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Determinacdo da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 11.1 Conceito de moeda Moeda éuminstrure rte ou objeto aceito pela coletividade para intermediar as tran- Brae aa sol ne erie ore atenyreks sia peed oem arises] elec (ol Merlietat eh eve lei, ou seja, a moeda tem “curso forcadat Antes Ga existéncia da moeda, o fluxe de trocas de bens e ser (ora iementotat) dava-se por escembo, com trocas diretas de mercadoria por mercadona (economia de Cre Mar st Werner tec cs cigs nee ee Ree Eee Ne Mee We arene nee vet ieee es eee oceve tet fete eee rendo adquirir, e simulteneamente queire comprar aquilo que esta sendo oferecido. Ou See eM eee Mar Meme el Veelitelel tet Velo Mole tee eel et eottclare ise irony are evista ekeescone aca one eaecr eee eset Fe ee ON ate asl oa Oa Yel Peerte ac iu eee atc lode Rel cd sere agoCon limitando © tamanho do produte da sociedace. feo otiel ce Wels ere Msc utae- eo ter cae cote te a Exe Lomo calls por suias caracter'sticas pecullares ou: palo préario fato de serem es: CO ere t egies Pree MeV gee aie Rese Muses Lore itrel) Bere es nee am ue gee ogee t= facet cacy constitul a forma mais primitiva de moeda na economia, 171 Fundamentos de Economia ‘Os metais preciosos passaram a assumir a fun¢gSo de moeda por diversas razdes: sdo limi- tados na natureza, possuem durabilidade e resisténcia, sao divisiveis em peso etc, Para exercer © controle sobre os metais em circulacao, foi implantada a “cunhagem’ da moeda pelos go vernantes, o que deu origem a atual moeda metélica. O papel-moeda de hoje teve origem na moeda-papel. As pessoas de posse de aura, por questao de seguranga, quardavam-ne em casas especializadas (embrio do atual sistema bancario), onde ourives — pessoas que trabalhavam 0 oure e a prata — emitiam certifica- das de depésitos dos metais. Ao adquirir bens. servicos, as pesscas podiam, entaa, fazer 0s pagamentes com esses certificados, j8 que, por serem transferiveis, o novo detentor do titulo poderia retirar o montante correspondente de metal com o ourives. Como 6 depositario do metal merecia a confianga de todas, esses certificados foram ganhando livre circulacdo, passando a ler aceitagdo geral, porque possufam lastro e podiam ser convertidos a qualquer instante em ouro. Ao longo do tempo, entretanto, o lastro tornou-se menor que 100%, pois 0 ourives, percebendo que sempre permanecia em sua firma determinado montante de metais preciosos que ndo era utilizados, passou a emitir mceda-papel em proveito proprio, sem nenhum lastro. Mais tarde, a partir do século XVII, surgiram os bancos comerciais privados. Esses ban- cos comegaram a emitir notas ou recibos bancarios que passaram a circular como moeda, dando origem ao papel-moeds, Alguns desses bances recederam o privilégio do menopslio da emissao de notas bancarias, sende esse monopélio a origem de muitos bancos centrais, como © Banco da Inglaterra, fundado em 1694 por urn grupo de banqueiros orivados para financiar os déficits da Coroa. Posteriormente, o Estado passou a monopelizar a emissdo de papel-moeda lastreado em ure (padrao-ouro). © ouro, contude, é um metal com reservas limitadas na natureza, e 0 padrSo-ouro passou 3 apresentar um obstaculo 8 expansdo das economias nacionais ¢ do comércio internacional, ao impor um limite & oferta monetaria, uma vez que a capacidade de emitir moeda estava vinculada 4 quantidace de ouro existente. Dessa forma, a partir de 1920, 0 padrao-ouro foi abandonado, e a emissdo de moeda passou a ser live, OU a critério das autoridades monetarias de cada pais. Assim, a moeda passou a ser aceita por forca de lei, denominando-se moeda de curso forgado ou moeda fiduciaria (de fiduicia, conflanga), nao sendo lastreada ern metais preciasos, Um Ultimo estorgo da manutengdo de um regime de moeda lastreada foi o Acordo de Bretton Woods (1944), pelo qual o délar norte-americano respeitava uma regra de padrao- outo, € as dermais moedas tinham suas paridades fixadas em relacao ao proprio délar. Em 1971, com a suspensao da conversibilidade do délar em ouro, quase todas as moedas nacio- nais da mundo passaram a ser Aiduciérias. Determinagao da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 173 TL2 Fungées e¢ tipos de moeda As fungées da moeda no sistema econdmico sao fundamentalmente as sequintes: > instrumento ou meio de trocas: por ter aceitagao geral, serve para intermediar o fluxo de bens, servicos e fatores de produgéo da economia; » denominador comum monetario: possibilita que sejam expressos em unidades mo- netérias os valores de todos os bens € services produzidos pelo sistema econdmica. £ um padrao de medida; » reserva de valor. a posse da moeda representa liquidez imediata para quem a possui. Assim, pode ser acumulada para a aguisico de um bem ou servico no futuro, Claro estd que © requisito basico para que a moeda funcione como reserva de valor é sua estabilidade diante dos pregos dos dens € servicos, ja que a inflac3o corré’ 0 poder de compra da moeda, ¢ a deflacao (queda de precos) a valoriza. 11.2.1 Tipos de moeda Existem trés tipes de moeda; >» moedas metilicas: emitidas pelo Banco Central, canstituem pequena parcela da ofer ta monetaria e visam facilitar as aperagdes de pequeno valor e/ou camo unidade mo- netaria fracionada (troco); > papel-moeda: também emitido pelo Banco Central, representa parcela significativa da quantidade de dinheiro em poder de publico; > moeda escritural ou bancaria: € representaca pelos depdsitos a vista (depdsitos em conte corrente) nos bancos comerciais (é a moeda contabil, escrit comerciais), rada nos bancos 0 pape-moeda e as moedas metilicas em poder de pubblico (familias e empresas) so denominados moedas manuais 113 Oferta de moeda Como qualquer mercadoria, a moeda tem seu prego € quantidade determinados pela oferta e demanda, A oferta de moeda € 0 suprimento de moeda para atender as necessida- des da coletividade. Veremos que a moeda pode ser ofertada pelas autoridades monetanias pelos bancos comerciais. 