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Prefeitura de Rio Branco/AC –

Secretaria Municipal de Educação


SEME-AC
Professor da Educação Especial Mediador

Língua Portuguesa
Compreensão de textos. ........................................................................................................................................... 1
Denotação e conotação. ............................................................................................................................................ 8
Ortografia: emprego das letras e acentuação gráfica. ............................................................................................. 11
Classes de palavras e suas flexões. ....................................................................................................................... 19
Processo de formação de palavras. ........................................................................................................................ 56
Verbos: conjugação, emprego dos tempos, modos e vozes verbais. ...................................................................... 62
Concordâncias nominal e verbal. ............................................................................................................................ 78
Regências nominal e verbal. ................................................................................................................................... 90
Emprego do acento indicativo da crase. .................................................................................................................. 98
Colocação dos pronomes. ..................................................................................................................................... 103
Emprego dos sinais de pontuação. ....................................................................................................................... 107
Semântica: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia e figuras de linguagem. ............................ 112
Coletivos. ............................................................................................................................................................... 123
Funções sintáticas de termos e de orações. Processos sintáticos: subordinação e coordenação. ....................... 124

Ética e Legislação Educacional


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB e alterações posteriores. ..................................................... 1
Resolução ne 04, de 13/07/2010 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. .................. 18
Políticas Públicas da Educação Básica. ................................................................................................................... 28
Estatuto da criança e do adolescente....................................................................................................................... 36

Conhecimentos Pedagógicos
O processo de ensino e aprendizagem, a relação professor-aluno, em sala de aula e na escola, a importância de
suas relações com o contexto sociocultural no qual se inserem as instituições de ensino; ....................................... 1
Formas de atuação docente a serem desenvolvidas, considerando o contexto escolar, as políticas educacionais e
as Orientações Curriculares da SEME/SEE; ........................................................................................................... 15
Os diferentes níveis de gestão do sistema de ensino e suas articulações (ensino federal, estadual e municipal); . 19
Papéis e funções da equipe escolar e as normas que devem reger as relações entre os profissionais que nela
trabalham; ............................................................................................................................................................... 25
Leis e Normas que regulamentam a profissão de professor, suas atribuições e as relações com os demais
profissionais da escola e da secretaria; ................................................................................................................... 33
A importância do trabalho coletivo e da atuação solidária e colaborativa na discussão, elaboração, gestão,
desenvolvimento e avaliação do projeto educativo e curricular da escola, identificando formas positivas de atuação
em diferentes contextos da prática profissional, além da sala de aula; Os diferentes componentes do Projeto
Pedagógico; ............................................................................................................................................................ 33
O significado e a importância do currículo para garantir que todos os alunos façam um percurso básico comum e
desenvolvam as competências e habilidades para cada ano da escolaridade, de acordo com as Orientações
Curriculares SEME/SEE e as Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais; ...................................................... 69
Fases do desenvolvimento da criança e do jovem associando-as ao processo de ensino e de aprendizagem em
cada uma dessas etapas; ...................................................................................................................................... 106
A relação da escola com a comunidade e o contexto social como fator determinante para a qualidade da escola;.....
............................................................................................................................................................................... 118

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Relação professor-aluno, gestão da sala de aula, agrupamentos produtivos, gerenciamento do tempo, organização
do espaço como fatores determinantes da prática pedagógica; ........................................................................... 131
Educação e Sociedade (A educação como processo de socialização); ................................................................ 134
A democratização da escola; ................................................................................................................................ 134
A relação escola/cultura(s): desigualdade/diferenças, universalismo/relativismo, multiculturalismo/interculturalismo:
currículo, saber docente e cultura escolar. ............................................................................................................ 145

Conhecimentos Específicos
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. ...................................................... 1
Conceitos de Deficiência Mental/Intelectual. .............................................................................................................. 8
Transtorno Global de Desenvolvimento e Altas Habilidades. ................................................................................... 11
Tecnologias Assistivas. ............................................................................................................................................ 18
Oficinas de Trabalho. ............................................................................................................................................... 21
Pensamento e Linguagem, o processo de elaboração conceitual. .......................................................................... 23
O papel do professor na Educação Inclusiva. .......................................................................................................... 28
Alfabetização e Letramento, concepções de aprendizagem. ................................................................................... 31
Caracterização do Atendimento Educacional Especializado. Adaptações e Estratégias Pedagógicas para o
atendimento das Necessidades Educacionais Específicas de crianças com deficiência intelectual na escola regular.
O papel do cuidador pessoal na inclusão de crianças com deficiência intelectual em escolas regulares. ............... 46
Teoria das Inteligências Múltiplas............................................................................................................................. 56
A Sexualidade e o indivíduo em situação de deficiência mental/intelectual. ............................................................ 62

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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO

como um exercício diário e verá que antes que pense, o medo


terá ido embora.

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas


entre si, formando um todo significativo capaz de produzir
interação comunicativa (capacidade de codificar e
decodificar).
Compreensão de textos. Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em
cada uma delas, há certa informação que a faz ligar-se com a
anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
Interpretação estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa
interligação dá-se o nome de contexto. Nota-se que o
Cada vez mais, é comprovada a dificuldade dos estudantes, relacionamento entre as frases é tão grande, que se uma frase
de qualquer idade, e para qualquer finalidade de compreender for retirada de seu contexto original e analisada
o que se pede em textos, e também dos enunciados. Qual a separadamente, poderá ter um significado diferente daquele
importância de entender um texto? inicial.
Quando se fala em texto, pensamos naqueles longos, com
introdução, desenvolvimento e conclusão, onde depois temos Intertexto - comumente, os textos apresentam referências
que responder a uma ou a várias questões sobre ele. Na diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse
verdade, texto pode ser a questão em si, a leitura que fazemos tipo de recurso denomina-se intertexto.
antes de resolver o exercício. E como é possível cometer um
erro numa simples leitura de enunciado? Mais fácil de Interpretação de Texto - o primeiro objetivo de uma
acontecer do que se imagina. Se na hora da leitura, deixamos interpretação de um texto é a identificação de sua ideia
de prestar atenção numa só palavra, como um “não”, já muda principal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou
a interpretação. Veja a diferença: fundamentações, as argumentações ou explicações que levem
ao esclarecimento das questões apresentadas na prova.
Qual opção abaixo não pertence ao grupo?
Normalmente, numa prova o candidato é convidado a:
Qual opção abaixo pertence ao grupo?
Identificar - reconhecer os elementos fundamentais de
Isso já muda totalmente a questão, e se o leitor está uma argumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
desatento, vai marcar a primeira opção que encontrar correta. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
Pode parecer exagero pelo exemplo dado, mas tenha certeza tempo).
que isso acontece mais do que imaginamos, ainda mais na
pressão da prova, tempo curto e muitas questões. Partindo Comparar - descobrir as relações de semelhança ou de
desse princípio, se podemos errar num simples enunciado, que diferenças entre as situações do texto.
é um texto curto, imagine os erros que podemos cometer ao ler
um texto maior, sem prestar devida atenção aos detalhes. É Comentar - relacionar o conteúdo apresentado com uma
por isso que é preciso melhorar a capacidade de leitura e realidade, opinando a respeito.
compreensão.
Resumir - concentrar as ideias centrais e/ou secundárias
A literatura é a arte de recriar através da língua escrita. em um só parágrafo.
Sendo assim, temos vários tipos de gêneros textuais, formas de
escrita. Mas a grande dificuldade encontrada pelas pessoas é a Parafrasear - reescrever o texto com outras palavras.
interpretação de textos. Muitos dizem que não sabem
interpretar, ou que é muito difícil. Se você tem pouca leitura, Exemplo
consequentemente terá pouca argumentação, pouca visão,
pouco ponto de vista e um grande medo de interpretar. A Título do Texto Paráfrases
interpretação é o alargamento dos horizontes. E esse A integração do mundo.
alargamento acontece justamente quando há leitura. Somos “O Homem Unido” A integração da
fragmentos de nossos escritos, de nossos pensamentos, de humanidade.
nossas histórias, muitas vezes contadas por outros. Quantas A união do homem.
vezes você não leu algo e pensou: “Nossa, ele disse tudo que eu Homem + Homem = Mundo.
penso”. Com certeza, várias vezes. Temos aí a identificação de A macacada se uniu. (sátira)
nossos pensamentos com os pensamentos dos autores, mas
para que aconteça, pelo menos não tenha preguiça de pensar, Condições Básicas para Interpretar
refletir, formar ideias e escrever quando puder e quiser.
Tornar-se, portanto, alguém que escreve e que lê em nosso Faz-se necessário:
país é uma tarefa árdua, mas acredite, valerá a pena para sua - Conhecimento Histórico – literário (escolas e gêneros
vida futura. Mesmo que você diga que interpretar é difícil, você literários, estrutura do texto), leitura e prática.
exercita isso a todo o momento. Exercita através de sua leitura - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
de mundo. A todo e qualquer tempo, em nossas vidas, texto) e semântico. Na semântica (significado das palavras)
interpretamos, argumentamos, expomos nossos pontos de incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conotação,
vista. Mas, basta o(a) professor(a) dizer “Vamos agora sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de linguagem, entre
interpretar esse texto” para que as pessoas se calem. Ninguém outros.
sabe o que calado quer, pois ao se calar você perde - Capacidade de observação e de síntese.
oportunidades valiosas de interagir e crescer no - Capacidade de raciocínio.
conhecimento. Perca o medo de expor suas ideias. Faça isso

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO

Interpretar X Compreender Vícios de Linguagem – há os vícios de linguagem clássicos


(barbarismo, solecismo, cacofonia...); no dia a dia, porém,
Interpretar Compreender Significa existem expressões que são mal empregadas, e por força desse
Significa hábito cometem-se erros graves como:
Explicar, comentar, Intelecção, entendimento, - “Ele correu risco de vida”, quando a verdade o risco era de
julgar, tirar conclusões, atenção ao que realmente está morte.
deduzir. escrito. - “Senhor professor, eu lhe vi ontem”. Neste caso, o pronome
Tipos de Tipos de enunciados: oblíquo átono correto é “o”.
enunciados: - o texto diz que... - “No bar: Me vê um café”. Além do erro de posição do
- através do texto, - é sugerido pelo autor pronome, há o mau uso.
infere-se que... que...
- é possível deduzir - de acordo com o texto, é Algumas dicas para interpretar um texto:
que... correta ou errada a afirmação...
- o autor permite - o narrador afirma... 1. Leia bastante. Textos de diversas áreas, assuntos
concluir que... distintos nos trazem diferentes formas de pensar.
- qual é a intenção
do autor ao afirmar 2. Pratique com exercícios de interpretação.
que... Questões simples, mas que nos ajuda a ter certeza que estamos
prestando atenção na leitura.
Erros de Interpretação
3. Cuidado com o “olho ninja”, aquele que quando
É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência de damos conta, já está no final da página, e nem lembramos o que
erros de interpretação. Os mais frequentes são: lemos no meio dela. Talvez seja hora de descansar um pouco,
- Extrapolação (viagem). Ocorre quando se sai do ou voltar a leitura num ponto que estávamos prestando
contexto, acrescentado ideias que não estão no texto, quer por atenção, e reler.
conhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
- Redução. É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção 4. Ative seu conhecimento prévio antes de iniciar o
apenas a um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto texto. Qualquer informação, mínima que seja, nos ajuda a
de ideias, o que pode ser insuficiente para o total do compreender melhor o assunto do texto.
entendimento do tema desenvolvido.
- Contradição. Não raro, o texto apresenta ideias 5. Faça uma primeira leitura superficial, para
contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões identificar a ideia central do texto, e assim, levantar hipóteses
equivocadas e, consequentemente, errando a questão. e saber sobre o que se fala.

Observação: Muitos pensam que há a ótica do escritor e a 6. Leia as questões antes de fazer uma segunda leitura
ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de mais detalhada. Assim, você economiza tempo se no meio da
concurso o que deve ser levado em consideração é o que o leitura identificar uma possível resposta.
autor diz e nada mais.
7. Preste atenção nas informações não-verbais.
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que Tudo que vem junto com o texto, é para ser usado ao seu favor.
relacionam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. Por isso, imagens, gráficos, tabelas, etc., servem para facilitar
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um nossa leitura.
pronome relativo, uma conjunção (nexos), ou um pronome
oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer 8. Use o texto. Rabisque, anote, grife, circule... enfim,
e o que já foi dito. São muitos os erros de coesão no dia a dia e, procure a melhor forma para você, pois cada um tem seu jeito
entre eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome de resumir e pontuar melhor os assuntos de um texto.
oblíquo átono. Este depende da regência do verbo; aquele do
seu antecedente. Não se pode esquecer também de que os Além dessas dicas importantes, você também pode grifar
pronomes relativos têm cada um valor semântico, por isso a palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu
necessidade de adequação ao antecedente. Os pronomes vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou
relativos são muito importantes na interpretação de texto, cruzadinhas são uma distração, mas também um aprendizado.
pois seu uso incorreto traz erros de coesão. Assim sendo, deve- Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a
se levar em consideração que existe um pronome relativo compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também
adequado a cada circunstância, a saber: estimula nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa,
atualiza, melhora nosso foco, cria perspectivas, nos torna
Que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente. reflexivos, pensantes, além de melhorar nossa habilidade de
Mas depende das condições da frase. fala, de escrita e de memória. Então, foco na leitura, que tudo
Qual (neutro) idem ao anterior. fica mais fácil!
Quem (pessoa).
Cujo (posse) - antes dele, aparece o possuidor e depois, o Organização do Texto e Ideia Central
objeto possuído.
Como (modo). Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias
Onde (lugar). seletas e organizadas, através dos parágrafos, composto pela
Quando (tempo). ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a
Quanto (montante). conclusão do texto. Podemos desenvolver um parágrafo de
várias formas:
Exemplo:
Falou tudo quanto queria (correto). - Declaração inicial;
Falou tudo que queria (errado - antes do que, deveria - Definição;
aparecer o demonstrativo o). - Divisão;

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO

- Alusão histórica. porém, ao trabalho acurado e metódico que exige a exploração


dos canaviais. Sua tendência espontânea era para as atividades
Serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em menos sedentárias e que pudessem exercer-se sem
vista os diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é regularidade forçada e sem vigilância e fiscalização de
indicado através da mudança de linha e um espaçamento da estranhos.
margem esquerda. Uma das partes bem distintas do parágrafo (Sérgio Buarque de Holanda, in Raízes)
é o tópico frasal, ou seja, a ideia central extraída de maneira
clara e resumida. Atentando-se para a ideia principal de cada Infere-se do texto que os antigos moradores da terra eram:
parágrafo, asseguramos um caminho que nos levará à (A) os portugueses.
compreensão do texto. (B) os negros.
(C) os índios.
Os Tipos de Texto (D) tanto os índios quanto aos negros.
(E) a miscigenação de portugueses e índios.
Basicamente, existem três tipos de texto: (Aquino, Renato. Interpretação de textos, 2ª edição. Rio
- Texto narrativo; de Janeiro: Impetus, 2003.)
- Texto descritivo;
- Texto dissertativo. Resposta “C”. Apesar do autor não ter citado o nome dos
índios, é possível concluir pelas características apresentadas
Cada um desses textos possui características próprias de no texto. Essa resposta exige conhecimento que extrapola o
construção, que pode ser estudado mais profundamente na texto.
tipologia textual.
- Tome cuidado com as vírgulas. Veja por exemplo a
É comum encontrarmos queixas de que não sabem diferença de sentido nas frases a seguir:
interpretar textos. Muitos têm aversão a exercícios nessa (1) Só, o Diego da M110 fez o trabalho de artes.
categoria. Acham monótono, sem graça, e outras vezes dizem: (2) Só o Diego da M110 fez o trabalho de artes.
cada um tem o seu próprio entendimento do texto ou cada um (3) Os alunos dedicados passaram no vestibular.
interpreta a sua maneira. No texto literário, essa ideia tem (4) Os alunos, dedicados, passaram no vestibular.
algum fundamento, tendo em vista a linguagem conotativa, os (5) Marcão, canta Garçom, de Reginaldo Rossi.
símbolos criados, mas em texto não literário isso é um (6) Marcão canta Garçom, de Reginaldo Rossi.
equívoco. Diante desse problema, seguem algumas dicas para
você analisar, compreender e interpretar com mais Explicações:
proficiência. (1) Diego fez sozinho o trabalho de artes.
(2) Apenas o Diego fez o trabalho de artes.
- Crie o hábito da leitura e o gosto por ela. Quando nós (3) Havia, nesse caso, alunos dedicados e não dedicados e
passamos a gostar de algo, compreendemos melhor seu passaram no vestibular somente os que se dedicaram,
funcionamento. Nesse caso, as palavras tornam-se familiares a restringindo o grupo de alunos.
nós mesmos. Não se deixe levar pela falsa impressão de que ler (4) Nesse outro caso, todos os alunos eram dedicados.
não faz diferença. Leia tudo que tenha vontade, com o tempo (5) Marcão é chamado para cantar.
você se tornará mais seleto e perceberá que algumas leituras (6) Marcão pratica a ação de cantar.
foram superficiais e, às vezes, até ridículas. Porém elas foram
o ponto de partida e o estímulo para se chegar a uma leitura Leia o trecho e analise a afirmação que foi feita sobre ele:
mais refinada. Existe tempo para cada momento de nossas
vidas. “Sempre fez parte do desafio do magistério administrar
- Seja curioso, investigue as palavras que circulam em seu adolescentes com hormônios em ebulição e com o desejo
meio. natural da idade de desafiar as regras. A diferença é que, hoje,
- Aumente seu vocabulário e sua cultura. Além da leitura, em muitos casos, a relação comercial entre a escola e os pais
um bom exercício para ampliar o léxico é fazer palavras se sobrepõe à autoridade do professor”.
cruzadas.
- Faça exercícios de sinônimos e antônimos. Frase para análise.
- Leia verdadeiramente.
- Leia algumas vezes o texto, pois a primeira impressão Desafiar as regras é uma atitude própria do adolescente
pode ser falsa. É preciso paciência para ler outras vezes. Antes das escolas privadas. E esse é o grande desafio do professor
de responder as questões, retorne ao texto para sanar as moderno.
dúvidas.
- Atenção ao que se pede. Às vezes a interpretação está - Não é mencionado que a escola seja da rede privada.
voltada a uma linha do texto e por isso você deve voltar ao - O desafio não é apenas do professor atual, mas sempre fez
parágrafo para localizar o que se afirma. Outras vezes, a parte do desafio do magistério. Outra questão é que o grande
questão está voltada à ideia geral do texto. desafio não é só administrar os desafios às regras, isso é parte
- Fique atento a leituras de texto de todas as áreas do do desafio, há também os hormônios em ebulição que fazem
conhecimento, porque algumas perguntas extrapolam ao que parte do desafio do magistério.
está escrito. Veja um exemplo disso:
- Atenção ao uso da paráfrase (reescrita do texto sem
Texto: prejuízo do sentido original).
- A paráfrase pode ser construída de várias formas, veja
Pode dizer-se que a presença do negro representou algumas delas: substituição de locuções por palavras; uso de
sempre fator obrigatório no desenvolvimento dos latifúndios sinônimos; mudança de discurso direto por indireto e vice-versa;
coloniais. Os antigos moradores da terra foram, converter a voz ativa para a passiva; emprego de antonomásias
eventualmente, prestimosos colaboradores da indústria ou perífrases (Rui Barbosa = A águia de Haia; o povo lusitano =
extrativa, na caça, na pesca, em determinados ofícios portugueses).
mecânicos e na criação do gado. Dificilmente se acomodavam,

Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO

Observe a mudança de posição de palavras ou de pratos diários de bife, vitela, carneiro, galinha, peixe ou ovos”.
expressões nas frases. Exemplos: Santo Maynard! Santos jornais brasileiros que divulgam as
- Certos alunos no Brasil não convivem com a falta de suas palavras redentoras! E dizer que o nosso povo faz ouvidos
professores. de mercador a seus ensinamentos, e continua a comer pouco,
- Alunos certos no Brasil não convivem com a falta de comer mal, às vezes até a não comer nada. Não sou mentiroso
professores. e posso dizer que já vi inúmeras vezes, aqui no Rio, gente que
- Os alunos determinados pediram ajuda aos professores. prefere vasculhar uma lata de lixo a entrar em um restaurante
- Determinados alunos pediram ajuda aos professores. e pedir um filé à Chateaubriand. O dr. Maynard decerto ficaria
muito aborrecido se visse um ser humano escolher tão mal
Explicações: seus alimentos. Mas nós sabemos que é por causa dessas e
- Certos alunos = qualquer aluno. outras que o Brasil não vai pra frente.
- Alunos certos = aluno correto. CAMPOS, Paulo Mendes. De um caderno cinzento. São
- Alunos determinados = alunos decididos. Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 40-42.
- Determinados alunos = qualquer aluno.
02. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente
Questões Administrativo - Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ/2016)
O gênero crônica, em que se enquadra o texto, é
01. (MPE-SC – Promotor de Justiça – MPE-SC/2016) frequentemente escrito em primeira pessoa e reflete, muitas
vezes, o posicionamento pessoal de seu autor. Pode-se afirmar
“A Família Schürmann, de navegadores brasileiros, chegou que, na crônica de Paulo Mendes Campos, o “eu” que fala:
ao ponto mais distante da Expedição Oriente, a cidade de (A) confunde-se com o autor, tecendo críticas ao dr.
Xangai, na China. Depois de 30 anos de longas navegações, essa Maynard
é a primeira vez que os Schürmann aportam em solo chinês. A (B) distingue-se do autor, mostrando-se crítico e perspicaz
negociação para ter a autorização do país começou há mais de (C) distingue-se do autor, mostrando-se ingênuo e
três anos, quando a expedição estava em fase de planejamento. alienado
Essa também é a primeira vez que um veleiro brasileiro recebe (D) confunde-se com o autor, valorizando a divulgação
autorização para aportar em solo chinês, de acordo com as científica pelos jornais
autoridades do país.”
(http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/03/bfamilia 03. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente
-schurmannb-navega-pela-primeira-vez-na-antartica.html) Administrativo - Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ/2016)
Pode-se afirmar que o texto de Paulo Mendes Campos é
Para ficar caracterizada a ideia de passado distante, a argumentativo, uma vez que se caracteriza por:
expressão “há mais de três anos” deve ser reescrita: “há mais (A) encadear fatos que envolvem personagens
de três anos atrás”. (B) tentar convencer o leitor da validade de uma ideia
( ) Certo ( ) Errado (C) caracterizar a composição de ambientes e de seres
vivos
Leia o texto e responda as questões 02, 03 e 04. (D) oferecer instruções para o destinatário praticar uma
ação
Crônica
04. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente
Como o povo brasileiro é descuidado a respeito de Administrativo - Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ/2016)
alimentação! É o que exclamo depois de ler as recomendações Em “Doutrina ainda o nutricionista americano...”, a
de um nutricionista americano, o dr. Maynard. Diz este: “A palavra em destaque pode ser substituída, sem prejuízo do
apatia, ou indiferença, é uma das causas principais das dietas sentido, por:
inadequadas.” Certo, certíssimo. Ainda ontem, vi toda uma (A) adestra, amestra, amansa
família nordestina estendida em uma calçada do centro da (B) educa, corrige, repreende
cidade, ali bem pertinho do restaurante Vendôme, mas apática, (C) catequiza, converte
sem a menor vontade de entrar e comer bem. Ensina ainda o (D) formula, ensina
especialista: “Embora haja alimentos em quantidade
suficiente, as estatísticas continuam a demonstrar que muitas 05. (Prefeitura de Chapecó – SC – Engenheiro de
pessoas não compreendem e não sabem selecionar os Trânsito – IOBV/2016)
alimentos”. É isso mesmo: quem der uma volta na feira ou no
supermercado vê que a maioria dos brasileiros compra, por Por Jonas Valente*, especial para este blog.
exemplo, arroz, que é um alimento pobre, deixando de lado
uma série de alimentos ricos. Quando o nosso povo irá tomar A Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Crimes
juízo? Doutrina ainda o nutricionista americano: “Uma boa Cibernéticos da Câmara dos Deputados divulgou seu relatório
dieta pode ser obtida de elementos tirados de cada um dos final. Nele, apresenta proposta de diversos projetos de lei com
seguintes grupos de alimentos: o leite constitui o primeiro a justificativa de combater delitos na rede. Mas o conteúdo
grupo, incluindo-se nele o queijo e o sorvete”. Embora dessas proposições é explosivo e pode mudar a Internet como
modestamente, sempre pensei também assim. No entanto, ali a conhecemos hoje no Brasil, criando um ambiente de censura
na praia do Pinto é evidente que as crianças estão desnutridas, na web, ampliando a repressão ao acesso a filmes, séries e
pálidas, magras, roídas de verminoses. Por quê? Porque seus outros conteúdos não oficiais, retirando direitos dos
pais não sabem selecionar o leite e o queijo entre os principais internautas e transformando redes sociais e outros aplicativos
alimentos. A solução lógica seria dar-lhes sorvete, todas as em máquinas de vigilância.
crianças do mundo gostam de sorvete. Engano: nem todas. Nas Não é de hoje que o discurso da segurança na Internet é
proximidades do Bob´s e do Morais há sempre bandos de usado para tentar atacar o caráter livre, plural e diverso da
meninos favelados que ficam só olhando os adultos que Internet. Como há dificuldades de se apurar crimes na rede, as
descem dos carros e devoram sorvetes enormes. Crianças soluções buscam criminalizar o máximo possível e
apáticas, indiferentes. Citando ainda o ilustre médico: “A carne transformar a navegação em algo controlado, violando o
constitui o segundo grupo, recomendando-se dois ou mais princípio da presunção da inocência previsto na Constituição

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Federal. No caso dos crimes contra a honra, a solução adotada Bens descartáveis
pode ter um impacto trágico para o debate democrático nas Seguindo essa linha de raciocínio, o psicanalista Jurandir
redes sociais – atualmente tão importante quanto aquele Freire Costa, na obra A ética e o espelho da cultura, enfatiza que
realizado nas ruas e outros locais da vida off line. Além disso, o homem tem muitas vezes a tendência de acompanhar as
as propostas mutilam o Marco Civil da Internet, lei aprovada metamorfoses sociais, e com todas as mudanças no cotidiano,
depois de amplo debate na sociedade e que é referência acaba moldando-se as mesmas, sem muitas vezes se
internacional. questionarem. Mas, segundo o psicanalista, quando o sujeito
(*BLOG DO SAKAMOTO, L. 04/04/2016) se apercebe num emaranhado de atribuições disseminados
pela publicidade que nem sempre foram pensadas e
Após a leitura atenta do texto, analise as afirmações feitas: analisadas, é que chegam os conflitos e desamparos, porque
I. O jornalista Jonas Valente está fazendo um elogio à visão perdem muitas vezes a noção de singularidade para serem
equilibrada e vanguardista da Comissão Parlamentar que mais um na multidão.
legisla sobre crimes cibernéticos na Câmara dos Deputados. Com efeito, o sociólogo Jean Baudrillard frisa que na
II. O Marco Civil da Internet é considerado um avanço em cultura do consumo, na qual o homem contemporâneo se
todos os sentidos, e a referida Comissão Parlamentar está encontra inserido: “Como a ‘criança-lobo’ se torna lobo à força
querendo cercear o direito à plena execução deste marco. de com ele viver, também nós, pouco a pouco nos tornamos
III. Há o temor que o acesso a filmes, séries, informações funcionais. Vivemos o tempo dos objetos; quero dizer que
em geral e o livre modo de se expressar venham a sofrer existimos segundo seu ritmo e em conformidade com sua
censura com a nova lei que pode ser aprovada na Câmara dos sucessão permanente” (trecho extraído do livro A sociedade do
Deputados. consumo).
IV. A navegação na internet, como algo controlado, na visão Por conseguinte, e com todas as mudanças ocorridas no
do jornalista, está longe de se concretizar através das leis a contexto social vigente, bem como a produção de bens
serem votadas no Congresso Nacional. materiais em larga escala, muitas vezes se sofre a influência
V. Combater os crimes da internet com a censura, para o dos bens produzidos. Contudo, esses bens propagandeados
jornalista, está longe de ser uma estratégia correta, sendo afiguram-se cada vez mais descartáveis, pois já não se tem
mesmo perversa e manipuladora. mais quem herde o sentido moral e emocional que eles no
início do século 20 materializavam. Isso fez o jornalista
Assinale a opção que contém todas as alternativas Arnaldo Jabor carecer que “o futuro virou uma promessa de
corretas. aperfeiçoamento de produtos com uma velocidade que fez do
(A) I, II, III. presente um arcaísmo em processo, uma espécie de passado
(B) II, III, IV. ao vivo em decomposição”.
(C) II, III, V.
(D) II, IV, V. Sistema publicitário é um código
Ademais, atualmente o pensamento mais comumente
06. (Prefeitura de Ilhéus - BA – Auditor Fiscal – evocado parece com um gozo excessivo proporcionado pela
CONSULTEC/2016) conquista do desejo de consumo aspirado pelo indivíduo. Isso
tem tornado os homens vivenciadores de crises de referências,
Como a sociedade moderna se organiza diante da como bem atestam alguns psicanalistas, à medida que
felicidade percebem que não só a mídia (publicidade), mas, o meio que o
cerca tem muitas vezes a capacidade de artificializar as
Por Ronaldo Barbosa Lima em 26/06/2012 na edição 700 relações humanas, fazendo com que não tenha vontade
Presencia-se na atualidade uma concepção difundida de própria, realizando o desejo e a vontade dos outros e não as
que a lógica capitalista, com o auxílio da publicidade, especula suas.
a felicidade como dependente da satisfação dos desejos (...)
materiais do homem. Nesse contexto, Freud se refere aos “mal-estares” da nossa
Tal fato contraria a ótica do início do século 20, como civilização, como nada mais que uma economia libidinal
observa o sociólogo Max Weber no livro A ética protestante e o baseada no gozar. Enquanto, por exemplo, a mais-valia
espírito do capitalismo, onde eram as leis suntuárias que sustenta a economia capitalista em Karl Marx, o gozo sustenta
mostravam ao ser humano o que deveria ser consumido e o a economia libidinal no sujeito em Freud. Argumenta que o
que era preciso fazer para ser feliz. Isso mostra como a indivíduo enquanto goza, não só no concernente a sexualidade,
sociedade moderna, por influência ou não da publicidade mas também na aquisição de bens de consumo, considera-se
comercial, pode se organizar diante da felicidade. Nisto não feliz.
parece haver implícita ideia religiosa que prometa o paraíso na Tendo em vista o anúncio cobiçoso como disseminador da
vida eterna. Pelo contrário, como evidencia o pai da felicidade e, levando em consideração o desenvolvimento
psicanálise, Sigmund Freud, talvez a felicidade consista em tecnocientífico que promete a felicidade através do Prozac, do
poder do narcisismo. apartamento à beira-mar, entre outras possibilidades, o
Nesse contexto, podemos deduzir que o discurso psicólogo Martin Seligman, no livro Felicidade Autêntica,
publicitário leva muitas vezes o indivíduo a acreditar naquilo expressa algo muito interessante. Diz que o homem, aceitando
que é dito e a lutarem e buscarem todo o prazer proporcionado suas limitações diante da felicidade, esta pode estruturar-se,
pelo consumo daquilo que é anunciado. O significado das entre outras possibilidades, na interface entre o prazer, o
mercadorias associadas como valor de uso, passa a ser engajamento e o significado.
disseminado como dizendo respeito a características que
representam o ideal de felicidade da sociedade, por exemplo. A história e as escolhas
Para a publicitária e mestre em Sociologia pela Universidade Prazer, em se tratando da situação agradável de quando se
Federal de Pernambuco (UFPE) Lívia Valença da Silva, “esta ouve uma boa música ou se faz sexo. Já o engajamento é a
felicidade abrange uma realização pessoal e profissional que profundidade de envolvimento da pessoa com sua vida.
envolve boa aparência e desenvoltura, aprovação social, Finalmente o significado, como a sensação de que a vida faz
conforto e bem-estar, estabilidade econômica, status, sucesso parte de algo maior. Salienta também em suas pesquisas, que
no amor e no mercado de trabalho, entre tantos outros um dos maiores erros das sociedades contemporâneas é
elementos”. concentrar a busca da felicidade em apenas um dos três

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pilares, esquecendo os outros. Sendo que as pessoas


escolhem justo o mais fraco deles; o prazer. Enfatiza que o
engajamento e o significado são elos indispensáveis na vida
do ser humano frente à felicidade.
Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-
desfeitas/_ed700_como_a_sociedade_moderna_se_organiz
a_diante_da_felicidade/

Felicidade
Marcelo Jeneci

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz


Sentirá o ar sem se mexer
Sem desejar como antes sempre quis
Você vai rir, sem perceber
Felicidade é só questão de ser
Quando chover, deixar molhar
Pra receber o sol quando voltar

Lembrará os dias SINGER. O bem-sucedido. O fracassado. Disponível


que você deixou passar sem ver a luz em:<https://www.google.com.br/search?q=imagem+de+c
Se chorar, chorar é vão arro+como+símbolo+de+felicidade&esp> . Acesso em:
porque os dias vão pra nunca mais 1° mar. 2016
Analisando-se a figura destacada, pode-se afirmar:
(A) A mensagem transmitida pelas imagens e seus títulos
Melhor viver, meu bem
contradizem o conceito de felicidade abordado pelos textos
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
de Ronaldo Barbosa e de Marcelo Jeneci.
Chorar, sorrir também e depois dançar (B) Os elementos que compõem a primeira imagem
Na chuva quando a chuva vem descontroem o sentido de narcisismo abordado no texto de
Ronaldo Barbosa.
Melhor viver, meu bem (C) O título “O fracassado”, considerando-se os valores
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você cultivados na pós-modernidade, constitui uma verdade
Chorar, sorrir também e dançar configurada socialmente.
Dançar na chuva quando a chuva vem (D) A palavra “bem-sucedido” está em desrespeito às
normas da Nova Ortografia da Língua Portuguesa, pois o uso
Tem vez que as coisas pesam mais do hífen caiu em desuso.
Do que a gente acha que pode aguentar (E) A palavra “fracassado”, em relação ao processo de
Nessa hora fique firme formação das palavras, é uma derivação prefixal e sufixal,
Pois tudo isso logo vai passar simultaneamente.

Você vai rir, sem perceber 07. (Prefeitura de São Gonçalo – RJ – Analista de
Felicidade é só questão de ser Contabilidade – BIO-RIO/2016)
Quando chover, deixar molhar TEXTO
ÉDIPO-REI
Pra receber o sol quando voltar
Diante do palácio de Édipo. Um grupo de crianças está
Melhor viver, meu bem ajoelhado nos degraus da entrada. Cada um tem na mão um
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você ramo de oliveira. De pé, no meio delas, está o sacerdote de
Chorar, sorrir também e depois dançar Zeus.
Na chuva quando a chuva vem (Edipo-Rei, Sófocles, RS: L&PM, 2013)

Melhor viver, meu bem O texto é a parte introdutória de uma das maiores peças
Pois há um lugar em que o sol brilha pra você trágicas do teatro grego e exemplifica o modo descritivo de
Chorar, sorrir também e dançar organização discursiva. O elemento abaixo que NÃO está
Dançar na chuva quando a chuva vem presente nessa descrição é:
(A) a localização da cena descrita.
Dançar na chuva quando a chuva vem (B) a identificação dos personagens presentes.
Dançar na chuva quando a chuva (C) a distribuição espacial dos personagens.
Dançar na chuva quando a chuva vem (D) o processo descritivo das partes para o todo.
Fonte: https://www.letras.mus.br/marcelo- (E) a descrição de base visual.
jeneci/1524699/
08. (MPE-RJ – Analista do Ministério Público -
Processual – FGV/2016)

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Texto 1 – Problemas Sociais Urbanos Sobre a charge acima, pode-se dizer que sua temática
básica é:
Brasil escola (A) a inadequação dos turistas no Rio de Janeiro;
(B) o excesso de eventos na capital carioca;
Dentre os problemas sociais urbanos, merece destaque a (C) a falta de segurança nas praias do Rio;
questão da segregação urbana, fruto da concentração de renda (D) a crítica ao calor excessivo no verão do Rio;
no espaço das cidades e da falta de planejamento público que (E) a crítica à poluição das águas no Rio.
vise à promoção de políticas de controle ao crescimento
desordenado das cidades. A especulação imobiliária favorece 10. (MPE-RJ – Técnico do Ministério Público -
o encarecimento dos locais mais próximos dos grandes Administrativa – FGV/2016)
centros, tornando-os inacessíveis à grande massa
populacional. Além disso, à medida que as cidades crescem, TEXTO 1 – O futuro da medicina
áreas que antes eram baratas e de fácil acesso tornam-se mais
caras, o que contribui para que a grande maioria da população O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das
pobre busque por moradias em regiões ainda mais distantes. profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos,
Essas pessoas sofrem com as grandes distâncias dos locais jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até
de residência com os centros comerciais e os locais onde aqui é o de médico. Até aqui. A crer no médico e "geek" Eric
trabalham, uma vez que a esmagadora maioria dos habitantes Topol, autor de "The Patient Will See You Now" (o paciente vai
que sofrem com esse processo são trabalhadores com baixos vê-lo agora), está no forno uma revolução da qual os médicos
salários. Incluem-se a isso as precárias condições de não escaparão, mas que terá impactos positivos para os
transporte público e a péssima infraestrutura dessas zonas pacientes.
segregadas, que às vezes não contam com saneamento básico Para Topol, o futuro está nos smartphones. O autor nos
ou asfalto e apresentam elevados índices de violência. coloca a par de incríveis tecnologias, já disponíveis ou muito
A especulação imobiliária também acentua um problema próximas disso, que terão grande impacto sobre a medicina. Já
cada vez maior no espaço das grandes, médias e até pequenas é possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as
cidades: a questão dos lotes vagos. Esse problema acontece imagens a um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão
por dois principais motivos: 1) falta de poder aquisitivo da do que um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode
população que possui terrenos, mas que não possui condições ser um câncer, o que exige medidas adicionais.
de construir neles e 2) a espera pela valorização dos lotes para Está para chegar ao mercado um apetrecho que
que esses se tornem mais caros para uma venda posterior. transforma o celular num verdadeiro laboratório de análises
Esses lotes vagos geralmente apresentam problemas como o clínicas, realizando mais de 50 exames a uma fração do custo
acúmulo de lixo, mato alto, e acabam tornando-se focos de atual. Também é possível, adquirindo lentes que custam
doenças, como a dengue. centavos, transformar o smartphone num supermicroscópio
PENA, Rodolfo F. Alves. “Problemas socioambientais que permite fazer diagnósticos ainda mais sofisticados.
urbanos”; Brasil Escola. Disponível em Tudo isso aliado à democratização do conhecimento, diz
http://brasilescola.uol.com.br/brasil/problemas-ambientais- Topol, fará com que as pessoas administrem mais sua própria
sociais-decorrentes-urbanização.htm. Acesso em 14 de abril saúde, recorrendo ao médico em menor número de ocasiões e
de 2016. de preferência por via eletrônica. É o momento, assegura o
autor, de ampliar a autonomia do paciente e abandonar o
A estruturação do texto 1 é feita do seguinte modo: paternalismo que desde Hipócrates assombra a medicina.
(A) uma introdução definidora dos problemas sociais Concordando com as linhas gerais do pensamento de
urbanos e um desenvolvimento com destaque de alguns Topol, mas acho que, como todo entusiasta da tecnologia, ele
problemas; provavelmente exagera. Acho improvável, por exemplo, que os
(B) uma abordagem direta dos problemas com seleção e hospitais caminhem para uma rápida extinção. Dando algum
explicação de um deles, visto como o mais importante; desconto para as previsões, "The Patient..." é uma excelente
(C) uma apresentação de caráter histórico seguida da leitura para os interessados nas transformações da medicina.
explicitação de alguns problemas ligados às grandes cidades; Folha de São Paulo online – Coluna Hélio Schwartsman –
(D) uma referência imediata a um dos problemas sociais 17/01/2016.
urbanos, sua explicitação, seguida da citação de um segundo
problema; Segundo o autor citado no texto 1, o futuro da medicina:
(E) um destaque de um dos problemas urbanos, seguido de (A) encontra-se ameaçado pela alta tecnologia;
sua explicação histórica, motivo de crítica às atuais (B) deverá contar com o apoio positivo da tecnologia;
autoridades. (C) levará à extinção da profissão de médico;
(D) independerá completamente dos médicos;
09. (MPE-RJ – Analista do Ministério Público - (E) estará limitado aos meios eletrônicos.
Processual – FGV/2016)
Respostas

01. Errado
O verbo haver já contém a ideia de passado. A adição do
termo "atrás" caracteriza pleonasmo.

02. (A)
Dentro da crônica existe o " o Eu" introduzido pelo Autor
Paulo Mendes
Diferença:
1-"o Eu" se mostra ingênuo (Aquele que é inocente,
sincero, simples.) e alienado (1-Cedido a outro dono, ou o
que enlouqueceu, 2-vendido.)

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Um exemplo é quando ele diz: "É o que exclamo depois de concentração de renda no espaço das cidades e da falta de
ler as recomendações de um nutricionista americano, o dr. planejamento público que vise à promoção de políticas de
Maynard" controle ao crescimento desordenado das cidades.
2- O autor não se mostra ingênuo e nem alienado, uma vez 09. (C)
que, ele mesmo é quem escreve a Crônica. A charge demonstra a falta de segurança no RJ, pois o único
elemento de segurança pública simbolizado na figura, à
03. (B) medida que novos jogos olímpicos vão surgindo, menos
São características de textos: atenção ele dispensa a essa questão, já que na última (2016)
a) encadear fatos que envolvem personagens - ele está embaixo do guarda sol, pedindo "refri".
NARRATIVO
b) tentar convencer o leitor da validade de uma ideia - 10. (B)
DISSERTATIVO ARGUMENTATIVO As alternativas A, C, D, E não encontram respaldo no texto.
c) caracterizar a composição de ambientes e de seres vivos A assertiva B é praticamente uma reescritura do seguinte
- DESCRITIVO período:
d) oferecer instruções para o destinatário praticar uma Está no forno uma revolução da qual os médicos não
ação - INJUNÇÃO/ INSTRUCIONAL escaparão, mas que terá impactos positivos para os
pacientes.
04. (D)
A palavra doutrina possui mais de um significado, assim
como muitos vocábulos. Por isso, é necessário, em um texto,
contextualizar para inferir seu significado. Dessa maneira, Denotação e conotação.
eliminam-se as demais alternativas. Doutrina = conjunto
coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas,
ensinadas. Sentido Literal (próprio ou denotativo) e Sentido Não
Literal (figurado ou conotativo)
05. (C)
Literal é o sentido da palavra interpretada ao pé da letra,
06. (C) isto é, de acordo com o sentido geral que ela tem na maioria
dos contextos em que ocorre. É o sentido próprio da palavra.
07. (D) Exemplo:
"a) a localização da cena descrita."
"Diante do palácio de Édipo; nos degraus da entrada." “Uma pedra no meio da rua foi a causa do acidente.”
"b) a identificação dos personagens presentes."
"Um grupo de crianças; De pé, no meio delas, está o A palavra “pedra” aqui está usada em sentido literal.
sacerdote de Zeus."
c) a distribuição espacial dos personagens. Não Literal é o sentido da palavra desviado do usual, isto
"Um grupo de crianças está ajoelhado nos degraus da é, aquele que se distancia do sentido próprio e costumeiro.
entrada. De pé, no meio delas," Exemplo:
d) o processo descritivo das partes para o todo.
Nesse item, resposta da questão, o que acontece é “As pedras atiradas pela boca ferem mais do que as atiradas
justamente o contrário, do todo para as parte, senão, vejamos: pela mão.”
"Diante do palácio de Édipo. Um grupo de crianças está
ajoelhado nos degraus da entrada. Cada um tem na mão um “Pedras”, nesse contexto, não está indicando o que
ramo de oliveira. De pé, no meio delas, está o sacerdote de usualmente indica, mas um insulto, uma ofensa produzida pela
Zeus." boca.
Palácio de Édipo (todo) > degraus da escada > ramo de
oliveira na mão das crianças Ampliação de Sentido
e) a descrição de base visual.
O texto nos passa uma descrição a qual se torna possível Fala-se em ampliação de sentido quando a palavra passa a
visualizar "mentalmente" a situação descrita. designar uma quantidade mais ampla de objetos ou noções do
que originariamente.
08. (B) “Embarcar”, por exemplo, que originariamente era usada
FGV costuma usar paralelismo entre as alternativas e a para designar o ato de viajar em um barco, ampliou
geralmente a alternativa que sobra é o gabarito. Não são todas consideravelmente o sentido e passou a designar a ação de
as questões que possuem paralelismo. viajar em outros veículos. Hoje se diz, por ampliação de
a) uma introdução definidora dos problemas sociais sentido, que um passageiro:
urbanos e um desenvolvimento com destaque de alguns - embarcou num ter.
problemas; >>> d) uma referência imediata a um - embarcou no ônibus das dez.
dos problemas sociais urbanos, sua explicitação, seguida da - embarcou no avião da força aérea.
citação de um segundo problema; - embarcou num transatlântico.
c) uma apresentação de caráter histórico seguida da
explicitação de alguns problemas ligados às grandes “Alpinista”, na origem, era usado para indicar aquele que
cidades; >>> e) um destaque de um dos problemas urbanos, escala os Alpes (cadeia montanhosa europeia). Depois, por
seguido de sua explicação histórica, motivo de crítica às atuais ampliação de sentido, passou a designar qualquer tipo de
autoridades. praticante do esporte de escalar montanhas.
Sobrou a letra B.
b) uma abordagem direta dos problemas com seleção e Restrição de Sentido
explicação de um deles, visto como o mais importante;
"Dentre os problemas sociais urbanos, merece Ao lado da ampliação de sentido, existe o movimento
destaque a questão da segregação urbana, fruto da inverso, isto é, uma palavra passa a designar uma quantidade

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mais restrita de objetos ou noções do que originariamente. É o da morte. Sua opção é pela “negação", traço de um dos
caso, por exemplo, das palavras que saem da língua geral e sintomas neuróticos descritos por Freud.
passam a ser usadas com sentido determinado, dentro de um Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que
universo restrito do conhecimento. na modernidade o narrador da vida desapareceu. Isso quer
A palavra aglutinação, por exemplo, na nomenclatura dizer que as pessoas encarregadas, antigamente, de narrar a
gramatical, é bom exemplo de especialização de sentido. Na vida e propor sentido para ela perderam esse lugar. Hoje os
língua geral, ela significa qualquer junção de elementos para mais velhos querem “aprender" com os mais jovens (aprender
formar um todo, porém em Gramática designa apenas um tipo a amar, se relacionar, comprar, vestir, viajar, estar nas redes
de formação de palavras por composição em que a junção dos sociais). Esse fenômeno, além de cruel com o envelhecimento,
elementos acarreta alteração de pronúncia, como é o caso de é também desorganizador da própria juventude. Ouço
pernilongo (perna + longa). cotidianamente, na sala de aula, os alunos demonstrarem seu
Se não houver alteração de pronúncia, já não se diz mais desprezo por pais e mães que querem aprender a viver com
aglutinação, mas justaposição. A palavra Pernalonga, por eles.
exemplo, que designa uma personagem de desenhos Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a
animados, não se formou por aglutinação, mas por combater essa desvalorização dos mais velhos. As ferramentas
justaposição. de informação, normalmente mais acessíveis aos jovens,
Em linguagem científica é muito comum restringir-se o aumentam a percepção negativa dos mais velhos diante do
significado das palavras para dar precisão à comunicação. acúmulo de conhecimento posto a serviço dos consumidores,
A palavra girassol, formada de gira (do verbo girar) + sol, que questionam as “verdades constituídas do passado". A
não pode ser usada para designar, por exemplo, um astro que própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna
gira em torno do Sol: seu sentido sofreu restrição, e ela serve – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a
para designar apenas um tipo de flor que tem a propriedade invisibilidade dos mais velhos. Em termos humanos, o passado
de acompanhar o movimento do Sol. (que “nada" serve ao mundo do progresso) tem um nome:
idoso. Enfim, resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou
Há certas palavras que, além do significado explícito, para as redes sociais.
contêm outros implícitos (ou pressupostos).
Os exemplos são muitos. É o caso do adjetivo outro, por (Luiz Felipe Pondé, Somma, agosto 2014, p. 31. Adaptado)
exemplo, que indica certa pessoa ou coisa, pressupondo
necessariamente a existência de ao menos uma além daquela O termo empregado com sentido figurado está em
indicada. destaque na seguinte passagem do texto:
Prova disso é que não faz sentido, para um escritor que (A) Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece
nunca lançou um livro, dizer que ele estará autografando seu com frequência quando se discute o tema da velhice…
outro livro. O uso de outro pressupõe necessariamente ao (segundo parágrafo).
menos um livro além daquele que está sendo autografado. (B) O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de
minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e
Questões vovós… (primeiro parágrafo).
(C) Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia
01. (PC-CE – Delegado de Polícia Civil – que na modernidade o narrador da vida desapareceu.
VUNESP/2015) (penúltimo parágrafo).
(D) A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência
A morte do narrador moderna – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a
invisibilidade dos mais velhos. (último parágrafo).
Recentemente recebi um e-mail de uma leitora (E) Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem
perguntando a razão de eu ter, segundo ela, uma visão tão dura se afundar na doença, na solidão e no abandono… (quarto
para com os idosos. O motivo da sua pergunta era eu ter dito, parágrafo).
em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais
vovôs e vovós, porque estavam todos na academia querendo 02. (PC-CE – Escrivão de Polícia Civil –
parecer com seus netos. VUNESP/2015)
Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter Ficção universitária
me entendido mal, o que acontece com frequência quando se Os dados do Ranking Universitário publicados em
discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque o setembro de 2013 trazem elementos para que tentemos
próprio termo “velhice" já pede sinônimos politicamente desfazer o mito, que consta da Constituição, de que pesquisa e
corretos, como “terceira idade", “melhor idade", “maturidade", ensino são indissociáveis. É claro que universidades que fazem
entre outros. pesquisa tendem a reunir a nata dos especialistas, produzir
Uma característica do politicamente correto é que, quando mais inovação e atrair os alunos mais qualificados, tornando-
ele se manifesta num uso linguístico específico, é porque esse se assim instituições que se destacam também no ensino.
uso se refere a um conceito já considerado como algo ruim. A O Ranking Universitário mostra essa correlação de forma
marca essencial do politicamente correto é a hipocrisia cristalina: das 20 universidades mais bem avaliadas em
articulada como gesto falso, ideias bem comportadas. termos de ensino, 15 lideram no quesito pesquisa (e as demais
Voltando à velhice. Minha leitora entendeu que eu dizia estão relativamente bem posicionadas). Das 20 que saem à
que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no frente em inovação, 15 encabeçam também a pesquisa. Daí não
abandono, e não procurar ser felizes. Mas, quando eu dizia que decorre que só quem pesquisa, atividade estupidamente cara,
eles estão fugindo da condição de avós, usava isso como seja capaz de ensinar.
metáfora da mentira (politicamente correta) quanto ao medo O gasto médio anual por aluno numa das três
que temos de afundar na doença, antes de tudo psicológica, universidades estaduais paulistas, aí embutidas todas as
devido ao abandono e à solidão, típicos do mundo despesas que contribuem direta e indiretamente para a boa
contemporâneo. Minha crítica era à nossa cultura, e não às pesquisa, incluindo inativos e aportes de Fapesp, CNPq e
vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está Capes, é de R$ 46 mil (dados de 2008). Ora, um aluno do
intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e ProUni custa ao governo algo em torno de R$ 1.000 por ano em
renúncias fiscais.

Língua Portuguesa 9
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APOSTILAS OPÇÃO

Não é preciso ser um gênio da aritmética para perceber (A) ... beijado pelo vento do mar.... (3º §) / Meu pé de milho
que o país não dispõe de recursos para colocar os quase sete é um belo gesto da terra. (3º §)
milhões de universitários em instituições com o padrão de (B) Mas ele reagiu. (1º §) / ... na verdade aquilo era capim.
investimento das estaduais paulistas. E o Brasil precisa (1º §)
aumentar rapidamente sua população universitária. Nossa (C) Secaram as pequenas folhas... (1º §) / Sou um
taxa bruta de escolarização no nível superior beira os 30%, ignorante... (2º §)
contra 59% do Chile e 63% do Uruguai. (D) Ele cresceu, está com dois metros... (2º §) / Tinha visto
Isso para não mencionar países desenvolvidos como EUA centenas de milharais... (2º §)
(89%) e Finlândia (92%). Em vez de insistir na ficção (E) ... lança as suas folhas além do muro... (2º §) / Há muitas
constitucional de que todas as universidades do país precisam flores belas no mundo... (3º §)
dedicar-se à pesquisa, faria mais sentido aceitar o mundo
como ele é e distinguir entre instituições de elite voltadas para 04. (IF-SC – Técnico de Laboratório – IF-SC/2014)
a produção de conhecimento e as que se destinam a difundi-lo.
O Brasil tem necessidade de ambas. Assinale a opção em que NÃO há palavra usada em sentido
conotativo.
(Hélio Schwartsman. Disponível em: (A) Tuas atitudes são o espelho do teu caráter.
http://www1.folha.uol.com.br, 10.09.2013. Adaptado) (B) Regras podem ser estabelecidas para uma convivência
pacífica.
Assinale a alternativa em que a expressão destacada é (C) Pipocavam palavras no texto, como se fossem rabiscos
empregada em sentido figurado. coloridos do próprio pensamento
(A) ... universidades que fazem pesquisa tendem a reunir a (D) Choviam risadas naquela peça de humor.
nata dos especialistas... (E) A sabedoria abre as portas do conhecimento.
(B) Os dados do Ranking Universitário publicados em
setembro de 2013... 05. (CRN-GO – Nutricionista Fiscal – Quadrix/2014)
(C) Não é preciso ser um gênio da aritmética para perceber
que o país não dispõe de recursos...
(D) ... das 20 universidades mais bem avaliadas em termos
de ensino...
(E) ... todas as despesas que contribuem direta e
indiretamente para a boa pesquisa...

03. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário –


VUNESP/2014)
Leia o texto para responder a questão.
Um pé de milho

Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra


trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um
pé de capim – mas descobri que era um pé de milho.
Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa.
Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele
reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um
amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era
capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e
afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu
tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas
folhas além do muro – e é um esplêndido pé de milho. Já viu o Sobre a tirinha, de uma maneira geral, analise as
leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto afirmações.
centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho I. A linguagem do texto da tirinha é absolutamente formal.
sozinho, em um anteiro, espremido, junto do portão, numa II. A palavra "Garfield", no segundo quadrinho, aparece
esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo isolada por vírgula por se tratar de um vocativo.
e independente. Suas raízes roxas se agarra mão chão e suas III. O humor da tirinha se constrói com base,
folhas longas e verdes nunca estão imóveis. essencialmente, na linguagem não verbal, já que as bruscas
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos alterações nas feições de Garfield levam à estranheza do leitor.
encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou.
Há muitas flores belas no mundo, e a flor do meu pé de milho Está correto o que se afirma em:
não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, (A) I, somente.
beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho (B) II, somente.
vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. É alguma (C) III, somente.
coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de (D) I e III, somente.
milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre (E) II e III, somente.
homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou Respostas
um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
01. Resposta: D
(Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas, 2001. Adaptado) O sentido figurado ou conotativo, é aquele em que se
atribui à palavra ou expressão, um sentido ampliado, diferente
Assinale a alternativa em que, nas duas passagens, há do sentido literal/usual.
termos empregados em sentido figurado. d) A palavra "Indivisibilidade" foi usada com o sentido de
"isolamento", "exclusão" e, portanto, é o gabarito.

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APOSTILAS OPÇÃO

02. Resposta: A palavras da língua portuguesa, obedecendo a uma combinação


nata:na.ta sf (lat matta) 1 Camada que se forma à de critérios etimológicos (ligados à origem das palavras) e
superfície do leite; creme. 2 A melhor parte de qualquer coisa, fonológicos (ligados aos fonemas representados).
o que há de melhor; a fina flor, o escol. N. da terra: nateiro; Somente a intimidade com a palavra escrita, é que acaba
terra fértil. trazendo a memorização da grafia correta. Deve-se também
criar o hábito de consultar constantemente um dicionário.
03. Resposta: A
... beijado pelo vento do mar.... (3º §) / Meu pé de milho é Alfabeto
um belo gesto da terra. (3º §)
O alfabeto passou a ser formado por 26 letras. As letras “k”,
Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do “w” e “y” não eram consideradas integrantes do alfabeto
mar, (que o vento bate no pé de milho) veio enriquecer nosso (agora são). Essas letras são usadas em unidades de medida,
canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem nomes próprios, palavras estrangeiras e outras palavras em
bem. É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e geral. Exemplos: km, kg, watt, playground, William, Kafka,
certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. (Como nasce kafkiano.
da terra, para o autor parece um presente desta).
Sentido figurado: A palavra tem valor conotativo quando Vogais: a, e, i, o, u, y, w.
seu significado é ampliado ou alterado no contexto em que é Consoantes: b,c,d,f,g,h,j,k,l,m,n,p,q,r,s,t,v,w,x,z.
empregada, sugerindo ideias que vão além de seu sentido mais Alfabeto: a,b,c,d,e,f,g,h,i,j,k,l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,v,w,x,y,z.
usual.
Observações:
04. Resposta: B
(A) Atitudes são o espelho; A letra “Y” possui o mesmo som que a letra “I”, portanto,
(B) CERTA; ela é classificada como vogal.
(C) Pipocavam palavras no texto;
(D) Choviam risadas; A letra “K” possui o mesmo som que o “C” e o “QU” nas
(E) Sabedoria abre as portas palavras, assim, é considerada consoante. Exemplo: Kuait /
Kiwi.
05. Resposta: B
Segundo Bechara: Já a letra “W” pode ser considerada vogal ou consoante,
Vocativo: uma unidade à parte – Desligado da estrutura dependendo da palavra em questão, veja os exemplos:
argumental da oração e desta separado por curva de entoação
exclamativa, o vocativo cumpre uma função apelativa de 2.ª No nome próprio Wagner o “W” possui o som de “V”, logo,
pessoa, pois, por seu intermédio, chamamos ou pomos em é classificado como consoante.
evidência a pessoa ou coisa a que nos dirigimos:
José, vem cá! Já no vocábulo “web” o “W” possui o som de “U”,
Tu, meu irmão, precisas estudar! classificando-se, portanto, como vogal.
Felicidade, onde te escondes?
Algumas vezes vem precedido de ó, que a tradição Emprego da letra H
gramatical inclui entre as interjeições, pela sua
correspondência material, mas que, na realidade, pode ser Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor
considerado um morfema de vocativo, dada a característica fonético; conservou-se apenas como símbolo, por força da
entonacional que a diferencia das interjeições propriamente etimologia e da tradição escrita. Grafa-se, por exemplo, hoje,
ditas [HCv.2, 197 n.47]. porque esta palavra vem do latim hodie.
“Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” [CAv.1,
141] Emprega-se o H:
Estes exemplos nos põem diante de algumas - Inicial, quando etimológico: hábito, hélice, herói, hérnia,
particularidades que envolvem o vocativo. Pelo desligamento hesitar, haurir, etc.
da estrutura argumental da oração, constitui, por si só, a rigor, - Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh e nh: chave,
uma frase exclamativa à parte ou um fragmento de oração, à boliche, telha, flecha, companhia, etc.
semelhança das interjeições. Por outro lado, como no caso de - Final e inicial, em certas interjeições: ah!, ih!, hem?, hum!,
Tu, meu irmão, precisas estudar!, às vezes, se aproxima do etc.
aposto explicativo, pela razão que vai constituir a - Algumas palavras iniciadas com a letra H: hálito,
particularidade seguinte. Por fim, o vocativo, na função harmonia, hangar, hábil, hemorragia, hemisfério, heliporto,
apelativa, está ligado ao imperativo ou conteúdo volitivo da hematoma, hífen, hilaridade, hipocondria, hipótese, hipocrisia,
forma verbal, já que, em se tratando de ordem ou manifestação homenagear, hera, húmus;
de desejo endereçada à pessoa com quem falamos ou a quem - Sem h, porém, os derivados baianos, baianinha, baião,
nos dirigimos, presente quase sempre, não há necessidade de baianada, etc.
marcar gramaticalmente o sujeito. Quando surge a
necessidade de explicitá-lo, por algum motivo, aludimos a esse Não se usa H:
sujeito em forma de vocativo [RLz.1, 66]. - No início de alguns vocábulos em que o h, embora
etimológico, foi eliminado por se tratar de palavras que
entraram na língua por via popular, como é o caso de erva,
Ortografia: emprego das inverno, e Espanha, respectivamente do latim, herba, hibernus
letras e acentuação gráfica. e Hispania. Os derivados eruditos, entretanto, grafam-se com
h: herbívoro, herbicida, hispânico, hibernal, hibernar, etc.

Ortografia
A palavra ortografia é formada pelos elementos gregos
orto “correto” e grafia “escrita” sendo a escrita correta das

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APOSTILAS OPÇÃO

Emprego das letras E, I, O e U imigrar = entrar num país estranho


emigrante = que ou quem emigra
Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e imigrante = que ou quem imigra
/i/, /o/ e /u/ nem sempre é nítida. É principalmente desse fato eminente = elevado, ilustre
que nascem as dúvidas quando se escrevem palavras como iminente = que ameaça acontecer
quase, intitular, mágoa, bulir, etc., em que ocorrem aquelas soar = emitir som, ecoar, repercutir
vogais. suar = expelir suor pelos poros, transpirar
sortir = abastecer
Escreve-se com a letra E: surtir = produzir (efeito ou resultado)
sortido = abastecido, bem provido, variado
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –uar: surtido = produzido, causado
continue, habitue, pontue, etc. vadear = atravessar (rio) por onde dá pé, passar a vau
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –oar: vadiar = viver na vadiagem, vagabundear, levar vida de
abençoe, magoe, perdoe, etc. vadio
- As palavras formadas com o prefixo ante– (antes,
anterior): antebraço, antecipar, antedatar, antediluviano, Emprego das letras G e J
antevéspera, etc.
- Os seguintes vocábulos: Arrepiar, Cadeado, Candeeiro, Para representar o fonema /j/ existem duas letras; g e j.
Cemitério, Confete, Creolina, Cumeeira, Desperdício, Destilar, Grafa-se este ou aquele signo não de modo arbitrário, mas de
Disenteria, Empecilho, Encarnar, Indígena, Irrequieto, acordo com a origem da palavra. Exemplos: gesso (do grego
Lacrimogêneo, Mexerico, Mimeógrafo, Orquídea, Peru, Quase, gypsos), jeito (do latim jactu) e jipe (do inglês jeep).
Quepe, Senão, Sequer, Seriema, Seringa, Umedecer.
Escrevem-se com G:
Emprega-se a letra I:
- Os substantivos terminados em –agem, -igem, -ugem:
- Na sílaba final de formas dos verbos terminados em – garagem, massagem, viagem, origem, vertigem, ferrugem,
air/–oer /–uir: cai, corrói, diminuir, influi, possui, retribui, sai, lanugem. Exceção: pajem
etc. - As palavras terminadas em –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio:
- Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra): contágio, estágio, egrégio, prodígio, relógio, refúgio.
antiaéreo, Anticristo, antitetânico, antiestético, etc. - Palavras derivadas de outras que se grafam com g:
- Nos seguintes vocábulos: aborígine, açoriano, artifício, massagista (de massagem), vertiginoso (de vertigem),
artimanha, camoniano, Casimiro, chefiar, cimento, crânio, ferruginoso (de ferrugem), engessar (de gesso), faringite (de
criar, criador, criação, crioulo, digladiar, displicente, erisipela, faringe), selvageria (de selvagem), etc.
escárnio, feminino, Filipe, frontispício, Ifigênia, inclinar, - Os seguintes vocábulos: algema, angico, apogeu, auge,
incinerar, inigualável, invólucro, lajiano, lampião, pátio, estrangeiro, gengiva, gesto, gibi, gilete, ginete, gíria, giz,
penicilina, pontiagudo, privilégio, requisito, Sicília (ilha), hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, sugestão,
silvícola, siri, terebintina, Tibiriçá, Virgílio. tangerina, tigela.

Grafam-se com a letra O: abolir, banto, boate, bolacha, Escrevem-se com J:


boletim, botequim, bússola, chover, cobiça, concorrência,
costume, engolir, goela, mágoa, mocambo, moela, moleque, - Palavras derivadas de outras terminadas em –já: laranja
mosquito, névoa, nódoa, óbolo, ocorrência, rebotalho, (laranjeira), loja (lojista, lojeca), granja (granjeiro, granjense),
Romênia, tribo. gorja (gorjeta, gorjeio), lisonja (lisonjear, lisonjeiro), sarja
(sarjeta), cereja (cerejeira).
Grafam-se com a letra U: bulir, burburinho, camundongo, - Todas as formas da conjugação dos verbos terminados
chuviscar, cumbuca, cúpula, curtume, cutucar, entupir, íngua, em –jar ou –jear: arranjar (arranje), despejar (despejei),
jabuti, jabuticaba, lóbulo, Manuel, mutuca, rebuliço, tábua, gorjear (gorjeia), viajar (viajei, viajem) – (viagem é
tabuada, tonitruante, trégua, urtiga. substantivo).
- Vocábulos cognatos ou derivados de outros que têm j: laje
Parônimos: Registramos alguns parônimos que se (lajedo), nojo (nojento), jeito (jeitoso, enjeitar, projeção,
diferenciam pela oposição das vogais /e/ e /i/, /o/ e /u/. rejeitar, sujeito, trajeto, trejeito).
Fixemos a grafia e o significado dos seguintes: - Palavras de origem ameríndia (principalmente tupi-
guarani) ou africana: canjerê, canjica, jenipapo, jequitibá,
área = superfície jerimum, jiboia, jiló, jirau, pajé, etc.
ária = melodia, cantiga - As seguintes palavras: alfanje, alforje, berinjela, cafajeste,
comprido = longo cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, Jericó, Jerônimo,
cumprido = particípio de cumprir jérsei, jiu-jítsu, majestade, majestoso, manjedoura,
comprimento = extensão manjericão, ojeriza, pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje,
cumprimento = saudação, ato de cumprir ultraje, varejista.
costear = navegar ou passar junto à costa - Atenção: Moji, palavra de origem indígena, deve ser
custear = pagar as custas, financiar escrita com J. Por tradição algumas cidades de São Paulo
deferir = conceder, atender adotam a grafia com G, como as cidades de Mogi das Cruzes e
diferir = ser diferente, divergir Mogi-Mirim.
delatar = denunciar
dilatar = distender, aumentar Representação do fonema /S/
descrição = ato de descrever
discrição = qualidade de quem é discreto O fonema /s/, conforme o caso, representa-se por:
emergir = vir à tona
imergir = mergulhar - C, Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura,
emigrar = sair do país cimento, dança, dançar, contorção, exceção, endereço, Iguaçu,

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APOSTILAS OPÇÃO

maçarico, maçaroca, maço, maciço, miçanga, muçulmano, Emprego da letra Z


muçurana, paçoca, pança, pinça, Suíça, suíço, vicissitude.
- S: ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, - Os derivados em –zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita:
descansar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, cafezal, cafezeiro, cafezinho, avezinha, cãozito, avezita, etc.
hortênsia, pretensão, pretensioso, propensão, remorso, sebo, - Os derivados de palavras cujo radical termina em –z:
tenso, utensílio. cruzeiro (de cruz), enraizar (de raiz), esvaziar (de vazio), etc.
- SS: acesso, acessório, acessível, assar, asseio, assinar, - Os verbos formados com o sufixo –izar e palavras
carrossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso, cognatas: fertilizar, fertilizante, civilizar, civilização, etc.
essencial, expressão, fracasso, impressão, massa, massagista, - Substantivos abstratos em –eza, derivados de adjetivos e
missão, necessário, obsessão, opressão, pêssego, procissão, denotando qualidade física ou moral: pobreza (de pobre),
profissão, profissional, ressurreição, sessenta, sossegar, limpeza (de limpo), frieza (de frio), etc.
sossego, submissão, sucessivo. - As seguintes palavras: azar, azeite, azáfama, azedo,
- SC, SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência, amizade, aprazível, baliza, buzinar, bazar, chafariz, cicatriz,
consciente, crescer, cresço, descer, desço, desça, disciplina, ojeriza, prezar, prezado, proeza, vazar, vizinho, xadrez.
discípulo, discernir, fascinar, florescer, imprescindível, néscio,
oscilar, piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível, Sufixo –ÊS e –EZ
suscetibilidade, suscitar, víscera.
- X: aproximar, auxiliar, auxílio, máximo, próximo, - O sufixo –ês (latim –ense) forma adjetivos (às vezes
proximidade, trouxe, trouxer, trouxeram, etc. substantivos) derivados de substantivos concretos: montês
- XC: exceção, excedente, exceder, excelência, excelente, (de monte), cortês (de corte), burguês (de burgo), montanhês
excelso, excêntrico, excepcional, excesso, excessivo, exceto, (de montanha), francês (de França), chinês (de China), etc.
excitar, etc. - O sufixo –ez forma substantivos abstratos femininos
derivados de adjetivos: aridez (de árido), acidez (de ácido),
Homônimos rapidez (de rápido), estupidez (de estúpido), mudez (de
mudo) avidez (de ávido) palidez (de pálido) lucidez (de
acento = inflexão da voz, sinal gráfico lúcido), etc.
assento = lugar para sentar-se
acético = referente ao ácido acético (vinagre) Sufixo –ESA e –EZA
ascético = referente ao ascetismo, místico
cesta = utensílio de vime ou outro material Usa-se –esa (com s):
sexta = ordinal referente a seis - Nos seguintes substantivos cognatos de verbos
círio = grande vela de cera terminados em –ender: defesa (defender), presa (prender),
sírio = natural da Síria despesa (despender), represa (prender), empresa
cismo = pensão (empreender), surpresa (surpreender), etc.
sismo = terremoto - Nos substantivos femininos designativos de títulos
empoçar = formar poça nobiliárquicos: baronesa, dogesa, duquesa, marquesa,
empossar = dar posse a princesa, consulesa, prioresa, etc.
incipiente = principiante - Nas formas femininas dos adjetivos terminados em –ês:
insipiente = ignorante burguesa (de burguês), francesa (de francês), camponesa (de
intercessão = ato de interceder camponês), milanesa (de milanês), holandesa (de holandês),
interseção = ponto em que duas linhas se cruzam etc.
ruço = pardacento - Nas seguintes palavras femininas: framboesa, indefesa,
russo = natural da Rússia lesa, mesa, sobremesa, obesa, Teresa, tesa, toesa, turquesa, etc.

Emprego de S com valor de Z Usa-se –eza (com z):


- Nos substantivos femininos abstratos derivados de
- Adjetivos com os sufixos –oso, -osa: gostoso, gostosa, adjetivos e denotando qualidade, estado, condição: beleza (de
gracioso, graciosa, teimoso, teimosa, etc. belo), franqueza (de franco), pobreza (de pobre), leveza (de
- Adjetivos pátrios com os sufixos –ês, -esa: português, leve), etc.
portuguesa, inglês, inglesa, milanês, milanesa, etc.
- Substantivos e adjetivos terminados em –ês, feminino – Verbos terminados em –ISAR e -IZAR
esa: burguês, burguesa, burgueses, camponês, camponesa,
camponeses, freguês, freguesa, fregueses, etc. Escreve-se –isar (com s) quando o radical dos nomes
- Verbos derivados de palavras cujo radical termina em –s: correspondentes termina em –s. Se o radical não terminar em
analisar (de análise), apresar (de presa), atrasar (de atrás), –s, grafa-se –izar (com z): avisar (aviso + ar), analisar (análise
extasiar (de êxtase), extravasar (de vaso), alisar (de liso), etc. + ar), alisar (a + liso + ar), bisar (bis + ar), catalisar (catálise +
- Formas dos verbos pôr e querer e de seus derivados: pus, ar), improvisar (improviso + ar), paralisar (paralisia + ar),
pusemos, compôs, impuser, quis, quiseram, etc. pesquisar (pesquisa + ar), pisar, repisar (piso + ar), frisar (friso
- Os seguintes nomes próprios de pessoas: Avis, Baltasar, + ar), grisar (gris + ar), anarquizar (anarquia + izar), civilizar
Brás, Eliseu, Garcês, Heloísa, Inês, Isabel, Isaura, Luís, Luísa, (civil + izar), canalizar (canal + izar), amenizar (ameno + izar),
Queirós, Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás, Valdês. colonizar (colono + izar), vulgarizar (vulgar + izar), motorizar
- Os seguintes vocábulos e seus cognatos: aliás, anis, arnês, (motor + izar), escravizar (escravo + izar), cicatrizar (cicatriz
ás, ases, através, avisar, besouro, colisão, convés, cortês, + izar), deslizar (deslize + izar), matizar (matiz + izar).
cortesia, defesa, despesa, empresa, esplêndido, espontâneo,
evasiva, fase, frase, freguesia, fusível, gás, Goiás, groselha, Emprego do X
heresia, hesitar, manganês, mês, mesada, obséquio, obus,
paisagem, país, paraíso, pêsames, pesquisa, presa, presépio, - Esta letra representa os seguintes fonemas:
presídio, querosene, raposa, represa, requisito, rês, reses, Ch – xarope, enxofre, vexame, etc.
retrós, revés, surpresa, tesoura, tesouro, três, usina, vasilha, CS – sexo, látex, léxico, tóxico, etc.
vaselina, vigésimo, visita. Z – exame, exílio, êxodo, etc.

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APOSTILAS OPÇÃO

SS – auxílio, máximo, próximo, etc. O Ç só é usado antes de A, O, U.


S – sexto, texto, expectativa, extensão, etc.
Emprego das iniciais maiúsculas
- Não soa nos grupos internos –xce- e –xci-: exceção,
exceder, excelente, excelso, excêntrico, excessivo, excitar, - A primeira palavra de período ou citação. Diz um provérbio
inexcedível, etc. árabe: “A agulha veste os outros e vive nua”. No início dos versos
- Grafam-se com x e não com s: expectativa, experiente, que não abrem período é facultativo o uso da letra maiúscula.
expiar, expirar, expoente, êxtase, extasiado, extrair, fênix, - Substantivos próprios (antropônimos, alcunhas,
texto, etc. topônimos, nomes sagrados, mitológicos, astronômicos): José,
- Escreve-se x e não ch: Em geral, depois de ditongo: caixa, Tiradentes, Brasil, Amazônia, Campinas, Deus, Maria Santíssima,
baixo, faixa, feixe, frouxo, ameixa, rouxinol, seixo, etc. Tupã, Minerva, Via-Láctea, Marte, Cruzeiro do Sul, etc.
Excetuam-se caucho e os derivados cauchal, recauchutar e - Nomes de épocas históricas, datas e fatos importantes,
recauchutagem. Geralmente, depois da sílaba inicial en-: festas religiosas: Idade Média, Renascença, Centenário da
enxada, enxame, enxamear, enxaguar, enxaqueca, enxergar, Independência do Brasil, a Páscoa, o Natal, o Dia das Mães, etc.
enxerto, enxoval, enxugar, enxurrada, enxuto, etc. - Nomes de altos cargos e dignidades: Papa, Presidente da
Excepcionalmente, grafam-se com ch: encharcar (de charco), República, etc.
encher e seus derivados (enchente, preencher), enchova, - Nomes de altos conceitos religiosos ou políticos: Igreja,
enchumaçar (de chumaço), enfim, toda vez que se trata do Nação, Estado, Pátria, União, República, etc.
prefixo en- + palavra iniciada por ch. Em vocábulos de origem - Nomes de ruas, praças, edifícios, estabelecimentos,
indígena ou africana: abacaxi, xavante, caxambu, caxinguelê, agremiações, órgãos públicos, etc: Rua do Ouvidor, Praça da Paz,
orixá, maxixe, etc. Nas seguintes palavras: bexiga, bruxa, Academia Brasileira de Letras, Banco do Brasil, Teatro
coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, mexer, mexerico, Municipal, Colégio Santista, etc.
puxar, rixa, oxalá, praxe, vexame, xarope, xaxim, xícara, xale, - Nomes de artes, ciências, títulos de produções artísticas,
xingar, xampu. literárias e científicas, títulos de jornais e revistas: Medicina,
Arquitetura, Os Lusíadas, O Guarani, Dicionário Geográfico
Emprego do dígrafo CH Brasileiro, Correio da Manhã, Manchete, etc.
- Expressões de tratamento: Vossa Excelência, Sr.
Escreve-se com ch, entre outros os seguintes vocábulos: Presidente, Excelentíssimo Senhor Ministro, Senhor Diretor, etc.
bucha, charque, charrua, chavena, chimarrão, chuchu, cochilo, - Nomes dos pontos cardeais, quando designam regiões: Os
fachada, ficha, flecha, mecha, mochila, pechincha, tocha. povos do Oriente, o falar do Norte. Mas: Corri o país de norte
a sul. O Sol nasce a leste.
Homônimos - Nomes comuns, quando personificados ou individuados: o
Amor, o Ódio, a Morte, o Jabuti (nas fábulas), etc.
Bucho = estômago
Buxo = espécie de arbusto Emprego das iniciais minúsculas
Cocha = recipiente de madeira
Coxa = capenga, manco - Nomes de meses, de festas pagãs ou populares, nomes
Tacha = mancha, defeito; pequeno prego; prego de cabeça gentílicos, nomes próprios tornados comuns: maia, bacanais,
larga e chata, caldeira carnaval, ingleses, ave-maria, um havana, etc.
Taxa = imposto, preço de serviço público, conta, tarifa - Os nomes a que se referem os itens 4 e 5 acima, quando
Chá = planta da família das teáceas; infusão de folhas do empregados em sentido geral: São Pedro foi o primeiro papa.
chá ou de outras plantas Todos amam sua pátria.
Xá = título do soberano da Pérsia (atual Irã) - Nomes comuns antepostos a nomes próprios geográficos:
Cheque = ordem de pagamento o rio Amazonas, a baía de Guanabara, o pico da Neblina, etc.
Xeque = no jogo de xadrez, lance em que o rei é atacado por - Palavras, depois de dois pontos, não se tratando de citação
uma peça adversária direta: “Qual deles: o hortelão ou o advogado?”; “Chegam os
magos do Oriente, com suas dádivas: ouro, incenso, mirra”.
Consoantes dobradas - No interior dos títulos, as palavras átonas, como: o, a, com,
de, em, sem, grafam-se com inicial minúscula.
- Nas palavras portuguesas só se duplicam as consoantes
C, R, S. Algumas palavras ou expressões costumam apresentar
- Escreve-se com CC ou CÇ quando as duas consoantes dificuldades colocando em maus lençóis quem pretende falar
soam distintamente: convicção, occipital, cocção, fricção, ou redigir português culto. Esta é uma oportunidade para você
friccionar, facção, sucção, etc. aperfeiçoar seu desempenho. Preste atenção e tente
- Duplicam-se o R e o S em dois casos: Quando, incorporar tais palavras certas em situações apropriadas.
intervocálicos, representam os fonemas /r/ forte e /s/
sibilante, respectivamente: carro, ferro, pêssego, missão, etc. A anos: a indica tempo futuro: Daqui a um ano iremos à
Quando a um elemento de composição terminado em vogal Europa.
seguir, sem interposição do hífen, palavra começada com /r/ Há anos: há indica tempo passado: não o vejo há meses.
ou /s/: arroxeado, correlação, pressupor, bissemanal, girassol,
minissaia, etc. Atenção: Há muito tempo já indica passado. Não há
necessidade de usar atrás, isto é um pleonasmo.
CÊ - cedilha
Acerca de: equivale a (a respeito de): Falávamos acerca de
É a letra C que se pôs cedilha. Indica que o Ç passa a ter som uma solução melhor.
de /S/: almaço, ameaça, cobiça, doença, eleição, exceção, força, Há cerca de: equivale a (faz tempo). Há cerca de dias
frustração, geringonça, justiça, lição, miçanga, preguiça, raça. resolvemos este caso.
Nos substantivos derivados dos verbos: ter e torcer e seus
derivados: ater, atenção; abster, abstenção; reter, retenção; Ao encontro de: equivale (estar a favor de): Sua atitude vai
torcer, torção; contorcer, contorção; distorcer, distorção. ao encontro da verdade.

Língua Portuguesa 14
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APOSTILAS OPÇÃO

De encontro a: equivale a (oposição, choque): Minhas


opiniões vão de encontro às suas. Câmara: equivale ao local de trabalho onde se reúnem os
vereadores, deputados: Ficaram todos reunidos na Câmara
A fim de: locução prepositiva que indica (finalidade): Vou a Municipal.
fim de visitá-la. Câmera: aparelho que fotografa, tira fotos: Comprei uma
Afim: é um adjetivo e equivale a (igual, semelhante): Somos câmera japonesa.
almas afins.
Champanha/Champanhe (do francês): O
Ao invés de: equivale (ao contrário de): Ao invés de falar champanha/champanhe está bem gelado.
começou a chorar (oposição).
Em vez de: equivale a (no lugar de): Em vez de Cessão: equivale ao ato de doar, doação: Foi confirmada a
acompanhar-me, ficou só. cessão do terreno.
Sessão: equivale ao intervalo de tempo de uma reunião: A
Faça você a sua parte, ao invés de ficar me cobrando! sessão do filme durou duas horas.
Quantas vezes usamos “ao invés de” quando queremos Seção/Secção: repartição pública, departamento: Visitei
dizer “no lugar de”! hoje a seção de esportes.
Contudo, esse emprego é equivocado, uma vez que “invés”
significa “contrário”, “inverso”. Não que seja absurdamente Demais: é advérbio de intensidade, equivale a muito, aparece
errado escrever “ao invés de” em frases que expressam sentido intensificando verbos, adjetivos ou o próprio advérbio. Vocês
de “em lugar de”, mas é preferível optar por “em vez de”. falam demais, caras!
Observe: Em vez de conversar, preferiu gritar para a Demais: pode ser usado como substantivo, seguido de
escola inteira ouvir! (em lugar de) artigo, equivale a os outros. Chamaram mais dez candidatos, os
Ele pediu que fosse embora ao invés de ficar e discutir o caso. demais devem aguardar.
(ao contrário de) De mais: é locução prepositiva, opõe-se a de menos, refere-
Use “ao invés de” quando quiser o significado de “ao se sempre a um substantivo ou a um pronome: Não vejo nada de
contrário de”, “em oposição a”, “avesso”, “inverso”. mais em sua decisão.
Use “em vez de” quando quiser um sentido de “no lugar
de” ou “em lugar de”. No entanto, pode assumir o significado Dia a dia: é um substantivo, equivale a cotidiano, diário, que
de “ao invés de”, sem problemas. Porém, o que ocorre é faz ou acontece todo dia. Meu dia a dia é cheio de surpresas. (até
justamente o contrário, coloca-se “ao invés de” onde não 01/01/2009, era grafado dia-a-dia)
poderia. Dia a dia: é uma expressão adverbial, equivale a diariamente.
O álcool aumenta dia a dia. Pode isso?
A par: equivale a (bem informado, ciente): Estamos a par das
boas notícias. Descriminar: equivale a (inocentar, absolver de crime). O
Ao par: indica relação (de igualdade ou equivalência entre réu foi descriminado; pra sorte dele.
valores financeiros – câmbio): O dólar e o euro estão ao par. Discriminar: equivale a (diferençar, distinguir, separar). Era
impossível discriminar os caracteres do documento. Cumpre
Aprender: tomar conhecimento de: O menino aprendeu a discriminar os verdadeiros dos falsos valores. /Os negros ainda
lição. são discriminados.
Apreender: prender: O fiscal apreendeu a carteirinha do
menino. Descrição: ato de descrever: A descrição sobre o jogador foi
perfeita.
À toa: é uma locução adverbial de modo, equivale a Discrição: qualidade ou caráter de ser discreto, reservado:
(inutilmente, sem razão): Andava à toa pela rua. Você foi muito discreto.
À toa: é um adjetivo (refere-se a um substantivo), equivale a
(inútil, desprezível). Foi uma atitude à toa e precipitada. (até Entrega em domicílio: equivale a lugar: Fiz a entrega em
01/01/2009 era grafada: à-toa) domicílio.
Entrega a domicílio com verbos de movimento: Enviou as
Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços compras a domicílio.
funcionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos
supermercados. Vamos comemorar, pessoal! As expressões “entrega em domicílio” e “entrega a
Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os postos domicílio” são muito recorrentes em restaurantes, na
(sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto direto) propaganda televisa, no outdoor, no folder, no panfleto, no
da gasolina. catálogo, na fala. Convivem juntas sem problemas maiores
porque são entendidas da mesma forma, com um mesmo
Bebedor: é a pessoa que bebe: Tornei-me um grande sentido. No entanto, quando falamos de gramática normativa,
bebedor de vinho. temos que ter cuidado, pois “a domicílio” não é aceita. Por
Bebedouro: é o aparelho que fornece água. Este quê? A regra estabelece que esta última locução adverbial deve
bebedouro está funcionando bem. ser usada nos casos de verbos que indicam movimento, como:
levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se.
Bem-Vindo: é um adjetivo composto: Você é sempre bem- Portanto, “A loja entregou meu sofá a casa” não está
vindo aqui, jovem. correto. Já a locução adverbial “em domicílio” é usada com os
Benvindo: é nome próprio: Benvindo é meu colega de verbos sem noção de movimento: entregar, dar, cortar, fazer.
classe. A dúvida surge com o verbo “entregar”: não indicaria
movimento? De acordo com a gramática purista não, uma vez
Boêmia/Boemia: são formas variantes (usadas que quem entrega, entrega algo em algum lugar.
normalmente): Vivia na boêmia/boemia. Porém, há aqueles que afirmam que este verbo indica sim
movimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para
Botijão/Bujão de gás: ambas formas corretas: Comprei um outro.
botijão/bujão de gás. Contudo, obedecendo às normas gramaticais, devemos

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APOSTILAS OPÇÃO

usar “entrega em domicílio”, nos atentando ao fato de que a Emprego do Porquê


finalidade é que vale: a entrega será feita no (em+o) domicílio
de uma pessoa. Orações
Interrogativas Exemplo:
Espectador: é aquele que vê, assiste: Os espectadores se (pode ser Por que devemos
fartaram da apresentação. substituído por: nos preocupar com o
Expectador: é aquele que está na expectativa, que espera por qual motivo, meio ambiente?
alguma coisa: O expectador aguardava o momento da chamada. Por Que por qual razão)
Exemplo:
Estada: permanência de pessoa (tempo em algum lugar): A Os motivos por
estada dela aqui foi gratificante. Equivalendo a
que não respondeu
Estadia: prazo concedido para carga e descarga de navios “pelo qual”
são desconhecidos.
ou veículos: A estadia do carro foi prolongada por mais algumas Exemplos:
semanas. Você ainda tem
coragem de perguntar
Fosforescente: adjetivo derivado de fósforo; que brilha no Final de frases
por quê?
escuro: Este material é fosforescente. Por Quê e seguidos de
Você não vai? Por
Fluorescente: adjetivo derivado de flúor, elemento químico, pontuação
quê?
refere-se a um determinado tipo de luminosidade: A luz branca Não sei por quê!
do carro era fluorescente. Exemplos:
A situação
Haja - do verbo haver - É preciso que não haja descuido. Conjunção que agravou-se porque
Aja - do verbo agir - Aja com cuidado, Carlinhos. indica explicação ninguém reclamou.
ou causa Ninguém mais o
Houve: pretérito perfeito do verbo haver, 3ª pessoa do Porque espera, porque ele
singular. sempre se atrasa.
Ouve: presente do indicativo do verbo ouvir, 3ª pessoa do Conjunção de
singular. Exemplos:
Finalidade –
Não julgues
equivale a “para
Mal: advérbio de modo, equivale a erradamente, é oposto de porque não te
que”, “a fim de
bem: Dormi mal. (bem). Equivale a nocivo, prejudicial, julguem.
que”.
enfermidade; pode vir antecedido de artigo, adjetivo ou Função de Exemplos:
pronome: A comida fez mal para mim. Seu mal é crer em tudo. substantivo – vem Não é fácil
Conjunção subordinativa temporal, equivale a assim que, logo acompanhado de encontrar o porquê de
que: Mal chegou começou a chorar desesperadamente. Porquê artigo ou toda confusão.
Mau: adjetivo, equivale a ruim, oposto de bom; plural=maus; pronome Dê-me um porquê
feminino=má. Você é um mau exemplo (bom). Substantivo: Os de sua saída.
maus nunca vencem.
1. Por que (pergunta)
Mas: conjunção adversativa (ideia contrária), equivale a 2. Porque (resposta)
porém, contudo, entretanto: Telefonei-lhe mas ela não atendeu. 3. Por quê (fim de frase: motivo)
Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos: 4. O Porquê (substantivo)
Há mais flores perfumadas no campo.
Emprego de outras palavras
Nem um: equivale a nem um sequer, nem um único; a palavra
“um” expressa quantidade: Nem um filho de Deus apareceu Senão: equivale a “caso contrário”, “a não ser”: Não fazia
para ajudá-la. coisa nenhuma senão criticar.
Nenhum: pronome indefinido variável em gênero e número; Se não: equivale a “se por acaso não”, em orações adverbiais
vem antes de um substantivo, é oposto de algum: Nenhum condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá
jornal divulgou o resultado do concurso. desta situação crítica.
Obrigada: As mulheres devem dizer: muito obrigada, eu Tampouco: advérbio, equivale a “também não”: Não
mesma, eu própria. compareceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
Obrigado: Os homens devem dizer: muito obrigado, eu Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão
mesmo, eu próprio. pouco esta semana.
Onde: indica o lugar em que se está; refere-se a verbos que Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios.
exprimem estado, permanência: Onde fica a farmácia mais Traz - do verbo trazer.
próxima?
Aonde: ideia de movimento; equivale (para onde) somente Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui.
com verbo de movimento desde que indique deslocamento, ou Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está
seja, a+onde. Aonde vão com tanta pressa? vultuosa e deformada.
Por ora: equivale a “por este momento”, “por enquanto”: Por Questões
ora chega de trabalhar. 1. (TCM-RJ – Técnico de Controle Externo – IBFC/2016)
Por hora: locução equivale a “cada sessenta minutos”: Você Analise as afirmativas abaixo, dê valores Verdadeiro (V) ou
deve cobrar por hora. Falso (F) quanto ao emprego do acento circunflexo
estabelecido pelo Novo Acordo Ortográfico.

Língua Portuguesa 16
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APOSTILAS OPÇÃO

( ) O acento permanece na grafia de 'pôde' (o verbo Das opções abaixo, aquela em que um dos vocábulos está
conjugado no passado) para diferenciá-la de 'pode' (o verbo INCORRETAMENTE grafado por não se enquadrar nessa
conjugado no presente). norma é:
( ) O acento circunflexo de 'pôr' (verbo) cai e a palavra terá a) alcoolizado / barbarizar / burocratizar.
a mesma grafia de 'por' (preposição), diferenciando-se pelo b) catalizar / abalizado / amenizar.
contexto de uso. c) catequizar / cauterizado / climatizar.
( ) a queda do acento na conjugação da terceira pessoa do d) contemporizado / corporizar / cretinizar
plural do presente do indicativo dos verbos crer, dar, ler, ter, e) esterilizar / estigmatizado / estilizar.
vir e seus derivados.
3. (Pref. De Biguaçu-SC – Professor III – Inglês/2016)
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de De acordo com a Língua Portuguesa culta, assinale a
cima para baixo. alternativa cujas palavras seguem as regras de ortografia:
a) V F F
b) F V F a) Preciso contratar um eletrecista e um encanador para o
c) F F V final da tarde.
d) F V V b) O trabalho voluntário continua sendo feito
prazerosamente pelos alunos.
2. (FIOCRUZ – Assistente Técnico de Gestão em Saúde – c) Ainda não foram atendidas as reinvindicações dos
FIOCRUZ/2016) professores em greve.
d) Na lista de compras, é preciso descriminar melhor os
O FUTURO NO PASSADO produtos em falta.
e) Passou bastante desapercebido o caso envolvendo um
1 Poucas previsões para o futuro feitas no passado se juiz federal.
realizaram. O mundo se mudava do campo para as cidades, e
era natural que o futuro idealizado então fosse o da cidade 4. (PC-PA – Escrivão de Polícia Civil – FUNCAB/2016)
perfeita. Mas o helicóptero não substituiu o automóvel Texto para responder à questão.
particular e só recentemente começou-se a experimentar
carros que andam sobre faixas magnéticas nas ruas, liberando Dificilmente, em uma ciência-arte como a Psicologia-
seus ocupantes para a leitura, o sono ou o amor no banco de Psiquiatria, há algo que se possa asseverar com 100% de
trás. As cidades não se transformaram em laboratórios de certeza. Isso porque há áreas bastante interpretativas, sujeitas
convívio civilizado, como previam, e sim na maior prova da a leituras diversas, a depender do observador e do observado.
impossibilidade da coexistência de desiguais. Porém, existe um fato na Psicologia-Psiquiatria forense que é
2 A ciência trouxe avanços espetaculares nas lides de 100% de certeza e não está sujeito a interpretação ou a
guerra, como os bombardeios com precisão cirúrgica que não dissimulação por parte de quem está a ser examinado. E
poupam civis, mas não trouxe a democratização da revela, objetivamente, dados do psiquismo da pessoa ou, em
prosperidade antevista. Mágicas novas como o cinema outras palavras, mostra características comportamentais
prometiam ultrapassar os limites da imaginação. indissimuláveis, claras e objetivas. O que pode ser tão exato,
Ultrapassaram, mas para o território da banalidade em matéria de Psicologia-Psiquiatria, que não admite
espetaculosa. A TV foi prevista, e a energia nuclear intuída, variáveis? Resposta: todos os crimes, sem exceção, são como
mas a revolução da informática não foi nem sonhada. As fotografias exatas e em cores do comportamento do indivíduo.
revoluções na medicina foram notáveis, certo, mas a E como o psiquismo é responsável pelo modo de agir, por
prevenção do câncer ainda não foi descoberta. Pensando bem, conseguinte, tem os em todos os crimes, obrigatoriamente e
nem a do resfriado. A comida em pílulas não veio - se bem que sempre, elementos objetivos da mente de quem os praticou.
a nouvelle cuisine chegou perto. Até a colonização do espaço, Por exemplo, o delito foi cometido com multiplicidade de
como previam os roteiristas do “Flash Gordon”, está atrasada. golpes, com ferocidade na execução, não houve ocultação de
Mal chegamos a Marte, só para descobrir que é um imenso cadáver, não se verifica cúmplice, premeditação etc. Registre-
terreno baldio. E os profetas da felicidade universal não se que esses dados já aconteceram. Portanto, são insimuláveis,
contavam com uma coisa: o lixo produzido pela sua visão. 100% objetivos. Basta juntar essas características
Nenhuma previsão incluía a poluição e o aquecimento global. comportamentais que teremos algo do psiquismo de quem o
3 Mas assim como os videntes otimistas falharam, talvez o praticou. Nesse caso específico, infere-se que a pessoa é
pessimismo de hoje divirta nossos bisnetos. Eles certamente explosiva, impulsiva e sem freios, provável portadora de
falarão da Aids, por exemplo, como nós hoje falamos da gripe algum transtorno ligado à disritmia psicocerebral, algum
espanhola. A ciência e a técnica ainda nos surpreenderão. estreitamento de consciência, no qual o sentimento invadiu o
Estamos na pré-história da energia magnética e por fusão pensamento e determinou a conduta.
nuclear fria. Em outro exemplo, temos homicídio praticado com um só
4 É verdade que cada salto da ciência corresponderá a um golpe, premeditado, com ocultação de cadáver, concurso de
passo atrás, rumo ao irracional. Quanto mais perto a ciência cúmplice etc. Nesse caso, os dados apontam para o lado do
chegar das últimas revelações do Universo, mais as pessoas criminoso comum, que entendia o que fazia.
procurarão respostas no misticismo e refúgio no tribal. E Claro que não é possível, apenas pela morfologia do crime,
quanto mais a ciência avança por caminhos nunca antes saber-se tudo do diagnóstico do criminoso. Mas, por outro
sonhados, mais leigo fica o leigo. A volta ao irracional é a birra lado, é na maneira como o delito foi praticado que se
do leigo. encontram características 100% seguras da mente de quem o
(VERÍSSIMO. L. F. O Globo. 24/07/2016, p. 15.) praticou, a evidenciar fatos, tal qual a imagem fotográfica
“e era natural que o futuro IDEALIZADO então fosse o da revela-nos exatamente algo, seja muito ou pouco, do momento
cidade perfeita.” (1º §) O vocábulo em destaque no trecho em que foi registrada. Em suma, a forma como as coisas foram
acima grafa-se com a letra Z, em conformidade com a norma feitas revela muito da pessoa que as fez.
de emprego do sufixo–izar. PALOMBA, Guido Arturo. Rev. Psique: n° 100 (ed.
comemorativa), p. 82.
Tal como ocorre com “interpretaÇÃO ” e “dissimulaÇÃO”,
grafa-se com “ç” o sufixo de ambas as palavras arroladas em:

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APOSTILAS OPÇÃO

a) apreenção do menor - sanção legal. 7. (Pref. De Quixadá-CE – Agente de Combate às


b) detenção do infrator ascenção ao posto. Endemias – Serctam/2016) Marque a opção em
c) presunção de culpa coerção penal. que TODOS os vocábulos se completam com a letra “s”:
d) interceção do juiz - contenção do distúrbio.
e) submição à lei indução ao crime. a) pesqui__a, ga__olina, ali__erce.
b) e__ótico, talve__, ala__ão.
5. (UFAM – Auxiliar em Administração – COMVEST- c) atrá__, preten__ão, atra__o.
UFAM/2016) d) bati__ar, bu__ina, pra__o.
Leia o texto a seguir: e) valori__ar, avestru__, Mastru__.

Foi na minha última viagem ao Perú que entrei em uma 8. (UFMS – Assistente em Administração - COPEVE-
baiúca muito agradável. Apesar de simples, era bem UFMS/2016) Analise as sequências de palavras apresentadas
frequentada. Isso podia ser constatado pelas assinaturas (ou nos itens a seguir:
simples rúbricas) dispostas em quadros afixados nas paredes I. intervem, infra-hepático, antiaéreo, magoo, auto-
do estabelecimento, algumas delas de pessoas famosas. Insisti instrução.
com o garçom para também colocar a minha assinatura, II. autoeducação, cossecante, inter-resistente, supra-
registrando ali a minha presença. No final, o ônus foi pesado: a auricular.
conta veio muito salgada. Tudo seria perfeito se o tempo ali III. bio-organismo, alcaloide, intervém, entrerregiões,
passado, por algum milagre, tivesse sido gratuíto. reidratar.
IV. macro-sistema, saúdo, hübneriano, semi-herbáceo.
Assinale a alternativa que apresenta palavra em que a
acentuação está CORRETA, de acordo com a Reforma NÃO há desvio gramatical nas palavras contidas:
Ortográfica em vigor: a) Apenas nos itens II e IV.
a) gratuíto b) Apenas nos itens II e III.
b) Perú c) Apenas nos itens II, III e IV.
c) ônus d) Apenas nos itens I e III.
d) rúbricas e) Nos itens I, II, III e IV.
e) baiúca
9. (Câmara Municipal de Araraquara-SP – Assistente
6. (CRQ 18ª Região-PI – Advogado – Quadrix/2016) de Tradução e Interpretação – IBFC/2016)
Leia as opções abaixo e assinale a alternativa que não
apresenta erro ortográfico.
a) Plocrastinar - idiossincrasia - abduzir
b) Proclastinar - idiosincrasia - abduzir
c) Plocrastinar- idiossincrasia - abiduzir
d) Procrastinar - idiossincrasia - abduzir

10. (CONFERE – Assistente Administrativo VII -


INSTITUTO CIDADES/2016) Assim como “redução” e
“emissão”, grafam-se, correta e respectivamente, com Ç e SS,
as palavras:
a) Aparição e omissão.
b) Retenção e excessão.
c) Opreção e permissão.
d) Pretenção e impressão.

Respostas

1. (A)
Permanecem os acentos diferenciais pode/pôde; por/pôr;
tem/têm; vem/vêm. Então o primeiro item está certo e o
segundo, errado. Creem, deem, leem, de fato, não são mais
acentuados. Porém, permanece o acento diferencial de terceira
pessoa do plural em tem/têm; vem/vêm.
Assim, temos V, F, F.

2. (B)
A palavra grafada incorretamente é catalizar, pois seu
radical possui a letra s: catálise, assim, o correto seria
catalisar.
A palavra "gás" aparece corretamente acentuada no texto. Observação:
Dentre as palavras abaixo, aquela cuja regra de acentuação A grafia correta do vocábulo da alternativa (C)
mais se aproxima daquela que justifica o acento em "gás" é: é catequizar, com z. A confusão acontece porque o
a) ácido. substantivo catequese é escrito com s, portanto, seria lógico
b) âmbito. que as palavras dele derivadas preservassem o s. Seguindo
c) estágio. esse raciocínio, muitos acabam errando na hora de escrever,
d) público. pois fatores etimológicos acabam sendo desconsiderados,
e) crê. visto que nem todos conhecem a história e a origem de
determinados termos.

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APOSTILAS OPÇÃO

Embora a palavra catequese seja escrita com s, o c) Opressão e Permissão.


verbo catequizar não é derivado desse substantivo, já que tem d) Pretensão e Impressão
sua origem no latim catechizare e na palavra grega katekhízein.
Sendo assim, todas as palavras derivadas do verbo catequizar
devem ser escritas com z, preservando sua etimologia. Classes de palavras e suas
Observe os exemplos:
Pedro é um ótimo catequizador.
flexões.
A catequização das crianças é realizada no salão da
paróquia.
A literatura catequizante tem no Padre José de Anchieta um Caro estudante, a classe de palavra “Verbo” será estudada
de seus principais representantes. posteriormente no tópico “Verbos: conjugação, emprego dos
A principal missão dos jesuítas era catequizar os nativos tempos, modos e vozes verbais.”
brasileiros.
Classes de Palavras
3. (B)
a) eletricista As Classes de Palavras possuem vários outros nomes... por
b) correta exemplo: Classes Gramaticais, Classes Morfológicas e
c) Reivindicações Morfossintaxe. Porém, o que todas estudam são as dez classes
d) discriminar que existem. São elas: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo,
e) despercebido conjunção, interjeição, preposição, artigo, numeral e pronome.
Estudaremos a seguir, o emprego de cada uma. Vamos lá!?
4. (C)
Palavras derivadas de verbos que possuem no radical Artigo
“ced”, “met”, “cut”, “gred”, e “prim” (ceder-cessão; prometer-
promessa; agredir-agressão; imprimir-impressão; discutir- Artigo é a palavra que acompanha o substantivo,
discussão) invento indicando-lhe o gênero e o número, determinando-o ou
generalizando-o. Os artigos podem ser:
5. (C)
Gra – tui – to - Paroxítona – Não acentua paroxítona em O. Definidos: o, a, os, as; determinam os substantivos, trata de
Pe – ru - Oxítona – Não acentua oxítona terminada em U. um ser já conhecido; denota familiaridade: “A grande reforma
ô – nus – Paroxítona – Acentua paroxítona terminada do ensino superior é a reforma do ensino fundamental e do
em u, us, um, uns, on, ons. médio.” (Veja – maio de 2005)
Ru – bri – ca – Paroxítona – Não acentua paroxítona
terminada em A. Indefinidos: um, uma, uns, umas; estes; trata-se de um ser
Bai – u – ca – Não acentua hiato ( U ) em paroxítonas desconhecido, dá ao substantivo valor vago: “...foi chegando
precedidas de ditongo. um caboclinho magro, com uma taquara na mão.” (A. Lima)

6. (E) Usa-se o artigo definido:


A questão pede a mesma regra de acentuação da palavra
"GÁS" - MONOSSÍLABO TÔNICO - com a palavra ambos: falou-nos que ambos os culpados
a)Proparoxítona foram punidos.
b)Proparoxítona - com nomes próprios geográficos de estado, pais, oceano,
c)Paroxítona montanha, rio, lago: o Brasil, o rio Amazonas, a Argentina, o
d)Proparoxítona oceano Pacífico, a Suíça, o Pará, a Bahia. / Conheço o Canadá
e)MONOSSÍLABO TÔNICO = CORRETA mas não conheço Brasília.
- com nome de cidade se vier qualificada: Fomos à histórica
7. (C) Ouro Preto.
A) pesquisa, gasolina, alicerce. - depois de todos/todas + numeral + substantivo: Todos
B) exótico, talvez, alazão. os vinte atletas participarão do campeonato.
C) atrás, pretensão, atraso. - com toda a/todo o, a expressão que vale como totalidade,
D) batizar, buzina, prazo. inteira. Toda cidade será enfeitada para as comemorações de
E) valorizar, avestruz, Mastruz. aniversário. Sem o artigo, o pronome todo/toda vale como
qualquer. Toda cidade será enfeitada para as comemorações
8. (B) de aniversário. (Qualquer cidade)
Os erros são: - com o superlativo relativo: Mariane escolheu as mais
I. intervém ou intervêm, autoinstrução lindas flores da floricultura.
IV. macrossistema - com a palavra outro, com sentido determinado: Marcelo
tem dois amigos: Rui é alto e lindo, o outro é atlético e
9. (D) simpático.
Procrastinar: transferir para outro dia ou deixar para - antes dos nomes das quatro estações do ano: Depois da
depois; adiar, delongar, postergar, protrair. primavera vem o verão.
Idiossincrasia: característica comportamental peculiar a - com expressões de peso e medida: O álcool custa um real
um grupo ou a uma pessoa. o litro. (=cada litro)
Abduzir: afastar, desviar de um ponto, de um alvo, de uma
referência; arredar. Tirar ou levar (algo ou alguém) com Não se usa o artigo definido:
violência; arrebatar, raptar.
- antes de pronomes de tratamento iniciados por
10. (A) possessivos:
a) Aparição e Omissão Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Majestade, Vossa
b) Retenção e Exceção Alteza.

Língua Portuguesa 19
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APOSTILAS OPÇÃO

Vossa Alteza estará presente ao debate? Questões


“Nosso Senhor tinha o olhar em pranto / Chorava Nossa
Senhora.” 01. (Pref. do Rio de Janeiro/RJ – Assistente
Administrativo – Pref. do Rio de Janeiro/2016)
- antes de nomes de meses:
O campeonato aconteceu em maio de 2002. Mas: O Crônica
campeonato aconteceu no inesquecível maio de 2002.
Como o povo brasileiro é descuidado a respeito de
- alguns nomes de países, como Espanha, França, alimentação! É o que exclamo depois de ler as
Inglaterra, Itália podem ser construídos sem o artigo, recomendações de um nutricionista americano, o dr.
principalmente quando regidos de preposição. Maynard. Diz este: “A apatia, ou indiferença, é uma das
“Viveu muito tempo em Espanha.” / “Pelas estradas causas principais das dietas inadequadas.” Certo,
líricas de França.” Mas: Sônia Salim, minha amiga, visitou a certíssimo. Ainda ontem, vi toda uma família nordestina
bela Veneza. estendida em uma calçada do centro da cidade, ali bem
pertinho do restaurante Vendôme, mas apática, sem a
- antes de todos / todas + numeral: Eles são, todos menor vontade de entrar e comer bem. Ensina ainda o
quatro, amigos de João Luís e Laurinha. Mas: Todos os três especialista: “Embora haja alimentos em quantidade
irmãos eu vi nascer. (O substantivo está claro) suficiente, as estatísticas continuam a demonstrar que
muitas pessoas não compreendem e não sabem selecionar
- antes de palavras que designam matéria de os alimentos”. É isso mesmo: quem der uma volta na feira
estudo, empregadas com os verbos: aprender, estudar, ou no supermercado vê que a maioria dos brasileiros
cursar, ensinar: Estudo Inglês e Cristiane estuda Francês. compra, por exemplo, arroz, que é um alimento pobre,
deixando de lado uma série de alimentos ricos. Quando o
O uso do artigo é facultativo: nosso povo irá tomar juízo? Doutrina ainda o nutricionista
americano: “Uma boa dieta pode ser obtida de elementos
- antes do pronome possessivo: Sua / A sua tirados de cada um dos seguintes grupos de alimentos: o
incompetência é irritante. leite constitui o primeiro grupo, incluindo-se nele o queijo
- antes de nomes próprios de pessoas: Você já visitou e o sorvete”. Embora modestamente, sempre pensei
Luciana / a Luciana? também assim. No entanto, ali na praia do Pinto é evidente
- “Daqui para a frente, tudo vai ser diferente.” (Para a que as crianças estão desnutridas, pálidas, magras, roídas
frente: exige a preposição) de verminoses. Por quê? Porque seus pais não sabem
selecionar o leite e o queijo entre os principais alimentos. A
Formas combinadas do artigo definido: Preposição + o solução lógica seria dar-lhes sorvete, todas as crianças do
= ao / de + o, a = do, da / em + o, a = no, na / por + o, a = mundo gostam de sorvete. Engano: nem todas. Nas
pelo, pela. proximidades do Bob´s e do Morais há sempre bandos de
meninos favelados que ficam só olhando os adultos que
Usa-se o artigo indefinido: descem dos carros e devoram sorvetes enormes. Crianças
apáticas, indiferentes. Citando ainda o ilustre médico: “A
- para indicar aproximação numérica: Nicole devia ter carne constitui o segundo grupo, recomendando-se dois ou
uns oito anos / Não o vejo há uns meses. mais pratos diários de bife, vitela, carneiro, galinha, peixe
- antes dos nomes de partes do corpo ou de objetos em ou ovos”. Santo Maynard! Santos jornais brasileiros que
pares: Usava umas calças largas e umas botas longas. divulgam as suas palavras redentoras! E dizer que o nosso
- em linguagem coloquial, com valor intensivo: Rafaela povo faz ouvidos de mercador a seus ensinamentos, e
é uma meiguice só. continua a comer pouco, comer mal, às vezes até a não
- para comparar alguém com um personagem célebre: comer nada. Não sou mentiroso e posso dizer que já vi
Luís August é um Rui Barbosa. inúmeras vezes, aqui no Rio, gente que prefere vasculhar
uma lata de lixo a entrar em um restaurante e pedir um filé
O artigo indefinido não é usado: à Chateaubriand. O dr. Maynard decerto ficaria muito
aborrecido se visse um ser humano escolher tão mal seus
- em expressões de quantidade: pessoa, porção, parte, alimentos. Mas nós sabemos que é por causa dessas e
gente, quantidade: Reservou para todos boa parte do lucro. outras que o Brasil não vai pra frente.
- com adjetivos como: escasso, excessivo, suficiente: CAMPOS, Paulo Mendes. De um caderno cinzento. São
Não há suficiente espaço para todos. Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 40-42.
- com substantivo que denota espécie: Cão que ladra
não morde. A construção “... todas as crianças do mundo gostam de
sorvete.” segue a norma padrão da língua quanto ao
Formas combinadas do artigo indefinido: Preposição emprego do artigo definido após os pronomes indefinidos
de e em + um, uma = num, numa, dum, duma. todos e todas. De acordo com a norma padrão, NÃO cabe o
artigo definido na seguinte frase:
O artigo (o, a, um, uma) anteposto a qualquer palavra (A) Todos ___ dias a mesma família está ali na calçada.
transforma-a em substantivo. O ato literário é o conjunto (B) Essas pessoas são todas ___ inconsequentes.
do ler e do escrever. (C) Com os ensinamentos do especialista, todos ___ seus
problemas se acabam.
(D) Todas ___ segundas-feiras ele inicia uma nova dieta.

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APOSTILAS OPÇÃO

02. (IF-AP – Auxiliar em Administração – calor dos carvões ardentes em torno dele. Quando o líder
FUNIVERSA/2016). alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse:
5º – Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão.
Estou voltando ao convívio do grupo.
RANGEL, Alexandre (org.). As mais belas parábolas de
todos os tempos –Vol. II.Belo Horizonte: Leitura, 2004.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as


lacunas do texto:
(A) a – ao – por.
(B) da – para o – de.
(C) à – no – a.
(D) a – de – em.

04. (ANAC - Analista Administrativo – ESAF/2016)


Assinale a opção que preenche as lacunas do texto de
forma que o torne coeso, coerente e gramaticalmente correto.

O transporte internacional passou _1_ ser utilizado em


larga escala depois da II Guerra Mundial, por aviões cada vez
maiores e mais velozes. A introdução dos motores _2_ jato,
usados pela primeira vez em aviões comerciais (Comet), em
1952, pela BOAC (empresa de aviação comercial inglesa), deu
maior impulso _3_ aviação como meio de transporte. No final
da década de 1950, começaram _4_ ser usados os Caravelle, de
fabricação francesa (Marcel Daussaud/ Sud Aviation). Nos
Estados Unidos, entravam em serviço em 1960 os jatos Boeing
720 e 707 e dois anos depois o Douglas DC-8 e o Convair 880.
Em seguida apareceram os aviões turbo hélices, mais
econômicos e de grande potência. Soviéticos, ingleses,
No segundo quadrinho, correspondem, respectivamente, a franceses e norte-americanos passaram _5_ estudar a
substantivo, pronome, artigo e advérbio: construção de aviões comerciais cada vez maiores, para
(A) “guerra”, “o”, “a” e “por que”. centenas de passageiros, e _6_ dos chamados "supersônicos",
(B) “mundo”, “a”, “o” e “lá”. _7_ velocidades duas ou três vezes maiores que a do som.
(C) “quando”, “por que”, “e” e “lá”. Nesse item dos supersônicos, _8_ estrelas internacionais foram
(D) “por que”, “não”, “a” e “quando”. o Concorde (franco-britânico) e o Tupolev (russo), que
(E) “guerra”, “quando”, “a” e “não”. transportavam 144 passageiros e voaram até os anos 90, mas,
devido aos elevados custos de manutenção, passagens e
03. (Ceron/RO - Direito – EXATUS/2016) combustíveis, eles acabaram por ter as suas produções
suspensas.
A lição do fogo < http://www.portalbrasil.net/aviacao_historia.htm>.
(com adaptações).
1º Um membro de determinado grupo, ao qual prestava
serviços regularmente, sem nenhum aviso, deixou de (A) 1 - a / 2 - à / 3 - a / 4 - a 5 - a / 6 - a / 7- à / 8 - às
participar de suas atividades. (B) 1 - a / 2 - a / 3 - a / 4 - à / 5 - à / 6 - a / 7- a / 8 - as
2º Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu (C) 1 - à / 2 - a / 3 - à / 4 - à / 5 - a / 6 - à / 7- à / 8 - às
visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem (D) 1 - a / 2 - à / 3 - à / 4 - a / 5- à / 6 - a / 7- à / 8 - às
em casa sozinho, sentado diante ______ lareira, onde ardia um (E) 1 - a / 2 - a / 3 - à / 4 - a / 5- a / 6 - a / 7- a / 8 - as
fogo brilhante e acolhedor.
3º Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas- Respostas
vindas ao líder, conduziu-o a uma cadeira perto da lareira e
ficou quieto, esperando. O líder acomodou-se 01. Resposta B
confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No a) Todos ___ dias a mesma família está ali na calçada. OS
silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das (Artigo definido)
chamas em torno das achas da lenha, que ardiam. Ao cabo de b) Essas pessoas são todas ___ inconsequentes. UMAS
alguns minutos, o líder examinou as brasas que se formaram. (Pronome indefinido, pois está substituindo a palavra
Cuidadosamente, selecionou uma delas, a mais incandescente "pessoas") Caberia no máximo um pronome indefinido. Mas
de todas, empurrando-a ______ lado. Voltou, então, a sentar-se, não um artigo.
permanecendo silencioso e imóvel. O anfitrião prestava c) Com os ensinamentos do especialista, todos ___
atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos poucos, a chama da seus problemas se acabam. OS (Artigo definido)
brasa solitária diminuía, até que houve um brilho d) Todas ___ segundas-feiras ele inicia uma nova
momentâneo e seu fogo se apagou de vez. dieta. AS (Artigo definido)
4º Em pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e
luz agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de 02. Resposta E
carvão recoberto _____ uma espessa camada de fuligem Substantivo: Sempre PODE vir antecedido de artigo. "A
acinzentada. Nenhuma palavra tinha sido dita antes desde o GUERRA..."
protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos. O líder, Pronome Relativo: Função coesiva, sempre anafórico
antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão (retomada de uma informação), referem-se a um substantivo
frio e inútil, colocando-o de volta ao meio do fogo. Quase que ou pronome substantivo. " E QUANDO..."
imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e

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APOSTILAS OPÇÃO

Artigo: é uma palavra que se antepõe ao substantivo, serve


para determiná-lo. É variável em gênero e número. - Derivados: são formados de outra palavra já existente;
- Artigo definido: o, a, os, as, esses determinam o vieram depois: ferradura, pedreiro, mesada, requeijão,
substantivo com precisão. chaveiro, chuveiro, padeiro, trovoada, casarão, casebre.
Advérbio: Invariável, refere-se a verbo exprimindo uma
circunstância ou modifica o adjetivo ou outro advérbio. "...NÃO - Coletivos: os substantivos comuns que, mesmo no
SEI..." singular, designam um conjunto de seres de uma mesma
espécie: bando, povo, frota, batalhão, biblioteca, constelação.
03. Resposta B Eis alguns substantivos coletivos:
[...]sentado diante da lareira[...];
[...]empurrando-a para o lado; de
Álbum Colmeia de abelhas
[...]pedaço de carvão recoberto de uma espessa fotografias
camada[...]; de bispos em
Alcateia de lobos Concílio
assembleia
04. Resposta E de textos
1- "O transporte passou A ser considerado..." Este A é Antologia Conclave de cardeais
escolhidos
apenas PREPOSIÇÃO; 2- 'A introdução dos motores A JATO "- Arquipéla Cordilheir de
Jato é palavra masculina, por isso não há crase. 3-" ...deu maior ilhas
go a montanhas
impulso (A) _À__ (A) aviação. “4-”. Começaram A ser usados...”. acompanhant
Este A é apenas preposição. 5-”. Passaram A estudar…”. Este A Assemblei pessoas,
Cortejo es em
é apenas preposição. 6- .." A dos chamados " supersônicos"..". a professores
comitiva
Este A é apenas preposição...7-" A velocidades duas ou três cartas Hemerote de jornais,
vezes maiores que..." Este A também é apenas preposição, Atlas
geográficas ca revistas
além disso está diante de uma palavra no plural: de aves, de
VELOCIDADES= crase. Bando Iconoteca de imagens
crianças
de muitas
Substantivo utensílios
Baixela Miríade estrelas,
de mesa
insetos
Substantivo é a palavra que dá nomes aos seres. Inclui os
de
nomes de pessoas, de lugares, coisas, entes de natureza Banca examinador Nuvem de gafanhotos
espiritual ou mitológica: vegetação, sereia, cidade, anjo, árvore, es
passarinho, abraço, quadro, universidade, saudade, amor,
de borboletas
respeito, criança. Biênio dois anos Panapaná
em bando
Os substantivos exercem, na frase, as funções de: sujeito,
predicativo do sujeito, objeto direto, objeto indireto, Bimestre dois meses Penca de frutas
complemento nominal, adjunto adverbial, agente da passiva,
Cacho de uva Pinacoteca de quadros
aposto e vocativo.
Os substantivos classificam-se em: Cáfila camelos Piquete de grevistas
de pessoas
- Comuns: nomeiam os seres da mesma espécie: menina,
Caravana viajantes Plêiade notáveis,
piano, estrela, rio, animal, árvore.
sábios
de
- Próprios: referem-se a um ser em particular: Brasil,
de vadios, quinhentas
América do Norte, Deus, Paulo, Lucélia. Cambada Resma
malvados folhas de
papel
- Concretos: são aqueles que têm existência própria; são
independentes; reais ou imaginários: mãe, mar, água, anjo, Cancioneir
de canções Sextilha de seis versos
mulher, alma, Deus, vento, DVD, fada, criança, saci. o
de
- Abstrato: são os que não têm existência própria; depende Cardume de peixes Tropilhas trabalhadores
sempre de um ser para existir: é necessário alguém ser ou , alunos
estar triste para a tristeza manifestar-se; é necessário alguém de amostras
beijar ou abraçar para que ocorra um beijo ou um abraço; Código de leis Xiloteca de tipos de
designam qualidades, sentimentos, ações, estados dos seres: madeiras
dor, doença, amor, fé, beijo, abraço, juventude, covardia,
coragem, justiça. Os substantivos abstratos podem ser Flexão do Substantivo
concretizados dependendo do seu significado: Levamos a caça
para a cabana. (Caça = ato de caçar, substantivo abstrato; a “Na feira livre do arrabaldezinho
caça, neste caso, refere-se ao animal, portanto, concreto). Um homem loquaz apregoa balõezinhos de
cor
- Simples: como o nome diz, são aqueles formados por  O melhor divertimento para crianças!
apenas um radical: chuva, tempo, sol, guarda, pão, raio, água, Em redor dele há um ajuntamento de
ló, terra, flor, mar, raio, cabeça. menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os
- Compostos: são os que são formados por mais de dois grandes
radicais: guarda-chuva, girassol, água-de-colônia, pão-de-ló, Balõezinhos muito redondos.” (Manoel
para-raio, sem-terra, mula-sem-cabeça. Bandeira)
- Primitivos: são os que não derivam de outras palavras; Observe que o poema apresenta vários substantivos e
vieram primeiro, deram origem a outras palavras: ferro, Pedro, apresentam variações ou flexões de gênero
mês, queijo, chave, chuva, pão, trovão, casa.

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APOSTILAS OPÇÃO

(masculino/feminino), de número (plural/singular) e de grau o grama (peso) - a grama (relva);


(aumentativo/diminutivo). o caixa (atendente) - a caixa (objeto);
Na língua portuguesa há dois gêneros: masculino e o rádio (aparelho) - a rádio (emissora);
feminino. A regra para a flexão do gênero é a troca de o por a, o crisma (óleo salgado) - a crisma (sacramento);
ou o acréscimo da vogal a, no final da palavra: mestre, mestra. o coma (perda dos sentidos) - a coma (cabeleira);
o cura (vigário) - a cura; (ato de curar);
Formação do Feminino o lente (prof. Universitário) - a lente (vidro de aumento);
o língua (intérprete) - a língua (órgão, idioma);
O feminino se realiza de três modos: o voga (o remador) - a voga (moda).
- Flexionando-se o substantivo masculino: filho, filha /
mestre, mestra / leão, leoa; Alguns substantivos oferecem dúvida quanto ao gênero.
- Acrescentando-se ao masculino a desinência “a” ou um São masculinos: o eclipse, o dó, o dengue (manha), o
sufixo feminino: autor, autora / deus, deusa / cônsul, champanha, o soprano, o clã, o alvará, o sanduíche, o clarinete,
consulesa / cantor, cantora / reitor, reitora. o Hosana, o espécime, o guaraná, o diabete ou diabetes, o tapa,
- Utilizando-se uma palavra feminina com radical o lança-perfume, o praça (soldado raso), o pernoite, o
diferente: pai, mãe / homem, mulher / boi, vaca / carneiro, formicida, o herpes, o sósia, o telefonema, o saca-rolha, o
ovelha / cavalo, égua. plasma, o estigma.

Observe como são formados os femininos: São geralmente masculinos os substantivos de origem
parente, parenta grega terminados em – ma: o dilema, o teorema, o emblema, o
hóspede, hospeda trema, o eczema, o edema, o enfisema, o fonema, o anátema, o
monge, monja tracoma, o hematoma, o glaucoma, o aneurisma, o telefonema,
presidente, presidenta o estratagema.
gigante, giganta
guardião, guardiã São femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a aluvião, a
escrivão, escrivã análise, a cal, a gênese, a entorse, a faringe, a cólera (doença),
papa, papisa a cataplasma, a pane, a mascote, a libido (desejo sexual), a rês,
imperador, imperatriz a sentinela, a sucuri, a usucapião, a omelete, a hortelã, a fama,
profeta, profetisa a Xerox, a aguardente.
abade, abadessa
perdigão, perdiz Plural dos Substantivos
ateu, ateia
réu, ré Há várias maneiras de se formar o plural dos substantivos:
frade, freira Acrescentam-se:
cavalheiro, dama
zangão, abelha - S – aos substantivos terminados em vogal ou ditongo:
povo, povos / feira, feiras / série, séries.
Substantivos Uniformes
- S – aos substantivos terminados em N: líquen, liquens /
Os substantivos uniformes apresentam uma única forma abdômen, abdomens / hífen, hífens. Também: líquenes,
para ambos os gêneros: dentista, vítima. Os substantivos abdômenes, hífenes.
uniformes dividem-se em:
- ES – aos substantivos terminados em R, S, Z: cartaz,
- Epicenos: designam certos animais e têm um só gênero, cartazes / motor, motores / mês, meses. Alguns terminados em
quer se refiram ao macho ou à fêmea. – jacaré macho ou fêmea R mudam sua sílaba tônica, no plural: júnior, juniores / caráter,
/ a cobra macho ou fêmea / a formiga macho ou fêmea. caracteres / sênior, seniores.

- Comuns de dois gêneros: apenas uma forma e designam - IS – aos substantivos terminados em al, el, ol, ul: jornal,
indivíduos dos dois sexos. São masculinos ou femininos. A jornais / sol, sóis / túnel, túneis / mel, meles, méis. Exceções:
indicação do sexo é feita com uso do artigo masculino ou mal, males / cônsul, cônsules / real, réis (antiga moeda
feminino: o, a intérprete / o, a colega / o, a médium / o, a portuguesa).
personagem / o, a cliente / o, a fã / o, a motorista / o, a
estudante / o, a artista / o, a repórter / o, a manequim / o, a - ÃO – aos substantivos terminados em ão, acrescenta S:
gerente / o, a imigrante / o, a pianista / o, a rival / o a cidadão, cidadãos / irmão, irmãos / mão, mãos.
jornalista.
Trocam-se:
- Sobrecomuns: designam pessoas e têm um só gênero
para homem ou a mulher: a criança (menino, menina) / a ão por ões: botão, botões / limão, limões / portão, portões
testemunha (homem, mulher) / a pessoa (homem, mulher) / o / mamão, mamões
cônjuge (marido, mulher) / o guia (homem, mulher) / o ídolo ão por ãe: pão, pães / charlatão, charlatães / alemão,
(homem, mulher). alemães / cão, cães
il por is (oxítonas): funil, funis / fuzil, fuzis / canil, canis /
Substantivos que mudam de sentido, quando se troca o pernil, pernis, e por EIS (Paroxítonas): fóssil, fósseis / réptil,
gênero: répteis / projétil, projéteis
m por ns: nuvem, nuvens / som, sons / vintém, vinténs /
o lotação (veículo) - a lotação (efeito de lotar); atum, atuns
o capital (dinheiro) - a capital (cidade); zito, zinho - 1º coloca-se o substantivo no plural: balão,
o cabeça (chefe, líder) - a cabeça (parte do corpo); balões;
o guia (acompanhante) - a guia (documentação); 2º elimina-se o S + zinhos
o moral (ânimo) - a moral (ética); Balão – balões – balões + zinhos: balõezinhos;

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APOSTILAS OPÇÃO

Papel – papéis – papel + zinhos: papeizinhos; Plural dos Substantivos Compostos


Cão – cães - cãe + zitos: Cãezitos
Não é muito fácil a formação do plural dos substantivos
Alguns substantivos terminados em X são invariáveis compostos.
(valor fonético = cs): os tórax, os tórax / o ônix, os ônix / a fênix,
as fênix / uma Xerox, duas Xerox / um fax, dois fax. Somente o segundo (ou último) elemento vai para o
plural
Substantivos terminados em ÃO com mais de uma forma
no plural: - Palavra unida sem hífen: pontapé = pontapés / girassol
aldeão, aldeões, aldeãos; = girassóis / autopeça = autopeças.
verão, verões, verãos;
anão, anões, anãos; - verbo + substantivo: saca-rolha = saca-rolhas / arranha-
guardião, guardiões, guardiães; céu = arranha-céus / bate-bola = bate-bolas / guarda-roupa =
corrimão, corrimãos, corrimões; guarda-roupas / guarda-sol = guarda-sóis / vale-refeição =
ancião, anciões, anciães, anciãos; vale-refeições.
ermitão, ermitões, ermitães, ermitãos.
- elemento invariável + palavra variável: sempre-viva =
A tendência é utilizar a forma em ÕES sempre-vivas / abaixo-assinado = abaixo-assinados / recém-
nascido = recém-nascidos / ex-marido = ex-maridos / auto-
Há substantivos que mudam o timbre da vogal tônica, no escola = auto-escolas.
plural. Chama-se metafonia. Apresentam o “o” tônica fechado
no singular e aberto no plural: caroço (ô), caroços (ó) / imposto - palavras repetidas: o reco-reco = os reco-recos / o tico-
(ô), impostos (ó) / forno (ô), fornos (ó) / miolo (ô), miolos (ó) tico = os tico-ticos / o corre-corre = os corre-corres.
/ poço (ô), poços (ó) / olho (ô), olhos (ó) / povo (ô), povos (ó)
/ corvo (ô), corvos (ó). Também são abertos no plural (ó): - substantivo composto de três ou mais elementos não
fogos, ovos, ossos, portos, porcos, postos, reforços. Tijolos, ligados por preposição: o bem-me-quer = os bem-me-queres
destroços. / o bem-te-vi = os bem-te-vis.

Há substantivos que mudam de sentido quando usados no - quando o primeiro elemento for: grão, grã (grande),
plural: Fez bem a todos (alegria); Houve separação de bens. bel: grão-duque = grão-duques / grã-cruz = grã-cruzes / bel-
(Patrimônio); Conferiu a féria do dia. (Salário); As férias foram prazer = bel-prazeres.
maravilhosas. (Descanso); Sua honra foi exaltada. (Dignidade);
Recebeu honras na solenidade. (Homenagens); Outros: bem = Somente o primeiro elemento vai para o plural
virtude, benefício / bens = valores / costa = litoral / costas =
dorso / féria = renda diária / férias = descanso / vencimento = - substantivo + preposição + substantivo: água de
fim / vencimento = salário / letra = símbolo gráfico / letras = colônia = águas-de-colônia / mula-sem-cabeça = mulas-sem-
literatura. cabeça / pão-de-ló = pães-de-ló / sinal-da-cruz = sinais-da-cruz.

Substantivos empregados somente no plural: Arredores, - quando o segundo elemento limita o primeiro ou dá
belas-artes, bodas (ô), condolências, cócegas, costas, exéquias, ideia de tipo, finalidade: samba-enredo = sambas-enredo /
férias, olheiras, fezes, núpcias, óculos, parabéns, pêsames, pombo-correio = pombos-correio / salário-família = salários-
viveres, idos, afazeres, algemas. família / banana-maçã = bananas-maçã / vale-refeição = vales-
refeição ou vales-refeições (vale = ter valor de,
A forma singular das palavras ciúme e saudade são também substantivo+especificador). Com o substantivo “vale” são
usadas no plural, embora a forma singular seja preferencial, já aceitas as duas formas.
que a maioria dos substantivos abstratos não se pluralizam.
Aceita-se os ciúmes, nunca o ciúmes. A tendência na língua portuguesa atual é pluralizar os dois
elementos: bananas-maçãs / couves-flores / peixes-bois /
“Quando você me deixou, saias-balões.
meu bem,
me disse pra eu ser feliz Os dois elementos ficam invariáveis quando houver
e passar bem
Quis morrer de ciúme, - verbo + advérbio: o ganha-pouco = os ganha-pouco / o
quase enlouqueci cola-tudo = os cola-tudo / o bota-fora = os bota-fora
mas depois, como era
de costume, obedeci” - os compostos de verbos de sentido oposto: o entra-e-
(gravado por Maria Bethânia) sai = os entra-e-sai / o leva-e-traz = os leva-e-traz / o vai-e-
volta = os vai-e-volta.
“Às vezes passo dias inteiros
imaginando e pensando em você Os dois elementos, vão para o plural
e eu fico com tanta saudade
que até parece que eu posso morrer. - substantivo + substantivo: decreto-lei = decretos-leis /
Pode creditar em mim. abelha-mestra = abelhas-mestras / tia-avó = tias-avós /
Você me olha, eu digo sim...” tenente-coronel = tenentes-coronéis / redator-chefe =
(Fernanda Abreu) redatores-chefes. Coloque entre dois elementos a conjunção e,
observe se é possível a pessoa ser o redator e chefe ao mesmo
Termos no singular com valor de plural: tempo / cirurgião e dentista / tia e avó / decreto e lei / abelha
Muito negro ainda sofre com o preconceito social. e mestra.
Tem morrido muito pobre de fome. - substantivo + adjetivo: amor-perfeito = amores-
perfeitos / capitão-mor = capitães-mores / carro-forte =

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APOSTILAS OPÇÃO

carros-fortes / obra-prima = obras-primas / cachorro-quente verde piscina, azul petróleo, amarelo ouro, roxo batata, verde
= cachorros-quentes. garrafa.

- adjetivo + substantivo: boa-vida = boas-vidas / curta- Questões


metragem = curtas-metragens / má-língua = más-línguas /
01. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da
- numeral ordinal + substantivo: segunda-feira = mesma forma que “balão” e “caneta-tinteiro”:
segundas-feiras / quinta-feira = quintas-feiras. (A) vulcão, abaixo-assinado;
(B) irmão, salário-família;
Composto com a palavra guarda só vai para o plural se (C) questão, manga-rosa;
for pessoa: guarda-noturno = guardas-noturnos / guarda- (D) bênção, papel-moeda;
florestal = guardas-florestais / guarda-civil = guardas-civis / (E) razão, guarda-chuva.
guarda-marinha = guardas-marinha.
02. Assinale a alternativa em que está correta a formação
Plural das palavras de outras classes gramaticais do plural:
usadas como substantivo (substantivadas), são flexionadas (A) cadáver – cadáveis;
como substantivos: Gritavam vivas e morras; Fiz a prova dos (B) gavião – gaviães;
noves; Pesei bem os prós e contras. (C) fuzil – fuzíveis;
Numerais substantivos terminados em s ou z não variam (D) mal – maus;
no plural. Este semestre tirei alguns seis e apenas um dez. (E) atlas – os atlas.

Plural dos nomes próprios personalizados: os Almeidas 03. A palavra livro é um substantivo
/ os Oliveiras / os Picassos / os Mozarts / os Kennedys / os (A) próprio, concreto, primitivo e simples.
Silvas. (B) comum, abstrato, derivado e composto.
Plural das siglas, acrescenta-se um s minúsculo: CDs / (C) comum, abstrato, primitivo e simples.
DVDs / ONGs / PMs / Ufirs. (D) comum, concreto, primitivo e simples.

Grau do Substantivo 04. Assinale a alternativa em que todos os substantivos são


masculinos:
Os substantivos podem ser modificados a fim de exprimir (A) enigma – idioma – cal;
intensidade, exagero ou diminuição. A essas modificações é (B) pianista – presidente – planta;
que damos o nome de grau do substantivo. São dois os graus (C) champanha – dó(pena) – telefonema;
dos substantivos: aumentativo e diminutivo. (D) estudante – cal – alface;
(E) edema – diabete – alface.
Os graus aumentativos e diminutivos são formados por
dois processos: 05. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm
- Sintético: com o acréscimo de um sufixo aumentativo ou um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a
diminutivo: peixe – peixão (aumentativo sintético); peixe- alternativa em que há um substantivo que não corresponde ao
peixinho (diminutivo sintético); sufixo inho ou isinho. seu significado:
(A) O capital = dinheiro;
- Analítico: formado com palavras de aumento: grande, A capital = cidade principal;
enorme, imensa, gigantesca: obra imensa / lucro enorme / (B) O grama = unidade de medida;
carro grande / prédio gigantesco; e formado com as palavras A grama = vegetação rasteira;
de diminuição: diminuto, pequeno, minúscula, casa pequena, (C) O rádio = aparelho transmissor;
peça minúscula / saia diminuta. A rádio = estação geradora;
- Sem falar em aumentativo e diminutivo alguns (D) O cabeça = o chefe;
substantivos exprimem também desprezo, crítica, indiferença A cabeça = parte do corpo;
em relação a certas pessoas e objetos: gentalha, mulherengo, (E) A cura = o médico.
narigão, gentinha, coisinha, povinho, livreco. O cura = ato de curar.
- Já alguns diminutivos dão ideia de afetividade: filhinho,
Toninho, mãezinha. 06. (Pref. de Rio de Janeiro/RJ – Enfermeiro – Pref. do
- Em consequência do dinamismo da língua, alguns Rio de Janeiro/2016)
substantivos no grau diminutivo e aumentativo adquiriram
um significado novo: portão, cartão, fogão, cartilha, folhinha O surpreendente “sucesso” dos sobreviventes
(calendário).
- As palavras proparoxítonas e as palavras terminadas em Muitos anos após o Holocausto, o governo israelense
sílabas nasal, ditongo, hiato ou vogal tônica recebem o sufixo realizou um extenso levantamento para determinar quantos
zinho(a): lâmpada (proparoxítona) = lampadazinha; irmão sobreviventes ainda estavam vivos. O estudo, de 1977,
(sílaba nasal) = irmãozinho; herói (ditongo) = heroizinho; baú concluiu que entre 834 mil e 960 mil sobreviventes ainda
(hiato) = bauzinho; café (voga tônica) = cafezinho. viviam em todo o mundo. O maior número – entre 360 mil e
- As palavras terminadas em s ou z, ou em uma dessas 380 mil – residia em Israel. Entre 140 mil e 160 mil viviam nos
consoantes seguidas de vogal recebem o sufixo inho: país = Estados Unidos; entre 184 mil e 220 mil estavam espalhados
paisinho; rapaz = rapazinho; rosa = rosinha; beleza = pela antiga União Soviética; e entre 130 mil e 180 mil estavam
belezinha. dispersos pela Europa. Como foi que esses homens e mulheres
- Há ainda aumentativos e diminutivos formados por lidaram com a vida após o genocídio? De acordo com a crença
prefixação: minissaia, maxissaia, supermercado, popular, muitos sofriam da chamada Síndrome do
minicalculadora. Sobrevivente ao Campo de Concentração. Ficaram
terrivelmente traumatizados e sofriam de sérios problemas
Substantivo caracterizador de adjetivo: os adjetivos psicológicos, como depressão e ansiedade.
referentes a cores podem ser modificados por um substantivo:

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APOSTILAS OPÇÃO

Em 1992, um sociólogo nova-iorquino chamado William


Helmreich virou essa crença popular de cabeça para baixo. (A) Mesmo sem educação superior, foram bem-sucedidos.
Professor da Universidade da Cidade de Nova York, Helmreich (B) Muitos ficaram sofrendo de problemas psicológicos.
viajou pelos Estados Unidos de avião e automóvel para estudar (C) Algumas dessas características foram cruciais para seu
170 sobreviventes. Esperava encontrar homens e mulheres sucesso posterior.
com depressão, ansiedade e medo crônicos. Para sua surpresa, (D) Por casamento entendemos também a união estável.
descobriu que a maioria dos sobreviventes se adaptara a suas
novas vidas com muito mais sucesso do que jamais se 07. (CODEBA - Guarda Portuário – FGV/2016)
imaginaria. Por exemplo, apesar de não terem educação Texto I
superior, os sobreviventes saíram-se muito bem Lixo
financeiramente. Em torno de 34 por cento informaram
ganhar mais de 50 mil dólares anualmente. Os fatores-chave, A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a
concluiu Helmreich, foram “trabalho duro e determinação, produzir objetos de consumo em larga escala e a introduzir
habilidade e inteligência, sorte e uma disposição para correr novas embalagens no mercado, aumentando
riscos.” Ele descobriu também que seus casamentos eram mais consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos
bem-sucedidos e estáveis. Aproximadamente 83 por cento dos gerados nas áreas urbanas. O homem passou a viver então a
sobreviventes eram casados, comparado a 61 por cento dos era dos descartáveis, em que a maior parte dos produtos –
judeus americanos de idade similar. Apenas 11 por cento dos desde guardanapos de papel e latas de refrigerantes, até
sobreviventes eram divorciados, comparado com 18 por cento computadores – é utilizada e jogada fora com enorme rapidez.
dos judeus americanos. Em termos de saúde mental e bem- Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das modernas
estar emocional, Helmreich descobriu que os sobreviventes metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar o
faziam menos visitas a psicoterapeutas do que os judeus lixo se tornassem escassas. A sujeira acumulada no ambiente
americanos. aumentou a poluição do solo, das águas e piorou as condições
“Para pessoas que sofreram nos campos, apenas ser capaz de saúde das populações em todo o mundo, especialmente nas
de levantar e ir trabalhar de manhã já seria um feito regiões menos desenvolvidas. Até hoje, no Brasil, a maior parte
significativo”, escreveu ele em seu livro Against All Odds dos resíduos recolhidos nas grandes cidades é simplesmente
(Contra Todas as Probabilidades). “O fato de terem se saído jogada sem qualquer cuidado em depósitos existentes nas
bem nas profissões e atividades que escolheram é ainda mais áreas periféricas.
impressionante. Os valores de perseverança, ambição e A questão é: o que fazer com tanto lixo?
otimismo que caracterizavam tantos sobreviventes estavam (Adaptado. Internet.)
claramente arraigados neles antes do início da guerra. O que é
interessante é quanto esses valores permaneceram parte de O texto traz muitos pares de substantivo + adjetivo (ou
sua visão do mundo após o término do conflito.” Helmreich vice-versa). O par em que a troca de posição do adjetivo faz
acredita que algumas das características que os ajudaram a com que seja possível a mudança de sentido é
sobreviver ao Holocausto – como flexibilidade, coragem e (A) modernas metrópoles.
inteligência – podem ter contribuído para seu sucesso (B) novas embalagens.
posterior. “O fato de terem sobrevivido para contar a história (C) enorme rapidez.
foi, para a maioria, uma questão de sorte”, escreve ele. “O fato (D) crescimento acelerado.
de terem sido bem-sucedidos em reconstruir suas vidas em (E) grandes cidades.
solo americano, não. ”
A tese de Helmreich gerou controvérsia e ele foi atacado 08. (Emdec - Assistente Administrativo Jr –
por diminuir ou descontar o profundo dano psicológico do IBFC/2016)
Holocausto. Mas ele rebate essas críticas, observando que “os
sobreviventes estão permanentemente marcados por suas Aprendendo a pensar
experiências, profundamente. Pesadelos e constante (Frei Beto)
ansiedade são a norma de suas vidas. E é precisamente por isso
que sua capacidade de levar vidas normais – levantar de Nosso olhar está impregnado de preconceitos. Uma das
manhã, trabalhar, criar famílias, tirar férias e assim por diante miopias que carregamos é considerar criança ignorante. Nós,
– faz com que descrevê-los como ‘bem-sucedidos’ seja adultos, sabemos; as crianças não sabem.
totalmente justificado”. O educador e cientista Glenn Doman se colocou a pergunta:
Em suas entrevistas individuais e seus levantamentos em que fase da vida aprendemos as coisas mais importante
aleatórios em larga escala de sobreviventes ao Holocausto, que sabemos?
Helmreich identificou dez características que justificavam seu As coisas mais importantes que todos sabemos é falar,
sucesso na vida: flexibilidade, assertividade, tenacidade, andar, movimentar-se, distinguir olfatos, cores, fatores que
otimismo, inteligência, capacidade de distanciamento, representam perigo, diferentes sabores etc. Quando
consciência de grupo, capacidade de assimilar o conhecimento aprendemos isso? Ora, 90% de tudo que é importante para
de sua sobrevivência, capacidade de encontrar sentido na vida fazer de nós seres humanos, aprendemos entre zero e seis
e coragem. Todos os sobreviventes do Holocausto anos, período que Doman considera “a idade do gênio”.
compartilhavam algumas dessas qualidades, me conta Ocorre que a educação não investe nessa idade. Nascemos
Helmreich. Apenas alguns dos sobreviventes possuíam todas com 86 bilhões de neurônios em nosso cérebro. As sinapses,
elas. conexões cerebrais, se dão de maneira acelerada nos
Adaptado de: SHERWOOD, Ben. Clube dos sobreviventes: primeiros anos da vida.
Segredos de quem escapou de situações-limite e como eles Glenn Doman tratou crianças com deformações
podem salvar a sua vida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. esqueléticas incorrigíveis, porém de cérebro sadio. Hoje são
160-161. adultos que falam diversos idiomas, dominam música,
computação etc. São pessoas felizes, com boa autoestima. Ao
Em “... apenas ser capaz de levantar e ir trabalhar de manhã conhecer no Japão um professor que adotou o método dele, foi
já seria um feito significativo”, o adjetivo posposto ao recebido por uma orquestra de crianças; todas tocavam
substantivo poderia também precedê-lo sem prejuízo do violino. A mais velha tinha quatro anos...
sentido. O mesmo se observa na seguinte frase:

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APOSTILAS OPÇÃO

Ele ensina em seus livros como se faz uma criança, de três (E) Estiveram presentes à festa meus estimados
ou quatro anos, aprender um instrumento musical ou se auto padrinhos.
alfabetizar sem curso específico de alfabetização. Isso foi
testado na minha família e deu certo. Tenho um sobrinho- neto Respostas
alfabetizado através de fichas. A mãe lia para ele histórias
infantis e, em seguida, fazia fichas de palavras e as repetia. De 01. Resposta C
repente, o menino começou a ler antes de ir para a escola. A palavra “balão” tem seu plural em “ões”.
[...] O plural do vocábulo “caneta-tinteiro” é “canetas-tinteiro”,
(Disponível em: em que se é pluralizado apenas o primeiro elemento, já que o
http://www.domtotal.com/colunas/detalhes. segundo determina, indicando a funcionalidade, do primeiro.
Dhp?artld=5069. Adaptado) Alternativa A: vulcão-vulcões / abaixo-assinado-abaixo-
assinados
Considerando o contexto em que se encontra, assinale a Alternativa B: irmão irmãos / salário-família salários-
única opção em que o vocábulo destacado NÃO corresponde família
a um exemplo de substantivo. Alternativa C (correta): questão questões / manga-rosa
(A) “Nosso olhar está impregnado de preconceitos” (1°§) mangas-rosa
(B) “Uma das miopias que carregamos é considerar Alternativa D: bênção bênçãos / papel-moeda papéis-
criança ignorante”. (1°§) moeda
(C) “Nascemos com 86 bilhões de neurônios em nosso Alternativa E: razão razões / guarda-chuva guarda-chuvas
cérebro.” (4°§)
(D) “Hoje são adultos que falam diversos idiomas” (5°§) 02. Resposta E
Alternativa A: cadáver – cadáveres
09. Marque a alternativa que apresenta os femininos de Alternativa B: gavião - gaviões
“Monge”, “Duque”, “Papa” e “Profeta”: Alternativa C: fuzil - fuzis
(A) monja – duqueza – papisa – profetisa; Alternativa D: mal – males
(B) freira – duqueza – papiza – profetisa; Alternativa E: correta
(C) freira – duquesa – papisa – profetisa;
(D) monja – duquesa – papiza – profetiza; 03. Resposta D
(E) monja – duquesa – papisa – profetisa.
04. Resposta C
10. (MPE/SP - Oficial de Promotoria I – Alternativa A: A cal
VUNESP/2016) Alternativa B: O/A presidente
Alternativa C: correta
Japão irá auxiliar Minas Gerais com a experiência no Alternativa D: O/A estudante – A cal
enfrentamento de tragédias Alternativa E: A alface

Acostumados a lidar com tragédias naturais, os japoneses 05. Resposta E


costumam se reerguer em tempo recorde depois de O cura = sacerdote
catástrofes. Minas irá buscar experiência e tecnologias para
superar a tragédia em Mariana 06. Resposta C
A questão sugere a modificação da ordem - substantivo
A partir de janeiro, Minas Gerais irá se espelhar na depois adjetivo - e o entendimento da frase. Assim:
experiência de enfrentamento de catástrofes e tragédias do a) Mesmo sem educação superior, foram bem-sucedidos.
Japão, para tentar superar Mariana e recuperar os danos (ERRADO: Superior educação? não tem sentido.)
ambientais e sociais. Bombeiros mineiros deverão receber b) Muitos ficaram sofrendo de problemas psicológicos.
treinamento por meio da Agência de Cooperação Internacional (ERRADO: Psicológicos problemas? não tem sentido)
do Japão (Jica), a exemplo da troca de experiências que já c) Algumas dessas características foram cruciais para seu
acontece no Estado com a polícia comunitária, espelhada no sucesso posterior. (CERTO: Posterior sucesso. Tem sentido.)
modelo japonês Koban. d) Por casamento entendemos também a união estável.
O terremoto seguido de um tsunami que devastou a costa (ERRADO: Estável união? não tem sentido)
nordeste do Japão em 2011 deixando milhares de mortos e
desaparecidos, e prejuízos que quase chegaram a US$ 200 07. Resposta B
bilhões, foi uma das muitas tragédias naturais que o país O adjetivo novo é um clássico exemplo de mudança de
enfrentou nos últimos anos. Menos de um ano depois da posição com mudança de sentido.
catástrofe, no entanto, o Japão já voltava à rotina. É esse tipo Nova embalagem é um tipo novo.
de experiência que o Brasil vai buscar para lidar com a tragédia Embalagem nova é aquela que não foi usada ainda.
ocorrida em Mariana. Outro exemplo:
(Juliana Baeta, http://www.otempo.com.br, 10.12.2015. Novo homem: renovado, mudei minhas atitudes minhas
Adaptado) aparências.
Homem novo: não sou velho
No trecho – Bombeiros mineiros deverão receber
treinamento... – (1o parágrafo), a expressão em destaque 08 Resposta B
é formada por substantivo + adjetivo, nessa ordem. Poderia ser reescrita, sem prejuízo, por: Uma das miopias
Essa relação também se verifica na expressão destacada em: que carregamos é considerar a criança sendo ignorante"
(A) A imprudente atitude do advogado trouxe-me danos. Ou seja, ignorante no caso refere-se à criança, adjetivando,
(B) Entrou silenciosamente, com um espanto qualificando o substantivo criança.
indisfarçável. Em todas as demais opções são facilmente identificados os
(C) Alguma pessoa teve acesso aos documentos substantivos.
da reunião?
(D) Trata-se de um lutador bastante forte e preparado.

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APOSTILAS OPÇÃO

09. Resposta E
Algumas locuções adjetivas não possuem adjetivos
10. Resposta B correspondentes: lata de lixo, sacola de papel, parede de tijolo,
Imprudente, indisfarçável, forte, estimados = adjetivos folha de papel, e outros.
Atitude, espanto, pessoa, padrinhos = substantivos
Alguma = pronome Cidade, Estado, País e Adjetivo Pátrio:
Bastante = advérbio
Agora é só pôr na ordem substantivo + adjetivo Amapá: amapaense;
Amazonas: amazonense ou baré;
Adjetivo Anápolis: anapolino;
Angra dos Reis: angrense;
Não digas: “o mundo é belo.” Aracajú: aracajuano ou aracajuense;
Quando foi que viste o mundo? Bahia: baiano;
Não digas: “o amor é triste.” Bélgica: belga;
Que é que tu conheces do amor? Belo Horizonte: belo-horizontino;
Não digas: “a vida é rápida.” Brasil: brasileiro;
Com foi que mediste a vida? (Cecília Meireles) Brasília: brasiliense;
Buenos Aires: buenairense ou portenho ou bonairense ou
Os adjetivos belo, triste e rápida expressa uma qualidade bonarense;
dos sujeitos: o mundo, o amor, a vida. Cairo: cairota;
Adjetivo é a palavra variável em gênero, número e grau que Cabo Frio: cabo-friense;
modifica um substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade, Campo Grande: campo-grandense;
estado, ou modo de ser: laranjeira florida; céu azul; mau tempo; Ceará: cearense;
cavalo baio; comida saudável; político honesto; professor Curitiba: curitibano;
competente; funcionário consciente; pais responsáveis. Os Distrito Federal: candango ou brasiliense;
adjetivos classificam-se em: Espírito Santo: espírito-santense ou capixaba;
Estados Unidos: estadunidense ou norte americano;
- simples: apresentam um único radical, uma única palavra Florianópolis: florianopolitano;
em sua estrutura: alegre, medroso, simpático, covarde, jovem, Florença: florentino;
exuberante, teimoso; Fortaleza: fortalezense;
- compostos: apresentam mais de um radical, mais de duas Goiânia: goianiense; Goiás: goiano;
palavras em sua estrutura: estrelas azul-claras; sapatos Japão: japonês ou nipônico;
marrom-escuros; garoto surdo-mudo1. João Pessoa: pessoense;
- primitivos: são os que vieram primeiro; dão origem a Londres: londrino;
outras palavras: atual, livre, triste, amarelo, brando, amável, Maceió: maceioense;
confortável. Manaus: manauense ou manauara;
- derivados: são aqueles formados por derivação, vieram Maranhão: maranhense;
depois dos primitivos: amarelado, ilegal, infeliz, Mato Grosso: mato-grossense;
desconfortável, entristecido, atualizado. Mato Grosso do Sul: mato-grossense-do-sul;
- pátrios: indicam procedência ou nacionalidade, referem- Minas Gerais: mineiro;
se a cidades, estados, países. Natal: natalense ou papa-jerimum;
Nova Iorque: nova-iorquino;
Locução Adjetiva: é a expressão que tem o mesmo valor Niterói: niteroiense;
de um adjetivo. A locução adjetiva é formada por preposição + Novo Hamburgo: hamburguense;
um substantivo. Vejamos algumas locuções adjetivas: Palmas: palmense;
Pará: paraense;
Angelical de anjo Etário de idade Paraíba: paraibano;
Paraná: paranaense;
Abdominal de abdômen Fabril de fábrica
Pernambuco: pernambucano;
Apícola de abelha Filatélico de selos Petrópolis: petropolitano;
Aquilino de águia Urbano da cidade Piauí: piauiense;
Porto Alegre: porto-alegrense;
Argente de prata Gástrica do estômago
Porto Velho: porto-velhense;
Áureo de ouro Hepático do fígado Recife: recifense;
Auricular da orelha Matutino da manhã Rio Branco: rio-branquense;
Rio de Janeiro: carioca/ fluminense (estado);
Bucal da boca Vespertino da tarde
Rio Grande do Norte: rio-grandense-do-norte ou potiguar;
Bélico de guerra Inodoro sem cheiro Rio Grande do Sul: rio-grandense ou gaúcho;
Cervical do pescoço Insípido sem gosto Rondônia: rondoniano;
Roraima: roraimense;
Cutâneo de pele Pluvial da chuva Salvador: soteropolitano;
Discente de aluno Humano do homem Santa Catarina: catarinense ou barriga-verde;
Docente de professor Umbilical do umbigo São Paulo: paulista/paulistano (cidade);
Estelar de estrela Têxtil de tecido São Luís: são-luisense ou ludovicense;
Sergipe: sergipano;

1 O termo surdo-mudo é uma expressão em terem a habilidade de falar pela dificuldade de


desuso. Atualmente, usa-se apenas surdo para desenvolver a fala sem ter a escuta. Casos raros são
denominar esta deficiência, devido ao fato de pessoas os que a pessoa também tenha a deficiência da fala
surdas nascerem também com cordas vocais, e não junto com a surdez.
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APOSTILAS OPÇÃO

Teresina: teresinense; - As locuções adjetivas formadas de cor + de +


Tocantins: tocantinense; substantivo, ficam invariáveis: papel cor-de-rosa = papéis
Três Corações: tricordiano; cor-de-rosa / olho cor-de-mel = olhos cor-de-mel.
Três Rios: trirriense; - São invariáveis os adjetivos raios ultravioleta / alegrias
Vitória: vitoriano. sem-par, piadas sem-sal.

- pode-se utilizar os adjetivos pátrios compostos, como: Grau do Adjetivo


afro-brasileiro; Anglo-americano, franco-italiano, sino-japonês
(China e Japão); Américo-francês; luso-brasileira; nipo- Grau comparativo de: igualdade, superioridade (Analítico
argentina (Japão e Argentina); teuto-argentinos (alemão). e Sintético) e Inferioridade;
- “O professor fez uma simples observação”. O adjetivo, Grau superlativo: absoluto (analítico e sintético) ou
simples, colocado antes do substantivo observação, equivale à relativo (superioridade e inferioridade).
banal.
- “O professor fez uma observação simples”. O adjetivo O grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades
simples colocado depois do substantivo observação, equivale à dos seres. O adjetivo apresenta duas variações de grau:
fácil. comparativo e superlativo.
O grau comparativo é usado para comparar uma
Flexões do Adjetivo: O adjetivo, como palavra variável, qualidade entre dois ou mais seres, ou duas ou mais
sofre flexões de: gênero, número e grau. qualidades de um mesmo ser. O comparativo pode ser:

Gênero do Adjetivo: Quanto ao gênero os adjetivos - de igualdade: iguala duas coisas ou duas pessoas: Sou
classificam-se em: tão alto quão / quanto / como você. (As duas pessoas têm a
mesma altura)
- uniformes: têm forma única para o masculino e o
feminino. Funcionário incompetente = funcionária - de superioridade: iguala duas pessoas / coisas sendo que
incompetente. uma é mais do que a outra: Minha amiga Manu é mais
- biformes: troca-se a vogal o pela vogal a ou com o elegante do que / que eu. (Das duas, a Manu é mais)
acréscimo da vogal a no final da palavra: ator famoso = atriz O grau comparativo de superioridade possui duas formas:
famosa / jogador brasileiro = jogadora brasileira. Analítica: mais bom / mais mau / mais grande / mais
Os adjetivos compostos recebem a flexão feminina apenas pequeno: O salário é mais pequeno do que / que justo (salário
no segundo elemento: sociedade luso-brasileira / festa cívico- pequeno e justo). Quando comparamos duas qualidades de um
religiosa / saia verde-escura. Vejamos alguns adjetivos mesmo ser, podemos usar as formas: mais grande, mais mau,
biformes que apresentam uma flexão especial: ateu – ateia / mais bom, mais pequeno.
europeu – europeia / glutão – glutona / hebreu – hebreia / Judeu Sintética: bom, melhor / mau, pior / grande, maior /
– judia / mau – má / plebeu – plebeia / são – sã / vão – vã. pequeno, menor: Esta sala é melhor do que / que aquela.

Atenção: - de inferioridade: um elemento é menor do que outro:


- às vezes, os adjetivos são empregados como substantivos Somos menos passivos do que / que tolerantes.
ou como advérbios: Agia como um ingênuo. (Adjetivo como
substantivo: acompanha um artigo). O grau superlativo: a característica do adjetivo se
- A cerveja que desce redondo. (Adjetivo como advérbio: apresenta intensificada: O superlativo pode ser absoluto ou
redondamente). relativo.
- substantivos que funcionam como adjetivos, num
processo de derivação imprópria, isto é, palavra que tem o - Superlativo Absoluto: atribuída a um só ser; de forma
valor de outra classe gramatical, que não seja a sua: Alguns absoluta. Pode ser:
brasileiros recebem um salário-família. (Substantivo com Analítico: advérbio de intensidade muito, intensamente,
valor de adjetivo). bastante, extremamente, excepcionalmente + adjetivo: Nicola é
- substituto do adjetivo: palavras / expressões de outra extremamente simpático.
classe gramatical podem caracterizar o substantivo, ficando a Sintético: adjetivo + issimo, imo, ílimo, érrimo: Minha
ele subordinadas na frase. comadre Mariinha é agradabilíssima.
Semântica e sintaticamente falando, valem por adjetivos. - o sufixo -érrimo é restrito aos adjetivos latinos
Vale associar ao substantivo principal outro substantivo terminados em r; pauper (pobre) = paupérrimo; macer
em forma de aposto. (magro) = macérrimo;
O rio Tietê atravessa o estado de São Paulo. - forma popular: radical do adjetivo português + íssimo:
pobríssimo;
Plural do Adjetivo: o plural dos adjetivos simples - adjetivos terminados em vel + bilíssimo: amável =
flexionam de acordo com o substantivo a que se referem: amabilíssimo;
menino chorão = meninos chorões / garota sensível = garotas - adjetivos terminados em eio formam o superlativo
sensíveis / vitamina eficaz = vitaminas eficazes / exemplo útil = apenas com i: feio = feíssimo / cheio = cheíssimo.
exemplos úteis. - os adjetivos terminados em io forma o superlativo em
iíssimo: sério = seriíssimo / necessário = necessariíssimo /
- quando os dois elementos formadores são adjetivos, só o frio = friíssimo.
segundo vai para o plural: questões político-partidárias, olhos
castanho-claros, senadores democrata-cristãos Algumas formas do superlativo absoluto sintético erudito
- Composto formado de adjetivo + substantivo referindo- (culto):
se a cores, o adjetivo cor e o substantivo permanecem ágil = agílimo;
invariáveis, não vão para o plural: terno azul-petróleo = ternos agradável = agradabilíssimo;
azul-petróleo (adjetivo azul, substantivo petróleo); saia agudo = acutíssimo;
amarelo-canário = saias amarelo-canário (adjetivo, amarelo; amargo = amaríssimo;
substantivo canário). amigo = amicíssimo;

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APOSTILAS OPÇÃO

antigo = antiquíssimo; função de advérbio; o adjetivo meio + chateada (adjetivo)


áspero = aspérrimo; assume, também, a função de advérbio.
atroz = atrocíssimo;
benévolo = benevolentíssimo; Questões
bom = boníssimo, ótimo;
capaz = capacíssimo; 01. (COMPESA - Analista de Gestão – Advogado –
célebre = celebérrimo; FGV/2016)
cruel = crudelíssimo; A substituição da oração adjetiva por um adjetivo de valor
difícil = dificílimo; equivalente está feita de forma inadequada em:
doce = dulcíssimo; (A) “Quando você elimina o impossível, o que sobra, por
eficaz = eficacíssimo; mais improvável que pareça, só pode ser a verdade”. / restante
fácil = facílimo; (B) “Sábio é aquele que conhece os limites da própria
feliz = felicíssimo; ignorância”. / consciente dos limites da própria ignorância.
fiel = fidelíssimo; (C) “A única coisa que vem sem esforço é a idade”. /
frágil = fragílimo; indiferente
frio = frigidíssimo, friíssimo; (D) “Adoro a humanidade. O que não suporto são as
geral = generalíssimo; pessoas”. / insuportável
humilde = humílimo; (E) “Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas
incrível = incredibilíssimo; pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros”. /
inimigo = inimicíssimo; falecidos
jovem = juvenilíssimo;
livre = libérrimo; 02. (IF Sul/MG - Técnico de Tecnologia da Informação
magnífico = magnificentíssimo; – IFSul-MG/2016)
magro = macérrimo, magérrimo;
mau = péssimo; Como prevenir a cárie?
miserável = miserabilíssimo;
negro = nigérrimo, negríssimo; A cárie é uma das doenças mais comuns no Brasil, mas
nobre = nobilíssimo; muitas pessoas nem imaginam que sofrem deste mal. Ela é
pessoal = personalíssimo; uma deterioração do dente que está diretamente relacionada
pobre = paupérrimo, pobríssimo; ao estilo de vida do indivíduo, ou seja, ao que come, como cuida
sábio = sapientíssimo; dos dentes e se tem acesso à água fluoretada.
sagrado = sacratíssimo; Para a Professora Doutora Titular da Disciplina de Saúde
simpático = simpaticíssimo; Coletiva da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), Maria
simples = simplíssimo; Ercília de Araújo, a higiene bucal correta é uma das melhores
tenro = tenríssimo; maneiras de prevenir a doença. “Atualmente, o consumo
terrível = terribilíssimo; elevado de açúcar é preocupante, pois ele está presente em
veloz = velocíssimo. bolachas, refrigerantes, doces, balas, chicletes, sorvetes, etc.
Por isso, é imprescindível escovar corretamente os dentes
Usa-se também, no superlativo: após as refeições, massageando a gengiva com creme dental
que contenha flúor em sua composição e usar fio dental, que
- prefixos: maxinflação / hipermercado / remove os restos de alimentos e a placa bacteriana nos locais
ultrassonografia / supersimpática. aonde a escova não chega”, explica Ercília.
- expressões: suja à beça / pra lá de sério / duro que Além disso, visitar o dentista periodicamente é uma
nem sola / podre de rico / linda de morrer / magro de dar maneira de evitar diversos problemas bucais. Isto porque
pena. muitos adultos pensam que apenas as crianças estão
- adjetivos repetidos: fofinho, fofinho (=fofíssimo) / suscetíveis à cárie e não dão a devida atenção à importância de
linda, linda (=lindíssima). se manter uma boa higiene bucal ao longo de toda a vida. “À
- diminutivo ou aumentativo: cheinha / pequenininha / medida que ficamos mais velhos, a cárie em volta das
grandalhão / gostosão / bonitão. restaurações e na raiz dos dentes se tornam mais comuns,
- linguagem informa, sufixo érrimo, em vez de íssimo: podendo agravar outras doenças, como diabetes e problemas
chiquérrimo, chiquetérrimo, elegantérrimo. cardíacos”, explica a professora.
Preocupada com a evolução da doença, a ACFF, Aliança
- Superlativo Relativo: ressalta a qualidade de um ser para um Futuro Livre de Cárie, reúne especialistas em saúde
entre muitos, com a mesma qualidade. Pode ser: pública e bucal de todo o mundo para que a cárie seja encarada
Superlativo Relativo de Superioridade: Wilma é a mais como problema de saúde pública, além de definir metas e
prendada de todas as suas amigas. (Ela é a mais de todas) promover ações integradas com outras especialidades para o
Superlativo Relativo de Inferioridade: Paulo César é o seu combate efetivo. O principal objetivo do projeto é que toda
menos tímido dos filhos. criança nascida a partir de 2026 seja livre de cárie durante
toda a vida.
Emprego Adverbial do Adjetivo Disponível em:< http://goo.gl/0RRLeh>. (Com
adaptações).
O menino dorme tranquilo. / As meninas dormem
tranquilas. Em ambas as frases o adjetivo concorda em gênero As palavras destacadas dos trechos “acesso à água
e número com o sujeito. fluoretada”, “higiene bucal correta” e “consumo elevado de
O menino dorme tranquilamente. / As meninas dormem açúcar” pertencem a uma categoria de palavras da língua que
tranquilamente. O adjetivo assume um valor adverbial, com o têm por função:
acréscimo do sufixo mente, sendo, portanto, invariável, não (A) Estabelecer conexão entre orações num mesmo
vai para o plural. enunciado.
Sorriu amarelo e saiu. / Ficou meio chateada e calou-se. O (B) Antecipar as novas informações constantes no
adjetivo amarelo modificou um verbo, portanto, assume a parágrafo seguinte.

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APOSTILAS OPÇÃO

(C) Sinalizar as relações causais existentes entre blocos de Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está
informações. Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o
(D) Atribuir característica a outras palavras a fim de paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às
especificá-las ou especializá-las. primeiras gotas da chuva, que volta a cair.

03. (MGS – Advogado – IBFC/2016) No primeiro parágrafo, a oração “Dario vem apressado.
Guarda-chuva no braço esquerdo.” Revela, por meio do
Uma Vela para Dario adjetivo em destaque, uma característica:
(Dalton Trevisan) (A) típica de Dario ao longo do texto
(B) comum a todos os demais passantes
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, (C) exclusiva de pessoas que passam mal
assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, (D) circunstancial, momentânea de Dario
encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando,
sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na 04. (Prefeitura de Itaquitinga/PE - Assistente
pedra o cachimbo. Administrativo – IDHTEC/2016)
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se - Anjo e demônio, o Homem vive a epopeia de uma cultura
sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu assombrosa. Faz poesia, música, monumentos, máquinas,
resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer computadores, veículos espaciais. Descobre o âmago da
de ataque. matéria, explode o átomo, formula teorias, códigos e religiões.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido agora na calçada, Multiplica-se agora até os quatro bilhões e meio. Ocupa
e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos ansiosamente toda a Terra. Um Anjo, então? .
outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abre-lhe o - Anjo e demônio, feliz e desgraçado, rico e paupérrimo, o
paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os Homem ameaça hoje a estabilidade de seu planeta, põe em
sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgiram no risco sua própria sobrevivência. Por milênios, ele tem
canto da boca. ignorado as condições de manutenção da vida em seu mundo.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o Embora lute duramente pela liberdade, ainda não soube
pode ver. Os moradores da rua conversam de uma porta à construir uma sociedade realmente livre. Edifica uma
outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo portentosa civilização, mas corre o risco de destruí-la em
repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do alguns minutos. Ou em alguns decênios, pela impiedosa
cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas não se vê devastação da Natureza. Contudo, qual é a verdadeira face do
guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado. Homem?
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. - Animal contraditório, o Homem pesquisa vacinas durante
Um grupo o arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade anos e depois fabrica armas que matam milhões num segundo.
do corpo, protesta o motorista: quem pagaria a corrida? Média entre São Francisco e Hitler, ele cria um inferno para
Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e cada milagre de sua inteligência. É capaz de amar
recostado à parede - não tem os sapatos nem o alfinete de ardentemente tanto quanto odiar até o extermínio de raças e
pérola na gravata. povos irmãos. No ápice de uma evolução de bilhões de anos,
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam ele age como se não dependesse mais da Natureza. Mas o
Dario além da esquina; a farmácia é no fim do quarteirão e, Homem é feliz?
além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. - No coração e na mente do Homem, Deus se torna abstrato
Enxame de moscas lhe cobre o rosto, sem que faça um gesto e distante, separado do mundo real, refúgio desesperado de
para espantá-las. sua desgraça. Mas, afinal, esse é o Homem?
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o - Esse é o Homem que habita essa esfera azul que gira
incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da lentamente sob nossos olhos. Veja: é um frágil planeta. Mas, ao
noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o mesmo tempo, maravilhoso, não acha? É uma pena que todos
relógio de pulso. os Homens não possam ver sua Terra daqui. E pensar na
Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - sinfonia grandiosa que já existe, no mar, nas florestas, nas
com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa montanhas, nos campos, numa pequena lagoa, no voo de um
branca. Ficam sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O pássaro, no canto da baleia, nas cores de uma borboleta, na
endereço na carteira é de outra cidade. interdependência de milhões de espécies de seres
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa microscópicos e gigantes. Na sinfonia da ecosfera, tão
hora, ocupam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro complexa quão delicada. Talvez, então os Homens pudessem
negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo descobrir que têm uma Terra somente.
de Dario, pisoteado dezessete vezes. (Ethevaldo Siqueira. Em O Estado de São Paulo.
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá-lo 23/12/73)
— os bolsos vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro,
que ele próprio quando vivo - só destacava molhando no Assinale a alternativa correta:
sabonete. A polícia decide chamar o rabecão. (A) “religiões” está no grau aumentativo do substantivo.
A última boca repete — Ele morreu, ele morreu. A gente (B) “paupérrimo” é o superlativo de “pobre”.
começa a se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, (C) “microscópicos” está no diminutivo plural.
ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam (D) Em “pequena lagoa” o emprego do substantivo deixa o
vê-lo, todo o ar de um defunto. adjetivo no grau diminutivo.
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar (E) “gigantes” está no grau aumentativo devido ao
a cabeça. Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho acréscimo de um sufixo.
nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e
a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela 05. (Pref. de Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo –
alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. FGV/2016)
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que
acende ao lado do cadáver. Parece morto há muitos anos,
quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

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APOSTILAS OPÇÃO

“O povo, ingênuo e sem fé das verdades, quer ao menos crer personalizada, assessoria ou aconselhamento. É obrigatória a
na fábula, e pouco apreço dá às demonstrações científicas.” apresentação dos nomes do responsável, mantenedor e
(Machado de Assis) patrocinadores diretos ou indiretos do site.
2) HONESTIDADE
No fragmento acima, os dois adjetivos sublinhados Muitos sites de saúde estão a serviço exclusivamente dos
possuem, respectivamente, os valores de patrocinadores, geralmente empresas de produtos e
(A) qualidade e estado. equipamentos médicos, além da indústria farmacêutica que,
(B) estado e relação. em alguns casos, interferem no conteúdo e na linha editorial,
(C) relação e característica. pois estão interessados em vender seus produtos.
(D) característica e qualidade. A verdade deve ser apresentada sem que haja interesses
(E) qualidade e relação. ocultos. Deve estar claro quando o conteúdo educativo ou
científico divulgado (afirmações sobre a eficácia, efeitos,
06. (Pref. de Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo – impactos ou benefícios de produtos ou serviços de saúde) tiver
FGV/2016) o objetivo de publicidade, promoção e venda, conforme
Entre as frases de Machado de Assis a seguir, assinale a Resolução CFM N º 1.595/2000.
aquela em que a locução adjetiva sublinhada mostra uma 3) QUALIDADE
substituição inadequada. A informação de saúde apresentada na Internet deve ser
(A) “A fantasia é um vidro de cor, porém mentiroso.” / exata, atualizada, de fácil entendimento, em linguagem
colorido objetiva e cientificamente fundamentada. Da mesma forma
(B) “Sem ter passado por provas da experiência, é muito raro produtos e serviços devem ser apresentados e descritos com
dizer coisa com coisa.” / experientes exatidão e clareza. Dicas e aconselhamentos em saúde devem
(C) “Admiremos os diplomatas que sabem guardar consigo ser prestados por profissionais qualificados, com base em
os segredos dos governos.” / governamentais estudos, pesquisas, protocolos, consensos e prática clínica.
(D) “Amor ou eleições, não falta matéria às discórdias dos Os sites com objetivo educativo ou científico devem
homens.” / humanas garantir a autonomia e independência de sua política editorial
(E) “A tática do parlamento de tomar tempo com discursos e de suas práticas, sem vínculo ou interferência de eventuais
até o fim das sessões não é nova.” / parlamentar patrocinadores.
Deve estar visível a data da publicação ou da revisão da
07. (Pref. de São Gonçalo/RJ - Analista de informação, para que o usuário tenha certeza da atualidade do
Contabilidade – BIO-RIO/2016) site. Os sites devem citar todas as fontes utilizadas para as
TEXTO informações, critério de seleção de conteúdo e política
ÉDIPO-REI editorial do site, com destaque para nome e contato com os
responsáveis.
Diante do palácio de Édipo. Um grupo de crianças está
ajoelhado nos degraus da entrada. Cada um tem na mão um Segundo o gramático Celso Cunha, os adjetivos em língua
ramo de oliveira. De pé, no meio delas, está o sacerdote de portuguesa expressam qualificações, características, estados e
Zeus. relações; o adjetivo abaixo que expressa relação é:
(A) fácil entendimento;
(Édipo-Rei, Sófocles, RS: L&PM, 2013) (B) linguagem objetiva;
(C) profissionais qualificados;
Numa descrição, os adjetivos indicam estados, qualidades, (D) prática clínica;
características e relações dos substantivos por eles (E) informação transparente.
determinados. O adjetivo abaixo que indica uma qualidade do
substantivo é: 09. (CISMEPAR/PR - Técnico Administrativo –
(A) ramo murcho. FAUEL/2016)
(B) cena interessante. Leia o texto e responda as questões abaixo:
(C) palavras sacerdotais.
(D) palácio amarelo. “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
(E) crianças alvoroçadas. dignidade e em direitos. Dotados de razao e de consciencia,
devem agir uns para com os outros em espírito de
08. (MPE/RJ - Técnico do Ministério Público – fraternidade. Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e
Administrativa – FGV/2016) à segurança pessoal. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à
livre escolha do trabalho, a condiçoes equitativas e
TEXTO 2 - Manual de princípios éticos para sites de satisfatorias de trabalho e à proteçao contra o desemprego”.
medicina e saúde na internet
De acordo com a gramática da língua portuguesa, adjetivo
A veiculação de informações, a oferta de serviços e a venda é a palavra que qualifica um substantivo. Aponte a afirmativa
de produtos médicos na Internet têm o potencial de promover que contenha somente adjetivos retirados do texto.
a saúde mas também podem causar danos aos internautas, (A) livres, iguais, equitativas, satisfatórias.
usuários e consumidores. (B) todos, dever, fraternidade, liberdade.
O CREMESP define a seguir princípios éticos norteadores (C) trabalho, ter, direito, desemprego.
de uma política de autorregulamentação e critérios de conduta (D) espírito, seres, nascer, livre.
dos sites de saúde e medicina na Internet.
1) TRANSPARÊNCIA 10. (Consurge/MG - Técnico Administrativo – Gestão
Deve ser transparente e pública toda informação que possa Concurso/2016)
interferir na compreensão das mensagens veiculadas ou no
consumo dos serviços e produtos oferecidos pelos sites com
conteúdo de saúde e medicina. Deve estar claro o propósito do
site: se é apenas educativo ou se tem fins comerciais na venda
de espaço publicitário, produtos, serviços, atenção médica

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APOSTILAS OPÇÃO

Tomate é fruta? 2) após o substantivo


3) deriva de um substantivo
Sim, ele é. Não só o tomate é fruta, como a berinjela, a 4) não varia o grau (ex.: fácil - facílimo)
abobrinha, o pepino, o pimentão e outros alimentos que nós Exemplo: Presidente americano --- observem que é um
chamamos de legumes também são. Fruta é o ovário adjetivo absoluto, não estou fazendo juízo (como faria em
amadurecido de uma planta, onde ficam as sementes. A "menina bonita"); está posposto ao substantivo; deriva de
confusão acontece porque nós somos acostumados a chamar América e, por fim, não varia o grau (presidente
as frutas salgadas de legumes. Se você acha que sua vida foi americaníssimo? Não!).
uma mentira até agora, saiba que também existem alimentos
que nós chamamos de fruta, mas não são. Trata-se dos 09. Resposta A
pseudofrutos – estruturas suculentas que têm cara e jeito de A) Gabarito - Livres(adjetivo); iguais (adjetivo);
fruto, mas não se desenvolvem a partir do ovário da planta, equitativas(adjetivo); Satisfatórias(adjetivo)
como as frutas reais. É o caso do morango, do caju, da maçã, da B) Errado. Todos (pronome indefinido); dever(verbo);
pera e do abacaxi, entre outros. Fraternidade(substantivo); liberdade (substantivo
HAICK, Sabrina. Tomate é fruta? Mundo Estranho. Ed. 177. C) Errado. Trabalho(substantivo); ter(verbo);
Disponível em: <http://zip.net/bys0Dt>. (Adaptado). direito(substantivo); desemprego(substantivo)
D) Errado. Espírito(substantivo); Seres(substantivo);
Assinale a alternativa cuja palavra Nascer(verbo); livre(adjetivo)
destacada não desempenha uma função adjetival.
(A) “Fruta é o ovário amadurecido de uma planta [...].” 10. Resposta C
(B) “[...] não se desenvolvem a partir do ovário da planta, Pois dentre as alternativas a única que não caracteriza os
como as frutas reais.” substantivos é a C. Legume é um substantivo.
(C) “[...] nós somos acostumados a chamar as frutas
salgadas de legumes.” Numeral
(D) “[...] estruturas suculentas que têm cara e jeito de
fruto [...].” Os numerais exprimem quantidade, posição em uma série,
multiplicação e divisão. Daí a sua classificação,
Respostas respectivamente, em: cardinais, ordinais, multiplicativos e
fracionários.
01. Resposta C - Cardinal: indica número, quantidade: um, dois, três, oito,
"A única coisa que vem sem esforço é a idade”. / indiferente vinte, cem, mil;
Que vem sem esforço = fácil - Ordinal: indica ordem ou posição: primeiro, segundo,
terceiro, sétimo, centésimo;
02. Resposta D - Fracionário: indica uma fração ou divisão: meio, terço,
Adjetivo é toda palavra que se refere a um substantivo quarto, quinto, um doze avos;
indicando-lhe um atributo. Flexionam-se em gênero, número - Multiplicativo: indica a multiplicação de um número:
e/ou grau. Sua função gramatical pode ser comparada com a duplo, dobro, triplo, quíntuplo.
do advérbio em relação aos verbos, aos adjetivos e a outros
advérbios. Os numerais que indicam conjunto de elementos de
quantidade exata são os coletivos:
03. Resposta D
Apressado é um modo que Dario está numa situação - BIMESTRE: período de dois meses
Circunstância - por isso é um momento passageiro de Dario. CENTENÁRIO: período de cem anos
DECÁLOGO: conjunto de dez leis
04. Resposta B DECÚRIA: período de dez anos
Significado de Paupérrimo
adj. Característica de algo ou alguém extremamente pobre, DEZENA: conjunto de dez coisas
sem recursos financeiros, sem dinheiro ou bens materiais: DÍSTICO: dois versos
morava num barraco paupérrimo; era um sujeito paupérrimo. DÚZIA: conjunto de doze coisas
GROSA: conjunto de doze dúzias
05. Resposta E
Qualidade - necessita que se faça uma análise subjetiva da LUSTRO: período de cinco anos
questão, não é uma característica física por exemplo; MILÊNIO: período de mil anos
Relação - Um adjetivo de relação (ou relacional) é aquele MILHAR: conjunto de mil coisas
que é derivado de um substantivo por derivação sufixal e não NOVENA: período de nove dias
varia em grau. - de Ciências ficou científicas; QUARENTENA: período de quarenta dias
QUINQUÊNIO: período de cinco anos
06. Resposta B RESMA: quinhentas folhas de papel
De experiência - o correto seria experimentais; SEMESTRE: período de seis meses
SEPTÊNIO: período de sete anos
07. Resposta B SEXÊNIO: período de seis anos
a) ramo murcho = característica TERNO: conjunto de três coisas
b) cena interessante = qualidade TREZENA: período de treze dias
c) palavras sacerdotais = relação TRIÊNIO: período de três anos
d) palácio amarelo = característica
TRINCA: conjunto de três coisas
e) crianças alvoroçadas = estado
Algarismos: Arábicos e Romanos, respectivamente: 1-I, 2-
08. Resposta D
II, 3-III, 4-IV, 5-V, 6-VI, 7-VII, 8-VIII, 9-IX, 10-X, 11-XI, 12-XII,
Identificar adjetivo que expressa relação:
13-XIII, 14-XIV, 15-XV, 16-XVI, 17-XVII, 18-XVIII, 19-XIX, 20-
1) adjetivo sem juízo de valor, objetivo
XX, 30-XXX, 40-XL, 50-L, 60-LX, 70-LXX, 80-LXXX, 90-XC, 100-

Língua Portuguesa 33
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APOSTILAS OPÇÃO

C, 200-CC, 300-CCC, 400-CD, 500-D, 600-DC, 700-DCC, 800- - os numerais multiplicativos variam quando usados como
DCCC, 900-CM, 1.000-M. adjetivos: Fizemos duas apostas triplas. (Valor de adjetivo –
variável)
Numerais Cardinais: um, dois, três, quatro, cinco, seis, - os numerais fracionários variam em número,
sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze ou quatorze, concordando com os cardinais que indicam números das
quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte..., partes.
trinta..., quarenta..., cinquenta..., sessenta..., setenta..., oitenta..., - Um quarto de litro equivale a 250 ml; três quartos
noventa..., cem..., duzentos..., trezentos..., quatrocentos..., equivalem a 750 ml.
quinhentos..., seiscentos..., setecentos..., oitocentos...,
novecentos..., mil. Grau
Na linguagem coloquial é comum a flexão de grau dos
Numerais Ordinais: primeiro, segundo, terceiro, quarto, numerais: Já lhe disse isso mil vezes. / Aquele quarentão é um
quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, décimo primeiro, “gato”! / Morri com cincão para a “vaquinha”, lá da escola.
décimo segundo, décimo terceiro, décimo quarto, décimo
quinto, décimo sexto, décimo sétimo, décimo oitavo, décimo Emprego dos Numerais
nono, vigésimo..., trigésimo..., quadragésimo...,
quinquagésimo..., sexagésimo..., septuagésimo..., octogésimo..., - para designar séculos, reis, papas, capítulos, cantos (na
nonagésimo..., centésimo..., ducentésimo..., trecentésimo..., poesia épica), empregam-se: os ordinais até décimo: João Paulo
quadringentésimo..., quingentésimo..., sexcentésimo..., II (segundo). Canto X (décimo) / Luís IV (nono); os cardinais
septingentésimo..., octingentésimo..., nongentésimo..., para os demais: Papa Bento XVI (dezesseis); Século XXI (vinte
milésimo. e um).
- se o numeral vier antes do substantivo, usa-se o ordinal.
Numerais Multiplicativos: dobro, triplo, quádruplo, O XX século foi de descobertas científicas. (Vigésimo século)
quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo, - com referência ao primeiro dia do mês, usa-se o numeral
undécuplo, duodécuplo, cêntuplo. ordinal: O pagamento do pessoal será sempre no dia primeiro.
- na enumeração de leis, decretos, artigos, circulares,
Numerais Fracionários: meia, metade, terço, quarto, portarias e outros textos oficiais, emprega-se o numeral
quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, onze avos, doze ordinal até o nono: O diretor leu pausadamente a portaria 8ª.
avos, treze avos, catorze avos, quinze avos, dezesseis avos, (portaria oitava)
dezessete avos, dezoito avos, dezenove avos, vinte avos..., - emprega-se o numeral cardinal, a partir de dez: O artigo
trinta avos..., quarenta avos..., cinquenta avos..., sessenta 16 não foi justificado. (Artigo dezesseis)
avos..., setenta avos..., oitenta avos..., noventa avos..., - enumeração de casa, páginas, folhas, textos,
centésimo..., ducentésimo..., trecentésimo..., apartamentos, quartos, poltronas, emprega-se o numeral
quadringentésimo..., quingentésimo..., sexcentésimo..., cardinal: Reservei a poltrona vinte e oito. / O texto quatro está
septingentésimo..., octingentésimo..., nongentésimo..., na página sessenta e cinco.
milésimo. - se o numeral vier antes do substantivo, emprega-se o
ordinal. Paulo César é adepto da 7ª Arte. (Sétima)
Flexão dos Numerais - não se usa o numeral um antes de mil: Mil e duzentos
reais é muito para mim.
Gênero - o artigo e o numeral, antes dos substantivos milhão,
- os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de milhar e bilhão, devem concordar no masculino:
duzentos apresentam flexão de gênero: Um menino e uma - Quando o sujeito da oração é milhões + substantivo
menina foram os vencedores. / Comprei duzentos gramas de feminino plural, o particípio ou adjetivo podem concordar, no
presunto e duzentas rosquinhas. masculino, com milhões, ou com o substantivo, no feminino.
- os numerais ordinais variam em gênero: Marcela foi a Dois milhões de notas falsas serão resgatados ou serão
nona colocada no vestibular. resgatadas (milhões resgatados / notas resgatadas)
- os numerais multiplicativos, quando usados com o valor - os numerais multiplicativos quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo e
de substantivos, são variáveis: A minha nota é o triplo da sua. óctuplo valem como substantivos para designar pessoas
(Triplo – valor de substantivo) nascidas do mesmo parto: Os sêxtuplos, nascidos em Lucélia,
- quando usados com valor de adjetivo, apresentam flexão estão reagindo bem.
de gênero: Eu fiz duas apostas triplas na loto fácil. (Triplas - emprega-se, na escrita das horas, o símbolo de cada
valor de adjetivo) unidade após o numeral que a indica, sem espaço ou ponto:
- os numerais fracionários concordam com os cardinais 10h20min – dez horas, vinte minutos.
que indicam o número das partes: Dois terços dos alunos foram - não se emprega a conjunção e entre os milhares e as
contemplados. centenas: mil oitocentos e noventa e seis. Mas 1.200 – mil e
- o fracionário meio concorda em gênero e número com o duzentos (o número termina numa centena com dois zeros)
substantivo no qual se refere: O início do concurso será meio-
dia e meia. (Hora) / Usou apenas meias palavras. Questões

Número 01. Marque o emprego incorreto do numeral:


- os numerais cardinais milhão, bilhão, trilhão, e outros, (A) século III (três)
variam em número: Venderam um milhão de ingressos para a (B) página 102 (cento e dois)
festa do peão. / Somos 180 milhões de brasileiros. (C) 80º (octogésimo)
- os numerais ordinais variam em número: As segundas (D) capítulo XI (onze)
colocadas disputarão o campeonato. (E) X tomo (décimo)
- os numerais multiplicativos são invariáveis quando
usados com valor de substantivo: Minha dívida é o dobro da 02. Indique o item em que os numerais estão corretamente
sua. (Valor de substantivo – invariável) empregados:
(A) Ao Papa Paulo seis sucedeu João Paulo primeiro.
(B) após o parágrafo nono, virá o parágrafo dez.

Língua Portuguesa 34
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APOSTILAS OPÇÃO

(C) depois do capítulo sexto, li o capítulo décimo primeiro. Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de
(D) antes do artigo décimo vem o artigo nono. produção.
(E) o artigo vigésimo segundo foi revogado.
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
03. (Pref. de Chapecó/SC - Procurador Municipal – flexionam-se em gênero e número:
IOBV/2016) Por exemplo:
Quanto à classificação dos numerais, os que indicam o Teve de tomar doses triplas do medicamento.
aumento proporcional de quantidade, podendo ter valor de
adjetivo ou substantivo são os numerais: 04. Resposta C
(A) Multiplicativos. Sempre que um numeral preceder um substantivo, usa-
(B) Ordinais. se como ordinal.
(C) Cardinais. Exemplo:
(D) Fracionários. XX Festa do Morango (Vigésima).
No caso de designação de reis, papas, capítulos de obras, os
04. (Prefeitura de Barra de Guabiraba/PE - Nível ordinais são usados de 1 até 10. A partir de então, são usados
Fundamental Completo – IDHTEC/2016) os cardinais.
Assinale a alternativa em que o numeral está escrito por Exemplos:
extenso corretamente, de acordo com a sua aplicação na frase: João Paulo II (segundo);
(A) Os moradores do bairro Matão, em Sumaré (SP), João XXIII (vinte e Três).
temem que suas casas desabem após uma cratera se abrir na
Avenida Papa Pio X. (DÉCIMA) 05. Resposta B
(B) O acidente ocorreu nessa terça-feira, na BR-401 Alguns exemplos:
(QUATROCENTAS E UMA) 30.º – trigésimo;
(C) A 22ª edição do Guia impresso traz uma matéria e teve 40.º – quadragésimo;
a sua página Classitêxtil reformulada. (VIGÉSIMA SEGUNDA) 50.º – quinquagésimo;
(D) Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem 60.º – sexagésimo;
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em 70.º – septuagésimo ou setuagésimo;
erro, mediante artifício, ardil. (CENTÉSIMO SETÉSIMO 80.º – octogésimo;
PRIMEIRO) 90.º – nonagésimo;
(E) A Semana de Arte Moderna aconteceu no início do 100.º – centésimo;
século XX. (SÉCULO DUCENTÉSIMO) 200.º – ducentésimo;
300.º - trecentésimo ou tricentésimo.
05. (MPE/SP - Oficial de Promotoria I – VUNESP/2016)
Pronome
O SBT fará uma homenagem digna da história de seu
proprietário e principal apresentador: no próximo dia 12 É a palavra que acompanha ou substitui o nome,
[12.12.2015] colocará no ar um especial com 2h30 de duração relacionando-o a uma das três pessoas do discurso. As três
em homenagem a Silvio Santos. É o dia de seu aniversário de pessoas do discurso são:
85 anos. 1ª pessoa: eu (singular) nós (plural): aquela que fala ou
(http://tvefamosos.uol.com.br/noticias) emissor;
2ª pessoa: tu (singular) vós (plural): aquela com quem se
As informações textuais permitem afirmar que, em fala ou receptor;
12.12.2015, Sílvio Santos completou seu 3ª pessoa: ele, ela (singular) eles, elas (plural): aquela de
(A) octogenário quinquagésimo aniversário. quem se fala ou referente.
(B) octogésimo quinto aniversário. Dependendo da função de substituir ou acompanhar o
(C) octingentésimo quinto aniversário. nome, o pronome é, respectivamente: pronome substantivo ou
(D) otogésimo quinto aniversário. pronome adjetivo.
(E) oitavo quinto aniversário. Os pronomes são classificados em: pessoais, de tratamento,
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e
Respostas relativos.

01. Resposta A Pronomes Pessoais: Os pronomes pessoais dividem-se


O numeral quando for usado para designar Papas, reis, em:
séculos, capítulos etc., usam-se: Os ordinais de 1 a 10; Os - retos - exercem a função de sujeito da oração: eu, tu, ele,
cardinais de 11 em diante. nós, vós, eles:
Logo, a letra A está incorreta por estar grafado século três, - oblíquos - exercem a função de complemento do verbo
quando o correto é século terceiro. (objeto direto / objeto indireto) ou as, lhes. - Ela não vai
conosco. (ela-pronome reto / vai-verbo / conosco
02. Resposta B complemento nominal. São: tônicos com preposição: mim,
Está corretamente grafado parágrafo nono e parágrafo dez comigo, ti, contigo,si, consigo, conosco, convosco; átonos sem
na alternativa B, pois os numerais ordinais são de 1 a 09. De 10 preposição: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os,-pronome oblíquo) -
em diante usamos os cardinais. Eu dou atenção a ela. (eu-pronome reto / dou-verbo /
atenção-nome / ela-pronome oblíquo)
03. Resposta A
Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos Saiba mais sobre os Pronomes Pessoais
seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada.
Por exemplo: dobro, triplo, quíntuplo, etc. - Colocados antes do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª
Numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam pessoa, apresentam sempre a forma: o, a, os, as: Eu os vi saindo
em funções substantivas: do teatro.
Por exemplo:

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APOSTILAS OPÇÃO

- As palavras “só” e “todos” sempre acompanham os - Chamam-se pronomes pessoais reflexivos os pronomes
pronomes pessoais do caso reto: - Eu vi só ele ontem. pessoais que se referem ao sujeito: Eu me feri com o canivete.
- Colocados depois do verbo, os pronomes oblíquos da 3ª (eu - 1ª pessoa- sujeito / me- pronome pessoal reflexivo)
pessoa apresentam as formas: - Os pronomes pessoais oblíquos se, si e consigo devem ser
o, a, os, as: se o verbo terminar em vogal ou ditongo oral: empregados somente como pronomes pessoais reflexivos e
Encontrei-a sozinha. Vejo-os diariamente. funcionam como complementos de um verbo na 3ª pessoa,
o, a, os, as, precedidos de verbos terminados em: R/S/Z, cujo sujeito é também da 3ª pessoa: Nicole levantou-se com
assumem as formas: lo, Ia, los, las, perdendo, elegância e levou consigo (com ela própria) todos os olhares.
consequentemente, as terminações R, S, Z. Preciso pagar ao (Nicole-sujeito, 3ª pessoa/ levantou -verbo 3ª pessoa /
verdureiro. = pagá-lo; Fiz os exercícios a lápis. = Fi-los a lápis. se- complemento 3ª pessoa / levou- verbo- 3ª pessoa /
lo, la, los, las: se vierem depois de: eis / nos / vos - Eis a consigo - complemento 3ª pessoa)
prova do suborno. = Ei-la; O tempo nos dirá. = no-lo dirá. (eis, - O pronome pessoal oblíquo não funciona como reflexivo
nos, vos perdem o S) se não se referir ao sujeito: Ela me protegeu do acidente.
no, na, nos, nas: se o verbo terminar em ditongo nasal: m, (ela - sujeito 3ª pessoa me complemento 1ª pessoa)
ão, õe: Deram-na como vencedora; Põe-nos sobre a mesa. - Você é segunda ou terceira pessoa? Na estrutura da fala,
lhe, lhes colocados depois do verbo na 1ª pessoa do plural, você é a pessoa a quem se fala e, portanto, da 2ª pessoa. Por
terminado em S não modificado: Nós entregamoS-lhe a cópia outro lado, você, como os demais pronomes de
do contrato. (o S permanece) tratamento - senhor, senhora, senhorita, dona, pede o verbo na
nos: colocado depois do verbo na 1ª pessoa do plural, 3ª pessoa, e não na 2ª.
perde o S: Sentamo-nos à mesa para um café rápido. - Os pronomes oblíquos me, te, lhe, nos, vos, lhes (formas de
me, te, lhe, nos, vos: quando colocado com verbos objeto indireto, 0I) juntam-se a o, a, os, as (formas de objeto
transitivos diretos (TD), têm sentido possessivo, equivalendo direto), assim: me+o: mo/+a: ma/+ os: mos/+as: mas: - Recebi
a meu, teu, seu, dele, nosso, vosso: Os anos roubaram-lhe a a carta e agradeci aojovem, que ma trouxe. nos +o: no-lo / + a:
esperança. (sua, dele, dela possessivo) no-la / + os: no-los / +as: no-las: -Venderíamos a casa, se no-la
as formas conosco e convosco são substituídas por: com + exigissem. te+ o: to/+ a: ta/+ os: tos/+ as: tas: -Dei-te os meus
nós, com + vós. seguidos de: ambos, todos, próprios, mesmos, melhores dias. Dei-tos. lhe+ o: lho/+ a: lha/+ os: lhos/+
outros, numeral: Marianne garantiu que viajaria com nós três. as:lhas: -Ofereci -lhe flores. Ofereci-lhas. vos+ o: vo-lo/+ a:
o pronome oblíquo funciona como sujeito com os verbos: vo-la/+ os: vo-los/+ as: vo-las: - Pedi-vos conselho. Pedi vo-lo.
deixar, fazer, ouvir, mandar, sentir e ver+verbo no infinitivo.
Deixe-me sentir seu perfume. (Deixe que eu sinta seu perfume No Brasil, quase não se usam essas combinações (mo, to,
me-- sujeito do verbo deixar - Mandei-o calar. (= Mandei que lho, nolo, vo-lo), são usadas somente em escritores mais
ele calasse), o= sujeito do verbo mandar. sofisticados.
os pronomes pessoais oblíquos nos, vos, e se recebem o
nome de pronomes recíprocos quando expressam uma ação Pronomes de Tratamento: São usados no trato com as
mútua ou recíproca: Nós nos encontramos emocionados. pessoas. Dependendo da pessoa a quem nos dirigimos, do seu
(pronome recíproco, nós mesmos). Nunca diga: Eu se apavorei. cargo, idade, título, o tratamento será familiar ou cerimonioso:
/ Eu jà se arrumei; Eu me apavorei. / Eu me arrumei. (certos) Vossa Alteza-V.A.-príncipes, duques; Vossa Eminência-V.Ema-
- Os pronomes pessoais retos eu e tu serão substituidos cardeais; Vossa Excelência-V.Ex.a-altas autoridades,
por mim e ti após prepõsição: O segredo ficará somente entre presidente, oficiais; Vossa Magnificência-V.Mag.a-reitores de
mim e ti. universidades; Vossa Majestade-V.M.-reis, imperadores; Vossa
- É obrigatório o emprego dos pronomes pessoais eu e tu, Santidade-V.S.-Papa; Vossa Senhoria-V.Sa-tratamento
quando funcionarem como Sujeito: Todos pediram para eu cerimonioso.
relatar os fatos cuidadosamente. (pronome reto + verbo no - São também pronomes de tratamento: o senhor, a
infinitivo). Lembre-se de que mim não fala, não escreve, não senhora, a senhorita, dona, você.
compra, não anda. Somente o Tarzã e o Capitão Caverna dizem: - Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico.
mim gosta / mim tem / mim faz. / mim quer. Nas comunicações oficiais devem ser utilizados somente dois
- As formas oblíquas o, a, os, as são sempre empregadas fechos:
como complemento de verbos transitivos diretos ao passo - Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive
que as formas lhe, lhes são empregadas como complementos para o presidente da República.
de verbos transitivos indiretos: Dona Cecília, querida amiga, - Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia
chamou-a. (verbo transitivo direto, VTD); Minha saudosa ou de hierarquia inferior.
comadre, Nircléia, obedeceu-lhe. (verbo transitivo - A forma Vossa (Senhoria, Excelência) é empregada
indireto,VTI) quando se fala com a própria pessoa: Vossa Senhoria não
- É comum, na linguagem coloquial, usar o brasileiríssimo compareceu à reunião dos sem-terra? (falando com a pessoa)
a gente, substituindo o pronome pessoal nós: A gente deve - A forma Sua (Senhoria, Excelência ) é empregada quando
fazer caridade com os mais necessitados. se fala sobre a pessoa: Sua Eminência, o cardeal, viajouparaum
- Os pronomes pessoais retos ele, eles, ela, elas, nós e vós Congresso. (falando a respeito do cardeal)
serão pronomes pessoais oblíquos quando empregados como - Os pronomes de tratamento com a forma Vossa (Senhoria,
complementos de um verbo e vierem precedidos de Excelência, Eminência, Majestade), embora indiquem a 2ª
preposição. O conserto da televisão foi feito por ele. (ele= pessoa (com quem se fala), exigem que outros pronomes e o
pronome oblíquo) verbo sejam usados na 3ª pessoa. Vossa Excelência sabe que
- Os pronomes pessoais ele, eles e ela, elas podem se seus ministros o apoiarão.
contrair com as preposições de e em: Não vejo graça nele./ Já
frequentei a casa dela. Pronomes Possessivos: São os pronomes que indicam
- Se os pronomes pessoais retos ele, eles, ela, elas estiverem posse em relação às pessoas da fala.
funcionando como sujeito, e houver uma preposição antes Singular: 1ª pessoa: meu, meus, minha, minhas; 2ª pessoa:
deles, não poderá haver uma contração: Está na hora de ela teu, teus, tua, tuas; 3ª pessoa: seu, seus, sua, suas;
decidir seu caminho. (ela -sujeito de decidir; sempre com Plural: 1ª pessoa: nosso/os nossa/as, 2ª pessoa: vosso/os
verbo no infinitivo) vossa/as. 3ª pessoa: seu, seus, sua, suas.

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APOSTILAS OPÇÃO

Emprego dos Pronomes Possessivos Aquele (s), aquela (s), aquilo: indicam um tempo distante
em relação ao momento em que se fala. Exemplo: Bons tempos
- O uso do pronome possessivo da 3ª pessoa pode aqueles em que brincávamos descalços na rua...
provocar, às vezes, a ambiguidade da frase. João Luís disse que
Laurinha estava trabalhando em seu consultório. - dependendo do contexto, também são considerados
- O pronome seu toma o sentido ambíguo, pois pode pronomes demonstrativos o, a, os, as, mesmo, próprio,
referir - se tanto ao consultório de João Luís como ao de semelhante, tal, equivalendo a aquele, aquela, aquilo. O próprio
Laurinha. No caso, usa-se o pronome dele, dela para desfazer a homem destrói a natureza; Depois de muito procurar, achei o
ambiguidade. que queria; O professor fez a mesma observação; Estranhei
- Os possessivos, às vezes, podem indicar aproximações semelhante coincidência; Tal atitude é inexplicável.
numéricas e não posse: Cláudia e Haroldo devem ter seus - para retomar elementos já enunciados, usamos aquele (e
trinta anos. variações) para o elemento que foi referido em 1º Iugar e este
- Na linguagem popular, o tratamento seu como em: Seu (e variações) para o que foi referido em último lugar. Pais e
Ricardo, pode entrar!, não tem valor possessivo, pois é uma mães vieram à festa de encerramento; aqueles, sérios e
alteração fonética da palavra senhor orgulhosos, estas, elegantes e risonhas.
- Os pronomes possessivos podem ser substantivados: Dê - dependendo do contexto os demonstrativos também
lembranças a todos os seus. servem como palavras de função intensificadora ou
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo depreciativa. Júlia fez o exercício com aquela calma!
concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e (=expressão intensificadora). Não se preocupe; aquilo é uma
anotações. tranqueira! (=expressão depreciativa)
- Usam-se elegantemente certos pronomes oblíquos: me, - as formas nisso e nisto podem ser usadas com valor de
te, lhe, nos, vos, com o valor de possessivos. Vou seguir-lhe os então ou nesse momento. A festa estava desanimada; nisso, a
passos. (os seus passos) orquestra tocou um samba e todos caíram na dança.
- Deve-se observar as correlações entre os pronomes - os demonstrativos esse, essa, são usados para destacar um
pessoais e possessivos. “Sendo hoje o dia do teu aniversário, elemento anteriormente expresso. Ninguém ligou para o
apresso-me em apresentar-te os meus sinceros parabéns; incidente, mas os pais, esses resolveram tirar tudo a limpo.
Peço a Deus pela tua felicidade; Abraça-te o teu amigo que te
preza.” Pronomes Indefinidos: São aqueles que se referem à 3ª
- Não se emprega o pronome possessivo (seu, sua) quando pessoa do discurso de modo vago indefinido, impreciso:
se trata de parte do corpo. Veja: “Um cavaleiro todo vestido de Alguém disse que Paulo César seria o vencedor. Alguns desses
negro, com um falcão em seu ombro esquerdo e uma espada pronomes são variáveis em gênero e número; outros são
em sua, mão”. (usa-se: no ombro; na mão) invariáveis.
Variáveis: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco,
Pronomes Demonstrativos: Indicam a posição dos seres certo, vários, tanto, quanto, um, bastante, qualquer.
designados em relação às pessoas do discurso, situando-os no Invariáveis: alguém, ninguém, tudo, outrem, algo, quem,
espaço ou no tempo. Apresentam-se em formas variáveis e nada, cada, mais, menos, demais.
invariáveis.
Emprego dos Pronomes Indefinidos
- Em relação ao espaço:
Este (s), esta (s), isto: indicam o ser ou objeto que está Não sei de pessoa alguma capaz de convencê-lo. (alguma,
próximo da pessoa que fala. Exemplo: Este é o meu primeiro equivale a nenhum)
celular, amigos. - Em frases de sentido negativo, nenhum (e variações)
equivale ao pronome indefinido um: Fiquei sabendo que ele
Esse (s), essa (s), isso: designam a pessoa ou a coisa não é nenhum ignorante.
próxima daquela com quem falamos ou para quem - O indefinido cada deve sempre vir acompanhado de um
escrevemos. Exemplo: Senhor, quanto custa esse pacote de substantivo ou numeral, nunca sozinho: Ganharam cem
milho? dólares cada um. (inadequado: Ganharam cem dólares cada.)
- Colocados depois do substantivo, os pronomes
Aquele (s), aquela (s), aquilo: indicam o ser ou objeto que algum/alguma ganham sentido negativo. Este ano,
está longe de quem fala e da pessoa de quem se fala (3ª funcionário público algum terá aumento digno.
pessoa). Exemplo: Você pode me emprestar aquele livro de - Colocados antes do substantivo, os pronomes
matemática? algum/alguma ganham sentido positivo. Devemos sempre ter
alguma esperança.
Observação: - Certo, certa, certos, certas, vários, várias, são indefinidos
Os pronomes “Aquele(s)”, “Aquela(s)” também podem quando colocados antes do substantivo e adjetivos, quando
indicar afastamento temporal. Exemplos: colocados depois do substantivo: Certo dia perdi o controle da
Aqueles belos tempos que não voltam mais. situação. (antes do substantivo= indefinido); Eles voltarão no
Naquela época eram todas unidas. dia certo. (depois do substantivo=adjetivo).
- Todo, toda (somente no singular) sem artigo, equivale a
- Em relação ao tempo: qualquer: Todo ser nasce chorando. (=qualquer ser;
Este (s), esta (s), isto: indicam o tempo presente em indetermina, generaliza).
relação ao momento em que se fala. Exemplo: Este mês - Outrem significa outra pessoa: Nunca se sabe o
termina o prazo das inscrições para o vestibular da FAL. pensamento de outrem.
- Qualquer, plural quaisquer: Fazemos quaisquer negócios.
Esse (s), essa (s), isso: designam tempo no passado ou no
futuro. Exemplos: Onde você esteve essa semana toda? / Sei Locuções Pronominais Indefinidas: São locuções
que serei aprovado e, quando chegar esse momento, serei feliz! pronominais indefinidas duas ou mais palavras que equiva em
ao pronome indefinido: cada qual / cada um / quem quer que
seja / seja quem for / qualquer um / todo aquele que / um ou
outro / tal qual (=certo) / tal e, ou qual /

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APOSTILAS OPÇÃO

Pronomes Relativos: São aqueles que representam, numa tecnológicos ocorridos na década de 90. Com o advento dos
2ª oração, alguma palavra que já apareceu na oração anterior. navegadores, buscadores e computadores pessoais, era
Essa palavra da oração anterior chama-se antecedente: natural que tal assunto chamasse atenção até mesmo dos
Comprei um carro que é movido a álcool e à gasolina. É Flex leigos.
Power. Percebe-se que o pronome relativo que, substitui na 2ª Ainda que não seja mencionado na versão mais recente do
oração, o carro, por isso a palavra que é um pronome relativo. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
Dica: substituir que por o, a, os, as, qual / quais. (DSM-5, datado de 2013), os profissionais de psiquiatria e
Os pronomes relativos estão divididos em variáveis e psicologia do mundo inteiro são unânimes: o vício em internet
invariáveis. existe e é uma doença bastante perigosa. Hoje em dia temos
Variáveis: o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja, milhares de casos em todo o planeta, incluindo no Brasil, onde
cujas, quanto, quantos; ainda é bastante difícil encontrar tratamento especializado
Invariáveis: que, quem, quando, como, onde. para quem sofre desse mal.
Assim como outros transtornos psicológicos, a
Emprego dos Pronomes Relativos dependência em internet pode afetar qualquer pessoa, mas
alguns indivíduos possuem maior predisposição a
- O relativo que, por ser o mais usado, é chamado de desenvolverem a doença. De acordo com a psicóloga Daniela
relativo universal. Ele pode ser empregado com referência à Faertes, especialista em mudança de comportamento, pessoas
pessoa ou coisa, no plural ou no singular: Este é o CD novo que introvertidas e que têm dificuldades em manter relações
acabei de comprar; João Adolfo é o cara que pedi a Deus. interpessoais são as que possuem maior tendência a se
- O relativo que pode ter por seu antecedente o pronome tornarem viciadas.
demonstrativo o, a, os, as: Não entendi o que você quis dizer. Os fanáticos pela internet geralmente são afetados por
(o que = aquilo que). problemas pessoais ou familiares, incluindo bullying, exclusão
- O relativo quem refere se a pessoa e vem sempre social, frustrações profissionais, conturbações no casamento e
precedido de preposição: Marco Aurélio é o advogado a quem até mesmo dificuldades financeiras. Tendo isso em mente, o
eu me referi. acesso frenético à internet pode ser entendido como uma
- O relativo cujo e suas flexões equivalem a de que, do qual, válvula de escape desse indivíduo – um local confortável que
de quem e estabelecem relação de posse entre o antecedente e acaba tomando o lugar do mundo real.
o termo seguinte. (cujo, vem sempre entre dois substantivos) Para Daniela Faertes, é necessário que haja um
- O pronome relativo pode vir sem antecedente claro, autocontrole dos horários em que se acessa a internet e utiliza
explícito; é classificado, portanto, como relativo indefinido, e o telefone celular. “Uma das grandes questões é que, mesmo
não vem precedido de preposição: Quem casa quer casa; Feliz não sendo dependente, a internet provoca uma percepção
o homem cujo objetivo é a honestidade; Estas são as pessoas distorcida da passagem do tempo e, como a gama de assuntos
de cujos nomes nunca vou me esquecer. que pode ser acessada por ela é infinita, é necessário colocar
- Só se usa o relativo cujo quando o conseqüente é um limite pessoal”, observa.
diferente do antecedente: O escritor cujo livro te falei é Disponível em: <http://goo.gl/hFSm5J>. (Com
paulista. adaptações).
- O pronome cujo não admite artigo nem antes nem depois
de si. As expressões destacadas dos trechos “no qual ele
- O relativo onde é usado para indicar lugar e equivale a: descrevia um problema” e “para quem sofre desse mal”
em que, no qual: Desconheço o lugar onde vende tudo mais pertencem a uma categoria de palavras da língua que têm por
barato. (= lugar em que) função:
- Quanto, quantos e quantas são relativos quando usados (A) Indicar a retomada de informações introduzidas
depois de tudo, todos, tanto: Naquele momento, a querida previamente em outras passagens do texto.
comadre Naldete, falou tudo quanto sabia. (B) Sinalizar as relações (temporais, causais, adversativas,
por exemplo) existentes entre blocos de informações.
Pronomes Interrogativos: São os pronomes em frases (C) Apresentar um cenário em cujo interior informações
ínterrogativas diretas ou indiretas. Os principais subsequentes devem ser interpretadas.
interrogativos são: que, quem, qual, quanto: (D) Sintetizar as novas informações constantes no
- Afinal, quem foram os prefeitos desta cidade? parágrafo seguinte.
(interrogativa direta, com o ponto de interrogação)
- Gostaria de saber quem foram os prefeitos desta cidade. 02. (IF-PA - Auxiliar em Administração –
(interrogativa indireta, sem a interrogação) FUNRIO/2016)
O emprego do pronome relativo está de acordo com as
Questões normas da língua-padrão em:
(A) Finalmente aprovaram o decreto que lutamos tanto
01. (IF Sul – MG - Assistente em Administração – IF Sul- por ele.
MG/2016) (B) Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo que tenho
direito.
Vício em internet: quando o acesso à web se torna (C) Eu aprovaria o texto daquele parecer que o relator
uma doença apresentou ontem.
(D) Existe um escritor brasileiro que todos os brasileiros
Acredite ou não: o conceito de dependência em internet nos orgulhamos.
começou como uma piada. Em 1995, o psiquiatra norte- (E) Na política, às vezes acontecem traições onde mostram
americano Ivan Goldberg publicou um artigo satírico em seu muita sordidez.
site pessoal no qual ele descrevia um problema recém-
descoberto e batizado como IAD (sigla para Internet Addiction 03. (ELETROBRAS-ELETROSUL - Técnico de Segurança
Disorder, ou Desordem do Vício em Internet). do Trabalho – FCC/2016)
O que Goldberg não imaginava era que a imprensa e a
comunidade científica passariam a tratar o IAD como um
problema real, usando como gancho os rápidos avanços

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APOSTILAS OPÇÃO

Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo 05. (Pref. de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala –
movido a energia solar FEPESE/2016)
Analise a frase abaixo:
Bem no meio do deserto, há um lugar onde o calor é extremo.
Sessenta e três graus ou até mais no verão. E foi exatamente por “O professor discutiu............mesmos a respeito da
causa da temperatura que foi construída em Abu Dhabi uma das desavença entre .........e ........ .
maiores usinas de energia solar do mundo.
Os Emirados Árabes estão investindo em fontes energéticas Assinale a alternativa que completa corretamente as
renováveis. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra lacunas do texto.
por mais 100 anos pelo menos. O que pretendem é diversificar e (A) com nós • eu • ti
poluir menos. Uma aposta no futuro. (B) conosco • eu • tu
A preocupação com o planeta levou Abu Dhabi a tirar do (C) conosco • mim • ti
papel a cidade sustentável de Masdar. Dez por cento do (D) conosco • mim • tu
planejado está pronto. Um traçado urbanístico ousado, que (E) com nós • mim • ti
deixa os carros de fora. Lá só se anda a pé ou de bicicleta. As ruas
são bem estreitas para que um prédio faça sombra no outro. É 06. (COMLURB - Técnico de Segurança do Trabalho –
perfeito para o deserto. Os revestimentos das paredes isolam o IBFC/2016)
calor. E a direção dos ventos foi estudada para criar corredores Das opções abaixo, assinale a única que apresenta
de brisa. corretamente a colocação do pronome.
(Adaptado de: “Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com (A) Esqueci de te contar que vi ele na rua.
tudo movido a energia solar”. Disponível (B) Nunca pode-se falar mal de quem não conhece-se
em:http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2016/04/ab (C) Esta situação se-refere a assuntos empresariais.
u-dhabi-constroi-cidade-do-futuro-com-tudo-movido- (D) Precisa-se de bons funcionários.
energia-solar.html)
07. (MPE-RS - Agente Administrativo – MPE-RS/2016)
Considere as seguintes passagens do texto: Assinale a alternativa que preenche correta e
I. E foi exatamente por causa da temperatura que foi respectivamente as lacunas dos enunciados abaixo.
construída em Abu Dhabi uma das maiores usinas de energia 1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria
solar do mundo. (1º parágrafo) deverá ________ que ainda não há disponibilidade de recursos.
II. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra por 2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste
mais 100 anos pelo menos. (2º parágrafo) tipo de situação, a gravidade da ocorrência ________, sem
III. Um traçado urbanístico ousado, que deixa os carros de dúvida.
fora. (3º parágrafo) 3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles
IV. As ruas são bem estreitas para que um prédio faça não ________.
sombra no outro. (3º parágrafo)
(A) informar-lhe – a justificaria – revogam-na
O termo “que” é pronome e pode ser substituído por “o (B) informar-lhe – justificá-la-ia – a revogam
qual” APENAS em (C) informá-lo – justificar-lhe-ia – a revogam
(A) I e II. (D) informá-lo – a justificaria – lhe revogam
(B) II e III. (E) informar-lhe – justificá-la-ia – revogam-na
(C) I, II e IV.
(D) I e IV. 08. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Vespertina – MPE-
(E) III e IV. SC/2016)

04. (Pref. de Itaquitinga/PE - Assistente “As emoções não são um privilégio humano. Os bichos
Administrativo – IDHTEC/2016) também sentem tristeza, alegria, raiva, amor. Para
compreender ainda mais o comportamento deles, os zoólogos
tentam decifrar esses estados emocionais, estudando as suas
expressões corporais.
Os elefantes são considerados excelentes modelos para o
estudo dos sentimentos animais, pois parecem estar sempre
com a emoção à flor da pele. Quando um deles morre, os outros
fazem verdadeiros rituais fúnebres, formando um círculo em
torno do cadáver, sobre o qual depositam folhas e galhos,
enquanto choram copiosamente.”
(http:/super.abril.com.br/ciência/sentimento-animal)

Em “Para compreender ainda mais o comportamento


deles" a expressão sublinhada equivale a “o seu
comportamento”.
( ) Certo ( ) Errado
O emprego do pronome “aquela” na charge:
(A) Dá uma conotação irônica à frase. 09. (Prefeitura de Trindade/GO - Professor P − III
(B) Representa uma forma indireta de se dirigir ao casal. (Pedagogo) - FUNRIO/2016)
(C) Permite situar no espaço aquilo a que se refere.
(D) Indica posse do falante.
(E) Evita a repetição do verbo. NÃO É A PEÇA, É O QUE ELA REPRESENTA
O abaixo-assinado Vai ter shortinho sim, feito por alunas
de um colégio tradicional, em Porto Alegre, fez verão na mídia
do sul durante toda a última semana. No manifesto que

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APOSTILAS OPÇÃO

acompanha a petição − que já conta com mais de 20 mil (Produção de Texto, Maria Luíza M. Abaurre e Maria
apoiadores − as gurias exigem que algumas regras do Bernadete M. Abaurre)
vestuário sejam alteradas pela escola. No comovente
manifesto, meninas entre 13 e 18 anos exigem que a escola se A frase abaixo em que o emprego do demonstrativo
ocupe de ensinar respeito em vez de ditar o que elas podem ou sublinhado está inadequado é:
não vestir, explicam que regulações acerca da indumentária (A) “As capas deste livro que você leva são muito
feminina reforçam a ideia de que assediar é da natureza do separadas”. (Ambrose Bierce);
homem, e pedem que a escola abandone a mentalidade de que (B) “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis
cabe às mulheres a prevenção da violência sexual. “Ao invés de dizer, é porque um dos dois é burro”. (Mário Quintana);
humilhar meninas pelos seus corpos, ensinem os meninos que (C) “Claro que a vida é bizarra. O único modo de encarar
elas não são objetos sexuais”, diz o manifesto. O argumento isso é fazer pipoca e desfrutar o show”. (David Gerrold);
aqui é simples: abaixo o controle dos corpos das mulheres − (D) “Não há nenhum lugar nessa Terra tão distante quanto
controle que, historicamente, se manifesta com força na seara ontem”. (Robert Nathan);
das modas. Em O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir (E) “Escritor original não é aquele que não imita ninguém,
relata como as roupas podem ser ferramentas da opressão das é aquele que ninguém pode imitar”. (Chateaubriand).
mulheres, mas é bom lembrar que o foco da crítica feminista é
o machismo, more ele na diferença salarial, na pouca Respostas
representatividade política, em alguma vestimenta específica...
ou em sua proibição. E a proibição, que é exclusiva para as 01. Resposta A
meninas, só existe por causa de uma suposta falta de controle O pronome ele, de acordo com o comando da questão, está
da sexualidade masculina. O manifesto não é pelo direito de retomando um termo anterior - Anáfora, assim como a
usar uma roupa X, mas pelo direito de usar essa roupa sabendo palavra desse.
que a responsabilidade pelo que ela supostamente provocaria
nos rapazes é dos rapazes. A confusão acerca dessa petição 02. Resposta C
tem origem na falta de entendimento a respeito do argumento a) Finalmente aprovaram o
central do feminismo, que é a erradicação da opressão das decreto que lutamos tanto por ele.
mulheres em todas as suas formas − o que, necessariamente, Quem luta, luta por algo.
exige que os homens tomem responsabilidade por suas ações Forma correta: Finalmente aprovaram o decreto pelo
ao invés de culpar as mulheres quando eles “perdem o qual lutamos tanto.
controle”. Raramente as objeções que fazemos dizem respeito b) Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo que tenho
apenas aos objetos que aparecem como foco das nossas direito.
demandas. Assim, a campanha #vaitershortinhosim não é Tem direito a algo.
apenas sobre o direito de usar ou não shortinho na escola, mas Forma correta: Nas próximas férias, minha meta é fazer
também serve para promover a autonomia corporal de todas tudo a que tenho direito.
nós, e para que os homens sejam educados a respeitá-la. c) (GABARITO) Eu aprovaria o texto daquele
Adaptado de Joanna Burigo - Revista Carta Capital, parecer que o relator apresentou ontem.
02/03/2016. Apresentar: VTD.
d) Existe um escritor brasileiro que todos os brasileiros
Na oração “ao invés de culpar as mulheres”, a substituição nos orgulhamos.
do elemento destacado pelo pronome oblíquo correspondente Orgulhar de algo ou de alguém.
está correta em: Forma correta: Existe um escritor brasileiro do qual todos
(A) ao invés de culpá-las os brasileiros nos orgulhamos.
(B) ao invés de culpar-lhe e) Na política, às vezes acontecem traições onde mostram
(C) ao invés de culpar-nas muita sordidez.
(D) ao invés de lhes culpar Onde é usado para substituir termos que contenham a
(E) ao invés de culpar-lhes noção de lugar. Nesse caso não deveria ser usado onde e sim
as quais, concordando com traições.
10. (IBGE - Analista - Processos Administrativos e Forma correta: Na política, às vezes acontecem traições as
Disciplinares – FGV/2016) quais mostram muita sordidez.

Texto – A eficácia das palavras certas 03. Resposta B


QUE = o qual(s) a qual(s), é pronome relativo.
Havia um cego sentado numa calçada em Paris. A seus pés, I. E foi justamente por causa da temperatura O QUAL foi
um boné e um cartaz em madeira escrito com giz branco construída... (errado, a temperatura A qual)
gritava: “Por favor, ajude-me. Sou cego”. Um publicitário da II. Não vão substituir o petróleo, O QUAL eles têm de
área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas sobra... (certo, o petróleo tem de sobra, o qual)
poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz e III. Um traçado urbanístico ousado, O QUAL deixa os
com o giz escreveu outro conceito. Colocou o pedaço de carros... (certo, o traçado deixa os carros, o qual)
madeira aos pés do cego e foi embora. IV. As ruas são bem estreitas para ISSO.... (Conjunção
Ao cair da tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao integrante).
cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas
e moedas. O cego reconheceu as pegadas do publicitário e 04. Resposta C
perguntou se havia sido ele quem reescrevera o cartaz, “O pronome demonstrativo é utilizado em três situações.
sobretudo querendo saber o que ele havia escrito. Pode se referir a espaço, ideias ou elementos”.
O publicitário respondeu: “Nada que não esteja de acordo
com o conceito original, mas com outras palavras”. E, sorrindo, Exemplos de pronomes demonstrativos:
continuou o seu caminho. O cego nunca soube o que estava Primeira pessoa: este, estes, estas (variáveis); isto
escrito, mas seu novo cartaz dizia: “Hoje é primavera em Paris (invariável).
e eu não posso vê-la”. Segunda pessoa: esse, essa, esses, essas (variáveis); isso
(invariável).

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Terceira pessoa: aquele, aquela, aquelas (variáveis); aquilo b) “Quando alguém pergunta a um autor o que este (aqui
(invariável). está implícito autor) quis dizer, é porque um dos dois é burro”.
(Mário Quintana);
05. Resposta E c) “Claro que a vida é bizarra. O único modo de encarar isso
Os pronomes conosco e convosco devem ser substituídos (refere-se a vida) é fazer pipoca e desfrutar o show”. (David
por com nós e com vós, respectivamente, quando aparecem Gerrold);
seguidos de palavras enfáticas como mesmos, próprios, d) “Não há nenhum lugar nessa (refere-se a lugar) terra
todos, outros, ambos, ou de numeral: tão distante quanto ontem”. (Robert Nathan);
O diretor implicou com nós dois. e) “Escritor original não é aquele (termo distante de quem
Senhores deputados, quero falar com vós mesmos. fala e com quem eu falo) que não imita ninguém, é aquele
O pronome regido pela preposição entre deve aparecer na (termo distante de quem fala e com quem eu falo) que ninguém
forma oblíqua. Assim, é correto dizer entre mim e ele, entre ela pode imitar”. (Chateaubriand).
e ti, entre mim e ti. Os pronomes pessoais do caso oblíquo
funcionam como complementos: Isso não convém a mim, Advérbio
Foram embora sem ti, Olhou para mim. Os pronomes pessoais
do caso reto exercem a função de sujeito na oração. Dessa Advérbio é a palavra invariável que modifica um verbo
forma, os pronomes eu e tu estão empregados corretamente (Chegou cedo), um outro advérbio (Falou muito bem), um
nos seguintes casos: Pediu que eu fizesse as compras, Saberão adjetivo (Estava muito bonita). De acordo com a circunstância
só quando tu partires, Trouxeram o documento para eu assinar. que exprime, o advérbio pode ser de:
Tempo: ainda, agora, antigamente, antes, amiúde
06. Resposta D (=sempre), amanhã, breve, brevemente, cedo, diariamente,
a) Esqueci - me de te contar que vi ele na rua. - Estaria depois, depressa, hoje, imediatamente, já, lentamente, logo,
CORRETO novamente, outrora.
b) Nunca SE pode falar mal de quem não conhece- Lugar: aqui, acolá, atrás, acima, adiante, ali, abaixo, além,
se. Estaria CORRETO algures (=em algum lugar), aquém, alhures (= em outro lugar),
c) Esta situação se-refere a assuntos empresariais. aquém,dentro, defronte, fora, longe, perto.
ERRADO! Modo: assim, bem, depressa, aliás (= de outro modo ),
c) Esta situação REFERE-SE a assuntos empresariais. devagar, mal, melhor pior, e a maior parte dos advérbios que
Estaria CORRETO! termina em mente: calmamente, suavemente, rapidamente,
d) Precisa-se de bons funcionários. A colocação do tristemente.
pronome está correta de acordo com a regra. Afirmação: certamente, decerto, deveras, efetivamente,
realmente, sim, seguramente.
07. Resposta B Negação: absolutamente, de modo algum, de jeito
1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria nenhum, nem, não, tampouco (=também não).
deverá INFORMAR-LHE que ainda não há disponibilidade de Intensidade: apenas, assaz bastante bastante, bem,
recursos. O pronome LHE caracteriza um objeto indireto, que demais,mais, meio, menos, muito, quase, quanto, tão, tanto,
no caso é o Senhor Secretário; o objeto direto é:"que ainda não pouco.
há disponibilidade de recursos". Dúvida: acaso, eventuamente, por ventura, quiçá,
2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste possivelmente, talvez.
tipo de situação, a gravidade
da ocorrência JUSTIFICÁ-LA-IA, sem dúvida. Se o verbo Advérbios Interrogativos: São empregados em orações
estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito, interrogativas diretas ou indiretas. Podem exprimir: lugar,
ocorrerá a mesóclise, desde que não haja palavra atrativa Ex: tempo, modo, ou causa.
“a gravidade da ocorrência NÃO A justificaria". - Onde fica o Clube das Acácias ? (direta)
3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles - Preciso saber onde fica o Clube das Acássias.
não A revogam. O advérbio de negação NÃO atrai o pronome
oblíquo A causando uma próclise. (indireta)
- Quando minha amiga Delma chegará de Campinas?
08. Certo (direta)
Questão de interpretação: O comportamento é um só. - Gostaria de saber quando minha amiga Delma chegará de
O que são deles? O comportamento. O seu Campinas. (indireta)
comportamento....
Locuçoes Adverbiais: São duas ou mais palavras que têm
09. Resposta A o valor de advérbio: às cegas, às claras, às toa, às pressas, às
Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois escondidas, à noite, à tarde, às vezes, ao acaso, de repente, de
de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z, chofre, de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de
-s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo medo, com certeza, por perto, por um triz, de vez em quando,
tempo que a terminação verbal é suprimida. sem dúvida, de forma alguma, em vão, por certo, à esquerda, à
Por exemplo: direta, a pé, a esmo, por ali, a distância.
fiz + o = fi-lo - De repente o dia se fez noite.
fazeis + o = fazei-lo - Por um triz eu não me denunciei.
dizer + a = dizê-la - Sem dúvida você é o melhor.

10. Resposta A Graus dos Advérbios: o advérbio não vai para o plural, são
a) “As capas desse livro que você leva são muito palavras invariáveis, mas alguns admitem a flexão de grau:
separadas”. (Ambrose Bierce); comparativo e superlativo.
Este - próximo do falante / esse - próximo do
ouvinte / aquele - longe do ouvinte e do falante.

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Comparativo de: (C) Descobri o meio de acertar.


Igualdade - tão + advérbio + quanto, como: Sou tão feliz (D) Parou no meio da rua.
quanto / como você. (E) Comprou um metro e meio.
Superioridade - Analítico: mais do que: Raquel é mais
elegante do que eu. 02. Só não há advérbio em:
- Sintético: melhor, pior que: Amanhã será melhor do que (A) Não o quero.
hoje. (B) Ali está o material.
Inferioridade - menos do que: Falei menos do que devia. (C) Tudo está correto.
(D) Talvez ele fale.
Superlativo Absoluto: (E) Já cheguei.
Analítico - mais, muito, pouco,menos: O candidato
defendeu-se muito mal. 03. Qual das frases abaixo possui advérbio de modo?
Sintético - íssimo, érrimo: Localizei-o rapídíssimo. (A) Realmente ela errou.
(B) Antigamente era mais pacato o mundo.
Palavras e Locuções Denotativas: São palavras (C) Lá está teu primo.
semelhantes a advérbios e que não possuem classificação (D) Ela fala bem.
especial. Não se enquadram em nenhuma das dez classes de (E) Estava bem cansado.
palavras. São chamadas de denotativas e exprimem:
Afetividade: felizmente, infelizmente, ainda bem: Ainda 04. Classifique a locução adverbial que aparece em
bem que você veio. "Machucou-se com a lâmina".
Designação, Indicação: eis: Eis aqui o herói da turma. (A) modo
Exclusão: exclusive, menos, exceto, fora, salvo, senão, (B) instrumento
sequer: Não me disse sequer uma palavra de amor. (C) causa
Inclusão: inclusive, também, mesmo, ainda, até, além disso, (D) concessão
de mais a mais: Também há flores no céu. (E) fim
Limitação: só, apenas, somente, unicamente: Só Deus é
perfeito. 05. (UFCG - Administrador – UFCG/2016)
Realce: cá, lá, é que, sobretudo, mesmo: Sei lá o que ele quis
dizer! Os zigue-zagues do conforto
Retificação: aliás, ou melhor, isto é, ou antes: Irei à Bahia
na próxima semana, ou melhor, no próximo mês. Hoje, a ideologia do conforto varreu nossa sociedade. É um
Explicação: por exemplo, a saber: Você, por exemplo, tem grande motor da publicidade e do consumismo. Contudo, o
bom caráter. avanço não é linear, havendo atrasos técnicos e retrocessos.
Em três áreas enguiçadas, o conforto e desconforto se
Emprego do Advérbio embaralham.
A primeira é o conforto acústico. Raras salas de aula
- Na linguagem coloquial, familiar, é comum o emprego do oferecem um mínimo de condições. Padecem os professores,
sufixo diminutivo dando aos advérbios o valor de superlativo pois só berrando podem ser ouvidos. Uma conversa tranquila
sintético: agorinha, cedinho, pertinho, devagarinho, é impossível na maioria dos restaurantes. Em muitos, não pode
depressinha, rapidinho (bem rápido): Rapidinho chegou a haver conversa de espécie alguma. O bê-á-bá do tratamento
casa; Moro pertinho da universidade. acústico é trivial. Por que temos de ser torturados por tantos
- Frequenternente empregamos adjetivos com valor de decibéis malvados?
advérbio: A cerveja que desce redondo. (redondamente) A segunda é o conforto térmico. Quem gosta de sentir frio
- Bastante - antes de adjetivo, é advérbio, portanto, não vai ou calor? Na verdade, não se trata de gostar, mas de ser
para o plural; equivale a muito / a: Aquelas jovens são bastante atropelado por imperativos culturais. Por não precisarem se
simpáticas e gentis. impor pela vestimenta, oficiais britânicos usavam bermudas e
- Bastante, antes de substantivo, é adjetivo, portanto vai camisas de mangas curtas nos trópicos. Mas no Rio de Janeiro,
para o plural, equivale a muitos / as: Contei bastantes estrelas a aristocracia do Segundo Império não saía de casa sem terno,
no céu. colete e sobrecasaca, todos de espessa casimira inglesa. E
- Não confunda mal (advérbio, oposto de bem) com mau mais: gravata, camisa de peito duro, cartola e luvas. E se assim
(adjetivo, oposto de bom): Mal cheguei a casa, encontrei- a de fazia a nobreza, o povaréu tentava imitar. Até o meio século
mau humor. passado, as elegantes usavam casaco de pele na capital. Hoje, a
- Antes de verbo no particípio, diz-se mais bem, mais mal: moda deu cambalhota, o chique é sentir frio. Quanto mais
Ficamos mais bem informados depois do noticiário notumo. importante, mais gélido será o gabinete da autoridade. Mas a
- Em frase negativa o advérbio já equivale a mais: Já não se maneira de conquistar esse conforto térmico tende a ser
fazem professores como antigamente. (=não se fazem mais) equivocada.
- Na locução adverbial a olhos vistos (=claramente), o Estive em um hotel do Nordeste amplamente servido pela
particípio permanece no masculino plural: Minha irmã Zuleide agradável brisa do mar e cuja propaganda é ser “ecológico”. No
emagrecia a olhos vistos. entanto, é ar condicionado dia e noite, pois a arquitetura não
- Dois ou mais advérbios terminados em mente, apenas no permite a circulação natural do ar. Pior, como na maioria das
último permanece mente: Educada e pacientemente, falei a nossas edificações, o isolamento é péssimo. Um minuto
todos. desligado, e quase sufocamos de calor. Uma parede comum de
- A repetição de um mesmo advérbio assume o valor alvenaria tem um décimo da resistência térmica recomendada
superlativo: Levantei cedo, cedo. pela Comunidade Europeia. E do excesso de vidros, nem falar!
A terceira é uma birra pessoal, já que minha profissão me
Questões leva a falar em público. Os arquitetos não descobriram que o
PowerPoint requer uma sala que escureça e uma iluminação
01. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio: que não vaze na tela. Sem isso, ou a projeção fica esmaecida ou,
(A) Só quero meio quilo. se é apagada a luz, do professor só se vê o vulto. A solução é
(B) Achei-o meio triste. ridiculamente simples: um spot no conferencista.

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E assim vamos, aos encontrões com o desconforto, em comer mal, às vezes até a não comer nada. Não sou mentiroso
recorrente zigue-zague. e posso dizer que já vi inúmeras vezes, aqui no Rio, gente que
(CASTRO, Cláudio de Moura. Veja, prefere vasculhar uma lata de lixo a entrar em um restaurante
11/02/2015,p.18,fragmento) e pedir um filé à Chateaubriand. O dr. Maynard decerto ficaria
muito aborrecido se visse um ser humano escolher tão mal
Qual o advérbio ou expressão adverbial que marca a seus alimentos. Mas nós sabemos que é por causa dessas e
apreciação do autor sobre o conteúdo da oração? outras que o Brasil não vai pra frente.
(A) Até o meio século passado (3º§). CAMPOS, Paulo Mendes. De um caderno cinzento. São
(B) Hoje (3º§). Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 40-42.
(C) Assim (6º§).
(D) Ridiculamente (5º§). A palavra mal tem valor semântico de intensidade na
(E) Em muitos (2º§). seguinte frase:
(A) Mal entrou em casa, foi preparando um sanduíche.
06. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Vespertina – MPE- (B) Se você se alimenta mal, está exposto a doenças.
SC/2016) (C) Quando estou estressado, mal me alimento.
(D) O mal está em você substituir almoço por lanche
“A Família Schürmann, de navegadores brasileiros, chegou
ao ponto mais distante da Expedição Oriente, a cidade de 08. (Pref. de Cascavel/PR - Agente Comunitário de
Xangai, na China. Depois de 30 anos de longas navegações, essa Saúde – CONSULPLAN/2016)
é a primeira vez que os Schürmann aportam em solo chinês. A
negociação para ter a autorização do país começou há mais de A AIDS na adolescência
três anos, quando a expedição estava em fase de planejamento.
Essa também é a primeira vez que um veleiro brasileiro recebe A adolescência é um período da vida caracterizado por
autorização para aportar em solo chinês, de acordo com as intenso crescimento e desenvolvimento, que se manifesta por
autoridades do país.” transformações físicas, psicológicas e sociais. Ela representa
(http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/03/bfamilia um período de crise, na qual o adolescente tenta se integrar a
-schurmannb-navega-pela-primeira-vez-na-antartica.html) uma sociedade que também está passando por intensas
modificações e que exige muito dele. Dessa forma, o jovem se
Em “Essa também é a primeira vez” há ideia de inclusão. vê frente a um enorme leque de possibilidades e opções e, por
( ) Certo ( ) Errado sua vez, quer explorar e experimentar tudo a sua volta.
Algumas dessas transformações e dificuldades que a
07. (Prefeitura de Rio de Janeiro/RJ - Assistente juventude enfrenta, principalmente relacionadas à
Administrativo – Pref. do Rio de Janeiro/2016) sexualidade, bem como ao abuso de drogas ilícitas, aumentam
as chances dos adolescentes de adquirirem a infecção por HIV,
Crônica fazendo-se necessária a realização de programas de prevenção
e controle da AIDS na adolescência.
Como o povo brasileiro é descuidado a respeito de Estudos de vários países têm demonstrado a crescente
alimentação! É o que exclamo depois de ler as recomendações ocorrência de AIDS entre os adolescentes, sendo que,
de um nutricionista americano, o dr. Maynard. Diz este: “A atualmente, as taxas de novas infecções são maiores entre a
apatia, ou indiferença, é uma das causas principais das dietas população jovem. Quase metade dos novos casos de AIDS
inadequadas.” Certo, certíssimo. Ainda ontem, vi toda uma ocorre entre os jovens com idade entre 15 e 24 anos.
família nordestina estendida em uma calçada do centro da Considerando que a maioria dos doentes está na faixa dos 20
cidade, ali bem pertinho do restaurante Vendôme, mas apática, anos, conclui-se que a grande parte das infecções aconteceu no
sem a menor vontade de entrar e comer bem. Ensina ainda o período da adolescência, uma vez que a doença pode ficar por
especialista: “Embora haja alimentos em quantidade longo tempo assintomática.
suficiente, as estatísticas continuam a demonstrar que muitas Existem algumas características comportamentais,
pessoas não compreendem e não sabem selecionar os socioeconômicas e biológicas que fazem com que os jovens
alimentos”. É isso mesmo: quem der uma volta na feira ou no sejam um grupo propenso à infecção pelo HIV. Dentre as
supermercado vê que a maioria dos brasileiros compra, por características comportamentais, destaca-se a sexualidade
exemplo, arroz, que é um alimento pobre, deixando de lado entre os adolescentes. Muitas vezes, a não utilização dos
uma série de alimentos ricos. Quando o nosso povo irá tomar preservativos está relacionada ao abuso de álcool e outras
juízo? Doutrina ainda o nutricionista americano: “Uma boa drogas, os quais favorecem a prática do sexo inseguro. Outras
dieta pode ser obtida de elementos tirados de cada um dos vezes os jovens não usam o preservativo quando em
seguintes grupos de alimentos: o leite constitui o primeiro relacionamentos estáveis, justificando que seu uso pode gerar
grupo, incluindo-se nele o queijo e o sorvete”. Embora desconfiança em relação à fidelidade do casal, apesar de que,
modestamente, sempre pensei também assim. No entanto, ali no mundo, hoje, o uso de preservativo nas relações poderia
na praia do Pinto é evidente que as crianças estão desnutridas, significar uma prova de amor e proteção para com o outro.
pálidas, magras, roídas de verminoses. Por quê? Porque seus Observa-se, também, que muitas jovens abrem mão do
pais não sabem selecionar o leite e o queijo entre os principais preservativo por medo de serem abandonadas ou maltratadas
alimentos. A solução lógica seria dar-lhes sorvete, todas as por seus parceiros. Por outro lado, o fato de estar apaixonado
crianças do mundo gostam de sorvete. Engano: nem todas. Nas faz com que o jovem crie uma imagem falsa de segurança,
proximidades do Bob´s e do Morais há sempre bandos de negando os riscos inerentes ao não uso do preservativo.
meninos favelados que ficam só olhando os adultos que Outro fator importante a ser levado em consideração é o
descem dos carros e devoram sorvetes enormes. Crianças grande apelo erótico emitido pelos meios de comunicação,
apáticas, indiferentes. Citando ainda o ilustre médico: “A carne frequentemente direcionado ao adolescente. A televisão
constitui o segundo grupo, recomendando-se dois ou mais informa e forma opiniões, unificando padrões de
pratos diários de bife, vitela, carneiro, galinha, peixe ou ovos”. comportamento, independente da tradição cultural, colocando
Santo Maynard! Santos jornais brasileiros que divulgam as o jovem frente a uma educação sexual informal que propaga o
suas palavras redentoras! E dizer que o nosso povo faz ouvidos sexo como algo não planejado e comum, dizendo que “todo
de mercador a seus ensinamentos, e continua a comer pouco, mundo faz sexo, mas poucos adoecem”.

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(Disponível em: http://www.boasaude.com.br/artigos- A fonte térmica é o coração da aldeia, sua razão de existir:
de-saude/3867/-1/a-aids-na-adolescencia.html. Adaptado.) os criadores de renas visitavam a fonte para hidratar os
animais, e retornaram várias vezes até que a aldeia se tornou
No trecho “Outro fator importante a ser levado em um povoado permanente (o nome Oimiakon significa,
consideração é o grande apelo erótico emitido pelos meios de literalmente, “água descongelada”).
comunicação, frequentemente direcionado ao adolescente.” Mas morar no lugar habitado mais frio da Terra tem
(4º§), a expressão destacada exprime ideia de algumas desvantagens específicas. Em geral, os banheiros
(A) modo. ficam fora de casa, porque encanamentos são problemáticos
(B) ordem. em caso de congelamento. Os moradores têm carro, mas
(C) dúvida. precisam deixá-los ligados ao ar livre, às vezes a noite inteira,
(D) escolha. para que as partes mecânicas não congelem. Mesmo assim, às
(E) inclusão. vezes medidas mais extremas são necessárias.
“Um sujeito com o qual viajei deixou o caminhão ligado a
09. (Consurge - MGProva: Psicólogo – Gestão noite toda, mas, mesmo assim, pela manhã o eixo de
Concurso/2016) transmissão estava totalmente congelado. Sem nenhuma
cerimônia, ele pegou um maçarico, entrou debaixo do veículo
O lugar mais frio da Terra e começou a lamber tudo com o fogo”, diz Chapple. “O maçarico
Bem-vindo à minúscula aldeia da República de Sakha, faz parte da caixa de ferramentas [de quem mora em
na Rússia, que ocupa um lugar inquestionável nos livros Oimiakon]”.
de recordes GEILING, Natasha. O lugar mais frio da Terra. Seleções. 29
jan. 2016. Disponível em: <http://zip.net/bhs0B9> .
Para a maioria, a cidadezinha de Oimiakon não estaria no (Adaptação).
alto da lista de destinos turísticos. É a região com povoamento
permanente mais fria da Terra, localizada a algumas centenas Assinale a alternativa em que a palavra ou trecho
de quilômetros do Círculo Polar Ártico, na tundra russa. Mas, destacado não desempenha uma função adverbial na
para o fotógrafo neozelandês Amos Chapple, foi uma afirmativa.
oportunidade que ele não podia recusar. (A) “[...] mas a cidade é um lugar com economia vibrante,
Chapple trabalhava como professor de inglês na Rússia povoada principalmente graças à abundância de recursos
para financiar suas fotografias de viagens, e a ida a Oimiakon naturais [...].”
seria a oportunidade de embarcar num projeto fotográfico (B) “[...] peixe congelado raspado em lascas finíssimas.”
inigualável. Para chegar à aldeia que, em 1933, bateu o recorde (C) “Nas horas que Chapple passou perambulando
de lugar mais frio da Terra, com a temperatura de –67,7 ºC, pelas ruas da aldeia, seus principais companheiros foram os
Chapple teria primeiro de ir a Iakutsk, capital da região, a seis cachorros de rua ou os bêbados [...]”
fusos horários de Moscou. (D) “[...] Sem nenhuma cerimônia, ele pegou um maçarico,
Em Iakutsk, a temperatura em janeiro cai a cerca de –40 ºC, entrou debaixo do veículo e começou a lamber tudo com o
mas a cidade é um lugar com economia vibrante, povoada fogo [...].
principalmente graças à abundância de recursos naturais: há
diamantes, petróleo e gás. Oimiakon fica a 927 quilômetros de 10. (UNIFESP - Técnico em Segurança do Trabalho –
Iakutsk. Para chegar lá, Chapple teve de viajar dois dias, com VUNESP/2016)
uma combinação de caronas e vans.
Em certo momento, ele se viu perdido num posto de É permitido sonhar
gasolina. “Passei dois dias comendo carne de rena”, diz
Chapple, recordando a pequena casa de chá, ironicamente Os bastidores do vestibular são cheios de histórias –
chamada Café Cuba, que nesse período só servia essa única curiosas, estranhas, comoventes. O jovem que chega atrasado
opção de prato. “Rena é a carne mais comum da tundra.” por alguns segundos, por exemplo, é uma figura clássica, e
Os habitantes da região mais fria da Terra não comem só patética. Mas existem outras figuras capazes de chamar a
rena, mas sua dieta inclui muita carne. Chapple também comeu atenção.
um prato de macarrão e nacos congelados de sangue de cavalo, Takeshi Nojima é um caso. Ele fez vestibular para a
além de uma especialidade de Iakutsk: peixe congelado Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná. Veio do
raspado em lascas finíssimas. “Lembra sashimi congelado e é Japão aos 11 anos, trabalhou em várias coisas, e agora quer
divino”, diz ele. “A textura do peixe congelado com as começar uma carreira médica.
pontinhas quentes é muito especial e deliciosa.” Nada surpreendente, não fosse a idade do Takeshi: ele tem
Quando chegou a Oimiakon, cuja população oscila em 80 anos. Isto mesmo, 80. Numa fase em que outros já passaram
torno de 500 habitantes permanentes, Chapple se espantou ao até da aposentadoria compulsória, ele se prepara para iniciar
ver que a cidade estava vazia. “Simplesmente não havia nova vida. E o faz tranquilo: “Cuidei de meus pais, cuidei dos
ninguém nas ruas. Eu esperava que tivessem se acostumado meus filhos. Agora posso realizar um sonho que trago da
com o frio e que houvesse uma vida cotidiana em andamento, infância”.
mas em vez disso todo mundo tratava o frio com muita Não faltará quem critique Takeshi Nojima: ele está tirando
cautela”, diz ele. “Parecia extremamente desolado. Não era, o lugar de jovens, dirá algum darwinista social. Eu ponderaria
mas tudo acontecia em ambiente fechado, e eu não era bem- que nem tudo na vida se regula pelo critério cronológico. Há
vindo nos ambientes fechados.” pais que passam muito pouco tempo com os filhos e nem por
Nas horas que Chapple passou perambulando pelas ruas isso são maus pais; o que interessa é a qualidade do tempo, não
da aldeia, seus principais companheiros foram os cachorros de a quantidade. Talvez a expectativa de vida não permita ao
rua ou os bêbados (o alcoolismo é excessivo em Oimiakon). vestibulando Nojima uma longa carreira na profissão médica.
Ainda assim, a vida na aldeia continua. As escolas só fecham Mas os anos, ou meses, ou mesmo os dias que dedicar a seus
quando a temperatura cai abaixo de –50 ºC. Os fazendeiros pacientes terão em si a carga afetiva de uma existência inteira.
levam suas vacas ao bebedouro da aldeia – uma fonte Não sei se Takeshi Nojima passou no vestibular; a notícia
“térmica” que fica pouco acima do ponto de congelamento – e que li não esclarecia a respeito. Mas ele mesmo disse que isto
depois voltam com elas para os estábulos protegidos. não teria importância: se fosse reprovado, começaria tudo de
novo. E aí de novo ele dá um exemplo. Os resultados do difícil

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APOSTILAS OPÇÃO

exame trazem desilusão para muitos jovens, e não são poucos 08. Resposta A
os que pensam em desistir por causa de um fracasso. A estes Dica: A "maioria" que termina com o sufixo mente é
eu digo: antes de abandonar a luta, pensem em Takeshi advérbio de MODO !
Nojima, pensem na força de seu sonho. Sonhar não é proibido.
É um dever. 09. Resposta B
(Moacyr Scliar. Minha mãe não dorme enquanto eu não "lascas finíssimas" - função adjetiva.
chegar, 1996. Adaptado)
10. Resposta B
Observe as passagens: Agora = tempo
– … e agora quer começar uma carreira médica. (2° Isto mesmo = afirmação
parágrafo); Talvez = dúvida
– … ele tem 80 anos. Isto mesmo, 80. (3° parágrafo);
– Talvez a expectativa de vida não permita… (4° Preposição
parágrafo).
É a palavra invariável que liga um termo dependente a um
As expressões destacadas expressam, respectivamente, termo principal, estabelecendo uma relação entre ambos. As
sentido de preposições podem ser: essenciais ou acidentais. As
(A) lugar, modo e causa. preposições essenciais atuam exclusivamente como
(B) tempo, afirmação e dúvida. preposições. São: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em,
(C) afirmação, afirmação e dúvida. entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. Exemplos: Não
(D) tempo, modo e afirmação. dê atençâo a fofocas; Perante todos disse, sim.
(E) modo, dúvida e intensidade. As preposições acidentais são palavras de outras classes
que atuam eventualmente como preposições. São: como (=na
Respostas qualidade de), conforme (=de acordo com), consoante, exceto,
mediante, salvo, visto, segundo, senão, tirante: Agia conforme
01. Resposta B sua vontade. (= de acordo com)
Alternativa A: meio quilo = quantidade
Alternativa B (correta): meio triste = advérbio de - O artigo definido a que vem sempre acompanhado de um
intensidade substantivo, é flexionado: a casa, as casas, a árvore, as árvores,
Alternativa C: descobri o meio = jeito, maneira a estrela, as estrelas. A preposição a nunca vai para o plural e
Alternativa D: meio da rua = metade não estabelece concordância com o substantivo. Exemplo: Fiz
Alternativa E: um metro e meio = quantidade todo o percurso a pé. (não há concordância com o substantivo
masculino pé)
02. Reposta C - As preposições essenciais são sempre seguidas dos
Alternativa A: Não – advérbio de negação pronomes pessoais oblíquos: Despediu-se de mim
Alternativa B: Ali – advérbio de lugar rapidamente. Não vá sem mim.
Alternativa D:Talvez – advérvio de dúvida
Alternativa E: Já – advérbio de tempo Locuções Prepositivas: É o conjunto de duas ou mais
palavras que têm o valor de uma preposição. A última palavra
03. Resposta D é sempre uma preposição. Veja quais são: abaixo de, acerca de,
Alternativa A: Realmente – advérbio de afirmação acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, dentro de,
Alternativa B: Antigamente – advérbio de tempo embaixo de, em cima de, em frente a, em redor de, graças a,
Alternativa C: Lá – advérbio de lugar junto a, junto de, perto de, por causa de, por cima de, por trás
Alternativa D (correta): Bem – advérbio de modo / de, a fim de, além de, antes de, a par de, a partir de, apesar de,
modifica a maneiro com que ela fala. através de, defronte de, em favor de, em lugar de, em vez de,
Alternativa E: Bem- advérbio de intensidade (=no lugar de), ao invés de (=ao contrário de), para com, até a.

04. Resposta B - Não confunda locução prepositiva com locução adverbial.


“Com a lâmina” = instrumento Na locução adverbial, nunca há uma preposição no final, e sim
no começo: Vimos de perto o fenômeno do "tsunami".
05. Resposta D (locução adverbial); O acidente ocorreu perto de meu atelier.
Sufixo "MENTE" ,em sua maioria, é advérbio de modo. (locução prepositiva)
- Uma preposição ou locução prepositiva pode vir com
06. Certo outra preposição: Abola passou por entre as pernas do
Palavras e Locuções Denotativas. goleiro. Mas é inadequado dizer: Proibido para menores de até
Inclusão: até, ainda, além disso, também, inclusive, etc. 18 anos; Financiamento em até 24 meses.

07. Resposta C Combinações e Contrações


a) Mal entrou em casa, foi preparando um sanduíche. Está
indicando tempo (advérbio de tempo). Pode ser substituído Combinação: ocorre combinação quando não há perda de
por "quando". fonemas: a+o,os= ao, aos / a+onde = aonde.
b) Se você se alimenta mal, está exposto a doenças. Está
indicando modo (advérbio de modo). Se você se alimenta de Contração: ocorre contração quando a preposição perde
maneira errada ou péssima. fonemas: de+a, o, as, os, esta, este, isto =da, do, das, dos, desta,
c) Quando estou estressado, mal me alimento. Está deste, disto.
indicando intensidade (advérbio de intensidade), podendo ser - em+ um, uma, uns, umas,isto, isso, aquilo, aquele, aquela,
substituído por "pouco". aqueles, aquelas = num, numa, nuns, numas, nisto, nisso,
d) O mal está em você substituir almoço por lanche. Foi naquilo, naquele, naquela, naqueles.
substantivado. A principal indicação desse fenômeno é o uso - de+ entre, aquele, aquela, aquilo = dentre, daquele,
de artigo antes da palavra. daquela, daquilo.

