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2017

Capítulo I • INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO AO
DIREITO ELEITORAL

SUMÁRIO • 1. Introdução ao direito eleitoral. 1.1. Conceito de Direito Eleitoral. 1.2. Objeto. 1.3. Taxonomia e
autonomia. 1.4. Fontes. 1.4.1. Fontes diretas. 1.4.2. Fontes indiretas. 1.5. Codificações eleitorais. 1.6. Competência
legislativa. 1.7. Princípios do Direito eleitoral. 1.7.1.. 1.7.2. Princípios do Direito eleitoral em espécie. 1.7.2.1.
Princípio da anualidade ou da anterioridade da lei eleitoral. 1.7.2.2. Princípio da celeridade. 1.7.2.3. Princípio
da periodicidade da investidura das funções eleitorais. 1.7.2.4. Princípio da lisura das eleições ou da isonomia de
oportunidades. 1.7.2.5. Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos. 2. Sinopse.
3. Para conhecer a jurisprudência. 3.1. Informativos. 3.2. Jurisprudência selecionada. 4. Questões de exames e
concursos. 4.1. Questões extras. 5. Gabarito.

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

1.1. Conceito de Direito Eleitoral


Segundo Fávila Ribeiro1, “o Direito Eleitoral, precisamente, dedica-se ao estudo das normas
e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de
modo a que se estabeleça a precisa adequação entre a vontade do povo e a atividade governamental”.
De acordo com Omar Chamon2, “o Direito Eleitoral, ramo autônomo do direito público,
regula os direitos políticos e o processo eleitoral. Todas as Constituições trataram dessa matéria.
Cuida-se de instrumento para a efetiva democracia, ou seja, estuda-se a influência da vontade
popular na atividade estatal”.
Na lição de Joel José Cândido3, “Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que trata de
institutos relacionados com os direitos políticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma
de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do Estado”.
Conforme os ensinamentos de Bernard Maligner4, o Direito Eleitoral “c’est donc la blanche
du droit qui permet de donner um contenu concret à l’affirmation de príncipe suivant laquelle
‘la souveraineté nationale appartient au peuple”5.
Conceituamos o Direito Eleitoral como o ramo do Direito Público constituído por normas
e princípios disciplinadores do alistamento, da convenção partidária, do registro de candidaturas,

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nacional pertence ao povo.

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CURSO DE DIREITO ELEITORAL – Roberto Moreira de Almeida

da propaganda política, da votação, da apuração e da diplomação dos eleitos, bem como das ações,
medidas e demais garantias relacionadas ao exercício do sufrágio popular.

1.2. Objeto
Incumbe ao Direito Eleitoral tratar sobre:
• A organização da Justiça e do Ministério Público Eleitoral;
• As diversas fases do processo eleitoral:
a) o alistamento eleitoral: inscrição, transferência, revisão, cancelamento e exclusão de eleitores;
b) a convenção partidária: momento e disciplinamento para escolha de candidatos e for-
malização de coligações;
c) o registro de candidatos: competência dos órgãos jurisdicionais, documentação necessária
para o registro e demais regras específicas;
d) a propaganda política: o disciplinamento da propaganda partidária, intrapartidária e
eleitoral;
e) os atos preparatórios à votação: distribuição das seções eleitorais e sua composição,
material para votação, organização das mesas receptoras e respectiva fiscalização;
f ) a votação: a forma do voto e do sufrágio, os lugares de votação, a polícia dos trabalhos, o
horário de início e de encerramento da votação;
g) a apuração; e
h) a diplomação dos eleitos.
• A estruturação dos partidos políticos6;
• A fixação das regras de competência e procedimentos em matéria eleitoral;
• O estabelecimento de punições administrativas e criminais no âmbito eleitoral, etc.

1.3. Taxonomia7 e autonomia


O Direito Eleitoral é, indubitavelmente, ramo do direito público, pois cuida, sobretudo, das
medidas e demais garantias relacionadas ao exercício do sufrágio popular.
Com efeito, as normas e princípios emanados desse ramo da dogmática jurídica são cogen-
tes, principalmente quando disciplinam as relações entre as entidades, órgãos e agentes públicos
com particulares (pessoas físicas e jurídicas), a estruturação de órgãos destinados ao exercício da
atividade político-administrativa em prol do interesse público calcado no regime democrático e
na concretização do Estado Democrático de Direito.
Não menos indiscutível é asseverar que o Direito Eleitoral adquiriu autonomia científica,
didática e normativa.