174 Fundamentos de Economia 11.3.1 Conceito de meios de pagamenta A oferta de moeda também é chamada de meios de pagamento. Os meios de pagamento constituem o total de moeda 3 disposicée do setor privado nao bancétio, de liquidez imediata, ou sela, que pode ser utilizada imediatamente para efetuar ‘transag6es. A liquidez da moeda ¢ a capacidade que ela tem de ser um ativo prontamente disponivel e aceito para as mais diversas transacoes. Os meios de pagamento em sua forma tradicional sao dados pela soma da moeda em po- der do publico mais os depésitos 4 viste nos bancos comercials, Ou seja, pela soma da moeda manual e da moeda escritural. Meios de pagamento = moeda em poder do publica + depésitos 4 vista nos bancos comerciais Os meias de pagamento regresentam, entdo, quanto a coletividade tem de moedafisica’ (metalica e papel) com © puiblico ou no cofte das empresas somado 2 quanto ela tem em conta corrente nos bancos. Enfim, é ou ativos remunerados. a moeda que no est rendendo juros, aquela que ndo esta aplicada em contas Note, também, que 0 conceite econdmico de moeda é representado apenas pela moeda que esta com 0 setor privado nao bancério, ou seja, excluem-se a moeda que esté com os proprios bancos comerciais ¢ a que est4 com as auitoridacles monetérias. Nesse sentitlo, os depésitos 4 vista ou em conta corrente néo sao dinheir tence ao piiblico nao bancério. O dinheita que pertence ans bancos so seus encaixes (caixa dos bancos, mas dinheiro que per- dos bancos comerciais) e suas reservas (quento os bancos comerciais mantém depositado no Banco Central), Também nao sao considerados, na definigao tradicional de meios de pagamento, as ca- demetas de poupanga e os depdsitos a prazo nos bancos comerciais (captados via certifi- cados de depésitos bancarios — CDBs), por duas razGes: nao sao de liquidez imediata e sic fernunerados, isto é, rendem juros. Qs meios de pagamento, conceituados como moeda de liquidez imediata, que nao ren- dem juros, também sao chamadoas, na literatura mais especifica, de MI Para alguns abjetivos, ‘05 economistas incluem como moeda a chamada quase-moeda? — ativo que tem alta li- quidez (embora nao téo imediata) e que rende juros, como os titulos pulblicos, as cadernetas A incluso da quase-moede origina outras definigSes de moeda Sabendo-se que M1 = moeda em poder do piblico + depositos a vista nos bancos comerciais, codemos também concettuar: > M2 = MI + desdsitos de poupanca + titulos privados (dendsitos a prazo, letras cambials, hipotecarias € imobilirias); > MB = 2+ fundos de rende fixa + operagGes compromissadas com titulos Federals, + MA M3 + titulos piblicos Fecerais, estaduais e municipais Determinago da Renda e do Produto Nacional: © Lado Monetério 175 de poupanca, os depésitos a prazo e alguns titulos privados, como letras de cambio e letras imobiligrias. Os meios de pagamento no conceito MI também séo chamados de ativos ou haveres monetarios. Os demais ativos financeiros, que rendem juros, s4o chamados de atives ou ha- veres ndo monetarios. Monetizacdo e Desmonetizagdo da Economia Em processos inflacionarios intensos normalmente ocorre a chamada desmonetizagéo da economia, isto é, diminuicgao da quantidade de moeda sobre 0 total de ativos financeiros, em decerréncia do fato de as pessoas procurarem defender-se da inflagéo com aplicacées financeiras que rendem juros, A monetizacao é 0 proceso inverso: com Infiacdo baixa, as pessoas mantém mais maeds que nao rende juros em relacdo aos demais ativos financeiros. Mi M4 O grau de monetizacao ou desmonetizagao pode ser medido pela razio quando M1 aumenta em rela¢o a M4, hd monetizacao; quando MI cai relativamente a M4 ocorre a desmonetizagao. Observando a Tabela 11.2, nota-se como o grau de monetizacdo manteve-se relativamen- te constante no periode de 1995 2 2006, com MI representando aproximadamente 11% do total dos ativos financeiros (M4). Criagdo @ Destruicdo de Moeda (ou de Meios de Pagamento) Ocorre criagao de moeda quando hd aumento do volume de meios de pagamento; inver- samente, 2 destruicéo de moeda ocorre quando se faz uma reducdo dos meios de pagamen- to. Alguns exemplos ilustram esses fatos: > aumento dos empréstimos ao setor privado é criag¢3o de moeda, pois os bancos comerciais tiram-na de suas reserves e a emprestam ao piiblico; > oresgate de um empréstimo no banco é destruicdo de moeda, reduzem-se as meios de pagamente, jf que saem do publico ¢ retornamn ao caixa dos bancos: » quando o depositante retira depésito a vista e o coloca em depésito a prazo, ocorre destruigao de moeca, pois os depésites a prazo ndo sSo meios de pagarnento, dado que nao so de liquidez imeciata, e rendem juros. Ja. com o saque de um cheque no balcao do banco nao ha nem criacdo nem destruicao de meios de pagamento, pois simplesmente houve uma transferéncia de depésites 2 vista (moeda escritural) para moeda em poder do publice (moeda manuel). 17% Fundamentos de Economia 11.3.2 Oferta de moeda pelo Banco Central O Banco Central € 0 orgie responsavel pela politica monetaria e cambial do pats, que tem como objetive regular o montante de moeda, crédito, taxas de juros e cambio, de forma compativel com o nivel de atividade econdmice e o equilforio do balanco de pagamentos. Ou seja, 0 Banco Central deve procurar manter a liquidez da economia, atendendo as necessida- des de transag6es do sistema econdmico®, Compete ao Banco Central do Brasil (2acen) cumprir e fazer cumprir as disposigbes que Ihe s8o atriburdas pela legislacdo em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Manetario Nacional (CMN). 0 CMIN e o Bacen desempenham o papel de autoridade monetéria. A Lei n® 4595, de 31/12/1964, que criou os dois dredos, deu ao CMN as principais fungdes decisérias 5, € a0 Bacen as funcGes executivas de supervisdo € fiscalizagao bancérla, cabendo-Ihe cumprir ¢ fazer cumprir as decisbes do CMN ~ Fungées classicas do Banco Central > execugie da politica monetaria: 3 principal atribuigao de um Banco Central é 0 con- trole da oferta de moeda e crédito; > banco emissor cabe a autoridade monetaria de um pais a fungae de emitir 0 papel- moeda e moeda metélica; » banco dos bancos: o fluxo de caixa dos bancos tanto pode apresentar insuficiéncia de TecLiIsos Como excesso. No primero caso, precisam ser socorrides, € quem 0 faz 60 Banco Central. No segundo caso, os bancos, para nao deixarem seus recursos ociosos, depositam-nos no Banco Central. Além disso, hé a necessidade de transferéncia de fundos entre os bancos comerciais, como resultado positive ou negativo da camara de compensacae de cheques outros papéls, o que é feito por meio de suas contas no Banco Central. No Brasil, a camara de compensacao de cheques e outros papéis foi delegada ao Banco do Brasil, sob supervisdo do Bacen; » banco do governo: cabe ac Banco Central receber depésitos de governo e lhe conce- der créditos. Muitos hoje questionam essa fungao, devido & eventual utilizagao abusiva do Banco Central pelo governo para o financiamento de déficits publicos, » controle e regulamentacao da oferta de moeda, que é uma fun¢ao normativa: regula a moeda e crédito do sistema econdmico. O Copom - Comité de Politica 2 No Brasil, abe