que
Afirmamos que (Cn )n∈N é uma coleção formada por conjuntos disjuntos dois a dois. De fato, dados
i, j ∈ N distintos (digamos i < j), e a ∈ Ci ∩ Cj , temos que a ∈ Bi e a ∈ Bj−1
c . Por outro lado,
como i ≤ j − 1, então, por (2.17), podemos escrever Bi ⊆ Bj−1 . Deste modo, deduz-se que a ∈ Bic
(pois, a ∈ Bj−1
c ). Isto contradiz o fato que a ∈ B . Portanto, C ∩ C = ∅, para todo i ̸= j naturais.
i i j
Por outro lado, usando a Proposição 2.3 e o Teorema 2.2, inferimos que (Cn )n∈N é uma coleção
de conjuntos mensurável; desde que, (Bn )n∈N o é.
∪nk=1 Ck = Bn , ∀ n ∈ N. (2.19)
16
De fato, o caso n = 1 segue da igualdade C1 = B1 . Agora, considere que
∪nk=1
0
Ck = Bn0 , n0 ∈ N.
Vamos verificar que (2.19) é valida para n = n0 + 1. Com efeito, aplicando (2.17), é fácil ver que
∪nk=1
0 +1
Ck = (∪nk=1
0
Ck ) ∪ Cn0 +1 = (∪nk=1
0
Ck ) ∪ [Bn0 +1 ∩ Bnc 0 ]
= Bn0 ∪ [Bn0 +1 ∩ Bnc 0 ] = [Bn0 ∪ Bn0 +1 ] ∩ [Bn0 ∪ Bnc 0 ]
= Bn0 +1 ∩ R = Bn0 +1 .
Isto prova (2.19). Consequentemente, por (2.17) e (2.19), temos que ∪n∈N Bn = ∪n∈N Cn .
= lim m(Bn ).
n→∞
17
Agora, considere que
Dn := A1 ∩ Acn , ∀ n ∈ N. (2.21)
Por aplicar as Proposições 2.3 e 2.6, deduzimos que (Dn )n∈N é uma coleção enumerável de conjuntos
mensuráveis. Além disso, resulta que
onde A = ∩n∈N An .
Por outro lado, note que Dn ⊆ Dn+1 , para todo n ∈ N (ver (2.17)). Em adição, por usar a
igualdade A ∩ A1 ∩ Ac = ∅, o Teorema 2.1 e o item i), inferimos que
Por outro lado, é simples notar que A1 = An ∪ Dn , para todo n ∈ N (isto segue de (2.21)). Em
consequência do Teorema 2.1 novamente, chegamos a
Isto nos diz que (m(An ))n∈N é uma sequência de números reais limitada e monótona não crescente.
Assim sendo, podemos escrever
onde lim m(An ) ∈ R. Como m(A1 ) < ∞, então, lim m(Dn ) < ∞. Por fim, por (2.22), obtemos
n→∞ n→∞
18
O teorema a seguir nos mostra que a medida de Lebesgue sobre R é invariante por translação.
Por outro lado, dado y ∈ [(E − {h}) ∩ A] + {h}, tem-se que y = b + h, com b = c − h ∈ A e c ∈ E.
Dessa maneira, deduzimos que
y = b + h = (c − h) + h = c ∈ E e y = b + h ∈ A + {h}.
Agora estamos em condições de verificar que o conjunto A + {h} é mensurável. Com efeito,
através da Proposição 2.1, (2.23) e (2.24), concluı́mos que
m∗ (E) = m∗ (E − {h})
= m∗ ((E − {h}) ∩ A) + m∗ ((E − {h}) ∩ Ac )
= m∗ ([(E − {h}) ∩ A] + {h}) + m∗ ([(E − {h}) ∩ Ac ] + {h})
= m∗ (E ∩ (A + {h})) + m∗ (E ∩ (A + {h})c ).
A definição 2.2 nos diz que A + {h} é mensurável. Além disso, novamente pela Proposição 2.1 e
19
definição 2.3, chegamos a
O resultado a seguir será utilizado em nosso estudo para garantir que qualquer conjunto aberto
em R é mensurável.
Lema 2.2. Todo aberto de R pode ser escrito como uma união enumerável de intervalos abertos
dois a dois disjuntos.
A seguir enunciamos um teorema que assegura que qualquer elemento da topologia usual em R
(ver [?] para mais detalhes) é mensurável.
Demonstração. Seja A ⊆ R um aberto. Pelo Lema 2.2, temos que A = ∪n∈N In , onde (In )n∈N é uma
coleção enumerável de intervalos abertos e disjuntos dois a dois. Como cada intervalo é mensurável
(ver Proposição 2.5), tem-se, aplicando o Teorema 2.1, que A é mensurável.
Uma consequência direta do Teorema 2.5 e do fato que um conjunto é aberto se, e somente
se, seu complementar é fechado (ver [3] para mais detalhes), encontra-se enunciada no próximo
resultado.
Demonstração. Seja F um conjunto fechado em R. Pelo Teorema 2.5, F c é mensurável (pois este
é aberto). Como o complementar de qualquer conjunto mensurável pertence à mesma classe (ver
Proposição 2.3), tem-se que F = (F c )c é mensurável.
Teorema 2.7. Seja A ⊆ R um conjunto mensurável. Então, dado ε > 0, tem-se que:
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i) Podemos encontrar um conjunto aberto C ⊆ R tal que A ⊆ C e m(C ∩ Ac ) < 2ε ;
Assim, dado ε > 0, é possivel encontrar uma coleção enumerável de intervalos abertos (Ik )k∈N tal
que
∞
∑ ε
A ⊆ ∪k∈N Ik e |Ik | < m(A) + .
2
k=1
Denote C = ∪k∈N Ik e observe que A ⊆ C, com C aberto (ver [3]). Além disso, pela Proposição 2.1
e Teorema 2.5, chegamos a
∞
∑ ε
m(C) 6 |Ik | < m(A) + .
2
k=1
ε
m(C ∩ Ac ) = m(C) − m(A) < .
2
Agora, se m(A) = ∞, escreva An := A ∩ [n, n + 1], para cada n ∈ Z. Daı́, tem-se que An é
mensurável (ver Proposições 2.5 e 2.6) e que m(An ) < ∞, pois An ⊆ [n, n + 1], para cada n ∈ Z.
Logo, pelo que foi feito acima, existe um conjunto aberto Cn tal que
ε
An ⊆ Cn e m(Cn ∩ Acn ) < , ∀ n ∈ Z.
2|n|+4
Como
∪n∈Z An = ∪n∈Z (A ∩ [n, n + 1]) = A ∩ R = A,
21
obtém-se que
A = ∪n∈Z An ⊆ ∪n∈Z Cn .
Sendo assim, escolha C = ∪n∈Z Cn (A ⊆ C) e observe que, pelas Proposições 2.1, 2.6 e 2.3; e pelos
Teoremas 2.1 e 2.5, inferimos
∑
0 ∞
∑ ∞
∑ ∞
∑
ε ε ε ε ε ε 3ε ε
m(C ∩ A ) ≤
c
+ = + = + = < .
n=−∞
2|n|+4 n=1
2n+4
m=0
2m+4
n=1
2n+4 8 16 16 2
Agora vejamos a prova de ii): Sabemos que Ac é mensurável, pois A o é (ver Proposição 2.3).
Logo, usando o item i), existe um conjunto aberto G tal que Ac ⊆ G e m(G ∩ A) < ε
2. Daı́,
escolhendo B = Gc obtemos que B é fechado, B ⊆ A e que
ε
m(A ∩ B c ) = m(A ∩ G) < .
