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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDU 02027 – ENSINO E IDENTIDADE DOCENTE
Docente: Máximo Daniel Lamela Adó
Turma C
Ateliê III

Mariana Hörlle – 00136749


PALAVRA- CHAVE: PRESENTE
Numerologia: 39
Sequência numérica 39 02 44 55 56 27 09 35 64 23

JUSTO EU

ela mandava eu sentar o tempo todo odeio formas


geométricas odeio rodas sentar em roda eu devia ter seis
anos sete mais provável nove ela chegou ela sempre
chegava querendo mandar e vivia dizendo tinha que ser
devia ser precisava ser educado um aluno educado que
diabos é isso educado eu não queria saber de matemática ler Pensando nas mudanças que já
ocorreram na escola, porque
escrever olha só depois de tanto tempo odiando a escola eis
ainda temos a ideia estereotipada
que me tornei educador ninguém diria justo eu aquele
de que a escola precisa ter
menino desobediente dizia não é só a aula odeio o prédio o equipamentos básicos (quadro
quadro as carteiras alinhadas linhas retas ela mandava dizia negro, organização da sala de
eu devia pegar o conteúdo enfiar juntar e guardar na cabeça aula...), horário para cada ação e
regras feitas apenas pelos
b e a ba b e e be ivo viu a uva ivo viu a eva e a eva nunca
professores?(44)
via ninguém eu era o futuro da nação ela dizia o que eu
devia fazer como eu devia me portar tinha que ser um bom
cidadão que diabos é isso cidadão eu era diferente eu era o
diferente só queria aproveitar o sol todo mundo sentado Matheus, porque tu não senta? Tu
quer ser o diferente da
queria jogar futebol gostava de cantar não podia jogar
turma?(02)
futebol fora do horário não podia dançar momento nenhum
sempre sentado em roda ou em fila mantendo a fila assim
que as coisas são ela mandava eu sentar o tempo todo
mandava eu ficar quieto mandava eu ficar acordado odeio
acordar cedo odeio ficar sentado eu devia ter uns oito anos
dez mais provável doze ela na verdade elas tinha mais de
uma me mandavam sentar ficar quieto me mandavam ficar
longe dos meus amigos espelho de classe que diabos é isso
espelho de classe elas mandavam eu escrever textos decorar
datas históricas operações com conjuntos numéricos depois
de tanto tempo odiando a escola eis que me tornei educador
justo eu que fugia matava aula sempre doente prefiro minha
cama televisão eu gostava de matemática gostava de música
elas deviam ter relação queria tocar um instrumento bom
percussionista eu tinha que guardar na cabeça todo esse
conteúdo inútil elas diziam eu iria usar durante a vida usar
pra ser um cidadão útil mas que diabos é isso cidadão que
utilidade eu teria mandavam eu acordar o tempo todo odeio
acordar odeio sentar alinhado preferia em roda não tem
mais roda faz tempo devia ter uns treze anos quinze mais
provável dezessete elas continuavam mandando agora eles
havia eles também diziam eu precisava me formar que
diabos é isso formar ir para o mercado de trabalho saber a
soma dos quadrados dos catetos movimento retilíneo Porque, para muitos, o único
uniformemente variado eles mandavam eu guardar todo aprendizado válido é realizado
conhecimento inútil queria ser músico não podia cantar dentro da sala de aula? (44)

tinha que decorar datas históricas ler livros que não entendo
cálculos formas geométricas de novo formas geométricas se
eu quisesse só se eu quisesse não que tivesse chance fazer
vestibular entrar pra faculdade que diabos é isso faculdade
queria trabalhar pra ganhar dinheiro eu fazia rap meus
amigos gostavam as garotas gostavam quem diria só queria
saber de garotas o dia inteiro pensando em sexo fazia rap
atraía garotas usava rima poesia pra fazer foi ele que disse
literatura ele me dizia que eu podia escrever sobre a minha
vida me ensinou a rimar ninguém acreditava ele acreditou
Como abandonar o
literatura ele ensinava faltava aula pra ler poesia fazer rap conservadorismo que está
eu só queria viver lá fora eles mandavam eu me sentar o impregnado na escola e
tempo todo mandavam cumprir horários seguir uma rotina transformá-la em um local de
renovação? (56)
eu devia ter uns vinte anos vinte e dois mais provável vinte
e cinco sempre mandavam eu sentar ficar quieto sem
reclamar bater ponto quatro vezes ao dia não pode fazer rap
música é inútil não dá dinheiro correr atrás de dinheiro
pagar boletos justo eu trabalhador me tornar educador me
mandavam ler exaustivamente ler trabalhar estudar à noite
ficar acordado estágio curricular que diabos é isso estágio
eles diziam tinha que mudar a educação levar em conta as
diferenças não como identitárias diferença pura teoria
prática docência tempo presente mandavam eu escrever
academia formatação citação apud que diabos é isso apud
não podia cantar rap coisa de periferia universidade federal
Ser educador não é só acumular,
sem periferia mandavam eu organizar planejar aulas seguir guardar, conservar, usar, mas
metodologia didática eu devia ter trinta anos mais provável abandonar, largar, gastar e nesse
trinta e cinco eu odeio a escola lutar todos os dias para gasto, readquirir, retomar, para
poder revitalizar. (CORAZZA,
esquecer as formas geométricas linhas rodas quadrados
2005) (39)
carteiras odeio a cara de nojo dos colegas eu no recreio no
pátio não gosto de salas fechadas quem diria justo eu colega
militante justo eu que odeio a escola odeio o sistema eu Ou a diferença pura se torna, de
cansado eu educador depois de tanto abandonar largar uma vez por todas, a principal
argila de nosso trabalho
gastar encontro o rap um aluno tão eu que odeia escola
pedagógico e curricular, ou
odeia sentar odeia ficar quieto eu explico eu combino eu
seremos educadores perdidos, à
peço silêncio eu mando ficar quieto eu mando sentar em fila deriva, fora do nosso tempo. E o
sentar em roda eu amo rap eu levo rap eu faço rap eles que é mais grave: não estaremos
sentados retornar de onde parei odiando formas geométricas educando nossos alunos para um
porvir plural e criativo, em que a
para poder revitalizar esse espaço que eu odeio eles também
educação faça a diferença.
(CORAZZA, 2005) (55)

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