av Congresse Naciona ,coma sangao do Presidente da Republica, dispor sobre limites de emissao monetéria e inontante da divida mobiliria federel, conforme o art. 48 da Constituicao Federal ssa questio do finenclamenta inlacicnérlo das necessidades do govern € uma das oreocusagdes principals de vars defensores, no muna, de independénicia do Banco Certral Esse Cuidado também existe no Brasil. o que expiica a vedagio constitucional de oBanco Certral conceder, deta ou inclretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer orgio cu entidedle que nao sejs institu G20 financeita (art. 164, § 1). N3o obstante, o mesmo artigo const tucional determine que“as disponibilidades de caixa ca Unido seréo depositacias no Banco Central (art. 164,§ 3"). Determinagao da Renda ¢ do Produto Nacional: 0 Lado Monetério m7 Monetéria do Banco Central, é 0 érgao responsavel pela fixagao da taxa de juros Selic*; » execucao da politica cambial e administragéo do cambio: controle das operagdes com moeda estrangeita e capitais financeiros externos. Uma das mais importantes miss6es do Banco Central é a defesa da moeda nacional; » fiscalizagdo das instituicdes financeiras, Para exercer essas fungdes, o Banco Central utiliza os instrumentos de politica monetaria, Instrumentos de Politica Monetaria As alteracdes de politics monetaria, sejam em fungao dos abjetives mais gerais de palt- tica econémica, sejam pera corregdes de eventuais desvios na expansio ou contracio dos meies de pagamento com relagae 4 programacao monetaria, sao feitas por meio das se- guintes instrumentos: > controle das emissées: 6 Banco Central controla, por forca de lel, o volume de moeda manual da economia, cabendo a ele as determinagées das necessidades de novas emissdes e respectivos volumes; > depésitos compulsérios ou reservas obrigatorias: os bancos comercia’s, além de pos- sufrem os chamados encaixes técnicos (0 caixa des bancos comerciais), so obrigados a depositar no Banco Central um percentual determinado por esse sobre os depdsitos a vista, Basta o Banco Central aumentar ou diminuir 0 percentual do depésito compul- sorio para influir no volume ofertado de empréstimos bancarios (e, portanto, na criagao de depésitos ou moeda escritural). Além de uma conta de depdsitos compulsdrios, os bancos comerciais mantém no Banco Central uma conta de depésitos voluntarios (ou reservas livres), em que sao langados os cheques de compensacao entre os bancos; > operacdes com mercado aberto (open market): consister na compra e venda de titulos pudlicos ou obrigagées pelo governo. O Banco Central mantém uma carteira de titulos para realizar operagées reguladoras da oferta monetéria. Quando o governe coleca seus Titulos para © ouiblico, o efeito ¢ o de reduzir os eias de pagamenta (‘enxuga"es meios de pagamento), ja que parte da moeda em poder do publico retorna 20 governo como. pagamento desses titulos. Ao contrétio, quando 0 governo compre os titulos, efetua pa- gamento em moede 2 seus portadores, o que aurnenta a oferta de moeda (os meios de pagamento). Essas operagdes afetem e sdo afetadas pelas remuneragGes oferecidas por esses titulos, que 6a taxa de juros basica da economia (no Brasil, taxa Selic): para vender a8 titulos publicos, o Banco Central normalmente deve elevar a taxa de juros; * Selic ~ Servigo Especial de Liquidacao e Custedia, © Copom reune-se a cada 45 dias, ¢, além de fixar a taxa de juros Selic, indica a tendéncia da taxa de juros no periodo que antecede a préxima reunio. Sobre o Copom, veja mats no Capitulo 13, tépico 136. 738 Fundamentas de Economia » operacées de redesconto: englobam a liberaco de recursos pelo Banco Central aos bancos cometciais, que podem ser empréstimos ou redesconto de titulos. Existem os redescontos de liquidez, que so empréstimos para os bancos comerciais cobrirem eventual débito na compensacao de cheques, e os redescontos especiais ou seleti- vos, Jue sé0 empréstimos autorizados pelo Banco Central visande beneficiar setores especificos. Por exemplo, para estimular a compra de maquinas agricoles, 0 Banco Central abre uma linha especial de crédito, pel qual os bancos comerciais emprestam (descontam) 20s produtores rurais e redescontam o titulo no Banco Central. A mudan- $a na taxa cobrada pelas autoridades monetarias influi no sentido de aumentar ou diminuir 0 crédito concedido aos bancos comerciais. Além desses instrumentos tipicos ¢a politica econémica, o Banco Central pode afetar o fiuxo de moeda pela regulamentagdo da moeda e do crédito, por exemplo, contingencian- do 0 crédito, fixando a taxa de juros, os limites de prazos pare 0 crédito so consumidor etc. 11.3.3 Oferta de maeda pelos bancos comer. O multiplicador monetario Os bancos comerciais também podem aumentar os meios de pagamento (isto é, aumen- tara oferta de moeda) com a multiplicacéo da moeda escritural ou depdsitos a vista, Um depésito 3 vista ou em conta corrente num banco comercial representa um fundo disponivel, que pode ser movimentado a qualquer instante pelo titular da conta corrente por meio de cheque. No entanto, existe um fluxe continuo de depdsitos e saques, de tal forma que © banca nao precisa manter a totalidade dos recursos captados de cepésitos a vista para fazer frente aos pagamentos dos cheques emitidos pelos correntistas. Dessa forma, 0 banco precisa guardar em seus cofres apenas a parte dos depésitos 3 vista que Ihe permita cobrir as reservas técnicas au de caixa (9ara pagamento dos cheques) e os depdsitos compulsdrios & voluntarias (cheques de compensa¢éc), podendo emprestar o restante a seus clientes, pois dispde de uma carta-patente que Ihe permite fazer isso. O cliente que tomou o dinheiro emprestado faz um depésito & vista no mesmo ou em outro banco, Desse novo depdsito, 0 banco retém o montante de reservas que cubra as re- servas lécnicas, bem como o depdsite campulsdrio € 0 depésito voluntério no Banco Central, € 0 restante torna a emprestat para outro cliente, que, por sua vez, faz novo depésito & vista, € assim sucessivamente, Note que apenas os bancos comeicials, dentre os intermedidrios financeiros privados, podem efetuar empréstimos com suas obrigacdes, isto é, depdsitos 8 vista. Os chamados intermediarios financeiros nao bancarios, como as financeiras, bancos de investimentos, apenas trensferem recur. 