anseio pelo mundo perfeito onde náo existiriam Sendo o mito uma necessidade e uma injustiças ou qualquer relaçáo de poder entre os produçáo humana ele náo podia estar homens. desaparecido das sociedades ocidentais. De facto, o nosso mundo está povoado de heróis Vemos assim que o mito está completamente míticos e de ideias miticas. Vivemos numa presente na nossa sociedade. Muitas vezes nem época capitalista e numa sociedade de consumo sequer reparamos nele mas o que é certo é que desenfreada onde o maior mito é a felicidade do mesmo náo se mostrando de forma evidente ele consumo. Da mesma forma os heróis míticos está comosco, vivemos com ele, representamos povoam constantemente o nosso imaginário o mundo com ele. Esta evidència do mito na fazendo-nos querer ser como eles, servindo-nos nossa sociedade foi uma das razões porque como exemplos para a acçáo quotidiana ou para escolhi este tema. Como diz Victor Jabouille, vidas imaginadas. Ayrton Sema, Romário e "...afirmando a necessidade mítica do ser Ronaldo, Marlyn Monroe e Brigitte Bardot sáo humano, verificamos que, mesmo dizendo-se alguns exemplos de heróis míticos que nos amítica e pretendendo actuar de uma forma fazem sonhar e que, principalmente, constituem mitofágica, a nossa sociedade aproveita todas pontos de referência, modelos, neste mundo tão as oportunidades para tentar criar e afirmar efémero e estonteantemente rápido. uma mitologia que pensa adequada à sua realidade." (1986: 15) 0 tema ainda me fascinou Também é de referir o aumento de mitos mais quando se vê que na nossa sociedade escatológicos agora que nos estamos a existem dois modos de pensar aparentemente aproximar do fim do milénio. É fácil de ver na tão distantes como o mito e a ciência mas que televisão séries e filmes que nos contam como na realidade podem estar mais próximas do que será o fim do mundo e como será o futuro do muitas vezes pensamos. homem. Séries como Millenium, Ficheiros Secretos, Psy Factor ou Terra, Conflito Final A comuriicaçáo está dividida em duas invadem a nossa casa construindo-nos um partes. Na primeira parte falo das mundo de representações e provocando uma características e das funções do mito assim série de sensações modeladoras do nosso como da evoluçXo que a definiçáo de mito tem imaginário.. sofrido ao longo dos tempos e também ao longo da história do pensamento antropológico. Na Outra questão bastante interessante e Segunda parte falo das relações entre mito e importante do nosso século sáo os mitos ciência. Com esta comunicaçáo, sem desprezar políticos. Será que estes mitos são uma nova as diferenças entre os dois discursos, pretendo expressáo do mito do paraíso perdido, da idade mostrar que mito e ciência náo estáo táo longe de ouro. A ideia, já vinda da revoluçáo um do outro como muitas vezes parece. francesa, da igualdade, da'liberdade e da Pretendo mostrar que o discurso de ambos é
ANTROPOISpiaa, E d i ~ á oEspecial, 1998
um discurso que procura achar uma ordem Bernardi, " A análise moderna pôs os mitos sob para o cosmos. Procuro assim ultrapassar outra perspectiva, como parte integrante de aquela já velha concepçáo que vê a ciência como uma cultura particular, pertence à sua um conhecimento certo e racional sobre as linguagem e neste sentido o seu valor é coisas ou sobre as suas condições de existência e completo e verdadeiro" (1974: 389). Este novo o mito como uma explicaçáo do real satisfatória olhar é protagonizado pelos funcionalistas. O para um espírito primitivo e falsa, por mito é olhado como parte integrante de um simplista. Ou seja, procuro ultrapassar a ideia sistema e, portanto, como tendo uma função de que ciência é verdade e mito é falsidade. particular a desempenhar para o todo sistémico. Malinowski chegou mesmo a afirmar que o mito é a carta constitucional das nações. A visão funcionalista aparece mais preocupada com o papel do mito do que preocupada em saber se o mito corresponde à verdade ou não. Se é Andisar o mito implica, em princípio, uma verdade ou não, náo interessa, o que interessa é definição do objecto estudado. Nota-se que ao saber para que serve e que papel desempenha longo dos tempos, e também ao longo de todo o para os seres humanos de uma cultura em pensamento antropológico, a definição que se particular. De facto, como