2
Para finalizar, escolha C aberto, dado em i), e B fechado, encontrado em ii), de forma que,
usando as Proposições 2.3 e 2.6, e o Teorema 2.1, chegamos a
22
Capı́tulo 3
Neste capı́tulo, nosso intuito principal é estabelecer quando uma função real e mensurável é
Integrável a Lebesgue e, neste caso, determinar como encontrar sua integral. Em adição, conside-
rando que é conhecido o conceito de Integral de Riemann, mostraremos que todas as aplicações que
já gozavam da propriedade de serem integráveis neste contexto permanecem Integráveis a Lebegue.
Nesta seção, estabeleceremos o conceito de funções reais mensuráveis. Estas serão de grande
importância quando formos desenvolver a teoria introdutória de integração de Lebesgue na reta.
Mais precisamente, temos a seguinte definição.
Definição 3.1. Uma função real f : R → R é dita mensurável se f −1 (A) é um conjunto mensurável,
para cada A ⊆ R aberto (ver [3]).
Gostarı́amos de informar que, neste trabalho, exemplos de funções mensuráveis serão exibidos
em um momento mais frutı́fero.
A seguir veremos que para uma aplicação ser mensurável é suficiente que esta seja contı́nua.
Demonstração. Basta utilizar o fato de que todo conjunto aberto é mensurável (ver Teorema 2.5)
e que a imagem inversa de um aberto através de uma aplicação contı́nua é também um conjunto
aberto (ver [3]).
23
Permita-nos demonstrar quatro outras maneiras de definir aplicações mensuráveis. Estas novas
caracterizações estão enunciadas no próximo resultado.
Teorema 3.1. Sejam f : R → R uma função real e A ⊆ R. Então, as seguintes afirmações são
equivalentes:
i) f é mensurável;
Demonstração. Suponha que i) seja verdadeira com o objetivo de provar que ii) também é válida.
Seja A ⊆ R um conjunto fechado (ver [3]). Então, Ac é aberto (ver [3]). Dessa forma, podemos
dizer que f −1 (Ac ) é mensurável (ver definição 3.1 e item i)). Pela Proposição 2.3, chegamos a
concluir que [f −1 (Ac )]c também o é. Portanto, tem-se que f −1 (A) = [f −1 (Ac )]c é mensurável (ver
[3]).
Agora assuma que ii) seja verdadeira para garantir que iii) vale.
Primeiramente, assuma que A = (a, b], com a, b ∈ R. Note que (a, b] = (−∞, b] ∩ (a, ∞). Como
(a, ∞) = ((−∞, a])c , tem-se que
f −1 ((a, b]) = f −1 ((−∞, b]) ∩ (a, ∞)) = f −1 ((−∞, b]) ∩ f −1 ((a, ∞))
= f −1 ((−∞, b]) ∩ [f −1 ((−∞, a])]c .
(Ver [3]). Pelo item ii) e Proposições 2.3 e 2.6, podemos concluir que f −1 ((a, b]) é mensurável. Os
casos A = (a, b) ou [a, b) são análogos, basta escrever
e seguir o processo detalhado acima. Os casos A = (−∞, b], [a, ∞) e [a, b] seguem diretamente do
item ii). Por fim, os casos A = (−∞, ∞), (−∞, b) e (a, ∞) seguem diretamente da Proposição 2.3
e do item ii); desde que, f −1 (A) = [f −1 (∅)]c , [f −1 ([b, ∞))]c e [f −1 ((−∞, a])]c , respectivamente (ver
[3]).
24
O item iv) segue diretamente da afirmação posta em iii). O mesmo ocorre com os itens iv) e
v).
Agora, assuma que v) valha. Vamos provar que iv) também é verdadeira. Faremos esta
recı́proca com o intuito de usar o Lema 2.2 para garantir que iv) implica i).
Seja A um intervalo aberto, digamos A = (a, b). Vamos mostrar que f −1 (A) é mensurável.
Para isso, note que
Como f −1 ((b − n1 , ∞)) (n ∈ N) e f −1 ((a, ∞)) são mensuráveis (ver item v)), tem-se, usando a
Proposição 2.3 e o Teorema 2.2, que f −1 (A) é mensurável. Os casos A = (−∞, ∞) e (−∞, b)
seguem um processo semelhante ao descrito acima. Já o caso A = (a, ∞) é uma consequência
imediata do item v).
Por fim, considere que iv) seja válida. Vamos provar i).
Seja A ⊆ R aberto. Então, pelo Lema 2.2, A = ∪k∈N Ik , onde os (Ik )k∈N é uma coleção enu-
merável de intervalos abertos e dois a dois disjuntos. Com isso, temos que f −1 (A) = ∪k∈N f −1 (Ik )
é mensurável (ver item iv) e Teorema 2.2). A definição 3.1 nos diz que f é mensurável. Como
querı́amos demonstrar.
Teorema 3.2. Sejam f, g funções reais e mensuráveis. As seguintes afirmações são válidas:
i) f + g é mensurável;
iii) |f | é mensurável;
25
iv) f ∨ g e f ∧ g são mensuráveis;
v) f g é mensurável.
i) Seja x ∈ (f + g)−1 ((a, ∞)). Isto nos diz que, f (x) + g(x) > a. Com isso, existe rx ∈
Q ∩ (a − g(x), f (x)) (ver [3]). Logo, f (x) > rx e g(x) > a − rx . Em consequência, temos que
Portanto, chegamos a
é um conjunto mensurável (ver Teorema 3.1), pois f e g o são. Dessa forma, f + g é mensurável
(ver novamente Teorema 3.1).
é mensurável (já que, f o é). Isto nos diz, pelo Teorema 3.1, que λf é mensurável, para λ > 0. Por
outro lado, se λ < 0, temos que
{ a}
(λf )−1 ((a, ∞)) = {λf > a} = f <
λ
é mensurável; pois, f o é. Deste modo, obtemos que λf é mensurável, para λ < 0. Por fim, se
λ = 0, então é fácil ver que
{
∅, se a ≥ 0;
(0 · f )−1 ((a, ∞)) = {0 > a} =
R, se a < 0,
26
O item iii) segue diretamente das seguintes igualdades abaixo e Teorema 3.1.
Usando o fato que f e g são mensuráveis e o Teorema 3.1, concluı́mos que iv) segue das
igualdades:
(f ∨ g)−1 ((a, ∞)) = {f > a} ∪ {g > a} e (f ∧ g)−1 ((a, ∞)) = {f > a} ∩ {g > a}.
1
f g = [(f + g) − (f − g)2 ],
4
tem-se que f g é mensurável (ver itens i) e ii)). Isto completa a prova do teorema em questão.
Gostarı́amos de destacar aqui que o Teorema 3.2 i) pode ser facilmente estendido para uma
soma finita qualquer por indução matemática.
O teorema a seguir nos garante que a convergência ponto a ponto preserva a mensurabilidade
da sequência de funções convergente.
Teorema 3.3. Seja (fn )n∈N uma sequência de funções reais e mensuráveis tal que lim fn (x) =
n→∞
f (x) pontualmente em R. Então, f é mensurável.
Demonstração. Sejam a, x ∈ R. Considere, sem perda de generalidade, que f (x) > a (isto é, x ∈
f −1 ((a, ∞))). Dessa forma, existe m ∈ N tal que f (x) > a + 1
m (ver [3]). Como lim fn (x) = f (x),
n→∞
então existe n0 ∈ N tal que
1
fn (x) > a + , ∀ n ≥ n0 .
m
(Ver [3]). Com isso, se x ∈ f −1 ((a, ∞)) tem-se que
1
x ∈ ∪m∈N ∪k∈N ∩∞
n=k {fn > a + }.
m
27
Isto nos diz que
1
f −1 ((a, ∞)) ⊆ ∪m∈N ∪k∈N ∩∞
n=k {fn > a + }.
m
Claramente, a inclusão recı́proca é verdadeira. Com efeito, se
1
y ∈ ∪m∈N ∪k∈N ∩∞
n=k {fn > a + },
m
1
fn (y) > a + , ∀ n ≥ n0 .
m0
1
f (y) ≥ a + > a.
m0
1
f −1 ((a, ∞)) = ∪m∈N ∪k∈N ∩∞
n=k {fn > a + }.
m
Portanto, usando o fato que (fn )n∈N é uma sequência de funções mensuráveis e os Teoremas 2.2
e 3.1, podemos concluir que f é mensurável. Como querı́amos demonstrar.
