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O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS EM


VOLTA REDONDA - RIO DE JANEIRO

Gizele da Conceição Soares Martins1, Ana Emilia Cardoso Moraes2, Tânia Cristina Franco Santos3, Maria
Angélica de Almeida Peres4, Antonio José de Almeida Filho5

1
Acadêmica de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Bolsista de iniciação cientifica pela Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail:
gizelemartins16@hotmail.com
2
Mestre em Enfermagem. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde do município de Volta Redonda. Rio de Janeiro, Brasil.
E-mail: anaemiliacardoso@bol.com.br
3
Doutora em Enfermagem. Professor associado do Departamento de Enfermagem Fundamental da e do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: taniacristinafsc@terra.com.br
4
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem Fundamental e do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: aguaonda@bol.com.br
5
Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto IV do Departamento de Enfermagem Fundamental e do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da EEAN/ UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: ajafilhos@gmail.com

RESUMO: Estudo histórico-social, cujos objetivos são descrever as circunstâncias de criação das Residências Terapêuticas, em
Volta Redonda, caracterizar a estrutura e o funcionamento dessas residências, e analisar a atuação do enfermeiro no seu processo
de implantação. Teve como fontes primárias leis, decretos, portarias e relatórios, além de seis depoimentos orais de profissionais
envolvidos nesse processo. A coleta de dados foi de dezembro de 2009 a junho de 2010. Os achados foram organizados, classificados
e analisados conforme o método histórico, com apoio da literatura sobre o tema. Pode-se constatar que a implantação das Residências
Terapêuticas representou um processo complexo em que a atuação do enfermeiro ocorreu através de instituições extra-hospitalares
que compõem a rede de atenção à saúde mental. Conclui-se sobre a importância dessas residências para o resgate da autonomia do
usuário e sobre a pertinência da participação do enfermeiro como elo entre essas residências e as unidades básicas de saúde mental.
DESCRITORES: Enfermagem. Enfermagem psiquiátrica. Saúde mental. História da enfermagem. Moradias assistidas.

THE IMPLEMENTING PROCESS OF THERAPEUTIC HOMES IN VOLTA


REDONDA – RIO DE JANEIRO

ABSTRACT: A historical-social study with the objective to describe the circumstances surrounding the creation of Therapeutic Homes
in Volta Redonda, defining the structure and functioning of these homes and analyzing the nurses’ role during the implementation
process. Laws, decrees, ordinances and reports, in addition to oral statements from the professionals involved in the process, were
used as primary sources of information. Data collection occurred from December of 2009 to June of 2010. Findings were organized,
classified and analyzed according to an historic method, supported by the literature regarding the theme. The implementation of
Therapeutic homes was observed to represent a complex process in which nurses acted through outpatient institutions that comprise
the mental health care network. The importance of these homes was shown as contributing to and increasing the clients’ autonomy
and the fundamental participation of nurses was the link between these homes and the mental health primary care units.
DESCRITORS: Nursing. Psychiatric nursing. Mental health. History of nursing. Assisted living facilities.

El PROCESO DE IMPLANTACIÓN DE RESIDENCIAS TERAPÉUTICAS EN


VOLTA REDONDA –RIO DE JANEIRO

RESUMEN: Estudio histórico-social. Los objetivos: describir las circunstancias de creación de las Residencias Terapéuticas en Volta
Redonda-Rio de Janeiro; caracterizar la estructura y el funcionamiento de esas residencias y analizar la actuación del enfermero en
el proceso de implantación. Tuve como fuentes primarias: leyes, decretos, portarías e informes, además de seis testigos orales de
profesionales que participaron de ese proceso. La recogida de datos ocorió los meses de diciembre de 2009 hasta junio de 2010. Los
hallazgos fueron organizados, clasificados y analizados conforme el método histórico con apoyo de la literatura sobre el tema. Los
resultados evidenciaron que la implantación de las Residencias Terapéuticas representó un proceso complejo en el cual la actuación del
enfermero ocurrió a través de instituciones extra hospitalarias que componen la red de atención a la salud mental. Se concluye sobre
la importancia de esas residencias para el rescate de la autonomía del usuario y sobre la pertinencia de la participación del enfermero
como ello entre esas residencias y las Unidades Básicas de Salud Mental.
DESCRIPTORES: Enfermería. Enfermería psiquiátrica. Salud mental. Historia de la enfermería. Instituciones de vida asistida.

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jan-Mar; 21(1): 86-94.


