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A invenção da sexualidade

A invenção da sexualidade
Ana Cristina Teixeira da Costa Salles
Paulo Roberto Ceccarelli
Resumo
Os autores partem do princípio que todas as sociedades foram, desde sempre, interpeladas pelo
enigma do sexual, o que as levou a criar dispositivos para lidar com as demandas pulsionais.
Através de uma digressão sócio-histórica, os autores mostram como o Ocidente criou expedien-
tes para lidar com este enigma, levando ao que pode ser chamado da “invenção da sexualidade”.
Os discursos sobre a sexualidade aparecem em momentos sócio-históricos precisos como tenta-
tivas de normatizar as práticas sexuais de acordo com os padrões da época, visando ao controle
da via social e política através do controle do corpo e da sexualidade. Sendo a regulamentação
do sexo um assunto do Estado, das elites dominantes e da religião, o texto propõe mostrar como
a “moral” de cada uma destas instâncias cria tanto o discurso sobre a regulamentação da sexua-
lidade quanto os dispositivos que visam regulá-la, controlá-la ou mesmo curar as manifestações
da sexualidade “desviantes”. A infindável leitura que há séculos vem sendo feita sobre esta di-
mensão constitutiva do humano retrata o destino particular que a nossa cultura deu ao sexual. O
interesse em discutir este tema é mostrar quanto as nossas teorias, e a nossa prática clínica, são
tributárias da cultura. Para os autores, a psicanálise, fruto da cultura ocidental, só pode ser devi-
damente entendida a partir da perspectiva histórica que a precedeu.

Palavras-chave
Sexual, Sexualidade, Controle, Cultura, Psicanálise.

A sexualidade, tal como a entendemos,


é efetivamente uma invenção histórica,
mas que se efetivou progressivamente
à medida que se realizava o processo
de diferenciação dos diferentes campos
e de suas lógicas específicas.
Pierre Bourdieu

Introdução possível a infindável leitura que há sécu-


Com este título deliberadamente pro- los vem sendo feita sobre esta dimensão
vocador, queremos lembrar que a sexuali- constitutiva do humano. Seu expoente
dade, tal como a percebemos, a vivemos máximo é, sem dúvida, a psicanálise: um
e, sobretudo, a teorizamos, é uma criação dos seus textos princeps, os Três Ensaios
da cultura ocidental. Isto não significa, em sobre a Teoria da Sexualidade, constitui a
absoluto, que outras culturas não sejam primeira formulação sistemática sobre o
igualmente interpeladas pelo enigma do tema.
sexual e criem dispositivos para lidar com Gostaríamos, neste trabalho, de esbo-
as reivindicações pulsionais. Mas, não fos- çar uma primeira reflexão sobre como a
se a particularidade do destino que a nos- cultura ocidental, com o sistema de valo-
sa cultura deu ao sexual, não teria sido res que lhe é próprio, criou o discurso so-
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bre a sexualidade, e como as premissas SANTOS & CECCARELLI, 2010), em-


