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TEXTO EXPERIMENTAL PARA A DISCIPLINA

DE FÍSICA NUCLEAR

1ª ETAPA - ITEM 2
RADIOATIVIDADE
NATURAL e ARTIFICAL

Prof. Dr. Carlos Roberto Appoloni

Notas de Aula – Física Nuclear 1


Carlos Roberto Appoloni
2016
1.0 Radioatividade Natural.

Em 1896, Bequerel descobre a radioatividade, nas suas experiências com sais de


urânio e após a descoberta do polônio e do radio pelo casal Curie(1898), Rutherford e
Soddy verificaram que as propriedades empíricas da radioatividade poderiam ser
explicadas racionalmente, considerando que os átomos radioativos não eram estáveis,
porem sofriam desintegrações com velocidades determinadas, transformando-se em outros
elementos. O progresso técnico possibilitou a verificação de quase todos os nuclídeos
radioativos naturais conhecidos (exceto K40, Rb87, Sm152, Lu172, Re187 e Bi209 e os
nuclídeos que tem número atômico acima de 92) que estão distribuídos em três famílias
de elementos radioativos (Tório, Urânio e Actínio) que se desintegram em grandes
cadeias.
Em 1911, Hess descobriu a existência de radiações naturais na atmosfera terrestre,
esses raios são altamente penetrantes, formados principalmente por mésons e pequenos
núcleos, chamados de raios cósmicos. Ha três tipos de radiação provenientes de partículas
carregadas no espaço: raios cósmicos galácticos, radiação de Van Allen e feixes
protônicos provenientes do Sol.
Em 1934, o casal Joliot-Curie conseguiu produzir artificialmente elementos
radioativos leves, que é de grande interesse nas pesquisas biológicas. Assim, o presente
interesse pelos radioisótopos decorre do desenvolvimento de técnicas de produção de
isótopos radioativos artificiais, a partir de átomos estáveis de elementos naturais.
Rutherford e colaboradores estudaram em 1898-1914 as propriedades dos raios
alfa. Utilizando fontes delgadas de material radioativo foi possível encontrar uma primeira
medida com certa precisão correspondente à relação carga-massa de 43.106 a 64.106 C/Kg.
Em 1914 chegou-se ao valor mais preciso de 48,2.106 C/Kg. A velocidade de emissão das
partículas alfa foi determinada em unidades absolutas por experiência de deflexão. Em
1908, determinaram que a carga de uma partícula alfa era de + 3,1.10-19 C e mais tarde
descobriu-se que era exatamente o dobro da carga de um elétron e de sinal oposto, e
possuía uma massa aproximadamente quatro vezes maior que a do próton, desse modo,
assemelhando-se a um átomo de Hélio com duas cargas positivas (o que foi verificado
experimentalmente mais tarde).
Os raios Betas sofriam deflexão por campos elétricos e magnéticos como
observados para os raios catódicos de um tubo de descarga gasosa. Assim podia-se afirmar
que a partícula Beta era carregada negativamente e consequentemente sua razão carga /
massa foi medida como sendo 1,76.104 C/Kg (para baixas velocidades).
Os raios gama não são sofrem deflexão por campos elétricos e magnéticos e
verificou-se ser ondas eletromagnéticas de alta energia. Foram descobertos e
caracterizados em 1900 pelo físico francês Paul Villard.

1.1 Partícula Alfa ou Radiação Alfa.


As partículas alfa (α) são núcleos de átomos de Hélio, constituídos de dois prótons
e dois neutrons. A distancia que uma partícula alfa percorre antes de parar é chamada de
alcance. Num dado meio, partículas alfa de igual energia tem o mesmo alcance. Portanto,
aumentando-se a energia das partículas alfas, aumenta-se o alcance para um dado meio.
Por outro lado, fixando-se a energia da partícula alfa, o alcance diminui se a densidade do
meio aumentar. O alcance das partículas alfa é muito pequeno, ou seja, pouco penetrante,
assim elas são facilmente blindadas.