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INTRODUÇÃO na urgência de uma intervenção na área da saúde


mental, que fosse capaz de resgatar os direitos de
A assistência de enfermagem ao cliente
cidadania daqueles que sofriam de transtornos
portador de transtorno mental no Brasil vem, ao
mentais naquele município.6
longo dos anos, se desenvolvendo e buscando
atender as propostas provenientes da Reforma O processo de implantação da Reforma
Psiquiátrica, que exige dos profissionais de saúde Psiquiátrica em Volta Redonda teve início com a
uma prática contrária àquela iniciada com a psi- intervenção municipal nas instituições especializa-
quiatria tradicional, caracterizada pelo isolamento, das para o tratamento de pessoas com transtorno
tratamento punitivo, e contenção física e química mental. Desde então, as autoridades municipais
desses clientes.1 A transformação da prática as- têm investido em várias ações, tais como a criação e
implantação dos CAPS, algumas atividades integra-
sistencial psiquiátrica vem ocorrendo de forma
tivas em espaços públicos, envolvendo os usuários
lenta e gradual, mesmo quando implicações éticas
do serviço de saúde mental, a criação de uma rede
e legais evidenciam a necessidade de aceleração
social de apoio a esses usuários, o investimento no
deste processo.2
processo de desospitalização, dentre outras.6
A Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciada
Também foram implantadas, em 2009, as
na década de 1980, implementou novas propos-
Residências Terapêuticas, ambiente no qual os
tas e possibilidades de assistência ao cliente com
portadores de transtorno mental exercem sua
transtorno mental, assim, procurando assegurar o
inserção em um ambiente próximo ao que se
exercício de seu direito a cidadania.3 Ratificando
pode considerar como uma residência, tal como
essas propostas, foi sancionada a Lei n° 10.216/01,
conhecemos e onde devem, progressivamente, se
com a finalidade de reorientar a política de saú-
tornar capacitados para o exercício de direitos e
de mental no Brasil, priorizando a proteção e os
deveres da vida comum.
direitos dos portadores de transtornos mentais.4
As Residências Terapêuticas, instituídas pela
Seguindo esse redirecionamento da Política Portaria/GM nº 106, de 11 de fevereiro de 2000, têm
de Saúde Mental no país, passou-se a um processo como principal finalidade o morar, não devendo
de transformação da conduta terapêutica para o ser consideradas como locais onde são realizados
portador de transtorno mental, que era contrária serviços de saúde, uma vez que são articuladas aos
à sua reclusão em hospitais psiquiátricos, sendo demais dispositivos que integram a rede de atenção
criados, através da Portaria nº 224/92 do Ministé- à saúde mental do município. Podem beneficiar
rio da Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial portadores de transtornos mentais egressos ou não
(CAPSS), como serviços substitutivos extra-hospi- de hospital psiquiátrico, que não possuam suporte
talares, cuja finalidade, dentre outras coisas, era a familiar, egressos de Hospitais de Custódia, atra-
redução de internações psiquiátricas e o resgate vés de decisão judicial, pessoas acompanhadas
do paciente psiquiátrico para os espaços sociais.1-2 pelo CAPS, que possuem problemas de moradia
Os CAPS devem funcionar como hospital- identificados pela equipe interdisciplinar, e mora-
-dia para prestação de serviços terapêuticos, dores de rua, com acompanhamento dos CAPSs,
individuais ou em grupos, tais como: oficinas, acometidos de transtorno mental. 7
atividades lúdicas, visitas domiciliares, atendi- Em linhas gerais, a Residência tipo I é voltada
mento às famílias e atividades comunitárias.5 Além para portadores de transtornos mentais com mais
disso, promovem a articulação entre os diversos autonomia, ou seja, supervisão de atividades diárias
dispositivos extra-hospitalares da rede de atenção dentro da casa, e encaminhar para as atividades de
à saúde mental do município, constituída por inserção social promovidas pelos CAPS. É aquela
Hospital Geral, Programa Saúde da Família (PSF), que não demanda cuidados específicos de saúde.
Residências Terapêuticas, Centros Comunitários, As Residências tipo II são mais recomendadas
Associação de Moradores e Instituições de Defesa aos usuários que sejam dependentes de cuidados
dos Direitos do Usuário.4 diretos, por exemplo, idosos, deficientes físicos e/
Nessa perspectiva, em 1993, iniciou-se o ou com outras patologias que requerem cuidado
processo de implantação da Reforma Psiquiá- diário de um profissional técnico de enfermagem7.
trica no município de Volta Redonda, região sul Entendendo que a atuação do enfermeiro
do Estado do Rio de Janeiro. Esse processo foi no campo da saúde mental deve acompanhar os
bastante complexo, sustentado por interesses avanços dos serviços de saúde, se faz necessária
político-partidários, cuja justificativa pautava-se a busca de novos caminhos em que se possa (re)