No próximo resultado mostramos que o supremo, ı́nfimo e os limites ineferior e superior ded
uma sequência de funções mensuráveis são novamente aplicações da mesma classe.
Teorema 3.4. Seja (fn )n∈N uma sequência de funções reais e mensuráveis. Então, as seguintes
afirmações são válidas:
i) sup{fn } é mensurável;
n∈N
28
Com efeito, dado x ∈ (sup{fn })−1 ((a, ∞)), tem-se que sup{fn (x)} > a. Dessa forma, existe n0 ∈ N
n∈N n∈N
tal que fn0 (x) > a. Isto nos diz que
Reciprocamente, dado y ∈ ∪n∈N {fn > a}, obtém-se fn1 (y) > a, para algum n1 ∈ N. Com isso,
Assim, chegamos a y ∈ (sup{fn })−1 ((a, ∞)). Isto prova (3.1). Consequentemente, sup{fn } é
n∈N n∈N
mensurável (ver Teoremas 2.2 e 3.1).
O item ii) segue diretamente da igualdade abaixo, Teorema 3.2 e item i).
(Ver [3]).
(Ver [3]).
Nesta seção, definiremos uma integral, denominda Integral de Lebesgue, com relação à medida
de Lebesgue estabelecida previamente. Em adição, mostraremos, na sequência, que esta nova
ferramenta generaliza a noção da Integral de Riemann; a qual é geralmente apresentada em um
29
curso introdutório de Cálculo ou em um primeiro estudo sobre Análise Real.
Afirmamos que χA é mensurável se, e somente se, A também o é. Esta afirmação segue do
Teorema 3.1 e da próxima igualdade.
A, se 0 < a ≤ 1;
−1
χA ([a, ∞)) = ∅, se a > 1 ou a < 0;
R, se a = 0,
onde a ∈ R.
A seguir, mostraremos como generalizar a definição da função caracterı́stica de uma forma que
ainda obtemos uma aplicação mensurável.
∑
n
Definição 3.3. Seja f : R → R uma função real. Dizemos que f é simples, se f = ak χEk ,
k=1
onde ak ∈ R e Ek são conjuntos mensuráveis, disjuntos dois a dois, cuja medida é finita; para todo
k = 1, 2, ..., n. Esta última igualdade é chamada forma canônica da função f .
Permita-nos observar que toda função simples é mensurável, pois estas podem ser escritas como
uma soma finita de funções caracterı́sticas multiplicadas por constantes (ver Teorema 3.1). Outro
fato importante de notar é que se f é simples, então sua imagem é um conjunto finito. De fato,
dado x ∈ R , temos que f (x) = 0, caso x ∈
/ ∪k∈N Ek , ou f (x) = ak0 , se x ∈ Ek0 (para algum k0 ∈ N).
Logo, Im (f ) ⊆ {0, a1 , a2 , ..., an }.
A partir deste ponto, começaremos nosso estudo sobre Integrais de Lebesgue. Primeiramente,
trabalharemos com as aplicações simples definidas acima.
30
∑
n
Definição 3.4. Seja f : R → R uma função simples, com forma canônica f = ak χEk . Definimos
k=1
e denotamos a Integral de Lebesgue de f através da igualdade
∫ ∫ ∑
n
f= f (x)dx = ak m(Ek ).
R R k=1
Vejamos abaixo como exibir um exemplo de integral para uma certa função simples.
pois A é enumerável (ver Proposição 2.2 e [3]). Aqui usamos o fato de que qualquer conjunto
enumerável A = {a1 < a2 < ... < an < ...} satisfaz a igualdade
e aplicamos o Teorema 2.2 e as Proposições 2.3 e 2.5 para garantir que A é mensurável.
Note que a integral de f , com f simples, é um número real, pois em nossa definição a coleção
(Ek )k∈N é constituı́da de conjuntos que possuem medida finita.
Proposição 3.2. A definição 3.4 está bem posta, isto é, a integral de uma função simples f não
depende de sua forma canônica.
∑
m ∑
n
f= ai χAi = bk χBk , (3.2)
i=1 k=1
Primeiramente, suponha que ai = 0, para todo i = 1, ..., m. Então, por (3.2), concluı́mos que
∑
n
bk χBk = 0. Isto nos diz que, Bk = ∅ ou bk = 0, para cada k = 1, ..., n (pois, Br ∩ Bp = ∅ se
k=1
31
r ̸= p). Em ambas as situações, temos que
∑
m ∑
n
ai m(Ai ) = 0 = bk m(Bk ).
i=1 k=1
Agora considere que ai ̸= 0, para algum i = 1, 2, ..., m. Sendo assim, vamos mostrar que
para todo i tal que ai ̸= 0. Com efeito, dado x ∈ Ai , onde i ∈ {1, 2, ..., m} é tal que ai ̸= 0, suponha
que x ∈
/ ∪nk=1 Bk com o objetivo de obter, por (3.3), que
∑
m ∑
n
ai = aj χAj (x) = bk χBk (x) = 0,
j=1 k=1
∑
m ∑
n
ai = aj χAj (x) = bl χBl (x) = bk ;
j=1 l=1
Bk = ∪m
i=1 (Ai ∩ Bk ), (3.5)
para todo k tal que bk ̸= 0. Por conseguinte, usando (3.4), (3.5) e o Teorema 2.1, concluı́mos que
∑
m ∑
m ∑
m ∑
n
ai m(Ai ) = ai m(∪nk=1 (Ai ∩ Bk )) = ai m(Ai ∩ Bk )
i=1 i=1 i=1 k=1
∑m ∑n ∑
m ∑ n
= ai m(Ai ∩ Bk ) = bk m(Ai ∩ Bk )
i=1 k=1 i=1 k=1
∑n ∑ m ∑n
= bk m(Ai ∩ Bk ) = i=1 (Ai ∩ Bk ))
bk m(∪m
k=1 i=1 k=1
∑n
= bk m(Bk ),
k=1
32
desde que (Ai ∩ Bp ) ∩ (Ai ∩ Br ) = ∅ e (Ap ∩ Bk ) ∩ (Ar ∩ Bk ) = ∅ se r ̸= p (para todo i = 1, 2, ..., m
e k = 1, 2, ..., n). Isto demonstra (3.3).
Para finalizar esta subseção, apresentaremos algumas operações elementares para as Integrais
de Lebesgue envolvendo funções simples.
Demonstração. Sejam
∑
n ∑
m
f= ai χAi e g = bj χBj
i=1 j=1
∑
n ∑
n
λf = λ ai χAi = (λai )χAi .
i=1 i=1
ii) Sejam
X = ∪ni=1 Ai e Y = ∪m
j=1 Bj .
