autora
VIVIANE CRISTINA S. VAZ
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares; karen
bortoloti; adriana aparecida ferreira marques
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-033-1
cdd 361.25
Prefácio 7
Objetivos 10
1.1 Pensadores e o Estado: Platão e Aristóteles 11
1.2 Clássicos da teoria política, Estado e sociedade civil 15
1.2.1 O pensamento de Thomas Hobbes e o Estado 16
1.2.2 O pensamento de John Locke e Estado 17
1.2.3 O pensamento de Jean Jacques Rousseau e o Estado 18
Atividade 20
Reflexão 21
Referências bibliográficas 23
Objetivos 26
2.1 - Configuração do Estado e dos Direitos Civis 27
2.2 A configuração dos direitos sociais 32
2.3 Proclamação dos direitos norte-americano 34
2.4 Contexto político da Revolução Francesa 34
2.5 A constitucionalização dos direitos sociais 36
Atividades 49
Reflexão 50
Referências bibliográficas 52
3. A configuração da política social,
o Welfare State e a política social
na América Latina. 53
Objetivos 54
3.1 Movimento e organização da classe trabalhadora e
origem da política social 55
3.2 A configuração da política social e o WelfareState 59
3.2.1 O modelo Inglês - Plano Beveridge - WelfareState 61
3.3 Configurações das políticas sociais na América Latina 63
Atividades 66
Reflexão 67
Referências bibliográficas 68
Objetivos 72
4.1 Formação política do Estado e política sociais brasileiras 74
4.1.1 Políticas Sociais brasileira 76
4.2 Políticas Sociais e a configuração do sistema previdenciário 79
4.3 Políticas Sociais e a configuração da assistência social 81
4.4 Políticas Sociais e a configuração da política de saúde 85
4.5 Políticas Sociais e a configuração da legislação trabalhista 86
Atividades 88
Reflexão 88
Referências bibliográficas 90
Objetivos 94
5.1 Política Social e conquistas de 1988. 95
5.2 O Projeto Neoliberal 97
5.3 Políticas Sociais e Enfrentamento a Pobreza 100
5.4 Programas de Transferência de Renda 102
Atividade 107
Reflexão 107
Referências bibliográficas 110
Gabarito 110
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Clássicos da
Teoria Política e
a Concepção de
Estado
Nesse primeiro capítulo iremos conhecer os clássicos da teoria política que
trouxeram a concepção do direito natural e do estabelecimento do Estado
moderno.
OBJETIVOS
Aprofundar os conhecimentos sobre os clássicos da teoria política, e compreender a origem do
estado como uma instituição política.
10 • capítulo 1
1.1 Pensadores e o Estado: Platão e Aristóteles
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Platão
capítulo 1 • 11
À classe dos guerreiros cabe a defesa interna e externa do estado, em con-
formidade com a ordem estabelecida pelos filósofos, dos quais e juntamente
com os quais, os guerreiros receberam a educação. Os guerreiros representam
a força a serviço do direito, representado pelos filósofos.
À classe dos produtores, enfim, – agricultores e artesãos – submetida às
duas precedentes, cabe a conservação econômica do estado, e, consequente-
mente, também das outras duas classes, inteiramente entregues à conservação
moral e física do estado. Na hierarquia das classes, a dos trabalhadores ocupa
o ínfimo lugar, devido ao desprezo que Platão e os gregos em geral tinham pelo
trabalho material.
Na concepção ideal, espiritual, ética, ascética do estado platônico, pode
causar impressão, à primeira vista, o comunismo dos bens, das mulheres e dos
filhos, que Platão propunha para as classes superiores. Entretanto, Platão foi
levado a esta concepção política – tornada depois sinônimo de imanentismo,
materialismo, ateísmo – não certamente por estes motivos, mas pela grande
importância e função moral por ele atribuída ao estado, como veículo dos va-
lores transcendentais da Ideia. Tinha ele compreendido bem que os interesses
particulares, privados, econômicos e, especialmente, domésticos, estão efeti-
vamente em contraste com os interesses coletivos, sociais, estatais, sendo estes
naturalmente superiores àqueles – eticamente considerados. E não hesita em
sacrificar totalmente os interesses inferiores aos superiores, à riqueza, à famí-
lia, ao indivíduo ao estado, porquanto representa precisamente – consoante
seu pensamento – um altíssimo valor moral terreno, político-religioso, como
única e total expressão da eticidade transcendente.
Se a natureza do estado é, essencialmente, a de organismo ético-transcen-
dente, a sua finalidade primordial é pedagógico-espiritual; a educação deve,
por isso, estar substancialmente nas mãos do estado. O estado deve, então, pro-
mover, antes de tudo, o bem espiritual dos cidadãos, educá-los para a virtude,
e ocupar-se com o seu bem estar material apenas secundária e instrumental-
mente. Platão tende a desvalorizar a grandeza militar e comercial, a dominação
e a riqueza, idolatrando a grandeza moral. O grande, o verdadeiro político não
é – diz Platão – o homem prático e empírico, mas o sábio, o pensador; não rea-
liza tanto as obras exteriores, mas, sobretudo, preocupa-se com espiritualizar
os homens. Desta maneira, é concebido o estado educador de homens virtuo-
sos, segundo as virtudes que se referem a cada classe, respectivamente. Esta
educação é dispensada essencialmente às classes superiores – especialmente
12 • capítulo 1
aos filósofos, a quem cabem as virtudes mais elevadas, e, portanto, a direção da
república. Ao contrário, o estado em nada se interessa – ao menos positivamen-
te – pelo povo, pelo vulgo, pela plebe, cuja formação é inteiramente material e
subordinada, consistindo sua virtude apenas na obediência, visto a alma con-
cupiscível estar sujeita à alma racional.
A educação das classes superiores importa, fundamentalmente, música e
ginástica. A música – abrangendo também a poesia, a história, etc., e, em geral,
todas as atividades presididas pelas Musas – é, todavia, cultivada apenas para
fins práticos e morais. Ela deveria equilibrar, com a sua natureza gentil e civi-
lizadora, a ação oposta, fortificadora, da ginástica. Platão reconhece a impor-
tância da ginástica, mas não passa de uma importância instrumental e parcial,
pois o prevalecer da cultura física do corpo torna os homens grosseiros e mate-
riais. Daí a sua aversão ao culto idolátrico dos exercícios físicos, que foi um dos
indícios da decadência grega.
CONEXÃO
Conheça sobre a vida e o pensamento de um dos maiores filósofos da humanidade, acesse:
PLATÃO VIDA E OBRA: https://www.youtube.com/watch?v=wV5v4R8aHvw.
Aristóteles
capítulo 1 • 13
Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como
estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do esta-
do será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como
as partes precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro
elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do
chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulhe-
res, em razão da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, visto que a
família, além de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como
ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades ma-
teriais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários ins-
trumentos inanimados e animados, estes últimos seriam os escravos.
Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na so-
ciedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivídu-
os particulares, a quem fica tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a
cultura da alma, visto que para esta é necessário tempo e liberdade, bem como
aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características materiais
de tais indivíduos, daí a escravidão.
Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge pelo fato de ser o
homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmen-
te, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e
segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas
o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e consequente-
mente a felicidade dos súditos mediante a ciência.
Compreende-se, então, como tarefa essencial do estado a educação, que
deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de
tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. A
finalidade da educação é formar homens mediante as artes liberais, principal-
mente a poesia e a música, e não máquinas, mediante um treinamento profis-
sional. Eis porque, segundo Rosana Madjarof (s.d., on line) Aristóteles, assim
como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma pacífica
educação científica e moral, visa à conquista e à guerra. E crítica, dessa forma,
a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do estado, e
põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho, são ape-
nas meios para a paz e o lazer sapiente.
Não obstante a sua concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de
Platão, salva o direito privado, a propriedade particular e a família. O comunis-
mo como resolução total dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e
14 • capítulo 1
irrealizável. O estado não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de in-
divíduos substancialmente distintos. Se quiser a unidade absoluta, será mister
reduzir o estado à família e a família ao indivíduo; só esse último possui aque-
la unidade substancial que falta aos dois precedentes. Aristóteles reconhece a
divisão platônica das castas, precisamente, duas classes: a dos homens livres,
possuidores, isto é, a dos cidadãos, e a dos escravos, dos trabalhadores, sem
direitos políticos.
Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a
monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade e a
degeneração na tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter
e valor estão na qualidade e a degeneração na oligarquia; a democracia, que é o
governo de muitos, e a caráter e valor estão na liberdade e a degeneração é a de-
magogia. As preferências de Aristóteles, segundo a autora acima, vão para uma
forma de república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da
Grécia, particularmente de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo,
reconhece Aristóteles que a melhor forma de governo não é abstrata, e sim con-
creta: deve ser relativa, acomodada às situações históricas, às circunstâncias
de um determinado povo. De qualquer maneira, a condição indispensável para
uma boa constituição é que o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e
não a vantagem de quem governa despoticamente.
CONEXÃO
Conheça sobre a vida e o pensamento de um dos maiores filósofos da humanidade, acesse:
ARISTOTELES: VIDA E OBRA. https://www.youtube.com/watch?v=CwKeyqNLA3s.
capítulo 1 • 15
Essas teorias moldam as doutrinas políticas de tendência individual e libe-
ral, que afirmam a necessidade do Estado respeitar e legitimar os direitos ina-
tos de cada individuo. A ordem política é concebida com a finalidade de coibir
qualquer violação desses direitos.
O pensamento que trata do direito natural moderno é encontrado particu-
larmente nas obras dos contratualistas: Thomas Hobbes, John Locke e Jean
Jacques Rousseau cujas reflexões e contribuições apresentam como tema
central a criação de um princípio novo de legitimação do poder político ou do
Estado moderno.
Esse princípio de legitimação do poder político e o consenso daqueles sobre
quem tem tal poder estatal é exercido, que seria expresso num pacto ou contra-
to social, estabelecido entre os homens, sobre a autoridade e normas de con-
vivência social, aos quais passam a se submeter, renunciando a sua liberdade
individual e natural, designando o termo contratualista. Seria por meio desse
pacto que se instituiria o Estado, enquanto uma organização política.
16 • capítulo 1
A escassez dos bens pode fazer com que mais de um homem deseje possuir a
mesma coisa, pois não há leis e regras para definir. Assim o estado de natureza
é o estado de guerra de todos contra todos e o homem seria o lobo do homem.
Hobbes evidencia assim a necessidade dos homens estabelecerem um con-
trato social entre si que cria regras ao convívio social e de subordinação polí-
tica, justificando que seus poderes e direitos seriam transferidos a um poder
soberano.
Segundo Chauí (2000) para Hobbes, os homens reunidos numa multidão
de indivíduos, pelo pacto, passam a constituir um corpo político, uma pessoa
artificial criada pela ação humana e que se chama Estado.
O filósofo aponta que a melhor forma de governar seria a monarquia, onde
o soberano seria a representação do poder tanto legislativo como executivo, e
não haveria lei sem sua ordem.
O pensamento de Hobbes legitima a nobreza e o absolutismo, o soberano
possui plenos poderes para a manutenção da ordem, legislando sobre a vida e a
morte, e referendando o seu direito natural a propriedade.
capítulo 1 • 17
que respectivamente criassem e executassem as leis visando o direito a proprie-
dade e a segurança pessoal, com predomínio do poder legislativo, devendo ser
o poder executivo a ele subordinado.
Quando o governo atenta contra a vida, a liberdade e a propriedade e utili-
za a força sem amparo da lei, ele deixa de cumprir o fim a que fora destinado,
tornando-se ilegal e degenerando em tirania. Essa situação confere ao povo o
legitimo direito a rebelião e a opressão a tirania, retornando sua soberania e
confirmando-a a quem aprouver.
Locke constituiu formulações que foram as diretrizes fundamentais do es-
tado liberal, se firmando com um dos princípios e fundamentos centrais do
liberalismo. O Estado para proteger os direitos e liberdade dos cidadãos, que
em última instância, são os melhores juízes de seus próprios interesses, e que
deve ter sua esfera de ação restrita e sua pratica limitada de modo a garantir o
máximo de liberdade possível a cada cidadão.
A crítica a esse pensamento baseia-se no fato de que todos os homens são
membros da sociedade civil quando se trata de serem governados, somente os
detentores de propriedade são membros legítimos quando se trata de gover-
nar, pois somente estes têm poder político. O Estado é fundado por eles para
proteção de sua propriedade e de si mesmo.
As formulações teóricas de Locke tiveram significativas influências no mo-
vimento de emancipação política da burguesia objetivando a resoluções libe-
rais da época moderna colaborando com a ascensão do capitalismo industrial.
Podemos citar dois exemplos: a declaração de independência dos E.U.A em
1776 na qual se firmou como lema que todos os homens são possuidores de
direitos inalienáveis como direito a vida, a liberdade e a busca da felicidade;
e a declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789 que se constituiu
o primeiro ato da Revolução Francesa que proclamou como direito natural a
igualdade, a liberdade e a propriedade.
Para Hobbes e Locke como vimos os indivíduos são orientados por interesses
singulares e egoísta no estado de natureza, e o contrato social seria o instru-
mento pactuado entre os homens para instituir uma autoridade, leis e normas
que regula a convivência social, passando do estado de natureza para o estado
civil ou político. O pensador critica o pensamento de Locke e Hobbes de domi-
nação e defesa dos interesses individuais.
18 • capítulo 1
Chauí (2000) coloca que a
concepção de Rousseau em estado
de natureza, os indivíduos vivem
isolados pelas florestas sobreviven-
do com que a natureza lhes dá, des-
conhecendo lutas, comunicando
com gestos, grito e canto, numa lín-
gua generosa e benevolente.
Para Rousseau o homem é um
bom selvagem, não possui o dese-
capítulo 1 • 19
CONEXÃO
Acesse o vídeo abaixo, o mesmo apresenta de forma dinâmica a vida, o pensamento e as
principais obras de Jean Jacques Rousseau. ROUSSEAU VIDA E OBRA: https://www.
youtube.com/watch?v=0j-9a8hp3SU
ATIVIDADE
A questão a seguir foi elaborada pelo ENADE (2013) retome os estudos e leia o texto abaixo
para responder.
01. Em relação à teoria dos clássicos do pensamento político, avalie as afirmações abaixo.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
20 • capítulo 1
REFLEXÃO
SOCIABILIDADE NEOLIBERAL
André Silva Martins
capítulo 1 • 21
contexto de sua época, ultrapassaram o tempo, inspirando ações políticas para afirmar um
padrão capitalista de sociabilidade.
Para Smith, os homens organizariam o seu modo de vida em sociedade com base em
preceitos naturalmente preestabelecidos pela ordem natural das coisas, reafirmando as
idéias de Locke. Os indivíduos seriam regidos por uma racionalidade baseada em interesses
privados e na busca incessante do lucro, de maneira egoísta, mas produtiva, cujas repercus-
sões seriam positivas para todos. A associação entre indivíduos obedeceria a uma lei natural
e necessária de obtenção ou preservação do lucro. A 'mão invisível' do mercado seria a força
ordenadora das relações sociais e das condutas individuais. Para legitimar o individualismo,
Smith defendia que o somatório dos esforços de cada indivíduo de uma sociedade represen-
taria um resultado positivo para toda a sociedade, uma vez que haveria um aumento geral
da riqueza beneficiando a todos, ainda que indiretamente e de forma desigual. Partindo do
pressuposto de que a propriedade, a liberdade e a vida existiriam naturalmente antes da or-
ganização dos homens em sociedade, Smith acreditava que as regras e as condutas pesso-
ais deveriam ser preservadas e incentivadas como referências para o perfeito funcionamento
de qualquer sistema social. O interesse próprio seria o ponto fundamental do ordenamento
das relações sociais, envolvendo trabalho e vida em todas as suas dimensões. Nessa lógica,
o individualismo marcaria o modo de vida dos homens e mulheres, sendo a base do equilíbrio
social e do funcionamento de toda a sociedade.
Fonte: Dicionário da educação profissional em saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Acesso em
02.02.2015.