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- para+ a = pra. Questões


A contração da preposição a com os artigos ou pronomes
demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo recebe o nome de 01. (Ceron/RO - Direito – EXATUS/2016)
crase e é assinalada na escrita pelo acento grave ficando assim:
à, às, àquele, àquela, àquilo. A lição do fogo

Valores das Preposições 1º Um membro de determinado grupo, ao qual prestava


serviços regularmente, sem nenhum aviso, deixou de
A (movimento=direção): Foram a Lucélia comemorar os participar de suas atividades.
Anos Dourados. modo: Partiu às pressas. tempo: Iremos nos 2º Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu
ver ao entardecer. Apreposição a indica deslocamento rápido: visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem
Vanios à praia. (ideia de passear) em casa sozinho, sentado diante ______ lareira, onde ardia um
Ante (diante de): Parou ante mim sem dizer nada, tanta fogo brilhante e acolhedor.
era a emoção. tempo (substituída por antes de): Preciso 3º Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-
chegarao encontro antes das quatro horas. vindas ao líder, conduziu-o a uma cadeira perto da lareira e
Após (depois de): Após alguns momentos desabou num ficou quieto, esperando. O líder acomodou-se
choro arrependido. confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No
Até (aproximação): Correu até mim. tempo: Certamente silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das
teremos o resultado do exame até a semana que vem. Atenção: chamas em torno das achas da lenha, que ardiam. Ao cabo de
Se a preposição até equivaler a inclusive, será palavra de alguns minutos, o líder examinou as brasas que se formaram.
inclusão e não preposição. Os sonhadores amam até quem os Cuidadosamente, selecionou uma delas, a mais incandescente
despreza. (inclusive) de todas, empurrando-a ______ lado. Voltou, então, a sentar-se,
Com (companhia): Rir de alguém é falta de caridade; permanecendo silencioso e imóvel. O anfitrião prestava
deve-se rir com alguém. causa: A cidade foi destruída com o atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos poucos, a chama da
temporal. instrumento: Feriu-se com as próprias armas. brasa solitária diminuía, até que houve um brilho
modo: Marfinha, minha comadre, veste-se sempre com momentâneo e seu fogo se apagou de vez.
elegância. 4º Em pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e
Contra (oposição, hostilidade): Revoltou-se contra a luz agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de
decisão do tribunal. direção a um limite: Bateu contra o muro carvão recoberto _____ uma espessa camada de fuligem
e caiu. acinzentada. Nenhuma palavra tinha sido dita antes desde o
De (origem): Descendi de pais trabalhadores e honestos. protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos. O líder,
lugar: Os corruptos vieram da capital. causa: O bebé chorava antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão
de fome. posse: Dizem que o dinheiro do povo sumiu. assunto: frio e inútil, colocando-o de volta ao meio do fogo. Quase que
Falávamos do casamento da Mariele. matéria: Era uma casa de imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e
sapé. A preposição de não deve contrair-se com o artigo, que calor dos carvões ardentes em torno dele. Quando o líder
precede o sujeito de um verbo. É tempo de os alunos alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse:
estudarem. (e não: dos alunos estudarem) 5º – Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão.
Desde (afastamento de um ponto no espaço): Essa neblina Estou voltando ao convívio do grupo.
vem desde São Paulo. tempo: Desde o ano passado quero RANGEL, Alexandre (org.). As mais belas parábolas de
mudar de casa. todos os tempos –Vol. II.Belo Horizonte: Leitura, 2004.
Em (lugar): Moramos em Lucélia há alguns anos. matéria:
As queridas amigas Nilceia e Nadélgia moram em Curitiba. Assinale a alternativa que preenche corretamente as
especialidade: Minha amiga Cidinha formou-se em Letras. lacunas do texto:
tempo: Tudo aconteceu em doze horas. (A) a – ao – por.
Entre (posição entre dois limites): Convém colocar o vidro (B) da – para o – de.
entre dois suportes. (C) à – no – a.
Para direção: Não lhe interessava mais ir para a Europa. (D) a – de – em.
tempo: Pretendo vê-lo lá para o final da semana. finalidade:
Lute sempre para viver com dignidade. Apreposição para 02. No final da Guerra Civil americana, o ex-coronel ianque
indica de permanência definitiva. Vou para o litoral. (ideia de (...) sai à caça do soldado desertor que realizou assalto ao trem
morar) com confederados. O uso da preposição com permite
Perante (posição anterior): Permaneceu calado perante diferentes interpretações da frase acima.
todos. (A) Reescreva-a de duas maneiras diversas, de modo que
Por (percurso, espaço, lugar): Caminhava por ruas haja um sentido diferente em cada uma.
desconhecidas. causa: Por ser muito caro, não compramos um (B) Indique, para cada uma das reações, a noção expressa
DVD novo. espaço: Por cima dela havia um raio de luz. da preposição com.
Sem (ausência): Eu vou sem lenço sem documento.
Sob (debaixo de / situação): Prefiro cavalgar sob o luar. 03. (Pref. de Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem
Viveu, sob pressão dos pais. – IDHTEC/2016)
Sobre (em cima de, com contato): Colocou ás taças de
cristal sobre a toalha rendada. assunto: Conversávamos sobre MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
política financeira.
Trás (situação posterior; é preposição fora de uso. É Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama
substituída por atrás de, depois de): Por trás desta carinha de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
vê-se muita falsidade. Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da
ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia
Curiosidade: O símbolo @ (arroba) significa AT em Inglês, de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
que em Português significa em. Portanto, o nome está at, em gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias
algum provedor. semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a
enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos

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teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol- (C) “os hospitais caminhem para uma rápida extinção” /
posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas tempo;
vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende (D) “Dando algum desconto para as previsões, "The
demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente Patient” / concessão;
firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, (E) “...é uma excelente leitura para os interessados nas
formando, anunciando -o dia da humanidade. transformações da medicina” / causa.
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos
Estudantes do Império) 05. Assinale a alternativa em que a preposição destacada
estabeleça o mesmo tipo de relação que na frase matriz:
Em qual das alternativas o acento grave foi mal Criaram-se a pão e água.
empregado, pois não houve crase? (A) Desejo todo o bem a você.
(A) “Milena Nogueira foi pela primeira vez à quadra da (B) A julgar por esses dados, tudo está perdido.
escola de samba Império Serrano, na Zona Norte do Rio.” (C) Feriram-me a pauladas.
(B) "Os relatos dos casos mostram repetidas violações dos (D) Andou a colher alguns frutos do mar.
direitos à moradia, a um trabalho digno, à integridade cultural, (E) Ao entardecer, estarei aí.
a vida e ao território."
(C) “O corpo de Lucilene foi encontrado próximo à ponte 06. (UNIFESP - Técnico em Segurança do Trabalho –
do Moa no dia 11 de maio.” VUNESP/2016)
(D) “Fifa afirma que Blatter e Valcke enriqueceram às
custas da entidade.” É permitido sonhar
(E) “Doriva saiu e Milton Cruz fez às vezes de técnico até a
chegada de Edgardo Bauza no fim do ano passado.” Os bastidores do vestibular são cheios de histórias –
curiosas, estranhas, comoventes. O jovem que chega atrasado
04. (MPE/RJ - Técnico do Ministério Público – por alguns segundos, por exemplo, é uma figura clássica, e
Administrativa – FGV/2016) patética. Mas existem outras figuras capazes de chamar a
atenção.
TEXTO 1 – O futuro da medicina Takeshi Nojima é um caso. Ele fez vestibular para a
Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná. Veio do
O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das Japão aos 11 anos, trabalhou em várias coisas, e agora quer
profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, começar uma carreira médica.
jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até Nada surpreendente, não fosse a idade do Takeshi: ele tem
aqui é o de médico. Até aqui. A crer no médico e "geek" Eric 80 anos. Isto mesmo, 80. Numa fase em que outros já passaram
Topol, autor de "The Patient Will See You Now" (o paciente vai até da aposentadoria compulsória, ele se prepara para iniciar
vê-lo agora), está no forno uma revolução da qual os médicos nova vida. E o faz tranquilo: “Cuidei de meus pais, cuidei dos
não escaparão, mas que terá impactos positivos para os meus filhos. Agora posso realizar um sonho que trago da
pacientes. infância”.
Para Topol, o futuro está nos smartphones. O autor nos Não faltará quem critique Takeshi Nojima: ele está tirando
coloca a par de incríveis tecnologias, já disponíveis ou muito o lugar de jovens, dirá algum darwinista social. Eu ponderaria
próximas disso, que terão grande impacto sobre a medicina. Já que nem tudo na vida se regula pelo critério cronológico. Há
é possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as pais que passam muito pouco tempo com os filhos e nem por
imagens a um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão isso são maus pais; o que interessa é a qualidade do tempo, não
do que um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode a quantidade. Talvez a expectativa de vida não permita ao
ser um câncer, o que exige medidas adicionais. vestibulando Nojima uma longa carreira na profissão médica.
Está para chegar ao mercado um apetrecho que Mas os anos, ou meses, ou mesmo os dias que dedicar a seus
transforma o celular num verdadeiro laboratório de análises pacientes terão em si a carga afetiva de uma existência inteira.
clínicas, realizando mais de 50 exames a uma fração do custo Não sei se Takeshi Nojima passou no vestibular; a notícia
atual. Também é possível, adquirindo lentes que custam que li não esclarecia a respeito. Mas ele mesmo disse que isto
centavos, transformar o smartphone num supermicroscópio não teria importância: se fosse reprovado, começaria tudo de
que permite fazer diagnósticos ainda mais sofisticados. novo. E aí de novo ele dá um exemplo. Os resultados do difícil
Tudo isso aliado à democratização do conhecimento, diz exame trazem desilusão para muitos jovens, e não são poucos
Topol, fará com que as pessoas administrem mais sua própria os que pensam em desistir por causa de um fracasso. A estes
saúde, recorrendo ao médico em menor número de ocasiões e eu digo: antes de abandonar a luta, pensem em Takeshi
de preferência por via eletrônica. É o momento, assegura o Nojima, pensem na força de seu sonho. Sonhar não é proibido.
autor, de ampliar a autonomia do paciente e abandonar o É um dever.
paternalismo que desde Hipócrates assombra a medicina. (Moacyr Scliar. Minha mãe não dorme enquanto eu não
Concordando com as linhas gerais do pensamento de chegar, 1996. Adaptado)
Topol, mas acho que, como todo entusiasta da tecnologia, ele
provavelmente exagera. Acho improvável, por exemplo, que os Assinale a alternativa em que a preposição “de” expressa
hospitais caminhem para uma rápida extinção. Dando algum sentido de origem.
desconto para as previsões, "The Patient..." é uma excelente (A) Mas existem outras figuras capazes de chamar a
leitura para os interessados nas transformações da medicina. atenção.
Folha de São Paulo online – Coluna Hélio Schwartsman – (B) “Agora posso realizar um sonho que
17/01/2016. trago da infância”.
(C) Nada surpreendente, não fosse a idade do Takeshi...
O segmento de texto abaixo em que a preposição para tem (D) ... pensam em desistir por causa de um fracasso.
seu valor semântico corretamente indicado é: (E) E aí de novo ele dá um exemplo.
(A) “Para Topol, o futuro está nos smartphones” / opinião;
(B) “Está para chegar ao mercado um apetrecho” / 07. Assinale a alternativa que indique a definição correta
direção; de preposição:

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APOSTILAS OPÇÃO

(A) Preposição é a palavra invariável que liga duas outras 2. No final da Guerra Civil americana, o ex-coronel ianque
palavras, estabelecendo entre elas determinadas relações de (...) sai à caça do soldado desertor, que, com confederados,
sentido e de dependência. realizou assalto a trem.
(B) Preposição é a palavra invariável que liga duas orações
ou duas palavras de mesma função em uma oração. b) Na frase 1, com indica a relação continente-conteúdo,
(C) Preposição é a palavra ou conjunto de palavras que (trem-soldados), como em copo com água. Na frase 2, com
exprimem sentimentos, emoções e reações psicológicas. indica “em companhia de”. Em 1, com introduz um adjunto
(D) Preposição é a palavra cuja função principal é indicar o adnominal (de trem); em 2, introduz um adjunto adverbial de
posicionamento, o lugar de um ser, relativamente à posição companhia.
ocupada por uma das três pessoas gramaticais.
(E) Preposição é a palavra que exprime uma quantidade 03. Resposta E
definida, exata de seres (pessoas, coisas etc.), ou a posição que Às vezes / As vezes
um ser ocupa em determinada sequência. Ocorrerá a crase somente quando “às vezes” for uma
locução adverbial de tempo (= de vez em quando, em algumas
08. Assinale a alternativa que indica corretamente o valor vezes). Quando a expressão “as vezes” não trouxer o
semântico das preposições em destaque nas frases: significado citado não acontecerá crase.
I. Ele sempre cuidou da família com muita dedicação.
II. Com a doença do pai, ela voltou para a cidade natal. 04. Resposta A
III. Desde pequenos, os príncipes eram preparados para a a) "Para Topol, o futuro está nos smartphones” /
liderança. ARGUMENTO (Citação).
IV. A pequena casa de madeira foi destruída a machado.
05. Resposta C
(A) modo – companhia – modo – modo Na frase matriz, a preposição “a” estabelece a ideia de
(B) causa – modo – finalidade – instrumento instrumento, ou seja, daquilo que foi usado para que se
(C) modo – modo – causa – causa praticasse uma ação.
(D) modo – causa – finalidade – instrumento Na alternativa C, a preposição “a” estabelece o mesmo tipo
(E) companhia – causa – semelhança – modo de relação.

09. Assinale a alternativa em que ocorre combinação de 06. Resposta B


uma preposição com um pronome demonstrativo: A - "..capazes de QUE? - Chamar a atenção
(A) Estou na mesma situação. B- "...sonho que trago da infância." - De onde?
(B) Neste momento, encerramos nossas transmissões. Qual lugar?
(C) Daqui não saio. C-"...DO" posse de informação de quem é a idade..
(D) Ando só pela vida. D-"...por causa de um fracasso"... locução prepositiva de
(E) Acordei num lugar estranho. causa, motivo, razão
E-"... de novo" Novamente, outra vez"
10. Classifique a palavra como nas construções seguintes,
numerando, convenientemente, os parênteses. A seguir, 07. Resposta A
assinale a alternativa correta: A preposição é chamada de palavra invariável por não
1) Preposição apresentar formas variadas e por ser desprovida de
2) Conjunção Subordinativa Causal independência, isto é, não aparece sozinha no discurso.
3) Conjunção Subordinativa Conformativa
4) Conjunção Coordenativa Aditiva 08. Resposta D
5) Advérbio Interrogativo de Modo
09. Resposta B
( ) Perguntamos como chegaste aqui.
( ) Percorrera as salas como eu mandara. 10. Resposta C
( ) Tinha-o como amigo.
( ) Como estivesse muito frio, fiquei em casa. Interjeição
( ) Tanto ele como o irmão são meus amigos.
É a palavra invariável que exprime emoções, sensações,
(A) 2 - 4 - 5 - 3 – 1 estados de espírito ou apelos: As interjeições são como que
(B) 4 -5 - 3 - 1 – 2 frases resumidas: Ué ! =Eu não esperava essa! São proferidas
(C) 5 - 3 - 1 - 2 – 4 com entonação especial, que se representa, na escrita, com o
(D) 3 - 1 - 2 - 4 – 5 ponto de exclamação(!)
(E) 1 - 2 - 4 - 5 - 3
Locução Interjetiva: É o conjunto de duas ou mais
Respostas palavras com valor de uma interjeição: Muito bem! Que pena!
Quem me dera! Puxa, que legal!
01. Resposta B
[...]sentado diante da lareira[...]; Classificaçao das Interjeições e Locuções Interjetivas
[...]empurrando-a para o lado;
[...]pedaço de carvão recoberto de uma espessa As intejeições e as locuções interjetivas são
camada[...]; classificadas,'de acordo com o sentido que elas expressam em
determinado contexto. Assim, uma mesma palavra ou
02 - a) expressão pode exprimir emoções variadas.
1. No final da Guerra Civil americana, o ex-coronel ianque Admiração ou Espanto: Oh!, Caramba!, Oba!, Nossa!, Meu
(...) sai à caça do soldado desertor que realizou assalto ao trem Deus!, Céus!
que levava confederados. Advertência: Cuidado!, Atenção!, Alerta!, Calma!, Alto!,
Olha lá!

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Alegria: Viva!, Oba!, Que bom!, Oh!, Ah!; (C) 4 verbos


Ânimo: Avante!, Ânimo!, Vamos!, Força!, Eia!, Toca! (D) 7 palavras átonas
Aplauso: Bravo!, Parabéns!, Muito bem! (E) 4 substantivos
Chamamento: Olá!, Alô!, Psiu!, Psit!
Aversão: Droga!, Raios!, Xi!, Essa não!, lh! 07. As expressões em negrito correspondem a um adjetivo,
Medo: Cruzes!, Credo!, Ui!, Jesus!, Uh! Uai! exceto em:
Pedido de Silêncio: Quieto!, Bico fechado!, Silêncio!, (A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.
Chega!, Basta! (B) Demorava-se de propósito naquele complicado
Saudação: Oi!, Olá!, Adeus!, Tchau! banho.
Concordância: Claro!, Certo!, Sim!, Sem dúvida! (C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.
Desejo: Oxalá!, Tomara!, Pudera!, Queira Deus! Quem me (D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da
dera! caatinga sem fim.
(E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça.
Observe na relação acima, que as interjeições muitas vezes
são formadas por palavras de outras classes gramaticais: 08. Em “__ como se tivéssemos vivido sempre juntos”, a
Cuidado! Não beba ao dirigir! (cuidado é substantivo). forma verbal está no:
(A) imperfeito do subjuntivo;
Questões (B) futuro do presente composto;
(C) mais-que-perfeito composto do indicativo;
01. Assinale o par de frases em que as palavras destacadas (D) mais-que-perfeito composto do subjuntivo;
são substantivo e pronome, respectivamente: (E) futuro composto do subjuntivo.
(A) A imigração tornou-se necessária. / É dever cristão
praticar o bem. 09. Assinale a alternativa que completa adequadamente a
(B) A Inglaterra é responsável por sua economia. / Havia frase: “___ em ti, mas nem sempre ___ dos outros”.
muito movimento na praça. (A) creias - duvides;
(C) Fale sobre tudo o que for preciso. / O consumo de (B) crê - duvidas;
drogas é condenável. (C) creais - duvidas;
(D) Pessoas inconformadas lutaram pela abolição. / (D) creia - duvide;
Pesca-se muito em Angra dos Reis. (E) crê - duvides.
(E) Os prejudicados não tinham o direito de reclamar. /
Não entendi o que você disse. 10. Quando ele ____ (ver) o nosso trabalho _____ (fazer) um
elogio.
02. Assinale o item que só contenha preposições: (A) ver – fará;
(A) durante, entre, sobre (B) visse – fará;
(B) com, sob, depois (C) ver – fazerá;
(C) para, atrás, por (D) vir – fará;
(D) em, caso, após (E) vir – faria.
(E) após, sobre, acima
Respostas
03. Observe as palavras grifadas da seguinte frase:
“Encaminhamos a V. Senhoria cópia autêntica do Edital nº 01. (E) / 02. (A) / 03. (C) / 04. (E) / 05. (D) / 06. (E) /
19/82.” Elas são, respectivamente: 07. (B) / 08. (D) / 09. (E) / 10. (D)
(A) verbo, substantivo, substantivo
(B) verbo, substantivo, advérbio
(C) verbo, substantivo, adjetivo Conjunções
(D) pronome, adjetivo, substantivo
(E) pronome, adjetivo, adjetivo As Conjunções exercem a função de conectar as palavras
dentro de uma oração. Desta forma, elas estabelecem uma
04. Assinale a opção em que a locução grifada tem valor relação de coordenação ou subordinação e são classificadas
adjetivo: em: Conjunções Coordenativas e Conjunções Subordinativas.
(A) “Comprei móveis e objetos diversos que entrei a
utilizar com receio.” Locução Conjuntiva é o conjunto de uma ou mais palavras
(B) “Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos.” com valor de conjunção na frase.
(C) “Pediu-me com voz baixa cinquenta mil réis.” São elas:
(D) “Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras...” Contanto que, apesar de, à medida que, a fim de que, à
(E) “Resolvi abrir o olho para que vizinhos sem proporção que, quanto mais, uma vez que, de maneira que.
escrúpulos não se apoderassem do que era delas.”
Conjunções Coordenativas
05. O "que" está com função de preposição na alternativa:
(A) Veja que lindo está o cabelo da nossa amiga! 1. Aditivas (Adição)
(B) Diz-me com quem andas, que eu te direi quem és.
(C) João não estudou mais que José, mas entrou na E
Faculdade. Nem
(D) O Fiscal teve que acompanhar o candidato ao banheiro. Não só... Mas também
(E) Não chore que eu já volto. Mas ainda
Senão
06. “Saberão que nos tempos do passado o doce amor era
julgado um crime.”
(A) 1 preposição
(B) 3 adjetivos

Língua Portuguesa 49
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APOSTILAS OPÇÃO

Exemplos: Exemplos:
Viajamos e descansamos. Logo que chegaram, a festa acabou.
Essa tarefa não ate nem desta. Quando eu disse a verdade, ninguém acreditou.
Eu não só estudo, mas também trabalho.
3. Finais (Finalidade) – Para que / A fim de que
2. Adversativas (Posição Contrária)
Exemplo:
Mas Foi embora logo, a fim de que ninguém o perturbasse.
Porém
4. Proporcionais (Proporcionalidade) – À proporção que
Todavia / À medida que / Quanto mais ... mais / Quanto menos... menos
Entretanto
Exemplos:
No entanto
À medida que se vive, mais se aprende.
Exemplos: Quanto mais se preocupa, mais se aborrece.
Ela era explorada, mas não se queixava.
Os alunos estudaram, no entanto não conseguiram as 5. Causais (Causa) – Porque / Como / Visto que / Uma vez
notas necessárias. que

3. Alternativas (Alternância) Exemplo: Como estivesse doente, não pôde sair.

Ou, ou 6. Condicionais (Condição) – Se / Caso / Desde que


Ora, ora Exemplos:
Quer, quer Comprarei o livro, desde que esteja disponível.
Já, já Se chover, não poderemos ir.

Exemplos: 7. Comparativas (Comparação) – Como / Que / Do que /


Ou você vem agora, ou não haverá mais ingressos. Quanto / Que nem
Ora chovia, ora fazia sol.
Exemplos:
4. Conclusivas (Conclusão) Os filhos comeram como leões.
A luz é mais veloz do que o som.
Logo
8. Conformativas (Conformidade) – Como / Conforme /
Portanto
Segundo
Por conseguinte
Exemplos:
Pois (após o verbo)
As coisas não são como parecem.
Exemplos: Farei tudo, conforme foi pedido.
O caminho é perigoso; vá, pois, com cuidado!
Estamos nos esforçando, logo seremos recompensados. 9. Consecutivas (Consequência) – Que (precedido dos
termos: tal, tão, tanto...) / De forma que
5. Explicativas (Explicação)
Exemplos:
Que A menina chorou tanto, que não conseguiu ir para a escola.
Ontem estive viajando, de forma que não consegui
Porque
participar da reunião.
Porquanto
Pois (antes do verbo) 10. Concessivas (Concessão) – Embora / Conquanto /
Ainda que / Mesmo que / Por mais que

Exemplos: Exemplos:
Não leia no escuro, que faz mal à vista. Todos gostaram, embora estivesse mal feito.
Compre estas mercadorias, pois já estamos ficando sem. Por mais que gritasse, ninguém o socorreu.

Conjunções Subordinativas Questões

Ligam uma oração principal a uma oração subordinativa, 01. (Prefeitura de Niterói/RJ - Administrador –
com verbo flexionado. COSEAC/2016)

1. Integrantes: iniciam a oração subordinada substantiva O Brasil é minha morada


– Que / Se / Como
1 Permita-me que lhes confesse que o Brasil é a minha
Exemplos: morada. O meu teto quente, a minha sopa fumegante. É casa da
Todos perceberam que você estava atrasado. minha carne e do meu espírito. O alojamento provisório dos
Aposto como você estava nervosa. meus mortos. A caixa mágica e inexplicável onde se abrigam e
se consomem os dias essenciais da minha vida.
2. Temporais (Tempo) – Quando / Enquanto / Logo que / 2 É a terra onde nascem as bananas da minha infância e as
Assim que / Desde que palavras do meu sempre precário vocabulário. Neste país

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APOSTILAS OPÇÃO

conheci emoções revestidas de opulenta carnalidade que nem reduzir os níveis de pressão arterial e as doenças
sempre transportavam no pescoço o sinete da advertência, cardiovasculares.
justificativa lógica para sua existência. Pela primeira vez, a OMS faz recomendações também para
3 Sem dúvida, o Brasil é o paraíso essencial da minha as crianças com mais de dois anos de idade, para que as
memória. O que a vida ali fez brotar com abundância, excedeu doenças relacionadas com a alimentação não se tornem
ao que eu sabia. Pois cada lembrança brasileira corresponde à crônicas na idade adulta. Neste caso, a OMS diz que os valores
memória do mundo, onde esteja o universo resguardado. devem ainda ser mais baixos do que os dois gramas de sódio,
Portanto, ao apresentar-me aqui como brasileira, devendo ser adaptados tendo em conta o tamanho, a idade e
automaticamente sou romana, sou egípcia, sou hebraica. Sou as necessidades energéticas.
todas as civilizações que aportaram neste acampamento Teresa Firmino Adaptado de publico.pt/ciencia
brasileiro.
4 Nesta terra, onde plantando-se nascem a traição, a Em para reduzir os níveis de pressão arterial e as doenças
sordidez, a banalidade, também afloram a alegria, a cardiovasculares, a palavra para expressa o seguinte
ingenuidade, a esperança, a generosidade, atributos significado:
alimentados pelo feijão bem temperado, o arroz soltinho, o (A) oposição
bolo de milho, o bife acebolado, e tantos outros anjos feitos (B) finalidade
com gema de ovo, que deita raízes no mundo árabe, no mundo (C) causalidade
luso. (D) comparação
5 Deste país surgiram inesgotáveis sagas, narradores (E) temporalidade
astutos, alegres mentirosos. Seres anônimos, heróis de si
mesmos, poetas dos sonhos e do sarcasmo, senhores de 03. (IBGE - Técnico em Informações Geográficas e
máscaras venezianas, africanas, ora carnavalescas, ora Estatísticas – FGV/2016)
mortuárias. Criaturas que, afinadas com a torpeza e as
inquietudes do seu tempo, acomodam-se esplêndidas à TEXTO 4 - Analfabetismo cai, mas ainda reflete
sombra da mangueira só pelo prazer de dedilhar as cordas da desigualdade regional
guitarra e do coração. De pouco em pouco, a taxa de analfabetismo continua a cair
6 Neste litoral, que foi berço de heróis, de marinheiros, no Brasil, e passou de 8,5% em 2013 para 8,1% no ano
onde os saveiros da imaginação cruzavam as águas dos mares passado. A queda vem sendo quase constante de 2001 para cá,
bravios em busca de peixes, de sereias e da proteção de embora tenha permanecido no mesmo patamar entre 2011 e
Iemanjá, ali se instalaram civilizações feitas das sobras de 2013 (quando oscilou entre 8,4% e 8,5%).
outras tantas culturas. Cada qual fincando hábitos, expressões, A diferença entre as regiões, porém, permanece gritante
loucas demências nos nossos peitos. neste quesito. Enquanto no Sul e Sudeste a taxa de analfabetos
7 Este Brasil que critico, examino, amo, do qual nasceu é de 4,4% e 4,6%, respectivamente, no Nordeste a
Machado de Assis, cujo determinismo falhou ao não prever a percentagem é de 16,6%, de longe a pior situação no país.
própria grandeza. Mas como poderia este mulato, este negro, A medição é feita entre pessoas de 15 anos de idade ou
este branco, esta alma miscigenada, sempre pessimista e feroz, mais, e, quanto mais velho o grupo, maior o índice. Entretanto,
acatar uma existência que contrariava regras, previsões, o analfabetismo ainda assola as novas gerações, afetando 0,9%
fatalidades? Como pôde ele, gênio das Américas, abraçar o de jovens na faixa de 15 a 19 anos e 1,4% na de 20 a 24 anos.
Brasil, ser sua face, soçobrar com ele e revivê-lo ao mesmo Fonte:
tempo? http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/15111
8 Fomos portugueses, espanhóis e holandeses, até sermos 3_resultados_pnad_jc_ab
brasileiros. Uma grei de etnias ávidas e belas, atraída pelas
aventuras terrestres e marítimas. Inventora, cada qual, de uma TEXTO 6 - Aumento brusco de 'desocupados'
nação foragida da realidade mesquinha, uma espécie de ficção O aumento dos índices de desemprego se refletiu nos
compatível com uma fábula que nos habilite a frequentar com resultados da PNAD já em 2014. O número de pessoas
desenvoltura o teatro da história. desocupadas aumentou 9,3% de 2013 para 2014, afetando um
(PIÑON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: total de 7,3 milhões de brasileiros (o aumento equivale a 617
Editora Record, 2008, p. 241-243, fragmento.) mil pessoas a mais nesta condição).
Isso ocorreu no país todo, e em especial no Sudeste, onde o
Dos fragmentos abaixo, aquele em que a conjunção aumento foi de 15,8%. O IBGE classifica como "desocupadas"
coordenativa E, em destaque, está empregada em sentido pessoas que não estão empregadas, mas estão buscando
distinto das demais é: trabalho.
(A) “É casa da minha carne E do meu espírito.” (1º §) A pesquisa indica dificuldades especialmente para jovens
(B) É a terra onde nascem as bananas da minha infância E de 18 a 24 anos e pessoas que estão buscando o primeiro
as palavras do meu sempre precário vocabulário.” (2º §) emprego, respectivamente 34,3% e 28,3% dos desocupados.
(C) “poetas dos sonhos E do sarcasmo”. (5º §) Fonte:
(D) “as cordas da guitarra E do coração.” (5º §) http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/15111
(E) “soçobrar com ele E revivê-lo ao mesmo tempo?” (7º §) 3_resultados_pnad_jc_ab

02. (Prefeitura de Trindade/GO - Auxiliar TEXTO 8 - Computadores em casa têm primeira queda
Administrativo – FUNRIO/2016) Depois de anos de aumento vertiginoso, o número de
Texto I residências com computador teve a primeira leve queda em
OMS recomenda ingerir menos de cinco gramas de sal 2014, de 49,5% para 49,2%.
por dia O índice ainda é impressionante quando se considera o
patamar de 2001 – quando 12,6% dos domicílios tinham
Se você tem o hábito de pegar no saleiro e polvilhar a computadores.
comida com umas pitadas de sal, é melhor pensar duas vezes. Mas a interrupção na tendência de crescimento é vista
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou esta como um reflexo do aumento de uso da internet no celular. A
quinta-feira que um adulto consuma por dia menos de dois posse de aparelhos de telefonia móvel segue em franca
gramas de sódio – ou seja, menos de cinco gramas de sal – para ascensão: hoje, 136,6 milhões de brasileiros (ou 77,9% das

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APOSTILAS OPÇÃO

pessoas acima de 10 anos) têm telefone celular, um Na construção “A polícia mata muitos, e mais ainda mata a
crescimento de 4,9% em relação a 2013. economia”, a conjunção em destaque estabelece, entre as
Outro reflexo dessa expansão é a redução de telefones fixos orações,
em casa. Entre 2001 e 2014, a proporção de domicílios com (A) uma relação de adição.
linha fixa caiu 25,5 pontos percentuais. (B) uma relação de oposição.
Fonte: (C) uma relação de conclusão.
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/15111 (D) uma relação de explicação.
3_resultados_pnad_jc_ab (E) uma relação de consequência.

TEXTO 10 - Desigualdade social continua em redução 05. (TRF - 3ª Região - Analista Judiciário –
gradual Biblioteconomia – FCC/2016)
Os dois extremos da sociedade brasileira – os 10% mais
pobres e os 10% mais ricos em termos de renda mensal – Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades,
ganharam em média R$ 256 por mês, no grupo de menores culturas e níveis de instrução têm emoções, cultivam
salários, contra R$ 7.154, na fatia de maiores ganhos, em 2014. passatempos que manipulam as emoções, atentam para as
O valor recebido pelo primeiro grupo representa apenas emoções dos outros, e em grande medida governam suas vidas
1,4% de todos os rendimentos gerados por trabalho no país, buscando uma emoção, a felicidade, e procurando evitar
enquanto os 10% mais ricos concentraram 40,3% do total de emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada
rendimento. caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas
A renda por gênero continua a apresentar grande criaturas não humanas têm emoções em abundância;
disparidade: no ano passado, as mulheres receberam em entretanto, existe algo acentuadamente característico no
média 74,5% dos salários dos homens – índice pouco melhor modo como as emoções vincularam-se a ideias, valores,
que em 2013, quando essa proporção era de 73,5%. princípios e juízos complexos que só os seres humanos podem
De uma forma geral, porém, a desigualdade no país ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por
continua apresentando uma melhora gradual – o índice de uma música e por filmes banais cujo poder não devemos
Gini, que mede a distribuição de renda, continua sua trajetória subestimar.
de queda, e passou de 0,495 para 0,490 (quanto mais próximo Embora a composição e a dinâmica precisas das reações
de zero, melhor). emocionais sejam moldadas em cada indivíduo pelo meio e por
Fonte: um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/15111 reações emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes
3_resultados_pnad_jc_ab evolutivos. As emoções são parte dos mecanismos
biorreguladores com os quais nascemos, visando à
Entre os conectivos destacados abaixo, aquele que tem seu sobrevivência. Foi por isso que Darwin conseguiu catalogar as
valor semântico corretamente indicado é: expressões emocionais de tantas espécies e encontrar
(A) “O valor recebido pelo primeiro grupo representa consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes
apenas 1,4% de todos os rendimentos gerados por trabalho no culturas as emoções são tão facilmente reconhecidas. É bem
país, enquanto os 10% mais ricos concentraram 40,3% do verdade que as expressões variam, assim como varia a
total de rendimento” (Texto 10) / adversidade; configuração exata dos estímulos que podem induzir uma
(B) “De uma forma geral, porém, a desigualdade no país emoção. Mas o que causa admiração quando se observa o
continua apresentando uma melhora gradual” (Texto 10) / mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa
explicação; semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.
(C) “Depois de anos de aumento vertiginoso, o número de As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o
residências com computador teve a primeira leve queda” indutor pode bloquear o progresso de uma emoção que já
(Texto 8) / lugar; estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa
(D) “O IBGE classifica como "desocupadas" pessoas que tragédia deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a
não estão empregadas” (Texto 6) / comparação; suspensão de um estado sistematicamente induzido de medo
(E) “A queda vem sendo quase constante de 2001 para e compaixão.
cá, embora tenha permanecido no mesmo patamar entre 2011 Não precisamos ter consciência de uma emoção, com
e 2013” (Texto 4) / concessão. frequência não temos e somos incapazes de controlar
intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num
04. (IF-PE - Técnico em Enfermagem – IF-PE/2016) estado de tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia
TEXTO 04 dos motivos responsáveis por esse estado específico. Uma
Crônica da cidade do Rio de Janeiro investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém
frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento
No alto da noite do Rio de Janeiro, luminoso, generoso, o inconsciente de emoções também explica por que não é fácil
Cristo Redentor estende os braços. Debaixo desses braços os imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer
netos dos escravos encontram amparo. genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma
Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e região profunda do tronco cerebral. A imitação voluntária feita
apontando seu fulgor, diz, muito tristemente: por quem não é um ator exímio é facilmente detectada como
- Daqui a pouco não estará mais aí. Ouvi dizer que vão tirar fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração
Ele daí. dos músculos faciais, quer no tom de voz.
- Não se preocupe – tranquiliza uma vizinha. – Não se (Adaptado de: DAMÁSIO, Antônio. O mistério da
preocupe: Ele volta. consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo, Cia das
A polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)
cidade violenta soam tiros e também tambores: os atabaques,
ansiosos de consolo e de vingança, chamam os deuses No texto, identifica-se relação de causa e consequência,
africanos. Cristo sozinho não basta. respectivamente, entre:
(GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: (A) processos evolutivos de adaptação que remontam a
L&PM Pocket, 2009.) épocas distantes e grande parte das reações emocionais.

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(B) a suscitação de uma emoção imprevista e a estratégia enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se
por trás de uma obra de arte vulgar feita para agradar ao comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos.
público em geral. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que
(C) o fato de Darwin ter sido bem-sucedido ao catalogar as aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros
expressões emocionais de diversas espécies e a existência de desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O
emoções inerentes à regulação dos organismos. comerciante devia saber que seus passos descalços não
(D) nossa incapacidade de dissimular as emoções e o fato cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela
de que não precisamos ter consciência de uma emoção para desobediência, acusando o tempo. [...]
que ela aconteça. As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se
(E) a capacidade da arte de cruzar fronteiras culturais e o em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes
fato das reações emocionais serem moldadas por uma aparentes. [...]
composição complexa única e exclusiva a cada indivíduo. Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita
alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem
06. (EMSERH - Assistente Social – FUNCAB/2016) mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas
pálpebras.
O embondeiro que sonhava pássaros COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contosl Mia Couto -
1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71.
Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma (Fragmento).
memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade,
seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por A conjunção destacada em “À volta do vendedeiro, era uma
razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O nuvem de pios, tantos QUE faziam mexer as janelas.” inicia
vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. uma oração e, contextualmente, atribui-lhe valor:
Chamavam-lhe o passarinheiro. (A) concessivo.
Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos (B) proporcional.
carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava (C) nominalizador.
aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir (D) consecutivo.
de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, (E) causal.
os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do
vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer 07. (IF-PE - Auxiliar em Administração – IF-PE/2016)
as janelas: TEXTO 02
- Mãe, olha o homem dos passarinheiros! A fome/2
E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se
intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor...
homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro
melodias. O mundo inteiro se fabulava. é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou
Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer,
abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos
preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem mais à fome de abraços.
autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não (GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre:
e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os L&PM Pocket, 2009, p. 81.)
pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os
pais se agravavam: estava dito. No trecho “O sistema, que não dá de comer, tampouco dá
Mas aquela ordem pouco seria desempenhada. de amar”, a conjunção destacada estabelece, entre as orações,
[...] a relação de
O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com (A) conclusão.
os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era (B) adversidade.
preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida (C) adição.
não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a (D) explicação.
vista das senhoras e seus filhos. O remédio, enfim, se haveria (E) alternância.
de pensar.
No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão. 08. (IF-PE - Enfermeiro - Clínica Geral – IF-PE/2016)
Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia TEXTO 03
aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas DRONES
cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico
mundo. O vendedor se anonimava, em humilde Já contei que, morando na Califórnia na época da Segunda
desaparecimento de si: Guerra Mundial, com 7 anos de idade e influenciado pelo
- Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas noticiário e pelo clima de guerra, comecei a matar alemães e
todas de fora. japoneses imaginários nos meus jogos solitários com tanta
Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele fúria que meu pai se preocupou. Fui levado a um médico, que
tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já me contou que as tropas aliadas estavam fazendo um bom
desbravado os mais extensos matos? trabalho matando inimigo e não precisavam da minha ajuda,
O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os pelo menos não tão entusiasmada. Embora não tenha parado
senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele com os massacres, o resultado do episódio foi que me tornei
negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de um pacifista para o resto da vida. Mas meu maior problema
acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o então, aos 7 anos, era a qualidade do armamento com que
tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam contava para minhas missões no Norte da África e nas selvas
aos bichos silvestres, concluíam. do Pacífico. Minha metralhadora era uma réplica perfeita de
Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos uma metralhadora de verdade, mas não disparava balas, só
pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro fazia barulho. Meu capacete era igual aos capacetes do exército
foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi americano, mas para criança. Minha pistola 45 só serviria para

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APOSTILAS OPÇÃO

assustar o inimigo – também não disparava balas reais. Ah, se até o fim. É como contar o fim da piada no início... Apagam-se
eu tivesse um lança-chamas que lançasse chamas. Uma bazuca. as luzes, o palestrante e os ouvintes olham todos para a tela, e
Um tanque. Um avião! Os alemães e os japoneses teriam se ele vai falando. Ninguém presta atenção. Mas todos acham que
rendido muito mais cedo. usar data show é prova de ser avançado, tecnologicamente.
Tenho visto anúncios de “drones” que podem ser Quem não usa é atrasado. Quem leva suas notas num
comprados por qualquer um. Imagino que sejam iguais aos que caderninho é como alguém que anda de carro de boi num
estão sendo usados no Oriente Médio, para escolher alvos e mundo de Fórmula Um. Assim vão os palestrantes, todos com
guiar mísseis. Há tempo que qualquer um pode comprar armas seus laptops, para a sessão de cineminha sem graça. Falando
de guerra reais, mas esta é a primeira vez que uma arma com sobre isso, uma mulher que trabalha numa firma promotora
a sofisticação letal do “drone” – a arma do futuro, da guerra de eventos contou-me qual a maior vantagem dos data show,
teleguiada, do combate por painéis de controle, o máximo de uma coisa em que eu não havia pensado: com as luzes
estragos com o mínimo de risco – é oferecido ao público como apagadas, longe do olhar do palestrante, os ouvintes podem
um 45 de plástico. dormir à vontade. Contou-me de uma ocasião em que um
Claro que “drone” não é só para guerra. Serve para espiar homem dormiu e roncou tão alto que chegou a perturbar
o quintal do vizinho, até para entrar pela janela e assustar a palestrante e ouvintes. Todo mundo se pôs a rir. Barulho de
vizinha no banho. Pode-se pensar – por exemplo – numa ronco é muito divertido... Mas ela foi obrigada a tomar
versão atualizada de Romeu e Julieta: Julieta na sua sacada no providências. E o que ela fez, sádica e humoristicamente, foi
vigésimo andar recebe a visita do “drone” controlado por colocar um microfone perto da boca do roncador. Aí ele
Romeu a quilômetros de distância. Nada poético, é verdade. acordou-se a si mesmo.
Mas o que sobrou de poético hoje em dia? (Ostra feliz não faz pérolas. São Paulo: Planeta, 2008.)
O fato é que, com um “drone” em casa, você está equipado
como um exército moderno. Ah, eu com um “drone” nos meus No trecho É como contar o fim da piada no início, a
7 anos... palavra como contribui para estabelecer sentido de
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Disponível em: comparação. Assinale a afirmativa em que essa
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,drones,182105 palavra NÃO apresenta esse sentido.
3.) (A) O governante que despreza as leis do país é como o
assaltante que não respeita a propriedade alheia.
Observe os trechos, retirados do 1° parágrafo, abaixo. (B) Como as ondas do mar, fogem meus sonhos de menina
Trecho 1: Minha metralhadora [...], mas não disparava sem deixar vestígios no tempo.
balas, só fazia barulho. (C) A busca da vitória na vida profissional exige
Trecho 2: Meu capacete [...], mas para criança. competência e trabalho, como qualquer outra busca.
Trecho 3: Minha pistola 45 [...] – também não disparava (D) O fato, como o candidato esbravejou em seu discurso,
balas reais. não passa de intriga de campanha eleitoral.
Trecho 4: Embora não tenha parado com os massacres.
10. (UFPB - Auxiliar em Administração –
Analise as proposições acerca dos trechos acima. IDECAN/2016)
I. No trecho 1, a conjunção destacada desempenha uma
função de oposição, diferente daquela destacada no trecho 2. Meu filho e seus ídolos
II. Se, no trecho 4, substituíssemos “embora” por
“considerando que”, não haveria mudança de sentido no texto. Todas as épocas têm os seus ídolos juvenis. Principalmente
III. Em todos os trechos, todas as expressões destacadas depois do fenômeno da comunicação de massa, pessoas
desempenham a mesma função de oposição. como James Dean ou Elvis Presley, para falar de astros de
IV. No trecho 3, se substituíssemos a expressão destacada outros tempos, ou como Sandy e Junior e os Backstreet
por “contudo”, não haveria mudança de sentido. Boys, fenômenos mais recentes, arrastam multidões de jovens
V. No trecho 3, a expressão em destaque desempenha uma aos seus shows. E não só isso. Além de frequentarem os shows,
função de adição e poderia ser substituído por “nem” sem os jovens são capazes de atitudes muito mais drásticas, como
alteração de sentido. passar dias em uma fila para comprar ingresso, fazer plantão
na frente do hotel ou da casa do cantor simplesmente para dar
A alternativa que contém apenas as proposições uma olhadinha a distância. Em casa, as paredes do quarto são
CORRETAS é forradas de pôsteres, revistas são consumidas aos milhares,
(A) I e II. álbuns são confeccionados com devoção e programas de TV
(B) II e IV. são ansiosamente esperados apenas para assistir a uma rápida
(C) II e III. aparição do ídolo.
(D) IV e V. Muitos pais se perguntam: o que essas pessoas têm de tão
(E) II e V. especial para atrair a atenção de tantos jovens? A primeira e
mais óbvia resposta é que todos esses astros, mais do que
09. (TJ-MT - Técnico Judiciário – UFMT/2016) qualquer outro mortal, detêm objetos de desejo de nossa
cultura ocidental, como fama, sucesso, beleza, dinheiro etc.
Data show Isso, porém, não justificaria as atitudes que os adolescentes
são capazes de tomar em relação a cantores, atores ou
Sempre que vou falar em algum lugar, o pessoal técnico me jogadores de futebol. Se a tietagem se justificasse apenas pela
pergunta, com antecedência, se vou usar data show. Se você admiração de certas características dos artistas (como a
não sabe, data show é uma expressão americana. Falar inglês é beleza, por exemplo), esse comportamento de fã não pareceria
mais adequado tecnologicamente. Show quer dizer mostrar. tão restrito à juventude. Isso pode nos indicar que esse
E data quer dizer dados. Trata-se de um artifício para mostrar fenômeno tem a ver com a própria adolescência.
dados, que são projetados em uma tela numa sala escura. Acho A adolescência traz desafios importantes para o jovem.
que o data show pode ser útil para mostrar dados. Mas o uso Além de ser uma fase em que deixamos de ser criança e nos
que dele se faz é horrível: os palestrantes o usam para projetar preparamos para a vida adulta, a convivência social tem um
na tela o esboço da sua fala, eliminando dela qualquer grande peso. Por vezes, aos olhos dos pais, os filhos dão mais
surpresa, pois é claro que os ouvintes, de saída, leem o esboço importância aos amigos e suas opiniões do que à própria

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família. Não é incomum ouvir pais de adolescentes reclamando como= já que/ porque/ visto que - terá uma ideia de causa
que os filhos só ouvem, vestem, assistem e gostam daquilo que No item d aparece "O IBGE classifica como "desocupadas"
os amigos ouvem, vestem, assistem e gostam. O que os pais têm pessoas que não estão empregadas” (Texto 6) / comparação;
dificuldade de entender são as transformações típicas que se Contudo, o sentido é de conformidade e não de
operam nessa fase. O preparo para a vida adulta envolve uma comparação.
espécie de libertação das opiniões familiares. É como se o
jovem tivesse uma necessidade de se desligar daquela 04. Resposta B
dependência infantil e encontrar sua própria identidade. Onde A polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia.
encontrar essa identidade? Primeiro, no grupo social mais A polícia mata muitos, se bem que a economia ainda mata
próximo, ou seja, nos amigos. Depois, em outras pessoas. E é aí mais. (Conjunção concessiva / oposição)
que entram os ídolos da juventude.
Essas pessoas famosas representam uma série de 05. Resposta A
características valorizadas pelos adolescentes: às vezes a Grande parte das reações emocionais surgiram por
rebeldia ou a aparente independência; às vezes a beleza ou a consequência do processo evolutivo de adaptação que
fama. Além de representarem esses valores, os ídolos parecem, remontam épocas distantes.
aos olhos do fã, pessoas que conseguem materializar seus
sonhos, que conseguem tudo o que querem. Por isso esse 06. Resposta D
interesse fora do comum por tudo que se passa com eles. “À volta do vendedeiro, era uma nuvem de
Sob esse ponto de vista, ter ídolos é algo absolutamente pios, tantos QUE faziam mexer as janelas.”
normal. Torna-se preocupante, no entanto, quando esse Que (combinada com uma das palavras tal, tanto, tão ou
interesse passa a ser o foco central do adolescente, quando a tamanho).
sua vida gira completamente em torno do seu ídolo e ser fã Oração subordinada Adverbial Consecutiva.
passa a ser a sua principal e única ocupação. Nesses casos, é
importante que os pais estejam atentos para impedir que a 07. Resposta C
admiração do filho vire uma obsessão e ajudá-lo a lidar de Tampouco é uma conjunção coordenada aditiva com o
forma mais saudável com a admiração que sente por alguma sentido de "nem".
pessoa famosa.
Porém, quando esse interesse não interfere na vida do 08. Resposta B
adolescente, não há por que se preocupar. Pode ser até uma I- (diferente daquela destacada no texto 2) o erro está
oportunidade para que os pais conheçam melhor seus filhos. aqui, pois as duas são negações.
Discutir sobre os gostos, os desejos, enfim, as preferências dos II- correta, (embora) é concessão, podendo ser
adolescentes nessa fase pode ser uma experiência muito rica substituída por (considerando que)
para os pais. Até porque quem de nós nunca teve seu ídolo? lll- errado, nem todas são oposição.
(DELY, Paula. Meu filho e seus ídolos. Disponível em: lV- correta, (também) com sentido de oposição, podendo
http://www.aprendebrasil.com.br/falecom/psicologa_artigo ser substituído por (contudo).
027.asp. Adaptado.) V- errado, só de eliminar a palavra (também) e inserir a
palavra (nem) já dava pra perceber que ia ficar juntas duas
No trecho “Essas pessoas famosas representam uma série palavras de negação no trecho, nem e não.
de características valorizadas pelos adolescentes: às vezes a
rebeldia ou a aparente independência; às vezes a beleza ou a 09. Resposta D
fama.” (4º§), as expressões “às vezes” e “ou” conferem ao O termo "como" utilizado na letra "D" expressa maneira,
período ideia de, respectivamente: ou seja, o modo. Nas demais alternativas o emprego do termo
(A) Tempo e alternância. expressa comparação como no exemplo dado pelo enunciado
(B) Somatório de ideias e escolha. da questão.
(C) Alternância de tempo e espaço.
(D) Consequência e oposição de ideias no espaço. 10. Resposta A
Advérbio de tempo: às vezes.
Respostas Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
01. Resposta E doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim,
As alternativas A,B,C e D expressam ideia de adição. Só a E afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
expressa ideia de oposição. imediatamente, primeiramente, provisoriamente,
sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de
02. Resposta B repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou esta momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
quinta-feira que um adulto consuma por dia menos de dois Conectivo OU: ALTERNATIVAS (alternância): ou. Também
gramas de sódio – ou seja, menos de cinco gramas de sal as locuções ou...ou, ora...ora, já...já, quer...quer...
– para reduzir os níveis de pressão arterial e as doenças Lembrando que: conectivos são conjunções que ligam as
cardiovasculares. orações, estabelecem a conexão entre as orações nos períodos
É recomendado diminuir a ingestão de sal... compostos e também as preposições, que ligam um vocábulo a
... a fim de reduzir os níveis de pressão arterial e as doenças outro.
cardiovasculares. O período composto é formado de duas ou mais orações.
... com a finalidade de reduzir os níveis de pressão arterial Quando essas orações são independentes umas das outras,
e as doenças cardiovasculares. chamamos de período composto por coordenação. Essas
orações podem estar justapostas (sem conectivos) ou ligadas
03. Resposta E por conjunções (= conectivos).
o conectivo "como" pode ter três classificações.
como= conforme/ de acordo - terá uma
ideia conformativa
como= assim como - terá uma ideia comparativa

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- Desinências Nominais: indicam as flexões de gênero


Processo de formação de (masculino e feminino) e de número (singular e plural) dos
nomes. Exemplos: aluno-o / aluno-s; alun-a / aluna-s. Só
palavras. podemos falar em desinências nominais de gêneros e de
números em palavras que admitem tais flexões, como nos
exemplos acima. Em palavras como mesa, tribo, telefonema,
Estrutura das Palavras por exemplo, não temos desinência nominal de gênero. Já em
pires, lápis, ônibus não encontramos desinência nominal de
Estudar a estrutura é conhecer os elementos formadores número.
das palavras. Assim, compreendemos melhor o significado de
cada uma delas. As palavras podem ser divididas em unidades - Desinências Verbais: indicam as flexões de número e
menores, a que damos o nome de elementos mórficos ou pessoa e de modo e tempo dos verbos. A desinência "-o",
morfemas. presente em "am-o", é uma desinência número-pessoal, pois
Vamos analisar a palavra "cachorrinhas". Nessa palavra indica que o verbo está na primeira pessoa do singular; "-va",
observamos facilmente a existência de quatro elementos. São de "ama-va", é desinência modo-temporal: caracteriza uma
eles: forma verbal do pretérito imperfeito do indicativo, na 1ª
cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja, aquele conjugação.
que contém o significado.
inh - indica que a palavra é um diminutivo Vogal Temática: é a vogal que se junta ao radical,
a - indica que a palavra é feminina preparando-o para receber as desinências. Nos verbos,
s - indica que a palavra se encontra no plural distinguem-se três vogais temáticas:
- Caracteriza os verbos da 1ª conjugação: buscar, buscavas,
Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo. etc.
Existem palavras que não comportam divisão em unidades - Caracteriza os verbos da 2ª conjugação: romper,
menores, tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mórficos: rompemos, etc.
- Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significativos - Caracteriza os verbos da 3ª conjugação: proibir, proibirá,
- Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temática: etc.
elementos modificadores da significação dos primeiros
- Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos de Tema: é o grupo formado pelo radical mais vogal temática.
ligação ou eufônicos. Nos verbos citados acima, os temas são: busca-, rompe-, proibi-
Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se Vogais e Consoantes de Ligação: As vogais e consoantes
concentra a significação das palavras, consideradas do ângulo de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos,
histórico. É a raiz que encerra o sentido geral, comum às ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de
palavras da mesma família etimológica. Exemplo: Raiz noc uma determinada palavra. Exemplos: parisiense (paris=
[Latim nocere = prejudicar] tem a significação geral de causar radical, ense=sufixo, vogal de ligação=i); gas-ô-metro, alv-i-
dano, e a ela se prendem, pela origem comum, as palavras negro, tecn-o-cracia, pau-l-ada, cafe-t-eira, cha-l-eira, inset-i-
nocivo, nocividade, inocente, inocentar, inócuo, etc. cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc.
Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç-ão; Formação das Palavras: existem dois processos básicos
ac-ionar; pelos quais se formam as palavras: a Derivação e a
Composição. A diferença entre ambos consiste basicamente
Radical: em que, no processo de derivação, partimos sempre de um
único radical, enquanto no processo de composição sempre
Observe o seguinte grupo de palavras: livr-o; livr-inho; haverá mais de um radical.
livr-eiro; livr-eco. Você reparou que há um elemento comum
nesse grupo? Você reparou que o elemento livr serve de base Derivação: é o processo pelo qual se obtém uma palavra
para o significado? Esse elemento é chamado de radical (ou nova, chamada derivada, a partir de outra já existente,
semantema). Elemento básico e significativo das palavras, chamada primitiva. Exemplo: Mar (marítimo, marinheiro,
consideradas sob o aspecto gramatical e prático. É encontrado marujo); terra (enterrar, terreiro, aterrar). Observamos que
através do despojo dos elementos secundários (quando "mar" e "terra" não se formam de nenhuma outra palavra, mas,
houver) da palavra. Exemplo: cert-o; cert-eza; in-cert-eza. ao contrário, possibilitam a formação de outras, por meio do
acréscimo de um sufixo ou prefixo. Logo, mar e terra são
Afixos: são elementos secundários (geralmente sem vida palavras primitivas, e as demais, derivadas.
autônoma) que se agregam a um radical ou tema para formar
palavras derivadas. Sabemos que o acréscimo do morfema "- Tipos de Derivação
mente", por exemplo, cria uma nova palavra a partir de
"certo": certamente, advérbio de modo. De maneira - Derivação Prefixal ou Prefixação: resulta do acréscimo
semelhante, o acréscimo dos morfemas "a-" e "-ar" à forma de prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado
"cert-" cria o verbo acertar. Observe que a- e -ar são alterado: crer- descrer; ler- reler; capaz- incapaz.
morfemas capazes de operar mudança de classe gramatical na - Derivação Sufixal ou Sufixação: resulta de acréscimo de
palavra a que são anexados. sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de
Quando são colocados antes do radical, como acontece com significado ou mudança de classe gramatical: alfabetização. No
"a-", os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como "- exemplo, o sufixo -ção transforma em substantivo o verbo
ar", surgem depois do radical, os afixos são chamados de alfabetizar. Este, por sua vez, já é derivado do substantivo
sufixos. Exemplo: in-at-ivo; em-pobr-ecer; inter-nacion-al. alfabeto pelo acréscimo do sufixo -izar.
Desinências: são os elementos terminais indicativos das A derivação sufixal pode ser:
flexões das palavras. Existem dois tipos: Nominal, formando substantivos e adjetivos: papel –
papelaria; riso – risonho.

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Verbal, formando verbos: atual - atualizar. - Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre
Adverbial, formando advérbios de modo: feliz – quando determinada palavra, sem sofrer qualquer acréscimo
felizmente. ou supressão em sua forma, muda de classe gramatical. Neste
processo:
- Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre Os adjetivos passam a substantivos: Os bons serão
quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de contemplados.
prefixo e sufixo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese Os particípios passam a substantivos ou adjetivos: Aquele
formam-se nomes (substantivos e adjetivos) e verbos. garoto alcançou um feito passando no concurso.
Considere o adjetivo "triste". Do radical "trist-" formamos o Os infinitivos passam a substantivos: O andar de Roberta
verbo entristecer através da junção simultânea do era fascinante; O badalar dos sinos soou na cidadezinha.
prefixo” en-" e do sufixo "-ecer". A presença de apenas um Os substantivos passam a adjetivos: O funcionário
desses afixos não é suficiente para formar uma nova palavra, fantasma foi despedido; O menino prodígio resolveu o
pois em nossa língua não existem as palavras "entriste", nem problema.
"tristecer". Exemplos: Os adjetivos passam a advérbios: Falei baixo para que
ninguém escutasse.
Emudecer Palavras invariáveis passam a substantivos: Não entendo o
Mudo – palavra inicial porquê disso tudo.
E – prefixo Substantivos próprios tornam-se comuns: Aquele
Mud – radical coordenador é um caxias! (Chefe severo e exigente)
Ecer – sufixo
Os processos de derivação vistos anteriormente fazem
Desalmado parte da Morfologia porque implicam alterações na forma das
Alma – palavra inicial palavras. No entanto, a derivação imprópria lida basicamente
Des – prefixo com seu significado, o que acaba caracterizando um processo
Alm – radical semântico. Por essa razão, entendemos o motivo pelo qual é
Ado – sufixo denominada "imprópria".

Não devemos confundir derivação parassintética, em que Composição: é o processo que forma palavras compostas,
o acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente a partir da junção de dois ou mais radicais. Existem dois tipos:
simultâneo, com casos como os das palavras desvalorização e
desigualdade. Nessas palavras, os afixos são acoplados em - Composição por Justaposição: ao juntarmos duas ou
sequência: desvalorização provém de desvalorizar, que mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética:
provém de valorizar, que por sua vez provém de valor. passatempo, quinta-feira, girassol, couve-flor. Em "girassol"
É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por houve uma alteração na grafia (acréscimo de um "s")
parassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de justamente para manter inalterada a sonoridade da palavra.
"propriar" ou de "expróprio", pois tais palavras não existem.
Logo, expropriar provém diretamente de próprio, pelo - Composição por Aglutinação: ao unirmos dois ou mais
acréscimo concomitante de prefixo e sufixo. vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus
elementos fonéticos: embora (em boa hora); fidalgo (filho de
- Derivação Regressiva: ocorre derivação regressiva algo - referindo-se a família nobre); hidrelétrico (hidro +
quando uma palavra é formada não por acréscimo, mas por elétrico); planalto (plano alto). Ao aglutinarem-se, os
redução: comprar (verbo) - compra (substantivo); beijar componentes subordinam-se a um só acento tônico, o do
(verbo) - beijo (substantivo). último componente.

Para descobrirmos se um substantivo deriva de um verbo - Redução: algumas palavras apresentam, ao lado de sua
ou se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte forma plena, uma forma reduzida. Observe: auto - por
orientação: automóvel; cine - por cinema; micro - por microcomputador;
- Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o Zé - por José. Como exemplo de redução ou simplificação de
verbo palavra primitiva. palavras, podem ser citadas também as siglas, muito
- Se o nome denota algum objeto ou substância, verifica-se frequentes na comunicação atual.
o contrário.
Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo - Hibridismo: ocorre hibridismo na palavra em cuja
indicam ações, logo, são palavras derivadas. O mesmo não formação entram elementos de línguas diferentes: auto
ocorre, porém, com a palavra âncora, que é um objeto. Neste (grego) + móvel (latim).
caso, um substantivo primitivo que dá origem ao verbo
ancorar. - Onomatopeia: numerosas palavras devem sua origem a
uma tendência constante da fala humana para imitar as vozes
Por derivação regressiva, formam-se basicamente e os ruídos da natureza. As onomatopeias são vocábulos que
substantivos a partir de verbos. Por isso, recebem o nome de reproduzem aproximadamente os sons e as vozes dos seres:
substantivos deverbais. Note que na linguagem popular, são miau, zunzum, piar, tinir, urrar, chocalhar, cocoricar, etc.
frequentes os exemplos de palavras formadas por derivação
regressiva. O portuga (de português); o boteco (de - Prefixos: os prefixos são morfemas que se colocam antes
botequim); o comuna (de comunista); agito (de agitar); dos radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido;
amasso (de amassar); chego (de chegar) raramente esses morfemas produzem mudança de classe
gramatical. Os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas se
O processo normal é criar um verbo a partir de um originam do latim e do grego, línguas em que funcionavam
substantivo. Na derivação regressiva, a língua procede em como preposições ou advérbios, logo, como vocábulos
sentido inverso: forma o substantivo a partir do verbo. autônomos. Alguns prefixos foram pouco ou nada produtivos
em português. Outros, por sua vez, tiveram grande vitalidade

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na formação de novas palavras: a-, contra-, des-, em- (ou en-), circu(m)-: movimento em torno: circunferência,
es-, entre- re-, sub-, super-, anti-. circunscrito, circulação.
cis-: posição aquém: cisalpino, cisplatino, cisandino.
Prefixos de Origem Grega co-, con-, com-: companhia, concomitância: colégio,
cooperativa, condutor.
a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência, contra-: oposição: contrapeso, contrapor, contradizer.
carência: anônimo, amoral, ateu, afônico. de-: movimento de cima para baixo, separação, negação:
ana-: inversão, mudança, repetição: analogia, análise, decapitar, decair, depor.
anagrama, anacrônico. de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação:
anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado, duplicidade: desventura, discórdia, discussão.
anfiteatro, anfíbio, anfibologia. e-, es-, ex-: movimento para fora: excêntrico, evasão,
anti-: oposição, ação contrária: antídoto, antipatia, exportação, expelir.
antagonista, antítese. en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para um
apo-: afastamento, separação: apoteose, apóstolo, estado ou forma, revestimento: imergir, enterrar, embeber,
apocalipse, apologia. injetar, importar.
arqui-, arce-: superioridade hierárquica, primazia, extra-: posição exterior, excesso: extradição,
excesso: arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário. extraordinário, extraviar.
cata-: movimento de cima para baixo: cataplasma, i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação: ilegal,
catálogo, catarata. impossível, improdutivo.
di-: duplicidade: dissílabo, ditongo, dilema. inter-, entre-: posição intermediária: internacional,
dia-: movimento através de, afastamento: diálogo, interplanetário.
diagonal, diafragma, diagrama. intra-: posição interior: intramuscular, intravenoso,
dis-: dificuldade, privação: dispneia, disenteria, dispepsia, intraverbal.
disfasia. intro-: movimento para dentro: introduzir, introvertido,
ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora: eclipse, êxodo, introspectivo.
ectoderma, exorcismo. justa-: posição ao lado: justapor, justalinear.
en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro: ob-, o-: posição em frente, oposição: obstruir, ofuscar,
encéfalo, embrião, elipse, entusiasmo. ocupar, obstáculo.
endo-: movimento para dentro: endovenoso, endocarpo, per-: movimento através: percorrer, perplexo, perfurar,
endosmose. perverter.
epi-: posição superior, movimento para: epiderme, epílogo, pos-: posterioridade: pospor, posterior, pós-graduado.
epidemia, epitáfio. pre-: anterioridade: prefácio, prever, prefixo, preliminar.
eu-: excelência, perfeição, bondade: eufemismo, euforia, pro-: movimento para frente: progresso, promover,
eucaristia, eufonia. prosseguir, projeção.
hemi-: metade, meio: hemisfério, hemistíquio, hemiplégico. re-: repetição, reciprocidade: rever, reduzir, rebater,
hiper-: posição superior, excesso: hipertensão, hipérbole, reatar.
hipertrofia. retro-: movimento para trás: retrospectiva, retrocesso,
hipo-: posição inferior, escassez: hipocrisia, hipótese, retroagir, retrógrado.
hipodérmico. so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima,
meta-: mudança, sucessão: metamorfose, metáfora, inferioridade: soterrar, sobpor, subestimar.
metacarpo. super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso:
para-: proximidade, semelhança, intensidade: paralelo, supercílio, supérfluo.
parasita, paradoxo, paradigma. soto-, sota-: posição inferior: soto-mestre, sota-voga, soto-
peri-: movimento ou posição em torno de: periferia, pôr.
peripécia, período, periscópio. trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além,
pro-: posição em frente, anterioridade: prólogo, movimento através: transatlântico, tresnoitar, tradição.
prognóstico, profeta, programa. ultra-: posição além do limite, excesso: ultrapassar,
pros-: adjunção, em adição a: prosélito, prosódia. ultrarromantismo, ultrassom, ultraleve, ultravioleta.
proto-: início, começo, anterioridade: proto-história, vice-, vis-: em lugar de: vice-presidente, visconde, vice-
protótipo, protomártir. almirante.
poli-: multiplicidade: polissílabo, polissíndeto, politeísmo.
sin-, sim-: simultaneidade, companhia: síntese, sinfonia, Sufixos: são elementos (isoladamente insignificativos)
simpatia, sinopse. que, acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua
tele-: distância, afastamento: televisão, telepatia, telégrafo. principal característica é a mudança de classe gramatical que
geralmente opera. Dessa forma, podemos utilizar o significado
Prefixos de Origem Latina de um verbo num contexto em que se deve usar um
substantivo, por exemplo. Como o sufixo é colocado depois do
a-, ab-, abs-: afastamento, separação: aversão, abuso, radical, a ele são incorporadas as desinências que indicam as
abstinência, abstração. flexões das palavras variáveis. Existem dois grupos de sufixos
a-, ad-: aproximação, movimento para junto: adjunto, formadores de substantivos extremamente importantes para
advogado, advir, aposto. o funcionamento da língua. São os que formam nomes de ação
ante-: anterioridade, procedência: antebraço, antessala, e os que formam nomes de agente.
anteontem, antever.
ambi-: duplicidade: ambidestro, ambiente, ambiguidade, Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminhada; -
ambivalente. ança – mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; -dão –
ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação: benefício, solidão; -ença – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; -ismo –
bendito. civismo; -mento – casamento; -são – compreensão; -tude –
bis-, bi-: repetição, duas vezes: bisneto, bimestral, bisavô, amplitude; -ura – formatura.
biscoito.

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Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de ação.
secretário; -eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – -ar: cruzar, analisar, limpar
lutador; -nte – feirante. -ear: guerrear, golear
-entar: afugentar, amamentar
Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: -aria – -ficar: dignificar, liquidificar
churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro; -or – -izar: finalizar, organizar
corredor; -tério – cemitério; -tório – dormitório.
Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação repetida.
Sufixos que formam nomes indicadores de abundância, Verbo Factivo: é aquele que envolve ideia de fazer ou
aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – papelada; -agem causar.
– folhagem; -al – capinzal; -ario(a) - casario, infantaria; -edo – Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco
arvoredo; -eria – correria; -io – mulherio; -ume – negrume. intensa.

Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciência: Questões


-ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fósseis).
-oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores). 01. (IF/PA - Auxiliar em Administração –
-ato, eto, ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito FUNRIO/2016)
(pedra).
-ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais). “Chegou o fim de semana. É tempo de encontrar os amigos
-ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto). no boteco e relaxar, mas a crise econômica vem deixando
-ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciência muitos paraenses de cabeça quente. Para ajudar o bolso dos
linguística). amantes da culinária de raiz, os bares participantes do Comida
-io - sódio, potássio, selênio (corpos simples). di Buteco estão comercializando os petiscos preparados
exclusivamente para o concurso com um preço reduzido. O
Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas preço máximo é de R$ 25,90.”
filosóficas, sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo, (O LIBERAL, 23 de abril de 2016)
comunismo. Assinale a alternativa que faz um comentário correto sobre
o processo de formação das palavras usadas nesse trecho.
Sufixos Formadores de Adjetivos a) As palavras “amigo e amantes” são formadas por
prefixação.
- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; - b) As palavras “paraenses e participantes” são formadas
áceo(a) - herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; -ar por sufixação.
– escolar; -ário - diário, ordinário; -ático – problemático; - c) A palavra “boteco” é formada por derivação a partir da
az – mordaz; -engo – mulherengo; -ento – cruento; -eo – palavra “bote”.
róseo; -esco – pitoresco; -este – agreste; -estre – terrestre; - d) As palavras “culinária e petiscos” são formadas por
enho – ferrenho; -eno – terreno; -ício – alimentício; -ico – derivação regressiva.
geométrico; -il – febril; -ino – cristalino; -ivo – lucrativo; - e) A palavra “comercializando” é formada por aglutinação
onho – tristonho; -oso – bondoso; -udo – barrigudo. de “comer+comércio”.

- de verbos: 02. (Pref. de Itaquitinga/PE – Técnico em Enfermagem


-(a)(e)(i)nte: ação, qualidade, estado – semelhante, doente, – IDHTEC/2016)
seguinte.
-(á)(í)vel: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação –
louvável, perecível, punível.
-io, -(t)ivo: ação referência, modo de ser – tardio,
afirmativo, pensativo.
-(d)iço, -(t)ício: possibilidade de praticar ou sofrer uma
ação, referência – movediço, quebradiço, factício.
-(d)ouro,-(t)ório: ação, pertinência – casadouro,
preparatório.

Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe apenas


um único sufixo adverbial: É o sufixo "-mente", derivado do
substantivo feminino latino mens, mentis que pode significar "a
mente, o espírito, o intento". Este sufixo juntou-se a adjetivos,
na forma feminina, para indicar circunstâncias, especialmente
a de modo. Exemplos: altiva-mente, brava-mente, bondosa-
mente, nervosa-mente, fraca-mente, pia-mente. Já os
advérbios que se derivam de adjetivos terminados em –ês
(burgues-mente, portugues-mente, etc.) não seguem esta
regra, pois esses adjetivos eram outrora uniformes. Exemplos:
cabrito montês / cabrita montês.

Sufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via de


regra, ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos
verbos. Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo
acréscimo da terminação-ar. Exemplos: esqui-ar; radiograf-
ar; (a)doç-ar; nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-
ar.

Língua Portuguesa 59
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APOSTILAS OPÇÃO

Em qual das alternativas houve a relação correta de acordo Não mais se fazia jornalismo para a sociedade, mas se fazia um
com as regras do processo de formação de palavras. suposto jornalismo dinâmico e frenético para que os grandes
a) Recompor – prefixo e sufixo nomes da imprensa sobressaíssem diante dos “jornalistas
b) Utiliza-se – sufixo cidadãos”. Esse era um dos primeiros e mais graves erros –
c) Indolor – prefixo dentro de uma sucessão – que seriam seguidos.
d) Avançado – prefixo e sufixo [3º§] As redações continuaram a ser esvaziadas, a crise
e) Somente – sufixo existencial tornou-se mais aguda e o suposto adversário
invisível cada vez se tornava mais forte. Havia um clima de que
03. (Pref. de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito – os “especialistas de Facebook” superariam a imprensa. Não era
IOBV/2016) mais necessário investir em jornalismo, já que as mídias
sociais supririam toda a nossa fome por conhecimento e
“Infelizmente as cheias de 2011 castigaram de forma informação. O mito – surgido nas próprias redes sociais –
severa o Vale do Itajaí.” parecia ter sido absorvido de tal maneira que a imprensa não
mais reagia. Mesmo com o crescente número de startups sobre
Na frase acima (elaborada para fins de concurso) temos o jornalismo, o canibalismo jornalístico parecia mais
caso da expressão “Infelizmente”. A palavra pode ser assim importante.
decomposta: in + feliz + mente. Aponte qual a função da [4º§] Agora, outros erros tão graves quanto os citados
partícula in dentro do processo de estruturação das palavras. estão sendo cometidos pela imprensa. O comportamento
a) Radical. infantilizado de muitos veículos através das mídias sociais, por
b) Sufixo. exemplo, demonstra imaturidade e desestruturação de
c) Prefixo. pensamento. A aposta em modismos – e não mais em
d) Interfixo. jornalismo – tem causado um efeito em cadeia que faz com que
tanto canais grandes como pequenos se comportem de
04. (Pref. de Teresina/PI - Professor – Português – maneira duvidosa – pelo menos perante os conceitos do que se
NUCEPE/2016) entendia como jornalismo.
[5º§] O abuso de listas, o uso de “especialistas de
Aceita um cafezinho Facebook” como fonte, pautas sendo construídas com base em
timelines alheias ou o frenesi encantador de likes e shares têm
Ó Estrangeiro, ó peregrino, ó passante de pouca esperança feito com que uma das maiores armadilhas das redes sociais
- nada tenho para te dar, também sou pobre e essas terras não abocanhe o jornalismo. O jornalismo, como instituição e pilar
são minhas. Mas aceita um cafezinho. da democracia, agora se comporta como um usuário de
A poeira é muita, e só Deus sabe aonde vão dar esses internet, jovem, antenado, mas que não tem como privilégio o
caminhos. Um cafezinho, eu sei, não resolve o teu destino; nem foco ou a profundidade. A armadilha se revela justamente no
faz esquecer tua cicatriz. momento em que “ser um usuário” passa a valer como
Mas prova.... Bota a trouxa no chão, abanca-te nesta pedra entendimento de “dialogar com o usuário”.
e vai preparando o teu cigarro... [6º§] As mídias sociais digitais conectadas em rede
Um minuto apenas, que a água já está fervendo e as xícaras trouxeram a “midiatização da mídia”, ou a “facebookização do
já tilintam na bandeja. Vai sair bem coado e quentinho. jornalismo”. Quando se falava em jornalismo cidadão e em
Não é nada, não é nada, mas tu vais ver: serão mais alguns participação do usuário, muitos pensavam em um jornalismo
quilômetros de boa caminhada... E talvez uma pausa em teu global-local, com o dinamismo e velocidade que a internet
gemido! exige. Porém o que temos visto não vai ao encontro desse
Um minutinho, estrangeiro, que teu café já vem cheirando... pensamento, já que o espaço do cidadão no jornalismo é
medido apenas pelo seu humor, a participação do usuário é
(Aníbal Machado) medida em curtidas e o jornalismo, muitas vezes, não é
Na palavra cafezinho temos os seguintes elementos jornalismo, é apenas uma mera isca para likes e shares.
mórficos Fonte: Observatório da Imprensa, edição 886 -
a) radical, vogal temática e sufixo. 19/01/2016. Disponível em:
b) radical, consoante de ligação e sufixo. <http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-
c) radical e sufixo. debates/a-facebookizacao-do-jornalismo>. Acesso em 20 jan.
d) radical e vogal temática. 2016. Fragmento de texto adaptado.
e) radical e consoante de ligação.
VOCABULÁRIO DE APOIO:
05. (Pref. de Barbacena/MG - Agente Administrativo – 1- Startup: iniciar uma empresa e colocá-la em
FCM/2016) funcionamento.
Texto 1 2- Facebook: é um site e serviço de rede social, lançado em
A “facebookização” do jornalismo 2004, operado pela Facebook Inc.
3- Facebookização: neologismo (nova palavra) criado a
Cleyton Carlos Torres partir de facebook.
4- Timeline: (linha do tempo): espaço para
[1º§] A crise que embala o jornalismo não é de hoje. compartilhamento de dados, imagens e ideias nas redes
Críticas a aspectos conceituais, morais, editoriais e até sociais.
financeiros já rondam esse importante pilar da democracia há 5- Like (curtir) e share (compartilhar): opções de interação
um bom tempo. O digital, então, acabou surgindo para dar um e compartilhamento disponíveis nas redes sociais
empurrãozinho – tanto para o bem como para o mal – nas
redações mundo afora. Prédios esvaziados, startups No trecho: “O comportamento infantilizado de muitos
revolucionárias, crise existencial e um suposto adversário veículos através das mídias sociais, por exemplo, demonstra
invisível: o próprio leitor. imaturidade e desestruturação de pensamento.”, os
[2º§] O leitor – e suas mídias sociais digitais conectadas em vocábulos grifados são formados por prefixação e sufixação.
rede – passou a ser visto como um inimigo a ser combatido, um Em ambos os vocábulos, o prefixo indica um valor semântico
mal necessário para que o jornalismo conseguisse sobreviver. de

Língua Portuguesa 60
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APOSTILAS OPÇÃO

a) negação. c) Assessorássemos; indenidade; dissesses; entre ti e nós;


b) contraposição. fizesse.
c) movimento para trás. d) Beleza; sutileza; pobreza; destreza; natureza.
d) movimento para baixo. e) Interdisciplinaridade; transitoriedade; notoriedade;
titularidade; liminaridade.
06. (EMSERH - Auxiliar Administrativo –
FUNCAB/2016) 08. (Pref. de Aragoiânia/GO - Biólogo – Itame/2016)

Como seremos amanhã? O irreverente cantor não agradou o público local.

Estar aberto às novidades é estar vivo. Fechar-se a elas é Aponte a alternativa em que o prefixo das palavras não
morrer estando vivo. Um certo equilíbrio entre as duas apresenta o significado existente no prefixo da palavra
atitudes ajuda a nem ser antiquado demais nem ser destacada acima:
superavançadinho, correndo o perigo de confusões ou a) desgoverno / ilegal
ridículo. b) infiel / imoral
Sempre me fascinaram as mudanças - às vezes avanço, às c) anormal / destemor
vezes retorno à caverna. Hoje andam incrivelmente rápidas, d) imigrante / ingerir
atingindo usos e costumes, ciência e tecnologia, com reflexos
nas mais sofisticadas e nas menores coisas com que lidamos. 09. (Pref. de Rio de Janeiro/RJ - Professor de Ensino
Nossa visão de mundo se transforma, mas penso que não no Fundamental - Educação Física - Pref. de Rio de Janeiro-
mesmo ritmo; então, de vez em quando nos pegamos dizendo, RJ/2016)
como nossas mães ou avós tanto tempo atrás: “Nossa! Como
tudo mudou!” Às agressões humanas, a Terra responde com flores
Nos usos e costumes a coisa é séria e nos afeta a todos:
crianças muito precocemente sexualizadas pela moda, pela Mais que no âmago de uma crise de proporções
televisão, muitas vezes por mães alienadas. [...] planetárias, nos confrontamos hoje com um processo de
Na saúde, acho que melhorou. Sou de uma infância sem irreversibilidade. A Terra nunca mais será a mesma. Ela foi
antibióticos. A gente sobrevivia sob os cuidados de mãe, pai, transformada em sua base físico-química-ecológica de forma
avó, médico de família, aquele que atendia do parto à cirurgia tão profunda que acabou perdendo seu equilíbrio interno.
mais complexa para aqueles dias. Dieta, que hoje se tornou Entrou num processo de caos, vale dizer, perdeu sua
obsessão, era impensável, sobretudo para crianças, e eu pré- sustentabilidade e afetou a continuação do que, por milênios,
adolescente gordinha, não podia nem falar em “regime” que vinha fazendo: produzindo e reproduzindo vida.
minha mãe arrancava os cabelos e o médico sacudia a cabeça: Todo caos possui dois lados: um destrutivo e outro
“Nem pensar”. criativo. O destrutivo representa a desmontagem de um tipo
Em breve estaremos menos doentes: célula-tronco e chips de equilíbrio que implica a erosão de parte da biodiversidade
vão nos consertar de imediato, ou evitar os males. Teremos de e, no limite, a redução da espécie humana. Esta resulta da
descobrir o que fazer com tanto tempo de vida a mais que nos incapacidade ou de adaptar-se à nova situação ou de mitigar
será concedido... [...] os efeitos letais. Concluído esse processo de purificação, o caos
Quem sabe nos mataremos menos, se as drogas forem começa a mostrar sua face generativa. Cria novas ordens,
controladas e a miséria extinta. Não creio em igualdade, mas equilibra os climas e permite que os seres humanos
em dignidade para todos. Talvez haja menos guerras, porque sobreviventes construam outro tipo de civilização.
de alguma forma seremos menos violentos. Da história da Terra aprendemos que ela passou por cerca
[...] de quinze grandes dizimações, como a do cambriano há 480
As crianças terão outras memórias, outras brincadeiras, milhões de anos, que dizimou de 80 a 90% das espécies. Mas,
outras alegrias; os adultos, novas sensações e possibilidades. por ser mãe generosa, lentamente, refez a diversidade da vida.
Mas as emoções humanas, estas eu penso que vão demorar a Hoje, a comunidade científica, em sua grande maioria, nos
mudar. Todos vão continuar querendo mais ou menos o alerta acerca de um eventual colapso do sistema-vida,
mesmo: afeto, presença, sentido para a vida, alegria. Desta, por ameaçando o próprio futuro da espécie humana. Todos podem
mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, incríveis, não perceber as mudanças que estão ocorrendo diante de nossos
podemos esquecer. Ou não valerá a pena nem um só ano a olhos. Grandes efeitos extremos: por um lado estiagens
mais, saúde a mais, brinquedinhos a mais. Seremos uns robôs prolongadas associadas à grande escassez de água, afetando os
cinzentos e sem graça! ecossistemas e a sociedade como um todo, como está
Lya Luft, Veja. São Paulo, 2 de março, 2011, p.24 ocorrendo no Sudeste de nosso país. Em outros lugares do
O elemento destacado em ANTIbiótico significa: planeta, como nos USA, invernos rigorosos como não se viam
a) repetição. há decênios ou até centenas de anos.
b) embaixo de O fato é que tocamos nos limites físicos do planeta Terra.
c) movimento para trás. Ao forçá-los, como o faz a nossa voracidade produtivista e
d) movimento para dentro. consumista, a Terra responde com tufões, tsunamis, enchentes
e) oposição. devastadoras, terremotos e uma incontida subida do
aquecimento global. [...]
07. (BAHIAGÁS - Analista de Processos E, apesar deste cenário dramático, olho em minha volta e
Organizacionais - Administração e Psicologia – vejo, extasiado, a floresta cheia de quaresmeiras roxas,
IESES/2016) fedegosos amarelos e no canto de minha casa as belle
donne floridas, tucanos que pousam em árvores em frente de
Assinale a alternativa em que todas as palavras estão minha janela e as araras que fazem ninhos debaixo do telhado.
INCORRETAS: Então me dou conta de que a Terra é de fato mãe generosa:
a) Luminescência; transparência; ascendência; às nossas agressões ainda nos sorri com flora e fauna. E nos
maledicência; flatulência. infunde a esperança de que não o apocalipse, mas um novo
b) Dizêssemos; troucéssemos; portãozinhos; quizéreis; gênesis* está a caminho. A Terra vai ainda sobreviver. Deus
puzesse.

Língua Portuguesa 61
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APOSTILAS OPÇÃO

não permitirá que a vida, que penosamente superou o caos, 06. Resposta E
venha a desaparecer. Basta lembrar disso:
* Gênesis – termo grego que significa origem, nascimento, Anti= oposição
é o nome do primeiro livro da bíblia. Ante= movimento para trás
Leonardo Boff. Disponível em:
https://leonardoboff.wordpress.com/2015/02/22/as- 07. Resposta B
agressoes-humanas-a-terra-responde-com-flores/ - Dizêssemos; troucéssemos; portãozinhos; quizéreis;
Adaptado. puzesse. [ERRADO];
Sobre o processo de formação da Disséssemos, trouxéssemos, portõezinhos; quiséreis,
palavra voracidade (quinto parágrafo), é incorreto afirmar pusesse; [CORRETO];
que:
a) o sufixo empregado indica qualidade, estado ou modo de 08. Resposta D
ser IRreverente possui dois significados bem distintos: falta de
b) o sufixo empregado indica proveniência, naturalidade respeito ou alguém desinibido.
c) é alterado o z final da palavra de origem, assim como Significado dos prefixos: IN-; IM-; I-: negação; falta.
em sagacidade O sufixo da palavra irreverente, neste caso, denota falta de
d) é substantivo abstrato derivado de adjetivo, assim como respeito.
a palavra dignidade Imigrante: significa aquele que entra num país para nele
viver.
10. (IF/BA - Auxiliar em Administração – Ingerir: pôr no estômago.
FUNRIO/2016) Significado do prefixo I-: movimento para dentro.
Todas as palavras abaixo têm prefixo e sufixo, exceto este
verbo: 09. Resposta B
a) destinar. a) o sufixo empregado indica qualidade, estado ou modo de
b) desfivelar. ser - correto porque os termos voraz, voracidade indicam um
c) desfavorecer. atributo ou uma qualidade.
d) desbanalizar. b) o sufixo empregado indica proveniência, naturalidade -
e) despraguejar. errado, por se tratar de uma qualidade, portanto não é algo
nato, é algo característico.
Respostas c) é alterado o z final da palavra de origem, assim como em
sagacidade - correto porque a palavra de origem de voracidade
01. Resposta B é voraz, assim como de sagacidade é sagaz.
Gabarito letra ´B´ - Pará + sufixo 'nses' d) é substantivo abstrato derivado de adjetivo, assim como
Participar + sufixo 'antes' a palavra dignidade - correto porque voraz é um adjetivo
A) incorreta - amigo é primitivo abstrato que dá origem ao substantivo abstrato voracidade.
C) incorreta - Boteco - Derivação regressiva de Botequim;
D) petiscos e culinária não são derivação regressiva (não 10. Resposta A
sei se são primitivos, mas regressiva não é, alguém jogue uma O verbo está relacionado ao substantivo destino, por isso
luz sobre o assunto) não apresenta prefixo.
E) Comercializando - comércio + sufixo 'lizando'

02. Resposta C Verbos: conjugação,


a) Por: compor - dispor - contrapor- recompor - repor.
b) Utiliza-se - o "SE" é uma partícula apassivadora;
emprego dos tempos, modos e
c) A palavra dor vem do latim DOLOR, em português seria vozes verbais.
"sem dor", em latim indolor, o prefixo in em latim é negação;
d) Avançado - derivação sufixal;
e) Segundo Pasquale os sufixos são capazes de modificar o
significado do radical a que são acrescentados. No caso de Verbo
somente, a origem vem de "só", dependendo do contexto, só e
somente tem o mesmo significado. Ex: "eu só quero bananas e Verbo é a palavra que indica ação, movimento, fenômenos
maçãs" é a mesma coisa que "eu quero somente bananas e da natureza, estado, mudança de estado. Flexiona-se em
maçãs" número (singular e plural), pessoa (primeira, segunda e
terceira), modo (indicativo, subjuntivo e imperativo, formas
03. Resposta C nominais: gerúndio, infinitivo e particípio), tempo (presente,
IN - FELIZ - MENTE passado e futuro) e apresenta voz (ativa, passiva, reflexiva). De
PREFIXO RADICAL SUFIXO acordo com a vogal temática, os verbos estão agrupados em
três conjugações:
04. Resposta B
Café - é o radical, chamado de forma livre. Por ter a letra É 1ª conjugação – ar: cantar, dançar, pular.
forte, tônica, ela não cai nas suas derivações. Portanto, não há 2ª conjugação – er: beber, correr, entreter.
vogal temática nem desinência de gênero. 3ª conjugação – ir: partir, rir, abrir.
inho - é o sufixo.
Z - letra chamada de consoante de ligação para não ocorrer O verbo pôr e seus derivados (repor, depor, dispor,
a junção de vogal com vogal em café + inho. compor, impor) pertencem a 2ª conjugação devido à sua
origem latina poer.
05. Resposta A
Imaturidade = que NÃO possui maturidade Elementos Estruturais do Verbo: As formas verbais
Desestruturação = que NÃO é estruturado apresentam três elementos em sua estrutura: Radical, Vogal
Temática e Tema.

Língua Portuguesa 62
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APOSTILAS OPÇÃO

pedido, uma súplica. Apresenta imperativo afirmativo e


Radical: elemento mórfico (morfema) que concentra o imperativo negativo
significado essencial do verbo. Observe as formas verbais da
1ª conjugação: contar, esperar, brincar. Flexionando esses Emprego dos Tempos do Indicativo
verbos, nota-se que há uma parte que não muda, e que nela
está o significado real do verbo. - Presente do Indicativo: Para enunciar um fato
cont é o radical do verbo contar; momentâneo. Ex: Estou feliz hoje. Para expressar um fato que
esper é o radical do verbo esperar; ocorre com frequência. Ex: Eu almoço todos os dias na casa de
brinc é o radical do verbo brincar. minha mãe. Na indicação de ações ou estados permanentes,
verdades universais. Ex: A água é incolor, inodora, insípida.
Se tiramos as terminações ar, er, ir do infinitivo dos
verbos, teremos o radical desses verbos. Também podemos - Pretérito Imperfeito: Para expressar um fato passado,
antepor prefixos ao radical: des nutr ir / re conduz ir. não concluído. Ex: Nós comíamos pastel na feira; Eu cantava
muito bem.
Vogal Temática: é o elemento mórfico que designa a qual
conjugação pertence o verbo. Há três vogais temáticas: 1ª - Pretérito Perfeito: É usado na indicação de um fato
conjugação: a; 2ª conjugação: e; 3ª conjugação: i. passado concluído. Ex: Cantei, dancei, pulei, chorei, dormi...

Tema: é o elemento constituído pelo radical mais a vogal - Pretérito Mais-Que-Perfeito: Expressa um fato passado
temática: contar: -cont (radical) + a (vogal temática) = tema. anterior a outro acontecimento passado. Ex: Nós cantáramos
Se não houver a vogal temática, o tema será apenas o radical: no congresso de música.
contei = cont ei.
- Futuro do Presente: Na indicação de um fato realizado
Desinências: são elementos que se juntam ao radical, ou num instante posterior ao que se fala. Ex: Cantarei domingo no
ao tema, para indicar as flexões de modo e tempo, desinências coro da igreja matriz.
modo temporais e desinências número pessoais.
- Futuro do Pretérito: Para expressar um acontecimento
Contávamos posterior a um outro acontecimento passado. Ex: Compraria
Cont = radical um carro se tivesse dinheiro
a = vogal temática
va = desinência modo temporal 1ª Conjugação: -AR
mos = desinência número pessoal Presente: danço, danças, dança, dançamos, dançais,
dançam.
Flexões Verbais: Flexão de número e de pessoa: o verbo Pretérito Perfeito: dancei, dançaste, dançou,
varia para indicar o número e a pessoa. dançamos, dançastes, dançaram.
- eu estudo – 1ª pessoa do singular; Pretérito Imperfeito: dançava, dançavas, dançava,
- nós estudamos – 1ª pessoa do plural; dançávamos, dançáveis, dançavam.
- tu estudas – 2ª pessoa do singular; Pretérito Mais-Que-Perfeito: dançara, dançaras,
- vós estudais – 2ª pessoa do plural; dançara, dançáramos, dançáreis, dançaram.
- ele estuda – 3ª pessoa do singular; Futuro do Presente: dançarei, dançarás, dançará,
- eles estudam – 3ª pessoa do plural. dançaremos, dançareis, dançarão.
Futuro do Pretérito: dançaria, dançarias, dançaria,
- Algumas regiões do Brasil, usam o pronome tu de forma dançaríamos, dançaríeis, dançariam.
diferente da fala culta, exigida pela gramática oficial, ou seja,
tu foi, tu pega, tu tem, em vez de: tu fostes, tu pegas, tu tens. O 2ª Conjugação: -ER
pronome vós aparece somente em textos literários ou bíblicos.
Presente: como, comes, come, comemos, comeis,
Os pronomes: você, vocês, que levam o verbo na 3ª pessoa, é o
comem.
mais usado no Brasil.
Pretérito Perfeito: comi, comeste, comeu, comemos,
- Flexão de tempo e de modo – os tempos situam o fato ou
comestes, comeram.
a ação verbal dentro de determinado momento; pode estar em
plena ocorrência, pode já ter ocorrido ou não. Essas três Pretérito Imperfeito: comia, comias, comia,
comíamos, comíeis, comiam.
possibilidades básicas, mas não únicas, são: presente,
pretérito, futuro. Pretérito Mais-Que-Perfeito: comera, comeras,
comera, comêramos, comêreis, comeram.
O modo indica as diversas atitudes do falante com relação Futuro do Presente: comerei, comerás, comerá,
ao fato que enuncia. São três os modos: comeremos, comereis, comerão.
Futuro do Pretérito: comeria, comerias, comeria,
- Modo Indicativo: a atitude do falante é de certeza, comeríamos, comeríeis, comeriam.
precisão: o fato é ou foi uma realidade; Apresenta presente,
pretérito perfeito, imperfeito e mais que perfeito, futuro do 3ª Conjugação: -IR
presente e futuro do pretérito. Presente: parto, partes, parte, partimos, partis,
- Modo Subjuntivo: a atitude do falante é de incerteza, de partem.
dúvida, exprime uma possibilidade; O subjuntivo expressa Pretérito Perfeito: parti, partiste, partiu, partimos,
uma incerteza, dúvida, possibilidade, hipótese. Apresenta partistes, partiram.
presente, pretérito imperfeito e futuro. Ex: Tenha paciência, Pretérito Imperfeito: partia, partias, partia,
Lourdes; Se tivesse dinheiro compraria um carro zero; partíamos, partíeis, partiam.
Quando o vir, dê lembranças minhas. Pretérito Mais-Que-Perfeito: partira, partiras,
- Modo Imperativo: a atitude do falante é de ordem, um partira, partíramos, partíreis, partiram.
desejo, uma vontade, uma solicitação. Indica uma ordem, um Futuro do Presente: partirei, partirás, partirá,
partiremos, partireis, partirão.

Língua Portuguesa 63
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APOSTILAS OPÇÃO

Futuro do Pretérito: partiria, partirias, partiria,


partiríamos, partiríeis, partiriam. Presente do Subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele
ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
Emprego dos Tempos do Subjuntivo Imperativo negativo: (X), não ames tu, não ame você, não
amemos nós, não ameis vós, não amem vocês.
Presente: é empregado para indicar um fato incerto ou
duvidoso, muitas vezes ligados ao desejo, à suposição: Duvido Além dos três modos citados, os verbos apresentam ainda
de que apurem os fatos; Que surjam novos e honestos políticos. as formas nominais: infinitivo – impessoal e pessoal, gerúndio
e particípio.
Pretérito Imperfeito: é empregado para indicar uma
condição ou hipótese: Se recebesse o prêmio, voltaria à Infinitivo Impessoal: Exprime a significação do verbo de
universidade. modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
substantivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta); É
Futuro: é empregado para indicar um fato hipotético, pode indispensável combater a corrupção. (= combate à)
ou não acontecer. Quando/Se você fizer o trabalho, será O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente
generosamente gratificado. (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
exemplo: É preciso ler este livro; Era preciso ter lido este livro.
1ª Conjugação –AR Quando se diz que um verbo está no infinitivo impessoal,
Presente: que eu dance, que tu dances, que ele dance, isso significa que ele apresenta sentido genérico ou indefinido,
que nós dancemos, que vós danceis, que eles dancem. não relacionado a nenhuma pessoa, e sua forma é invariável.
Pretérito Imperfeito: se eu dançasse, se tu dançasses, Assim, considera-se apenas o processo verbal. Por exemplo:
se ele dançasse, se nós dançássemos, se vós dançásseis, se Amar é sofrer; O infinitivo pessoal, por sua vez, apresenta
eles dançassem. desinências de número e pessoa.
Futuro: quando eu dançar, quando tu dançares, Observe que, embora não haja desinências para a 1ª e 3ª
quando ele dançar, quando nós dançarmos, quando vós pessoas do singular (cujas formas são iguais às do infinitivo
dançardes, quando eles dançarem. impessoal), elas não deixam de referir-se às respectivas
pessoas do discurso (o que será esclarecido apenas pelo
2ª Conjugação -ER contexto da frase). Por exemplo: Para ler melhor, eu uso estes
óculos. (1ª pessoa); Para ler melhor, ela usa estes óculos. (3ª
Presente: que eu coma, que tu comas, que ele coma,
que nós comamos, que vós comais, que eles comam. pessoa)
As regras que orientam o emprego da forma variável ou
Pretérito Imperfeito: se eu comesse, se tu comesses,
invariável do infinitivo não são todas perfeitamente definidas.
se ele comesse, se nós comêssemos, se vós comêsseis, se
Por ser o infinitivo impessoal mais genérico e vago, e o
eles comessem.
infinitivo pessoal mais preciso e determinado, recomenda-se
Futuro: quando eu comer, quando tu comeres, quando
usar este último sempre que for necessário dar à frase maior
ele comer, quando nós comermos, quando vós comerdes,
clareza ou ênfase.
quando eles comerem.
O Infinitivo Impessoal é usado:
3ª conjugação – IR
Presente: que eu parta, que tu partas, que ele parta, - Quando apresenta uma ideia vaga, genérica, sem se
que nós partamos, que vós partais, que eles partam. referir a um sujeito determinado; Por exemplo: Querer é
Pretérito Imperfeito: se eu partisse, se tu partisses, poder; Fumar prejudica a saúde; É proibido colar cartazes
se ele partisse, se nós partíssemos, se vós partísseis, se neste muro.
eles partissem. - Quando tiver o valor de Imperativo; Por exemplo:
Futuro: quando eu partir, quando tu partires, quando Soldados, marchar! (= Marchai!)
ele partir, quando nós partirmos, quando vós partirdes, - Quando é regido de preposição e funciona como
quando eles partirem. complemento de um substantivo, adjetivo ou verbo da oração
anterior; Por exemplo: Eles não têm o direito de gritar assim;
Emprego do Imperativo As meninas foram impedidas de participar do jogo; Eu os
convenci a aceitar.
Imperativo Afirmativo: No entanto, na voz passiva dos verbos “contentar”,
“tomar” e “ouvir”, por exemplo, o Infinitivo (verbo auxiliar)
- Não apresenta a primeira pessoa do singular. deve ser flexionado. Por exemplo: Eram pessoas difíceis de
- É formado pelo presente do indicativo e pelo presente do serem contentadas; Aqueles remédios são ruins de serem
subjuntivo. tomados; Os CDs que você me emprestou são agradáveis de
- O Tu e o Vós saem do presente do indicativo sem o “s”. serem ouvidos.
- O restante é cópia fiel do presente do subjuntivo.
Nas locuções verbais; Por exemplo:
Presente do Indicativo: eu amo, tu amas, ele ama, nós - Queremos acordar bem cedo amanhã.
amamos, vós amais, eles amam. - Eles não podiam reclamar do colégio.
Presente do subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele - Vamos pensar no seu caso.
ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
Imperativo afirmativo: (X), ama tu, ame você, amemos Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo da
nós, amai vós, amem vocês. oração anterior; Por exemplo:
- Eles foram condenados a pagar pesadas multas.
Imperativo Negativo: - Devemos sorrir ao invés de chorar.
- Tenho ainda alguns livros por (para) publicar.
- É formado através do presente do subjuntivo sem a
primeira pessoa do singular. Quando o infinitivo preposicionado, ou não, preceder ou
- Não retira os “s” do tu e do vós. estiver distante do verbo da oração principal (verbo regente),

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APOSTILAS OPÇÃO

pode ser flexionado para melhor clareza do período e também Ela não sai sozinha à noite a fim de não falarem mal da sua
para se enfatizar o sujeito (agente) da ação verbal. Por conduta.
exemplo:
- Na esperança de sermos atendidos, muito lhe - Quando apresentar reciprocidade ou reflexibilidade de
agradecemos. ação; Por exemplo: Vi os alunos abraçarem-se alegremente;
- Foram dois amigos à casa de outro, a fim de jogarem Fizemos os adversários cumprimentarem-se com gentileza;
futebol. Mandei as meninas olharem-se no espelho.
- Para estudarmos, estaremos sempre dispostos.
- Antes de nascerem, já estão condenadas à fome muitas Como se pode observar, a escolha do Infinitivo Flexionado
crianças. é feita sempre que se quer enfatizar o agente (sujeito) da ação
expressa pelo verbo.
Com os verbos causativos “deixar”, “mandar” e “fazer” e - Se o infinitivo de um verbo for escrito com “j”, esse “j”
seus sinônimos que não formam locução verbal com o aparecerá em todas as outras formas. Por exemplo:
infinitivo que os segue; Por exemplo: Deixei-os sair cedo hoje. Enferrujar: enferrujou, enferrujaria, enferrujem,
Com os verbos sensitivos “ver”, “ouvir”, “sentir” e enferrujarão, enferrujassem, etc. (Lembre-se, contudo, que o
sinônimos, deve-se também deixar o infinitivo sem flexão. Por substantivo ferrugem é grafado com “g”.).
exemplo: Vi-os entrar atrasados; Ouvi-as dizer que não iriam à Viajar: viajou, viajaria, viajem (3ª pessoa do plural do
festa. presente do subjuntivo, não confundir com o substantivo
viagem) viajarão, viajasses, etc.
É inadequado o emprego da preposição “para” antes dos - Quando o verbo tem o infinitivo com “g”, como em
objetos diretos de verbos como “pedir”, “dizer”, “falar” e “dirigir” e “agir” este “g” deverá ser trocado por um “j” apenas
sinônimos; na primeira pessoa do presente do indicativo. Por exemplo:
- Pediu para Carlos entrar (errado), eu dirijo/ eu ajo
- Pediu para que Carlos entrasse (errado). - O verbo “parecer” pode relacionar-se de duas maneiras
- Pediu que Carlos entrasse (correto). distintas com o infinitivo. Quando “parecer” é verbo auxiliar de
um outro verbo: Elas parecem mentir. Elas parece mentirem.
Quando a preposição “para” estiver regendo um verbo, Neste exemplo ocorre, na verdade, um período composto.
como na oração “Este trabalho é para eu fazer”, pede-se o “Parece” é o verbo de uma oração principal cujo sujeito é a
emprego do pronome pessoal “eu”, que se revela, neste caso, oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de
como sujeito. Outros exemplos: infinitivo “elas mentirem”. Como desdobramento dessa
- Aquele exercício era para eu corrigir. reduzida, podemos ter a oração “Parece que elas mentem.”
- Esta salada é para eu comer?
- Ela me deu um relógio para eu consertar. Gerúndio: O gerúndio pode funcionar como adjetivo ou
Em orações como “Esta carta é para mim!”, a preposição advérbio. Por exemplo: Saindo de casa, encontrei alguns
está ligada somente ao pronome, que deve se apresentar amigos. (Função de advérbio); Nas ruas, havia crianças
oblíquo tônico. vendendo doces. (Função adjetivo)
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso;
Infinitivo Pessoal: É o infinitivo relacionado às três na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo:
pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro; Tendo
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro.
impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
Particípio: Quando não é empregado na formação dos
2ª pessoa do singular: Radical + ES. Ex.: teres (tu) tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
1ª pessoa do plural: Radical + mos. Ex.: termos (nós) de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e
2ª pessoa do plural: Radical + dês. Ex.: terdes (vós) grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
3ª pessoa do plural: Radical + em. Ex.: terem (eles) saíram. Quando o particípio exprime somente estado, sem
nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função
Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa de adjetivo (adjetivo verbal). Por exemplo: Ela foi a aluna
colocação. escolhida para representar a escola.

Quando se diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso 1ª Conjugação –AR
significa que ele atribui um agente ao processo verbal, Infinitivo Impessoal: dançar.
flexionando-se. Infinitivo Pessoal: dançar eu, dançares tu; dançar ele,
dançarmos nós, dançardes vós, dançarem eles.
O infinitivo deve ser flexionado nos seguintes casos: Gerúndio: dançando.
Particípio: dançado.
- Quando o sujeito da oração estiver claramente expresso;
Por exemplo: Se tu não perceberes isto...; Convém vocês irem 2ª Conjugação –ER
primeiro; O bom é sempre lembrarmos desta regra (sujeito Infinitivo Impessoal: comer.
desinencial, sujeito implícito = nós). Infinitivo pessoal: comer eu, comeres tu, comer ele,
- Quando tiver sujeito diferente daquele da oração comermos nós, comerdes vós, comerem eles.
principal; Por exemplo: O professor deu um prazo de cinco
Gerúndio: comendo.
dias para os alunos estudarem bastante para a prova; Perdoo-
Particípio: comido.
te por me traíres; O hotel preparou tudo para os turistas
ficarem à vontade; O guarda fez sinal para os motoristas
pararem.
- Quando se quiser indeterminar o sujeito (utilizado na 3ª Conjugação –IR
terceira pessoa do plural); Por exemplo: Faço isso para não me Infinitivo Impessoal: partir.
acharem inútil; Temos de agir assim para nos promoverem; Infinitivo pessoal: partir eu, partires tu, partir ele,
partirmos nós, partirdes vós, partirem eles.

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APOSTILAS OPÇÃO

Gerúndio: partindo. Modo Imperativo


Particípio: partido.
Imperativo Imperativo Infinitivo
VERBOS AUXILIARES: SER, ESTAR, TER, HAVER Afirmativo Negativo Pessoal
EU ------ ------ Por ser eu
SER TU Sê tu Não sejas tu Por seres tu
Modo Indicativo ELE Seja ele Não sejas ele Por ser ele
Sejamos Não sejamos Por sermos nós
Pretérito Pretérito NÓS
Pretérito nós nós
Presente Perfeito Perf.
Imperfeito VÓS Sedes vós Não sejais vós Por serdes vós
Simples Composto
sou era fui tenho sido ELES Sejam eles Não sejam eles Por serem eles
EU
TU és eras foste tens sido Formas Nominais
ELE é era foi tem sido Infinitivo: ser
NÓS somos éramos fomos temos sido Gerúndio: sendo
sois éreis fostes tendes Particípio: sido
VÓS
sido
ELES são eram foram têm sido ESTAR
Modo Indicativo
Pret. Futuro Futuro
Pret. Futuro
Mais do do Pretérito Pretérito
Mais do Pretérito
que Pretérit Presen Presente Perf. Perf.
que Pretéri Imperfeito
Perfei o te Simples Composto
Perfeito to
to Compos estou estava estive tenho
Compos Simple EU
Simpl to estado
to s
es estás estavas estiveste tens
fora tinha seria terei serei TU
EU estado
sido sido está estava esteve tem
foras tinhas serias terias serás ELE
TU estado
sido sido estamos estávamos estivemos temos
fora tinha seria teria será NÓS
ELE estado
sido sido estais estáveis estivestes tendes
NÓ fôram tínhamo seríam teríamo seremo VÓS
estado
S os s sido os s sido s estão estavam estiveram têm
VÓ fôreis tínheis seríeis teríeis sereis ELES
estado
S sido sido
ELE foram tinham seriam teriam serão Pret. Futuro
S sido sido Pret. Mais Futuro
Mais que do
que do
Perfeito Presente
Modo Subjuntivo Perfeito Presente
Compost Compost
Simples Simples
o o
Pretérit Futur Futuro estivera tinha estarei terei
Pretérit o Mais o Compo EU
estado estado
Presen o que Simpl sto estiveras tinhas estarás terás
te Imperfe Perfeito es TU
estado estado
ito Compos estivera tinha estará terá
to ELE
estado estado
Que eu Se eu Se eu Quand Quando estivéramo tínhamos estaremo teremos
EU seja fosse tivesse o eu eu tiver NÓS
s estado s estado
sido for sido estivéreis tínheis estareis tereis
Que tu Se tu Se tu Quand Quando VÓS
estado estado
sejas fosses tivesses o tu tu ELE estiveram tinham estarão terão
TU
sido fores tiveres S estado estado
sido
Que ele Se ele Ser ele Quand Quando Futuro do Pret. Futuro do Pret.
ELE seja fosse tivesse o ele ele tiver Simples Composto
sido for sido
EU estaria teria estado
Que Se nós Se nós Quand Quando
TU estarias terias estado
NÓ nós fôssemo tivésse o nós nós
ELE estaria teria estado
S sejamo s mos formo tivermo
NÓS estaríamos teríamos estado
s sido s s sido
VÓS estaríeis teríeis estado
Que Se vós Se vós Quand Quando
VÓ vós fôsseis tivésseis o vós vós ELES estariam teriam estado
S sejais sido fordes tiverdes
sido Modo Subjuntivo
Que Se eles Se eles Quand Quando
ELE eles fossem tivesse o eles eles Pretéri Futuro Futuro
Prese Pretérit
S sejam m sido forem tiverem to Mais Simple Compo
nte o
sido que s sto

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APOSTILAS OPÇÃO

Imperfei Perfeit ELE tivera tinha tido terá


to o tivéramos tínhamos teremos
NÓS
Compo tido
sto VÓS tivéreis tínheis tido tereis
Se eu Quando Quando tiveram tinham terão
Que eu Se eu ELES
EU tivesse eu eu tiver tido
esteja estivesse
estado estiver estado
Quando Quando Futuro do Pret. Futuro do Pret.
Se tu Se tu
Que tu tu tu Simples Composto
TU estivesse tivesses
estejas estivere tiveres EU teria teria tido
s estado
s estado TU terias terias tido
Quando ELE teria teria tido
Que Ser ele Quando
EL Se ele ele NÓS teríamos teríamos tido
ele tivesse ele
E estivesse tiver VÓS teríeis teríeis tido
esteja estado estiver
estado ELES teriam teriam tido
Quando
Que Se nós Quando
Se nós nós Modo Subjuntivo
NÓ nós tivésse nós
estivésse tiverm
S esteja mos estiver
mos os
mos estado mos Pretérit
estado
o Mais
Quando Pretérit Futur
Que Se vós Quando que Futuro
Se vós vós Presen o o
VÓ vós tivéssei vós Perfeit Compo
estivésse tiverde te Imperfe Simpl
S estejai s estiver o sto
is s ito es
s estado des Compos
estado to
Que Se eles Quando Quando Se eu Quand Quando
Se eles Que eu Se eu
EL eles tivesse eles eles EU tivesse o eu eu tiver
estivesse tenha tivesse
ES esteja m estivere tiverem tido tiver tido
m
m estado m estado
Quando
Se tu Quand
Que tu Se tu tu
Modo Imperativo TU tivesses o tu
tenhas tivesses tiveres
tido tiveres
tido
Imperativo Imperativo Infinitivo Ser ele Quand Quando
Afirmativo Negativo Pessoal Que ele Se ele
ELE tivesse o ele ele tiver
EU ----- ------ Por estar eu tenha tivesse
tido tiver tido
TU está tu Não estejas tu Por estares tu Que Se nós Quand Quando
Se nós
ELE esteja ele Não esteja ele Por estar ele NÓ nós tivésse o nós nós
tivéssem
estejamos Não estejamos Por estarmos S tenham mos tiverm tivermo
NÓS os
nós nós nós os tido os s tido
estai vós Não estejais vós Por estardes Quand Quando
VÓS Que Se vós
vós VÓ Se vós o vós vós
vós tivésseis
S tivésseis tiverd tiverdes
estejam Não estejam eles Por estarem tenhais tido
ELES es tido
eles eles
Quand Quando
Que Se eles
ELE Se eles o eles eles
Formas Nominais eles tivesse
S tivessem tivere tiverem
Infinitivo: estar tenham m tido
m tido
Gerúndio: estando
Particípio: estado
Modo Imperativo
TER
Modo Indicativo Imperativo Imperativo Infinitivo
Afirmativo Negativo Pessoal
Pretérito Pretérito EU ----- ------ Por ter eu
Pretérito TU tem tu Não tenhas tu Por teres tu
Presente Perfeito Perf.
Imperfeito ELE tenha ele Não tenha ele Por ter ele
Simples Composto
EU tenho tinha tive tenho tido tenhamos Não tenhamos Por termos
NÓS
TU tens tinhas tiveste tens tido nós nós nós
ELE tem tinha teve tem tido tende vós Não tenhais vós Por terdes
VÓS
vós
NÓS temos tínhamos tivemos temos tido
tenham eles Não tenham eles Por terem
VÓS tendes tínheis tivestes tendes tido ELES
eles
ELES têm tinham tiveram têm tido

Pret. Futuro Formas Nominais


Pret. Mais
Mais que do Infinitivo: ter
que Perfeito
Perfeito Presente Gerúndio: tendo
Composto
Simples Simples Particípio: tido
EU tivera tinha tido terei
TU tiveras tinhas tido terás

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APOSTILAS OPÇÃO

HAVER Quando
Que Se nós Quando
Modo Indicativo Se nós nós
NÓ nós tivésse nós
houvésse tiverm
S hajam mos houver
Pretérito Pretérito mos os
Pretérito os havido mos
Presente Perfeito Perf. havido
Imperfeito
Simples Composto Quando
Se vós Quando
hei havia houve tenho Que Se vós vós
EU VÓ tivéssei vós
havido vós houvésse tiverde
S s houver
hás havias houveste tens hajais is s
TU havido des
havido havido
há havia houve tem Se eles Quando Quando
ELE Que Se eles
havido EL tivesse eles eles
eles houvesse
havemos havíamos houvemos temos ES m houver tiverem
NÓS hajam m
havido havido em havido
haveis havíeis houvestes tendes
VÓS Modo Imperativo
havido
hão haviam houveram têm
ELES Imperativo Imperativo Infinitivo
havido
Afirmativo Negativo Pessoal
Pret. Futuro EU ----- ------ Por haver eu
Pret. Mais Futuro
Mais que do TU há tu Não hajas tu Por haveres tu
que do
Perfeito Presente ELE haja ele Não haja ele Por haver ele
Perfeito Presente
Compost Compost hajamos Não hajamos Por havermos
Simples Simples NÓS
o o nós nós nós
houvera tinha haverei terei havei vós Não hajais vós Por haverdes
EU VÓS
havido havido vós
houveras tinhas haverás terás hajam eles Não hajam eles Por haverem
TU ELES
havido havido eles
houvera tinha haverá terá
ELE
havido havido Formas Nominais
houvéramo tínhamos haveremo teremos Infinitivo: haver
NÓS
s havido s havido Gerúndio: havendo
houvéreis tínheis havereis tereis Particípio: havido
VÓS
havido havido
ELE houveram tinham haverão terão VERBOS REGULARES:
S havido havido
Não sofrem modificação no radical durante toda
Futuro do Pret. Futuro do Pret. conjugação (em todos os modos) e as desinências seguem as
Simples Composto do verbo paradigma (verbo modelo)
EU haveria teria havido
TU haverias terias havido AMAR: (radical: am) Amo, Amei, Amava, Amara, Amarei,
Amaria, Ame, Amasse, Amar.
ELE haveria teria havido
NÓS haveríamos teríamos havido COMER: (radical: com) Como, Comi, Comia, Comera,
VÓS haveríeis teríeis havido Comerei, Comeria, Coma, Comesse, Comer.
ELES haveriam teriam havido
PARTIR: (radical: part) Parto, Parti, Partia, Partira,
Modo Subjuntivo Partirei, Partiria, Parta, Partisse, Partir.

Pretéri VERBOS IRREGULARES:


to Mais
Pretérit São os verbos que sofrem modificações no radical ou em
que Futuro Futuro
Prese o suas desinências.
Perfeit Simple Compo
nte Imperfei
o s sto
to DAR: dou, dava, dei, dera, darei, daria, dê, desse, der
Compo
sto
Se eu Quando Quando CABER: caibo, cabia, coube, coubera, caberei, caberia,
Que eu Se eu caiba, coubesse, couber.
EU tivesse eu eu tiver
haja houvesse
havido houver havido
Quando Quando AGREDIR: agrido, agredia, agredi, agredira, agredirei,
Se tu Se tu agrediria, agrida, agredisse, agredir.
Que tu tu tu
TU houvesse tivesses
hajas houver tiveres
s havido
es havido
Quando ANÔMALOS:
Que Ser ele Quando
EL Se ele ele
ele tivesse ele São aqueles que têm uma anomalia no radical.
E houvesse tiver
haja havido houver
havido

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APOSTILAS OPÇÃO

Ser, Ir Infinitivo: Aceitar, Anexar, Acender, Desenvolver, Emergir,


Expelir.
IR
Modo Indicativo Particípio Regular: Aceitado, Anexado, Acendido,
Desenvolvido, Emergido, Expelido.
Pretérito
Pretérito Pretérito
Presente Mais que Particípio Irregular: Aceito, Anexo, Aceso, Desenvolto,
Imperfeito Perfeito
Perfeito Emerso, Expulso.
EU vou ia fui fora
vais ias foste foras Tempos Compostos: São formados por locuções verbais
TU
que têm como auxiliares os verbos ter e haver e como
ELE vai ia foi fora principal, qualquer verbo no particípio. São eles:
NÓS vamos íamos fomos fôramos
VÓS ides íeis fostes fôreis - Pretérito Perfeito Composto do Indicativo: É a formação
ELES vão iam foram foram de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Presente do
Indicativo e o principal no particípio, indicando fato que tem
Futuro do Presente Futuro do Pretérito ocorrido com frequência ultimamente. Por exemplo: Eu tenho
estudado demais ultimamente.
EU irei iria
TU irás irias - Pretérito Perfeito Composto do Subjuntivo: É a
ELE irá iria formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no
NÓS iremos iríamos Presente do Subjuntivo e o principal no particípio, indicando
VÓS ireis iríeis desejo de que algo já tenha ocorrido. Por exemplo: Espero que
ELES irão iriam você tenha estudado o suficiente, para conseguir a aprovação.

Modo Subjuntivo - Pretérito Mais-que-Perfeito Composto do Indicativo: É


a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no
Pretérito Pretérito Imperfeito do Indicativo e o principal no
Presente Futuro particípio, tendo o mesmo valor que o Pretérito Mais-que-
Imperfeito
Que eu vá Se eu fosse Quando eu for Perfeito do Indicativo simples. Por exemplo: Eu já tinha
EU
estudado no Maxi, quando conheci Magali.
TU Que tu vás Se tu fosses Quando tu fores
ELE Que ele vá Se ele fosse Quando ele for - Pretérito Mais-que-perfeito Composto do Subjuntivo: É
Que nós Se nós Quando nós a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no
NÓS
vamos fôssemos formos Pretérito Imperfeito do Subjuntivo e o principal no
Que vós Se vós fôsseis Quando vós particípio, tendo o mesmo valor que o Pretérito Imperfeito do
VÓS
vades fordes Subjuntivo simples. Por exemplo: Eu teria estudado no Maxi,
Que eles vão Se eles fossem Quando eles se não me tivesse mudado de cidade. Perceba que todas as
ELES
forem frases remetem a ação obrigatoriamente para o passado. A
frase Se eu estudasse, aprenderia é completamente diferente
Modo Imperativo de Se eu tivesse estudado, teria aprendido.

Imperativo Imperativo Infinitivo - Futuro do Presente Composto do Indicativo: É a


Afirmativo Negativo Pessoal formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no
EU ----- ------ Para ir eu Futuro do Presente simples do Indicativo e o principal no
TU vai tu Não vás tu Para ires tu particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro do Presente
ELE vá ele Não vá ele Para ir ele simples do Indicativo. Por exemplo: Amanhã, quando o dia
vamos nós Não vamos Para irmos nós amanhecer, eu já terei partido.
NÓS
nós
VÓS ide vós Não vades vós para irdes vós - Futuro do Pretérito Composto do Indicativo: É a
ELES vão eles Não vão eles para irem eles formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no
Futuro do Pretérito simples do Indicativo e o principal no
particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro do Pretérito
Formas Nominais:
simples do Indicativo. Por exemplo: Eu teria estudado no Maxi,
Infinitivo: ir
se não me tivesse mudado de cidade.
Gerúndio: indo
Particípio: ido
- Futuro Composto do Subjuntivo: É a formação de
locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do
VERBOS DEFECTIVOS:
Subjuntivo simples e o principal no particípio, tendo o
mesmo valor que o Futuro do Subjuntivo simples. Por
São aqueles que possuem um defeito. Não têm todos os
exemplo: Quando você tiver terminado sua série de exercícios,
modos, tempos ou pessoas.
eu caminharei 6 Km. Veja os exemplos:
Verbo Pronominal: É aquele que é conjugado com o
Quando você chegar à minha casa, telefonarei a Manuel.
pronome oblíquo. Ex: Eu me despedi de mamãe e parti sem
Quando você chegar à minha casa, já terei telefonado a
olhar para o passado.
Manuel.
Verbos Abundantes: “São os verbos que têm duas ou mais
Perceba que o significado é totalmente diferente em ambas
formas equivalentes, geralmente de particípio.” (Sacconi)
as frases apresentadas. No primeiro caso, esperarei “você”
praticar a sua ação para, depois, praticar a minha; no segundo,

Língua Portuguesa 69
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APOSTILAS OPÇÃO

primeiro praticarei a minha. Por isso o uso do advérbio “já”. em casa sozinho, sentado diante ______ lareira, onde ardia um
Assim, observe que o mesmo ocorre nas frases a seguir: fogo brilhante e acolhedor.
3º Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-
Quando você tiver terminado o trabalho, telefonarei a vindas ao líder, conduziu-o a uma cadeira perto da lareira e
Manuel. ficou quieto, esperando. O líder acomodou-se
Quando você tiver terminado o trabalho, já terei confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No
telefonado a Manuel. silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das
chamas em torno das achas da lenha, que ardiam. Ao cabo de
- Infinitivo Pessoal Composto: É a formação de locução alguns minutos, o líder examinou as brasas que se formaram.
verbal com o auxiliar ter ou haver no Infinitivo Pessoal Cuidadosamente, selecionou uma delas, a mais incandescente
simples e o principal no particípio, indicando ação passada em de todas, empurrando-a ______ lado. Voltou, então, a sentar-se,
relação ao momento da fala. Por exemplo: Para você ter permanecendo silencioso e imóvel. O anfitrião prestava
comprado esse carro, necessitou de muito dinheiro atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos poucos, a chama da
brasa solitária diminuía, até que houve um brilho
Questões momentâneo e seu fogo se apagou de vez.
4º Em pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e
01. (Copergás/PE - Analista Administrador – luz agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de
FCC/2016) carvão recoberto _____ uma espessa camada de fuligem
acinzentada. Nenhuma palavra tinha sido dita antes desde o
A música relativa protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos. O líder,
antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão
Parece existir uma série enorme de mal-entendidos em frio e inútil, colocando-o de volta ao meio do fogo. Quase que
torno do lugar-comum que afirma ser a música uma linguagem imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e
universal, passível de ser compreendida por todos. “Fenômeno calor dos carvões ardentes em torno dele. Quando o líder
universal” − está claro que sim; mas “linguagem universal” − alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse:
até que ponto? 5º – Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão.
Ao que tudo indica, todos os povos do planeta Estou voltando ao convívio do grupo.
desenvolvem manifestações sonoras. Falo tanto dos povos que RANGEL, Alexandre (org.). As mais belas parábolas de
ainda se encontram em estágio dito “primitivo” − entre os todos os tempos –Vol. II.Belo Horizonte: Leitura, 2004.
quais ela continua a fazer parte da magia − como das
civilizações tecnicamente desenvolvidas, nas quais a música Assinale a alternativa em que o verbo está flexionado no
chega até mesmo a possuir valor de mercadoria, a propiciar mesmo tempo e modo que o grifado em “onde ardia um fogo”
lucro, a se propagar em escala industrial, transformando-se (2º parágrafo):
em um novo fetiche. (A) mas não disse nada (3º parágrafo).
Contudo, se essa tendência a expressar-se através de sons (B) que se formara (3º parágrafo).
dá mostras de ser algo inerente ao ser humano, ela se (C) prestava atenção a tudo (3º parágrafo).
concretiza de maneira tão diferente em cada comunidade, dá- (D) houve um brilho (3º parágrafo).
se de forma tão particular em cada cultura que é muito difícil
acreditar que cada uma de suas manifestações possua um 03. (ELETROBRAS-ELETROSUL – Direito – FCC/2016)
sentido universal. Talvez seja melhor dizer que a linguagem
musical só existe concretizada por meio de “línguas” Inquilinos
particulares ou de “falas” determinadas; e que essas
manifestações podem até, em parte, ser compreendidas, mas Ninguém é responsável pelo funcionamento do mundo.
nunca vivenciadas em alguns de seus elementos de base por Nenhum de nós precisa acordar cedo para acender as caldeiras
aqueles que não pertençam à cultura que as gerou. e checar se a Terra está girando em torno de seu próprio eixo
(Adaptado de: MORAES, J. Jota de. O que é música. São na velocidade apropriada e em torno do Sol, de modo a
Paulo: Brasiliense, 2001, p.12-14) garantir a correta sucessão das estações. Como num prédio
bem administrado, os serviços básicos do planeta são
Está plenamente adequada a correlação entre tempos e providenciados sem que se enxergue o síndico − e sem taxa de
modos verbais na frase: administração. Imagine se coubesse à humanidade, com sua
(A) Não seria de se esperar que todas as músicas conhecida tendência ao desleixo e à improvisação, manter a
alcançaram igual repercussão onde quer que se produzissem. Terra na sua órbita e nos seus horários, ou se – coroando o
(B) Se todos os povos frequentassem a mesma linguagem mais delirante dos sonhos liberais − sua gerência fosse
musical, a universalidade de sentido terá sido indiscutível. entregue a uma empresa privada, com poderes para remanejar
(C) A cada vez que se propaga em escala industrial, a os ventos e suprimir correntes marítimas, encurtar ou alongar
música poderia se transformar num fetiche do mercado. dias e noites, e até mudar de galáxia, conforme as
(D) Dado que as culturas são muito diferentes, é de se conveniências do mercado, e ainda por cima sujeita a decisões
esperar que as linguagens da música também o sejam. catastróficas, fraudes e falência.
(E) As diferentes manifestações musicais trariam consigo É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o
linguagens que se marcarão como particulares. mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios,
favorecendo alguns andares do prédio metafórico e
02. (Ceron/RO - Direito – EXATUS/2016) martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado
de incompetência administrativa. Mas a responsabilidade não
A lição do fogo é nossa. A infraestrutura já estava pronta quando nós
chegamos.
1º Um membro de determinado grupo, ao qual prestava (Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é
serviços regularmente, sem nenhum aviso, deixou de bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 19)
participar de suas atividades.
2º Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu Há adequada correlação entre os tempos e os modos
visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem verbais presentes na seguinte frase:

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APOSTILAS OPÇÃO

(A) A responsabilidade pelos defeitos do mundo só seria (D) futuro do pretérito do indicativo, no pretérito
nossa caso já não estivessem prontos os elementos que imperfeito do indicativo.
constituem essa imensa infraestrutura, à qual todos estamos (E) futuro do pretérito do subjuntivo, no pretérito
submetidos. imperfeito do subjuntivo.
(B) Nenhum de nós terá qualquer responsabilidade na
injusta distribuição dos males e benefícios do mundo, a menos 07. (Pref. de Goiânia/GO - Agente de Apoio Educacional
que a algum de nós caberia a tomada de todas as decisões. – CS-UFG/2016)
(C) Provavelmente o mundo natural apresentaria ainda
mais falhas, se viermos a tomar as decisões que implicassem Lanche infeliz
uma profunda alteração na ordem dos fenômenos.
(D) Quem ousará remanejar os ventos e suprimir correntes "É hora do lanche!". Essa frase, que era dita quase aos
marítimas, se tais poderes estivessem à disposição dos nossos gritos pelas crianças quando soava o sinal na escola
interesses e caprichos? anunciando o intervalo, costumava ser uma alegria. [...]
(E) Na opinião do autor do texto, o síndico ideal seria O lanche na escola faz mais do que alimentar a criança ou
aquele cujos serviços sequer se notem, pois ele manterá com matar sua fome. É ao fazer aquela refeição que o aluno relaxa
discrição sua eficiência e sua dedicação ao trabalho. e se lembra, nem sempre de modo consciente, da segurança de
sua casa e da presença e do afeto dos pais. E é isso que refaz a
04. (Pref. de Itaquitinga/PE - Assistente energia da criança e permite que ela retome o seu período de
Administrativo – IDHTEC/2016) trabalho escolar com mais coragem e mais confiança.
Eu tenho observado o tipo de lanche que os alunos tomam
Morto em 2015, o pai afirma que Jules Bianchi não atualmente nas escolas.
__________culpa pelo acidente. Em entrevista, Philippe Bianchi Bem, primeiramente temos de lembrar que hoje há dois
afirma que a verdade nunca vai aparecer, pois os pilotos tipos de escola: aquelas que ainda preservam a tradição de a
__________ medo de falar. "Um piloto não vai dizer nada se existir criança levar seu alimento de casa e aquelas que já oferecem o
uma câmera, mas quando não existem câmeras, todos __________ lanche para os seus alunos.
até mim e me dizem. Jules Bianchi bateu com seu carro em um Por que tantas escolas privadas assumiram mais esse
trator durante um GP, aquaplanou e não conseguiu encargo em seu trabalho? Bem, pelo que sei, por dois motivos
__________para evitar o choque. bem diferentes.
(http://espn.uol.com.br/noticia/603278_pai-diz-que- Algumas poucas dessas instituições se preocuparam com a
pilotos-da-f-1-temmedo-de-falar-a-verdade-sobre-o- qualidade da alimentação das crianças e assumiram a
acidente-fatal-de-bianchi) responsabilidade de educar seus alunos também nesse
quesito.
Complete com a sequência de verbos que está no tempo, Essas escolas, que atendem principalmente os menores de
modo e pessoa corretos: seis anos, preparam o lanche em seus próprios espaços e não
(A) Tem – tem – vem - freiar se preocupam apenas com a refeição balanceada e/ou com a
(B) Tem – tiveram – vieram - frear oferta de alimentos saudáveis para as crianças. Elas
(C) Teve – tinham – vinham – frenar incentivam os alunos, ensinam a experimentação e oferecem
(D) Teve – tem – veem – freiar uma merenda saborosa, bonita e com um aroma que dá água
(E) Teve – têm – vêm – frear na boca de qualquer adulto! E as crianças se deliciam nessa
hora. Dá para perceber a alegria delas na hora do lanche.
05. (Prefeitura de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala – Há outras escolas que decidiram oferecer o lanche por
FEPESE/2016) Assinale a alternativa em que está correta a solicitação dos pais. Elas contrataram nutricionistas ou
correlação entre os tempos e os modos verbais nas frases empresas que levam os lanches para a escola e, sinto informar:
abaixo. as opções que conheci não pareciam muito apetitosas, não.
(A) A entonação correta ao falarmos colabora com o Tampouco saudáveis do jeito que se fala.
entendimento que o outro tem do assunto tratado e reforçaria Certamente há nutricionistas por trás desses lanches, mas
a nossa persuasão. pode ser que esses profissionais se preocupem mais com o
(B) Para falar bem em público, organize as ideias de acordo aspecto nutricional dos alimentos do que com as crianças e
com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie sua com sua educação. [...] De vez em quando, consigo ver alguns
apresentação. alunos comendo frutas ou um bolo caseiro no intervalo. Mas
(C) A capacidade de os adolescentes virem a falar em essa cena tem sido cada vez mais rara, tanto quanto a alegria
público, teria dependido dos bons ensinamentos da escola. das crianças no momento de comer o lanche.
(D) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os Preparar o lanche de um filho é um ato amoroso. Nestes
da geração passada, haveria de concluir que os jovens de hoje tempos em que os pais declaram tantas vezes seu amor pelos
leem muito menos. filhos, por que é que as lancheiras que vão de casa para a escola
(E) O contato visual também é importante ao falar em têm sido assim tão pouco amorosas?
público. Passa empatia e envolveria o outro. Não vale justificar o problema com a falta de tempo dos
pais. [...] Afinal, preparar qualquer refeição para os filhos exige
06. (Pref. de Caucaia/CE - Agente de Suporte a isso: disponibilidade e amorosidade. E dá trabalho.
Fiscalização – CETREDE/2016) Em “Conheço uma moça... Se Mas ter filhos pressupõe mesmo muito trabalho. Inclusive
alguém contasse sua história, fariam como o senhor...” há na hora de preparar o lanche que ele irá comer longe de casa
verbos empregados respectivamente no presente do [...].
indicativo, no SAYÃO, Rosely. Disponível em:
(A) pretérito imperfeito do subjuntivo, no futuro do <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/12705
pretérito do indicativo. 12-lanche-infeliz.shtml>. [Adaptado].
(B) pretérito imperfeito do indicativo, no futuro do
pretérito do indicativo. Na passagem “Essa frase, que era dita quase aos gritos
(C) futuro do pretérito do indicativo, no pretérito pelas crianças quando soava o sinal na escola anunciando o
imperfeito do subjuntivo. intervalo, costumava ser uma alegria.”, a referência ao passado
é evidenciada

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APOSTILAS OPÇÃO

(A) pela caracterização da cena narrada. trabalham, uma vez que a esmagadora maioria dos habitantes
(B) pelo uso do pronome “essa”. que sofrem com esse processo são trabalhadores com baixos
(C) pelo emprego do tempo verbal. salários. Incluem-se a isso as precárias condições de
(D) pela escolha dos substantivos. transporte público e a péssima infraestrutura dessas zonas
segregadas, que às vezes não contam com saneamento básico
08. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Vespertina – MPE- ou asfalto e apresentam elevados índices de violência.
SC/2016) A especulação imobiliária também acentua um problema
“Desde as primeiras viagens ao Atlântico Sul, os cada vez maior no espaço das grandes, médias e até pequenas
navegadores europeus reconheceram a importância dos cidades: a questão dos lotes vagos. Esse problema acontece
portos de São Francisco, Ilha de Santa Catarina e Laguna, para por dois principais motivos: 1) falta de poder aquisitivo da
as “estações da aguada” de suas embarcações. À época, os população que possui terrenos, mas que não possui condições
navios eram impulsionados a vela, com pequeno calado e de construir neles e 2) a espera pela valorização dos lotes para
autonomia de navegação limitada. Assim, esses portos eram de que esses se tornem mais caros para uma venda posterior.
grande importância, especialmente para os navegadores que Esses lotes vagos geralmente apresentam problemas como o
se dirigiam para o Rio da Prata ou para o Pacífico, através do acúmulo de lixo, mato alto, e acabam tornando-se focos de
Estreito de Magalhães.” doenças, como a dengue.
(Adaptado de SANTOS, Sílvio Coelho dos. Nova História de PENA, Rodolfo F. Alves. “Problemas socioambientais
Santa Catarina. Florianópolis: edição do Autor, 1977, p. 43.) urbanos”; Brasil Escola. Disponível em
http://brasilescola.uol.com.br/brasil/problemas-ambientais-
Em “os navegadores europeus reconheceram” a forma sociais-decorrentes-urbanização.htm.
verbal encontra-se no pretérito perfeito do indicativo, tempo
que indica ação ocorrida e concluída em determinado Os verbos de estado indicam: estado permanente, estado
momento do passado. transitório, mudança de estado, aparência de estado e
( ) Certo ( ) Errado continuidade de estado. A frase do texto 1 que mostra um
verbo de estado com valor de mudança de estado é:
09. (Pref. de Goiânia/GO - Agente de Apoio (A) “áreas que antes eram baratas e de fácil acesso”;
Educacional – CS-UFG/2016) (B) “tornam-se mais caras”;
(C) “habitantes que sofrem com esse processo são
trabalhadores com baixos salários”;
(D) “Além disso, à medida que as cidades crescem”;
(E) “a grande maioria da população pobre busque por
moradias em regiões ainda mais distantes”

Respostas

01. Resposta D
Nesse tipo de questão é necessário fazer a concordância
entre o tempo verbal dos verbos presentes na frase.
a) Não seria de se esperar que todas as
músicas ALCANÇASSEM igual repercussão onde quer que se
produzissem. (alcançassem - produzissem)
b) Se todos os povos frequentassem a mesma linguagem
musical, a universalidade de sentido SERIA indiscutível.
(frequentassem - seria)
Na fala da professora, a forma verbal “conjugue” expressa c) A cada vez que se propaga em escala industrial, a
uma música PODE se transformar num fetiche do mercado.
(A) vontade. (propaga - pode)
(B) dúvida. e) As diferentes manifestações musicais trariam consigo
(C) possibilidade. linguagens que se MARCARIAM como particulares. (trariam -
(D) ordem. marcariam)

10. (MPE-RJ – Analista do Ministério Público - 02. Resposta C


Processual – FGV/2016). Pretérito imperfeito; arder: eu ardia, tu ardias, ele/ela
Texto 1 – Problemas Sociais Urbanos ardia; prestar: eu prestava, tu prestavas, ele/ela prestava;
prestava atenção a tudo;
Brasil escola
03. Resposta A
Dentre os problemas sociais urbanos, merece destaque a a) A responsabilidade pelos defeitos do mundo só seria
questão da segregação urbana, fruto da concentração de renda nossa caso já não estivessem prontos os elementos que
no espaço das cidades e da falta de planejamento público que constituem essa imensa infraestrutura, à qual todos estamos
vise à promoção de políticas de controle ao crescimento submetidos.
desordenado das cidades. A especulação imobiliária favorece b) Nenhum de nós terá qualquer responsabilidade na
o encarecimento dos locais mais próximos dos grandes injusta distribuição dos males e benefícios do mundo, a menos
centros, tornando-os inacessíveis à grande massa que a algum de nós COUBER a tomada de todas as decisões.
populacional. Além disso, à medida que as cidades crescem, c) Provavelmente o mundo natural APRESENTARÁ ainda
áreas que antes eram baratas e de fácil acesso tornam-se mais mais falhas, se viermos a tomar as decisões
caras, o que contribui para que a grande maioria da população que IMPLIQUEM uma profunda alteração na ordem dos
pobre busque por moradias em regiões ainda mais distantes. fenômenos.
Essas pessoas sofrem com as grandes distâncias dos locais
de residência com os centros comerciais e os locais onde

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APOSTILAS OPÇÃO

d) Quem OUSARIA remanejar os ventos e suprimir Estado de continuidade: verbos continuar, permanecer
correntes marítimas, se tais poderes estivessem à disposição Estado aparente: verbo parecer
dos nossos interesses e caprichos?
e) Na opinião do autor do texto, o síndico ideal seria aquele Vozes dos Verbos
cujos serviços sequer se notem, pois ele MANTERIA com
discrição sua eficiência e sua dedicação ao trabalho. Os verbos podem assumir diferentes formas nas orações.
A maneira como são apresentadas as ações expressas pelo
04. Resposta E verbo indicam se a frase apresenta voz ativa, voz passiva ou
Teve - Pretérito perfeito do indicativo voz reflexiva.
Têm - Presente do Indicativo Observe os exemplos abaixo:
Vêm - ( verbo vir) – Presente do Indicativo (1) Amanda maquiava Clarice. VOZ ATIVA
Frear - Infinitivo (2) Clarice era maquiada por Amanda. VOZ PASSIVA
(3) Amanda maquiava-se. VOZ
05. Resposta B REFLEXIVA
a) A entonação correta ao falarmos colabora com o
entendimento que o outro tem do assunto tratado - Voz Ativa: sujeito pratica a ação expressa pelo verbo, ele
e REFORÇA a nossa persuasão. Errada. é agente.
b) Para falar bem em público, organize as ideias de acordo O grupo de arquitetos elaborou a maquete.
com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie sua (O grupo de arquitetos – sujeito agente) (elaborou – ação)
apresentação. Gabarito (a maquete – objeto paciente)
c) A capacidade de os adolescentes virem a falar em
público, TEM dependido dos bons ensinamentos da - Voz Passiva: sujeito é paciente, recebe a ação expressa
escola. Errado. pelo verbo.
d) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os A maquete foi elaborada pelo grupo de arquitetos.
da geração passada, HAVERÁ de concluir que os jovens de hoje (A maquete – sujeito paciente) (foi elaborada – ação) (pelo
leem muito menos. Errada. grupo de arquitetas – agente da passiva)
e) O contato visual também é importante ao falar em
público. Passa empatia e ENVOLVE o outro. Errada. - Voz Reflexiva: Há dois tipos:

06. Resposta A Reflexiva: Recebe apenas a nomenclatura de “reflexiva”


contasse - indica modo pretérito imperfeito do subjuntivo quando o sujeito praticar a ação sobre si mesmo.
fariam - indica modo futuro do pretérito do indicativo. Exemplos:
- Pedro machucou-se.
07. Resposta C - Ela cortou-se com a faca.
“Essa frase, que era dita quase aos gritos pelas crianças - Roberta olhava-se no espelho do carro.
quando soava o sinal na escola anunciando o
intervalo, costumava ser uma alegria.” Reflexiva Recíproca: Recebe a nomenclatura de “reflexiva
recíproca” quando houver dois elementos como sujeito: um
08. Certo pratica a ação sobre o outro, que pratica a ação sobre o
O pretérito perfeito consiste num processo verbal que primeiro = ação mútua.
exprime um fato passado não habitual; ao passo que o Exemplos:
imperfeito exprime um fato habitual, rotineiro. A título de - Marta e Renato amam-se.
ilustração, analisemos: - Os rivais agrediram-se durante a festa.
Sempre que a encontrava revivia os bons tempos. - Os jovens abraçaram-se.
(pretérito imperfeito)
Sempre que a encontrei revivi os bons tempos. (pretérito Formação da Voz Passiva
perfeito)
O pretérito perfeito, diferenciando-se do imperfeito, indica A voz passiva pode ser formada por dois processos:
a ação momentânea, determinada no tempo. Já o imperfeito Analítico e Sintético.
expressa uma ação durativa, não limitada no tempo.
Assim, no intento de constatarmos tais diferenças, Voz Passiva Analítica: Verbo Ser + particípio (-ado / -ido)
atentemo-nos aos exemplos que seguem: do verbo principal.
Colocava em prática todo o aprendizado que adquiria O relógio será substituído.
mediante as aulas a que assistia. (pretérito imperfeito) O trabalho foi finalizado.
Colocou em prática todo o aprendizado que adquiriu
mediante as aulas a que assistiu. (pretérito perfeito) *O agente da passiva geralmente é acompanhado da
preposição por, mas pode ocorrer a construção com a
09. Resposta D preposição de: A casa ficou cercada de soldados.
Conjugue está no imperativo, que expressa ordem ou
instrução. **Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.

***A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar “ser”,


10. Resposta B pois o seu particípio é invariável.
Os verbos de ligação exprimem características distintas em Observe a transformação das frases seguintes:
relação ao sujeito:
Estado permanente: verbos ser, viver Ele fez o trabalho. (Pretérito perfeito do indicativo)
Estado transitório: verbos estar, andar, achar-se, O trabalho foi feito por ele. (Pretérito perfeito do
encontrar-se indicativo)
Estado mutatório: verbos ficar, virar, tornar-se, fazer-se

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Ele faz o trabalho. (Presente do indicativo) revistada pelos guardas da fronteira, à procura de contrabando.
O trabalho é feito por ele. (Presente do indicativo) Os guardas tinham certeza que a velhinha era contrabandista,
mas revistavam a velhinha, revistavam a sua bolsa e nunca
Ele fará o trabalho. (Futuro do presente) encontravam nada. Todos os dias a mesma coisa: nada. Até que
O trabalho será feito por ele. (Futuro do presente) um dia um dos guardas decidiu seguir a velhinha, para flagrá-la
vendendo a muamba, ficar sabendo o que ela contrabandeava e,
****Nas frases com locuções verbais, o verbo “ser” assume principalmente, como. E seguiu a velhinha até o seu próspero
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. comércio de bicicletas e bolsas.
Observe a transformação da frase seguinte: O vento ia levando Como todas as fábulas, esta traz uma lição, só nos cabendo
as folhas. (Gerúndio); As folhas iam sendo levadas pelo vento. descobrir qual. Significa que quem se concentra no mal
(Gerúndio) aparentemente disfarçado descuida do mal disfarçado de
aparente, ou que muita atenção ao detalhe atrapalha a
*****É menos frequente a construção da voz passiva percepção do todo, ou que o hábito de só pensar o óbvio é a pior
analítica com outros verbos que podem eventualmente forma de distração.
funcionar como auxiliares: A aluna ficou marcada pela piada.
(VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de
Voz Passiva Sintética: verbo na 3ª pessoa, seguido do Janeiro: Objetiva, 2008, p. 41)
pronome apassivador “se”:
Abriram-se as portas do estabelecimento. Transpondo-se para a voz passiva a frase Um dos
Vendeu-se o prédio da escola. guardas seguia a velhinha para que a flagrasse como
contrabandista, as formas verbais resultantes deverão
*O agente não costuma vir expresso na voz passiva ser
sintética. a) era seguida − fosse flagrada
b) tinha seguido − vir a flagrá-la
Transformação da Voz Ativa na Voz Passiva c) tinha sido seguida − se flagrasse
O objeto da voz ativa será o sujeito voz passiva. O sujeito d) estava seguindo − se tivesse flagrado
da ativa passará a agente da passiva. O verbo assumirá a forma e) teria seguido − tivesse sido flagrada
passiva, conservando-se o tempo verbal.
02. (ELETROBRÁS-ELETROSUL – Técnico de Segurança
Gutenberg inventou a imprensa. (Voz Ativa) do Trabalho – FCC/2016)
Gutenberg – sujeito da Ativa A questão refere-se ao texto abaixo.
a imprensa – Objeto Direto Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo
movido a energia solar
A imprensa foi inventada por Gutenberg (Voz Passiva)
A imprensa – Sujeito da Passiva Bem no meio do deserto, há um lugar onde o calor é
por Gutenberg – Agente da Passiva extremo. Sessenta e três graus ou até mais no verão. E foi
exatamente por causa da temperatura que foi construída em
Os professores têm orientado os alunos. Abu Dhabi uma das maiores usinas de energia solar do mundo.
Os alunos têm sido orientados pelos professores. Os Emirados Árabes estão investindo em fontes
Eu o acompanharei. energéticas renováveis. Não vão substituir o petróleo, que eles
Ele será acompanhado por mim. têm de sobra por mais 100 anos pelo menos. O que pretendem
é diversificar e poluir menos. Uma aposta no futuro.
Observações: A preocupação com o planeta levou Abu Dhabi a tirar do
papel a cidade sustentável de Masdar. Dez por cento do
*Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não planejado está pronto. Um traçado urbanístico ousado, que
haverá complemento agente na passiva. deixa os carros de fora. Lá só se anda a pé ou de bicicleta. As
Exemplo: Enganaram-nos - Fomos enganados ruas são bem estreitas para que um prédio faça sombra no
outro. É perfeito para o deserto. Os revestimentos das paredes
**Os verbos que não são ativos nem passivos ou reflexivos, isolam o calor. E a direção dos ventos foi estudada para criar
são chamados de neutros. corredores de brisa.
Exemplos: O suco é bom; Aqui não neva.
(Adaptado de: “Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com
***Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido tudo movido a energia solar”. Disponível em:
cirúrgico) e vacinar-se são considerados passivos, logo o http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2016/04/abu-
sujeito é paciente. dhabi-constroi-cidade-do-futuro-com-tudo-movido-energia-
Chamo-me Felipe. solar.html)
Batizei-me na Igreja matriz.
Operou-se no período da manhã.
Vacinaram-se contra o tétano. Os revestimentos das paredes isolam o calor. (3º
parágrafo)

Essa oração está corretamente reescrita na voz passiva em:


Questões a) Isola o calor os revestimentos das paredes.
01. (Copebrás/PE – Analista Administrador – b) O calor é isolado pelos revestimentos das paredes.
FCC/2016) c) Isolam-se o calor ao ser revestido as paredes.
d) O calor é que isola os revestimentos das paredes.
A velhinha contrabandista e) Os revestimentos das paredes são isolado do calor.

Todos os dias uma velhinha atravessava a ponte entre dois


países, de bicicleta e carregando uma bolsa. E todos os dias era

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03. (Pref. De Caucaia/CE – Agente de Suporte a a) “o autor nos coloca a par” / somos colocados a par
Fiscalização – CETREDE/2016) pelo autor;
O período “Fazem-se unhas” é sintaticamente igual a b) “que terão grande impacto” / grande impacto será
a) faz-se unhas. tido;
b) precisa-se de empregados. c) “fotografar pintas suspeitas” / pintas suspeitas serão
c) trabalha-se muito. fotografadas;
d) compram-se livros. d) “que as analisa” / em que elas são analisadas;
e) unhas são feitas. e) “que exige medidas adicionais” / em que medidas
adicionais são exigidas.
04. (Pref. De Carpina – Assistente Administrativo –
CONPASS/2016) 06. (TRF-3ª Região – Analista Judiciário – Área
Identifique a alternativa que apresenta o verbo na voz Administrativa – FCC/2016)
reflexiva: Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de
a) Os pais contemplam-se nos filhos. açúcar, mas o açúcar consumia escravos. O esgotamento das
b) Desejo comprar um livro. minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que
c) As cidades serão enfeitadas. forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da
d) Abrir-se-ão novas escolas. escravatura e, finalmente, uma procura mundial crescente,
e) As despesas foram pagas por mim. orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De
amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.
05. (MPE/RJ – Técnico do Ministério Público – Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que
Administrativa – FGV/2016) tornaram Santos num dos centros do comércio internacional,
TEXTO 1 – O futuro da medicina o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco
penetra lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o
O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos encerrados num
profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão,
jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até agarrar essas plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas
aqui é o de médico. Até aqui. A crer no médico e "geek" Eric suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se estabelece, num
Topol, autor de "The Patient Will See You Now" (o paciente vai palco mais modesto, o contato com a paisagem.
vê-lo agora), está no forno uma revolução da qual os médicos O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de
não escaparão, mas que terá impactos positivos para os lagoas e pântanos, entrecortada por riachos estreitos e canais,
pacientes. cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma
Para Topol, o futuro está nos smartphones. O autor nos nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo
coloca a par de incríveis tecnologias, já disponíveis ou muito da criação. As plantações de bananeiras que a cobrem são do
próximas disso, que terão grande impacto sobre a medicina. Já verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo
é possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra,
imagens a um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão com o qual gosto de o associar na minha recordação; mas é que
do que um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta,
ser um câncer, o que exige medidas adicionais. comparada com a suntuosidade tranquila da outra,
Está para chegar ao mercado um apetrecho que contribuem para criar uma atmosfera primordial.
transforma o celular num verdadeiro laboratório de análises Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras,
clínicas, realizando mais de 50 exames a uma fração do custo mais plantas mastodontes do que árvores anãs, com troncos
atual. Também é possível, adquirindo lentes que custam plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas
centavos, transformar o smartphone num supermicroscópio elásticas por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um
que permite fazer diagnósticos ainda mais sofisticados. enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a estrada eleva-se
Tudo isso aliado à democratização do conhecimento, diz até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece
Topol, fará com que as pessoas administrem mais sua própria em toda parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos
saúde, recorrendo ao médico em menor número de ocasiões e ataques do homem essa floresta virgem tão rica que para
de preferência por via eletrônica. É o momento, assegura o encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários
autor, de ampliar a autonomia do paciente e abandonar o milhares de quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.
paternalismo que desde Hipócrates assombra a medicina. Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos
Concordando com as linhas gerais do pensamento de qualificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem
Topol, mas acho que, como todo entusiasta da tecnologia, ele em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha
provavelmente exagera. Acho improvável, por exemplo, que os de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as
hospitais caminhem para uma rápida extinção. Dando algum plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes
desconto para as previsões, "The Patient..." é uma excelente de museu.
leitura para os interessados nas transformações da medicina.
(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos.
Folha de São Paulo online – Coluna Hélio Schwartsman – Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)
17/01/2016. A alteração da voz do verbo poder, nas duas vezes em que
ocorre no último parágrafo, deverá resultar nas seguintes
“O autor nos coloca a par de incríveis tecnologias, já formas, respectivamente:
disponíveis ou muito próximas disso, que terão grande a) se poderia − se pode
impacto sobre a medicina. Já é possível, por b) poder-se-ia − podem-se
exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as imagens a c) poderiam-se − pode-se
um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão do que d) se poderiam − podem-se
um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode ser e) se poderiam − se pode
um câncer, o que exige medidas adicionais”.
Esse segmento do texto 1 está realizado em voz ativa; a
forma verbal passiva correspondente que é indicada de
forma inadequada é:

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APOSTILAS OPÇÃO

07. (TRF-3ª Região – Analista Judiciário – Área que ela se tornasse nervosa. Seu coração pôs-se a bater
Administrativa – FCC/2016) precipitadamente e seu rosto se afogueou. Abriu-o com gesto
O museu é considerado um instrumento de neutralização decisivo e extraiu um papel verde-mar, sobre o qual se liam,
– e talvez o seja de fato. Os objetos que nele se encontram em caracteres energéticos, masculinos, estas palavras: “Você
reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos será amada...”.
políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias Malvina empalideceu, apesar de já conhecer o conteúdo
militares e conquistas: a maior parte presta homenagem às dessa carta verde-mar, que recebia todos os dias, havia já uma
potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas semana. Malvina estava apaixonada por um ente invisível, por
são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas um papel verde-mar, por três palavras e três pontos de
protestam contra os fatos da realidade, os poderes, o estado reticências: “Você será amada...”. Há uma semana que vivia
das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de como ébria.
sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se Olhava para a rua e qualquer olhar de homem que se
presume partilhado por elas: a qualidade artística. Suas cruzasse com o seu, lhe fazia palpitar tumultuosamente o
diferenças funcionais, suas divergências políticas são coração. Se o telefone tilintava, seu pensamento corria célere:
apagadas. A violência de que participavam, ou que combatiam, talvez fosse “ele”. Se não conhecesse a causa desse transtorno,
é esquecida. O museu parece assim desempenhar um papel de por certo Malvina já teria ido consultar um médico de doenças
pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na nervosas. Mandara examinar por um grafólogo a letra dessa
pacificação dos museus. carta. Fora em todas as papelarias à procura desse papel
Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de verde-mar e, inconscientemente, fora até o correio ver se
terem sido retirados de seu contexto. Desde então, dois pontos descobria o remetente no ato de atirar o envelope na caixa.
de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o primeiro, Tudo em vão. Quem escrevia conseguia manter-se
o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto incógnito. Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse.
tal, separada de seus pretextos, libertada de suas sujeições. Nenhum empecilho para com o desconhecido. Mas para que
Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de ela pudesse realizar o seu sonho, era preciso que ele se
despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a tornasse homem de carne e osso. Malvina imaginava-o alto,
um status estético que as exalta. Por outro, as reduz a um moreno, com grandes olhos negros, forte e espadaúdo.
destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como O seu cérebro trabalhava: seria ele casado? Não, não o era.
um estado letárgico. Seria pobre? Não podia ser. Seria um grande industrial? Quem
A colocação em museu foi descrita e denunciada sabe?
frequentemente como uma desvitalização do simbólico, e a As cartas de amor, verde-mar, haviam surgido na vida de
musealização progressiva dos objetos de uso como outros Malvina como o dilúvio, transformando-lhe o cérebro.
tantos escândalos sucessivos. Ainda seria preciso perguntar Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi
sobre a razão do "escândalo". Para que haja escândalo, é uma coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina
necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de não teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de
cada crítica escandalizada dirigida ao museu, seria cólera. Ficou apenas petrificada.
interessante desvendar que valor foi previamente sacralizado. “Você será amada... se usar, pela manhã, o creme de beleza
A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmácias
Revolta? A Vida autêntica? A integridade do Contexto original? e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua
Estranha inversão de perspectiva. Porque, simultaneamente, a Cheia.
crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo, Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos
ele próprio, um órgão de sacralização. O museu, por retirar as caracteres masculinos.
obras de sua origem, é realmente "o lugar simbólico onde o Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até o telefone:
trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais -Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-
ultrajante". Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de me com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir.
alienação operam em toda parte. É a ação do tempo, conjugada A voz de Jorge estava rouca de felicidade!
com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada. E nunca soube a que devia tanta sorte!

(Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São André Sinoldi


Paulo, Fap. -Unifesp, 2012, p. 68-71)
A frase: “O creme Lua Cheia É VENDIDO em todas as
A frase que NÃO admite transposição para a voz passiva farmácias” apresenta verbo na voz passiva analítica. Ao ser
encontra-se em: passada para a passiva sintética, a forma verbal deve
a) ... o acesso das obras a um status estético que as exalta. apresentar a forma:
(2° parágrafo) a) vendera-se
b) ... elas protestam contra os fatos da realidade, os poderes... b) vender-se.
(1°parágrafo) c) vendeu-se.
c) Muitas obras antigas celebram vitórias militares e d) vendia-se.
conquistas... (1°parágrafo) e) vende-se.
d) O museu, por retirar as obras de sua origem... (3°
parágrafo) 09. (CONFERE – Assistente Administrativo VII –
e) ... a crítica mais comum contra o museu apresenta-o.... (3° INSTITUTO CIDADES/2016)
parágrafo) Texto

08. (EMSERH – Auxiliar Operacional de Serviços AQUECIMENTO GLOBAL (com adaptações)


Gerais)
Todos os dias acompanhamos na televisão, nos jornais e
A carta de amor revistas as catástrofes climáticas e as mudanças que estão
ocorrendo, rapidamente, no clima mundial. Nunca se viu
No momento em que Malvina ia por a frigideira no fogo, mudanças tão rápidas e com efeitos devastadores como tem
entrou a cozinheira com um envelope na mão. Isso bastou para ocorrido nos últimos anos.

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APOSTILAS OPÇÃO

A Europa tem sido castigada por ondas de calor de até 40 Sujeito VL Predicativo
graus centígrados, ciclones atingem o Brasil (principalmente a
costa sul e sudeste), o número de desertos aumenta a cada dia, 03. Resposta D
fortes furacões causam mortes e destruição em várias regiões “Fazem-se (partícula apassivadora) unhas” -
do planeta e as calotas polares estão derretendo (fator que -- voz passiva. - quando o verbo que vier acompanhado
pode ocasionar o avanço dos oceanos sobre cidades do "se" for transitivo direto, a partícula "se" será
litorâneas). O que pode estar provocando tudo isso? Os apassivador e o que era para ser objeto direito será
cientistas são unânimes em afirmar que o aquecimento global sujeito paciente.
está relacionado a todos estes acontecimentos. -- unhas- sujeito paciente. (O verbo concorda com o
Pesquisadores do clima mundial afirmam que este sujeito)
aquecimento global está ocorrendo em função do aumento da a) faz-se unhas. Errada porque o verbo tem que
emissão de gases poluentes, principalmente, derivados da concordar com o sujeito (unhas), deveria estar no plural.
queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, etc), na b) precisa-se de empregados. Verbo transitivo indireto
atmosfera. Estes gases (ozônio, dióxido de carbono, metano, quando vem com "se", este será partícula
óxido nitroso e monóxido de carbono) formam uma camada de indeterminadora do sujeito. Sujeito indeterminado.
poluentes, de difícil dispersão, causando o famoso efeito c) trabalha-se muito. Verbo intransitivo, muito é
estufa. Este fenômeno ocorre, pois estes gases absorvem adjunto adverbial de modo.
grande parte da radiação infravermelha emitida pela Terra, d) compram-se livros. ****verbo transitivo direto, o "se"
dificultando a dispersão do calor. será partícula apassivadora e livros será sujeito paciente
O desmatamento e a queimada de florestas e matas – o verbo concordou com o sujeito - É A RESPOSTA.
também colabora para este processo. Os raios do Sol atingem e) unhas são feitas. Verbo de ligação.
o solo e irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de
poluentes dificulta a dispersão do calor, o resultado é o
aumento da temperatura global. Embora este fenômeno 04. Resposta A
ocorra de forma mais evidente nas grandes cidades, já se Voz Reflexiva: Nela o sujeito pratica e sofre a ação ao
verificam suas consequências em nível global. mesmo tempo, seja sozinho ou reciprocamente com outro
(...) indivíduo.
O protocolo de Kioto é um acordo internacional que visa à - As crianças deram-se as mãos. - As manequins
redução da emissão dos poluentes que aumentam o efeito maquiavam-se uma de cada vez. - Olhei-me no espelho e vi
estufa no planeta. Entrou em vigor em 16 fevereiro de 2005. O como estava cansado. - Os dois falaram-se rapidamente. - Os
principal objetivo é que ocorra a diminuição da temperatura pais contemplam-se nos filhos.
global nos próximos anos. Infelizmente os Estados Unidos, país Estrutura da Voz Reflexiva: Sujeito + Verbo + se (+
que mais emite poluentes no mundo, não aceitou o acordo, complemento verbal).
pois afirmou que ele prejudicaria o desenvolvimento
industrial do país. 05. Resposta C
(...) Para passar da ativa pra passiva, transforme o verbo da
oração na voz ativa para o particípio. E acrescente o
(http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_glob verbo ser conjugado no mesmo tempo que estava o verbo
al.htm) da oração na voz ativa.
Assim, a única alternativa em que houve mudança de
A voz verbal ativa correspondente a voz passiva destacada tempo verbal foi a letra C.
em “A Europa tem sido castigada por ondas de calor” é: Já É possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas ….
a) Castigaram. (Presente)
b) Têm castigado. Pintas suspeitas serão fotografadas; (futuro)
c) Castigam.
d) Tinha castigado. 06. Resposta D
1ª ocorrência: Enquanto o carro geme em curvas que já
10. (JUCEPAR/PR – Assistente Administrativo – nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”
FAU/2016) Reescrevendo:
No período: “ANS reforça campanha contra o mosquito Na ordem direta: nem poderíamos qualificar as curvas
transmissor da dengue e zika". O verbo em destaque como "cabeças de alfinete";
apresenta-se: Na voz passiva analítica: as curvas nem poderiam ser
a) Na voz passiva. qualificadas como "cabeças de alfinete"
b) Na voz ativa. Na voz passiva sintética: nem se poderiam qualificar as
c) Na voz reflexiva. curvas como "cabeças de alfinete" (RESPOSTA DA QUESTÃO)
d) Na voz passiva analítica.
e) Na voz passiva sintética. 2ª ocorrência: posso examinar à vontade as árvores e as
plantas (já está na ordem direta)
Respostas Na voz passiva analítica: as árvores e as plantas podem
ser examinadas à vontade
01. Resposta A Na voz passiva sintética: podem-se examinar à vontade
Passando a frase para a voz passiva, ficaria assim: A as árvores e as plantas (RESPOSTA DA QUESTÃO)
velhinha era seguida por um dos guardas para que fosse
flagrada como contrabandista. 07. Resposta B
ADMITE VOZ PASSIVA: verbo transitivo direto, direto e
02. Resposta B indireto.
Os revestimentos das paredes isolam o calor A (INCORRETO) o acesso das obras a um status estético
Sujeito VTD OD que as exalta. QUEM EXALTA, EXALTA ALGO.

O calor é isolado pelos revestimentos das paredes.

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APOSTILAS OPÇÃO

B (CORRETO) elas protestam contra os fatos da - No masculino plural:


realidade, os poderes. QUEM PROTESTA, PROTESTA CONTRA “Tinha as espáduas e o colo feitos de encomenda para os
ALGO OU ALGUEM. vestidos decotados.” (Machado de Assis)
C (INCORRETO) Muitas obras antigas celebram vitórias “Os arreios e as bagagens espalhados no chão, em roda.”
militares e conquistas. QUEM CELEBRA, CELEBRA ALGO. (Herman Lima)
D (INCORRETO) museu, por retirar as obras de sua “Ainda assim, apareci com o rosto e as mãos muito
origem. QUEM RETIRA, RETIRA ALGO. marcados.” (Carlos Povina Cavalcânti)
E (INCORRETO) a crítica mais comum contra o “...grande número de camareiros e camareiras nativos.”
museu apresenta-o. QUEM APRESENTA, APRESENTA ALGO. (Érico Veríssimo)

08. Resposta E - Com o substantivo mais próximo:


Voz Passiva Sintética A Marinha e o Exército brasileiro estavam alerta.
A voz passiva sintética ou pronominal constroi-se com o Músicos e bailarinas ciganas animavam a festa.
verbo na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador SE. “...toda ela (a casa) cheirando ainda a cal, a tinta e a barro
fresco.” (Humberto de Campos)
09. Resposta B “Meu primo estava saudoso dos tempos da infância e falava
A Europa tem sido castigada por ondas de calor. (voz dos irmãos e irmãs falecidas.” (Luís Henrique Tavares)
passiva)
Ondas de calor têm castigado a Europa. (Voz ativa) - Anteposto aos substantivos, o adjetivo concorda, em
geral, com o mais próximo:
10. Resposta B “Escolhestes mau lugar e hora...” (Alexandre Herculano)
a) Campanha contra o mosquito transmissor da dengue e “...acerca do possível ladrão ou ladrões.” (Antônio Calado)
zika é reforçada pela ANS. Velhas revistas e livros enchiam as prateleiras.
b) GABARITO. Velhos livros e revistas enchiam as prateleiras.
c) -
d) Campanha contra o mosquito transmissor da dengue e Seguem esta regra os pronomes adjetivos: A sua idade,
zika é reforçada pela ANS. sexo e profissão.; Seus planos e tentativas.; Aqueles vícios e
e) Reforça-se campanha contra o mosquito transmissor da ambições.; Por que tanto ódio e perversidade?; “Seu Príncipe
dengue e zika. e filhos”. Muitas vezes é facultativa a escolha desta ou daquela
concordância, mas em todos os casos deve subordinar-se às
exigências da eufonia, da clareza e do bom gosto.
Concordâncias nominal e
- Quando dois ou mais adjetivos se referem ao mesmo
verbal. substantivo determinado pelo artigo, ocorrem dois tipos de
construção, um e outro legítimos. Exemplos:
Estudo as línguas inglesa e francesa.
Concordância Nominal e Verbal Estudo a língua inglesa e a francesa.
Os dedos indicador e médio estavam feridos.
A concordância consiste no mecanismo que leva as O dedo indicador e o médio estavam feridos.
palavras a adequarem-se umas às outras harmonicamente na
construção frasal. É o princípio sintático segundo o qual as - Os adjetivos regidos da preposição de, que se referem
palavras dependentes se harmonizam, nas suas flexões, com as a pronomes neutros indefinidos (nada, muito, algo, tanto,
palavras de que dependem. que, etc.), normalmente ficam no masculino singular:
“Concordar” significa “estar de acordo com”. Assim, na Sua vida nada tem de misterioso.
concordância, tanto nominal quanto verbal, os elementos que Seus olhos têm algo de sedutor.
compõem a frase devem estar em consonância uns com os Todavia, por atração, podem esses adjetivos concordar
outros. com o substantivo (ou pronome) sujeito:
Essa concordância poderá ser feita de duas formas: “Elas nada tinham de ingênuas.” (José Gualda Dantas)
gramatical ou lógica (segue os padrões gramaticais vigentes);
atrativa ou ideológica (dá ênfase a apenas um dos vários Concordância do adjetivo predicativo com o sujeito: a
elementos, com valor estilístico). concordância do adjetivo predicativo com o sujeito realiza-se
consoante as seguintes normas:
Concordância Nominal: adequação entre o substantivo e
os elementos que a ele se referem (artigo, pronome, adjetivo). - O predicativo concorda em gênero e número com o
Concordância Verbal: variação do verbo, conformando-se sujeito simples:
ao número e à pessoa do sujeito. A ciência sem consciência é desastrosa.
Os campos estavam floridos, as colheitas seriam fartas.
Concordância Nominal É proibida a caça nesta reserva.

Concordância do adjetivo adjunto adnominal: a - Quando o sujeito é composto e constituído por


concordância do adjetivo, com a função de adjunto adnominal, substantivos do mesmo gênero, o predicativo deve
efetua-se de acordo com as seguintes regras gerais: concordar no plural e no gênero deles:
O adjetivo concorda em gênero e número com o O mar e o céu estavam serenos.
substantivo a que se refere. Exemplo: O alto ipê cobre-se de A ciência e a virtude são necessárias.
flores amarelas. “Torvos e ferozes eram o gesto e os meneios destes
O adjetivo que se refere a mais de um substantivo de homens sem disciplina,” (Alexandre Herculano)
gênero ou número diferentes, quando posposto, poderá
concordar no masculino plural (concordância mais - Sendo o sujeito composto e constituído por
aconselhada), ou com o substantivo mais próximo. Exemplo: substantivos de gêneros diversos, o predicativo concordará
no masculino plural:

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APOSTILAS OPÇÃO

O vale e a montanha são frescos. - Se anteposto ao objeto, poderá o predicativo, neste


“O céu e as árvores ficariam assombrados.” (Machado de caso, concordar com o núcleo mais próximo:
Assis) É preciso que se mantenham limpas as ruas e os jardins.
Longos eram os dias e as noites para o prisioneiro. Segue as mesmas regras o predicativo expresso pelos
“O César e a irmã são louros.” (Antônio Olinto) substantivos variáveis em gênero e número: Temiam que as
tomassem por malfeitoras; Considero autores do crime o
- Se o sujeito for representado por um pronome de comerciante e sua empregada.
tratamento, a concordância se efetua com o sexo da pessoa
a quem nos referimos: Concordância do particípio passivo: Na voz passiva, o
Vossa Senhoria ficará satisfeito, eu lhe garanto. particípio concorda em gênero e número com o sujeito, como
“Vossa Excelência está enganado, Doutor Juiz.” (Ariano os adjetivos:
Suassuna) Foi escolhida a rainha da festa.
Vossas Excelências, senhores Ministros, são merecedores Foi feita a entrega dos convites.
de nossa confiança. Os jogadores tinham sido convocados.
Vossa Alteza foi bondoso. (com referência a um príncipe) O governo avisa que não serão permitidas invasões de
propriedades.
O predicativo aparece às vezes na forma do masculino
singular nas estereotipadas locuções é bom, é necessário, é Quando o núcleo do sujeito é, como no último exemplo, um
preciso, etc., embora o sujeito seja substantivo feminino ou coletivo numérico, pode-se, em geral, efetuar a concordância
plural: com o substantivo que o acompanha: Centenas de rapazes
Bebida alcoólica não é bom para o fígado. foram vistos pedalando nas ruas; Dezenas de soldados foram
“Água de melissa é muito bom.” (Machado de Assis) feridos em combate.
“É preciso cautela com semelhantes doutrinas.” (Camilo Referindo-se a dois ou mais substantivos de gênero
Castelo Branco) diferentes, o particípio concordará no masculino plural:
“Hormônios, às refeições, não é mau.” (Aníbal Machado) Atingidos por mísseis, a corveta e o navio foram a pique; “Mas
achei natural que o clube e suas ilusões fossem leiloados.”
Observe-se que em tais casos o sujeito não vem (Carlos Drummond de Andrade)
determinado pelo artigo e a concordância se faz não com a
forma gramatical da palavra, mas com o fato que se tem em Concordância do pronome com o nome:
mente:
Tomar hormônios às refeições não é mau. - O pronome, quando se flexiona, concorda em gênero e
É necessário ter muita fé. número com o substantivo a que se refere:
“Martim quebrou um ramo de murta, a folha da tristeza, e
Havendo determinação do sujeito, ou sendo preciso deitou-o no jazido de sua esposa”. (José de Alencar)
realçar o predicativo, efetua-se a concordância normalmente: “O velho abriu as pálpebras e cerrou-as logo.” (José de
É necessária a tua presença aqui. (= indispensável) Alencar)
“Se eram necessárias obras, que se fizessem e
largamente.” (Eça de Queirós) - O pronome que se refere a dois ou mais substantivos de
“Seriam precisos outros três homens.” (Aníbal Machado) gêneros diferentes, flexiona-se no masculino plural:
“São precisos também os nomes dos admiradores.” “Salas e coração habita-os a saudade”” (Alberto de
(Carlos de Laet) Oliveira)
“A generosidade, o esforço e o amor, ensinaste-os tu em toda
Concordância do predicativo com o objeto: A a sua sublimidade.” (Alexandre Herculano)
concordância do adjetivo predicativo com o objeto direto ou Conheci naquela escola ótimos rapazes e moças, com os
indireto subordina-se às seguintes regras gerais: quais fiz boas amizades.
“Referi-me à catedral de Notre-Dame e ao Vesúvio
- O adjetivo concorda em gênero e número com o objeto familiarmente, como se os tivesse visto.” (Graciliano Ramos)
quando este é simples:
Vi ancorados na baía os navios petrolíferos. Os substantivos sendo sinônimos, o pronome concorda
“Olhou para suas terras e viu-as incultas e maninhas.” com o mais próximo: “Ó mortais, que cegueira e desatino é o
(Carlos de Laet) nosso!” (Manuel Bernardes)
O tribunal qualificou de ilegais as nomeações do ex-
prefeito. - Os pronomes um... outro, quando se referem a
A noite torna visíveis os astros no céu límpido. substantivos de gênero diferentes, concordam no masculino:
Marido e mulher viviam em boa harmonia e ajudavam-se
- Quando o objeto é composto e constituído por um ao outro.
elementos do mesmo gênero, o adjetivo se flexiona no “Repousavam bem perto um do outro a matéria e o
plural e no gênero dos elementos: espírito.” (Alexandre Herculano)
A justiça declarou criminosos o empresário e seus Nito e Sônia casaram cedo: um por amor, o outro, por
auxiliares. interesse.
Deixe bem fechadas a porta e as janelas.
A locução um e outro, referida a indivíduos de sexos
- Sendo o objeto composto e formado de elementos de diferentes, permanece também no masculino: “A mulher do
gênero diversos, o adjetivo predicativo concordará no colchoeiro escovou-lhe o chapéu; e, quando ele [Rubião] saiu,
masculino plural: um e outro agradeceram-lhe muito o benefício da salvação do
Tomei emprestados a régua e o compasso. filho.” (Machado de Assis)
Achei muito simpáticos o príncipe e sua filha.
“Vi setas e carcás espedaçados”. (Gonçalves Dias) O substantivo que se segue às locuções um e outro e nem
Encontrei jogados no chão o álbum e as cartas. outro fica no singular. Exemplos: Um e outro livro me
agradaram; Nem um nem outro livro me agradaram.

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APOSTILAS OPÇÃO

Outros casos de concordância nominal: Registramos - Todo. No sentido de inteiramente, completamente,


aqui alguns casos especiais de concordância nominal: costuma-se flexionar, embora seja advérbio:
Esses índios andam todos nus.
- Anexo, incluso, leso. Como adjetivos, concordam com o Geou durante a noite e a planície ficou toda (ou todo)
substantivo em gênero e número: branca.
Anexa à presente, vai a relação das mercadorias. As meninas iam todas de branco.
Vão anexos os pareceres das comissões técnicas. A casinha ficava sob duas mangueiras, que a cobriam toda.
Remeto-lhe, anexas, duas cópias do contrato.
Remeto-lhe, inclusa, uma fotocópia do recibo. Mas admite-se também a forma invariável:
Os crimes de lesa-majestade eram punidos com a morte. Fiquei com os cabelos todo sujos de terá.
Ajudar esses espiões seria crime de lesa-pátria. Suas mãos estavam todo ensanguentadas.

Observação: Evite a locução em anexo. - Alerta. Pela sua origem, alerta (=atentamente, de
prontidão, em estado de vigilância) é advérbio e, portanto,
- A olhos vistos. Locução adverbial invariável. Significa invariável:
visivelmente. Estamos alerta.
“Lúcia emagrecia a olhos vistos”. (Coelho Neto) Os soldados ficaram alerta.
“Zito envelhecia a olhos vistos.” (Autren Dourado) “Todos os sentidos alerta funcionam.” (Carlos Drummond
de Andrade)
- Só. Como adjetivo, só [sozinho, único] concorda em “Os brasileiros não podem deixar de estar sempre alerta.”
número com o substantivo. Como palavra denotativa de (Martins de Aguiar)
limitação, equivalente de apenas, somente, é invariável.
Eles estavam sós, na sala iluminada. Contudo, esta palavra é, atualmente, sentida antes como
Esses dois livros, por si sós, bastariam para torná-los adjetivo, sendo, por isso, flexionada no plural:
célebre. Nossos chefes estão alertas. (=vigilantes)
Elas só passeiam de carro. Papa diz aos cristãos que se mantenham alertas.
Só eles estavam na sala. “Uma sentinela de guarda, olhos abertos e sentidos
alertas, esperando pelo desconhecido...” (Assis Brasil, Os
Forma a locução a sós [=sem mais companhia, sozinho]: Crocodilos, p. 25)
Estávamos a sós. Jesus despediu a multidão e subiu ao monte
para orar a sós. - Meio. Usada como advérbio, no sentido de um pouco, esta
palavra é invariável. Exemplos:
- Possível. Usado em expressões superlativas, este adjetivo A porta estava meio aberta.
ora aparece invariável, ora flexionado: As meninas ficaram meio nervosas.
“A volta, esperava-nos sempre o almoço com os pratos Os sapatos eram meio velhos, mas serviam.
mais requintados possível.” (Maria Helena Cardoso)
“Estas frutas são as mais saborosas possível.” (Carlos - Bastante. Varia quando adjetivo, sinônimo de suficiente:
Góis) Não havia provas bastantes para condenar o réu.
“A mania de Alice era colecionar os enfeites de louça mais Duas malas não eram bastantes para as roupas da atriz.
grotescos possíveis.” (ledo Ivo)
“... e o resultado obtido foi uma apresentação com Fica invariável quando advérbio, caso em que modifica um
movimentos os mais espontâneos possíveis.” (Ronaldo adjetivo:
Miranda) As cordas eram bastante fortes para sustentar o peso.
Os emissários voltaram bastante otimistas.
Como se vê dos exemplos citados, há nítida tendência, no “Levi está inquieto com a economia do Brasil. Vê que se
português de hoje, para se usar, neste caso, o adjetivo possível aproximam dias bastante escuros.” (Austregésilo de Ataíde)
no plural. O singular é de rigor quando a expressão superlativa
inicia com a partícula o (o mais, o menos, o maior, o menor, - Menos. É palavra invariável:
etc.) Gaste menos água.
Os prédios devem ficar o mais afastados possível. À noite, há menos pessoas na praça.
Ele trazia sempre as unhas o mais bem aparadas possível.
O médico atendeu o maior número de pacientes possível. Questões
01. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar
- Adjetivos adverbiados. Certos adjetivos, como sério, Administrativo – FAEPESUL/2016)
claro, caro, barato, alto, raro, etc., quando usados com a função Marque a alternativa em que a concordância nominal
de advérbios terminados em – mente, ficam invariáveis: esteja CORRETA:
Vamos falar sério. [sério = seriamente] a) Desde que comprovadas as faltas, sofrerá punições as
Penso que falei bem claro, disse a secretária. instituições que não respeitarem a lei vigente.
Esses produtos passam a custar mais caro. [ou mais b) Novas taxas de juro, segundo os economistas
barato] internacionais, será anunciado na próxima semana.
Estas aves voam alto. [ou baixo] c) Foi inaugurada ontem, depois de vários cancelamentos,
novas obras da administração local.
Junto e direto ora funcionam como adjetivos, ora como d) Prossegue implacável as denúncias contra governantes
advérbios: e empreiteiros do nosso país.
“Jorge e Dante saltaram juntos do carro.” (José Louzeiro) e) Não estão previstas, até o momento, novas datas para a
“Era como se tivessem estado juntos na véspera.” (Autram realização das provas.
Dourado).
“Elas moram junto há algum tempo.” (José Gualda Dantas)
“Foram direto ao galpão do engenheiro-chefe.” (Josué
Guimarães)

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APOSTILAS OPÇÃO

02. (SAAEB – Engenheiro de Segurança do Trabalho – processar a quantidade enorme de informações e estímulos
FAFIPA/2016) que nós e o mundo estamos lhes dando.
Indique a alternativa que NÃO apresenta erro de Calma, gente. Muita calma. Não corramos para cima da
concordância nominal. criança com um iPad na mão a cada vez que ela reclama ou
a) O acontecimento derrubou a bolsa brasileira, argentina achamos que ela está sofrendo de “tédio". Não obriguemos a
e a espanhola. babá a ter um repertório mágico, que nem mesmo palhaços
b) Naquele lugar ainda vivia uma pseuda-aristocracia. profissionais têm, para manter a criança entretida o tempo
c) Como não tinham outra companhia, os irmãos viajaram todo. O “tédio" nada mais é que a oportunidade de estarmos
só. em contato conosco, de estimular o pensamento, a fantasia e a
d) Simpáticos malabaristas e dançarinos animavam a festa. concentração.
Sugiro que leiamos todos, pais ou não, “O Ócio Criativo" de
03. (CASAN – Técnico de Laboratório – INSTITUTO Domenico di Masi, para que entendamos a importância do uso
AOCP/2016) consciente do nosso tempo.
E já que resvalamos o assunto para a leitura: nossas
“Estamos Enlouquecendo Nossas Crianças! crianças não leem mais. Muitos livros infantis estão
Estímulos Demais... Concentração de Menos" disponíveis para tablets e iPads, cuja resposta é imediata ao
menor estímulo e descaracteriza a principal função do livro:
31 Maio 2015 em Bem-Estar, filhos parar para ler, para fazer a mente respirar, aprender a juntar
uma palavra com outra, paulatinamente formando frases e
Vivemos tempos frenéticos. A cada década que passa o sentenças, e, finalmente, concluir um raciocínio ou uma
modo de vida de 10 anos atrás parece ficar mais distante: 10 estória.
anos viraram 30, e logo teremos a sensação de ter se passado Cerquem suas crianças de livros e leiam com elas, por
50 anos a cada 5. E o mundo infantil foi atingido em cheio por amor. Deixem que se esparramem em almofadas e façam sua
essas mudanças: já não se educa (ou brinca, alimenta, veste, imaginação voar!
entretêm, cuida, consola, protege, ampara e satisfaz) crianças (Fonte: http://www.saudecuriosa.com.br/estamos-
como antigamente! enlouquecendo-nossas-criancas-estimulos-demais-
O iPad, por exemplo, já é companheiro imprescindível nas concentracao-de-menos/)
refeições de milhares de crianças. Em muitas casas a(s) TV(s) No sintagma “uma boa competitividade", a concordância
fica(m) ligada(s) o tempo todo na programação infantil – nominal se dá porque
naqueles canais cujo volume aumenta consideravelmente a) temos uma preposição seguida de dois substantivos
durante os comerciais – mesmo quando elas estão comendo femininos singulares.
com o iPad à mesa. b) temos uma preposição, um advérbio e um substantivo
Muitas e muitas crianças têm atividades extracurriculares masculino singular.
pelo menos três vezes por semana, algumas somam mais de 50 c) temos um artigo definido feminino singular, um adjetivo
horas semanais de atividades, entre escola, cursos, esportes e feminino singular e um substantivo masculino singular.
reforços escolares. d) temos um artigo definido feminino singular, um adjetivo
Existe em quase todas as casas uma profusão de feminino singular e um substantivo feminino singular.
brinquedos, aparelhos, recursos e pessoas disponíveis o e) temos um artigo indefinido feminino singular, um
tempo todo para garantir que a criança “aprenda coisas" e não adjetivo feminino singular e um substantivo feminino singular.
“morra de tédio". As pré- escolas têm o mesmo método de
ensino dos cursos pré-vestibulares. 04. (CISMEPAR/PR – Advogado – FAUEL/2016)
Tudo está sendo feito para que, no final, possamos ocupar, A respeito de concordância verbal e nominal, assinale a
aproveitar, espremer, sugar, potencializar, otimizar e, alternativa cuja frase NÃO realiza a concordância de acordo
finalmente, capitalizar todo o tempo disponível para impor às com a norma padrão da Língua Portuguesa:
nossas crianças uma preparação praticamente militar, visando a) Meias verdades são como mentiras inteiras: uma pessoa
seu “sucesso". O ar nas casas onde essa preocupação é latente meia honesta é pior que uma mentirosa inteira.
chega a ser denso, tamanha a pressão que as crianças sofrem b) Sonhar, plantar e colher: eis o segredo para alcançar
por desenvolver uma boa competitividade. Porém, o excesso seus objetivos.
de estímulos sonoros, visuais, físicos e informativos impedem c) Para o sucesso, não há outro caminho: quanto mais
que a criança organize seus pensamentos e atitudes, de distante o alvo, maior a dedicação.
verdade: fica tudo muito confuso e nebuloso, e as próprias d) Não é com apenas uma tentativa que se alcança o que
informações se misturam fazendo com que a criança mal saiba se quer.
descrever o que acabou de ouvir, ver ou fazer.
Além disso, aptidões que devem ser estimuladas estão Respostas
sendo deixadas de lado: Crianças não sabem conversar. Não
olham nos olhos de seus interlocutores. Não conseguem focar 01. Resposta E
em uma brincadeira ou atividade de cada vez (na verdade a a) Desde que comprovadas as faltas, sofrerá (sofrerão)
maioria sequer sabe brincar sem a orientação de um adulto!). punições as instituições que não respeitarem a lei vigente.
Não conseguem ler um livro, por menor que seja. Não aceitam b) Novas taxas de juro, segundo os economistas
regras. Não sabem o que é autoridade. Pior e principalmente: internacionais, será (serão)anunciadas na próxima semana.
não sabem esperar. c) Foi (foram)inaugurada ontem, depois de vários
Todas essas qualidades são fundamentais na construção cancelamentos, novas obras da administração local.
de um ser humano íntegro, independente e pleno, e devem ser d) Prossegue (Prosseguem implacáveis) implacável as
aprendidas em casa, em suas rotinas. denúncias contra governantes e empreiteiros do nosso país.
Precisamos pausar. Parar e olhar em volta. Colocar a mão e) Não estão previstas, até o momento, novas datas para a
na consciência, tirá-la um pouco da carteira, do telefone e do realização das provas.
volante: estamos enlouquecendo nossas crianças, e as estamos
impedindo de entender e saber lidar com seus tempos, seus 02. Resposta D
desejos, suas qualidades e talentos. Estamos roubando o a) Errado - A bolsa brasileira, A argentina e A
tempo precioso que nossos filhos tanto precisam para espanhola

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b) Errado - Pseuda-aristocracia, deveria ser Pseudo Aconselhamos, nesse caso, usar o verbo no plural.
c) Errado - Os irmãos viajaram Sós.
d) Correta - A concordância deste adjetivo poderá ser - O sujeito é composto e de pessoas diferentes
com mais próximo ou com os dois
Se o sujeito composto for de pessoas diversas, o verbo se
03. Resposta E flexiona no plural e na pessoa que tiver prevalência. (A 1ª pessoa
UMA - Artigo Indefinido feminino singular prevalece sobre a 2ª e a 3ª; a 2ª prevalece sobre a 3ª):
BOA - Adjetivo feminino singular “Foi o que fizemos Capitu e eu.” (Machado de Assis) (ela e
COMPETITIVIDADE - Substantivo feminino singular eu = nós)
“Tu e ele partireis juntos.” (Mário Barreto) (tu e ele = vós)
04. Resposta A Você e meu irmão não me compreendem. (você e ele =
''Meias verdades'' está correto, pois a palavra ''meia'' está vocês)
concordando com o substantivo ''verdades''. Porém, no
trecho ''pessoa meia honesta'' está incorreto o emprego, Muitas vezes os escritores quebram a rigidez dessa regra:
posto que a palavra ''meia'' é invariável diante de um - Ora fazendo concordar o verbo com o sujeito mais próximo,
adjetivo. O correto, portanto, seria: quando este se pospõe ao verbo:
''Meias verdades são como mentiras inteiras: uma
pessoa meio honesta é pior que uma mentirosa inteira.''' “O que resta da felicidade passada és tu e eles.” (Camilo
Castelo Branco)
Concordância Verbal “Faze uma arca de madeira; entra nela tu, tua mulher e teus
filhos.” (Machado de Assis)
O verbo concorda com o sujeito, em harmonia com as
seguintes regras gerais: - Ora preferindo a 3ª pessoa na concorrência tu + ele (tu +
ele = vocês em vez de tu + ele = vós):
- O sujeito é simples: O sujeito sendo simples, com ele
concordará o verbo em número e pessoa. Exemplos: “...Deus e tu são testemunhas...” (Almeida Garrett)
“Juro que tu e tua mulher me pagam.” (Coelho Neto)
Verbo depois do sujeito:
“As saúvas eram uma praga.” (Carlos Povina Cavalcânti) As normas que a seguir traçamos têm, muitas vezes, valor
“Tu não és inimiga dele, não? (Camilo Castelo Branco) relativo, porquanto a escolha desta ou daquela concordância
“Vós fostes chamados à liberdade, irmãos.” (São Paulo) depende, frequentemente, do contexto, da situação e do clima
emocional que envolvem o falante ou o escrevente.
Verbo antes do sujeito:
Acontecem tantas desgraças neste planeta! - Núcleos do sujeito unidos por ou
Não faltarão pessoas que nos queiram ajudar.
A quem pertencem essas terras? Há duas situações a considerar:

- O sujeito é composto e da 3ª pessoa - Se a conjunção ou indicar exclusão ou retificação, o verbo


concordará com o núcleo do sujeito mais próximo:
O sujeito, sendo composto e anteposto ao verbo, leva Paulo ou Antônio será o presidente.
geralmente este para o plural. Exemplos: O ladrão ou os ladrões não deixaram nenhum vestígio.
“A esposa e o amigo seguem sua marcha.” (José de Ainda não foi encontrado o autor ou os autores do crime.
Alencar)
“Poti e seus guerreiros o acompanharam.” (José de - O verbo irá para o plural se a ideia por ele expressa se
Alencar) referir ou puder ser atribuída a todos os núcleos do sujeito:
“Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de “Era tão pequena a cidade, que um grito ou gargalhada
uma fonte perene.” (Machado de Assis) forte a atravessavam de ponta a ponta.” (Aníbal Machado)
É licito (mas não obrigatório) deixar o verbo no singular: (Tanto um grito, como uma gargalhada, atravessavam a
- Quando o núcleo dos sujeitos são sinônimos: cidade.)
“A decência e honestidade ainda reinava.” (Mário Barreto) “Naquela crise, só Deus ou Nossa Senhora podiam acudir-
“A coragem e afoiteza com que lhe respondi, perturbou- lhe.” (Camilo Castelo Branco)
o...” (Camilo Castelo Branco)
“Que barulho, que revolução será capaz de perturbar esta Há, no entanto, em bons autores, ocorrência de verbo no
serenidade?” (Graciliano Ramos) singular:
“A glória ou a vergonha da estirpe provinha de atos
- Quando os núcleos do sujeito formam sequência individuais.” (Vivaldo Coaraci)
gradativa: “Há dessas reminiscências que não descansam antes que a
Uma ânsia, uma aflição, uma angústia repentina começou pena ou a língua as publique.” (Machado de Assis)
a me apertar à alma. “Um príncipe ou uma princesa não casa sem um vultoso
dote.” (Viriato Correia)
Sendo o sujeito composto e posposto ao verbo, este poderá
concordar no plural ou com o substantivo mais próximo: - Núcleos do sujeito unidos pela preposição com: Usa-se
“Não fossem o rádio de pilha e as revistas, que seria de mais frequentemente o verbo no plural quando se atribui a
Elisa?” (Jorge Amado) mesma importância, no processo verbal, aos elementos do
“Enquanto ele não vinha, apareceram um jornal e uma sujeito unidos pela preposição com. Exemplos:
vela.” (Ricardo Ramos) Manuel com seu compadre construíram o barracão.
“Ali estavam o rio e as suas lavadeiras.” (Carlos Povina “Eu com outros romeiros vínhamos de Vigo...” (Camilo
Cavalcânti) Castelo Branco)
... casa abençoada onde paravam Deus e o primeiro dos “Ele com mais dois acercaram-se da porta.” (Camilo
seus ministros.” (Carlos de Laet) Castelo Branco)

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Pode se usar o verbo no singular quando se deseja dar Advogado e membro da instituição afirma que ela é
relevância ao primeiro elemento do sujeito e também quando corrupta.
o verbo vier antes deste. Exemplos:
O bispo, com dois sacerdotes, iniciou solenemente a missa. - Núcleos do sujeito são infinitivos: O verbo concordará
O presidente, com sua comitiva, chegou a Paris às 5h da no plural se os infinitivos forem determinados pelo artigo ou
tarde. exprimirem ideias opostas; caso contrário, tanto é lícito usar o
“Já num sublime e público teatro se assenta o rei inglês verbo no singular como no plural. Exemplos:
com toda a corte.” (Luís de Camões) O comer e o beber são necessários.
Rir e chorar fazem parte da vida
- Núcleos do sujeito unidos por nem: Quando o sujeito é Montar brinquedos e desmontá-los divertiam muito o
formado por núcleos no singular unidos pela conjunção nem, menino.
usa-se, comumente, o verbo no plural. Exemplos: “Já tinha ouvido que plantar e colher feijão não dava
Nem a riqueza nem o poder o livraram de seus inimigos. trabalho.” (Carlos Povina Cavalcânti) (ou davam)
Nem eu nem ele o convidamos.
“Nem o mundo, nem Deus teriam força para me - Sujeito oracional: Concorda no singular o verbo cujo
constranger a tanto.” (Alexandre Herculano) sujeito é uma oração:
“Nem a Bíblia nem a respeitabilidade lhe permitem Ainda falta / comprar os cartões.
praguejar alto.” (Eça de Queirós) Predicado Sujeito Oracional

É preferível a concordância no singular: Estas são realidades que não adianta esconder.
Sujeito de adianta: esconder que (as realidades)
- Quando o verbo precede o sujeito:
“Não lhe valeu a imensidade azul, nem a alegria das flores, - Sujeito Coletivo: O verbo concorda no singular com o
nem a pompa das folhas verdes...” (Machado de Assis) sujeito coletivo no singular. Exemplos:
Não o convidei eu nem minha esposa. A multidão vociferava ameaças.
“Na fazenda, atualmente, não se recusa trabalho, nem O exército dos aliados desembarcou no sul da Itália.
dinheiro, nem nada a ninguém.” (Guimarães Rosa) Uma junta de bois tirou o automóvel do atoleiro.
Um bloco de foliões animava o centro da cidade.
- Quando há exclusão, isto é, quando o fato só pode ser
atribuído a um dos elementos do sujeito: Se o coletivo vier seguido de substantivo plural que o
Nem Berlim nem Moscou sediará a próxima Olimpíada. especifique e anteceder ao verbo, este poderá ir para o plural,
(Só uma cidade pode sediar a Olimpíada.) quando se quer salientar não a ação do conjunto, mas a dos
Nem Paulo nem João será eleito governador do Acre. (Só indivíduos, efetuando-se uma concordância não gramatical,
um candidato pode ser eleito governador.) mas ideológica:
“Uma grande multidão de crianças, de velhos, de mulheres
- Núcleos do sujeito correlacionados: O verbo vai para o penetraram na caverna...” (Alexandre Herculano)
plural quando os elementos do sujeito composto estão ligados “Uma grande vara de porcos que se afogaram de
por uma das expressões correlativas não só... mas também, não escantilhão no mar....” (Camilo Castelo Branco)
só como também, tanto...como, etc. Exemplos: “Reconheceu que era um par de besouros que zumbiam
Não só a nação mas também o príncipe estariam pobres.” no ar.” (Machado de Assis)
(Alexandre Herculano) “Havia na União um grupo de meninos que praticavam
“Tanto a Igreja como o Estado eram até certo ponto esse divertimento com uma pertinácia admirável.” (Carlos
inocentes.” (Alexandre Herculano) Povina Cavalcânti)
“Tanto Noêmia como Reinaldo só mantinham relações de
amizade com um grupo muito reduzido de pessoas.” (José - A maior parte de, grande número de, etc.: Sendo o
Condé) sujeito uma das expressões quantitativas a maior parte de,
“Tanto a lavoura como a indústria da criação de gado não parte de, a maioria de, grande número de, etc., seguida de
o demovem do seu objetivo.” (Cassiano Ricardo) substantivo ou pronome no plural, o verbo, quando posposto
ao sujeito, pode ir para o singular ou para o plural, conforme
- Sujeitos resumidos por tudo, nada, ninguém: Quando o se queira efetuar uma concordância estritamente gramatical
sujeito composto vem resumido por um dos pronomes, tudo, (com o coletivo singular) ou uma concordância enfática,
nada, ninguém, etc. o verbo concorda, no singular, com o expressiva, com a ideia de pluralidade sugerida pelo sujeito.
pronome resumidor. Exemplos: Exemplos:
Jogos, espetáculos, viagens, diversões, nada pôde A maior parte dos indígenas respeitavam os pajés.”
satisfazê-lo. (Gilberto Freire)
“O entusiasmo, alguns goles de vinho, o gênio imperioso, “A maior parte dos doidos ali metidos estão em seu
estouvado, tudo isso me levou a fazer uma coisa única.” perfeito juízo.” (Machado de Assis)
(Machado de Assis) “A maior parte das pessoas pedem uma sopa, um prato de
Jogadores, árbitro, assistentes, ninguém saiu do campo. carne e um prato de legumes.” (Ramalho Ortigão)
“A maior parte dos nomes podem ser empregados em
- Núcleos do sujeito designando a mesma pessoa ou sentido definido ou em sentido indefinido.” (Mário Barreto)
coisa: O verbo concorda no singular quando os núcleos do
sujeito designam a mesma pessoa ou o mesmo ser. Exemplos: Quando o verbo precede o sujeito, como nos dois últimos
“Aleluia! O brasileiro comum, o homem do povo, o João- exemplos, a concordância se efetua no singular. Como se vê
ninguém, agora é cédula de Cr$ 500,00!” (Carlos Drummond dos exemplos supracitados, as duas concordâncias são
Andrade) igualmente legítimas, porque têm tradição na língua. Cabe a
“Embora sabendo que tudo vai continuar como está, fica o quem fala ou escreve escolher a que julgar mais adequada à
registro, o protesto, em nome dos telespectadores.” (Valério situação. Pode-se, portanto, no caso em foco, usar o verbo no
Andrade) plural, efetuando a concordância não com a forma gramatical
das palavras, mas com a ideia de pluralidade que elas

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encerram e sugerem à nossa mente. Essa concordância O sertão cearense é uma das áreas que mais sofrem com
ideológica é bem mais expressiva que a gramatical, como se as secas.
pode perceber relendo as frases citadas de Machado de Assis, Heráclito foi um dos empresários que conseguiram
Ramalho Ortigão, Ondina Ferreira e Aurélio Buarque de superar a crise.
Holanda, e cotejando-as com as dos autores que usaram o
verbo no singular. Embora o caso seja diferente, é oportuno lembrar que, nas
orações adjetivas explicativas, nas quais o pronome que é
- Um e outro, nem um nem outro: O sujeito sendo uma separado de seu antecedente por pausa e vírgula, a
dessas expressões, o verbo concorda, de preferência, no plural. concordância é determinada pelo sentido da frase:
Exemplos: Um dos meninos, que estava sentado à porta da casa, foi
“Um e outro gênero se destinavam ao conhecimento...” chamar o pai. (Só um menino estava sentado.)
(Hernâni Cidade) Um dos cinco homens, que assistiam àquela cena
“Um e outro descendiam de velhas famílias do Norte.” estupefatos, soltou um grito de protesto. (Todos os cinco
(Machado de Assis) homens assistiam à cena.)
Uma e outra família tinham (ou tinha) parentes no Rio.
“Depois nem um nem outro acharam novo motivo para - Mais de um: O verbo concorda, em regra, no singular. O
diálogo.” (Fernando Namora) plural será de rigor se o verbo exprimir reciprocidade, ou se o
numeral for superior a um. Exemplos:
- Um ou outro: O verbo concorda no singular com o sujeito Mais de um excursionista já perdeu a vida nesta
um ou outro: montanha.
“Respondi-lhe que um ou outro colar lhe ficava bem.” Mais de um dos circunstantes se entreolharam com
(Machado de Assis) espanto.
“Uma ou outra pode dar lugar a dissentimentos.” Devem ter fugido mais de vinte presos.
(Machado de Assis)
“Sempre tem um ou outro que vai dando um vintém.” - Quais de vós? Alguns de nós: Sendo o sujeito um dos
(Raquel de Queirós) pronomes interrogativos quais? quantos? Ou um dos
indefinidos alguns, muitos, poucos, etc., seguidos dos pronomes
- Um dos que, uma das que: Quando, em orações adjetivas nós ou vós, o verbo concordará, por atração, com estes últimos,
restritivas, o pronome que vem antecedido de um dos ou ou, o que é mais lógico, na 3ª pessoa do plural:
expressão análoga, o verbo da oração adjetiva flexiona-se, em “Quantos dentre nós a conhecemos?” (Rogério César
regra, no plural: Cerqueira)
“O príncipe foi um dos que despertaram mais cedo.” “Quais de vós sois, como eu, desterrados...?” (Alexandre
(Alexandre Herculano) Herculano)
“A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam “...quantos dentre vós estudam conscienciosamente o
de nós.” (Machado de Assis) passado?” (José de Alencar)
“Areteu da Capadócia era um dos muitos médicos gregos Alguns de nós vieram (ou viemos) de longe.
que viviam em Roma.” (Moacyr Scliar)
Ele é desses charlatães que exploram a crendice humana. Estando o pronome no singular (3ª pessoa) ficará o verbo:
Qual de vós testemunhou o fato?
Essa é a concordância lógica, geralmente preferida pelos Nenhuma de nós a conhece.
escritores modernos. Todavia, não é prática condenável fugir Nenhum de vós a viu?
ao rigor da lógica gramatical e usar o verbo da oração adjetiva Qual de nós falará primeiro?
no singular (fazendo-o concordar com a palavra um), quando
se deseja destacar o indivíduo do grupo, dando-se a entender - Pronomes quem, que, como sujeitos: O verbo
que ele sobressaiu ou sobressai aos demais: concordará, em regra, na 3ª pessoa, com os pronomes quem e
Ele é um desses parasitas que vive à custa dos outros. que, em frases como estas:
“Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a Sou eu quem responde pelos meus atos.
originalidade e importância da literatura brasileira.” (João Somos nós quem leva o prejuízo.
Ribeiro) Eram elas quem fazia a limpeza da casa.
“Eras tu quem tinha o dom de encantar-me.” (Osmã Lins)
Há gramáticas que condenam tal concordância. Por
coerência, deveriam condenar também a comumente aceita Todavia, a linguagem enfática justifica a concordância com
em construções anormais do tipo: Quais de vós sois isentos de o sujeito da oração principal:
culpa? Quantos de nós somos completamente felizes? O verbo “Sou eu quem prendo aos céus a terra.” (Gonçalves Dias)
fica obrigatoriamente no singular quando se aplica apenas ao “Não sou eu quem faço a perspectiva encolhida.” (Ricardo
indivíduo de que se fala, como no exemplo: Ramos)
Jairo é um dos meus empregados que não sabe ler. (Jairo é “És tu quem dás frescor à mansa brisa.” (Gonçalves Dias)
o único empregado que não sabe ler.) “Nós somos os galegos que levamos a barrica.” (Camilo
Castelo Branco)
Ressalte-se, porém, que nesse caso é preferível construir a
frase de outro modo: A concordância do verbo precedido do pronome relativo
Jairo é um empregado meu que não sabe ler. que far-se-á obrigatoriamente com o sujeito do verbo (ser) da
Dos meus empregados, só Jairo não sabe ler. oração principal, em frases do tipo:
Sou eu que pago.
Na linguagem culta formal, ao empregar as expressões em És tu que vens conosco?
foco, o mais acertado é usar no plural o verbo da oração Somos nós que cozinhamos.
adjetiva: Eram eles que mais reclamavam.
O Japão é um dos países que mais investem em tecnologia.
Gandhi foi um dos que mais lutaram pela paz.

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Em construções desse tipo, é lícito considerar o verbo ser e Nas locuções verbais formadas com os verbos auxiliares
a palavra que como elementos expletivos ou enfatizantes, poder e dever, na voz passiva sintética, o verbo auxiliar
portanto não necessários ao enunciado. Assim: concordará com o sujeito. Exemplos:
Sou eu que pago. (=Eu pago) Não se podem cortar essas árvores. (sujeito: árvores;
Somos nós que cozinhamos. (=Nós cozinhamos) locução verbal: podem cortar)
Foram os bombeiros que a salvaram. (= Os bombeiros a Devem-se ler bons livros. (=Devem ser lidos bons livros)
salvaram.) (sujeito: livros; locução verbal: devem-se ler)
Seja qual for a interpretação, o importante é saber que, “Nem de outra forma se poderiam imaginar façanhas
neste caso, tanto o verbo ser como o outro devem concordar memoráveis como a do fabuloso Aleixo Garcia.” (Sérgio
com o pronome ou substantivo que precede a palavra que. Buarque de Holanda)
“Em Santarém há poucas casas particulares que se possam
- Concordância com os pronomes de tratamento: Os dizer verdadeiramente antigas.” (Almeida Garrett)
pronomes de tratamento exigem o verbo na 3ª pessoa, embora
se refira à 2ª pessoa do discurso: Entretanto, pode-se considerar sujeito do verbo principal
Vossa Excelência agiu com moderação. a oração iniciada pelo infinitivo e, nesse caso, não há locução
Vossas Excelências não ficarão surdos à voz do povo. verbal e o verbo auxiliar concordará no singular. Assim:
“Espero que V.S.ª. não me faça mal.” (Camilo Castelo Não se pode cortar essas árvores. (sujeito: cortar essas
Branco) árvores; predicado: não se pode)
“Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe Deve-se ler bons livros. (sujeito: ler bons livros;
matem o tempo e os vassalos.” (Rebelo da Silva) predicado: deve-se)

- Concordância com certos substantivos próprios no Em síntese: de acordo com a interpretação que se escolher,
plural: Certos substantivos próprios de forma plural, como tanto é lícito usar o verbo auxiliar no singular como no plural.
Estados Unidos, Andes, Campinas, Lusíadas, etc., levam o verbo Portanto:
para o plural quando se usam com o artigo; caso contrário, o Não se podem (ou pode) cortar essas árvores.
verbo concorda no singular. Devem-se (ou deve-se) ler bons livros.
“Os Estados Unidos são o país mais rico do mundo.” “Quando se joga, deve-se aceitar as regras.” (Ledo Ivo)
(Eduardo Prado) “Concluo que não se devem abolir as loterias.” (Machado
Os Andes se estendem da Venezuela à Terra do Fogo. de Assis)
“Os Lusíadas” imortalizaram Luís de Camões.
Campinas orgulha-se de ter sido o berço de Carlos Gomes. - Verbos impessoais: Os verbos haver, fazer (na indicação
do tempo), passar de (na indicação de horas), chover e outros
Tratando-se de títulos de obras, é comum deixar o verbo que exprimem fenômenos meteorológicos, quando usados
no singular, sobretudo com o verbo ser seguido de predicativo como impessoais, ficam na 3ª pessoa do singular:
no singular: “Não havia ali vizinhos naquele deserto.” (Monteiro
“As Férias de El-Rei é o título da novela.” (Rebelo da Silva) Lobato)
“As Valkírias mostra claramente o homem que existe por “Havia já dois anos que nós não nos víamos.” (Machado de
detrás do mago.” (Paulo Coelho) Assis)
“Os Sertões é um ensaio sociológico e histórico...” (Celso “Aqui faz verões terríveis.” (Camilo Castelo Branco)
Luft) “Faz hoje ao certo dois meses que morreu na forca o tal
malvado...” (Camilo Castelo Branco)
A concordância, neste caso, não é gramatical, mas
ideológica, porque se efetua não com a palavra (Valkírias, - Também fica invariável na 3ª pessoa do singular o verbo
Sertões, Férias de El-Rei), mas com a ideia por ela sugerida que forma locução com os verbos impessoais haver ou fazer:
(obra ou livro). Ressalte-se, porém, que é também correto usar Deverá haver cinco anos que ocorreu o incêndio.
o verbo no plural: Vai haver grandes festas.
As Valkírias mostram claramente o homem... Há de haver, sem dúvida, fortíssimas razões para ele não
“Os Sertões são um livro de ciência e de paixão, de análise aceitar o cargo.
e de protesto.” (Alfredo Bosi) Começou a haver abusos na nova administração.

- Concordância do verbo passivo: Quando apassivado - O verbo chover, no sentido figurado (= cair ou sobrevir
pelo pronome apassivador se, o verbo concordará em grande quantidade), deixa de ser impessoal e, portanto
normalmente com o sujeito: concordará com o sujeito:
Vende-se a casa e compram-se dois apartamentos. Choviam pétalas de flores.
Gastaram-se milhões, sem que se vissem resultados “Sou aquele sobre quem mais têm chovido elogios e
concretos. diatribes.” (Carlos de Laet)
“Correram-se as cortinas da tribuna real.” (Rebelo da “Choveram comentários e palpites.” (Carlos Drummond
Silva) de Andrade)
“Aperfeiçoavam-se as aspas, cravavam-se pregos “E nem lá (na Lua) chovem meteoritos,
necessários à segurança dos postes...” (Camilo Castelo Branco) permanentemente.” (Raquel de Queirós)

Na literatura moderna há exemplos em contrário, mas que - Na língua popular brasileira é generalizado o uso de ter,
não devem ser seguidos: impessoal, por haver, existir. Nem faltam exemplos em
“Vendia-se seiscentos convites e aquilo ficava cheio.” escritores modernos:
(Ricardo Ramos) “No centro do pátio tem uma figueira velhíssima, com um
“Em Paris há coisas que não se entende bem.” (Rubem banco embaixo.” (José Geraldo Vieira)
Braga) “Soube que tem um cavalo morto, no quintal.” (Carlos
Drummond de Andrade)

- Existir não é verbo impessoal. Portanto:

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Nesta cidade existem (e não existe) bons médicos. “Seis anos era muito.” (Camilo Castelo Branco)
Não deviam (e não devia) existir crianças abandonadas. Dois mil dólares é pouco.
Cinco mil dólares era quanto bastava para a viagem.
- Concordância do verbo ser: O verbo de ligação ser Doze metros de fio é demais.
concorda com o predicativo nos seguintes casos:
- Na indicação das horas, datas e distância o verbo ser é
- Quando o sujeito é um dos pronomes tudo, o, isto, isso, ou impessoal (não tem sujeito) e concordará com a expressão
aquilo: designativa de hora, data ou distância:
“Tudo eram hipóteses.” (Ledo Ivo) Era uma hora da tarde.
“Tudo isto eram sintomas graves.” (Machado de Assis) “Era hora e meia, foi pôr o chapéu.” (Eça de Queirós)
Na mocidade tudo são esperanças. “Seriam seis e meia da tarde.” (Raquel de Queirós)
“Não, nem tudo são dessemelhanças e contrastes entre “Eram duas horas da tarde.” (Machado de Assis)
Brasil e Estados Unidos.” (Viana Moog)
OBSERVAÇÕES:
A concordância com o sujeito, embora menos comum, é
também lícita: - Pode-se, entretanto na linguagem espontânea, deixar o
“Tudo é flores no presente.” (Gonçalves Dias) verbo no singular, concordando com a ideia implícita de
“O que de mim posso oferecer-lhe é espinhos da minha “dia”:
coroa.” (Camilo Castelo Branco) “Hoje é seis de março.” (J. Matoso Câmara Jr.) (Hoje é dia
seis de março.)
O verbo ser fica no singular quando o predicativo é “Hoje é dez de janeiro.” (Celso Luft)
formado de dois núcleos no singular:
“Tudo o mais é soledade e silêncio.” (Ferreira de Castro) - Estando a expressão que designa horas precedida da
locução perto de, hesitam os escritores entre o plural e o
- Quando o sujeito é um nome de coisa, no singular, e o singular:
predicativo um substantivo plural: “Eram perto de oito horas.” (Machado de Assis)
“A cama são umas palhas.” (Camilo Castelo Branco) “Era perto de duas horas quando saiu da janela.”
“A causa eram os seus projetos.” (Machado de Assis) (Machado de Assis)
“Vida de craque não são rosas.” (Raquel de Queirós) “...era perto das cinco quando saí.” (Eça de Queirós)
Sua salvação foram aquelas ervas.
- O verbo passar, referente a horas, fica na 3ª pessoa do
O sujeito sendo nome de pessoa, com ele concordará o singular, em frases como: Quando o trem chegou, passava
verbo ser: das sete horas.
Emília é os encantos de sua avó.
Abílio era só problemas. - Locução de realce é que: O verbo ser permanece
invariável na expressão expletiva ou de realce é que:
Dá-se também a concordância no singular com o sujeito Eu é que mantenho a ordem aqui. (= Sou eu que mantenho
que: a ordem aqui.)
“Ergo-me hoje para escrever mais uma página neste Diário Nós é que trabalhávamos. (= Éramos nós que
que breve será cinzas como eu.” (Camilo Castelo Branco) trabalhávamos)
As mães é que devem educá-los. (= São as mães que devem
- Quando o sujeito é uma palavra ou expressão de sentido educá-los.)
coletivo ou partitivo, e o predicativo um substantivo no plural: Os astros é que os guiavam. (= Eram os astros que os
“A maioria eram rapazes.” (Aníbal Machado) guiavam.)
A maior parte eram famílias pobres.
O resto (ou o mais) são trastes velhos. Da mesma forma se diz, com ênfase:
“A maior parte dessa multidão são mendigos.” (Eça de “Vocês são muito é atrevidos.” (Raquel de Queirós)
Queirós) “Sentia era vontade de ir também sentar-me numa cadeira
junto do palco.” (Graciliano Ramos)
- Quando o predicativo é um pronome pessoal ou um “Por que era que ele usava chapéu sem aba?” (Graciliano
substantivo, e o sujeito não é pronome pessoal reto: Ramos)
“O Brasil, senhores, sois vós.” (Rui Barbosa)
“Nas minhas terras o rei sou eu.” (Alexandre Herculano) Observação: O verbo ser é impessoal e invariável em
“O dono da fazenda serás tu.” (Said Ali) construções enfáticas como:
“...mas a minha riqueza eras tu.” (Camilo Castelo Branco) Era aqui onde se açoitavam os escravos. (= Aqui se
açoitavam os escravos.)
Mas: Eu não sou ele. Vós não sois eles. Tu não és ele. Foi então que os dois se desentenderam. (= Então os dois
se desentenderam.)
- Quando o predicativo é o pronome demonstrativo o ou a
palavra coisa: - Era uma vez: Por tradição, mantém-se invariável a
Divertimentos é o que não lhe falta. expressão inicial de histórias era uma vez, ainda quando
“Os bastidores é só o que me toca.” (Correia Garção) seguida de substantivo plural: Era uma vez dois cavaleiros
“Mentiras, era o que me pediam, sempre mentiras.” andantes.
(Fernando Namora)
“Os responsórios e os sinos é coisa importuna em Tibães.” - A não ser: É geralmente considerada locução invariável,
(Camilo Castelo Branco) equivalente a exceto, salvo, senão. Exemplos:
Nada restou do edifício, a não ser escombros.
- Nas locuções é muito, é pouco, é suficiente, é demais, é mais A não ser alguns pescadores, ninguém conhecia aquela
que (ou do que), é menos que (ou do que), etc., cujo sujeito praia.
exprime quantidade, preço, medida, etc.:

Língua Portuguesa 86
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APOSTILAS OPÇÃO

“Nunca pensara no que podia sair do papel e do lápis, a não “Referiu-me circunstâncias que parece justificarem o
ser bonecos sem pescoço...” (Carlos Drummond de Andrade) procedimento do soberano.” (Latino Coelho)
“As lágrimas e os soluços parecia não a deixarem
Mas não constitui erro usar o verbo ser no plural, fazendo- prosseguir.” (Alexandre Herculano)
o concordar com o substantivo seguinte, convertido em sujeito “...quando as estrelas, em ritmo moroso, parecia
da oração infinitiva. Exemplos: caminharem no céu.” (Graça Aranha)
“As dissipações não produzem nada, a não serem dívidas
e desgostos.” (Machado de Assis) Usando-se a oração desenvolvida, parecer concordará no
“A não serem os antigos companheiros de mocidade, singular:
ninguém o tratava pelo nome próprio.” (Álvaro Lins) “Mesmo os doentes parece que são mais felizes.” (Cecília
“A não serem os críticos e eruditos, pouca gente manuseia Meireles)
hoje... aquela obra.” (Latino Coelho) “Outros, de aparência acabadiça, parecia que não podiam
com a enxada.” (José Américo)
- Haja vista: A expressão correta é haja vista, e não haja “As notícias parece que têm asas.” (Oto Lara Resende)
visto. Pode ser construída de três modos: (Isto é: Parece que as notícias têm asas.)
Hajam vista os livros desse autor. (= tenham vista, vejam-
se) Essa dualidade de sintaxe verifica-se também com o verbo
Haja vista os livros desse autor. (= por exemplo, veja) ver na voz passiva: “Viam-se entrar mulheres e crianças.” Ou
Haja vista aos livros desse autor. (= olhe-se para, atente-se “Via-se entrarem mulheres e crianças.”
para os livros)
- Concordância com o sujeito oracional: O verbo cujo
A primeira construção (que é a mais lógica) analisa-se sujeito é uma oração concorda obrigatoriamente na 3ª pessoa
deste modo. do singular:
Sujeito: os livros; verbo hajam (=tenham); objeto direto: Parecia / que os dois homens estavam bêbedos.
vista. Verbo sujeito (oração subjetiva)
A situação é preocupante; hajam vista os incidentes de Faltava / dar os últimos retoques.
sábado. Verbo sujeito (oração subjetiva)
Seguida de substantivo (ou pronome) singular, a
expressão, evidentemente, permanece invariável: A situação é Outros exemplos, com o sujeito oracional em destaque:
preocupante; haja vista o incidente de sábado. Não me interessa ouvir essas parlendas.
Anotei os livros que faltava adquirir. (faltava adquirir os
- Bem haja. Mal haja: Bem haja e mal haja usam-se em livros)
frases optativas e imprecativas, respectivamente. O verbo Esses fatos, importa (ou convém) não esquecê-los.
concordará normalmente com o sujeito, que vem sempre São viáveis as reformas que se intenta implantar?
posposto:
“Bem haja Sua Majestade!” (Camilo Castelo Branco) - Concordância com sujeito indeterminado: O pronome
Bem hajam os promovedores dessa campanha! se pode funcionar como índice de indeterminação do sujeito.
“Mal hajam as desgraças da minha vida...” (Camilo Castelo Nesse caso, o verbo concorda obrigatoriamente na 3ª pessoa
Branco) do singular. Exemplos;
Em casa, fica-se mais à vontade.
- Concordância dos verbos bater, dar e soar: Referindo- Detesta-se (e não detestam-se) aos indivíduos falsos.
se às horas, os três verbos acima concordam regularmente Acabe-se de vez com esses abusos!
com o sujeito, que pode ser hora, horas (claro ou oculto), Para ir de São Paulo a Curitiba, levava-se doze horas.
badaladas ou relógio:
“Nisto, deu três horas o relógio da botica.” (Camilo Castelo - Concordância com os numerais milhão, bilhão e
Branco) trilhão: Estes substantivos numéricos, quando seguidos de
“Bateram quatro da manhã em três torres há um tempo...” substantivo no plural, levam, de preferência, o verbo ao plural.
(Mário Barreto) Exemplos:
“Tinham batido quatro horas no cartório do tabelião Vaz Um milhão de fiéis agruparam-se em procissão.
Nunes.” (Machado de Assis) São gastos ainda um milhão de dólares por ano para a
“Deu uma e meia.” (Said Ali) manutenção de cada Ciep.
Meio milhão de refugiados se aproximam da fronteira do
Passar, com referência à horas, no sentido de ser mais de, é Irã.
verbo impessoal, por isso fica na 3ª pessoa do singular: Meio milhão de pessoas foram às ruas para reverenciar os
Quando chegamos ao aeroporto, passava das 16 horas; mártires da resistência.
Vamos, já passa das oito horas – disse ela ao filho.
Milhão, bilhão e milhar são substantivos masculinos. Por
- Concordância do verbo parecer: Em construções com o isso, devem concordar no masculino os artigos, numerais e
verbo parecer seguido de infinitivo, pode-se flexionar o verbo pronomes que os precedem: os dois milhões de pessoas; os
parecer ou o infinitivo que o acompanha: três milhares de plantas; alguns milhares de telhas; esses
As paredes pareciam estremecer. (construção corrente) bilhões de criaturas, etc.
As paredes parecia estremecerem. (construção literária) Se o sujeito da oração for milhões, o particípio ou o adjetivo
podem concordar, no masculino, com milhões, ou, por atração,
Análise da construção dois: parecia: oração principal; as no feminino, com o substantivo feminino plural: Dois milhões
paredes estremeceram: oração subordinada substantiva de sacas de soja estão ali armazenados (ou armazenadas) no
subjetiva. próximo ano. Foram colhidos três milhões de sacas de trigo.
Outros exemplos: Os dois milhões de árvores plantadas estão altas e bonitas.
“Nervos... que pareciam estourar no minuto seguinte.”
(Fernando Namora) - Concordância com numerais fracionários: De regra, a
concordância do verbo efetua-se com o numerador. Exemplos:

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APOSTILAS OPÇÃO

“Mais ou menos um terço dos guerrilheiros ficou atocaiado Gastaram-se menos de dois galões de tinta.
perto...” (Autran Dourado) Menos de dez homens fariam a colheita das uvas.
“Um quinto dos bens cabe ao menino.” (José Gualda
Dantas) Questões
Dois terços da população vivem da agricultura. 01. (TRF – 3ª Região – Analista Judiciário-Área
Administrativa – FCC/2016) A respeito da concordância
Não nos parece, entretanto, incorreto usar o verbo no verbal, é correto afirmar:
plural, quando o número fracionário, seguido de substantivo
no plural, tem o numerador 1, como nos exemplos: a) Em "A aquisição de novas obras devem trazer benefícios
Um terço das mortes violentas no campo acontecem no a todos os frequentadores", a concordância está correta por se
sul do Pará. tratar de expressão partitiva.
Um quinto dos homens eram de cor escura. b) Em "Existe atualmente, no Brasil, cerca de 60 museus",
a concordância está correta, uma vez que o núcleo do sujeito é
- Concordância com percentuais: O verbo deve concordar "cerca".
com o número expresso na porcentagem: c) Na frase "Hão de se garantir as condições necessárias à
Só 1% dos eleitores se absteve de votar. conservação das obras de arte", o verbo "haver" deveria estar
Só 2% dos eleitores se abstiveram de votar. no singular, uma vez que é impessoal.
Foram destruídos 20% da mata. d) Em "Acredita-se que 25% da população frequentem
“Cerca de 40% do território ficam abaixo de 200 metros.” ambientes culturais", a concordância está correta, uma vez que
(Antônio Hauaiss) a porcentagem é o núcleo do segmento nominal.
e) Na frase "A maioria das pessoas não frequentam o
Em casos como o da última frase, a concordância efetua-se, museu", o verbo encontra-se no plural por concordar com
pela lógica, no feminino (oitenta e duas entre cem mulheres), "pessoas", ainda que pudesse, no singular, concordar com
ou, seguindo o uso geral, no masculino, por se considerar a "maioria".
porcentagem um conjunto numérico invariável em gênero.
02. (TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário -
- Concordância com o pronome nós subentendido: O Oficial de Justiça Avaliador Federal – FCC/2016)
verbo concorda com o pronome subentendido nós em frases
do tipo: Revolução
Todos estávamos preocupados. (= Todos nós estávamos
preocupados.) Notícias de homens processados nos Estados Unidos por
Os dois vivíamos felizes. (=Nós dois vivíamos felizes.) assédio sexual quando só o que fizeram foi uma gracinha ou
“Ficamos por aqui, insatisfeitos, os seus amigos.” (Carlos um gesto são vistas aqui como muito escândalo por pouca
Drummond de Andrade) coisa e mais uma prova da hipocrisia americana em matéria de
sexo. A hipocrisia existe, mas o aparente exagero tem a ver com
- Não restam senão ruínas: Em frases negativas em que a luta da mulher americana para mudar um quadro de
senão equivale a mais que, a não ser, e vem seguido de pressupostos e tabus tão machistas lá quanto em qualquer país
substantivo no plural, costuma-se usar o verbo no plural, latino, e que só nos parece exagerada porque ainda não chegou
fazendo-o concordar com o sujeito oculto outras coisas. aqui com a mesma força. As mulheres americanas não estão
Exemplos: mais para brincadeira, em nenhum sentido.
Do antigo templo grego não restam senão ruínas. (Isto é: A definição de estupro é a grande questão atual. Discute-
não restam outras coisas senão ruínas.) se, por exemplo, o que chamam de date rape, que não é o
Da velha casa não sobraram senão escombros. ataque sexual de um estranho ou sexo à força, mas o programa
“Para os lados do sul e poente, não se viam senão edifícios entre namorados ou conhecidos que acaba em sexo com o
queimados.” (Alexandre Herculano) consentimento relutante da mulher. Ou seja, sedução também
“Por toda a parte não se ouviam senão gemidos ou pode ser estupro. Isso não é apenas uma novidade, é uma
clamores.” (Rebelo da Silva) revolução. O homem que se criou convencido de que a mulher
resiste apenas para não parecer “fácil" não está preparado
Segundo alguns autores, pode-se, em tais frases, efetuar a para aceitar que a insistência, a promessa e a chantagem
concordância do verbo no singular com o sujeito subentendido sentimental ou profissional são etapas numa escalada em que
nada: o uso da força, se tudo o mais falhar, está implícito. E que
Do antigo templo grego não resta senão ruínas. (Ou seja: muitas vezes ele está estuprando quem pensava estar
não resta nada, senão ruínas.) convencionalmente conquistando. No dia em que o homem
Ali não se via senão (ou mais que) escombros. brasileiro aceitar isso, a revolução estará feita e só teremos de
As duas interpretações são boas, mas só a primeira tem dar graças a Deus por ela não ser retroativa.
tradição na língua. A verdadeira questão para as mulheres americanas é que o
homem pode recorrer a tudo na sociedade − desde a moral
- Concordância com formas gramaticais: Palavras no dominante até as estruturas corporativas e de poder − para
plural com sentido gramatical e função de sujeito exigem o seduzi-las, que toda essa civilização é no fundo um álibi
verbo no singular: montado para o estupro, e que elas só contam com um “não"
“Elas” é um pronome pessoal. (= A palavra elas é um desacreditado para se defender. Estão certas.
pronome pessoal.) (VERISSIMO, Luis Fernando. Sexo na cabeça. Rio de Janeiro:
Na placa estava “veiculos”, sem acento. Objetiva, 2002, p. 143)
“Contudo, mercadores não tem a força de vendilhões.”
(Machado de Assis) As exigências quanto à concordância verbal estão
plenamente atendidas na frase:
- Mais de, menos de: O verbo concorda com o substantivo a) A muitos poderá parecer um excesso as lutas travadas
que se segue a essas expressões: pelas mulheres americanas contra a prática de graves atitudes
Mais de cem pessoas perderam suas casas, na enchente. machistas.
Sobrou mais de uma cesta de pães.

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b) Acaba por se constituir numa grande hipocrisia as Todos os dias acompanhamos na televisão, nos jornais e
atitudes de quem se diz reger por determinada moral e pratica revistas as catástrofes climáticas e as mudanças que estão
outra, inteiramente diversa. ocorrendo, rapidamente, no clima mundial. Nunca se viu
c) É comum que aos homens ocorra estar no exercício de mudanças tão rápidas e com efeitos devastadores como tem
um direito quando, em suas práticas amorosas, impõem às ocorrido nos últimos anos.
mulheres o que as humilha e as desonra. A Europa tem sido castigada por ondas de calor de até 40
d) Couberam às mulheres americanas, cansadas de se graus centígrados, ciclones atingem o Brasil (principalmente a
submeterem aos machistas, travar duras lutas contra o assédio costa sul e sudeste), o número de desertos aumenta a cada dia,
sexual e outras práticas que as vitimam. fortes furacões causam mortes e destruição em várias regiões
e) A maioria dos homens não costuma levar a sério o “não” do planeta e as calotas polares estão derretendo (fator que
que, saindo das bocas das namoradas, ressoam como se fosse pode ocasionar o avanço dos oceanos sobre cidades
tão somente uma fingida evasiva. litorâneas). O que pode estar provocando tudo isso? Os
cientistas são unânimes em afirmar que o aquecimento global
03. (MPE-SP – Oficial de Promotoria I – VUNESP/2016) está relacionado a todos estes acontecimentos.
Pesquisadores do clima mundial afirmam que este
Fora do jogo aquecimento global está ocorrendo em função do aumento da
emissão de gases poluentes, principalmente, derivados da
Quando a economia muda de direção, há variáveis que logo queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, etc.), na
se alteram, como o tamanho das jornadas de trabalho e o atmosfera. Estes gases (ozônio, dióxido de carbono, metano,
pagamento de horas extras, e outras que respondem de forma óxido nitroso e monóxido de carbono) formam uma camada de
mais lenta, como o emprego e o mercado de crédito. poluentes, de difícil dispersão, causando o famoso efeito
Tendências negativas nesses últimos indicadores, por isso estufa. Este fenômeno ocorre, pois estes gases absorvem
mesmo, costumam ser duradouras. grande parte da radiação infravermelha emitida pela Terra,
Daí por que são preocupantes os dados mais recentes da dificultando a dispersão do calor.
Associação Nacional dos Birôs de Crédito, que congrega O desmatamento e a queimada de florestas e matas
empresas do setor de crédito e financiamento. também colabora para este processo. Os raios do Sol atingem
Segundo a entidade, havia, em outubro, 59 milhões de o solo e irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de
consumidores impedidos de obter novos créditos por não poluentes dificulta a dispersão do calor, o resultado é o
estarem em dia com suas obrigações. Trata-se de alta de 1,8 aumento da temperatura global. Embora este fenômeno
milhão em dois meses. ocorra de forma mais evidente nas grandes cidades, já se
Causa consternação conhecer a principal razão citada verificam suas consequências em nível global.
pelos consumidores para deixar de pagar as dívidas: a perda (...)
de emprego, que tem forte correlação com a capacidade de O protocolo de Kioto é um acordo internacional que visa à
pagamento das famílias. redução da emissão dos poluentes que aumentam o efeito
Até há pouco, as empresas evitavam demitir, pois tendem estufa no planeta. Entrou em vigor em 16 fevereiro de 2005. O
a perder investimentos em treinamento e incorrer em custos principal objetivo é que ocorra a diminuição da temperatura
trabalhistas. Dado o colapso da atividade econômica, porém, global nos próximos anos. Infelizmente os Estados Unidos, país
jogaram a toalha. que mais emite poluentes no mundo, não aceitou o acordo,
O impacto negativo da disponibilidade de crédito é pois afirmou que ele prejudicaria o desenvolvimento
imediato. O indivíduo não só perde a capacidade de pagamento industrial do país.
mas também enfrenta grande dificuldade para obter novos (...)
recursos, pois não possui carteira de trabalho assinada.
Tem-se aí outro aspecto perverso da recessão, que se soma (http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.
às muitas evidências de reversão de padrões positivos da htm)
última década – o aumento da informalidade, o retorno de
jovens ao mercado de trabalho e a alta do desemprego. Marque a opção em que há total observância às regras de
(Folha de S.Paulo, 08.12.2015. Adaptado) concordância verbal:
a) “Pesquisadores do clima mundial afirmam que este
Assinale a alternativa correta quanto à concordância aquecimento global está ocorrendo em função”
verbal. b) “Nunca se viu mudanças tão rápidas e com efeitos
a) A mudança de direção da economia fazem com que se devastadores”
altere o tamanho das jornadas de trabalho, por exemplo. c) “O desmatamento e a queimada de florestas e matas
b) Existe indivíduos que, sem carteira de trabalho também colabora para este processo”
assinada, enfrentam grande dificuldade para obter novos d) “Infelizmente os Estados Unidos, país que mais emite
recursos. poluentes no mundo, não aceitou o acordo”
c) Os investimentos realizados e os custos trabalhistas
fizeram com que muitas empresas optassem por manter seus 05. (COPEL – Contador Júnior - NC-UFPR/2016)
funcionários. Assinale a alternativa em que os verbos sublinhados estão
d) São as dívidas que faz com que grande número dos corretamente flexionados quanto à concordância verbal
consumidores não estejam em dia com suas obrigações. a) A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou
e) Dados recentes da Associação Nacional dos Birôs de recentemente a nova edição do relatório Smoke-free movies
Crédito mostra que 59 milhões de consumidores não pode (Filmes sem cigarro), em que recomenda que os filmes que
obter novos créditos. exibem imagens de pessoas fumando deveria receber
classificação indicativa para adultos.
04. (CONFERE – Assistente Administrativo VII – b) Pesquisas mostram que os filmes produzidos em seis
INSTITUTO CIDADES/2016) países europeus, que alcançaram bilheterias elevadas
(incluindo alemães, ingleses e italianos), continha cenas de
AQUECIMENTO GLOBAL (com adaptações) pessoas fumando em filmes classificados para menores de 18
anos.

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APOSTILAS OPÇÃO

c) Para ela, a indústria do tabaco está usando a “telona”


como uma espécie de última fronteira para anúncios, 05. Resposta C
mensagens subliminares e patrocínios, já que uma série de a) A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou
medidas em diversos países passou a restringir a publicidade recentemente a nova edição do relatório Smoke-free
do tabaco. movies (Filmes sem cigarro), em que recomenda que os
d) E 90% dos filmes argentinos também exibiu imagens de filmes que exibem imagens de pessoas
fumo em filmes para jovens. fumando deveriam receber classificação indicativa para
e) Os especialistas da organização citam estudos que adultos.
mostram que quatro em cada dez crianças começa a fumar b) Pesquisas mostram que os filmes produzidos em seis
depois de ver atores famosos dando suas “pitadas” nos filmes. países europeus, que alcançaram bilheterias elevadas
(incluindo alemães, ingleses e italianos), continham cenas de
Respostas pessoas fumando em filmes classificados para menores de 18
anos.
01. Resposta E c) Para ela, a indústria do tabaco está usando a “telona”
Aqui temos um caso de coletivo partitivo, ou seja, quando como uma espécie de última fronteira para anúncios,
o sujeito é um coletivo ou partitivo (exército, alcateia, mensagens subliminares e patrocínios, já que uma série de
rebanho, a maior parte de, a maioria dos etc.) seguido de medidas em diversos países passou a restringir a publicidade
complemento plural, a concordância verbal pode ser feita do tabaco.
com o verbo no singular (concordando com o núcleo do d) E 90% dos filmes
coletivo partitivo) ou no plural (concordando com o argentinos também exibiram imagens de fumo em filmes
complemento). ex: A maioria dos viciados não para jovens.
consegue/conseguem libertar-se da dependência. e) Os especialistas da organização citam estudos que
mostram que quatro em cada dez crianças começam a fumar
02. Resposta C depois de ver atores famosos dando suas “pitadas” nos filmes.
A (INCORRETO): A muitos poderá (PODERÃO) parecer
um excesso as lutas travadas pelas mulheres americanas
contra a prática de graves atitudes machistas.
B (INCORRETO): Acaba (ACABAM) por se constituir numa Regências nominal e verbal.
grande hipocrisia as atitudes de quem se diz reger por
determinada moral e pratica outra, inteiramente
diversa.
C (GABARITO): É comum que aos homens ocorra estar Regência Nominal e Verbal
no exercício de um direito quando, em suas práticas
amorosas, impõem às mulheres o que as humilha e as Regência Nominal
desonra.
D (INCORRETA): Couberam (COUBE) às mulheres Regência nominal é a relação de dependência que se
americanas, cansadas de se submeterem aos estabelece entre o nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e
machistas, travar duras lutas contra o assédio sexual e o termo por ele regido. Certos substantivos e adjetivos
outras práticas que as vitimam. admitem mais de uma regência. Na regência nominal o
E (INCORRETA): A maioria dos homens não costuma principal papel é desempenhado pela preposição.
levar a sério o “não” que, saindo das bocas das No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta
namoradas, ressoam (RESSOA) como se fosse tão somente que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime
uma fingida evasiva. dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo
significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos.
03. Resposta C Observe o exemplo:
A) A mudança de direção da economia FAZ com que se Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos
altere o tamanho das jornadas de trabalho, por exemplo. regem complementos introduzidos pela preposição "a".
B) EXISTEM indivíduos que, sem carteira de trabalho Obedecer a algo/ a alguém.
assinada, enfrentam grande dificuldade para obter Obediente a algo/ a alguém.
novos recursos.
D) São as dívidas que FAZEM com que grande Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da
número dos consumidores não estejam em dia com preposição ou preposições que os regem. Observe-os
suas obrigações. atentamente e procure, sempre que possível, associar esses
E) Dados recentes da Associação Nacional dos Birôs de nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.
Crédito MOSTRAM que 59 milhões de consumidores não
pode obter novos créditos. Este cargo não é acessível a
Acessível A
todos
04. Resposta A A O acesso para a região ficou
b) “Nunca se VIRAM mudanças tão rápidas e com efeitos Acesso
PARA impossível
devastadores” (Mudanças são vistas) A Todos estavam acostumados a
c) “O desmatamento e a queimada de florestas e matas Acostumado
COM ouví-lo
também colaboram para este processo”
Foi difícil adaptar-me a esse
d) “Infelizmente os Estados Unidos, país que mais emite Adaptado A
clima
poluentes no mundo, não ACEITARAM o acordo” (OS
COM
ESTADOS UNIDOS). Tinha um jeito afável para com
Afável PARA
os turistas
COM
Com artigo no singular ou SEM ARTIGO > SINGULAR.
COM Ficaram aflitos com o resultado
EX: Minas Gerais é um lindo estado! Aflito
POR do teste
Com artigo plural, o verbo fica no plural:
EX: Os Estados Unidos aceitaram o acordo. A Sua saída não foi agradável à
Agradável
DE equipe

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APOSTILAS OPÇÃO

A Texto II
Alheio Estavam alheios às críticas
DE Relatórios
A
Aliado O rústico aliado com o moderno Relatórios de circulação restrita são dirigidos a leitores de
COM
O professor fez alusão à prova perfil bem específico. Os relatórios de inquérito, por exemplo,
Alusão A são lidos pelas pessoas diretamente envolvidas na
final
A Ele demonstrava grande amor à investigação de que tratam. Um relatório de inquérito criminal
Amor terá como leitores preferenciais delegados, advogados, juízes
POR namorada
A e promotores.
Antipatia Sentia antipatia por ela Autores de relatórios que têm leitores definidos podem
POR
A pressupor que compartilham com seus leitores um
Apto Estava apto para ocupar o cargo conhecimento geral sobre a questão abordada. Nesse sentido,
PARA
A podem fazer um texto que focalize aspectos específicos sem
Aversão Sempre tive aversão à política terem a necessidade de apresentar informações prévias.
POR
DE A certeza de encontrá-lo Isso não acontece com relatórios de circulação mais ampla.
Certeza Nesse caso, os autores do relatório devem levar em
EM novamente a animou
O projeto está coerente com a consideração o fato de terem como interlocutores pessoas que
Coerente COM se interessam pelo assunto abordado, mas não têm qualquer
proposta
conhecimento sobre ele. No momento de elaborar o relatório,
Essa nova versão é compatível
Compatível COM será preciso levar esse fato em consideração e introduzir, no
com meu aparelho
texto, todas as informações necessárias para garantir que os
Equivalente A Um quilo equivale a mil gramas leitores possam acompanhar os dados apresentados, a análise
feita e a conclusão decorrente dessa análise.
Favorável A Sou favorável à sua candidatura
“Relatórios de circulação restrita são dirigidos a leitores de
DE Tenho muito gosto em
Gosto perfil bem específico".
EM participar desta brincadeira
Grata a todos que me ensinaram
Grato A No caso desse segmento do texto, a preposição a é de uso
a ensinar
gramatical, pois é exigida pela regência do verbo dirigir.
A
Horror Tinha horror a quiabo refogado
DE
Assinale a opção que indica a frase em que a preposição “a"
A A medida foi necessária para introduz um adjunto e não um complemento.
Necessárío
PARA acabar com tanta dúvida a) O Brasil dá Deus a quem não tem nozes, dentes etc.
As regras são passíveis de b) É preciso passar o Brasil a limpo.
Passível DE
mudanças c) Um memorando serve não para informar a quem o lê,
Preferível A Tudo era preferível à sua queixa mas para proteger quem o escreve.
d) Quem é burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o
A Os vencedores estavam carregue.
Próximo
DE próximos dos fãs e) O desenvolvimento é uma receita dos economistas para
Residente EM Eles residem em minha cidade promover os miseráveis a pobres – e, às vezes, vice-versa.
A 02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem
COM sinto......simpatia.
DE (A) a, por, menos
Respeito ENTRE É necessário o respeito às leis (B) do que, por, menos
PARA (C) a, para, menos
COM (D) do que, com, menos
POR (E) do que, para, menos
COM
DE Ficaram satisfeitos com o 03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser
Satisfeito
EM desempenho do jogador seguidos pela mesma preposição:
POR (A) ávido, bom, inconsequente
Essa questão é semelhante à (B) indigno, odioso, perito
Semelhante A
outra (C) leal, limpo, oneroso
Pessoas que sofrem com insônia (D) orgulhoso, rico, sedento
Sensível A podem ser mais (E) oposto, pálido, sábio
sensíveis à dor
Minha casa está situada na 04. "As mulheres da noite,......o poeta faz alusão a colorir
Situado EM
Avenida Internacional Aracaju,........coração bate de noite, no silêncio". A opção que
Suspeito DE O suspeito do furto foi preso completa corretamente as lacunas da frase acima é:
(A) as quais, de cujo
A (B) a que, no qual
Útil Esse livro é útil para os estudos
PARA (C) de que, o qual
Vazio DE Minha vida está vazia de sonhos (D) às quais, cujo
(E) que, em cujo

Questões 05. (Prefeitura de Florianópolis/SC – Auxiliar de Sala -


FEPESE/2016)
01. (CODEBA – Analista Portuário – Administrador –
FGV/2016)

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APOSTILAS OPÇÃO

A linguagem poética 08. Dentre as frases abaixo, uma apenas apresenta a


regência nominal correta. Assinale-a:
Em relação à prosa comum, o poema se define de certas (A) Ele não é digno a ser seu amigo.
restrições e de certas liberdades. Frequentemente se confunde (B) Baseado laudos médicos, concedeu-lhe a licença.
a poesia com o verso. Na sua origem, o verso tem uma função (C) A atitude do Juiz é isenta de qualquer restrição.
mneumotécnica (= técnica de memorizar); os textos (D) Ele se diz especialista para com computadores
narrativos, líricos e mesmo históricos e didáticos eram eletrônicos.
comunicados oralmente, e os versos – repetição de um mesmo (E) A equipe foi favorável por sua candidatura.
número de sílabas ou de um número fixo de acentos tônicos e
eventualmente repetição de uma mesma sonoridade (rima) – Respostas
facilitavam a memorização. Mais tarde o verso se tornou um
meio de enfeitar o discurso, meio que se desvalorizou pouco a 01. Resposta B
pouco: a poesia contemporânea é rimada, mas raramente a) O Brasil dá Deus a quem não tem nozes, dentes etc.
versificada. Na verdade o valor poético do verso decorre de COMPLMENTA O VERO
suas relações com o ritmo, com a sintaxe, com as sonoridades, b) É preciso passar o Brasil a limpo. NÃO COMPLEMENTA
com o sentido das palavras. O poema é um todo. O VERBO . É O GABARITO.
(…) c) Um memorando serve não para informar a quem o lê,
Os poetas enfraquecem a sintaxe, fazendo-a ajustar-se às mas para proteger quem o escreve.COMPLEMENTA O VERBO
exigências do verso e da expressão poética. Sem se permitir d) Quem é burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o
verdadeiras incorreções gramaticais, eles se permitem carregue.COMPLEMENTA O VERBO
“licenças poéticas". e) O desenvolvimento é uma receita dos economistas
Além disso, eles trabalham o sentido das palavras em para promover os miseráveis a pobres – e, às vezes, vice-
direções contrárias: seja dando a certos termos uma extensão versa. COMPLEMENTA O VERBO
ou uma indeterminação inusitadas; seja utilizando sentidos
raros, em desuso ou novos; seja criando novas palavras. 02. Resposta A
Tais liberdades aparecem mais particularmente na O verbo preferir é acompanhado pela preposição “A”.
utilização de imagens. Assim, Jean Cohen, ao estudar o
processo de fabricação das comparações poéticas, observa que 03. Resposta D
a linguagem corrente faz espontaneamente apelo a Orgulhoso por
comparações “razoáveis" (pertinentes) do tipo “a terra é Rico por
redonda como uma laranja" (a redondeza é efetivamente uma Sedento por
qualidade comum à terra e a uma laranja), ao passo que a
linguagem poética fabrica comparações inusitadas tais como: 04. Resposta D
“Belo como a coisa nova/Na prateleira até então vazia" (João “Às quais” retoma o termo “as mulheres”.
Cabral de Melo Neto). Ou, então estranhas como: “A terra é azul “Cujo” – pronome utilizado no sentido de posse, fazendo
como uma laranja" (Paul Éluard). referência ao termo antecedente e ao substantivo
Francis Vanoye subsequente.
Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal.
a) Chamaram Jean de poeta. 05. Resposta A
b) “Não obedeço a rima das estrofes”, disse o poeta. a) Chamaram Jean de poeta. Correto.
c) Todos os escritores preferem o elogio do que a crítica b) "Não obedeço a rima das estrofes”, disse o poeta. Não
d) Passou no cinema o filme sobre aquele poeta que gosto obedeço à rima.
muito. c) Todos os escritores preferem o elogio do que a crítica.
e) Eu me lembrei os dias da leitura de poesia na escola. Preferem o elogio à crítica.
d) Passou no cinema o filme sobre aquele poeta que gosto
06. Assinale a alternativa que contém as respostas muito. Poeta de que gosto muito.
corretas. e) Eu me lembrei os dias da leitura de poesia na escola.
I. Visando apenas os seus próprios interesses, ele, Eu me lembrei dos dias OU eu lembrei os dias.
involuntariamente, prejudicou toda uma família.
II. Como era orgulhoso, preferiu declarar falida a firma a 06. Resposta A
aceitar qualquer ajuda do sogro. Frase incorreta: I. Visando apenas os seus próprios
III. Desde criança sempre aspirava a uma posição de interesses, ele, involuntariamente, prejudicou toda uma
destaque, embora fosse tão humilde. família.
IV. Aspirando o perfume das centenas de flores que Correção: I. Visando apenas Aos seus próprios interesses,
enfeitavam a sala, desmaiou. ele, involuntariamente, prejudicou toda uma família.

(A) II, III, IV 07. Resposta C


(B) I, II, III Correção: Ele foi acusado de roubar aquela maleta.
(C) I, III, IV
(D) I, III 08. Resposta C
(E) I, II Alternativa A: digno DE
Alternativa B: baseado EM/SOBRE
07. Assinale o item em que há erro quanto à regência: Alternativa D: especialista EM
(A) São essas as atitudes de que discordo. Alternativa E: favorável A
(B) Há muito já lhe perdoei.
(C) Ele foi acusadso por roubar aquela maleta. Regência Verbal
(D) Costumo obedecer a preceitos éticos.
(E) A enfermeira assistiu irrepreensivelmente o doente. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos
e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). O

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APOSTILAS OPÇÃO

estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa sempre assiste aos alunos com carinho. (VTI). Emprega-se
capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de com preposição no sentido de caber, ter direito ou razão: O
conhecermos as diversas significações que um verbo pode direito de se defender assiste a todos. (VTI). No sentido de
assumir com a simples mudança ou retirada de uma morar, residir é intransitivo e exige a preposição em: Assiste
preposição. em Manaus por muito tempo. (VI).

A mãe agrada o filho. (agradar significa acariciar, Atender: empregado sem preposição no sentido de
contentar) receber alguém com atenção: O médico atendeu o cliente
A mãe agrada ao filho. (agradar significa "causar agrado ou pacientemente. (VTD). No sentido de ouvir, conceder: Deus
prazer", satisfazer) atendeu minhas preces. (VTD); Atenderemos quaisquer pedido
Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de via internet. Emprega-se com preposição no sentido de dar
"agradar a alguém". atenção a alguém: Lamento não poder atender à solicitação
de recursos. (VTI). Emprega-se com preposição no sentido de
O conhecimento do uso adequado das preposições é um ouvir com atenção o que alguém diz: Atenda ao telefone, por
dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e favor; Atenda o telefone. (preferência brasileira).
também nominal). As preposições são capazes de modificar
completamente o sentido do que se está sendo dito. Avisar: avisar alguém de alguma coisa: O chefe avisou os
funcionários de que os documentos estavam prontos. (VTD);
Cheguei ao metrô. Avisaremos os clientes da mudança de endereço. (VTD). Já tem
Cheguei no metrô. tradição na língua o uso de avisar como OI de pessoa e OD de
coisa; Avisamos aos clientes que vamos atendê-los em novo
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo endereço.
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração
"Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o Bater: emprega-se com preposição no sentido de dar
lugar a que se vai, possui, no padrão culto da língua, sentido pancadas em alguém: Os irmãos batiam nele (ou batiam-lhe)
diferente. Aliás, é muito comum existirem divergências entre a à toa; Nervoso, entrou em casa e bateu a porta; (fechou com
regência coloquial, cotidiana de alguns verbos, e a regência força); Foi logo batendo à porta; (bater junto à porta, para
culta. alguém abrir); Para que ele pudesse ouvir, era preciso bater na
porta de seu quarto; (dar pancadas).
Abdicar: renunciar ao poder, a um cargo, título desistir.
Pode ser intransitivo (VI - não exige complemento) / transitivo Casar: Marina casou cedo e pobre. (VI não exige
direto (TD) ou transitivo indireto (TI + preposição): D. Pedro complemento). Você é realmente digno de casar com minha
abdicou em 1831. (VI); A vencedora abdicou o seu direto de filha. (VTI com preposição). Ela casou antes dos vinte anos.
rainha. (VTD); Nunca abdicarei de meus direitos. (VTI) (VTD sem preposição). O verbo casar pode vir acompanhado
de pronome reflexivo: Ela casou com o seu grande amor; ou Ela
Abraçar: emprega-se sem preposição no sentido de casou-se com seu grande amor.
apertar nos braços: A mãe abraçou-a com ternura. (VTD);
Abraçou-se a mim, chorando. (VTI) Chamar: emprega-se sem preposição no sentido de
convocar; O juiz chamou o réu à sua presença. (VTD).
Agradar: emprega-se com preposição no sentido de Emprega-se com ou sem preposição no sentido de
contentar, satisfazer.(VTI): A banda Legião Urbana agrada denominar, apelidar, construido com objeto + predicativo:
aos jovens. (VTI); Emprega-se sem preposição no sentido de Chamou-o covarde. (VTD) / Chamou-o de covarde. (VID);
acariciar, mimar: Márcio agradou a esposa com um lindo Chamou-lhe covarde. (VTI) / Chamou-lhe de covarde. (VTI);
presente. (VTD) Chamava por Deus nos momentos dificeis. (VTI).

Ajudar: emprega-se sem preposição; objeto direto de Chegar: o verbo chegar exige a preposição a quando indica
pessoa: Eu ajudava-a no serviço de casa. (VTD) lugar: Chegou ao aeroporto meio apressada. Como transitivo
direto (VTD) e intransitivo (VI) no sentido de aproximar;
Aludir: (=fazer alusão, referir-se a alguém), emprega-se Cheguei-me a ele.
com preposição: Na conversa aludiu vagamente ao seu novo
projeto. (VTI) Contentar-se: emprega-se com as preposições com, de,
em: Contentam-se com migalhas. (VTI); Contento-me em
Ansiar: emprega-se sem preposição no sentido de causar aplaudir daqui.
mal-estar, angustiar: A emoção ansiava-me. (VTD);
Emprega-se com preposição no sentido de desejar Custar: é transitivo direto no sentido de ter valor de, ser
ardentemente por: Ansiava por vê-lo novamente. (VTI) caro. Este computador custa muito caro. (VTD). No sentido de
ser difícil é TI. É conjugado como verbo reflexivo, na 3ª
Aspirar: emprega-se sem preposição no sentido de pessoa do singular, e seu sujeito é uma oração reduzida de
respirar, cheirar: Aspiramos um ar excelente, no campo. infinitivo: Custou-me pegar um táxi; O carro custou-me todas as
(VTD) Emprega-se com preposição no sentido de querer economias. É transitivo direto e indireto (TDI) no sentido de
muito, ter por objetivo: Gincizinho aspira ao cargo de diretor acarretar: A imprudência custou-lhe lágrimas amargas.
da Penitenciária. (VTI) (VTDI).

Assistir: emprega-se com preposição no sentido de ver, Ensinar: é intransitivo no sentido de doutrinar, pregar:
presenciar: Todos assistíamos à novela Almas Gêmeas. (VTI) Minha mãe ensina na FAI. (VTI). É transitivo direto no sentido
Nesse caso, o verbo não aceita o pronome lhe, mas apenas os de educar: Nem todos ensinam as crianças. (VTD). É transitivo
pronomes pessoais retos + preposição: O filme é ótimo. Todos direto e indireto no sentido de dar ínstrução sobre: Ensino os
querem assistir a ele. (VTI). Emprega-se sem / com exercícios mais dificeis aos meus alunos. (VTDI).
preposição no sentido de socorrer, ajudar: A professora
sempre assiste os alunos com carinho. (VTD); A professora

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APOSTILAS OPÇÃO

Entreter: empregado como divertir-se exige as pedir que; A secretária pediu para sair mais cedo. (pediu
preposições: a, com, em: Entretínhamo-nos em recordar o licença); A direção pediu que todos os funcionários
passado. comparecessem à reunião.

Esquecer / Lembrar: estes verbos admitem as Perdoar: emprega-se sem preposição no sentido de
construções: Esqueci o endereço dele; Lembrei um caso perdoar coisa, é TD: Devemos perdoar as ofensas. (VTD).
interessante; Esqueci-me do endereço dele; Lembrei-me de Emprega-se com preposição no sentido de conceder o perdão
um caso interessante. Esqueceu- me seu endereço; Lembra-me à pessoa, é TI: Perdoemos aos nossos inimigos. (VTI).
um caso interessante. Você pode observar que no 1º exemplo Emprega-se como verbo transitivo direto e indireto no sentido
tanto o verbo esquecer como lembrar, não são pronominais, de ter necessidade: A mãe perdoou ao filho a mentira. (VTDI).
isto é, não exigem os pronomes me, se, lhe, são transitivos Admite voz passiva: Todos serão perdoados pelos pais.
diretos (TD). Nos outros exemplos, ambos os verbos, esquecer
e lembrar, exigem o pronome e a preposição de; são Permitir: empregado com preposição, exige objeto
transitivos indiretos e pronominais. No exemplo o verbo indireto de pessoa: O médico permitiu ao paciente que falasse.
esquecer está empregado no sentido de apagar da memória e (VTI). Constrói-se com o pronome lhe e não o: O assistente
o verbo lembrar está empregado no sentido de vir à memória. permitiu-lhe que entrasse. Não se usa a preposição de antes de
Na língua culta, os verbos esquecer e lembrar quando usados oração infinitiva: Os pais não lhe permite ir sozinha à festa do
com a preposição de, exigem os pronomes. Peão. (e não de ir sozinha).

Implicar: emprega-se com preposição no sentido de ter Pisar: é verbo transitivo direto VTD: Tinha pisado o
implicância com alguém: Nunca implico com meus alunos. continente brasileiro. (não exige a preposição no).
(VTI). Emprega-se sem preposição no sentido de acarretar,
envolver: A queda do dólar implica corrida ao over. (VTD); O Precisar: emprega-se com preposição no sentido de ter
desestímulo ao álcool combustível implica uma volta ao necessidade, é VTI: As crianças carentes precisam de melhor
passado. (VTD). Emprega-se sem preposição no sentido de atendimento médico. (VTI). Quando o verbo precisar vier
embaraçar, comprometer: O vizinho implicou-o naquele acompanhado de infinítivo, pode-se usar a preposição de; a
caso de estupro. (VTD). É inadequada a regência do verbo língua moderna tende a dispensá-la: Você é rico, não precisa
implicar em: - Implicou em confusão. trabalhar muito. Usa-se, às vezes na voz passiva, com sujeito
indeterminado: Precisa-se de funcionários competentes.
Informar: o verbo informar possui duas construções, VTD (sujeito indeterminado). Emprega-se sem preposição no
e VTI: Informei-o que sua aposentaria saiu. (VTD); Informei-lhe sentido de indicar com exatidão: Perdeu muito dinheiro no
que sua aposentaria saiu. (VTI); Informou-se das mudanças jogo, mas não sabe precisar a quantia. (VTD).
logo cedo. (inteirar-se, verbo pronominal)
Preferir: emprega-se sem preposição no sentido de ter
Investir: emprega-se com preposição (com ou contra) no preferência. (sem escolha): Prefiro dias mais quentes. (VTD).
sentido de atacar, é TI: O touro Bandido investiu contra Tião. Preferir - VTDI, no sentido de ter preferência, exige a
Empregado como verbo transitivo direto e índireto, no sentido preposição a: Prefiro dançar a nadar; Prefiro chocolate a doce
de dar posse: O prefeito investiu Renata no cargo de assessora. de leite. Na linguagem formal, culta, é inadequado usar este
(VTDI). Emprega-se sem preposição no sentido também de verbo reforçado pelas palavras ou expressões: antes, mais,
empregar dinheiro, é TD: Nós investimos parte dos lucros em muito mais, mil vezes mais, do que.
pesquisas científicas. (VTD).
Presidir: emprega-se com objeto direto ou objeto indireto,
Morar: antes de substantivo rua, avenida, usa-se morar com a preposição a: O reitor presidiu à sessão; O reitor presidiu
com a preposição em: D. Marina Falcão mora na Rua Dorival a sessão.
de Barros.
Prevenir: admite as construções: - A paciência previne
Namorar: a regência correta deste verbo é namorar dissabores; Preveni minha turma; Quero preveni-los;
alguém e NÃO namorar com alguém: Meu filho, Paulo César, Prevenimo-nos para o exame final.
namora Cristiane. Marcelo namora Raquel.
Proceder: emprega-se como verbo intransitivo no sentido
Necessitar: emprega-se com verbo transitivo direto ou de ter fundamento: Sua tese não procede. (VI). Emprega-se
indireto, no sentido de precisar: Necessitávamos o seu apoio; com a preposição de no sentido de originar-se, vir de: Muitos
Necessitávamos de seu apoio. (VTDI). males da humanidade procedem da falta de respeito ao
próximo. Emprega-se como transitivo indireto com a
Obedecer / Desobedecer: emprega-se com verbo preposição a, no sentido de dar início: Procederemos a uma
transitivo direto e indireto no sentido de cumprir ordens: investigação rigorosa. (VTI)
Obedecia às irmãs e irmãos; Não desobedecia às leis de
trânsito. Querer: emprega-se sem preposição no sentido de
desejar: Quero vê-lo ainda hoje. (VTD). Emprega-se com
Pagar: emprega-se sem preposição no sentido de saldar preposição no sentido de gostar, ter afeto, amar: Quero
coisa, é VTI: Cida pagou o pão; Paguei a costura. Emprega-se muito bem às minhas cunhadas Vera e Ceiça.
com preposição no sentido de remunerar pessoa, é VTI: Cida
pagou ao padeiro; Paguei à costureira. Emprega-se como Residir: como o verbo morar, o verbo responder,
verbo transitivo direto e indireto, pagar alguma coisa a constrói-se com a preposição em: Residimos em Lucélia, na
alguém: Cida pagou a carne ao açougueiro. Por alguma coisa: Avenida Internacional. Residente e residência têm a mesma
Quanto pagou pelo carro? Sem complemento: Assistiu aos regencia de residir em.
jogos sem pagar.
Responder: emprega-se no sentido de responder alguma
Pedir: somente se usa pedir para, quando, entre pedir e o coisa a alguém: O senador respondeu ao jornalista que o
para, puder colocar a palavra licença. Caso contrário, díz-se projeto do rio São Francisco estava no final. (VTDI).

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APOSTILAS OPÇÃO

Emprega-se no sentido de responder a uma carta, a uma Não se deve dar o mesmo complemento a verbos de
pergunta: Enrolou, enrolou e não respondeu à pergunta do regências diferentes, como: Entrou e saiu de casa; Assisti e
professor. gostei da peça. Corrija-se para: Entrou na casa e saiu dela;
Assisti à peça e gostei dela.
Reverter: emprega-se no sentido de regressar, voltar ao As formas oblíquas o, a, os, as funcionam como
estado primitivo: Depois de aposentar-se reverteu à ativa. complemento de verbos transitivos diretos, enquanto as
Emprega-se no sentido de voltar para a posse de alguém: As formas lhe, lhes funcionam como transitivos indiretos que
jóias reverterão ao seu verdadeiro dono. Emprega-se no exigem a preposição a. Convidei as amigas. Convidei-as;
sentido de destinar-se: A renda da festa será revertida em Obedeço ao mestre. Obedeço- lhe.
beneficio da Casa da Sopa.
Questões
Simpatizar / Antipatizar: empregam-se com a
preposição com: Sempre simpatizei com pessoas negras; 01. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Judiciária –
Antipatizei com ela desde o primeiro momento. Estes verbos FCC/2017)
não são pronominais, isto é, não exigem os pronomes me, se, Atenção: Para responder à questão, considere o texto
nos, etc: Simpatizei-me com você. (inadequado); Simpatizei abaixo.
com você. (adequado)
Amizade
Subir: Subiu ao céu; Subir à cabeça; Subir ao trono; Subir A amizade é um exercício de limites afetivos em
ao poder. Essas expressões exigem a preposição a. permanente desejo de expansão. Por mais completa que
pareça ser uma relação de amizade, ela vive também do que
Suceder: emprega-se com a preposição a no sentido de lhe falta e da esperança de que um dia nada venha a faltar. Com
substituir, vir depois: O descanso sucede ao trabalho. o tempo, aprendemos a esperar menos e a nos satisfazer com
a finitude dos sentimentos nossos e alheios, embora no fundo
Tocar: emprega-se no sentido de pôr a mão, tocar de nós ainda esperemos a súbita novidade que o amigo saberá
alguém, tocar em alguém: Não deixava tocar o / no gato revelar. Sendo um exercício bem-sucedido de tolerância e
doente. Emprega-se no sentido de comover, sensibilizar, paciência – amplamente recompensadas, diga-se – a amizade
usa-se com OD: O nascimento do filho tocou-o profundamente. é também a ansiedade e a expectativa de descobrirmos em nós,
Emprega-se no sentido de caber por sorte, herança, é OI: por intermédio do amigo, uma dimensão desconhecida do
Tocou-lhe, por herança, uma linda fazenda. Emprega-se no nosso ser.
sentido de ser da competência de, caber: Ao prefeito é que Há quem julgue que cabe ao amigo reconhecer e estimular
toca deferir ou indeferir o projeto. nossas melhores qualidades. Mas por que não esperar que o
valor maior da amizade está em ser ela um necessário e fiel
Visar: emprega-se sem preposição, como VTD, no sentido espelho de nossos defeitos? Não é preciso contar com o amigo
de apontar ou pôr visto: O garoto visou o inocente para conhecermos melhor nossas mais agudas imperfeições?
passarinho; O gerente visou a correspondência. Emprega-se Não cabe ao amigo a sinceridade de quem aponta nossa falha,
com preposição, como VTI, no sentido de desejar, pretender: pela esperança de que venhamos a corrigi-la? Se o nosso
Todos visam ao reconhecimento de seus esforços. adversário aponta nossas faltas no tom destrutivo de uma
acusação, o amigo as identifica com lealdade, para que nos
Casos Especiais compreendamos melhor.
Quando um amigo verdadeiro, por contingência da vida ou
Dar-se ao trabalho ou dar-se o trabalho? Ambas as imposição da morte, é afastado de nós, ficam dele, em nossa
construções são corretas. A primeira é mais aceita: Dava-se ao consciência, seus valores, seus juízos, suas percepções.
trabalho de responder tudo em Inglês. O mesmo se dá com: Perguntas como “O que diria ele sobre isso?” ou “O que faria
dar-se ao / o incômodo; poupar-se ao /o trabalho; dar-se ao /o ele com isso?” passam a nos ocorrer: são perspectivas dele que
luxo. se fixaram e continuam a agir como um parâmetro vivo e
importante. As marcas da amizade não desaparecem com a
Propor-se alguma coisa ou propor-se a alguma coisa? ausência do amigo, nem se enfraquecem como memórias
Propor-se, no sentido de ter em vista, dispor-se a, pode vir pálidas: continuam a ser referências para o que fazemos e
com ou sem a preposição a: Ela se propôs levá-lo/ a levá-lo ao pensamos.
circo. (CALÓGERAS, Bruno, inédito)

Passar revista a ou passar em revista? Ambas estão Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre
corretas, porém a segunda construção é mais frequente: O o texto:
presidente passou a tropa em revista. (A) Sendo falíveis, somos também sujeitos à toda sorte de
imperfeições, inclusive a própria amizade não se furta aquela
Em que pese a - expressão concessiva equivalendo a verdade.
ainda que custe a, apesar de, não obstante: “Em que pese aos (B) O autor do texto considera que, por maior e mais leal
inimigos do paraense, sinceramente confesso que o admiro.” que seja, uma amizade tem de contar com os limites da
(Graciliano Ramos) afetividade humana.
(C) A prática das grandes amizade supõem que os amigos
Observações Finais interajam através de sentimentos leais, de cujo valor não é fácil
discernir.
Os verbos transitivos indiretos (exceção ao verbo (D) Não se devem imaginar que os nossos defeitos
obedecer), não admitem voz passiva. Os exemplos citados escapem na observação do amigo, por onde, aliás, devemos ter
abaixo são considerados inadequados. boas expectativas.
O filme foi assistido pelos estudantes; O cargo era visado (E) Requer muita paciência e muita compreensão os
por todos; Os estudantes assistiram ao filme; Todos visavam momentos em que nosso amigo surpreende-nos os defeitos
ao cargo. que imaginávamos ocultos.

