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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO


Rua Peixoto Gomide, 768, Cerqueira César, São Paulo – SP CEP 01409-904
Fone: (+55-11) 3269-5091 Fax: (+55-11) 3269-5391 – email: sgsuiama@prsp.mpf.gov.br
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 15ª VARA CÍVEL DA


SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO

Ação Civil Pública n° 2009.61.00.013545-1

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da


República infra assinado, nos autos da Ação Civil Pública em epígrafe, vem
requerer a

EXECUÇÃO DA MULTA COMINATÓRIA DIÁRIA

imposta à ré ANHANGUERA EDUCACIONAL S/A (AESA), tendo em vista a


decisão interlocutória concessiva de tutela antecipada que Vossa Excelência, por
bem, decretou às folhas 763/767 dos autos da presente, que, conforme será
demonstrado, vem sendo continuadamente desrespeitada pela instituição de ensino
ré.

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DOS FATOS

Visando a tutela dos direitos educacionais, bem como dos direitos


dos consumidores inerentes à prestação de tais serviços, o Ministério Público
Federal, com fundamento no artigo 129, III, da CF e artigo 5°, inciso II, alínea “d” e
inciso V, alínea “a”, da Lei Complementar 75/93, propôs a presente Ação Civil
Pública, para assegurar aos estudantes o direito à informação que vinha sendo
constantemente violado pela AESA, por meio de propagandas enganosas em
diversos meios de comunicação.

Na mencionada petição inicial, levando-se em conta a gravidade da


conduta da AESA, foi elaborado pedido de antecipação de tutela, visando,
especialmente, a vedação de publicidade ou informação que associe o grupo
econômico do qual pertence a Anhanguera a uma serie de instituições que
apresentavam outras entidades mantenedoras perante ao MEC (além de outras
medidas, como a publicação de contra-propagandas, proibição de uso de
determinadas expressões que levavam a erro o consumidor/aluno, etc.).

Após apreciar o mencionado pedido, este juízo proferiu decisão


interlocutória às folhas 763/767, na qual foi concedida tutela antecipada
pleiteada, sendo cominado, para tal, multa diária no valor de R$ 50.000,00 por
dia de descumprimento da mesma.

Ocorre, entretanto, que, em total desprezo a tal decisão, a ré AESA


vem continuamente desrespeitando os itens “1”, “2” e “4” (fl. 766v) da mesma.
Assim, conforme documentação juntada em anexo, Vossa Excelência poderá notar

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uma série de condutas da ré, violadoras dos mencionados itens, que deram ensejo à
presente execução das astreintes.

− Item 1) “que a Ré Anhanguera remova e se abstenha


de praticar qualquer tipo de publicidade que associe o
seu nome à prestação do serviço de educação superior
mantido por instituição diversa (notadamente aquelas
identificadas na tabela apresentada), ainda que
adquirida ou integrante do mesmo grupo econômico,
até a publicação, em Diário Oficial, do ato autorizativo
a que se refere o art. 57, § 4º, da Portaria Normativa
n.º 40/07”*

Primeiramente, a ré AESA, em completo desrespeito ao item acima,


apresenta-se, no site “http://www.vestibulares.br/”, como entidade mantenedora da
Faculdade Anhanguera de Ponta Porã – FIP (doc. 01) e da Faculdade
Anhanguera de Joinville (doc. 02) em contradição com o que se pode verificar em
consulta ao site do MEC.

Além disso, nesse mesmo site, a instituição de ensino Ré aponta ser a


entidade mantenedora da Faculdade Anhanguera de São Caetano (doc. 03) e
Faculdade Anhanguera Valparaíso (doc. 04). De fato, em consulta ao site do
MEC, tais entidade apresentam como mantenedora a AESA. Entretanto, conforme
* Conforme será verificado, diversos documentos juntados relativos a este item, devido à impossibilidade de
impressão das consultas feitas às entidades credenciadas no site do MEC (http://emec.mec.gov.br/), foram
impressos com o site da Prefeitura Municipal de São Paulo ao fundo. O intuito de tal impressão é comprovar
a (recente) data em que se efetuou a consulta ao site do mencionado Ministério.

