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Brasília, 19 a 23 de maio de 2003 Nº 309

Data (páginas internas): 28 de maio de 2003


Este Informativo, elaborado a partir de notas
tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do
Plenário, contém resumos não-oficiais de decisões
proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos
ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das
metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser
aferida após a sua publicação no Diário da Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Coisa Julgada em Ação de Cumprimento
Criação de Foro e Perpetuatio Jurisdictionis
EC 19/98 e Subsídio de Magistrado
Reclamação: Seqüestro de Precatórios Vencidos
Coisa Julgada em Ação de Cumprimento
(Transcrições)
Extradição – Brasileiro Nato – Impossibilidade
Constitucional – Extraterritorialidade da Lei Penal
(Transcrições)

PLENÁRIO

EC 19/98 e Subsídio de Magistrado


Apreciando a causa com base na letra n do inciso I
do art. 102 da CF em decorrência da suspeição de
todos os membros do tribunal de origem, o Tribunal
indeferiu mandado de segurança impetrado por juiz
togado contra a decisão administrativa do TRT da 6ª
Região que lhe negara o pagamento de remuneração
mensal correspondente a 85% do subsídio de Ministro
do STF, solicitado nos termos do art. 2º da Lei
9.655/98. O Tribunal entendeu que, por não serem
auto-aplicáveis as normas dos artigos 37, XI, e 39, §
4º, da CF, na redação dada pela EC 19/98, devem
prevalecer as regras anteriores à referida Emenda, as
quais proibiam qualquer tipo de vinculação de
vencimentos, e que o art. 2º da mencionada Lei é
norma de eficácia contida, dependente da edição da lei
federal fixadora do subsídio de Ministro do STF. (Lei
9.655/98, art. 2º: “Os subsídios dos juízes dos
Tribunais Regionais correspondem a noventa por
cento dos Ministros dos Tribunais Superiores, mantido
idêntico referencial, sucessivamente, entre os
subsídios daqueles e os dos cargos de juízes e de
juízes substitutos, da Justiça Federal e da Justiça do
Trabalho.”) Precedentes citados: AO 524-PA (DJU de
20.4.2001) e ADI (MC) 691-TO (DJU de 19.6.92).
AO 584-PE, rel. Min. Maurício Corrêa, 21.5.2003.
(AO-584)

Reclamação: Seqüestro de Precatórios


Vencidos
Iniciado o julgamento de ação de reclamação
ajuizada pelo Governador do Distrito Federal na qual
se alega que a Juíza Presidente do TRT da 10ª Região,
ao determinar com base no § 4º do art. 78 do ADCT o
seqüestro de recursos públicos para o pagamento de
precatório incluído no orçamento e vencido desde
1999, teria desrespeitado a autoridade da decisão
proferida pelo STF no julgamento da ADI 1.662-DF
— que declarara inconstitucionais os incisos III e XII
da Instrução Normativa 11/97 do TST, que
autorizavam o seqüestro do valor do precatório pelo
presidente do TRT quando a pessoa jurídica de direito
público condenada não incluísse no orçamento a verba
necessária ao seu pagamento ou quando este fosse
efetivado por meio inidôneo, a menor, sem a devida
atualização ou fora do prazo legal. O Min. Maurício
Corrêa, relator, embora reconhecendo que a IN 11/97,
objeto da ADI 1.662-DF, não contemplara, como
passível de seqüestro, a hipótese de não-pagamento de
quantias incluídas no orçamento, proferiu voto no
sentido de julgar procedente o pedido formulado na
reclamação por entender que o STF, no julgamento de
mérito da mencionada ADI 1.662-DF, decidira que não
houvera alteração substancial do art. 100, § 2º da CF
com a nova redação dada pela EC 30/2000, e fixara o
entendimento de que somente se legitima o seqüestro
de verbas públicas para pagamento de precatórios
quando se verificar a preterição ao direito de
precedência, de maneira que, todas as demais situações
de inobservância das regras disciplinadas pelo artigo
100 e parágrafos, da CF, constituem-se em manifesto
desrespeito à decisão do STF na ADI 1.662-DF. Após,
o Min. Maurício Corrêa, relator, indicou adiamento
para aguardar-se o quorum completo do Tribunal.
Rcl 1.987-DF, rel. Min. Maurício Corrêa, 21.5.2003.
(RCL-1987)

PRIMEIRA TURMA
Não houve sessão da Primeira Turma.

SEGUNDA TURMA
Criação de Foro e Perpetuatio
Jurisdictionis
A Turma negou provimento a recurso ordinário em
habeas corpus no qual se pretendia a redistribuição de
denúncia, já recebida pelo Juiz de Direito da Vara
Criminal da Comarca de Magé/RJ, tendo em conta a
posterior criação do Foro Regional de Piabetá/RJ, local
onde ocorrera o fato delituoso. Considerou-se que a
criação de vara regional na localidade do fato, depois
de oferecida a denúncia, não afasta a competência
territorial já firmada, por aplicação analógica do art. 87
do CPC, conforme autorização expressa contida no art.
3º do CPP. Ressaltou-se, ainda, a existência de Aviso
editado pelo Corregedor-Geral da Justiça no qual
restara vedada a redistribuição dos processos em curso
para o foro recém instituído. (CPC, art. 87:
“Determina-se a competência no momento em que a
ação é proposta. São irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente,
salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou
alterarem a competência em razão da matéria ou da
hierarquia.”). Precedentes citados: RHC 58.468-DF
(DJU de 12.12.80 ) e HC 71.810-DF (DJU de
25.11.94).
RHC 83.009-RJ, rel. Min. Maurício Corrêa, 21.5.2003.
(RHC-83009)
Coisa Julgada em Ação de Cumprimento
A Turma manteve decisão do Tribunal
Superior do Trabalho que extinguira a execução de
ação de cumprimento transitada em julgado em razão
de, em outro processo, ter declarado a incompetência,
em grau de recurso ordinário, do TRT da 2ª Região
para conhecer do dissídio coletivo, invalidando,
portanto, a sentença normativa por este proferida.
Tratava-se, na espécie, de recurso extraordinário
fundado em ofensa à coisa julgada (CF, art. 5º,
XXXVI), mediante o qual se sustentava que a sentença
na ação de cumprimento transitara em julgado antes da
decisão do TST que dera pela incompetência do TRT, e
que a desconstituição da coisa julgada formada
naquela ação só poderia ser legitimada por meio de
ação rescisória. A Turma afastou a alegada ofensa à
coisa julgada tendo em conta a excepcionalidade da
sentença normativa e de seus efeitos, sujeitos a
alterações, seja por eventual recurso ou em decorrência
da cláusula rebus sic stantibus, as quais podem resultar
na extinção ou na alteração do conteúdo da sentença
normativa, o mesmo ocorrendo, via de conseqüência,
com a ação destinada a assegurar o cumprimento da
referida sentença. Leia na seção de Transcrições deste
Informativo o inteiro teor do voto condutor desta
decisão.
RE 331.099-SP, rel. Min. Maurício Corrêa, 21.5.2003.
(RE-331099)