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pensar os cuidados de enfermagem de uma for- social (E1) que fazia parte da Coordenação Técnica
ma ampliada e humanizada, indo de encontro ao da CSVR; a enfermeira (E2) que ocupa o cargo de
modelo biologicista/organicista, que se mostrou Coordenadora do Programa de Saúde Mental de
insuficiente para dar conta das questões complexas Volta Redonda, desde 2008, sendo responsável
que envolvem tal campo, sendo fundamental con- pela condução da assistência à saúde mental no
siderar a necessidade de uma ação interdiscipli- município; uma recreadora (E3); uma técnica de
nar8. A implantação das Residências Terapêuticas enfermagem (E4) que trabalha em uma das Resi-
passou a ser mais um desafio no trabalho deste dências Terapêuticas; uma enfermeira (E5) que
profissional, juntamente com os demais membros trabalha em um dos CAPS; e aenfermeira (E6)
da equipe de saúde. gerente da equipe do Programa Saúde da Família
Diante do exposto, e dando continuidade às (PSF), responsável por uma das Residências Te-
pesquisas para maior compreensão dos fenômenos rapêuticas. O instrumento utilizado para nortear
históricos acerca da expansão das estratégias para as entrevistas apresentou questões referentes ao
atender as necessidades daqueles que sofrem de desafio dos profissionais e autoridades públicas
transtornos mentais, apresento como objeto de municipais para implantação das Residências
estudo o processo de implantação de Residências Terapêuticas, bem como as estratégias utilizadas
Terapêuticas para portadores de transtorno mental, para superar as dificuldades apresentadas.
no município de Volta Redonda-RJ, no ano de 2009. Para análise dos dados, foram utilizadas
Este estudo apresenta os seguintes objeti- fontes secundárias que abordaram a Reforma
vos: descrever as circunstâncias de criação das Psiquiátrica, suas implicações para enfermagem
Residências Terapêuticas, em Volta Redonda-RJ, e a sociedade e os estudos de história da enferma-
caracterizar a estrutura e o funcionamento das gem sobre o tema. Essas fontes foram compostas
Residências Terapêuticas em Volta Redonda-RJ, por uma dissertação, localizada no Centro de
e analisar a atuação do enfermeiro no processo de Estudos de Saúde Mental (CESAM) da CSVR e na
implantação das mesmas. Biblioteca Setorial da Pós-Graduação da Escola de
Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal
do Rio de Janeiro; e artigos científicos indexados
METODOLOGIA na base SciELO, identificados a partir das buscas
Trata-se de uma pesquisa de cunho histórico- utilizando os descritores Enfermagem Psiquiátri-
-social, pois compreende o estudo dos grupos hu- ca, Residência Terapêutica e História da Enfer-
manos no seu espaço temporal com a preocupação magem. Esse artigo, que aborda a implantação
de discutir os diferentes aspectos que envolvem o de Residências Terapêuticas em Volta Redonda
cotidiano das diferentes classes e grupos sociais. contribui para a análise sobre a implantação da
A pesquisa histórico-social é, portanto, entendida Reforma Psiquiátrica no Brasil e como aconteceu
como síntese e permite a reafirmação do princípio a atuação do enfermeiro em um cenário de aten-
de que, em história, todas as abordagens estão dimento ao portador de distúrbios mentais, em
inscritas no social e se interligam, e ainda, possibi- Volta Redonda, contribuindo para demarcar mais
litam delimitar um campo específico de problemas um espaço de atuação e consequente reafirmação
a serem formulados à disciplina histórica.9 de sua importância para a sociedade.
A coleta de dados compreendeu os meses de Cabe ressaltar que, em cumprimento da Re-
dezembro de 2009 a fevereiro de 2010 e constou de solução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o
documentos escritos e depoimentos orais. As fon- presente estudo foi submetido, em 18 de setembro
tes primárias foram constituídas de documentos de 2009, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola
escritos, tais como leis, decretos, portarias e rela- de Enfermagem Anna Nery/Hospital Escola São
tórios, disponíveis no site do Ministério da Saúde; Francisco de Assis, sendo aprovado, conforme
além do Projeto para Implantação de Residências consta no protocolo nº 058/2009.
Terapêuticas no município de Volta Redonda-RJ, Os sujeitos da pesquisa assinaram o Termo
localizado no Centro de Estudos de Saúde Mental de Consentimento Livre e Esclarecido e autori-
da Casa de Saúde Volta Redonda (CSVR). zaram a gravação dos depoimentos e seu uso,
Também foram utilizados depoimentos no todo ou em parte, para esta pesquisa e seus
orais, transcritos na íntegra, de pessoas envolvi- produtos, sob a forma de publicações e trabalhos
das no processo de criação e implementação das científicos apresentados em eventos nacionais e
Residências Terapêuticas, tais como: a assistente internacionais.
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Depois de repetidas leituras do corpus transformação social que ocorreu no município


