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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO PSICOLOGIA

SÍNTESE: ANÁLISE DE UMA FOBIA EM UM MENINO DE CINCO ANOS


(1909)

CURITIBA
2019
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ALANIS NASCIMENTO
ANNA KATHARINA EWALD
ANA GIULIA MUNIZ
ANIELLY KRISTINE DISSENHA
ARTHUR D'AVILA SIMONELLI
BRUNO COCHIMANSKI
FERNANDO AUGUSTO RODRIGUES FILHO
GABRIEL CAVALCANTI MELO
VICTOR VIEIRA

SÍNTESE: ANÁLISE DE UMA FOBIA EM UM MENINO DE CINCO ANOS


(1909)

Trabalho discente efetivo apresentado ao


Curso de Graduação em Psicologia, da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
– PUCPR, como requisito parcial à
obtenção de nota na disciplina de Teorias
de Personalidade.

Professor: Juliana Radaelli.

CURITIBA
2019
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 04
2 DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO .............................................................. 05
2.1 CRONOLOGIA DO CASO CLÍNICO ......................................................... 06
2.2 DISCUSSÃO FINAL .................................................................................. 08
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 11
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1 INTRODUÇÃO

A síntese sobre o caso de uma fobia em um menino de cinco anos


(1909) apresenta-se como Freud, em princípio, como mero comunicador do
caso, porém, nas obras mais recentes ele aparece como autor do caso,
mudando o nome da criança de Herbert para Hans.
Freud acompanha os relatos do pai, que nesse caso foi quem tratou o
filho. Esse corrobora o interesse de Freud pela sexualidade, e no caso,
observá-las nas crianças. Assim, o menino Hans nascido em 1903, é
observado pelo seu pai, esse que começa a relatar o desenvolvimento da
criança. Aos 4 anos e meio a partir de uma situação inicial da queda de um
cavalo, desenvolve ansiedade e fobia, por conseguinte não conseguindo sair
de casa e possuindo um temor por cavalos.
Em consequência, o menino Hans, cria um interesse exacerbado pelo
seu órgão sexual, o qual causa anseios e aflição, que em um primeiro
momento só possuía uma satisfação de uma ausência. O relato prossegue com
o desenvolvimento e o reconhecimento por parte de Hans da existência de uma
diferença entre objetos animados e inanimados, bem como de uma diferença
anatômica entre homem e mulher; mostrando ao longo do caso clínico,
algumas manifestações de complexos e castrações.
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2 DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO

Nos primeiros relatos de janeiro de 1908, Hans (quatro anos e nove


meses) teme que não tenha mais uma mãe ou que a mãe vá embora. No dia 7
de janeiro quando foi passear no Stadtpark com a babá chorou e pediu para
voltar para casa para “mimar” com sua mãe; e à noite voltou a ficar assustado.
O menino relata que o motivo seria porque estava com medo que um cavalo o
mordesse, temendo, inclusive, que o cavalo entrasse no quarto. No material do
caso clínico, Hans receia que o mesmo iria arrancar os dedos fora e menciona
uma imagem presente no seu imaginário, relatando um acontecimento do
passado, o qual falaram para ele para não deixar as mãos perto do cavalo
branco, pois ele mordia.
Primeiramente, Freud decide deixar suspenso seu julgamento, dando
atenção imparcial a tudo que houver para observar. Assim começa a ansiedade
e fobia de Hans, que paralisava e não o deixava sair de casa.
O caso clínico destaca pensamentos ao mesmo tempo apreensivos e
ternos, e que a afeição da criança pela mãe sucumbiu à repressão – em
momentos que Hans não podia dormir com a mãe ou quando ela o reprimia por
tocar no “pipi”; aqui podemos observar um momento de castração e um anseio
pela perca de uma parte fisiológica/ do seu ego. Desse modo, concluiu que a
repressão feita pela mãe de Hans produziu um resultado intenso e o
esclarecimento de que as mulheres não tem “pipi” não foi, a princípio, aceito
pela criança.
Ao longo das primeiras observações sexuais, Hans, começa a possuir
medo de animais grande porte, pois se sentia desconfortável, uma vez que era
obrigado a pensar em seus grandes pipis e, ao se comparar, tentava se
autoconsolar, o que gerava aflição. Ao saírem à rua seu pai percebeu que ele
só tinha medo de algumas carroças que passavam, e também notou que o
menino tinha muito medo quando as carroças faziam uma curva para entrar ou
sair do pátio, pois Hans afirmou que seu medo era de que os cavalos caíssem.
Além disso, ele também tinha mais medo daqueles cavalos que tinham uma
coisa preta na boca, mas sem saber explicar exatamente o que seria essa
coisa preta.
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Posteriormente, em uma consulta, Freud fala para o menino que o