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 21.5.2003 ---- 5


1ª Turma ---- ---- ----
2ª Turma 20.5.2003 ---- 72

CLIPPING DO DJ
de 23 de maio 2003

ADI N. 508-MG e ADI N. 699-MG


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
LEI OU ATO NORMATIVO MUNICIPAL, EM FACE DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL: CABIMENTO ADMITIDO PELA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, QUE
ATRIBUI COMPETÊNCIA AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA
PROCESSÁ-LA E JULGÁ-LA. INADMISSIBILIDADE.
1. O ordenamento constitucional brasileiro admite Ações
Diretas de Inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
municipais, em face da Constituição estadual, a serem processadas e
julgadas, originariamente, pelos Tribunais de Justiça dos Estados
(artigo 125, parágrafo 2º da C.F.).
2. Não, porém, em face da Constituição Federal.
3. Aliás, nem mesmo o Supremo Tribunal Federal tem
competência para Ações dessa espécie, pois o art. 102, I, “a”, da C.F.
só a prevê para Ações Diretas de Inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual. Não, assim, municipal.
4. De sorte que o controle de constitucionalidade de leis ou
atos normativos municipais, diante da Constituição Federal, só se
faz, no Brasil, pelo sistema difuso, ou seja no julgamento de casos
concretos, com eficácia, “inter partes”, não “erga omnes”.
5. Precedentes.
6. Ação Direta julgada procedente, pelo S.T.F., para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “e da Constituição
da República” e “em face da Constituição da República”,
constantes do art. 106, alínea “h”, e do parágrafo 1º do art. 118,
todos da Constituição de Minas Gerais, por conferirem ao respectivo
Tribunal de Justiça competência para o processo e julgamento de
A.D.I. de lei ou ato normativo municipal, em face da Constituição
Federal.
7. Plenário. Decisão unânime.
* noticiado no Informativo 297

ADI (MC) N. 2.273-AL


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ELEIÇÕES - USO DE SIMULADORES DA URNA
ELETRÔNICA - PROIBIÇÃO. Na dicção da ilustrada maioria,
entendimento em relação ao qual guardo reserva, não surge
relevante a articulação sobre a inconstitucionalidade de resolução de
tribunal regional eleitoral proibindo o uso de simuladores da urna
eletrônica na propaganda eleitoral.
* noticiado no Informativo 202

ADI N. 2.592-RO
RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E PENAL.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO
§ 3º DO ART. 136-A DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE
RONDÔNIA, INTRODUZIDO PELA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 21, DE 23.08.2001, E QUE DEFINE,
COMO CRIME DE RESPONSABILIDADE DO GOVERNADOR
DO ESTADO, “A NÃO EXECUÇÃO DA PROGRAMAÇÃO
ORÇAMENTÁRIA, DECORRENTE DE EMENDAS
PARLAMENTARES”.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 22,
INCISO I, E 85, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL.
1. A jurisprudência do S.T.F. é firme no sentido de que
compete à União legislar sobre crime de responsabilidade (art. 22, I,
e art. 85, parágrafo único, da C.F.).
2. No caso, a norma impugnada violou tais dispositivos.
3. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
4. Plenário. Decisão unânime.
* noticiado no Informativo 305

ADI N. 2.646-SP
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DE ORIGEM
PARLAMENTAR. ORGANIZAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DO
ESTADO DE SÃO PAULO. VÍCIO FORMAL DE INICIATIVA.
As regras previstas na Constituição Federal para o processo
legislativo aplicam-se aos Estados-membros. Compete
exclusivamente ao Governador a iniciativa de leis que cuidem da
estruturação e funcionamento de órgãos vinculados ao Poder
Executivo (CF, artigos 61, § 1º, II, “e”; e 144, § 6º). Precedentes.
Inconstitucionalidade da Lei 10890/01, do Estado de São
Paulo. Ação julgada procedente.
* noticiado no Informativo 302

ADI N. 2.742-ES
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. ORIGEM PARLAMENTAR. EXTINÇÃO DE CARGOS
E PROMOÇÃO DE CARREIRAS DO CORPO DE BOMBEIROS
MILITAR. PROCESSO LEGISLATIVO. SIMETRIA. VÍCIO
FORMAL DE INICIATIVA.
As regras previstas na Constituição Federal para o processo
legislativo aplicam-se aos Estados-membros. Compete
exclusivamente ao Governador a iniciativa de leis que cuidem da
extinção de cargos públicos e da promoção de carreiras diretamente
vinculadas ao Poder Executivo, especialmente quando resultarem
em acréscimo de despesa pública (CF, artigos 61, § 1º, II, “a” e “c”;
63, I; e 144, § 6º). Precedentes.
Inconstitucionalidade da Lei 7134/02, do Estado do Espírito
Santo. Ação julgada procedente.
* noticiado no Informativo 301

CR (AgR) N. 10.479-REPÚBLICA DA BOLÍVIA


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CARTA ROGATÓRIA - PENHORA - INVIABILIDADE
DE EXECUÇÃO - MERCOSUL - PARÂMETROS SUBJETIVOS.
A regra direciona à necessidade de homologação da sentença
estrangeira, para que surta efeitos no Brasil. A exceção corre à conta
de rogatória originária de país com o qual haja instrumento de
cooperação, o que não ocorre relativamente à Bolívia, ante o fato de
não estar integrada ao Mercosul e de ainda não haver sido aprovado,
pelo Congresso Nacional, o Acordo de Cooperação e Assistência
Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e
Administrativa entre os Estados Partes do Mercosul e as Repúblicas
da Bolívia e do Chile, nos termos do artigo 49, inciso I, da Carta da
República.
* noticiado no Informativo 305

Ext N. 857-REPÚBLICA ARGENTINA


RELATOR: MIN. NELSON JOBIM
EMENTA: EXTRADIÇÃO. CONSTITUCIONAL.
PENAL. TRATADO ENTRE BRASIL E ARGENTINA.
REQUISITOS. ASSOCIAÇÃO ILÍCITA. ESTAFA.
1. Os requisitos legais para a extradição foram atendidos,
sem a ocorrência de qualquer causa impeditiva.
2. O Tratado de extradição entre o Brasil e a Argentina foi
respeitado.
Os delitos de associação ilícita e estafa correspondem no
nosso direito respectivamente aos crimes de formação de quadrilha e
estelionato (Código Penal, arts. 288 e 171).
Extradição deferida.