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As partículas alfa são produzidas principalmente na desintegração de elementos
pesados como, Urânio, Tório, Plutônio, Radio e etc. Usualmente são acompanhadas por
radiações Beta e Gama.
O método que dá os resultados mais precisos para a velocidade e energia das
partículas Alfas se baseia na medida da deflexão nas trajetórias das partículas num campo
magnético. Quando uma partícula carregada se move num campo magnético, sua trajetória
è um circulo cujo raio é determinado pela relação: Hqv = ( Mv2 ) / r ou v = (q/M )Hr ,
onde H é a intensidade de campo, q e M são a carga e a massa da partícula e r é o raio da
órbita.
A velocidade pode ser determinada se a intensidade do campo magnético for
conhecida e se o raio da órbita for medido, já que o valor da razão carga-massa é bem
conhecido. Um aparelho baseado neste principio é chamado de espectrógrafo magnético e
é desenhado com base no principio da focalização magnética semi circular (ver pág. 253 e
254 Kaplan ).
A velocidade v é obtida em centímetros por segundo quando H for expresso em
Gauss e r em centímetros e q/m em emu por grama. A carga q é, 3,2043.10-20 emu.
A massa da partícula Alfa é igual a massa atômica do átomo de Hélio menos duas
massas de elétrons ou M= 4,003873 - 0,001098 = 4,00278 u.m.a = 6,6430.10-24g,
desprezando-se as energias de ligação eletrônica. Então ( q/M ) = 4823,5 emu/g = 48,2.106
C/Kg (ver livro do Segre, pag 129 a 134, espectrógrafo de partículas carregadas).
Se as partículas emitidas por uma fonte, no ar, são contadas pelo número de
cintilações numa tela de sulfeto de zinco, em função da distância tela-fonte, descobre-se
que seu numero permanece praticamente constante até uma certa distancia R da fonte, e
então cai rapidamente a zero. Esta distancia R é chamada de alcance das partículas, e esta
relacionada com a energia inicial das partículas. Se os alcances são colocados num gráfico
contra as energias determinadas por método de deflexão magnética, a curva de alcance
versus energia resultante pode ser usada para achar energias desconhecidas a partir de
alcances medidos. É geralmente mais fácil e barato medir alcances do que energias, e este
método é freqüentemente usado. Uma folha de papel é, em geral, suficiente para blindar
partículas alfa.
O espectro de energia das partículas alfa é discreto, como pode-se ver na figura a
seguir, demonstrando que se trata de um processo de dois corpos.

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.

1.2 Partículas Betas ou Radiação Beta.

As partículas Betas são os elétrons e pósitron, que são muito mais penetrantes que
as partículas Alfa. A radiação Beta ao passar por um meio material também perde energia
ionizando os átomos que encontra no caminho. Para blindar as partículas Betas pode-se
usar uma película de plástico ou alumínio.
As partículas betas provocam uma densidade de ionização muito menor que as
partículas Alfa e seus percursos são muito maiores que o das partículas Alfa, com a
mesma energia inicial. Uma ionização maior é produzida no final de seu percurso, quando
a velocidade já foi muito reduzida. A velocidade dessas partículas é próxima à da luz.
Devido à sua pequena massa, sua trajetória através de um meio material é tortuosa
devido a colisões. Essas colisões (excitação ou ionização) podem reduzir a energia da
partícula Beta a zero em uma curta distancia ou em uma distancia correspondente ao
máximo de penetração.
Assim o “Straggling” é mais acentuado e um tratamento estatístico do processo da
perda de energia se torna complexo.
O espalhamento também é mais acentuado para Beta do que para Alfa, o que torna
possível trajetórias completamente diferentes para elétron atravessando a mesma espessura
do absorvente. Também pode ocorrer o fenômeno de “Bremsstrahlung”, que aumenta com
a energia da beta e com o numero atômico do absorvente. No ar esse efeito é pouco
importante para Betas de energias inferiores a 10 Mev.
Partículas Betas de um mesmo núcleo são emitidas com energias variáveis de
espectro continuo, para cada radioelemento e, o restante da energia é dissipada pelos
neutrinos.
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Se fizermos uma analise da distribuição dos momentos das partículas Beta
procedentes de um dado emissor, veremos que existe um certo numero de linhas estreitas,
aparentemente homogêneas, superpostas a uma distribuição continua com um limite
superior dado. Essas linhas, são chamadas Linhas de Conversão Interna e estão associadas
com o processo de de-excitação do núcleo filho e não com o processo em si de emissão
Beta. Em geral estas linhas não aparecem se a fonte não emitir raios gama. A Conversão
Interna é um processo alternativo de de-excitação do núcleo.
A forma do espectro de energia das partículas beta implica que o processo do
decaimento beta é um processo de três corpos.

