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UNIVERSIDAD PONTIFICIA DE SALAMANCA

FACULTAD DE EDUCACIÓN


Máster en Musicoterapia

Trabajo de Fin de Máster

MUSICOTERAPIA NA REABILITAÇÃO DE
PACIENTES COM AFASIA PÓS AVC

Filipe Gomes Ribeiro

Tutora: Prof. D. Elena Sánchez Zaballos

Salamanca, junio de 2019


Á minha avó Ana da Conceição Monteiro,
aos meus pais José Ribeiro e Maria Gomes
pelo amor e apoio.
AGRADECIMENTOS
O presente relatório é mais uma conquista das poucas etapas que a minha curta vida me
proporcionou. É um reflexo de um longo caminho de aprendizagem que agora chega ao
seu término, mas que me parece ser precoce, pois tanto existe ainda para aprender. Este
percurso académico espelha a minha aprendizagem na compreensão sobre o poder da
música no ser humano, numa das instituições que visa ser das melhores Universidades
de Espanha. Deste modo, o tempo não para e assim se pisa no fantástico mundo da
musicoterapia, pautado pelo apoio e partilha que continua a fazer de mim, o que
represento hoje. Por todas estas palavras, cabe-me agradecer:
À minha orientadora professora Prof. Dra. Elena Sanchez Zaballos, ao Prof. Dr. Luís
Alberto Hernández e demais professores pela confiança, esforço, dedicação e orientação
ao longo de todo o curso. Muito obrigado.
À minha orientadora terapeuta da fala Carla Pires pela dedicação, orientação e
participação ao longo da prática, bem como à respetiva instituição Santa Casa da
Misericórdia de Bragança pela oportunidade da mesma prática.
Aos meus pacientes e familiares dos mesmos pela amabilidade em receberem-me como
musicoterapeuta estagiário e pela vivência das terapias, que me tornam cada vez com
mais know-how.
Aos meus leitores, principalmente à Ana Brandão, a paciência e a crítica construtiva
para com este trabalho. Certamente me enriqueceram e me deram outras perspetivas.
Á Caroline Dominguez pela amizade e companheirismo durante todo o curso e por
todas as experiências e ideias partilhadas nas viagens. Obrigado!
Mãe, Pai e Irmão, essência do meu ser, obrigado pelo amor, amizade, preocupação,
carinho, esforço, coragem, aconselhamentos, por estarem sempre prontos, enfim
infinitos adjetivos que poderia dar aso a outro relatório. O sentido que deram à minha
vida, à capacidade de resiliência para ultrapassar dificuldades e obstáculos enfrentados e
o mais importante, acima de tudo, pela educação e alegria familiar. Não consigo invejar
qualquer família de fora e isso é graças a vós. Sou parte integrante de vós e para me
conhecerem, basta olhar para vocês. Uma genuína, honrada e exemplo de família que
levarei para a vida. Um excessivo e extraordinário obrigado!
Porque a vida deve ser vivida e da mesma forma, imprescindivelmente lembrada. Assim
partilho e deixo escrito toda a minha gratidão.
ÍNDICE

INTRODUÇÃO
1 PARTE I: TEORIA (MARCO TEÓRICO E CONCEPTUAL) ........................ 3
1.1 A MUSICOTERAPIA ........................................................................................... 3
1.1.1 Definição da Musicoterapia ............................................................................. 3
1.1.2 Breve história da área de conhecimento ........................................................... 4
1.1.3 O estado da Musicoterapia em Portugal ........................................................... 7
1.1.4 Os efeitos terapêuticos da música na saúde ...................................................... 9
1.2 O CÉREBRO........................................................................................................11
1.2.1 Córtex Cerebral..............................................................................................11
1.2.2 Cérebro e Música ...........................................................................................21
1.2.3 Cérebro e Linguagem .....................................................................................26
1.2.4 Relação entre Música e Linguagem ................................................................27
1.2.5 Cérebro Vascular – Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Acidente Vascular
Encefálico (AVE) ...........................................................................................................28
1.3 AFASIA ................................................................................................................33
1.3.1 Afasia e sua definição ....................................................................................34
1.3.2 Tipos clínicos clássicos de afasia laboradas ....................................................35
1.3.3 Impacto Socioeconómico ...............................................................................37
1.4 MÉTODOS E TÉCNICAS MUSICOTERAPEUTICAS UTILIZADAS PARA A
REABILITAÇÃO NA AFASIA .......................................................................................39
1.4.1 Terapia de Entonação Melódica .....................................................................39
1.4.2 Neurologic Music Therapy .............................................................................40

2 PARTE II – PRÁTICA (PRÁTICA DE CAMPO) .......................................... 42


2.1 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E DESENHO DA INTERVENÇÃO 42
2.1.1 Investigação Qualitativa - Estudo de Caso ......................................................42
2.1.2 Desenho da intervenção .................................................................................43
2.1.3 Planificação-reflexão das sessões ...................................................................46
2.2 DESCRIÇÃO E RESULTADOS .........................................................................53
2.2.1 Análise inicial da terapeuta da fala ao paciente J ............................................53
2.2.2 Análise inicial da terapeuta da fala à paciente M ............................................53
2.2.3 Descrição das observações relevantes do paciente J ........................................54
2.2.4 Descrição das observações relevantes da paciente M ......................................58
2.2.5 Análise final da terapeuta da fala ao paciente J ...............................................62
2.2.6 Análise final da terapeuta da fala à paciente M ...............................................63

I
2.2.7 Reflexão final ................................................................................................64

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 66

ANEXOS ................................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 83

II
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1. Vista medial das regiões do encéfalo. ........................................................ 13


Figura 1.2. Vista medial das regiões do encéfalo. ........................................................ 14
Figura 1.3. Sistema límbico e estruturas associadas do hemisfério cerebral direito. ..... 14
Figura 1.4. Vista lateral do cérebro onde identifica a massa branca, o córtex cerebral
(massa cinzenta), corpo do neurónio e sinapse. .................................................... 15
Figura 1.5. Vista superior dos dois hemisférios cerebrais identificando sulcos e giros. 16
Figura 1.6. Vista superior do córtex cerebral do hemisfério esquerdo e direito,
apresentando alguns lobos. .................................................................................. 17
Figura 1.7. Vista lateral do hemisfério cerebral esquerdo, mostrando os lobos. ............ 17
Figura 1.8. Regiões funcionais do lado lateral do córtex cerebral esquerdo. ................. 18
Figura 1.9. Topografia do córtex sensorial somático primário. .................................... 19
Figura 1.10. Topografia do córtex motor primário. ...................................................... 20
Figura 1.11. Mapa de Brodmann. ................................................................................ 21
Figura 1.12. Manifestação da música no córtex cerebral e cerebelo nas suas diversas
funções. ............................................................................................................... 24
Figura 1.13. Manifestação da música no cérebro límbico nas suas diversas funções. ... 25
Figura 1.14. Figura 10a. Processo cerebral durante a linguagem. ................................. 26
Figura 1.15. Processo cerebral durante a linguagem. ................................................... 27
Figura 1.16. Apresentação das principais artérias do círculo arterial cerebral em vista
inferior. ............................................................................................................... 29
Figura 1.17. Apresentação das principais artérias numa vista superficial. .................... 29
Figura 1.18. Apresentação das principais artérias vista medial. .................................... 30
Figura 1.19. Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico. ............................................... 31
Figura 1.20. Acidente Vascular Cerebral Isquémico. ................................................... 31
Figura 1.21. Áreas comuns afetadas por êmbolos ou trombo. ...................................... 32
Figura 1.22. Esquematização das consequências de um AVC. ..................................... 33
Figura 1.23. Descrição da Afasia de Broca .................................................................. 36
Figura 1.24. Descrição da Afasia Global ..................................................................... 37
Figura 2.1. Disposição lateral da sala Figura 2.2. Disposição frontal da sala. ...... 45
Figura 2.3. Disposição dos recursos materiais na sala da terapia da fala....................... 45

III
RESUMO E PALAVRAS-CHAVE
Perceber a forma como a música pode inspirar e estimular o cérebro de indivíduos com
afasia por consequência de Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um trabalho que requer
uma contínua investigação, método e duração. É fascinante perceber a forma como este
maravilhoso órgão se processa e responde a estímulos musicais, bem como é importante
preservar e potenciar o seu processo cognitivo. Sabe-se que a musicoterapia contribui
para minimizar sintomas e consequências de várias doenças, bem como atua na
melhoria de necessidades cognitivas, emocionais, mentais, físicas e sociais, melhorando
a comunicação e a expressão. Este trabalho pretende precisamente certificar os
benefícios da musicoterapia em pacientes com afasia pós AVC.
O objetivo pretende a reabilitação da linguagem e suscitar a comunicação,
designadamente na reprodução de específicas palavras, que apoie os pacientes nas
atividades da vida diária (AVD) e comunicação com os respetivos familiares e amigos.
Como método, os dois pacientes presentes no estudo, um com afasia global e outro com
afasia de broca (crónico), auferiram de sessões musicoterapeuticas duas vezes por
semana (entre fevereiro e abril), com duração de 45 minutos, perfazendo um total de 15
sessões cada, baseado na Terapia de Entonação Melódica (TEM), bem como outras
técnicas da corrente científica Neurologic Music Therapy (NMT). Para observar as
evoluções utilizou-se a Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa (BAAL).
Os resultados finais da BAAL no paciente com afasia global espelham no geral ganhos
comunicativos, observando-se em contexto terapêutico com os pares próximos maior
fluência na troca de informação, melhoria da compreensão e aumento de palavras
corretas no discurso. Na paciente com afasia de broca observou-se a diminuição do
esforço articulatório quando quer produzir palavras e o aumento da motivação em
comunicar em ambiente terapêutico, maximizando competência comunicativas.
Podemos concluir que a musicoterapia e os métodos aplicados são eficientes em ambas
as afasias, contudo deveriam apresentar um prazo mais alargado.

Palavras-Chave: Música, Musicoterapia, Cérebro, Acidente Vascular Cerebral, Afasia,


Terapia de Entonação Melódica, Neurologic Music Therapy

IV
RESUMEN Y PALABRAS CLAVES
Darse cuenta de cómo la música puede inspirar y estimular el cerebro de individuos por
consecuencia del Accidente Cerebrovascular (ACV) es un trabajo que requer una
investigación continua, método y duración. Es fascinador entender la manera como este
maravilloso órgano se procesa y responde a los estímulos musicales, bien como la
importancia de preservar y potenciar su proceso cognitivo. Se sabe que la musicoterapia
contribui para minimizar los síntomas y las secuelas de las variadas enfermedades, bien
como actuar en mejorar las necesidades cognitivas, emocionales, mentales, físicas y
sociales, optimizando la comunicación y la expresión. Este trabajo pretende
precisamente certificar los beneficios de la musicoterapia en pacientes con afasia
después del ACV.
El objetivo intenta la rehabilitación del lenguaje y motivar la comunicación,
resignadamente en la reproducción de palabras concretas, que apoyen los pacientes en
las actividades de la vida diaria (AVD) y la comunicación con los familiares y amigos.
Como método, los dos presentes pacientes en esta tesis, uno con afasia global y otro con
afasia de broca (crónico), obtuvieron sesiones musico terapéuticas dos veces por
semana (entre febrero y abril), con 45 minutos de duración, terminando cada uno con 15
sesiones en el total, fundados en la Terapia de Entonación Melódica (TEM), bien como
otras técnicas de la corriente científica Neurologic Music Therapy (NMT). Para
observar las evoluciones se utilizo la Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa
(BAAL).
Los resultados finales de la BAAL en el paciente con afasia global espejan en el general
lucros comunicativos, se observando en contexto terapéutico con los pares próximos
una mayor fluencia en el cambio de información, una mejoría de la comprensión y un
aumento de palabras correctas en el discurso. En el paciente con afasia de broca se
observó la diminución del esfuerzo articulatorio cuando quiere reproducir palabras y el
aumento de la motivación en comunicar en uno ambiente terapéutico, maximizando
competencias comunicativas.
Concluimos que la musicoterapia e los métodos aplicados son eficientes en las dos
afasias, todavía deberían exhibir un término más alargado.

Palabras Claves: Música, Musicoterapia, Cerebro, Accidente Cerebrovascular, Afasia,


Terapia de Entonación Melódica, Neurologic Music Therapy.

V
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AVC – Acidente Vascular Cerebral
AVE – Acidente Vascular Encefálico
TEM – Terapia de Entonação Melódica
NMT – Neurologic Music Therapy
BAAL – Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa
AVD – Atividades de Vida Diária
UCCI – Unidade de Cuidados Continuados Integrados
SCMB – Santa Casa da Misericórdia de Bragança

VI
INTRODUÇÃO
Perceber a forma como a música pode inspirar e estimular o cérebro de indivíduos com
afasia por consequência de Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um trabalho que requer
uma contínua investigação, método e duração. É fascinante perceber a forma como este
maravilhoso órgão se processa e responde a estímulos musicais, bem como importante
preservar e potenciar o seu processo cognitivo. Sabe-se que a musicoterapia contribui
para minimizar sintomas e consequências de várias doenças, bem como atua na
melhoria de necessidades cognitivas, emocionais, mentais, físicas e sociais, melhorando
a comunicação e a expressão. Este trabalho pretende precisamente certificar os
benefícios da musicoterapia em pacientes com afasia pós AVC.
O presente estudo apresenta os efeitos da musicoterapia em dois estudos de caso na
afasia de Broca e Global. Apresenta-se dividido em duas partes principais
nomeadamente um marco teórico e conceptual que esclareça e compreende todo o
trabalho envolvido na prática e uma prática de campo dedicado às intervenções
realizadas, suas observações e resultados.
A primeira parte do estudo, marco teórico e conceptual, assenta em revisões de
conteúdos históricos e atuais e paradigmas cientificamente comprovadas, possuindo
quatro pontos que revela a definição e uma breve história da musicoterapia, o seu estado
em Portugal, bem como os efeitos terapêuticos da música na saúde; caracteriza e
descreve o cérebro nas suas funções cognitivas e vascular para estabelecer consciência
sobre causas e consequências de AVC, também a relação do cérebro e música, assim
como cérebro e linguagem, e a relação com música e linguagem; enfatiza a Afasia, uma
das principais consequências de AVC, especificando a sua definição, os tipos
trabalhados em contexto de práticas e seus impactos socioeconómicos; expõe os
métodos e técnicas (TEM e NMT) utilizadas para preservar e proporcionar a linguagem
e comunicação dos dois casos aqui descritos.
A segunda parte do estudo, prática de campo, descreve a metodologia de investigação
na qual se refere a estudo de caso, bem como ao desenho da intervenção onde consta o
plano de intervenções, seu público alvo, objetivo geral e a produção de uma
planificação-reflexão que adequa os objetivos específicos, técnicas e métodos aplicados
e estrutura das sessões; especifica também a descrição e resultados com análises prévias
e após término das sessões de musicoterapia aos pacientes em estudo, pela terapeuta da

1
fala da SCMB Dra. Carla Pires, assim como relata descrições das observações
relevantes das sessões e uma reflexão final.
Por último apresentam-se considerações finais acerca dos resultados obtidos e sua
relação com demais estudos, bem como a pertinência da intervenção e a diferença entre
os dois casos especificados neste trabalho.

2
1 PARTE I: TEORIA (MARCO TEÓRICO E CONCEPTUAL)

1.1 A MUSICOTERAPIA

A musicoterapia é uma vasta área que tem vindo a despontar na população ocidental
com o intuito de servir pessoas que dela necessitam, sendo ela uma ótima resposta nas
terapias alternativas. Já é conhecido que a antiga Grécia utilizava a música para o culto
dos seus Deuses, bem como para o tratamento de algumas doenças (Grout & Claude V.
Palisca, 1997).

1.1.1 Definição da Musicoterapia

Dentro das terapias expressivas, a Musicoterapia tem vindo a demonstrar que poderá ser
uma mais valia para a promoção da qualidade de vida das pessoas. A definição genérica
mais utilizada por Musicoterapeutas, baseia-se no exposto pela Federação Mundial de
Musicoterapia (WFMT, 2008):

“Musicoterapia é a utilização profissional da música e dos seus


elementos, para a intervenção em ambientes médicos, pedagógicos e
no cotidiano com indivíduos, grupos, famílias ou comunidades que
procuram potencializar a sua qualidade de vida e melhorar as suas
condições físicas, sociais, comunicativas, emocionais, intelectuais,
espirituais e de saúde e bem-estar. A investigação, a educação, a
prática e o ensino clínico em musicoterapia baseiam-se em padrões
profissionais de acordo com contextos culturais, sociais e políticos.”

A definição supracitada predispõe de um perfil profissionalizado capaz de a atender. O


musicoterapeuta, que segundo a definição sugerida por Luís Alberto Mateos Hernández
(2011),

“É um profissional com uns conhecimentos e uma identidade tanto de


âmbito musical como terapêutico, e que integra todas as suas
competências desde a disciplina de Musicoterapia, para estabelecer
uma relação de ajuda socio-afetiva mediante atividades musicais num
enquadramento adequado, com a finalidade de promover e/ou
restabelecer saúde das pessoas com as que trabalha, satisfazendo as
suas necessidades física, emocionais, mentais, sociais e cognitivas e
promovendo mudanças significativas para eles.” (p. 110)

Deste modo, o seu modus operandi pode-se sintetizar em sete funções (Mateos
Hernández, 2011):

3
1 Analisar o contexto institucional
2 Identificar as necessidades dos possíveis destinatários à
musicoterapia
3 Desenhar o programa de musicoterapia adaptada à instituição
4 Fazer sessões de musicoterapia individuais e/ou em grupo
5 Realizar avaliações, valorizações e informações
musicoterapeuticas
6 Trabalhar em equipas multidisciplinares
7 Estabelecer redes de informações com pais, familiares e outros
profissionais. (p. 111)

A musicoterapia, bem como o musicoterapeuta não são substitutos, mas sim alternativas
aos tratamentos convencionais. Um indivíduo quando procura um musicoterapeuta,
procura uma pessoa capaz e sensível. Procura uma comunicação e partilha entre
musicalidades, procura um trato profissional rigoroso, exaustivo e metódico, bem como
algo que não encontra na medicação, ou seja, procura uma pessoa que se baseia na
escuta, que seja empático, autêntico, coerente e que nos aceite tal como somos no
momento (Mateos Hernández, 2011, p. 119).