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se verifica na documentação juntada, o CNPJ cadastrado no site do MEC difere do


CNPJ da AESA (doc. 05). Consultando o site da Receita Federal, os CNPJ´s
cadastrados referem-se às entidades mantenedoras Sociedade Educacional Sul
Sancaetanense S/S Ltda. e SBCEC – Sociedade Brasil Central de Educação e
Cultura S/S Ltda., respectivamente.

Por fim, a despeito da Ré AESA não se apresentar como instituição


mantenedora da Faculdade de Tecnologia de Jaraguá do Sul (doc. 06) e
Faculdade de Goiânia (doc. 07), a apresentação das informações dessas
instituições se dá exatamente da mesma forma que as demais instituições mantidas
pela AESA (doc. 08). Nota-se, ainda, que na tela em que se clica no nome da cidade
para aparecer informações sobre as referidas instituições, consta o telefone do “Cal
Center” da Anhanguera. Ainda, no caso da Faculdade de Tecnologia de Jaraguá do
Sul, esta expresso que, no mesmo endereço, são fornecidos cursos da Anhanguera
na modalidade a distância. Assim, impossível não associar tais instituições à
Anhanguera, de modo que os consumidores são levados, novamente, a erro.

Portanto, mostra-se patente o desrespeito à determinação judicial


presente no “item 1” destacado acima.

− Item 2) “que a Ré Anhanguera remova dos pólos


presenciais de ensino à distância de Pindamonhangaba
e Sumaré, ambos no Estado de São Paulo, qualquer
referência às instituições inexistentes “Faculdades
Anhanguera” e “Faculdade Interativa de
Pindamonhangaba”

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Consoante documentação juntada (doc. 09), é possível notar


inúmeras referências à “Faculdade Interativa Anhanguera de
Pindamonhangaba”. Tal instituição de ensino não existe. Trata-se, novamente, de
induzimento do consumidor a erro, uma vez que a menção à UNIDERP é muito
menos destacada, dando a impressão de que se trata de instituição de ensino
autônoma, e não de um polo presencial. O que foi feito para supostamente cumprir a
ordem foi, apenas, inserir o termo Anhanaguera na expressão “Faculdade
Interativa de Pindamonhangaba”, proibida pela interlocutória.

Ademais, em consulta ao site do


'http://enade.anhangueravirtua.com.br/” (doc. 10), é possível notar menção ao termo
“Faculdade Anhanguera de Pindamonhangaba” como instituição autônoma,
dissociando tal polo da UNIDERP.

− Item 3) “que a Ré ANHANGUERA se abstenha de


utilizar, em qualquer publicação, a expressão
“presencial-interativa” para referir-se aos cursos de
ensino à distância, uma vez que não há, no
ordenamento jurídico brasileiro, tal modalidade de
educação”

Conforme documentação juntada (doc. 11), é notório que a


Anhanguera continua utilizando a expressão “Modalidade Presencial Interativa”, em
completo desrespeito a este item da medida antecipadora de tutela.

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Em conclusão, conforme demonstrado acima, resta-se comprovado o


total desrespeito à decisão interlocutória proferida por este juízo que concedeu a
antecipação de tutela.

DO CABIMENTO DA EXECUÇÃO IMEDIATA DAS ASTREINTES

A multa cominatória (astreintes), como modo de persuadir o devedor


ao cumprimento de sua obrigação, ao ser estendida à tutela antecipada, teve por
escopo trazer uma maior eficácia à decisão judicial concessiva da medida. Entende-
se, portanto, que esta multa tem por objetivo superar a resistência do devedor em
cumprir a decisão interlocutória que antecipou os efeitos da tutela.

Portanto, a referida penalidade, especialmente quando se trata de


obrigação de fazer ou não fazer (como no presente caso), mostra-se como uma
forma eficaz de coagir a parte prejudicada pela mesma, dada a dificuldade de
imposição desse tipo de obrigação. Assim, insistindo uma das partes no
descumprimento da medida, tal resistência importará no agravamento de seu ônus.

Nota-se aqui um duplo objetivo da imposição da chamada astreintes


à medida cautelar: coagir uma das partes ao cumprimento da medida antecipadora
de tutela, que será útil à outra parte e trazer mais respeito às decisões judiciais,
ainda que provisórias, de modo a inibir que a parte prejudicada pela decisão
ignore a ordem emanada do Poder Judiciário, o que não seria possível caso o
descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer imposta pela
interlocutória fosse desprovida de sanção.