Fig. 1.1 Representação esquemática da distribuição do momento dos raios beta emitidos
por uma fonte radioativa

Para velocidades baixas a relação carga-massa é 1,76.1011 C/Kg, quase exatamente


com o encontrado para os elétrons. A diminuição no valor da relação carga-massa para
velocidades mais elevadas se interpreta perfeitamente à da luz da teoria Especial da
Relatividade, de acordo com a qual a massa de uma partícula que se move com uma
velocidade v é dada por: m = mo / ( 1 - v2/c2 ), onde mo é a massa de repouso.

1.3 Radiação Gama.

Os raios Gama são ondas eletromagnéticas extremamente penetrantes e interagem


com a matéria pelo Efeito Fotoelétrico, Efeito Compton, pela Produção de Pares ou outros
processos, nos quais são emitidos elétron ou pares elétron-pósitron que , por sua vez
ionizam a matéria.
Um fóton de radiação Gama pode perder toda ou quase toda energia numa única
interação, e a distancia que ele percorre antes de interagir não pode ser prevista. Tudo que
se pode prever é a distancia em que ele tem 50% de chance de interagir. Essa distancia se

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chama Camada Semi-Redutora. Para blindagem desse tipo de radiação usa-se chumbo,
concreto, aço ou terra.
Os raios X são também ondas eletromagnéticas, exatamente com os raios gama,
diferindo apenas quanto à origem, pois os raios Gama se originam de dentro do núcleo
atômico, enquanto que os raios X tem origem fora do núcleo, na desexcitação dos elétrons
atômicos. Suas características são as mesmas da radiação Gama.
Os raios Gama não são defletidos pelos campos elétricos e magnéticos. A razão
dos raios Gama serem identificados como radiação eletromagnética é devido ao êxito nas
experiências de difração de raios Gama por cristais, realizado por Rutherford-Andrade-
Frilley. Essas experiências concluíram que os raios Gama apresentam um espectro
discreto. A análise das interações eletromagnéticas possibilitou a determinação da energia
dos raios Gama, encontrando valores comparáveis com os observados no caso da emissão
Alfa e Beta. Os resultados do estudo de Ellis das energias das radiações Gama mostrou
que os raios Gama constituíam o espectro eletromagnético de um sistema radiante (núcleo
residual) excitado no processo radioativo primário de emissão Alfa ou Beta.

A seguir um exemplo de espectro de raios gama de uma amostra alimentar


(Viviane Scheibel, Tese de Doutorado, LFNA/UEL, 2006).

Farinha de mandioca ~1400


212
250 Pb

200
Contagens/s

40
K
150

228 214
Ac Bi
100 214
Pb 208
Tl 228
Ac

50

0
0 500 1000 1500
Energia (keV)

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1.4 Leis de Desintegração.

Rutherford estudava um certo gás ativo que podia ser separado da amostra de
oxido de Tório e levado a uma câmara de ionização. Assim observou pela primeira vez a
lei de desintegração. Após varias experiências do mesmo tipo com outros elementos
radioativos, demonstrou que a lei de desintegração era do tipo exponencial.

Fig 1.2 Curva de desintegração exponencial (UX1), mostrando o significado do período de


semidesintegração. A linha reta é uma representação logarítmica da atividade.

A Atividade de uma amostra de qualquer material radioativo é definida como


sendo o numero de desintegrações do núcleo de seus átomos constituintes por unidade de
tempo, ou seja, é a velocidade de desintegração dos átomos.
A atividade de uma amostra é dada por:
ATIVIDADE = dN(t) / dt = -λN(t) .
N(t) = No e-λt .
No é o numero de átomos ativos presentes ao iniciar as observações.
λ é a constante de desintegração radioativa.

Vida Media ( τ ) = 1 / λ

Meia-Vida ( t1/2 ) = 0,693τ, è o intervalo durante o qual se desintegram a metade


dos átomos da amostra, também conhecido como período de semi-desintegração ou semi-
vida.
No / 2 = No e -λt1/2

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t1/2 = ln 2 / λ = 0,693 . τ

Distribuição Estatística: se N representa o numero médio de partículas esperado


durante certo intervalo de tempo, a probabilidade de observar um número n, é dado pela
distribuição de Poisson:

W(n) = Nn e-N / n!

As experiências demonstram o caráter aleatório da emissão de partículas na


desintegração radioativa.