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APOSTILAS OPÇÃO

02. Assinale a opção em que o verbo chamar é empregado (B) Nunca aspirou ao cargo de gerência.
com o mesmo sentido que (C) A pasta que te falei está vazia.
apresenta em __ “No dia em que o chamaram de Ubirajara, (D) Desobedeceu às leis e foi multado.
Quaresma ficou reservado, taciturno e mudo”:
(A) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria; 04. Em todas as alternativas, o verbo grifado foi
(B) bateram à porta, chamando Rodrigo; empregado com regência certa, exceto em:
(C) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo (A) a vista de José Dias lembrou-me o que ele me dissera.
Diabo; (B) estou deserto e noite, e aspiro sociedade e luz.
(D) o chefe chamou-os para um diálogo franco; (C) custa-me dizer isto, mas antes peque por excesso;
(E) mandou chamar o médico com urgência. (D) redobrou de intensidade, como se obedecesse a voz do
mágico;
03. (Prefeitura de São José do Cerrito – SC - Técnico em (E) quando ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos.
Enfermagem – IESES/2017)
05. (TJM-SP - Escrevente Técnico Judiciário –
Ler e escrever no papel faz bem para o cérebro, diz VUNESP/2017)
estudo Uma frase escrita em conformidade com a norma-padrão
da língua é:
23 fev 2015 Adaptado de: (A) O pai alegou em que tinha sobrevivido dois anos com
http://www.soportugues.com.br/secoes/artigo.php?indice= sua própria comida.
116 Acesso em: 17 janeiro 2015 (B) O pai tentou persuadir o filho de que era capaz de
cozinhar.
Há óbvias vantagens em ler um livro num smartphone, (C) O pai não conseguiu convencer o filho que estava apto
tablet ou e-reader em vez de lê-lo no papel. No livro digital, é com cozinhar.
fácil buscar uma palavra qualquer ou consultar seu significado (D) O pai acabou revelando de que não estava preparado
num dicionário, por exemplo. de cozinhar.
Um e-reader que pesa apenas 200 gramas pode conter (E) O pai aludiu da época que tinha sobrevivido com sua
milhares de livros digitais que seriam pesados e volumosos se própria comida.
fossem de papel. Além disso, um e-book é geralmente mais
barato que seu equivalente impresso. 06. A regência verbal está correta em:
Mas a linguista americana Naomi Baron descobriu que ler (A) A funcionária aspirava ao cargo de chefia.
e escrever no papel é quase sempre melhor para o cérebro. (B) Custo a crer que ela ainda volte.
Naomi estudou os hábitos de leitura de 300 estudantes (C) Sua atitude implicará em demissão
universitários em quatro países – Estados Unidos, Alemanha, (D) Prefiro mais trabalhar que estudar.
Japão e Eslováquia. Ela reuniu seus achados no livro “Words
Onscreen: The Fate of Reading in a Digital World” (“Palavras 07. (Prefeitura de Piraúba – MG – Enfermeiro – MS
na Tela: O Destino da Leitura num Mundo Digital” – ainda sem Concursos/2017)
edição em português). 92% desses estudantes dizem que é
mais fácil se concentrar na leitura ao manusear um livro de Quanto à regência verbal, assinale a alternativa correta:
papel do que ao ler um livro digital. Naomi detalha, numa (A) Resido na Rua Monte Castelo.
entrevista ao site New Republic, o que os estudantes disseram (B) Ele sempre aspirou o cargo de diretor executivo.
sobre a leitura em dispositivos digitais: “A primeira coisa que (C) A peça não agradou os críticos.
dizem é que se distraem mais facilmente, eles são levados a (D) Adoro aspirar ao perfume das flores.
outras coisas. A segunda é que há cansaço visual, dor de cabeça
e desconforto físico.” 08. (IF-PE – Revisor de textos – IF-PE/2017)
Esta última reclamação parece se referir principalmente à Leia o TEXTO para responder à questão.
leitura em tablets e smartphones, já que os e-readers são
geralmente mais amigáveis aos olhos. Cuidado com os revizores
Segundo Naomi, embora a sensação subjetiva dos
estudantes seja de que aprendem menos em livros digitais, Todo escritor convive com um terror permanente: o do
testes não confirmam isso: “Se você aplica testes padronizados erro de revisão. O revisor é a pessoa mais importante na vida
de compreensão de passagens no texto, os resultados são mais de quem escreve. Ele tem o poder de vida ou de morte
ou menos os mesmos na tela ou na página impressa”, disse ela profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra
ao New Republic. ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser
Mas há benefícios observáveis da leitura no papel. Quem lê entendido ou não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou
um livro impresso, diz ela, tende a se dedicar à leitura de forma processado. Todo texto tem, na verdade, dois autores: quem o
mais contínua e por mais tempo. Além disso, tem mais chances escreveu e quem o revisou. Toda vez que manda um texto para
de reler o texto depois de tê-lo concluído. ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor,
Uma descoberta um pouco mais surpreendente é que esperando que seu parceiro não falhe. Não há escritor que não
escrever no papel – um hábito cada vez menos comum – empregue palavras como, por exemplo: “ônus” ou “carvalho” e
também traz benefícios. Naomi cita um estudo feito em 2012 depois fique metaforicamente de malas feitas, pronto para
na Universidade de Indiana com crianças em fase de fugir do país se as palavras não saírem impressas como no
alfabetização. Os pesquisadores de Indiana descobriram que original, por um lapso do revisor. Ou por sabotagem.
crianças que escrevem as letras no papel têm seus cérebros Sim, porque a paranoia autoral não tem limites. Muitos
ativados de forma mais intensa do que aquelas que digitam autores acreditam firmemente que existe uma conspiração de
letras num computador usando um teclado. Como revisores contra eles. Quando os revisores não deixam passar
consequência, o aprendizado é mais rápido para aquelas que erros de composição (hoje em dia, de digitação), fazem pior:
escrevem no papel. não corrigem os erros ortográficos e gramaticais do próprio
autor, deixando-o entregue às consequências dos seus
Assinale a alternativa em que há ERRO na regência verbal. próprios pecados de concordância, das suas crases indevidas e
(A) O livro a que me referia é este da vitrine.

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pronomes fora do lugar. O que é uma ignomínia. Ou será as palavras não saírem impressas como no original, por um
ignomia? Enfim, não se faz. lapso do revisor. Ou por sabotagem.” (1º parágrafo), o “lapso”
Pode-se imaginar o que uma conspiração organizada, ou “sabotagem” do revisor se daria por:
internacional, de revisores significaria para a nossa civilização.
Os revisores só não dominam o mundo porque ainda não se (A) coesão malfeita, oriunda de um problema de colocação
deram conta do poder que têm. Eles desestabilizariam pronominal.
qualquer regime com acentos indevidos e pontuações (B) imprecisão vocabular, que redundaria em erro de
maliciosas, além de decretos oficiais ininteligíveis. Grandes concordância nominal.
jornais seriam levados à falência por difamações involuntárias, (C) erro de regência verbal, implicando dificuldade na
exércitos inteiros seriam imobilizados por manuais de interpretação.
instrução militar sutilmente alterados, gerações de estudantes (D) uma confusão ortográfica, que provocaria modificação
seriam desencaminhadas por cartilhas ambíguas e fórmulas semântica no texto.
de química incompletas. E os efeitos de uma revisão (E) utilização de palavras eruditas, dando um caráter
subversiva na instrução médica são terríveis demais para demasiadamente culto ao texto.
contemplar.
Existe um exemplo histórico do que a revisão desatenta – Respostas
ou mal-intencionada – pode fazer. Uma das edições da Versão
Autorizada da Bíblia publicada na Inglaterra por iniciativa do 01. Resposta B
rei James I, no século XVII, ficou conhecida como a “Bíblia Má”, A - ERRADA. Sendo falíveis, somos também sujeitos à toda
porque a injunção “Não cometerás adultério” saiu, por um erro sorte de imperfeições, inclusive a própria amizade não se
de impressão, sem o “não”. Ninguém sabe se o volume de furta aquela verdade. [a / aquela]
adultérios entre os cristãos de fala inglesa aumentou em B - CORRETA. O autor do texto considera que, por maior e
decorrência dessa inesperada sanção bíblica até descobrirem mais leal que seja, uma amizade tem de contar com os limites
o erro, ou se o impressor e o revisor foram atirados numa da afetividade humana.
fogueira juntos, mas o fato prova que nem a palavra de Deus C - ERRADA. A prática das grandes amizade supõem que
está livre do poder dos revisores. os amigos interajam através de sentimentos leais, de cujo valor
A mesma bíblia do rei James serve como um alerta (ou não é fácil discernir. [amizades / supõe]
como o incentivo, dependendo de como se entender a história) D - ERRADA. Não se devem imaginar que os nossos
para a possibilidade que o revisor tem de interferir no texto. O defeitos escapem na observação do amigo, por onde, aliás,
objetivo de James I era fazer uma versão definitiva da Bíblia devemos ter boas expectativas. [deve]
em inglês, com aprovação real, para substituir todas as outras E - ERRADA. Requer muita paciência e muita
traduções da época, principalmente as que mostravam uma compreensão os momentos em que nosso amigo surpreende-
certa simpatia republicana nas entrelinhas como a Bíblia de nos os defeitos que imaginávamos ocultos. [requerem]
Genebra, feita por calvinistas e adotada pelos puritanos
ingleses, e que é a única Bíblia da História em que Adão e Eva 02. Resposta A
vestem calções. Para isso, James reuniu um time dividido entre Tanto no enunciado, quanto na alternativa “A”, o verbo
os que cuidariam do Velho e do Novo Testamento, das partes chamar foi empregado no sentido de “nomear”.
proféticas e das partes poéticas, etc. Especula-se que as
traduções dos trechos poéticos teriam sido distribuídas entre 03. Resposta C
os poetas praticantes da época, para revisarem e, se fosse o a) Quem se refere , refere-se a (VTD) = Correto
caso, melhorarem, desde que não traíssem o original. Entre os b) Aspirar no sentido de desejar é VTI ,regendo a
poetas em atividade na Inglaterra de James I estava William preposição a = Correto.
Shakespeare. O que explicaria o fato de o nome de Shakespeare c) O verbo falar admite várias transitividades :
aparecer no Salmo 46 – “shake” é a 46ª palavra do salmo a Ex 1 : Pedro falou com os amigos. Nesse caso é VTI.
contar do começo, “speare” a 46ª a contar do fim. Na tarefa de Essa é a situação acima, Ele Falou SOBRE (Preposição) a
revisor, e incerto sobre a sua permanência na História como pasta. Ele te falou da ( de + a) [Preposição + artigo] pasta.
sonetista ou dramaturgo, Shakespeare teria inserido seu nome Logo Essa foi a pasta que te falei está ERRADO, deveria ser
clandestina e disfarçadamente numa obra que sem dúvida : Essa foi a pasta de que te falei. Da qual falei.
sobreviveria aos séculos. (Infelizmente, diz Anthony Burgess, Ex 2 : Pedro falou bobagens. Pedro falou (Algo) ; Nesse caso
em cujo livro “A mouthful of air” a encontrei, há pouca é VTD e bobagens (OD).
probabilidade de esta história ser verdadeira. De qualquer Ex 3: Pedro falou bobagens ao professor (VTDI); falou algo
maneira, vale para ilustrar a tentação que todo revisor deve a alguém.
sentir de deixar sua marca, como grafite, na criação alheia.) D) Desobedecer ( VTI) ; Desobedece a.
Não posso me queixar dos revisores. Fora a vontade de
reuni-los em algum lugar, fechar a porta e dizer “Vamos 04. Resposta B
resolver de uma vez por todas a questão da colocação das O verbo “aspirar” é utilizado no sentido de “querer / ter
vírgulas, mesmo que haja mortos”, acho que me têm tratado por objetivo”, assim, ele precisa ser procedido pela preposição
bem. Até me protegem. Costumo atirar os pronomes numa “A”.
frase e deixá-los ficar onde caíram, certo de que o revisor os
colocará no lugar adequado. Sempre deixo a crase ao arbítrio 05. Resposta B
deles, que a usem se acharem que devem. E jamais uso a a) O pai alegou em que tinha sobrevivido dois anos com
palavra “medra”, para livrá-los da tentação. sua própria comida.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Cuidado com os revizores. VIP quem alega, alega algo - VTD - (o pai alegou que)
Exame, mar. 1995, p. 36-37. b) O pai tentou persuadir o filho de que era capaz de
cozinhar.
Em “Toda vez que manda um texto para ser publicado, o quem persuade , persuade alguém de algo - VTDI
autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que seu - (CORRETA)
parceiro não falhe. Não há escritor que não empregue palavras c) O pai não conseguiu convencer o filho que estava apto
como, por exemplo: “ônus” ou “carvalho” e depois fique com cozinhar.
metaforicamente de malas feitas, pronto para fugir do país se

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quem convence, convence alguém de algo - VTDI Para haver crase, é indispensável a presença da preposição
- (convencer o filho de que estava) “a”, que é um problema de regência. Por isso, quanto mais
d) O pai acabou revelando de que não estava preparado conhecer a regência de certos verbos e nomes, mais fácil será
de cozinhar. para ele ter o domínio sobre a crase.
quem revela, revela algo - VTD - (o pai
acabou revelando que) Não existe Crase
e) O pai aludiu da época que tinha sobrevivido com sua
própria comida. - Antes de palavra masculina: Chegou a tempo ao
quem faz alusão, faz alusão a - VI - (o pai aludiu à trabalho; Vieram a pé; Vende-se a prazo.
epoca)
- Antes de verbo: Ficamos a admirá-los; Ele começou a ter
06. Resposta A alucinações.
O verbo “aspirar” com o sentido de almejar é transitivo
indireto e pede a preposição “A”. - Antes de artigo indefinido: Levamos a mercadoria a uma
Correções: firma; Refiro-me a uma pessoa educada.
Custa-me crer; implicará demissão; prefiro trabalhar a
estudar. - Antes de expressão de tratamento introduzida pelos
pronomes possessivos Vossa ou Sua ou ainda da expressão
07. Resposta A Você, forma reduzida de Vossa Mercê: Enviei dois ofícios a
a) Resido na Rua Monte Castelo. (CORRETO ) Vossa Senhoria; Traremos a Sua Majestade, o rei Hubertus,
b) Ele sempre aspirou Ao cargo de diretor uma mensagem de paz; Eles queriam oferecer flores a você.
executivo. (ERRADO)
c) A peça não agradou Aos críticos. (ERRADO) - Antes dos pronomes demonstrativos esta e essa: Não
d) Adoro aspirar (a)o perfume das flores. (ERRADO) me refiro a esta carta; Os críticos não deram importância a
essa obra.
08. Resposta D
A questão deve ser lida 2 vezes para ir "destrinchando" o - Antes dos pronomes pessoais: Nada revelei a ela;
que o examinador pede. Dirigiu-se a mim com ironia.
A banca utiliza de um texto meio truncado para pedir algo
simples que é a ideia de: - Antes dos pronomes indefinidos com exceção de outra:
Quando um escritor faz um texto, o que ele escreve passa Direi isso a qualquer pessoa; A entrada é vedada a toda pessoa
pelo trabalho de um revisor de texto (este corrige as palavras, estranha. Com o pronome indefinido outra(s), pode haver
os erros etc). crase porque ele, às vezes, aceita o artigo definido a(s): As
Tudo que o autor mais deseja é que o revisor não se engane cartas estavam colocadas umas às outras (no masculino,
e troque o certo pelo errado. Ou por um LAPSO (algum ficaria “os cartões estavam colocados uns aos outros”).
"branco") ou por SABOTAGEM (Má-fé). Isto prejudicaria o
autor principal. - Quando o “a” estiver no singular e a palavra seguinte
Então, imaginem um revisor tendo um LAPSO ou estiver no plural: Falei a vendedoras desta firma; Refiro-me a
SABOTAGEM nas palavras meniconadas "Ônus" e "Carvalho". pessoas curiosas.
Ponham um A no O de Ônus" e tirem o V de
Carvalho. Vejam o que este Lapso ou Sabotagem - Quando, antes do “a”, existir preposição: Ela
resultariam...uma confusão ortográfica, que provocaria compareceu perante a direção da empresa; Os papéis estavam
modificação semântica(sentido) no texto. sob a mesa. Exceção feita, às vezes, para até, por motivo de
clareza: A água inundou a rua até à casa de Maria (= a água
chegou perto da casa); se não houvesse o sinal da crase, o
sentido ficaria ambíguo: a água inundou a rua até a casa de
Emprego do acento Maria (= inundou inclusive a casa). Quando até significa “perto
indicativo da crase. de”, é preposição; quando significa “inclusive”, é partícula de
inclusão.

- Com expressões repetitivas: Tomamos o remédio gota a


Crase gota; Enfrentaram-se cara a cara.
Crase é a superposição de dois “a”, geralmente a - Com expressões tomadas de maneira indeterminada:
preposição “a” e o artigo a(s), podendo ser também a O doente foi submetido a dieta leve (no masc. = foi submetido
preposição “a” e o pronome demonstrativo a(s) ou a a repouso, a tratamento prolongado, etc.); Prefiro terninho a
preposição “a” e o “a” inicial dos pronomes demonstrativos saia e blusa (no masc. = prefiro terninho a vestido).
aqueles(s), aquela(s) e aquilo. Essa superposição é marcada
por um acento grave (`). - Antes de pronome interrogativo, não ocorre crase: A
que artista te referes?
Assim, em vez de escrevermos “entregamos a mercadoria
a a vendedora”, “esta blusa é igual a a que compraste” ou “eles - Na expressão valer a pena (no sentido de valer o
deveriam ter comparecido a aquela festa”, devemos sobrepor sacrifício, o esforço), não ocorre crase, pois o “a” é artigo
os dois “a” e indicar esse fato com um acento grave: definido: Parodiando Fernando Pessoa, tudo vale a pena
“Entregamos a mercadoria à vendedora”. “Esta blusa é igual à quando a alma não é pequena...
que compraste”. “Eles deveriam ter comparecido àquela festa.”
A Crase é Facultativa
O acento grave que aparece sobre o “a” não constitui, pois,
a crase, mas é um mero sinal gráfico que indica ter havido a - Antes de nomes próprios feminino: Enviamos um
união de dois “a” (crase). telegrama à Marisa; Enviamos um telegrama a Marisa. Em

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português, antes de um nome de pessoa, pode-se ou não Lúcia; Dirigiram-se à casa das máquinas; Iremos à
empregar o artigo “a” (“A Marisa é uma boa menina”. Ou encantadora casa de campo da família Sousa.
“Marisa é uma boa menina”). Por isso, mesmo que a preposição
esteja presente, a crase é facultativa. - Palavra “terra”: Não há crase, quando a palavra terra
Quando o nome próprio feminino vier acompanhado de significa o oposto a “mar”, “ar” ou “bordo”: Os marinheiros
uma expressão que o determine, haverá crase porque o artigo ficaram felizes, pois resolveram ir a terra; Os astronautas
definido estará presente. Dedico esta canção à Candinha do desceram a terra na hora prevista. Há crase, quando a palavra
Major Quevedo. [A (artigo) Candinha do Major Quevedo é significa “solo”, “planeta” ou “lugar onde a pessoa nasceu”: O
fanática por seresta.] colono dedicou à terra os melhores anos de sua vida; Voltei à
terra onde nasci; Viriam à Terra os marcianos?
- Antes de pronome adjetivo possessivo feminino
singular: Pediu informações à minha secretária; Pediu - Palavra “distância”: Não se usa crase diante da palavra
informações a minha secretária. A explicação é idêntica à do distância, a menos que se trate de distância determinada: Via-
item anterior: o pronome adjetivo possessivo aceita artigo, se um monstro marinho à distância de quinhentos metros;
mas não o exige (“Minha secretária é exigente.” Ou: “A minha Estávamos à distância de dois quilômetros do sítio, quando
secretária é exigente”). Portanto, mesmo com a presença da aconteceu o acidente. Mas: A distância, via-se um barco
preposição, a crase é facultativa. pesqueiro; Olhava-nos a distância.

Casos Especiais - Pronome Relativo: Todo pronome relativo tem um


substantivo (expresso ou implícito) como antecedente. Para
- Nomes de localidades: Dentre as localidades, há as que saber se existe crase ou não diante de um pronome relativo,
admitem artigo antes de si e as que não o admitem. Por aí se deve-se substituir esse antecedente por um substantivo
deduz que, diante das primeiras, desde que comprovada a masculino. Se o “a” se transforma em “ao”, há crase diante do
presença de preposição, pode ocorrer crase; diante das relativo. Mas, se o “a” permanece inalterado ou se transforma
segundas, não. Para se saber se o nome de uma localidade em “o”, então não há crase: é preposição pura ou pronome
aceita artigo, deve-se substituir o verbo da frase pelos verbos demonstrativo: A fábrica a que me refiro precisa de
estar ou vir. Se ocorrer a combinação “na” com o verbo estar empregados. (O escritório a que me refiro precisa de
ou “da” com o verbo vir, haverá crase com o “a” da frase empregados.); A carreira à qual aspiro é almejada por muitos.
original. Se ocorrer “em” ou “de”, não haverá crase: Enviou (O trabalho ao qual aspiro é almejado por muitos.). Na
seus representantes à Paraíba (estou na Paraíba; vim da passagem do antecedente para o masculino, o pronome
Paraíba); O avião dirigia-se a Santa Catarina (estou em Santa relativo não pode ser substituído, sob pena de falsear o
Catarina; vim de Santa Catarina); Pretendo ir à Europa (estou resultado: A festa a que compareci estava linda (no masculino
na Europa; vim da Europa). Os nomes de localidades que não = o baile a que compareci estava lindo). Como se viu,
admitem artigo passarão a admiti-lo, quando vierem substituímos festa por baile, mas o pronome relativo que não
determinados. Porto Alegre indeterminadamente não aceita foi substituído por nenhum outro (o qual etc.).
artigo: Vou a Porto Alegre (estou em Porto Alegre; vim de
Porto Alegre); Mas, acompanhando-se de uma expressão que a A Crase é Obrigatória
determine, passará a admiti-lo: Vou à grande Porto Alegre
(estou na grande Porto Alegre; vim da grande Porto Alegre); - Sempre haverá crase em locuções prepositivas,
Iríamos a Madri para ficar três dias; Iríamos à Madri das locuções adverbiais ou locuções conjuntivas que tenham
touradas para ficar três dias. como núcleo um substantivo feminino: à queima-roupa, à
maneira de, às cegas, à noite, às tontas, à força de, às vezes, às
- Pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), escuras, à medida que, às pressas, à custa de, à vontade (de), à
aquilo: quando a preposição “a” surge diante desses moda de, às mil maravilhas, à tarde, às oito horas, às dezesseis
demonstrativos, devemos sobrepor essa preposição à horas, etc. É bom não confundir a locução adverbial às vezes
primeira letra dos demonstrativos e indicar o fenômeno com a expressão fazer as vezes de, em que não há crase
mediante um acento grave: Enviei convites àquela sociedade porque o “as” é artigo definido puro: Ele se aborrece às vezes
(= a + aquela); A solução não se relaciona àqueles problemas (= ele se aborrece de vez em quando); Quando o maestro falta
(= a + aqueles); Não dei atenção àquilo (= a + aquilo). A simples ao ensaio, o violinista faz as vezes de regente (= o violinista
interpretação da frase já nos faz concluir se o “a” inicial do substitui o maestro).
demonstrativo é simples ou duplo. Entretanto, para maior
segurança, podemos usar o seguinte artifício: Substituir os - Sempre haverá crase em locuções que exprimem hora
demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo pelos determinada: Ele saiu às treze horas e trinta minutos;
demonstrativos este(s), esta(s), isto, respectivamente. Se, Chegamos à uma hora. Cuidado para não confundir a, à e há
antes destes últimos, surgir a preposição “a”, estará com a expressão uma hora: Disseram-me que, daqui a uma
comprovada a hipótese do acento de crase sobre o “a” inicial hora, Teresa telefonará de São Paulo (= faltam 60 minutos para
dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. Se não surgir a o telefonema de Teresa); Paula saiu daqui à uma hora; duas
preposição “a”, estará negada a hipótese de crase. Enviei cartas horas depois, já tinha mudado todos os seus planos (= quando
àquela empresa./ Enviei cartas a esta empresa; A solução não ela saiu, o relógio marcava 1 hora); Pedro saiu daqui há uma
se relaciona àqueles problemas./ A solução não se relaciona a hora (= faz 60 minutos que ele saiu).
estes problemas; Não dei atenção àquilo./ Não dei atenção a
isto; A solução era aquela apresentada ontem./ A solução era - Quando a expressão “à moda de” (ou “à maneira de”)
esta apresentada ontem. estiver subentendida: Nesse caso, mesmo que a palavra
subsequente seja masculina, haverá crase: No banquete,
- Palavra “casa”: quando a expressão casa significa “lar”, serviram lagosta à Termidor; Nos anos 60, as mulheres se
“domicílio” e não vem acompanhada de adjetivo ou locução apaixonavam por homens que tinham olhos à Alain Delon.
adjetiva, não há crase: Chegamos alegres a casa; Assim que
saiu do escritório, dirigiu-se a casa; Iremos a casa à noitinha. - Quando as expressões “rua”, “loja”, “estação de rádio”,
Mas, se a palavra casa estiver modificada por adjetivo ou etc. estiverem subentendidas: Dirigiu-se à Marechal Floriano
locução adjetiva, então haverá crase: Levaram-me à casa de (= dirigiu-se à Rua Marechal Floriano); Fomos à Renner

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(fomos à loja Renner); Telefonem à Guaíba (= telefonem à b) "Os relatos dos casos mostram repetidas violações dos
rádio Guaíba). direitos à moradia, a um trabalho digno, à integridade cultural,
a vida e ao território."
- Quando está implícita uma palavra feminina: Esta c) “O corpo de Lucilene foi encontrado próximo à ponte do
religião é semelhante à dos hindus (= à religião dos hindus). Moa no dia 11 de maio.”
d) “Fifa afirma que Blatter e Valcke enriqueceram às custas
- Com o pronome substantivo possessivo feminino no da entidade.”
singular ou plural, o uso de acento indicativo de crase não é e) “Doriva saiu e Milton Cruz fez às vezes de técnico até a
facultativo (conforme o caso será proibido ou obrigatório): A chegada de Edgardo Bauza no fim do ano passado.”
minha cidade é melhor que a tua. O acento indicativo de crase
é proibido porque, no masculino, ficaria assim: O meu sítio é 02. (Pref. De Itaquitinga/PE – Assistente
melhor que o teu (não há preposição, apenas o artigo definido). Administrativo – IDHTEC/2016) Em qual dos trechos abaixo
Esta gravura é semelhante à nossa. O acento indicativo de o emprego do acento grave foi omitido quando houve
crase é obrigatório porque, no masculino, ficaria assim: Este ocorrência de crase?
quadro é semelhante ao nosso (presença de preposição +
artigo definido). a) “O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco decidiu
suspender a paralisação que faria a partir das 16h desta
- Não confundir devido com dado (a, os, as): a primeira quarta-feira.”
expressão pede preposição “a”, havendo crase antes de palavra b) “Pela manhã, em nota, a categoria informou que cruzaria
feminina determinada pelo artigo definido. Devido à discussão os braços só retornando às atividades normais as 5h desta
de ontem, houve um mal-estar no ambiente (= devido ao quinta-feira.”
barulho de ontem, houve...); A segunda expressão não aceita c) “Nesta quarta-feira, às 21h, acontece o "clássico das
preposição “a” (o “a” que aparece é artigo definido, não multidões" entre Sport e Santa Cruz, no Estádio do Arruda.”
havendo, pois, crase): Dada a questão primordial envolvendo d) “Após a ameaça de greve, o sindicato foi procurado pela
tal fato (= dado o problema primordial...); Dadas as respostas, CBTU e pela PM que prometeram um reforço no esquema de
o aluno conferiu a prova (= dados os resultados...). segurança.”
e) “A categoria se queixa de casos de agressões,
Excluída a hipótese de se tratar de qualquer um dos casos vandalismo e depredações e da falta de segurança nas
anteriores, devemos substituir a palavra feminina por outra estações.”
masculina da mesma função sintática. Se ocorrer “ao” no
masculino, haverá crase no “a” do feminino. Se ocorrer “a” ou 03. (COMLURB – Técnico de Segurança do Trabalho –
“o” no masculino, não haverá crase no “a” do feminino. O IBFC/2016)
problema, para muitos, consiste em descobrir o masculino de
certas palavras como “conclusão”, “vezes”, “certeza”, “morte”, Que é Segurança do Trabalho?
etc. É necessário então frisar que não há necessidade alguma
de que a palavra masculina tenha qualquer relação de sentido Segurança do trabalho pode ser entendida como os
com a palavra feminina: deve apenas ter a mesma função conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os
sintática: Fomos à cidade comprar carne. (ao supermercado); acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como
Pedimos um favor à diretora. (ao diretor); Muitos são proteger a integridade e a capacidade de trabalho do
insensíveis à dor alheia. (ao sofrimento); Os empregados trabalhador.
deixam a fábrica. (o escritório); O perfume cheira a rosa. (a A Segurança do Trabalho estuda diversas disciplinas como
cravo); O professor chamou a aluna. (o aluno). Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho,
Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e
Questões Instalações, Psicologia na Engenharia de Segurança,
01. (Pref. De Itaquitinga/PE – Técnico em Enfermagem Comunicação e Treinamento, Administração aplicada à
– IDHTEC/2016) Engenharia de Segurança, O Ambiente e as Doenças do
Trabalho, Higiene do Trabalho, Metodologia de Pesquisa,
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança) Legislação, Normas Técnicas, Responsabilidade Civil e
Criminal, Perícias, Proteção do Meio Ambiente, Ergonomia e
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama Iluminação, Proteção contra Incêndios e Explosões e Gerência
de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! de Riscos.
Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da O quadro de Segurança do Trabalho de uma empresa
ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia compõe-se de uma equipe multidisciplinar composta por
de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras Técnico de Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança
gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias do Trabalho, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho.
semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a Estes profissionais formam o que chamamos de SESMT -
enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina
teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol- do Trabalho. Também os empregados da empresa constituem
posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas a CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que tem
vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes
demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente do trabalho, de modo a tomar compatível permanentemente o
firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do
formando, anunciando -o dia da humanidade. trabalhador.
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos A Segurança do Trabalho é definida por normas e leis. No
Estudantes do Império) Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de
Normas Regulamentadoras, leis complementares, como
Em qual das alternativas o acento grave foi mal portarias e decretos e também as convenções Internacionais
empregado, pois não deveria haver crase? da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo
a) “Milena Nogueira foi pela primeira vez à quadra da Brasil.
escola de samba Império Serrano, na Zona Norte do Rio.” http://www.areasea.com/sea/ - acesso em 24/04/2016

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APOSTILAS OPÇÃO

A especulação imobiliária também acentua um problema


Leia o texto abaixo e identifique qual das alternativas cada vez maior no espaço das grandes, médias e até pequenas
apresenta correta aplicação de crase, seguindo a mesma lógica cidades: a questão dos lotes vagos. Esse problema acontece
do texto. por dois principais motivos: 1) falta de poder aquisitivo da
“A Segurança do Trabalho estuda diversas disciplinas população que possui terrenos, mas que não possui condições
como Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, de construir neles e 2) a espera pela valorização dos lotes para
Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e que esses se tornem mais caros para uma venda posterior.
Instalações...” Esses lotes vagos geralmente apresentam problemas como o
a) O curso de português discute assuntos acúmulo de lixo, mato alto, e acabam tornando-se focos de
associados à gramática, à literatura e à produção de textos. doenças, como a dengue.
b) O professor fez correções à respeito dos erros de PENA, Rodolfo F. Alves. “Problemas socioambientais
ortografia presentes no texto. urbanos”; Brasil Escola. Disponível
c) O referido texto apresenta informações de grande em http://brasilescola.uol.com.br/brasil/problemas-
importância à alunos de Engenharia. ambientais-sociais-decorrentes-urbanização.htm. Acesso em 14
d) A literatura sobre Segurança do Trabalho presente na de abril de 2016.
faculdade apresenta informações importantes à seus alunos.
No texto 1, há quatro ocorrências do acento grave
04. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC/2016) indicativo da crase: “vise à promoção de políticas de controle”
Em relação ao emprego do sinal de crase, estão corretas as (1), “tornando-os inacessíveis à grande massa populacional”
frases: (2), “Além disso, à medida que as cidades crescem” (3) e “que
a) Solicito a Vossa Excelência o exame do presente às vezes não contam com saneamento básico” (4).
documento. Os casos de crase que correspondem à união de preposição
b) A redação do contrato compete à Diretoria de + artigo definido são:
Orçamento e Finanças.
a) 1 e 2;
( ) Certo ( ) Errado b) 1 e 4;
c) 2 e 3;
05. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC/2016) d) 3 e 4;
“O americano Jackson Katz, 55, é um homem feminista – e) todos eles.
definição que lhe agrada. Dedica praticamente todo o seu
tempo a combater a violência contra a mulher e a promover a 07. (Pref. De São Paulo/SP – Analista Fiscal de Serviços
igualdade entre os gêneros. (...) Em 1997, idealizou o primeiro – VUNESP/2016)
projeto de prevenção à violência de gênero na história dos
marines americanos. Katz – casado e pai de um filho – já O mundo vive hoje um turbilhão de sentimentos e reações
prestou consultoria à Organização Mundial de Saúde e ao no que diz respeito aos refugiados. Trata-se de uma enorme
Exército americano.” tragédia humana, à qual temos assistido pela TV no conforto
(In: Veja, Rio de Janeiro: Abril, ano 49, n.2, de nossas casas.
p. 13, jan. 2016.) Imagens dramáticas mostram famílias inteiras, jovens,
crianças e idosos chegando à Europa em busca de um lugar
No texto acima, o sinal indicativo de crase foi empregado supostamente mais seguro para viver. Embora os refugiados
corretamente, em todas as situações. Poderia ter ocorrido da Síria tenham ganhado maior destaque, existem ainda os
também diante dos verbos combater e promover, uma vez que refugiados africanos e os latino-americanos.
o emprego desse acento é facultativo antes de verbos. Dentro da América Latina, vemos grandes migrações, uma
( ) Certo ( ) Errado marcha de pessoas que buscam o refúgio, mas que terminam
em uma espécie de exílio.
06. (MPE/RJ – Analista do Ministério Público – O Brasil, que sempre se destacou por sua capacidade de
FGV/2016) acolher diferentes culturas, apresenta uma das sociedades
Texto 1 – Problemas Sociais Urbanos com maior diversidade. Podemos afirmar nossa capacidade de
lidar com o multiculturalismo com bastante naturalidade,
Brasil escola embora, muitas vezes, a questão seja tratada de maneira
superficial. Por outro lado, o preconceito existente, antes
Dentre os problemas sociais urbanos, merece destaque a disfarçado, deixou de ser tímido e passou a se manifestar de
questão da segregação urbana, fruto da concentração de renda forma aberta e hostil.
no espaço das cidades e da falta de planejamento público que Comparado a outros países, o Brasil não recebe um
vise à promoção de políticas de controle ao crescimento número elevado de refugiados, e a maioria da sociedade
desordenado das cidades. A especulação imobiliária favorece brasileira aceita-os, acreditando que é possível fazer algo para
o encarecimento dos locais mais próximos dos grandes ajudá-los, mesmo diante do momento crítico da economia e da
centros, tornando-os inacessíveis à grande massa política.
populacional. Além disso, à medida que as cidades crescem, Diante desse cenário, destacam-se as iniciativas de
áreas que antes eram baratas e de fácil acesso tornam-se mais solidariedade, de forma objetiva e praticada por jovens
caras, o que contribui para que a grande maioria da população estudantes de nossas universidades. Com a cabeça aberta e o
pobre busque por moradias em regiões ainda mais distantes. respeito ao diferente, muitos deles manifestam uma visão de
Essas pessoas sofrem com as grandes distâncias dos locais mundo que permite acreditar em transformações sociais de
de residência com os centros comerciais e os locais onde base.
trabalham, uma vez que a esmagadora maioria dos habitantes (Soraia Smaili, Refugiados no Brasil: entre o exílio e a
que sofrem com esse processo são trabalhadores com baixos solidariedade. Em: cartacapital.com.br. 02.02.2016. Adaptado)
salários. Incluem-se a isso as precárias condições de
transporte público e a péssima infraestrutura dessas zonas Nas universidades, as iniciativas de solidariedade visam
segregadas, que às vezes não contam com saneamento básico oferecer apoio_____ precisa, com respeito___ diferenças,
ou asfalto e apresentam elevados índices de violência.

Língua Portuguesa 101


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entendendo-se que não se deve negar_____ um imitá-las voluntariamente. O sorriso nascido de um prazer
refugiado______esperança por uma vida melhor. genuíno é produto de estruturas cerebrais localizadas em uma
De acordo com a norma-padrão, as lacunas da frase devem região profunda do tronco cerebral. A imitação voluntária feita
ser preenchidas, respectivamente, com: por quem não é um ator exímio é facilmente detectada como
a) aquele que … à … a … à fingimento – alguma coisa sempre falha, quer na configuração
b) àquele que … às … a … a dos músculos faciais, quer no tom de voz.
c) à quem … às … à … à (Adaptado de: DAMÁSIO, Antonio. O mistério da
d) a quem … as … à … a consciência. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo, Cia das
e) àquele que … as … a … à letras, 2015, 2.ed, p. 39-49)
Ao se reescrever um segmento do texto, o sinal indicativo
08. (TRF-3ª Região – Técnico Judiciário – Informática – de crase foi empregado de modo correto em:
FCC/2016) O sinal indicativo de crase está empregado a) Frequentemente não temos consciência de uma emoção,
corretamente em: pois somos incapazes de à controlar propositadamente.
a) Não era uma felicidade eufórica, semelhava-se mais à b) Essa é, à propósito, a semelhança que permite que a arte
uma brisa de contentamento. cruze fronteiras.
b) O vinho certamente me induziu àquela súbita vontade c) Por sinal, à essa semelhança imputa-se a causa da arte
de abraçar uma árvore gigante. ser capaz de cruzar fronteiras.
c) Antes do fim da manhã, dediquei-me à escrever tudo o d) A partir dessa semelhança, permite-se à arte cruzar
que me propusera para o dia. fronteiras.
d) A paineira sobreviverá a todas às 18 milhões de pessoas e) À uma região profunda do tronco cerebral atribui-se o
que hoje vivem em São Paulo. ponto de partida de reações como um sorriso nascido de um
e) Acho importante esclarecer que não sou afeito à essa prazer genuíno.
tradição de se abraçar árvore.
10. (Pref. De Criciúma/SC – Engenheiro Civil –
09. (TRF-3ª Região – Analista Judiciário - FEPESE/2016)
Biblioteconomia – FCC/2016) Analise as frases quanto ao uso correto da crase.
1. O seu talento só era comparável à sua bondade.
Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, 2. Não pôde comparecer à cerimônia de posse na
culturas e níveis de instrução têm emoções, cultivam Prefeitura.
passatempos que manipulam as emoções, atentam para as 3. Quem se vir em apuros, deve recorrer à coordenação
emoções dos outros, e em grande medida governam suas vidas local de provas.
buscando uma emoção, a felicidade, e procurando evitar 4. Dia a dia, vou vencendo às batalhas que a vida me
emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada apresenta.
caracteristicamente humano nas emoções, pois numerosas 5. Daqui à meia hora, chegarei a estação; peça para me
criaturas não humanas têm emoções em abundância; aguardarem.
entretanto, existe algo acentuadamente característico no
modo como as emoções vincularam-se a ideias, valores, a) São corretas apenas as frases 1 e 4.
princípios e juízos complexos que só os seres humanos podem b) São corretas apenas as frases 3 e 4.
ter. De fato, a emoção humana é desencadeada até mesmo por c) São corretas apenas as frases 1, 2 e 3.
uma música e por filmes banais cujo poder não devemos d) São corretas apenas as frases 2, 3 e 4.
subestimar. e) São corretas apenas as frases 2, 4 e 5.
Embora a composição e a dinâmica precisas das reações
emocionais sejam moldadas em cada indivíduo pelo meio e por Respostas
um desenvolvimento único, há indícios de que a maioria das
reações emocionais, se não todas, resulta de longos ajustes 01. Resposta E
evolutivos. As emoções são parte dos mecanismos Às vezes / As vezes
biorreguladores com os quais nascemos, visando à Ocorrerá a crase somente quando “às vezes” for uma
sobrevivência. Foi por isso que Darwin conseguiu catalogar as locução adverbial de tempo (= de vez em quando, em algumas
expressões emocionais de tantas espécies e encontrar vezes). Quando a expressão “as vezes” não trouxer o
consistência nessas expressões, e é por isso que em diferentes significado citado não acontecerá crase.
culturas as emoções são tão facilmente reconhecidas. É bem
verdade que as expressões variam, assim como varia a 02. Resposta B
configuração exata dos estímulos que podem induzir uma Indicação de horas especificadas ocorre crase:
emoção. Mas o que causa admiração quando se observa o Chegaremos às sete horas
mundo do alto é a semelhança, e não a diferença. Aliás, é essa Saímos às dez horas
semelhança que permite que a arte cruze fronteiras.
As emoções podem ser induzidas indiretamente, e o 03. Resposta A
indutor pode bloquear o progresso de uma emoção que já Letra B - Errado antes de masculino não usa-se crase - O
estava presente. O efeito purificador (catártico) que toda boa RESPEITO
tragédia deve produzir, segundo Aristóteles, tem por base a Letra C - Errado antes de masculino não usa-se crase -
suspensão de um estado sistematicamente induzido de medo ALUNOS
e compaixão. Letra D - Antes de possessivo a crase é facultativa - isso se
Não precisamos ter consciência de uma emoção, com - o antecedente exigir a preposição a como no caso de
frequência não temos e somos incapazes de controlar "importantes".
intencionalmente as emoções. Você pode perceber-se num Associados requer a preposição A
estado de tristeza ou de felicidade e ainda assim não ter ideia
dos motivos responsáveis por esse estado específico. Uma 04. Certo
investigação cuidadosa pode revelar causas possíveis, porém Em relação ás assertivas:
frequentemente não se consegue ter certeza. O acionamento a) Não se emprega o sinal da crase antes de pronomes de
inconsciente de emoções também explica por que não é fácil tratamento, salvo: senhora, senhorita e dona.

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b) A redação do contrado compete á diretoria de da substituição fica: "daqui a 10 minutos". Vê-se que a
orçamentos e finanças. crase é desnecessária.
Ao trocar-mos o substantivo feminino: diretoria pelo
substantivo masculino Diretor:
Compete ao diretor de orçamentos e finaças. (
a=preposição + o=artigo) Colocação dos pronomes.
05. Errado
NÃO se usa crase antes de verbo!
Colocação dos Pronomes Oblíquos Átonos
06. Resposta A
O acento grave empregado nas locuções adverbiais, Um dos aspectos da harmonia da frase refere-se à
conjuntivas e prepositivas não provém de uma relação colocação dos pronomes oblíquos átonos. Tais pronomes
regencial, mas sim do fato de essas locuções virem precedidas situam-se em três posições:
de preposições que, comumente, possuem algum valor - Antes do verbo (próclise): Não te conheço.
semântico. Desta feita diferencia-se através do acento grave os - No meio do verbo (mesóclise): Avisar-te-ei.
significados dos dois períodos abaixo: - Depois do verbo (ênclise): Sente-se, por favor.
A noite chegou a nossa fazenda. ("a noite" é sujeito)
À noite ele chegou a nossa fazenda. ("à noite" é locução Próclise
adverbial de tempo)
Por atração: usa-se a próclise quando o verbo vem
07. Resposta B precedido das seguintes partículas atrativas:
Segundo Saconni - Nossa Gramatica Completa e Segundo - Palavras ou expressões negativas: Não te afastes de mim.
Luft - Dicionário de Regência Nominal - Advérbios: Agora se negam a depor. Se houver pausa (na
Apoio requer a preposição a + aquele = àquele que escrita, vírgula) entre o advérbio e o verbo, usa-se a ênclise:
Respeito requer a preposição a + as diferenças= às Agora, negam-se a depor.
Negar requer a preposição a, todavia antes de artigo - Pronomes Relativos: Apresentaram-se duas pessoas que
indefinido não se usa a crase se identificaram com rapidez.
Refugiado requer a preposição contra, em - logo o a não é - Pronomes Indefinidos: Poucos se negaram ao trabalho.
craseado- Luft - Conjunções subordinativas: Soube que me dariam a
autorização solicitada.
08. Resposta B
a) Não ocorre crase antes do artigo indefinido "uma" Com certas frases: há casos em que a próclise é motivada
b) CORRETA (crase obrigatória diante de pronomes pelo próprio tipo de frase em que se localiza o pronome.
demonstrativos "aquela, aquela, aquilo") - Frases Interrogativas: Quem se atreveria a isso?
c) Não ocorre crase antes de verbo no infinitivo - Frases Exclamativas: Quanto te arriscas com esse
d) Não ocorre crase antes de numerais procedimento!
e) Não ocorre crase antes de pronomes demonstrativos - Frases Optativas (exprimem desejo): Deus nos proteja.
Se, nas frases optativas, o sujeito vem depois do verbo, usa-se
09. Resposta D a ênclise: Proteja-nos Deus.
a) Não utiliza-se crase antes de verbo. (Controlar).
b) Não utiliza-se crase em expressões no masculino. Com certos verbos: a próclise pode ser motivada também
(Propósito é uma palavra masculina - O propósito). pela forma verbal a que se prende o pronome.
c) Não utiliza-se crase antes de pronomes - Com o gerúndio precedido de preposição ou de negação:
demonstrativos. (Essa). Em se ausentando, complicou-se; Não se satisfazendo com os
d) Alternativa CORRETA. Regência do verbo (quem resultados, mudou de método.
permite, permite algo A alguém) + se une com o A da palavra - Com o infinito pessoal precedido de preposição: Por se
arte (A arte - palavra feminina). acharem infalíveis, caíram no ridículo.
e) Não utiliza-se crase antes de artigo indefinido.
Mesóclise
10. Resposta C
1. O seu talento só era comparável à sua bondade. Usa-se a mesóclise tão somente com duas formas verbais,
Nos casos de pronome possessivo, a crase é o futuro do presente e o futuro do pretérito, assim quando não
FACULTATIVA. vierem precedidos de palavras atrativas. Exemplos:
2. Não pôde comparecer à cerimônia de posse na
Prefeitura. Confrontar-se-ão os resultados.
Não há o que discutir: quem comparece, comparece a Confrontar-se-iam os resultados.
algo. Logo, VTI, exige crase.
3. Quem se vir em apuros, deve recorrer à coordenação Mas:
local de provas. Não se confrontarão os resultados.
O mesmo caso do item anterior, VTI. Quem recorre, Não se confrontariam os resultados.
recorre a algo ou a alguém.
4. Dia a dia, vou vencendo às batalhas que a vida me Não se usa a ênclise com o futuro do presente ou com o
apresenta. futuro do pretérito sob hipótese alguma. Será contrária à
Uso incorreto da crase, pois quem vence, vence algo e norma culta escrita, portanto, uma colocação do tipo:
não a algo. Logo, é VTD, não exigindo crase.
5. Daqui à meia hora, chegarei a estação; peça para me Diria-se que as coisas melhoraram. (Errado)
aguardarem. Dir-se-ia que as coisas melhoraram. (Correto)
Não confundir com exemplos como "às 13 horas",
semelhante a "ao meio dia". Neste caso, usando-se o bizu

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Ênclise - Os pronomes oblíquos átonos combinam-se entre si em


casos como estes:
Usa-se a ênclise nos seguintes casos: me + o/a = mo/ma
te + o/a = to/ta
- Imperativo Afirmativo: Prezado amigo, informe-se de lhe + o/a = lho/lha
seus compromissos. nos + o/a = no-lo/no-la
vos + o/a = vo-lo/vo-la
- Gerúndio não precedido da preposição “em” ou de
partícula negativa: Falando-se de comércio exterior, Tais combinações podem vir:
progredimos muito. - Proclítica: Eu não vo-lo disse?
- Mesoclítica: Dir-vo-lo-ei já.
Mas - Enclítica: A correspondência, entregaram-lha há muito
Em se plantando no Brasil, tudo dá. tempo.
Não se falando em futebol, ninguém briga.
Ninguém me provocando, fico em paz. Segundo a norma culta, a regra é a ênclise, ou seja, o
pronome após o verbo. Isso tem origem em Portugal, onde essa
- Infinitivo Impessoal: Não era minha intenção magoar- colocação é mais comum. No Brasil, o uso da próclise é mais
te. Se o infinitivo vier precedido de palavra atrativa, ocorre frequente, por apresentar maior informalidade. Mas, como
tanto a próclise quanto a ênclise. devemos abordar os aspectos formais da língua, a regra será
Espero com isto não te magoar. ênclise, usando próclise em situações excepcionais, que são:
Espero com isto não magoar-te. - Palavras invariáveis (advérbios, alguns pronomes,
conjunção) atraem o pronome. Por “palavras invariáveis”,
- No início de frases ou depois de pausa: Vão-se os anéis, entendemos os advérbios, as conjunções, alguns pronomes
ficam os dedos. Decorre daí a afirmação de que, na variante que não se flexionam, como o pronome relativo que, os
culta escrita, não se inicia frase com pronome oblíquo átono. pronomes indefinidos quanto/como, os pronomes
Causou-me surpresa a tua reação. demonstrativos isso, aquilo, isto. Exemplos: “Ele não se
encontrou com a namorada.” – próclise obrigatória por força
O Pronome Oblíquo Átono nas Locuções Verbais do advérbio de negação. “Quando se encontra com a
namorada, ele fica muito feliz.” – próclise obrigatória por força
- Com palavras atrativas: quando a locução vem da conjunção;
precedida de palavra atrativa, o pronome se coloca antes do - Orações exclamativas (“Vou te matar!”) ou que expressam
verbo auxiliar ou depois do verbo principal. Exemplo: Nunca desejo, chamadas de optativas (“Que Deus o abençoe!”) –
te posso negar isso; Nunca posso negar-te isso. É possível, próclise obrigatória.
nesses casos, o uso da próclise antes do verbo principal. Nesse - Orações subordinadas – (“... e é por isso que nele se
caso, o pronome não se liga por hífen ao verbo auxiliar: Nunca acentua o pensador político” – uma oração subordinada causal,
posso te negar isso. como a da questão, exige a próclise.).

- No início da oração ou depois de pausa: quando a Emprego Proibido:


locução se situa no início da oração, não se usa o pronome - Iniciar período com pronome (a forma correta é: Dá-me
antes do verbo auxiliar. Exemplo: Posso-lhe dar garantia total; um copo d’água; Permita-me fazer uma observação.);
Posso dar-lhe garantia total. A mesma norma é válida para os - Após verbo no particípio, no futuro do presente e no
casos em que a locução verbal vem precedida de pausa. futuro do pretérito. Com essas formas verbais, usa-se a
Exemplo: Em dias de lua cheia, pode-se ver a estrada mesmo próclise (desde que não caia na proibição acima), modifica-se
com faróis apagados; Em dias de lua cheia, pode ver-se a a estrutura (troca o “me” por “a mim”) ou, no caso dos futuros,
estrada mesmo com os faróis apagados. emprega-se o pronome em mesóclise. Exemplos: “Concedida a
mim a licença, pude começar a trabalhar.” (Não poderia ser
- Sem atração nem pausa: quando a locução verbal não “concedida-me” – após particípio é proibido - nem “me
vem precedida de palavra atrativa nem de pausa, admite-se concedida” – iniciar período com pronome é proibido).
qualquer colocação do pronome. “Recolher-me-ei à minha insignificância” (Não poderia ser
Exemplos: “recolherei-me” nem “Me recolherei”).
A vida lhe pode trazer surpresas.
A vida pode-lhe trazer surpresas. Questões
A vida pode trazer-lhe surpresas.
01. (Pref. de Itaquitinga/PE – Psicólogo –
Observações IDHTEC/2016)
“A tragédia que iniciou com o rompimento da barragem de
- Quando o verbo auxiliar de uma locução verbal estiver no rejeitos de minérios em Mariana-MG e se estendeu até o Leste
futuro do presente ou no futuro do pretérito, o pronome pode do Espírito Santo, mar adentro, nos faz refletir quais ações
vir em mesóclise em relação a ele: Ter-nos-ia aconselhado a poderiam ter sido executadas para evitar esse desastre.
partir. A maioria dos especialistas afirma que rompimentos de
barragens são eventos muito lentos, que sinais já haviam sido
- Nas locuções verbais, jamais se usa pronome oblíquo detectados sobre o problema em Mariana. Todos dizem que
átono depois do particípio. Não o haviam convidado. houve negligência e consequentemente o desastre; agora, a
(Correto); Não haviam convidado-o. (errado). maioria das informações sobre o que realmente aconteceu não
foram ainda disponibilizadas, mesmo após tantos dias.
- Há uma colocação pronominal, restrita a contextos Ao olharmos para o estado da Bahia, temos vinte e quatro
literários, que deve ser conhecida: Há males que se não curam barragens de rejeitos semelhantes à Barragem do Fundão. E
com remédios. Quando há duas partículas atraindo o pronome com informações de que quatro delas apresentam dano
oblíquo átono, este pode vir entre elas. Poderíamos dizer potencial elevado, sendo duas localizadas no município de
também: Há males que não se curam com remédios.

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Jacobina e duas em Santa Luz, estando todas sob constante 05. (MPE/RS – Agente Administrativo – MPE-RS/2016)
vigilância da Departamento Nacional de Produção Mineral.” Assinale a alternativa que preenche correta e
(http://www.tribunafeirense.com.br/noticias/11162/po respectivamente as lacunas dos enunciados abaixo.
r-pedroamerico-lopes-e-preciso-aprender-com-os- 1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria
desastres.html) deverá ________ que ainda não há disponibilidade de recursos.
2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste
Em qual das alternativas houve erro na colocação tipo de situação, a gravidade da ocorrência ________, sem
pronominal dúvida.
(A) “Desconhecido pela maioria dos turistas, um 3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles
impressionante caldeirão de chamas amarelo brilhante e sem não ________.
fumaça nunca se apaga.”
(B) “Delicadeza é aquilo que nos alcança sem nos tocar. É a (A) informar-lhe – a justificaria – revogam-na
melodia que nos embala mesmo em silêncio. É quando a boca (B) informar-lhe – justificá-la-ia – a revogam
empresta um sorriso aos olhos sem que nenhuma cobrança (C) informá-lo – justificar-lhe-ia – a revogam
seja feita.” (D) informá-lo – a justificaria – lhe revogam
(C) “Concentre-se naquilo que você é bom, delegue todo o (E) informar-lhe – justificá-la-ia – revogam-na
resto.”
(D) “Ao final, se chegou ao livro digital, com textos e 06. (Pref. de São Paulo/SP – Analista Fiscal de Serviços
dezenas de imagens coloridas.” VUNESP/2016)
(E) “Em se tratando de ato infracional com reflexos O mundo vive hoje um turbilhão de sentimentos e reações
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, no que diz respeito aos refugiados. Trata-se de uma enorme
que o adolescente restitua a coisa” tragédia humana, à qual temos assistido pela TV no conforto
de nossas casas.
02. (Pref. de Florianópolis/SC – Auxiliar de Sala – Imagens dramáticas mostram famílias inteiras, jovens,
FEPESE/2016) crianças e idosos chegando à Europa em busca de um lugar
Analise a frase abaixo: supostamente mais seguro para viver. Embora os refugiados
“O professor discutiu............mesmos a respeito da da Síria tenham ganhado maior destaque, existem ainda os
desavença entre .........e ........ . refugiados africanos e os latino-americanos.
Dentro da América Latina, vemos grandes migrações, uma
Assinale a alternativa que completa corretamente as marcha de pessoas que buscam o refúgio, mas que terminam
lacunas do texto. em uma espécie de exílio.
(A) com nós • eu • ti O Brasil, que sempre se destacou por sua capacidade de
(B) conosco • eu • tu acolher diferentes culturas, apresenta uma das sociedades
(C) conosco • mim • ti com maior diversidade. Podemos afirmar nossa capacidade de
(D) conosco • mim • tu lidar com o multiculturalismo com bastante naturalidade,
(E) com nós • mim • ti embora, muitas vezes, a questão seja tratada de maneira
superficial. Por outro lado, o preconceito existente, antes
03. (Transpetro – Auditor Júnior – CESGRANRIO/2016) disfarçado, deixou de ser tímido e passou a se manifestar de
forma aberta e hostil.
A função da arte Comparado a outros países, o Brasil não recebe um
número elevado de refugiados, e a maioria da sociedade
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou- brasileira aceita-os, acreditando que é possível fazer algo para
o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, ajudá-los, mesmo diante do momento crítico da economia e da
estava do outro lado das dunas altas, esperando. política.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas Diante desse cenário, destacam-se as iniciativas de
de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de solidariedade, de forma objetiva e praticada por jovens
seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, estudantes de nossas universidades. Com a cabeça aberta e o
que o menino ficou mudo de beleza. respeito ao diferente, muitos deles manifestam uma visão de
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, mundo que permite acreditar em transformações sociais de
gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar! base.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto (Soraia Smaili, Refugiados no Brasil: entre o exílio e a
Alegre:L&PM, 2002. P.12. solidariedade. Em: cartacapital.com.br. Adaptado)

No que se refere à colocação pronominal, respeita-se a Assinale a alternativa correta quanto à colocação
norma-padrão em: pronominal, conforme a norma-padrão.
(A) Queria que admira-me-ssem na velhice. (A) Quando dão-se conta da situação dos refugiados, as
(B) Me seduziria poder ser jovem a vida toda. pessoas já põem-se a acolhê-los sem discriminação.
(C) A aposentadoria, esperarei-a com ansiedade. (B) No Brasil, vê-se que o número de refugiados não é tão
(D) Nunca senti-me tão velho como hoje. grande. Aceita-os, sem restrição, boa parte da população.
(E) Ninguém o observava com a mesma atenção que eu. (C) Se veem imagens dramáticas dos refugiados na TV. Não
trata-se de ficção: é a pura realidade.
04. (Pref. de Caucaia/CE – Agente de Suporte a (D) Têm visto-se turbilhões de refugiados. O mundo os vê
Fiscalização – CETREDE/2016) se deslocarem em busca de uma vida melhor.
Marque a opção em que ocorre ênclise. (E) Os refugiados buscam uma vida melhor. Discriminaria-
(A) Disseram-me a verdade. os aqueles que desconhecem a solidariedade.
(B) Não nos comunicaram o fato.
(C) Dir-se-ia que tal construção não é correta. 07. (Câmara de Marília/SP – Procurador Jurídico –
(D) A moça se penteou. VUNESP/2016)
(E) Contar-me-ão a verdade?

Língua Portuguesa 105


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APOSTILAS OPÇÃO

Uma noite no mar Cáspio mediterrâneos, onde os campos sobrecarregados de homens


são incapazes de alimentá-los.
Na semana passada, uma aluna da Sorbonne foi (D) Deus me livre desse maldito mosquito! Nem me falem
encarregada de fazer um estudo sobre a literatura latino- nessas doenças que ele transmite!
americana, mal informada de tudo, inclusive sobre a América (E) Pede a Deus que te proteja e dê muita vida e saúde a
Latina. Veio entrevistar algumas pessoas e, não sei por que, teus pais.
pediu-me que a recebesse para uma conversa que pudesse
explicar o Brasil com apenas um título que serviria de roteiro 10. (TRT – 14ª Região – Técnico Judiciário – Área
para o trabalho que deveria apresentar. Administrativa – FCC/2016)
Já me pediram coisas extravagantes, recusei algumas,
aceitei outras. Aleguei minha incompetência para titular
qualquer coisa.
Mas não quis decepcionar a moça. Pensando na atual crise
política, sugeri “Garruchas e punhais” – era o nome da briga
entre os meninos da rua Cabuçu contra os meninos da rua Lins
de Vasconcelos. Morei nas duas e era considerado um espião a
soldo de uma ou de outra. O que no fundo era verdade,
considerava idiotas os dois lados.
A moça riu mas não gostou. Todos os países têm garruchas No que se refere ao emprego do acento indicativo de crase
e punhais. Dei outra sugestão: “O mosteiro de tijolos de feltro”. e à colocação do pronome, a alternativa que completa
Ela não gostou – nem eu. Parti então para uma terceira via, por corretamente a frase O palestrante deu um conselho... é:
sinal, a mais estúpida. Pensou um pouco, inicialmente recusou. (A) à alguns jovens que escutavam-no.
Olhou bem para mim e aprovou: “Uma noite no mar Cáspio”. (B) à estes jovens que o escutavam.
Para meu espanto, ela aceitou. (C) àqueles jovens que o escutavam
Acredito que os professores da Sorbonne também (D) à juventude que escutava-o.
gostarão. E eu nem sei onde fica o mar Cáspio, embora também (E) à uma porção de jovens que o escutava.
não saiba onde fica o Brasil.
(Carlos Heitor Cony. Folha de S.Paulo, 26.01.2016. Respostas
Adaptado)
01. Resposta D
________ uma aluna da Sorbonne que a recebesse para uma O correto seria: “Ao final, chegou-se ao livro digital, com
conversa que pudesse explicar o Brasil com apenas um título textos e dezenas de imagens coloridas.”
que _____ de roteiro para o trabalho que deveria apresentar. Já
me pediram coisas extravagantes, recusei algumas, aceitei 02. Resposta E
outras. Mas não _________. O pronome regido pela preposição entre deve aparecer na
forma oblíqua. Assim, é correto dizer entre mim e ele, entre ela
Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas da frase e ti, entre mim e ti. Os pronomes pessoais do caso oblíquo
devem ser preenchidas, respectivamente, com: funcionam como complementos: Isso não convém a mim,
(A) Pediu-me … serviria-lhe … lhe quis decepcionar Foram embora sem ti, Olhou para mim. Os pronomes pessoais
(B) Me pediu … servir-lhe-ia … quis decepcioná-la do caso reto exercem a função de sujeito na oração. Dessa
(C) Pediu-me … lhe serviria … a quis decepcionar forma, os pronomes eu e tu estão empregados corretamente
(D) Me pediu … o serviria … quis decepcionar-lhe nos seguintes casos: Pediu que eu fizesse as compras, Saberão
(E) Pediu-me … serviria-o … quis decepcioná-la só quando tu partires, Trouxeram o documento para eu assinar.
08. (IPSMI – Procurador – VUNESP/2016) Assinale a 03. Resposta E
alternativa em que a colocação pronominal e a conjugação dos PA- palavra atrativa (invariável) - atrai o pronome
verbos estão de acordo com a norma-padrão. a) Queria que (PA) ME admirassem na velhice.
(A) Eles se disporão a colaborar comigo, se verem que não b) seduzir - ME - ia poder ser jovem a vida toda. Não se
prejudicarei-os nos negócios. inicia a frase com pronome obliquo, e no futuro deve se usar a
(B) Propusemo-nos ajudá-lo, desde que se mantivesse mesóclise
calado. c) A aposentadoria, esperar -LA-ei com ansiedade. No
(C) Tendo avisado-as do perigo que corriam, esperava que futuro deve se usar a mesóclise
elas se contessem ao dirigir na estrada. d) Nunca (PA) ME senti tão velho como hoje.
(D) Todos ali se predisporam a ajudar-nos, para que nos e) Ninguém (PA) o observava com a mesma atenção que
sentíssemos à vontade. eu. CERTO
(E) Os que nunca enganaram-se são poucos, mas gostam de
que se alardeiem seus méritos. 04. Resposta A
Não se usa ênclise com verbos: no particípio e com verbos
09. (BAHIAGÁS - Analista de Processos nos futuros do presente e do pretérito.
Organizacionais - Administração e Psicologia – LEMBRANDO
IESES/2016) Assinale a opção em que a colocação dos Próclise: antes
pronomes átonos está INCORRETA: Mesóclise: no meio
(A) Não considero-me uma pessoa de sorte; me considero Ênclise: na frente
uma pessoa que trabalha para se sustentar e esforça-se para se
colocar bem na vida. 05. Resposta B
(B) Pagar-lhes-ei tudo o que lhes devo, mas no devido 1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria
tempo e na devida forma. deverá INFORMAR-LHE que ainda não há disponibilidade de
(C) A situação não é melhor na Rússia, onde os antigos recursos. O pronome LHE caracteriza um objeto indireto, que
servos tornaram-se mujiques famintos, nem nos países no caso é o Senhor Secretário; o objeto direto é:"que ainda não
há disponibilidade de recursos".

Língua Portuguesa 106


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2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste e) Os que nunca (palavra atrativa) SE enganaram são
tipo de situação, a gravidade da ocorrência JUSTIFICÁ-LA-IA, poucos, mas gostam de que se alardeiem seus méritos.
sem dúvida. Se o verbo estiver no futuro do presente ou no
futuro do pretérito, ocorrerá a mesóclise, desde que não haja
palavra atrativa Ex:"a gravidade da ocorrência NÃO A 09. Resposta A
justificaria". Usamos a regra da próclise, pois não é uma palavra
3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles atrativa.
não A revogam. O advérbio de negação NÃO atrai o pronome
oblíquo A causando uma próclise. 10. Resposta C
A) Errado:
06. Resposta B Crase - apresenta erro, pois não há ocorrência de crase
A) Quando dão-se conta da situação dos refugiados, as antes de pronomes indefinidos; Coloc. Pronominal -
pessoas já põem-se a acolhê-los sem discriminação. apresenta erro, pois o pronome relativo "QUE" atrai o
ERRADA: Conjunções subordinativas (quando) e pronome oblíquo.
advérbios (já) são palavras atrativas que obrigam a B) Errado:
próclise. Crase - apresenta erro, pois não há ocorrência de crase
B) No Brasil, vê-se que o número de refugiados não é tão antes de pronomes demonstrativos; Coloc. Pronominal -
grande. Aceita-os, sem restrição, boa parte da população. correto.
CORRETA C) Correto:
C) Se veem imagens dramáticas dos refugiados na TV. Crase - correto - o termo regente exige preposição (A) e o
Não trata-se de ficção: é a pura realidade. termo regido (AQUELES) é um pronome demonstrativo
ERRADA: Não se usa pronome oblíquo átono no início admite crase.
de frase (SE) e palavras de sentido negativo (não) Coloc. Pronominal - correto - o pronome relativo "QUE"
obrigam a próclise. atrai o pronome oblíquo.
D) Têm visto-se turbilhões de refugiados. O mundo os D) Errado:
vê se deslocarem em busca de uma vida melhor. Crase - correto; Coloc. Pronominal - apresenta erro, pois o
ERRADA: Não se usa ênclise com verbos no particípio pronome relativo "QUE" atrai o pronome oblíquo.
(visto). E) Errado:
E) Os refugiados buscam uma vida melhor. Discriminaria- Crase - apresenta erro, pois não há crase antes de artigo
os aqueles que desconhecem a solidariedade. indefinido; Coloc. Pronominal - correto.
ERRADA: Não se usa ênclise com verbos no futuro do
pretérito (discriminaria).
Emprego dos sinais de
07. Resposta C
____1____ uma aluna da Sorbonne que a recebesse para uma
pontuação.
conversa que pudesse explicar o Brasil com apenas um título
que ___2__ de roteiro para o trabalho que deveria apresentar.
Já me pediram coisas extravagantes, recusei algumas, aceitei Pontuação
outras. Mas não ____3_____.
1. não se inicia frase com pronome oblíquo átono - erradas Para a elaboração de um texto escrito deve-se considerar o
letra b e d. uso adequado dos sinais gráficos como: espaços, pontos,
2. o "que" atrai o pronome oblíquo, ou seja, a próclise irá vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, travessão, parênteses,
prevalecer mesmo que o verbo esteja no futuro. Errada letra a. reticências, aspas e etc.
3. o "não" é palavra atrativa assim cabe próclise Tais sinais têm papéis variados no texto escrito e, se
obrigatória. Diante de palavra atrativa não caberá ênclise. utilizados corretamente, facilitam a compreensão e
Errada letra e. entendimento do texto.
Vírgula
a) Pediu-me … serviria-lhe (errado) … lhe quis
decepcionar 1. Aplicação da Vírgula
b) Me pediu(errado) … servir-lhe-ia (errado)… quis
decepcioná-la A vírgula marca uma breve pausa e é obrigatória nos
c) Pediu-me … lhe serviria … a quis decepcionar - CERTA seguintes casos:
d) Me pediu (errado) … o serviria … quis decepcionar-lhe
e) Pediu-me … serviria-o … quis decepcioná-la (errada) 1° Inversão de Termos
Exemplo: Ontem, à medida que eles corrigiam as questões,
08. Resposta B eu me preocupava com o resultado da prova.
a) Eles se DISPUSERAM a colaborar comigo,
se VIREM que não (PALAVRA ATRATIVA) OS 2° Intercalações de Termos
prejudicarei nos negócios. Exemplo: A distância, que tudo apaga, há de me fazer
b) Propusemo-nos ajudá-lo, desde que se mantivesse esquecê-lo.
calado. (CORRETO)
c) Tendo AS avisado (proibido após particípio) do perigo 3° Inspeção de Simples Juízo
que corriam, esperava que elas se CONTIVESSEM ao dirigir Exemplo: “Esse homem é suspeito”, dizia a vizinhança.
na estrada.
d) Todos ali se PREDISPUSERAM a ajudar-nos, para que 4° Enumerações- sem gradação: Coleciono livros,
nos sentíssemos à vontade. revistas, jornais, discos.2

2
Retirado de: SCHOCAIR, Nelson Maia. Gramática Moderna
da Língua Portuguesa: Teoria e prática. 6ª ed. Rio de janeiro, 2012,
p.488.

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- com gradação: Não compreendo o ciúme, a saudade, a Enumeração com explicitação - Comprei alguns livros: de
dor da despedida.3 matemática, para estudar para o concurso; um romance, para
me distrair nas horas vagas; e um dicionário, para enriquecer
5° Vocativos, Apostos meu vocabulário.
- vocativos: Queridos ouvintes, nossa programação
passará por pequenas mudanças. Enumeração com ponto e vírgula, mas sem vírgula, para
- apostos: É aqui, nesta querida escola, que nos marcar distribuição - Comprei os produtos no supermercado:
encontramos. farinha para um bolo; tomates para o molho; e pão para o café
da manhã.
6° Omissões de Termos
- elipse: A praça deserta, ninguém àquela hora na rua. Parênteses
(Omitiu-se o verbo “estava” após o vocábulo “ninguém”, ou
seja, ocorreu elipse do verbo estava) Usos dos Parênteses
- zeugma: Na classe, alguns alunos são interessados;
outros, (são) relapsos. (Supressão do verbo “são” antes do - Isolar datas.
vocábulo “relapsos”) Exemplo: Refiro-me aos soldados da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918).
7° Termos Repetidos
Exemplo: Nada, nada há de me derrotar. - Isolar siglas.
Exemplo: A taxa de desemprego subiu para 5,3% da
8° Sequência de Adjuntos Adverbiais população economicamente ativa (PEA)...
Exemplo: Saíram do museu, ontem, por voltas das 17h.
- Isolar explicações ou retificações
2. Vírgula Proibida Exemplo: Eu expliquei uma vez (ou duas vezes) o motivo
de minha preocupação.
Não se separa por vírgula:
- sujeito de predicado; Reticências
- objeto de verbo;
- adjunto adnominal de nome; Aplicação das Reticências
- complemento nominal de nome;
- oração principal da subordinada substantiva (desde que - Indicam a interrupção de uma frase, deixando-a com
esta não seja apositiva nem apareça na ordem inversa). sentido incompleto.
Exemplo: Não consegui falar com a Laura... Quem sabe se
Dois Pontos eu ligar mais tarde...

Usos dos Dois Pontos - Sugerem prolongamento de ideias.


Exemplo: “Sua tez, alva e pura como um floco de algodão,
- Antes de enumerações. tingia-se nas faces duns longes cor-de-rosa...” (José de Alencar)
Exemplo: Compre três frutas hoje: maçã, uva e laranja.
- Indicam dúvida ou hesitação.
- Iniciando citações. Exemplo: Não sei... Acho que... Não quero ir hoje.
Exemplo: “Segundo o folclórico Vicente Mateus: ‘Quem
está na chuva é para se queimar’”4. - Indicam omissão de palavras ou frases no período.
Exemplo: “Se o lindo semblante não se impregnasse
- Antes de orações que explicam o enunciado anterior constantemente, (...) ninguém veria nela a verdadeira
Exemplo: Não foi explicado o que deveríamos fazer: o que fisionomia de Aurélia, e sim a máscara de alguma profunda
nos deixa insatisfeitos. decepção.” (José de Alencar)

- Depois de verbos que introduzem a fala. Travessão


Exemplo: “(...) e disse: aqui não podemos ficar!”
Usos do Travessão
Ponto e Vírgula
- Nos diálogos, para marcar a fala das personagens.
Usos do Ponto e Vírgula Exemplo: As meninas gritaram: - Venham nos buscar!
Este sinal gráfico é utilizado para anunciar pausas mais
fortes, para separar orações adversativas (enfatizando o - No meio de sentenças, para dar ênfase em informações.
contraste de ideias) e para separar os itens de enunciados. Exemplo: O garçom - creio que já lhe falei - está muito bem
Exemplos: no novo serviço - é o que ouvi dizer.

Os dois rapazes estavam desesperados por dinheiro; Ponto de Exclamação


Ernesto não tinha dinheiro nem crédito. (pausa longa)
Usos do Ponto de Exclamação
Sonhava em comprar todos os sapatos da loja; comprei,
porém, apenas um par. (separação da oração adversativa na - Após vocativos.
qual a conjunção - porém - aparece no meio da oração) Exemplo: Vem, Fabiano!

3 4
Retirado de: SCHOCAIR, Nelson Maia. Gramática Moderna Retirado de: SCHOCAIR, Nelson Maia. Gramática Moderna
da Língua Portuguesa: Teoria e prática. 6ª ed. Rio de janeiro, 2012, da Língua Portuguesa: Teoria e prática. 6ª ed. Rio de janeiro, 2012,
p.488. p.488.

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- Após imperativos. ficam numa linha sozinha. O corte final de cada citação fica,
Exemplo: Corram! sempre, a critério de quem está citando:
“[...] O processo de desenvolvimento é cada vez mais
- Após interjeição. marcado pela capacidade de se produzir conhecimento
Exemplos: Ai! / Ufa! próprio [...]. Pesquisa é a função inspiradora de tudo que se faz
na universidade [...]. Pesquisa é compreendida.”
- Após expressões ou frases de caráter emocional.
Exemplo: Quantas pessoas! Asterisco

Aspas Empregado para chamar a atenção do leitor para alguma


nota (observação).
Aplicação das Aspas
Barra
- Isolam termos distantes da norma culta, como gírias,
neologismos, arcaísmos, expressões populares entre outros. Aplicada nas abreviações das datas e em algumas
Exemplo: Eles tocaram “flashback”, “tipo assim” anos 70 e abreviaturas.
80. Foi um verdadeiro “show”.
Hífen
- Delimitam transcrições ou citações textuais
Exemplo: Segundo Rui Barbosa: “A política afina o Usado para ligar elementos de palavras compostas e para
espírito.” unir pronomes átonos a verbos. Exemplo: guarda-roupa

- Isolam estrangeirismos. Questões


Exemplo: Os restaurantes “fast food” têm reinado na
cidade. 1. (IF-TO – Auditor – IFTO/2016) Marque a alternativa
em que a ausência de vírgula não altera o sentido do
Ponto final enunciado.
a) O professor espera um, sim.
- indicar o final de uma frase declarativa: Lembro-me b) Recebo, obrigada.
muito bem dele. c) Não, vá ao estacionamento do campus.
- separar períodos entre si: Fica comigo. Não vá embora. d) Não, quero abandonar minha funções no trabalho.
- nas abreviaturas: Av.; V. Ex.ª e) Hoje, podem ser adquiridas as impressoras licitadas.

Ponto de Interrogação 2. (MPE-GO – Secretário Auxiliar – MPE-GO/2016)


Assinale a alternativa correta quanto ao uso da pontuação.
- Em perguntas diretas: Como você se chama? a) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser
- Às vezes, juntamente com o ponto de exclamação: Quem uma extensão de nossa personalidade.
ganhou na loteria? Você. Eu?! b) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua,
são as principais causas da ira de trânsito.
Parágrafo c) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar
os níveis de estresse em alguns motoristas.
O parágrafo inicia-se um pouco à frente da margem d) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque
esquerda da folha, ponto onde começam as restantes linhas do você está junto; com os outros motoristas cujos
parágrafo. A divisão do texto em parágrafos é feita segundo comportamentos, são desconhecidos.
critérios semânticos, ou seja, termina-se um parágrafo sempre e) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
que se termina um grupo de ideias e se passa para outro centro circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja
de interesse. aliviada.
O ponto no final indica o fim de um parágrafo, indicando
também a necessidade de mudança de linha para o início de 3. (SEGEP-MA – Analista Ambiental – Pedagogo –
um novo parágrafo. FCC/2016)

Colchetes A maioria das pessoas pensa que vai se aposentar cedo e


desfrutar da vida, mas um estudo sugere que estamos fadados a
Aplicação dos colchetes nos aposentar cada vez mais tarde se quisermos manter um
padrão de vida razoável.
- Nos acréscimos - quando houver acréscimos do autor Em 2009, pesquisadores publicaram um estudo na revista
(comentários ou palavras) em meio à citação que está sendo Lancet e afirmaram que metade das pessoas nascidas após o ano
feita, para melhor entendimento, esses acréscimos ou devem 2000 vai viver mais de 100 anos e três quartos vão comemorar
aparecer entre colchetes, no início, meio ou final da citação. seus 75 anos.
Exemplo: Até 2007 acreditávamos que a expectativa de vida das
O operador não sai desses comandos aqui, [ele] cumpre pessoas não passaria de 85 anos. Foi quando os japoneses
rotinas, talvez faça uma coisa assim [faz um gesto circular]. ultrapassaram a expectativa para 86 anos. Na verdade, a
expectativa de vida nos países desenvolvidos sobe linearmente
- Nas omissões em citações – quando, em meio à citação, desde 1840, indicando que ainda não atingimos um limite para
suprimem-se trechos do texto citado (permitidas quando não o tempo de vida máximo para um ser humano.
alteram o sentido da frase ou do texto), esta omissão deve ser No início do século XX, as melhorias no controle das doenças
indicada através de reticências entre colchetes infecciosas promoveram um aumento na sobrevida dos
(ou parênteses): [...]. Podem ser utilizadas no início da citação, humanos, principalmente das crianças. E, depois da Segunda
no interior, no final ou entre um parágrafo e outro, quando se Guerra Mundial, os avanços da medicina no tratamento das
suprime um parágrafo inteiro. Neste último caso as reticências enfermidades cardiovasculares e do câncer promoveram um

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ganho para os adultos. Em 1950, a chance de alguém sobreviver novo. Ou dando risada à toa com os netos, e fazendo uma
dos 80 aos 90 anos era de 10%; atualmente excede os 50%. excursão com os filhos. Tudo isso sem esquecer a
O que agora vai promover uma sobrevida mais longa e com universidade, ou aprender a ler, ou visitar pela primeira vez
mais qualidade será a mudança de hábitos. A Dinamarca era em uma galeria de arte, ou comer sorvete na calçada batendo papo
1950 um dos países com a mais longa expectativa de vida. com alguma nova amiga.
Porém, em 1980 havia despencado para a 20a posição, devido [...]
ao tabagismo. Não precisamos ser tão incrivelmente sérios, cobrar tanto
O controle da ingestão de sal e açúcar, e a redução dos vícios de nós, dos outros e da vida, críticos o tempo todo, vendo só o
como cigarro e álcool, além de atividade física, vão determinar lado mais feio do mundo. Das pessoas. Da própria família. Dos
uma nova onda do aumento de expectativa de vida. A própria amigos. Se formos os eternos acusadores, acabaremos com um
qualidade de vida, medida por anos de saúde plena, deve mudar gosto amargo na boca: o amargor de nossas próprias palavras
para melhor nas próximas décadas. e sentimentos. Se não soubermos rir, se tivermos
O próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro desaprendido como dar uma boa risada, ficaremos com a cara
para as últimas décadas de vida: estamos nos aposentando hirta das máscaras das cirurgias exageradas, dos remendos e
muito cedo e o que juntamos não será o suficiente. Precisamos intervenções para manter ou recuperar a “beleza”. A alma tem
guardar 10% do salário anual e nos aposentar aos 80 anos para suas dores, e para se curar necessita de projetos e afetos.
que a independência econômica acompanhe a independência Precisa acreditar em alguma coisa.
física na aposentadoria. (LUFT, Lya. In: http://veja.abril.com.br. Acesso em
Os pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria 18/09/16)
seja alongada e que os sexagenários mudem seu raciocínio: em As aspas empregadas em “dos remendos e intervenções
vez de pensar na aposentadoria, que passem a mirar uma para manter ou recuperar a “beleza” ” (3º§) permitem a leitura
promoção. de uma crítica à ideia de que:
(Adaptado de: TUMA, Rogério. Disponível em: a) cada idade tem sua beleza própria
http://www.cartacapital.com.br/revista/911/o-contribuinte- b) a beleza só está associada à juventude
secular) c) a beleza interior deve valer mais do que a exterior
d) o conceito de beleza é subjetivo, bastante relativo
Atente para as afirmações abaixo. e) trabalhando a mente, o corpo fica belo
I. Sem prejuízo para a correção, o sinal de dois-pontos pode
ser substituído por “visto que”, precedido de vírgula, em: O 5. (MPE-GO – Secretário Auxiliar – MPE-GO/2016) O
próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro para as período abaixo foi escrito por Machado de Assis em seu Conto
últimas décadas de vida: estamos nos aposentando muito cedo e de Escola. A alternativa que apresenta a pontuação de acordo
o que juntamos não será o suficiente. (7o parágrafo) com a norma culta é:
II. No segmento A própria qualidade de vida, medida por a) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que o
anos de saúde plena, deve mudar para melhor..., as vírgulas Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
podem ser corretamente substituídas por travessões. pareceu útil: para escapar ao castigo do pai.
(6o parágrafo) b) Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o
III. Haverá prejuízo para a correção caso uma vírgula seja Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
colocada imediatamente após “alongada” no segmento: Os pareceu útil para escapar ao castigo do pai.
pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria seja c) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que o
alongada e que os sexagenários mudem seu raciocínio... (último Raimundo não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe
parágrafo) pareceu útil: para escapar ao castigo do pai.
d) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que, o
Está correto o que se afirma APENAS em: Raimundo, não o tendo aprendido, recorria; a um meio que, lhe
a) I e II. pareceu útil, para escapar ao castigo do pai.
b) I e III. e) Compreende-se que: o ponto da lição era difícil e que o
c) II e III. Raimundo, não o tendo aprendido, recorria; a um meio que lhe
d) II. pareceu útil: para escapar ao castigo do pai.
e) I.
6. (MPE-GO – Secretário Auxiliar – MPE-GO/2016)
4. (EBSERH – Técnico em Enfermagem (HUAP-UFF) – TEXTO I
IBFC/2016) Das vantagens de ser bobo
Texto
Setenta anos, por que não? — O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo
para ver, ouvir e tocar no mundo.
Acho essa coisa da idade fascinante: tem a ver com o modo — O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por
como lidamos com a vida. Se a gente a considera uma ladeira duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa,
que desce a partir da primeira ruga, ou do começo de responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
barriguinha, então viver é de certa forma uma desgraceira que — Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os
acaba na morte. Desse ponto de vista, a vida passa a ser uma espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo
doença crônica de prognóstico sombrio. Nessa festa sem graça, tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
quem fica animado? Quem não se amargura? — O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos
[...] não veem.
Pois se minhas avós eram damas idosas aos 50 anos, — Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas
sempre de livro na mão lendo na poltrona junto à janela, com alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem
vestidos discretíssimos, pretos de florzinha branca (ou, em como simples pessoas humanas.
horas mais festivas, minúsculas flores ou bolinhas coloridas), — O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver
hoje aos 70 estamos fazendo projetos, viajando (pode ser — O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas
simplesmente à cidade vizinha para visitar uma amiga), indo vezes o bobo é um Dostoievski.
ao teatro e ao cinema, indo a restaurante (pode ser o de quilo, — Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo,
ali na esquina), eventualmente namorando ou casando de confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um

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ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era caminhoneiro e não vivia com a mãe. O de Italo está preso por
novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea tráfico. A mãe já cumpriu pena por furto e roubo.
onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo É certo que um pai presente e próximo ao filho faz
sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a diferença. Mas, mais que a figura masculina propriamente dita,
opinião deste era a de que o aparelho estava tão estragado que faz falta uma família estruturada, independentemente da
o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. configuração, que dê atenção, carinho, apoio, noções de
— Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter continência e limite, elementos que protegem os jovens em
boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o fase de desenvolvimento.
esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. A mãe e a avó, nessa família brasileira que cresce cada vez
— O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem mais matriarcal, desdobram-se para tentar cumprir esses
nota que venceu. requisitos e preencher as lacunas, mas são “atropeladas” pela
— Aviso: não confundir bobos com burros. rotina dura. Muitas vezes, não têm tempo, energia, dinheiro e
— Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem voz para lidar com esses garotos e garotas que crescem na rua,
menos espera. E uma das tristezas que o bobo não prevê. César longe da escola, em bairros sem equipamentos de esporte e
terminou dizendo a frase célebre: “Até tu, Brutus?" cultura, próximos de amigos e parentes que podem estar
— Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! envolvidos com o crime.
— Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no A criança precisa ter muita autoestima e persistência para
céu. buscar nesse horizonte nebuloso um projeto de vida. Sem
_ Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. apoio emocional, sem uma escola que estimule seu potencial,
— O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se sem ter o que fazer com seu tempo livre, sem enxergar uma luz
fazem passar por bobos no fim do túnel, ela fica muito mais perto da droga, do tráfico,
— Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é do delito, da violência e da gestação na adolescência. É nessa
dificilão, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem mesma família, sem pai à vista, de baixa renda, longe da sala de
passar por bobos. aula, nas periferias, que pipocam os quase 15% das jovens que
— Os espertos ganham dos outros. Em compensação os são mães na adolescência, taxa alarmante que resiste a baixar
bobos ganham vida. nas regiões mais carentes.
— Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que E o que acontece com essa menina que engravida porque
ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles enxerga na maternidade um papel social, uma forma de
sabem. justificar sua existência no mundo? Iludidas com a perspectiva
— Piá lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas de estabilizar um relacionamento (a família estruturada que
(não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas não têm?), elas ficam, usualmente, sozinhas, ainda mais
Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem distantes da escola e de seu projeto de vida. O pai da criança
por não nascer em Minas! some no mundo, e são elas que arcam com o ônus do filho,
— Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por sobrecarregando um lar que já vivia no limite. Segue-se um
cima das casas. ciclo que parece não ter fim.
— E quase impossível evitar o excesso de amor que um Sem políticas públicas que foquem nessa família mais
bobo provoca. E que só o bobo é capaz de excesso de amor. E vulnerável, no apoio emocional e social para esses jovens, em
só o amor faz o bobo. uma escola mais atraente, em projetos de vida, em alternativas
(Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: de lazer, a realidade diária na vida desses jovens continuará a
Nova Fronteira, 1984.) ser a gravidez na adolescência, a violência e a criminalidade.
“O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se BOUER, Jairo. A importância da família estruturada. 11 jul.
fazem passar por bobos.” A assertiva que apresenta análise 2016. Época. Disponível em: Acesso em: 19 jul. 2016 (Adapt.)
correta em relação ao parágrafo transcrito é:
a) Há três adjetivos em função predicativa. Releia o trecho a seguir.
b) Fazer foi usado como verbo impessoal. A mãe e a avó, nessa família brasileira que cresce cada vez
c) O verbo haver está na terceira pessoa do singular porque mais matriarcal, desdobram-se para tentar cumprir esses
é impessoal. requisitos e preencher as lacunas, mas são “atropeladas” pela
d) A forma verbal fazem concorda com o pronome relativo rotina dura.
que.
e) A oração que se fazem passar por bobos deveria estar Em relação ao uso das aspas nesse trecho, assinale a
precedida de vírgula porque explica o termo espertos. alternativa CORRETA.
a) Relativizam um conceito.
7. (IFN-MG – Psicólogo - FUNDEP (Gestão de b) Marcam uma transcrição.
Concursos) /2016) c) Sinalizam ironia por parte do autor.
d) Destacam uma pausa no texto.
A importância da família estruturada
Respostas
Um levantamento do Ministério Público de São Paulo traz
um dado revelador: dois terços dos jovens infratores da capital 1. (E)
paulista fazem parte de famílias que não têm um pai dentro de a) O professor espera um, sim. O PROF. ESTA ESPERANDO
casa. Além de não viverem com o pai, 42% não têm contato UM ALGO, QUANDO TIRO A VIRGULA ELE FICA ''ESPERANDO
algum com ele e 37% têm parentes com antecedentes UM SIM''.
criminais. b) Recebo, obrigada. A PESSOA RECEBE E DIZ OBRIGADO,
Ajudam a engrossar essas estatísticas os garotos Waldik QUANDO TIRO A VIRGULA ELE PASSA A RECEBER É UM
Gabriel, de 11 anos, morto em Cidade Tiradentes, Zona Leste OBRIGADO.
de São Paulo, depois de fugir da Guarda Civil Metropolitana, e c) Não, vá ao estacionamento do campus. ''VÁ AO
Italo, de 10 anos, envolvido em três ocorrências de roubo só ESTACIONAMENTO'', QUANDO TIRO A VIRGULA PASSA A
em 2016, morto pela Polícia Militar no início de junho, depois ''NÃO VÁ AO ESTACIONAME...''
de furtar um carro na Zona Sul da cidade. O pai de Waldik é

Língua Portuguesa 111


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d) Não, quero abandonar minha funções no trabalho. EU conceito diferente. Nesse caso, o termo "atropelar" foi usado
QUERO ABANDONAR, QUANDO TIRO A VIRGULA FICA no sentido de não conseguirem por causa da rotina dura.
NEGADO ''NÃO QUERO...'' Exemplo: Levei um "bolo" no encontro com aquela mulher
Todas mudaram de sentido, menos a última. - Aqui o termo "bolo" não está no seu sentido denotativo, está
com conceito diferente, de que não cumpriram com o
2. (E) compromisso.
Conferindo as demais:
a) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser
uma extensão de nossa personalidade. Semântica: sinonímia,
NÃO SE SEPARA SUJEITO DO PREDICADO POR
VÍRGULA.
antonímia, homonímia,
b) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua, paronímia, polissemia e
são as principais causas da ira de trânsito. figuras de linguagem.
NÃO SE SEPARA SUJEITO DO PREDICADO POR
VÍRGULA.
c) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar
Significação das Palavras
os níveis de estresse em alguns motoristas.
NÃO SE SEPARA POR VÍRGULA VERBO DE SEU
Quanto à significação, as palavras são divididas nas
COMPLEMENTO (no caso 'ocasionar' sendo VTD e
seguintes categorias:
acidentes OD)
d) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado.
você está junto; com os outros motoristas cujos
Exemplo:
comportamentos, são desconhecidos.
- Alfabeto, abecedário.
** NÃO SE SEPARA POR VÍRGULA VERBO DE SEU
- Brado, grito, clamor.
COMPLEMENTO
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
e) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.
circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja
aliviada. (Correta)
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os
3. (A)
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por
I. Correto. O próximo problema a ser enfrentado é a falta
matizes de significação e certas propriedades que o escritor
de dinheiro para as últimas décadas de vida, visto
não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais
que estamos nos aposentando muito cedo e o que juntamos
amplo, aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são
não será o suficiente.
próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés,
II. Correto. No segmento A própria qualidade de vida -
pertencem à esfera da linguagem culta, literária, científica ou
medida por anos de saúde plena - deve mudar para
poética (orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e
melhor...
cinéreo).
III. NÃO Haverá prejuízo para a correção. Os
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência,
pesquisadores (sujeito) propõem que a idade de
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos:
aposentadoria seja alongada, e que os sexagenários (sujeito)
- Adversário e antagonista.
mudem seu raciocínio...
- Translúcido e diáfano.
- Semicírculo e hemiciclo.
4. (B)
- Contraveneno e antídoto.
Esta é a ideia a qual a autora se mostra contrária, a de que
- Moral e ética.
não há beleza ou felicidade depois da juventude.
- Colóquio e diálogo.
- Transformação e metamorfose.
5. (B)
- Oposição e antítese.
A alternativa A tem dois pontos que não deveriam aparecer
na oração.
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se
sinonímia, palavra que também designa o emprego de
6. (C)
sinônimos.
a) Errada. Há apenas um adjetivo em função de
predicativo do sujeito, que é o termo "simpático". Repare que
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos:
está qualificando o sujeito "Bobo" e se relacionam através de
- Ordem e anarquia.
um verbo de ligação.
- Soberba e humildade.
"O bobo (sujeito) é (verbo de ligação) sempre tão simpático
- Louvar e censurar.
(predicativo do sujeito)
- Mal e bem.
b) Errada. O verbo não foi usado de forma impessoal pois
é possível achar seu agente. Quem se faz passar por bobos? Os
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido
espertos.
oposto ou negativo. Exemplos: bendizer/maldizer,
c) Gabarito. Sem comentários. Perfeita. Está no presente
simpático/antipático, progredir/regredir,
do indicativo na terceira pessoa do singular.
concórdia/discórdia, explícito/implícito, ativo/inativo,
d) Errada. A forma verbal "fazem" concorda com
esperar/desesperar, comunista/anticomunista,
"espertos".
simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial.
e) Errada. A frase está perfeita, em ordem direta e não
caberia vírgula nesse trecho.
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e
às vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos:
7. (A)
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo).
O palavra "atropelar" foi colocada entre aspas para que o
- Aço (substantivo) e asso (verbo).
interlocutor conceitue de forma conotativa, ou seja, um

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Só o contexto é que determina a significação dos - Pena: pluma; peça de metal para escrever; punição; dó.
homônimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por - Velar: cobrir com véu; ocultar; vigiar; cuidar; relativo ao
isso é considerada uma deficiência dos idiomas. véu do palato.
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
têm dezenas de acepções.
1. Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e
diferentes no timbre ou na intensidade das vogais. Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem
- Rego (substantivo) e rego (verbo). ser empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado.
- Colher (verbo) e colher (substantivo). Exemplos:
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). - Construí um muro de pedra. (sentido próprio).
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). - Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado).
- Para (verbo parar) e para (preposição). - As águas pingavam da torneira, (sentido próprio).
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). - As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado).
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo).
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque
per+o). nos seguintes exemplos:
- Comprei uma correntinha de ouro.
2. Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e - Fulano nadava em ouro.
diferentes na escrita.
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). simplesmente o conhecido metal precioso, tem sentido
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de próprio, real, denotativo.
consertar). No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas,
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo,
- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos,
(acelerar). evocações que irradiam da palavra).
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
- Censo (recenseamento) e senso (juízo). Questões
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
- Paço (palácio) e passo (andar). 01. (MPE/SP – Biólogo – VUNESP/2016)
- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das
- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = mídias eletrônicas não implica necessariamente harmonia,
anular). implica, sim, que cada participante das novas mídias terá um
- Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão envolvimento gigantesco na vida dos demais membros, que
(tempo de uma reunião ou espetáculo). terá a chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o
uso que quiser das informações que conseguir. A aclamada
3. Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na transparência da coisa pública carrega consigo o risco de fim
pronúncia. da privacidade e a superexposição de nossas pequenas ou
- Caminhada (substantivo), caminhada (verbo). grandes fraquezas morais ao julgamento da comunidade de
- Cedo (verbo), cedo (advérbio). que escolhemos participar.
- Somem (verbo somar), somem (verbo sumir). Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais,
- Livre (adjetivo), livre (verbo livrar). apenas em número de atualizações nas páginas e na
- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr). capacidade dos usuários de distinguir essas variações como
- Alude (avalancha), alude (verbo aludir). relevantes no conjunto virtualmente infinito das
possibilidades das redes. Para achar o fio de Ariadne no
Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na labirinto das redes sociais, os usuários precisam ter a
pronúncia: habilidade de identificar e estimar parâmetros, aprender a
coro e couro, extrair informações relevantes de um conjunto finito de
cesta e sesta, observações e reconhecer a organização geral da rede de que
eminente e iminente, participam.
degradar e degredar, O fluxo de informação que percorre as artérias das redes
cético e séptico, sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos
prescrever e proscrever, recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens
descrição e discrição, a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem
infligir (aplicar) e infringir (transgredir), conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder), sentimento de pânico experimentados por um número
comprimento e cumprimento, crescente de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo
deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente, móvel ou quando ficam sem conexão com a Internet. Essa
divergir, adiar), informação, como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir
ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto, corrigir), os poros da sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto
vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vultuoso um veneno para o espírito.
(congestionado: rosto vultuoso). (Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes.
Revista USP, no 92. Adaptado)
Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma
significação. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. As expressões destacadas nos trechos – meter o bedelho
Exemplos: / estimar parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as adequados respectivamente em:
plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
gado. a) procurar / gostar de / ilustrar

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b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer 05. (TJ/MT – Analista Judiciário – Ciências Contábeis –


c) interferir / propor / embrutecer UFMT/2016)
d) intrometer-se / prezar / esclarecer Na língua portuguesa, há muitas palavras parecidas, seja
e) contrapor-se / consolidar / iluminar no modo de falar ou no de escrever. A palavra sessão, por
exemplo, assemelha-se às palavras cessão e seção, mas cada
02. (Pref. de Itaquitinga/PE – Psicólogo – uma apresenta sentido diferente. Esse caso, mesmo som,
IDHTEC/2016) grafias diferentes, denomina-se homônimo heterográfico.
A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os Assinale a alternativa em que todas as palavras se encontram
combatentes contemplavam-nos entristecidos. nesse caso.
Surpreendiam-se; comoviam-se. O arraial, in extremis, a) taxa, cesta, assento
punhalhes adiante, naquele armistício transitório, uma legião b) conserto, pleito, ótico
desarmada, mutilada faminta e claudicante, num assalto mais c) cheque, descrição, manga
duro que o das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que d) serrar, ratificar, emergir
toda aquela gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos
casebres bombardeados durante três meses. Contemplando- 06. (TJ/MT – Analista Judiciário – Direito – UFMT/2016
lhes os rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos )
molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e
escalavros – a vitória tão longamente apetecida decaía de A fuga dos rinocerontes
súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com Espécie ameaçada de extinção escapa dos caçadores da
efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos maneira mais radical possível – pelo céu.
de combates, de reveses e de milhares de vidas, o apresamento
daquela caqueirada humana – do mesmo passo angulhenta e Os rinocerontes-negros estão entre os bichos mais visados
sinistra, entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos, da África, pois sua espécie é uma das preferidas pelo turismo
num longo enxurro de carcaças e molambos... de caça. Para tentar salvar alguns dos 4.500 espécimes que
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma ainda restam na natureza, duas ONG ambientais apelaram
arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: para uma solução extrema: transportar os rinocerontes de
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças helicóptero. A ação utilizou helicópteros militares para
envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, remover 19 espécimes – com 1,4 toneladas cada um – de seu
escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris habitat original, na província de Cabo Oriental, no sudeste da
desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos África do Sul, e transferi-los para a província de Lampopo, no
aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando; norte do país, a 1.500 quilômetros de distância, onde viverão
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de longe dos caçadores. Como o trajeto tem áreas inacessíveis de
velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e carro, os rinocerontes tiveram de voar por 24 quilômetros.
mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante. Sedados e de olhos vendados (para evitar sustos caso
(CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. acordassem), os rinocerontes foram içados pelos tornozelos e
Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.) voaram entre 10 e 20 minutos. Parece meio brutal? Os
responsáveis pela operação dizem que, além de mais eficiente
Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de para levar os paquidermes a locais de difícil acesso, o
sinônimos? procedimento é mais gentil.
a) Armistício – destruição (BADÔ, F. A fuga dos rinocerontes.
b) Claudicante – manco Superinteressante, nº 229, 2011.)
c) Reveses – infortúnios
d) Fealdade – feiura A palavra radical pode ser empregada com várias
e) Opilados – desnutridos acepções, por isso denomina-se polissêmica. Assinale o
sentido dicionarizado que é mais adequado no contexto acima.
03. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar a) Que existe intrinsecamente num indivíduo ou coisa.
Administrativo – FAEPESUL/2016) b) Brusco; violento; difícil.
Atento ao emprego dos Homônimos, analise as palavras c) Que não é tradicional, comum ou usual.
sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA: d) Que exige destreza, perícia ou coragem.
a) Ainda vivemos no Brasil a descriminação racial. Isso é
crime!
b) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente. 07. (UNESP – Assistente Administrativo I –
c) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão VUNESP/2016)
agora expiar seus crimes.
d) Em todos os momentos, para agir corretamente, é O gavião
preciso o bom censo.
e) Prefiro macarronada com molho, mas sem estrato de Gente olhando para o céu: não é mais disco voador. Disco
tomate. voador perdeu o cartaz com tanto satélite beirando o sol e a
lua. Olhamos todos para o céu em busca de algo mais
04. (Pref. de Cruzeiro/SP – Instrutor de Desenho sensacional e comovente – o gavião malvado, que mata
Técnico e Mecânico – Instituto Excelência/2016) pombas.
Assinale a alternativa em que as palavras podem servir de O centro da cidade do Rio de Janeiro retorna assim à
exemplos de parônimos: contemplação de um drama bem antigo, e há o partido das
a) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem pombas e o partido do gavião. Os pombistas ou pombeiros
gentil). (qualquer palavra é melhor que “columbófilo”) querem matar
b) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo). o gavião. Os amigos deste dizem que ele não é malvado tal; na
c) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se verdade come a sua pombinha com a mesma inocência com
senta). que a pomba come seu grão de milho.
d) Nenhuma das alternativas. Não tomarei partido; admiro a túrgida inocência das
pombas e também o lance magnífico em que o gavião se

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despenca sobre uma delas. Comer pombas é, como diria Saint- b) próprio, fazendo referência às reações das pessoas às
Exupéry, “a verdade do gavião”, mas matar um gavião no ar atitudes das personagens.
com um belo tiro pode também ser a verdade do caçador. c) figurado, indicando que o tempo é intangível, pouco
Que o gavião mate a pomba e o homem mate importando as consequências de subestimá-lo.
alegremente o gavião; ao homem, se não houver outro bicho d) figurado, indicando o contraste na maneira como as
que o mate, pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em personagens se relacionam com o tempo.
outro homem. (Rubem Braga. Ai de ti, e) figurado, se associado a “ele”, mas próprio, se associado
Copacabana, 1999. Adaptado) a “ela”, pois se trata do tempo real.

O termo gavião, destacado em sua última ocorrência no 09. (Pref. de Itaquitinga/PE – Psicólogo –
texto – … pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em IDHTEC/2016)
outro homem. –, é empregado com sentido A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os
a) próprio, equivalendo a inspiração. combatentes contemplavam-nos entristecidos.
b) próprio, equivalendo a conquistador. Surpreendiam-se; comoviam-se. O arraial, in extremis,
c) figurado, equivalendo a ave de rapina. punhalhes adiante, naquele armistício transitório, uma legião
d) figurado, equivalendo a alimento. desarmada, mutilada faminta e claudicante, num assalto mais
e) figurado, equivalendo a predador. duro que o das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que
toda aquela gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos
08. (IPSMI – Procurador – VUNESP/2016) casebres bombardeados durante três meses. Contemplando-
lhes os rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos
CONTRATEMPOS molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e
escalavros – a vitória tão longamente apetecida decaía de
Ele nunca entendeu o tédio, essa impressão de que súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com
existem mais horas do que coisas para se fazer com elas. efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos
Sempre faltou tempo para tanta coisa: faltou minuto para tanta de combates, de reveses e de milhares de vidas, o apresamento
música, faltou dia para tanto sol, faltou domingo para tanta daquela caqueirada humana – do mesmo passo angulhenta e
praia, faltou noite para tanto filme, faltou ano para tanta vida. sinistra, entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos,
Existem dois tipos de pessoa. As pessoas com mais coisa num longo enxurro de carcaças e molambos...
que tempo e as pessoas com mais tempo que coisas para fazer Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma
com o tempo. arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
As pessoas com menos tempo que coisa são as que mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças
buzinam assim que o sinal fica verde, e ficam em pé no avião envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade,
esperando a porta se abrir, e empurram e atropelam as outras escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris
para entrar primeiro no vagão do trem, e leem livros que desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos
enumeram os “livros que você tem que ler antes de morrer” ao aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
invés de ler diretamente os livros que você tem de ler antes de crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de
morrer. velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e
Esse é o caso dele, que chega ao trabalho perguntando mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
onde é a festa, e chega à festa querendo saber onde é a (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.
próxima, e chega à próxima festa pedindo táxi para a outra, e Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
chega à outra percebendo que era melhor ter ficado na
primeira, e quando chega a casa já está na hora de ir para o Em qual dos trechos foi empregada palavra ou expressão
trabalho. em sentido conotativo?
Ela sempre pertenceu ao segundo tipo de pessoa. a) “A entrada dos prisioneiros foi comovedora”
Sempre teve tempo de sobra, por isso sempre leu romances b) “Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender
longos, e passou tardes longas vendo pela milésima vez a uma arma, nem um peito resfolegante...”
segunda temporada de “Grey’s Anatomy” mas, por ter tempo c) “Era, com efeito, contraproducente compensação a tão
demais, acabava sobrando tempo demais para se preocupar luxuosos gastos de combates...”
com uma hérnia imaginária, ou para tentar fazer as pazes com d) “...os arcabouços esmirrados e sujos...”
pessoas que nem sabiam que estavam brigadas com ela, ou e) “faces túmidas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar
escrever cartas longas dentro da cabeça para o ex-namorado, cambaleante”
os pais, o país, ou culpar o sol ou a chuva, ou comentar “e esse
calor dos infernos?”, achando que a culpa é do mau tempo 10. (Pref. de Florianópolis/SC – Auxiliar de Sala –
quando na verdade a culpa é da sobra de tempo, porque se ela FEPESE/2016)
não tivesse tanto tempo não teria nem tempo para falar do O termo (ou expressão) em destaque, que está empregado
tempo. em seu sentido próprio, denotativo, ocorre em:
Quando se conheceram, ele percebeu que não adiantava a) Estou morta de cansada.
correr atrás do tempo porque o tempo sempre vai correr mais b) Aquela mulher fala mal de todos na vizinhança! É
rápido, e ela percebeu que às vezes é bom correr para pensar uma cobra.
menos, e pensar menos é uma maneira de ser feliz, e ambos c) Todo cuidado é pouco. As paredes têm ouvidos.
perceberam que a felicidade é uma questão de tempo. Questão d) Reclusa desde que seu cachorrinho morreu, Filomena
de ter tempo o suficiente para ser feliz, mas não o bastante finalmente saiu de casa ontem.
para perceber que essa felicidade não faz o menor sentido. e) Minha amiga é tão agitada! A bateria dela nunca acaba!
(Gregório Duvivier. Folha de
S. Paulo, 30.11.2015. Adaptado) Respostas

É correto afirmar que o título do texto tem sentido 01. Resposta B


a) próprio, indicando os obstáculos que cada personagem Imiscuir: tomar parte em, dar opinião sobre (algo) que não
encontra quando depara com o tempo. lhe diz respeito; intrometer-se, interferir
Embotar: tirar ou perder o vigor; enfraquecer(-se).

Língua Portuguesa 115


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02. Resposta A 07. Resposta E


Armistício é um acordo formal, segundo o qual, partes "Que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente
envolvidas em conflito armado concordam em parar de lutar. o gavião; ao homem, se não houver outro bicho que o mate,
Não necessariamente é o fim da guerra, uma vez que pode ser pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro
apenas um cessar-fogo enquanto tenta-se realizar um tratado homem."
de paz.
O trecho indica que na ausência de um outro predador para
03. Resposta C o homem (alguém que lhe mate - ideia substituída no texto
a) Discriminação é um substantivo feminino que significa pela associação com o gavião, em sentido figurado), pode
distinguir ou diferenciar. acontecer de ser outro homem o responsável por tal ato.
b) Eminente é o que se destaca por sua qualidade ou
importância; excelente, superior. Iminente é o que está 08. Resposta D
prestes a acontecer. O contexto é determinante para que atribuamos este ou
c) Correta aquele sentido a uma palavra.
d) Bom senso é um conceito usado na argumentação que
está estritamente ligado às noções de sabedoria e de 09. Resposta E
razoabilidade. "face túmidas e mortas" dá o sentido figurado.
e) Estrato se refere a uma camada, uma faixa. Extrato se
refere, principalmente, a alguma coisa que foi retirada de 10. Resposta D
outra, ou seja, extraída de outra. CONOTATIVO- SENTIDO FIGURADO
DENOTATIVO - sentido real (dicionário)
04. Resposta A a) Estou morta de cansada.
a) CORRETA. Paronímia “é a relação que se estabelece b) Aquela mulher fala mal de todos na vizinhança! É
entre duas ou mais palavras que possuem significados uma cobra. FIGURADO
diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita, c) Todo cuidado é pouco. As paredes têm ouvidos.
isto é, os parônimos”. FIGURADO
Exemplos: Cavaleiro – cavalheiro d) Reclusa desde que seu cachorrinho morreu, Filomena
Absolver – absorver finalmente saiu de casa ontem. DENOTATIVO
Comprimento – cumprimento. e) Minha amiga é tão agitada! A bateria dela nunca acaba!
FIGURADO
b) INCORRETA. Tais palavras
são homófonas e homógrafas, ou seja, possuem grafia e Polissemia
pronúncia iguais.
Outro exemplo é: Cura (verbo) e Cura (substantivo). Polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem
de apresentar mais de um significado nos múltiplos contextos
c) INCORRETA. Tais palavras são homófonas, ou seja, em que aparece. Veja alguns exemplos de palavras
apesar de possuírem a mesma pronúncia, são diferentes na polissêmicas:
escrita.
Outro exemplo é: cela (substantivo) e sela (verbo) Cabo (posto militar, acidente geográfico, cabo da vassoura,
da faca)
05. Resposta A Banco (instituição comercial financeira, assento)
a) taxa, cesta, assento Manga (parte da roupa, fruta)
TAXA/TACHA(verbo) - homônimo homófono
CESTA/SEXTA = homônimo homófono A palavra polissemia vem do grego polysemos e remete a
ASSENTO/ACENTO = homônimo homófono “algo que tem muitos significados”. Na língua portuguesa, a
b) conserto, pleito, ótico polissemia corresponde a uma área da linguística que estuda
CONCERTO/CONSERTO = homônimo homófono palavras que têm a mesma grafia, mas possuem significados
PLEITO/PREITO = parônimos (parecidas) diferentes dependendo do contexto em que estão inseridas.
ÓTICO/OPTICO = Ótico: relativo aos ouvidos/Óptico:
relativo aos olhos = parônimos Essas diferenças nos sentidos das palavras podem estar
c) cheque, descrição, manga relacionadas a diferentes motivos, tais quais a afinidade
CHEQUE/XEQUE = homônimos homófonos etimológica do termo, seu uso em metáforas e suas variações
DESCRIÇÃO/DISCRIÇÃO=parônimos em contextos nos quais a palavra se torna monossêmica em
MANGA (roupa)/MANGA(fruta) = homônimos perfeitos favor da comunicação. Monossemia é o oposto de polissemia,
d) serrar, ratificar, emergir ou seja, quando a palavra tem um único significado.
CERRAR/SERRAR = homônimos homófonos
RATIFICAR/RETIFICAR = parônimos A polissemia é trabalhada em uma sessão da gramática
EMERGIR/IMERGIR = parônimos normativa chamada Semântica. É possível ver o fenômeno na
prática nos exemplos a seguir:
06. Resposta C
Polissemia: “Trata da pluralidade significativa de um Aquele rapaz é um gato.
mesmo vocábulo, que, a depender do contexto, terá uma O gato subiu na árvore.
significação diversa. Em palavras mais simples: a palavra Como a energia não voltou, precisei fazer um gato.
polissêmica é aquela que, dependendo do contexto, muda de
sentido (mas não muda de classe gramatical!). “A Gramática A palavra “gato” é usada nas três frases, porém, em cada
para concursos públicos, 2º edição, 2015, p. 81) uma das ocasiões ela apresenta um significado diferente. No
Os rinocerontes fugiram de helicóptero, concordam que é primeiro exemplo, “gato” é uma gíria usada para se referir à
uma maneira incomum? Não é algo que se ver diariamente, por aparência do rapaz. No segundo, a palavra remete ao animal
isso a alternativa que se encaixa melhor no contexto é a letra “gato”. Por fim, no terceiro caso, o “gato” é uma atividade ilegal
"c". feita por alguém para que obtivesse energia elétrica diante de

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uma emergência. Nota-se que o sentido da palavra mudou de No segundo exemplo, a palavra fera sofreu um desvio na
acordo com o contexto em que ela estava inserida, sua significação própria e diz muito mais do que a expressão
confirmando-se a premissa da polissemia. vulgar “pessoa brava”. Semelhantes desvios de significação a
que são submetidas as palavras, quando se deseja atingir um
É possível perceber que alguns desses contextos passaram efeito expressivo, denominam-se figuras de palavras ou tropos
a fazer sentido por questões sociais, culturais ou históricas (do grego trópos, giro, desvio).
adquiridas ao longo do tempo. Vale ressaltar, no entanto, que
o sentido original descrito no dicionário é o que prevalece, São as seguintes as figuras de palavras:
sendo os demais atribuídos pela analise contextual.
Metáfora: consiste em atribuir a uma palavra
Polissemia e homonímia características de outra, em função de uma analogia
estabelecida de forma bem subjetiva.
É comum que se confundam os significados de polissemia “Meu verso é sangue” (Manuel Bandeira)
e homonímia. No entanto, existe uma diferença substancial Observe que, ao associar verso a sangue, o poeta
entre eles: polissemia remete a uma palavra que apresenta estabeleceu uma analogia entre essas duas palavras, vendo
diversos significados que se encaixam em diversos contextos, nelas uma relação de semelhança. Todos os significados que a
enquanto homonímia refere-se a duas ou mais palavras que palavra sangue sugere ao leitor passam também para a palavra
apresentam origens e significados distintos, mas possuem verso.
grafia e fonologia idênticas. Os poetas são mestres na citação de metáforas
surpreendentes, ricas em significados. Exemplo:
Por exemplo, “manga” é uma palavra que representa um
caso de homonímia. O termo designa tanto uma fruta quanto “Ó minha amada
uma parte da camisa. Não se trata de uma polissemia por que Que olhos os teus
os dois significados são próprios da palavra e têm origens São cais noturnos
diferentes. Por esse motivo, muitos especialistas defendem Cheios de adeus.”
que a palavra “manga” deveria possuir duas entradas distintas Vinícius de Moraes
no dicionário.
A metáfora é uma espécie de comparação sem a presença
Polissemia e ambiguidade de conectivos do tipo como, tal como, assim como etc. Quando
esses conectivos aparecem na frase, temos uma comparação e
Tanto a polissemia quanto a ambiguidade são elementos não uma metáfora. Exemplo:
da linguagem que podem provocar confusões na interpretação
de frases. No caso da ambiguidade, geralmente, o enunciado “A felicidade é como a gota de orvalho
apresenta uma construção de palavras que permite mais de numa pétala de flor.
uma interpretação para a frase em questão. Nem sempre se Brilha tranquila, depois de leve oscila
trata de uma palavra que tenha mais de um significado, mas de e cai como uma lágrima de amor.”
como as palavras estão dispostas na frase, permitindo que as Vinícius de Moraes
informações sejam interpretadas de mais de uma maneira.
Comparação: é a comparação entre dois elementos
Já no caso da polissemia, por uma mesma palavra possuir comuns; semelhantes. Normalmente se emprega uma
mais de um significado, ela pode fazer com que as pessoas não conjunção comparativa: como, tal qual, assim como.
compreendam o sentido usado no primeiro contato com a
frase e interpretem o enunciado de uma maneira diferente do “Sejamos simples e calmos
que ele era intencionado. Neste caso, para que isso não ocorra, Como os regatos e as árvores”
é importante que fique claro qual é o contexto em que a Fernando Pessoa
palavra foi usada.
Metonímia: consiste no emprego de uma palavra por outra
Fontes: https://www.significadosbr.com.br/polissemia com a qual ela se relaciona. Ocorre a metonímia quando
http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman5. empregamos:
php
Figuras de Linguagem - o autor ou criador pela obra. Exemplo: Gosto de ler
Jorge Amado (observe que o nome do autor está sendo usado
Também chamadas Figuras de Estilo, são recursos no lugar de suas obras).
especiais de que se vale quem fala ou escreve, para comunicar
à expressão mais força e colorido, intensidade e beleza. - o efeito pela causa e vice-versa. Exemplos: Ganho a vida
Podemos classificá-las em três tipos: com o suor do meu rosto. (o suor é o efeito ou resultado e está
sendo usado no lugar da causa, ou seja, o “trabalho”); Vivo do
- Figuras de Palavras (ou tropos); meu trabalho. (o trabalho é causa e está no lugar do efeito ou
- Figuras de Construção (ou de sintaxe); resultado, ou seja, o “lucro”).
- Figuras de Pensamento.
- o continente pelo conteúdo. Exemplo: Ela comeu uma
Figuras de Palavra caixa de doces. (a palavra caixa, que designa o continente ou
aquilo que contém, está sendo usada no lugar da palavra doces,
Compare estes exemplos: que designaria o conteúdo).
O tigre é uma fera. (fera = animal feroz: sentido próprio,
literal, usual) - o abstrato pelo concreto e vice-versa. Exemplos: A
Pedro era uma fera. (fera = pessoa muito brava: sentido velhice deve ser respeitada. (o abstrato velhice está no lugar do
figurado, ocasional) concreto, ou seja, pessoas velhas).Ele tem um grande coração.
(o concreto coração está no lugar do abstrato, ou seja,
bondade).

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A essas construções que se afastam das estruturas


- o instrumento pela pessoa que o utiliza. Exemplo: Ele regulares ou comuns e que visam transmitir à frase mais
é bom volante. (o termo volante está sendo usado no lugar do concisão, expressividade ou elegância dá-se o nome de figuras
termo piloto ou motorista). de construção ou de sintaxe.

- o lugar pelo produto. Exemplo: Gosto muito de tomar São as mais importantes figuras de construção:
um Porto. (o produto vinho foi substituído pelo nome do lugar
em que é feito, ou seja, a cidade do Porto). Elipse: consiste na omissão de um termo da frase, o qual,
no entanto, pode ser facilmente identificado. Exemplo: No fim
- o símbolo ou sinal pela coisa significada. Exemplo: Os da festa, sobre as mesas, copos e garrafas vazias. (ocorre a
revolucionários queriam o trono. (a palavra trono, nesse caso, omissão do verbo haver: No fim da festa havia, sobre as mesas,
simboliza o império, o poder). copos e garrafas vazias).

- a parte pelo todo. Exemplo: Não há teto para os Pleonasmo: consiste no emprego de palavras redundantes
necessitados. (a parte teto está no lugar do todo, “a casa”). para reforçar uma ideia. Exemplo: Ele vive uma vida feliz.
Observação: Devem ser evitados os pleonasmos viciosos,
- o indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: Ele foi o que não têm valor de reforço, sendo antes fruto do
judas do grupo. (o nome próprio Judas está sendo usado como desconhecimento do sentido das palavras, como por exemplo,
substantivo comum, designando a espécie dos homens as construções “subir para cima”, “protagonista principal”,
traidores). “entrar para dentro”, etc.

- o singular pelo plural. Exemplo: O homem é um animal Polissíndeto: consiste na repetição enfática do conectivo,
racional. (o singular homem está sendo usado no lugar do geralmente o “e”. Exemplo: Felizes, eles riam, e cantavam, e
plural homens). pulavam de alegria, e dançavam pelas ruas...

- o gênero ou a qualidade pela espécie. Exemplo: Os Inversão ou Hipérbato: consiste em alterar a ordem
mortais somos imperfeitos. (a palavra mortais está no lugar de normal dos termos ou orações com o fim de lhes dar destaque:
“seres humanos”). “Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga)
“Justo ela diz que é, mas eu não acho não.” (Carlos
- a matéria pelo objeto. Exemplo: Ele não tem um níquel. Drummond de Andrade)
(a matéria níquel é usada no lugar da coisa fabricada, que é “Por que brigavam no meu interior esses entes de sonho não
“moeda”). sei.” (Graciliano Ramos)
“Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (Mário
Observação: Os últimos 5 casos recebem também o nome Quintana)
de Sinédoque. Observação: o termo que desejamos realçar é colocado, em
geral, no início da frase.
Perífrase: é a substituição de um nome por uma expressão
que facilita a sua identificação. Exemplo: O país do futebol Anacoluto: consiste na quebra da estrutura sintática da
acredita no seu povo. (país do futebol = Brasil) oração. O tipo de anacoluto mais comum é aquele em que um
termo parece que vai ser o sujeito da oração, mas a construção
Sinestesia: é a mistura de sensações percebidas por se modifica e ele acaba sem função sintática. Essa figura é
diferentes órgãos do sentido. usada geralmente para pôr em relevo a ideia que
“O vento frio e cortante balança os trigais dourados e consideramos mais importante, destacando-a do resto.
macios que se estendiam pelo campo.” (frio e cortante = tato / Exemplo: “Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e
dourados e macios = visão + tato) escura.” (Manuel Bandeira) (o pronome eu, enunciado no
início, não se liga sintaticamente à oração eis-me medonha e
Catacrese: consiste em transferir a uma palavra o sentido escura.)
próprio de outra, utilizando-se formas já incorporadas aos
usos da língua. Se a metáfora surpreende pela originalidade da Silepse: ocorre quando a concordância de gênero, número
associação de ideias, o mesmo não ocorre com a catacrese, que ou pessoa é feita com ideias ou termos subentendidos na frase
já não chama a atenção por ser tão repetidamente usada. e não claramente expressos. A silepse pode ser:
Exemplo: Ele embarcou no trem das onze. (originariamente, a - de gênero. Exemplo: Vossa Majestade parece cansado. (o
palavra embarcar pressupõe barco e não trem). adjetivo cansado concorda não com o pronome de tratamento
Vossa Majestade, de forma feminina, mas com a pessoa a quem
Antonomásia: ocorre quando substituímos um nome esse pronome se refere – pessoa do sexo masculino).
próprio pela qualidade ou característica que o distingue. - de número. Exemplo: O pessoal ficou apavorado e saíram
Exemplo: O Poeta dos Escravos é baiano. (Poeta dos Escravos correndo. (o verbo sair concordou com a ideia de plural que a
está no lugar do nome próprio Castro Alves, poeta baiano que palavra pessoal sugere).
se distinguiu por escrever poemas em defesa dos escravos). - de pessoa. Exemplo: Os brasileiros gostamos de futebol.
(o sujeito os brasileiros levaria o verbo usualmente para a 3ª
Figuras de Construção pessoa do plural, mas a concordância foi feita com a 1ª pessoa
do plural, indicando que a pessoa que fala está incluída em os
Compare as duas maneiras de construir esta frase: brasileiros).
Os homens pararam, o medo no coração.
Os homens pararam, com o medo no coração. Onomatopeia: consiste no aproveitamento de palavras
Nota-se que a primeira construção é mais concisa e cuja pronúncia imita o som ou a voz natural dos seres. É um
elegante. Desvia-se da norma estritamente gramatical para recurso fonêmico ou melódico que a língua proporciona ao
atingir um fim expressivo ou estilístico. Foi com esse intuito escritor.
que assim a redigiu Jorge Amado. “Pedrinho, sem mais palavras, deu rédea e, lept! lept!
arrancou estrada afora.” (Monteiro Lobato)

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“O som, mais longe, retumba, morre.” (Goncalves Dias) Eufemismo: ocorre quando, no lugar das palavras
“O longo vestido longo da velhíssima senhora frufrulha no próprias, são empregadas outras com a finalidade de atenuar
alto da escada.” (Carlos Drummond de Andrade) ou evitar a expressão direta de uma ideia desagradável ou
“Tíbios flautins finíssimos gritavam.” (Olavo Bilac) grosseira. Exemplo: Depois de muito sofrimento, ele entregou
“Troe e retroe a trompa.” (Raimundo Correia) a alma a Deus.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas, Gradação: ocorre quando se organiza uma sequência de
vagam nos velhos vórtices velozes palavras ou frases que exprimem a intensificação progressiva
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Sousa) de uma ideia. Exemplo: “Eu era pobre. Era subalterno. Era
nada.” (Monteiro Lobato)
As onomatopeias, como nos três últimos exemplos, podem
resultar da Aliteração (repetição de fonemas nas palavras de Hipérbole: ocorre quando, para realçar uma ideia,
uma frase ou de um verso). exageramos na sua representação. Exemplo: Está muito calor.
Os jogadores estão morrendo de sede no campo.
Repetição: consiste em reiterar (repetir) palavras ou
orações para enfatizar a afirmação ou sugerir insistência, Ironia: é o emprego de palavras que, na frase, têm o
progressão: sentido oposto ao que querem dizer. É usada geralmente com
“O surdo pede que repitam, que repitam a última frase.” sentido sarcástico. Exemplo: Quem foi o inteligente que usou o
(Cecília Meireles) computador e apagou o que estava gravado?
“Tudo, tudo parado: parado e morto.” (Mário Palmério)
“Ia-se pelos perfumistas, escolhia, escolhia, saía toda Paradoxo: é o encontro de ideias que se opõem; ideias
perfumada.” (José Geraldo Vieira) opostas. Exemplo:
“E o ronco das águas crescia, crescia, vinha pra dentro da “É tão difícil olhar o mundo
casona.” (Bernardo Élis) e ver o que ainda existe
“O mar foi ficando escuro, escuro, até que a última lâmpada pois sem você
se apagou.” (Inácio de Loyola Brandão) meu mundo é diferente
minha alegria é triste.” (Roberto Carlos e Erasmo)
Zeugma: consiste na omissão de um ou mais termos (a alegria e a tristeza se opõem, se a alegria é triste, ela tem
anteriormente enunciados. Exemplo: A manhã estava uma qualidade que é antagônica).
ensolarada; a praia, cheia de gente. (há omissão do verbo estar
na segunda oração (...a praia estava cheia de gente)). Personificação ou Prosopopéia ou Animismo: consiste
em atribuir características humanas a outros seres. Exemplo:
Assíndeto: ocorre quando certas orações ou palavras, que “Ah! cidade maliciosa
poderiam se ligar por um conectivo, vêm apenas justapostas. de olhos de ressaca
Exemplo: Vim, vi, venci. que das índias guardou a vontade de andar nua.” (Ferreira
Gullar)
Anáfora: consiste na repetição de uma palavra ou de um
segmento do texto com o objetivo de enfatizar uma ideia. É Reticência: consiste em suspender o pensamento,
uma figura de construção muito usada em poesia. Exemplo: deixando-o meio velado. Exemplo:
“Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres “De todas, porém, a que me cativou logo foi uma... uma...
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade não sei se digo.” (Machado de Assis)
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade “Quem sabe se o gigante Piaimã, comedor de gente...”
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.” (Mário de Andrade)

Paranomásia: palavras com sons semelhantes, mas de Retificação: como a palavra diz, consiste em retificar uma
significados diferentes, vulgarmente chamada de trocadilho. afirmação anterior. Exemplos:
Exemplo: Era iminente o fim do eminente político. É uma joia, ou melhor, uma preciosidade, esse quadro.
O síndico, aliás, uma síndica muito gentil não sabia como
Neologismo: criação de palavras novas. Exemplo: O resolver o caso.
projeto foi considerado imexível. “O país andava numa situação política tão complicada
quanto a de agora. Não, minto. Tanto não.” (Raquel de Queiroz)
Figuras de Pensamento “Tirou, ou antes, foi-lhe tirado o lenço da mão.” (Machado
de Assis)
São processos estilísticos que se realizam na esfera do “Ronaldo tem as maiores notas da classe. Da classe? Do
pensamento, no âmbito da frase. Nelas intervêm fortemente a ginásio!” (Geraldo França de Lima)
emoção, o sentimento, a paixão. Eis as principais figuras de
pensamento: Questões

Antítese: consiste em realçar uma ideia pela aproximação 01. (IF/PA - Assistente em Administração –
de palavras de sentidos opostos. Exemplo: “Morre! Tu viverás FUNRIO/2016)
nas estradas que abriste!” (Olavo Bilac)
“Quero um poema ainda não pensado, / que inquiete as
Apóstrofe: consiste na interrupção do texto para se marés de silêncio da palavra ainda não escrita nem
chamar a atenção de alguém ou de coisas personificadas. pronunciada, / que vergue o ferruginoso canto do oceano / e
Sintaticamente, a apóstrofe corresponde ao vocativo. reviva a ruína que são as poças d’água. / Quero um poema para
Exemplo: vingar minha insônia.” (Olga Savary, “Insônia”)
“Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade” (Vinícius Nesses versos finais do poema, encontramos as seguintes
de Moraes) figuras de linguagem:
a) silepse e zeugma

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b) eufemismo e ironia. e) metáfora, metáfora, metonímia, metáfora


c) prosopopeia e metáfora.
d) aliteração e polissíndeto. 05. (COMLURB - Técnico de Segurança do Trabalho –
e) anástrofe e aposiopese. IBFC/2016)
Leia o poema abaixo e assinale a alternativa que indica a
02. (IF/PA - Auxiliar em Administração – figura de linguagem presente no texto:
FUNRIO/2016)
Amor é fogo que arde sem se ver
“Eu sou de lá / Onde o Brasil verdeja a alma e o rio é mar / Amor é fogo que arde sem se ver;
Eu sou de lá / Terra morena que eu amo tanto, meu Pará.” (Pe. É ferida que dói e não se sente;
Fábio de Melo, “Eu Sou de Lá”) É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
Nesse trecho da canção gravada por Fafá de Belém, (Camões)
encontramos a seguinte figura de linguagem:
a) antítese. a) Onomatopeia
b) eufemismo. b) Metáfora
c) ironia c) Personificação
d) metáfora d) Pleonasmo
e) silepse.
06. (Prefeitura de Paulínia/SP - Agente de Fiscalização
03. (Pref. de Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem – FGV/2016)
– IDHTEC/2016)
Descaso com saneamento deixa rios em estado de
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança) alerta
A crise hídrica transformou a paisagem urbana em muitas
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama cidades paulistas. Casas passaram a contar com cisternas e
de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! caixas-d’água azuis se multiplicaram por telhados, lajes e até
Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da em garagens. Em regiões mais nobres, jardins e portarias de
ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia prédios ganharam placas que alertam sobre a utilização de
de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras água de reuso. As pessoas mudaram seu comportamento,
gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias economizaram e cobraram soluções.
semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a As discussões sobre a gestão da água, nos mais diversos
enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos aspectos, saíram dos setores tradicionais e técnicos e
teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol- ganharam espaço no cotidiano. Porém, vieram as chuvas, as
posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo! ...) mas enchentes e os rios urbanos voltaram a ficar tomados por lixo,
vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende mascarando, de certa forma, o enorme volume de esgoto que
demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente muitos desses corpos de água recebem diariamente.
firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, É como se não precisássemos de cada gota de água desses
formando, anunciando -o dia da humanidade. rios urbanos e como se a água limpa que consumimos em
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos nossas casas, em um passe de mágica, voltasse a existir em
Estudantes do Império) tamanha abundância, nos proporcionando o luxo de continuar
a poluir centenas de córregos e milhares de riachos nas nossas
O poema, Mamã Negra: cidades. Para completar, todo esse descaso decorrente da falta
a) É uma metáfora para a pátria sendo referência de um de saneamento se reverte em contaminação e em graves
país africano que foi colonizado e teve sua população doenças de veiculação hídrica.
escravizada. Dados do monitoramento da qualidade da água – que
b) É um vocativo e clama pelos efeitos negativos da realizamos em rios, córregos e lagos de onze Estados
escravização dos povos africanos. brasileiros e do Distrito Federal – revelaram que 36,3% dos
c) É a referência resumida a todo o povo que compõe um pontos de coleta analisados apresentam qualidade ruim ou
país libertado depois de séculos de escravidão. péssima. Apenas 13 pontos foram avaliados com qualidade de
d) É o sofrimento que acometeu todo o povo que ficou na água boa (4,5%) e os outros 59,2% estão em situação regular,
terra e teve seus filhos levados pelo colonizador. o que significa um estado de alerta. Nenhum dos pontos
e) É a figura do colonizador que mesmo exercendo o poder analisados foi avaliado como ótimo.
por meio da opressão foi “ninado “ela Mamã Negra. Divulgamos esse grave retrato no Dia Mundial da Água (22
de março), com base nas análises realizadas entre março de
04. (Pref. de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala – 2015 e fevereiro de 2016, em 289 pontos de coleta
FEPESE/2016) distribuídos em 76 municípios.
Analise as frases abaixo: (MANTOVANI, Mário; RIBEIRO, Malu. UOL Notícias,
abril/2016.)
1.” Calções negros corriam, pulavam durante o jogo.”
2. A mulher conquistou o seu lugar! Em termos de linguagem figurada, o fato de a divulgação
3. Todo cais é uma saudade de pedra. do texto ter sido feita no Dia Mundial da Água funciona como
4. Os microfones foram implacáveis com os novos artistas. a) metáfora.
b) pleonasmo.
Assinale a alternativa que corresponde correta e c) eufemismo.
sequencialmente às figuras de linguagem apresentadas: d) ironia.
a) metáfora, metonímia, metáfora, metonímia e) hipérbole.
b) metonímia, metonímia, metáfora, metáfora
c) metonímia, metonímia, metáfora, metonímia 07. (Prefeitura de Chapecó/SC - Engenheiro de
d) metonímia, metáfora, metonímia, metáfora Trânsito – IOBV/2016)

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APOSTILAS OPÇÃO

O OUTRO LADO naquele país só era praticado como trapaça, tanto por quem
vendia como por quem comprava. O governo era uma
só assim o poema se constrói: associação de delinquentes vivendo à custa dos súditos, e os
quando o desejo tem forma de ilha súditos por sua vez só se preocupavam em fraudar o governo.
e todos os planetas são luas, embriões da magia Assim a vida prosseguia sem tropeços, e não havia nem ricos
então podemos atravessar as chamas nem pobres.
sentir o chão respirar Ora, não se sabe como, ocorre que no país apareceu um
ver a dança da claridade homem honesto. À noite, em vez de sair com o saco e a
ouvir as vozes das cores lanterna, ficava em casa fumando e lendo romances. Vinham
fruir a liberdade animal os ladrões, viam a luz acesa e não subiam.
de estarmos soltos no espaço Essa situação durou algum tempo: depois foi preciso fazê-
ter parte com pedra e vento lo compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era
seguir os rastros do infinito essa uma boa razão para não deixar os outros fazerem. Cada
entender o que sussurra o vazio noite que ele passava em casa era uma família que não comia
– e tudo isso é tão familiar no dia seguinte.
para quem conhece Diante desses argumentos, o homem honesto não tinha o
a forma do sonho que objetar. Também começou a sair de noite para voltar de
madrugada, mas não ia roubar. Era honesto, não havia nada a
(WILLER, Claudio, Estranhas experiências, 2004, p. 46) fazer. Andava até a ponte e ficava vendo a água passar
embaixo. Voltava para casa, e a encontrava roubada.
No poema acima, do poeta paulista Claudio Willer (1940), Em menos de uma semana o homem honesto ficou sem um
no verso “ouvir as vozes das cores”, entre outros versos, é tostão, sem o que comer, com a casa vazia. Mas até aí tudo bem,
expressa uma figura de linguagem. Esta pode ser assim porque era culpa sua; o problema era que seu comportamento
definida: “Figura que consiste na utilização simultânea de criava uma grande confusão. Ele deixava que lhe roubassem
alguns dos cinco sentidos” tudo e, ao mesmo tempo, não roubava ninguém; assim sempre
(CAMPEDELLI, S. Y. e SOUZA, J. B. Literatura, produção de havia alguém que, voltando para casa de madrugada, achava a
textos & gramática. São Paulo, Saraiva, 1998, p. 616). casa intacta: a casa que o homem honesto devia ter roubado. O
fato é que, pouco depois, os que não eram roubados acabaram
Como é denominada esta figura de linguagem? ficando mais ricos que os outros e passaram a não querer mais
a) Eufemismo. roubar. E, além disso, os que vinham para roubar a casa do
b) Hipérbole. homem honesto sempre a encontravam vazia; assim iam
c) Sinestesia. ficando pobres.
d) Antítese. Enquanto isso, os que tinham se tornado ricos pegaram o
costume, eles também, de ir de noite até a ponte, para ver a
08. (MPE/RJ - Técnico do Ministério Público – água que passava embaixo. Isso aumentou a confusão, pois
Administrativa – FGV/2016) muitos outros ficaram ricos e muitos outros ficaram pobres.
Ora, os ricos perceberam que, indo de noite até a ponte,
mais tarde ficariam pobres. E pensaram: “Paguemos aos
pobres para ir roubar para nós”. Fizeram-se os contratos,
estabeleceram-se os salários, as percentagens: naturalmente,
continuavam a ser ladrões e procuravam enganar-se uns aos
outros. Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez
mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e que
mandavam roubar para continuarem a ser ricos. Mas, se
paravam de roubar, ficavam pobres porque os pobres os
roubavam. Então pagaram aos mais pobres dos pobres para
defenderem as suas coisas contra os outros pobres, e assim
instituíram a polícia e constituíram as prisões.
Dessa forma, já poucos anos depois do episódio do homem
A charge acima apresenta uma estrutura que poderia ser honesto, não se falava mais de roubar ou de ser roubado, mas
representada pelo seguinte tipo de linguagem figurada: só de ricos ou de pobres; e, no entanto, todos continuavam a
a) antítese; ser pobres.
b) paradoxo; Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de
c) metonímia; fome.
d) pleonasmo; (ÍTALO CALVINO. In: Um general na biblioteca.
e) eufemismo. Companhia das Letras, São Paulo, 2001)

09. (Pref. de Teresina/PI - Professor – Português – O título do texto “Ovelha Negra” refere-se ao “homem
NUCEPE/2016) honesto”, isso caracteriza uma
a) ironia.
A OVELHA NEGRA b) catacrese.
c) prosopopeia.
Havia um país onde todos eram ladrões. d) eufemismo.
À noite, cada habitante saía, com a gazua e a lanterna, e ia e) antítese.
arrombar a casa de um vizinho. Voltava de madrugada,
carregado e encontrava a sua casa arrombada. 10. (CISMEPAR/PR – Advogado – FAUEL/2016)
E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um O assassino era o escriba
roubava o outro, e este, um terceiro, e assim por diante, até que Paulo Leminsky
se chegava ao último que roubava o primeiro. O comércio

Língua Portuguesa 121


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APOSTILAS OPÇÃO

Meu professor de análise sintática era o tipo do Fonte: Nova Gramática da Língua Portuguesa - Rodrigo
sujeito inexistente. Bezerra
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação. 04. Resposta C
Entre uma oração subordinada e um adjunto Note que ambas são figuras de linguagem, e cada uma tem
adverbial, suas características:
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito A - Metáfora. Comparação implícita entre seres que nós
assindético de nos torturar com um aposto. fazemos. Nessa comparação não usamos a palavra 'como'.
Casou com uma regência. Exemplo: Meu cartão de crédito é uma navalha. [Navalha = no
Foi infeliz. sentido que corta profundo, cartão como navalha significa que
Era possessivo como um pronome. prejudica muito a vida financeiro]. Outro exemplo: Essa
E ela era bitransitiva. mulher é uma cobra [cobra = sentido de perigosa, astuta]
Tentou ir para os EUA. B - Metonímia. Substitui um ser por outro com alguma
Não deu. relação de significa. Exemplo: O bonde passa cheio de pernas.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem. [Pernas = pessoas].
A interjeição do bigode declinava partículas Com isso vamos analisar as alternativas:
expletivas, a)” Calções negros corriam, pulavam durante o jogo.” -
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. calções = jogadores. Metonímia
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. b) A mulher conquistou o seu lugar! - mulher = mulheres
[representando todas as classes de mulheres]. Metonímia.
A respeito da identificação do sujeito do texto com um c) Todo cais é uma saudade de pedra. Comparação do cais
“pleonasmo”, podemos afirmar que se trata de uma figura de com uma saudade de pedra. Metáfora.
linguagem cujas características apontam para: d) Os microfones foram implacáveis com os novos artistas.
a) a redundância e a repetitividade. [Microfones = os críticos] Metonímia.
b) a insegurança e o excesso.
c) a circunspecção e a introversão. 05. Resposta B
d) o talento e a comodidade. METÁFORA: Apresenta uma palavra utilizada em sentido
figurado, uma palavra utilizada fora da sua acepção real, em
Respostas virtude de uma semelhança submetida. É uma comparação
sem elementos comparativos.
01. Resposta C
Prosopopeia - significa atribuir a seres inanimados 06. Resposta D
(sem vida) características de seres animados ou atribuir Dia mundial da água: Dia de comemorar
características humanas a seres irracionais. Porém, não há tanto o que comemorar diante de tantos
Metáfora - é uma figura de linguagem onde se usa uma fatos "ruins" ocorridos com a água. Logo, uma ironia.
palavra ou uma expressão em um sentido que não é muito
comum, revelando uma relação de semelhança entre dois 07. Resposta C
termos. Sinestesia ocorre quando há uma combinação de diversas
impressões sensoriais (visuais, auditivas, olfativas, gustativas
“Quero um poema ainda não pensado, / que inquiete as e táteis) entre si, e também entre as referidas sensações e
marés → de silêncio da palavra ainda não escrita nem sentimentos.
pronunciada, / que vergue o ferruginoso → canto do oceano
/ e reviva a ruína → que são as poças d’água. / Quero um 08. Resposta A
poema para vingar minha insônia.” a) antítese; (oposição de ideias, neste caso explicitada pela
divergência entres os tempos em relação ao consumo de
02. Resposta D comida)
“Eu sou de lá / Onde o Brasil verdeja a alma e o rio é b) paradoxo;( também dão a ideia de oposição, todavia de
mar / Eu sou de lá / Terra morena que eu amo tanto, meu maneira expressamente absurda como por exemplo: " quanto
Pará.” mais trabalha, mais fico pobre", é um absurdo trabalhar tanto
Comparação implícita e mesmo assim ficar pobre.
c) metonímia;( ideia entre dois termos que se substituem,
Metáfora - Figura de Palavra. como por exemplo:" li Machado de Assis". Você provavelmente
Antítese, Eufemismo, Ironia - Figura de Pensamento. não leu "O" Machado de Assis, mas sim um livro que ele
Silepse - Figura de Construção. escreveu.
d) pleonasmo; (repetição de ideias)
03. Resposta A e) eufemismo. (suavização, amenização de um tratamento
Figuras de palavras (ou tropos) são figuras que se ao qual poderia ser empregado de modo grosseiro: faltar com
caracterizam por alterar o sentido próprio de uma palavra. São a verdade significa mentir.
elas: metáfora, metonímia, catacrese, perífrase, sinestesia e
comparação. 09. Resposta A
Metáfora consiste em usar uma palavra pela outra por Ironia: dizer algo quando na verdade quer dizer o
força de uma comparação mental. contrário.
O vocábulo mãe em sentido denotativo indica aquela que
deu à luz, criou, deu segurança, carinho etc. No texto o 10. Resposta A
vocábulo é associado ao drama de carne e sangue, desgraça, Pleonasmo é a redundância de termos no âmbito das
dor vivido pelos escravos. Nessa linha o título "mamã negra" é palavras, mas de emprego legítimo em certos casos, pois
uma comparação mental entre "mãe" (sentido denotativo) e o confere maior vigor ao que está sendo expresso (p.ex.: ele via
país (continente) africano. tudo com seus próprios olhos)
Exemplos de metáfora: Ela é um anjo de doçura, e ele é um
cavalo de grosseria.

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APOSTILAS OPÇÃO

Cancioneir
de canções Sextilha de seis versos
Coletivos. o

de
Cardume de peixes Tropilhas trabalhadores,
Coletivos alunos

São os substantivos comuns que, mesmo no singular, de amostras


designam um conjunto de seres de uma mesma espécie: bando, Código de leis Xiloteca de tipos de
povo, frota, batalhão, biblioteca, constelação. madeiras
Eis alguns substantivos coletivos:

de Vejamos outros substantivos coletivos5:


Álbum Colmeia de abelhas abelha - enxame, cortiço ,colmeia;
fotografias
abutre - bando;
acompanhante - comitiva, cortejo, séquito;
de bispos em alho (quando entrelaçados) - réstia, enfiada, cambada;
Alcateia de lobos Concílio
assembleia
aluno – classe;
amigo (quando em assembleia) - tertúlia;
de textos animal (em geral) piara, pandilha, (todos de uma região)
Antologia Conclave de cardeais
escolhidos fauna, (manada de cavalgaduras) récua, récova, (de carga)
tropa, (de carga, menos de 10) lote, (de raça ,para reprodução)
Arquipélag Cordilheir plantel, (ferozes ou selvagens) alcateia;
ilhas de montanhas anjo - chusma, coro, falange, legião ,teoria;
o a
apetrecho (quando de profissionais) ferramenta,
instrumental;
pessoas, acompanhante aplaudidot (quando pagos) claque;
Assembleia Cortejo
professores s em comitiva arcabuzeiro - batalhão ,manga, regimento;
argumento - carrada, monte, montão ,multidão;
cartas Hemerotec de jornais, arma (quando tomadas dos inimigos) troféu;
Atlas
geográficas a revistas arroz - batelada;
artista (quando trabalham juntos) companhia, elenco;
de aves, de árvore (quando em linha) alameda, carreira, rua, souto,
Bando Iconoteca de imagens (quando constituem maciço )arvoredo, bosque, (quando altas,
crianças
de troncos retos a aparentar parque artificial) malhada;
de muitas asneira - acervo, chorrilho, enfiada, monte;
utensílios de asno - manada, récova, récua;
Baixela Miríade estrelas,
mesa assassino - choldra ,choldraboldra;
insetos
assistente - assistência;
de astro (quando reunidos a outros do mesmo grupo)
Banca examinadore Nuvem de gafanhotos constelação;
s ator - elenco;
autógrafo (quando em lista especial de coleção )álbum;
de borboletas ave (quando em grande quantidade) bando, nuvem;
Biênio dois anos Panapaná avião - esquadrão ,esquadra, esquadrilha;
em bando
bala - saraiva, saraivada;
bandoleiro - caterva, corja, horda, malta, súcia, turba;
Bimestre dois meses Penca de frutas bêbado - corja, súcia, farândola;
boi - boiada ,abesana, armento, cingel, jugada, jugo, junta,
manada, rebanho, tropa;
bomba - bateria;
Cacho de uva Pinacoteca de quadros
borboleta - boana, panapaná;
botão (de qualquer peça de vestuário) abotoadura,
(quando em fileira) carreira;
Cáfila camelos Piquete de grevistas burro (em geral) lote, manada, récua, tropa, (quando
carregado) comboio;
busto (quando em coleção) – galeria
de pessoas
Caravana viajantes Plêiade notáveis,
Questões
sábios

de quinhentas 01. Qual é o coletivo de ilha?


de vadios, a) Cafezal
Cambada Resma folhas de
malvados b) Manada
papel
c) Arquipélago

55

Fontes:http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf15.php e
http://www.infoescola.com/portugues/substantivos-coletivos/

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APOSTILAS OPÇÃO

d) Todas as Alternativas Anteriores Estão Erradas “Fumaça nas chaminés, o céu tranquilo, limpo o terreiro.”
(Adonias Filho)
02. Qual é o coletivo de café? “As luzes da cidade estavam amortecidas.” (Érico
a) Arquipélago Veríssimo)
b) Cafezal “Tropas do exército regular do Sul, ajustadas pelos seus
c) Álbum aliados brancos de além mar, tinham sido levadas em
d) As alternativas “a” e “b” estão corretas helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o
inimigo, mas este se havia sumido por completo.” (Érico
03. Qual é o coletivo de fotos? Veríssimo)
a) Álbum
b) Cafezal As frases são proferidas com entoação e pausas especiais,
c) Arquipélago indicadas na escrita pelos sinais de pontuação. Muitas frases,
d) As alternativas “a” e “c” estão corretas principalmente as que se desviam do esquema sujeito +
predicado, só podem ser entendidas dentro do contexto (= o
04. Qual é o coletivo de lobos? escrito em que figuram) e na situação (= o ambiente, as
a) Manada circunstâncias) em que o falante se encontra. Chamam-se
b) Alcateia frases nominais as que se apresentam sem o verbo. Exemplo:
c) Álbum Tudo parado e morto.
d) Todas as Alternativas Anteriores Estão Corretas
Quanto ao sentido, as frases podem ser:
05. Qual é o coletivo de elefantes?
a) Álbum Declarativas: aquela através da qual se enuncia algo, de
b) Alcateia forma afirmativa ou negativa. Encerram a declaração ou
c) Manada enunciação de um juízo acerca de alguém ou de alguma coisa:
d) As alternativas “b” e “c” estão corretas Paulo parece inteligente. (afirmativa)
A retificação da velha estrada é uma obra inadiável.
Respostas (afirmativa)
Nunca te esquecerei. (negativa)
01. (C) / 02. (B) / 03.(A) / 04. (B) / 05. (C) Neli não quis montar o cavalo velho, de pelo ruço.
(negativa)

Interrogativas: aquela da qual se pergunta algo, direta


Funções sintáticas de (com ponto de interrogação) ou indiretamente (sem ponto de
termos e de orações. interrogação). São uma pergunta, uma interrogação:
Processos sintáticos: Por que chegaste tão tarde?
Gostaria de saber que horas são.
subordinação e coordenação. “Por que faço eu sempre o que não queria” (Fernando
Pessoa)
“Não sabe, ao menos, o nome do pequeno?” (Machado de
Análise Sintática Assis)

A Análise Sintática examina a estrutura do período, divide Imperativas: aquela através da qual expressamos uma
e classifica as orações que o constituem e reconhece a função ordem, pedido ou súplica, de forma afirmativa ou negativa.
sintática dos termos de cada oração. Contêm uma ordem, proibição, exortação ou pedido:
Daremos uma ideia do que seja frase, oração, período, “Cale-se! Respeite este templo.” (afirmativa)
termo, função sintática e núcleo de um termo da oração. Não cometa imprudências. (negativa)
As palavras, tanto na expressão escrita como na oral, são “Vamos, meu filho, ande depressa!” (afirmativa)
reunidas e ordenadas em frases. Pela frase é que se alcança o “Segue teu rumo e canta em paz.” (afirmativa)
objetivo do discurso, ou seja, da atividade linguística: a “Não me leves para o mar.” (negativa)
comunicação com o ouvinte ou o leitor.
Frase, Oração e Período são fatores constituintes de Exclamativas: aquela através da qual externamos uma
qualquer texto escrito em prosa, pois o mesmo compõe-se de admiração. Traduzem admiração, surpresa, arrependimento,
uma sequência lógica de ideias, todas organizadas e dispostas etc.:
em parágrafos minuciosamente construídos. Como eles são audaciosos!
Não voltaram mais!
Frase: é todo enunciado capaz de transmitir, a quem nos “Uma senhora instruída meter-se nestas bibocas!”
ouve ou lê, tudo o que pensamos, queremos ou sentimos. Pode (Graciliano Ramos)
revestir as mais variadas formas, desde a simples palavra até
o período mais complexo, elaborado segundo os padrões Optativas: É aquela através da qual se exprime um desejo:
sintáticos do idioma. São exemplos de frases: Bons ventos o levem!
Oxalá não sejam vãos tantos sacrifícios!
Socorro! “E queira Deus que te não enganes, menino!” (Carlos de
Muito obrigado! Laet)
Que horror! “Quem me dera ser como Casimiro Lopes!” (Graciliano
Sentinela, alerta! Ramos)
Cada um por si e Deus por todos.
Grande nau, grande tormenta. Imprecativas: Encerram uma imprecação (praga,
Por que agridem a natureza? maldição):
“Tudo seco em redor.” (Graciliano Ramos) “Esta luz me falte, se eu minto, senhor!” (Camilo Castelo
“Boa tarde, mãe Margarida!” (Graciliano Ramos) Branco)

Língua Portuguesa 124


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APOSTILAS OPÇÃO

“Não encontres amor nas mulheres!” (Gonçalves Dias) (A) Eugênio e Marcelo caminhavam juntos.
“Maldito seja quem arme ciladas no seu caminho!” (B) Luisinho procurou os fósforos no bolso.
(Domingos Carvalho da Silva) (C) Os meninos olharam à sua volta.

Como se vê dos exemplos citados, os diversos tipos de frase 04. Sabemos que frases verbais são aquelas que têm
podem encerrar uma afirmação ou uma negação. No primeiro verbos. Assinale, pois, as frases verbais:
caso, a frase é afirmativa, no segundo, negativa. O que (A) Deus te guarde!
caracteriza e distingue esses diferentes tipos de frase é a (B) As risadas não eram normais.
entoação, ora ascendente ora descendente. (C) Que ideia absurda!
Muitas vezes, as frases assumem sentidos que só podem (D) O fósforo quebrou – se em três pedacinhos.
ser integralmente captados se atentarmos para o contexto em (E) Tão preta como o túnel!
que são empregadas. É o caso, por exemplo, das situações em (F) Quem bom!
que se explora a ironia. Pense, por exemplo, na frase "Que (G) As ovelhas são mansas e pacientes.
educação!", usada quando se vê alguém invadindo, com seu (H) Que espírito irônico e livre!
carro, a faixa de pedestres. Nesse caso, ela expressa
exatamente o contrário do que aparentemente diz. 05. Escreva para cada frase o tipo a que pertence:
A entoação é um elemento muito importante da frase declarativa, interrogativa, imperativa e exclamativa:
falada, pois nos dá uma ampla possibilidade de expressão. (A) Que flores tão aromáticas!
Dependendo de como é dita, uma frase simples como "É ela." (B) Por que é que não vais ao teatro mais vezes?
pode indicar constatação, dúvida, surpresa, indignação, (C) Devemos manter a nossa escola limpa.
decepção, etc. (D) Respeitem os limites de velocidade.
A mesma frase pode assumir sentidos diferentes, conforme (E) Já alguma vez foste ao Museu da Ciência?
o tom com que a proferimos. Observe: (F) Atravessem a rua com cuidado.
Olavo esteve aqui. (G) Como é bom sentir a alegria de um dever cumprido!
Olavo esteve aqui? (H) Antes de tomar banho no mar, deve-se olhar para a cor
Olavo esteve aqui?! da bandeira.
Olavo esteve aqui! (I) Não te quero ver mais aqui!
(J) Hoje saímos mais cedo.
Frases Fragmentadas
Respostas
Quando você pontua uma oração subordinada ou uma
simples locução como se fosse uma frase completa, a 01. “a” e “d”
argumentação fica comprometida pela quebra da linha de
pensamento. 02. a) interrogativa; b) imperativa; c) exclamativa; d)
Ora, se a oração é subordinada, deve estar atrelada a uma optativa; e) interrogativa; f) declarativa; g) imperativa; h)
principal, sem a qual o leitor terá rompida a visualização do declarativa
encadeamento das ideias.
Exemplo: Eu estava perdida em São Paulo. (oração 03. a) Eugênio e Marcelo, caminhem juntos!; b) Luisinho,
principal) Mesmo consultando o mapa da cidade. (oração procure os fósforos no bolso!; c) Meninos, olhem à sua volta!
subordinada fragmentada) Quando você me
telefonou. (outra oração subordinada fragmentada) 04. a = guarde / b = eram / d = quebrou / g = são
Correção: Eu estava perdida em São Paulo, mesmo
consultando o mapa da cidade, (oração subordinada 05. a) exclamativa; b) interrogativa; c) declarativa; d)
adverbial concessiva) quando você me telefonou. (oração imperativa; e) interrogativa; f) imperativa; g) exclamativa; h)
subordinada adverbial temporal) declarativa; i) imperativa; j) declarativa

Questões Oração: é todo enunciado linguístico dotado de sentido,


porém há, necessariamente, a presença do verbo. A oração
01. Marque apenas as frases nominais: encerra uma frase (ou segmento de frase), várias frases ou um
(A) Que voz estranha! período, completando um pensamento e concluindo o
(B) A lanterna produzia boa claridade. enunciado através de ponto final, interrogação, exclamação e,
(C) As risadas não eram normais. em alguns casos, através de reticências.
(D) Luisinho, não! Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes
elípticos). Não têm estrutura sintática, portanto não são
02. Classifique as frases em declarativa, interrogativa, orações, não podem ser analisadas sintaticamente frases
exclamativa, optativa ou imperativa. como:
(A) Você está bem? Socorro!
(B) Não olhe; não olhe, Luisinho! Com licença!
(C) Que alívio! Que rapaz impertinente!
(D) Tomara que Luisinho não fique impressionado! Muito riso, pouco siso.
(E) Você se machucou? “A bênção, mãe Nácia!” (Raquel de Queirós)
(F) A luz jorrou na caverna.
(G) Agora suma, seu monstro! Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como
(H) O túnel ficava cada vez mais escuro. partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos ou
as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração
03. Transforme a frase declarativa em imperativa. Siga o desempenha uma função sintática. Geralmente apresentam
modelo: dois grupos de palavras: um grupo sobre o qual se declara
Luisinho ficou pra trás. (declarativa) alguma coisa (o sujeito), e um grupo que apresenta uma
Lusinho, fique para trás. (imperativa) declaração (o predicado), e, excepcionalmente, só o
predicado. Exemplo:

Língua Portuguesa 125


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APOSTILAS OPÇÃO

Exemplos:
A menina banhou-se na cachoeira.
A menina – sujeito A padaria está fechada hoje.
banhou-se na cachoeira – predicado está fechada hoje: predicado nominal
Choveu durante a noite. (a oração toda predicado) fechada: nome adjetivo = núcleo do predicado
a padaria: sujeito
O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em padaria: núcleo do sujeito - nome feminino singular
número e pessoa. É normalmente o "ser de quem se declara
algo", "o tema do que se vai comunicar". Nós mentimos sobre nossa idade para você.
O predicado é a parte da oração que contém "a informação mentimos sobre nossa idade para você: predicado verbal
nova para o ouvinte". Normalmente, ele se refere ao sujeito, mentimos: verbo = núcleo do predicado
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito. nós: sujeito

Observe: O amor é eterno. O tema, o ser de quem se declara No interior de uma sentença, o sujeito é o termo
algo, o sujeito, é "O amor". A declaração referente à "o amor", determinante, ao passo que o predicado é o termo
ou seja, o predicado, é "é eterno". determinado. Essa posição de determinante do sujeito em
relação ao predicado adquire sentido com o fato de ser
Já na frase: Os rapazes jogam futebol. O sujeito é "Os possível, na língua portuguesa, uma sentença sem sujeito, mas
rapazes", que identificamos por ser o termo que concorda em nunca uma sentença sem predicado.
número e pessoa com o verbo "jogam". O predicado é "jogam Exemplos:
futebol".
As formigas invadiram minha casa.
Núcleo de um termo é a palavra principal (geralmente um as formigas: sujeito = termo determinante
substantivo, pronome ou verbo), que encerra a essência de sua invadiram minha casa: predicado = termo determinado
significação. Nos exemplos seguintes, as palavras amigo e
revestiu são o núcleo do sujeito e do predicado, Há formigas na minha casa.
respectivamente: há formigas na minha casa: predicado = termo
“O amigo retardatário do presidente prepara-se para determinado
desembarcar.” (Aníbal Machado) sujeito: inexistente
A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas.
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma
Os termos da oração da língua portuguesa são classificados nominal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse
em três grandes níveis: nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o
- Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado. sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto
- Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal (eu, tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira
e Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e pessoa, sua representação pode ser feita através de um
Agente da Passiva). substantivo, de um pronome substantivo ou de qualquer
- Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal, conjunto de palavras, cujo núcleo funcione, na sentença, como
Adjunto Adverbial, Aposto e Vocativo. um substantivo.
Exemplos:
Termos Essenciais da Oração: São dois os termos Eu acompanho você até o guichê.
essenciais (ou fundamentais) da oração: sujeito e predicado. eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa
Exemplos: Vocês disseram alguma coisa?
vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa
Sujeito Predicado Marcos tem um fã-clube no seu bairro.
Marcos: sujeito = substantivo próprio
Pobreza não é vileza.
Ninguém entra na sala agora.
Os sertanistas capturavam os índios. ninguém: sujeito = pronome substantivo
Um vento áspero sacudia as árvores. O andar deve ser uma atividade diária.
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa
oração
Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que
pratica uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir
coisa. Ao fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de
semântico do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto oração substantiva subjetiva:
estilístico (o tópico da sentença). Já que o sujeito é
depreendido de uma análise sintática, vamos restringir a É difícil optar por esse ou aquele doce...
definição apenas ao seu papel sintático na sentença: aquele É difícil: oração principal
que estabelece concordância com o núcleo do predicado. optar por esse ou aquele doce: oração substantiva
Quando se trata de predicado verbal, o núcleo é sempre um subjetiva
verbo; sendo um predicado nominal, o núcleo é sempre um
nome. Então têm por características básicas: O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome,
- estabelecer concordância com o núcleo do predicado; ou por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos:
- apresentar-se como elemento determinante em relação
ao predicado; O sino era grande.
- constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo Ela tem uma educação fina.
ou, ainda, qualquer palavra substantivada. Vossa Excelência agiu com imparcialidade.
Isto não me agrada.

Língua Portuguesa 126


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APOSTILAS OPÇÃO

O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um “Foi ouvida por Deus a súplica do condenado.” (Ramalho
substantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer Ortigão)
palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, “Mas terás tu paciência por duas horas?” (Camilo Castelo
etc.). Branco)
Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma
voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar) Sem Sujeito: constituem a enunciação pura e absoluta de
um fato, através do predicado; o conteúdo verbal não é
O sujeito pode ser: atribuído a nenhum ser. São construídas com os verbos
impessoais, na 3ª pessoa do singular: Havia ratos no porão;
Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm Choveu durante o jogo.
espinhos; “Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em Observação: São verbos impessoais: Haver (nos sentidos
fila indiana.” de existir, acontecer, realizar-se, decorrer), Fazer, passar, ser e
Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o estar, com referência ao tempo e Chover, ventar, nevar, gear,
cavalo nadavam ao lado da canoa.” relampejar, amanhecer, anoitecer e outros que exprimem
Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei fenômenos meteorológicos.
amanhã.
Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando Predicado: assim como o sujeito, o predicado é um
não está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã. segmento extraído da estrutura interna das orações ou das
(sujeito: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse
soldado saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, sentido, o predicado é sintaticamente o segmento linguístico
soldado, está expresso na primeira oração e elíptico na que estabelece concordância com outro termo essencial da
segunda: e (ele) aproximou-se.); Crianças, guardem os oração, o sujeito, sendo este o termo determinante (ou
brinquedos. (sujeito: vocês) subordinado) e o predicado o termo determinado (ou
Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O principal). Não se trata, portanto, de definir o predicado como
Nilo fertiliza o Egito. "aquilo que se diz do sujeito" como fazem certas gramáticas da
Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação língua portuguesa, mas sim estabelecer a importância do
expressa pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo fenômeno da concordância entre esses dois termos essenciais
remorso; Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; da oração. Então têm por características básicas: apresentar-
Construíram-se açudes. (= Açudes foram construídos.) se como elemento determinado em relação ao sujeito; apontar
Agente e Paciente: quando o sujeito realiza a ação um atributo ou acrescentar nova informação ao sujeito.
expressa por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe Exemplos:
os efeitos dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho;
Regina trancou-se no quarto. Carolina conhece os índios da Amazônia.
Indeterminado: quando não se indica o agente da ação sujeito: Carolina = termo determinante
verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem predicado: conhece os índios da Amazônia = termo
atropelou a senhora? Não se diz, não se sabe quem a determinado
atropelou.); Come-se bem naquele restaurante.
Todos nós fazemos parte da quadrilha de São João.
Observações: sujeito: todos nós = termo determinante
- Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto. predicado: fazemos parte da quadrilha de São João = termo
- Sujeito formado por pronome indefinido não é determinado
indeterminado, mas expresso: Alguém me ensinará o
caminho. Ninguém lhe telefonou. Nesses exemplos podemos observar que a concordância é
- Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos
verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente essenciais. No primeiro exemplo, entre "Carolina" e "conhece";
já expresso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com no segundo exemplo, entre "nós" e "fazemos". Isso se dá
admiração; “Bateram palmas no portãozinho da frente.”; “De porque a concordância é centrada nas palavras que são
qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.” núcleos, isto é, que são responsáveis pela principal informação
- Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo naquele segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois
ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. tipos: um nome, quase sempre um atributo que se refere ao
O pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do sujeito da oração, ou um verbo (ou locução verbal). No
sujeito. Pode ser omitido junto de infinitivos. primeiro caso, temos um predicado nominal (seu núcleo
Aqui vive-se bem. significativo é um nome, substantivo, adjetivo, pronome,
Devagar se vai ao longe. ligado ao sujeito por um verbo de ligação) e no segundo um
Quando se é jovem, a memória é mais vivaz. predicado verbal (seu núcleo é um verbo, seguido, ou não, de
Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar. complemento(s) ou termos acessórios). Quando, num mesmo
segmento o nome e o verbo são de igual importância, ambos
- Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o constituem o núcleo do predicado e resultam no tipo de
verbo no infinitivo impessoal: Era penoso carregar aqueles predicado verbo-nominal (tem dois núcleos significativos:
fardos enormes; É triste assistir a estas cenas repulsivas. um verbo e um nome). Exemplos:

Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a Minha empregada é desastrada.


posposição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa predicado: é desastrada
língua. núcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeito
Exemplos: tipo de predicado: nominal
É fácil este problema!
Vão-se os anéis, fiquem os dedos. O núcleo do predicado nominal chama-se predicativo do
“Breve desapareceram os dois guerreiros entre as sujeito, porque atribui ao sujeito uma qualidade ou
árvores.” (José de Alencar) característica. Os verbos de ligação (ser, estar, parecer, etc.)
funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado.

Língua Portuguesa 127


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APOSTILAS OPÇÃO

A empreiteira demoliu nosso antigo prédio. Intransitivos: são os que não precisam de complemento,
predicado: demoliu nosso antigo prédio pois têm sentido completo.
núcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o “Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis)
sujeito “Os guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar)
tipo de predicado: verbal “A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.”
(Marquês de Maricá)
Os manifestantes desciam a rua desesperados.
predicado: desciam a rua desesperados Observações: Os verbos intransitivos podem vir
núcleos do predicado: desciam = nova informação sobre o acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um
sujeito; desesperados = atributo do sujeito predicativo (qualidade, características): Fui cedo; Passeamos
tipo de predicado: verbo-nominal pela cidade; Cheguei atrasado; Entrei em casa aborrecido.
As orações formadas com verbos intransitivos não podem
Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é “transitar” (= passar) para a voz passiva. Verbos intransitivos
responsável também por definir os tipos de elementos que passam, ocasionalmente, a transitivos quando construídos
aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho com o objeto direto ou indireto.
basta para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros - “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do
casos é necessário um complemento que, juntamente com o Nascimento)
verbo, constituem a nova informação sobre o sujeito. De - “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís
qualquer forma, esses complementos do verbo não interferem Jardim)
na tipologia do predicado. - “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves
Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo, Dias)
quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por - “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo
estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos: que já morreu...” (Ciro dos Anjos)

“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer,
inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo crescer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar,
é depois de algozes) chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc.
“Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da
Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe) Transitivos Diretos: são os que pedem um objeto direto,
“A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” isto é, um complemento sem preposição. Pertencem a esse
(Povina Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente) grupo: julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar,
considerar, declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos:
Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo Comprei um terreno e construí a casa.
forma o predicado. “Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de
Há verbos que, por natureza, tem sentido completo, Maricá)
podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos “Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.”
de predicação completa denominados intransitivos. (Guedes de Amorim)
Exemplo:
Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os
As flores murcharam. que formam o predicado verbo nominal e se constrói com o
Os animais correm. complemento acompanhado de predicativo. Exemplos:
As folhas caem. Consideramos o caso extraordinário.
“Os inimigos de Moreiras rejubilaram.” (Graciliano Inês trazia as mãos sempre limpas.
Ramos) O povo chamava-os de anarquistas.
Julgo Marcelo incapaz disso.
Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem o
predicado necessitam de outros termos: são os verbos de Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral,
predicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos: podem ser usados também na voz passiva; Outra característica
desses verbos é a de poderem receber como objeto direto, os
João puxou a rede. pronomes o, a, os, as: convido-o, encontro-os, incomodo-a,
“Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara conheço-as; Os verbos transitivos diretos podem ser
Resende) construídos acidentalmente com preposição, a qual lhes
“Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.” acrescenta novo matiz semântico: arrancar da espada; puxar
(Camilo Castelo Branco) da faca; pegar de uma ferramenta; tomar do lápis; cumprir
com o dever; Alguns verbos transitivos diretos: abençoar,
Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou, achar, colher, avisar, abraçar, comprar, castigar, contrariar,
invejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas: convidar, desculpar, dizer, estimar, elogiar, entristecer,
puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a quê? encontrar, ferir, imitar, levar, perseguir, prejudicar, receber,
Os verbos de predicação completa denominam-se saldar, socorrer, ter, unir, ver, etc.
intransitivos e os de predicação incompleta, transitivos. Os
verbos transitivos subdividem-se em: transitivos diretos, Transitivos Indiretos: são os que reclamam um
transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos complemento regido de preposição, chamado objeto indireto.
(bitransitivos). Exemplos:
Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem “Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma
encerram uma noção definida, um conteúdo significativo, adolescente.” (Ciro dos Anjos)
existem os de ligação, verbos que entram na formação do “Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e
predicado nominal, relacionando o predicativo com o sujeito. neutros.” (Érico Veríssimo)
Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em: “Lúcio não atinava com essa mudança instantânea.” (José
Américo)

Língua Portuguesa 128


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APOSTILAS OPÇÃO

“Do que eu mais gostava era do tempo do retiro Predicativo: Há o predicativo do sujeito e o predicativo do
espiritual.” (José Geraldo Vieira) objeto.

Observações: Entre os verbos transitivos indiretos Predicativo do Sujeito: é o termo que exprime um
importa distinguir os que se constroem com os pronomes atributo, um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual se
objetivos lhe, lhes. Em geral são verbos que exigem a prende por um verbo de ligação, no predicado nominal.
preposição a: agradar-lhe, agradeço-lhe, apraz-lhe, bate-lhe, Exemplos:
desagrada-lhe, desobedecem-lhe, etc. Entre os verbos A bandeira é o símbolo da Pátria.
transitivos indiretos importa distinguir os que não admitem A mesa era de mármore.
para objeto indireto as formas oblíquas lhe, lhes, construindo- O mar estava agitado.
se com os pronomes retos precedidos de preposição: aludir a A ilha parecia um monstro.
ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele, depender dele,
investir contra ele, não ligar para ele, etc. Além desse tipo de predicativo, outro existe que entra na
Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam constituição do predicado verbo-nominal. Exemplos:
a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e O trem chegou atrasado. (=O trem chegou e estava
pouco mais, usados também como transitivos diretos: João atrasado.)
paga (perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado, O menino abriu a porta ansioso.
obedecido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como Todos partiram alegres.
atirar, investir, contentar-se, etc., que admitem mais de uma Marta entrou séria.
preposição, sem mudança de sentido. Outros mudam de
sentido com a troca da preposição, como nestes exemplos: Observações: O predicativo subjetivo às vezes está
Trate de sua vida. (tratar=cuidar). É desagradável tratar com preposicionado; Pode o predicativo preceder o sujeito e até
gente grosseira. (tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, mesmo ao verbo: São horríveis essas coisas!; Que linda estava
dispor, servir, etc., variam de significação conforme sejam Amélia!; Completamente feliz ninguém é.; Raros são os
usados como transitivos diretos ou indiretos. verdadeiros líderes.; Quem são esses homens?; Lentos e
tristes, os retirantes iam passando.; Novo ainda, eu não
Transitivos Diretos e Indiretos: são os que se usam com entendia certas coisas.; Onde está a criança que fui?
dois objetos: um direto, outro indireto, concomitantemente.
Exemplos: Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto
No inverno, Dona Cléia dava roupas aos pobres. de um verbo transitivo. Exemplos:
A empresa fornece comida aos trabalhadores. O juiz declarou o réu inocente.
Oferecemos flores à noiva. O povo elegeu-o deputado.
Ceda o lugar aos mais velhos. As paixões tornam os homens cegos.
Nós julgamos o fato milagroso.
De Ligação: Os que ligam ao sujeito uma palavra ou
expressão chamada predicativo. Esses verbos, entram na Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos
formação do predicado nominal. Exemplos: exemplos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em
A Terra é móvel. certos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente
A água está fria. se refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se
O moço anda (=está) triste. ao objeto indireto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta;
Mário encontra-se doente. Podemos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado
A Lua parecia um disco. considerava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo
inoportuna essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas
Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de vezes.”; “Tinha estendida a seus pés uma planta rústica da
anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais cidade.”; “Sentia ainda muito abertos os ferimentos que
se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por aquele choque com o mundo me causara.”
exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto
transitório: Ele é doente. (aspecto permanente); Ele está Termos Integrantes da Oração
doente. (aspecto transitório). Muitos desses verbos passam à
categoria dos intransitivos em frases como: Era =existia) uma Chamam-se termos integrantes da oração os que
vez uma princesa.; Eu não estava em casa.; Fiquei à sombra.; completam a significação transitiva dos verbos e nomes.
Anda com dificuldades.; Parece que vai chover. Integram (inteiram, completam) o sentido da oração, sendo
por isso indispensável à compreensão do enunciado. São os
Os verbos, relativamente à predicação, não têm seguintes:
classificação fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido - Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto);
que apresentam na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora - Complemento Nominal;
a outro. Exemplos: - Agente da Passiva.
O homem anda. (intransitivo)
O homem anda triste. (de ligação) Objeto Direto: é o complemento dos verbos de predicação
incompleta, não regido, normalmente, de preposição.
O cego não vê. (intransitivo) Exemplos:
O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto) As plantas purificaram o ar.
“Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro)
Deram 12 horas. (intransitivo) Procurei o livro, mas não o encontrei.
A terra dá bons frutos. (transitivo direto) Ninguém me visitou.

Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto) O objeto direto tem as seguintes características:
Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e - Completa a significação dos verbos transitivos diretos;
indireto) - Normalmente, não vem regido de preposição;

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APOSTILAS OPÇÃO

- Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um odeias a outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes
verbo ativo: Caim matou Abel. também aos outros.; A quantos a vida ilude!.
- Torna-se sujeito da oração na voz passiva: Abel foi morto - Em certas construções enfáticas, como puxar (ou
por Caim. arrancar) da espada, pegar da pena, cumprir com o dever,
atirar com os livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas
O objeto direto pode ser constituído: de aço fino...”; “Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da
- Por um substantivo ou expressão substantivada: O agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a
lavrador cultiva a terra.; Unimos o útil ao agradável. coser.”; “Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando soube
- Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos: do caso.”
Espero-o na estação.; Estimo-os muito.; Sílvia olhou-se ao
espelho.; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a
tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.; preposição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A
“Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar substituição do objeto direto preposicionado pelo pronome
quieta.”; “Vós haveis de crescer, perder-vos-ei de vista.” oblíquo átono, quando possível, se faz com as formas o(s), a(s)
- Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na e não lhe, lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo
loja.; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de (convencê-lo); O objeto direto preposicionado, é obvio, só
plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas ocorre com verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três
do livro, ela o faz com cuidado.; “Que teria o homem percebido as razões ou finalidades do emprego do objeto direto
nos meus escritos?” preposicionado: a clareza da frase; a harmonia da frase; a
ênfase ou a força da expressão.
Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos,
dando-se-lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar
mesma esfera semântica: destaque ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-
“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.” lo no início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por
(Vivaldo Coaraci) meio do pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma
“Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal pronominal chama-se pleonástico, enfático ou redundante.
Machado) Exemplos:
“Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da
(Machado de Assis) camisa.
Em tais construções é de rigor que o objeto venha O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem.
acompanhado de um adjunto. “Seus cavalos, ela os montava em pelo.” (Jorge Amado)

Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto Objeto Indireto: É o complemento verbal regido de
direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos, preposição necessária e sem valor circunstancial. Representa,
vem precedido de preposição, geralmente a preposição a. Isto ordinariamente, o ser a que se destina ou se refere à ação
ocorre principalmente: verbal: “Nunca desobedeci a meu pai”. O objeto indireto
- Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico: completa a significação dos verbos:
Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina amava
mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto - Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à
hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava missa e à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma.
o seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”.
- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro - Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou
Severiano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a passiva): Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos;
todos; deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo Dedicou sua vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a
desenvolvimento das suas graças.”; “Agora sabia que podia verdade. (Disse a verdade ao moço.)
manobrar com ele, com aquele homem a quem na realidade
também temia, como todos ali”. O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras
- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando categorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente
que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta;
construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado.; Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe
“Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como convém; A proposta pareceu-lhe aceitável.
a um irmão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro?
- Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza Observações: Há verbos que podem construir-se com dois
e a eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a
outros.”; “As companheiras convidavam-se umas às outras.”; Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para
“Era o abraço de duas criaturas que só tinham uma à outra”. ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto
- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas, direto com o complemento nominal nem com o adjunto
principalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da adverbial; Em frases como “Para mim tudo eram alegrias”,
eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a Deus sobre “Para ele nada é impossível”, os pronomes em destaque
todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O podem ser considerados adjuntos adverbiais.
estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”.
- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa
direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; Ao ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes
médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este objetivos indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes.
confrade conheço desde os seus mais tenros anos”. Exemplos: Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence.
- Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro (=Isto pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...);
caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a Peço-vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a
ambos...”. preposição é expressa, como característica do objeto indireto:
- Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes Recorro a Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com
a pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e pouco.; Ele só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.;

Língua Portuguesa 130


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Conto com você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti Termos Acessórios da Oração
agradou ao público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de
que mais gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a Termos acessórios são os que desempenham na oração
conhece.; Os obstáculos contra os quais luto são muitos.; As uma função secundária, qual seja a de caracterizar um ser,
pessoas com quem conto são poucas. determinar os substantivos, exprimir alguma circunstância.
São três os termos acessórios da oração: adjunto adnominal,
Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é adjunto adverbial e aposto.
representado pelos substantivos (ou expressões substantivas)
ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: Adjunto adnominal: É o termo que caracteriza ou
a, com, contra, de, em, para e por. determina os substantivos. Exemplo: Meu irmão veste roupas
vistosas. (Meu determina o substantivo irmão: é um adjunto
Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto adnominal – vistosas caracteriza o substantivo roupas: é
direto, o objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por também adjunto adnominal).
ênfase. Exemplos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos:
importa a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos água fresca, terras férteis, animal feroz; Pelos artigos: o
brigões, incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a mundo, as ruas, um rapaz; Pelos pronomes adjetivos: nosso
distância.” tio, este lugar, pouco sal, muitas rãs, país cuja história
conheço, que rua?; Pelos numerais: dois pés, quinto ano,
Complemento Nominal: é o termo complementar capítulo sexto; Pelas locuções ou expressões adjetivas que
reclamado pela significação transitiva, incompleta, de certos exprimem qualidade, posse, origem, fim ou outra
substantivos, adjetivos e advérbios. Vem sempre regido de especificação:
preposição. Exemplos: A defesa da pátria; Assistência às - presente de rei (=régio): qualidade
aulas; “O ódio ao mal é amor do bem, e a ira contra o mal, - livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença
entusiasmo divino.”; “Ah, não fosse ele surdo à minha voz!” - água da fonte, filho de fazendeiros: origem
- fio de aço, casa de madeira: matéria
Observações: O complemento nominal representa o - casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade
recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um - homem sem escrúpulos (=inescrupuloso): qualidade
nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de - criança com febre (=febril): característica
assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor de - aviso do diretor: agente
músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas no
objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de Observações: Não confundir o adjunto adnominal formado
complementar verbos, complementa nomes (substantivos, por locução adjetiva com complemento nominal. Este
adjetivos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que representa o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a
requerem complemento nominal correspondem, geralmente, eleição do presidente, aviso de perigo, declaração de guerra,
a verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o empréstimo de dinheiro, plantio de árvores, colheita de
próximo; perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente trigo, destruidor de matas, descoberta de petróleo, amor ao
aos pais, obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à próximo, etc. O adjunto adnominal formado por locução
pátria; etc. adjetiva representa o agente da ação, ou a origem, pertença,
qualidade de alguém ou de alguma coisa: o discurso do
Agente da Passiva: é o complemento de um verbo na voz presidente, aviso de amigo, declaração do ministro,
passiva. Representa o ser que pratica a ação expressa pelo empréstimo do banco, a casa do fazendeiro, folhas de
verbo passivo. Vem regido comumente pela preposição por, e árvores, farinha de trigo, beleza das matas, cheiro de
menos frequentemente pela preposição de: Alfredo é estimado petróleo, amor de mãe.
pelos colegas; A cidade estava cercada pelo exército
romano; “Era conhecida de todo mundo a fama de suas Adjunto adverbial: É o termo que exprime uma
riquezas.” circunstância (de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras
palavras, que modifica o sentido de um verbo, adjetivo ou
O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos advérbio. Exemplo: “Meninas numa tarde brincavam de roda
ou pelos pronomes: na praça”. O adjunto adverbial é expresso: Pelos advérbios:
As flores são umedecidas pelo orvalho. Cheguei cedo.; Ande devagar.; Maria é mais alta.; Não durma
A carta foi cuidadosamente corrigida por mim. ao volante.; Moramos aqui.; Ele fala bem, fala corretamente.;
Muitos já estavam dominados por ele. Volte bem depressa.; Talvez esteja enganado.; Pelas locuções
ou expressões adverbiais: Às vezes viajava de trem.;
O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na Compreendo sem esforço.; Saí com meu pai.; Júlio reside em
voz ativa: Niterói.; Errei por distração.; Escureceu de repente.
A rainha era chamada pela multidão. (voz passiva)
A multidão aclamava a rainha. (voz ativa) Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes de
Ele será acompanhado por ti. (voz passiva) adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não
Tu o acompanharás. (voz ativa) dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No
domingo...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De
Observações: Frase de forma passiva analítica sem ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de
complemento agente expresso, ao passar para a ativa, terá acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto
sujeito indeterminado e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi adverbial de lugar, modo, tempo, intensidade, causa,
expulso da cidade. (Expulsaram-no da cidade.); As florestas companhia, meio, assunto, negação, etc. É importante saber
são devastadas. (Devastam as florestas.); Na passiva distinguir adjunto adverbial de adjunto adnominal, de objeto
pronominal não se declara o agente: Nas ruas assobiavam-se indireto e de complemento nominal: sair do mar (ad.adv.);
as canções dele pelos pedestres. (errado); Nas ruas eram água do mar (adj.adn.); gosta do mar (obj.indir.); ter medo do
assobiadas as canções dele pelos pedestres. (certo); mar (compl.nom.).
Assobiavam-se as canções dele nas ruas. (certo)

Língua Portuguesa 131


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APOSTILAS OPÇÃO

Aposto: É uma palavra ou expressão que explica ou “Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!”
esclarece, desenvolve ou resume outro termo da oração. (Maria de Lourdes Teixeira)
Exemplos: “A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado
D. Pedro II, imperador do Brasil, foi um monarca sábio. de Assis)
“Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de “Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela)
consciência.” (Carlos Drummond de Andrade) “Ei-lo, o teu defensor, ó Liberdade!” (Mendes Leal)
“No Brasil, região do ouro e dos escravos, encontramos a
felicidade.” (Camilo Castelo Branco) Observação: Profere-se o vocativo com entoação
“No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de exclamativa. Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo
nossa gente.” (Mário de Andrade) inicial, os pontos interrogativo e exclamativo indicam um
chamado alto e prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª
O núcleo do aposto é um substantivo ou um pronome pessoa do discurso, que pode ser uma pessoa, um animal, uma
substantivo: coisa real ou entidade abstrata personificada. Podemos
Foram os dois, ele e ela. antepor-lhe uma interjeição de apelo (ó, olá, eh!):
Só não tenho um retrato: o de minha irmã. “Tem compaixão de nós, ó Cristo!” (Alexandre Herculano)
O dia amanheceu chuvoso, o que me obrigou a ficar em “Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!”
casa. (Graciliano Ramos)
“Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Camilo
O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases Castelo Branco)
seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do
sujeito: O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura
Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas. da oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado.
As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de
cores. Questões
01. (Pref. De Caucaia/CE – Agente de Suporte e
Os apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas, Fiscalização – CETREDE/2016)
na escrita, por vírgulas, dois pontos ou travessões. Não TEXTO II
havendo pausa, não haverá vírgula, como nestes exemplos: Dos rituais
Minha irmã Beatriz; o escritor João Ribeiro; o romance
Tróia; o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o Colégio No primeiro contato com os selvagens, que medo nos dá de
Tiradentes, etc. infringir os rituais, de violar um tabu!
“Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?” É todo um meticuloso cerimonial, cuja infração eles não
(Graciliano Ramos) nos perdoam.
Eu estava falando nos selvagens? Mas com os civilizados é
O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às o mesmo. Ou pior até.
vezes, está elíptico. Exemplos: Quando você estiver metido entre grã-finos, é preciso ter
Rapaz impulsivo, Mário não se conteve. muito, muito cuidado: eles são tão primitivos!
Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da
alma humana. Mário Quintana
“Irmão do mar, do espaço, amei as solidões sobre os
rochedos ásperos.” (Cabral do Nascimento) (refere-se ao Em relação à oração “eles são tão primitivos!”, assinale o
sujeito oculto eu). item INCORRETO.
a) Refere-se a grã-finos.
O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos: b) O sujeito é indeterminado.
Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de c) O predicado é nominal.
tempestade iminente. d) Tem verbo de ligação
O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito. e) Apresenta predicativo do sujeito.
Simão era muito espirituoso, o que me levava a preferir sua
companhia. 02. (CISMEPAR/PR – Advogado – FAUEL/2016).

Um aposto pode referir-se a outro aposto: O assassino era o escriba


“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do
velho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo) Paulo Leminsky

O aposto pode vir precedido das expressões explicativas Meu professor de análise sintática era o tipo do
isto é, a saber, ou da preposição acidental como: sujeito inexistente.
Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai, Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
não são banhados pelo mar. regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Este escritor, como romancista, nunca foi superado. Entre uma oração subordinada e um adjunto
adverbial,
O aposto que se refere a objeto indireto, complemento ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
nominal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição: assindético de nos torturar com um aposto.
O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado. Casou com uma regência.
“Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das Foi infeliz.
coisas.” (Raquel Jardim) Era possessivo como um pronome.
De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo. E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Vocativo: (do latim vocare = chamar) é o termo (nome, Não deu.
título, apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa, o Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
animal ou a coisa personificada a que nos dirigimos: A interjeição do bigode declinava partículas

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APOSTILAS OPÇÃO

expletivas, -Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-


conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. me com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. A voz de Jorge estava rouca de felicidade!
E nunca soube a que devia tanta sorte!
Na frase “Entre uma oração subordinada e um adjunto
adverbial”, o autor faz referência à oração subordinada. André Sinoldi
Assinale a alternativa que NÃO corresponde corretamente à
compreensão da relação entre orações: Se a oração escrita na carta estivesse completa, como em
a) Oração subordinada é o nome que se dá ao tipo de “Você será amada POR MIM”, o termo destacado funcionaria
oração que é indispensável para a compreensão da oração como:
principal. a) complemento nominal.
b) Diferentemente da coordenada, a oração subordinada é b) objeto direto.
a que complementa o sentido da oração principal, não sendo c) agente da passiva.
possível compreender individualmente nenhuma das orações, d) objeto indireto.
pois há uma relação de dependência do sentido. e) adjunto nominal.
c) Subordinação refere-se a “estar ordenado sob”, sendo
indiferente a classificação de uma oração coordenada ou 04. (EMSERH – Enfermeiro – FUNCAB/2016)
subordinada, pois as duas têm a mesma validade. Assinale a alternativa correspondente ao período onde há
d) A oração principal é aquela rege a oração subordinada, predicativo do sujeito:
não sendo possível seu entendimento sem o complemento.
O embondeiro que sonhava pássaros
03. (EMSERH – Auxiliar Operacional de Serviços Gerais
– FUNCAB/2016) Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma
memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade,
A carta de amor seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por
razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O
No momento em que Malvina ia pôr a frigideira no fogo, vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome.
entrou a cozinheira com um envelope na mão. Isso bastou para Chamavam-lhe o passarinheiro.
que ela se tornasse nervosa. Seu coração pôs-se a bater Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos
precipitadamente e seu rosto se afogueou. Abriu-o com gesto carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava
decisivo e extraiu um papel verde-mar, sobre o qual se liam, aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir
em caracteres energéticos, masculinos, estas palavras: “Você de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas,
será amada...”. os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do
Malvina empalideceu, apesar de já conhecer o conteúdo vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer
dessa carta verde-mar, que recebia todos os dias, havia já uma as janelas:
semana. Malvina estava apaixonada por um ente invisível, por - Mãe, olha o homem dos passarinheiros!
um papel verde-mar, por três palavras e três pontos de E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se
reticências: “Você será amada...”. Há uma semana que vivia intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O
como ébria. homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas
Olhava para a rua e qualquer olhar de homem que se melodias. O mundo inteiro se fabulava.
cruzasse com o seu, lhe fazia palpitar tumultuosamente o Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles
coração. Se o telefone tilintava, seu pensamento corria célere: abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele
talvez fosse “ele”. Se não conhecesse a causa desse transtorno, preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem
por certo Malvina já teria ido consultar um médico de doenças autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não
nervosas. Mandara examinar por um grafólogo a letra dessa e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os
carta. Fora em todas as papelarias à procura desse papel pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os
verde-mar e, inconscientemente, fora até o correio ver se pais se agravavam: estava dito.
descobria o remetente no ato de atirar o envelope na caixa. Mas aquela ordem pouco seria desempenhada.
Tudo em vão. Quem escrevia conseguia manter-se [...]
incógnito. Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com
Nenhum empecilho para com o desconhecido. Mas para que os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era
ela pudesse realizar o seu sonho, era preciso que ele se preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida
tornasse homem de carne e osso. Malvina imaginava-o alto, não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a
moreno, com grandes olhos negros, forte e espadaúdo. vista das senhoras e seus filhos. 6 remédio, enfim, se haveria
O seu cérebro trabalhava: seria ele casado? Não, não o era. de pensar.
Seria pobre? Não podia ser. Seria um grande industrial? Quem No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão.
sabe? Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia
As cartas de amor, verde-mar, haviam surgido na vida de aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas
Malvina como o dilúvio, transformando-lhe o cérebro. cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico
Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi mundo. O vendedor se anonimava, em humilde
uma coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina desaparecimento de si:
não teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas
cólera. Ficou apenas petrificada. todas de fora.
“Você será amada... se usar, pela manhã, o creme de beleza Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele
Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmácias tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já
e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua desbravado os mais extensos matos?
Cheia. O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os
Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele
caracteres masculinos. negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de
Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até o telefone: acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o

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APOSTILAS OPÇÃO

tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam descobrir o que fazer com tanto tempo de vida a mais que nos
aos bichos silvestres, concluíam. será concedido... [...]
Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos Quem sabe nos mataremos menos, se as drogas forem
pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro controladas e a miséria extinta. Não creio em igualdade, mas
foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi em dignidade para todos. Talvez haja menos guerras, porque
enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se de alguma forma seremos menos violentos.
comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. [...]
Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que As crianças terão outras memórias, outras brincadeiras,
aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros outras alegrias; os adultos, novas sensações e possibilidades.
desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O Mas as emoções humanas, estas eu penso que vão demorar a
comerciante devia saber que seus passos descalços não mudar. Todos vão continuar querendo mais ou menos o
cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela mesmo: afeto, presença, sentido para a vida, alegria. Desta, por
desobediência, acusando o tempo. [...] mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, incríveis, não
As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se podemos esquecer. Ou não valerá a pena nem um só ano a
em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes mais, saúde a mais, brinquedinhos a mais. Seremos uns robôs
aparentes. [...] cinzentos e sem graça!
Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita Lya Luft, Veja. São Paulo, 2 de março, 2011, p.24
alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem A conjunção destacada em: “Quem sabe nos mataremos
mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas menos, SE as drogas forem controladas e a miséria extinta.”
pálpebras. introduz uma oração que expressa ideia de:
COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contos/ Mia Couto a) causa.
- 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. b) comparação.
(Fragmento). c) condição.
Sobre os elementos destacados do fragmento “Em verdade, d) conformidade
seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida.”, leia as e) consequência.
afirmativas.
I. A expressão EM VERDADE pode ser substituída, sem Respostas
alteração de sentido por COM EFEITO.
II. ERA O SOL formam o predicado verbal da primeira 01. Reposta B
oração. A - C=> Refere-se a grã-finos
III. NEM, no contexto, é uma conjunção coordenativa. B - E => O sujeito é grã finos
C - O predicado está ligado ao nome.
Está correto apenas o que se afirma em: D - Verbos de ligação: Ser, estar, parecer...
a) I e III. E - Primitivos caracteriza o sujeito.
b) III.
c) I e II. 02. Resposta C
d) I. Como a própria resposta diz, Subordinação refere-se a
e) II e III. “estar ordenado sob”.

05. (EMSERH – Auxiliar Administrativo – 03. Resposta: C


FUNCAB/2016) Vamos lá:
- O agente da passiva é um termo preposicionado (por,
Como seremos amanhã? pelo, de).
- Só ocorre na voz passiva; em caso de dúvida é só
Estar aberto às novidades é estar vivo. Fechar-se a elas é transformar na voz ativa.
morrer estando vivo. Um certo equilíbrio entre as duas - Se relaciona com o particípio (tanto o regular, quanto o
atitudes ajuda a nem ser antiquado demais nem ser irregular).
superavançadinho, correndo o perigo de confusões ou Voz ativa: Eu amarei você.
ridículo. Voz passiva: Você será amada (particípio) por mim
Sempre me fascinaram as mudanças - às vezes avanço, às (agente da passiva. Note que está preposicionado)
vezes retorno à caverna. Hoje andam incrivelmente rápidas,
atingindo usos e costumes, ciência e tecnologia, com reflexos 04. Resposta A
nas mais sofisticadas e nas menores coisas com que lidamos. 1) A locução "Em verdade" tem sentido equivalente a
Nossa visão de mundo se transforma, mas penso que não no expressão "Com efeito", ambas significam 'De modo efetivo'.
mesmo ritmo; então, de vez em quando nos pegamos dizendo, Vejam como faz sentido:
como nossas mães ou avós tanto tempo atrás: “Nossa! Como De modo efetivo, seu astro não era o Sol (...)". Logo
tudo mudou!” concluímos que a substituição de uma pela outra está correta.
Nos usos e costumes a coisa é séria e nos afeta a todos:
crianças muito precocemente sexualizadas pela moda, pela 2) O termo "nem", no contexto em que está inserido, é
televisão, muitas vezes por mães alienadas. [...] sem dúvida uma conjunção coordenativa, pois, lembremos, as
Na saúde, acho que melhorou. Sou de uma infância sem orações coordenadas, cada uma, separadamente, possuem
antibióticos. A gente sobrevivia sob os cuidados de mãe, pai, sentido completo, assim determina a gramática normativa de
avó, médico de família, aquele que atendia do parto à cirurgia LP. Vejamos o desmembramento delas, nesse caso:
mais complexa para aqueles dias. Dieta, que hoje se tornou - "seu astro não era o Sol" (Oração 1)
obsessão, era impensável, sobretudo para crianças, e eu pré- - "seu país não era a vida" (Oração 2)
adolescente gordinha, não podia nem falar em “regime” que Notem que ambas, quando separadas, continuam
minha mãe arrancava os cabelos e o médico sacudia a cabeça: possuindo um sentido (significado) completo. Trazem
“Nem pensar”. informações inteligíveis para que as leem.
Em breve estaremos menos doentes: célula-tronco e chips
vão nos consertar de imediato, ou evitar os males. Teremos de

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APOSTILAS OPÇÃO

O que não acontece com as orações SUBORDINADAS que, “A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.”
como o próprio nome prenuncia, tem seu prejudicado caso (Antônio Olavo Pereira)
seja separada. “O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.”
Aquilo que é subordinado não "sobrevive" (Coelho Neto)
separadamente, lembrem-se disso.
As coordenadas sim, elas apenas estão interligadas para - As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando
comporem juntas um sentido maior. vêm introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
O homem saiu do carro / e entrou na casa.
05. Resposta C OCA OCS
“Quem sabe nos mataremos menos, SE as drogas forem
controladas e a miséria extinta.” As orações coordenadas sindéticas são classificadas de
“Quem sabe nos mataremos menos, CASO as drogas forem acordo com o sentido expresso pelas conjunções
controladas e a miséria extinta.” coordenativas que as introduzem. Pode ser:
se (caso) a troca dê certo = condicional
- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não
Período: Toda frase com uma ou mais orações constitui um só... mas também, não só... mas ainda.
período, que se encerra com ponto de exclamação, ponto de Saí da escola / e fui à lanchonete.
interrogação ou com reticências. OCA OCS Aditiva
O período é simples quando só traz uma oração, chamada
absoluta; o período é composto quando traz mais de uma Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma
oração. Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, conjunção que expressa ideia de acréscimo ou adição com
oração absoluta.); Quero que você aprenda. (Período referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção
composto.) coordenativa aditiva.

Existe uma maneira prática de saber quantas orações há A doença vem a cavalo e volta a pé.
num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num As pessoas não se mexiam nem falavam.
período haverá tantas orações quantos forem os verbos ou as “Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até
locuções verbais nele existentes. Exemplos: nenhum ressentimento ficou dos atos que ele praticara.”
Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração) (Machado de Assis)
Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)
Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma - Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas,
oração) porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.
Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas Estudei bastante / mas não passei no teste.
locuções verbais, duas orações) OCA OCS Adversativa

Há três tipos de período composto: por coordenação, por Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma
subordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo conjunção que expressa ideia de oposição à oração anterior, ou
tempo (também chamada de misto). seja, por uma conjunção coordenativa adversativa.

Período Composto por Coordenação – Orações A espada vence, mas não convence.
Coordenadas “É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles)
Tens razão, contudo não te exaltes.
Considere, por exemplo, este período composto: Havia muito serviço, entretanto ninguém trabalhava.

Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os - Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto,
tempos de infância. por isso, pois, logo.
1ª oração: Passeamos pela praia Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão.
2ª oração: brincamos OCA OCS Conclusiva
3ª oração: recordamos os tempos de infância
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma
As três orações que compõem esse período têm sentido conjunção que expressa ideia de conclusão de um fato
próprio e não mantêm entre si nenhuma dependência enunciado na oração anterior, ou seja, por uma conjunção
sintática: elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma coordenativa conclusiva.
relação de sentido, mas, como já dissemos, uma não depende
da outra sintaticamente. Vives mentindo; logo, não mereces fé.
As orações independentes de um período são chamadas de Ele é teu pai: respeita-lhe, pois, a vontade.
orações coordenadas (OC), e o período formado só de Raimundo é homem são, portanto deve trabalhar.
orações coordenadas é chamado de período composto por
coordenação. - Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou, ou...
As orações coordenadas são classificadas em assindéticas ou, ora... ora, seja... seja, quer... quer.
e sindéticas. Seja mais educado / ou retire-se da reunião!
OCA OCS Alternativa
- As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando
não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo: Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma
Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram. conjunção que estabelece uma relação de alternância ou
OCA OCA OCA escolha com referência à oração anterior, ou seja, por uma
conjunção coordenativa alternativa.
“Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de
Assis) Venha agora ou perderá a vez.

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APOSTILAS OPÇÃO

“Jacinta não vinha à sala, ou retirava-se logo.” (Machado - Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a
de Assis) ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se,
“Em aviação, tudo precisa ser bem feito ou custará preço contanto que, a menos que, a não ser que, desde que.
muito caro.” (Renato Inácio da Silva) Irei à sua casa / se não chover.
“A louca ora o acariciava, ora o rasgava OP OSA Condicional
freneticamente.” (Luís Jardim)
Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, ofensores.
porque, pois, porquanto. Se o conhecesses, não o condenarias.
Vamos andar depressa / que estamos atrasados. “Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond
OCA OCS Explicativa de Andrade)
A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção tenha êxito.
que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação à
oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa - Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da
explicativa. oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização.
Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais
Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã. que, mesmo que.
“A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
Veríssimo) OP OSA Concessiva
“Qualquer que seja a tua infância, conquista-a, que te
abençoo.” (Fernando Sabino) Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que
O cavalo estava cansado, pois arfava muito. ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente.
Embora não possuísse informações seguras, ainda
Período Composto por Subordinação assim arriscou uma opinião.
Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo
Observe os termos destacados em cada uma destas quando ou ainda quando ou mesmo que) todos nos
orações: critiquem.
Vi uma cena triste. (adjunto adnominal) Por mais que gritasse, não me ouviram.
Todos querem sua participação. (objeto direto)
Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de - Conformativas: Expressam a conformidade de um fato
causa) com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado.
Veja, agora, como podemos transformar esses termos em OP OSA Conformativa
orações com a mesma função sintática:
Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada O homem age conforme pensa.
com função de adjunto adnominal) Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.
Todos querem / que você participe. (oração subordinada Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.
com função de objeto direto) O jornal, como sabemos, é um grande veículo de
Não pude sair / porque estava chovendo. (oração informação.
subordinada com função de adjunto adverbial de causa)
- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando,
certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto, assim que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal
subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo (=assim que).
menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a Ele saiu da sala / assim que eu cheguei.
subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele OP OSA Temporal
é classificado como período composto por subordinação. As
orações subordinadas são classificadas de acordo com a Formiga, quando quer se perder, cria asas.
função que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas. “Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se
esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti)
Orações Subordinadas Adverbiais “Quando os tiranos caem, os povos se levantam.”
(Marquês de Maricá)
As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas Enquanto foi rico, todos o procuravam.
que exercem a função de adjunto adverbial da oração principal
(OP). São classificadas de acordo com a conjunção - Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi
subordinativa que as introduz: enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de
que, porque (=para que), que.
- Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar.
principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que, OP OSA Final
visto que.
Não fui à escola / porque fiquei doente. “O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.”
OP OSA Causal (Marquês de Maricá)
Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor.
O tambor soa porque é oco. “Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que =
Como não me atendessem, repreendi-os severamente. para que)
Como ele estava armado, ninguém ousou reagir. “Instara muito comigo não deixasse de frequentar as
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse =
Sousa) para que não deixasse)

Língua Portuguesa 136


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APOSTILAS OPÇÃO

- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua
enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como viagem.)
(= porque), pois que, visto que. Aconselha-o a que trabalhe mais.
A chuva foi tão forte / que inundou a cidade. Daremos o prêmio a quem o merecer.
OP OSA Consecutiva Lembre-se de que a vida é breve.

Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos. - Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela
“A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.
(José J. Veiga) Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)
De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais. É importante / que você colabore.
As notícias de casa eram boas, de maneira que pude OP OSS Subjetiva
prolongar minha viagem.
A oração subjetiva geralmente vem:
- Comparativas: Expressam ideia de comparação com - depois de um verbo de ligação + predicativo, em
referência à oração principal. Conjunções: como, assim como, construções do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.:
tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado É certo que ele voltará amanhã.
com menos ou mais). - depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta-
Ela é bonita / como a mãe. se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade.
OP OSA Comparativa - depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir,
ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e
A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o seguidos das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos
ferro.” (Marquês de Maricá) participem da reunião.
Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro.
Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram. É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é
Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à necessária.)
luz daquele olhar. Parece que a situação melhorou.
Aconteceu que não o encontrei em casa.
Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam Importa que saibas isso bem.
claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está
subentendido o verbo ser (como a mãe é). - Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal:
É aquela que exerce a função de complemento nominal de um
- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona termo da oração principal. Observe: Estou convencido de sua
proporcionalmente ao que foi enunciado na principal. inocência. (complemento nominal)
Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, Estou convencido / de que ele é inocente.
quanto mais, quanto menos. OP OSS Completiva Nominal
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia.
OSA Proporcional OP Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão
dele.)
À medida que se vive, mais se aprende. Estava ansioso por que voltasses.
À proporção que avançávamos, as casas iam rareando. Sê grato a quem te ensina.
O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão
diminuindo. cedo.” (Graciliano Ramos)

Orações Subordinadas Substantivas - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela


que exerce a função de predicativo do sujeito da oração
As orações subordinadas substantivas (OSS) são principal, vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O
aquelas que, num período, exercem funções sintáticas importante é sua felicidade. (predicativo)
próprias de substantivos, geralmente são introduzidas pelas O importante é / que você seja feliz.
conjunções integrantes que e se. Elas podem ser: OP OSS Predicativa

- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.)
aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração Minha esperança era que ele desistisse.
principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto) Meu maior desejo agora é que me deixem em paz.
O grupo quer / que você ajude. Não sou quem você pensa.
OP OSS Objetiva Direta
- Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela
O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O que exerce a função de aposto de um termo da oração
mestre exigia a presença de todos.) principal. Observe: Ele tinha um sonho: a união de todos em
Mariana esperou que o marido voltasse. benefício do país. (aposto)
Ninguém pode dizer: Desta água não beberei. Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício
O fiscal verificou se tudo estava em ordem. do país.
OP OSS Apositiva
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É
aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma
oração principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto coisa: a sua felicidade)
indireto) Só lhe peço isto: honre o nosso nome.
Necessito / de que você me ajude. “Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto:
OP OSS Objetiva Indireta de que virias a morrer...” (Osmã Lins)
“Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum
motivo oculto?” (Machado de Assis)

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APOSTILAS OPÇÃO

As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de Orações Reduzidas de Infinitivo:


dois-pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à Infinitivo: terminações –ar, -er, -ir.
oração principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho
recuperasse a saúde, tornou-se realidade. Reduzida: É preciso comer frutas e legumes.
Desenvolvida: É preciso que se coma frutas e legumes.
Observação: Além das conjunções integrantes que e se, as (Oração Subordinada Substantiva Subjetiva)
orações substantivas podem ser introduzidas por outros
conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos: Reduzida: Meu desejo era ganhar uma viagem.
Não sei quando ele chegou. Desenvolvida: Meu desejo era que eu ganhasse uma
Diga-me como resolver esse problema. viagem. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa)

Orações Subordinadas Adjetivas Orações Reduzidas de Particípio:


Particípio: terminações –ado, -ido.
As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem a
função de adjunto adnominal de algum termo da oração Reduzida: Temos apenas um filho, criado com muito amor.
principal. Observe como podemos transformar um adjunto Desenvolvida: Temos apenas um filho, que criamos com
adnominal em oração subordinada adjetiva: muito amor. (Oração Subordinada Adjetiva Explicativa)
Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal)
Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada Reduzida: A criança sequestrada foi resgatada.
adjetiva) Desenvolvida: A criança que sequestraram foi resgatada.
(Oração Subordinada Adjetiva Restritiva)
As orações subordinadas adjetivas são sempre
introduzidas por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem, Orações Reduzidas de Gerúndio:
etc.) e podem ser classificadas em: Gerúndio: terminação –ndo.

- Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas Reduzida: Não enviando o relatório a tempo, perdeu a
quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que bolsa de estudos.
se referem. Exemplo: Desenvolvida: Porque não enviou o relatório a tempo,
perdeu a bolsa de estudos. (Oração Subordinada Adverbial
O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar. Causal)
OP OSA Restritiva
Reduzida: Respeitando as normas, não terão problemas.
Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica Desenvolvida: Desde que respeitem as normas, não terão
o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não problemas. (Oração Subordinada Adverbial Condicional)
aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º
lugar. O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem
orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Pedra que rola não cria limo.
Os animais que se alimentam de carne chamam-se Exemplos:
carnívoros. Preciso terminar este exercício.
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas Ele está jantando na sala.
escreveram.
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário Questões
Mariano) 01. (TRF – 3ª Região – Analista Judiciário – Área
Administrativa - FCC/2016)
- Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas
quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem açúcar, mas o açúcar consumia escravos. O esgotamento das
restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo: minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que
O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da
novo livro. escravatura e, finalmente, uma procura mundial crescente,
OP OSA Explicativa OP orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De
amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.
Deus, que é nosso pai, nos salvará. Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que
Valério, que nasceu rico, acabou na miséria. tornaram Santos num dos centros do comércio internacional,
Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho. o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco
Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado. penetra lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o
primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos encerrados num
Orações Reduzidas canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão,
agarrar essas plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas
As orações reduzidas são caracterizadas por possuírem o suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se estabelece, num
verbo nas formas de gerúndio, particípio ou infinitivo. Ao palco mais modesto, o contato com a paisagem.
contrário das demais orações subordinadas, as orações O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de
reduzidas não são ligadas através dos conectivos lagoas e pântanos, entrecortada por riachos estreitos e canais,
cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma
Há três tipos de orações reduzidas: nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo
- Orações reduzidas de infinitivo da criação. As plantações de bananeiras que a cobrem são do
- Orações reduzidas de gerúndio verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo
- Orações reduzidas de particípio que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra,

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APOSTILAS OPÇÃO

com o qual gosto de o associar na minha recordação; mas é que Estranha inversão de perspectiva. Porque, simultaneamente, a
a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta, crítica mais comum contra o museu apresenta-o como sendo,
comparada com a suntuosidade tranquila da outra, ele próprio, um órgão de sacralização. O museu, por retirar as
contribuem para criar uma atmosfera primordial. obras de sua origem, é realmente "o lugar simbólico onde o
Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, trabalho de abstração assume seu caráter mais violento e mais
mais plantas mastodontes do que árvores anãs, com troncos ultrajante". Porém, esse trabalho de abstração e esse efeito de
plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas alienação operam em toda parte. É a ação do tempo, conjugada
elásticas por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um com nossa ilusão da presença mantida e da arte conservada.
enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a estrada eleva-se (Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São
até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece Paulo, Fap.-Unifesp, 2012, p. 68-71)
em toda parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos Na frase “Diante de cada crítica escandalizada dirigida ao
ataques do homem essa floresta virgem tão rica que para museu, seria interessante desvendar que valor foi
encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários previamente sacralizado” (3°parágrafo), a oração sublinhada
milhares de quilômetros para norte, junto da bacia amazônica. complementa o sentido de
Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos a) um substantivo, e pode ser considerada como
qualificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem interrogativa indireta.
em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha b) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa
de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as direta.
plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes c) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa
de museu. indireta.
(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. d) um substantivo, e pode ser considerada como
Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3) interrogativa direta.
No primeiro período do segundo parágrafo, as duas e) um advérbio, e pode ser considerada como interrogativa
orações que não se subordinam a nenhuma outra contêm os indireta.
seguintes verbos:
a) conserva − experimento 03. (ANAC – Analista Administrativo – ESAF/2016)
b) terem ocorrido − conserva Assinale a opção que apresenta explicação correta para a
c) tornaram − penetra inserção de "que é" antes do segmento grifado no texto.
d) tornaram − experimento
e) conserva − penetra A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República
divulgou recentemente a pesquisa O Brasil que voa – Perfil dos
02. (TRF – 3ª Região – Analista Judiciário – Área Passageiros, Aeroportos e Rotas do Brasil, o mais completo
Administrativa - FCC/2016) levantamento sobre transporte aéreo de passageiros do
País. Mais de 150 mil passageiros, ouvidos durante 2014 nos
O museu é considerado um instrumento de neutralização 65 aeroportos responsáveis por 98% da movimentação aérea
– e talvez o seja de fato. Os objetos que nele se encontram do País, revelaram um perfil inédito do setor.
reunidos trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos <http://www.anac.gov.br/Noticia.aspx?ttCD_CHAVE=195
políticos e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias 7&slCD_ ORIGEM=29>. (com adaptações).
militares e conquistas: a maior parte presta homenagem às a) Prejudica a correção gramatical do período, pois
potências dominantes, suas financiadoras. As obras modernas provoca truncamento sintático.
são, mais genericamente, animadas pelo espírito crítico: elas b) Transforma o aposto em oração subordinada adjetiva
protestam contra os fatos da realidade, os poderes, o estado explicativa.
das coisas. O museu reúne todas essas manifestações de c) Altera a oração subordinada explicativa para oração
sentido oposto. Expõe tudo junto em nome de um valor que se restritiva.
presume partilhado por elas: a qualidade artística. Suas d) Transforma o segmento grifado em oração principal do
diferenças funcionais, suas divergências políticas são período.
apagadas. A violência de que participavam, ou que combatiam, e) Corrige erro de estrutura sintática inserido no período.
é esquecida. O museu parece assim desempenhar um papel de
pacificação social. A guerra das imagens extingue-se na 04. (TRE/RR - Técnico Judiciário - Operação de
pacificação dos museus. Computadores - FCC/2015)
Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de É indiscutível que no mundo contemporâneo o ambiente
terem sido retirados de seu contexto. Desde então, dois pontos do futebol é dos mais intensos do ponto de vista psicológico.
de vista concorrentes são possíveis. De acordo com o primeiro, Nos estádios a concentração é total. Vive-se ali situação de
o museu é por excelência o lugar de advento da Arte enquanto incessante dialética entre o metafórico e o literal, entre o
tal, separada de seus pretextos, libertada de suas sujeições. lúdico e o real. O que varia conforme o indivíduo considerado
Para o segundo, e pela mesma razão, é um "depósito de é a passagem de uma condição a outra. Passagem rápida no
despojos". Por um lado, o museu facilita o acesso das obras a caso do torcedor, cuja regressão psíquica do lúdico dura
um status estético que as exalta. Por outro, as reduz a um algumas horas e funciona como escape para as pressões do
destino igualmente estético, mas, desta vez, concebido como cotidiano. Passagem lenta no caso do futebolista profissional,
um estado letárgico. que vive quinze ou vinte anos em ambiente de fantasia, que
A colocação em museu foi descrita e denunciada geralmente torna difícil a inserção na realidade global quando
frequentemente como uma desvitalização do simbólico, e a termina a carreira. A solução para muitos é a reconversão em
musealização progressiva dos objetos de uso como outros técnico, que os mantém sob holofote. Lothar Matthäus, por
tantos escândalos sucessivos. Ainda seria preciso perguntar exemplo, recordista de partidas em Copas do Mundo, com a
sobre a razão do "escândalo". Para que haja escândalo, é seleção alemã, Ballon d’Or de 1990, tornou-se técnico porque
necessário que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de “na verdade, para mim, o futebol é mais importante do que a
cada crítica escandalizada dirigida ao museu, seria família”. [...]
interessante desvendar que valor foi previamente sacralizado. Sendo esporte coletivo, o futebol tem implicações e
A Religião? A Arte? A singularidade absoluta da obra? A significações psicológicas coletivas, porém calcadas, pelo
Revolta? A Vida autêntica? A integridade do Contexto original? menos em parte, nas individualidades que o compõem. O jogo

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é coletivo, como a vida social, porém num e noutra a atuação (D) menos gente. (3a estrofe)
de um só indivíduo pode repercutir sobre o todo. Como em (E) a América. (4a estrofe)
qualquer sociedade, na do futebol vive-se o tempo inteiro em
equilíbrio precário entre o indivíduo e o grupo. O jogador Respostas
busca o sucesso pessoal, para o qual depende em grande parte
dos companheiros; há um sentimento de equipe, que depende 01. Resposta A
das qualidades pessoais de seus membros. O torcedor lúcido No primeiro período do segundo parágrafo, as duas
busca o prazer do jogo preservando sua individualidade; orações que não se subordinam (são orações principais, ou
todavia, a própria condição de torcedor acaba por diluí-lo na seja, não possuem conjunção, nem pronome relativo) a
massa. nenhuma outra contêm os seguintes verbos:
(JÚNIOR, Hilário Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações
Franco. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. (oração subordinada) / que (pronome relativo- oração
São subordinada adjetiva) tornaram Santos num dos centros do
Paulo: Companhia das letras, 2007, p. 303-304, com comércio internacional, o local conserva uma beleza
adaptações) secreta (oração principal);
*Ballon d’Or 1990 - prêmio de melhor jogador do ano à medida que o barco penetra lentamente por entre as
ilhas (oração subordinada), experimento aqui o primeiro
O jogador busca o sucesso pessoal ... sobressalto dos trópicos (oração principal).

A mesma relação sintática entre verbo e complemento, 02. Resposta C


sublinhados acima, está em: A oração sublinhada realmente é uma Oração Sub.
(A) É indiscutível que no mundo contemporâneo... Substantiva Subjetiva (pois tem função de sujeito), porém ela
(B) ... o futebol tem implicações e significações psicológicas completa o sentido do verbo "desvendar" e é uma
coletivas ... interrogativa indireta, pois não há interrogação.
(C) ... e funciona como escape para as pressões do
cotidiano. 03. Resposta B
(D) A solução para muitos é a reconversão em técnico ... Do modo como está, trata-se de um aposto
(E) ... que depende das qualidades pessoais de seus explicativo, aquele que explica ou esclarece algo; no caso
membros. explicando o que é a pesquisa O Brasil que voa.
Se colocarmos um QUE É antes, ficaria assim: A
05. (MPE/PB - Técnico ministerial - diligências e apoio Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República
administrativo - FCC/2015) divulgou recentemente a pesquisa O Brasil que voa – Perfil dos
Passageiros, Aeroportos e Rotas do Brasil, que é o mais
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, completo levantamento sobre transporte aéreo de
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha passageiros do País.
aldeia Logo, a oração em destaque é uma oração subordinada
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. adjetiva EXPLICATIVA, que é aquela isolada por vírgula e que
tem valor de adjetivo.
O Tejo tem grandes navios Outro exemplo: Meu irmão, que sempre aprontou, casou-
E navega nele ainda, se.
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus. 04. Resposta B
O jogador busca o sucesso pessoal ... SUJEITO - VERBO
O Tejo desce de Espanha TRANSITIVO DIRETO - OBJETO DIRETO
E o Tejo entra no mar em Portugal a) É indiscutível que no mundo contemporâneo... VERBO
Toda a gente sabe isso. DE LIGAÇÃO - PREDICATIVO DO SUJEITO - SUJEITO
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia ORACIONAL.
E para onde ele vai -->b) ... o futebol tem implicações e significações
E donde ele vem psicológicas coletivas ... SUJEITO - VERBO TRANST. DIRETO -
E por isso, porque pertence a menos gente, OBJETO DIRETO.
É mais livre e maior o rio da minha aldeia. c) e funciona como escape para as pressões do cotidiano.
SUJEITO - VERBO TRANS. INDIRETO - OBJETO INDIRETO
Pelo Tejo vai-se para o Mundo d) A solução para muitos é a reconversão em técnico ...
Para além do Tejo há a América SUJEITO - VERBO DE LIGAÇÃO -
E a fortuna daqueles que a encontram e) que depende das qualidades pessoais de seus membros.
Ninguém nunca pensou no que há para além SUJEITO - VERBO TRANS. INDIRETO - OBJ. INDIRETO
Do rio da minha aldeia.
05. Resposta B
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. "O fragmento O TEJO TEM GRANDES NAVIOS E NAVEGA
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. NELE AINDA, PARA AQUELES QUE VEEM EM TUDO O QUE LÁ
NÃO ESTÁ, A MEMÓRIA DAS NAUS está em ordem indireta. Ao
(Alberto Caeiro) inserir A MEMÓRIA DAS NAUS entre a conjunção E e o verbo
NAVEGA, tem-se: O TEJO TEM GRANDES NAVIOS E A
E o Tejo entra no mar em Portugal MEMÓRIA DAS NAUS NAVEGA NELE AINDA. Constrói-se, pois,
a função sintática de sujeito."
O elemento que exerce a mesma função sintática que o
sublinhado acima encontra-se em
(A) a fortuna. (4a estrofe)
(B) A memória das naus. (2a estrofe)
(C) grandes navios. (2a estrofe)

Língua Portuguesa 140


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ÉTICA E LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL

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APOSTILAS OPÇÃO

Comentários:
Os princípios e fins a que se refere à Lei 9.394/96, de modo
explícito e formal, são retirados da Constituição Federal de
1988, em seu artigo 206.
TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar

Lei de Diretrizes e Bases da Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública
será efetivado mediante a garantia de:
Educação Nacional - LDB e I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
alterações posteriores aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
forma:
a) pré-escola;
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 b) ensino fundamental;
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o anos de idade;
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: III - atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
TÍTULO I desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
Da Educação transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se preferencialmente na rede regular de ensino;
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
manifestações culturais. e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em condições do educando;
instituições próprias. VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do adultos, com características e modalidades adequadas às suas
trabalho e à prática social. necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
trabalhadores as condições de acesso e permanência na
Comentários: escola;
A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
9.394/96, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, é a mais educação básica, por meio de programas suplementares de
importante lei do sistema educacional brasileiro, pois material didático-escolar, transporte, alimentação e
regulamenta as diretrizes gerais da educação, seja ele público assistência à saúde;
ou privado. IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
TÍTULO II como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito
público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
princípios: entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
escola; § 1o O poder público, na esfera de sua competência
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a federativa, deverá:
cultura, o pensamento, a arte e o saber; I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; concluíram a educação básica;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de II - fazer-lhes a chamada pública;
ensino; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos escola.
oficiais; § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
VII - valorização do profissional da educação escolar; assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
Lei e da legislação dos sistemas de ensino; níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
IX - garantia de padrão de qualidade; constitucionais e legais.
X - valorização da experiência extraescolar; § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
práticas sociais. hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela
ser imputada por crime de responsabilidade.

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§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a


ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso educação;
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da VI - assegurar processo nacional de avaliação do
escolarização anterior. rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
de idade. VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
pós-graduação;
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
seguintes condições: instituições de educação superior, com a cooperação dos
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
do respectivo sistema de ensino; ensino;
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
pelo Poder Público; avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
previsto no art. 213 da Constituição Federal. ensino.
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Comentários: Nacional de Educação, com funções normativas e de
Com o advento da Lei 12.796, de 04 de abril de 2013, que supervisão e atividade permanente, criado por lei.
alterou a LDB n.º 9.394/96, incluindo Educação Infantil como § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
parte da educação básica, esta é dever do Estado, que deverá União terá acesso a todos os dados e informações necessários
ser gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
A Constituição Federal em seu artigo 205, diz: delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da mantenham instituições de educação superior.
família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
trabalho. oficiais dos seus sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
Desse modo, a educação é vista como um direito público oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
subjetivo, e isso significa que a não oferta ou a sua oferta distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
irregular por parte do Poder Público (Federal, Estadual ou com a população a ser atendida e os recursos financeiros
Municipal), importa no direito de acioná-lo para que este seja disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
oferecido. Por outro lado, a matrícula nas escolas é dever dos III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
pais ou responsáveis. consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
TÍTULO IV integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Da Organização da Educação Nacional Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
respectivos sistemas de ensino. ensino;
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de V - baixar normas complementares para o seu sistema de
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e ensino;
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
relação às demais instâncias educacionais. prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
nos termos desta Lei. VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual.
Art. 9º A União incumbir-se-á de: Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração competências referentes aos Estados e aos Municípios.
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
Territórios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao e planos educacionais da União e dos Estados;
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à III - baixar normas complementares para o seu sistema de
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva ensino;
e supletiva; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
assegurar formação básica comum; plenamente as necessidades de sua área de competência e com
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
para identificação, cadastramento e atendimento, na educação ensino.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) municipal.

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Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas
se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele e mantidas pela iniciativa privada;
um sistema único de educação básica. IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal,
respectivamente.
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
incumbência de: integram seu sistema de ensino.
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
financeiros; I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
estabelecidas; II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada pela iniciativa privada;
docente; III - os órgãos municipais de educação.
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
rendimento; Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
processos de integração da sociedade com a escola; I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus mantidas e administradas pelo Poder Público;
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a II - privadas, assim entendidas as mantidas e
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
execução da proposta pedagógica da escola; privado.
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
competente da Comarca e ao respectivo representante do Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem nas seguintes categorias: (Regulamento)
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
percentual permitido em lei. são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
jurídicas de direito privado que não apresentem as
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: características dos incisos abaixo;
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
estabelecimento de ensino; por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; representantes da comunidade;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
de menor rendimento; por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao específicas e ao disposto no inciso anterior;
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; IV - filantrópicas, na forma da lei.
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola
com as famílias e a comunidade. Comentários:
Quando a Constituição Federal determina que a União
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da estabeleça as diretrizes e bases da educação nacional, ela está
gestão democrática do ensino público na educação básica, de propondo que a educação em todo o território do país seja
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes organizada segundo diretrizes e bases comuns. Assim, a União
princípios: é que coordena as políticas educacionais, ficando responsável
I - participação dos profissionais da educação na por recolher impostos e tributos dos municípios, do Distrito
elaboração do projeto pedagógico da escola; Federal e dos estados e redistribuí-los as instâncias
II - participação das comunidades escolar e local em educacionais (Art. 8º da LDB).
conselhos escolares ou equivalentes. Os artigos 9º, 10, 11, 12 e 13 possuem natureza atributiva,
ou seja, tratam da atribuição de responsabilidade à nível
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades federal, estadual, municipal, institucional e docente,
escolares públicas de educação básica que os integram respectivamente.
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa
e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito TÍTULO V
financeiro público. Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino

Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: CAPÍTULO I


I - as instituições de ensino mantidas pela União; Da Composição dos Níveis Escolares
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas
pela iniciativa privada; Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
III - os órgãos federais de educação. I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio;
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito II - educação superior.
Federal compreendem:
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, Comentários:
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; A educação básica vai dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
II - as instituições de educação superior mantidas pelo anos e é dividida em três etapas a educação infantil (creche e
Poder Público municipal; pré-escola), a educação fundamental (até a oitava série, 9°
ano) e o ensino médio.

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Outra etapa da educação é o ensino superior, em que o V - a verificação do rendimento escolar observará os
estudante opta pela “área” em que quer estudar e que só é seguintes critérios:
possível após a conclusão da educação básica. a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com
atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições
Observa-se que a educação escolar vai desde a educação de ensino em seus regimentos;
infantil até a educação superior, enquanto a educação básica, VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
deixa a educação superior de fora. conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
CAPÍTULO II setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
DA EDUCAÇÃO BÁSICA aprovação;
Seção I VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos
Das Disposições Gerais escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou
certificados de conclusão de cursos, com as especificações
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver cabíveis.
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do
para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino
progredir no trabalho e em estudos posteriores. médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, § 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
organização, sempre que o interesse do processo de adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do
aprendizagem assim o recomendar. art. 4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades
situados no País e no exterior, tendo como base as normas responsáveis alcançar relação adequada entre o número de
curriculares gerais. alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às do estabelecimento.
peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à
critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir vista das condições disponíveis e das características regionais
o número de horas letivas previsto nesta Lei. e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto
neste artigo.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em
por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) cultura, da economia e dos educandos.
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
a) por promoção, para alunos que cursaram, com matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; realidade social e política, especialmente do Brasil.
b) por transferência, para candidatos procedentes de § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões
outras escolas; regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
c) independentemente de escolarização anterior, mediante educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
avaliação feita pela escola, que defina o grau de § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua escola, é componente curricular obrigatório da educação
inscrição na série ou etapa adequada, conforme básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:
regulamentação do respectivo sistema de ensino; I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular horas;
por série, o regimento escolar pode admitir formas de II – maior de trinta anos de idade;
progressão parcial, desde que preservada a sequência do III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
ensino; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de 1969;
de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento V – (Vetado)
na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou VI – que tenha prole.
outros componentes curriculares;

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§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
africana e europeia. considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº manifestação da comunidade escolar.
13.415, de 2017)
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as Comentários:
linguagens que constituirão o componente curricular de que Quando pensamos em educação básica devemos não só
trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de considerar os conteúdos ministrados em sala de aula, mas
2016). também, o desenvolvimento integral do aluno de modo a
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério possibilitar seu desenvolvimento para o exercício da
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os cidadania, favorecendo assim o seu desenvolvimento para o
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela trabalho e também para seus estudos posteriores servindo
Lei nº 13.415, de 2017) como base para o seu desenvolvimento enquanto sujeito e
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá autor do seu futuro.
componente curricular complementar integrado à proposta Assim, o Capítulo II, Seção I das disposições Gerais (Art. 22
pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no a 38) trata sobre as regras comuns aos estabelecimentos de
mínimo, 2 (duas) horas mensais. ensino em relação à carga horária, dias letivos, bem como suas
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à formas de organização (promoção, seriação, frequência,
prevenção de todas as formas de violência contra a criança e currículos, transferências e avaliações).
ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo Seção II
como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto Da Educação Infantil
da Criança e do Adolescente), observada a produção e
distribuição de material didático adequado. Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. família e da comunidade.
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o três anos de idade;
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo anos de idade.
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da as seguintes regras comuns:
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
contribuições nas áreas social, econômica e política, II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
pertinentes à história do Brasil. distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- educacional;
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada
educação artística e de literatura e história brasileiras. integral;
IV - controle de frequência pela instituição de educação
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: cento) do total de horas;
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, V - expedição de documentação que permita atestar os
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
comum e à ordem democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos Comentários:
em cada estabelecimento; A Educação Infantil (0 aos 5 anos) deve ser
III - orientação para o trabalho; complementar à ação da família e da comunidade desde então
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas possibilitando o desenvolvimento físico, psicológico,
desportivas não-formais. intelectual e social.
O artigo 31 da Lei 9.394/96 traz em seu inciso I, algo que
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população merece ser destacado: Não existe promoção na educação
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações infantil, ou seja não há reprovação nessa etapa da educação
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e básica, a avaliação corre mediante registro e
de cada região, especialmente: acompanhamento do desenvolvimento da criança, sem o
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às objetivo de promoção, ainda que este seja para o acesso ao
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; ensino fundamental.
II - organização escolar própria, incluindo adequação do
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
climáticas; as seguintes regras comuns:
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.

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I - avaliação mediante acompanhamento e registro do Comentários:


desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, O Ensino Fundamenta (06 aos 14 anos) têm duração de 9
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; anos, podendo ser desdobrado em ciclos (Art. 32 § 1º), visa a
formação básica do cidadão, ou seja, - o desenvolvimento da
Seção III capacidade de aprender através do domínio da leitura, da
Do Ensino Fundamental escrita e do cálculo, a compreensão do ambiente natural e
social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de valores em que se fundamenta a sociedade, a aquisição de
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do valores e o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
cidadão, mediante: solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo assenta a vida social.
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do O artigo 33 da referida lei, merece ser destacado por trazer
cálculo; informações relevantes:
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é
fundamenta a sociedade; parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, disciplina dos horários normais das escolas públicas de
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
formação de atitudes e valores; cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de proselitismo.
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
assenta a vida social. procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
fundamental em ciclos. admissão dos professores.
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
por série podem adotar no ensino fundamental o regime de pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo conteúdos do ensino religioso.
de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
sistema de ensino. Assim, o artigo 33 da Lei 9.394/96 está em consonância
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em com o artigo 210 §1º da Constituição Federal que regulamenta
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a o ensino religioso, de matrícula facultativa nas escolas públicas
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de de ensino fundamental. O objetivo de tal preceito não é uma
aprendizagem. formação religiosa específica, e sim a apresentação da
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino diversidade religiosa, a escola ao trazer em seus espaços as
a distância utilizado como complementação da aprendizagem diversas manifestações religiosas, ensina o princípio da
ou em situações emergenciais. tolerância e o exercita em sua rotina escolar.
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças Seção IV
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 Do Ensino Médio
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Adolescente, observada a produção e distribuição de material Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
didático adequado. com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
dos horários normais das escolas públicas de ensino se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural aperfeiçoamento posteriores;
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino intelectual e do pensamento crítico;
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e IV - a compreensão dos fundamentos científico-
admissão dos professores. tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, com a prática, no ensino de cada disciplina.
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
definição dos conteúdos do ensino religioso. Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415,
sendo progressivamente ampliado o período de permanência de 2017)
na escola. I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das 13.415, de 2017)
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 2º O ensino fundamental será ministrado 13.415, de 2017)
progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela
de ensino. Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei
nº 13.415, de 2017)

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§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o composição de componentes curriculares da Base Nacional
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, nº 13.415, de 2017)
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
13.415, de 2017) caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas Lei nº 13.415, de 2017)
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem
preferencialmente o espanhol, de acordo com a profissional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos II - a possibilidade de concessão de certificados
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base formação for estruturada e organizada em etapas com
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
Lei nº 13.415, de 2017) Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a Lei nº 13.415, de 2017)
formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou
formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais. em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) previamente pelo Conselho Estadual de Educação,
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
avaliação processual e formativa serão organizados nas redes certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº
de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas 13.415, de 2017)
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que outros cursos ou formações para os quais a conclusão do
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº
de 2017) 13.415, de 2017)
II - conhecimento das formas contemporâneas de § 10. Além das formas de organização previstas no art. 23,
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o
sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela pela Lei nº 13.415, de 2017)
Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, § 11. Para efeito de cumprimento das exigências
que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto reconhecer competências e firmar convênios com instituições
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: de educação a distância com notório reconhecimento,
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei 2017)
nº 13.415, de 2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela
pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
pela Lei nº 13.415, de 2017) instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) IV - cursos oferecidos por centros ou programas
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
respectivas competências e habilidades será feita de acordo V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais
com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08 § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)

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Comentários: além de preparar o educando para o exercício de profissões


O Ensino Médio é a etapa final da educação básica, com técnicas, assim a Educação profissional técnica de nível médio
duração mínima de 3 anos, sua finalidade é o aprofundamento poderá ser articulada com o ensino médico, dessa forma,
dos conhecimentos adquiridos anteriormente, a preparação poderá ser integrada quando oferecida aos que tenha
para o trabalho, aprofundamento do desenvolvimento concluído o ensino fundamental, e concomitante quando
enquanto ser humano além da integração da teoria à pratica oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o estejam
profissional. cursando ou subsequente para aqueles que já concluíram o
ensino médio.
Seção IV-A
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
técnicas. ensino fundamental e médio na idade própria.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
ou em cooperação com instituições especializadas em consideradas as características do alunado, seus interesses,
educação profissional. condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio permanência do trabalhador na escola, mediante ações
será desenvolvida nas seguintes formas: integradas e complementares entre si.
I - articulada com o ensino médio; § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
concluído o ensino médio. regulamento.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível
médio deverá observar: Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
de Educação; caráter regular.
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
ensino; I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos maiores de quinze anos;
de seu projeto pedagógico. II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
de dezoito anos.
Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos
será desenvolvida de forma: mediante exames.
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído
o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a Comentários:
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível A Educação de Jovens e Adultos, diz respeito àqueles que
médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se não tiveram acesso ou continuidade no ensino fundamental e
matrícula única para cada aluno; médio na idade regular, assim, o EJA traz a oportunidade de
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino acesso e permanência do trabalhador na escola.
médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas O artigo 37 §3º traz a possibilidade da educação de jovens
distintas para cada curso, e podendo ocorrer: e adultos se articular com um ensino profissional, porém não
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as há essa obrigatoriedade. Observe:
oportunidades educacionais disponíveis;
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as Art. 37. § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-
oportunidades educacionais disponíveis; se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios do regulamento.
de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. CAPÍTULO III
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional Da Educação Profissional e Tecnológica
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
educação superior. cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados poderão ser organizados por eixos tecnológicos,
de qualificação para o trabalho após a conclusão, com possibilitando a construção de diferentes itinerários
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
qualificação para o trabalho. nível de ensino.
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os
Comentários: seguintes cursos:
A Educação Profissional Técnica de Nível Médio, que I – de formação inicial e continuada ou qualificação
tem por princípios os mesmos pressupostos do ensino médio profissional;

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II – de educação profissional técnica de nível médio; II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
III – de educação profissional tecnológica de graduação e concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
pós-graduação. classificados em processo seletivo;
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de III - de pós-graduação, compreendendo programas de
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne mestrado e doutorado, cursos de especialização,
a objetivos, características e duração, de acordo com as aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados
diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho em cursos de graduação e que atendam às exigências das
Nacional de Educação. instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias ensino.
de educação continuada, em instituições especializadas ou no § 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso
ambiente de trabalho. II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas
instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de
profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser classificação, bem como do cronograma das chamadas para
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das
prosseguimento ou conclusão de estudos. vagas constantes do respectivo edital.
Art. 42. As instituições de educação profissional e § 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições
tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais
de escolaridade. de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei
nº 13.184, de 2015)
CAPÍTULO IV § 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará
Da Educação Superior as competências e as habilidades definidas na Base Nacional
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do Art. 45. A educação superior será ministrada em
espírito científico e do pensamento reflexivo; instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com
II - formar diplomados nas diferentes áreas de variados graus de abrangência ou especialização.
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
e para a participação no desenvolvimento da sociedade Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem
brasileira, e colaborar na sua formação contínua; como o credenciamento de instituições de educação superior,
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente,
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da após processo regular de avaliação.
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este
vive; artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção
científicos e técnicos que constituem patrimônio da na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de autonomia, ou em descredenciamento.
publicações ou de outras formas de comunicação; § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento responsável por sua manutenção acompanhará o processo de
cultural e profissional e possibilitar a correspondente saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários,
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo para a superação das deficiências.
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
conhecimento de cada geração; previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta cursos. (Alterado pela Lei 13.530/2017).
uma relação de reciprocidade; § 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante
VII - promover a extensão, aberta à participação da procedimento específico e com aquiescência da instituição de
população, visando à difusão das conquistas e benefícios ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estudantes,
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o deste artigo
tecnológica geradas na instituição. por outras medidas, desde que adequadas para superação das
VIII - atuar em favor da universalização e do deficiências e irregularidades constatadas. (Alterado pela Lei
aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a 13.530/2017).
capacitação de profissionais, a realização de pesquisas § 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão deverão adotar os critérios definidos pela União para
que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº autorização de funcionamento de curso de graduação em
13.174, de 2015) Medicina.” (Incluído pela Lei 13.530/2017).

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
e programas: independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos exames finais, quando houver.
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde § 1º As instituições informarão aos interessados, antes de
que tenham concluído o ensino médio ou equivalente; cada período letivo, os programas dos cursos e demais
componentes curriculares, sua duração, requisitos,

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qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios não-universitárias serão registrados em universidades
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras § 2º Os diplomas de graduação expedidos por
formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, universidades estrangeiras serão revalidados por
de 2015). universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
I - em página específica na internet no sítio eletrônico área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: de reciprocidade ou equiparação.
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de por universidades que possuam cursos de pós-graduação
2015) reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
b) a página principal da instituição de ensino superior, bem em nível equivalente ou superior.
como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das forma da lei.
informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168,
de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando da
d) a página específica deve conter a data completa de sua ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus
última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso
I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
III - em local visível da instituição de ensino superior e de como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) ensino.
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela Art. 52. As universidades são instituições
lei nº 13.168, de 2015) pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo
das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento)
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo I - produção intelectual institucionalizada mediante o
docente até o início das aulas, os alunos devem ser estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes,
comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e
de 2015) nacional;
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação
nº 13.168, de 2015) acadêmica de mestrado ou doutorado;
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de III - um terço do corpo docente em regime de tempo
ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) integral.
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular Parágrafo único. É facultada a criação de universidades
de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela especializadas por campo do saber.
lei nº 13.168, de 2015)
c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação atribuições:
profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, programas de educação superior previstos nesta Lei,
de 2015) obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento respectivo sistema de ensino;
nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca observadas as diretrizes gerais pertinentes;
examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa
seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. científica, produção artística e atividades de extensão;
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade
salvo nos programas de educação a distância. institucional e as exigências do seu meio;
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de consonância com as normas gerais atinentes;
qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
oferta noturna nas instituições públicas, garantida a VII - firmar contratos, acordos e convênios;
necessária previsão orçamentária. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, geral, bem como administrar rendimentos conforme
quando registrados, terão validade nacional como prova da dispositivos institucionais;
formação recebida por seu titular. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições estatutos;

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X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão
cooperação financeira resultante de convênios com entidades setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e
públicas e privadas. comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e de dirigentes.
pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
disponíveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de
(Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) aulas.
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela Comentários:
Lei nº 13.490, de 2017) A Educação Superior faz parte apenas da educação
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada escolar, com objetivos específicos e voltados a cultura de
pela Lei nº 13.490, de 2017) transformação, de forma avançada para aperfeiçoar
IV - programação das pesquisas e das atividades de competências voltadas ao trabalho, além de uma perspectiva
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) de pesquisa.
V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada
pela Lei nº 13.490, de 2017) CAPÍTULO V
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
13.490, de 2017)
§ 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos
a setores ou projetos específicos, conforme acordo entre desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
2017) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos das altas habilidades ou superdotação.
doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio
destinação garantida às unidades a serem beneficiadas. especializado, na escola regular, para atender às
(Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017) peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para condições específicas dos alunos, não for possível a sua
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e integração nas classes comuns de ensino regular.
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do
de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições educação infantil.
asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas
poderão: Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, altas habilidades ou superdotação:
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
disponíveis; organização específicos, para atender às suas necessidades;
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
conformidade com as normas gerais concernentes; atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo III - professores com especialização adequada em nível
Poder mantenedor; médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; professores do ensino regular capacitados para a integração
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas desses educandos nas classes comuns;
peculiaridades de organização e funcionamento; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
aprovação do Poder competente, para aquisição de bens adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção
imóveis, instalações e equipamentos; no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou
necessárias ao seu bom desempenho. psicomotora;
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação regular.
realizada pelo Poder Público.
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e matriculados na educação básica e na educação superior, a fim
desenvolvimento das instituições de educação superior por ela de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao
mantidas. desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
Art. 56. As instituições públicas de educação superior
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
existência de órgãos colegiados deliberativos, de que estabelecerão critérios de caracterização das instituições
participarão os segmentos da comunidade institucional, local privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
e regional.

Ética e Legislação Educacional 11


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exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
financeiro pelo Poder Público. em regime de colaboração, deverão promover a formação
Parágrafo único. O poder público adotará, como inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos magistério.
educandos com deficiência, transtornos globais do § 2º A formação continuada e a capacitação dos
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na profissionais de magistério poderão utilizar recursos e
própria rede pública regular de ensino, independentemente tecnologias de educação a distância.
do apoio às instituições previstas neste artigo. § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo
Comentários: uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
A Educação Especial diz respeito ao direito à Educação § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
aos educandos com deficiência, transtornos globais do adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, em cursos de formação de docentes em nível superior para
assim, com a alteração sofrida pela Lei 12.796/2013, a atuar na educação básica pública.
nomenclatura educandos portadores de necessidades § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
especiais deixou de ser utilizada. À essas crianças o direito incentivarão a formação de profissionais do magistério para
à educação deve ser garantido visando o maior atuar na educação básica pública mediante programa
desenvolvimento possível desse educando que deverá ser institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
oferecido preferencialmente na rede regular, assim a educação matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
especial oferecerá um acesso igualitário além de uma nas instituições de educação superior.
educação de qualidade. § 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino
TÍTULO VI médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
Dos Profissionais da Educação graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
Nacional de Educação - CNE.
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar § 7o (Vetado).
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
formados em cursos reconhecidos, são: terão por referência a Base Nacional Comum
I – professores habilitados em nível médio ou superior Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
para a docência na educação infantil e nos ensinos
fundamental e médio; Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com habilitações tecnológicas.
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. em instituições de educação básica e superior, incluindo
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos cursos de educação profissional, cursos superiores de
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
atestados por titulação específica ou prática de ensino em Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das educação básica a cursos superiores de pedagogia e
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
nº 13.415, de 2017) § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput
V - profissionais graduados que tenham feito deste artigo os professores das redes públicas municipais,
complementação pedagógica, conforme disposto pelo estaduais e federal que ingressaram por concurso público,
Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não
de 2017) sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei
nº 13.478, de 2017)
Parágrafo único. A formação dos profissionais da § 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de
educação, de modo a atender às especificidades do exercício cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames
etapas e modalidades da educação básica, terá como interessados em número superior ao de vagas disponíveis
fundamentos: para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o 2017)
conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas § 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem
competências de trabalho; definidos em regulamento pelas universidades, terão
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios prioridade de ingresso os professores que optarem por cursos
supervisionados e capacitação em serviço; de licenciatura em matemática, física, química, biologia e
III – o aproveitamento da formação e experiências língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação I - cursos formadores de profissionais para a educação
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
plena, admitida, como formação mínima para o exercício do formação de docentes para a educação infantil e para as
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do primeiras séries do ensino fundamental;
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na II - programas de formação pedagógica para portadores de
modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
2017) educação básica;

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III - programas de educação continuada para os impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na


profissionais de educação dos diversos níveis. manutenção e desenvolvimento do ensino público.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
Art. 64. A formação de profissionais de educação para União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou
administração, planejamento, inspeção, supervisão e pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
orientação educacional para a educação básica, será feita em considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- receita do governo que a transferir.
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
formação, a base comum nacional. mencionadas neste artigo as operações de crédito por
antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita
horas. estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais,
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério com base no eventual excesso de arrecadação.
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
em programas de mestrado e doutorado. efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas
universidade com curso de doutorado em área afim, poderá a cada trimestre do exercício financeiro.
suprir a exigência de título acadêmico. § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação,
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos observados os seguintes prazos:
termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada
público: mês, até o vigésimo dia;
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
e títulos; dia de cada mês, até o trigésimo dia;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
III - piso salarial profissional; § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção
IV - progressão funcional baseada na titulação ou monetária e à responsabilização civil e criminal das
habilitação, e na avaliação do desempenho; autoridades competentes.
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga de trabalho; Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e
VI - condições adequadas de trabalho. desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício à consecução dos objetivos básicos das instituições
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
termos das normas de cada sistema de ensino. destinam a:
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e
8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas demais profissionais da educação;
funções de magistério as exercidas por professores e II - aquisição, manutenção, construção e conservação de
especialistas em educação no desempenho de atividades instalações e equipamentos necessários ao ensino;
educativas, quando exercidas em estabelecimento de III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, ensino;
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
pedagógico. expansão do ensino;
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao V - realização de atividades-meio necessárias ao
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos funcionamento dos sistemas de ensino;
públicos para provimento de cargos dos profissionais da VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
educação. públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito
TÍTULO VII destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
Dos Recursos financeiros VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção
de programas de transporte escolar.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
originários de: Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
Distrito Federal e dos Municípios; I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
II - receita de transferências constitucionais e outras ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que
transferências; não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade
III - receita do salário-educação e de outras contribuições ou à sua expansão;
sociais; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
IV - receita de incentivos fiscais; caráter assistencial, desportivo ou cultural;
V - outros recursos previstos em lei. III - formação de quadros especiais para a administração
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de IV - programas suplementares de alimentação, assistência
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas formas de assistência social;
Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de

Ética e Legislação Educacional 13


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V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
quando em desvio de função ou em atividade alheia à quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede
manutenção e desenvolvimento do ensino. pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público
obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e local.
desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive
refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. mediante bolsas de estudo.

Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, TÍTULO VIII


prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, Das Disposições Gerais
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração
Transitórias e na legislação concernente. das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
índios, desenvolverá programas integrados de ensino e
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e
Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
oportunidades educacionais para o ensino fundamental, I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
assegurar ensino de qualidade. suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo ciências;
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso
para o ano subsequente, considerando variações regionais no às informações, conhecimentos técnicos e científicos da
custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino. sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
índias.
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, sistemas de ensino no provimento da educação intercultural
as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
qualidade de ensino. integrados de ensino e pesquisa.
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula § 1º Os programas serão planejados com audiência das
de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e comunidades indígenas.
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
Federal ou do Município em favor da manutenção e do Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
desenvolvimento do ensino. I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será de cada comunidade indígena;
definida pela razão entre os recursos de uso II - manter programas de formação de pessoal
constitucionalmente obrigatório na manutenção e especializado, destinado à educação escolar nas comunidades
desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo indígenas;
ao padrão mínimo de qualidade. III - desenvolver currículos e programas específicos, neles
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a incluindo os conteúdos culturais correspondentes às
União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada respectivas comunidades;
estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático
que efetivamente frequentam a escola. específico e diferenciado.
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á,
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de
responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à
do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de pesquisa e desenvolvimento de programas especiais.
atendimento.
Art. 79-A. (Vetado)
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo
anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
sem prejuízo de outras prescrições legais.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
confessionais ou filantrópicas que: § 1º A educação a distância, organizada com abertura e
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam regime especiais, será oferecida por instituições
resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela especificamente credenciadas pela União.
de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; de exames e registro de diploma relativos a cursos de
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra educação a distância.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
Público, no caso de encerramento de suas atividades; programas de educação a distância e a autorização para sua
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
recebidos. podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
sistemas.

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§ 4º A educação a distância gozará de tratamento § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao


diferenciado, que incluirá: Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art.
de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios 212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes
de comunicação que sejam explorados mediante autorização, pelos governos beneficiados.
concessão ou permissão do poder público;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente Art. 87.A- (Vetado).
educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Público, pelos concessionários de canais comerciais. Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições da data de sua publicação.
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos
desta Lei. e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de estabelecidos.
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
sobre a matéria. disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.

Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da
fixadas pelos sistemas de ensino. publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
ensino.
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime
respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste,
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação autonomia universitária.
própria poderá exigir a abertura de concurso público de
provas e títulos para cargo de docente de instituição pública Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de
assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968,
das Disposições Constitucionais Transitórias. não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de
como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e
de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e quaisquer outras disposições em contrário.
Tecnologia, nos termos da legislação específica.
Questões
TÍTULO IX
Das Disposições Transitórias 01. (SEAP/DF- Professor- IBFC) De acordo com o que
disserta a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um Brasileira (LDB), julgue os itens a seguir:
ano a partir da publicação desta Lei. I. A LDB reconhece que a educação abrange os processos
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino,
Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos nos movimentos sociais e nas manifestações culturais. Por
seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre isso, a lei disserta, expressamente, que a educação escolar
Educação para Todos. deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
§ 2º (Revogado) II. A educação básica é obrigatória e gratuita dos 6 anos aos
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, 17 anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola,
supletivamente, a União, devem: ensino fundamental e ensino médio. Sendo a educação infantil
I - (Revogado) gratuita às crianças de até 6 anos de idade
a) (Revogado) III. O atendimento ao educando é previsto, em todas as
b) (Revogado) etapas da educação básica, por meio de programas
c) (Revogado) suplementares de material didático-escolar e alimentação.
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e Transporte e assistência à saúde não estão expressamente
adultos insuficientemente escolarizados; previstos na LDB 9394/96, sendo deixados à lei ordinária.
III - realizar programas de capacitação para todos os IV. É garantida a vaga na escola pública de educação
professores em exercício, utilizando também, para isto, os infantil ou de ensino fundamental mais próxima da residência
recursos da educação a distância; a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino idade.
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação V. É garantido acesso público e gratuito aos ensinos
do rendimento escolar. fundamental e médio para todos os que não os concluíram na
§ 4º (Revogado) idade própria, porém vedado acesso aos níveis mais elevados
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino capacidade de cada um.
fundamental para o regime de escolas de tempo integral.

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É correto o que afirma em: (A) Flexibilidade do currículo – permite a incorporação de


(A) I, II e III, apenas. disciplinas considerando o contexto e a clientela.
(B) I e IV, apenas. (B) Educação Artística e Ensino Religioso – disciplinas
(C) II, III e V, apenas. obrigatórias no Ensino Básico.
(D) I, IV e V, apenas. (C) Jornada escolar no Ensino Fundamental – pelo menos
quatro horas em sala de aula.
02. (Prefeitura Municipal de Alumínio/SP – Auxiliar de (D) Educação Profissional – constitui um curso
Desenvolvimento Infantil – VUNESP/2016) A Lei Federal nº independente do Ensino Médio.
9.394, de 20.12.1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação (E) Educação organizada em dois níveis – Educação Básica
Nacional), introduziu uma série de inovações em relação à e Educação Superior.
Educação Básica, dentre as quais,
(A) a construção de identidade das creches e pré-escolas 07. (IF-SP- Professor- Biologia- IF-SP/2015) Segundo a
com base nas diferenciações em relação à classe social das Lei nº 9394, de 1996, a respeito do tema “diplomas", é
crianças. incorreto afirmar que:
(B) o atendimento obrigatório e gratuito no ensino (A) Os diplomas de cursos de educação profissional técnica
fundamental e gratuidade extensiva apenas à Educação de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e
Infantil das crianças a partir dos 4 anos de idade. habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação
(C) o atendimento em creches e pré-escolas pelos órgãos superior.
de assistência social, prioritariamente. (B) Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
(D) o entendimento da creche e pré-escola como um favor quando registrados, terão validade nacional como prova da
aos socialmente menos favorecidos. formação recebida por seu titular.
(E) a integração das creches nos sistemas de ensino, (C) Os diplomas de graduação expedidos por
compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da universidades estrangeiras serão revalidados por
Educação Básica. universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
03. (TJ/GO- Analista Judiciário- Pedagogia- FGV) A de reciprocidade ou equiparação.
educação escolar, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da (D) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, é dever da família por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
e do Estado. por universidades que possuam cursos de pós-graduação
Cabe ao Estado garantir, a partir da nova redação do Art. reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
4º da LDB instituída pela Lei nº 12.796, de 2013: em nível equivalente ou superior.
(A) educação básica obrigatória e gratuita dos seis aos (E) Os diplomas expedidos pelas universidades e aqueles
quatorze anos de idade; conferidos por instituições não-universitárias serão
(B) educação infantil e ensino fundamental obrigatórios e registrados pelo Conselho Nacional de Educação.
gratuitos;
(C) ensino fundamental e ensino médio obrigatórios e 08. (INSS- Analista Pedagogia- FUNRIO) Segundo o
gratuitos; artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(D) educação básica obrigatória e gratuita a todos que 9394 de 1996, em seu inciso VI, o controle de frequência dos
desejarem cursá-la; alunos ficará a cargo da
(E) educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos (A) secretaria de ensino municipal, conforme o disposto no
dezessete anos de idade. seu regimento, e exigida a frequência mínima de setenta e
cinco por cento do total de horas letivas para aprovação.
04. (Pref. Mun. de Palhoça/SC – Professor de Educação (B) secretaria de ensino estadual, conforme o disposto no
Infantil – Pref. Mun. de Palhoça/2016) Assinale a seu regulamento, e exigida a frequência mínima de setenta e
alternativa FALSA: cinco por cento do total de horas letivas para aprovação.
(A) A educação superior somente será ministrada em (C) escola, conforme o disposto no seu regimento e nas
instituições de ensino superior públicas, com variados graus normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
de abrangência ou especialização. mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas
(B) Os cursos de pós-graduação serão oferecidos em para aprovação.
diversas instituições públicas ou privadas. (D) escola, conforme o disposto no seu regimento, e exigida
(C) A educação superior será oferecida tanto em a frequência mínima de oitenta e cinco por cento do total de
instituições públicas como nas privadas. horas letivas para aprovação.
(D) A educação superior será ministrada em instituições (E) secretaria de educação básica do MEC, conforme o
de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus disposto em regimento federal, e exigida a frequência mínima
de abrangência ou especialização. de oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para
aprovação.
05. (Pref. Mun. de Nova Friburgo/RJ – Secretário
Escolar – EXATUS/PR - 2015) A questão é concernente a Lei 09. (Secretaria de Estado da Educação do Distrito
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº Federal - SEDF – Professor da Educação Básica –
9394/96)”. Segundo a LDB, a educação escolar compõe-se de: CESPE/2017) Tendo como referência a legislação educacional
(A) Educação Básica e Educação Infantil. brasileira e do DF, julgue o item a seguir. A educação do campo
(B) Educação Infantil e Ensino Fundamental. é um ramo da educação básica cujo objetivo é profissionalizar
(C) Educação Básica e Educação Superior. os trabalhadores rurais.
(D) Educação Básica, Educação Infantil e Educação (A) Certo
Superior. (B) Errado

06. (SEDUC –AM- Pedagogo- FGV) As opções a seguir 10. (IFB - Professor – Português – IFB/2017) No que
apresentam destaques da Lei nº 9394/96, à exceção de uma. concerne aos níveis e modalidades de educação e ensino,
Assinale-a. previstos na Lei nº 9394/96, pode-se afirmar que:

Ética e Legislação Educacional 16


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(A) A educação básica é formada pela educação infantil e 03. Resposta: E.


pelo ensino fundamental.
(B) A educação escolar compõe-se de educação básica, Para responder a questão, o candidato deverá ter domínio
média e superior. do artigo 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica,
(C) A escola poderá reclassificar os alunos tendo como que dispõem:
base as normas curriculares gerais.
(D) A educação básica tem a finalidade de desenvolver o Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será
educando para o exercício da cidadania, sendo a educação efetivado mediante a garantia de:
média e média técnica meios para progressão no trabalho e em I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
estudos posteriores. aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
(E) O calendário escolar do ensino básico deve ser forma:
obedecido em todo o território nacional, com a previsão de a) pré-escola;
dois ciclos de férias escolares, em julho e em janeiro. b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
Respostas II - educação infantil gratuita às crianças de até 5
01. Resposta: B. (cinco) anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos
I- Correta: (Art. 1º §2 º da Lei 9.394/96) educandos com deficiência, transtornos globais do
II- Errada: A educação básica é obrigatória e gratuita dos 4 desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, e não dos 6 anos transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
como escrito na afirmativa, organizada da seguinte forma: pré- preferencialmente na rede regular de ensino;
escola, ensino fundamental e ensino médio. Sendo a educação IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade, e médio para todos os que não os concluíram na idade
não 6 como afirmado, conforme a legislação pertinente. própria;
(...)
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será
efetivado mediante a garantia de: 04. Resposta: A.
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: O enunciado da questão exige que o candidato tenha
a) pré-escola; conhecimento acerca do artigo 45 da LDB, o qual estabelece:
b) ensino fundamental;
c) ensino médio; Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de
anos de idade; abrangência ou especialização.
(...)
Portanto, a alternativa A está em desacordo com o disposto
III- Errada: O atendimento ao educando é previsto, em na legislação, pois A educação superior será ministrada em
todas as etapas da educação básica, por meio de programas instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com
suplementares de material didático-escolar e alimentação, variados graus de abrangência ou especialização.
transporte e assistência à saúde estão expressos na Lei
9.394/96, conforme: 05. Resposta: C.

Art. 4º. VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas O artigo 21 da Lei 9.394/96 trata sobre a Educação Escolar,
da educação básica, por meio de programas suplementares de ela, como foi visto nos comentários não deve ser confundida
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência com a Educação Básica, assim, a Educação Escolar é
à saúde; compreendida por:

IV- Correta (Art. 4º, X da Lei 9.394/96) Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
V- Errada: É garantido acesso público e gratuito aos fundamental e ensino médio;
ensinos fundamental e médio para todos os que não os II - educação superior.
concluíram na idade própria, e também o acesso aos níveis
mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, 06. Resposta B.
segundo a capacidade de cada um, conforme o Art. 4º.V da Lei
9.394/96. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação básica, trata em
seu artigo 33:
Art. 4º. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
um; integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino
02. Resposta: E. fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Conforme o artigo 30 da LDB, o qual dispõe: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

Art. 30. A educação infantil será oferecida em: Assim, o artigo 33 da referida legislação trata o ensino
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até religioso como disciplina dos horários normais da escolas
três anos de idade; públicas de ensino fundamental e não do ensino básico, por
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) esse motivo, a questão B é a alternativa correta.
anos de idade.