1.1.2 Breve história da área de conhecimento

O aparecimento da utilização da música como terapia pode ser considerada desde os


tempos primórdios das civilizações, uma vez que é sabido que a música sempre
“acompanhou” a humanidade. Um exemplo disso são os relatos descritos no antigo
testamento, nomeadamente de uma terapêutica musical a que o Rei Saul foi submetido
pela harpa de David na tentativa do Rei se libertar de manifestos de fúria, supostamente
provocados por um espírito maligno (Bíblia Sagrada Online, 2009). Outro exemplo é o
da cultura helénica, com as referências dos seus grandes pensadores, nomeadamente
Platão a recomendar a música para a saúde da mente e do corpo e Aristóteles a
referenciar os benefícios da mesma sobre as emoções, e ainda, através da sua mitologia
na qual Apolo era Deus associado à Medicina e à Música (Leinig, 1977). O impacto ou
o quão estimulante a música, independentemente do estilo, representou ao longo da
história da humanidade é notável, pois de acordo com Platão e Aristóteles, a música era
um elemento fundamental para a educação, classificando-a como disciplina do espírito.

4
Paralelamente, num sentido lato, poderá ter sido aplicada de diferentes formas, a
diferentes civilizações (Grout D. & Palisca C., 1997, p. 21). Um dos principais factos a
ter em conta é precisamente os momentos históricos em que o regime ou outras
autoridades proibiram determinados tipos de música partindo do pressuposto de que se
tratava de uma questão importante para o bem-estar público. Pode-se verificar por
exemplo na aplicação de leis sobre a música em primeiras constituições de Atenas e
Esparta, bem como a muitas censuras a determinados tipos de música pelo clero, e
posteriormente pelas ditaduras, tanto fascistas como comunistas, numa tentativa de
controlar a atividade musical das respetivas populações (Grout D. & Palisca C., 1997, p.
21 e 22).
Uma vez que a música sempre esteve ligada a um determinado evento, e, sendo o ser o
humano passível de se deixar levar pelas suas emoções, há o interesse de certos
indivíduos deterem o controlo das mesmas e, consequentemente, o controlo de
determinado povo ou sociedade. Deste modo, embora não tanto como em tempos de
outrora mas ainda atual, continuamos a assistir a alguns estereótipos musicais que
vigoram, especialmente, no seio religioso e educativo. Em ambos os ambientes a que os
jovens de hoje se vêm expostos, e, influenciados pela indústria musical e imprensa,
encontra-se patente a preocupação pelo tipo de música, assim como as imagens e os
textos bíblicos incluídos nas respetivas letras.
A história rege-se por factos e visto por este prisma, segundo a American Music
Therapy Association (AAMT) (1998), a mais antiga referência identificada sobre esta
área surge em 1789 através de um artigo publicado na Columbian Magazine intitulada
“Music Physically Considered”, cujo autor é desconhecido. Mais tarde, surgem nos
anos de 1804 e 1806, por influência do Dr. Benjamin Rush, médico psiquiatra, duas
dissertações médicas sobre a terapêutica da música pelos seus orientandos Edwin Atlee
e Samuel Mathews. Surge também, no mesmo período, a primeira intervenção
musicoterapeutica gravada num ambiente institucional, em Blackwell`s Island (N.Y.),
assim como a primeira experiência metódica registada em musicoterapia para alterar
estados de sono durante a psicoterapia (AAMT, 1998).
Posteriormente, a Musicoterapia (re) surge, designadamente no início do século XX e
após um período de algum esquecimento durante o século anterior. A industrialização e
os avanços tecnológicos permitiram o aparecimento dos primeiros musicoterapeutas, no
que respeita ao campo medicinal, terapêutico e musicológico, o que contrasta com o que

5
acontecia anteriormente, em que a musicoterapia era aplicada, exclusivamente, pelo
médico com o apoio de músicos (Sousa, 2005 citado em Oliveira & Gomes, 2014).
A American Music Therapy Association (1998) salienta que essa foi uma época
determinante na formação de associações, nomeadamente nos Estados Unidos da
América, contudo de curta duração, como são exemplo a Sociedade Nacional de
Terapêutica Musical (1903), fundada por Eva Vescelius, a Associação Nacional de
Música em Hospitais (1926), fundada por Isa Maud Ilsen, bem como a Fundação
Nacional da Musicoterapia (1941), fundada por Harriet Ayer Seymour. Ainda que
tenham contribuído com a produção de material didático sobre a área, designadamente
livros e cursos educativos, infelizmente não obtiveram o potencial desejado para a fazer
prosperar enquanto profissão clínica organizada, o que ainda acontece atualmente em
alguns países.
É, no entanto, num dos maiores marcos históricos da humanidade que a Musicoterapia
se vem a emancipar, embora pelas piores razões – a Segunda Grande Guerra Mundial -

“sobretudo em resposta ao grande número de soldados que


regressavam dos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial
com ferimentos na cabeça e lesões cerebrais traumáticas ou (... uma
condição que agora designamos por “perturbação de stress pós-
traumático”) (Sacks, O., 2008, p. 253).

As notáveis reações físicas e emocionais das vítimas da guerra à música levaram os


profissionais de saúde a solicitar a contratação de músicos pelos hospitais. No entanto,
era mandatário uma preparação prévia antes da entrada nos hospitais, o que levou as
universidades a desenvolverem conteúdos e formação específica no sentido de melhor
adequar os currículos à respetiva função (AAMT, 1998).
Neste sentido, Everett Thayer Gaston, apelidado de “pai da musicoterapia”, trabalhou
como psicólogo e professor de educação musical nos Estados Unidos de América
durante esta época (entre 1940 e 1960), sendo um impulsionador no que respeita à
vanguarda da profissão em conteúdos organizacionais e educacionais. Assim, com um
grande esforço por parte de diversas personalidades, bem como parcerias entre
comunidades escolares médicas e instituições hospitalares, é criada a Associação
Nacional de Musicoterapia (1950) (AAMT, 1998). É deste modo que se vincula a
Musicoterapia e se pode considerar reconhecida a profissão de musicoterapeuta.

6
1.1.3 O estado da Musicoterapia em Portugal

No que respeita ao estado da Musicoterapia em Portugal, pretendo previamente


apresentar uma breve nota introdutória sobre a mesma em alguns países a nível
internacional, especialmente na Europa e com predominância na cultura ocidental.
Assim, a Musicoterapia constitui uma atividade regulamentada, reconhecida e parte
integrante no campo das profissões e serviços de saúde. No continente europeu verifica-
se uma grande parte dos países a utilizarem a Musicoterapia como intervenção, com os
respetivos governos a reconhecerem a prática. Contudo, não se trata de um
reconhecimento oficial como profissão. Em certos países, tais como Espanha e Portugal,
podemos verificar a luta constante de associações ligadas à Musicoterapia. Em casos
mais felizes, persiste uma tentativa de direcionar a mesma para determinadas áreas
ligadas à saúde e educação, nomeadamente, na Dinamarca, no tratamento de pessoas
com demência e transtorno de personalidade emocionalmente instável, na Holanda em
cuidados de saúde mental (“CONO-boroepentabel”) e na Grécia na área da Educação
Especial.
Os únicos países da Europa a verem a profissão reconhecida, segundo a The European
Music Therapy Confederation (Ala-Ruona, 1991) são a Alemanha, a Noruega (1992) e
o Reino Unido (1997), e segundo Melissa-Mercadal Brotons (WFMT, 2008) Áustria e
Letónia com legislação para a mesma.
Infelizmente, Portugal é um dos países que não descortina um reconhecimento a nível
governamental, pois segundo a entidade supracitada, somente o Departamento de
Educação Especial inclui ou incluía a Musicoterapia como um dos tipos de intervenção
recomendados para crianças referenciadas com necessidades educativas especiais,
através de alguns relatórios e recomendações. Segundo Sousa, (citado em Oliveira &
Gomes, 2014), a Musicoterapia em Portugal, enquanto área de conhecimento, surge em
meados dos anos 70, através da formação de um grupo de investigadores do curso de
Educação pela Arte. Posteriormente, em 1989, sob a alçada da Divisão Regional de
Educação Especial da Madeira, em colaboração com a Universidade de Montpellier,
surge o primeiro curso de Formação de Musicoterapeutas no Funchal.
Atualmente existem associações musicais portuguesas que defendem as metodologias
da Musicoterapia e seus efeitos, bem como a sua emancipação como profissão, que em
cooperação com instituições de ensino superior, promovem artigos científicos em
revistas, workshops, bem como apenas um curso de mestrado na área (tal como

7
acontecia nos EUA no século XX, 1940-1960) nomeadamente na Universidade Lusíada
de Lisboa. Uma das associações responsáveis para esse efeito, e membro integrante da
The European Music Therapy Confederation, é a Associação Portuguesa de
Musicoterapia. Esta conta com o apoio de associações direcionadas a patologias, de
instituições de ensino superior, assim como da imprensa portuguesa, que no seu todo
têm desenvolvido esforços notáveis no que respeita a operar, impulsionar e a valorizar a
Musicoterapia enquanto área e profissão, apresentando uma proposta de lei à
Administração Central do Sistema de Saúde. Segundo uma reportagem de um jornal
nacional em Portugal,

“A Musicoterapia é uma área em crescimento em unidades de saúde,


mas os profissionais lamentam falta de legislação, que leva ao
exercício por quem não tem habilitações adequadas” (Campos, 2019).

A falta de regulamentação apresenta ser uma condicionante à área em questão, pois leva
a que outros profissionais, por exemplo professores de música ou psicólogos, exercem
sem habilitações (Campos, 2019). O que pode levar a pessoas “leigas” a comparar ou
igualar a outras áreas de atuação que envolve a música como por exemplo, expressão
musical, educação musical, animação musical, etc. Ana Esperança, atual presidente da
Associação Portuguesa de Musicoterapia, reitera que existe cerca de 130
musicoterapeutas com as devidas habilitações, trabalhando em diversas instituições e
contextos, nomeadamente em lar de idosos ou hospitais, tais como Leiria, nos centros
hospitalares de São João (Porto), Lisboa Central e Ocidental (Egas Moniz) e no hospital
Divino Espírito Santo, em S. Miguel.

“Neste momento falta profissionalização. Não há enquadramento


legal para a Musicoterapia, o que levanta dificuldades em várias
frentes. Não posso ser contratada como musicoterapeuta, tenho de
ser pela minha profissão de base que, muitas vezes, é distante da
atividade pretendida”(Campos, 2019).

Deste modo, verifica-se uma luta que promete ser recorrente e incessante, havendo
como prova disso, uma petição online que conta com cerca de 4500 assinaturas a
apresentar ao parlamento português, com o objetivo de impulsionar uma resolução no
que respeita ao reconhecimento da profissão, numa tentativa de reconhecimento por
parte do governo português, através da Classificação Portuguesa das Profissões.

8
1.1.4 Os efeitos terapêuticos da música na saúde

Verificamos ao longo deste trabalho que a música é parte integrante, bem como está
subjacente num determinado momento da vida de qualquer indivíduo. Segundo Redfield
(1961), citado por Matoso & Oliveira (2017), a música por si só é um evento que
apresenta diversos elementos, sendo eles a harmonia, melodia, ritmo, tempo, forma,
dinâmica, cor e timbre, que de forma isolada ou em conjunto retratam um casamento
harmonioso e expressivo de sons. As decorrências de todos esses elementos no ser
humano possuem relação há milhares de anos, no entanto a abertura é subjetiva
conforme estados emocionais de cada pessoa (Areias, 2016). É a partir desta premissa
que o musicoterapeuta pode ser um facilitador nesta conduta em que a música é a
ferramenta principal. Sendo a música uma via de comunicação direta com as pessoas
(Ruud, 1991), esta segundo Blasco (1996) (citado por Matoso & Oliveira, 2017)
apresenta um valor terapêutico provocando resultados no que respeita a áreas somáticas,
psicológicas, sociais, cognitivas e espirituais do ser humano. Já estudados são os
benefícios da musicoterapia em crianças e adolescentes com autismo e dislexia, em
adultos com AVC, síndrome de Parkinson, demências e epilepsias (Miranda, et al.,
2017).
Comecemos com os contactos sonoros ou da música na vigésima semana de gestação
em que o feto humano possui os primeiros contactos sensoriais, reconhecendo sons
através do contacto mãe-filho. A utilização da música utilizada para atenuar o aumento
de frequência cardíaca comuns durante a gestação que podem provocar arritmias, bem
como nas primeiras semanas de vida para diminuir a dor das cólicas do bebé (Areias,
2016).
Um ensaio clínico controlado realizado por Vianna et al. (2013) a 94 mães de recém-
nascidos prematuros, constataram uma diminuição significativa no ritmo cardíaco das
mães e bebés na utilização da musicoterapia de improvisação, bem como otimizou a
frequência respiratória e a saturação do oxigénio, deixando os bebés mais calmos,
conduzindo-os a um sono profundo após a sessão (Matoso & Oliveira, 2017).
Um estudo publicado em 2010 na revista Heart por um médico cardiologista alemão
Hans-Joachim Trappe, numa unidade de cuidados intensivos, constata os efeitos que a
música possuía nos seus doentes em variados estilos. Música erudita de Bach, Mozart e
de compositores italianos, foram os que obtiveram melhores resultados. O fluxo
cerebral por ecografia na artéria cerebral média, diminuía substancialmente na audição

9
da obra Va Pensiero da ópera de Nabucco de Giuseppe Verdi, comparado com os
demais estilos musicais. Estilos musicais como o Heavy Metal e Techno aumentavam os
níveis de stress e comportamentos agressivos, o Jazz aumentava a concentração, e
também o Hip Hop e o Rap, não pela melodia, mas pela decorrência do ritmo e das
palavras. A música considerada de meditação dispunha de um resultado sedativo nos
pacientes (Areias, 2016).
Em pacientes com hipertensão arterial sistémica, as técnicas utilizadas da musicoterapia
diminuíram significativamente os níveis de pressão arterial segundo um estudo
avançado por Zanini et al. (2009) citado em Matoso & Oliveira (2017).
A música estimula as células cerebrais, que por sua faz aumentar os níveis de
serotonina, melhorando o sentido de humor. Num sentido inverso, a diminuição da
serotonina pode causar problemas como a ansiedade ou depressão, criando uma baixa
eficiência cerebral. O mesmo acontece nos doentes em estados de pré-operatório, com
melhor prognóstico que certos fármacos, como o midazolam, uma benzodiazepina que
atua na ansiedade e relaxamento muscular. A ação da música estimula a hipófise que
por sua vez libera endorfinas e neurotransmissores que atuam como analgésicos
despertando sensações de bem-estar e conforto (Areias, 2016).
Estando a música altamente relacionada com estados emocionais, essas emoções têm
efeitos no sistema endócrino e sistema imunitário. As emoções positivas suscitadas pela
música podem provocar ganhos vitais, designadamente em doenças autoimunes,
endócrinas e autónomas (Sousa, 2013).
Uma das grandes curiosidades da musicoterapia é precisamente o mesmo efeito que
determinados fármacos podem produzir, sem efeitos secundários. A música tem efeitos
positivos na dor, independentemente da idade, o que pode contribuir para o seu
controlo. A música pode bloquear a perceção dolorosa dos neurotransmissores da dor
(Areias, 2016). Estudos de Tabarro e al. (2010) e Cruz, Pirovich e Penã (2003), afirmam
o alívio da dor em contrações uterinas, e diminuía a tensão e o medo. Franco e
Rodrigues (2009) apontam uma redução da intensidade da dor na amostra dos seus 10
pacientes oncológicos (Matoso & Oliveira, 2017).
A recolha de estudos científicos de Matoso & Oliveira (2017) apresentam a
percentagem de todos os variados estudos que analisaram referindo que a utilização da
música reduz os níveis de ansiedade e stress, melhora as funções cognitivas na
aprendizagem relativo à memória e compreensão e desenvolvimento neuropsicomotor,

10
melhora as funções cardiorrespiratórias, o condicionamento físico, as convivências
socias, apoia na amamentação, bem como reduz os níveis de depressão (2017).
Em pessoas idosas que também apresentem demência ou Alzheimer, canções que
recorrem à reminiscência, seja emoções de alegria ou tristeza, provocam melhores
estados de sono e combatem a depressão. Pode melhorar a comunicação, despertando a
destreza da linguagem, em várias formas de afasia (Areias, 2016).
Desta forma, Vianna et al. (2013) (citado em Matoso & Oliveira, 2017) salientam que a
música enquanto prática participante e complementar na terapêutica, preservação e
melhoria da saúde apresentam-se referenciadas e discutidas na literatura médica.

1.2 O CÉREBRO

O cérebro é dos órgãos mais complexos no que respeita à sua compreensão e entendê-lo
é um tremendo desafio. Com o aspeto e tamanho de uma couve-flor e um peso de
aproximadamente 1,36 kg, possui uma rede sofisticada com cerca de 90 mil milhões de
neurónios, segundo Chris Frith (Seth A., 2018). Embora haja avanços científicos sobre
o mapeamento deste maravilhoso órgão, “os neurocientistas ainda estão constantemente
a adquirir novos conhecimentos acerca do funcionamento interior do cérebro” (Seth A.,
2018, pág. 9). Para perceber posteriormente as consequências de um AVC,
nomeadamente as afasias, é crucial discernir de forma acessível as áreas do órgão em
questão.

1.2.1 Córtex Cerebral

O cérebro vem de uma evolução humana de milhões de anos e não o conseguiríamos


sem as partes internas do seu todo. A teoria evolutiva do professor Paul Maclean
(1970), propunha que o cérebro humano é um produto de uma vasta herança
filogenética, compreendido em três cérebro em um, por ordem evolutiva,
nomeadamente: o cérebro reptiliano (tronco encefálico ou cerebral), o cérebro límbico
(sistema límbico) e o córtex cerebral (neocortex).
O cérebro reptiliano é composto pelo tronco encefálico ou cerebral (bulbo, ponte e
mesencéfalo) diencéfalo e pelo cerebelo, partes mais antigas do cérebro (figura 1)
(Nordengen, 2018; C. L. VanPutte et al., 2016). O tronco encefálico e diencéfalo,

11
apresentam-se como uma pequena área na parte inferior do cérebro entre a medula
espinal e o resto do cérebro (VanPutte et al., 2016).
O tronco encefálico é responsável pelo controlo de muitas funções vitais. Através do
seu bulbo, apresenta um centro de diversos reflexos importante como por exemplo o
batimento cardíaco, a respiração, a deglutição e o vômito; através da sua ponte,
retransmite informações entre o cérebro e o cerebelo, sendo um local de centros de
reflexos; através do seu mesencéfalo, atua como centro de reflexo e é parte da via
auditiva. Ao longo do tronco encefálico encontramos uma formação reticular que
controla diversas atividades, incluindo o controle motor, perceção da dor, contrações
rítmicas e ciclo sono-vigília (VanPutte et al., 2016).
No diencéfalo difundem-se os diferentes estados emocionais de forma periférica, como
por exemplo o choro, o aumento da frequência cardíaca, entre outros. Conecta o tronco
encefálico ao cérebro e possui diversas funções homeostáticas e de retransmissão. É um
mecanismo incessante independentemente de estarmos acordados ou a dormir e as
lesões nesta área implica sérias consequências (Nordengen, 2018; Anil Seth, 2018;
VanPutte et al., 2016).
O cerebelo ou cérebro pequeno, também semelhante a uma couve-flor, do tamanho de
um punho (ocupando apenas 10% do cérebro), é uma das áreas reguladoras de
movimento, que quando afetado por perturbações seja por doenças hereditárias e até
mesmo pelo álcool, limita a nossa coordenação e provoca-nos movimentos desajeitados.
Está repleto de células, contendo metade dos neurónios de todo o sistema nervoso
central e tal como o cérebro, divide-se por dois hemisférios unidos por uma estrutura
chamada de vermis. A função deste órgão envolve o controlo do movimento e do tónus
muscular, o equilíbrio, regula a extensão do movimento voluntário, e envolvido no
aprendizado de habilidades motoras. Recentes estudos atribuem relação deste órgão
com a memória, o humor, a linguagem e a atenção. (Caldas, 2000; Nordengen, 2018;
Anil Seth, 2018; VanPutte et al., 2016).
Uma das áreas do cérebro a referir é o corpo caloso (figura 1.1), via de comunicação
entre hemisférios cerebrais, responsável pela dinâmica completa de ação do cérebro.