505 de aplicacores para tomadores, e suas obrigagGes nao do cansideradas meios de pagamento, Ou seja, apenas os dancos comerciais podem criar oferta de moeda, por terem carte-patente que Ihes permite emprestar os depasitas da piiblico, enquanto as instituigdes financeiras nZo bancarias Determinagao da Renda e do Produto Nacional: 0 Lado Monetério 179 ores, no criando moeda (meios de pagamento) adicional com essas operecSes, Oefeito de criacao multipla de depésito a vista e, portanto, de meios de pagamento pode 7 : ; . ndo $20 autorizacas a manter depositas, apenas transterindo dinheiro de emprestadores para toma- | ser visualizado na Tabela 11.1; supde-se que: a) 2 emissao priméria da moeda pelo Zanco Central 6 de $ 100,000, sendo essa quantida- de de moeda entreque ao piiblico; b) as pessoas depositam todo 0 dinheiro nos bancos comerciais para movimenté-to por meio de cheques (por simplificacao, estamas suponde por enquanto que, nesse pro- cesso, 0 publico ndo retem essa moeda adicional; ¢)_os bancos precisarn manter em reservas técnicas, compulsdrias © voluntérias 40% dos depdsitos; d) os bancos retem apenas 0 necessério para cobrir as reservas e emprestardio os recursos remanescentes, Tabela TI: O efeito de crlactio multipla do depésito a vista = | A 100.000 | B 60,000 | € 36.000 21.600 D 21.600 12.960 E 12.960 7776 \ | | Demais bancos 19440 11.664 | somados | Como observado, a oferta inicial de moeda manual de até § 100.000 transformou-se em uma oferta total de moeda escritural (deodsitos a vista) de $ 250.000 © efeito multiplicador da moeda escritural é dado por uma progresso geamétrica de- crescente, De uma forma mais simples, ele 6 dado pelo inverso da porcentagem da reserva bancaria, ou: m= em que: m = efeito multiplicader monetétio; = taxa ou percentagem de reserva dos bancos comerciais sobre os depésitos a vista 180 Fundamentos de Economia Multiplicador da Base Monetaria O multiplicador do exernplo anterior esté bastante simplificade, uma vez que nao consi- dera 0 efeito da retenc3o de moeda em poder de ptiblico no mecanismo de multiplicacao. Quanto mais o publico (pessoas fisicas e empresas ndo financeiras) retém, menos deposita nos bancos, e menor a multiplicagdo monetaria. A formula do multiplicador mais conhecida é 2 de multiplicador da base monetaria. A base monetaria é a soma da moeda em poder do pliblica e das reservas bancarias (técnicas, compulsorias voluntarias). E praticamente o total da moeda emitida, excluindo apenas a moeda que permaneceu com 0 Banco Central. Assim, do que foi emitido, uma parte esté em aos do pUblico e nos cofres das empresas, € a outre esté em poder de bancos comercials (ou em seu Caixa, Ou, entao, depositado no Banco Central, a sua ordem). Chamanco; P= saldo da moeda em poder do pubblico; R= total das reservas bancarias; D=saldo dos depésitos & vista; M = salde dos meios de pagamento = P + D; B= saldo da base monetétia = P +R, e sabendo que os meios de pagamento sao um multiplo da base monetaria (pois os depds'- tos a vista superam o total de reservas bancérias), tem-se: M=mB O multiplicador da base monetaria é dado pela formula M nee 8 Ha uma relacdo inversa entre © multiplicador e as taxas de retencdo de moeda pelo pu- blico e de reservas bancarias, A decisdo do publica de reter mais moeda em seu poder, nao depositando nos bancos cometcials, bem como o aumento da taxa de reservas requerides pelos bancos comerciais (um aumento no compulsério), diminul a quantidade disponivel de recursos na rede bancaria para os bancos emprestarem?. Prova-se (ver VASCONCELLOS, 2005) que © multiplicador da hase monetaria poe erable sercalclace.s pat ae das taxas de retencac do puiblico e da taxa de reservas bancétias, Assirn: m = em que Ca percenta- c+ gem de moeda manual sobre os depesitos & vista, ey. taxa de reservas bancarias sobre os dep: No Brasil, a formula utilizaca pelo Benco Central, que leva aos mesmos resultados da anterior, 8 8 vista 1 m= C+DRI+RQ) gem dos depositos a vista sobre os meios de pagamento MI; R, & a taxa de encaixes (caiva dos banoos comer- Ciais) sobre as depdsitos & vista’ € R, & a taxa de reservas (voluntatias mals compulsérlas) sobre os dapésitos & Vista, O comportamento desses indicadores no Brasil pode ser observado nas Tabelas 11.2 11.3, em que C éa percentagem da moeds retida gelo publico sobre MI; Dé a percenta: Determinacao da Renda e do Produte Nacional: 0 Lado Monetario 181 Ressaltamos que o multiplicador monetario ngo tem nenhuma relagao com 0 multiplica- dor keynesiano de gastos visto no capitulo anterior. O multiplicador monetério se refere 20 Mecanismo de multiplicacdo de moeda (meios de pagamento), enquanto 0 multiplicador keynesiano diz respeito ao efeita dos gastos sobre o nivel de renda (nda na moeda), refletindo um efeito na produco real de bens e servicos. Observando as Tahelas 11.2 11.3, verificamos Que houve ume elevacgo do multiplica: dor de base monetaria a partir da implementagio do Plano Real, em julho de 1994: de um valor de 1,21 em 1994, situa-se atualmente em torno de 1,4. [$80 ocorreu porque uma das Principais medidas na fase inicial do Plano foi e aumento da taxa de reservas compulsérias (100% sobre todo o volume de depésitos que excedesse 0 saldo dos depositos & vista em 30 de junho de 1994), Passada essa primeira fase, como objetivo de estimular 0 nivel de atividade, a taxa de reservas comoulsérias vem sé teduzinda, e desde 2000 é de 45% dos depdsitos vista das hancas comerciais, elevando a disponibilidade dos bancos para efe tuarem empréstimos ao piiblico. 11.4 Demanda de moeda Ademanda ou procura de moeda pela coletividade corresponde a quantidade de moe- Ga que o setor privado nao bancario retém, em mécia, seja cam o publico, seja no cofte das empresas, € em depositas a vista nos bancos comercia's. Oque faz com que pessoas e empresas retenham dinheiro que ndo rende juros, em vez de utilizé-1o na compre de titulos, imdveis etc? \sto é, quais os motivos ou razdes para ademanda de moeda per se? Sao trés as razdes pelas quais se retém moeda: > demanda de moeda para transacées: as pessoas ¢ empresas precisam de dinheiro para suas transacoes do dia-a-dia, para alimentagao, transporte, alugue! etc; » demanda de moeda por precaucéo: 0 puiblico e as empresas precisam ter certareser- va monetéria pare fazer face a pagamentos imprevistos ou atrasas em recebimentos esperados; >» demanda de moeda por especulagéo (ou por portfélio): dentro de sua carteira de aplicagdes (porttdlio), os investidores deve deixar uma “cesta” para a moeda, obser- vanda 6 comportamento da rentabilidade dos varios titulos, para fezer algum novo negocio. Ou seja, a moeda, embora nao apresente rendimentos, tem a vantagem de ter liquidez imediata, e pode viabilizar novas aplicagdes. ‘As duas primeiras raz6es (tiansagdes e precaucso) dependem dirctamente do nivel de fenda. E de esperar que, quanto maior a renda (seje das pessoas, seja a renda nacional), maior a necessidade de moeda para transacbes e por precaucdo. 