33
Daı́, dado x ∈ R, tem-se que ou x ∈ X ∩ Y , ou x ∈ X\Y , ou x ∈ Y \X, ou x ∈
/ X ∪ Y . Sendo assim,
vamos mostrar que
∑
n ∑
m ∑
n ∑
m ∑
m ∑
m
ai χAi + bj χBj = (ai + bj )χAi ∩Bj + ai χAi \Y + bj χBj \X (3.6)
i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1
Com efeito, se x ∈ X ∩ Y , então x ∈ Ai0 ∩ Bj0 , para alguns i0 = 1, 2, ..., n e j0 = 1, 2, ..., m. Daı́,
∑
n ∑
m ∑
n ∑
m
ai χAi (x) + bj χBj (x) = ai0 + bj0 = (ai + bj )χAi ∩Bj (x)
i=1 j=1 i=1 j=1
∑
n ∑
m
+ ai χAi \Y (x) + bj χBj \X (x),
i=1 j=1
Se x ∈ X\Y , então x ∈ Ai1 , para algum i1 = 1, 2, ..., n, e x ̸∈ Bj , para todo j = 1, 2, ..., m. Daı́,
chegamos a
∑
n ∑
m n ∑
∑ m ∑
m ∑
m
ai χAi (x) + bj χBj (x) = ai1 = (ai + bj )χAi ∩Bj (x) + ai χAi \Y (x) + bj χBj \X (x).
i=1 j=1 i=1 j=1 j=1 j=1
O caso Y \X é análogo.
∑
n ∑
m ∑
n ∑
m ∑
m ∑
m
ai χAi (x) + bj χBj (x) = 0 = (ai + bj )χAi ∩Bj (x) + ai χAi \Y (x) + bj χBj \X (x).
i=1 j=1 i=1 j=1 j=1 j=1
m(Ai ∩ Bj ) ≤ m(Ai ) < ∞, m(Ai \Y ) ≤ m(Ai ) < ∞, ∀ i ∈ {1, 2, ..., n}, j = {1, 2, ..., m}
e também
m(Bj \X) ≤ m(Bj ) < ∞, ∀ j = {1, 2, ..., m}.
34
Sendo assim, f + g é uma função simples.
∑
n
m(Ai ∩ Bj ) = m(∪ni=1 (Ai ∩ Bj )) = m(Bj ∩ X), ∀ j ∈ {1, 2, ..., m}.
i=1
Consequentemente, encontramos
∑
n ∑
m ∑
m
bj m(Ai ∩ Bj ) = bj m(Bj ∩ X). (3.7)
i=1 j=1 j=1
∑
n ∑
m ∑
n
ai m(Ai ∩ Bj ) = ai m(Aj ∩ Y ). (3.8)
i=1 j=1 i=1
A partir daı́, por (3.7), (3.8) e novamente pelo Teorema 2.1, inferimos que
∫ n ∑
∑ m ∑
m ∑
m
(f + g) = (ai + bj )m(Ai ∩ Bj ) + ai m(Ai \Y ) + bj m(Bj \X)
R i=1 j=1 i=1 j=1
∑n ∑ m ∑∑
n m ∑n ∑
m
= ai m(Ai ∩ Bj ) + bj m(Ai ∩ Bj ) + ai m(Ai \Y ) + bj m(Bj \X)
i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1
∑
n ∑
m ∑
n ∑
m
= ai m(Ai ∩ Y ) + bj m(Bj ∩ X) + ai m(Ai \Y ) + bj m(Bj \X)
i=1 j=1 i=1 j=1
∑n ∑
m
= ai [m(Ai ∩ Y ) + m(Ai ∩ Y c )] + bj [m(Bj ∩ X) + m(Bj ∩ X c )]
i=1 j=1
∑
n ∑
m
= ai m(Ai ) + bj m(Bj )
i=1 j=1
∫ ∫
= f+ g.
R R
∑
p
iii) Seja h = g − f ≥ 0. Pelos itens i) e ii), tem-se que h é simples. Seja h = cl χCl a forma
l=1
35
canônica de h. Como, h ≥ 0 tem-se que cl ≥ 0 para cada l = 1, 2, ..., p. Logo,
∫ ∑
p
h= cl m(Vl ) ≥ 0.
R l=1
v) Note que
∑
n ∑
n
fa (x) = f (x − a) = ai χAi (x − a) = ai χAi +{a} (x).
i=1 i=1
Como m(Ai + {a}) = m(Ai ) (ver Proposição 2.1 e Teorema 2.4), para todo i = 1, 2, ..., n, tem-se
que fa é simples. Além disso, temos que
∫ ∑
n ∑
n ∫
fa = ai m(Ai + {a}) = ai m(Ai ) = f.
R i=1 i=1 R
Nesta subseção, estamos interessados em estender o conjunto de funções que podem ser In-
tegráveis a Lebesgue. Sendo assim, permita-nos estabelecer a seguinte definição.
Definição 3.5. Seja f uma função real, mensurável e não negativa. Definimos a Integral de
36
Lebesgue da função f por
∫ {∫ }
f := sup φ : 0 ≤ φ ≤ f, φ simples .
R R
Aqui este supremo está sendo considerado com relação às funções simples representadas por φ.
∫
Note que é possı́vel acontecer a seguinte igualdade f = ∞ (quando o conjunto que definie
R
esta integral é ilimitado superiormente). Além disso, observe que se f é simples, então
∫ ∫
φ≤ f, ∀ 0 ≤ φ ≤ f.
R R
Portanto, {∫ } ∫
max φ : 0 ≤ φ ≤ f, φ simples = f.
R R
Com isso, a definição 3.4 é generalizada por este novo conceito de integral acima.
Abaixo, enunciaremos um lema que será usado como ferramenta importante na prova de resul-
tados que garantem que a Proposição 3.3 pode ser considerada no caso da Integral de Lebesgue
para funções reais, mensuráveis e não negativas.
Lema 3.1. Sejam f uma função real, limitada e mensurável e A um conjunto de medida finita.
Então, dado ε > 0, existem funções simples f1 , f2 tais que
f1 ≤ f ≤ f2 em A e f2 − f1 ≤ ε.
Demonstração. Aplicando o fato que f é limitada, decorre que existe M > 0 tal que f (x) ∈
[−M, M ], para todo x ∈ R. Para ε > 0, particione o intervalo [−M, M ] em subintervalos disjuntos
I1 , I2 , ..., In tais que
digamos que, Ik = [ak , bk ], para cada k = 1, 2, ..., n. Com isso, defina f1 e f2 pondo
∑
n ∑
n
f1 = ak χAk e f2 = bk χAk , (3.10)
k=1 k=1
37
Proposição 2.1), para cada k = 1, 2, ..., n, podemos concluir que f1 e f2 são simples.
Vamos mostrar que f1 ≤ f ≤ f2 em A. Assim, dado x ∈ A, tem-se que f (x) ∈ [−M, M ]. Logo,
f (x) ∈ Ik0 , para algum k0 = 1, 2, ..., n. Com isso, x ∈ f −1 (Ik0 ) e; assim, x ∈ Ak0 . Por conseguinte,
por (3.10), chegamos a
f1 (x) = ak0 ≤ f (x) ≤ bk0 = f2 (x).
Aqui i = 1, 2, ..., n. De qualquer forma, usando (3.9), obtemos (f2 − f1 )(x) ≤ ε. Como gostarı́amos
de provar.
O resultado, enunciado abaixo, informa que a Proposição 3.3 i) (com constantes positivas) e ii)
podem ser estendidos ao conjunto das funções reais, mensurávies e não negativas.
Proposição 3.4. Sejam f e g funções reais, mensuráveis e não negativas, e λ > 0. Então, as
seguintes afirmações são válidas:
∫ ∫
i) [Homogeneidade] λf é mensurável, não negativa e (λf ) = λ f;
R R
∫ ∫ ∫
ii) [Aditividade] f + g é mensurável, não negativa e (f + g) = f+ g.
R R R
Demonstração. i) Note que λf é mensurável e não negativa, pois f o é e λ > 0 (ver Teorema 3.2).