documental, os achados foram organizados, apresentava possibilidades e limitações para o seu
classificados, contextualizados e analisados em desenvolvimento.
consonância com o método histórico e com o A implantação das Residências Terapêuticas
apoio da literatura sobre a Reforma Psiquiátrica e tornou-se uma solução necessária para realocar
a assistência ao portador de transtorno mental, o os usuários e, ao mesmo tempo, coerente com as
que permitiu a construção de uma versão original diretrizes da Reforma Psiquiátrica. O serviço de
quanto à participação do enfermeiro na estrutura e saúde mental contava naquele momento com os
funcionamento das Residências Terapêuticas para CAPSs, que contribuíam com a formação da rede
pessoas com transtornos mentais no município de de saúde mental extra-hospitalar, além de outros
Volta Redonda-RJ. dispositivos que favoreceram a implantação das
Residências, conforme trechos dos depoimentos,
RESULTADOS E DISCUSSÃO a seguir:
[...] a assessoria de saúde mental do Estado [do
Residências Terapêuticas para Volta Redon- Rio de Janeiro] indicava que podia montar as Residên-
da - Rio de Janeiro cias Terapêuticas, pois Volta Redonda contava com uma
rede de saúde mental extra-hospitalar consolidada (E1).
A implantação das Residências Terapêuticas
no município de Volta Redonda foi impulsionada [...] claro que a residência terapêutica não é uma
pelo fato de que as autoridades municipais perde- moradia comum, mas a tendência é que o paciente se
ram, em 2009, o direito de administrar a Casa de adapte ao máximo possível nessas Residências e que o
Saúde Volta Redonda (CSVR), última instituição cuidador utilize ao máximo possível esses outros dis-
a ser utilizada para internação de portadores de positivos, para fazer valer a Residência Terapêutica,
transtornos mentais e que era mantida sob in- enquanto modelo de Residência Terapêutica (E2).
tervenção há 15 anos. Essa situação exigiu uma Podemos observar que o processo de im-
solução imediata para o destino dos usuários ali plantação das Residências Terapêuticas em Volta
internados, após o fechamento da Casa de Saú- Redonda estava estreitamente relacionado com a
de Volta Redonda. Os trechos dos depoimentos rede de Saúde Mental já existente no município
abaixo evidenciam o caráter impositivo do fim da e que, dentro das perspectivas das políticas de
intervenção municipal na CSVR, o que implicou saúde, poderia acompanhar e dar suporte a esses
a necessidade de realocar todos os usuários dessa novos dispositivos. Dessa forma, a proposta de
instituição em um curto espaço de tempo, deter- implantação de tais moradias seguiu as dire-
minando que as autoridades municipais tomassem trizes da Política de Saúde Mental preconizada
as providências para a criação e implantação das pelo Ministério da Saúde e fez parte das ações
Residências Terapêuticas: de desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica no
[...] pensava-se em Residência Terapêutica, mas, município. Assim, em junho de 2009, foram criadas
tudo programado, porém, teve que ser rápido pelo pedido três Residências Terapêuticas, em Volta Redonda.
da casa [CSVR], já estávamos trabalhando o fechamento Na fase inicial de implantação do projeto,
desse hospício [...] (E4). durante a análise e seleção das casas, algumas
[...] foi tudo muito rápido; eles tiveram de janei- dificuldades foram imediatamente detectadas
ro até junho para organizar, quando recebeu a ordem para a aquisição das mesmas. As casas que mais
judicial para que a Casa de Saúde Volta Redonda fosse se adequavam às necessidades dos usuários se
desocupada.[...] só que eu acredito que o município localizavam em regiões centrais dos bairros, pois,
não estava ajudando de nenhuma forma para que isso facilitariam a locomoção dos mesmos, porém es-
[Residência Terapêutica] acontecesse. Eles não foram sas casas possuíam alto valor para realização dos
pegos de surpresa porque a casa de saúde estava há 15 contratos de aluguel, como registra o depoimento
anos sob intervenção (E3). a seguir:
Considerando o pequeno período para [...] a gente resolveu pegar a primeira casa que
transferência dos usuários internados, houve a a gente encontrasse e que fosse num lugar acessível e
necessidade de envolver, ativamente, os usuá- que fosse um imóvel em condições de moradia [...] nós
rios; as famílias; os moradores vizinhos a essas encontramos três imóveis em excelente condições [...]
Residências e os profissionais atuantes na área mas todos eles em áreas extremamente central do bairro
da saúde mental. Como toda mudança, essa [...] (E2).
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Ademais, ao contrário dos hospitais psi- porque precisamos de mais uma casa, estamos com um
quiátricos, que abrigavam muitos pacientes, os usuário a mais em cada residência. [...] temos essas
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) devem Residências sendo bancadas pelo município, pura e sim-
