Você está na página 1de 19

SONS

 COMPLEXOS  
Referência  bibliográfica    
Henrique,  L.  Acús%ca  Musical.  Lisboa:  Gulbenkian,  2007.  
   
•  O  som  puro  ou  senoidal  é  cons?tuído  por  uma  única  frequência  e  sua  forma  de  onda  é  a  de  um  seno  e  cosseno.  O  
som  puro  é  uma  função  do  tempo  (t)  que  pode  ser  descrita  matema?camente  pelas  variantes  de  A  amplitude;  T  
período;  φ  fase  inicial  em  radianos.  A  duração  de  uma  senoide  é  infinita,  portanto,  de  fato,  um  som  puro  é  apenas  
uma  abstração.  O  som  senoidal  (puro)  é  definido  na  Física  como  um  som  monocromá?co  comparado  com  um  raio  
luminoso   de   uma   só   cor.   A   luz   branca,   ao   contrário,   pode   ser   comparada   ao   som   real   (complexo)   pois   é   composta  
por  todas  as  cores  enquanto  o  som  complexo  é  composto  pela  somatória  de  frequências  puras.  Cada  uma  destas  
frequências   é   denominada   de   componente   ou   parcial   e   corresponde   a   cada   um   dos   modos   vibratórios   de   um  
oscilador  livre.    
•  Som complexo (som real) é portanto sempre limitado no tempo e formado por ondas estacionárias.
•  Ondas estacionárias se originam por sobreposição de ondas em sentido contrário, com comprimento (longitude λ)
e amplitude (A) iguais Formam-se nós vibratórios (N), pontos em que impera o estado de repouso e ventres
vibratórios (V) nos quais há amplitude de oscilação máxima. A vibração complexa de um corpo pode ser vista
como uma somatória de ondas ou como uma somatória de modos. O nome “estacionárias” se deve ao fato de
parecerem paradas.
•  Uma onda estacionária está limitada a um determinado meio finito: corda, membrana, tubo, placa, e consiste na
existência dos nós e ventres que aparecem alternadamente. Estes pontos resultam da interferência construtiva e
destrutiva que se propagam nos dois sentidos.
Modos vibratórios  
Os instrumentos musicais, a voz humana e todos os sons audíveis não são osciladores simples, com apenas
uma frequência, tempo de amortecimento ou “faixa de ressonância”. Normalmente, o movimento é mais
complexo e pode ser visto como a sobreposição de diversos modos próprios, ou seja, sistemas com vários
graus de liberdade. Um grau de liberdade corresponde a um modo vibratório. Nas figuras seguintes a
representação de modos vibratórios :
Modos vibratórios transversais:

Massa é uma analogia com partículas em sistemas reais. O nº de modos é igual ao nº de massas do sistema.
Modos vibratórios longitudinais:
Ondas  estacionárias  longitudinais  
Onda  1  
 
Onda  2  
 
Resultante    
Sobreposição  de  ondas  (interferência):  Quando  se  sobrepõem  ondas  de  mesma  frequência  e  fase,  elas  se  intensificam:  
a  amplitude  final  é  a  soma  da  amplitude  das  duas.  Quando  em  fases  opostas  se  enfraquecem,  ou  em  caso  extremo  se  
anulam  (uma  defasagem  de  180º  e  amplitude  igual).  Quando  se  sobrepõem  ondas  de  frequência  e  amplitude  diferentes  
originam-­‐se  formas  ondulatórias  complexas  -­‐  princípio  de  Fourier  (os  sons  que  se  encontram  na  natureza,  incluindo  os  
sons  dos  instrumentos  e  vozes).  Quando  se  sobrepõem  duas  ondas  de  frequência  muito  próxima  entre  si  se  originam  
ba?mentos  (pulsações).  A  amplitude  da  onda  resultante  flutua  periodicamente.  

A   -­‐   Representação   de   onda   de  


frequência   f1   e   período   T1   ;   B   -­‐  
onda   de   frequência   f 2   e  
período   T2   ;   C   -­‐   Sobreposição  
das  ondas;  D  -­‐  Resultante  desta  
sobreposição  
“Receita   vibratória”:   Nas   duas   figuras   anteriores   os   modos   vibratórios   estão   representados   com  
amplitudes   iguais   e   frequência   arbitrária.   Na   realidade   as   amplitudes   de   cada   modo   vibratório   se  
diferenciam   em   função   das   condições   de   excitação.   A   “receita   vibratória”   é   uma   analogia   culinária   em  
que  cada  modo,  sua  amplitude  própria  e  tempo  de  amortecimento  são  os  ingredientes  dosados  para  a  
composição  do  resultado  final  do  “bolo”.  

