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DJACIR MENEZES
Muita gente de gosto literário apurado tinha vontade de ler a prosa maliciosa
e polêmica de Carlos de Laet por vários motivos. Primeiro e mais forte motivo,
porque escrevia na melhor linguagem, sem o ranço do gramaticógrafo. E, a
seguir, porque dissimulava sua verve ferina, apesar de alardear e ser um católico
intransigente, cuja docência exerceu pela vida afora, enfrentando dissabores com
a mais combativa lealdade a seus princípios.
Assim, logo que a Livraria Agir, o Instituto Nacional do Livro e a Fundação
Casa Rui Barbosa, conveniados no mesmo propósito, decidiram editar suas Obras
seletas, fui um dos que rejubilaram com a idéia de reler, integralmente, as
escaramuças do admirável espadachim, que terçara armas com João Ribeiro, com
Camilo Castelo Branco, com Jackson de Figueiredo, com Alfredo Gomes, com
Constâncio Alves, polêmicas agora reunidas no volume ora exposto nas vitrinas.
Lembro-me que há coisa de uns 15 anos, ao receber do filólogo Antônio
Chediak o seu livro sobre Carlos de Laet, insisti para que nos desse todo o
volume sobre as batalhas travadas pelo desassombrado católico. Se não me atrai-
çoa a memória, Chediak me respondera que aquelas páginas ainda estavam de
quarentena, pois picavam vaidades que sobreviviam e seu filho, Desembargador
Mafra de Laet, não desejaria recordar episódios já envolvidos na serenidade
pacificadora dos espíritos que ainda lucilavam.
Hoje, a recordação não suscita mais irritações em nenhuma das velhas par-
cialidades que dividiam a opinião pública. O tempo é o grande lenitivo onde
adormecem todos os litígios - e o que a posteridade salva é a substância ética,
que imortaliza a memória acima das rixas dos debatedores das idéias e das
crenças, das aspirações e ilusões que nublam o seu momento histórico.
Na perspectiva em que agora o leitor moderno pode enquadrar as Polêmicas,
que as notas apensas pelos ilustres coordenadores do volume ajudam a bem situar
e compreender, os macróbios (fala um setuagenário), que não sentiram o calor
sentimental das refregas mas leram, pela vida afora, fragmentariamente, os
artigos de imprensa, já amadurecidos pela experiência, retificam certos linea-
mentos sentimentais das posições assumidas. Isso, aliás, não significa que se
alterem, liminarmente, as coordenadas fundamentais de sua formação espiritual.
Na qualidade de estudioso que não coincidiu jamais com os parâmetros religio-
sos de um Jackson ou de um Laet, tive sempre grande admiração pela combati-
vidade de ambos - e continuo com a mesma repugnância aos moluscos morais
que tanto repugnaram a eles.
A intolerância do Conde de Laet tomou-se proverbial. E onde ela realça é na
polêmica com Jackson de Figueiredo, em desfavor - diga-se a verdade - do
velho monarquista, sempre azedo quando encarava o novo regime, que lhe toma-
ra a cadeira do Pedro 11. A desavença em tomo de Artur Bernardes, tal qual
se conclui da pendenga lítero-política entre mestre Laet e o discípulo Jackson,
volumes 1 e2,
.de Niswonger &Fess
2. ' edição revisada
90 R.C.P. 1/85