abrigar, no máximo, oito usuários por moradia, plesmente porque elas ainda não são cadastradas (E2).
podendo ter até três por dormitório.10 Por determi- A reorganização da assistência em Saúde
nação do Ministério da Saúde, as casas deveriam Mental em Volta Redonda foi um processo muito
possuir, pelo menos, três quartos e proporcionar delicado e difícil, pois exigiu a tomada de me-
condições básicas de conforto, em todos os cômo- didas que influenciaram a vida dos usuários e
dos, além de mobiliários adequados às necessida- dos profissionais, uma vez que, tal proposta, ao
des dos usuários. mesmo tempo em que ia de encontro ao modelo
Outra questão que dificultava o aluguel dos hospitalocêntrico vigente, exigia a implementação
imóveis se pautava na resistência das imobiliárias de práticas terapêuticas alternativas que estimulas-
e dos proprietários que não desejavam ter como sem as potencialidades dos usuários e evitassem o
locatário um órgão público, neste caso, a prefeitu- controle arbitrário de suas atitudes, conforme pre-
ra, pois temiam o não cumprimento dos contratos, visto nas determinações legais.11 O entendimento
sobretudo no pagamento do aluguel. Acredita- de um depoente nos mostra as diferenças entre as
vam ainda que enfrentariam dificuldades para duas propostas assistenciais:
o rompimento dos contratos e disponibilização [...] no hospital psiquiátrico, se o cara [doente]
imediata de seus imóveis, como ilustrado com os agitou, chama-se o enfermeiro, o médico, dá medica-
depoimentos a seguir: mento, amarra e pronto. Na Residência é o vinculo, é
[...] quando a imobiliária aceita alugar para o o processo, é todo um diferencial do hospital [...]. Hoje,
serviço público, a maioria dos proprietários não aceita observamos uma mudança muito grande em relação
porque é paciente psiquiátrico [...] (E2). aqueles usuários que estão nas Residências Terapêuti-
[...] segundo as imobiliárias, a prefeitura não cas, tanto em relação à autonomia, quanto em relação
paga os aluguéis em dia e eles não podiam despejar, por ao tratamento nos CAPS [...] (E2).
conta de atraso de aluguel, por ser um órgão público O Projeto para Implantação de Residências
e, por isso, esse processo foi tão difícil. As compras dos Terapêuticas para o município de Volta Redonda
móveis também demoraram por conta de licitação (E3). estabeleceu que as moradias tivessem como recur-
O Projeto para Implantação de Residências sos humanos necessários ao seu funcionamento:
Terapêuticas no município de Volta Redonda foi um coordenador das Residências Terapêuticas,
elaborado em 2005, por uma assistente social, que teria como uma de suas atribuições a articu-
então Coordenadora Técnica da CSVR, e previa a lação das Residências com os CAPS, capacitação e
criação de quatro Residências Terapêuticas, con- supervisão dos serviços; seis auxiliares de serviços
forme previa o Ministério da Saúde.17 Entretanto, gerais, que desempenhariam a tarefa de auxiliar e
foram implementadas apenas três, o que culminou monitorar as atividades domésticas nas Residên-
com a superlotação das mesmas. Segundo um cias tipo I e II; quatro cuidadores noturnos, apenas
depoente: para as Residências do tipo II; e um motorista para
locomoção dos usuários.11
[...] a CSVR tinha 29 pacientes, e cada Residência,
de acordo com o Ministério da Saúde, poderia comportar
de seis a oito usuários. Então, precisava-se de quatro Dinâmica de funcionamento das Residências
Residências Terapêuticas e ainda teria um espaço para Terapêuticas em Volta Redonda - Rio de
aquela clientela que o CAPS identificasse que precisaria Janeiro
de um suporte, morador de rua sem apoio familiar (E1).
O processo de transferência dos usuários
A criação das Residências Terapêuticas, ao de uma instituição hospitalar psiquiátrica para
abrigar uma quantidade superior de usuários, as Residências Terapêuticas exige dos mesmos,
em relação ao número previsto pelo Ministério condições psíquicas para estabelecimento de no-
da Saúde, resultou no não cadastramento destas vos vínculos interpessoais e com o novo ambiente,
pelo SUS e, com isso, estas ficaram sendo manti- pois se deparam com a organização do espaço da
das exclusivamente com recursos financeiros da cidade diferente do momento que antecedeu às
prefeitura, tal como ilustrado pelo depoimento: longas internações. Além disso, outros desafios
[...] elas não estão cadastradas porque o número de permeiam o novo cotidiano do usuário da Residên-
pessoas está acima do que a portaria prevê, justamente cia Terapêutica, pois é preciso estabelecer relações
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de convívio com os moradores vizinhos, com o Tais depoimentos apontam para a complexi-
comércio do bairro, e o reconhecimento de trajetos dade da atenção ao doente mental quando ocorrem