LEITURA
DURIGUETTO, Maria Lúcia; MONTAÑO, Carlos. Estado, classe e movimento social. 3.ed.
São Paulo: Cortez, 2011. Biblioteca básica do Serviço Social; v.5
O livro em questão faz parte da coleção biblioteca básica do Serviço Social sendo refe-
rência para a compreensão do conceito de Estado, os autores tratam de maneira completa a
questão, abrangendo também os conceitos de classes e movimento social.
WEFFORT, Francisco. (Org.) Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1991. v.1.
O livro reuni textos bem didáticos dos clássicos da política no mundo moderno, com as con-
cepções de Estado moderno, sociedade civil elaborada pelos principais filósofos da teoria polí-
tica do século XVI e XIX, o livro ainda conta com textos originais dos pensadores em questão.
22 • capítulo 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONAVIDES, P. Ciência Política. 15e. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
CHAUÍ, M. Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
DURIGUETTO, M. L.; MONTAÑO, C. Estado, classe e movimento social. 3.ed. São Paulo: Cortez,
2011. Biblioteca básica do Serviço Social; v.5
GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o estado moderno. 8.ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1991.
GRUPPI, L. Tudo começou com Maquiavel – as concepções de Estaado em Marx, Engels, Lênin e
Gramsci. Trad. Dario Canali, 15 e,Porto Alegre: L&PM, 1998.
IANNI, O. Pensamento social no Brasil. Bauru, SP:EDUSC, 2004.
MARTINS, A. S. Sociabilidade neoliberal, in Dicionário da educação profissional em saúde. Fundação
Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro. Disponível em http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/index.html. Acesso
em 02.02.2015.
MARX, Karl, e, ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas I, II e III. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1983.
MADJAROF, R. Aristoteles . Disponível em <http://www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles2.htm>.
Acesso em 18/agosto/2011.
_____(http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao2.htm#ixzz1VcMkXeUy), Acesso em 18/
agosto/2011.
REGO SILVA http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es/
GT2/gt2m5c5.pdf.
SANTANA, J.A. Maquiavel a política e o estado moderno. Disponível em <http://www.webartigos.
com/articles/28529/1/MAQUIAVEL-A-POLITICA-E-O-ESTADO-MODERNO-RESUMO/pagina1.html.
Acesso em 18/agosto/2011>.
WEFFORT, F. (Org.) Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1991. v.1 e v.2
capítulo 1 • 23
24 • capítulo 1
2
Configuração
do Estado e dos
Direitos Civis
Neste capítulo iremos abordar os aspectos que deram origem a compreensão
que temos dos direitos civis, analisaremos o percurso histórico das conquista
dos direitos políticos e sociais.
OBJETIVOS
Aprofundar os conhecimentos sobre os clássicos da teoria política, e compreender a origem do
estado como uma instituição política, reconhecer a gênese dos direitos civis.
26 • capítulo 2
2.1 - Configuração do Estado e dos Direitos
Civis
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O Estado
capítulo 2 • 27
também analisaram o tema partindo de uma visão crítica dos anteriormente ci-
tados, ao mesmo tempo em que abordaremos os contrapontos levantados por
analistas sociais.
Gruppi (1998) “desde o começo de 1500, temos Nicolau Maquiavel, que é o
primeiro a refletir sobre o Estado. Em “O Príncipe” de Maquiavel, encontramos
esta afirmação: “Todos os Estados, todas as dominações que tiveram e têm o
império sobre os homens foram e são repúblicas ou principados”.
Niccolò Machiavelli, dito Maquiavel, ensinou ao mundo uma lição de política prática.
Nasceu em 1469, filho de um advogado, e cresceu na cidade italiana de Florença. Em
1498, conseguiu um cargo secundário de funcionário do governo de Florença, empre-
go que conservou durante 14 anos.
Tornou-se funcionário público de confiança e, finalmente, um diplomata, viajando para
todas as importantes cidades-Estado da península e também para diversas cortes es-
trangeiras. Em toda a parte, Maquiavel observava os políticos e suas maneiras; tornou-se
um analista do poder. Acima de tudo, amava a Itália e queria vê-la unida sob um monarca..
28 • capítulo 2
Em 1512, perdeu sua posição por causa de uma mudança no governo florentino.
Instalou-se, então, numa pequena comunidade fora da cidade e pôs-se a escrever.
A mais famosa de suas obras é “O Príncipe”, um manual que contém as regras de-
senvolvidas a partir de suas observações, as quais esperava ver utilizadas por um
monarca para unir a Itália. Maquiavel morreu em 1527 e “O Príncipe” foi publicado
cinco anos mais tarde.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/28529/1/MAQUIAVEL-A-POLITICA-E-O-ESTADO-MODERNO
capítulo 2 • 29
O Estado Segundo Friederich Engels
Com base nas anotações de Marx, afirma Gruppi (1998), a elaboração de Engels
vai além da questão do Estado, mostra a conexão histórica entre família, pro-
priedade e Estado, identificando a origem do Estado.
Engels ainda contesta o pensamento de Aristóteles ao afirmar que a forma-
ção sociedade e da família são duas coisas que andam juntas, pois a sociedade
organiza as relações entre os sexos para sua própria vida e sobrevivência, e prin-
cipalmente visando, às suas necessidades econômicas.
Conclui afirmando que o Estado torna-se uma necessidade a partir de um
determinado grau de desenvolvimento econômico, que é necessariamente liga-
do à divisão da sociedade em classes. O Estado é justamente uma consequência
desse divisão, ele começa a nascer quando surgem as classes e, com elas, a luta
de classes (GRUPPI, 1998, p.35).
CONEXÃO
Acesse o livro de Luciano Gruppi, Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado
em Marx, Lênin e Gramsci. Porto Alegre: LPM, 1983. Esse livro trata das concepções de Esta-
do na perspectiva marxista. O material é de fácil acesso por mecanismos de busca na internet.
30 • capítulo 2
uma organização constituída de instituições complexas, públicas e privadas,
articuladas entre si, cujo papel histórico varia através das lutas e relações de
grupos específicos e poderes, que se articulam pela busca da garantia da hege-
monia dos seus interesses.
Em sua concepção “ampliada do Estado” (sociedade civil mais sociedade
política, rompe com a ideia do Estado enquanto representante exclusivo da
burguesia, de Marx e outros marxistas, identificando que quem tem a hegemo-
nia do aparato estatal deve se preocupar com a questão da legitimidade do go-
verno, pois, nenhum poder se sustenta só na sociedade política, mas também
com a sociedade civil (constante paradoxo entre força e consenso).
Assim, legitimação e acumulação do capital não são funções que derivam
de uma natureza instrumental do Estado para manter a ordem e harmonia,
mas são essencialmente resultantes do conflito entre as forças presentes na so-
ciedade e dentro do próprio Estado/aparelho estatal. Diferenciando-se, neste
sentido, de Marx que evidencia o aspecto político da sociedade civil.
Rego Silva (1999) evidencia como contribuição mais importante de Gramsci
aquelas observações feitas em sua metodologia teórica sobre como investigar
na ciência política, assim como, o destaque dado aos intelectuais e à ideologia
na análise dos processos históricos. E por último, não vê o Estado apenas como
um aparelho de violência/repressão, mas um aparato jurídico-político cuja or-
ganização e intervenção varia de acordo com a organização social, política, eco-
nômica e cultural da sociedade, mediadas pelas correlações de forças entre as
frações de classes vigentes.
capítulo 2 • 31
No decorrer deste capítulo, vocês conseguiram assimilar que o Estado está presente
em todas as ações humanas. Desde a concepção mais antiga formulada por Platão e
Aristoteles até Gramsci e Ianni, esse fato será constatado.
CONEXÃO
Bonavide (2004) explica que a sociedade, algo interposto entre o indivíduo e o Estado, é a
realidade intermediária, mais larga e externa, superior ao Estado, porém, inferior ainda ao
individuo, enquanto medida de valor.
1 Ministro do Supremo Tribunal Federal, Professor-Emérito da PUC/Minas Gerais e da Universidade de Brasília, UnB.
Texto básico de palestra proferida em Madri, Espanha, na Universidade Carlos III, sob o patrocínio desta e da
ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho, em 10.3.2003. Disponivel em http://www.ufrnet.
br/~tl/otherauthorsworks/dpr0027/velloso_carlos_dos_direitos_sociais_na_cf.pdf. Acesso em 20/agosto/2011.
2 Cesar Fiúza, “Direito Civil - Curso Completo”, Del Rey Ed., 5ª ed., 2002, p. 159.
32 • capítulo 2
Ferreira Filho3 (apud Velloso, 2003). A Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão, de 1789, é enfática, a esse respeito, ao proclamar, no seu art. 16,
que “toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem
determinada a separação dos poderes, não tem Constituição”.
Essas primeiras Declarações e outras que lhes seguiram, nos Séculos XVIII
e XIX, preocupam-se, sobretudo, em proteger os homens contra o poder es-
tatal. Manoel Gonçalves Ferreira Filho4 (apud Velloso, 2003), lembra que elas
têm por escopo:
[...] armar os indivíduos de meios de resistência contra o Estado. Seja por meio delas
estabelecendo zona interdita à sua ingerência – liberdades-limites – seja por meio
delas armando o indivíduo contra o poder no próprio domínio Cesar Fiúza, Direito Civil
– Curso Completo (Del Rey Ed., 5ª ed., 2002, p. 159).
3 Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “Curso de Direito Constitucional”, Saraiva, 17ª ed., p. 246.
4 Op. Cit, pag. 247
5 Maurice Duverger, “Les Partis Politiques”, 3ª ed., Paris, 1958, pp. 201 e segs. Ap. Manoel Gonçalves Ferreira
Filho, ob. e loc. cits.
capítulo 2 • 33
2.3 Proclamação dos direitos norte-
americano
"Todos os homens nascem livres e independentes e tem certos direitos naturais dos
quais, quando entram em sociedade, não podem por nenhum contrato privar ou des-
pojar sua posteridade: especialmente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de
adquirir e possuir propriedade e perseguir e obter a felicidade e segurança". (Lesbaupin
apud Bussinger, 1997, 24).
34 • capítulo 2
três estados (classes): o primeiro estado seria o clero composta pelos bispos,
padres e sacerdotes, o segundo pela nobreza e o terceiro estado composto pelo
povo, constituído em sua grande maioria pelos camponeses, banqueiros, as-
salariados e desempregados e a burguesia representada pelos comerciantes,
artesãos e profissionais liberais.
©© WIKIPEDIA
O povo apesar de ser a grande maioria era o estado com menor poder polí-
tico, e estava insatisfeita com o sistema de privilégios que gozavam o clero e a
nobreza, como por exemplo a isenção do pagamento de impostos, recebiam
pensões e podiam exercer cargos público.
A transformação socioeconômica por que passava a sociedade francesa não
eram alvo de reformas pela nobreza. O desemprego e a miséria aumentavam ao
mesmo passo que a insatisfação popular.
A burguesia era a principal interessada na reforma do sistema vigente, pois
o mesmo não permitia seu avanço econômico, neste sentindo defendiam o
liberalismo econômico e a igualdade civil e fiscal. Receberam influência dos
ideais iluminista de princípios liberais, inspirados principalmente nos pensa-
mentos de Rousseau, Voltaire e Montesquieu.
capítulo 2 • 35
CONEXÃO
Para saber mais sobre a Revolução Francesa acesse o site:
http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/revolucao-francesa.htm.
A República de Weimar é conhecida também pela sua face modernista na cultura ale-
mã, pelo desenvolvimento trazido como consequência de um novo modelo à soceidade
alemã durante a República, com conceitos de vanguarda.GUEDES (1998, P.38).
36 • capítulo 2
1. Os direitos de 1ª geração constituem herança liberal. São os direitos ci-
vis e políticos: a) direitos de garantia, que são as liberdades públicas, de cunho
individualista: a liberdade de expressão e de pensamento, por exemplo; b) di-
reitos individuais exercidos coletivamente: liberdades de associação: formação
de partidos, sindicatos, direito de greve, por exemplo;
2. Os direitos de 2ª geração são os direitos sociais econômicos e culturais,
constituindo herança socialista: direito ao bem estar social, direito ao trabalho,
à saúde, à educação são exemplos desses direitos;
3. Os de 3ª geração são direitos de titularidade coletiva: a) no plano inter-
nacional: direito ao desenvolvimento e a uma nova ordem econômica mundial,
direito ao patrimônio comum da humanidade, direito à paz; b) no plano interno:
interesses coletivos e difusos, como, por exemplo, o direito ao meio-ambiente.
capítulo 2 • 37
configuradas em emendas populares, asseguradas no artigo 24 do Regimento Interno
da Assembleia Nacional Constituinte, subscritas por 30 mil ou mais eleitores brasileiros,
em listas organizadas por, no mínimo, três entidades associativas, legalmente constituídas.
[...] são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desampa-
rados, na forma desta Constituição.
38 • capítulo 2
Na primeira classificação, direitos sociais do homem produtor teríamos a
liberdade de instituição sindical, o direito de greve, o direito de o trabalhador
determinar as condições de seu trabalho, o direito de cooperar na gestão da
empresa e o direito de obter emprego (C.F., artigos 7º a 11).
Na segunda classificação, direitos sociais do homem consumidor, teríamos
o direito à saúde, à segurança social, ao desenvolvimento intelectual, o igual
acesso das crianças e adultos à instrução, à formação profissional, à cultura e
garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no título da ordem social.
A classificação de que se vale, entretanto, o mestre das Arcadas, presente o
direito constitucional positivo brasileiro, é esta:
capítulo 2 • 39
Essa declaração foi tomada por base para a elaboração de várias declarações
de estados norte-americanos que se formularam entre 1776 e 1783. Mais de
um século após o documento acima, a Assembleia Geral das Organizações das
Nações Unidas (ONU) aprova, a 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, composta de 30 artigos, que reúnem todos os princípios
políticos de garantia, que o avanço da civilização compele o reconhecimento à
totalidade de países que integram a nova comunidade internacional.
Essa declaração, segundo o autor, além de renovar, aperfeiçoa e aumenta
as garantias anteriores dos cidadãos, como ainda, as completa acertadamente,
com outras que atendem à vida social do homem, e estende-as, teoricamente,
a todo o universo.
Conclui Monreal (1988) que:
Os direitos humanos existem para o aperfeiçoamento da vida social. Nunca devem ser
entendidos como liberdades equivalentes a uma total ausência de coerção ou à des-
vinculação do indivíduo de toda classe de relações e laços [...], senão como meio para
perseguir e alcançar valores e realizar coisas de interesse individual ou social, porém, à
base de que o que os exerce haja assumido deveres no âmbito da convivência social.
CONEXÃO
Para aprofundamento, leia o artigo “Afinal, o que são Direitos Humanos?” de autoria de Rob-
son dos Santos, disponível em www.dhnet.org.br/direitos/textos/textos_dh/robson.htm.
40 • capítulo 2
ganha uma especial urgência diante da convergência problemática entre uma
longa história de desigualdades e exclusões. As novas clivagens e diferencia-
ções produzidas pela reestruturação produtiva desafiam a agenda clássica de
universalização de direitos e os efeitos ainda não inteiramente conhecidos do
atual desmantelamento dos (no Brasil) desde sempre precários serviços pú-
blicos. Mas nesses tempos de neoliberalismo vitorioso, ao mesmo tempo em
que leva ao agravamento da situação social das maiorias, vem se traduzindo em
um estreitamento do horizonte de legitimidade dos direitos. Isso em espécie
de operação ideológica pela qual a falência dos serviços públicos é mobilizada
como prova de verdade de um discurso que opera com oposições simplificado-
ras, associando Estado, atraso e anacronismo, de um lado, e, de outro, moder-
nidade e mercado.
Operação insidiosa que elide a questão da responsabilidade pública, e des-
caracteriza a própria noção de direitos, desvinculando-os do parâmetro da jus-
tiça e da igualdade, fazendo-os deslizar em um campo semântico no qual pas-
sam a ser associados a custos e ônus que obstam a potência modernizadora do
mercado, ou então a privilégios corporativos que carregam anacronismos que
precisam ser superados para que o país possa se integrar nos circuitos globali-
zados da economia.