freudianas são produtos destes mesmos bora os valores ético-morais ocidentais
valores. Lembremos que os discursos so- encontrem suas raízes na tradição judai-
bre a sexualidade aparecem em momen- co-cristã, o ascetismo em relação aos pra-
tos sócio-históricos precisos como uma zeres e o legado pessimista que hostilizava
tentativa de normatizar as práticas sexu- o corpo derivam-se sobretudo de consi-
ais de acordo com os padrões da época, derações médicas, cujas origens remontam
pois o controle da via social e política só à Antiguidade1 . Pitágoras aconselhava
poderia ser alcançado pelo controle do que as relações sexuais ocorressem prefe-
corpo e da sexualidade (FOUCAULT, rencialmente no inverno, embora a perda
1985). Ou seja, a sexualidade é uma cons- do esperma fosse sempre prejudicial. Se-
trução, uma invenção, inseparável do dis- gundo Hipócrates, reter o sêmen propor-
curso e do jogo de poder dentro dos quais cionava ao corpo a máxima energia. O
ela é constituída e, ao mesmo tempo, se médico pessoal do Imperador Adriano,
constitui. Sarano de Éfaso, defendia que o ato sexu-
O interesse em discutir este tema al só era justificado para a procriação.
deve-se ao fato de que tanto as nossas te- Esta visão da sexualidade foi intensi-
orias quanto a nossa prática clínica são ficada por uma das maiores escolas da fi-
tributárias da cultura. (Seria pouco pro- losofia antiga – o estoicismo – cuja influ-
vável que algo como a teoria psicanalítica ência se deu sobretudo de 300aC a
surgisse em uma cultura na qual a moral 250d.C. Esta corrente de pensamento
sexual não produzisse doença nervosa.) transformou radicalmente a importância
Todos nós, queiramos ou não, estamos que os filósofos gregos reservavam à bus-
impregnados do imaginário da cultura oci- ca do prazer, fazendo com que a sexuali-
dental. E mesmo aqueles que têm uma dade fosse concentrada no casamento.
posição crítica em relação a ele não lhe Este torna-se “uma permissão para a satis-
são imunes, pois tais valores funcionam fação da luxúria ou do prazer para aqueles
como suportes identificatórios para o su- que os consideravam indispensáveis”
jeito em constituição. (RANKE-HEINEMANN, 1996, p.23).
Tendo como ponto de partida o fato Mais tarde, quando o prazer carnal no ato
de que a regulamentação do sexo sempre conjugal tornou-se um problema teológi-
foi um assunto do Estado, das elites domi- co, o próprio casamento passou a ser ques-
nantes e da religião (FOUCAULT, 1984, tionado: uma das mais fortes consequên-
1985, 1985b), pretendemos neste texto cias desta nova posição foi a valorização
fazer uma breve digressão para tentar com- do celibato.
preender como a “moral” de cada uma Os grandes Padres da Igreja – Agosti-
destas instâncias cria tanto o discurso so- nho, Jerônimo e Tomás de Aquino – con-
bre a regulamentação da sexualidade tribuíram muito para a manutenção do
quanto os dispositivos que visam regulá- negativismo em relação ao prazer sexual
la, controlá-la ou mesmo curar as mani- característico da influência estóica. O sexo
festações da sexualidade “desviantes”. Isto só se justificava para a reprodução, caso
é, aquelas que não respondiam aos crité- contrário traria o “estigma negativo do
rios estabelecidos e que ameaçam a ordem prazer”: vemos emergir uma moralidade
vigente.

A ordem religiosa
1. Boa parte do que se segue baseia-se na obra de referência
Como já discutido em trabalhos an- sobre o tema: Eunucos pelo Reino de Deus Cf.
teriores (CECCARELLI, 2000; REIS RANKE-HEINEMANN, 1996.

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que é, essencialmente, moralidade sexu- origem, mas vítima indefeso da mulher