diz Alvaro Campêlo tem dado do que é o mito tem-se vindo a alterar. Uma definição clássica é nos dada por num artigo escrito para a revista Sir James Frazer, estudioso do fenómeno Antropológicas: "No discurso da crença religioso. Ele compreendia o mito como uma religiosa, como o de qualquer outra crença, explicasáo errada dos fenómenos quer da vida sempre o problema se centrou na questão humana quer da natureza exterior. Na mesma essencial do seu conteúdo estabelecer uma linha de pensamento encontra-se A. Lang. Ele relação problemática com a verdade. dizia oue as narrativas míticas eram absurdas e Abordando as várias teorias clássicas sobre a irracionais. Frases como estas vieram crença, e reafirmando o seu conteúdo como um estigmatizar o mito e conferir-lhe um estatuto objecto pertinente e urgente dentro dos estudos bastante neeativo. " . um estatuto de faisidade aue antropológicos, procuramos utilizar e propor . - se opões pela sua natureza à razão. Para estes novos caminhos de acesso ao "saber" presente pensadores, claramente influenciados pelas no discurso da crença." (1997: 28) Com este teorias evolucio~stasda cultura, o mito era pensamento, os antropólogos descobriram que algo que pertencia à mente primitiva, eram o mito serve para dar sentido a acção humana características próprias dos povos primitivos ao mesmo tempo que a integra num todo que ainda náo tinham conceptualizado os seus coerente. O mito organiza o cosmos, dá-lhe um princípios fundamentais em linguagem sentido, dá um significado à vida que parece fiíosófica e cientííica como já tinha sido feito pela cultura ocidental, sociedade avançada e oihar os homens de forma indiferente. Foram iluminada. estas conclusóes que olhares como o funcionalista propuseram Descobriram assim Esta concepçáo do mito vem cada vez mais que o mito desempenha um papel muito sendo abandonada. Como diz Bemardo importante no sistema cultural humano. Outra perspectiva de análise muito implicam no quotidiano, tomam certas atitudes, interessante é feita pelo estruturalista Claude revelam certos comportamentos por causa do Lévi-Strauss. Este pensador vê o mito como um mito que lhes fornece uma cosmovisáo,e um campo de análise privilegiado para a análise sentido para a accão. Como diz Alvaro estrutural pois é no mito que se vê em acção a Campêlo, "...mais do que um saber estrutura inconsciente que faz parte de todos os interpretativo, a crença deverá ser investigada homens. É lá que se manifesta todo o trabalho enquanto saber prático. Devemos analisar a efectuado pela estrutura inconsciente da mente capacidade do discurso da crença, enquanto humana. Lévi-Skauss fez a análise de muitos autorizado por um "real", se transformar em mitos e reparou que há elementos constantes elementos organizadores de práticas, ou seja, em todos eles, elementos que comprovariam a "em artigos de fé. Por sua vez, estes "artigos de existência da tal estrutura mental universal. fé" reproduzem-se em cópias narrativas e Yvans Simonis, no seu livro de reflexão sobre o práticas, as quais investem-se de autoridade pensamento de Lévi-Strauss afirma que, " Na para também elas fabricarem o "real"." (1997: mitologia, o espírito não é directamente 35) confrontado com a realidade exterior, o espírito não é controlado pelos objectos exteriores, está A grande evolucáo que se deu na na actividade que desenvolve como que Antropologia permitiu igualmente o deixado a si mesmo. O espírito na mitologia desenvolvimento da interpretação que se dá aos falaria assim, principalmente, de si mesmo e, mitos. De falsidades e ilusões próprias de visto que é ele queinteressa, aproveita-se aqui espíritos primitivos que pertenciam a estágios u m a oportunidade de colheita mais ampla de de evolucão inferiores, o mito começou a ser informaçóes." (1969: 205) encarado como fazendo parte de um todo e como tendo uma funcão a desempenhar. Já O oihar que os antropólogos podem ter do Lévi-Strauss via o mito como expressão do mito também vai ganhar um novo impulso, "pensamento selvagem", daquele pensamento mais recentemente, com Clifford Geertz. Para primeiro, primário, constituinte de todos os isto, a nocão de religião de C. Geertz é essencial humanos. Por último vimos a perspectiva pois religião, " é um sistema de símbolos que geertziana, o