Em uma retrospectiva histórica, a autora lembra que desde a Declaração
Universal dos Direitos Humanos da ONU, em 1948, os direitos sociais foram
reconhecidos junto com os direitos civis e os direitos políticos no elenco dos di-
reitos humanos: direito ao trabalho, direito ao salário igual por trabalho igual,
direito à previdência social em caso de doença, velhice, morte do arrimo de
família e desemprego involuntário, direito a uma renda condizente com uma
vida digna, direito ao repouso e ao lazer (aí incluindo o direito a férias remune-
radas), e o direito à educação.
Todos esses são considerados direitos que devem caber a todos os indiví-
duos igualmente, sem distinção de raça, religião, credo político, idade ou sexo.
Com variações, esses direitos foram incorporados no correr desse século, so-
bretudo após a Segunda Guerra Mundial, nas constituições da maioria dos
países, ao menos do mundo ocidental. No Brasil, essa concepção universalis-
ta de direitos sociais foi incorporada muito tardiamente, apenas em 1988, na
nova Constituição, que é uma referência política importante em nossa histó-
ria recente, celebrada (e hoje é contestada) como referência fundadora de uma
modernidade democrática que prometia enterrar de vez 20 anos de governos
capítulo 2 • 41
militares. É importante saber que esses direitos estão inscritos na lei e que, em
algum momento na história dos países, fizeram parte dos debates e embates
que mobilizaram homens e mulheres por parâmetros mais justos e mais igua-
litários no ordenamento do mundo.
Mas se tomarmos essas definições, por assim dizer canônicas, dos direitos
sociais como ponto de partida para avaliar os tempos que correm, então não
teríamos muitas alternativas a não ser constatar (mais uma vez!) a brutal defa-
sagem entre os princípios igualitários da lei e a realidade das desigualdades e
exclusões – e nesse caso, falar dos direitos sociais seria falar de sua impotência
em alterar a ordem do mundo, impotência que se arma no descompasso entre
a grandiosidade dos ideais e a realidade bruta das discriminações, exclusões e
violências que atingem maiorias. Além disso, e talvez o mais importante, não
poderíamos ir muito além do que constatar – e lamentar – os efeitos devasta-
dores das mudanças em curso no mundo contemporâneo, demolindo direitos
que mal ou bem garantem prerrogativas que compensam a assimetria de posi-
ções nas relações de trabalho e poder, e fornecem proteções contra as incerte-
zas da economia e os azares da vida.
Nesse caso, além da impotência para fazer frente aos rumos excludentes
que vem tomando o reordenamento da economia e do Estado no mundo intei-
ro, falar dos direitos sociais também significaria falar de uma perda.
Suspeito, no entanto, que as ideias de perda e de impotência montam uma
armadilha que trava o pensamento por mantê-lo encerrado nos termos como
as coisas vêm se armando à nossa volta, como o mundo vem se ordenando. Em
outros termos, ao se fixar nas evidências de perda e impotência dos direitos
sociais, há o risco de demissão do pensamento, para não dizer da ação, por con-
ta de uma espécie de aprisionamento no próprio presente, sem abertura para
um campo de possíveis. E se assim for, uma discussão sobre os direitos sociais
não poderia mesmo ir além da justa indignação contra a miséria do mundo ou
então a repetição do discurso sociológico que explica a ordem de suas causali-
dades e determinações.
É certo que falar dos direitos sociais é um modo de se apropriar da heran-
ça (um certa herança) da modernidade e de assumir a promessa de igualdade
e justiça com que acenaram. Mas ao invés de tomar isso como dado da histó-
ria agora superado ou negado pela fase atual de reestruturação do capitalismo
mundial, trata-se de tomar os direitos sociais como cifra pela qual problemati-
zar os tempos que correm e, a partir daí, quem sabe, formular as perguntas que
correspondam às urgências que a atualidade vem colocando.
42 • capítulo 2
É preciso dizer desde logo que o texto que segue não tem a pretensão de
responder às inquietações até aqui comentadas e certamente está aquém das
questões acima formuladas. Pode ser entendido como uma primeira tentati-
va, não mais do que um exercício (ainda tateante) de reflexão para colocar à
prova o sentido crítico e questionador que a linguagem do direitos contém, ou
pode conter, desde que a consideremos como um modo de descrever e nomear
a (des)ordem do mundo que põe em cena as aporias das sociedades modernas
– e da nossa própria atualidade.
Seria possível dizer que nessa encruzilhada de alternativas incertas em que
estamos mergulhados, as mudanças em curso no mundo atual fazem vir à tona
as dimensões dilemáticas da vida social. Se bem é certo que os modelos conhe-
cidos de proteção social vêm sendo postos em xeque pelas atuais mudanças no
mundo do trabalho e que conquistas sociais vêm sendo demolidas pela onda
neoliberal no mundo inteiro, também é verdade que esse questionamento e
essa desmontagem reabrem as tensões, antinomias e contradições que estive-
ram na origem dessa história.
Mas essa disjunção estrutura o terreno dos conflitos inauguradores da mo-
derna questão social e que reatualizam a cada momento a exigência de direitos,
reabrindo a antinomia entre as esperanças de um mundo que valha a pena ser
vivido e a lógica excludente de modernizações que desestruturam formas de
vida e bloqueiam perspectivas de futuro.
Lembrar isso não é uma trivialidade, pois esses conflitos, longe de se redu-
zirem ao puro confronto de interesses, colocam em pauta o difícil e polêmico
problema da igualdade e justiça em uma sociedade dividida internamente e
fraturada por suas contradições e antinomias. Por isso mesmo, ao revés de um
determinismo econômico e tecnológico hoje em dia mais do que nunca revigo-
rado, será importante reativar o sentido político inscrito nos direitos sociais.
Sentido político ancorado na temporalidade própria dos conflitos pelos quais
as diferenças de classe, de gênero, etnia, raça ou origem se metamorfoseiam
nas figuras políticas da alteridade – sujeitos que se fazem ver e reconhecer nos
direitos reivindicados, se pronunciam sobre o justo e o injusto e, nesses ter-
mos, reelaboram suas condições de existência como questões pertinentes à
vida em sociedade.
Colocar os direitos na ótica dos sujeitos que os pronunciam significa, de
partida, recusar a ideia corrente de que esses direitos não são mais do que a
resposta a um suposto mundo das necessidades e das carências. Essa palavra
capítulo 2 • 43
que diz o justo e o injusto está carregada de positividade, é através dela que os
princípios universais da cidadania se singularizam no registro do conflito e do
dissenso quanto à medida de igualdade e à regra de justiça que devem preva-
lecer nas relações sociais. Para além das garantias formais inscritas na lei, os
direitos estruturam uma linguagem pública que baliza os critérios pelos quais
os dramas da existência são problematizados em suas exigências de equidade
e justiça. E isso significa um certo modo de tipificar a ordem de suas causalida-
des e definir as responsabilidades envolvidas, de figurar diferenças e desigual-
dades, e de conceber a ordem das equivalências que os princípios de igualdade
e de justiça supõem, porém, como problema irredutível à equação jurídica da
lei, pois pertinente ao terreno conflituoso e problemático da vida social.
É nesse registro que se pode perceber a abismal distância entre a linguagem
dos direitos e o discurso humanitário sobre os “deserdados da sorte” que cons-
trói a figura do pobre carente e fraco, vítima e sofredor das desgraças da vida,
fixados nas determinações inescapáveis das leis da necessidade.
Mas também a diferença em relação ao discurso técnico que fixa a pobre-
za como elenco de problemas identificáveis pela análise sociológica e postos
como alvos de um possível gerenciamento político tecnicamente fundado. De
um lado, essa palavra, individual ou coletiva, que diz o justo e o injusto, é tam-
bém a palavra pela qual os sujeitos que a pronunciam se nomeiam e se decla-
ram como iguais, igualdade que não existe na realidade dos fatos, mas que se
apresenta como uma exigência de equivalência na sua capacidade de interlo-
cução pública, de julgamento e deliberação em torno de questões que afetam
suas vidas – e essa exigência tem o efeito de desestabilizar e subverter as hie-
rarquias simbólicas que os fixam na subalternidade própria daqueles que são
privados da palavra ou cuja palavra é descredenciada como pertinente à vida
pública de um país.
E é isso o que faz com que o conflito se desdobre na polêmica e debate sobre
as regras da vida em sociedade. O que instaura o dissenso, reforça a autora, não
é, portanto, o reconhecimento da espoliação dos trabalhadores, a miséria dos
sem-terra, o desamparo das populações nos bairros pobres das grandes cida-
des ou ainda as humilhações dos negros vítimas de discriminações seculares, a
inferiorização das mulheres, o genocídio dos índios e também a violência sobre
aqueles que trazem as marcas da inferioridade nas sua condição de classe, de
cor ou idade. Em todas essas negatividades, o discurso humanitário pode se-
guir tranquilo, é seu terreno por excelência – aqui as identidades de cada uma
44 • capítulo 2
na geometria simbólica dos lugares é apenas confirmada. O que desestabiliza
consensos estabelecidos e instaura o litígio é quando esses personagens com-
parecem na cena política como sujeitos portadores de uma palavra que exige
o seu reconhecimento – sujeitos falantes, como define Rancière, que se pro-
nunciam sobre questões que lhes dizem respeito, que exigem a partilha na de-
liberação de políticas que afetam suas vidas e que trazem para a cena pública o
que antes estava silenciado, ou então fixado na ordem do não pertinente para a
deliberação política.
Quando os trabalhadores sem-terra fazem as ocupações de terra instauram
um conflito que é mais do que o confronto de interesses, pois abrem a polêmica
– e o dissenso – sobre os modos como se entende ou pode se entender o princí-
pio da propriedade privada e seus critérios de legitimidade, sobre o modo como
se entende ou pode-se entender a dimensão ética envolvida na questão social
e sua pertinência na deliberação sobre políticas que afetam suas vidas, sobre o
modo como se entende ou pode se entender a questão da reforma agrária, suas
relações com uma longa história de iniquidades e o que significa ou pode signi-
ficar para o futuro desse país.
Quando o movimento negro reivindica tratamento igual e protesta, por
exemplo, só para ficarmos em alguns casos mais conhecidos, contra o racismo
embutido em uma letra de música popular, em cenas de novelas televisivas ou
em imagens veiculadas pela mídia, abre a polêmica sobre o que se entende ou
pode-se entender sobre o princípio da igualdade perante a lei, sobre as ques-
tões e temas que devem ser levados em conta na deliberação política, sobre a
partilha entre o que é da ordem da natureza das coisas e que por isso mesmo
está aquém do juízo ético sobre as regras de equidade nas relações sociais e as
questões que fazem parte da invenção humana e dizem respeito às arbitrarie-
dades e iniquidades inscritas nessas relações.
Quando as populações indígenas reivindicam a demarcação de suas terras,
colocam em pauta os modos como se entende ou pode-se entender os princí-
pios constitucionais que garantem os direitos indígenas, mas também abrem o
debate sobre a validade de outros universos culturais, cognitivos e valorativos,
e rompem a unanimidade construída em torno das concepções convencionais
de nação e território, progresso e desenvolvimento, tradição e modernidade.
Quando, finalmente, os trabalhadores defendem os direitos do traba-
lho abrem uma disputa sobre o que se entende ou pode-se entender sobre
modernização e modernidade, ao colocar em pauta, contra o primado da
capítulo 2 • 45
racionalidade instrumental do mercado para qual os direitos aparecem no
registro de custos e ônus a serem eliminados, a exigência de uma regulação
das relações de trabalho mediadas por categorias, também elas em disputa,
de equidade e justiça.
Assim, se antes foi enfatizada a dimensão transgressora dos direitos, a ques-
tão agora pode ser recolocada, pois essa é uma dimensão inscrita na própria pa-
lavra que pronuncia os direitos: a palavra é transgressora (ou pode ser, quando
não se trata apenas da palavra instrumental que tão somente mobiliza os dados
postos pelas circunstâncias para garantir sua eficácia imediata – racionalidade
instrumental, poderíamos aqui dizer, apenas para delimitar o terreno em que
essa discussão está sendo proposta), não só pelos efeitos desestabilizadores de
lugares e consensos estabelecidos. Mas pela possibilidade de descrições alter-
nativas do mundo que ampliam nossas referências cognitivas e valorativas, tor-
nam relevantes ou possíveis coisas que antes não existiam e desestabilizam o já
sabido ou posto como evidência que não suscita a reflexão, pois apenas existe
na nossa paisagem cotidiana.
É sob esse prisma, da dimensão transgressora da palavra, que se pode talvez
avaliar o efeito devastador da corrosão dos direitos em curso no país. As possi-
bilidades do campo democrático construído nos últimos anos parecem, hoje,
na segunda metade da década de 1990, desafiadas por um projeto conservador
que já se traduz em práticas reais, no qual a neutralização da dimensão ética da
justiça e da igualdade, em nome dos critérios de eficácia e racionalidade téc-
nica da economia, passa pela imposição de uma ordem pública subtraída das
esferas políticas de representação, negociação e interlocução.
Além da evidente fragilização das condições de vida e trabalho de maiorias,
a destituição dos direitos – ou, no caso brasileiro, a recusa de direitos que nem
mesmo chegaram a se efetivar – significa também a erosão das mediações po-
líticas entre o mundo social e as esferas públicas, de tal modo que estas se des-
caracterizam como esferas de explicitação de conflitos e dissenso, de represen-
tação e negociação. É por via dessa destituição e dessa erosão dos direitos e das
esferas de representação, que se ergue esse consenso que parece hoje quase
inabalável, de que o mercado é o único e exclusivo princípio estruturador da so-
ciedade e da política. Diante de seus imperativos não há nada a fazer a não ser
a administração técnica de suas exigências e a sociedade deve a ele se ajustar
e que os indivíduos, agora desvencilhados das proteções tutelares dos direitos,
podem finalmente provar suas energias e capacidades empreendedoras.
46 • capítulo 2
Se é verdade que os direitos supõem uma palavra, esse encolhimento da
cena política tem o efeito também de tornar invisíveis, não existentes ou não-le-
gítimas as realidades que essa palavra nomeia e as alternativas com que acena.
Trata-se de um estreitamento do horizonte do possível e do pensável.
A rigor, o que está em jogo é a demolição desse horizonte – horizonte de pos-
síveis – por via de um aprisionamento da ação e do pensamento em um presen-
te tramado pela lógica, percebida como inescapável, do mercado. Esse enco-
lhimento da cena política produz algo que um curto circuito entre a dinâmica
societária e o universo público da política, pois as reivindicações de direitos e as
ações políticas pautadas pelo reconhecimento de direitos, para além das prer-
rogativas e garantias demandados como conquista de cidadania, significam
também ou sobretudo uma ampliação dos horizontes da invenção política e
uma diversificação dos campos de experiências possíveis. E é isso precisamen-
te que vem sendo neutralizado nesses tempos de neoliberalismo vitorioso.
Sabemos que, na tradição brasileira, essas noções nunca tiveram função crí-
tica. Hoje, isso ganha atualidade já que em sintonia fina com esse espantoso
deslizamento, em operação no mundo inteiro, do campo semântico no qual as
noções de direitos e cidadania foram formuladas como promessas da moder-
nidade, aparecendo agora como seu avesso, como figuras de atrasos e anacro-
nismos, privilégios e corporativismos que obstam a potência modernizadora
do mercado.
As figuras dessa pobreza despojada de dimensão ética e transformada em
natureza nos dão uma chave para compreender o modo como a questão social
é (e sempre foi) tematizada no horizonte simbólico da sociedade brasileira: não
há autoridade pública nesse país que não proponha o problema em termos de
uma exigência de igualdade e justiça social.