182 Fundamentos de Economia Considerando que 2 taxa ce juros, para quem possui moeda, representa um rendimento, isto é, quanto se ganha com aplicagées financeiras, na uma relagao inversa entre demanda de moeda por especulagao e taxa de juros. Quanto maior o rendimento dos titulos (a taxa de juros), menor a quantidade de moeda que o aplicador retém em sua carteira, jd que é melhor utiliz-la na compra de ativos rentaveis, O motivo especulacao (e, portanto, a influéncia da taxa de juros sobre 2 demanda de moe: da) foi outra contribuii de Keynes para a teoria macroeconémica. Antes, na chamada teoria classica e neoclassica, a demanda de moeda ere associada apenas a renda nacional, ou seja, s6 eram considerados os motives transag&o e precauicdo para reter moeda. 11.5 O papel das taxas de juros Ataxa de juros tem um papel estratégico nas decisdes dos mais variados agentes econdmicos Para as empresas, as decisGes dos empresarios quanto 4 compra de maquinas, equipamen- tos, aumentos ou diminuiigao de estoques, de matérias-primas ou de bens finais, ¢ de montantes de capital de giro seréo determinadas nao 36 pelo nivel atual, mas também pelas expectativas quanto aos niveis futuros das taxas de juros. Se as expectativas quanto a trajetéria das taxas de juros se tornarem pessimistas, os empresérios Ceverdo manter niveis baixos de estoques e mes- mo de capital de giro no presente, uma vez que o custo de manutengaa desses ativos podera ser extremamente oneroso no futuro. O nivel ds taxa de juros também vai afetar as decisdes de investimento em bens de capital: se as taxas estiverem elevadas, isso inviabilizard muitos projetos Ce investimentos, € os empresarios optarao por aplicar seus recursos no mercado financeiro. (Os consumidores, por sua vez, exercerao um maior poder de compra a medida que as taxas de juros diminuirem, e 0 contrario, se as taxas de juros aumentarem. Desse moda, se as autori dades governamentais optam por uma reducao do nivel da demanda, a taxa de juros tem umn importante papel, pois a determinagao de seu patamar acabaré por influenciar 0 volume de consumo, notadamente de bens de consumo durdveis, por parte das familias. Alem de repre- sentar um aumento do custa do financiamento de bens de consumo, taxas de juros elevadas fazer com Que as pessoas passem a preferir poupanga @ consumo, dirigem sua renda néo gasta para o mercado financeiro. A fixagao da taxa de juros doméstica, por autra lado, esté relacianada com a demanda de crédito nos mercados financeiros internacionais. Se, por exemplo, tudo o mais constan- te, a taxa de juros no Brasil se tornar relativamente mais elevada do que a taxa oraticada nos Estados Unidos, haveré maior demanda de crédito extern por parte das empresas brasileiras comparativamente a situacéo anterior; 0 contrario se observaré se a taxa de ju- ros diminuir no mercado interno. O movimento de capitais financeiras internacionais esté, desse modo, candicionado aos diferenciais de taxas de juros entre os diversos pafses. Determinacéo da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 133 115.1 Taxa de juros nominal ¢ taxa de juros real AS Giferengas entre a5 taxas de juros nominais € as taxas dé juros reais merecem ume atencao especial, pois elas tem implicagées nas decis6es de investimento. As taxas de juros ominais constituem um pagamento expresso em percentagem, mensal, trimestral, anual etc, que um tomadar de empréstimos faz ao emprestador em troca do uso de determinad quantia de dinhelro, Se no houver Inflagdo no periado, a taxa de juros nominal sera igual Taxa de juros real Gesse mesmo periodo de tempo, Contude, quando ha inflacdo, torna-se Importante distinguir a taxa de juros nominal da taxa de juros real, Assim, enquanto a taxa de juros nominal mede o preco pago 20 poupader por suas decisdes de poupar, ou seja, de transferir o consumo presente para o consumo furtu- 1o,a taxa de juros real mede o retorne de uma aplicacdo em termos de quanticades de bens, isto &, |4 descontada a taxa de inflacao. Atelacdo entre a taxe nominal de juros, a taxa real e a inflagao é dada pela equacéo de Fisher: (+)=(4+04+n = taxa real de juros; m= taxa de inflagdo esperada. Tem-se, entéo, que: (+i) G4n= (+7) S +f) r= —————=4 Q+) Como exemplo, vamos supor que 2 taxa de inflacdo esoerada para o ano seja de 45%. Suponde ainda que o Copom fixe a taxa de jures Selic (nominal} em 12% para o ano®, qual sera a taxa real de juras? Aplicando-se a formula anterior, temos: (+012) 112 oe (1+ 0,05) 1,05 oe 067 — 0,067 ‘Ou, em termos percentuais (0,067 x 100), a taxa real de juros é de 6,7% no ano. A Constituigao Federal de 1988, em seu art, 192, § 38 diz que:as taxas de juros reais, nels includes comissdes e quaisquer cutras remuneragées direta ou indiretamente referidas 8 concesséo de crédito, no poderiio ser six Periores a doze por cento a9 aro; a cobranga acima ceste limite sera conceituada como crime de usura, gunido, mn todas as suas modalidades, nos termos que a lel determinar’, 184 Fundamentos de Economia 11.6 Moeda, nivel de atividade ¢ inflacao: interligacdo entre o lado real ¢ o lado monetario da economia No capitulo anterior analisamos o mercado de bens e servicos (lado real) e destacamos © Pape! dos instrumentas fiscais (tributagdo e gastos piiblicos) e sua aplicacSo no equacions mento de quest6es econdmicas come desemprego ¢ inflacao. Mostraremos agara como os instrumentos de politica monetaria podem ser utilizados na solucdo dessas questées, A base para essa andlise é a chamade teoria quantitative da moeda, que passamos a discutir. 