mito que predispóe à acção, que actua para estabelecer poderosas, penetrantes e leva à elaboração de práticas modeladoras do duradouras disposiçóes e motivaçóes nos real. Assim, muitos antropólogos pensam hoje homens através da formulacão de conceitos que o mito, além de ser um meio de expressão e com tal aura de factualidade que as disposisões de pensamento é também uma forma de viver e e motivações parecem singulamente realistas." de actuar. (cit in Campelo, 1997: 32). Para Geertz, a religião de um povo forma o seu ethos, ou seja, Além dos mitos cosmogónicos apresentados o tom da sua vida, o seu estilo e disposicóes no 1' capítulo, há outros tipos de mitos. morais e estéticas, a sua visão do mundo, as Exemplos de outros tipos de mitos são: o mito suas ideias mais abrangentes sobre a ordem. teológico, onde se relata o nascimento de Com esta nova abordagem poderíamos olhar deuses, os seus matrimónios e genealogias, o para os mitos vendo de que forma os homens se mito antropogónico, onde se apresenta a criacão do homem, o mito cultural, onde se narram as de vida que relaciona o homem com toda a actividades de heróis míticos que melhoraram a natureza." (1974: 386). vida dos homens, mito etiológico, onde se pesquisam as causas de certas tradições e de nomes de coisas ou de lugares, o mito naturalista, onde se justificam miticamente os fenómenos naturais, o mito moral, onde se relata as lutas entre o bem e o mal, entre forças Um dia, o filósofo Emannuel Kant escreveu ou elementos contrários, o mito escatológico, que o nosso entendimento não extrai as suas onde se descreve o futuro, o homem após a leis da natureza mas impóe as suas leis à morte e o fim do mundo. natureza. No século XVIU, século conhecido como o das "luzes", esta frase ganha uma Todos estes mitos actuam de forma extraordinária importância. Com ela Kant profunda no homem, fornece-lhe uma afirma que a própria razão tem iimites, ou seja, cosmogonia e uma cosmovisão, fornece-lhe a razão não actua separada do ser humano, pelo também u m campo simbólico e um universo contrário, é algo que se forma e se desenvolve significante a partir do qual o grupo pode com o ser humano e com todas as suas comunicar e coexistir e o indivíduo pode agir e limitações. Assim, e como disse Kant, nós nunca pensar. Como diz Karl Kerenyi, citado por conhecemos o noumeno mas apenas o Jabouille no livro a ciência dos mitos, "...a fenómeno, ou seja, nós não conhecemos as mitologia viva vive-se, é um modo de expressão coisas "em si" mas apenas como elas são "para e pensamento." (1986: 40) Georges Dumézil, mim". Quase um século antes de aparecer o também citado por Jabouille, diz que, "...a positivismo com Auguste Comte, o filósofo funçáo da classe particular de lendas que são os alemão mostra que a razão não é algo de mitos é a de exprimir dramaticamente a absoluto mas sim algo que cresce e que faz ideologia com que vive a sociedade, de manter intimamente parte do espírito humano e das na sua consciência não só os valores que ela suas incertezas e limitações cognitivas. Karl reconhece e, p ~ c i p a l m e n t e ,o seu ser e a sua Popper, referindo-se a Kant, escreveu que " A própria estrutura, os elementos, as ligaqões, os natureza, tal como a conhecemos, com a sua equilíbrios, as tensões que a constituem, sem o ordem e as suas leis, é assim largamente um que se dispersaria." (1986: 41,42). produto das actividades ordenadoras e assimiladoras da nossa mente...devemos por de Podemos assim concluir com Bemardi que, " parte a ideia de que somos observadores A procura duma explicação da presença do passivos esperando que a natureza imprima a
e do pós-moite, não dá tréguas e o esforço de nossos dadòs dos sentidos imprimimos