Ética e Legislação Educacional 17


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07. Resposta E. Assim, a legislação educacional brasileira e do DF, não faz


nenhuma menção a capacidade de profissionalizar o
(A) Correta, Art. 36-D da Lei 9.394/96. educando, e sim a busca pelo seu pleno desenvolvimento, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional o trabalho, percebe-se aqui que não deve haver confusão entre
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade qualificação para o trabalho com profissionalização.
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na
educação superior. 10. Resposta: C.
Para resolver a questão o candidato deverá fazer uso do
(B) Correta, Art. 48 da Lei 9.394/96. artigo 23 §1º, da Le 9.394/96, inserido na Capítulo II, Seção I –
As disposições Gerais da Educação Básica, assim é correto
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, afirmar que a alternativa C está em conformidade com o
quando registrados, terão validade nacional como prova da dispositivo legal, pois:
formação recebida por seu titular.
Art. 23 § 1º A escola poderá reclassificar os alunos,
(C) Correta, Art. 48 § 2º da Lei 9.394/96. inclusive quando se tratar de transferências entre
estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como
Art. 48. § 2º Os diplomas de graduação expedidos por base as normas curriculares gerais.
universidades estrangeiras serão revalidados por universidades
públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou
equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de Resolução nº 04, de
reciprocidade ou equiparação. 13/07/2010 - Diretrizes
(D) Correta, Art., 48 § 3º da Lei 9.394/96.
Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica
Art. 48. § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado
expedidos por universidades estrangeiras só poderão ser
reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
conhecimento e em nível equivalente ou superior. CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

(E) Errado, Art. 48 § 1º da Lei 9.394/96. RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 20101

Art. 48. § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA A
serão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos EDUCAÇÃO BÁSICA
por instituições não-universitárias serão registrados em
universidades indicadas pelo Conselho Nacional de O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
Educação. Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e de
conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º
08. Resposta C. da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº
9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40,
O artigo 24, trata sobre as regras comuns da educação 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação dada pela Lei nº
básica e, em seu inciso VI, dispõe sobre o controle de 11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e com
frequência, o qual estabelece: fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, homologado por
Art. 24. (...) VI - o controle de frequência fica a cargo da Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do publicado no DOU de 9 de julho de 2010.
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para RESOLVE:
aprovação;
Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares
Percebe-se então, que a alternativa C está correta ao alegar Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e
que caberá a escola o controle de frequência conforme o articulado das etapas e modalidades da Educação Básica,
disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno
de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania
cento do total de horas letivas para aprovação. e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em
ambiente educativo, e tendo como fundamento a
09. Resposta: B. responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a
sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a
A questão faz referência a modalidade de educação no inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das
campo e, poderá ser facilmente respondida com a utilização do crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a
artigo 2º da LDB, que diz: aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão da
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade TÍTULO I
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do OBJETIVOS
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
a Educação Básica têm por objetivos:

1 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf

Ética e Legislação Educacional 18


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I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da estrutura federativa brasileira, em que convivem sistemas
Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao
e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das
legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para políticas públicas e superar a desarticulação institucional.
assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco § 1º Essa institucionalização é possibilitada por um
os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; Sistema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo,
II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve com suas peculiares competências, é chamado a colaborar
subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto para transformar a Educação Básica em um sistema orgânico,
político-pedagógico da escola de Educação Básica; sequencial e articulado.
III - orientar os cursos de formação inicial e continuada de § 2º O que caracteriza um sistema é a atividade intencional
docentes e demais profissionais da Educação Básica, os e organicamente concebida, que se justifica pela realização de
sistemas educativos dos diferentes entes federados e as atividades voltadas para as mesmas finalidades ou para a
escolas que os integram, indistintamente da rede a que concretização dos mesmos objetivos.
pertençam. § 3º O regime de colaboração entre os entes federados
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência entre
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas as funções distributiva, supletiva, normativa, de supervisão e
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem avaliação da educação nacional, respeitada a autonomia dos
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, sistemas e valorizadas as diferenças regionais.
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, na sua
relação com um projeto de Nação, tendo como referência os TÍTULO IV
objetivos constitucionais, fundamentando-se na cidadania e na ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade, liberdade, QUALIDADE SOCIAL
pluralidade, diversidade, respeito, justiça social, solidariedade
e sustentabilidade. Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens
TÍTULO II na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da
educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de processo educativo.
educação responsabilizam o poder público, a família, a
sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um Art. 9º A escola de qualidade social adota como
ensino ministrado de acordo com os princípios de: centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, atendimento aos seguintes requisitos:
permanência e sucesso na escola; I - revisão das referências conceituais quanto aos
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
cultura, o pensamento, a arte e o saber; sociais na escola e fora dela;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
IV - respeito à liberdade e aos direitos; diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
V - coexistência de instituições públicas e privadas de cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de
ensino; cada comunidade;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
oficiais; aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como
VII - valorização do profissional da educação escolar; instrumento de contínua progressão dos estudantes;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da IV - inter-relação entre organização do currículo, do
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
IX - garantia de padrão de qualidade; tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
X - valorização da experiência extraescolar; V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
práticas sociais. VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a
infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da acessibilidade;
qual depende a possibilidade de conquistar todos os demais VII - integração dos profissionais da educação, dos
direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade
Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas interessados na educação;
demais disposições que consagram as prerrogativas do VIII - valorização dos profissionais da educação, com
cidadão. programa de formação continuada, critérios de acesso,
permanência, remuneração compatível com a jornada de
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as trabalho definida no projeto político-pedagógico;
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
buscando recuperar, para a função social desse nível da assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
formação na sua essência humana. meio ambiente.

TÍTULO III Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mínimos


SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO de qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer
que a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente,
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a pelos sujeitos da escola.
institucionalização do regime de colaboração entre União, § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:

Ética e Legislação Educacional 19


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I - aos princípios e às finalidades da educação, além do CAPÍTULO I


reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros
indicadores, que o complementem ou substituam; Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
II - à relevância de um projeto político-pedagógico princípios educacionais garantidos à educação, assegurados
concebido e assumido colegiadamente pela comunidade no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o conjunto de
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a valores e práticas que proporcionam a produção, a
pluralidade cultural; socialização de significados no espaço social e contribuem
III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas intensamente para a construção de identidades socioculturais
pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos dos educandos.
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural; § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno- interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do
Qualidade Inicial – CAQi); respeito ao bem comum e à ordem democrática, considerando
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-se um as condições de escolaridade dos estudantes em cada
padrão mínimo de insumos, que tem como base um estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de
investimento com valor calculado a partir das despesas práticas educativas formais e não-formais.
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
formativos, que levem, gradualmente, a uma educação assegurar o entendimento de currículo como experiências
integral, dotada de qualidade social: escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
I - creches e escolas que possuam condições de permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
infraestrutura e adequados equipamentos; saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente
II - professores qualificados com remuneração adequada e acumulados e contribuindo para construir as identidades dos
compatível com a de outros profissionais com igual nível de educandos.
formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) horas em § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
tempo integral em uma mesma escola; contextualizado, deve ser construída em função das
III - definição de uma relação adequada entre o número de peculiaridades do meio e das características, interesses e
alunos por turma e por professor, que assegure aprendizagens necessidades dos estudantes, incluindo não só os
relevantes; componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de
responda às exigências do que se estabelece no projeto modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e
político-pedagógico. assegurando:
I - concepção e organização do espaço curricular e físico
TÍTULO V que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas,
POSSIBILIDADES igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e
esportivo recreativos do entorno, da cidade e mesmo da
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se região;
resignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes curriculares que pressuponham profissionais da educação
próprias das diferentes regiões do País. dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social,
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a com responsabilidade compartilhada com as demais
superação do rito escolar, desde a construção do currículo até autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do poder
os critérios que orientam a organização do trabalho escolar em público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até
sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da
aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, sociedade;
adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar,
as pessoas. pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela
escola, que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir o pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos
programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz
vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de
contra turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, redes de aprendizagem;
no mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a IV - compreensão da matriz curricular entendida como
amplitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto propulsora de movimento, dinamismo curricular e
orgânico da Educação Básica, o que requer outra organização educacional, de tal modo que os diferentes campos do
e gestão do trabalho pedagógico. conhecimento possam se coadunar com o conjunto de
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou atividades educativas;
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do V - organização da matriz curricular entendida como
estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo alternativa operacional que embase a gestão do currículo
diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na
aprendizagens. organização do tempo e do espaço curricular, distribuição e
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica a controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para uma
necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, gestão centrada na abordagem interdisciplinar, organizada
de atividades e estudos pedagogicamente planejados e por eixos temáticos, mediante interlocução entre os diferentes
acompanhados. campos do conhecimento;
§ 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem VI - entendimento de que eixos temáticos são uma forma
estabelecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do
experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e conhecimento, fornecendo o cenário no qual se constroem
adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade objetos de estudo, propiciando a concretização da proposta
de Educação de Jovens e Adultos. pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superando o

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isolamento das pessoas e a compartimentalização de Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa a
conteúdos rígidos; base nacional comum, prevendo o estudo das características
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
utilizando-se recursos tecnológicos de informação e comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços
comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Ensino
superar a distância entre estudantes que aprendem a receber Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos
informação com rapidez utilizando a linguagem digital e tenham acesso à escola.
professores que dela ainda não se apropriaram; § 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas
VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados
como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade
aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela escolar.
consciência de que o processo de comunicação entre § 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua
estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua
recursos diversos; escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da
IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como escola, que deve considerar o atendimento das características
ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas de locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em vista as
formação inicial e continuada de profissionais da educação, demandas do mundo do trabalho e da internacionalização de
sendo que esta opção requer planejamento sistemático toda ordem de relações.
integrado estabelecido entre sistemas educativos ou conjunto § 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
de unidades escolares; é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma de facultativa para o estudante, bem como possibilitada no
organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas e Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano.
eixos temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas
convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas. Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB,
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e determinam que sejam incluídos componentes não
ambas complementam-se, rejeitando a concepção de disciplinares, como temas relativos ao trânsito, ao meio
conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto ambiente e à condição e direitos do idoso.
e acabado.
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático- Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária
epistemológica dos objetos de conhecimento. anual ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares
eletivos criados pela escola, previsto no projeto pedagógico, de
CAPÍTULO II modo que os estudantes do Ensino Fundamental e do Médio
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICADA possam escolher aquele programa ou projeto com que se
identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica conhecimento e a experiência.
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos § 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos
culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a
instituições produtoras do conhecimento científico e comunidade em que a escola esteja inserida.
tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das § 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem
linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes
produção artística; nas formas diversas de exercício da disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e
cidadania; e nos movimentos sociais. propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes
§ 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua campos do conhecimento.
Portuguesa;
b) a Matemática; TÍTULO VI
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo
da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas
incluindo-se a música; as suas etapas, modalidades e orientações temáticas,
e) a Educação Física; respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que se
f) o Ensino Religioso. destinam.
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos § 1º As etapas e as modalidades do processo de
sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, escolarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e
disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade articulado, de maneira complexa, embora permanecendo
dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar das
se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da mudanças por que passam:
cidadania, em ritmo compatível com as etapas do I - a dimensão orgânica é atendida quando são observadas
desenvolvimento integral do cidadão. as especificidades e as diferenças de cada sistema educativo,
§ 3º A base nacional comum e a parte diversificada não sem perder o que lhes é comum: as semelhanças e as
podem se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas identidades que lhe são inerentes;
específicas para cada uma dessas partes, mas devem ser II - a dimensão sequencial compreende os processos
organicamente planejadas e geridas de tal modo que as educativos que acompanham as exigências de aprendizagens
tecnologias de informação e comunicação perpassem definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e
transversalmente a proposta curricular, desde a Educação progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior,
Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos constituindo-se em diferentes e insubstituíveis momentos da
político-pedagógico. vida dos educandos;
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial das
etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas com a

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Educação Superior, implica ação coordenada e integradora do durante o tempo de desenvolvimento das atividades que lhes
seu conjunto. são peculiares, pois este é o momento em que a curiosidade
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e suas deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada pelos
fases requer formas de articulação das dimensões orgânica e profissionais da educação.
sequencial que assegurem aos educandos, sem tensões e § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
rupturas, a continuidade de seus processos peculiares de humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social
aprendizagem e desenvolvimento. devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve
ocorrer ao longo da Educação Básica.
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus § 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços
princípios, objetivos e diretrizes educacionais, promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação
fundamentando-se na inseparabilidade dos conceitos Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças,
referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a
norteadora do projeto político-pedagógico elaborado e sociedade, prevendo programas e projetos em parceria,
executado pela comunidade educacional. formalmente estabelecidos.
Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos mentais, § 5º A gestão da convivência e as situações em que se torna
sócioemocionais, culturais e identitários é um princípio necessária a solução de problemas individuais e coletivos
orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade pelas crianças devem ser previamente programadas, com foco
dos sistemas a criação de condições para que crianças, nas motivações estimuladas e orientadas pelos professores e
adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a demais profissionais da educação e outros de áreas
oportunidade de receber a formação que corresponda à idade pertinentes, respeitados os limites e as potencialidades de
própria de percurso escolar. cada criança e os vínculos desta com a família ou com o seu
responsável direto.
CAPÍTULO I
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Seção II
Ensino Fundamental
Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes
momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de
I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos
englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com
criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5
duração de 2 (dois) anos; (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis)
II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de
duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher significa
finais; III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) também cuidar e educar, como forma de garantir a
anos. aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe
idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na
atenta para sujeitos com características que fogem à norma, comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe
como é o caso, entre outros: possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses
I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar; bens.
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
abandonado os estudos; Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças,
III - de portadores de deficiência limitadora; definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no
incompleta; primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e
V - de habitantes de zonas rurais; intensificando, gradativamente, o processo educativo,
VI - de indígenas e quilombolas; mediante:
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
internação, jovens e adultos em situação de privação de como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
liberdade nos estabelecimentos penais. cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três)
Seção I primeiros anos;
Educação Infantil III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos
Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o valores em que se fundamenta a sociedade;
desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
ação da família e da comunidade. formação de atitudes e valores;
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas pela assenta a vida social.
escola e pelos profissionais da educação, com base nos
princípios da individualidade, igualdade, liberdade, Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem
diversidade e pluralidade. estabelecer especial forma de colaboração visando à oferta do
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferentes Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a primeira
condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico- fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda, pelo
raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, entre outras, Estado, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes que se
as relações sociais e intersubjetivas no espaço escolar transfiram de uma rede para outra para completar esta
requerem a atenção intensiva dos profissionais da educação,

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escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e a II - providos o suporte e a atenção individuais às diferentes


totalidade do processo formativo do escolar. necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem,
mediante atividades diversificadas;
Seção III III - valorizada a realização de atividades e vivências
Ensino Médio socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes;
Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo IV - desenvolvida a agregação de competências para o
da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades trabalho;
que preveem: V - promovida a motivação e a orientação permanente dos
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos estudantes, visando maior participação nas aulas e seu melhor
adquiridos no Ensino aproveitamento e desempenho;
Fundamental, possibilitando o prosseguimento de VI - realizada, sistematicamente, a formação continuada,
estudos; destinada, especificamente, aos educadores de jovens e
II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho, adultos.
tomado este como princípio educativo, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas Seção II
condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; Educação Especial
III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal
autonomia intelectual e do pensamento crítico; a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte
IV - a compreensão dos fundamentos científicos e integrante da educação regular, devendo ser prevista no
tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, projeto político-pedagógico da unidade escolar.
relacionando a teoria com a prática. § 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes
§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
qual podem se assentar possibilidades diversas como altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em
científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da
formação cultural. rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em filantrópicas sem fins lucrativos.
uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para
singularidades, que se situam em um tempo determinado. que o professor da classe comum possa explorar as
§ 3º Os sistemas educativos devem prever currículos potencialidades de todos os estudantes, adotando uma
flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e,
tenham a oportunidade de escolher o percurso formativo que na interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e
atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que se necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os
assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a
até a conclusão da Educação Básica. participação e aprendizagem dos estudantes.
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de
CAPÍTULO II ensino devem observar as seguintes orientações
MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA fundamentais:
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode ensino regular;
corresponder uma ou mais das modalidades de ensino: II - a oferta do atendimento educacional especializado;
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação III - a formação de professores para o AEE e para o
Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
Escolar Indígena e Educação a Distância. IV - a participação da comunidade escolar;
V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos
Seção I transportes;
Educação de Jovens e Adultos VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.

Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se Seção III


aos que se situam na faixa etária superior à considerada Educação Profissional e Tecnológica
própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio. Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se
características do alunado, seus interesses, condições de vida com o ensino regular e com outras modalidades educacionais:
e de trabalho, mediante cursos, exames, ações integradas e Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a
complementares entre si, estruturados em um projeto Distância.
pedagógico próprio.
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação
Profissional articulada com a Educação Básica, devem pautar- Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de
se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e formação inicial e continuada ou qualificação profissional e
espaço, para que seja(m): nos de Educação Profissional Técnica de nível médio.
I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é
conteúdos significativos para os jovens e adultos; desenvolvida nas seguintes formas:

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I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a) educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo
integrada, na mesma instituição; ou aprendizado e pela formação do estudante.
b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha Seção V
concluído o Ensino Médio. Educação Escolar Indígena
§ 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio,
organizados na forma integrada, são cursos de matrícula Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades
única, que conduzem os educandos à habilitação profissional educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm
técnica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em
última etapa da Educação Básica. respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou
§ 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, comunidade e formação específica de seu quadro docente,
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla observados os princípios constitucionais, a base nacional
certificação, podem ocorrer: comum e os princípios que orientam a Educação Básica
I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as brasileira.
oportunidades educacionais disponíveis; Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de
oportunidades educacionais disponíveis; possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com
III - em instituições de ensino distintas, mediante ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das
convênios de intercomplementaridade, com planejamento e culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. sua diversidade étnica.
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
etapas que possibilitem qualificação profissional considerada a participação da comunidade, na definição do
intermediária. modelo de organização e gestão, bem como:
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser I - suas estruturas sociais;
desenvolvida por diferentes estratégias de educação II - suas práticas socioculturais e religiosas;
continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de III - suas formas de produção de conhecimento, processos
trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem, próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). IV - suas atividades econômicas;
V - edificação de escolas que atendam aos interesses das
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissional comunidades indígenas;
e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
identificação das tecnologias que se encontram na base de uma acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas
constituídos. Seção VI
Educação a Distância
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, como Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se
os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e
prosseguimento ou conclusão de estudos. tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares
Seção IV ou tempos diversos.
Educação Básica do Campo
Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação
educação para a população rural está prevista com adequações Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e
necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas
região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as
à organização da ação pedagógica: normas complementares desses sistemas.
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; Seção VII
II - organização escolar própria, incluindo adequação do Educação Escolar Quilombola
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
climáticas; Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de
vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com seu quadro docente, observados os princípios constitucionais,
propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em a base nacional comum e os princípios que orientam a
todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos, Educação Básica brasileira.
econômicos, de gênero, geração e etnia. Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
Parágrafo único. Formas de organização e metodologias escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser
pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a reconhecida e valorizada a diversidade cultural.
pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico
fundamentado no princípio da sustentabilidade, para
assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a
pedagogia da alternância, na qual o estudante participa,
concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações
de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria

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TÍTULO VII IX - as ações de acompanhamento sistemático dos


ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZAÇÃO resultados do processo de avaliação interna e externa (Sistema
DAS de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica),
A EDUCAÇÃO BÁSICA incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complementem
ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e
Art. 42. São elementos constitutivos para a outros;
operacionalização destas Diretrizes o projeto político- X - a concepção da organização do espaço físico da
pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a instituição escolar de tal modo que este seja compatível com
gestão democrática e a organização da escola; o professor e o as características de seus sujeitos, que atenda as normas de
programa de formação docente. acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação,
deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.
CAPÍTULO I
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMENTO Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela
ESCOLAR comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um
dos instrumentos de execução do projeto político-pedagógico,
Art. 43. O projeto político-pedagógico, com transparência e responsabilidade.
interdependentemente da autonomia pedagógica, Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e
administrativa e de gestão financeira da instituição da finalidade da instituição, da relação da gestão democrática
educacional, representa mais do que um documento, sendo um com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e
dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios
qualidade social. de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos direitos e
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e
busca de sua identidade, que se expressa na construção de seu funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e
projeto pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto função das suas instâncias colegiadas.
manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova
e democrática ordenação pedagógica das relações escolares. CAPÍTULO II
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus AVALIAÇÃO
sujeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico
com os planos de educação – nacional, estadual, municipal –, o Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreende
contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e de 3 (três) dimensões básicas:
seus estudantes. I - avaliação da aprendizagem;
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, II - avaliação institucional interna e externa;
artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e III - avaliação de redes de Educação Básica.
diversidade cultural que compõem as ações educativas, a
organização e a gestão curricular são componentes Seção I
integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser Avaliação da aprendizagem
previstas as prioridades institucionais que a identificam,
definindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na
da Educação Básica assumidas, de acordo com as concepção de educação que norteia a relação professor-
especificidades que lhes correspondam, preservando a sua estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser
articulação sistêmica. um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica
avaliativa, premissa básica e fundamental para se questionar o
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo,
construção coletiva que respeita os sujeitos das político.
aprendizagens, entendidos como cidadãos com direitos à § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica,
proteção e à participação social, deve contemplar: liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar,
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, aponta
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo; para uma avaliação global, que vai além do aspecto
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação quantitativo, porque identifica o desenvolvimento da
da aprendizagem e mobilidade escolar; autonomia do estudante, que é indissociavelmente ético,
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos – social, intelectual.
que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendizagem
vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, tem, como referência, o conjunto de conhecimentos,
como base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento- habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do
cultura-professor-estudante e instituição escolar; processo educativo projetam para si de modo integrado e
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho articulado com aqueles princípios definidos para a Educação
pedagógico; Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas, bem
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por assim no projeto político-pedagógico da escola.
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se § 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada mediante
refletem na escola; acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança,
VI - os fundamentos da gestão democrática, compartilhada sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando de acesso
e participativa (órgãos colegiados e de representação ao Ensino Fundamental.
estudantil); § 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamental
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de e no Ensino Médio, de caráter formativo predominando sobre
permanência dos estudantes e de superação da retenção o quantitativo e classificatório, adota uma estratégia de
escolar; progresso individual e contínuo que favorece o crescimento do
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos educando, preservando a qualidade necessária para a sua
profissionais da educação, regentes e não regentes; formação escolar, sendo organizada de acordo com regras
comuns a essas duas etapas.

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Seção II CAPÍTULO III


Promoção, aceleração de estudos e classificação GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho
Fundamental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em pedagógico e da gestão da escola conceber a organização e a
qualquer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedimentos
percurso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental, que viabilizam o trabalho expresso no projeto político-
alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendimento pedagógico e em planos da escola, em que se conformam as
escolar observará os seguintes critérios: condições de trabalho definidas pelas instâncias colegiadas.
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as do
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de abrangentes, que exigem outra concepção de organização do
eventuais provas finais; trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária,
II - possibilidade de aceleração de estudos para estudantes remuneração, estratégias claramente definidas para a ação
com atraso escolar; didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries de novas abordagens e práticas metodológicas, incluindo a
mediante verificação do aprendizado; produção de recursos didáticos adequados às condições da
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito; escola e da comunidade em que esteja ela inserida.
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino público
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que
estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto implica decisões coletivas que pressupõem a participação da
no regimento escolar. comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos
princípios e finalidades da educação.
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudantes § 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve se
com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e da
encontram-se em descompasso de idade, por razões como pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de ensino- possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é a de
aprendizagem ou outras. se fundamentar em princípio educativo emancipador,
expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
que esta deve preservar a sequência do currículo e observar as
normas do respectivo sistema de ensino, requerendo o Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instrumento
redesenho da organização das ações pedagógicas, com de horizontalização das relações, de vivência e convivência
previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para colegiada, superando o autoritarismo no planejamento e na
professor e estudante, com conjunto próprio de recursos concepção e organização curricular, educando para a
didático-pedagógico. conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação conjunta
que busca criar e recriar o trabalho da e na escola mediante:
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convivência
avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas formas social libertadora fundamentada na ética cidadã;
de progressão, inclusive a de progressão continuada, jamais II - a superação dos processos e procedimentos
entendida como promoção automática, o que supõe tratar o burocráticos, assumindo com pertinência e relevância: os
conhecimento como processo e vivência que não se harmoniza planos pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais,
com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o e as atividades de avaliação contínua;
estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo III - a prática em que os sujeitos constitutivos da
contínuo de formação, construindo significados. comunidade educacional discutam a própria práxis
pedagógica impregnando-a de entusiasmo e de compromisso
Seção III com a sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no
Avaliação institucional contexto das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
IV - a construção de relações interpessoais solidárias,
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista geridas de tal modo que os professores se sintam estimulados
no projeto político-pedagógico e detalhada no plano de gestão, a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho,
realizada anualmente, levando em consideração as estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as suas
orientações contidas na regulamentação vigente, para rever o dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
conjunto de objetivos e metas a serem concretizados, V - a instauração de relações entre os estudantes,
mediante ação dos diversos segmentos da comunidade proporcionando-lhes espaços de convivência e situações de
educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se
compatíveis com a missão da escola, além de clareza quanto ao compreender e se organizar em equipes de estudos e de
que seja qualidade social da aprendizagem e da escola. práticas esportivas, artísticas e políticas;
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no
Seção IV cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola
Avaliação de redes de Educação Básica interage, em busca da qualidade social das aprendizagens que
lhe caiba desenvolver, com transparência e responsabilidade.
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e CAPÍTULO IV
engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que os O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA
resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade se a
escola apresenta qualidade suficiente para continuar Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamentação
funcionando como está. da ação docente e os programas de formação inicial e
continuada dos profissionais da educação instauram, reflete-

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se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, a partir Questões


do qual é determinado o perfil de docente para a Educação 01. (SEDF - Conhecimentos Básicos - CESPE/2017).
Básica, em atendimento às dimensões técnicas, políticas, éticas Julgue o item subsequente, à luz das Diretrizes Curriculares
e estéticas. Nacionais Gerais para a Educação Básica.
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de As diretrizes em questão têm como fundamento o
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, compromisso com a educação integral de todos, atendendo às
professores ou especialistas, deverão incluir em seus dimensões orgânica, sequencial e articulada da educação
currículos e programas: básica
a) o conhecimento da escola como organização complexa ( ) Certo ( ) Errado
que tem a função de promover a educação para e na cidadania;
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de 02. (SEDF - Conhecimentos Básicos - CESPE/2017).
investigações de interesse da área educacional; Julgue o item subsequente, à luz das Diretrizes Curriculares
c) a participação na gestão de processos educativos e na Nacionais Gerais para a Educação Básica.
organização e funcionamento de sistemas e instituições de As referidas diretrizes foram elaboradas à luz dos
ensino; princípios constitucionais e da Lei de Diretrizes e Bases da
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à Educação Nacional e se operacionalizam no princípio da
construção do projeto político-pedagógico, mediante trabalho gestão tecnocrática.
coletivo de que todos os que compõem a comunidade escolar ( ) Certo ( ) Errado
são responsáveis.
03. (IF/TO - Pedagogo – IF-TO/2017). A Resolução
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação CNE/CEB nº 04/2010 estabelece as Diretrizes Curriculares
nacional está a valorização do profissional da educação, com a Nacionais para a Educação Básica. Conforme esse documento
compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com para a organização da Educação Básica, devem-se observar as
qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética, Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas
ambiental. etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas as
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. São
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas consideradas modalidades da Educação Básica.
se associam à exigência de programas de formação inicial e (A) Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio
continuada de docentes e não docentes, no contexto do e Educação Especial.
conjunto de múltiplas atribuições definidas para os sistemas (B) Educação Especial, Educação Profissional e
educativos, em que se inscrevem as funções do professor. Tecnológica, Pedagogia da Terra e Educação Escolar Indígena.
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos (C) Educação de Tempo integral, Educação Tecnológica,
profissionais da educação, vinculados às orientações destas Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a
Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho de suas Distância.
atribuições, considerando necessário: (D) Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial,
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo,
pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente; (E) Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e
b) trabalhar cooperativamente em equipe; Tecnológica, Educação do Campo e Educação a Distância e
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os Educação Religiosa.
instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica,
econômica e organizativa; 04. (SEDUC-PI - Professor – Informática – NUCEPE) A
d) desenvolver competências para integração com a Didática constitui disciplina essencial nos processos de
comunidade e para relacionamento com as famílias. formação de professores, notadamente articulando o saber, o
saber-ser e o saber-fazer. No contexto dessa análise, pode-se
Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não afirmar CORRETAMENTE, acerca da concepção tradicional de
esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e Didática que:
habilidades referidas, razão pela qual um programa de a) refere-se a um conjunto de procedimentos universais
formação continuada dos profissionais da educação será relativos à docência;
contemplado no projeto político-pedagógico. b) afirma a neutralidade científica do método, a
preocupação com os meios desvinculados dos fins e do
Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações contexto;
para que o projeto de formação dos profissionais preveja: c) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de
a) a consolidação da identidade dos profissionais da ensino, buscando articular escola/sociedade;
educação, nas suas relações com a escola e com o estudante; d) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social como um conjunto de normas prescritivas centradas no
do professor, assim como da autonomia docente tanto método;
individual como coletiva; e) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de
c) a definição de indicadores de qualidade social da educação desvinculados dos princípios educacionais.
educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos de 05. (SEE-AL - Todos os Cargos – CESPE) Com relação à
formação inicial e continuada de docentes, de modo que didática e à sua prática histórico-social, julgue o item a seguir.
correspondam às exigências de um projeto de Nação. O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva,
racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em
Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua contraposição ao enfoque humanista.
publicação. ( ) Certo ( ) Errado

Francisco Aparecido Cordão

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Respostas desde 2004, o Ministério da Educação agilizou os


enfrentamentos das injustiças encontradas em nosso país. O
01. Resposta: certo objetivo é a universalização do acesso, a permanência e
Resolução 4/2010 aprendizagem na escola pública, com a construção
Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares participativa de uma proposta de Educação Integral, através
Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e da ação articulada entre os entes federados e a organização
articulado das etapas e modalidades da Educação Básica, civil, principalmente quando se diz respeito à superação das
baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno desigualdades e afirmação dos direitos mediante às
desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania diferenças.
e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em
ambiente educativo, e tendo como fundamento a Entre o final de 2007 e ao longo de primeiro semestre de
responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a 2008, gestores municipais e estaduais, que representam a
sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das (UNDIME), do Conselho Nacional de Secretários de Educação
crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a (CONSED), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão da Educação (CNTE), da Associação Nacional pela Formação de
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. Profissionais da Educação (ANFOPE), de Organizações não-
governamentais comprometidas com a educação pública e de
02. Resposta: errado professores universitários reuniram-se periodicamente, com a
Resolução 4/2010 coordenação do SECAD e convocação do MEC, para
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de contribuírem para o debate nacional. Nessas reuniões debatia-
educação responsabilizam o poder público, a família, a se sobre uma política de Educação Integral, sustentada na
sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um intersetorialidade da gestão pública, com uma possível
ensino ministrado de acordo com os princípios de: articulação com a sociedade civil e no diálogo entre os saberes
( ) clássicos e contemporâneos.
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino. Base conceitual

03. Resposta: D Antes de adentrar no contexto que envolve as Políticas


Resolução 4/2010 Públicas Educacionais2, tem-se o entendimento do que vem a
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode ser Política Pública, que a partir da etimologia da palavra se
corresponder uma ou mais das modalidades de ensino: refere ao desenvolvimento a partir do trabalho do Estado
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação junto à participação do povo nas decisões.
Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação
Escolar Indígena e Educação a Distância. Sob este entendimento conceitua-se que:

04. Resposta: D Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou


Conjunto de regras e normas prescritivas visando a deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo
orientação técnica do ensino e do estudo. Alicerce de uma que um governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém,
tradição didática centrada no método e em regras de bem educação é um conceito muito amplo para se tratar das políticas
conduzir a aula e o estudo – ação desvinculada da realidade educacionais. Isso quer dizer que políticas educacionais é um
brasileira. foco mais específico do tratamento da educação, que em geral se
aplica às questões escolares. Em outras palavras, pode-se dizer
05. Resposta: Certa que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação
"Entre os anos 1960 e 1980 a didática assumiu o enfoque escolar, OLIVEIRA.3
teórico numa dimensão denominada tecnicista, e deixou o
enfoque humanista centrado no processo interpessoal, para É importante observar que as Políticas Públicas
uma dimensão técnica do processo ensino-aprendizagem. Educacionais não apenas se relacionam às questões
A era industrial fez-se presente na escola, e a didática era relacionadas ao acesso de todas as crianças e adolescentes as
vista como uma estratégia objetiva, racional e neutra do escolas públicas, mas também, a construção da sociedade que
processo. O referencial principal do ensino era a fábrica, e se origina nestas escolas a partir da educação. Neste
sobre ela se construíram as práticas educativas e as entendimento, aponta-se que as Políticas Públicas
conceptualizações referentes à educação." Educacionais influenciam a vida de todas as pessoas.

No Brasil, com ênfase para a última década a expressão


Políticas Públicas da Políticas Públicas ganhou um rol de notoriedade em todos os
campos, fala-se de Políticas Públicas para a educação, saúde,
Educação Básica cultura, esporte, justiça e assistência social. No entanto, tais
políticas nem sempre trazem os resultados esperados, pois
somente garantir o acesso a todos estes serviços públicos não
Políticas Públicas Educacionais significa que estes tenham qualidade e, que efetivamente, os
usuários terão seus direitos respeitados, SETUBAL.4
Aspectos Históricos Diante destes aspectos tem-se que as Políticas Públicas se
Com a criação da Secretaria de Educação Continuada, voltam para o enfrentamento dos problemas existentes no
Alfabetização e Diversidade, conhecida pela sigla SECAD, cotidiano das escolas, que reduzem a possibilidade de

2FERREIRA, C. S.; SANTOS, E. N. dos. Políticas públicas educacionais: 3 OLIVEIRA, Adão Francisco de. Políticas públicas educacionais: conceito e
apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação. Revista LABOR nº contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, Adão Francisco de.
11, v.1, 2014. Fronteiras da educação: tecnologias e políticas. Goiânia-Goiás: PUC Goiás, 2010.
4 SETUBAL, Maria Alice. Com a palavra... Consulex. Ano XVI. N.382. 15 de

Dezembro de 2012.

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qualidade na educação. No entanto, somente o direcionamento fugazes. Por isso, embora essenciais, não bastam apenas
destas para a educação não constitui uma forma de mudanças metodológicas, novidades teóricas, a adesão aos
efetivamente auxiliar crianças e adolescentes a um ensino de princípios de uma escola inclusiva, democrática, com práticas
melhor qualidade, posto que existam outros pontos que avaliativas voltadas ao sucesso do educando, é indispensável
também devem ser tratados a partir das Políticas Públicas, ainda a superação da estrutura taylorista-fordista, redefinindo
como os problemas de fome, drogas e a própria violência que os espaços, os tempos e os modelos de trabalho escolar,
vem se instalando nas escolas em todo o Brasil, QUADROS.5 AZEVEDO.9
Quando se fala em Políticas Públicas na educação a Neste sentido, se observam que as transformações
abordagem trata-se da articulação de projetos que envolvem o vivenciadas no cenário educacional, especialmente, nas
Estado e a sociedade, na busca pela construção de uma escolas públicas nas últimas décadas, estão diretamente
educação mais inclusiva e de melhor qualidade, ou seja, que ligadas às mudanças ocorridas nos campos político, social
resgate a construção da cidadania, GIRON.6 econômico e cultural, que originam uma nova situação nas
Tem-se que o sistema educativo adotado e as Políticas condições de vida da sociedade, seja no campo social ou
Públicas direcionadas para a educação, são elementos que econômico, FURGHESTTI.10
demonstram a preocupação do país com o seu futuro, pois Compreender a necessidade de qualidade na educação e
somente, o ensino público gratuito, inclusivo e de qualidade buscar a construção desta qualidade somente ocorre quando a
pode construir uma sociedade em que as diferenças escola cumpre com seu papel social e educacional, pois,
socioculturais e socioeconômicas não são tão díspares, quando a escola não cumpre efetivamente seu papel,
FREIRE.7 SAVIANI.11
Neste sentido, tem-se que as Políticas Públicas
Educacionais estão diretamente ligadas a qualidade da Dentre os processos que envolvem o desencanto com a
educação e, consequentemente, a construção de uma nova educação pública, tem-se o fato de que:
ordem social, em que a cidadania seja construída
primeiramente nas famílias e, posteriormente, nas escolas e na Crianças de 5ª série que não sabem ler nem escrever, salários
sociedade. baixos para todos os profissionais da escola, equipes
desestimuladas, famílias desinteressadas pelo que acontece com
Educação pública no Brasil: Uma História de Encontros seus filhos nas salas de aula, qualidade que deixa a desejar,
e Desencantos professores que fingem que ensinam e alunos que fingem que
aprendem. O quadro da Educação Brasileira (sobretudo a
A escola pública brasileira vem demonstrando, pública) está cada vez mais desanimador. [...], BENCINI.12
especialmente, nas últimas décadas um processo de
desenvolvimento no contexto organizacional e de gestão, Esta realidade de desencanto com a educação brasileira
partindo do princípio que a democracia gera qualidade e assegura a esta um status de baixa qualidade, seja no contexto
oportunidade a todos também no âmbito escolar. Porém, a de toda a estrutura organizacional e educacional vivenciada,
educação pública necessita mais do que oferecer escolas, mas seja nos resultados de desempenho dos estudantes no
é imprescindível ter docentes conscientes de seu papel processo ensino e aprendizagem.
educacional, tanto quanto social, bem como sejam oferecidas Várias políticas públicas foram lançadas por todos os
as crianças oportunidades de aprendizagem a partir da setores do governo federal para se alcançar os objetivos
construção de conhecimento, BOLZANO.8 propostos pela Constituição Federal. A título de exemplo, entre
A luta por uma escola cidadã no Brasil é envolvida por uma outras políticas podem ser citadas as seguintes:
história de encontros e desencantos em que nem sempre o a) Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
foco dos projetos é a qualidade da educação e a construção da Fundamental e de Valorização do Magistério- (FUNDEB);
cidadania, isto é: b) Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE);
Ao evidenciar um conjunto de concepções, práticas e c) Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE);
estruturas inovadoras, a experiência da escola cidadã aponta d) Programa Bolsa Família;
possibilidades de uma educação com qualidade social, não e) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE);
redutora à dinâmica mercantil. O desenvolvimento de uma f) Programa Nacional do Livro Didático (PNLD);
cultura participativa, de uma inquietação pedagógica com a g) Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE);
não-aprendizagem, da busca dos aportes teóricos da ciência da h) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN;
educação, legítima a ideia de que a não-aprendizagem é uma i) Sistema de Seleção Unificada (SISU);
disfunção da escola e que a reprovação e a evasão são j) Programa Universidade para Todos (PROUNI);
mecanismos de exclusão daqueles setores sociais que mais k) Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de
necessitam da escola pública. Isso levou à convicção da Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação
necessidade de reinventar a escola, de redesenhá-la de acordo Infantil (PROINFÂNCIA).
com novas concepções. Os avanços na formação em serviço
evidenciaram aos educadores que a estrutura convencional da O Plano Nacional de Educação é a política pública mais
escola está direcionada para transmissão, para o treinamento e atual e tem como objetivo a melhoria da educação. Está
para a repetição, tendendo a neutralizar as novas proposições amparado na Constituição Federal e visa efetivar os deveres
pedagógicas, no máximo transformando-as em modismos do Estado em relação à Educação. Os planos devem

5 QUADROS, Neli Helena Bender de. Políticas públicas voltadas para a qualidade 9 AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estud. av.
da educação no ensino fundamental: inquietudes e provocações a partir do plano v.21. n.60. São Paulo. May/Aug. 2007.
de desenvolvimento da educação. [Dissertação de Mestrado em Educação]. Passo 10 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral; CARDOSO,

Fundo - RS: Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, 2008. Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os impactos das
6 GIRON, Graziela Rossetto. Políticas públicas, educação e neoliberalismo: o que políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED Sul Seminário
isso tem a ver com a cidadania. Revista de Educação. PUC-Campinas. Campinas. de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.
n.24. jun. 2008. 11 SAVIANI, Demerval. História das ideais pedagógicas no Brasil. Campinas-SP:
7 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática Autores Associados, 2010.
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998. 12 BENCINI, Roberta; MORAES, Trajano de; MINAMI, Thiago. O desafio da
8 BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao direito qualidade não dá mais para esperar: ou o Brasil coloca a Educação no topo das
de aprender com qualidade – o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson prioridades ou estará condenado ao subdesenvolvimento. A boa notícia é que a
Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Paulo: Malheiros, 2004, situação tem jeito se a sociedade agir já. Nova Escola. Ano XXI. N.1996. Out. de
p.122. 2006.

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contemplar a realidade nacional, estadual e municipal, razão para que as crianças e os adolescentes continuem a
pela qual se mostra de extrema relevância o diagnóstico propagação desta sociedade mercantilizada, mas deve buscar
realizado. a geração e transmissão de valores éticos, morais e
A participação de todos redunda do modelo democrático cidadãos que efetivamente são construtores de
assumido pelo País e previsto constitucionalmente. Mas, esta novos conhecimentos e de uma sociedade a luz da cidadania,
participação tem outro efeito, o princípio do pertencimento da FURGHESTTI.16
coisa pública, ou seja, as pessoas tendem a se comprometer
com o que lhes pertence, o que lhes diz respeito. Quando se Amparo Constitucional17
tem um plano elaborado com a efetiva participação dos
professores, educadores, pais, funcionários, vereadores, do A Constituição Federal Brasileira de 1988, considerada a
executivo, enfim de toda a sociedade, a possibilidade de não se mais humana de todos os tempos, trouxe em seu bojo
tornar um plano fictício ou dissociado da realidade local é abordagens importantes para a educação. Nesta
muito menor, pois cobranças advirão da sua implementação, contextualização, o artigo 205 preleciona que:
inclusive em esferas extra educacionais, com a participação do
Ministério Público e Judiciário. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da
A Qualidade da Educação sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
A qualidade na educação é elemento complexo devido a trabalho, BULOS. 18
sua abrangência e necessidade de ter nas características físicas
da escola, nos docentes e na didática de ensino fatores que Não obstante aponta-se que a Constituição Federal (CF)
possibilitem a construção desta qualidade. Isto não significa não traz em seu bojo somente o acesso à escola, mas o pleno
dizer que nenhuma criança ou adolescente fique fora da sala desenvolvimento das pessoas a partir da educação, o que
de aula é, importante que exista qualidade nesta escola básica, denota a pertinência de uma educação de qualidade. Sendo
oferecida para todos, BOLZANO.13 que a CF em seu art. 205, VII, menciona a “garantia de padrão
Com a necessidade de construir uma sociedade mais justa, de qualidade” do ensino, ou seja, não apenas o acesso de
digna e cidadã as discussões sobre a qualidade da educação se crianças e adolescentes a escola, mas um ensino de qualidade.
exacerbaram, neste campo tem-se que: Garantia está também presente no inciso IX do art. 4º da LDB.
A QUALIDADE do ensino tem sido foco de discussão intensa, Ao tratar sobre a educação à luz da Constituição Federal,
especialmente na educação pública. Educadores, dirigentes tem-se que segundo a: “[...] legislação brasileira, o direito à
políticos, mídia e, nos últimos tempos, economistas, empresários, educação engloba os pais, o Estado e a comunidade em geral e
consultores empresariais e técnicos em planejamento têm os próprios educandos, mas é obrigação do Estado garantir
ocupado boa parte do espaço dos educadores, emitindo receitas, esse direito, inclusive quando o assunto é qualidade. [...]”,
soluções técnicas e, não raro, sugerindo a incompetência dos CABRAL.19
educadores para produzir soluções que empolguem a Em consonância com a Constituição Federal de 1988 a
qualificação do ensino. Essa invasão de profissionais não educação pública de qualidade é obrigação do Estado, sendo
identificados ou não envolvidos com as atividades do campo ainda o acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito,
educacional merece uma reflexão. Não se trata aqui de um direito público subjetivo, BRASIL.20
preconizar o monopólio da discussão da educação aos
educadores, mas de registrar a intensa penetração ideológica A Constituição Federal em seu art. 6º preceitua:
das análises, dos procedimentos e das receitas tecnocráticas à
educação, AZEVEDO.14 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
A qualidade da educação, especialmente nas escolas alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
públicas não podem ser construídas com base unicamente em segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
políticas quantitativas e privatizadoras, em que a escola infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
particular seja símbolo de eficiência, mas em programas que Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90,
tenham no resgate da qualidade da escola pública a sua força de 2015).
para alcançar efetivamente um melhor nível educacional.
No Brasil a eficiência das escolas públicas, que poderiam Neste enfoque quando é negado a qualquer criança ou
ser traduzidas em qualidade educacional, está intimamente adolescente o seu direito de frequentar uma escola e receber
ligada a influência tecnicista dos americanos e do humanismo um ensino de qualidade, possibilitando a construção de
republicano. Porém, este humanismo é contraditório, pois não valores que o levam ao exercício da cidadania, se está negando
tem por objetivo a formação de cidadãos conscientes de seus um direito social amparado na Constituição Federal.
direitos e deveres e, sim, de seus direitos, fazendo surgir um
paternalismo que oprime a escola a oferece educação e não Amparo em leis federais
educação de qualidade, LIBERATI.15
Esta qualidade não é alcançada com uma educação Na organização do Estado Brasileiro, a matéria
institucionalizada que busca fornecer conhecimento já pronto educacional é conferida pela Lei nº 9.394/9621, de Diretrizes e

13BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao direito 17 Ferreira, Cleia Simone, Santos dos, Everton Neves. Políticas públicas
de aprender com qualidade – o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson educacionais: apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação
Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Paulo: Malheiros, 2004, (páginas 155-156).
p.122. 18 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada. 9. ed. rev. e atual. até a

EC n.57/2008. São Paulo: Saraiva, 2009.


14AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estud. av. 19 CABRAL, Karina Melissa; DI GIORGI, Cristiano Amaral Garboggini. O direito à

v.21. n.60. São Paulo. May/Aug. 2007 qualidade da educação básica no Brasil: uma análise da legislação pertinente e
15 LIBERATI, Wilson Donizetti. Conteúdo material do direito à educação escolar. das definições pedagógicas necessárias para uma demanda judicial. Educação.
In: LIBERTI, Wilson Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Porto Alegre. v.35. n.1. jan./abr. 2012.
Paulo: Malheiros, 2004. 20 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de
16 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral; CARDOSO, 1988.
Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os impactos das 21 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED Sul Seminário


de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.

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Bases da Educação Nacional (LDB), aos diversos entes estaduais, distrital e municipais, por suas competências
federativos: União, Distrito Federal, Estados e Municípios, próprias e complementares, formularão as suas orientações
sendo que a cada um deles compete organizar seu sistema de assegurando a integração curricular das três etapas sequentes
ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação da política desse nível da escolarização, essencialmente para compor um
nacional de educação, articulando os diferentes níveis e todo orgânico.
sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e O processo de formulação destas Diretrizes foi acordado,
supletiva (artigos 8º, 9º, 10 e 11). em 2006, pela Câmara de Educação Básica com as entidades:
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, União
entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, Conselho dos
Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental e Secretários Estaduais de Educação, União Nacional dos
oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o Dirigentes Municipais de Educação, e entidades
demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe representativas dos profissionais da educação, das instituições
oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, com de formação de professores, das mantenedoras do ensino
prioridade, o Ensino Fundamental. privado e de pesquisadores em educação.
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários Para a definição e o desenvolvimento da metodologia
sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à União destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi
estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal constituída uma comissão que selecionou interrogações e
e os municípios, competências e diretrizes para a Educação temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a
Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a
assegurar formação básica comum. coordenação da então relatora, conselheira Maria Beatriz
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais Luce. (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
constitui, portanto, atribuição federal, que é exercida pelo A comissão promoveu uma mobilização nacional das
Conselho Nacional de Educação (CNE), nos termos da LDB e da diferentes entidades e instituições que atuam na Educação
Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na alínea “c” do Básica no País, mediante:
seu artigo 9º, entre as atribuições de sua Câmara de Educação I – Encontros descentralizados com a participação de
Básica (CEB), deliberar sobre as Diretrizes Curriculares Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e
propostas pelo Ministério da Educação. Esta competência para particulares, mediante audiências públicas regionais,
definir as Diretrizes Curriculares Nacionais torna-as viabilizando ampla efetivação de manifestações;
mandatórias para todos os sistemas. Ademais, atribui-lhe, II – Revisões de documentos relacionados com a Educação
entre outras, a responsabilidade de assegurar a participação Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a
da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional (artigo atualização motivadora do trabalho das entidades, efetivadas,
7º da Lei nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 9.131/95), simultaneamente, com a discussão do regime de colaboração
razão pela qual as diretrizes constitutivas deste Parecer entre os sistemas educacionais, contando, portanto, com a
consideram o exame das avaliações por elas apresentadas, participação dos conselhos estaduais e municipais.
durante o processo de implementação da LDB.
O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes
formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita destinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido
como conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, estabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando-se
fundamentos e procedimentos na Educação Básica (…) que nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na Infantil; para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio;
organização, na articulação, no desenvolvimento e na para a Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do
avaliação de suas propostas pedagógicas. Campo; para a Educação Especial; e para a Educação
Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes Escolar Indígena.
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está Os temas considerados pertinentes à matéria objeto deste
posta pela emergência da atualização das políticas Parecer passaram a se constituir nas seguintes ideias-força:
educacionais que consubstanciem o direito de todo brasileiro I – As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
à formação humana e cidadã e à formação profissional, na Educação Básica devem presidir as demais diretrizes
vivência e convivência em ambiente educativo. Têm estas curriculares específicas para as etapas e modalidades,
Diretrizes por objetivos: contemplando o conceito de Educação Básica, princípios de
I – Sistematizar os princípios e diretrizes gerais da organicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as
Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e demais etapas e modalidades: articulação, integração e transição;
dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que II – O papel do Estado na garantia do direito à educação de
contribuam para assegurar a formação básica comum qualidade, considerando que a educação, enquanto direito
nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo inalienável de todos os cidadãos, é condição primeira para o
e à escola; exercício pleno dos direitos: humanos, tanto dos direitos
II – Estimular a reflexão crítica e propositiva que deve sociais e econômicos quanto dos direitos civis e políticos;
subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto III – A Educação Básica como direito e considerada,
políticopedagógico da escola de Educação Básica; contextualizadamente, em um projeto de Nação, em
III – Orientar os cursos de formação inicial e continuada de consonância com os acontecimentos e suas determinações
profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação histórico-sociais e políticas no mundo;
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados IV – A dimensão articuladora da integração das diretrizes
e as escolas que os integram, indistintamente da rede a que curriculares compondo as três etapas e as modalidades da
pertençam. Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos
conceitos referenciais de cuidar e educar;
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais V – A promoção e a ampliação do debate sobre a política
para a Educação Básica visam estabelecer bases comuns curricular que orienta a organização da Educação Básica como
nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e sistema educacional articulado e integrado;
o Ensino Médio, bem como para as modalidades com que VI – A democratização do acesso, permanência e sucesso
podem se apresentar, a partir das quais os sistemas federal, escolar com qualidade social, científica, cultural;

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VII – A articulação da educação escolar com o mundo do


trabalho e a prática social; Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa
VIII – A gestão democrática e a avaliação; realidade e apresentar orientações sobre a concepção e
IX – A formação e a valorização dos profissionais da organização da Educação Básica como sistema educacional,
educação; segundo três dimensões básicas: organicidade,
X – O financiamento da educação e o controle social. sequencialidade e articulação. Dispor sobre a formação básica
Nacional relacionando-a com a parte diversificada, e com a
Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes preparação para o trabalho e as práticas sociais, consiste,
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão portanto, na formulação de princípios para outra lógica de
sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente, as diretriz curricular, que considere a formação humana de
diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas, sujeitos concretos, que vivem em determinado meio ambiente,
passam por avaliação, por meio de contínua mobilização dos contexto histórico e sociocultural, com suas condições físicas,
representantes dos sistemas educativos de nível nacional, emocionais e intelectuais.
estadual e municipal. A articulação entre os diferentes Para a organização das orientações contidas neste texto,
sistemas flui num contexto em que se vivem: optou-se por enunciá-las seguindo a disposição que ocupam
I – Os resultados da Conferência Nacional da Educação na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em que ficam
Básica (2008); previstos os princípios e fins da educação nacional; as
II – Os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as orientações curriculares; a formação e valorização de
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem profissionais da educação; direitos à educação e deveres de
como a edição de outras leis que repercutem nos currículos da educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto da Criança e
Educação Básica; do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a Declaração
III – O penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de Universal dos Direitos Humanos. Essas referências levaram
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a em conta, igualmente, os dispositivos sobre a Educação Básica
mobilização nacional em torno de subsídios para a elaboração constantes da Carta Magna que orienta a Nação brasileira,
do PNE para o período 2011-2020; relatórios de pesquisas sobre educação e produções teóricas
IV – A aprovação do Fundo de Manutenção e versando sobre sociedade e educação.
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Com treze anos de vigência já completados, a LDB recebeu
Professores da Educação (FUNDEB), regulado pela Lei nº várias alterações, particularmente no referente à Educação
11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. Após a edição
etapas e modalidades da Educação Básica; da Lei nº 9.475/1997, que alterou o artigo 33 da LDB,
V – A criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da prevendo a obrigatoriedade do respeito à diversidade
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de cultural religiosa do Brasil, outras leis modificaram-na
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação quanto à Educação Básica.
(Capes/MEC); A maior parte dessas modificações tem relevância social,
VI – A formulação, aprovação e implantação das medidas porque, além de reorganizarem aspectos da Educação Básica,
expressas na Lei nº 11.738/2008, da Educação Básica; ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado, asseguram-
VII – A criação do Fórum Nacional dos Conselhos de lhes outros benefícios concretos que contribuem para o seu
Educação, objetivando prática de regime de colaboração entre desenvolvimento pleno, orientado por profissionais da
o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação educação especializados. Nesse sentido, destaca-se que a LDB
e a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação; foi alterada pela Lei nº 10.287/2001 para responsabilizar a
VIII – A instituição da política nacional de formação de escola, o Conselho Tutelar do Município, o juiz competente da
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº Comarca e o representante do Ministério Público pelo
6.755, de 29 de janeiro de 2009); acompanhamento sistemático do percurso escolar das
IX – A aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da crianças e dos jovens. Este é, sem dúvida, um dos mecanismos
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes que, se for efetivado de modo contínuo, pode contribuir
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos significativamente para a permanência do estudante na escola.
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, que Destaca-se, também, que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008,
devem ter sido implantados até dezembro de 2009; o inciso X no artigo 4º, fixando como dever do Estado efetivar
X – As recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo a garantia de vaga na escola pública de Educação Infantil ou
CNE, expressas no documento Subsídios para Elaboração do de Ensino Fundamental mais próxima de sua residência a toda
PNE Considerações Iniciais. Desafios para a Construção do criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de
PNE (Portaria CNE/CP nº 10/2009); idade.
XI – A realização da Conferência Nacional de Educação É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima de
(CONAE), com o tema central “Construindo um Sistema todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determina que um
Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, portanto,
– Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando propor obrigação das empresas, é a assistência gratuita aos filhos e
diretrizes e estratégias para a construção do PNE 2011-2020; dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade
XII – A relevante alteração na Constituição, pela em Creches e Pré-Escolas. Embora redundante, registre-se que
promulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, todas as Creches e Pré-Escolas devem estar integradas ao
entre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e respectivo sistema de ensino (artigo 89 da LDB).
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta No período de vigência do Plano Nacional de Educação
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade (PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, embora em
própria; assegura o atendimento ao estudante, em todas as ritmo distinto, menos de um terço das unidades federadas (26
etapas da Educação Básica, mediante programas Estados e o Distrito Federal) apresentaram resposta positiva,
suplementares de material didático-escolar, transporte, uma vez que, dentre eles, apenas 8 formularam e aprovaram
alimentação e assistência à saúde, bem como reduz, os seus planos de educação. Relendo a avaliação técnica do
anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da PNE, promovida pela Comissão de Educação e Cultura da
Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os Câmara dos Deputados (2004), pode-se constatar que, em
recursos destinados à manutenção e ao desenvolvimento do todas as etapas e modalidades educativas contempladas no
ensino. PNE, três aspectos figuram reiteradamente: acesso,

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capacitação docente e infraestrutura. Em contrapartida, nesse melhorar as condições de equidade e qualidade da Educação
mesmo documento, é assinalado que a permanência e o Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental e assegurar
sucesso do estudante na escola têm sido objeto de pouca um alargamento do tempo para as aprendizagens da
atenção. Em outros documentos acadêmicos e oficiais, são alfabetização e do letramento.
também aspectos que têm sido avaliados de modo descontínuo Há necessidade de aproximação da lógica dos discursos
e escasso, embora a permanência se constitua em exigência normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e das
fixada no inciso I do artigo 3º da LDB. funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios,
Salienta-se que, além das condições para acesso à escola, entretanto, está no que Arroyo24 aponta, por exemplo, em seu
há de se garantir a permanência nela, e com sucesso. Esta artigo, “Ciclos de desenvolvimento humano e formação de
exigência se constitui em um desafio de difícil concretização, educadores”, em que assinala que as diretrizes para a
mas não impossível. educação nacional, quando normatizadas, não chegam ao
O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº 11.114/2005,22 cerne do problema, porque não levam em conta a lógica social.
prevê que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula Com base no entendimento do autor, as diretrizes não
dos menores, a partir dos seis anos de idade, no Ensino preveem a preparação antecipada daqueles que deverão
Fundamental. implantá-las e implementá-las. O comentário do autor é
Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas da ilustrativo por essa compreensão: não se implantarão
Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era, propostas inovadoras listando o que teremos de inovar,
originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão listando as competências que os educadores devem aprender
progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II do e montando cursos de treinamento para formá-los. É (…) no
artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir a campo da formação de profissionais de Educação Básica onde
universalização do Ensino Médio gratuito e para assegurar o mais abundam as leis e os pareceres dos conselhos, os palpites
atendimento de todos os interessados ao Ensino Médio fáceis de cada novo governante, das equipes técnicas, e até das
público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo já agências de financiamento, nacionais e internacionais.
estabelecia que se deve garantir a oferta de educação escolar Outro limite que tem sido apontado pela comunidade
regular para jovens e adultos, com características e educativa, a ser considerado na formulação e implementação
modalidades adequadas às suas necessidades e das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores Básica, é a desproporção existente entre as unidades
as condições de acesso e permanência na escola. federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista: recursos
Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políticas financeiros, presença política, dimensão geográfica,
públicas para a educação no Brasil, entre eles as avaliações do demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços
Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Prova socioculturais.
Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior está
definidas como constitutivas do Sistema de Avaliação da na necessidade de repensar as perspectivas de um
Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se que tais conhecimento digno da humanidade na era planetária, pois um
programas têm suscitado interrogações também na Câmara de dos princípios que orientam as sociedades contemporâneas é
Educação Básica do CNE, entre outras instâncias acadêmicas: a imprevisibilidade. As sociedades abertas não têm os
teriam eles consonância com a realidade das escolas? Esses caminhos traçados para um percurso inflexível e estável.
programas levam em consideração a identidade de cada Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a
sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do escolar, imprevisibilidade, e não programas sustentados em certezas.
averiguado por esses programas de avaliação, não estaria Há entendimento geral de que, durante a Década da
expressando o resultado da forma como se processa a Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquistas
avaliação, não estando de acordo com a maneira como a escola destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente
e os professores planejam e operam o currículo? O sistema de transformado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas
avaliação aplicado guardaria relação com o que efetivamente de apoio financeiro e de gestão às três etapas da Educação
acontece na concretude das escolas brasileiras? Básica e suas modalidades, desde 2007. Do ponto de vista do
Como consequência desse método de avaliação externa, os apoio à Educação Básica, como totalidade, o FUNDEB
estudantes crianças não estariam sendo punidos com apresenta sinais de que a gestão educacional e de políticas
resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, os públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da
estudantes das escolas indígenas, entre outros de situações qualidade da educação brasileira, se for assumida por todos os
específicas, não estariam sendo afetados negativamente por que nela atuam, segundo os critérios da efetividade, relevância
essas formas de avaliação? e pertinência, tendo como foco as finalidades da educação
Lamentavelmente, esses questionamentos não têm nacional, conforme definem a Constituição Federal e a LDB,
indicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações bem como o Plano Nacional de Educação.
nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil Os recursos para a educação serão ainda ampliados com a
vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam os desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada pela já
sistemas na formulação de políticas públicas de equidade, bem destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem dúvida,
como proporcionam elementos aos municípios e escolas para essa conquista, resultado das lutas sociais, pode contribuir
localizarem as suas fragilidades e promoverem ações, na para a melhoria da qualidade social da ação educativa, em todo
tentativa de superá-las, por meio de metas integradas. o País.
Além disso, é proposta do CNE o estabelecimento de uma No que diz respeito às fontes de financiamento da
Base Nacional Comum que terá como um dos objetivos nortear Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades, no
as avaliações e a elaboração de livros didáticos e de outros entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem repercutido
documentos pedagógicos. desfavoravelmente na unidade da gestão das prioridades
O processo de implantação e implementação do disposto educacionais voltadas para a conquista da qualidade social da
na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006,23 que educação escolar, inclusive em relação às metas previstas no
estabeleceu o ingresso da criança a partir dos seis anos de PNE 2001-2010. Apesar da relevância do FUNDEF, e agora com
idade no Ensino Fundamental, tem como perspectivas o FUNDEB em fase inicial de implantação, ainda não se tem

22 BRASIL. Lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005. 24ARROYO, Miguel G. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de
23 BRASIL. Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006 educadores. Educação & Sociedade, Campinas, v.20, n.68, set./dez. 1999.

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política financeira compatível com as exigências da Educação para a cidadania como para o mundo do trabalho. Como
Básica em sua pluridimensionalidade e totalidade. consequência dessas discussões, sua organização e
As políticas de formação dos profissionais da educação, as funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da
Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de qualidade melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma de
definidos pelo Ministério da Educação, associados às normas leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a
dos sistemas educativos dos Estados, Distrito Federal e inclusão de novas disciplinas e conteúdos, até a alteração da
Municípios, são orientações cujo objetivo central é o de criar forma de financiamento. Constituem-se exemplos dessas
condições para que seja possível melhorar o desempenho das alterações legislativas a criação do FUNDEB e a ampliação da
escolas, mediante ação de todos os seus sujeitos. obrigatoriedade de escolarização, resultante da Emenda
Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Constitucional no 59, de novembro de 2009.
Nacionais Gerais para a Educação Básica terão como Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de
fundamento essencial a responsabilidade que o Estado estudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A
brasileiro, a família e a sociedade têm de garantir a taxa de aprovação no Ensino Médio brasileiro é de 72,6%,
democratização do acesso, inclusão, permanência e sucesso enquanto as taxas de reprovação e de abandono são,
das crianças, jovens e adultos na instituição educacional, respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). Observe-
sobretudo em idade própria a cada etapa e modalidade; a se que essas taxas diferem de região para região e entre as
aprendizagem para continuidade dos estudos; e a extensão da zonas urbana e rural. Há também uma diferença significativa
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. entre as escolas privadas e públicas.
Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio políticas, diretrizes e ações do governo federal foram
e Profissionalizante desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário de
possibilidades que sinalizam para uma efetiva política pública
O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de nacional para a Educação Básica, comprometida com as
desenvolvimento que se reflete em taxas ascendentes de múltiplas necessidades sociais e culturais da população
crescimento econômico tendo o aumento do Produto Interno brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação e implantação
Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo de do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e
crescimento tem sido acompanhado de programas e medidas implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação
de redistribuição de renda que o retroalimentam. Evidenciam- (PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação
se, porém, novas demandas para a sustentação deste ciclo de Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e
desenvolvimento vigente no País. A educação, sem dúvida, está do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). No
no centro desta questão. âmbito deste Conselho, destacam-se as Diretrizes Curriculares
O crescimento da economia e novas legislações, como o Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e o processo de
Emenda Constitucional nº 59/2009 – que extinguiu a elaboração deste Parecer, de atualização das Diretrizes
Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs sobre Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
outras medidas, têm permitido ao País aumentar o volume de Diante o contexto de atualização geral do conjunto das
recursos destinados à Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as etapas e
Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação modalidades de Educação Básica que deve ser entendida a
(CNE) tem tido destacada participação, visam criar condições demanda atual, que é objeto do presente Parecer, houve
para que se possa avançar nas políticas educacionais especificamente, da definição de novas orientações para as
brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, à instituições educacionais e sistemas de ensino, à luz das
formação e valorização dos profissionais da educação e à alterações introduzidas na LDB pela Lei nº 11.741/2008, no
inclusão social. tocante à Educação Profissional e Tecnológica, com foco na
Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa Educação Profissional Técnica de Nível Médio, também
investir fortemente na ampliação de sua capacidade definindo normas gerais para os cursos e programas
tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e destinados à formação inicial e continuada ou qualificação
superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se profissional, bem como para os cursos e programas de
expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel especialização técnica de nível médio, na perspectiva de
que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se propiciar aos trabalhadores o contínuo e articulado
ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida desenvolvimento profissional e consequente aproveitamento
expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado, não de estudos realizados no âmbito dos cursos técnicos de nível
se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos médio organizados segundo a lógica dos itinerários
atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o formativos.
grande salto para o futuro. A Educação Profissional Tecnológica, de graduação e pós-
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um graduação, prevista no inciso III do art. 39 da atual LDB, será
modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação objeto de outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a
Básica – em particular, vai além da formação profissional, e partir de estudos conduzidos por uma Comissão Especial
atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos Bicameral, constituída no âmbito do Conselho Pleno, com a
jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir finalidade de “redimensionar, institucionalizar e integrar as
seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, ações da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, da
assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional e
acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, Tecnológica”.
sem perder de vista que a educação também é, em grande Especificamente em relação aos pressupostos e
medida, uma chave para o exercício dos demais direitos fundamentos para a oferta de um Ensino Médio de qualidade
sociais. social, incluindo, também, a Educação Profissional Técnica de
É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos Nível Médio, são apresentadas as dimensões da formação
últimos anos, um papel de destaque nas discussões sobre humana que devem ser consideradas de maneira integrada na
educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem organização curricular dos diversos cursos e programas
como suas condições atuais, estão longe de atender às educativos: trabalho, ciência, tecnologia e cultura.
necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da formação

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Uma política educacional requer sua articulação com (B) A União desenvolverá e apoiará políticas de estímulo
outras políticas setoriais vinculadas a diversos ministérios às iniciativas de melhoria de qualidade do ensino, acesso e
responsáveis pela definição e implementação de políticas permanência na escola, promovidas pelas unidades federadas,
públicas estruturantes da sociedade brasileira. Portanto, ao se em especial aquelas voltadas para a inclusão de crianças e
pensar a Educação Profissional de forma integrada e inclusiva adolescentes em situação de risco social.
como política pública educacional é necessário pensá-la (C) A instituição dos Fundos previstos da supracitada Lei e
também na perspectiva de sua contribuição para a a aplicação de seus recursos não isentam os Estados, o Distrito
consolidação, por exemplo, das políticas de ciência e Federal e os Municípios da obrigatoriedade da aplicação na
tecnologia, de geração de emprego e renda, de manutenção e no desenvolvimento do ensino, na forma
desenvolvimento agrário, de saúde pública, de prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases.
desenvolvimento de experiências curriculares e de (D) A União, os Estados e o Distrito Federal desenvolverão,
implantação de polos de desenvolvimento da indústria e do em regime de colaboração, programas de apoio ao esforço
comércio, entre outras. Enfim, é necessário buscar a para conclusão da educação básica dos alunos regularmente
caracterização de seu papel estratégico no marco de um matriculados no sistema público de educação que cumpram
projeto de desenvolvimento socioeconômico sustentável, pena no sistema penitenciário, exceto na condição de presos
inclusivo e solidário do estado brasileiro. provisórios.
Eis o desafio enfrentado, conseguir aproximar as
experiências da vida cotidiana, articulando com os mais 03. (AL/SP - Agente Técnico Legislativo Especializado
variados setores das políticas públicas. Para tanto, devemos – Pedagogia – FCC). A aproximação entre as instituições
conhecer as proposições e articular com a construção de um públicas de ensino e as famílias dos estudantes é incentivada
projeto de educação integral, com qualidade social. pelas gestões democráticas escolares, especialmente via
Devemos fazer valer o que a Constituição Federal, através Conselhos de Escola, por se compreender que
de seus instrumentos nos oferece, como por exemplo uma (A) a comunidade tem um papel político relevante e deve
educação pública de qualidade oferecida a todos. se responsabilizar pelas decisões de natureza pedagógica nas
escolas.
Questões (B) a sociedade tem o direito de conhecer e fiscalizar a
implementação das ações educativas e das políticas
01. (IF-ES - Pedagogo/2016) De acordo com a Lei de educacionais em vigor.
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996, (C) os pais são os que melhor conhecem seus filhos e,
quanto aos Níveis e as Modalidades de Ensino da educação portanto, sabem indicar as condutas mais apropriadas para a
brasileira, analise as proposições: escola cumprir seus objetivos educacionais.
I) A educação superior abrangerá os seguintes cursos e (D) a colaboração das APMs na conservação das escolas e
programas: cursos sequenciais por campo de saber, de no apoio às atividades complementares é fundamental ao bom
graduação, de pós-graduação, e de extensão. funcionamento das instituições.
II) O ensino médio, etapa secundária da educação básica, (E) as famílias podem constituir uma base de apoio
com duração mínima de dois anos, terá como finalidade a importante para a direção diante de conflitos extraescolares
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos com grupos de alunos.
adquiridos no ensino fundamental e a preparação básica para
o trabalho. 04. Julgue o item subsequente: A Educação Profissional
III) Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Tecnológica, de graduação e pós-graduação será objeto de
Lei, a modalidade de educação escolar oferecida outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a partir de
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos estudos conduzidos por uma Comissão Especial Unicameral,
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e constituída no âmbito do Conselho Pleno.
altas habilidades ou superdotação. ( ) Certo ( ) Errado
IV) A educação profissional técnica de nível médio será
desenvolvida nas seguintes formas: articulada com o ensino 05. (ANVISA - Técnico Administrativo - Área 1 –
médio; e subsequente, em cursos destinados a quem já tenha CETRO). A respeito das Políticas Públicas, é correto afirmar
concluído o ensino fundamental. que
V) A educação escolar compõe-se de educação básica, (A) geram bens públicos e privados.
formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino (B) são o resultado da atividade política.
médio; e educação superior. (C) não possuem aspecto coercitivo.
Assinale a alternativa que apresente somente as (D) leis orgânicas municipais são políticas públicas.
proposições CORRETAS. (E) Estados e Municípios priorizam a ocupação do que se
(A) I, II, V convencionou denominar a high politics.
(B) I, III, IV
(C) I, III, V Respostas
(D) III, IV
(E) II, IV, V 01. Resposta: C
I - Certo
02. (IDECAN - Prefeitura de Natal - RN – Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos
Psicólogo/2016) Acerca da Lei nº 11.494/2007, que e programas:
regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da I - cursos sequenciais
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da II - de graduação
Educação – FUNDEB, assinale a afirmativa INCORRETA. III - de pós-graduação
(A) Prevê pelo menos 5% do montante dos impostos e IV - de extensão
transferências que compõem a cesta de recursos do FUNDEB,
somados aos, no mínimo, de 25% desses impostos e II - Errado
transferências em favor da manutenção e desenvolvimento do Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
ensino. com duração mínima de três anos, terá como finalidades:

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I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o


adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
prosseguimento de estudos; Título I
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do Das Disposições Preliminares
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança
aperfeiçoamento posteriores; e ao adolescente.

III - Certo Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a


Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida aquela entre doze e dezoito anos de idade.
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
altas habilidades ou superdotação. vinte e um anos de idade.

IV - Errado Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
será desenvolvida nas seguintes formas: proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes,
I ­ articulada com o ensino médio; por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
concluído o ensino médio. mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade.
V - Certo Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor,
fundamental e ensino médio; religião ou crença, deficiência, condição pessoal de
II - educação superior. desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
02. Resposta: D que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que
Parágrafo único. A União, os Estados e o Distrito Federal vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
desenvolverão, em regime de colaboração, programas de
apoio ao esforço para conclusão da educação básica dos alunos Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
regularmente matriculados no sistema público de educação: geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
I - Que cumpram pena no sistema penitenciário, ainda que efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
na condição de presos provisórios; alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
03. Resposta: B Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
As Políticas Públicas Educacionais estão diretamente a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
ligadas a qualidade da educação e, consequentemente, a circunstâncias;
construção de uma nova ordem social, em que a cidadania seja b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
construída primeiramente nas famílias e, posteriormente, nas relevância pública;
escolas e na sociedade. c) preferência na formulação e na execução das políticas
sociais públicas;
04. Resposta: errado d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
A Educação Profissional Tecnológica, de graduação e pós- relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
graduação, prevista no inciso III do art. 39 da atual LDB, será Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
objeto de outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
partir de estudos conduzidos por uma Comissão Especial violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
Bicameral, constituída no âmbito do Conselho Pleno, com a qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
finalidade de “redimensionar, institucionalizar e integrar as fundamentais.
ações da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, da Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os
Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional e fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os
Tecnológica”. direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar
da criança e do adolescente como pessoas em
05. Resposta: B desenvolvimento.
Entende-se por políticas públicas tudo aquilo que um
governo faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais Comentários:
é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em
educação. O ECA incorporou a doutrina da proteção integral à criança
e ao adolescente, passando assim a serem sujeitos e titulares
de direitos fundamentais.
Estatuto da criança e do O direito da criança e do adolescente possui fundamento
constitucional, em especial nos artigos 227 a 229.
adolescente O art. 2º do Estatuto traz os conceitos de criança e de
adolescente:
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Criança é a pessoa com até 12 anos de idade incompletos.
Adolescente é a pessoa entre 12 e 18 anos de idade.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências.

Ética e Legislação Educacional 36


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O critério adotado para distinguir essas pessoas foi o § 1o O atendimento pré-natal será realizado por
cronológico, ou seja, verifica-se apenas a idade da pessoa e profissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei
não sua capacidade de discernimento para a prática de alguma nº 13.257, de 2016)
conduta. § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante
Na interpretação do ECA se levará em conta as exigências garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº
em desenvolvimento. Em eventual semelhança de interesses 13.257, de 2016)
jurídicos será preciso aplicar o princípio da § 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
proporcionalidade, de modo a optar pelo interesse que mais se assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
aproxime dos fins sociais da lei e do princípio da dignidade hospitalar responsável e contra referência na atenção
humana, coluna vertebral da proteção integral e do próprio primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos de
Direito da Infância e da Juventude. apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
Temos 4 princípios norteadores do ECA: de 2016)
A- Princípio da Proteção Integral. § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
Em seu artigo 227, a Constituição Federal trás o princípio psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
da Proteção Integral indica o dever da família, da sociedade e inclusive como forma de prevenir ou minorar as
do Estado de zelar pela inviolabilidade dos direitos consequências do estado puerperal.
fundamentais da criança e do adolescente, deixando-os a salvo § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, prestada também a gestantes e mães que manifestem
violência, crueldade e opressão. interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a
B- Princípio da Prioridade Absoluta. gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de
Também previsto no artigo 227 da Carta Magna, o liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
princípio da prioridade absoluta determina que a criança e o § 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
adolescente devem ser tratados com absoluta preferência, acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
pela sociedade e. em especial, pelo Poder Público. natal, do trabalho de parto e do pós-parto
O próprio ECA traz em quais aspectos essa prioridade imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
absoluta deve ser observada (art. 4º, parágrafo único): § 7o A gestante deverá receber orientação sobre
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer aleitamento materno, alimentação complementar saudável e
circunstâncias; crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de
relevância pública; estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído
c) preferência na formulação e na execução das políticas pela Lei nº 13.257, de 2016)
sociais públicas; § 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras
C- Princípio do Respeito à Condição Peculiar da intervenções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído
Criança e do Adolescente de Pessoa em Desenvolvimento. pela Lei nº 13.257, de 2016)
Por esse princípio entendemos que as crianças e § 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
adolescentes são pessoas em condições peculiares de gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-
desenvolvimento e, por isso, apresentam hipossuficiência natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas
frente à defesa dos seus próprios interesses, além de pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
possuírem interesses especiais, assim, esta expressão significa § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à
que a criança e o adolescente possuem todos os direitos, de mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
que são detentores os adultos, desde que sejam aplicáveis à custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que
sua idade, ao grau de desenvolvimento físico ou mental e à sua atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único
capacidade de autonomia e discernimento. de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o
D- Princípio da Participação Popular. sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento
Este princípio decorre do artigo, 204, II da Constituição integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Federal, que garante a participação da população, por meio de
organizações representativas, na formulação das políticas Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
públicas e no controle das ações em todos os níveis propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno,
relacionados à infância e à juventude. inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de
liberdade.
Título II § 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde
Dos Direitos Fundamentais desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
Capítulo I visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de
Do Direito à Vida e à Saúde ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno
e à alimentação complementar saudável, de forma
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à contínua. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais § 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
programas e às políticas de saúde da mulher e de Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada pela Lei II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua
nº 13.257, de 2016) impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem

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prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
administrativa competente; alunos.
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e § 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém- recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado
nascido, bem como prestar orientação aos pais; do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem § 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
necessariamente as intercorrências do parto e do saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal,
desenvolvimento do neonato; integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº
a permanência junto à mãe. 13.257, de 2016)
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, § 3o A atenção odontológica à criança terá função educativa
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer,
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
técnico já existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações
2017) (Vigência) sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4o A criança com necessidade de cuidados odontológicos
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado especiais será atendida pelo Sistema Único de
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus
no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, instrumento construído com a finalidade de facilitar a
de 2016) detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão criança, de risco para o seu desenvolvimento
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017)
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Comentários:
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, No Título II da Lei 8.069 está disposto os direitos
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e fundamentais das crianças e dos adolescentes, estes são
outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, aqueles mesmos outorgados aos adultos, mais outros especiais
habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de e conferidos em respeito a condição peculiar de pessoa em
acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades desenvolvimento.
específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) No Capítulo II temos os direitos à vida e a saúde.
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
frequente de crianças na primeira infância receberão Atenção! No ano de 2016 esse capítulo sofreu relevantes
formação específica e permanente para a detecção de sinais de alterações em razão da publicação da Lei nº 13.257 que dispõe
risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para o acerca da Primeira Infância. Observa-se, que o direito à vida,
acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela embutido no direito à saúde, é considerado o mais elementar
Lei nº 13.257, de 2016) e absoluto dos direitos fundamentais, já que este é
indispensável ao exercício dos demais direitos, ficando a cargo
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, do Estado garanti-los através de políticas públicas.
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de Atenção! Em virtude da Lei n.º 13.438, os artigos 10 e 14
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições sofreram adição de incisos e parágrafos, dessa forma, os
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de
responsável, nos casos de internação de criança ou gestantes, públicos e particulares, passam a ser obrigados a
adolescente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) acompanhar a prática do processo de amamentação,
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos técnico já existente, conforme agora o artigo 10º, VI.
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente No que diz respeito ao artigo 14 §5º foi acrescido a
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, obrigatoriedade ao Sistema Único de Saúde promover a
sem prejuízo de outras providências legais. aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito
§ 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído
entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da de acompanhamento da criança, de risco para o seu
Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) desenvolvimento psíquico.
§ 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
entrada, os serviços de assistência social em seu componente Capítulo II
especializado, o Centro de Referência Especializado de Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade,
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
de violência de qualquer natureza, formulando projeto e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
Lei nº 13.257, de 2016) aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas comunitários, ressalvadas as restrições legais;
de assistência médica e odontológica para a prevenção das II - opinião e expressão;
enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, III - crença e culto religioso;

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IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; condição infanto-juvenil, aliás, tão agradável também ao
V - participar da vida familiar e comunitária, sem adulto que busca uma vida feliz e plena.
discriminação; Entretanto, esse direito à liberdade não é absoluto. É
VI - participar da vida política, na forma da lei; importante lembrar que crianças e adolescentes estão
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. submetidos ao poder familiar dos pais ou à tutela ou guarda
dos responsáveis, e por isso, a eles devem respeito e
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da subordinação para efeito de criação e educação, cabendo-lhes
integridade física, psíquica e moral da criança e do obediência e reverência.
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da Outra restrição ao direito de liberdade, é a possibilidade do
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos adolescente de ser apreendido em flagrante pela prática de ato
espaços e objetos pessoais. infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente. Observa-se que as
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e limitações à liberdade são impostas devido a própria condição
do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento de pessoas em desenvolvimento, levando sempre em
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou consideração o seu bem estar.
constrangedor. Atenção! A criança não pode ser privada de liberdade e,
no caso de flagrante de ato infracional, tão somente, será
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser encaminhada ao Conselho Tutelar, na companhia dos pais ou
educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de responsável.
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, Capítulo III
pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas Seção I
ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, Disposições Gerais
educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família
aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária,
adolescente que resulte em: em ambiente que garanta seu desenvolvimento
a) sofrimento físico; ou integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
b) lesão; § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua
cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses,
que: devendo a autoridade judiciária competente, com base em
a) humilhe; relatório elaborado por equipe inter profissional ou
b) ameace gravemente; ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela
c) ridicularize. possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os desta Lei.
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas § 2o A permanência da criança e do adolescente em
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de programa de acolhimento institucional não se prolongará por
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade
que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou que atenda ao seu superior interesse, devidamente
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou fundamentada pela autoridade judiciária. (Redação dada
qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de pela Lei nº 13.509, de 2017)
outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão § 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou
aplicadas de acordo com a gravidade do caso: adolescente à sua família terá preferência em relação a
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em
proteção à família; serviços e programas de proteção, apoio e promoção, nos
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101
psiquiátrico; e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação
III - encaminhamento a cursos ou programas de dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
orientação; § 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas
especializado; periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de
V - advertência. acolhimento institucional, pela entidade responsável,
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão independentemente de autorização judicial.
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras § 5o Será garantida a convivência integral da criança com a
providências legais. mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Comentários: § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe
especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509,
O direito à liberdade é mais amplo do que o direito de ir e de 2017)
vir, sendo compreendido pelo amplo acesso a logradouros e
espaços comunitários, a livre opinião e expressão, crença e Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em
culto religioso, bem como ao direito de participar sem entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o
discriminação da vida familiar, comunitária e da vida política, nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da
na forma da lei. Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Há, ainda, o especialíssimo direito de brincar, praticar § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter
esportes e divertir-se, absolutamente condizente com a profissional da Justiça da Infância e da Juventude, que

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apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária
inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
sua expressa concordância, à rede pública de saúde e proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
assistência social para atendimento especializado. (Incluído filiação.
pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em
período. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de competente para a solução da divergência.
não existir outro representante da família extensa apto a
receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse
da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de determinações judiciais.
acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
13.509, de 2017) direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado
ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas,
deve ser manifestada na audiência a que se refere o § 1o do art. assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta
166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do dia do poder familiar.
seguinte à data do término do estágio de § 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a
convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser
manifestada em audiência ou perante a equipe inter incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e
profissional - da entrega da criança após o nascimento, a promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
criança será mantida com os genitores, e será determinado § 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará
pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de
familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. (Incluído condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão,
pela Lei nº 13.509, de 2017) contra o próprio filho ou filha.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o
nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
§ 10. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
2017) descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
alude o art. 22.
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de Comentários:
programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017) Atenção! O texto do Capítulo III, Seção I, que trata sobre as
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e disposições gerais do Direito à Convivência Familiar e
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à Comunitária, sofreu relevantes alterações após a Lei 13.257.
instituição para fins de convivência familiar e comunitária e A permanência da criança e do adolescente em programa
colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, de acolhimento não se prolongará por mais de dezoito
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído meses, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
pela Lei nº 13.509, de 2017) superior interesse, devidamente fundamentada pela
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) autoridade judiciária. Em relação a convivência, será garantida
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou a mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional a
adolescente a fim de colaborar para o seu convivência integral com a criança, sendo assistida por equipe
desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) especializada multidisciplinar. Nos casos de gestantes ou mães
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser que manifeste o interesse em entregar seu filho para adoção,
apadrinhado será definido no âmbito de cada programa de antes ou logo após o nascimento será encaminhado à Justiça
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou da Infância e da Juventude, sendo levado em consideração para
adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar tal, os efeitos do estado gestacional e puerperal.
ou colocação em família adotiva. (Incluído pela Lei nº Acrescido o Art.19-B, que trata sobre o programa de
13.509, de 2017) apadrinhamento, que consiste em proporcionar à criança e ao
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento adolescentes, que estão em programa de acolhimento
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser institucional, vínculos externos à instituição para fins de
executados por órgãos públicos ou por organizações da convivência familiar e comunitária, colaborando assim para o
sociedade civil. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) seu desenvolvimento nos aspectos sociais, morais, físicos,
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os cognitivos, educacionais e financeiros. Assim, deverá ser
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento respeitada para tal as exigências contidas na Lei.

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Seção II crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante


Da Família Natural a equipe inter profissional ou multidisciplinar que irá
acompanhar o caso.
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com
ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar
filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos adequado.
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
vínculos de afinidade e afetividade. Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser entidades governamentais ou não-governamentais, sem
reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no autorização judicial.
próprio termo de nascimento, por testamento, mediante
escritura ou outro documento público, qualquer que seja a Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
origem da filiação. constitui medida excepcional, somente admissível na
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o modalidade de adoção.
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar
descendentes. Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito encargo, mediante termo nos autos.
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer Subseção II
restrição, observado o segredo de Justiça. Da Guarda

Seção III Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência


Da Família Substituta material, moral e educacional à criança ou adolescente,
Subseção I conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
Disposições Gerais inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta estrangeiros.
Lei. § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares
previamente ouvido por equipe inter profissional, respeitado ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser
seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre deferido o direito de representação para a prática de atos
as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente determinados.
considerada § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
necessário seu consentimento, colhido em audiência. previdenciários.
§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em
parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a
evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. medida for aplicada em preparação para adoção, o
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim
comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de
justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento Ministério Público.
definitivo dos vínculos fraternais. Art. 34. O poder público estimulará, por meio de
§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o
substituta será precedida de sua preparação gradativa e acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter afastado do convívio familiar.
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, § 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento
execução da política municipal de garantia do direito à institucional, observado, em qualquer caso, o caráter
convivência familiar. temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.
§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
ainda obrigatório. receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas § 3o A União apoiará a implementação de serviços de
instituições, desde que não sejam incompatíveis com os acolhimento em família acolhedora como política pública, os
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento
Constituição Federal; temporário de crianças e de adolescentes em residências de
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma estejam no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257,
etnia; de 2016)
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão § 4o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais,
federal responsável pela política indigenista, no caso de distritais e municipais para a manutenção dos serviços de

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acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os
recursos para a própria família acolhedora. (Incluído pela adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união
Lei nº 13.257, de 2016) estável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, velho do que o adotando.
mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério § 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex
Público. companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o
Subseção III estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do
Da Tutela período de convivência e que seja comprovada a existência de
vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda
prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei
implica necessariamente o dever de guarda. no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único procedimento, antes de prolatada a sentença.
do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais
abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
controle judicial do ato, observando o procedimento previsto
nos arts. 165 a 170 desta Lei. Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o
observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, pupilo ou o curatelado.
somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na
disposição de última vontade, se restar comprovado que a Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou
medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa do representante legal do adotando.
em melhores condições de assumi-la. § 1º. O consentimento será dispensado em relação à
criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. tenham sido destituídos do poder familiar.
24. § 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de
idade, será também necessário o seu consentimento.
Subseção IV Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência
Da Adoção com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90
(noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á e as peculiaridades do caso. (Redação dada pela Lei nº
segundo o disposto nesta Lei. 13.509, de 2017)
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se § 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o
deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante
manutenção da criança ou adolescente na família natural ou durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a
extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. conveniência da constituição do vínculo.
§ 2o É vedada a adoção por procuração. § 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do dispensa da realização do estágio de convivência.
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo
devem prevalecer os direitos e os interesses do pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão
adotando. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no
dos adotantes. mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco)
dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, mediante decisão fundamentada da autoridade
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
impedimentos matrimoniais. deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o deferimento da adoção à autoridade judiciária. (Incluído
cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes. pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e equipe inter profissional a serviço da Justiça da Infância e da
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
hereditária. responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, acerca da conveniência do deferimento da medida.
independentemente do estado civil. § 5o O estágio de convivência será cumprido no território
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do nacional, preferencialmente na comarca de residência da
adotando. criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do

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juízo da comarca de residência da criança. (Incluído pela programa de acolhimento e pela execução da política
Lei nº 13.509, de 2017) municipal de garantia do direito à convivência familiar.
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença § 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e
judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado nacional de crianças e adolescentes em condições de serem
do qual não se fornecerá certidão. adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
pais, bem como o nome de seus ascendentes. residentes fora do País, que somente serão consultados na
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o inexistência de postulantes nacionais habilitados nos
registro original do adotado. cadastros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a
residência. troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá sistema.
constar nas certidões do registro. § 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes
e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a em condições de serem adotados que não tiveram colocação
modificação do prenome. familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. responsabilidade.
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em § 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista manutenção e correta alimentação dos cadastros, com
no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à posterior comunicação à Autoridade Central Federal
data do óbito. Brasileira.
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de
relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu pretendentes habilitados residentes no País com perfil
armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou
a sua conservação para consulta a qualquer tempo. adolescente inscrito nos cadastros existentes, será realizado o
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de encaminhamento da criança ou adolescente à adoção
adoção em que o adotando for criança ou adolescente com internacional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
deficiência ou com doença crônica. § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que
será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por possível e recomendável, será colocado sob guarda de família
igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade cadastrada em programa de acolhimento familiar.
judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa
dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem Público.
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente
completar 18 (dezoito) anos. nos termos desta Lei quando:
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, II - for formulada por parente com o qual a criança ou
a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
psicológica. III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de
familiar dos pais naturais. laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca arts. 237 ou 238 desta Lei.
ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que
na adoção. preenche os requisitos necessários à adoção, conforme
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia previsto nesta Lei.
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
Público. interessadas em adotar criança ou adolescente com
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não deficiência, com doença crônica ou com necessidades
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das específicas de saúde, além de grupo de irmãos. (Incluído
hipóteses previstas no art. 29. pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual
um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado o pretendente possui residência habitual em país-parte da
pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
execução da política municipal de garantia do direito à Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho
convivência familiar. de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente
adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, restar comprovado:
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada
e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo ao caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

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II - que foram esgotadas todas as possibilidades de encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção
colocação da criança ou adolescente em família adotiva internacional, com posterior comunicação às Autoridades
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de
inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com imprensa e em sítio próprio da internet.
perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta § 3o Somente será admissível o credenciamento de
aos cadastros mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei organismos que:
nº 13.509, de 2017) I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade
consultado, por meios adequados ao seu estágio de Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida
desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;
mediante parecer elaborado por equipe inter profissional, II - satisfizerem as condições de integridade moral,
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. competência profissional, experiência e responsabilidade
§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central
aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança Federal Brasileira;
ou adolescente brasileiro. III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua
§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das formação e experiência para atuar na área de adoção
Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de internacional;
adoção internacional. IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento Autoridade Central Federal Brasileira.
previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes § 4o Os organismos credenciados deverão ainda:
adaptações: I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela
habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria Autoridade Central Federal Brasileira;
de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas
aquele onde está situada sua residência habitual; e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar formação ou experiência para atuar na área de adoção
que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia
emitirá um relatório que contenha informações sobre a Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal
para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio competente;
social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir III - estar submetidos à supervisão das autoridades
uma adoção internacional; competentes do país onde estiverem sediados e no país de
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a situação financeira;
Autoridade Central Federal Brasileira; IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a
IV - o relatório será instruído com toda a documentação cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem
necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por como relatório de acompanhamento das adoções
equipe inter profissional habilitada e cópia autenticada da internacionais efetuadas no período, cuja cópia será
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;
vigência; V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a
V - os documentos em língua estrangeira serão Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
devidamente autenticados pela autoridade consular, Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois)
observados os tratados e convenções internacionais, e anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia
acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
juramentado; de acolhida para o adotado;
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal
postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento
acolhida; estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade sejam concedidos.
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
com a nacional, além do preenchimento por parte dos 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos a suspensão de seu credenciamento.
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta § 6o O credenciamento de organismo nacional ou
Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, internacional terá validade de 2 (dois) anos.
no máximo, 1 (um) ano; § 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será mediante requerimento protocolado na Autoridade Central
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança término do respectivo prazo de validade.
ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu
Central Estadual. a adoção internacional, não será permitida a saída do
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, adotando do território nacional.
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade
internacional sejam intermediados por organismos judiciária determinará a expedição de alvará com autorização
credenciados. de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando,
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente
credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços

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peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão providências à Autoridade Central Estadual, que fará a
digital do seu polegar direito, instruindo o documento com comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à
cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em Autoridade Central do país de origem.
julgado.
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país
crianças e adolescentes adotados de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida,
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o
credenciados, que sejam considerados abusivos pela adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à
Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da
devidamente comprovados, é causa de seu adoção nacional.
descredenciamento.
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser Comentários:
representados por mais de uma entidade credenciada para
atuar na cooperação em adoção internacional. Atenção! Este capítulo também sofreu alterações em
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou decorrência da Lei 13.509, assim
domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, O Capítulo III da Lei 8.069/90, assegura à toda criança e
podendo ser renovada. adolescente o direito de ser criado e educado no seio da sua
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de família e, excepcionalmente, em família substituta,
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com assegurando a convivência familiar, bem como a comunitária,
dirigentes de programas de acolhimento institucional ou assim, fica evidente que a legislação brasileira preconiza que
familiar, assim como com crianças e adolescentes em toda criança e adolescente tem direito a uma família, cujos
condições de serem adotados, sem a devida autorização vínculos devem ser protegidos pelo Estado e pela sociedade,
judicial. em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá de outras pessoas, inclusive de seus pais biológicos, devem
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos prevalecer os direitos e os interesses do adotando.
sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo A adoção será precedida de estágio de convivência com a
fundamentado. criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa)
dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e peculiaridades do caso, sendo respeitada as exigências
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de estabelecidas na lei, e com prazo máximo para conclusão da
organismos estrangeiros encarregados de intermediar ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a uma única vez por igual período, mediante decisão
pessoas físicas. fundamentada da autoridade judiciária.
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser
efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente Capítulo IV
e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
Direitos da Criança e do Adolescente Lazer

Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo
tenha sido processado em conformidade com a legislação para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea assegurando-se lhes:
“c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
recepcionada com o reingresso no Brasil. escola;
§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea II - direito de ser respeitado por seus educadores;
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. recorrer às instâncias escolares superiores;
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país IV - direito de organização e participação em entidades
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no estudantis;
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for ciência do processo pedagógico, bem como participar da
o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país definição das propostas educacionais.
de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à adolescente:
Autoridade Central Federal e determinará as providências I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
necessárias à expedição do Certificado de Naturalização para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
Provisório. II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério ao ensino médio;
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela III - atendimento educacional especializado aos portadores
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de
da criança ou do adolescente. zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306,
§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, de 2016)
prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
imediatamente requerer o que for de direito para resguardar e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as

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VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às Capítulo V


condições do adolescente trabalhador; Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
VII - atendimento no ensino fundamental, através de Trabalho
programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada
público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei
autoridade competente. .
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
pais ou responsável, pela frequência à escola. legislação de educação em vigor.

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. seguintes princípios:
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino regular;
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: II - atividade compatível com o desenvolvimento do
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; adolescente;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, III - horário especial para o exercício das atividades.
esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência. Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
assegurada bolsa de aprendizagem.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências
e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos,
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários.
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental
obrigatório. Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é
assegurado trabalho protegido.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em
criação e o acesso às fontes de cultura. entidade governamental ou não-governamental, é vedado
trabalho:
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços e as cinco horas do dia seguinte;
para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas II - perigoso, insalubre ou penoso;
para a infância e a juventude. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a
frequência à escola.
Comentários:
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando educativo, sob responsabilidade de entidade governamental
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, ao adolescente que dele participe condições de capacitação
assegurando-se: para o exercício de atividade regular remunerada.
a) igualdade de condições para o acesso e permanência na § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral
escola; em que as exigências pedagógicas relativas ao
b) direito de ser respeitado por seus educadores; desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
c) direito de contestar critérios avaliativos, podendo sobre o aspecto produtivo.
recorrer às instâncias escolares superiores; § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo
d) direito de organização e participação em entidades trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
estudantis; seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
e) acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
Assim, a Lei8.069/90 assegura a criança e ao adolescente proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
uma educação voltada ao integral desenvolvimento da pessoa, outros:
com prática para a cidadania de forma clara e objetiva e I - respeito à condição peculiar de pessoa em
capacitação para o trabalho, sempre preconizando o absoluto desenvolvimento;
respeito aos direitos fundamentais da criança e do II - capacitação profissional adequada ao mercado de
adolescente. trabalho.
Segundo o art. 59, os Municípios contarão com a
assistência e cooperação dos estados e da União na destinação Comentários:
de recursos e espaços para o desenvolvimento programações
culturais, esportivas e de lazer destinadas à criança e ao Observa-se no Capítulo V que, quando a criança ou o
adolescente. adolescente exercita o trabalho não mais como impulso de
experimento de suas potencialidades, mas, sim, como
necessidade de prover seu próprio sustento, o trabalho torna-

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se incompatível com outros interesses necessários ao seu comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-
pleno desenvolvimento. tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Assim, o trabalho poderá retirar estímulos imprescindíveis Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela
para o acompanhamento das aulas regulares, limitando a comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas,
capacidade de aprendizado e prejudicando sua qualificação por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou
teórico-profissional. Ainda, o trabalho poderá representar um ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e
esforço superior ao seu estágio de crescimento, adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado
comprometendo a saúde e o seu desenvolvimento cognitivo. retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
Para que isso não ocorra e visando sempre a proteção da Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação,
criança ou adolescente e, ao mesmo tempo, assegurar-lhes o cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e
direito fundamental à profissionalização, o ordenamento serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
estabeleceu um regime especial de trabalho, com direitos e desenvolvimento.
restrições.
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da
Título III prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
Da Prevenção adotados.
Capítulo I
Disposições Gerais Art. 73. A inobservância das normas de prevenção
importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça nos termos desta Lei.
ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Comentários:
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração O direito à cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos
de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir deve fazer parte da vida da criança em todas as suas fases de
o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e desenvolvimento, reconhecendo assim o direito de receber
difundir formas não violentas de educação de crianças e de uma educação capaz de promover a sua cultura e capacitá-la a
adolescentes, tendo como principais ações: desenvolver suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo, seu
I - a promoção de campanhas educativas permanentes senso de responsabilidade moral e social.
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de Capítulo II
tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de Da Prevenção Especial
proteção aos direitos humanos; Seção I
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e
Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Espetáculos
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do
Adolescente e com as entidades não governamentais que Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança regulará as diversões e espetáculos públicos, informando
e do adolescente; sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
III - a formação continuada e a capacitação dos recomendem, locais e horários em que sua apresentação se
profissionais de saúde, educação e assistência social e dos mostre inadequada.
demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
direitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
das competências necessárias à prevenção, à identificação de acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no
formas de violência contra a criança e o adolescente; certificado de classificação.
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica
de conflitos que envolvam violência contra a criança e o Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às
adolescente; diversões e espetáculos públicos classificados como
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a adequados à sua faixa etária.
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
processo educativo; no horário recomendado para o público infanto juvenil,
VI - a promoção de espaços inter setoriais locais para a programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação informativas.
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
participação de profissionais de saúde, de assistência social e anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos transmissão, apresentação ou exibição.
direitos da criança e do adolescente;
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários
com deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de
políticas públicas de prevenção e proteção. programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou
locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas competente.
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
faixa etária a que se destinam.

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Art. 78. As revistas e publicações contendo material nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão residente ou domiciliado no exterior.
ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência
de seu conteúdo. Parte Especial
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas Título I
que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam Da Política de Atendimento
protegidas com embalagem opaca. Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de
armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e ações governamentais e não-governamentais, da União, dos
sociais da pessoa e da família. estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por I - políticas sociais básicas;
casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, II - serviços, programas, projetos e benefícios de
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja assistência social de garantia de proteção social e de
permitida a entrada e a permanência de crianças e prevenção e redução de violações de direitos, seus
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº
público. 13.257, de 2016)
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
Seção II exploração, abuso, crueldade e opressão;
Dos Produtos e Serviços IV - serviço de identificação e localização de pais,
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
I - armas, munições e explosivos; direitos da criança e do adolescente.
II - bebidas alcoólicas; VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
III - produtos cujos componentes possam causar abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a
dependência física ou psíquica ainda que por utilização garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de
indevida; crianças e adolescentes;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de
pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.

Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento I - municipalização do atendimento;
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional
responsável. dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
Seção III participação popular paritária por meio de organizações
Da Autorização para Viajar representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos,
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da observada a descentralização político-administrativa;
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e
responsável, sem expressa autorização judicial. municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos
§ 1º A autorização não será exigida quando: da criança e do adolescente;
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e
região metropolitana; Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
b) a criança estiver acompanhada: para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, a quem se atribua autoria de ato infracional;
comprovado documentalmente o parentesco; VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e
mãe ou responsável. encarregados da execução das políticas sociais básicas e de
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou assistência social, para efeito de agilização do atendimento de
responsável, conceder autorização válida por dois anos. crianças e de adolescentes inseridos em programas de
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: comprovadamente inviável, sua colocação em família
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado desta Lei;
expressamente pelo outro através de documento com firma VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
reconhecida. participação dos diversos segmentos da sociedade.
VIII - especialização e formação continuada dos
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
nenhuma criança ou adolescente nascido em território primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos

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da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei § 1o Será negado o registro à entidade que:
nº 13.257, de 2016) a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas
IX - formação profissional com abrangência dos diversos de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
direitos da criança e do adolescente que favoreça a inter b) não apresente plano de trabalho compatível com os
setorialidade no atendimento da criança e do adolescente e princípios desta Lei;
seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de c) esteja irregularmente constituída;
2016) d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
X - realização e divulgação de pesquisas sobre e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
desenvolvimento infantil e sobre prevenção da deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado
violência. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Adolescente, em todos os níveis.
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos § 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
adolescente é considerada de interesse público relevante e não Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua
será remunerada. renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.

Capítulo II Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de


Das Entidades de Atendimento acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os
Seção I seguintes princípios
Disposições Gerais I - preservação dos vínculos familiares e promoção da
reintegração familiar;
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela II - integração em família substituta, quando esgotados os
manutenção das próprias unidades, assim como pelo recursos de manutenção na família natural ou extensa;
planejamento e execução de programas de proteção e III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em IV - desenvolvimento de atividades em regime de
regime de: coeducação;
I - orientação e apoio sócio familiar; V - não desmembramento de grupos de irmãos;
II - apoio socioeducativo em meio aberto; VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
III - colocação familiar; outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
IV - acolhimento institucional; VII - participação na vida da comunidade local;
V - prestação de serviços à comunidade; VIII - preparação gradativa para o desligamento;
VI - liberdade assistida; IX - participação de pessoas da comunidade no processo
VII - semiliberdade; e educativo.
VIII - internação. § 1o O dirigente de entidade que desenvolve programa de
§ 1o As entidades governamentais e não governamentais acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para
deverão proceder à inscrição de seus programas, todos os efeitos de direito.
especificando os regimes de atendimento, na forma definida § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão
do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses,
suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança
e à autoridade judiciária. ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação
§ 2o Os recursos destinados à implementação e prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.
manutenção dos programas relacionados neste artigo serão § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes
previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência permanente qualificação dos profissionais que atuam direta
Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade ou indiretamente em programas de acolhimento institucional
absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo caput e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes,
do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e
único do art. 4o desta Lei. Conselho Tutelar.
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, judiciária competente, as entidades que desenvolvem
no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para programas de acolhimento familiar ou institucional, se
renovação da autorização de funcionamento: necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem assistência social, estimularão o contato da criança ou
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
do Adolescente, em todos os níveis; § 5o As entidades que desenvolvem programas de
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, acolhimento familiar ou institucional somente poderão
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos
Justiça da Infância e da Juventude; princípios, exigências e finalidades desta Lei.
III - em se tratando de programas de acolhimento § 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo
institucional ou familiar, serão considerados os índices de dirigente de entidade que desenvolva programas de
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família acolhimento familiar ou institucional é causa de sua
substituta, conforme o caso. destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
administrativa, civil e criminal.
Art. 91. As entidades não-governamentais somente § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
poderão funcionar depois de registradas no Conselho em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual atuação de educadores de referência estáveis e
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao
judiciária da respectiva localidade.

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atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recursos
da comunidade.
Art. 93. As entidades que mantenham programa de
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que
de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que
determinação da autoridade competente, fazendo em caráter temporário, devem ter, em seus quadros,
comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz profissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade. Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade Seção II
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o Da Fiscalização das Entidades
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas
necessárias para promover a imediata reintegração familiar da Art. 95. As entidades governamentais e não-
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas
Lei. serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a
origem das dotações orçamentárias.
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
internação têm as seguintes obrigações, entre outras: Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os atendimento que descumprirem obrigação constante do art.
adolescentes; 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido dirigentes ou prepostos:
objeto de restrição na decisão de internação; I - às entidades governamentais:
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas a) advertência;
unidades e grupos reduzidos; b) afastamento provisório de seus dirigentes;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
e dignidade ao adolescente; d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da II - às entidades não-governamentais:
preservação dos vínculos familiares; a) advertência;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas
casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento públicas;
dos vínculos familiares; c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas d) cassação do registro.
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os § 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por
objetos necessários à higiene pessoal; entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; Ministério Público ou representado perante autoridade
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive
odontológicos e farmacêuticos; suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
X - propiciar escolarização e profissionalização; § 2o As pessoas jurídicas de direito público e as
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; organizações não governamentais responderão pelos danos
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes,
de acordo com suas crenças; caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; das atividades de proteção específica.
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à Título II
autoridade competente; Das Medidas de Proteção
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado Capítulo I
sobre sua situação processual; Disposições Gerais
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
casos de adolescentes portadores de moléstias Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
infectocontagiosas; são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos forem ameaçados ou violados:
adolescentes; I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
acompanhamento de egressos; III - em razão de sua conduta.
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício
da cidadania àqueles que não os tiverem; Capítulo II
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e Das Medidas Específicas de Proteção
circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser
pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas
acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences a qualquer tempo.
e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento. Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
deste artigo às entidades que mantêm programas de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
acolhimento institucional e familiar. Parágrafo único. São também princípios que regem a
aplicação das medidas:

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APOSTILAS OPÇÃO

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos 2016)
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
Federal; psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que VII - acolhimento institucional;
crianças e adolescentes são titulares; VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
III - responsabilidade primária e solidária do poder IX - colocação em família substituta.
público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar
e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como
nos casos por esta expressamente ressalvados, é de forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo
responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de esta possível, para colocação em família substituta, não
governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e implicando privação de liberdade.
da possibilidade da execução de programas por entidades não § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais
governamentais; para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e criança ou adolescente do convívio familiar é de competência
direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração,
consideração que for devida a outros interesses legítimos no a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo
âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se
concreto garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da contraditório e da ampla defesa.
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser
intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; encaminhados às instituições que executam programas de
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade
seja conhecida; judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja ou de seu responsável, se conhecidos;
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da II - o endereço de residência dos pais ou do responsável,
criança e do adolescente; com pontos de referência;
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em
ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a tê-los sob sua guarda;
criança ou o adolescente se encontram no momento em que a IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
decisão é tomada; convívio familiar.
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser § 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para adolescente, a entidade responsável pelo programa de
com a criança e o adolescente; acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
proteção da criança e do adolescente deve ser dada ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em
prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na contrário de autoridade judiciária competente, caso em que
sua família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que também deverá contemplar sua colocação em família
promovam a sua integração em família adotiva; (Redação dada substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
pela Lei nº 13.509, de 2017) § 5o O plano individual será elaborado sob a
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou
capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
ser informados dos seus direitos, dos motivos que § 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
determinaram a intervenção e da forma como esta se I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
processa; II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o e
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e esta vedada por expressa e fundamentada determinação
de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
1o e 2o do art. 28 desta Lei. judiciária.
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre como parte do processo de reintegração familiar, sempre que
outras, as seguintes medidas: identificada a necessidade, a família de origem será incluída
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção
termo de responsabilidade; social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; ou com o adolescente acolhido.
III - matrícula e frequência obrigatórias em § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
estabelecimento oficial de ensino fundamental; responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou institucional fará imediata comunicação à autoridade
comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da

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APOSTILAS OPÇÃO

judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de
5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser
reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, considerada a idade do adolescente à data do fato.
após seu encaminhamento a programas oficiais ou
comunitários de orientação, apoio e promoção social, será Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual corresponderão as medidas previstas no art. 101.
conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e
a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade Capítulo II
ou responsáveis pela execução da política municipal de Dos Direitos Individuais
garantia do direito à convivência familiar, para a destituição
do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem
prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação
realização de estudos complementares ou de outras dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado
providências indispensáveis ao ajuizamento da acerca de seus direitos.
demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com à pessoa por ele indicada.
informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
um, bem como as providências tomadas para sua reintegração responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
implementação de políticas públicas que permitam reduzir o
número de crianças e adolescentes afastados do convívio Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
familiar e abreviar o período de permanência em programa de submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais,
acolhimento. de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
havendo dúvida fundada.
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo
serão acompanhadas da regularização do registro civil. Capítulo III
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o Das Garantias Processuais
assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à
vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua
autoridade judiciária. liberdade sem o devido processo legal.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de
que trata este artigo são isentos de multas, custas e Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. seguintes garantias:
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
procedimento específico destinado à sua averiguação, infracional, mediante citação ou meio equivalente;
conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-
1992. se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é necessárias à sua defesa;
dispensável o ajuizamento de ação de investigação de III - defesa técnica por advogado;
paternidade pelo Ministério Público se, após o não IV - assistência judiciária gratuita e integral aos
comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a necessitados, na forma da lei;
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
adoção. competente;
§ 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento são responsável em qualquer fase do procedimento.
isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta
prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Capítulo IV
§ 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação Das Medidas Socioeducativas
requerida do reconhecimento de paternidade no assento de Seção I
nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada Disposições Gerais
pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a
Título III autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
Da Prática de Ato Infracional seguintes medidas:
Capítulo I I - advertência;
Disposições Gerais II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita IV - liberdade assistida;
como crime ou contravenção penal. V - inserção em regime de semiliberdade;

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VI - internação em estabelecimento educacional; I - promover socialmente o adolescente e sua família,


VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar
da infração. do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será III - diligenciar no sentido da profissionalização do
admitida a prestação de trabalho forçado. adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência IV - apresentar relatório do caso
mental receberão tratamento individual e especializado, em .
local adequado às suas condições. Seção VI
Do Regime de Semiliberdade
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e
100. Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado
desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto,
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II possibilitada a realização de atividades externas,
a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes independentemente de autorização judicial.
da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização,
hipótese de remissão, nos termos do art. 127. devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre existentes na comunidade.
que houver prova da materialidade e indícios suficientes da § 2º A medida não comporta prazo determinado
autoria. aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação.
Seção II
Da Advertência Seção VII
Da Internação
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal,
que será reduzida a termo e assinada. Art. 121. A internação constitui medida privativa da
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
Seção III excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
Da Obrigação de Reparar o Dano desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, determinação judicial em contrário.
que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo
do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a fundamentada, no máximo a cada seis meses.
medida poderá ser substituída por outra adequada. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de
internação excederá a três anos.
Seção IV § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
Da Prestação de Serviços à Comunidade adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de
semiliberdade ou de liberdade assistida.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período idade.
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
como em programas comunitários ou governamentais. § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não quando:
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
trabalho. ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações
Seção V graves;
Da Liberdade Assistida III - por descumprimento reiterado e injustificável da
medida anteriormente imposta.
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se § 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser
auxiliar e orientar o adolescente. decretada judicialmente após o devido processo legal.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por havendo outra medida adequada.
entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
revogada ou substituída por outra medida, ouvido o destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por
orientador, o Ministério Público e o defensor. critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação,
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a inclusive provisória, serão obrigatórias atividades
supervisão da autoridade competente, a realização dos pedagógicas.
seguintes encargos, entre outros:

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
entre outros, os seguintes: orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
Ministério Público; psiquiátrico;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; IV - encaminhamento a cursos ou programas de
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; orientação;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar
solicitada; sua frequência e aproveitamento escolar;
V - ser tratado com respeito e dignidade; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a
VI - permanecer internado na mesma localidade ou tratamento especializado;
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou VII - advertência;
responsável; VIII - perda da guarda;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; IX - destituição da tutela;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; X - suspensão ou destituição do poder familiar.
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos
pessoal; incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts.
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene 23 e 24.
e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização; Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e afastamento do agressor da moradia comum.
desde que assim o deseje; Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante ou o adolescente dependentes do agressor.
daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os Título V
documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. Do Conselho Tutelar
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Capítulo I
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender Disposições Gerais
temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
aos interesses do adolescente. autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e adolescente, definidos nesta Lei.
mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
adequadas de contenção e segurança. Art. 132. Em cada Município e em cada Região
Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
Capítulo V Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
Da Remissão pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
apuração de ato infracional, o representante do Ministério
Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
fato, ao contexto social, bem como à personalidade do I - reconhecida idoneidade moral;
adolescente e sua maior ou menor participação no ato II - idade superior a vinte e um anos;
infracional. III - residir no município.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local,
ou extinção do processo. dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive
quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o assegurado o direito a:
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem I - cobertura previdenciária;
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas (um terço) do valor da remuneração mensal;
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a III - licença-maternidade;
internação. IV - licença-paternidade;
V - gratificação natalina.
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e
ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao
expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
Ministério Público. formação continuada dos conselheiros tutelares.
Título IV
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: de idoneidade moral.
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

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Capítulo II § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10


Das Atribuições do Conselho de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no natureza, inclusive brindes de pequeno valor.
art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando Capítulo V
as medidas previstas no art. 129, I a VII; Dos Impedimentos
III - promover a execução de suas decisões, podendo para
tanto: Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro
educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho,
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de padrasto ou madrasta e enteado.
descumprimento injustificado de suas deliberações. Parágrafo único. Estende-se o impedimento do
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos judiciária e ao representante do Ministério Público com
da criança ou adolescente; atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua comarca, foro regional ou distrital.
competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Comentários:
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
adolescente autor de ato infracional; O artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente
VII - expedir notificações; apresenta o conceito de Conselho Tutelar, bem como a sua
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de finalidade. Em sua definição apresenta três características
criança ou adolescente quando necessário; básicas: Permanente, autônomo e não jurisdicional.
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da O Conselho Tutelar é órgão permanente, com trabalho
proposta orçamentária para planos e programas de contínuo e ininterrupto, com a finalidade de representação da
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; sociedade, implementando assim a participação popular no
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a processo de busca de melhores condições para o
violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da desenvolvimento do menor.
Constituição Federal; Também, o Conselho Tutelar é autônomo, já que não
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações necessita de ordem judicial para aplicar medidas protetivas
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as previstas nesse Lei, quando as entender adequadas. Exercendo
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente assim, sua função com independência, sob fiscalização do
junto à família natural. Conselho Municipal, da autoridade judiciária competente e do
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos Ministério Público.
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o Este órgão Tutelar, exerce função de natureza executiva, e
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e não está vinculado ao poder judiciário, por isso tem a
adolescentes. característica de não jurisdicional.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do Título VI
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Do Acesso à Justiça
Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal Capítulo I
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o Disposições Gerais
apoio e a promoção social da família.
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
quem tenha legítimo interesse. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que
dela necessitarem, através de defensor público ou advogado
Capítulo III nomeado.
Da Competência § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos,
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
competência constante do art. 147.
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão
Capítulo IV representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
Da Escolha dos Conselheiros um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
forma da legislação civil ou processual.
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses
realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou
Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do quando carecer de representação ou assistência legal ainda
Ministério Público. que eventual.
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho
Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes
de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. a que se atribua autoria de ato infracional.

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Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não c) suprir a capacidade ou o consentimento para o
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se casamento;
fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco, d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se faltarem os pais;
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade f) designar curador especial em casos de apresentação de
judiciária competente, se demonstrado o interesse e queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais
justificada a finalidade. ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
Capítulo II g) conhecer de ações de alimentos;
Da Justiça da Infância e da Juventude h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento
Seção I dos registros de nascimento e óbito.
Disposições Gerais
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua desacompanhado dos pais ou responsável, em:
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de a) estádio, ginásio e campo desportivo;
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em b) bailes ou promoções dançantes;
plantões. c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
Seção II e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Do Juiz II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da b) certames de beleza.
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
forma da lei de organização judiciária local. judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
Art. 147. A competência será determinada: b) as peculiaridades locais;
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; c) a existência de instalações adequadas;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à d) o tipo de frequência habitual ao local;
falta dos pais ou responsável. e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a frequência de crianças e adolescentes;
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras f) a natureza do espetáculo.
de conexão, continência e prevenção. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
autoridade competente da residência dos pais ou responsável, determinações de caráter geral.
ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou
adolescente. Seção III
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão Dos Serviços Auxiliares
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma
comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou equipe inter profissional, destinada a assessorar a Justiça da
retransmissoras do respectivo estado. Infância e da Juventude.

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente Art. 151. Compete à equipe inter profissional dentre outras
para: atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou
Público, para apuração de ato infracional atribuído a verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
extinção do processo; judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; técnico.
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao servidores públicos integrantes do Poder Judiciário
adolescente, observado o disposto no art. 209; responsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em quaisquer outras espécies de avaliações técnicas exigidas por
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; esta Lei ou por determinação judicial, a autoridade judiciária
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de poderá proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156
infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou
adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
perda ou modificação da tutela ou guarda;

Ética e Legislação Educacional 56


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APOSTILAS OPÇÃO

Capítulo III Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
Dos Procedimentos dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
Seção I produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e
Disposições Gerais documentos.
§ 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam- meios para sua realização.
se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação § 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado
processual pertinente. pessoalmente.
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver
prioridade absoluta na tramitação dos processos e procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o
procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar
dos atos e diligências judiciais a eles referentes. qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei
do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Público. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local
incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios
corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a para a localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de
ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
Público. constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado
o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta,
família de origem e em outros procedimentos contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de
necessariamente contenciosos. nomeação.
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária
requisitará de qualquer repartição ou órgão público a
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
do poder familiar terá início por provocação do Ministério a requerimento das partes ou do Ministério Público.
Público ou de quem tenha legítimo interesse.
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
Art. 156. A petição inicial indicará: concluído o estudo social ou a perícia realizada por equipe
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; inter profissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias,
requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual
tratando de pedido formulado por representante do prazo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Ministério Público; § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
III - a exposição sumária do fato e o pedido; das partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de
logo, o rol de testemunhas e documentos. suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts.
1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão pela Lei nº 13.509, de 2017)
do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509,
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou de 2017)
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será
responsabilidade. obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e grau de compreensão sobre as implicações da medida.
independentemente de requerimento do interessado, a § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem
realização de estudo social ou perícia por equipe inter identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os
profissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de casos de não comparecimento perante a Justiça quando
uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar, devidamente citados. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e de 2017)
observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a
pela Lei nº 13.509, de 2017) autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas,
é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo
de representantes do órgão federal responsável pela política quando este for o requerente, designando, desde logo,
indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta audiência de instrução e julgamento.
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério para verificar sua concordância com a adoção, no prazo
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da
o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito, petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo
manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e as declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela
um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. (Redação Lei nº 13.509, de 2017)
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela
autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para equipe inter profissional da Justiça da Infância e da Juventude,
sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da
pela Lei nº 13.509, de 2017) medida.
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade dos
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
necessidade de nomeação de curador especial em favor da informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
criança ou adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de § 4o O consentimento prestado por escrito não terá
2017) validade se não for ratificado na audiência a que se refere o §
1o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento § 5o O consentimento é retratável até a data da realização
será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os pais podem
notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado
esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à da data de prolação da sentença de extinção do poder
colocação em família substituta. (Redação dada pela Lei familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
nº 13.509, de 2017) § 6o O consentimento somente terá valor se for dado após
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a o nascimento da criança.
suspensão do poder familiar será averbada à margem do § 7o A família natural e a família substituta receberão a
registro de nascimento da criança ou do adolescente. devida orientação por intermédio de equipe técnica inter
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
Comentários: preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
execução da política municipal de garantia do direito à
Atenção! A Lei 13.509 de 2017 também modificou o convivência familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
Capítulo III, Seção I e Seção II, que trata sobre os 2017)
procedimentos da perda e da suspenção do poder Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a
familiar. requerimento das partes ou do Ministério Público,
determinará a realização de estudo social ou, se possível,
Seção III perícia por equipe inter profissional, decidindo sobre a
Da Destituição da Tutela concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção,
sobre o estágio de convivência.
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o
processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior. adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de
responsabilidade.
Seção IV
Da Colocação em Família Substituta Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial,
e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco
colocação em família substituta: dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual
cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, lógico da medida principal de colocação em família substituta,
especificando se tem ou não parente vivo; será observado o procedimento contraditório previsto nas
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de Seções II e III deste Capítulo.
seus pais, se conhecidos; Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; observado o disposto no art. 35.
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
também os requisitos específicos. Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente
sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
aderido expressamente ao pedido de colocação em família
substituta, este poderá ser formulado diretamente em Seção V
cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
dispensada a assistência de advogado. Adolescente
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
devidamente assistidas por advogado ou por defensor público,

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Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade ou responsável, vítima e testemunhas.
policial competente. Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada representante do Ministério Público notificará os pais ou
para atendimento de adolescente e em se tratando de ato responsável para apresentação do adolescente, podendo
infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a requisitar o concurso das polícias civil e militar.
atribuição da repartição especializada, que, após as
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
adulto à repartição policial própria. anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido II - conceder a remissão;
mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade III - representar à autoridade judiciária para aplicação de
policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo medida socioeducativa.
único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou
adolescente; concedida a remissão pelo representante do Ministério
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo
III - requisitar os exames ou perícias necessários à dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para
comprovação da materialidade e autoria da infração. homologação.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o
ocorrência circunstanciada. cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho
o adolescente será prontamente liberado pela autoridade fundamentado, e este oferecerá representação, designará
policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou
apresentação ao representante do Ministério Público, no ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, autoridade judiciária obrigada a homologar.
exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
repercussão social, deva o adolescente permanecer sob Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
internação para garantia de sua segurança pessoal ou Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder
manutenção da ordem pública. a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do § 1º A representação será oferecida por petição, que
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
apreensão ou boletim de ocorrência. infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de pela autoridade judiciária.
atendimento, que fará a apresentação ao representante do § 2º A representação independe de prova pré-constituída
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. da autoria e materialidade.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a
À falta de repartição policial especializada, o adolescente conclusão do procedimento, estando o adolescente internado
aguardará a apresentação em dependência separada da provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
exceder o prazo referido no parágrafo anterior. Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
designará audiência de apresentação do adolescente,
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
policial encaminhará imediatamente ao representante do internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ocorrência. cientificados do teor da representação, e notificados a
comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
indícios de participação de adolescente na prática de ato autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
infracional, a autoridade policial encaminhará ao § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
representante do Ministério Público relatório das judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
investigações e demais documentos. determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a
infracional não poderá ser conduzido ou transportado em sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou
compartimento fechado de veículo policial, em condições responsável.
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
estabelecimento prisional.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do § 1º Inexistindo na comarca entidade com as
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e adolescente aguardará sua remoção em repartição policial,

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desde que em seção isolada dos adultos e com instalações I – será precedida de autorização judicial devidamente
apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites
cinco dias, sob pena de responsabilidade. da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério
Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos ou representação de delegado de polícia e conterá a
mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que
proferindo decisão. permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de 13.441, de 2017)
internação ou colocação em regime de semiliberdade, a III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem
autoridade judiciária, verificando que o adolescente não prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não
possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua
desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído
realização de diligências e estudo do caso. pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no § 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão
prazo de três dias contado da audiência de apresentação, requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes
oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo,
diligências e juntado o relatório da equipe inter profissional, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e I – dados de conexão: informações referentes a hora, data,
ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet
para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela
autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão. Lei nº 13.441, de 2017)
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário
autoridade judiciária designará nova data, determinando sua ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da
condução coercitiva. conexão.
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão admitida se a prova puder ser obtida por outros
do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do meios. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
procedimento, antes da sentença.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
medida, desde que reconheça na sentença: autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído
I - estar provada a inexistência do fato; pela Lei nº 13.441, de 2017)
II - não haver prova da existência do fato; Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso
III - não constituir o fato ato infracional; aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo
o ato infracional. de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o 13.441, de 2017)
adolescente internado, será imediatamente colocado em Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua
liberdade. identidade para, por meio da internet, colher indícios de
autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
internação ou regime de semiliberdade será feita: 154-A, 217-A, 218,218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de
I - ao adolescente e ao seu defensor; 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais 13.441, de 2017)
ou responsável, sem prejuízo do defensor. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
unicamente na pessoa do defensor. excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
Seção V-A procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta
Criança e de Adolescente Seção será numerado e tombado em livro
específico. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet
com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes ao Ministério Público, juntamente com relatório
regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

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APOSTILAS OPÇÃO

Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente
no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação
apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
policial, assegurando-se a preservação da identidade do III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos encontrado o requerido ou seu representante legal;
adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não
2017) sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.

Seção VI Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a


Da Apuração de Irregularidades em Entidade de autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério
Atendimento Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.

Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
em entidade governamental e não-governamental terá início procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo
mediante portaria da autoridade judiciária ou representação necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
necessariamente, resumo dos fatos. sucessivamente o Ministério Público e o procurador do
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um,
autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária,
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da que em seguida proferirá sentença.
entidade, mediante decisão fundamentada.
Seção VIII
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:
necessário, a autoridade judiciária designará audiência de I - qualificação completa;
instrução e julgamento, intimando as partes. II - dados familiares;
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações casamento, ou declaração relativa ao período de união
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. estável;
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro
definitivo de dirigente de entidade governamental, a de Pessoas Físicas;
autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa V - comprovante de renda e domicílio;
imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a VI - atestados de sanidade física e mental
substituição. VII - certidão de antecedentes criminais;
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade VIII - certidão negativa de distribuição cível.
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
processo será extinto, sem julgamento de mérito. (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:
entidade ou programa de atendimento. I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
inter profissional encarregada de elaborar o estudo técnico a
que se refere o art. 197-C desta Lei;
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
Seção VII postulantes em juízo e testemunhas;
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas III - requerer a juntada de documentos complementares e
de Proteção à Criança e ao Adolescente a realização de outras diligências que entender
necessárias.
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade
administrativa por infração às normas de proteção à criança e Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
ao adolescente terá início por representação do Ministério inter profissional a serviço da Justiça da Infância e da
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que
por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
duas testemunhas, se possível. preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a desta Lei.
natureza e as circunstâncias da infração. § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir- programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude,
se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
motivos do retardamento. execução da política municipal de garantia do direito à
convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da
apresentação de defesa, contado da data da intimação, que Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e
será feita: estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
na presença do requerido; específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

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§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa I - os recursos serão interpostos independentemente de


obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá preparo;
o contato com crianças e adolescentes em regime de II - em todos os recursos, salvo nos embargos de
acolhimento familiar ou institucional, a ser realizado sob declaração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa
orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça será sempre de 10 (dez) dias;
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com III - os recursos terão preferência de julgamento e
apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de dispensarão revisor;
acolhimento familiar e institucional e pela execução da política IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
municipal de garantia do direito à convivência V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora sejam instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de
preparados por equipe inter profissional antes da inclusão em agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da de cinco dias;
participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
designando, conforme o caso, audiência de instrução e dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
julgamento. Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou intimação.
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a
juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em 149 caberá recurso de apelação.
igual prazo.
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de ou de difícil reparação ao adotando.
crianças ou adolescentes adotáveis.
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
comprovado ser essa a melhor solução no interesse do
adotando. Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo destituição de poder familiar, em face da relevância das
trienalmente mediante avaliação por equipe inter questões, serão processados com prioridade absoluta,
profissional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
será dispensável a renovação da habilitação, bastando a serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com
avaliação por equipe inter profissional. (Incluído pela parecer urgente do Ministério Público.
Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa
adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
escolhido, haverá reavaliação da habilitação contado da sua conclusão.
concedida. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda data do julgamento e poderá na sessão, se entender
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do necessário, apresentar oralmente seu parecer.
adolescente depois do trânsito em julgado da sentença de
adoção importará na sua exclusão dos cadastros de adoção e Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a
na vedação de renovação da habilitação, salvo decisão judicial instauração de procedimento para apuração de
fundamentada, sem prejuízo das demais sanções previstas na responsabilidades se constatar o descumprimento das
legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.

Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação Capítulo V


à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual Do Ministério Público
período, mediante decisão fundamentada da autoridade
judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
Capítulo IV
Dos Recursos Art. 201. Compete ao Ministério Público:
I - conceder a remissão como forma de exclusão do
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e processo;
da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às
socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei infrações atribuídas a adolescentes;
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os
com as seguintes adaptações: procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem

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como oficiar em todos os demais procedimentos da


competência da Justiça da Infância e da Juventude; Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa
interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que
a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar
administradores de bens de crianças e adolescentes nas documentos e requerer diligências, usando os recursos
hipóteses do art. 98; cabíveis.
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a
proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos caso, será feita pessoalmente.
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
instruí-los: acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo
a) expedir notificações para colher depoimentos ou juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento
injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Art. 205. As manifestações processuais do representante
polícia civil ou militar; do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos
de autoridades municipais, estaduais e federais, da Capítulo VI
administração direta ou indireta, bem como promover Do Advogado
inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou
instituições privadas; responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que
investigatórias e determinar a instauração de inquérito trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
proteção à infância e à juventude; respeitado o segredo de justiça.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos de ato infracional, ainda que ausente ou foragido,
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e será processado sem defensor.
ao adolescente; § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
por infrações cometidas contra as normas de proteção à constituir outro de sua preferência.
infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da § 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto,
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se
pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
remoção de irregularidades porventura verificadas; indicado por ocasião de ato formal com a presença da
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos autoridade judiciária.
serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência
social, públicos ou privados, para o desempenho de suas Capítulo VII
atribuições. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais,
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações Difusos e Coletivos
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
Lei. responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério oferta irregular:
Público. I - do ensino obrigatório;
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de II - de atendimento educacional especializado aos
suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre portadores de deficiência;
criança ou adolescente. III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de
§ 4º O representante do Ministério Público será zero a cinco anos de idade;
responsável pelo uso indevido das informações e documentos IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. educando;
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII V - de programas suplementares de oferta de material
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, do ensino fundamental;
instaurando o competente procedimento, sob sua presidência; VI - de serviço de assistência social visando à proteção à
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
acertados; VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços VIII - de escolarização e profissionalização dos
públicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescentes privados de liberdade.
adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
adequação.

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IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do prévia, citando o réu.
direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na
X - de programas de atendimento para a execução das sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
proteção. obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do
preceito.
Obs: A Lei nº 13.431/2017 acrescentou o inciso XI ao § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
artigo 208, entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde
de sua publicação (04/04/2018). o dia em que se houver configurado o descumprimento.

§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos respectivo município.
pela Constituição e pela Lei. § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou em julgado da decisão serão exigidas através de execução
adolescentes será realizada imediatamente após notificação promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos,
aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em
todos os dados necessários à identificação do conta com correção monetária.
desaparecido.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas recursos, para evitar dano irreparável à parte.
no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de
competência originária dos tribunais superiores. peças à autoridade competente, para apuração da
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses atribua a ação ou omissão.
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente: Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
I - o Ministério Público; da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
os territórios; facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao
dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade
autorização da assembleia, se houver prévia autorização do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973
estatutária. (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os pretensão é manifestamente infundada.
Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a
interesses e direitos de que cuida esta Lei. associação autora e os diretores responsáveis pela
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por propositura da ação serão solidariamente condenados ao
associação legitimada, o Ministério Público ou outro décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por
legitimado poderá assumir a titularidade ativa. perdas e danos.

Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo quaisquer outras despesas.
extrajudicial.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação
pertinentes. civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
normas do Código de Processo Civil. Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério
poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Público para as providências cabíveis.
Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da
lei do mandado de segurança. Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela prazo de quinze dias.
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
adimplemento. presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo organismo público ou particular, certidões, informações,
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao

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exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade
ser inferior a dez dias úteis. judiciária competente:
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as Pena - detenção de seis meses a dois anos.
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
fundamentadamente. Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta comunicação à autoridade judiciária competente e à família do
grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Ministério Público. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua
público, poderão as associações legitimadas apresentar razões autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do constrangimento:
inquérito ou anexados às peças de informação. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame
e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
conforme dispuser o seu regimento. de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro Pena - detenção de seis meses a dois anos.
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Pena - detenção de seis meses a dois anos.
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
Título VII judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Capítulo I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes
Seção I Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem
Disposições Gerais o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com
o fim de colocação em lar substituto:
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
prejuízo do disposto na legislação penal. Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo
a terceiro, mediante paga ou recompensa:
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
as pertinentes ao Código de Processo Penal. ou efetiva a paga ou recompensa.

Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato
incondicionada. destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
Seção II obter lucro:
Dos Crimes em Espécie Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de ou fraude:
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo correspondente à violência.
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à
parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
parto e do desenvolvimento do neonato: pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo: § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, comete o crime:
bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
desta Lei: exercê-la;
Pena - detenção de seis meses a dois anos. II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou de hospitalidade; ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. III – prevalecendo-se de relações de parentesco
consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu
consentimento.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”
pornográfica envolvendo criança ou adolescente. compreende qualquer situação que envolva criança ou
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou
simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, adolescente para fins primordialmente sexuais.
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: munição ou explosivo:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a
artigo; adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de produtos cujos componentes possam causar dependência
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata física ou psíquica:
o caput deste artigo. Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste fato não constitui crime mais grave.
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de
estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que dano físico em caso de utilização indevida:
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste exploração sexual
artigo. Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
finalidade de comunicar às autoridades competentes a favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-
I – agente público no exercício de suas funções; fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)
II – membro de entidade, legalmente constituída, que § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de
processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste
referidos neste parágrafo; artigo.
III – representante legal e funcionários responsáveis de § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de da licença de localização e de funcionamento do
computadores, até o recebimento do material relativo à notícia estabelecimento.
feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder
Judiciário. Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
manter sob sigilo o material ilícito referido. induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: internet.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. § 2o As penas previstas no caput deste artigo são
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25
qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de julho de 1990.
produzido na forma do caput deste artigo.
Capítulo II
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por Das Infrações Administrativas
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
praticar ato libidinoso. Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
praticar ato libidinoso; Pena - multa de três a vinte salários de referência,
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou
sexualmente explícita.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade Pena - multa de três a vinte salários de referência,
de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
Pena - multa de três a vinte salários de referência, representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
documento de procedimento policial, administrativo ou publicidade.
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato
infracional: Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão,
Pena - multa de três a vinte salários de referência, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. sua classificação:
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou Pena - multa de vinte a cem salários de referência;
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga poderá determinar a suspensão da programação da emissora
respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma por até dois dias.
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste classificado pelo órgão competente como inadequado às
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
por dois dias, bem como da publicação do periódico até por reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do
dois números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze
869-2) dias.

Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar programação em vídeo, em desacordo com a classificação
a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a atribuída pelo órgão competente:
prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
pais ou responsável: (Vide Lei n.º 13.431, de 2017) de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
Pena - multa de três a vinte salários de referência, fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
aplicando-se o dobro em caso de reincidência,
independentemente das despesas de retorno do adolescente, Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
se for o caso. desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
Observação: A Lei nº 13.431/2017 revoga o art. 248, duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano de sua apreensão da revista ou publicação.
publicação (04/04/2018).
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho participação no espetáculo:
Tutelar: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
Pena - multa de três a vinte salários de referência, de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de
desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros
escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
motel ou congênere: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
Pena – multa. mil reais).
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em
30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente regime de acolhimento institucional ou familiar.
fechado e terá sua licença cassada.
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de
desta Lei: que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em
Pena - multa de três a vinte salários de referência, entregar seu filho para adoção:
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
mil reais).
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de
público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da direito à convivência familiar que deixa de efetuar a
diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no comunicação referida no caput deste artigo.
certificado de classificação:

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração
II do art. 81: de Ajuste Anual.
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 § 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
(dez mil reais); os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento na declaração:
comercial até o recolhimento da multa aplicada. I - (VETADO);
II - (VETADO);
Observação: A Lei nº 13.431/2017 revoga o art. 248, III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano de sua § 2o A dedução de que trata o caput:
publicação (04/04/2018). I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto
sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II
Disposições Finais e Transitórias do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da a) utilizar o desconto simplificado;
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo b) apresentar declaração em formulário; ou
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da c) entregar a declaração fora do prazo;
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece III - só se aplica às doações em espécie; e
o Título V do Livro II. IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios vigor.
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data
diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei. de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto,
observadas instruções específicas da Secretaria da Receita
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Federal do Brasil.
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, § 4o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução,
sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença
obedecidos os seguintes limites: de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido os acréscimos legais previstos na legislação.
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na
real; e Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos
pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado Direitos da Criança e do Adolescente municipais, distrital,
o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de estaduais e nacional concomitantemente com a opção de que
1997. trata o caput, respeitado o limite previsto no inciso II do art.
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas 260.
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e
municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, poderá ser deduzida:
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas
Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
pela Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257, II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para
de 2016) as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de período a que se refere a apuração do imposto.
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem
atenção integral à primeira infância em áreas de maior ser depositadas em conta específica, em instituição financeira
carência socioeconômica e em situações de pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art.
calamidade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) 260.
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
artigo. nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a em favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo
forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos presidente do Conselho correspondente, especificando:
Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais I - número de ordem;
referidos neste artigo. II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, endereço do emitente;
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do
do caput doador;
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e V - ano-calendário a que se refere a doação.
II - não poderá ser computada como despesa operacional § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode
na apuração do lucro real. ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores
doados mês a mês.
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário § 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve
de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata conter a identificação dos bens, mediante descrição em campo
próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando

Ética e Legislação Educacional 68


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também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço


dos avaliadores. Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
deverá arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
documentação hábil; estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
pessoa jurídica; e destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
III - considerar como valor dos bens doados:
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
de mercado; arts. 260 a 260-K.
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens.
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
considerado na determinação do valor dos bens doados, criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a
exceto se o leilão for determinado por autoridade que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão
judiciária. efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que
pertencer a entidade.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo estados e municípios, e os estados aos municípios, os recursos
de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão
perante a Receita Federal do Brasil. logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança e do
adolescente nos seus respectivos níveis.
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares,
nacional, estaduais, distrital e municipais devem: as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
I - manter conta bancária específica destinada autoridade judiciária.
exclusivamente a gerir os recursos do Fundo;
II - manter controle das doações recebidas; e Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os alterações:
seguintes dados por doador: 1) Art. 121 ............................................................
a) nome, CNPJ ou CPF; § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
em bens. profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público. flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do catorze anos.
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais 2) Art. 129 ...............................................................
divulgarão amplamente à comunidade: § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer
I - o calendário de suas reuniões; das hipóteses do art. 121, § 4º.
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
atendimento à criança e ao adolescente; 3) Art. 136.................................................................
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança contra pessoa menor de catorze anos.
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou 4) Art. 213 ..................................................................
municipais; Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano- Pena - reclusão de quatro a dez anos.
calendário e o valor dos recursos previstos para 5) Art. 214...................................................................
implementação das ações, por projeto; Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, Pena - reclusão de três a nove anos.
por projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de
dados do Sistema de Informações sobre a Infância e a 1973, fica acrescido do seguinte item:
Adolescência; e "Art. 102 ....................................................................
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "
com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais. Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União,
da administração direta ou indireta, inclusive fundações
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada instituídas e mantidas pelo poder público federal promoverão
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos edição popular do texto integral deste Estatuto, que será posto
fiscais referidos no art. 260 desta Lei. à disposição das escolas e das entidades de atendimento e de
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. defesa dos direitos da criança e do adolescente.
260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação
judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla
ofício, a requerimento ou representação de qualquer divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios
cidadão.

Ética e Legislação Educacional 69


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de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº 13.257, Os conselhos tutelares das regiões administrativas do DF
de 2016) são compostos por seis membros indicados pela SEE/DF, com
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será mandatos fixos de quatro anos.
veiculada em linguagem clara, compreensível e adequada a ( ) Certo
crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade ( ) Errado
inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257,
de 2016) 05. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional –
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
publicação. Situação hipotética: Maurício completou quatorze anos de
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão idade e deseja trabalhar, mas não quer abandonar seus
ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e estudos. Assertiva: Nesse caso, o direito de proteção especial
esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. permite que Maurício seja admitido ao trabalho, cabendo ao
Estado garantir seu acesso à escola.
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de ( ) Certo
10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais ( ) Errado
disposições em contrário. 06. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional –
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
102º da República. Situação hipotética: Lorena, que tem dez anos de idade,
relatou à sua professora que está sofrendo maus-tratos em
Questões casa. Assertiva: Nesse caso, a professora deverá relatar o
episódio ao diretor da escola; este, por sua vez, terá de,
01. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Agente Educativo – imediatamente, comunicar o caso ao conselho tutelar, sendo o
ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o injustificável retardamento e(ou) a omissão puníveis na forma
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, estabelecida no ECA.
é proibido qualquer trabalho a menores: ( ) Certo
(A) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de ( ) Errado
aprendiz.
(B) De quatorze anos de idade, salvo na condição de 07. (IF-AP - Auxiliar em Assuntos Educacionais –
aprendiz. FUNIVERSA/2017) O Estatuto da Criança e do Adolescente
(C) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de (ECA) aplica-se a pessoas com
aprendiz. (A) até doze anos de idade incompletos.
(D) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de (B) até dezoito anos de idade incompletos.
aprendiz. (C) idade entre doze e dezesseis anos.
(E) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de (D) idade entre doze e dezoito anos.
aprendiz. (E) até dezoito anos de idade e, excepcionalmente, até 21
anos de idade.
02. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Educador Social –
ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o 08. (Prefeitura de Cruzeiro – SP - Auxiliar de
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 69, Desenvolvimento Infantil - Instituto Excelência/2016)
o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no Assinale a alternativa INCORRETA sobre o Estatuto da Criança
trabalho, observados os seguintes aspectos: e do Adolescente.
I. Respeito à condição peculiar de pessoa em (A) A função de membro do Conselho Nacional e dos
desenvolvimento. Conselhos Estaduais e Municipais dos direitos da criança e do
II. Capacitação profissional adequada ao mercado de adolescente é considerado de interesse público relevante e
trabalho. não será remunerado.
III. Remuneração do adolescente em relação ao trabalho (B) Intervenção precoce: a intervenção das autoridades
prestado. competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
(A) Somente I e III estão corretas. seja conhecida.
(B) Somente I e II estão corretas. (C) O Exercício efetivo da função de conselheiro constituirá
(C) Somente II e III estão corretas. serviço público relevante e estabelecerá presunção de
(D) Somente I está correta. idoneidade moral.
(E) Todas estão corretas. (D) Examinar-se á desde logo com pena de
responsabilidade e não possibilidade de liberação mediata, a
03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional – internação depois da sentença pode ser determinada pelo
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente prazo máximo de 30 dias.
(ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
Conforme o ECA, professores que submeterem estudantes 09. (AL-MS - Agente de Polícia Legislativo – FCC/2016)
sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatuto da
constrangimento serão passíveis de detenção de um a seis Criança e do Adolescente,
meses. (A) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho que
( ) Certo o adotando.
( ) Errado (B) é permitida a adoção por procuração.
(C) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm-se
04. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional – os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do adotante
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente e os respectivos parentes.
(ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte. (D) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados,
separados judicialmente e pelos ex companheiros.

Ética e Legislação Educacional 70


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(E) o estágio de convivência que precede a adoção não (E) exibir filmes, trailers, peças, amostras ou congêneres
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela autoridade classificados pelo órgão competente como inadequados a
judiciária. crianças ou adolescentes admitidos no espetáculo.

10. (IF-PA - Assistente de Alunos – FUNRIO/2016) 15. (Prefeitura Municipal de Alumínio – Auxiliar de
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Desenvolvimento Infantil – VUNESP - 2016) O artigo 18-A
8.069/90), é considerado criança do Estatuto da Criança e do Adolescente é de particular
(A) a pessoa até seis anos incompletos de idade. relevância para os educadores porque aborda a questão de
(B) a pessoa até oito anos incompletos de idade. forma como os diversos responsáveis pelo cuidados e pela
(C) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. educação da criança devem agir em relação a ela. Assim, esse
(D) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. artigo determina-se que
(E) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não tenha (A) O uso de castigo físico é admissível unicamente para a
cometido nenhum crime. correção de comportamentos extremamente indisciplinados.
(B) Qualquer pessoa, a qualquer pretexto, não tem o direito
11. (Prefeitura de Niterói – RJ - Agente de de utilizar castigo físico contra a criança.
Administração Educacional – COSEAC/2016) Segundo o (C) As proibições elencadas nesse artigo não se aplicam
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), a aos pais ou responsáveis legais pela criança.
pessoa com 13 anos de idade é considerada: (D) O tratamento degradante da criança poderá ser
(A) criança. relevado se o praticante apresentar a devida justificativa à
(B) adolescente. autoridade competente.
(C) jovem. (E) Crianças devem ser educadas sem excessos de direitos
(D) imputável. para que sejam disciplinadas.
(E) capaz.
Respostas
12. (Prefeitura de Coqueiral/MG – Auxiliar
Administrativo – Prefeitura de Coqueiral/MG – 2016) De 01. Resposta B.
acordo com a Lei Federal Nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990
– Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – Responda a O enunciado da questão exige do candidato conhecimento
questão a seguir: O art. 121 do ECA, dispõe sobre a internação, acerca do artigo 60 do ECA o qual estabelece:
que constitui medida privativa de liberdade, sujeita aos
princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze
condição de pessoa em desenvolvimento. De acordo com esse anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
artigo, em nenhuma hipótese, o período máximo de internação
poderá exceder a: Portanto, a alternativa B está em conformidade com o
(A) Três anos disposto na legislação, pois determina a proibição do trabalho
(B) Dois anos à menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
(C) Um ano aprendiz.
(D) Seis meses
02. Resposta B.
13. (Prefeitura de Alumínio/SP – Auxiliar de
Desenvolvimento Infantil – VUNESP – 2016) Conselho O Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90 traz
Tutelar do Município, de acordo com o artigo 131 do ECA, é em seu artigo 69, o direito à profissionalização e a proteção do
órgão encarregado pela sociedade, de zelar pelo cumprimento trabalho do adolescente, assim, observa-se que não faz luz a
dos direitos da criança e do adolescente definidos na citada lei. remuneração por meio deste, ficando a cargo da Consolidação
Esse órgão tem como uma de suas características das Leis Trabalhistas – CLT, a sua regulamentação (Art. 428,
fundamentais ser: §2º).
(A) Partidário.
(B) Jurisdicional. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
(C) Legislativo. proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
(D) Autônomo. outros:
(E) Provisório I - respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento;
14. (Secretaria da Criança – DF - Atendente de II - capacitação profissional adequada ao mercado de
Reintegração Socioeducativo – FUNIVERSA - 2015) É crime trabalho.
previsto no ECA.
(A) deixar o médico de comunicar à autoridade
competente os casos de seu conhecimento que envolvam 03. Resposta Errado.
suspeita de maus-tratos contra criança ou adolescente.
(B) deixar a autoridade policial responsável pela Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
comunicação à autoridade judiciária competente e à família do constrangimento:
apreendido ou à pessoa por ele indicada. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
(C) descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres
inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela ou Percebe-se com a leitura, do artigo 232, que qualquer
guarda. pessoa legalmente responsável que submeter a criança ou o
(D) hospedar crianças ou adolescentes desacompanhados adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame
dos pais ou dos responsáveis, ou sem autorização escrita ou constrangimento terá como pena a detenção de seis meses
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou a dois anos.
congênere.

Ética e Legislação Educacional 71


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até 18 anos de idade, porém em seu parágrafo único abre


04. Resposta Errado. exceção aos portadores entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um)
anos de idade nos casos expressos em lei.
Art. 132. Em cada Município e em cada Região
Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela entre doze e dezoito anos de idade.
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
(uma) recondução, mediante novo processo de escolha. excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
vinte e um anos de idade.
O artigo 132 da Lei 8.069/90 traz muitas informações no
que diz respeito ao processo de formação dos Conselhos 08. Resposta D.
Tutelares assim, merece ser analisado separadamente:
a) Haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como a) Correta
órgão integrante da administração pública local b) Correta
b) Composto de 5 (cinco) membros escolhidos pela c) Correta
população local d) Incorreta
c) Para mandato de 4 (quatro) anos
d) Permitida 1 (uma) recondução, mediante novo Percebe-se que para responder a referida questão, o
processo de escolha. candidato terá que utilizar os seguintes artigos do ECA,
respectivamente:
DICA: Con5elho Tutelar
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
05. Resposta Certo. conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
adolescente é considerada de interesse público relevante e não
A situação hipotética pode gerar dúvidas ao candidato que será remunerada.
em primeiro momento pode acreditar que há falta de dados
por não haver menção a situação de menor aprendiz, porém Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
ao escrever “legislação especial”, o enunciado está fazendo luz necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
a Lei 8.069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que permite fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
em seu artigo 60 o trabalho de menores de 14 (quatorze) anos Parágrafo único. São também princípios que regem a
na condição de menor aprendiz. aplicação das medidas:
Assim, percebe-se através do artigo 54, VI da referida (...)
legislação, que há obrigatoriedade por parte do Estado em VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
assegurar à criança e ao adolescente a oferta de ensino competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
noturno regular, adequado às condições do adolescente seja conhecida;
trabalhador.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
adolescente: de idoneidade moral.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do adolescente trabalhador; Art. 107. (...)
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
06. Resposta Certo. de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.

Para responder a questão, o candidato deverá ter domínio Assim, a alternativa D é considerada incorreta já que
de três artigos pertinentes a legislação estudada, assim, o examinar-se-á desde logo com pena de responsabilidade, a
candidato usará os artigos 56, 70-B e 245 do ECA, os quais possibilidade de liberação imediata, conforme o parágrafo
estabelecem em respectiva ordem: único do artigo 107 da Lei 8.069/90.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino 09. Resposta C.


fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; O enunciado da questão exige do candidato o
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem conhecimento do Capítulo III, Subseção IV da Lei 8.069/90 que
nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, trata sobre a adoção, assim é possível analisar a questão 09 da
em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e seguinte maneira:
comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-
tratos praticados contra crianças e adolescentes. a) Falso - Art. 42. (...) § 3º O adotante há de ser, pelo
menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino b) Falso - Art. 39. (...) § 2º É vedada a adoção por
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à procuração.
autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de c) CERTO - Art. 41. (...) § 1º Se um dos cônjuges ou
maus-tratos contra criança ou adolescente: concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de
filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do
07. Resposta E. adotante e os respectivos parentes.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90, em d) Falso - Art. 42. (...) § 4º Os divorciados, os judicialmente
seu artigo 2º delimita que o mesmo será aplicado a pessoas de separados e os ex companheiros podem adotar

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conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o Pena - multa de três a vinte salários de referência,
regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
iniciado na constância do período de convivência e que seja
comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade Assim, trata-se uma infração administrativa.
com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a
excepcionalidade da concessão. 15. Resposta B.

e) Falso - Art. 46. (...) § 1º O estágio de convivência Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina,
seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
10. Resposta C. agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
Percebe-se pelo caput do artigo 2º do ECA que será los ou protegê-los.
considerado criança, a pessoa até com 12 (doze) anos de idade
incompletos, assim: Dessa forma, o caput do artigo 18-A do ECA deixa evidente
que a criança assim como o adolescente têm o direito de serem
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a educados sem a utilização de castigos físicos, ainda que estes
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente sejam aplicados pelos responsáveis, pelos agentes públicos
aquela entre doze e dezoito anos de idade. executores de medidas socioeducativas ou por qualquer
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou protegê-los.
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte
e um anos de idade.

11. Resposta B.

O conteúdo abordado na questão 11 também faz alusão ao Anotações


conceito trazido pelo artigo 2º da Lei 8.069/90, ao definir
como adolescente a pessoa entre doze e dezoito anos de idade,
assim a alterativa correta é a assertiva B.

12. Resposta A.

O enunciado da questão 14 faz alusão ao artigo 121 da Lei


8.069/90 que dispõe sobre a internação, que é medida
privativa de liberdade, destinada à pessoa em
desenvolvimento, assim, em seu § 3º, percebe-se que a mesma
não poderá exceder a 3 (três) anos.

Art. 121. (...) § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo


de internação excederá a três anos.

13. Resposta D.

Conforme mencionado pelo enunciado e corroborado pelo


caput do artigo 131 da Lei 8.069/90, entre as características
fundamentais do Conselho Tutelar está o seu caráter
autônomo, uma vez que, não necessita de ordem judicial para
aplicar medidas protetivas quando as entender adequadas.

Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e


autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta Lei.

14. Resposta B.

(A) CORRETA – Prevista no art. 245 do ECA.


(B) CORRTETA – Prevista no art. 231 do ECA.
(C) INCORRETA
(D) CORRETA – Prevista no art. 250 do ECA.
(E) CORRETA – Prevista no art. 255 do ECA.
Percebe-se que a assertiva “C” é considerada incorreta,
devido ao artigo 249 da Lei 8.069/90, que dispõe:

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres


inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda,
bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho
Tutelar:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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sujeito objeto – apesar de reconhecer que existam muitas


variações e diferentes combinações possíveis.

Os autores citados analisam as abordagens do processo de


ensino e aprendizagem a partir de seus princípios, dos
componentes necessários ao fenômeno educativo e de seus
efeitos sobre o indivíduo e a sociedade
Como existem diversidade de critérios e diferenças
relativas aos principais componentes que explicam o processo
educativo, no decorrer deste estudo resolvemos adotar os
O processo de ensino e conceitos expostos por Mizukami, com algumas adaptações
aprendizagem, a relação para efeito comparativo.
professor-aluno, em sala de Nesse sentido, o enfoque deste estudo concentra-se nas
situações concretas de ensino e aprendizagem, por meio do
aula e na escola, a importância agente formal, a escola, envolvendo naturalmente as
de suas relações com o atividades dos professores e alunos diante dos conteúdos de
contexto sociocultural no qual ensino. Vale também acrescentar que um dos pontos
relevantes a serem analisados consiste na identificação das
se inserem as instituições de correntes teóricas que suportam o comportamento do
ensino; professor em situações de ensino e aprendizagem,
principalmente em sala de aula.

A educação formal ou informal, de alguma forma, sempre


Abordagens de ensino e aprendizagem1 foi objeto de preocupação da sociedade e de seus dirigentes,
notadamente em seus aspectos formais, em seu conteúdo e em
O processo de ensino e aprendizagem tem sido estudado sua utilidade enquanto instrumento de socialização. Como
segundo diferentes enfoques. Condensamos neste estudo uma bem observa Mizukami, para entendermos o fenômeno
análise comparativa tanto dos pressupostos comuns como dos educativo, faz-se necessário refletir sobre seus diferentes
diferentes, pertinentes às diversas abordagens teóricas que aspectos: “É um fenômeno humano, histórico e
procuram explicar o processo de ensino e aprendizagem. Essas multidimensional. Nele estão presentes tanto a dimensão
correntes teóricas pro curam compreender o fenômeno humana quanto a técnica, a cognitiva, a emocional, a
educativo através de diferentes enfoques, muitos deles sociopolítica e a cultural”. Consequentemente entendemos o
relacionados com o momento histórico de sua criação e do fenômeno educativo como um objeto em permanente
desenvolvimento da sociedade na qual estavam inseridas. Essa construção e com diferentes causas e efeitos de acordo com a
reflexão auxilia no entendimento do papel da didática para a dimensão enfocada.
formação do educador e sua importância nas atividades de
ensinar e aprender. Como pano de fundo dessas correntes Abordagem Tradicional
teóricas, encontra-se a busca contínua para identificar os
pressupostos explícitos ou implícitos que fundamentam a ação Entende-se por abordagem tradicional a prática educativa
docente em situações de ensino e aprendizagem. Vale caracterizada pela transmissão dos conhecimentos
esclarecer que, no nosso entender, o processo de ensino e acumulados pela humanidade ao longo dos tempos. Essa tarefa
aprendizagem é composto de duas partes: ensinar, que cabe essencialmente ao professor em situações de sala de aula,
exprime uma atividade, e aprender, que envolve certo grau de agindo independentemente dos interesses dos alunos em
realização de uma determinada tarefa com êxito. relação aos conteúdos das disciplinas. Essa missão do
Considerando-se o papel da didática, explicitado na introdução professor, segundo Mizukami, é considerada “catequética e
deste estudo, os objetivos do trabalho, a extensão e a unificadora da escola”; envolve “programas minuciosos,
complexidade do tema, o presente estudo somente analisa e rígidos e coercitivos. Exames seletivos, investidos de caráter
compara os referenciais teóricos do processo de ensino e sacramental”. Nesse sentido, o ensino tradicional tem como
aprendizagem em quatro aspectos relevantes: primado o objeto, o conhecimento, e dele o aluno deve ser um
- A escola, simples depositário. A escola deve ser o local ideal para a
- O aluno, transmissão desses conhecimentos que foram selecionados e
- O professor, e elaborados por outros. Referências ao ensino tradicional
- O processo de ensino e aprendizagem. também são feitas por Bordenave (1984), que o denomina
“pedagogia da transmissão”: “Assim, se opção pedagógica
Dos diversos autores que analisam e comparam as valoriza sobretudo os conteúdos educativos, isto é, os
abordagens do processo de ensino e aprendizagem, destacam- conhecimentos e valores a serem transmitidos, isto
se os trabalhos de Bordenave, Libâneo, Saviani e Mizukami, caracterizaria um tipo de educação tradicional que
que classificam e agrupam as correntes teóricas, segundo chamaremos Pedagogia da Transmissão.” E, na análise das
critérios diferentes. consequências sociais decorrentes desta pedagogia, esta
Bordenave classifica e distingue “as diferentes opções “forma alunos passivos, produz cidadãos obedientes e prepara
pedagógicas segundo o fator educativo que elas mais o terreno para o Ditador Paternalista. A sociedade é marcada
valorizam”. Libâneo utiliza como “critério a posição que as pelo individualismo, e não pela solidariedade”. Por outro lado,
teorias adotam em relação às finalidades sociais da escola”. Libâneo identifica essa abordagem como pedagogia liberal em
Saviani toma como critério de classificação “a criticidade da sua versão conservadora, enfatizando que o papel da escola é
teoria em relação à sociedade e o grau de percepção da teoria de formação intelectual e moral dos alunos, para que estes
dos determinantes sociais”. Mizukami considera que a base possam assumir o seu papel na sociedade. Ele afirma que, “na
das teorias do conhecimento envolve três características versão conservadora, a pedagogia liberal se caracteriza por
básicas: primado do sujeito, primado do objeto e interação acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o

1 SANTOS, R. V. dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem

Conhecimentos Pedagógicos 1
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aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias
realização como pessoa. selecionadas e organizadas logicamente.
Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação
professor-aluno não tem nenhuma relação com o cotidiano do Escola
aluno e muito menos com as realidades sociais”. Nesse sentido,
Saviani identifica essa abordagem como pedagogia tradicional. A escola, é o lugar por excelência onde se realiza a
Ensina que “a escola surge como um antídoto à ignorância, educação, a qual se restringe, a um processo de transmissão de
logo, um instrumento para equacionar o problema da informações em sala de aula e funciona como uma agência
marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato de
conhecimentos acumulados pela humanidade e aprender como uma cerimônia e acha necessário que o
sistematizados logicamente”. Os principais defensores do professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola desse
ensino tradicional, citados por Mizukami, são Émile Chartier e tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e
Snyders. programas preestabelecidos. As possibilidades de cooperação
entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte
Homem das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual
de cada um deles.
O homem é considerado como inserido num mundo que irá
conhecer através de informações que lhe serão fornecidas. É Ensino-aprendizagem
um receptor passivo até que, repleto das informações
necessárias, pode repeti-las a outros que ainda não as A ênfase é dada às situações de sala de aula, onde os alunos
possuam, assim como pode ser eficiente em sua profissão, são "instruídos" e "ensinados" pelo professor. Os conteúdos e
quando de posse dessas informações e conteúdos. as informações têm de ser adquiridos, os modelos imitados.
Seus elementos fundamentais são imagens estáticas que
Mundo progressivamente serão "impressas" nos alunos, cópias de
modelos do exterior que serão gravadas nas mentes
A realidade é algo que será transmitido ao indivíduo individuais. Uma das decorrências do ensino tradicional, já que
principalmente pelo processo de educação formal, além de a aprendizagem consiste em aquisição de informações e
outras agências, tais como família, Igreja. demonstrações transmitidas, é a que propicia a formação de
reações estereotipadas, de automatismos denominados
Sociedade-Cultura hábitos, geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase
sempre, somente às situações idênticas em que foram
O objetivo educacional normalmente se encontra adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu"
intimamente relacionado aos valores apregoados pela apresenta, com frequência, compreensão apenas parcial.
sociedade na qual se realiza. Os Programas exprimem os níveis Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se
culturais a serem adquiridos na trajetória da educação formal. preocupa mais com a variedade e quantidade de
A reprovação do aluno passa a ser necessária quando o noções/conceitos/informações que com a formação do
mínimo cultural para aquela faixa não foi atingido, e as provas pensamento reflexivo.
e exames são necessários a constatação de que este mínimo
exigido para cada série foi adquirido pelo aluno. O diploma Professor-aluno
pode ser tomado como um instrumento de hierarquização.
Dessa forma, o diploma iria desempenhar um papel mediador O professor-aluno é vertical, sendo que (o professor)
entre a formação cultural e o exercício de funções sociais detém o poder decisório quanto a metodologia, conteúdo,
determinadas. Pode-se afirmar que as tendências englobadas avaliação, forma de interação na aula etc. O professor detém os
por esse tipo de abordagem possuem uma visão individualista meios coletivos de expressão. A maior parte dos exercícios de
do processo educacional, não possibilitando, na maioria das controle e dos de exames se orienta para a reiteração dos
vezes, trabalhos de cooperação nos quais o futuro cidadão dados e informações anteriormente fornecidos pelos manuais.
possa experienciar a convergência de esforços.
Metodologia
Conhecimento
Se baseia na aula expositiva e nas demonstrações do
Parte-se do pressuposto de que a inteligência seja uma professor a classe, tomada quase como auditório. O professor
faculdade capaz de acumular/armazenar informações. Aos já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusivamente a
alunos são apresentados somente os resultados desse escutá-lo a didática profissional quase que poderia ser
processo, para que sejam armazenados. Evidencia-se o caráter resumida em dar a lição e tomar a lição. No método expositivo
cumulativo do conhecimento humano, adquirido pelo como atividade normal, está implícito o relacionamento
indivíduo por meio de transmissão, de onde se supõe o papel professor - aluno, o professor é o agente e o aluno é o ouvinte.
importante da educação formal e da instituição escola. Atribui- O trabalho continua mesmo sem a compreensão do aluno
se ao sujeito um papel insignificante na elaboração e aquisição somente uma verificação a posteriori é que permitirá o
do conhecimento. Ao indivíduo que está "adquirindo" professor tomar consciência deste fato. Quanto ao
conhecimento compete memorizar definições, anunciando atendimento individual há dificuldades pois a classe fica
leis, sínteses e resumos que lhes são oferecidos no processo de isolada e a tendência é de se tratar todos igualmente.
educação formal.
Avaliação
Educação
A avaliação visa a exatidão da reprodução do conteúdo
Entendida como instrução, caracterizada como comunicado em sala de aula. As notas obtidas funcionam na
transmissão de conhecimentos e restrita à ação da escola. Às sociedade como níveis de aquisição do patrimônio cultural.
vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar, e em
condições favoráveis, há uma confrontação com o modelo, é
indispensável uma intervenção do professor, uma orientação

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Abordagem Comportamentalista mudado modificando-se as condições das quais ele é uma


função, ou seja, alterando-se os elementos ambientais. O meio
Essa abordagem também se caracteriza pela ênfase no seleciona.
objeto, no conhecimento, utilizando, porém, de uma
“engenharia” comportamental e social sofisticada para moldar Sociedade-Cultura
os comportamentos sociais. O homem é considerado como
produto do meio; consequentemente, pode-se manipulá-lo e A sociedade ideal, para Skinner, é aquela que implicarias
controlá-lo por meio da transmissão dos conhecimentos um planejamento social e cultural. Qualquer ambiente, físico
decididos pela sociedade ou por seus dirigentes. ou social, deve ser avaliado de acordo com seus efeitos sobre a
Bordenave2 denomina essa abordagem “pedagogia da natureza humana. A cultura, é representada pelos usos e
moldagem do comportamento”, descrevendo-a assim: “Se o costumes dominantes, pelos comportamentos que se mantém
fator é o efeito ou resultado obtido pela educação – quer dizer, através dos tempos.
as mudanças de conduta conseguidas no indivíduo –, isto
definiria o tipo de educação comumente denominado Conhecimento
Pedagogia Moldagem do Comportamento, ou pedagogia
condutista”. O conhecimento é o resultado direto da experiência, o
Libâneo3 privilegia o enfoque sociológico da educação. comportamento é estruturado indutivamente, via experiência.
Identifica essa abordagem como parte da pedagogia liberal, em
sua versão renovada pro gressista, dando atenção ao Educação
movimento da “tecnologia educacional”, e, ao discorrer sobre
isso, diz que, “quanto ao movimento da ‘tecnologia A educação está intimamente ligada à transmissão
educacional’, preferimos situá-lo aqui, e não junto às cultural. A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos,
tendências de tipo behaviorista, embora tenha base teórica assim como comportamentos éticos, práticas sociais,
nessa corrente. A tecnologia educacional foi-se introduzindo habilidades consideradas básicas para a manipulação e
nos sistemas públicos de ensino a partir da tradição controle do mundo /ambiente.
progressista que privilegia o ensino sob o ângulo dos aspectos
metodológicos, em contraposição à ênfase nos conteúdos das Escola
matérias.
Assim, os recursos fornecidos pela tecnologia da educação A escola é considerada e aceita como uma agência
(instrução programada, planejamento sistêmico, educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de
operacionalização de objetivos comportamentais, análise acordo com os comportamentos que pretende instalar e
comportamental e sequência instrucional) foram manter.
incorporados à prática escolar”. Segundo a classificação de
Saviani, essa abordagem é identificada como a pedagogia Ensino-aprendizagem
tecnicista, que ele apresenta assim: “... na pedagogia tecnicista,
o elemento principal passa a ser a organização dos meios, É uma mudança relativamente permanente em uma
ocupando professor e aluno posição secundária(...)”; “é o tendência comportamental e ou na vida mental do indivíduo,
processo que define o que professores e alunos devem fazer, e resultantes de uma prática reforçada.
assim também quando e como o farão(...);” marginalizado será
o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o Professor-aluno
ineficiente e improdutivo”.
Para realização dessa moldagem do comportamento, o Aso educandos caberia o controle do processo de
ensino deve utilizar-se de reforços e recompensas para, por aprendizagem, um controle científico da educação, o professor
meio do treinamento, atingir objetivos preestabelecidos. Neste teria a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema
sentido, o ensino necessita de tecnologias derivadas da de ensino e aprendizagem, de forma tal que o desempenho do
aplicação de pesquisas científicas, tais como “máquinas de aluno seja maximizado, considerando-se igualmente fatores
ensinar”, a instrução programada, computadores, manuais tais como economia de tempo, esforços e custos.
tutoriais de treinamento etc. O principal representante da
“análise funcional” do comportamento é Skinner. Ele não se Metodologia
preocupa em justificar por que o aluno aprende, mas sim em
fornecer uma tecnologia que seja capaz de explicar como fazer Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da
o estudante estudar e que seja eficiente na produção de tecnologia educacional e estratégias de ensino, quanto formas
mudanças comportamentais. de reforço no relacionamento professor-aluno.

O homem Avaliação

O homem é uma consequência das influências ou forças Decorrente do pressuposto de que o aluno progride em seu
existentes no meio ambiente a hipótese de que o homem não é ritmo próprio, em pequenos passos, sem cometer erros, a
livre é absolutamente necessária para se poder aplicar um avaliação consiste, nesta abordagem, em se constatar se o
método científico no campo das ciências. O homem dentro aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos quando o
desse referencial é considerado como o produto de um programa foi conduzido até o final de forma adequada.
processo evolutivo.
O mundo A abordagem Humanista

A realidade para Skinner4, é um fenômeno objetivo; O Nessa abordagem o enfoque é o sujeito, com “ensino
mundo já é construído e o homem é produto do meio. O meio centrado no aluno”. No entanto, sob alguns pontos de vista,
pode ser manipulado. O comportamento, por sua vez, pode ser esse enfoque também tem características interacionistas de

2BORDENAVE, J. E. D. “A opção pedagógica pode ter conseqüências individuais e 3 LIBÂNEO, J. C. “Tendências pedagóg icas na prática escolar” In: Revista da Ande,
sociais importantes”. In: Revista de Educação AEC, nº 54, 1984, pp. 41-5. nº 06, 1982, pp. 11-9.
4 SKINNER, F B . Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder, . 1972.

Conhecimentos Pedagógicos 3
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sujeito-objeto. Para Mizukami5, o referencial teórico desta conhecimento. Ao experienciar o homem conhece. O
corrente tem origem no trabalho de Rogers, que não foi conhecimento é inerente à atividade humana. O ser humano
especificamente elaborado para a educação, e sim para tem curiosidade natural para o conhecimento.
tratamento terapêutico. O enfoque rogeriano enfatiza as
relações interpessoais, objetivando o crescimento do Educação
indivíduo, em seus processos internos de construção e
organização pessoal da realidade, de forma que atue como Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nessa
uma pessoa integrada. Nesse contexto, o professor deve ser abordagem o ensino será centrado no aluno. A educação tem
um “facilitador da aprendizagem”, ou seja, deve fornecer como finalidade primeira a criação de condições que facilitam
condições para que os alunos aprendam, podendo ser treinado a aprendizagem de forma que seja possível seu
para tomar atitudes favoráveis condizentes com essa função. desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a
Os conteúdos de ensino são vistos como externos e criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se
assumem papel secundário, privilegiando-se o relacionamento pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeterminação
das pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão
Por outro lado, verifica-se na obra de Rogers e na abordagem de solução para seus problemas servindo-se da própria
humanista a carência de uma teoria de instrução que forneça existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser
bases e diretrizes sólidas para a prática educativa. No trabalho do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são
de Bordenave não se identifica de forma explícita à abordagem características desse processo.
humanista, com base nos pressupostos de Rogers. No entanto,
é feita uma aproximação, somente em alguns aspectos, por Escola
meio daquilo que este denomina “pedagogia da
problematização”. Como exemplo disso, faz a seguinte A escola será uma escola que respeite a criança tal qual é,
afirmação: “... o docente facilita a identificação de ‘problemas’ que ofereça condições para que ela possa desenvolver-se em
pelo grupo, sua análise e teorização, bem como a busca de seu processo possibilitando a autonomia do aluno. O princípio
soluções alternativas ... incentivam a aprendizagem ... a básico consiste na ideia da não interferência com o
solidariedade com o grupo com o qual se trabalha ... sua crescimento da criança e de nenhuma pressão sobre ela. O
percepção do professor não é autoritária, pois o papel do ensino numa abordagem como esta consiste num produto de
professor não é de autoridade superior, mas de facilitador de personalidades únicas, respondendo as circunstâncias únicas
uma aprendizagem em que ele também é aprendiz”. num tipo especial de relacionamentos. A aprendizagem tem a
Libâneo identifica essa abordagem à pedagogia liberal, em qualidade de um envolvimento pessoal.
sua versão renovada não-diretiva. Discorrendo sobre isso diz
que, “em termos pedagógicos, a escola renovada propõe a Professor-Aluno
autoeducação — o aluno como sujeito do conhecimento —, de
onde se extrai a idéia do processo educativo como Cada professor desenvolverá seu próprio repertório de
desenvolvimento da natureza infantil: a ênfase na aquisição de uma forma única, decorrente da base percentual de seu
processos de conhecimentos em oposição aos conteúdos”. comportamento. O processo de ensino irá depender do caráter
Por outro lado, Saviani6 não explicita o trabalho de Rogers, individual do professor, como ele se relaciona com o caráter
mas, em função das características observadas de não- pessoal do aluno. Assume a função de facilitador da
diretividade do ensino e o primado do sujeito, podemos aprendizagem e nesse clima entrará em contato com
enquadrar a abordagem humanista dentro do que Saviani problemas vitais que tenham repercussão na existência do
chama de a pedagogia nova, considerada o marco inicial para estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
o surgimento das tendências não-diretivas e antiautoritárias. como é e compreender os sentimentos que ele possui. O aluno
Esse autor nos ensina que “o professor agiria como um deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a
estimulador e orientador da aprendizagem, cuja iniciativa aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do
principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria professor podem ser sintetizadas em autenticidade
uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da compreensão empática, aceitação e confiança no aluno.
relação viva que se estabeleceria entre estes e o professor”.
Metodologia
Homem
Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a
É considerado como uma pessoa situada no mundo. Não aprendizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a sua
existem modelos prontos nem regras a seguir mas um forma de facilitar a aprendizagem no que se refere ao que
processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a auto ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a relação
realização ou uso pleno de suas potencialidades e capacidades pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento das
o homem se apresenta como um projeto permanente e mau pessoas que possibilite liberdade para aprender.
acabado.
Avaliação
Mundo
Só o indivíduo pode conhecer realmente sua experiência,
O mundo é algo produzido pelo homem diante de si só pode ser julgada a partir de critérios internos do organismo.
mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias condições O aluno deverá assumir formas de controle de sua
de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste no pleno aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até
desenvolvimento do seu potencial inerente. A ênfase é no onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com
sujeito mais uma das condições necessárias para o responsabilidade. O diretivismo no ensino é aqui substituído
desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência pelo não diretivismo: As relações verticais impostas por
pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decorrer relações EU - TU e nunca EU - ISTO; As avaliações de acordo
do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída ao com padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos.
sujeito papel central e primordial na elaboração e criação do Considerando-se pois o fato de que só o indivíduo pode

5 MIZUKAMI, M. G. N. Ensino, as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. 6 SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 1984.

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conhecer realmente a sua experiência, esta só pode ser julgada Sociedade-cultura


a partir de critérios internos do organismo.
Os fatos sociológicos, pois, tais como regras, valores,
Abordagem Cognitivista normas, símbolos etc. De acordo com este posicionamento,
variam de grupo para grupo, de acordo como o nível mental
Nessa abordagem a utilização do termo “cognitivista” visa médio das pessoas que constituem o grupo.
a identificar os psicólogos que pesquisam os chamados
“processos centrais” do indivíduo, tais como organização do Conhecimento
conhecimento, processamento de informações, estilos de
pensamento, estilos de comportamento etc. Os principais O conhecimento é considerado como uma construção
pesquisadores nessa área são Jean Piaget, biólogo e filósofo contínua. A passagem de um estado de desenvolvimento para
suíço, e Jerome Bruner, americano. Essa abordagem é também o seguinte é sempre caracterizada por formação de novas
conhecida como piagetiana, devido à sua grande difusão e estruturas que não existiam anteriormente no indivíduo.
influência na pedagogia em geral. Nesse enfoque encontramos
o caráter interacionista entre sujeito e objeto, e o aprendizado Educação
é decorrente da assimilação do conhecimento pelo sujeito e
também da modificação de estruturas mentais já existentes. O processo educacional, consoante a teoria de
Pela assimilação o indivíduo explora o ambiente, toma parte desenvolvimento e conhecimento, tem um papel importante,
dele, transformando-o e incorporando-o a si. Sendo assim, o ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o
pensamento é a base da aprendizagem, que se constitui de um aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível de
conjunto de mecanismos que o indivíduo movimenta para se desenvolvimento em que a criança vive intensamente
adaptar ao meio ambiente; o conhecimento é adquirido por (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu
meio de uma construção dinâmica e contínua. Dessa forma o desenvolvimento.
ensino deve visar ao desenvolvimento da inteligência por meio
do “construtivismo interacionista”, que em essência parte do Escola
princípio segundo o qual é assimilado o é a uma estrutura
mental anterior, criando uma nova estrutura em seguida. Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando a
Nesse sentido, a concepção piagetiana implica a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos da
interdependência do homem em relação ao meio em que vive, educação formal, diz, decorre essencialmente do fato de se
a sociedade, sua cultura, seus valores e seus objetos. principiar pela linguagem (acompanhada de desenhos, de
No trabalho de Bordenave não encontramos referências ações fictícias o narradas etc.) ao invés de o fazer pela ação real
explícitas à abordagem cognitivista, mas podemos identificá- e material.
la em parte na pedagogia da problematização, na qual este nos
ensina que “...quando a opção valoriza o próprio processo de Ensino e aprendizagem
transformação do aluno enquanto agente transformador da
sua realidade ... o aluno sente-se protagonista de um processo Um ensino que procura desenvolver a inteligência deverá
de transformação da realidade e desenvolve um sentido de priorizar as atividades do sujeito, considerando-o inserido
responsabilidade social e uma atitude de entusiasmo numa situação social.
construtivo”.
Libâneo faz menção à abordagem piagetiana e a de outros Professor aluno
pensadores e seguidores da “escola nova”, classificando-os na
pedagogia liberal, em sua versão renovada progressista, e Ambos os polos da relação devem ser compreendidos de
dizendo que “... a idéia de ‘aprender fazendo’ está sempre forma diferente da convencional, no sentido de um
presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a transmissor e um receptor de informação. Caberá ao professor
pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o criar situações, propiciando condições onde possam se
método de solução de problemas – embora os métodos variem, estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao mesmo
as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly, tempo moral e racional.
Cousinet, Piaget e outros) partem sempre de atividades
adequadas à natureza do aluno e às etapas de seu Metodologia
desenvolvimento”.
No trabalho de Saviani referências à abordagem O desenvolvimento humano que traz implicações para o
cognitivista podem ser encontradas indiretamente no que ele ensino. Uma das implicações fundamentais é a de que a
identifica como a “pedagogia nova”. Entende “... que essa inteligência se constrói a partir da troca do organismo como o
maneira de entender a educação, por referência à pedagogia meio, por meio das ações do indivíduo. A ação do indivíduo,
tradicional tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do pois, é centro do processo e o fator social ou educativo
intelecto para o sentimento: do aspecto lógico para o constitui uma condição de desenvolvimento.
psicológico; ... de uma pedagogia de inspiração filosófica
centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de Avaliação
inspiração experimental baseada principalmente nas
contribuições da biologia e da psicologia. A avaliação terá de ser realizada a partir de parâmetros
extraídos da própria teoria e implicará verificar se o aluno já
Homem e mundo adquiriu noções, conservações, realizou operações, relações
etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo como a sua
O homem e mundo serão analisados conjuntamente, já que aproximação a uma norma qualitativa pretendida.
o conhecimento é o produto da interação entre eles, entre
sujeito e objeto. Abordagem Sociocultural

Essa abordagem tem origem no trabalho de Paulo Freire e


no movimento de cultura popular, com ênfase principalmente
na alfabetização de adultos. Podemos caracterizá-la como

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abordagem interacionista entre o sujeito e o objeto de classificação a criticidade da teoria em relação à sociedade e o
conhecimento, embora com enfoque no sujeito como grau de percepção da teoria dos determinantes sociais.
elaborador e criador do conhecimento. Na abordagem Finalmente, Mizukami considera que a base das teorias do
sociocultural, o fenômeno educativo não se restringe à conhecimento envolvem três características: primado do
educação formal, por intermédio da escola, mas a um processo sujeito, primado do objeto e interação sujeito-objeto. Apesar
amplo de ensino e aprendizagem, inserido na sociedade. A de reconhecer que existem muitas variações e combinações
educação é vista como um ato político, que deve provocar e possíveis. Adotou-se o enfoque de Mizukami como referencial
criar condições para que se desenvolva uma atitude de teórico básico de comparação das diferentes classificações que
reflexão crítica, comprometida com a sociedade e sua cultura. procuram explicar o fenômeno educativo em sua
Portanto, deve levar o indivíduo a uma consciência crítica de multidimensionalidade.
sua realidade, transformando-a e a melhorando-a. Dessa
forma, o aspecto formal da educação faz parte de um processo A escola, o aluno, o professor e o processo de ensino e
sociocultural, que não pode ser visto isoladamente, nem aprendizagem
tampouco priorizado.
Parece, pelas diversas abordagens, que as teorias e seus
Identificam-se no texto de Bordenave referências a essa diferentes enfoques ainda não constituem um corpo de
abordagem, denominada “pedagogia da problematização” ou conhecimentos capaz de explicar e/ou predizer todos os
“educação libertadora”. Esse autor assim se pronuncia: “...a aspectos do fenômeno educativo em suas diferentes situações.
situação preferida é quando o aluno enfrenta, em situação de Por outro lado, é inegável que a educação não pode ser
grupo, problemas concretos de sua própria realidade. analisada isoladamente, sem considerarmos a sociedade-
A aprendizagem realimenta-se constantemente pelo cultura envolvida nem tampouco seu momento histórico, com
confronto direto do grupo de alunos com a realidade objetiva todos os seus efeitos sobre os indivíduos. Também se pode
ou com a realidade mediatizada ... O aluno desenvolve sua inferir que a escola, com todas as suas críticas, ainda tem sido
consciência crítica e seu sentido de responsabilidade o local ideal para a realização do processo de ensino e
democrática baseada na participação”. Libâneo classifica essa aprendizagem. E, para tanto, deveria utilizar todos os meios
abordagem como “pedagogia progressista”, em sua versão materiais, humanos e tecnológicos possíveis para atingir seus
libertadora, da seguinte forma: “. a pedagogia progressista objetivos.
tem-se manifestado em três versões: a libertadora, mais É inegável também que a escola está intimamente ligada ao
conhecida como pedagogia de Paulo Freire “... dá” mais valor processo social, sendo ao mesmo tempo agente influenciador
ao processo de aprendizagem grupal ... do que a conteúdos de e influenciada por este. Em decorrência das pesquisas
ensino, como a decorrência, a prática educativa somente faz realizadas, leituras, experiências sociais etc., o professor
sentido numa prática social junto ao povo, “e por isso incorpora de certa forma um ou mais aspectos dos referenciais
preferem-se” as modalidades de educação popular ‘não teóricos analisados anteriormente em suas práticas docentes,
formal’ ... educação ... uma atividade em que professores e muitas das quais são derivadas de como foi educado durante
alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual sua vida escolar.
extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de O aluno tem sido observado, analisado, ora como ser
consciência dessa mesma realidade a fim de nela atuarem, “ativo”, ora como ser “passivo”, dependendo do enfoque, e
num sentido de transformação social”. muitas vezes na prática docente assume papéis mistos e
Na obra de Saviani (1984) não existem referências diretas controvertidos. O processo de ensino e aprendizagem tem sido
ou indiretas detalhadas a essa abordagem. Apenas podemos visto de forma integrada à sociedade-cultura e suas crenças e
inferir que, como este estava preocupado com a relação entre valores dominantes em uma determinada época, o que
educação e o problema da marginalidade, esse enfoque teórico significa dizer que as teorias que suportam esse processo têm-
poderia ter algumas similaridades com as teorias crítico- se modificado ao longo do tempo. Dessa forma, foram
reprodutivistas, que entendem que a educação é um discutidas algumas considerações relevantes das diferentes
instrumento de discriminação social. O autor diz que “... as abordagens teóricas do processo de ensino e aprendizagem.
teorias ... são críticas, uma vez que postulam não ser possível Naturalmente, não se esgotou o assunto, devido à
compreender a educação senão a partir dos seus complexidade do tema e à necessidade de uma maior
condicionantes sociais. Há, pois, nessas teorias uma cabal profundidade em pesquisas teóricas e investigações empíricas
percepção da dependência da educação em relação à sobre as controvérsias existentes.
sociedade. Entretanto, como as análises que desenvolvem
chegam invariavelmente à conclusão de que a função da Homem-Mundo
educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se
insere, bem merecem a denominação de ‘teorias crítico- O homem está inserido no contexto histórico. O homem é
reprodutivistas’”. sujeito da educação, onde a ação educativa promove o próprio
Como podemos observar pela análise comparativa dos indivíduo, como sendo único dentro de uma
trabalhos de Bordenave, Libâneo, Saviani e Mizukami, as sociedade/ambiente.
diversas abordagens teóricas que procuram explicar o
processo de ensino e aprendizagem podem ser agrupadas e Sociedade-Cultura
sistematizadas de diferentes formas, dependendo do enfoque
do autor. Deve ficar claro, também, que as diferentes O homem alienado não se relaciona com a realidade
classificações não têm limites totalmente fixos e que as objetivo, como um verdadeiro sujeito pensante: o pensamento
abordagens teóricas não se constituem em referenciais é dissociado da ação.
totalmente puros e fechados, sem pontos de interligação. Vale
relembrar que os referidos trabalhos têm objetivos diferentes Conhecimento
e, consequentemente, produziram classificações diferentes.
Vale rememorar que Bordenave classifica e distingue as A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento estão
diferentes opções pedagógicas segundo o fator educativo que ligados ao processo de conscientização.
elas mais valorizam. Já Libâneo utiliza como critério a posição Educação
que as teorias adotam em relação às finalidades sociais da
escola. Por outro lado, Saviani toma como critério de

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Toda ação educativa, para que seja válida, deve, (C) A aprendizagem escolar surge naturalmente da
necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão sobre o interação entre as pessoas e com o ambiente em que vivem. É
homem como de uma análise do meio de vida desse homem uma atividade intencional, dirigida, casual e espontânea.
concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. (D) Na aprendizagem escolar há influência de fatores
afetivos e sociais, tais como os que suscitam a motivação para
Escola o estudo, os que afetam as relações professor-alunos e os que
interferem nas disposições emocionais dos alunos para
Deve ser um local onde seja possível o crescimento mútuo, enfrentar as tarefas escolares.
do professor e dos alunos, no processo de conscientização o (E) A atividade de ensino não pode se restringir a
que indica uma escola diferente de que se tem atualmente, atividades práticas. Elas somente fazem sentido quando
coma seus currículos e prioridades. suscitam a atividade mental dos alunos, de modo que estes
lidem com elas através dos conhecimentos sistematizados que
Ensino Aprendizagem vão adquirindo.

Situação de ensino-aprendizagem deverá procurar a 02. (BHTRANS - Pedagogo – FUNDEP). Em relação às


superação da relação opressor-oprimido. A estrutura de abordagens apresentadas por Mizukami (1986), é
pensar do oprimido está condicionada pela contradição vivida INCORRETO afirmar que,
na situação concreta, existencial em que o oprimido se forma. (A) tanto na abordagem tradicional, quanto na abordagem
Resultando consequências tais como: comportamentalista, a relação professor-aluno é vertical,
- ser ideal é ser mais homem... cabendo ao professor o papel decisório.
- atitude fatalista (B) tanto na abordagem cognitivista, quanto na abordagem
- atitude de auto desvalia humanista, o professor tem um papel não diretivo, aquele que
- o medo da liberdade ou a submissão do oprimido. apenas cria condições para que os alunos aprendam.
(C) tanto na abordagem cognitivista, quanto na abordagem
Professor-Aluno sociocultural, a ênfase está na relação do sujeito com o meio
em que está inserido.
Relação professor-aluno é horizontal. Professor (D) nas abordagens cognitivista, humanista e sociocultural,
empenhado na prática transformadora procurará desmitificar o aluno tem um papel mais ativo como sujeito da
e questionar, junto com o aluno. aprendizagem.

Metodologia 03. (BHTRANS – Pedagogo - FUNDEP). Em cada uma das


abordagens apresentadas por Mizukami (1986),a avaliação da
- Os alunos recebem informações e analisam os aspectos de aprendizagem apresenta diferentes características.
sua própria experiência existencial (A) que a abordagem humanista nega qualquer
- Utilizando situações vivenciais de grupo, em forma de padronização de estratégias e procedimentos avaliativos,
debate Paulo Freire delineou seu método de alfabetização. provas, exames e notas, defendendo a auto avaliação
(B) que, na abordagem tradicional, a avaliação visa à
Características: exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala de
- Ser ativa aula por meio de provas, exames, chamadas orais.
- Criar um conteúdo pragmático próprio (C) que, na abordagem cognitivista, se busca verificar se o
- Enfatiza o diálogo crítico aluno já adquiriu noções, realizou operações, relações etc. por
meio de produções livres e expressões próprias.
Referências (D) que, na abordagem comportamentalista, a avaliação
ocorre apenas ao final do processo, com o intuito de saber se
Mizukami, M.G.N. Ensino, as abordagens do processo. São os comportamentos desejados foram atingidos.
Paulo: EPU, 1986.
Libâneo, J. C. Tendências Pedagógicas na prática escolar . In: Respostas
Revista da Ande
Saviani, D. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1984. 01. Resposta: C
Bordenave, J.E. D. “A opção pedagógica pode ter Segundo Libâneo (1994), a aprendizagem escolar é uma
consequências individuais e sociais importantes. “In Revista de atividade planejada, intencional e dirigida, não sendo em
Educação AEC. hipótese alguma casual ou espontânea.
Skinner. E.B. Tecnologia do Ensino. São Paulo :Herder, 1972.
Rogers C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte, 02. Resposta: B
Interlivros. 1972, 2ª edição. Na abordagem humanista
Cada professor desenvolverá seu próprio repertório de
Questões uma forma única, decorrente da base percentual de seu
comportamento. O processo de ensino irá depender do caráter
01. (IFBP - Técnico em Assuntos Educacionais – individual do professor, como ele se relaciona com o caráter
IFB/2016). Leia as afirmativas sobre o processo de ensino e pessoal do aluno. Assume a função de facilitador da
aprendizagem, de acordo com o que Libâneo (2013) aborda no aprendizagem e nesse clima entrará em contato com
livro Didática, e assinale a sentença INCORRETA. problemas vitais que tenham repercussão na existência do
(A) Ensino e aprendizagem são duas facetas de um mesmo estudante.
processo. O professor planeja, dirige e controla o processo de
ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria Na abordagem cognitivista
dos alunos para a aprendizagem. Ambos os polos da relação devem ser compreendidos de
(B) A aprendizagem escolar é um processo de assimilação forma diferente da convencional, no sentido de um
de determinados conhecimentos e modos de ação física e transmissor e um receptor de informação. Caberá ao professor
mental, organizados e orientados no processo de ensino. criar situações, propiciando condições onde possam se

Conhecimentos Pedagógicos 7
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estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao mesmo O aspecto afetividade influi no processo de aprendizagem
tempo moral e racional. e o facilita, pois nos momentos informais, os alunos
aproximam-se do professor, trocando ideias e experiências
03. Resposta: D várias, expressando opiniões e criando situações para,
A avaliação na abordagem comportamentalista decorre do posteriormente, serem utilizadas em sala de aula. O
pressuposto de que o aluno progride em seu ritmo próprio, em relacionamento baseado na afetividade é, portanto, um
pequenos passos, sem cometer erros, a avaliação consiste, relacionamento produtivo auxiliando professores e alunos na
nesta abordagem, em se constatar se o aluno aprendeu e construção do conhecimento e tornando a relação entre os
atingiu os objetivos propostos quando o programa foi dois menos conflitante, pois permite que ambos se conheçam,
conduzido até o final de forma adequada. se entendam e se descubram como seres humanos e possam
crescer.
Professor – Aluno Educar, do latim educare, é conduzir de um estado a outro,
é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação,
A interação entre professor e o aluno conforme é explicado por Libâneo (1994): “o ato pedagógico
pode ser, então definido como uma atividade sistemática de
A relação professor e aluno é uma categoria fundamental interação entre seres sociais tanto no nível do intrapessoal
do processo de aprendizagem, pois dinamiza e dá sentido ao como no nível de influência do meio, interação esta que se
processo educativo. Essa relação deve estar baseada na configura numa ação exercida sobre os sujeitos ou grupos de
confiança, afetividade e respeito, cabendo ao professor sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os
orientar o aluno para seu crescimento interno, isto é fortalecer tornem elementos ativos desta própria ação exercida.
– lhe as bases morais e críticas, não deixando sua atenção Presume-se aí, a interligação de três elementos: um agente
voltada para o conteúdo a ser dado. (alguém, um grupo, etc.), uma mensagem transmitida
Segundo Libâneo (1994)7 o professor não apenas (conteúdos, métodos, habilidades) e um educando (aluno,
transmite uma informação ou faz perguntas, mas também grupo de alunos, uma geração) (...)”.
ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que Dessa forma, podemos também pensar na ideia
aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar kantiana de aufklärung (esclarecimento), pela qual o
respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As homem deve aprender a pensar, o que significa a saída do
respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão homem de sua menoridade pela qual o homem se torna
agindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram autônomo, uma vez que, na sua filosofia, a via de
na assimilação dos conhecimentos. conhecimento do belo é a conduta ética exigida aos
Apesar de estar sujeita a um programa, normas da homens que se querem autônomos, isto é, não facilmente
instituição de ensino, a interação do professor e do aluno governáveis por outrem.
forma o centro do processo educativo. Muitos fatores O homem fica na menoridade à medida que se recusa
influenciam as relações entre os alunos e o professor, a pensar por conta própria, se recusa a viver
todavia a visão sobre o papel da educação que o professor autonomamente, pois é mais cômodo, de fato, viver sob a
e os alunos possuem torna-se uma orientação primordial tutela natural da família ou do Estado, por exemplo.
para o trabalho desenvolvido. Para Freire (1987)8, a A menoridade significa depender do outro para
educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já pensar, é mais fácil ser menor em nossa sociedade
que a educação é uma forma de intervenção no mundo. quando, para viver, não se depende do próprio pensar,
Percebe-se, que nos últimos anos a prática docente têm quando o outro pode fazê-lo. Ao professor, cabe, então,
enfrentado muita dificuldade em seu trabalho, o propiciar ao aluno a possibilidade de utilizar seu pensamento
relacionamento tende a ser diferente do passado e o professor para crescer, se libertar e sair da menoridade, da submissão do
precisa acompanhar essas mudanças, dentre elas, o convívio seu pensamento ao pensar de outra pessoa. Na relação
de classes sociais, culturas, valores e objetivos diferentes, professor-aluno, o professor, usando da afetividade, poderá
assim, pode-se dois aspectos da interação professor-aluno: entender melhor seus alunos e conseguir elementos para
Transmissão de conhecimento e a Relação pessoal entre atingir seus objetivos.
professor e aluno e as normas disciplinares impostas. Uma forma de o professor interferir, melhorar e consolidar
Dessa forma, o autor defende que que a aula não pode ser a relação entre o professor e o aluno no sentido de explorar as
considerada apenas uma mera transferência de conhecimento, possibilidades da filosofia, é discutir e compreender os
devendo se preocupar com o conteúdo emocional e afetivo, pressupostos e as concepções de filosofia que estão presentes
que faz parte da facilitação da aprendizagem. Percebe-se que na sua prática, pois, sem isso, vamos continuar apenas a
não estamos falando da afetividade do professor para com estudar história da filosofia ou alguns temas isolados, sem uma
determinados alunos, nem de amor pelas crianças, de modo postura filosófica, atendendo apenas a necessidades imediatas
que a relação maternal ou paternal deve ser evitada, porque a e curriculares.
escola não é um lar. O professor deve constantemente esforçar-se em buscar
Na sala de aula, o professor se relaciona com o grupo de estas possibilidades e tentar uma discussão dos diversos
alunos, ainda necessite atender um aluno especial ou que temas trazendo-os para os dias de hoje, para os problemas
os alunos trabalhem individualmente, a interação deve atuais, tornando o ensino e a relação professor aluno
estar voltada para a atividade de todos os alunos em torno proveitosos, assim, deve-se criar uma situação de
dos objetivos e do conteúdo da aula. comunicação entre os alunos com um propósito educativo,
A escola, como um todo, passa por uma crise de buscando meios e caminhos, de acordo com o que a situação e
sentido, os alunos não sabem porque vão a ela, a falta de a classe pedem; ele intervém pouco, muito ou nada, colocando
significação do que é estudar, a evasão, a reprovação e a os alunos como sujeitos de sua própria reflexão, utilizando-se
violência que existem nas mais diferentes formas acabam da curiosidade natural.
por transformar a relação entre o professor e o aluno Atentemos então ao que Tiba (1998)9, diz em relação a esta
ainda mais conflitante e difícil de ser trabalhada. busca de meios e caminhos: “Ao perceber que não sabe, o ser
humano tem a tendência natural de buscar meios de aprender,

7 LIBÂNEO, J. C. Didática. Coleção Magistério. 2º grau. Série formação do 8 FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
9 TIBA, Içami. Ensinar aprendendo. São Paulo: Editora Gente, 1998.
professor. São Paulo: Cortez, 1994.

Conhecimentos Pedagógicos 8
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APOSTILAS OPÇÃO

já que é dotado de inteligência e, em consequência, de disciplina, que é necessária ao aprendizado, e a


curiosidade. Associando estes dois atributos, pode surgir a organização de qualquer trabalho.
criatividade, que fornece a base para as grandes invenções da O professor não pode ser autoritário a ponto de achar que
humanidade. O espírito aventureiro instiga às descobertas”. sua palavra é a lei, pois, quando há uma falha na comunicação
O professor deve possuir habilidades para passar o entre professor/aluno, aluno/professor, poderá ocorrer o
conteúdo da matéria, incentivando-os ao estudo, fazendo-os distanciamento das duas partes, o que prejudicará
levantar temas sobre o texto dado, discutindo e escrevendo, de substancialmente a relação, uma vez que o diálogo é um
acordo com o explicado por Lipman (1994)10: “À medida que elemento fundamental da aprendizagem, fato que é reforçado
se passa por um dos currículos de Filosofia para Crianças, por Haydt (1995)11, sobre a importância do estabelecimento
aprende-se como é importante, para que se obtenha sucesso, do diálogo: “Na relação professor-aluno, o diálogo é
que os materiais sejam introduzidos oportunamente e na fundamental. A atitude dialógica no processo ensino-
sequência adequada. Ensinar filosofia implica fazer com que os aprendizagem é aquela que parte de uma questão
estudantes levantem temas e, então, voltar a eles problematizada, para desencadear o diálogo, no qual o
repetidamente, elaborando-os nas discussões dos estudantes professor transmite o que sabe, aproveitando os
à medida que as aulas se sucedam.” conhecimentos prévios e as experiências, anteriores do aluno.
Podemos sugerir, como exemplo, uma aula em que o Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou
professor aborde o Mito da Caverna, ao falar a respeito de resolve a situação-problema que desencadeou a discussão.”
Platão. E pode tentar mostrar, sob o signo da universalidade, a Para exercer a autoridade, o docente deve saber da
condição do filósofo. Ele levanta o tema e elabora discussões importância do seu trabalho e mesclar com a afetividade
em que a classe possa chegar à conclusão de que é necessária a sua autoridade, recorrendo, então, ao diálogo como
a fuga do mundo sensível, das sombras e dos fantasmas, para forma de chegar ao resultado pretendido: uma classe
encontrar fora da caverna o verdadeiro mundo dos objetos e o integrada, compenetrada e interessada. Podemos também
sol que ilumina o seu verdadeiro e autêntico ser. Aquele que reforçar a importância do diálogo usando Freire (1996)12:
aprende a se voltar das sombras para a fonte de luz buscará estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria
esta fonte como finalidade última do trajeto do pensamento. pergunta, o que se pretende com essa ou aquela pergunta (...)
Além da explicitação dos objetivos, da escolha de o fundamental é que professor e alunos saibam que a postura
conteúdos e da orientação metodológica o trabalho do deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,
professor na sala de aula dependerá da procura de enquanto falam ou enquanto ouvem. O professor deve usar
procedimentos que viabilizem a prática docente. Nesse do diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas
sentido, de nada adianta propor no planejamento a intenção e alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada. O
de estimular a consciência crítica se o professor se restringir à professor deve ensinar que o diálogo só acontece quando
aula expositiva sempre e se, ao avaliar, apenas verificar a os interlocutores têm voz ativa, e que se os interlocutores
reprodução do que foi transmitido. O professor deve sempre se limitarem a impor visões do mundo sem considerar o
estar atento aos alunos, às vezes a própria expressão dos que o outro tem a dizer, não estarão praticando um
alunos indica que é necessário fazer alguma pergunta, não diálogo.
apenas com o intuito de verificar se o exposto foi A tendência do professor, por causa de sua carga de
compreendido, mas também de dar informações aos conhecimento e experiência, é pensar que o aluno não sabe
alunos, para que corrijam seus erros, e ver se entenderam nada, o que acaba por complicar a relação professor-aluno,
o conteúdo, se há ainda pontos obscuros, se é necessário pois o ensino é ato comum do professor e do aluno; o
passar mais exercícios ou dar mais exemplos antes de ir professor, enquanto ensina, está continuando a aprender.
para um novo tema. Ademais, o professor deve facilitar ao aluno o entendimento
Quando o professor pergunta, ele não está simplesmente do que é fazer parte de um grupo ou de uma comunidade,
querendo obter respostas que já conhece, pois incentivar o ajudando-o a conhecer as normas que regem a conduta aceita
pensamento filosófico é querer que o educando reflita de nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e o
maneira nova, considere métodos alternativos de pensar e político. O respeito mútuo é a valorização de cada pessoa,
agir. Neste ponto, devemos observar o que foi escrito por independentemente de sua origem social, etnia, religião, sexo,
Libâneo (1994): “O professor não apenas transmite uma opinião, é poder revelar seus conhecimentos, expressar
informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. sentimentos e emoções, admitir dúvidas sem ter medo de ser
Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a ridicularizado, exigir seus direitos.
expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho Podemos fundamentar o exposto pelo que foi dito por
docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões Severino(2000)13: “O educador não pode realizar sua tarefa e
mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dar sua contribuição histórica se o seu projeto de trabalho não
dificuldades que encontram na assimilação dos estiver lastreado nesta visão da totalidade humana. À filosofia
conhecimentos. Servem, também, para diagnosticar as causas da educação cabe então colaborar para que esta visão seja
que dão origem a essas dificuldades.” construída durante o processo de sua formação. O desafio
No entanto, vemos que, apesar dos esforços, o objetivo radical que se impõe aos educadores é o de um inteligente
principal, que é dar possibilidade ao educando de esforço para a articulação de um projeto histórico-civilizatório
construir seu conhecimento, fica muitas vezes para a sociedade brasileira como um todo, mas isto pressupõe
prejudicado pela falta da capacidade de ouvir o aluno e, que se discutam, com rigor e profundidade, questões
assim, descobrir as suas dificuldades. Outro ponto que fundamentais concernentes à condição humana.”
devemos ter em mente é o de que o professor não pode ter O docente estará favorecendo a relação professor aluno
dúvidas sobre o que seja de fato a autoridade do seguindo uma série de regras: utilizar as aulas expositivas
professor, para que ela não se pareça, como às vezes quando sentir que com este método estará atingindo o objetivo
acontece, com autoritarismo e também, em contrapartida, do ensino da unidade, demonstrar a variedade de explicações
não propicie a total ausência de lei, impedindo a para um mesmo fenômeno, ser flexível e capaz de adaptar o

10 LIPMAN, M. A filosofia na sala de aula, São Paulo: Nova Alexandria, 1994. 13SEVERINO, Antonio. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez,
2000.
11HAYDT, Regina Célia. Curso de didática geral. ed. São Paulo: Ática, 1995.
2a
12FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa”. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 9
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programa para cada situação que se apresente, relacionar o (C) Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque
conteúdo da unidade a ser ensinada com a experiência do acompanham as idas e vindas de seu pensamento,
aluno, ajudar o aluno a descobrir a interdisciplinaridade, não surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
deixar que assuntos menores influam na discussão em classe (D) Aquele que rejeita a participação do aluno, e enaltece
sobre a disciplina que está sendo enfocada, criar situações em os melhores alunos e discrimina os que apresentam
que o aluno possa expressar seus sentimentos, variar a dificuldades.
composição dos grupos de estudo, tentar evitar o monopólio
da discussão, respeitar e fazer respeitar as diferentes opiniões 4. A relação entre professor e aluno depende,
e usar vocabulário que seja claramente compreendido. fundamentalmente:
O professor como facilitador do aprendizado deverá I. Do clima estabelecido pelo professor, da relação empatia
buscar a motivação de seus alunos, está não é uma tarefa fácil, com seus alunos;
pois a falta de motivação pode ter origem em problemas II. De sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de
particulares do aluno como cansaço, necessidades afetivas não compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu
satisfeitas e, até mesmo, a fome. O docente deverá centrar os conhecimento e o deles.
seus esforços na aprendizagem e, ao trabalhar com ela, tornar III. De buscar educar para as mudanças, para a autonomia,
o ensinamento significativo para o aluno, fazendo-o sentir que para a liberdade possível numa abordagem global,
a matéria tem significância para sua vida. trabalhando o lado de seus deveres e de suas
Na visão construtivista, o aluno é o centro, devendo estar responsabilidades sociais.
sempre mobilizado para pensar e construir o seu IV. De sua autoridade, para que haja silêncio e ordem
conhecimento, no entanto esse enfoque construtivista não fundamentais para a aprendizagem.
coloca o professor em segundo plano; pelo contrário, o seu Estão corretas:
papel é de máxima importância no processo de ensino, não (A) IV.
sendo aluno e professor considerados iguais, pois, aos (B) I, II e III.
professores, cabe a direção, a definição de objetivos e o (C) Todas estão corretas.
controle dos rumos da ação pedagógica, não se utilizando da (D) Todas estão incorretas.
autoridade arbitrariamente, mas exercendo uma autoridade 5. Em se tratando da relação professor-aluno na sala de
própria de quem tem zelo profissional e se responsabiliza pela aula, assinale a alternativa incorreta.
qualidade do seu trabalho, não deixando os alunos à deriva, (A) O trabalho docente nunca é unidirecional.
sem diretividade e organização. (B) A relação maternal ou paternal deve ser evitada,
A disciplina e o equilíbrio devem ser mantidos em classe, porque a escola não é um lar.
para que o aprendizado não seja prejudicado, e para que se (C) O professor autoritário exerce a autoridade a serviço
desenvolva, no aluno, o auto respeito, o autocontrole e o da autonomia e independência dos alunos.
respeito, ficando o professor atento para que certas situações (D) A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo
não fujam do limite. O professor deve se utilizar da liderança da prática docente, ou seja, à autoridade profissional.
controlando-a, no entanto, para não inibir a criatividade do
aluno, criando uma relação de respeito mútuo e organizando Resposta
sua metodologia de trabalho. 1. Alternativa D.
Como vimos, para que haja aprendizagem de qualidade
Questões vários fatores são necessários, como capacidade intelectual e
predisposição do aluno para aprender, nível de conhecimento
1. (Prefeitura de São Luís/MA – Conhecimentos do professor e capacidade para produzir conteúdo, apoio
Básicos – Magistério I e II – CESPE/2017) O sucesso e a extraclasse realizado pelos pais e outros responsáveis, etc. No
qualidade da aprendizagem no processo pedagógico entanto, existe um fator que pode ser considerado como
dependem, entre outros fatores, de o professor catalisador do processo educativo, pois quando o
(A) priorizar atividades de memorização, a fim de professor se dispõe a ensinar e o aluno à aprender,
promover o pleno desenvolvimento cognitivo dos alunos. relações de afetividade vão se formando entre os dois
(B) delegar à família dos alunos a responsabilidade pela mediante uma troca. Portanto, sem uma relação afetiva
qualidade do desempenho deles em atividades extraclasse. ampla, o processo ensino aprendizagem tende a acontecer de
(C) proteger e prestar assistência financeira à família dos forma desarmônica, ou seja, alguns aspectos da pessoa ficam
alunos de baixa renda. atrofiados, principalmente no que diz respeito as emoções.
(D) valorizar as emoções dos alunos e sua relação de
afetividade com eles. 2. Alternativa A.
(E) disciplinar e subordinar os alunos a rigorosas regras de De acordo com o texto lido, sabemos que Freire reforça a
conduta que limitem a criatividade deles. importância do diálogo, para o autor, o professor deve usar do
diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas e
2. (IF/RR – Pedagogo – FUNCAB) De acordo com Paulo alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada. O professor
Freire a relação entre professor e aluno deve ser de: deve ensinar que o diálogo só acontece quando os
(A) diálogo. interlocutores têm voz ativa, e que se os interlocutores se
(B) hierarquia. limitarem a impor visões do mundo sem considerar o que o
(C) autonomia. outro tem a dizer, não estarão praticando um diálogo.
(D) autoridade.
(E) disciplina. 3. Alternativa D.
Conforme Paulo Freire, pensar certo coloca ao professor
3. Relação professor aluno: segundo Paulo Freire, o bom ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os
professor é, EXCETO: saberes com que os educandos, sobretudo os das classes
(A) O que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na
intimidade do movimento do seu pensamento. prática comunitária – mas também, discutir com os alunos a
(B) Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino
dos conteúdos.

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O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha ensino/aprendizagem. Por um lado, uma proposta de
os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, intervenção suficientemente elaborada; e por outro, com uma
como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que eu mando e não aplicação extremamente plástica e livre de rigidez, mas que
o que eu faço”. nunca pode ser o resultado da improvisação.
b) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos
4. Alternativa B. alunos, tanto no início das atividades como durante sua
A atitude do professor em sala de aula é importante para realização.
criar climas de atenção e concentração, sem que se perca c) Ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo para
alegria. As aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer que que conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e
atue de maneira indisciplinada. Portanto, o papel do professor que é interessante fazê-lo.
é o de mediador e facilitador; que interage com os alunos na d) Estabelecer metas ao alcance dos alunos para que possam
construção do saber. Neste sentido, é muito importante ajudar ser superadas com o esforço e a ajuda necessários.
os professores a saber ensinar, garantindo assim que todos os e) Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do
alunos possam aprender e desenvolver seu raciocínio. aluno, para os progressos que experimenta e para enfrentar os
Alguns professores sentem que seu relacionamento com os obstáculos com os quais se depara.
alunos determina o clima emocional da sala de aula. Esse clima f) Promover atividade mental autoestruturante que permita
poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o estabelecer o máximo de relações com novo conteúdo,
relacionamento é afetuoso, cordial. atribuindo-lhe significado no maior grau possível e fomentando
Neste caso, o aluno sente segurança, não teme a crítica e a os processos de meta-cognição que lhe permitam assegurar o
censura do professor. Seu nível de ansiedade mantem-se baixo controle pessoal sobre os próprios conhecimentos e processos
e ele pode trabalhar descontraído, criar, render mais durante a aprendizagem.
intelectualmente. g) Estabelecer um ambiente e determinadas relações
presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança,
5. Alternativa C. que promovam a autoestima e o autoconceito.
Percebe-se algumas vezes, por parte do professor, uma h) Promover canais de comunicação que regulem os
vigilância constante, o que pode ocasionar um clima de tensão processos de negociação, participação e construção.
entre as crianças, por estarem sempre antecipando as i) Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos
consequências de seus ―maus atos: o aluno corre o risco de na definição de objetivos, no planejamento das ações que os
ficar sem recreio, de ser retirado após as aulas, além de outras conduzirão aos objetivos e em sua realização e controle,
ameaças de castigo. Quem é ―bem comportado recebe possibilitando que aprendam a aprender.
recompensas e é apresentado como modelo aos colegas. j) Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus
esforços, levando em conta o ponto pessoal de partida e o
As relações interativas em sala de aula processo através do qual adquirem conhecimentos e
incentivando a autoavaliação das competências como meio
As Relações Interativas em Sala de Aula: o papel dos para favorecer as estratégias de controle e regulação da própria
professores e dos alunos14 atividade.

Para Zabala as relações de que se estabelecem entre os Concluindo, Zabala afirma que os princípios da concepção
professores, os alunos e os conteúdos de aprendizagem construtivista do ensino e da aprendizagem escolar
constituem a chave de todo o ensino e definem os diferentes proporcionam alguns parâmetros que permitem orientar a
papéis dos professores e dos alunos. A concepção tradicional ação didática e que, de maneira específica ajuda a caracterizar
atribui ao professor o papel de transmissor de conhecimentos as interações educativas que estrutura a vida de uma classe,
e controlador dos resultados obtidos. estabelecendo as bases de um ensino que possa ajudar os
Ao aluno cabe interiorizar o conhecimento que lhe é alunos a se formarem como pessoas no contexto da instituição
apresentado. A aprendizagem consiste na reprodução da escolar.
informação. Esta maneira de entender a aprendizagem
configura uma determinada forma que relacionar-se em A criação de ambientes interativos em sala de aula exige
classe. Na concepção construtivista ensinar envolve um contexto de ensino-aprendizagem criativo, aberto e
estabelecer uma série de relações que devem conduzir à dinâmico, permitindo que o aluno tenha um papel interativo e
elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais responsável na sua aprendizagem.
sobre o conteúdo.
Trata-se de um ensino adaptativo, isto é, um ensino com Desse modo, se faz necessário uma plataforma de trabalho
capacidade para se adaptar às diversas necessidades das correspondente. O uso de pedagogias interativas que levem o
pessoas que o protagonizam. Portanto, os professores podem aluno a desenvolver processos cognitivos e sociais de
assumir desde uma posição de intermediário entre o aluno e a aprendizagem, contribuem para excelentes resultados de
cultura, a atenção para a diversidade dos alunos e de situações aproveitamentos na escola, sendo que os alunos se sentem
à posição de desafiar, dirigir, propor, comparar. Tudo isso mais motivados.
sugere uma interação direta entre alunos e professores,
favorecendo a possibilidade de observar e de intervir de forma Infelizmente o uso de tecnologias nas escolas não acontece
diferenciada e contingente nas necessidades dos alunos/as. Do na prática, e a culpa disso não é exclusivamente à falta de
conjunto de relações necessárias para facilitar a aprendizagem dinheiro, preparação de professores ou equipamentos, mas
se deduz uma série de funções dos professores, que Zabala principalmente a cultura predominante em nosso país, de que
caracteriza da seguinte maneira: o conhecimento não pode ir de encontro a novos métodos de
ensino, ficando engessado.
a) Planejar a atuação docente de uma maneira
suficientemente flexível para permitir adaptação às É válido destacar que a iniciativa que levou ao
necessidades dos alunos em todo o processo de desenvolvimento da Peer Instruction foi uma técnica

14Texto adaptado de CARDOSO, M. A. baseado na obra de ZABALA, Antoni. A


prática educativa: como ensinar.

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implantada em sala de aula, onde foi explorada a interação que papel desempenha na aprendizagem posterior e,
com cada aluno durante as preleções. Esse método vale-se de sobretudo, como podemos ou devemos ensinar coisas novas
apresentações curtas através de pontos-chaves, ao aluno a partir desta base (a não ser que decidamos, em um
acompanhadas de um conceito que já traz a resposta. Aqui, o exercício de ilusão, que o gênio da lâmpada tornou o nosso
aluno traz a resposta e a justificativa para tal, de modo que o desejo realidade).
professor analisa-as e mostra os pontos que precisam ser
superados. A isso damos o nome de classrrom feedback A natureza ativa e construtiva do conhecimento16
systems.
Sempre que nós, professores e professoras, nos propomos
O grande desafio encontrado nas salas de aula é o uso de ensinar determinados conteúdos escolares aos alunos e alunas
tecnologias de baixo custo, valendo-se de smartphones, de nossa classe, colocamos em funcionamento, quase sem
tablets, que podem ser utilizados por qualquer aluno com pretender, uma série complexa de ideias sobre o que significa
facilidade, proporcionando um ambiente interativo em sala de aprender na escola e sobre como se pode ajudar os estudantes
aula. nesse processo.
Essas ideias, que viemos forjando ao longo de nossa
O ensino-aprendizagem que geralmente é utilizado na sala atividade educacional, graças à experiência e à reflexão,
de aula é aquele em que o professor pergunta e o aluno constituem nossa concepção de aprendizagem e ensino. Esta,
responde, caso tenha interesse, devendo para isso levantar o que é nossa própria teoria, atua como referência-chave para a
braço. Seria ultrapassado ou ineficaz? Alguns defendem que tomada de decisões sobre o quê, quando e como ensinar e
não é tão eficaz pelo fato dos alunos mais tímidos não avaliar. No entanto, nem todos os profissionais de uma mesma
conseguirem interagir e até mesmo com a participação de escola compartilham as mesmas ideias, e por isso, quando é
todos os alunos fica difícil ficaria difícil a administração da sala preciso tomar uma decisão de equipe (por exemplo: quando é
e o tempo despendido para passar todo o plano de aula. melhor começar a ler? com que método? que livro didático
Contudo, os alunos podem tirar suas dúvidas com o professor pode ser mais útil para trabalhar Matemática na 5ª série da
em momentos de intervalo. Educação Primária? etc.), costumam misturar-se argumentos
contraditórios, que é melhor compreender e avaliar do que
Como isso acontece na prática? Baseado na obra: O censurar ou simplesmente rejeitar.
Construtivismo na sala de aula:15 O propósito geral é conseguir interpretar melhor as ideias
que professores e alunos têm sobre o processo de
Professor: Júlio, responda: por que os judeus foram expulsos aprendizagem escolar e identificar sua limitação ou não. A
da Espanha? seguir, analisaremos algumas das concepções mais habituais
Júlio: Porque não se deixaram fotografar. entre os docentes sobre esse tema. Em particular, exporemos
Professor: Como? De onde você tirou isso? a ideia que têm do aluno e aluna que aprendem, da concepção
Júlio: É o que está no livro. de aprendizagem e como concebem o papel do ensino nesse
Professor: Está, é? Onde? processo. Esta proposta será o parâmetro para aprofundar a
Júlio: Aqui, olhe: "porque não se retrataram". concepção que, a nosso ver, seja mais potente entre todas; e,
enfim, mais especificamente, tentaremos expor o que implica
É provável que, como professores, se tivéssemos em para o aluno e a aluna aprender diferentes tipos de conteúdos
nossas mãos a lâmpada de Aladim, três desejos não escolares: conceitos, procedimentos e atitudes.
pareceriam suficientes para tentar resolver os problemas que
enfrentamos em nossa tarefa cotidiana. No entanto, se nos Algumas concepções da aprendizagem e do ensino escolar
concedessem apenas três oportunidades, é provável que um mais habituais entre os docentes
dos nossos desejos fosse que a mente de nossos alunos
estivesse em branco, como uma lousa limpa na qual A maioria dos docentes estaria de acordo em afirmar que
poderíamos ir escrevendo o que queremos que aprendam. aqueles que aprendem são os alunos e alunas de nossas
Supondo que este desejo nos fosse concedido, o pobre gênio da classes.
lâmpada teria um bom trabalho para ir apagando as lousas de Entretanto, longe dessa primeira aproximação geral, a
nossos alunos até deixá-Ias completamente limpas. explicação que daríamos dessa afirmação seria muito
diferente, como também o seria nossa prática em aula. Como
As mentes de nossos alunos estão bem longe de parecerem frisamos anteriormente, no intuito de analisar as
lousas limpas, e a concepção construtivista assume este fato características das concepções de aprendizagem e ensino
como um elemento central na explicação dos processos de escolar mais difundidas entre os professores, vamos
aprendizagem e ensino na sala de aula. Do ponto de vista desta apresentá-Ias a seguir:
concepção, aprender qualquer um dos conteúdos escolares
pressupõe atribuir um sentido e construir os significados 1. A aprendizagem escolar consiste em conhecer as
implicados em tal conteúdo. respostas corretas para as perguntas formuladas pelos
Pois bem, essa construção não é efetuada a partir do zero, professores. O ensino proporciona aos alunos o reforço
nem mesmo nos momentos iniciais da escolaridade. O aluno necessário para obter essas respostas.
constrói pessoalmente um significado (ou o reconstrói do 2. A aprendizagem escolar consiste em adquirir os
ponto de vista social) com base nos significados que pôde conhecimentos relevantes de uma cultura. Nesse caso, o
construir previamente. ensino proporciona aos alunos a informação de que
Justamente graças a esta base é possível continuar necessitam.
aprendendo, continuar construindo novos significados. 3. A aprendizagem escolar consiste em construir
Esta ideia não é propriamente original. Desde Sócrates até conhecimentos. Os alunos e as alunas elaboram, mediante sua
os dias de hoje, ela foi questionada por poucas teorias ou atividade pessoal, os conhecimentos culturais. Por tudo isso, o
explicações. Entretanto, nem todas explicam do mesmo modo ensino consiste em prestar aos alunos a ajuda necessária para
em que consiste esta base, quais são as suas características, que possam ir construindo-os.

15C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição, 16C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,
editora: Ática, 2006, págs: 57-58. editora: Ática, 2006, págs: 79-83.

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APOSTILAS OPÇÃO

Embora a primeira postura apresente características alunas que o conseguem daqueles que quase nunca o
muito diferentes das duas restantes e mantenha com elas conseguem? Desse ponto de vista profissional, importante é
escassos pontos de contato, a segunda e a terceira concepções diferenciar entre os que conseguem ou não ser bem-sucedidos
podem ser relacionadas entre si, pois ambas ocupam-se de nesse processo, pois a expectativa dos professores é que os
como os alunos adquirem conhecimentos, porém divergem na alunos e alunas que não o conseguirem agora, provavelmente
explicação desse processo. nunca o conseguirão. Nesse caso, se forem acumulando notas
ruins, a atuação habitual dos professores consiste em
Conhecer as respostas corretas recomendar-lhes que estudem mais, porém não explicarão
como podem fazê-lo. Se os alunos não conseguem responder
Os professores (pelo menos em algumas situações que adequadamente, continuarão aplicando-Ihes sanções na
podemos conhecer no papel de alunos) não costumam explicar esperança de que algum dia reajam positivamente. Notas
a lição. ruins, ficar sem sair na hora do recreio, expulsão da sala de
Há ocasiões em que nem mesmo a leem ou comentam em aula, copiar cem vezes a resposta correta são exemplos de tudo
voz alta, dedicando a maior parte do tempo a formular isso. E quando isso falha, a sanção torna-se mais rigorosa. Ou
perguntas aos alunos com a finalidade de comprovar se eles seja, atua-se aumentando o número de notas ruins pessoais, de
dispõem ou não do repertório adequado de respostas. Sua recreios perdidos, a quantidade de dias de expulsão ou o
tarefa principal é reforçar positivamente as respostas corretas número de vezes que a resposta correta deve ser copiada.
e sancionar as errôneas. Finalmente, se os alunos continuam sem reagir, um mau
resultado é augurado diretamente: "Você sabe o que faz, mas
A cada aula, antes de terminar, os professores assinalam a se continuar assim não vai passar de ano". E sem qualquer
parte do texto que será objeto de perguntas na próxima aula. indicação, exceto a de que estudem mais, exigem que
Na outra aula, depois que alunos e alunas dedicaram os continuem tentando (investindo mais esforço, mais tempo) ou
momentos iniciais a repassar em silêncio e individualmente a que pensem em abandonar os estudos, caso isso seja possível.
lição, pede-se que alguns deles, seguindo as normas
estabelecidas, respondam todas aquelas perguntas que o O que permite aos alunos aprender determinadas
professor ou a professora desejem formular-lhes, atitudes?17
normalmente em voz alta, diante de toda a classe. Esse sistema
de ensino permite que os professores identifiquem, quase Saberes pessoais dos alunos
imediatamente, o acerto ou o erro nas respostas dos alunos,
adjudicando-lhes, também de modo imediato, um prêmio ou 1. Estar familiarizado com certas normas e possuir
um castigo. tendências de comportamento que se manifestam em
Geralmente, estes últimos adotam a forma de uma nota boa situações específicas, perante objetos e pessoas concretas que
ou ruim, que é anotada na lista correspondente, ao lado do sirvam de base às novas normas e atitudes objeto de
nome do aluno ou da aluna, sem que ninguém possa remediar aprendizagem.
isso. Quem não lembra da caderneta onde o professor ou
professora anotava rigorosamente as qualificações resultantes 2. Poder recordar, entre todos os que estão na memória,
das respostas dos alunos? avaliações, juízos ou sentimentos que merecem determinadas
Quem não ficou expectante diante da possibilidade de que coisas, pessoas, objetos e situações mais relevantes e
o dedo do professor se detivesse justo no momento de chamá- especialmente relacionados com a nova norma ou atitude.
Ia entre os "escolhidos" para expor a lição do dia? 3. Mostrar-se disposto a expressar a outros suas ideias ou
opiniões, por meio da palavra, do gesto ou de qualquer outro
Nessa concepção, a aprendizagem é vista como aquisição modo possível, como medida para obter algum grau de
de respostas adequadas graças a um processo mecânico de consciência sobre elas e conseguir que outros também as
reforços positivos ou negativos. Os professores acreditam que conheçam. A consciência pública e privada de uma atitude
a conduta que desejam dos alunos (a resposta correta) pode constitui um elemento importante para a aprendizagem de
ser determinada externamente mediante o uso do prêmio ou outras novas, porque torna possível, de acordo com as
do castigo, ou seja, por meio de notas. Nesse sentido, os alunos possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem dos
são considerados receptores passivos de reforços. alunos, que eles reflitam sobre os próprios comportamentos e
ideias, analisem suas relações e implicações mútuas e avaliem
Os professores entendem que sua tarefa consiste em o grau de coerência ou discrepância entre, por exemplo, sua
suscitar e ir aumentando o número correto de respostas no atitude e outras informações novas sobre a realidade, as
repertório individual do aluno, e também em avaliar o que e atitudes ou opiniões de pessoas queridas e significativas e
quanto ele responde mais corretamente do que ontem. Nesse também entre a própria atitude e a ação ou comportamento
processo, dificilmente é discutida a relevância do conteúdo próprio.
escolar ou das perguntas do professor, e a resposta correta é
aquela que reproduz fielmente o texto objeto de estudo. 4. Poder elaborar o significado da nova norma ou atitude,
Em geral, nesse caso, os professores não costumam ligando-a ao próprio comportamento e opinião, e internalizá-
identificar sua função com a de educar, mas com a de um la. Para isso pode ser necessário:
especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e a. Formar para si uma ideia ou representação da norma ou
que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom atitude objeto de aprendizagem. Nesse sentido, são atividades
controle da conduta dos alunos da classe. Tudo isso faz com importantes: colocar-se no ponto de vista do outro para
que exista um interesse relativo, entre os docentes, em conseguir interpretar suas ideias, tomando consciência do
conhecer o que o aluno e a aluna fazem 'para conseguir dar as conflito ou da contradição entre tendências de atitude;
respostas adequadas. Não são consideradas relevantes observar o comportamento daqueles que nos inspiram afeto,
perguntas como: Por que respondem corretamente? Isto se respeito ou admiração; formular perguntas para conseguir
deve a algum processo complexo de elaboração da informação familiarizar-se com determinadas normas e atitudes e
do texto? É possível influenciá-lo? O que diferencia alunos e compreender sua origem e significado.

17 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,


editora: Ática, 2006, págs: 117-121.

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APOSTILAS OPÇÃO

Também pode ser útil participar de atividades para rever, professores etc.). Nesse sentido, pode ser útil apresentar as
redefinir, anular ou substituir uma determinada norma ou normas e atitudes vinculando-as a situações concretas e
defender ou não uma atitude, argumentando com os valores familiares para os alunos, a fim de que possam apreender
em que se sustenta, e aos quais se concede ou não importância claramente os argumentos que as sustentam e alguns dos
pessoal. Tudo isso de acordo com o nível de desenvolvimento comportamentos que as exemplificam em realidades
pessoal. concretas.

b. Comportar-se de acordo com determinados padrões e 4. Facilitar a participação e o intercâmbio entre alunos e
normas ou modelos de atitudes, com a intenção, inicialmente, alunas para debater opiniões e ideias sobre os diferentes
e responder às demandas feitas pelas pessoas pelas quais aspectos que dizem respeito à sua atividade na escola (a
sentimos afeto, admiração ou respeito e, finalmente, com a relevância ou não de estudar e aprender determinados
ideia de demonstrar coerência entre a atitude e a norma que conteúdos, os objetivos da escola e da sociedade, os costumes
mantemos e os valores aos quais concedemos importância próprios do grupo escolar como microcultura, a
pessoal. Ir elaborando, na medida do possível, critérios regulamentação, gestão e funcionamento do grupo, o uso de
pessoais de comportamento ético para poder dar maior comuns, as notas e avaliações etc.).
relevância a determinadas normas e atitudes em situações
concretas e progredir na consecução da autonomia pessoal e 5. Uma determinada organização das atividades de
moral. aprendizagem de conteúdos na escola facilita a aprendizagem
de determinadas atitudes muito importantes, tais como a
5. Poder aceitar tudo o que implica a mudança de atitude cooperação, a solidariedade, a equidade e a fraternidade. No
com confiança e segurança em si. O fato de poder ou não entanto, se quisermos que o aluno aprenda essas atitudes e
mostrar uma atitude determinada não depende apenas de outras, não menos significativas do ponto de vista humano,
conhecer os argumentos que a sustentam, mas da não podemos deixar de planejar expressamente sua
possibilidade de relacioná-Ia com determinados afetos, aprendizagem (informar sobre suas características,
emoções e motivos que, as vezes, nos impedem de mudar. exemplificar, debater, atribuir-Ihes significado identificando
Toda inovação pessoal implica certo grau de temor e as em situações cotidianas e reais para os alunos, mostrar
pressupõe a aceitação de algum tipo de risco. modelos de comportamento que as incluem e permitir que
sejam exercidas e praticadas na escola).
A mudança de atitude na escola é possível se o aluno e a
aluna contam com o apoio de um coletivo (como o grupo da 6. Procurar modelos das atitudes que se pretende que os
classe) que avalia positivamente essa modificação de atitudes alunos e alunas aprendam na escola e oferecer o apoio e o
e aceita o desafio da mudança constituindo-se como tempo necessário para que possam ensaiar, testar e imitar.
referencial e suporte graças à qualidade das relações geradas Animar, exigir e apoiar os alunos que tentam mudar, tentando
no mesmo. Isto é, os alunos estarão em melhores condições de fazer com que eles aceitem o apoio dos demais do grupo e
aprender atitudes se a escolha e o grupo de classe permitem a avaliem as críticas que recebem, o trabalho realizado e os
discussão dos argumentos que as apoiam, regulam as sucessos alcançados. Os professores devem estar preparados
exigências de mudança mediante a participação a cooperação para apoiar os alunos naqueles momentos em que podem
e a responsabilidade de todos os seus membros aceitam o sentir insegurança ou em que manifestem resistência à
conflito como algo necessário e não necessariamente negativo mudança.
e enfocam os problemas sem dramatismos exagerados nem
culpas desmoralizadoras. A aprendizagem de atitudes se apoia, como demonstramos
na elaboração de representações conceituais e no domínio de
Intervenção dos professores na construção de atitudes dos determinados procedimentos (estratégias de memória,
alunos estratégias de relação com os outros etc.). Por sua vez, as
atitudes estão na base do desenvolvimento pessoal de
1. O grupo escolar deve ter claramente estabelecidos (e estratégias de direção, orientação e manutenção da própria
compartilhar as normas que os regulam) os critérios de valor atividade de aprendizagem. Por exemplo, atitudes como o
pelos quais é regido. A qualidade da interação que se rigor ou a curiosidade baseiam-se no exercício experiente de
estabelece na escola e no grupo, tomando como base os valores certos procedimentos e, por sua vez, ajudam os alunos a
estabelecidos, atuará como referencial de ajustamento da perseverar na consecução da qualidade da atividade. Da
própria ação pessoal e da atividade compartilhada. Isto é, mesma forma, o respeito pela diversidade (atitude) permite
alguém se dispõe a comportar-se de uma determinada que as pessoas continuem interessadas em conhecer as
maneira ou a acatar uma norma se considerar que há consenso características de outros (conceitos) até conseguir apreciá-los
a respeito entre os membros do grupo, fundamentalmente em toda a sua identidade, sem necessidade de comparações
entre aqueles que aprecia ou aos quais atribui valor ou desqualificadoras e reciprocamente. Poder chegar a conhecer,
autoridade. apreciar e avaliar outras pessoas por aquilo que elas são
implica também conhecer-se e apreciar-se, em suma, confiar
2. Os professores devem facilitar o conhecimento e a nas próprias capacidades e autoestima.
análise das normas existentes no centro escolar e no grupo de
classe pura que os alunos possam compreendê-Ias e respeitá- Questões
Ias. Também devem ficar claramente estabelecidas as formas
de participação para que os alunos as conheçam e contribuam 01. (Prefeitura de Juatuba/MG - Professor de Educação
para melhorá-las, para trocá-Ias por outras ou anulá-Ias, se for Básica I – CONSULPLAN). “A concepção construtivista do
o caso. É importante regular o cumprimento e o ensino e da aprendizagem e a natureza dos diferentes
desenvolvimento das normas e acordos estabelecidos. conteúdos estabelecem determinados parâmetros nas
3. É função dos professores ajudar os alunos a atuações e relações que acontecem em aula, envolvendo um
relacionarem significativamente as normas a determinadas conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a
atitudes que se pretende que desenvolvam em situações aprendizagem.” NÃO é uma função dos professores, segundo
concretas (no laboratório, no trabalho em grupo, nos espaços tal concepção:
comuns da escola, em uma saída, em uma exposição dos

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(A) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos (E) tornar os alunos mais dispersivos, apenas
alunos, tanto no início das atividades quanto durante sua espectadores de ferramentas com as quais não sabem
avaliação. interagir.
(B) Planejar a atuação de uma maneira suficientemente
flexível, para permitir adaptação às necessidades dos alunos 03. Grande parte dos professores não costumam
em todo o processo educativo. identificar sua função com a de educar, mas com a de um
(C) Avaliar os alunos através de fórmulas em que o especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e
controle da avaliação recaia em situações e momentos alheios que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom
aos processos individuais de aprendizagem e imprescindíveis controle da conduta dos alunos da classe.
para promover a capacidade de aprender a aprender.
(D) Promover atividade mental autoestruturante, que ( ) Certo ( ) Errado
permita estabelecer o máximo de relações com o novo Respostas
conteúdo, atribuindo‐lhes significado no maior grau possível e
fomentando os processos de metacognição que lhes permitam 01. Resposta: C
assegurar o controle pessoal sobre os próprios conhecimentos Do conjunto de relações necessárias para facilitar a
e processos durante a aprendizagem. aprendizagem se deduz uma série de funções dos professores,
que Zabala caracteriza da seguinte maneira:
02. (Prefeitura de São José dos Campos/SP - Assistente - Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus
em Gestão Municipal – VUNESP). Uso das novas tecnologias esforços, levando em conta o ponto pessoal de partida e o
em sala de aula processo através do qual adquirem conhecimentos e
incentivando a autoavaliação das competências como meio
Em um mundo tecnológico, integrar novas tecnologias à para favorecer as estratégias de controle e regulação da
sala de aula ainda é pouco frequente e um desafio para própria atividade.
docentes. Em muitos casos, a formação não considera essas
tecnologias, e se restringe ao teórico, ou seja, o professor 02. Resposta: C
precisa buscar esse conhecimento em outros espaços. Isso O grande desafio encontrado nas salas de aula é o uso de
nem sempre funciona, pois frequentar cursos de poucas horas tecnologias de baixo custo, valendo-se de smartphones,
nem sempre garante ao professor segurança e domínio dessas tablets, que podem ser utilizados por qualquer aluno com
tecnologias. facilidade, proporcionando um ambiente interativo em sala de
Muitos educadores já perceberam o potencial dessas aula.
ferramentas e procuram levar novidades para a sala de aula,
seja com uma atividade prática no computador, com 03. Resposta: certo
videogame, tablets e até mesmo com o celular. Em geral, os professores não costumam identificar sua
O fato é que o uso dessas tecnologias pode aproximar função com a de educar, mas com a de um especialista que
alunos e professores, além de ser útil na exploração dos conhece a fundo a matéria objeto de estudo e que exerce, pela
conteúdos de forma mais interativa. O aluno passa de mero autoridade outorgada por esse fato, um bom controle da
receptor, que só observa e nem sempre compreende, para um conduta dos alunos da classe.
sujeito mais ativo e participativo.
A tecnologia também auxilia o professor na busca por
conteúdos a serem trabalhados. O Google, por exemplo, criou
um espaço próprio para a educação, o Google Play for
Education – cuja versão em português ainda está sem data de Formas de atuação docente
lançamento. O programa faz uma peneira por disciplina e série a serem desenvolvidas,
para sugerir aplicativos educacionais específicos para tablets.
O professor pode, por exemplo, criar um grupo da sala em que considerando o contexto
todos os alunos poderão acessar o aplicativo, facilitando a escolar, as políticas
participação. educacionais e as Orientações
A ideia não é abandonar o quadro negro, mas hoje, com
todos os avanços, existe a necessidade de adequação, de Curriculares da SEME/SEE;
abertura para o novo, a fim de tornar as aulas mais atraentes,
participativas e eficientes.
(Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br. Acesso
em 24.10.2014. Adaptado)
Docente
De acordo com o autor do texto, o uso das tecnologias em
sala de aula pode contribuir para Uma abordagem sobre o papel do professor18
(A) distanciar professores e alunos, dada a atração que os
conteúdos digitais exercem sobre os adolescentes. A inquietação acerca do papel do professor e da atuação da
(B) diminuir o rendimento dos alunos, em face da intensa escola frente à formação do educando no processo de ensino e
interação deles com os conteúdos digitais. aprendizagem vem, ao longo tempo, gerando estudos entre os
(C) tornar as aulas mais interativas, com o aluno pesquisadores com o objetivo de ressaltar-se a importância do
desempenhando um papel mais ativo na exploração dos professor na prática educativa, assim como sua atuação que
conteúdos. deve estar voltada para a produção do conhecimento do aluno.
(D) tumultuar as aulas, diante da dificuldade para Não existe quem ensina ou quem aprende, mas quem aprende
disciplinar o uso de aparelhos como tablets e celulares em sala a aprender.
de aula. Considerando-se a escola como o espaço onde acontece a
intervenção pedagógica, e o professor mediador da
formação do aluno, percebe-se a necessidade de se

18 Texto adaptado de Wilandia Mendes de Oliveira, disponível em


https://www.inesul.edu.br

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estabelecer um diálogo entre esses segmentos, objetivando e romper paradigmas. Cury20 afirma que a exposição
adequar o conhecimento difundido no contexto escolar as interrogada gera a dúvida, a dúvida gera o estresse positivo, e
práticas sociais. O professor deve atuar comprometido com este estresse abre as janelas da inteligência. Assim formamos
essa difusão do conhecimento, mas sempre voltado à pesquisa, pensadores, e não repetidores de informações.
socializando suas buscas e experiências durante a prática A dúvida nessa exposição é um aspecto positivo, pois gera
educativa, para a melhoria da qualidade de ensino. a curiosidade, levando o aluno a refletir e buscar respostas. O
Na realidade, o professor é consciente de como é autor citado enfatiza que a exposição interrogada
importante sua atuação na formação de pensadores, contudo transforma a informação em conhecimento e esse
o programa curricular preestabelecido pela escola tem o conhecimento, em experiência e o melhor, o professor não
propósito de preparar o aluno para ingressar numa mais é persuasivo, ou o que convence, mas o que provoca e
universidade. Com isso o professor não tem a liberdade ou o estimula a inteligência. Diante disso, ele desempenha, no
apoio para conduzir suas aulas, então o ensino volta-se para a processo de ensino e aprendizagem, o papel de gerenciador e
transmissão de conteúdos e os alunos permanecem no papel não de detentor do conhecimento.
de repetidores. Numa sociedade que está sempre em transformação, o
Observa-se que a responsabilidade de educar, hoje, recai professor contribui com seu conhecimento e sua experiência,
tão somente sobre a escola, especialmente sobre a figura do tornando o aluno crítico e criativo. Deve estar voltado ao
professor. Contudo, o ato de educar compete a todas as ensino dialógico, uma vez que os seres humanos aprendem
instituições sociais comprometidas com o desenvolvimento do interagindo com os outros. É o processo aprender a aprender.
país, principalmente a família – uma das instituições mais O professor deve provocar o aluno passivo para que se
antigas – deve ter sua coparticipação junto à escola, uma vez torne num aluno sujeito da ação.
que é ela que compete a transmissão de valores morais. Essa A Lei nº 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da
parceria deve visar à formação do educando, a fim de que este educação nacional, decretando a todo cidadão o direito a
exerça sua autonomia e liberdade frente as suas atividades no educação, abrangendo processos formativos que se
contexto escolar e no seu convívio em sociedade. desenvolvem desde a família às manifestações culturais. Esta
Dessa forma, falar do papel do professor no processo Lei disciplina que a educação escolar se desenvolva por meio
ensino e aprendizagem é mostrar como deve ser permeada sua do ensino em instituições próprias, mas devendo vincular-se
prática, para que esta não seja como um mero transmissor ao mundo do trabalho e às práticas sociais.
de informações, mas como um gerenciador do
conhecimento, valorizando a experiência e o conhecimento Dessa forma, no artigo 13 da LDB, que tem como título “Da
internalizado de seu aluno na busca de sua formação como Organização da Educação Nacional”, trata-se sobre as funções
pessoa capaz de pensar, criar e vivenciar o novo, assim do professor, como sendo:
como da formação de sua cidadania. a) Participar da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
O papel do professor no processo de ensino e b) Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
aprendizagem proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
c) Zelar pela aprendizagem dos alunos;
Durante muito tempo a prática educativa era centrada no d) Estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de
professor. Este repassava os conteúdos, os alunos absorviam menor rendimento;
ou memorizavam sem qualquer reflexão ou indagação. Ao e) Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
final, o conteúdo era cobrado em forma de uma avaliação. Esse além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
tipo de informação, repassada e memorizada, destoa planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
completamente da proposta de um novo ensino na busca da f) Colaborar com as atividades de articulação da escola
produção do conhecimento. Essa prática pedagógica em nada com as famílias e a comunidade.
contribui para o aspecto cognitivo do aluno.
Hoje, não se pede um professor que seja mero transmissor Percebe-se que o papel do professor, segundo a LDB, é
de informações, ou que aprende no ambiente acadêmico o que mais do que transmitir informações, em uma gestão
vai ser ensinado aos alunos, mas um professor que produza o democrática, ele deve participar da elaboração da
conhecimento em sintonia com o aluno. proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, como
Não é suficiente que ele saiba o conteúdo de sua disciplina, também estabelecer os objetivos, as metas a serem
ele precisa não só interagir com outras disciplinas, como alcançadas, uma vez que é ele que tem maior contato com o
também conhecer o aluno. Conhecer o aluno faz parte do papel aluno e é de sua responsabilidade a construção de uma
desempenhado pelo professor pelo fato de que ele necessita educação cidadã. O artigo também fala com relevância sobre o
saber o que ensinar, para que e para quem, ou seja, como o que o professor deve priorizar em relação à aprendizagem do
aluno vai utilizar o que aprendeu na escola em sua prática aluno, buscando meios que venham favorecer aqueles que
social. apresentam dificuldades durante o processo. É importante que
Dessa forma, Libâneo19 afirma que o professor medeia à o professor participe das atividades da escola em conjunto
relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os com as famílias dos alunos e a comunidade.
conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando o Por isso, na sua prática pedagógica, o professor não pode
conhecimento, a experiência e o significado que o aluno traz à ser omisso diante dos fatos sócio históricos locais e mundiais,
sala de aula, seu potencial cognitivo, sua capacidade e e precisa entender não apenas de sua disciplina, mas também
interesse, seu procedimento de pensar, seu modo de trabalhar. como de política, ética, família, para que o processo de ensino
Nesse sentido o conhecimento de mundo ou o conhecimento e aprendizagem seja efetivado na sua plenitude dentro da
prévio do aluno tem de ser respeitado, explorando e ampliado. realidade do aluno.
Ensinar bem não significa repassar os conteúdos, mas Reforça Cury21 que os educadores, apesar das suas
levar o aluno a pensar, criticar. Percebe-se que o professor tem dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a
a responsabilidade de preparar o aluno para se tornar um solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos
cidadão ativo dentro da sociedade, apto a questionar, debater

19LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora: novas exigências 20 CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro:
educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998. Sextante, 2003.
21 Idem

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altruístas, enfim todas as áreas da sensibilidade não podem ser Dessa forma, a escola, diante das transformações que
ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos. ocorrem no mundo, não pode deixar de recolocar valores
Conclui-se com essa afirmação que o professor é a alma do humanos fundamentais como o reconhecimento da
estabelecimento de ensino. Ele tem a tarefa importante de diversidade e das diferenças, da justiça, assim como o respeito
formar cidadãos e de desenvolver neles a capacidade crítica da à vida como suporte de convicções.
realidade, para que possam utilizar o que aprenderam na A escola não é a que detém o saber, mas é a responsável
escola em diversas situações e/ou lugares. por preparar o aluno para as exigências postas pela sociedade.
Se os professores entrassem nos mundos que existem na Ela não deve resumir-se ao papel de repassar conteúdos que
distração dos seus alunos, eles ensinariam melhor. Tornar-se- não estejam norteados com a realidade do aluno, como num
iam companheiros de sonho e invenção. Muitas vezes a processo “bancário”, ou seja, o acúmulo de conhecimento que
distração dos alunos leva-os para outro mundo fora da sala de o educando não sabe mobilizar quando sai da escola, frente as
aula, mas a um mundo de criações, de sonhos, de desejos de suas aspirações pessoais.
realização de algo que permeia sua vida. É importante o
professor conhecer o mundo do aluno para dar significado à A escola brasileira, hoje, encontra-se voltada para
sua prática educativa. Pois a realização desta se dá quando conteúdos que vão ajudar o aluno a ingressar numa
existe o processo de compreensão professor-aluno, aluno- universidade ou no campo de trabalho, pois os professores
professor. Essa compreensão está no sentido de que ambos precisam cumprir um programa preestabelecido pela
caminham juntos na produção do conhecimento. instituição como um fim, e não como um meio para a
Zagury22 afirma que o professor precisa mostrar a beleza e aquisição do conhecimento ou a informação da cidadania
o poder das ideias, mesmo que use apenas os recursos de que do aluno.
dispõe: quadro-negro e giz. Observa-se nessa afirmação que a
aula pode ser bem positiva e agradável, sem os grandes Charlot24 afirma “a escola ideal é aquela que faz sentido
recursos que permeiam todas as atividades humanas e em para todos e na qual o saber é fonte de prazer”, assim, a escola
todos os lugares: os recursos tecnológicos. que se deseja é a que promova saberes que o aluno entenda.
Antes de qualquer decisão acerca da educação, é preciso Um recurso importante que provoca interesse no aluno,
ouvir o professor. É ele que acompanha o aluno, medeia o hoje é o computador. O que se pode perceber são alunos
conhecimento, faz parte do processo pedagógico efetivamente. querendo aulas diferentes utilizando esse recurso, porém com
É ele que enfrenta as dificuldades de aprendizagem do aluno, o objetivo de conversar com pessoas pela internet, e não para
as carências afetivas destes, e principalmente sabe como pesquisar. A escola precisa conscientizar o aluno que pode
adequar os conhecimentos prévios dos educandos aos usar esse recurso nas aulas, mas deve orientá-los para a
conteúdos curriculares da escola. Nesse sentido, o professor pesquisa.
precisa também sentir-se motivado a caminhar frente às De acordo com os PCNs25 é importante a contextualização
exigências da sociedade. Apoiá-lo nas decisões do que é no currículo como forma de facilitar a aplicação da experiência
melhor para o aluno e escutá-lo por sua vez, porque é com ele escolar para a compreensão de experiência pessoal em níveis
que o aluno passa o tempo em que está na escola. E o educando sistemáticos e abstratos e o aproveitamento de experiência
precisa ter consciência de sua responsabilidade, respeitando pessoal para facilitar a concretização dos conhecimentos que
as exigências da escola. a escola trabalha. A contextualização, nesse sentido é utilizada
como um recurso pedagógico para a constituição do
O Papel da Escola conhecimento; é um processo continuo de habilidades
intelectuais superiores.
Sabe-se que a escola não é responsável sozinha pelas A aprendizagem contextualizada em relação ao conteúdo
transformações sociais, porém é nela que acontece a busca desenvolver o pensamento mais elevado, não apenas a
intervenção pedagógica, resultando no processo de ensino e aquisição de fatos independentes da vida real. No processo, a
aprendizagem. É preciso então, que ela tenha consciência da aprendizagem é sócio interativa, envolve os valores, as
sua importância para desenvolver no educando a formação relações de poder e o significado do conteúdo entre os alunos
crítica e dar condições para que ele possa participar das envolvidos. No contexto, propõe-se não apenas trazer o real
decisões da sua comunidade local ou mundial. para a sala de aula, mas criar condições para que os alunos
revejam os eventos da vida real numa outra perspectiva.
A escola, enquanto instituição social, é um dos espaços
privilegiados de formação e informação, em que a De acordo com o Art. 9º do referido Parecer, na
aprendizagem dos conteúdos deve estar em consonância observância da Contextualização, as escolas terão presente
com as questões sociais que marcam cada momento que:
histórico. Ou seja, deve estar relacionada ao cotidiano dos a) Na situação de ensino e aprendizagem, o conhecimento
alunos, desde o aspecto local ao global. é transposto da situação em que foi criado, inventado ou
produzido, e por causa desta transposição didática deve ser
Diante disso, a escola deve deixar de ser uma agência relacionado com a prática ou a experiência do aluno a fim de
transmissora de informações e transformar-se num lugar onde adquirir significado;
a informação seja produzida e o conhecimento seja b) A relação entre teoria e prática requer concretização dos
significante. O educando afirma sua identidade através do conteúdos curriculares em situações mais próximas e
conhecimento e competências adquiridos na escola. familiares do aluno, nas quais se incluem as do trabalho e do
Segundo Libâneo23 a formação de atitudes e valores, exercício da cidadania;
perpassando as atividades de ensino, adquire, portanto, um c) A aplicação de conhecimentos constituídos na escola às
peso substantivo na educação escolar, por que se a escola situações da vida cotidiana e da experiência espontânea
silencia valores, abre espaço para permite seu entendimento, crítica e revisão.
os valores dominantes no âmbito social.

22 ZAGURY, Tânia. Fala mestre. In: NOVA ESCOLA, nº 192, p.20-22, maio, 2006. 25 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ensino Médio. Ministério da
23 Idem Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília, 1999.
24 CHARLOT, Bernard. Fala mestre. In: NOVA ESCOLA, nº 196, p.15-18, outubro,

2006.

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APOSTILAS OPÇÃO

Diante desse relato, a escola deve trabalhar de forma que Para Chalita27 a família tem a responsabilidade de formar
adapte os conteúdos à realidade e à diversidade de cultural, e o caráter, educar para os desafios da vida, de perpetuar valores
que a teoria e a prática estejam em consonância com as éticos e morais, sendo fundamental que o educando tenha
situações vividas pelos alunos. É fundamental que ela ofereça valores constituídos na família, para que junto à escola ele
condições e liberdade ao professor para que ele possa possa ampliar outros valores, respeitando e contribuindo para
desenvolver um bom trabalho frente ao aluno, visando a sua a realização do processo educativo.
aprendizagem como cidadão e como ser capaz de realizar Considerando que a escola deve trabalhar com o
tarefas em sociedade, uma vez que a aprendizagem é um conhecimento prévio e a experiência do aluno, a família
processo continuo e inacabado e não um fim com o objetivo de precisa contribuir no processo, educando, assumindo
formar apenas profissionais para o campo de trabalho. responsabilidades e atuando em parceria com a escola,
Hoje, ainda se observa que a responsabilidade de formar e ressaltando que cada uma das partes deve preservar suas
informar incide sobre o professor. Quando ele realiza uma características próprias.
estratégia diferente para repassar os conteúdos, outros Essa ação conjunta facilitará a adaptação do educando no
segmentos da escola questionam se o tempo é suficiente para espaço escolar e sua relação com a aprendizagem,
atingir toda a programação. No entanto o compromisso da possibilitando uma educação satisfatória. Pode-se perceber
escola deve ser com o conhecimento do aluno, como ele se dá, que a escola e a família devem buscar parcerias, de forma que
e não com a transmissão de conteúdos programados os educandos tenham oportunidades de construir um perfil de
previamente sem a análise das necessidades do educando. pessoa capaz de viver e conviver em situações novas e
O professor precisa de liberdade e autonomia para lidar prazerosas para eles.
com os conteúdos que vão provocar a inquietação do aluno.
Para isso, a escola deve contribuir oferecendo-lhe condições Questões
para atuar, apoiando-o nas suas ideias com o mesmo objetivo
de formar pessoas que podem mudar toda uma nação. Muito 01. (Colégio Pedro II – Técnico em assuntos
mais que ensinar conteúdos, a escola tem a responsabilidade educacionais – AOCP) Um projeto de trabalho docente deve:
de contribuir para a construção da cidadania e o respeito às (A) Evitar as possibilidades de ruptura com o estabelecido
diversidades. no processo de ensino e de aprendizagem.
(B) Prever com certeza os caminhos e os resultados a
A Relevante Participação da Família no Contexto serem alcançados.
Escolar (C) Considerar que a vontade e a inteligência são capazes
de promover mudanças.
A relação família e escola é inerente ao processo educativo. (D) Aumentar a qualidade e a eficácia do ensino.
A família sofre influências externas no convívio com a (E) Opor- se a perspectiva do conhecimento globalizado.
comunidade sendo relevante no processo educacional. Pode-
se afirmar que os valores morais que são orientados pela 02. (UTFPR – Assistente de Aluno) Analise as afirmativas
família fazem com que os educandos reconheçam a escola abaixo:
como espaço de exercício de cidadania, com direitos, deveres,
normas e regras, uma vez que as instituições escola e família I) Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
têm objetivos comuns, no sentido de formação do caráter, de proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
construção de conhecimento e de autoafirmação de cada um II) Zelar pela aprendizagem dos alunos.
deles. III) Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos
Algumas vezes a família não tem consciência da de menor rendimento.
importância de seu apoio junto à instituição escolar do filho.
No entanto, a participação efetiva daquela na educação da De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
criança é essencial para que esta consiga atingir seu objetivo. Nacional, essas são atribuições dos:
A família é o suporte para que a educação da criança prevaleça (A) Docentes.
na sua vida escolar. Diante disso, o acompanhamento de perto (B) Discentes.
do que se desenvolve é fundamental no processo de (C) Assistentes de aluno.
aprendizagem, uma vez que não envolve apenas o aspecto (D) Monitores.
cognitivo do educando, mas a formação de pessoas como seres (E) Educandos
constituintes de uma sociedade de valores morais e éticos.
Embora a escola tenha objetivos peculiares na formação do 03. (CISCOPAR – Pedagogo) A elaboração e o
educando, como a produção de conhecimento e sua visão cumprimento do plano de trabalho, segundo a proposta
crítica da realidade e do mundo, não significa que ela não deva pedagógica do estabelecimento de ensino é dever do:
se preocupar com o desenvolvimento afetivo e as relações (A) Aluno.
desenvolvidas pelos alunos – apenas tem critérios diferentes. (B) Diretor
No entanto a família precisa conscientizar-se do seu papel no (C) Secretário.
processo de criação da criança, não responsabilizando (D) Professor.
unicamente a escola por essa função. (E) Pedagogo.
Para corroborar com a ideia acima Chalita26 diz que por
melhor que seja a escola, por mais bem preparados que Respostas
estejam seus professores, nunca vai suprir a carência deixada
por uma família ausente”. 01. Alternativa D
É preciso também que a sociedade, não apenas os setores O ensino através de projetos de trabalho enfatiza o aspecto
ligados à educação, promova ações relacionadas ao cotidiano, globalizador com atenção à resolução de problemas
para que a família compreenda os objetivos traçados pela significativos. Situações problematizadoras são levantadas
escola, assim como a sua corresponsabilidade no processo pelo educador, introduzindo novas orientações e propiciando
educativo. descobertas de novos caminhos, norteando os alunos na
compreensão dos significados, onde são possibilitados a fazer

26 CHALITA, G. Educação: A solução está no afeto. 12ªed. São Paulo: Gente, 2004. 27 Idem

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APOSTILAS OPÇÃO

análise global da realidade, com isso os educandos constituem - Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em
os seus próprios procedimentos. Os alunos apreendem o um espaço comum de decisões educacionais.
conceito de projeto para dar vida às suas ideias. A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas
públicas requer a participação coletiva das comunidades
02. Alternativa A escolar e local na administração dos recursos educacionais
Conforme foi visto, o artigo 13 da Lei 9.394/96, LDB, trata financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na
sobre as funções do professor, conforme: implementação dos projetos educacionais.
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: Mas para promover a participação e deste modo
I - Participar da elaboração da proposta pedagógica do implementar a gestão democrática da escola, procedimentos
estabelecimento de ensino; prévios podem ser observados:
II - Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a - Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; comprometimento com a alternativa de ação escolhida;
III - Zelar pela aprendizagem dos alunos; - Responsabilizar pessoas pela implementação das
IV - Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos alternativas acordadas;
de menor rendimento; - Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as
V - Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além decisões serão realizados;
de participar integralmente dos períodos dedicados ao - Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; de todos os segmentos envolvidos;
VI - Colaborar com as atividades de articulação da escola - Articular interesses comuns, ideias e alternativas
com as famílias e a comunidade. complementares, de forma a contribuir para organizar
propostas mais coletivas.
03. Alternativa D - Esclarecer como a implementação das ações serão
O papel do professor, segundo a LDB, como vimos, é mais acompanhadas e supervisionadas;
do que apenas transmitir informações, ele deve participar da - Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em
elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de debate como também do processo de decisão.
ensino (Art. 13, I, da LDB), como também estabelecer os
objetivos e as metas a serem alcançadas, caracterizando assim Gestão democrática implica compartilhar o poder,
a Gestão democrática, como vimos. descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a
participação e respeitando as pessoas e suas opiniões;
Caro(a) Candidato(a), caso tenha interesse em desenvolvendo um clima de confiança entre os vários
implementar os seus estudos segue o link das “Orientações segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a
Curriculares do Acre”. desenvolver competências básicas necessárias à participação
(por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A
Link: https://goo.gl/Z33TVx participação proporciona mudanças significativas na vida das
pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se
sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum.
Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas
Os diferentes níveis de formas de relações coletivas faz parte do processo de
participação e trazem possibilidades de mudanças que
gestão do sistema de ensino e atendam a interesses mais coletivos.
suas articulações (ensino A participação social começa no interior da escola, por
federal, estadual e municipal); meio da criação de espaços nos quais professores,
funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir
criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da
escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos,
Gestão democrática e a mobilização da equipe com condições de participar criticamente do mundo do
escolar28 trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola,
no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o
E por falar em gestão, como proceder de forma mais processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de
democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas? gestão democrática passa pela construção de mecanismos de
participação da comunidade escolar, como: Conselho Escolar,
A participação é educativa tanto para a equipe gestora Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de
quanto para os demais membros das comunidades escolar e Classes etc.
local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é
argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor necessária a efetivação de vários mecanismos de participação,
novas sugestões e alternativas. Maior participação e tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo
envolvimento da comunidade nas escolas produzem os de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos
seguintes resultados: colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de
classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio
- Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a
de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco, construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola;
esclarecedor e respeitoso; a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e
- Formulações de alternativas, após um período de mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de
discussões onde as divergências são expostas. se partilhar o poder e a decisão nas instituições.
- Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados Não existe apenas uma forma ou mecanismo de
por toda a comunidade envolvida participação. Entre os mecanismos de participação que podem
ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o

28 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das pessoas


no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de
Secretários de Educação, 2001.

