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COLEGAO ENFOQUES Plosofia DP MECHS Scoble 0 tas Frangoise Dastur Nile A morte Ensaio sobre a finitude Tradugio ‘Maria Tereza Pontes a ee DIFEL \ 2002 opyghe © Haier, agosto de 1994 “Thule orignal La non (Caps Ral Femandes 2002 Sumério impre Br Pamad mB! Pr. Cat mote Sins Nana ox Err ero 8 ‘Bison Dear, Fang, 1 "Atmore cnaio se faite / Frangie Das: go Marta Term omnes ~ Rode Jani: DIFEL, 2002 INTRODUGAO: A GRANDEZADAMORTE 5 LACULTURAEAMORTE 13 tngp Clo Ea Fits) A sc sscon 1, Oluto, origem da cultura 15 In og 2. Ainvengto escatoligica 18 ISBN 85-7452-024.2 3. Tagédia e mortalidade 25 1. Mane 2. TH. She. oan ae ILA METAFISICADAMORTE 31 1.A imortalidade platdnica 33 2. A*subsinuigho” hegeliana da morte 38 3A metafsica do devenir Todos os direitos reservados pela: oO a EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA Ran Arenin 17112 andar Sho Crit IL FENOMENOLOGIA DO SER-MORTAL 57 20921380 Rode Jncro— 1. Aprépria morte ea morte do outro 62 fel: (3021) 2585-2070 — 1) 2585-2087 “Tel: (Ox) 2585-2070 — Fax: (01X21) 258 FA ‘No € permit reprsigto total ou parc desta obra, por quai 3. Amorte eo possivel 78 «qc mcon, ena pros atortagh por excita da Eto ‘Mendes elo Renta Pol. IV MORTALIDADEEFINITUDE 87 1. Finitude e totalidade 91 2. Finitude e nataidade 99 3. A finitude origingria 109 CONCLUSKO: A MORTE,A PALAVRAEO RISO 115 BIBUIOGRAFA 121 Introdugio ‘A GRANDEZA DA MORTE Der Ta of Wir sind ee Siem luke Mande ean i un mien Len men sage wien ‘ite thet [- "0 homem live nfo pensa senfo que a morte e sua |» sabedoria € uma meditagfo nfo sobre a morte, mas J sre a vida”: Parece que com ess afrmago, que ret (mda flosof toda voaso de ens ort, spinosa TDs Buch deri, Schuck. Le Live images, Fae (901 “Amore érande/ Wits he peencemos/ Boca sorte Quando ‘ms seretames no corto ds ds fa ura de oper Corr em ts" (7 Nara tances de Meta “L8 ent et ce, 7 ‘Reus lt appanenans / Bouche vst, Corsa courte ‘aus nou ryons/ Ele ose out coy /plur on aus” 1 spinosa, Ee pate, Propostso LXV. Trad Rall Cole- ‘o Bibloheque dela lade, Calla, 1954, 5 dual ext A morte io fez sendo experimentar a tendéncia bisica da meta- fsica cujatarefa principal, desde Platio, € nos lembrar 8 nossa paticipagio no eterno e nos convidara superar a ‘contingéncia ea nitude da vida individual. Vencer a mor te, tal € proposta no somente da metafsica, que alme- 2 0 conhecimento do supra-sensfele do nSo-corrupti- vel, mas também da religiio, enquanto esta € promessa (1 de sobrevida pessoal da ciéncia, que eleva avaidade de ‘uma verdade independente dos mortals que sobre ela! refletemse, de forma mals gral, do conjunto da cultura ‘humana, JS que esta se fundamenta, essencialmente, na ‘ranamissiblidade de téenicas que constituem o tesouro ddurével de uma Comunidade, estendendo-se por virias eragées. Pois a morte € objeto de espanto e no parece poder| | ser enfrentada, ano ser na medida em que se vé relai- { zac aparena ter domino apenas sobre uma parte do ! noo stjf Espinosa anda, que declara que “0 esplrito hhumano no pode ser inteiramente destrufdo com o ‘corpo, mas nele subsste alguma coisa de eterno”. Ele afirma também que, embora no se possa deduzir da substincia eterna, da esséncla pensante do espirito, ‘nenhuma imortalidade da alma enquanto entidade pes. soal, “todavia, sentimos e damos prova de que somos Tid. 5 pane, Propesgso XX, ‘6 ity Ken an stermos".+ E essa experiéncia da eternidade no préprio. seio da duraclo que sempre se opés 20 prazoinelutive ¢& morte como 0 que seria passe de colocé-la antec adamente em xeque. [Nio hi, entretanto, uma relagSo que nfo seja de citar um encontro com a morte nlo é posse ver na “cternidade”, da qual vemos a experiacia na qualida- de de seres pensantes, menos a prova do fato de perten- ‘ermos intemporalidade do que uma pris propria de temporalidade em si, que sera, assim, capaz de pro- Jar por si mesma, no ser humano, o horizonte de ua répria superagio? E neste sentido que o iealsmo alemio, de Kant a Hegel, passando por Schelling e Holderlin, pdde ver ma Imortalidade um “postulado” de uma razio finita no atsoluto, 0 que requer itrinsecamente uma histra; no 1 (o “um mundo ap6s a morte nem na imagem luminosa dos deuses, mas que unicamente na mentira da arte chega Ter salvo" jf que *a clagto do poeta nada mals € que casa imagem liminosa que a nature nos oferece para “sos curar aps termoslangado um olhar sobre o able- 1m", na verdad, a sabedora humana, to 6, osaber- s€ mors, que constitu esa monstruosidade que vai em sentido contrrio ao curso da naturea, desvendando-Ihe 0 segredo, como demonstra resposta de Edipo 8: sings, que