12
Figura 1.1. Vista medial das regiões do encéfalo.
Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 13.1.
Desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, p. 430. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

O cérebro límbico são partes agrupadas nas regiões mais profundas do cérebro, que
formam um anel em torno do diencéfalo (figura 1.2). A sua origem proporcionou o
acesso a sentir e expressar emoções. Com um papel central nas funções básicas de
sobrevivência, como a nutrição, o humor, o cheiro, a reprodução e memória, este
também se apresenta fortemente relacionado com a interpretação de entradas sensoriais
e emoções em geral. As principais funções do cérebro límbico é promover a
preservação do organismo e o sentido de sobrevivência, assimilar informação genética e
ambiental através da aprendizagem, bem como adquirir sinais internos e externos de
forma prévia a um resultado de conduta.
Este sistema apresenta áreas corticais nomeadamente: o giro de cíngulo, localizado
acima do corpo caloso, na superfície interna da fissura longitudinal; o giro para-
hipocampal, localizado na região medial do lobo temporal (ver figura 1.7 para a
localização do lobo temporal); vários núcleos, tais como os anteriores do tálamo, a
habênula do epitálamo e o giro dentado do hipocampo; partes dos núcleos da base,
como a amígdala; o hipotálamo, especificamente os corpos mamilares; o córtex
olfatório; e tratos que permitem a conexão de várias áreas corticais e núcleos, como o
fórnice, que interliga o hipocampo ao tálamo e aos corpos mamilares (figura 1.3).
(Carpenter, 1978; VanPutte et al., 2016). O tálamo está relacionado com a retransmissão
sensorial, bem como influencia o humor e os movimentos. Os núcleos da base
controlam a atividade muscular e a postura, bem como inibe movimentos involuntários
quando em repouso. O epitálamo é composto pela habênula e pela glândula pineal e

13
responde através dos seus núcleos à estimulação olfatória. A habênula está envolvida
nas respostas emocionais e viscerais aos odores e a glândula pineal relacionada à
modulação do ciclo sono-vigília e outros ritmos biológicos. O hipotálamo é o principal
responsável pela homeostase e regulação da função endócrina (VanPutte et al., 2016).

Figura 1.2. Vista medial das regiões do encéfalo.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 13.1.
Desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, p. 430. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

Figura 1.3. Sistema límbico e estruturas associadas do hemisfério cerebral direito.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 13.
Integração e Sistemas de Controle, p. 442. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

O córtex cerebral é a parte do cérebro que nos mantém como os seres mais inteligentes
do planeta Terra. Essa área é constituída por massa cinzenta (embora tenha um tom
rosado) onde se encontra os corpos dos neurónios, bem como ocorre as sinapses, ou
seja, pontos de contactos entre neurónios (figura 1.4) (Nordengen, 2018).

14
Figura 1.4. Vista lateral do cérebro onde identifica a massa branca, o córtex cerebral
(massa cinzenta), corpo do neurónio e sinapse.
Fonte: de “o Poder do Nosso Cérebro – Desvendado os Segredos da Mente humana” de K. Nordengen,
2018, Capítulo 1. A (R)Evolução do Pensamento, p. 23. Planeta Manuscrito: 978-989-777-119-4.

A atribuição de cores às massas constituintes do cérebro (massa cinzenta e branca),


deve-se à um procedimento que se denomina por mielinização,

“processo através do qual o axónio de um neurónio é revestido por


mielina, que tanto isola o axónio dos axónios vizinhos como aumenta
drasticamente a velocidade do impulso nervoso que o percorre. A
mielinização, que depende das células gliais, é essencial à
transmissão eficiente da informação no cérebro” (Anil Seth, 2018).

O córtex cerebral é constituído e dividido por dois hemisférios, direito e esquerdo pela
fissura longitudinal. Em cada hemisfério, encontram-se diferentes dobras denominadas
de giros, responsáveis pelo aumento significativo da área superficial do córtex. E
também por espaços entre os giros que se observa na figura 1.5, que se designam por
sulcos (VanPutte et al., 2016).

15
Figura 1.5. Vista superior dos dois hemisférios cerebrais identificando sulcos e giros.
Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 13.5.
Cérebro, p. 439. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

Por sua vez, em cada hemisfério residem diferentes lobos, nomeadamente:


 Lobos Frontais – mais desenvolvido nos humanos de que em qualquer
animal, é responsável e envolvido por tomadas de decisões, “consciência
consciente (Nordengen, 2018)”, ao planeamento, à memória, capacidades
motoras, funções cognitivas, no discurso e à personalidade;
 Lobos Parietais – mantendo a consciência do ambiente externo em
relação ao corpo, têm um papel preponderante na assimilação dos
diferentes sentidos, ou seja, permite-nos experienciar quando alguém nos
toca na face ou quando nos corre lágrimas pelo rosto. Apresenta-se
determinante na perceção de posição e espaço, bem como participa
dinamicamente no processamento da atenção;
 Lobos Occipitais – relacionados principalmente com a visão, recebe e
processa informação visual através dos olhos, transmitindo para os lobos
frontais e parietais;
 Lobos Temporais – são importantes no reconhecimento de objetos, à
formação e armazenamento da memória, na linguagem, no olfato e
audição (BBC, 2017; Caldas, 2000; Nordengen, 2018; Anil Seth, 2018);
Há vários autores que fazem referencia também ao Lobo Insular ou à Insula que se
apresenta oculta sob a fissura de Sylvius (Huang, 2019).

16
Nas figuras seguintes (figura 1.6 e 1.7), poderemos verificar de forma simples a
arquitetura do nosso córtex cerebral por diferentes lobos conforme supracitado.
Dois dos principais sulcos que balizam os lobos frontal, temporal e parietal, são o sulco
central (rego ou fissura de Rolando) e a fissura de Sylvius (rego ou sulco lateral) (figura
1.7).

Figura 1.6. Vista superior do córtex cerebral do hemisfério esquerdo e direito,


apresentando alguns lobos.
Fonte: de “o Poder do Nosso Cérebro – Desvendado os Segredos da Mente humana” de K. Nordengen,
2018, Capítulo 1. A (R)Evolução do Pensamento, p. 23. Planeta Manuscrito: 978-989-777-119-4.

Figura 1.7. Vista lateral do hemisfério cerebral esquerdo, mostrando os lobos.

17
Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 13.5
Cérebro, p. 438. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

Nos lobos estão presentes diferentes áreas de regiões funcionais, chamadas de áreas
sensoriais primárias, onde essas sensações são compreendidas (parte integrante de todo
o córtex cerebral), nomeadamente a área auditiva de associação, córtex primário
auditivo, área pré-frontal, área pré-motora, córtex motor primário (giro pré-central),
área de Broca, córtex sensorial somático primário (giro pós-central), área de associação
sensorial somática, área de Wernicke, córtex visual, área de associação visual, área de
gustação (figura 1.8).

Figura 1.8. Regiões funcionais do lado lateral do córtex cerebral esquerdo.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.1.
Sensação, p. 471. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

Os termos áreas e córtex são de igual forma usados para se referir à mesma região
funcional do córtex cerebral. Vejamos o córtex sensorial somático primário que ocupa a
maior parte do giro pós-central, possui inúmeras fibras de entradas sensoriais tais como,
dor, pressão e temperatura, fazem sinapse com o tálamo e através dos seus neurónios
talâmicos, transmitem informação para este mesmo córtex. Este córtex, em cada
hemisfério, está organizado apresentando parte de um plano sensorial geral do corpo,
como podemos verificar na seguinte imagem (figura 1.9) onde se apresenta um
homúnculo (pequeno humano) da cabeça para baixo, representando o lado contrário do
corpo, com a cabeça na parte inferior e os pés na parte superior. O homúnculo apresenta

18
uma face desproporcionalmente grande devido à densidade de recetores sensoriais ser
muito maior na face do que nas pernas. Uma área maior deste córtex presenta assim
possuir mais neurónios associados com a face (VanPutte et al., 2016).

Figura 1.9. Topografia do córtex sensorial somático primário.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.1.
Sensação, p. 474. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

O controlo dos músculos esqueléticos depende de neurónios motores superiores


(presentes no córtex cerebral) e inferiores (presentes na medula espinal e tronco
encefálico). O córtex motor primário e suas vias motoras neuronais são responsáveis
pela maior parte dos movimentos voluntários que envolvem as áreas pré-motoras do
córtex cerebral e envolvem a estimulação de neurónios motores superiores.
Consequentemente, os axónios dos neurónios motores incentivam os neurónios
inferiores que estimula a contração dos músculos esqueléticos. Neste processo o córtex
cerebral interage com os núcleos de base e cerebelo no que respeita ao planeamento,
coordenação e execução dos movimentos. Este córtex ocupa o giro pré-central e apenas
30% dos neurónios motores superiores se localizam no córtex motor primário. Outros
30% localizam-se na área pré-motora e os restantes no córtex sensorial somático

19
primário. Similar ao arranjo do homúnculo do córtex sensorial somático primário,
também o córtex motor primário apresenta um plano geral corporal em ambos os
hemisférios, como podemos verificar na seguinte imagem (figura 1.10). O tamanho de
cada região corporal indica inervação relativa (VanPutte et al., 2016).

Figura 1.10. Topografia do córtex motor primário.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.2.
Controle dos músculos esqueléticos, p. 475. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

A compreensão destes dois homúnculos torna-se relevante para posteriormente


relacionar algumas consequências que um acidente vascular cerebral pode causar nestas
áreas corticais.
Para complementar e identificar melhor as áreas do cérebro, é comum na literatura
fazer-se referência ao “mapa de Brodmann”, mapa estrutural mais conhecido sobre as
áreas do cérebro. Brodmann não terá sido o único a tentar mapear o cérebro. Oscar e
Cecile Vogt, Grafon Smith e Alfred Cambel, na mesma época terão apresentado
também propostas sobre o mapeamento do cérebro. Enquanto que Brodmann propôs 52
áreas estruturais diferentes sobre o cérebro (figura 1.11), Oscar e Cecile Vogt,
propunham mais de 200. No entanto, parece estar longe de ser representativo dado à
enorme variabilidade interindividual, pois para Caldas (2000), Brodmann terá
trabalhado em apenas quatro cérebros diferentes. Para este autor, a aparência interna

20
tem variações como tem a aparência externa e se formos rigorosos na localização,
referente ao cérebro podemos perder as referências com facilidade. E enfatiza,

“Só os gémeos univitelinos aparentam uma semelhança anatómica


dos seus cérebros e, mesmo assim, não são completamente iguais em
todas as regiões, sugerindo a influência das diferentes exposições ao
meio-ambiente e, por isso, a diferentes experiências de vida” (pág.
35)
As áreas mencionadas neste trabalho são as áreas 22, referente à área de Wernicke, 44 e
45 referente à área de Broca e área 47 referente ao giro pré-frontal inferior.

Figura 1.11. Mapa de Brodmann.


Fonte: de “Neurociência Fundamental – para aplicações básicas e clínicas” de Haines D., 2006, Capítulo
2. Neurobiologia dos sistemas, p. 604.Churchill Livinstone - ElSEVIER: 979-85-352-1997-7.

1.2.2 Cérebro e Música

Este ponto pretende descrever a viagem da música no nosso cérebro num sentido
conciso sobre estudos da neuroanatomia. Se pesquisarmos sobre música no cérebro, ou
mesmo o poder da música sobre o cérebro, reunimos ideias ou estudos
interessantíssimos de variados autores, na qual se poderia separar e aplicar música no
cérebro e música na mente, independentemente da aptidão musical do ser humano.

21
Um autor que aborda a utilização da música de forma graciosa e é transversal a estes
temas é precisamente Oliver Sacks. Por exemplo com brainworms – música ou melodia
em que não sai da cabeça ou ouvido; ou a imagética musical - a forma como um ser
humano, imagina a sua música.
Imaginar a sua música, pode ser diferente de ouvir uma música ou fazer música, num
sentido lato, envolvendo várias e diferentes áreas corticais. Oliver Sacks (2008), salienta
o exemplo da qualidade de Beethoven na composição musical, mesmo após à sua
surdez dizendo que,

“É possível que o seu imaginário musical se tivesse intensificado com


a surdez, pois devido à eliminação da capacidade auditiva normal do
córtex auditivo pode tornar-se hipersensível com os poderes
acentuados de imagética musical (e por vezes mesmo com
alucinações auditivas)” (2008, pág. 46).

Ou a ação de músicos a praticar mentalmente no seu instrumento que conforme um


artigo de Zatorre e Halpern (2005), “conseguem “ouvir” o seu instrumento durante a
prática” (2008, pág. 47), que ao imaginar a música estimula o córtex motor, e
contrariamente, imaginar o ato de tocar, estimula o córtex auditivo (Sacks, 2008).
Comecemos por explicar numa breve e singela frase, o que pode ser a cognição cerebral
com a música:

“playing music is the brain`s equivalent of a full-body workout”


(Collins, n.d.).

A frase supracitada de Collins vem determinar a compreensão atual do poder da música


sobre o cérebro, graças a enormes avanços da neurociência. Verificou-se devido à
monitorização do mesmo em tempo real através de Tomografias e Ressonâncias
Magnéticas.
Seja músico ou não músico, o cérebro envolve quase todas as suas regiões e subsistemas
neuronais, pois todos os diversos aspetos musicais, são processados por áreas neuronais
diferentes. É a partir desse momento que o espetáculo cognitivo se desenrola, ou seja,
várias zonas do cérebro são ativas ao mesmo tempo, à medida que se processa o som,
vai determinando os elementos da música, juntando tudo numa experiência musical
unificada. Tudo isto acontece em frações de segundos (Collins, n.d.).

22
A neurociência diz-nos atualmente que ouvir qualquer som na sua determinada forma
(altura, timbre, melodia, ritmo, etc), é processada na via ascendente auditiva até ao
córtex primário auditivo, situado no plano temporal superior dentro do rego de Sylvius
de ambos os hemisférios, incluindo estruturas subcorticais já mencionadas (tronco
cerebral, cerebelo e núcleos da base) (Caldas, 2000; Lauren Stewart, et al., 2006).
Vejamos por exemplo, quando acompanhamos uma música que conhecemos ou mesmo
um estilo musical que gostamos, recorremos a uma região do cérebro chamada de
hipocampo (centro da memória, parte integrante do cérebro límbico), bem como às
subsecções do lobo frontal, região denominada de córtex pré-frontal. No que respeita à
questão rítmica, nomeadamente no bater do pé ao som da música, utilizamos circuitos
temporais do cerebelo e do córtex motor. Quando interpretamos uma música, no
planeamento do nosso comportamento e movimento, seja tocando, cantando, assim
como dirigir uma orquestra, operam também aos lobos frontais (referente córtex motor
primário e à área pré-motora). Na resposta tátil que nos permite experienciar o toque de
um instrumento ou movimento da batuta, utilizamos os lobos parietais (referente ao
córtex sensorial somático primário e à área de associação sensorial somática). Na leitura
musical recorremos aos lobos occipitais (referente ao córtex visual e à área de
associação visual). No que respeita a ouvir ou recordar letras de canções, utilizamos os
centros de linguagem dos lobos temporais e frontais, nomeadamente as áreas de Broca e
de Wernicke. No que respeita às emoções que sentimos a ouvir a música, além de todo
este processo complexo, envolvem-se estruturas profundas do cérebro reptiliano e
cérebro límbico, nomeadamente a amígdala cerebral, que como diz António Damásio -
estrutura chave que implica emoção e tomada de decisões, e o vermis do cerebelo
(Caldas, 2000; Levitin, 2007; VanPutte et al., 2016) (figura nº 1.12).

23
Figura 1.12. Manifestação da música no córtex cerebral e cerebelo nas suas diversas
funções.
Fonte: de “Uma Paixão Humana – O seu Cérebro e a Música” de Daniel J. Levitin, 2016, Anexo A, p.
276. Editorial Bizâncio: 978-972-53-0363-4.

Deste modo, a ordem das regiões do cérebro que se ativam numa audição de uma
música, segundo Levitin (2007), são:

“primeiro: o córtex auditivo para o processamento inicial dos


componentes do som; depois, as regiões frontais, como as áreas 44 e
47 de Brodmann, (...) envolvidas no processamento da estrutura
musical e das expectativas musicais; por fim, uma rede de regiões – o
sistema mesolímbico – envolvida (...), no prazer, (...) na produção de
dopamina, culminando na activação do núcleo accumbens (Pág. 197).

Além dessas áreas do cérebro, o cerebelo e núcleos da base normalmente acompanham


o processamento do ritmo e da métrica. Os níveis crescentes de dopamina do núcleo
accumbens (parte integrante dos núcleos da base), bem como a regulação das emoções
da conexão do cerebelo, lobo frontal, bem como o sistema límbico, parecer ser
mediadores no que respeita a aspetos de recompensa e de reforço da audição da música
(Levitin, 2007) (figura 1.13).

24
Figura 1.13. Manifestação da música no cérebro límbico nas suas diversas funções.
Fonte: de “Uma Paixão Humana – O seu Cérebro e a Música” de Daniel J. Levitin, 2016, Anexo A, p.
276. Editorial Bizâncio: 978-972-53-0363-4.