Além disso, usando a Proposição 3.3, chegamos a
∫ {∫ }
λ f = λ sup φ : 0 ≤ φ ≤ f, φ simples
R R
{∫ }
= sup (λφ) : 0 ≤ λφ ≤ λf, λφ simples
{∫R }
= sup ϕ : 0 ≤ ϕ ≤ λf, ϕ simples
R
∫
= (λf ).
R
38
Agora, considere que
{∫ } {∫ }
X= φ : 0 ≤ φ ≤ f, φ simples e Y = ψ : 0 ≤ ψ ≤ g, ψ simples .
R R
A priori, considere, sem perda de generalidade, que X é ilimitado superiormente. Então, como
X ⊆ X + Y , tem-se que X + Y também é ilimitado superiormente. Logo,
∫ ∫ ∫ ∫
f+ g =∞+ g = ∞ = (f + g).
R R R R
∑
n
m(A) = m(Ak ) < ∞.
k=1
39
Aqui (Ak )nk=1 é uma coleção formada por conjuntos de medida finita e disjuntos dois a dois. Por
outro lado, note que h é limitada, pois Im (h) ⊆ {0, a1 , a2 , ..., an }. Dessa maneira, as funções h ∧ f
(≤ h) e h ∧ g (≤ h) são limitadas e mensuráveis (ver Teorema 3.2). Pelo Lema 3.1, existem funções
simples λ1 , λ2 , γ1 , γ2 tais que
0 ≤ λ1 ≤ h ∧ f ≤ λ2 e 0 ≤ γ1 ≤ h ∧ g ≤ γ2 , em A,
(ver demonstração deste mesmo lema para a garantia da não negatividade acima) e também
ε ε
λ2 − λ1 ≤ e γ2 − γ1 ≤ .
2 2
Consequentemente, encontramos
ε ε
h ≤ h ∧ f + h ∧ g ≤ λ1 + + γ1 + = λ1 + γ1 + ε, em A.
2 2
= λ1 + γ1 + εm(A).
R R
(Aqui
∫ usamos
∫ o ∫fato que h = λ1 = λ2 = 0 em Ac ). Passando ao limite, quando ε → 0, obtemos
h≤ λ1 + γ1 (aqui usamos o fato que m(A) < ∞). Por conseguinte, pela definição 3.5,
R R ∫R ∫ ∫ ∫
concluı́mos que λ1 ≤ f (pois, 0 ≤ λ1 ≤ h ∧ f ≤ f e λ1 é simples) e γ1 ≤ g (desde que,
R R ∫ ∫R ∫ R
0 ≤ γ1 ≤ h ∧ g ≤ g e γ1 é simples). Dessa forma, resulta que h ≤ f+ g, para toda h
R R R
simples tal que 0 ≤ h ≤ f + g. Passando ao supremo, com relação a h, obtemos que
∫ ∫ ∫
(f + g) ≤ f+ g.
R R R
Agora estamos prontos para provar que a generalização da Proposição 3.3 iii) com relação à
integração dada na definição 3.5 é válida.
Proposição 3.5. Sejam f e g funções reais, mensuráveis e não negativas. Então, vale a próxima
implicação: ∫ ∫
f ≤g⇒ f≤ g.
R R
40
Demonstração. Sejam
{∫ } {∫ }
X= φ : 0 ≤ φ ≤ f, φ simples e Y = ψ : 0 ≤ ψ ≤ g, ψ simples .
R R
Se X for ilimitado superiormente, então Y também o é, pois X ⊆ Y (f ≤ g). Logo, chegamos a
∫ ∫
f =∞= g.
R R
Note que o item iv) da Proposição 3.3 não precisa ser considerado nestas extensões. Isto ocorre,
pois estamos trabalhando com funções não negativas nesta subseção.
Para finalizar esta mesma subseção, acrescentamos ao nosso estudo a generalização da Pro-
posição 3.3 v).
Proposição 3.6. Sejam f uma função real, mensurável e não negativa, e a ∈ R. Então, a aplicação
fa , dada por fa (x) = f (x − a), é mensurável, não negativa e
∫ ∫
fa = f.
R R
Com efeito, usando os Teoremas 2.4 e 3.1, concluı́mos que fa−1 é mensurável (pois, f também o é).
Como f é não negativa, então fa tem a mesma caracterização. Além disso, aplicando a Proposição
41
3.3, concluı́mos que
∫ {∫ }
fa = sup φ : 0 ≤ φ ≤ fa , φ simples
R
{∫R }
= sup φ(−a) : 0 ≤ φ(−a) ≤ f, φ(−a) simples
{∫R }
= sup ϕ : 0 ≤ ϕ ≤ f, ϕ simples
R
∫
= f.
R
Nesta subseção, iremos estabelecer precisamente a definição da integral de uma função real e
mensurável f qualquer. Para este fim, precisaremos entender o significado das partes positiva e
negativa de aplicações desta mesma categoria. É importante frisar que utilizaremos as integrais
destas mesmas para chegarmos a Integral de Lebesgue de f .
Definição 3.6. Seja f uma função real. Definimos as partes positiva, denotada por f + , e negativa,
escrita como f − , de f , respectivamente, por
f = f + − f − e |f | = f + + f − .
Além disso, se f é uma aplicação mensurável, então f + e f − também o são, já que f + = f ∨ 0
e f − = f ∧ 0 (ver Teorema 3.2).
Definição 3.7. Uma função f real e mensurável ∫ é Integrável a Lebesgue (ou simplesmente, in-
tegrável), com relação à medida de Lebesgue, se |f | < ∞.
R
42
O resultado abaixo nos mostra uma outra maneira de definirmos quando uma função men-
surável f é integrável. Mais precisamente, esta nova caracterização de integração está diretamente
relacionada às partes positiva e nesgativa de f .
Teorema 3.5.
∫ ∫ Seja f uma função real e mensurável. Então, f é integrável se, e somente se,
f <∞e
+
f − < ∞.
R R
∫
Demonstração. Primeiramente, considere que f é integrável, isto é, |f | < ∞. Note que
R
0 ≤ f + = max{f, 0} ≤ |f | e 0 ≤ f − = max{−f, 0} ≤ |f |.
∫ ∫
Reciprocamente, suponha que f , +
f − < ∞. Como |f | = f + + f − , tem-se, aplicando a
R R
Proposição 3.4, que ∫ ∫ ∫ ∫
−
|f | = +
(f + f ) = +
f + f − < ∞.
R R R R
Isto prova o teorema em questão.
Já sabemos quando uma função real e mensurável é integrável. Resta-nos estabelecer a definição
de integral para esta mesma aplicação.
Definição 3.8. Seja f uma função integrável. Definimos a Integral de Lebesgue de f por
∫ ∫ ∫
f := f+ − f −.
R R R
Observe que a definição 3.8 estende o conceito estabelecido na definição 3.5; de fato, se f ≥ 0,
tem-se que ∫ ∫
f := f +,
R R
Note também que, se as integrais das partes positiva e negativa fossem iguais a ∞, então a
integral acima não faria sentido, pois terı́amos ∞ − ∞ como resultado, o que é considerado uma
43
indeterminação. Porém, por outro lado, o Teorema 3.5 nos garante que se f é integrável então esta
indeterminação não ocorre.
Teorema 3.6. Sejam f e g funções reais e integráveis, e λ ∈ R. Então, são válidas as seguintes
afirmações:
∫ ∫
i) λf é integrável e λf = λ f;
R R
∫ ∫ ∫
ii) f + g é integrável e (f + g) = f+ g;
R R R
∫ ∫
iii) f≤ g, se f ≤ g;
R R
∫ ∫
iv) |f | é integrável e f ≤ |f |;
R R
∫ ∫
v) fa é integrável e fa = f , onde fa é a translação de f por a ∈ R, isto é, fa (x) = f (x − a).