MS N. 24.113-DF
RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA.
DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA. DILAÇÃO
PROBATÓRIA. NÃO-CABIMENTO DO WRIT. INSTRUÇÃO
NORMATIVA 8/93 REVOGADA PELA DE Nº 31/99. PRAZO
ESTABELECIDO NA LEI 8629/93: INTERPRETAÇÃO DO STF.
IMPRESTABILIDADE DA AVERBAÇÃO DE QUOTA IDEAL,
SEM IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA. PROCEDIMENTO
EXPROPRIATÓRIO, QUE NÃO SE VINCULA AO DESFECHO
DE AÇÃO CAUTELAR.
1. Não cabe mandado de segurança para discutir-se questão
que exige dilação probatória.
2. Inexigível a presença de técnico de cadastro na comissão,
visto que a Instrução Normativa INCRA/8/93 foi revogada pela de
nº 31/99.
3. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento de que
o § 4º do artigo 2º da Lei 8629/93 não fixa prazo de validade para a
vistoria, apenas determina que, durante o referido período, as
modificações introduzidas no imóvel não deverão ser levadas em
conta para o efeito de desapropriação.
4. Não se encontrando individualizada na sua averbação, a
reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel
desapropriando para efeito de cálculo da produtividade. Precedente.
5. Tramitação de ação cautelar de produção antecipada de
prova sobre as mesmas questões tratadas no mandamus. As duas
ações são independentes. Os atos do procedimento expropriatório
não se vinculam ao desfecho da cautelar. Precedentes.
Segurança denegada, ressalvadas as vias ordinárias.

Rcl N. 595-SE
RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E
PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
LEI MUNICIPAL, EM CURSO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE
SERGIPE, COM LIMINAR DEFERIDA.
RECLAMAÇÃO PARA O SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. PROCEDÊNCIA.
1. Dispõe o art. 106, I, “c”, da Constituição do Estado de
Sergipe:

“Art. 106. compete, ainda, ao Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar originariamente:
...
“c” - a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou atos
normativos estaduais em face da Constituição Estadual e de lei ou
de ato normativo municipal em face da Constituição Federal ou da
Estadual”.

2. Com base nessa norma, o Tribunal de Justiça do Estado


de Sergipe tem julgado Ações Diretas de Inconstitucionalidade de
leis municipais, mesmo em face da Constituição Federal.
3. Sucede que esta Corte, a 13 de março de 2002, tratando
de norma constitucional semelhante do Estado do Rio Grande do
Sul, no julgamento da ADI nº 409, Relator Ministro SEPÚLVEDA
PERTENCE (DJ de 26.04.2002, Ementário nº 2066-1), decidiu:

“Controle abstrato de constitucionalidade de leis locais


(CF, art. 125, § 2º): cabimento restrito à fiscalização da validade de
leis ou atos normativos locais - sejam estaduais ou municipais -, em
face da Constituição estadual: invalidade da disposição
constitucional estadual que outorga competência ao respectivo
Tribunal de Justiça para processar e julgar ação direta de
inconstitucionalidade de normas municipais em face também da
Constituição Federal: precedentes”.

4. Adotados os fundamentos apresentados nesse aresto


unânime do Plenário e em cada um dos precedentes neles referidos,
a presente reclamação é julgada procedente, para se extinguir, sem
exame do mérito, o processo da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 02/96, proposta perante o Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe, por falta de possibilidade jurídica do
pedido, cassada definitivamente a medida liminar nele concedida.
5. Incidentalmente, o S.T.F. declara a inconstitu-cionalidade
das expressões “Federal ou da”, constantes da alínea “c” do inciso I
do art. 106 da Constituição do Estado de Sergipe.
6. A esse respeito, será feita comunicação ao Senado
Federal, para os fins do art. 52, X, da Constituição Federal. E
também ao Tribunal de Justiça de Sergipe.
* noticiado no Informativo 279

RE N. 269.700-SC
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: TRIBUTÁRIO. SALÁRIO-EDUCAÇÃO.
PERÍODO ANTERIOR À LEI N.º 9.424/96. ALEGADA
INCONSTITUCIONALIDADE, EM FACE DA EC 01/69,
VIGENTE QUANDO DA EDIÇÃO DO DECRETO-LEI N.º
1.422/75, POR OFENSA AO PRINCÍPIO DA ESTRITA
LEGALIDADE TRIBUTÁRIA, CONSAGRADO NOS ARTS. 153,
§ 2.º, E 178, E AO PRINCÍPÍO DA VEDAÇÃO DA DELEGAÇÃO
DE PODERES, PREVISTO NO ART. 6.º, PARÁGRAFO ÚNICO.
ALEGADA CONTRARIEDADE, AINDA, AO ART. 195, I, DA
CF/88. CONTRIBUIÇÃO QUE, DE RESTO, FORA REVOGADA
PELO ART. 25 DO ADCT/88.
Contribuição que, na vigência da EC 01/69, foi considerada
pela jurisprudência do STF como de natureza não tributária,
circunstância que a subtraiu da incidência do princípio da legalidade
estrita, não se encontrando, então, na competência do Poder
Legislativo a atribuição de fixar as alíquotas de contribuições
extratributárias.
O art. 178 da Carta pretérita, por outro lado, nada mais fez
do que conferir natureza constitucional à contribuição, tal qual se
achava instituída pela Lei n.º 4.440/64, cuja estipulação do
respectivo quantum debeatur por meio do sistema de compensação
do custo atuarial não poderia ser cumprida senão por meio de
levantamentos feitos por agentes da Administração, donde a fixação
da alíquota haver ficado a cargo do Chefe do Poder Executivo.
Critério que, todavia, não se revelava arbitrário, porque
sujeito à observância de condições e limites previstos em lei.
A CF/88 acolheu o salário-educação, havendo mantido de
forma expressa - e, portanto, constitucionalizado -, a contribuição,
então vigente, a exemplo do que fez com o PIS-PASEP (art. 239) e
com o FINSOCIAL (art. 56 do ADCT), valendo dizer que a
recepcionou nos termos em que a encontrou, em outubro/88.
Conferiu-lhe, entretanto, caráter tributário, por sujeitá-la,
como as demais contribuições sociais, à norma do seu art. 149, sem
prejuízo de havê-la mantido com a mesma estrutura normativa do
Decreto-Lei n.º 1.422/75 (mesma hipótese de incidência, base de
cálculo e alíquota), só não tendo subsistido à nova Carta a delegação
contida no § 2.º do seu art. 1.º, em face de sua incompatibilidade
com o princípio da legalidade a que, de pronto, ficou circunscrita.
Recurso não conhecido.