diários pela cidade, gerando, assim, o sentimento mudanças muito significativas em seu cotidiano.
de inclusão naquele território.12 Lembramos que os doentes que foram para as
Com a implantação das Residências Tera- Residências eram aqueles com anos de internação
pêuticas, foi identificada, pelos profissionais que e com características de cronificação da doença
acompanhavam o funcionamento no interior des- mental, o que exige da equipe uma maior atenção,
ses espaços, algumas dificuldades por parte dos além de recursos terapêuticos, pois “o modo pelo
usuários, relacionadas à adaptação ao espaço físico qual o indivíduo percebe e se apropria do novo
disponível, pois era bastante diferente daquele espaço de moradia se dá através de uma cons-
onde estavam internados anteriormente. trução estritamente individual, ou seja, de uma
construção subjetiva”.13:216 Logo, cada morador
Nos dois primeiros meses, foi muito complicado
atribui o significado distinto ao novo lar, embora
tanto para os usuários quanto para os profissionais.
estejam todos no mesmo espaço físico.13
Os usuários com questão de adaptação, agressividade
aos próprios profissionais e familiares, rejeição muito Outro fato importante foi a inexperiência da
grande [...] (E2). equipe para atuar no Projeto para Implantação de
Residências Terapêuticas para o município de Vol-
O espaço que é pequeno, já que eles saíram de um
ta Redonda, o que consideramos um fator dificul-
hospício grande; dentro do hospício eles ficavam juntos,
tador, uma vez que o sucesso desse projeto exigia
mas não tão juntos. Devido ao espaço pequeno às vezes
o entendimento de que os moradores, após anos
acontece algum atrito [...] (E4).
de reclusão, tinham uma subjetividade construída
Os técnicos de enfermagem que optaram por nos moldes dotados pela instituição manicomial e,
serem realocados do hospital psiquiátrico para as portanto, precisava ser reelaborada em sua gama
novas moradias informaram suas dificuldades, de significados.13
principalmente, para controlar as crises psicóticas A reação desfavorável dos moradores vi-
de alguns usuários, pois o espaço físico era menor zinhos às Residências Terapêuticas também se
e o usuário em surto deveria ser encaminhado ao constituiu em um obstáculo a ser superado, prin-
Hospital Geral, ou ao Centro de Atenção Inter- cipalmente, quando algum usuário entrava em
mediária em Saúde (CAIS), para atendimentos de crise. Apesar dos funcionários terem feito algumas
urgências psiquiátricas. Os depoimentos a seguir reuniões com as Associações de Moradores dos
ilustram essa situação: bairros onde estas seriam implantadas, muitos
[...] o ideal seria que contratássemos todos os vizinhos reagiram negativamente à presença dos
cuidadores, mas a gente não pode fazer isso oficialmente. usuários e agiram, muitas vezes, de forma pre-
Então, a gente acabou fazendo algumas adaptações, o conceituosa, demonstrando sua insatisfação com a
que causou muitas confusões e estranheza em relação nova situação. No caso mais extremo, foi sugerida
aos próprios profissionais. Primeiro, por ser um serviço a realização de um abaixo-assinado, como medida
novo em Volta Redonda e, segundo, que as pessoas não para pressionar as autoridades municipais a repen-
tinham experiência nenhuma e nunca tinham trabalha- sarem a continuidade do Projeto das Residências
do numa residência terapêutica (E2). Terapêuticas. Os depoimentos a seguir atestam
[...] a dificuldade de manter o paciente em crise essa situação:
dentro da casa, os outros moradores não entendem a [...] eles estavam se mobilizando com abaixo-
crise [...]. A gente não quer que o paciente fique inter- -assinado pra que esses usuários fossem tirados de
nado, mas como dentro de uma residência você segura lá. [...] nos 30 dias que eu estive lá foi muito difícil,
um paciente em crise? (E4) houve intervenção da secretaria de saúde, reunião com
[...] houve muita agressão por parte de alguns a associação de moradores desses bairros pra que eles
usuários. Só que tinham alguns profissionais que não entendessem um pouco, ajudasse, colaborassem também
eram agredidos, eu acredito que seja ate mesmo pela com a chegada dos usuários nesses bairros (E3).
conduta, pela fala, ou seja, da maneira que eles se diri- [...] queriam fazer um abaixo-assinado para não
giam aos usuários. Eles sabem perfeitamente o que as permitir a ida dessas pessoas para lá, como já estáva-
pessoas querem dizer pra eles [...]. Foram 30 dias de mos fazendo um trabalho, intensificamos esse trabalho
muito trabalho que nós repensamos se valeria a pena, fazendo diversas reuniões na comunidade, utilizando
mas não pelos usuários e sim pela falta de suporte da os espaços de igrejas para que pudéssemos deixar as
equipe (E3). pessoas da comunidade mais tranqüilas no sentido de
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conhecer um pouco os pacientes (E2). extra-hospitalares, conforme nos revela os depoi-