R R
pois f é integrável.
44
pois f e g são integráveis. Logo, f + g é integrável. Por outro lado,
(f + g)+ − (f + g)− = f + g = (f + − f − ) + (g + − g − ).
= f+ g.
R R
iii) Suponha que f ≤ g. Daı́, temos que g − f ≥ 0. Como f e g são integráveis, concluı́mos,
usando a definição 3.5, e os itens i) e ii), que
∫ ∫ ∫
0 ≤ (g − f ) = g− f.
R R R
conclui-se que ∫ ∫ ∫ ∫
− |f | = −|f | ≤ f≤ |f |.
R R R R
∫ ∫
Isto nos diz que f ≤ |f |.
R R
45
v) Primeiramente, é fácil ver, aplicando a Proposição 3.6, que
∫ ∫ ∫
|fa | = |f |a = |f | < ∞,
R R R
Para concluir esta subseção, permita-nos generalizar o conceito de integração de funções defi-
nidas sobre conjuntos mensuráveis. Comecemos com o conceito de aplicações mensuráveis deste
mesmo tipo.
46
Proposição 3.7. Assuma que f uma função real e integrável. Sejam B e C conjuntos mensuráveis
e disjuntos. Se A = B ∪ C, então ∫ ∫ ∫
f= f+ f.
A B C
Demonstração. A igualdade acima segue do fato que χA = χB + χC (ver [3]). Com efeito,
∫ ∫ ∫
f= f χA = f [χB + χC ]
A ∫R ∫ R ∫ ∫
= f χB + f χC = f+ f.
R R B C
Nesta seção, nosso objetivo é estudar as principais consequências do que foi construı́do até
aqui, entre estas estão: os Teoremas da Convergência Monótona e Dominada e o Lema de Fatou.
Gostarı́amos de ressaltar que, estes resultados fornecem condições suficientes para que possamos
“comutar”o limite (inferior, no caso do Lema de Fatou) de uma sequência de funções, com a Integral
de Lebesgue.
Para a demonstração dos teoremas relatados acima, faremos uso do lema a seguir.
Lema 3.2. Seja g uma função simples e não negativa, e (fn )n∈N uma sequência de funções men-
suráveis tais que
47
(mensurável, ver Proposição 2.6). Consequentemente, pelo Teorema 2.1, podemos escrever m(A) =
∑p
m(Ek ) < ∞. Por outro lado, afirmamos que
k=1
Dado x ∈ An+1 , tem-se que fn+1 (x) > ε e, por conseguinte, obtemos que
desde que fn ≥ fn+1 , para cada n ∈ N. Com isso, x ∈ An . Isto nos diz que An ⊇ An+1 , para todo
n ∈ N.
Isto nos leva a concluir que x ∈ Ek , para algum k = 1, 2, ..., p, ou seja, x ∈ A. Portanto, A ⊇ An ,
para todo n ∈ N.
Seja x0 ∈ R. Como, por hipótese, lim fn (x0 ) = 0, tem-se que existe n0 ∈ N tal que fn0 (x0 ) < ε.
n→∞
Logo, x0 ̸∈ An0 . Por isso, podemos afirmar que ∩n∈N An = ∅. Deste modo, pelo Teorema 2.3,
obtemos que
0 = m(∩n∈N An ) = lim m(An ).
n→∞
Dessa forma, existe m0 ∈ N tal que m(An ) < ε, sempre que n ≥ m0 . Por outro lado, observe que
fn = 0 em Ac (n ∈ N), pois g = 0 em Ac (ver (3.13)). Além disso, segue que fn ≤ ε em Acn ∩ A,
para cada n ∈ N.
48
para todo n ≥ m0 . Isto completa a verificação do lema em questão.
Teorema 3.7 (Teorema da Convergência Dominada). Seja (fn )n∈N uma sequência de funções
mensuráveis tal que lim fn = f . Suponha que exista uma função integrável g tal que |fn (x)| ≤ g(x),
n→∞ ∫ ∫
para cada x ∈ R. Então, f é integrável e lim fn = f.
n→∞ R R
1. Suponha que f = 0 e que (fn )n∈N é uma sequência não crescente. Daı́, dado ε > 0, use a
definição de supremo para encontrar uma função simples g1 tal que
∫ ∫
ε
0 ≤ g1 ≤ g e g≤ g1 + . (3.14)
R R 2
fn = fn ∨ g1 + [fn − fn ∨ g1 ] ≤ fn ∧ g1 + (g − g1 ), ∀ n ∈ N. (3.15)
hn+1 = fn+1 ∧ g1 ≤ g1 = fn ∧ g1 = hn .
Isto nos diz que (hn )n∈N é uma sequência não crescente. Além disso, também é fácil deduzir
que
0 ≤ hn ≤ g1 e 0 ≤ lim hn = lim fn ∧ g1 ≤ lim fn = 0.
n→∞ n→∞ n→∞
∫
ε
Pelo Lema 3.2, obtemos (fn ∧ g1 ) < , para n suficientemente grande. Logo, por (3.14) e
R 2
(3.15), chegamos a ∫ ∫ ∫
fn ≤ (fn ∧ g1 ) + (g − g1 ) ≤ ε,
R R R
∫ ∫
para n grande. Portanto, lim fn = 0 = f.
n→∞ R R
2. Suponha que f = 0 e fn ≥ 0, para cada n ∈ N. Seja gn = sup {fm } (mensurável, ver Teorema
m≥n
49
3.4), para qualquer n ∈ N. Note que
∫
Pelo primeiro passo, tem-se que lim gn = 0. Daı́, deduzimos
n→∞ R
∫ ∫
0 ≤ lim fn ≤ lim gn = 0.
n→∞ R n→∞ R
(Aqui usamos
∫ ∫ fn ≤ gn , para todo n ∈ N, e o Teorema 3.6). Com isso, inferimos
o fato que
que lim fn = 0 = f.
n→∞ R R
Além disso, sabemos que |fn | ≤ g, para todo n ∈ N. Como g é integrável, então (fn )n∈N é
uma sequência de funções da mesma classe. Por outro lado
Como g é integrável, então (fn − f )n∈N e (gn )n∈N são sequências de funções da mesma cate-
goria. Com isso, podemos dizer que f é integrável, já que
f = fn − (fn − f ), ∀ n ∈ N.
50
∫ ∫ ∫
Portanto, como lim gn = 0 (ver passo anterior), resulta que lim fn = f . Isto
n→∞ R n→∞ R R
completa a prova do teorema em questão.
Permita-nos aplicar o Teorema 3.7 para obter o Teorema da Convergência Monótona de Lebes-
gue. Este é enunciado como segue.
Teorema 3.8 (Teorema da Convergência Monótona). Seja (fn )n∈N uma sequência não decrescente
de funções reais, não negativas e mensuráveis. Suponha que f = lim fn . Então,
n→∞
∫ ∫
lim fn = f.
n→∞ R R
0 ≤ fn ≤ sup{fn } = lim fn = f, ∀ n ∈ N.
n∈N n∈N
∫ ∫
Com isso, através do Teorema 3.6, chegamos a fn ≤ f . Logo, podemos concluir que
R R
∫ ∫ ∫
lim fn ≤ lim f= f.
n→∞ R n→∞ R R
∫ ∫
Agora, vamos mostrar que lim fn ≥ f . Com efeito, seja h uma função simples tal que
n→∞ R R
0 ≤ h ≤ f . Denote gn = h ∧ fn , para cada n ∈ N. Então,
0 ≤ gn ≤ h ≤ f, ∀ n ∈ N. (3.16)
h ≤ f = lim fn = lim gn .
n→∞ n→∞
51
Como lim gn ≤ h (ver (3.16)), tem-se que lim gn = h. Pelo Teorema 3.7, podemos concluir que
n→∞ n→∞
∫ ∫ ∫
lim h ∧ fn = lim gn = h. (3.17)
n→∞ R n→∞ R R
gn = h ∧ fn ≤ fn , ∀ n ∈ N.