Tendo como referência quase exclusiva esses que já estão (ou parecem es-
tar) “fora”, todo o problema da igualdade parece se esgotar em garantir que
essa gente tenha acesso aos “mínimos vitais de sobrevivência”. Poder-se-ia di-
zer que é uma noção pré-social de igualdade, pois remetida a algo como as leis
naturais da vida e da morte, esse pressuposto e suposto do qual depende a vida
em sociedade, ainda não configura propriamente uma vida social.
Menos do que um problema propriamente mundano (que é político) da
convivência social, é uma noção de igualdade que opera com uma medida que
diz respeito aos mínimos vitais dos quais depende a reprodução da espécie –
uma medida de igualdade que não diz respeito ao contrato social, mas a algo
capítulo 2 • 47
anterior a ele, aos imperativos da sobrevivência. É uma definição de igualdade
e de justiça que não constrói a figura do cidadão, mas sim a figura do pobre:
figura desenhada em negativo, pela sua própria carência. É sobretudo, uma
definição de igualdade e justiça que constrói uma figura da pobreza despoja-
da de dimensão ética. Rebatida para o terreno das necessidades vitais – modo
peculiar de alojar a pobreza no terreno da natureza – a própria noção de justiça
e de igualdade é desfigurada, pelo menos nos termos como foram definidas
enquanto valores fundadores da modernidade: a igualdade é definida por refe-
rência às necessidades vitais, esse marco incontornável da vida perante o qual
– assim como ocorre com a morte – todos são não apenas iguais, mas como
lembra Hannah Arendt, rigorosamente idênticos.
Como essa medida absoluta, medida de vida e de morte, não há propria-
mente o problema do julgamento, da escolha e dos critérios de discernimento
entre o justo e o injusto. Há apenas o imperativo inarredável da sobrevivência.
É essa figuração da pobreza que é demolida – ou ao menos questionada – em
cenários públicos abertos à palavra do direito. E talvez aqui o leitor possa perce-
ber qual foi na verdade o percurso desse texto ao discutir a questão dos direitos
sociais na ótica da palavra que os pronuncia, e não na ótica da carência e da
pobreza desvalida, tão comum quando o tema entra em debate.
Nesses tempos incertos em que o consenso conservador que tomou conta
da cena política do país tenta fazer crer que estamos diante de processos ine-
lutáveis e em que o encolhimento da política mostra seus efeitos no aprisio-
namento de homens e mulheres em um presente sem abertura para futuros
alternativos, nesses tempos, enfim, o deciframento dos campos de experiên-
cias possíveis não é pouca coisa, e certamente não é tarefa fácil, pois parte con-
siderável dos dilemas dos tempos atuais está na dificuldade de identificar e no-
mear processos societários. Há quem, no cenário das mudanças atuais, fale de
uma social que perdeu sua lisibilidade por conta de uma espécie de disjunção
entre as formas (categorias, representações, tipificações) de nomeação/descri-
ção do real e a emergência de novas formas de diferenciação e hierarquização
social, mas também novas configurações da experiência do mundo e novas si-
tuações que escapam a categorias estabelecidas e a formas conhecidas de re-
presentação. E se assim for, é questão inteiramente pertinente aos direitos pois
os direitos são também uma forma de dizer e nomear a ordem do mundo, de
produzir o sentido de experiências antes silenciadas e de formalizar o jogo das
relações humanas estabelecendo as regras das reciprocidades e equivalências
48 • capítulo 2
por referência a noções sempre em disputa e sempre reinventadas de um bem
comum, medida de um mundo comum possível, figurações simbólicas do que
se imagina como mundo que valha a pena ser vivido. É por esse ângulo que será
preciso decifrar as possibilidades de futuro descortinadas no horizonte das ex-
periências e experimentos democráticos que, nesses tempos incertos, continu-
am a acontecer em várias regiões do país. No fio da navalha em que transitam
suas promessas dependem grandemente da refundação da política e da pró-
pria noção de direitos e cidadania, porém, nos termos que o mundo contempo-
râneo está a exigir. Como diz Hannah Arendt, pensamento não é a mesma coisa
que conhecimento (das causalidades, das determinações), é o exercício da fa-
culdade de discernimento (e juízo ético) na nossa experiência de mundo, que
é exigida pelas perplexidades que compartilhamos com nossos semelhantes e
faz apelo à imaginação sem a qual não conseguiríamos sair dos limites que o
nosso presente nos impõe e que o já-sabido prescreve nos envolvendo na muda
tranquilidade daquilo que nos é desde sempre familiar.
CONEXÃO
Talvez seja nisso que possamos encontrar a convergência entre a atividade do pensamento
e os direitos como palavra que introduz fissuras na ordem das coisas, acenando com outros
mundos possíveis – mundos que valham a pena ser vividos.
ATIVIDADES
01. Leia o seguinte texto:
Políticas Sociais e Direitos Sociais no Brasil de Evaldo Amaro Vieira.
Fonte: http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36299/39019.
capítulo 2 • 49
Instruções:
Faça uma análise dissertativa do texto contendo Introdução, Desenvolvimento e Consi-
derações finais, procure refletir criticamente sobre o conteúdo abordado.
Com base na charge e no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 faça uma análise
da contradição existente entre o direito constitucional e a realidade de vida de milhares de
brasileiros.
REFLEXÃO
Faça a leitura do texto e procure relacionar com o conteúdo apresentado neste capítulo.
50 • capítulo 2
outros marxistas, identificando que quem tem a hegemonia do aparato estatal deve se preocu-
par com a questão da legitimidade do governo, pois, nenhum poder se sustenta só na socieda-
de política mais também com a sociedade civil (constante paradoxo entre força e consenso).
Assim, legitimação e acumulação do capital não são funções que derivam de uma natureza
instrumental do Estado para manter a ordem e harmonia, mais é essencialmente resultante do
conflito entre as forças presentes na sociedade e dentro do próprio Estado/aparelho estatal.
Diferenciando-se, neste sentido, de Marx que evidencia o aspecto político da sociedade civil.
Evidenciamos como contribuição mais importante de Gramsci àquelas observações fei-
tas em sua metodologia teórica sobre como investigar na ciência política, assim como, o des-
taque dado aos intelectuais e à ideologia na análise dos processos históricos. E por último,
não vê o Estado apenas como um aparelho de violência/repressão mais um aparato jurídi-
co-político cuja organização e intervenção varia de acordo com a organização social, política,
econômica e cultural da sociedade, mediadas pelas correlações de forças entre as frações
de classes vigentes. (On line, Silva, 1999).
http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es/GT2/gt2m5c5.pdf
LEITURA
BUSSINGER, Vanda Valadão. Fundamento dos direitos humanos. Serviço Social e Socie-
dade, n. 53, ano XVIII, mar. São Paulo: Cortez, 1997.
O artigo apresenta de maneira didática a configuração do estado moderno e a concep-
ção dos direitos civis pelos teóricos contratualista. Revela também a dimensão burguesa na
declaração dos direitos humanos e sua influência nas constituições.
HERRERA, Carlos Miguel. Estado, constituição e direitos sociais. Revista da Facul-
dade de Direito da Universidade de São Paulo, v.102, p. 371-395, jan\dez. 2007. Acesse:
http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67760/70368.
O artigo é resultado da apresentação do autor no Colóquio internacional sobre direitos
humanos ocorrida em Berlim. O mesmo aborda a incorporação dos direitos sociais nas cons-
tituições democráticas, trazendo o estado como elemento central.
capítulo 2 • 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUSSINGER, Vanda Valadão. Fundamento dos direitos humanos. Serviço Social e Sociedade, n.
53, ano XVIII, mar. São Paulo: Cortez, 1997.
CASTEL, R.. As metamorfoses da questão social. Petrópolis: Vozes, 1998.
EWALD,F. L’ Etat Providence. Paris: Grasset, 1986.
HERRERA, Carlos Miguel. Estado, constituição e direitos sociais. Revista da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, v.102, p. 371-395, jan\dez. 2007. Acesse: http://www.revistas.usp.
br/rfdusp/article/viewFile/67760/70368.
FIUZA, C. Direito Civil – Curso Completo, Del Rey Ed., 5ª ed., 2002, p. 159.
MONREAL, E.N. O direito como obstáculo à transformação social. Trad. Gérson Pereira dos
Santos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988.
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52 • capítulo 2
3
A configuração da
política social, o
Welfare State e a
política social na
América Latina.
Neste capítulo estudaremos a configuração das políticas sociais nos países
que iniciaram as intervenções estatais como forma de enfrentamento das
questões sociais geradas com o processo de industrialização e consolidação
do modo de produção capitalista.
OBJETIVOS
• Perceber a origem do movimento operário como forma de enfretamento da exploração
capitalista;
• Refletir sobre a intervenção estatal na França;
• Estudar o modelo Alemão de implantação das políticas sociais;
• Estudar o modelo da Inglaterra na implantação das políticas sociais;
• Refletir sobre a particularidade da política social na América Latina.
54 • capítulo 3
3.1 Movimento e organização da classe
trabalhadora e origem da política social
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hospitais destinados aos mais po-
bres, miseráveis e desvalidos dentro
do espírito da salvação e da redenção.
Nesse período a pobreza não era vista
como um problema social.
Na transição da Idade Média para a fase pré-industrial, a pobreza começa
a ser vista como problema pelas autoridades e pelas elites. A condição de po-
breza e consequentemente os pobres deixam de ter o componente cultural da
divindade para se tornar vagabundos; a não possibilidades de inserção através
do trabalho os desqualifica.
CONEXÃO
Assista o filme Vinhas da Ira: o filme narra a história de uma família de camponeses que, ex-
pulsa pelos latifundiários das terras onde viviam e trabalhavam, é forçada a uma longa viagem
rumo à Califórnia em busca de trabalho. Pelo caminho, encontram a fome e a discriminação,
mas também a solidariedade, a consciência de classe e a dignidade.
capítulo 3 • 55
pobre vagabundo que não era capaz de mudar sua condição e sua natureza e o
pobre que mesmo trabalhando não conseguia manter sua sobrevivência, a esse
último era legitimo algum tipo de assistência. A França no século XVIII chegou
a decretar a prisão com possibilidades de condenação a morte a todos que não
seguissem a lei local em relação a execução de atividade laboral.
Várias legislações foram elaboradas para dar fim ao número de pobres vaga-
bundos, que chegavam desde a deportação para outras colônias ou hospitais de
reabilitação e trabalho forçado até a pena de morte.
A Revolução Industrial trouxe uma mudança radical na configuração da so-
ciedade na esfera política, econômica e social e o capitalismo foi o principal
agente dessa mudança.
Nesse período a hostilidade contra os pobres intensificou, passando agora
a serem vistos como uma ameaça a coesão social e como classe perigosa, a po-
breza passa a ser vista como condição para degradação moral.
Durante o período de industrialização no século XIX houve um significativo
aumento de pessoas pobres, agora em outra categoria de trabalhadores pobres,
que concorriam entre si no cruel processo de super exploração do capitalismo,
acirrado pelo grande índice de desemprego.
Não há na literatura um período preciso do surgimento da intervenção esta-
tal através de políticas sociais, a mesma pode ser compreendida como processo
social, sua conformação se deu na ascensão do modo de produção capitalista
e a pressão social do movimentos dos trabalhadores para alcançar melhores
condições de vida e de trabalho. Behring (2007) coloca que sua origem é comu-
mente relacionada aos movimentos de massa social-democratas e ao estabele-
cimento dos Estados-nação na Europa ocidental no final do século XIX, e sua
generalização situa-se na passagem do capitalismo concorrencial para o mono-
polista, na sua fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial (pós 1945).
Mandel divide o capitalismo em três fases, a primeira fase seria denomina-
da como capitalismo concorrencial com inicio à partir de 1848 com a revolução
do vapor, a segunda fase no final do século XIX até 1930 denominada como im-
perialismo clássico pelo processo de monopolização do capital e a terceira fase
seria o capitalismo maduro ou tardio, marcado pela final da segunda guerra
mundial até os dias atuais com a incorporação da tecnologia e encurtamento
do tempo de produção de rotação dos meios de produção e a intervenção esta-
tal no controle das bases de regulação do capitalismo.
56 • capítulo 3
A Inglaterra nos séculos XIV e XVI estabeleceu algumas normativas no pe-
ríodo anterior a Revolução Industrial, que podem ser consideradas como es-
boço de intervenção estatal como Estatuto dos Trabalhadores (1349); Estatuto
dos Artesãos (1563), Lei dos pobres elisabetanas (1531-1601), Lei de Domicilio
(1662) SpeenhamlandAct (1795), Leis dos pobres (revisada) mais conhecida
como Poor Law AmendmetAct(1834).
Essas leis foram criadas como forma de controle e coerção do trabalhador,
com aspecto muito mais punitivo do que de proteção, fazendo com que traba-
lhadores pobres aceitassem quaisquer condições para poder manter sua so-
brevivência e assim evitar a mendicância. Distinguia claramente os pobres que
mereciam algum tipo de auxílio daqueles que não mereciam, os merecedores
eram geralmente aqueles que comprovassem incapacidade para o trabalho e os
nobres empobrecidos.
Polanyi afirma que o princípio estruturador dessas leis era obrigar o exercício do tra-
balho a todos que apresentassem condições de trabalhar, e as ações assistenciais
previstas tinham objetivo de induzir o trabalhador a se manter por meio de seu traba-
lho. Associadas ao trabalho forçado, essas ações garantiam auxílios mínimos (como
alimentação) aos pobres reclusos nas workhouses (casas de trabalho). Os critérios
para acesso eram fortemente restritivo e seletivo e poucos conseguiam receber os be-
nefícios. Os pobres "selecionados" eram obrigados a realizar uma atividade laborativa
para justificar a assistência recebida (Polanyi, 2000; Castel, 1992, 1998 apud Behring
2007, pg.48).
capítulo 3 • 57
Se as legislações sociais pré-capitalista eram punitivas, restritivas e agiam na inter-
secção da assistência social e do trabalho forçado, o "abandono" dessas tímidas e
repressivas medidas de proteção no auge da Revolução Industrial lança os pobres à
"servidão da liberdade sem proteção" no contexto de plena subsunção do trabalho ao
capital, provocando o pauperismo como fenômeno mais agudo decorrente da chamada
questão social. (Behring, 2007, pg. 51).
Behring (2007) aponta que as lutas por jornadas de trabalho que provoca-
ram o surgimento de novas regulamentações sociais e do trabalho pelo Estado.
Adam Smith defende a tese que o Estado não pode interferir nas leis natu-
rais da economia, devendo apenas manter as condições para que o mercado
maximize os benefícios aos homens, configurando dessa maneira no Estado
mínimo,o mesmo atribuía ao Estado apenas três funções: defesa contra os ini-
migos externos, a proteção de todo indivíduos de ofensas por outros indivíduos
e o provimento deobras públicas, que não pudessem ser executadas pela ini-
ciativa privada. O autor não reconhecia a contradição entre a acumulação de
riqueza e a coesão social.
O liberalismo reina como pensamento quase uniforme de meados do sé-
culo XVIII até aproximadamente 1930, tendo o trabalho como mercadoria e a
regulação pelo livre mercado, onde a mão "invisível do mercado livre" é quem
regula as relações sociais e econômicas, sem a interferência do estado.
O Estado capitalista incorpora os princípios liberais na condução de uma in-
tervenção mínima para o social e máxima para o capital, estabelece ações repres-
sivas e coercitivas para as questões sociais, incorporando algumas demandas da
classe trabalhadora como forma de manter um mínimo de controle da insatisfa-
ção com as relações de exploração, não enfrentando a raiz da questão social.
Nesta direção a passagem do estado liberal predominante no século XIX
para o estado capitalista do século XX incorporou o contexto econômico e so-
cial trazido com o conflito capital x trabalho impulsionando o estado na execu-
ção de políticas sociais.
O surgimento das política sociais foi gradual e diferenciada entre os países, depen-
dendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de
desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações de forças e composições de
força no âmbito do Estado. Os autores são unânimes em situar o final do século XIX
58 • capítulo 3
como o período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações so-
ciais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade.