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conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio Todos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se
escolar. responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à
educação. Nesse sentido, pais, alunos, professores, servidores
Conselho escolar administrativos, associação de bairros, ou seja, as
comunidades escolar e local têm o direito de participar, por
O conselho escolar é um órgão de representação da meio dos diferentes conselhos criados para essa finalidade.
comunidade escolar. Trata-se de uma instância colegiada que
deve ser composta por representantes de todos os segmentos O processo de participação na escola produz, também,
da comunidade escolar e constitui-se num espaço de discussão efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a
de caráter consultivo e/ou deliberativo. Ele não deve ser o reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas,
único órgão de representação, mas aquele que congrega as bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum,
diversas representações para se constituir em instrumento que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual
que, por sua natureza, criará as condições para a instauração oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por
de processos mais democráticos dentro da escola. Portanto, o algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de
conselho escolar deve ser fruto de um processo coerente e todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada
efetivo de construção coletiva. A configuração do conselho conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem
escolar varia entre os estados, entre os municípios e até público comum requerem algumas condições:
mesmo entre as escolas. Assim, a quantidade de 1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem
representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso,
tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que acesso e permanência nas escolas a alunos em condições
ela possui. sociais desiguais;
2. Transparência administrativa e financeira com o
Conselho de classe controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao
gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos
O conselho de classe é mais um dos mecanismos de recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o
participação da comunidade na gestão e no processo de registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões;
ensino-aprendizagem desenvolvido na unidade escolar. 3. Processo participativo de tomada de decisões,
Constitui-se numa das instâncias de vital importância num implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos
processo de gestão democrática, pois "guarda em si a que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência
possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às
tem por objeto de estudo o processo de ensino, que é o eixo decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos.
central em torno do qual desenvolve-se o processo de trabalho
escolar" (DALBEN, 1995). Nesse sentido, entendemos que o Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma
conselho de classe não deve ser uma instância que tem como maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das
função reunir-se ao final de cada bimestre ou do ano letivo comunidades local e escolar oportunidades para:
para definir a aprovação ou reprovação de alunos, mas deve - Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação
atuar em espaço de avaliação permanente, que tenha como real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a
objetivo avaliar o trabalho pedagógico e as atividades da ser).
escola. Nessa ótica, é fundamental que se reveja a atual - Identificar possíveis razões para essa discrepância.
estrutura dessa instância, rediscutindo sua função, sua - Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar
natureza e seu papel na unidade escolar. esses problemas.

Associação de pais e mestres Envolvendo a comunidade na gestão da escola

A associação de pais e mestres, enquanto instância de A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e
participação, constitui-se em mais um dos mecanismos de experiências educativas, atingir objetivos da instituição
participação da comunidade na escola, tornando-se uma escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas,
valiosa forma de aproximação entre os pais e a instituição, planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em
contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as
muros da escola e a democratização da gestão seja uma pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na
conquista possível. construção do projeto pedagógico da escola. A gestão
democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação
Grêmio estudantil da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a
comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula
Numa escola que tem como objetivo formar indivíduos interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil,
participativos, críticos e criativos, a organização estudantil mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver
adquire importância fundamental. estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar
O grêmio estudantil constitui-se em mecanismo de na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias,
participação dos estudantes nas discussões do cotidiano desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a
escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num organização do trabalho pedagógico. A mobilização das
laboratório de aprendizagem da função política da educação e pessoas pode começar quando elas se defrontam com
do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar
aprendam a se organizarem politicamente e a lutar pelos seus novas formas de organização, de participar das decisões para
direitos. resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias
Articulado ao processo de constituição de mecanismos de divergentes na construção do projeto educativo. Como criar,
participação colegiada dentro da escola destaca-se também a ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação?
necessidade da participação e acompanhamento da aplicação Na construção de ambientes de participação e mobilização de
dos recursos financeiros, tanto na escola como nos sistemas de pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais.
ensino. A responsabilidade de acompanhar e fiscalizar a Vejamos algumas:
aplicação dos recursos para a educação é de toda a sociedade. - Estar atento às solicitações da comunidade.

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- Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm propiciem aos alunos oportunidades concretas para
a dizer. aprender;
- Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas. e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e
- Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens
cada um para o bom andamento do processo. acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e
- Garantir a palavra a todos. relacionais; modalidades de avaliação formativa;
- Respeitar as decisões tomadas em grupo. organização do tempo escolar de forma a garantir o
- Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e máximo de tempo para as aprendizagens e o clima para o
reuniões. estudo; acompanhamento de alunos com dificuldades de
- aprendizagem.
Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaserespon f) Participação dos pais nas atividades da escola;
sabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o investimento em formar uma imagem pública positiva da
próximo encontro. escola.
- Tornar a escola um espaço de sociabilidade.
- Valorizar o trabalho participativo.
- Destacar a importância da integração entre as pessoas. Essas características reforçam a ideia de que a qualidade
- Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações de ensino depende de mudanças no âmbito da organização
da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados. escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de
- Valorizar a presença de cada um e de todos. funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura
- Desenvolver projetos educativos voltados para a organizacional, as relações entre alunos, professores,
comunidade em geral, não só para os alunos. funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a
- Ressaltar a importância da comunidade na identidade da escola como um todo que deve responsabilizar-se pela
unidade escolar.
aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos
- Tornar o espaço escolar disponível para comunidade.
problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados
atualmente.
Gestão escolar para o sucesso do ensino e da
aprendizagem29
Ampliando o conceito de organização e de gestão de
escolas
Práticas de organização e gestão e escolas bem
sucedidas Para a perspectiva que compreende a escola apenas como
organização administrativa, também conhecida como
Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola
que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que o diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às
modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos formas de coordenação e gestão do trabalho, ao
resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e
iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais utilização dos recursos materiais e financeiros, aos
úteis para compreensão do funcionamento das escolas,
procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto
considerados os contextos e as situações escolares específicos.
de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A
Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas:
concepção técnico-racional reduz as formas de organização
apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática
de organização, decisões centralizadas, baixo grau de
a) Em relação aos professores: boa formação participação, separação entre o administrativo e o pedagógico.
profissional, autonomia profissional, capacidade de assumir Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção
responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os
condições de estabilidade profissional, formação professores se individualizam, as interações se enfraquecem,
profissional em serviço, disposição para aceitar inovações regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com
com base nos seus conhecimentos e experiências; vistas a controlar as estruturas administrativas e
capacidade de análise crítico-reflexiva. pedagógicas”.
b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de Na perspectiva da escola como organização social, para
organização e gestão, plano de trabalho com metas bem além da visão “administrativa”, as organizações escolares são
definidas e expectativas elevadas; competência específica e abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que
liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares
pedagógica; integração dos professores e articulação do de relações interpessoais. A escola é uma organização em
trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que
propício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de
participativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos
de experiências entre os professores; da instituição”.
c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão
com possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões da escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento
sobre problemas específicos; planejamento compatível com de saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que
as realidades locais; decisão e controle sobre uso de gera efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As
recursos financeiros; planejamento participativo e gestão formas de organização e de gestão adquirem dois novos
participativa, bom relacionamento entre os professores, sentidos:
responsabilidades assumidas em conjunto; a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão
d) Prédios adequados e disponibilidade de condições educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo
materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a

29LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição, São


Paulo, Heccus Editora, 2013.

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organização do espaço físico, os processos de tomada de contexto institucional e pedagógico preparado para produzir
decisões, etc., são também práticas educativas; mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua
b) as escolas são tidas como instituições aprendentes, aprendizagem.
portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as
pessoas mudam com as organizações e as organizações A noção de cultura organizacional é útil para compreender
mudam com as pessoas. melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão.
Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de
A organização escolar como lugar de práticas pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar
educativas e de aprendizagem que revelam a identidade, os traços característicos, de uma
instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das
A escola entendida como espaço de compartilhamento de pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza
idéias, práticas socioculturais e institucionais, valores, os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando
atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações, um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir.
com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem, Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a
comunidade de práticas, comunidade aprendente, inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de
organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não
outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo
situada em contextos”. francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem
Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua
atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e
meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é, de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de
depende das práticas sociais anteriores, de modo que a símbolos”.
atividade conjunta acumulada historicamente influencia a Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além
atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais,
humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural
fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco
transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre
lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas
“todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas,
duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando
individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e, práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos
princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento corredores, na preparação de alimentos e distribuição da
mental individual, especialmente o peso atribuído às merenda, nas formas de tratamento com os pais, na
mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais metodologia de aula etc.
e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual
o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas As atividades compartilhadas entre direção,
sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo professores e alunos.
de pensar dessa pessoa.
A cultura organizacional aparece sob duas formas: como
A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura
influência das práticas socioculturais e institucionais nas instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional
aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular,
práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é
contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas
contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura
próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de
escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem
relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos onde se compartilham significados, criam-se outros modos de
professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-
material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse se com a participação real de seus membros. As ações
modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de
espaços da escola são, também, mediações culturais, que formas de participação real das pessoas nas decisões em
atuam na aprendizagem das pessoas (professores, relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento
especialistas, funcionários, alunos). do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da
Tais práticas institucionais afetam significativamente o aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e
significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou convivência, etc.
negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já
que, de alguma forma, eles participam nessas práticas. Para uma revisão das práticas de organização e gestão
das escolas
O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma
prática social que se realiza num contexto de cultura, de Conclui-se que não é possível à escola atingir seus
relações e de conhecimento, histórica e socialmente objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos
construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que sem formas de organização e gestão, tanto como provimento
os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto
socioculturais, com as interações sociais, com as formas de como práticas socioculturais e institucionais com caráter
organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão
como uma organização aprendente, uma comunidade precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir:
democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos,
professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um

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a) As práticas de organização e gestão devem estar colaborativa e democrática os objetivos da escola. A


voltadas à aprendizagem dos alunos. participação é o principal meio de tomar decisões, de
As práticas de organização e gestão, a participação dos mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os
professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de
da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se trabalho desejado para si próprias e para os outros. A
anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo,
grau em que conseguem melhorar a qualidade da discussão pública, busca de consensos e de superações de
aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que
bem organizada e gerida é aquela que cria as condições criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para
organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que troca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações
permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, comuns.
de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em
suas aprendizagens. Já a gestão da participação implica repensar as práticas de
gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas
b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de
direção e da coordenação pedagógica funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à
Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das
prescindir de ações básicas que garantem o seu pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações
funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas interativas e democráticas. Para isso, faz-se necessária uma
e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos bem definida estrutura organizacional, responsabilidades
físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As
funcionamento e definição clara de responsabilidades dos exigências de gestão e liderança por parte de diretores e
integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e coordenadores se justificam cada vez mais em face de
controlar as atividades de apoio técnico-administrativo; problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas
cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina
e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas; manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas,
organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas
formas de relacionamento entre a escola e a comunidade, se acentuam com a inexperiência ou precária formação
especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do profissional de muitos professores que levam a dificuldades no
currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo
escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais com os alunos. Constatar esses problemas implica que não
didáticos e livros na biblioteca. pensemos apenas em mudanças curriculares ou
metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado
Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e
de competências de diretores e coordenadores pedagógicos. colaborativas com uma sólida estrutura organizacional.
Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e
aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem, eficazmente executado
gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de
organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da
objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente
todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura
qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra
estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é
igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de de que a equipe de dirigentes e professores tenha
ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades
conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais sociais e demandas da comunidade local e do próprio
exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as
justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu
que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da
intencionalmente constituídos, visando objetivos de realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê
aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes respostas a esta pergunta: em que comportamentos
origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos
contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no
e professores definam formas de gestão e de convivência que desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?
regulem a organização da vida escolar e as práticas Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da
pedagógicas, precisamente para conter tendências de escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos
discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o uma base cultural e científica comum e uma base comum de
usufruto da escolarização de qualidade. formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em
critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na
c) A organização e a gestão implicam a gestão descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto.
participativa e a gestão da participação Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes,
A organização da escola requer atender a duas por meio de um currículo comum a todos, na formulação de
necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura
democrático, e a gestão da participação, como requisito geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa
técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos acolher a diversidade e a experiência particular dos diferentes
democráticos e colaborativos de trabalho, em função da grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um
convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes
funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar
eficazmente seus objetivos, o que implica a gestão da em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua
participação. A gestão participativa significa alcançar de forma própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são

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necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto 03. (IF-MT- Auxiliar em Administração- UFMT)
pedagógico-curricular.
O novo gestor escolar
e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e
avaliação das atividades de ensino Escrito por Roberta Braga
A modalidade mais rica e eficaz de formação docente Publicado em 03, Novembro de 2014.
continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na
discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino.
É assim porque a formação continuada passa a ser entendida
como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da
escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o
projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de
atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam
ações compartilhadas que exigem troca de significados,
possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse
modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver
a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que
possibilita o movimento de formação do professor”.

Questões

01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a


administração escolar não é novo, bem como a da organização
do trabalho aí realizado. As mudanças na sociedade, nas famílias e na forma de as
pessoas perceberem a vida são constantes. Ideais autoritários
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a ficam cada vez mais enfraquecidos, e ações colaborativas
existência de duas concepções, que norteiam as análises: a ganham mais força. A escola como ambiente de convívio e
científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político. educação é impactada por essas mudanças de comportamento.
Na primeira delas, que é o modelo mais comum de Nesse cenário, o gestor escolar passa a ter papel ainda mais
funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita importante, uma vez que a maneira como a escola é
ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada, administrada pode refletir um melhor ambiente, tanto de
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices trabalho quanto de aprendizagem.
de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se Apesar de não existir uma receita pronta de administração
embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra, que funcione em todas as escolas, alguns princípios ajudam a
técnica, que funciona racionalmente". nortear o trabalho dos gestores [...]. “A tendência é de uma
Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece gestão em que o poder é distribuído, em que existe incentivo
“basicamente como um sistema que agrega pessoas, ao trabalho coletivo e às decisões tomadas em conjunto com
importando bastante a intencionalidade e as interações os envolvidos", observa Helena Machado de Paula
sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso
construção social a ser construída pelos professores, alunos, de especialização em Gestão Educacional e Escolar da
pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a
interesse público. especialista, o momento atual pelo qual o sistema de ensino
passa é o de perceber as novas necessidades e migrar, pouco a
A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de pouco, para esse tipo de gestão. “Nós ainda estamos
viabilização da... engatinhando para perceber a escola como ela está e atender
(A) administração empresarial. às necessidades reais do processo educativo", considera [...].
(B) administração escolar. (Disponível em http://www.gestaoeducacional.com.br/.
(C) gestão democrática. Acesso em 13/07/2015.)
(D) gestão empresarial.
(E) administração colegiada. De acordo com o texto, qual é o modelo de gestão que
possibilita a distribuição do poder e incentiva o trabalho
02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB) coletivo e as decisões tomadas em conjunto com os
Dentre os princípios e características da gestão escolar envolvidos?
participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da (A) Gestão participativa
concepção democrático-participativa de gestão escolar. Com (B) Gestão autoritária
base nessa informação, a autonomia na concepção (C) Gestão por competência
democrático-participativa de gestão escolar está expressa (D) Gestão mecanicista
em:
(A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir Respostas
sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos 01. C
financeiros. "A gestão, numa concepção democrática, efetiva-se por
(B) A organização escolar depende exclusivamente de meio da participação dos sujeitos sociais envolvidos com a
decisões do poder central. comunidade escolar, na elaboração e construção de seus
(C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado projetos, como também nos processos de decisão, de escolhas
pelo poder central. coletivas e nas vivências e aprendizagens de cidadania.
(D) A gestão da autonomia não implica 02. A
corresponsabilidade dos membros da equipe escolar. Segundo Libâneo (2004) “autonomia é a faculdade das
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio
tome as decisões para que os demais membros possam destino”. Autonomia de uma instituição significa ter o poder de
participar do processo de gestão. decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização,

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manter-se relativamente independente do poder central, muito as únicas que tinham acesso à instrução formal
administrar livremente recursos financeiros. recebiam alguma iniciação em desenho e música.

03. A Atuação da equipe pedagógica – coordenação


A gestão participativa significa alcançar de forma
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A A política de atuação da equipe pedagógica é de suma
participação é o principal meio de tomar decisões, de importância para a elevação da qualidade de ensino na escola,
mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os existe a necessidade urgente de que os coordenadores
conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte
trabalho desejado para si próprias e para os outros. A técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda ficarem
participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, nos corredores da escola procurando conter a indisciplina dos
discussão pública, busca de consensos e de superações de alunos que saem das salas durante as aulas, enquanto os
conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que professores ficam necessitados de acompanhamento. A equipe
criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para de suporte pedagógico tem papel determinante no
troca de ideias e experiências para chegar a ideias e ações desempenho dos professores, pois dependendo de como for a
comuns. política de trabalho do coordenador o professor se sentirá
apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do
coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e
conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a dia da escola
e consequentemente o desenvolvimento do aluno em todos os
Papéis e funções da equipe âmbitos.
escolar e as normas que
devem reger as relações entre Compromisso social do educador

os profissionais que nela Ao educador compete a promoção de condições que


trabalham; favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mesmo
compreender o que está sendo ministrado, quando o professor
adota o método dialético; isso se torna mais fácil, e essa precisa
ser a preocupação do mesmo: facilitar a aprendizagem do
aluno, aguçar seu poder de argumentação, conduzir ás aulas de
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA modo questionador, onde o aluno- sujeito ativo estará também
exercendo seu papel de sujeito pensante; que dá ótica
O papel da escola / função social da escola30 construtivista constrói seu aprendizado, através de hipóteses
que vão sendo testadas, interagindo com o professor,
A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais do argumentando, questionando em fim trocando ideias que
que nunca é imprescindível que a escola acompanhe essas produzem inferências.
evoluções, que ela esteja conectada a essas transformações, O planejamento é imprescindível para o sucesso cognitivo
falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho do professor,
conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado neste é como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois
trabalho. quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho temos perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja
desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que resultados o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a
temos alcançado. Qual é na verdade a função social da escola? indisciplina e o desinteresse na sala de aula. É importante que
A escola está realmente cumprindo ou procurando cumprir o planejar aconteça de forma sistematizada e contextualizado
sua função, como agente de intervenção na sociedade? Eis com o cotidiano do aluno – fator que desperta seu interesse e
alguns pressupostos a serem explicitados nesse texto. Para se participação ativa.
conquistar o sucesso se faz necessário que se entenda ou e que Um planejamento contextualizado com as especificidades
tenha clareza do que se quer alcançar, a escola precisa ter e vivências do educando, o resultado será aulas dinâmicas e
objetivos bem definidos, para que possa desempenhar bem o prazerosas, ao contrário de uma prática em que o professor
seu papel social, onde a maior preocupação – o alvo deve ser o cita somente o número da página e alunos abrem seus livros é
crescimento intelectual, emocional, espiritual do aluno, e para feito uma explicação superficial e dá-se por cumprido a tarefa
que esse avanço venha fluir é necessário que o canal (escola) da aula do dia, não houve conversa, dialética, interação.
esteja desobstruído.
Ação do gestor escolar
A Escola no Passado
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possibilitar sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a
as pessoas à convivência com seus semelhantes (socialização). maneira como ele conduz o questionamento das ações é o foco
As melhores e mais conceituadas escolas pertenciam à rede que determinará o sucesso ou fracasso da escola. De acordo
particular, atendendo um grupo elitizado, enquanto a grande com Libâneo: Características organizacionais positivas
maioria teria que lutar para conseguir uma vaga em escolas eficazes para o bom funcionamento de uma escola:
públicas com estrutura física e pedagógicas deficientes. professores preparados, com clareza de seus objetivos e
O país tem passado por mudanças significativas no que se conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos.
refere ao funcionamento e acesso da população brasileira ao Um bom clima de trabalho, em que a direção contribua
ensino público, quando em um passado recente era privilégio para conseguir o empenho de todos, em que os professores
das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência para os aceitem aprender com a experiência dos colegas.
homens, as mulheres mal apareciam na cena social, quando

30 COSTA, V.L.P. Função Social da escola. Adaptado. Disponível em:


<http://www.drearaguaina.com.br/projetos/funcao_social_escola.pdf>.

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Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico- aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades,
curricular que vá de encontro às reais necessidades da escola, procedimentos, atitudes e valores), fará com que se tornem
primando por sanar problemas como: falta de professores, cidadãos participantes na sociedade em que vivem.
cumprimento de horário e atitudes que assegurem a Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do
seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas
aprendizagem, com relação a alunos e funcionários. também enfatiza outros aspectos: as formas de
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista o convivência entre as pessoas, o respeito às diferenças, a
respeito e admiração da maioria de seus funcionários e alunos, cultura escolar.
há um clima de harmonia que predispõe a realização de um Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que a
trabalho, onde, apesar das dificuldades, os professores terão maioria das aulas são totalmente sem atrativos, professores
prazer em ensinar e alunos prazer em aprender. chegam à sala cansados, desmotivados, não há nada que os
atraem a participarem, que os desafiem a querer aprender. É
Função Social da Escola importante ressaltar a importância da unidade de propostas e
objetivos entre os coordenadores e o gestor, pois as duas
A escola é uma instituição social com objetivo partes falando a mesma linguagem o resultado será muito
explícito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, positivo que terá como fruto a elevação da qualidade de
cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da ensino.
aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos,
habilidades, procedimentos, atitudes, e valores) que, No caso da criança que inicia a sua vida escolar, a Escola31
aliás, deve acontecer de maneira contextualizada é um dos lugares socialmente instituídos para a criança se
desenvolvendo nos discentes a capacidade de tornarem- inserir na cultura urbana, para que se relacione com o outro e
se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. com o conhecimento. É parte de uma dinâmica, onde o sujeito
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente escolar organiza e interpreta suas relações com o mundo interno e
um meio que favoreça o aprendizado, onde a escola deixe de externo. É nela que aprendemos, a ler e a escrever, dois objetos
ser apenas um ponto de encontro e passe a ser, além disso, socioculturais fundamentais numa sociedade letrada. Não ler
encontro com o saber com descobertas de forma prazerosa e e escrever, hoje, significa não dispor dos instrumentos básicos
funcional, conforme Libâneo, devemos inferir, portanto, que a para inserção e participação social, para a constituição da
educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola cidadania.
promove, para todos, o domínio dos conhecimentos e o A Escola tem um papel realmente importante na vida
desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas de uma pessoa porque é na Escola começa a ter uma
indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e Educação profissional de qualidade e também é por ela
sociais dos alunos. que todo mundo começa a formar a sua própria opinião e
A escola deve oferecer situações que favoreçam o assim poder tomar decisões por contar própria sem
aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, contar que a Escola é responsável por formar
entendimento da importância desse aprendizado no futuro do profissionais para o mercado de trabalho. Por meio dela
aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que os jovens podem decidir qual vai ser o seu futuro.
possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que Ela se situa de forma cada vez mais evidente em meio a um
garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará interesse de classes distintas com necessidades distintas. É
conhecer e aprender sempre mais. vista com vários olhos, tanto como objeto educacional quanto
Analisando os resultados da pesquisa de campo um refúgio. Muitos pais pensam que a Escola se torna um meio
(questionário) observamos que os jovens da turma analisada de estar se livrando dos seus filhos e querem que a Escola de a
não possuem perspectivas definidas quanto à seriedade e Educação adequada para eles. A incoerência social da Escola é
importância dos estudos para suas vidas profissional, fruto da Incoerência social da Sociedade, frutos da ganância e
emocional, afetiva. A maioria não tem hábito de leitura, ambição de muitos.
frequenta pouquíssimo a biblioteca, outros nunca foram lá. A Como função social a Escola é um local onde visa a
escola é na verdade um local onde se encontram, conversam e inserção do cidadão na sociedade, através da inter-
até namoram. Há ainda, a questão de a família estar raramente relação pessoal e da capacitação para atuar no grupo que
na escola, não existe parceria entre a escola e família, convive. Forma cidadãos críticos e bem informados, em
comunidade a escola ainda tem dificuldades em promover condições de compreender e atuar no mundo em que vive.
ações que tragam a família para ser aliadas e não rivais, a
família por sua vez ainda não concebeu a ideia de que precisa "É na Escola que se constrói parte da identidade de ser e
estar incluída no processo de ensino e aprendizagem pertencer ao mundo; nela adquirem-se os modelos de
independente de seu nível de escolaridade, de acordo com aprendizagem, a aquisição de princípios éticos e morais que
Libâneo, “o grande desafio é o de incluir, nos padrões de vida permeiam a sociedade; na Escola depositam-se expectativas,
digna, os milhões de indivíduos excluídos e sem condições bem como as dúvidas, inseguranças e perspectivas em relação
básicas para se constituírem cidadãos participantes de uma ao futuro e às suas próprias potencialidades".
sociedade em permanente mutação”.
Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e escola é A Escola tem um compromisso com a Educação, devendo
uma medida, um caminho que necessita ser trilhado, para atuar forma abrangente, não só tendo como objetivo a
assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da escola, instrução. Deve manter uma visão holística, procurando
é sujeito que aprende que constrói seu saber, que direciona avaliar, para melhorar, todos os aspetos dos quais o ser
seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com pessoas, humano é constituído. Deve prover os indivíduos não só, nem
valores, tradições, crenças, opções e precisa estar preparada principalmente, de conhecimentos, ideias, habilidades e
para enfrentar tudo isso. capacidades formais, mas também, de disposições, atitudes,
Informar e formar precisa estar entre os objetivos interesses e pautas de comportamento. Assim, tem como
explícitos da escola; desenvolver as potencialidades físicas, objetivo básico a socialização dos alunos para prepará-los para
cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da

31THOMAZ, J. R. A função da escola em organizar-se pensando na formação do


aluno. 2009.

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sua incorporação no mundo do trabalho e que se incorporem Este processo resulta em permanentes transformações
à vida adulta e pública. também no âmbito conceitual e das ideias que a sociedade
A Escola não foi inventada nem para o aluno, nem para o constrói acerca da responsabilidade sobre a construção dos
professor, nem para o político, nem para o pedagogo, nem para novos sujeitos.
o sociólogo. As rupturas ocorridas nas estruturas sociais e familiares,
A Escola foi inventada para que os que não sabem que tiveram como marco a sociedade moderna, resultaram na
possam aprender com os que sabem. Ou seja, para o privatização do espaço familiar, que passa a ser organizado em
Ensino. torno da criança. No entanto, a responsabilidade da família
A possibilidade de formar o cidadão para o mercado de pela proteção, educação e socialização da criança sofreu novas
trabalho e para a vida está diretamente ligada à transformações a partir do desenvolvimento do modelo
frequência Escolar, à superação das exigências impostas urbano-industrial, que teve como consequência uma
nas instituições, às adaptações aos ritos de passagem. perpetuação das desigualdades sociais e da própria
Portanto, as Escolas contribuem para que as sociedades se constituição da infância.
perpetuem, pois transmitem valores morais que integram Ao mesmo tempo o prolongamento do tempo de infância,
as sociedades. Mas elas também podem exercer um papel como um período em que a criança é preservada do mundo do
decisivo nas mudanças sociais. trabalho, é acompanhado de um reconhecimento social da
criança, mas não de uma garantia do direito à infância. Uma
Contudo, partindo do pressuposto de que a escola visa sociedade de extremas diferenças resulta no convívio com
explicitamente à socialização do sujeito é necessário que se diferentes infâncias: a vivida por crianças que têm um pleno
adote uma prática docente lúdica, uma vez que ela precisa reconhecimento dos seus direitos e por aquelas que não têm
estar em sintonia com o mundo, a mídia que oferece: nenhum destes mesmos direitos garantidos.
informatização e dinamismo. As grandes modificações impostas pela sociedade às
Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento diferentes estruturas familiares põem em movimento os
ferramentas básicas para o desenvolvimento de um trabalho padrões de organização da vida familiar quanto às práticas de
eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o professor criação de filhos, de divisão de tarefas e papéis familiares,
valoriza as teses dos alunos, cultivando neles a autonomia e trazendo como consequência a necessidade de tornar coletivo
autoestima o que consequentemente os fará ter interesse pelas o cuidado e a educação da criança pequena. Coloca-se então
aulas e o espaço escolar então deixará de ser apenas ponto de como importante questão social a definição de quem é
encontro para ser também lugar de crescimento intelectual e responsável por este sujeito de direitos.
pessoal. Como bem define Arroyo em sua palestra “O significado da
Para que a escola exerça sua função como local de Infância”: “A reprodução da infância deixa de ser uma
oportunidades, interação e encontro com o outro e o saber, atribuição exclusiva da mulher, no âmbito privado da família.
para que haja esse paralelo tão importante para o sucesso do É a sociedade que tem que cuidar da infância. É o Estado que,
aluno o bom desenvolvimento das atribuições do coordenador complementando a família, tem que cuidar da infância (...) que
pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar o hoje tem que ser objeto dos deveres públicos do Estado, da
tempo na escola para que os professores façam seus sociedade como um todo. Infância que muda, que se constrói,
planejamentos e ainda que atue como formador de fato; que aparece não só como sujeito de direitos, mas como sujeito
sugerindo, orientando, avaliando juntamente os pontos público de direitos, sujeito social de direitos.”
positivos e negativos e nunca se esquecendo de reconhecer, É neste sentido que se toma a reflexão sobre uma política
elogiar, estimular o docente a ir em frente e querer sempre de educação da infância e um projeto político-pedagógico
melhorar, ir além. consequente. Ou seja, as instituições que passam a ser
O fato de a escola ser um elemento de grande importância corresponsáveis pela criança, nestes novos espaços coletivos
na formação das comunidades torna o desenvolvimento das necessitam redimensionar suas funções frente a estas
atribuições do gestor um componente crucial, é necessário que mudanças, assumindo uma posição de negação, seja dos
possua tendência crítico-social, com visão de projetos de cunho custodial atrelados a perspectivas
empreendimento, para que a escola esteja acompanhando as educacionais higienistas e moralizadoras, seja dos projetos de
inovações, conciliando o conhecimento técnico à arte de “preparação para o futuro” que pretendem uma escolarização
disseminar ideias, de bons relacionamentos interpessoais, precoce preocupada com a inserção na escola de ensino
sobretudo sendo ético e democrático. Os coordenadores por fundamental. A educação infantil tem uma identidade que
sua vez precisam assumir sua responsabilidade pela qualidade precisa considerar a criança como um sujeito de direitos,
do ensino, atuando como formadores do corpo docente, oferecendo-lhe condições materiais, pedagógicas, culturais e
promovendo momentos de trocas de experiências e reflexão de saúde para isso, de forma complementar à ação da família.
sobre a prática pedagógica, o que trará bons resultados na A tutela, a socialização e a educação da criança pequena
resolução de problemas cotidianos, e ainda fortalece a passam a ser compartilhadas por diversos segmentos
qualidade de ensino, contribui para o resgate da autoestima do públicos, deixando de ser uma tarefa exclusivamente privada.
professor, pois o mesmo precisa se libertar de práticas não A organização social típica das sociedades industriais, e não só
funcionais, e para isso a contribuição do coordenador será isto, como também a ampliação do universo cultural com o
imprescindível, o que resultará no crescimento intelectual dos qual a criança passa a interagir, rompem com os padrões
alunos. instituídos de uma educação infantil que se dá, sobretudo, no
interior da família e sob uma orientação particular própria,
E qual é a função social das instituições de educação baseada em valores específicos dos grupos sociais familiares.
infantil?32 Estas transformações nos impõem uma reflexão acerca da
responsabilidade social sobre a criança.
Parece óbvio dizer que a educação da criança não foi Contemporaneamente, nos países onde o avanço da economia
sempre igual, até porque a própria forma de ser criança, a e as conquistas sociais são uma realidade, a educação infantil
infância, não é única e estável, sofre permanentes mudanças é vista como uma tarefa pública socialmente compartilhada,
relacionadas à inserção concreta da criança no meio social. que se reflete em políticas públicas que respeitam os direitos

32Rocha, E. A. C. (2003) “A função social das instituições de educação infantil”, em:


Revista Zero-a-Seis. Nº 07. Florianópolis: Editora UFSC, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 27
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da criança e associam-se, frequentemente, às políticas sociais enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto
voltadas para a família, com o intuito de viabilizar uma fundamental o ensino nas diferentes áreas, através da
educação que contemple as múltiplas dimensões humanas. aula, a creche e a pré-escola têm como objeto as relações
Pensar, analisar e perspectivar a educação de crianças em educativas travadas num espaço de convívio coletivo e
contextos institucionais educativos específicos exige que se têm como sujeito a criança até o momento em que entra
retomem os diferentes níveis de análise sobre a criança, na escola.
percebendo-se as diferentes dimensões de sua constituição e A partir desta consideração, conseguimos estabelecer
percebendo-a como um outro a ser ouvido e recebido. Em meu um marco diferenciador destas instituições educativas,
entender, esta complexidade representa para a Pedagogia a escola, creche e pré-escola, a partir da função social que
necessidade de percepção do sujeito-criança como objeto de lhes é atribuída no contexto social, sem estabelecer
sua ação, que não admite a transposição, de forma exclusiva e necessariamente com isto uma diferenciação hierárquica
parcial, da visão de qualquer um dos recortes acima ou qualitativa.
explicitados. Trata-se de orientar a ação pedagógica por Estabelecida a diferenciação supra referida, podemos, por
olhares que contemplem sujeitos múltiplos e diversos, ora, afirmar que o conhecimento didático (resultante de uma
reconhecendo sobretudo a infância como “tempo de direitos”. ação pedagógica escolar geral e do processo ensino-
Um novo tempo, que exige dos educadores consciência aprendizagem em particular) não é adequado para analisar os
sobre a necessidade de um espaço que contemple todas as espaços pedagógicos não-escolares. Isto não significa que o
dimensões do humano, sem esquecer que toda intervenção conhecimento e a aprendizagem não pertençam ao universo
educativa (inevitável como processo de constituição de novos da educação infantil. Todavia, a dimensão que os
sujeitos em qualquer cultura) mantém em si um movimento conhecimentos assumem na educação das crianças pequenas
contraditório e dinâmico entre indivíduo e cultura, movimento coloca-se numa relação extremamente vinculada aos
este que precisa ser mantido sob estreita vigilância por processos gerais de constituição da criança: a expressão, o
aqueles que se pretendem educadores, para evitar que se afeto, a sexualidade, a socialização, o brincar, a linguagem, o
exacerbe o poder controlador das características hegemônicas movimento, a fantasia e o imaginário. Não é, portanto, o
da cultura em detrimento do exercício pleno das capacidades objetivo final da educação da criança pequena o conteúdo
humanas, sobretudo a criatividade. escolar, muito menos em sua ‘versão escolarizada’. Aqui ele é
parte e consequência das relações que a criança estabelece
Princípios Pedagógicos para a Educação Infantil com o meio natural e social, pelas relações sociais múltiplas
entre as crianças e destas com diferentes adultos (e destes
Retomando a preocupação inicial deste debate, é possível entre si). Este conjunto de relações, que poderia ser
delimitar orientações para a educação infantil, resultantes das identificado como o objeto de estudo de uma “didática” da
diferentes formas de inserção social da família em instituições educação infantil, é que, num âmbito mais geral, estou
educativas (tais como creches e outras modalidades), preferindo denominar de Pedagogia da Educação Infantil ou
rompendo com os parâmetros pedagógicos estabelecidos a até mesmo, mais amplamente falando, de Pedagogia da
partir da “infância em situação escolar” delimitada pela Infância, que terá, pois, como objeto de preocupação a própria
pedagogia. Mantém-se, neste caso, a passagem da infância de criança, seus processos de constituição como seres humanos
um âmbito familiar para um institucional (creche) que, na em diferentes contextos sociais, sua cultura, suas capacidades
medida em que se corresponsabiliza pela criança, passa intelectuais, criativas, estéticas, expressivas e emocionais.
também a constituir um discurso próprio acerca das condições Cabe, então, indagar, a esta altura da discussão: Valeriam
de permanência das crianças em seu interior, assim como da para a educação infantil os parâmetros pedagógicos escolares,
configuração dos profissionais que nela passam a atuar. estabelecendo-se apenas diferenciais relativos à faixa etária?
Diferenciam-se, escola e creche, essencialmente quanto ao Definitivamente não, uma vez que a tarefa das instituições
sujeito, que neste último caso é a criança, e não o sujeito de educação infantil não se limita ao domínio do
escolar (o aluno). Diferenciam-se ainda quanto à definição de conhecimento, assumindo funções de complementaridade e
suas funções, pois se o ensino fundamental tem constituído socialização relativas tanto à educação como ao cuidado e
historicamente uma pedagogia escolar que visa aprendizagens tendo como objeto as relações educativas-pedagógicas
específicas; as funções da creche, como já vimos, encontram- estabelecidas entre e com as crianças pequenas. Estas relações
se em processo de definição de sua finalidade social e resultam envolvem, além da dimensão cognitiva, as dimensões
numa pedagogia ainda em constituição. Uma “Pedagogia da expressiva, lúdica, criativa, afetiva, nutricional, médica, sexual,
Infância” e da “Educação Infantil” necessitam considerar física, psicológica, linguística e cultural. Dimensões humanas
outros níveis de abordagem de seu objeto: a criança, em seu que têm sido constantemente esquecidas numa sociedade
próprio tempo, uma vez que se ocupa fundamentalmente de onde o que prevalece é o privilegiamento de um conhecimento
projetar a educação destes “novos” sujeitos sociais. parcializado resultante da fragmentação em diferentes
A definição destes contornos em termos de projetos disciplinas científicas.
educativos deverá levar em conta não só as especificidades da De fato, a multiplicidade de fatores que estão presentes
origem de cada instituição, mas sobretudo as referências nestas relações, sobretudo nas instituições responsáveis pelas
discursivas que apresentam a infância sob ângulos antes crianças pequenas, exige um olhar multidisciplinar que
desprezados tanto na Pedagogia como na Psicologia. favoreça a constituição de uma Pedagogia da Educação Infantil
Acompanhando a trajetória da constituição da Pedagogia, e tenha como objeto a própria relação educacional-pedagógica
os estudos que se propuseram a tomar a infância como objeto, expressa nas ações intencionais. Acredito que a extensão desta
desde a Pedologia até a moderna Psicologia Infantil sofreram, perspectiva pode influenciar a escola e passar a constituir uma
de fato, uma universalização da escola e das demandas Pedagogia da Infância.
práticas daí decorrentes. Para a Pedagogia, a criança passa a Estes pressupostos passam a exigir a reflexão sobre uma
ser o aluno e seu foco de preocupações, o ensino e a Pedagogia da Infância que tenha como objeto um projeto para
aprendizagem, tendo em vista especialmente a aquisição dos uma infância concreta, pertencente a um tempo e a um espaço
conhecimentos já produzidos. Enquanto a escola se coloca social determinado. Exige que pensemos além das fronteiras
como o espaço privilegiado para o domínio dos institucionais que separam a educação infantil da escola
conhecimentos básicos, as instituições de educação fundamental e vice-versa, sem perder de vistas as
infantil se põe, sobretudo, com fins de especificidades que o constituem.
complementaridade à educação da família. Portanto,

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APOSTILAS OPÇÃO

O ponto de partida de uma Pedagogia da Infância não se b) Formar o cidadão, construir conhecimentos, atitudes e
coloca numa uniformização das práticas escolares valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e
tradicionalmente centradas no domínio de conteúdos participativo;
escolares, e nem tampouco na articulação institucional
orientada pela antecipação destes conteúdos para a educação José Geraldo Bueno (PUC SP)
infantil. Envolve dimensões políticas e contextuais, a) construção de um sistema de ensino que possa se
relacionadas por sua vez a outras dimensões “praxiológicas”, constituir em fator de mudança social
referentes a aspectos sociais, expressivos, afetivos, lúdicos, b) responsável pela formação das novas gerações em
nutricionais, cognitivos e culturais. termos de acesso à cultura, de formação do cidadão e de
Perspectivar uma educação da infância independente das constituição do sujeito social.
fronteiras institucionais, no entanto, só será viável uma vez c) distinção entre a função da escola em relação à origem
que fiquem bem demarcadas as especificidades da educação social dos alunos trouxe importantes contribuições para uma
da criança pequena. Por enquanto, esta distinção é necessária. melhor compreensão da complexidade dessa instituição, por
Colocando-se igualmente como uma prática social, a educação outro, parece ter desembocado, novamente, numa concepção
infantil tem como objeto as relações educacionais-pedagógicas abstrata de escola, em particular em relação à escola pública,
no âmbito das instituições de educação coletiva para crianças. como sendo aquela que, voltada fundamentalmente para a
Sejamos mais cautelosos, sem perder de vista a ousadia, e educação das crianças das camadas populares, cumpre o papel
pensemos numa perspectiva que não seja o que a educação de reprodutora das relações sociais e de apoio à manutenção
infantil tem em comum com o ensino fundamental (porque do status quo.
correríamos novamente o risco de tomar como referência a
escola). Nosso esforço deve ser também o de marcar aquilo Pablo Gentili
que é próprio da educação das crianças de 0 a 5 anos, para só a) Visão neoliberal da função social da escola: “Na
depois fazer o movimento inverso numa tentativa de também perspectiva dos homens de negócios, nesse novo modelo de
influenciar a escola. sociedade, a escola deve ter por função a transmissão de certas
Neste sentido torna-se possível definir os diferentes competências e habilidades necessárias para que as pessoas
âmbitos das intervenções educativas como sendo a Educação atuem competitivamente num mercado de trabalho altamente
Infantil, delimitada sua especificidade frente a uma Educação seletivo e cada vez mais restrito.
da Infância (que abrange também crianças maiores de 5 anos) b) A educação escolar deve garantir as funções de
e à própria Infância, que as inclui, mas que logicamente classificação e hierarquização dos postulantes aos futuros
extrapola os âmbitos da análise pedagógica (sendo objeto de empregos (ou aos empregos do futuro). Para os neoliberais,
estudo e intervenção de um conjunto de outros campos). nisso reside a ‘função social da escola’. Semelhante ‘desafio’ só
Pensar a educação da infância exige a articulação de campos pode ter êxito num mercado educacional que seja, ele próprio,
teóricos que permitam captar o conjunto dos aspectos uma instância de seleção meritocrática, em suma, um espaço
envolvidos neste processo (social, familiar, cultural, altamente competitivo”.
psicológico, etc.) e a totalidade do sujeito-criança.
Como bem expressa Assis em seu parecer sobre as E assim conclui a Autora: Função Social da Escola -
Diretrizes Nacionais: “Ao iniciar sua trajetória na vida, nossas Compromisso com a formação do cidadão e da cidadã com
crianças têm direito à Saúde, ao Amor, à Aceitação, Segurança, fortalecimento dos valores de solidariedade, compromisso com
à Estimulação, ao Apoio, à Confiança de sentir-se parte de uma a transformação dessa sociedade.
família e de um ambiente de cuidados e educação. (...) Nesta
perspectiva fica evidente que o que se propõe é a negociação Questões
constante entre as autoridades constituídas, os educadores e
as famílias das crianças no sentido de preservação de seus 01. (Prefeitura de Cabaceiras- PB- Professor de
direitos, numa sociedade que todos desejamos democrática, Educação Básica I- UFCG) Todas as alternativas abaixo são
justa e mais feliz.” relativas à função da escola enquanto instituição social,
Isto significa que é necessário resgatar no espaço da EXCETO:
educação das crianças pequenas as suas manifestações (A) Formação do cidadão;
próprias, o espaço da brincadeira, da interação, do afeto e da (B) Construção do conhecimento;
expressão das diferentes linguagens como referência para o (C) Construção de valores;
trabalho pedagógico, contemplando sua identidade social e (D) Formação voltada prioritariamente para a aquisição de
cultural e as múltiplas dimensões humanas. Não significa, conteúdos;
contudo, descartar o papel do professor, como o adulto que (E) Compromisso com a transformação da sociedade.
organiza as atividades e dirige o processo de elaboração dos
conhecimentos que circulam naquele cotidiano. 02. (Prefeitura de Feira Grande- AL- Professor de
Educação Infantil- COPEVE- UFAL) Concebe-se,
Para saber mais... inequivocamente, como função social da educação:
(A) a apropriação dos conhecimentos especializados para
Tendo visto a função social da escola e das instituições de atuações específicas no mundo do trabalho.
educação infantil Arêas33 tratou as diferentes visões de (B) a formação de sujeitos cidadãos para manutenção das
grandes autores da educação: conquistas da sociedade, visando estabelecer os ganhos já
conquistados pela humanidade.
Paulo Freire: (C) a apropriação, por todos os indivíduos, dos
a) A formação do sujeito deve contemplar o conhecimentos construídos pela humanidade, além de valores
desenvolvimento do seu papel dirigente na definição do seu e habilidades necessários para nos tornarmos humanos.
destino, dos destinos de sua educação e da sua sociedade; (D) a apropriação dos conhecimentos construídos pela
humanidade, além de valores e habilidades que nos tornem
humanos, com foco na formação de pensadores e cientistas.

33 ARÊAS, Celina Alves. A função social da escola. Conferência Nacional da


Educação Básica. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/conferencia/documentos/celina_areas.pdf

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APOSTILAS OPÇÃO

(E) a apropriação de conhecimentos especializados para a sempre foi um duplo processo, que significa a atividade
ampla formação de sujeitos em busca da transformação da desempenhada pelos adultos para assegurar a vida e o
realidade. desenvolvimento de gerações futuras, e para despertar e fazer
crescer as suas habilidades, e nesse caso a escola é vista como
03. (MGS- Pedagogia- IBFS) A escola é uma instituição uma instituição, ou seja, um conjunto de normas e
social, que mediante sua prática no campo do conhecimento, procedimentos padronizados, e valorizados pela sociedade,
dos valores e atitudes, contribui para a constituição dos cujo objetivo principal é a socialização do indivíduo e a
processos educativos. Assim, a escola, no desempenho de sua transmissão de determinados aspectos da cultura.
função social de formadora de sujeitos históricos, precisa ser
um espaço de sociabilidade que possibilite a construção do Reflexões sobre o papel da educação
conhecimento produzido. Com esse contexto, assinale a
alternativa correta a seguir: Há muitas reflexões importantes a fazer, quando se fala no
(A) Em nossa sociedade, a escola é um lugar privilegiado conceito de educação para a sociedade. Começa na inserção da
para o exercício da democracia indireta com a escolha dos seus escola na comunidade, com formação de espíritos críticos, o
dirigentes. envolvimento da escola nos projetos de transformação social,
(B) A escola tem como função social formar o cidadão, a aproximação entre teorias e práticas, entre ideias e
construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o realidades, entre o conhecimento e a existência real do
estudante solidário, crítico, ético e participativo. estudante, entre educação e vida, que evidenciam a urgente
(C) A escola, em sua função social, contribuirá necessidade de repensar várias coisas relacionadas a
efetivamente para afirmar os interesses individuais das educação.
pessoas no processo educativo. Diante tais situações, são muitas as vozes que reivindicam
(D) A função social da escola é irrelevante para a a importância da educação para enfrentar os desafios. Em todo
administração civil e os órgãos governamentais. mundo, a educação hoje é uma prioridade nos programas de
quase todos os partidos políticos. De fato, umas das principais
Respostas funções da escola sempre foi a de preparar as novas
gerações para as mudanças e garantir uma melhor
01. D inserção no mundo profissional e no mercado de trabalho.
Uma educação advinda de uma escola que cumpra sua Devemos perguntar o que significa hoje pedir mais
função social, comprometida com a formação integral do ser educação. Por um lado, essas mudanças introduzidas pela
humano, deve adotar procedimentos facilitadores que sociedade da informação e do conhecimento fazem que
permitam a construção de identidades crítico reflexivas tenhamos de rever o significado atual do conceito de educação,
portadoras de autonomia intelectual, política, social e cultural pois em nenhum caso as formas de transmissão e de criação
fortemente alicerçadas nos princípios de igualdade, de justiça do conhecimento serão as mesmas.
e de solidariedade humana de modo a formar cidadãos, As mudanças ocorridas no âmbito político, científico e
construir conhecimentos e valores e manter seu compromisso tecnológico não parecem trazer uma sociedade mais justa e
de transformar a sociedade. solidária, pelo contrário, introduzimos novas formas de
desigualdade e de injustiça, que fazem aumentar a pobreza, a
02. C marginalização e a exclusão. Diante de tal fato, devemos
Não é necessária a inserção na escola para nos tornarmos repensar essa frase “a educação para todos durante toda a
humanos. vida”, está bem longe de ser realidade num mundo que
20%(vinte por cento) das crianças entre 6 a 11 anos estão fora
03. B das escolas, mesmos nos países desenvolvidos. Podem refletir
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o em fenômenos derivados da negação da diferença, em
desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e forma de guerra, xenofobia e violência, demonstrando que
afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos existe uma importante crise ética e moral. Por tudo isso, é
(conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, e preciso que deixemos de pensar na educação exclusivamente
valores) que, aliás, deve acontecer de maneira contextualizada a partir dos parâmetros econômicos e produtivos e passamos
desenvolvendo nos discentes a capacidade de tornarem-se a uma concepção da educação que cultive, sobretudo em
cidadãos participativos na sociedade em que vivem. valores de cidadania democrática, conforme a resolução da
Como função social a Escola é um local onde visa a inserção Unesco34:
do cidadão na sociedade, através da inter-relação pessoal e da
capacitação para atuar no grupo que convive. Forma cidadãos “Aprender a ser, a formação de uma cidadania criativa,
críticos e bem informados, em condições de compreender e capaz de transformar a informação em conhecimentos
atuar no mundo em que vive. que, a partir da diferença, afirme o respeito e a
valorização do próximo, para, dessa forma, projetarem
Educação – Função Social juntos um futuro comum de convivência ativa e
participativa na vida democrática, como lugar
Introdução privilegiado para consensuar objetivos que conciliem os
legítimos interesses individuais como os coletivo.”
Estamos vivendo um momento de profundas
transformações. A sociedade atual encontra-se em profunda Muitos anos, a escola e a família foram as duas instituições
crise, na qual somos remetidos a repensar nossos valores e encarregadas da educação e da formação das novas gerações,
atitudes frente ao conceito de educação. mas hoje isso é impossível de afirmar. A família está passando
A educação faz parte da nossa vida, ninguém está isento por grandes transformações e muitas vezes, delega sua função
dela, estamos envolvidos para aprender e ensinar, e a escola educativa tradicional para outros agentes, como a televisão ou
surge como instituição formadora de indivíduos. a própria escola. Por um lado, a escola não pode enfrentar
Para que essa transformação social ocorra é necessário sozinha todos os desafios apresentados pela nova sociedade
que a escola impõe o conhecimento, nesse caso a educação é e da informação.

34 UNESCO. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org

Conhecimentos Pedagógicos 30
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A crise nas escolas agravam, como também aumentam as própria, dependendo de sua localização geográfica e outros
sensações de desvalorizações sociais aos professores. Nos aspectos.
dias atuais, a influência educativa é exercida a partir de vários A função do professor
âmbitos, a tais como a família, trabalho, sociedade, associações Nos dias atuais levam-nos a refletir sobre a complexidade
etc., e por diferentes meios, televisão, multimídia e as vezes das funções entre uma boa ou péssima administração da
que opõem às propostas educativas. educação e as políticas de formação dos profissionais.
Considerando, todas essas mudanças dentro do contexto No contexto das transformações que vêm ocorrendo no
histórico, visando a sua transformação, pois se compreende mundo, os desafios das políticas de formação dos profissionais
que a realidade não é algo pronto e acabado, não se trata, no da educação. O professor, exerce sua função enquanto
entanto, de atribuir à educação e a escola nenhuma função de educador, ao estimular o educando a refletir sobre os cuidados
salvação e sim de reconhecer seu incontestável papel social no com a saúde, natureza, as questões da sociedade, entre outros,
desenvolvimento de processos educativos, na sistematização e a consciência do que seja participante dessa sociedade, sendo
socialização da cultura historicamente produzida pelos aspecto importante ao exercício da democracia, isso se torna
homens. mais fácil, facilitar a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder
de argumentação, conduzir ás aulas de modo questionador,
A educação e sua função social onde o aluno- sujeito ativo estará também exercendo seu papel
Mudanças legais – Uma nova realidade de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu
Ao delimitar a função da educação e da escola como aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas,
complexas, amplas, diversificadas, ampliam a necessidade de interagindo com o professor, argumentando, questionando em
dedicação exclusivamente por parte do professor, de fim trocando ideias que produzem inferências.
acompanhar as mudanças que se processam no campo de O papel da família nesse contexto, está ligado ao nível
trabalho, atualizando o seu currículo e sua metodologia. social e educacional, que a escola oferece através da
Para dar sustentação às contínuas evoluções, a educação socialização. O professor surge como agente de socialização,
precisa ressaltar um ensino que crie conexão entre o que o significando o elo entre a família e a sociedade. Pois são
aluno aprende nela e o que ele faz fora dela, há um parâmetro construídos a partir do desenvolvimento da moralidade, os
entre o ensino formal, o trabalho, o conhecimento e a na vida hábitos e responsabilidade social, devido uma situação de
prática do aluno. mudança e de resultados das convivências familiares, em um
Buscando a solucionar essas lacunas, o Poder Público tem meio que o estimula ou impede.
buscado alternativas de reforma do sistema ensino, criando e Para o sucesso cognitivo do aluno e êxito no
aprovando leis, como: Lei de Diretrizes e Bases da Educação desenvolvimento do trabalho do professor, o planejamento é
– LDB – n. 9.394/96, que institui o Fundo de Manutenção e como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a
do Magistério – FUNDEF – Lei n. 9.424/96 e o Plano perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja
Nacional de Educação (PNE). É importante reconhecer o o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a
papel da legislação tem exercido no cenário brasileiro, seja no indisciplina e o desinteresse na sala de aula.
sentido de promover reformas necessárias ou de implantar a É importante que o planejar aconteça de forma
profissionalização da educação básica. Mas a reflexão sobre a sistematizada e contextualizado com o cotidiano do aluno,
função social da escola, não pode ser vista somente com base para desperta seu interesse e participar ativamente no
na legislação, isto porque nela estão definidos os fins da resultado, que será aulas dinâmicas e prazerosas.
educação brasileira. Para que a escola exerça sua função como local de
O direito de todos à educação está estabelecido na oportunidades, interação e de encontro e o saber, para que
Constituição Federal no artigo 205 e no artigo 2 da Lei de haja esse paralelo tão importante para o sucesso do aluno o
Diretrizes e Bases da Educação – LDB – n. 9.394/96: bom desenvolvimento das atribuições do coordenador
pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar o
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da tempo na escola para que os professores façam seus
família, será promovida e incentivada com a colaboração da planejamentos e ainda que atue como formador de fato.
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Conforme que ensina Libâneo35, as características
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o positivas eficazes para o bom funcionamento de uma escola:
trabalho. professores preparados, com clareza de seus objetivos e
conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos, através
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada de um bom clima de trabalho, em que a direção contribua para
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade conseguir o empenho de todos, em que os professores aceitem
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do aprender com a experiência dos colegas.
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua Os coordenadores por sua vez precisam assumir sua
qualificação para o trabalho. responsabilidade pela qualidade do ensino, atuando como
De acordo como o artigo 12 da LDB, os seguintes formadores do corpo docente, promovendo momentos de
parâmetros: trocas de experiências e reflexão sobre a prática pedagógica, o
que trará bons resultados na resolução de problemas
Artigo 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as cotidianos, e ainda fortalece a qualidade de ensino, contribui
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a para o resgate da auto-estima do professor, pois o mesmo
incumbência de: precisa se libertar de práticas não funcionais, e para isso a
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, contribuição do coordenador será imprescindível, o que
criando processos de integração da sociedade com a escola; resultará no crescimento intelectual dos alunos.
Portanto, conforme previsto em lei, o papel da escola é de Essa clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico-
promover o pleno desenvolvimento do educando e curricular que vá de encontro às reais necessidades da escola,
preparar para a cidadania, qualificando-o para o trabalho, para sanar problemas como: falta de professores,
conforme cada características e formas de organização cumprimento de horário e atitudes que assegurem a

35 LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA J. F.; TOSCHI M. S.; Educação escolar: políticas estrutura

e organização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. (Coleção Docência em Formação)

Conhecimentos Pedagógicos 31
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seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
aprendizagem, com relação a alunos e funcionários e seu práticas sociais.
profissionalismo conquista o respeito e admiração da maioria As políticas que fortaleçam laços entre comunidade e
de seus funcionários e alunos, há um clima de harmonia que escola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado,
predispõe a realização de um trabalho, onde, apesar das para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da
dificuldades, os professores terão prazer em ensinar e alunos escola, é sujeito que aprende, que constrói seu saber, que
prazer em aprender. direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com
A escola enquanto espaço de reflexões sobre a pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa estar
comunidade, passa a reconstruir alguns elementos de preparada para enfrentar tudo isso.
desenvolvimento de uma escola para a formação da cidadania,
precisa formar profissionais que conheçam quais as funções Ao analisarmos toda esta conjuntura verificamos que,
sociais da escola brasileira em diferentes momentos, para que apesar da tendência para limitar a educação ao contexto
em seguida possa discutir a função pedagógica, política e do escolar e familiar, trabalho e as práticas sociais, a educação
trabalho em relação à escola cidadã. assume um sentido muito mais amplo e complexo. Não se
reduz apenas a uma etapa, mas trata-se sim de um processo
A função social gradual e contínuo, vivido ao longo da vida, que promove a
Ao se falar em educação devemos estar atentos ao contexto consciencialização, desenvolvimento e libertação do ser
social ao qual a escola se configura. É uma instituição social humano.
com objetivo explícito, através do desenvolvimento das
potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, Podemos afirmar que a educação assume um papel
capacitando-o a tornar um cidadão, participativo na sociedade determinante na formação associada à capacidade de
em que vivem, tendo como função básica de garantir a transformação e mudança do indivíduo e consequentemente
aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores da própria realidade em que este está inserido.
necessários à socialização do indivíduo, sendo necessário Questões
que a escola propicie o domínio dos conteúdos culturais
básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras, 01 . (Minas Gerais Administração e Serviços S.A - MGS
sem estas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer – Pedagogo – IBFC)
seus direitos de cidadania.
Neste sentido a escola por ser uma instituição que A escola é uma instituição social, que mediante sua prática
transmite o saber, essa função de formar cidadãos para atuar no campo do conhecimento, dos valores e atitudes, contribui
na sociedade, deve contribuir para a mudança de uma para a constituição dos processos educativos. Assim, a escola,
sociedade desigual, injusta. A escola deve dar condições, para no desempenho de sua função social de formadora de sujeitos
preparar o indivíduo na construção sólida da sua identidade, históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que
inserindo valores e pressupostos que possa fazer com que o possibilite a construção do conhecimento produzido. Com esse
mesmo conviva em sociedade e na sociedade com autonomia, contexto, assinale a alternativa correta a seguir:
solidariedade, capacidade de transformação e ética. (A) Em nossa sociedade, a escola é um lugar privilegiado
para o exercício da democracia indireta com a escolha dos seus
A escola deve oferecer situações que favoreçam o dirigentes.
aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, (B) A escola tem como função social formar o cidadão,
entendimento da importância desse aprendizado no futuro do construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o
aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que estudante solidário, crítico, ético e participativo.
possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que (C) A escola, em sua função social, contribuirá
garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará efetivamente para afirmar os interesses individuais das
conhecer e aprender sempre mais. E para o sociólogo francês pessoas no processo educativo.
Émile Durkheim, a principal função do professor é formar (D) A função social da escola é irrelevante para a
cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social. Dessa administração civil e os órgãos governamentais.
forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais
beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é
uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E 02. (CETAM – Analista Técnico Educacional –
quanto mais eficiente for o processo, melhor será o Psicologia – FCC)
desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja Para responder à questão, considere a Lei de Diretrizes e
inserida. Bases da Educação Nacional − LDB (Lei nº 9.394/1996). A Lei
destaca um entendimento amplo da função social da educação,
Assim, a função social da educação e da escola tem como quando:
objetivo de incluir o indivíduo ao saber histórico, ao (A) determina que a mesma deve ser organizada em
conhecimento científico, de forma eficaz e com qualidade, período integral.
também cumpre com sua função social de preparar o sujeito (B) propõe a reflexão crítica da prática educacional.
para o trabalho, o pleno exercício da cidadania e seu (C) explicita que deverá vincular-se ao mundo do trabalho
desenvolvimento de pessoas solidárias, cooperativas, e à prática social.
autônomas, capazes de conviver com as diferenças, precisa ser (D) destaca o entendimento da função social de uma
um espaço de socialização, que possibilite a construção do educação preparatória.
conhecimento, tendo em vista que esse conhecimento não é (E) vincula a vida social à vida cultural a partir do ensino
dado a priori. Pois, trata-se de conhecimento vivo e que se na escola.
caracteriza como processo em construção.

E o papel da educação num contexto democrático, está 03. (FUB- Pedagogo – CESPE)
previsto no artigo 3º da LDB: A respeito dos fundamentos da educação e da relação
Artigo 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes educação/sociedade em suas dimensões filosófica,
princípios: sociocultural e pedagógica, julgue o item subsequente.

Conhecimentos Pedagógicos 32
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APOSTILAS OPÇÃO

A educação, em uma abordagem funcionalista, é, 05. Resposta: B


essencialmente, um meio de socialização dos indivíduos a A alternativa b está correta, porque o papel do ensino é de
fim de torná-los membros de uma dada estrutura social preparação intelectual e moral dos alunos para assumir um
preestabelecida, exercendo, portanto, a função de papel na sociedade.
integração social.
( ) CERTO ( ) ERRADO

04. (SEDU-ES – Professor –Pedagogo – CESPE)


Considerando o desenvolvimento histórico das Leis e Normas que
concepções pedagógicas e a função social atribuída à escola, regulamentam a profissão de
julgue o item que se segue.
professor, suas atribuições e
A perspectiva progressista, sustentando as finalidades
sociopolíticas da educação, define que a escola tem a função as relações com os demais
social de formar o cidadão mediante um processo de profissionais da escola e da
construção de conhecimento, de atitudes e de valores que o secretaria;
tomem um sujeito solidário, crítico, ético e participativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

05. (SAP-SP – Analista sociocultural - VUNESP)


De acordo com Libâneo, a didática trata dos objetivos, Caro(a) Candidato(a), esse assunto já foi abordado na
condições e meios de realização do processo de ensino, unindo matéria de “Ética e Legislação Educacional”.
meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Neste
sentido,
(A) Os conteúdos devem ser trabalhados de forma acrítica
e inflexível para não intervir no produto. A importância do trabalho
(B) O ensino deve ser planejado a partir de propósitos coletivo e da atuação solidária
claros sobre a sua finalidade, tendo em vista que os alunos
estão sendo preparados para viverem em sociedade. e colaborativa na discussão,
(C) As questões de ordem social sempre prevalecem sobre elaboração, gestão,
as de ordem pedagógica. desenvolvimento e avaliação
(D) Os planejamentos indicam a necessidade de serem
neutros e escolarizados. do projeto educativo e
(E) Os estudantes são vistos enquanto seres passivos, daí curricular da escola,
porque a facilidade de aprendizagem. identificando formas positivas
Respostas de atuação em diferentes
01. Resposta: B contextos da prática
A alternativa b está correta, é a função social da Escola, em profissional, além da sala de
termos governamentais, a função social da escola pública é
formar o cidadão, isto é, construir conhecimentos, atitudes e aula; Os diferentes
valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e componentes do Projeto
participativo. Pedagógico;
02. Resposta: C
A alternativa c está correta, dispõe o artigo 1º § 2º da
LDB: A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do Relações Humanas no Trabalho
trabalho e à prática social.
Vale dizer que as Relações Humanas se referem às
03. Resposta: CERTO Relações Interpessoais, Intrapessoais e Intergrupais.
A alternativa é a certa, porque a função de integração social
pode confundir, mas é importante perceber que a integração Interpessoal - Significa relativo a uma comunicação, ou
social existe em qualquer modelo de sociedade, é fundamental uma relação, que se estabelece entre duas ou mais pessoas.
seja para modificá-la ou para manter seu status quo. Implica uma relação social, ou seja, um conjunto de normas
comportamentais que orientam as interações entre membros
04. Resposta: CERTO de uma sociedade. Este tipo de relacionamento é marcado pelo
A alternativa está correta, porque a educação é contexto onde ele está inserido, podendo ser um contexto
comprometida com a formação integral do ser humano deve familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade.
adotar procedimentos facilitadores que permitam a
construção de identidades crítico reflexivas portadoras de Intrapessoal - O prefixo “intra” exprime a noção de
autonomia intelectual, política, social e cultural fortemente “interior”. Assim, intrapessoal significaria relativo a
alicerçadas nos princípios de igualdade, de justiça e de comunicação conosco próprios. Remete para a aptidão de uma
solidariedade humana. Isso pressupõe que todas as crianças, pessoa de se relacionar com os seus próprios sentimentos e
jovens, adultos, homens e mulheres ao buscarem a escola emoções e é de elevada importância porque vai determinar
encontrem um contexto que os permita construir como cada pessoa age quando é confrontada com situações do
competências e habilidades, qualificando-os para o trabalho, dia a dia. Para ter um relacionamento intrapessoal saudável,
mas, sobretudo, preparando-os para a vida. um indivíduo deve exercitar áreas como a autoafirmação,
automotivação, autodomínio e autoconhecimento.

Intergrupal - Relação desenvolvida entre distintos grupos


(diferentes departamentos, distintas empresas, etc.).

Conhecimentos Pedagógicos 33
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APOSTILAS OPÇÃO

Relações Indivíduo/Organização36 Dessa forma, as pessoas são dotadas de conhecimentos,


habilidades e atitudes, que variam de pessoa para pessoa, de
Antes vamos conceituar cada um separadamente: acordo com sua formação, experiências e oportunidades.

Organização: é uma coletividade com uma fronteira Portanto, o Movimento das Relações Humanas surge da
relativamente identificável, uma ordem normativa (regras), crítica à Teoria da Administração Científica e à Teoria Clássica,
níveis de autoridade (hierarquia), sistemas de comunicação e porém o modelo proposto não se contrapõe ao taylorismo.
sistemas de coordenação dos membros (procedimentos); essa Combate o formalismo na administração e desloca o foco da
coletividade existe em uma base relativamente contínua, está administração para os grupos informais e suas inter-relações,
inserida em um ambiente e toma parte de atividades que oferecendo incentivos psicossociais, por entender que o ser
normalmente se encontram relacionadas a um conjunto de humano não pode ser reduzido a esquemas simples e
metas; as atividades acarretam consequências para os mecanicistas.
membros da organização, para a própria organização e para a
sociedade37. Elton Mayo identificou dois tipos de organização, a formal
e informal.
Simplificando:
Organização Formal: é a organização formalizada por
Uma organização é um sistema composto por uma meio de normas e regulamentos escritos e detalhados, com
coletividade de recursos como pessoas, informações, desenho de cargos, ou seja, a especificação dos requisitos e
conhecimento, instalações, dinheiro, tempo, espaço, entre atribuições relativas ao cargo, estes seguem uma estrutura
outros. As pessoas são os recursos mais importantes, pois hierárquica ou linha de comando, que atua organizando as
são os recursos humanos que processam os demais pessoas e os recursos a fim de alcançar determinados
recursos buscando realizar objetivos. objetivos. Na organização formal, as rotinas de trabalho e os
procedimentos são formalizados, de forma que os funcionários
A Administração é o processo de tomar decisões que saibam como exercer suas tarefas.
faz com que as organizações sejam capazes de utilizar
corretamente seus recursos para atingir seus objetivos. Organização Informal: diferente da organização formal,
que é criada para atingir os objetivos da empresa, a
Indivíduo: os indivíduos são as pessoas. O modelo de organização informal não possui normas e regulamentos
gestão por competências apresenta que as pessoas são formais. A organização informal nasce dos relacionamentos
indivíduos dotados de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes. das pessoas que possuem interesses em comum ou que
(CHÁ) compartilham valores semelhantes. A convivência dos
funcionários distribuídos nos diversos níveis hierárquicos
No entanto, sabemos que nem sempre a administração revelam amizades e diferenças entre as pessoas. A organização
enxergou as pessoas desse modo... informal serve para atender às necessidades sociais, de
relacionamento das pessoas. Por exemplo: a turma do
Na Administração Científica, por exemplo, o homem era cafezinho, o pessoal do futebol de sábado, o pessoal do
tratado como uma extensão da máquina, o conceito de “homo barzinho, etc.
economicus”, cuja ideia principal é a de que a motivação
fundamental da pessoa no trabalho é a remuneração. Assim, com a integração, o que as organizações têm a
ganhar é o maior aproveitamento da energia humana de que
Homem Médio e Homem de Primeira Classe: surge o dispõem. E, porque o processo de integração implica cessão de
estudo da administração de operações fabris, no qual Taylor ambas as partes, o problema que se apresenta é a
distingue o homem médio do homem de primeira classe. compreensão das mudanças que a organização e o indivíduo
Ao Homem de Primeira Classe deveria ser selecionado terão que sofrer para alcançar a maior energia no esforço
tarefa que lhe fosse mais apropriada e incentivada produtivo.
financeiramente, pois este é altamente motivado e realiza seu
trabalho sem desperdiçar tempo nem restringir sua produção. No pressuposto do autor, Elton Mayo, as bases para o
No entanto, um homem de primeira classe pode tornar-se maior aproveitamento da energia humana, vale dizer: para a
ineficiente se lhe faltarem incentivos ou se sofrer pressão do eficiência, residem na própria incompatibilidade que há entre
grupo de trabalho para diminuir a produção. os objetivos organizacionais e interesses individuais.
Na burocracia apresentada por Weber, o que conta é o
cargo e não a pessoa, por isso devia-se evitar lidar com as A vivência em grupo (e os objetivos deste) impõe a
emoções e as irracionalidades humanas. As pessoas devem ser organização e a institucionalização do trabalho, que cria
promovidas por mérito, e não por ligações afetivas. A papéis e padrões esperados de desempenho e
autoridade decorre do cargo ocupado e não da pessoa. comportamentos, estabelecendo uma teia de relações que
podem ser de mando, de lealdade, de confiança, de
Foi só na Escola das Relações Humanas, com o estudo cooperação, servidão, e assim por diante, e posicionando
de Hawthorne que o indivíduo começou a ser visto como as pessoas em relação a si próprias e em relação aos
pessoa que age como membro de um grupo, trata-se de outros.
uma organização social.
Nesse sentido, o exercício da atividade profissional não
Quando a administração trata bem os funcionários, o apenas expressa a singularidade do indivíduo, resultado das
desempenho do grupo tende a ser positivo. A administração suas escolhas, mas também o posiciona no seu grupo social. A
deve observar o comportamento dos grupos, e tratar os sua mobilidade manifesta o desenvolvimento de suas
funcionários de forma coletiva, ao incentivar o trabalho em
equipe.

36Lacombe, B. B. A Relação Indivíduo-Organização: é Possível não se Identificar Recife: Observatório da Realidade Organizacional: PROPAD/UFPE: ANPAD, 2002.
com a Organização? In: Encontro de Estudos Organizacionais, Recife. Anais... 1 CD.
37 HALL, R. H. Organizações: estruturas, processos e resultados. Pearson, 2004.

Conhecimentos Pedagógicos 34
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APOSTILAS OPÇÃO

habilidades e a valorização de sua atividade em relação ao seu dizer com quem gostaria de trabalhar? Sabemos que existem
grupo38. alguns grupos com os quais nos sentimos muito bem,
transmitem-nos paz, segurança e até nos identificamos com as
Comportamento intergrupal e grupal39 pessoas que o formam. Já em outros grupos ocorrem conflitos
e às vezes não temos identificação com ele, nem gostamos das
Conceituando grupo pessoas que compõem o grupo. Então, como definir esses
grupos?
Para Bowditch e Buono, um grupo consiste em duas ou Os grupos formais são aqueles que têm metas
mais pessoas que são psicologicamente conscientes umas das estabelecidas, voltadas para objetivos, e que são
outras e que interagem para atingir uma meta comum. Para explicitamente formados como parte da organização, tais
esse autor, os passageiros de um avião não seriam como grupos de trabalho, departamentos, equipes de projeto.
considerados um grupo, porém os participantes de uma E os grupos informais são aqueles que surgem com o passar do
excursão aérea seriam um grupo, pois preenchem as condições tempo, através da interação dos membros da organização.
necessárias para sê-lo, tais como: consciência mútua e Embora esses grupos não tenham quaisquer metas
interação para atingir uma meta comum. formalmente definidas, eles têm metas implícitas, que são
frequentemente recreativas e interpessoais.
Os diferentes tipos de grupos...
Grupos homogêneos e heterogêneos
Você já tentou caracterizar o seu grupo da escola, do bate-
bola no fim de semana ou da balada na sexta-feira? No nosso Você tem a mesma idade dos colegas da escola? Ou dos
dia-a-dia fazemos parte de vários grupos, do grupo da família; seus amigos mais íntimos? Tem os mesmos gostos que eles?
dos amigos íntimos, dos colegas da escola e do trabalho, da Provavelmente você está na mesma faixa etária que os seus
igreja e de tantos outros grupos que fazem parte da nossa vida. colegas de sala ou seus amigos, mas quanto às suas
Mas como diferenciar um grupo do outro? Quais os critérios preferências em relação a eles, até podem ter gostos em
para classificar um grupo e outro? Os estudiosos sobre comum, assim como pensamentos e desejos, mas vocês
comportamento em grupo definiram os grupos em categorias também têm suas diferenças, seja em pequenas coisas, como
distintas, as quais são as seguintes: grupos primários e preferir macarrão e não arroz, como seu melhor amigo, ou
secundários; grupos formais e informais; grupos homogêneos tomar Coca-Cola e não guaraná. Você deve estar se
e heterogêneos, grupos interativos ou nominais; grupos perguntando: quais os critérios para ser homogêneo ou
permanentes e temporários. heterogêneo?
É muito relativa essa classificação, pois quando falamos em
Grupos primários e secundários homogeneidade ou heterogeneidade estamos pensando em
uma característica especificamente e não na totalidade das
Lembra do grupo da família e dos amigos mais íntimos, características. Para dizer se um grupo é homogêneo,
citados anteriormente? São classificados como grupos precisamos primeiro deixar claro qual a característica que está
primários, pois estes são voltados para os relacionamentos sendo observada. Um exemplo disso pode ser o seu grupo da
interpessoais diretos, enquanto os grupos secundários são sala de aula, pois dizemos que um grupo é homogêneo
voltados principalmente para atividades ou metas definidas. observando a faixa etária, já que todos os alunos estão na faixa
Como exemplo dos grupos secundários, podemos pensar nos dos aos 0 anos. Mas esse mesmo grupo pode ainda ser
colegas da escola, com os quais nos reunimos para realizar chamado de heterogêneo quanto ao gosto pelo esporte, pois o
atividades escolares. Embora os grupos primários sejam grupo é dividido: alguns alunos gostam de jogar futebol, já
diferentes dos secundários, os primeiros podem surgir do outros, de jogar basquete, e um grupo menor adora nadar.
segundo. Um exemplo disso é um grupo de escola, ou seja, o
grupo do Cefet, do Curso Técnico em Comércio é um grupo Grupos interativos ou nominais
secundário, tendo em vista ter metas e estar voltado para Para Bowditch e Buono, os grupos interativos são aqueles
realização de atividades. Desse grupo com objetivos definidos nos quais os participantes se envolvem diretamente, com
pode surgir uma relação mais próxima entre alguns colegas de algum tipo de intercâmbio entre si. E os grupos nominais são
sala de aula, os quais se reúnem todas as vezes em que é aqueles cujos membros interagem indiretamente entre si.
solicitada alguma atividade em grupo. Ou seja, esse grupo Grupo em que há relação entre você, aluno, e o professor a
surgiu com o objetivo de concluir um curso, mas pode distância constitui um grupo nominal, pois o contato é
naturalmente criar laços de amizade os quais irão além desse indireto, não existe contato presencial, a não ser através da
curso. Os colegas de sala podem se transformar em grandes figura do monitor das aulas e, se existir, será apenas em alguns
amigos e assim continuar por toda a vida. encontros. E grupos como o do seu ambiente de trabalho, no
Na verdade, é muito provável que isso tenha acontecido qual os colegas têm contato frequente e constante são grupos
com você ainda na sua infância, quando você era uma criança interativos.
ou já adolescente. Na escola, iniciamos com um grupo
secundário e espontaneamente vamos formando grupos Grupos permanentes e temporários
menores, de acordo com a afinidade e identificação e, quando Sua família é um grupo permanente ou temporário? E seus
menos esperamos, esses simples colegas de sala de aula amigos de infância? E aquele grupo que se reuniu apenas para
passam a ser grandes amigos. ajudar no combate à dengue no seu bairro ou escola?
De acordo com Bowditch e Buono (00), um grupo
Grupos formais e informais temporário é aquele formado com uma tarefa ou problema
específico em mente e cuja dispersão é algo esperado assim
Você, como aluno de uma determinada escola ou que o grupo concluir a tarefa. Já os grupos permanentes são
funcionário de uma empresa pertence a que tipo de grupo? aqueles de quem se espera continuidade ao longo de diversas
Formal ou informal? Você escolheu as pessoas com as quais tarefas e atividades. Então, podemos chegar à conclusão de
estuda na mesma sala de aula que você? Se você trabalha, pode que a sua família e seus amigos fazem parte de grupos

38ARGYRIS, C. A integração indivíduo-organização. São Paulo, Editora Atlas, jul. 39OLIVEIRA, A. C. F. de. Comportamento intergrupal e grupal. Governo Federal,
1975. Ministério da Educação.

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permanentes, e o grupo de combate ao dengue constituem A distinção do que é uma norma central ou periférica varia
um grupo temporário. de grupo para grupo. E o desvio das normas periféricas não
é punido tão severamente quanto o das normas que o grupo
Atributos básicos dos grupos considera como centrais por natureza.
Os grupos de trabalho não são multidões Imaginemos que no seu trabalho ou na sua escola o
desorganizadas. Eles possuem uma estrutura que modela o fardamento seja obrigatório e quem não vier fardado seja
comportamento de seus membros e torna possível a punido com a proibição da sua entrada no ambiente escolar
explicação e a previsão de boa parte dos indivíduos, bem ou de trabalho. Podemos considerar como uma norma
como o desempenho do grupo em si. Quais são essas central, pois a punição foi severa, impediu o acesso à
variáveis estruturais? Podemos citar entre elas os papéis, organização. Agora imagine que a norma de uma loja de
as normas, o status, o tamanho do grupo e o seu grau de computadores diz aos seus funcionários que os que
coesão. chegarem atrasados mais de duas vezes no mês serão
Para entender melhor a estrutura do grupo proposta punidos, não ganharão a cesta básica do mês. Esta é uma
por Robbins vamos estudar sobre cada uma das variáveis norma mais periférica e não central.
citadas por ele.
Status
Papéis A posição social que é atribuída a uma pessoa ou a um
O que você está fazendo agora? Estudando? Este é o seu grupo é o que chamamos status. O status de um gerente é
papel no momento: você é um estudante. Mas ainda hoje diferente do status de um assistente; o status de um médico
você deverá voltar a sua casa e assumir outros papéis como também é diferente do de um auxiliar de enfermagem. O
o de filho, irmão, neto ou até mesmo pai, se você já tem status pode advir tanto da posição formal como das
filhos, e se é casado, o papel de esposo e dono de casa. qualidades individuais. Pensando no caso dos médicos,
Perceba a quantidade de papéis que temos ao longo da podemos presenciar enfermeiros com mais status que
nossa vida. médicos em uma equipe de saúde, quando é esperado que
Para Bowditch e Buono, a definição de papel se refere os médicos tenham mais status pela posição que ocupam
aos diferentes comportamentos que as pessoas esperam de na hierarquia de um hospital.
um indivíduo ou de um grupo numa certa situação. O status também pode ser de um determinado grupo,
Vamos a um estudo de caso... como exemplo, em uma empresa, o departamento de
Bill Patterson é gerente da fábrica da Electrical marketing pode ter mais status que o departamento de
Industries, um grande fabricante de equipamentos elétricos compras, pois o primeiro participa de todas as reuniões
situado em Phoenix, no Estado do Arizona. Ele desempenha estratégicas e de planejamento da empresa e tem poder de
diversos papéis em seu trabalho: é funcionário da Eletrical voz junto a diretoria.
Industries, membro da gerência de nível médio, engenheiro
eletricista e o principal porta-voz da empresa junto à O tamanho do grupo
comunidade. Fora do trabalho, Bill desempenha ainda Na visão de Robbins, o tamanho do grupo afeta o
outros papéis: marido, pai, católico, membro do Rotary desempenho deste, mas o efeito depende de quais variáveis
Clube, jogador de tênis, sócio do Thunderbird Country Club dependentes você vai considerar. Na concepção do autor
e síndico do condomínio onde mora. Muitos desses papéis citado, os grupos menores são mais rápidos na realização
são compatíveis entre si; outros geram conflitos. Por das tarefas. Mas se a questão for resolução de problemas, o
exemplo, de que maneira sua postura religiosa afeta suas mesmo autor afirma que grupos maiores conseguem
decisões administrativas em assuntos como demissões, melhores resultados.
artifícios de contabilidade ou informações para os órgãos
governamentais? Uma recente oferta de promoções exige Coesão
que ele mude de cidade, embora sua família goste de morar O conceito de coesão nos remete à ideia do grau de
em Phoenix. Como conciliar as demandas de sua carreira desejo que os membros de um grupo têm em permanecer
profissional com as demandas de seu papel como chefe de juntos e à força de seus compromissos para com o grupo e
família? suas metas. Porém, como os grupos são muito diferentes, a
coesão também pode ser maior ou menor em cada grupo,
Normas ou seja, a sintonia estabelecida entre seus componentes
Você segue normas? Na sua escola ou no seu trabalho não é uniforme. E para isso, Robbins faz as seguintes
você é obrigado a usar um fardamento? Caso utilize sugestões para aumentar a coesão:
fardamento, esse comportamento é decorrente de uma
norma estabelecida pela organização e você, como membro
dela, deve seguir a norma.
Para Robbins, todos os grupos estabelecem normas, ou
seja, padrões aceitáveis de comportamento que são
compartilhados por todos os membros do grupo. As
normas norteiam o comportamento dos componentes,
indicando o que deve ou não ser feito em grupo.

Todas as normas são iguais quanto a sua importância?


Bowditch e Buono afirma que nem todas as normas têm
o mesmo peso. Existem as normas centrais, ou seja, aquelas
consideradas como particularmente importantes para o
grupo ou para a organização. E as normas periféricas, as
quais não são tão importantes para os membros do grupo.

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APOSTILAS OPÇÃO

1) Reduzir o tamanho do grupo.

5) Estimular a competição com outros


grupos.

2) Estimular a concordância sobre os


objetivos do grupo.

6) Dar recompensas ao grupo, em vez


de recompensar seus membros
individualmente.

3) Aumentar o tempo que os membros do


grupo passam juntos...

7) Isolar fisicamente o grupo.

4) Aumentar o status do grupo e a dificuldade


percebida para a admissão nele.

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APOSTILAS OPÇÃO

Trabalho em equipe40 trabalho que dê resultados positivos para que se chegue aos
objetivos propostos.
Falar em trabalho em equipe dentro da unidade de ensino Autores como JAKEL e WILCZECKE, dizem que existem
é nos colocar como seres inacabados em busca de pelo menos quatro elementos contribuintes para o
conhecimentos, pois o mesmo configura-se como um dos desenvolvimento do trabalho em equipe: são eles, o ambiente
maiores desafios a ser vencidos pelos profissionais da a ser trabalhado como apoio. As habilidades e exigências,
educação. metas, recompensas coletivas.
O trabalho em equipe tem como reflexo o bom andamento É preciso saber trabalhar em equipe, ter um bom
e a boa conduta do que se deseja alcançar no campo da relacionamento com os colegas, saber ouvir, saber esperar,
educação. Sabemos que o ser humano necessita se socializar, opinar, discutir ideias para que se possa atingir os objetivos
buscar sempre si melhorar, criar laços com outras pessoas. O propostos.
ser humano irá sempre precisar de outras pessoas para suprir Para trabalhar em equipe requer uma mudança de hábitos
suas necessidades, principalmente, quando se trata de uma e estratégias no que se refere à aprendizagem, e há toda uma
tarefa em equipe. coletividade onde se pretende chegar a um objetivo em
Entende-se que qualquer equipe se forma quando dois ou comum na perspectiva da educação.
mais indivíduos interdependentes se juntam visando a Esse trabalho, essa união contribui para que se tenha êxito,
obtenção de um determinado objetivo. Uma equipe é formada expressando assim qualquer motivo de instabilidade, precisa-
de indivíduos, cada qual com sua personalidade e visão do se lembrar que sozinho não se chega a lugar algum e que a
mundo, sendo então necessário o respeito as diferentes formas única maneira de superar os desafios é unindo forças,
de pensamento e ação dos seus componentes em decorrência trocando experiências, deixando o egoísmo e se aliando ao
das dimensões culturais que formam a sua personalidade grupo onde se trabalha com a equipe é de fundamental
enquanto pessoas e profissionais. importância que uma escola seja transformada em uma grande
família que por sua vez seja capaz de adquirir vínculos onde
Acredita-se que o objetivo ao qual pretende-se chegar é de não haja espera e sim atitudes, e iniciativas para que se chegue
uma equipe capaz de ser reflexiva, criativa, ter senso crítico, a um ideal, que se construa alicerces, baseados na dignidade,
habilidade, abrindo assim espaços que favoreçam a moral, bons princípios e humanidade. Toda equipe é um grupo,
compreensão onde se tenha ação e reflexão sobre o mundo. porém, nem todo grupo é uma equipe.
Compreender a importância e responsabilidade de suas Segundo a Revista Nova Escola, grupo é um conjunto de
funções, bem como, as atividades desempenhadas por outros. pessoas com objetivos comuns, em geral se reúnem por
Portanto, observar-se que trabalhar em equipe não é uma afinidades. No entanto, esse grupo não é uma equipe. Pois,
tarefa fácil, é lenta e progressiva que demanda esforço, equipe é um conjunto de pessoas com objetivos comuns
paciência, persistência e tolerância. atuando no cumprimento de metas específicas. Grupo são
A atividade em equipe precisa ser entendida como todas as pessoas que vão ao cinema para assistir ao mesmo
resultado de um esforço conjunto e, portanto as vitórias e filme. Elas não se conhecem, não interagem entre si, mas o
fracassos são responsabilidades de todos os membros objetivo é o mesmo: assistir ao filme. Já equipe pode ser o
envolvidos. Muitas pessoas, que atuam em diversas elenco do filme: Todos trabalham juntos para atingir uma
organizações, estão trabalhando em grupo e não em equipe, meta específica, que é fazer um bom trabalho, um bom
como se estivessem em uma linha de produção, onde o filme.
trabalho é individual e cada um se preocupa em realizar
apenas sua tarefa e pronto. O trabalho em equipe exige uma participação geral de
Dentro do ambiente escolar o trabalho em equipe requer todos. Para trabalhar em grupo ou equipe não basta somente
criatividade para busca de soluções de problemas encontrados juntar várias pessoas, é preciso respeitar o próximo para que
no espaço escolar e na aprendizagem do aluno, o que o trabalho seja produtivo. Caso isso não ocorra dificilmente
acontecerá quando houver mudanças radicais no ideário dos irão poder atingir o objetivo proposto.
profissionais da educação possibilitando sairmos do Trabalho em equipe é uma forma de organização de um
comodismo. grupo; uma forma de compartilhar objetivos. Trabalho em
Diferenciar grupo de equipe é importante. O trabalho equipe é aquele tipo de trabalho no qual se tenta conseguir que
em grupo possui exigência de si próprio para atingir se realizem atividades dependentes entre si, que podem
determinados objetivos ao qual se pretende alcançar. Já se sobrepor a soma de trabalho de cada um dos seus membros.
tratando de equipe, não possui liderança, uma vez que cada No trabalho em equipe os objetivos são compartilhados; as
um se compromete com suas responsabilidades as quais tarefas estão definidas de forma clara, porém ao mesmo tempo
estão sendo trabalhadas. Cada um sabe a importância para são adaptáveis de acordo com cada situação; onde as tarefas
o sucesso da tarefa. de liderança também são compartilhadas. Uma das vantagens
do trabalho em equipe é o fato de que o ponto fraco de uma
Para o bom funcionamento é necessário ter planejamento, determinada área é suprido pelo ponto do outro, assim
organização, controle. Estar sempre discutindo a participação praticamente não há pontos fracos numa equipe unida em
analisando o que influenciam uma equipe para atingir torno dos mesmos objetivos.
determinados objetivos em prol da qualidade da escola. Equipes, assim como grupos, devem possuir algumas
Muitas pessoas estão trabalhando em grupo e não em características básicas para que possam atuar entre si de
equipe, onde o trabalho é individual e cada um se preocupa em forma otimizada: almejar objetivos comuns, senso de
realizar apenas sua tarefa e pronto. No trabalho em equipe identidade compartilhado, participação e oportunidades de
cada um sabe o que os outros estão fazendo e sabem também interação.
a importância para o sucesso da tarefa.
Todo o resultado do trabalho deve partir da parceria da Um espaço onde cada um é individualista não gera laços,
administração escolar e dos coordenadores, professores, não possui história, não se constrói humanidade. A equipe é a
funcionários envolvidos, levando-os a indagar, criticar e responsável pelos bons frutos pretendidos, precisa-se
refletir com a finalidade de buscar soluções e encaminhar um reconhecer a real necessidade de se ter pessoas que não sejam

40MORIS, A. S.; ROCHA, M. A.; SOUZA, S. O. TRABALHO EM EQUIPE: Uma Prática


que precisa tornar uma Práxis no Interior da Escola. In Revista Científica
Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas da EDUVALE.

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APOSTILAS OPÇÃO

comandadas, mas sim, direcionadas para que só assim seja A organização de Grupos de Trabalho Diferenciados – GTD
construído o direito, a autonomia democrática. - pode estar relacionada com a opção da lógica disciplinar
A troca de informações entre os coletivos da escola (multidisciplinar) ou de vínculos de outra natureza entre as
contribui para a eficácia do desenvolvimento humano, que por disciplinas: como a de um enfoque mais globalizado ou
sua vez se torna suporte imprescindível em sua trajetória de globalizador. Para SANTOMÉ, convivemos com a necessidade
vida, trabalhando com a coletividade dos trabalhos torna-se de elaboração de um currículo integrado, com um enfoque
mais proveitoso e traz motivação onde cada um precisa ser interdisciplinar, para responder às demandas de uma
valorizado. sociedade global. Vale reiterar que reflexões na mesma direção
O saber é importante, por consequência, tem que ser são feitas por MORIN, ao propor uma lógica da complexidade
constantemente buscado pelo educador enquanto para dar conta da complexidade da realidade (assumir a
instrumento de sua ação educativa, embora a posse do incerteza para enfrentar as interações e contradições que
domínio do saber formal, não permita ao educador negar, ocorrem entre os diferentes fenômenos tecidos juntos). Essa
descaracterizar, tampouco sobrepor-se a todo um saber já demanda atual de enxergar a humanidade como destino
existente na pratica de vida dos segmentos populares, ao planetário coloca inúmeros desafios à escola. Um deles é a
contrário, trata-se de recuperar um conhecimento já existente necessidade de desenvolvimento de um pensamento
fora da escola. sistêmico, isto é, pensar em termos de conexões, relações,
Ou seja, o saber sempre será importante, pois, tanto o contexto, interações entre os elementos de um todo;
professor necessita buscar conhecimentos quanto o aluno
precisa adquirir parar a vida. O pensamento complexo demanda um olhar mais global e
PILETTI descreve que: É praticamente impossível realizar uma organização mais relevante dos conteúdos. Na lógica
isoladamente seu trabalho educativo, com base nesta afirmação disciplinar, são as estruturas internas das disciplinas que
vemos a necessidade e a significância do trabalho do supervisor orientam os sequenciados das atividades escolares; na lógica
junto aos educadores não só para o bom andamento do ensino- do enfoque globalizador, o eixo deve ser a aprendizagem dos
aprendizagem, mas para o desenvolvimento global das alunos, e as disciplinas são colocadas como meios para
experiências educativas em questão, e para a avaliação da desenvolver as potencialidades desses alunos. Trata-se de
mesma e das pessoas que estão envolvidas de um mesmo uma definição importantíssima para a escola. Através dela se
objetivo. estruturam os tempos, espaços e os agrupamentos dos alunos.
Os tempos e espaços não podem ser discutidos em
Assim, ninguém no mundo consegue se educar sozinho, separado da lógica dessa ordenação social da escola. ZABALA
sempre precisa de alguém para buscar novos conhecimentos, evidencia essas ordenações do conteúdo mostrando que a
obter crescimento. Trabalhar em equipe em um ambiente escola tem os tempos como tempos de disciplinas, e assim
escolar ou em qualquer outro setor é superar seus anseios e ordena seu trabalho por turmas, normalmente buscando
preocupações. Todos devem saber qual o objetivo do trabalho pontos comuns que possibilitem o trabalho entre os alunos de
para que o esforço seja feito na mesma direção. A comunicação cada turma, ou busca outros critérios para enturmações e
deve ser clara e fundamental para alcançar os objetivos realização das intenções educativas explicitada no projeto
necessários. Principalmente em relação ao aluno se sentindo pedagógico. Nesse tipo de opção teórico-metodológica, a
amparado por uma equipe certamente construirá nele a ordenação do trabalho por turmas não tem-se baseado na
autoestima em um autoconceito formado em fatos concretos e noção de trabalho diferenciado e sim, de atividade semelhante
positivos. para toda a turma. Essa organização baseia-se em um
Neste sentido, é preciso que os atores que dão vida a pressuposto de aprendizagem de toda a turma, nas mesmas
escola (equipe gestora, educadores, vigilantes, auxiliares de situações educativas planejadas, num único ritmo. As escolas
serviços diversos) compreendam a importância do trabalho em que os tempos são das disciplinas, normalmente seguem a
em equipe para contribuição da formação do ser ativo, que lógica do sistema seriado. Nela são operacionalizados vários
contribui para as mudanças que requer a sociedade para tipos de agrupamentos como: toda a escola, em alguns
deixar de ser seletiva, excludente que respeite e convive com momentos comemorativos; a turma, como grande grupo, como
as indiferenças de crença, cor gênero para a superação da equipes fixas e em agrupamentos móveis. Percebe-se que
desigualdade social. prevalece a lógica da classe como referência de encontros dos
alunos e espaço onde se desenvolvem as situações educativas.
Grupos de trabalho diferenciados no ambiente Nesse caso, desde o início do ano a escola ordena os alunos
escolar41 dentro dos critérios já tradicionais para a formação de turmas:
ou a lógica da série ou das idades, e divide os tempos das
Uma importante e premente discussão para a escola tem disciplinas em que são desenvolvidos os conteúdos escolares.
como pauta central a ordenação dos conteúdos no trabalho Nessa perspectiva os grupos de trabalho ficam limitados a
escolar e a forma de enturmação dos alunos. Duas questões se atividades por disciplina.
colocam de maneira muito evidente para fundamentar essa
discussão: a necessidade de um olhar interdisciplinar aos ZABALA apresenta ainda a possibilidade de trabalhar a
problemas contemporâneos e a necessidade de lidar com as classe como um grande grupo ou ordenar equipes fixas ou
diversidades, sejam elas de ordem social, cultural ou outras, móveis para a realização de projetos ou atividades diferentes.
sejam de ordem subjetiva, como os ritmos diferentes de O trabalho da classe como grande grupo é o mais comum, mas,
aprendizagem, tornando o processo educativo mais formador pela especificidade da ordenação, é mais adequado para o
e a escola menos excludente. A escola, para isso, precisa ensino de fatos, difícil para a aprendizagem de princípios e
(re)ordenar seus tempos e espaços para formar grupos de conceitos, impossível para a aprendizagem de procedimentos
trabalho diferenciados, lidando com sua cultura de e insuficiente para a aprendizagem de atitudes, uma vez que o
organização dos tempos escolares por disciplina e de formação funcionamento do grande grupo implica o estabelecimento de
de turmas, com níveis e ritmos supostamente semelhantes. controles que, muitas vezes, são autoritários e desrespeitam as
Essa ordenação redimensiona, inclusive, a própria definição de necessidades e interesses de alguns participantes.
utilização dos tempos e espaços escolares.

41DURSO, R. Grupos de trabalhos diferenciados. Centro de Referência Virtual do


Professor, 2006.

Conhecimentos Pedagógicos 39
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APOSTILAS OPÇÃO

Outra forma de a escola ordenar o seu trabalho é através Oficinas: Uma possibilidade de organizar na escola
da realização de atividades ou projetos com equipes fixas. Para grupos de trabalho diferenciados.
o desenvolvimento desse agrupamento, o melhor critério é o
da diversidade. Nesse caso, a formação de grupos de trabalho O termo vem do latim officina-ae, e na escola vem sendo
diferenciados é mais fácil. Nele, os grupos são formados para o usado relacionado a ofício – ocupação de habilidade útil ou
trabalho em tempo pré-definido (que pode variar de um especializada. Assim, planeja-se e executa-se uma oficina na
trimestre, a um semestre ou mesmo um ano), para a realização escola, quando se pretende criar momentos para ter contatos
de trabalhos, atendendo a todas as especificidades que e desenvolver habilidades. A ideia de oficina está ligada ao
facilitarão a aprendizagem dos conteúdos conceituais, fazer, ao aprender fazendo. Tem uma dimensão artesanal. No
procedimentais e atitudinais. Para alunos menores, de final de uma oficina, sempre se espera algum produto, algo que
Educação Infantil, por exemplo, essas equipes são menores tenha sido fruto das habilidades desenvolvidas durante o
(entre três e quatro alunos) e maiores (entre cinco e oito tempo de trabalho. Assim, podem ser realizadas oficinas de
alunos) nas idades em que os alunos estão com a capacidade cartão de natal, de pintura, de bordado, de argila, de macarrão,
de atuação mais autônoma. como também oficinas de matemática, de leitura e escrita, de
A lógica mais flexível dos tempos e espaços escolares teatro, de produção de jornal. Algumas escolas têm trabalhado
precisa ser pensada quando se quer definir um trabalho que com oficinas de leitura e escrita, como um projeto de ciclo,
envolva a realização de atividades escolares diferenciadas. envolvendo adolescentes de faixa etária variada, com um
Para implantar essa lógica, algumas escolas vêm encontro semanal, com o objetivo de escrever, representar,
experimentando propostas organizativas tais como: os centros resumir, sintetizar a partir de situações e textos variados.
de interesse, os complexos russos ou complexos temáticos Nesse caso, a oficina possibilita também o desenvolvimento de
(que são trabalhados por temas ou tópicos), os projetos de práticas de enturmação diferenciadas. Quando a escola já está
trabalho e projetos de pesquisa. experimentando essas atividades, o critério de enturmação
dessas oficinas pode ser o da ordem de chegada dos alunos, do
Os centros de interesse de Decroly partem de um núcleo interesse ou desejo do aluno, da turma ou número de alunos.
temático de interesse dos alunos, que os envolve, e passa pelos Os alunos podem ser enturmados em equipes fixas, para
processos de observação, associação e expressão, integrando realizar um tipo de projeto da escola, dando a esse
as áreas globalizadoras, o sistema de complexos da escola de agrupamento o nome de OFICIN. Algumas escolas têm-se
trabalho soviético (e adotado como complexos temáticos na organizado assim em um dia da semana, colocando para os
escola cidadã em ciclos, em Porto Alegre) e os complexos de alunos uma ordenação diferente dos trabalhos nesse dia. Para
interesse de Freinet. Percebe-se que há um movimento teórico operacionalizar esse trabalho, os tempos podem corresponder
sustentando essa lógica de ordenação nos conteúdos, tendo a todos os horários do dia (4 ou 5, dependendo da escola), ou
como princípios uma relativização do valor educativo das mesmo dividindo-se o turno em dois tempos maiores,
disciplinas em relação à sua capacidade de contribuir para o separados pelo recreio, e com equipes fixas diferentes,
desenvolvimento humano no trabalho escolar. Relativização realizando atividades e oficinas diversificadas. Para realizar
que apenas desloca o eixo do ensino, colocando o aluno e a sua esse trabalho, a escola precisa ter bem definidos em seu
formação como protagonistas. Esse movimento data do início projeto suas intenções educativas, e as oficinas precisam ser
do século XX, tendo em Claparède e em Decroly dois planejadas, oferecidas e desenvolvidas de acordo com essas
propositores. Para Decroly, o objetivo da educação é favorecer intenções. Esse tipo de trabalho exige, também, um tempo
a passagem das percepções que são globais, para uma coletivo para os professores. A escola pode realizar diferentes
compreensão mais profunda da realidade através da análise. O oficinas ao longo do ano escolar, desde que defina com
papel das disciplinas entraria no movimento dessa passagem. antecedência quais serão elas, se funcionarão com equipes
O método de projetos em Kilpatrick baseia-se na fixas ou móveis.
elaboração e produção de um objeto de montagem (um
viveiro, uma horta, uma máquina, um jornal), e é diferente dos As oficinas podem também ser ordenadas especialmente
projetos de trabalhos globais, em que, com o fim de conhecer em equipes móveis sempre definidas pelo trabalho ou
melhor um tema, prepara-se um dossiê com pesquisas habilidades que se pretende desenvolver. Os alunos são
individuais ou grupais, com resultado pessoal e/ou de equipe. agrupados, e, quando se termina aquela atividade, o grupo se
O estudo do meio do Movimento de Cooperazione desfaz. Isso significa que os alunos que realizam essas
Educativa de Itália - MCE – já é um trabalho que busca a atividades de equipes flexíveis não necessariamente precisam
utilização do método científico com problema, hipótese e ser da mesma classe.
experimentação. Ele se diferencia na realização, na intenção e Caso se trabalhe com equipes fixas, deve-se definir o tempo
nas fases que segue, que desenvolve. em que serão realizadas atividades daquele grupo e quais
É importante conhecer essas possibilidades para definir funções serão desenvolvidas pelos alunos. O melhor critério é
quais grupos de trabalho a escola pretende realizar, com quais o da diversidade. O tempo trimestral ou anual permite um
intenções, com quais fases. Outra necessidade é caracterizar relacionamento interpessoal que garante o desenvolvimento
como os alunos vivenciarão o desenvolvimento de também de conteúdos atitudinais.
procedimentos, conceitos e atitudes, uma vez que o trabalho No caso das equipes flexíveis, a definição dos critérios de
em equipes facilitará a aprendizagem de todas as dimensões enturmação pode variar em relação à necessidade de
do conhecimento. Outra consideração importante é que a diversidade para o das equipes fixas. Podem-se usar critérios
formação das equipes não parte da lógica dos conteúdos de homogeneidade, pois o tempo das atividades será mais
anteriores adquiridos, mas de outros critérios, como a idade, limitado. Pode-se buscar a similaridade de sexos ou de níveis
os interesses dos alunos e mesmo a diversidade na formação, de interesse, ou se orientar mesmo pela diversidade. Podem-
rompendo com o pressuposto falso da homogeneidade, que se, portanto, formar equipes móveis baseadas em critérios
não existe nem em cursos de pós-graduação. mais homogêneos e outros mais heterogêneos. Em Belo
Horizonte, temos relato de escola que implantou inicialmente,
Uma vivência atual na transição de uma organização no segundo ciclo, dezesseis oficinas para enfrentar o fracasso
curricular por disciplinas para uma mais transdisciplinar tem escolar e a repetência, instituindo trabalhos com inglês,
sido na prática de projetos e atividades em oficinas. informática, dança, capoeira, produção de vídeo.
As oficinas podem ser temporárias com equipes móveis ou
mesmo fixas. A ordenação por equipes que se encontram de

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APOSTILAS OPÇÃO

maneira diversificada nas oficinas possibilitam desenvolver a (C) A primeira condição para a eficácia no trabalho de um
socialização e a convivência com novos colegas. grupo é a comunicação.
Imaginemos uma escola funcionando com oficinas e com (D) Em um grupo de alto desempenho, clareza de
turmas de referência para os alunos. O que ela deve fazer? objetivos, coesão, organização e comunicação são os principais
Primeiramente, discutir os critérios de enturmação dos fatores críticos de desempenho.
alunos, problematizando a lógica que sustenta a ordenação das (E) A principal característica de uma equipe eficaz é a
classes no regime seriado. Os professores precisam discutir o sinergia, a capacidade de seus integrantes de trabalharem
que consideram importante para o relacionamento dos alunos coletivamente, produzindo um resultado maior que a simples
com o conhecimento, para facilitar os processos que deverão soma de suas contribuições individuais.
ser vivenciados. Essa discussão deve ser subsidiada por
reflexões teóricas. 02. (CASAL- Assistente Administrativo- COPEVE-UFAL)
Quanto às relações interpessoais no trabalho, é correto
Da discussão devem-se extrair os critérios que facilitem a afirmar que
ruptura com uma enturmação baseada apenas nos conteúdos (A) a interação humana ocorre apenas no nível
já aprendidos pelos alunos. Essa turma referência deverá ter socioemocional, quando são percebidos sentimentos gerados
um tempo de trabalho, talvez o tempo de duração do ciclo. Na pela convivência.
passagem de um ciclo para outro, os alunos, deveriam ter (B) a interação humana ocorre apenas no nível da tarefa,
oportunidades de vivenciar outras enturmações. Em Belo quando da execução de atividades individuais ou em grupos.
Horizonte, no Projeto de Educação de Adultos – PET – vêm (C) a interação humana ocorre tanto no nível da tarefa
sendo realizadas várias formas de enturmação para grupos de quanto no nível socioemocional, de maneira concomitante
trabalho diferenciados. Uma das formas é de os alunos se apenas.
agruparem de acordo com seus objetivos ou os objetivos de (D) a interação humana ocorre tanto no nível da tarefa
seus professores (e não por disciplina ou ano de escolaridade) quanto no nível socioemocional, de maneira concomitante e
e depois eles se reagrupam aleatoriamente: uma turma deve interdependente.
se construir com o mesmo número de mulheres e homens. Os (E) a interação humana ocorre tanto no nível da tarefa
alunos vão procurando fazer essas turmas e, nesses quanto no nível socioemocional, de maneira interdependente
subgrupos, desenvolvem o trabalho num modulo único de três apenas.
horas, por exemplo.
Um segundo aspecto que a escola precisa definir, como se 03. (IF-PB- Administrador- IF-PB) Os _____________________
pode perceber, é se o tempo de aulas será organizado em são criados e delineados para alcançar objetivos específicos e
função das disciplinas ou será apenas em função da formação realizar tarefas específicas para a organização, buscando
integral dos alunos. Se a escola está vivendo uma transição atingir seus objetivos. Esses grupos se estabelecem com base
nessa decisão, ela define dias da semana para os tempos das na racionalidade, lógica e eficiência, e são projetados para
disciplinas e outros dias para as oficinas. realizar funções específicas dentro da organização. Essa
configuração está presente no organograma institucional.
Na definição dos tempos das disciplinas, é importante Analise a figura a seguir, identificando o modelo de trabalho
relacionar os tempos de aula, ou módulos-aula. É importante em grupo e marque a alternativa que preenche
que essa discussão seja feita para que se defina o tempo do CORRETAMENTE a afirmação.
professor, o tempo dos alunos e o que fazer nesses tempos.
Passa-se à definição, portanto, de quais enfoques terão as
disciplinas, qual o seu tempo de duração, qual a sua
periodicidade (se semanal, de quantas horas semanais, em que
dia da semana). E discute-se como serão as equipes, se fixas ou
móveis, com quais objetivos. Imaginemos que a escola quer
manter, ao longo de um ano, ou de um ciclo, duas oficinas
semanais para todos os alunos. Ela deve discutir a duração
dessas oficinas, para que sejam planejados os trabalhos. Uma
escola pode manter ao longo de um ciclo de três anos, duas
oficinas semestrais, que serão finalizadas com um produto
definido. Isso significa que os alunos, em cada ciclo, poderão
frequentar seis oficinas.
Outra definição importante para a escola é de como as
disciplinas entrarão nas oficinas. Quais disciplinas estarão
mais trabalhadas em cada ciclo e por quê. A discussão que
viabilizará essa definição é formadora para os professores, e
não deve ser externa a eles. A organização da escola para a (A) grupos flexíveis.
constituição das oficinas, nesse caso, implica a redefinição dos (B) grupos integradores.
tempos e espaços escolares. (C) grupos informais.
(D) grupos interpessoais.
Questões (E) grupos formais.
01. (UFES- Assistente em Administração- UFES) Em Respostas
relação ao trabalho em equipe e às relações interpessoais, é
INCORRETO afirmar: 01. C
(A) O desenvolvimento de equipes é um processo contínuo, A primeira condição para a eficiência no trabalho de um
podendo ser necessário enfatizá-lo em determinados grupo é a comunicação. A comunicação é um meio (eficiência)
momentos. para que uma equipe alcance seus objetivos (eficácia).
(B) A coesão da equipe e a motivação de seus integrantes
são duas forças estreitamente correlacionadas.

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02. D são elaborados e executados para as crianças aprenderem a


Segundo Moscovici, nas empresas, a interação humana estudar, a pesquisar, a procurar informações, a exercer a
ocorre em dois níveis concomitantes e interdependentes. O crítica, a duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as
nível da tarefa é o que podemos observar, que é a execução das aprendizagens, a refletir coletivamente e, o mais importante
atividades individuais e em grupos. Já o socioemocional refere- são elaborados e executados com as crianças e não para as
se às sensações, aos sentimentos que são gerados pela crianças.
convivência. O trabalho com projetos é uma constante pesquisa de
conhecimento, onde o próprio aluno toma a atitude de sanar
03. E suas curiosidades, pois o tema estudado é de seu interesse.
Os grupos formais são aqueles que têm metas Essa estratégia de ensino proporciona situações diversas que
estabelecidas, voltadas para objetivos, e que são favorece a autonomia, responsabilidade, autoconfiança,
explicitamente formados como parte da organização, tais dentro de diferentes construções de habilidades.
como grupos de trabalho, departamentos, equipes de projeto. O trabalho com projetos possui vantagens que devem ser
E os grupos informais são aqueles que surgem com o passar do levadas em consideração, pois é através dessa estratégia que o
tempo, através da interação dos membros da organização. professor organiza seu planejamento de acordo com as
Embora esses grupos não tenham quaisquer metas curiosidades e necessidades dos alunos, é possível ainda que a
formalmente definidas, eles têm metas implícitas, que são interdisciplinaridade esteja presente nas atividades escolares,
frequentemente recreativas e interpessoais. pois de acordo com

PROJETO DIDÁTICO Haydt “o ensino é globalizado, criando condições para a


interdisciplinaridade, pois as disciplinas não são transmitidas
O que é projeto didático? isoladamente, mas integradas em função do projeto a ser
realizado.” Favorece também o desenvolvimento da
Projeto didático é um tipo de organização e planejamento criatividade dos alunos e o trabalho com projeto pode ainda,
do tempo e dos conteúdos que envolve uma situação- segundo Zilma “possibilitar às crianças diferenciar suas
problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que próprias experiências das de outras pessoas, pensar o
os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho presente e o passado, o sentido do tempo e do espaço”.
tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que Dentro dessa estratégia de ensino, a criança é vista como
vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais protagonista do processo educativo, portanto sua participação
amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos deve ser predominante e ativa. Para isso deve ser considerado
conteúdos e torna os alunos corresponsáveis pela própria as experiências de cada criança, para que o assunto trabalhado
aprendizagem. esteja contextualizado de acordo com sua realidade. Podendo
assim existir a aprendizagem significativa.
A Importância do Trabalho com Projetos Didáticos42 É através do trabalho com projetos didáticos que a
educação infantil pode construir uma educação de qualidade,
O projeto didático é uma estratégia de ensino que norteia fazendo com que o ensinar seja algo prazeroso para o
as atividades desenvolvidas na escola de educação infantil, professor, que irá trabalhar assim de modo afetivo, e o aluno
valorizando a participação dos alunos, de modo, que eles esteja feliz em aprender, pois suas curiosidades serão sanadas,
venham a fazer escolhas, tendo assim, responsabilidades a onde aprendizado será adquirido de forma não obrigatória,
assumir perante as tomadas de decisão, o aluno se torna mas sim de forma natural e divertida.
autônomo e passa a ser o sujeito de sua aprendizagem. Pedagogias de Projetos43
Conforme Haydt “o projeto, tem que exprimir uma situação de
vida real”. Atualmente, uma das temáticas que vêm sendo discutida
O trabalho com projeto visa estimular nos alunos a no cenário educacional é o trabalho por projetos. Mas que
resoluções de problemas propostos, aguçando assim a projeto? O projeto político-pedagógico da escola? O projeto de
curiosidade, capacidade de argumentação e investigação, sala de aula? O projeto do professor? O projeto dos alunos? O
tornando-se uma pessoa pensante e estabelecendo múltiplas projeto de informática? O projeto da TV Escola? O projeto da
relações. biblioteca? Essa diversidade de projetos que circula
Para afirmar essa característica do projeto, Antunes frequentemente no âmbito do sistema de ensino, muitas vezes,
refere-se que: A essência e chave do sucesso de um projeto é deixa o professor preocupado para saber como situar a sua
que representa um esforço investigativo, deliberadamente prática pedagógica em termos de propiciar aos alunos uma
voltado a encontrar respostas convincentes para questões nova forma de aprender integrando as diferentes mídias nas
sobre um tema, levantadas pelos alunos, professores, ou pelos atividades do espaço escolar.
professores e alunos junto e eventualmente funcionários da Existem, em cada uma dessas instâncias do projeto,
escola, pais e pessoas da comunidade escolhidas por propostas e trabalhos interessantes; a questão é como
amostragem. conceber e tratar a articulação entre as instâncias do projeto,
Haydt afirma também que “no método de projetos, o para que de fato seja reconstruída na escola uma nova forma
ensino realiza-se através de amplas unidades de trabalho com de ensinar, integrando as diversas mídias e conteúdos
um fim em vista e supõe a atividade propositada do aluno, isto curriculares numa perspectiva de aprendizagem
é, o esforço motivado com um propósito definido”. construcionista. Segundo Valente, o construcionismo “significa
a construção de conhecimento baseada na realização concreta
O projeto didático possui sua importância fundamental na de uma ação que produz um produto palpável (um artigo, um
vida escolar do aluno no que se refere ao desenvolvimento de projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem produz”
habilidades diversas, habilidades estas citada por Barbosa: Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de
Através dos projetos de trabalho, pretende-se fazer as crianças produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar relações,
pensarem em temas importantes do seu ambiente, refletirem que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e
sobre a atualidade e considerarem a vida fora da escola. Eles reconstruções de conhecimento. E, portanto, o papel do

42 Texto adaptado de SANTOS, C. Q.; VULPE, D. A Importância do Trabalho com 43 Adaptação do texto de PRADO, M. E. B. B.
Projetos Didáticos na Educação Infantil. Trabalho de Conclusão de Curso. 2013,
p. 34-35.

Conhecimentos Pedagógicos 42
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APOSTILAS OPÇÃO

professor deixa de ser aquele que ensina por meio da diferentes mídias disponíveis na realidade da escola e
transmissão de informações – que tem como centro do impliquem aprendizagens que extrapolam o tempo da aula e o
processo a atuação do professor –, para criar situações de espaço físico da sala de aula e da escola.
aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se Daí a importância do desenvolvimento de projetos
estabelecem neste processo, cabendo ao professor realizar as articulados envolvendo a coautoria dos vários protagonistas
mediações necessárias para que o aluno possa encontrar do processo educacional. O fato de um projeto de gestão
sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações escolar estar articulado com o projeto de sala de aula do
criadas nessas situações. A esse respeito Valente acrescenta: professor, que por sua vez visa propiciar o desenvolvimento
“(...) no desenvolvimento do projeto o professor pode de projetos em torno de uma problemática de interesse de um
trabalhar com [os alunos] diferentes tipos de conhecimentos grupo de alunos, integrando o computador, materiais da
que estão imbricados e representados em termos de três biblioteca e a televisão, torna-se fundamental para o processo
construções: procedimentos e estratégias de resolução de de reconstrução de uma nova escola. Isto porque a parceria
problemas, conceitos disciplinares e estratégias e conceitos que se estabelece entre os protagonistas (gestores,
sobre aprender”. professores, alunos) da comunidade escolar pode facilitar a
No entanto, para fazer a mediação pedagógica, o professor busca de soluções que permitem viabilizar a realização de
precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, ou novas prática pedagógicas, tendo em vista a aprendizagem
seja, entender seu caminho, seu universo cognitivo e afetivo, para a vida.
bem como sua cultura, história e contexto de vida. Além disso, A pedagogia de projetos, na perspectiva da integração
é fundamental que o professor tenha clareza da sua entre diferentes mídias e conteúdos, envolve a interrelação de
intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo conceitos e de princípios, os quais, sem a devida compreensão,
de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos podem fragilizar qualquer iniciativa de melhoria de qualidade
utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto na aprendizagem dos alunos e de mudança da prática do
sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo professor. Por essa razão, os tópicos a seguir abordam e
aluno. discutem alguns conceitos, bem como possíveis implicações
envolvidas na perspectiva da pedagogia de projetos, que se
Outro aspecto importante na atuação do professor é o de viabiliza pela articulação entre mídias, saberes e
propiciar o estabelecimento de relações interpessoais entre os protagonistas.
alunos e respectivas dinâmicas sociais, valores e crenças
próprios do contexto em que vivem. Portanto, existem três Conceito de projeto
aspectos fundamentais que o professor precisa considerar
para trabalhar com projetos: as possibilidades de A ideia de projeto envolve a antecipação de algo desejável
desenvolvimento de seus alunos; as dinâmicas sociais do que ainda não foi realizado, traz a ideia de pensar uma
contexto em que atua e as possibilidades de sua mediação realidade que ainda não aconteceu. O processo de projetar
pedagógica. implica analisar o presente como fonte de possibilidades
O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de futuras. Tal como vários autores colocam, a origem da palavra
ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do “projeto” deriva do latim projectus, que significa algo lançado
professor. Hernández enfatiza que o trabalho por projeto “não para frente. A ideia de projeto é própria da atividade humana,
deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas da sua forma de pensar em algo que deseja tornar real,
como uma maneira de repensar a função da escola”. Essa portanto, o projeto é inseparável do sentido da ação. Neste
compreensão é fundamental, porque aqueles que buscam sentido Barbier salienta: “(...) o projeto não é uma simples
apenas conhecer os procedimentos, os métodos para representação do futuro, do amanhã, do possível, de uma ideia;
desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a
um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da transformar em real, uma ideia a transformar em ato”.
complexidade que envolve a realidade de sala de aula, do No entanto, o ato de projetar requer abertura para o
contexto escolar. desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade para
Mas que realidade? Claro que existem diferenças, e que reformular as metas à medida que as ações projetadas
todas precisam ser tratadas com seriedade para que a evidenciam novos problemas e dúvidas.
comunidade escolar possa constituir-se em um espaço de
aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, Um dos pressupostos básicos do projeto é a autoria – seja
afetivo, cultural e social dos alunos. Uma realidade em que o individual, em grupo ou coletivamente. A esse respeito
professor se depara atualmente é caracterizada pela chegada Machado destaca que não se pode ter projeto pelos outros. É
de novas tecnologias (computador, Internet, vídeo, televisão) por esta razão que enfatizamos que a possibilidade de o
na escola, que apontam novos desafios para a comunidade professor ter o seu projeto de sala de aula não significa que
escolar. O que fazer diante desse novo cenário? De repente o este deverá ser executado pelo aluno. Cabe ao professor
professor que, confortavelmente, desenvolvia sua ação elaborar projetos para viabilizar a criação de situações que
pedagógica – tal como havia sido preparado durante a sua vida propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos.
acadêmica e pela sua experiência em sala de aula – se vê diante São níveis de projetos distintos que se articulam nas
de uma situação que implica novas aprendizagens e mudanças interações em sala de aula. Por exemplo, o projeto do professor
na prática pedagógica. pode descobrir estratégias para que os alunos construam seus
A pedagogia de projetos, embora constitua um novo projetos tendo em vista discutir sobre uma problemática de
desafio para o professor, pode viabilizar ao aluno um modo de seu cotidiano ou de um assunto relacionado com os estudos de
aprender baseado na integração entre conteúdos das várias certa disciplina, envolvendo o uso de diferentes mídias
áreas do conhecimento, bem como entre diversas mídias disponíveis no espaço escolar.
(computador, televisão, livros), disponíveis no contexto da Isto significa que o projeto do professor pode ser
escola. Por outro lado, esses novos desafios educacionais ainda constituído pela própria prática pedagógica, a qual será
não se encaixam na estrutura do sistema de ensino, que antecipada (relacionando as referências das experiências
mantém uma organização funcional e operacional – como, por anteriores e as novas possibilidades do momento), colocada
exemplo, horário de aula de 50 minutos e uma grade curricular em ação, analisada e reformulada. De certa forma esta situação
sequencial – que dificulta o desenvolvimento de projetos que permite ao professor assumir uma postura reflexiva e
envolvam ações interdisciplinares, que contemplem o uso de investigativa da sua ação pedagógica e, portanto, caminhar

Conhecimentos Pedagógicos 43
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para reconstruí-la com objetivo de integrar o uso das mídias Nesse sentido, Almeida corrobora com estas ideias
numa abordagem interdisciplinar. destacando: “(...) que o projeto rompe com as fronteiras
Para isto é necessário compreender que no trabalho por disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de articular
projetos, as pessoas se envolvem para descobrir ou produzir diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na
algo novo, procurando respostas para questões ou problemas investigação de problemáticas e situações da realidade. Isso
reais. “Não se faz projeto quando se têm certezas, ou quando não significa abandonar as disciplinas, mas integrá-las no
se está imobilizado por dúvidas”. Isto significa que o projeto desenvolvimento das investigações, aprofundando-as
parte de uma problemática e, portanto, quando se conhece, a verticalmente em sua própria identidade, ao mesmo tempo,
priori, todos os passos para solucionar o problema. Esse que estabelecem articulações horizontais numa relação de
processo se constitui num exercício e aplicação do que já se reciprocidade entre elas, a qual tem como pano de fundo a
sabe. Projeto não pode ser confundido com um conjunto de unicidade do conhecimento em construção”.
atividades em que o professor propõe para que os alunos O conhecimento específico – disciplinar – oferece ao aluno
realizem a partir de um tema dado, resultando numa a possibilidade de reconhecer e compreender as
apresentação de trabalho. particularidades de um determinado conteúdo, e o
conhecimento integrado – interdisciplinar – lhe dá a
Na pedagogia de projetos é necessário “ter coragem de possibilidade de estabelecer relações significativas entre
romper com as limitações do cotidiano, muitas vezes auto conhecimentos. Ambos se realimentam e um não existe sem o
impostas” e “delinear um percurso possível que pode levar a outro.
outros, não imaginados a priori”. Mas, para isto, é fundamental Este mesmo pensamento serve para orientar a integração
repensar as potencialidades de aprendizagem dos alunos para das mídias, no desenvolvimento de projetos. Conhecer as
a investigação de problemáticas que possam ser significativas especificidades e as implicações do uso pedagógico de cada
para eles e repensar o papel do professor nesta perspectiva mídia disponível no contexto da escola favorece ao professor
pedagógica, inclusive integrando as diferentes mídias e outros criar situações para que o aluno possa integrá-las de forma
recursos existentes no contexto da escola. significativa e adequada ao desenvolvimento do seu projeto.
Por exemplo, quando o aluno utiliza o computador para digitar
Aprendendo e “Ensinando” com Projetos um texto, é importante que o professor conheça o que envolve
o uso deste recurso em termos de ser um meio pedagógico,
A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno mas um meio que pode interferir no processo de o aluno
aprenda-fazendo e reconheça a própria autoria naquilo que reorganizar as suas ideias e a maneira de expressá-las. Da
produz por meio de questões de investigação que lhe mesma forma em relação a outras mídias que estão ao alcance
impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e do trabalho pedagógico. Estar atento e buscando a
DESCOBRIR outros que emergem durante o desenvolvimento compreensão do uso das mídias no processo de ensino e
do projeto. Nesta situação de aprendizagem, o aluno precisa aprendizagem é fundamental para a sua integração no
selecionar informações significativas, tomar decisões, trabalho por projetos.
trabalhar em grupo, gerenciar confronto de ideias, enfim
desenvolver competências interpessoais para aprender de De fato, a integração efetiva poderá ser desenvolvida à
forma colaborativa com seus pares. medida que sejam compreendidas as especificidades de cada
A mediação do professor é fundamental, pois ao mesmo universo envolvido, de modo que as diferentes mídias possam
tempo em que o aluno precisa reconhecer a sua própria ser integradas ao projeto, conforme suas potencialidades e
autoria no projeto, ele também precisa sentir a presença do características, caso contrário, corre-se o risco da simples
professor que ouve, questiona e orienta, visando propiciar a justaposição de mídias ou de sua subutilização. Isto nos faz
construção de conhecimento do aluno. A mediação implica a reportar a uma situação já conhecida de muitos professores
criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno que atuam com a informática na educação. Um especialista em
fazer regulações, uma vez que os conteúdos envolvidos no informática que não compreende as questões relacionadas ao
projeto precisam ser sistematizados para que os alunos processo de ensino e aprendizagem terá muita dificuldade
possam formalizar os conhecimentos colocados em ação. O para fazer a integração das duas áreas de conhecimento –
trabalho por projeto potencializa a integração de diferentes informática e educação. Isto também acontece no caso de um
áreas de conhecimento, assim como a integração de várias especialista da educação que não conhece as funcionalidades,
mídias e recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu implicações e possibilidades interativas envolvidas nos
pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de diferentes recursos computacionais. Claro que não se espera a
representação. Do ponto de vista de aprendizagem no trabalho mesma “expertise” nas duas áreas de conhecimento, para
por projeto, Prado destaca a possibilidade de o aluno poder atuar com a informática na educação, mas o
recontextualizar aquilo que aprendeu, bem como estabelecer desconhecimento de uma das áreas pode desvirtuar uma
relações significativas entre conhecimentos. Nesse processo, o proposta integradora da informática na educação. Para
aluno pode ressignificar os conceitos e as estratégias utilizadas integrá-las, é preciso compreender as características inerentes
na solução do problema de investigação que originou o projeto às duas áreas e às práticas pedagógicas nas quais essa
e, com isso, ampliar o seu universo de aprendizagem. integração se concretiza.
Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de projetos é Esta visão atualmente se apresenta de forma mais ampla,
vista pelo seu caráter de potencializar a interdisciplinaridade. uma vez que o desenvolvimento da tecnologia avança
Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite vertiginosamente e a sua presença na escola torna-se mais
romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o frequente a cada dia. Uma preocupação com isso é que o
estabelecimento de elos entre as diferentes áreas de professor não foi preparado para desenvolver o uso
conhecimento numa situação contextualizada da pedagógico das mídias. E para isto não basta que ele aprenda
aprendizagem. No entanto, muitas vezes o professor atribui a operacionalizar os recursos tecnológicos, a exigência em
valor para as práticas interdisciplinares e com isso passa a termos de desenvolver novas formas de ensinar e de aprender
negar qualquer atividade disciplinar. Essa visão é equivocada, é muito maior. Esta questão, no entanto, diz respeito à
pois Fazenda enfatiza que a interdisciplinaridade se dá sem formação do professor – aquela que poderá ser desenvolvida
que haja perda da identidade das disciplinas. na sua própria ação e de forma continuada, pois hoje com a
tecnologia basta ter o apoio institucional que prioriza a
qualidade do trabalho educacional.

Conhecimentos Pedagógicos 44
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Questões conhecimentos escolares, sobre os procedimentos e as


relações sociais que conformam o cenário em que os
1. (Prefeitura de São Paulo/SP – Professor de Educação conhecimentos se ensinam e se aprendem, sobre as
Infantil e PEB I – FCC/2010) Um trabalho com o jardim e a transformações que desejamos efetuar nos alunos e alunas,
horta realizado durante todo o ano em uma pré-escola sobre os valores que desejamos inculcar e sobre as identidades
permitiu às crianças observar a evolução da natureza, a que pretendemos construir.
ocorrência da chuva e de outros fenômenos climáticos.
Paralelamente, a professora elaborou com elas quatro bonecas Estamos entendendo currículo como as experiências
de pano, vestindo-as de modo característico a cada uma das escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em
estações do ano. meio a relações sociais, e que contribuem para a construção
Trouxe ainda para a classe as reproduções de quatro das identidades de nossos/as estudantes.
quadros cujos motivos eram as estações e incentivou-a a
identificar como cada autor registrou na paisagem sinais Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços
relativos ao período do ano. pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por
Este exemplo explorado por Zilma R. de Oliveira traduz a esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer
realização de espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que explica
(A) um projeto didático. o uso de expressões como o currículo da mídia, o currículo da
(B) uma observação participante. prisão etc.
(C) um jogo de interesses.
(D) uma experimentação sociocultural. Devemos, ainda, considerar que o currículo se refere a uma
realidade histórica, cultural e socialmente determinada, e se
reflete em procedimentos didáticos, administrativos que
condicionam sua prática e teorização. Enfim, a elaboração de
Respostas um currículo é um processo social, no qual convivem lado a
lado os fatores lógicos, epistemológicos, intelectuais e
01. Resposta: A determinantes sociais como poder, interesses, conflitos
O trabalho com projeto é uma metodologia de ensino que simbólicos e culturais, propósitos de dominação dirigidos por
envolve os alunos em investigações de problemas atrativos, fatores ligados à classe, raça, etnia e gênero.
que geram resultados originais. Os projetos que apresentam
mais oportunidades de ensino em sala de aula podem variar Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também
muito em termos de tema e abrangência e podem ser utilizada para indicar efeitos alcançados na escola, que não
apresentados em quase todas as séries. estão explicitados nos planos e nas propostas, não sendo
No entanto, eles tendem a compartilhar recursos de sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade
definição. Os projetos dão margem a perguntas desafiadoras escolar.
que não podem ser respondidas pelo método de ensino
rotineiro. Os projetos colocam os alunos em uma posição ativa, Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve,
por exemplo: aquele que soluciona problemas, que toma dominantemente, atitudes e valores transmitidos,
decisões, o investigador ou o documentarista. Os projetos subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do
servem a metas educacionais específicas e essenciais; eles não cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim,
são desvios ou complementos do currículo “real”. rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e
procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na
Concepções de Currículo e a Organização Curricular da escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e
Educação Básica turmas, mensagens implícitas nas falas dos(as)
professores(as) e nos livros didáticos.
Concepções de Currículo
São exemplos de currículo oculto:
À palavra currículo associam-se distintas concepções, que - a forma como a escola incentiva o aluno a chamar a
derivam dos diversos modos de como a educação é concebida professora (tia, Fulana, Professora etc.);
historicamente, bem como das influências teóricas que a - a maneira como arrumamos as carteiras na sala de aula
afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento. (em círculo ou alinhadas);
- as visões de família que ainda se encontram em certos
Diferentes fatores socioeconômicos, políticos e culturais livros didáticos (restritas ou não à família tradicional de classe
contribuem, assim, para que currículo venha a ser entendido média).
como:
- os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; Resumindo... currículo oculto é o termo usado para
- as experiências de aprendizagem escolares a serem denominar as influências que afetam a aprendizagem dos
vividas pelos alunos; alunos e o trabalho dos professores. Representa tudo o que os
- os planos pedagógicos elaborados por professores, alunos aprendem diariamente em meio às várias práticas,
escolas e sistemas educacionais; atitudes, comportamentos, gestos, percepções, que vigoram no
- os objetivos a serem alcançados por meio do processo de meio social e escolar. Está oculto por que ele não aparece no
ensino; planejamento do professor (Moreira44; Silva45).
- os processos de avaliação que terminam por influir nos
conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes Teoria em duas grandes vertentes
graus da escolarização.
Como quase todos os temas educacionais, as decisões
Podemos afirmar que as discussões sobre o currículo sobre currículo envolvem diferentes concepções de mundo, de
incorporam, com maior ou menor ênfase, discussões sobre os sociedade e, principalmente, diferentes teorias sobre o que é o

44MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Currículos e programas no Brasil. Campinas: 45 SILVA, Tomaz Tadeuda. Identidades terminais: as transformações na política da
Papirus, 1990. pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vozes, 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 45
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conhecimento, como é produzido e distribuído, qual seu papel Por essa razão o currículo não é centrado nem no aluno
nos destinos humanos. nem no conhecimento, mas na aprendizagem e no resultado,
entendido como aquilo que o aluno é capaz de saber e fazer.
Pode-se agrupar essas teorias em duas grandes vertentes: Por essa razão é também denominado currículo referenciado
- o currículo centrado no conhecimento; e em competências.
- o currículo centrado no aluno.
Essa concepção superadora da polarização é sintonizada
Conhecimento - a mais antiga e remonta a tempos em que com as novas fronteiras de aprendizagem que vêm sendo
o conhecimento não se separava da crença religiosa. O abertas pelo uso pedagógico das tecnologias da informação e
currículo é entendido como fonte de um saber fixo, universal e comunicação. As Tecnologias da Informação e Comunicação
inquestionável e a escola como lugar de assimilar esse (TICs) estão se revelando um recurso pedagógico capaz de
conhecimento de acordo com algumas regras. potencializar o ensino baseado em projetos e a organização de
Os estudos começavam com aquilo que “disciplina” o situações problema, estratégias pedagógicas pertinentes na
pensamento: gramática, lógica e retórica, ou seja, ensinar a concepção do currículo referenciado em competências.
pensar e a expressar o pensamento de acordo com as regras da
gramática. Em seguida era constituído de aritmética, Abordagens do Currículo
geometria, música e astronomia. Esta última era o único
“estudo das coisas” aceito pela academia medieval. Os estudos Currículo Fechado
finalmente se completavam com a teologia. - Apresenta disciplinas isoladas;
A concepção do currículo escolar centrado no - Organizadas em grade curricular;
conhecimento privilegia a apropriação do patrimônio - Objetivos e competências definidos;
científico cultural acumulado em lugar do avanço em direção a - Professor limita-se a segui-los.
novas descobertas e fronteiras científicas. Sua didática é
frontal, expositiva e fácil de observar e de aprender, motivo Currículo Aberto:
pelo qual ainda predomina em muitas salas de aula. Ao longo - Preocupa-se com a interdisciplinaridade;
da história, o currículo centrado no conhecimento garantiu - Objetos e competências definidos em áreas geradoras;
que o legado das várias gerações fosse assimilado, preservado - Professores participam de todo o processo.
e transferido para uma nova geração.
Para entendermos melhor, as ideologias e concepções em
Aluno - a vertente centrada no aluno entende que o relação ao currículo recorreremos ao texto de McNeil50. Neste
currículo escolar deve ser constituído do conhecimento texto o autor classifica o currículo em quatro abordagens
reconstruído pelo aluno a partir de suas próprias referências distintas: Acadêmico, Humanista, Tecnológico e
culturais e individuais. As muitas variantes dessa vertente têm Reconstrucionista, que foram sendo construídas ao longo do
em comum a concepção do conhecimento como emancipação, tempo.
mas diferem significativamente no que diz respeito ao papel
do professor e da escola. Currículo Acadêmico - é dentre as várias orientações
Para as mais radicais, a educação escolar deve ser abolida curriculares, a que possui maior tradição histórica. Para os
porque é apenas transmissora de ideologia (Michael Apple46) adeptos da tendência tradicional, o núcleo da educação é o
ou de arbitrários culturais (Bourdieu & Passeron47). Já para currículo, cujo elemento irredutível é o conhecimento. Nas
seguidores de teóricos como Cesar Coll48 ou Emília Ferreiro e disciplinas acadêmicas de natureza intelectual – como língua e
Ana Teberosky49, o conhecimento é emancipador se envolver a literatura, matemática, ciências naturais, história, ciências
participação do aluno e se o professor for antes de mais nada sociais e belas artes –, se encontra o núcleo do conhecimento,
um facilitador da reconstrução do conhecimento. Sua didática o conteúdo principal ou a matéria de ensino.
requer atividade e vínculo do aluno com o saber; em lugar de Sua abordagem baseia-se, principalmente, na estrutura do
frontal, é distribuída entre professor e alunos. conhecimento, como um patrimônio cultural, transmitido às
novas gerações. As disciplinas clássicas, verdades consagradas
O currículo é centrado no conhecimento mas num pela ciência, representam ideias e valores que resistiram ao
conhecimento falível, que deve ser submetido à tempo e às mudanças socioculturais. Portanto, são
problematização. Diferentemente da concepção do currículo fundamentais à construção do conhecimento.
centrado no conhecimento, essa nova perspectiva considera a Segundo McNeil a finalidade da educação, segundo o
apropriação sistemática do mesmo, necessária mas não currículo acadêmico, é a transmissão dos conhecimentos
suficiente porque é preciso ir além e aplicá-lo às situações que vistos pela humanidade como algo inquestionável e
demandam a intervenção humana. principalmente como uma verdade absoluta. À escola, cabe
desenvolver o raciocínio dos alunos para o uso das ideias e
Da mesma forma, diferentemente da concepção do processos mais proveitosos ao seu progresso.
currículo centrado no aluno, considera insuficiente a
reconstrução do conhecimento descomprometida com a Currículo Humanístico - o currículo humanista tem como
intervenção na realidade. A didática dessa vertente propõe base teórica a tendência denominada Escola Nova e esta
facilitar não só a reconstrução do conhecimento, como defende que o currículo necessita levar em consideração a
também sua mobilização para intervir em situações de realidade dos alunos. Na ênfase humanista, segundo McNeil a
diferentes graus de complexidade. De preferência, demanda atenção do conteúdo disciplinar se desloca para o indivíduo. O
que o conhecimento seja reconstruído para um projeto ou um aluno é visto como um ser individual, dotado de uma
objetivo o que o torna inseparável da intenção e do valor. identidade pessoal que precisa ser descoberta, construída e

46 APPLE, M. 2004. Ideology and curriculum. New York: Routledge Falmer. ______. O currículo humanístico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
47 BOURDIEU, P. & PASSERON, J-C. 2008. A reprodução - elementos para uma teoria Campinas: editora, 2001.
do ensino. Petrópolis: Vozes. ______. O currículo acadêmico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho. Campinas:
48 COLL, C. 2006. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática. editora, 2001.
49 FERREIRO, E. & TEBEROSKY, A. 1988. Psicogenese da língua escrita. Porto ______. O currículo tecnológico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
Alegre: ArtMed. Campinas: editora, 2001.
50 MCNEIL, John. O currículo reconstrucionista social. Tradução de José Camilo dos

Santos Filho. Campinas: editora, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 46
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ensinada; e o currículo tem a função de propiciar experiências aula, introduzindo o educando em atividades na comunidade,
gratificantes, de modo a desenvolver sua consciência para a incentivando a participação e cooperação.
libertação e auto realização. O currículo reconstrucionista acredita na capacidade do
A educação é um meio de liberação, cujos processos, homem conduzir seu próprio destino na direção desejada, e na
conduzidos pelos próprios alunos, estão relacionados aos formação de uma sociedade mais justa e equânime. Esse
ideais de crescimento, integridade e autonomia. A auto compromisso com ideais de libertação e transformação social
realização constitui o cerne do currículo humanístico. Para lhe imputa certas dificuldades em uma sociedade hegemônica
consegui-la, o educando deverá vivenciar situações que lhe e dominadora.
possibilitem descobrir e realizar sua própria individualidade,
agindo, experimentando, errando, avaliando, reordenando e Professores Construtores do Currículo
expressando. Tais situações ajudam os educandos a integrar
emoções, pensamentos e ações. O currículo não surge de forma independente, há uma forte
interligação com os professores, que são uma parte integral do
Currículo Tecnológico - sob a perspectiva tecnológica, currículo construído e transmitido às turmas, já que o modo
ainda segundo McNeil a educação consiste na transmissão de como é interpretado pelo professor, as decisões que toma e o
conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e modo como as concretiza influenciam o currículo.
habilidades que propiciem o controle social. Sendo assim, o
currículo tecnológico tem sua base sólida na tendência Ele corresponde a um conjunto de valores, significados e
tecnicista. O comportamento e o aprendizado são moldados padrões de vida e, simultaneamente, é uma fonte de
pelo externo, ou seja, ao professor, detentor do conhecimento, conhecimentos, compreensões, técnicas, destrezas e
cabe planejar, programar e controlar o processo educativo; ao estratégias necessárias para o desenvolvimento tanto pessoal
aluno, agente passivo, compete absorver a eficiência técnica, como social do sujeito.
atingindo os objetivos propostos.
O currículo tecnológico, concebido fundamentalmente no
método, tem, como função, identificar meios eficientes,
programas e materiais com a finalidade de alcançar resultados
pré-determinados. É expresso de variadas formas:
levantamento de necessidades, plano escolar sob o enfoque
sistêmico, instrução programada, sequências instrucionais,
ensino prescritivo individualmente e avaliação por
desempenho.
O desenvolvimento do sistema ensino e aprendizagem
segundo hierarquia de tarefas constitui o eixo central do
planejamento do ensino, proposto em termos de uma Mas esse processo requer uma progressão (Diogo; Vilar51),
linguagem objetiva, esquematizadora e concisa. isto é, desde as decisões assumidas pela Administração Central
do Sistema Educativo (Lei de Bases do Sistema Educativo,
Currículo Reconstrucionista Social - o currículo decretos-lei, programas...) que constituem o instrumento
reconstrucionista tem como concepção teórica e metodológica nuclear da política curricular: Currículo Prescrito
a tendência histórico crítica e tem como objetivo principal a
transformação social e a formação crítica do sujeito. De acordo É necessário interpretar seu conteúdo: Currículo
com McNeil o reconstrucionismo social concebe homem e Apresentado.
mundo de forma interativa. A sociedade injusta e alienada
pode ser transformada à medida que o homem inserido em um Por meio de manuais escolares, publicações científicas e
contexto, social, econômico, cultural, político e histórico didáticas, passando pela planificação curricular e
adquire, por meio da reflexão, consciência crítica para consequentes programações pedagógico-didáticas levadas a
assumir-se sujeito de seu próprio destino. cabo na escola: Currículo Traduzido.
Nesse prisma, a educação, é um agente social que promove
a mudança. A visão social da educação e currículo consiste em Já na sala de aula, o professor realiza diversas atividades
provocar no indivíduo atitudes de reflexão sobre si e sobre o em função dessas finalidades educativas assumidas. Currículo
contexto social em que está inserido. É um processo de Trabalhado.
promoção que objetiva a intervenção consciente e libertadora
sobre si e a realidade, de modo a alterar a ordem social. Na Dando significado real às decisões curriculares
perspectiva de reconstrução social agrupam-se as posições previamente assumidas, o que implica uma aprendizagem
que consideram o ensino uma atividade crítica, cujo processo significativa dos alunos a diversos níveis: cognitivo, motor,
de ensino e aprendizagem devam se constituírem em uma afetivo, moral, social, materializando-se o currículo. Currículo
prática social com posturas e opções de caráter ético que concretizado.
levem à emancipação do cidadão e à transformação da
realidade. Como tal, esse processo de construção do currículo implica
Sob o norte de emancipação do indivíduo, o currículo deve que professores interpretem, alterem e procedam à revisão e
confrontar e desafiar o educando frente aos temas sociais e adaptação do currículo prescrito, de acordo com as situações
situações-problema vividos pela comunidade. Por concretas de suas intervenções educativas e de suas
conseguinte, não prioriza somente os objetivos e conteúdos perspectivas e concepções curriculares, de forma a surgir um
universais, sua preocupação não reside na informação e sim na currículo trabalhado adequado ao meio envolvente, à
formação de sujeitos históricos, cujo conhecimento é diversidade dos alunos e com a participação de toda a
produzido pela articulação da reflexão e prática no processo comunidade educativa.
de apreensão da realidade. Enfatizando as relações sociais,
amplia seu âmbito de ação para além dos limites da sala de Desse modo, afirma José Pacheco52, “o currículo é um
propósito que não é neutro em termos de informação, já que

51 DIOGO, F.; VILAR, A. Gestão flexível do currículo. Porto: Edições Asa, 1998. 52 PACHECO, J. Currículo: teoria e práxis. Porto: Porto Editora, 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 47
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esta deriva de diferentes níveis é veiculada por diversos formalismo das propostas curriculares. A partir dessas
agentes curriculares dentro do contexto de vários considerações, fica clara a estreita relação entre currículo e
condicionalismos”. práticas pedagógicas.

Currículo e Projeto Pedagógico Os desafios da inovação curricular encontram-se


justamente nessa articulação entre os fundamentos do caráter
É viável destacar que o currículo constitui o elemento pedagógico e curriculares refletidos na ação docente, pois,
central do projeto pedagógico, ele viabiliza o processo de segundo Libâneo é justamente nesse ponto, quando a teoria
ensino e de aprendizagem. une-se à prática, que o trabalho docente é produzido, sendo
que o comprometimento do professor é fundamental, pois é
Sacristán53 afirma que o currículo é a ligação entre a nesse momento que a produção pedagógica acontece.
cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o
conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos Estar consciente dos objetivos educacionais irá refletir em
alunos; entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a sua postura diante do objeto de conhecimento em sua relação
prática possível, dadas determinadas condições. com a prática pedagógica, lembrando que o que define uma
prática como pedagógica é o rumo que se dá às práticas
Alguns estudos realizados sobre currículo a partir das educativas, em que “o caráter pedagógico é o que faz distinguir
décadas 1960 a 1970 destacam a existência de vários níveis de os processos educativos que se manifestam em situações
Currículo: formal, real e oculto. Esses níveis servem para fazer concretas, uma vez que é a análise pedagógica que explicita a
a distinção de quanto o aluno aprendeu ou deixou de aprender. orientação do sentido (direção) da atividade educativa”.

O Currículo Formal refere-se ao currículo estabelecido Contudo, para que ocorra a concretização do currículo ele
pelos sistemas de ensino, é expresso em diretrizes precisa relacionar-se com o pedagógico, as políticas de
curriculares, objetivos e conteúdos das áreas ou disciplina de formação e inovação curricular devem preocupar-se,
estudo. Este é o que traz prescrita institucionalmente os especialmente com a passagem desse currículo à escola, ao
conjuntos de diretrizes como os Parâmetros Curriculares professor, ao currículo voltado para a ação, de forma que as
Nacionais. orientações curriculares não estejam configuradas como
meros discursos, distantes e desconexos, em que a inovação e
O Currículo Real é o currículo que acontece dentro da sala a mudança tornem-se, tão-somente, em palavras de efeito, em
de aula com professores e alunos a cada dia em decorrência de discursos ecoando no imaginário pedagógico.
um projeto pedagógico e dos planos de ensino.
Teorias do Currículo
Assim, o currículo não é um elemento neutro de
transmissão do conhecimento social. Ele está imbricado em Teoria Tradicional
relações de poder e é expressão do equilíbrio de interesses e
forças que atuam no sistema educativo em um dado momento, Kliebard55 apresenta que os fundamentos da teoria
tendo em seu conteúdo e formas, a opção historicamente curricular de John Bobbit estão baseados na concepção de
configurada de um determinado meio cultural, social, político administração científica de Taylor, e que a extrapolação desses
e econômico. princípios para a área de currículo transformou a criança no
objeto de trabalho da engrenagem burocrática da escola.
O caráter pedagógico compreende todos os aspectos Neste sentido, as finalidades do currículo eram:
envolvidos com as finalidades que se pretende a educação. A - educar o indivíduo segundo as suas potencialidades;
Pedagogia, segundo Libâneo54, ocupa-se da educação - desenvolver o conteúdo do currículo de modo
intencional, que investiga os fatores que contribuem para a suficientemente variado com o fim de satisfazer as
construção do ser humano como membro de uma determinada necessidades de todos os tipos de indivíduos na comunidade;
sociedade, e aos processos e aos meios dessa formação. - favorecer um ritmo de treinamento e de estudo que seja
suficientemente flexível;
Ter clara a compreensão de que Pedagogia se está falando, - dar ao indivíduo somente aquilo de que ele necessita;
pra qual escola, que aluno, que ensino, ou seja, que conceitos - estabelecer padrões de qualidade e quantidade
fundamentam as finalidades educativas que se pretende definitivos para o produto;
alcançar, é imprescindível para “orientar a prática educativa - desenvolver objetivos educacionais precisos e que
de modo consciente, intencional, sistemática, para finalidades incluam o domínio ilimitado da capacidade humana através do
sociais e políticas cunhadas a partir de interesses concretos no conhecimento de hábitos, habilidades, capacidades, formas de
seio da práxis social”. pensamento, valores, ambições, etc., enfim, conhecer o que
seus membros necessitam para o desempenho de suas
Portanto, o caráter pedagógico tem fundamental e estreita atividades;
relação com a construção de um currículo que oriente a ação - oferecer “experiências diretas” quando essas múltiplas
educativa e determine princípios e formas de atuação. Quando necessidades não fossem atendidas por “experiências
os conceitos acerca do que se pretende tratar são indiretas”.
apresentados, entendem-se seus “fins desejáveis” e, define-se
assim, “uma intencionalidade educativa, implicando escolhas, Da transposição dos princípios gerais da administração
valores, compromissos éticos” (Libâneo). científica para a administração das escolas passou-se ao
domínio da teoria curricular. As implicações para a prática de
O desenvolvimento das teorias críticas de currículo uma escola em que a criança é o material e a escola é a escola-
somam-se à preocupação com uma prática pedagógica fábrica e, que, portanto deve modelá-la como um produto de
comprometida, porque desejam ir além do estático

53 SACRISTAN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz 55KLIEBARD, H. Burocracia e teoria de currículo. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.;
Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999. BASTOS, L. (Orgs.). Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar,1980. p.107-126.
54 LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 3ª ed. São Paulo:

Cortez, 2000.

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acordo com as especificações da sociedade, tem seus objetivos Paraskeva, apresenta que para Apple, a problemática do
voltados para um controle de qualidade. conhecimento é considerada como pedra angular para o
estudo da escolarização como veículo de seletividade, um
Kliebard56, defendia que “padrões qualitativos e conhecimento que se toma parte nas dinâmicas desiguais de
quantitativos definitivos fossem estabelecidos para o poder e de controle, no qual o processo de escolarização não é
produto”, considerando esse produto como o material criança, inocente.
a professor deveria obter de seus alunos a maior capacidade
que eles possuíssem para solucionar determinada tarefa em Sobre a preocupação com as formas de conhecimento
determinado período de tempo. difundido Apple58, considera fundamental questionar “para
quem é esse conhecimento”, demonstrando uma preocupação
A prática docente desse currículo é facilmente com o que deve ser ensinado não apenas como questão
compreendida, pois baseia-se num modelo funcional de educacional, mas, sobretudo, como questão ideológica e
aplicação de conteúdos e atividades. Para Kliebard a política.
padronização de atividades ou unidades de trabalho e dos
próprios produtos (crianças), exigiu a especificação de Destaca a escola e o currículo porque considera “que
objetivos educacionais e tornou a criança, em idade escolar discutir sobre o que acontece, o que pode acontecer e o que
como algo a ser modelado e manipulado, produzido de modo deveria acontecer em sala de aula” (...) é uma “tarefa que
que se encaixasse em seu papel social predeterminado. merece a aplicação de nossos melhores esforços”.

Em sequência a essa concepção fabril de currículo, Nesse sentido observa que “enquanto não levarmos à sério
Kliebard apresenta o pensamento de Tyler, que afirma que o a intensidade do envolvimento da educação com o mundo real
professor pode controlar as experiências de aprendizagem das alternativas e desiguais relações de poder, estaremos
através da “manipulação do ambiente de tal forma que crie vivendo em um mundo divorciado da realidade. As teorias,
situações estimulantes – situações que irão suscitar a espécie diretrizes e práticas envolvidas na educação não são técnicas.
de comportamento desejado, portanto, parte do pressuposto São intrinsecamente éticas e políticas, e em última análise
de que “a educação é um processo de mudança nos padrões de envolvem – uma vez que assim se reconheça – escolhas
comportamento das pessoas”. profundamente pessoais em relação ao que Marcus Raskin
denomina “o bem comum”.
Nesse sentido, a elaboração do currículo limitava-se a
ser uma atividade burocrática, desprovida de sentido e Quanto ao professor afirma que “queria que os educadores,
fundamentada na concepção de que o ensino estava sobretudo aqueles com interesse específico no que acontece
centrado na figura do professor, que transmitia nas salas de aula, examinassem criticamente as suas próprias
conhecimentos específicos aos alunos, estes vistos apenas ideias acerca dos efeitos da educação”. Esse posicionamento
como meros repetidores dos assuntos apresentados. certamente modificaria a prática pedagógica, não no sentido
de aplicação metodológica, mas enquanto intenções
Teoria Crítica provocativas à reflexão e à emancipação.

Quando Bobbitt (in Kliebard) concebeu esse currículo, Portanto, segundo Silva59, as teorias tradicionais
acreditamos que talvez não tenha tido a intenção de, além de pretendem ser apenas “teorias” neutras, científicas,
padronizar atividades, padronizar pessoas. Essa teoria desinteressadas, concentrando-se em questões técnicas e de
produziu uma concepção mecanizada de currículo que organização, enquanto que “as teorias críticas e as teorias pós-
perdura até hoje, mas ela abriu espaço para o campo político e críticas argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica
econômico, conferindo ao currículo conteúdos implícitos de ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente implicada
dominação e poder, através da ideologia dominante. em relações de poder. Não se limita a questionar “que
conhecimentos”, mas por que esse conhecimento e não outro?
Essa foi a percepção de Michael Apple do que vinha Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não
acontecendo com o currículo e que o tornou, segundo outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado
Paraskeva57, o grande precursor da Escola de Frankfurt no tipo de identidade ou subjetividade e não outro?”
campo da educação e do currículo e o primeiro a reavivar, de
uma forma explícita, o cunho político do ato educativo e Desta forma, percebemos que as teorias críticas
curricular, colocando a teorização crítica como a saída para a pretendem trazer as relações sociais e sua discussão para a
compreensão do atual fenômeno da escolarização. sala de aula: questões de raça, de religião, dominação política
e ideológica, diferenças culturais, etc. A intenção é legítima
Aponta que Apple, em “Ideilogy and Curriculum”, denuncia quanto à uma educação voltada para a redução e até mesmo,
a feliz promiscuidade entre Ideologia, Cultura e Currículo e o nivelação das desigualdades.
modo como os movimentos hegemônicos (e também contra
hegemônicos) se [re] [des] constroem e disputam um Trazer essas intenções para a sala de aula, concretizar essa
determinado conhecimento decisivo na construção e teorização crítica do currículo na prática pedagógica não é
manutenção de um dado senso comum com implicações tarefa fácil. É possível perceber essa dificuldade sobre o que
diretas nas políticas sociais, em geral e educativas e observamos do que Moreira60 apresenta quando a teoria
curriculares, em particular. E esta obra, para muitas figuras de curricular crítica é vista em crise tanto nos Estados Unidos
proa no campo do currículo – Huebner, McDonald, Mann, como no Brasil, e revela as seguintes interpretações:
Kliebard, Beane, McLaren, Giroux, Macedo – seria o inaugurar - para Pinar, Reynolds Slattery e Taubman, como críticos à
de uma nova era no campo, em que passava-se do Tylerismo ao essa teoria, a crise resulta do ecletismo do discurso,
Appleanismo.

56 KLIEBARD, H. Os princípios de Tyler. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; BASTOS, L. 58 APPLE, M. W. Repensando ideologia e currículo. In: MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T.
(Orgs.) Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar, 1980. p.107-126. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994, p. 39-57.
57 PARASKEVA, J.M. Michael Apple e os estudos [curriculares] críticos. Currículo 59 SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo.

sem Fronteiras, v.2, n. 1, p. 106-120, Jan./Jun. 2002. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
60 MOREIRA, A. F. B. A crise da teoria curricular crítica. 1999.

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decorrente da amplidão desmedida de seus interesses e de culturais, tais como a racialidade, o gênero, a orientação sexual
suas categorias; e todos os elementos próprios das diferenças entre as pessoas.
- para James Ladwig, a crise resulta de um impasse teórico, Nesse sentido, era preciso estabelecer o combate à opressão
pois são fundamentalmente qualitativos e não apresentam de grupos semanticamente marginalizados e lutar por sua
evidências suficientes de suas proposições, o que os torna inclusão no meio social.
pouco convincentes para grande parte da comunidade
educacional tradicional; A teorias pós-crítica considerava que o currículo
- para Jennifer Gore a crise é mais evidente nos trabalhos tradicional atuava como o legitimador dos modus operandi dos
de Giroux e Peter Maclaren e são descritas em duas razões: preconceitos que se estabelecem pela sociedade. Assim, a sua
ausência de sugestões para uma prática docente crítica e a função era a de se adaptar ao contexto específico dos
utilização de um discurso altamente abstrato e complexo, estudantes para que o aluno compreendesse nos costumes e
cujos princípios dificilmente podem ser entendidos e práticas do outro uma relação de diversidade e respeito.
operacionalizados pelos professores.
Além do mais, em um viés pós-estruturalista, o currículo
Quanto ao Brasil, apresenta que Regina Celli Cunha passou a considerar a ideia de que não existe um
considera que a concepção crítica de currículo vivencia uma conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma questão de
crise de legitimação, por não conseguir, na prática, perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos
implementar seus princípios teóricos. Moreira revela, ainda, diferentes tempos e lugares.
que a opinião dominante entre especialistas em currículo
acerca da crise é de que os avanços teóricos afetam pouco a Fundamentos:
prática docente e que essas discussões têm predominância no
campo acadêmico, dificilmente alcançando a escola, não Currículo Multiculturalista – nenhuma cultura pode ser
contribuindo para maior renovação, e que, apesar da crise, a julgada superior a outra.
teoria curricular crítica constitui a mais produtiva tendência
do campo do currículo. Multiculturalismo – contra o currículo universitário
tradicional (cultura branca, masculina e europeia e
Fundamentos: heterossexual).
- Crítica aos processos de convencimento, adaptação e
repressão da hegemonia dominante; - As questões de gênero são uma das questões muito
- Contraposição ao empiricismo e ao pragmatismo das presentes nas teorias pós-críticas;
teorias tradicionais; - O acesso à educação era desigual para homens e mulheres
- Crítica à razão iluminista e racionalidade técnica; e dentro do currículo havia distinções de disciplinas
- Busca da ruptura do status quo; masculinas e femininas;
- Materialismo Histórico Dialético – crítica da organização - Assim certas carreiras eram exclusivamente masculinas
social pautada na propriedade privada dos meios de produção sem que as mulheres tivessem oportunidades;
(fundamentos em Marx e Gramsci); - A intenção era que os currículos percebessem as
- Crítica à escola como reprodutora da hegemonia experiências, os interesses, os pensamentos e os
dominante e das desigualdades sociais. (Michael Apple) conhecimentos femininos dando-lhes igual importância;
- As questões raciais e étnicas também começaram a fazer
Principais Fundamentos: parte das teorias pós-críticas do currículo, tendo sido
percebida a problemática da identidade étnica e racial.
- Escola Francesa: teoria da reprodução cultural – “capital
cultural”. O currículo da escola está baseado na cultura É essencial, por meio do currículo, desconstruir o texto
dominante, na linguagem dominante, transmitido através do racial, questionar por que e como valores de certos grupos
código cultural (Bourdieu e Passeron) étnicos e raciais foram desconsiderados ou
menosprezados no desenvolvimento cultural e histórico da
- Escola de Frankfurt: crítica à racionalidade técnica da humanidade e, pela organização do currículo,
escola “pedagogia da possibilidade” – da resistência. Currículo proporcionar os mesmos significados e valores a todos os
como emancipação e libertação. (Giroux e Freire) grupos, sem supervalorização de um ou de outro.

Assim sendo, a função do currículo, mais do que um Uma Análise Comparativa


conjunto coordenado e ordenado de matérias, seria
também a de conter uma estrutura crítica que permitisse Teorias Críticas Teorias Pós Críticas
uma perspectiva libertadora e conceitualmente crítica em - Conceitos e conhecimentos - Fim das metanarrativas;
favorecimento das massas populares. As práticas históricos e científicos;
curriculares, nesse sentido, eram vistas como um espaço - Concepções; - Hibridismo;
de defesa das lutas no campo cultural e social. - Teoria de currículo – - Currículo como discurso-
conceitos; representações;
Teoria Pós-Críticas - Trabalho; - Cultura;
- - Identidade/subjetividade;
Já a teoria pós-críticas emergiu a partir das décadas de Materialidade/objetividade;
1970 e 1980, partindo dos princípios da fenomenologia, do - Realidade; - Discurso;
pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais. Assim como a - Classes Sociais; - Gênero, raça, etnia,
teoria crítica, a perspectiva pós-crítica criticou duramente a sexualidade;
teoria tradicional, mas elevaram as suas condições para além
- Emancipação e libertação; - Representação e incertezas;
da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o
- Desigualdade Social; - Multiculturalismo;
sujeito.
- Currículo como resistência; - Currículo como construção
de identidades;
Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos,
- Currículo oculto; - Relativismo;
era preciso compreender também os estigmas étnicos e

Conhecimentos Pedagógicos 50
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- Definição do “o quê” e “por - Compreensão do “para - Estados legislaram sobre o programa de ensino primário
quê” se ensina; quem” se constrói o currículo e secundário durante todo o século XIX e parte do século XX.
– formação de identidades.
- Noção de sujeito. - Divisor de águas – a reforma do ensino de 1º e 2º graus
ocorrida em 1971 – Lei 5.692/1971, que fixava as Diretrizes e
Organização Curricular da Educação Básica Bases para o ensino de 1° e 2º graus.

A Educação Básica no Brasil é composta por três etapas: - Principais características da Lei 5. 692/71:
- Educação Infantil (que atende crianças de 0 a 6 anos, em * 2ª LDB implantada no país foi a Lei nº 5.692/71 que
creches ou pré-escolas, geralmente mantidas pelo poder estabeleceu um ensino tecnicista para atender ao regime
municipal); vigente (Ditadura Militar) voltado para a ideologia do
- Ensino Fundamental (que atende alunos de 7 a 14 anos, Nacionalismo Desenvolvimentista;
tem caráter obrigatório, é público, gratuito e oferecido de * Previa um núcleo comum para o currículo de 1º e 2º
forma compartilhada pelos poderes municipal e estadual); e graus e uma parte diversificada em função das peculiaridades
- Ensino Médio (que atende jovens de 15 a 17 anos e é locais (art. 4);
oferecido basicamente pelo poder estadual). * Inclusão da educação moral e cívica, Ed. Física, Ed.
Artística e programas de saúde como matérias obrigatórias do
No Brasil, existe um contingente ainda expressivo, embora currículo, além do ensino religioso facultativo (art. 7);
decrescente, de jovens e adultos com pouca ou nenhuma * Os municípios deveriam gastar 20% de seu orçamento
escolaridade, o que faz da Educação de Jovens e Adultos um com educação, não previa a dotação orçamentária para a União
programa especial que visa dar oportunidades educacionais ou os estados (art. 59).
apropriadas aos brasileiros que não tiveram acesso ao ensino
fundamental na idade própria. - Lei 4.024/81, contemplou a questão curricular
superficialmente admitindo experiências pedagógicas, e no
No que se refere às comunidades indígenas, a ensino secundário, a variedade de currículos de acordo com as
Constituição garante-lhes o direito de utilizar suas línguas matérias optativas escolhidas pelo estabelecimento de ensino.
maternas e processos próprios de aprendizagem.
- Nova estrutura educacional – finalidades da educação
Relativamente à questão curricular e à qualidade da nacional concernentes ao regime político vigente.
educação, pode-se dizer que currículos compreendem a
expressão dos conhecimentos e valores que uma sociedade - O paradigma curricular técnico, adotado na época,
considera que devem fazer parte do percurso educativo de compreendeu uma complexa articulação que envolve quatro
suas crianças e jovens. Eles são traduzidos nos objetivos que aspectos:
se deseja atingir, nos conteúdos considerados os mais * A determinação dos conteúdos realçando as diferenças,
adequados para promovê-los, nas metodologias adotadas e semelhanças e identidades que havia entre o núcleo comum e
nas formas de avaliar o trabalho desenvolvido. a parte diversificada;
* O currículo pleno com as noções de atividade, áreas de
A definição de quais são esses conhecimentos e valores estudo e disciplina;
vem sendo modificada nos últimos anos, devido às demandas * Em relação ao currículo pleno, o desenvolvimento das
criadas pelas transformações na organização da produção e do ideias de relacionamento, ordenação, sequência e a função de
trabalho e pela conjuntura de redemocratização do país. cada uma delas para a construção de um currículo orgânico e
Portanto, a meta de melhoria da qualidade da educação impôs flexível;
o enfrentamento da questão curricular como aquilo que deve * A delimitação da amplitude da educação geral e formação
nortear as ações das escolas, dando vida e significado ao seu especial, em torno das quais se desenvolvia toda a nova
projeto educativo. escolarização.

É importante considerar também que, no quadro de - Outras categorias curriculares como educação geral e
diversidade da realidade brasileira, existem grandes formação especial designavam com precisão as finalidades
discrepâncias em relação à possibilidade de se ter acesso aos atribuídas ao ensino de 1º e 2º graus.
centros de produção de conhecimento, tanto das áreas
curriculares quanto da área pedagógica. Isto é refletido na - A educação geral destinava-se a transmitir uma base
formação de professores e nos currículos das escolas, o que comum de conhecimentos indispensáveis a todos, tendo em
não favorece a existência de uma equidade na qualidade da vista a continuidade dos estudos; a parte especial tinha como
oferta de ensino das cerca de 250.000 escolas públicas objetivo a sondagem de aptidões e a indicação para o trabalho
brasileiras dispersas nas cinco regiões do país. no 1ºgrau, e a habilitação profissional no 2º grau.

Era preciso portanto construir referências nacionais para - Em relação aos conteúdos, optou-se pela classificação
impulsionar mudanças na formação dos alunos, no sentido de tríplice das matérias em: (Conteúdos Particulares)
enfrentar antigos problemas da educação brasileira e os novos * Comunicação e Expressão;
desafios colocados pela conjuntura mundial e pelas novas * Estudos Sociais;
características da sociedade como a urbanização crescente. * Ciências.
Por outro lado, essas referências precisavam indicar pontos
comuns do processo educativo em todas as regiões e, ao - A Arte:
mesmo tempo, respeitar as diversidades regionais, culturais e * Artes Plásticas;
políticas existentes. * Desenho;
Políticas do Governo Federal para o Currículo no Brasil * Teatro, entre outros.

- Uma característica marcante da política curricular no - Da mesma forma, programas de saúde substituem a visão
Brasil foi a centralização do currículo nas mãos do poder higienista predominante, pela compreensão mais abrangente
público. de saúde e prevenção.

Conhecimentos Pedagógicos 51
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- Assim foram definidos os objetivos das matérias. Ensino Fundamental incluem, além das áreas curriculares
clássicas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais,
- Em Comunicação e Expressão: o cultivo de linguagens História, Geografia, Arte, Educação Física e Línguas
que ensejem ao aluno o contato coerente com os seus Estrangeiras), o tratamento de questões da sociedade
semelhantes e a manifestação harmônica de sua personalidade brasileira, como aquelas ligadas a Ética, Meio Ambiente,
dos aspectos físico, psíquico e emocional, ressaltando-se a Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e
Língua Portuguesa como expressão da cultura brasileira. Consumo, ou outros temas que se mostrem relevantes.

- Nos Estudos Sociais: o ajustamento crescente do Veremos agora o que está vigorando (hoje) na Lei de
educando ao meio cada vez amplo e complexo, em que deve Diretrizes e Bases da Educação:
apenas viver como conviver, dando-se ênfase ao conhecimento
do Brasil na perspectiva atual do seu desenvolvimento. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.

- Nas Ciências: o desenvolvimento do pensamento lógico e Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
a vivência do método científico e de suas aplicações.
TÍTULO IV
- A organização curricular definida pela Reforma de 1971 Da Organização da Educação Nacional
vogou por quase três décadas até ser revogada pela nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – Lei 9.394/96, em Art. 9º A União incumbir-se-á de:
1976. IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a
- Apesar da vigência da Lei, várias reestruturações educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que
curriculares ocorreram na década de 1980, implementações nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo
pela ação dos governos estaduais e de alguns municípios. a assegurar formação básica comum;

Dessa forma, no primeiro mandato do presidente TÍTULO V


Fernando Henrique Cardoso, uma das prioridades do Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
Ministério da Educação foi a elaboração de referências
curriculares para a educação básica, um processo inédito na CAPÍTULO II
história da educação brasileira, sistematizando ideias que já DA EDUCAÇÃO BÁSICA
vinham sendo utilizadas nas reformulações curriculares de
estados e municípios. Seção I
Das Disposições Gerais
Os procedimentos seguidos na elaboração dos documentos
representam a manifestação do espírito democrático e Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
participativo que deve caracterizar a educação de base no país. anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
Equipes de educadores (professores com larga e boa períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade,
experiência nas salas de aula, professores universitários e na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
pesquisadores) elaboraram os documentos preliminares. organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar.
Estas equipes realizaram um estudo dos currículos de § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
outros países (como Inglaterra, França, Espanha, Estados quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
Unidos), analisaram as propostas dos estados e de alguns dos situados no País e no exterior, tendo como base as normas
municípios brasileiros, considerando os indicadores da curriculares gerais.
educação no Brasil (como taxas de evasão e repetência,
desempenho dos alunos nas avaliações sistêmicas) e Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
estudaram os marcos teóricos contemporâneos sobre será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
currículo, ensino, aprendizagem e avaliação. III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
por série, o regimento escolar pode admitir formas de
A finalidade das referências curriculares consiste na progressão parcial, desde que preservada a sequência do
radical transformação dos objetivos, dos conteúdos e da currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
didática na educação infantil, no ensino fundamental e na ensino;
educação de jovens e adultos. Os conteúdos estudados passam IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos
a ser os meios com os quais o estudante desenvolve de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento
capacidades intelectuais, afetivas, motoras, tendo em vista as na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou
demandas do mundo em que vive. A formação se sobrepõe à outros componentes curriculares;
informação pura e simples, modificando o antigo conceito de
que educação é somente transmissão de conhecimentos. Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
A nova proposta apresentada pelo Ministério da Educação comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em
aos educadores brasileiros é composta dos documentos: cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
- Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
Fundamental; cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei
- Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil nº 12.796, de 2013)
- Referencial Curricular Nacional para a Educação § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
Indígena; obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
- Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos. matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
realidade social e política, especialmente do Brasil.
Dentro das propostas já referidas, cada qual com sua
especificidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o

Conhecimentos Pedagógicos 52
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§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
escola, é componente curricular obrigatório da educação e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) Adolescente, observada a produção e distribuição de material
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007).
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
Lei nº 13.415, de 2017) como tema transversal nos currículos do ensino
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as fundamental. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).
linguagens que constituirão o componente curricular de que
trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de Seção IV
2016) Do Ensino Médio
§ 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
Lei nº 13.415, de 2017) conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415,
componente curricular complementar integrado à proposta de 2017)
pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata
mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006, o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá
de 2014) estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de
como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº
da Criança e do Adolescente), observada a produção e 13.415, de 2017)
distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei § 4o Os currículos do ensino médio incluirão,
nº 13.010, de 2014) obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular preferencialmente o espanhol, de acordo com a
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Lei nº 13.415, de 2017)
(Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). § 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- esperados para o ensino médio, que serão referência nos
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de educação artística e de literatura e história brasileiras. § 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a
(Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
comum e à ordem democrática; Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de
em cada estabelecimento; diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o
III - orientação para o trabalho; contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
desportivas não-formais. § 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
itinerário formativo integrado, que se traduz na composição
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população de componentes curriculares da Base Nacional Comum
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, considerando
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
de cada região, especialmente: 2017)
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às § 11. Para efeito de cumprimento das exigências
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com instituições
Seção III de educação a distância com notório reconhecimento,
Do Ensino Fundamental mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela
Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6

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Seção IV-A - a importância do trabalho coletivo na educação para a


Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio construção de parâmetros de ação pedagógica;
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) - o fato de serem os educandos sujeitos de direito ao
conhecimento;
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio - a necessidade de se mapearem imagens e concepções dos
será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº educandos para subsidiar o debate sobre os currículos.
11.741, de 2008)
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes Com base em discussões apresentadas por esse autor,
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional veremos alguns pontos de reflexão sobre o tema:
de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Currículo e os Sujeitos da Ação Pedagógica
Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos O coletivo dos educadores planeja a execução dos seus
currículos por área ou por ciclo. Individual e coletivamente, os
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames conteúdos curriculares são revisados. Junto com os
supletivos, que compreenderão a base nacional comum do administradores das escolas, professores escolhem e planejam
currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em prioridades e atividades, reorganizam os conhecimentos,
caráter regular. intervindo na construção dos currículos.

Obs.: Só colocamos os parágrafos e incisos que dizem O avanço dessa prática de trabalho coletivo está se
respeito ao currículo, por isso não seguimos à ordem. constituindo em uma dinâmica promissora para a
reorientação curricular na educação básica. Esses coletivos de
Base Nacional Comum Curricular profissionais terminam produzindo e selecionando
conhecimentos, material, recursos pedagógicos, de maneira
A Base Nacional Comum Curricular é um documento de que eles se tornam produtores coletivos do currículo.
caráter normativo que define o conjunto orgânico e
progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos Os educandos, sujeitos centrais da ação pedagógica, são
devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da condicionados pelos conhecimentos que deverão aprender e
Educação Básica. pelas lógicas e tempos predefinidos em que terão de aprendê-
los. Muitos alunos têm problemas de aprendizagem, e talvez
Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da muitos desses problemas resultem das lógicas temporais que
Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve norteiam as aprendizagens e dos recortes com os quais são
nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das organizados os conhecimentos nos currículos. Tais lógicas e
Unidades Federativas, como também as propostas ordenamentos não podem ser considerados intocáveis.
pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em Passo importante para os coletivos das escolas: investigar
todo o Brasil. os currículos a partir dos educandos. As novas sensibilidades
para com os educandos são importantes para se repensarem e
A Base estabelece conhecimentos, competências e reinventarem os currículos escolares. Os alunos estão
habilidades que se espera que todos os estudantes mudando e obrigando-nos a rever nosso olhar sobre eles e
desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos sobre os conteúdos da docência.
princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos Currículo e Qualidade do Ensino
propósitos que direcionam a educação brasileira para a
formação humana integral e para a construção de uma Outra inquietação permeia a análise dos currículos: trata-
sociedade justa, democrática e inclusiva. se da preocupação com o rebaixamento da qualidade da
docência e da escola. A reação das escolas, dos docentes e
Currículo e Direito à Educação gestores diante dos dados que informam a desigualdade
escolar, em geral, é culpar os alunos, suas famílias, seu meio
Sabemos o quanto a questão curricular afeta a organização social, sua condição racial pelas capacidades desiguais de
do trabalho na escola, constituindo-se mesmo num elemento aprender. Podemos, sim, ter outro entendimento sobre isso.
estruturante do seu trabalho.
Há um argumento que retarda a tentativa de se criar esse
Aspectos fundamentais do cotidiano das escolas são novo entendimento: o fato de a desigualdade ser socialmente
condicionados pelo currículo: é ele que estabelece, por criada. No entanto, as ciências consideram que toda mente
exemplo, os conteúdos, seu ordenamento e sequenciação, suas humana é igualmente capaz de aprender.
hierarquias e cargas horárias. São também as decisões
curriculares que fazem importante mediação dos tempos e dos Embora hoje muitas escolas e coletivos docentes tenham
espaços na organização escolar, das relações entre educadores essa preocupação, há muita dificuldade em superar o olhar
e educandos, da diversificação que se estabelece entre os classificatório dos alunos e o padrão de normalidade bem
professores. A organização escolar, portanto, é inseparável da sucedida na gestão dos conteúdos. Ainda são aplicados
organização curricular. “remédios” para os malsucedidos, os lentos, os desacelerados,
os fracassados. Exemplo disso é o reforço e a recuperação
Miguel G. Arroyo61 é um dos autores que têm se paralela, agrupamentos em turmas de aceleração, dentre
preocupado com o currículo e os sujeitos envolvidos na ação outros.
educativa: educandos e educadores. Arroyo tem ressaltado
nesses estudos diversos aspectos, como:

61ARROYO, Miguel Gonzalez. Secretaria de Educação Básica (Org.). Os educandos,


seus Direitos e o Currículo: Documento em versão preliminar. 2006.

Conhecimentos Pedagógicos 54
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Podemos encontrar iniciativas corajosas de coletivos que Por um lado, o direito à educação e, por outro, a vivência
repensam o currículo em função dessa questão da da negação dos direitos humanos mais básicos questionam o
desigualdade. Assim, há estudos e propostas de revisão da ordenamento curricular, a lógica sequenciada, linear, rígida,
lógica que estrutura os conhecimentos dos tempos de previsível, para sujeitos disponíveis, liberados, em tempo
aprendizagem. Novos estudos sobre a mente humana são integral, sem rupturas, sem infrequências, somente ocupados
buscados, como o de Gerome Bruner62, para repensar os no estudo, sem fome, protegidos, com a sobrevivência
currículos que organizam conhecimentos. garantida.

O direito à educação e o currículo como instrumento A escola vem fazendo esforços para repensar-se em função
para viabilizar esse direito nos obrigam a desconstruir da vida real dos sujeitos que têm direito à educação, ao
crenças cristalizadas e a repensá-las à luz de critérios conhecimento e à cultura. A nova LDB n° 9394/96 recoloca a
éticos. educação na perspectiva da formação e do desenvolvimento
humano; o direito à educação, entendido como direito à
- Para desconstruir a crença na desigualdade de formação e ao desenvolvimento humano pleno.
capacidades de aprender, é preciso confrontá-la com o direito
igual de todos à educação, ao conhecimento e à cultura. Essa lei se afasta, no seu discurso, da visão dos educandos
como mão-de-obra a ser preparada para o mercado e
- Os avanços das ciências desconstroem nossos reconhece que toda criança, adolescente, jovem ou adulto tem
olhares hierárquicos e classificatórios das capacidades e direito à formação plena como ser humano. Reafirma que essa
ritmos dos alunos e alunas, além de nos levarem a visões mais é uma tarefa da gestão da escola, da docência e do currículo.
respeitosas e igualitárias. Há necessidade, portanto, de
entender mais os processos de aprender dos currículos. A Currículo e Multiculturalismo
questão central continua a ser o que ensinar, como ensinar,
como organizar os conhecimentos, tendo como parâmetro os Sacristán63 afirma que a escola tem sido um mecanismo de
processos de aprendizagem dos educandos em cada tempo normalização. O multiculturalismo na escola nada mais é do
humano. que a inclusão de todos à educação, procurando atender aos
interesses de todos, independentemente de etnias,
- À medida que essas questões vindas da visão dos alunos deficiências ou diferentes grupos minoritários, geralmente
e suas aprendizagens interrogam nossos currículos, somos excluídos e marginalizados.
levado(a)s a rever as lógicas em que estruturamos os
conteúdos escolares. Na sua concepção o currículo educacional deve atender a
todas estas diversidades, pois a sociedade não é homogênea.
Educandos como Sujeitos de Direitos Para tanto, o currículo deve ser ampliado e abranger as
necessidades dos grupos minoritários, ou seja, não pode se
Tomando os educandos como sujeitos de direito, os prender apenas a cultura dominante e geral, mas sim
currículos são responsáveis pela organização de reconhecer a singularidade dos indivíduos.
conhecimentos, culturas, valores, artes a que todo ser humano
tem direito. Isso significa inverter as prioridades ditadas pelo Para que aconteça a inclusão de grupos minoritários, é
mercado e definir as prioridades a partir do respeito ao direito necessária uma discussão profunda sobre a temática, a qual
dos educandos. deve envolver toda a comunidade escolar. O ponto de partida
para o movimento inicial é o planejamento curricular, mas é
Somente partindo do conhecimento dos educandos como no currículo real, ou seja, as práticas educativas, que de fato
sujeitos de direitos, estaremos em condições de questionar o ocorrem à desvalorização das experiências dos alunos e as
trato seletivo e segmentado em que ainda se estruturam os discriminações.
conteúdos.
Para Sacristán, a cultura transmitida pela escola confronta
Isso exige repensar a reorganização da estrutura escolar e com outros significados prévios, por isso, deve-se pensar em
do ordenamento curricular legitimados em valores de mérito um currículo extraescolar, para que os educadores possam
e sucesso, em lógicas excludentes e seletivas, em hierarquias mediar os educandos com uma perspectiva multicultural, a
de conhecimentos e de tempos, em cargas-horárias. qual visa o currículo em coordenadas mais amplas.

A superação das hierarquias, das segmentações e dos Para que não perca a identidade das culturas, o
silenciamentos entre os conhecimentos e as culturas pode ser planejamento curricular, de acordo com Sacristán64, deve se
um dos maiores desafios atuais para a organização dos pautar na seguinte estratégia:
currículos. Eles têm sido repensados, mas, sobretudo, em - formação de professores;
função do progresso cientifico e tecnológico. Assim, os - planejamento de currículos;
currículos se complexificam cada vez mais, o que não significa - desenvolvimento de materiais apropriados e,
que os mesmos questionem os processos humanos regressivos - a análise e revisão crítica das práticas vigentes.
que acontecem na sociedade e que cada vez mais parecem
precarizar a vida dos educandos. Para esta abordagem, segundo o autor, deve-se modificar
muito o currículo.
As exigências curriculares e as condições de garantia do
direito à educação e ao conhecimento se distanciam pela Em relação ao papel da escola Candau65 enfatiza que as
precarização da vida dos setores populares. diversidades culturais existentes nas diferentes sociedades,
como:

62BRUNER, J. A cultura da educação. Porto Alegre: Artmed, 2001. 64 SACRISTAN, José Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In SILVA, Tomaz
63SACRISTAN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad Ernani Tadeu da. MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs). Territórios Contestados: o currículo e
da Rosa. Porto Alegre, RGS: Artmed, 2000. os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
65 CANDAU, Vera Maria Ferrão. (Org.). Sociedade, educação e cultura(s): Questões

e propostas. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

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- os negros americanos; Como local de conhecimento, o currículo é a expressão de


- os emigrantes em países desenvolvidos; nossas concepções do que constitui conhecimento (...). Trata-
- os emigrantes no Brasil; e mais, se de uma concepção do conhecimento e do currículo como
- as muitas distintas culturas que variam de grupos e de presença: presença do real e do significado no conhecimento e
pessoas se fazem presentes no interior da escola. no currículo; presença do real e do significado para quem
transmite e para quem recebe.
A escola neste sentido, não pode reproduzir a cultura
dominante, ela deve considerar as vivências dos educandos e Este conceito assevera a ideia de um currículo em
contribuir para uma pedagogia libertária. constante movimento. Um currículo aberto e que serve de
passagem para o real e significativo. Um lugar perfeito para se
Em decorrência do fracasso escolar, intensificaram-se os processar a avaliação que se deseja em qualquer processo de
estudos a respeito do multiculturalismo associado com a aprendizagem
Antropologia, mas também se viu a Psicologia como uma das
ciências importantíssima para a resolução dos problemas. A avaliação é um processo histórico que se propaga de
acordo com as mudanças sociais, tendo em vista os múltiplos
Candau faz referência à teoria de Paulo Freire, a qual contextos que perpassam a vida dos sujeitos humanos. Ou seja,
buscou em uma perspectiva da cultura popular, alfabetizar a avaliação está presente no cotidiano dos indivíduos,
muitas pessoas em blocos divididos, os quais os educadores ocorrendo de maneira espontânea ou através do ensino
faziam um estudo do cotidiano das pessoas para daí então, formal.
começar alfabetizá-los, considerando a linguagem e os termos
comuns. Na educação, a avaliação deve partir de um currículo
planejado, envolvendo todo o coletivo da instituição. O
O multiculturalismo, de acordo com Candau, tem sua maior currículo, por sua vez, tem por objetivo direcionar caminhos
representatividade nos EUA, porque lá vivem negros, de como trabalhar as diversidades encontradas dentro da
mexicanos, porto-riquenhos, chineses e uma pluralidade de escola, atribuindo juízo de valor que deve ser realizado de
raças e etnias distintas. forma ética e democrática a respeito do objetivo que se
pretende alcançar, principalmente no ensino e na
Durante a década de 1960, tiveram muitas manifestações aprendizagem escolar.
em prol da igualdade dos negros perante aos brancos, eles
reivindicavam direitos e participação iguais na sociedade, Nesse sentido, as práticas pedagógicas do educador podem
independentemente de raça, sexo, crenças e religião. se tornar um ato classificatório, sendo que o juízo de valor se
expressa nas suas ações diárias desenvolvidas em sala de aula.
O multiculturalismo enfim, se apresenta de muitas formas, Haja vista que a atividade docente requer um processo
as quais não se limitam a uma única tendência. Por isso, sua contínuo de reflexões em torno da práxis, especialmente no
abordagem educacional é muito ampla, fazendo uma reforma tocante ao ato de avaliar.
drástica no currículo para uma perspectiva de diversidades.
Faz-se fundamental que o educador reflita as suas práticas
Currículo e Avaliação desenvolvidas no cotidiano da sala de aula, respeitando as
experiências que os indivíduos trazem do seu convívio em
Que tipo de ser humano queremos formar? É com esta sociedade. Tendo em vista que a avaliação consiste um dos
pergunta na cabeça que devemos pensar o currículo. Não aspectos do processo pedagógico, cuja prática deve colaborar
obstante, a avaliação, também, perpassa por este viés – uma no desenvolvimento da criticidade do indivíduo, interagindo
avaliação que dê conta de suprir algumas de nossas os conhecimentos escolares com os contextos em que alunos
necessidades do cotidiano. estão inseridos.

É nesse contexto que as três últimas décadas registraram Nesse sentido, o corpo docente não deve utilizar o ato de
uma preocupação intensa com os estudos sobre avaliação. O avaliar apenas para medir e controlar o rendimento do
processo de avaliação não está ainda bem resolvido e definido discente dentro da instituição escolar. Segundo Fernandes e
pela escola e tampouco nas cabeças dos professores. Freitas66 perpassam, na prática escolar, duas formas de
avaliação:
Muitos estudos foram empreendidos, mas pouco se - a avaliação formativa que tem princípios norteadores no
avançou. Teóricos têm estudado e buscado caminhos para próprio processo educativo e
romper com um processo tão solidificado na escola como é o - a avaliação somativa que apresenta a função de julgar o
caso da avaliação da aprendizagem. resultado final, ou seja, ao término do ano letivo, sendo feito
uma avaliação com objetivo de somar as notas do aluno
Algumas críticas severas têm sido feitas em relação ao durante o período escolar.
aluno não saber quais são os verdadeiros objetivos das
avaliações, não saber como ele será avaliado e, o mais “Os processos de avaliação formativa são concebidos para
importante não saber o que o professor espera que ele permitir ajustamentos sucessivos durante o desenvolvimento e
responda, o que o professor, verdadeiramente, quer. a experimentação do currículo”.

É preciso entender, de uma vez por todas, que temos que Dessa forma, a avaliação formativa se apresenta como
conciliar a concepção de avaliação em um currículo aberto e processo de aprendizagem na relação professor e aluno, já que
em construção que deve contemplar o conhecimento real dos o docente não é o único responsável pelo desempenho do
alunos. educando, embora oriente a construção do conhecimento.

66FERNANDES, Claudia de Oliveira. Indagações sobre currículo: currículo e Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
avaliação. Organização do documento: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Educação Básica, 2008.

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Para que isso aconteça, faz-se necessário, também, que o que contém o propósito de fazer com que o aluno reflita sobre
discente conheça os conteúdos necessários à construção de as suas ações e o seu compromisso durante o processo de
sua autonomia. Nesse sentido, a avaliação formativa consiste, aprendizagem, contribuindo assim para o crescimento
conforme Afonso, um dispositivo pedagógico adequado à individual e coletivo da turma.
concretização de uma efetiva igualdade de oportunidades de
sucesso na escola básica. E, quando articulada à diversidade, Outro instrumento relacionado à avaliação condiz ao
torna-se democrática ao desenvolver a criticidade do aluno. conselho de classe, que consiste na troca de informações e
experiências entre professores que trabalham com os mesmos
Haja vista que as características processuais da avaliação alunos, a fim de criar uma estratégia que favoreça os processos
têm como objetivo analisar a capacidade, habilidade e de aprender. Dessa forma, o conselho de classe não deve ser
desenvolvimento do aluno durante todo o ano letivo. Dessa entendido, simplesmente, como fechamento de notas e
forma, a escola avalia se o discente desenvolveu com decisões acerca da aprovação ou reprovação de alunos.
competência todas as etapas do processo de ensino e
aprendizagem na sala de aula. Além da avaliação dos processos de ensino e
aprendizagem, segundo Fernandes e Freitas, faz necessária a
De acordo com Fernandes e Freitas as práticas na avaliação avaliação institucional e a avaliação do sistema educacional.
da aprendizagem são apresentadas de diferentes perspectivas, - A avaliação institucional tem como apoio o Projeto
dependendo da concepção pedagógica da escola, pois esta Político-Pedagógico da escola, que é elaborado coletivamente
incorpora diversas práticas, eliminando algumas e pelos os profissionais envolvidos na educação, que se articula
hierarquizando outras, etc. Assim, os instrumentos de à comunidade local para criar e propor alternativas aos
avaliação como provas, trabalhos, relatórios, entre outros, problemas.
devem ser expostos aos alunos de forma clara no que se - A avaliação do sistema educacional acontece fora da rede
pretende alcançar em cada avaliação. avaliada, sendo a mesma elaborada pelas secretarias de
educação, envolvendo assim as escolas e os professores de
Porém, se os instrumentos forem utilizados de maneira forma que esta seja realizada com legitimidade técnica e
inadequada podem trazer consequências ao rendimento política, pois os resultados obtidos nesta avaliação são usados
escolar dos alunos. Nesse contexto, é importante avaliar tanto na avaliação institucional como pelo educador na
alguns aspectos no processo de elaboração dos instrumentos avaliação da aprendizagem dos alunos.
de avaliação, tais como:
- a linguagem que será utilizada; Assim, os sistemas de avaliações nacionais como SAEB,
- a contextualização investigada; Prova Brasil, ENEM e ENAD, que vêm sendo implementados,
- o conteúdo de forma significativa; desde os anos 90, no Brasil, apresentam o propósito de
- a coerência com o propósito de ensino; construir uma escola de melhor qualidade, sendo os
- e explorar a capacidade de leitura e de escrita. resultados apresentados nas avaliações debatidos nas escolas
e redes de comunicação para que, de fato, a educação se torne
Em relação à educação infantil, o método de avaliar um instrumento de democratização do sistema educacional
centra-se no acompanhamento do desenvolvimento e da brasileiro, com intuito de superar as dificuldades encontradas
aprendizagem das crianças. E essa forma avaliativa está dentro da escola, visando diminuir o índice de reprovação e
próxima da avaliação formativa por ser contínua e inclusiva. evasão escolar.

De acordo com advertência feita no artigo 24 da LDB (Lei Referências:


de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), a avaliação
contínua e acumulativa necessita de uma verificação sobre o ALVES, Alzenira Cândida; SANTOS, Jaiana Cirino dos;
rendimento escolar, sendo observados os critérios de FERNANDES, Hercília Maria. Currículo e Avaliação: uma análise
avaliação que permanecem nos processos quantitativos e do projeto político pedagógico da Escola Cecília Estolano
qualitativos no decorrer da aprendizagem escolar. Visto que a Meireles.IV FIPED. Campina Grande, REALIZE Editora, 2012.
avaliação se concretiza na adoção de instrumentos avaliativos, BRASIL. Indagações sobre Currículo - Currículo,
que almejam definir os critérios de como avaliar. Conhecimento e Cultura. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Brasília, 2007.
O professor pode usar, enquanto instrumento de avaliação, FRANCO, Maristela Canário Cella. Teoria Curricular Crítica
o portifólio, que consiste um instrumento de aprendizagem em e Prática Pedagógica: Mundos Desconexos.
que os alunos podem registrar todas as construções efetivadas JESUS, Adriana Regina de. Currículo e Educação: conceito e
nas aulas; verificando assim os seus esforços, desempenhos, questões no contexto educacional.
dúvidas e criações. Assim, o portifólio pode consistir um MELLO, Guiomar Namo de. Currículo da Educação Básica no
procedimento de grande importância para aprendizagem do Brasil: concepções e políticas.
discente. PRADO, Iara Glória Areias. O MEC e a Reorganização
Curricular. Secretária de Educação Fundamental do MEC São
Outro tipo de instrumento que facilita a prática de Paulo Perspec. vol.14 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2000.
avaliação formativa corresponde ao caderno de REIS, Danielle de Souza. Concepções de Currículo e suas
aprendizagem, que igualmente proporciona o registro de inter-relações com os Fundamentos Legais e as Políticas
informações e dúvidas. A prática com o caderno de Educacionais Brasileiras. Rio de Janeiro,2010.
aprendizagem envolve dois momentos:
- atividades de acompanhamento dos conteúdos escolares, Questões
que têm como objetivo superar as dificuldades e dúvidas
inerentes às atividades estudadas. 01. (SEDUC-RO – Professor História – FUNCAB)
- e os registros reflexivos, que objetivam servir de auto Considere uma organização curricular por disciplinas isoladas,
avaliação para os alunos. dispostas em uma grade curricular, que não foi discutida e nem
elaborada pelos professores e visa a desenvolver nos alunos
O memorial, por sua vez, constitui um instrumento de habilidades e destrezas desejadas pela sociedade. Este é um
avaliação que visa à concretização da escrita do discente, visto currículo:

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(A) fechado e tecnicista. (B) crítica.


(B) aberto e por competência. (C) tradicional.
(C) aberto e sociocrítico. (D) pós-crítica.
(D) fechado e escolanovista.
(E) aberto e tradicional. 07. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) O
documento introdutório dos Parâmetros Curriculares
02. (INSS – Analista Pedagogia – FUNRIO) A Pedagogia Nacionais (PCN/1997) propõe um desenvolvimento curricular
tem passado por muitas inovações e mudanças no que se em quatro níveis de concretização. O primeiro nível de
refere aos processos de ensino e aprendizagem, em relação ao concretização do currículo corresponde aos próprios PCNs
que se compreende hoje sobre o que é o campo do currículo, que se constituem em uma referência nacional; o segundo diz
em relação aos métodos e técnicas de ensino. respeito às propostas curriculares dos

Algumas questões exemplificam essas afirmações: (A) Estados; o terceiro refere-se às propostas curriculares
dos Municípios e o quarto nível é o momento de realização das
1. começam a ser conhecidas e praticadas as propostas de programações das atividades de ensino e aprendizagem na
trabalhos por projetos; sala de aula.
2. os estudos curriculares apontam que é preciso (B) Municípios e das instituições escolares; o terceiro
problematizar a hierarquização linear dos conteúdos; refere- se às propostas curriculares implementadas nas salas
3. há uma reflexão sobre o uso das tecnologias em de aula e o quarto nível corresponde às atividades realizadas
educação, ao preço da escola se distanciar da vida concreta dos individualmente pelos alunos.
estudantes. (C) Estados e Municípios; o terceiro refere-se ao momento
de realização das programações das atividades de ensino e
No que se refere à hierarquização linear dos conteúdos, aprendizagem na sala de aula e o quarto nível corresponde às
faz-se uma crítica quanto à atividades realizadas individualmente pelos alunos.
(A) presença da interdisciplinaridade nos currículos. (D) Estados e Municípios; o terceiro refere-se às propostas
(B) presença da não disciplinaridade nos currículos. curriculares de cada instituição escolar e o quarto nível é o
(C) interdisciplinaridade presente nos currículos. momento de realização das programações das atividades de
(D) não presença da interdisciplinaridade nos currículos. ensino e aprendizagem na sala de aula.
(E) disciplinaridade não presente nos currículos.
08. (UFAL – Pedagogo – COPEVE) Do ponto de vista
03. (TJ/DF – Analista Judiciário Pedagogia – CESPE) etimológico, a palavra Currículo deriva da palavra latina
Julgue os item subsequente, relativo às concepções de curros (carros, carruagem) e de suas variações. Começou a ser
currículo. empregada na literatura geral norte-americana em meados do
século XIX, para designar processo de vida e desenvolvimento.
As imagens de família presentes em determinados livros Segundo Vilar (1998), o currículo pode assumir os significados
didáticos são exemplos de um tipo de currículo intitulado seguintes:
oculto, pois não são explicitados em documentos.
( ) Certo ( ) Errado Faça a associação correta.

04. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) A 1. Currículo prescrito.


incorporação, no currículo, de questões tais como ética, saúde, 2. Currículo apresentado.
meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural, 3. Currículo trabalhado.
segundo os PCNs (1997) deve ser realizada a partir de 4. Currículo traduzido.
(A) uma abordagem transversal que integre todas as 5. Currículo concretizado.
temáticas relacionadas.
(B) criação de disciplinas específicas para cada tópico ( ) Conjunto dos meios elaborados por diferentes
específico. instâncias com o objetivo de apresentar uma interpretação do
(C) desenvolvimento das disciplinas de Ciências, História e currículo prescrito.
Geografia. ( ) Conjunto das tarefas escolares que corporizam as
(D) criação de uma disciplina integradora que contemple decisões curriculares, anteriormente assumidas.
ciência e cultura. ( ) Consiste na planificação curricular no âmbito da escola,
configuram os significados e conteúdos das decisões e
05. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) A teoria propostas.
curricular apresenta diferentes conceitos que ajudam a definir ( ) Consiste no conjunto de efeitos cognitivos, afetivos,
o termo currículo que tanto pode ser entendido como curso, morais, sociais etc.
carreira, quanto designar as várias atividades educativas por ( ) Trata-se do resultado das decisões assumidas pela
meio das quais os conteúdos são desenvolvidos. Dentre as administração do sistema educativo.
possíveis definições, o termo currículo oculto significa que
(A) ensina-se e aprende-se muito mais do que se supõe. Assinale a sequência correta, de cima para baixo
(B) procura-se uma identidade para o conteúdo curricular. (A) 2, 3, 5, 4, 1.
(C) o que se ensina é o que se aprende de fato. (B) 3, 2, 4, 1, 5.
(D) seleciona-se mais conteúdos do que se ensina. (C) 3, 1, 2, 4, 5.
(D) 2, 3, 4, 5, 1.
06. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) O (E) 2, 4, 3, 5, 1.
currículo tem um papel tanto de conservação quanto de
transformação e construção dos conhecimentos 09. (TJ/DF – Analista Judiciário Pedagogia – CESPE)
historicamente acumulados. A perspectiva teórica que trata o Julgue os item subsequente, relativo às concepções de
currículo como um campo de disputa e tensões, pois o vê currículo.
implicado com questões ideológicos e de poder, denomina-se
(A) tecnicista.

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A lógica temporal precedente e segmentada fundamenta- cor e de classe, regras de comportamento, etc. que a escola
se em uma organização curricular baseada na lógica do ser pode ensinar, mesmo sem mencioná-los em seu currículo.
humano como sujeito de direitos.
( ) Certo ( ) Errado 04. Alternativa “A”
O compromisso com a construção da cidadania pede
10. (TJ/DF – Analista Judiciário Pedagogia – CESPE) necessariamente uma prática educacional voltada para a
Julgue os item subsequente, relativo às concepções de compreensão da realidade social e dos direitos e
currículo. responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e
ambiental. Nessa perspectiva é que foram incorporadas como
Em uma visão emancipadora de currículo, deve-se partir Temas Transversais as questões da Ética, da Pluralidade
do pressuposto que os alunos são diferentes, porém o Cultural, do Meio Ambiente, da Saúde e da Orientação
parâmetro de organização curricular deve ser a capacidade Sexual.
daqueles mais capazes ou normais para garantia da qualidade. Isso não significa que tenham sido criadas novas áreas ou
( ) Certo ( ) Errado disciplinas. Os objetivos e conteúdos dos Temas Transversais
devem ser incorporados nas áreas já existentes e no trabalho
Respostas educativo da escola. É essa forma de organizar o trabalho
didático que recebeu o nome de transversalidade.
01. Alternativa “A” Amplos o bastante para traduzir preocupações da
Currículo Fechado sociedade brasileira de hoje, os Temas Transversais
- Apresenta disciplinas isoladas; correspondem a questões importantes, urgentes e presentes
- Organizadas em grade curricular; sob várias formas, na vida cotidiana. O desafio que se
- Objetivos e competências definidos; apresenta para as escolas é o de abrirem-se para este debate.
- Professor limita-se a segui-los. Os PCNs discutem a amplitude do trabalho com
problemáticas sociais na escola e apresentam a proposta em
“Organização curricular por disciplinas isoladas, dispostas sua globalidade, isto é, a explicitação da transversalidade entre
em uma grade curricular, que não foi discutida e nem elaborada temas e áreas curriculares assim como em todo o convívio
pelos professores.” escolar.
Há também, nos PCNs, um documento para cada tema,
Tecnicista expondo as questões que cada um envolve e apontando
Currículo Tecnológico - a educação consiste na objetivos, conteúdos, critérios de avaliação e orientações
transmissão de conhecimentos, comportamentos éticos, didáticas, para subsidiá-lo na criação de um planejamento de
práticas sociais e habilidades que propiciem o controle social. trabalho eficiente para o desenvolvimento de uma prática
Sendo assim, o currículo tecnológico tem sua base sólida na educativa coerente com seus objetivos mais amplos.
tendência tecnicista. O comportamento e o aprendizado são
moldados pelo externo, ou seja, ao professor, detentor do 05. Alternativa “A”
conhecimento, cabe planejar, programar e controlar o Currículo Oculto - São normas e valores, passados do
processo educativo; ao aluno, agente passivo, compete professor para o aluno, de uma forma contida numa
absorver a eficiência técnica, atingindo os objetivos propostos. proposição sem estar expresso em termos precisos. No dia a
dia na sala de aula, além da conclusão do planejamento diário,
02. Alternativa “D” o professor cita exemplos a mais, ou se aprofunda no tema
Os professores da rede estadual aplicaram uma primeira verbalmente, criando uma racionalização involuntária além do
proposta, de Currículo Básico, com suporte na pedagogia esperado, do que estavam propostos no plano de aula, sem ter
histórico crítica até 1999. A proposta atual vigente na época da consciência disso.
pesquisa, de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), era de
conhecimento dos professores em suas concepções. 06. Alternativa “B”
Comentavam que sua implementação não mudou a Perspectiva Crítica: argumenta que não existe uma teoria
conformação metodológica dos conteúdos curriculares. neutra, já que toda teoria está baseada nas relações de poder.
Essa opinião confirma a visão de Moreira67, já referida e Isso está implícito nas disciplinas e conteúdos que
que aponta presente nos PCNs, a abordagem dos conteúdos reproduzem a desigualdade social que fazem com que muitos
curriculares de forma linear e hierarquizada, dificultando alunos saem da escola antes mesmo de aprender as
uma compreensão mais acurada da complexidade dos habilidades das classes dominantes. Percebe o currículo como
fenômenos do mundo atual. um campo que prega a liberdade e um espaço cultural e social
de lutas.
03. Certa
Currículo oculto é o termo usado para denominar as 07. Alternativa “D”
influências que afetam a aprendizagem dos alunos e trabalho O segundo nível de Concretização do desenvolvimento
dos professores, representando tudo o que os alunos curricular diz respeito às Propostas Curriculares dos Estados
aprendem diariamente em meio às várias práticas, atitudes, e Municípios. Os PCNs são usados como subsídio para
comportamentos, gestos, percepções, que vigoram no meio adaptações ou elaborações de currículos realizados pelas
social e escolar. Secretarias de Educação.
Exercendo assim uma influência não consciente, mas eficaz Os parâmetros Curriculares Nacionais, servem como norte
na formação, tal como os conteúdos que não são explícitos em para a produção do Currículo de cada região do país, pois
planos e programas de estudo, manifestando-se de forma temos uma Diversidade Cultura muito grande. Os estados e
implícita nas aprendizagens, tanto dentro da sala de aula como municípios, em sequência podem produzir, reproduzir e
em outros espaços escolares. transformar este Currículo para aproximar-se de
Outro conceito importante de "currículo oculto", é que ele características Regionais.
inclui diversos valores, por exemplo: religião, preconceitos de E as Unidades escolares devem refletir sobre este currículo
e o incorporá-lo baseado em discussões com todos os sujeitos

67 MOREIRA, A.F.B. Currículos e programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1990.

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a Comunidade Escolar, visando a garantia de um processo


educacional consigo, e formador de cidadãos autônomos, No sentido etimológico, o termo projeto vem
críticos e donos de seu próprio saber. do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que
significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa,
08. Alternativa “D” empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de
Currículo Apresentado - conjunto dos meios elaborados edificação.
por diferentes instâncias com o objetivo de apresentar uma
interpretação do currículo prescrito. Segundo Veiga70, ao construirmos os projetos de nossas
Currículo Trabalhado - conjunto das tarefas escolares que escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.
corporizam as decisões curriculares, anteriormente Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o
assumidas. possível. É antever um futuro diferente do presente.
Currículo Traduzido - consiste na planificação curricular
no âmbito da escola, configuram os significados e conteúdos Nas palavras de Gadotti71:
das decisões e propostas.
Currículo Concretizado - consiste no conjunto de efeitos Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
cognitivos, afetivos, morais, sociais etc. para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado
Currículo Prescrito - trata-se do resultado das decisões confortável para arriscar-se, atravessar um período de
assumidas pela administração do sistema educativo. instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
09. Errada presente. Um projeto educativo pode ser tomado com a
A lógica temporal dos conteúdos, tão marcante na promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam
organização curricular segmentada e disciplinar, é superada à visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores
medida que as temporalidades humanas passam a ser o e autores.
referencial dos processos de aprendizagem, socialização,
formação e desenvolvimento humano. Os currículos, o que Nessa perspectiva, o Projeto Político-Pedagógico vai além
ensinar e o que aprender, a organização dos tempos, espaços e de um simples agrupamento de planos de ensino e de
do trabalho, as avaliações, aprovações e retenções se atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em
justificam em uma suposta lógica dos conteúdos, lógica seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
temporal precedente, segmentada, hierarquizada. educacionais como prova do cumprimento de tarefas
As ciências que vêm estudando a mente humana, os burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
processos de aprender, de socializar-nos e formar-nos como momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo
sujeitos mentais, éticos, estéticos, identitários; como sujeitos da escola.
de conhecimento, cultura, memória, emoção, sensibilidade,
criatividade, liberdade vêm demonstrando que essas lógicas O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
temporais em que organizamos os processos de ensinar- intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
aprender não coincidem com os processos temporais de definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da
socializar-nos e formar-nos. Como profissionais destes escola é, também, um projeto político por estar intimamente
processos, somos obrigados a confrontar-nos com os avanços articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses
das ciências em nosso campo profissional e a rever as lógicas reais e coletivos da população majoritária. É político no
em que organizamos o currículo, as escolas, a docência e o sentido de compromisso com a formação do cidadão para um
trabalho. tipo de sociedade.

10. Errada “A dimensão política se cumpre na medida em que ela se


realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
A compreensão da educação em favor da emancipação
permanente dos seres humanos, considerados como classe ou Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da
como indivíduos, se põe como um que-fazer histórico em efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
consonância com a também histórica natureza humana. cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e
(Freire68). criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas
A escola neste sentido, não é apenas local de transmissão e as características necessárias às escolas de cumprirem seus
de uma cultura incontestada, unitária, mas terreno de luta, de propósitos e sua intencionalidade.
encontro, de possibilidades. Como indicam o pensamento de
Freire, a escola é o lugar onde se ensina não só conteúdos Político e pedagógico têm assim uma significação
programáticos, mas se ensina a ‘pensar certo’, a tolerância, o indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto
‘profundo respeito pelo outro’. político-pedagógico como um processo permanente de
Neste sentido, o pensamento de Paulo Freire continua a reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de
representar uma alternativa teoricamente renovada e alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que
politicamente viável (Giroux69). “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”.
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária
Projeto Político-Pedagógico para a participação de todos os membros da comunidade
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado,
Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão
Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um política e a dimensão pedagógica da escola.
projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto
Pedagógico).

68FREIRE, Paulo. Sobre Educação: diálogos (Paulo Freire e Sérgio Guimarães) – 70 VEIGA, Ilma
Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. construção possível. 14ª edição Papirus, 2002.
69 GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais. Porto Alegre:Artes 71 GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais da

Médicas,1998. Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 1994.

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O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em Em outras palavras, as escolas necessitam receber


processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
uma forma de organização do trabalho pedagógico que instâncias superiores do sistema de ensino.
supere os conflitos, buscando eliminar as relações
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia organização das instâncias superiores, implicando uma
que permeia as relações no interior da escola, diminuindo mudança substancial na sua prática. Para que a construção do
os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça projeto político-pedagógico seja possível não é necessário
as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a
trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
organização da escola num todo e como organização da
sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima
imediato, procurando preservar a visão de totalidade. para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as
normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e
político-pedagógico busca a organização do trabalho qualidade.
pedagógico da escola na sua globalidade.
O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um
A principal possibilidade de construção do projeto rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o
político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da
significa resgatar a escola como espaço público, lugar de sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
no seu interior as determinações e contradições dessa
Portanto, é preciso entender que o projeto político- sociedade.
pedagógico da escola dará indicações necessárias à
organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade.
professor na dinâmica interna da sala de aula. Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento
de suas próprias contradições. Não existem duas escolas
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A
enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao
que fundamente a construção do projeto político-pedagógico. diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da
história da educação da nossa época. Por isso, não deve existir
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas.
recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica.
Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para
uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-
social e esteja compromissada em solucionar os problemas da lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte
educação e do ensino de nossa escola. da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática
da escola é, portanto uma exigência de seu projeto político-
Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, pedagógico.
por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar
ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de
necessário, também, o domínio das bases teórico- mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
metodológicas indispensáveis à concretização das concepções Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas72 que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do
que: Estado e não uma conquista da comunidade.

As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de A gestão democrática da escola implica que a
luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e
desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros
com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser receptores dos serviços educacionais. Os pais, alunos,
inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola. professores e funcionários assumem sua parte na
responsabilidade pelo projeto da escola.
Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de
seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação
pedagógico à administração central, seja o Ministério da de um processo de gestão democrática na escola pública:
Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não
compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim 1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela
estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas deve dar o exemplo.
planejadas e organizadas pela própria escola. 2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é
específico da escola, isto é, o seu ensino.

72FREITAS Luiz Carlos. "Organização do trabalho pedagógico". Palestra proferida agosto de 1991.
no 11 Seminário Internacional de Alfabetização e Educação. Novo Hamburgo,

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A participação na gestão da escola proporcionará um Além disso, explicita uma compreensão de escola para
melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos além da sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta
os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre estar inserida em um contexto social e que procure atender às
professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em exigências não só dos alunos, mas de toda a sociedade.
consequência, aproximará também as necessidades dos
alunos dos conteúdos ensinados pelos professores. Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de
professores, supervisores e orientadores a responsabilidade
O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua de participar da elaboração desse projeto.
própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua
aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem A construção do projeto político-pedagógico numa
respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto perspectiva emancipatória se constitui num processo de
de sua vida. vivência democrática à medida que todos os segmentos que
compõem a comunidade escolar e acadêmica dele devam
A autonomia e a participação - pressupostos do projeto participar, comprometidos com a integridade do seu
político-pedagógico da escola, não se limitam à mera planejamento, de modo que todos assumem o compromisso
declaração de princípios consignados em alguns documentos. com a totalidade do trabalho educativo.
Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou
colegiado, mas também na escolha do livro didático, no Segundo Veiga73, a abordagem do projeto político-
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, pedagógico, como organização do trabalho da escola como um
de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola
assistir reuniões. democrática, pública e gratuita:

A gestão democrática deve estar impregnada por certa Igualdade: de condições para acesso e permanência na
atmosfera que se respira na escola, na circulação das escola. Saviani74 alerta-nos para o fato de que há uma
informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
dos recursos humanos, etc. democracia com a possibilidade no ponto de partida e
democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de
Então não se esqueça: oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
1- O projeto político pedagógico da escola pode ser simultânea manutenção de qualidade.
entendido como um processo de mudança e definição de um Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias
rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade
desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões
política pedagógica pressupõe uma construção participativa indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas
própria comunidade onde a escola se insere. próprias.

2- Quando a atuação ocorre em um planejamento Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os


participativo, as pessoas ressignificam suas experiências, métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,
refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam necessariamente, a conteúdos determinados. Demo75 afirma
valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar
saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento, meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos, desafios do desenvolvimento”.
reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de
convivência e indicam um horizonte de novos caminhos, Política - a qualidade política é condição imprescindível da
possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos.
promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se
escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade
política na organização do trabalho pedagógico escolar. humana”.

3- Para que o projeto seja impregnado por uma Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
intencionalidade significadora, é necessário que as partes que a qualidade centra-se no desafio de manejar os
envolvidas na prática educativa de uma escola estejam instrumentos adequados para fazer a história humana. A
profundamente integradas na constituição e que haja vivencia qualidade formal está relacionada com a qualidade política e
dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que esta depende da competência dos meios.
estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma
intencionalidade. A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir
Processos e Princípios de Construção a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos.
Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade
artigo 12, define claramente a incumbência da escola de escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência
elaborar o seu projeto pedagógico.

73 VEIGA, Ilma
Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma 74 SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande no 3.
construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. São Paulo, 1982.
75 DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994.

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dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar”. de responsabilidade na construção do projeto político-
pedagógico e na relação destes com o contexto social mais
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que amplo.
exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição
clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. A liberdade deve ser considerada, também, como
Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e
cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a o saber direcionados para uma intencionalidade definida
obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins coletivamente.
e meios é essencial para a construção do projeto político-
pedagógico. Valorização do magistério: é um princípio central na
discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica,
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das formação (inicial e continuada), condições de trabalho
questões de exclusão e reprovação e da não permanência do (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
das classes populares. Esse compromisso implica a construção etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação profissionalização do magistério.
das classes populares.
O reforço à valorização dos profissionais da educação,
A gestão democrática exige a compreensão em garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. permanente, significa “valorizar a experiência e o
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, conhecimento que os professores têm a partir de sua prática
entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar pedagógica”.
o controle do processo e do produto do trabalho pelos
educadores. A formação continuada é um direito de todos os
profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do qualificação e na competência dos profissionais, mas também
poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula
a dependência de órgãos intermediários que elaboram A formação continuada deve estar centrada na escola
políticas educacionais das quais a escola é mera executora. e fazer parte do projeto político-pedagógico.
Assim, compete à escola:
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a - proceder ao levantamento de necessidades de formação
ampla participação dos representantes dos diferentes continuada de seus profissionais;
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- - elaborar seu programa de formação, contando com a
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques76: A participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
participação ampla assegura a transparência das decisões, fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o do referido programa.
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo,
contribui para que sejam contempladas questões que de outra Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação
forma não entrariam em cogitação. continuada, questões como cidadania, gestão democrática,
avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas
Neste sentido, fica claro entender que a gestão tecnologias de ensino, entre outras.
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de
ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na Inicialmente, convém alertar para o fato de que
construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. essa tomada de consciência, dos princípios do projeto político-
Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado pedagógico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar
à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto os braços diante da atual organização da escola, que inibe a
de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia participação de educadores, funcionários e alunos no processo
e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria de gestão.
natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia
remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios É preciso ter consciência de que a dominação no interior
sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos
Para Rios77, a escola tem uma autonomia relativa e a diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem
liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é como por meio das formas de controle existentes no interior
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a da organização escolar. Por outro lado, a escola é local de
liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na desenvolvimento da consciência crítica da realidade.
vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os
outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos na liberdade na
escola, devemos pensá-la na relação entre administradores,

76MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da escola". In: Revista 77RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto pedagógico". In: Série
Educação e Contexto. Projeto pedagógico e identidade da escola no 18. ljuí, Unijuí, Ideias. São Paulo, FDE,1982.
abr./jun. 1990.

Conhecimentos Pedagógicos 63
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Estratégia de Planejamento vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre


escola e a comunidade, como ela trabalha com os
Definição de marco/referência: é necessário definir o conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social,
conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática como os conteúdos são escolhidos, como os professores
da escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando
escola está inserida. Para assim definir e explicitar com que se avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da
tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem
ela buscará formar e qual a sua intencionalidade político, definido a sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se
social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os dão as relações e a participação de alunos, professores,
critérios de ação para planejar como se deseja a escola no que coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na
se refere à dimensão pedagógica, comunitária e organização do trabalho pedagógico escolar.
administrativa.
É um momento que requer estudos, reflexões teóricas, Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por
análise do contexto, trabalho individual, em grupo, debates, todos da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do
elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade
todos os segmentos envolvidos com a construção do projeto pode-se definir um plano de ação e as grandes estratégias que
político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade
contexto em que a escola se insere. É necessário partir da assumida no marco referencial.
realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais
ampla. Então se deve analisar e discutir como vivem as pessoas Propostas de Ação: este é o momento em que se procura
da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a pensar estratégias, linhas de ação, normas, ações concretas
compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações permanentes e temporárias para responder às necessidades
deste trabalho, como é a vida no período da infância, apontadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre
juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
comunidade, quais são as formas de organização desta constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma
comunidade, etc. proposta de ação.

A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes
a relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes,
perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para
da comunidade. Analisar o que tem de comum e tentar fazer atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada
relação com outros espaços, com a sociedade como um todo. meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos
Discutir como se vê a sociedade brasileira, quais são os valores necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e
que estão presentes, como estes são manifestados, se as como será feita a avaliação.
pessoas estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de
organização. Com base nesses três momentos que devem estar
dialeticamente articulados elabora-se o projeto político-
Para delimitar o marco doutrinal do projeto político- pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser
pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós executado, avaliado e (re)planejado.
queremos construir, com que valores, o que significa ser
sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com Etapas
a formação deste sujeito durante a sua vida.
Devemos analisar e compreender a organização do
Para definirmos o marco operativo sugere-se que trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova
analisemos a concepção e os princípios para o papel que a organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho,
escola pode desempenhar na sociedade. de sua fragmentação e do controle hierárquico.

Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de Nessa perspectiva, a construção do projeto político-
cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de
seja nossa escola, que tipo de educação precisamos contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua
desenvolver para ajudar a construir a sociedade que rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder
idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica autoritário e centralizador dos órgãos da administração
da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe central.
pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a
escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela, As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
analisando qual a importância desta relação para os sujeitos assim ser definidas:
que dela participam.
Cronograma de trabalho e definição da divisão de
Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a
e se constitui num momento importante que permite uma elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com
radiografia da situação em que a escola se encontra na que haja organização e compromisso com o trabalho de
organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico elaboração.
acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer
comparações e estabelecer necessidades para se chegar à É importante reiterar que, quando se busca uma nova
intencionalidade do projeto. organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
O documento produzido sobre o marco referencial deve calçadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
ser lido por todos. Com base neste documento deve-se participação coletiva, em contraposição à organização regida
elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do
elementos que aparecem no documento com a prática social controle hierárquico.

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É nesse movimento que se verifica o confronto de Orientar a organização curricular para fins emancipatórios
interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de se implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de
gestar uma nova organização deve levar em conta as condições sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser
concretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e é humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários
nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na
rupturas, propiciando a construção de novas formas de visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a
relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva contestação e a resistência à ideologia veiculada por
que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os intermédio dos currículos escolares.
diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
descentralização do poder. Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas
e metodológicas quanto à educação infantil, ensino
Histórico da instituição: sua criação, ato normativo, fundamental, ensino médio, educação especial, educação de
origem de seu nome, etc. jovens e adultos, educação profissional. Mecanismos de
acompanhamento pedagógico, de recuperação paralela, de
Abrangência da ação educativa referente: avaliação: indicadores de aprendizagem, diretrizes,
- Nível de ensino e suas etapas; procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação.
- Modalidades de educação que irá atender;
- Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da Programa de formação continuada: concepção,
equipe pedagógica e administrativa; objetivos, eixos, política e estratégia.
- À comunidade externa: entorno social.
Formas de relacionamento com a comunidade:
Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e
instituição. estratégias.

Princípios legais e norteadores da ação: a instituição Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma
deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou de atividades.
municipal) de Educação. A partir da identificação dos - diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais.
princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar - estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação
o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação. comunitária.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição.
Currículo: identificar o paradigma curricular em
concordância com sua opção do método, da teoria que orienta O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as
referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os
preciso considerar alguns pontos básicos: feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os
períodos para reuniões técnicas, cursos etc.
1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O
currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e O horário escolar, que fixa o número de horas por semana
desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar e que varia em razão das disciplinas constantes na grade
que a classe dominante utiliza para a manutenção de curricular, estipula também o número de aulas por professor.
privilégios. A determinação do conhecimento escolar, Tal como afirma Enguita78.
portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da
cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo (...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o
expressa uma cultura. mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo
2º - é o de que o currículo não pode ser separado do menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais.
contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e
culturalmente determinado. A organização do tempo do conhecimento escolar é
3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo
orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do para disciplinas supostamente separadas. O controle
conhecimento escolar. hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
4º - refere-se a questão do controle social, já que o controlado pela administração e pelo professor.
currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e
recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo,
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais,
pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. currículo integração que conduz a um ensino em extensão.

Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
valores dominantes são passados aos alunos no ambiente necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
escolar, no material didático e mais especificamente por períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores
intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto
“estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
socioeconômicas e culturais”. aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o

78 ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no


capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989.

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projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico
estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além (água, esgoto, lixo e energia elétrica).
da sala de aula.
Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das
Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico: administrativas, “organizam as funções educativas para que a
parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa, escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As
responsáveis, cronograma. estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às
interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem
Esses são alguns elementos que devem ser abordados no e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos
projeto pedagógico. os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho
pedagógico.
Geralmente encontram-se documentos com a seguinte
organização: apresentação, dados de identificação, A análise da estrutura organizacional da escola visa
organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar
avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo claro que a escola é uma organização orientada por
de formação continuada, organização e utilização do espaço finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A
físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices, análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola
dentre outros: significam indagar sobre suas características, seus polos de
poder, seus conflitos.
Finalidades
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
Segundo Veiga79, a escola persegue finalidades. É pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola
importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a
das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se modificar a realidade social. Para realizar um ensino de
refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que
base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As romper com a atual forma de organização burocrática que
finalidades da escola referem-se aos efeitos intencionalmente regula o trabalho pedagógico – pela conformidade às regras
pretendidos e almejados. fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder
central e pela cisão entre os que pensam e executam, que
Alves80 afirma que há necessidade de saber se a escola conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico
dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a
e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos ordem e a disciplina.
específicos. O autor enfatiza que: interessará reter se as
finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
definidas no interior do território social e se são definidas por avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua, vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a
imprecisa ou marginal. realidade escolar, estabelecendo relações, definindo
finalidades comuns e configurando novas formas de organizar
Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia, Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos
enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade
os outros níveis da esfera administrativa educacional. escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo,
no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando
A ideia de autonomia está ligada à concepção consequentemente a construção de uma nova forma de
emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não organização.
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
definem a política da qual ela não passa de executora. Ela Processo de Decisão
concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para
executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas
liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades das ações e principalmente das decisões é orientado por
sociopolíticas e culturais da escola. procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e
Estrutura Organizacional centralizador.

A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de Uma estrutura administrativa da escola adequada à
estruturas: administrativas e pedagógicas. realização de objetivos educacionais, de acordo com os
interesses da população, deve prever mecanismos que
Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a estimulem a participação de todos no processo de decisão.
gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem
parte, ainda, das estruturas administrativas todos os Isto requer uma revisão das atribuições especificas e
elementos que têm uma forma material como, por exemplo, a gerais, bem como da distribuição do poder e da
arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se descentralização do processo de decisão. Para que isso seja
apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e possível há necessidade de se instalarem mecanismos
materiais didáticos, mobiliário, distribuição das dependências

79 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: 80ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas. Porto
uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. Edições Asa, 1992.

Conhecimentos Pedagógicos 66
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institucionais visando à participação política de todos os 03. (Prefeitura de Palmas/TO - Professor - Língua
envolvidos com o processo educativo da escola. Espanhola – FDC) “O projeto político-pedagógico antecipa um
futuro diferente do presente. Não é algo que é construído e
Contudo, a participação da coordenação pedagógica arquivado como prova do cumprimento de tarefas
nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a burocráticas.”
satisfação do bom atendimento em prol de toda a (Ilma Passos)
instituição.
Segundo a autora, o projeto político-pedagógico,
Avaliação comprometido com uma educação democrática e de
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como:
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a (A) atividades articuladas, com temas selecionados
reflexão com base em dados concretos sobre como a escola semestralmente.
organiza-se para colocar em ação seu projeto político- (B) planejamento global, com conteúdos selecionados por
pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa série.
visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade (C) ação intencional, com compromisso definido
escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas coletivamente.
da existência de problemas bem como suas relações, suas (D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores.
mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação (E) instrumento técnico, com definição metodológica.
coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
04. (IFRN - Professor - Didática) A construção do projeto
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global, político-pedagógico da escola exige a definição de princípios,
analisam o projeto político-pedagógico, não como algo objetivos, estratégias e, acima de tudo, um trabalho coletivo
estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não para a sua operacionalização. Numa perspectiva crítica e
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um democrática, o projeto político-pedagógico da escola
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia proporciona:
das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar I - melhoria da organização pedagógica, administrativa e
o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da financeira da escola, bem como o estabelecimento de novas
própria organização do trabalho pedagógico. relações pessoais e interpessoais na instituição;
II - redimensionamento da prática pedagógica dos
Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar professores e formação continuada do quadro docente.
dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato III - planejamento a curto prazo para definir aplicação de
dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político- medidas emergenciais na escola, de modo a superar certas
pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos dificuldades, detectar outras e propor novas ações.
educadores e dos educandos. IV - a superação de práticas pedagógicas fragmentadas e a
garantia total de um ensino de qualidade.
O processo de avaliação envolve três momentos: a
descrição e a problematização da realidade escolar, a Assinale a opção em que todas as afirmativas estão
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e corretas:
a proposição de alternativas de ação, momento de criação (A) I, II e III.
coletiva. (B) I e IV.
(C) I, II e IV.
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser (D) I e II
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes
trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer 05. (Pref. Maceió/AL - Professor - Área 1º ao 5º ano -
o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de COPEVE/UFAL/2017) Não se constrói um Projeto Político
conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos Pedagógico sem norte, sem rumo. Por isso, todo projeto
historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo pedagógico da escola é também político (GADOTTI e ROMÃO,
de avaliação diagnóstica. 1997). Dadas as afirmativas,
Questões
I. O Projeto Político Pedagógico deve ter como marco
01. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB) fundamental a participação democrática, o ser multicultural,
Quanto ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar mantendo o convívio com base em hierarquias fixas.
que ele: II. O Projeto Político Pedagógico deve registrar, orientar,
(A) deve ser democrático. estabelecer ações, metas e estratégias que tenham como
(B) precisa ser construído coletivamente. objetivo o disciplinamento dos corpos e das mentes.
(C) confere identidade à escola. III. O Projeto Político Pedagógico de uma escola é fruto de
(D) explicita a intencionalidade da escola. uma ação cotidiana e que precisa tomar decisões para o bem
(E) mostra-se abrangente e imutável. de toda comunidade escolar.

02. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – Área de Verifica-se que está(ão) correta(s)
Pedagogia CESPE) Julgue o item a seguir, relativo a projeto
político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser (A) I, apenas.
considerado processo de permanente reflexão e discussão a (B) III, apenas.
respeito dos problemas da organização, com o propósito de (C) I e II, apenas.
propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos (D) II e III, apenas.
almejados. (E) I, II e III.
Os pressupostos que norteiam o projeto político-
pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão 06. (Pref. São Luís/MA - Professor de Nível Superior –
democrática. CESPE/2017) A partir da participação da comunidade escolar
( ) Certo ( ) Errado e da reflexão a respeito da composição escolar, a organização

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da escola, desde os tempos e espaços do currículo até o 10. (SEEAL – Pedagogo - CESPE) Para evitar prejuízo à
relacionamento com a comunidade, é estabelecida autonomia escolar, não deve haver articulação do projeto
(A) no plano de aula anual. político pedagógico das escolas com o sistema nacional de
(B) no plano de curso. avaliação.
(C) no conselho de classe. ( ) Certo ( ) Errado
(D) na reunião de pais.
(E) no projeto político-pedagógico. Respostas

07. (Pref. Lagoa da Prata/MG - Especialista 01. Resposta: E


Educacional – FGR) O PPP deve ser democrático, construído de forma coletiva,
conferindo a identidade da escola junto à comunidade,
“A construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP) é um explicitando a intencionalidade da escola, de forma
processo dinâmico e permanente, pois continuamente novos abrangente.
atores se incorporam ao grupo, trazendo novas experiências, “O projeto pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre
capacidades e necessidades, assim como novo interesses e um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma
talentos, exigindo que novas frentes de trabalho se abram. finalidade que permanece como horizonte da escola”.
É um eterno diagnosticar, planejar, repensar, começar e (Gadotti81). Por isso, a questão com palavra imutável está
recomeçar, analisar e avaliar.” incorreta.

(VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Escola: espaço do 02. Resposta: Errado
projeto político pedagógico. A gestão democrática exige a compreensão em
Campinas, SP: Papirus, 1998, pág. 183) profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica.
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução,
Tendo como referência a construção do PPP, marque V entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar
para as alternativas VERDADEIRAS e F para as FALSAS. o controle do processo e do produto do trabalho pelos
educadores.
( ) Eliminação das relações verticalizadas entre a escola e Neste sentido, fica claro entender que a gestão
os dirigentes educacionais. democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de
( ) Realização de trabalho padronizado, repetitivo e ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na
mecânico, desconsiderando as diferenças entre os agentes construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão.
educativos.
( ) O currículo se restringe ao cumprimento das atividades 03. Resposta: C
do livro didático, que passa a ser utilizado como um fim e não O Projeto Político-Pedagógico vai além de um simples
um meio. agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O
( ) A elaboração do PPP possibilita aos profissionais da projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou
educação e aos alunos a vivência do processo democrático. encaminhado às autoridades educacionais como prova do
cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e
A sequência CORRETA, de cima para baixo é: vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos
(A) V, F, F, V. com o processo educativo da escola.
(B) F, F, F, V. O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
(C) V, F, V, V. intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
(D) F, V, V, F. definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da
escola é, também, um projeto político por estar intimamente
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses
08. (IFBA - Professor - FUNRIO) O projeto educacional é, reais e coletivos da população majoritária. É político no
respectivamente, político e pedagógico, porque sentido de compromisso com a formação do cidadão para um
(A) perpetua valores da cultura da sociedade a que atende tipo de sociedade.
e impõe as opções pedagógicas da unidade de ensino
(B) reproduz os valores sociais e culturais e propõe opções 04. Resposta: D
educativas que levam à construção de ideais pedagógicos. Os processos e princípios do PPP são: Igualdade de
(C) favorece a formação dos sujeitos para um tipo de condições para acesso e permanência na escola; Qualidade
sociedade que se deseja e define as ações para que a escola que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais;
cumpra suas intenções educativas. Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela
(D) responde às demandas da sociedade e organiza as Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica,
estratégias pedagógicas traçadas pela direção e coordenação administrativa e financeira (que valida a alternativa I);
pedagógica da escola. Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado à
(E) repete as estruturas sociais e especifica o trabalho ideia de autonomia; Valorização do magistério (que valida a
pedagógico em linhas científicas, acadêmicas e educativas. alternativa II).
Já as alternativas III e IV, tornam-se inválidas devido às
09. (DEPEN – Pedagogo - CESPE) São funções do projeto palavras grifadas:
político-pedagógico: diagnóstico e análise da realidade, III - planejamento a curto prazo para definir aplicação de
definição de objetivos e eixos norteadores, determinação de medidas emergenciais na escola, de modo a superar certas
atividades e responsabilidades a serem assumidas, além da dificuldades, detectar outras e propor novas ações.
avaliação dos processos e resultados previstos. IV - a superação de práticas pedagógicas fragmentadas e a
( ) Certo ( ) Errado garantia total de um ensino de qualidade.

81GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais da


Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 28/8 a 2/9/94.

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05. Resposta: B
Grifo nas palavras que deixam as afirmativas I e II
incorretas: O significado e a
I. O Projeto Político Pedagógico deve ter como marco importância do currículo para
fundamental a participação democrática, o ser multicultural, garantir que todos os alunos
mantendo o convívio com base em hierarquias fixas.
II. O Projeto Político Pedagógico deve registrar, orientar, façam um percurso básico
estabelecer ações, metas e estratégias que tenham como comum e desenvolvam as
objetivo o disciplinamento dos corpos e das mentes. competências e habilidades
06. Resposta: E para cada ano da
O Projeto Político-Pedagógico vai além de um simples escolaridade, de acordo com
agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O as Orientações Curriculares
projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou
encaminhado às autoridades educacionais como prova do SEME/SEE e as Diretrizes e
cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e Parâmetros Curriculares
vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos Nacionais;
com o processo educativo da escola.

07. Resposta: A
Grifo nas palavras que deixam as afirmativas II e III Falsas: Caro(a) candidato(a) os Parâmetros Curriculares
Realização de trabalho padronizado, repetitivo e Nacionais não sofreram as devidas alterações conforme a
mecânico, desconsiderando as diferenças entre os agentes lei vigente, por isso se encontram ainda classificando o
educativos. Ensino Fundamental em 8 séries, e não como o sistema
O currículo se restringe ao cumprimento das atividades atual de ensino dividido em 9 anos.
do livro didático, que passa a ser utilizado como um fim e não Não considere como um material errado, apenas não
um meio. ocorreram as devidas atualizações e alterações no próprio
portal do Ministério da Educação ainda
08. Resposta: C (http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/33038),
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se mas são os parâmetros cobrados atualmente.
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. Abaixo segue a parte Introdutória dos PCNs, caso queira
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da lê-los em sua integralidade acesse o link a cima também que
efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do constará disponível todos os volumes.
cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e
criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas 82INTRODUÇÃO AOS PARÂMETROS CURRICULARES
e as características necessárias às escolas de cumprirem seus NACIONAIS
propósitos e sua intencionalidade.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
09. Resposta: Certo O que são os Parâmetros
O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em Curriculares Nacionais
processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um
uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere referencial de qualidade para a educação no Ensino
os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir
corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando a coerência dos investimentos no sistema educacional,
impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as socializando discussões, pesquisas e recomendações,
relações no interior da escola, diminuindo os efeitos subsidiando a participação de técnicos e professores
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais
e hierarquiza os poderes de decisão. isolados, com menor contato com a produção pedagógica
atual.
10. Resposta: Errado Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível,
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre
analisam o projeto político-pedagógico, não como algo currículos e sobre programas de transformação da realidade
estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não educacional empreendidos pelas autoridades governamentais,
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto,
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se
das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar sobreporia à competência político-executiva dos Estados e
o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da Municípios, à diversidade sociocultural das diferentes regiões
própria organização do trabalho pedagógico. do País ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas.
O conjunto das proposições aqui expressas responde à
necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema
educacional do País se organize, a fim de garantir que,
respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas,
religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla,
estratificada e complexa, a educação possa atuar,
decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo

82Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: 1998. 174 p. Disponível em:
primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf>. Acesso em abril de
curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 2017.

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como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos obrigatório, de forma a adequá-lo aos ideais democráticos e à
entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos. Essa busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas
igualdade implica necessariamente o acesso à totalidade dos brasileiras.
bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucional
socialmente relevantes. vigente mostra a ampliação das responsabilidades do poder
Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacionais público para com a educação de todos, ao mesmo tempo que a
podem funcionar como elemento catalisador de ações na Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996,
busca de uma melhoria da qualidade da educação brasileira, priorizou o ensino fundamental, disciplinando a participação
de modo algum pretendem resolver todos os problemas que de Estados e Municípios no tocante ao financiamento desse
afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no País. A nível de ensino.
busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos em A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
diferentes frentes, como a formação inicial e continuada de Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996,
professores, uma política de salários dignos, um plano de consolida e amplia o dever do poder público para com a
carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivos educação em geral e em particular para com o ensino
e de multimídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que a educação
esta qualificação almejada implica colocar também, no centro básica, da qual o ensino fundamental é parte integrante, deve
do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem e assegurar a todos “a formação comum indispensável para o
a questão curricular como de inegável importância para a exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no
política educacional da nação brasileira. trabalho e em estudos posteriores”, fato que confere ao ensino
fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de terminalidade e
de continuidade.
Breve histórico Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a todos a
Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um
estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus
11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases conteúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9º,
da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto inciso IV, é remetida para a União. Para dar conta desse amplo
para o ensino fundamental (primeiro grau, com oito anos de objetivo, a LDB consolida a organização curricular de modo a
escolaridade obrigatória) quanto para o ensino médio conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes
(segundo grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base
a formação necessária ao desenvolvimento de suas nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser
potencialidades como elemento de auto realização, complementada por uma parte diversificada em cada sistema
preparação para o trabalho e para o exercício consciente da de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da
cidadania. Constituição Federal.
Também generalizou as disposições básicas sobre o Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo, tanto
currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório em para o ensino fundamental quanto para o ensino médio, deve
âmbito nacional para o ensino fundamental e médio. Manteve, obrigatoriamente propiciar oportunidades para o estudo da
porém, uma parte diversificada a fim de contemplar as língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e natural e
peculiaridades locais, a especificidade dos planos dos da realidade social e política, enfatizando-se o conhecimento
estabelecimentos de ensino e as diferenças individuais dos do Brasil. Também são áreas curriculares obrigatórias o
alunos. Coube aos Estados a formulação de propostas ensino da Arte e da Educação Física, necessariamente
curriculares que serviriam de base às escolas estaduais, integradas à proposta pedagógica. O ensino de pelo menos
municipais e particulares situadas em seu território, uma língua estrangeira moderna passa a se constituir um
compondo, assim, seus respectivos sistemas de ensino. Essas componente curricular obrigatório, a partir da quinta série do
propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os ensino fundamental (art. 26, § 5o). Quanto ao ensino religioso,
anos 80, segundo as tendências educacionais que se sem onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orientação
generalizaram nesse período. já adotada pela política educacional brasileira, ou seja,
Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas,
Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada mas é de matrícula facultativa, respeitadas as preferências
pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis (art. 33).
conferência, assim como da Declaração de Nova Delhi — O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo
assinada pelos nove países em desenvolvimento de maior maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a todos
contingente populacional do mundo —, resultaram posições formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola
consensuais na luta pela satisfação das necessidades básicas de condições de aprendizagem para:
de aprendizagem para todos, capazes de tornar universal a “I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
educação fundamental e de ampliar as oportunidades de como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
aprendizagem para crianças, jovens e adultos. cálculo;
Tendo em vista o quadro atual da educação no Brasil e os II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério da político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
Educação e do Desporto coordenou a elaboração do Plano fundamenta a sociedade;
Decenal de Educação para Todos (1993-2003), concebido III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
processo de negociação, voltado para a recuperação da escola formação de atitudes e valores;
fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
o incremento da qualidade, como também com a constante solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
avaliação dos sistemas escolares, visando ao seu contínuo assenta a vida social” (art. 32).
aprimoramento. Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à
O Plano Decenal de Educação, em consonância com o que organização curricular da educação escolar caminham no
estabelece a Constituição de 1988, afirma a necessidade e a sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa,
obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no campo efetivação dos objetivos da educação democrática.
curricular capazes de orientar as ações educativas do ensino

Conhecimentos Pedagógicos 70
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APOSTILAS OPÇÃO

O processo de elaboração dos Parâmetros Norte (9%) e Centro-Oeste (7%), conforme indicado no gráfico
Curriculares Nacionais 1.
O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares
Nacionais teve início a partir do estudo de propostas
curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da análise
realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos
oficiais e do contato com informações relativas a experiências
de outros países. Foram analisados subsídios oriundos do
Plano Decenal de Educação, de pesquisas nacionais e
internacionais, dados estatísticos sobre desempenho de
alunos do ensino fundamental, bem como experiências de sala
de aula difundidas em encontros, seminários e publicações.
Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresentada
em versão preliminar, passou por um processo de discussão A maioria absoluta dos alunos frequentava escolas
em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual participaram públicas (88,4%) localizadas em áreas urbanas (82,5%), como
docentes de universidades públicas e particulares, técnicos de resultado do processo de urbanização do País nas últimas
secretarias estaduais e municipais de educação, de instituições décadas, e da crescente participação do setor público na oferta
representativas de diferentes áreas de conhecimento, de matrículas. O setor privado responde apenas por 11,6% da
especialistas e educadores. Desses interlocutores foram oferta, em consequência de sua participação declinante desde
recebidos aproximadamente setecentos pareceres sobre a o início dos anos 70.
proposta inicial, que serviram de referência para a sua No que se refere ao número de estabelecimentos de ensino,
reelaboração. ao todo 194.487, mais de 70% das escolas são rurais, apesar
A discussão da proposta foi estendida em inúmeros de responderem por apenas 17,5% da demanda de ensino
encontros regionais, organizados pelas delegacias do MEC nos fundamental. Na verdade, as escolas rurais concentram-se
Estados da federação, que contaram com a participação de sobretudo na região Nordeste (50%), não só em função de suas
professores do ensino fundamental, técnicos de secretarias características socioeconômicas, mas também devido à
municipais e estaduais de educação, membros de conselhos ausência de planejamento do processo de expansão da rede
estaduais de educação, representantes de sindicatos e física (gráfico 2).
entidades ligadas ao magistério. Os resultados apurados
nesses encontros também contribuíram para a reelaboração
do documento.
Os pareceres recebidos, além das análises críticas e
sugestões em relação ao conteúdo dos documentos, em sua
quase-totalidade, apontaram a necessidade de uma política de
implementação da proposta educacional inicialmente
explicitada. Além disso, sugeriram diversas possibilidades de
atuação das universidades e das faculdades de educação para
a melhoria do ensino nas séries iniciais, as quais estão sendo
incorporadas na elaboração de novos programas de formação
de professores, vinculados à implementação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais.

A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES


NACIONAIS EM FACE DA SITUAÇÃO DO ENSINO
FUNDAMENTAL

Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da política


educacional brasileira recaiu sobre a expansão das
oportunidades de escolarização, havendo um aumento
expressivo no acesso à escola básica. Todavia, os altos índices A situação mostra-se grave ao se observar a evolução da
de repetência e evasão apontam problemas que evidenciam a distribuição da população por nível de escolaridade. Se é
grande insatisfação com o trabalho realizado pela escola. verdade que houve considerável avanço na escolaridade
Indicadores fornecidos pela Secretaria de correspondente à primeira fase do ensino fundamental
Desenvolvimento e Avaliação Educacional (Sediae), do (primeira a quarta séries), é também verdade que em relação
Ministério da Educação e do Desporto, reafirmam a aos demais níveis de ensino a escolaridade ainda é muito
necessidade de revisão do projeto educacional do País, de insuficiente: em 1990, apenas 19% da população do País
modo a concentrar a atenção na qualidade do ensino e da possuía o primeiro grau completo; 13%, o nível médio; e 8%
aprendizagem. possuía o nível superior. Considerando a importância do
ensino fundamental e médio para assegurar a formação de
Número de alunos e de estabelecimentos cidadãos aptos a participar democraticamente da vida social,
A oferta de vagas está praticamente universalizada no País. esta situação indica a urgência das tarefas e o esforço que o
O maior contingente de crianças fora da escola encontra-se na estado e a sociedade civil deverão assumir para superar a
região Nordeste. Nas regiões Sul e Sudeste há desequilíbrios médio prazo o quadro existente.
na localização das escolas e, no caso das grandes cidades, Além das imensas diferenças regionais no que concerne ao
insuficiência de vagas, provocando a existência de um número número médio de anos de estudo, que apontam a região
excessivo de turnos e a criação de escolas unidocentes ou Nordeste bem abaixo da média nacional, cabe destacar a
multisseriadas. grande oscilação deste indicador em relação à variável cor,
Em 1994, os 31,2 milhões de alunos do ensino fundamental mas relativo equilíbrio do ponto de vista de gênero, como
concentravam-se predominantemente nas regiões Sudeste mostram os dados da tabela 1.
(39%) e Nordeste (31%), seguidas das regiões Sul (14%),

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Com efeito, mais do que refletir as desigualdades regionais


e as diferenças de gênero e cor, o quadro de escolarização
desigual do País revela os resultados do processo de extrema
concentração de renda e níveis elevados de pobreza.
Promoção, repetência e evasão

Em relação às taxas de transição83, houve substancial


melhoria dos índices de promoção, repetência e evasão do
ensino fundamental. Verifica-se, no período de 1981-92, Do ponto de vista regional, com exceção do Norte e do
tendência ascendente das taxas de promoção — sobem de Nordeste, as demais regiões apresentam tendência à elevação
55% em 1984, para 62% em 1992 — acompanhada de queda das taxas médias de promoção e à queda dos índices de
razoável das taxas médias de repetência e evasão, que atingem, repetência (gráficos 6 e 7), indicando relativo processo de
respectivamente, 33% e 5% em 1992. melhoria da eficiência do sistema. Ressalta-se, contudo,
Essa tendência é muito significativa. Estudos indicam que tendência à queda das taxas de evasão nas regiões Norte e
a repetência constitui um dos problemas do quadro Nordeste que, em 1992, chegam muito próximas da média
educacional do País, uma vez que os alunos passam, em média, nacional (gráfico 8).
5 anos na escola antes de se evadirem ou levam cerca de 11,2
anos para concluir as oito séries de escolaridade obrigatória.
No entanto, a grande maioria da população estudantil acaba
desistindo da escola, desestimulada em razão das altas taxas
de repetência e pressionada por fatores socioeconômicos que
obrigam boa parte dos alunos ao trabalho precoce.
Apesar da melhoria observada nos índices de evasão, o
comportamento das taxas de promoção e repetência na
primeira série do ensino fundamental está ainda longe do
desejável: apenas 51% do total de alunos são promovidos,
enquanto 44% repetem, reproduzindo assim o ciclo de
retenção que acaba expulsando os alunos da escola (gráficos 3,
4 e 5).

83 . As taxas de transição (promoção, repetência e evasão) são definidas por: a) seguinte (s+1) àquela que estavam matriculados no ano anterior; ii) alunos
taxa de promoção na série s é a razão entre o total de alunos promovidos desta repetentes na série s os que se matricularam no início do ano na mesma série (s)
série (para série s+1) e a matrícula inicial da série s no ano anterior; b) a taxa de que estavam matriculados no ano anterior; e iii) alunos evadidos na série s são
repetência na série s é o total de repetentes nesta série dividido pelo número de aqueles que estavam matriculados nesta série no ano anterior e não se
alunos matriculados na mesma série no ano anterior; e c) a taxa de evasão na matricularam em nenhuma escola no início do ano. Neste relatório essas taxas
série s é obtida dividindo-se o número de alunos evadidos desta série pelo total de estão calculadas em percentuais e foram estimadas por Ruben Klein
alunos matriculados nesta série no ano anterior. Define-se por: i) alunos (CNPq/LNCC).
promovidos da série s aqueles que se matricularam no início do ano na série

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APOSTILAS OPÇÃO

desenvolvimento socioeconômico do País e reflete suas


desigualdades.
Por outro lado, resultados obtidos em pesquisa realizada
pelo SAEB/95, baseados em uma amostra nacional que
abrangeu 90.499 alunos de 2.793 escolas públicas e privadas,
reafirmam a baixa qualidade atingida no desempenho dos
alunos no ensino fundamental em relação à leitura e
principalmente em habilidade matemática.