Quando pensamos na função dos hemisférios cerebrais, em que o esquerdo é mais


analítico e o direito mais artístico, de alguma forma torna-se simplista na complexidade
cerebral, mas não descabido. Por exemplo, R. Zatorre do Instituto Neurológico de
Montreal, no que respeita à perceção das melodias, descobriu que as lesões do lobo
temporal direito são mais afetadas do que as lesões no esquerdo; I. Peretz descobriu que
ao contrário dos circuitos do ritmo e da métrica no cérebro, o hemisfério direito possui
um processador do desenho musical que traça o contorno de uma melodia e analisa-o
para um posterior reconhecimento (Levitin, 2007, pág. 179). Contudo, não tirando o
mérito a certos estudos que aplicam essa conceção, todas essas atividades requerem a
coordenação dos dois hemisférios pela via do corpo caloso, embora outras e certas
funções apresentarem-se lateralizadas como veremos mais à frente no ponto seguinte.
Deste modo, percebe-se que o cérebro na sua plenitude, numa ação complexa das suas
diferentes funções, compreende e usufrui a música.

25
1.2.3 Cérebro e Linguagem

É no hemisfério esquerdo do córtex cerebral que se situa a área da linguagem na maioria


das pessoas. Atribuem duas áreas corticais na sua envolvência, nomeadamente a área de
Wernicke e a área de Broca. A área de Wernicke (área de Brodmann 22), em
homenagem a Carl Wernicke (neurologista e psiquiatra alemão), localiza-se em parte do
lobo parietal, nomeadamente na área sensorial da fala (figura 1.8). Esta área é essencial
para a compreensão e formulação de linguagem congruente. A área de Broca (parte da
área 44 e área 45 de Brodmann), localiza-se na parte inferior do lobo frontal, perto da
fissura de Sylvius, na área motora da fala. Esta área é responsável por uma série de
movimentos complexos essenciais à linguagem. Estas duas áreas interligam-se por
feixes de neurónios denominados de fascículo arqueado (figura 1.14).

Figura 1.14Figura 10a. Processo cerebral durante a linguagem.


Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.
Integração das Funções do Sistema Nervoso, p. 485. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

Na figura seguinte podemos verificar como deve processar-se a linguagem, desde à


observação de uma determinada palavra até à produção da mesma.

26
Figura 1.15. Processo cerebral durante a linguagem.
Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.
Integração das Funções do Sistema Nervoso, p. 485. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

1.2.4 Relação entre Música e Linguagem

Quando refletimos sobre música e linguagem, uma das tendências é expressar o que têm
em comum, a comunicação.
Apesar da música e linguagem serem considerados relevantes na evolução da espécie
humana, através de produção sonora para avistamento e chamamento ou aviso de
perigo, os musicólogos acreditam que ambas evoluíram como sistemas complexos
diferenciados (Barbosa, 2014). Não procuramos aqui estabelecer um rótulo do que é ou
como se processa uma ou outra, mas sim encontrar alguns pontos genéricos.
Numa perspetiva neuroanatómica breve, a linguagem desenrola-se mais no hemisfério
esquerdo do cérebro, embora o hemisfério direito seja influente na perceção e
compreensão da mesma. Enquanto que a música, pode ser “desenhada” (pensamento
musical) no hemisfério direito, no seu todo, é processada em áreas corticais de ambos os
hemisférios, sendo que também recorre às áreas de Broca e Wernicke em certos
processos musicais. Porém, ambas apresentam uma proximidade no que respeita à
atenção, memória e habilidades motoras (Levitin, 2007; Nordengen, 2018; Sacks, 2008;
VanPutte et al., 2016). Constatou-se em Zatorre; Belin; Penhume, 2002; Zatorre; Chen;
Penhume, 2007; Pfeuty; Peretz, 2010; (citado em Rocha & Boggio, 2013) essa
independência de processos cognitivos entre linguagem e música, nomeadamente no
processamento musical de melodias no hemisfério direto e o processamento da
linguagem no hemisfério esquerdo, em pacientes com amusia (fala intacta mas
dificuldade em reconhecer músicas) ou afasia (capacidade de canto e reconhecimento de
músicas mas dificuldades na fala). Por outro lado, um estudo publicado por Gottfried
Shaug (citado em Weigsding & Barbosa, 2014) descreve que o corpo caloso nos
músicos, principalmente os iniciados em tenra idade apresentam-se maiores, o que leva
a emergir a inferência que as operações musicais tornam-se bilaterais com a otimização
da prática musical no processo neuronal de ambos os hemisférios. Numa perspetiva
anatomofisiológica, a linguagem através da fala e a música através de sons musicais, na
sua individualidade, contam com os mesmos parâmetros acústicos, frequência, duração,
intensidade e timbre do aparelho fonador (Barbosa, 2014; VanPutte et al., 2016).

27
É graças a estudos nestas duas áreas, que se têm encontrado pontos de relação que
podem ser cruciais para patologias, como referido posteriormente. Por exemplo,
Aniruddh Patel citado por Daniel Levitin (2007), refere que a sintaxe em linguagem e
música partilham de redes neuronais comuns do lobo frontal do cérebro. E mesmo por
Oliver Sacks (2008), referindo “semelhanças profundas entre o processamento da
linguagem do cérebro e o processamento da música (incluindo a gramática)” (2008,
pág. 220).
Um exemplo onde resulta essa relação é em pacientes com afasia não fluente, pois em
sessões de Musicoterapia, descobrem que conseguem ter acesso a palavras, bem como
ao fluxo verbal, embora anelado ao fluxo do canto (Sacks, 2008). Além disso as áreas
encefálicas envolvidas no canto são desafiantes, pois apresentam envolvências de áreas
corticais e sobreposição no que respeita às funcionalidades da linguagem e do cântico
(Amorim et al., 2017).
Tendo em conta esses pontos de relação, podemos suscitar música e linguagem como
formas de comunicação. E quando a linguagem por alguma razão se apresente
obstruída, a utilização da música apresenta ser uma via aberta igualmente capaz de
expressar emoções.

1.2.5 Cérebro Vascular – Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Acidente


Vascular Encefálico (AVE)

O fornecimento de corrente sanguínea para todo o cérebro é da responsabilidade de um


conjunto de artérias que formam um círculo arterial cerebral ou de Willis (em
homenagem ao médico inglês, Tomas Willis), na zona interna e inferior do cérebro
(figura 1.16). Elas vão ramificando por todo o cérebro, tal como podemos também
verificar numa vista superficial e medial do mesmo (figura 1.17 e 1.18) (Carpenter,
1978).

28
Figura 1.16. Apresentação das principais artérias do círculo arterial cerebral em vista
inferior.
Fonte: de “Neuroanatomia Humana” de Malcolm B. Carpenter, 1976, Vascularização do Sistema
Nervoso Central, p. 572. Editora INTERAMERICANA.: 10001890786152.

Figura 1.17. Apresentação das principais artérias numa vista superficial.


Fonte: de “Neuroanatomia Humana” de Malcolm B. Carpenter, 1976, Vascularização do Sistema
Nervoso Central, p. 575. Editora INTERAMERICANA.: 10001890786152.

29
Figura 1.18. Apresentação das principais artérias vista medial.
Fonte: de “Neuroanatomia Humana” de Malcolm B. Carpenter, 1976, Vascularização do Sistema
Nervoso Central, p. 574. Editora INTERAMERICANA.: 10001890786152.

O AVC, muitas das vezes denominado de derrame, representa um grupo heterogéneo de


condições, provocando a morte do tecido encefálico por alterações de irrigação
sanguínea (Martins, 2002). Apresenta-se como a primeira causa de morte e
incapacidade em Portugal (Instituto Nacional de Estatística, 2016) e 80% das doenças
cardíacas prematuras e AVC são evitáveis (WHOEurope, 2019). Há fatores de risco que
aumentam a probabilidade de ocorrer um AVC, nomeadamente hipertensão arterial,
tabagismo, fibrilação auricular (arritmia) e outras doenças de coração, diabetes,
colesterol elevado, obesidade, sedentarismo, alcoolismo. Existem dois tipos de AVC: o
hemorrágico (hemorragia), consequência de rompimento das artérias que fornecem o
tecido encefálico, causando hematoma (figura 1.19); e o isquémico (enfarte),
consequência de um bloqueio das artérias que fornecem o encéfalo, por um trombo -
coágulo que se desenvolve dentro da artéria; ou embolia - um tampão composto por um
embolo que se soltou de um corpo estranho, como uma bolha de ar ou glóbulo de
gordura, impedindo o oxigénio de chegar a determinadas zonas do cérebro (figura 1.20).
A grande maioria de ocorrência de AVC (87%) é isquémica (SPAVC, 2013; VanPutte
et al., 2016).

30
Figura 1.19. Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico.
Fonte: de “Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral” 2013,
http://spavc2013.lvengine.net/Imgs/pages/avc.pdf.

Figura 1.20. Acidente Vascular Cerebral Isquémico.


Fonte: de “Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral” 2013,
http://spavc2013.lvengine.net/Imgs/pages/avc.pdf.

Esta problemática, pode ocorrer em todo o sistema vascular do cérebro, no entanto


parece haver formação de placas (êmbolos ou trombos) em áreas comuns, segundo a
Tonya Hines (2006). Na imagem seguinte, podemos entender as que podem ser as áreas
mais afetadas circundadas a amarelo (figura 1.21).

31
Figura 1.21. Áreas comuns afetadas por êmbolos ou trombo.
Fonte: de “” 2013, http://spavc2013.lvengine.net/Imgs/pages/avc.pdf.

Normalmente, são realizados exames de imagiologia encefálica, para determinar o


diagnóstico (tipo de AVC), bem como o tratamento adequado. Quando são AVC
hemorrágicos pode ser necessário cirurgia para descontinuar o sangramento para
diminuir ou eliminar a hemorragia que por vezes gera efeito massa. Quando são AVC
isquémicos o paciente é tratado com terapêutica que anulam o coágulo e minimizam a
formação de outros.
Como consequência podem combinar em uma série de complicações que poderemos
verificar na imagem seguinte que demonstra especificamente por sistemas, dependendo
sempre da extensão e localização da lesão do tecido nervoso (Martins, 2002) (figura
1.22). Umas das principais realidades afetadas que se apresentará posteriormente é a
dificuldade de comunicação (afasias) (SPAVC, 2013; VanPutte et al., 2016).

32
Figura 1.22. Esquematização das consequências de um AVC.
Fonte: de “Anatomia e Fisiologia de Seeley” de Cinnamon L. VanPutte ... [et al.], 2016, Capítulo 14.
Integração das Funções do Sistema Nervoso, p. 493. AMGH Editora Ltda.: 978-85-8055-588-2.

1.3 AFASIA

Em Portugal, estima-se que 50% dos sobreviventes de AVC apresentam dificuldades de


comunicação. Os acidentes vasculares, podem apresentar lesões impossibilitando ou
dificultando o cérebro na sua função cognitiva normal. No entanto, com os avanços
tecnológicos na medicina, persiste cada vez mais o número de sobreviventes de
pacientes com lesões cerebrais. Estudos da área da neurologia, referente à
neuroplasticidade, bem como à renovação de células, afirmam que um ambiente
enriquecido aplicado a adultos estimula a reorganização do cérebro, nomeadamente a
neurogénese, contrariando assim, a teoria que os neurónios deixam de ser produzidos na

33
tenra idade (Elena P. Moreno-Jiménez, et al., 2019). Uma ideia que corrobora o que se
apresenta acima descrito, organizado por Anil Seth é que,

“A neurogénese e a neuroplasticidade permitem que o cérebro se


adapte às diferentes exigências que lhe impomos ao longo das várias
fases da vida.” (2018, pág. 138)

A ideia acima apresentada, é adotada e defendida pelas equipas multidisciplinares


trabalhando assiduamente e seriamente, numa tentativa de recuperar habilidades que os
doentes já possuíam antes das lesões que descrevemos posteriormente.

1.3.1 Afasia e sua definição

A afasia é um distúrbio de linguagem que afeta as características da mesma em variados


níveis, considerada um distúrbio neurofisiológico secundário derivado de uma lesão
cerebral focal (Devido-Santos, Gagliardi, & Mac-Kay, 2012). É considerada um
distúrbio de comunicação que interfere na capacidade de processamento da linguagem,
sem afetar a inteligência. Pode resultar de danos progressivos, (p. ex.: tumor cerebral
evolutivo, demência), ou não episódios de aparecimento súbito (p. ex.: AVC,
traumatismo craniano, encefalite). Neste caso, as que se apresentam neste trabalho,
nenhuma resulta de danos progressivos. A afasia, segundo a Classificação Internacional
para a Prática de Enfermagem, define-se como um,

tipo de fala com características específicas: defeito ou ausência da


função da linguagem no aspeto de usar e compreender as palavras;
associada a lesão de determinadas áreas do cérebro, por exemplo por
traumatismo craniano grave, AVC, hipoxia prolongada ou acidentes
cardiovasculares” (2003, pág. 35)

Ao longo dos anos o campo da afasiologia tem dedicado um crescente interesse na


qualidade de vida da pessoa com afasia, especialmente quando atinge o acesso do
indivíduo à comunicação e ao meio social (Simmons-Mackie & Damico, 2007). A
pessoa com afasia não deve ser encarada isoladamente, mas sim, como uma unidade
social que envolve os seus parceiros de comunicação (Kagan, 1998 citado por
Cunningham & Ward, 2003). Segundo Gottlieb (1981 citado por Vickers, 2010)), a
"rede social" (meio) é toda a estrutura de contactos sociais onde o indivíduo está
inserido.

34
As pessoas com afasia são muitas vezes excluídas da plena participação dos momentos
comunicativos e das interações sociais devido aos problemas de linguagem que
conduzem muitas vezes a problemas de exclusão social. Desta forma, são excluídas da
plena participação na conversação, de obter informações necessárias na conversação e
de tomar decisões importantes para a sua vida (Simmons-Mackie & Damico, 2007).
O diagnóstico identifica-se através de testes cognitivos, realizados por neuropsicólogos
e terapeutas da fala (ex.: Boston Diagnostic Aphasia Examination, Western Aphasia
Battery, Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa) e por imagiologia, por exemplo
Tomografia Computorizada e Ressonância Magnética com ou sem protocolos
angiográficos. O prognóstico depende de vários fatores, incluindo o estado e a idade do
doente, natureza e extensão da lesão. No que respeita ao tratamento, as equipas
multidisciplinares, (terapia da fala, fisioterapia, etc.) podem promover a recuperação do
doente (Huang, 2015).

1.3.2 Tipos clínicos clássicos de afasia laboradas

Apesar de existir vários tipos de afasia, apenas os que foram atendidos nas práticas de
estágio são referidos neste trabalho. Deste modo, devemos entender que cada afasia
apresenta os seus sintomas, tal como refere Peña-Casanova & Pamies (2005, pág. 64),
“o esquema de classificação clássica das afasias está relacionado com agrupamentos de
sintomas que recebem o nome de síndromes.” Importante salientar é que a classificação
clássica das afasias assegura o desempenho do paciente numa série de variáveis
essenciais, nomeadamente: fluência, compreensão, repetição e nomeação.

1.3.2.1 Afasia de Broca

Denomina-se afasia de Broca graças ao médico e neuroanatomista Paul Broca, “por ter
sido o primeiro a apresentar provas físicas fiáveis e reproduzíveis sobre a localização de
funções cerebrais” (Seth A., 2018, pág. 125). Após várias autópsias enquanto professor
de Cirurgia Clínica na Universidade de Paris, sendo o ponto de partida o paciente
afásico M. Leborgne (não conseguia falar), Broca documentou as lesões causadas pela
afasia no lobo frontal esquerdo, bem como provou que cada hemisfério funcionava
autonomamente. Assim, Área de Broca, foi a região designada pelo neurologista David
Ferrier em memória à grande contribuição de Paul Broca (Seth A.,2018, pág. 125).

35
Nestes tipos de afasia ocorre mais transtornos de expressão do que compreensão, ou
seja, mais na área de expressão (área de Broca) do que receção (área de Wernicke),
sendo que é caracterizada também pelo esforço e alterações articulatórios, redução do
vocabulário e da extensão das frases, agramatismo em palavras funcionais e parafasias
fonéticas e fonémicas, não sendo impreterível a presença de todos estes sintomas.
Contudo, segundo pesquisas efetuadas, expõe-se uma tabela que resumirá as
dificuldades gerais do doente com afasia de Broca numa primeira abordagem clínica
(Caldas, 2000; Huang, 2015; Peña-Casanova & Pamies, 2005):

Afasia de Broca (não fluente, expressiva, motora)

Padrão da Fala
Local da
Causas
lesão
Fluência Compreensão Repetição Nomeação

Área frontal
ou fronto-
Enfarte
parietal
Hemorragia (AVC) Não fluente
esquerda, Íntegra Afetado Afetado
Trauma Agramatismo
incluindo a
Tumor
área de
Broca
Figura 1.23. Descrição da Afasia de Broca

No entanto, não são apenas dificuldades de comunicação e linguagem associadas à


causa aqui presente neste trabalho. Muitos dos pacientes com afasia de Broca
apresentam alterações motoras na parte direita do corpo, denominadas de hemiparesia
ou hemiplegia direita, existência frequente de apraxia bucofacial, assim como alterações
da sensibilidade e dos campos visuais (Peña-Casanova & Pamies, 2005).

1.3.2.2 Afasia Global

Denomina-se de afasia global ou total e representa a forma mais severa de afasia, pois
resulta de um transtorno massivo das áreas da linguagem do hemisfério esquerdo,
adjunto à área de Broca e Wernicke. Tal como na afasia de Broca, afeta também a
qualidade de expressão, bem como a da compreensão verbal, tornando-se ainda mais
complexo a comunicação com o doente. Assim, no que respeita à expressão, existe uma

36
grande redução ou supressão da linguagem oral e escrita, apresentando um quadro
definitivo e com pouca margem de melhoria. Relativamente à compreensão, os doentes
apresentam uma desordem grave. Apresentam também alterações das competências de
leitura e escrita. No entanto, podem apresentar uma melhoria especialmente a nível oral,
bem como podem atingir níveis de melhoria significativa no que respeita à
compreensão, alcançando os níveis de afasia de Broca (Peña-Casanova & Pamies, 2005,
pág. 78).
Contudo, segundo pesquisas efetuadas, expõe-se uma tabela que resumirá as
dificuldades gerais do doente com afasia global numa primeira abordagem clínica
(Caldas, 2000; Huang, 2015; Peña-Casanova & Pamies, 2005):

Afasia Global

Padrão da Fala
Local da
Causas
lesão
Fluência Compreensão Repetição Nomeação

Área fronto-
temporo-
parietal Enfarte;
esquerda, Hemorragia (AVC); Não fluente
Afetado Afetado Afetado
incluindo a Trauma;
área de Tumor;
Broca e de
Wernicke
Figura 1.24. Descrição da Afasia Global
Neste tipo de afasia são constantes as hemiparesia direita e alterações sensoriais
apresentando extensas alterações no hemisfério esquerdo na área da linguagem (junto à
área da artéria silviana). Contudo, há casos que podem não ocorrer hemiparesia (Peña-
Casanova & Pamies, 2005, pág. 78). Também apresentam envolvimento extenso da
região perisílvica, bem como da artéria cerebral inferior ou artéria cerebral média.