al. diabólica3 .
No Antigo Testamento a origem do Neste novo quadro, argumentar em
pecado é a desobediência. No capítulo 3 favor do casamento era difícil, pois ele se
do Livro do Gênesis, intitulado A origem do opunha à virgindade, incentivava o ape-
mal, Eva deixa-se convencer pela serpen- go ao corpo trazendo o risco da volúpia
te e, tentada a igualar-se a Deus, come o carnal, o que impediria a ascese da alma.
fruto da árvore proibida e adquire discer- Ao mesmo tempo, um dilema foi criado:
nimento. Como consequência, Adão e Eva se, por um lado, todo o valor era dado à
“abrem os olhos e percebem que estavam nus” castidade, por outro lado, era necessário
(Gen. 3, 7). Ainda que se possa argumen- encontrar uma forma para regulamentar
tar que o discernimento, a percepção do o casamento como lugar de procriação.
outro, da morte, envolva o conhecimento Ademais, como pregara o Apóstolo Pau-
da diferença entre os sexos, o que levou à lo, ele era uma concessão para os que não
queda, à perda do paraíso, não foi a sexu- conseguiam manter-se puros: “Mas, se não
alidade, mas sim a vontade de igualar-se a são capazes de dominar seus desejos, então
Deus2 . se casem, pois é melhor casar-se do que ficar
Ao colocar a origem do mal na sexua- fervendo” (I Cor., VII, 9). O casamento
lidade, ou seja, “sexualizar” o pecado ori- passou a ser tolerado, mas sob alta vigi-
ginal, Santo Agostinho deixou seu maior lância pois o que estava em jogo era a di-
legado à moral cristã: a concupiscência foi mensão transcendente da salvação da
o pecado original; o homem é fruto do alma. Dos males, o casamento era o me-
pecado. Esta concepção fez do mundo algo nor.
entravado pelas exigências do corpo que Uma das maiores contribuições para
impediam a ascese da alma; o ser humano resolver o impasse virgindade/casamento
tornou-se fragilizado e culpabilizado pelo veio, sem dúvida, da obra Casamento e
desejo, o que levou a uma exaltação sem concupiscência de Santo Agostinho. Nela,
precedentes da virgindade. Mais ainda, a o casamento é condenado como local de
visão sexualizada do pecado original faz do realização de desejos carnais, mas defen-
homem uma vítima indefesa de uma mu- dido como fonte de procriação, espaço de
lher inescrupulosa e sem princípios que o fidelidade e sacramento. Para Agostinho,
seduz, levando-o a pecar; pecado este que “a castidade da contingência é melhor que a
é sempre sexual. Surge daí a imagem ne- castidade das núpcias, embora as duas sejam
gativa da mulher, concepção ainda pre- boas” (apud VAINFAS, 1992, p.13). Leia-
sente no Ocidente, como a responsável se: o casamento é inferior à virgindade, e
pela queda; em contrapartida o homem não sendo para a procriação, não há justi-
aparece como um ser espiritual em sua ficativa para o ato carnal. O melhor seria
a continência absoluta. Não se podendo
alcançá-la, aprisiona-se o desejo no casa-
mento.
A partir do século XII a ideia de “na-
2. Não nos passa despercebido como o resultado do ad- tureza humana” passa a ser identificada à
quirir conhecimento – perceber-se nu, sofrer para ali-
mentar-se, sentir dor no parto, o conhecimento da
finitude, enfim, todas as consequências da perda do
paraíso – é muito próximo dos processos que envol- 3. Este “destino” sem paralelo dado à mulher no mundo
vem a constituição do sujeito tal como entende a psi- cristão, que esteve presente na caça às bruxas na Ida-
canálise: a saída do narcisismo primário (o paraíso), a de Média, continua presente até hoje: em muitas de-
percepção da alteridade, da castração, da diferença cisões judiciais a pena é reduzida quando se prova
dos sexos... que foi a mulher que “provocou” o homem.