( BEHRING, 2007, p. 64)
capítulo 3 • 59
CONEXÃO
Assista o filme Germinal de Émile Zola, o longa retrata a situação de extrema exploração dos
trabalhadores das minas de carvão da França no final do século XIX. Acesse: http://www.
cntm.org.br/portal/videoplayer.asp?id_CON=1864.
60 • capítulo 3
número de acumulação e de formação de monopólios e da utilização de capital
bancário originando o capital financeiro. Acirrando a concorrência de empre-
sas, principalmente no pós das duas grandes guerras mundiais.
E o mais importante elemento de questionamento dos pressupostos li-
berais foi a crise econômica mundial que durou de 1929 à 1932, iniciado no
sistema financeiro americano na Bolsa de Valores de Nova York, esse período
também é denominado como a Grande Depressão. A saída proposta por John
Maynard Keynes para o enfrentamento da crise foi o fomento ao consumo e o
aumento da oferta de emprego, em seu livro Teoria geral do emprego, do juro e
da moeda, publicado em 1936 ele defende a intervenção estatal na economia,
rompendo portanto com os princípios liberais, mas não rompendo com os
princípios capitalista.
Para Behring (2007) Keynes defendeu a liberdade individual e a economia
de mercado, mas dentro de uma lógica que rompia com a dogmática liberal
conservadora da época.
Keynes propõe políticas de geração de emprego, criação de políticas e de
serviços sociais com o objetivo de ampliação do consumo, e ao Estado cabe re-
gular essas condições e modernizar as relações econômicas. As intervenções
estatais na esfera econômica seriam para garantir a produção e na área social
para garantir as condições de sobrevivência dos excluídos do trabalho como
crianças, pessoas com deficiências e idosos.
O governo norte americano buscando atenuar o impacto social da crise eco-
nômica inicia um processo de intervenção estatal dentro de um contexto de
pacto entre os interesses do capital e dos trabalhadores.
O consenso do pós guerra favoreceu uma aliança conduzida pelos partidos
da social democracia entre as classe, possibilitando o estabelecimento de polí-
ticas mais universais, com bases de cidadania, de caráter estatal.
capítulo 3 • 61
lário família, seguro desemprego e outros auxílios mais de caráter social como
auxílio-funeral, auxílio-maternidade, abono nupcial, benefícios para as espo-
sas abandonadas, assistência as donas de casa, enfermas e auxílio treinamento
para os trabalhadores autônomos. Esse modelo de intervenção estatal estava
voltado para o enfrentamento real das condições de pobreza. O financiamento
do sistema se constituia pela arrecadação de impostos e não pela contribuição
de empregados e empregadores, a gestão era unicamente estatal, e os princí-
pios se davam pela unificação institucional e a uniformização dos benefícios.
Para Mishra (1995) apud Yasbek (2001) há princípios que estruturam e ca-
racterizam o Welfare State que são encontrados no plano Beveridge: responsa-
bilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio
de um conjunto de ações em três direções: regulação da economia de mercado
a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de serviços sociais
universais como educação, segurança social, assistência médica e habitação; e
um conjunto de serviços sociais pessoais. b) universalidade dos serviços sociais
e c) implantação de uma rede de segurança de serviços de assistência social.
Entretanto parece consensual entre os autores que os seguros sociais ou seja, a ga-
rantia compulsória de prestação de substituição de renda em momentos de riscos deri-
vados da perda do trabalho assalariado pelo Estado foi uma inovação da Alemanha na
era bismarckiana. Já o modelo beveridgiano, surgido na Inglaterra, tem como principal
objetivo a luta contra a pobreza. Nesse sistema de proteção social, os direitos são uni-
versais, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições
de recursos ( testes de meios), e o estado deve garantir mínimos sociais a todos em
condições de necessidades. ( BEHRING, 2007, p. 97).
62 • capítulo 3
O discurso neoliberal para restaurar o crescimento apresenta como pro-
posta a reestruturação produtiva, a privatização, o encolhimento do Estado, os
ajustes fiscais e monetários seguindo as recomendações do Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Nesse sentido, o processo supracitado, moldado por mais de três séculos nos países
latino-americanos, conformou a herança colonial, cujo legado determina a matriz eco-
nômico-social sob a qual as nações do continente terão que se organizar no momento
da chamada independência, o que vai configurar um padrão oligárquico-dependente de
desenvolvimento capitalista. (PAIVA; ROCHA; CARRARO, 2010, p.153).
capítulo 3 • 63
Trazemos também as marcas do analfabetismo, a falta de acesso aos ser-
viços de saúde, falta de acesso água potável, o alto índice de desnutrição em
crianças menores de cinco anos, grande índice de pessoas residentes em ha-
bitações inadequadas, processo de favelização. Diante dessas questões foram
denominadas pelos países centrais e agências internacionais como países
subdesenvolvidos.
A denominação de subdesenvolvimento foi utilizada para designar os pa-
íses que em comparação com outras nações não apresentam índices favorá-
veis que demonstrem o acesso da população a bens e serviços básicos. Porém
é importante retomar que grande parte desses países foram colonizados e
vitimados pela exploração de suas riquezas pelos países denominados como
desenvolvidos.
Com a independência das colônias latinas americanas, as mesmas configu-
ram sua formação econômica, política e social baseada nas consequências da
escravidão, na concentração de terras e na produção de bens primários voltado
para atender o mercado externo, não rompendo nesse sentido com a relação
de dependência, e de maneira contraditória aprofundando essa relação, prin-
cipalmente no campo da economia. A dependência pode ser compreendida
como uma relação de subordinação em relação as nações dominantes nas rela-
ções de consumo e produção.
A América Latina insere-se no processo de acumulação capitalista dentro
desse processo de nações dependentes e subordinadas, principalmente pela
Inglaterra durante o período da Revolução Industrial.
Os países centrais mantiveram um perverso ciclo de manutenção dessa re-
lação desigual com os países periféricos dentre eles a América Latina.
Sendo assim, resta aos países latino-americanos exportarem produtos primários, es-
sencialmente gêneros agrícolas e matérias-primas - cujos preços tendem a cair em
relação aos produtos industrializados - e importarem tecnologias, equipamentos e ma-
quinarias - de custo indiscutivelmente maior, considerando também o monopólio dos
países centrais na produção destes produtos, o que lhes permite vendê-los por um
preço mais elevado.(PAIVA; ROCHA; CARRARO, 2010, p.155).
64 • capítulo 3
tiveram também o caráter repressivo dos movimentos operários que reivindi-
cavam direitos sociais e direitos trabalhistas, o discurso para encontrar apoio
e legitimização foi de expandir o desenvolvimento, acelerar o crescimento e a
economia para promover o progresso e a integração nacional, buscando alcan-
çar os patamares econômicos das nações dominantes.
O Estado teve um papel central que contribuiu para a conformação dos paí-
ses da América latina como nações fadadas ao subdesenvolvimento com medi-
das de financiamento internacional no processo de aceleração do desenvolvi-
mento e baixo investimento em políticas sociais de acesso universal.
É importante refletir que nos países pobres da América Latina, não viven-
ciaram a universalização dos direitos e serviços públicos do Estado de Bem
Estar, muito menos o Keynesianismo em termos de políticas sociais, as desi-
gualdades de classes não permitiram a universalização dos direitos sociais. As
políticas são focalizadas, segmentadas e se caracterizam pelo direcionamento
neoliberal.
Considerações Finais
É importante ressaltar que o termo WelfareState não deve ser utilizado de ma-
neira generalizada para designar os países que implementaram políticas so-
ciais sob a orientação Keynesiano-fordista.
Na produção teórica sobre o tema em questão, é comum encontrarmos a de-
nominação Estado de bem estar para decifrar a realidade brasileira, o que não
condiz com a conceituação adequada do termo Estado de bem estar.
Podemos observar que cada contexto histórico com suas particularidades
históricas, econômicas e sociais implantaram as formas de intervenção estatal.
A França por exemplo que no seu Estado social utiliza o termo Etat
Providenceimplantando em 1898 com a implantação da primeira lei cobrindo
acidentes de trabalho, o estado nesse período assume sua responsabilidade de
regular as relações de trabalho.
O WelfareState é originário da Inglaterra e não foi incorporado por todos os
países europeus.
Na Alemanha o termo utilizado para conceituar a intervenção estatal é
Sozialstaat( Estado Social), esse termo refere-se ao conjunto de políticas de pro-
teção social que incluem os seguros sociais, não se restringindo a eles, porém
a Alemanha não instituiu um sistema de seguridade social universal para todo
conjunto da população.
capítulo 3 • 65
ATIVIDADES
01. (ENADE, 2013) Análise a questão abaixo e assinale a alternativa correta.
O Estado, como produto histórico das relaçõesentre classes sociais antagônicas, congre-
ga emsi a totalidade das relações sociais entre essas classes constituindo-se como um fenô-
meno contraditório e dialético. Nesse sentido, embora o estado assuma com maior afinco as
funções coercitivas e repressivas, que respondem aos interesses da classe dominante para a
manutençãoda ordem e da propriedade privada, ele também desenvolve ações integradoras
e protetivas, respondendo às demandas e reivindicações das classes trabalhadoras. Aí loca-
liza-se seu caráter contraditório e dialético.
Fonte: PEREIRA, P. A. P. Estado, sociedade e esfera pública. In: Serviço Social:direitos sociais e competências
Com base no texto acima, é correto afirmar queo caráter contraditório e dialético do
Estado seevidencia em:
a) um conjunto de instituições e prerrogativas, entreas quais, o poder coercitivo, que só o
Estado possuipor delegação da própria sociedade.
b) um conjunto de instituições e prerrogativas, quetem o poder de regular a sociedade e
aplicarregras para servir ao bem comum.
c) um conjunto de instituições e prerrogativas decaráter primordialmente repressivo, aten-
dendosomente aos interesses da classe dominante.
d) um conjunto de instituições e prerrogativasconstituído historicamente e socialmente pa-
raatender às demandas da classe trabalhadora.
e) um conjunto de instituições e prerrogativas, queassume diferentes responsabilidades,
inclusivede atender às demandas e reivindicações da sociedade, antagônicas aos inte-
resses do capital.
66 • capítulo 3
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
[...]
REFLEXÃO
Crise de 29
O fim da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) colocou os Estados Unidos em um novo
panorama econômico. De maior devedora, a economia norte-americana se transformou na
principal credora da economia mundial. Além disso, expandiu o seu parque industrial ao pon-
to de reter em suas mãos praticamente um terço de todos os produtos industrializados que
percorriam o mundo. Mediante tanta prosperidade, vemos que imigrantes de todo o mundo
buscavam viver o tal “american way of life”.
O momento de expansão e euforia acabou se refletindo no comportamento do mercado de
ações daquele país. Cidadãos das mais variadas classes sociais sonhavam em ascender social-
mente investindo grande parte de suas economias no setor de ações. Esperando que a econo-
mia sustentasse patamares de crescimento constantes, vemos que a população norte-ameri-
cana parecia realmente viver um sonho, a ilusão de que seu país não mais reconhecia limites.
Acreditando piamente nos princípios do liberalismo clássico, os governantes norte-ame-
ricanos não enxergavam a necessidade de interferir nessa incessante onda especulativa.
Com o passar do tempo, a capacidade de consumo dos norte-americanos passou a ser
superada pela enorme quantidade de mercadorias produzidas pelas indústrias. No entanto,
a despeito dessa tendência, as bolsas de valores insuflavam a especulação financeira sobre
empresas que só ampliavam suas vendas e mercados.
Contudo, já em 1928, o estouro dessa bolha financeira começou a se manifestar quan-
do o preço das mercadorias acumuladas começou a despencar e as empresas se viram
capítulo 3 • 67
forçadas a reduzir seu quadro de funcionários. Já no ano seguinte, muitos investidores se
desesperavam tentado realizar a venda de suas ações para outros possíveis investidores.
No dia 24 de outubro daquele ano, uma avalanche de ofertas e a ausência de compradores
sentenciaram a quebra da Bolsa de Nova York.
FONTE: http://www.brasilescola.com/historiag/crise29.htm. Acesso em 01.04.2015
LEITURA
GARCIA, Maria Lúcia T.; RAIZER, Eugênia Célia. (ORG.). A questão social e a política
social no contexto latino americano. Vitória, E.S: Edufes, 2013.
O livro é resultado das conferências proferidas no III - Encontro Nacional de política so-
cial ocorrido em Vitória no ano de 2008. Com o tema central " A questão social e a política
social no contexto latino americano" o assunto foi problematizado por docentes e teóricos
que debruçam sobre o tema: política social, questão social na América Latina.
Coloca a questão da crise mundial nos padrões de relações do mundo capitalista e das
refrações da questão social e os rebatimentos na configuração de respostas efetivas pelo
Estado, bem como da precarização das condições trabalhistas.
PAIVA, Beatriz; ROCHA, Mirella; CARRARO, Dilceane. Política social na América La-
tina: ensaio de interpretação a partir da teoria marxista da dependência. SER social, Brasília,
v.12, n. 26, p. 147-175, jan.jun. 2010.
O artigo problematiza a configuração das políticas sociais na AméricaLatina a luz da
teoria critica dialética, baseia-se na leitura de autores com vasta produção no estudo da
formação social, política e econômica da América Latina.
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latino americano. Vitória, E.S: Edufes, 2013.
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interpretação a partir da teoria marxista da dependência. SER social, Brasília, v.12, n. 26, p. 147-175,
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social. Serviço Social e Sociedade, n. 56, ano XIX. mar. p. 50 -59. São Paulo: Cortez, 1998.
capítulo 3 • 69
70 • capítulo 3
4
Formação Política
do Estado e Política
Sociais Brasileiras
Neste capítulo você vai estudar e refletir sobre a configuração da política social
brasileira, a mesma possui características particulares com marcas culturais
que influenciaram significativa na implementação das políticas sociais brasi-
leiras. Veremos que as políticas sociais em diversos governos não tinham ca-
ráter público e universal até a consolidação da Constituição Federal de 1988.
OBJETIVOS
• Conhecer a configuração da política social brasileira;
• Analisar o contexto histórico de implantação da política de assistência social, saúde, previ-
dência social e trabalho;
• Verificar a importância dos movimentos de trabalhadores na consolidação das políticas
sociais;
72 • capítulo 4
Introdução: questão social brasileira
©© WIKIPEDIA
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que
tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Imperio [...] (Constituição Imperial, 1824).
capítulo 4 • 73
Nos períodos de ouro da produção e exportação do café impulsionaram a
expansão e modernização do sistema de transporte com a construção da malha
ferroviária e portuária Com A finalidade de escoar a produção. A monocultura
do café foi responsável por 70% do PIB brasileiro em meados de 1920.
Com a crise da produção cafeeira houve um acelerado processo de migração
regional para o eixo Rio - São Paulo - Santos marcado pelo crescimento urba-
no-industrial e com a implantação da rede de indústrias, comércio e serviços.
Esse processo se constitui com a formação da classe trabalhadora urbana, que
foi incorporada com imigrantes estrangeiros principalmente vindos da Europa
nos períodos áureos da cultura do café, como forma de substituir a mão de obra
escrava com o fim do trabalho escravo.
A aglutinação do trabalhador estrangeiro teve grande repercussão na orga-
nização do movimentos dos trabalhadores urbanos que criaram associações,
grupos, sindicatos e partidos políticos de ideologia operária.
O direito a organização sindical com autonomia dos sindicatos era reconhe-
cido legalmente desde 1907.
O ápice dessa organização é marcada pelas duas grandes greves ocorridas
em 1917 no Rio de Janeiro e São Paulo e 1919 em São Paulo. As reivindicações
tinham como elemento principal cobrar a intervenção do Estado nas desiguais
relações entre capitalistas e trabalhadores. A criação do Partido Comunista
Brasileiro em 1922 teve grande influência da Revolução Russa em 1917, o par-
tido foi a principal organização de esquerda do país e representava a grande
massa de trabalhadores.
As precárias condições de sobrevivência que vivia milhares de trabalhado-
res, atreladas a exploração da força de trabalho de homens, mulheres, crianças
e idosos desencadearam um processo de enfrentamento. O Estado responde
com extrema repressão o movimento, prendendo e deportando líderes traba-
lhista estrangeiro, legislando e regulando sobre as organizações e sindicatos.