Fig 1.3 Distribuição de Poisson para N=6

Em 1903, Rutherford e Soddy propuseram a Teoria da Transformação, onde os


átomos de uma substancia radioativa se desintegram espontaneamente, com emissão de
uma partícula Alfa ou Beta e formam um novo átomo quimicamente diferente do original.
Este novo átomo pode desintegrar-se em outro e assim por diante, formando uma serie
radioativa com componentes “geneticamente” relacionados.

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Em alguns processos de desintegração radioativa se originavam certos corpos
fisicamente diferentes, mas quimicamente iguais, então foi dado a esses elementos o nome
de isótopos, por Soddy em 1911.

A propriedade física que os diferenciava era o tipo de radiação que emitiam ao se


desintegrar, assim, Soddy e colaboradores em 1913, formularam a Lei de Deslocamento na
tabela periódica na emissão Alfa e Beta.
A emissão de uma partícula Alfa desloca um elemento dois lugares para a esquerda
da tabela periódica, diminuindo sua massa atômica.

α: Χ(A,Z)→Υ(Α−4,Ζ−2) + α

_
β−: Χ(Α,Ζ) →Υ(Α,Ζ+1) + e- + ν

β+: Χ(Α,Ζ)→Υ(Α,Ζ-1) + e+ + ν

Mais tarde a transmutação artificial demonstrou de vez que o conceito de


imutabilidade dos átomos (século XVIII) não podia mais se sustentar.

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1.5 Séries Radioativas

Podemos alocar os elementos radioativos em famílias de acordo com suas


propriedades e utilizando a Lei de Deslocamento, onde se encontram os produtos iniciais e
finais das séries radioativas.

O 237Np é produzido pelo decaimento do 241Pu como segue:


241
Pu → 241Am → 237Np
β α

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A Fig 2.9 mostra como a desintegração do núcleo inicial de cada uma das séries
radioativas naturais e seus produtos, resulta acompanhada: a) pela aparição de Hélio que dão
lugar as partículas alfas ( α) emitidas e b) pela formação de diferentes isótopos do elemento
chumbo. A tabela a seguir indica outros materiais radioativos naturais não incluídos nas séries
radioativas, que são de origem cosmogênica.
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A maioria dos elementos radioativos se desintegra de uma forma direta. Existem casos
de desintegração dual ou bifurcação. O produto final a que conduzem ambas alternativas é o
mesmo, e igualmente são idênticas as energias totais liberadas. Isto pode ser visto no
diagrama que segue:

No diagrama abaixo ambos núcleos, UX2 e UZ, são produzidos na desintegração do


UX1, e ambos conduzem por emissão beta (β) ao mesmo elemento final, UII. Assim
concluímos que esses núcleos são essencialmente o mesmo corpo, ou seja, UX2 é um isômero
de UZ.

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Supondo que a desintegração do Urânio tenha velocidade constante (AU=λu Nu = cte),
a idade t de um mineral será dada pela equação:

Au t = NPb
λu Nu t = NPb
N Pb
t=
λU NU

A partir dessa equação pode-se mostrar que a idade dos minerais pode ser calculada,
em primeira aproximação, pela seguinte fórmula:

IDADE = massa de Pb206 x 7,5 x 109 anos


massa de U238

Nas tabelas e figuras a seguir podemos ver as séries radioativas e suas formas de
decaimento.

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1.6 Leis de Transformação para Mudanças Sucessivas.

Os cálculos fundamentais relativos à velocidade de crescimento dos corpos radioativos


a partir de núcleos pais radioativos, assim como as condições segundo as quais se estabelece o
equilíbrio radiativo, foram elaboradas por Rutherford e seus colaboradores.
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Em geral, o problema pode ser resolvido considerando uma série de corpos radioativos
relacionados pela seguinte seqüência: A → B → C → D... ,onde cada elemento está
caracterizado por uma determinada constante de desintegração ,λ.