HC N. 82.590-SP
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: HABEAS CORPUS. PACIENTE
DENUNCIADO POR INFRAÇÃO AO ART. 10, CAPUT, DA LEI
N.º 9.437/97. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
Hipótese em que as armas não se encontravam,
efetivamente, na posse do paciente, inexistindo justa causa para a
persecução criminal.
Habeas corpus deferido.
* noticiado no Informativo 299

Acórdãos Publicados: 112


T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.
_______________________________________

Extradição – Brasileiro Nato – Impossibilidade Constitucional –


Extraterritorialidade da Lei Penal (Transcrições)

HC (MC) 83.113-DF*

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

E M E N T A: EXTRADIÇÃO. CONFLITO
POSITIVO DE NACIONALIDADES. DUPLA
NACIONALIDADE. POSSE CONCOMITANTE DA
NACIONALIDADE BRASILEIRA PRIMÁRIA OU
ORIGINÁRIA. CRITÉRIOS CONSTITUCIONAIS DO JUS
SOLI E DO JUS SANGUINIS. EXTRADIÇÃO
REQUERIDA AO GOVERNO DO BRASIL.
INADMISSIBILIDADE. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL
ABSOLUTA, TRATANDO-SE DE BRASILEIRO NATO
(CF, art. 5º, LI). POSSIBILIDADE, NO ENTANTO, DE
APLICAÇÃO EXTRATERRITORIAL DA LEI PENAL
BRASILEIRA. HIPÓTESE DE
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA.
CONSIDERAÇÕES DE ORDEM DOUTRINÁRIA E DE
CARÁTER JURISPRUDENCIAL.
- O brasileiro nato, quaisquer que sejam as
circunstâncias e a natureza do delito, não pode ser
extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo estrangeiro,
pois a Constituição da República, em cláusula que não
comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a
efetivação da entrega extradicional daquele que é titular,
seja pelo critério do “jus soli”, seja pelo critério do “jus
sanguinis”, de nacionalidade brasileira primária ou
originária.
Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem
exceção, o brasileiro nato (CF, art. 5º, LI), não se
descaracteriza pelo fato de o Estado estrangeiro, por lei
própria, haver-lhe reconhecido a condição de titular de
nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado
(CF, art. 12, § 4º, II, “a”).
- Se a extradição não puder ser concedida, por
inadmissível, em face de a pessoa reclamada ostentar a
condição de brasileira nata, legitimar-se-á a possibilidade de o
Estado brasileiro, mediante aplicação extraterritorial de sua
própria lei penal (CP, art. 7º, II, “b”, e respectivo § 2º) – e
considerando, ainda, o que dispõe o Tratado de Extradição
Brasil/Portugal (Artigo IV) -, fazer instaurar, perante órgão
judiciário nacional competente (CPP, art. 88), a concernente
“persecutio criminis”, em ordem a impedir, por razões de
caráter ético-jurídico, que práticas delituosas, supostamente
cometidas, no exterior, por brasileiros (natos ou
naturalizados), fiquem impunes. Doutrina. Jurisprudência.