74 • capítulo 4
consideração os determinantes culturais, políticos econômicos e sociais no de-
senvolvimento do aparelho estatal brasileiro.
A formação social brasileira reveste-se de características muito particular
no cenário mundial. Vivemos um período de mais de trezentos anos sob de-
pendência, tivemos um regime escravista longo. Não tivemos um movimen-
to de classe operária com organização política e com consciência de classe.
Experimentamos a restrição dos direitos políticos e civis em vários períodos
históricos, essas restrições foram agravadas nos regimes ditatoriais (1937-1945
e 1964-1989).
O liberalismo adentra na sociedade brasileira com o viés de legitimização
das classes dominantes. O Estado passa a ser visto como forma de internalizar
os centros de decisão política, o senhor colonial passa a ser o senhor cidadão, o
"favor" é a nossa principal forma de mediação.
Para Behring (2007) o Estado brasileiro nasceu sob o signo de forte ambigui-
dade entre o liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como
prática na garantia de privilégios da classe dominante.
O Brasil começa incorporar as bases de um capitalismo ainda dependente
do mercado mundial, apenas adaptando o sistema colonial e essa nova lógica
de consumo. Perdurava a coexistência entre escravidão e os privilégios da aris-
tocracia agrária, essa classe social diga-se de passagem conduziu o processo de
modernização adaptando-a seu modo e interesse.
A transição do regime escravista para o trabalho livre configurou-se numa
mera passagem de um contexto de exploração para outro de subordinação ao
nascente modo de produção capitalista brasileiro, sob o viés conformista e pa-
ternalista do trabalho livre. Esse processo teve consequências negativas na for-
mação política do trabalhador, agora numa condição de pseudo liberdade.
Com o agravamento da questão social brasileira, apenas na primeira década
do século XX é que os trabalhadores brasileiros incorporam uma luta pelos di-
reitos, pressionando Estado liberal interferir nas questões emergentes do con-
flito capital x trabalho. O primeiro esboço das conquistas operárias se deram
no âmbito do direito trabalhista e previdenciário.
Os direitos sociais conquistados tinham um viés de benesse, tutela e favor
com uma instabilidade política presente, efetivando ou não de acordo com os
mandos e desmandos do direcionamento político.
Mesmo com a Independência, os componentes de conservação dos valores
culturais, morais e materiais continuam coexistindo numa relação ambígua de
conservação e modernização.
capítulo 4 • 75
4.1.1 Políticas Sociais brasileira
©© WIKIPEDIA
econômico a hegemonia política, os represen-
tantes das oligarquias do gado, açúcar e outras
culturas se sobressaíram e alteraram a correlação de forças até então existen-
tes, tendo como principal liderança Getúlio Vargas.
CONEXÃO
Assista o filmebrasileiro OLGA dirigido por Jaime Monjardimnarra a história ocorrida no inicio
do século XX de Olga Benário, judia, militante e comunista que recebe treinamento em Mos-
cou para derrubar o governo de Getúlio Vargas, apaixona-se pelo companheiro Luís Carlos
Prestes. O filme revela a estreita ligação do Governo Vargas com o nazismo. Assista, acesse
o link:https://www.youtube.com/watch?v=xr8-d8Jj-9Y.
Getúlio Vargas nesse período conta com apoio político dos tenentes, alguns
deles participantes da Coluna Prestes, dos industriais, dos movimentos sim-
patizantes do fascismo e apoio das bases populares. Seu principal compromis-
so era a modernização e ampliação do desenvolvimento econômico brasileiro.
Porém com as divergências em relação o direcionamento do processo de mo-
dernização, das disputas internas na condução política, o avanços do movimen-
to comunista no Brasil em 1937 Vargas instaura a ditadura do Estado Novo, le-
vando seu projeto de modernização numa vertente conservadora e autoritária.
76 • capítulo 4
CONEXÃO
Coluna Prestes: Para saber mais sobre o movimento de oposição ao governo vigente aces-
se o link abaixo e conheça as causas defendidas pela Coluna Prestes. Acesse: http://www.
infoescola.com/historia/coluna-prestes/.
capítulo 4 • 77
O governo de Juscelino Kubitschek (1955-1960) é marcado pela adoção
de uma política desenvolvimentista, lançou o Plano de Metas que previa
metas nas áreas de transporte, energia, alimentação, indústria de base,
educação e seu principal feito a construção de Brasília. Houve um conside-
rável aumento do processo de industrialização, favoreceu a entrada de ca-
pitais estrangeiros. Para financiar o processo de desenvolvimento recorreu
a empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Com a instala-
ção do regime militar Juscelino teve seus direitos políticos cassados por
fazer frente ao regime militar
Durante o governo de João Goulart (1961 - 1964) foi elaborado pelo econo-
mista Celso Furtado o plano trienal que tinha como foco a geração de empre-
go, a diminuição da inflação, mas o plano não atingiu os resultados esperados,
o mesmo acreditava que para diminuir as desigualdades sociais e acelerar a
economia era necessário implantar as reformas de base (reforma agrária, tri-
butária, administrativa, bancária e educacional).
A oposição via com desconfiança as propostas assumidas pelo então presi-
dente, o movimento anti-Jango cresceu ganhou forças e apoio da classe média
e sob o argumento de que o Brasil corria riscos das influências comunistas
com o apoio dos Estados Unidos, os militares tomam o poder através do golpe
de estado e institui a ditadura militar.
Não houve avanço nas expansão das políticas sociais, apenas reorganiza-
ções estruturais de cunho técnico como o desmembramento do Ministério da
Educação e Saúde e a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões.
O regime de ditadura militar brasileiro durou de 01 de abril de 1964 a 15 de
março de 1985, a Constituição Federal de 1946 foi substituída pela Constituição
Federal de 1967, foram instituídos os Atos Institucionais, sendo o mais rígi-
do o AI nº 5 de 13.12.1968 perdurando até dezembro de 1978.O Congresso
Nacional foi dissolvido e para controlar qualquer forma de contestação foram
atribuído plenos poderes aos militares para a cassação dos direitos políticos.
Os governos militares foram representados por:
78 • capítulo 4
Como forma de compensação dos direitos civis e políticos nesse período
houve expansão e modernização das políticas sociais direcionada de maneira
tecnocrática e conservadora.
Há uma ampliação da institucionalização da previdência social, da política
de saúde e com menos ênfase da assistência social, que se caracteriza unica-
mente como prestação de serviços através da Legião Brasileira de Assistência.
O Banco Nacional de Habitação criado nesse período para atender princi-
palmente as famílias das classes médias, recebeu aporte financeiro do Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço, do PIS e do PASEP como forma de acelerar a
economia através da construção civil.
Behring (2007) estabelece esse período como o acirramento das desigual-
dades sociais culminando na disparidade da oferta de serviços para as classes
burguesas e para as classes pobres, uma vez que são fomentadas a criação de
serviços privados de saúde, educação e previdência social.
No início da década de 70 o mercado internacional com a restrição do flu-
xo de capitais inicia um processo de esgotamento do regime tecnocrático con-
servador estabelecido pela ditadura. Com o fim do milagre econômico o Brasil
inaugura a década de 80 com a distensão da ditadura controlada pela elite e de
anos amargos para a economia brasileira, marcado pela estagnação, endivida-
mento externo, alta da inflação e desemprego.
Mesmo com o novo texto constitucional de 1988 persiste a fragilização das
políticas sociais, que são executadas de maneira seletiva, focalizada, setoriza-
da admitindo inclusive a participação de empresas privadas na prestação de
serviços.
No campo agrário a constituinte não foi capaz de enfrentar a ausência his-
tórica na democratização da terra, o projeto de reforma agrária foi derrubado
pela bancada ruralista.
capítulo 4 • 79
novas categorias dos funcionalismo como Ministério da Fazenda, Ministério
da Guerra que visam prestar assistência nas situações contingenciais, porém o
sistema abrangia apenas o funcionalismo público.
As medidas de proteção social vieram a ter legalidade como política públi-
ca com a aprovação da Lei Eloy Chaves, promulgada em 1923, que surgiu sob
forte pressão do movimento operário brasileiro, resultado das questões sociais
brasileiras.A Lei estabeleceu a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões
as CAPs, sistema privado criado em forma de seguro para atender os trabalha-
dores ferroviários em situações de doenças, morte e acidentes de trabalho. A
constituição do fundo era parte da contribuição dos empregados e parte da
contribuição das empresas.
É importante retomar que o Estado brasileiro tinha um direcionamento li-
beral na condução do conflito entre as relações capital e trabalho ( capitalista e
classe trabalhadora).
A Lei Eloy Chaves implementada pelo decreto Nº 4.682 de 24 de janeiro de
1923 abrangia apenas os ferroviários e posteriormente o decreto Nº 5.109 de 20
de dezembro de 1926 que estendeu o regime previdenciário para as categorias
de portuários e marítimos ampliando alguns benefícios, a Lei foi o marco inicial
das conquistas legais dessas categorias e da intervenção estatal nas relações tra-
balhistas. A mesma tratava de coberturas em forma de pecúlio e serviços no caso
de acidentes de trabalho, assistência farmacêutica, pensão em caso de morte e
assistência médica, reconhecia a estabilidade do trabalho após dez anos.
Durante o Governo de Vargas houve alteração na política previdenciária
com a criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões - IAPs, cobrindo riscos
como a perda da capacidade de trabalho por idade, morte, invalidez ou doen-
ça. Novamente as categorias profissionais que são elementos importantes para
contribuir com o processo de desenvolvimento são as principais beneficiadas.
Não há alterações na lógica do sistema que continua atrelado as questões de
seguro, com planos não uniformizados, com isso as CAPs foram extintas aos
poucos. Os IAPs contavam com a participação do Estado, porém a gestão estava
voltada para a acumulação de uma reserva através de um fundo específico.
Já na ditadura as questões sociais passam a receber atenções ora repressiva
ora de ampliação dos direitos. A política previdenciária passa a ser unificada e
centralizada no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em 1966 sendo
que os trabalhadores passam a ter a assistência burocratizada, inclusive os tra-
balhadores rurais passam a incorporar com contribuições ao sistema por meio
80 • capítulo 4
do FUNRURAL. Em 1972 as empregadas domésticas também são incorporadas
ao sistema. Posteriormente são incluídos também os idosos pobres que tives-
sem contribuído ao menos um ano com a previdência passam a ter direito a
Renda Mensal Vitalícia no valor de meio salário mínimo.
O Ministério da Previdência e Assistência Social é criado em 1974 incorporan-
do as instituições Legião Brasileira de Assistência e a Fundação Nacional para o
Bem Estar do Menor. Há uma ampliação da estrutura administrativa do órgão
com a informatização e criação de novos órgãos que passam a incorporar o siste-
ma como Dataprev (empresa de processamento de dados da previdência social).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e o processo de rede-
mocratização do país a previdência alcançou o patamar de uma política contri-
butiva, com ampliação das coberturas previdenciárias, a licença maternidade
foi estendida para 120 dias alcançando inclusive as trabalhadoras rurais e em-
pregadas domésticas, redução da idade de aposentadoria para homens e mu-
lheres e o valor do benefício tem como referência o salário mínimo nacional.
capítulo 4 • 81
No período de redemocratização do país de 1946 a 1964, a abertura para
a participação popular e descentralização deu espaço para a implementação
dos direitos sociais políticos, inclusive das mulheres e das pessoas mais pobres
segmentos até excluídos do processo político. Os movimentos populares cobra-
vam ações do Estado na área trabalhista e de educação, obrigando o Estado a
dar respostas e assumir a responsabilidade nas áreas sociais.
A instalação da LBA nos municípios foi responsável pelo fomento e criação
de entidades de assistência social absorvendo grande parte dos profissionais de
serviço social. Em 1957 e posteriormente no governo de Juscelino Kubstichek
as entidades passaram a ter isenções de impostos e o CNSS tinha a atribuição
de emitir certificado de fins filantrópicos. Nesse período a destinação de recur-
sos era indicada por senadores e deputados imprimindo um caráter de favore-
cimento em detrimento do trabalho técnico.
Os serviços das entidades eram destinados as camadas mais empobrecidas
da população, geralmente composta por famílias que estavam fora do sistema
produtivo, já para os trabalhadores o governo estabeleceu parcerias com em-
presários fortalecendo o sistema S: SESI e SENAI buscando a qualificação e ex-
pansão da massa operária e o desenvolvimento da indústria.
Não havia planejamento, coordenação e muitas vezes não havia continui-
dade dos serviços oferecidos pelas entidades de assistência social, que na sua
grande maioria prestavam atendimentos na área da infância e da maternidade.
Com a instalação da ditadura militar em 1964 a centralização do poder ex-
tinguiu qualquer forma de manifestação popular, sendo violentamente repri-
mida. Houve aumento das desigualdades sociais, da inflação e do sucateamen-
to das condições de vida dos brasileiros, principalmente no período de 1980. A
terminologia das entidades que prestavam atendimento a população passaram
de amparo social para promoção social, na mesma lógica da benesse e da cari-
dade. Os municípios começam a estruturar a condução da política de assistên-
cia social em departamento, diretoria e secretarias próprias, desvinculando ad-
ministrativamente do Fundo Social de Solidariedade, espaços esse destinado
as primeiras damas. Porém a política de assistência ainda não tinha um dire-
cionamento claro, servindo para complementar outras políticas públicas como
educação, saúde, habitação, ou seja, aquilo que não encontrava uma dimensão
legal financeira em outras políticas era atendida pela política de assistência
social. Portanto as ações da área era limitada a concessão de bens materiais,
de alimentos, vestimentas, medicamentos, transporte, remoção externa enfim
82 • capítulo 4
muito atrelado ao atendimento das necessidades materiais, sem objetivos cla-
ros e definidos, sem continuidade e possibilidade de enfrentar as causas dessas
necessidades.
Houve ampliação da atuação da LBA tornando-se um órgão burocrático,
com normas e regras e critérios para atendimento que mais excluíam a popula-
ção atendida do que promoviam, criou instituições que ofereciam programas e
projetos por segmentos e divididos por faixa etária. Uma dessas instituições foi
a criação da Fundação Nacional para o Bem Estar Social do Menor, voltada para
o atendimento de crianças pobres com o objetivo de prevenir a criminalidade,
as classes pobres eram vistas como classes produtora de futuros marginais, e
toda família que não apresentassem condições para prover o cuidado de seus
filhos o estado assumia esses cuidados como forma de prevenir a ocorrência
de futuros marginais. É desse período também a edição do segundo Código de
Menores (1979) que trata das crianças e adolescentes em situação irregular.
LEITURA
O Código de Menores e o Surgimento da FEBEM
A lógica utilizada pelo Código de Menores era aparentemente simples: “se a família não pode
ou falha no cuidado e proteção do menor, o Estado toma para si esta função” (FALEIROS,
1995b, p.54).
Devido à complexidade na disputa pela guarda dessas crianças, que não eram órfãs e
sim carentes, entre o Juiz de Menores, a família e as entidades de atendimento, muitas fa-
mílias acabavam abandonando os filhos nos internatos. Esse abandono era apontado pelos
profissionais (psicólogos, assistentes sociais, e outros) dos internatos como imoralidade das
famílias, desconsiderando a dificuldade destas para reaver o chamado poder familiar.
Embora a prática do internato de crianças não seja fato recente no Brasil, apenas com a
criação da FUNABEM na década de 60 e a revisão do Código de Menores na década de 70,
quando também, com a ditadura militar os menores foram considerados ‘questão de segu-
rança nacional’, consolida-se a ideia de que lugar de criança pobre é no internato. - Arantes
(1995, p.213)
Por não satisfazer as necessidades do momento e apoiado nas críticas ao antigo Serviço
de Assistência ao Menor, o regime militar substituiu o SAM pela Fundação do Bem-Estar do
Menor (FUNABEM) criada em 1º de dezembro de 1964, pela Lei nº 4513, vinculada ao Mi-
nistério da Justiça, reforçando seu caráter policial frente à problemática que deveria atender.
capítulo 4 • 83
À FUNABEM coube a tarefa de implementar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor
(PNBM), que deveria por fim ao emprego de métodos repressivos e primitivos nas institui-
ções para “menores” e, através da ação conjunta com a “comunidade”, desenvolver outras
estratégias de atendimento que não priorizassem mais a internação ou a institucionalização
da criança.