interpretacão nunca atinge o fim. Mas a partir activamente a ordem e as leis do nosso desta procura definem-se os valores conceituais entendimento sobre eles. O nosso cosmos sofre de base e determinam-se as normas racionais a marca das nossas mentes ...pois somos nós que do comportamento, numa visão e numa prática S , menos em parte, a ordem que P ~ O ~ U Z ~ Opelo nele encontramos...( Kant ) toma possível forma de ver e investigar o real. É uma chave considerar a ciência como uma criação humana de leitura, de interpretação dos fenómenos. Ao e considerar a sua história como uma parte da longo de qualquer ciência os paradigmas vão-se história das ideias, ao mesmo nível que a alterando, ou seja, a visão, os códigos de leitura história da arte e da Literatura." (Popper cit in com que a ciência lê o real vão-se alterando ao AAW, s/d: 27). longo do tempo. Os paradigmas são uma prova que a ciência não é capaz de estabelecer leis Quando dizemos que a ciência é feita por universais e eternas, se conseguisse os homens que impõe as suas visóes e paradigmas não precisariam de ser alterados, entendimento para tentar ordenar o cosmos não haveria durante todo o tempo um paradigma . nos afastamos muito do que é o mito e das suas Ora, o que se nota é que há um paradigma funsóes. Tanto a ciência como os mitos dominante durante um tempo mas que depois procuram criar uma ordem que dê sentido ao entra em crise para mais tarde ser substituído cosmos e às coisas que experienciamos. por outro paradigma capaz de responder às Caprettini diz que Mythos e Logos são "...dois questões que o anterior não conseguia modos diferentes de produzir aquilo a que se responder. Passado mais tempo este mesmo poderia chamar processos para a realização de paradigma vai cair para dar o lugar a outro. investimentos de verdade" (1987: 102). Vemos assim que um paradipma - científico Depois de um longo predomínio do aproxima-se muito da noção de discurso positivismo nas ideias do mundo ocidental, mitolóeico u . oois ambos são chaves de leihira do nota-se hoje que a moderna epistemologia póe real. Caprettini diz que " Apreendendo-se um cada vez mais em causa as ideias positivistas. destes paradigmas científicos assimila-se uma Nomes como Karl Popper, Thomas Khun e até &. perspectiva particular sobre os fenómenos, mesmo Edgar Morin têm contribuído cada vez como demonstra o facto de uma revolução nos . mais. com análises bastante inovadoras., oara a desmistificação das verdades absolutas e paradigmas- aquilo a que Khun chama de "mutação da concepção do mundo"- pode universais tão proclamadas pela ciência. permitir, contemplando os mesmos objectos, Homens como estes têm vindo constantemente ver neles coisas novas e diferentes. (1987: 102). a afirmar que as próprias leis científicas são representações provisórias de verdades É claro que mito e ciência têm grandes relativas, ou seja, cada vez mais a palavra diferenças entre si. Uma delas é a que nos é verdade é relativizada para se falar apresentada por Lévi-Strauss no seu Livro Mito preferencialmente em representações. Nesta e Significado, "O mito pretende atingir por moderna epistemologia, a noção de paradigma meios mais diminutos e económicas uma de Thomas Khun é bastante importante para compreensão geral do universo, e não só uma nos mostrar que ciência e mito não são dois compreensão geral como total. Isto é, trata-se de fenómenos completamente antagónicos. Assim, um modo de pensar que parte do princípio de um paradigma é u m consenso de teorias, de que se não se compreende hido não se pode modelos teóricos, de métodos e técnicas, em explicar coisa alguma. Isto está inteiramente em que uma comunidade científica se apoia como contradição com o modo de proceder do pensamento científico que consiste em avançar vivem. Para atingirem estes objectivos agem etapa por etapa (s/d: 30,3í). por meios intelectuaiç exactamente como faz um filósofo ou até um cientista"(s/d: 31). É também bastante óbvio que as linguagens utilizadas pela ciência e pelo mito são bastante Em jeito de conclusão podemos afirmar que diferentes. A narrativa mitológica utiliza uma percebe-se cada vez melhor que crer não se linguagem simbólica, plurívoca. Exemplos de opóe necessariamente ao saber. Como diz símbolos utdizados no mito são a ánua, - a - e Álvaro Campêlo, "...historiadores, sociólogos árvore, a serpente, o céu, etc... Cada um destes antropólogos reconhecem hoje que o crer não se símbolos vai trazer re~resentacõesesoecíficas e saber como a luz as trevas. Há diversas o ~ õ ao às pessoas que estão dentro do sistema cultural maneiras de crer, variáveis concepções do onde é produzido o mito. É de referir, no verdadeiro e do necessário, e se nem todas as entanto, que os símbolos referidos encontram-se religióes implicam a fé, também o critério dado em quase todas as religióes e sistemas de às verdades científicas