As taxas de repetência evidenciam a baixa qualidade do


ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e das
escolas de garantir a permanência do aluno, penalizando
principalmente os alunos de níveis de renda mais baixos. Pelo exame da tabela 2, os estudantes parecem lidar
O “represamento” no sistema causado pelo número melhor com o reconhecimento de significados do que com
excessivo de reprovações nas séries iniciais contribui de forma extensões ou aspectos críticos, já que os índices de acerto são
significativa para o aumento dos gastos públicos, ainda sempre maiores nesse tipo de habilidade.
acrescidos pela subutilização de recursos humanos e materiais
nas séries finais, devido ao número reduzido de alunos.
Uma das consequências mais nefastas das elevadas taxas
de repetência manifesta-se nitidamente nas acentuadas taxas
de distorção série/idade, em todas as séries do ensino
fundamental (gráfico 9). Apesar da ligeira queda observada em
todas as séries, no período 1984-94, a situação é dramática:
• mais de 63% dos alunos do ensino fundamental têm
idade superior à faixa etária correspondente a cada série;
• as regiões Sul e Sudeste, embora situem-se abaixo da
média nacional, ainda apresentam índices bastante elevados,
respectivamente, cerca de 42 % e de 54%;
• as regiões Norte e Nordeste situam-se bem acima da
média nacional (respectivamente, 78% e 80%). Os resultados de desempenho em matemática mostram
um rendimento geral insatisfatório, pois os percentuais em sua
maioria situam-se abaixo de 50%. Ao indicarem um
rendimento melhor nas questões classificadas como de
compreensão de conceitos do que nas de conhecimento de
procedimentos e resolução de problemas, os dados parecem
confirmar o que vem sendo amplamente debatido, ou seja, que
o ensino da matemática ainda é feito sem levar em conta os
aspectos que a vinculam com a prática cotidiana, tornando-a
desprovida de significado para o aluno. Outro fato que chama
Para reverter esse quadro, alguns Estados e Municípios a atenção é que o pior índice refere-se ao campo da geometria.
começam a implementar programas de aceleração do fluxo Os dados apresentados pela pesquisa confirmam a
escolar, com o objetivo de promover, a médio prazo, a necessidade de investimentos substanciais para a melhoria da
melhoria dos indicadores de rendimento escolar. São qualidade do ensino e da aprendizagem no ensino
iniciativas extremamente importantes, uma vez que a pesquisa fundamental.
realizada pelo MEC, em 1995, por meio do Sistema Nacional de Mesmo os alunos que conseguem completar os oito anos
Avaliação da Educação Básica (SAEB) mostra que quanto do ensino fundamental acabam dispondo de menos
maior a distorção idade/série, pior o rendimento dos alunos conhecimento do que se espera de quem concluiu a
em Língua Portuguesa e Matemática, tanto no ensino escolaridade obrigatória. Aprenderam pouco, e muitas vezes o
fundamental como no médio. A repetência, portanto, parece que aprenderam não facilita sua inserção e atuação na
não acrescentar nada ao processo de ensino e aprendizagem. sociedade. Dentre outras deficiências do processo de ensino e
aprendizagem, são relevantes o desinteresse geral pelo
Desempenho trabalho escolar, a motivação dos alunos centrada apenas na
O perfil da educação brasileira apresentou significativas nota e na promoção, o esquecimento precoce dos assuntos
mudanças nas duas últimas décadas. Houve substancial queda estudados e os problemas de disciplina.
da taxa de analfabetismo, aumento expressivo do número de Desde os anos 80, experiências concretas no âmbito dos
matrículas em todos os níveis de ensino e crescimento Estados e Municípios vêm sendo tentadas para a
sistemático das taxas de escolaridade média da população. transformação desse quadro educacional mas, ainda que
A progressiva queda da taxa de analfabetismo, que passa tenham obtido sucesso, são experiências circunscritas a
de 39,5% para 20,1% nas quatro últimas décadas, foi paralela realidades específicas.
ao processo de universalização do atendimento escolar na
faixa etária obrigatória (sete a quatorze anos), tendência que Professores
se acentua de meados dos anos 70 para cá, sobretudo como O desempenho dos alunos remete-nos diretamente à
resultado do esforço do setor público na promoção das necessidade de se considerarem aspectos relativos à formação
políticas educacionais. Esse movimento não ocorreu de forma do professor. Pelo Censo Educacional de 1994 foi feito um
homogênea. Ele acompanhou as características de levantamento da quantidade de professores que atuam no

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ensino fundamental, bem como grau de escolaridade. Do total as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens
de funções docentes do ensino fundamental (cerca de 1,3 essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e
milhão), 86,3% encontram-se na rede pública; mais de 79% participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e
relacionam-se às escolas da área urbana e apenas 20,4% à responsabilidade na sociedade em que vivem.
zona rural (tabela 4). O exercício da cidadania exige o acesso de todos à
totalidade dos recursos culturais relevantes para a
intervenção e a participação responsável na vida social. O
domínio da língua falada e escrita, os princípios da reflexão
matemática, as coordenadas espaciais e temporais que
organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação
científica, as condições de fruição da arte e das mensagens
estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas
diferentes concepções do papel da educação no mundo
democrático, até outras tantas exigências que se impõem no
mundo contemporâneo.
Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre
A tabela 4 mostra a existência de 10% de funções docentes
a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa
sendo desempenhadas sem o nível de formação mínimo
categórica de formas de discriminação, a importância da
exigido. Ainda 5% de funções preenchidas por pessoas com
solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional
escolaridade de nível médio ou superior, mas sem função
propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes
específica para o magistério. Finalmente, a ausência de
formas de inserção sociopolítica e cultural. Apresenta-se para
formação mínima concentra-se na área rural, onde chega a
a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se
atingir 40%.
como espaço social de construção dos significados éticos
A exigência legal de formação inicial para atuação no
necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de
ensino fundamental nem sempre pode ser cumprida, em
cidadania.
função das deficiências do sistema educacional. No entanto, a
No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho e do
má qualidade do ensino não se deve simplesmente à não-
consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a saúde,
formação inicial de parte dos professores, resultando também
passando pela educação sexual, e a preservação do meio
da má qualidade da formação que tem sido ministrada. Este
ambiente são temas que ganham um novo estatuto, num
levantamento mostra a urgência de se atuar na formação
universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais
inicial dos professores.
eram vistos como questões locais ou individuais, já não dão
Além de uma formação inicial consistente, é preciso
conta da dimensão nacional e até mesmo internacional que
considerar um investimento educativo contínuo e sistemático
tais temas assumem, justificando, portanto, sua consideração.
para que o professor se desenvolva como profissional de
Nesse sentido, é papel preponderante da escola propiciar o
educação. O conteúdo e a metodologia para essa formação
domínio dos recursos capazes de levar à discussão dessas
precisam ser revistos para que haja possibilidade de melhoria
formas e sua utilização crítica na perspectiva da participação
do ensino. A formação não pode ser tratada como um acúmulo
social e política.
de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e
Desde a construção dos primeiros computadores, na
crítico sobre a prática educativa. Investir no desenvolvimento
metade deste século, novas relações entre conhecimento e
profissional dos professores é também intervir em suas reais
trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus efeitos é a
condições de trabalho.
exigência de um reequacionamento do papel da educação no
mundo contemporâneo, que coloca para a escola um horizonte
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS
mais amplo e diversificado do que aquele que, até poucas
CURRICULARES NACIONAIS
décadas atrás, orientava a concepção e construção dos
projetos educacionais. Não basta visar à capacitação dos
Na sociedade democrática, ao contrário do que ocorre nos
estudantes para futuras habilitações em termos das
regimes autoritários, o processo educacional não pode ser
especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista
instrumento para a imposição, por parte do governo, de um
a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para
projeto de sociedade e de nação. Tal projeto deve resultar do
a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em
próprio processo democrático, nas suas dimensões mais
função de novos saberes que se produzem e demandam um
amplas, envolvendo a contraposição de diferentes interesses e
novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com
a negociação política necessária para encontrar soluções para
novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos
os conflitos sociais.
ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento
Não se pode deixar de levar em conta que, na atual
e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais
realidade brasileira, a profunda estratificação social e a injusta
do que nunca, “aprender a aprender”. Isso coloca novas
distribuição de renda têm funcionado como um entrave para
demandas para a escola. A educação básica tem assim a função
que uma parte considerável da população possa fazer valer os
de garantir condições para que o aluno construa instrumentos
seus direitos e interesses fundamentais. Cabe ao governo o
que o capacitem para um processo de educação permanente.
papel de assegurar que o processo democrático se desenvolva
Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e
de modo a que esses entraves diminuam cada vez mais. É papel
aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de
do Estado democrático investir na escola, para que ela prepare
metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias
e instrumentalize crianças e jovens para o processo
de verificação e comprovação de hipóteses na construção do
democrático, forçando o acesso à educação de qualidade para
conhecimento, a construção de argumentação capaz de
todos e às possibilidades de participação social.
controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do
Para isso faz-se necessária uma proposta educacional que
espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a
tenha em vista a qualidade da formação a ser oferecida a todos
compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações
os estudantes. O ensino de qualidade que a sociedade demanda
propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica
atualmente expressa-se aqui como a possibilidade de o
de ensino que favoreça não só o descobrimento das
sistema educacional vir a propor uma prática educativa
potencialidades do trabalho individual, mas também, e
adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e
sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à
culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e

Conhecimentos Pedagógicos 74
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autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de Apesar de apresentar uma estrutura curricular completa,
segurança em relação às suas próprias capacidades, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e flexíveis,
interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de uma vez que, por sua natureza, exigem adaptações para a
equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de construção do currículo de uma Secretaria ou mesmo de uma
interlocução mais complexos e diferenciados. escola. Também pela sua natureza, eles não se impõem como
uma diretriz obrigatória: o que se pretende é que ocorram
Natureza e função dos Parâmetros Curriculares adaptações, por meio do diálogo, entre estes documentos e as
Nacionais práticas já existentes, desde as definições dos objetivos até as
orientações didáticas para a manutenção de um todo coerente.
Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados
pouca infraestrutura e condições socioeconômicas historicamente — não são princípios atemporais. Sua validade
desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de conhecimentos depende de estarem em consonância com a realidade social,
socialmente elaborados e reconhecidos como necessários para necessitando, portanto, de um processo periódico de avaliação
o exercício da cidadania para deles poder usufruir. Se existem e revisão, a ser coordenado pelo MEC.
diferenças socioculturais marcantes, que determinam O segundo nível de concretização diz respeito às propostas
diferentes necessidades de aprendizagem, existe também curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâmetros
aquilo que é comum a todos, que um aluno de qualquer lugar Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como recurso
do Brasil, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas
zona rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve Secretarias de Educação, em um processo definido pelos
ser garantido pelo Estado. responsáveis em cada local.
Mas, na medida em que o princípio da equidade reconhece O terceiro nível de concretização refere-se à elaboração da
a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas proposta curricular de cada instituição escolar,
para o processo educacional, tendo em vista a garantia de uma contextualizada na discussão de seu projeto educativo.
formação de qualidade para todos, o que se apresenta é a Entende-se por projeto educativo a expressão da identidade
necessidade de um referencial comum para a formação escolar de cada escola em um processo dinâmico de discussão,
no Brasil, capaz de indicar aquilo que deve ser garantido a reflexão e elaboração contínua. Esse processo deve contar com
todos, numa realidade com características tão diferenciadas, a participação de toda equipe pedagógica, buscando um
sem promover uma uniformização que descaracterize e comprometimento de todos com o trabalho realizado, com os
desvalorize peculiaridades culturais e regionais. propósitos discutidos e com a adequação de tal projeto às
É nesse sentido que o estabelecimento de uma referência características sociais e culturais da realidade em que a escola
curricular comum para todo o País, ao mesmo tempo que está inserida. É no âmbito do projeto educativo que
fortalece a unidade nacional e a responsabilidade do Governo professores e equipe pedagógica discutem e organizam os
Federal com a educação, busca garantir, também, o respeito à objetivos, conteúdos e critérios de avaliação para cada ciclo.
diversidade que é marca cultural do País, mediante a Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas das
possibilidade de adaptações que integrem as diferentes Secretarias devem ser vistos como materiais que subsidiarão
dimensões da prática educacional. a escola na constituição de sua proposta educacional mais
Para compreender a natureza dos Parâmetros Curriculares geral, num processo de interlocução em que se compartilham
Nacionais, é necessário situá-los em relação a quatro níveis de e explicitam os valores e propósitos que orientam o trabalho
concretização curricular considerando a estrutura do sistema educacional que se quer desenvolver e o estabelecimento do
educacional brasileiro. Tais níveis não representam etapas currículo capaz de atender às reais necessidades dos alunos.
sequenciais, mas sim amplitudes distintas da elaboração de O quarto nível de concretização curricular é o momento da
propostas curriculares, com responsabilidades diferentes, que realização da programação das atividades de ensino e
devem buscar uma integração e, ao mesmo tempo, autonomia. aprendizagem na sala de aula. É quando o professor, segundo
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o as metas estabelecidas na fase de concretização anterior, faz
primeiro nível de concretização curricular. São uma referência sua programação, adequando-a àquele grupo específico de
nacional para o ensino fundamental; estabelecem uma meta alunos. A programação deve garantir uma distribuição
educacional para a qual devem convergir as ações políticas do planejada de aulas, distribuição dos conteúdos segundo um
Ministério da Educação e do Desporto, tais como os projetos cronograma referencial, definição das orientações didáticas
ligados à sua competência na formação inicial e continuada de prioritárias, seleção do material a ser utilizado, planejamento
professores, à análise e compra de livros e outros materiais de projetos e sua execução. Apesar de a responsabilidade ser
didáticos e à avaliação nacional. Têm como função subsidiar a essencialmente de cada professor, é fundamental que esta seja
elaboração ou a revisão curricular dos Estados e Municípios, compartilhada com a equipe da escola por meio da
dialogando com as propostas e experiências já existentes, corresponsabilidade estabelecida no projeto educativo.
incentivando a discussão pedagógica interna das escolas e a Tal proposta, no entanto, exige uma política educacional
elaboração de projetos educativos, assim como servir de que contemple a formação inicial e continuada dos
material de reflexão para a prática de professores. professores, uma decisiva revisão das condições salariais,
Todos os documentos aqui apresentados configuram uma além da organização de uma estrutura de apoio que favoreça o
referência nacional em que são apontados conteúdos e desenvolvimento do trabalho (acervo de livros e obras de
objetivos articulados, critérios de eleição dos primeiros, referência, equipe técnica para supervisão, materiais
questões de ensino e aprendizagem das áreas, que permeiam didáticos, instalações adequadas para a realização de trabalho
a prática educativa de forma explícita ou implícita, propostas de qualidade), aspectos que, sem dúvida, implicam a
sobre a avaliação em cada momento da escolaridade e em cada valorização da atividade do professor.
área, envolvendo questões relativas a o que e como avaliar.
Assim, além de conter uma exposição sobre seus fundamentos,
contém os diferentes elementos curriculares — tais como Fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais
Caracterização das Áreas, Objetivos, Organização dos A TRADIÇÃO PEDAGÓICA BRASILEIRA
Conteúdos, Critérios de Avaliação e Orientações Didáticas —,
efetivando uma proposta articuladora dos propósitos mais A prática de todo professor, mesmo de forma inconsciente,
gerais de formação de cidadania, com sua operacionalização sempre pressupõe uma concepção de ensino e aprendizagem
no processo de aprendizagem. que determina sua compreensão dos papéis de professor e

Conhecimentos Pedagógicos 75
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APOSTILAS OPÇÃO

aluno, da metodologia, da função social da escola e dos dos alunos, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente
conteúdos a serem trabalhados. A discussão dessas questões é pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos.
importante para que se explicitem os pressupostos O professor é visto, então, como facilitador no processo de
pedagógicos que subjazem à atividade de ensino, na busca de busca de conhecimento que deve partir do aluno. Cabe ao
coerência entre o que se pensa estar fazendo e o que realmente professor organizar e coordenar as situações de
se faz. Tais práticas se constituem a partir das concepções aprendizagem, adaptando suas ações às características
educativas e metodologias de ensino que permearam a individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e
formação educacional e o percurso profissional do professor, habilidades intelectuais.
aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos
experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de
social e as tendências pedagógicas que lhe são um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deve ser
contemporâneas. ensinado e aprendido. Essa tendência, que teve grande
As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas penetração no Brasil na década de 30, no âmbito do ensino
brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não pré-escolar (jardim de infância), até hoje influencia muitas
aparecem em forma pura, mas com características práticas pedagógicas.
particulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de uma Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicismo
linha pedagógica. educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da
A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que
evidente a influência dos grandes movimentos educacionais definiu uma prática pedagógica altamente controlada e
internacionais, da mesma forma que expressam as dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas
especificidades de nossa história política, social e cultural, a numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente
cada período em que são consideradas. Pode-se identificar, na programada em detalhes. A supervalorização da tecnologia
tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes programada de ensino trouxe consequências: a escola se
tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas revestiu de uma grande autossuficiência, reconhecida por ela
marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. e por toda a comunidade atingida, criando assim a falsa ideia
Tais tendências serão sintetizadas em grandes traços que de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que
tentam recuperar os pontos mais significativos de cada uma depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que
das propostas. Este documento não ignora o risco de uma certa é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a
redução das concepções, tendo em vista a própria síntese e os tecnologia; o professor passa a ser um mero especialista na
limites desta apresentação. aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites
A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educação possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é
centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a
aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter
A metodologia decorrente de tal concepção baseia-se na êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não
exposição oral dos conteúdos, numa sequência são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu
predeterminada e fixa, independentemente do contexto ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve
escolar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos para implementar. Essa orientação foi dada para as escolas pelos
garantir a memorização dos conteúdos. A função primordial da organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está
escola, nesse modelo, é transmitir conhecimentos presente em muitos materiais didáticos com caráter
disciplinares para a formação geral do aluno, formação esta estritamente técnico e instrumental.
que o levará, ao inserir-se futuramente na sociedade, a optar No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política
por uma profissão valorizada. Os conteúdos do ensino decorrente do final do regime militar coincidiu com a intensa
correspondem aos conhecimentos e valores sociais mobilização dos educadores para buscar uma educação crítica
acumulados pelas gerações passadas como verdades a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas,
acabadas, e, embora a escola vise à preparação para a vida, não tendo em vista a superação das desigualdades existentes no
busca estabelecer relação entre os conteúdos que se ensinam interior da sociedade. Ao lado das denominadas teorias crítico-
e os interesses dos alunos, tampouco entre esses e os reprodutivistas, firma-se no meio educacional a presença da
problemas reais que afetam a sociedade. Na maioria das “pedagogia libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos
escolas essa prática pedagógica se caracteriza por sobrecarga conteúdos”, assumida por educadores de orientação marxista.
de informações que são veiculadas aos alunos, o que torna o A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos
processo de aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas movimentos de educação popular que ocorreram no final dos
vezes burocratizado e destituído de significação. No ensino dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram interrompidos pelo
conteúdos, o que orienta é a organização lógica das disciplinas, golpe militar de 1964; teve seu desenvolvimento retomado no
o aprendizado moral, disciplinado e esforçado. final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa proposta, a
Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura atividade escolar pauta-se em discussões de temas sociais e
conservadora. O professor é visto como a autoridade máxima, políticos e em ações sobre a realidade social imediata;
um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e
portanto, o guia exclusivo do processo educativo. organiza-se uma forma de atuação para que se possa
A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui várias transformar a realidade social e política. O professor é um
correntes que, de uma forma ou de outra, estão ligadas ao coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente
movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais correntes, com os alunos.
embora admitam divergências, assumem um mesmo princípio A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge no
norteador de valorização do indivíduo como ser livre, ativo e final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma reação de
social. O centro da atividade escolar não é o professor nem os alguns educadores que não aceitam a pouca relevância que a
conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e “pedagogia libertadora” dá ao aprendizado do chamado “saber
curioso. O mais importante não é o ensino, mas o processo de elaborado”, historicamente acumulado, que constitui parte do
aprendizagem. Em oposição à Escola Tradicional, a Escola acervo cultural da humanidade.
Nova destaca o princípio da aprendizagem por descoberta e A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura a
estabelece que a atitude de aprendizagem parte do interesse função social e política da escola mediante o trabalho com
conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as classes

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populares em condições de uma efetiva participação nas lutas os alunos aprendam o que, sozinhos, não têm condições de
sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as aprender.
questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares
domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais Nacionais reconhece a importância da participação
amplas para que os alunos possam interpretar suas construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do
experiências de vida e defender seus interesses de classe. professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que
As tendências pedagógicas que marcam a tradição favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias à
educacional brasileira e aqui foram expostas sinteticamente formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de
trazem, de maneira diferente, contribuições para uma ensino e aprendizagem como um processo que se desenvolve
proposta atual que busque recuperar aspectos positivos das por etapas, em que a cada uma delas o conhecimento é
práticas anteriores em relação ao desenvolvimento e à “acabado”, o que se propõe é uma visão da complexidade e da
aprendizagem, realizando uma releitura dessas práticas à luz provisoriedade do conhecimento. De um lado, porque o objeto
dos avanços ocorridos nas produções teóricas, nas de conhecimento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria
investigações e em fatos que se tornaram observáveis nas falsificá-lo; de outro, porque o processo cognitivo não acontece
experiências educativas mais recentes realizadas em por justaposição, senão por reorganização do conhecimento. É
diferentes Estados e Municípios do Brasil. também “provisório”, uma vez que não é possível chegar de
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Brasil, imediato ao conhecimento correto, mas somente por
entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas que aproximações sucessivas que permitem sua reconstrução.
tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés era mais Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objetivos
sociológico e político; a partir dos anos 80 surge com maior educacionais que propõem quanto na conceitualização do
evidência um movimento que pretende a integração entre significado das áreas de ensino e dos temas da vida social
essas abordagens. Se por um lado não é mais possível deixar contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o
de se ter preocupações com o domínio de conhecimentos desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os
formais para a participação crítica na sociedade, considera-se conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos,
também que é necessária uma adequação pedagógica às mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas
características de um aluno que pensa, de um professor que capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno
sabe e aos conteúdos de valor social e formativo. Esse possa ser sujeito de sua própria formação, em um complexo
momento se caracteriza pelo enfoque centrado no caráter processo interativo em que também o professor se veja como
social do processo de ensino e aprendizagem e é marcado pela sujeito de conhecimento.
influência da psicologia genética.
O enfoque social dado aos processos de ensino e ESCOLA E CONSTITUIÇÃO DA CIDADANIA
aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de
extrema relevância, em particular no que se refere à maneira A importância dada aos conteúdos revela um compromisso
como se devem entender as relações entre desenvolvimento e da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes
aprendizagem, à importância da relação interpessoal nesse elaborados socialmente, pois estes se constituem como
processo, à relação entre cultura e educação e ao papel da ação instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o
educativa ajustada às situações de aprendizagem e às exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de
características da atividade mental construtiva do aluno em refutar ou reformular as deformações dos conhecimentos, as
cada momento de sua escolaridade. imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores.
A psicologia genética propiciou aprofundar a compreensão Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto,
sobre o processo de desenvolvimento na construção do estar em consonância com as questões sociais que marcam
conhecimento. Compreender os mecanismos pelos quais as cada momento histórico.
crianças constroem representações internas de Isso requer que a escola seja um espaço de formação e
conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve
psicogenética, traz uma contribuição para além das descrições necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia
dos grandes estágios de desenvolvimento. das questões sociais marcantes e em um universo cultural
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita chegou ao maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento
Brasil em meados dos anos 80 e causou grande impacto, de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a
revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais e, ao intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como
mesmo tempo, provocando uma revisão do tratamento dado possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais
ao ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhecimento. nacionais e universais.
Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
sobre a língua escrita, objeto de conhecimento Nacionais se concebe a educação escolar como uma prática
reconhecidamente escolar, mostrando a presença importante que tem a possibilidade de criar condições para que todos os
dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança já alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os
tem, os quais, embora não coincidam com os dos adultos, têm conteúdos necessários para construir instrumentos de
sentido para ela. compreensão da realidade e de participação em relações
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas vezes sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais
interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista amplas, condições estas fundamentais para o exercício da
para alfabetização, o que expressa um duplo equívoco: cidadania na construção de uma sociedade democrática e não
redução do construtivismo a uma teoria psicogenética de excludente.
aquisição de língua escrita e transformação de uma A prática escolar distingue-se de outras práticas
investigação acadêmica em método de ensino. Com esses educativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na
equívocos, difundiram-se, sob o rótulo de pedagogia mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social, por
construtivista, as ideias de que não se devem corrigir os erros constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e
e de que as crianças aprendem fazendo “do seu jeito”. Essa continuada para crianças e jovens durante um período
pedagogia, dita construtivista, trouxe sérios problemas ao contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o
processo de ensino e aprendizagem, pois desconsidera a objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com
função primordial da escola que é ensinar, intervindo para que competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como
objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com

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as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja salários, na falta de condições de trabalho, de metas a serem
aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais alcançadas, de prestígio social, na inércia de grande parte dos
para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. órgãos responsáveis por alterar esse quadro, provoca, na
Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garanta maioria das pessoas, um descrédito na transformação da
um conjunto de práticas planejadas com o propósito de situação. Essa desvalorização objetiva do magistério acaba por
contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de ser interiorizada, bloqueando as motivações. Outro fator de
maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição desmotivação dos profissionais da rede pública é a mudança
social com propósito explicitamente educativo, tem o de rumo da educação diante da orientação política de cada
compromisso de intervir efetivamente para promover o governante. Às vezes as transformações propostas reafirmam
desenvolvimento e a socialização de seus alunos. certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e volta
Essa função socializadora remete a dois aspectos: o gera, para a maioria dos professores, um desânimo para se
desenvolvimento individual e o contexto social e cultural. É engajar nos projetos de trabalho propostos, mesmo que lhes
nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem pareçam interessantes, pois eles dificilmente terão
como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de continuidade.
todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a função
um conjunto de saberes e formas de conhecimento que, por social aqui proposta, precisam possibilitar o cultivo dos bens
sua vez, só é possível graças ao que individualmente se puder culturais e sociais, considerando as expectativas e as
incorporar. Não há desenvolvimento individual possível à necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da
margem da sociedade, da cultura. Os processos de comunidade, dos professores, enfim, dos envolvidos
diferenciação na construção de uma identidade pessoal e os diretamente no processo educativo. É nesse universo que o
processos de socialização que conduzem a padrões de aluno vivencia situações diversificadas que favorecem o
identidade coletiva constituem, na verdade, as duas faces de aprendizado, para dialogar de maneira competente com a
um mesmo processo. comunidade, aprender a respeitar e a ser respeitado, a ouvir e
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, a ser ouvido, a reivindicar direitos e a cumprir obrigações, a
precisa assumir a valorização da cultura de sua própria participar ativamente da vida científica, cultural, social e
comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus política do País e do mundo.
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes
grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E
conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no PERMANENTE
âmbito nacional e regional como no que faz parte do
patrimônio universal da humanidade. Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola com
O desenvolvimento de capacidades, como as de relação as questões sociais e com os valores democráticos, não só do
interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, as éticas, as ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos, como
estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o também da própria organização escolar. As normas de
processo de construção e reconstrução de conhecimentos. funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem
Essa aprendizagem é exercida com o aporte pessoal de cada a atuação das pessoas na escola são determinantes da
um, o que explica por que, a partir dos mesmos saberes, há qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa
sempre lugar para a construção de uma infinidade de sobre a formação dos alunos.
significados, e não a uniformidade destes. Os conhecimentos Com a degradação do sistema educacional brasileiro, pode-
que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas um local
quando são produtos de uma construção dinâmica que se de trabalho individualizado e não uma organização com
opera na interação constante entre o saber escolar e os demais objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação
saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz coordenada de seus diversos profissionais.
para a escola, num processo contínuo e permanente de Para ser uma organização eficaz no cumprimento de
aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, propósitos estabelecidos em conjunto por professores,
culturais e psicológicos. coordenadores e diretor, e garantir a formação coerente de
As questões relativas à globalização, as transformações seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória, é
científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético- imprescindível que cada escola discuta e construa seu projeto
valorativa da sociedade apresentam para a escola a imensa educativo.
tarefa de instrumentalizar os jovens para participar da cultura, Esse projeto deve ser entendido como um processo que
das relações sociais e políticas. A escola, ao posicionar-se dessa inclui a formulação de metas e meios, segundo a
maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam particularidade de cada escola, por meio da criação e da
sobre temas normalmente excluídos e atua propositalmente valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo e da
na formação de valores e atitudes do sujeito em relação ao corresponsabilidade de todos os membros da comunidade
outro, à política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio escolar, para além do planejamento de início de ano ou dos
ambiente, à tecnologia, etc. períodos de “reciclagem”.
Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos A experiência acumulada por seus profissionais é
capazes de interferir criticamente na realidade para naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do projeto
transformá-la, deve também contemplar o desenvolvimento educativo de uma escola. Além desse repertório, outras fontes
de capacidades que possibilitem adaptações às complexas importantes para a definição de um projeto educativo são os
condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar currículos locais, a bibliografia especializada, o contato com
com a rapidez na produção e na circulação de novos outras experiências educacionais, assim como os Parâmetros
conhecimentos e informações, que têm sido avassaladores e Curriculares Nacionais, que formulam questões essenciais
crescentes. A formação escolar deve possibilitar aos alunos sobre o que, como e quando ensinar, constituindo um
condições para desenvolver competência e consciência referencial significativo e atualizado sobre a função da escola,
profissional, mas não restringir-se ao ensino de habilidades a importância dos conteúdos e o tratamento a ser dado a eles.
imediatamente demandadas pelo mercado de trabalho. Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e
A discussão sobre a função da escola não pode ignorar as explicita de forma clara os valores coletivos assumidos.
reais condições em que esta se encontra. A situação de Delimita suas prioridades, define os resultados desejados e
precariedade vivida pelos educadores, expressa nos baixos incorpora a autoavaliação ao trabalho do professor. Assim,

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organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe de trabalho, verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna
provoca-se o estudo e a reflexão contínuos, dando sentido às que, por mais que possa parecer incoerente aos olhos de um
ações cotidianas, reduzindo a improvisação e as condutas outro, faz sentido para o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou
estereotipadas e rotineiras que, muitas vezes, são seja, construídas e transformadas ao longo do
contraditórias com os objetivos educacionais compartilhados. desenvolvimento, fruto de aproximações sucessivas, são
A contínua realização do projeto educativo possibilita o expressão de uma construção inteligente por parte do sujeito
conhecimento das ações desenvolvidas pelos diferentes e, portanto, interpretadas como erros construtivos.
professores, sendo base de diálogo e reflexão para toda a A tradição escolar — que não faz diferença entre erros
equipe escolar. Nesse processo evidencia-se a necessidade da integrantes do processo de aprendizagem e simples enganos
participação da comunidade, em especial dos pais, tomando ou desconhecimentos — trabalha com a ideia de que a
conhecimento e interferindo nas propostas da escola e em suas ausência de erros na tarefa escolar é a manifestação da
estratégias. O resultado que se espera é a possibilidade de os aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da investigação
alunos terem uma experiência escolar coerente e bem- científica na área da aprendizagem, tornou-se possível
sucedida. interpretar o erro como algo inerente ao processo de
Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão coletiva aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica para ajudar
não é algo que se atinge de uma hora para outra e a escola é a superá-lo. A superação do erro é resultado do processo de
uma realidade complexa, não sendo possível tratar as questões incorporação de novas ideias e de transformação das
como se fossem simples de serem resolvidas. Cada anteriores, de maneira a dar conta das contradições que se
escola encontra uma realidade, uma trama, um conjunto de apresentarem ao sujeito para, assim, alcançar níveis
circunstâncias e de pessoas. É preciso que haja incentivo do superiores de conhecimento.
poder público local, pois o desenvolvimento do projeto requer O que o aluno pode aprender em determinado momento da
tempo para análise, discussão e reelaboração contínua, o que escolaridade depende das possibilidades delineadas pelas
só é possível em um clima institucional favorável e com formas de pensamento de que dispõe naquela fase de
condições objetivas de realização. desenvolvimento, dos conhecimentos que já construiu
anteriormente e do ensino que recebe. Isto é, a intervenção
A prender e ensinar, construir e interagir pedagógica deve-se ajustar ao que os alunos conseguem
realizar em cada momento de sua aprendizagem, para se
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de ensino constituir verdadeira ajuda educativa. O conhecimento é
no professor, supondo que, como decorrência, estaria resultado de um complexo e intrincado processo de
valorizando o conhecimento. O ensino, então, ganhou modificação, reorganização e construção, utilizado pelos
autonomia em relação à aprendizagem, criou seus próprios alunos para assimilar e interpretar os conteúdos escolares.
métodos e o processo de aprendizagem ficou relegado a Por mais que o professor, os companheiros de classe e os
segundo plano. Hoje sabe-se que é necessário ressignificar a materiais didáticos possam, e devam, contribuir para que a
unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, em última aprendizagem se realize, nada pode substituir a atuação do
instância, sem aprendizagem o ensino não se realiza. próprio aluno na tarefa de construir significados sobre os
A busca de um marco explicativo que permita essa conteúdos da aprendizagem. É ele quem modifica, enriquece e,
ressignificação, além da criação de novos instrumentos de portanto, constrói novos e mais potentes instrumentos de ação
análise, planejamento e condução da ação educativa na escola, e interpretação.
tem se situado, atualmente, para muitos dos teóricos da Mas o desencadeamento da atividade mental construtiva
educação, dentro da perspectiva construtivista. não é suficiente para que a educação escolar alcance os
A perspectiva construtivista na educação é configurada objetivos a que se propõe: que as aprendizagens estejam
por uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e compatíveis com o que significam socialmente.
da aprendizagem humana que se complementam, integrando O processo de atribuição de sentido aos conteúdos
um conjunto orientado a analisar, compreender e explicar os escolares é, portanto, individual; porém, é também cultural na
processos escolares de ensino e aprendizagem. medida em que os significados construídos remetem a formas
A configuração do marco explicativo construtivista para os e saberes socialmente estruturados.
processos de educação escolar deu-se, entre outras Conceber o processo de aprendizagem como propriedade
influências, a partir da psicologia genética, da teoria do sujeito não implica desvalorizar o papel determinante da
sociointeracionista e das explicações da atividade significativa. interação com o meio social e, particularmente, com a escola.
Vários autores partiram dessas ideias para desenvolver e Ao contrário, situações escolares de ensino e aprendizagem
conceitualizar as várias dimensões envolvidas na educação são situações comunicativas, nas quais os alunos e professores
escolar, trazendo inegáveis contribuições à teoria e à prática atuam como corresponsáveis, ambos com uma influência
educativa. decisiva para o êxito do processo.
O núcleo central da integração de todas essas A abordagem construtivista integra, num único esquema
contribuições refere-se ao reconhecimento da importância da explicativo, questões relativas ao desenvolvimento individual
atividade mental construtiva nos processos de aquisição de e à pertinência cultural, à construção de conhecimentos e à
conhecimento. Daí o termo construtivismo, denominando essa interação social. Considera o desenvolvimento pessoal como o
convergência. Assim, o conhecimento não é visto como algo processo mediante o qual o ser humano assume a cultura do
situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do grupo social a que pertence. Processo no qual o
real, tampouco como algo que o indivíduo constrói desenvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência
independentemente da realidade exterior, dos demais humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente
indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de produzida e historicamente acumulada, não se excluem nem
mais nada, uma construção histórica e social, na qual se confundem, mas interagem. Daí a importância das
interferem fatores de ordem cultural e psicológica. interações entre crianças e destas com parceiros experientes,
A atividade construtiva, física ou mental, permite dentre os quais destacam-se professores e outros agentes
interpretar a realidade e construir significados, ao mesmo educativos.
tempo que permite construir novas possibilidades de ação e de O conceito de aprendizagem significativa, central na
conhecimento. perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o
Nesse processo de interação com o objeto a ser conhecido, trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade que se
o sujeito constrói representações, que funcionam como conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola

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serão significativas à medida que conseguirem estabelecer Essas influências sociais normalmente somam-se ao processo
relações substantivas e não-arbitrárias entre os conteúdos de aprendizagem escolar, contribuindo para consolidá-lo; por
escolares e os conhecimentos previamente construídos por isso é importante que a escola as considere e as integre ao
eles, num processo de articulação de novos significados. trabalho. Porém, algumas vezes, essa mesma influência pode
Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, apresentar obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma
promover a realização de aprendizagens com o maior grau de direção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no
significado possível, uma vez que esta nunca é absoluta — encaminhamento escolar. É necessário que a escola considere
sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que se tais direções e forneça uma interpretação dessas diferenças,
pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão para que a intervenção pedagógica favoreça a ultrapassagem
e informação que o sujeito já possui. desses obstáculos num processo articulado de interação e
A aprendizagem significativa implica sempre alguma integração.
ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa elaborar Se o projeto educacional exige ressignificar o processo de
hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos afetivos, ensino e aprendizagem, este precisa se preocupar em
motivacionais e relacionais são importantes nesse momento. preservar o desejo de conhecer e de saber com que todas as
Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm crianças chegam à escola. Precisa manter a boa qualidade do
um papel determinante na expectativa que o aluno tem da vínculo com o conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso
escola, do professor e de si mesmo, nas suas motivações e reiterado. Mas garantir experiências de sucesso não significa
interesses, em seu autoconceito e em sua autoestima. Assim omitir ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir
como os significados construídos pelo aluno estão destinados realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, com
a ser substituídos por outros no transcurso das atividades, as propostas e intervenções pedagógicas adequadas.
representações que o aluno tem de si e de seu processo de O professor deve ter propostas claras sobre o que, quando
aprendizagem também. É fundamental, portanto, que a e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o planejamento
intervenção educativa escolar propicie um desenvolvimento de atividades de ensino para a aprendizagem de maneira
em direção à disponibilidade exigida pela aprendizagem adequada e coerente com seus objetivos. É a partir dessas
significativa. determinações que o professor elabora a programação diária
Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno de sala de aula e organiza sua intervenção de maneira a propor
constrói uma representação de si mesmo como alguém capaz. situações de aprendizagem ajustadas às capacidades
Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de cognitivas dos alunos.
aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajustar ao
necessária se transformará em medo, para o qual a defesa ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a
possível é a manifestação de desinteresse. aprendizagem.
A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de ORGANIZAÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES
organização do pensamento como os conhecimentos e NACIONAIS
experiências prévias, e, de outro, pela interação com os outros
agentes. A análise das propostas curriculares oficiais para o ensino
Para a estruturação da intervenção educativa é fundamental, elaborada pela Fundação Carlos Chagas, aponta
fundamental distinguir o nível de desenvolvimento real do dados relevantes que auxiliam a reflexão sobre a organização
potencial. O nível de desenvolvimento real se determina como curricular e a forma como seus componentes são abordados.
aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma situação Segundo essa análise, as propostas, de forma geral,
determinada, sem ajuda de ninguém. O nível de apontam como grandes diretrizes uma perspectiva
desenvolvimento potencial é determinado pelo que o aluno democrática e participativa, e que o ensino fundamental deve
pode fazer ou aprender mediante a interação com outras se comprometer com a educação necessária para a formação
pessoas, conforme as observa, imitando, trocando ideias com de cidadãos críticos, autônomos e atuantes. No entanto, a
elas, ouvindo suas explicações, sendo desafiado por elas ou maioria delas apresenta um descompasso entre os objetivos
contrapondo-se a elas, sejam essas pessoas o professor ou seus anunciados e o que é proposto para alcançá-los, entre os
colegas. Existe uma zona de desenvolvimento próximo, dada pressupostos teóricos e a definição de conteúdos e aspectos
pela diferença existente entre o que um aluno pode fazer metodológicos.
sozinho e o que pode fazer ou aprender com a ajuda dos A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais buscou
outros. De acordo com essa concepção, falar dos mecanismos contribuir para a superação dessa contradição. A integração
de intervenção educativa equivale a falar dos mecanismos curricular assume as especificidades de cada componente e
interativos pelos quais professores e colegas conseguem delineia a operacionalização do processo educativo desde os
ajustar sua ajuda aos processos de construção de significados objetivos gerais do ensino fundamental, passando por sua
realizados pelos alunos no decorrer das atividades escolares especificação nos objetivos gerais de cada área e de cada tema
de ensino e aprendizagem. transversal, deduzindo desses objetivos os conteúdos
Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros apropriados para configurar as reais intenções educativas.
mecanismos de influência educativa, cuja natureza e Assim, os objetivos, que definem capacidades, e os conteúdos,
funcionamento em grande medida são desconhecidos, mas que estarão a serviço do desenvolvimento dessas capacidades,
que têm incidência considerável sobre a aprendizagem dos formam uma unidade orientadora da proposta curricular.
alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o Para que se possa discutir uma prática escolar que
funcionamento da instituição escolar e os valores implícitos e realmente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curriculares
explícitos que permeiam as relações entre os membros da Nacionais apontam questões de tratamento didático por área
escola; são fatores determinantes da qualidade de ensino e e por ciclo, procurando garantir coerência entre os
podem chegar a influir de maneira significativa sobre o que e pressupostos teóricos, os objetivos e os conteúdos, mediante
como os alunos aprendem. sua operacionalização em orientações didáticas e critérios de
Os alunos não contam exclusivamente com o contexto avaliação. Em outras palavras, apontam o que e como se pode
escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos trabalhar, desde as séries iniciais, para que se alcancem os
considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os amigos, objetivos pretendidos.
são também fontes de influência educativa que incidem sobre As propostas curriculares oficiais dos Estados estão
o processo de construção de significado desses conteúdos. organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns

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Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou temas, contribui efetivamente para a superação dos problemas do
que visam tratar os conteúdos de modo interdisciplinar, desenvolvimento escolar. Tanto isso é verdade que, onde
buscando integrar o cotidiano social com o saber escolar. foram implantados, os ciclos se mantiveram, mesmo com
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por um mudanças de governantes.
tratamento específico das áreas, em função da importância Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a proposta
instrumental de cada uma, mas contemplou-se também a de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de que tal
integração entre elas. Quanto às questões sociais relevantes, proposta permite compensar a pressão do tempo que é
reafirma-se a necessidade de sua problematização e análise, inerente à instituição escolar, tornando possível distribuir os
incorporando-as como temas transversais. As questões sociais conteúdos de forma mais adequada à natureza do processo de
abordadas são: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual aprendizagem. Além disso, favorece uma apresentação menos
e pluralidade cultural. parcelada do conhecimento e possibilita as aproximações
Quanto ao modo de incorporação desses temas no sucessivas necessárias para que os alunos se apropriem dos
currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendência complexos saberes que se intenciona transmitir.
que se manifesta em algumas experiências nacionais e Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as mesmas
internacionais, em que as questões sociais se integram na oportunidades de acesso a certos objetos de conhecimento que
própria concepção teórica das áreas e de seus componentes fazem parte do repertório escolar. Sabe-se também que isso
curriculares. influencia o modo e o processo como atribuirão significados
De acordo com os princípios já apontados, os conteúdos aos objetos de conhecimento na situação escolar: alguns
são considerados como um meio para o desenvolvimento alunos poderão estar mais avançados na reconstrução de
amplo do aluno e para a sua formação como cidadão. Portanto, significados do que outros.
cabe à escola o propósito de possibilitar aos alunos o domínio Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é
de instrumentos que os capacitem a relacionar conhecimentos preciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos
de modo significativo, bem como a utilizar esses perigosos. Uma vez que não há uma definição precisa e clara
conhecimentos na transformação e construção de novas de quais seriam esses ritmos, os educadores podem ser
relações sociais. levados a rotular alguns alunos como mais lentos que outros,
Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os estigmatizando aqueles que estão se iniciando na interação
conteúdos de tal forma que se possa determinar, no momento com os objetos de conhecimento escolar.
de sua adequação às particularidades de Estados e Municípios, No caso da aprendizagem da língua escrita, por exemplo,
o grau de profundidade apropriado e a sua melhor forma de se um aluno ingressa na primeira série sabendo escrever
distribuição no decorrer da escolaridade, de modo a constituir alfabeticamente, isso se explica porque seu ritmo é mais
um corpo de conteúdos consistentes e coerentes com os rápido ou porque teve múltiplas oportunidades de atuar como
objetivos. leitor e escritor? Se outros ingressam sem saber sequer como
A avaliação é considerada como elemento favorecedor da se pega um livro, é porque são lentos ou porque estão
melhoria de qualidade da aprendizagem, deixando de interatuando pela primeira vez com os objetos com que os
funcionar como arma contra o aluno. É assumida como parte outros interatuam desde que nasceram? E, no caso desta
integrante e instrumento de autorregularão do processo de última hipótese, por mais rápidos que possam ser, será que
ensino e aprendizagem, para que os objetivos propostos sejam poderão em alguns dias percorrer o caminho que outros
atingidos. A avaliação diz respeito não só ao aluno, mas realizaram em anos?
também ao professor e ao próprio sistema escolar. Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a
A opção de organização da escolaridade em ciclos, expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento de
tendência predominante nas propostas mais atuais, é incapacidade para a aprendizagem que chega a causar
referendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A bloqueios nesse processo. É fundamental que se considerem
organização em ciclos é uma tentativa de superar a esses aspectos e é necessário que o professor possa intervir
segmentação excessiva produzida pelo regime seriado e de para alterar as situações desfavoráveis ao aluno.
buscar princípios de ordenação que possibilitem maior Em suma, o que acontece é que cada aluno tem,
integração do conhecimento. habitualmente, desempenhos muito diferentes na relação com
Os componentes curriculares foram formulados a partir da objetos de conhecimento diferentes e a prática escolar tem
análise da experiência educacional acumulada em todo o buscado incorporar essa diversidade de modo a garantir
território nacional. Pautaram-se, também, pela análise das respeito aos alunos e a criar condições para que possam
tendências mais atuais de investigação científica, a fim de progredir nas suas aprendizagens.
poderem expressar um avanço na discussão em torno da busca A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite,
de qualidade de ensino e aprendizagem. possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está
plenamente coerente com os fundamentos psicopedagógicos,
A organização da escolaridade em ciclos com a concepção de conhecimento e da função da escola que
estão explicitados no item Fundamentos dos Parâmetros
Na década de 80, vários Estados e Municípios Curriculares Nacionais.
reestruturaram o ensino fundamental a partir das séries Os conhecimentos adquiridos na escola passam por um
iniciais. Esse processo de reorganização, que tinha como processo de construção e reconstrução contínua e não por
objetivo político minimizar o problema da repetência e da etapas fixadas e definidas no tempo. As aprendizagens não se
evasão escolar, adotou como princípio norteador a processam como a subida de degraus regulares, mas como
flexibilização da seriação, o que abriria a possibilidade de o avanços de diferentes magnitudes.
currículo ser trabalhado ao longo de um período de tempo Embora a organização da escola seja estruturada em anos
maior e permitiria respeitar os diferentes ritmos de letivos, é importante uma perspectiva pedagógica em que a
aprendizagem que os alunos apresentam. vida escolar e o currículo possam ser assumidos e trabalhados
Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo básico com em dimensões de tempo mais flexíveis. Vale ressaltar que para
a duração de dois anos, tendo como objetivo propiciar maiores o processo de ensino e aprendizagem se desenvolver com
oportunidades de escolarização voltada para a alfabetização sucesso não basta flexibilizar o tempo: dispor de mais tempo
efetiva das crianças. As experiências, ainda que tenham sem uma intervenção efetiva para garantir melhores
apresentado problemas estruturais e necessidades de ajustes condições de aprendizagem pode apenas adiar o problema e
da prática, acabaram por mostrar que a organização por ciclos

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perpetuar o sentimento negativo de autoestima do aluno, prática didática. Por exemplo, ao trabalhar conteúdos de
consagrando, da mesma forma, o fracasso da escola. Ciências Naturais, os alunos buscam informações em suas
A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que o pesquisas, registram observações, anotam e quantificam
processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis, dados. Portanto, utilizam-se de conhecimentos relacionados à
desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equipe área de Língua Portuguesa, à de Matemática, além de outras,
pedagógica das escolas se corresponsabilize com o processo dependendo do estudo em questão. O professor, considerando
de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para a concretização a multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes
dos ciclos como modalidade organizativa, é necessário que se situações, pode tomar decisões a respeito de suas intervenções
criem condições institucionais que permitam destinar espaço e da maneira como tratará os temas, de forma a propiciar aos
e tempo à realização de reuniões de professores, para discutir alunos uma abordagem mais significativa e contextualizada.
os diferentes aspectos do processo educacional. Para que estes parâmetros não se limitassem a uma
Ao se considerar que dois ou três anos de escolaridade orientação técnica da prática pedagógica, foi considerada a
pertencem a um único ciclo de ensino e aprendizagem, podem- fundamentação das opções teóricas e metodológicas da área
se definir objetivos e práticas educativas que permitam aos para que, a partir destas, seja possível instaurar reflexões
alunos avançar continuadamente na concretização das metas sobre a proposta educacional indicada. Na apresentação de
do ciclo. A organização por ciclos tende a evitar as frequentes cada área são abordados os seguintes aspectos: descrição da
rupturas e a excessiva fragmentação do percurso escolar, problemática específica da área por meio de um breve
assegurando a continuidade do processo educativo, dentro do histórico no contexto educacional brasileiro; justificativa de
ciclo e na passagem de um ciclo ao outro, ao permitir que os sua presença no ensino fundamental; fundamentação
professores realizem adaptações sucessivas da ação epistemológica da área; sua relevância na sociedade atual;
pedagógica às diferentes necessidades dos alunos, sem que fundamentação psicopedagógica da proposta de ensino e
deixem de orientar sua prática pelas expectativas de aprendizagem da área; critérios para organização e seleção de
aprendizagem referentes ao período em questão. conteúdos e objetivos gerais da área para o ensino
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organizados fundamental.
em ciclos de dois anos, mais pela limitação conjuntural em que A partir da Concepção de Área assim fundamentada, segue-
estão inseridos do que por justificativas pedagógicas. Da forma se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros Curriculares
como estão aqui organizados, os ciclos não trazem para cada ciclo (primeiro e segundo), especificando Objetivos
incompatibilidade com a atual estrutura do ensino e Conteúdos, bem como Critérios de Avaliação, Orientações
fundamental. Assim, o primeiro ciclo se refere às primeira e para Avaliação e Orientações Didáticas.
segunda séries; o segundo ciclo, à terceira e à quarta séries; e Se a escola pretende estar em consonância com as
assim subsequentemente para as outras quatro séries. demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de
Essa estruturação não contempla os principais problemas questões que interferem na vida dos alunos e com as quais se
da escolaridade no ensino fundamental: não une as quarta e veem confrontados no seu dia-a-dia. As temáticas sociais, por
quinta séries para eliminar a ruptura desastrosa que aí se dá e essa importância inegável que têm na formação dos alunos, já
tem causado muita repetência e evasão, como também não há muito têm sido discutidas e frequentemente incorporadas
define uma etapa maior para o início da escolaridade, que aos currículos das áreas ligadas às Ciências Naturais e Sociais,
deveria (a exemplo da imensa maioria dos países) incorporar chegando até mesmo, em algumas propostas, a constituir
à escolaridade obrigatória as crianças desde os seis anos. novas áreas.
Portanto, o critério de dois anos para a organização dos ciclos, Mais recentemente, algumas propostas indicaram a
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, não deve ser necessidade do tratamento transversal de temáticas sociais na
considerado como decorrência de seus princípios e escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade,
fundamentações, nem como a única estratégia de intervenção sem restringi-las à abordagem de uma única área.
no contexto atual da problemática educacional. Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais são
integradas na proposta educacional dos Parâmetros
A organização do conhecimento escolar: Áreas e Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não
Temas Transversais constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que
aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é,
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em cada permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as
uma delas e o tratamento transversal de questões sociais orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a
constituem uma representação ampla e plural dos campos de escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um
conhecimento e de cultura de nosso tempo, cuja aquisição tratamento integrado das áreas e um compromisso das
contribui para o desenvolvimento das capacidades expressas relações interpessoais e sociais escolares com as questões que
nos objetivos gerais. estão envolvidas nos temas, a fim de que haja uma coerência
O tratamento da área e de seus conteúdos integra uma entre os valores experimentados na vivência que a escola
série de conhecimentos de diferentes disciplinas, que propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores.
contribuem para a construção de instrumentos de As aprendizagens relativas a esses temas se explicitam na
compreensão e intervenção na realidade em que vivem os organização dos conteúdos das áreas, mas a discussão da
alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos conceitualização e da forma de tratamento que devem receber
conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de no todo da ação educativa escolar está especificada em textos
conhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo aos de fundamentação por tema.
alunos a construção de representações sobre o que estudam. O conjunto de documentos dos Temas Transversais
Essa caracterização da área é importante também para que os comporta uma primeira parte em que se discute a sua
professores possam se situar dentro de um conjunto definido necessidade para que a escola possa cumprir sua função social,
e conceitualizado de conhecimentos que pretendam que seus os valores mais gerais e unificadores que definem todo o
alunos aprendam, condição necessária para proceder a posicionamento relativo às questões que são tratadas nos
encaminhamentos que auxiliem as aprendizagens com temas, a justificativa e a conceitualização do tratamento
sucesso. transversal para os temas sociais e um documento específico
Se é importante definir os contornos das áreas, é também para cada tema: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade
essencial que estes se fundamentem em uma concepção que os Cultural e Orientação Sexual, eleitos por envolverem
integre conceitualmente, e essa integração seja efetivada na

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problemáticas sociais atuais e urgentes, consideradas de qual se analisam, nas diferentes situações da vida, os valores e
abrangência nacional e até mesmo de caráter universal. opções que envolvem. A construção interna, pessoal, de
A grande abrangência dos temas não significa que devam princípios considerados válidos para si e para os demais
ser tratados igualmente; ao contrário, exigem adaptações para implica considerar-se um sujeito em meio a outros sujeitos. O
que possam corresponder às reais necessidades de cada região desenvolvimento dessa capacidade permite considerar e
ou mesmo de cada escola. As características das questões buscar compreender razões, nuanças, condicionantes,
ambientais, por exemplo, ganham especificidades diferentes consequências e intenções, isto é, permite a superação da
nos campos de seringa no interior da Amazônia e na periferia rigidez moral, no julgamento e na atuação pessoal, na relação
de uma grande cidade. interpessoal e na compreensão das relações sociais. A ação
Além das adaptações dos temas apresentados, é pedagógica contribui com tal desenvolvimento, entre outras
importante que sejam eleitos temas locais para integrar o formas afirmando claramente seus princípios éticos,
componente Temas Transversais; por exemplo, muitas incentivando a reflexão e a análise crítica de valores, atitudes
cidades têm elevadíssimos índices de acidentes com vítimas e tomadas de decisão e possibilitando o conhecimento de que
no trânsito, o que faz com que suas escolas necessitem a formulação de tais sistemas é fruto de relações humanas,
incorporar a educação para o trânsito em seu currículo. Além historicamente situadas. Quanto à capacidade de inserção
deste, outros temas relativos, por exemplo, à paz ou ao uso de social, refere-se à possibilidade de o aluno perceber-se como
drogas podem constituir subtemas dos temas gerais; outras parte de uma comunidade, de uma classe, de um ou vários
vezes, no entanto, podem exigir um tratamento específico e grupos sociais e de comprometer-se pessoalmente com
intenso, dependendo da realidade de cada contexto social, questões que considere relevantes para a vida coletiva. Essa
político, econômico e cultural. Nesse caso, devem ser incluídos capacidade é nuclear ao exercício da cidadania, pois seu
como temas básicos. desenvolvimento é necessário para que se possa superar o
individualismo e atuar (no cotidiano ou na vida política)
OBJETIVOS levando em conta a dimensão coletiva. O aprendizado de
Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares diferentes formas e possibilidades de participação social é
Nacionais concretizam as intenções educativas em termos de essencial ao desenvolvimento dessa capacidade.
capacidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades é
longo da escolaridade. A decisão de definir os objetivos preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de modo
educacionais em termos de capacidades é crucial nesta geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da história de
proposta, pois as capacidades, uma vez desenvolvidas, podem êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz e vão determinar
se expressar numa variedade de comportamentos. O o grau de motivação que apresentará em relação às
professor, consciente de que condutas diversas podem estar aprendizagens atualmente propostas. Mas depende também
vinculadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, de que os conteúdos de aprendizagem tenham sentido para ele
tem diante de si maiores possibilidades de atender à e sejam funcionais. O papel do professor nesse processo é,
diversidade de seus alunos. portanto, crucial, pois a ele cabe apresentar os conteúdos e
Assim, os objetivos se definem em termos de capacidades atividades de aprendizagem de forma que os alunos
de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e compreendam o porquê e o para que do que aprendem, e assim
inserção social, ética e estética, tendo em vista uma formação desenvolvam expectativas positivas em relação à
ampla. aprendizagem e sintam-se motivados para o trabalho escolar.
A capacidade cognitiva tem grande influência na postura Para tanto, é preciso considerar que nem todas as pessoas têm
do indivíduo em relação às metas que quer atingir nas mais os mesmos interesses ou habilidades, nem aprendem da
diversas situações da vida, vinculando-se diretamente ao uso mesma maneira, o que muitas vezes exige uma atenção
de formas de representação e de comunicação, envolvendo a especial por parte do professor a um ou outro aluno, para que
resolução de problemas, de maneira consciente ou não. A todos possam se integrar no processo de aprender. A partir do
aquisição progressiva de códigos de representação e a reconhecimento das diferenças existentes entre pessoas, fruto
possibilidade de operar com eles interfere diretamente na do processo de socialização e do desenvolvimento individual,
aprendizagem da língua, da matemática, da representação será possível conduzir um ensino pautado em aprendizados
espacial, temporal e gráfica e na leitura de imagens. A que sirvam a novos aprendizados.
capacidade física engloba o autoconhecimento e o uso do A escola preocupada em fazer com que os alunos
corpo na expressão de emoções, na superação de estereotipias desenvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e
de movimentos, nos jogos, no deslocamento com segurança. A seleciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se adequarem
afetiva refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade e às várias vivências a que são expostos em seu universo
à adequação de atitudes no convívio social, estando vinculada cultural; considera as capacidades que os alunos já têm e as
à valorização do resultado dos trabalhos produzidos e das potencializa; preocupa-se com aqueles alunos que encontram
atividades realizadas. Esses fatores levam o aluno a dificuldade no desenvolvimento das capacidades básicas.
compreender a si mesmo e aos outros. A capacidade afetiva Embora os indivíduos tendam, em função de sua natureza,
está estreitamente ligada à capacidade de relação interpessoal, a desenvolver capacidades de maneira heterogênea, é
que envolve compreender, conviver e produzir com os outros, importante salientar que a escola tem como função
percebendo distinções entre as pessoas, contrastes de potencializar o desenvolvimento de todas as capacidades, de
temperamento, de intenções e de estados de ânimo. O modo a tornar o ensino mais humano, mais ético.
desenvolvimento da inter-relação permite ao aluno se colocar Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação das
do ponto de vista do outro e a refletir sobre seus próprios mencionadas capacidades, apresentam inicialmente os
pensamentos. No trabalho escolar o desenvolvimento dessa Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as grandes
capacidade é propiciado pela realização de trabalhos em metas educacionais que orientam a estruturação curricular. A
grupo, por práticas de cooperação que incorporam formas partir deles são definidos os Objetivos Gerais de Área, os dos
participativas e possibilitam a tomada de posição em conjunto Temas Transversais, bem como o desdobramento que estes
com os outros. A capacidade estética permite produzir arte e devem receber no primeiro e no segundo ciclos, como forma
apreciar as diferentes produções artísticas produzidas em de conduzir às conquistas intermediárias necessárias ao
diferentes culturas e em diferentes momentos históricos. A alcance dos objetivos gerais. Um exemplo de desdobramento
capacidade ética é a possibilidade de reger as próprias ações e dos objetivos é o que se apresenta a seguir.
tomadas de decisão por um sistema de princípios segundo o

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• Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar procedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar como
diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferentes
corporal — como meio para expressar e comunicar suas naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com a
ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura. formação ampla do aluno e a necessidade de intervenções
• Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar conscientes e planejadas nessa direção.
informações relevantes do ponto de vista do conhecimento e Neste documento, os conteúdos são abordados em três
estabelecer o maior número de relações entre elas, fazendo grandes categorias: conteúdos conceituais, que envolvem
uso do conhecimento matemático para interpretá-las e avaliá- fatos e princípios; conteúdos procedimentais e conteúdos
las criticamente. atitudinais, que envolvem a abordagem de valores, normas e
• Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro Ciclo: atitudes.
identificar, em situações práticas, que muitas informações são Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das
organizadas em tabelas e gráficos para facilitar a leitura e a capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias,
interpretação, e construir formas pessoais de registro para imagens e representações que permitem organizar a
comunicar informações coletadas. realidade. A aprendizagem de conceitos se dá por
Os objetivos constituem o ponto de partida para se refletir aproximações sucessivas. Para aprender sobre digestão,
sobre qual é a formação que se pretende que os alunos subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento, o aluno
obtenham, que a escola deseja proporcionar e tem precisa adquirir informações, vivenciar situações em que esses
possibilidades de realizar, sendo, nesse sentido, pontos de conceitos estejam em jogo, para poder construir
referência que devem orientar a atuação educativa em todas generalizações parciais que, ao longo de suas experiências,
as áreas, ao longo da escolaridade obrigatória. Devem, possibilitarão atingir conceitualizações cada vez mais
portanto, orientar a seleção de conteúdos a serem aprendidos abrangentes; estas o levarão à compreensão de princípios, ou
como meio para o desenvolvimento das capacidades e indicar seja, conceitos de maior nível de abstração, como o princípio
os encaminhamentos didáticos apropriados para que os da igualdade na matemática, o princípio da conservação nas
conteúdos estudados façam sentido para os alunos. ciências, etc. A aprendizagem de conceitos permite organizar
Finalmente, devem constituir-se uma referência indireta da a realidade, mas só é possível a partir da aprendizagem de
avaliação da atuação pedagógica da escola. conteúdos referentes a fatos (nomes, imagens,
As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâmetros representações), que ocorre, num primeiro momento, de
Curriculares Nacionais são propostas como referenciais gerais maneira eminentemente mnemônica. A memorização não
e demandam adequações a serem realizadas nos níveis de deve ser entendida como processo mecânico, mas antes como
concretização curricular das secretarias estaduais e recurso que torna o aluno capaz de representar informações
municipais, bem como das escolas, a fim de atender às de maneira genérica — memória significativa — para poder
demandas específicas de cada localidade. Essa adequação relacioná-las com outros conteúdos.
pode ser feita mediante a redefinição de graduações e o Dependendo da diversidade presente nas atividades
reequacionamento de prioridades, desenvolvendo alguns realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam
aspectos e acrescentando outros que não estejam explícitos. regularidades, realizam produtos e generalizações que,
CONTEÚDOS mesmo sendo sínteses ou análises parciais, permitem verificar
se o conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: para
Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma compreender o que vem a ser um texto jornalístico é
mudança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares: necessário que o aluno tenha contato com esse texto, use-o
ao invés de um ensino em que o conteúdo seja visto como fim para obter informações, conheça seu vocabulário, conheça sua
em si mesmo, o que se propõe é um ensino em que o conteúdo estrutura e sua função social. Exemplo 2: a solidariedade só
seja visto como meio para que os alunos desenvolvam as pode ser compreendida quando o aluno passa por situações
capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens em que atitudes que a suscitem estejam em jogo, de modo que,
culturais, sociais e econômicos. ao longo de suas experiências, adquira informações que
A tendência predominante na abordagem de conteúdos na contribuam para a construção de tal conceito. Aprender
educação escolar se assenta no binômio transmissão- conceitos permite atribuir significados aos conteúdos
incorporação, considerando a incorporação de conteúdos pelo aprendidos e relacioná-los a outros.
aluno como a finalidade essencial do ensino. Existem, no Tal aprendizado está diretamente relacionado à segunda
entanto, outros posicionamentos: há quem defenda a posição categoria de conteúdos: a procedimental. Os procedimentos
de indiferença em relação aos conteúdos por considerá-los expressam um saber fazer, que envolve tomar decisões e
somente como suporte ao desenvolvimento cognitivo dos realizar uma série de ações, de forma ordenada e não aleatória,
alunos e há ainda quem acuse a determinação prévia de para atingir uma meta. Assim, os conteúdos procedimentais
conteúdos como uma afronta às questões sociais e políticas sempre estão presentes nos projetos de ensino, pois uma
vivenciadas pelos diversos grupos. pesquisa, um experimento, um resumo, uma maquete, são
No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica, proposições de ações presentes nas salas de aula.
professores e alunos trabalham, necessariamente, com No entanto, conteúdos procedimentais são abordados
conteúdos. O que diferencia radicalmente as propostas é a muitas vezes de maneira equivocada, não sendo tratados como
função que se atribui aos conteúdos no contexto escolar e, em objeto de ensino, que necessitam de intervenção direta do
decorrência disso, as diferentes concepções quanto à maneira professor para serem de fato aprendidos. O aprendizado de
como devem ser selecionados e tratados. procedimentos é, por vezes, considerado como algo
Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que a eles espontâneo, dependente das habilidades individuais.
deve ser dado assumem papel central, uma vez que é por meio Ensinam-se procedimentos acreditando estar-se ensinando
deles que os propósitos da escola são operacionalizados, ou conceitos; a realização de um procedimento adequado passa,
seja, manifestados em ações pedagógicas. No entanto, não se então, a ser interpretada como o aprendizado do conceito. O
trata de compreendê-los da forma como são comumente exemplo mais evidente dessa abordagem ocorre no ensino das
aceitos pela tradição escolar. O projeto educacional expresso operações: o fato de uma criança saber resolver contas de
nos Parâmetros Curriculares Nacionais demanda uma reflexão adição não necessariamente corresponde à compreensão do
sobre a seleção de conteúdos, como também exige uma conceito de adição.
ressignificação, em que a noção de conteúdo escolar se amplia É preciso analisar os conteúdos referentes a
para além de fatos e conceitos, passando a incluir procedimentos não do ponto de vista de uma aprendizagem

Conhecimentos Pedagógicos 84
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mecânica, mas a partir do propósito fundamental da educação, esclarecimento do papel da escola na formação do cidadão. Ao
que é fazer com que os alunos construam instrumentos para enfocar os conteúdos escolares sob essa dimensão, questões
analisar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os de convívio social assumem um outro status no rol dos
processos que colocam em ação para atingir as metas a que se conteúdos a serem abordados.
propõem. Por exemplo: para realizar uma pesquisa, o aluno Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais como
pode copiar um trecho da enciclopédia, embora esse não seja conteúdos do mesmo nível que os conceituais não implica
o procedimento mais adequado. É preciso auxiliá-lo, aumento na quantidade de conteúdos a serem trabalhados,
ensinando os procedimentos apropriados, para que possa porque eles já estão presentes no dia-a-dia da sala de aula; o
responder com êxito à tarefa que lhe foi proposta. É preciso que acontece é que, na maioria das vezes, não estão
que o aluno aprenda a pesquisar em mais de uma fonte, explicitados nem são tratados de maneira consciente. A
registrar o que for relevante, relacionar as informações diferente natureza dos conteúdos escolares deve ser
obtidas para produzir um texto de pesquisa. Dependendo do contemplada de maneira integrada no processo de ensino e
assunto a ser pesquisado, é possível orientá-lo para fazer aprendizagem e não em atividades específicas.
entrevistas e organizar os dados obtidos, procurar referências Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos
em diferentes jornais, em filmes, comparar as informações referentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e
obtidas para apresentá-las num seminário, produzir um texto. atitudes estão presentes nos documentos tanto de áreas
Ao exercer um determinado procedimento, é possível ao quanto de Temas Transversais, por contribuírem para a
aluno, com ajuda ou não do professor, analisar cada etapa aquisição das capacidades definidas nos Objetivos Gerais do
realizada para adequá-la ou corrigi-la, a fim de atingir a meta Ensino Fundamental. A consciência da importância desses
proposta. A consideração dos conteúdos procedimentais no conteúdos é essencial para garantir-lhes tratamento
processo de ensino é de fundamental importância, pois apropriado, em que se vise um desenvolvimento amplo,
permite incluir conhecimentos que têm sido tradicionalmente harmônico e equilibrado dos alunos, tendo em vista sua
excluídos do ensino, como a revisão do texto escrito, a vinculação à função social da escola. Eles são apresentados nos
argumentação construída, a comparação dos dados, a blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas.
verificação, a documentação e a organização, entre outros. Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas são
Ao ensinar procedimentos também se ensina um certo agrupamentos que representam recortes internos à área e
modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo: uma das visam explicitar objetos de estudo essenciais à aprendizagem.
questões centrais do trabalho em matemática refere-se à Distinguem as especificidades dos conteúdos, para que haja
validação. Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios clareza sobre qual é o objeto do trabalho, tanto para o aluno
se o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o como para o professor — é importante ter consciência do que
procedimento utilizado é correto ou não, se o argumento de se está ensinando e do que se está aprendendo. Os conteúdos
seu colega é consistente ou contraditório. são organizados em função da necessidade de receberem um
Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o tratamento didático que propicie um avanço contínuo na
conhecimento escolar. A escola é um contexto socializador, ampliação de conhecimentos, tanto em extensão quanto em
gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, profundidade, pois o processo de aprendizagem dos alunos
aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade. A não- requer que os mesmos conteúdos sejam tratados de diferentes
compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos maneiras e em diferentes momentos da escolaridade, de forma
escolares faz com estes sejam comunicados sobretudo de a serem “revisitados”, em função das possibilidades de
forma inadvertida — acabam por ser aprendidos sem que haja compreensão que se alteram pela contínua construção de
uma deliberação clara sobre esse ensinamento. Por isso, é conhecimentos e em função da complexidade conceitual de
imprescindível adotar uma posição crítica em relação aos determinados conteúdos. Por exemplo, ao apresentar
valores que a escola transmite explícita e implicitamente problemas referentes às operações de adição e subtração.
mediante atitudes cotidianas. A consideração positiva de Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou uma partida
certos fatos ou personagens históricos em detrimento de e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 - 3 = 5 ou 3 +? = 8).
outros é um posicionamento de valor, o que contradiz a Exemplo 2: Pedro jogou uma partida de bolinha de gude. Na
pretensa neutralidade que caracteriza a apresentação escolar segunda partida, perdeu 3 bolinhas, ficando com 5 no final.
do saber científico. Quantas bolinhas Pedro ganhou na primeira partida? (? - 3 = 5
Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento ou 8 - 3 = 5 ou 3 +? = 8). O problema 1 é resolvido pela maioria
claro e consciente sobre o que e como se ensina na escola. Esse das crianças no início da escolaridade obrigatória em função
posicionamento só pode ocorrer a partir do estabelecimento do conhecimento matemático que já têm; no entanto, o
das intenções do projeto educativo da escola, para que se problema 2 para ser resolvido necessita que o aluno tenha tido
possam adequar e selecionar conteúdos básicos, necessários e diferentes oportunidades para operar com os conceitos
recorrentes. envolvidos, caso contrário não o resolverá. O mesmo conteúdo
É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes é de — adição e subtração — para ser compreendido requer uma
natureza complexa e pouco explorada do ponto de vista abordagem mais ampla dos conceitos que o envolvem. Com
pedagógico. Muitas pesquisas apontam para a importância da esses exemplos buscou-se apontar também que situações
informação como fator de transformação de valores e atitudes; aparentemente fáceis e simples são complexas tanto do ponto
sem dúvida, a informação é necessária, mas não é suficiente. de vista do objeto como da aprendizagem. No problema 2 a
Para a aprendizagem de atitudes é necessária uma prática variação no local da incógnita solicita um tipo de raciocínio
constante, coerente e sistemática, em que valores e atitudes diferente do problema 1. A complexidade dos próprios
almejados sejam expressos no relacionamento entre as conteúdos e as necessidades das aprendizagens compõem um
pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados. Além das todo dinâmico, sendo impossível esgotar a aprendizagem em
questões de ordem emocional, tem relevância no aprendizado um curto espaço de tempo. O conhecimento não é um bem
dos conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a um passível de acumulação, como uma espécie de doação da fonte
grupo social, com seus próprios valores e atitudes. de informações para o aprendiz.
Embora esteja sempre presente nos conteúdos específicos Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso
que são ensinados, os conteúdos atitudinais não têm sido considerar também o estabelecimento de relações internas ao
formalmente reconhecidos como tal. A análise dos conteúdos, bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos de conteúdos
à luz dessa dimensão, exige uma tomada de decisão consciente de Língua Portuguesa são língua oral, língua escrita, análise e
e eticamente comprometida, interferindo diretamente no reflexão sobre a língua; é possível aprender sobre a língua

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escrita sem necessariamente estabelecer uma relação direta como para o aluno tomar consciência do que já sabe e do que
com a língua oral; por outro lado, não é possível aprender a pode ainda aprender sobre um determinado conjunto de
analisar e a refletir sobre a língua sem o apoio da língua oral, conteúdos. É importante que ocorra uma avaliação no início do
ou da escrita. Dessa forma, a inter-relação dos elementos de ano; o fato de o aluno estar iniciando uma série não é
um bloco, ou entre blocos, é determinada pelo objeto da informação suficiente para que o professor saiba sobre suas
aprendizagem, configurado pela proposta didática realizada necessidades de aprendizagem. Mesmo que o professor
pelo professor. acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha registros
Dada a diversidade existente no País, é natural e desejável detalhados sobre o desempenho dos alunos no ano anterior,
que ocorram alterações no quadro proposto. A definição dos não se exclui essa investigação inicial, pois os alunos não
conteúdos a serem tratados deve considerar o deixam de aprender durante as férias e muita coisa pode ser
desenvolvimento de capacidades adequadas às características alterada no intervalo dos períodos letivos. Mas essas
sociais, culturais e econômicas particulares de cada localidade. avaliações não devem ser aplicadas exclusivamente nos inícios
Assim, a definição de conteúdos nos Parâmetros Curriculares de ano ou de semestre; são pertinentes sempre que o professor
Nacionais é uma referência suficientemente aberta para propuser novos conteúdos ou novas sequências de situações
técnicos e professores analisarem, refletirem e tomarem didáticas.
decisões, resultando em ampliações ou reduções de certos É importante ter claro que a avaliação inicial não implica a
aspectos, em função das necessidades de aprendizagem de instauração de um longo período de diagnóstico, que acabe por
seus alunos. se destacar do processo de aprendizagem que está em curso,
no qual o professor não avança em suas propostas, perdendo
AVALIAÇÃO o escasso e precioso tempo escolar de que dispõe. Ela pode se
realizar no interior mesmo de um processo de ensino e
A concepção de avaliação dos Parâmetros Curriculares aprendizagem, já que os alunos põem inevitavelmente em jogo
Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o controle seus conhecimentos prévios ao enfrentar qualquer situação
externo do aluno mediante notas ou conceitos, para ser didática.
compreendida como parte integrante e intrínseca ao processo O processo também contempla a observação dos avanços
educacional. e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao
A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre final de um período de trabalho, seja este determinado pelo
sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como um fim de um bimestre, ou de um ano, seja pelo encerramento de
conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar um projeto ou sequência didática. Na verdade, a avaliação
e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e contínua do processo acaba por subsidiar a avaliação final, isto
sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do é, se o professor acompanha o aluno sistematicamente ao
conhecimento construído pelo aluno. Possibilita conhecer o longo do processo pode saber, em determinados momentos, o
quanto ele se aproxima ou não da expectativa de que o aluno já aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Esses
aprendizagem que o professor tem em determinados momentos, por outro lado, são importantes por se
momentos da escolaridade, em função da intervenção constituírem boas situações para que alunos e professores
pedagógica realizada. Portanto, a avaliação das aprendizagens formalizem o que foi e o que não foi aprendido. Esta avaliação,
só pode acontecer se forem relacionadas com as que intenciona averiguar a relação entre a construção do
oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das conhecimento por parte dos alunos e os objetivos a que o
situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos professor se propôs, é indispensável para se saber se todos os
alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar. alunos estão aprendendo e quais condições estão sendo ou não
A avaliação subsidia o professor com elementos para uma favoráveis para isso, o que diz respeito às responsabilidades
reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos do sistema educacional.
instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem Um sistema educacional comprometido com o
ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para desenvolvimento das capacidades dos alunos, que se
o processo de aprendizagem individual ou de todo grupo. Para expressam pela qualidade das relações que estabelecem e pela
o aluno, é o instrumento de tomada de consciência de suas profundidade dos saberes constituídos, encontra, na avaliação,
conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização uma referência à análise de seus propósitos, que lhe permite
de seu investimento na tarefa de aprender. Para a escola, redimensionar investimentos, a fim de que os alunos
possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das aprendam cada vez mais e melhor e atinjam os objetivos
ações educacionais demandam maior apoio. propostos.
Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas essas Esse uso da avaliação, numa perspectiva democrática, só
dimensões requer que esta ocorra sistematicamente durante poderá acontecer se forem superados o caráter de
todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente após terminalidade e de medição de conteúdos aprendidos — tão
o fechamento de etapas do trabalho, como é o habitual. Isso arraigados nas práticas escolares — a fim de que os resultados
possibilita ajustes constantes, num mecanismo de regulação da avaliação possam ser concebidos como indicadores para a
do processo de ensino e aprendizagem, que contribui reorientação da prática educacional e nunca como um meio de
efetivamente para que a tarefa educativa tenha sucesso. estigmatizar os alunos.
O acompanhamento e a reorganização do processo de Utilizar a avaliação como instrumento para o
ensino e aprendizagem na escola inclui, necessariamente, uma desenvolvimento das atividades didáticas requer que ela não
avaliação inicial, para o planejamento do professor, e uma seja interpretada como um momento estático, mas antes como
avaliação ao final de uma etapa de trabalho. um momento de observação de um processo dinâmico e não-
A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o linear de construção de conhecimento.
professor para que possa pôr em prática seu planejamento de Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros
forma adequada às características de seus alunos. Esse é o Curriculares Nacionais é compreendida como: elemento
momento em que o professor vai se informar sobre o que o integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto de ações
aluno já sabe sobre determinado conteúdo para, a partir daí, cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção
estruturar sua programação, definindo os conteúdos e o nível pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma;
de profundidade em que devem ser abordados. A avaliação conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi
inicial serve para o professor obter informações necessárias aprendido e como; elemento de reflexão contínua para o
para propor atividades e gerar novos conhecimentos, assim professor sobre sua prática educativa; instrumento que

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possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, alunos, em determinados momentos, é uma condição didática
dificuldades e possibilidades; ação que ocorre durante todo o necessária para que construam instrumentos de
processo de ensino e aprendizagem e não apenas em autorregularão para as diferentes aprendizagens. A
momentos específicos caracterizados como fechamento de autoavaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno
grandes etapas de trabalho. Uma concepção desse tipo desenvolve estratégias de análise e interpretação de suas
pressupõe considerar tanto o processo que o aluno desenvolve produções e dos diferentes procedimentos para se avaliar.
ao aprender como o produto alcançado. Pressupõe também Além desse aprendizado ser, em si, importante, porque é
que a avaliação se aplique não apenas ao aluno, considerando central para a construção da autonomia dos alunos, cumpre o
as expectativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas papel de contribuir com a objetividade desejada na avaliação,
para que isso ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto, uma vez que esta só poderá ser construída com a coordenação
implica avaliar o ensino oferecido — se, por exemplo, não há a dos diferentes pontos de vista tanto do aluno quanto do
aprendizagem esperada significa que o ensino não cumpriu professor.
com sua finalidade: a de fazer aprender.
Critérios de avaliação
Orientações para avaliação
Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a realidade
Como avaliar se define a partir da concepção de ensino e que se questiona, seja a propósito das exigências de uma ação
aprendizagem, da função da avaliação no processo educativo e que se projetou realizar sobre ela, seja a propósito das suas
das orientações didáticas postas em prática. Embora a consequências. Portanto, a atividade de avaliação exige
avaliação, na perspectiva aqui apontada, aconteça critérios claros que orientem a leitura dos aspectos a serem
sistematicamente durante as atividades de ensino e avaliados.
aprendizagem, é preciso que a perspectiva de cada momento No caso da avaliação escolar, é necessário que se
da avaliação seja definida claramente, para que se possa estabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos em
alcançar o máximo de objetividade possível. consequência do ensino, que devem se expressar nos
Para obter informações em relação aos processos de objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na definição
aprendizagem, é necessário considerar a importância de uma do que será considerado como testemunho das aprendizagens.
diversidade de instrumentos e situações, para possibilitar, por Do contraste entre os critérios de avaliação e os indicadores
um lado, avaliar as diferentes capacidades e conteúdos expressos na produção dos alunos surgirá o juízo de valor, que
curriculares em jogo e, por outro lado, contrastar os dados se constitui a essência da avaliação.
obtidos e observar a transferência das aprendizagens em Os critérios de avaliação têm um papel importante, pois
contextos diferentes. explicitam as expectativas de aprendizagem, considerando
É fundamental a utilização de diferentes códigos, como o objetivos e conteúdos propostos para a área e para o ciclo, a
verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, de organização lógica e interna dos conteúdos, as
forma a se considerar as diferentes aptidões dos alunos. Por particularidades de cada momento da escolaridade e as
exemplo, muitas vezes o aluno não domina a escrita possibilidades de aprendizagem decorrentes de cada etapa do
suficientemente para expor um raciocínio mais complexo desenvolvimento cognitivo, afetivo e social em uma
sobre como compreende um fato histórico, mas pode fazê-lo determinada situação, na qual os alunos tenham boas
perfeitamente bem em uma situação de intercâmbio oral, condições de desenvolvimento do ponto de vista pessoal e
como em diálogos, entrevistas ou debates. Considerando essas social. Os critérios de avaliação apontam as experiências
preocupações, o professor pode realizar a avaliação por meio educativas a que os alunos devem ter acesso e são
de: consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e
• observação sistemática: acompanhamento do processo socialização. Nesse sentido, os critérios de avaliação devem
de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns instrumentos, refletir de forma equilibrada os diferentes tipos de
como registro em tabelas, listas de controle, diário de classe e capacidades e as três dimensões de conteúdos, e servir para
outros; encaminhar a programação e as atividades de ensino e
• análise das produções dos alunos: considerar a variedade aprendizagem.
de produções realizadas pelos alunos, para que se possa ter um É importante assinalar que os critérios de avaliação
quadro real das aprendizagens conquistadas. Por exemplo: se representam as aprendizagens imprescindíveis ao final do
a avaliação se dá sobre a competência dos alunos na produção ciclo e possíveis à maioria dos alunos submetidos às condições
de textos, deve-se considerar a totalidade dessa produção, que de aprendizagem propostas; não podem, no entanto, ser
envolve desde os primeiros registros escritos, no caderno de tomados como objetivos, pois isso significaria um injustificável
lição, até os registros das atividades de outras áreas e das rebaixamento da oferta de ensino e, consequentemente, o
atividades realizadas especificamente para esse aprendizado, impedimento a priori da possibilidade de realização de
além do texto produzido pelo aluno para os fins específicos aprendizagens consideradas essenciais.
desta avaliação; Os critérios não expressam todos os conteúdos que foram
• atividades específicas para a avaliação: nestas, os alunos trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são
devem ter objetividade ao expor sobre um tema, ao responder fundamentais para que se possa considerar que um aluno
um questionário. Para isso é importante, em primeiro lugar, adquiriu as capacidades previstas de modo a poder continuar
garantir que sejam semelhantes às situações de aprendizagem aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu aproveitamento
comumente estruturadas em sala de aula, isto é, que não se seja comprometido.
diferenciem, em sua estrutura, das atividades que já foram Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, definidos
realizadas; em segundo lugar, deixar claro para os alunos o que nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que
se pretende avaliar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que
mais atentos a esses aspectos. os alunos tenham realizado a respeito dos diferentes
Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteúdos e do conteúdos, apresentam formulação suficientemente ampla
grau de expectativa da aprendizagem que se espera, mais terão para ser referência para as adaptações necessárias em cada
condições de desenvolver, com a ajuda do professor, escola, de modo a poderem se constituir critérios reais para a
estratégias pessoais e recursos para vencer dificuldades. avaliação e, portanto, contribuírem para efetivar a
A avaliação, apesar de ser responsabilidade do professor, concretização das intenções educativas no decorrer do
não deve ser considerada função exclusiva dele. Delegá-la aos trabalho nos ciclos. Os critérios de avaliação devem permitir

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concretizações diversas por meio de diferentes indicadores; assim como a consideração das questões trazidas pelos pais
assim, além do enunciado que os define, deverá haver um nesse processo decisório, podem subsidiar o professor para a
breve comentário explicativo que contribua para a tomada de decisão amadurecida e compartilhada pela equipe
identificação de indicadores nas produções a serem avaliadas, da escola.
facilitando a interpretação e a flexibilização desses critérios, Os altos índices de repetência em nosso país têm sido
em função das características do aluno e dos objetivos e objeto de muita discussão, uma vez que explicitam o fracasso
conteúdos definidos. do sistema público de ensino, incomodando demais tanto
Exemplo de um critério de avaliação de Língua Portuguesa educadores como políticos. No entanto, muitas vezes se cria
para o primeiro ciclo: uma falsa questão, em que a repetência é vista como um
problema em si e não como um sintoma da má qualidade do
“Escrever utilizando tanto o conhecimento sobre a ensino e, consequentemente, da aprendizagem, que, de forma
correspondência fonográfica como sobre a segmentação geral, o sistema educacional não tem conseguido resolver.
do texto em palavras e frases. Como resultado, ao reprovar os alunos que não realizam as
Com este critério espera-se que o aluno escreva textos aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma situação em que o
alfabeticamente. Isso significa utilizar corretamente a letra (o problema é do aluno e não do sistema educacional.
grafema) que corresponda ao som (o fonema), ainda que a A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser
convenção ortográfica não esteja sendo respeitada. Espera-se, estudada caso a caso, no momento que mais se adequar a cada
também, que o aluno utilize seu conhecimento sobre a aluno, para que esteja de fato a serviço da escolaridade com
segmentação das palavras e de frases, ainda que a convenção sucesso.
não esteja sendo respeitada (no caso da palavra, podem tanto A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser
ocorrer uma escrita sem segmentação, como em ‘derepente’, compreendida como uma medida educativa para que o aluno
como uma segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso tenha oportunidade e expectativa de sucesso e motivação,
da frase, o aluno pode separar frases sem utilizar o sistema de para garantir a melhoria de condições para a aprendizagem.
pontuação, fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, ‘daí’, por Quer a decisão seja de reprovar ou aprovar um aluno com
exemplo)”. dificuldades, esta deve sempre ser acompanhada de
A definição dos critérios de avaliação deve considerar encaminhamentos de apoio e ajuda para garantir a qualidade
aspectos estruturais de cada realidade; por exemplo, muitas das aprendizagens e o desenvolvimento das capacidades
vezes, seja por conta das repetências ou de um ingresso tardio esperadas.
na escola, a faixa etária dos alunos de primeiro ciclo não
corresponde aos sete ou oito anos. Sabe-se, também, que as As avaliações oficiais: boletins e diplomas
condições de escolaridade em uma escola rural e multisseriada Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto
são bastante singulares, o que determinará expectativas de normativo do sistema de ensino que diz respeito ao controle
aprendizagem e, portanto, de critérios de avaliação bastante social. À escola é socialmente delegada a tarefa de promover o
diferenciados. ensino e a aprendizagem de determinados conteúdos e
A adequação dos critérios estabelecidos nestes contribuir de maneira efetiva na formação de seus cidadãos;
parâmetros e dos indicadores especificados ao trabalho que por isso, a escola deve responder à sociedade por essa
cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista a responsabilidade. Para tal, estabelece uma série de
busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendizagem instrumentos para registro e documentação da avaliação e cria
explicitada na presente proposta. os atestados oficiais de aproveitamento. Assim, as notas,
conceitos, boletins, recuperações, aprovações, reprovações,
Decisões associadas aos resulta dos da avaliação diplomas, etc., fazem parte das decisões que o professor deve
Tão importante quanto o que e como avaliar são as tomar em seu dia-a-dia para responder à necessidade de um
decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da avaliação, testemunho oficial e social do aproveitamento do aluno. O
que não devem se restringir à reorganização da prática professor pode aproveitar os momentos de avaliação
educativa encaminhada pelo professor no dia-a-dia; devem se bimestral ou semestral, quando precisa dar notas ou conceitos,
referir, também, a uma série de medidas didáticas para sistematizar os procedimentos que selecionou para o
complementares que necessitem de apoio institucional, como processo de avaliação, em função das necessidades
o acompanhamento individualizado feito pelo professor fora psicopedagógicas.
da classe, o grupo de apoio, as lições extras e outras que cada É importante ressaltar a diferença que existe entre a
escola pode criar, ou até mesmo a solicitação de profissionais comunicação da avaliação e a qualificação. Uma coisa é a
externos à escola para debate sobre questões emergentes ao necessidade de comunicar o que se observou na avaliação, isto
trabalho. A dificuldade de contar com o apoio institucional é, o retorno que o professor dá aos alunos e aos pais do que
para esses encaminhamentos é uma realidade que precisa ser pôde observar sobre o processo de aprendizagem, incluindo
alterada gradativamente, para que se possam oferecer também o diálogo entre a sua avaliação e a autoavaliação
condições de desenvolvimento para os alunos com realizada pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai
necessidades diferentes de aprendizagem. dela, e se expressa em notas ou conceitos, histórico escolar,
A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagógica boletins, diplomas, e cumprem uma função social. Se a
que visa garantir as melhores condições de aprendizagem para comunicação da avaliação estiver pautada apenas em
os alunos. Para tal, requer-se uma análise dos professores a qualificações, pouco poderá contribuir para o avanço
respeito das diferentes capacidades do aluno, que permitirão significativo das aprendizagens; mas, se as notas não forem o
o aproveitamento do ensino na próxima série ou ciclo. Se a único canal que o professor oferece de comunicação sobre a
avaliação está a serviço do processo de ensino e aprendizagem, avaliação, podem constituir-se uma referência importante,
a decisão de aprovar ou reprovar não deve ser a expressão de uma vez que já se instituem como representação social do
um “castigo” nem ser unicamente pautada no quanto se aproveitamento escolar.
aprendeu ou se deixou de aprender dos conteúdos propostos.
Para tal decisão é importante considerar, simultaneamente ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
aos critérios de avaliação, os aspectos de sociabilidade e de
ordem emocional, para que a decisão seja a melhor possível, A conquista dos objetivos propostos para o ensino
tendo em vista a continuidade da escolaridade sem fracassos. fundamental depende de uma prática educativa que tenha
No caso de reprovação, a discussão nos conselhos de classe, como eixo a formação de um cidadão autônomo e

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participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se,


Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsídios à elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e
reflexão sobre como ensinar. cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
Na visão aqui assumida, os alunos constroem significados organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,
a partir de múltiplas e complexas interações. Cada aluno é participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e
sujeito de seu processo de aprendizagem, enquanto o eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma
professor é o mediador na interação dos alunos com os objetos relação emancipada, íntegra com as diferentes dimensões da
de conhecimento; o processo de aprendizagem compreende vida, o que envolve aspectos intelectuais, morais, afetivos e
também a interação dos alunos entre si, essencial à sociopolíticos2. Ainda que na escola se destaque a autonomia
socialização. Assim sendo, as orientações didáticas na relação com o conhecimento — saber o que se quer saber,
apresentadas enfocam fundamentalmente a intervenção do como fazer para buscar informações e possibilidades de
professor na criação de situações de aprendizagem coerentes desenvolvimento de tal conhecimento, manter uma postura
com essa concepção. crítica comparando diferentes visões e reservando para si o
Para cada tema e área de conhecimento corresponde um direito de conclusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o
conjunto de orientações didáticas de caráter mais abrangente desenvolvimento da autonomia moral (capacidade ética) e
— orientações didáticas gerais — que indicam como a emocional que envolvem autorrespeito, respeito mútuo,
concepção de ensino proposta se estabelece no tratamento da segurança, sensibilidade, etc.
área. Para cada bloco de conteúdo correspondem orientações Como no desenvolvimento de outras capacidades, a
didáticas específicas, que expressam como determinados aprendizagem de determinados procedimentos e atitudes —
conteúdos podem ser tratados. Assim, as orientações didáticas tais como planejar a realização de uma tarefa, identificar
permeiam as explicitações sobre o ensinar e o aprender, bem formas de resolver um problema, formular boas perguntas e
como as explicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma boas respostas, levantar hipóteses e buscar meios de verificá-
vez que a opção de recorte de conteúdos para uma situação de las, validar raciocínios, resolver conflitos, cuidar da própria
ensino e aprendizagem é também determinada pelo enfoque saúde e da de outros, colocar-se no lugar do outro para melhor
didático da área. refletir sobre uma determinada situação, considerar as regras
No entanto, há determinadas considerações a fazer a estabelecidas — é o instrumento para a construção da
respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as autonomia. Procedimentos e atitudes dessa natureza são
fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas objeto de aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-
considerações evidenciam que o ensino não pode estar los planejada e sistematicamente criando situações que
limitado ao estabelecimento de um padrão de intervenção auxiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais
homogêneo e idêntico para todos os alunos. A prática autônomos. Por isso é importante que desde as séries iniciais
educativa é bastante complexa, pois o contexto de sala de aula as propostas didáticas busquem, em aproximações sucessivas,
traz questões de ordem afetiva, emocional, cognitiva, física e cada vez mais essa meta.
de relação pessoal. A dinâmica dos acontecimentos em uma O desenvolvimento da autonomia depende de suportes
sala de aula é tal que mesmo uma aula planejada, detalhada e materiais, intelectuais e emocionais. No início da escolaridade,
consistente dificilmente ocorre conforme o imaginado: a intervenção do professor é mais intensa na definição desses
olhares, tons de voz, manifestações de afeto ou desafeto e suportes: tempo e forma de realização das atividades,
diversas outras variáveis interferem diretamente na dinâmica organização dos grupos, materiais a serem utilizados,
prevista. No texto que se segue, são apontados alguns tópicos resolução de conflitos, cuidados físicos, estabelecimentos de
sobre didática considerados essenciais pela maioria dos etapas para a realização das atividades. Também é preciso
profissionais em educação: autonomia; diversidade; interação considerar tanto o trabalho individual como o coletivo-
e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; cooperativo. O individual é potencializado pelas exigências
organização do tempo; organização do espaço; e seleção de feitas aos alunos para se responsabilizarem por suas ações,
material. suas ideias, suas tarefas, pela organização pessoal e coletiva,
pelo envolvimento com o objeto de estudo. O trabalho em
Autonomia grupo, ao valorizar a interação como instrumento de
desenvolvimento pessoal, exige que os alunos considerem
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia é diferenças individuais, tragam contribuições, respeitem as
tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvida regras estabelecidas, proponham outras, atitudes que
pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das propiciam o desenvolvimento da autonomia na dimensão
práticas pedagógicas. grupal.
A realização dos objetivos propostos implica É importante salientar que a autonomia não é um estado
necessariamente que sejam desde sempre praticados, pois não psicológico geral que, uma vez atingido, esteja garantido para
se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso didática qualquer situação. Por um lado, por envolver a necessidade de
é um instrumento de fundamental importância, na medida em conhecimentos e condições específicas, uma pessoa pode ter
que possibilita e conforma as relações que alunos e autonomia para atuar em determinados campos e não em
educadores estabelecem entre si, com o conhecimento que outros; por outro, por implicar o estabelecimento de relações
constroem, com a tarefa que realizam e com a instituição democráticas de poder e autoridade é possível que alguém
escolar. Por exemplo, para que possa refletir, participar e exerça a capacidade de agir com autonomia em algumas
assumir responsabilidades, o aluno necessita estar inserido situações e não noutras, nas quais não pode interferir. É
em um processo educativo que valorize tais ações. portanto necessário que a escola busque sua extensão aos
Este é o sentido da autonomia como princípio didático diferentes campos de atuação. Para tanto, é necessário que as
geral proposto nos Parâmetros Curriculares decisões assumidas pelo professor auxiliem os alunos a
Nacionais: uma opção metodológica que considera a desenvolver essas atitudes e a aprender os procedimentos
atuação do aluno na construção de seus próprios adequados a uma postura autônoma, que só será efetivamente
conhecimentos, valoriza suas experiências, seus alcançada mediante investimentos sistemáticos a o longo de
conhecimentos prévios e a interação professor-aluno e aluno- toda a escolaridade.
aluno, buscando essencialmente a passagem progressiva de É importante ressaltar que a construção da autonomia não
situações em que o aluno é dirigido por outrem a situações se confunde com atitudes de independência. O aluno pode ser
dirigidas pelo próprio aluno. independente para realizar uma série de atividades, enquanto

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seus recursos internos para se governar são ainda incipientes. propiciada nas atividades em grupo levará os alunos a
A independência é uma manifestação importante para o perceberem a necessidade de dialogar, resolver mal-
desenvolvimento, mas não deve ser confundida com entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, explicar e
autonomia. exemplificar, apropriando-se de conhecimentos.
O estabelecimento de condições adequadas para a
Diversidade interação não pode estar pautado somente em questões
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão
As adaptações curriculares previstas nos níveis de relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os
concretização apontam a necessidade de adequar objetivos, alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não
conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a estejam interessados no que a escola pode oferecer. A
diversidade existente no País. Essas adaptações, porém, não afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a competitividade
dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma sala e o ritmo de produção estabelecidos em um grupo interferem
de aula. diretamente na produção do trabalho.
Para corresponder aos propósitos explicitados nestes A participação de um aluno muitas vezes varia em função
parâmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade do grupo em que está inserido.
dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional dos
melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem. alunos para a aprendizagem é fator essencial para que haja
Atender necessidades singulares de determinados alunos uma interação cooperativa, sem depreciação do colega por sua
é estar atento à diversidade: é atribuição do professor eventual falta de informação ou incompreensão. Aprender a
considerar a especificidade do indivíduo, analisar suas conviver em grupo supõe um domínio progressivo de
possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das procedimentos, valores, normas e atitudes.
medidas adotadas. A organização dos alunos em grupos de trabalho influencia
A atenção à diversidade deve se concretizar em medidas o processo de ensino e aprendizagem, e pode ser otimizada
que levem em conta não só as capacidades intelectuais e os quando o professor interfere na organização dos grupos.
conhecimentos de que o aluno dispõe, mas também seus Organizar por ordem alfabética ou por idade não é a mesma
interesses e motivações. Esse conjunto constitui a capacidade coisa que organizar por gênero ou por capacidades específicas;
geral do aluno para aprendizagem em um determinado por isso é importante que o professor discuta e decida os
momento. critérios de agrupamento dos alunos. Por exemplo:
Desta forma, a atuação do professor em sala de aula deve desempenho diferenciado ou próximo, equilíbrio entre
levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa meninos e meninas, afinidades para o trabalho e afetividade,
de cada aluno, como também características pessoais de déficit possibilidade de cooperação, ritmo de trabalho, etc.
sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação intelectual. Não existe critério melhor ou pior de organização de
Deve-se dar especial atenção ao aluno que demonstrar a grupos para uma atividade. É necessário que o professor
necessidade de resgatar a autoestima. Trata-se de garantir decida a forma de organização social em cada tipo de
condições de aprendizagem a todos os alunos, seja por meio de atividade, em cada momento do processo de ensino e
incrementos na intervenção pedagógica ou de medidas extras aprendizagem, em função daqueles alunos específicos.
que atendam às necessidades individuais. Agrupamentos adequados, que levem em conta a diversidade
A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor dos alunos, tornam-se eficazes na individualização do ensino.
máximo o respeito às diferenças — não o elogio à Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre
desigualdade. As diferenças não são obstáculos para o agrupamentos adquirem especial relevância. É possível reunir
cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto, ser grupos que não sejam estruturados por série e sim por
fator de enriquecimento. objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência
Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio adequada ao desempenho de cada um.
comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de todos O convívio escolar pretendido depende do
os alunos realizarem as aprendizagens fundamentais para seu estabelecimento de regras e normas de funcionamento e de
desenvolvimento e socialização. comportamento que sejam coerentes com os objetivos
definidos no projeto educativo. A comunicação clara dessas
Interação e cooperação normas possibilita a compreensão pelos alunos das atitudes de
disciplina demonstradas pelos professores dentro e fora da
Um dos objetivos da educação escolar é que os alunos classe.
aprendam a assumir a palavra enunciada e a conviver em
grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa forma, são Disponibilidade para a aprendizagem
fundamentais as situações em que possam aprender a
dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, aproveitar Para que uma aprendizagem significativa possa acontecer,
críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações para é necessária a disponibilidade para o envolvimento do aluno
obter sucesso em uma tarefa conjunta, etc. É essencial na aprendizagem, o empenho em estabelecer relações entre o
aprender procedimentos dessa natureza e valorizá-los como que já sabe e o que está aprendendo, em usar os instrumentos
forma de convívio escolar e social. Trabalhar em grupo de adequados que conhece e dispõe para alcançar a maior
maneira cooperativa é sempre uma tarefa difícil, mesmo para compreensão possível. Essa aprendizagem exige uma ousadia
adultos convencidos de sua necessidade. para se colocar problemas, buscar soluções e experimentar
A criação de um clima favorável a esse aprendizado novos caminhos, de maneira totalmente diferente da
depende do compromisso do professor em aceitar aprendizagem mecânica, na qual o aluno limita seu esforço
contribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando apenas em memorizar ou estabelecer relações diretas e
apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em favorecer o superficiais.
respeito, por parte do grupo, assegurando a participação de A aprendizagem significativa depende de uma motivação
todos os alunos. intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a necessidade e
Assim, a organização de atividades que favoreçam a fala e a vontade de aprender. Aquele que estuda apenas para passar
a escrita como meios de reorganização e reconstrução das de ano, ou para tirar notas, não terá motivos suficientes para
experiências compartilhadas pelos alunos ocupa papel de empenhar-se em profundidade na aprendizagem. A disposição
destaque no trabalho em sala de aula. A comunicação para a aprendizagem não depende exclusivamente do aluno,

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demanda que a prática didática garanta condições para que confiança e respeito mútuo entre professor e aluno, de
essa atitude favorável se manifeste e prevaleça. maneira que a situação escolar possa dar conta de todas as
Primeiramente, a expectativa que o professor tem do tipo de questões de ordem afetiva. Mas isso não fica garantido apenas
aprendizagem de seus alunos fica definida no contrato e exclusivamente pelas ações do professor, embora sejam
didático estabelecido. Se o professor espera uma atitude fundamentais dada a autoridade que ele representa, mas
curiosa e investigativa, deve propor prioritariamente também deve ser conseguido nas relações entre os alunos. O
atividades que exijam essa postura, e não a passividade. Deve trabalho educacional inclui as intervenções para que os alunos
valorizar o processo e a qualidade, e não apenas a rapidez na aprendam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos de
realização. Deve esperar estratégias criativas e originais e não confiança e uma prática cooperativa e solidária.
a mesma resposta de todos. Em geral, os alunos buscam corresponder às expectativas
A intervenção do professor precisa, então, garantir que o de aprendizagem significativa, desde que haja um clima
aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se em relação à favorável de trabalho, no qual a avaliação e a observação do
tarefa, reconheça os problemas que a situação apresenta, e seja caminho por eles percorrido seja, de fato, instrumento de
capaz de resolvê-los. Para tal, é necessário que o professor autorregularão do processo de ensino e aprendizagem.
proponha situações didáticas com objetivos e determinações Quando não se instaura na classe um clima favorável de
claros, para que os alunos possam tomar decisões pensadas confiança, compromisso e responsabilidade, os
sobre o encaminhamento de seu trabalho, além de selecionar encaminhamentos do professor ficam comprometidos.
e tratar ajustadamente os conteúdos. A complexidade da
atividade também interfere no envolvimento do aluno. Um Organização do tempo
nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo, não
contribui para a reflexão e o debate, situação que indica a A consideração do tempo como variável que interfere na
participação ativa e compromissada do aluno no processo de construção da autonomia permite ao professor criar situações
aprendizagem. As atividades propostas precisam garantir em que o aluno possa progressivamente controlar a realização
organização e ajuste às reais possibilidades dos alunos, de de suas atividades. Por meio de erros e acertos, o aluno toma
forma que cada uma não seja nem muito difícil nem demasiado consciência de suas possibilidades e constrói mecanismos de
fácil. Os alunos devem poder realizá-la numa situação autorregularão que possibilitam decidir como alocar seu
desafiadora. tempo.
Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendizagem, Por essa razão, são importantes as atividades em que o
o tempo reservado para a atuação dos alunos é determinante. professor seja somente um orientador do trabalho, cabendo
Se a exigência é de rapidez, a saída mais comum é estudar de aos alunos o planejamento e a execução, o que os levará a
forma superficial. O professor precisa buscar um equilíbrio decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões sobre o uso
entre as necessidades da aprendizagem e o exíguo tempo do tempo.
escolar, coordenando-o para cada proposta que encaminha. Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum, que
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno para os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como e
a aprendizagem é a unidade entre escola, sociedade e cultura, quando atuar na escola. A vivência do controle do tempo pelos
o que exige trabalho com objetos socioculturais do cotidiano alunos se insere dentro de limites criteriosamente
extraescolar, como, por exemplo, jornais, revistas, filmes, estabelecidos pelo professor, que se tornarão menos
instrumentos de medida, etc., sem esvaziá-los de significado, restritivos à medida que o grupo desenvolva sua autonomia.
ou seja, sem que percam sua função social real, contribuindo, Assim, é preciso que o professor defina claramente as
assim, para imprimir sentido às atividades escolares. atividades, estabeleça a organização em grupos, disponibilize
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas essas recursos materiais adequados e defina o período de execução
condições, pode acontecer que a ansiedade presente na previsto, dentro do qual os alunos serão livres para tomar suas
situação de aprendizagem se torne muito intensa e impeça decisões. Caso contrário, a prática de sala de aula torna-se
uma atitude favorável. A ansiedade pode estar ligada ao medo insustentável pela indisciplina que gera.
de fracasso, desencadeado pelo sentimento de incapacidade Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
para realização da tarefa ou de insegurança em relação à ajuda obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
que pode ou não receber de seu professor, ou de seus colegas, vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
e consolidar um bloqueio para aprender. currículo. A partir desse critério, e em função das opções do
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
inteiramente. O processo, assim como seu resultado, distribuição horária mais adequada.
repercutem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se
atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo em organizam por áreas com professores específicos e tempo
questão mas também sobre o modo como aprende, previamente estabelecido, é interessante pensar que uma das
construindo uma imagem de si como estudante. Essa maneiras de otimizar o tempo escolar é organizar aulas duplas,
autoimagem é também influenciada pelas representações que pois assim o professor tem condições de propor atividades em
o professor e seus colegas fazem dele e, de uma forma ou outra, grupo que demandam maior tempo (aulas curtas tendem a ser
são explicitadas nas relações interpessoais do convívio expositivas).
escolar. Falta de respeito e forte competitividade, se
estabelecidas na classe, podem reforçar os sentimentos de Organização do espaço
incompetência de certos alunos e contribuir de forma efetiva
para consolidar o seu fracasso. Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho em
O aluno com um autoconceito negativo, que se considera grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados não
fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua e se convence ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como também
de que é um incapaz, ou vai buscar ao seu redor outros não favorecem o aprendizado da preservação do bem coletivo.
culpados: o professor é chato, as lições não servem para nada. A organização do espaço reflete a concepção metodológica
Acaba por desenvolver comportamentos problemáticos e de adotada pelo professor e pela escola.
indisciplina. Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o tempo Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras
inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o sucesso da sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais de
empreitada, é fundamental que exista uma relação de uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposição de

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trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais. Nessa As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É
organização é preciso considerar a possibilidade de os alunos necessário que os profissionais estejam comprometidos,
assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem e disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condições
limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa maneira, ótimas de recursos, dificuldades e limitações sempre estarão
passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que somente presentes, pois na escola se manifestam os conflitos existentes
ocorrerá por meio de investimentos sistemáticos ao longo da na sociedade.
escolaridade. As considerações feitas pretendem auxiliar os professores
É importante salientar que o espaço de aprendizagem não na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do projeto
se restringe à escola, sendo necessário propor atividades que educativo de sua escola. Não são regras a respeito do que
ocorram fora dela. A programação deve contar com passeios, devem ou não fazer. No entanto, é necessário estabelecer
excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas, marcenarias, acordos nas escolas em relação às estratégias didáticas mais
padarias, enfim, com as possibilidades existentes em cada local adequadas. A qualidade da intervenção do professor sobre o
e as necessidades de realização do trabalho escolar. aluno ou grupo de alunos, os materiais didáticos, horários,
No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços externos para espaço, organização e estrutura das classes, a seleção de
realizar atividades cotidianas, como ler, contar histórias, fazer conteúdos e a proposição de atividades concorrem para que o
desenho de observação, buscar materiais para coleções. Dada caminho seja percorrido com sucesso.
a pouca infraestrutura de muitas escolas, é preciso contar com
a improvisação de espaços para o desenvolvimento de OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
atividades específicas de laboratório, teatro, artes plásticas,
música, esportes, etc. Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e do objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes
tempo refletem a concepção pedagógica e interferem de:
diretamente na construção da autonomia.
• compreender a cidadania como participação social e
Seleção de matéria política, assim como exercício de direitos e deveres políticos,
civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de
Todo material é fonte de informação, mas nenhum deve ser solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando
utilizado com exclusividade. É importante haver diversidade o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
de materiais para que os conteúdos possam ser tratados da • posicionar-se de maneira crítica, responsável e
maneira mais ampla possível. construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o
O livro didático é um material de forte influência na prática diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões
de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam coletivas;
atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que • conhecer características fundamentais do Brasil nas
apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. dimensões sociais, materiais e culturais como meio para
Além disso, é importante considerar que o livro didático não construir progressivamente a noção de identidade nacional e
deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio
visão ampla do conhecimento. sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer
trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem função discriminação baseada em diferenças culturais, de classe
social real e se mantêm atualizados sobre o que acontece no social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características
mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o que é individuais e sociais;
aprendido na escola e o conhecimento extraescolar. A • perceber-se integrante, dependente e agente
utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, transformador do ambiente, identificando seus elementos e as
folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, faz interações entre eles, contribuindo ativamente para a
o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. melhoria do meio ambiente;
É indiscutível a necessidade crescente do uso de • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o
computadores pelos alunos como instrumento de sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física,
aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção
relação às novas tecnologias da informação e se social, para agir com perseverança na busca de conhecimento
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e e no exercício da cidadania;
futuras. • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e
A menção ao uso de computadores, dentro de um amplo adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da
leque de materiais, pode parecer descabida perante as reais qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à
condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz para sua saúde e à saúde coletiva;
trabalhar. Sem dúvida essa é uma preocupação que exige • utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática,
posicionamento e investimento em alternativas criativas para gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir,
que as metas sejam atingidas. expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das
produções culturais, em contextos públicos e privados,
Considerações finais atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos
A qualidade da atuação da escola não pode depender tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
somente da vontade de um ou outro professor. É preciso a • questionar a realidade formulando-se problemas e
participação conjunta dos profissionais (orientadores, tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento
supervisores, professores polivalentes e especialistas) para lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise
tomada de decisões sobre aspectos da prática didática, bem crítica, selecionando procedimentos e verificando sua
como sua execução. Essas decisões serão necessariamente adequação.
diferenciadas de escola para escola, pois dependem do
ambiente local e da formação dos professores.

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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DOS PARÂMETROS ESTRUTURA DOS PARÂMETROS CURRICULARES


CURRICULARES NACIONAIS NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Todas as definições conceituais, bem como a estrutura


organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais, foram
pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, que
estabelecem as capacidades relativas aos aspectos cognitivo,
afetivo, físico, ético, estético, de atuação e de inserção social,
de forma a expressar a formação básica necessária para o
exercício da cidadania. Essas capacidades, que os alunos
devem ter adquirido ao término da escolaridade obrigatória,
devem receber uma abordagem integrada em todas as áreas
constituintes do ensino fundamental. A seleção adequada dos
elementos da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o
desenvolvimento de tais capacidades arroladas como
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental.
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum:
iniciam com a exposição da Concepção de Área para todo o
ensino fundamental, na qual aparece definida a
fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâmetros
Curriculares Nacionais.
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam
capacidades que os alunos devem adquirir ao final da
escolaridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos
por explicitar a contribuição específica dos diferentes âmbitos
do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, de objetivos Os quadrinhos não-sombreados correspondem aos itens
vinculados ao corpo de conhecimentos de cada área. Os que serão trabalhados nos Parâmetros Curriculares Nacionais
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental e os Objetivos Gerais de quinta a oitava série.
de Área para o Ensino Fundamental foram formulados de
modo a respeitar a diversidade social e cultural e são
suficientemente amplos e abrangentes para que possam Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
conter as especificidades locais. Educação Infantil
O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as
necessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo e I – RELATÓRIO
indica os Objetivos de Ciclo por Área, estabelecendo as
conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir para 1. Histórico
que progressivamente cumpram com as intenções educativas
gerais. Segue-se a apresentação dos Blocos de Conteúdos e/ou A construção da identidade das creches e pré-escolas a
Organizações Temáticas de Área por Ciclo. Esses conteúdos partir do século XIX em nosso país insere-se no contexto da
estão detalhados em um texto explicativo dos conteúdos que história das políticas de atendimento à infância, marcado por
abrangem e das principais orientações didáticas que diferenciações em relação à classe social das crianças.
envolvem. Nesta primeira fase de definição dos Parâmetros Enquanto para as mais pobres essa história foi caracterizada
Curriculares Nacionais, segundo prioridade dada pelo pela vinculação aos órgãos de assistência social, para as
Ministério da Educação e do Desporto, há especificação dos crianças das classes mais abastadas, outro modelo se
Blocos de Conteúdos apenas para primeiro e segundo ciclos. desenvolveu no diálogo com práticas escolares.
A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo está Essa vinculação institucional diferenciada refletia uma
diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do Ensino fragmentação nas concepções sobre educação das crianças em
Fundamental e com os Objetivos Gerais de Área, da mesma espaços coletivos, compreendendo o cuidar como atividade
forma que também expressa a concepção de área adotada. meramente ligada ao corpo e destinada às crianças mais
Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens pobres, e o educar como experiência de promoção intelectual
fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se constituem reservada aos filhos dos grupos socialmente privilegiados.
em indicadores para a reorganização do processo de ensino e Para além dessa especificidade, predominou ainda, por muito
aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios não devem ser tempo, uma política caracterizada pela ausência de
confundidos com critérios de aprovação e reprovação de investimento público e pela não profissionalização da área.
alunos. Em sintonia com os movimentos nacionais e
O último item são as Orientações Didáticas, que discutem internacionais, um novo paradigma do atendimento à infância
questões sobre a aprendizagem de determinados conteúdos e – iniciado em 1959 com a Declaração Universal dos Direitos da
sobre como ensiná-los de maneira coerente com a Criança e do Adolescente e instituído no país pelo artigo 227
fundamentação explicitada anteriormente. da Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei 8.069/90) – tornou-se referência para os
movimentos sociais de “luta por creche” e orientou a transição
do entendimento da creche e pré-escola como um favor aos
socialmente menos favorecidos para a compreensão desses
espaços como um direito de todas as crianças à educação,
independentemente de seu grupo social.
O atendimento em creches e pré-escolas como um direito
social das crianças se concretiza na Constituição de 1988, com
o reconhecimento da Educação Infantil como dever do Estado
com a Educação, processo que teve ampla participação dos

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movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos A proposta do MEC foi apresentada pela professora Maria
movimentos de redemocratização do país, além, do Pilar Lacerda Almeida e Silva, Secretária de Educação
evidentemente, das lutas dos próprios profissionais da Básica do MEC, na reunião ordinária do mês de julho do
educação. A partir desse novo ordenamento legal, creches e corrente ano da Câmara de Educação Básica, ocasião em que
pré-escolas passaram a construir nova identidade na busca de foi designada a comissão que se encarregaria de elaborar nova
superação de posições antagônicas e fragmentadas, sejam elas Diretriz Curricular Nacional para a Educação Infantil,
assistencialistas ou pautadas em uma perspectiva presidida pelo Conselheiro Cesar Callegari, tendo o
preparatória a etapas posteriores de escolarização. Conselheiro Raimundo Moacir Mendes Feitosa como relator
A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Portaria CNE/CEB nº 3/2009).
Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu Em 5 de agosto, com a participação de representantes das
uma série de inovações em relação à Educação Básica, dentre entidades nacionais UNDIME, ANPED, CNTE, Fórum Nacional
as quais, a integração das creches nos sistemas de ensino de Conselhos Estaduais de Educação, MIEIB (Movimento
compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da Interfóruns de Educação Infantil do Brasil), da
Educação Básica. Essa lei evidencia o estímulo à autonomia das SEB/SECAD/MEC e de especialistas da área de Educação
unidades educacionais na organização flexível de seu currículo Infantil, Maria Carmem Barbosa (coordenadora do Projeto
e a pluralidade de métodos pedagógicos, desde que assegurem MEC-UFRGS/2008), Sonia Kramer (consultora do MEC
aprendizagem, e reafirmou os artigos da Constituição Federal responsável pela organização do documento de referência),
acerca do atendimento gratuito em creches e pré-escolas. Fulvia Rosemberg (da Fundação Carlos Chagas), Ana Paula
Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Plano Soares Silva (FFCLRP-USP) e Zilma de Moraes Ramos de
Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que Oliveira (FFCLRP-USP), o relator da Comissão apresentou um
estabeleceu metas decenais para que no final do período de texto síntese dos pontos básicos que seriam levados como
sua vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance a 50% indicações para o debate em audiências públicas nacionais
das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, metas que promovidas pela Câmara de Educação Básica do CNE,
ainda persistem como um grande desafio a ser enfrentado pelo realizadas em São Luis do Maranhão, Brasília e São Paulo.
país. Este parecer incorpora as contribuições apresentadas,
Frente a todas essas transformações, a Educação Infantil nestas audiências e em debates e reuniões regionais
vive um intenso processo de revisão de concepções sobre a (encontros da UNDIME – Região Norte e do MIEIB em
educação de crianças em espaços coletivos, e de seleção e Santarém, PA, ocorrido em agosto de 2009; o debate na ANPED
fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de ocorrido em outubro de 2009), por grupos de pesquisa e
aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em pesquisadores, conselheiros tutelares, Ministério Público,
especial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre sindicatos, secretários e conselheiros municipais de educação,
como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos em entidades não governamentais e movimentos sociais. Foram
creches e como garantir práticas junto às crianças de quatro e consideradas também as contribuições enviadas por
cinco anos que se articulem, mas não antecipem processos do entidades e grupos como: OMEP; NDI-UFSC; Fórum de
Ensino Fundamental. Educação Infantil do Pará (FEIPA); Fórum Amazonense de
Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (FAMEI); Fórum Permanente de Educação
Educação Infantil elaboradas anteriormente por este Conselho Infantil do Tocantins (FEITO); Fórum de Educação Infantil do
(Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer CNE/CEB nº 22/98) Amapá; Fórum de Educação Infantil de Santa Catarina
foram fundamentais para explicitar princípios e orientações (contemplando também manifestações dos municípios de
para os sistemas de ensino na organização, articulação, Jaguaré, Cachoeiro e Vitória); Fórum Paulista de Educação
desenvolvimento e avaliação de propostas pedagógicas. Infantil; Fórum Gaúcho de Educação Infantil; GT de Educação
Embora os princípios colocados não tenham perdido a Infantil da UNDIME; CEERT; GT 21 da ANPEd (Educação das
validade, ao contrário, continuam cada vez mais necessários, Relações Étnico-Raciais); grupo de estudos em Educação
outras questões diminuíram seu espaço no debate atual e Infantil do Centro de Educação da UFAL conjuntamente com
novos desafios foram colocados para a Educação Infantil, equipe técnica das Secretarias de Educação do Município de
exigindo a reformulação e atualização dessas Diretrizes. Maceió e do Estado de Alagoas; alunos do curso de Pedagogia
A ampliação das matrículas, a regularização do da UFMS; CINDEDI-USP; representantes do Setor de Educação
funcionamento das instituições, a diminuição no número de do MST São Paulo; técnicos da Coordenadoria de Creches da
docentes não-habilitados na Educação Infantil e o aumento da USP; participantes de evento da Secretaria de Educação,
pressão pelo atendimento colocam novas demandas para a Esporte e Lazer de Recife e do Seminário Educação Ambiental
política de Educação Infantil, pautando questões que dizem e Educação Infantil em Brasília. Ainda pesquisadores das
respeito às propostas pedagógicas, aos saberes e fazeres dos seguintes Universidades e Instituições de Pesquisa fizeram
professores, às práticas e projetos cotidianos desenvolvidos considerações ao longo desse processo: FEUSP; FFCLRP-USP;
junto às crianças, ou seja, às questões de orientação curricular. Fundação Carlos Chagas; Centro Universitário Claretiano
Também a tramitação no Congresso Nacional da proposta de Batatais; PUC-RIO; UNIRIO; UNICAMP; UFC; UFPA; UFRJ; UERJ;
Emenda Constitucional que, dentre outros pontos, amplia a UFPR; UNEMAT; UFMG; UFRGS; UFSC; UFRN; UFMS; UFAL,
obrigatoriedade na Educação Básica, reforça a exigência de UFMA, UEMA, UFPE.
novos marcos normativos na Educação Infantil.
Respondendo a estas preocupações, a Coordenadoria de 2. Mérito
Educação Infantil do MEC estabeleceu, com a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), convênio de A revisão e atualização das Diretrizes Curriculares
cooperação técnica na articulação de um processo nacional de Nacionais para a Educação Infantil é essencial para incorporar
estudos e debates sobre o currículo da Educação Infantil, que os avanços presentes na política, na produção científica e nos
produziu uma série de documentos, dentre eles “Práticas movimentos sociais na área. Elas podem se constituir em
cotidianas na Educação Infantil: bases para a reflexão sobre as instrumento estratégico na consolidação do que se entende
orientações curriculares” (MEC/COEDI, 2009a). Esse processo por uma Educação Infantil de qualidade, “ao estimular o
serviu de base para a elaboração de “Subsídios para as diálogo entre os elementos culturais de grupos marginalizados
Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da Educação e a ciência, a tecnologia e a cultura dominantes, articulando
Básica” (MEC, 2009b), texto encaminhado a este colegiado necessidades locais e a ordem global, chamando a atenção para
pelo Senhor Ministro de Estado da Educação.

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uma maior sensibilidade para o diverso e o plural, entre o As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em
relativismo e o universalismo” (MEC). estabelecimentos educacionais públicos ou privados que
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade por
Infantil, de caráter mandatório, orientam a formulação de meio de profissionais com a formação específica legalmente
políticas, incluindo a de formação de professores e demais determinada, a habilitação para o magistério superior ou
profissionais da Educação, e também o planejamento, médio, refutando assim funções de caráter meramente
desenvolvimento e avaliação pelas unidades de seu Projeto assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às
Político-Pedagógico e servem para informar as famílias das necessidades básicas de todas as crianças.
crianças matriculadas na Educação Infantil sobre as As instituições de Educação Infantil estão submetidas aos
perspectivas de trabalho pedagógico que podem ocorrer. mecanismos de credenciamento, reconhecimento e supervisão
3. A identidade do atendimento na Educação Infantil do sistema de ensino em que se acham integradas (Lei nº
9.394/96, art. 9º, inciso IX, art.10, inciso IV e art.11, inciso IV),
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira assim como a controle social. Sua forma de organização é
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o variada, podendo constituir unidade independente ou integrar
desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de instituição que cuida da Educação Básica, atender faixas
idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e etárias diversas nos termos da Lei nº 9.394/96, em jornada
social, complementando a ação da família e da comunidade integral de, no mínimo, 7 horas diárias, ou parcial de, no
(Lei nº 9.394/96, art. 29). mínimo, 4 horas, seguindo o proposto na Lei nº 11.494/2007
O atendimento em creche e pré-escola a crianças de zero a (FUNDEB), sempre no período diurno, devendo o poder
cinco anos de idade é definido na Constituição Federal de 1988 público oferecer vagas próximo à residência das crianças (Lei
como dever do Estado em relação à educação, oferecido em nº 8.069/90, art. 53). Independentemente das nomenclaturas
regime de colaboração e organizado em sistemas de ensino da diversas que adotam (Centros de Educação Infantil, Escolas de
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Educação Infantil, Núcleo Integrado de Educação Infantil,
incorporação das creches e pré-escolas no capítulo da Unidade de Educação Infantil, ou nomes fantasia), a estrutura
Educação na Constituição Federal (art. 208, inciso IV) impacta e funcionamento do atendimento deve garantir que essas
todas as outras responsabilidades do Estado em relação à unidades sejam espaço de educação coletiva.
Educação Infantil, ou seja, o direito das crianças de zero a cinco Uma vez que o Ensino Fundamental de nove anos de
anos de idade à matrícula em escola pública (art. 205), gratuita duração passou a incluir a educação das crianças a partir de
e de qualidade (art. 206, incisos IV e VI), igualdade de seis anos de idade, e considerando que as que completam essa
condições em relação às demais crianças para acesso, idade fora do limite de corte estabelecido por seu sistema de
permanência e pleno aproveitamento das oportunidades de ensino para inclusão no Ensino Fundamental necessitam que
aprendizagem propiciadas (art. 206, inciso I). seu direito à educação seja garantido, cabe aos sistemas de
Na continuidade dessa definição, a Lei de Diretrizes e ensino o atendimento a essas crianças na pré-escola até o seu
Bases da Educação Nacional afirma que “a educação abrange ingresso, no ano seguinte, no Ensino Fundamental.
os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino 4. A função sociopolítica e pedagógica da Educação
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da Infantil
sociedade civil e nas manifestações culturais” (Lei nº
9.394/96, art. 1º), mas esclarece que: “Esta Lei disciplina a Delineada essa apresentação da estrutura legal e
educação escolar que se desenvolve, predominantemente, por institucional da Educação Infantil, faz-se necessário refletir
meio do ensino, em instituições próprias” (Lei nº 9.394/96, sobre sua função sociopolítica e pedagógica, como base de
art. 1º, § 1º). Em função disto, tudo o que nela se baseia e que apoio das propostas pedagógica e curricular das instituições.
dela decorre, como autorização de funcionamento, condições Considera a Lei nº 9.394/96 em seu artigo 22 que a
de financiamento e outros aspectos, referem-se a esse caráter Educação Infantil é parte integrante da Educação Básica, cujas
institucional da educação. finalidades são desenvolver o educando, assegurar-lhe a
Fica assim evidente que, no atual ordenamento jurídico, as formação comum indispensável para o exercício da cidadania
creches e pré-escolas ocupam um lugar bastante claro e e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
possuem um caráter institucional e educacional diverso posteriores. Essa dimensão de instituição voltada à introdução
daquele dos contextos domésticos, dos ditos programas das crianças na cultura e à apropriação por elas de
alternativos à educação das crianças de zero a cinco anos de conhecimentos básicos requer tanto seu acolhimento quanto
idade, ou da educação não-formal. Muitas famílias necessitam sua adequada interpretação em relação às crianças pequenas.
de atendimento para suas crianças em horário noturno, em O paradigma do desenvolvimento integral da criança a ser
finais de semana e em períodos esporádicos. Contudo, esse necessariamente compartilhado com a família, adotado no
tipo de atendimento, que responde a uma demanda legítima da artigo 29 daquela lei, dimensiona aquelas finalidades na
população, enquadra-se no âmbito de “políticas para a consideração das formas como as crianças, nesse momento de
Infância”, devendo ser financiado, orientado e supervisionado suas vidas, vivenciam o mundo, constroem conhecimentos,
por outras áreas, como assistência social, saúde, cultura, expressam-se, interagem e manifestam desejos e curiosidades
esportes, proteção social. O sistema de ensino define e orienta, de modo bastante peculiares.
com base em critérios pedagógicos, o calendário, horários e as A função das instituições de Educação Infantil, a exemplo
demais condições para o funcionamento das creches e pré- de todas as instituições nacionais e principalmente, como o
escolas, o que não elimina o estabelecimento de mecanismos primeiro espaço de educação coletiva fora do contexto
para a necessária articulação que deve haver entre a Educação familiar, ainda se inscreve no projeto de sociedade
e outras áreas, como a Saúde e a Assistência, a fim de que se democrática desenhado na Constituição Federal de 1988 (art.
cumpra, do ponto de vista da organização dos serviços nessas 3º, inciso I), com responsabilidades no desempenho de um
instituições, o atendimento às demandas das crianças. Essa papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa,
articulação, se necessária para outros níveis de ensino, na solidária e sócio ambientalmente orientada.
Educação Infantil, em função das características das crianças A redução das desigualdades sociais e regionais e a
de zero a cinco anos de idade, se faz muitas vezes promoção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da
imprescindível. Constituição Federal) são compromissos a serem perseguidos
pelos sistemas de ensino e pelos professores também na

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Educação Infantil. É bastante conhecida no país a desigualdade O currículo da Educação Infantil é concebido como um
de acesso às creches e pré-escolas entre as crianças brancas e conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os
negras, moradoras do meio urbano e rural, das regiões saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte
sul/sudeste e norte/nordeste e, principalmente, ricas e do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Tais
pobres. Além das desigualdades de acesso, também as práticas são efetivadas por meio de relações sociais que as
condições desiguais da qualidade da educação oferecida às crianças desde bem pequenas estabelecem com os professores
crianças configuram-se em violações de direitos e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades.
constitucionais das mesmas e caracterizam esses espaços Intencionalmente planejadas e permanentemente
como instrumentos que, ao invés de promover a equidade, avaliadas, as práticas que estruturam o cotidiano das
alimentam e reforçam as desigualdades socioeconômicas, instituições de Educação Infantil devem considerar a
étnico-raciais e regionais. Em decorrência disso, os objetivos integralidade e indivisibilidade das dimensões expressivo-
fundamentais da República serão efetivados no âmbito da motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e
Educação Infantil se as creches e pré-escolas cumprirem sociocultural das crianças, apontar as experiências de
plenamente sua função sociopolítica e pedagógica. aprendizagem que se espera promover junto às crianças e
Cumprir tal função significa, em primeiro lugar, que o efetivar-se por meio de modalidades que assegurem as metas
Estado necessita assumir sua responsabilidade na educação educacionais de seu projeto pedagógico.
coletiva das crianças, complementando a ação das famílias. Em A gestão democrática da proposta curricular deve contar
segundo lugar, creches e pré-escolas constituem-se em na sua elaboração, acompanhamento e avaliação tendo em
estratégia de promoção de igualdade de oportunidades entre vista o Projeto Político-Pedagógico da unidade educacional,
homens e mulheres, uma vez que permitem às mulheres sua com a participação coletiva de professoras e professores,
realização para além do contexto doméstico. Em terceiro lugar, demais profissionais da instituição, famílias, comunidade e das
cumprir função sociopolítica e pedagógica das creches e pré- crianças, sempre que possível e à sua maneira.
escolas implica assumir a responsabilidade de torná-las
espaços privilegiados de convivência, de construção de 6. A visão de criança: o sujeito do processo de educação
identidades coletivas e de ampliação de saberes e
conhecimentos de diferentes naturezas, por meio de práticas A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito
que atuam como recursos de promoção da equidade de histórico e de direitos que se desenvolve nas interações,
oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela
classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos
possibilidades de vivência da infância. Em quarto lugar, grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas
cumprir função sociopolítica e pedagógica requer oferecer as condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz-de-
melhores condições e recursos construídos histórica e conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta,
culturalmente para que as crianças usufruam de seus direitos questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades
civis, humanos e sociais e possam se manifestar e ver essas pessoal e coletiva, produzindo cultura.
manifestações acolhidas, na condição de sujeito de direitos e O conhecimento científico hoje disponível autoriza a visão
de desejos. Significa, finalmente, considerar as creches e pré- de que desde o nascimento a criança busca atribuir significado
escolas na produção de novas formas de sociabilidade e de a sua experiência e nesse processo volta-se para conhecer o
subjetividades comprometidas com a democracia e a mundo material e social, ampliando gradativamente o campo
cidadania, com a dignidade da pessoa humana, com o de sua curiosidade e inquietações, mediada pelas orientações,
reconhecimento da necessidade de defesa do meio ambiente e materiais, espaços e tempos que organizam as situações de
com o rompimento de relações de dominação etária, aprendizagem e pelas explicações e significados a que ela tem
socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística acesso.
e religiosa que ainda marcam nossa sociedade. O período de vida atendido pela Educação Infantil
caracteriza-se por marcantes aquisições: a marcha, a fala, o
5. Uma definição de currículo controle esfincteriano, a formação da imaginação e da
capacidade de fazer de conta e de representar usando
O currículo na Educação Infantil tem sido um campo de diferentes linguagens. Embora nessas aquisições a dimensão
controvérsias e de diferentes visões de criança, de família, e de orgânica da criança se faça presente, suas capacidades para
funções da creche e da pré-escola. No Brasil nem sempre foi discriminar cores, memorizar poemas, representar uma
aceita a ideia de haver um currículo para a Educação Infantil, paisagem através de um desenho, consolar uma criança que
termo em geral associado à escolarização tal como vivida no chora etc., não são constituições universais biologicamente
Ensino Fundamental e Médio, sendo preferidas as expressões determinadas e esperando o momento de amadurecer. Elas
‘projeto pedagógico’ ou ‘proposta pedagógica’. A integração da são histórica e culturalmente produzidas nas relações que
Educação Infantil ao sistema educacional impõe à Educação estabelecem com o mundo material e social mediadas por
Infantil trabalhar com esses conceitos, diferenciando-os e parceiros mais experientes.
articulando-os. Assim, a motricidade, a linguagem, o pensamento, a
A proposta pedagógica, ou projeto pedagógico, é o plano afetividade e a sociabilidade são aspectos integrados e se
orientador das ações da instituição e define as metas que se desenvolvem a partir das interações que, desde o nascimento,
pretende para o desenvolvimento dos meninos e meninas que a criança estabelece com diferentes parceiros, a depender da
nela são educados e cuidados, as aprendizagens que se quer maneira como sua capacidade para construir conhecimento é
promovidas. Na sua execução, a instituição de Educação possibilitada e trabalhada nas situações em que ela participa.
Infantil organiza seu currículo, que pode ser entendido como Isso por que, na realização de tarefas diversas, na companhia
as práticas educacionais organizadas em torno do de adultos e de outras crianças, no confronto dos gestos, das
conhecimento e em meio às relações sociais que se travam nos falas, enfim, das ações desses parceiros, cada criança modifica
espaços institucionais, e que afetam a construção das sua forma de agir, sentir e pensar.
identidades das crianças. Por expressar o projeto pedagógico Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de
da instituição em que se desenvolve, englobando as colocar-se nos relacionamentos e nas interações, de
experiências vivenciadas pela criança, o currículo se constitui manifestar emoções e curiosidade, e elabora um modo próprio
um instrumento político, cultural e científico coletivamente de agir nas diversas situações que vivencia desde o nascimento
formulado (MEC). conforme experimenta sensações de desconforto ou de

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incerteza diante de aspectos novos que lhe geram de todas as pessoas, a igualdade entre homens e mulheres,
necessidades e desejos, e lhe exigem novas respostas. Assim assim como a solidariedade com grupos enfraquecidos e
busca compreender o mundo e a si mesma, testando de alguma vulneráveis política e economicamente. Essa valorização
forma as significações que constrói, modificando-as também se estende à relação com a natureza e os espaços
continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, públicos, o respeito a todas as formas de vida, o cuidado de
seja com objetos. seres vivos e a preservação dos recursos naturais.
Uma atividade muito importante para a criança pequena é b) Princípios políticos: dos direitos de cidadania, do
a brincadeira. Brincar dá à criança oportunidade para imitar o exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
conhecido e para construir o novo, conforme ela reconstrói o A Educação Infantil deve trilhar o caminho de educar para
cenário necessário para que sua fantasia se aproxime ou se a cidadania, analisando se suas práticas educativas de fato
distancie da realidade vivida, assumindo personagens e promovem a formação participativa e crítica das crianças e
transformando objetos pelo uso que deles faz. criam contextos que lhes permitem a expressão de
Na história cotidiana das interações com diferentes sentimentos, ideias, questionamentos, comprometidos com a
parceiros, vão sendo construídas significações busca do bem estar coletivo e individual, com a preocupação
compartilhadas, a partir das quais a criança aprende como agir com o outro e com a coletividade.
ou resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. Como parte da formação para a cidadania e diante da
Nesse processo é preciso considerar que as crianças aprendem concepção da Educação Infantil como um direito, é necessário
coisas que lhes são muito significativas quando interagem com garantir uma experiência bem sucedida de aprendizagem a
companheiros da infância, e que são diversas das coisas que todas as crianças, sem discriminação. Isso requer
elas se apropriam no contato com os adultos ou com crianças proporcionar oportunidades para o alcance de conhecimentos
já mais velhas. Além disso, à medida que o grupo de crianças básicos que são considerados aquisições valiosas para elas.
interage, são construídas as culturas infantis. A educação para a cidadania se volta para ajudar a criança
Também as professoras e os professores têm, na a tomar a perspectiva do outro – da mãe, do pai, do professor,
experiência conjunta com as crianças, excelente oportunidade de outra criança, e também de quem vai mudar-se para longe,
de se desenvolverem como pessoa e como profissional. de quem tem o pai doente. O importante é que se criem
Atividades realizadas pela professora ou professor de brincar condições para que a criança aprenda a opinar e a considerar
com a criança, contar-lhe histórias, ou conversar com ela sobre os sentimentos e a opinião dos outros sobre um
uma infinidade de temas, tanto promovem o desenvolvimento acontecimento, uma reação afetiva, uma ideia, um conflito.
da capacidade infantil de conhecer o mundo e a si mesmo, de c) Princípios estéticos: valorização da sensibilidade, da
sua autoconfiança e a formação de motivos e interesses criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações
pessoais, quanto ampliam as possibilidades da professora ou artísticas e culturais.
professor de compreender e responder às iniciativas infantis. O trabalho pedagógico na unidade de Educação Infantil, em
um mundo em que a reprodução em massa sufoca o olhar das
7. Princípios básicos pessoas e apaga singularidades, deve voltar-se para uma
sensibilidade que valoriza o ato criador e a construção pelas
Os princípios fundamentais nas Diretrizes anteriormente crianças de respostas singulares, garantindo-lhes a
estabelecidas (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer participação em diversificadas experiências.
CNE/CEB nº 22/98) continuam atuais e estarão presentes As instituições de Educação Infantil precisam organizar
nestas diretrizes com a explicitação de alguns pontos que mais um cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, que
recentemente têm se destacado nas discussões da área. São desafiem o que cada criança e seu grupo de crianças já sabem
eles: sem ameaçar sua autoestima nem promover competitividade,
a) Princípios éticos: valorização da autonomia, da ampliando as possibilidades infantis de cuidar e ser cuidada,
responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem de se expressar, comunicar e criar, de organizar pensamentos
comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e ideais, de conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter
e singularidades. iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que
Cabe às instituições de Educação Infantil assegurar às se apresentam às mais diferentes idades, e lhes possibilitem
crianças a manifestação de seus interesses, desejos e apropriar-se de diferentes linguagens e saberes que circulam
curiosidades ao participar das práticas educativas, valorizar em nossa sociedade, selecionados pelo valor formativo que
suas produções, individuais e coletivas, e trabalhar pela possuem em relação aos objetivos definidos em seu Projeto
conquista por elas da autonomia para a escolha de Político-Pedagógico.
brincadeiras e de atividades e para a realização de cuidados
pessoais diários. Tais instituições devem proporcionar às 8. Objetivos e condições para a organização curricular
crianças oportunidades para ampliarem as possibilidades de
aprendizado e de compreensão de mundo e de si próprio Os direitos da criança constituem hoje o paradigma para o
trazidas por diferentes tradições culturais e a construir relacionamento social e político com as infâncias do país. A
atitudes de respeito e solidariedade, fortalecendo a autoestima Constituição de 1988, no artigo 227, declara que “É dever da
e os vínculos afetivos de todas as crianças. família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
Desde muito pequenas, as crianças devem ser mediadas na adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
construção de uma visão de mundo e de conhecimento como à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
elementos plurais, formar atitudes de solidariedade e cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
aprender a identificar e combater preconceitos que incidem familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
sobre as diferentes formas dos seres humanos se constituírem forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
enquanto pessoas. Poderão assim questionar e romper com crueldade e opressão”.
formas de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de Nessa expressão legal, as crianças são inseridas no mundo
gênero, regional, linguística e religiosa, existentes em nossa dos direitos humanos e são definidos não apenas o direito
sociedade e recriadas na relação dos adultos com as crianças e fundamental da criança à provisão (saúde, alimentação, lazer,
entre elas. Com isso elas podem e devem aprender sobre o educação lato senso) e à proteção (contra a violência,
valor de cada pessoa e dos diferentes grupos culturais, discriminação, negligência e outros), como também seus
adquirir valores como os da inviolabilidade da vida humana, a direitos fundamentais de participação na vida social e cultural,
liberdade e a integridade individuais, a igualdade de direitos de ser respeitada e de ter liberdade para expressar-se

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individualmente. Esses pontos trouxeram perspectivas articuladas ao entorno e ao cotidiano das crianças, ampliam
orientadoras para o trabalho na Educação Infantil e suas possibilidades de ação no mundo e delineiam
inspiraram inclusive a finalidade dada no artigo 29 da Lei nº possibilidades delas viverem a infância.
9.394/96 às creches e pré-escolas. 2) O combate ao racismo e às discriminações de gênero,
Com base nesse paradigma, a proposta pedagógica das socioeconômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser objeto de
instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo constante reflexão e intervenção no cotidiano da Educação
principal promover o desenvolvimento integral das crianças Infantil.
de zero a cinco anos de idade garantindo a cada uma delas o As ações educativas e práticas cotidianas devem
acesso a processos de construção de conhecimentos e a considerar que os modos como a cultura medeia as formas de
aprendizagem de diferentes linguagens, assim como o direito relação da criança consigo mesma são constitutivos dos seus
à proteção, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à processos de construção de identidade. A perspectiva que
brincadeira, à convivência e interação com outras crianças. Daí acentua o atendimento aos direitos fundamentais da criança,
decorrem algumas condições para a organização curricular. compreendidos na sua multiplicidade e integralidade, entende
1) As instituições de Educação Infantil devem assegurar a que o direito de ter acesso a processos de construção de
educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como conhecimento como requisito para formação humana,
algo indissociável ao processo educativo. participação social e cidadania das crianças de zero a cinco
As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a não anos de idade, efetua-se na inter-relação das diferentes
fragmentar a criança nas suas possibilidades de viver práticas cotidianas que ocorrem no interior das creches e pré-
experiências, na sua compreensão do mundo feita pela escolas e em relação a crianças concretas, contemplando as
totalidade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na especificidades desse processo nas diferentes idades e em
relação intrínseca entre razão e emoção, expressão corporal e relação à diversidade cultural e étnico-racial e às crianças com
verbal, experimentação prática e elaboração conceitual. As deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
práticas envolvidas nos atos de alimentar-se, tomar banho, habilidades/superdotação.
trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha do que A valorização da diversidade das culturas das diferentes
vestir, na atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa crianças e de suas famílias, por meio de brinquedos, imagens e
faixa etária, no âmbito da Educação Infantil, não são apenas narrativas que promovam a construção por elas de uma
práticas que respeitam o direito da criança de ser bem relação positiva com seus grupos de pertencimento, deve
atendida nesses aspectos, como cumprimento do respeito à orientar as práticas criadas na Educação Infantil ampliando o
sua dignidade como pessoa humana. Elas são também práticas olhar das crianças desde cedo para a contribuição de
que respeitam e atendem ao direito da criança de apropriar- diferentes povos e culturas. Na formação de pequenos
se, por meio de experiências corporais, dos modos cidadãos compromissada com uma visão plural de mundo, é
estabelecidos culturalmente de alimentação e promoção de necessário criar condições para o estabelecimento de uma
saúde, de relação com o próprio corpo e consigo mesma, relação positiva e uma apropriação das contribuições
mediada pelas professoras e professores, que histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes,
intencionalmente planejam e cuidam da organização dessas asiáticos, europeus e de outros países da América,
práticas. reconhecendo, valorizando, respeitando e possibilitando o
A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim contato das crianças com as histórias e as culturas desses
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e povos.
sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da O olhar acolhedor de diversidades também se refere às
proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na sua crianças com deficiência, transtornos globais de
dimensão necessariamente humana de lidar com questões de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Também
intimidade e afetividade, é característica não apenas da o direito dessas crianças à liberdade e à participação, tal como
Educação Infantil, mas de todos os níveis de ensino. Na para as demais crianças, deve ser acolhido no planejamento
Educação Infantil, todavia, a especificidade da criança bem das situações de vivência e aprendizagem na Educação
pequena, que necessita do professor até adquirir autonomia Infantil. Para garanti-lo, são necessárias medidas que
para cuidar de si, expõe de forma mais evidente a relação otimizem suas vivências na creche e pré-escola, garantindo
indissociável do educar e cuidar nesse contexto. A definição e que esses espaços sejam estruturados de modo a permitir sua
o aperfeiçoamento dos modos como a instituição organiza condição de sujeitos ativos e a ampliar suas possibilidades de
essas atividades são parte integrante de sua proposta ação nas brincadeiras e nas interações com as outras crianças,
curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações. momentos em que exercitam sua capacidade de intervir na
Um bom planejamento das atividades educativas favorece realidade e participam das atividades curriculares com os
a formação de competências para a criança aprender a cuidar colegas. Isso inclui garantir no cotidiano da instituição a
de si. No entanto, na perspectiva que integra o cuidado, educar acessibilidade de espaços, materiais, objetos e brinquedos,
não é apenas isto. Educar cuidando inclui acolher, garantir a procedimentos e formas de comunicação e orientação vividas,
segurança, mas também alimentar a curiosidade, a ludicidade especificidades e singularidades das crianças com deficiências,
e a expressividade infantis. transtornos globais de desenvolvimento e altas
Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições habilidades/superdotação.
para as crianças explorarem o ambiente de diferentes 3) As instituições necessariamente precisam conhecer as
maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos, culturas plurais que constituem o espaço da creche e da pré-
observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo escola, a riqueza das contribuições familiares e da
perguntas etc.) e construírem sentidos pessoais e significados comunidade, suas crenças e manifestações, e fortalecer formas
coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se de atendimento articuladas aos saberes e às especificidades
apropriando de um modo singular das formas culturais de agir, étnicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada comunidade.
sentir e pensar. Isso requer do professor ter sensibilidade e O reconhecimento da constituição plural das crianças
delicadeza no trato de cada criança, e assegurar atenção brasileiras, no que se refere à identidade cultural e regional e
especial conforme as necessidades que identifica nas crianças. à filiação socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional,
As práticas que desafiam os bebês e as crianças maiores a linguística e religiosa, é central à garantia de uma Educação
construírem e se apropriarem dos conhecimentos produzidos Infantil comprometida com os direitos das crianças. Esse
por seu grupo cultural e pela humanidade, na Educação fundamento reforça a gestão democrática como elemento
Infantil, pelas características desse momento de vida, são imprescindível, uma vez que é por meio dela que a instituição

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também se abre à comunidade, permite sua entrada, e educação tradicional oferecida na família e articular-se às
possibilita sua participação na elaboração e acompanhamento práticas socioculturais de educação e cuidado da comunidade;
da proposta curricular. Dessa forma, a organização da adequar calendário, agrupamentos etários e organização de
proposta pedagógica deve prever o estabelecimento de uma tempos, atividades e ambientes de modo a atender as
relação positiva com a comunidade local e de mecanismos que demandas de cada povo indígena.
garantam a gestão democrática e a consideração dos saberes 4) A execução da proposta curricular requer atenção
comunitários, seja ela composta pelas populações que vivem cuidadosa e exigente às possíveis formas de violação da
nos centros urbanos, ou a população do campo, os povos da dignidade da criança.
floresta e dos rios, os indígenas, quilombolas ou O respeito à dignidade da criança como pessoa humana,
afrodescendentes. quando pensado a partir das práticas cotidianas na instituição,
Na discussão sobre as diversidades, há que se considerar tal como apontado nos “Indicadores de Qualidade na Educação
que também a origem urbana das creches e pré-escolas e a sua Infantil” elaborados pelo MEC, requer que a instituição garanta
extensão como direito a todas as crianças brasileiras remetem a proteção da criança contra qualquer forma de violência –
à necessidade de que as propostas pedagógicas das física ou simbólica – ou negligência, tanto no interior das
instituições em territórios não-urbanos respeitem suas instituições de Educação Infantil como na experiência familiar
identidades. da criança, devendo as violações ser encaminhadas às
Essa exigência é explicitada no caso de crianças filhas de instâncias competentes. Os profissionais da educação que aí
agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, trabalham devem combater e intervir imediatamente quando
ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, ocorrem práticas dos adultos que desrespeitem a integridade
quilombolas, caiçaras, nas Diretrizes Operacionais para a das crianças, de modo a criar uma cultura em que essas
Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução CNE/CEB práticas sejam inadmissíveis.
nº 1/2002). Essas Diretrizes orientam o trabalho pedagógico 5) O atendimento ao direito da criança na sua integralidade
no estabelecimento de uma relação orgânica com a cultura, as requer o cumprimento do dever do Estado com a garantia de
tradições, os saberes e as identidades dessas populações, e uma experiência educativa com qualidade a todas as crianças
indicam a adoção de estratégias que garantam o atendimento na Educação Infantil.
às especificidades dessas comunidades – tais como a As instituições de Educação Infantil devem tanto oferecer
flexibilização e adequação no calendário, nos agrupamentos espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde infantil
etários e na organização de tempos, atividades e ambientes – quanto se organizar como ambientes acolhedores,
em respeito às diferenças quanto à atividade econômica e à desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explorações e
política de igualdade e sem prejuízo da qualidade do descobertas partilhadas com outras crianças e com o
atendimento. Elas apontam para a previsão da oferta de professor. Elas ainda devem criar contextos que articulem
materiais didáticos, brinquedos e outros equipamentos em diferentes linguagens e que permitam a participação,
conformidade com a realidade da comunidade e as expressão, criação, manifestação e consideração de seus
diversidades dos povos do campo, evidenciando o papel interesses.
dessas populações na produção do conhecimento sobre o No cumprimento dessa exigência, o planejamento
mundo. A Resolução CNE/ CEB nº 2/2008, que estabelece curricular deve assegurar condições para a organização do
Diretrizes complementares, normas e princípios para o tempo cotidiano das instituições de Educação Infantil de modo
desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da a equilibrar continuidade e inovação nas atividades,
Educação Básica do Campo e regulamenta questões movimentação e concentração das crianças, momentos de
importantes para a Educação Infantil, proíbe que se agrupe em segurança e momentos de desafio na participação das mesmas,
uma mesma turma crianças da Educação Infantil e crianças do e articular seus ritmos individuais, vivências pessoais e
Ensino Fundamental. experiências coletivas com crianças e adultos. Também é
A situação de desvantagem das crianças moradoras dos preciso haver a estruturação de espaços que facilitem que as
territórios rurais em relação ao acesso à educação é conhecida crianças interajam e construam sua cultura de pares, e
por meio dos relatórios governamentais e por trabalhos favoreçam o contato com a diversidade de produtos culturais
acadêmicos. Não bastasse a baixíssima cobertura do (livros de literatura, brinquedos, objetos e outros materiais),
atendimento, esses relatórios apontam que são precárias as de manifestações artísticas e com elementos da natureza.
instalações, são inadequados os materiais e os professores Junto com isso, há necessidade de uma infraestrutura e de
geralmente não possuem formação para o trabalho com essas formas de funcionamento da instituição que garantam ao
populações, o que caracteriza uma flagrante ineficácia no espaço físico a adequada conservação, acessibilidade, estética,
cumprimento da política de igualdade em relação ao acesso e ventilação, insolação, luminosidade, acústica, higiene,
permanência na Educação Infantil e uma violação do direito à segurança e dimensões em relação ao tamanho dos grupos e
educação dessas crianças. Uma política que promova com ao tipo de atividades realizadas.
qualidade a Educação Infantil nos próprios territórios rurais O número de crianças por professor deve possibilitar
instiga a construção de uma pedagogia dos povos do campo – atenção, responsabilidade e interação com as crianças e suas
construída na relação intrínseca com os saberes, as realidades famílias. Levando em consideração as características do
e temporalidades das crianças e de suas comunidades – e espaço físico e das crianças, no caso de agrupamentos com
requer a necessária formação do professor nessa pedagogia. criança de mesma faixa de idade, recomenda-se a proporção
Em relação às crianças indígenas, há que se garantir a de 6 a 8 crianças por professor (no caso de crianças de zero e
autonomia dos povos e nações na escolha dos modos de um ano), 15 crianças por professor (no caso de criança de dois
educação de suas crianças de zero a cinco anos de idade e que e três anos) e 20 crianças por professor (nos agrupamentos de
as propostas pedagógicas para esses povos que optarem pela crianças de quatro e cinco anos).
Educação Infantil possam afirmar sua identidade Programas de formação continuada dos professores e
sociocultural. Quando oferecidas, aceitas e requisitadas pelas demais profissionais também integram a lista de requisitos
comunidades, como direito das crianças indígenas, as básicos para uma Educação Infantil de qualidade. Tais
propostas curriculares na Educação Infantil dessas crianças programas são um direito das professoras e professores no
devem proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, sentido de aprimorar sua prática e desenvolver a si e a sua
crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu identidade profissional no exercício de seu trabalho. Eles
povo; reafirmar a identidade étnica e a língua materna como devem dar-lhes condições para refletir sobre sua prática
elementos de constituição das crianças; dar continuidade à docente cotidiana em termos pedagógicos, éticos e políticos, e

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tomar decisões sobre as melhores formas de mediar a produtivas de esclarecimento e eventuais encaminhamentos
aprendizagem e o desenvolvimento infantil, considerando o possam ser pensados.
coletivo de crianças assim como suas singularidades.
9. A organização das experiências de aprendizagem na
8. A necessária e fundamental parceria com as famílias proposta curricular
na Educação Infantil
Em função dos princípios apresentados, e na tarefa de
A perspectiva do atendimento aos direitos da criança na garantir às crianças seu direito de viver a infância e se
sua integralidade requer que as instituições de Educação desenvolver, as experiências no espaço de Educação Infantil
Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e devem possibilitar o encontro pela criança de explicações
curricular, assegurem espaços e tempos para participação, o sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto
diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a desenvolvem formas de agir, sentir e pensar.
valorização das diferentes formas em que elas se organizam. O importante é apoiar as crianças, desde cedo e ao longo
A família constitui o primeiro contexto de educação e de todas as suas experiências cotidianas na Educação Infantil
cuidado do bebê. Nela ele recebe os cuidados materiais, no estabelecimento de uma relação positiva com a instituição
afetivos e cognitivos necessários a seu bem-estar, e constrói educacional, no fortalecimento de sua autoestima, no interesse
suas primeiras formas de significar o mundo. Quando a criança e curiosidade pelo conhecimento do mundo, na familiaridade
passa a frequentar a Educação Infantil, é preciso refletir sobre com diferentes linguagens, na aceitação e acolhimento das
a especificidade de cada contexto no desenvolvimento da diferenças entre as pessoas.
criança e a forma de integrar as ações e projetos educacionais Na explicitação do ambiente de aprendizagem, é
das famílias e das instituições. Essa integração com a família necessário pensar “um currículo sustentado nas relações, nas
necessita ser mantida e desenvolvida ao longo da permanência interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas
da criança na creche e pré-escola, exigência inescapável frente para as experiências concretas da vida cotidiana, para a
às características das crianças de zero a cinco anos de idade, o aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida
que cria a necessidade de diálogo para que as práticas junto às coletiva e para a produção de narrativas, individuais e
crianças não se fragmentem. coletivas, através de diferentes linguagens” (MEC).
O trabalho com as famílias requer que as equipes de A professora e o professor necessitam articular condições
educadores as compreendam como parceiras, reconhecendo- de organização dos espaços, tempos, materiais e das
as como criadoras de diferentes ambientes e papéis para seus interações nas atividades para que as crianças possam
membros, que estão em constante processo de modificação de expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
seus saberes, fazeres e valores em relação a uma série de e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas
pontos, dentre eles o cuidado e a educação dos filhos. O primeiras tentativas de escrita.
importante é acolher as diferentes formas de organização A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e
familiar e respeitar as opiniões e aspirações dos pais sobre movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas
seus filhos. Nessa perspectiva, as professoras e professores de referência das turmas e à instituição, envolver-se em
compreendem que, embora compartilhem a educação das explorações e brincadeiras com objetos e materiais
crianças com os membros da família, exercem funções diversificados que contemplem as particularidades das
diferentes destes. Cada família pode ver na professora ou diferentes idades, as condições específicas das crianças com
professor alguém que lhe ajuda a pensar sobre seu próprio deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
filho e trocar opiniões sobre como a experiência na unidade de habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais,
Educação Infantil se liga a este plano. Ao mesmo tempo, o étnico raciais e linguísticas das crianças, famílias e
trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil pode comunidade regional.
apreender os aspectos mais salientes das culturas familiares De modo a proporcionar às crianças diferentes
locais para enriquecer as experiências cotidianas das crianças. experiências de interações que lhes possibilitem construir
Um ponto inicial de trabalho integrado da instituição de saberes, fazer amigos, aprender a cuidar de si e a conhecer
Educação Infantil com as famílias pode ocorrer no período de suas próprias preferências e características, deve-se
adaptação e acolhimento dos novatos. Isso se fará de modo possibilitar que elas participem de diversas formas de
mais produtivo se, nesse período, as professoras e professores agrupamento (grupos de mesma idade e grupos de diferentes
derem oportunidade para os pais falarem sobre seus filhos e idades), formados com base em critérios estritamente
as expectativas que têm em relação ao atendimento na pedagógicos.
Educação Infantil, enquanto eles informam e conversam com As especificidades e os interesses singulares e coletivos
os pais os objetivos propostos pelo Projeto Político Pedagógico dos bebês e das crianças das demais faixas etárias devem ser
da instituição e os meios organizados para atingi-los. considerados no planejamento do currículo, vendo a criança
Outros pontos fundamentais do trabalho com as famílias em cada momento como uma pessoa inteira na qual os
são propiciados pela participação destas na gestão da proposta aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguísticos integram-
pedagógica e pelo acompanhamento partilhado do se, embora em permanente mudança. Em relação a qualquer
desenvolvimento da criança. A participação dos pais junto com experiência de aprendizagem que seja trabalhada pelas
os professores e demais profissionais da educação nos crianças, devem ser abolidos os procedimentos que não
conselhos escolares, no acompanhamento de projetos reconhecem a atividade criadora e o protagonismo da criança
didáticos e nas atividades promovidas pela instituição pequena, que promovam atividades mecânicas e não
possibilita agregar experiências e saberes e articular os dois significativas para as crianças.
contextos de desenvolvimento da criança. Nesse processo, os Cabe à professora e ao professor criar oportunidade para
pais devem ser ouvidos tanto como usuários diretos do serviço que a criança, no processo de elaborar sentidos pessoais, se
prestado como também como mais uma voz das crianças, em aproprie de elementos significativos de sua cultura não como
particular daquelas muito pequenas. verdades absolutas, mas como elaborações dinâmicas e
Preocupações dos professores sobre a forma como provisórias. Trabalha-se com os saberes da prática que as
algumas crianças parecem ser tratadas em casa – descuido, crianças vão construindo ao mesmo tempo em que se garante
violência, discriminação, superproteção e outras – devem ser a apropriação ou construção por elas de novos conhecimentos.
discutidas com a direção de cada instituição para que formas Para tanto, a professora e o professor observam as ações

Conhecimentos Pedagógicos 100


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infantis, individuais e coletivas, acolhe suas perguntas e suas e produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber ler e
respostas, busca compreender o significado de sua conduta. escrever.
As propostas curriculares da Educação Infantil devem Atividades que desenvolvam expressão motora e modos de
garantir que as crianças tenham experiências variadas com as perceber seu próprio corpo, assim como as que lhe
diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no qual estão possibilitem construir, criar e desenhar usando diferentes
inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado materiais e técnicas, ampliar a sensibilidade da criança à
por imagens, sons, falas e escritas. Nesse processo, é preciso música, à dança, à linguagem teatral, abrem ricas
valorizar o lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis. possibilidades de vivências e desenvolvimento para as
As experiências promotoras de aprendizagem e crianças.
consequente desenvolvimento das crianças devem ser Experiências que promovam o envolvimento da criança
propiciadas em uma frequência regular e serem, ao mesmo com o meio ambiente e a conservação da natureza e a ajudem
tempo, imprevistas, abertas a surpresas e a novas descobertas. elaborar conhecimentos, por exemplo, de plantas e animais,
Elas visam a criação e a comunicação por meio de diferentes devem fazer parte do cotidiano da unidade de Educação
formas de expressão, tais como imagens, canções e música, Infantil. Outras experiências podem priorizar, em contextos e
teatro, dança e movimento, assim como a língua escrita e situações significativos, a exploração e uso de conhecimentos
falada, sem esquecer da língua de sinais, que pode ser matemáticos na apreciação das características básicas do
aprendida por todas as crianças e não apenas pelas crianças conceito de número, medida e forma, assim como a habilidade
surdas. de se orientar no tempo e no espaço.
É necessário considerar que as linguagens se inter- Ter oportunidade para manusear gravadores, projetores,
relacionam: por exemplo, nas brincadeiras cantadas a criança computador e outros recursos tecnológicos e midiáticos
explora as possibilidades expressivas de seus movimentos ao também compõe o quadro de possibilidades abertas para o
mesmo tempo em que brinca com as palavras e imita certos trabalho pedagógico na Educação Infantil.
personagens. Quando se volta para construir conhecimentos As experiências que permitam ações individuais e em um
sobre diferentes aspectos do seu entorno, a criança elabora grupo, lidar com conflitos e entender direitos e obrigações, que
suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvidas na desenvolvam a identidade pessoal, sentimento de autoestima,
explicação, argumentação e outras, ao mesmo tempo em que autonomia e confiança em suas próprias habilidades, e um
amplia seus conhecimentos sobre o mundo e registra suas entendimento da importância de cuidar de sua própria saúde
descobertas pelo desenho ou mesmo por formas bem iniciais e bem-estar, devem ocupar lugar no planejamento curricular.
de registro escrito. Por esse motivo, ao planejar o trabalho, é Na elaboração da proposta curricular, diferentes arranjos
importante não tomar as linguagens de modo isolado ou de atividades poderão ser feitos, de acordo com as
disciplinar, mas sim contextualizadas, a serviço de características de cada instituição, a orientação de sua
significativas aprendizagens. proposta pedagógica, com atenção, evidentemente, às
As crianças precisam brincar em pátios, quintais, praças, características das crianças.
bosques, jardins, praias, e viver experiências de semear, A organização curricular da Educação Infantil pode se
plantar e colher os frutos da terra, permitindo a construção de estruturar em eixos, centros, campos ou módulos de
uma relação de identidade, reverência e respeito para com a experiências que devem se articular em torno dos princípios,
natureza. Elas necessitam também ter acesso a espaços condições e objetivos propostos nesta diretriz. Ela pode
culturais diversificados: inserção em práticas culturais da planejar a realização semanal, mensal e por períodos mais
comunidade, participação em apresentações musicais, longos de atividades e projetos fugindo de rotinas mecânicas.
teatrais, fotográficas e plásticas, visitas a bibliotecas,
brinquedotecas, museus, monumentos, equipamentos 10. O processo de avaliação
públicos, parques, jardins.
É importante lembrar que dentre os bens culturais que As instituições de Educação Infantil, sob a ótica da garantia
crianças têm o direito a ter acesso está a linguagem verbal, que de direitos, são responsáveis por criar procedimentos para
inclui a linguagem oral e a escrita, instrumentos básicos de avaliação do trabalho pedagógico e das conquistas das
expressão de ideais, sentimentos e imaginação. A aquisição da crianças.
linguagem oral depende das possibilidades das crianças A avaliação é instrumento de reflexão sobre a prática
observarem e participarem cotidianamente de situações pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar as
comunicativas diversas onde podem comunicar-se, conversar, aprendizagens das crianças. Ela deve incidir sobre todo o
ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras, contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o modo
refletir e expressar seus próprios pontos de vista, diferenciar como foram realizadas, as instruções e os apoios oferecidos às
conceitos, ver interconexões e descobrir novos caminhos de crianças individualmente e ao coletivo de crianças, a forma
entender o mundo. É um processo que precisa ser planejado e como o professor respondeu às manifestações e às interações
continuamente trabalhado. das crianças, os agrupamentos que as crianças formaram, o
Também a linguagem escrita é objeto de interesse pelas material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a
crianças. Vivendo em um mundo onde a língua escrita está realização das atividades. Espera-se, a partir disso, que o
cada vez mais presente, as crianças começam a se interessar professor possa pesquisar quais elementos estão
pela escrita muito antes que os professores a apresentem contribuindo, ou dificultando, as possibilidades de expressão
formalmente. Contudo, há que se apontar que essa temática da criança, sua aprendizagem e desenvolvimento, e então
não está sendo muitas vezes adequadamente compreendida e fortalecer, ou modificar, a situação, de modo a efetivar o
trabalhada na Educação Infantil. O que se pode dizer é que o Projeto Político-Pedagógico de cada instituição.
trabalho com a língua escrita com crianças pequenas não pode A avaliação, conforme estabelecido na Lei nº 9.394/96,
decididamente ser uma prática mecânica desprovida de deve ter a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho
sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua realizado. Nunca é demais enfatizar que não devem existir
apropriação pela criança se faz no reconhecimento, práticas inadequadas de verificação da aprendizagem, tais
compreensão e fruição da linguagem que se usa para escrever, como provinhas, nem mecanismos de retenção das crianças na
mediada pela professora e pelo professor, fazendo-se presente Educação Infantil. Todos os esforços da equipe devem
em atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros convergir para a estruturação de condições que melhor
escritos, como a leitura diária de livros pelo professor, a contribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento da
possibilidade da criança desde cedo manusear livros e revistas criança sem desligá-la de seus grupos de amizade.

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A observação sistemática, crítica e criativa do


comportamento de cada criança, de grupos de crianças, das A Câmara de Educação Básica aprova por unanimidade o
brincadeiras e interações entre as crianças no cotidiano, e a voto do Relator. Sala das Sessões, em 11 de novembro de 2009.
utilização de múltiplos registros realizados por adultos e
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.), feita ao Conselheiro Cesar Callegari – Presidente Conselheiro
longo do período em diversificados momentos, são condições Mozart Neves Ramos – Vice-Presidente
necessárias para compreender como a criança se apropria de
modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos. RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009
Conhecer as preferências das crianças, a forma delas
participarem nas atividades, seus parceiros prediletos para a Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
realização de diferentes tipos de tarefas, suas narrativas, pode Infantil
ajudar o professor a reorganizar as atividades de modo mais
adequado ao alcance dos propósitos infantis e das O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
aprendizagens coletivamente trabalhadas. Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, com
A documentação dessas observações e outros dados sobre fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024, de 20 de
a criança devem acompanhá-la ao longo de sua trajetória da dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de
Educação Infantil e ser entregue por ocasião de sua matrícula 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o Parecer CNE/CEB
no Ensino Fundamental para garantir a continuidade dos nº 20/2009, homologado por Despacho do Senhor Ministro de
processos educativos vividos pela criança. Estado da Educação, publicado no DOU de 9 de dezembro de
2009, resolve:

Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes


11. O acompanhamento da continuidade do processo Curriculares Nacionais para a Educação Infantil a serem
de educação observadas na organização de propostas pedagógicas na
Educação Infantil.
Na busca de garantir um olhar contínuo sobre os processos
vivenciados pela criança, devem ser criadas estratégias Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
adequadas aos diferentes momentos de transição por elas Educação Infantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares
vividos. As instituições de Educação Infantil devem assim: Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios,
a) planejar e efetivar o acolhimento das crianças e de suas fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de
famílias quando do ingresso na instituição, considerando a Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para
necessária adaptação das crianças e seus responsáveis às orientar as políticas públicas na área e a elaboração,
práticas e relacionamentos que têm lugar naquele espaço, e planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas
visar o conhecimento de cada criança e de sua família pela e curriculares.
equipe da Instituição;
b) priorizar a observação atenta das crianças e mediar as Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como
relações que elas estabelecem entre si, entre elas e os adultos, um conjunto de práticas que buscam articular as experiências
entre elas e as situações e objetos, para orientar as mudanças e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
de turmas pelas crianças e acompanhar seu processo de parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e
vivência e desenvolvimento no interior da instituição; tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral
c) planejar o trabalho pedagógico reunindo as equipes da de crianças de 0 a 5 anos de idade.
creche e da pré-escola, acompanhado de relatórios descritivos
das turmas e das crianças, suas vivências, conquistas e planos, Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
de modo a dar continuidade a seu processo de aprendizagem; deverão considerar que a criança, centro do planejamento
d) prever formas de articulação entre os docentes da curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
Educação Infantil e do Ensino Fundamental (encontros, visitas, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
reuniões) e providenciar instrumentos de registro – portfólios identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
de turmas, relatórios de avaliação do trabalho pedagógico, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
documentação da frequência e das realizações alcançadas sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
pelas crianças – que permitam aos docentes do Ensino
Fundamental conhecer os processos de aprendizagem Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
vivenciados na Educação Infantil, em especial na pré-escola e Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se
as condições em que eles se deram, independentemente dessa caracterizam como espaços institucionais não domésticos que
transição ser feita no interior de uma mesma instituição ou constituem estabelecimentos educacionais públicos ou
entre instituições, para assegurar às crianças a continuidade privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de
de seus processos peculiares de desenvolvimento e a idade no período diurno, em jornada integral ou parcial,
concretização de seu direito à educação. regulados e supervisionados por órgão competente do sistema
de ensino e submetidos a controle social.
II – VOTO DO RELATOR § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação
Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de
Em vista do exposto, propõe-se a aprovação das Diretrizes seleção.
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil na forma deste § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de
Parecer e do Projeto de Resolução em anexo, do qual é parte crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do
integrante. ano em que ocorrer a matrícula.
§ 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de
Brasília, (DF), 11 de novembro de 2009. março devem ser matriculadas na Educação Infantil.
§ 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisito
Conselheiro Raimundo Moacir Mendes Feitosa – Relator para a matrícula no Ensino Fundamental.
§ 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser
III – DECISÃO DA CÂMARA oferecidas próximas às residências das crianças.

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§ 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, a transtornos globais de desenvolvimento e altas


jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo habilidades/superdotação;
integral, a jornada com duração igual ou superior a sete horas VIII – a apropriação pelas crianças das contribuições
diárias, compreendendo o tempo total que a criança histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes,
permanece na instituição. asiáticos, europeus e de outros países da América;
IX – o reconhecimento, a valorização, o respeito e a
Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil interação das crianças com as histórias e as culturas africanas,
devem respeitar os seguintes princípios: afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à
I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da discriminação;
solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente X – a dignidade da criança como pessoa humana e a
e às diferentes culturas, identidades e singularidades. proteção contra qualquer forma de violência – física ou
II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da simbólica – e negligência no interior da instituição ou
criticidade e do respeito à ordem democrática. praticadas pela família, prevendo os encaminhamentos de
III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da violações para instâncias competentes.
ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes § 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na escolha
manifestações artísticas e culturais. dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de idade,
as propostas pedagógicas para os povos que optarem pela
Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta Educação Infantil devem:
pedagógica das instituições de Educação Infantil deve garantir I – proporcionar uma relação viva com os conhecimentos,
que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica e crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu
pedagógica: povo;
I – oferecendo condições e recursos para que as crianças II – reafirmar a identidade étnica e a língua materna como
usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; elementos de constituição das crianças;
II – assumindo a responsabilidade de compartilhar e III – dar continuidade à educação tradicional oferecida na
complementar a educação e cuidado das crianças com as família e articular-se às práticas socioculturais de educação e
famílias; cuidado coletivos da comunidade;
III – possibilitando tanto a convivência entre crianças e IV – adequar calendário, agrupamentos etários e
entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e organização de tempos, atividades e ambientes de modo a
conhecimentos de diferentes naturezas; atender as demandas de cada povo indígena.
IV – promovendo a igualdade de oportunidades § 3º – As propostas pedagógicas da Educação Infantil das
educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas,
que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados
vivência da infância; da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta,
V – construindo novas formas de sociabilidade e de devem:
subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, I – reconhecer os modos próprios de vida no campo como
a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações fundamentais para a constituição da identidade das crianças
de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, moradoras em territórios rurais;
regional, linguística e religiosa. II – ter vinculação inerente à realidade dessas populações,
suas culturas, tradições e identidades, assim como a práticas
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Educação ambientalmente sustentáveis;
Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a III – flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e
processos de apropriação, renovação e articulação de atividades respeitando as diferenças quanto à atividade
conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, econômica dessas populações;
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à IV – valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à populações na produção de conhecimentos sobre o mundo e
convivência e à interação com outras crianças. sobre o ambiente natural;
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas V – prever a oferta de brinquedos e equipamentos que
pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão respeitem as características ambientais e socioculturais da
prever condições para o trabalho coletivo e para a organização comunidade.
de materiais, espaços e tempos que assegurem:
I – a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta
como algo indissociável ao processo educativo; curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
II – a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, norteadores as interações e a brincadeira, garantindo
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da experiências que:
criança; I – promovam o conhecimento de si e do mundo por meio
III – a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das da ampliação de experiências sensoriais, expressivas,
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão
organização; da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
IV – o estabelecimento de uma relação efetiva com a criança;
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão II – favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros
V – o reconhecimento das especificidades etárias, das e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e
singularidades individuais e coletivas das crianças, musical;
promovendo interações entre crianças de mesma idade e III – possibilitem às crianças experiências de narrativas, de
crianças de diferentes idades; apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e
VI – os deslocamentos e os movimentos amplos das convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e
crianças nos espaços internos e externos às salas de referência escritos;
das turmas e à instituição; IV – recriem, em contextos significativos para as crianças,
VII – a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, temporais;

Conhecimentos Pedagógicos 103


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V – ampliem a confiança e a participação das crianças nas Questões


atividades individuais e coletivas;
VI – possibilitem situações de aprendizagem mediadas 1. (SAP/SP- Analista Sócio Cultural-Pedagogia-
para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de VUNESP) De acordo com as Diretrizes Curriculares
cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; Nacionais, as instituições para a Educação Infantil devem:
VII – possibilitem vivências éticas e estéticas com outras (A) definir suas Propostas Pedagógicas explicitando o
crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de reconhecimento da importância da identidade pessoal de
referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da alunos, suas famílias, professores e outros profissionais, e a
diversidade; identidade de cada Unidade Educacional, nos vários contextos
VIII – incentivem a curiosidade, a exploração, o em que se situem.
encantamento, o questionamento, a indagação e o (B) promover, em suas Propostas Pedagógicas, práticas de
conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os
social, ao tempo e à natureza; aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e
IX – promovam o relacionamento e a interação das sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total
crianças com diversificadas manifestações de música, artes e indivisível.
plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e (C) definir as estratégias de avaliação do processo ensino-
literatura; aprendizagem, considerando o desenvolvimento cognitivo da
X – promovam a interação, o cuidado, a preservação e o criança, nas áreas do conhecimento, com registros das etapas
conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida alcançadas pela criança.
na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; (D) garantir direitos básicos de crianças e suas famílias a
XI – propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças educação e cuidados, num contexto de atenção
das manifestações e tradições culturais brasileiras; multidisciplinar com profissionais necessários para o
XII – possibilitem a utilização de gravadores, projetores, atendimento.
computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos (E) proporcionar condições de funcionamento das
tecnológicos e midiáticos. estratégias educacionais, do uso do espaço físico, do horário e
Parágrafo único – As creches e pré-escolas, na elaboração do calendário escolar, que possibilitem a adoção, execução,
da proposta curricular, de acordo com suas características, avaliação e o aperfeiçoamento das diretrizes.
identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades
pedagógicas, estabelecerão modos de integração dessas 2. (SESC-PE- Professor I- UPENET) Para efeito das
experiências. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, são
adotadas algumas definições, como: Educação Infantil,
Art. 10°As instituições de Educação Infantil devem criar Criança, Currículo, Proposta Pedagógica. Qual a definição
procedimentos para acompanhamento do trabalho cunhada para Criança nas referidas Diretrizes?
pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, (A) Sujeito histórico e sem direitos que, nas interações,
sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, relações e práticas cotidianas que vivencia, desconstrói sua
garantindo: identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
I – a observação crítica e criativa das atividades, das aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
II – utilização de múltiplos registros realizados por adultos (B) Sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); relações e práticas cotidianas que vivencia, reconstrói sua
III – a continuidade dos processos de aprendizagens por identidade coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes desaprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
momentos de transição vividos pela criança (transição sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da (C) Sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
instituição, transição creche/pré-escola e transição pré- relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
escola/Ensino Fundamental); identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
IV – documentação específica que permita às famílias aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na (D) Sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
Educação Infantil; relações e práticas cotidianas que vivencia, reconstrói sua
V – a não retenção das crianças na Educação Infantil. identidade pessoal, brinca, imagina, não fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, não questiona e
Art. 11° Na transição para o Ensino Fundamental a desconstrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a produzindo cultura.
continuidade no processo de aprendizagem e (E) Sujeito histórico e sem direitos que, nas interações,
desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados identidade pessoal e coletiva, não brinca, imagina, fantasia,
no Ensino Fundamental. deseja, aprende, observa, experimenta, narra, não questiona e
desconstrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
Art. 12° Cabe ao Ministério da Educação elaborar produzindo cultura.
orientações para a implementação dessas Diretrizes.
3. (SEE-SP- Supervisor Escolar- CETRO) Segundo o
Art. 13° A presente Resolução entrará em vigor na data de Parecer CNE/CEB nº 22/98, que dispõe sobre as Diretrizes
sua publicação, revogando-se as disposições em contrário, Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. (A) os programas desenvolvidos em centros de Educação
Infantil devem voltar-se, prioritariamente, às ações de caráter
Cesar Callegari lúdico, espontâneo e prazeroso.
(B) é muito importante assegurar, nos projetos
Referencia pedagógicos para a Educação Infantil, uma antecipação de
Publicação disponível em http://portal.mec.gov.br/

Conhecimentos Pedagógicos 104


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rotinas e procedimentos comuns às classes de 1ª e 2ª séries do sociais da criança ao propor práticas para a educação nessa
Ensino Fundamental. faixa etária, portanto deve promover práticas que integrem
(C) essas Diretrizes, bem como os Referenciais todos esses aspectos.
Curriculares para a Educação Infantil, não são mandatórias
para todas as instituições de Educação Infantil, ficando a 2. Resposta C
critério das equipes pedagógicas a decisão de adotá-las na Comentário: De acordo com as Diretrizes define-se: “A
íntegra, ou não. criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico
(D) as Propostas Pedagógicas para as instituições de e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e
Educação Infantil devem promover, em suas práticas de práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela
educação e cuidados, a integração entre os aspectos físicos, estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos
emocionais, afetivos, cognitivo- linguísticos e sociais da grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas
criança. condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz-de-
(E) a avaliação, na Educação Infantil, deve ser entendida conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta,
como instrumento de diagnóstico e tomada de decisões, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades
admitindo-se a reprovação e os "vestibulinhos" apenas em pessoal e coletiva, produzindo cultura”.
casos excepcionais.
3. Resposta D
4. (UFPE- Técnico em assuntos educacionais- COVEST- Comentário: As Propostas Pedagógicas para as
COPSET) Quais são os fundamentos norteadores, definidos instituições de Educação Infantil devem ter como fundamento
nas Diretrizes Curriculares Nacionais, para as Propostas a promoção de práticas de educação e cuidados às crianças de
Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil? forma que haja a integração entre os aspectos físicos,
(A) Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, emocionais, afetivos, cognitivo- linguísticos e sociais da
da autonomia e da solidariedade humana. criança.
(B) Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania,
do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. 4. Resposta B
(C) Princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade e Comentário: As propostas pedagógicas de Educação
espírito inventivo. Infantil devem respeitar os seguintes princípios:
(D) Princípios da diversidade das manifestações da - Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da
delicadeza, da sutileza. solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente
(E) Princípio da autonomia pessoal e de manifestações e às diferentes culturas, identidades e singularidades.
artísticas e culturais. - Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
criticidade e do respeito à ordem democrática.
5. (Prefeitura de Araraquara- SP- Professor- Educação - Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade
infantil- CETRO) As novas Diretrizes Curriculares Nacionais e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações
de Educação Infantil, DCNEI (Resolução CNE/CEB, nº 05/09, artísticas e culturais
artigo 7º), consideram que a função sociopolítica e pedagógica
das unidades de Educação Infantil não inclui 5. Resposta D
(A) oferecer condições e recursos para que as crianças Comentário: Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a
usufruam seus direitos civis, humanos e sociais. proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil
(B) assumir a responsabilidade de compartilhar e deve garantir que elas cumpram plenamente sua função
complementar a educação e o cuidado das crianças com as sociopolítica e pedagógica:
famílias. I – oferecendo condições e recursos para que as crianças
(C) possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e II – assumindo a responsabilidade de compartilhar e
conhecimentos de diferentes naturezas. complementar a educação e cuidado das crianças com as
(D) promover o treinamento necessário para garantir a famílias;
prontidão da alfabetização e introduzir a criança na rotina III – possibilitando tanto a convivência entre crianças e
escolar, que é diferente da doméstica, quer em termos de entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e
convivências ou de atividades. A educação infantil é a pré- conhecimentos de diferentes naturezas;
escolarização da criança. IV – promovendo a igualdade de oportunidades
(E) construir novas formas de sociabilidade e de educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no
subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de
a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações vivência da infância;
de dominação etária, socioeconômica, étnico racial, gênero, V – construindo novas formas de sociabilidade e de
regional, linguística e religiosa. subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia,
a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações
Respostas de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero,
1. Resposta B regional, linguística e religiosa.
Comentário: A educação infantil deve considerar a criança Portanto, não inclui promover o treinamento necessário
como um ser completo, portanto deve levar em conta os para garantir a prontidão da alfabetização e introduzir a
aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos/linguísticos e criança na rotina escolar, que é diferente da doméstica, quer

Conhecimentos Pedagógicos 105


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em termos de convivências ou de atividades. A educação considerar as particularidades próprias dos elementos a


infantil é a pré-escolarização da criança, conforme disposto na assimilar. No sistema cognitivo do sujeito esses processos
alternativa D. estão normalmente em equilíbrio. A perturbação desse
equilíbrio gera um conflito ou uma lacuna diante do objeto ou
evento, o que dispara mecanismos de equilibração. A partir de
tais perturbações produzem-se construções compensatórias
Fases do desenvolvimento que buscam novo equilíbrio, melhor do que o anterior. Nas
da criança e do jovem sucessivas desequilibrações e reequilibrações o conhecimento
associando-as ao processo de exógeno é complementado pelas construções endógenas, que
são incorporadas ao sistema cognitivo do sujeito. Nesse
ensino e de aprendizagem em processo, que Piaget denomina processo de equilibração, se
cada uma dessas etapas; constroem as estruturas cognitivas que o sujeito emprega na
compreensão dos objetos, fatos e acontecimentos, levando ao
progresso na construção do conhecimento.
Desenvolvimento Infantil
Os Estágios no Desenvolvimento Cognitivo
Teoria de Jean Piaget (1896-1980)84 A capacidade de organizar e estruturar a experiência
vivida vem da própria atividade das estruturas mentais que
Apresentar a teoria de Piaget num texto introdutório é funcionam seriando, ordenando, classificando, estabelecendo
tarefa especialmente difícil. A complexidade desta abordagem relações. Há um isomorfismo entre a forma pela qual a criança
teórica, diretamente relacionada à riqueza da produção organiza a sua experiência e a lógica de classes e relações. Os
piagetiana e à natureza do temário abordado pelas pesquisas diferentes níveis de expressão dessa lógica são o resultado do
e reflexões desse autor, apontam a necessidade de explicar ao funcionamento das estruturas mentais em diferentes
leitor alguns aspectos mais gerais de suas ideias, remetendo-o momentos de sua construção. Tal funcionamento, explicitado
posteriormente aos textos originais. Ao lado de Freud, o na atividade das estruturas dinâmicas, produz, no nível
trabalho de Piaget representa hoje o que de mais importante estrutural, o que Piaget denomina os estágios de
se produziu no século XX no campo da Psicologia do desenvolvimento cognitivo. Os estágios expressam as etapas
desenvolvimento infantil, embora, a rigor, Piaget não possa ser pelas quais se dá a construção do mundo pela criança.
qualificado como psicólogo do desenvolvimento. Para que se possa falar em estádio nos termos propostos
Um primeiro aspecto geral que merece ser explicitado por Piaget, é necessário, em primeiro lugar, que a ordem das
refere-se à concepção de conhecimento proposta por Piaget. aquisições seja constante. Trata-se de uma ordem sucessiva e
Um dos pontos fundamentais desta concepção diz respeito ao não apenas cronológica, que depende da experiência do sujeito
sentido atribuído por Piaget à palavra “conhecer”: organizar, e não apenas de sua maturação ou do meio social. Além desse
estruturar e explicar o mundo em que vivemos — incluindo o critério, Piaget propõe outras exigências básicas para
meio físico, as ideias, os valores, as relações humanas, a cultura caracterizar estágios no desenvolvimento cognitivo:
de um modo mais amplo — a partir do vivenciado. Se, para
Piaget, o conhecimento se produz a partir da ação do sujeito 1º) todo estágio tem de ser integrador, ou seja, as
sobre o meio em que vive, só se constitui com a estruturação estruturas elaboradas em determinada etapa devem tornar-se
da experiência que lhe permite atribuir significação. A parte integrante das estruturas das etapas seguintes;
significação é o resultado da possibilidade de assimilação. 2º) um estágio corresponde a uma estrutura de conjunto
Conhecer significa, pois, inserir o objeto num sistema de que se caracteriza por suas leis de totalidade e não pela
relações, a partir de ações executadas sobre esse objeto. justaposição de propriedades estranhas umas às outras;
Para Piaget o conhecimento é fruto das trocas entre o 3º) um estágio compreende, ao mesmo tempo, um nível de
organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela preparação e um nível de acabamento;
construção da própria capacidade de conhecer. Produzem 4º) é preciso distinguir, em uma sequência de estágios, o
estruturas mentais que, sendo orgânicas não estão, entretanto, processo de formação ou gênese e as formas de equilíbrio final.
programadas no genoma, mas aparecem como resultado das
solicitações do meio ao organismo. Com estes critérios Piaget distinguiu quatro grandes
A alteração organismo-meio ocorre através do que Piaget períodos no desenvolvimento das estruturas cognitivas,
chama processo de adaptação, com seus dois aspectos intimamente relacionados ao desenvolvimento da afetividade
complementares: a assimilação e a acomodação. O conceito de e da socialização da criança: estágio da inteligência sensório-
adaptação surge, inicialmente, na obra de Piaget com o sentido motora (até, aproximadamente, os 2 anos); estágio da
que lhe é dado na Biologia clássica, lembrando um fluxo inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estágio
irreversível, vai se explicitando em momentos posteriores de da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e
sua obra, quando adquire o sentido de equilíbrio progressivo, estágio da inteligência formal (a partir, aproximadamente, dos
finalmente, adquire o sentido de um processo dialético através 12 anos).
do qual o indivíduo desenvolve as suas funções mentais, ao
qual denomina “abstração reflexiva”. Esta adaptação do ser O desenvolvimento por estágios sucessivos realiza em
humano ao meio ambiente se realiza através da ação, elemento cada um deles um “patamar de equilíbrio” constituindo-se em
central da teoria piagetiana, indicando o centro do processo “degraus” em direção ao equilíbrio final: assim que o equilíbrio
que transforma a relação com o objeto em conhecimento. é atingido num ponto a estrutura é integrada em novo
Ao tentar se adaptar ao meio ambiente o indivíduo utiliza equilíbrio em formação. Os diversos estágios ou etapas
dois processos fundamentais que compõem o sistema surgem, portanto, como consequência das sucessivas
cognitivo a nível de seu funcionamento: a assimilação ou a equilibrações de um processo que se desenvolve no decorrer
incorporação de um elemento exterior (objeto, acontecimento do desenvolvimento. Seguem o itinerário equivalente a um
etc), num esquema sensório-motor do sujeito e a acomodação, “creodo” (sequência necessária de desenvolvimento) e
quer dizer, a necessidade em que a assimilação se encontra de supõem uma duração adequada para a construção das

84 Cavicchia,
D.C. (2011). O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida.
In Universidade Estadual Paulista (Eds.). Cadernos de formação de professores de
educação infantil: Princípios e fundamentos (Vol.6, pp. 13-27)

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competências cognitivas que os caracterizam, sendo que cada significado, tornando possível a elaboração do pensamento
estádio resulta necessariamente do anterior e prepara a representativo.
integração do seguinte. A inteligência tem acesso, então, ao nível da representação,
O “creodo” é, então, o caminho a ser percorrido na pela interiorização da imitação (que, por sua vez, é favorecida
construção da inteligência humana, que vai do período pela instalação da função simbólica). A criança tem acesso,
sensório-motor (0-2 anos) aos períodos simbólico ou pré- dessa forma, à linguagem e ao pensamento. Ela pode elaborar,
operatório (2-7 anos), lógico-concreto (7-12 anos) e formal igualmente, imagens que lhe permitem, de certa forma,
(12 anos em diante). É preciso esclarecer que os estádios transportar o mundo para a sua cabeça.
indicam as possibilidades do ser humano (sujeito epistêmico), Entre 2 e 5 anos, aproximadamente, a criança adquire a
não dizendo respeito aos indivíduos (sujeitos psicológicos) em linguagem e forma, de alguma maneira, um sistema de
si mesmos. A concretização ou realização dessas imagens. Entretanto, a palavra não tem ainda, para ela, o valor
possibilidades dependerá do meio no qual a criança se de um conceito; ela evoca uma realidade particular ou seu
desenvolve, uma vez que a capacidade de conhecer é resultado correspondente imagístico. Tendo que reconstruir o mundo no
das trocas do organismo com o meio. Da mesma forma, essa plano representativo, ela o reconstrói a partir de si mesma. O
capacidade de conhecer depende, também, da organização egocentrismo intelectual está no auge dessa etapa. A
afetiva, uma vez que a afetividade e a cognição estão sempre dominação do pensamento por imagens encerra a criança em
presentes em toda a adaptação humana. si mesma.
O pensamento imagístico egocêntrico, característico desta
O estágio da inteligência sensório-motor (0 a 2 anos) fase, pode ser observado no jogo simbólico, no qual a criança
transforma o real ao sabor das necessidades e dos desejos do
O período sensório-motor é de fundamental importância momento. O real é transformado pelo pensamento simbólico,
para o desenvolvimento cognitivo. Suas realizações formam a na medida em que o jogo se desenvolve, ao sabor das
base de todos os processos cognitivos do indivíduo. Os exigências do desejo expresso pelo jogo. É por isso que Piaget
esquemas sensório-motores são as primeiras formas de considera o jogo simbólico como o egocentrismo no estado
pensamento e expressão, são padrões de comportamento que puro.
podem ser aplicados a diferentes objetos em diferentes Um pensamento assim dominado pelo simbolismo
contextos. A evolução cognitiva da criança nesse período pode essencialmente particular, pessoal e, por isso, incomunicável,
ser descrita em seis sub estágios nos quais estabelecem-se as não é um pensamento socializado. Ele não repousa em
bases para a construção das principais categorias do conceitos, mas no que Piaget chama pré-conceitos, que são
conhecimento que possibilitam ao ser humano organizar a sua particulares, no sentido em que evocam realidades
experiência na construção do mundo: objeto, espaço, particulares, tendo seu correlato imagístico ou simbólico
causalidade e tempo. próprio à experiência, de cada criança.
Entre os 5 e 7 anos, período geralmente chamado de
O estágio pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7 anos) “intuitivo”, ocorre uma evolução que leva a criança, pouco a
pouco, à maior generalidade. Seu pensamento agora repousa
O período pré-operatório realiza a transição entre a sobre configurações representativas de conjunto mais amplas,
inteligência propriamente sensório-motora e a inteligência mas ainda está dominado por elas. A intuição é uma espécie de
representativa. Essa passagem não ocorre através de mutação ação realizada em pensamento e vista mental mente:
brusca, mas de transformações lentas e sucessivas. Ao atingir transvasar, encaixar, seriar, deslocar etc. ainda são esquemas
o pensamento representativo a criança precisa reconstruir o de ação aos quais a representação assimila o real. Mas a,
objeto, o tempo, o espaço, as categorias lógicas de classes e intuição é, também, por outro lado, um pensamento imagístico,
relações nesse novo plano da representação. Tal reconstrução versando sobre configurações de conjunto e não mais sobre
estende-se dos dois aos doze anos, abrangendo os estádios simples coleções sincréticas, como no período anterior.
pré-operatório e operatório concreto. O pensamento da criança entre dois e sete anos é
A primeira etapa dessa reconstrução, que Piaget denomina dominado pela representação imagística de caráter simbólico.
período pré-operatório, é dominada pela representação A criança trata as imagens como verdadeiros substitutos do
simbólica. A criança não pensa, no sentido estrito desse termo, objeto e pensa efetuando relações entre imagens. A criança é
mas ela vê mentalmente o que evoca. O mundo para ela não se capaz de, em vez de agir em atos sobre os objetos, agir
organiza em categorias lógicas gerais, mas distribui-se em mentalmente sobre seu substituto ou imagem, que ela no meia.
elementos particulares, individuais, em relação com sua Proveniente da interiorização da imitação, a representação
experiência pessoal. O egocentrismo intelectual é a principal simbólica possui o caráter estático da imitação, motivo pelo
forma assumida pelo pensamento da criança neste estádio. Seu qual versa, essencialmente, sobre as configurações, por
raciocínio procede por analogias, por transdução, uma vez que oposição às transformações. Com a instalação das estruturas
lhe falta a generalidade de um verdadeiro raciocínio lógico. operatórias do período seguinte, a imagem vai ser
O advento da capacidade de representação vai possibilitar subordinada às operações. Na passagem da ação sensório-
o desenvolvimento da função simbólica, principal aquisição motora para a representação, pela imitação, é possível
deste período, que assume as suas diferentes formas — a aprender melhor as ligações entre as operações e a ação,
linguagem, a imitação diferida, a imagem mental, o desenho, o tornando mais compreensível a origem de certos distúrbios
jogo simbólico — compreendidos como diferentes meios de dos processos figurativos: espaço, tempo, esquema corporal
expressão daquela função. etc.
Para Piaget a passagem da inteligência sensório-motora
para a inteligência representativa se realiza pela imitação. O estágio operatório concreto (7 a 11-12 anos)
Imitar, no sentido estrito, significa reproduzir um modelo. Já
presente no estágio sensório-motor, a imitação só vai se Por volta dos sete anos a atividade cognitiva da criança
interiorizar no sexto sub estágio, quando a criança pode torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade lógica.
praticar o “faz-de-conta”, agir “como se”, por imitação deferida A reversibilidade aparece como uma propriedade das ações da
ou imitação interiorizada. Interiorizando-se a imitação, as criança, suscetíveis de se exercerem em pensamento ou
imagens elaboram-se e tornam-se substitutos dos objetos interiormente. O domínio da reversibilidade no plano da
dados à percepção. O significante é, então, dissociado do representação — a capacidade de se representar uma ação e a
ação inversa ou recíproca que a anula — ajuda na construção

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de novos invariantes cognitivos, desta vez de natureza uma vez o desenvolvimento, permitindo novas aprendizagens
representativa: conservação de comprimento, de distâncias, e, assim, sucessivamente. Nesse sentido, aprendizagem e
de quantidades discretas e contínuas, de quantidades físicas desenvolvimento constituem uma unidade, visto um ser
(peso, substância, volume etc.). O equilíbrio das trocas constitutivo do outro, ou seja, um não é sem o outro.
cognitivas entre a criança e a realidade, característico das Vygotsky afirma que a relação dos indivíduos com o
estruturas operatórias, é muito mais rico e variado, mais mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, em
estável, mais sólido e mais aberto quanto ao seu alcance do que que a linguagem ocupa um papel central, pois além de
o equilíbrio próprio às estruturas da inteligência sensório- possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela
motora. que o sujeito consegue abstrair e generalizar o pensamento.
Ou seja, "a linguagem simplifica e generaliza a experiência,
O estágio das operações formais (11 a 15-16 anos) ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as
ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos,
Tanto as operações como as estruturas que se constroem situações, sob uma mesma categoria conceituai cujo
até aproximadamente os onze anos, são de natureza concreta, significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem"
permanecem ligadas indissoluvelmente à ação da criança Oliveira85.
sobre os objetos. Entre os 11 e os 15-16 anos, O uso da linguagem como instrumento de pensamento
aproximadamente, as operações se desligam supõe um processo de internalização da linguagem, que ocorre
progressivamente do plano da manipulação concreta. Como de forma gradual, completando-se em fases mais avançadas da
resultado da experiência lógico matemática, o adolescente aquisição da linguagem. Para Vygotsky, primeiro a criança
consegue agrupar representações em estruturas equilibradas utiliza a fala socializada, para se comunicar. Só mais tarde é
(ocorrendo, portanto, uma nova mudança na natureza dos que ela passará a usá-la como instrumento de pensamento,
esquemas) e tem acesso a um raciocínio hipotético-dedutivo. com a função de adaptação social. Entre o discurso socializado
Agora, poderá chegar a conclusões a partir de hipóteses, sem e o discurso interior há a fala egocêntrica, que é utilizada como
ter necessidade de observação e manipulação reais. Esta apoio ao planejamento de sequências a serem seguidas,
possibilidade de operar com operações caracteriza o período auxiliando assim na solução de problemas.
das operações formais, com o aparecimento de novas Vygotsky observa que a criança apresenta em seu processo
estruturas intelectuais e, consequentemente, de novos de desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro
invariantes cognitivos. A mudança de estrutura, a potencial. O nível de desenvolvimento real refere-se a
possibilidade de encontrar formas novas e originais de etapas já alcançadas pela criança, isto é, a coisas que ela já
organizar os esquemas não termina nesse período, mas consegue fazer sozinha, sem a ajuda de outras pessoas. Já o
continua se processando em nível superior. As estruturas nível de desenvolvimento potencial diz respeito à
operatórias formais são o ponto de partida das estruturas capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outros. Há
lógico-matemáticas da lógica e da matemática, que prolongam, atividades que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas
em nível superior, a lógica natural do lógico e do matemático. poderá conseguir caso alguém lhe dê explicações,
demonstrando como fazer. Essa possibilidade de alteração no
Teoria de Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) desempenho de uma pessoa pela interferência da outra é
fundamental em Vygotsky. Para este autor, a zona de
Na abordagem da Psicologia Sócio Histórica, algumas desenvolvimento proximal consiste na distância entre o
categorias são centrais. Para efeitos da análise duas delas se nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento
destacam e, por essa razão, serão brevemente apresentadas. A potencial.
primeira delas é a de mediação, entendida como "uma Vygotsky expõe assim seu pensamento:
instância que relaciona objetos, processos ou situações entre
si ou, ainda, como um conceito que designa um elemento que [...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento;
viabiliza a realização de outro e que, embora distinto dele, mas uma correta organização da aprendizagem da criança
garante a sua efetivação, dando-lhe concretude". Adotar a conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de
categoria teórico metodológica da mediação implica não processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia
aceitar dicotomias e, sobretudo, tentar se aproximar das produzir-se sem a aprendizagem86.
determinações que, dialeticamente, constituem o sujeito. É por
meio da mediação que se explica e se compreende como o Vygotsky enfatiza a importância do brinquedo e da
homem, membro da espécie humana, só se torna humano nas brincadeira do faz-de-conta para o desenvolvimento infantil.
relações sociais que mantém com seus semelhantes e com sua Tal capacidade representa um passo importante para o
cultura. Nesse sentido, a escola, por meio de seus professores, desenvolvimento do pensamento, pois faz com que a criança
exerce uma mediação central na constituição dos sujeitos- se desvincule das situações concretas e imediatas sendo capaz
alunos, uma vez que é com seu auxílio que eles conquistam de abstrair. A imitação é uma situação muito utilizada pelas
novos saberes, apropriam-se de sua "humanidade" e crianças, porém não deve ser entendida como mera cópia de
constroem, paulatinamente, formas próprias de pensar, sentir um modelo, mas uma reconstrução individual daquilo que é
e agir. observado nos outros. Desta forma, é importante salientar que
Uma segunda categoria importante a ser aqui discutida é a crianças também aprendem com crianças, em situações
relação desenvolvimento-aprendizagem. Tendo Piaget como informais de aprendizado, por exemplo.
interlocutor, Vygotsky postula que o ensino, quando
adequadamente organizado, leva à aprendizagem, e essa Teoria de Henri Wallon (1879-1962)
última, por sua vez, impulsiona ciclos de desenvolvimento que
até então estavam em estado embrionário: novas funções Wallon propôs o estudo integrado do desenvolvimento
psicológicas superiores passam assim a existir. Esse novo infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da
desenvolvimento, mais adiantado, abre novas possibilidades motricidade e da inteligência. Para ele, o desenvolvimento da
de aprendizagem que, se vierem a ocorrer, impulsionarão mais inteligência depende das experiências oferecidas pelo meio e

85 OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo vygotskiana, walloniana e piagetiana: diferentes olhares para a sala de aula.
sócio histórico. São Paulo: Scipione, 1993 Psicologia da Educação, São Paulo, 34, 1º sem. de 2012, pp. 63-83.
86 DAVIS, Claudia Leme Ferreira; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; RIBEIRO,

Marilda Pierro de Oliveira; RACHMAN, Vivian Carla Bohm. Abordagens

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do grau de apropriação que o sujeito faz delas. Neste sentido, 03. (Prefeitura de Lauro Muller/SC - Professor de
os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a Pedagogia - Instituto Excelência/2017) Sobre os pensadores
linguagem, bem como os conhecimentos presentes na cultura da educação, assinale a alternativa CORRETA sobre a teoria de
contribuem efetivamente para formar o contexto de Vygotsky:
desenvolvimento. Wallon assinala que o desenvolvimento se (A) Sua teoria mostra que o indivíduo só recebe um
dá de forma descontínua, sendo marcado por rupturas e determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-
retrocessos. A cada estágio de desenvolvimento infantil há lo. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo
uma reformulação e não simplesmente uma adição ou tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e
reorganização dos estágios anteriores, ocorrendo também um transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade
tipo particular de interação entre o sujeito e o ambiente: inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação à medida
Estágio impulsivo-emocional (1°ano de vida): nesta fase que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência; é
predominam nas crianças as relações emocionais com o acomodação à medida que a estrutura se modifica em função
ambiente. Trata-se de uma fase de construção do sujeito, em do meio, de suas variações.
que a atividade cognitiva se acha indiferenciada da atividade (B) Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento
afetiva. Nesta fase vão sendo desenvolvidas as condições do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico,
sensório-motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão, ao enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse
longo do segundo ano de vida, intensificar a exploração desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-
sistemática do ambiente. social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela
Estágio sensório-motor (um a três anos, aproximadamente): interação do sujeito com o meio.
ocorre neste período uma intensa exploração do mundo físico, (C) O comportamento é construído numa interação entre o
em que predominam as relações cognitivas com o meio. A meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica é caracterizada
criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade de como interacionista.
simbolizar. No final do segundo ano, a fala e a conduta (D) Nenhuma das alternativas.
representativa (função simbólica) confirmam uma nova
relação com o real, que emancipará a inteligência do quadro 04. (Prefeitura de Niterói/RJ - Professor II − Língua
perceptivo mais imediato. Ou seja, ao falarmos a palavra Portuguesa - COSEAC/2016) Para Vygotsky, com relação à
"bola", a criança reconhecerá imediatamente do que se trata, aprendizagem da criança, a zona de desenvolvimento
sem que precisemos mostrar o objeto a ela. Dizemos então que proximal provê psicólogos e educadores de um instrumento
ela já adquiriu a capacidade de simbolizar, sem a necessidade por meio do qual se pode entender:
de visualizar o objeto ou a situação a qual estamos nos (A) O curso interno do desenvolvimento.
referindo. (B) Os processos incompletos de maturação.
Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente): nesta (C) O desenvolvimento mental retrospectivo.
fase ocorre a construção da consciência de si, através das (D) O emprego da fala analítica.
interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as (E) As estruturas lógicas inatas.
pessoas, predominando assim as relações afetivas. Há uma
mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento, 05. (Prefeitura de Foz do Iguaçu/PR - Agente de Apoio -
a indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade. FUNDATEC/2016) Segundo Vygotsky, a capacidade de
Estágio categorial (seis anos): a criança dirige seu interesse raciocínio e a inteligência da criança, suas ideias sobre o que a
para o conhecimento e a conquista do mundo exterior, em rodeia, suas interpretações, seu domínio das formas lógicas de
função do progresso intelectual que conseguiu conquistar até pensamento são considerados como:
então. Desta forma, ela imprime às suas relações com o meio (A) Aprendizagens intrínsecas de técnicas aprendidas
uma maior visibilidade do aspecto cognitivo. através dos pais.
(B) Processos dependentes e influenciados pela
Questões aprendizagem escolar.
(C) Aprendizagens projetadas da sociedade e consideradas
01. (Prefeitura de São Luís/MA - Conhecimentos Básicos verdades absolutas.
- CESPE/2017) Assinale a opção que apresenta o processo de (D) Processos autônomos que não são influenciados pela
resolução dos conflitos cognitivos que, para Jean Piaget, aprendizagem escolar.
representa a construção da aprendizagem: (E) Métodos de conhecimentos prévios influenciados pela
(A) reforço positivo aprendizagem escolar.
(B) assimilação, acomodação e equilibração
(C) estágios do desenvolvimento sensório-motor, pré- 06. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - Professor de
operatório, operatório concreto e formal Ensino Fundamental – Matemática - 2016) Leia o fragmento
(D) aprendizagem condicionada abaixo:
(E) zona de desenvolvimento proximal
Normalmente, quando nos referimos ao desenvolvimento
02. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional - de uma criança, o que buscamos compreender é até onde a
CESPE/2017) Teóricos como Piaget e Vygotsky evidenciaram criança já chegou, em termos de um percurso que, supomos,
que a criança se desenvolve na interação com o meio histórico- será percorrido por ela. Assim, observamos seu desempenho
cultural em que vive. Considerando essa informação e tendo em diferentes tarefas e atividades, como por exemplo: ela já
em vista que a criança precisa do outro, da natureza e da inter- sabe andar? Já sabe amarrar sapatos? Já sabe construir uma
relação possível entre esses elementos, julgue o próximo item. torre com cubos de diversos tamanhos? Quando dizemos que
a criança já sabe realizar determinada tarefa, referimo-nos à
A criança exige cuidados e atendimento específicos; por sua capacidade de realizá-la sozinha. Por exemplo, se
isso, é necessária uma conduta que a mantenha sempre limpa observamos que a criança já sabe amarrar sapatos, está
e em contato com objetos de conhecimento escolarizados. Sua implícita a ideia de que ela sabe amarrar sapatos, sozinha, sem
exposição demasiada a elementos não estruturados ou à necessitar de ajuda de outras pessoas.
natureza — barro, areia, água, árvore, jardins — assim como a
liberdade em excesso podem não resultar em aprendizagem. OLIVEIRA, Martha Kolh de.
( ) Certo ( ) Errado

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Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um processo (B) Período sensório motor, período pré-operacional,
sócio histórico. período das operações concretas e período das operações
São Paulo: Scipione, 1991. Pág. 11 formais.
(C) Período sensório motor, período pós operacional,
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada período das operações abstratas e período das operações
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é: formais.
(A) zona de desenvolvimento real (D) Período sensório oral, período pré-operacional,
(B) a zona de desenvolvimento proximal período das operações concretas e período das operações
(C) a fase potencial do pensamento formal informais.
(D) a fase operatória do pensamento formal
10. (Prefeitura de Pinhais/PR – Pedagogo - FAFIPA) De
07. (Prefeitura de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala - acordo com Wallon, informe se é falso (F) ou verdadeiro (V) o
FEPESE/2016) Analise o texto abaixo: que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a sequência
correta.
Os estudos epistemológicos de________ demonstravam que ( ) O homem é um ser geneticamente social pois o meio
tanto as ações externas, quanto os processos de pensamento social sobrepõe-se ao meio físico e biológico e é responsável
implicam uma organização lógica. Ele buscava conjugar duas pelo nascimento do psiquismo na criança
variáveis - o lógico e o biológico – numa única teoria e, com ( ) Resulta em quatro temas centrais a sua teoria: emoção,
isso, apresentar uma solução ao problema do conhecimento movimento, inteligência, afetividade.
humano. ( ) Respeitar a criança significa poupá-la das intervenções
externas, visto que seu desenvolvimento se dá por fontes
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna exclusivamente endógenas.
do texto.
(A) Wallon (A) V – V – V.
(B) Vygotsky (B) V – V – F.
(C) Paulo Freire (C) F – V – V.
(D) Davidov (D) V – F – F.
(E) Piaget
Respostas
08. (IF/SP - Professor – Pedagogia) Leia as afirmativas a
seguir, extraídas do livro “Piaget, Vygostky e Wallon: teorias 01. B
psicogenéticas em discussão” (LA TAILLE, Y.; DANTAS, H.; A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa
OLIVEIRA, M. K.,1992). integra um novo dado perceptual, motor ou conceitual às
estruturas cognitivas prévias, ou seja, quando a criança tem
I. “A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na novas experiências tenta adaptar esses novos estímulos às
mediação entre sujeito e objeto de conhecimento, tem duas estruturas cognitivas que já possui. A acomodação acontece
funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou
generalizante. ” seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova
II. “Vê-se, portanto que não se trata de traçar uma fronteira informação em função das particularidades desse novo
entre o social e o não social, mas sim de, a partir de uma estímulo. Diante deste impasse, restam apenas duas saídas:
característica importante das relações possíveis entre pessoas criar um novo esquema ou modificar um esquema existente.
de nível operatório - que representa o grau mínimo de Ambas as ações resultam em uma mudança na estrutura
socialização do pensamento -, comparar graus anteriores de cognitiva. Ocorrida a acomodação, a criança pode tentar
socialização.” assimilar o estímulo novamente, e uma vez modificada a
III. “No antagonismo entre motor e mental, ao longo do estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente assimilado. A
processo de fortalecimento deste último, por ocasião da equilibração, de uma maneira geral, trata de um ponto de
aquisição crescente do domínio dos signos culturais, a equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e assim, é
motricidade em sua dimensão cinética tende a se reduzir, a se considerada como um mecanismo autorregulado, necessária
virtualizar em ato mental. ” para assegurar à criança uma interação eficiente dela com o
meio-ambiente.
Assinale a alternativa que apresenta, na ordem correta, os
teóricos a que cada uma das afirmativas faz referência. 02. Errado
(A) I - Vygotsky; II- Piaget; III- Wallon. A mediação, entendida como "uma instância que relaciona
(B) I - Piaget; II- Wallon; III- Vygotsky. objetos, processos ou situações entre si ou, ainda, como um
(C) I - Wallon; II- Vygotsky; III- Piaget. conceito que designa um elemento que viabiliza a realização
(D) I- Vygotsky; II- Wallon; III- Piaget. de outro e que, embora distinto dele, garante a sua efetivação,
(E) I - Piaget; II - Vygotsky; III- Wallon. dando-lhe concretude".
Para Piaget o conhecimento é fruto das trocas entre o
09. (IFC/SC - Pedagogia - Educação Infantil - IESES) organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela
Piaget mostrou a criança e o homem num processo ativo de construção da própria capacidade de conhecer.
contínua interação, procurando entender quais os
mecanismos mentais que o sujeito usa nas diferentes etapas da 03. B
vida para poder entender o mundo. Desse modo, ele coloca o Vygotsky afirma que a relação dos indivíduos com o
sujeito como elemento central da aprendizagem e do mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, em
desenvolvimento. Assim, a aprendizagem, segundo esse autor, que a linguagem ocupa um papel central, pois além de
ocorre conforme estágios do desenvolvimento que ele dividiu possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela
um quatro: que o sujeito consegue abstrair e generalizar o pensamento.
(A) Período sensório motor, período operacional, período Ou seja, "a linguagem simplifica e generaliza a experiência,
das operações abstratas e período das operações formais. ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as
ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos,

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situações, sob uma mesma categoria conceituai cujo A visão da pedagogia dos conteúdos desenvolve nos alunos
significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem". a capacidade de processar informações e transformar a
realidade em que vive. Assim, o professor precisa
04. A compreender seus alunos, o que eles dizem ou pensam e os
A zona de desenvolvimento proximal se refere a todo o alunos precisam fazer o mesmo em relação a ele. Essa
potencial em desenvolvimento pelo qual mediante a transferência de aprendizagem só se realiza no momento da
socialização, as pessoas podem chegar. operação mental, isto é, quando o aluno supera sua visão
parcial e confusa e adquire uma visão mais nítida e ampla.
05. E Ao fim do processo, o aluno já deve estar preparado para o
Para Vygotsky, a aprendizagem acontece pela interação mundo adulto de modo a praticar todo o aprendizado
social. adquirido com a ajuda do professor, como a democracia, a
liderança, a iniciativa e a responsabilidade, assim como ter
06. A formação ética no sentido de pensar valores, a saber,
Desenvolvimento Real - O que a criança sabe fazer sozinha. competências do pensar no âmbito da educação moral da
Desenvolvimento Potencial - O que a criança desenvolve tomada de decisões.
interagindo com o outro, não é capaz de fazer sozinha.
Zona de Desenvolvimento Proximal - Trata-se da 2. O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
intermediação desse processo, sendo a distância entre o
desenvolvimento real e o potencial. Para Fernández87, as reflexões sobre o estado atual do
07. E processo ensino e aprendizagem nos permite identificar um
O conhecimento é fruto das trocas entre o organismo e o movimento de ideias de diferentes correntes teóricas sobre a
meio. Essas trocas são responsáveis pela construção da profundidade do binômio ensino e aprendizagem.
própria capacidade de conhecer. Produzem estruturas Entre os fatores que estão provocando esse movimento
mentais que, sendo orgânicas não estão, entretanto, podemos apontar as contribuições da Psicologia atual em
programadas no genoma, mas aparecem como resultado das relação à aprendizagem, que nos leva a repensar nossa prática
solicitações do meio ao organismo. educativa, buscando uma conceptualização do processo
ensino e aprendizagem.
08. A As contribuições da teoria construtivista de Piaget, sobre a
I - Linguagem - (teoria de Vygotsky) construção do conhecimento e os mecanismos de influência
II- Nível Operatório - (teoria de Piaget) educativa têm chamado a atenção para os processos
III- Motricidade - (teoria de Wallon) individuais, que têm lugar em um contexto interpessoal e que
procuram analisar como os alunos aprendem, estabelecendo
09. B uma estreita relação com os processos de ensino em que estão
Estágios de desenvolvimento, segundo Piaget: conectados.
Sensório-motor (0 a 2 anos) Os mecanismos de influência educativa têm um lugar no
Pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7 anos) processo de ensino e aprendizagem, como um processo onde
Operatório concreto (7 a 11-12 anos) não se centra atenção em um dos aspectos que o
Operações formais (11 a 15-16 anos) compreendem, mas em todos os envolvidos.
Se analisarmos a situação atual da prática educativa em
10. D nossas escolas identificaremos problemas como:
O desenvolvimento da inteligência depende das A) A grande ênfase dada a memorização, pouca
experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação preocupação com o desenvolvimento de habilidades para
que o sujeito faz delas. Neste sentido, os aspectos físicos do reflexão crítica e auto crítica dos conhecimentos que aprende;
espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os B) As ações ainda são centradas nos professores que
conhecimentos presentes na cultura contribuem efetivamente determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação
para formar o contexto de desenvolvimento. A cada estágio de entre educação e instrução.
desenvolvimento infantil há uma reformulação e não
simplesmente uma adição ou reorganização dos estágios A solução para tais problemas está no aprofundamento de
anteriores, ocorrendo também um tipo particular de interação como os educandos aprendem e como o processo de ensinar
entre o sujeito e o ambiente. Para isso sua teoria resulta nos pode conduzir à aprendizagem, assim o processo de ensino e
seguintes temas centrais: emocional, sensório-motor, aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de
personalismo e categorial. formas diferentes, que vão desde a ênfase no papel do
professor como transmissor de conhecimento, até as
PROCESSOS PEDAGÓGICOS – ENSINO E concepções atuais que concebem o processo de ensino e
APRENDIZAGEM aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do
educando.
1. PRESSUPOSTOS PARA O PROCESSO DE ENSINO E Nesse último enfoque, considera-se a integração do
APRENDIZAGEM cognitivo e do afetivo, do instrutivo e do educativo como
requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais.
Através do seu próprio interesse, o aluno busca nos A concepção defendida aqui é que o processo de ensino e
conteúdos apresentados pelo professor, fazer relação com sua aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o
realidade, para assim tornar sua experiência mais rica. Dessa educativo que tem como propósito essencial contribuir para a
forma, o novo conhecimento se apoia numa construção formação integral da personalidade do aluno.
cognitiva que já existe, ou o professor auxilia na construção O instrutivo é um processo de formar homens capazes e
conhecimento no qual o discente ainda não dispõe. O nível de inteligentes. Entendendo por homem inteligente quando,
envolvimento na aprendizagem depende do interesse e diante de uma situação problema ele seja capaz de enfrentar e
disposição do aluno, além do empenho do professor no resolver os problemas, de buscar soluções para resolver as
contexto da sala de aula. situações. Ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só

87 Texto adaptado de FERNÁNDEZ. F. A., 1998.

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será possível se ele for formado mediante a utilização de G) Avaliação - elemento regulador, sua realização oferece
atividades lógicas. informação sobre a qualidade do processo de ensino
Já o educativo, se logra com a formação de valores, aprendizagem, sobre a efetividade dos outros componentes e
sentimentos que identificam o homem como ser social, das necessidades de ajuste, modificações que o sistema deve
compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e usufruir.
outros elementos da esfera volitiva e afetiva que junto com a
cognitiva permitem falar de um processo de ensino e A integração de todos os componentes forma o sistema,
aprendizagem que tem pôr fim a formação multilateral da neste caso o processo de ensino e aprendizagem. As reflexões
personalidade do homem. sobre o caráter sistêmico dos componentes do processo de
A eficácia do processo de ensino e aprendizagem está na ensino e aprendizagem e suas relações são importantes em
resposta em que este dá à apropriação do conhecimento, ao função do caráter bilateral da comunicação entre professor-
desenvolvimento intelectual e físico do estudante, à formação aluno; aluno-aluno, grupo-professor, professor-professor.
de sentimentos, qualidades e valores, que alcancem os
objetivos gerais e específicos propostos em cada nível de 3. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ORGACIONAL
ensino de diferentes instituições, conduzindo a uma posição
transformadora, que promova as ações coletivas, a A questão da aprendizagem tem sido amplamente
solidariedade e o viver em comunidade. discutida, ocupando um espaço considerável em discussões
Todo ato educativo obedece determinados fins e educacionais e profissionais da atualidade; porém não se trata
propósitos de desenvolvimento social e econômico e em de algo totalmente novo, nem mesmo em ambientes
consequência responde a determinados interesses sociais, organizacionais.
sustentam-se em uma filosofia da educação, adere a As empresas aprendem a operar a produção e vão
concepções epistemológicas específicas, leva em conta os melhorando os seus processos a partir de suas próprias
interesses institucionais e, depende, em grande parte, das experiências, alimentadas por informações advindas do
características, interesses e possibilidades dos sujeitos mercado e da concorrência. De acordo com Bell (1984)88, este
participantes, alunos, professores, comunidades escolares e tipo de aprendizado é passivo, automático e não implica
demais fatores do processo. A visão tradicional do processo custos adicionais, sendo porém limitado.
ensino e aprendizagem é que ele é um processo neutro, Há, entretanto, outras formas de aprendizagem, que
transparente, afastado da conjuntura de poder, história e exigem determinação e postura ativa, envolvendo
contexto social. O processo ensino e aprendizagem deve ser considerável esforço e investimento. São os processos de
compreendido como uma política cultural, isto é, como um aprendizagem por meio da mudança, da análise do
empreendimento pedagógico que considera com seriedade as desempenho, do treinamento, da contratação e da busca,
relações de raça, classe, gênero e poder na produção e detalhados a seguir:
legitimação do significado e experiência.
Tradicionalmente, este processo tem reproduzido as A) A introdução de novas tecnologias ou qualquer outro
relações capitalistas de produção e ideologias legitimadoras elemento que aponte a necessidade de mudança, estrutural ou
dominantes ao ignorarem importantes questões referentes às processual, impele as organizações à aprendizagem. As
relações entre conhecimento x poder e cultura x política. O experiências e conhecimentos, positivos ou negativos,
produto do processo ensino e aprendizagem é o adquiridos ao longo de processos de mudança são
conhecimento. Partindo desse princípio, concebe-se que o extremamente enriquecedores, conferindo à organização um
conhecimento é uma construção social, assim torna-se plus que todos os processos de aprendizagem oferecem.
necessário examinar a constelação de interesses econômicos, B) A análise do desempenho da organização em termos
políticos e sociais que as diferentes formas de conhecer podem produtivos também irá conduzir à aprendizagem, não só em
refletir. Para que o processo ensino e aprendizagem possa função da apreciação do comportamento de determinados
gerar possibilidades de emancipação é necessário que os índices que indicarão a necessidade de manutenção do
professores compreendam a razão de ser dos problemas que processo produtivo ou sua correção, mas também como
enfrentam e assuma um papel de sujeito na organização desse decorrência da necessidade de se buscarem índices de
processo. As influências sócio-político econômicas, exercem desempenho confiáveis e expressivos.
sua ação inclusive nos pequenos atos que ocorrem na sala de
aula, ainda que não sejam conscientes. Ao selecionar algum 4. O CONTEXTO ORGANIZACIONAL ATUAL E O
destes componentes para aprofundar deve-se levar em conta IMPERATIVO DE UMA NOVA DINÂMICA DE
a unidade, os vínculos e os nexos com os outros componentes. APRENDIZAGEM
O componente é uma propriedade ou atributo de um
sistema que o caracteriza; não é uma parte do sistema e sim De fato as tendências do mundo atual têm influenciado as
uma propriedade do mesmo, uma propriedade do processo organizações na busca da aprendizagem. A rápida
docente-educativo como um todo. Identificamos como disseminação de informações e a própria renovação do
componente do processo de ensino e aprendizagem: conhecimento, impulsionadas pelo avanço constante da
ciência e da tecnologia, têm forçado as pessoas a renovar e a
A) Aluno - devem responder a pergunta: "quem?" adquirir novos conhecimentos, sob pena de se tornarem
B) Problema – elemento que é determinado a partir da obsoletas.
necessidade do aprendiz. A necessidade de aquisição e renovação dos
C) Objetivo – deve responder a pergunta: "Para que conhecimentos é percebida de modo individual e também
ensinar?" organizacional. As pessoas estão dispostas a desenvolver e
D) Conteúdo - deve responder a pergunta: "O que aumentar seus estoques de conhecimento, porque percebem
aprender?" as potenciais ameaças do ambiente sobre a passividade
E) Métodos - deve responder a pergunta: "Como intelectual, abalando principalmente questões de segurança
desenvolver o processo?" profissional.
F) Recursos - deve responder a pergunta: "Com o quê?"

88ALPERSTEDT, Cristiane. Universidades corporativas: discussão e proposta de


uma definição. Rev. adm. Contemp. Curitiba, v. 5, n. 3, p. 149-165, Dec. 2001.

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As organizações precisam de capacidade criativa e de passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as
competências para se tornarem mais ágeis. Não só em termos demais abordagens que a ela se seguiram. Como se sabe, o
de capacidade de resposta às mudanças, mas também em adulto, na concepção tradicional, é considerado como homem
termos de capacidade para estar à frente delas. acabado, "pronto" e o aluno um "adulto em miniatura", que
Baseados na necessidade de transformar as organizações precisa ser atualizado. O ensino será centrado no professor. O
em organizações de aprendizagem, uma série de autores, aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por
recomendam diferentes práticas para a promoção do autoridades exteriores.
aprendizado organizacional, todas destacando o papel da
mudança e inovação organizacional. - Homem: O homem é considerado como inserido num
Esta competência para mudar e inovar implica a mundo que irá conhecer através de informações que lhe serão
necessidade de a organização possuir maior expertise. fornecidas. É um receptor passivo até que, repleto das
Segundo Drucker “as dinâmicas do conhecimento implicam informações necessárias, pode repeti-las a outros que ainda
num imperativo claro: cada organização precisa embutir o não as possuam, assim como pode ser eficiente em sua
gerenciamento das mudanças em sua própria estrutura”. É, profissão, quando de posse dessas informações e conteúdos.
portanto, responsabilidade de cada organização tornar esta
expertise disponível. Em outras palavras, além das pessoas - Mundo: A realidade é algo que será transmitido ao
estarem forçosamente motivadas a aprender, é papel das indivíduo principalmente pelo processo de educação formal,
organizações contribuir e operacionalizar o aprendizado. além de outras agências, tais como família, Igreja.

5. AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO - Sociedade/Cultura: O objetivo educacional


normalmente se encontra intimamente relacionado aos
O Conhecimento humano, dependendo dos diferentes valores apregoados pela sociedade na qual se realiza. Os
referencias, é explicado diversamente em sua gênese e Programas exprimem os níveis culturais a serem adquiridos
desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de na trajetória da educação formal. A reprovação do aluno passa
homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de a ser necessária quando o mínimo cultural para aquela faixa
um mesmo referencial, é possível haver abordagens diversas, não foi atingido, e as provas e exames são necessários a
tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do constatação de que este mínimo exigido para cada série foi
objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos. Diferentes adquirido pelo aluno. O diploma pode ser tomado como um
posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes instrumento de hierarquização. Dessa forma, o diploma iria
arranjos de situações ensino aprendizagem e diferentes ações desempenhar um papel mediador entre a formação cultural e
educativas em sala de aula, partindo-se do pressuposto de que o exercício de funções sociais determinadas. Pode-se afirmar
a ação educativa exercida por professores em situações que as tendências englobadas por esse tipo de abordagem
planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional. possuem uma visão individualista do processo educacional,
Subjacente a esta ação, estaria presente – implícita ou não possibilitando, na maioria das vezes, trabalhos de
explicitamente, de forma articulada ou não – um referencial cooperação nos quais o futuro cidadão possa experimentar a
teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo, convergência de esforços.
sociedade, cultura, conhecimento, etc.
O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas, - Conhecimento: Parte-se do pressuposto de que a
tendências ou abordagens, no ensino brasileiro podem inteligência seja uma faculdade capaz de acumular/armazenar
fornecer diretrizes à ação docente, mesmo considerando que a informações. Aos alunos são apresentados somente os
elaboração que cada professor faz delas é individual e resultados desse processo, para que sejam armazenados.
intransferível. De acordo com Mizukami (1986)89, algumas Evidencia-se o caráter cumulativo do conhecimento humano,
abordagens apresentam claro referencial filosófico e adquirido pelo indivíduo por meio de transmissão, de onde se
psicológico, ao passo que outras são intuitivas ou supõe o papel importante da educação formal e da instituição
fundamentadas na prática, ou na imitação de modelos. A escola. Atribui-se ao sujeito um papel insignificante na
complexidade da realidade educacional deve ser considerada elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que
para não ser tratada de forma simplista e reducionista. está "adquirindo" conhecimento compete memorizar
Nesse estudo, deve-se ter em mente seu caráter parcial e definições, anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são
arbitrário, assim como as limitações e problemas decorrentes oferecidos no processo de educação formal.
da delimitação e caracterização (necessárias) de cada
abordagem. A professora assim, não incluiu em seus estudos a - Educação: Entendida como instrução, caracterizada
abordagem escola novista, introduzida no Brasil através do como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (Anísio Teixeira, escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar,
Gustavo Capanema e outros), a partir da década de 1930. Ela e em condições favoráveis, há uma confrontação com o
justifica sua opção por considerar que essa abordagem pode modelo, é indispensável uma intervenção do professor, uma
ser tomada como didaticista, por suas atribuições aos aspectos orientação do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias
didáticos, e por possuir diretrizes incluídas em outras selecionadas e organizadas logicamente.
abordagens. Argumenta ainda que, as demais abordagens,
apresentadas por ela, apresentam justificativas teóricas ou - Escola: A escola, é o lugar por excelência onde se realiza
evidências empíricas. Mas reconhece que trata-se de uma a educação, a qual se restringe, a um processo de transmissão
abordagem com possível influência na formação de de informações em sala de aula e funciona como uma agência
professores no Brasil. sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato de
aprender como uma cerimônia e acha necessário que o
A) Abordagem Tradicional professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola desse
tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e
Trata-se de uma concepção e uma prática educacionais que programas preestabelecidos. As possibilidades de cooperação
persistem no tempo, em suas diferentes formas, e que entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte

89MIZUKAMI, Maria da Graça. Ensino as abordagens do processo. São Paulo: EPU,


1986.

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das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos
de cada um deles. ambientais. O meio seleciona.

- Ensino/Aprendizagem: A ênfase é dada às situações de - Sociedade/Cultura: A sociedade ideal, para Skinner, é


sala de aula, onde os alunos são "instruídos" e "ensinados" pelo aquela que implicarias um planejamento social e cultural.
professor. Os conteúdos e as informações têm de ser Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado de
adquiridos, os modelos imitados. Seus elementos acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultura, é
fundamentais são imagens estáticas que progressivamente representada pelos usos e costumes dominantes, pelos
serão "impressas" nos alunos, cópias de modelos do exterior comportamentos que se mantém através dos tempos.
que serão gravadas nas mentes individuais. Uma das
decorrências do ensino tradicional, já que a aprendizagem - Conhecimento: O conhecimento é o resultado direto da
consiste em aquisição de informações e demonstrações experiência, o comportamento é estruturado indutivamente,
transmitidas, é a que propicia a formação de reações via experiência.
estereotipadas, de automatismos denominados hábitos,
geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase - Educação: A educação está intimamente ligada à
sempre, somente às situações idênticas em que foram transmissão cultural. A educação, pois, deverá transmitir
adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu" conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas
apresenta, com frequência, compreensão apenas parcial. sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação
Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se e controle do mundo /ambiente.
preocupa mais com a variedade e quantidade de
noções/conceitos/informações que com a formação do - Escola: A escola é considerada e aceita como uma agência
pensamento reflexivo. educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de
acordo com os comportamentos que pretende instalar e
- Professor/Aluno: O professor/aluno é vertical, sendo manter.
que (o professor) detém o poder decisório quanto a
metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula - Ensino/Aprendizagem: É uma mudança relativamente
etc. O professor detém os meios coletivos de expressão. A permanente em uma tendência comportamental e ou na vida
maior parte dos exercícios de controle e dos de exames se mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada.
orienta para a reiteração dos dados e informações
anteriormente fornecidos pelos manuais. - Professor/Aluno: Aso educandos caberia o controle do
processo de aprendizagem, um controle científico da
- Metodologia: Se baseia na aula expositiva e nas educação, o professor teria a responsabilidade de planejar e
demonstrações do professor a classe, tomada quase como desenvolver o sistema de ensino aprendizagem, de forma tal
auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se que o desempenho do aluno seja maximizado, considerando-
limita exclusivamente a escutá-lo a didática profissional quase se igualmente fatores tais como economia de tempo, esforços
que poderia ser resumida em dar a lição e tomar a lição. No e custos.
método expositivo como atividade normal, está implícito o
relacionamento professor - aluno, o professor é o agente e o - Metodologia: Nessa abordagem, se incluem tanto a
aluno é o ouvinte. O trabalho continua mesmo sem a aplicação da tecnologia educacional e estratégias de ensino,
compreensão do aluno somente uma verificação a posteriori é quanto formas de reforço no relacionamento professor-aluno.
que permitirá o professor tomar consciência deste fato.
Quanto ao atendimento individual há dificuldades pois a classe - Avaliação: Decorrente do pressuposto de que o aluno
fica isolada e a tendência é de se tratar todos igualmente. progride em seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem
cometer erros, a avaliação consiste, nesta abordagem, em se
- Avaliação: A avaliação visa a exatidão da reprodução do constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos
conteúdo comunicado em sala de aula. As notas obtidas quando o programa foi conduzido até o final de forma
funcionam na sociedade como níveis de aquisição do adequada.
patrimônio cultural.
C) Abordagem Humanista
B) Abordagem Copormentalista
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujeito como
O conhecimento é uma "descoberta" e é nova para o principal elaborador do conhecimento humano. Da ênfase ao
indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se crescimento que dela se resulta, centrado no desenvolvimento
encontrava presente na realidade exterior. Os da personalidade do indivíduo na sua capacidade de atuar
comportamentalistas consideram a experiência ou a como uma pessoa integrada. O professor em si não transmite
experimentação planejada como a base do conhecimento, o o conteúdo, dá assistência sendo facilitador da aprendizagem.
conhecimento é o resultado direto da experiência. O conteúdo advém das próprias experiências do aluno o
professor não ensina: apenas cria condições para que os
- Homem: O homem é uma consequência das influências alunos aprendam.
ou forças existentes no meio ambiente a hipótese de que o
homem não é livre é absolutamente necessária para se poder - Homem: É considerado como uma pessoa situada no
aplicar um método científico no campo das ciências. O homem mundo. Não existem modelos prontos nem regras a seguir mas
dentro desse referencial é considerado como o produto de um um processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a auto
processo evolutivo. realização ou uso pleno de suas potencialidades e capacidades
o homem se apresenta como um projeto permanente e mau
- Mundo: A realidade para Skinner, é um fenômeno acabado.
objetivo; O mundo já é construído e o homem é produto do
meio. O meio pode ser manipulado. O comportamento, por sua - Mundo: O mundo é algo produzido pelo homem diante de
vez, pode ser mudado modificando-se as condições das quais si mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias
condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste

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no pleno desenvolvimento do seu potencial inerente. A ênfase D) Abordagem Cognitivista


é no sujeito mais uma das condições necessárias para o
desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência A organização do conhecimento, processamento de
pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decorrer informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída ao comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
sujeito papel central e primordial na elaboração e criação do
conhecimento. O conhecimento é inerente à atividade humana. - Homem/Mundo: O homem e mundo serão analisados
O ser humano tem curiosidade natural para o conhecimento. conjuntamente, já que o conhecimento é o produto da
interação entre eles, entre sujeito e objeto.
- Educação: Trata-se da educação centrada na pessoa, já
que nessa abordagem o ensino será centrado no aluno. A - Sociedade/Cultura: Os fatos sociológicos, pois, tais
educação tem como finalidade primeira a criação de condições como regras, valores, normas, símbolos etc. De acordo com
que facilitam a aprendizagem de forma que seja possível seu este posicionamento, variam de grupo para grupo, de acordo
desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a como o nível mental médio das pessoas que constituem o
criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se grupo.
pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeterminação
que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão - Conhecimento: O conhecimento é considerado como
de solução para seus problemas servindo-se da própria uma construção contínua. A passagem de um estado de
existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser desenvolvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são formação de novas estruturas que não existiam anteriormente
características desse processo. no indivíduo.

- Escola: A escola será uma escola que respeite a criança - Educação: O processo educacional, consoante a teoria de
tal qual é, que ofereça condições para que ela possa desenvolvimento e conhecimento, tem um papel importante,
desenvolver-se em seu processo possibilitando a autonomia ao provocar situações que sejam desequilibradoras para o
do aluno. O princípio básico consiste na ideia da não aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível de
interferência com o crescimento da criança e de nenhuma desenvolvimento em que a criança vive intensamente
pressão sobre ela. O ensino numa abordagem como esta (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu
consiste num produto de personalidades únicas, respondendo desenvolvimento.
as circunstâncias únicas num tipo especial de
relacionamentos. A aprendizagem tem a qualidade de um - Escola: Segundo Piaget, a escola deveria começar
envolvimento pessoal. ensinando a criança a observar. A verdadeira causa dos
fracassos da educação formal, diz, decorre essencialmente do
- Professor/Aluno: Cada professor desenvolverá seu fato de se principiar pela linguagem (acompanhada de
próprio repertório de uma forma única, decorrente da base desenhos, de ações fictícias ou narradas etc.) ao invés de o
percentual de seu comportamento. O processo de ensino irá fazer pela ação real e material.
depender do caráter individual do professor, como ele se
relaciona com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de - Ensino/Aprendizagem: Um ensino que procura
facilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em contato desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do
com problemas vitais que tenham repercussão na existência sujeito, considerando-o inserido numa situação social.
do estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno
tal como é e compreender os sentimentos que ele possui. O - Professor/Aluno: Ambos os polos da relação devem ser
aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a compreendidos de forma diferente da convencional, no
aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do sentido de um transmissor e um receptor de informação.
professor podem ser sintetizadas em autenticidade Caberá ao professor criar situações, propiciando condições
compreensão empática, aceitação e confiança no aluno. onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e
cooperação ao mesmo tempo moral e racional.
- Metodologia: Não se enfatiza técnica ou método para
facilitar a aprendizagem. Cada educador eficiente deve - Metodologia: O desenvolvimento humano que traz
elaborar a sua forma de facilitar a aprendizagem no que se implicações para o ensino. Uma das implicações fundamentais
refere ao que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a é a de que a inteligência se constrói a partir da troca do
relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento organismo como o meio, por meio das ações do indivíduo. A
das pessoas que possibilite liberdade para aprender. ação do indivíduo, pois, é centro do processo e o fator social ou
educativo constitui uma condição de desenvolvimento.
- Avaliação: Só o indivíduo pode conhecer realmente sua
experiência, só pode ser julgada a partir de critérios internos - Avaliação: A avaliação terá de ser realizada a partir de
do organismo. O aluno deverá assumir formas de controle de parâmetros extraídos da própria teoria e implicará verificar se
sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações,
onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo
responsabilidade. As relações verticais impostas por relações como a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida.
EU - TU e nunca EU - ISTO; As avaliações de acordo com
padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos. E) Abordagem Sócio Cultural
Considerando-se pois o fato de que só o indivíduo pode
conhecer realmente a sua experiência, está só pode ser julgada Pode-se situar Paulo Freire com sua obra, enfatizando
a partir de critérios internos do organismo. aspectos sócio-político-cultural, havendo uma grande
preocupação com a cultura popular, sendo que tal
preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um aumento
crescente até nossos dias.

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- Homem/Mundo: O homem está inserido no contexto fenômeno educacional. A experiência pessoal refletiria um
histórico. O homem é sujeito da educação, onde a ação comportamento coerente por parte do educador, pondo fim
educativa promove o próprio indivíduo, como sendo único assim ao permanente processo de discussão entre teoria e
dentro de uma sociedade/ambiente. prática. Uma possível solução seria repensar os cursos de
formação de professores, voltando as atenções principalmente
- Sociedade/Cultura: O homem alienado não se relaciona para as disciplinas pedagógicas que analisam as abordagens
com a realidade objetivo, como um verdadeiro sujeito do processo ensino aprendizagem, procurando articulá-los à
pensante: o pensamento é dissociado da ação. prática pedagógica. Também é discutida uma forma de
aproximar cada vez mais as opções teóricas existentes
- Conhecimento: A elaboração e o desenvolvimento do analisando e discutindo as vivências na prática e à partir da
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização. prática, se pudesse discutir e criticar as opções teóricas
confrontando com a mesma prática. É tentar criar teorias
- Educação: Toda ação educativa, para que seja válida, através da prática, analisando o cotidiano e questionando,
deve, necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão evitando-se assim a utilização de Receituários pedagógicos,
sobre o homem como de uma análise do meio de vida desse que é o que a autora chama de seguir cegamente a teoria
homem concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. ignorando a prática.
Um curso de professores deveria possibilitar confronto
- Escola: Deve ser um local onde seja possível o entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste e
conscientização o que indica uma escola diferente de que se convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro
tem atualmente, coma seus currículos e prioridades. professor a análise do próprio fazer pedagógico, de suas
implicações, pressupostos e determinantes, no sentido de que
- Ensino/Aprendizagem: Situação de ensino- ele se conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
aprendizagem deverá procurar a superação da relação interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente.
opressor-oprimido. A estrutura de pensar do oprimido está Alguns dados revelam que são preferidas pelos
condicionada pela contradição vivida na situação concreta, professores as abordagens cognitivista e sociocultural
existencial em que o oprimido se forma. Resultando deixando as abordagens tradicional e comportamentalista em
consequências tais como: segundo plano. E também que a abordagem que mais faz
A) Ser ideal é ser mais homem. sucesso neste momento histórico é a cognitivista. Na
B) Atitude fatalista abordagem cognitivista piagetiana e a preferida pelos
C) Atitude de auto desvalia professores, desde que o aluno se encontre em um ambiente
D) O medo da liberdade ou a submissão do oprimido. que o solicite devidamente, e que tenha sido constatada a
ausência de distúrbios biológicos ligados
- Professor/Aluno: A relação entre o professor e o aluno preponderantemente à atividade cerebral, ele terá condições
é horizontal. Professor empenhado na prática transformadora de chegar ao estágio das operações formais. Não se justificam
procurará desmitificar e questionar, junto com o aluno. nem se legitimam, por esta abordagem, desigualdades
- Metodologia: Os alunos recebem informações e analisam baseadas nas potencialidades de cada um, tal como poderia
os aspectos de sua própria experiência existencial, utilizando decorrer dos princípios escola novistas. Estaria neste detalhe,
situações vivenciais de grupo, em forma de debate Paulo Freire talvez de grande importância, já que o determinismo biológico
delineou seu método de alfabetização. age mais em função de determinar desenvolvimento, do que
Características: de determinar máximos de desenvolvimento para cada sujeito,
A) Ser ativa a ideia que despertaria maior interesse para um trabalho
B) Criar um conteúdo pragmático próprio realizado por um profissional com as idiossincrasias de um
C) Enfatiza o diálogo crítico educador.
De forma genérica tanto o cognitivismo, humanismo e
6. AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO, comportamentalismo apresentam aspectos escola novistas
APRENDIZAGEM E O PROFESSOR que os colocam contra a escola tradicional. Um outro elemento
a ser considerado é a ligação entre o desenvolvimento
Segundo Mizukami, a partir de análises feitas sobre as intelectual e os ideais apregoados pelo ensino tradicional
diferentes abordagens do processo ensino aprendizagem elaborado através dos séculos. Concluindo, de todas as
pôde-se constatar que certas linhas teóricas são mais abordagens analisadas obteve-se quase plenamente
explicativas sobre alguns aspectos em relação a outros, preferência dos professores pela abordagem cognitivista por
percebendo-se assim a possibilidade de articulação das que esta abordagem se baseia numa teoria de
diversas propostas de explicação do fenômeno educacional. desenvolvimento em grande parte válida, e também a
Ela procura fazer uma sistematização válida de conceitos do abordagem sociocultural que complementa o
fenômeno estudado. Mesmo com teorias incompletas por desenvolvimento humano e genético com aspectos
estarem ainda em fase de elaboração ou reelaboração, faltando socioculturais e personalistas. Sendo que a abordagem
validação empírica ou confronto com o real. Lembrando ainda sociocultural está impregnada de aspectos humanistas
as teorias não são as únicas fontes de resposta possíveis e característicos das primeiras obras de Paulo Freire. O ideário
incorrigíveis, pois (...) elas são elaboradas para explicar, de pedagógico de alguns professores não segue nenhuma das
forma sistemática, determinados fenômenos, e os dados do abordagens, e são classificados como tendência indefinida
real é que irão fornecer o critério para a sua aceitação ou não, dentre as demais abordagens.
instalando-se, assim, um processo de discussão permanente
entre teoria e prática. 7. A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL
Mizukami ainda critica a formação de professores
colocando que o aprendido pelos professores nada tinha a ver A educação para além do capital é um texto publicado a
com a prática pedagógica e seu posicionamento frente ao partir da conferência pronunciada por István Mészáros90, por

90MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boi Tempo
Editorial, 2006 (Mundo do Trabalho).

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ocasião da abertura do Fórum Mundial de Educação, realizado autor reconhece que a educação institucionalizada serviu, nos
em Junho de 2004, em Porto Alegre. últimos 150 anos para fornecer condições técnicas e humanas
O texto, partindo de três epígrafes atribuídas pelo autor a à expansão do capital, ao mesmo tempo em que contribuiu
Paracelso, pensador do Século XVI, a José Martí, político, poeta para instalar valores que legitimam os interesses dominantes
e pensador cubano, e a Marx, em Teses sobre Feuerbach, traz e que negam alternativas possíveis a esse modelo.
a análise com vistas à urgente necessidade de se instituir uma Distanciando-se de uma posição reprodutivista, Assim advoga
mudança que nos leve para além do capital, “no sentido que não basta simplesmente reformar o sistema escolar formal
genuíno e educacionalmente viável do termo”. estabelecido, porque isso traduziria apenas uma mudança
O exame discute as relações íntimas entre processos institucional isolada. “O que precisa ser confrontado é todo o
educacionais e processos sociais amplos de reprodução do sistema de internalização, com todas as suas dimensões,
capital em quatro aspectos básicos: Primeiro, no embate visíveis e ocultas”. A internalização, entendida como o esforço
entre os parâmetros estruturais do capital – que se colocam do capital em fazer com que cada indivíduo incorpore como
com uma lógica irreversível e incontestável – e a necessidade suas as metas de reprodução do sistema, legitimando sua
de romper com essa lógica para a criação de uma alternativa posição na hierarquia social e conformando suas expectativas
educacional diferente, mediante a natureza irreformável do e sua conduta ao estipulado pela ordem estabelecida, insere-
capital como totalidade reguladora sistêmica; Segundo, na se como instrumento que conforma a totalidade das práticas
clareza de que as possíveis soluções não podem ser formais, sociais, entre elas, a educação, ao interesse do capital.
apenas como alterações superficiais, mas devem atingir o Romper com a lógica do capital na área de educação
patamar de mudança essencial, abarcando a totalidade das equivale, portanto, a substituir as formas onipresentes e
práticas educacionais da sociedade e seus processos de profundamente enraizadas de internalização mistificadora
internalização dos parâmetros reprodutivos gerais do sistema por uma alternativa concreta abrangente. (MÉSZAROS,
do capital; Terceiro, na compreensão de que apenas uma 2008)91.
ampla concepção de educação pode assegurar a luta pelo A tarefa acima requerida aparece na terceira seção,
objetivo de mudança radical requerida e a aquisição de condicionada ao fortalecimento de uma concepção de
instrumentos de pressão capazes de provocar o rompimento educação ampla e mais profunda, nos moldes de Paracelso,
com a lógica mistificadora do capital; Quarto, na defesa de que vendo a “aprendizagem como nossa própria vida”.
o papel da educação é estratégico tanto para a mudança das Neste rumo, o autor se coloca, a exemplo de Gramsci,
condições objetivas de reprodução quanto para a auto contra a visão tendenciosamente elitista e estreita de educação
mudança dos indivíduos envolvidos na luta pela construção de que pleiteia o domínio da instituição educacional formal como
uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente. único espaço de educação e define a educação e a atividade
Na primeira seção do texto, evidencia-se a ideia de que as intelectual como possibilidade apenas dos que são designados
reformulações que possam acontecer na educação são para “educar” e para governar, em detrimento da maioria, à
inconcebíveis sem a transformação também no quadro social. qual é reservado o papel de objeto de manipulação. Mészáros
O autor recusa a noção de reforma que se proponha apenas a assevera a posição profundamente democrática de Gramsci
correções marginais, mantendo intactas as estruturas como o caminho mais claro para a concepção ampla de
fundamentais da sociedade e conformando-se às exigências da educação, na qual todo ser humano contribui para a formação
lógica do capital. Para Mészáros, esta modalidade utiliza-se das de uma concepção de mundo ao mesmo tempo em que pode
reformas educacionais para apenas remediar os efeitos contribuir para manter ou mudar esta concepção. A educação,
desastrosos da ordem produtiva, mas não elimina os reconhecida, no seu entendimento amplo, é um processo
“fundamentos causais e profundamente enraizados”. Para o contínuo de aprendizagem. “Temos de reivindicar uma
autor, “limitar uma mudança educacional radical às margens educação plena para toda a vida, para que seja possível colocar
corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma em perspectiva a sua parte formal, a fim de instituir, também
só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma aí, uma reforma radical”. A reforma significa, segundo o autor,
transformação social qualitativa”. (MÉSZAROS, 2008). desafiar as formas atualmente dominantes de internalização
Exemplificando: Mészáros examina a experiência de Adam existentes no sistema educacional formal, pôr em execução
Smith, economista político, e de Roberto Owen, reformador urgentemente uma atividade de “contra internalização”
social educacional utópico. Sobre Smith, atesta que mesmo que coerente e sustentada na direção da criação de uma alternativa
este ilustre iluminista reconheça o impacto negativo do ao que já existe. Significa que a educação formal precisa
sistema sobre a classe trabalhadora, sua análise atribuindo ao desatar-se do revestimento da lógica do capital e mover-se em
“espírito comercial” a causa do problema é incapaz de se direção a práticas educacionais mais abrangentes O bem
dirigir às causas reais, reduzindo seu esforço de expressar sua sucedido processo de redefinição da tarefa da educação formal
preocupação humanitária a um círculo vicioso de apontar num espírito orientado para a construção de uma alternativa
apenas “os efeitos condenados”, dando assim prevalência aos hegemônica à ordem existente irá contribuir para romper com
limites objetivos da lógica do capital. Ao tratar da posição de a lógica do capital não somente em seu campo, mas em toda a
Robert Owen, reconhece sua posição de denúncia da sociedade.
exploração e instrumentalização do empregado pelo No quarto tópico, Mészáros trata a educação como uma
empregador, mas condena no seu discurso – com marcas de “transcendência positiva da auto alienação do trabalho”. A
parcialidade, gradualismo e circularidades – sinais de análise atesta as condições desumanizantes da alienação em
conformação aos debilitantes limites do capital. que vivemos e afirma que, para a mudança dessa condição,
Neste caso, Mészáros observa que Owen “não pode escapar exige-se uma intervenção consciente em todos os domínios e
à auto imposta camisa de força das determinações causais do níveis da existência individual e social, “em toda a nossa
capital”. Numa conclusão ao tópico, o autor lembra que “[...] o maneira de ser”. O autor considera que estando na raiz de
sentido da mudança educacional radical não pode ser senão o todos os tipos de alienação a historicamente revelada
rasgar da camisa de força da lógica incorrigível do sistema”. alienação do trabalho, torna-se possível superar a alienação
A persecução de estratégias de rompimento com o com a reestruturação radical de nossas condições de vida
controle exercido pelo capital é explicitada na segunda seção estabelecida até então, já que o processo histórico se constitui
do texto com a defesa de que as soluções devem ser buscadas pelo próprio trabalho. Mas isso não pode ser apenas uma
não apenas na dimensão formal, mas no que é essencial. O questão de negação. Para Mészáros, “a tarefa histórica que

91 Mészàros –A educação para além do capital, 2ª. ed Boitempo, 2008

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temos de enfrentar é incomensuravelmente maior que a Respostas


negação do capitalismo”92. Ir para além do capital significa a
realização de uma ordem social metabólica sem nenhuma 01. Resposta: Falso
relação nem ranços com a ordem anteriormente hegemônica. O processo de ensino é justamente o oposto, já que, é uma
Por essa razão, integração dialética entre o instrutivo e o educativo que tem
O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração como propósito essencial contribuir para a formação integral
de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as da personalidade do aluno.
condições objetivas de reprodução, como para a auto mudança
consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de 02. Resposta: Falso
uma ordem social metabólica radicalmente diferente As características dadas remetem às características da
Para esse fim, a universalização da educação e a abordagem cognitivistas, por isso a questão é falsa. Sendo
universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as características da abordagem comportamentalista, o
quais não pode haver solução para a auto alienação do conhecimento como uma descoberta nova realizada pelo
trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a indivíduo, assim para os comportamentalistas a experiência
igualdade verdadeira – substancial e não apenas formal – de ou a experimentação planejada como a base do conhecimento,
todos os seres humanos. Apenas na perspectiva de ir além do o conhecimento é o resultado direto da experiência.
capital essa universalização e igualdade podem ser vistas,
porque a educação para além do capital almeja uma ordem 03. Resposta: Alternativa E
social qualitativamente diferente. Para a autora Mizukami, o processo de ensino e
No nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do aprendizagem ocorre através de uma abordagem
capital global, época onde se evidencia uma condição histórica sociocultural, dessa forma o professor e o aluno se colocam em
de transição, define-se também um espaço histórico e social uma relação horizontal, onde ambos se posicionam como
aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de sujeitos do ato de aprender, porém o educador tem a tarefa de
planos estratégicos na direção de uma educação para além do conduzir o professor por meio da mediação.
capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de
transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve
ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as
condições cambiantes e as necessidades da transformação A relação da escola com a
social emancipadora e progressiva em curso. comunidade e o contexto
social como fator
Questões
determinante para a
01. Pode-se afirmar que: “O processo de ensino e qualidade da escola;
aprendizagem não é uma integração dialética entre o
instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial
contribuir para a formação integral da personalidade do
aluno”. Educação - Sociedade - Comunidade
( ) Verdadeiro ( ) Falso
Concepção de sociedade
02. Sobre a abordagem comportamentalista, é correto
afirmar que: “A organização do conhecimento, processamento Vivemos num mundo onde a informação é diversificada e
de informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos, atualizada rapidamente, o mundo mudou, as pessoas
comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.”. mudaram e, ao constatar a velocidade com que ocorrem
( ) Verdadeiro ( ) Falso transformações em nossa vida cotidiana, podemos afirmar que
estamos diante de um novo tempo, uma outra realidade que
03. (CEFET/RJ – Pedagogo – CESGRANRIO) O trecho nos envolve e nos desafia.
indica amplos desafios para a prática docente. “Um curso de A forma com que compreendíamos a vida e tudo que
professores deveria possibilitar confronto entre abordagens, acontecia, já não parece ser o que prevalece hoje. Vivemos uma
quaisquer que fossem elas, entre seus pressupostos e nova era, onde o conhecimento que tínhamos como
implicações, limites, pontos de contraste e convergência. Ao entendimento de se estar no mundo (algo pronto e acabado),
mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro professor a não é mais aceito e absorvido pela maioria das instituições,
análise do próprio fazer pedagógico, de suas implicações, como também pelo processo que configura a produção do
pressupostos e determinantes, no sentido de que ele se conhecimento.
conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de Isto significa que a sociedade atual exige uma prática
interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente”. pedagógica que assegure a construção da cidadania, fundada
(MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens na criatividade, criticidade, nas responsabilidades advindas
do processo. São Paulo: EPU, 1986. p. 109.) das relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Essas
Sobre as diferentes abordagens pedagógicas, aquela que reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos
considera a relação professor-aluno como não imposta, que permitem o questionamento: o que tem a educação a refletir
permite que o educador se torne educando e a aprendizagem sobre as relações e transformações em curso e a formação do
seja favorecida pela mediação é a: homem?
(A) tradicional A educação e a escola, por sua importância política,
(B) humanista merecem um papel de destaque numa proposta de sociedade.
(C) comportamentalista Neste esforço de reorganização da vida social e política, velhas
(D) ambientalista instituições e antigos conceitos são redefinidos de acordo com
(E) sócio-histórico-cultural essa lógica. Portanto, “o que está em jogo não é apenas uma
reestruturação das esferas econômicas, sociais e políticas, mas

92RABELO, C. D. Educação Para Além do Capital. Revista Resenha: A Eletrônica


Arma da Crítica. N.º 4. 2012.

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uma reelaboração e redefinição das próprias formas de Concepção de ensino e aprendizagem


representação e significação social”.
A escola tem muito que refletir sobre sua organização O caráter eminentemente pedagógico da Educação no
curricular, a começar pela compreensão de que a sua ação contexto escolar fundamenta-se numa perspectiva de
passa a ser uma intervenção singular no processo de formação considerar que a criança está inserida em determinado
do homem na sociedade atual. Nesse paradigma, o professor já contexto social e, portanto, deve ser respeitada em sua história
não pode ser considerado como único detentor de um saber de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é
que simplesmente lhe basta transmitir, mas deve ser um vista como espaço para a construção coletiva de novos
mediador do saber coletivo, com competência para situar-se conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua proposta
como agente do processo de mudança. pedagógica permite a permanente articulação dos conteúdos
Assim, concebemos que a educação, a escola e o objeto de escolares com as vivências e as indagações da criança e do
conhecimento constituem os elementos essenciais para o jovem sobre a realidade em que vivem.
processo de formação de homens e mulheres que contribuirão Podemos considerar os processos interativos, a
para a organização da sociedade. cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a imaginação, a
brincadeira, a mediação do professor e a construção do
Concepção de Homem conhecimento em rede como eixos do trabalho pedagógico
voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando
Partindo do que diz Morin93 ao se referir sobre a à constituição do sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico
complexidade do ser humano: "ser, ao mesmo tempo, e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar
totalmente biológico e totalmente cultural", apresentamos sua realidade social e pessoal.
nossa concepção de homem e, em consequência, as aspirações O processo de desenvolvimento, na perspectiva histórico-
pretendidas em relação ao cidadão que queremos formar. cultural, é compreendido como o processo por meio do qual o
Entendendo o sujeito tanto biológico como social, temos por sujeito internaliza os modos culturalmente construídos de
objetivo desenvolver no aluno a consciência e o sentimento de pensar e agir no mundo. Este processo se dá nas relações com
pertencer ao mundo, de modo que possa compreender a o outro, indo do social para o individual.
interdependência entre os fenômenos e seja capaz de interagir O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e
de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural deste até o objeto passa através de uma outra pessoa. Essa
e social. estrutura humana complexa é o produto de um processo de
Alguns desafios são fundamentais no que se refere à desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre
formação do sujeito, desenvolver competências para história individual e história social.
contextualizar e integrar, para situar qualquer informação em Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos
seu contexto, para colocar e tratar os problemas, ou seja, o processos de aprendizagem e desenvolvimento, os ambientes
grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas
realidades cada vez mais complexas. Assim, acreditamos na experiências e se desenvolver nas diferentes dimensões
possibilidade de formar um cidadão mais indignado com as humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica,
manifestações e acontecimentos da vida cotidiana, um cidadão estética, criativa, expressiva e linguística.
que saiba mediar conflitos e propor soluções criativas e As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e
adequadas a favor da coletividade, que tenha liberdade de conceitos, mas também aos procedimentos, atitudes, valores e
pensamento e atitudes autônomas para buscar informações normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis
nos diferentes contextos, organizá-las e transformá-las em no mesmo nível que os fatos e conceitos. Isto [...] pressupõe
conhecimentos aplicáveis. aceitar até as suas últimas consequências o princípio de que
Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser um tudo o que pode ser aprendido pelas crianças e jovens podem
sujeito social, quando estabelece contato com outros homens, e devem ser ensinado pelos professores.
com o mundo e com o contexto de realidade que os determina
geográfica, histórica e culturalmente, é nessa perspectiva que A) Conteúdos relacionados a fatos, conceitos e
a escola se torna um dos espaços privilegiados para a formação princípios – correspondem ao compromisso científico da
do homem. educação: transmitir o conhecimento socialmente produzido.

Concepção de escola B) Conteúdos relacionados a procedimentos – que são


os objetivos, resultados e meios para alcançá-los, articulados
A Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento por ações, passos ou procedimentos a serem implementados e
das relações sociais e, é nesse ambiente que a criança e o jovem aprendidos.
interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de
convivência, além de desenvolverem habilidades e C) Conteúdos relacionados a atitudes, normas e
competências para continuar seu processo de aprendizagem. valores – correspondem ao compromisso filosófico da
Sabemos que os modos de vida também são vivenciados educação: promover aspectos que nos completam como seres
pela escola. São variantes de diversos matizes, que se humanos, que dão uma dimensão maior, que dão razão e
multiplicam a cada dia e esses acontecimentos não podem ser sentido para o conhecimento científico.
desprezados. As ações educativas vinculadas às práticas
sociais compõem o rol de compromissos da educação formal. Sociedade contemporânea
Por isso, o cotidiano escolar exerce um papel expressivo na
formação cognitiva, afetiva, social, política e cultural dos O sociólogo e filosofo polonês Bauman94 apresenta a
alunos que passam parte de suas vidas nesse ambiente sociedade caracterizando-a como modernidade líquida, utiliza
pedagógico e educativo. Sendo assim, assim está metáfora para explanar o advento de uma
sociedade mais leve em detrimento da chamada modernidade
sólida. Atualmente o que se vivencia difere de tempos

93MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: 94 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
Bertrand Brasil, 2001.

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passados, que ganham novas formas. Portanto, a modernidade consegue decidir rapidamente e agir aceleradamente. Nesse
sólida possui características contrárias aos novos tempos. sentido, sobre a instantaneidade associada à flexibilidade,
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida que Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer e
é marcada pela instantaneidade e pela liquidez. O conceito de tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito uma vez por todas
liquidez utilizado pelo teórico destaca uma sociedade que não – e o que quer que aconteça chega sem se anunciar e vai-se
mantém sua forma, não é estável, mas é marcada por embora sem aviso”.
transformações, desestabilidades, construções e Para o autor, compreende-se que a modernidade líquida
desconstruções, imprevisibilidade, não se atendo a um só demarca uma grande transformação nos âmbitos social,
formato, ao contrário de solidez que se refere à metáfora das político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer
marcas da modernidade, adjetivado por aspectos de o passado, ou seja, aquilo que significava importante nas ações
durabilidade, de controle, de estabilidade. dos indivíduos e agora acaba perdendo seu efeito. As
A esse respeito, afirma: “Se o sociólogo empregou a possibilidades de criar novas formas de vida são aceitas e o
metáfora da solidez como marca característica da mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É o
modernidade nas primeiras décadas do século XX (destruir a mundo do imediatismo, das coisas descartáveis. A diferença da
tradição e colocar outra, potencialmente superior e mais modernidade sólida para a modernidade líquida é a duração
sólida, em seu lugar), na transição para o século XXI ele da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, em curto
destacará o novo aspecto da condição moderna, desta vez prazo.
baseado na metáfora da liquidez. Por isso a modernidade Ainda, tomando-se em consideração os novos formatos e
líquida passou a ser a denominação preferencial de Bauman relações estabelecidas pelas novas tecnologias, surgem novas
para referir-se ao contemporâneo. É essa oposição entre relações oferecidas pela internet. Esse recurso oferece meios
solidez e liquidez que permite a ele explicar a distinção entre de conexão com o mundo todo, levando os indivíduos a
o nosso modo de vida moderno e aquele vivido por nossos estarem constantemente em movimento, mesmo
antepassados”. permanecendo no lugar onde se encontra. A internet também
Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido, favorece novas formas de relações entre as pessoas, sendo que,
apresentados por Bauman, é importante considerar aquilo que a comunicação ocorre por intermédio de meios eletrônicos, a
Berman, enfatiza como conceito de solidez. Ao contrário de qualquer tempo, descartando outras formas de contato. A
Bauman, assinala que o sólido também pode sofrer alterações. mídia, assim como a internet, possibilita também repassar
O conceito de sólido tratado por Berman difere da definição informações em um curto espaço de tempo em uma grande
criada por Bauman na medida em que, para o primeiro, as velocidade, permitindo a sensação de mobilidade. “O espaço
bases sólidas, os valores fundados na sociedade moderna são deixou de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo
permanentes e imutáveis, já na pós-modernidade, difundiram- para conquistá-lo”. Com esse aspecto de instantaneidade,
se, sofreram alterações marcadas pelos novos pressupostos da Berman destaca que é preciso adaptar-se às novas
vida moderna. Para Bauman, somente a metáfora da liquidez transformações, considerando-as como novos processos que
se compara a esse processo de transformação. Percebe-se, necessitam ser imbuídos na vida pessoal e social:
entretanto, que, referindo-se às características gerais da
modernidade, os autores compartilham as mesmas definições, Homens e mulheres modernos precisam aprender a aspirar
apresentando o mesmo painel sobre os tempos modernos. à mudança: não apenas estar aptos a mudanças em sua vida
O sentido da modernidade apresentada por Berman é o pessoal e social, mas ir efetivamente em busca das mudanças,
mesmo em comparação ao que apresenta Bauman, na medida procurá-las de maneira ativa, levando-as adiante. Precisam
em ambos ressaltam que esta modernidade é passível de aprender a não lamentar com muita nostalgia as “relações fixas,
transformações, de mudanças, de desintegração de ambientes, imobilizadas” de um passado real ou de fantasia, mas a se
de construção de novas formas de vida. Destacam-se, nesse deliciar na mobilidade, a se empenhar na renovação, a olhar
movimento, algumas características, como: crescente explosão sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas
demográfica, grandes descobertas nas ciências, crescimento condições de vida e em suas relações com outros seres humanos.
acelerado da tecnologia e dos sistemas de comunicação de
massa e expansão do mercado capitalista mundial. Esses Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o
fatores, por sua vez, influenciam a vida das pessoas e geram progresso, sendo visualizado como um caminho sem fim, que
novas formas de adaptação, de movimento, de poder e de deve ser alcançado constantemente, através do esforço do
sobrevivência. Em tempos como esses, “o indivíduo ousa homem. Para o alcance do progresso, novos valores passam a
individualizar-se”. De outro lado, esse ousado indivíduo permear as relações de trabalho: a competição e a
precisa desesperadamente “de um conjunto de leis próprias, individualização que concorrem, simultaneamente, para o
precisa de habilidades e astúcias, necessárias à alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o
autopreservação, à autoimposição, à autoafirmação, à modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável
autolibertação.” por encontrar meios para o alcance de melhores condições de
Retornando às características subjacentes à modernidade vida.
líquida de Bauman, o tempo é um fator que assinala esta
modernidade, marcada fortemente por fatos instantâneos. Bauman destaca: [...] são homens e mulheres individuais que
às suas próprias custas deverão usar, individualmente, seu
[...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma
constantemente prontos e propensos a mudá-la; assim, para condição mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto
eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca de sua condição presente de que se ressintam.
ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma
momento”. virtude, sendo fundamental para a vida nos tempos modernos
para alcançar status. Capital e trabalho eram
As pessoas que comandam o mundo são aquelas que agem interdependentes. Os trabalhadores dependiam do emprego
com maior rapidez, que mais se aproximam do momentâneo. para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para
A instantaneidade auxilia a dominação, no sentido de que o seu crescimento. Com o trabalho, o trabalhador comandava
indivíduo que domina é aquele que tem capacidade para seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador
adaptar-se a novas formas de vida, novos lugares, que iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando
“preso” em seu lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na

Conhecimentos Pedagógicos 120


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contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida, como garantia de auto enriquecimento, gerando maiores
uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim como, sofrimentos entre aqueles que não podem consumir como o
não significa estabilidade, como nos tempos passados. “Neste mercado demanda. Ele completa essa ideia, enfatizando que,
mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte na sociedade pós-moderna nenhum emprego é garantido,
lenta, uma vez que nosso sentido de progresso e crescimento nenhuma posição é segura. Além disso, ressalta:
é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem
estamos vivos”. consigo a aquisição do direito a um emprego, por mais que
Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que, bem desempenhado, ou – de um modo mais geral – o direito ao
nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de cuidado e à consideração por causa de méritos passados. Meio
computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e
rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas merecimento da autoestima podem todos desvanecer-se
manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber.
reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas
mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos Bauman95 enfatiza que as relações entre as pessoas
encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de também se dão de forma diferente, dependendo da situação
sustentação da economia do mercado é excludente e busca econômica das mesmas, do usufruto de bens e da posição de
eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros. conforto que possuem. Noutras palavras, dependendo da
Deve-se executar o ofício de separar e eliminar o refugo, o posição que se ocupa, as pessoas são consideradas como
descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do “estranhos”, pois não ocupam a mesma posição social e servem
padrão de vida e consumo. apenas para oferecer serviços e bens para o consumo,
conforme afirma
Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum, Para alguns moradores da cidade moderna, seguros em
reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade que suas casas à prova de ladrões em bairros bem arborizados, em
marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de escritórios fortificados no mundo dos negócios fortemente
trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas são policiado, e nos carros cobertos de engenhocas de segurança
marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações. para levá-los das casas para os escritórios e de volta, o
Não há, neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no “estranho” é tão agradável quanto a praia da rebentação [...].
sentido de permanecer nele a vida toda. Os estranhos dirigem restaurantes, prometendo experiências
Os conceitos de emancipação e individualidade ganham insólitas e excitantes para as papilas gustativas, vendem
um peso maior nesta sociedade, sendo que o coletivo e a objetos de aspecto esquisito e misterioso, [...], oferecem
comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem serviços que outras pessoas não se rebaixariam ou se
depois das escolhas individuais. A solidariedade é um valor dignariam a oferecer, acenam com guloseimas de sensatez,
que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de revigorantemente diversas da rotina e da chateação.
decidir sobre as ações e fins. O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos.
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar Aquelas pessoas que não possuem certa posição de conforto
essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de
capacidade poderia melhor servir – isto é, com a máxima escolha de consumo, acabam muitas vezes demonstrando
satisfação concebível. revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao
que se assiste nos novos tempos.
Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de
oportunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade de escolha, moeda corrente na sociedade do consumidor, estão
escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas. escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas,
O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a elas precisam recorrer aos únicos recursos que possuem em
situações de consumo. “O consumo é um investimento em tudo quantidade suficientemente grande para impressionar. Elas
que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”. defendem o território sitiado através de “rituais, vestindo-se
Neste sentido, o consumismo passa a ser algo de desejo estranhamente, inventando atitudes bizarras, quebrando
imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer normas, quebrando garrafas, janelas, cabeças, e lançando
desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo retóricos desafios à lei”. Reagem de maneira selvagem, furiosa,
privilegia não só aquisição de bens e produtos, mas a busca alucinada e aturdida [...].
incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um
exemplos, novas habilidades, novas competências em grande número de excluídos socialmente, pois os empregos
detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para tomaram novas configurações, não sendo possível projetar
aparentar uma imagem, mostrar aos outros aquilo que não é, uma vida em longo prazo, com projetos e planejamentos.
para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das De acordo com estas características, Bauman destaca que
necessidades, mas serve para satisfazer os desejos insaciáveis. aqueles que não possuem emprego não são considerados
As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado como “desempregados”, mas sim como consumidores falhos,
pela fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos. pois não desempenham a função ativa de consumir e, portanto,
Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer não são aptos de usufruir dos bens e serviços que o mercado
estar adaptado aos novos padrões do mercado. Consumir é pode oferecer, sendo definidos como os “pobres” da sociedade
estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como atual. Ele enfatiza a esse respeito.
símbolo de comodidade, de autoafirmação, de conforto, de Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as pessoas
emancipação dos indivíduos. que são “problemas” para as outras) são “não-
Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores que consumidores”, e não “desempregados”. São definidos em
auxiliam a compreender a configuração da nova sociedade. primeiro lugar por serem consumidores falhos, já que o mais
Ressalta que a comunidade como defensora do direito à vida crucial dos deveres sociais que eles não desempenham é o de
decente transformou este projeto em promover o mercado ser comprador ativo e efetivo dos bens e serviços que o

95BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar,


1998.