1.3.3 Impacto Socioeconómico

A afasia é uma das consequências mais incapacitantes de um AVC (esta considerada a


1ª causa de morte e incapacidade em Portugal), apresentando uma adaptação

37
complicada e dolorosa, tanto para o doente como para os familiares diretos ou
cuidadores informais, seja em fase aguda ou crónica. A família passa como segunda
vítima desse problema. Essa incapacidade obriga a modificações dramáticas a nível
profissional, social e económico. A dificuldade de comunicação gera, por vezes,
distúrbios emocionais graves, das quais podemos enumerar consequências várias num
pensamento pessimista: nas mudanças afetivas e de personalidade, nomeadamente
manifestações de negativismo, ansiedade, vergonha, insegurança, frustração, depressão,
etc.: nas relações interpessoais do casal (se for o caso), relativamente na diminuição da
satisfação nas relações sexuais; no isolamento social, por o doente e os demais evitarem
qualquer tipo de embaraços, devido a problemas de comunicação e cognitivos do
mesmo, bem como o consequente abandono por parte dos amigos; na modificação de
papéis, fica gravemente afetado, iniciando na vida conjugal e profissional, não podendo
continuar com a sua atividade diária; na perda de poder económico, o que leva a
diferentes graus de dependência, bem como a alteração de papéis por parte do cônjuge
do paciente (quando é o caso), pode gerar situações de institucionalização, por falta de
condições, ou ao divórcio; os filhos podem modificar a imagem que têm dos seus pais,
assim como parte das vezes, não são conscientes da dimensão do problema; o paciente
pode ser vítima de negligência por familiares inescrupulosos, nomeadamente de maus
tratos ou assuntos relacionados com heranças. Numa ótica otimista, a afasia pode e
deverá sempre levar a mudança de dinâmicas, no sentido de promover sentimentos de
união e solidariedade (Peña-Casanova & Pamies, 2005, pág. 257 e 258).
É muito difícil ter acesso a devidos tratamentos de reabilitação por equipas
multidisciplinares a médio e longo prazo, após saídas de instituições hospitalares, como
por exemplo unidades de cuidados continuados, seja em casa por falta de recursos
financeiros, ou mesmo em instituições por falta de vagas e qualidades de serviços. As
entidades governamentais devem promover o exercício de prevenir, bem como o
compromisso de se prestar tratamentos de qualidade e distendidos, no que respeita a
equipas multidisciplinares de reabilitação, pois a nível particular requerem forte folgo
financeiro, quer na procura de clínicas ou serviços particulares, quer por agências de
seguros, numa ampla cobertura.

38
1.4 MÉTODOS E TÉCNICAS MUSICOTERAPEUTICAS UTILIZADAS
PARA A REABILITAÇÃO NA AFASIA

Vários são os métodos e técnicas associadas à reabilitação da fala quer pela terapia da
fala, quer pela musicoterapia. Nestes casos específicos orientamo-nos por um método
ou técnica, muito utilizado na terapia da fala, bem como na corrente científica
Neurologic Music Therapy (NMT), a designada Terapia de Entonação Melódica (TEM)
ou igualmente Melodic Intonation Therapy (MIT). Ademais, outros exercícios
elaborados basearam-se noutras técnicas pertencentes à NMT, por exemplo Vocal
Intonation Therapy (VIT), Music Speech Stimulation (MUSTIM), Therapeutic Singing
(TS) e Symbolic Communication Training Through Music (SYCOM).

1.4.1 Terapia de Entonação Melódica

A Terapia de Entonação Melódica (TEM) pretende estimular pessoas que a linguagem


expressiva a pessoas que sofrem de afasia não fluente muito graves. Introduzida por
Albert, Sparks e Helm (1973), “consiste no num exercício gradual, em extensão e
dificuldade, de tarefas melódicas e rítmicas” (Peña-Casanova & Pamies, 2005, pág.
165).
Os autores organizam hierarquicamente a estrutura da TEM apresentando três níveis
diferentes de dificuldade, que vão de palavras polissílabas e frases curtas de alta
probabilidade a frases mais longas e complexas, com prosódia inicialmente exagerada.
Dispõem de uma tabela para os melhores e os piores candidatos conforme etiologia e
topografia da causa (por exemplo AVC, traumatismo cranioencefálico, etc.) bem como
a sua consequência, relativo à sua expressão, compreensão, repetição, articulação e
traços psicológicos. Apresentam o procedimento da TEM em que nos seus estímulos
devem constar palavras com duas sílabas no mínimo, orações considerando dificuldades
articulatórias e evitando grupos de letras com muitas consoantes. Os estímulos iniciais
consideráveis são palavras bilabiais, nomes de familiares e palavras necessárias na
comunicação do paciente. As palavras ou frase a utilizar devem preferencialmente
serem acompanhadas de figuras ou informações no sentido de aumentar o seu valor. O
processo da TEM corresponde a uma entonação lenta e constante, usando tons altos ou
baixos e padrões rítmicos próprios da linguagem normal. O terapeuta senta-se em frente
ao paciente para que o mesmo consiga observar os movimentos articulatórios, bem
como deve pegar na mão esquerda do paciente com a sua mão direita, de forma a tocar

39
expressivamente a cada vez que entoa uma sílaba. A mão esquerda do terapeuta orienta
o paciente quando deve escutar e quando deve entoar (Peña-Casanova & Pamies, 2005,
pág. 165 e 166).

1.4.2 Neurologic Music Therapy

Neurologic Music Therapy (NMT) é uma corrente científica que se emancipou nos
finais dos anos de 1990 devido a evidencias efetivas de inúmeros estudos científicos que
envolvam música no cérebro e em particular graças a técnicas de pesquisa moderna da
neurociência como referido no capítulo Cérebro e Música. Esta corrente científica é
uma das áreas da musicoterapia com maior número de publicações em revistas
científicas (Jurado-Noboa, 2018). Estes estudos comprovaram que a música tem uma
influência distinta no cérebro estimulando processos cognitivos, afetivos, sensoriais e
motores fisiologicamente complexos (Thaut & Hoemberg, 2014).

“Além disso, estudos biomédicos descobriram que a música não só é


altamente estruturada no que respeita à linguagem auditiva,
envolvendo processos complexos de cognição, perceção, e controlo
motor no cérebro, como também que essa linguagem sensorial pode
ser efetivamente usada para treinar e reeducar o cérebro lesado.”
(Thaut, McIntosh & Hoemberg, 2014, pág. 12)

A quantidade de estudos que alia a Musicoterapia com a Neurociência vem demonstrar


resultados efetivos da música enquanto terapia, apresentando-se fortes e específicos não
permanecendo num conceito generalizado de bem-estar. A eficácia da intervenção
musical específica resultou de um desenvolvimento de várias evidências científicas na
área de investigação da biomédica translacional. Deste modo, investigadores e clínicos
da área da Musicoterapia, neurologia e da neurociência classificaram e estruturaram
essas evidências num sistema técnico de terapias conhecido hoje como NMT. Estas
técnicas resultaram num desenvolvimento de métodos clínicas padronizados e
suportados por evidencias científicas. Atualmente, a NMT consiste em 20 técnicas que
no seu todo apresentam,

“(1) o objetivo do tratamento diagnóstico e (2) o papel da música –


ou mecanismos nos processos da perceção musical e produção
musical – para alcançar o objetivo do tratamento.”(Thaut &
Hoemberg, 2014, pág. 13)

40
Dado que a NMT se desenvolveu a partir de um grande conhecimento e riqueza
científica, este continuará a evoluir sob a atuação e apresentação de novos
conhecimentos. Ostenta uma estrutura neurocientífica que pode efetivamente ser
praticado para o exercício de áreas indispensáveis da função cognitiva num cérebro
condicionado a uma lesão, nomeadamente na reabilitação da fala, estimulação cognitiva
e terapia motora. Deste modo, todos os dados científicos implícitos na NMT
apresentam, um novo paradigma relativo à música e a função cognitiva, postulando que
esta pode conectar-se a processos relacionados ao movimento, atenção, produção da
fala, ao aprendizado e à memória, que certamente arrisca-se a recuperar funções de um
cérebro doente ou lesado (Thaut & Hoemberg, 2014).
Existe seis paradigmas que unem os elementos significativos na NMT, segundo Thaut
& Hoemberg (2014):

“1 NMT é definida como a aplicação terapêutica da música para


disfunções cognitivas, afetivas, sensoriais, de linguagem e motoras
devido a doença ou lesão do sistema nervoso humano.
2 O NMT é baseada em modelos neurocientíficos de perceção
musical e produção musical e na influência da música em mudanças
no cérebro não musical e na função de comportamento.
3 As técnicas de tratamento são padronizadas na terminologia e na
aplicação e são aplicadas como TMEs (exercícios
musicoterapeuticos) que são adaptáveis às necessidades do paciente.
4 As técnicas de tratamento baseiam-se em dados de pesquisas
científicas translacionais e são direcionadas para objetivos
terapêuticos não musicais.
5 Além do treinamento em música e musicoterapia neurológica, os
profissionais são educados nas áreas de neuroanatomia e fisiologia,
neuropatologia, terminologia médica e (re) habilitação de funções
cognitivas, motoras, de fala e de linguagem.
6 NMT é interdisciplinar. Musicoterapeutas podem contribuir de
forma significativa e enriquecer a eficácia das equipes de tratamento.
Os não-musicoterapeutas que são treinados em outras profissões de
saúde aliadas podem efetivamente adaptar os princípios e materiais
do NMT para uso em sua própria prática.” (Thaut & Hoemberg,
2014, pág. 13)

41
2 PARTE II – PRÁTICA (PRÁTICA DE CAMPO)

2.1 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E DESENHO DA


INTERVENÇÃO

2.1.1 Investigação Qualitativa - Estudo de Caso

O presente trabalho baseia-se a um tipo de estudo científico não experimental descritivo


nomeadamente um estudo de caso, “cujo objetivo é compreender de forma mais
específica um determinado fenómeno ou descobrir relações entre fenómenos” (Haro et
al., 2016, pág. 8). Sendo um estudo de caso, “um estudo sobre um fenómeno específico
tal como um programa, um acontecimento, uma pessoa, um processo, uma instituição
ou um grupo social” (Merriam, 1998, pág. 9), este tipo de investigação dedica-se mais
com o processo do que propriamente o resultado, mais pelo significado. Está subjacente
o trabalho de campo e comprometimento entre a interação do objeto de estudo com o
seu investigador, sendo que o seu estudo não pode ser separado dos seus valores
(Pocinho, 2012).
É um método observacional, pois conforme Triadó e Villar, trata de analisar e assinalar
como se produz o comportamento de pessoas no seu contexto natural, na qual se pode
aplicar em pessoas com idades avançadas (Triadó & Villar (coords.), 2007).
Apresenta um cariz de observação direta ou participante, sendo classificado como “um
procedimento de observação e registo direto das condutas, atitudes e práticas
desenvolvidas pelo(s) sujeito(s) de estudo” (Haro et al., 2016, pág. 100), bem como
consiste em partilhar o espaço e estudar as práticas com sujeitos ou comunidades num
longo período de tempo, estabelecendo uma interação direta e próxima (Haro et al.,
2016; Pocinho, 2012).
Apesar de ser um tipo de investigação eficaz, o seu investigador não pode apenas
confiar na recordação dos acontecimentos obtidos in loco, “dado que a memória é
seletiva e eliminaria uma grande variedade de comportamentos cuja importância não
fosse imediatamente aparente”, conforme refere Pocinho (2012, pág. 100).
Durante as sessões desenvolvidas nem sempre foi possível a transcrição de todos os
comportamentos observados no momento, o que pode de alguma forma implicar o
estudo em questão. Contudo, para suportar a cientificidade deste trabalho, aplicou-se
um instrumento de medição antes e após a intervenção do musicoterapeuta estagiário,
nomeadamente a Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa (BAAL) pela terapeuta da

42
fala da instituição que nos acolheu, Dra. Carla Pires, sendo ela coordenadora da prática
realizada.
Em suma, pretende-se uma análise metódica aos dois pacientes abordados neste
trabalho, no sentido de realizar uma análise profunda acerca das características
particulares e relevantes, que apesar de serem de graus diferentes, ambos a partilham.

2.1.2 Desenho da intervenção

Na fase inicial da prática organizamos uma planificação adaptada às patologias dos


pacientes com que iriamos trabalhar. Alguns guiões ou modelos de planificação e
reflexão foram facultados pelo máster, para desempenharmos e monitorizarmos os
passos sessão por sessão, no sentido de providenciar um progresso musicoterapeutico
significativo. Coadunado ao método de investigação acima descrito, criamos um
documento que contempla planificação e reflexão de cada sessão (baseado nos guiões
ou modelos de planificação e reflexão), denominando-o como planificação-reflexão.
Este pretende ser um documento de recolha de dados sistemático facilitado ao próprio
investigador aquando da sua participação direta.

2.1.2.1 Público alvo e diagnóstico

Os pacientes descritos neste trabalho apresentam-se no anonimato pela segurança e


privacidade dos mesmos e dos familiares, indo ao encontro ao Regulamento Geral de
Proteção de Dados.
Paciente J, género masculino, 70 anos de idade sofreu AVC isquémico de provável
etiologia cardioembólica em 11/7/18. O AVC segundo meios complementares de
diagnóstico foi no território da artéria cerebral média esquerda com transformação
hemorrágica sendo sujeito a tratamento de trombólise e posteriormente a trombectomia.
Como sequelas desta lesão neurológica apresenta hemiparesia direita, hemianopsia
homónima direita, disfagia e afasia. Como antecedentes clínicos relevantes tem
descrito: Prótese valvular aórtica mecânica; Pacemaker desde 2001; IC FEP (Fração
ejeção preservada); Dilatação bi-auricular com boa função ventricular; HTA;
Dislipidemia; Hipotiroidismo. No decorrer do internamento hospitalar desenvolveu
pneumonia de aspiração. O paciente permaneceu internado em contexto hospitalar de
11/07/2018 até 03/08/2018 onde deu entrada na Unidade de Cuidados Continuados

43
Integrados para cumprir plano de reabilitação nas áreas da terapia da fala, terapia
ocupacional, fisioterapia e acompanhamento psicológico ao mesmo e seus principais
cuidadores até 12/04/2019.
Paciente M género feminino de 61 anos, sofreu AVC isquémico em 2014, contudo não
existem dados dos exames complementares de diagnóstico que relatem a lesão
neurológica. Apresenta hemiparesia direita com maior predomínio ao nível do membro
superior. É acompanhada na valência de terapia de da fala desde 2014. A utente deu
entrada com um diagnóstico de afasia global que evolui para afasia de broca. Neste
momento a intervenção terapêutica é focada na maximização de todas as competências
comunicativas verbais e não-verbais. A utente é considerada com uma afasia crónica. É
acompanhada igualmente na valência de fisioterapia da estrutura residencial para
pessoas idosas.

2.1.2.2 Objetivo Geral

O objetivo geral consistiu na reabilitação da linguagem e suscitar a comunicação,


designadamente na reprodução de específicas palavras, que apoie os pacientes nas
atividades da vida diária (AVD) e comunicação com os respetivos familiares e amigos.
A prática decorreu entre quatro de fevereiro e dois de abril na Unidade de Média
Duração e Reabilitação de Bragança, da Unidade de Cuidados Continuados Integrados
(UCCI) da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB). Todos os pacientes que
sofrem AVC, após permanecerem em Unidades de AVC, podem ser direcionados para
UCCI, mediante a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Deste modo,
nesse espaço de tempo o paciente que apresentou relação com o tema em estudo foi o
senhor J apresentando afasia global. A senhora M já se apresentava sinalizada pela
coordenadora (terapeuta da fala) que acompanhou a prática e o estudo.

2.1.2.3 Plano de intervenções

O plano de intervenções segue o pressuposto no guia de práticas do Máster em


Musicoterapia. Sermos responsáveis e termos sentido de progressão, sermos o mais
pedagogicamente possível na instituição que nos acolhe e não concentrar esforços para
sentir êxito, sermos éticos e claros em todo o momento, bem como realistas com o que

44
propomos e com o que podemos defender partilhando com o tutor, são alguns dos
aspetos importantes a vivenciar na prática que realizamos.
A prática decorreu no piso -1 da UCCI da SCMB, na sala da terapia da fala às segundas
e quartas-feiras, perfazendo 15 sessões a cada paciente (J e M) (figura 2.1 e 2.2).

Figura 2.1. Disposição lateral da sala Figura 2.2. Disposição frontal da sala.

Os recursos utilizados para a prática resumem-se em materiais musicais, lúdicos e


tecnológicos. No que respeita aos musicais utilizamos uma guitarra acústica, um piano
digital, um bombo, um par de clavas, um triângulo e uma guizeira. Em relação aos
lúdicos recorremos exclusivamente balões e aos tecnológicos um computador e uma
coluna para projeção de som (figura 2.3).

Figura 2.3. Disposição dos recursos materiais na sala da terapia da fala.

45
2.1.3 Planificação-reflexão das sessões

A planificação-reflexão é apenas um documento estruturado por várias grelhas que tem


como objetivo o registo das práticas elaboradas, bem como descrever qualitativamente
todos os comportamentos observados. A sua estrutura apresenta-se por:
 Identificação - número, data, hora, duração de sessão, musicoterapeuta
estagiário, bem como o lugar a realizar;
 Breve descrição do paciente - Dados Iniciais (idade, residência, etc..), assim
como, antecedentes clínicos e dados de relatórios anteriores;
 Avaliação inicial do paciente - perceber quais são as principais capacidades e
limitações no que respeita à área psicomotriz, percetivo-cognitiva, comunicação
e linguagem e socio-emocional;
 Objetivos – trabalhados por sessão, face à necessidade dos pacientes, bem como
aplicados às áreas supracitadas;
 Atividades a desenvolver – baseado nas sete fases de sessão da proposta de
sequenciação de atividades de Hernández L. A. (2004), bem como na
metodologia de tratamento de um paciente das aplicações clínicas da
Musicoterapia (2011b);
 Observações – apresentam-se descritas pelas áreas, assim como se descrevem
condutas sonoro-musicais significativas e condutas de interação significativas na
relação com o Musicoterapeuta;
 Orientações/diretrizes de intervenção - fase de análise e revisão metodológica,
na presente sessão e a incorporar numa sessão futura;
 Objetivos prioritários - fase de análise e revisão de objetivos na presente sessão
e a incorporar numa sessão futura;
 Principais dificuldades encontradas pelo musicoterapeuta - sobre a intervenção
ou condutas condicionantes de interação social com o paciente
 Notas/outras observações – descreveram-se características associadas à
patologia existente.