Ressonadores  múlJplos  -­‐  Se  um  ressonador  é  múl?plo,  isto  é,  vibra  com  várias  frequências  é  porque  
possui  vários  modos  próprios  de  vibração.  A  caixa  de  ressonância  dos  instrumentos  (piano,  violino,  
violão,   etc.)   são   ressonadores   múl?plos   que   possuem   a   propriedade   de   responder   a   muitas  
frequências.   Nos   instrumentos   de   sopro,   madeiras   e   metais,   os   tubos   atuam   como   ressonadores  
múl?plos.  O  trato  vocal  tem  várias  ressonâncias  que  reforçam  bandas  de  frequência  produzidas  pelas  
“cordas”  vocais.  Ao  modificar  a  forma  do  trato  vocal,  variando  a  forma  interior  da  boca,  mudam  as  
frequências  de  ressonâncias  que  determinam  qual  vogal  será  produzida.  
Qualquer  som  complexo  é  cons?tuído  pela  somatória  de  sons  senoidais  (sons  simples).  
Espectro   define-­‐se   como   a   amplitude   dos   sons   parciais   em   função   da   frequência   e,   deste   modo,  
qualquer   som   complexo   possui   uma   forma   espectral   resultante   da   amplitude,   angulo   de   fase   e  
frequência  de  cada  um  dos  parciais.  

O  Som  complexo  indicado  na  linha  inferior  é  formado  por  três  componentes  sinusoidais  (parciais)  que  correspondem  aos  
três  primeiros  harmônicos.  
Quando   um   parcial   ?ver   frequência   igual   a   um   múl?plo   inteiro   do   som   fundamental   denomina-­‐se  
harmônico;  se  a  frequência  não  for  igual  a  número  inteiro  em  relação  ao  fundamental  o  parcial  é  não  
harmônico.   Quando   um   som   é   cons?tuído   apenas   por   parciais   harmônicos   é   denominado   periódico;   se  
pelo  menos  um  dos  parciais  for  não  harmônico  o  som  é  aperiódico  (não  periódico).  

Na  figura  acima,  A  representa  um  som  complexo  periódico  (períodos  que  se  repetem  no  tempo);  enquanto  B  se  refere  
a  um  som  aperiódico  (  sem  periodicidade  temporal)  causado  pela  interferência  de  parciais  inarmônicos.  
A  Série  dos  Harmônicos  
A   série   dos   harmônicos   nada   mais   é   do   que   a   escrita   na   pauta   das   notas   que  
correspondem   à   relação   de   frequências   de   múl?plos   inteiros.   Mas   a   representação   na  
pauta   não   é   acus?camente   perfeita,   pois   ela   não   pode   representar   com   clareza   os  
intervalos   menores   que   um   semitom   que   de   fato   acontecem   a   par?r   das   divisões   dos  
números  inteiros.  Portanto  os  intervalos  correspondentes  à  série  harmônica  são  naturais  
(ou   justos).   Por   exemplo,   na   série   harmônica   de   dó,   entre   o   sexto   e   o   oitavo   parciais  
harmônicos   está   uma   frequência   que   é   mais   alta   do   que   lá   e   mais   baixa   do   que   sib,  
tomando   como   padrão   o   temperamento   igual.   Assim,   levando   em   conta   apenas   os   vinte  
primeiros   parciais,   além   do   sé?mo,   acontecem   representações   aproximadas   também  
dos  harmônicos  de  números  11  (fa#),13  (sol#)  e  14  (la).  
Os  números  que  aparecem  sob  as  notas  não  são  apenas  de  ordem,  mas  o  fator  
mul?plica?vo  para  calcular  a  frequência  do  harmônico  respec?vo.  Deste  modo  tomando-­‐se  uma  
determinada  série  harmônica  par?do  do  primeiro  parcial  (f)  o  segundo  harmônico  tem  frequência  
2f,  o  terceiro  3f  e  assim  sucessivamente.    
Para  se  determinar  o  intervalo  acús?co  (ia)  entre  dois  harmônicos  quaisquer  indica-­‐se  o  
quociente  das  duas  frequências.  Por  exemplo,  para  se  calcular  o  intervalo  acús?co  entre  o  
terceiro  e  quarto  harmônicos:  ia=  4f/3f=  4/3.  
 
O  teorema  de  Fourier  é  a  representação  matemá?ca  da  série  harmônica.  A  série  de  
Fourier  indica  que  qualquer  sinal  periódico  de  frequência  f  pode  ser  decomposto  numa  soma  de  
ondas  senoidais  e  co-­‐senoidais  de  frequências  múl?plas  da  fundamental  f  ,  isto  é,  f,  2f,  3f,...  .  
 A  expressão  matemá?ca  que  a  representa  (série  de  Fourier)  indica  tratar-­‐se  de  uma  soma  de  
componentes  harmônicas,  com  amplitudes  e  fases  adequadas.  