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de direito privado, integra ou não o Direito Eleitoral.
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Capítulo I • INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

Dizemos que há autonomia científica porque existem normas e princípios próprios de Direito
Eleitoral, os quais serão examinados ao longo do presente livro
A autonomia didática calca-se na presença de disciplinas específicas de Direito Eleitoral nos
cursos de graduação e pós-graduação em direito.
No que concerne à autonomia normativa, encontramos no ordenamento jurídico brasi-
leiro uma grande quantidade de normas jurídicas autônomas e específicas de Direito Eleitoral,
exempli gratia, dentre outras, a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral); a Lei nº
9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos); a Lei nº 9.504, de 30
de setembro de 1997 (Lei das Eleições); e a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990
(Lei das Inelegibilidades). Tais diplomas legais, como já foi salientado, são normas jurídicas de
efeito cogente (imperativo), isto é, não podem ser alteradas em prol de interesses de particulares
(eleitores, candidatos ou partidos políticos) envolvidos no processo eleitoral.

1.4. Fontes
O vocábulo fonte, originariamente, refere-se ao local onde algo é produzido, isto é, à sua
procedência ou à sua origem. Designa a nascente ou a mina d’água. No campo jurídico, fala-se
em fontes históricas, materiais (reais) e formais. Nas lições de John Gilissen8: a) fontes históricas:
são todos os documentos prévios que influenciaram a formação do diploma normativo; b) fontes
materiais ou reais: são as concepções filosóficas, doutrinárias e até religiosas que justificam o direito
posto em determinada época; e c) fontes formais: são as formas de expressão do direito e refletem os
meios de elaboração e sistematização das normas jurídicas e do direito em um determinado grupo
sociopolítico. [GILISSEN, John, Introdução histórica ao direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986,
p. 135]. Elencam-se ainda as fontes formais estatais (as oriundas do devido processo legislativo) e
as fontes formais não estatais (aquelas não positivadas, ou seja, os costumes e o negócio jurídico).
As fontes do Direito Eleitoral, isto é, aquelas que dizem respeito à sua origem ou ao fun-
damento do direito, podem também ser classificadas em dois grandes grupos: fontes diretas ou
primárias e indiretas ou secundárias.

1.4.1. Fontes diretas


São fontes diretas ou primárias do Direito Eleitoral, dentre outras:

A) A Constituição Federal9.
É a fonte suprema.
O Direito Eleitoral brasileiro, como todos os demais ramos da dogmática jurídica, retira seu
fundamento de validade da Constituição Federal promulgada e publicada em cinco de outubro
de 1988.
É nela onde estão inseridos os princípios fundamentais eleitoralísticos, as disposições acerca
da forma e do sistema de governo; regras gerais sobre nacionalidade, direitos políticos e partidos

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Leis Orgânicas dos Municípios também são fontes diretas de Direito Eleitoral.

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políticos, bem como, dentre outros relevantes temas, a organização da Justiça Eleitoral e a com-
petência legislativa em matéria eleitoral.

B) O Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15.07.1965) e leis posteriores que o


alteraram
O Código Eleitoral, embora promulgado à época de sua edição como lei ordinária, foi re-
cepcionado como lei complementar pelo caput do art. 121 da Lei Ápice de 1988.
Dispõe acerca da organização e do exercício de direitos políticos, precipuamente os de votar
e o de ser votado; estabelece a composição e a competência da Justiça Eleitoral; fixa as regras ati-
nentes ao alistamento eleitoral, aos sistemas eleitorais, ao registro de candidaturas, à propaganda
política, aos atos preparatórios e à votação propriamente dita, à apuração e à diplomação dos eleitos.
Aborda, ademais, as garantias eleitorais, os recursos e as disposições penais e processuais
penais eleitorais.
Está em vigor, salvo na parte não recepcionada pelo texto constitucional, bem como na parte
derrogada pela legislação superveniente.