Despacho: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida


liminar, impetrado, preventivamente, contra este E. Supremo
Tribunal Federal e o Senhor Ministro de Estado de Justiça, sob a
alegação de que Maria de Fátima da Cunha Felgueiras Almeida –
por qualificar-se, constitucionalmente, como brasileira nata (fls. 9)
– não pode ser extraditada pelo Estado brasileiro, nem sofrer
privação cautelar de sua liberdade de locomoção física, em
decorrência da instauração de processo extradicional.
Cabe reconhecer, preliminarmente, a competência desta
Suprema Corte para apreciar o writ constitucional em questão, eis
que – não obstante impetrado contra Ministro de Estado – deixa de
incidir, na espécie, a norma inscrita no art. 105, I, “c”, da
Constituição da República, pelo fato de o remédio de habeas
corpus, no caso ora em exame, objetivar a extinção de
procedimento de índole extradicional, o que culminaria por
eventualmente afetar o exercício, por esta Corte, dos poderes que
lhe foram outorgados, com exclusividade, em sede de extradição
passiva, pela Carta Política (CF, art. 102, I, “g”).
Veja-se, pois, que, mesmo que não se houvesse apontado, na
espécie, como órgão alegadamente coator, o Supremo Tribunal
Federal, ainda assim assistiria competência, a esta Corte, para
processar e julgar, em sede originária, a presente ação de habeas
corpus, embora ajuizada, preventivamente, em face do Senhor
Ministro da Justiça, considerada, no ponto, e para esse efeito, a
orientação jurisprudencial prevalecente neste Supremo Tribunal (RTJ
41/814-815 – RTJ 43/168 – RTJ 56/88 – RTJ 101/976 – RTJ
114/128, v.g.).
O exame da postulação cautelar deduzida em favor da
paciente impõe algumas considerações prévias e necessárias à
apreciação do litígio ora submetido ao julgamento do Supremo
Tribunal Federal.
Sustenta-se, na presente sede processual, que a paciente,
por ostentar a condição de brasileira nata (fls. 9), estaria imune à
extradição requerida, ao Governo do Brasil, por Estado estrangeiro.
Com efeito, em tema de extradição passiva, a Constituição
da República não admite a possibilidade de o brasileiro nato vir a
ser extraditado, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza
do delito (CF, art. 5º, LI).
Cumpre ressaltar, neste ponto, a propósito de tal questão,
que a inextraditabilidade do nacional brasileiro, especialmente
quando titular de nacionalidade brasileira primária ou originária
(seja pelo critério do “ius soli”, seja pelo critério do “ius
sanguinis”), nem sempre representou diretriz normativa presente
ao longo da evolução de nosso constitucionalismo.
Na realidade, foi somente a partir da Constituição Federal
de 1934 (art. 113, n. 31) que se introduziu, em nosso sistema de
direito constitucional positivo, a vedação, dirigida ao Estado
brasileiro, de conceder extradição, em favor de Governos
estrangeiros, de brasileiros em geral (natos e naturalizados),
subsistindo, essa tradição, nas Leis Fundamentais posteriores –
1937 (art. 122, n. 12), 1946 (art. 141, § 33), 1967 (art. 150, § 19) e
1969 (art. 153, § 19).
Impõe-se registrar, no entanto, que, com o advento, em
1988, da vigente Constituição republicana, a proibição
constitucional de extraditar remanesceu absoluta apenas em relação
a brasileiros natos, tornando-se juridicamente menos intensa quanto
a brasileiros naturalizados, hoje passíveis de entrega extradicional
nas duas (2) hipóteses taxativamente referidas no art. 5º, LI, da
Carta Política.
A análise das sucessivas Constituições brasileiras põe em
evidência um fato irrecusável: o de que as duas primeiras
Constituições que o Brasil teve (a Carta Política do Império de 1824
e a Constituição da República de 1891) não vedaram a
possibilidade de extraditar-se brasileiro nato.
Foi por tal razão, e presente o contexto normativo
resultante da primeira Constituição republicana (1891), que se
promulgou, no Brasil, a Lei Federal nº 2.416, de 28/06/1911, que
expressamente admitia a extradição de brasileiros natos, desde que
o Estado requerente assegurasse, ao Governo brasileiro, “a
reciprocidade de tratamento” (art. 1º, § 1º).
Ocorre, no entanto, como precedentemente já
rememorado, que a Constituição de 1934 impôs, ao Estado
brasileiro, limitação de caráter jurídico que lhe restringiu o poder
soberano de conceder extradições de seus próprios nacionais,
notadamente daqueles titulares de nacionalidade brasileira
primária ou originária.
Daí a circunstância de o magistério da doutrina - que se
projeta na jurisprudência constitucional desta Suprema Corte
(RTJ 177/562, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – Ext
165/Argentina, Rel. Min. LAFAYETTE DE ANDRADA – Ext
441/EUA, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, v.g.) – pôr em
destaque, no que se refere a brasileiros natos, a existência, em
favor destes, de uma particular situação de privilégio
constitucional, consistente em sua absoluta inextraditabilidade
(ARTUR DE BRITO GUEIROS SOUZA, “As Novas Tendências
do Direito Extradicional”, p. 126, item n. 2.2, 1998, Renovar;
JOSÉ FRANCISCO REZEK, “Direito Internacional Público”,
p. 202, item n. 119, 7ª ed., 1998, Saraiva; ALEXANDRE DE
MORAES, “Direito Constitucional”, p. 114, item n. 23.1, 12ª ed.,
2002, Atlas; UADI LAMMÊGO BULOS, “Constituição Federal
Anotada”, p. 228, 4ª ed., 2002, Saraiva; MAURÍCIO AUGUSTO
GOMES, “Aspectos da Extradição no Direito Brasileiro”, in
Revista dos Tribunais, v. 655/258-266, 264, v.g.).
Assentadas tais premissas, impende reconhecer que se
registra, quanto à ora paciente, um típico conflito positivo de
nacionalidades, pois – segundo ora sustentado neste processo de
habeas corpus – a Senhora Maria de Fátima da Cunha Felgueiras
Almeida, além de “detentora da nacionalidade portuguesa” (fls. 3),
ostenta, por igual, a condição de brasileira nata (fls. 9), eis que
nascida em território brasileiro (critério constitucional do “ius
soli”), embora de pais estrangeiros que não se achavam, então, a
serviço do seu país (CF, art. 12, I, “a”).
Esse conflito positivo de nacionalidades assume
irrecusável relevância jurídica no exame da causa, pois, consoante
anteriormente assinalado, o ordenamento positivo brasileiro, desde a
Constituição Federal de 1934, atribui, ao brasileiro nato – quer
pelo critério da territorialidade (“ius soli”), quer pelo critério da
consangüinidade (“ius sanguinis”) – imunidade absoluta em face
de pedidos extradicionais formulados por Estados estrangeiros.
Torna-se essencial reconhecer, neste ponto, que a posse,
pela ora paciente, da condição de titular de nacionalidade
brasileira primária ou originária é comprovada por certidão
revestida de presunção “juris tantum” de veracidade (fls. 09).
É que tal certidão foi extraída de assentamentos registrais
mantidos por Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais, cujos
atos e declarações gozam, quanto ao seu conteúdo, de presunção
relativa de veracidade, à semelhança do que ocorre com atos e
declarações emanados de agentes públicos, consoante assinala
autorizado magistério doutrinário (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA
DE MELLO, “Curso de Direito Administrativo”, p. 373, item n.
59, 13ª ed., 2001, Malheiros; MARIA SYLVIA ZANELLA DI
PIETRO, “Direito Administrativo”, p. 189/191, item n. 7.6.1,
14ª ed., 2002, Atlas; DIOGENES GASPARINI, “Direito
Administrativo”, p. 63, item n. 7.1, 1989, Saraiva; JOSÉ
CRETELLA JÚNIOR, “Direito Administrativo Brasileiro”, p. 54,
item n. 43, 1999, Forense).
Esse entendimento - que põe em evidência o atributo de
veracidade inerente aos atos emanados do Poder Público e de seus
agentes - é perfilhado, igualmente, pela jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (RTJ 86/212 - RTJ 133/1235-1236 - RTJ
161/572, v.g.).
Cumpre acentuar que, além do obstáculo juridicamente
insuperável resultante de expressa vedação constitucional (CF,
art. 5º, LI), também existe, no caso, uma restrição de ordem
convencional, fundada no Artigo III, n. 1, “a”, do Tratado de
Extradição Brasil/Portugal, que torna inadmissível a entrega
extradicional na hipótese de a pessoa reclamada qualificar-se como
nacional da parte requerida (o Brasil, na espécie).
É claro que, inviabilizando-se a extradição, por efeito da
nacionalidade brasileira originária da ora paciente, sempre restará a
possibilidade, seja com fundamento no art. 7º, II, “b”, do Código
Penal brasileiro, seja com apoio no Artigo IV, n. 1, do Tratado de
Extradição Brasil/Portugal, de aplicar-se, ao fato delituoso
alegadamente cometido no exterior, a cláusula da
extraterritorialidade da lei penal brasileira (extraterritorialidade
condicionada à observância, no caso, dos requisitos fixados no
art. 7º, § 2º, do Código Penal brasileiro), hipótese em que a
competência penal, para os fins referidos, será do órgão judiciário
brasileiro a que se refere o art. 88 do nosso Código de Processo
Penal, nos termos expostos, com insuperável clareza, pelo
eminente Professor CARLOS FREDERICO COELHO NOGUEIRA
(“Comentários ao Código de Processo Penal”, vol. 1/1.047, item
n. 278, 2002, EDIPRO):

“O art. 88 do CPP soluciona o problema da


competência nos casos em que é aplicável a lei penal
brasileira a crimes perpetrados no Exterior (...).
.......................................................
Essas regras devem ser conjugadas com as que
estabelecem a competência material das diversas justiças
em que se divide o Pode Judiciário brasileiro.
Assim sendo, se o crime for de competência da
Justiça Federal (art. 109 da CF), competente será
qualquer das varas criminais federais situadas na seção ou
subseção judiciária à qual pertencer a capital do Estado
em que por último tiver residido o acusado. Se nunca tiver
residido no Brasil, competente será qualquer das varas
criminais federais existentes em Brasília. A distribuição
(art. 75 do CPP) determinará a competência em havendo
mais de uma vara criminal federal na mesma seção ou
subseção judiciária.
Tratando-se de delito de competência da Justiça
Comum local, o foro será o de qualquer das varas
criminais estaduais da capital do Estado em que residiu o
acusado ou qualquer das varas criminais locais da Justiça
do Distrito Federal. Havendo mais de uma, a distribuição
(art. 75 do CPP) firmará a competência.” (grifei)

