Você está na página 1de 17
Um indio didatico Notas para o estudo de representagoes Everardo Pereira Guimaraes Rocha Introdugao L Este trabalho tem como objetivo primeiro analisar a representagio do fndio presente no livro diditico. Neste sentido, ele se enquadra, par um lado, dentra di temética mais ampla do estudo das representagies sociais em geral €, por outro, levanta questies quanto ao papel do sistema de ensino como elemento de reprodugio de determinadas valores atitudes socialmente privilegiados numa dada cultura. Todos aqueles que passaram pelas bancos escolares sabem que dali receberam, além de toda uma gama di versificada de informagies, uma série signiticativa de valores componentes de um sistema de ideias que thes foi regularmemte ineuteado ao Longo de sua trajetéria na vies académica, Muitos destes valores assumem a forma de representagies que se eonstituem em fatores fundamentals para a orietagio da vida cotidiana ¢ pam a ordenagio do mundo que nes cerca. Podemos pensar na.ampla quantidade de representagées de que dispames para categorizar as mais diferentes situagées ¢ 05 mais variados grupos de pessoas. Dessa tmaneira, quase tudo aquilo que se coloca como divergente elou contrastante com a realidade onde nos encantramos pode servir como matéria-prima para a construcio das representagdes. Estas, positiva ou negativamente acionadas, tem como caracteristica fundamental @ fato de Se prestarem a uma comunicacio efetiva ea um conhecimento facilmemte parti thade ¢ difundido no interior da vida social. Assim, 2 colacagio central que motivou © preseme trabalho pode ser express nos seguintes terms: através de que mecanismas se instalam ¢ se perpetuar tantas e tio profundlas distorgies, nas representagSes que fazemes da vida daqueles que so diferentes de nés? Este problema no é exelusivo de uma determinada época nem de uma Gnica soviedade. Aciedito que @ pano de fuido oid se inscteve esta questio vai bem longe na histGria humana, E um problema que nasee, talver, na constatagdo das diferengas. De um lado, vernas um eu que come igual, veste igual, conhece o mesmo tipo de coisas, acredita nos mesmos deuses, casaigual, distribui o poder da mesma forma, significa igual procede, por muitas maneiras, semelhantemente. E entio, repentinamente, nos deparames com um outro que mio fiz nada disso ou faz completamente diferente, que também sobrevive & sua maneira € que, por isso mesmo, se torna ame agador, intratdvel, sel ager, A sociedade do eu é a methor, a superiar, E representada como @ espago da cultura por exceléncia, E onde existe acivilizagia, o trabalho, o progresso. A sociedade do outro & atrasaala sie Estudo foi origimalmente apresentado como trabalho final do curso Teoria Aniro-polésica ministrdo peb Professor Luis de Castro Faria, nn programa de Pés-Graduagio em Antropologia do Muscu Nacional da UFRJ, no 2° semestre de 1976, Para esta publicagio optei por intreduzir poucas alteragdes no texto, de modo a manté-lo o mais prOximo do sriginal. Gostaria ainda de agradecer a profescores, alunas ¢ funcionirios do referido Programa pelo clima de amizade e sadio debate intelectual fundamentais para o desenvolvimenta da pesquisa cientiica E o espago da natureza, Sio os selvagens, os bdrbaros. So qualquer coisa menos humanos, pais estes somos nds. O barbarisma evaeu a confusio, a desurticulagio, a desordem, O selvagem & aque vem da floresta, da selva, que lembra, de alguma forma, a vida animal. A nogio do que ¢ de homens, do humane senipre pode ter alguin Limite, Existem eisas que so além. A humuanidade enquanto um conee ito que designa todas as formas de vida, raga e cultura dos homens nio expressou, para o senso comum ao Longo da histéria, uma ideia tio aberta quanto se quer hoje. Quase sempre un limite foi imposto a esta nogia, Permite-se assim. um exercicio de classifieagdo que os homens se impdem uns aos outros a partir da viveneia de certos contrastes. Alguns exemplos engragados trigicos, a0 mesmo tempo, nos sio dados por Lévi-Strauss ‘A bumanidade aceba nas fromteims da tribo, do grupo lingulstis, por vezes mesmo, da aldeias a tal ponta que um grande mimero das populagdes ditas primitivas se desigma por um nome que significa as “homens” (ou por veres, digamas com mais discrigad "as "bons", as "excelentes", os “perieitos"), implicando assim que as owtras tribos, grupos ow aldeias no panicipam das vvimudes - ov mecmo da natureza - humanas, mas

Você também pode gostar