C) A Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP)(Lei nº 9.096, de 19.09.1995)


A LOPP dispõe, dentre outros assuntos, sobre a criação e o registro dos partidos políticos; o
funcionamento parlamentar; o programa, o estatuto e a filiação partidária; a fidelidade e a disciplina
partidárias; a fusão, a incorporação e a extinção das agremiações partidárias; a prestação de contas
e o fundo partidário, bem como o acesso gratuito das entidades partidárias ao rádio e à televisão.

D) A Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar nº 64, de 18.05.1990)


A LC n.º 64/90 regulamenta o § 9.º do art. 14 da Constituição Federal, ao fixar os casos
específicos de inelegibilidade, os prazos de cessação e determina outras providências. Foi substan-
cialmente alterada pela Lei da Ficha Limpa (LC n.º 135/10).

E) A Lei das Eleições (Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997)


A LE fixa normas gerais para as eleições brasileiras, tais como as regras atinentes à formação
de coligações, ao registro de candidatos, à arrecadação e à aplicação de recursos nas campanhas
eleitorais, à prestação de contas, às pesquisas e testes pré-eleitorais, à propaganda eleitoral em
geral, ao direito de resposta, ao sistema eletrônico de votação e à totalização dos votos, às Mesas
Receptoras, à fiscalização das eleições, assim como às condutas vedadas aos agentes públicos em
campanhas eleitorais.

X INDAGAÇÃO DIDÁTICA
3 Medida provisória pode ser editada sobre matéria eleitoral ou partidária?

Não. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a nacionalidade, a cidadania,
a direitos políticos, a partidos políticos e a Direito Eleitoral (CF, art. 22, § 1º, inc. I, alínea “a”, de acordo
com a EC nº 32/01).

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Capítulo I • INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

1.4.2. Fontes indiretas


São chamadas fontes indiretas ou subsidiárias porque podem ser aplicadas supletivamente
ao Direito Eleitoral, a saber:

A) Código Penal (CP)


O CP fixa as regras gerais para:
i) aplicação da lei penal: anterioridade da lei, lei penal no tempo, lei excepcional ou tem-
porária, tempo do crime, territorialidade, lugar do crime, extraterritorialidade, pena cumprida
no estrangeiro, eficácia de sentença estrangeira, contagem de prazo e frações não computáveis
da pena;
ii) o crime: relação de causalidade, superveniência de causa independente, relevância da
omissão, crime consumado e tentado, desistência voluntária e arrependimento eficaz, arrepen-
dimento posterior, crime impossível, crimes dolosos e culposos, descriminantes putativas e erros
sobre elementos do tipo e sobre a ilicitude do fato, coação irresistível e obediência hierárquica e
exclusão da ilicitude por estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever
legal ou por exercício regular do direito;
iii) a imputabilidade penal e o concurso de pessoas;
iv) as penas: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa;
v) a aplicação da pena: fixação da pena, critérios especiais da pena de multa, circunstâncias
agravantes e atenuantes, cálculo da pena no concurso material, no concurso formal e no crime
continuado, limites das penas em trinta anos;
vi) da suspensão condicional da pena, do livramento condicional;
vii) os efeitos da condenação, da reabilitação, das medidas de segurança e da extinção
de punibilidade10.

B) Código de Processo Penal (CPP)


O CPP estabelece o disciplinamento relativo ao processo penal em geral [inquérito policial,
ação penal, ação civil, competência, questões prejudiciais e processos incidentes, conflito de
jurisdição, restituição das coisas apreendidas, medidas assecuratórias, incidentes de falsidade e
mental do acusado, meios de prova em geral, atores processuais (juiz, Ministério Público, acusa-
do, defensor, assistentes e auxiliares da justiça), prisão, medidas cautelares e liberdade provisória,
citações e intimações, aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança e
sentença], aos processos em espécie, à execução, às nulidades e aos recursos em geral, bem como
às relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras.
A propósito da aplicação do CPP ao processo penal eleitoral, reza o art. 364 do Código
Eleitoral: “No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhe forem conexos,
assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á como lei subsidiária
ou supletiva, o Código de Processo Penal”.