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Não se trata tão-somente de assegurar o direito dos autores. Trata-se,


isso sim, de preservar a seriedade da função jurisdicional do Estado brasileiro,
contra a prestadora de um serviço público delegado que se recusa a cumprir
uma ordem judicial legítima e proferida nos estritos limites da legalidade.

Assim, para analisar a possibilidade de execução imediata das


astreintes, é importante que se tenha em mente essas duas funções mencionadas
acima. Inadmitir a execução imediata da multa cominatória por descumprimento de
decisão interlocutória que concede a medida liminar, permitindo-a somente após o
transito em julgado da sentença do processo (ou pior, condicionar a execução à
confirmação da liminar), é desprover tal decisão judicial de eficácia. Assim, em
benesse à efetividade da tutela antecipada, a execução das astreintes deve ser
imediata.

Há de ser lembrado que a multa não é a tutela perseguida, assim


como não representa indenização pelo descumprimento da medida, mas sim um
instrumento coercitivo que tem por escopo atender à urgência que levou o juízo a
proferir a interlocutória. Portanto, postergar a execução dessa da multa cominatória
atrelada a tal tutela é desprovê a eficácia desta. Trata-se, portanto, de meio de
coerção indireta, requerido com fundamento no art. 461, § 5º, do Código de
Processo Civil, que prescreve, in verbis: “Para a efetivação da tutela específica ou
a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a
requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa
por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento
de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição
judicial”.

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Ademais, já antecipamos aqui que os argumentos no sentido de que a


possibilidade de revogação, assim como eventual sentença em sentido contrário à
medida, não são argumentos hábeis a afastar a execução das astreintes de maneira
imediata. Isso porque, conforme já abordado, tal medida tem caráter coercitivo, não
sendo a multa o bem jurídico da vida buscado. Além disso, é o respeito às decisões
do Poder Judiciário que está em jogo, de maneira que, independentemente de
eventual conversão da medida, ocorreu um desrespeito ao provimento judicial. Por
fim, cabe ressaltar que a possibilidade de irreversibilidade do provimento
antecipado não justifica a impossibilidade de execução imediata das astreintes, uma
vez que, nos termos do artigo 273, §2°, do CPC, tal questão deve ser enfrentada
antes de se conceder a medida.

Vale lembrar ainda que existe no sistema processual civil formas


para se questionar as decisões judicias (como no presente caso, foi possível o
oferecimento de agravo de instrumento), não sendo a desobediência civil o meio
mais adequado para tanto.

Como salienta Cássio Scarpinella Bueno, no Código de Processo


Civil Interpretado coordenado por Antonio Carlos Marcato, o rol contido no art.
461, § 5º, do CPC, é claramente exemplificativo: “Quaisquer outras medidas que
se mostrem necessárias, suficientes e proporcionais à obtenção dos resultados
desejados pelo artigo podem ser utilizadas, tenham caráter executivo ou
mandamental, consoante prescindam, ou não, da atuação pessoal do devedor para
implementação do provimento jurisdicional, respectivamente”.

Ainda, na lição de Luiz Guilherme Marinoni, “se o juiz incorporou o


dever de prestar tutela antecipatória diante das necessidades das variadas situações
de direito substancial, ele evidentemente passou a ter poder para conferir-lhe

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efetividade, mediante a aplicação do meio executivo adequado. Até porque seria


absurdo pensar que o juiz tem poder para conceder a tutela antecipatória, mas
não para fazê-la efetiva” (Técnica Processual e Tutela de Direitos, São Paulo,
Revista dos Tribunais, 2004, p. 235). Ademais, na mesma obra, o autor aponta que:
“Descabe o argumento no sentido de que a decisão concessiva de tutela
antecipatória não pode ser implementada por meio de técnica executiva mais
incisiva do que aquela que serve à sentença. O que justifica a tutela antecipatória é
algo absolutamente diverso daquilo que está à base da sentença condenatória. A
tutela antecipatória concedida a partir de situação de urgência não “combina”
com a execução por expropriação pelo simples motivo de que deve realizar
prontamente – ou sem delongas – o direito. Assim, ao contrário do que se poderia
supor, a decisão concessiva de tutela antecipatória pode ser efetivada por meio
executivo não só distinto, mas também mais incisivo do que aquele que serve à
sentença” (Técnica Processual e Tutela de Direitos, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 2004, p. 633).