2.1.3.1 Objetivos específicos

Estes objetivos foram determinados conforme a necessidade dos dois pacientes, sempre
no sentido progressivo. Com uma relação ao objetivo geral, serviam de alavanca

46
motivacional para passo a passo conseguir atingir o mesmo. Deste modo, atinge-se esse
objetivo conforme refere K. Bruscia (1997), com processos de interação com música
que englobe empatia, reajuste, conexão, expressão, comunicação, interação, exploração,
influência, motivação e validação.
Os objetivos específicos trabalhados ao longo de todas as sessões com o paciente J
dividiram-se pelas seguintes áreas:
 Área Psicomotriz – estimular a resposta dos membros superiores,
especialmente no membro não lesados para uma maior perceção (perceção
rítmica), no sentido de preservar a motivação; preservar movimentos dos
membros inferiores e superiores, apelando ao sentido rítmico (perceção
rítmica); estimular o acompanhamento musical e a improvisação; desenvolver a
perceção tátil; incitar a regulação da força em movimento e em equilíbrio;
motivar a livre expressão sonora no acompanhamento musical e na
improvisação, descortinando possibilidades sonoras do corpo; possibilitar a
coordenação alternativa de segmentos do lado direito e esquerdo (sem membro
superior direito).
 Área percetivo-cognitiva – Manter a escuta e observação no que respeita à
perceção/compreensão dos sentidos (Visão, Audição, Tato); despertar a
localização de sons/instrumentos que o rodeiam; promover a conduta musical
percetiva; suscitar a associação tímbrica entre nome e instrumento e animal
imagem (memória); estimular a perceção musical bilateral; resgatar o sentido
musical relativo à reminiscência (Música Tradicional Portuguesa), bem como à
memória de melodias; incentivar e compreender a habilidade musical geral;
preservar e estimular a escuta, a concentração e a comunicação na identificação
de objetos através de números ou palavras (visualização e compreensão
consciente); interiorização de diferentes velocidades no que respeita à pulsação
e ritmo musical. Preservar e fomentar a compreensão consciente do paciente
(relativamente à sua condição e eventual melhoria) .
 Área da comunicação e linguagem – Estimular o canto, bem como o
reconhecimento de melodias; promover a familiarização/identificação de
instrumentos musicais com palavras bissílabas (ex.: bombo, clavas será paus) e
uma polissílaba (triângulo, passou a ser ferrinhos); exercitar canto com ou sem
uso da palavra (uso da melodia); promover a utilização do uso de palavras do

47
dia a dia (TEM); promover e motivar a produção dos nomes da esposa e filha,
bem como nomes próprios e palavras comuns utilitárias ao dia a dia.
 Área socio-emocional - Preservar a motivação, comunicação, interação,
ligação, vínculo paciente-musicoterapeuta, bem como fomentar emoções de
alegria. Suscitar a sensação de autocontrolo e autoeficácia.

Os objetivos específicos trabalhados ao longo de todas as sessões com a paciente M


dividiram-se pelas mesmas áreas, nomeadamente:
 Área Psicomotriz – Preservar marcha e movimentos relativo aos membros
inferiores e superiores; promover movimentos adequados relativo ao membro
lesado inferior e manutenção do tono muscular; fomentar a regulação da força
em movimento. Incrementar desenvolvimento percetível tático; estimular a
livre expressão e possibilidades sonoras do corpo com música; promover a
coordenação motora alternando segmentos do lado direito e esquerdo (sem
membro superior direito).
 Área percetivo-cognitiva – estimular o reconhecimento de modificações na
letra de canções familiares; promover a performance lírica durante o canto;
desenvolver a conduta expressiva no ritmo e melodia; possibilitar mudanças na
intensidade e velocidade; estimular a concentração e utilidade no canto
(entonação da melodia) (consciência da conduta expressiva relativamente à
melodia e ritmo); preservar a memória do vocabulário já utilizado em canções e
na entoação melódica; reconhecer melodias trabalhadas; Fomentar a habilidade
musical geral; estimular a reminiscência com Música Tradicional Portuguesa;
promover escuta ativa; fomentar a criatividade; desenvolver interiorização de
diferentes velocidades no que respeita à pulsação e ritmo musical.
 Área da comunicação e linguagem – promover e motivar a produção de
palavras comuns utilitárias ao dia a dia da instituição, aplicando novas palavras
em voz falada ou em canto (TEM); preservar e promover vocabulário utilizável
no dia a dia em melodia e canto;
 Área socio-emocional – Preservar e melhorar a relação entre paciente e
musicoterapeuta; fomentar o autoconhecimento, nomeadamente: preservar a
autoconfiança, o autocontrolo, autoeficácia e o pensamento positivo.

48
2.1.3.2 Técnicas e métodos aplicados

As técnicas e métodos que utilizamos para trabalhar neste tema procura basear-se na
TEM de Sparks et al. (1973) (Peña-Casanova & Pamies, 2005), em algumas técnicas
utilizados na NMT (2005) (Thaut & Hoemberg, 2014), bem como em atividades e na
proposta metodológica para sequenciar as mesmas, do livro de Hernández L. A. (2004).
Pretendi com estes métodos atender a todas as necessidades dos dois pacientes numa
tentativa de sequenciar da melhor forma as atividades realizadas nas sessões.
Com o apoio da terapeuta da fala da instituição (coordenadora da prática), executamos
duas avaliações aos pacientes, uma na data do internamento (inicial) e outra na data da
alta (final), pela Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa (BAAL).

2.1.3.3 Estrutura das sessões

Todas as sessões eram estruturadas por uma sequência de atividades que procuravam
atender às necessidades dos pacientes in vivo (embora planificadas), pois a qualidade de
vida dos pacientes é volátil devido aos riscos associados à patologia em questão. Assim,
as sessões decorridas nem sempre apresentaram o mesmo número de atividades nem a
mesma sequência, pois dependia sempre do estado físico e emocional do paciente,
principalmente no senhor J.
Contudo, o seguinte quadro pretende demonstrar as atividades elaboradas aos pacientes
considerando a proposta metodológica de sequenciação de atividade de Hernández L. A.
(2009), pelas áreas percetivo-cognitiva, psicomotriz, comunicação e linguagem, socio-
emocional. O total das atividades desenvolvidas ao longo das sessões era de 7 a 9,
apresentando-se curtos com pequenos intervalos de descanso, sempre num sentido
repetitivo ou progressivo de sessão para sessão.

49
Áreas
Fases da Atividade Atividades desenvolvidas
trabalhadas
Socio-emocional,
Percetivo-cognitiva
Aquecimento. e Canção de boas vindas.
Fases
comunicação e
Preparatórias.
linguagem.
Motivação para a Percetivo-cognitivo
Audição de variadas músicas (estilos vários).
sessão. e Socio-emocional.
Associar diferentes formas de batimentos rítmicos (bombo) a movimento de membros
superiores e inferiores (levantar braço não lesado e perna lesada);
“Pelota al aire”, baseado e adaptado de Hernández L. A. (2009) pretende-se passar e
controlar o movimento do balão, sentado e de pé (se conseguir ao som da música calma e
relaxante ou ao som de uma música motivacional) e num nível avançado, realizar um
Psicomotriz,
Ativação corporal jogo do balão sem deixar cair em 5 séries durante 20 segundos;
Fases de percetivo-cognitivo
consciente. Deixar cair o balão numa posição vertical (num ângulo em que o paciente não consegue
Atividade. e Socio-emocional.
ver o balão quando começa a cair), em direção à sua perna afetada pelo AVC para poder
levantar a mesma e atingir o balão;
Caminhar ao som de andamentos e ritmos musicais e manipulados por computador (por
ex.: Cânone in D de Pachelbel). A música pretende por si, apoiar no caminhar da
paciente.
Desenvolvimento Todas as áreas. Reminiscência musical e canto (Música Tradicional Portuguesa).

50
percetivo. Colocação de sons de objetos e de animais (bingo de sons) para identificação (acuidade
auditiva/compreensão);
Tocar, localizar, identificar e atribuir os respetivos instrumentos aplicados nas sessões
(com o apoio do nome dos instrumentos ou com utilização de números, cores, palavras
ex.: 1 – bombo - vermelho, 2 - clavas (Paus) - verde, 3 – ferrinhos - azul);
TEM com palavras monossílabas, bissílabas e polissílabas curtas do dia a dia e temáticas
(necessidades básicas, amizade, amor, comida, cor, roupa, música) numa forma
repetitiva e progressiva;
Identificação e posicionamento de números por ordem crescente e decrescente e
identificação da respetiva palavra;
Identificação e construção de palavras familiares (nomes próprios e comuns);
Utilização da melodia da canção de aquecimento e despedida, bem como outras melodias
(números e cores) para realizar outras canções com todas as palavras utilizadas na TEM
(uma em cada sessão média) (canto terapêutico).
Acompanhamento Instrumental;
Improvisação instrumental na percussão e em piano e acordeão num formato livre ou de
pergunta e resposta;
Desenvolvimento da Improvisação vocal (cantarolar) sobre sucessão de acordes no piano do musicoterapeuta;
Todas as áreas.
relação com o outro. “Faço música com o meu corpo” baseado e adaptado de Hernández L. A. (2009)
pretende-se ouvir e improvisar com percussão corporal sob a música Pachelbel – Canon
in D;
Comunicação através de números e letras (Ex.: Quantos filhos tem? Quantos anos tem?

51
E a sua esposa?).
Representação e Socio-emocional e Tocar, na mesma tecla ou mesmas teclas do piano, que o musicoterapeuta toca com
simbolização. percetivo-cognitiva. diferentes de velocidades aplicadas (lento e rápido).
Socio-emocional,
percetivo-cognitiva
Despedida afetiva. e Canção de despedida.
comunicação e
linguagem.

Ao longo das sessões, observou-se que as diferentes formas de afasias entre o paciente J e a paciente M, condicionou a margem de progressão,
ocorrendo de forma distinta, tendo realizado mais atividades relacionados com a TEM à senhora M.
Verificou-se que a área socio-emocional era a chave para conseguir lidar com as demais áreas ao longo das sessões, pois nos pacientes
envolvidos observou-se que as frustrações eram recorrentes, devido às condicionantes das suas respetivas patologias.

52
2.2 DESCRIÇÃO E RESULTADOS

2.2.1 Análise inicial da terapeuta da fala ao paciente J

O Paciente J foi avaliado através da BAAL onde revelou uma afasia global de grau 0
“Perturbação do discurso e da compreensão auditiva que compromete totalmente a
comunicação entre o doente e o examinador” (Damásio, Caldas, & Ferro, 1986). O seu
discurso não-fluente era caracterizado por vocábulos ininteligíveis e palavras
ocasionalmente corretas. Não manifestava intenção comunicativa espontânea (verbal e
não-verbal). Dos principais resultados salienta-se perturbação: da linguagem serial e
automática, na capacidade de nomeação de objetos do dia-a-dia (0 em 8); na identifica
objetos (9 em 18); no emparceiramento palavra-objeto (0 em 8); Compreensão de
ordens (0 em 8); capacidade de repetição de palavras (7 em 30) e todas funções de
leitura e escrita.
O paciente iniciou sessões de terapia da fala a partir do internamento na UCCI com
periodicidade de três vezes por semana com duração de 30 minutos. No decorrer das
sessões foi um utente colaborante e motivado no seu processo de reabilitação. O plano
terapêutico foi delineado com três objetivos gerais face ao curto período de
internamento: 1. Melhoria da compreensão verbal simples, 2. Melhoria do discurso a
nível semântico e 3. Melhoria das competências de leitura e escrita. Da evolução
terapêutica inicial registou-se ligeira melhoria das expressões automáticas e linguagem
serial e ganhos funcionais na compreensão verbal simples (identificação de objetos do
dia-a-dia e compreensão de ordens simples e interrogativas sim/não) sem ganhos
significativos de leitura e escrita.
Mediante ganhos pouco funcionais na área da comunicação utente foi proposto para
iniciar sessões individuais de musicoterapia mantendo igualmente as sessões de terapia
da fala. Iniciou as sessões de musicoterapia em 02/2019 até à alta em 04/2019. O
objetivo de iniciar esta nova terapia foi promover outro tipo de estimulação de áreas
neurológicas responsáveis pela comunicação e oferecer outro tipo de interações
comunicativas com objetivo principal de estimular a linguagem oral.

2.2.2 Análise inicial da terapeuta da fala à paciente M

A paciente revelou um discurso não fluente de grau 3 com predomínio de palavras


corretas. Segundo a escala de gravidade da Afasia apresenta grau 2: “É possível

53
conversar com o doente sobre assuntos familiares com a ajuda do examinador. Há
frequentes deficiências na transmissão de uma ideia, mas tanto o doente como o
observador se esforçam para obter comunicação eficaz” (Damásio, Caldas, & Ferro,
1986). A utente apresenta esforço articulatório e um discurso com palavras isoladas, não
consegue produzir frases simples.
Dos principais resultados da avaliação em 02/2019 salienta-se perturbação da
linguagem serial e automática, da capacidade de nomeação (5 em 16), identificação de
objetos (8 em 16), emparceiramento palavra objeto (5 em 16), repetição de palavras (12
em 30), leitura de nomes em voz alta (8 em 16), identificação de palavras (9 em 16),
provas de leitura de letras e de texto não conseguiu executar e as provas de escrita não
foram aplicadas devido às alterações motoras do membro superior direito (dominante)
compreensão de ordens (7,5 em 8) está preservada.

2.2.3 Descrição das observações relevantes do paciente J

Os exercícios apresentaram-se transversais de sessão para sessão, para observar o seu


sentido progressivo. Apresentam-se por meses e áreas trabalhadas, bem como o dia da
sessão entre parêntesis para análise da observação do respetivo paciente. Os exercícios
aplicados adequaram-se para observar uma determinada área (ex.: percetivo-cognitiva
ou socio-emocional) contudo, podem abranger mais que uma determinada área em
estudo.
No mês de fevereiro o Senhor J dispõe de observações das atividades desenvolvidas
apresentadas nas sessões dos dias 4, 6, 11, 13, 18, 20, 25 e 27 divididas pelas seguintes
áreas:
Área Percetivo-Cognitiva:
Ritmo: apresentou uma razoável noção rítmica (dias 6 e 18).
Canto (entonação da melodia): bastante dificuldade na articulação de palavras em
melodia, no entanto boa reminiscência musical (canção Malhão, Malhão); Com
repetição apresentou uma melhoria na entoação melódica da música (dias 6, 11 e 13).
Bom acompanhamento vocal (em lá, lá, lá) em canções conhecidas, salientando quase
todas as sílabas (dias 18, 20 e 25); Melhoria da reprodução das palavras em melodia
(boas vindas e despedida) (dias 18 e 27); Melhoria na capacidade de memorização (dia
20); melhoria na reprodução das segundas sílabas das palavras (mais cooperante e
confiante) (dias 25 e 27); acompanhamento do paciente improvisado de forma

54
autonomamente na canção despedida (dia 25); Reprodução da palavra “saia” (canção
Rosa Arredonda a Saia) totalmente correta (dia 20); Conduta musical pouco reveladora
(dia 6); Resposta positiva ao instrumento utilizado pelo musicoterapeuta (acordeão) (dia
6); No que respeita à memória de canções, reconheceu o que se estava a tocar e a cantar,
todavia deixa dúvida (dia 6); Dificuldade a identificar e associar som e imagem de
animais e instrumentos (nos mesmos exercícios), mas melhoria com devido apoio (dias
6, 11, 18); Melhoria no mesmo exercício de identificar e associar som e imagem, mas
alguma confusão no exercício dos instrumentos (dia 13); Conseguiu realizar (mesmos
exercícios) corretamente com apoio (dia 20); Acompanhou nas variações de velocidade
da música (Malhão, Malhão) (dia 13); Seguiu todas as diretrizes corretamente indicando
todos os números (0 a 8) e colocando-os devidamente de forma crescente; Trocou
apenas os nomes dos números 4 e 6 (mas sabia que se enganava), conseguiu colocar
numeração até 10 por ordem decrescente, bem como relacionar com respetiva palavra
(ex.: dois = 2) (dia 25); Descobriu-se que a numeração foi uma boa via de comunicação
entre musicoterapeuta-paciente, através de questões feitas pelo musicoterapeuta (dia
25), sem apresentar flutuações (dia 27).
Área Psicomotriz:
Membro superior esquerdo ativo sem problemas, não sabendo qual o membro
dominante, e membro superior direito inativo (dia 6). Alguma falta de compreensão
num exercício simples de levantamento de braço a 1 toque do bombo e descida a 2
toques, na qual não conseguiu realizar a descida, somente com ajuda do técnico (dia
11). Variações significativas de velocidade no jogo de tocar na mesma tecla do piano
(dias 25 e 27).
Área Comunicação e Linguagem:
Exibiu muita dificuldade na produção de fala em palavras com uma e duas sílabas. No
entanto, em melodia apresentou uma melhoria ligeira (dia 6); Muita dificuldade na
reprodução da primeira sílaba da palavra “Bombo” e mesmo com apoio trocava-a por
“Bom Dia” (dia 11), assim como bastante dificuldade na leitura de palavras polissílabas
(dia 11); Com palavras bissílabas não reproduziu a primeira sílaba, mas reproduziu a
segunda (ex.: dia, José, Olá, aqui) (dia 18); Melhoria significativa na reprodução das
palavras e últimas sílabas (ex.: Olá, Bom dia e José) (dia 20); Em conversa com o
musicoterapeuta, reproduziu a palavra “ainda” em resposta de forma espontânea (dia
20). Reprodução de novas palavras com bastante dificuldade, contudo melhorias com
mais repetições embora apresentasse frustração (ex.: Filipe, José) (dia 27).

