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A partilha de bens trata de complemento do inventário, que visa a

distribuição do acervo da pessoa falecida entre seus herdeiros, bem como a


separação da meação do cônjuge ou direitos do companheiro. Em suma, é o
momento em que se especificam os quinhões ou partes de cada herdeiro.

Acerca da partilha, o autor Sílvio de Salvo Venosa pontua: “A finalidade


da partilha é, por consequência, dividir o patrimônio apurado do falecido. Por
meio da partilha é que vai desaparecer o espólio e surgir o direito individualizado
de cada herdeiro ou legatário. Partilhar, em síntese, é dividir. A partilha consiste
em dar a cada um o que for justo, ao dissolver a comunhão. O herdeiro, desde
a abertura da sucessão, recebe uma pane ideal em proporção a sua quota e,
com a partilha e adjudicação, essa pane ideal se materializa”.1

Caso a divisão do patrimônio seja amigável entre os herdeiros, o Código de


Processo Civil possibilita a partilha amigável, conforme redação de seu artigo
659:

“Art. 659. A partilha amigável, celebrada entre partes


capazes, nos termos da lei, será homologada de plano pelo
juiz, com observância dos arts. 660 a 663.

§ 1º O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de


adjudicação, quando houver herdeiro único.

§ 2º Transitada em julgado a sentença de homologação de


partilha ou de adjudicação, será lavrado o formal de partilha
ou elaborada a carta de adjudicação e, em seguida, serão
expedidos os alvarás referentes aos bens e às rendas por ele
abrangidos, intimando-se o fisco para lançamento
administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos
porventura incidentes, conforme dispuser a legislação
tributária, nos termos do § 2º do art. 662.”

A partilha amigável, segundo Pontes de Miranda2, é a realização do fim


das obrigações entre os coerdeiros, extinguindo-se o laço entre eles, se outro
dela não surge; pelo menos, extinguindo-se o laço de direito hereditário; pode
ser feita por instrumento público, ou por termo nos antas, ou por instrumento
particular, caso em que dependerá de homologação judicial.

Nesta esteira, entende-se que esta modalidade de partilha poderá


realizar-se através de escritura pública, termo nos autos de inventário ou escrito
particular que será, posteriormente, homologado pelo juiz – tal homologação é
necessária para a expedição do formal de partilha. Esta alternativa é a mais
recomendável, tendo em vista que o procedimento extrajudicial é mais célere

1
Sílvio de Salvo Venosa - Direito das Sucessões – p. 391. Atlas, São Paulo, 2017.
2
Pontes de Miranda. Op. cit., p. 211.
que o judicial, levando-se em consideração o tempo de tramitação, bem como
as despesas depreendidas.

Esta espécie de partilha pode ser anulada por dolo, coação, erro
essencial ou intervenção de incapaz. Tal direito de anulação extingue-se em 1
(um) ano, contado esse prazo, no caso de coação, do dia em que ela cessou, no
caso de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato e, quanto ao incapaz, do
dia em que cessar a incapacidade. Oportuno ressaltar que a partilha amigável
só é possível nos casos em que os herdeiros sejam capazes e não divirjam
acerca da divisão dos bens.

Nos casos em que há divergência entre os herdeiros, ou estejam


envolvidos menores ou incapazes, a partilha deverá, obrigatoriamente, ocorrer
através de via judicial, conforme imposto pelo art. 2.016 do Código Civil. No caso
de haver incapaz, o Ministério Público deve emitir parecer, com vistas à proteção
efetiva do direito do herdeiro.

A partilha obedecerá a ordem constante no artigo 651 do Código de


Processo Civil, que dispõe:

“Art. 651. O partidor organizará o esboço da partilha de


acordo com a decisão judicial, observando nos pagamentos
a seguinte ordem:

I - dívidas atendidas;

II - meação do cônjuge;

III - meação disponível;

IV - quinhões hereditários, a começar pelo coerdeiro mais


velho.”

Ainda, na partilha constará os nomes do autor da herança, do


inventariante, do cônjuge ou companheiro supérstite, dos herdeiros, dos
legatários e dos credores admitidos; o ativo, o passivo e o líquido partível, com
as necessárias especificações; o valor de cada quinhão; de folha de pagamento
para cada parte, declarando a quota a pagar-lhe, a razão do pagamento e a
relação dos bens que lhe compõem o quinhão, as características que os
individualizam e os ônus que os gravam. Tais disposições encontram fulcro
também no Código Civil, em seu artigo 653.

Com o trânsito em julgado da sentença homologatória, cada herdeiro


receberá seus bens através de um formal de partilha, que é o documento hábil
a ser registrado no Registro de Imóveis – por exemplo, com vistas a comprovar
a propriedade do sucessor do bem. O formal de partilha poderá ser substituído
por certidão de pagamento do quinhão hereditário quando esse não exceder a 5
(cinco) vezes o salário-mínimo, caso em que se transcreverá nela a sentença de
partilha transitada em julgado.

A legislação permite a rescisão da partilha, conforme dispõe o art. 658


do Código de Processo Civil, nos casos mencionados no art. 657, se feita com
preterição de formalidades legais ou se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o
seja. Nestes casos, caberá ação rescisória. A partilha, mesmo transitada em
julgado, também comporta retificação, caso haja alguma falha na descrição dos
bens – cabe às partes arguir estas falhas - ou caso haja alguma obscuridade ou
omissão material – momento em que caberá ao juiz corrigi-las de ofício, em
consonância com o art. 656 do Código de Processo Civil.

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