∫ ∫
Assim, usando o Teorema 3.6, concluı́mos que (h ∧ fn ) ≤ fn e; dessa forma, deduzimos
R R
∫ ∫
lim (h ∧ fn ) ≤ lim fn .
n→∞ R n→∞ R
∫ ∫
Consequentemente, por (3.17), podemos escrever h ≤ lim fn , para qualquer h simples tal
∫
n→∞ R
R ∫
que 0 ≤ h ≤ f . Pela definição de supremo, resulta que lim fn ≥ f.
n→∞ R R
∫ ∫
Se fn > h, para todo n ∈ N, então, aplicando o Teorema 3.6, inferimos que h ≤ lim fn ,
R ∫
n→∞ R
para qualquer h simples tal que 0 ≤ h ≤ f . Pela definição de supremo, resulta que lim fn ≥
∫ n→∞ R
Para terminar esta seção, exibiremos uma prova para o Lema de Fatou. Este está precisamente
formulado no resultado a seguir.
Teorema 3.9 (Lema de Fatou). Seja (fn )n∈N uma sequência de funções não negativas e men-
suráveis. Então, ∫ ∫
lim inf fn ≤ lim inf fn .
R n→∞ n→∞ R
gn = inf {fk }, ∀ n ∈ N.
k≥n
((gn )n∈N é uma sequência de funções mensuráveis, ver Teorema 3.4). É fácil ver que
Além disso,
lim gn = lim inf {fk } = lim inf fn .
n→∞ n→∞ k≥n n→∞
52
Aplique o Teorema 3.8 para obter
∫ ∫
lim gn = lim inf fn . (3.18)
n→∞ R R n→∞
0 ≤ gn ≤ fk , ∀ k ≥ n.
Para concluir este trabalho, mostraremos, ná próxima seção, como comparar a Integral de
Lebesgue com a Integral de Riemann (estudada em um curso introdutório de Cálculo).
Nesta seção, nossa meta é mostrar que toda função Integrável a Riemann é também Integrável
a Lebesgue e, neste caso, as duas integrais coincidem. Em adição, exibiremos dois exemplos que
engrandecem nosso trabalho: o primeiro deles garante que a recı́proca desta última afirmação é falsa
e, o segundo, diz respeito a não veracidade do Teorema da Convergência Dominada no contexto
das Integrais de Riemann. É importante destacar que, estes exemplos mostram que a Integral de
Lebesgue envolve conceitos mais gerais que os conhecidos de um curso introdutório de Cálculo.
53
3.4.1 Conjuntos de Medida Nula
É verdade que qualquer subconjunto de um conjunto de medida nula possui a mesma medida.
Com efeito, seja X um conjunto de medida nula e Y ⊆ X. Então, usando a Proposição 2.1,
chegamos a
0 ≤ m∗ (Y ) ≤ m∗ (X) = m(X) = 0.
(X é mensurável). Logo, m∗ (Y ) = 0. Está condição nos mostra que Y é mensurável (ver Proposição
2.4). Consequentemente, m(Y ) = m∗ (Y ) = 0. Isto nos diz que Y tem medida nula.
Vimos no Exemplo 3.1 que, qualquer conjunto enumerável possui medida nula. Portanto, N, Z
e Q são exemplos de conjuntos com medida nula.
Definição 3.12. Sejam f e g : Ω ⊆ R → R duas funções. Dizemos que f e g são iguais em quase
toda parte de Ω se existe X ⊆ Ω tal que f = g em Ω\X, onde m(X) = 0. Neste caso, escrevemos
f = g q.t.p. em Ω.
i) g é mensurável;
∫
ii) Se f ≥ 0, então f = 0 ⇔ f = 0 q.t.p. em Ω.
Ω
54
A é mensurável, pois
0 ≤ m∗ (A) ≤ m∗ (S) = m(S) = 0.
Com isso, podemos concluir que {x ∈ A : g(x) > a} é mensurável (ver Proposição 2.4). Portanto,
{x ∈ Ω : g(x) > a} é um conjunto mensurável, pois {x ∈ Ω : f (x) > a} (f é mensurável) e Ω\A (A
é mensurável) o são.
1
pois n < f em An . Consequentemente, através da Proposição 3.7, resulta que
∫ ∫
1
m(An ) ≤ f≤ f, ∀ n ∈ N. (3.19)
n An Ω
∫
Suponha, então, que f = 0. Por (3.19), inferimos que m(An ) = 0, para todo n ∈ N. Como,
Ω
pela Proposição 2.1, podemos escrever
∞
∑
m(∪n∈N An ) ≤ m(An ) = 0,
n=1
tem-se que m({x ∈ Ω : f (x) > 0}) = 0. Isto nos diz que f = 0 q.t.p. em Ω.
55
usando novamente a Proposição 3.7, inferimos que
∫ ∫ ∫ ∫
f= f+ f= f = 0,
Ω {x∈Ω:f (x)>0} {x∈Ω:f (x)=0} {x∈Ω:f (x)>0}
pois {x ∈ Ω : f (x) > 0} tem medida nula em Ω. Isto conclui a prova da proposição em questão.
É importante ressaltar que, a afirmação contida na Proposição 3.8 ii) é válida para o contexto
das Integrais de Riemann, desde que f seja contı́nua (para mais detalhes ver [3]).
Nesta seção, apresentaremos resultados que esclarecerão que toda função real e limitada In-
tegrável a Riemann é também Integrável a Lebesgue. Neste caso, tais integrais coincidem.
Definição 3.13. Dizemos que f : R → R é uma função escada se existe n ∈ N tal que
∑
n
f= bj χ[aj ,aj+1 ] ,
j=1
onde aj , bj ∈ R.
É fácil ver que funções escadas são também aplicações simples (ver Proposições 2.5 e 2.1). Outra
∑ n
observação que pode ser feita aqui é a seguinte: se f = bj χ[aj ,aj+1 ] é uma função escada, então
j=1
∫ b ∑
n ∑
n ∫
f= bj [aj+1 − aj ] = bj m([aj , aj+1 ]) = f,
a j=1 j=1 [a,b]
onde P = {a = a1 < a2 < ... < an+1 = b} é uma partição do intervalo [a, b]. Isto nos diz que as
Integrais de Riemann e Lebesgue coinceidem quando consideramos funções escadas.
Lema 3.3. Uma função limitada f : I = [a, b] → R é integrável a Riemann se, e somente se,
existem sequências de funções escadas (gn )n∈N e (hn )n∈N tais que
∫
gn ≤ f ≤ hn e lim (hn − gn ) = 0, ∀ n ∈ N.
n→∞ I
56
Demonstração. Suponhamos que f é integrável a Riemann. Com isso, dada uma partição P =
{a = a0 < a1 < ... < an = b} (n ∈ N) de I, escolha gn e hn de forma que
∑
n ∑
n
gn = mfi · χIi e hn = Mif · χIi .
i=1 i=1
(Aqui Ii = [ai−1 , ai ]). As funções gn e hn são funções escadas e simples, para todo n ∈ N. Além
disso, dado x ∈ I, temos que x ∈ Ii0 , para algum i0 = 1, 2, ..., n, e, consequentemente,
e também ∫ ∑
n ∑
n
gn = mfi · m(Ii ) = mfi · [ai − ai−1 ] = sP (f ).