11.6.1 Teoria quantitativa da moeda Existe uma relacdo direta entre o volume de moeda no sistema econémico € 0 lado real da economia, ou saja, hd uma correspondéncia entre o total dos meios de pagamentos num sistema econdmico e o valor global dos bens e servicos transacionados. Para entender como se dé a correspondéncia entre moeda, nivel de atividade ¢ inflacao, precisamos de um novo conceito, o de velocidade-renda da moeda. A velocidade-renda da moeda, também chamada de velocidade de circulacao da moeda, é o numero de vezes que 0 estoque de moeda passa de mao em mao, em certo perfodo, gerando producdo é renda. Eo numero de giros da moeda, ctiando renda. E dada pela expressdo: ' PIB naminal ~saltio dos meios de pagamento (M) Supando um PIB nominal (ou PIB monetario, igual 20 PB real vezes 0 nivel geral de pregos) igual 2 $ 500 bilhdes, e um saldo de meios de pagamento de $ 100 bilhdes: § 500 bilhdes $ 100 bithoes Isso significa que 0 estoque de moeda de $ 100 bilhdes girau cinco vezes no periodo, criando $ 500 bilhdes de renda e produto (PIB). Cada unidade monetaria criou cinco unidades de renda. Na Tabela 11.3, na Ultima coluna, esta listado o compartamento da velacidade-renda da moeda a partir de janeiro de 1994. Observa-se uma grande mudanga em seu valor 4 partir de julho de 1994, quando @ taxa de inflacdo caiu substancialmente, apés a implantacao do Plano Real. Isso ocorreu porque as pessoas diminuiram o giro da moeda, retendo mais moeda que nao rende juros (M1). Ou seja, como a velocidade é a razao entre 0 PIB nominal e M1, MT aumentou mais que proporcionalmente em relac3o ao PIB, o que corresponde a um aumento do grau de monetizagao da economia Determinagao da Renda e do Produto Nacional: 0 Lado Monetario 135 Isso posto, a teoria quantitativa da moeda, que mostra a correspondéncia entre os fluxos teal e monetario, € dads pela expressio: MV=Py em que: M= aquantidade de moeda na economia (manual + escritural), isto & nas mos do publica e das empresas e em depésitos em conta corrente nos bancos comerciais; = velacidade—renda da maeday P= nivel geral de precos; Y= nivel de renda nacional real (que ¢ igual ao PIB nominal, deflacionado pelo indice geral de pregos, ou seja, as) © lado esquerde da equacde (MV) € explicado a partir do fato de que a quantidade de moeda na economia depende da velocidade com que ela circula. Q lado direito da equagao (Py) mostra que o valor total clo PIB nominal serd igual a quantidade de bens e servi GOs finais (PIB real) produzida vezes o prego dos bens e servigos finals transacionados no periodo. Evidentemente, os dois lados da equacao sao iguais, por defini¢ao: a quantidade de moe- da multiplicade pelo nmeto de vezes que ela circula, criando renda, ¢ igual 20 valor da renda (PIB) criada. Usando 0 exemplo anterior, 0 saldo manetério de $ 100 bilhées, multiplicando sua veloc dade-renda (5), sera igual ao prdéprio PIB monetario de $ 500 bilhdes, Existern varias teorias sobre os fatores que afetam 4 velocidade—renda da moeda. Na chama- da teoria classica, supde-se que seja constante no curto prézo, j4 que depende de fatores que 50 atuam no longo prazo, tais come os habitos da coletividade (uso de cartées de crédito, de cheques) ¢ 0 grau de verticalizagao da economia. O grau de verticalizagao ocorre quando, por exemplo, as empresas produtoras de bens finais resolver também produzir alguns componen- tes (por exemple, a Ford, na compra da Philco). Evidentemente, a Ford nao precisa pagara Philco em moeda corrente, bastando apenas o registro contabil, o que dispensa o uso de numerdrio. Para Keynes, a velocidade—renda da moeda € afetada no curto prazo pelas taxas de juros. Com © aumento do nivel das taxas de juros, as pessoas reterao menos moeda, e sua velocida: de de gto aumentara (isto € como o aldo M diminui e, a um dado PIB, Vse eleva). As pessoas procuram livrar-se rapidamente da maeda que nao rende juros. Outros econamistas, principalmente os chamados monetaristas, consideram que aveloc- dade—renda da moeda é afetada também pelas expectativas de inflagdo futura se as. pessoas Julgam que a inflacdo deve aumentar, elas procuram se livrar da moeda, que ndo rende juros @ seu poder aquisitive é corroida pela in‘lagao. A velocidade de giro aumentaria, entéo. A queda da velocidade-renda da moeda desde 1994 (ver item 11.8) foi em larga medida devido & queda gradativa das taxas de inflacdo no periode. 186 Fundamentos de Economia 11.6.2 Moeda ¢ politicas de expansdo do nivel de atividade Supenhamos que @ economia esteja operando abaixo do pleno emprego de sua produ- So potencial. Como vimos no capitulo anterior, a estratégia adequada, no curto prazo, é estimular a demande ou procura de bens e servicos para que as empresas tenham compradores para sua producap. Vimos também que a politica fiscal de efeito mais rapido & 0 aumento des gastos puiblicos. O govern deve promover o estimulo ao consumo de bens e servigos € aos investi- mentos em bens de capital e na ampliacdo de empresas, reduzindo a carga tributéria. Ainda dentro da politica fiscal, as autoridades econdmicas devem criar estimules as exportagdes (como isen¢Ges fiscais, por exemplo). Agora estamos interessados na contribuicao da politica monetaris para elevar o nivel de ati- vidade e de emprego da economia no curto prazo. Evidentemente, trata-se de promever uma politica monetaria expansionista, o que pode ser feito utilizando-se varios instrumentos: » reduzir 2 taxa de juros basica (no Brasil, a taxa de juros Selic); > aumentar as emissdes de moeda, na exat: ndmicos, para no gerar inflacdo; > diminuir a taxa do compulsério, ou seja, diminuir © percentual dos depdsitos que os bancos comerciais devem reter a ordem do Banco Central, o que permitira elevar o crédito bancério; medida das necessidades dos agentes eco- > recomprar titulos publicas no mercado, ou sea, ‘trocar papel por moeda’, o que eleva- 14a quantidade de moada dispontvel no mercado; » diminuir ¢ requlamentagdo no mercado de crédito, principalmente nos limites impos- tos aos prazos de empréstimos, ou no montante do crédito direto ao consumidor ete, ‘Tais medidas causaréo impactos diretos sobre o nivel de produto e renda da economia. Em termos da teoria quantitativa da moeda, e supondo que a velocidade-renda (V) ¢ o nivel de pregos (P} nao se alterem, se tivermos um aumento, por exemplo, de 10% na oferta mone- taria M, pode-se esperar urn aumento de renda (e do emprego) da mesma magnitude, pois: M v = P ’ (aumenta 10%) _(constante) (consiante) —_ (aumenta 10%) O sentido geral de uma politica monetaria expansionista ¢ esse. Evidentemente, na pré- tica, nao existem em Economia oroporcionalidades tao exatas. A expansao da moeda e do crédito deve diminuir a taxa de juros de mercado. Se for valida a hipdtese de Keynes de que existe uma demanda especulativa de moeda, parte da expansdo monetéria ficard retida em Maos Cos especuladares, dependendo do nivel de taxas de juros, e ndo seré utilizada imedia- tamente para atividades produtivas. Determinacao da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 187 Por outro lado, precisamos conhecer a elasticidade dos investimentos em relagdo as taxas de juros, isto ¢, a sensibilidade ou resposta dos investimentos das empresas em relagao @ taxa de juros de mercado, para verificar qual 0 impacto final sobre a demanda agregada e sobre o nivel de atividade e emprego. E oportuno salientar que a exoansdo monetaria deve levar ao aumento do nivel de renda Teal y, mas também pode conduzir ao aumento de precos P, Apesar de um desemprego em nivel agregado, alguns setares ou ramos de cidade. Nesses setores, o estimulo ao aumento da demanda agregada, por melo de politicas ividade pode estar operando a plens capa- monetarias ou fiscais expansionistas, provocaria apenas aumento do nivel de pregos, e no. da producao e emprego. 