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LES DEMI-VIERGES E AS PRÁTICAS DISCURSIVAS DE EMANCIPAÇÃO

FEMININA NOS TEMPOS DE DITADURA

Nas décadas de 1960 e 1970 o Brasil presenciou vários movimentos de mulheres e


feministas que cada vez mais ganhavam visibilidade nas pautas de interrogatórios de
juristas renomados ao julgarem casos de crimes sexuais. Naquela sociedade, o país
estava sob o estado de exceção, algumas moças “meio virgens”, les demi-vierges,
significadas assim nos relatórios de delegados, em processo crimes de juízes e
promotores, ganharam visibilidade por meio ao julgarem casos de crimes sexuais no
Brasil. Aquelas mulheres meio virgens estariam se corrompendo sexualmente, com
práticas consideradas degeneradoras da conduta feminina, como o sexo fora do
casamento e por meio do “coito anal”. O membro genital masculino, aparecia por meio
dos discursos, em todos os orifícios do corpo das jovens, assegurando o ato ativo em
todos os momentos, persistindo a “tradição” discursiva de que o sujeito masculino não
resistia ao “objeto da tentação”. Esse e muitos outros discursos reproduziam a ideia da
sexualização do corpo feminino em contraposição à ideia de que o corpo feminino
deveria ser preservado somente para a procriação e que frutuficasse rebentos como meio
de assegurar o futuro das populações saudáveis de doenças. Esse modo de pensar, no
sentido jurídico, dizia respeito à noção de que o sexo como desejo e prazer teria sido
concebido colo uma premissa inata à figura masculina. Trata-se de jovens mulheres,
envolvidas em casos de estupros, que foram estereotipadas pelos juiristas durante o
período da Ditadura Militar como prosititutas modernas, emancipadas, “les demi-
vierges”, face aos discursos que eram mediados por meios dos meios de comunicação
de massa acerca dos movimento feministas que ocorriam, concomitantemente, nos EUA
e na Françae, que segundo eles, traziam para o país ideias liberais que corrompiam os
usos e costumes das “donzelas de família”. Esse artigo visa a problematização daqueles
discursos jurídicos, compreendendo como praticas sociais de normatização de condutas
sexuais frente a moral da época. De modo consciente ou não, aquelas jovens mulheres
abriram espaços de discussão por meio dos discursos dos juristas da época, homens
considerados os arautos da moral ilibada, por meio do dispositivo do poder jurídico, ao
julgar os crimes sexuais, deixavam as marcas de normatizações que tentavam regular os
desejos, as escolhas e a sexualidade das mulheres. A emancipação política e sexual das
mulheres era vista por muitos deles como um cranco que infectava o corpo saudável e
moralizado das famílias e do Estado ordeiro e direito fomentado pela Ditadura Militar.

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