enconra seu eastgo nos decretesimpla-_ +\ cfvels do destino. O que hé de contririo 8 natureza na “exlsténcia humana € precisamente que ela nfo se consti- tul uma vide absolutamente viva, mas uma vida que ‘ee sedortecn e mun se mores, ‘ainda, de uma'certa forma, o mundo antigo, a0 ‘mesmo tempo vise eInvstel, povoado de vivor€ de ‘mortos,apesar de tudo, presentes, que a tragédia grega descreve: vé-se bem, por exemplo, na Antigona, de S6- focles,e na obstinagio que demonstra, ao desprezar sua prépria vida para dar uma sepultura a0 Irmo, a impor= tdncia que hi em atrbuir um sentido & morte clewando @ oe digila Gas Seagwcaie aad Ean dele um daimon, um espfrito. Pois a morte significa, como Hegel resalta na interpretaglo que faz dessa tag, na | : 2K SOF Nigasche, © Nascimento de rag, Gallimard, 1949, §7 2 bis'§ 3. 26 | Avcoltura ea morte Fnamenolgia do epot. 0 comego da vide do exprito que consi aeséncia do enor ea continidade da fam. liagrege Se o individu singular pertence,enquanto wer, cidade, que €somente al que ee encontraseuser dadeizo e substancial, a contingencia de sua dove ao reino da naturea,e & 0 papel da fais que representa esa lei dlvina da qual Anigonaexige a pro <0 contra Creonte, restituindo a0 morto sua verdade iru, asegurando-Ie uma sepulur, strand para sla morte ao arrancar suas rales da natura. € porque nada podia ser mais terrvel para o homem da An- 7 tilidade do que privé-o da honrasuprema da sepulure, is, neste caso, 0 qe &propriamente terrivelé menos 3 !morte em si que o morta, enquanto ele no tier atingido © proceso de intrioriagioeRagio da menviria que €o [5° tut, stima proegio contra poder exerci pelos mor toxsohre ns vvos, eenquanto continuar a povour confor- ‘me a maneira de inquietante estranheza daquele que retorna do além, que ao mesmo tempo esté fora da mor- 37) te fora da vida, a conscignca dos sobreviventes. ‘Tadavia, a partir dat, nessa mesma trap no famo- so canto do coro celebrando essa aterradora maravilha (@ termo grego que aparece aqui, deinon, tem, com efel- 52 eget Fenomenolopa do expr, aptlo Vi, “0 ext“) sito verdad, a orem eis", Aber Moraine, 1999-1949, Tomei pas 2 A morte to, ees dois sentdos opostos) que & 0 homem, senhor de arte e de engenho (versos 333 © seguintes), S6focles reconhece que #6 contra a morte nlo soube Inventar remédios, que entretantosoube imaginar contra as mais terre doengas. Que nio hajaremédio para a morte, ‘ques moralidade sje a diviato do homem e que ete se listings tio radicalmente dos mortals, dos que nto conhecem nem nascimento nem morte © que, por sso mesmo, nfo podem mals povoar com sua presenca o ‘mundo dos moras, € também o que, na tragéiasofo- liana, prepara o advento ds filosofia. “Temos, sem divide, rio de ver no herbi de uma coutratrapila de Sofoctes, que € Epo, o protétipa do Alésofo, daqucle que almeja e procura o saber. Pots Edipo ete herd trighco que, a0 contrirto de Antigona, ‘nfo morre, mas nfo termina, no decorrer de seu longo ‘agucar sem rumo que aguardao cego em que ele se tr ‘ou, de vver,por assim dizer, sua prépria morte, ele, {que 0 coro chama de athens (ver80 661 de Epo re), quer dlaer nfo “ateu” no sentido moderno que dams a esta palavra, mas “sem deus”, desterrado pelo deus que se ta as costa, abandona-o, delxando-o, 0 de sua consctncia de estar consagrado ‘uma mortelentae que demoraa chega: Holden, nas [Nowa que acompanham suas traducBes dessas dus tra- fdas de Séfoces,dstingve duas espécies de morte: ‘morte fica, que €a morte efeta de Antigona, ea mor~ 28 __Rento] O discurso los6fico | A cultura ea morte te spiritual, que arebata fiipo e 0 condena a retornar a este mundo, em lugar de escapar, na pretensio de _governar seu préprio destino, em um além onde pudes- se se Identificar com os deuses. Em Eilpo em Colona, Séfocles nos descreve esta segunda vida de Edipo, que ‘consste em assumie o abandono, para vier, por assim dizer, como um morto-vvo, e vemos af a antecipagio da definigto da vida floséfica que Montaigne dard mais tar- de, em uma férmula chocanteretomada de Patio e dos «estdicos: “Flosofar aprender a morrer" ‘Amorte nfo se torna na verdade o objeto do discur- 10 floséfico a ndo ser quand ela nfo se aprescnta mais ‘como “morte em geral", como “acidente”, sobrevindo a tum vivente, nem mesmo como “destino” contra o qual 6 impossivel lutar, mas como “morte propria", como “minka-morte", 0 que implica considera, por aquele ‘que pensa, a possibilidade de seu préprio desaparecie— sobre a morte € eno pro- | Priamente o discurso sobre a mortalidade ou o ser- | morta, nesta qualidade. Sto capt XX do io os Enso. 29

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