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vontade divina, tornando-se um paradig- res bonitas como um castigo de Deus por
ma de reflexão moral: tudo que é natural suas vaidades; e nas feias, como castigo
é bom e apraza a Deus. Surge, assim, a ideia pela inveja que tinham das bonitas. O in-
de “coito natural” que deu origem ao dis- teresse excessivo pelo sexo podia atrasar a
curso que separa as práticas sexuais em gravidez, quando não impedi-la (DEL
“normais”, identificadas à procriação, e PRIORE, 2001). A impotência, de um ou
“anormais”, que diziam respeito às práti- de outro dos cônjuges, era vista como uma
cas infecundas. A ideia é que existiria uma ameaça à sacralidade do matrimônio, po-
sexualidade normal, conforme as inclina- dendo levar à anulação do mesmo5 .
ções naturais das coisas, cujo desvio, a A partir do século XII, a moral que
depravação (pravus)4 , é definido como recusa o desejo e o prazer começa a abran-
“contra a natureza”. Toda vez que a sexu- dar-se com a aceitação do casamento
alidade desvia da finalidade primeira que como espaço legítimo para o uso dos pra-
a referência animal nos mostra – união de zeres. Todavia, a concepção do sexo como
dois órgãos sexuais diferentes para a pre- um mal em si mesmo persiste, sob forma
servação da espécie –, estamos diante de do controle sistemático dos prazeres da
um pecado contra naturam: pedofilia, ne- carne e com a inclusão de mais um peca-
crofilia, masturbação, heterossexualidade do capital: a luxúria. Luxuriosos eram os
separada da procriação, homossexualismo, que buscavam dentro do casamento prin-
sodomia... cipalmente o prazer e, fora dele, não ob-
Além dos atos abomináveis, certas servavam a castidade.
posições eram proibidas, e certas épocas Vimos, até aqui, como a sexualização
do ano impróprias às relações sexuais. A do pecado e a criação da confissão permi-
única posição “natural” era a do homem tiram à Igreja criar um discurso sobre a
deitado sobre o ventre da mulher. A mu- sexualidade, através do qual pode contro-
lher de costas para o homem assemelha- lar e intervir de forma profunda na sexua-
va-se à cópula dos animais; o homem em lidade dos fiéis. É dentro deste espírito que
baixo da mulher era considerado uma in- a moralidade cristã, que “situa os princi-
versão da natureza dos sexos já que deno- pais pecados da humanidade nos quartos
taria a passividade masculina e a ativida- de dormir” (RANKE-HEINEMANN,
de feminina. No primeiro caso, a ideia era 1996, p.47), desenvolveu-se.
extirpar todo traço de animalidade no de-
sejo humano e incluí-lo na razão natural. A ordem médica
No segundo, reafirmar a submissão femi- Segundo Foucault (1985, p.137), des-
nina ao homem. de o século XVIII o sexo ocupou um lugar
Um outro exemplo da infiltração do central que passou a definir tanto o sujei-
religioso no imaginário daqueles séculos to quanto a população. E no século XIX,
diz respeito à sexualidade do casal: a este-
rilidade era um indicador de alguma for-
5. A anulação do casamento era permitida em caso de
ma de impureza na vida conjugal. Ela po- infertilidade feminina e de impotência masculina,
dia se manifestar, em especial, nas mulhe- desde que provada pela esposa. Para tal, ela deveria,
segundo alguns teólogos, ter o testemunho de sete
pessoas. Outros eram a favor da ordália: para provar
a sua inocência, o marido acusado de impotência de-
4. O termo perversão, derivado de per vertere, “pôr de lado”, veria caminhar sobre ferros quentes ou colocar os pés
ou “pôr-se à parte”, aparece pela primeira vez em 1444. em água fervente. Se fosse inocente, nada lhe acon-
Foi somente no final do século XIX e no século XX que teceria. Outros ainda optavam pela indicação de sete
“perversão” passou a ser usado em relação aos comporta- parteiras que, após minucioso exame das partes geni-
mentos sexuais que fogem à norma. Cf. PEIXOTO JU- tais da esposa, verificavam se houve, ou não, a ruptu-
NIOR, 1999. ra do hímen.

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a sexualidade foi esmiuçada em cada exis- acarretando uma transferência da compe-