11.6.3 A relac&o entre a oferta monetéria ¢ o proceso inflaciondrio Vamos supor agora uma economia que esteja stravessando um processo inflacianario. Vejamos como os instrumentos de politica monetéria podem ser utilizados para debelar ou amenizar esse proceso. Definimos no capitule anterior 0 hiato inflacionario, que ccorre quando a demanda agre gada de bens e servicos esta bastante aquecida e supera 2 capacidade produtiva da econo- mia, ou a oferta de plenc emprego. £ uma tipica inflac3o de demanda. Em tese, como se trata de uma situag3o em que a oferta agregada é escassa em relacdo a demanda, 0 ideal seria elevar a oferta, e no diminuir a procura, Em termos de politica mo- netéria, 2 oferta pode ser elevada por maior disponibilidade de financiamento & produgao e diminuicao das taxas de juros, inclusive subsidiadas, Entretanto, a oferta agregada é rela- tivamente rigida no curto prazo, pois depende de recursos para ampliar as instalagdes da empresa, disponibilidade de maa-ce-obra e tecnologia, que requerem um prazo maior para aquisicao e posterior maturagao, quando 2 producao se inicia Assim, para obter resultados mais répidos, a politica antiinflacionaria deve centrar-se mais no controle da demanda acregada. Os instrumentos recomendados de politica monetéria seriam dirigidos no sentido de ‘enxugar’os meios de pagamento, tais como: a) aurnento da taxa de juros basica (Selic); b) controle das emissdes pelo Banco Central; ¢)_venda de titulos publicos, retirando moeda de circulaga d) elevacao da taxa sobre as reservas compulsdrias, diminuindo a disponibilidade dos bancos comerciais de efetuar empréstimos 20 setor privado; e) alteragao das normas e requlamentacao da concessao de créditos, diminuindo os pra- 705 ou aumentando as exigéncias de contrapartida do comprador no crédito direto ao consumidor. 188 Fundamentos de Economia Recorrende novamente 4 teria quantitativa da moeda, supondo a velocidade-renda e a renda real y constantes, no nivel de pleno emprego tem-se: M Vv = P y (queda) ——_(constante) (queda) (constante) Medidas de controle da demanda agregada, sejam fiscais ou monetarias, s6 sdo eficazes sea inflaggo for de demanda. No caso de um diagndéstice de inflagao de custos em que existe uma escassez de oferta devido aos altos custos de producao (a oferta encontra-se abaixo do pleno emprego), apertos monetarias e fiscais aprofundam ainda mais 0 desemprego ja exis- tente. Voltaremos a esse ponto no Capitulo 13. 11.6.4 ficdcia das politicas monetéria ¢ fiscal A eficécia das politicas monetétia € fiscal pode ser avaliada a partir de sua velocidade de mplemertacao, pelo grau de intervengao na economia e pela importancie relativa des taxas de juros e do multiplicador keynesiano. Quanto 8 velocidade de implementacao, j4 pudemas abservar que 2 politica monetarie & mais eficaz que a politica fiscal, pois as decises das autoridades monetarias normalmente so eplicadas de imediato, enquanto as decisdes na drea fiscal, de ecordo com a Constituigade Federal, cdevem ser aprovadas pelo Poder Lecislativo, € s6 so implementadas no exercicia fiscal seguinte, device a0 principio da anterioridade. Quanto 20 grau de intervencao na economia, a politica fiscal é mais profunda que a politica monetéria, Uma alteragao numa aliquota de impostos, a criago de novos im- postos, elevacao dos gastos piiblices, por exemplo, afeta muito mais 0 setor privade do que qualquer politica monetaris (que sempre deixa um grau de linerdade para o setar privado para tomada de decisées) A discussao da eficécia das politicas econdmicas também depende do papel da taxa de juros — em particular, na sens’bilidade (elasticidade) dos investimentos privados e na demanda de moeda especulativa em relagao & taxa de juros — e do multiplicador keyne siano, a saber a) quanto maior a sensibilidade dos investimentos em relacdo a taxa de juros, maior a eficdcia da politica monetdria. Por exemplo, uma politica monetaria ex- pansionista tende a diminuir o custo do dinheiro (e, portanto, da taxa de juros). Se Gs investidores forem sensiveis a essa queda dos juros, tenderao a aumentar seus investimentos, com o consequiente aumento da demanda agregada ¢ do nivel de produto 2 renda; Determinagao da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 189 I wanto maior a sensibilidade da demanda especulativa relativamente a taxa de jutas, menor 3 eficacia da pales MONehiNs, SupONdS NOVAENKES UIT POC, monetaria expansionista, e a conseqlente queda dos juros, pode ocorrer que a maior parte da moeda fique nas maos dos especuladores, jd que a rentabilidade dos titules esta baixa (juros baixos} e eles esperam que deva melharar no futuro (por isso guar dam moeda para esceculacao). Keynes imaginou uma situacdo, inclusive, em que toda meeda adicional iria para especulagdo. A essa situagaa ele denominou armadilha da liquidez, quande a politica monetatia é totalmente ineficaz (e a Unica politica econé- mica adequada seria a politica fiscal); ©) quanto maior o valor do multiplicador keynesiano de gastos, maior a eficdcia da politica fiscal, Por exemplo, dada uma expansio dos gastos puiblicos, ou investimentos, ou tedugao da carga fiscal, o impacto sobre o nivel de atividade e empreco seria mais poderoso quanto maior o efeito multiplicador, A questao da eficdcia cas politicas monetarias e fiscais esta no cerne do debate entre os fiscalistas ou ativistas, ou ainda keynesianos, e cs monetaristas ou neoclassicos. Os fiscalistas utilizam mais os instrumentos de politica fiscal (que é mais intervencionista Que a politica monetaria), e tamaém enfatizam © papel do mecanismo multiplicador keyne- siano, que coloca em evidéncia o papel da politica fiscal no aumento do nivel de renda.Jé os monetaristas consideram que a politice monetaria Interfere menos na estrutura econémica, Pols discrimina menos os setores, regides € ptiblico do que a politica fiscal (por exemplo, uma elevagao das taxas de juros afeta praticamente todo mundo de maneira incistinta, en- quanto um aumento na aliquata de um imposto, ou de gastos em determinada regio, mais discriminatorio). 