Conforme demonstrado nos precedentes abaixo, há vasta


jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido:

“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.


AÇÃO POPULAR. PLACAS INSTALADAS EM
OBRAS PÚBLICAS CONTENDO SÍMBOLO DE
CAMPANHA POLÍTICA. REMOÇÃO.
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA COMINAÇÃO DE
MULTA DIÁRIA. ASTREINTES. OBRIGAÇÃO
DE FAZER. INCIDÊNCIA DO MEIO DE
COERÇÃO. ART. 461, § 4, DO CPC. MULTA
COMINADA EM DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.

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EXECUÇÃO. CUSTAS JUDICIAIS. ISENÇÃO.


DIVERGÊNCIA INDEMONSTRADA.
1. A tutela antecipada efetiva-se via execução
provisória, que hodiernamente se processa como
definitiva (art. 475-O, do CPC).
2. A execução de multa diária (astreintes) por
descumprimento de obrigação de fazer, fixada
em liminar concedida em Ação Popular, pode ser
realizada nos próprios autos, por isso que não
carece do trânsito em julgado da sentença final
condenatória.
3. É que a decisão interlocutória, que fixa multa
diária por descumprimento de obrigação de fazer, é
título executivo hábil para a execução definitiva.
Precedentes do STJ: AgRg no REsp 1116800/RS,
TERCEIRA TURMA, DJe 25/09/2009; AgRg no
REsp 724.160/RJ, TERCEIRA TURMA, DJ
01/02/2008 e REsp 885.737/SE, PRIMEIRA
TURMA, DJ 12/04/2007.
4. É cediço que a função multa diária (astreintes) é
vencer a obstinação do devedor ao cumprimento
da obrigação de fazer (fungível ou infungível) ou
entregar coisa, incidindo a partir da ciência do
obrigado e da sua recalcitrância. Precedentes do
STJ: AgRg no Ag 1025234/SP, DJ de 11/09/2008;
AgRg no Ag 1040411/RS, DJ de 19/12/2008; REsp
1067211/RS, DJ de 23/10/2008; REsp 973.647/RS,
DJ de 29.10.2007; REsp 689.038/RJ, DJ de
03.08.2007: REsp 719.344/PE, DJ de 05.12.2006; e
REsp 869.106/RS, DJ de 30.11.2006.
5. A 1ª Turma, em decisão unânime, assentou que: a
"(...) função das astreintes é vencer a obstinação do
devedor ao cumprimento da obrigação de fazer ou
de não fazer, incidindo a partir da ciência do
obrigado e da sua recalcitrância" (REsp nº
699.495/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 05.09.05),
é possível sua execução de imediato, sem que tal
se configure infringência ao artigo 475-N, do

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então vigente Código de Processo Civil" (REsp


885737/SE, PRIMEIRA TURMA, DJ 12/04/2007).
(...)
9. Recurso Especial provido.”
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Processo
REsp 1.098.028/SP; RECURSO ESPECIAL
2008/0238774-0 Relator(a) Ministro LUIZ FUX
(1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento 09/02/2010 Data da
Publicação/Fonte DJ 02.03.2010)

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.


FORNECIMENTO DE ÁGUA. TUTELA
ANTECIPADA. ASTREINTES. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. SÚMULA 284/STF. MULTA DO ARTIGO
538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
AFASTAMENTO. EXECUÇÃO DA
OBRIGAÇÃO. IMEDIATA. DESNECESSIDADE
DE TRÂNSITO EM JULGADO.
(...)
3. É desnecessário o trânsito em julgado da
sentença para executar a multa por
descumprimento de obrigação de fazer fixada em
antecipação de tutela. Precedentes: REsp
1.098.028/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe 02/03/2010 e REsp 885.737/SE, Rel. Min.
Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 12/04/2007.
(...)”
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Processo
REsp 1170278/RJ RECURSO ESPECIAL
2009/0225135-5 Relator(a) Ministro CASTRO
MEIRA (1125) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA
TURMA Data do Julgamento 22/06/2010 Data da
Publicação/Fonte DJe 03/08/2010)

“FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.