Para assegurar o controle da situação, a FUNABEM, desencadeou, na década de 70, um
processo de sensibilização dos governos estaduais, dando origem às unidades da Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor ? FEBEM.
No entanto, as unidades da FEBEM em cada estado se revelavam lugares de tortura e
espancamentos, nos moldes dos esconderijos militares, onde subversivos eram torturados.
Os prejuízos resultantes da marginalização eram alarmantes, chegando a formar a Co-
missão Parlamentar de Inquérito em 1976, constituindo a CPI do Menor.
A CPI concluiu seu trabalho, apresentando como recomendação a criação do Ministé-
rio Extraordinário, coordenador de todos os demais organismos envolvidos, financeiramente
apoiado por um Fundo Nacional de Proteção ao Menor. Entretanto, não veio a concretizar-se.
Ao final da década de 70, era promulgado o novo Código de Menores, através da Lei
6697, de 10/10/79, que pretendia inaugurar uma nova postura jurídica frente à questão dos
“menores”. O Código de Menores em 1979 passou a ser o único diploma a regular a matéria
que dita normas de proteção e assistência aos brasileiros menores de 18 anos.
Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado
http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/43795/o-codigo-de-
84 • capítulo 4
4.4 Políticas Sociais e a configuração da
política de saúde
CONEXÃO
Para conhecer a trajetória da política de saúde no Brasil assista o vídeo produzido pela OPAS
e pela OMS em parceria com o Ministério da Saúde. Acesse:https://www.youtube.com/wa-
tch?v=SP8FJc7YTa0.
capítulo 4 • 85
O estabelecimento da máquina pública acompanhou o projeto político ide-
ológico do governo de constituição do estado nacional brasileiro, estabelecen-
do mecanismos burocráticos que viabilizassem a integração das três esferas
administrativas: federal, estadual e municipal.
As doenças e a pobreza passam a serem vistas como símbolos do atraso,
esses novos significados e interesses presentes na associação entre saúde e
desenvolvimento começam a marcar os espaços institucionais no campo da
saúde pública no período de 1945 a 1964 e as ações direcionadas no campo do
desenvolvimento econômico principalmente.
O grande legado do regime militar na saúde pública é o baixo investimento,
e a expansão dos serviços privados com orçamento público.
O movimento da reforma sanitária consolidou a luta pela saúde pública na
VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, com a proposta do Sistema Único
Descentralizado de Saúde (SUDS), o movimento travou embates com represen-
tantes da indústria farmacêutica e de hospitais privados que tinham interesses
de cunho econômico dificultando a implementação de uma política de saúde
pública e de atendimento integral.
Com a aprovação da Constituição Federal de 1988 e posteriormente com a
Lei Orgânica da Saúde Nº 8.080 de 1990 a saúde passou a ser um direito univer-
sal, e não somente para os trabalhadores com carteira assinada, inaugurando
um novo tempo na saúde brasileira, agora com novos desafios.
86 • capítulo 4
A Constituição Federal de 1934 trouxe vários avanços na legislação traba-
lhista como por exemplo: fixou o salário mínimo, reduziu a jornada de trabalho
para oito horas, estabeleceu o repouso semanal e as férias remuneradas. Já a
Constituição Federal de 1946 acrescentou o direito à greve, repouso remune-
rado aos domingos e feriados, a estabilidade do trabalhador rural, integrou o
seguro contra acidentes do trabalho no sistema de previdência social.
A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) promulgada em 1943 a foi ins-
pirada na Carta del Lavoro do governo fascista italiano de Mussolini como afir-
mam alguns autores. A política de efetivação das leis trabalhistas foram im-
plantadas como forma de controle e manipulação da classe trabalhadora em
período de grande mobilização da classe trabalhadora.
No Governo Dutra foram proibidas as eleições sindicais e havia uma grande
interferência estatal nos sindicatos, sendo que aqueles que não seguissem as
orientações governamentais eram considerados ilegais.
Com o processo de globalização iniciadas em meados de 1980 as questões
voltadas para o mundo do trabalho adquirem uma instabilidade e fragilidade
nas suas relações como o desemprego estrutural, a eliminação de postos de
trabalhos. O processo de precarização das relações de trabalho evidencia-se
na dispersão do movimento dos trabalhadores, já que não contam mais com
contratos de trabalhos uniformes,estáveis. A inserção pela informalidade, do
contrato temporário, as terceirizações e a substituição do modelo fordista pela
inovação e uso da tecnologia informacional reduzem drasticamente o contin-
gente de trabalhadores, inclusive no campo.
capítulo 4 • 87
ATIVIDADES
Acesse a seguinte charge que trata das condições de trabalho:
http://quadrinhosecharges.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html.
A sociedade capitalista traz em seu ideário a promessa de liberdade, que deverá ser
alcançada por meio da inserção do indivíduo no mercado de trabalho – como se todos pudes-
sem alcançar melhores condições socioeconômicas. Entretanto, essa promessa fica com-
prometida, pois a estrutura desse sistema é contraditóriae tem em sua base a exploração
do homem.
Considerando que a charge e o texto apresentados têm caráter unicamente motivador,
redija um texto dissertativo acerca do trabalho assalariado no processo de produção ca-
pitalista, abordando, necessariamente, a precarização dos direitos sociais e usando, como
referência, a teoria social crítica marxista.
REFLEXÃO
A trajetória da seguridade social no brasil - 70 anos do serviço social na
previdência social
Na Previdência Social, o Serviço Social tem seu marco legal na Portaria Nº 52 de 06 de se-
tembro de 1944 que cria o serviço na estrutura da instituição. A trajetória do Serviço Social
na Previdência mistura-se a história da própria política previdenciária e da seguridade social
brasileira. Deste modo, a trajetória deste serviço é marcada por vários acontecimentos, avan-
ços e retrocessos, decorrentes das modificações e contextos vivenciados pela instituição,
sociedade e pela própria profissão. No primeiro momento de sua criação na Previdência, o
Serviço Social teve sua atuação marcada pelo discurso de humanização das grandes máqui-
nas burocráticas, e neste contexto os objetivos profissionais identificavam-se com os objeti-
vos institucionais. Com a unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAP's em
1966, o momento foi de legitimação da profissão, marcado por uma afirmação profissional
através da participação em todas as esferas das instituições: planejamento, supervisão e
execução. A prática de atuação tinha como diretriz básica, desenvolver programas de assis-
tência social adequada aos “serviços de bem-estar social”. Neste contexto constituem-se os
88 • capítulo 4
Centros Sociais, onde são desenvolvidos programas de assistência social com pessoas com
deficiência, idosos, pediatria, mobilização de recursos e capacitação para o trabalho. O mo-
mento seguinte, corresponde à criação do Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS)
em 1977, quando houve a extinção dos Centros de Serviço Social. Este fato representou
perda de espaço e trouxe a perspectiva de exclusão do Serviço Social da Previdência, com a
passagem para a área de Assistência Social – LBA, o que não se concretizou pela ação da
Coordenadoria de Serviço Social – DG. A busca pela conquista de espaço profissional ins-
pirou a elaboração do 2º Plano Básico de Ação do Serviço Social – PBA em 1978, calcado
no modelo psicossocial e na matriz teóricometodológica do funcionalismo. O PBA vigorou de
1978 a 1991, num período histórico marcado por intensa dinâmica social. Já nas décadas
de 1980 e 1990, em meio ao processo de reconceituação da profissão, da redemocratiza-
ção do país e da ampliação dos direitos sociais, o Serviço Social, no âmbito da Previdência,
tem a redefinição de suas competências na Lei 8.213 de 24/07/1991. A partir de então,
passa ser o foco da atuação o esclarecimento dos direitos sociais, dos meios de exercê-los
e do estabelecimento conjunto com os beneficiários quanto à solução de problemas. Neste
contexto, o Serviço Social da Previdência, reestrutura sua prática profissional, buscando am-
pliar o acesso dos usuários aos benefícios e serviços previdenciários; e contribuir para uma
consciência de proteção ao trabalho, estimulando os usuários a participar da implementação
da política previdenciária. Emerge, dessa discussão e da orientação do projeto ético-políti-
co, do código de ética de 1993, o novo paradigma do Serviço Social no INSS, definido no
documento “Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social na Previdência Social” (1994).
A matriz é construída no intuito de reafirmar a opção clara e fundamentada pelos princípios
democráticos, pelo resgate do exercício da cidadania, do direito e a defesa dos interesses da
classe trabalhadora. Entretanto, em fevereiro de 1999, novamente a proposta de extinção do
Serviço Social é colocada em pauta. A Divisão de Serviço Social em Brasília, órgão respon-
sável pela coordenação das ações do Serviço Social no Brasil foi extinta, perdendo sua au-
tonomia, instância normativa e o gerenciamento de suas ações específicas. O Serviço Social
permanece apenas como atividade auxiliar, perdendo seus status de “Serviço”. Intensifica-se,
então, nova mobilização nacional, com articulação ainda maior junto às diversas organizações
nacionais, abrangendo mais de 900 entidades, parlamentares e as três esferas de governo.
Em 2003, com a edição do Decreto Nº 4.688/2003, a Divisão de Serviço Social foi incluída
na estrutura da Coordenadoria de Benefícios por Incapacidade, em Brasília. Muito embo-
ra, tenha se conseguido garantir a permanência na estrutura institucional, o Serviço Social
perde espaço e muitos assistentes sociais são alocados para outras áreas dentro do INSS.
A aprovação do Decreto 6.214 em 2007, modificou a avaliação da deficiência para fins de
concessão do Benefício de Prestação Continuada – BPC. O novo modelo substituiu a perícia
capítulo 4 • 89
médica pelo conjunto avaliação social e avaliação médica, trazendo um novo entendimento
sobre a deficiência e as barreiras sociais postas em nossa sociedade àqueles que tem algum
tipo de limitação física/mental. Considerando que, embora sendo um benefício da assistência
social, a operacionalização do BPC esteve historicamente a cargo do INSS, esta modificação
motivou realização de concurso público em 2009 que culminou com a contratação de 1350
assistentes sociais.
Fonte: CRESS-SC :http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2014/08/70-Anos-SS-Previdencia.pdf
LEITURA
PEREIRA, PotyaraAmazoneida P. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008.
O livro coloca em questão a conceituação de política social e o WelfareState a luz da
teor marxista. Utiliza referências teóricas de correntes como funcionalismo para contrapor a
temática. Problematiza a análise da questão social e sua construção histórica relacionando
com a questão Capital X Trabalho; Estado X Sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEHRING, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 3.ed. São
Paulo: Cortez, 2007.
BUSSINGER, Vanda Valadão. Fundamento dos direitos humanos. Serviço Social e Sociedade, n. 53,
ano XVIII, mar. São Paulo: Cortez, 1997.
DRAIBE, Sonia Maria. As políticas sociais e o neoliberalismo. Revista USP, n.17. São Paulo: Ed. da
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FALEIROS, Vicente de Paula. Política Social do Estado capitalista. São Paulo: Cortez, 1980.
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GARCIA, Maria Lúcia T.; RAIZER, Eugênia Célia. (ORG.). A questão social e a política social no
contexto latino americano. Vitória, E.S: Edufes, 2013.
OLIVEIRA, Jaime A. de Araújo; Teixeira, Sonia M. Fleury.(Im) previdência social: 60 anos de história
da previdência no Brasil. Coleção Saúde e Realidade Brasileira. Rio de Janeiro: Vozes, 1985.
PEREIRA, PotyaraAmazoneida P. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008.
PEREIRA, Potyara. A. P.; BRAVO, Maria Inês S. (Org.). Política Social e Democracia. São Paulo:
Cortez Editora, 2008.
MIOTO, Regina Célia Tamaso; NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Política Social e Serviço Social: os
desafios da intervenção profissional. Revista Katálysis, vol. 16, Florianópolis, 2013.
90 • capítulo 4
VIEIRA, Evaldo A. As políticas sociais e os direitos sociais no Brasil: avanços e retrocessos.
Serviço Social e Sociedade, n.53, ano XVIII, mar. São Paulo: Cortez, 1997.
YASBEK, Maria Carmelita. Globalização, precarização das relações de trabalho e seguridade
social. Serviço Social e Sociedade, n. 56, ano XIX. mar. p. 50 -59. São Paulo: Cortez, 1998.
capítulo 4 • 91
92 • capítulo 4
5
Políticas Sociais e
Neoliberalismo
Neste capítulo faremos uma reflexão sobre as politicas sociais a ofensiva ne-
oliberal e o desenvolvimento do capital, seu impacto na questão social e nas
políticas de proteção social, bem como na garantia dos direitos sociais, frente
às transformações estruturais do capitalismo. Transformações estas que re-
fletem diretamente nas relações de trabalho, culminando em desemprego,
precarização e exploração do trabalho.
OBJETIVOS
Refletir sobre as politicas sociais no enfrentamento das questões sociais, como o desemprego,
a situação de pobreza vivenciada pela população e o avanço do projeto neoliberal de desmonte
de direitos sociais, na contra mão dos princípios de igualdade, equidade e justiça social.
Analisar os Programas de Transferência de Renda no Brasil na perspectiva da democratização
dos serviços sociais básicos para todos, frente ao víeis liberal de programas sociais compen-
satórios.
94 • capítul0 5
©© WIKIPEDIA 5.1 Política Social e conquistas de 1988.
capítulo 5 • 95
democrática e responsabilidade pública, resultado de um trabalho coletivo de
movimentos sociais, de trabalhadores, e outros atores, com ideais de democra-
cia. Resultado deste movimento, podemos citar os avanços no campo da segu-
ridade social.
96 • capítul0 5
CONEXÃO
Acesse a Constituição Federal de 1988, Capitulo II dos Direitos Sociais. Você poderá ver na
integra os direitos sociais, como educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma da lei. Já no Título VIII - Capítulo II da Seguridade Social, você
visualizará as ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social.
Acesse o site: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
capítulo 5 • 97
A crítica a social democracia, estava baseada na ideia de que o estado cerceava a
liberdade e que a desigualdade e concorrência não eram ruins.
A crise do capitalismo, baixas taxas de crescimento e inflação em alta, for-
talece o projeto neoliberal. A ideia era de que o Estado deveria reduzir gastos
sociais, fragilizar os sindicatos e manter a estabilidade monetária.
O neoliberalismo ganha adesão e nos anos 80 já está presente em vários pa-
íses de capitalismo avançado. Nas palavras de Perry Anderson, o modelo inglês
foi, ao mesmo tempo, o pioneiro e o mais puro.
98 • capítul0 5
Na América Latina o Chile foi um país que aderiu às propostas neoliberais
ainda nos anos 70, porém num governo de ditadura militar, com programas
impositivos, onde a democracia não era compatível com o regime de governo.
No final da década de 80 e início de 90 os ideais neoliberais avançam pela
América Latina em países como o México, Argentina, Venezuela e Peru.
No Brasil o neoliberalismo chegou após o fim do período de ditadura mili-
tar, especialmente no final da década de 80, sua consolidação não teve o êxito
esperado, dado ao período de instabilidade política e organização da socieda-
de civil.
Nesta época, o País vivenciava um período de transição para a democracia
atendendo aos anseios de movimentos populares e de trabalhadores, que con-
segue avanços especialmente no campo dos direitos sociais.
Já no governo de Fernando Henrique Cardoso o neoliberalismo aparece
com força, com a proposta de recuperação da economia em detrimento do de-
senvolvimento social. O avanço neoliberal destruiu a capacidade de luta dos
trabalhadores, com a desmobilização dos sindicatos, dos movimentos popula-
res, acentuando desigualdades sociais, em que o conservadorismo prevalece.
