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DIREITO A CIDADE: CONQUISTAS E RETROCESSOS DO BRASIL

Você, meu aluno presencial certamente já ouviu essa frase: “nunca na história do Brasil o
território foi pensado antes da população”. Criei essa frase baseando-me no processo acelerado
e concentrado da urbanização brasileira que desde a década de 1930 tem seus números
aumentados anualmente.

Verdadeiramente, somos um país urbano! Segundo os últimos estudos realizados, 85% dos
cidadãos brasileiros vivem nas cidades. Mas, qual cidade é essa que essas pessoas vivem? Será
que o sentido intrínseco da palavra êxodo de fato, se materializou, com o êxodo rural? Será que
as cidades realmente são as terras prometidas que os sertanejos tanto buscavam quando, das
suas emigrações.

Creio que não! As nossas cidades nunca estiveram preparadas para receber tamanho
contingente populacional. Modeladas pelo modo espontâneo, crescendo ao longo de um rio e,
posteriormente, do centro para a periferia, o espaço urbano brasileiro é desde a sua origem
segregador e excludente.

Dai a utilização do termo “direito a cidade”, cunhado pelo sociólogo e filósofo marxista Henri
Lefebvre (1901-1991), nos ajuda a compreender a grande necessidade de pensar a cidade como
um espaço de todos e para todos. Mais, que morar na cidade, as pessoas devem ter todos os
seus direitos urbanos garantidos. Direitos esses como: a moradia, mobilidade, meio ambiente,
lazer, cultura e tantos outros.

Fracassando na garantia do direito à cidade, contribuímos todos à construção da miséria urbana.


Trata-se da miséria sentida mais agudamente pela classe operária, que tem todo o seu tempo
tomado pelo trajeto entre casa e trabalho, sem nenhum espaço de lazer ou de criatividade nessa
cidade que, segundo Tavolari, “saqueia a possibilidade de encontro, de revolução, a
manifestação de desejo. Por isso, ele vai chamar o que seria o contrário disso de um direito à
cidade”.

No Brasil, o que estamos fazendo para garantir o direito à cidade? Nos últimos anos, conquistas
foram adquiridas a partir da promulgação da Lei número 10.257, de 10 de julho de 2001. Tal
legislação é conhecida como Estatuto das Cidades. Esta, possui como grande objetivo a
execução da política urbana garantida nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal.

Assim, a grande vitória contemporânea se faz através do estabelecimento de normas de ordem


pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo,
da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Após 18 anos, quanto evoluímos com aplicação desta legislação? Pouco. Continuamos sendo
reconhecidos mundialmente pela capacidade de criarmos regulamentações com ampla
participação popular. No entanto, continuamos também reconhecidos mundialmente por pouco
aplicar o que escrevemos e legislamos. Vemos isso, através dos dados que mostram o
crescimento do déficit habitacional, dos problemas com a mobilidade urbana, com o
crescimento da violência e do tráfico de drogas, da ausência das áreas verdes e de lazer.

Portanto, as conquistas são relevantes, mas os retrocessos continuam tendo passos maiores,
tornam-se entraves ao crescimento econômico e desenvolvimento social do nosso país. Discutir
sobre essa problemática é mais que preparar-se para uma prova, uma redação, é tornar-se
cidadão.

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