55
Área Socio-Emocional:
Exibiu-se pensativo, mas pouca manifestação de emoções na audição (dias 6, 11, 18, 20,
25) e apresentou-se mais calmo (dia 27); Cooperante na realização dos exercícios,
embora apresentasse pouca motivação/animação (dias 6, 11 e 13); Na melodia de boas
vindas e de despedida demonstrou emoções de felicidade na relação/cooperação com o
técnico (dias 11, 18, 20 e 27). Cooperante e mais confiante no exercício de
improvisação realizado no piano (dias 11 e 18), bem como no jogo de pergunta-resposta
(tocar na mesma tecla) com muita manifestação de emoções de felicidade e consequente
tentativa de produção de fala (dia 13), sendo mais notável a relação musicoterapeuta-
paciente (dias 18, 20 e 27); Alguma resistência nos exercícios da área percetivo-
cognitiva (dia 13); Apresentou emoção de felicidade aquando da Música Tradicional
Portuguesa (dia 25).
No mês de março o Senhor J dispõe de observações das atividades desenvolvidas
apresentadas nas sessões dos dias 6, 10, 13, 18, 20 e 27, divididas respetivamente em:
Área Percetivo-Cognitiva:
Ritmo: apresentou uma razoável noção rítmica (dia 6). Canto (entonação da melodia):
Cooperante e mais confiante no exercício de improvisação realizado no piano (dias 6 e
20). Melhoria significativa na reprodução das palavras em melodia de boas vindas e
despedida (dias 6, 18 e 20), melhoria a cantar sozinho (mais concentrado) (dia 10),
melhoria na capacidade de memorização, melhoria na reprodução das segundas sílabas
das palavras (mais cooperante e confiante), acompanhamento do paciente
autonomamente improvisado na canção despedida (dia 20); Dificuldade a formar
palavras através de letras (ex.: Albina e Susana) e desconhece-se a capacidade de
literacia (dia 10); Errou apenas uma letra na palavra “Susana” (dia 13); Mais confiança
e melhor no acompanhamento vocal cantarolando (nuances mais complexas) (lá, lá, lá)
em canções conhecidas (dia 10); Dificuldade na reprodução de novas palavras em
melodia e apresentou flutuações nas utilizadas anteriormente (dia 18).
Área Psicomotriz:
Apresentou dificuldade na confiança do exercício dado à condição (exercício balão) (dia
6), exibiu melhor autocontrolo (dia 10 e 27), maior destreza (dias 13 e 27), mais
concentrado na questão do equilíbrio (dia 18), bem como mais confiante no controlo do
balão e equilíbrio (dia 20 e 27); No jogo de tocar na mesma tecla do piano (desta vez
em acorde), alguma dificuldade no acompanhamento, mas felicidade subjacente (dias
10 e 13); Num andamento mais lento apresentou melhorias (dia 18), bem como

56
posteriormente num andamento mais rápido (dias 20 e 27); Exibiu emoções de
felicidade ao trabalhar o membro inferior afetado, mas apresentou alguma falha no seu
controlo devido à falta de tono muscular (dias 18, 20 e 27).
Área Comunicação e Linguagem:
Melhorias significativa na palavra “José”, bem como na reprodução de outras palavras
(dia 6); Sem reprodução total das sílabas em algumas palavras, apresentando
dificuldades nas novas aplicadas, no entanto melhoria nas palavras “Albina e Susana”
(dia 10); Trocou a palavra “José” por “João” e exibiu dificuldade na palavra “Filipe” e
mais ainda na palavra “Estou” (dia 13); Apresentou flutuações na repetição de palavras,
dificuldade em algumas sílabas (ex.: José, Filipe, Albina, garfo, faca) (dia 18);
Reproduziu mais sílabas que na sessão anterior, bem como reproduziu todas as palavras
indicadas (dia 20); Exibiu dificuldade acentuada em novas palavras (AVD`s) mas
melhoria com repetição (dia 27); Dificuldade em algumas sílabas na repetição das
palavras (ex.: casa de banho) e em palavras parecidas (colher, comer) (dia 27);
Apresentou tendência a repetir muitas palavras que exprimiu o musicoterapeuta (dia
27); Produziu bem a palavra “boa” e “tarde” e exibiu dificuldade na palavra “tudo” (dia
27).
Área Socio-Emocional:
Exprimiu gosto pelo violoncelo e pela audição com manifestação de emoção (dia 6),
bem como boa reação emotiva ao ouvir violoncelo e acordeão (dia 10); Exercício de
pergunta-resposta (tocar na mesma tecla) e improvisação musical no piano com muita
manifestação de emoções de felicidade (dia 6, 13, 20 e 27); Apresentou motivação pelo
uso de nomes próprios familiares (dia 10); Feliz na manifestação de emoções na audição
(dia 13); Frustração em não conseguir reproduzir palavras utilizadas na TEM (ex.: copo,
água, beber) (dia 20).

No mês de abril o Senhor J dispõe de observações das atividades desenvolvidas


apresentadas na sessão do dia 1, divididas respetivamente em:
Área Percetivo-Cognitiva:
Nos exercícios de identificação de instrumentos como reconhecimento auditivo,
conseguiu realizar adequadamente os exercícios tal como o previsto.
Área Psicomotriz:
Com estes exercícios aplicados a esta área, o musicoterapeuta estagiário reparou uma
melhoria significativa no que respeita à velocidade de reação, postura, equilíbrio, bem

57
como a locomoção. Um trabalho que em conjunto com a fisioterapia, conseguiu-se levar
a cabo melhorias nesta área.
Área Comunicação e Linguagem:
Nos exercícios onde predominou a utilização da linguagem, tal como sucedia nas
últimas sessões, o paciente reconheceu e acompanhou as melodias das canções já
utilizadas, não sendo tão claro como já foi anteriormente (flutuações). Assim, o paciente
apresentou-se com bastante dificuldade, bem como mostrou ser pouco percetível no que
respeita à produção de palavras, tanto no canto (entonação de melodia) como na TEM.
Área Socio-Emocional:
Em grande parte dos exercícios e relacionados com a área psicomotriz, manifestou
emoções de felicidade o que perfazia uma relação de confiança entre paciente-
musicoterapeuta.

2.2.4 Descrição das observações relevantes da paciente M

No mês de fevereiro a Senhora M dispõe de observações das atividades desenvolvidas


apresentadas nas sessões dos dias 6, 11, 13, 18, 20, 25 e 27, divididas respetivamente
em:
Área Percetivo-Cognitiva:
Exercícios de identificação/associação elaborados com facilidade, compreensão intacta
(dias 6); Ritmo: Boa noção rítmica em pulsação no acompanhamento instrumental (dias
6, 18 e 25); adaptação a um andamento mais lento em diferentes ritmos (saída da zona
conforto de pulsação) no acompanhamento instrumental, com dificuldade (dias 13);
Conduta musical expressiva (dias 6); Canto (entonação da melodia): apresentou uma
progressão significativa relativo à melodia ao longo da sessão (à base da repetição e
com apoio) (dias 6 e 11), reconheceu a melodia e canção aplicada (reminiscência
musical) (dias 6, 11, 13 e 18); Reproduziu razoavelmente as palavras das canções (dia
13), com dificuldade na articulação de palavras polissílabas e pouca em palavras
bissílabas (dias 6 e 13) e reconheceu a melodia da canção de boas vindas e despedida
(dia 13); Sem dificuldade na reprodução da maioria das palavras nas respetivas
melodias, à exceção da de boas vindas as palavras “para ti” (flutuação) (dias 18),
contudo melhoria da mesma palavra posteriormente (dia 20); Exibiu alguma dificuldade
na reprodução de certas palavras em canções (Música Tradicional Portuguesa), e no
acompanhamento vocal cantarolando (lá, lá, lá) em canções conhecidas, com perda de

58
algumas sílabas (dia 18); Apresentou melhoria a cantarolar (dia 25), e melhoria na
reprodução das primeiras sílabas das palavras (dia 27); Identificou as alterações de
vocabulário (canção Bailinho da Madeira) (dia 11), e revelou mais palavras em melodia
(dia 13).
Área Psicomotriz:
Membro superior esquerdo ativo, não sabendo qual o membro dominante, e membro
superior direito inativo (dia 6); Dificuldade na marcha com batimento em percussão (dia
11); Alguma dificuldade no levantamento dos membros inferiores à batida do bombo
(tono muscular) (dia 13).
Área Comunicação e Linguagem:
Apresentou muita dificuldade na produção de fala com uma e duas sílabas. No entanto,
em melodia apresentou uma ligeira melhoria; Necessitou supressão de sílabas para
melhoria de linguagem (ex.: Adeus = deus) (dias 6), contudo dificuldade ultrapassada
no vocábulo “Adeus” com apoio da música de despedida (dia 11); Na colocação de
mais palavras de AVD, apresentou melhor produção com melodia (dia 11); Pouca
dificuldade na reprodução das novos vocábulos (com apoio) (TEM) (dia 13); Exibiu
facilidade na repetição das palavras anteriores (memorização) (com apoio) (dia 18 e 20),
dificuldade com sílabas dos vocábulos indicados a tracejado: “Como” (dia 18), “irmã” e
“Lucinda” (dia 20), “Quero um Pingo” (dia 25), “Kiwi”, “sobremesa” (dia 27), bem
como dificuldade na produção da primeira sílaba em novas palavras (dia 18 e 27);
Confusão ao formar frases com novos vocábulos, utilizando alguns já referidos (busca
de memoria) (dia 25); Necessidade de repetição em todas as palavras até as reproduzir
sozinha (dia 27).
Área Socio-Emocional:
Manifestou emoções de felicidade na audição (dias 6, 11, 18, 25 e 27), apresentou
emoções à flor da pele (mas com autocontrolo subjacente) (dia 13), felicidade e
manifestação da expressão corporal (dias 20 e 27) e reconheceu a música (dia 13);
Exibiu-se cooperante, calma e feliz na realização dos exercícios (dias 6 e 13), melhoria
da auto motivação (dia 11) e descontração na realização dos exercícios, especificamente
na reprodução da primeira sílaba das palavras utilizadas (dia 13); Na melodia de boas
vindas e de despedida demonstrou emoções de felicidade na relação/cooperação com o
musicoterapeuta (dia 6, 11, 18, 20 e 27); Apresentou-se feliz com instrumento adaptado
à sua condição (guizos) (dia 18). Utilizou algumas palavras da canção de boas vindas e
de despedida para me cumprimentar antes e depois da sessão (a partir do dia 20).

59
Manifestou emoções de alegria e carinho na elaboração de outras letras com mesma
melodia das boas vindas e de despedida, nomeadamente com o nome dos seus irmãos
(dias 20 e 27). Apresentou-se cooperante e mais confiante no exercício de improvisação
realizado no piano com um abraço ao musicoterapeuta no final do exercício (dias 25 e
27); Exibiu emoção de felicidade aquando da Música Tradicional Portuguesa (dias 18,
20 e 25).
No mês de março a Senhora M dispõe de observações das atividades desenvolvidas
apresentadas nas sessões dos dias 6, 10, 13, 18, 20 e 27, divididas respetivamente em:
Área Percetivo-Cognitiva:
Ritmo: Demonstrou improvisação corporal rítmica pouco autónoma (dias 6 e 13). Canto
(entonação da melodia): Exibiu alguma dificuldade em novas palavras utilizando a
mesma melodia das canções de boas vindas e despedida (dia 6), contudo com melhoria
significativa (à base da repetição) em comparação às sessões anteriores (dia 27);
Apresentou uma boa reprodução de palavras em melodia (dia 13 e 27); exibiu
dificuldade na canção de boas vindas na troca de palavras “aqui” por “para ti” (dias 6 e
13), contudo sem dificuldade na reprodução das mesmas nas sessões seguintes (dia 18 e
27); Melhorou a cantarolar (lá, lá, lá) com nuances vocais diferentes na improvisação
(dia 20); Exibiu algumas flutuações na linguagem em melodia (dia 11); Apresentou
algum engano e dificuldade na memorização das letras das melodias (dia 20); Cantou
sozinha a música de despedida, dizendo o nome do musicoterapeuta (dia 27); Seguiu
todas as diretrizes corretamente, contando os números até 10 (aparentemente por
memória), contudo de forma decrescente ou aleatório tem dificuldade em reproduzir os
mesmos (dias 11 e 13).
Área Psicomotriz:
Exibiu dificuldade na marcha com batimento em percussão (dia 11); Alguma
dificuldade no levantamento dos membros inferiores à batida do bombo (tono muscular)
(dia 13); Apresentou facilidade no exercício do balão (levantar o joelho), com
manifestação de emoções de felicidade (dias 6 e 18), contudo alguma dor (dia 27). No
outro exercício do jogo do balão (20 segundos em 5 séries), empenhou-se em não
falhar, conseguindo realizar 2 séries (dias 11 e 13), posteriormente conseguiu 4 séries
(dias 18, 20, 27); Exibiu felicidade aquando da manutenção do tono muscular no jogo
do balão e melhoria a atingir o mesmo (dia 13); Manifestou-se efusivamente com
emoções de alegria no movimento de locomoção ritmado (dia 27).
Área Comunicação e Linguagem:

60
Apresentou dificuldade com as sílabas das palavras indicadas: “Como”, “Vamos” (dia
6), dificuldade na produção da palavra “sete” e “nove” (dia 11) e melhoria significativa
na reprodução de palavras em melodia (dia 11); Pouca dificuldade na reprodução das
novas palavras das AVD com apoio da TEM (dias 11 e 18); Exibiu facilidade na
repetição das palavras anteriores (memorização) (dia 11); Alguma dificuldade na
palavra “sapatilhas” (dia 18); Apresentou boa reprodução no que respeita a números
num sentido crescente, contudo não saiu a palavra “sete”, num sentido decrescente (dia
18); reprodução das palavras de forma perfeita 20; Exibiu flutuações na linguagem
falada (dia 11); Com apoio gesticular da boca do musicoterapeuta estagiário, a paciente
conseguiu ter resultados a 100% (dia 18).
Área Socio-Emocional:
Manifestou emoções de tristeza na audição, também de felicidade e carinho na melodia
de despedida (dia 6), e continuou posteriormente com emoções de felicidade (dia 11, 13
e 20); Exibiu-se um pouco mais introvertida no exercício de improvisação realizado no
piano (dias 6 e 11), melhorou na confiança a realizá-lo (dia 13), apresentou-se emotiva e
com confiança (dia 18); Apresentou-se no exercício de pergunta-resposta (tocar na
mesma tecla no piano) com fortes emoções de felicidade (dia 6); Exibiu-se mais
confiante a cantarolar (lá, lá, lá) (dia 20).
No mês de abril a Senhora M dispõe de observações das atividades desenvolvidas
apresentadas nas sessões dos dias 1 e 2, divididas respetivamente em:
Área Percetivo-Cognitiva:
Ritmo: Continuou com batida em pulsação na improvisação com percussão corporal no
acompanhamento musical (dia 2); Canto (entonação da melodia): Cantou sozinha nas
últimas repetições a melodia de despedida (dias 1 e 2) bem como a inicial sem trocar
palavras (dia 2); Exibiu poucas palavras mal reproduzidas nas melodias aplicadas (com
apoio à repetição) (dia 1); Cantou todas as canções com poucas dificuldades na
produção da melodia falada num total de 8 músicas (dia 2); Continuou com dificuldade
na palavra “sete” numa contagem decrescente (dia 2); Imitou corretamente as melodias
cantaroladas pelo musicoterapeuta (dia 2).
Área Psicomotriz:
No jogo do balão (20 segundos em 5 séries), empenhou-se em não falhar, no entanto
realizou uma marca menos boa que nas sessões anteriores (dia 1); Na sessão seguinte
realizou tudo bem com bastante concentração (dia 2); Apresentou felicidade aquando da
manutenção do tono muscular no jogo do balão, bem como melhoria ao atingir o balão

61
(dias 1 e 2); Manifestou emoções de felicidade no movimento de locomoção ritmado,
com melhoria da mesma nas variações de velocidade (dias 1 e 2).
Área Comunicação e Linguagem:
Apresentou novamente flutuações na reprodução das palavras adaptadas “pra ti”
trocando por “pra qui” (questão neurofisiológica na utilização da língua e lábios) (dia
1); Exibiu dificuldade nas sílabas indicadas: “tocar”, “musicoterapia”, “voz”,
“guizeira”. (dias 1 e 2); Sem dificuldade na reprodução das palavras selecionadas, com
apoio gesticular do musicoterapeuta estagiário (dia 1); Reuniu-se todas as palavras
utilizadas na TEM, tendo reproduzido 94 palavras com apenas alguns erros nas últimas
quatro supracitadas (dia 2).
Área Socio-Emocional:
Comoveu-se na audição da música, bem como na música de despedida; Exibiu-se
admirada e comovente com a quantidade de palavras reproduzidas; Apresentou-se
confiante e alegre no exercício de improvisação a cantarolar (lá, lá, lá); Apresentou-se
no exercício de pergunta-resposta (tocar na mesma tecla no piano) com fortes emoções
de felicidade (dia 2).

2.2.5 Análise final da terapeuta da fala ao paciente J

No final do internamento e imediatamente após o final das sessões de musicoterapia o


paciente foi reavaliado com a mesma bateria de avaliação. Revelou uma evolução na
escala de gravidade da afasia de grau 0 para grau 2, “É possível conversar com o doente
sobre assuntos familiares com a ajuda do examinador. Há frequentes deficiências na
transmissão de uma ideia, mas tanto o doente como o observador se esforçam para obter
comunicação eficaz” (Damásio, Caldas, & Ferro, 1986). O discurso mantém-se não
fluente com vocábulos ininteligíveis, mas a ocorrência de palavras corretas melhorou.
Principais resultados da avaliação após as sessões de musicoterapia. Nomeação (0 em 8)
mantém-se perturbada; Identificação de objetos (9 em 16) mantém-se perturbada;
Compreensão de ordens (3,5 em 8) perturbada, mas com ganhos no decorrer da
intervenção; Repetição de palavras (5 em 30) perturbada; Leitura de nomes em voz alta
(2 em 16) melhoria; Identificação de palavras escritas (8 em 16) melhoria e Leitura /
Identificação de letras (0 em 10) perturbada.
No decorrer das sessões terapêuticas observou-se que o utente estava mais motivado em
comunicar e começou a manifestar intenção comunicativa espontaneamente. Os

62
resultados finais da bateria de avaliação espelham no geral ganhos comunicativos, mas
de salientar que em contexto terapêutico e com os pares próximos a troca de informação
tornou-se mais fluente e eficiente pela melhoria da compreensão e pelo aumento de
palavras corretas no discurso. De salientar que após o inicio das sessões de
musicoterapia o utente revelou melhoria na fluência e na intenção comunicativa.
A terapia teve por base uma abordagem social centrada no individuo e no uso da
linguagem no seu contexto social de forma a remover as barreiras comunicativas
inerentes à afasia tendo também por base um foco nos deficits linguísticos que o
impedem de ter uma comunicação eficiente.
A musicoterapia veio trazer ao Sr. J um ambiente facilitador de comunicação e de
interação com base nas suas vivências dando continuidade à abordagem social da
intervenção da terapia da fala.
Promoveu um ambiente de sucesso comunicativo pois com recurso aos métodos já
referidos, o utente conseguia verbalizar algumas palavras sendo muito motivador para o
próprio, maximizando as competências comunicativas. De forma geral o trabalho da
musicoterapia no contexto da equipa multidisciplinar foi benéfico para o utente, tanto
nas áreas da comunicação como na promoção do bem-estar psicossocial do utente.
Desta forma, veio a revelar-se uma forma de ultrapassar o isolamento social pois o
utente tendia a partilhar informação apenas com os familiares diretos, bem como em
contexto de gabinete terapêutico e após as sessões de musicoterapia, registou-se um
aumento de interações comunicativas com outros pares próximos.