tência, nos seus mínimos detalhes; foi de- tência sobre estes saberes dos experts reli-
sencavada nas condutas; perseguida nos giosos para os da medicina; 3. a diferenci-
sonhos, suspeitada por trás das mínimas ação entre a sexualidade “perigosa” e a
loucuras, seguida até os primeiros anos da “sadia”; finalmente, 4. a biologização da
infância; tornou-se a chave da individua- diferença dos sexos como base fundadora
lidade: ao mesmo tempo, o que permite de toda sexualidade legítima.
analisá-la e o que torna possível consti- Em 1696 Nicolas Venette, professor
tuí-la. de anatomia e de cirurgia em La Rochel-
A primeira grande ruptura nos meca- le, França, publicou Tableaux de l’amour
nismos de controle e repressão da sexuali- conjugal, livro pioneiro no gênero, várias
dade começa a esboçar-se no século XVII vezes reeditado e traduzido em várias lín-
(FOUCAULT, 1985). A concepção de guas.
uma “pulsão sexual” inerente ao ser hu- No livro, Venette mistura o conheci-
mano, cuja forma de satisfação poderia ser mento médico e as tradições populares
boa, sadia ou, ao contrário, errada ou ain- para dar conselhos sobre a melhor manei-
da perversa, data do Iluminismo, ou seja, ra de se conseguir êxito, ou seja, de pro-
do final do século XVII, início do XVIII. criar, nas relações conjugais; ele traz rela-
Nessa época, as questões de ordem sexual tos etnográficos sobre as práticas sexuais
começam a influenciar cada vez mais o de povos africanos; revela segredos e dá
social, particularmente a sexualidade le- receitas farmacológicas para combater a
gítima no seio da família a fim de regular a impotência e reconstituir o hímen perdi-
procriação. Fato curioso que indica uma do. Graças às autopsias que fazia, Venette
mudança profunda nos costumes: dois descrevia o interior do corpo, inclusive dos
novos delitos aparecem nos tratados de órgãos genitais, de forma nunca antes tra-
direito da época. As relações sexuais pre- tada: “os testículos estão guardados no inte-
coces, sem o compromisso claro do matri- rior de uma bolsa como algo de extremamen-
mônio, e a gravidez secreta, pois esta po- te valioso. É daí que a natureza tira constan-
deria levar ao aborto ou ao assassinato do temente a matéria da qual ela produz todos
recém-nascido. Desde o final do século os dias, miraculosamente, os hormônios”
XVII, sobretudo na França e na Alema- (VENETTE, 1778, p.7).
nha, a questão de como gerenciar o con- Sem dúvida, o que torna esta obra
trole da natalidade tornou-se um objeto revolucionária é a clara determinação de
de discussão social, pois a população pas- seu autor em explicar, em permitir o aces-
sou a ser um recurso do Estado na produ- so a um saber relativamente isento da con-
ção de riqueza (SARASIN, 2002/3). Isto taminação religiosa. Para Venette, o que a
significa que foi a partir de uma perspecti- natureza humana mais almeja é conhecer
va biopolítica que se origina o dispositivo suas origens, as quais ele propõe explicar
moderno da sexualidade. no livro. A partir do momento em que o
O passo seguinte foi a invenção da homem é visto como um ser natural, a se-
sexualidade, tal como a entendemos hoje: xualidade deixa de ser antagônica à espi-
aquilo que marca o indivíduo em sua di- ritualidade, como era o caso na visão reli-
mensão mais profunda. Segundo Sarasin giosa, para tornar-se algo que é próprio do
(2002/3), o processo que levou a esta nova homem e cuja satisfação, dentro do casa-
configuração possui quatro características: mento, é sadia, independentemente da
1. a descrição do sexo como qualidade reprodução. O Iluminismo coloca a ques-
constitutiva do sujeito; 2. a passagem do tão das relações entre o instinto e a von-
sexo do registro religioso para o médico, tade, e entre o desejo e a virtude de uma
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forma totalmente nova, sem o moralismo corporal decorre da circulação dos humo-
que, até então, marcava a vivência da se- res, e o equilíbrio entre eles configuraria a
xualidade. O homem não é mais entendi- morfologia genital dos sexos. Ou seja, não
do como um ser guiado pelos instintos mas, é a anatomia que determina os sexos, mas
antes, como um ser civilizado capaz de sim os humores: este é o paradigma do sexo
conter-se, no que for necessário, para um único. Este paradigma só começou a mu-
valor maior: a sociedade. A nova concep- dar no século XVII quando, de forma es-
ção burguesa do casamento entendia o parsa, aparecem os primeiros atlas de ana-
instinto sexual como algo primordial do tomia nos quais as diferenças morfológi-
sujeito, que deveria ser controlado para cas entre o corpo do homem e o da mu-
ser reutilizado em favor da sociedade (algo lher começam a se delinearem. Embora a
bem próximo da concepção freudiana de formulação natural da diferença entre os
sublimação). Temos, então, as bases para sexos tenha se consolidado ao longo do
aquilo que, no final do século XIX, passou século XVIII e no início do XIX, o que
a ser chamado de “sexualidade”: não era teria definitivamente subvertido o mode-
mais possível pensar o sujeito sem o sexo. lo do sexo único foi a igualdade de direi-
Ao mesmo tempo, privilegiar a razão tos dos cidadãos proclamada pela Revo-
como a nova instância que determina o lução Francesa (LAQUER, 1992). Mas, as
sujeito autônomo teve um custo: a supre- conquistas ali alcançadas não propiciaram
macia do cérebro masculino sobre o siste- o proclamado: as mulheres não tiveram os
ma nervoso feminino centrado no útero. mesmos direitos que os homens. Com a
Ocorreu então, de um lado, uma biologi- falência do modelo do sexo único, funda-
zação da diferença sexual centrada sobre ram-se novas bases de hierarquia, susten-
o sistema nervoso feminino e o cérebro tadas pela natureza biológica, que deter-
masculino, e não sobre a diferença anatô- minavam as diferentes inserções sociais do
mica dos órgãos sexuais; e, por outro lado, homem e da mulher, o que, no fundo,
toda a discussão para se saber como o ho- manteve inalterada a dominação mascu-
mem poderia dominar sua sexualidade lina. É assim que, para avaliarmos corre-
para dela obter os prazeres conforme as tamente a posição da mulher na cultura
exigências da razão, da moral vigente e da ocidental – posição que influenciou o dis-
higiene (LAQUEUR, 1992). Trata-se do curso psicanalítico sobre a sexualidade fe-
modelo do sexo único. Como veremos minina –, não basta, por exemplo, denun-
mais adiante, por mais revolucionárias que ciarmos a sua exclusão em determinados
tenham sido as posições de Freud, ele setores da sociedade, sobretudo na época
manteve-se conservador no que diz res- de Freud. Mais do que isto: é necessário
peito a este modelo. Sua origem data da compreender as disposições hierárquicas
Antiguidade, e o expoente máximo foi que fizeram com que as mulheres, elas
Aristóteles. Para ele, existiria uma hierar- mesmas, participassem de sua própria ex-
quia entre os sexos, sendo o masculino o clusão (BOURDIEU, 2002). Talvez seja
mais perfeito. Após Aristóteles, Galeno na maternidade que o peso deste discurso
construiu uma versão final desse modelo mostre toda a sua força. O “tornar-se mãe”
que perdurou por séculos no Ocidente. passou a ser incentivado, como se se tra-
Introduzindo a teoria dos humores, Gale- tasse de algo natural – o instinto materno
no sustentava que o humores quentes con- – e não como uma construção ideológica
densaria as virtudes do masculino; e a sua que determinava sem apelo a importân-
ausência na circulação geral dos humores cia da mulher para o bem-estar social (BA-
caracterizaria o feminino (BIRMAN, DINTER, 1988). Ou seja, a única forma
2001). Galeno conclui que a morfologia de manter o novo paradigma sobre a dife-
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rença dos sexos e a existência de um ins- da sodomia, hoje chamados de homosse-