Sua solução consiste em calcular a quantidade que existe de qualquer destes produtos
depois de transcorrido um certo tempo dado, a partir de condições iniciais dadas.
Para o caso A → B → C (estável), as equações que regem o processo são:
dN a
= − λa N a
dt
dN b
= λa Na − λbNb
dt
dN c
= λbNb
dt
A atividade ou velocidade de desintegração para essas desintegrações é:
−λ t
ATIVIDADE de A = λa Na = λa Na(0) e a
−λ t −λ t
ATIVIDADE DE B = λbNb = λbNb (0)e-λbt + λa λb Na(0)[ e a - e b ]
λb - λa
Se o elemento B não está presente no instante inicial, Nb(0), temos:
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λb ⎡⎢1 − e − ( λ − λ )t ⎤⎥
b a

Atividade de B ⎣ ⎦
=
Atividade de A λb − λa

Então surgem dois casos de equilíbrio:

a) Equilíbrio Transitório: ( λb 〉 λa ) A meia-vida do filho é mais curta que a do pai. A razão


λb
entre as atividades acima tende a um valor constante, e ambas as atividades caem
λb − λa
λb
finalmente com o período próprio do pai . Uma vez que se tenha alcançado o valor ,
λb − λa
existe um estado de equilíbrio transitório.
. No regime de equilíbrio transitório, para qualquer tempo posterior, a atividade de B
será sempre superior à de A. Veja na figura abaixo o caso das curvas (a) e (b) e a figura da
página seguinte.

b) Equilíbrio Secular: (λb 〉〉 λa ) A meia-vida do filho é muito mais curta que a do pai. Se a
razão entre as atividades tender à unidade, nos encontraremos no caso do equilíbrio secular,
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onde B cresce a uma velocidade determinada pela sua própria constante de desintegração
desde que alcance a atividade de seu pai.
Tratando-se de um pai de meia-vida grande, como o Urânio e o Tório, é evidente que uma
vez estabelecido o equilíbrio secular, as quantidades dos sucessivos produtos presentes na
série são dadas pelas equações:
λaNa(0) = λbNb = λcNc = ... = cte.
Na Fig. 10.8 vemos um exemplo de equilíbrio secular.

(a)Desintegração do MsTh1(Ra-228). (b) Crescimento do RdTh (Th-228) em equilíbrio com MsTh1(Ra-228).


Depois de uns oito anos se alcança um estado de equilíbrio transitório com uma relação de atividade igual a
1.39. Aos 4.8 anos, o RdTh tem uma atividade máxima igual a de seu pai.

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c) Caso λb 〈 λa
Se λb 〈 λa , a meia-vida do filho é maior que a do pai, a relação entre as atividades aumenta
continuamente com o tempo e não existe equilíbrio em um sentido propriamente dito. Este
equilíbrio existe de modo transitório num instante dado pela equação:
−λ t −λ t
λa e a = λb e b , quando, então, as atividades do pai e do filho serão idênticas. Vide
Fig. 10.6 no início deste item.

As equações gerais para se resolver o sistema de equações diferencias acopladas das


desintegrações radioativas sucessivas de uma série radioativa foram deduzidas por Bateman
em 1910 e são dadas a seguir:

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A Fig. 10.7 mostra um exemplo da aplicação da equação de Bateman, com um trecho
da série do 238U.

1.7 Unidades de Radiação

As unidades de radiação podem ser distribuídas em quatro grupos:

a) Emissão
1Curie (1Ci) = 3,7 1010 desintegrações/seg
1Becquerel (1Bq) = 1 desintegração/seg

b) Exposição (X): é uma grandeza física definida para raios X e gama, tendo o ar
como meio de interação. Essa grandeza é dada pelo quociente ΔQ/Δm onde ΔQ é a soma das
cargas elétricas de todos os íons de um mesmo sinal, produzidos no ar, quando todos os
elétrons e pósitrons liberados pelos fótons da radiação X ou gama, num elemento de volume
de ar cuja massa é Δm, são completamente freados no ar.

X = ΔQ/Δm

A unidade de exposição é o Roentgen ( R ): 1R = 2,58 X 10-4 C/Kg.

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c) Dose Absorvida ( D ): a dose de exposição X não é adequada para descrever a
energia de qualquer tipo de radiação absorvida por qualquer tipo de meio. Por exemplo, as
mudanças químicas e biológicas que ocorrem no tecido exposto à radiação X dependem da
energia absorvida pelo mesmo. Assim se introduziu a grandeza Dose Absorvida (D ), que é a
energia absorvida por unidade de massa:

D=E/m

A unidade da Dose Absorvida até 1975 era o rad.


1 rad = 100 erg / g = 10-2 J / Kg.
A partir de 1975 a ICRU adotou para unidade de Dose Absorvida ( D ) o gray ( Gy)
no Sistema Internacional de unidades.
1 Gy = 1 J / Kg
1Gy = 100 rad

d) Dose Equivalente ( H ) : é definida como o produto da dose absorvida D pelo fator


de Qualidade Q e pelo fator de Modificação N.