2.2.6 Análise final da terapeuta da fala à paciente M

Na avaliação após as sessões de intervenção não se observaram alterações a estes dados


inicias de avaliação. De salientar que esta utente não apresenta muitas alterações ao
nível de resultados da bateria de avaliação ao longo do tempo (iniciou terapia da fala em
2014), pois trata-se de uma paciente com afasia crónica em que a intervenção não é
dirigida para superar deficits linguísticos, mas sim maximizar competências
comunicativas. Visto que uma bateria de avaliação não retrata a performance
comunicativa da paciente, mas sim os seus handicaps, é importante observar o seu
desempenho no dia-a-dia e no decorrer das sessões terapêuticas acima descritas. Um dos
pontos observados no decorrer da musicoterapia é a diminuição do esforço articulatório
quando quer produzir palavras e o aumento da motivação em comunicar naquele

63
ambiente. Um objetivo terapêutico essencial nesta utente, com grande tendência ao
isolamento social, é promover ambientes facilitadores de comunicação para se sentir
capaz de verbalizar de forma mais fluente que é comprido nas sessões de musicoterapia.

2.2.7 Reflexão final

2.2.7.1 Síntese global

Nesta fase compreendeu-se que existe vários fatores que dado ao tempo existente,
tornam-se exigentes com todos os agentes envolvidos. Referimo-nos aos métodos e
técnicas aplicadas, que apesar de serem diversificadas, era necessário despender muito
tempo para compreender quais os melhores a aplicarem-se a estas individualidades e
como eles se adaptariam.
Constatou-se que as consequências que agregam o AVC, a um dos pacientes pode ter
influenciado a sua prestação nas sessões de musicoterapia não conseguindo expor o seu
potencial máximo.
Necessário era ampliar o prazo para reproduzirem mais palavras úteis relacionadas às
AVD, no entanto só com mais sessões de musicoterapia a longo prazo é que seria
possível.
É crucial estimular eficazmente as áreas percetivo-cognitivas e comunicação e
linguagem, bem como revigorar e intensificar o elo musicoterapeuta-paciente nas áreas
psicomotriz e socio-emocional. Estas últimas são alavancas no combate à frustração
pessoal em exercícios não conseguidos relacionados com as primeiras áreas
supracitadas.
Também uma coesão considerada e direcionada à necessidade individual do paciente no
que respeita a equipas multidisciplinares, pois grande parte das vezes os exercícios
utilizados são transversais e podem ser coadunadas a outras áreas do saber.

2.2.7.2 Reflexão final da terapeuta da fala

A pessoa com afasia devido às suas dificuldades de compreensão e expressão, de leitura


e de escrita, fica muito limitada na participação da vida familiar, profissional e social.
Deve-se ter em conta que quando comunicamos, expressamos as nossas necessidades,
ideias e desejos, pois é a comunicação que nos permite desenvolver relações com a
família, com amigos e com a sociedade. Ocorrem mudanças dramáticas na vida de uma

64
pessoa com afasia (Leal, G., 2006), muitas vezes a comunicação torna-se lenta e
desagregada porque a pessoa com afasia perdeu a confiança e pode ser frustrante e
embaraçoso comunicar com os seus parceiros. Recorrer a outras técnicas de intervenção
visem a estimulação de áreas de linguagem e promovam meios de comunicação é
essencial para o utente com afasia (independentemente do tipo e afasia). Com as sessões
de musicoterapia em conjunto com as sessões de terapia da fala promoveram-se
ambientes facilitares de comunicação e complementaram-se os objetivos terapêuticos.
De uma forma geral pode-se concluir que os profissionais da área da musicoterapia
deveriam integrar as equipas multidisciplinares e acompanhar os utentes com
dificuldade de comunicação.

65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho musicoterapeutico possibilita um trabalho íntimo com o paciente, com
forte atuação nos neurónios espelhos presentes em seus cérebros, pois “permitem ao
paciente não só imitar, mas igualmente integrar as ações ou aptidões de outros, como
verificamos nas investigações do tema levadas a cabo por Rizzolatti et al.” (Sacks,
2008).
Em pacientes vítimas de AVC é crucial um programa de reabilitação bem orientado,
contínuo, persistente e calmo, pois as consequências que agregam o AVC, pode
influenciar a sua prestação nas sessões de musicoterapia não conseguindo expor o seu
potencial máximo, como se constatou no paciente com afasia global.
No entanto, os resultados finais da BAAL no paciente com afasia global espelham no
geral ganhos comunicativos, observando-se em contexto terapêutico com os pares
próximos maior fluência na troca de informação, melhoria da compreensão e aumento
de palavras corretas no discurso. Na paciente com afasia de broca (crónico) observou-se
a diminuição do esforço articulatório quando quer produzir palavras e o aumento da
motivação em comunicar num ambiente social da referida instituição. No que respeita
aos resultados obtidos, numa forma de comparação entre os dois casos estudados, a
paciente com afasia de broca (crónico) apresentou uma melhoria menos significativa
comparando com o paciente da afasia global. Contudo, os exercícios utilizados
demonstravam ser mais acessíveis à paciente com afasia de broca (crónico) do que ao
paciente com afasia global. Um dos aspetos a salientar nos dois casos é a forma
preservada com sequências automáticas, como por exemplo a numeração, dias da
semana, meses do ano, em que neste caso específico é a numeração. Uma vez iniciado
desenrolam até ao fim, o que lhes provoca bastante motivação na continuidade das
sessões. Este e outros exercícios explorados com os dois pacientes em estudo permitiu
verificar que a área socio-emocional era a chave para conseguir lidar com as demais
áreas ao longo das sessões, pois nos pacientes envolvidos observou-se que as
frustrações eram recorrentes, devido às condicionantes das suas respetivas patologias.
Assim, tornou-se importante estimular eficazmente as áreas percetivo-cognitivas e
comunicação e linguagem, bem como revigorar e intensificar o elo musicoterapeuta-
paciente nas áreas psicomotriz e socio-emocional.
Deste modo, a envolvência de diferentes profissionais de saúde, atuando de forma
multidisciplinar na verdadeira cooperação entre saberes, direcionada a cada um dos

66
pacientes nas suas necessidades individuais, bem como um prazo alargado de
reabilitação não interrompida no ato da alta hospitalar, será certamente benéfico para os
pacientes vítimas desta patologia (Schmidt et al., 2019).
Além disso, é efetivo os ganhos que podemos ter com os métodos e técnicas que
utilizem melodia (NMT e TEM) em pacientes com afasia não fluente,
independentemente dos objetivos propostos como se apresenta neste trabalho e do prazo
de atuação das sessões de musicoterapia. Pois como refere Oliver Sacks (2008) a TEM é
um meio eficiente, permitindo aos portadores de lesões extensas no hemisfério
esquerdo, mobilizar as regiões do hemisfério direito associadas às funções da
linguagem, para os quais este último é exclusiva via de melhoria. Levitin (2007)
também refere que no cérebro “não existe um único centro de linguagem, tal como não
existe um único centro para a música. Existe, pelo contrário, regiões que desempenham
operações constituintes e regiões que coordenam o agrupamento desta informação”
(pág. 93). Na eventualidade de apresentarem uma significativa melhora na fala, poderão
de igual forma apresentarem aumento das fibras do fascículo arqueado do hemisfério
direito, área que, no hemisfério esquerdo, conecta as regiões de Broca e Wernicke, tal
como sucedeu num estudo de Rocha & Boggio (2013).
Deste modo, parece vincular a cientificidade da capacidade de reorganização do
cérebro, a neuroplasticidade. Tal como refere Anil Seth,

“A neurogénese e a neuroplasticidade permitem que o cérebro se


adapte às diferentes exigências que lhe impomos ao longo das várias
fases da vida.” (2018, pág. 138).

Segundo Levitin (2007) já se verificou que em certos casos, “a especificidade regional é


temporária porque os centros de processamento de importantes funções mentais, após
traumatismo ou lesão cerebral, se movem para outras regiões.” (pág. 93). Contudo,
poderíamos certamente obter outros ganhos maximizando os prazos.
Em outros estudos, podemos constatar igualmente efetividades na utilização da NMT e
da terapia da fala em pacientes afásicos não fluentes num estado crónico e pacientes
afásicos subagudos pós-AVC (Lim et al., 2012). Também com a TEM em pacientes
com afasia não fluentes severas que conseguem recuperar o discurso através da
plasticidade homotópica da substância branca (Johansson, 2010). Similarmente num
estudo de Zumbansen, Peretz, & Hébert (2014) que demonstra resultados eficazes da

67
terapia melódica em termos de efeitos de generalização com três pacientes com afasia
de Broca.
Alargar o prazo de reabilitação dos pacientes com estas patologias (Cortese, et al., 2015;
Zumbansen et al., 2014), seria uma das propostas futuras, recorrendo a todos os
elementos da música, não focando essencialmente na melodia, pois certamente traria
mais efetividade segundo Cortese, et al. (2015). São cada vez mais os indivíduos
vítimas de AVC a apresentarem afasia ou outras consequências tais como disartria,
apraxia ou disfagia e é crucial termos uma população preparada para um
acompanhamento diversificado, numa perspetiva de multidisciplinaridade e direcionada
às necessidades individuais. A musicoterapia apresenta-se como mais uma alavanca na
preservação e estimulação para a comunicação de pacientes com afasia não fluentes,
pois se assim não for, a incapacidade de comunicar pode levar a um isolamento e uma
frustração quase insuportáveis. E como refere Oliver Sacks (2008), “embora cantar não
seja uma forma de comunicação proposicional, é uma forma de comunicação existencial
da maior importância”, exprimindo “sentimentos e emoções que, na circunstância, não é
possível exprimir por meio da fala” (pág. 218).
Para ultimar, era interessante não ver a reabilitação na sua plenitude interrompida no ato
da alta hospitalar. É importante promover mais estudos científicos de forma a estimular
agentes políticos ligados ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e ao
Ministério da Saúde, ou de agentes de associações e confederações de renome ligadas a
Instituições Particulares de Solidariedade Social ou mesmo Unidades de AVC e UCCI,
no sentido de promoverem a ideia de reforçar ou conceber um novo projeto que englobe
a atuação de uma equipa multidisciplinar coesa após altas das UCCI dos doentes vítimas
de AVC e com afasia.

68
ANEXOS

69
(Adaptação)

BAAL – Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa

LABORATÓRIO DE ESTUDOS EGAS MONIZ

Centro de Estudos Egas Moniz

70
Data: ____ / ____ / _____ Idade:_________

Nome: ________________________________________ Hab. Lit.: _____________

Data de início da doença actual : _______________________

Resumo da doença actual : ______________________________________________________

Etiologia:

1. AVC ____ embolia: _____ trombose: _____ hemorragia intracerebral: _____

2. Lesão expansiva _____ glioma: _____ hematoma: ______abcesso _____

outro ________________________

3. Traumatismo _____ com afundamento ______ sem afundamento _______

4. Outras ___________________________________________________________________

Exame Neurológico:

1. Campos visuais : a) normal b) hemianópsia D E c) quadrantópsia D E S I

2. Hemiparésia: D E plegia ____ a) moderada ____ b) mínima ____

c) ausente ____

3. Parésia facial central: D E a) acentuada ____ b) mínima ____ c) ausente ____

4. Defeito de sensibilidade: D E; D, TS, V, P

a) grave ____ b) ligeiro ____ c) ausente ___

71
Lateralidade

A) É dextro ou canhoto? Direito Esquerdo Misto

Pai:

Mãe:

Irmãos:

Marido/Mulher:

Filhos:

Escala de gravidade da Afasia


Grau 0 – Perturbação do discurso e da compreensão auditiva que compromete totalmente a
comunicação entre o doente e o examinador.

Grau 1 – Toda a comunicação é feita através de expressões fragmentárias; o observador


necessita de inferir, perguntar e adivinhar. É limitada a quantidade de informação
que pode ser trocada. A maior parte do esforço de comunicação é feito pelo
examinador.

Grau 2 – É possível conversar com o doente sobre assuntos familiares com a ajuda do
examinador. Há frequentes deficiências na transmissão de uma ideia mas tanto o
doente como o observador se esforçam para obter comunicação eficaz.

Grau 3 – O doente consegue discutir quase todos os problemas da vida quotidiana podendo ser
necessária uma pequena ajuda. No entanto, a perturbação no discurso e na
compreensão tornam a conversação, sobre certos assuntos, difícil ou mesmo
impossível.

Grau 4 – Há uma limitação evidente na fluência do discurso ou na facilidade de compreensão


sem limitação significativa das ideias expressas, ou da forma da expressão.

Grau 5 – Defeitos mínimos do discurso; o doente pode ter dificuldades subjectivas mas estas
não são aparentes ao observador.
Grau 6 – Ausência de alterações objectivas e subjectivas do discurso ou da compreensão.

72
AVALIAÇÃO DO DISCURSO ESPONTÂNEO

1. FLUÊNCIA
Descrição da imagem de Goodglasse
A) Não-Fluente

0– Ausência de discurso
1 – estereotipo
2 – estereotipo com prosódia adequada
3 – palavras ocasionalmente correctas
4 – frases telegráficas
5– defeitos de articulação e/ou eventuais parafasias literais

B) Fluente
0 – jargonofasia
1 – predomínio de parafasias
2 – predomínio de circunlóquio
3 – predomínio de pausas anómicas
4 – algumas pausas anómicas e/ou ocasionais parafasias
5 – fluência normal sem pausas ou parafasias

73
CARACTERÍSTICAS DO DISCURSO COLOQUIAL

0 1 2
Presentes só em
1. Prosódia Normal expressões coloquiais Perturbação
acentuada

2. Comprimento das frases Normal Frase curtas Palavras isoladas

3. Articulação Normal Ligeiro defeito Defeito acentuado

4. Estrutura gramatical Normal Ligeiro defeito Defeito acentuado

5. Evocação de palavras Normal Ligeiro defeito Defeito acentuado

6. Parafasias

literais Ausentes Raras Abundantes


verbais Ausentes Raras Abundantes
neologísticas Ausentes Raras Abundantes

7. Expressões coloquiais Presentes Eventuais Ausentes

74
RECITAÇÃO E CANTO

1 - Recitação (Avé Maria, Pai Nosso...)

a) Recusa-se b) Perturbado c) Normal

2 – Canto (Parabéns, Hino Nacional, Canções populares...)

a) Recusa-se Melodia b) Perturbado c) Normal

Letra b) Perturbado c) Normal

LINGUAGEM SERIAL

1. Dias da semana

2ª 3ª 4ª 5ª 6ª S D
Observações:__________________________________________________________________
_________

2. Contagem

a) directa

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
13

14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Observações:__________________________________________________________________
________

75
NOMEAÇÃO DE OBJECTOS
Conjunto I Resposta Conjunto II Resposta
Lápis espelho
Alfinete Frasco
Fósforo Nota
Escova Selo
Moeda Colher
Canivete cart. Fósforos
Garfo Campainha
Tesoura Caneta

TOTAL

IDENTIFICAÇÃO DE OBJECTOS

Conjunto I Resposta Conjunto II Resposta


Lápis Espelho
Alfinete Frasco
Fósforo Nota
Escova Selo
Moeda Colher
Canivete Cart. Fósforos
Garfo Campainha
Tesoura Caneta

TOTAL

76
ESCRITA E LEITURA
1. EMPARCEIRAMENTO PALAVRA-OBJECTO
Conjunto I Resposta Conjunto II Resposta
Lápis espelho
Alfinete Frasco
Fósforo Nota
Escova Selo
Moeda Colher
Canivete cart. Fósforos
Garfo Campainha
Tesoura Caneta

TOTAL

COMPREENSÃO DE ORDENS resposta à 1ª apresentação: 1


resposta à 2ª apresentação : ½

1. Feche os olhos
2. Abra a boca
3. Deite a língua de fora
4. Ponha a mão na orelha
(com os objectos em cima da mesa)
5. Agarre no lápis
6. Agarre na moeda e no garfo
7. Ponha o fósforo em cima da tesoura
8. Ponha o alfinete ao lado da escova

Observações: TOTAL

77
OPCIONAL

1. O Sr. está sentado?


2. Agora é de noite?
3. O Sr. está na rua?
4 . O Sr. está aqui sentado?
5. Já tinha estado aqui nesta sala?
6. O Sr. é casado?
7. Já almoçou?
8. A janela está aberta?

TOTAL

REPETIÇÃO DE PALAVRAS
1. lápis 1. fósforo 1. canivete
2. garfo 2. tesoura 2. automóvel
3. selo 3. espelho 3. lavatório
4. nota 4. borracha 4. margarina
5. botão 5. cigarro 5. camisola
6. pente 6. janela 6 alfinete
7. chave 7. caneta 7. descoberta
8. faca 8. bilhete 8. ratazana
9. roda 9. árvore 9. sapateiro
10. vela 10. caneta 10. laranjeira

TOTAL

78
OPCIONAL
Chá - Dor - Sol - Fé - Boi -
Pó - Mel - Cão - Pai - Tio -
TOTAL

LEITURA DE NOMES EM VOZ ALTA

Série 1 Resposta Série 2 Resposta

Automóvel Relógio

Botão Comboio

Tesoura Campainha

Espelho Avião

Canivete Cão

Mala Bebé

Carta Chaves

Sino Gato

TOTAL TOTAL

IDENTIFICAÇÃO DE PALAVRAS

SÉRIE 1 Espelho Sino Botão Canivete

Carta Tesoura Mola Automóvel

TOTAL

79
SÉRIE 2 Avião Gato Comboio Bebé

Chave Campainha Relógio Cão

TOTAL

COMPREENSÃO DE LEITURA DE TEXTO


O doente deverá responder oralmente

RESPOSTA

1. Onde se passou o que acabou de ler?

2. O que é que aconteceu?

3. Quando é que aconteceu?

4. Quem fez a busca?

5. Encontrou-se alguma coisa?

6. Morreu alguém?

TOTAL

PROVAS DE LEITURA DE LETRAS

LEITURA DE LETRAS EM VOZ ALTA

1. VISUAL

Imprensa A O D N M P Q V J Z TOTAL

80
Manuscrito O S I T L U B F J X TOTAL

IDENTIFICAÇÃO DE LETRAS
1. Por confrontação visual

Imprensa S E R T L B D V A X TOTAL

Manuscrito A O N C P M Q F H Z TOTAL

2. Emparceiramento

Imprensa A E R N P L V B Z X TOTAL

Manuscrito O E C D M P V Q G X TOTAL

Imprensa A S R T L N F B U H TOTAL
Manuscrito

PROVAS DE ESCRITA
Folha em Anexo
1. NOME, PROFISSÃO E ENDEREÇO

2. DITADO (cartão nº 11 – frases 11 e 22)

3. CÓPIA (cartão nº 11 – frases 3 e 4)

81
4. ESPONTÂNEO

Resumo dos Resultados


Fluência do Compreensão Nomeação Repetição Leitura e
Discurso Escrita

Diagnóstico Terapia da Fala:


_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________

82
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