[...] outra atuação do enfermeiro é estar orien- mentos a seguir:
tando a comunidade para evitarmos o preconceito (E6). [...] os pacientes que lá estavam não tinham sido
O atributo indesejável que o portador de trabalhados como o previsto e nessa época o município,
transtorno mental carrega devido ao acometimen- o programa de saúde mental, sentiu necessidade de
to pela patologia psiquiátrica gera conseqüências colocar esses cuidadores como técnicos de enfermagem,
que dificultam a ressocialização dos mesmos, uma devido ao pouco grau de autonomia que esses usuários
vez que ainda é rejeitado e tido como desqualifi- das Residências Terapêuticas tinham [...] (E5).
cado perante a sociedade. Este estigma pode levar [...] então dependendo da situação elas [técnicas
pessoas portadoras de transtorno mental ao con- de enfermagem] ligam pra gente [enfermeiros] e a
finamento e conseqüente cronificação da doença gente vai até eles (E6).
bem como alijá-lo do seu direito à cidadania14. Por Depreende-se dos depoimentos acima que
isso, se faz necessária a atuação dos profissionais o trabalho de cuidador nas Residências Terapêu-
para buscar a conscientização e desconstrução da ticas exigia além de conhecimento prévio sobre a
imagem pejorativa que envolve tais pessoas. assistência e o tratamento dos transtornos men-
Nas Residências, o propósito era de que o tais, uma experiência de como lidar com o doente
funcionamento fosse o mesmo de uma moradia mental em seu cotidiano. No entanto, devido ao
comum, ou seja, sem as regras e rotinas pratica- caráter de urgência do fechamento da CSVR, não
das em uma instituição hospitalar. O usuário era houve tempo hábil para o adequado planejamento
incentivado a desenvolver tarefas domésticas, não da implantação das Residências Terapêuticas no
se adotava horários determinados para o banho e município de Volta Redonda.
para as refeições, porém necessitavam do acom- Cabe ressaltar que em 2009 a rede de saúde
panhamento de um profissional que os auxilias- mental estava organizada em Volta Redonda, da
sem no cotidiano, sempre adotando postura de seguinte forma: três CAPS adulto, sendo que um
incentivo no desenvolvimento da autonomia dos está em processo de transformação para CAPS III;
usuários.7 Os excertos dos depoimentos registram um CAPSi (criança e adolescente); um CAPSad
alguns resultados positivos relativos à autonomia (álcool e drogas); um serviço de urgência e emer-
do usuário: gência, para as situações de crise psiquiátricas e/
[...] e, alguns deles que levantavam lá [no ma- ou para questões de desintoxicação para álcool e
nicômio] obrigados já estavam se sentindo melhor drogas; o CAIS Aterrado; e o Hospital Geral.11O
porque poderiam dormir um pouco até mais tarde. [...] CAIS Aterrado é um serviço para atendimento
alguns usuários queriam arrumar cozinha, começaram de urgências psiquiátricas, na qual o portador de
a lavar seu próprio talher, ajudavam a colocar a mesa transtorno mental permanece internado por até
para almoço (E3). 72 horas para tratar e controlar situações de crises
[...] a questão de lar, de casa, de família. A maioria psiquiátricas, porém, por ser uma internação de
sentiu isso, principalmente no Natal. Conseguimos aqui curta duração, não remete aos moldes asilares dos
dentro fazer uma família, mesmo com seus atritos (E4). hospitais psiquiátricos.11
Assim, os usuários devem ser estimulados a Considerando o que se propõe às Residên-
participar de atividades domésticas, sendo que o cias Terapêuticas, não se justifica, a princípio, a
risco de acidentes deve ser trabalhado durante esse presença de enfermeiros dentro destas. Porém,
processo; a ter autonomia para realizar atividades isso não diminui a importância da atuação do
pessoais, porém levando-se em consideração as enfermeiro como elo entre as Residências e os dis-
peculiaridades e insegurança desses moradores, positivos de saúde que dão assistência ao portador
e respeitar seus limites. É necessário que os mo- de transtorno mental. Isso é possível através de sua
radores criem hábitos próprios nas residências, participação nas equipes interdisciplinares, tanto
não havendo a construção de um modelo ideal de do CAPS quanto do PSF, das visitas domiciliares
moradia.7 Não obstante, diante da falta de autono- e da interação com os técnicos de enfermagem que
mia dos usuários e do alto grau de dependência de atuam diretamente nas Residências Terapêuticas.
cuidados devido aos longos anos de internação, se Vale ressaltar que os CAPSs possuem papel
fez necessário contar com a experiência de técnicos fundamental junto às Residências Terapêuticas,
de enfermagem para atuarem como cuidadores uma vez que promovem a possibilidade do
nas Residências que, por sua vez, se comunicavam usuário retomar o vínculo familiar; incentivam
diretamente com os enfermeiros dos dispositivos o desenvolvimento de atividades domésticas, ge-
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jan-Mar; 21(1): 86-94.
O processo de implantação de residências terapêuticas em Volta... - 93 -