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mercado oferece. Nos livros de contabilidade de uma produção econômica cada vez mais crescente e diversificada
sociedade de consumo, os pobres entram na coluna dos com novos produtos no mercado, demandando novos cursos
débitos, e nem por exagero da imaginação poderiam ser de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras
registrados na coluna dos ativos, sejam estes presentes ou mudanças as quais a escola deve acompanhar e produzir
futuros. reflexões acerca destes novos elementos.
Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode
pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios passaram a ficar alheia às transformações sociais e culturais advindas da
tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio
exemplo, que, em outros tempos, residia no dever ético e na social e, por isso, sofre as influências do meio. “A escola é uma
preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente
a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” Nesse
único responsável por seus atos e deveres, excluindo a sentido, Bauman destaca que, muitas transformações estão
responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do permeando a sociedade contemporânea e essas acabam por
outro. invadir todos os contextos, inclusive a escola. O processo
Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa educativo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura
ambiguidade em torno da vida responsável, pois surgem desenvolver um currículo que considera as mudanças e atenda
reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do aos novos conceitos, novos pressupostos e novas demandas.
respeito à natureza, à sustentabilidade. Enquanto se afirma
que o indivíduo preocupa-se com si mesmo, ao mesmo tempo, Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer
surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bauman, era
que há uma evolução para a possibilidade de construção de aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço
uma vida responsável. que tinha como propósito estabelecer a ordem. A formação dos
O panorama apresentado até aqui, certamente, não indivíduos era responsabilidade de toda a sociedade, dos
contempla todos os aspectos referentes à sociedade governantes e do Estado, com vistas a formá-los para um
contemporânea, mas apresenta definições importantes que comportamento correto e moralmente aceitável. Desse modo,
levam a analisar e refletir sobre a configuração subjacente aos somente os professores eram capazes de fornecer esta
tempos atuais e que podem instigar a questão referente à formação para uma integração social, destacando uma vida
tarefa da escola frente a tais aspectos presentes na sociedade correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o
atual. conhecimento era um produto duradouro e a qualidade da
Desse modo, é urgente compreender sua missão como escola era medida pela transmissão deste conhecimento de
instituição educativa que, assim como outras instâncias, valor adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao
desempenha um papel importante na formação dos sujeitos. mundo pela educação, entendendo que este mundo era
imutável e consideravelmente manipulável. O professor
A tarefa da escola detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno,
compreendendo este conhecimento como justo e confiável.
Compreender a missão da escola perante as novas
configurações da sociedade, torna-se essencial para avaliar a Para Pourtois e Desmet96, a escola contemporânea continua
sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de a repetir os princípios defendidos pela escola moderna, na
suas implicações no processo educativo atual. qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria aprender as
Desse modo, diante dos processos sociais que se regras da vida em sociedade e o pensamento racional, sendo
desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões que se disciplinado por meio de recompensas ou castigos, sendo que
referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da a personalidade individual deve ser ocultada atrás da moral do
escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos dever. Para esses autores, a pedagogia moderna ainda está
da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá fortemente enraizada nas práticas escolares.
conta de compreender esses processos de transformação? Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de
Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola assume
missão da escola frente aos processos de mudança e ao outras características, sendo que a ordem social, sólida e
contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das imutável não é mais aceita na chamada modernidade líquida.
mudanças, passando a adquirir novos pressupostos, novos O mundo é diferente daquele em que a escola estava preparada
objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a para formar os alunos. “Em tais circunstâncias, preparar para
realidade, a educação é vista como um meio indispensável na toda a vida, essa invariável e perene tarefa da educação na
constituição da sociedade e passa a ocupar um papel modernidade sólida, vai adquirir um novo significado diante
fundamental. das atuais circunstâncias sociais.” O conhecimento não será
Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza mais considerado como um produto conservado, pronto e
acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitando acabado para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter
assim o emprego, despertando as mentes e as consciências inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento passa a
diante dos novos desafios, facilitando o acesso à cultura e ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade,
reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento competitividade, habilidades básicas para o mundo do
social. trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em
Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e informação que logo será substituída, por considerar que
tendências, o cientificismo positivista impôs a fragmentação rapidamente estará ultrapassado.
do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da A escola então, transmissora deste conhecimento, passa
modernidade. Atualmente, não se pode mais conceber que esta agora a não ser a detentora do saber, pois as novas tecnologias
fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no
nova ordem social vigente. Como se vê, muitas transformações qual todos têm acesso ao “conhecimento”. Os professores
têm surgido ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A
comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a nova dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo

96POURTOIS, Jean-Pierre; DESMET, Huguette. A Educação pós-moderna. São


Paulo: Loyola, 1999.

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sobre as formações de opiniões, verificação de valores, Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve
definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso. apropriar-se das informações e refletir sobre elas. O contexto
Os alunos passam a dar atenção àqueles que oferecem várias deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação
possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a intersubjetiva em que os outros constituem uma forma de
mídia – televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber mediação entre saberes existentes e os saberes de base do
viver. O professor, desse modo, não é mais aquele conselheiro sujeito. O ato educativo deve ter sentido no contexto social
que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida, atual e deixar transparecer seus objetivos.
através de seus estudos e saberes. Nesse sentido, a não mais Além disso, com as novas configurações da sociedade, a
inquestionável autoridade do professor em orientar a lógica da escola passou a aceitar todas as visões de mundo que chegam
aprendizagem compete, [...], com as sedutoras e muito mais até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais
atraentes mensagens das celebridades, sejam jogadores de diversas comunidades. Na modernidade, a construção da
futebol, artistas, frequentadores de reality shows ou políticos ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, professores
oportunistas. e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca
do modo correto de separar a verdade da inverdade das
Diante de todos esses desafios, Almeida97 enfatiza que, ao culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de
mesmo tempo em que Bauman apresenta tais aspectos, o aceitar a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam
próprio autor também oportuniza uma solução para a escola os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se
poder enfrentá-los, destacando o poder da escola de facilitar a questionável nesse novo contexto.
socialização entre os indivíduos e de promover uma Almeida, parafraseando Bauman, destaca esta nova
sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a configuração da escola em detrimento de um espaço
busca de novas formas de relações em suprimento das multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no intuito
relações individualistas. Almeida afirma: de compreendê-las, fortalecê-las e relacioná-las com outras
culturas, assinalando-as como parte de um diálogo que
[...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as enriquece os saberes educativos:
pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a arte
individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao da conversação civilizada é algo que o espaço da escola
mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou verdadeiro necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas
e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os tradições que chegam até ela, sem combatê-las; procurar
estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mutantes;
e da sociedade em que estão inseridos e, nesse movimento, fortalecer sua própria perspectiva (a do professor, por exemplo)
desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim, com o livre recurso à experiências alheias (a dos alunos e suas
intelectuais que ajudam a assegurar que a consciência moral de culturas, por que não?). Levando isso em conta, extraímos da
cada geração seja diferente da geração anterior. posição de Bauman o seguinte imperativo para a educação
escolarizada na sociedade líquida: conversar ou perecer!
A escola, articulada como uma instituição, em harmonia De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros
com a preparação de indivíduos adequados a habitar um Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a Lei de
mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais. Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n.
Configura-se hoje como um espaço destinado a dar 9.394/96) destacam a valorização dos temas transversais, os
oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos quais possuem a intenção de responder aos novos
excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe uma pressupostos e novas configurações da educação escolar.
pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade, Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a
respeitando diferenças e enfatizando os princípios de Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apresentado,
solidariedade. entende-se que a educação escolar deve preocupar-se com as
Nesse enredo, Gadotti98 enfatiza que esta época de rápidas condutas humanas e não só com o desenvolvimento de
transformações acaba por demandar uma nova configuração habilidades e competências técnicas, mas referenciar valores
da educação na busca de um melhor desempenho do sistema que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores
escolar: estão imbuídos no currículo escolar e nas relações entre os
Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta- indivíduos.
se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do Segundo Gómez99, a função educativa da escola deve
sistema escolar não tem dado conta da universalização da cumprir não só o processo de socialização, mas oferecer às
educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos
teóricas não apresentam ainda a consistência global conteúdos, de elaborar alternativas e tomar decisões
necessária para indicar caminhos realmente seguros numa autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O
época de profundas e rápidas transformações. conjunto de conhecimentos adquiridos na escola só será válido
Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu se oferecer ao indivíduo um modo consciente de pensamento
projeto educativo, relacionando-o com o contexto social e suas e ação. Afirma o autor que: A formação de cidadãos autônomos,
características, sendo este um princípio da educação conscientes, informados e solidários requer uma escola onde
contemporânea, no mesmo modo que esta educação possa possa-se recriar a cultura, não uma academia para
sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a aprendizagens mecânicas ou aquisições irrelevantes, mas uma
transformação social. escola viva e comprometida com a análise e a reconstrução das
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea contingências sociais, onde os estudantes e os docentes
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma aprendem os aspectos mais diversos da experiência humana.
educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola
Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais perante a todas as transformações culturais e sociais, deve
voltada para a transformação social. assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem
significados, de aprendizagens mecânicas, sem sentido,

97 ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan Marcelo. Bauman e 99GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade neoliberal. Tradução: Ernani
a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2001.
98 GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec. [online].

2000, v.14, n. 2, p. 03-11.

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somente para atender às influências do mercado competitivo, de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por
mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia.
experiências trazidas pelas culturas e assim, construir uma Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova,
interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na
socialização e pela relação de valores indispensáveis à educação do futuro.
formação do homem. A educação tradicional e a nova têm em comum a
concepção da educação como processo de desenvolvimento
Educação e Sociedade no Brasil individual. Todavia, o traço mais original da educação desse
século é o deslocamento de enfoque do individual para o social,
Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é
grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de
quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram educação nos países socialistas também o testemunha. A
grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu, educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É
no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e
Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e
representar, para todos nós, a globalização capitalista da hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados.
economia, das comunicações e da cultura. As transformações Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a
tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da de que não há idade para se educar, de que a educação se
informação. estende pela vida e que ela não é neutra.
É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de
concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de Educação Internacionalizada
possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da
educação sem certa dose de cautela. É com essa cautela que No início da segunda metade deste século, educadores e
serão examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas políticos imaginaram uma educação internacionalizada,
atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países
naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino
perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas
futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o
constituir num álibi para o imobilismo. século passado, possibilitando numerosos planos de educação,
No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma
Humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação internacional já existia deste 1899, quando foi
educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas
que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como
metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas
50, dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas
barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do educacionais contam com uma estrutura básica muito
século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização
soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos,
primeira vez na história da humanidade, não por efeito de agora não como princípio de justiça social, mas apenas como
armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, parâmetro curricular comum.
pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a
solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Novas Tecnologias
Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas
mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, As consequências da evolução das novas tecnologias,
perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com centradas na comunicação de massa, na difusão do
medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então, conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no
aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras ensino – como previra McLuhan já em 1969 –, pelo menos na
citadas por Abbagnano e Aurélio: “projeto” político- maioria das nações, mas a aprendizagem a distância,
pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico, sobretudo a baseada na Internet, parece ter sido a grande
“ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”. novidade educacional nos últimos tempos. A educação opera
Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação, com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive
portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da
se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É informática, particularmente a linguagem da Internet. A
sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso
indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em intensivo da Internet, em particular da educação a distância
direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não
designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com
capturados, sistematizados e colocados em evidência. mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles
já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital.
Educação Tradicional Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar
suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar
Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação as mentes. Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais
tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem
mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da a informatização da educação sustentam que é preciso mudar
escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação profundamente os métodos de ensino para reservar ao
nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar,
Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola
consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para
ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito

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isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os
inclusive a linguagem eletrônica. paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade dos
contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos,
Paradigmas Holonômicos uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da
unidade.
Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos,
despertaram interesse dos educadores os chamados Educação Popular
paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes.
Complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas O paradigma da educação popular, inspirado
nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60,
as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A
a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente. prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra
Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não
do conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder
cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o transformar. Nos últimos anos, os educadores que
acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído, permaneceram fiéis aos princípios da educação popular
ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade. atuaram principalmente em duas direções: na educação
Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas pública popular – no espaço conquistado no interior do Estado
chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego, –; e na educação popular comunitária e na educação ambiental
significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na ou sustentável, predominantemente não governamentais.
totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação
essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e
perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas
paradigmas clássicos – identificados no positivismo e no democráticas, ocorreu com a educação popular uma grande
marxismo – seriam marcados pela ideologia e lidariam com fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma
categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas
paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não-
sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade, formal, dispersando-se em milhares de pequenas
valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e
complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela
sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e orienta
que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como
como fundamento da educação uma antropologia que concebe o testemunha o Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em
o homem como um ser essencialmente contraditorial, os dois anos, reunindo educadores de muitos países.
paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender
superar, todos os elementos da complexidade da vida. As práticas de educação popular também constituem-se
Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os em mecanismos de democratização, em que se refletem os
grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas
ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas
enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O
da vida porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema, Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa
em que tudo é função ou efeito das superestruturas entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas
socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. Para também como espaço de novas vivências sociais e políticas
os novos paradigmas, a história é essencialmente hoje consolidadas com as organizações não-governamentais
possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este
Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular.
mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, “a Diante desse quadro, a educação popular, como modelo
imaginação está no poder”, como queriam os estudantes em teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas.
maio de 1968. Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização
Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da pública. A vinculação da educação popular com o poder local e
educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia a economia popular abre, também, novas e inéditas
do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da
significados, essas categorias são encontradas em muitos educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da
intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma
“sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a das grandes contribuições da América Latina à teoria e à
“tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul prática educativa em âmbito internacional. A noção de
Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de
Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação
comunicativa”, o “mundo vivido” (Jürgen Habermas), a como ato de conhecimento e de transformação social e a
“radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), a politicidade da educação são apenas alguns dos legados da
“questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o educação popular à pedagogia crítica universal.
“cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a
“alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes
“unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc. Teóricas
Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam
enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as A educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um
classificações e tipologias, no campo das ideias, são lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da
necessariamente reducionistas. Não se pode negar as universalização da educação básica de qualidade; de outro, as
divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência
apontadas anteriormente indicam uma certa tendência, ou global necessária para indicar caminhos realmente seguros

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numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é As novas tecnologias criaram novos espaços do
uma das preocupações do Instituto Paulo Freire, buscando, a conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o
partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos.
Escola Cidadã”, como resposta à crise de paradigmas. A Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa,
concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a
conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de
alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de computadores interligados – serviços que respondem às suas
educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil
mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação (ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se
burocrática, sustentada na “estatolatria” (Antônio Gramsci). É fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos
uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de
político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente – não conhecimentos e de formação continuada. É um espaço
mecânica e subordinadamente – com o mercado, o Estado e a potencializado pelas novas tecnologias, inovando
sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado constantemente nas metodologias. Novas oportunidades
e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de
destino – isto é, para todos – estatal quanto ao financiamento formação têm tudo para permitir maior democratização da
e democrática e comunitária quanto à sua gestão. informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de
educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a
Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais participação mais intensa e organizada da sociedade. O acesso
voltada para a transformação social do que para a transmissão à informação não é apenas um direito. É um direito
cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os
uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações, direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos.
pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as Na formação continuada necessita-se de maior integração
pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial, etc.),
de perplexidade. visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do
conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, o planeta
Sociedade da informação e educação tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O
ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o
Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. lugar o tempo todo. Estar num lugar significaria estar
Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No
os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente
conhecimento, na sociedade do conhecimento, sobretudo em presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu
consequência da informatização e do processo de globalização com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há
das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está
se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui
admitindo que grandes massas da população estejam – em qualquer lugar – e o tempo de aprender é hoje e sempre.
excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan
da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Illich), “árvores do conhecimento” (Humberto Maturana), sem
Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a
estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e
gigantescos volumes de informações, que são armazenadas pessoas, articulação, contatos e vínculos, interatividade. A
inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira conectividade é a principal característica da Internet.
muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é
Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha apenas o capital da transnacional que precisa dele para a
telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de
apenas receptor de informações, mas também emissor de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim
informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se
planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos.
partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática,
conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e
também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas
últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do
especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista,
transformando profundamente a forma como a sociedade se tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico.
organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma A educação, em particular a educação a distância, é um bem
Revolução da Informação, como ocorreram no passado a coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do
Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor
Ladislau Dowbor100, após descrever as facilidades que as legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar,
novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o que reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem
eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem
biblioteca e com o meu salário eu não posso comprar um o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito
computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda
em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. necessidade de diplomas?
Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela
mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as organizar um movimento global de renovação cultural,
possibilidades das novas tecnologias. aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a

100 DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998.

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empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o
pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com
ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão
importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já do futuro.
na educação infantil. A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do
Na sociedade da informação, a escola deve servir de conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa
bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na
a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a escola – não só nós, professores – devemos ser felizes nela. A
competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica
formação geral na direção de uma educação integral. O que ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz
significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, Georges Snyders no livro ‘A alegria na escola, precisamos de
sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria
que os faça crescer e não embrutecer. cultural’. O mundo de hoje é “favorável à satisfação” e a escola
Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” também pode sê-lo.
e da atualização de conhecimentos e muito mais além da O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver
“assimilação” de conhecimentos. A sociedade do intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e
conhecimento possui múltiplas oportunidades de sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a
aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família, humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar
empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão
público; autonomia da escola; generalização da inovação. As emancipadora, não só transformam a informação em
consequências para a escola e para a educação em geral são conhecimento e em consciência crítica, mas também formam
enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos
pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”,
teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber
para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque
o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a constroem sentido para a vida das pessoas e para a
distância. humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são
escola: amar o conhecimento como espaço de realização imprescindíveis.
humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e
rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser Educação do futuro
criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e
não pura receptora; produzir, construir e reconstruir Jacques Delors101, coordenador do “Relatório para a
conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o
emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso Século XXI”, no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta
em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não como principal consequência da sociedade do conhecimento a
pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida
conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva (Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao
emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação
pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada continuada. Esses pilares podem ser tomados também como
ao exercício da cidadania. bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação.
Como diz Ladislau Dowbor, a escola deixará de ser
“lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o Aprender a conhecer – Prazer de compreender, descobrir,
autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade,
determinante sobre o desenvolvimento”. A educação tornou- autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe
se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos
basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que
transformá-la profundamente. aprender a aprender. Aprender mais linguagens e
A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem
sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso
fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar
parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o
vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o
capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua pensar, pensar e reinventar o futuro.
prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o
educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno Aprender a fazer – É indissociável do aprender a
que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecer. A substituição de certas atividades humanas por
conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou
ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje
sentidos para o que fazer dos seus alunos. a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar
Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe,
na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma do que a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na
que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver formação do trabalhador, também do trabalhador em
na sociedade a capacidade de governar e controlar o educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa,
desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber
controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima
capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações

101DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO


da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez,
1998.

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interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. ecologia, para se inserir definitivamente no campo da
Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra educação, sintetizada no lema “uma educação sustentável para
aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas a sobrevivência do planeta”. O que seria uma cultura da
universidades. Como as profissões evoluem muito sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates
rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para educativos das próximas décadas. O que estamos estudando
um trabalho. nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma
cultura que servem para a degradação/deterioração do
Aprender a viver juntos – a viver com os outros. planeta?
Compreender o outro, desenvolver a percepção da
interdependência, da não-violência, administrar conflitos. D) Virtualidade – Esse tema implica toda a discussão atual
Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer sobre a educação a distância e o uso dos computadores nas
no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa escolas (Internet). A informática, associada à telefonia, nos
é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode- inseriu definitivamente na era da informação. Quais as
se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia, consequências para a educação, para a escola, para a formação
cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros do professor e para a aprendizagem? Consequências da
Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante da
e trabalho em projetos comuns. pluralidade dos meios de comunicação? Eles abrem os novos
espaços da formação ou irão substituir a escola?
Aprender a ser – Desenvolvimento integral da pessoa:
inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, E) Globalização – O processo da globalização está
responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento mudando a política, a economia, a cultura, a história e,
autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para portanto, também a educação. É um tema que deve ser
isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de enfocado sob vários prismas. A globalização remete também
cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico- ao poder local e às consequências locais da nossa dívida
matemática e linguística. Precisa ser integral. externa global (e dívida interna também, a ela associada). O
Iniciou-se este texto procurando situar o que significa global e o local se fundem numa nova realidade: o “global”. O
“perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer exercício de estudo desta categoria remete à necessária discussão do papel
futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para dos municípios e do “regime de colaboração” entre União,
o debate, serão apontados aqui algumas categorias em torno estados, municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da
da educação do futuro, que indicam o surgimento de temas educação básica. Para pensar a educação do futuro, é
com importantes consequências para a educação. necessário refletir sobre o processo de globalização da
economia, da cultura e das comunicações.
As categorias “contradição”, “determinação”,
“reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “necessidade”, F) Transdisciplinaridade – Embora com significados
“possibilidade” aparecem frequentemente na literatura distintos, certas categorias como transculturalidade,
pedagógica contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da transversalidade, multiculturalidade e outras como
educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas complexidade e holismo também indicam uma nova tendência
categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno na educação que será preciso analisar. Como construir
da educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como
dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente relacionar multiculturalidade e currículo? É necessário
para analisar o fenômeno da educação. Pode-se e deve-se realizar o debate dos PCN. Como trabalhar com os “temas
estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente transversais”? O desafio de uma educação sem discriminação
apontadas. Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito étnica, cultural, de gênero.
na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser
negadas ou desprezadas como categorias “ultrapassadas”. G) Dialogicidade, dialeticidade – Não se pode negar a
Porém, também podemos nos ocupar mais atualidade de certas categorias freireanas e marxistas, a
especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro, validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O
categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e capital, privilegiou as categorias hegelianas “determinação”,
da reflexão sobre ela. Eis algumas delas a título de exemplo: “contradição”, “necessidade” e “possibilidade”. A
fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação
A) Cidadania – O que implica também tratar do tema da e deverá atravessar os anos. A educação popular e a pedagogia
autonomia da escola, de seu projeto político-pedagógico, da da práxis deverão continuar como paradigmas válidos para o
questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro futuro que virá.
desta categoria, pode-se discutir particularmente o significado
da concepção de escola cidadã e de suas diferentes práticas. A análise dessas categorias e a identificação da sua
Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e presença na pedagogia contemporânea podem constituir-se,
programa de muitas escolas e de sistemas educacionais. sem dúvida, num grande programa a ser desenvolvido hoje em
torno das “perspectivas atuais da educação”. Não se pretende
B) Planetaridade – A Terra é um “novo paradigma” aqui dar respostas definitivas. Com esse pequeno texto
(Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão de mundo introdutório, procurou-se apenas iniciar um debate sobre as
sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco perspectivas atuais da educação, sem a intenção de, com isso,
Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da encerrá-lo. Existem muitos outros desafios para a educação. A
cidadania planetária pode ser discutido a partir desta reflexão crítica não basta, como também não basta a prática
categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nascimento: sem a reflexão sobre ela. Aqui, são indicadas apenas algumas
“para que passaporte se fazemos parte de uma única nação?” pistas, dentro de uma visão otimista e crítica – não pessimista
Que consequências podemos tirar para alunos, professores e e ingênua – para uma análise em profundidade daqueles que
currículos? se interessam por uma “educação voltada para o futuro”, como
dizia o grande educador polonês, o marxista Bogdan
C) Sustentabilidade – O tema da sustentabilidade Suchodolski.
originou-se na economia (“desenvolvimento sustentável”) e na

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A integração da Escola x Família x Comunidade comunidade é, por exemplo, um incentivo e a implantação dos
conselhos escolares que devem atuar de maneira ativa e
Não há como pensarmos em educação sem o envolvimento autônoma.
da família nesse processo. Escola e família são instituições Pais e mães podem participar de várias formas no
sociais muito presentes na vida escolar do aluno, de forma que ambiente escolar e na própria educação dos filhos, basta que a
só se pode pensar em sucesso educativo se pensarmos escola ofereça opções e dedique um tempo para que isso
também em trabalho conjunto. Educar é sem dúvida um papel aconteça. Claro que essa não é uma tarefa fácil, uma vez que os
que recai sobre a família e a escola. Por isso, quanto mais professores estão envolvidos emocionalmente com seus
estreita for essa relação, melhor será o resultado. Pais e alunos e famílias. Famílias e escola têm a responsabilidade de
professores têm objetivos comuns e precisam ser os mais educar as crianças, para isso precisam estabelecer uma relação
cordiais, coerentes e responsáveis nesse processo. de parceria, aumentando as possibilidades de compartilhar
Não há como conceber um compartilhamento da ação critérios educativos que possam minimizar as possíveis
educativa sem considerar os contatos entre as famílias e os diferenças entre os dois ambientes, escola e família.
educadores. Essa é uma questão primordial que deve ser Não há dúvidas que o ambiente escolar e a família
muito mais frequente na educação dos anos iniciais do que nas compõem o meio social no qual o aluno está inserido. Eles dois
outras etapas, os contatos podem ser de várias naturezas: mais o local em que localiza sua residência ou sua escola, bem
contatos rotineiros, reunião de pais, reuniões de, reuniões de como os laços sociais e econômicos compõem o meio social
conselho de escola, comemorações, trabalho do professor e com forte interferência no aprendizado e na motivação para
informações da própria criança. aprendê-lo.
Todas as formas de contatos entre escola e família sevem
para aproximar as famílias do universo escolar e para que a A educação como responsabilidade de todos
escola possa conhecer a dinâmica familiar daquele aluno,
quanto mais à escola conhece o aluno e sua família mais Observa-se nas últimas décadas, uma crescente
próxima estarão do sucesso na educação dele. preocupação com essa inserção da comunidade na escola,
Quando falamos na necessidade da relação entre família e inclusive com programas voluntários, como os famosos
escola, falamos principalmente na possibilidade de “Amigos na escola”. Independentemente das questões
compartilhar critérios educativos para que possam minimizar ideológicas que esse tipo de participação possa suscitar
as possíveis diferenças entre os dois ambientes, Para o aluno, sabemos que a comunidade tem um papel importante na
é muito mais produtivo que os ambientes tenham ideias construção da autonomia da escola, principalmente da escola
parecidas sobre educação. O crescimento harmonioso do pública porque essa correrá uma medida em que a escola se
aluno deve permear a colaboração entre as duas instâncias, coloca a serviço dos interesses da população que dela
família e escola, de forma que possa contribuir para: necessita.
Buscar meios para que a família possa criar o hábito de Paro argumenta que a ausência da comunidade na escola
participar da vida escolar dos seus filhos, percebendo o quanto pública torna-se mais difícil a avaliação da qualidade do ensino
a família é importante no processo Ensino Aprendizagem do ofertado. Os pais, até mesmo mais que os alunos, como co-
aluno, através de ações previstas no Projeto Político usuário da escola, são capazes de apontar problemas e, muitas
Pedagógico, propor alteração no Projeto Político Pedagógico vezes, sugerir ações para solução deles. Além de todos esses
com o intuito de melhorar o processo ensino aprendizagem, aspectos é ainda importante realizar a divisão do poder na
despertar as famílias, fazendo com que possam perceber a escola possibilitando a comunidade participar da tomada de
importância da participação nas atividades escolares dos decisões.
filhos, promover atividades que permitam o envolvimento das A relação entre escola e comunidade precisa ser um espaço
famílias, criar momentos de integração entre pais, alunos e aberto onde favoreça e solicite a participação de toda essa
comunidade escolar, mostrando-lhes o quanto eles são abertura aponta para o caráter interdependente da escola.
importantes na vida escolar de seus filhos. Essa interação entre escola e comunidade é amparada por leis
que exigem, por exemplo, a criação dos conselhos escolares.
Relação Escola x Comunidade Essas são estratégias de interação e de democratização do
espaço escolar e favorecem a democratização do ensino.
Para Libâneo102 a organização de atividades que
asseguram a relação entre escola e comunidade, implica ações Gestão escolar democrática
que envolvem a escola e suas relações externas, tais como os
níveis superiores de gestão do sistema escolar, os pais, as A escola tem como uma de suas atribuições desenvolver
organizações políticas e comunitárias, as cidades e os ações e atividades que ensinem e aprimorem o respeito ás
equipamentos urbanos. O objetivo dessas atividades é buscar diferenças entre todos. Para tanto, se faz necessário que a
as possibilidades de cooperação e de apoio, oferecidas pelas escola efetive ações em prol do desenvolvimento da cidadania.
diferentes instituições, que contribuam para o aprimoramento É nesse contexto que se destaca a gestão democrática do
do trabalho da escola, isto é, para as atividades de ensino e de ensino público, princípio constitucional que traduz a
educação dos alunos. Espera-se especialmente, que os pais participação ativa e cidadã da comunidade escolar e local na
atuam na gestão escolar mediante canais de participação bem condução da escola, pois a gestão da escola é um ato político
definidos. que implica tomada de decisões que não podem ser
Assim, podemos inferir que a participação efetiva da individuais, mas coletivas.
comunidade na escola é uma responsabilidade da escola. Essa No contexto educacional, a democracia deve ser o princípio
participação traz, sem dúvidas, inúmeras vantagens, porém norteador da prática pedagógica, configurando-se como
reconhece-se que há inúmeros obstáculos em relação a tal fundamento das ações escolares. Desse modo, o
participação. Mesmo assim, a escola não deve desistir, pois desenvolvimento de práticas democrático é parte da
essa participação deve ser entendida como uma questão construção de um sistema que respeita os direitos individuais
política, que auxilia na construção da cidadania. Um bom e coletivos de todos. Assim, é fundamental que a escola efetive
começo para efetivas mudanças no padrão de participação da ações que concretizem a gestão democrática, entre elas, a

102LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas,


estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Pedagógicos 129


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efetivação do Conselho da Escola e a realização de eleições filhos, favorece a autonomia e a autodeterminação nos seus
diretas para direção e vice direção. filhos sua comunicação orienta-se necessidades dos filhos.
No entanto, para que a gestão democrática se concretize é Os conflitos entre famílias e escolas podem advir das
essencial o desenvolvimento de ações pautada nos princípios diferenças de classes sociais, valores, crenças, hábitos de
de autonomia e interculturalismo, em processos de interação e comunicação subjacentes aos modelos educativos.
participação e de cooperação na construção de uma sociedade Tanto crianças como pai pode comportar-se segundo modelos
mais justo e igualitária. Para tanto, o processo de ensino- que não são da escola. Isto pode não ser um problema para as
aprendizagem é fundamental, pois por meio de práticas famílias das camadas sócias mais altas, quem tem a
democráticas desenvolvidas em sala de aula se vivencia e se possibilidade de escolher uma escola que se assemelhe ao seu
aprende o respeito às diferenças, possibilitando a resolução próprio modelo. Esta não é a realidade para as classes
positiva de conflitos e favorecendo a realização de objetivos trabalhadoras. Os modelos adotados pelas escolas dependem,
coletiva. em geral, da disposição das diretorias e de sua orientação.
Portanto, se a escola busca desenvolver valores
democráticos como o respeito, a justiça, a liberdade e a A participação dos pais na vida da escola
solidariedade, devem necessariamente, democratizar os
métodos e os processos de ensino-aprendizagem e, Sabe-se que em geral, os pais poucas participações
fundamentalmente, o relacionamento entre professor e aluno. exercem na determinação do que acontece na escola. Algumas
Professores que estabelecem relações horizontais com seus vezes teme-se a participação de certos pais que, sendo muito
alunos, propiciando o diálogo sobre conteúdos e vivências, eloquentes e de temperamento forte, tentam impor sua
conseguem concretizar intervenções que atendem ás questões vontade sobre procedimentos escolares e que muitas vezes
individuais e coletivas. Essa atitude, além de respeitar as funcionariam mais para “facilitar” sua própria vida, ou de seus
condições e possibilidades de cada um, proporciona o êxito do filhos, do que para melhorar a qualidade do ensino, conforme
processo de ensino-aprendizagem. percebido por gestores e professores. Em vista disso, muitas
vezes, os dirigentes escolares não apenas deixam de ouvir os
A relação Família x Escola pais, como até evitam fazê-lo, e de dar espaço para a
participação familiar. É possível que ajam dessa forma
Há inúmeros fatores a serem levados em conta na também por terem receio de perder espaço e autoridade.
consideração da relação família/escola. O primeiro deles, é que Observando a escola, podemos perceber que a maioria dos
a ação educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, pais por terem dificuldades em estarem frequentes na escola
dos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão de tem nos revelado não apenas uma carência, mas nos fez
sentimentos e emoções que estão em jogo, na natureza dos perceber que estamos no caminho certo ao realizar ações que
laços pessoais entre os protagonistas e, evidentemente, nas despertem neles o entendimento da importância dessa
circunstâncias em que ocorrem. participação. Porém não podemos deixar de registrar um
Outra consideração refere-se ao comportamento das imobilismo ou incapacidade da escola em elaborar ações que
famílias das diferentes camadas sociais em relação à escola superem ou ajudam superar essas limitações, pois o que mais
pública, famílias de classe média desenvolvem estratégias de ouvimos a escola dizer que é muito difícil trazer os pais para a
participação, tendo em vista a criação de condições para o escola, isso tem caracterizado o desânimo e a falta de vontade
sucesso escolar de seus filhos, além dos mais, o nível de em mudar situações.
escolaridade e a facilidade de verbalização possibilitam a esses Exemplificando esforços de mudanças dessa situação,
pais uma crítica que famílias das classes trabalhadoras não decidimos assumir juntamente com os diretores a realização
conseguem ou não ousam fazer. de trabalho para promover a superação dessas dificuldades, e
Outro fator a ser considerado refere-se às estratégias de tomamos a iniciativa de promover encontros, realizar
socialização escolar, se são complementares ou não às da reuniões e palestras com pais de alunos de nossas escolas,
escola, e isto depende muito de classe social que a família abrindo-se para apoiar as famílias como forma de promover a
pertence. As famílias podem desenvolver práticas que venham integração dos mesmos ao seu trabalho.
facilitar a aprendizagem escolar (por exemplo: preparar para A participação dos pais na vida da escola tem sido
a alfabetização) e desenvolver hábitos coerentes com os observada em pesquisas, como um dos indicadores mais
exigidos pela escola (por exemplo: hábitos de conversação) ou significativos na determinação da qualidade do ensino, isto é
não. aprendem mais os alunos cujos pais participam mais da vida
Além de estratégias de socialização, as famílias diferem da escola.
uma das outras quanto a modelos educativos. Bouchard103
distingue, de forma geral, três modelos: o “racional”, o Referência:
“humanista” e o “simbiossinérgico”. No racional, os pais
mantêm uma hierarquia na qual decidem e impõem suas ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan
decisões sobre as atividades e o futuro dos filhos. Dão muita Marcelo. Bauman e a educação. Belo Horizonte: Autêntica,
importância à disciplina, à ordem, à submissão, à autoridade. 2009.
Nas suas estratégias educativas, os pais distribuem ordens, BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade.
impõem, ameaçam, criticam, controlam, proíbem, dão as Tradução: Mauro Gama; Cláudia Martinelli Gama. Rio de
soluções para a criança. Orientam mais para um conformismo Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
do que para a autonomia. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar:
No modelo humanista, os pais se colocam mais como guias, a aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés;
dando aos filhos o poder de decisão, numa política que Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
Bouchard chama de autogestão no poder pela criança. Entre as GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São
estratégias educativas estão as seguintes: permite e estimula a Paulo Perspec. , São Paulo, v. 14, n. 2, p. 03-11, junho de 2000.
expressão das emoções pelos filhos, encoraja nos seus Disponível em
empreendimentos, reconhece e valoriza as capacidades dos <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010
2-88392000000200002&lng=pt_BR&nrm=iso>.

103 BOUCHARD, J. M. De I'Institution a Ia communauté: les parents et les


professionels-une relation qui se construit. In: DURNING, R Education familiale.
Vigneux: Matrice, 1988.

Conhecimentos Pedagógicos 130


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GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade


neoliberal. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed,
2001. Relação professor-aluno,
LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação gestão da sala de aula,
Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
Cortez, 2003
agrupamentos produtivos,
PARO, V. Gestão democrática da escola pública. 3ª ed. gerenciamento do tempo,
São Paulo: Ática, 2003. organização do espaço como
fatores determinantes da
Questões
prática pedagógica;
01. Assinale certo ou errado para a assertiva abaixo:
Ao tratar da concepção de homem, Paulo Freire entende
que o homem começa a ser sujeito social, independente do Professor – Aluno
contato com outros homens.
( ) Certo ( ) Errado A interação entre professor e o aluno

02. Com relação ao convívio família/escola, a ação A relação professor e aluno é uma categoria fundamental
educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, dos do processo de aprendizagem, pois dinamiza e dá sentido ao
seus objetivos, dentre outros aspectos. processo educativo. Essa relação deve estar baseada na
( ) Certo ( ) Errado confiança, afetividade e respeito, cabendo ao professor
orientar o aluno para seu crescimento interno, isto é fortalecer
03. O tema da sustentabilidade originou-se na – lhe as bases morais e críticas, não deixando sua atenção
economia (“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, voltada para o conteúdo a ser dado.
para se inserir definitivamente no campo da educação, Segundo Libâneo (1994)104 o professor não apenas
sintetizada no lema “uma educação sustentável para a transmite uma informação ou faz perguntas, mas também
sobrevivência do planeta. ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que
( ) Certo ( ) Errado aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar
respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As
respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão
Respostas
agindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram
na assimilação dos conhecimentos.
01. Resposta: errado
Apesar de estar sujeita a um programa, normas da
Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser instituição de ensino, a interação do professor e do aluno
um sujeito social, quando estabelece contato com outros forma o centro do processo educativo. Muitos fatores
homens, com o mundo e com o contexto de realidade que influenciam as relações entre os alunos e o professor,
os determina geográfica, histórica e culturalmente, é nessa todavia a visão sobre o papel da educação que o professor
perspectiva que a escola se torna um dos espaços e os alunos possuem torna-se uma orientação primordial
privilegiados para a formação do homem. para o trabalho desenvolvido. Para Freire (1987)105, a
educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já
02. Resposta: certo que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Há inúmeros fatores a serem levados em conta na Percebe-se, que nos últimos anos a prática docente têm
consideração da relação família/escola. O primeiro deles, é enfrentado muita dificuldade em seu trabalho, o
que a ação educativa dos pais difere, necessariamente, da relacionamento tende a ser diferente do passado e o professor
escola, dos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão precisa acompanhar essas mudanças, dentre elas, o convívio
de sentimentos e emoções que estão em jogo, na natureza de classes sociais, culturas, valores e objetivos diferentes,
dos laços pessoais entre os protagonistas e, evidentemente, assim, pode-se dois aspectos da interação professor-aluno:
nas circunstâncias em que ocorrem. Transmissão de conhecimento e a Relação pessoal entre
professor e aluno e as normas disciplinares impostas.
Dessa forma, o autor defende que que a aula não pode ser
03. Resposta: certo
considerada apenas uma mera transferência de conhecimento,
O tema da sustentabilidade originou-se na economia
devendo se preocupar com o conteúdo emocional e afetivo,
(“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, para se que faz parte da facilitação da aprendizagem. Percebe-se que
inserir definitivamente no campo da educação, sintetizada não estamos falando da afetividade do professor para com
no lema “uma educação sustentável para a sobrevivência determinados alunos, nem de amor pelas crianças, de modo
do planeta”. O que seria uma cultura da sustentabilidade? que a relação maternal ou paternal deve ser evitada, porque a
Esse tema deverá dominar muitos debates educativos das escola não é um lar.
próximas décadas. Na sala de aula, o professor se relaciona com o grupo de
alunos, ainda necessite atender um aluno especial ou que
os alunos trabalhem individualmente, a interação deve
estar voltada para a atividade de todos os alunos em torno
dos objetivos e do conteúdo da aula.
A escola, como um todo, passa por uma crise de
sentido, os alunos não sabem porque vão a ela, a falta de
significação do que é estudar, a evasão, a reprovação e a

104 LIBÂNEO, J. C. Didática. Coleção Magistério. 2º grau. Série formação do 105 FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
professor. São Paulo: Cortez, 1994.

Conhecimentos Pedagógicos 131


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violência que existem nas mais diferentes formas acabam Atentemos então ao que Tiba (1998)106, diz em relação a
por transformar a relação entre o professor e o aluno esta busca de meios e caminhos: “Ao perceber que não sabe, o
ainda mais conflitante e difícil de ser trabalhada. ser humano tem a tendência natural de buscar meios de
O aspecto afetividade influi no processo de aprendizagem aprender, já que é dotado de inteligência e, em consequência,
e o facilita, pois nos momentos informais, os alunos de curiosidade. Associando estes dois atributos, pode surgir a
aproximam-se do professor, trocando ideias e experiências criatividade, que fornece a base para as grandes invenções da
várias, expressando opiniões e criando situações para, humanidade. O espírito aventureiro instiga às descobertas”.
posteriormente, serem utilizadas em sala de aula. O O professor deve possuir habilidades para passar o
relacionamento baseado na afetividade é, portanto, um conteúdo da matéria, incentivando-os ao estudo, fazendo-os
relacionamento produtivo auxiliando professores e alunos na levantar temas sobre o texto dado, discutindo e escrevendo, de
construção do conhecimento e tornando a relação entre os acordo com o explicado por Lipman (1994)107: “À medida que
dois menos conflitante, pois permite que ambos se conheçam, se passa por um dos currículos de Filosofia para Crianças,
se entendam e se descubram como seres humanos e possam aprende-se como é importante, para que se obtenha sucesso,
crescer. que os materiais sejam introduzidos oportunamente e na
Educar, do latim educare, é conduzir de um estado a outro, sequência adequada. Ensinar filosofia implica fazer com que os
é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação, estudantes levantem temas e, então, voltar a eles
conforme é explicado por Libâneo (1994): “o ato pedagógico repetidamente, elaborando-os nas discussões dos estudantes
pode ser, então definido como uma atividade sistemática de à medida que as aulas se sucedam.”
interação entre seres sociais tanto no nível do intrapessoal Podemos sugerir, como exemplo, uma aula em que o
como no nível de influência do meio, interação esta que se professor aborde o Mito da Caverna, ao falar a respeito de
configura numa ação exercida sobre os sujeitos ou grupos de Platão. E pode tentar mostrar, sob o signo da universalidade, a
sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os condição do filósofo. Ele levanta o tema e elabora discussões
tornem elementos ativos desta própria ação exercida. em que a classe possa chegar à conclusão de que é necessária
Presume-se aí, a interligação de três elementos: um agente a fuga do mundo sensível, das sombras e dos fantasmas, para
(alguém, um grupo, etc.), uma mensagem transmitida encontrar fora da caverna o verdadeiro mundo dos objetos e o
(conteúdos, métodos, habilidades) e um educando (aluno, sol que ilumina o seu verdadeiro e autêntico ser. Aquele que
grupo de alunos, uma geração) (...)”. aprende a se voltar das sombras para a fonte de luz buscará
Dessa forma, podemos também pensar na ideia esta fonte como finalidade última do trajeto do pensamento.
kantiana de aufklärung (esclarecimento), pela qual o Além da explicitação dos objetivos, da escolha de
homem deve aprender a pensar, o que significa a saída do conteúdos e da orientação metodológica o trabalho do
homem de sua menoridade pela qual o homem se torna professor na sala de aula dependerá da procura de
autônomo, uma vez que, na sua filosofia, a via de procedimentos que viabilizem a prática docente. Nesse
conhecimento do belo é a conduta ética exigida aos sentido, de nada adianta propor no planejamento a intenção
homens que se querem autônomos, isto é, não facilmente de estimular a consciência crítica se o professor se restringir à
governáveis por outrem. aula expositiva sempre e se, ao avaliar, apenas verificar a
O homem fica na menoridade à medida que se recusa reprodução do que foi transmitido. O professor deve sempre
a pensar por conta própria, se recusa a viver estar atento aos alunos, às vezes a própria expressão dos
autonomamente, pois é mais cômodo, de fato, viver sob a alunos indica que é necessário fazer alguma pergunta, não
tutela natural da família ou do Estado, por exemplo. apenas com o intuito de verificar se o exposto foi
A menoridade significa depender do outro para compreendido, mas também de dar informações aos
pensar, é mais fácil ser menor em nossa sociedade alunos, para que corrijam seus erros, e ver se entenderam
quando, para viver, não se depende do próprio pensar, o conteúdo, se há ainda pontos obscuros, se é necessário
quando o outro pode fazê-lo. Ao professor, cabe, então, passar mais exercícios ou dar mais exemplos antes de ir
propiciar ao aluno a possibilidade de utilizar seu pensamento para um novo tema.
para crescer, se libertar e sair da menoridade, da submissão do Quando o professor pergunta, ele não está simplesmente
seu pensamento ao pensar de outra pessoa. Na relação querendo obter respostas que já conhece, pois incentivar o
professor-aluno, o professor, usando da afetividade, poderá pensamento filosófico é querer que o educando reflita de
entender melhor seus alunos e conseguir elementos para maneira nova, considere métodos alternativos de pensar e
atingir seus objetivos. agir. Neste ponto, devemos observar o que foi escrito por
Uma forma de o professor interferir, melhorar e consolidar Libâneo (1994): “O professor não apenas transmite uma
a relação entre o professor e o aluno no sentido de explorar as informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos.
possibilidades da filosofia, é discutir e compreender os Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a
pressupostos e as concepções de filosofia que estão presentes expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho
na sua prática, pois, sem isso, vamos continuar apenas a docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões
estudar história da filosofia ou alguns temas isolados, sem uma mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às
postura filosófica, atendendo apenas a necessidades imediatas dificuldades que encontram na assimilação dos
e curriculares. conhecimentos. Servem, também, para diagnosticar as causas
O professor deve constantemente esforçar-se em buscar que dão origem a essas dificuldades.”
estas possibilidades e tentar uma discussão dos diversos No entanto, vemos que, apesar dos esforços, o objetivo
temas trazendo-os para os dias de hoje, para os problemas principal, que é dar possibilidade ao educando de
atuais, tornando o ensino e a relação professor aluno construir seu conhecimento, fica muitas vezes
proveitosos, assim, deve-se criar uma situação de prejudicado pela falta da capacidade de ouvir o aluno e,
comunicação entre os alunos com um propósito educativo, assim, descobrir as suas dificuldades. Outro ponto que
buscando meios e caminhos, de acordo com o que a situação e devemos ter em mente é o de que o professor não pode ter
a classe pedem; ele intervém pouco, muito ou nada, colocando dúvidas sobre o que seja de fato a autoridade do
os alunos como sujeitos de sua própria reflexão, utilizando-se professor, para que ela não se pareça, como às vezes
da curiosidade natural. acontece, com autoritarismo e também, em contrapartida,

106 TIBA, Içami. Ensinar aprendendo. São Paulo: Editora Gente, 1998.
107 LIPMAN, M. A filosofia na sala de aula, São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

Conhecimentos Pedagógicos 132


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não propicie a total ausência de lei, impedindo a conteúdo da unidade a ser ensinada com a experiência do
disciplina, que é necessária ao aprendizado, e a aluno, ajudar o aluno a descobrir a interdisciplinaridade, não
organização de qualquer trabalho. deixar que assuntos menores influam na discussão em classe
O professor não pode ser autoritário a ponto de achar que sobre a disciplina que está sendo enfocada, criar situações em
sua palavra é a lei, pois, quando há uma falha na comunicação que o aluno possa expressar seus sentimentos, variar a
entre professor/aluno, aluno/professor, poderá ocorrer o composição dos grupos de estudo, tentar evitar o monopólio
distanciamento das duas partes, o que prejudicará da discussão, respeitar e fazer respeitar as diferentes opiniões
substancialmente a relação, uma vez que o diálogo é um e usar vocabulário que seja claramente compreendido.
elemento fundamental da aprendizagem, fato que é reforçado O professor como facilitador do aprendizado deverá
por Haydt (1995)108, sobre a importância do estabelecimento buscar a motivação de seus alunos, está não é uma tarefa fácil,
do diálogo: “Na relação professor-aluno, o diálogo é pois a falta de motivação pode ter origem em problemas
fundamental. A atitude dialógica no processo ensino- particulares do aluno como cansaço, necessidades afetivas não
aprendizagem é aquela que parte de uma questão satisfeitas e, até mesmo, a fome. O docente deverá centrar os
problematizada, para desencadear o diálogo, no qual o seus esforços na aprendizagem e, ao trabalhar com ela, tornar
professor transmite o que sabe, aproveitando os o ensinamento significativo para o aluno, fazendo-o sentir que
conhecimentos prévios e as experiências, anteriores do aluno. a matéria tem significância para sua vida.
Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou Na visão construtivista, o aluno é o centro, devendo estar
resolve a situação-problema que desencadeou a discussão.” sempre mobilizado para pensar e construir o seu
Para exercer a autoridade, o docente deve saber da conhecimento, no entanto esse enfoque construtivista não
importância do seu trabalho e mesclar com a afetividade coloca o professor em segundo plano; pelo contrário, o seu
a sua autoridade, recorrendo, então, ao diálogo como papel é de máxima importância no processo de ensino, não
forma de chegar ao resultado pretendido: uma classe sendo aluno e professor considerados iguais, pois, aos
integrada, compenetrada e interessada. Podemos também professores, cabe a direção, a definição de objetivos e o
reforçar a importância do diálogo usando Freire (1996)109: controle dos rumos da ação pedagógica, não se utilizando da
estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria autoridade arbitrariamente, mas exercendo uma autoridade
pergunta, o que se pretende com essa ou aquela pergunta (...) própria de quem tem zelo profissional e se responsabiliza pela
o fundamental é que professor e alunos saibam que a postura qualidade do seu trabalho, não deixando os alunos à deriva,
deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, sem diretividade e organização.
enquanto falam ou enquanto ouvem. O professor deve usar A disciplina e o equilíbrio devem ser mantidos em classe,
do diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas para que o aprendizado não seja prejudicado, e para que se
e alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada. O desenvolva, no aluno, o auto respeito, o autocontrole e o
professor deve ensinar que o diálogo só acontece quando respeito, ficando o professor atento para que certas situações
os interlocutores têm voz ativa, e que se os interlocutores não fujam do limite. O professor deve se utilizar da liderança
se limitarem a impor visões do mundo sem considerar o controlando-a, no entanto, para não inibir a criatividade do
que o outro tem a dizer, não estarão praticando um aluno, criando uma relação de respeito mútuo e organizando
diálogo. sua metodologia de trabalho.
A tendência do professor, por causa de sua carga de
conhecimento e experiência, é pensar que o aluno não sabe Questões
nada, o que acaba por complicar a relação professor-aluno,
pois o ensino é ato comum do professor e do aluno; o 1. (Prefeitura de São Luís/MA – Conhecimentos
professor, enquanto ensina, está continuando a aprender. Básicos – Magistério I e II – CESPE/2017) O sucesso e a
Ademais, o professor deve facilitar ao aluno o entendimento qualidade da aprendizagem no processo pedagógico
do que é fazer parte de um grupo ou de uma comunidade, dependem, entre outros fatores, de o professor
ajudando-o a conhecer as normas que regem a conduta aceita (A) priorizar atividades de memorização, a fim de
nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e o promover o pleno desenvolvimento cognitivo dos alunos.
político. O respeito mútuo é a valorização de cada pessoa, (B) delegar à família dos alunos a responsabilidade pela
independentemente de sua origem social, etnia, religião, sexo, qualidade do desempenho deles em atividades extraclasse.
opinião, é poder revelar seus conhecimentos, expressar (C) proteger e prestar assistência financeira à família dos
sentimentos e emoções, admitir dúvidas sem ter medo de ser alunos de baixa renda.
ridicularizado, exigir seus direitos. (D) valorizar as emoções dos alunos e sua relação de
Podemos fundamentar o exposto pelo que foi dito por afetividade com eles.
Severino(2000)110: “O educador não pode realizar sua tarefa e (E) disciplinar e subordinar os alunos a rigorosas regras de
dar sua contribuição histórica se o seu projeto de trabalho não conduta que limitem a criatividade deles.
estiver lastreado nesta visão da totalidade humana. À filosofia
da educação cabe então colaborar para que esta visão seja 2. (IF/RR – Pedagogo – FUNCAB) De acordo com Paulo
construída durante o processo de sua formação. O desafio Freire a relação entre professor e aluno deve ser de:
radical que se impõe aos educadores é o de um inteligente (A) diálogo.
esforço para a articulação de um projeto histórico-civilizatório (B) hierarquia.
para a sociedade brasileira como um todo, mas isto pressupõe (C) autonomia.
que se discutam, com rigor e profundidade, questões (D) autoridade.
fundamentais concernentes à condição humana.” (E) disciplina.
O docente estará favorecendo a relação professor aluno 3. Relação professor aluno: segundo Paulo Freire, o bom
seguindo uma série de regras: utilizar as aulas expositivas professor é, EXCETO:
quando sentir que com este método estará atingindo o objetivo (A) O que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a
do ensino da unidade, demonstrar a variedade de explicações intimidade do movimento do seu pensamento.
para um mesmo fenômeno, ser flexível e capaz de adaptar o (B) Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar.
programa para cada situação que se apresente, relacionar o

108HAYDT, Regina Célia. Curso de didática geral. 2a ed. São Paulo: Ática, 1995. SEVERINO, Antonio. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez,
110
109FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática 2000.
educativa”. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.

Conhecimentos Pedagógicos 133


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(C) Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque prática comunitária – mas também, discutir com os alunos a
acompanham as idas e vindas de seu pensamento, razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino
surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. dos conteúdos.
(D) Aquele que rejeita a participação do aluno, e enaltece O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha
os melhores alunos e discrimina os que apresentam os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega,
dificuldades. como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que eu mando e não
o que eu faço”.
4. A relação entre professor e aluno depende,
fundamentalmente: 4. Alternativa B.
I. Do clima estabelecido pelo professor, da relação empatia A atitude do professor em sala de aula é importante para
com seus alunos; criar climas de atenção e concentração, sem que se perca
II. De sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de alegria. As aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer que
compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu atue de maneira indisciplinada. Portanto, o papel do professor
conhecimento e o deles. é o de mediador e facilitador; que interage com os alunos na
III. De buscar educar para as mudanças, para a autonomia, construção do saber. Neste sentido, é muito importante ajudar
para a liberdade possível numa abordagem global, os professores a saber ensinar, garantindo assim que todos os
trabalhando o lado de seus deveres e de suas alunos possam aprender e desenvolver seu raciocínio.
responsabilidades sociais. Alguns professores sentem que seu relacionamento com os
IV. De sua autoridade, para que haja silêncio e ordem alunos determina o clima emocional da sala de aula. Esse clima
fundamentais para a aprendizagem. poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o
Estão corretas: relacionamento é afetuoso, cordial.
(A) IV. Neste caso, o aluno sente segurança, não teme a crítica e a
(B) I, II e III. censura do professor. Seu nível de ansiedade mantem-se baixo
(C) Todas estão corretas. e ele pode trabalhar descontraído, criar, render mais
(D) Todas estão incorretas. intelectualmente.

5. Em se tratando da relação professor-aluno na sala de 5. Alternativa C.


aula, assinale a alternativa incorreta. Percebe-se algumas vezes, por parte do professor, uma
(A) O trabalho docente nunca é unidirecional. vigilância constante, o que pode ocasionar um clima de tensão
(B) A relação maternal ou paternal deve ser evitada, entre as crianças, por estarem sempre antecipando as
porque a escola não é um lar. consequências de seus ―maus atos: o aluno corre o risco de
(C) O professor autoritário exerce a autoridade a serviço ficar sem recreio, de ser retirado após as aulas, além de outras
da autonomia e independência dos alunos. ameaças de castigo. Quem é ―bem comportado recebe
(D) A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo recompensas e é apresentado como modelo aos colegas.
da prática docente, ou seja, à autoridade profissional.

Resposta
Educação e Sociedade (A
1. Alternativa D. educação como processo de
Como vimos, para que haja aprendizagem de qualidade socialização);
vários fatores são necessários, como capacidade intelectual e
predisposição do aluno para aprender, nível de conhecimento
do professor e capacidade para produzir conteúdo, apoio
extraclasse realizado pelos pais e outros responsáveis, etc. No Caro(a) Candidato(a), esse assunto já foi abordado no
entanto, existe um fator que pode ser considerado como decorrer da nossa apostila.
catalisador do processo educativo, pois quando o
professor se dispõe a ensinar e o aluno à aprender,
relações de afetividade vão se formando entre os dois
mediante uma troca. Portanto, sem uma relação afetiva
A democratização da escola;
ampla, o processo ensino aprendizagem tende a acontecer de
forma desarmônica, ou seja, alguns aspectos da pessoa ficam
atrofiados, principalmente no que diz respeito as emoções. Conselho Escolar e Conselho de Classe
2. Alternativa A. Antes de adentramos especificamente nos aspectos
De acordo com o texto lido, sabemos que Freire reforça a encontrados nesses dois assuntos, vale fazermos a
importância do diálogo, para o autor, o professor deve usar do conceituação de Conselho Escolar, passando as suas
diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas e especificidades, passando posteriormente ao Conselho de
alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada. O professor Classe.
deve ensinar que o diálogo só acontece quando os
interlocutores têm voz ativa, e que se os interlocutores se I - O que é Conselho Escolar?111
limitarem a impor visões do mundo sem considerar o que o
outro tem a dizer, não estarão praticando um diálogo. Para responder a essa pergunta, iremos nos valer dos
apontamentos trazidos pelo Estatuto do Conselho Escolar:
3. Alternativa D.
Conforme Paulo Freire, pensar certo coloca ao professor O Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza
ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os deliberativa, consultiva e fiscal, não tendo caráter político-
saberes com que os educandos, sobretudo os das classes partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, não sendo
populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na remunerados seu Dirigente ou Conselheiros.

111 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/pr_lond_sttt.pdf

Conhecimentos Pedagógicos 134


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Tem como objetivo efetivar a gestão escolar, na forma de O papel do Conselho Escolar é imprescindível, tanto no
colegiado, promovendo a articulação entre os segmentos da aspecto administrativo, quanto na dimensão pedagógica.
comunidade escolar e os setores da escola, constituindo-se no Neste caderno, estamos o tempo todo reforçando a
órgão máximo de direção. importância e urgente necessidade de fortalecer, cada vez
mais, o Conselho Escolar, introduzindo uma questão que,
Feitas essas considerações sobre sua formação, historicamente, tem sido vital para a humanidade: a Educação
conceitualmente tratamos o Conselho Escolar como sendo um em Direitos Humanos. Difundir essa cultura por meio das
processo que regula o funcionamento da escola, englobando a escolas constitui passo importante, pois torna conscientes
tomada de decisão, planejamento, execução, alunos (as), trabalhadores (as) em Educação e representantes
acompanhamento e avaliação das questões administrativas e de comunidade na luta pela garantia de direitos e pela
pedagógicas, efetivando o envolvimento da comunidade, no conquista de novos direitos. Lefort113 nos ensina que a garantia
âmbito da unidade escolar, baseada na legislação em vigor e de direitos implica na luta pela conquista de novos direitos.
nas diretrizes pedagógicas administrativas fixadas pela Desse modo, pensar em Direitos Humanos implica instalar e
Secretaria de Educação. difundir uma cultura em Direitos Humanos na escola. Nessa
tarefa, o Conselho Escolar pode e deve contribuir como
As partes que compõem o Conselho Escolar visam o protagonista, ao exercer ação mediadora nos processos de
interesse dos alunos, para cumprimento da função escolar, que articulação entre a escola e outras organizações da sociedade
traz como foco, o ensino na escola. na defesa e proteção dos Direitos Humanos.
Nesse sentido, o Conselho Escolar, ao assumir papel
Segundo o artigo Art. 9º do Estatuto do Conselho Escolar: decisivo na vivência da proposta curricular e na construção e
Art. 9º - A autonomia do Conselho Escolar será exercida com implementação do projeto político-pedagógico da escola, deve
base nos seguintes compromissos: fazer com que a Educação em Direitos Humanos seja
a) A legislação em vigor; contemplada. A criação de espaços para a promoção de
b) A democratização da gestão escolar; estudos, reflexões e discussões no cotidiano da escola deve
c) As oportunidades de acesso, permanência e qualidade de constituir uma ação inovadora do Conselho Escolar, ação essa
ensino na escola pública de todos que a ela têm direito. que necessita do envolvimento de todos os segmentos da
comunidade escolar, criando condições para a formação da
Relação do Conselho Escolar com os Direitos consciência crítica acerca da importância da instalação de uma
Humanos112 cultura de Direitos Humanos.
Na condição de um organismo de base, o Conselho Escolar
Os Conselhos Escolares, como espaços de reflexão de é espaço da prática da democracia participativa. E essa,
temáticas que se acham diretamente ligadas ao cotidiano da quando bem exercitada, concorre, efetivamente, para a
ação educativa escolar, devem ter, entre seus compromissos, a ampliação e para o fortalecimento dos diferentes segmentos
abordagem de questões relativas aos Direitos Humanos. Isso que compõem a escola e a comunidade. A atuação articuladora
se justifica pelo fato de que, hoje, essas questões ocupam lugar entre a escola, a comunidade e outras instituições sociais
importante tanto nas agendas políticas nacionais e confere ao Conselho Escolar poder social, possibilitando-lhe
internacionais, como em organismos de alcance mundial. agir como interlocutor de diferentes instâncias da educação e
Por causa da relevância dos Direitos Humanos para a da própria sociedade. Enquanto força social, o Conselho
educação, torna-se necessário que os Conselhos Escolares Escolar pode influenciar nas políticas educacionais e nos
conheçam a trajetória de sua construção no fazer histórico do projetos da escola, propondo ações inovadoras que
homem, entendendo como os mesmos foram se configurando contribuam para melhoria da qualidade do ensino, para a
até o presente momento e sendo capazes de reconhecer que a democratização da gestão e para a garantia dos Direitos
garantia de sua aplicação se impõe como uma condição básica Humanos.
para que as nações estejam situadas no campo das novas Nessa perspectiva, além das funções que lhe vêm sendo
democracias. atribuídas - deliberativa, consultiva, fiscalizadora e
O processo de democratização a que hoje assistimos na mobilizadora – o Conselho Escolar deve assumir uma nova
maioria dos países que, na sua história recente, foram função: propositiva, mediante a qual poderá exercitar a sua
marcados por regimes autoritários, abre espaços não apenas capacidade de criar, de inovar e de ter uma atuação mais
para a afirmação de direitos, como também assume decisiva na prática educativa escolar. Ao exercer papel
publicamente a pretensão de reparar as violações de Direitos propositivo, o Conselho Escolar estará, de fato, assumindo a
Humanos cometidas nos anos de autoritarismo que condição de um sujeito político coletivo, ou seja, um ator social
aconteceram no Brasil e no conjunto dos países da América capaz de interagir e intervir, como uma força coletiva, na
Latina, assim como as violações cometidas ao longo da história construção de projetos sociais. Nesses termos, o Conselho
do país, legitimadas pela cultura escravocrata, machista e Escolar, como espaço privilegiado da prática da participação e
patriarcal, que atingem principalmente as pessoas negras, da vivência de experiências democráticas, é local, por
indígenas e as mulheres. excelência, de promoção e exercício de cidadania e, por
Esse avanço se observa no Brasil, especialmente a partir da conseguinte, de Educação em Direitos Humanos.
última década, à medida que governos de tradição
democrática se tornaram signatários dos pactos Conselhos escolares e a valorização da diversidade:
internacionais de Direitos Humanos. Pretende-se que os uma dimensão mais democrática na escola
Direitos Humanos deixem de ser uma questão de governo e
passem a ser uma questão de Estado. Maria Cecília Luiz
Assim, educação e Direitos Humanos possuem uma íntima Sandra Aparecida Riscal
e estreita relação, cabendo aos Conselhos Escolares serem José Roberto Ribeiro Junior
agentes motivadores de sua reflexão, difusão e implementação
nas práticas educativas escolares.

112 Programa Nacional de Fortalecimento dos Escolares Conselhos Conselho 113 LEFORT, Claude A invenção democrática: os limites do totalitarismo. São

Escolar e Direitos Humanos. Ministério da Educação. Brasília – DF. Novembro de Paulo: Brasiliense, 1987.
2008

Conhecimentos Pedagógicos 135


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Democracia e respeito ao diferente que valorizem e reconheçam a importância da diversidade


política, social e cultural na vida local, regional ou nacional.
Os conselhos escolares são parte de um esforço que visa à Constitui, portanto, elemento fundamental da propagação das
implantação e implementação de processos de concepções de diversidade e direitos humanos. A escola é
democratização das decisões nas escolas públicas, através da parte da sociedade, e nela podem-se iniciar práticas
participação da comunidade escolar e local na vida da escola. democráticas e igualitárias.
Na perspectiva da legislação atual, eles têm como foco a
constituição de uma sociedade democrática por meio da O grande problema é que tal concepção tem se firmado
participação da comunidade nas instituições públicas. A gestão como um discurso e tem revelado que o conceito de
democrática, princípio sobre o qual se assenta o processo de democracia equivale a um produto exposto nas prateleiras da
democratização da educação no país e, particularmente, na mídia. Como mercadoria, a democracia está pronta para ser
escola, tem nos conselhos escolares sua pedra angular, porque consumida, seja em projetos governamentais, seminários ou
é pela participação da comunidade escolar nos processos propostas de trabalho. Ela é apresentada como algo que pode
decisórios da escola que se implementa a democratização das ser adquirido, assimilado e posto em uso imediatamente. Nos
relações escolares. meios de comunicação televisivos, jornais e revistas
Se, por definição, a gestão democrática é o resultado de um especializados, a democracia é vendida como um remédio
trabalho coletivo que tem os conselhos escolares como sua miraculoso, capaz de solucionar todas as dificuldades da vida
principal instância, a possibilidade de participação coletiva escolar. Longe de ser apresentada como um processo que
deve se apresentar, necessariamente, como um dos aspectos deveria se constituir pelas mudanças das práticas cotidianas
fundantes da vida escolar. Seu princípio deve nortear o dia a da escola, a democracia tornou-se uma fórmula ou um
dia da escola, em suas relações cotidianas e na valorização das receituário que, ao ser seguido, deve garantir o sucesso social
especificidades e singularidades do contexto histórico e social da escola.
dessa instituição, de sua comunidade e de suas expectativas de É como se bastasse vestir as escolas com uma roupagem
futuro. Por esse motivo, não se pode pensar que seja possível democrática para que toda a estrutura e os educadores
estabelecer um modelo de conselho escolar para todas as escolares se tornassem, desse ponto para frente,
escolas. Cada escola é única, sua comunidade é única, e o democráticos. É frequente escutar afirmações como:
debate que subsidiará as decisões relativas aos diferentes Implantaremos a democracia a todo custo, A partir de agora,
aspectos de cada escola é único, não podendo ser reproduzido seremos todos democráticos, ou Agora, que sabemos como
em outro ambiente. funciona, fica mais fácil. A democracia deixa de ser um
A escola constitui um espaço privilegiado para a processo que, de maneira gradual, conquista espaço por meio
implementação de práticas que combatam todos os tipos de de mudanças das práticas cotidianas para se tornar,
discriminação e preconceito, porque abriga, em seu interior, ironicamente, objeto de imposição.
todas as formas de diversidade étnico-racial ou cultural, A democracia e, em particular, a gestão democrática na
origem social, gênero, sendo o conselho escolar uma instância educação tornaram-se um cobiçado produto de moda, algo que
que representa os segmentos da escola, mas não toda a todas as escolas e secretarias municipais e estaduais de
diversidade da escola. Ele deve ser a instância que garante a educação almejam adquirir para que possam, publicamente, se
participação e a manifestação dessa diversidade na escola. É apresentar como democráticas. Se continuarmos nesses
necessário, por isso, que se estabeleça uma clara definição do passos, logo teremos selos que certificarão as escolas
campo de ação dos conselhos escolares, colocando-os, de fato, democráticas, permitindo que se estabeleça um ranking das
como uma instância de caráter deliberativo, normativo, fiscal, escolas mais democráticas. O sucesso da democracia como
mobilizador e inclusive pedagógico na vida escolar, que produto social acabou por contaminar todas as esferas sociais
determina os caminhos das ações políticas, sociais, culturais e e, hoje, dificilmente se aceita que um diretor de escola ou
pedagógicas da escola. autoridade educacional afirmem que não adotam a
A nova forma de organização dos conselhos escolares, democracia como prática em sua escola.
decorrente da concepção de gestão democrática, é, ainda, Como a estrutura do pensamento é, também, a estrutura
incipiente e encontra obstáculos em práticas tradicionais que da ação, todos os aspectos simbólicos de que se revestem os
consideram os conselhos como órgão assessor de atividades discursos sobre a democracia revelam as práticas
recreativas e financeiras da escola. Essa concepção intersubjetivas do campo escolar. As manifestações
assistencialista em nada contribui para a constituição da vida discursivas permitem compreender a estratégia de integração
escolar como um espaço de respeito às diferenças, porque e a busca de incorporação de uma estrutura simbólica aceita
atua, precisamente, no sentido contrário: ao estabelecer que a coletivamente. Por isso, para a compreensão do caráter do
participação de todos seja limitada à esfera do trabalho, não discurso veiculado acerca da democracia, é necessário que se
consolida um espaço de decisões e permite que poucos entenda o tipo de estratégia social que constitui.
continuem tendo o privilégio de determinar o destino dos O consenso representado pela democracia como forma de
demais. ação política vem exigindo que os diferentes agentes sociais
demonstrem publicamente sua adesão. A adoção da
A concepção de gestão democrática da educação está, democracia parece significar, de maneira pública, um modo de
indissociavelmente, vinculada ao estabelecimento de acumulação de prestígio que confere status àqueles que se
mecanismos legais e institucionais de participação política e à mobilizam muito mais para cumprir um ritual do que para
organização de ações voltadas para a participação social. A exercitar a interação democrática.
participação política da população tem papel fundamental na Assumindo caráter cerimonial, o efeito mobilizador e
formulação das políticas educacionais, em seu planejamento, unificador do discurso democrático, quando voltado para as
no processo de tomada de decisões ou ainda na definição de massas, tende, frequentemente, a tornar-se catarse coletiva,
onde, quando e como utilizar os recursos públicos com o passando a ter a forma de populismo. Quando proferido para
objetivo de implementar as deliberações coletivas. autoridades, significa a demonstração de adesão ao modelo
A participação da comunidade na gestão da escola político adotado e constitui uma espécie de propaganda
constitui um mecanismo que tem como finalidade não apenas pessoal de quem o faz. O discurso democrático pode remeter,
a garantia da democratização do acesso e da permanência com assim, à necessidade de reconhecimento dos agentes
vistas à universalização da educação mas também a escolares, quer por parte do coletivo da escola, quer por parte
propagação de estratégias democratizantes e participativas das autoridades superiores. Corresponde, portanto, a uma

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espécie de marketing pessoal constituído do consenso reprodução de práticas sociais preconceituosas quanto na luta
representado pela opinião geral. Isso significa que é preciso pela superação desses preconceitos. O predomínio de livros
distinguir o discurso democrático, que visa a atender à opinião didáticos e paradidáticos nos quais a figura da mulher é
pública, da ideia de democracia, como processo que instaura a ausente ou caracterizada como menos qualificada que o
livre e autônoma participação coletiva. homem contribui para uma imagem de inferioridade feminina,
A maneira como a opinião pública se constitui pode ser por um lado, e de superioridade masculina, por outro. A
concebida atualmente como o resultado da circulação dessas escolha das cores, o rosa e o azul, os papéis representados nas
opiniões pelos meios de comunicação amplificados pelas brincadeiras, a ausência das crianças negras nas salas de nível
novas tecnologias. A sociedade em que vivemos é mais avançado vão, entre outras questões, demarcando e
homogeneizante e burocratizada, em um mundo cujas referendando as posições machistas e racistas que persistem
fronteiras e espaços se contraem com a aceleração da em nossa sociedade.
capacidade de comunicação e informação. À medida que Ao identificarmos o cenário de discriminações e
aumenta o contato entre uma quantidade cada vez maior de preconceitos, vemos no espaço da escola as possibilidades de
pessoas, mais sensíveis elas se tornam à opinião umas das particular contribuição para a alteração desse processo. A
outras. Riesman114 chama esse tipo social, próprio da escola abriga em seu interior todas as diferentes formas de
sociedade contemporânea, de alterdirigido (other-directed). diversidade, quer sejam de origem social, sexual, étnico-racial,
Segundo Riesman, o que caracteriza o tipo social cultural ou de gênero. É, portanto, um espaço privilegiado na
alterdirigido é que seus contemporâneos são fonte da construção dos caminhos para a eliminação de preconceitos e
orientação para o indivíduo – tanto aqueles que lhe são de práticas discriminatórias. A escola democrática deve
conhecidos quanto aqueles que eles conhecem indiretamente, educar para a valorização da diversidade e formar indivíduos
através de amigos e dos meios de comunicação de massa. Essa capazes de exercer a cidadania com dignidade.
fonte, naturalmente, é ‘internalizada’, no sentido de que se Ressalta-se que esse papel não cabe somente às escolas
implanta bem cedo no indivíduo a dependência em face dela, mas também às políticas públicas, que precisam prevenir,
para a orientação da vida. As metas rumo às quais a pessoa investigar, estimular o debate e punir crimes de ódio baseados
alterdirigida se conduz mudam com essa orientação: apenas o em orientação sexual ou identidade de gênero. Questões de
processo mesmo de empenhar-se e o de prestar muita atenção gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual direcionam
aos sinais dos outros é que permanecem inalterados através práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade
da vida. contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no
O tipo de caráter descrito por Riesman como alterdirigido campo das ideias, a discriminação está no da ação, ou seja,
parece permitir que se estabeleçam algumas características trata-se de uma atitude.
dos sujeitos que nascem do mundo interativo, dos meios de A superação das discriminações implica a elaboração de
comunicação de massa, da internet e da informação políticas públicas específicas e articuladas. Os exemplos
globalizada. Esse processo contínuo e infinito é tão rápido relativos às mulheres, aos homossexuais masculinos e
quanto superficial, pois a finalidade é a informação, a femininos, às populações negra e indígena tiveram a intenção
familiarização, não o aprofundamento nem a análise ou a não apenas de explicitar que as práticas preconceituosas e
crítica. A voracidade com a qual se procuram e se consomem discriminatórias – misoginia, homofobia e racismo – existem
as informações tem a rapidez da leitura dos textos virtuais, que no interior da nossa sociedade mas também de mostrar que
logo são substituídos por uma nova página acessada e essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas
esquecidos no espaço virtual informe. Não cabem nesse transformações em função da atuação dos próprios
processo os procedimentos tradicionais de análise e síntese, movimentos sociais, feministas, LGBT, negros e indígenas. Tais
mas o estabelecimento pragmático de relações entre a movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se
informação acessada e sua utilidade, no conjunto de dão de formas combinadas e sobrepostas, refletindo um
possibilidades. modelo social e econômico que nega direitos e considera
inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis,
A diversidade e a cultura escolar negros, indígenas.
A desnaturalização das desigualdades exige um olhar
O direito às diferenças se constitui da desnaturalização das transdisciplinar, que convoca as diferentes ciências,
desigualdades, que devem deixar de ser percebidas como uma disciplinas e saberes para compreender a correlação entre
perversão às leis da natureza e passar a ser enxergadas como essas formas de discriminação e construir maneiras
uma constituição legítima da vida social. Essa compreensão igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de promover a
exige uma concepção transdisciplinar, algo que não rotule, que igualdade.
passe por cima dos estereótipos e estigmatizações, que separe Durante muito tempo, a escola foi encarada como local
cada segmento em um campo disciplinar próprio e que onde deveria prevalecer a homogeneidade cultural. Questões
recolha, nas diferentes ciências, o saber necessário para como direitos individuais, diferenças étnicas, culturais, sociais
compreender a correlação entre as formas de discriminação e ou de gênero não eram objeto de atenção. Na sala de aula,
estabelecer jeitos para sua superação, construindo maneiras prevalecia a autoridade inquestionável do professor; na
igualmente transdisciplinares de promover a igualdade. escola, a autoridade do diretor. Tendendo a ignorar as
O conhecimento das diferentes possibilidades de diferenças, a cultura escolar se estabeleceu por meio de um
manifestação cultural e de comportamentos sexuais é a jogo de pressupostos preconceituosos jamais explicitamente
maneira mais eficiente de demonstração da falência do enunciados, mas carregados de violência simbólica, cujo
discurso conservador naturalizado. A disseminação do resultado era incutir em toda a comunidade escolar práticas
conhecimento acerca dessas manifestações é um contraponto sociais impregnadas de preconceitos.
aos meios de comunicação de massa, que têm se constituído Embora se constituíssem como espaço público, muitos dos
em um dos principais instrumentos de propagação do problemas eram considerados tabus, porque, acreditava-se,
preconceito pertenceriam à vida privada, como o racismo, a sexualidade ou
É possível compreender o importante papel da educação e o assédio, portanto eram do âmbito da família. A escola, por
da escola tanto na constituição dos preconceitos e na sua vez, positivista desde sua origem, deveria ser uma

114 RIESMAN, D. A multidão solitária: um estudo da mudança do caráter

americano. São Paulo: Perspectiva, 1971.

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instituição ascética que, imaginava-se, privilegiaria a A aquisição de instrumentos variados para o ensino
propagação de conhecimentos objetivos e neutros. também foi apontada pela Lei Federal no 9.394, de 20 de
Ignorando as diferenças, a escola tornou-se um dos dezembro de 1996, no artigo 59, inciso I, que assegura aos
sustentáculos da propagação dos preconceitos. Nos conteúdos educandos com deficiência, transtornos globais do
escolares, encontravam-se subjacentes padrões identitários desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
de etnia, cultura ou gênero, que excluíam (e ainda excluem) “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
aqueles que não se encontravam na concepção cultural organização específicos para atendê-los”
ocidental tradicional. O espaço escolar sempre foi elemento Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
essencial dos processos sociais de estigmatização e os currículos deverão ajustar-se, em todos os locais de ensino,
discriminação, que devem e podem ser combatidos em às condições do educando com necessidades educacionais
benefício de um ambiente mais respeitoso com relação à especiais. Cabem aos estabelecimentos de ensino a
diversidade e aos direitos humanos. organização e a operacionalização dos currículos escolares em
A concepção adotada aqui baseia-se no princípio de que a seu projeto pedagógico, incluindo as devidas disposições para
possibilidade de criação de um espaço escolar plural passa o atendimento das necessidades especiais dos alunos. Mais
pelo direito de todos, em suas diferenças, serem reconhecidos uma vez, o conselho escolar, como lugar do debate e da
como iguais. A diversidade é um dos aspectos fundamentais da decisão, ganha relevância na perspectiva da adequação
atual concepção de direitos humanos. curricular e da escola como um todo, ajustando-a ao aspecto
Característica daquilo que é diverso e, portanto, diferente, legal e às demandas que surgem da comunidade na qual se
a diversidade é um dos aspectos fundamentais da existência insere.
humana, e ser diferente constitui um direito de todos os seres
humanos. Na esfera escolar, é um tema ainda incipiente e Não há por que haver dois sistemas paralelos de ensino,
permeado de tensões, rejeições e recusas. mas um único que seja capaz de prover educação a todo o seu
A escola é um espaço de saber-poder que veicula alunado.
significados e práticas; o reconhecimento do direito a ser
diferente exige a compreensão de que não existe o diferente Conselho escolar no contexto inclusivo
em si; a diferença é o resultado da comparação com o que não
é considerado diferente e constitui a norma ou o padrão. A busca por uma escola de todos e para todos traz consigo
Assim, afirmar diferença significa eliminar o padrão a ideia de inclusão e valorização do humano. A inclusão, como
homogeneizante, que impõe a negação da diferença. forma de construção de cidadania, passa pelo acesso à escola e
A noção de diversidade remete, no espaço escolar, quase pela permanência nela enquanto principal instituição
sempre às questões de gênero e etnia ou aos direitos de responsável pela educação, requisito para o exercício do papel
minorias, como indígenas ou pessoas com deficiência. cidadão. Trata-se de um direito garantido
Entretanto, o reconhecimento do diferente deve ultrapassar constitucionalmente, que abarca o ser humano de modo
essas distinções, abarcando outras possibilidades de ser e indistinto e amplo.
viver, na diversidade de expressões culturais, linguísticas, A escola verdadeiramente voltada à formação do
artísticas ou nas diferenças físicas, que vão desde peso ou indivíduo-cidadão se vê, hoje, inserida em um contexto social
altura até modos de vestir e falar. Trata-se de questões que não mais amplo, de reivindicação de direitos e de consolidação de
têm encontrado acolhimento na escola e apenas agora têm uma sociedade que se faz cada vez mais responsável pelos
experimentado alguma repercussão, com discussões sobre rumos sociopolítico-econômico-ambientais que a
bullying ou assédio. São expressões não sistematizadas e não determinam. A cidadania torna-se, portanto, condição da
institucionalizadas e, por isso, se encontram marginalizadas própria existência humana, e a participação, enquanto prática,
nas representações da sociedade; constituem novas assume papel de alta relevância na perspectiva de efetivação
demandas, que devem encontrar na escola uma possibilidade do exercício da cidadania. Implica, assim, a tomada de decisão,
de expressão. a deliberação, a construção coletiva.
A escola – espaço primeiro de convivência e de vivência de
Diversidade: conselho escolar e inclusão do aluno com regras, de organização social coletiva – oferece, por sua
deficiência própria dinâmica, a possibilidade de experimentação e
efetivação da cidadania via participação democrática de todos
Anderson de Lima aqueles que a compõem.
Walkiria Gonçalves Reganhan O conselho escolar, nesse contexto, assume relevância
significativa para a viabilização dessa prática de cidadania ao
Conselho escolar e diversidade: por uma escola mais agregar a representatividade dos segmentos que constituem o
democrática universo escolar e dar a eles a voz e a vez no processo de
construção de uma educação mais democrática, porque
As discussões envolvendo os direitos das pessoas com cidadã, porque, essencialmente, participativa.
deficiência no Brasil ganharam impulso significativo na década O deficiente, ao ser incluído, ao se tornar partícipe do dia a
de 1980. Desse processo de mobilização, resultou um conjunto dia da escola, toma seu lugar e se faz ouvido nesse processo,
de direitos estabelecidos pela Constituição de 1988, alguns que, além de político, é social, é transformador da realidade
deles expressos na Lei 7.853/89 – posteriormente que encontramos hoje na escola pública.
regulamentada pelo Decreto 3.298/99. É no conselho escolar que a democracia e a cidadania se
No artigo 4o, inciso III, da Lei de Diretrizes e Bases da complementam e se consolidam pela participação igualitária
Educação, fica garantido “III - atendimento educacional de todos (profissionais, comunidade, alunos), no esforço da
especializado gratuito aos educandos com deficiência, construção de uma escola de qualidade.
transtornos globais do desenvolvimento e altas É considerando a força do poder local no processo de
habilidades ou superdotação, transversal a todos os construção das políticas públicas e, portanto, de afirmação do
níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede Estado Democrático e de Direito que o conselho escolar
regular de ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de representa instância privilegiada de discussão de questões
2013) que dizem respeito à vida das pessoas, da escola, da
comunidade e, num plano mais amplo, da própria sociedade.

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O conselho escolar abriga, no contexto da inclusão e da de educação dos seguintes estados: São Paulo, Paraná, Rio
garantia de direitos do cidadão, o papel fundamental de Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Piauí. Essa
alicerçar ações que assegurem, no interior da escola, uma análise permitiu o entendimento da importância da formação
educação de qualidade, socialmente referenciada, capaz de continuada e a observação dos problemas existentes nessas
democratizar o conhecimento e possibilitar que todas as duas formações.
necessidades decorrentes da inclusão do deficiente possam
ser, de fato, atendidas e trabalhadas a fim de lhe assegurar as Gestão democrática: domínios legais e sociais
melhores possibilidades de aprendizado e desenvolvimento.
Ao exercer suas funções (consulta, mobilização, Se pensarmos na sociedade atual, em que o individualismo
deliberação, fiscalização), o conselho escolar viabiliza e e a concorrência são características predominantes, fica difícil
potencializa a capacidade de reivindicação de uma escola para concebermos um espaço no qual a democracia, a participação
todos e, nesse processo, canaliza a ação de todos os envolvidos e o diálogo se ressaltem. Sem aprendizado, o exercício da
para a construção de ações que possam gerar as condições participação e das tomadas de decisão não muda a realidade –
necessárias ao acesso e à permanência – com aprendizado, trata-se de um processo que deve ser construído
desenvolvimento, integração, sem restrições ou nenhum tipo coletivamente, por meio do diálogo igualitário.
de segregação – do aluno deficiente. A gestão democrática e sua efetiva implantação em
estabelecimentos públicos de ensino sucederam-se sob a égide
Como espaço de convivência e aprendizado, a escola de duas perspectivas: a primeira esteve pautada pelos
compreende um pluralismo e um multiculturalismo que lhe movimentos sociais e pelas políticas públicas da década de
são próprios e fazem desse lugar o lugar do aprendizado do 1980, resultando na Constituição de 1988; a segunda, por sua
respeito ao outro, ao diferente, do respeito à divergência e à vez, moldada pelo neoliberalismo e denominada de gestão por
compreensão da multiplicidade que envolvem o ser humano resultados, é conhecida como gerencialista ou managerialista.
em suas relações pessoais e no mundo em que vive. A prática A respeito da primeira, verifica-se que, no começo da
da cidadania e a busca por uma escola e uma sociedade mais década de 1980, tem início um processo de retomada da
democráticas passam por esse aprendizado, pela ética e pela democracia e da reconquista dos espaços políticos que a
ação solidária que nos caracterizam enquanto humanidade e sociedade civil brasileira havia perdido. Os movimentos
que revestem o papel da escola de uma importância ainda sociais centravam-se na consolidação e na conquista de novos
maior. Nela, serão construídas e estimuladas as possibilidades espaços de participação na esfera do Estado. Estes se
de um convívio harmônico entre as diferenças, as limitações e fortaleceram com a Constituição de 1988, que estabeleceu a
os anseios daqueles que dela fazem parte. democracia participativa por meio de conselhos de cogestão
No conselho escolar, dada sua constituição, estão postos, nos diferentes âmbitos de atuação do Estado (conselhos de
em princípio, todos os pontos de vista, representados por seus educação, de saúde, de assistência social, entre outros).
membros e expostos de modo a gerar, no debate, a busca por Os princípios defendidos – de igualdade de condições –
consensos que possam significar a procura pela qualidade do para o acesso dos estudantes à escola e sua permanência nela
trabalho da e na escola. Nele, serão articulados meios capazes propiciaram um novo entendimento para a educação,
de valorizar a pluralidade da escola em favor da constituição possuindo, agora, um fator de realização da cidadania, com
de uma educação que represente os anseios e necessidades padrões de qualidade de oferta e produto na luta pela
que se colocam socialmente e que adentram seu universo no superação das desigualdades sociais e da exclusão.
dia a dia da sala de aula. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não só
confirmava como também materializava a garantia do direito
Inclusão e conselho escolar ganham um valor único no público subjetivo à educação, determinando a eliminação de
contexto da democratização da escola, complementam-se e toda e qualquer forma de discriminação para a matrícula ou
revestem-se de sentido enquanto caminhos na busca pela permanência na escola. Isso garantiria ao estudante brasileiro
escola de qualidade para todos, que há tanto almejamos. o direito de aprender e prosseguir seus estudos com um
ensino de qualidade.
Conselho Municipal de Educação, conselho escolar e Para tais alterações, teve-se como meta a descentralização
formação continuada: democratização, participação e da administração escolar, por meio da gestão democrática,
qualidade de ensino assegurando, pelos colegiados, a participação de professores,
funcionários, alunos e pais nas decisões da escola. Destaca-se
Flávio Caetano da Silva a importância do entendimento da sociedade civil, neste
Maria Cecília Luiz momento histórico, de compartilhar as decisões na escola,
Ana Lucia Calbaiser da Silva garantindo a participação de todos.
Em consonância com a Constituição Federal, outras leis e
Levando em conta a atual conjuntura mundial e o decretos foram se regularizando para a implantação da gestão
delineamento das políticas públicas no que se refere à democrática. Um exemplo disso é a Lei de Diretrizes e Bases da
educação brasileira, este texto tem como objetivo refletir Educação Nacional (9.394/96), que, no artigo 14, declara a
sobre alguns aspectos presentes na formação continuada a relevância da “participação dos profissionais da educação na
distância em conselhos escolares e de conselheiros municipais elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação
de educação, principalmente quanto às formas de participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
no processo de democratização da educação com qualidade de equivalentes” (Brasil, 1996).
ensino. Na contramão dessas mobilizações, no início dos anos
Para tanto, nos utilizamos do conceito de gestão 1990, não só por causa da crise econômica mas também pelo
democrática e participação para uma melhor compreensão da esgotamento do modelo de Estado brasileiro, o pensamento
formação continuada. Nossa análise tem como base neoliberal, alicerçado na defesa da sociedade de livre mercado,
acontecimentos e situações de aprendizagem que ocorreram tornou-se referência para a redefinição do papel do Estado.
em ambos os cursos. Assim, alguns termos aparecem associados à ideia de
O curso de conselheiros municipais de educação foi
ofertado para membros do Conselho Municipal de Educação
(CME) de municípios do Estado de São Paulo; e o de conselhos
escolares, aos técnicos das secretarias municipais e estadual

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participação, tais como empowerment e accountability.115 local para os representantes e representados se reunirem, a
Nesse novo contexto, também despontam as organizações não fim de acordar nos assuntos concernentes à escola, tem sido
governamentais, o chamado Terceiro Setor. um problema real nessas representações. Geralmente, em
Nessa conjuntura, os ideais da Constituição de 1988 são conselhos de escola, temos representantes que defendem
negligenciados, e surge o discurso da modernização educativa somente os seus interesses, esquecendo-se do coletivo.
e da qualidade do ensino. Essa proposta neoliberal discute a O conceito de participação fundamenta-se no de
qualidade da educação do trabalhador com base na formação autonomia (capacidade das pessoas e grupos de conduzir sua
de competências, imprescindíveis para a atuação desses vida) e no de organização escolar, com objetivos coletivos e
trabalhadores em um mercado competitivo. compartilhados. Pode-se diferenciar uma escola por sua
Com esse novo discurso, a gestão é concebida de maneira autonomia e pelo modo como descentraliza sua gestão, como
gerencialista ou managerialista, aproximando a administração delibera e como executa um planejamento compatível com as
empresarial da administração escolar. Tal lógica, a realidades locais, todos e todas devendo acreditar que o
gerencialista, entende que a educação deve ter como foco a processo educacional seja algo a ser construído por meio de
qualidade de resultados, compreendidos como fato de sucesso participação ativa.
da aprendizagem (Casassus116). Em outras palavras, uma boa Quando existe esse diálogo, pessoas com diferentes
gestão escolar está relacionada ao fato de a escola ter bons culturas possuem igual valor e dialogam entre si, dando forma
índices de aprovação e baixos de evasão. a novos saberes a partir da inteligência cultural. Consideramos
Ao aproximar a concepção de qualidade da educação do que essa diversidade cultural é salutar, não havendo uma
discurso de eficácia e eficiência administrativa, a figura do cultura melhor que outra. A presença da diversidade humana
diretor torna-se fundamental no gerencialismo, pois é ele o na sociedade resulta na multicultura, no sentido de que toda
responsável pelos índices mensuráveis por meio de avaliações cultura é plural. Um comportamento multicultural significa
externas. Atualmente, vemos esse tipo de controle de reconhecer o pluralismo cultural e aceitar a presença de ideias
qualidade dentro das escolas públicas, que se empenham para de diversas pessoas e, por conseguinte, de culturas distintas.
liderar o ranking de qualidade com a intenção de receber Nessa perspectiva, entendemos que há inúmeras formas
“prêmios”, traduzidos em repasses financeiros. de participação nas escolas, cujo exercício pleno possibilita à
Segundo Ferreira & Aguiar117, na década de 1990, apesar comunidade maior inserção nos processos democráticos de
de as parcerias terem se multiplicado e de a preocupação com nossa sociedade. Quando essa participação está pautada pela
os índices e resultados ter sido exaltada, o projeto político- ação comunicativa (HaBermas, 1987) e as pessoas têm a
pedagógico das escolas e a qualidade do ensino nem sempre possibilidade de desenvolver um diálogo igualitário dentro
apresentaram grandes modificações. Seu grande desafio diz das escolas, há um ganho riquíssimo na aprendizagem das
respeito à função social que elas exercem, que é a de assegurar crianças, pois a comunidade externa pode contribuir com seus
a todos e todas permanência com a aquisição de saberes e experiências para a equipe escolar em busca da
aprendizagens significativas e de oportunidades de exercício promoção de uma educação de qualidade.
da cidadania, com o desenvolvimento das potencialidades de Freire119 nos alerta que a relação dialógica é percebida
cada um e com um preparo básico para o mundo do trabalho. como uma prática fundamental à natureza humana e à
Para Ferreira & Aguiar, precisamos, juntos, pensar os democracia:
problemas de acesso e permanência, garantindo o sucesso dos A dialogicidade não pode ser entendida como instrumento
alunos na escola e ajudando a encontrar soluções que sejam usado pelo educador, às vezes, em coerência com sua opção
mais adequadas às suas necessidades tão diversas – e é nessa política. A dialogicidade é uma exigência da natureza humana
hora que entra a participação da comunidade. É preciso criar e também um reclamo da opção democrática do educador
um ambiente acolhedor para ouvir o que a população tem a (Freire).
dizer sobre o que espera do ensino. Urge a necessidade de processos emancipatórios de
educação conduzidos pelo diálogo e pela reflexão; eles devem
Participação e diálogo permitir, segundo Beck, Giddens & Lash120, novas formas
organizacionais, mais democráticas.
Sabemos que a modificação de um paradigma nem sempre Faz-se necessária uma mudança na relação conflituosa
contempla o cotidiano escolar, por isso consideramos que a entre familiares e equipe escolar, de maneira a promover
concepção de gestão educacional ou mesmo o entendimento espaços para a participação ao estabelecer um diálogo
de gestão democrática não garantem, sozinhos, a igualitário. Assim, a ideia é a de dar lugar a debates em que os
democratização dos sistemas de ensino. sujeitos (independentemente de sua posição social), juntos,
Podemos construir uma sociedade mais democrática por construam os currículos, de modo que tanto educadores
meio da participação, da discussão e do diálogo, mas, para isso, quanto educandos aprendam.
é necessário que a escola abra caminho para a conscientização Nessa perspectiva, o espaço escolar passa a ser um
da população por práticas que levem à formação de uma ambiente de ação comunicativa (HaBermas, 1987), formando
consciência crítica. Esse exercício se dá com a participação indivíduos críticos e participativos e, portanto, fazendo parte,
efetiva de vários segmentos da escola e da comunidade, com sendo parte e tomando parte de tudo o que concerne à
eles opinando em decisões e tendo voz para argumentar o que instituição.
pensam – logo, não meros espectadores. Embora o discurso da gestão escolar seja relacionado,
Garantir a participação de todos não significa ter os algumas vezes, à gestão democrática, sabemos que os espaços
conselhos escolares apenas funcionando de forma legal. De coletivos e dialógicos nos processos escolares estão se
acordo com Luiz & Conti118, um dos grandes desafios, por constituindo a cada dia. Toda uma cultura brasileira de não
exemplo, é a questão da representação. A falta de tempo e de participação e medo está muito presente nas nossas relações

115Accountability é uma palavra recente no vocabulário político brasileiro. De 118 LUIZ, Maria Cecília; CONTI, Celso. Políticas públicas municipais: os

origem inglesa, é associada à transparência, à prestação de contas e à conselhos escolares como instrumento de gestão democrática e formação da
responsabilização. cidadania. In: Congresso de Leitura do Brasil, 16., 2007, Campinas, SP. Anais.
116 CISESKI, Â. A. Aceita um conselho? Teoria e prática da gestão participativa
Campinas, SP, 2007.
119 FREIRE, Paulo. À sombra de uma mangueira. 8ª Ed. São Paulo: Ed. Ollhos
na escola pública. São Paulo: USP/Faculdade de Educação, 1997. d’Água, 2006.
117 FERREIRA, Naura Syria Carapeto. AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Org.)
120 BECK, U; GIDDENS, A; LASH, S. Modernização reflexiva. Política, transición
Gestão da Educação: Impasses, perspectivas e compromissos. 3 ed. São Paulo: y estética em el orden social moderno. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1997.
Cortez, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 140


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sociais. As famílias participantes da pesquisa afirmaram, em só pela escola, como também pelos sistemas de ensino, ou
sua maioria, não fazer parte de sindicatos nem ter ligação mesmo, pela sociedade.
alguma com movimentos políticos. Os tabus e preconceitos O que mais se evidencia é a existência de um discurso
também são significativos, principalmente com relação aos institucional que insiste em ignorar a capacidade de
sujeitos que se manifestam ou que questionam muito, fazendo intervenção e as ações que estão em marcha, organizadas pelas
pesar o histórico que possuímos: o de sermos um país que comunidades, visando à construção de um mundo mais igual,
permaneceu sob regime de ditadura militar e repressão por ético, fraterno e solidário. Perceber, compreender, criticar e, se
mais de 20 anos. necessário, alterar a sua prática pedagógica constitui um
As escolas devem intencionar essa participação, desafio para a escola, o que pode ser efetivado mediante um
provocando, nas pessoas envolvidas, a vontade de sempre conjunto de ações norteadas pelo projeto político-pedagógico
buscar mais, aprender mais, sonhar com uma escola melhor. construído coletivamente. Nessa direção, pode-se considerar a
Compreendemos, por meio das formações continuadas, que a multiplicidade de formas de atuação ao alcance das escolas e
participação está sendo construída de forma gradual, sendo de seus profissionais, tais como:
imprescindível a crença, por todos os componentes de dentro a) mapear as organizações populares existentes no bairro;
e de fora da escola, de que a gestão democrática é viável e b) promover assembleias externas, em parceria com as
produz resultados. entidades da sociedade civil, para analisar ou propor políticas
Isso ficou evidente quando as pessoas envolvidas nessas de desenvolvimento local;
unidades escolares perceberam resultados e, por isso, foram, c) inventariar a situação do bairro com o objetivo de
aos poucos, aderindo a algumas condutas e modificando as compreender o contexto social, econômico e político, o que
relações interpessoais entre todos os da equipe escolar e os da significa entender o bairro, suas perspectivas, potencialidades,
comunidade local com mais respeito, responsabilidade e projetos do setor público e do setor privado que modificarão a
solidariedade. vida local.

Processo formativo dos conselheiros do CME Há um razoável consenso entre os educadores que o
projeto político-pedagógico, construído de forma coletiva e
O curso formativo dos conselheiros do CME compõe um participativa, constitui o norte orientador das práticas
conjunto de esforços da SEB/MEC direcionado à criação e ao curriculares e pedagógicas na escola. O Conselho Escolar pode
fortalecimento de Conselhos Municipais de Educação, como exercer um papel relevante na gestão escolar (pedagógico-
indicado no site oficial do MEC: administrativa) contribuindo para a construção e
O programa estimula a criação de novos Conselhos implementação do projeto político-pedagógico da escola e
Municipais de Educação, o fortalecimento daqueles já para o alargamento do horizonte cultural dos estudantes.
existentes e a participação da sociedade civil na avaliação, Nesse processo, o Conselho Escolar, ao atuar plenamente,
definição e fiscalização das políticas educacionais, entre outras no sentido de contribuir com a ampliação das oportunidades
ações. O Pró-Conselho tem como principal objetivo qualificar de aprendizagens dos estudantes, não só se fortalece como
gestores e técnicos das secretarias municipais de educação e instância de controle social como também auxilia a escola
representantes da sociedade civil para que atuem com relação pública no cumprimento de sua função social.
à ação pedagógica escolar, à legislação e aos mecanismos de
financiamento, repasse e controle do uso das verbas da Conselho Escolar e a articulação com a comunidade
educação. Os Conselhos Municipais de Educação exercem
papel de articuladores e mediadores das demandas A escola pode propiciar a organização de situações que
educacionais junto aos gestores municipais e desempenham favoreçam ao estudante efetivar aprendizagens que o leve a
funções normativa, consultiva, mobilizadora e fiscalizadora valorizar a história do seu bairro, dos líderes populares do seu
(Brasil, 2013b). lugar, da sua raça, do seu gênero e da sua classe social.
Consideramos que essa ação formativa aprofunda as Incentivar no corpo discente o desenvolvimento de posturas
chances de experiências democráticas na escola básica na solidárias, críticas e criativas e propiciar a organização de
medida em que se direcionam àqueles que transformam as situações que induzam o estudante a lutar pelos seus sonhos
políticas públicas educacionais em ações diretas à sociedade, são tarefas de uma escola comprometida com a formação
na medida em que nos permitem fazer que as políticas públicas cidadã.
educacionais, originárias do governo federal, cheguem a Nesse sentido, a escola pode realizar atividades que
diversos municípios paulistas. despertem o senso estético, concorrendo, assim, para a
Para garantir que tais ações sejam permanentes, vivência mais plena dos estudantes, como seres humanos
oferecemos o curso em questão com o objetivo de criar sensíveis, mesmo que estes convivam em ambientes pouco
oportunidades de reflexão a educadores e profissionais da estimuladores da beleza que a natureza e a produção cultural
educação, bem como aos familiares de estudantes, acerca das da humanidade oferecem.
ações do Estado, pretendendo enfrentar os grandes desafios Incentivar e desenvolver atividades pedagógicas que
que a educação representa em nossos dias. permitam aflorar a sensibilidade e o bom gosto dos estudantes
pode ser um objetivo relevante da escola.
Conselho Escolar: incentivador da articulação É necessário atentar que para possibilitar um ambiente
escola/sociedade.121 favorável às aprendizagens significativas das crianças e jovens
que se encontram em situação de maior vulnerabilidade
Aqui se pretende viabilizar aos diferentes segmentos que (como bem evidenciam as manchetes que apontam para as
compõe a unidade escolar e a comunidade local, estatísticas de violência, desemprego, gravidez indesejada e
principalmente aos membros do Conselho Escolar, identificar precoce e restritas oportunidades culturais e de lazer), a escola
na sociedade práticas emergentes que favorecem a construção depende, em boa par- te, da ação solidária e colaborativa da
da cidadania. Práticas sociais as mais diversas, que são comunidade local em relação às suas propostas pedagógicas.
traduzidas numa intensa efervescência cultural e social, Crianças e jovens, habituados e fascinados pela vida livre das
passam despercebidas ou não são legitimadas ou apoiadas não ruas, sem limites e regras, têm dificuldade de adaptação à
“estrutura tradicional” da escola.

121 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/cad%2010.pdf

Conhecimentos Pedagógicos 141


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O que pode contribuir para alterar esse quadro de participação e autonomia contra toda forma de uniformização
incertezas e de dificuldades de toda ordem é levar todas essas e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de
questões ao debate no coletivo da escola, expor as cada língua etc. A multiculturalidade é a marca mais
contradições que afloram permanentemente na prática significativa do nosso tempo.
pedagógica, não se deixar intimidar pelo volume dos
problemas e pela precariedade de recursos que poderiam ser Como isso se traduz na escola?
acionados visando à sua superação. Debater as situações
problemáticas, tomar decisões, desenvolver e avaliar as ações Nunca o discurso da autonomia, cidadania e participação
pedagógicas e administrativas, nos colegiados, parecem ser no espaço Escolar ganhou tanta força. Estes têm sido temas
formas bem-sucedidas de lidar com as inúmeras questões marcantes do debate educacional brasileiro de hoje. Essa
sociais e pedagógicas que emergem no cotidiano da escola. preocupação tem-se traduzido, sobretudo pela reivindicação
de um projeto político pedagógico próprio de cada escola.
A participação nos projetos comunitários: Neste texto, gostaríamos de tratar deste assunto, sublinhando
a sua importância, seu significado, bem como as dificuldades,
Nessa perspectiva, a escola pode procurar interagir com os obstáculos e elementos facilitadores da elaboração do projeto
projetos comunitários, de natureza socioeducativa, que visem político pedagógico.
promover o ingresso, o regresso, a permanência e o sucesso Começaremos esclarecendo o próprio título: “projeto
dos estudantes na escola. Estrategicamente, a escola e o político pedagógico”. Entendemos que todo projeto
sistema de ensino podem aproveitar a existência desses pedagógico é necessariamente político. Poderíamos
projetos para discutir, apreciar e avaliar as condições de denominá-lo, portanto, apenas “projeto pedagógico”. Mas, a
infraestrutura e pedagógicas locais, com o propósito de fim de dar destaque ao político dentro do pedagógico,
implantar de forma progressiva e criativa o tempo integral, já resolvemos desdobrar o nome em “político pedagógico”.
sinalizado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e, Frequentemente se confunde projeto com plano.
de há muito tempo, uma realidade em países que alcançaram Certamente o plano diretor da escola — como conjunto de
melhores patamares na oferta da escolarização às suas objetivos, metas e procedimentos — faz parte do seu projeto,
populações. mas não é todo o seu projeto.
Isso não significa que objetivos metas e procedimentos não
Enfim, incentivar a constituição de projetos de vida dos sejam Necessários. Mas eles são insuficientes, pois, em geral, o
estudantes articula- dos aos movimentos que visam à plano fica no campo do instituído, ou melhor, no cumprimento
construção coletiva do projeto de bairro, da cidade e da nação mais eficaz do instituído, como defende hoje todo o discurso
é um desafio. Projetos de vida que significam crescimento oficial em torno da “qualidade” e, em particular, da “qualidade
pessoal e profissional, considerando a sociedade complexa e total”. Um projeto necessita sempre rever o instituído para, a
contraditória na qual o estudante se situa. Contribuir para que partir dele, instituir outra coisa. Tornar-se instituinte. Um
o estudante se reconheça como ser histórico e que faz a projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola
história em suas ações cotidianas e em interação com o outro que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos
é papel da escola. Esse reconhecimento do estudante como ser seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos
histórico, capaz de, ao longo do tempo e em processos de lutas e o seu modo de vida. Um projeto Sempre confronta esse
coletivas, mudar as condições de vida e as relações sociais de instituído com o instituinte.
trabalho nessa sociedade, valoriza a ação da escola. Não se constrói um projeto sem uma direção política, um
Nessa direção, são variadas as atividades de cunho norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é
pedagógico que podem ser desenvolvidas na escola e na também político. O projeto pedagógico da escola é por isso
comunidade com a participação decisiva do Conselho Escolar. mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em
São atividades propostas, discutidas, desenvolvidas e direção a uma finalidade que permanece como horizonte da
avaliadas por docentes em sua relação com os estudantes, bem escola.
como por outras instâncias da escola e pelo Conselho Escolar.
De quem é a responsabilidade da constituição do projeto da
II. Conselhos de Classe escola?

Os Conselhos de Classe ocorrem em grande parte das O projeto da escola não é responsabilidade apenas de sua
escolas, guiados por modelos de avaliação classificatórios, com direção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção é
o objetivo de conceder uma sentença ao aluno. Hoffman escolhida a partir do reconhecimento da competência e da
entende que esta deve ser uma ação dirigida ao futuro, com liderança de alguém capaz de executar um projeto coletivo. A
caráter interativo e reflexivo, deliberando sobre novas ações escola, nesse caso, escolhe primeiro um projeto e depois essa
que garantam a aquisição de competências para à pessoa que pode executá-lo. Assim realizada, a eleição de um
aprendizagem dos alunos. diretor ou de uma diretora se dá a partir da escolha de um
projeto político pedagógico para a escola. Portanto, ao se
Até muito recentemente a questão da escola limitava-se a eleger um diretor de escola, o que se está elegendo é um
uma escolha entre ser tradicional e ser moderna. Essa projeto para a escola.
tipologia não desapareceu, mas não responde a todas as Como vimos, o projeto pedagógico da escola está hoje
questões atuais da escola. Muito menos à questão do seu inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é
projeto122. resultado de um processo de desenvolvimento de suas
A crise paradigmática também atinge a escola e ela se próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante
pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição disso, desaparece aquela arrogante pretensão de saber de
numa sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada antemão quais serão os resultados do projeto para todas as
pela globalização da economia, das comunicações, da educação escolas de um sistema educacional. A arrogância do dono da
e da cultura, pelo pluralismo político, pela emergência do verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de
poder local. Nessa sociedade cresce a reivindicação pela

122 Texto extraído de GADOTTI, Moacir. “Projeto político pedagógico da

escola: fundamentos para sua realização”.

Conhecimentos Pedagógicos 142


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projetos pedagógicos faz parte da história da educação da e acertos que classificam os alunos em aprovados ou
nossa época. reprovados, provocando a exclusão e a evasão escolar.
Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a Repensar esta prática deve ser tarefa urgente e substituí-
escolha do projeto de nossas escolas. Não se entende, portanto, la pela avaliação enquanto processo de formação humana é
uma escola sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu uma necessidade. A avaliação, enquanto atividade dinâmica
projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo. presente na escola, deve subsidiar decisões e
A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte reencaminhamentos da prática docente por intermédio da
da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática coleta, da análise e da síntese de dados resultantes da prática
da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto político pedagógica que considera a aprendizagem um processo onde
pedagógico. a socialização do saber científico deve ser garantida,
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de contribuindo com a inclusão e a melhoria da qualidade da
mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. aprendizagem.
Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do É necessário ver a aprendizagem como um processo e as
Estado e não uma conquista da comunidade. A gestão disciplinas curriculares como um meio para se chegar a ser um
democrática da escola implica que a comunidade, os usuários cidadão e não como conteúdos que se dominam pela
da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os memorização. Daí a necessidade de um currículo centrado no
seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos desenvolvimento, na construção, na experiência que
serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães, oportuniza a autonomia e transformações sociais
alunas, alunos, professores e funcionários assumem sua parte significativas e de uma avaliação que contribua para a
de responsabilidade pelo projeto da escola. formação humana. Nesta perspectiva, Lima124, afirma que a
avaliação para formação humana contrapõe-se à noção
Avaliação Escolar e Conselho de Classe123 vigente, uma vez que seus objetivos são nortear o aluno,
informar ao professor o estágio de desenvolvimento em que
Quando se discute o Conselho de Classe, discutem-se as ele se encontra, e orientar os próximos passos do processo.
concepções de avaliação escolar presentes nas práticas Dessa forma, ela não classifica, mas situa. E situa para auxiliar
educativas dos professores. Neste sentido, a importância dos no processo de formação do aluno, decorrendo daí sua
Conselhos de Classe e dos processos avaliativos da escola está importância para a prática pedagógica, que deve sempre
nas possibilidades e capacidades de leitura coletiva da prática, propiciar ao educando novas possibilidades de
bem como diante do reconhecimento compartilhado das desenvolvimento e aprendizagem.
necessidades pedagógicas, de modo a mobilizar esse coletivo
no sentido de alterar as relações nos diversos espaços da O Papel do Conselho de Classe
instituição.
Avaliar é tarefa antiga das escolas, existe desde a sua Para a compreensão acerca do papel do Conselho de Classe
criação e, embora haja variedade nas formas da atividade faz-se necessário o conhecimento da história dessa instância
avaliativa, ela manteve, ao longo dos séculos, um certo caráter colegiada conforme disposto pela legislação educacional
punitivo, presente, ainda, hoje nas escolas que valorizam a contemporânea.
verificação em detrimento da avaliação, conforme afirma
Luckesi (2003). Assim o que hoje se observa é que a avaliação O Conselho de Classe francês tem, portanto, um caráter
está centrada no desempenho cognitivo dos alunos, sem específico, encaminhando para a seleção e a distribuição do
referência a um projeto de escola ou ao trabalho docente, aluno no sistema dualista implantado na França naquele
objetos também de avaliação. período. Os pareceres dos Conselhos serviriam para orientar
Os processos de avaliação escolar refletem os os alunos às diversas modalidades de ensino (clássico ou
posicionamentos dos profissionais e são fundamentados pelas técnico) de acordo com as “aptidões” e o “caráter”
concepções de escola, de ensino, do papel do professor, do demonstrado pelos mesmos.
papel do aluno, que cada um possui. A organização e as Essa experiência de Conselho de Classe foi trazida ao Brasil
condições de trabalho do professor apresentam-se como por educadores brasileiros que foram estagiários em Sèvres,
fatores determinantes no processo e orientam as diferentes em 1958, e sua implantação foi feita no Colégio de Aplicação
práticas docentes. A transformação da prática pedagógica liga- da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAP).
se estreitamente à alteração da concepção de avaliação porque Acredita-se que a importação das ideias trazidas pelo
a construção do processo avaliativo expressa o conhecimento Conselho de Classe francês, como afirmado por Rocha, só foi
da e sobre a escola. possível porque já teria havido um processo de
desenvolvimento de um ideário pedagógico, que estaria
A concepção de avaliação que aponta para os atos de impregnando o meio educacional por meio da pedagogia
aprovar ou reprovar o aluno com base em um registro escolanovista que sugere uma organização que valoriza o
numérico, são procedimentos nos qual o professor assume o trabalho coletivo, a discussão, a busca e a criação de novos
papel de juiz ao utilizar-se de provas, consubstanciado por métodos.
mecanismos de verificação da aprendizagem de conteúdos Com base nesse pressuposto e retrocedendo no tempo, a
específicos, num determinado momento do processo. Assim, criação do Conselho de Classe encontra suas origens no cerne
entende-se que existe uma visão reduzida e equivocada do das ideias que permearam a tendência escolanovista da
processo de avaliação, já que a nota, produto concreto dessa educação. Quando se lê o Manifesto dos Pioneiros da Educação
aferição, reflete apenas o resultado do desempenho cognitivo Nova, expõe Dalben, percebem-se elementos do tipo:
do aluno e nunca o processo educativo que o levou a tal
resultado. “O ensino de segundo grau começa por um ano de estudos
É importante ressaltar que esta simples verificação não numa classe de orientação, depois da qual se divide em três
possibilita a melhoria do ensino e, consequentemente, da secções: clássica, moderna e técnica. O encaminhamento para
aprendizagem, pois ela é estática, somente constatando erros essas secções faz-se tendo em conta os desejos das famílias e o

123 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2199- 124 LIMA. Elvira Souza. Avaliação, educação e formação humana. In: Avaliação

6.pdf de desempenho e progressão continuada. Secretaria Estadual de Educação de


Minas Gerais – PROCAD – Guia de Estudo nº. 6, p. 27-41, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 143


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interesse geral, segundo o gosto e as aptidões nas classes de seu funcionamento. Nesses regimentos, encontra-se o
orientação e eventualmente nas classes seguintes”125 Conselho de Classe como um dos órgãos instituídos.

Esses elementos apontam para o início da valorização das É legítimo dizer que a Lei 5692/71 deu abertura aos
ideias de atendimento individualizado, de estudo em grupos e, Conselhos Estaduais de Educação para traçar as diretrizes de
especificamente, de reunião dos profissionais para discussão sua operacionalização, conforme o que diz o artigo 2º em seu
de um determinado tipo de atendimento ao alunado. parágrafo único: [...] “a organização administrativa, didática e
A ideia de uma nova organização de escola, como disciplinar de cada estabelecimento de ensino será regulada
“organismo vivo”, de “comunidade palpitante pelas soluções no respectivo regimento, a ser aprovado pelo órgão próprio do
de seus problemas”, proposta no Manifesto dos Pioneiros da sistema, com observância de normas fixadas pelo respectivo
Educação Nova, é contrária à centralização de poder e de Conselho de Educação”.
decisões, considerando necessária a adaptação da escola a Entretanto, pode-se afirmar que do “PREMEN” emanavam,
interesses e necessidades dos alunos. Essa nova concepção de de forma direta e indireta, as orientações necessárias para a
escola sugere uma organização que valoriza o trabalho operacionalização da lei. Essas orientações apresentavam uma
coletivo, a discussão, a busca e a criação de novos métodos. relativa “abertura” às escolas, havendo, no entanto, pouca
Entretanto, o Conselho de Classe instituído na organização de clareza à forma de execução.
modo a operacionalizar essas ideias, ainda não aparece nesse No contexto de implantação da lei 5692/71 e da concepção
momento. de ensino subjacente e essa organização, onde a referida lei
estruturava o sistema educacional, num clima político pautado
Os Conselhos de Classes só foram instituídos no Brasil a pelo autoritarismo, excluindo a participação de setores
partir da lei 5692/71 –LDB do Ensino de 1º e 2º graus. Essa lei representativos da sociedade, acarretou a desconfiança por
veio para dirigir o sistema escolar por meio de um processo parte dos profissionais da escola nas possibilidades do
político pautado pelo autoritarismo, sem a participação de Conselho de Classe como um espaço capaz de intensificar a
setores representativos da nacionalidade. Ela vem definir uma construção de processos democráticos de gestão. Assim sendo,
nova estrutura para o sistema educacional, reunindo os o objetivo fundamental da instância, que seria o de propiciar a
diversos ramos existentes (secundário, comercial, industrial, articulação coletiva dos profissionais num processo de análise
agrícola e normal) num só, além de propor a profissionalização compartilhada, considerando a globalidade de óticas dos
do educando (Dalben126). professores, não foi atingido, perdendo assim sua importância
Esse novo sistema educativo brasileiro introduzido pela e sua riqueza no trato das questões pedagógicas.
Lei 5692/71 tinha como um de seus propósitos fundamentais O Conselho de Classe, como uma instância coletiva de
a transformação do estudante em indivíduo treinável, avaliação do processo de ensino e aprendizagem, reflete essas
instrumentalizado nos valores do capital, na competição e na concepções, assim como as limitações e contradições próprias
racionalidade deste. a elas, já que o posicionamento dos profissionais é que dará
O PREMEN foi implantado, a partir de 1970, em vários seu contorno político. No contexto (...), o Conselho de Classe
estados do Brasil, os quais realizaram convênios com as não conseguirá desempenhar seu papel original de mobilizar a
prefeituras dos diversos municípios atingidos por ele, para avaliação escolar no intuito de desenvolver um maior
com isso executá-lo em larga escala. Para isso grupos de conhecimento sobre o aluno, a aprendizagem, o ensino e a
professores eram treinados nesse programa para, escola, e especialmente, de congregar esforços no sentido de
posteriormente, implementar as chamadas escolas alterar o rumo dos acontecimentos, por meio de um projeto
polivalentes, já dentro dos modelos observados nos estados pedagógico que visa ao sucesso de todos.127
Unidos. A ruptura da visão tradicional de ensino, que segregava os
segmentos sociais, iniciou com a Lei de Diretrizes e Bases da
A promulgação da Lei 5692/71 ocorreu após a Educação Nacional nº. 9394/96, gestada em um contexto no
implantação desse programa nas escolas polivalentes e, a qual a política estava voltada ao social. Em decorrência desta
partir dela, foi possível a orientação normativa e legal desse Lei, todo conceito acerca do sistema educacional e suas
tipo de escola para a estrutura e funcionamento de todo o organizações foi revisto, com base em princípios
ensino de 1º e 2º graus. democráticos.
É importante ressaltar que, segundo Dalben,
anteriormente à Lei 5692/71, o Conselho de Classe não se Principais diferenças entre Conselho Escolar e
apresentava como instância formalmente instituída na escola, Conselho de Classe
acontecendo, como afirma Rocha (1982), de forma espontânea
em escola que voluntariamente se dispusesse a enxergá-lo O Conselho Escolar é formado por professores, equipe
como de importância pedagógica. Sua implantação, entretanto, pedagógica de pais e alunos. É responsável pelas decisões em
não se deu claramente por meio da nova lei, mas ocorreu prol da escola, através de pintura, organização e outros
indiretamente, por intermédio de orientações vindas do eventos.
modelo de escola proposto pelo PREMEN, que apresentava o
Conselho de Classe como órgão constituinte da escola. O Conselho de Classe permite que os professores,
Os Conselhos Estaduais de Educação com base em pedidos coordenadores e diretores se reúnam para fazer
de esclarecimento sobre a Lei 5692/71, produziram pareceres apontamentos dos alunos, observar seus resultados,
e resoluções orientadores, que de certa forma encaminhavam andamentos.
as discussões para a formalização de instâncias de avaliação
coletiva na escola, do tipo Conselho de Classe que deveria ser Questões
implementado. Conclui-se que o novo modelo de escola foi
formalmente implantado por meio dos novos regimentos 01. (Prefeitura de Rio Branco/AC - Cuidador Pessoal –
escolares elaborados pelas escolas, que passaram a orientar IBADE/2017). A principal função do Conselho Escolar é:

125(LUZURIAGA, 1959, p.117). 127 (DALBEN, 2004, p. 38).


126 DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Conselhos de Classe e
Avaliação. Perspectivas na gestão pedagógica da escola. Campinas-SP, Papirus,
2004.

Conhecimentos Pedagógicos 144


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(A) estudar os diversos campos sociais (econômico, partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, não sendo
político e cultural), refletindo sobre o sentido de qualidade remunerados seu Dirigente ou Conselheiros.
mais adequado à educação. Tem como objetivo efetivar a gestão escolar, na forma de
(B) refletir sobre as dimensões e os aspectos que colegiado, promovendo a articulação entre os segmentos da
necessitam ser avaliados, ao se construir uma escola cidadã e comunidade escolar e os setores da escola, constituindo-se no
de qualidade. órgão máximo de direção.
(C) conhecer parcialmente o trabalho que se desenvolve na
escola, em suas especificidades e na relação que existe entre 03. Resposta: A
essas partes. O Conselho de Classe permite que os professores,
(E) estar ligado, prioritariamente, à essência do trabalho coordenadores e diretores se reúnam para fazer
escolar. apontamentos dos alunos, observar seus resultados,
andamentos. Para melhoria e contribuição desses
02. (UFMA - Pedagogo – UFM/2016). Sobre o papel do profissionais, conta-se inclusive com a ajuda dos
Conselho Escolar e o lugar que ocupa na estrutura geral da representantes de turmas.
escola, especialmente entre os demais órgãos colegiados,
julgue a afirmativa correta.
(A) (...) Dos órgãos colegiados com funções apenas
fiscalizadoras estão a Associação de Pais, Mestres e A relação escola/cultura(s):
Funcionários e o Grêmio Estudantil e os com funções desigualdade/diferenças,
deliberativas e consultivas estão o Conselho de Classe e o
Conselho de Alunos. universalismo/relativismo,
(B) (...) Os conselhos escolares são órgãos representativos multiculturalismo/intercultur
da sociedade que falam em nome do governo para os alismo: currículo, saber
dirigentes das escolas.
(C) (...) O Conselho Escolar não tem nenhuma relação com
docente e cultura escolar.
a prática educativa e nem com o desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem.
(D) (...) Dos órgãos colegiados, o Conselho Escolar, devido
Cultura, Diversidade Cultural e Currículo128
a sua formação e fins, é o mais importante porque congrega,
além da direção, participantes dos demais colegiados e
Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja útil
representantes da comunidade na qual está inserida a escola.
esclarecermos, inicialmente, como a estamos concebendo, já
(E) (...) Cabe ao Conselho Escolar na sua função
que seus sentidos têm variado ao longo dos tempos,
deliberativa emitir pareceres para dirimir as dúvidas e tomar
particularmente no período da transição de formações sociais
decisões quanto às questões pedagógicas, administrativas e
tradicionais para a modernidade. Acreditamos que tal
financeira, no âmbito de sua competência.
esclarecimento pode subsidiar a discussão das relações entre
currículo e cultura129e130.
03. (SEDUC/RO - Professor Classe C – Sociologia –
IBADE/2016). Sobre o conselho de classe, leia as afirmativas.
O primeiro e mais antigo significado de cultura encontra-
I. O conselho de classe, em uma visão democrática, é uma
se na literatura do século XV, em que a palavra se refere a
instância meramente burocrática em que se buscam
cultivo da terra, de plantações e de animais. É nesse sentido
justificativas para o baixo rendimento dos alunos.
que entendemos palavras como agricultura, floricultura,
II. O conselho de classe guarda em si a possibilidade de
suinocultura.
articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de
estudo o processo de ensino.
O segundo significado emerge no início do século XVI,
III. Para maior eficácia do conselho de classe, seria
ampliando a ideia de cultivo da terra e de animais para a mente
necessário o envolvimento de outros segmentos da
humana. Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada,
comunidade escolar, por exemplo, alunos representantes de
afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, grupos
turmas.
ou classes sociais apresentam mentes e maneiras cultivadas e
Está correto o que se afirma apenas em:
que somente algumas nações apresentam elevado padrão de
(A) II e III.
cultura ou civilização. No século XVIII, consolida-se o caráter
(B) I e II.
classista da ideia de cultura, evidente na ideia de que somente
(C) I e III.
as classes privilegiadas da sociedade europeia atingiriam o
(D) I.
nível de refinamento que as caracterizaria como cultas. O
(E) III.
sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem suas
origens nessa segunda concepção: cultura, tal como as elites a
Respostas
concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura,
cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não
01. Resposta: E
encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns de
O Conselho Escolar é formado por professores, equipe
nossos atuais currículos como em textos que se escrevem
pedagógica de pais e alunos. É responsável pelas decisões em
sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo da literatura,
prol da escola, através de pintura, organização e outros
por exemplo, ainda tende a se restringir a escritores e livros
eventos.
vistos como clássicos. Para alguns estudiosos da cultura e da
educação, os grandes autores, as grandes obras e as grandes
02. Resposta: D
ideias deveriam constituir o núcleo central dos currículos de
O Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza
nossas escolas.
deliberativa, consultiva e fiscal, não tendo caráter político-

128http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf 130 CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. Reflexões obre o multiculturalismo na escola


129 BOCOCK, R. The cultural formations of modern society. In: HALL, S. e e na formação docente. In: CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. (Orgs.) Ênfases e omissões
GIEBEN, B. (Orgs.). Formations of modernity. Cambridge: Polity Press/The Open no currículo. Campinas: Papirus, 2001.
University, 1995.

Conhecimentos Pedagógicos 145


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APOSTILAS OPÇÃO

Já no século XX, a noção de cultura passa a incluir a cultura práticas em que significados são construídos, disputados,
popular, hoje penetrada pelos conteúdos dos meios de rejeitados, compartilhados? Como entender, então, as relações
comunicação de massa. Diferenças e tensões entre os entre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha uma
significados de cultura elevada e de cultura popular acentuam- cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos,
se, levando a um uso do termo cultura que se marca por ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da
valorizações e avaliações. Será que algumas de nossas escolas linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de
não continuam a fechar suas portas para as manifestações práticas por meio das quais significados são produzidos e
culturais associadas à cultura popular, contribuindo, assim, compartilhados em um grupo.
para que saberes e valores familiares a muitos (as) estudantes
sejam desvalorizados e abandonados na entrada da sala de Se entendermos o currículo, como propõe Williams131,
aula? Poderia ser diferente? Como? como escolhas que se fazem em vasto leque de possibilidades,
ou seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo,
Um terceiro sentido da palavra cultura, originado no também, como conjunto de práticas que produzem
Iluminismo, a associa a um processo secular geral de significados. Nesse sentido, considerações de Silva132 podem
desenvolvimento social. Esse significado é comum nas ciências ser úteis. Segundo o autor, o currículo é o espaço em que se
sociais, sugerindo a crença em um processo harmônico de concentram e se desdobram as lutas em torno dos diferentes
desenvolvimento da humanidade, constituído por etapas significados sobre o social e sobre o político. É por meio do
claramente definidas, pelo qual todas as sociedades currículo que certos grupos sociais, especialmente os
inevitavelmente passam. Tal processo acaba equivalendo, por dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto
“coincidência”, aos rumos seguidos pelas sociedades social, sua “verdade”. O currículo representa, assim, um
europeias, as únicas a atingirem o grau mais elevado de conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e
desenvolvimento. o consumo de significados no espaço social e que contribuem,
intensamente, para a construção de identidades sociais e
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos que culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as referências grande efeito no processo de construção da identidade do(a)
se fazem, dominantemente, às histórias dos povos estudante.
“desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e dos rumos
seguidos na maioria dos países que formam o chamado Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre
Terceiro Mundo currículo e cultura? Se, em uma sociedade cindida, a cultura é
Em um quarto sentido, a palavra “culturas” (no plural) um terreno no qual se processam disputas pela preservação ou
corresponde aos diversos modos de vida, valores e pela superação das divisões sociais, o currículo é um espaço
significados compartilhados por diferentes grupos (nações, em que esse mesmo conflito se manifesta. O currículo é um
classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracionais, campo em que se tenta impor tanto a definição particular de
de gênero etc) e períodos históricos. Trata-se de uma visão cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O
antropológica de cultura, em que se enfatizam os significados currículo é um território em que se travam ferozes
que os grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. competições em torno dos significados. O currículo não é um
Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida de um veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
dado grupo social, com as representações da realidade e as sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se
visões de mundo adotadas por esse grupo. A expressão dessa produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto,
concepção, no currículo, poderá evidenciar-se no respeito e no a criação, recriação, contestação e transgressão133.
acolhimento das manifestações culturais dos (as) estudantes,
por mais desprestigiadas que sejam. Como todos esses processos se “concretizam” no
currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam
Finalmente, um quinto significado tem tido considerável esforços tanto por consolidar as situações de opressão e
impacto nas ciências sociais e nas humanidades em geral. discriminação a que certos grupos sociais têm sido
Deriva da antropologia social e também se refere a significados submetidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que
compartilhados. Diferentemente da concepção anterior, essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao nos
porém, ressalta a dimensão simbólica, o que a cultura faz, em lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de práticas,
vez de acentuar o que a cultura é. Nessa mudança, efetua- se em salas de aulas, que contribuem para cristalizar
um movimento do que para o como. Concebe-se, assim, a preconceitos e discriminações, representações estereotipadas
cultura como prática social, não como coisa (artes) ou estado e desrespeitosas de certos comportamentos, certos estudantes
de ser (civilização). e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas
dessas visões, lamentavelmente, se refletem em frases como:
Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo natural existem, “vindo de onde vem, ele não podia mesmo dar certo na
mas não apresentam sentidos intrínsecos: os significados são escola!”.
atribuídos a partir da linguagem. Quando um grupo
compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de Ao mesmo tempo, há inúmeros e expressivos relatos de
significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas práticas alternativas em que professores (as) desafiam as
de utilização da linguagem. A palavra cultura implica, relações de poder que têm justificado e preservado privilégios
portanto, o conjunto de práticas por meio das quais e marginalizações, procurando contribuir para elevar a
significados são produzidos e compartilhados em um grupo. autoestima de estudantes associados a grupos
São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que subalternizados. O currículo é um campo em que se tenta
passam, dominantemente, a despertar a atenção dos que impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo
analisam a cultura com base nessa quinta perspectiva, passível quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território
de ser resumida na ideia de que cultura representa um em que se travam ferozes competições em torno dos
conjunto de práticas significantes. Não será pertinente significados. Ou seja, no processo curricular, distintas e
considerarmos também o currículo como um conjunto de complexas têm sido as respostas dadas à diversidade e à

131WILLIAMS, R. The long revolution. Harmondsworth: Penguin Books, 1984 133 MOREIRA, A. F. B. e SILVA, T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São
132SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do Paulo: Cortez, 1994
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

Conhecimentos Pedagógicos 146


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pluralidade que marcam de modo tão agudo o panorama esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a
cultural contemporâneo. urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos.

Cabe também ressaltar a significativa influência exercida, O objetivo maior concentra-se, cabe destacar, na
junto às crianças e aos adolescentes que povoam nossas salas contextualização e na compreensão do processo de construção
de aula, pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços das diferenças e das desigualdades. Nosso propósito é que os
socioeducativos (shoppings, clubes, associações, igrejas, meios currículos desenvolvidos tornem evidente que elas não são
de comunicação, grupos informais de convivência etc), nos naturais; são, ao contrário, “invenções/construções” históricas
quais se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos de homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem
fenômenos associáveis ao processo de globalização que hoje desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou seja, o existente
vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares, os nem pode ser aceito sem questionamento nem é imutável;
currículos tendem a se organizar com objetivos distintos dos constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e
currículos escolares, o que faz com que valores como para a formulação e a promoção de novas situações
padronização, consumismo, individualismo, sexismo e pedagógicas e novas relações sociais.
etnocentrismo possam entrar em acirrada competição com
outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale perguntar: O currículo como espaço de reconhecimento de nossas
identidades culturais
Como temos, nas salas de aula, reagido a esse “confuso”
panorama em que a diversidade se faz tão presente? Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de
Como temos nos esforçado para desestabilizar privilégios e especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola,
discriminações? Como temos buscado neutralizar influências promover ocasiões que favoreçam a tomada de consciência da
“indesejáveis”? construção da identidade cultural de cada um de nós, docentes
Como temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses e gestores, relacionando-a aos processos socioculturais do
outros espaços? contexto em que vivemos e a história de nosso país. O que
temos constatado é a pouca consciência que, em geral, temos
Em resumo, o complexo, variado e conflituoso cenário desses processos e do cruzamento de culturas neles presente.
cultural em que estamos imersos se reflete no que ocorre em Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereotipada de
nossas salas de aula, afetando sensivelmente o trabalho nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a identidade
pedagógico que nelas se processa. Voltamos a perguntar: cultural é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos
é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida.
Como as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica,
classe social, gênero, etnia, sexualidade, cultura e religião têm contextualizada e plural das identidades culturais é
“contaminado” nosso currículo, tanto o currículo formal quanto fundamental, articulando- se as dimensões pessoal e coletiva
o currículo oculto? desses processos. Constitui um exercício fundamental
Como temos considerado, no currículo, essa pluralidade, esse tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos culturais,
caráter multicultural de nossa sociedade? dos processos em que misturam ou se silenciam determinados
Como articular currículo e multiculturalismo? pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de
Que estratégias pedagógicas podem ser selecionadas? reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. Constitui um
Temos, professores e gestores, reservado tempo e espaço exercício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos
suficientes para que essas discussões aconteçam nas escolas? enraizamentos culturais, dos processos em que misturam ou
Como nossos projetos político-pedagógicos têm incorporado se silenciam determinados pertencimentos culturais, bem
tais preocupações? como sermos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-
Como temos atendido ao que determina a Lei nº los.
10.639/2003, que torna obrigatório, nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
afro-brasileira? exercícios podem ser propostos, buscando-se criar
De que modo os professores se têm inteirado das lutas e oportunidades em que o profissional da educação se estimule
conquistas dos negros, das mulheres, dos homossexuais e de a falar sobre como percebe a construção de sua identidade.
outros grupos minoritários oprimidos? Como vêm sendo criadas nossas identidades de gênero, raça,
sexualidade, classe social, idade, profissão? Como temos
Sem pretender oferecer respostas prontas a serem aprendido a ser quem somos, como profissionais da educação,
aplicadas em quaisquer situações, move-nos a intenção de brasileiros (as), homens, mulheres, casados (as), solteiros (as),
apresentar alguns princípios que possam nortear a construção negros (as), brancos (as), jovens ou idosos (as)? Nesses
coletiva, em cada escola, de currículos que visem a enfrentar momentos, tem sido bastante frequente a afirmação “nunca
alguns dos desafios que a diversidade cultural nos tem trazido. pensei na formação da minha identidade cultural”, ou então
Fundamentamo-nos, nesse propósito, em estudos, pesquisas, “me considero uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão
práticas e depoimentos de docentes comprometidos com uma usada por uma professora jovem, querendo se referir à
escola cada vez mais democrática. Nossa intenção é convidar o dificuldade de nomear os referentes culturais configuradores
profissional da educação a engajar- se no instigante processo de sua trajetória de vida.
de pensar e desenvolver currículos para essa escola.
A socialização em pequenos grupos, entre os (as)
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, educadores (as), dos relatos sobre a construção de suas
intensificar a sensibilidade do (a) docente e do gestor para a identidades culturais pode se revelar uma experiência
pluralidade de valores e universos culturais, para a profundamente vivida, muitas vezes carregada de emoção, que
necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de dilata tanto a consciência dos próprios processos de formação
cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a identitária do ponto de vista cultural, quanto a sensibilidade
conveniência de resgatar manifestações culturais de para favorecer esse mesmo dinamismo nas práticas educativas
determinados grupos cujas identidades se encontram que organizamos. Nesses processos, podemos nos dar conta da
ameaçadas, para a importância da participação de todos no complexidade envolvida na configuração dos distintos traços

Conhecimentos Pedagógicos 147


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identitários que coexistem, por vezes contraditoriamente, na (e) privilegiamos somente a comunicação verbal,
construção das diferenças de que somos feitos. desconsiderando outras formas de comunicação humana,
como a corporal, a artística etc.
O currículo como espaço de questionamento de nossas
representações sobre os “outros” Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma
marca cultural, estamos concebendo-o como membro de uma
Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural, dada cultura, vista como uma comunidade homogênea de
outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às crenças e estilos de vida. O outro, ainda que não seja a fonte de
representações que construímos dos outros, daqueles que todo mal, é diferente de nós, tem uma essência claramente
consideramos diferentes. As relações entre nós e os outros definida, distinta da que nos caracteriza. Na área da educação,
estão carregadas de dramaticidade e ambiguidade. Em essa visão se expressa, por exemplo, quando nos limitamos a
sociedades nas quais a consciência das diferenças se faz cada abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em
vez mais forte, reveste-se de especial importância dias especiais, usualmente incluídos na lista dos festejos
aprofundarmos questões como: quem incluímos na categoria escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência
nós? Quem são os outros? Quais as implicações dessas Negra.
questões para o currículo? Como nossas representações dos
outros se refletem nos currículos? Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tanto
a admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las. Nessa
Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a admissão, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos, por
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na educação. princípio, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os
Nossa maneira de nos situarmos em relação aos outros tende grupos cujas marcas são comportamentos antissociais ou
a construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os opressivos, como os racistas. Que consequências a adoção
nós? Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas dessa perspectiva pode ter para a prática pedagógica?
pessoas e aqueles grupos sociais que têm referenciais Julgamos que a simples tolerância pode nos situar em uma
semelhantes aos nossos, que têm hábitos de vida, valores, posição débil, evitando que tomemos posição em relação aos
estilos e visões de mundo que se aproximam dos nossos e os valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir
reforçam. Quem são os outros? Tendem a ser os que entram que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como
em choque com nossas maneiras de nos situarmos no mundo, valor último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”,
por sua classe social, etnia, religião, valores, tradições, vendo-a como comportamentos a serem inevitavelmente
sexualidade etc. cultivados.
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e
Duschatzky134, principalmente de três formas distintas: o Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar diante
outro como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de dos outros. No entanto, acreditamos que a tipologia proposta
um grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. por Skliar e Duschatzky135 expressa as posições mais presentes
na nossa sociedade hoje, evidenciando a complexidade das
A primeira perspectiva, segundo os autores, marcou questões relacionadas à alteridade e à diferença.
predominantemente as relações sociais durante o século XX e
pode se revestir de diferentes formas, desde a eliminação física O que desejamos destacar é que o modo como concebemos
do outro, até a coação interna, mediante a regulação de a condição humana pode bloquear nossa compreensão dos
costumes e moralidades. Nesse modo de nos situarmos diante outros. Portanto, é importante promovermos processos
do outro, assumimos uma visão binária e dicotômica. Em um educacionais nos quais identifiquemos e desconstruamos
lado separamos os bons, os verdadeiros, os autênticos, os nossas suposições, em geral implícitas, que não nos permitem
civilizados, cultos, defensores da liberdade e da paz. Em outro, uma aproximação aberta e empática à realidade dos outros.
deixamos os outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os
ignorantes e os terroristas. Se nos identificamos com os O currículo como um espaço de crítica cultural
primeiros, o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar
ou subjugar os outros. Caso nos sintamos representados como Apresentamos agora outro princípio, fortemente
integrantes do polo oposto, ou internalizamos a nossa relacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
maldade e nos deixamos salvar, passando para o lado dos bons, conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns
ou nos confrontamos violentamente com eles. dos artefatos culturais que circundam o (a) aluno (a). A ideia é
tornar o currículo um espaço de crítica cultural.
Como essa primeira perspectiva se traduz na escola?
Mostra-se presente quando: Como fazê-lo?
(a) atribuímos o fracasso escolar dos (as) alunos (as) às
suas características sociais ou étnicas; Um dos caminhos é abrir as portas, na escola, a diferentes
(b) diferenciamos os tipos de escolas segundo a origem manifestações da cultura popular, além das que compõem a
social dos (as) estudantes, considerando que alguns têm maior chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes,
potencial que outros e, para desenvolvermos uma educação de programas de televisão, festas populares, anúncios,
qualidade, não podemos misturar estudantes de diferentes brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e
potenciais; romances precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da
(c) nos situamos, como professores (as), diante dos (as) mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar
alunos (as), com base em estereótipos e expectativas os horizontes culturais dos (as) estudantes, bem como de
diferenciadas segundo a origem social e as características promover interações entre diferentes culturas, outras
culturais dos grupos de referência; manifestações, mais associadas aos grupos dominantes,
(d) valorizamos exclusivamente o racional e precisam ser incluídas no currículo.
desvalorizamos os aspectos afetivos presentes nos processos
educacionais;

134 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na 135 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na

cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel: cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 148


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A intenção é que a cultura dos estudantes e da comunidade Contribuições para o Estudo da Pluralidade Cultural no
possa interagir com outras manifestações e outros espaços Âmbito da Escola138
culturais como museus, exposições, centros culturais, música
erudita, clássicos da literatura. Se aceitarmos a inexistência, no Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e
mundo contemporâneo, de qualquer “pureza cultural” 136, se aprendizagem é importante esclarecer o caráter
pretendermos abrir espaço na escola para a complexa interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da
interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural, Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento
tanto as manifestações culturais hegemônicas como as de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional,
subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de conhecimentos acumulados no campo da História e da
apreciação e crítica. Talvez fosse útil, para o desenvolvimento Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da
do que sugerimos, que discutíssemos, na escola, com que Linguística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a
recursos podemos contar em nossa comunidade e como fazer Estudos Populacionais, constituem uma base sobre a qual se
para que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar- opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola,
se familiares a nossos (as) alunos (as). Abrir as portas, na deve ter cunho eminentemente pedagógico.
escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das Acrescenta-se a essa evidente complexidade o fato de que
que compõem a chamada cultura erudita. muitos grupos humanos, de que trata o tema Pluralidade
Cultural, têm produzido um saber rico e profundo acerca de si
Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar. mesmos, particularmente no âmbito de movimentos sociais e
Ao intentarmos transformar a escola em um espaço cultural, de suas organizações comunitárias. Assim, abre-se à escola a
estamos convidando cada professor (a), como intelectual que possibilidade de empreender, em seu cotidiano, uma reflexão
é, a desempenhar o papel de crítico (a) cultural. Estamos que integra, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação.
considerando que a atividade intelectual implica o A seguir são apresentadas algumas indicações das
questionamento do que parece inscrito na natureza das coisas, diferentes contribuições, a título de subsídios chave, a fim de
do que nos é apresentado como natural, questionamento esse balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o
que visa, fundamentalmente, a mostrar que as coisas não são esgotem. São pistas que o professor poderá seguir
inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, assim, na crítica aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu
da cultura em que estamos imersos. Como se expressa essa planejamento. Visam, sobretudo, explicitar que tratar do povo
atividade na prática curricular? brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no
processo histórico, exige estudo e preparo cuidadoso que não
Julgamos que cabe à escola, por meio de suas atividades se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
pedagógicas, mostrar ao aluno que as coisas não são
inevitáveis e que tudo que passa por natural precisa ser Fundamentos Éticos
questionado e pode, consequentemente, ser modificado. Cabe
à escola levá-lo a compreender que a ordem social em que está Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve
inserido define-se por ações sociais cujo poder não é absoluto. preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes
O que existe precisa ser visto como a condição de uma ação na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os
futura, não como seu limite. Nossos questionamentos devem, preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da
então, provocar tensões e desafiar o existente. Podem não escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que
mudar o mundo, mas podem permitir que o aluno o visem à superação do preconceito e da discriminação. A
compreenda melhor. Como nos diz Bauman137, “para operar no contribuição da escola na construção da democracia é a de
mundo (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso promover os princípios éticos de liberdade, dignidade,
entender como o mundo opera”. respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no
cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio
A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a
por exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens aos problemas gerados pela injustiça social.
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas A diferença entre o que se tem historicamente pregado
cômicos de televisão; preconceitos contra povos não como sendo fins e valores da democracia republicana e
ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens práticas sociais marcadas pela dominação, exploração e
encontradas em revistas para adolescentes do sexo feminino exclusão, torna imperativo o posicionamento ético da escola e
(e da classe média) que incentivam o uso de drogas, o do educador, ao mesmo tempo em que se coloca a superação
consumismo e o individualismo; estímulos à erotização dessa situação, no campo educacional, como um dos maiores
precoce das meninas, visíveis em brinquedos e programas desafios da prática pedagógica.
infantis; presença e aceitação da violência em filmes, jogos e Num mundo que tende cada vez mais à globalização no
brinquedos. plano econômico, da qual é ainda desconhecido o conjunto de
efeitos sociais, é importante perceber o incessante processo de
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o reposição das diferenças e o ressurgimento de etnicidades. De
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta nada um lado, esse processo ensina que o fato de as culturas
têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorporam intenções viverem dinâmicas que resultam em sua modificação
de apoiar, preservar ou produzir situações que favorecem constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único,
certos grupos e outros não. Tais artefatos, como se tem e conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento
insistentemente acentuado, desempenham, junto com o dominante. De outro, apresenta com clareza a necessidade da
currículo escolar, importante papel no processo de formação construção de valores e novas práticas de relação social que
das identidades de nossas crianças e nossos adolescentes, permitam o reconhecimento e a valorização da existência das
devendo constituir- se, portanto, em elementos centrais de diferenças étnicas e culturais, e a superação da relação de
crítica em processos curriculares culturalmente orientados. dominação e exclusão — ao mesmo tempo em que se constitui
a solidariedade.

136 McCARTHY, C. The uses of culture: education and the lilmits of ethnic 138Brasil.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
affiliation. New York: Routledge, 1998. nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual / Secretaria de Educação
137BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Fundamental.

Conhecimentos Pedagógicos 149


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APOSTILAS OPÇÃO

Conhecimentos Jurídicos De fato, a configuração laica do Estado é propiciadora


dessa pluralidade, no plano social, e se caracteriza por ser
Explicitada no contexto dramático do pós-guerra, quando impeditiva de rótulos, no plano do cidadão. Ou seja, não há
se indagou como teria sido possível ao ser humano produzir a uma predeterminação que vincule compulsoriamente etnias e
barbárie do Holocausto e o horror de Nagasaki e Hiroshima, a religiões, origem de nascimento e percursos de vida.
Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu como a É nesse sentido que se define a postura laica da escola
ponte entre o medo e a esperança. Essa ponte, apenas pública como imperativo no cumprimento do dever do Estado
projetada ali, seria preciso ser construída. referente ao estabelecimento pleno de uma educação
Os direitos humanos assumiram, gradativamente, a democrática, voltada para o aprimoramento e a consolidação
importância de tema global. Assim como a preservação do de liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana.
meio ambiente, os Direitos Humanos colocam-se como Não se trata, é claro, de mostrar um Brasil perfeito e irreal,
assunto de interesse de toda a humanidade. Se o planeta está mas as possibilidades que se abrem com trabalho, embates e
ameaçado por políticas de desenvolvimento predatórias, da entendimentos, mediante a colocação em prática de
mesma maneira a miséria e a intolerância em seus diversos instrumentos jurídicos já disponíveis.
matizes promovem no final do século a morte pela fome, a
marginalidade extrema, migrações em massa, desequilíbrios Conhecimentos Históricos e Geográficos
internos e, no limite, guerras entre grupos humanos que
outrora conviveram em suposta harmonia. A violência em que O estudo da ocupação do território nacional e da
pode resultar a disputa étnica, religiosa e social, quando a constituição da população pode ser empreendido por
intolerância e o desequilíbrio são levados ao extremo, intermédio da trajetória das etnias no Brasil. Tarefa complexa,
expressa-se em números: sabe-se que 80% das guerras que esse estudo traz tanto a compreensão da produção das
ocorrem hoje derivam da intolerância étnica e religiosa em riquezas, da miséria e da injustiça quanto de aspectos que
conflitos internos. tornaram o Brasil internacionalmente reconhecido como
A ONU, preocupada com a conquista da paz mundial, hospitaleiro.
promoveu conferências que buscavam um programa de Os aspectos históricos e geográficos expõem uma
consenso que orientasse os países e os indivíduos quanto à diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de
questão dos direitos humanos. A Conferência de Viena de vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania, de
1993, de cuja declaração o Brasil é signatário, reafirmou a valorização desigual de práticas culturais. A formação
universalidade dos direitos humanos e apresentou as histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
condições necessárias para os Estados promoverem, processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em
controlarem e garantirem tais direitos. Sabia-se naquele diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se
momento que o tratamento adequado do tema da pluralidade ao fato de que cada grupo encontrou maneiras de preservar
etnocultural era condição para a democracia e fator primordial sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma
do equilíbrio social e internacional. Firma-se nesse contexto a clandestina e precária.
responsabilidade do Estado na proteção e promoção das A tendência de abafar e encobrir os problemas vividos pela
identidades étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. diversidade, enquanto se dá destaque apenas à sua
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 característica de ser um dos potenciais mais férteis,
é uma das mais avançadas quanto aos temas do respeito à tipicamente brasileiros, levou por muito tempo a acreditar que
diferença e do combate à discriminação. O Brasil teve, por o racismo era uma mazela social que o Brasil soube evitar. A
outro lado, participação ativa nas reuniões mundiais sobre os teoria da integração das raças, tradicionalmente divulgada na
direitos humanos e sobre minorias. Aqui não se trata, é claro, maioria das escolas de ensino fundamental, deixou pouco ou
de exigir conhecimentos próprios do especialista em Direito, nenhum espaço para que se encarassem as reais dificuldades
mas de saber como se define basicamente a cidadania. das diferentes etnias no contexto social brasileiro.
Vale lembrar que dispositivos presentes na Seção “Da Para a compreensão da trajetória das etnias é necessário
Educação”, da Constituição Federal, referentes às tratar de temas básicos: ocupação e conquista, escravização,
comunidades indígenas, também asseguram “a utilização de imigração, migração. Outro aspecto particularmente relevante
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” refere-se à importância do estudo dos continentes de origem
(art. 210, § 2º), consolidando o reconhecimento de exigências dos diversos grupos que compõem a população brasileira.
historicamente apresentadas em trabalhos desenvolvidos Tratar da presença indígena, desde tempos imemoriais em
pelos povos indígenas, em cooperação notadamente com a território nacional, é valorizar sua presença e reafirmar seus
sociedade civil. direitos como povos nativos, como tratado na Constituição de
Alguns aspectos pedagógicos decorrem desse dispositivo. 1988. É preciso explicitar sua ampla e variada diversidade, de
O estabelecimento de escolas indígenas, com proposta forma a corrigir uma visão deturpada que homogeneíza as
pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias, sociedades indígenas como se fossem de um único grupo, pela
atende a uma exigência constitucional, traz enriquecimento justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
pedagógico e introduz exigências adicionais na estruturação Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto
do sistema nacional de educação. pela via da inclusão nos currículos de conteúdos que informem
sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a
O ensino religioso nas escolas públicas é assunto que exige sociedade como um todo, quanto pela consolidação das escolas
atenção. Tema vinculado, em termos de direito, à liberdade de indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a
consciência e de crença, a presença plural das religiões no pedagogia que lhes é própria.
Brasil constitui-se fator de possibilidade de escolha. Ao
indivíduo é dado o direito de ter religião, quando criança, por Compreender a formação das sociedades europeias e das
decisão de seus pais, ou, quando adulto, por escolha pessoal; relações entre sua história, viagens de conquista,
de mudar de religião, por determinação voluntária ao longo da entrelaçamento de seus processos políticos com os do
vida, sem restrições de ordem civil; e de não ter religião, como continente americano, em particular América do Sul e Brasil,
opção consciente. O que caracteriza, portanto, a inserção social auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só
do cidadão, desse ponto de vista, é o respeito, a abertura e a de conteúdos específicos, como também da estruturação de
liberdade. processos de influenciação recíproca. Isso é particularmente
importante para o momento atual, quando o quadro

Conhecimentos Pedagógicos 150


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internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão
variadas formas. acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais
O estudo histórico do continente africano, com sua não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de
complexidade milenar, é de extrema relevância como fator de classes sociais, assim como das formas como ambas se
informação e de formação voltada para a valorização dos retroalimentam.
descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história A desatenção à questão da diferença cultural tem sido
mais ampla, na qual os processos de mercantilização da instrumento que reforça e mantém a desigualdade social,
escravidão foram um momento, que não pode ser amplificado levando a escola a atuar, frequentemente, como mera
a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O transmissora de ideologias. Por outro lado, a injustiça
conhecimento desse processo pode significar o socioeconômica se apoia em preconceitos e discriminações de
dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético, caráter etnocultural de tal forma que, muitas vezes, não é
da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que possível saber se a discriminação vem pelo fato étnico, pelo
os povos africanos enfrentam por isso. socioeconômico, ou por ambos.
Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui A discussão sociológica colabora para a escola e o
para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no professor enfrentarem o desafio que lhes está colocado, qual
que se refere às tradições quanto em relação aos processos seja, o de ser parte de certa realidade social injusta, dela sofrer
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as influências, e, ainda assim, garantir a possibilidade de educar
Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes o aluno como cidadão em formação, de forma que atue como
momentos históricos. É relevante, também, o estudo do sujeito sociocultural, voltado para mudanças, para a busca de
Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição caminhos de transformação social.
da civilização ocidental.
Esses conhecimentos são subsídios para que se possa Conhecimentos Antropológicos
compreender o processo de surgimento de tendências, ideias,
crenças, sistemas de pensamento, seu percurso por diversos Há relações presentes em diferentes grupos e sociedades
territórios nacionais e continentais, e a ampliação da humanas que não se explicam exclusivamente pelo
influência cultural; perceber a criação e recriação constante de socioeconômico, nem se reduzem a estados afetivos e
tradições, a complexidade da convivência da diversidade em psicológicos. São exemplos, a relação do ser humano com a
um mesmo território, nem sempre harmonizada, assim como organização de seu grupo, com o sagrado, o mágico, o
processos internacionais de pressão, e desenvolvimento de sobrenatural, a relação com o patrimônio cultural, tudo o que
processos regionais de construção da paz. o precede e sucede. Trata-se de fatos que caracterizam a
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente existência da cultura, especificidade exclusiva da vida humana.
conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala A Antropologia caracteriza-se como o estudo das
de aula. É claro, contudo, que alguns desenvolvimentos alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor
conceituais mais elaborados poderão ser deixados para as inerente a cada cultura, por se tratar daquilo que é
quintas a oitavas séries, enquanto nas séries iniciais se poderá exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo
veicular informações mais simples e promover aproximações grupo, em certo momento, em certo lugar. Nesse sentido, cada
conceituais que favorecerão uma futura ampliação em cultura tem sua história, condicionantes, características, não
abrangência e profundidade. cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em
detrimento de outra.
Conhecimentos Sociológicos A variabilidade interna presente em cada cultura também
é objeto de estudo da Antropologia, tornando possível
Toda seleção curricular é marcada por determinantes e compreender variáveis formas de organização humana,
fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados convivendo dentro de visões de mundo semelhantes.
de forma isolada, para efeito de estudo, mas que se encontram É também nos conhecimentos antropológicos que se
amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são encontram subsídios para entender algumas das questões
indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas mais difíceis de nosso tempo, que vai ao encontro do terceiro
possibilidades que abrem de compreensão de processos milênio. Em particular, a temática étnica, cada vez mais
complexos, onde se dão interações entre fenômenos de presente em um mundo que se complexifica de maneira
diferentes naturezas. crescente, sob aparência de homogeneização, assim como o
Atuando em campo social marcado historicamente pela estudo das mutações culturais, que se apresentam com ritmos
exclusão de grandes contingentes da população, a escola pode distintos, em diferentes grupos.
fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos Assim, falar de cultura é tratar de permanências e
problemas presentes na estrutura socioeconômica, de como se mudanças, de manifestações patentes, que expressam, com
dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado frequência, o latente — atuante, embora nem sempre
pelo universo cultural nesse processo. perceptível em termos objetivos.
Embora tenha sido muito salientado o papel de É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais
reprodutora de mecanismos de dominação e exclusão, usual do termo cultura, empregado para definir certo saber,
atribuído historicamente à escola, cabe lembrar que ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico
potencializar suas possibilidades de resistência e do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no
transformação depende também, ainda que não contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura,
exclusivamente, das opções e das práticas dos educadores. mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se se
Nesse sentido, além das diversas contribuições da Sociologia, pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não
aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do
sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia grupo que o gerou.
da Educação, Sociologia do Currículo. Nesses estudos, os A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis
vínculos entre escola e democracia, escola e cidadania, e pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da
democracia e currículo são analisados, permitindo uma sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância,
reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde
sala de aula, no que se refere a esses assuntos. introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como
cada grupo social as concebe.

Conhecimentos Pedagógicos 151


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A cultura, como código simbólico, apresenta-se como tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de
dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios
de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores e categorias — muitas vezes dificulta um diálogo
valores. O grupo social transforma e reformula intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado
constantemente esses códigos, adaptando seu acervo que as diversas culturas oferecem.
tradicional às novas condições historicamente construídas Por isso, é errado, conceitual e eticamente, sustentar
pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o argumentos de ordem racial/étnica para justificar
sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso,
estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no
identidade. Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas
contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes,
Entretanto, o processo de mudança intrínseco a qualquer da barbárie da escravidão a formas contemporâneas de
cultura já foi entendido como desfiguração da cultura discriminação e exclusão, desses e outros grupos étnicos e
tradicional, desvio e perda, o que, do ponto de vista aqui culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve
colocado, é uma ideia incorreta. É preciso compreender esse posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante
caráter intrínseco da mudança, do ponto de vista dos grupos informações corretas, cooperando no esforço histórico de
culturais, diferente de intromissões de elementos externos superação do racismo e da discriminação.
que sugerem ou impõem fatores estranhos à cultura, ou até de
transplantes culturais. Linguagens e Representações
A cultura pode assumir um sentido de sobrevivência,
estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como Trata-se, aqui, de trabalhar diferentes linguagens que
parte indispensável das identidades individuais e sociais, ampliam as possibilidades de expressão para além da verbal,
apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida forma predominante de comunicação na maioria das
democrática. Por isso, fortalecer a cultura própria de cada sociedades. Integrada aos conhecimentos antropológicos,
grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade permitirá o entendimento da importância de diferentes
brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e códigos linguísticos, de diferentes manifestações culturais e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a sua compreensão no campo educacional, como fator de
liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. integração e expressão do aluno, respeitando suas origens.
Alguns temas, conceitos e termos da temática da Tratando especificamente da temática das línguas, abrem-
Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de se muitas possibilidades de transversalização com Língua
conhecimentos antropológicos, por referirem-se diretamente Portuguesa, por exemplo, pela valorização de diferentes
à organização humana, na qual se coloca a diversidade. formas de linguagem oral e escrita, pelo respeito às
Assim, o termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no manifestações regionais, pela possibilidade de contato e
cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências integração com a diversidade de línguas e de linguagens
sociais pelos maus usos a que se prestou. presentes na vida de crianças e adolescentes no Brasil.
Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes
cujos membros mostram com frequência um certo número de da Língua Portuguesa, idioma oficial, significa não só
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos ampliação de horizontes, como também compreensão da
cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato complexidade do País. A escola tem a possibilidade de
do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à
transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, existência, estrutura e uso dessas centenas de línguas. Pode,
assenta-se em um conteúdo biológico, e foi utilizado na com isso, promover não só a reflexão metalinguística, como
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de também a compreensão de como se constituem identidades e
superioridade/inferioridade entre grupos humanos. singularidades de diferentes povos e etnias.
A diversidade das sociedades humanas não se explica pela Saber da existência de diferentes formas de bilinguismos e
diferença genética — a variação dos caracteres genéticos multilinguíssimos, presentes em diferentes regiões — assim
internos de qualquer grupo é muito grande —, mas sim pela como ver-se reconhecida e presente neste tema transversal,
cultura. A divisão biológica da espécie humana não implica aberto às suas próprias singularidades regionais, étnicas e
hierarquia, ainda que diferentes visões de mundo expliquem culturais — será extremamente relevante na construção desse
de múltiplas formas a diversidade humana. Do ponto de vista conhecimento e na valorização do que é a pluralidade cultural
de dignidade, de Direitos Universais, há uma só humanidade. brasileira. São exemplos de tais bilinguismos e
Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso multilinguíssimos as vivências de escolas indígenas, escolas de
comum é ainda muito difundido, variando da ideia de regiões de fronteiras geopolíticas do Brasil, escolas vinculadas
reafirmação étnica, de forma a distinguir singularidades de a grupos étnicos, existentes em particular em grandes centros
potencial e demanda, como aquele que é feito comumente por urbanos, regionalismos na fala cotidiana de tantas escolas
movimentos sociais, a usos ostensivamente pejorativos, que espalhadas pelo País.
alimentam racismo e discriminação. Por outro lado, o desenvolvimento de outras linguagens
Cabe, aqui, introduzir o conceito de etnia, que substitui será muito importante, permitindo transversalizar, em
com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural. particular, com Educação Física e Arte. A música, a dança, as
“Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos e a
diferencia de outros por sua especificidade cultural. composições regionais típicas, são manifestações culturais que
Atualmente o conceito de etnia se estende a todas as minorias a criança e o adolescente poderão conhecer e vivenciar. Dessa
que mantêm modos de ser distintos e formações que se forma enriquecerão seu conhecimento sobre a diversidade
distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio
uma etnia partilham de uma mesma visão de mundo, de uma potencial expressivo.
organização social própria, apresentam manifestações
culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição Conhecimentos Populacionais
de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de
um grupo étnico, que frequentemente se autodenomina Embora estejam presentes ao longo da discussão referente
comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de alguém à trajetória das etnias no Brasil, os conhecimentos

Conhecimentos Pedagógicos 152


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populacionais precisam ser aqui lembrados, por constituírem “estranho”, do “estrangeiro”, que, por escapar da apreensão
fonte de informação relevante, sobretudo a partir do segundo comum, pode ser rotulado de “esquisito”.
ciclo. Esse medo se alimenta de si mesmo, ou seja, quanto mais
Dados estatísticos sobre a população brasileira conforme medo, mais se busca distância do objeto do medo. Há estudos
distribuição regional, densidade demográfica, em relação com que demonstram que nos conflitos inter-étnicos, quanto maior
dados como renda per capita, PIB per capita, fornecem um o medo, maior a violência presente nas reações.
quadro informativo de como se vive no Brasil. Cotejado com Uma forma de trabalhar e superar esse tipo de medo é com
informações provenientes de levantamentos feitos pelos informação. Trata-se, portanto, de buscar conhecer aquele que
próprios alunos (via correspondência, imprensa, etc.), atemoriza. Esse conhecimento se dá por intermédio de textos,
significarão a possibilidade de um conhecimento mais fitas de vídeo, jornais e boletins informativos de grupos
adequado sobre o Brasil e oportunidade, nas séries finais, de organizados pelas diferentes comunidades. Contudo, a fonte
discussão, de debates acerca de políticas públicas alternativas mais importante de conhecimento desse “desconhecido que
que beneficiem a vida da população. atemoriza” é ele mesmo. Assim, trata-se de, potencializando ao
Da mesma forma, História e Geografia, Ciências Naturais, máximo a prática da transversalidade, oferecer informações,
Orientação Sexual e Saúde possibilitam discutir dados nas diversas áreas, que permitam esse conhecimento mútuo,
referentes à mortalidade infantil, abortos e esterilizações, com tanto dos alunos entre si, quanto em relação a concidadãos,
as consequências daí advindas. Um tratamento enriquecedor brasileiros de diferentes origens socioculturais. Trata-se
da temática dos direitos reprodutivos propicia também a também de recuperar, de forma não-depreciativa,
análise da relação com questões de raça/etnia. conhecimentos que os grupos étnicos e sociais têm,
A escolha dos conteúdos e abordagens pode nortear-se por permitindo, ainda, que se evidencie o saber emergente, aquele
questões como: quais características são relevantes quanto à que está em elaboração como parte do processo social de
relação entre composição populacional, aspectos culturais, conscientização e afirmação de identidades e singularidades.
distribuição de renda, qualidade de vida e o papel da No polo em que se encontra aquele que é discriminado, o
educação? Que relações perversas estabeleceram-se, medo se apresenta como ameaça permanente, na qual a
historicamente, entre exclusão socioeconômica e discriminação se dirige à sua forma extrema, aquela na qual se
determinados grupos, que estão exigindo ações específicas? busca eliminar fisicamente quem é discriminado. É importante
Que dados são relevantes para uma compreensão integrada de observar que a discriminação reveste-se sempre de conteúdos
áreas sociais, como educação e saúde, por exemplo? de violência, ainda que em sua forma simbólica. Tal violência
Esses conhecimentos poderão, assim, oferecer subsídios provoca o medo da eliminação, seja de forma extrema, seja
preliminares que permitam construir a compreensão do manifestada como exclusão. Assim, é decisivo propiciar
entrelaçamento de componentes sociais, culturais e elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão
populacionais na definição da qualidade de vida, além de social, por meio sobretudo da prática cotidiana de
possíveis formas de ação voltadas para a melhoria dessa procedimentos voltados para o princípio da equidade.
qualidade.

Conhecimentos Psicológicos e Pedagógicos Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Pluralidade


Cultural
Alguns aspectos presentes na escola, ligados à questão da
expectativa, da estigmatização, da autoestima, da conduta na O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas e
atividade educativa, com a necessária reciprocidade entre transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e
educador e educando, fazem do tema Pluralidade Cultural fim inconstitucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca
e meio. das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território
Do ponto de vista psicopedagógico, conhecimentos que nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a eliminação
tragam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso de causas de sofrimento, de constrangimento e, no limite, de
que se apresentam como sendo mais da escola e de sua exclusão social da criança e do adolescente. Além disso, o tema
atividade didática, e não só dos alunos, levam à redefinição de traz oportunidades pedagogicamente muito interessantes,
procedimentos em sala de aula. motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e
Evitar atitudes que “produzam” o fracasso escolar é uma sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito
possibilidade aberta ao professor. Um dos aspectos mais cosmopolita e vice-versa, colocando-se assim,
complexos quanto ao atendimento adequado à criança e ao simultaneamente, como objetivo e como meio do processo
adolescente refere-se às expectativas de homogeneização. educacional.
Várias contribuições se apresentam para a conduta Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece
pedagógica, sendo, porém, a mais decisiva aquela que oportunidades de conhecimento de suas origens como
intervém nas situações de discriminação, seja qual for o brasileiro e como participante de grupos culturais específicos.
motivo. Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil,
Com relação à discriminação, sabe-se que um de seus propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor,
fundamentos psicológicos é o medo. Falar sobre isso promovendo sua autoestima como ser humano pleno de
explicitamente, como um dos muitos e complexos motivos que dignidade, cooperando na formação de autodefesas a
levam à discriminação, permite que se possa tratar o medo expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por
como o que é de fato: manifestação da insegurança, muitas meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e
vezes plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser vivências que cooperam para que se apure sua percepção de
revertida apenas quando encarada e trabalhada. injustiças e manifestações de preconceito e discriminação que
É preciso esclarecer, também, que a discriminação ocorre recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar — e para
como uma relação em que há dois polos. No polo que que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas.
discrimina, o medo se apresenta como reação ao No âmbito instrumental, o tema permite a explicitação dos
desconhecido, visto como ameaçador. Quem tem a cor da pele direitos da criança e do adolescente referentes ao respeito e à
diferente, ou fala de tradições — étnicas, religiosas, culturais valorização de suas origens culturais, sem qualquer
— desconhecidas, confronta seu interlocutor com sua própria discriminação. Exige do professor atitudes compatíveis com
ignorância de mundos diferentes do seu. É a figura do uma postura ética que valoriza a dignidade, a justiça, a
igualdade e a liberdade. Exige, também, a compreensão de que

Conhecimentos Pedagógicos 153


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o pleno exercício da cidadania envolve direitos e O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da
responsabilidades de cada um para consigo mesmo e para com criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade.
os demais, assim como direitos e deveres coletivos. Traz, para Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a
os conteúdos relevantes no conhecimento do Brasil, aquilo que constatação de que são todos diferentes traz a consciência de
diz respeito à complexidade da sociedade brasileira: sua que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade,
riqueza cultural e suas contradições sociais. insubstituível.
Ao mostrar as diversas formas de organização social O simples fato de os alunos serem provenientes de
desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada
diferentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros
fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual,
social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência de
entrelaçamento das diversas formas de organização social de interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e cada
diferentes grupos. um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a
Esse tema necessita, portanto, que a escola, como cada momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia
instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais e ao e o outro, talvez, despreze.
afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em análise Aprender a posicionar-se de forma a compreender a
suas relações, suas práticas, as informações e os valores que relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é
veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cultural contribuirá aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas,
para a vinculação efetiva da escola a uma sociedade histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a
democrática. conhecer.
Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas
Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade características, ter disponível a abertura para que possa dar-
Cultural? se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares
suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo
Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a para partilhar com seus colegas a vivência que tenha fora do
discriminação manifestada em gestos, comportamentos e mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como
palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo, ao contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo,
mesmo tempo em que não se aceita que permaneça a atual trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um
situação, em que a escola é cúmplice, ainda que só por omissão, ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio
não se pode esquecer que esses problemas não são à sua expressão; de valorização, pela incorporação das
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas contribuições que venha a trazer.
das relações sociais, e como elas têm história e permanência. É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é idêntico
O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se constituir ao que se apresenta para o professor e demais funcionários da
um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas escola: uma organização escolar que saiba estar atenta às
de relação social e interpessoal mediante a interação entre o singularidades dos profissionais que ali atuam, respeitando
trabalho educativo escolar e as questões sociais, suas características próprias, entendendo que esse respeito é
posicionando-se crítica e responsavelmente perante elas. a base para a atuação profissional, e tal respeito não é
Assim, cabe à escola buscar construir relações de confiança incompatível com o respeito às normas institucionais, embora
para que a criança possa perceber-se e viver, antes de mais possa, às vezes, exigir flexibilidade em sua aplicação (por
nada, como ser em formação, e para que a manifestação de exemplo, os feriados religiosos).
características culturais que partilhe com seu grupo de origem Tal atuação não é simples e exige por parte do professor a
possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de consciência de que ele mesmo estará aprendendo, uma vez que
vida, que não seja impeditiva do desenvolvimento de suas nessa área a prática do acobertamento é muito mais frequente
potencialidades pessoais. que a prática do desvelamento.
É possível identificar no cotidiano as muitas manifestações A prática do acobertamento é a mais usual, porque assim
que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fatos da se estabeleceu no campo social. Vive-se numa realidade na
comunidade ou comunidades do entorno escolar, as notícias qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma
de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, estratégias de vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que
intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito
diferentes municípios de um mesmo Estado. da democracia racial”). Mais ainda, muitas vezes a ideia de
A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. Assim, aceitar que o preconceito existe gera tanto o medo de ser
quando se fala de alguma comunidade, é preciso ter certeza de acusado de ser preconceituoso como o medo de ser vítima de
que se referem a conhecimentos reconhecidos por essas preconceito. Essa atitude é o que se chama, popularmente, de
comunidades como verdadeiros. Então, como conseguir “política de avestruz”, na qual, por se fazer de conta que um
informações? Nesse sentido, a prática de intercâmbio escolar problema não existe, tem-se a expectativa de que ele deixe, de
e da consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive fato, de existir.
das próprias comunidades, é instrumento pedagógico Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se
privilegiado. Com isso, será possível transformar a procura diluir as evidências de comportamento
possibilidade de obter informações das comunidades em fator discriminatório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um
de corresponsabilização social pelos rumos da discussão, da professor pode ter tratado um aluno mal “porque estava
formação de crianças e adolescentes. nervoso”, ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada
É importante abrir espaço para que a criança e o como se fosse um simples descuido, uma distração.
adolescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é
experiência pessoal e intransferível, que permite um oportuno A prática do desvelamento, que é decisiva na superação da
e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o discriminação, exige do professor informação, discernimento
exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sentimento
informações sobre vivências culturais e esclarecimentos do outro e intencionalidade definida na direção de colaborar
acerca de eventuais preconceitos e estereótipos é componente na superação do preconceito e da discriminação.
fortalecedor do convívio democrático. A informação deverá permitir um repertório básico
referente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar

Conhecimentos Pedagógicos 154


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o que é relevante para a situação escolar como para buscar à luz, como elemento de aprendizagem e crescimento do grupo
outras informações que se façam necessárias. escolar como um todo.
O discernimento é indispensável, de maneira particular,
quando ocorrem situações de discriminação no cotidiano da Ensinar a pluralidade ou viver a pluralidade?
escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, significa tanto
não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É
acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de trabalho de construção, no qual o envolvimento de todos se dá
maneira ambígua, estará reforçando o problema social; se pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro,
acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressentimento. Assim, nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação
discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a ação fornece.
discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como
se pratica a solidariedade, buscando alguma atividade que Questões
possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus
alunos. 01. (Prefeitura de Itaquitinga - Pedagogo IDHTEC -
Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro. 2016) A Lei nº 10.639/2003, torna obrigatório o estudo da
Compreender que aquele que é alvo da discriminação sofre de História e Cultura Afro Brasileira e Africana:
fato, e de maneira profunda, é condição para que o professor, (A) Nos estabelecimentos oficiais de ensino e nas
em sala de aula, possa escutar até mesmo o que não foi dito. comunidades indígenas e quilombolas.
Como a história do preconceito é muito antiga, muitos dos (B) Na Educação infantil e ensino fundamental de escolas
grupos vítimas de discriminação desenvolveram um medo públicas.
profundo e uma cautela permanente como reação. O professor (C) Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,
precisa saber que a dor do grito silenciado é mais forte do que públicos e privados.
a dor pronunciada. Poder expressar o que sentiu diante da (D) Nas escolas confessionais e de movimentos populares.
discriminação significa a chance de ser resgatado da (E) Em todos os níveis e modalidades de ensino através da
humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou criação de uma nova disciplina curricular.
seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo,
num gesto que pode transformar o significado do sofrimento, 02. (UNIRIO - Pedagogo - CESGRANRIO/2016) Os
ao fazer do ocorrido ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, currículos têm uma estreita relação com a história e a
aqui, exige a atenção para a reação que a criança esteja sociedade, refletindo questões sociais de um determinado
apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar momento. Os currículos são produtores de sujeitos dotados de
do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação classe, etnia e gênero. Nessa perspectiva, o papel do pedagogo
posterior. na instituição de ensino deve ser o de:
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma (A) Premiar os docentes que cumpram o cronograma
reflexão que permita ao professor perceber o papel que estabelecido.
desempenha nessa questão. É também a capacidade de (B) Separar os alunos pelas diferenças no seu ritmo de
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o aprendizagem.
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da (C) Treinar os professores segundo aulas-padrão.
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a (D) Incrementar a competição entre as diferentes
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença disciplinas do currículo.
entre o reforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir (E) Promover a discussão docente sobre o significado dos
novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade. conteúdos do currículo.

A prática do desvelamento exige perspicácia para 03. Segundo SILVA (1999), o currículo é o espaço em que
responder adequadamente a diferentes situações que serão, os diferentes significados sobre o social e político fazem
na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa sentido. Isso só é possível mediante a um currículo...
imprevisibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é (A) que tem como cerne os elementos do processo de
preparando-se com leituras, buscando informações e ensino e aprendizagem, principalmente a didática e a
vivências, estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando avaliação.
valores, refletindo coletivamente na equipe de professores. (B) no qual possamos identificar grupos prioritários,
Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar entender evidenciando o potencial de um todo.
a complexidade da vida e do comportamento humano. (C) que determinados grupos sociais, expressam sua visão
Essa informação deve ser buscada de maneira intencional de mundo, seu projeto social, na qual sua representação se dá
e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os cantos, as através de um conjunto de práticas que favorecem a produção,
lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma criança evidenciando a construção de identidades sociais e culturais.
pode ensinar a outra aquilo que é característico do grupo (D) onde é possível torná-lo em um espaço de crítica
humano do qual participa. cultural, abrindo as portas, na escola, às diferentes
Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que verbal. manifestações da cultura popular.
Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como a (E) cuja organização e gestão, as abordagens disciplinares,
possibilidade de o aluno assumir o papel de educador naquilo pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar possuem
que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor deverá papel secundário.
cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o restante da
classe. Observe-se que essa vivência, em si, será extremamente 04. (ESAF - MF – Pedagogo) Do ponto de vista cultural, a
importante, por trazer para o aluno a possibilidade de diversidade pode ser entendida como a construção histórica,
constatar que a sociedade se apresenta, em sua complexidade, cultural e social das diferenças. As diferenças são também
como um constante objeto de estudo e aprendizagem, onde construídas pelos sujeitos sociais ao longo do processo
todos sempre têm a aprender. histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e
Assim, a problemática que envolve a discriminação étnica, da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder.
cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma zona de Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que
sombra que leva à proliferação da ambiguidade nas falas e nas aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento,
atitudes, alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida só passaram a ser percebidos dessa forma, porque nós, seres

Conhecimentos Pedagógicos 155


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humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os (D) Ilustra e introduz uma nova disciplina nos currículos
nomeamos e identificamos. escolares.
(E) Ilustra a construção de um currículo intercultural, o
Em relação ao conceito de diversidade e sua relação com o lugar da diversidade nas práticas curriculares
currículo, assinale a opção incorreta.
07. (SME/SP - Professor de Ensino Fundamental II e
A) A diversidade é permitida na Lei de Diretrizes e Bases Médio - Matemática - FGV/2016) A coordenadora pedagógica
da Educação Nacional – LDB n. 9.394/96 em função da do Ensino Médio reuniu um grupo de professores para analisar
possibilidade de intervenção das regiões e suas o currículo da escola. Ela abriu a reunião propondo aos
especificidades na criação do currículo escolar. professores uma visão ampliada do conceito de currículo.
(B) Conviver com as diferenças é construir relações de Segundo a coordenadora, a importância do currículo para a
respeito e de interpelações que irão contribuir para um espaço escolaridade reside no fato de que ele é:
hierarquicamente diferenciado entre os participantes. (A) um plano de estudos pré-determinado pela escola que
(C) A presença da parte diversificada no currículo das articula as diferentes áreas de conhecimento em um projeto
escolas acaba por ocupar lugar menor na relação hierárquica comum.
com os demais conhecimentos. (B) a lista de conteúdos a serem ensinados por cada
(D) A diversidade, presente em boa parte dos currículos, disciplina da unidade escolar.
aparece nos documentos como um tema, deixando de ser um (C) a expressão do projeto cultural e educacional que a
eixo central de orientação curricular. unidade escolar pretende desenvolver.
(E) A forma como a diversidade é colocada na LDB, apesar (D) uma proposta estruturada a partir de uma lista
de importante, ainda é insuficiente em relação às necessidades fragmentada de conteúdo.
do tema e sua relevância social. (E) o conjunto de procedimentos proposto pela gestão
escolar com um caráter disciplinador das atividades de ensino.
05. (IF/PE - Assistente de Alunos -2016) Temos, no Brasil,
uma grande diversidade cultural e racial. Descendentes de 08. (SED/SC - Professor - Conhecimentos Comuns -
povos africanos e de índios brasileiros, de imigrantes ACAFE) Sobre a diversidade Skliar e Duschatzky (2001) dizem
europeus, asiáticos e latino-americanos compõem o cenário que muitas vezes concebemos, “o outro como fonte de todo
brasileiro. Por conta disso, podemos que afirmar que: mal”. O documento do MEC, Currículo Conhecimento e Cultura,
(A) atualmente, o termo “pluralidade cultural” não se explora como esta máxima aparece nas relações escolares.
aplica ao Brasil por causa da Globalização.
(B) a mistura de todas estas raças e etnias não caracteriza Nesse sentido é correto afirmar, exceto:
a identidade do povo brasileiro. (A) Quando nos situamos como professores (as), diante
(C) o Brasil é um país dotado de uma ampla “pluralidade dos (as) alunos (as) com base em estereótipos e expectativas
cultural”, ou seja, diferentes culturas foram e são produzidas diferenciadas segundo a origem social e as características
pelos grupos sociais que fazem parte da nossa história. culturais dos grupos de referência.
(D) a diversidade cultural e racial não interfere nas formas (B) Ao atribuímos o fracasso escolar dos (as) alunos (as) às
com que os habitantes do Brasil organizaram sua vida social e suas características sociais ou étnicas.
política. (C) Quando diferenciamos os tipos de escolas segundo a
(E) ações racistas e discriminatórias não existem na origem social dos (as) estudantes, considerando que alguns
sociedade brasileira por causa da grande diversidade cultural têm maior potencial que outros e, para desenvolvermos uma
e racial do país. educação de qualidade, não podemos misturar estudantes de
diferentes potenciais.
06. (SME/SP - Professor de Ensino Fundamental II e (D) Ao privilegiarmos todas as formas de comunicação
Médio – Sociologia – FGV/2016) Observe a imagem a seguir: humana, como a corporal e a artística.
(E) Quando valorizamos exclusivamente o racional e
desvalorizamos os aspectos afetivos presentes nos processos
educacionais.

09. (SEDF - Professor de Educação Básica - CESPE/2017)


A respeito do Currículo em Movimento da Educação Básica,
julgue o item subsequente. As relações de gênero, ao serem
trabalhadas como tema transversal da educação básica, devem
ser abordadas como fenômeno de ordem cultural.
( ) Certo ( ) Errado
10. (Prefeitura de Rio Branco - Professor de Ensino
Fundamental - IBADE/2017) Para elaboração da proposta
curricular, certamente, o professor precisa:

1. conhecer as diretrizes curriculares de sua disciplina.


2. fazer uma análise em relação aos conteúdos propostos.
A partir da imagem, registro de uma atividade realizada no 3. participar do debate sobre qual currículo real deve ser
Ensino Fundamental, é correto afirmar: implantado.
4. cumprir o papel de fiscalizar os serviços burocráticos
(A) Reforça a hegemonia de um conhecimento em propostos pelo projeto político-pedagógico da escola.
detrimento de outro e cria um imaginário que vê as culturas de
forma hierarquizada e inferior. Estão corretos apenas os itens:
(B) Apresenta uma situação típica do currículo (A) 1 e 2.
monocultural. (B) 1 e 3.
(C) Comprova que o processo de hierarquização de (C) 1, 2 e 3.
conhecimentos foi superado.

Conhecimentos Pedagógicos 156


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(D) 2, 3 e 4. essencial, assim como analisar os conteúdos propostos, além


(E) 1, 3 e 4. de discutir qual o currículo deverá ser implantado.
Respostas

01. Resposta: C
Lei de Diretrizes e Bases da Educação com a sanção da
conhecida lei 10.639, que determinou o seguinte artigo Anotações
(dentre outros): Art. 26 – A. Nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se
obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

02. Resposta: E
Embora seja complexo, variado e conflituoso o cenário
cultural em que estamos imersos se reflete no que ocorre em
nossas salas de aula, afetando sensivelmente o trabalho
pedagógico que nelas se processa. Por isso é necessário
promover a discursão acerca do currículo para que se
desmistifique a diversidade.

03. Resposta: C
O currículo representa um conjunto de práticas que
propiciam a produção, a circulação e o consumo de
significados no espaço social e que contribuem, intensamente,
para a construção de identidades sociais e culturais. Desta
maneira, ele age como um dispositivo de grande efeito no
processo de construção da identidade do indivíduo.

04. Resposta: B
Conviver com as diferenças é construir relações de
respeito e de interpelações que irão contribuir para um espaço
harmonioso, de maneira que todos possam compreender e
respeitar as diferenças entre si.

05. Resposta: C
A pluralidade de valores e universos culturais, para a
necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de
cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a
conveniência de resgatar manifestações culturais de
determinados grupos cujas identidades se encontram
ameaçadas, para a importância da participação de todos no
esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a
urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos.

06. Resposta: E
É na escola que, através da prática, se proporciona a
diversidade cultural.

07. Resposta: C
Fundamentamo-nos, nesse propósito, em estudos,
pesquisas, práticas e depoimentos de docentes
comprometidos com uma escola cada vez mais democrática.
Nossa intenção é convidar o profissional da educação a
engajar- se no instigante processo de pensar e desenvolver
currículos para essa escola.

08. Resposta: D
Privilegiamos somente a comunicação verbal,
desconsiderando outras formas de comunicação humana,
como a corporal, a artística etc.

09. Resposta: Certo

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, são


considerados temas transversais: Ética, Saúde, Trabalho e
Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente.

10. Resposta: C
O bom professor necessita conhecer, entre suas funções,
suas obrigações em relação ao que é melhor para a
escola/aluno. Para isso conhecer as diretrizes curriculares é

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento:


aqueles que apresentam um quadro de alterações no
desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas
relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras.
Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico,
síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno
desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos
sem outra especificação.
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles
Política Nacional de que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento
Educação Especial na com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou
Perspectiva da Educação combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e
criatividade.
Inclusiva.
Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de
Políticas públicas de educação especial na recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola
perspectiva da educação inclusiva. de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009 sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado,
também, em centro de Atendimento Educacional
Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias,
Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas
Educação Especial. com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos
Estados, Distrito Federal ou dos Municípios.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional
legais, de conformidade com o disposto na alínea “c” do artigo Especializado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será
9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº ofertada aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a
9.131/1995, bem como no artigo 90, no § 1º do artigo 8º e no Educação Especial de forma complementar ou suplementar.
§ 1º do artigo 9º da Lei nº 9.394/1996, considerando a
Constituição Federal de 1988; a Lei nº 10.098/2000; a Lei nº Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação
10.436/2002; a Lei nº 11.494/2007; o Decreto nº 3.956/2001; terão suas atividades de enriquecimento curricular
o Decreto nº 5.296/2004; o Decreto nº 5.626/2005; o Decreto desenvolvidas no âmbito de escolas públicas de ensino regular
nº 6.253/2007; o Decreto nº 6.571/2008; e o Decreto em interface com os núcleos de atividades para altas
Legislativo nº 186/2008, e com fundamento no Parecer habilidades/superdotação e com as instituições de ensino
CNE/CEB nº 13/2009, homologado por Despacho do Senhor superior e institutos voltados ao desenvolvimento e promoção
Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 24 de da pesquisa, das artes e dos esportes.
setembro de 2009, resolve:
Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito do
os sistemas de ensino devem matricular os alunos com FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os alunos
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas matriculados em classe comum de ensino regular público que
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino tiverem matrícula concomitante no AEE.
regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE é
de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou condicionado à matrícula no ensino regular da rede pública,
de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do ano
sem fins lucrativos. anterior, sendo contemplada:
a) matrícula em classe comum e em sala de recursos
Art. 2º O AEE tem como função complementar ou multifuncionais da mesma escola pública;
suplementar a formação do aluno por meio da b) matrícula em classe comum e em sala de recursos
disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e multifuncionais de outra escola pública;
estratégias que eliminem as barreiras para sua plena c) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento
participação na sociedade e desenvolvimento de sua Educacional
aprendizagem. Especializado de instituição de Educação Especial pública;
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se d) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento
recursos de acessibilidade na educação aqueles que Educacional Especializado de instituições de Educação
asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com Especial comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins
deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização lucrativos.
dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos
mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de
informação, dos transportes e dos demais serviços. competência dos professores que atuam na sala de recursos
multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os
Art. 3º A Educação Especial se realiza em todos os níveis, demais professores do ensino regular, com a participação das
etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte famílias e em interface com os demais serviços setoriais da
integrante do processo educacional. saúde, da assistência social, entre outros necessários ao
atendimento.
Art. 4º Para fins destas Diretrizes, considera-se público-
alvo do AEE: Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino regular
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua
de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou organização:
sensorial.

Conhecimentos Específicos 1
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APOSTILAS OPÇÃO

I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de da Educação Inclusiva
acessibilidade e equipamentos específicos;
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino I – Introdução
regular da própria escola ou de outra escola;
III – cronograma de atendimento aos alunos; O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação
IV – plano do AEE: identificação das necessidades política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa
educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e
necessários e das atividades a serem desenvolvidas; participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação
V – professores para o exercício da docência do AEE; inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado
VI – outros profissionais da educação: tradutor e na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e
intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e diferença como valores indissociáveis, e que avança em
outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as
alimentação, higiene e locomoção; circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, fora da escola.
da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos
recursos, serviços e equipamentos, entre outros que sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as
maximizem o AEE. práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las,
Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca
atuam com os alunos público alvo da Educação Especial em da sociedade contemporânea e do papel da escola na
todas as atividades escolares nas quais se fizerem necessários. superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para
a construção de sistemas educacionais inclusivos, a
Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto pedagógico organização de escolas e classes especiais passa a ser
do centro de Atendimento Educacional Especializado público repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da
ou privado sem fins lucrativos, conveniado para essa escola para que todos os alunos tenham suas especificidades
finalidade, deve ser aprovada pela respectiva Secretaria de atendidas.
Educação ou órgão equivalente, contemplando a organização Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de
disposta no artigo 10 desta Resolução. Educação Especial apresenta a Política Nacional de Educação
Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacional Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que
Especializado devem cumprir as exigências legais acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais,
estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo visando constituir políticas públicas promotoras de uma
sistema de ensino, quanto ao seu credenciamento, autorização educação de qualidade para todos os alunos.
de funcionamento e organização, em consonância com as
orientações preconizadas nestas Diretrizes Operacionais. II – Marcos históricos e normativos

Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter A escola historicamente se caracterizou pela visão da
formação inicial que o habilite para o exercício da docência e educação que delimita a escolarização como privilégio de um
formação específica para a Educação Especial. grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas
educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do
Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento processo de democratização da escola, evidencia-se o
Educacional Especializado: paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas de ensino
I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e
recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da
considerando as necessidades específicas dos alunos público- escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem
alvo da Educação Especial; apresentado características comuns nos processos de
II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional segregação e integração, que pressupõem a seleção,
Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade naturalizando o fracasso escolar.
dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; A partir da visão dos direitos humanos e do conceito de
III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e
alunos na sala de recursos multifuncionais; na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos
IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na
recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula regulação e produção das desigualdades. Essa
comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da problematização explicita os processos normativos de
escola; distinção dos alunos em razão de características intelectuais,
V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras,
elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de estruturantes do modelo tradicional de educação escolar.
acessibilidade; A educação especial se organizou tradicionalmente como
VI – orientar professores e famílias sobre os recursos atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino
pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; comum, evidenciando diferentes compreensões,
VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a terminologias e modalidades que levaram à criação de
ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo instituições especializadas, escolas especiais e classes
autonomia e participação; especiais. Essa organização, fundamentada no conceito de
VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de normalidade/anormalidade, determina formas de
aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos atendimento clínico-terapêuticos fortemente ancorados nos
recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que testes psicométricos que, por meio de diagnósticos, definem as
promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. práticas escolares para os alunos com deficiência.
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve
Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua início na época do Império, com a criação de duas instituições:
publicação, revogadas as disposições em contrário. o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual
Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos

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Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei
Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino
início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi (1926), devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e
instituição especializada no atendimento às pessoas com organização específicos para atender às suas necessidades;
deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram
de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, é criado o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em
o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas virtude de suas deficiências; e assegura a aceleração de
com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena estudos aos superdotados para conclusão do programa
Antipoff. escolar. Também define, dentre as normas para a organização
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e
deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24,
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas,
4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, consideradas as características do alunado, seus interesses,
preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”
A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir (art. 37).
“tratamento especial” para os alunos com “deficiências físicas, Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº
mentais, os que se encontram em atraso considerável quanto 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração
à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promove da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial
a organização de um sistema de ensino capaz de atender às como uma modalidade transversal a todos os níveis e
necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar
encaminhamento dos alunos para as classes e escolas da educação especial ao ensino regular.
especiais. Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes
Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que:
especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, “Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos,
impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos
deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda educandos com necessidades educacionais especiais,
configuradas por campanhas assistenciais e iniciativas assegurando as condições necessárias para uma educação de
isoladas do Estado. qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001).”
Nesse período, não se efetiva uma política pública de As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para
acesso universal à educação, permanecendo a concepção de realizar o atendimento educacional especializado
“políticas especiais” para tratar da educação de alunos com complementar ou suplementar à escolarização, porém, ao
deficiência. No que se refere aos alunos com superdotação, admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, não
apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um potencializam a adoção de uma política de educação inclusiva
atendimento especializado que considere as suas na rede pública de ensino, prevista no seu artigo 2º.
singularidades de aprendizagem. O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001,
A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus destaca que “o grande avanço que a década da educação
objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer que garanta o atendimento à diversidade humana”. Ao
outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define, no estabelecer objetivos e metas para que os sistemas de ensino
artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o favoreçam o atendimento às necessidades educacionais
pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a especiais dos alunos, aponta um déficit referente à oferta de
qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do
estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao
na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, atendimento educacional especializado.
como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil
especializado, preferencialmente na rede regular de ensino pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com
(art. 208). deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº fundamentais que as demais pessoas, definindo como
8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou
supracitados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos
a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede humanos e de suas liberdades fundamentais. Este Decreto tem
regular de ensino”. Também nessa década, documentos como importante repercussão na educação, exigindo uma
a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a reinterpretação da educação especial, compreendida no
Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a contexto da diferenciação, adotado para promover a
formulação das políticas públicas da educação inclusiva. eliminação das barreiras que impedem o acesso à
Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação escolarização.
Especial, orientando o processo de “integração instrucional” Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP
que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e para a Formação de Professores da Educação Básica, define
desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino que as instituições de ensino superior devem prever, em sua
comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (p.19). organização curricular, formação docente voltada para a
Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de padrões atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre
homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não as especificidades dos alunos com necessidades educacionais
provoca uma reformulação das práticas educacionais de especiais.
maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais
aprendizagem no ensino comum, mas mantendo a – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente determinando que sejam garantidas formas
no âmbito da educação especial. institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a
inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do

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currículo nos cursos de formação de professores e de afirmativas que possibilitem acesso e permanência na
fonoaudiologia. educação superior.
A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e normas Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da
para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo como
em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto eixos a formação de professores para a educação especial, a
da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação implantação de salas de recursos multifuncionais, a
para o seu uso em todo o território nacional. acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a
Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Educação permanência das pessoas com deficiência na educação
Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a superior e o monitoramento do acesso à escola dos
transformação dos sistemas de ensino em sistemas favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC.
educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo de No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento da
formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros Educação: razões, princípios e programas é reafirmada a visão
para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, à que busca superar a oposição entre educação regular e
oferta do atendimento educacional especializado e à garantia educação especial.
da acessibilidade. Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade
Em 2004, o Ministério Público Federal publica o da educação especial nos diferentes níveis, etapas e
documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e modalidades de ensino, a educação não se estruturou na
Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades
disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, educacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio
reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de constitucional que prevê a igualdade de condições para o
alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis
regular. mais elevados de ensino (2007, p. 09).
Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto Para a implementação do PDE é publicado o Decreto nº
nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compromisso
10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no
da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais
mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas
Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com o públicas.
objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações
que garantam o acesso universal aos espaços públicos. III – Diagnóstico da Educação Especial
O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em
dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a todas as escolas de educação básica, possibilita o
formação e a certificação de professor, instrutor e acompanhamento dos indicadores da educação especial:
tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa acesso à educação básica, matrícula na rede pública, ingresso
como segunda língua para alunos surdos e a organização da nas classes comuns, oferta do atendimento educacional
educação bilíngue no ensino regular. especializado, acessibilidade nos prédios escolares,
Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividades de municípios com matrícula de alunos com necessidades
Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os educacionais especiais, escolas com acesso ao ensino regular e
estados e no Distrito Federal, são organizados centros de formação docente para o atendimento às necessidades
referência na área das altas habilidades/superdotação para o educacionais especiais dos alunos.
atendimento educacional especializado, para a orientação às Para compor esses indicadores no âmbito da educação
famílias e a formação continuada dos professores, especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referentes
constituindo a organização da política de educação inclusiva ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula nas
de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede escolas públicas, escolas privadas e privadas sem fins
pública de ensino. lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola especial
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com e classes comuns de ensino regular; ao número de alunos do
Deficiência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil é ensino regular com atendimento educacional especializado; às
signatário, estabelece que os Estados-Partes devem assegurar matrículas, conforme tipos de deficiência, transtornos do
um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; à
ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento infraestrutura das escolas quanto à acessibilidade
acadêmico e social compatível com a meta da plena arquitetônica, à sala de recursos ou aos equipamentos
participação e inclusão, adotando medidas para garantir que: específicos; e à formação dos professores que atuam no
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do atendimento educacional especializado.
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instrumento
crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino de pesquisa do Censo, que passa a registrar a série ou ciclo
fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de escolar dos alunos identificados no campo da educação
deficiência; especial, possibilitando monitorar o percurso escolar. Em
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi
fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade transformado em um sistema de informações on-line, o Censo
de condições com as demais pessoas na comunidade em que Web, que qualifica o processo de manipulação e tratamento
vivem (Art.24). das informações, permite atualização dos dados dentro do
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direitos mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento com
Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, juntamente outros bancos de dados, tais como os das áreas de saúde,
com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a assistência e previdência social. Também são realizadas
Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o Plano Nacional de alterações que ampliam o universo da pesquisa, agregando
Educação em Direitos Humanos, que objetiva, dentre as suas informações individualizadas dos alunos, das turmas, dos
ações, contemplar, no currículo da educação básica, temáticas professores e da escola.
relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações Com relação aos dados da educação especial, o Censo
Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 em

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1998 para 700.624 em 2006, expressando um crescimento de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam
107%. No que se refere ao ingresso em classes comuns do sanitários com acessibilidade e 16,3% registraram ter
ensino regular, verifica-se um crescimento de 640%, passando dependências e vias adequadas (dado não coletado em 1998).
de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 em 2006, conforme No âmbito geral das escolas de educação básica, o índice de
demonstra o gráfico a seguir: acessibilidade dos prédios, em 2006, é de apenas 12%.
Com relação à formação inicial dos professores que atuam
na educação especial, o Censo de 1998, indica que 3,2% possui
ensino fundamental, 51% ensino médio e 45,7% ensino
superior. Em 2006, dos 54.625 professores nessa função,
0,62% registram ensino fundamental, 24% ensino médio e
75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8% desses
professores, declararam ter curso específico nessa área de
conhecimento.

IV – Objetivo da Política Nacional de Educação Especial na


Perspectiva da Educação Inclusiva

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da


Quanto à distribuição dessas matrículas nas esferas Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação
pública e privada, em 1998 registra-se 179.364 (53,2%) e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos
alunos na rede pública e 157.962 (46,8%) nas escolas globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação
privadas, principalmente em instituições especializadas nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para
filantrópicas. Com o desenvolvimento das ações e políticas de promover respostas às necessidades educacionais especiais,
educação inclusiva nesse período, evidencia-se um garantindo:
crescimento de 146% das matrículas nas escolas públicas, que • Transversalidade da educação especial desde a educação
alcançaram 441.155 (63%) alunos em 2006, conforme infantil até a educação superior;
demonstra o gráfico: • Atendimento educacional especializado;
• Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados
do ensino;
• Formação de professores para o atendimento
educacional especializado e demais profissionais da educação
para a inclusão escolar;
• Participação da família e da comunidade;
•Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários
e equipamentos, nos transportes, na comunicação e
informação; e
• Articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas.

V – Alunos atendidos pela Educação Especial

Com relação à distribuição das matrículas por etapa de Por muito tempo perdurou o entendimento de que a
ensino em 2006: 112.988 (16%) estão na educação infantil, educação especial, organizada de forma paralela à educação
466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no comum, seria a forma mais apropriada para o atendimento de
ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adultos, alunos que apresentavam deficiência ou que não se
e 48.911 (6,3%) na educação profissional. No âmbito da adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino.
educação infantil, há uma concentração de matrículas nas Essa concepção exerceu impacto duradouro na história da
escolas e classes especiais, com o registro de 89.083 alunos, educação especial, resultando em práticas que enfatizavam os
enquanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas aspectos relacionados à deficiência, em contraposição à sua
comuns. dimensão pedagógica. O desenvolvimento de estudos no
O Censo da Educação Especial na educação superior campo da educação e dos direitos humanos vêm modificando
registra que, entre 2003 e 2005, o número de alunos passou de os conceitos, as legislações, as práticas educacionais e de
5.078 para 11.999 alunos, representando um crescimento de gestão, indicando a necessidade de se promover uma
136%. A evolução das ações referentes à educação especial nos reestruturação das escolas de ensino regular e da educação
últimos anos é expressa no crescimento de 81% do número de especial.
municípios com matrículas, que em 1998 registra 2.738 Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as
municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios escolas regulares com orientação inclusiva constituem os
(89%). meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e
Aponta também o aumento do número de escolas com que alunos com necessidades educacionais especiais devem
matrícula, que em 1998 registra apenas 6.557 escolas e, em ter acesso à escola regular, tendo como princípio orientador
2006 passa a registrar 54.412, representando um crescimento que “as escolas deveriam acomodar todas as crianças
de 730%. Das escolas com matrícula em 2006, 2.724 são independentemente de suas condições físicas, intelectuais,
escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 2006,
especial e 50.259 são escolas de ensino regular com matrículas p.330).
nas turmas comuns. O conceito de necessidades educacionais especiais, que
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios passa a ser amplamente disseminado a partir dessa
escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 Declaração, ressalta a interação das características individuais
estabelecimentos de ensino com matrícula de alunos com dos alunos com o ambiente educacional e social. No entanto,
necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a
acessibilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta

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o acesso de todos os alunos e os apoios necessários para sua assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização esse
participação e aprendizagem, as políticas implementadas atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica
pelos sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo. do ensino comum. O atendimento educacional especializado é
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem
passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da
promovendo o atendimento às necessidades educacionais rede pública e nos centros de atendimento educacional
especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de especializados públicos ou conveniados.
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes O acesso à educação tem início na educação infantil, na
casos e outros, que implicam em transtornos funcionais qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção
específicos, a educação especial atua de forma articulada com do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa
o ensino comum, orientando para o atendimento às etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de
necessidades educacionais especiais desses alunos. comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos,
A educação especial direciona suas ações para o emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência
atendimento às especificidades desses alunos no processo com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o
educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, respeito e a valorização da criança.
orienta a organização de redes de apoio, a formação Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional
continuada, a identificação de recursos, serviços e o especializado se expressa por meio de serviços de estimulação
desenvolvimento de práticas colaborativas. precoce, que objetivam otimizar o processo de
Os estudos mais recentes no campo da educação especial desenvolvimento e aprendizagem em interface com os
enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e
contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou modalidades da educação básica, o atendimento educacional
categorização atribuída a um quadro de deficiência, especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos
transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino.
as pessoas se modificam continuamente, transformando o Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na
contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma própria escola ou centro especializado que realize esse serviço
atuação pedagógica voltada para alterar a situação de educacional.
exclusão, reforçando a importância dos ambientes Desse modo, na modalidade de educação de jovens e
heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os adultos e educação profissional, as ações da educação especial
alunos. possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização,
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de participação social.
natureza física, mental ou sensorial que, em interação com A interface da educação especial na educação indígena, do
diversas barreiras, podem ter restringida sua participação campo e quilombola deve assegurar que os recursos, serviços
plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com e atendimento educacional especializado estejam presentes
transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças
apresentam alterações qualitativas das interações sociais socioculturais desses grupos.
recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e Na educação superior, a educação especial se efetiva por
atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a
nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento
autismo e psicose infantil. Alunos com altas e a organização de recursos e serviços para a promoção da
habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas
qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que
intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no
além de apresentar grande criatividade, envolvimento na desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o
aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu ensino, a pesquisa e a extensão.
interesse. Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a
educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o
VI – Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o
Perspectiva da Educação Inclusiva ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na
modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de
A educação especial é uma modalidade de ensino que tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o da Libras para os demais alunos da escola. O atendimento
atendimento educacional especializado, disponibiliza os educacional especializado para esses alunos é ofertado tanto
recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no na modalidade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido
processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com
ensino regular. outros surdos em turmas comuns na escola regular.
O atendimento educacional especializado tem como O atendimento educacional especializado é realizado
função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos mediante a atuação de profissionais com conhecimentos
e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua
participação dos alunos, considerando suas necessidades Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do
específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das
educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do
na sala de aula comum, não sendo substitutivas à desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos
escolarização. Esse atendimento complementa e/ou programas de enriquecimento curricular, da adequação e
suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização
independência na escola e fora dela. de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e
Dentre as atividades de atendimento educacional outros.
especializado são disponibilizados programas de A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera
enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos tanto o conhecimento prévio e o nível atual de
específicos de comunicação e sinalização e tecnologia desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de

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aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas
processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para
relação ao seu progresso individual, prevalecendo na promover respostas às necessidades educacionais especiais.
avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as (E) para atuar na educação especial, o professor deve ter
intervenções pedagógicas do professor. No processo de como base da sua formação, inicial e continuada,
avaliação, o professor deve criar estratégias considerando que conhecimentos gerais para o exercício da docência, bem como
alguns alunos podem demandar ampliação do tempo para a conhecimentos gerais da área.
realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos
em Braille, de informática ou de tecnologia assistiva como uma 2. (SEDUC-AM- Professor de Educação Especial-
prática cotidiana. Português- FGV/2014) De acordo com o documento “Política
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar Inclusiva”, a respeito da formação do professor para atuar na
as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia- Educação Especial, assinale a afirmativa correta.
intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com
necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, (A) O professor deve ter, como base da sua formação,
locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante no conhecimentos gerais para o exercício da docência, sem
cotidiano escolar. necessidade de conhecimentos específicos da área.
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como (B) A formação não deve possibilitar a sua atuação no
base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos atendimento educacional especializado.
gerais para o exercício da docência e conhecimentos (C) A formação deve aprofundar o caráter interativo e
específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular
atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter para a oferta dos serviços e recursos de educação especial.
interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do (D) A formação não precisa contemplar conhecimentos de
ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de gestão de sistema educacional inclusivo.
atendimento educacional especializado, nos núcleos de (E) A formação deve favorecer conhecimentos de gestão de
acessibilidade das instituições de educação superior, nas sistema educacional inclusivo, mas sem precisar considerar o
classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas.
oferta dos serviços e recursos de educação especial.
Para assegurar a intersetorialidade na implementação das 3. (SEDUC-AM- Professor de Educação Especial-
políticas públicas a formação deve contemplar conhecimentos FGV/2014) A respeito da formação de professores para a
de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o Educação Especial, assinale a afirmativa incorreta.
desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas,
visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de (A) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos
saúde, à promoção de ações de assistência social, trabalho e professores tenham um perfil compatível com os princípios
justiça. educacionais humanistas.
Os sistemas de ensino devem organizar as condições de (B) Os professores estão continuamente atualizando-se,
acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação para conhecer cada vez mais de perto os seus alunos,
que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização promover a interação entre as disciplinas escolares, reunir os
das diferenças, de forma a atender as necessidades pais, a comunidade, a escola em que exercem suas funções, em
educacionais de todos os alunos. A acessibilidade deve ser torno de um projeto educacional que estabeleceram juntos.
assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, (C) A formação continuada dos professores é, antes de
urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, tudo, uma auto formação, pois acontece no interior das escolas
equipamentos e mobiliários – e nos transportes escolares, bem e a partir do que eles estão buscando para aprimorar suas
como as barreiras nas comunicações e informações. práticas.
(D) As habilitações dos cursos de Pedagogia para formação
Questões de professores de alunos com deficiência ainda existem em
diversos estados brasileiros.
1. (Colegio Pedro II- Técnico em assuntos (E) A inclusão diz respeito a uma escola cujos professores
educacionais- AOCP/2010) De acordo com a Política tenham uma formação que se esgota na graduação ou nos
Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação cursos de pós-graduação em que se diplomaram.
Inclusiva, NÃO podemos afirmar que
4. (MF- Pedagogo-ESAF/2013) Considerando a Política
(A) na perspectiva da educação inclusiva, a educação Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola Inclusiva, assinale a opção correta.
regular, promovendo o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos (A) A transversalidade da educação especial é uma
globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. exigência da educação básica.
(B) constitui um paradigma educacional fundamentado na (B) Não requer atendimento educacional especializado,
concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e pois o aluno deve inserir-se no contexto regular de ensino.
diferença como valores indissociáveis, e que avança em (C) Não tem condições de garantir a continuidade da
relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as escolarização nos níveis mais elevados do ensino.
circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e (D) Requer a formação de professores para o atendimento
fora da escola. educacional especializado e demais profissionais da educação
(C) o atendimento educacional especializado tem como para a inclusão escolar.
função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos (E) Restringe a participação da família e da comunidade,
e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena pois não possuem formação apropriada para lidar com as
participação dos alunos, considerando suas necessidades demandas do aluno.
específicas.
(D) tem como objetivo o acesso, a participação e a 5. (FNDE- Especialista em financiamento e execução de
aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais programas e projetos educacionais- CESPE/2012) Com

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base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, julgue ( ) A educação especial direciona suas ações para o
os próximos itens. atendimento às especificidades desses alunos no processo
“A educação especial compreende a modalidade de educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola,
educação oferecida preferencialmente na rede regular de orienta a organização de redes de apoio, a formação
ensino para educandos portadores de necessidades especiais”. continuada, a identificação de recursos, serviços e o
( ) Certo desenvolvimento de práticas colaborativas.
( ) Errado ( ) A atuação pedagógica deve ser direcionada a manter a
situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes
6. (SEPLAG- MG- Pedagogia- IBFC/2013) A Educação homogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os
Inclusiva não deve ser confundida como Educação Especial, alunos.
porém, a segunda esta inclusa na primeira. Em outras palavras, As afirmativas são, respectivamente,
a Educação Inclusiva é a forma de: (A) V, V e V.
(A) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de (B) V, V e F.
todos. (C) V, F e V.
(B) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio. (D) F, F e V.
(C) Promover a aprendizagem de crianças somente na (E) F, V e F.
educação infantil.
(D) Inclusão de crianças no ensino fundamental. 10. (Prefeitura de São José dos Campos/SP- Professor
I- VUNESP/2014) A Política Nacional de Educação Especial na
7. (Prefeitura de São José dos Campos/SP- Professor I- Perspectiva da Educação Inclusiva orienta que a avaliação
VUNESP/2014) O grande avanço da educação nos últimos pedagógica da educação inclusiva deve ser concebida como
anos foi a construção de uma escola inclusiva que garanta o processo dinâmico tanto em relação ao conhecimento prévio e
atendimento à diversidade humana. Nessa direção, a Política o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto em relação
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação às possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma
Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a ação pedagógica
aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais (A) cumulativa e somativa, recolhendo elementos que
especiais. Para alcance desses objetivos, os sistemas deverão comprovem a deficiência apresentada.
garantir: (B) processual e formativa, prevalecendo os aspectos
(A) multidimensionalidade da educação especial no ensino qualitativos.
fundamental; atendimento psicológico e a continuidade da (C) cumulativa e classificatória, prevalecendo os aspectos
escolarização até o ensino médio. comparativos.
(B) transversalidade da educação especial, (D) processual e somativa, prevalecendo os aspectos
preferencialmente, no ensino fundamental; o atendimento quantitativos.
psicológico e educacional especializado e a terminalidade (E) processual e classificatória, posicionando o aluno
especial da escolaridade no ensino fundamental. especial em relação ao seu desempenho.
(C) transversalidade da educação desde a educação infantil
até o ensino superior; atendimento educacional especializado Respostas
e continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do
ensino. 1- E
(D) multidimensionalidade da educação especial; 2- C
atendimento psicológico e educacional e a continuidade da 3- E
escolarização até o nível superior. 4- D
(E) transversalidade da educação especial em todos os 5- Certo
níveis da educação; atendimento educacional e psicológico 6- A
especializado e continuidade da escolarização até o ensino 7- C
médio 8- C
9- B
8. (CEFET/RJ- Pedagogo- CESGRANRIO/2014) A 10- B
perspectiva da educação inclusiva traz como premissa a
prevalência de um único sistema educativo para todos, ou seja,
a inclusão de
(A) todo e qualquer tipo de deficiência ou alta habilidade, Conceitos de Deficiência
na escola de educação especial. Mental/Intelectual.
(B) todas as crianças com deficiências mentais e físicas, na
escola de educação especial.
(C) todas as crianças com deficiências ou necessidades
educativas especiais, na escola regular. A deficiência mental
(D) crianças surdas e cegas na escola de educação especial,
a partir do ensino obrigatório de Braille e da Língua de Sinais. Na procura de uma compreensão mais global das
(E) crianças com necessidades educativas especiais, em deficiências em geral, em 1980, a OMS propôs três níveis para
turmas de educação especial da escola regular. esclarecer todas as deficiências, a saber: deficiência,
9. (SEDUC/AM- Professor de Educação Especial- incapacidade e desvantagem social. Em 2001, essa proposta,
FGV/2014) A respeito da Política Nacional de Educação revista e reeditada, introduziu o funcionamento global da
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, assinale V para pessoa com deficiência em relação aos fatores contextuais e do
a afirmativa verdadeira e F para a falsa. meio, resituando-a entre as demais e rompendo o seu
( ) Na perspectiva da educação inclusiva, a educação isolamento. Ela chegou a motivar a proposta de substituição da
especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola terminologia “pessoa deficiente” por “pessoa em situação de
regular, promovendo o atendimento às necessidades deficiência”. (Assante, 20003), para destacar os efeitos do
educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos meio sobre a autonomia da pessoa com deficiência. Assim, uma
globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. pessoa pode sentir-se discriminada em um ambiente que lhe

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impõe barreiras e que só destaca a sua deficiência ou, ao daquele que é diferente e que acarreta um certo descrédito e
contrário, ser acolhida, graças às transformações deste desaprovação das demais pessoas.
ambiente para atender às suas necessidades. Freud, em seu trabalho sobre o Estranho, também
A Convenção da Guatemala, internalizada à Constituição demonstrou como o sujeito evita aquilo que lhe parece
Brasileira pelo Decreto nª 3.956/2001, no seu artigo 1ª define estranho e diferente e que no fundo remete a questões
deficiência como [...] “uma restrição física, mental ou sensorial, pessoais e mais íntimas dele próprio.
de natureza permanente ou transitória, que limita a Presa ao conservadorismo e à estrutura de gestão dos
capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da serviços públicos educacionais, a escola, como instituição,
vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e continua norteada por mecanismos elitistas de promoção dos
social”. Essa definição ratifica a deficiência como uma situação. melhores alunos em todos os seus níveis de ensino e contribui
A deficiência mental constitui um impasse para o ensino na para aumentar e/ou manter o preconceito e discriminação em
escola comum e para a definição do Atendimento Educacional relação aos alunos com deficiência mental.
Especializado, pela complexidade do seu conceito e pela Há que se considerar também as resistências de
grande quantidade e variedades de abordagens do mesmo. profissionais da área, que criam ainda mais obstáculos para se
A dificuldade de diagnosticar a deficiência mental tem definir o atendimento a pessoas com deficiência mental.
levado a uma série de revisões do seu conceito. A medida do Por todas essas razões, o Atendimento Educacional
coeficiente de inteligência (QI), por exemplo, foi utilizada Especializado para alunos com deficiência mental necessita
durante muitos anos como parâmetro de definição dos casos. ser urgentemente reinterpretado e reestruturado.
O próprio CID 10 (Código Internacional de Doenças, A aprendizagem da leitura e da escrita por alunos com
desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde), ao deficiência escrita por alunos com deficiência mental
especificar o Retardo Mental (F70-79), propõe uma definição Os processos de aprendizagem da leitura e da escrita por
ainda baseada no coeficiente de inteligência, classificando-o alunos com deficiência mental são semelhantes aos daqueles
entre leve, moderado e profundo, conforme o considerados normais sob muitos aspectos. Esses aspectos
comprometimento. Também inclui vários outros sintomas de dizem respeito ao letramento, à dimensão desejante, às
manifestações dessa deficiência, como: a [...] „dificuldade do expectativas do entorno, ao ensino e às interações escolares.
aprendizado e comprometimento do comportamento‰, o
que coincide com outros diagnósticos de áreas diferentes. Letramento
O diagnóstico da deficiência mental não se esclarece por
supostas categorias e tipos de inteligência. Teorias O letramento pode ser definido como um conjunto de
psicológicas desenvolvimentistas, como as de caráter práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico
sociológico, antropológico têm posições assumidas diante da em contextos específicos e com objetivos específicos. É a forma
deficiência mental, mas ainda assim não se conseguiu fechar como as pessoas utilizam a língua escrita e as práticas sociais
um conceito único que dê conta dessa intrincada condição. de leitura e de escrita nos diferentes ambientes de
A Psicanálise, por exemplo, traz à tona a dimensão do convivência. Segundo Soares, o letramento traduz uma
inconsciente, uma importante contribuição que introduz os condição do sujeito:
processos psíquicos na determinação de diversas patologias, É o estado ou condição que assume aquele que aprende a
entre as quais a deficiência mental. A inibição, desenvolvida ler e escrever. Implícita nesse conceito está a ideia de que a
por Freud, pode ser definida pela limitação de determinadas escrita traz consequências sociais, culturais, políticas,
atividades, causada por um bloqueio de algumas funções, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social
como o pensamento, por exemplo. A debilidade, para Lacan, em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a
define uma maneira particular de o sujeito lidar com o saber, usá-la (1998).
podendo ser natural ao sujeito, por caracterizar um mal-estar A escola é o mais importante espaço social de letramento.
fundamental em relação ao saber, ou seja, todos nós temos No entanto, nem sempre ela oferece variadas formas de
algo que não conseguimos ou não queremos saber. Mas práticas sociais de leitura. Sua ênfase é na alfabetização como
também define a debilidade como uma patologia, quando o processo de aquisição de códigos (alfabéticos e números),
sujeito se fixa numa posição débil, de total recusa de processo geralmente concebido em termos de uma
apropriação do saber. competência individual necessária para o sucesso e promoção
Além de todos esses conceitos, que em muitos casos são na escola (Kleiman, 1995). No estudo realizado por Gomes
antagônicos, existe a dificuldade de se estabelecer um (2001) identificou-se a importância das experiências
diagnóstico diferencial entre o que seja, doença mental (que vivenciadas no âmbito sociocultural, familiar e escolar para a
engloba diagnósticos de psicose e psicose precoce) e, aprendizagem da leitura e da escrita em alunos com síndrome
deficiência mental, principalmente no caso de crianças de Down. As experiências familiares de contar histórias,
pequenas em idade escolar. formar rodas de leitura e proporcionar acesso a diferentes
Por todos esses motivos, faz-se necessário reunir materiais impressos favoreceram a formação desses leitores.
posicionamentos de diferentes áreas do conhecimento, para Outros estudos realizados com alunos com deficiência mental
conseguirmos entender mais amplamente o fenômeno mental. (Figueiredo, 2003) advindos de meio socioeconômico
A deficiência mental não se esgota na sua condição desfavorecido, indicaram que apesar deles não usufruírem de
orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um ricas e diversificadas experiências de letramento, quando eles
único saber. Ela é uma interrogação e objeto de investigação dispõem de oportunidades de ensino formal de leitura e
de inúmeras áreas do conhecimento. escrita e quando convivem em contextos nos quais existem
A grande dificuldade de conceituar essa deficiência trouxe leitores proficientes, eles se beneficiam com essas práticas.
consequências indeléveis na maneira de lidarmos com ela e Sabe-se que nos contextos onde se lê e se franquia material
com quem a possui. de leitura, há maior participação e interesse desses alunos por
O medo da diferença e do desconhecido é responsável, em material escrito, sejam livros, revistas, jornais ou gibis.
grande parte, pela discriminação sofrida pelas pessoas com
deficiência, mas principalmente por aquelas com deficiência Dimensão desejante
mental.
O sociólogo Erving Goffman desenvolveu uma estrutura A motivação dos alunos para a aprendizagem da leitura
conceitual – a estigmatização, para definir essa reação diante tem uma relação direta com a dimensão desejante e esta se
relaciona com o aspecto funcional proposto nas atividades e

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com o nível de exigência para realização das mesmas. As atividades propostas pelo professor e a mediação
Figueiredo (2006) estudou a motivação de um grupo de alunos durante a realização das mesmas devem visar a autonomia dos
com deficiência mental para realizar atividades de leitura e alunos partindo de seus interesses, respeitando suas
escrita. A autora observou que esses alunos apresentavam possibilidades motoras, cognitivas e afetivas, porém com
motivações diferentes segundo o tipo de atividade solicitada solicitações que promovam o avanço conceitual desses alunos.
pelo professor. Essas atividades se constituíam da escrita do
nome próprio, escrita de listas de compra, escrita de bilhetes e Expectativas do entorno, ensino e interações escolares
de registros com base na contação de histórias, registro de interações escolares
visitas, passeios, festas e acontecimentos e ainda de registros
de palavras e textos relacionados com algumas gravuras. As expectativas positivas dos familiares e dos professores
Dentre essas atividades a escrita do nome próprio e a escrita interferem na aprendizagem dos alunos. Essas expectativas se
de bilhete foram as que propiciaram maior motivação. Por manifestam nas diversas situações de interações
outro lado, a escrita de histórias e a escrita de listas de sociofamiliares e escolares. Embora possam existir diferenças
compras foram as atividades que obtiveram menor índice de no desenvolvimento das crianças, é importante ter consciência
motivação dos alunos. de que elas podem se beneficiar de diferentes experiências no
Escrever bilhetes ou escrever o próprio nome parecia ter contexto familiar e escolar. Desejar que todos aprendam
uma funcionalidade imediata vinculada ao prazer e à igualmente é uma tarefa impossível, mesmo em se tratando de
importância atribuída ao fato de saber ler e escrever o próprio pessoas ditas normais. Essa compreensão possibilita uma
nome, bem como, a autonomia de poder comunicar um fato ou educação pautada no respeito aos ritmos e às potencialidades
solicitar algo, no caso da escrita de bilhetes. O grau de individuais. O trecho a seguir ilustra o tratamento dado por
dificuldade experimentado pelos alunos na escrita com base uma mãe à sua filha com síndrome de Down no período inicial
em história talvez responda pelo baixo índice de motivação de desenvolvimento.
dessa atividade. Observou-se que as tarefas com maior grau de Em casa eu tratei Maria Luiza como eu tratei o primeiro,
dificuldade e que não apresentam uma função social imediata não fiz diferente, só que ela na idade que o outro correspondia,
e clara tendem a desmotivar os alunos. ela não correspondia, ela precisava de mais tempo... Ela era
Por outro lado, as atividades nas quais os alunos uma menina ativa, viva, prestava atenção à televisão, doida por
identificam uma função social, como escrever um bilhete num música, mas era molinha (Mãe de Maria Luiza).
contexto real de comunicação, são investidas de grande Muitos professores desenvolvem suas práticas
motivação. pedagógicas pautando suas ações no princípio da realidade da
Os motivos que mobilizam os sujeitos para a escrita de sala de aula. Eles organizam as atividades tendo como
pequenas mensagens se diferenciavam segundo o interesse e referência as diferentes respostas de seus alunos e não em
a individualidade de cada um. Janyce, uma adolescente com 16 julgamentos pré-concebidos a respeito de suas possibilidades
anos alimentava fantasias de namoros e algumas vezes de aprendizagem. A professora de uma aluna com síndrome de
produzia bilhetes para um namorado imaginário. Nestas Down explica a forma como desenvolvia sua prática com essa
circunstâncias demonstrava entusiasmo e a sua escrita era aluna numa sala regular:
marcada por uma sequência de traçados circulares imitando A Ana Paula, em relação às outras crianças, eu tratava
letras cursivas destacando-se especialmente a presença das como igual, porque realmente ela se comportava igual, como
letras: t, m, n, v. Em seus registros normalmente utilizava toda as outras crianças... Ela já veio alfabetizada, só que eu tinha que
a folha de papel. orientar (...). Ela lia muito bem, ela já sabia fazer treino
Nas atividades de leitura e escrita se observa forte ortográfico, ditado, ela fazia tudo direitinho, tirava da lousa e
motivação quando o aluno se envolve espontaneamente. tudo (Angela - professora da 1À série de Ana Paula).
Nestas ocasiões eles demonstram prazer e entusiasmo pela A professora evidenciou que não percebia quase nenhuma
tarefa. Entretanto, alguns alunos não apresentam essa diferença entre Ana Paula e os outros alunos ditos normais. Na
motivação espontaneamente, necessitando da mediação do visão dela, essas pequenas diferenças não impediam sua
professor para se envolver com a atividade. A mediação aprendizagem. As atitudes e as expectativas positivas exercem
pedagógica consiste nas intervenções feitas pelo professor no fortes influências no desenvolvimento das crianças.
sentido de apoiar passo a passo o aluno no desenvolvimento Segundo Vygotsky (1995), há uma relação de dependência
de uma atividade, quando ele demonstra dificuldade na entre o desenvolvimento do ser humano e o aprendizado
realização da mesma ou, ainda, estimulá-lo no sentido de realizado num determinado grupo social. O desenvolvimento
despertar seu interesse quando esse se mostra desmotivado e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o
para sua realização. nascimento. Na concepção de Vygotsky (1986), a criança com
O exemplo a seguir ilustra a mediação de uma professora deficiência deve ser compreendida numa perspectiva
dando suporte a um aluno (12 anos, com deficiência mental) qualitativa e não como uma variação quantitativa da criança
que estava escrevendo palavras com base em figuras. sem deficiência. As relações sociais estabelecidas com essa
- Ednardo: Surfista começa com su? criança deverão necessariamente considerá-la como uma
- Professora: Sim, começa com su. pessoa ativa, interativa e capaz de aprender.
- Ednardo escreve: AUAOO. Na escola, a convivência com as contradições sociais, a
- Professora: A palavra surfista termina com qual letra? diversidade e a diferença possibilitam um espaço rico de
- Ednardo: A. (Acrescenta a letra A na pauta escrita que fica: aprendizagem para todos alunos. O confronto saudável no
AUAOOA) grupo promove a construção de conhecimentos.
- Professora: Qual letra você escreveu no começo da palavra Com efeito, as diferenças nas salas de aula contribuem para
surfista? aprendizagem de todos. O favorecimento de eventos de
- Ednardo: S. letramento, a disponibilidade de material impresso de leitura,
- Professora: Procure a letra S na caixa de letras. tanto na família quanto na escola, proporcionam uma
- Ednardo: Compara a letra encontrada com a pauta escrita significativa influência sobre a aprendizagem da leitura dos
e acrescenta a letra S na pauta que fica: SAUAOOA. alunos.

Em seguida, a professora trabalha um texto sobre a Fonte:


temática em questão, no qual o aluno entra em contato com a http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf
escrita da palavra surfista.

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poderiam ser considerados superdotados. O que pode ser


Transtorno Global de salientado é que se realmente as condições forem
Desenvolvimento e Altas inadequadas, dificilmente o indivíduo com um potencial maior
terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que
Habilidades. uma boa semente necessita de condições adequadas de solo,
luz e umidade para desenvolver-se, também o aluno com altas
habilidades/superdotado necessita de um ambiente adequado
ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO estimulador e rico em experiências. Observa-se, também, uma
tendência no sentido de se acreditar que os superdotados
PARTE I estariam concentrados em apenas uma parcela da população,
Considerações teóricas e políticas que seria entre indivíduos do sexo masculino, de nível
socioeconômico médio. De modo geral, tanto a mulher como o
Uma educação democrática deve levar em consideração as indivíduo proveniente de um meio pobre que apresentem uma
diferenças individuais e, portanto, oferecer oportunidades de habilidade ou um talento especial tendem não apenas a passar
aprendizagem conforme as habilidades, interesses, estilos de despercebidos, mas também a sofrer uma pressão no sentido
aprendizagem e potencialidades dos alunos. Nesse sentido, de um desempenho mais baixo. Superdotação tem sido, ainda,
alunos com altas habilidades/ superdotados merecem ter vista, erroneamente, como genialidade. Esses termos,
acesso a práticas educacionais que atendam às suas entretanto, não são sinônimos. O gênio seria aquele indivíduo
necessidades, possibilitando um melhor desenvolvimento de reconhecido por ter dado uma contribuição original e de
suas habilidades. Segundo Renzulli, o propósito da educação grande valor para a sociedade (por exemplo, Einstein, Darwin,
dos indivíduos superdotados é “fornecer aos jovens Picasso).
oportunidades máximas de auto realização por meio do
desenvolvimento e expressão de uma ou mais áreas de No âmbito das políticas educacionais, inicialmente, as
desempenho onde o potencial superior esteja presente”. diretrizes básicas da Secretaria de Educação Especial do
Várias são as razões para justificar a necessidade de uma Ministério da Educação e do Desporto consideravam
atenção diferenciada ao superdotado. Uma delas é por ser o superdotados (ou portadores de altas habilidades) aqueles
potencial superior um dos recursos naturais mais preciosos, alunos que apresentavam notável desempenho e/ou elevada
responsável pelas contribuições mais significativas ao potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados
desenvolvimento de uma civilização. Com relação a esse ou combinados: capacidade intelectual, aptidão acadêmica ou
aspecto, Sternberg & Davidson lembram, por exemplo, que, específica (por exemplo, aptidão matemática), pensamento
quando se volta à História e se buscam os pilares das grandes criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para
civilizações, invariavelmente as contribuições artísticas, artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade
filosóficas e científicas, frutos da inteligência, talento e psicomotora.
criatividade de alguns indivíduos ou grupos de indivíduos, são Atualmente, segundo o artigo 5º, parágrafo III, da
apontadas ou enaltecidas. Com relação à educação infantil, Resolução CNE/CEB Nº 2, de 2001, que instituiu as Diretrizes
sabe-se que o período que antecede a educação fundamental é nacionais para a educação especial na educação básica,
da maior importância para o desenvolvimento cognitivo e educandos com altas habilidades/superdotação são aqueles
psicossocial. Nesse período, as influências do ambiente que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-
desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e
do potencial de cada criança. Propiciar condições que atitudes. Como consequência, estes alunos apresentam
permitam a ela expressar seus interesses e desenvolver condições de aprofundar e enriquecer conteúdos escolares.
possíveis talentos deveria ser o ponto de partida de uma Considerando as políticas educacionais inclusivas, o aluno
educação diferenciada. deve ser cada vez mais atendido em seus interesses,
Observa-se, entretanto, que poucas são as oportunidades necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever
educacionais oferecidas ao aluno com altas suas concepções e paradigmas educacionais, lidando com as
habilidades/superdotado para desenvolver de forma mais evidências que o desenvolvimento humano oferece.
plena as suas habilidades. Uma possível explicação para este Uma criança pré-escolar que apresente um
cenário são os vários mitos sobre o superdotado, frequentes desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e/ ou psicomotor
em nossa sociedade, que constituem entrave à provisão de diferenciado e avançado para a idade não pode ser
condições favoráveis à sua educação. Predomina, por exemplo, desconsiderada e/ou desqualificada no âmbito escolar. Nesse
a idéia de que esse indivíduo tem recursos suficientes para sentido, é importante atender os alunos de altas
desenvolver suas habilidades por si só, não sendo necessária a habilidades/superdotados, considerando seu
intervenção do ambiente. No entanto, é preciso salientar e desenvolvimento real, evitando contemplar níveis de
divulgar entre educadores que o aluno com altas desenvolvimento padronizados, conforme os apresentados em
habilidades/superdotado necessita de uma variedade de escalas de desenvolvimento. Cabe, portanto, à escola definir no
experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem projeto pedagógico seu compromisso com uma educação de
seu potencial. Outro mito é a de que essa criança apresenta qualidade para todos seus alunos, inclusive o de altas
necessariamente um bom rendimento escolar. Porém, o que se habilidades/superdotados, respeitando e valorizando essa
tem observado é que indivíduos superdotados podem diversidade, e definindo sua responsabilidade na criação de
apresentar um rendimento aquém de seu potencial, revelando novos espaços inclusivos.
uma discrepância entre seu potencial e seu desempenho real.
Muitas vezes, o aluno com altas habilidades/superdotado pode Além disso, é na educação infantil que se aponta para a
ficar desmotivado com as atividades implementadas em sala possibilidade de realização de novas interações sociais por meio
de aula, com o currículo ou métodos de ensino utilizados dos reagrupamentos escolares, conforme preconizam os artigos
(especialmente a excessiva repetição do conteúdo, aulas 23 e 24 da nova LDBEN e que buscam, em última instância, não
monótonas e pouco estimuladoras, e ritmo mais lento da que o aluno se amolde ou se adapte à escola, mas que a escola se
classe). coloque à disposição do aluno, como um espaço inclusivo.
Acredita-se, ainda, que superdotação é um fenômeno raro Na educação infantil se inicia a construção de um processo
e que são poucas as crianças e jovens de nossas escolas que escolar que poderá ser concluído em menor tempo quanto à

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série em que o aluno estejam cursando, etapa escolar em que - Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio
o aluno esteja inserido ou mesmo em relação a toda a sua corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e
escolarização. Dessa forma, é fundamental oferecer desafios valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-
suplementares aos alunos de altas habilidades/superdotados. estar.
Para isso é importante a definição de um projeto pedagógico - Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e
que inclua a modalidade de ensino educação especial no crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando
cotidiano escolar, oferecendo aos alunos de altas habilidades/ gradativamente suas possibilidades de comunicação e
superdotados alternativas motivadoras e criativas de interação social.
aprendizagem que possam garantir o seu sucesso escolar. - Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais,
aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de
PARTE II vista com os demais, respeitando a diversidade e
É importante ressaltar que crianças superdotadas em desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração.
idade pré-escolar constituem um grupo heterogêneo em - Observar e explorar o ambiente com atitude de
termos de interesses, níveis de habilidades, desenvolvimento curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante,
emocional, social e físico (Cline & Schwartz, 1999). Nesse dependente e agente transformador do meio ambiente, além
sentido, podemos nos deparar com uma criança avançada do de conscientizar-se da importância de atitudes que
ponto de vista intelectual, mas imatura emocionalmente. O contribuam para sua conservação.
professor deve estar atento a essa possível falta de sincronia - Brincar, expressando emoções, sentimentos,
entre desenvolvimento intelectual e afetivo ou físico. Por pensamentos, desejos e necessidades.
exemplo, uma criança superdotada pode apresentar leitura - Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical,
precoce, porém ter dificuldade em manipular um lápis, pois plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e
suas habilidades motoras não estão totalmente desenvolvidas. situações de comunicação, de forma a compreender e ser
Além disso, a habilidade superior demonstrada por essa compreendido, expressar suas idéias, sentimentos,
criança pode ser resultado de uma estimulação intensa por necessidades e desejos e avançar no seu processo de
parte das pessoas significativas de seu ambiente. Ao atingir a construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua
idade escolar, o desenvolvimento dessa criança pode se capacidade expressiva.
normalizar e ela passar a apresentar um desempenho - Conhecer algumas manifestações culturais, como, por
semelhante aos alunos de sua idade. Por isso, nem sempre uma exemplo, expressões artísticas populares, demonstrando
criança precoce poderá ser caracterizada como superdotada. É atitudes de interesse, respeito e tendo oportunidades de
essencial, portanto, acompanhar o desempenho dessa criança, participar em algumas delas.
registrando habilidades e interesses demonstrados ao longo
dos primeiros anos de escolarização, oferecendo várias Conteúdo:
oportunidades estimuladoras e enriquecedoras ao seu
potencial. a) Formação pessoal e social: identidade, autonomia e
Dentre as características mais comumente encontradas em cooperação.
crianças superdotadas em idade pré-escolar destacam-se: b) Conhecimento do mundo: movimento, música, artes
visuais, natureza e sociedade, linguagem oral e escrita, e
- Alto grau de curiosidade matemática.
- Boa memória Os objetivos específicos de cada conteúdo pode ser
- Atenção concentrada encontrado nos volumes 2 e 3 do Referencial curricular
- Persistência nacional para a educação infantil.
- Independência e autonomia
- Interesse por áreas e tópicos diversos Metodologia e estratégias pedagógicas
- Aprendizagem rápida
- Criatividade e imaginação Estratégias de atendimento ao aluno com altas
- Iniciativa habilidades/superdotado envolvem, muitas vezes, diferençar
- Liderança ou modificar o currículo regular de modo a adequar o processo
- Vocabulário avançado para a sua idade cronológica de aprendizagem às necessidades e características desse
- Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de aprendiz. Diferentes estratégias podem ser empregadas nas
idéias) classes comuns para diferenciação e modificação do currículo
- Habilidade para considerar pontos de vistas de outras regular, contribuindo, inclusive, para estimular
pessoas potencialidades de toda a turma. A seguir, são apresentados
- Facilidade de interagir com crianças mais velhas ou com alguns exemplos de estratégias metodológicas e pedagógicas.
adultos Elas se aplicam tanto à educação infantil quanto ao ensino
- Habilidade para lidar com idéias abstratas fundamental.
- Habilidade para perceber discrepâncias entre idéias e
pontos de vista - A aprendizagem deve ser centrada no aluno. Leve em
- Interesse por livros e outras fontes de conhecimento consideração os interesses e;
- Alto nível de energia - Implemente atividades de enriquecimento em sala de
- Preferência por situações/objetos novos aula, como, por exemplo, dramatizações, produção de histórias
- Senso de humor etc.
- Originalidade para resolver problemas - Investigue os interesses, os estilos de aprendizagem e de
expressão dos seus alunos ou observe-os de forma a identificar
Objetivos e conteúdo da educação infantil seus interesses, pontos fortes e talentos.
- Analise e modifique o currículo existente de forma a
Objetivos: identificar e eliminar redundâncias e incrementar unidades
que sejam desafiadoras para os alunos.
- Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de - Retire ou reduza do currículo a ser desenvolvido
forma cada vez mais independente, com confiança em suas conteúdo que os alunos já dominam ou que pode ser adquirido
capacidades e percepção de suas limitações. em um ritmo compatível com suas habilidades. O uso dessa

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APOSTILAS OPÇÃO

estratégia educacional elimina conteúdo curricular repetitivo, Atendimento suplementar


cria um ambiente de aprendizagem desafiador, reduz
sentimentos de apatia e desinteresse dos alunos superdotados Conforme as Diretrizes nacionais para a educação especial
com relação às atividades desenvolvidas em sala de aula, e na educação básica, devem ser oferecidos serviços de apoio
possibilita a esses alunos utilizar o tempo economizado para pedagógico especializado aos alunos com necessidades
se dedicar às atividades de seu interesse. É importante que educacionais especiais. No caso do superdotado, sugere-se o
seja feita uma avaliação criteriosa do nível de conhecimento atendimento suplementar para aprofundar e/ou enriquecer o
do aluno acerca do conteúdo antes de se implementar essa currículo escolar. Este atendimento é realizado em salas de
estratégia. recursos, localizadas em escolas da rede regular de ensino, em
horário contrário ao da sala de aula comum. A sala de recursos
- Desenvolva atividades com diferentes produtos finais, de atende alunos oriundos da própria escola e de escolas
modo que as necessidades individuais possam ser atendidas. próximas que não possuem tal serviço. O atendimento
- Permita que os alunos comuniquem conhecimento ou suplementar a alunos superdotados da educação infantil
experiências prévias. inicia-se por volta dos quatro anos de idade e tem como
- Use várias estratégias de ensino (atividades em grupo, objetivo oferecer oportunidades para que eles explorem áreas
dramatização, brincadeiras etc) de forma a assegurar o de interesse, aprofundem conhecimentos já adquiridos e
envolvimento do aluno em sala de aula. desenvolvam habilidades relacionadas à criatividade,
- Convide pessoas da comunidade ou especialistas para resolução de problemas e raciocínio lógico. Além disso, esse
falar para os alunos de forma a despertar o interesse dos atendimento contribui para o desenvolvimento de habilidades
mesmos sobre o conteúdo estudado e promover o sociais e emocionais, como cooperação e autoconceito, e
desenvolvimento de habilidades. propicia ao aluno oportunidades para eles vivenciarem o
- Envolva os alunos em atividades de solução de problemas processo de aprendizagem com motivação. É importante
que os levem a transferir os objetivos de aprendizagem a ressaltar que não é simples realizar, com precisão, um
situações em que a criatividade e outras habilidades diagnóstico de superdotação para crianças da educação
superiores de pensamento (por exemplo, análise, avaliação, infantil, considerando-se que elas estão em fase inicial de
síntese) sejam desenvolvimento e que podem, ainda, ser muito estimuladas
- Estimule os alunos a encontrar respostas para suas pela família. Nesse sentido, o atendimento em salas de
próprias questões por meio de projetos individuais (ex.: recursos possibilita ao professor observar e acompanhar o
registro de atividades e descobertas em álbuns, cartazes, desempenho do aluno e verificar se o mesmo pode ser
filmagens, gravações, desenhos, colagens) e atividades de caracterizado como uma criança com altas
exploração. habilidades/superdotada.
- Envolva os pais no processo de aprendizagem de seus
filhos (tutoria, acompanhamento Expectativas de aprendizagem
- Dê ao aluno oportunidade de escolha, levando em
consideração seus interesses e Estilos de aprendizagem dizem Crianças com altas habilidades/superdotadas em idade
respeito à forma como o aluno prefere aprender: ouvindo o pré-escolar devem vivenciar diversas situações de
professor, brincando com jogos, realizando atividades em aprendizagem de forma a desenvolver suas habilidades e
grupo, desenvolvendo projetos individualmente etc. talentos. Isso significa implementar atividades que envolvam
habilidades. o pensamento criativo (produção de muitas idéias originais e
- Dê oportunidades ao aluno de obter conhecimento variadas) e crítico, e que levem a criança a fazer conexões
pessoal acerca de suas habilidades, interesses e estilos de entre idéias, resolver problemas e levantar questionamentos.
aprendizagem, oferecendo experiências de aprendizagem É importante, ainda, proporcionar à criança oportunidades
variadas. para explorar mais amplamente um tema de seu interesse. Sob
- Relacione os objetivos do conteúdo às experiências dos uma perspectiva efetiva, espera-se que a criança com altas
alunos. habilidades/superdotada desenvolva suas habilidades
- Ofereça aos alunos informações que sejam importantes, interpessoais e de comunicação, autonomia, iniciativa, um
interessantes, contextualizadas, significativas e conectadas autoconceito positivo, e uma compreensão do outro e seu
entre si, levando em consideração os interesses e habilidades ponto de vista.
das crianças.
- Oriente o aluno a buscar informações adicionais sobre Material pedagógico e recursos tecnológicos
tópicos de seu interesse, sugerindo fontes de informações
diversificadas (livros, indivíduos, revistas, internet etc). Embora estejamos cônscios dos recursos limitados em
- Estimule o aluno a avaliar seu desempenho em uma muitas escolas, em termos ideais um ambiente estimulador
atividade ou tarefa. deve incluir material de consulta diversificado impresso ou
- Valorize produtos e idéias criativas. eletrônico ( por exemplo, livros, revistas, jornais,
- Situe os alunos nos grupos com os quais melhor possa enciclopédias, dicionário, programas de computador),
trabalhar. Dê oportunidade aos alunos de desenvolverem materiais para manipulação e exploração (brinquedos, bolas,
atividades com outros de mesmo nível de habilidade. blocos e jogos pedagógicos, objetos com sons e formatos
- Ofereça ao aluno oportunidade de visitar e observar diferentes, lupas e lentes de aumento), equipamentos (vídeo,
locais variados (ex.: parques, jardim zoológico, jardim globo terrestre, aparelho de som e, se possível, computador).
botânico, teatros, comércio, galerias de arte, museus, lojinha Além disso, seria altamente desejável que o aluno tivesse
de animais domésticos, feira, praça etc). oportunidade de conhecer e frequentar bibliotecas, de
- Evite rotular o aluno de superdotado. Trate as diferenças participar de atividades (na escola ou em outros locais da
individuais como um fato natural. Lembre-se de que nem comunidade), conforme seu interesse e área de habilidade. Na
sempre o aluno superdotado terá um desempenho excelente área artística, materiais de consumo como tintas, lápis, pincéis,
em todas as áreas ou atividades. canetas, massinha, argila, telas, bem como instrumentos
musicais (flauta, por exemplo) devem, também, ser
disponibilizados aos alunos. É relevante ressaltar a
necessidade não apenas de recursos materiais, como também
de recursos humanos diversos (por exemplo, bibliotecário,

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APOSTILAS OPÇÃO

professores bem qualificados de música, educação física, dessincronizado na pré-escola (por exemplo,
educação artística etc). desenvolvimento intelectual mais avançado do que o
Um projeto pedagógico inclusivo para alunos de altas emocional), um cuidadoso e exaustivo trabalho de avaliação
habilidades na pré-escola não pode deixar de considerar as escolar deve ser realizado a fim de fundamentar decisões
atividades que favoreçam o saber-aprender, o saber-fazer e o tomadas como a de aceleração de estudos de alunos
saber ser, favorecendo aprendizagens para toda a vida. Seeley autodidatas ou que apresentem ritmos de aprendizagem
sugere o desenvolvimento de atividades que envolvam o uso acelerados em uma ou várias áreas de aprendizagem escolar.
da linguagem, a representação de experiências e idéias, o
raciocínio lógico e criativo, a compreensão de tempo e espaço Além das alternativas tradicionais de avaliação, outras
e uma aprendizagem ativa por parte do aluno com altas poderão ser utilizadas como, por exemplo, autoavaliação,
habilidades/superdotado. Exemplos de atividades são: relatório de atividades e avaliação de produtos elaborados
pelos alunos. A estratégia ideal de avaliação é aquela em que o
- Descrição de objetos, eventos e relações progresso do aluno é ressaltado. Isso possibilita ao aluno
- Conversa com colegas acerca de experiências importantes desenvolver um senso de realização acadêmica e,
- Expressão de sentimentos em palavras consequentemente, levá-lo a se sentir intrinsecamente
- Ouvir e criar ou completar histórias motivado em relação ao seu processo de aprendizagem. É
- Ouvir, criar ou recriar canções importante, ainda, que o professor incentive múltiplas formas
- Imitações ou criações de sons de produto final. Ou seja, o aluno pode demonstrar sua
- Sonorizar poemas (por meio de sons do corpo, objetos ou proficiência por meio de um produto escrito (história, poesia,
instrumentos musicais) carta etc), oral (dramatização, música, contar histórias etc),
- Dramatizações visual (desenho, colagem, mural etc) e/ou concreto (móbile,
- Reconhecimento de objetos pelo som, cheiro e formato máscara, brinquedos, jogos etc), de forma a contemplar os
- Identificação de diferenças e semelhanças entre objetos diferentes estilos de expressão dos alunos. Toda informação
- Descrição de objetos de várias maneiras sobre o aluno (por exemplo, trabalhos de classe e extraclasse,
- Comparação de tamanho, peso, texturas, comprimento etc outras produções do aluno, áreas/atividades de interesse)
- Observação de objetos sob diferentes perspectivas deve ser documentada e guardada em um portfólio, ou seja, em
- Representação de seu corpo uma pasta para cada aluno, com sua produção, de forma que
- Descrição de relações espaciais presentes em desenhos e as habilidades, interesses, estilos de aprendizagem e
figuras. expressão do aluno superdotado sejam ressaltados e o
professor possa, portanto, conhecê-lo melhor e estruturar a
Alencar & Fleith sugerem outras atividades a serem aula visando atender às suas necessidades educacionais.
implementadas com alunos superdotados:
Pensar a construção da educação inclusiva de alunos de
- Atividades que levem o aluno a produzir muitas idéias altas habilidades/superdotados na pré-escola envolve superar
- Atividades que levem o aluno a brincar com idéias, desafios que vão desde a organização dos sistemas de ensino,
situações e objetos (ex.: brincadeiras de faz-de-conta: casinha, passando pela escola e pela família, garantindo condições
supermercado etc) escolares de qualidade que favoreçam a formação de cidadãos
- Atividades que envolvam análise crítica de um brasileiros que poderão, definitivamente, contribuir para a
acontecimento construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.
- Atividades que estimulem o aluno a levantar questões
- Atividades que levem o aluno gerar múltiplas hipóteses ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO
- Atividades que desenvolvam no aluno a habilidade de
explorar consequências para acontecimentos que poderão PARTE I
ocorrer no futuro Considerações teóricas e políticas
- Atividades que envolvam a discussão de problemas do
mundo real Uma educação democrática deve levar em consideração as
- Atividades que estimulem o aluno a definir e solucionar diferenças individuais e, portanto, oferecer oportunidades de
problemas aprendizagem conforme as habilidades, interesses, estilos de
- Atividades de pesquisa sobre tópicos do interesse do aluno aprendizagem e potencialidades dos alunos. Nesse sentido,
- Atividades que estimulem a imaginação dos alunos alunos com altas habilidades/ superdotados merecem ter
- Atividades que possibilitem ao aluno explorar e conhecer acesso a práticas educacionais que atendam às suas
diferentes áreas do conhecimento. necessidades, possibilitando um melhor desenvolvimento de
suas habilidades. Segundo Renzulli, o propósito da educação
Avaliação dos indivíduos superdotados é “fornecer aos jovens
oportunidades máximas de auto realização por meio do
A avaliação da aprendizagem de alunos com necessidades desenvolvimento e expressão de uma ou mais áreas de
educacionais especiais em idade pré-escolar deve ser desempenho onde o potencial superior esteja presente”.
orientada por dois propósitos principais: a identificação das Várias são as razões para justificar a necessidade de uma
necessidades educacionais especiais e a tomada de decisão atenção diferenciada ao superdotado. Uma delas é por ser o
quanto ao atendimento que esses alunos devem receber, potencial superior um dos recursos naturais mais preciosos,
conforme previsto na nova legislação. Dada a diversidade de responsável pelas contribuições mais significativas ao
estilos de aprendizagem, estilos de expressão e habilidades desenvolvimento de uma civilização. Com relação a esse
dos alunos superdotados, múltiplas formas de avaliação da aspecto, Sternberg & Davidson lembram, por exemplo, que,
aprendizagem devem ser consideradas, visando não somente quando se volta à História e se buscam os pilares das grandes
assegurar respostas educativas de qualidade, mas, também, a civilizações, invariavelmente as contribuições artísticas,
tomada de decisões quanto ao atendimento de que a criança filosóficas e científicas, frutos da inteligência, talento e
pré-escolar necessita no âmbito da escola, nas modalidades de criatividade de alguns indivíduos ou grupos de indivíduos, são
apoio, complemento ou suplemento escolar, garantindo a apontadas ou enaltecidas. Com relação à educação infantil,
educação e o desenvolvimento das potencialidades desses sabe-se que o período que antecede a educação fundamental é
educandos. Além disso, em situações de desenvolvimento da maior importância para o desenvolvimento cognitivo e

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APOSTILAS OPÇÃO

psicossocial. Nesse período, as influências do ambiente que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-
desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e
do potencial de cada criança. Propiciar condições que atitudes. Como consequência, estes alunos apresentam
permitam a ela expressar seus interesses e desenvolver condições de aprofundar e enriquecer conteúdos escolares.
possíveis talentos deveria ser o ponto de partida de uma Considerando as políticas educacionais inclusivas, o aluno
educação diferenciada. deve ser cada vez mais atendido em seus interesses,
Observa-se, entretanto, que poucas são as oportunidades necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever
educacionais oferecidas ao aluno com altas suas concepções e paradigmas educacionais, lidando com as
habilidades/superdotado para desenvolver de forma mais evidências que o desenvolvimento humano oferece.
plena as suas habilidades. Uma possível explicação para este Uma criança pré-escolar que apresente um
cenário são os vários mitos sobre o superdotado, frequentes desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e/ ou psicomotor
em nossa sociedade, que constituem entrave à provisão de diferenciado e avançado para a idade não pode ser
condições favoráveis à sua educação. Predomina, por exemplo, desconsiderada e/ou desqualificada no âmbito escolar. Nesse
a idéia de que esse indivíduo tem recursos suficientes para sentido, é importante atender os alunos de altas
desenvolver suas habilidades por si só, não sendo necessária a habilidades/superdotados, considerando seu
intervenção do ambiente. No entanto, é preciso salientar e desenvolvimento real, evitando contemplar níveis de
divulgar entre educadores que o aluno com altas desenvolvimento padronizados, conforme os apresentados em
habilidades/superdotado necessita de uma variedade de escalas de desenvolvimento. Cabe, portanto, à escola definir no
experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem projeto pedagógico seu compromisso com uma educação de
seu potencial. Outro mito é a de que essa criança apresenta qualidade para todos seus alunos, inclusive o de altas
necessariamente um bom rendimento escolar. Porém, o que se habilidades/superdotados, respeitando e valorizando essa
tem observado é que indivíduos superdotados podem diversidade, e definindo sua responsabilidade na criação de
apresentar um rendimento aquém de seu potencial, revelando novos espaços inclusivos.
uma discrepância entre seu potencial e seu desempenho real.
Muitas vezes, o aluno com altas habilidades/superdotado pode Além disso, é na educação infantil que se aponta para a
ficar desmotivado com as atividades implementadas em sala possibilidade de realização de novas interações sociais por meio
de aula, com o currículo ou métodos de ensino utilizados dos reagrupamentos escolares, conforme preconizam os artigos
(especialmente a excessiva repetição do conteúdo, aulas 23 e 24 da nova LDBEN e que buscam, em última instância, não
monótonas e pouco estimuladoras, e ritmo mais lento da que o aluno se amolde ou se adapte à escola, mas que a escola se
classe). coloque à disposição do aluno, como um espaço inclusivo.