tinto sexual inerente a todo ser humano xualidade e coito anal.
foi fazendo das mulheres seres destinados As teorias de Tardieu marcariam a
à reprodução, úteis à sociedade no ofício passagem do conceito de perversão do Ilu-
de mãe e no casamento. Quanto aos ho- minismo – o onanismo – ao da época da
mens, eles deveriam lançar mão de sua industrialização – a homossexualidade
força espiritual superior para manter o sexo (SARASIN, 2002/3). Mais tarde, em
no limite da decência e no casamento, 1886, o visconde Richard von Krafft-
sendo a masturbação entendida como o Ebing, especialista em medicina legal, es-
inverso da autodisciplina esperada, pois o creve o famoso Psychopathia Sexualis no
reverso do instinto sexual “natural” (SA- qual traça um longo inventário das per-
RASIN, 2002/3). São assim lançadas as versões humanas e rediscute as pulsões
bases da luta (desta vez médica e não mais heterossexuais. Este novo reexame do pro-
religiosa) contra a masturbação, que po- blema faz do desejo sexual uma energia
deria levar à morte ou à loucura devido à fundamental, motor de toda ação huma-
perda desnecessária e excessiva de esper- na. Entretanto, ainda que esta pulsão não
ma. possa ser devidamente apreciada sem le-
Até o meio do século XIX, o onanis- var em conta a genitalidade, cabia à psi-
mo era a única forma de desvio reconhe- quiatria garantir que ela fosse pelo menos
cida – perversão – em relação ao sexo “sa- “boa”, para o sujeito e para a sociedade,
dio”. Entretanto, algumas décadas mais diferenciando-se das disposições “perver-
tarde as coisas começam a mudar: a me- sas”. Isto significa que a ideia de que a
dicina e a psiquiatria legal se interessam pulsão era responsável não apenas pela
por uma sexualidade não controlável que reprodução e pelo prazer, mas que tam-
estaria presente na passagem ao ato em bém estava presente em todas as ações
muitas formas de crimes. Em 1857 Am- humanas já era teorizada. A pulsão em si
broise Tardieu, professor de medicina le- é uma pulsão livre: ou ela consegue seguir
gal na Universidade de Paris, “o mais emi- o seu caminho segundo a moral, ou ela se
nente representante da medicina legal perverte.
francesa” (MASSON, 1984, p.17)6 , pu- O Psychopathia Sexualis traz algo de
blica o famoso Étude médico-légale sur les radicalmente novo: uma imagem da se-
attentats aux mœurs (Estudo médico-legal xualidade que se divide em “sexualidade
sobre os atentados aos costumes), rapida- normal” em sua essência, e uma sexuali-
mente traduzido em várias línguas. Neste dade geneticamente perversa devido a ta-
clássico da época, ao lado dos excessos ras hereditárias.
sexuais que podiam chegar aos crimes se-
xuais, mas que não eram classificados A subversão freudiana
como perversões, uma outra forma de se- Os grandes psiquiatras e sexólogos do
xualidade aparece: the nameless crime: o século XIX esforçaram-se para traçar um
crime sem nome. Trata-se da pederastia e “herbário” dos prazeres (FOUCAULT,
1985, p.63), que ia desde o tímido admi-
rador de sapatos femininos até o “senti-
6. Freud teria frequentando, durante a sua estada em
mento contrário”, ou seja, a homossexua-
Paris, tanto as aulas do Prof. Tardieu quanto o necro-
tério local onde teria presenciado autopsias em cri- lidade. Um minucioso inventário das prá-
anças mortas devido a abusos sexuais. Masson consi- ticas sexuais que escapavam aos ditames
dera incompreensível que este fato importante du-
morais foi repertoriado e etiquetado, fa-
rante a estada de Freud em Paris nunca tenha recebi-
do a devida atenção por parte dos estudiosos de Freud. zendo surgir novas formas de perversões.
Cf. MASSON, 1984. Dentro de uma perspectiva higienista e
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repressiva, discutiam-se os “efeitos noci- Lacan, em sua teorização, contribuiu