cavalo, que tinha uma coisa preta na boca, isto é, aquele que tinha um
cabresto, o qual o pequeno Hans se sentia mais desconfortável representava o
seu pai (possuía semelhança entre o bigode e o aparato do cavalo) e que ele
tinha medo de seu pai porque a criança gostava muito da mãe. Sendo assim,
demonstra a simbolização (cavalo) da fobia do pequeno Hans, o qual era o seu
próprio pai. Evidenciando um complexo paterno, um anseio da castração e
características edípicas.

2.1 CRONOLOGIA DO CASO CLÍNICO

No dia 2 de abril foi possível notar pela primeira vez uma mudança
significativa, agora Hans conseguia sair à rua por períodos mais longos, o que
antes era impossível. Na manhã do dia 3 ele foi até a cama de seu pai, pois
ficava assustado sem sua presença. Por Hans gostar de sua mãe, ele desejava
afastar seu pai dela, para assim ficar no lugar dele. Esse seu desejo suprimido
virou uma ansiedade por seu pai, por isso ele vai para a cama de seu pai toda
manhã para ver se ele foi embora.
Ao longo da análise, pode se perceber que a causa imediata que
precipitou a irrupção da fobia foi quando Hans viu um cavalo do ônibus cair e
se assustou com o barulho que ele fez com suas patas. Uma das
interpretações era que naquele momento o menino percebeu um desejo de que
seu pai caísse daquele mesmo modo. Após este acontecimento Hans brincava
de cavalo no seu quarto, ele trotava, deixava-se cair e esperneava com os pés.
Ocorre uma troca de papéis, devido a uma fantasia plena de desejo. Hans era
o cavalo e ele mordia seu pai, desse modo ele se identificava com ele.
No dia 10 de abril, o pai retoma a conversa do "por causa do cavalo",
que Hans repetia tantas vezes, e após pressioná-lo ele desmente falando de
que tinha se lembrado errado. Logo, em seguida o pai deixa para lá, faz
perguntas sobre Berta (amiga de uma casa no campo), e o menino relata que
gostava muito de brincar com ela e que tinha o desejo de ver seu pipi, porém,
não tinha visto apesar de entrar com ela no banheiro. Relata também o desejo
de ver o pipi de sua mãe, e que sempre que ele fazia pipi suas amigas (Berta e
Olga) ficavam querendo ver.
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Em 11 de abril, Hans veio até o quarto dos pais e foi mandado embora,
mais tarde relata que havia pensado: “eu estava no banho, e então veio o
bombeiro e desaparafusou a banheira. Depois ele pegou uma grande broca e
bateu no meu estômago", seu pai traduz essa fantasia como: "eu estava na
cama com mamãe. Depois papai veio e me tirou de lá. Com o seu grande pênis
ele me empurrou do meu lugar, ao lado de mamãe." Nesse momento Freud
não faz julgamentos e deixa com que desenrole, vendo que ali sim Hans estava
trazendo conteúdo para a análise– porém, essa imagem será retornada para a
cura da fobia.
Dia 12 de abril, Hans fala que sente vontade de cuspir quando vê
coisas pretas, porque teria que fazer “lumf” (palavra que se refere ao ato de
defecar). No dia 14 de abril, o pai trás o tema de Hanna, que Hans havia
sentido grande aversão pelo bebê recém-nascido, como se a irmã tivesse
tirado o amor que era dele. Havia dito que não queria mais que a cegonha
trouxesse mais bebê, ligando esse medo com seu medo por carroças,
mudanças, e o ônibus comparando com uma caixa, igual a que a cegonha
trazia os bebês. Apesar de Hans falar que gostava de sua irmã, o pai
analisando ele instiga para falar que ele gostaria mais se ela não estivesse
viva, justifica que é pelo fato dela gritar muito alto. Mais tarde revela que é
porque teria o amor da sua mãe só pra ele, e o analista o confronta falando que
meninos bons não desejam isso, e ele repreende o analista falando que estava
apenas pensando.
No dia 17 de abril, Hans relata seu desejo de gritar e chicotear um
cavalo, no prosseguir desta conversa, Hans, revela ao analista, que realmente
tinha vontade de bater e gritar era com sua mãe, com um batedor de tapete
(objeto que simbolizava a repreensão da mãe com ele).
Em 21 de abril ao avistar uma carruagem passando frente a sua casa,
Hans se esconde e explica que “os cavalos orgulhosos com suas cabeças
erguidas” o assustava, pois poderia cair. Ao ser questionado sobre esse
assunto, Hans, conta que o pai é o cavalo orgulhoso, o qual deseja que caísse
nas pedras, para assim poder ficar com sua mãe. Do ponto de vista do seu pai,
não era na sua mãe que Hans queria bater e gritar com um batedor de tapete,
mas nele, a imagem paterna.
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Na sequência em 22-23 de abril, após a explicação de como vêm os