Obs.  Som  fundamental  pode  ser  definido  por  vários  fatores  em  que  o  mais  logicamente  
determinante  é  o  correspondente  ao  número  2:  
 
1-­‐  Frequência  do  parcial  onde  está  concentrada  maior  parte  de  energia  
2-­‐  Frequência  do  primeiro  modo  vibratório  
3-­‐  Frequência  do  primeiro  pico  da  representação  espectral  
4-­‐  Frequência  do  som  cuja  altura  é  percebida  
Formantes:  São  zonas  do  espectro*  de  grande  amplitude,  e  que  são  independentes  das  frequências  das  notas  tocadas.  
Os  formantes  correspondem  a  zonas  de  grande  energia  acús?ca  resultantes  de  ressonância  do  sistema  amplificador  e  
radiante.  Inicialmente  o  conceito  foi  desenvolvido  para  explicar  e  caracterizar  os  sons  vocálicos  da  fala  humana,  mas  foi  
transposto  para  a  caracterização  dos  sons  dos  instrumentos  musicais.    
Som  fundamental  e  seus  parciais  harmônicos  
SONS  AUDÍVEIS,  ULTRA-­‐SOM,  E  INFRA-­‐SONS  
Sons   audíveis   (audição   humana)   =   entre   16  
e   20000Hz.   Abaixo   deste   limite   estão   os  
infra-­‐sons.   Ex.   de   fontes   nessa   faixa:  
terremotos,   vento,   ondas   do   mar   e   certas  
máquinas   como   aviões   a   jato,   motores   de  
caminhão.   Acima   desta   faixa   estão   os  
ultrassons   que   pelo   fato   de   serem   de   alta  
frequência   são   facilmente   absorvidos  
durante   sua   propagação   nos   gases,   como   é  
o   caso   do   ar.   Ao   contrario   dos   infrassons  
que   podem   se   propagar   na   atmosfera   e   na  
á g u a   a   c e n t e n a s   d e   m i l h a r e s   d e  
quilômetros,   os   ultrassons   se   dissipam  
rapidamente   e   não   se   propagam   a   grandes  
distâncias.  


ANÁLISE DE UM SOM MUSICAL
Num som há três períodos de duração:
Transiente inicial – Corresponde à passagem do silêncio ao som. Quando uma corda é colocada em vibração (por uma
força excitadora) há certo tempo entre o estado de repouso e o estabelecimento pleno do som em função da inércia da
corda. A duração deste período varia em geral entre milésimos de segundo a centésimos de segundo, mas é decisiva para
o reconhecimento do timbre do som. Qualquer som começa sendo um ruído mais ou menos intenso.
Período de estabilidade - Corresponde ao tempo em se estabilizam a altura e intensidade do som de um som que pode
variar em torno de alguns décimos de segundo antes do decaimento final.
Transiente de extinção – Corresponde ao tempo de decaimento final das vibrações livres dos modos próprios do
instrumento quando a força excitadora não é mais exercida.


Regime  transiente/Regime  permanente  
 
O   instrumento   musical   como   sistema   pode   oscilar   em   regime   transiente   ou   em   regime  
permanente,  dependendo  do  ?po  de  excitação.  Para  haver  regime  permanente  é  preciso  uma  
quan?dade  significa?va  de  ciclos  idên?cos.  Os  instrumentos  de  excitação  permanente  são  os  
auto-­‐excitados:   corda   friccionada   e   sopros.   Instrumentos   de   excitação   localizada   no   tempo:   de  
percussão,  corda  dedilhada  e  corda  percu?da.    
Questões  

1.  Quais  funções  definem  o  som  puro?  


2.  Diferencie  som  puro  de  som  complexo.  
3.  Porque  o  som  puro  é  apenas  uma  abstração?  
4.  O  que  são  ondas  estacionárias  e  porque  todo  som  real  complexo  é  uma  somatória  de  modos  ou  ondas?  
5.  O  que  representa  o  Teorema  de  Fourier  e  que  elementos  o  compõe?  
6.  Defina  o  que  é  interferência  ou  sobreposição  de  ondas.  
7.  O  que  significa  interferência  posi?va  e  nega?va?  
8.  Defina  os  conceitos  de  espectro  e  formante.  
9.  Como  se  configura  um  intervalo  acús?co  de  quinta  justa?  
10.  O  que  significa  som  aperiódico?  

Você também pode gostar