10. ƐƉĞĐŝĂůĚĞƐƚĂƋƵĞĞƐƚĄĐŽŶƟĚŽŶŽĂƌƚ͘ϭϮĚŽſĚŝŐŽWĞŶĂů͗͞ƐƌĞŐƌĂƐŐĞƌĂŝƐĚĞƐƚĞſĚŝŐŽĂƉůŝĐĂŵͲƐĞĂŽƐĨĂƚŽƐ
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CURSO DE DIREITO ELEITORAL – Roberto Moreira de Almeida

C) Código Civil (CC)


O Direito Civil fornece ao Direito Eleitoral, dentre outros, os conceitos de domicílio,
pessoa física e jurídica, capacidade, responsabilidade, direitos de personalidade, decadência
e prescrição.
Também fixa os graus de parentesco e regramentos para casamento, união estável e união
homoafetiva, temas indispensáveis para a aplicabilidade das diretrizes atinentes às inelegibilidades.
Por fim, nas campanhas eleitorais, dentre outros, é indispensável conhecer diversos ins-
titutos jurídicos originalmente civilísticos, tais como doação de recursos (a partidos políticos
e candidatos), assunção de dívidas e cessões de débitos, fornecimento de materiais e prestação
de serviços.

D) Código de Processo Civil (CPC).


O CPC orienta os operadores do direito como devem proceder na contagem dos prazos
processuais e estabelece diretrizes gerais recursais. É aplicado subsidiariamente ao processo eleitoral
em tudo aquilo em que a lei eleitoral não tenha disposto de forma diversa.

E) Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral1112


De grande valia as resoluções emanadas do TSE (plenário do TSE).
Estão relacionadas ao poder normativo da Justiça Eleitoral, cujo respaldo legal está encartado
nos arts. 1º, parágrafo único c/c o art. 23, inc. IX do Código Eleitoral.
Entendemos que, não obstante figurarem como uma das fontes de maior importância do
Direito Eleitoral, devem ser editadas no exercício do poder regulamentar, ou seja, como norma
“secundum legem”.
Com efeito, reza a Lei das Eleições: “Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal
Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer
sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para
sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representan-
tes dos partidos políticos” (Lei nº 9.504/97, art. 105, caput, com redação dada pela Lei nº
12.034/09).
Na prática, todavia, tem-se observado crescente expansão da atividade regulamentar do
TSE, com a edição de resoluções com conteúdo de norma autônoma não emanada do Congresso
Nacional, o que fez, certamente, alguns doutrinadores a classificarem tais atos normativos como
fontes primárias ou diretas de Direito Eleitoral13.

11. dĂŵďĠŵĐŽŶƐŝĚĞƌĂŵĂƐƌĞƐŽůƵĕƁĞƐĞĚŝƚĂĚĂƐƉĞůŽd^ĐŽŵŽĨŽŶƚĞƐŝŶĚŝƌĞƚĂƐŽƵƐƵďƐŝĚŝĄƌŝĂƐĚĞŝƌĞŝƚŽůĞŝƚŽƌĂů͗
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Capítulo I • INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

F) Consultas14
O TSE pode responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese,
por autoridade com jurisdição federal ou por órgão nacional de partido político (competência
consultiva prevista no inc. XII do art. 23 do Código Eleitoral decorrente de delegação constitu-
cional contida no art. 121 da CF/88).
Dois são os requisitos para que possam ser respondidas (condições de admissibilidade):
i) apresentação por autoridade competente [com jurisdição federal (“exempli gratia”,
Tribunal Regional Eleitoral, Senador da República, Deputado Federal) ou por órgão nacional de
agremiação partidária (“verbi gratia”, presidente do diretório nacional do PSTU)]; e
ii) indagação em tese: jamais deverá ser respondida consulta formulada sobre fato concreto.
Inobstante não terem caráter vinculante, podem servir as respostas dadas às consultas como suporte
para futuras decisões judiciais.
Daí a importância das consultas para o Direito Eleitoral.
Acerca das consultas respondidas pelo TSE, a propósito, já assentou o STF15 ser “ato norma-
tivo em tese, sem efeitos concretos, por se tratar de orientação sem força executiva com referência
a situação jurídica de qualquer pessoa em particular”.