Cabe assinalar que esse entendimento – que tem o


prestigioso apoio de MIGUEL REALE JUNIOR (“Instituições de
Direito Penal”, p. 112, item n. 7.4, 2002, Forense) – reflete-se na
jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou no exame
dessa específica questão (RT 474/382, Rel. Min. DJACI FALCÃO,
Pleno).
Note-se que o princípio da extraterritorialidade da lei penal
brasileira, no que concerne a delitos supostamente praticados por
brasileiros (natos ou naturalizados) em outros países, visa a tornar
efetivo o postulado universal, consagrado por HUGO GROTIUS,
segundo o qual “aut dedere aut judicare”.
Nesse sentido, orienta-se o mais autorizado magistério
doutrinário (CAROLINA CARDOSO GUIMARÃES LISBOA, “A
Relação Extradicional no Direito Brasileiro”, p. 152/153, item n.
3.1.1, 2001, Del Rey; JOÃO MARCELLO DE ARAUJO JUNIOR,
“Extradição – Alguns Aspectos Fundamentais”, in Revista
Forense, v. 326/62-77, 62-63; PONTES DE MIRANDA,
“Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda nº 1 de
1969”, tomo V/275-278, item n. 7, 2ª ed./2ª tir., 1974, RT; CAMILA
TAGLIANI CARNEIRO, “A Extradição no Ordenamento
Jurídico Brasileiro”, p. 55, item n. 4.1, 2002, Memória Jurídica;
YUSSEF SAID CAHALI, “Estatuto do Estrangeiro”, p. 337, item
n. 17, 1983, Saraiva, v.g.), cujas lições, a propósito da questão
pertinente ao compromisso ético-jurídico que o Brasil deve
assumir na repressão a atos de criminalidade comum, em ordem a
impedir que prospere situação de inaceitável impunidade de
quaisquer brasileiros (natos ou naturalizados) que hajam
transgredido a legislação penal de outros países, foram bem
sintetizadas por MAURÍCIO AUGUSTO GOMES (“Aspectos da
Extradição no Direito Brasileiro”, in Revista dos Tribunais,
vol. 655/258-266, 265):

“O brasileiro não extraditado deve responder


perante a Justiça brasileira pelo crime cometido no
estrangeiro, nos termos do disposto no inc. II do art. 7.º do
CP e observadas as condições estabelecidas nas alíneas do
§ 2.º do mesmo artigo. A sistemática funda-se na
necessidade de evitar a impunidade do nacional que
delinqüiu alhures, pois, se ele não pode ser extraditado,
em virtude de sua qualidade de brasileiro, imprescindível
se faz o processo e julgamento no Brasil, para que o delito
não permaneça sem punição.” (grifei)

Todas as razões ora expostas levar-me-iam a deferir o


pedido de medida cautelar (fls. 07/08), tendo em vista a densa
plausibilidade jurídica da pretensão deduzida pelo ilustre impetrante.
Ocorre, no entanto, considerada a ausência concreta de
ameaça iminente à liberdade de locomoção física da ora paciente
(“jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque”), que se torna
recomendável e prudente, no caso, a requisição de prévias
informações ao Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado da
Justiça, autoridade ora apontada como coatora pelo ilustre
impetrante.
Prestadas tais informações, apreciarei, então, com a
urgência que se fizer necessária, o pedido de medida cautelar
formulado em favor da ora paciente.
O ofício, a ser expedido ao Senhor Ministro da Justiça,
deverá ser instruído com cópia do presente despacho.
Publique-se.

Brasília, 21 de maio de 2003.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

*despacho publicado em 27.5.2003

_______________________________________

Coisa Julgada em Ação de Cumprimento (Transcrições)


RE 331.099-SP*

RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA

Relatório: Cuida-se de recurso extraordinário fundamentado no


artigo 102, III, a, da Constituição Federal, em que se aponta ofensa
ao seu artigo 5º, XXXVI.
2. O Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga do Porto
de Santos e o Sindicato dos Vigias Portuários de Santos ajuizaram
ação de cumprimento contra a empresa Cargill Agrícola S/A,
pretendendo a observância das cláusulas constantes da sentença
normativa proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região nos autos do Processo 106/89-DC. A empresa pleiteou a
suspensão do processo, alegando ter havido interposição de recurso
ordinário em dissídio coletivo para o Tribunal Superior do Trabalho
e a pendência do julgamento definitivo do mérito da questão. Por
outro lado, a relação entre as partes estaria regida por decisão
normativa do TST também em processo de dissídio instaurado pela
Federação Nacional dos Conferentes e Consertadores de Carga e
Descarga, Vigias Portuários e Trabalhadores de Bloco – TST-DC-
12/89.2 (fls. 02/61).
3. No primeiro grau de jurisdição foi indeferido o pedido de
sobrestamento do feito, dado que o recurso interposto em processo
de dissídio coletivo não tem efeito suspensivo (Lei 7788/89, artigo
7º). Decidiu-se pela aplicação da decisão normativa local em
detrimento daquela de caráter nacional, em razão da existência de
sindicato organizado no município de Santos (CLT, artigo 611 e §
2º). A ação de cumprimento foi julgada procedente em parte, para
condenar a “reclamada a cumprir as cláusulas normativas
pleiteadas na peça inaugural, exceto verba honorária” (fls. 97/101).
4. O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região manteve o
julgamento de primeiro grau (fls. 131/133). O recurso de revista teve
seu seguimento negado na origem, havendo sido desprovido o
agravo de instrumento que se lhe seguiu (apenso). Em 03/11/93
transitou em julgado a decisão proferida na fase de conhecimento,
que reconheceu ao autor o direito de ver cumprida a sentença
normativa do TRT da 2ª Região.
5. Por sua vez e paralelamente o Tribunal Superior do
Trabalho apreciava recurso contra a mencionada sentença normativa
(RO-DC-2141/90-0) e, em 06/12/93, decidiu que o Tribunal
Regional do Trabalho era incompetente para conhecer do dissídio
coletivo e julgou extinto o processo sem julgamento do mérito.
Como houve recurso contra essa decisão, que veio a transitar em
julgado apenas em 22/03/96 (fl. 685), o juízo de primeiro grau
entendeu por bem dar prosseguimento à execução da ação de
cumprimento e homologou os cálculos. A empresa entrou com
embargos à execução, que foram rejeitados. À ocasião, deferiu-se o
pedido de sobrestamento do feito (fls. 482), decisão essa impugnada
por mandado de segurança que acabou sendo concedido pelo TRT da
2ª Região (fl. 489).
6. Interposto agravo de petição e antes de seu julgamento,
sobreveio o trânsito em julgado da decisão que julgou extinto o
processo relativo ao dissídio coletivo e que deu causa à ação de
cumprimento. Em que pese essa circunstância, o TRT da 2ª Região
negou provimento ao agravo de petição, por entender que os efeitos
do acórdão do TST tem eficácia apenas ex nunc (fls. 658/662).
7. Novamente a empresa recorreu ao Tribunal Superior do
Trabalho em que pretendeu a extinção do processo de execução,
uma vez que deixou de existir validamente o título judicial que
embasou a ação de cumprimento. A 4ª Turma do TST conheceu do
recurso de revista e deu-lhe provimento para julgar extinto o
processo com julgamento do mérito (fls. 761/763).
8. Essa última decisão foi confirmada em acórdão da
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, assim ementado:

"AÇÃO DE CUMPRIMENTO. EXECUÇÃO.