INTERRUPÇÃO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.

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RELIGAMENTO. DESCUMPRIMENTO.
ASTREINTES. EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE.
I - Trata-se de recurso especial interposto contra o
acórdão que manteve decisão interlocutória que
determina a imediata execução de multa diária
pelo descumprimento da ordem Judicial.
II - Considerando-se que a "(...) função das
astreintes é vencer a obstinação do devedor ao
cumprimento da obrigação de fazer ou de não
fazer, incidindo a partir da ciência do obrigado e
da sua recalcitrância" (REsp nº 699.495/RS, Rel.
Min. LUIZ FUX, DJ de 05.09.05), é possível sua
execução de imediato, sem que tal se configure
infringência ao artigo 475-N, do então vigente
Código de Processo Civil.
III - "Há um título executivo judicial que não se
insere no rol do CPC 475-N mas que pode dar
ensejo à execução provisória (CPC 475-O). É a
denominada decisão ou sentença liminar extraída
dos processos em que se permite a antecipação
da tutela jurisdicional, dos processos cautelares,
ou das ações constitucionais" (CPC comentado,
Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery,
Editora Revista dos Tribunais, 9ª ed, pág. 654).
IV - A hipótese em tela se coaduna com o que
disposto no artigo 461, § 4º, do CPC, tendo em vista
o pleno controle da recorrente sobre a execução da
ordem judicial.
V - Recurso especial improvido.”
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Processo
REsp 885737/SE RECURSO ESPECIAL
2006/0201101-2 Relator(a) Ministro FRANCISCO
FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA
TURMA Data do Julgamento 27/02/2007 Data da
Publicação/Fonte DJ 12/04/2007 p. 246
RSTJ vol. 209 p. 160)

“PROCESSO CIVIL. MULTA COMINADA EM


DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. EXECUÇÃO.

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A decisão interlocutória que fixa multa diária


por descumprimento de obrigação de fazer é
título executivo hábil para a execução definitiva.
Agravo regimental não provido.”
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Processo
AgRg no REsp 724160/RJ AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
2005/0017197-7 Relator(a) Ministro ARI
PARGENDLER (1104) Órgão Julgador T3 -
TERCEIRA TURMA Data do Julgamento
04/12/2007 Data da Publicação/Fonte DJ
01/02/2008 p. 1)

Resta-se, portanto, demonstrado que: a) é perfeitamente possível a


execução imediata das astreintes fixadas em decisão interlocutória que
concedeu antecipação de tutela; b) que tal execução, servindo de instrumento
coercitivo ao cumprimento da medida, (como forma, inclusive, de respeito às
decisões judiciais), tem o caráter de execução definitiva; e que c) em face às
características das astreintes em tutela antecipada, essa pode ser processada nos
autos do processo.

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DO PEDIDO

Assim, demonstrado o descumprimento da decisão liminar


antecipadora dos efeitos da tutela concedida às folhas 763/767 (seja pelo desrespeito
aos itens “1”, “2” ou “4” desta), e considerando:

i) que o valor da multa cominatória diária estipulada por este juízo consiste no
montante de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por dia de descumprimento da
medida; e

ii) que a data de publicação da decisão interlocutória (fls. 2283/2286) que manteve a
antecipação de tutela, no que cabia, foi 20/05/2010 (resultando, até a presente data,
num total de 137 dias sem o cumprimento da antecipação de tutela);

REQUER-SE:

a) a intimação da executada-ré, ANHANGUERA EDUCACIONAL S/A, na


pessoa de seu representante, para querendo em vinte quatro horas, pagar, a título de
astreinte, o valor total de R$ 6.850.000,00, (sei milhões, oitocentos e cinquenta mil
reais), valor este a ser revertido ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação – FNDE, instituído pela Lei Federal nº 5537, de 21 de novembro de 1968,
ou nomeie bens a penhora, sob pena de lhe serem penhorados tantos bens quantos
bastem para a garantia da execução da multa cominatória; e

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b) que a referida multa cominatória diária continue a incidir até que a ré demonstre,
nos autos, o efetivo cumprimento da medida.

São Paulo, 04 de outubro de 2010.

SERGIO GARDENGHI SUIAMA


Procurador da República

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