H=DQN

A unidade é o Roentgen equivalente ( rem ) : 1rem = 1rad.Q.N


Essa unidade foi mudada para Sievert (Sv) em 1975.
1siervet (Sv) = 1gray.Q.N
1 (Sv) = 100 rem.
O fator de qualidade, Q, leva em conta que a radiação que produz maior numero de
ionizações no tecido, por unidade de comprimento, causa maior dano biológico do que aquela
que produz menor número de ionizações por unidade de comprimento.
N é o produto de todos os outros fatores de modificação especificados pela ICRP, que
se relacionam com o numero de ionização produzido no tecido por unidade de comprimento,
além de seus valores dependerem do meio onde ocorre a ionização.
Para raios X, raios Gama e elétrons, um gray é igual a um sievert. Para radiação
incidente, X ou Gama, a dose absorvida pelo tecido mole, é praticamente igual a exposição.
Portanto, para fontes artificiais de maior uso, o roentgen, o gray e o sievert possuem
praticamente os mesmos valores.

TIPO DE RADIAÇÃO FATOR DE QUALIDADE Q


Raios X, Gama e Elétrons 1
Neutrons e Prótons 10
Partículas Alfas e de Carga Superior a 1 20

Limite Máximo Permissível ao Trabalhador com Radiações ( LMP ):


LMP = 50mSv/ ano = 2,5 mrem/hora.
Os LMP são estabelecidos de forma a restringirem os efeitos somáticos nos indivíduos
expostos, na sua descendência direta e na população como um todo.

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1.8 Espalhamento de Partículas α e a Hipótese do Núcleo (a importância das α´s como a
primeira “sonda” para o estudo do núcleo).

Rutherford, trabalhando com a deflexão dos raios α em um campo magnético em


1906, descobriu que a presença de vestígios do ar em seu aparato de vácuo afetava a trajetória
das partículas. Rutherford viu nestas deflexões um possível método de estudar a estrutura
detalhada do átomo e assim iniciou esse trabalho utilizando partículas α e β como sonda, esse
trabalho o conduziu ao enunciado da hipótese nuclear.
GEIGER ao estudar a deflexão de partículas α por uma lamina de ouro encontrou que
elas eram desviadas em grande número para ângulos pequenos, um resultado
quantitativamente consistente com a predição baseada na teoria do átomo de Thomson.
Rutherford sugeriu então que Marsdem investigasse o que aconteceria para ângulos de
difusão elevados. Então se observou nessa experiência que algumas partículas α resultavam
difundidas de volta para a fonte para ângulos superiores a 90°, utilizando lâminas espessura
bem pequena o quanto foi possível. Nas próprias palavras de Rutherford “ Foi o sucesso mais
incrível que aconteceu em toda minha vida, é como se disparasse um projétil de 15 polegadas
contra uma folha de seda, ricocheteando de volta ao autor do disparo”. Para Rutherford o
átomo consistia na hipótese de que os elétrons ocupavam uma esfera de dimensão atômica
(com um raio da ordem 10-10 m), com sua carga neutralizada por uma carga central positiva
localizada sobre um núcleo de tamanho muito menor( com um raio de ordem de 10-14 m). Se
um átomo contém Z elétrons, a carga nuclear será igual a +Ze, onde a massa dos elétrons é
pequena comparada com a do átomo. A maior parte da massa atômica, assim como toda a
carga positiva, está concentrada no núcleo.

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A distribuição das partículas alfa espalhadas em função do ângulo de difusão é
proporcional a:
→ cossec4 (θ/2), θ ângulo de difusão no centro de massa.
→ espessura da lâmina
→ quadrado da carga do núcleo
→ inverso do quadrado da energia incidente
O átomo nuclear proposto por Rutherford em 1911 transformou toda a teoria atômica.
O próprio conceito motivou a separação entre as propriedades nucleares e atômicas.
A hipótese do núcleo esclareceu muitos fenômenos da radioatividade. A partícula α
foi identificada como o núcleo do átomo do Hélio e as leis de deslocamento foram
identificados em termos da alteração da carga nuclear originada pela emissão α e β. A
radiação α e β é uma conseqüência da instabilidade energética de um núcleo com relação a
outro; a radiação γ é essencialmente eletromagnética, estando relacionada com a estrutura
nuclear de maneira análoga às radiações ópticas do átomo. A figura a seguir mostra o
esquema da desintegração e de-excitação nuclear.

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