MODIFICAÇÃO DA SENTENÇA NORMATIVA EM GRAU
RECURSAL. VANTAGENS NÃO PAGAS. REPERCUSSÃO
SOBRE O TÍTULO EXEQÜENDO.
A coisa julgada produzida na Ação de
Cumprimento é atípica, dependente de condição resolutiva,
ou seja, da não-modificação do acórdão normativo por
eventual recurso ou em decorrência de cláusula 'rebus sic
stantibus'. A modificação da sentença normativa, em grau
recursal, repercute diretamente na coisa julgada e,
conseqüentemente, na execução promovida na Ação de
Cumprimento, extinguindo-a, se indeferidas pela Corte
Superior as vantagens objeto do título exeqüendo." (ROMS
184658/95.3, Rel. Min. Ronaldo Leal, DJ 14-11-97).
Embargos que não se conhecem.” (fls. 784/789).

9. Contra esse acórdão foi interposto o presente recurso


extraordinário. Alegam os Sindicatos recorrentes violação ao inciso
XXXVI do artigo 5º da Constituição. Sustentam que o julgamento
do TST no dissídio coletivo não possui índole desconstitutiva da
coisa julgada formada na ação de cumprimento, o que somente se
legitimaria por meio de ação rescisória. Em conseqüência, o
superveniente reconhecimento de que a sentença normativa
proferida por órgão judicial incompetente somente pode produz
efeitos ex nunc, para que não atinja a res judicata instrumentalizada
em ação diversa (fls. 792/795).
10. O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do
Subprocurador-Geral da República João Batista de Almeida, opina
pelo conhecimento e provimento do recurso, sob o entendimento de
que a desconstituição do julgado proferido na ação de cumprimento
está sujeita “à ação rescisória e ao prazo bienal de sua propositura”
(fls. 832/835).
É o relatório.

Voto: Preenchidos os pressupostos genéricos de admissibilidade,


passo ao exame da alegada violação in concreto à coisa julgada (CF,
artigo 5º, XXXVI).
2. Como visto, processa-se nestes autos a execução de
comando judicial transitado em julgado, que determinou à empresa
ora recorrida que cumpra as cláusulas da sentença normativa
proferida pelo TRT da 2ª Região. Antes do término dos
procedimentos executórios, todavia, sobreveio, em outro processo,
acórdão do TST que extinguiu a referida decisão em dissídio
coletivo, por incompetência do órgão prolator, decisão essa que
também transitou em julgado.
3. Malgrado distintos os processos, dissídio coletivo e ação de
cumprimento, é evidente a correlação existente entre ambos. O
último visa a dar concreção ao decidido no primeiro. A questão
nuclear a ser enfrentada neste recurso relaciona-se com os efeitos da
extinção da sentença normativa, sendo certo que à época da decisão
proferida na ação de cumprimento não havia ainda transitado em
julgado o acórdão que afastou a causa da exeqüibilidade do julgado
prolatado na referida demanda.
4. Impõe-se, no ponto, abrir um pequeno parêntese para
explicitar a natureza excepcional da sentença normativa proferida no
âmbito da Justiça do Trabalho que, como sabido, no vácuo
legislativo, tem a proficiência de estabelecer novas condições de
trabalho para certo segmento laboral. Tal se expressa levando-se em
conta a essência do conflito coletivo submetido à deliberação do
Poder Judiciário, que atua tão-só, como elementar, por provocação
das partes envolvidas. Ainda que se possa afirmar que dele decorre
direito novo, esse encontra limites na lei e na Constituição, e por
nascer de uma decisão judicial, tem caráter de ato jurisdicional.
5. O estabelecimento de preceitos jurídicos, contudo, pelas
suas naturais fronteiras, não converte a decisão judicial em lei no seu
sentido formal e amplo. O poder normativo conferido de modo
extraordinário ao juiz apenas lhe permite solucionar os conflitos que
lhes são trazidos. A atuação jurisdicional é, desse modo, chamada a
fixar para as partes as condições de trabalho então inexistentes.
Nessa perspectiva, ao exercer a jurisdição, equaciona-se a
controvérsia.
6. É certo que tal comando tem conteúdo normativo, o qual,
porém, é insuficiente para afastar sua feição jurisdicional. Como
dizia Carnelutti, a decisão normativa “tem alma de lei em corpo de
sentença”. Trata-se, pois, de provimento judicial sujeito, por isso
mesmo, a revisão recursal e que encontra execução plena somente
após o trânsito em julgado
7. Por outro lado, a coisa julgada formada no processo de
dissídio coletivo não possui o mesmo grau de imutabilidade ínsito às
demais decisões judiciais. De logo, sua vigência encontra divisas no
tempo (CLT, artigo 868, parágrafo único), exatamente pela
volubilidade das condições econômicas gerais do País e dos diversos
setores particulares da economia, sobretudo em virtude da oscilação
de parâmetros impostos pela conjuntura mundial. A sentença
normativa pode, ademais, sofrer revisão de seus termos, se
transcorrido um ano de sua vigência (CLT, artigo 873), diante da
imponderabilidade de sua imutação, considerado o princípio da
cláusula rebus sic stantibus, ou da imprevisibilidade da constituição
definitiva do ato jurídico.
8. Como corolário desse condicionamento é que o Tribunal
tem admitido a eficácia imediata de normas legais supervenientes
que estabelecem nova política salarial para os trabalhadores, sem
que essa inovação no cenário econômico nacional, converta-se em
violação à coisa julgada originária de dissídios coletivos. Ao
apreciar o RE 202686, que foi o primeiro julgado especificamente
sobre cláusulas de acordo coletivo de trabalho ou de sentença
normativa, afirmei:

“A sentença normativa tem natureza singular e


projeta no mundo jurídico apenas uma norma de caráter
genérico e abstrato, embora nela se reconheça a existência
da eficácia da coisa julgada formal no período de vigência
mínima definida em lei (art. 873, CLT), e, no âmbito do
direito substancial, coisa julgada material em relação à
eficácia concreta já produzida. É uma norma editada no
vazio legal. Porém, editada a lei, de caráter imperativo,
esta se sobrepõe a todas as demais fontes secundárias de
direito - convenção, acordo ou sentença normativa -, sendo
nula, de pleno direito, disposição de convenção ou acordo
coletivo que contrarie proibição ou norma disciplinadora
do Governo concernente à política salarial vigente (art.
623, CLT).
A sentença normativa firmada ante os pressupostos
legais autorizadores, então vigentes, pode ser derrogada
por disposições legais que venham a imprimir nova política
econômico-monetária, por ser de ordem pública, de
aplicação imediata e geral, sendo demasiado extremismo
afirmar-se a existência de ato jurídico perfeito, direito
adquirido e coisa julgada, para infirmar preceito legal que
veio dispor contrariamente ao que avençado em acordo ou
dissídio coletivo, norma de natureza abstrata que vem
integrar o contrato de trabalho no seu período mínimo de
vigência, como previsto na própria legislação especial.”(RE
202686, Maurício Corrêa, DJ de 26/05/00).