1.5. Codificações eleitorais16


A partir da Revolução de 1930, o Brasil ingressou na era das codificações eleitorais. Desde
então, o país já contou com quatro códigos, a saber:

A) O Decreto nº 21.076, de 24.02.1932


O Decreto n.º 21.076/32 possuía 144 artigos e era dividido em cinco partes, o que foi
seguido pelos demais códigos.
É considerado o primeiro Código Eleitoral brasileiro.
Foi editado sob os reclamos oriundos da Revolução de 1930.
Criou a Justiça Eleitoral; instituiu o voto feminino; previu o sufrágio universal, o voto direto
e secreto em cabina indevassável; e o eleitor tinha legitimidade para propor ação penal eleitoral.

B) A Lei nº 48, de 04.05.193517


Tal qual o primeiro, o segundo Código Eleitoral adveio sob a Era Vargas.

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CURSO DE DIREITO ELEITORAL – Roberto Moreira de Almeida

Consistiu em um diploma legal com 217 artigos.


Dispôs, em capítulo próprio (arts. 49 a 57), acerca da atuação do Ministério Público em
todas as fases do processo eleitoral; e acrescentou, como órgãos integrantes do Judiciário, as
Juntas Eleitorais (na época chamadas de Juntas Especiais) incumbidas de apurar as eleições
municipais.
Os Juízes Eleitorais passaram a ter competência para processar e julgar os crimes eleitorais
(competência esta até então privativa dos Tribunais Eleitorais).
Reduziu os prazos prescricionais para a prática de crimes eleitorais para cinco anos (quando
previstas penas privativas de liberdade) e dois anos (nos demais casos)18.

C) A Lei nº 1.164, de 24.07.1950


O terceiro Código Eleitoral possuía 202 artigos.
Foi editado quando da vigência da Constituição Federal de 1946.
Previu o sufrágio universal e o voto direto, obrigatório e secreto.
Acolheu, tal como hoje, os sistemas eleitorais proporcional e majoritário.
Dispôs sobre a propaganda eleitoral em capítulo específico.
Não destinou capítulo próprio ao Ministério Público Eleitoral.

D) A Lei nº 4.737, de 15.07.1965


É o quarto e atual Código Eleitoral. Embora lei ordinária, foi recepcionado como lei com-
plementar pela Constituição de 1988.
Possui 383 artigos e está organizado em cinco partes:
I. Parte Primeira – Introdução (arts. 1º a 11);
II. Parte Segunda – Dos Órgãos da Justiça Eleitoral (arts. 12 a 41);
III. Parte Terceira – Do alistamento (arts. 42 a 81);
IV. Parte Quarta – Das Eleições (arts. 82 a 233); e
V. Parte Quinta – Disposições várias (arts. 234 a 383).

X INDAGAÇÃO DIDÁTICA

3 Houve um quinto Código Eleitoral na história do Brasil?


Não. Em 28.05.1945 foi editado o Decreto-lei nº 7.586, considerado por Pinto Ferreira como
um diploma legal eleitoral propriamente dito. Em nenhuma passagem do texto do DL, todavia, houve
menção em ser Código Eleitoral. Aludida norma, no entanto, foi de grande relevância, sobretudo devido

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50
Capítulo I • INTRODUÇÃO AO DIREITO ELEITORAL

ter sido o responsável pelo renascimento da Justiça Eleitoral brasileira, extinta pela Constituição de 1937.
A doutrina brasileira, em sua maioria, não o elenca como um Código Eleitoral1.

1.6. Competência legislativa


A competência para legislar sobre Direito Eleitoral é privativa da União.
Com efeito, assim dispõe o inc. I do art. 22 da Lei Ápice, in verbis:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral...”