rando maior autonomia aos mesmos e promovem CONSIDERAÇÕES FINAIS


a reabilitação psicossocial através da participação
O fato de um portador de transtorno mental
dos usuários em atividades nos espaços públicos.6
habitar uma casa, sem conotação hospitalar, des-
Nesse contexto, o enfermeiro participa das Resi-
vincula a imagem de que o mesmo precisa viver
dências Terapêuticas, atendendo as necessidades
isolado da sociedade e possibilita a prática de
do usuário, sendo também incluídas as visitas
seus direitos, respaldados por lei, como cidadão.
domiciliares. Desse modo, cria-se um vínculo de
Além disso, pode favorecer a reaproximação com
confiança entre o profissional e o usuário, e deste
seus familiares, pois será evidenciado que aquele
com o serviço. Esse entendimento pode ser obser-
usuário tem capacidade de viver em um lar e que
vado nos depoimentos:
os cuidados familiares poderão ser suficientes.
[...] é muito fundamental, pois é composto por E, tendo a rede de saúde mental consolidada no
uma equipe multiprofissional, que não tem na Residên- município, em caso de crise ou surto psicótico, o
cia. É um trabalho mesmo de autonomia, de descobrirem portador de transtorno mental deve ser encami-
como ser humano capacidades que eles tem (E3). nhado aos leitos reservados para urgências no
[...] acho que é para realizar outros tipos de ati- CAIS Aterrado.
vidades que não são realizáveis em uma casa e a convi- O profissional enfermeiro desempenha um
vência com colegas e eu. Acho isso importante pra eles; papel importante junto às Residências Terapêuti-
as oficinas também (E4). cas. Isso se dá de maneira indireta, ou seja, através
No que tange ao Programa de Saúde da Fa- de serviços do município que integram a rede de
mília (PSF), situado em Unidades Básicas de Saú- saúde metal e são articulados às Residências, como
de, cabe esclarecer que o atendimento, no âmbito nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs) e no
deste programa, é voltado para as questões clínicas Programa Saúde da Família (PSF). O suporte dado
de doenças agudas ou crônicas, sem relação psi- pelo enfermeiro aos técnicos de enfermagem que
quiátrica, ou seja, atendimento ambulatorial de atuam diretamente nas Residências favorece a con-
rotina para prevenção de doenças e/ou agravos solidação da rede de atenção a saúde mental, além
e promoção da saúde4. Assim, os enfermeiros de ser fundamental para a reinserção dos usuários
e os agentes de saúde do PSF realizam visitas na sociedade. O trabalho de reabilitação social
domiciliares mensalmente ou de acordo com a passa a orientar o atendimento nesses serviços.
necessidade da Residência. Entretanto, prioriza-se
O trabalho realizado, no município, em prol
que o usuário vá até a Unidade para ser atendido,
da assistência ao portador de transtorno mental
pois o atendimento feito pela equipe do PSF não
busca atender as novas condições de tratamento
confere prioridade aos usuários da Residência
que possui como meta o desenvolvimento de auto-
Terapêutica por suas patologias psiquiátricas,
nomia e a integração desses usuários no território,
todos são atendidos igualmente dentro da área de
como cidadãos. Isso depende tanto de interesses
abrangência de cada equipe, como constatado no
políticos quanto de uma equipe multidisciplinar
depoimento a seguir:
que estejam com o propósito de tentar promover
[...] se está passando mal, ele [usuário] vai na melhores condições de vida aos usuários.
nossa unidade, é atendido e é feita a referência de acordo
com a necessidade. Não tem assim nenhum trabalho
diferente porque eles são especiais, a gente vê como uma REFERÊNCIAS
residência normal (E6). 1. Schrank G, Olschowsky A. O centro de atenção
[visita domiciliar] é pra ter o controle de dar psicossocial e as estratégias para inserção da
maior qualidade de vida pra essas pessoas né, de orien- família. Rev Esc Enferm USP. [on line]. 2008[acesso
tação, de vinculo, pra eles saberem que podem estar 2010 Abr 04]; 42(1): 127-34. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0080-
junto com gente [...] (E6).
62342008000100017&script=sci_arttext
As visitas domiciliares realizadas tanto pelo 2. Wetzel C, Kantorski LP, Souza J. Centro de atenção
enfermeiro do CAPS quanto do PSF significaram psicossocial: trajetória, organização e funcionamento.
um novo modo de atuação em saúde mental, o Rev Enferm UERJ [ online]. 2008[acesso em 2010 Abr
qual favorece o estabelecimento de um vínculo 17]; 16(1): 39-45. Disponível em: http://www.facenf.
com o paciente e exige capacitação do enfermeiro uerj.br/v16n1/v16n1a06.pdf
para lidar com situações difíceis de serem con- 3. Gonçalves AM, Sena R. A reforma psiquiátrica no
tornadas, além de criar novas estratégias para o Brasil: contextualização e reflexos sobre o cuidado
cuidado. 15 com o doente mental e na família. Rev Latino-am
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jan-Mar; 21(1): 86-94.
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Correspondência: Gizele da Conceição Soares Martins Recebido: 10 de março de 2011


Estrada João Venâncio de Figueiredo, 563 Aprovado: 25 de novembro de 2011
26020- 001 – Posse, Nova Iguaçu, RJ, Brasil
E-mail: gizelemartins16@hotmail.com

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jan-Mar; 21(1): 86-94.

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