I i=1 i=1
Portanto, ∫ ∫ ∫
(hn − gn ) = hn − gn = SP (f ) − sP (f ), ∀ n ∈ N.
I I I
∫
Deste modo, passando ao limite, quando n → ∞, deduzimos que lim (hn − gn ) = 0.
n→∞ I
Agora, suponha que existam sequências de funções escadas (gn )n∈N e (hn )n∈N de forma que
∫
gn ≤ f ≤ hn e lim (hn − gn ) = 0.
n→∞
I
∫ b ∫ b
Vamos mostrar que f= f . Com efeito, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que
a a
∫
(hn − gn ) < ε, ∀ n ≥ n0 .
I
57
pois gn e hn são integráveis a Riemann, para todo n ∈ N (ver [3]). Portanto, chegamos a
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b ∫ b ∫
f− f≤ hn − gn = (hn − gn ) = (hn − gn ) < ε, ∀ n ≥ n0 .
a a a a a I
(Aqui a última igualdade provém do fato de estarmos trabalhando com funções escadas). Passando
∫ b ∫ b
ao limite, quando n → ∞, inferimos que f= f . Portanto, f é integrável a Riemann.
a a
A seguir apresentaremos o resultado que estabelece a condição para que os conceitos de Integrais
de Riemann e Lebesgue sejam coincidentes. Gostarı́amos de ressaltar que tal teorema é uma
consequência do Teorema da Convergência Dominada.
Demonstração. Vamos mostrar a priori que f é mensurável. Para isso, faremos uso do Lema 3.3
para obter sequências de funções escadas (logo, simples) (gn )n∈N e (hn )n∈N de forma que
∫ b
gn ≤ f ≤ hn e lim (hn − gn ) = 0, ∀ n ∈ N. (3.20)
n→∞ a
(Caso contrário, use as funções un = max {gi } e vi = min {hn }). Com isso, (gn )n∈N e
i∈{1,2,...,n} i∈{1,2,...,n}
(hn )n∈N são sequências limitadas e monótonas. Deste modo, temos que
(Aqui g e h são mensuráveis, ver Teorema 3.3). Passando ao limite, quando n → ∞, em (3.20),
concluı́mos que g ≤ f ≤ h. Pelo Teorema 3.7 e (3.20), podemos escrever
∫ ∫ ∫ b ∫ b ∫ ∫
g = lim gn = lim gn = lim hn = lim hn = h. (3.22)
I n→∞ I n→∞ a n→∞ a n→∞ I I
(Aqui∫a segunda e quarta igualdades provêm do fato de estarmos trabalhando com funções escadas).
Daı́, (h − g) = 0 e; por conseguinte, aplicando a Proposição 3.8, deduzimos que h = g q.t.p.
I
(h − g ≥ 0). Assim sendo, temos que f = g = h q.t.p. em I (g ≤ f ≤ h). Por fim, f é mensurável
58
(ver Proposição 3.8). Em consequência, obtemos, por (3.22) e Teorema 3.6, que
∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫
lim gn = g ≤ f ≤ h = lim hn = lim gn ,
n→∞ I I I I n→∞ I n→∞ I
Vejamos que a recı́proca para o Teorema 3.10 não é verdadeira, ou seja, existem funções in-
tegráveis a Lebesgue que não são Integráveis a Riemann.
Exemplo 3.2. Consideremos a função caracterı́stica dos racionais χQ : [0, 1] → {0, 1} definida por
{
1, se x ∈ Q ∩ [0, 1];
χQ (x) =
0, se x ∈ Qc ∩ [0, 1].
Tal função é integrável a Lebesgue (já que, trata-se de uma função caracterı́stica definida sobre um
conjunto mensurável em [0, 1]) e, aplicando a Proposição 3.7, encontramos
∫ ∫ ∫ ∫
χQ = χQ + χQ = χQ = m(Q ∩ [0, 1]) = 0,
[0,1] Q∩[0,1] Qc ∩[0,1] Q∩[0,1]
pois 0 ≤ m(Q ∩ [0, 1]) ≤ m(Q) = 0. Por outro lado, esta função não é integrável a Riemann. Com
efeito, dada qualquer partição P = {a0 = 0 < a1 < ... < an = 1} de [0, 1], tem-se que
∑
n
χ
sχQ (P ) = mi Q · (ai − ai−1 ) = 0,
i=1
já que,
χ
mi Q = inf {χQ (x)} = inf {0, 1} = 0,
x∈[ai−1 ,ai ] x∈[ai−1 ,ai ]
e também que
∑
n
χQ
S χQ (P ) = Mi · (ai − ai−1 ) = 1,
i=1
desde que
χQ
Mi = sup {χQ (x)} = sup {0, 1} = 1.
x∈[ai−1 ,ai ] x∈[ai−1 ,ai ]
59
Logo, chegamos a
∫ 1 ∫ −1
χQ = 0 e χQ = 1.
0 0
Permita-nos finalizar este trabalho com um exemplo que garante que a convergência pontual
não é suficiente para que possamos apresentar um resultado análogo ao Teorema da Convergência
Dominada para a Integral de Riemann. Na verdade, é preciso impor uma convergência mais geral,
denominada uniforme (para mais detalhes ver [3]).
Vamos mostrar que a conclusão do Teorema 3.7 nem sempre é satisfeita para funções integráveis a
Riemann. Para isso considere os conjuntos
{m }
An = : m ∈ Z, 0 ≤ m ≤ n e Bn = ∪ni=1 Ai , ∀ n ∈ N.
n
É claro que
fn = χBn , ∀ n ∈ N.
Como fn é a função caracterı́stica definida sobre um subconjunto finito de [0, 1], podemos concluir
que fn é descontinua somente em um número finito de pontos. Além disso, fn é limitada para todo
n ∈ N (Im (fn ) = {0, 1}). Com isso, temos que fn é integrável a Riemann, para todo n ∈ N (ver
Teorema de Lebesgue em [3]), e como todo intervalo não degenerado contém números irracionais
(ver []), obtém-se que
∫ 1 ∫ 1
fn = fn = 0, ∀ n ∈ N.
0 0
60
Dessa forma, temos que
|fn (x)| ≤ g(x), ∀ x ∈ [0, 1].
(Aqui g é integrável a Riemann em [0, 1], ver [3]). Além disso, observe que se x ∈ Qc ∩ [0, 1], então
dado n ∈ N, tem-se que x ∈
/ Bn . Isto nos diz que, fn (x) = 0. Por outro lado, caso x ∈ Q ∩ [0, 1],
podemos escrever x = pq , onde p ∈ N e q ∈ N ∪ {0}, com 0 ≤ p ≤ q, e concluir que x ∈ Bn , para
todo n ≥ q (x ∈ Aq ). Dessa maneira, fn (x) = 1, para todo n ≥ q. Portanto, por (3.23), podemos
escrever
lim fn (x) = χQ (x), ∀ x ∈ [0, 1].
n→∞
A sequência de funções (fn )n∈N cumpre todas as condições do Teorema 3.7, com relação a Integral
de Riemann. Porém, a função limite χQ não é integrável a Riemann.
Ao leitor mais curioso, recomendamos um estudo sobre Espaços de Lebesgue, o qual pode ser
realizado com os conceitos e resultados apresentados neste trabalho. Para mais detalhes ver [1].
61
Referências Bibliográficas
[1] BARTLE, R.G., Elements of Integration. First Edition. John Wiley e Sons, Inc Appl,1996.
[2] BEALS, R., Analysis: An Introduction. First Edition. Neww York: Cambridge University
Press, 2004.
[3] LIMA, E. L., Curso de Análise vol.1. 14a Edição. Rio de Janeiro: Coleção Projeto Euclides,
2013.
[4] RUDIN, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition. New york: McGraw-Hill
1976.
62