bebês, Hans ainda insiste em acreditar que são as cegonhas que os trazem, é
expresso também seu medo de perder o seu “posto” caso uma terceira criança
chegue, relata também seu desejo de ter uma menininha pra cuidar, insistindo
em seu ponto de vista de que as crianças são entregues pelas cegonhas.
Hans admite ter ciúmes do pai por ganhar beijo da mamãe e poder
dormir sempre com ela, em 25 de abril, ainda relata sua vontade de trocar de
lugar com seu pai, e conta ter medo de ônibus e carroças quando estão
carregadas fazendo assim uma analogia a gravidez e do seu medo de perder
seu “posto”.
Entre 26 de abril/2 de maio a cada lumf que Hans fazia, o mesmo
pensava que estava fazendo bebês (sentia prazer nas secreções), também
relata o desejo de cuidar de seus filhos, com muito carinho e brincar com eles.
Hans demonstra que antes era a mamãe dos filhos imaginários, porém agora é
o pai; aceitou de como vem os bebês e que homens não podem ter filhos;
queria ter bigodes iguais ao do pai.

2.2 DISCUSSÃO FINAL

Freud inicia o exame da observação do desenvolvimento de Hans,


baseando-se em três pontos de vista que ele mesmo estabelece. Relata que o
caso do pequeno Hans está de acordo com sua obra Três Ensaios, e trata de
duas objeções muito importantes, em suma, a análise toda é simplesmente
“sugestão” e deve ser desprovida de valor objetivo, pois a análise foi
proveniente do pai do Hans usando de pontos teóricos e subjetividade do
Freud.
Ademais, Freud relata que a negligencia do pai (como analista) trouxe
uma grande evidencia de legitimidade e de independência dos processos
mentais do menino. Hans mostrava interesse pelo seu “pipi”, e assim presumiu
que todos os objetos animados, eram como ele e possuíam “pipi”, e foi
dissuadido quando viu a sua irmã recém-nascida. A curiosidade sexual de
Hans foi aumentando, expressava o desejo de mostrar o seu “pipi”, e de que os
outros vissem o dele, além de outras fantasias, e o fez chegar à reflexão de
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que seu “pipi” cresceria com ele. O pequeno Hans continuava com inúmeras
outras fantasias.
O nascimento de sua irmã teve grande influência na vida de Hans, teve
traços de memória que relembraram experiências de prazer que ele teve, o
menino tratava sua irmã e seu pai neste momento de forma hostil, e suas
memórias fizeram com que Hans tivesse outras fantasias. Freud relata sobre
as histerias de angustia, que tende a desenvolver-se mais e mais para uma
fobia. O fato é que a excitação sexual de Hans, subitamente mudou para
ansiedade
O momento em que ambos (médico e paciente) se encontram na meta
marcada, é o momento em que o paciente reconhece os seus complexos
inconscientes. Um primeiro sucesso desse tipo é alcançado por Hans, tendo
parcialmente dominado seu complexo de castração, e era então capaz de
comunicar seus desejos em relação a sua mãe. Freud revela a Hans que ele
tinha medo do seu pai, e nutria desejos ciumentos e hostis contra ele. Ao dizer
isso Freud interpreta o medo de Hans por cavalos: “O cavalo tem que ser seu
pai”. Certos detalhes dos cavalos remetiam as características de seu pai. Ao
esclarecer esses assuntos, permitiu que seus pensamentos inconscientes se
tornassem conscientes e logo o menino começou a tomar parte ativa na
condução da análise. Hans, explica então que ele tinha medo de cavalos
caindo, e consequentemente incorp0orou sua fobia para que tudo facilitasse a
queda destes. Contudo, o medo de cavalos persistia, e não estava claro ainda,
como os cavalos interferiam e agitavam seus desejos inconscientes.
Após esse período Hans se ocupou pelo complexo do "lumf', em que
mostrava relutância por tudo que o lembrasse de evacuar. Quando a repressão
se instaurou trouxe junto uma repulsão por cavalos a associação foi do prazer
ao medo. A conexão é estabelecida pelo pai de Hans é feita entre a
possibilidade do simbolismo do lumf ser fruto de uma analogia entre uma
carroça pesadamente carregada a alguém que precisa evacuar, a carroça
saindo pelo portão.
Hans continuava criando metáforas imersas na fantasia como um
bombeiro que desaparafusou a banheira na qual Hans estava e depois bateu
em seu estômago com sua grande broca, mas que carregavam um conteúdo
que seria descrito como fantasia de procriação, distorcida pela ansiedade. A
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banheira era o ventre de sua mãe e a broca se deu a conexão de estar


