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A obra o Juízo Final de Michelangelo, poderia não existir na atualidade, visto que,

o papa Paulo IV, entusiasta inquisitorial nomeando-a apenas como uma “massa de nus”,
queria destruí-la. Mas, não fez isso, devido a fama e a influência do pintor e de seus
amigos. Esta obra, pintada após 1500, época em que ninguém mais utilizava este tema na
pintura, chama atenção não só por sua imponência, mas também, pelo questionamento de
qual o motivo de ser ela escolhida para a Capela Sistina. Pelo contexto, provavelmente
deveu-se ao combate a Reforma Luterana. A ideia não foi inicialmente bem quista por
Michelangelo, o qual só a pintou, após muitas discussões, sendo concluída em 1541.
O afresco, foi muitíssimo elogiado, por seus amigos e outros pintores, mas
também bastante criticada. Nele, foi eliminado o tema da pesagem das almas, o qual,
vinha sendo bastante utilizado em diversas obras. Assim, como inspirado em Dante
encontra-se Minos e Caronte, um juiz e o transportador da barcas. Figuras de fácil
identificação, que diferem da maioria das outras identidades, as quais são sujeitas apenas
a especulações. O Cristo da obra é helênico e nela desaparecem a divisão estática em
compartimentos, dando a obra um movimento como visto em Gislebertus e as ações
partem do juiz implacável. Não existe a figura de Satã. Os anjos não possuem asas e os
demônios possuem músculos e são escuros, não está representada a tortura dos
condenados, mas é claro o significado do Inferno. Existem lutas entre anjos e demônios
pelas novas almas, não uma separação entre abençoados e condenados e os resultados são
indeterminados.
No tópico sobre os anjos rebeldes, vê-se a sua representação no Apocalipse, onde a
derivação vem da expulsão do dragão e de seus anjos, não se sabendo qual o motivo nem
quem é expulso, variando as respostas nesse sentido. Sendo, as reinterpretações de Satã
estimulantes de pinturas, literatura e as mais diversas ideias, onde, por exemplo,
“Baudelaire julgava que sua concepção de beleza ideal era exemplificada pelo Satã de
Milton”.
“Os primeiros anjos rebeldes são encontrados no mais antigo Apocalipse
preservado, o Apocalipse de Trier, de 800-820 d.C.” No qual, o diabo é representado pelo
dragão, já apontando para uma simbolização futura dele como dragão de sete cabeças, no
entanto, seus companheiros na queda são anjos iguais os demais, só sem as auréolas,
representação que modifica-se ao longo do tempo, pois os anjos outras vezes estão nus,
sujos ou com cabelos flamejantes.
No manuscrito de Junius ou coletânea do século X da literatura anglo-saxã. Inclui
“Êxodo”, “Daniel”, “Cristo e Satã”, “Gênesis A” e “Gênesis B”. São perceptíveis, as
diferenças na visão de Satã. Em “Gênesis B”, que configura-se como um poema,
provavelmente escrito no século IX, tem-se “o primeiro relato literário completo da queda
de Lúcifer, um relato que Milton talvez tenha lido, pois conheceu Junius, o primeiro
preparador do texto desse poema específico”, o qual o influenciou no seu Satã, visto que
ele “arrebata nossa imaginação porque está convencido de que ele foi injustiçado, e seu
desafio a Deus é infindável”, o mesmo desafio encontrado em Gênesis B está no Satã de
Milton.
Assim, Milton corrobora com essa mesma ideia, diferente do Bispo de Avitus,
visto que, no seu Satã a questão é a inveja e não a vingança, onde nega-se o Criador de
onde decorre sua expulsão do Céu, diferenciando-se do Satã de Gênesis B em sentimento
e pensamento, pois não desafia a Deus e não acredita que foi injustiçado e o motivo para
tentar Adão e Eva é a inveja.
Os Satãs presentes nos outros manuscritos “Gênesis A” e “Cristo e Satã”, são
próximos do de Avitus. Gênesis A, apresenta a versão de Deus do que aconteceu, onde
ele irado atira lá embaixo Satã e seus anjos, esmagando-os e em “cristo e Satã” Satã
admite que em razão de seu orgulho, nunca pôde esperar mais que o inferno, onde Satã é
acusado, confessa e se culpa. Culpa que não se vê em Gênesis B, pois o Satã dele não se
arrependeu e disse que foi injustiçado por Deus.

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