origina saberes crenças religiosas. Estas representaçóes vão paralelos, de modo a que proposições construindo toda uma visão do mundo que, por demonstradas possam servir Com; ariigos de ser feita através de síinbolos, tem um alcance fé- (1997: 33). muito mais profundo na mente e no imaginário humano que qualquer outro discurso. As Cada vez mais as barreiras entre Mythos e pessoas aderem aos mitos não racionalmente Logos vão-se esbatendo. Cada vez mais se mas emotivamente, sentem na pele a verdade percebe que ambas são elaborações do espírito do mito e alheio a isto não será, mais uma vez, a humano, uma tão válida e necessária como a natureza simbólica do discurso mitolóeico. " 3 lá o outra, e que a discriminação do discurso discurso científico é unívoco, uma palavra mitológico não faz qualquer sentido. apenas tem um sentido e não pode ter outro. O pensamento simbólico faz apelo à dedução e à análise e não à intuição e à imaginação como faz o pensamento simbólico. È no entanto um CONCLUSÃO erro afirmar que o pensamento simbólico não é um verdadeiro pensamento. O pensamento Espero ter conseguido mostrar ao longo simbólico utiliza ideias e conceitos tal qual o desta comunicação que ciência e mito são racional. No entanto, a lógica de manuseamento compatíveis em muitos aspectos. A destes conceitos é feito segundo uma outra desmistificação da ciência como senhora da lógica, a lógica simbólica. Pode-se assim dizer verdade absoluta tem vindo a decair com o que a lógica é diferente mas não podemos dizer contributo de homens como Kant, Thomas que o pensamento simbólico é inferior como Khun, Karl Popper, Edgar Morin ou Bachelard. diziam muitos antropólogos. Como diz Lévi- Jabouille diz-nos que, "...Bachelard, que possuía Strauss no livro Mitos e Sigruhcados, os mitos profundos conhecimentos científicos, observou, "...são movidos por uma necessidade ou um por exemplo, que a química dos séculos XVII e desejo de compreender o mundo que os XVIII não tem a objectividade pretendida envolve, a sua natureza e sociedade em que recorrendo a processos alheios aos princípios da razão pura e deixando-se influenciar pela Assim, é de rejeitar a ideia de Lévi-Bruhl e cultura e pela sociedade contemporâneas." de outros que dizia que muitos povos estariam (1986: 33) ainda numa fase pré-lógica (simbólica, mitológica) e que iriam evoluir para u m estádio A nova epistemologia mostra-nos, como diz completamente racional. Na primeira parte do Edgar Morin, que o conhecimento não é uma trabalho já foi referido que as noçóes iiha isolada. Ou seja, o conhecimento não é algo evolucionistas lineares impediram que se visse separado do todo que a produz. De facto, o qual a função desempenhada pelo mito para a conhecimento é antes uma península, não se sociedade. Como diz Caprettini, "...a hipótese pode separar o conhecimento do homem de elementar de uma M a de progresso todo o seu complexo neurológico, do seu conduzindo das obscuridades intelectuais do entendimento e das suas Limitaçóes, pois é este mito à luz triunfante da razão é não só todo que vai produzir e fazer avanqar o historicamente inexacta, mas também, e conhecimento. É pois devido ao facto de haver sobretudo, incapaz de esclarecer certos Limitações humanas ao conhecimento absoluto fenómenos culturais complexos." (1987: 75) que tomam este mesmo conhecimento como algo relativo a determinados contextos, quer físicos (do próprio homem), quer espaciais e temporais.
Tomar consciência disto é essencial para
uma aproximação da ciência ao próprio mito. A ciência olha para o real segundo paradigmas que estão sempre em mudança. Veja-se quão diferente é o paradigma de Newton e o de Einstein, um é mecânico enquanto o outro faz da relatividade o conceito máximo de analise do cosmos.. O mito, tal como o paradigma, é uma concepção do cosmos. Este é um dos pontos essenciais deste trabalho e é aqui que reside uma das pontes possíveis entre Mythos e Lagos.
Michel Focault afirma que é o mito e a
episteme que, em correlação mútua, configuram em cada momento histórico a organização d o saber de uma sociedade. Nesta proposta de Focault os dois sistemas de pensamento agiriam em conjunto para provocar a cosmovisão de uma determinada sociedade. BIBLIOGRAFIA
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