Com a ofensiva neoliberal, as questões sociais estão cada vez mais acen-
tuadas, como o empobrecimento da classe trabalhadora, o desemprego cres-
cente, a ausência de redistribuição de renda, associado a privatização dos bens
públicos.
capítulo 5 • 99
Primeiro, não se admite o conceito de direitos sociais, ou seja, o direito de ter aces-
so aos bens sociais pelo simples fato de ser membro da sociedade, e a obrigação
da última de garanti-los através do Estado. O ponto de vista liberal é, ao contrário,
que ao gozo dos benefícios deve corresponder uma contrapartida: o desempenho de
trabalho ou o seu pagamento. Assim, só é legitimo o Estado garanta um nível mínimo
de bem-estar e, em princípio, somente àqueles comprovadamente indigentes. Como
resultado, a condição de mercadoria da força de trabalho acaba sendo reforçada, já que
a sobrevivência e o nível de vida estão condicionados a uma relação salarial, ou seja, à
venda dessa mercadoria. As politicas sociais do Estado social-democrata contrastam
com a concepção liberal, pois tentam garantir – sob o conceito de direitos sociais – as
mesmas condições de vida, independentemente da inserção ou não no mercado de
trabalho. (LAURELL; 1997, p. 155).
100 • capítul0 5
O conceito de pobreza não se restringe apenas ausência de renda, porém,
no caso brasileiro a referência para fins de acesso a determinadas políticas so-
ciais é um quarto do salário mínimo. Portanto, quem tem renda inferior a um
quarto do salário mínimo, é considerando extremamente pobre.
Neste contexto, os indivíduos para terem acesso a benefícios, precisam es-
tar abaixo da linha de pobreza, desconsiderando um número significativo da
população que vivem em situação de pobreza, que pelo corte de renda do país,
não é público alvo das politicas sociais.
Verificamos então, o abandono de parte da população em decorrência de
politicas restritivas, que deixam a margem da sociedade aquela população que
não se “enquadra” nos critérios de renda estabelecidos, violando os princípios
da universalidade.
De corte neoliberal, as politicas sociais no Brasil não se configuram como
estratégias de enfrentamento as desigualdades sociais, tem caráter emergen-
cial, com base nos mínimos sociais, paliativas, na ótica da assistência e não do
direito.
A crise que impactou na economia capitalista, fortalece os ideais neoli-
berais, e o sistema de proteção social público é ameaçado pela privatização e
ações pontuais que são dirigidas a população em situação de pobreza.
Contrariando o principio da universalização do direito, as políticas sociais
no país são excludentes, pois têm critérios de elegibilidade, onde a igualdade,
justiça social, a equidade é um caminho a percorrer na garantia de direitos po-
líticos e sociais dos cidadãos.
Os indicadores de desigualdade social e pobreza no Brasil destacam-se pelo
seu modesto resultado, comparando-se as politicas sociais implementadas
nas duas últimas décadas. A redução dos índices de desigualdade e pobreza
não respondem na mesma proporção da implementação de reformas sociais.
Importante pensar na incompletude das politicas sociais, que isoladas não
respondem a superação das questão sociais no pais, como o desemprego, bai-
xa renda familiar e a pobreza.
Importante ressaltar que a desigualdade social no Brasil está relacionada a
questões de raça e gênero. A população negra e de mulheres são as mais vulne-
ráveis, no que diz respeito a renda familiar e desemprego. Outro destaque diz
respeito às famílias chefiadas por mulheres, aquelas que são responsáveis por
prover os meios de sustento da família.
Considerando outros fatores agravantes, na área da educação temos a ques-
tão do analfabetismo e da evasão escolar de crianças e adolescentes, que se
capítulo 5 • 101
acentua dependendo da região do país e da raça. Não podemos deixar de citar a
precariedade dos serviços de saúde e de habitação que atinge a população mais
pobre, acentuando as desigualdades sociais.
Num contexto de extrema pobreza, de segregação social, de discriminação,
verificamos diversas formas de manifestação que são recebidas de forma auto-
ritária e repressiva.
A titulo de exemplo, podemos citar ausência de politicas públicas para os
adolescentes e jovens, que têm sido cooptados pelo mundo do crime e a forma
de enfrentamento que tem sido discutida no país é a questão da redução da
maioridade penal.
CONEXÃO
No site do CFESS – Conselho Federal de Serviço Social acesse a Nota Pública do CFESS
sobre a redução da idade penal. Na matéria o CFESS se posiciona em defesa dos direitos
humanos da criança e adolescente, e fala sobre a ausência da proteção integral prevista na
Constituição de 1988, e reafirma posição contrária à redução da idade penal e à ampliação
do tempo de internação.
Acesse o site: http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1162
102 • capítul0 5
dos Programas de Transferência de Renda, especialmente a partir dos anos 80.
O grande contingente populacional em situação de pobreza, em decorrência do
desemprego estrutural causado pela Revolução Tecnológica, demanda prote-
ção por parte do Estado.
A Constituição Federal de 1988 avançou na conquista de direitos sociais bá-
sicos, a pressão dos movimentos sociais, de trabalhadores, entre outros, colo-
cou em pauta questões sociais, que inicialmente teve a adesão do Estado.
Um dos avanços previsto na Constituição Federal de 1988 foi o Benefício de
Prestação Continuada – BPC, que é uma transferência de renda, destinada ao Idoso
e Pessoa com deficiência, que foi regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência
Social em dezembro de 1993 e entrou em vigor somente em janeiro de 1996.
O Estado Democrático, não consegue cumprir sua dívida social, e nos anos
90 a crise fiscal do Estado, a adesão ao projeto neoliberal, associada à orienta-
ção de organismos internacionais, deixa em segundo plano o enfrentamento
às questões sociais.
No Brasil, de acordo com SILVA;YASBEK;GIOVANI (2014), “a ideia de
Programas de Transferência de Renda passa a integrar a agenda a partir de
1991, com a aprovação no Senado do Projeto de Lei do Senador Eduardo Suplicy,
propondo a instituição do Programa de Garantia de Renda Mínima – PGRM”.
A proposta seria garantir que os brasileiros tivessem o benefício para as des-
pesas mínimas, como alimentação, saúde e educação, porém sua implemen-
tação seria gradual, iniciando pelos mais pobres. Podemos observar que nesta
época já se estabelecia critérios de elegibilidade.
As motivações dos Programas de Transferência de Renda são diferenciadas,
segundo SILVA;YASBEK;GIOVANI (2014), apresentam duas orientações, a saber:
capítulo 5 • 103
b) Transferência de Renda enquanto programas de redistribuição de renda, orientados
pelo critério da Cidadania Universal, tendo como fundamentos pressupostos redistri-
butivos. Nesse caso, o objetivo é alcançar a autonomia do cidadão e a orientação é a
focalização positiva capaz de incluir todos que necessitam do benefício ou os cidadãos
em geral, visando à garantia de uma vida digna para todos. O impacto desejado é a
inclusão social. (SILVA;YASBEK;GIOVANI, 2014, p.45).
104 • capítul0 5
Importante destacar que no inicio do século XXI a Política Social brasileira
avançou na implementação de Programas de transferência de renda, com des-
taque para a transferência monetária à indivíduos ou famílias.
A partir do ano de 2003, os programas sociais cresceram, ampliando a rede
de proteção social, que não se restringiu a área da assistência social, as ações se
estendiam para outras áreas como a educação e saúde.
Os programas eram destinados à população em situação de pobreza, com
definição de renda per capta familiar de meio salário mínimo para inserção nos
programas sociais. A exceção foi o Benefício de Prestação Continuada, para o
qual a per capta deveria ser inferior a um quarto do salário mínimo.
Importante ressaltar que as inserções nos Programas de Transferência de
Renda são acompanhadas de condicionalidades para os usuários e famílias.
A titulo de exemplo citamos o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI), o qual é condicionado a retirada da criança/adolescente do trabalho e
sua manutenção na escola e em atividades complementares no contraturno es-
colar, além da participação da família em ações socioeducativas e em projetos
de geração de renda.
Os Programas de Transferência de Renda se caracterizam pela transferên-
cia monetária, aos usuários em situação de pobreza, com renda per capta infe-
rior aos índices estabelecidos pelo governo, visando a redução das desigualda-
des sociais.
Durante a transição do governo Fernando Henrique Cardoso para o Luiz
Inácio Lula da Silva, realizou-se uma avaliação dos Programas de Transferência
de Renda e concluiu-se pela necessidade de unificação dos referidos Programas,
devido vários problemas identificados, resultando na implantação do Bolsa
Família.
O governo da presidente Dilma Rousseff, iniciado em 2011, deu continuida-
de ao Sistema Brasileiro de Proteção Social, com foco na erradicação da miséria
de milhões de brasileiros.
È, então, instituído o Plano Brasil Sem Miséria, que articula três eixos coordenadores
das ações de proteção social: transferência de renda; acesso a serviços e inclusão pro-
dutiva. O bolsa Família é o principal programa do eixo de transferência de renda, pas-
sando a ampliar o número de famílias beneficiárias, o valor dos benefícios, além de criar
o Benefício Variável para Superação da Extrema Pobreza, permitindo que nenhuma
capítulo 5 • 105
família beneficiária tenha uma renda per capita familiar abaixo de R$ 77,00, valor fixado
a partir de 1 junho de 2014 para considerar uma família em situação de superação de
extrema pobreza. (SILVA;YASBEK;GIOVANI 2014, p.108).
106 • capítul0 5
Surgem também algumas indagações sobre a efetividade dos programas no
enfrentamento da pobreza e na elevação do nível de escolaridade dos atendidos.
Num contexto mais amplo, não podemos desconsiderar as determinações
estruturais da sociedade capitalista, que geram profundas desigualdades so-
ciais, acentuando a extrema pobreza de uma população que tem que se subme-
ter as exigências dos Programas de Transferência de Renda para garantir sua
sobrevivência de forma precária.
Finalizando, não podemos ignorar que parcelas significativas da população
sobrevivem utilizando os Programas de Transferência de Renda, mesmo sendo
compensatórios e residuais. E que os investimentos nos programas citados tem
sido expressivos, porém não podemos acreditar que as Politicas Sociais vão dar
conta de resolver a questão da pobreza e das desigualdades sociais.
Um programa de redistribuição de renda, que propicie uma vida digna para
todos, que possibilite a autonomia, orientados pelo critério da cidadania uni-
versal, ainda é uma caminho a percorrer. Porém, sem desconsiderar as ques-
tões estruturais, como concentração de renda, e toda a organização da socie-
dade capitalista, que deixa a margem da sociedade grande parte da população,
gerando profundas desigualdades sociais.
ATIVIDADE
01. Com base no conteúdo estudado e nas leituras recomendadas, responda as questões
a seguir.
a) Constatado a necessidade de implantação de uma politica pública, como os cidadãos
podem articular para a efetivação da mesma?
b) Por que o projeto neoliberal contribui para o aumento das desigualdades sociais?
c) Pesquise os Programas de Transferência de Renda disponíveis em seu município e ana-
lise os critérios de elegibilidade dos mesmos.
REFLEXÃO
Os Programas de transferência de Renda tem buscado articulação com outras politicas pú-
blicas na perspectiva da melhoria das condições educacionais e da saúde, sem desconside-
rar as ações voltadas para a inserção dos adultos no mercado de trabalho, visando a inclusão
produtiva.
capítulo 5 • 107
Na matéria abaixo temos o exemplo do Bolsa família, associado a outros programas,
como transferência para a conservação do meio ambiente e estímulo a agricultura susten-
tável, com equipamentos, insumos e orientação técnica aos agricultores familiares, visando a
organização dos mesmos, promoção da segurança alimentar e o combate a extrema pobreza.
108 • capítul0 5
Bolsa Família
LEITURA
SILVA, Maria Ozanira da Silva e; YAZBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI, Geraldo di. A Política
Social Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda,
7.ed., São Paulo, Cortez, 2014.
O livro traz importantes reflexões sobre os Programas de Transferência de Renda e seu
impacto nas ações de proteção social no Brasil. Apresenta a trajetória histórica e as experi-
ências dos programas de transferência de renda em âmbito nacional, estadual e municipal.
SADER, Emir; GENTILI, Pablo (orgs.) et al. Pós Neoliberalismo – As Políticas Sociais e
o Estado Democrático, 1.ed.,Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.
Esta produção é resultado do seminário “Pós-neoliberalismo – As politicas sociais e o
Estado democrático”, realizado no ano de 1994, pelo Departamento de Política Social da
Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Descreve
a trajetória histórica do projeto neoliberal pelo mundo, e sua chegada à América Latina e
Brasil. Apresenta com clareza os ideais neoliberais e os riscos desta proposta na garantia de
direitos básicos dos cidadãos.
capítulo 5 • 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEHRIN G, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história, 4.ed., São
Paulo, Cortez, 2008.
BEHRING, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história, 4.ed., São
Paulo, Cortez, 2008.
BOSCHETTI, Ivanete; BEHRING, Elaine Rosseti; SANTOS, Silvana Mara de Morais dos; MIOTO, Regina
Célia Tamaso. Capitalismo em crise, política social e direitos, 1.ed., São Paulo, Cortez, 2010.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, atualizada até 2015, Brasília,
2015. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em 03 de abril.2015.
BRASIL, Tribunal de Contas da União. Fisc Assistência Social, Relatório Sistêmico da Função Assistência
Social, 2014. Disponível em http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/imprensa/noticias/noticias_
arquivos/011.248-2014-9%20Fisc%20Assistencia%20Social.pdf Acesso em 04.abril. 2015.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho
e questão social, 6.ed., São Paulo, Cortez, 2011.
LAURELL, Asa Cristina e (org.). Estado e Políticas sociais no neoliberalismo, 2.ed. São Paulo,
Cortez, 1997.
SADER, Emir; GENTILI, Pablo (orgs.) et al. Pós Neoliberalismo – As Políticas Sociais e o Estado
Democrático, 1.ed.,Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.
SILVA, Maria Ozanira da Silva; YAZBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI, Geraldo di. A Política Social
Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda, 7.ed., São Paulo:
Cortez, 2014.
SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea Adeodata; YAZBEK, Maria Carmelita; CARVALHO,
Maria do Carmo Brant. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em
análise, 12. ed., São Paulo, Cortez, 2014.
GABARITO
Capítulo 1
01. A
A segunda afirmação não está correta, poisAdam Smith também acredita na propriedade
privada como direito natural, essa afirmação é originalmente do pensamento de Rousseau.
A terceira afirmação não está correta, estudamos que Rousseau atribuía a questão da
desigualdade ao direito natural da propriedade privada defendida por Locke.
110 • capítul0 5
Capítulo 2
02. O aluno deve discorrer sobre a disparidade entre os direitos sociais e exclusão social
brasileira, procurando relacionar com a ausência estatal na implementação dos direitos
sociais.
Capítulo 3
02. O aluno deverá mencionar o aspecto excludente produzido pelo modo de produção ca-
pitalista. Deve elencar a ausência social do Estado brasileiro no enfrentamento das desi-
gualdades e apontar o título da letra da música como aspecto antagônico do conceito de
cidadania vivenciada pelo personagem.
Capítulo 4
capítulo 5 • 111
Capítulo 5
01.
a) O aluno deverá pensar nos diversos espaços de participação em que o cidadão
poderá reivindicar uma politica pública, como câmara de vereadores, conselhos mu-
nicipais, estaduais, assembleia legislativa, entre outros.
b) O projeto neoliberal defende um estado forte, com estabilidade monetária e discipli-
na orçamentária, portanto propõe o desmonte do estado de bem-estar, orienta para
o enfraquecimento dos sindicatos, com criação de reserva de trabalho, desemprego
em massa e redução dos gastos sociais, pois a desigualdade é saudável.
c) O aluno deve pesquisar no município nos CRAS, quais os Programas de Transferên-
cia de Renda ofertados aos munícipes. Existe algum programa do município ou do
estado, além do Bolsa Família? O mesmo deverá citar.
112 • capítul0 5