Não obstante incumbir à União legislar sobre Direito Eleitoral, nada impede que os Estados e
o Distrito Federal legislem específica e supletivamente sobre os mecanismos de democracia direta
nos seus respectivos territórios.
Esses meios de democracia direta19 estão inseridos nos incisos I a III do art. 14 da CF de
1988. São eles: plebiscito, referendo e iniciativa popular.20
Por fim, é digno de registro informar que, tal qual estatuído no parágrafo único do art. 22 da
Constituição Federal, lei complementar federal poderá autorizar que os estados-membros legislem
sobre questões específicas de Direito Eleitoral.

1.7. Princípios do Direito Eleitoral

1.7.1. Conceito de princípio


O vocábulo princípio tem vários sentidos ou significados.
Jânio Quadros21 elencou os seguintes significados da palavra sob disceptação: “é ato de princi-
piar; momento em que se faz alguma coisa pela primeira vez ou em que alguma coisa tem origem;
causa primária; origem; começo; razão fundamental; elemento que predomina na constituição
de um corpo organizado; regra; teoria; preceito moral; estreia; germe; opinião; modo de ver; o
princípio da vida; primícias; rudimentos; antecedentes; opiniões; convicções; regras fundamentais
e gerais de qualquer ciência ou arte”.
Segundo ensinamento de Robert Alexy 22, princípios “são normas que ordenam que
algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas
existentes”.
No campo jurídico, princípio pode ser empregado no sentido de regra fundamental, regra
padrão ou regra paradigma à ciência do direito23.

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51
CURSO DE DIREITO ELEITORAL – Roberto Moreira de Almeida

1.7.2. Princípios do Direito Eleitoral em espécie

1.7.2.1. Princípio da anualidade ou da anterioridade da lei eleitoral


É o princípio que está inserido no art. 16 da Constituição Federal24, com a redação dada pela
EC nº 4/93, assim redigido: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência”.
Destarte, para que uma lei modificadora ou alteradora do processo eleitoral produza eficá-
cia especificamente a determinado pleito, ela terá que ser publicada no Diário Oficial da União
(DOU), no mínimo, um ano e um dia antes da data da respectiva eleição.
O que se deve entender por “lei”?
Interessante resposta é dada por Rodrigo Moreira da Silva25, à qual nos filiamos, in verbis:
“Repare que a Constituição refere-se a ‘lei que alterar o processo eleitoral’. Trata-se, nesse caso, de lei
em sentido amplo, ou seja, qualquer norma capaz de inovar o ordenamento jurídico. Excluem-se daí
os regulamentos, que são editados apenas para promover a fiel execução da lei e que não podem ex-
trapolar os limites dela. Não podem os regulamentos criar algo novo. Em função disso, ‘[...] essa regra
dirige-se ao Poder Legislativo porque apenas ao parlamento é dado inovar a ordem jurídica eleitoral’. A
consequência prática disso é a inaplicabilidade do princípio ao poder normativo do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), logo as resoluções desse Tribunal, editadas para dar bom andamento às eleições, podem
ser expedidas há menos de um ano do pleito eleitoral (art. 105 da Lei nº 9.504/1997)”.
E o que pode vir a ser entendido por processo eleitoral para fins do referido art. 16 da
Constituição Federal?
A resposta foi dada em duas ocasiões pelo próprio Supremo Tribunal Federal.
A primeira, quando do julgamento da ADI 3.345, na qual se discutia a eventual inconstitu-
cionalidade da Resolução do TSE que fixava o número de vereadores. Extrai-se, a propósito, do
Informativo STF nº 398, de 22 a 26 de agosto de 2005, que a norma do art. 16 da Constituição
Federal, “consubstanciadora do princípio da anterioridade da lei eleitoral, foi prescrita no intuito
de evitar que o Poder Legislativo pudesse inserir, casuisticamente, no processo eleitoral, modificações
que viessem a deformá-lo, capazes de produzir desigualdade de participação dos partidos e respectivos
candidatos que nele atuam”.
A segunda, quando do julgamento da ADI nº 3.741, o Pretório Excelso decidiu haver vio-
lação do postulado da anterioridade ou anualidade da lei eleitoral quando a norma: a) produzir
rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos no processo
eleitoral; b) introduzir deformação de modo a afetar a normalidade das eleições; c) contiver dispositivo
considerado fator de perturbação do pleito; ou d) derivar de alteração motivada por propósito casuístico.

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