nascendo. O próprio narrador (seu pai) afirma a falta de poder de compreender
o que estava sendo relatada devido à elevada fantasia na descrição.
Abandonando o tema do lumf e passou para falar de sua irmãzinha. E
essa mudança de assunto teve muito significado, estando atrelada ao fato da
própria pequena Hanna ser um lumf, que todos os bebês eram e nasciam
lumfs. Demonstrando que as carroças, carrinhos e ônibus eram representações
para Hans da gravidez, e o cavalo pesado caindo, a liberação, o parto.
Ele juntou todos os fatos na cabeça, sabia dentro do seu inconsciente e
chegou à conclusão de que o corpo de sua mãe que havia carregado o corpo
de sua irmã, pois ela estava magra quando, saiu do parto, o que significa que
seu pai traiu sua confiança por não contar a origem verdadeira de sua irmã e
dele mesmo. As duas fantasias concludentes de Hans, que fechariam o caso
foram a do bombeiro lhe dando um novo pipi e ajudando na superação de seu
medo de castração e uma que desejava ser casado com sua mãe e ter filhos
com ela esgotando os conteúdos inconscientes que tinham sido perturbados
pela visão do cavalo caindo sendo a raiz de sua ansiedade.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tentar entender a fobia do pequeno Hans envolve pensar em sua


constituição mental, controle sobre desejos sexuais e experiências até o
nascimento de sua irmã. A chegada de Hanna trouxe muitos elementos que
mudaram a vida de Hans, como a privação, separação, menos atenção que
desencadearam uma intensificação em suas necessidades eróticas, que não
tinham satisfação suficiente. Deparou-se com o grande enigma da onde as
crianças surgem, e em meio à privação e solidão foi desenvolvendo
mecanismos de repressão e histórias fantasiosas para lidar com o que vinha
acontecendo e a forma que ele estava assimilando as novas informações e
sentimentos.
O conteúdo da fobia do Hans teve que ser gradualmente distorcido e
substituído para que sua consciência o conhecesse de fato. A primeira
formulação de sua ansiedade foi "o cavalo vai morder-me", e derivou-se de
outra situação em que tinha relação com os desejos hostis para com seu pai,
mas também do aviso que tinha recebido contra masturbação. Não fica claro se
ele começou a expressar ansiedade somente após ter sido repreendido por sua
mãe quanto à masturbação, mas há uma suspeita que foi apenas depois.
Logo, os elementos que podem ajudar a entender o caso mais afundo
envolvem tendências em Hans que foram supressas e não puderam encontrar
expressão desinibida. Ciúmes em relação a seu pai, impulsos sádicos em
relação a sua mãe. As propensões agressivas não haviam encontrado saída, e
quando veio um tempo de privação e excitação sexual intensificada, eles
tentaram romper sua saída com força redobrada. Suas ideias reprimidas foram
chegando à consciência como forma de fobias, o qual gerou ansiedade e
simbolismo para que a pulsão pudesse se manifestar na consciência do
pequeno Hans. Ao longo da analise a criança conseguiu elaborar esses
símbolos e curar a sua fobia.

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