vos da sexualidade”: práticas contra a na- para a compreensão freudiana ao mostrar
tureza, os perigos da masturbação, do coi- que o sujeito pode ficar preso numa cap-
to interrompido, uma vida conjugal insa- tura narcísica, para evitar o encontro an-
tisfatória... gustiante do que ele é como objeto para o
O pequeno ensaio de 40 páginas pu- Outro. No início, essa captura narcísica
blicado em 1905 por Freud – Três Ensaios inscreve-se no sujeito quando ele reflete
sobre a Teoria da Sexualidade – subverte os a imagem que corresponde ao desejo dos
esquemas explicativos tradicionais. A con- pais ou da família e está articulada à cons-
cepção de “pulsão natural versus pulsão tituição do sujeito como um tempo lógico
perversa” é abandonada, e o debate cen- necessário e estruturante, o Estádio do
tra-se na diferença entre o objeto sexual e Espelho, em que sua imagem ideal refleti-
a finalidade sexual (entre o objeto deseja- da é autenticada pelo Outro. Essa ilusão
do e a atividade sexual almejada com o narcísica de completude é a condição ne-
objeto). Se a pulsão não tem objeto fixo, cessária para a constituição do sujeito e
nada existe que seja biologicamente pro- sua inscrição no campo do Outro, no sim-
gramado: toda forma de atividade sexual bólico. Corre-se entretanto o risco de se
resulta de um percurso pulsional, de uma ficar preso ao imaginário, ao ideal, numa
história individual e única. Ou seja, a se- alienação à imagem e portanto detido,
xualidade em cada ser humano, devido à paralisado. O encontro com o desejo do
singularidade da história de cada um, terá Outro é sempre enigmático e angustiante
um destino particular: não há uma única para o sujeito, pois nunca se sabe o que
maneira que se proponha certa e univer- pode advir. As relações amorosas, que são
sal para as manifestações da sexualidade. expressões de laços sociais, geralmente
A civilização comete uma grande injusti- refletem essa forma de vínculo alienante
ça ao “exigir de todos uma idêntica conduta em que o sujeito evita a renúncia de ser o
sexual” (FREUD, 1976, p.197). A fixação objeto imaginário que obtura a falta do
heterossexual, assim como a homossexu- Outro, renúncia que possibilita o acesso
al, necessita igualmente de explicação, ao desejo.
posto que a base da “escolha sexual” re-
pousa tanto na disposição bissexual do ser Reflexões finais
humano quanto na sexualidade infantil, Com esta breve digressão sócio-his-
cuja natureza é perversa e polimorfa em tórica, procuramos mostrar como os dis-
uma dimensão essencialmente autoeróti- cursos sobre a sexualidade são tentativas
ca: na disposição a todas as perversões de nomear o Isso: a alteridade interna,
encontramos o humano e o original aquilo que nos lembra que não somos se-
(FREUD, 1976). nhores em nossa própria casa. Tais discur-
Sem dúvida, a mudança de paradig- sos foram sendo construídos ao longo dos
ma trazida por Freud foi de peso. Com séculos, até ocuparem uma parte central
Freud, a sexualidade, inclusive a perver- tanto na vida individual quanto na cole-
sa, torna-se humana, constituindo o nú- tiva da sociedade ocidental. A cada mo-
cleo mais profundo do sujeito: não há sen- mento histórico este saber foi apresenta-
tido falar de “bom ou de mau sexo”, de do como uma verdade, seja ela ditada pela
“sexo sadio ou doente”. Para Freud, final- Igreja, pelo Estado, ou pela medicina. O
mente, a sexualidade é dificilmente com- discurso ideológico, sustentado por este
patível com as exigências da civilização, saber e atrelado aos interesses que susten-
constituindo-se mais como fonte de mal- tavam o poder e a ordem política, estabe-
estar do que de felicidade (FREUD, 1974). lecia o que deveria ser considerado “nor-
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A invenção da sexualidade