9. Essa situação singular, que, no âmbito de ação coletiva,


difere o pronunciamento jurisdicional trabalhista das decisões
ordinárias reguladas pelo processo civil, ao promover uma
verdadeira relativização da coisa julgada, deve ser levada em conta
para a solução da questão ora em causa.
10. A ação de cumprimento, por sua vez, destina-se não a
executar a decisão normativa, mas apenas assegurar a sua integral
observância. Conforme esclarece a doutrina de Sérgio Pinto Martins,
“a ação de cumprimento apenas assegura a realização ‘in concreto’
do que foi estabelecido na decisão normativa genérica”
constituindo-se em uma “ação de conhecimento condenatória”.
11. Nesses termos, afigura-se-me cristalino o grau de
correlação e interdependência entre a ação de cumprimento e a
subsistência da sentença normativa em que fundada. Extinta essa
última pela incompetência do órgão que a prolatou, sua eficácia só
pode produzir efeitos ex tunc, em face da substituição do acórdão da
Corte Regional (CPC, artigo 512) pelo do TST, daí por que não se
pode emprestar efeitos futuros a algo que não mais existe, ainda que
se tenham valido os interessados de outra via processual, no caso, da
ação de cumprimento. Em conseqüência, não há como prosseguir-se
na execução da coisa julgada, que, como se viu, tem vida precária e
resolúvel.
12. Com a devida vênia do ilustre representante do Parquet,
não me parece razoável dar-se curso à execução de um título que
tem por base uma sentença normativa que não mais perdura. O
dissídio coletivo instaurado foi extinto sem julgamento do mérito,
sendo inadmissível que continue a produzir efeitos. A decisão que
transitou em julgado nestes autos determina que a ré cumpra um
determinado provimento jurisdicional, sendo certa a possibilidade de
sua modificação. Se a decisão normativa perde a eficácia antes de
ultimada a execução desse comando – entenda-se a sentença
proferida na ação de cumprimento-, não há mais o que executar.
13. Como se percebe, os empregados obtiveram, na ação de
cumprimento, a condenação da empresa à satisfação de cláusulas
integrantes de outra sentença judicial, de natureza normativa, essa
última de caráter incerto e transitório, posteriormente declarada
inexistente. Por isso mesmo, não persistindo mais os seus comandos,
acaba esvaziado por completo o conteúdo da coisa julgada formada
nesta ação de cumprimento, que passa a não ter nenhum valor
impositivo.
14. Nesse formato, e estando em trânsito a execução resultante
da ação de cumprimento, é de ver que a superveniência de decisão
judicial, com trânsito em julgado, que retirou a eficácia da sentença
normativa que constituía o âmago da res judicata, não tem mais
qualquer sentido o procedimento executório, cuja extinção se impõe
pela superveniência da denominada execução negativa. Com efeito,
embora a coisa julgada, tida como ofendida, permaneça íntegra,
ficou, em relação à parte vencida, sem conteúdo coercitivo, agora
inteiramente por carência de qualquer título.
15. Conforme ilustra Francisco Antônio de Oliveira, “na
hipótese de a sentença normativa desaparecer do mundo jurídico, a
solução não é o prosseguimento da execução e o ajuizamento de
ação rescisória, e sim o sobrestamento do feito com a extinção da
execução”. O contrário seria subverter o processo em armadilha
para a parte. A simples possibilidade de já haver esgotado o prazo
decadencial para a propositura da ação rescisória, como ocorre na
espécie, demonstra, por si só, a ausência de razoabilidade na solução
pretendida pelos recorrentes.
16. A coisa julgada formal produzida no processo de dissídio
coletivo apenas impede que outro seja instaurado durante sua
vigência com o mesmo objeto. Não obsta, porém, a alteração
posterior de seu conteúdo geral e abstrato, seja pela sua revisão seja
pela superveniência legal em sentido diverso. Como visto, a
sentença normativa transitada em julgado não possui imutabilidade
material, não sendo lógico que se queira atribuir essa imutação ao
julgado da ação de cumprimento, especialmente se destinada a
realizar acórdão em dissídio coletivo ainda pendente de recurso.
17. Nas palavras do Ministro Ronaldo Leal, a coisa julgada
proferida no âmbito da ação de cumprimento “é atípica, pois
depende de condição resolutiva, ou seja, não-modificação do
acórdão normativo por eventual recurso ou em decorrência da
cláusula rebus sic stantibus”, conceito também preconizado por
Manoel Antônio Teixeira Filho, que entende ser a res judicata
formada nas ações de cumprimento do grupo daquelas “sob
condição ou aparentes, na medida em que a sua efetiva constituição
depende da sorte que tiver o acórdão normativo, que se apresenta
como próprio pressuposto da existência dessa espécie de ação”.
18. A relação jurídica que decorre da sentença normativa é
continuada ao longo do tempo, sujeita por isso mesmo a alterações
que sobrevenham à sua prolação, resultando na sua extinção, como
se dá na presente hipótese, ou mesmo na alteração de seu conteúdo.
Idêntica sorte segue, por conseqüência natural, a ação destinada a
assegurar seu cumprimento, a merecer, no ponto, alusão, ainda que
ilustrativa, à regra do inciso I do artigo 471 do CPC, que permite ao
juiz decidir novamente a causa nas relações jurídicas continuativas,
desde que surja modificação no seu estado de fato ou de direito.
19. Assim sendo, correta é a decisão do Tribunal Superior do
Trabalho que promoveu a extinção do procedimento executório.
Fere o bom senso impor à empresa recorrida o pagamento de
parcelas relativas a reajuste salarial concedido por decisão proferida
por Corte que não possuía competência jurisdicional para o ato, que
por essa razão não mais subsiste. Concluo que no caso concreto e
nessa peculiar situação não se pode dizer que tenha havido ofensa à
coisa julgada (CF, artigo 5º, XXXVI).
Ante essas circunstâncias, não conheço do recurso
extraordinário.

* acórdão pendente de publicação

Assessora responsável pelo Informativo


Maria Ângela Santa Cruz Oliveira
informativo@stf.gov.br

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