11.7 O sistema financeiro Para avaliar © grau de desenvolvimento de detetminado pats, ha vérios indicadores eco- ndmicos. Um deles, sem diivida alguma, é o tamanho e a diversificacSo de seu sistema fi- nanceiro. Um sistema financeiro forte bem diversificade é condicao necessdria para atrair poupances, sejam esas nacionais ou estrangeiras. Com o crescimento econdmice, intimeros agentes vislumbram possibilidades de ganhos em determinades setores da produgao. Pelo fato de nao possutrem os recursos necessarios Para Moniar seus negdcios, buscam nos intermediarias financeiros os montantes requeridos para poder iniciar © proceso de producao desejade. Essa decisdo, embora seja hoje bastante corriqueira, levou muitos anos para se consolidar. Isso porque ela pressupde, de um lado, a existéncia de unidades econdmicas que apresen- 190 Fundamentos de Economia tem balancos com superévit, ou seja, que possuam gastos menores do que os rendimentos recebidos, e, de outro, que os agentes econdmicos confiem no papel exercido pelos interme- didrios financeiros. A precondicao para o estabelecimento da intermediacao financeira € a existéncia, de um lado, de agentes econdmicos superavitérios (poupadores) — dispostos a transformar suas disponibilidades monetdrias em ativos financeiros, sujeitando-se aos riscos de mercado, com © fim de obter retornos reais positives — e, de outro, de agentes econdmicos deficitarios (investidores) — com disposicao para financiar seus déficits aas custos de mercado. Podemas entender o sistema financeiro como sendo um fundo do qual as unidades deficitarias retiram fecurses, enquanto as superavitarias nele depositam. Na verdade, o fato de haver agentes superavitérios implica a possibilidace de geracdo de poupanga, que ¢ condicéo necessa ‘Ja a existéncia de agentes deficitarios, cuja necessidade de obtencao de recursos deriva de sua vontade de incorrer em gastos com bens de capital, demarca a criagao de investimentos, condigao suficiente para o crescimento econdmico. Assim, sern um sistema eficiente de intermediacdo financeira, 0 objetivo do crescimento ecanémico e do aprimoramento das condicées de vida da saciedade fica comprometido, ‘uma vez que paséa a existir uma obstrugdo a indispensdvel transformacdo da poupanga em. ‘investimentos produtivos. Devernos entender por eficiéncia do sistema financeiro sua capacidade de viabilizar a rea- lizaggo de financiamentos de curto, médio e longo prazos, sob candicées de minimizagao de tiscos e de atendimento aos desejos e necessidades dos agentes superavitérios — que deter- minam a oferta de recursos — e dos agentes deficitérios — que materializam a demanda de ia para 0 crescimento econdmice, embara nao suficient Tecursos. 11.7.1 Segmentos do sistema financeiro No que diz respeito a suas finalidades e as instituigées que as praticam, as operacdes do sistema financeiro podem ser agregadas em cinco grandes mercados: Mercado Monetério Nesse segmento, sao realizadas as operacdes de curtlssimo prazo com a finalidade de suprir as necessidades de caixa dos diversos agentes econdmicos, entre os cuais se incluem as instituigdes financeiras A oferta de liquidez nesse mercado é afetada pelas operacées que sensibilizam as reservas bancarias que os bancos mantém no Banco Central, por meio de operacdes de mercado aberto, para evitar flutuagées muito acentuadas na liquidez bancaria. Por Determinacdo da Renda e do Produto Nacional: O Lado Monetario 191 itos inter exemple: fundos de curto orazo, open market, hot-money, certificados de dey bancérios (CDIs) etc. Mercado de Crédito Nesse mercada, séo atendidas as necessidades de recursos de curto, de médio e de longo prazos, principalmente oriundas da demanda de crédito para aquisi¢éo de bens de consumo durdveis e da deranda de capital de giro das empreses. A oferta, no mercado de crédito, 6 determinada fundamentalmente pelas instituigées bancarias. Por exemplo: crédito régido, desconto de duplicatas, giro etc, Em linhas gerais, os financiamentos de longo prazo (investimentos) s3o atendidos por instituigSes oficiais de crédito, principalmente pelo Banco do Brasil e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econémico e Social (BNDES). Por exemp! : Finame. Mercado de Capitais (Mercado de Valores Mobilidrios) Esse segmento supre as exigéncias de recursos de médio e de lango prazos, principal- mente com vistas a realizacdo de investimentos em capital. Nesse mercado € negociada gran de variedade de titulos, desde as de endividamento de curto prazo [commercial papers) € de longo prazo (debéntures), passando por tftulos representativos do capital das empresas (ac6es) e até de outros ativos ou valores (mercadorias, parcerias em gado etc.) Sao tipicos desse mercado os chamados derivativos, ou seia, titulos emitidos a partir de variagdes no valor de outros titles, como opgées, futures etc. As negoclagées nesse mercado podem acorrer tanto nas Bolsas de Valores, Mercadorles ‘cu Futuros, como fora delas, também chamadas de mercado de balcdo. Mercado Cambial Nele, s80 realizadas 2 compra € a venda de moeda estrangeira, para atender a diversas finalidades, como a compra de cambio, pata a importacao; a venda, por parte dos expor tadores; e venda/compra, para viagens e turismo. As operagées no mercado cambial sé0 realizadas pelas instituig6es financeiras — bancos e casas de cambio — autorizadas pelo Banco Central. Mercado de Seguros, Capitalizacgdo e Previdéncia Privada Nesse mercado, so coletados recursos financeiros ou paupancas destinados 4 cobertura de finalidades especificas, como a protecao a riscos (seguro), capitalizacao e obtencao de aposenta- dorias e pensdes (orevidéncia privada). Em razéo de importéncia que tém na formacdo de pou- pancas no longo prazo, essas instituigGes também sao chamadas de investidores institucionais. Ha, complementarmente a essa Classificacdo, duas outras: — 192 Fundamentos de Econemia Mercados Primarios e Secundarios Os mercados primérios so aqueles em que se realiza a primeira compra/venda de um ativo recém-emitido; os mercadas secundarios caracterizam-se por negociarem ativos finan- celtos j& negoclados anteriotmente. Mercados 4 Vista, Futuros e de Opcées, Os mercados a vista negociam apenas ativos com precos a vista; os mercadas futuros neco- clam os pregos esperados de cerios ativos e de mercadorias para certa data futura; os merca- dos de opcdes negociam opsdes de compra/venda de determinados ativos em cata futura. No Avéndice, analisamos um pouco mais a estrutura do Sistema Financeiro Nacional eo papel dos principais agentes do sistema no pais, 11.8 Indicadores do comportamento monetario no Brasil | Tabela T1.2: Agregados monetérios — Brasil Fonte Banco Central do Brasil wwawbcb gov. © G@le (b}:Saldes no final de ano. (0) Relagéo entre MI. e M4.

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