mal” e, por extensão, o patológico, em ter- THE INVENTION OF SEXUALITY


mos de desejos e práticas sexuais.
Foi no interior do discurso médico- Abstract
psiquiátrico que a psicanálise surgiu. Por The authors assume that all societies have
isso, a psicanálise, fruto da cultura ociden- always been challenged by the enigma of se-
tal, só pode ser entendida a partir da pers- xual, which led them to create discourses to
pectiva histórica que a precedeu. cope with drives demands. Through a socio-
Para que a psicanálise, que em um historical digression, the authors show how
primeiro momento foi libertadora ao de- the Western World created ways to deal with
nunciar a existência de uma outra cena this enigma, leading to what might be called
que determina nossas escolhas objetais, the “invention of sexuality”. The discourses
não se transforme em mais uma prática on sexuality appear at precise socio-historical
normativa é necessário que os psicanalis- periods as attempts to regulate the sexual prac-
tas façam constantes incursões em seus tice in accordance with the standards of a gi-
conceitos de base para confrontá-los com ven time, in order to control social and politi-
os movimentos sócio-históricos. Há de se cal behaviors by controlling body and sexua-
levar em conta as mudanças sociais, sob lity. Being the regulation of sex an issue of the
pena de ficarmos arraigados a teses não State, of the ruling elites and of religion, the
mais sustentáveis na contemporaneidade.ϕ text proposes to show how the “moral” of each
of these instances creates both the discourse
about sexuality and its regulation, as well as
means to control it or even to cure its “devi-
ant” manifestations. The endless approaches
that for centuries have been attributed to this
constitutive dimension of the human, portrays
the particular destination that our culture has
given to the sexual. The interest of discussing
this theme is to show how our theories and
our clinical practice are tributary to culture.
For the authors, psychoanalysis, a creation of
Western culture, may only be properly un-
derstood from the historical perspective that
preceded it.

Keywords
Sexual, Sexuality, Control, Culture, Psycho-
analysis.

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Ana Cristina Teixeira da Costa Salles & Paulo Roberto Ceccarelli

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