Acredita-se, ainda, que superdotação é um fenômeno raro Na educação infantil se inicia a construção de um processo
e que são poucas as crianças e jovens de nossas escolas que escolar que poderá ser concluído em menor tempo quanto à
poderiam ser considerados superdotados. O que pode ser série em que o aluno estejam cursando, etapa escolar em que
salientado é que se realmente as condições forem o aluno esteja inserido ou mesmo em relação a toda a sua
inadequadas, dificilmente o indivíduo com um potencial maior escolarização. Dessa forma, é fundamental oferecer desafios
terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que suplementares aos alunos de altas habilidades/superdotados.
uma boa semente necessita de condições adequadas de solo, Para isso é importante a definição de um projeto pedagógico
luz e umidade para desenvolver-se, também o aluno com altas que inclua a modalidade de ensino educação especial no
habilidades/superdotado necessita de um ambiente adequado cotidiano escolar, oferecendo aos alunos de altas habilidades/
estimulador e rico em experiências. Observa-se, também, uma superdotados alternativas motivadoras e criativas de
tendência no sentido de se acreditar que os superdotados aprendizagem que possam garantir o seu sucesso escolar.
estariam concentrados em apenas uma parcela da população,
que seria entre indivíduos do sexo masculino, de nível PARTE II
socioeconômico médio. De modo geral, tanto a mulher como o
indivíduo proveniente de um meio pobre que apresentem uma É importante ressaltar que crianças superdotadas em
habilidade ou um talento especial tendem não apenas a passar idade pré-escolar constituem um grupo heterogêneo em
despercebidos, mas também a sofrer uma pressão no sentido termos de interesses, níveis de habilidades, desenvolvimento
de um desempenho mais baixo. Superdotação tem sido, ainda, emocional, social e físico (Cline & Schwartz, 1999). Nesse
vista, erroneamente, como genialidade. Esses termos, sentido, podemos nos deparar com uma criança avançada do
entretanto, não são sinônimos. O gênio seria aquele indivíduo ponto de vista intelectual, mas imatura emocionalmente. O
reconhecido por ter dado uma contribuição original e de professor deve estar atento a essa possível falta de sincronia
grande valor para a sociedade (por exemplo, Einstein, Darwin, entre desenvolvimento intelectual e afetivo ou físico. Por
Picasso). exemplo, uma criança superdotada pode apresentar leitura
precoce, porém ter dificuldade em manipular um lápis, pois
No âmbito das políticas educacionais, inicialmente, as suas habilidades motoras não estão totalmente desenvolvidas.
diretrizes básicas da Secretaria de Educação Especial do Além disso, a habilidade superior demonstrada por essa
Ministério da Educação e do Desporto consideravam criança pode ser resultado de uma estimulação intensa por
superdotados (ou portadores de altas habilidades) aqueles parte das pessoas significativas de seu ambiente. Ao atingir a
alunos que apresentavam notável desempenho e/ou elevada idade escolar, o desenvolvimento dessa criança pode se
potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados normalizar e ela passar a apresentar um desempenho
ou combinados: capacidade intelectual, aptidão acadêmica ou semelhante aos alunos de sua idade. Por isso, nem sempre uma
específica (por exemplo, aptidão matemática), pensamento criança precoce poderá ser caracterizada como superdotada. É
criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para essencial, portanto, acompanhar o desempenho dessa criança,
artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade registrando habilidades e interesses demonstrados ao longo
psicomotora. dos primeiros anos de escolarização, oferecendo várias
Atualmente, segundo o artigo 5º, parágrafo III, da oportunidades estimuladoras e enriquecedoras ao seu
Resolução CNE/CEB Nº 2, de 2001, que instituiu as Diretrizes potencial.
nacionais para a educação especial na educação básica, Dentre as características mais comumente encontradas em
educandos com altas habilidades/superdotação são aqueles crianças superdotadas em idade pré-escolar destacam-se:

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- Alto grau de curiosidade b) Conhecimento do mundo: movimento, música, artes


- Boa memória visuais, natureza e sociedade, linguagem oral e escrita, e
- Atenção concentrada matemática.
- Persistência Os objetivos específicos de cada conteúdo pode ser
- Independência e autonomia encontrado nos volumes 2 e 3 do Referencial curricular
- Interesse por áreas e tópicos diversos nacional para a educação infantil.
- Aprendizagem rápida
- Criatividade e imaginação Metodologia e estratégias pedagógicas
- Iniciativa
- Liderança Estratégias de atendimento ao aluno com altas
- Vocabulário avançado para a sua idade cronológica habilidades/superdotado envolvem, muitas vezes, diferençar
- Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de ou modificar o currículo regular de modo a adequar o processo
idéias) de aprendizagem às necessidades e características desse
- Habilidade para considerar pontos de vistas de outras aprendiz. Diferentes estratégias podem ser empregadas nas
pessoas classes comuns para diferenciação e modificação do currículo
- Facilidade de interagir com crianças mais velhas ou com regular, contribuindo, inclusive, para estimular
adultos potencialidades de toda a turma. A seguir, são apresentados
- Habilidade para lidar com idéias abstratas alguns exemplos de estratégias metodológicas e pedagógicas.
- Habilidade para perceber discrepâncias entre idéias e Elas se aplicam tanto à educação infantil quanto ao ensino
pontos de vista fundamental.
- Interesse por livros e outras fontes de conhecimento
- Alto nível de energia - A aprendizagem deve ser centrada no aluno. Leve em
- Preferência por situações/objetos novos consideração os interesses e;
- Senso de humor - Implemente atividades de enriquecimento em sala de
- Originalidade para resolver problemas aula, como, por exemplo, dramatizações, produção de histórias
etc.
Objetivos e conteúdo da educação infantil - Investigue os interesses, os estilos de aprendizagem e de
expressão dos seus alunos ou observe-os de forma a identificar
Objetivos: seus interesses, pontos fortes e talentos.
- Analise e modifique o currículo existente de forma a
- Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de identificar e eliminar redundâncias e incrementar unidades
forma cada vez mais independente, com confiança em suas que sejam desafiadoras para os alunos.
capacidades e percepção de suas limitações. - Retire ou reduza do currículo a ser desenvolvido
- Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio conteúdo que os alunos já dominam ou que pode ser adquirido
corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e em um ritmo compatível com suas habilidades. O uso dessa
valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem- estratégia educacional elimina conteúdo curricular repetitivo,
estar. cria um ambiente de aprendizagem desafiador, reduz
- Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e sentimentos de apatia e desinteresse dos alunos superdotados
crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando com relação às atividades desenvolvidas em sala de aula, e
gradativamente suas possibilidades de comunicação e possibilita a esses alunos utilizar o tempo economizado para
interação social. se dedicar às atividades de seu interesse. É importante que
- Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, seja feita uma avaliação criteriosa do nível de conhecimento
aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de do aluno acerca do conteúdo antes de se implementar essa
vista com os demais, respeitando a diversidade e estratégia.
desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração.
- Observar e explorar o ambiente com atitude de - Desenvolva atividades com diferentes produtos finais, de
curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, modo que as necessidades individuais possam ser atendidas.
dependente e agente transformador do meio ambiente, além - Permita que os alunos comuniquem conhecimento ou
de conscientizar-se da importância de atitudes que experiências prévias.
contribuam para sua conservação. - Use várias estratégias de ensino (atividades em grupo,
- Brincar, expressando emoções, sentimentos, dramatização, brincadeiras etc) de forma a assegurar o
pensamentos, desejos e necessidades. envolvimento do aluno em sala de aula.
- Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, - Convide pessoas da comunidade ou especialistas para
plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e falar para os alunos de forma a despertar o interesse dos
situações de comunicação, de forma a compreender e ser mesmos sobre o conteúdo estudado e promover o
compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, desenvolvimento de habilidades.
necessidades e desejos e avançar no seu processo de - Envolva os alunos em atividades de solução de problemas
construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua que os levem a transferir os objetivos de aprendizagem a
capacidade expressiva. situações em que a criatividade e outras habilidades
- Conhecer algumas manifestações culturais, como, por superiores de pensamento (por exemplo, análise, avaliação,
exemplo, expressões artísticas populares, demonstrando síntese) sejam
atitudes de interesse, respeito e tendo oportunidades de - Estimule os alunos a encontrar respostas para suas
participar em algumas delas. próprias questões por meio de projetos individuais (ex.:
registro de atividades e descobertas em álbuns, cartazes,
Conteúdo: filmagens, gravações, desenhos, colagens) e atividades de
exploração.
a) Formação pessoal e social: identidade, autonomia e - Envolva os pais no processo de aprendizagem de seus
cooperação. filhos (tutoria, acompanhamento
- Dê ao aluno oportunidade de escolha, levando em
consideração seus interesses e Estilos de aprendizagem dizem

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Apostila Digital Licenciada para Antonia Devanilde Pereira de Souza - devanilde43@gmail.com (Proibida a Revenda)
APOSTILAS OPÇÃO

respeito à forma como o aluno prefere aprender: ouvindo o o pensamento criativo (produção de muitas idéias originais e
professor, brincando com jogos, realizando atividades em variadas) e crítico, e que levem a criança a fazer conexões
grupo, desenvolvendo projetos individualmente etc. entre idéias, resolver problemas e levantar questionamentos.
habilidades. É importante, ainda, proporcionar à criança oportunidades
- Dê oportunidades ao aluno de obter conhecimento para explorar mais amplamente um tema de seu interesse. Sob
pessoal acerca de suas habilidades, interesses e estilos de uma perspectiva efetiva, espera-se que a criança com altas
aprendizagem, oferecendo experiências de aprendizagem habilidades/superdotada desenvolva suas habilidades
variadas. interpessoais e de comunicação, autonomia, iniciativa, um
- Relacione os objetivos do conteúdo às experiências dos autoconceito positivo, e uma compreensão do outro e seu
alunos. ponto de vista.
- Ofereça aos alunos informações que sejam importantes,
interessantes, contextualizadas, significativas e conectadas Material pedagógico e recursos tecnológicos
entre si, levando em consideração os interesses e habilidades
das crianças. Embora estejamos cônscios dos recursos limitados em
- Oriente o aluno a buscar informações adicionais sobre muitas escolas, em termos ideais um ambiente estimulador
tópicos de seu interesse, sugerindo fontes de informações deve incluir material de consulta diversificado impresso ou
diversificadas (livros, indivíduos, revistas, internet etc). eletrônico ( por exemplo, livros, revistas, jornais,
- Estimule o aluno a avaliar seu desempenho em uma enciclopédias, dicionário, programas de computador),
atividade ou tarefa. materiais para manipulação e exploração (brinquedos, bolas,
- Valorize produtos e idéias criativas. blocos e jogos pedagógicos, objetos com sons e formatos
- Situe os alunos nos grupos com os quais melhor possa diferentes, lupas e lentes de aumento), equipamentos (vídeo,
trabalhar. Dê oportunidade aos alunos de desenvolverem globo terrestre, aparelho de som e, se possível, computador).
atividades com outros de mesmo nível de habilidade. Além disso, seria altamente desejável que o aluno tivesse
- Ofereça ao aluno oportunidade de visitar e observar oportunidade de conhecer e frequentar bibliotecas, de
locais variados (ex.: parques, jardim zoológico, jardim participar de atividades (na escola ou em outros locais da
botânico, teatros, comércio, galerias de arte, museus, lojinha comunidade), conforme seu interesse e área de habilidade. Na
de animais domésticos, feira, praça etc). área artística, materiais de consumo como tintas, lápis, pincéis,
- Evite rotular o aluno de superdotado. Trate as diferenças canetas, massinha, argila, telas, bem como instrumentos
individuais como um fato natural. Lembre-se de que nem musicais (flauta, por exemplo) devem, também, ser
sempre o aluno superdotado terá um desempenho excelente disponibilizados aos alunos. É relevante ressaltar a
em todas as áreas ou atividades. necessidade não apenas de recursos materiais, como também
de recursos humanos diversos (por exemplo, bibliotecário,
Atendimento suplementar professores bem qualificados de música, educação física,
educação artística etc).
Conforme as Diretrizes nacionais para a educação especial Um projeto pedagógico inclusivo para alunos de altas
na educação básica, devem ser oferecidos serviços de apoio habilidades na pré-escola não pode deixar de considerar as
pedagógico especializado aos alunos com necessidades atividades que favoreçam o saber-aprender, o saber-fazer e o
educacionais especiais. No caso do superdotado, sugere-se o saber ser, favorecendo aprendizagens para toda a vida. Seeley
atendimento suplementar para aprofundar e/ou enriquecer o sugere o desenvolvimento de atividades que envolvam o uso
currículo escolar. Este atendimento é realizado em salas de da linguagem, a representação de experiências e idéias, o
recursos, localizadas em escolas da rede regular de ensino, em raciocínio lógico e criativo, a compreensão de tempo e espaço
horário contrário ao da sala de aula comum. A sala de recursos e uma aprendizagem ativa por parte do aluno com altas
atende alunos oriundos da própria escola e de escolas habilidades/superdotado. Exemplos de atividades são:
próximas que não possuem tal serviço. O atendimento
suplementar a alunos superdotados da educação infantil - Descrição de objetos, eventos e relações
inicia-se por volta dos quatro anos de idade e tem como - Conversa com colegas acerca de experiências importantes
objetivo oferecer oportunidades para que eles explorem áreas - Expressão de sentimentos em palavras
de interesse, aprofundem conhecimentos já adquiridos e - Ouvir e criar ou completar histórias
desenvolvam habilidades relacionadas à criatividade, - Ouvir, criar ou recriar canções
resolução de problemas e raciocínio lógico. Além disso, esse - Imitações ou criações de sons
atendimento contribui para o desenvolvimento de habilidades - Sonorizar poemas (por meio de sons do corpo, objetos ou
sociais e emocionais, como cooperação e autoconceito, e instrumentos musicais)
propicia ao aluno oportunidades para eles vivenciarem o - Dramatizações
processo de aprendizagem com motivação. É importante - Reconhecimento de objetos pelo som, cheiro e formato
ressaltar que não é simples realizar, com precisão, um - Identificação de diferenças e semelhanças entre objetos
diagnóstico de superdotação para crianças da educação - Descrição de objetos de várias maneiras
infantil, considerando-se que elas estão em fase inicial de - Comparação de tamanho, peso, texturas, comprimento etc
desenvolvimento e que podem, ainda, ser muito estimuladas - Observação de objetos sob diferentes perspectivas
pela família. Nesse sentido, o atendimento em salas de - Representação de seu corpo
recursos possibilita ao professor observar e acompanhar o - Descrição de relações espaciais presentes em desenhos e
desempenho do aluno e verificar se o mesmo pode ser figuras.
caracterizado como uma criança com altas
habilidades/superdotada. Alencar & Fleith sugerem outras atividades a serem
implementadas com alunos superdotados:
Expectativas de aprendizagem
- Atividades que levem o aluno a produzir muitas idéias
Crianças com altas habilidades/superdotadas em idade - Atividades que levem o aluno a brincar com idéias,
pré-escolar devem vivenciar diversas situações de situações e objetos (ex.: brincadeiras de faz-de-conta: casinha,
aprendizagem de forma a desenvolver suas habilidades e supermercado etc)
talentos. Isso significa implementar atividades que envolvam

Conhecimentos Específicos 17
Apostila Digital Licenciada para Antonia Devanilde Pereira de Souza - devanilde43@gmail.com (Proibida a Revenda)
APOSTILAS OPÇÃO

- Atividades que envolvam análise crítica de um passando pela escola e pela família, garantindo condições
acontecimento escolares de qualidade que favoreçam a formação de cidadãos
- Atividades que estimulem o aluno a levantar questões brasileiros que poderão, definitivamente, contribuir para a
- Atividades que levem o aluno gerar múltiplas hipóteses construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.
- Atividades que desenvolvam no aluno a habilidade de
explorar consequências para acontecimentos que poderão
ocorrer no futuro
- Atividades que envolvam a discussão de problemas do Tecnologias Assistivas.
mundo real
- Atividades que estimulem o aluno a definir e solucionar
problemas
- Atividades de pesquisa sobre tópicos do interesse do aluno TECNOLOGIA ASSISTIVA
- Atividades que estimulem a imaginação dos alunos
- Atividades que possibilitem ao aluno explorar e conhecer 1Tecnologia Assistiva é um termo ainda novo, utilizado

diferentes áreas do conhecimento. para identificar todo o arsenal de Recursos e Serviços que
contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
Avaliação funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente
promover Vida Independente e Inclusão.
A avaliação da aprendizagem de alunos com necessidades É também definida como "uma ampla gama de
educacionais especiais em idade pré-escolar deve ser equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e
orientada por dois propósitos principais: a identificação das aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos
necessidades educacionais especiais e a tomada de decisão indivíduos com deficiências" (Cook e Hussey • Assistive
quanto ao atendimento que esses alunos devem receber, Technologies: Principles and Practices • Mosby – Year Book, Inc.,
conforme previsto na nova legislação. Dada a diversidade de 1995).
estilos de aprendizagem, estilos de expressão e habilidades
dos alunos superdotados, múltiplas formas de avaliação da Conceito
aprendizagem devem ser consideradas, visando não somente No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído
assegurar respostas educativas de qualidade, mas, também, a pela PORTARIA N° 142, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2006 propõe
tomada de decisões quanto ao atendimento de que a criança o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: "Tecnologia
pré-escolar necessita no âmbito da escola, nas modalidades de Assistiva é uma área do conhecimento, de característica
apoio, complemento ou suplemento escolar, garantindo a interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,
educação e o desenvolvimento das potencialidades desses metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam
educandos. Além disso, em situações de desenvolvimento promover a funcionalidade, relacionada à atividade e
dessincronizado na pré-escola (por exemplo, participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou
desenvolvimento intelectual mais avançado do que o mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência,
emocional), um cuidadoso e exaustivo trabalho de avaliação qualidade de vida e inclusão social" (ATA VII - Comitê de Ajudas
escolar deve ser realizado a fim de fundamentar decisões Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da
tomadas como a de aceleração de estudos de alunos Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial
autodidatas ou que apresentem ritmos de aprendizagem dos Direitos Humanos - Presidência da República).
acelerados em uma ou várias áreas de aprendizagem escolar. O termo Assistive Technology, traduzido no Brasil como
Tecnologia Assistiva, foi criado em 1988 como importante
Além das alternativas tradicionais de avaliação, outras elemento jurídico dentro da legislação norte-americana
poderão ser utilizadas como, por exemplo, autoavaliação, conhecida como Public Law 100-407 e foi renovado em 1998
relatório de atividades e avaliação de produtos elaborados como Assistive Technology Act de 1998 (P.L. 105-394, S.2432).
pelos alunos. A estratégia ideal de avaliação é aquela em que o Compõe, com outras leis, o ADA - American with Disabilities Act,
progresso do aluno é ressaltado. Isso possibilita ao aluno que regula os direitos dos cidadãos com deficiência nos EUA,
desenvolver um senso de realização acadêmica e, além de prover a base legal dos fundos públicos para compra
consequentemente, levá-lo a se sentir intrinsecamente dos recursos que estes necessitam.
motivado em relação ao seu processo de aprendizagem. É
importante, ainda, que o professor incentive múltiplas formas Os Recursos são todo e qualquer item, equipamento ou
de produto final. Ou seja, o aluno pode demonstrar sua parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob
proficiência por meio de um produto escrito (história, poesia, medida utilizado para aumentar, manter ou melhorar as
carta etc), oral (dramatização, música, contar histórias etc), capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Os
visual (desenho, colagem, mural etc) e/ou concreto (móbile, Serviços, são definidos como aqueles que auxiliam
máscara, brinquedos, jogos etc), de forma a contemplar os diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar
diferentes estilos de expressão dos alunos. Toda informação ou usar os recursos acima definidos.
sobre o aluno (por exemplo, trabalhos de classe e extraclasse,
outras produções do aluno, áreas/atividades de interesse) Recursos
deve ser documentada e guardada em um portfólio, ou seja, em Podem variar de uma simples bengala a um complexo
uma pasta para cada aluno, com sua produção, de forma que sistema computadorizado. Estão incluídos brinquedos e
as habilidades, interesses, estilos de aprendizagem e roupas adaptadas, computadores, softwares e hardwares
expressão do aluno superdotado sejam ressaltados e o especiais, que contemplam questões de acessibilidade,
professor possa, portanto, conhecê-lo melhor e estruturar a dispositivos para adequação da postura sentada, recursos para
aula visando atender às suas necessidades educacionais. mobilidade manual e elétrica, equipamentos de comunicação
alternativa, chaves e acionadores especiais, aparelhos de
Pensar a construção da educação inclusiva de alunos de escuta assistida, auxílios visuais, materiais protéticos e
altas habilidades/superdotados na pré-escola envolve superar milhares de outros itens confeccionados ou disponíveis
desafios que vão desde a organização dos sistemas de ensino, comercialmente.

1http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html

Conhecimentos Específicos 18
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APOSTILAS OPÇÃO

Serviços
São aqueles prestados profissionalmente à pessoa com
deficiência visando selecionar, obter ou usar um instrumento
de tecnologia assistiva. Como exemplo, podemos citar
avaliações, experimentação e treinamento de novos
equipamentos.
Os serviços de Tecnologia assistiva são normalmente
transdisciplinares envolvendo profissionais de diversas áreas,
tais como:
Recursos, eletrônicos ou não, que permitem a comunicação
- Fisioterapia
expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com
- Terapia ocupacional
limitações da mesma. São muito utilizadas as pranchas de
- Fonoaudiologia
comunicação com os símbolos PCS ou Bliss além de
- Educação
vocalizadores e softwares dedicados para este fim.
- Psicologia
- Enfermagem
3. Recursos de acessibilidade ao computador
- Medicina
- Engenharia
- Arquitetura
- Design
- Técnicos de muitas outras especialidades

Encontramos também terminologias diferentes que


aparecem como sinônimos da Tecnologia Assistiva, tais como
“Ajudas Técnicas”, “Tecnologia de Apoio”, “Tecnologia
Adaptativa” e “Adaptações”. Equipamentos de entrada e saída (síntese de voz, Braille),
auxílios alternativos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz),
Objetivos da Tecnologia Assistiva teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares
Proporcionar à pessoa com deficiência maior especiais (de reconhecimento de voz, etc.), que permitem as
independência, qualidade de vida e inclusão social, através da pessoas com deficiência a usarem o computador.
ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu
ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e 4. Sistemas de controle de ambiente
integração com a família, amigos e sociedade.

Categorias de Tecnologia Assistiva


A classificação que segue foi escrita originalmente em
1998 por José Tonolli e Rita Bersch e sua última atualização é
de 2017. Ela tem uma finalidade didática e em cada tópico
considera a existência de recursos e serviços. Esta proposta de
classificação foi desenhada com base nas diretrizes gerais da
ADA, em outras classificações utilizadas em bancos de dados Sistemas eletrônicos que permitem as pessoas com
de TA e especialmente a partir da formação dos autores no limitações moto-locomotoras, controlar remotamente
Programa de Certificação em Aplicações da Tecnologia aparelhos eletroeletrônicos, sistemas de segurança, entre
Assistiva – ATACP da California State University Northridge, outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e
College of Extended Learning and Center on Disabilities. arredores.
A importância das classificações no âmbito da tecnologia
assistiva se dá pela promoção da organização desta área de 5. Projetos arquitetônicos para acessibilidade
conhecimento e servirá ao estudo, pesquisa, desenvolvimento,
promoção de políticas públicas, organização de serviços,
catalogação e formação de banco de dados para identificação
dos recursos mais apropriados ao atendimento de uma
necessidade funcional do usuário final.

1. Auxílios para a vida diária


Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente
de trabalho, através de rampas, elevadores, adaptações em
banheiros entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras
físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência.

6. Órteses e próteses

Materiais e produtos para auxílio em tarefas rotineiras tais


como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar
necessidades pessoais, manutenção da casa etc.

2. CAA (CSA) Comunicação aumentativa (suplementar) e


alternativa Troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de
funcionamento comprometido, por membros artificiais ou
outros recurso ortopédicos (talas, apoios etc.). Inclui-se os

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APOSTILAS OPÇÃO

protéticos para auxiliar nos déficits ou limitações cognitivas, 11. Adaptações em veículos
como os gravadores de fita magnética ou digital que funcionam
como lembretes instantâneos.

7. Adequação Postural

Acessórios e adaptações que possibilitam a condução do


veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas
modificadas e outros veículos automotores usados no
transporte pessoal.

Adaptações para cadeira de rodas ou outro sistema de Atuação da Tecnologia Assistiva


sentar visando o conforto e distribuição adequada da pressão A Tecnologia Assistiva visa melhorar a FUNCIONALIDADE
na superfície da pele (almofadas especiais, assentos e encostos de pessoas com deficiência. O termo funcionalidade deve ser
anatômicos), bem como posicionadores e contentores que entendido num sentido maior do que habilidade em realizar
propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo tarefa de interesse.
através do suporte e posicionamento de Segundo a CIF - Classificação Internacional de
tronco/cabeça/membros. Funcionalidade, o modelo de intervenção para a
funcionalidade deve ser BIOPSICOSSOCIAL e diz respeito à
8. Auxílios de mobilidade avaliação e intervenção em:
- Funções e estruturas do corpo - DEFICIÊNCIA
- Atividades e participação - Limitações de atividades e de
participação.
- Fatores Contextuais - Ambientais e pessoais

Visão Geral dos Componentes da CIF - 2003


1. Funções e Estruturas do Corpo e Deficiências

Definições:
Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases móveis, • Funções do Corpo são as funções fisiológicas dos
andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veículo sistemas orgânicos (incluindo as funções psicológicas).
utilizado na melhoria da mobilidade pessoal. • Estruturas do Corpo são as partes anatômicas do corpo,
tais como, órgãos, membros e seus componentes.
9. Auxílios para cegos ou com visão subnormal • Deficiências são problemas nas funções ou na estrutura
do corpo, como um desvio importante ou uma perda.

2. Atividades e Participações / Limitações de


Atividades e Restrições de Participação
Definições:
• Atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um
indivíduo.
• Participação é o envolvimento numa situação da vida.
• Limitações de Atividades são dificuldades que um
Auxílios para grupos específicos que inclui lupas e lentes, indivíduo pode encontrar na execução de atividades.
Braille para equipamentos com síntese de voz, grandes telas • Restrições de Participação são problemas que um
de impressão, sistema de TV com aumento para leitura de indivíduo pode experimentar no envolvimento em situações
documentos, publicações etc. reais da vida.

10. Auxílios para surdos ou com déficit auditivo 3. Fatores Contextuais


Representam o histórico completo da vida e do estilo de
vida de um indivíduo. Eles incluem dois fatores - Ambientais e
Pessoais - que podem ter efeito num indivíduo com uma
determinada condição de saúde e sobre a Saúde e os estados
relacionados com a saúde do indivíduo.
• Fatores Ambientais:
Constituem o ambiente físico, social e atitudinal no qual as
pessoas vivem e conduzem sua vida. Esses fatores são externos
aos indivíduos e podem ter uma influência positiva ou negativa
sobre o seu desempenho, enquanto membros da sociedade,
Auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho,
sobre a capacidade do indivíduo para executar ações ou
FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado - teletipo
tarefas, ou sobre a função ou estrutura do corpo do indivíduo.
(TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros.
• Fatores Pessoais:
São o histórico particular da vida e do estilo de vida de um
indivíduo e englobam as características do indivíduo que não
são parte de uma condição de saúde ou de um estado de saúde.
Esses fatores podem incluir o sexo, raça, idade, outros estados

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de saúde, condição física, estilo de vida, hábitos, educação . Bordado (ponto cruz) . Pintura em telas
recebida, diferentes maneiras de enfrentar problemas, . Cestos . Bordado em tecido, sacos,
antecedentes sociais, nível de instrução, profissão, experiência (jornal/reciclado) toalhas, etc.
passada e presente, (eventos na vida passada e na atual), . Biscuit (lembrancinhas, . Tecer e trançar
padrão geral de comportamento, caráter, características vidros, etc.) . Noções básicas de costura:
psicológicas individuais e outras características, todas ou riscar, cortar, alinhavar, pregar
algumas das quais podem desempenhar um papel na botões, colchetes, costurar.
. Confecções de tapetes.
incapacidade em qualquer nível.
. Acondicionamento.
4. Modelos Conceituais
Atividades domésticas . Conhecimento e utilização do
Para compreender e explicar a incapacidade e a
. Escola material de trabalho ou de
funcionalidade foram propostos vários modelos conceituais: . Oficina de culinária limpeza;
• Modelo Médico: . Ser responsável com os
Considera a incapacidade como um problema da pessoa, materiais, utilizando-se em
causado diretamente pela doença, trauma ou outro problema quantidades e finalidades
de saúde, que requer assistência médica sob a forma de adequadas;
tratamento individual por profissionais. Os cuidados em . Limpeza da oficina de culinária,
relação à incapacidade têm por objetivo a cura ou a adaptação banheiros, sala de aula,
do indivíduo e mudança de comportamento. A assistência parquinho, assim por diante;
médica é considerada como a questão principal e, a nível . Reconhecer e identificar os
político, a principal resposta é a modificação ou reforma da cômodos de uma casa;
política de saúde. . Limpeza e conservação dos
• Modelo Social: cômodos de uma casa;
O modelo social de incapacidade, por sua vez, considera a . Limpeza e conservação dos
questão principalmente como um problema criado pela utensílios domésticos;
sociedade e, basicamente, como uma questão de integração . Cuidados e conservação de
roupas e calçados;
plena do indivíduo na sociedade. A incapacidade não é um
. Reconhecer e utilizar
atributo de um indivíduo, mas sim um conjunto complexo de
adequadamente eletros
condições, muitas das quais criadas pelo ambiente social. domésticos que existem na
Assim, a solução do problema requer uma ação social e é da oficina de culinária e no ambiente
responsabilidade coletiva da sociedade fazer as modificações escolar;
ambientais necessárias para a participação plena das pessoas . Classificação de alimentos e
com incapacidades em todas as áreas da vida social. Portanto, utensílios (arroz, feijão, verdura,
é uma questão atitudinal ou ideológica que requer mudanças carne);
sociais que, a nível político, se transformam numa questão de . Efetuar pequenas compras
direitos humanos. De acordo com este modelo, a incapacidade (feiras, supermercado, padaria,
é uma questão política. mercearia);
• Abordagem Biopsicossocial: . Preparar e elaborar receitas
A CIF baseia-se numa integração desses dois modelos simples (doces, pães, bolos,
opostos. Para se obter a integração das várias perspectivas de salgados);
funcionalidade é utilizada uma abordagem "biopsicossocial". . Preparar e servir alimentos
Assim, a CIF tenta chegar a uma síntese que ofereça uma visão simples: (lavar, cortar, temperar,
coerente das diferentes perspectivas de saúde: biológica, fritar, assar, cozinhar, e demais
atividades da cozinha);
individual e social.
. Arroz doce e salgado;
. Feijão cozido;
. Macarrão;
. Bolinho doce e salgado;
Oficinas de Trabalho. . Ovo frito, cozido e omelete;
. Vitamina, salada de frutas,
verduras e legumes;
. Pão com manteiga, pão torrado,
Oficinas de trabalho. pão no ovo batido;
De acordo com a proposta do estudo2 tem-se a seguir . Batata doce (cozida, frita,
algumas propostas de oficinas pedagógicas a serem assada);
trabalhadas com crianças com necessidades especiais. . Maionese;
. Sopa de legumes e fubá;
PLANEJAMENTO - OFICINAS PEDAGÓGICAS . Carnes variadas;
. Chás (erva-mate, cidreira,
Objetivo Específico: Proporcionar ao aluno atividade de hortelã e outras ervas
maior utilidade ampliando noção de responsabilidade e de medicinais);
. Café, chocolate, leite, sucos
trabalho para sua própria realização pessoal.
naturais;
. Manjar de leite, etc.;
PROGRAMA ESTRATÉGIAS . Sagu, canjica, gelatina, e demais
Trabalhos manuais . Conhecimento e utilização do geléias;
. Tapetes (retalhos) material. . Sorvete de leite, frutas;
. Crochê . Preparação e classificação do . Amendoins salgados, doces e
. Quadro (tela) material achocolatado, etc.

2 Texto adaptado de Vera Lucia Pereira de Souza, disponível em


http://deficinciaintelectual.blogspot.com.br/

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. Pipoca doce e salgada; Nº ATIVIDADES TRABALHOS


. Mandioca frita e cozida;
. Polenta; 01 AVD Comunicação, vestuário
. Por e tirar a mesa – a toalha, os (estimular feminilidade),
guardanapos, os pratos, os locomoção, higiene
talheres, adornos; (estimular feminilidade),
. Arrumar a cama; alimentação.
. Lavar e passar roupas.
02 AVP Atividade de limpeza,
Horticultura . Preparação do solo e suas preparação de refeições,
Jardinagem condições; servir refeições, trabalhos
. Época adequada do plantio; manuais, compras.
. Uso adequado de ferramentas;
. Semeadura e plantio; 03 Lazer/passeios Na casa do aprendiz,
. Conservação de canteiros; sorveteria, feira,
. Colheita; exposições, piquenique,
. Conservação dos produtos missa, culto, zoológico.
colhidos;
. Comercialização; 04 Relacionamento Atividades em conjunto,
. Necessidades da planta (adubo, social (pessoal / boas maneiras, educação
água, poda, replanta); aceitação) sexual, atividades de
. Ferramentas adequadas; relacionamento
. Conservação de jardins e vasos;
. Seleção de sementes e mudas;
. Flores e folhagens para adornos ATIVIDADES DE VIDA PRÁTICA – AVP
da escola, sala de aula e
presentes; Nº ATIVIDADES TRABALHOS
. Técnicas de plantio, poda;
. Reprodução de viveiros; 01 LIMPEZA - Transportar material de
. Manutenção. limpeza;
- Pegar objetos do chão;
Produtos feitos com . Madeira – origem, tipo e - Limpar as coisas derramadas no
madeira finalidade; chão;
. Ferramentas e maquinários – - Usar a vassoura para varrer;
conhecer, nomear e utilizar; - Usar a pá de lixo;
. Conservação e manutenção de - Arrumar a cama;
todos os materiais; - Tirar o pó dos móveis;
. Lixar; - Usar pano com água / torcer;
. Planar; - Limpar mesas, cadeiras e erguê-
. Medir; las;
. Riscar; - Passar pano no chão com
. Serrar; rodinho;
. Furar; - Lavar panos no tanque usando
. Montar; água e sabão;
. Pregar; - Limpar, lavar banheiro;
. Colar; - Limpar os vidros;
. Acabamento; - Limpar, descongelar geladeira;
. Consertos e reformas; - Lavar calçadas, etc.
. Embalar;
. Comercializar. 02 JARDINAGEM - Plantar;
- Regar;
- Retirar matos, folhas, papéis,
- Outros programas poderão ser desenvolvidos de acordo pedras das plantas e grama, etc.;
com as realidades e necessidades do aluno e da escola; - Fazer arranjos florais.
- Para todas as atividades obedecer a graduações de
dificuldades preparando o aluno para desenvolvê-la 03 PREPARAÇÃO DE - Abrir torneiras;
REFEIÇÕES - Acender fósforo e forno ou
independentemente, procurando nelas sua própria auto
queimador a gás;
realização;
- Despejar líquidos quentes;
- Avaliação será através de observações do desempenho do - Servir comida quente;
aluno na atividade dada; - Abrir embalagens de comida;
- Planejamentos mensais, avaliações diárias e semestrais. - Abrir latas e garrafas;
- Abris leite em saquinhos ou
PLANEJAMENTO: ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA E caixinhas;
ATIVIDADES DE VIDA PRÁTICA - Carregar comida ou panelas
quentes;
Objetivo Geral: Proporcionar ao aprendiz atividades - Tirar comida da geladeira;
visando ampliar a noção de responsabilidade e de trabalho - Tirar utensílios dos armários;
para sua própria independência, realização pessoal e - Descascar legumes, frutas, etc.;
relacionamento social. - Usar facas com segurança;
Objetivo Específico: Trabalhar visando atividades - Usar talheres de medida ou
dentro das áreas de AVD (Atividades de Vida Diária), AVP medidor;
(Atividades de Vida Prática), Lazer e Relacionamento Social. - Usar batedeira;
- Untar formas;

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- Abrir o forno com segurança; 02 VESTUÁRIO - Vestir e despir roupa;


- Usar luvas para forno; - Abotoar e desabotoar;
- Colocar travessa no forno; - Abrir e fechar zíper e fivelas;
- Usar liquidificador; - Amarrar e desamarrar (dar nó e
- Quebrar ovos; laço);
- Bater massa; - Manter-se com roupas limpas;
- Despejar massa; - Calçar sapatos, meias.
- Bater carne;
- Planejar o cardápio da semana. 03 LOCOMOÇÃO - Deslocar-se de forma adequada;
- Corrigir erros de postura.
04 SERVIR - Arrumar a mesa / toalha /
REFEIÇÕES talheres / pratos / copos / 04 HIGIENE - Tomar banho;
guardanapos / etc.; - Pentear o cabelo;
- Levar a comida para a mesa; - Cortar e lixar as unhas;
- Servir a comida na mesa; - Lavar as mãos antes das
- Colocar e retirar a toalha; refeições;
- Dobrar guardanapos e toalha; - Fazer depilação;
- Retirar a sobra de comida dos - Usar lenço adequadamente;
pratos; - Usar absorvente higiênico;
- Limpar mesa e cadeiras; - Usar o banheiro corretamente;
- Varrer o chão; - Escovar os dentes;
- Lavar louça; - Manter uma boa aparência;
- Secar louça; - Desenvolver a feminilidade com
- Guardar corretamente a louça o uso de batom, esmalte,
nos armários; perfume, creme, etc.
- Lavar a pia;
- Limpar o fogão; 05 ALIMENTAÇÃO - Utilizar os talheres;
- Utilizar copo / xícara;
05 LAVANDERIA - Selecionar as roupas; - Orientar boas maneiras na
- Usar varal; mesa;
- Usar pregadores e cesto; - Alimentar-se adequadamente;
- Prender no varal; - Cortar carne, pão, legumes;
- Preparar a mesa ou tabua de - Guardar corretamente os
passar roupa; alimentos;
- Passar roupas simples; - Cozinhar.
- Passar camisetas ou vestido;
- Dobrar roupas passadas;
- Guardar corretamente as roupas
passadas.
Pensamento e Linguagem, o
06 COSTURA - Enfiar linha na agulha;
- Dar nó, laço; processo de elaboração
- Usar a tesoura; conceitual.
- Cortar a linha;
- Fazer alinhavo;
- Pregar botões; A construção do pensamento e da linguagem
- Remendar;
- Usar a máquina de costura.
Conforme Rabello e Passos3, no livro, “A construção do
pensamento e da linguagem”, Vygotsky estuda questões
07 TRABALHOS - Tapetes;
fundamentais do pensamento infantil, formula concepções
MANUAIS - Pinturas (caixas, tecido, telas,
inteiramente novas para a época em que o escreveu, articula
etc.);
- Guardanapos; seu pensamento em um bem urdido aparato conceitual e
- Alinhavos; sedimenta o processo infantil de aquisição da linguagem e do
- Vasos decorados; conhecimento com um sistema de categorias bem definidas,
- Porta guardanapos; subordinando todo o seu trabalho a uma clara orientação
- Crochê; epistemológica.
- Bordado ponto cruz; Para o autor A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto,
- Cachepôs de madeira, etc. sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão.
Essa função comunicativa está estreitamente combinada com
ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA – AVD o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica
porque permite a interação social e, ao mesmo tempo,
Nº ATIVIDADES TRABALHOS organiza o pensamento.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três
01 COMUNICAÇÃO - Estimular o uso da fala; fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função
- Aprimorar o uso de gestos e denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que
sinais; surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem
- Atender a porta / campainha; interior, intimamente ligada ao pensamento.
- Receber e executar instruções /
recados.

3 Texto adaptado de RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S.

Conhecimentos Específicos 23
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APOSTILAS OPÇÃO

A linguagem egocêntrica nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente
na nossa fala e no nosso pensamento.
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o O pensamento e a fala unem-se em pensamento verbal.
processamento de perguntas e respostas dentro de nós Neste significado há um sentido cognitivo e um afetivo, que
mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento, sempre estão intimamente entrelaçados.
representa a transição da função comunicativa para a função Para Vygotsky, a criança se inscreve desde os seus
intelectual. Nesta transição, surge a chamada fala egocêntrica. primeiros dias num sistema de comportamento social em que
Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz suas atividades adquirem significado. Sua relação com o
baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade. Esta ambiente se dá por meio da relação com outras pessoas,
fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um situação em que é oferecido a ela um conjunto de acepções, já
instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar culturalmente enraizado no grupo em que ela foi inserida. Os
uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a significados, por sua vez, são interiorizados ao longo de seu
criança está entretida. processo de desenvolvimento, culminando com o
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa aparecimento do pensamento verbal. Assim, o pensamento
mesma, e não uma linguagem social, com funções de verbal - síntese entre a atividade prática e a fala - é uma forma
comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é essencial de comportamento que se circunscreve num processo
porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor histórico-cultural e suas características e propriedades não
as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um podem ser vislumbradas nas formas naturais da fala e do
problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do pensamento.
pensamento / raciocínio.
Uma contribuição importante de Vygotsky, descrita no A teoria de Piaget sobre a Linguagem e o Pensamento
livro, é o fato de que, por volta dos dois anos de idade, o das crianças4
desenvolvimento do pensamento e da linguagem – que até
então eram estudados em separado – se fundem, criando uma Piaget em seus estudos tentou descobrir as características
nova forma de comportamento. que permeavam o pensamento das crianças, ou seja, buscou
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir mais saber sobre o que elas tinham do que o que lhes faltava.
o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se – a fase da Preferiu fazer isso do que enumerar as deficiências do
fala egocêntrica – é marcado pela curiosidade da criança pelas raciocínio infantil quando em comparação com os adultos.
palavras, por perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que Dessa forma, entendeu que a diferença entre o pensamento
é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário. das crianças e dos adultos era mais qualitativa do que
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a quantitativa.
criança progressivamente abstrai o som, adquirindo Com o uso de novos métodos e novos fatos conseguiu-se
capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Aí chegar as situações problemas, que deram origem as mais
estamos entrando na fase do discurso interior. Se, durante a variadas teorias, embora Piaget evitasse o uso destas, pois
fase da fala egocêntrica houver alguma deficiência de dava maior preferência aos fatos do que as experiências.
elementos e processos de interação social, qualquer fator que Contudo, não podemos separar totalmente a teoria dos fatos.
aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu
discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é O egocentrismo do pensamento das crianças é que liga as
importante para o cotidiano dos educadores, em que eles características da lógica infantil, pois demonstra todas as
podem detectar possíveis deficiências no processo de outras características que foram descobertas, quais sejam, o
socialização da criança. realismo intelectual, o sincretismo, além da dificuldade em
compreender as relações, de modo que o egocentrismo ocupa
Discurso interior e pensamento um lugar intermediário entre o pensamento autístico e o
pensamento orientado.
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica. Segundo Piaget, o pensamento egocêntrico é o elo entre o
É quando as palavras passam a ser pensadas, sem que autismo e a lógica, sendo que esta última aparece bem depois
necessariamente sejam faladas. É um pensamento em do autismo.
palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do No pensamento orientado, há uma adaptação à realidade,
discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver é consciente, já no autístico, trabalha-se com o subconsciente,
problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É quer dizer, os problemas encontrados não estão presentes no
algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos consciente, não tem adaptação com à realidade externa,
verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as construindo dentro de si a mesmo a própria realidade.
palavras certas para exprimir um pensamento.
O pensamento não coincide de forma exata com os As observações levaram a conclusão que todas as
significados das palavras. O pensamento vai além, porque conversações das crianças podem ser classificadas em dois
capta as relações entre as palavras de uma forma mais grupos: o socializado e o egocêntrico. O que diferencia ambos
complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita é o fato das suas funções.
e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é Na fala egocêntrica, a criança fala apenas dela, sem se
preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de preocupar com o interlocutor, não tenta se comunicar, nem
uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, aguarda resposta ou sequer quer saber se alguém o escuta.
podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra;
realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a Quando a criança tem sete ou oito anos de idades, a
transmissão do seu pensamento para outra pessoa. vontade de trabalhar com os outros começa a manifestar-se, e
Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o a fala egocêntrica ainda subsiste. Em sua descrição do discurso
último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um egocêntrico e desenvolvimento genético, Piaget sublinha que
último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera esse discurso não cumpre função no comportamento da
motivacional de nossa consciência, que abrange nossas criança, encontrando limitação quando a criança atinge a idade
inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, escolar.

4 Adaptado de: Vygotsky. Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem.

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APOSTILAS OPÇÃO

A teoria de Stern sobre o desenvolvimento da linguagem instintuais e da aprendizagem por “tentativas e erros”, “nada
mais, salvo o já conhecido processo de formação de hábitos”. E
O sistema de Wilhelm Stern defende a concepção pelos introspeccionistas que fogem a rebaixar o intelecto ao
intelectual sobre o desenvolvimento da linguagem na criança. nível do comportamento dos macacos, mesmo dos mais
Para ele, há uma diferença entre a origem da linguagem: avançados. Buehler diz com muito acerto que as ações dos
tendência expressiva, tendência social e tendência intencional. chimpanzés não têm qualquer relação com a linguagem; e que,
As duas primeiras estão subjacentes aos rudimentos de no homem, o pensamento mobilizado pela utilização dos
linguagem observados nos animais, enquanto a intencional é utensílios (Werkzeugdenken) também tem uma relação muito
especificamente humana. mais tênue com a linguagem e com os conceitos do que
O que existe na mente de uma criança entre um ano e meio qualquer outra forma de pensamento.
e dois anos contrasta com a ideia segundo a qual ela poderia A questão seria bem simples se os macacos não tivessem
ser capaz de adaptar com operações intelectuais complexas. A nenhum rudimento de linguagem, não tivessem nada que se
criança descobre de modo repentino que o discurso tem assemelhasse à linguagem. Ora, acontece que encontramos no
significado. chimpanzé uma linguagem relativamente bem desenvolvida,
que, sob certos aspectos — sobretudo foneticamente — não
A linguagem expressiva e a comunicativa tem seu deixa de ser semelhante à humana. Esta linguagem tem uma
desenvolvimento ocorrido desde os animais mais inferiores característica notável: a de funcionar independentemente do
até os antropoides e ao homem. Esse tipo de linguagem é intelecto. Koehler, que estudou os chimpanzés durante muitos
primordial e surge de uma vez, fazendo com que a criança anos na Estação de Antropoides das Ilhas Canárias, ensina-nos
descubra a função da linguagem através de uma operação que as suas expressões fonéticas denotam apenas desejos e
puramente lógica. estados subjetivos; são expressões de afetos e nunca um sinal
A interpretação é uma das primeiras palavras das crianças, de algo objetivo” Mas a fonética dos chimpanzés e a humana
pois é a pedra de toque de todas as teorias da linguagem têm tantas coisas em comum que podemos confiantemente
infantil. presumir que a ausência de um discurso do gênero humano
não se deve a nenhuma causa periférica.
As raízes genéticas do pensamento e da linguagem5 O chimpanzé é um animal extremamente gregário e
responde de forma muito intensa à presença doutros
O fato mais importante posto a nu pelo estudo genético do exemplares da sua espécie. Koehler descreve formas
pensamento e a linguagem é o fato de a relação entre ambas altamente diversificadas de “comunicação linguística” entre
passar por muitas alterações; os progressos no pensamento e chimpanzés. Em primeiro lugar vem o seu vasto repertório de
na linguagem não seguem trajetórias paralelas: as suas curvas expressões afetivas: jogo facial, gestos, vocalização; a seguir
de desenvolvimento cruzam-se repetidas vezes, podem encontram-se os movimentos que exprimem as emoções
aproximar-se e correr lado a lado, podem até fundir-se por sociais; gestos de saudação, etc. Os macacos são capazes tanto
momentos, mas acabam por se afastar de novo. Isto aplica-se de “compreender mutuamente os seus gestos” como também
tanto ao desenvolvimento filogenético como ao ontogenético. de “exprimir”, por meio de gestos, desejos que envolvem
Nos animais, o pensamento e a linguagem têm várias raízes outros animais. Habitualmente, um chimpanzé executará o
e desenvolvem-se segundo diferentes trajetórias de início de uma ação que pretende que outro animal execute —
desenvolvimento. por exemplo, empurrá-lo-á e executará os movimentos iniciais
Este fato é confirmado pelos estudos recentes de Koehler, de marcha para “convidar” o outro a segui-lo, ou agarrará o ar
Yerkes e outros sobre os macacos. Koehler provou que o quando pretende que o outro lhe dê uma banana. Todos estes
surgimento de um intelecto embrionário nos animais — isto é, gestos são gestos relacionados diretamente com a própria
o aparecimento de pensamento no sentido próprio do termo ação. Koehler menciona que o experimentador é levado a
— não se encontra de maneira nenhuma relacionado com a utilizar meios de comunicação elementares essencialmente
linguagem. As “invenções” dos macacos na execução e semelhantes para transmitir aos macacos aquilo que espera
utilização de instrumentos, ou no capítulo da descoberta de deles.
caminhos indiretos para a solução de determinados Estas observações confirmam sobejamente a opinião de
problemas, embora sejam sem sombra de dúvida pensamento Wundt segundo a qual os gestos de apontar que constituem o
embrionário, pertencem a uma fase pré-linguística do primeiro estádio do desenvolvimento da linguagem humana
desenvolvimento do pensamento. não aparecem ainda nos animais, mas alguns gestos dos
Na opinião de Koehler, as suas investigações mostram que macacos são uma forma de transição entre o movimento de
o chimpanzé evidencia um esboço de comportamento preensão e o de apontar. Consideramos que este gesto de
intelectual do mesmo gênero e do mesmo tipo que o do transição é um passo muito importante da expressão afetiva
homem. São a ausência de linguagem, “esse instrumento não adulterada para a linguagem objetiva.
técnico auxiliar infinitamente valioso”, e a pobreza das Não há no entanto provas factuais de que os animais
imagens, “esse material intelectual extremamente tenham atingido o estádio da representação objetiva de
importante”, que explicam a tremenda diferença existente nenhuma das suas atividades. Os chimpanzés de Koehler
entre os antropoides e os homens mais primitivos “e vedam ao brincavam com barro colorido, começando por “pintar., com
chimpanzé o mais pequeno desenvolvimento cultural” os lábios e a língua e passando mais tarde para pincéis a sério;
Vigora considerável desacordo entre os psicólogos das mas estes animais — que normalmente transferem para as
diferentes escolas acerca da interpretação teórica das suas brincadeiras o uso dos utensílios e outros
descobertas de Koehler. A massa de literatura crítica a que comportamentos aprendidos em atividades “sérias” (isto é, em
estes estudos deram origem representa uma grande variedade experiências) e, vice-versa — nunca evidenciaram a mínima
de pontos de vista o que torna tanto mais significativo o intenção de representar o quer que fosse nos seus desenhos
ninguém contestar os fatos ou a dedução que mais nem o mais leve indício de atribuírem o mais pequeno
particularmente nos interessa: a independência entre as ações significado aos seus produtos. Afirma Buehler:
do chimpanzé e a linguagem. Isto é admitido de boa mente, Certos fatos põem-nos de sobreaviso no sentido de não
mesmo pelos psicólogos que, como Thorndyke e Borovski. sobrestimarmos as ações dos chimpanzés. Sabemos que nunca
Nada veem nas ações do chimpanzé para lá dos mecanismos nenhum viajante confundiu um gorila ou um chimpanzé com

5 Adaptado de: Vygotsky. Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem.

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um homem, e que nunca ninguém observou entre eles nenhum tipo e nível que lhe permitem utilizar os sons tendo em vista o
dos utensílios ou métodos tradicionais que, nos homens, discurso oral
embora variando com as tribos, indicam a transmissão de Ontogeneticamente, a relação entre a gênese do
geração em geração das descobertas já feitas, nenhuma das pensamento e a da linguagem é muito mais intrincada e
arranhadelas que executam na areia ou no barro poderia ser obscura; mas também aqui poderemos distinguir duas linhas
confundida com desenhos que representassem alguma coisa de evolução distintas, resultantes de duas raízes genéticas
ou com decorações traçadas durante a atividade lúdica; não há diferentes.
linguagem representacional, isto é, não há sons equivalentes a A existência de uma fase pré-linguística do
nomes. Todo este conjunto de circunstâncias deve ter alguma desenvolvimento do pensamento na infância só recentemente
causa intrínseca. foi corroborada por provas objetivas. Aplicaram-se a crianças
De entre os observadores modernos dos macacos, Yerkes que ainda não tinham aprendido a falar as mesmas
deve ser o único que explica a sua carência de linguagem por experiências que Koehler levou a cabo com chimpanzés. O
outras razões que não sejam as “causas intrínsecas”. A sua próprio Koehler havia já realizado ocasionalmente essas
investigação sobre o cérebro do orangotango produziu dados experiências com crianças com o objetivo de estabelecer
muito semelhantes aos de Koehler; mas levou as suas comparações e Buehler empreendeu um estudo sistemático
conclusões mais longe, pois admite uma “inteleção mais das crianças com a mesma orientação. Os resultados foram
elevada” nos orangotangos — ao nível é certo de uma criança semelhantes para as crianças e os chimpanzés.
de três anos, pelo menos.
Yerkes deduz esta intelecção com base em semelhanças As raízes pré-intelectuais da linguagem no
superficiais entre o comportamento dos homens e o dos desenvolvimento da criança há muito que são conhecidas. O
antropoides: não apresenta nenhuma prova objetiva de que os papaguear das crianças, o seu choro e inclusivamente as suas
orangotangos resolvam os problemas socorrendo-se da primeiras palavras são muito claramente estádios do
intelecção, isto é, de “imagens”, ou de que sigam e discirnam os desenvolvimento da linguagem que nada têm a ver com o
estímulos. No estudo dos animais superiores, pode-se usar a desenvolvimento do pensamento. Tem-se encarado duma
analogia com bons resultados, dentro dos limites da forma generalizada estas manifestações como formas de
objetividade, mas basear uma hipótese em analogias não será comportamento predominantemente emocionais.
com certeza um procedimento científico correto. Contudo, nem todas servem apenas a função de alívio de
Koehler, por outro lado, foi mais além: não se limitou a uma tensão. Investigações recentes das primeiras formas de
utilizar a simples analogia na sua investigação da natureza dos comportamento das crianças e das primeiras reações das
processos intelectuais dos chimpanzés. Mostrou também, por crianças à voz humana (efetuadas por Charlotte Buehler e o
meio de uma análise experimental rigorosa, que o êxito das seu círculo) mostraram que a função social da linguagem já é
ações dos animais dependia do fato de eles poderem ver todos claramente evidente durante o primeiro ano de vida, quer
os elementos da situação simultaneamente — este fator era dizer, no estádio pré-intelectual do desenvolvimento da
decisivo para o seu comportamento. Se o pau que utilizavam linguagem de criança.
para chegar a um fruto colocado para lá das barras fosse Observaram-se reações bem definidas à voz humana logo
ligeiramente deslocado de forma que o utensílio (o pau) e o no terceiro mês de vida e a primeira reação especificamente
objetivo (o fruto) deixassem de ser visíveis num só relance, a social à voz durante o segundo mês Estas investigações
resolução do problema tornar-se-ia muito difícil, também estabeleceram que as gargalhadas, os sons
frequentemente impossível até (especialmente durante as inarticulados, os movimentos etc., são meios de contato social
primeiras experiências). Os macacos tinham aprendido a logo durante os primeiros meses da vida das crianças.
alongar os seus utensílios, inserindo um pau no orifício Assim, as duas funções da linguagem que observamos no
praticado noutro pau. Se por acaso os dois paus se cruzassem desenvolvimento filogenético já existem e são evidentes nas
nas suas mãos formando um X, tornavam-se incapazes de crianças com menos de um ano de idade.
realizar a operação familiar muito praticada de alongar o Mas a mais importante descoberta é o fato de em
utensílio. Poderiam citar-se dúzias de exemplos destes determinado momento por alturas dos dois anos de idade, as
extraídos das experiências de Koehler. curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem,
Koehler considera que a presença real de uma situação até então separadas, se tocarem e fundirem, dando início a
bastante simples é condição indispensável em qualquer uma nova forma de comportamento. Foi Stern quem pela
investigação do intelecto dos chimpanzés, condição sem a qual primeira vez e da melhor forma nos deu uma descrição deste
o seu intelecto não funcionará: conclui daqui que as limitações momentoso acontecimento. Ele mostrou como a vontade de
intrínsecas da “imagética” (ou “ideação”) são uma dominar a linguagem se segue à primeira compreensão difusa
característica fundamental do comportamento intelectual do dos propósitos desta, quando a criança “faz a maior descoberta
chimpanzé. Se aceitarmos as teses de Koehler, então a hipótese da sua vida”, a de que “todas as coisas têm um nome”
de Yerkes parece mais do que duvidosa.
Em conexão com estes recentes estudos experimentais e Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir
observações do intelecto e da linguagem dos chimpanzés, o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se, é
Yerkes apresenta novo material sobre o seu desenvolvimento indicado por dois sintomas objetivos que não deixam lugar a
linguístico e uma nova e engenhosa teoria que pretende dúvidas:
explicar a sua carência de verdadeira linguagem. “As reações (I) a súbita e ativa curiosidade da criança pelas palavras, as
orais”, afirma ele, “são muito frequentes e variadas nos suas perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que é isto?”)
chimpanzés jovens, mas a linguagem no sentido humano não e,
existe”. 0 seu aparelho vocal é tão desenvolvido e funciona tão (II) o consequente enriquecimento do vocabulário que
bem como o do homem. O que lhe falta é a tendência para progride por saltos e muito rapidamente.
imitar sons. A sua mímica está quase totalmente dependente
dos estímulos óticos; eles copiam ações, mas não sons. São Antes do ponto de viragem, a criança reconhece (como
incapazes de fazer o que o papagaio faz com tanto êxito. alguns animais) um pequeno número de palavras que, tal
Se as tendências imitativas do papagaio se combinassem como no condicionamento, substituem objetos, pessoas, ações,
com o calibre intelectual das do chimpanzé, este último estados, desejos. Nessa idade, a criança só conhece as palavras
possuiria sem dúvida linguagem, já que tem um mecanismo que lhe foram transmitidas por outras pessoas. Agora a
vocal semelhante ao do homem, assim como um intelecto de situação altera-se: a criança sente a necessidade das palavras

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e, por meio das suas perguntas, tenta ativamente aprender os resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como
signos relacionados com os objetos Parece ter descoberto a dos olhos e das mãos”. (Vygotsky)
função simbólica das palavras. A linguagem, que no estádio A criança quando se confronta com um problema mais
anterior era afetiva-conotativa entra agora no estádio complicado, apresenta ótima variedade complexa de respostas
intelectual. As trajetórias do desenvolvimento da linguagem e que incluem tentativas diretas de atingir o objetivo, uso de
do pensamento encontraram-se. instrumentos, fala dirigidas as pessoas ou que simplesmente
acompanha a ação e apelos verbais direto ao objeto de atenção.
Em resumo, devemos concluir que: O desenvolvimento da percepção e da atenção, o uso de
(1) No seu desenvolvimento ontogenético, o pensamento e instrumentos e da fala afeta várias funções psicológicas:
a linguagem têm raízes diferentes. Operações sensório-motoras e atenção – cada uma das quais é
(2) No desenvolvimento linguístico da criança, podemos parte de um sistema dinâmico de comportamento.
estabelecer com toda a certeza uma fase pré-intelectual no
desenvolvimento linguístico da criança — e no seu Para o desenvolvimento da criança principalmente na
desenvolvimento intelectual podemos estabelecer uma fase primeira infância, o que se reveste de importância primordial
pré-linguística. são as interações com os adultos (assimétricas), portadores de
3) A determinada altura estas duas trajetórias encontram- todas as mensagens de cultura. Nessa interação o papel
se e, em consequência disso, o pensamento torna-se verbal e a essencial corresponde aos diferentes sistemas semióticos
linguagem racional. seguida de uma função individual: começam a ser utilizado
como instrumentos de organização e de controle do
Importante ainda traçarmos alguns pontos sobre a comportamento individual. A abordagem dialética, admitindo
obra de Vygostsky, L. S. Construção Social da Mente. São a influência da natureza sobre o homem, afirma que o homem,
Paulo: Martins Fontes, 2002. por sua vez, age sobre a natureza e cria, através das mudanças
por ele provocadas, novas condições naturais para a sua
Vygotsky, L. S. Construção Social da Mente. São Paulo: existência. Essa posição representa o elemento-chave da
Martins Fontes, 20026 abordagem de estudo e interpretação das funções psicológicas
superiores FPS, do homem e serve como base dos novos
No livro Construção Social da Mente – Vygotsky tem por métodos de experimentação e análise.
objetivo caracterizar os aspectos tipicamente humanos do Com relação à interação entre aprendizado e ensino – O
comportamento e elaborar hipóteses de como essas aprendizado é considerado um processo puramente externo
características se desenvolveram durante a vida do indivíduo que não está envolvido ativamente no desenvolvimento,
e enfatiza três aspectos: simplesmente se utilizará dos avanços do desenvolvimento ao
- Relação entre seres humanos e o seu ambiente físico e invés de fornecer um impulso para modificar seu curso. Para
social. Vygotsky não existe melhor maneira de descrever a educação
- Novas formas de atividade que fizeram com que o do que considerá-la como a organização dos hábitos de
trabalho fosse o meio fundamental de relacionamentos entre conduta e tendências comportamentais adquiridos. O
o homem e a natureza e as consequências psicológicas dessas aprendizado não altera nossa capacidade global de focalizar a
formas de atividade. atenção, ao invés disso, desenvolve várias capacidades de
- A natureza das relações entre o uso de instrumento e focalizar a atenção sobre várias coisas.
desenvolvimento da linguagem. Numa abordagem sobre a zona de desenvolvimento
proximal, o ponto de partida da discussão é o fato de que o
O estudo do desenvolvimento infantil começou a ser feita aprendizado das crianças começa muito antes delas
por comparação à botânica, associado à maturação do frequentam a escola. A zona de desenvolvimento proximal é
organismo como um todo. Como maturação por si só, é um resumidamente à distância entre o nível de desenvolvimento
fator secundário e não explica o desenvolvimento de formas real, que se costuma determinar através da solução independe
mais complexas do comportamento humano, a psicologia de problemas e o nível de desenvolvimento potencial,
moderna passou a estudar a criança a partir dos modelos determinado através da solução de problemas sob orientação
zoológicos, isto é, da experimentação animal. Segundo de um adulto. O brinquedo tem um papel marcante para
Vygotsky, o momento de maior significado no curso do desenvolvimento, o brinquedo não é uma atividade pura e
desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas simples de prazer a uma criança, pois há outras atividades que
puramente humanas de inteligência prática e abstrata, dão mais prazer, como o habito de chupar chupeta, em relação
acontece quando a fala e a atividade prática estão juntas. A aos jogos que marcam a perda e ganho com frequência e é
criança, antes de controlar o próprio comportamento, começa acompanhado pelo desprazer da perda. A criança em idade
a controlar o ambiente com a ajuda da fala, produzindo novas pré-escolar envolve-se num mundo ilusório para resolver suas
relações com o ambiente, além de uma nova organização do questões e considera essencial e reconhece a enorme
próprio ambiente. A criação dessas formas influência do brinquedo no desenvolvimento da criança. O
caracteristicamente humanas de comportamento produz o brinquedo não é o aspecto predominante da infância, mas um
intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: à forma fator muito importante do desenvolvimento, demonstra o
especificamente humana do uso de instrumento. significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do
Experiências feitas por Vygotsky concluíram que a fala da próprio brinquedo, de uma predominância de situações
criança é tão importante quanto a ação para atingir um imaginárias para as predominâncias de regras e mostra as
objetivo. Sua fala e ação fazem parte de uma mesma função transformações internas das crianças que surgem em
psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em consequência do brinquedo.
questão. Conclui-se também que quanto mais complexa a ação
exigida pela situação e menos direta a solução, maior a Questões
importância que a fala adquire na operação como um todo.
“Essas observações, me levam a concluir que as crianças 01. (Prefeitura de Piraúba/MG - Psicólogo Clínico - MS
CONCURSOS/2017). Com relação aos pressupostos teóricos

6 Texto adaptado de: Lídia Lindislay Ocanha Morale, extraído de:


http://lidialindislay.blogspot.com.br/2010/03/resumo-de-livros-vygotsky-lev-
formacao.html

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do desenvolvimento humano, analise as assertivas e assinale a 03. Resposta: D


alternativa incorreta: Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é preciso
(A) Vygotski não acredita que na presença de condições um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma
adequadas de vida, e tendo cultura, o ser humano não se reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos
desenvolverá intensamente, evidenciando o processo de concluir que o pensamento não se reflete na palavra; realiza-
construção do desenvolvimento histórico-cultural do se nela, a medida em que é a linguagem que permite a
indivíduo. transmissão do seu pensamento para outra pessoa.
(B) O estudo da Teoria Histórico Cultural é a compreensão O pensamento e a fala unem-se em pensamento verbal.
de como se alteram as organizações de desejos, opiniões, Neste significado há um sentido cognitivo e um afetivo, que
ansiedade e habilidades presentes nas diferentes etapas do sempre estão intimamente entrelaçados.
ciclo vital. Pois acredita que os seres humanos são pessoas
inteiras e todos os aspectos de desenvolvimento estão
intimamente ligados, até mesmo no útero.
(C) O desenvolvimento da personalidade se constitui de O papel do professor na
maneira espontânea ainda no período da infância e, para a Educação Inclusiva.
Teoria Histórico-Cultural, a idade pré-escolar e a adolescência
marcam momentos fundamentais desse desenvolvimento, que
é um dos desenvolvimentos do ser humano.
(D) Vygotski destinou seus estudos também à origem da O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
linguagem e sua relação com o desenvolvimento do
7O sistema educacional brasileiro passou por grandes
pensamento a partir de uma abordagem histórica, o que o
tornou o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos mudanças nos últimos anos e tem conseguido cada vez mais
pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada respeitar a diversidade, garantindo a convivência e a
pessoa. aprendizagem de todos os alunos.
As práticas educacionais desenvolvidas nesse período e
02. (SEPLAG/MG – Pedagogia – BFC) Para ser que promovem a inclusão na escola regular dos alunos com
considerada como possuidora de certa habilidade, a criança deficiência (física, intelectual, visual, auditiva e múltipla), com
tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa sem nenhum transtorno global do desenvolvimento e com altas habilidades,
tipo de ajuda. Denomina- se essa capacidade de realizar tarefas revelam a mudança de paradigma incorporada pelas equipes
de forma independentes: pedagógicas. Essas ações evidenciam os esforços dos
(A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial. educadores em ensinar a turma toda e representam um
(B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal. conjunto valioso de experiências.
(C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade. A educação especial como modalidade de ensino ainda está
(D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real. se difundindo no contexto escolar. Para que se torne efetiva,
precisarão dispor de redes de apoio que complementem o
03. (Prefeitura de Tijucas/SC - Professor - Séries trabalho do professor. Atualmente, as redes de apoio
Iniciais – FEPESE). A perspectiva histórico-cultural de existentes são compostas pelo Atendimento Educacional
Vigotsky levou-o a considerar que a linguagem é um Especializado (AEE) e pelos profissionais da educação especial
instrumento psicológico que age de forma mediada no estágio (intérprete, professor de Braille, etc.) da saúde e da família.
precoce do pensamento (a atividade prática). No artigo "Da Educação segregada à educação inclusiva:
Para o referido autor o resultado desse caráter mediado é: uma breve reflexão sobre os paradigmas educacionais no
(A) A linguagem escrita. contexto da educação especial brasileira", Rosana Glat e
(B) A linguagem gestual. Edicléia Mascarenhas Fernandes explicam: "Neste contexto é
(C) A escrita espontânea. que se descortina o novo campo de atuação da Educação
(D) O pensamento verbal. Especial. Não visando importar métodos e técnicas
(E) A leitura convencional. especializados para a classe regular, mas sim, tornando-se um
sistema de suporte permanente e efetivo para os alunos
Respostas especiais incluídos, bem como para seus professores. Como
mencionado, a Educação Especial não é mais concebida como
01. Resposta: A um sistema educacional paralelo ou segregado, mas como um
Para Vygotsky, a criança se inscreve desde os seus conjunto de recursos que a escola regular deverá dispor para
primeiros dias num sistema de comportamento social em que atender à diversidade de seus alunos."
suas atividades adquirem significado. Sua relação com o Com base nesse cenário, vou abordar neste artigo dois
ambiente se dá por meio da relação com outras pessoas, importantes eixos de reflexão na Educação inclusiva: a gestão
situação em que é oferecido a ela um conjunto de acepções, já da sala de aula e a formação de educadores.
culturalmente enraizado no grupo em que ela foi inserida.
2. Na sala de aula: respeito aos diferentes ritmos de
02. Resposta: D aprendizagem
Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento estão O professor, como organizador da sala de aula, guia e
inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do indivíduo. orienta as atividades dos alunos durante o processo de
Nível de desenvolvimento real: Referente as conquistas que já aprendizagem para aquisição dos saberes e competências. O
estão consolidadas na criança, ela já aprendeu e domina. Indica projeto pedagógico da escola direciona as ações do professor,
os processos mentais da criança que já se estabeleceram. que deve assumir o compromisso com a diversidade e com a
Representa as funções já amadurecidas. Exemplos: andar de equalização de oportunidades, privilegiando a colaboração e a
bicicleta, cortar com tesoura, dominar o teclado. cooperação.
Na sala de aula inclusiva, considera-se que os conteúdos
escolares são considerados objetos da aprendizagem, aos

7https://novaescola.org.br/conteudo/588/educacao-inclusiva-desafios-da-

formacao-e-da-atuacao-em-sala-de-aula

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alunos cabe atribuir significados e construir conhecimentos e com o grupo e a dinâmica de sua docência, poderá eleger os
o professor assume a função de mediar esse processo. procedimentos de ensino.
O papel do educador é intervir nas atividades que o aluno As diretrizes serão planejadas e atualizadas de acordo com
ainda não tem autonomia para desenvolver sozinho, ajudando a evolução do aluno. O período de referência desse
o estudante a se sentir capaz de realizá-las. É com essa planejamento é variável. Planejamentos de curto prazo
dinâmica que o professor seleciona procedimentos de ensino mostram-se mais úteis. Há possibilidade de adequar o
e de apoio para compartilhar, confrontar e resolver conflitos planejamento para períodos de um mês, por exemplo, ou
cognitivos. considerar apenas uma unidade didática. A análise das
Quando os procedimentos de ensino privilegiam a necessidades professor-aluno é quem vai ditar os ajustes
construção coletiva e são organizados com base nas necessários e a previsão de tempo.
necessidades dos alunos, leva-se em conta os diferentes Durante muito tempo aprendemos que era preciso
estilos, ritmos e interesses de aprendizagem de cada um. Ou identificar o que os alunos não sabiam e quais eram as
seja, todos os estudantes são diferentes e suas necessidades limitações. Quando conhecemos as características de
educacionais poderão requerer apoio e recursos determinadas deficiências reconhecemos suas restrições.
diferenciados. A avaliação da aprendizagem, por sua vez, Sabemos, por exemplo, que o aluno com deficiência visual não
deverá ser coerente com os objetivos, as atividades e os acessará as aulas pela visão, pois sua condição restritiva é
recursos selecionados. Se o processo de aprendizagem for sensorial. Muitas vezes, identificar as limitações pode ter um
redimensionado, o procedimento de avaliação também deverá efeito paralisante. Por outro lado, se identificamos as
ser. competências, encontramos alternativas de ensino e
A avaliação processual, que é realizada durante todas as condições favoráveis à participação nas aulas e à
atividades, poderá ser mais esclarecedora, pois fornece dados aprendizagem.
sobre o desempenho do aluno em diversas situações. Essa Maria Teresa Mantoan, afirma em "Caminhos pedagógicos
forma de avaliação facilita o reconhecimento das necessidades da educação inclusiva": "A inclusão não prevê a utilização de
dos alunos e permite que o professor redimensione os práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela
indicadores de aprendizagem. As observações sobre o deficiência e/ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem
desempenho dos alunos constituem ferramentas importantes nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o
na adaptação do planejamento. Por fim, os resultados obtidos professor levará em conta esses limites e explorará
serão consistentes desde que sejam considerados indicadores convenientemente as possibilidades de cada um."
de aprendizagens condizentes com a intencionalidade do Professores relatam que o ensino que oferecem na sala de
ensino. aula é insuficiente para atender aos alunos com alguma
O planejamento e a organização das estratégias para Necessidade Educacional Especial (NEE). Esse sentimento por
aprendizagem podem variar de acordo com o estilo do parte dos professores ocorre quando as expectativas estão
professor. Contudo, é preciso que o planejamento tenha centradas na manutenção de um currículo único, pré-
flexibilidade na abordagem do conteúdo, na promoção de determinado para todos os alunos. Ou ainda, quando
múltiplas formas de participação nas atividades educacionais permanece o propósito do ensino específico para
e na recepção dos diversos modos de expressão dos alunos. determinadas necessidades.
O educador deverá considerar no planejamento tempo e A disposição do professor diante da classe influencia
estratégias para conhecer seus alunos - em especial aqueles diretamente a motivação e o comportamento dos alunos. Para
que poderão requerer apoios específicos. Para fornecer boa que o projeto inclusivo seja colocado em ação, é necessário que
compreensão sobre os alunos e suas condições de o professor demonstre que está disponível e tenha atitude
aprendizagem, a observação precisa utilizar diferentes positiva para criar uma atmosfera acolhedora na classe.
estratégias e ser feita em diversos momentos da aula. Os Porém, é preciso lembrar que esse novo desafio não deve ser
critérios de observação devem ser selecionados com base no encarado somente pelo professor. Ele deve pertencer a uma
currículo e nas habilidades que o professor considerou no rede de apoio e sentir-se ajudado por toda a equipe de gestores
planejamento. e profissionais da educação especial.
Nesse processo, a função do gestor e o apoio da equipe são
3. Foco nas competências dos alunos, e não em suas fundamentais, legitimando o educador em suas atribuições,
limitações valorizando suas competências pedagógicas para garantir o
O professor consciente da importância de adequar seu ensino de todos os alunos.
planejamento de acordo com as necessidades dos alunos, pode
se sentir despreparado para identificar suas necessidades e 4. Desafios da inclusão devem ser debatidos por toda a
avaliá-los. Quando o educador possui instrumentos para equipe
identificar a potencialidade e os saberes de seus alunos, sente- A partir do século 21, a produção de conhecimento ocorre
se capaz de ajustar sua práxis para aqueles com Necessidades em um ritmo muito acelerado. O acesso à informação e ao
Educacionais Especiais. Porém, o professor precisa estar conhecimento acontece também com muita rapidez. Com isso,
ciente de sua capacidade para tornar possível o processo há necessidade de estudo constante e atualização por parte
inclusivo. Para isso, deverá buscar novos conhecimentos e dos profissionais. Some-se a isso o fato de a educação inclusiva
melhorar sua formação, aprendendo novas formas de pensar e ser uma prática em construção. O saber está sendo construído
agir para atender as demandadas exigidas em sua atuação à medida que as experiências se acumulam, aprimoram as
profissional. práticas anteriores e concretizam a inclusão.
Para conhecer seus alunos, suas competências, suas A formação e a aquisição de conhecimentos sobre a
necessidades educacionais específicas e possíveis formas de educação inclusiva são imprescindíveis para fundamentar a
aprendizagem, o professor precisa de tempo. Reconhecer que prática pedagógica dos professores. Autores como José
cada aluno pertence ao grupo dependerá da comunicação e da Geraldo Silveira Bueno, Maria Teresa Mantoan e Rosalba Maria
interação eficaz entre professor-aluno, aluno-aluno, assim Cardoso Garcia destacam a necessidade de rever os cursos de
como da observação constante durante todo o processo de formação de educadores.
aprendizagem. A formação continuada possibilita ao professor a
Os sistemas de apoio colaboram com o professor nessa atualização e a transformação de sua prática profissional. O
tarefa, mas somente o educador, que está em sala de aula e acesso ao conhecimento e o exercício da reflexão permitem a
conhece o processo de ensino e aprendizagem, a convivência

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ressignificação dos princípios e a possibilidade de mudar os participar de cursos, também podem atuar como
paradigmas já construídos. multiplicadores de conhecimento para a equipe.
Quando as escolas disponibilizam espaços de integração Quando o conceito de inclusão escolar é efetivamente
dos professores - para que possam manifestar suas compreendido, dificuldades vivenciadas na prática são
necessidades -, elas cumprem sua função na Educação solucionadas. Muitas vezes, valores pré-concebidos pelas
inclusiva. A equipe gestora, que respeita as necessidades dos pessoas, informações incorretas, até mesmo a falta de
docentes, poderá organizar reuniões com temas para estudo e informação e de conhecimento constituem os maiores
pesquisa para a formação continuada dos educadores. A obstáculos à prática inclusiva.
equipe estará disposta a compartilhar questões trazidas pelos David Rodrigues destaca, no artigo "Educação inclusiva:
professores, como relatos das condições de aprendizagens dos mais qualidade à diversidade", destaca: "A Educação Inclusiva
alunos, situações da sala de aula e discussão de estratégias é, pois, uma ruptura com os valores da escola tradicional.
para enfrentar os desafios. Rompe com o conceito de um desenvolvimento curricular
É preciso refletir sobre a qualidade da formação e as único, com o de aluno padrão e estandardizado, de
opções de atualização profissional. A educação para a aprendizagem como transmissão, de escola como estrutura de
diversidade pressupõe a preparação do professor e do sistema reprodução. É, assim, muito ambiciosa como objetivo. Os
educacional com a: a valorização profissional do educador, por professores, apesar de serem muitas vezes apontados como?
meio de apoio e estímulo; o aperfeiçoamento das escolas, para os bodes expiatórios? da inclusão, são a esperança dela. Eles
a oferta do ensino; o apoio e parceria da Educação especial e a são parte das suas? boas? notícias."
promoção do trabalho em equipe. Há de se reconhecer que o educador transpôs barreiras
significativas no processo de transformação que a escola
5. Formação inicial e continuada conectadas ao vivencia nos últimos dez anos. O professor não pode mais ser
cotidiano escolar responsabilizado pelo discurso da resistência ou da negação. A
Educar na diversidade exige um direcionamento para o educação inclusiva já é realidade no ensino regular e isso se
estudo de práticas pedagógicas que valorizem as diferenças e deve aos esforços dos educadores.
a diversidade nas salas de aula. Devem ser considerados dois Estamos vivendo um momento de ajustar as necessidades
importantes eixos na formação e atualização dos profissionais: dos profissionais da educação às necessidades dos alunos.
o primeiro refere-se ao conteúdo e o segundo, à forma de Para isso, direcionemos agora os nossos esforços na atuação
desenvolvê-lo. dos gestores, no aproveitamento dos recursos, na
O programa curricular dos cursos de formação de reorganização dos sistemas de ensino para que seja possível
professores prioriza o estudo das deficiências quanto às suas guiar o professor, como propulsor que é; apoiá-lo a não
caracterizações e condições específicas. Esse programa esperar esquemas pré-definidos; acompanhá-lo na construção
mantém o modelo conhecido da Educação especial, que dos saberes - para que possa, com autonomia, efetivar a sala
sobrepõe a formação do especialista à formação do professor de aula inclusiva e tornar-se sujeito da aprendizagem e de sua
comum. atuação profissional.
Nessa configuração, os conteúdos parecem apontar para a
falta de temas pragmáticos no processo de ensino e Sob outro ponto de vista
aprendizagem; a ausência da articulação entre educação 8Comete grande equívoco quem pensa que o ato de incluir-

especial, rede de apoio e o ensino comum, e a carência das se, o esforço de socializar-se, está restrito aos portadores de
dimensões da perspectiva inclusiva. São visíveis no currículo necessidades especiais. Avaliando todo o nosso processo de
as falhas de conteúdo relacionadas aos serviços de apoio vida, desde o ventre materno à velhice, todos nós estamos em
inseridos na escola, à integração com a família, ao papel dos constante movimento de inclusão.
gestores, à gestão da sala de aula, etc. Quando rompemos a vida intrauterina e despertamos no
Quanto à metodologia, vários estudos afirmam que os nascimento, passamos imediatamente a ser incluídos. No
processos de análise e reflexão da própria ação são um primeiro momento, em nosso núcleo familiar. Aos poucos,
importante instrumento para a transformação da prática do todos ao redor terão que se adaptar à chegada de mais um, que,
professor. Há necessidade de as informações, nos cursos diga-se de passagem, muda toda uma rotina. Depois, temos
iniciais, serem atualizadas e inter-relacionadas com o que lutar para que sejamos incluídos nos grupos com os quais
cotidiano escolar. desejamos interagir.
Pesquisas apontam que as lacunas presentes nos cursos de Lutar para nos incluir numa escola, num curso, na turma
formação podem deixar a prática dos professores do clube, no time de futebol, nos grupos religiosos… Mais
desconectada da realidade dos alunos. Vale destacar que a tarde, nas turmas do cursinho, na turma dos programas de fim
metodologia dos programas de atualização deve considerar a de semana… Temos que nos incluir, também, na turma do
prática, as experiências e o saber fazer do professor. Quer computador e logo teremos que nos incluir na vida
dizer, é preciso considerá-lo protagonista no contexto em que profissional, ensinar por nosso esforço e dedicação que somos
atua. capazes, que a sociedade pode nos confiar a tarefa e execução
Uma boa alternativa para a atualização profissional é a da proposta profissional. Temos assim que nos incluir no
implementação de espaços de discussão em que se valorize a mundo, para que vivamos, nos socializemos e cresçamos a
observação, análise e reflexão crítica sobre a própria prática, partir dessa convivência.
com a participação de toda a equipe na própria unidade Ainda existem as inclusões relativas a cada indivíduo,
escolar. aquelas que vão acontecendo paralelamente a todas as já
Os profissionais da educação especial e dos serviços de citadas. Incluir-nos no paradigma de beleza construído pala
apoio podem complementar essa formação, participando de sociedade, nos padrões da moda de cada estação… É o “feio”
reuniões ou proferindo encontros e cursos na própria unidade. que precisa ser incluído no universo dos “bonitos”, o idoso que
Os gestores poderão exercer o papel de mediadores, ao precisa incluir-se numa sociedade que demonstra que, cada
articular o conhecimento dos profissionais da educação vez mais, não está preparada para abraçar seus “velhos”, o
especial com as necessidades e experiências dos professores analfabeto que precisa incluir-se numa sociedade de signos,
da sala regular. Professores que têm a oportunidade de nem sempre fáceis de serem decifrados…

8http://revistapontocom.org.br/edicoes-anteriores-artigos/o-papel-do-professor-

na-educacao-inclusiva

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Inclusão, inclusão, inclusão… no que se refere a necessidade especial específica de cada caso,
É de inclusão que se vive a vida. Para Paulo Freire, é assim para posteriormente, serem avaliadas e direcionadas.
que os homens aprendem, em comunhão. “O homem se define Os jogos, as brincadeiras, os textos retirados do cotidiano
pela capacidade e qualidade das trocas que estabelece” e isso das crianças oferecerão o suporte necessário à aprendizagem
não seria diferente com os portadores de necessidades acerca da leitura e da escrita e promoverá dentro da sala de
especiais. aula, o ambiente igualitário.
Inseridos numa sociedade que exige saber conviver para Sendo assim, a escola precisa está preparada para levar até
sobreviver, necessitamos cada vez mais nos esforçar para estas crianças, oportunidades que desencadeiem a
garantir a inclusão deles, desde os primeiros anos de idade, em internalização de tais aprendizagens e para isso, seguem
todos os espaços sociais, e a escola não está à parte desse descritas algumas sugestões a serem desenvolvidas com este
espaço. público.
É fato que ao longo da vida, em nossas tantas lutas
adaptativas, encontramos pessoas que nos facultam apoio e • Alguns recursos e instrumentos:
formação, seja de caráter ou de conhecimento teórico, para - Jogos táteis com letras e/ou palavras
seguirmos nosso caminho. Não poderia ser diferente na - Alfabetos em braile e em libras
educação formal. Assim, é que no âmbito escolar – em sala de - Letras móveis em braile e em libras
aula, no pátio, no refeitório, enfim, em cada parte -, o professor - Pranchas de comunicação
tem papel decisivo e de imensa responsabilidade nesse - Receitas com material concreto
processo. - Músicas ilustradas
Não basta que haja numa escola a proposta de inclusão, - Cartão letras móveis com velcro
não basta que a arquitetura esteja adequada. É claro que estes - Lótus sílabas gravuras
são fatores favoráveis, mas não fundamentais. É preciso que o - Estante de leitura
coração esteja aberto para socializar-se e permitir-se interagir. - Velcro nas páginas do livro
E, como quem semeia com o tesouro do conhecimento, que
refaz e constrói, é o professor que alavancará os recursos • Propostas lúdicas:
insubstituíveis para uma educação inclusiva de qualidade. 1. A palavra do dia
Para isso, portanto, seu coração também precisa estar - Selecione uma palavra por dia como a “palavra do dia”.
aberto. Ele igualmente terá que acreditar e se ver em processo - Escreva esta palavra do dia em um cartão e apresente-a
de inclusão permanente, terá que criar e recriar oportunidades durante a rodinha, depois a coloque em local visível.
de convivência, provocar desafios de interação e aproximação, - Use a palavra seguidas vezes durante o dia e estimule as
estabelecer contatos com os diversos e distintos saberes, crianças a usá-la o máximo de vezes
planejando de forma flexível, mas objetiva, entendendo que a
comunhão, a busca do semelhante e o reconhecimento de que 2. Uma fotografia vale por mil palavras
ninguém detém um saber, favorecem a troca, a parceria e a - Tire fotos das crianças fazendo atividades na sala de aula.
segurança de uma inclusão com qualidade. - Desenvolva um arquivo de fotos de revistas com objetos
Se o professor acreditar que incluir é destruir barreiras e diferentes.
que ultrapassar as fronteiras é viabilizar a troca no processo - Deixe as crianças escolherem fotografias e descreverem
de construção do saber e do sentir, ele exercerá seu papel, como os objetos são usados.
fundamental, para assegurar a educação inclusiva que todos
nós desejamos, semeando assim um futuro que sugerirá 3. Álbum de aproveitamento
menos discriminação e mais comunhão de esforços na - A professora contará a história para as crianças
proposta de integrar e incluir. - Cada uma fará o desenho interpretativo da história
ouvida
- Este desenho será guardado no álbum, onde a professora
registrará por meio da escrita o que produziu cada criança.
Alfabetização e Letramento,
concepções de aprendizagem. 4. Pegue um par
- Coloque diversos pares de objetos que rimem entre si
numa cesta (gato/rato, boliche/sanduíche).
- Peça para as crianças formarem pares de objetos que
No contexto da inclusão de crianças que apresentam rimem.
necessidades educacionais especiais, a alfabetização é um
processo de construção de hipóteses sobre o funcionamento 5. Rimas enlatadas
da leitura e da escrita. Isso nos permite entender que para - Coloque diversos objetos que rimem em uma lata – para,
aprender a ler e a escrever, esta criança deve participar lata e barata
ativamente da construção do seu conhecimento, além de - Oriente as crianças a criar uma história que inclua todos
enfrentar os desafios que surgirão e saber lidar com as os itens.
situações, reflexões e aprendizagens.
Para que este processo ocorra de forma concisa e 6. Que letra está faltando?
contemplando a perspectiva de letramento, é preciso lembrar - Coloque quatro pranchas alfabéticas consecutivas no
que antes de chegar à escola, a criança já possui conhecimento chão e peça para as crianças dizerem as letras
sobre o mundo letrado e que todas elas, saberão informações - Diga para as crianças taparem os olhos e remova uma das
deste, de formas diferentes, respeitando suas necessidades letras.
especiais educacionais. - A seguir, peça para abrirem e identificarem a letra que
Desta maneira, importante mencionar que não existe falta.
receita pronta para trabalhar com as crianças que apresentam
necessidades educacionais especiais, mas a afetividade e o 7. Sacos de gel
lúdico permeando este processo, garantirão a apropriação dos - Coloque ½ xícara de gel para cabelos em um saco plástico
saberes necessários, contudo é preciso lembrar que elas com fecho.
possuem ritmos diferenciados e que precisam ser conhecidas,

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- Oriente as crianças a fazer letras no saco usando o dedo em um processo de hibridização de recursos, o que é muito
indicador. interessante na escola inclusiva.

8. Letras de massa de modelar Fonte:


- Oriente as crianças a formar letras e desenhos, cujas BRASIL. Ministério da Educação. Saberes e práticas da
escritas iniciam com a mesma letra com massinha. inclusão: estratégias para a educação de alunos com
necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC, Secretaria
9. Chegou carta de Educação especial, 2003.
- Escreva o nome de cada criança em um envelope de cartas http://saberesefazeresnaeducacao.blogspot.com.br/2011
e coloque-o em uma caixa de correios. /08/alfabetizacao-na-escola-inclusiva-na.html
- Faça um crachá para cada uma e peça para sentarem em
círculo segurando-os. Leitura e Escrita
- Deixe as crianças alternarem-se entregando os envelopes
retirados da caixa e os entregando aos nomes correspondentes O ser humano em sua interação com o meio e com o outro
aos crachás. representa por símbolos o que experiência no real, dessa
- Para mais diversão, acrescente presentes-surpresa, como forma, constrói significados e acumula conhecimentos. Todo
adesivos ou fotografias, aos envelopes. ensino, na escola, implica na utilização da função simbólica. As
atividades que concorrem para a formação da função
10. Tirinhas caseiras simbólica variam conforme o período do desenvolvimento
- Recorte tirinhas (histórias em quadrinhos) de jornais, humano. Por exemplo, o desenho e a brincadeira de faz-de-
internet, etc. conta são atividades simbólicas próprias da criança pequena,
- Leia as tirinhas com as crianças individualmente ou em que antecedem à escrita. Na verdade, elas criam as condições
pequenos grupos. internas para que a criança aprenda a ler e escrever.
- Comente a ordem das imagens da esquerda para a direitta Ao longo da Educação Fundamental desenvolve-se o
à medida que lê. processo de escolarização. As capacidades linguísticas são
importantes na alfabetização e no aprendizado da língua
11. Varal de letras escrita durante o percurso da vida do educando.
- Recorte círculos de cartolina, escreva letras nos mesmos No processo de comunicação e expressão não basta ter o
e plastifique-os. Faça furos nos círculos usando um furador de domínio do processo do ler e do escrever (codificar e
papel. decodificar), mas também saber fazer uso dessas habilidades
- Distribua cadarços ou cordões. em práticas sociais em que são necessárias. A aprendizagem
- Oriente as crianças a amarrar as letras para formar uma da linguagem visual, oral, gestual, digital e escrita são
palavra. elementos importantes para o ser humano ampliar suas
possibilidades de inserção e de participação nas diversas
12. Listas práticas sociais. Implícita nessa concepção está a ideia de que
- Faça listas de atividades de sala de aula com temáticas do o domínio e o uso da língua escrita trazem consequências
cotidiano das crianças ou mesmo, acerca de temáticas sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas,
estudadas na turma. linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida,
- Utilizar cartolinas para registrar as palavras que quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.
comporão as listas. O desafio que se coloca para os primeiros anos da
Educação Fundamental é o de conciliar os dois processos:
13. Escrevendo um diário alfabetização, como o processo específico e indispensável de
- Pegue um caderno para cada criança, faça a capa com elas apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios
ou coloque uma foto da turma. alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever
- Cada dia peça que escrevam ou desenhem em uma página, com autonomia; e letramento, como o processo de
registrando o pensamentos delas naquele dia. apropriação, inserção e participação na cultura escrita. Trata-
Proporcione oportunidades para as crianças “lerem”uma se de um processo que tem início quando a criança começa a
página do diário para os colegas, ou crianças de outras turmas. conviver com as diferentes manifestações da escrita na
sociedade (placas, rótulos, embalagens, comerciais, revistas
14. Detetives de histórias etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente
- Após ler uma história para as crianças, faça perguntas de possibilidade de participação nas práticas sociais, que
múltipla escolha. envolvem a língua escrita (leitura e redação de contratos, de
- Elas deverão responder através das pistas ou das opções livros científicos, de obras literárias, por exemplo).
dadas, de forma correta. Esta concepção considera que alfabetização e letramento
são processos diferentes, cada um com suas especificidades,
15. Verdadeiro e falso mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis à
- Apresente pares de sentenças às crianças – uma formação plena do cidadão.
verdadeira e uma falsa. Assim, não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar;
- Peça para selecionarem a afirmação verdadeira. trata-se de alfabetizar letrando. Também não se trata de
- Após as crianças terem confiança em como selecionar pensar os dois processos como sequenciais, isto é, vindo um
esse tipo de afirmação categórica, apresente pares de depois do outro, como se o letramento fosse uma espécie de
sentenças, nos quais uma sentença é parcialmente verdadeira preparação para a alfabetização, ou, então, como se a
e a outra é completamente verdadeira. alfabetização fosse condição indispensável para o início do
processo de letramento.
É importante destacar que, serão as necessidades destas Considerando-se que os alfabetizandos vivem numa
crianças que determinarão os recursos e instrumentos mais sociedade letrada, em que a língua escrita está presente de
úteis para oportunizar novos saberes na sala de aula. Porém, é maneira visível e marcante nas atividades cotidianas,
na diversidade que aprendemos juntos, isso que dizer que, inevitavelmente eles terão contato com textos escritos e
toda a turma deverá acessar os meios facilitadores de forma formularão hipóteses sobre sua utilidade, seu funcionamento,
integrada e desta maneira aprenderão todos juntos envoltos sua configuração. Excluir essa vivência da sala de aula, por um

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lado, pode ter o efeito de reduzir e artificializar o objeto de


aprendizagem que é a escrita, possibilitando que os alunos
desenvolvam concepções inadequadas e disposições negativas
a respeito desse objeto.
Por outro lado, deixar de explorar a relação extraescolar
dos alunos com a escrita, significa perder oportunidades de
conhecer e desenvolver experiências culturais ricas e
importantes para a integração social e o exercício da cidadania.
A linguagem escrita, materializada nas práticas que
envolvem a leitura e a produção de textos, deve ser ensinada
em contextos reais de aprendizagem, em situações que tenham
sentido para os educandos, para que possam mobilizar o que
sabem e aprender com os textos. Foto 2 - O aluno pega o lápis especial e escreve. Uma mão
Os modos de utilização da linguagem são tão variados segura a bola de espuma que molda-se facilmente a ela,
quanto as próprias esferas da atividade humana. As esferas facilitando a preensão.
sociais delimitam, historicamente, os discursos e seus
processos. As práticas de linguagem – falar, escutar, ler e
escrever, cantar, desenhar, representar, pintar etc. – são
afetadas pelas representações que se tem dos modos pelos
quais elas podem se materializar em textos orais, escritos e
não verbais. A linguagem não verbal representa 80% de nossa
comunicação e pode ser expressa mediante gestos
espontâneos, olhar, expressão facial, expressão corporal,
música, sinais, mímica, desenho, pintura, as Artes em geral etc.
Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e
produtiva é aquela que contempla a alfabetização e o
letramento, de maneira articulada e simultânea,
compreendendo que a alfabetização e o letramento acontecem
em ciclos e de forma processual e contínua dentro das Foto 3 - Lápis e canetas engrossados. Na imagem um lápis
temporalidades humanas. e duas canetinhas estão engrossados com tubos de espuma,
que originalmente servem para revestimento térmico de
PRODUÇÃO ESCRITA9 canos. Um elástico é costurado no tubo de espuma para
facilitar a fixação do lápis à mão e, em um dos casos, o tubo de
Aprender a ler e a escrever é desafiador para qualquer espuma é perfurado pelo lápis transversalmente,
aluno. modificando-se assim a forma de preensão.

Ao escrever, a criança estabelece novas relações com o


meio, internaliza conceitos, expõe suas ideias, ressignifica seus
conhecimentos a respeito da língua escrita, registra-os e
comunica-os. Segurar um lápis ou uma caneta da forma
convencional e conseguir enxergar o que está sendo escrito
não é pré-requisito para aprender a escrever. A aprendizagem
da leitura e da escrita é conceitual e não mecânica.
Muitas alternativas podem ser construídas para facilitar a
preensão do lápis ou da caneta quando detectamos prejuízos
na motricidade fina do aluno.

Foto 4 - Acessório para preensão e limitação de


movimentos involuntários. Na fotografia um aluno utiliza
uma pulseira imantada e uma caneta com engrossador de
espuma. A folha é fixada sobre uma chapa de metal. A
pulseira com imã lhe auxilia na inibição de movimentos
involuntários.

Pranchas de letras são indicadas para o aluno que escolhe,


letra a letra, enquanto um colega, ou o professor realiza o
registro da escrita. Quando o aluno não consegue apontar a
letra, alguém faz por ele o apontamento (varredura das letras).
Foto 1 - Recurso que auxilia a escrita. Na imagem Para escolher a letra, o aluno emite um som, pisca ou faz
visualiza-se uma bola de espuma furada com um lápis qualquer outro sinal que possa ser compreendido como a
encaixado neste orifício. seleção da letra a ser escrita.

9 Fonte: SARTORETTO, Mara Lúcia. BERSCH, Rita de Cássia Reckziegel. A educação comunicação alternativa e aumentativa. Brasília: Ministério da Educação, 2010.
especial na perspectiva da inclusão escolar: recursos pedagógicos acessíveis e (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Educação Escolar).

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Ilustração 5 - Soletração por apontamento de prancha de


letras. Na imagem, visualiza-se uma folha de fundo amarelo
com letras pretas e grandes (Prancha de letras). Ao lado está
um desenho representativo de uma mão apontando. O
Foto 8 - Menino com dez anos, cego, utilizando máquina
recurso é utilizado para que o aluno possa escrever e
Braille. A imagem mostra um aluno utilizando sua máquina
comunicar o que deseja através do apontamento das letras na
Braille durante o AEE.
prancha.

A escrita pode ser feita pelo computador através do apoio


Alfabetos móveis de vários tamanhos e materiais que
de órteses nas mãos ou utilização de teclados especiais.
possam se fixar por imã ou velcro são úteis na produção das
Existem teclados expandidos, reduzidos, programáveis de
primeiras palavras escritas.
acordo com a sensibilidade e conteúdos das teclas.

Foto 6 - Alfabeto móvel de letras. A fotografia mostra um


alfabeto móvel em cubos de madeira formando a palavra
Foto 9 - Teclado convencional e órtese moldável. Aluno
BOLA. As letras móveis são fixadas sobre uma tira de velcro,
digita em teclado convencional utilizando uma órtese. Esta
que está colada sobre uma cartolina preta. O velcro facilita a
órtese é moldável, ajustada e fixada à sua mão. Na ponta da
aderência e a fixação de cada letra durante a formação da
órtese, local que toca as teclas, existe uma ventosa de
palavra.
borracha que possibilita a aderência do recurso à tecla.

Foto 7 - Números móveis. Números emborrachados, em


Foto 10 - Teclado coberto por uma colmeia de acrílico
material EVA, são fixados sobre uma tira de velcro, colada em
transparente. A colmeia é uma placa com furação coincidente
cartolina preta. Na foto, vê-se a representação da operação
às teclas e utilizada por alunos com problemas de
numérica 1 + 2 = 3.
coordenação motora. Esse recurso tem o objetivo de eliminar
ou diminuir os erros de digitação.
Alunos cegos aprendem a escrita Braille; para isso,
utilizam a reglete, a máquina Braille e o próprio computador
com impressora Braille.

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Foto 11 - Teclado expandido e programável em seu Foto 14 - Dez acionadores de vários formatos e cores. Os
leiaute. Menino de 11 anos utilizando o teclado onde aparece acionadores podem ser colocados em diferentes partes do
uma atividade de matemática com numerais em tamanho corpo que possuem controle de pressionar, puxar, apertar,
ampliado, especialmente construída para resolver os soprar etc., e têm a finalidade de ativar o clique no mouse.
problemas de baixa visão e de dificuldades motoras
apresentadas pelo aluno.

A tecnologia assistiva permite hoje que a escrita aconteça


pelo simples movimento dos olhos. O aluno controla o
deslocamento do cursor, levando-o para qualquer área do
monitor, através do direcionamento do olhar; ao fixar o olhar
em um ponto determinado, acontece o "clique" e a escrita é
produzida pela ativação de letras, em um teclado virtual.

Foto 12 - Teclado de tamanho reduzido com acessório de


uma caneta que pode ser utilizada para facilitar a digitação. O
objetivo deste teclado é possibilitar aos alunos com
diminuição na amplitude de movimento e pouca força
muscular a realizar atividade no computador.

O aluno pode utilizar-se de teclados virtuais; nesse caso, as Foto 15 - Menino de 8 anos e mouse especial em formato
letras aparecem na tela do computador e são por ele de uma garrafinha. O mouse é colocado diante da boca e,
selecionadas de várias formas, dependendo de sua habilidade. através de movimento dos lábios, o menino pode controlar o
O acesso às letras acontece por meio de mouses especiais ou direcionamento do cursor. O clique da tecla esquerda do
acionadores. O acionador é uma chave que realiza o "clique do mouse é feito pela sucção e o clique da tecla direita, pelo
mouse" e define a escolha da letra. Existem acionadores de sopro.
pressão, de tração, de piscar, de sopro, de contração muscular
e outro. Com uma habilidade motora mínima, o aluno é capaz
de selecionar uma letra e escrever.

Foto 16 - Adolescente que controla o computador por


movimento ocular. Através deste recurso o aluno controla o
direcionamento do cursor, pelo movimento dos olhos, e o
clique é feito quando o cursor parar por um determinado
tempo, no local pretendido da tela.
Foto 13 - Mouses especiais. Sete mouses de diferentes
formatos, onde o direcionamento do cursor é feito com Cabe ao professor do AEE constatar a necessidade do aluno
joystick ou manuseando-se uma grande bola colocada sobre o selecionar o recurso adequado, oferecer oportunidade de
mouse. Os botões de ativação do clique e da tecla direita são aprendizagem, ensinar o manejo do recurso, encaminhá-lo à
dispostos no próprio mouse. escola comum e orientar, tanto o professor quanto os colegas,
sobre como poderão interagir com o aluno que utiliza este
recurso. É importante lembrar que os recursos devem ser
avaliados e modificados para acompanhar as necessidades que

Conhecimentos Específicos 35
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surgem à medida que o aluno realiza novas experiências na


escola.

1.2. ACESSO À LEITURA

O ato de ler exige compartilhamento entre o professor, o


aluno e seus colegas.

O impedimento de acesso ao texto para alguns alunos se dá


em razão da forma ou da mídia por meio da qual ele é
comumente apresentado na escola: livros, textos impressos,
textos lidos na tela do computador, textos escritos no quadro, Foto 18 - Fichas de palavras em várias cores e tamanhos,
nos cadernos dos colegas, etc. com a representação do objeto, em desenho. A primeira letra
O meio pelo qual o texto é apresentado na escola pode desta palavra é representada pelo alfabeto manual.
limitar a acessibilidade do aluno com deficiência e privá-lo da
participação nas aulas. A dificuldade que um aluno encontra na
leitura deve ser bem avaliada e precisamos identificar se ela
está, ou não, no formato como o texto foi apresentado.
Alunos com impedimentos na expressão oral utilizam as
pranchas de comunicação para expressarem sua compreensão
e interpretação daquilo que está sendo lido. Os recursos
devem sempre mediar a ação que se realiza entre o aluno e o
texto e possibilitar que o professor da classe comum interprete
o processo de aquisição de conhecimento que está sendo
construído pelo aluno e planeje suas intervenções.
O texto com símbolos apoia o aumento de vocabulário
gráfico dos alunos que utilizam a comunicação alternativa. Os
alunos surdos, disléxicos ou com outras dificuldades
específicas na leitura podem ter o apoio dos símbolos para
compreensão das palavras e do seu sentido no texto.
Foto 19 - Criança de 8 anos, cega, utilizando um livro de
história com as imagens em relevo e texto em Braille, com o
objetivo de possibilitar a realizar atividades de leitura e
interpretação.

Foto 20 - Livro de história onde foram colados símbolos


de comunicação alternativa em sequência, transcrevendo o
texto em símbolos.

Ilustração 17 - Texto apoiado com símbolos


representativos de cada palavra. O texto fala sobre ecologia
alertando para os perigos da poluição e destruição da
natureza. Cada palavra escrita (signo) é representada por um
desenho (símbolo). A palavra é escrita embaixo do desenho
que a representa. O texto foi construído em um software
especial para escrita com símbolos.
Foto 21 - Prancha de comunicação com os símbolos
utilizados na história para serem utilizados nas atividades de
interpretação e reconto.

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Foto 22 - Virador de página automático onde o livro é Foto 26 - Ampliador de texto onde o livro é colocado em
fixado e a ação de virar a página é ativada por acionadores uma superfície. O texto, ou imagem, é captado por câmeras
(pressão, sopro, ou qualquer outra habilidade do aluno). para visualização ampliada no monitor.

Foto 23 - Vocalizador especialmente desenvolvido para


leitura de livros. A cada página do livro, o aluno aciona um
botão e escuta uma leitura que foi anteriormente gravada.
Foto 27 - Sistema de ampliação de texto onde uma câmera
é manuseada pelo aluno, que passa o equipamento sobre o
texto ou gravura e este é ampliado na tela de um computador
ou monitor de TV.

Usos e funções da escrita e leitura10

Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) afirmam que


a “Língua Portuguesa” é composta por diversas variedades
linguísticas. Essas variedades são, frequentemente,
estigmatizadas por se levar em conta o relativo valor social que
se atribui aos diversos modos de falar: as variantes linguísticas
de menor prestígio social são logo catalogadas de “inferiores”
Foto 24 - Leitor autônomo. O texto a ser lido é colocado ou até mesmo, de “erradas”.
no leitor, o texto é escaneado e se transforma em voz ou pode Atualmente, diversos linguistas, ressaltam a importância
ser percebido pelas mãos, através das Réguas Braille. da variação linguística no ensino de língua materna, pois a
mesma, além de provar que nossa língua continua viva e
dinâmica, desmistifica o mito da “unidade linguística”.
Vale lembrar que os PCN, também, incorporam essa visão
de linguagem pautada na variação linguística, deixando claro
que para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa
livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma
“certa” de falar e que esta se reflete de forma perfeita na
escrita, de que nossas salas de aulas são compostas por uma
única variante linguística – a tida como Padrão – e que as
anomalias esporádicas que surgem em alguns alunos das
castas baixas da sociedade, tem que ser concertada, para não
contamina a língua padrão e para que este indivíduo se integre
na sociedade dialetal.
Foto 25 - Réguas Braille de vários tamanhos. Das réguas
Braille, emergem dinamicamente pontos sensíveis ao toque Ao nosso entendimento, essas são provavelmente filhas de
que formam o texto. As réguas de Braille podem ser outra terrível inverdade a de que a sociedade é igualitária, a
conectadas no computador ou ao leitor autônomo. existência de classes sociais por sua vez é fruto das diferenças
de esforço individual de cada um e/ou talvez por obra do
acaso.
Essas ideias são frutos de uma cultura distorcida,
industrializada, proveniente das castas superiores que chega
até nós, embebidas em ideologias de uma continua e

10 Texto adaptado de SILVA, A. C. da.

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consistente melhora. É bem verdade que as pesquisas em em que ela é falada, é que se começou a estudar a língua na
torno da educação comprovam certa melhora, nos diversos perspectiva da mudança e da variação em termos
índices que avaliam nossos alunos, mas ao passo que esta sociolinguísticos12.
caminha demorara incontáveis gerações para que alcancemos Tendo por base, pois, a heterogeneidade, a sociolinguística
à educação preconizada por Paulo Freire. de 1960 pode ser vista como uma área que abriu caminhos
São inúmeros os obstáculos para que a educação abandone para o surgimento de novas correntes de estudo e pesquisas
seu caráter colonialista e se transforme em um instrumento de que põem em foco, principalmente, o trato do fenômeno
inserção social, capaz de aplanar a enorme pirâmide existente linguístico em sua relação com o contexto social e cultural de
em nossa sociedade. Acreditamos que um dos mais relevantes produção. Sendo que, pelo crescente interesse em estudar a
obstáculos, para isto, encontra-se na língua. linguagem nesse contexto social, diversos enfoques se abrigam
Essa que em nosso entender é a maior “descoberta” do sob o título de sociolinguística.
homem, além de ser, indubitavelmente, o pilar que dá Esta ciência, conforme afirma Mollica13, se faz presente
sustentabilidade a sociedade como a conhecemos. A num espaço interdisciplinar em fronteira com a língua e a
linguagem, em seu atual, estágio transpassa a condição sociedade, tendo como foco principal os empregos linguísticos
instrumental de comunicação entre indivíduos no mesmo concretos, principalmente os de caráter social heterogêneo.
espaço-temporal, possibilitando que indivíduos em épocas e Assim, tendo em vista que todas as línguas naturais humanas,
lugares diferentes dialoguem. Entretanto o mesmo de modo geral, apresentam um dinamismo inerente –
instrumento que une é o que separa. São incontáveis os heterogeneidade -, a está ciência vem considerar para objeto
conflitos históricos ocasionados pela intolerância à cultura, à de estudo justamente essa dinamicidade da língua, que
religião, à linguagem do outro, o que a nosso ver isso se pressupõe a variação, “entendo-a como um princípio geral e
configura como uma continuidade do mito da Torre se Babel. universal, passível de ser descrita e analisada cientificamente”
(Mollica, assim, em linhas gerais, podemos dizer que o objeto
Como nos lembra Bagno o preconceito linguístico de estudo da sociolinguística é o estudo da língua falada,
constitui-se em um não aceitar, da variação linguística falada observada, descrita e analisada em seus contextos reais de uso.
pelo outro, ainda na concepção do mesmo autor os chamados
erros gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por A sociolinguística em sala de aula
patologias de ordem cognitiva. Na concepção de Xavier11, a
qual ressaltamos, a noção de correto imposta pelo ensino À medida que a criança se desenvolve e cria relações com
tradicional da gramática normativa e o repasse incorreto do o meio, modifica seu modo de ver e interagir com o mundo,
léxico pertencente à variação padrão da língua originam os criando assim sua própria identidade linguística e cultural. Ao
preconceitos contra as variedades não padrão. adentrar na escola a criança traz consigo uma gama de
Em nosso entendimento a escola deveria atuar como um informações linguísticas, as quais são, na maioria das vezes,
combatente a este como a muitos outros preconceitos, mas desprezadas e/ou taxadas de erradas, em detrimentos de
infelizmente, essas também como foram observadas, tornou- outras provenientes das castas superiores da sociedade. O que
se uma fonte discriminatória das variações não padrão da por sua vez se reflete em uma enorme dificuldade em
língua. Bagno nos lembra ainda “a vitória sobre esse apreender a variedade tida como eleita, tanto em sua variante
preconceito passa por um estudo mais apropriado da língua, escrita, como em sua variante falada.
onde o aluno tenha as outras variedades, mas sempre tendo Ao dar início ao seu “processo de alfabetização”, o aluno já
como base em sua própria variedade”. Sobre esse prisma é um falante nativo da língua, com um certo leque de signos, o
compreendemos o papel impa desempenhado pelo pelos qual é capaz de interpretar todo o seu campo de interesse, mas
PCNs, como um instrumento de prevenção e combate aos em concordância com o que pregam a maioria dos livros
diversos estigmas que circundam a presença da oralidade didáticos, estes campos são substituídos, por aspectos formais
dentro das salas de aula. Balizados nisso confeccionamos o de uma língua ideal, juntamente com apreciação de aspectos
presente trabalho. mecânicos no ensino da leitura e escrita, como se todos os
alunos obedecessem ao mesmo ritmo, tivessem a mesma
Nosso texto pretende, apoiada na fundamentação teórica motivação e o mesmo foco de interessem.
levantada em diversas investigações existentes, oferecer
subsídios para analisarmos à abordagem dos PCNs em relação É fácil perceber que cada indivíduo tem seu ritmo e
as variações linguísticas e como esta influência na aquisição da interesses próprios, principalmente quando trabalhamos com
escrita. jovens e adultos, é sensível também que estas características
Sem pretendemos esgotar os desafios e as possibilidades se manifestam de forma mais aberta na linguagem de cada um.
envolvidas nas temáticas em pauta, estruturamos o texto de Foi provavelmente este um dos motivos da aceitação da sala
modo a discorremos sobre a sociolinguística e como esta atua de aula e de suas relações como um dos objetos de estudo para
dentro da sala de aula, a seguir iremos contar de forma breve, a sociolinguística, além é claro do combate e prevenção as
a história dos PCNs. Em um terceiro plano iremos discursas diversas formas de preconceitos existente em sala de aula e
sobre a aquisição da linguagem escrita, a seguir iremos que se origina nas diferentes linguagens que compõem o
analisar o trato dado pelos PCNs em relação a oralidade e como âmbito escolar.
este contribuem para a aquisição da escrita. Enfatizando Souza o qual cita Cagliari, os modos diferentes
de falar acontecem porque a língua portuguesa, como
Sociolinguística qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, isto é, está
sempre em evolução. Pelos usos diferenciados ao longo do
Por se considerar a língua um sistema homogêneo, o tempo e nos mais diversos grupos sociais, as línguas passam a
estudo das variações nunca havia despertado o interesse dos existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos,
linguistas. Só em meados da década de 1960, quando muitos todos muito semelhantes entre si, porém cada qual
desses cientistas da linguagem perceberam que não era mais apresentando suas peculiaridades com relação a alguns
possível estudar a língua sem considerar também a sociedade aspectos linguísticos. Todas as variedades, do ponto de vista

11 XAVIER, Diogo; et al. O preconceito linguístico na sala de aula: atitudes de 13MOLICA, Maria Cecília e BRAGA Maria Luiza. Introdução a Sociolinguística: o
professores e alunos de 7ª a 8ª séries diante da variação linguística. tratamento da variação. 2ª ed. – São Paulo: Contexto, 2004.
12 BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação

linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007

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da estrutura linguística, são perfeitas e completas em si. O que Ainda segundo Czapski: Os PCN são apresentados não
as tornam diferentes são os valores sociais que seus membros como um currículo, e sim como subsídio para apoiar o projeto
possuem na sociedade. Ainda segundo o autor, os dialetos de da escola na elaboração do seu programa curricular. Sua
uma língua, apesar de serem semelhantes entre si, grande novidade está nos Temas Transversais, que incluem o
apresentam-se como línguas específicas, com sua gramática e Meio Ambiente. Ou seja, os PCN trazem orientações para o
usos próprios. ensino das disciplinas que formam a base nacional, e mais
É fácil perceber que em nenhum nicho social a variação cinco temas transversais que permeiam todas disciplinas, para
linguística é mais sentida do que na escola. É lá em que está, ajudar a escola a cumprir seu papel constitucional de
que deveria ser uma característica positiva, acaba se fortalecimento da cidadania.
transformando em um obstáculo para a aquisição de uma nova
variedade dialetal. Aquisição da leitura.
Em qualquer lugar onde se desenvolva o preconceito
linguístico, este já causa sequelas enormes, mas é justamente A quase totalidade das crianças que adentram na escola,
na escola, local onde o caráter do indivíduo está sendo ainda não sabem ler, mas já reconhecem uma estreita relação
formado, onde estes estigmas são mais prejudiciais à entre língua falada e escrita, compreendem, mesmo que de
sociedade. Foi pensando nisso que os estudiosos abordaram forma “não formal”, que uma é a representação gráfica da
essa características na confecção dos PCNs. outra. Como nos complementa Bento (2008) citando Ferreiro
e Taberosky pareceu-lhes difícil admitir que a criança - que
Os PCNs. aprende a falar sem ir à escola - não aprendesse nada sobre a
língua escrita, “[...] até ter seis anos e uma professora à sua
Em função da LDB 9.394/96, o Ministério da Educação e frente.”. Do ponto de vista destas autoras, a criança, como
Desporto achou por bem elaborar uma série de documentos sujeito cognoscente, não poderia ser impermeável ao contato
orientativos sobre a prática pedagógica, tendo em vista a com a língua escrita e de alguma forma ela haveria de tentar
amplitude do território nacional, as diferenças de formação do apreender esta, relacionando-a com a língua falada.
professorado e suas dificuldades de acesso a conteúdo Ainda segundo Bento15, aos quatro anos, as crianças já
pedagógicos atualizados. Surgiram, assim, os PCNs constroem conceptualizações interessantes sobre as relações
(Parâmetros Curriculares Nacionais (também conhecidos entre a linguagem falada e o sistema de escrita.
como RCNs - Referenciais Curriculares Nacionais). Estas elaborações sucedem-se num percurso constituído
Entretanto o processo de elaboração dos PCNs iniciou um por diversas fases ou níveis e permitem concluir que o
pouco antes como nos lembra Czapski14: O processo de processo de aprendizagem não consiste na aquisição de
elaboração dos PCN começou em 1995, sendo que no fim elementos isolados que depois se reúnem - mas na construção
daquele ano já havia a versão preliminar, que foi apresentada de sistemas em que o valor dos elementos se vai redefinindo
a diferentes instituições e especialistas. Em resposta, o MEC em função das mudanças estruturais.
recebeu cerca de 700 pareceres, que foram catalogados por
áreas temáticas e embasaram a revisão do texto. Para Nível A - É o nível de conceptualização mais evoluído.
completar, Delegacias do MEC promoveram reuniões com suas Todas as palavras do texto oral estão representadas no texto
equipes técnicas, o Conselho Federal de Educação organizou escrito. Nesta fase, a criança é capaz de estabelecer uma
debates regionais e algumas universidades se mobilizaram. correspondência, termo a termo, entre as unidades
Tudo isso subsidiou a produção da versão final dos PCN para vocabulares do enunciado oral e os segmentos do texto escrito
1ª a 4ª série, que foi aprovada pelo Conselho Federal de (palavras gráficas).
Educação em 1997. Os PCNs foram transformados num Nível B - Todas as palavras estão escritas, exceto os artigos.
conjunto de dez livros, cujo lançamento ocorreu em 15 de Para estes, surgem três soluções: O texto escrito é tratado
outubro de 1997, Dia do Professor, em Brasília. Depois, como se fosse feito em linguagem de telegrama, dos 4 aos 7
professores de todo país passaram a recebê-los em casa. anos, aproximadamente, os artigos, preposições, pronomes e
Enquanto isso, o MEC iniciou a elaboração dos PCN para 5ª a conjunções são sistematicamente, havendo uma rejeição da
8ª série. classe das "palavras".
Assim estes, constituem uma coleção de documentos onde, Nível C - Há correspondência para os substantivos, mas não
além de uma introdução geral: onde foi abordando a tradição para o verbo
pedagógica brasileira, dados estatísticos sobre população, A escrita não é vista [pela criança] como uma reprodução
alunos e professores (dados de 1990), orientações rigorosa de um texto oral, e sim como a representação de
doutrinárias e metodológicas (o sócio construtivismo, a alguns elementos essenciais do texto oral. Em consequência,
postura crítico-social de conteúdo, as teorias psicogenéticas) e nem tudo está escrito.
conteúdos técnicos sobre planejamento e avaliação. Nível D - Impossibilidade de estabelecer correspondência
Encontram-se listadas as exigências educacionais previstas entre as partes do texto oral e as partes do texto escrito. A
pela LDB, a Base Nacional Comum (o currículo disciplinar) e a criança não consegue segmentar a frase oralizada. Por isso, as
utilização da transversalidade (Temas Transversais) como respostas são diversas e incongruentes. Quando se pergunta à
instrumento de trabalho para contextualização dos temas de criança onde está escreve uma palavra ou toda a frase, a
aula. resposta é imprevisível: pode estar em qualquer parte do texto
Há, ainda, os objetivos gerais e específicos, além das escrito, em todo ou apenas numa sílaba.
características das áreas do conhecimento componentes da Nível E - Também, neste nível, a criança não consegue
Base Nacional Comum, a listagem dos Temas Transversais e segmentar o texto oral, para que possa estabelecer
sua operacionalização. correspondências com o texto escrito. Porém, enquanto no
Os Parâmetros (ou Referenciais) abordam todas as nível D se tentava sem êxito essa divisão, agora essa tentativa
modalidades da Educação Básica no Brasil, além da Educação já não tem lugar. A criança atribui toda a frase a um segmento
Especial, modalidade educativa que perpassa, de modo do texto.
transversal, todos os níveis de ensino, inclusive o nível Nível F - A criança procura no texto escrito apenas os
superior. nomes, i. é, na interpretação de Emília Ferreiro e Ana

14CZAPSKI, Silvia. A Implantação da Educação Ambiental no Brasil, Ed. 15 BENTO, Joaquim R. A Gênese da aprendizagem da língua escrita.
MEC/Unesco, 1997 -seção "Fichário", cap "PCN"

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Tabaroski, a escrita serve como objeto substitutivo (função A Produção de Textos Orais privilegiar-se-á a produção dos
simbólica) dos objetos. diversos gêneros orais presentes no cotidiano, já que para o
Palavras só com dois caracteres, como alguns artigos, e as documento o texto, seja este proveniente de qualquer suporte,
ações não são representáveis. como a unidade básica do ensino, é relevante lembramos ainda
que na produção oral, não ficara presa a língua em sua variante
Tudo se passa como no desenho. Aí figuram dois “atores”: eleita, mas será permitido a comparação entre esta variante e
a pessoa que executa a ação e a ação. as demais, permitindo assim que o aluno amplie seu léxico e
A análise destes cinco níveis mostra que a criança vai tenha ciência que a variante por ele falada não perde em nada
relacionando a seu modo à fala e a escrita, independentemente para a tida como eleita.
de qualquer forma de ensino e que, até chegar ao nível mais Um aspecto relevante, o qual também salientamos, na
elevado, ela não espera "ler" no texto escrito o mesmo que o produção dos textos orais, é que, o documento alia o
adulto. Este processo construtivo resulta da atividade da planejamento prévio da língua oral à escrita – em função da
criança (sujeito cognoscitivo) e pressupõe o contato com intencionalidade do locutor, das características do receptor,
materiais e atividade de leitura/escrita (objeto do das exigências da situação e dos objetivos estabelecidos –, o
conhecimento). que reforça Magalhães citando Fávero et ali também
prescreveram: “aliar o tratamento da oralidade à escrita”.
PCNs e a relação língua falada e escrita. Na visão dos PCNs, a produção textual Oral seria aquela
atividade em que os alunos são orientados tanto para a
Segundo os Paramentos Curriculares Nacionais de Língua preparação prévia – elaboração de quaisquer suportes como
Portuguesa (1998), a língua é fundamental para a participação cartazes, esquemas, encenação, memorização de textos –
social efetiva do indivíduo. Por isso, ao repassa-la, a escola tem quanto para o uso em situações reais de interlocução – gêneros
a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso por natureza orais como entrevistas, debates, exposições,
aos saberes linguísticos necessários para o exercício da teatros, leituras expressivas.
cidadania, direito inalienável de todo cidadão. Assim para os PCNs estes exercícios significam colocar os
No tocante os, PCNs afirmam sobre o trabalho com a alunos em situações reais de interlocução, apenas ouvido, ou
modalidade oral, a necessidades de seu uso como base para o participando ativamente, com ou sem interferência, o que
desenvolvimento das outras modalidades comunicativas e por tende a proporcionar aos alunos conhecimentos teóricos e
conseguinte ampliação das possibilidades discursivas do práticos acerca da produção oral, proporcionando assim o
discente. aluno apreender as capacidades comunicativas para uma
Ensinar língua oral deve significar para a escola à efetiva participação social.
possibilidade de dar acesso a usos da linguagem mais Infelizmente este cuidado especial dado pelos PCNs a
formalizados e convencionais, que exijam controle mais produção oral, não se reflete diretamente em sala de aula, pois
consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a um dos mais importantes instrumentos educacionais, o livro
importância que o domínio da palavra pública tem no exercício didático ainda não contempla de forma efetiva esta
da cidadania. “Ensinar linguagem oral” não significa trabalhar modalidade, como nos afirma Magalhães; infelizmente existe
a capacidade de falar, pois este já é domínio pleno do discente, divergências entre os estudiosos que avaliam e selecionam os
mas significa auxiliar o desenvolver do domínio dos tipos livros que iram integrar o PNLD (programa nacional do livro
discursivos que vão apoiar a aprendizagem escolar de Língua didático) e os texto que compõe os PCN, deixando assim
Portuguesa e de outras áreas e, por conseguinte serão lacunas para que os LDs ora contemplem a modalidade oral,
aplicados na vida social no sentido mais amplo do termo. ora não.
Como já ressaltamos um aspecto importante presente no
documento é que não se pode mais empregar somente o nível Leitura16
mais formal de fala para todas as situações. A escola precisa se
livrar da ideia – enfatiza o documento – de que a fala “correta” A leitura é prática de interação social de linguagem. A
é a que se aproxima da escrita. leitura, como prática social, exige um leitor crítico que seja
Os Paramentos Curriculares Nacionais propõem duas capaz de mobilizar seus conhecimentos prévios, quer
modalidades distintas de atividades para se trabalhar à linguísticos e textuais, quer de mundo, para preencher os
oralidade são elas a escuta e a produção de textos orais, ambas vazios do texto, construindo novos significados. Esse leitor
indiscutivelmente fundamentais para a aquisição da variante parte do já sabido/conhecido, mas, superando esse limite,
escrita e por sua vez capacitar o aluno para enfrentar as incorpora, de forma reflexiva, novos significados a seu
diversas demandas sociais de comunicação. A seguir universo de conhecimento para melhor entender a realidade
discorreremos sobre ambas as atividades: em que vive.
A Escuta objetiva ampliar o conjunto dos conhecimentos
discursivos, semânticos, pragmáticos e gramaticais envolvidos Algumas estratégias de Leitura:
na construção dos discursos. Além disso dar-se-á ênfase aos O professor como mediador e facilitador no processo
elementos não-verbais presentes na fala, como gestos ensino-aprendizagem deve promover algumas estratégias de
expressões faciais, postura corporal, tons de voz, etc. A leitura como, por exemplo, ativar o conhecimento prévio do
utilização dos mecanismos da escrita ficou restrita a suportes, aluno por meio de determinadas perguntas que tenham
além de serem empregados com o intuito de comparação a relação com o que vai ser lido, levar o aluno a distinguir o
respeitos dos mecanismos não-verbais da fala. essencial do que é pouco relevante, esquematizando uma
Lembramos que a escuta de textos pode ser real ou hierarquização, para construir o significado global do texto.
gravada, de autoria dos alunos (ou não). São relevantes para o Para isso, é extremamente importante que o aluno saiba qual
processo de aprendizagem, pois as gravações conferem ao é o objetivo da leitura, para poder avaliar e reformular, se
processo de análise um verdadeiro entendimento da relação necessário, as ideias iniciais. Além disso, o professor pode
oral-escrito, uma vez que se pode transcrever os dados, voltar instigá-lo a interagir com o texto, criando expectativas ou,
a trechos que não tenham sido bem compreendidos, dar ênfase ainda, fazendo previsões. Esses procedimentos, a princípio,
a trechos que mostrem características típicas da fala, etc. devem ser feitos com o auxílio do professor, o que mais tarde,

16 Fontes: http://alb.com.br/arquivo-
http://www.ufmt.br/ufmt/unidade/userfiles/publicacoes/87371cd65b68bfbc63 morto/edicoes_anteriores/anais16/sem03pdf/sm03ss07_05.pdf
b1147f67cbaa11.pdf

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deve tornar-se um hábito no aluno. Nesse sentido, ao ensinar - Leitura Informativa:


a ler e compreender, o professor não impõe sua própria leitura São encontradas disposições textuais em prosa, com uma
ou a do livro. linguagem de forma clara e direta, ou seja denotativa, que visa
transmitir informação sobre alguma coisa, retirando a
Solé ao destacar algumas das estratégias mais empregadas possiblidade de interpretações duplas.
nas aulas de leitura, destaca que, mesmo dentro das principais Para melhor entendermos devemos pensar em um fio
estratégia mencionadas, pode-se apresentar ainda as condutor, em que o redator (emissor) transmite a informação
seguintes variações: para os receptores (leitores), de forma objetiva.
1) Os objetivos da leituras, dependendo da situação,
podem servir para: a) obter uma informação precisa; b) obter Um importante recurso para o desenvolvimento do
uma informação de caráter geral; c) revisar um escrito próprio prazer de ler17
para comunicação; e) praticar em voz alta; f) verificar o que se
compreendeu. Acreditamos que o brincar para a criança possibilita a
2) Em relação a ativar o conhecimento prévio pode: a) ser diversão o entretenimento, assim como também se torna uma
dada uma explicação geral por parte da professora sobre o que forma de entender o mundo. É neste contexto de construção
será lido; b) instigar o aluno a prestar atenção a determinados de conhecimento que a fantasia, o faz-de-conta proporciona a
aspectos do texto que podem ativar seu conhecimento; c) criança vivenciar um mundo mágico, em que se pode brincar,
incentivar os alunos a expor o que já sabem sobre o assunto imitar, inventar, expressar sentimentos, interagir com o outro.
em discussão com o grande grupo. A leitura por sua vez, também tem esse caráter, pois
3) Estabelecer previsões sobre o texto seria formular quando se é criança as histórias infantis encantam, suscitam a
hipóteses sobre a continuidade textual. Nessa atividade, imaginação, despertam para o “mundo do faz de conta”, onde
sugere-se omitir a sequência do texto e solicitar aos alunos que tudo que existe nos livros é possível, os seres inanimados as
formulem hipóteses. fadas, as bruxas, os monstros, entre outros elementos
4) Incentivar os alunos a fazerem perguntas pertinentes presentes nas histórias infantis.
sobre o texto, as quais devem ser reformuladas, se necessário, Aspecto esse totalmente importante para o
pelo professor. Eles devem ser instigados, paulatinamente, a desenvolvimento cognitivo, e ao mesmo tempo um processo
fazer seus próprios questionamentos, o que implica auto que têm implicações importantes também no
direcionamento. desenvolvimento enquanto sujeito histórico, particularmente
naquilo que se refere à construção de significados sobre o
Tipos de Leitura: mundo que a cerca. Neste momento da infância, acreditamos
que esses elementos presentes na literatura apontada como
- Pré-Leitura: arte, é muito importantes, pois conforme Coelho18 “a literatura
Como o próprio nome diz vem antes da leitura, infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte:
propriamente dita, é uma rápida “passada de olhos” pelo texto, fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem,
fase essa que não se fala em fixação ou plena compreensão do a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o
escrito. imaginário e o real, os ideais e sua possível/ impossível
realização [...].” Além da diversão, a leitura proporciona a
- Leitura Fragmentada: criança o observar, refletir, ouvir, sensações que provocam
Algumas pessoas, na verdade grande parte delas não medo, alegria, construindo gradativamente o prazer de uma
gostam de ler pelo fato de trazer-lhes fadiga ou conforme vão boa leitura e entendemos que a literatura tem estímulos para
lendo chegam a um ponto que não conseguem mais se essa construção.
compreender, não prestam mais atenção e chegam ao final, em Notamos que o livro tem esse “poder” de encantamento,
muitos casos sem saber conta a metade da estória que deveria quando utilizado como instrumento de diversão e brincadeira,
saber. em que a leitura pode se tornar espaço para a aprendizagem
Esse fator se deve pela falta de disciplina e continuidade. da imaginação e de reinvenção da realidade.
Não ter prática, costume em ler faz com que as pessoas não Assim, ao ouvir uma história a criança pode vivenciar um
consigam associar determinado assunto com um todo, mundo imaginário viajando através das histórias, participando
assimilam parágrafos, algumas frases soltas. ativamente em cada cena como se fosse um dos personagens
Enfim, é o chamado ler sem conhecer. do livro. Deste modo, a literatura devido ao seu caráter de
ludicidade e ficção, rico em textos que constituiu um mundo de
- Leitura Integral: fantasia têm esse poder.
Aqui temos o amadurecimento da pessoa, que já exercitou Visando principalmente o despertar para o gosto de ler por
seu cérebro diversas vezes, de forma contínua, levando a uma prazer e conhecimento, uma leitura que vai além de uma
plena compreensão e interpretação do que está escrito. O função somente pedagógica, uma leitura de encantamento que
leitor nesse caso consegue associar as frases e parágrafos, tem como intuito o envolvimento entre o livro e a criança.
compreendendo de modo coerente todo conteúdo, inclusive Fazendo com que essa interação torne-se significativa e possa
com a condição de memorizar ou absorver algumas passagens ampliar o seu conhecimento dos diversos aspectos da
do texto. produção de uma obra de arte literária.
Como afirma Zilberman19 :
- Leitura Dinâmica: Supondo este processo um intercâmbio cognitivo entre e o
Neste tipo de leitura são usados métodos e técnicas de texto e o leitor, verifica-se que está implicado aí o fenômeno da
leitura que permitem a decifração substanciada, feitas em leitura enquanto tal. Esta não representa a absorção de uma
blocos de um pensamento de modo integral, evitando-se a certa mensagem, mas antes uma convivência particular com o
decifração de ideias de modo linear. mundo criado através do imaginário. A obra de arte literária
Essa é a típica leitura rápida, acelerada, chamada também não se reduz a um determinado conteúdo reificado, mas
de leitura fotográfica. depende da assimilação individual da realidade que recria.

17CASSIANO, A. A. O prazer de ler :O incentivo da leitura na educação infantil. 18 COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil! Abertura para a formação de uma
Londrina, 2009. nova mentalidade. In: ______ Literatura Infantil: teoria-análise-didática. São Paulo:
Moderna, 2000
19 ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. 8. ed. São Paulo: Global, 1987.

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Desta forma, acreditamos que a infância é o melhor crianças com intuito de dominação, uma educação que
momento para iniciar o processo de estímulo a leitura, transmitia os ideais burgueses sem a promoção da reflexão em
motivando as crianças desde cedo a criar hábitos de ler por torno do contexto histórico a qual estavam inseridos; pois o
prazer, utilizando como caminho as histórias infantis e adulto diante do contexto histórico e ideológico da sociedade
principalmente os textos literários devido a sua riqueza de elaborou uma concepção de infância em que a criança era um
detalhes, que promovem o entretenimento garantindo o ser frágil, imaturo, que precisava ser educado de acordo com
interesse contínuo pela leitura. Sendo assim, o contato com o os ideais e conceitos da época.
livro quanto mais cedo melhor, pois esse fator pode contribuir Torna-se evidente assim que, a literatura era utilizada para
para o domínio da leitura na fase da aprendizagem da escrita. “veiculação de conceitos comportamentais” da época. Esse
Desse modo à criança vai interagindo com o livro, objetivo didático estava comprometido com a dominação da
formando seus conceitos sobre o mundo com a contribuição da criança, não sendo a literatura reconhecida como arte,
literatura. Assim como relata Cunha “se o homem se constitui tornando-se um fato negativo entre a literatura e a educação.
a proporção de conceitos, a infância se caracteriza por ser o Esquecendo-se que a sala de aula é um espaço para a
momento basilar e primordial dessa constituição e a literatura construção de bons leitores, que valorizam a leitura pelo
infantil um instrumento relevante dele.” simples prazer de viajar pela história, e a literatura por sua
Mas segundo Faria20 em seu livro “Como usar a literatura vez, é um importante recurso para essa formação. Assim como
infantil em sala”, existem poucas iniciativas de trabalho com a relata Zilberman.
literatura infantil e também a falta de pesquisa de caráter De um lado, o vínculo de ordem prática prejudica a
didático para utilização da literatura infantil em sala de aula, recepção das obras: o jovem não quer ser ensinado por meio
que muitas vezes é utilizada como uma mera abordagem da arte literária; e a crítica desprestigia globalmente a
pedagógica, quando poderia ser um valioso recurso para o produção destinada aos pequenos, antecipando a intenção
estímulo à leitura prazerosa. E os poucos professores que se pedagógica, sem avaliar os casos específicos. De outro, a sala
propõe a trabalhar com a literatura infantil são de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do
desvalorizados. Essa falta de preocupação com o trabalho gosto pela leitura, assim como um importante setor de
voltado a literatura infantil está presente até mesmo nos intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada,
cursos de formação de professores, raramente se encontra muito menos desmedida sua utilidade.
uma matéria que desenvolva recursos didáticos para
utilização da literatura em sala de aula. Por outro lado, essa Desta forma, muitas vezes, a literatura foi utilizada pelos
ausência tem origens históricas que foi se constituindo ao pedagogos e professores, com intuito de transmitir para
longo da história e o professor precisa fazer um resgate à criança o mundo de normas e valores da classe dominante,
literatura infantil. Desse modo, poderá ter outra postura sem analisar que esta é uma arte para ser utilizada como um
diante do trabalho com a literatura, que não seja essa apontada importante recurso envolvendo o estímulo à leitura prazerosa,
por Faria: destacando sempre o seu lado de ficção, possibilitando a
Esta postura, que considera a atividade menor o trabalho criança fazer suas próprias interpretações do texto escrito de
com a literatura para crianças e jovens em geral (pesquisa, forma divertida, com ludicidade. Através de uma boa história
análise, avaliação, usos na escola), tanto no que diz respeito à a criança tem a possibilidade de compreender mundo a sua
literariedade desses livros como à (des) importância de sua volta, assim como afirma Bettelheim23
leitura na escola, tem origem em diferentes causas históricas.
Para que uma história realmente prenda a atenção da
Neste contexto, o livro para criança passou a existir criança deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para
somente no final do século 17, pois antes não existia a chamada enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la
infância, adultos e crianças eram vistos como iguais21. Desta a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções;
forma não se escrevia para criança, segundo Zilberman22 em estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações;
seu livro “A literatura Infantil na escola”, somente com a “nova reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo,
concepção de família, centrada não mais em amplas relações sugerir soluções para problemas que a perturbam.
de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em Entretanto, para que a literatura torne-se um recurso para
manter a privacidade”, a criança e seu mundo passam a ser estimular o aluno a encontrar na leitura o prazer, o livro deve
percebido enquanto diferente dos adultos, e ter como primordial intuito estimular a imaginação da criança.
consequentemente passa a existir uma literatura voltada para Portanto as histórias devem ser ricas em imagens visuais que
o público infantil, e a escola por sua vez, se une à literatura despertem sua atenção. Essa literatura envolve e incita no
para trabalhar com essa faixa etária. aluno a fantasia, ela faz com que a criança seja transportada
A partir daí, o aspecto do desenvolvimento intelectual da para outros mundos imaginários proporcionando assim, uma
criança passa a ser uma preocupação dos adultos, assim como experiência inesquecível em torno da leitura, criando toda
a manipulação de suas emoções, conforme relata Zilberman uma expectativa em torno deste hábito.
A valorização da infância gerou maior união familiar, mas Desta forma, cabe ao professor analisar a extrema
igualmente os meios de controle do desenvolvimento importância e valorização de livros que utilize a literatura
intelectual da criança e a manipulação de suas emoções. reconhecida como arte praticada de forma lúdica e prazerosa
Literatura infantil e escola, inventadas a primeira e reformada para criança, ou seja, uma literatura que promova o gosto pela
a segunda, são convocadas para cumprir essa missão. leitura de forma a trazer uma compreensão do mundo pela
Essa tarefa é atribuída à escola, a qual trouxe algumas criança, que por outro lado também venha suscitar no aluno a
divergências que distorcem e desvalorizam o trabalho com a reflexão e compreensão da leitura escrita de forma crítica, pois
literatura, como destaca Zilberman “a aproximação entre a segundo Zilberman “isto significa por parte do professor, o
instituição e o gênero literário não é fortuita. Sintoma disto é reconhecimento de que a leitura é uma atividade decisiva na
que os primeiros textos para crianças são escritos por vida dos alunos, na medida em que, como se viu, permite a eles
pedagogos e professores, com marcante intuito educativo”. um discernimento do mundo e um posicionamento perante a
Neste contexto, a literatura foi utilizada para educar as realidade”.

20 FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: 22Idem Zilmerman
contexto: 2004. (Série coleção como usar na sala de aula). 23BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene
21 ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. 8. ed. São Paulo: Global, 1987. Caetano. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

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Todavia, é necessário que o valor por excelência a guiar oportunizar ao seu aluno uma leitura prazerosa, respeitando a
esta seleção se relacione à qualidade estética. Porque a individualidade de cada um.
literatura infantil atinge seu estatuto de arte literária e se Ressaltamos que o educador deve reconhecer a
distancia de sua origem comprometida com a pedagogia, importância de adequar o livro a idade da criança,
quando apresenta textos de valor artístico a seus pequenos considerando assim as fases pertencentes à literatura.
leitores. E não é porque estes ainda não alcançaram o status de Partindo deste pressuposto, é preciso conhecer as fases
adultos que merecem uma produção literária menor. apontadas pela literatura, pois esse é um elemento que pode
Assim trabalhar com a literatura procede de uma atuação contribuir para o desenvolvimento de um trabalho em que se
em que o professor utilize textos com qualidade literária que respeite o limite de cada criança, experiências e ligações com
deve ter como finalidade o conhecimento do mundo. o livro a ser utilizado, assim a historia fará mais sentido para a
Comprometendo-se com uma literatura em que a arte literária criança e será agradável para se ouvir.
promova o gosto pela leitura e ajude o aluno na compreensão De acordo com Cunha 25:
da sua realidade. Segundo Faria24 “sabemos que o texto Para literatura Infantil, têm sido consideradas três fases: a
literário oferece ao leitor a possibilidade de “experimentar do mito, a do conhecimento da realidade e a do pensamento
uma vivência simbólica” por meio da imaginação suscitada racional. Parecenos fundamental alertar para relatividade
pelo texto escrito e/ou pelas imagens”. Deste modo, através da dessas informações. Os limites apresentados são teóricos. Na
vivência simbólica a criança pode avaliar o mundo e situar-se realidade, cada criança tem seu próprio limite, num
nele, obtendo um conhecimento entre a ficção e a realidade e desenvolvimento peculiar definido por muitos e diferentes
aos poucos aumenta e amplia o domínio da leitura mediada fatores. Mais do que conhecer as fases do desenvolvimento
pelo professor. infantil, importa conhecer a criança, sua história, suas
Desta forma, ao escrever uma pesquisa que vise o caráter experiências e ligações com o livro.
do prazer de ler, propondo um estudo sobre o incentivo à Como foi dito acima, é preciso atentar aos pequenos
leitura na educação infantil, logo se tem a Literatura Infantil detalhes que envolvem o trabalho com a literatura infantil e a
como importante recurso para esse processo devido ao seu fase é um deles, considerada como um ponto de referência
caráter lúdico, onde as crianças começam a aprender uma como aponta Cunha em seu livro “A narrativa para crianças”.
diversidade de conhecimento sobre o universo da leitura Mas acreditamos ser um aspecto pertinente à pesquisa para
através da sua imaginação. melhor compreensão do trabalho com a literatura infantil, pois
Vemos que a criança elabora suas próprias hipóteses sobre é através de se conhecer pequenos detalhes e que vamos
um texto escrito, argumentando com suas ideias e ponto de atingir o fim pretendido que é o incentivo à leitura prazerosa.
vista, aumentando seu vocabulário, mas também com a Enfim, destacamos a fase do mito devido ao seu caráter de
história, ela consegue expressar seus sentimentos, através de fantasia, onde se encontram os mitos, as lendas, fábulas,
representações em que a criança possa se identificar com adequadas às idades das crianças de três a quatro anos,
algum personagem da história. aspecto esse que acreditamos ser importante para o trabalho
Como se refere Bettelheim “devido esta identificação a na educação infantil como relata Cunha:
criança imagina que sofre com o herói suas provas e Na fase do mito se encontram as crianças 3/4 a 7/8 anos.
tribulações, e triunfa com ele quando sai vitoriosa. A criança Predomina nelas a fantasia, o animismo: tanto quanto as
faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e pessoas, os objetos têm para a criança, alma reações. Não
exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela”. existe para ela diferença entre realidade e fantasia, e a leitura
Assim, acreditamos que a criança traz para sua realidade a ser feita para criança desta época é a que também não faz
uma forma mais alegre de vivenciar a vida. A literatura devido distinção: a literatura de maravilhas. Os contos de fadas, as
ao seu caráter de ficção, onde a fantasia está presente, prende lendas, os mitos e as fábulas são especialmente adequados a
a atenção da criança que por sua vez, aprende sempre algo essa idade.
sobre a história.
Conforme Coelho (2000) “note-se, porém, que literatura Compreendemos que esta fase interessa especialmente a
infantil ocupa um lugar específico no âmbito do gênero ficção, pesquisa, pois visa uma leitura voltada ao público infantil de
visto que ela se destina a um leitor em especial, a seres em três a quatro anos, como também está ligada ao mundo da
formação, a seres que estão passando pelo processo de fantasia. A ludicidade está presente de forma alegre, concisa,
aprendizagem inicial da vida”. divertida.
Entendemos que a criança pode trazer o conteúdo da Assim, os livros que tem a fantasia como foco principal irão
fantasia de uma história para a construção de uma relação de envolver a criança renovando a cada leitura seu prazer de ler,
prazer com o livro, num processo permanente que não se experiências essas necessárias para desenvolver o contato
limite a sala de aula. Sendo que esta relação com a leitura seja com o mundo da escrita, e sua capacidade de comunicação. E
representativa no sentido de ampliar o conhecimento da também por outro lado, os contos de fada presente na
criança com uma relação criada através do imaginário num literatura que destacam a fantasia, enriquecem o mundo da
processo cognitivo entre o texto lido e o leitor, pois como criança, e permitem a ela aprender a resolver problemas
relata Zilbermam: interiores e lidar com eles, mesmo que esses contos foram
[...] ao professor cabe detonar das múltiplas visões que inventados antes deles nascerem como afirma Bettelheim:
cada criação literária sugere, enfatizando as variadas
interpretações pessoais, porque estas decorrem da Na verdade, em um nível manifesto, os contos de fadas
compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em ensinam pouco sobre as condições específicas da vida na
razão de sua percepção singular do universo representado. moderna sociedade de massa; estes contos foram inventados
muito antes que ela existisse. Mas através deles pode-se
Desta forma, compreendemos que a literatura infantil tem aprender mais sobre os problemas interiores dos seres
uma forma alegre de apresentar “o mundo da leitura” para as humanos, e sobre as soluções corretas para seus
crianças. Ela pode oferecer subsídios teóricos que contribuem predicamentos em qualquer sociedade, do que com qualquer
para o incentivo à leitura na educação infantil, para tanto, os outro tipo de estória dentro da compreensão infantil.
professores tem que elaborar todo um trabalho, que irá

24FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: 25 CUNHA, Maria Antonieta Antunes. A narrativa para crianças. In: ______.
contexto: 2004. (Série coleção como usar na sala de aula). Literatura infantil: teoria e prática. 12. ed. São Paulo: Ática. 1991.

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Portanto é de extrema importância os professores Como afirma Abramovich: Ouvir histórias é viver um
saberem como utilizar a literatura em sala de aula com intuito momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos
de promover segundo Maria Alice Faria em seu livro “Como usar melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O
a Literatura em sala de aula” “um universo lúdico, com livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é
criatividade”. A autora em seu livro não tenciona reduzir a (ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada,
literatura infantil apenas em uma abordagem pedagógica e sim inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a ser
capacitar os educadores para perceber toda riqueza de resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças
detalhes típica dos livros para criança. Apontando elementos ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado,
básicos e trabalhos práticos para o dia-dia, utilizando da belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa
leitura de narrativas como “ferramentas literárias”, por outro história provoca... (desde que seja boa).
lado à ilustração, como elemento constituinte do livro em suas
diferentes funções e articulação com o texto escrito. Pois quando escolhemos com critérios uma boa literatura
Desta forma, Faria destaca a importância dos professores infantil, temos a oportunidade de brincar através da leitura,
lerem para as crianças numa linguagem didática e afetiva, tornando o contato com o livro um momento de diversão
utilizando preferencialmente o texto literário, pois o mesmo é escolhendo uma boa trama deixando bem claro como a
considerado polissêmico, apresentando um mundo de história acontece, com seu começo, meio e fim, respeitando a
conhecimento para seu aluno, estabelecendo uma sequências das cenas.
aprendizagem significativa. Quando a leitura torna-se uma Os professores precisam contar a história com
maneira divertida de conduzir uma aula, a brincadeira está conhecimento, sem improvisações, pois o sucesso da história
presente e quando a criança brinca, relaxa se solta, mistura o está em narrá-la com simplicidade e autenticidade estimulante
real ao imaginário. Aspecto esses que são de extrema para o seu leitor mirim.
importância para valorização de uma leitura prazerosa. Assim como afirma Coelho:
Já o texto literário é polissêmico, pois sua leitura provoca Constada a importância da história como fonte de prazer
no leitor reações diversas, que vão além do prazer emocional para criança e a contribuição que oferece ao seu
ao intelectual. Além de simplesmente fornecer informações desenvolvimento, não se pode correr o risco de improvisar. O
sobre diferentes temas históricos, sociais, existenciais e éticos, sucesso da narrativa depende de vários fatores que se
por exemplo -, eles também oferecem vários outros tipos de interligam, sendo fundamental a elaboração de um plano, um
satisfação ao leitor: adquirir conhecimentos variados, viver roteiro, no sentido de organizar o desempenho do narrador,
situações existenciais, entrar em contato com novas ideias etc. garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade. O
roteiro possibilita transformar o improviso em técnica, fundir
Entretanto, para trabalhar a literatura infantil em sala de a teoria à prática. O primeiro passo consiste em escolher o que
aula, é necessário saber narrar uma bela história com contar.
dramatismo, em que a todo o momento apareçam fatos novos
e interessantes, cheios de peripécias e situações imprevistas, Para tanto, é necessário utilizar da literatura de uma forma
movimentando o espírito infantil (CUNHA, 1991). Para que artística, permitindo que a criança divirta-se enquanto
desta forma envolva a criança em momento mágico, em que a vivencia a história, e que de alguma forma essa história
leitura proporcione momentos de prazer, deixando a criança quando bem selecionada ofereça recursos para o ouvinte
com vontade, desejo de ouvir a história novamente. refletir sobre si mesmo, trazendo de alguma forma experiência
Assim para envolver a criança com a história segundo para sua vida que seja duradoura e importante, pois segundo
Abramovich26 é preciso estar atento ao aproveitamento do Coelho “Aquilo que não divertir, emocionar ou interessar ao
texto, criando todo um clima de envolvimento, e pequeno leitor, não poderá também transmitir-lhe nenhuma
encantamento, respeitando pausas e intervalos para que a experiência duradoura ou fecunda”.
criança consiga construir e visualizar o seu cenário imaginário. Assim, sua relação com a leitura deve ser sempre
Evitar descrições cansativas e cheias de detalhes, saber prazerosa, promovendo momentos de intensa experiência,
trabalhar a tonalidade da voz, sussurrando, levantado a voz, enriquecendo sua aprendizagem de maneira significativa,
valorizando a onomatopeias, para que o ouvinte vivencie e porque a prática de leitura em sala de aula não pode estar
tome sua posição; começando a história sempre com “senhas ausente, principalmente os contos de fada, pois conforme
mágicas como era uma vez”, mantendo o ritmo sem ter pressa Bettelhim:
de acabar e terminar a história de maneira especial, Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece
mostrando para a criança que tudo que ouviu está impresso sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua
num livro e ela poderá ler quantas vezes quiser. personalidade. Oferece significados em tantos níveis
Cabe ao professor despertar emoções, estimulando a diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos
curiosidade a cada passo da história. Portanto como afirma que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade
Faria: de contribuições que esses contos dão à vida da criança.
O professor, para elaborar seu trabalho com a leitura de Devemos refletir sempre sobre a prática educativa,
livros para as crianças, precisa ler primeiro essas obras como procurando enxergar as particularidades de cada criança, sua
leitor comum, deixando-se levar espontaneamente pelo texto, relação com o mundo, pensando em uma proposta que vai
sem pensar ainda na sua utilização em sala de aula. Em além dos modelos estabelecidos pela sociedade como prontos
seguida, virá à leitura analítica, reflexiva, avaliativa. e acabados, e estruturar as ações em algo que aguce o aluno a
ir além do que lhe é proposto, isto é, com autonomia,
Neste contexto, é fundamental escolher um livro bem criatividade, sabedoria, e construir sua aprendizagem de
acabado, bem feito que aguce os olhos das crianças, com forma significativa estabelecendo novos conceitos.
ilustrações interessantes. O educador aos poucos deve Sendo assim, nossas intervenções, interações, mediações
articular o texto escrito com o visual, fazendo do momento da com a leitura poderão ajudar na construção do conhecimento
leitura a hora mais agradável possível, onde as crianças se e desenvolvimento da criança, oferecendo uma diversidade de
sintam hipnotizadas, provocadas a sentir emoções de forma possibilidades com a leitura dedicada ao mundo infantil
intensa pela história. utilizando a literatura infantil, que além de promover a

26 ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:


Scipione, 1997. (Série Pensamento e Ação no Magistério).

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diversão, expressão de emoções, entretenimento, permite (C) Informativo com o uso predominante da linguagem
também com a sua utilização adequada à construção de bons denotativa.
leitores. (D) Injuntivo, pois apresenta caráter ficcional baseado em
Acreditamos que os professores devem valorizar o fatos reais.
trabalho com a literatura infantil como uma atividade (E) Apelativo, porque tenta convencer o leitor.
enriquecedora da criatividade, e autonomia de seus alunos,
construídas através de leituras prazerosas onde o professor se 02. (Prefeitura de Brusque/SC - Professor Séries - Anos
comprometa com práticas educativas que envolvam a leitura Iniciais – FEPESE/2014) A respeito da leitura e escrita no
de forma lúdica centrando seu trabalho na criança. espaço escolar, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN Língua Portuguesa /Secretaria de Educação
Cantinho da leitura Fundamental. Brasília: 1997), é correto afirmar:
1. Leitura e escrita são práticas complementares,
O Cantinho de Leitura é um espaço, dentro da sala de aula, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no
utilizado para, também, despertar nos alunos a prática da processo de letramento – a escrita transforma a fala e a fala
leitura. Nele, os alunos terão, de pronto, acesso às leituras infuencia a escrita.
diversas do conhecimento humano. Com este privilégio, além 2. Leitura e escrita, além de serem práticas
dos livros já disponíveis na Biblioteca da Escola, os alunos complementares, permitem ao aluno construir seu
poderão aproveitar, a qualquer momento em que surgir a conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os
oportunidade, um bom momento de leitura. procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los, e
sobre as circunstâncias de uso da escrita.
Os cantinhos de leitura dispostos em sala de aula 3. A relação que se estabelece entre leitura e escrita, entre
contribuem para um processo de desenvolvimento e o papel de leitor e de escritor não é mecânica: alguém que lê
capacitação de leitores, desde os primeiros anos da escola. É muito não é, automaticamente, alguém que escreve bem.
através da leitura que se trabalha com o lúdico das crianças, 4. Leitura e escrita não são práticas complementares, elas
garantindo assim mais participação do aluno em sala de aula, são totalmente independentes uma da outra.
fazendo com que a criança aprenda a ter concentração e saiba 5. O ensino da Língua Portuguesa deve ter como meta
o que está lendo. formar leitores que sejam também capazes de produzir textos
A orientação passada por especialistas é que os coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos.
professores criem espaço com tapetes, almofadas, com contos
de fadas, poesias, fábulas, romances. Recomenda-se variar Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
esse espaço com cantinho do gibi, cantinho do jornal e cantigas corretas.
de roda.
(A) É correta apenas a afirmativa 3.
Questões (B) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5.
(C) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
01. (Prefeitura de Jacundá/PA - Técnico em (D) São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.
Enfermagem - INAZ do Pará/2016). Texto para a questão (E) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 5.

Você sabe o que está comendo? 03. (Prefeitura de Brusque/SC - Professor Séries - Anos
A dica da vovó, o anúncio da televisão e até mesmo Iniciais – FEPESE/2014) Letramento é palavra e conceito
interesses políticos se misturam com pesquisas sérias e recentes, introduzidos na linguagem da educação e das
confundem o consumidor, ávido por receitas para emagrecer ciências linguísticas há pouco mais de duas décadas. Seu
e viver mais. Essa mistura de interesses se transformou em um surgimento pode ser interpretado como decorrência da
grande refogado de mitos. necessidade de configurar e nomear comportamentos e
Os enganos começam pela carne. E a principal vítima dos práticas sociais na área da:
preconceitos é a de porco. Originalmente, ela era gordurosa. (A) leitura e escrita.
Mas há tempos perdeu medidas. A seleção genética segue a (B) leitura e tradução.
tendência light do mercado e dá preferência aos animais (C) matemática e tecnologia.
magros. Antes, a capa de gordura tinha em média 5,5 (D) educação e política.
centímetros – agora tem 1,5 centímetros. O bife de pernil tem (E) ciência e didática.
hoje a metade da gordura saturada de um bife de filé mignon
com o mesmo tamanho. E praticamente metade do colesterol 04. (Prefeitura de Nilópolis – RJ – Professor –
presente na mesma medida de uma coxa de frango com pele. FUNCEFET/2011) Observe estes quadros.
Mas isso não significa que a gordura saturada deve ser
demonizada e cortada da alimentação, pois é ela que recobre e
protege as células cerebrais. Ou seja, é importante. O corpo
precisa dela assim como precisa do colesterol. O problema são
as quantidades.
É o excesso que tem feito até dos sucos de frutas uma
ameaça à saúde. Mesmo sendo 100% naturais, os sucos não
devem ser consumidos à vontade, por serem calóricos. Sede se
mata com água, que não tem calorias.

Lia Bock. Época, 25/07/2005. Adaptado.


A partir da leitura do texto infere-se que ele é:
(A) Descritivo, pois visa detalhar quais são os benefícios
advindos pelo consumo da carne de porco.
(B) Narrativo, pois existem informações associadas aos
personagens do reino animal.
A partir da leitura desse texto, pode-se inferir que:

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(A) o autoritarismo e o desrespeito nas relações familiares 03. Resposta: A


asseguram a disciplina e a ordem social. Pois, a escrita transforma a fala (a constituição da “fala
(B) a relação escola-família reflete a organização e os letrada”) e a fala influencia a escrita (o aparecimento de
valores da sociedade em que a escola e a família se inserem. “traços da oralidade” nos textos escritos).
(C) o autoritarismo da família e a autoridade do professor
jamais devem ser questionados 04. Resposta: B
(D) a criança só adquire independência e segurança a A escola se vê diante de vários problemas educacionais
partir das experiências na vida escolar agregados à desordem, ao desrespeito às regras de conduta e
à falta de limites com seus alunos que considera como
05. (AL/SP- Agente Técnico Legislativo Especializado – responsabilidade da família, e esta nutre uma expectativa de
Pedagogia – FCC/2010) A instituição de um canto de leitura que a escola forneça a criança alguns ensinamentos, muitas
em uma sala de educação infantil é interessante por propiciar vezes equivocada. Cada vez mais os alunos vêm para a escola
(A) condições ideais de concentração para a leitura com menos limites trabalhados pela família. Muitos pais
individual. chegam mesmo a passar toda responsabilidade para a escola.
(B) apropriação da organização dos livros em bibliotecas. Mediante suas remotas experiências como estudantes e a
(C) interação entre crianças com diferentes habilidades de desorganização da classe que os filhos relatam, os pais exigem
leitura. da escola uma postura autoritária. É preciso ajudá-los a
(D) prática da leitura corrente e em voz alta. compreender que existe uma outra alternativa, que supera
(E) primeiro contato com a escrita e seus registros. tanto o autoritarismo, quanto o espontaneísmo. Discutir e
reconstruir esses contornos se mostra necessário à reflexão
06. (COTEC - Professor - Língua Portuguesa - Prefeitura sobre situações, por vezes, problemáticas, principalmente no
de Japonvar/MG). “Entre as tendências que definem a que tange ao conhecimento sobre o tipo de família que hoje a
alfabetização, uma delas atribui a esse processo um significado escola tem que lidar e como lidar.
muito amplo negando-lhe, assim, sua especificidade, com
reflexos indesejáveis na caracterização de sua natureza, na 05. Resposta: C
configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na O Cantinho de Leitura é um espaço, dentro da sala de aula,
definição da competência de alfabetizar”. Com esta afirmação, utilizado para, também, despertar nos alunos a prática da
o autor quer defender o processo de alfabetização em seu leitura. Nele, os alunos terão, de pronto, acesso às leituras
sentido próprio, específico, qual seja: diversas do conhecimento humano. Com este privilégio, além
(A) desenvolvimento total da língua (oral e escrita). dos livros já disponíveis na Biblioteca da Escola, os alunos
(B) desenvolvimento e apropriação da leitura de mundo poderão aproveitar, a qualquer momento em que surgir a
juntamente com o desenvolvimento da língua escrita. oportunidade, um bom momento de leitura.
(C) aquisição da língua materna, num processo nunca
terminado. 06. Resposta: D
(D) processo de aquisição do código escrito, das No processo de comunicação e expressão não basta ter o
habilidades de leitura e de escrita. domínio do processo do ler e do escrever (codificar e
decodificar), mas também saber fazer uso dessas habilidades
Resposta em práticas sociais em que são necessárias. A aprendizagem
01. Resposta: C da linguagem visual, oral, gestual, digital e escrita são
Nos textos informativos encontramos disposições textuais elementos importantes para o ser humano ampliar suas
em prosa, com uma linguagem de forma clara e direta, ou seja possibilidades de inserção e de participação nas diversas
denotativa, que visa transmitir informação sobre alguma coisa, práticas sociais. Implícita nessa concepção está a ideia de que
retirando a possiblidade de interpretações duplas. o domínio e o uso da língua escrita trazem consequências
Para melhor entendermos devemos pensar em um fio sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas,
condutor, em que o redator (emissor) transmite a informação linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida,
para os receptores (leitores), de forma objetiva. quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.

02. Resposta: E
De acordo com o PCN Língua Portuguesa, apesar de Caracterização do
apresentadas como dois sub-blocos, é necessário que se Atendimento Educacional
compreenda que leitura e escrita são práticas
complementares, fortemente relacionadas, que se modificam
Especializado. Adaptações e
mutuamente no processo de letramento. São práticas que Estratégias Pedagógicas para
permitem ao aluno construir seu conhecimento sobre os o atendimento das
diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados
para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da
Necessidades Educacionais
escrita. Específicas de crianças com
A relação que se estabelece entre leitura e escrita, entre o deficiência intelectual na
papel de leitor e de escritor, no entanto, não é mecânica:
alguém que lê muito não é, automaticamente, alguém que
escola regular. O papel do
escreve bem. cuidador pessoal na inclusão
Pode-se dizer que existe uma grande possibilidade de que de crianças com deficiência
assim seja. É nesse contexto — considerando que o ensino
deve ter como meta formar leitores que sejam também
intelectual em escolas
capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e regulares.
ortograficamente escritos — que a relação entre essas duas
atividades deve ser compreendida. Assim, o único item que
não corresponde ao texto acima é o item 4. Educação Especial – Concepções legais
Introdução
A educação especial constitui um paradigma
fundamentado na concepção nos direitos humanos, que

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conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e a sociedade, por ser rural, não exigia um grau muito
que avança em relação à ideia de equidade formal ao elevado de desenvolvimento cognitivo.
contextualizar as circunstâncias históricas da produção da  No segundo momento: - ao mesmo tempo em que
exclusão dentro e fora da escola. E de acordo com a legislação surgia a necessidade de escolarização entre a população, a
atual, a organização dos sistemas educacionais brasileiros sociedade passa a conceber o deficiente como um indivíduo
relacionado à educação especial, reconhecem que as que, devido suas limitações, não podia conviver nos
divergências nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade mesmos espaços sociais que os normais – deveria, portanto,
de confrontar com as práticas pedagógicas, e essas estudar em locais separados e, só seriam aceitos na
divergências verificam na formulação de conceitos na área do sociedade aqueles que conseguissem agir o mais próximo
atendimento educacional especializado (AEE). da normalidade possível, sendo capazes de exercer as
A partir dos referenciais para a construção de sistemas mesmas funções. Marca este momento o desenvolvimento
educacionais inclusivos, implicando uma mudança estrutural da psicologia voltada para a educação, o surgimento das
e cultural da escola para que todos os estudantes tenham suas instituições privadas e das classes especiais.
especificidades atendidas. Portanto, a educação especial Historicamente, a educação especial tem sido considerada
assume espaço central no debate acerca da sociedade e do como educação de pessoas com deficiência, seja ela mental,
papel da escola na superação da lógica da exclusão, visando a auditiva, visual, motora, física múltipla ou decorrente de
contemplar nos diversos âmbitos dos sistemas educacionais distúrbios evasivos do desenvolvimento.
todos os estudantes no exercício de seus direitos a educação.
Marcos históricos da Educação Especial no Brasil27 Concepções legais sobre educação especial
É importante contextualizar que a educação especial desde A educação é o principal alicerce da vida social do
da sua origem até a atualidade, para que se perceba que as educando.
escolas especiais são as principais responsáveis pelos avanços Há muito tempo a educação vem demostrando o quanto
da inclusão, longe de serem responsáveis pela negação dos necessita de mudanças para atender todos, garantido o
direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais. desenvolvimento escolar, ela transforma, transmite e amplia a
Destacam-se que a inclusão ou a exclusão das pessoas com cultura e a cidadania. Por essa razão, que a educação especial
deficiência estão intimamente ligadas às questões culturais. surgiu, através de muitas lutas, de organizações e leis
No Brasil, o primeiro marco da educação especial ocorreu favoráveis aos deficientes.
no período imperial no ano de 1854, Dom Pedro II, A educação especial inclusiva começou a ganhar força a
influenciado pelo ministro do Império Couto Ferraz, admirado partir da Constituição Federal e da lei de Diretrizes e Bases da
com o trabalho do jovem cego José Álvares de Azevedo que Educação Nacional n. 9.3497/96, e como modalidade da
educou com sucesso a filha do médico da família imperial, Dr. educação escolar, organiza-se de modo a considerar uma
Sigaud, criou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1891 aproximação sucessiva de pressupostos e da prática
a escola passou a se chamar Instituto Benjamin Constant - IBC. pedagógica social da educação inclusiva, a fim de cumprir os
Em 1857, D. Pedro II também criou o Instituto Imperial dos seguintes dispositivos legais e políticos.
Surdos-Mudos. Portanto, a criação desta escola deve-se a
Ernesto Hüet que veio da França para o Brasil com os planos Constituição Federal:
de fundar uma escola para surdos-mudos, que passou a se Artigo 208. O dever do Estado com a educação será
chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, em efetivado mediante a garantia de:
1957. E ainda no período imperial, em 1874, iniciou-se o III - atendimento educacional especializado aos
tratamento de deficientes mentais no hospital psiquiátrico da portadores de deficiência, preferencialmente na rede
Bahia. Após a proclamação da República, a Deficiência Mental regular de ensino;
ganha destaque nas políticas públicas, mesmo porque Artigo 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
acreditavam que esta deficiência pudesse implicar em assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
problemas de saúde, era vista como problema orgânico e a absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
relacionavam com a criminalidade, além de temerem pelo alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
fracasso escolar. cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
Após o período colonial até a década de 50 no Brasil convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
praticamente não se falava em Educação Especial, somente a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
partir de 1970 a educação especial passou a ser discutida, exploração, violência, crueldade e opressão.
tornando-se preocupação dos governos com a criação de II - criação de programas de prevenção e atendimento
instituições públicas e privadas, órgãos normativos federais e especializado para as pessoas portadoras de deficiência
estaduais e de classes especiais. O surgimento das primeiras física, sensorial ou mental, bem como de integração social
entidades privadas é um fator preponderante na história de do adolescente e do jovem portador de deficiência,
nosso país, a filantropia e o assistencialismo. Estes dois fatores mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e
colocam as instituições privadas em destaque no decorrer da a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a
história da educação especial brasileira, uma vez que o eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as
número de atendimentos realizados por elas era muito formas de discriminação.
superior ao realizado pelas públicas, e, por essa razão tinham § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos
certo poder no momento de discutir as políticas públicas junto logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação
a instancias governamentais. de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Podemos dividir a história em dois momentos: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.
 No primeiro: - durante o Brasil Império, as pessoas 9.3497/96:
com deficiências mais acentuadas, impedidas de realizar Artigo 4º - O dever do Estado com educação escolar
trabalhos braçais (agricultura ou serviços de casa) eram pública será efetivado mediante a garantia de:
segregadas em instituições públicas. As demais conviviam III - atendimento educacional especializado gratuito
com suas famílias e não se destacavam muito, uma vez que aos educandos com deficiência, transtornos globais do

27 Moreira.
Camila:https://cmoreira2.jusbrasil.com.br/artigos/111821610/marcos-
historicos-e-legais-da-educacao-especial-no-brasil

Conhecimentos Específicos 47
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desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, Esses dispositivos legais possibilitam estabelecer as linhas
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, das concepções legais sobre educação especial inclusiva, de
preferencialmente na rede regular de ensino; modo que assegure a igualdade de oportunidades e a
Artigo 58 - Entende-se por educação especial, para os valorização da diversidade no processo educativo. Nesse
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar sentido, tais dispositivos devem converter-se em um
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, compromisso ético-político de todos, nas diferentes esferas
para educandos com deficiência, transtornos globais do do poder, e em responsabilidades bem definidas para sua
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. operacionalização na realidade escolar. E nessa perspectiva, a
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educação é responsável pela socialização, que é a possibilidade
especializado, na escola regular, para atender às de uma pessoa conviver com qualidade na sociedade, tendo,
peculiaridades da clientela de educação especial. portanto, um caráter cultural acentuado, viabilizando a
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, integração do indivíduo com o meio social.
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua Educação especial o acesso na educação infantil
integração nas classes comuns de ensino regular. Os princípios gerais da educação das pessoas com
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional necessidades educacionais especiais estão esboçados na Lei de
do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, Diretrizes e Bases da Educação Nacional nos artigos 58,59 e
durante a educação infantil. 60. Esse processo escolar tem seu início na educação infantil
Artigo 59 - Os sistemas de ensino assegurarão aos na faixa etária de zero a cinco anos, em creches e pré-escola,
educandos com deficiência, transtornos globais do permitindo a identificação das necessidades educacionais
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: especiais e de incentivo para o desenvolvimento do aluno e sua
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e intervenção de diminuir as possibilidades de atraso no
organização específicos, para atender às suas desenvolvimento decorrentes ou não de fatores genéticos,
necessidades; orgânicos ou ambientais.
II - terminalidade específica para aqueles que não Portanto, esse tipo de atendimento oferecido na educação
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino de infantil pode contribuir muito para o sucesso escolar desses
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração educandos. É importante que a escola realiza essa etapa
para concluir em menor tempo o programa escolar para os através de recursos tecnológicos e humanos adequados a
superdotados; diversidade das demandas existentes. E para tanto, é
III - professores com especialização adequada em nível indispensável a integração dos serviços educacionais com as
médio ou superior, para atendimento especializado, bem outras áreas tais como: - saúde e de assistência social,
como professores do ensino regular capacitados para a garantindo uma totalidade no processo na formação e no
integração desses educandos nas classes comuns; atendimento ao desenvolvimento integral do educando. É
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua importante ressaltar, o fato da criança necessitar de apoio de
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive outras áreas, não deve constituir obstáculos para sua
condições adequadas para os que não revelarem frequência em creches ou em turmas de pré-escola.
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante A partir dos sete anos, a escolarização do educando com
articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para necessidades educacionais especiais, deve ocorrer nos
aqueles que apresentam uma habilidade superior nas mesmos moldes e etapas da educação dos demais educandos
áreas artística, intelectual ou psicomotora; da rede regular de ensino, dentro de uma metodologia ampla
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas da educação, definida como o processo educacional através da
sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e
do ensino regular. serviços educacionais especiais, organizados
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e,
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns,
matriculados na educação básica e na educação superior, a de modo garantir a educação escolar e promover o
fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas desenvolvimento das potencialidades dos educandos que
ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as
alunado. etapas e modalidades da educação básica.
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com
altas habilidades ou superdotação, os critérios e Quem são os educandos da educação especial
procedimentos para inclusão no cadastro referido São alunos com necessidades educacionais especiais, que
no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo longo do processo de aprendizagem, demonstram alguma
cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados do necessidade educacional especial, temporária ou permanente
cadastro e as políticas de desenvolvimento das tais como:
potencialidades do alunado de que trata o caput serão
definidos em regulamento.  Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou
Artigo 60 - Os órgãos normativos dos sistemas de ensino limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o
estabelecerão critérios de caracterização das instituições acompanhamento das atividades curriculares;
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico  Dificuldades de comunicação e sinalização
e financeiro pelo Poder Público. diferenciadas dos demais alunos, demandando adaptações
Parágrafo único. O poder público adotará, como de acesso ao currículo, com utilização de linguagens e
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos códigos aplicáveis;
educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na
própria rede pública regular de ensino,  Aquelas relacionadas a condições, disfunções,
independentemente do apoio às instituições previstas neste limitações ou deficiências;
artigo.

Conhecimentos Específicos 48
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Princípios da educação especial inclusiva profissional técnico e jovens e adultos. Portanto, deverá o
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional28, que projeto pedagógico atender ao princípio de flexibilização para
norteia a educação brasileira, em seu artigo 2º trata dos o acesso ao currículo, seja o mais adequado possível,
princípios que garante: respeitando seu caminhar próprio e favorecendo seu
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos progresso escolar.
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade Durante o processo escolar, deverá ser realizada
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do avaliações pedagógicas, objetivando identificar as barreiras
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua que estejam impedindo ou dificultando seu andamento.
qualificação para o trabalho. Ademais, essas avaliações deverá levar em consideração todas
Ao mesmo tempo em que a educação é um direito de todos, as hipóteses cabíveis que incidem na aprendizagem de cunho
é também um dever da família e do Estado a garantia desse individual, principalmente no ensino e nas condições da escola
direito no sentido de proporcionar meios para a sua e na sua pratica pedagógica.
concretização. A importância dessas avaliações deverá recair no
Com base, do artigo 2º Lei de Diretrizes e Bases da desenvolvimento na aprendizagem do educando, como na
Educação Nacional, a educação especial inclusiva requer melhoria da escola, através de análise de gráficos, que
fundamentação nos seguintes princípios: interferem no processo de ensino e aprendizagem, para
 A preservação da dignidade humana; identificar as potencialidades e necessidades no âmbito da
 A busca da identidade; escola.
 O exercício da cidadania;
Esses princípios, tratam-se, portanto, de uma educação Papel do professor
escolar que suas especificidades e em todos os momentos deve
estar voltada para a pratica da cidadania e da preservação da O professor tem um papel essencial como mediador dos
dignidade humana e a busca de sua identidade, dentro de uma processos de ensino-aprendizagem.
escola dinâmica, que valorize e respeite as diferenças dos Na escola inclusiva, é ele que recebe o aluno com
alunos. necessidades especiais na sala de aula. Sua atitude perante a
A inclusão dos alunos com necessidades educacionais deficiência é determinante para orientar como esse aluno, com
especiais, exigem adoções desses princípios da dignidade e dos as suas diferenças, vai ser visto pelos colegas, precisa ter
direitos humanos. Esses princípios não permite que se faça capacidade de conviver com as diferenças superando os
este tipo de discriminação, pois exige que os direitos de próprios preconceitos e estar sempre preparado para adaptar-
igualdade de oportunidades sejam respeitados. se as novas situações que surgirão no interior da sala de aula.
Com base, nesse valor fundamental das ações direcionadas O professor também organiza o trabalho pedagógico e
ao atendimento dos alunos, no convívio escolar que permite a pensa estratégias para garantir que todos tenham
efetivação das relações de respeito, identidade e dignidade, a possibilidade de participar e aprender. No entanto, ele não é o
concretização da inclusão desses alunos constituem na único responsável pela educação do aluno com necessidades
proposta que representa valores importantes em harmonia especiais. A escola também responde pela inclusão, e cabe ao
com os princípios citados acima, de modo que todos os alunos professor promover uma mediação entre família e escola,
independente de classe, raça, sexo, gênero, possam aprender solicitando suporte e acompanhamento da escola durante o
juntos em uma escola de qualidade, é um grande desafio a ser ano letivo.
enfrentado, numa clara demonstração de respeito à diferença Assim, vemos que a mediação se dá em vários níveis: no
e compromisso com a promoção dos direitos humanos. trabalho pedagógico, nas relações na sala de aula, na escola e
A política de inclusão dos educandos com necessidade também nas relações com a família e a comunidade.
educacionais especiais na rede de ensino regular
A política de inclusão dos educandos com necessidades Atendimento educacional especializado – (AEE)
educacionais especiais na rede de ensino regular, não traduz O atendimento educacional especializado é um serviço da
apenas na sua permanência física junto aos demais alunos, mas educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos
representa um incentivo para rever os conceitos e pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras
fundamentos, para desenvolver o potencial desses alunos, para a plena participação dos alunos, considerando suas
respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades necessidades específicas.
especiais. Portanto, o ensino oferecido no atendimento educacional
A proposta da política deve focar na função social da especializado é necessariamente diferente do ensino escolar e
escola, através do projeto pedagógico. Assim, nesse sentido a não pode caracterizar-se como um espaço de reforço escolar
escola deve assumir o papel de assegurar as ações que ou complementação das atividades escolares. São exemplos
favoreçam determinados tipos de interações sociais, definindo práticos de atendimento educacional especializado:
no currículo as práticas inclusivas.  O ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e do
Portanto, não é aluno que tem que adaptar à escola e sim a código BRAILLE;
escola que tem adequar a suas condições, tornando assim um  A introdução e formação do aluno na utilização de
espaço inclusivo. É nesse contexto que a educação especial é recursos de tecnologia assistiva;
definida para possibilitar aos educandos com necessidades  Como a comunicação alternativa e os recursos de
educacionais especiais atinja seus objetivos de socialização e acessibilidade ao computador;
de aprendizagem.  A orientação e mobilidade, a preparação e
Para desenvolver sua função primordial que é de ensinar, disponibilização ao aluno de material pedagógico acessível,
a escola precisa enfrentar desafios para ajustar as entre outros.
diversidades existentes no ambiente escolar, é através do Esses atendimentos são realizados nas salas de recursos
projeto pedagógico desenvolve sua função que é de incluir multifuncionais, que são espaços físicos localizados nas
seus educandos com necessidades educacionais especiais, escolas públicas, pois possuem mobiliário, materiais didáticos
dentro do mesmo contexto das diretrizes educacionais e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos
traçadas para: - educação infantil, fundamental, médio, específicos para o atendimento dos alunos da Educação

28BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN n. 9394/96, de


20/12/1996.

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Especial. A organização e a administração deste espaço são de ( ) É entendida como uma modalidade de ensino.
responsabilidade da gestão escolar e o professor que atua ( ) É vista como um serviço ou atendimento à parte do
neste serviço educacional deve ter formação para o exercício currículo escolar.
do magistério de nível básico e conhecimentos específicos de ( ) Orienta a organização de redes de apoio e a formação
Educação Especial, adquiridos em cursos de aperfeiçoamento continuada dos professores.
e de especialização. ( ) O atendimento educacional especializado é um serviço
No atendimento educacional especializado, o professor de oferta facultativa pela escola.
fará, junto com o aluno, a identificação das barreiras que ele A sequência correta, de cima para baixo, é:
enfrenta no contexto educacional comum e que o impedem ou (A) F, V, V, F.
o limitam de participar dos desafios de aprendizagem na (B) V, F, V, F.
escola. Identificando esses obstáculos e também identificando (C) F, V, F, V.
as habilidades do aluno, o professor pesquisará e (D) V, F, F, V.
implementará recursos ou estratégias que o auxiliarão,
promovendo ou ampliando suas possibilidades de 04. (IF-SC- Professor Administração – IF/SC)
participação e atuação nas atividades, nas relações, na A inclusão escolar propõe um modo de organização do
comunicação e nos espaços da escola. sistema educacional que considera as necessidades de todos
A sala de recursos multifuncional será o local apropriado os alunos, assim a inclusão não atinge apenas alunos com
para o aluno aprender a utilização das ferramentas de deficiência e ou necessidades específicas, mas todos os demais,
tecnologia assistiva, tendo em vista o desenvolvimento da promovendo o acesso e a permanência, independentemente
autonomia. Portanto, o trabalho na sala se destina a avaliar a de suas necessidades e possibilidades de aprendizagem
melhor alternativa de tecnologia assistiva, produzir material (Rodrigues, 2008).
para o aluno e encaminhar estes recursos e materiais Em relação à educação inclusiva, todas as alternativas
produzidos, para que eles sirvam ao aluno na escola comum, abaixo são corretas, EXCETO UMA, assinale-a.
junto com a família e nos demais espaços que frequenta. (A) A Língua Brasileira de Sinais – Libras deve ser inserida
como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação
Questões de professores para o exercício do magistério, em nível médio
01. (IFC-SC- Professor Educação Especial – IESES) e superior e nos cursos de Fonoaudiologia.
É caracterizado como um atendimento das (B) Na perspectiva da Educação Inclusiva, a Educação
particularidades do aluno com deficiência, eliminando Especial integra a proposta pedagógica da escola regular,
barreiras, através de instrumentos facilitadores para o promovendo o atendimento educacional especializado.
aprendizado do aluno. Deve ser um complemento ao ensino (C) A Educação Especial é uma modalidade de ensino que
comum e não um reforço ou apoio escolar, sendo que a se realiza em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino,
escolarização dos alunos com deficiência deve ser garantida tendo o atendimento educacional especializado como parte
pela escola comum e não por este tipo de atendimento. É integrante do processo educacional.
oferecido obrigatoriamente pelo órgão público, sempre no (D) A Política Nacional de Educação Especial, na
contraturno escolar, sendo que a família não tem a perspectiva da Educação Inclusiva, assegura a inclusão escolar
obrigatoriedade de aceitar o serviço. Ele é opcional: de alunos com deficiência, transtornos globais de
(A) Atendimento Clínico Especializado. desenvolvimento, altas habilidades e superdotação.
(B) Reforço Educacional Especializado. (E) Na LDB 9394/1996, a Educação Especial constitui a
(C) Atendimento Educacional Pedagógico. modalidade de educação escolar oferecida exclusivamente na
(D) Atendimento Educacional Especializado. rede regular de ensino, para alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e
02. (UFRJ- Pedagogo- PR-4-UFRJ) superdotação.
Nos termos do artigo 58º da LDB 9.394/96, em relação aos
alunos com necessidades especiais, será oferecida educação 05. (Colégio Pedro II- Técnico em Educação – AOCP)
especial com atendimento educacional, preferencialmente, De acordo com a Política Nacional de Educação Especial, na
em: Perspectiva da Educação Inclusiva, NÃO podemos afirmar que
(A) Escolas especiais da rede pública estadual, sempre (A) na perspectiva da educação inclusiva, a educação
atendendo às necessidades da família. especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola
(B) Escolas públicas particulares especiais, por meio de regular, promovendo o atendimento às necessidades
convênios, desde que não acarrete despesas para os cofres educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos
públicos. globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
(C) Classes, escolas ou serviços especializados, sempre (B) constitui um paradigma educacional fundamentado na
que, em função das condições específicas dos alunos, não for concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e
possível a sua integração nas classes comuns de ensino diferença como valores indissociáveis, e que avança em
regular. relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as
(D) Rede regular de ensino, com consultórios circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e
especializados, em função da deficiência de cada aluno. fora da escola.
(E) Escolas públicas conveniadas com hospitais, visando (C) o atendimento educacional especializado tem como
ao atendimento da patologia e à sequência do processo de função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos
ensino aprendizagem. e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participação dos alunos, considerando suas necessidades
03. (UECE – Técnico em Assuntos Educacionais- específicas.
FUNECE/2017) (D) tem como objetivo o acesso, a participação e a
A Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais
inclusão, tem por objetivo assegurar a inclusão escolar de do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas
alunos com deficiências, transtornos globais do escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Analise o promover respostas às necessidades educacionais especiais.
que se diz acerca da Política Nacional de Educação Especial e (E) para atuar na educação especial, o professor deve ter
assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. como base da sua formação, inicial e continuada,

Conhecimentos Específicos 50
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conhecimentos gerais para o exercício da docência, bem como deficiência ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto
conhecimentos gerais da área a socialização do homem.
A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios,
Respostas sempre inabilitou os portadores de deficiência,
marginalizando-os e privando-os de liberdade. Essas pessoas,
01. Resposta: D sem respeito, sem atendimento, sem direitos, sempre foram
alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas.
O AEE é completamente diferente do trabalho dentro da A literatura clássica e a história do homem refletem esse
sala de aula que deve ser mediada pelo professor responsável pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos
pela turma e no AEE o trabalho visa complementar os impedimentos e às aparências do que aos potenciais e
conceitos, conteúdos e habilidades referentes a série-idade do capacidades de tais pessoas.
estudante. Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais
têm promovido e implementado a inclusão, nas escolas, de
02. Resposta: C pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade
Artigo. 58. Entende-se por educação especial, para os especial, visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e Movimentos nacionais e internacionais têm buscado o
altas habilidades ou superdotação. consenso para a formatação de uma política de integração e de
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educação inclusiva, sendo que o seu ápice foi a Conferência
especializado, na escola regular, para atender às Mundial de Educação Especial, que contou com a participação
peculiaridades da clientela de educação especial. de 88 países e 25 organizações internacionais, em assembleia
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em junho de 1994.
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função Este evento teve como culminância a "Declaração de
das condições específicas dos alunos, não for possível a Salamanca", da qual transcrevem-se, a seguir, pontos
sua integração nas classes comuns de ensino regular. importantes, que devem servir de reflexão e mudanças da
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do realidade atual, tão discriminatória.
Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a A inclusão escolar, fortalecida pela Declaração de
educação infantil. Salamanca, no entanto, não resolve todos os problemas de
marginalização dessas pessoas, pois o processo de exclusão é
03. Resposta: B anterior ao período de escolarização, iniciando-se no
Quanto ao primeiro e último anunciados - o artigo 58 - nascimento ou exatamente no momento em aparece algum
Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a tipo de deficiência física ou mental, adquirida ou hereditária,
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente em algum membro da família. Isso ocorre em qualquer tipo de
na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, constituição familiar, sejam as tradicionalmente estruturadas,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou sejam as produções independentes e congêneres e em todas as
superdotação. classes sociais, com um agravante para as menos favorecidas.
§ 2º O atendimento educacional será (portanto, O nascimento de um bebê com deficiência ou o
obrigatório) feito em classes, escolas ou serviços aparecimento de qualquer necessidade especial em algum
especializados, sempre que, em função das condições membro da família altera consideravelmente a rotina no lar.
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas Os pais logo se perguntam: por quê? De quem é a culpa? Como
classes comuns de ensino regular. agirei daqui para frente? Como será o futuro de meu filho?
O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou
04. Resposta: E responsáveis e a dinâmica familiar fica fragilizada.
A lei de nº 9.394/1996, em seu artigo 4º, inciso III, diz que Imediatamente instalam-se a insegurança, o complexo de
o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado culpa, o medo do futuro, a rejeição e a revolta, uma vez que
mediante a garantia de: atendimento educacional esses pais percebem que, a partir da deficiência instalada,
especializado gratuito aos educandos com deficiência, terão um longo e tortuoso caminho de combate à
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou discriminação e ao isolamento.
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e
modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino. O Nosso momento atual30
erro dessa alternativa foi usar a palavra exclusivamente.
A oferta é preferencial. A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e
cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades
05. Resposta: E curriculares, burocracia.
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional,
base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa
gerais para o exercício da docência e fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os
conhecimentos específicos da área. que dela participam.
A inclusão, portanto, implica mudança desse atual
A Inclusão da Pessoa com Deficiência na Sociedade paradigma educacional, para que se encaixe no mapa da
educação escolar que estamos retraçando.
Segundo Maciel29, hoje, no Brasil, milhares de pessoas com E inegável que os velhos paradigmas da modernidade
algum tipo de deficiência estão sendo discriminadas nas estão sendo contestados e que o conhecimento, matéria-prima
comunidades em que vivem ou sendo excluídas do mercado de da educação escolar, está passando por uma reinterpretação.
trabalho. O processo de exclusão social de pessoas com As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de
gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais

29 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 30 Adaptado de: MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?
88392000000200008 São Paulo: Moderna, 2006.

Conhecimentos Específicos 51
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desvelada e destacada e é condição imprescindível para se A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos
entender como aprendemos e como compreendemos o mundo para reverter a situação da maioria de nossas escolas, as quais
e a nós mesmos. atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino
Nosso modelo educacional mostra há algum tempo sinais ministrado por elas — sempre se avalia o que o aluno
de esgotamento, e nesse vazio de ideias, que acompanha a aprendeu, o que ele não sabe, mas raramente se analisa “o que”
crise paradigmática, é que surge o momento oportuno das e “como” a escola ensina, de modo que os alunos não sejam
transformações. penalizados pela repetência, evasão, discriminação, exclusão,
Um novo paradigma do conhecimento está surgindo das enfim.
interfaces e das novas conexões que se formam entre saberes E fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola”
outrora isolados e partidos e dos encontros da subjetividade e é mais fácil ainda encaminhar, para as classes e escolas
humana com o cotidiano, o social, o cultural. Redes cada vez especiais, os que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo
mais complexas de relações, geradas pela velocidade das ou não deficientes, para os programas de reforço e aceleração.
comunicações e informações, estão rompendo as fronteiras Por meio dessas válvulas de escape, continuamos a
das disciplinas e estabelecendo novos marcos de compreensão discriminar os alunos que não damos conta de ensinar.
entre as pessoas e do mundo em que vivemos. Estamos habituados a repassar nossos problemas para outros
Diante dessas novidades, a escola não pode continuar colegas, os “especializados” e, assim, não recai sobre nossos
ignorando o que acontece ao seu redor nem anulando e ombros o peso de nossas limitações profissionais.
marginalizando as diferenças nos processos pelos quais forma Segundo proclama a Declaração de Salamanca:
e instrui os alunos. E muito menos desconhecer que aprender
implica ser capaz de expressar, dos mais variados modos, o "Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
que sabemos, implica representar o mundo a partir de nossas necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os
origens, de nossos valores e sentimentos. estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação
O ensino curricular de nossas escolas, organizado em de qualidade a todos através de um currículo apropriado,
disciplinas, isola, separa os conhecimentos, em vez de arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos
reconhecer suas inter-relações. Contrariamente, o e parceria com as comunidades. (...) O desafio que confronta a
conhecimento evolui por recomposição, contextualização e escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma
integração de saberes em redes de entendimento, não reduz o pedagogia centrada na criança e capaz de bem sucedidamente
complexo ao multidimensional dos problemas e de suas educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam
soluções. desvantagem severa. O mérito de tais escolas não reside somente
Os sistemas escolares também estão montados a partir de no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de
um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais
os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes
em regular e especial, os professores em especialistas nesta e discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de
naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa desenvolver uma sociedade inclusiva."
organização é marcada por uma visão determinista,
mecanicista, formalista a reducionista, própria do pensamento Um dos princípios norteadores da Lei de Diretrizes e Bases
científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador, Nacionais da Educação – LDB 9.394/96 é o da igualdade de
sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo condições para o acesso e a permanência na escola. A LDB
escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe. reconhece a educação infantil como direito e prevê a garantia
Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é de condições adequadas à escolarização de jovens, adultos e
urgente que seus planos se redefinam para uma educação trabalhadores, a qualidade de ensino em todos os níveis e
voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e modalidades educacionais, além de outros direitos e
que reconhece e valoriza as diferenças. obrigações (Título III, Artigo 5 I – IX).
Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin31, pois, A reafirmação de identidades étnicas e o desenvolvimento
para se reformar a instituição, temos de reformar as mentes, de educação escolar bilíngue e intelectual aos povos indígenas
mas não se pode reformar as mentes sem uma prévia reforma são apontados em diversas proposições. A LDB rompe com o
das instituições. modelo assistencial e terapêutico operante, até então, no que
diz respeito ao tratamento dispensado a educandos com
Inclusão Escolar deficiência e necessidades educacionais especiais. Tais
proposições nos permitem inferir que os pilares fundamentais
A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão da LDB podem favorecer a concretização de projetos flexíveis
de uma parte, privações constantes e pela baixa autoestima e inovadores referenciados no ideal de uma escola inclusiva.
resultante da exclusão escolar e da social — alunos que são
vítimas de seus pais, de seus professores e, sobretudo, das Mudanças na escola
condições de pobreza em que vivem, em todos os seus
sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem
escolas, pois repete as suas séries várias vezes, são expulsos, de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em
evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de
hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. encontrar soluções próprias para os seus problemas. As
As soluções sugeridas para se reverter esse quadro mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por
parecem reprisar as mesmas medidas que o criaram. Em Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da
outras palavras, pretende-se resolver a situação a partir de escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e
ações que não recorrem a outros meios, que não buscam novas vividas a partir de uma gestão escolar democrática.
saídas e que não vão a fundo nas causas geradoras do fracasso É ingenuidade pensar que situações isoladas são
escolar. suficientes para definir a inclusão como opção de todos os
Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a escola reluta membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se
em admiti-lo como sendo seu. desconsideram aqui os esforços de pessoas bem-

31MORIN. E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 4.


ed. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.

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intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do
mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP).
escolar. - Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que
A organização de uma sala de aula é atravessada por demonstram potencial elevado em qualquer uma das
decisões da escola que afetam os processos de ensino e de seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual,
aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de
apenas de uma única sala de aula, o uso dos espaços da escola apresentar grande criatividade, envolvimento na
para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu
combinado e sistematizado para o bom aproveitamento de interesse (MEC/SEESP).
todos, as horas de estudo dos professores devem coincidir
para que a formação continuada seja uma aprendizagem A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino
colaborativa, a organização do Atendimento Educacional regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de
Especializado (AEE) não pode ser um mero apêndice na vida Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou
escolar ou da competência do professor que nele atua. privada, sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem
Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, estar de acordo com as orientações da Política Nacional de
funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e com
oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o
educacional, constitui o arcabouço pedagógico e Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica
administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do (MEC/SEESP).
que está INSTITUÍDO e do que Libâneo32 e outros autores Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de
analisaram pormenorizadamente. reorientação de escolas especiais e centros especializados
Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes requer a construção de uma proposta pedagógica que institua
curriculares, as leis, os documentos das políticas, os nestes espaços, principalmente, serviços de apoio às escolas
regimentos e demais normas do sistema. para a organização das salas de recursos multifuncionais e
Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem para a formação continuada dos professores do AEE.
construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma Os conselhos de educação têm atuação primordial no
instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta credenciamento, autorização de funcionamento e organização
e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em destes centros de AEE, zelando para que atuem dentro do que
geração. Trata-se do INSTITUINTE. a legislação, a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, a
A escola cria, nas possibilidades abertas pelo preferência pela escola comum como o local do serviço de AEE,
INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional já definida no texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela
que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu Política, e existem razões para que esse atendimento ocorra na
horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e escola comum.
outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola
a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inova- do aluno está na possibilidade de que suas necessidades
dor dos que fazem e pensam a educação. educacionais específicas possam ser atendidas e discutidas no
dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino regular
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) e/ou na educação especial, aproximando esses alunos dos
ambientes de formação comum a todos. Para os pais, quando o
Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia-lhes viver uma
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é o experiência inclusiva de desenvolvimento e de escolarização
Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço da de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos exteriores à
educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza escola.
recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as
barreiras para a plena participação dos alunos, considerando A formação de professores para o AEE
suas necessidades específicas" (SEESP/MEC).33
O AEE complementa e/ou suplementa a formação do Para atuar no AEE, os professores devem ter formação
aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, específica para este exercício, que atenda aos objetivos da
constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos
realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento ou de
físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto, especialização, indicados para essa formação, os professores
é parte integrante do projeto político pedagógico da escola. atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdo
São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais, específico do AEE, para melhor atender a seus alunos.
alunos público-alvo da educação especial, conforme A formação de professores consiste em um dos objetivos
estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação
Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008. com a aprendizagem permanente de professores, demais
profissionais que atuam na escola e também dos pais e da
- Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm comunidade onde a escola se insere. Neste documento,
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, apresentam-se as ações de formação, incluindo os aspectos
intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas ligados ao estudo das necessidades específicas dos alunos com
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas habilidades/superdotação. Este estudo perpassa o cotidiano
(ONU)34. da escola e não é exclusivo dos professores que atuam no AEE.
- Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: À gestão escolar compete implementar ações que
aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou
sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar por
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. meio de palestras informativas e formações em nível de

32 LIBÂNEO, J. C., OLIVEIRA J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, 34Organização das Nações Unidas - ONU. Convenção sobre os Direitos das Pessoas
estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. com Deficiência. Nova Iorque, 2006.
33 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Decreto No 6.571, de 17 de setembro de 2008.

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aperfeiçoamento e especialização para os professores que considerando que cada problema é um problema e que não
atuam ou atuarão no AEE. existem receitas para solucioná-los.
As palestras informativas devem envolver o maior número Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem
de pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE, Colaborativa em Redes - ACR, construída a partir da
pais, autoridades educacionais. De caráter mais amplo, essas metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi
palestras têm por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele desenvolvida para um programa de formação continuada a
está sendo realizado e qual a política que o fundamenta, além distância de professores de AEE. Seu foco é a aprendizagem
de tirar dúvidas sobre este serviço e promover ações conjuntas colaborativa, o trabalho em equipe, contextualizado na
para fazer encaminhamentos, quando necessários. realidade do aprendiz.
Para a formação em nível de aperfeiçoamento e A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos
especialização, a proposta é que sejam realizadas ações de individuais e coletivos. As etapas compreendem a
formação fundamentadas em metodologias ativas de apresentação, a descrição e a discussão do problema;
aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendizagem pesquisas em fontes bibliográficas para favorecer a
Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning compreensão do problema; apresentação de propostas de
(PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Trabalhos com soluções para o problema em foco; elaboração do plano de
Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), entre atendimento; socialização; reelaboração da solução do
outras. problema e do plano de atendimento; avaliação.
Essas metodologias trazem novas formas de produção e A proposta de formação ACR prepara o professor para
organização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro perceber a singularidade de cada caso e atuar frente a eles.
do processo educativo, dando-lhe autonomia e Nesse sentido, a formação não termina com o curso, visto que
responsabilidade pela sua aprendizagem por meio da a atuação do professor requer estudo e reflexões diante de
identificação e análise dos problemas e da capacidade para cada novo desafio. Finalizada a formação, é importante que os
formular questões e buscar informações para responder a professores constituam redes sociais para dar continuidade
estas questões, ampliando conhecimentos. aos estudos, estudar casos, dirimir dúvidas e socializar os
Tradicionalmente os cursos de formação continuada são conhecimentos adquiridos a partir da prática cotidiana. Para
centrados nos conteúdos, classificados de acordo com o contribuir com estas ações, a internet disponibiliza várias
critério de pertencimento a uma especificidade, tendo sua ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos
organização curricular pautada num perfil "ideal" de aluno que professores.
se deseja formar. Estes modelos de formação estão sendo cada As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em
vez mais questionados no contexto educacional e algumas especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o
metodologias começam a surgir com a finalidade de romper acesso às informações de forma rápida e constante. Elas
com esta organização e determinismo. Tais metodologias permitem a participação ativa do usuário na grande rede de
rompem com o modelo determinista de formação, computadores e invertem o papel de usuário consumidor para
considerando as diferenças entre os estudantes e usuário produtor de conhecimento, de agente passivo para
apresentando uma nova perspectiva de organização agente ativo, o que pode ampliar as possibilidades dos
curricular. programas de formação pautados em metodologias ativas de
Zabala35 defende uma perspectiva de organização aprendizagem.
curricular globalizadora, na qual os conteúdos de Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a
aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são construção coletiva do conhecimento em torno das práticas de
relevantes em função de sua capacidade de compreender uma inclusão e, o mais importante, socializar estas práticas e fazer
realidade global. Para Hernandez36, o conceito de delas um objeto de pesquisa.
conhecimento global e relacional permite superar o sentido da
mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe Finalizando...
estabelecer um processo no qual o tema ou problema
abordado seja o ponto de referência para onde confluem os Embora possa assustar pelo grande número de mudanças
conhecimentos. e pelo teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos a
É neste contexto que surgem as metodologias ativas de apregoam “um caminho sem volta”.
aprendizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em que
docente. Uma delas refere-se à flexibilidade diante das essa inovação acontece, marcando, grifando na nossa
questões que surgirão e dos conhecimentos que se construirão consciência de educadores o seu valor para que nossas escolas
durante o desenvolvimento dos trabalhos. Este processo atendam à expectativa dos alunos de nossas escolas, do ensino
permite aos professores e aos alunos aprenderem a explicar as infantil à Universidade.
relações estabelecidas a partir de informações obtidas sobre A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos
determinado assunto e demonstra respeito às diferentes aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas
formas e procedimentos de organização do conhecimento. salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós que temos
Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da
processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo inclusão!
aos conteúdos da formação. Os conteúdos não se tornam à O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
finalidade, mas os meios de ensino. As metodologias ativas de ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e
aprendizagem têm como característica o fato de se qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem convence a todos pela sua lógica e pela ética de seu
problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo, posicionamento social.
cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo na
a desenvolver os trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a instituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos
considerar o contexto ao elaborar as propostas das soluções, males que o conservadorismo escolar tem espalhado pela
tornando-o consciente do que ele sabe e do que precisa nossa infância e juventude estudantil.
aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes,

35 ZABALA, A. A Prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998. 36HERNANDEZ, F; VENTURA, M. A Organização do Currículo por Projetos de
Trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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O futuro da escola inclusiva depende de uma expansão IV. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do elaborados com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
compromisso de transformar a escola, para se adequar aos (LDB), de 1996, orientam a respeito de estratégias para a
novos tempos. educação de alunos com necessidades especiais. Para isso,
Se hoje ainda esses projetos se resumem a experiências estabeleceu um material didático-pedagógico intitulado
locais, estas estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em “Adaptações Curriculares” que insere-se na concepção da
escolas e redes de ensino brasileiras, porque têm a força do escola inclusiva defendida na Declaração de Salamanca.
óbvio e a clareza da simplicidade.
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido Assinale a alternativa correta:
suficiente para enfrentar, com segurança e otimismo, o poder (A) Apenas a I.
da velha e enferrujada máquina escolar. (B) I, II e IV.
A inclusão é um sonho possível. (C) I, III e IV.
(D) Todas estão corretas.
Questões (E) Nenhuma das alternativas.

01. (CESPE – SEDF - Conhecimentos Básicos/2017) Com 05. (FCM - IF Sudeste – MG - Técnico em Assuntos
relação à educação especial/inclusiva e ao atendimento Educacionais/2016) A escola inclusiva é aquela que:
especializado, julgue o item que se segue. I- atua em coletividade, prezando o indivíduo,
O termo necessidades educacionais especiais se refere reconhecendo sua identidade e subjetividade.
também a crianças de rua e minorias étnicas que apresentem II- está preparada para receber os alunos, tendo a garantia
alguma carência material e, portanto, necessitem de da acessibilidade física, metodológica, comunicacional e
atendimento educacional especializado. tecnológica.
( ) Certo ( ) Errado III- tem o poder de acabar com as mazelas sociais, com a
produção das desigualdades sociais.
02. (CESPE – SEDF - Conhecimentos Básicos/ 2017) Com IV- defende a inserção de alunos com deficiência com
relação à educação especial/inclusiva e ao atendimento comprometimentos mais severos para o ato de socialização.
especializado, julgue o item que se segue.
A educação especial/inclusiva tem caráter complementar São corretas as afirmativas:
ou suplementar, conforme o caso concreto. (A) I e II.
( ) Certo ( ) Errado (B) I e III.
(C) II e III.
03. (CESPE – SEDF - Conhecimentos Básicos/2017) Com (D) III e IV.
relação ao planejamento escolar e à educação (E) I, II, III e IV.
especial/inclusiva, julgue o próximo item.
O plano de ensino deve ter coerência quanto a seus 06. (UTFPR – UTFPR - Pedagogo/2016) A Declaração de
objetivos e aos meios para alcançá-los. Salamanca apresentou princípios, políticas e práticas, que são
( ) Certo ( ) Errado explicitados nas legislações atualmente vigentes e nos
documentos oficiais. Sobre tais princípios, é correto afirmar
04. (Big Advice - Prefeitura de Martinópolis - Professor que:
PEB I – Educação Especial/2017) A noção de necessidades (A) A Declaração de Salamanca refere-se à necessidade de
educacionais especiais entrou em evidência a partir das todas as crianças se adaptarem à educação regular, a partir dos
discussões do chamado “movimento pela inclusão” e dos esforços da família e da comunidade.
reflexos provocados pela Conferência Mundial sobre Educação (B) A Declaração de Salamanca acentuou as desigualdades
Especial, realizada em Salamanca, na Espanha, em 1994. Nesse historicamente construídas em nossa sociedade, reforçando a
evento, foi elaborado um documento mundialmente segregação e a exclusão.
significativo denominado “Declaração de Salamanca” e na qual (C) A Declaração de Salamanca refere-se à educação nos
foram levantados aspectos inovadores para a reforma de países em desenvolvimento, fruto das desigualdades
políticas e sistemas educacionais. promovidas pelo sistema capitalista.
(D) A Declaração de Salamanca ressalta que os sistemas
De acordo com a declaração: educativos devem ser projetados e os programas aplicados de
I. O conceito de “necessidades educacionais especiais” modo que tenham em vista toda a gama das diferentes
passará a incluir, além das crianças portadoras de deficiências, características e necessidades.
aquelas que estejam experimentando dificuldades (E) A Declaração de Salamanca afirma que todas as
temporárias ou permanentes na escola, as que estejam crianças têm direito fundamental à educação, mesmo que não
repetindo continuamente os anos escolares, as que sejam consiga se desenvolver e manter um nível aceitável de
forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que vivem em conhecimentos.
condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as
que sejam vítimas de guerra ou conflitos armados, as que 07. (FUNCAB - EMSERH -Pedagogo/2016) A Escola
sofrem de abusos contínuos, ou as que simplesmente estão Inclusiva é uma tendência internacional do final do século XX.
fora da escola, por qualquer motivo que seja.” O principal desafio dessa escola é:
II. A Declaração de Salamanca estabeleceu uma nova (A) Desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz
concepção, extremamente abrangente, de “necessidades de educar todas, sem discriminação, respeitando suas
educacionais especiais” que provoca a secessão dos dois tipos diferenças.
de ensino, o regular e o especial, na medida em que esta nova (B) Dar conta da diversidade das crianças oferecendo
definição implica que todos possuem ou podem possuir, respostas adequadas às suas características e necessidades,
temporária ou permanentemente, “necessidades educacionais solicitando apoio de instituições e especialistas somente
especiais”. quando a família exigir.
III. Dessa forma, orienta para a existência de um sistema (C) Fortalecer uma sociedade democrática, justa e
único, que seja capaz de prover educação para todos os alunos, economicamente ativa.
por mais especial que este possa ser ou estar.

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(D) Garantir às crianças com necessidades especiais uma - Adotar, com força de lei ou como política, o princípio
convivência participativa com outras crianças com as mesmas da educação integrada, que permita a matrícula de todas
necessidades especiais. as crianças em escolas comuns, a menos que haja razões
(E) Desenvolver o princípio da integração previsto na convincentes para o contrário;
Declaração Municipal. - Criar mecanismos descentralizados e participativos, de
planejamento, supervisão e avaliação do ensino de crianças e
Respostas adultos com necessidades educacionais especiais;
- Promover e facilitar a participação de pais, comunidades
01. Certo e organizações de pessoas com deficiência, no planejamento e
Segundo a Deliberação n° 02/03 - CEE, a terminologia no processo de tomada de decisões, para atender a alunos e
“necessidades educacionais especiais” deve ser utilizada para alunas com necessidades educacionais especiais;
referir-se às crianças e jovens, cujas necessidades decorrem de - Assegurar que, num contexto de mudança sistemática, os
sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender. programas de formação do professorado, tanto inicial como
Assim, a terminologia necessidade educacional especial pode contínua, estejam voltados para atender às necessidades
ser atribuída a diferentes grupos de educandos, desde aqueles educacionais especiais, nas escolas integradoras.
que apresentam deficiências permanentes até aqueles que, por
razões diversas, fracassam em seu processo de aprendizagem 05. A
escolar. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os
02. Certo estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação
O AEE complementa e/ou suplementa a formação do de qualidade a todos através de um currículo apropriado,
aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de
constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino recursos e parceria com as comunidades
AEE, um serviço da educação especial que "[...] identifica,
03. Certo elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade,
Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem que eliminem as barreiras para a plena participação dos
de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em alunos, considerando suas necessidades específicas
muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de
encontrar soluções próprias para os seus problemas. As 06. D
mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da diversas necessidades de seus alunos, acomodando tanto
escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e
vividas a partir de uma gestão escolar democrática assegurando uma educação de qualidade a todos através de
currículo apropriado, modificações organizacionais,
04. C estratégias de ensino, uso de recursos e parceiras com a
Declaração de Salamanca (1994) comunidade (…) Dentro das escolas inclusivas, as crianças com
A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas necessidades educacionais especiais deveriam receber
Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em qualquer apoio extra que possam precisar, para que se lhes
Salamanca (Espanha), em junho de 1994, teve, como objeto assegure uma educação efetiva (…)”.
específico de discussão, a atenção educacional aos alunos com
necessidades educacionais especiais. 07. A
Nela, os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, Educação inclusiva significa educar todas as crianças em
declararam: um mesmo contexto escolar. A opção por este tipo de Educação
- Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito não significa negar as dificuldades dos estudantes, pelo
fundamental à educação e que a elas deve ser dada a contrário. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como
oportunidade de obter e manter um nível aceitável de problemas, mas como diversidade. É essa variedade, a partir
conhecimentos; da realidade social, que pode ampliar a visão de mundo e
- Cada criança tem características, interesses, capacidades desenvolver oportunidades de convivência a todas as crianças.
e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios;
- Os sistemas educativos devem ser projetados e os
programas aplicados de modo que tenham em vista toda a Teoria das Inteligências
gama dessas diferentes características e necessidades;
- As pessoas com necessidades educacionais especiais
Múltiplas.
devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las
numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a
essas necessidades; O Educador Celso Antunes37 explica os conceitos de
- As escolas comuns, com essa orientação integradora, inteligência múltipla segundo Howard Gardner. As pesquisas
representam o meio mais eficaz de combater atitudes de Gardner representam verdadeiro símbolo educacional
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras, construir contemporâneo, ao sinalizar que o que se descobre sobre a
uma sociedade integradora e dar educação para todos; mente humana, constitui não apenas saber acadêmico, mas
instrumento de ação pedagógica imprescindível
A Declaração se dirige a todos os governos, incitando-os a:
- Dar a mais alta prioridade política e orçamentária à Howard Gardner possui um currículo indiscutível.
melhoria de seus sistemas educativos, para que possam Professor de Educação e Diretor do Projeto Zero, no Harvard
abranger todas as crianças, independentemente de suas Graduate Scholl of Education e professor adjunto de
diferenças ou dificuldades individuais; Neurologia na Boston University Scholl of Medicine, é autor de
inúmeros livros e criador de uma teoria educacional conhecida

37 Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.br/formacao-


docente/0/artigo233099-1.asp

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e aplicada no mundo inteiro. Além da notoriedade pública e emocionamos, e a inteligência faz com que cada ser humano
reconhecimento como um dos mais influentes educadores seja um ser único e compreenda plenamente o significado
deste século, em 1981 recebeu o Mac Arthur Prize Fellowship dessa individualidade.
e, em 1990, tornou-se o primeiro norte-americano a ser
condecorado com o Louisville Grawemeyr Award in Educatio, O Que Sabemos e o que ainda não sabemos sobre a
prêmios que por sua expressão e grandeza já sintetizam o Inteligência Humana
admirável perfil de suas pesquisas e de suas obras.
Ninguém melhor que Gardner, entretanto, para falar sobre A certeza de que trabalhando as inteligências múltiplas em
ele mesmo. Em seu livro lançado no Brasil no ano 2000 pela sala de aula se está desenvolvendo linha de ação coerente com
Editora Objetiva (Inteligência - Um conceito reformulado) os saberes antropológicos, sociológicos e neuroanatômicos
descreve-se ao falar sobre seus pensamentos. "Nada em minha sobre a inteligência humana se apoia em algumas evidências
juventude diria que eu viria ser um estudioso (e um teórico) indiscutíveis. Entre estas, cabe destacar.
da inteligência. Como as inteligências constituem potencial biopsicológico
de emprego imediato no dia a dia e recurso essencial para
Quando criança, eu era bom aluno e me saia bem em testes, ajudar-nos a resolver problemas, adaptar-se as circunstâncias,
portanto a questão da inteligência era relativamente simples criar e aprender, quem busca trabalhá-las em sala de aula
para mim. Na verdade, em outra vida, talvez eu passasse a necessita perceber que o conhecimento não é uma "coisa" que
defender a visão clássica da inteligência, como tantos de meus vem de fora ou se capta do meio, mas um processo interativo
contemporâneos brancos do sexo masculino que já estão de construção e reconstrução interior e assim não pode ser
envelhecendo. Típico garoto judeu que detestava ver sangue, eu "transferido" de um indivíduo para outro. Levando-se em
(e muitos outros em meu mundo) pretendia ser advogado. Só em conta essa assertiva descobre-se que o conhecimento é
1965, ao terminar a minha graduação no Harvard College, autoconstruído e as inteligências são educáveis, isto é
resolvi fazer pós-graduação em psicologia. A princípio, como sensíveis a progressiva evolução, desde que adequadamente
outros adolescentes, eu estava fascinado com as questões da trabalhadas. A escola pode ser, portanto, um espaço
psicologia que intrigam o leigo: emoções, personalidade, fomentador de novas maneiras de pensar.
psicopatologia. Meus heróis em Sigmund Freud e meu professor, Ainda que possam existir debates acadêmicos sobre a
o psicanalista Erik Erikson, que havia sido analisado pela filha quantidade de inteligências que o ser humano possui, a
de Freud, Anna. No entanto, depois de ter conhecido Jerome classificação mais aceita é a de Howard Gardner que descreve
Bruner, um pioneiro na pesquisa da cognição e do em cada pessoa a existência de oito ou nove inteligências
desenvolvimento humano, e de ter lido as obras de Bruner e de (Howard Gardner fala-nos em oito inteligências efetivamente
seu mestre, o psicólogo suíço Jean Piaget, resolvi fazer pós comprovadas e uma nona (inteligência existencial) que ainda
graduação em psicologia do desenvolvimento cognitivo." depende de maior aprofundamento e revisão para se
acrescentar as oito conhecidas) claramente diferenciadas.
As pesquisas de Gardner representam verdadeiro símbolo
educacional contemporâneo, ao sinalizar que o que se O potencial humano quanto as inteligências é
descobre sobre a mente humana, constitui não apenas saber extremamente diversificado e essa diversidade deve-se a
acadêmico, mas instrumento de ação pedagógica conjunção de fatores genéticos e estímulos ambientais
imprescindível. Mostrou de forma coerente que todos os seres desenvolvidos dentro e fora da escola. Uma pessoa sem
humanos possuem diferentes tipos de mente e que pais e distúrbios ou disfunções cerebrais é portador de todas as
professores podem tornar possível uma educação inteligências ainda que seja diversificado o potencial desta ou
personalizada, destacando que na imensa diversidade que daquela;
existe em cada um, deve solidificar-se a certeza de que nenhum A ocorrência de disfunções cerebrais adquiridas ou não,
ser humano é perfeito em tudo, mas todos, absolutamente pode afetar uma ou mais inteligências, sem que isso implique
todos, possuem potencial de grandezas diversas, forças em um comprometimento integral. Em outras palavras, é
pessoais que devidamente reconhecidas coloca uma nova possível neste ou naquele indivíduo a existência de um
linha educacional a serviço do integral desenvolvimento dificuldade ou distúrbio de aprendizagem que afete uma ou
humano e da extrema grandeza da singularidade de sua mente mais inteligências, sem que isso impeça o desenvolvimento
potencial das demais.
O que é Inteligência Cada uma das inteligências pode ser identificada através
de diferentes manifestações e estas, apenas para efeitos
Inteligência é a faculdade de entender, compreender, didáticos, poderiam ser consideradas sub-inteligências. Desta
conhecer. Inteligência é também juízo, discernimento, forma a inteligência linguística por exemplo pode se
capacidade de se adaptar, de conviver. Constitui potencial manifestar através da escrita, da oralidade ou da sensibilidade
biopsicológico não especificamente humano, mas que em e emoções despertadas pela intensidade com que se capta
seres humanos assume dimensão inefável. É, para Gardner, mensagens verbais ou escritas;
uma capacidade para resolver problemas e serve também para O valor maior ou menor que a sociedade empresta a esta
criar ideias ou produtos considerados válidos. As criaturas ou àquela inteligência subordina-se à cultura inerente e ao
humanas possuem nível elevado de inteligência e por isso são tempo e local em que se vive. Em alguns espaços geográficos,
criativas, revelam capacidade de compreender e de inventar e por exemplo, a capacidade musical se sobrepõe à linguística e
ao acolher uma informação, atribuir-lhe significado e produzir em outros atribui-se valor maior a capacidade matemática que
respostas pertinente. a administração de situações emocionais próprias ou em
É a inteligência que permite dar sentido as coisas que terceiros;
vemos e a vida que temos e que nos leva a conversa interior, Ainda que qualquer faixa etária mostre-se sensível ao
resgates de "arquivos" da memória, capacidade de raciocínio, estímulo das inteligências, existem idades em que as mesmas
criação de objetivos e invenção de saídas quando parece não respondem mais favoravelmente aos incentivos. Para a maior
existir indícios de sua existência. Inteligência é saber pensar, parte das inteligências a fase da vida mais sensível ao
possuir vontade para fazê-lo, criar e usar símbolos e graças a progresso estende-se dos dois aos quinze anos de idade. O
eles realizar conquistas extraordinárias, fazendo surgir o mito, cérebro humano é órgão que se compromete pelo desuso e
a linguagem, a arte e a ciência. Somos quem somos porque portanto as diferentes inteligências necessitam de estímulos
lembramo-nos das coisas que nos são próprias e nos

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diversificados desde a vida pré-natal até idades bastante Uma inteligência é a mesma coisa que um estilo de
avançadas; aprendizagem ou um método de ensino.

Ao se pesquisar a inteligência humana e a evolução desse Um estilo de aprendizagem é uma abordagem que se aplica
conceito, desde quando a neurologia pode beneficiar-se de da mesma maneira em diferentes conteúdos; um método de
estudos do cérebro em pessoas vivas, alguns poucos críticos ensino é uma sequência de operações com vistas a
enfatizaram que falar-se em Inteligências Múltiplas seria determinados resultados e, dessa forma, o trabalho com
simplesmente "fragmentar-se a idéia de Inteligência", criando- estímulos às inteligências permite adaptar-se a diferentes
se um modismo. Nada mais errado que supor que a estilos de aprendizagem e sua aplicação não constitui método
identificação de inteligências diferentes "fragmenta" ou de ensino que para ser implantado pressupõe a substituição
apenas classifica aspectos particularizados de um todo. A do método utilizado. Gardner enfatiza que não existe "receita"
localização cerebral de áreas específicas para operar saberes pedagógica única e forma universal de trabalhar-se as
específicos - como a área de Broca e de Wernicke para a múltiplas inteligências.
linguagem - mostra que não existe uma inteligência global que
se busca dividir, mas núcleos cerebrais distintos que operam A teoria das Inteligências Múltiplas é incompatível com a
competências específicas, ainda que o cérebro humano existência de uma inteligência geral.
funcione mais ou menos como uma orquestra e áreas
diferentes se envolvem para a apresentação de um resultado A teoria das Inteligências Múltiplas não questiona a
aparentemente único. O fato de se ouvir, por exemplo, o existência de uma inteligência geral mas sim seu campo de
destaque do piano em uma melodia não significa que conhecimento, admitindo que mesmo pessoas aparentemente
reconhecê-lo implica em "fragmentar" a orquestra. bem dotadas em uma inteligência pouco serão capazes de
Não existe uma única abordagem pedagógica para o realizar se não forem expostas a matérias que exijam essa
trabalho com as inteligências múltiplas em sala de aula e, inteligência. Quanto mais "inteligente" e diversificado for o
portanto, não existem "receitas" definitivas sobre como ambiente e quanto mais incisivas as intervenções de
estimulá-las. mediadores, mais capazes se tornarão as pessoas e menos
importante será sua herança genética.
Concluindo algumas das evidências destacadas por Sintetizando, seria possível afirmar que a Teoria das
Gardner, seria lícito reafirmar que trabalhar com inteligências Inteligências Múltiplas endossa três proposições essenciais:
múltiplas não se afigura como um método de ensino cujo Não somos todos iguais. Todo indivíduo, entretanto, é
emprego supõe uma mudança radical na forma como antes se portador de forças cognitivas específicas que o diversifica e o
trabalhava. Ao contrário, estimular com atividades, jogos e singulariza.
estratégias as diferentes inteligências de nossos alunos é Não temos com igual intensidade todos os tipos de
possível, não é complicado, não envolve custos ou despesas inteligência pois temos mentes diferentes. Nesse sentido, toda
materiais significativas e pode ser desenvolvido para qualquer avaliação que busca comparar ou nivelar seres humanos
faixa etária e nível de escolaridade e em qualquer disciplina apresenta-se eivada de preconceitos.
do currículo escolar. A educação funciona de modo mais eficaz se essas
diferenças forem levadas em consideração, se forças pessoais
Mitos e Fantasias forem reconhecidas e se pais e professores empenharem-se
em desenvolver projetos para efetivamente conhecer e
A teoria das Inteligências Múltiplas alcançou larga estimular mentes, descobrindo em que são efetivamente
popularidade em quase todo mundo e, dessa forma, as idéias capazes. Uma boa avaliação, portanto, deveria ser "o mais
que enfatizavam seu emprego em sala de aula assumiram direta possível", orientando o aprender para fazer e
inevitáveis desvios. Em uma obra recente Gardner faz uma verificando como ocorreu essa construção.
análise desses mitos, entre os quais destacamos alguns: A essas proposições julgamos interessante acrescentar
Uma variedade de testes necessitam ser desenvolvidos que um estímulo às inteligências somente ganha sentido se
para que possamos avaliar o potencial de cada uma das oito ou promovido através de um projeto, se estabelecido a partir de
nove inteligências humanas. objetivos e trabalhados com pertinácia e com competência.
É um erro supor que possa se avaliar inteligências por Não se estimula inteligências acidentalmente ou com ações
testes, quantificando esse potencial. Uma avaliação coerente esporádicas.
da inteligência espacial, por exemplo, deve permitir que o
aluno explore uma área e perceba se consegue se orientar de A Teoria das Inteligências Múltiplas
maneira confiável, transferindo essa aprendizagem para áreas
desconhecidas. Os estímulos, dessa forma, devem conduzir a Em 1983, Howard Gardner, psicólogo da Universidade de
um progressivo aperfeiçoamento que um criterioso Harvard concluiu o manuscrito " As Estruturas da Mente" (
diagnóstico, acompanhado de relatórios da ação do aluno (e Artmed, 1994 ) que buscava ultrapassar a noção comum de
não testes padronizados) revelará. inteligência, como um potencial que cada ser humano possuía
Uma inteligência é mais ou menos como uma disciplina em maior ou menor extensão e que este potencial pudesse ser
escolar e, dessa forma, a Língua Portuguesa por exemplo medido por instrumentos verbais padronizados como teste de
deveria explorar competências linguísticas, a Matemática Q.I. Baseando-se no conceito de que inteligência é a capacidade
exploraria competências lógico-matemáticas e assim por de resolver problemas ou de criar produtos que sejam
diante. valorizados dentro de um ou mais cenários culturais e
Nada mais errado que acreditar nesse mito. A inteligência tomando como referência científica evidências biológicas e
é uma nova forma de construção de habilidades, baseada em antropológicas introduziu oito critérios distintos para uma
capacidade e potenciais biológicos e psicológicos e não pode inteligência e propôs sete competência humanas, mais tarde
ser confundida com disciplinas escolares, que são elevadas para oito ou eventualmente nove .
organizações de saberes aglutinados por pessoas. Em A teoria de Gardner mudou de forma significativa o
qualquer disciplina é possível trabalhar-se uma ou várias conceito de escola e de aula e abriu novas luzes sobre as
inteligências. competências humanas, mostrando que o sistema tradicional
de avaliação baseado na capacidade de dominar conceitos
escolares específicos necessitava de imperiosa renovação e

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que não mais havia sentido em se conceber este aluno mais modalidades esportivas diversas. Facilita a sintonização de
inteligente que outro apenas porque dominava com maior ou diferentes habilidades físicas. Crianças com elevada
menor facilidade as explanações de seu professor ou os inteligência espacial apresentam capacidade incomum em
conceitos do livro didático. controlar o corpo e expressar-se por mímicas e caretas,
Hoje, pouco mais de vinte anos após a publicação dos precisando a toda hora mover-se, retorcer-se usando
pensamentos de Gardner, a idéia das inteligências múltiplas sensações corporais para processarem informações,
evoluiu do campo das especulações e constitui uma nova aprendendo bem menos por ouvir e muito mais por fazer.
maneira de ensinar e, sobretudo, uma outra forma de conceber
a capacidade dos alunos e a aula centrada em sua - Lógico-matemática, ligada a competência em
individualidade. A despeito disso tudo, entretanto, ainda existe compreender os elementos da linguagem lógico-matemática,
algumas dificuldades em se situar com clareza a diferença que permitindo ordenar símbolos numéricos e algébricos assim
Gardner propôs para sua "teoria" e a "prática" da mesma. como quantidades, espaço e tempo. Presente na Engenharia,
"Teoria" e "prática" parecem ser palavras muito amigas e na Física e na Matemática, também se manifesta na
que gostam de andar juntas. Mas, enquanto a palavra "teoria" contabilidade, programadores de computação e outras
recebe o desdém e desprezo, como algo que valha apenas no profissões que recorrem a lógica e os números. Crianças que
papel mas não possui validade efetiva, a palavra "prática" ao apresentam uma elevada inteligência lógico-matemática
contrário, recebe quase sempre o aplauso, revelando caráter adoram separar, classificar e organizar objetos e brinquedos,
de autenticidade e funcionando para valer. "Teoria" significa aprendem a calcular rapidamente e são excelentes em jogos
um conjunto de idéias científicas sistematizadas e pode muitas que envolvem lógica e estratégia e no manejo e compreensão
vezes assegurar indiscutível validade prática. É, por exemplo, dos desafios ligados a computação.
o que acontece com a Teoria das Inteligências Múltiplas.
Os argumentos propostos por Gardner para mostrar a - Naturalista, associada a sensibilidade de percepção e
multiplicidade das inteligências parecem ser indiscutíveis. A compreensão dos elementos naturais e da interdependência
lesão ou disfunção parcial do cérebro humano implica na entre a vida animal e vegetal e os ecossistemas e a leitura
perda de ações relativas a ou as inteligências especifica a essa coerente e racional da natureza em todo seu esplendor.
área atingida e não a todas, assim como a manifestação da Marcante no naturalista, botânico, jardineiro e paisagista tem
genialidade humana, destaca que alguns mostram exponencial em Darwin seu expoente mais extraordinário. Induz a
inteligência linguística, como é o caso de Sheakespeare por observações de padrões na natureza, identificando e
exemplo, mas outros se projetaram por sua inteligência classificando sistemas naturais. As crianças com elevada
musical como Mozart, matemática como ocorreu com Einsten, inteligência naturalista interessam-se muito por animais e
corporal nitidamente presente em Garrincha, Pelé e outros e pela vida rural, sabendo quase que intuitivamente separar,
ainda muitas outras. organizar e classificar e ilustrar tudo que diz respeito a plantas
e sobretudo a animais.
Ao lançar sua teoria, Gardner falava em sete inteligências,
mas estudos e pesquisas posteriores elevaram esse número - Linguística, voltada a capacidade em adquirir,
para nove, admitindo que tal diversidade pode ainda vir a ser compreender e dominar as expressões da linguagem
ampliada quando ainda mais profundamente se conhecer a colocando em ação a semântica e a beleza na construção da
mente humana. Em linhas gerais, portanto, todas as pessoas sintaxe. Manifesta em escritores, romancista, jornalistas,
sem disfunções cerebrais agudas apresentam em diferentes palestrantes e poetas, mostra-se expressiva também em
níveis de grandeza, as inteligências: pessoas que cultuam a palavra e a construção de idéias verbais
ou escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e
- Espacial, expressa pela capacidade de relacionar o espaço de usar a linguagem para expressar e avaliar significados
próprio com o espaço do entorno, percebendo e complexos. Crianças com expressiva capacidade linguística
administrando distâncias e pontos de referências, bem como surpreendem pelo vocabulário que conhecem e utilizam,
revelando a capacidade em perceber visuo-espacialmente adoram ler, escrever e contar histórias, mostrando interesse
diferentes objetos, eventualmente transformando-os ou por rima, trocadilhos, charadas e jogos com palavras.
combinando-os em novas posições. Extremamente nítida em
grandes arquitetos, manifesta-se também em pessoas que - Sonora ou Musical expressa na capacidade em combinar
revelam facilidade em imaginar e percorrer referências e compor a música, encadeando sons em uma sequência lógica
espaciais, como alguns motoristas de praça de grandes e rítmica e estruturando melodias. É a inteligência que se
cidades. Instiga a capacidade em pensar de maneira manifesta com mais extraordinário esplendor em maestros,
tridimensional e permite que a pessoa possua imagens compositores e muitos outros. Destaca pessoas com extrema
externas e internas dos objetos através do espaço e sensibilidade para a entoação, ritmo, melodia e o tom. Crianças
decodifique com facilidade as informações gráficas. Crianças com expressiva inteligência sonora mostram-se sensíveis a
com elevado nível de inteligência espacial percebem com sons e seus ambientes, recordando com facilidade de ritmos e
facilidade a mudança de algo em um cômodo de sua casa, melodias. As que sentem-se cercadas por ambiente musical,
detectando alterações mesmo sutis em ambientes que motivam-se com instrumentos e incorporam a música como
conhecem. Parecem "pensar" através de imagens visuais e elemento comum as suas vidas. Muitas entre elas acumulam
muitas vezes destacam-se em atividades artísticas ou jogos coleção de CDs e parece que os fones de ouvido fazem parte da
que envolvem montagens. Não poucas são fascinadas por estrutura orgânica de seus rostos.
máquinas e possuem elevada habilidade manual, mas não se
interessam muito por atividades rotineiras, refugiando-se em - Intrapessoal é a inteligência de quem expressa grande
aventuras imaginárias. facilidade para estabelecer relações afetivas com o próprio eu,
construindo uma percepção apurada de si mesmo, fazendo
- Cinestésico-corporal, identificada à capacidade em despontar a autoestima e aprofundando o autoconhecimento
controlar e utilizar o corpo, ou uma parte do mesmo em de sentimentos, temperamentos e intenções. Presente de
atividades motoras complexas e em situações específicas, forma mais acentuada em psicanalistas, mostra-se bem
assim como manipular objetos de formas criativa e caracterizada em assistentes sociais, alguns professores e
diferenciada. Marcante em pessoas que dançam muito bem, outras profissões. Crianças com inteligência intrapessoal
praticam a mímica com precisão ou são hábeis em elevada desde cedo demonstram saber "quem realmente são",

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não se preocupando muito sobre o que pensam a seu respeito. Esses fundamentos se aplicam as nove inteligência até esta
Valorizam a privacidade e ainda que não gostem muito de data aferida, mesmo considerando que cada inteligência possa
misturarem-se a multidão, costumam ser admiradas pelos manifestar-se através de diferentes aptidões. Os fundamentos
colegas. sugeridos por Gardner são:

- Interpessoal muito nítida em pessoas que revelam Isolamento de uma ou outra inteligência por lesão cerebral.
extrema capacidade em compreender a natureza humana em
outras pessoas, procedendo uma verdadeira "leitura do outro" Uma inteligência pode ser danificada por uma disfunção ou
quanto seus aspectos emocionais, assim como a destacada lesão cerebral específica a área do cérebro em que a mesma
facilidade para relações interpessoais e a compreensão da encontra-se alojada. Uma pessoa, por exemplo, que sofra uma
dinâmica dos grupos sociais. Crianças com fortes habilidades lesão da área de Broca ou de Wernick (lobo frontal esquerdo)
nessa inteligência relacionam-se muito bem com outras apresenta claras deficiências linguísticas e apresentar
pessoas, fazem amizade com extrema facilidade e como problemas para ler, escrever e falar;
apresentam elevada sensibilidade para compreender
sentimentos de terceiros não raramente são escolhidas para A existência de savant
liderar grupos, organizar campanhas comunitárias
A palavra savant é usada com frequência para
- Existencial, ligada a capacidade de se situar sobre os determinadas pessoas de exponencial talento em uma ou
limites mais extremos do cosmos e também em relação a outra aptidão desta ou daquela inteligência, mesmo com sérios
elementos da condição humana como o significado da vida, o comprometimentos em suas ações relativas a outras
sentido da morte, o destino final do mundo físico e ainda inteligências. Existem não poucos autistas com sérios
outras reflexões de natureza filosófica ou metafísica. Marcante problemas linguísticos ou interpessoais, mas com fortíssima
em pessoas com forte espiritualidade é a inteligência dos inteligência lógico-matemática ou mesmo musical. Os savants
filósofos, sacerdotes, xamãs, gurus e ainda outros. revelam inteligência - ou parte da mesma - superior, enquanto
suas outras inteligências operam em baixo nível.
De maneira geral é possível crer que todas as pessoas sem
problemas mentais específicos possuam todas as nove Momentos definitos de sua manifestação ao longo da vida
inteligências com algumas bem mais acentuadas e
desenvolvidas que as outras. Trabalhos específicos Cada atividade desta ou daquela inteligência parece
desenvolvidos em sala de aula contribuem de forma efetiva apresentar um ciclo desenvolvimental nítido, onde se destaca
para "acordar" todas as inteligências nos alunos, ampliando a faixa etária em que surge, o momento de maior índice de
sua criatividade e desenvolvendo-o de forma coerente e desenvolvimento e um padrão próprio e específico de declínio
holística. com o envelhecimento. Ainda que a manifestação desse ciclo
possa variar de inteligência para inteligência, tende a ser o
Inteligências, Talentos e Aptidões mesmo em todas as pessoas, independente de sua cultura ou
de seu ambiente geográfico.
Já ouvimos não poucas vezes educadores indagarem se o
conceito de Inteligências Múltiplas não caracteriza "roupagem A presença das inteligências na história evolutiva da
nova" para o que antes se conhecia como aptidão ou mesmo humanidade
como talento. Não existe necessariamente um erro em
denominar de aptidão esta ou aquela inteligência, mas Ao que tudo indica desde quanto nossa espécie definiu-se
enquanto a idéia de "aptidão" mais se aproxima de como "Homo sapiens" já se percebia claramente a existência de
"habilidade" ou de "capacidade", a inteligência como antes se diferentes inteligências, marcando pessoas especiais neste ou
observou constitui potencial biopsicológico inerente à espécie naquele grupo. Em outras palavras, desde antes da invenção
e sua validade se expressa pela capacidade de resolver da escrita já era possível detectar em um grupo cultural a
problemas ou de criar algo novo. A "aptidão", "performance" existência de pessoas com maior projeção em cada uma das
ou mesmo o "talento" parece-nos mais claramente associada a oito ou nove inteligências.
idéia de que simbolizam estados avançados desta ou daquela
inteligência. O potencial é inerente à evolução, mas a A sensibilidade da inteligência a uma avaliação
habilidade é conquista educacional com ou sem a intervenção
de mediadores. Podemos afirmar, por exemplo, que ao driblar Todas as inteligências humanas podem ser percebidas em
seus adversários e dessa forma livrar-se do problema de uma suas manifestações, apresentando-se como pouco expressivas
marcação cerrada o atleta está explorando sua inteligência em alguns, moderadas em outros e elevadas em terceiros.
corporal, mas driblará melhor, com mais aguda performance Embora inexiste um "teste" padrão para quantificar esta ou
porquê usou essa inteligência com talento ou com maior aquela inteligência, todas as culturas sabem manifestar seu
habilidade. Ao se assistir o drible de dois atletas não podemos apreço por inteligências elevadas nas manifestações
negar a clara evidência de uma inteligência cinestésico- conhecidas. Em outras palavras, qualquer cultura, mesmo as
corporal em ação, mas ao constatar que este dribla melhor que ágrafas, reconhecem a existência de gênios linguísticos, gênios
aquele, podemos inferir que isso ocorre porque possui maior lógico-matemáticos, gênios musicais e assim por diante.
habilidade, talvez porquê tenha treinado mais intensamente e
que essa mesma habilidade poderá ser alcançado por seu Análise de desempenho específico
colega se se empenhar cada vez mais, desde é claro que seu
potencial seja similar. Gardner demonstra que, ao examinar estudos psicológicos
Muito além da simplicidade do exemplo exposto e específicos, é possível identificar inteligências operando de
desejando propor elementos teóricos (de natureza maneira quase que isolada uma das outras. Esse fundamentos
neurológica, sociológica e antropológica) mais sólidos para nos mostra que raramente percebe-se "gênios absolutos" isto
caracterizar uma inteligência e, desta forma, isolá-la de é, pessoas excepcionais em todas as inteligências,
palavras que podem gerar alguma confusão, Gardner prevalecendo potencialidades magníficas em matemática, na
estabeleceu oito fundamentos que caracterizariam os construção de textos, na composição musical e assim por
elementos para aceitarmos uma inteligência. diante.

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grupos diferentes. Da mesma forma, o mesmo tema poderá


A possibilidade de uma codificação através de um sistema suscitar a um terceiro grupo uma resposta visuoespacial e,
simbólico. assim, buscará sua expressão através de mapas e de gráficos,
de frisas do tempo e de colagens, de mapa conceituais ou
Cada inteligência possui símbolos próprios universais e outras manifestações da linguagem pictográfica. Observe que,
assim como as linguagens faladas e escritas caracterizam a nesse exemplo, três grupos diferentes, centrados em um
símbolo estrutural da inteligência linguística, os sinais mesmo tema, buscaram seu aprofundamento e sua integral
aritméticos, geométricos e os números externam os símbolos significação explorando diferentes inteligências.
lógico-matemáticos. Da mesma forma as notas musicais Mas, será que esse tema ou conteúdo - seja ele qual for -
externam símbolos da composição sonora, existem linguagens não poderá, por exemplo, ser pesquisado através de uma visão
gráficas espaciais usadas por engenheiros e arquitetos, a ação sonora ou musical e, por essa via, propondo-se como letra de
corporal na dança e nos esportes é de validade internacional uma samba, valsa ou trovas populares? Será que os alunos
como o é o riso, o choro e outras manifestações espaciais das empenhados nessa busca o estarão estudando menos
emoções inerente as inteligências pessoais. profundamente? Será, por exemplo, que além da linguagem
linguística ou verbal, lógico-matemática, espacial ou sonora
Operações centrais especifica de cada inteligência não seria o mesmo tema um excelente desafio para se propor
discussões que envolvessem a linguagem corporal cinestésico,
Da mesma forma como cada uma das inteligências naturalista, inter ou intrapessoal?
conhecidas usam sistemas simbólicos específicos, existe Observe que qualquer conteúdo, de qualquer disciplina,
também um conjunto de operações centrais que servem para pode ser analisando segundo a visão doentia e exclusivista de
acionar atividades inerentes a esta ou aquela inteligência. O uma única inteligência, mas pode também, com alunos se
excelente desempenho cinestésico-corporal, por exemplo revezando em funções que com o tempo de alternam, ser
inclui a necessidade do domínio de certas rotinas motoras trabalhado de forma interdisciplinar, valendo-se de outras
específicas, tal como a construção de um belo texto também linguagens e, por esse caminho, explorando outras
envolve procedimentos centrais específicos à inteligência inteligências. Percebe-se pelo exposto que usar as
linguística. inteligências múltiplas em classes populares é tão simples
quanto agir com bom senso.
Inteligências Múltiplas e a Sala de Aula
Mas, cuidado. Existe o bom senso de ontem e o bom senso
Constitui mérito indiscutível na obra de Gardner a de agora. O bom senso egoísta e exclusivista de antigamente
praticidade de sua teoria e, portanto, o uso em sala de aula, que buscava normatizar a humanidade, valorizando apenas
independente do nível de ensino com o qual se trabalha e o uma de suas muitas linguagens e, dessa forma, excluindo todos
conteúdo que se busca ministrar. A idéia essencial da teoria é quantos na mesma não eram excelentes e o bom senso de
assumir que todo aluno pode expressar saberes através de agora que, ao admitir o aluno como singularidade holística,
diferentes linguagens e que, devidamente estimulado, pode permite a expressão de seu saber através de diferentes formas,
explorar sua potencialidade de forma diversificada. O texto exercitando diferentes inteligências."
abaixo, apenas como exemplo, procura mostrar a extrema Concluindo a síntese sobre a aplicabilidade dos
diversidade dessa aplicação e, nesse sentido, enfatiza uma das fundamentos das idéias de Gardner no contexto da realidade
inúmeras perspectivas de aplicação da teoria das Inteligências de nossas salas de aula, apresentamos o quando-síntese
Múltiplas em sala de aula. abaixo.
" Faça de conta que em frente à sala, o professor acabou de
fazer uma análise do tema "Capitanias Hereditárias". Se INTELIGÊNCIAS ALGUMAS MATERIAIS AÇÃO
preferir, ao invés deste, o tema tratado foi a "Como extrair-se ATIVIDADES DE ENSINO DOCENTE
raiz quadrada", "O funcionamento do pâncreas", "O quadro ESPACIAL Atividades Colagens, Explorar o uso
climato-botânico da Região Sudeste", ou outro tema qualquer. artísticas, gráficos, de linguagens
No exemplo que se dará, o tema é pouco importante e o que apresentações frisas do alternativas,
modela a ação do professor será seu procedimento, visuais, metáforas, tempo, solicitar a
visualização e mapas, transferência
ministrando aula desta ou daquela disciplina, para este ou mapas conceituais. massa de de textos para
para aquele nível. Concursos modelagem, desenhos,
fotográficos, argila, lápis gráficos,
Ao concluir sua exposição e esclarecer dúvidas metáforas por meio de cor, quadros-
interpretativas, solicita uma síntese sobre o que falou, através de imagens, recursos síntese
da qual, alunos organizados em pequenos grupos, deverão se símbolos gráficos táteis.
expressar. Alguns poderão fazer uso de uma linguagem textual diversos. Coleção de
e, dessa forma, apresentarão sua síntese com palavras e, fotos.
portanto, com frases significativas, textos elucidativos, CINESTÉSICA- Teatro, dança, Instrumento Solicitar o uso
CORPORAL mímica, exercícios s de de movimentos
manchetes marcantes, reportagens realistas. Na execução
de relaxamento, montagem, do corpo para
desse trabalho, a atividade centrada na expressão verbal, atividades diversas tampinhas, expressar
imporá ao aluno um uso consistente de sua inteligência que envolvam o uso blocos, conhecimentos
linguística. Mas, enquanto esse grupo busca a melhor forma de do corpo equipamento de disciplinas
expressão verbal, um outro por exemplo, pode estar s esportivos, descritivas.
pesquisando o tema para expressar o conteúdo do mesmo, recursos Exercícios
possível de ser exemplificado por equações, médias, manipuláveis sobre
grandezas, gráficos e proporções. , peças LEGO. consciência
Mapas física.
corporais. Propostas
Enquanto o primeiro grupo "mergulhou" no tema, mas sobre cozinhar,
buscou resposta linguística; o segundo grupo não fez costurar,
pesquisas menos intensas e conclusivas, mas expressou suas jardinagem,
respostas por uma visão lógico-matemática. O tema é o realidades
mesmo, mas áreas cerebrais diferentes foras usadas por virtuais.

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LÓGICO- Desafios, Calculadoras, Empenhar-se INTRAPESSOAL Orientação Recursos Exploração de


MATEMÁTICA problemas, ábacos, jogos em desenvolver individual, diversos atividades que
enigmas, atividades matemáticos, a capacidade de exploração de para envolvam a
cientificas de desafios que expressar pesquisas sobre a autoavaliaçã significação dos
experimentação, explorem a pensamentos autoestima, o, fatos
desafios numéricos, grandeza, através de aceitação de organização apreendidos no
pensamentos proporções, gráficos, busca produções de portfólios, uso diário,
críticos. Concursos perspectivas. de proporções, individualizadas, diários, ajuda para a
sobre resolução de Uso de médias, oportunidade de materiais contextualizaçã
problemas lógicos, escalas grandezas e opções para diversificado o do
criação de códigos, diversas. outros manifestações s sobre apreendido no
linguagens de Computador elementos diferenciadas do projetos, cotidiano
computação. e, quando lógicos conhecimento orientação vivido.
possível, adquirido. pessoal de
computador pesquisas.
fora de uso INTERPESSOAL Trabalhos em Jogos Estímulo a
para grupo, organização coletivos, cooperação,
desmontage de micro relação de proposta de
m e análise. cooperativas e atividades campanhas
NATURALISTA Excursões, Aquários, Proposição de projetos de apoio sociais, diversas.
atividades diversas terrários, desafios que comunitário, arquivo de
ao ar livre, hortas envolvam organização de projetos de
experiências de coletivas, conhecimento campanhas ação
classificação pequenos de animais e filantrópicas, comunitária,
animais e vegetais, museus ou plantas, reuniões sociais. fontes de
pesquisas sobre o coleções transposição de Propostas para apoio a ações
mundo animal e naturalistas. temas para um atividades coletivas.
organização de enfoque compartilhadas,
ecossistemas. naturalista, exercícios de
Caminhadas organização de simulações.
naturalistas, etc. diários de
campo e
registros de
atividades ao ar
A Sexualidade e o indivíduo
livre em situação de deficiência
SONORA Aprendizagem Gravador, Sugestão para a mental/intelectual.
rítmica, coleção de criação de
apresentação de fitas, paródias, 38Adolescente com deficiência mental e as implicações
corais abordando instrumentos organização de
temas escolares, musicais, grupos para familiares
seleção e criação de coleção de apresentação Existem diferentes definições para adolescência, mas
músicas CDs. de temas todas contemplam o fato de que esta é uma etapa do processo
envolvendo os Aparelhos de escolares com de crescimento e desenvolvimento humano na qual ocorrem
conteúdos reprodução ritmos diversos modificações rápidas e importantes nos corpos infantis, assim
disciplinares. sonora. e uso de fundo como no estilo de vida. Nesta fase são estabelecidas novas
Dramatizações e musical
relações e novos modos de pensar e de se comportar, que
Concertos. Visitas a
apresentações serão responsáveis por redefinições de identidades e
musicais. participação no mundo externo, assim como também
Vinculação de demarcam outras formas de inserção na família (Mandú,
conceitos à música. 2001). É o início do caminho para a autonomia da vida adulta.
LINGÜISTICA Explanações, Livros Estímulos para Como, de um modo geral, o indivíduo com deficiência
debates, diversos, pesquisas mental apresenta mais dificuldade em adquirir habilidades e
organização de dicionários bibliográficas, competências que propiciem uma maior autonomia, cabe
telejornais ou de vários exploração de indagar se a adolescência teria o mesmo significado para eles.
jornais impressos tipos, coleção diferentes
Rimmerman & Duvdevani (1996) avaliam que os pais sofrem
ou murais, jogos de de jornais e habilidades
palavras e revistas, operatórias maior sobrecarga física e emocional para cuidar do filho com
atividades que portfólios como deficiência mental, dado que passam a apresentar uma
explorem a sobre temas, sintetizar, demanda diferenciada.
narração, leitura ou concurso de analisar, A forma de a família reagir a esse estresse pode ser um
redação. redação, relatar, fator facilitador ou prejudicial ao desenvolvimento do
Organização de trovas e descrever e adolescente. A atitude da família interfere no processo de
grupos para outros outras, desafios inclusão e nas defesas contra a discriminação, em um período
debates sobre sobre
crítico para o desenvolvimento e estruturação da
filmes assistidos, interpretação
clubes literários, de textos, personalidade. É dela grande parte da responsabilidade em
concursos linguístic concursos de propiciar que o filho estabeleça relação com outras pessoas,
os. manchetes, integrando-se a grupos sociais diversos, uma vez que o
trovas e adolescente com deficiência, por suas limitações e a depender
poemas para do grau de comprometimento apresentam poucas habilidades
expressar e competências tendo dificuldade de se separar dos pais e
diferentes fazer amigos (Néri et al., 2003).
conteúdos

38B a st os
O M , De s la n de s S F . S e x u a li da de e o a d ole s cente com doença
mental: uma revisão bibliográfica. Rev C S Col [periódico na Internet]. 2005.
<http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n2/a17v10n2>

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Glat & Freitas (2002) argumentam que alguns pais, por em relação aos demais membros da sociedade (Montanari,
conta de uma relação de mútua dependência, prejudicam o 1999). Silva & Dessen (2001) chegam a afirmar que certos
desenvolvimento emocional dos filhos. Em outras famílias, a pais, evitando o confronto com o preconceito, acabam por
dor ao reconhecer um filho com deficiência, pode produzir um limitar as atividades socioculturais de seus filhos com
efeito agregador, fortalecendo os laços familiares, deficiência, dificultando ainda mais o desenvolvimento deles.
contribuindo para um melhor desenvolvimento da criança
(Cavalcante, 2001). Adolescente com deficiência mental e a sexualidade
A literatura pesquisada aponta que a presença de um filho O desenvolvimento da sexualidade está vinculado ao
com deficiência também pode, em algumas famílias, desenvolvimento integral do indivíduo, sendo considerado um
proporcionar um alto nível de responsabilidade, competência elemento constitutivo da personalidade. A sua manifestação
e discernimento. Dentre os fatores que interferem na forma transcende sua base biológica, estando predominantemente
desta reação, são destacados o nível socioeconômico das demarcada por valores socioculturais (Basso, 1991). Esse
famílias e a presença de uma rede familiar de apoio (Hannah & desenvolvimento se inicia na infância, mas é na adolescência
Midlarsky, 1999). que se operam mudanças físicas e psicossociais destinadas a
Hannah & Midlarsky (1999), em relação ao impacto dar à vida sexual infantil sua forma adulta (Gomes, 1996).
familiar diante de um filho com deficiência, observam que na Como alguns autores observam, ocorreram mudanças no
dependência do nível socioeconômico dos pais, as questões comportamento sexual ocidental nos últimos anos, incluindo
que os preocupam podem ser distintas. Para algumas famílias novas representações e práticas sobre sexualidade (Heilborn
de classe média a deficiência mental pode ser encarada como & Brandão, 1999; Loyola, 1999). Pode ser constatada uma
um fator que vai impedir a aquisição de conhecimento de seu maior aceitação à prática masturbatória e uma diminuição da
filho, e desta forma limitar sua ascensão social. Já para os das valorização da virgindade, refletindo uma atitude mais
classes populares, mesmo que exista a preocupação com o libertária nessa área (Parker, 1991). Mas, estas modificações
futuro, os empecilhos imediatos são os que mais os não atingiram igualmente todas as camadas da população
preocupam, pois dispõem de recursos limitados, que podem (Desser, 1993). As pessoas com deficiência mental fazem parte
ser insuficientes às necessidades do filho. do grupo que não se beneficiou com as mudanças na área da
Também se reconhece que o desenvolvimento do sexualidade. Muito frequentemente, aspectos relacionados ao
indivíduo está intimamente relacionado à adaptação de sua desabrochar da sexualidade dos adolescentes com deficiência
família diante da situação. E esta, com o apoio dos recursos mental trazem preocupações aos pais e à sociedade, de um
disponíveis, imprime seus valores, crenças e metas no modo geral, traduzida por atitudes repressoras e
processo de acomodação ao meio, de forma a organizar sua discriminatórias, que impedem um desenvolvimento mais
rotina (Aramayo, 1993). pleno do indivíduo.
A literatura também aponta que o bem-estar dos pais tem Para Giami (2000), há um imaginário social que constrói a
sido pouco considerado, apesar de serem tão afetados quanto sexualidade da pessoa com deficiência mental a partir de um
seus filhos no processo de transição da infância à adolescência. conjunto de representações relativas à monstruosidade e à
E, se o sucesso desta passagem é influenciado por anormalidade, ficando a cargo das famílias e dos profissionais
características individuais, tais como idade, gênero, saúde da educação o controle de sua manifestação. Esse sistema de
física e mental, as influências do meio sócio familiar e da representações conduz a sexualidade das pessoas com
cultura são tidos como especialmente relevantes (Blacher, deficiência ao estado de natureza, no qual sua sexualidade
2001). aparece difícil de ser educada e controlada. Havendo a
Há expectativa cultural que ao final da adolescência o possibilidade deste descontrole, iriam inevitavelmente
indivíduo tenha definido sua identidade sexual, desenvolvido exercer práticas sexuais consideradas socialmente
relações pessoais e esteja no caminho para adquirir inadequadas. O autor reflete que estes preconceitos podem
independência financeira e social. Os autores do acervo estar ocorrendo como consequência do desconhecimento de
refletem que de acordo com o grau de comprometimento do questões que dizem respeito aos aspectos do desenvolvimento
adolescente com deficiência mental, ele pode estar mais desse grupo da população.
vulnerável e dependente que seus pares sem deficiência Pela apreciação das publicações pesquisadas sobre a
(Mckinlay et al., 1996), acarretando frustrações a seus pais. sexualidade do indivíduo com deficiência mental, a partir da
Ao tecer considerações sobre a autonomia das pessoas década de 1990, fica evidente que os preconceitos ainda estão
com deficiência mental, os autores consultados consideram presentes e de forma muito intensa. Essas apontam,
que a educação desses indivíduos deve se concentrar na busca principalmente, as preocupações dos pais quanto às
de desenvolvimento de habilidades, e principalmente de manifestações sexuais de seus filhos, a utilização de métodos
competências, tais como saber realizar sua higiene pessoal, contraceptivos e o temor quanto ao abuso sexual.
fazer compras e circular sozinho, ao menos nos locais A literatura do acervo analisa que muitos pais e
próximos de sua residência. Avaliam que desse modo poderá educadores, assim como outros setores da sociedade, negam a
ser adquirida uma maior independência, favorecendo uma sexualidade dos adolescentes com deficiência mental. Muitos
inserção melhor na sociedade e contribuindo de forma pais os consideram, pela sua inocência sexual, eternas
positiva na sua qualidade de vida. Também se destaca a crianças. Mas, existem outros que enfatizam um
importância da inclusão na escola como um outro fator comportamento de exacerbação da sexualidade, que
importante para o desenvolvimento social. Alguns autores necessitaria de um controle por parte de seus responsáveis
defendem que a socialização se dá de modo mais eficaz quando (Giami, 2000). Não existe um reconhecimento dos direitos da
os adolescentes com deficiência mental são integrantes de um manifestação da sexualidade das pessoas com deficiência
processo educacional normal, quando comparado aos que mental, sendo lhes dadas poucas possibilidades de
frequentam escola especial (Kennedy, 2001). compreender as emoções despertadas por ela, e
Outro tema debatido pela literatura é o preconceito e a consequentemente, dificultando a exploração da sua
discriminação a que são submetidos os adolescentes com curiosidade sexual (Tharinger et al., 1990).
deficiência mental. Na sociedade ocidental, o indivíduo com Como se depreende, as pessoas com deficiência mental não
qualquer deficiência, sofre as consequências da discriminação, são respeitadas nos seus direitos fundamentais, encontrando-
pois esta diferença é entendida como sinal de inferioridade, de se aí, os direitos sexuais. A adolescência é uma época
sobressair de forma “negativa” na multidão. A diferença privilegiada para se iniciar o movimento de garantia desses
transforma-se em desigualdade, colocando-o em desvantagem direitos. Nesta etapa do desenvolvimento é importante a

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inserção em atividades que promovam maiores habilidades e Em relação à atividade sexual, um estudo do acervo
competências, que resultarão na formação de indivíduos mais observou que alguns pais acreditavam que os filhos
autônomos, com maior responsabilidade e possibilidades de adolescentes não somente seriam capazes de manter um
escolhas, contribuindo para que o exercício da sexualidade se relacionamento sexual com responsabilidade, como eles
dê de forma mais satisfatória e protegida. também demonstravam grande interesse nesta questão
O exercício da sexualidade do adolescente com deficiência (McKinlay et al., 1996). Existem avaliações discordantes, nas
mental quais os pais não reconhecem nos filhos nenhuma curiosidade
As modificações físicas próprias da puberdade acontecem sobre o assunto. Como já assinalado, eles os comparam a um
naturalmente para a maioria das pessoas com deficiência “anjo” pela sua inocência, avaliando que as suas relações são
mental. Paralelo a este desenvolvimento são observadas afetivas, com ausência de manifestações eróticas (Giami,
mudanças psicossociais, nas quais se detectam alterações no 2000).
comportamento do adolescente, tanto na família como nas Os adolescentes com deficiência mental assistem no
relações sociais. Considera-se que este conjunto de mudanças cotidiano a situações que apresentam a manifestação da
seja responsável pelo despertar da sexualidade, não existindo sexualidade de forma explícita, propiciando a sua identificação
evidências na literatura consultada, de que à deficiência com os adolescentes sem deficiência. Suas expectativas
intelectual corresponda um déficit sexual (Reeve, 2001). recebem influência destas experiências, só que a oportunidade
Os adolescentes percebem a possibilidade de erotização e de desempenhá-la não é considerada pela sociedade, pois
da obtenção de prazer pelo sexo. Mas, como observado no muitos pais têm a preocupação de que seus filhos não sejam
acervo pesquisado, alguns adolescentes com deficiência capazes de controlar seu comportamento, e que então possam
mental não sabem bem como lidar com estas novas sensações, ser explorados sexualmente.
podendo ser difícil o controle de seus impulsos sexuais. Assim Abuso sexual, contracepção e esterilização: debate
como os adolescentes sem deficiência, muitas vezes eles polêmico
descobrem a satisfação que a área genital pode lhes oferecer, Os dados da literatura apontam que são poucos os
através da masturbação. Entretanto, não raro, esta é uma adolescentes com deficiência mental que se envolvem
prática observada pelos adolescentes com deficiência sem que espontaneamente em uma relação sexual, apesar do receio dos
busquem a privacidade, o que pode gerar um grande desgaste pais. Portanto, se a atividade sexual envolver outra pessoa, é
emocional para a família. No entanto, na dependência do seu importante ficar atento quanto à possibilidade de abuso sexual
nível de comprometimento mental e, principalmente, de (Tharinger et al., 1990). Alvin et al. (2002) acreditam que eles
acordo com as orientações recebidas pelos familiares, muitos são particularmente vulneráveis ao abuso sexual por existir
adolescentes apresentam a capacidade de exercer esta prática uma fronteira muito tênue entre afetividade, sensualidade e
reservadamente (Waldman et al., 1999). sexualidade. Já para Groce (2003), esta maior vulnerabilidade
Alguns autores do acervo, como Waldman et al. (1999), ao abuso e também ao HIV/Aids estaria parcialmente
evidenciaram que ao serem flagrados em situações relacionada ao fato de que as pessoas com deficiência mental
consideradas socialmente inadequadas, tais como a dificilmente conseguem manter uma relação estável, por causa
masturbação, eles são severamente repreendidos. Esta das sanções sociais, favorecendo o envolvimento com um
conduta foi também observada por Ribeiro & Nepomuceno número maior de parceiros eventuais. Essa situação
(1992) quando estudaram o comportamento dos educadores provavelmente estaria restrita aos adolescentes mais velhos e
e funcionários de uma instituição para adolescentes com aos adultos que apresentem um nível de autonomia que
deficiência, diante de situações envolvendo o exercício da propicie a busca de parceiros sexuais. O autor também
sexualidade. Esses pesquisadores detectaram que os lamenta a ausência de programas abrangentes de educação
adolescentes institucionalizados são submetidos a padrões sexual, assim como de campanhas para prevenção de HIV/Aids
comportamentais que consideram rígidos e moralistas, que que atinjam às pessoas com deficiência.
em nada contribui para a descoberta da sexualidade, mas sim Apesar da inegável vulnerabilidade destes adolescentes,
incutindo sentimentos de culpa e vergonha. Entrevistando principalmente nos que apresentam um nível maior de
pessoas que trabalham em serviços para adolescentes e jovens comprometimento, não existem dados que sustentem a
com deficiência mental, McConkey & Ryan (2001) constataram proposição de que o abuso sexual seja mais provável de
que esses profissionais não receberam treinamento para lidar ocorrer entre pessoas com deficiência (Balogh et al., 2001).
com as questões de sexualidade que surgiam, sendo as suas Questiona-se se a inexistência de dados não seria
condutas ditadas por iniciativa própria, com a possibilidade de consequência da ausência de detecção e denúncia do abuso
consequências inadequadas aos indivíduos. porque, muito frequentemente, os agressores estão entre seus
O onanismo exacerbado no indivíduo com deficiência familiares e cuidadores (Rimmerman & Duvdevani, 1996;
mental, uma observação frequente de pais e educadores, pode McKinlay et al., 1996; Waldman et al., 1999). Em uma
ser uma forma de chamar a atenção sobre si, ou simplesmente contribuição ao entendimento desta questão, Strickler (2001)
um modo de compensar uma existência insatisfatória ou assinala que esta maior suscetibilidade pode ser devido ao fato
mesmo expressar a dificuldade que alguns pais podem ter de de que as pessoas com deficiência mental são condicionadas a
dar limites aos filhos (Glat & Freitas, 2002). E, a literatura acreditar que não têm controle algum sobre o que acontece e
demonstra que ao invés de enfrentar a situação, os pais que, portanto, não têm possibilidades de escolhas na sua vida.
geralmente preferem ignorar o assunto, seja pela dificuldade Outros autores defendem que em adolescentes com
de lidar com o tema ou por acreditarem que falar sobre deficiência que apresentam distúrbios importantes de
sexualidade pode estimular ainda mais as manifestações conduta, este maior risco pode estar associado a
sexuais de seus filhos (Konstantareas & Lunsky, 1997). comportamentos sexuais considerados socialmente
Por outro lado, para alguns pais, o despertar do exercício inadequados, como, por exemplo, o flerte sem censura e a
da sexualidade pode funcionar como uma metáfora de saúde e masturbação repetitiva e pública (Adams et al., 1995). A maior
de avanço, em oposição à deficiência (Cardoso, 2000). Se o dependência de terceiros pode ser um fator que se relacione,
filho apresenta ejaculação, se a filha já tem menstruação ou se principalmente, ao abuso sexual de pessoas com maior
demonstram algum interesse sexual, eles avaliam que este comprometimento.
comportamento está mais próximo dos demais adolescentes, Diante da possibilidade do ato sexual, seja ele com
e, portanto, seus filhos possuem uma maior identidade com os consentimento ou consequente à violência, surge a discussão
jovens considerados normais. sobre os métodos contraceptivos para as adolescentes,
inclusive com a utilização da esterilização definitiva. Dupras

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(2000) argumenta que a escolha pela laqueadura de trompas Orientação Sexual na Escola.
pode ser uma atitude também de natureza política, se
remetendo aos princípios morais e de escolhas eugênicas da A sexualidade tem grande importância no
sociedade. desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
Alguns artigos do período estudado revelam que a independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
laqueadura de trompas é um método controverso e se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres
problemático em mulheres com deficiência mental, pois ele humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo
pressupõe para a sua realização o consentimento livre e inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento
esclarecido, difícil de ser obtido nesta situação (Heller & Jean até a morte, de formas diferentes a cada etapa do
Monod, 2000). Mas, Cruz et al. (1994) relatam experiências desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída
consideradas por eles bem sucedidas quanto à esterilização ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela
definitiva em adolescentes mulheres, com a inexistência de história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e senti-
complicações decorrentes, seja da própria cirurgia ou por mentos, expressando-se então com singularidade em cada
distúrbios hormonais. Os autores justificam sua ação como sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo da
uma forma de evitar a gravidez decorrente do abuso sexual, sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como
além de diminuir a população susceptível ao abuso sexual, pois Antropologia, História, Economia, Sociologia, Biologia,
consideram que os filhos dessas adolescentes estariam mais Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é
predispostos a ter problemas de ordem física e mental. expressão biológica que define um conjunto de características
Contudo, eles não refletem sobre os aspectos psíquicos ou anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), a
éticos envolvidos nesta questão, defendendo que só sexualidade é, de forma bem mais ampla, expressão cultural.
necessitariam do consentimento dos pais ou dos responsáveis Cada sociedade cria conjuntos de regras que constituem
legais para a realização da laqueadura. parâmetros fundamentais para o comportamento sexual de
No nosso país este debate ainda é incipiente, restringindo- cada indivíduo. Nesse sentido, a proposta de Orientação Sexual
se a alguns fóruns isolados. Deve ser assinalado que pela considera a sexualidade nas suas dimensões biológica,
legislação brasileira, somente sob determinadas condições a psíquica e sociocultural.
esterilização pode ser realizada, não estando prevista a
autorização para laqueadura tubária em adolescentes com Sexualidade na infância e na adolescência
deficiência mental.
Considerações finais Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as
A escassez dos trabalhos sobre a sexualidade das pessoas primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências
com deficiência mental, apesar da importância deste debate, sensuais de vida e de prazer não são essencialmente
nos permite questionar se este fato não se deve ao tema ser biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indivíduo,
ainda revestido de preconceitos pela sociedade. Mostra serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil
também a necessidade de novas pesquisas, que possam se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se
subsidiar uma discussão mais ampla e consistente. manifestando de forma diferente em cada momento da
Mas, pode-se considerar que já houve algum avanço na infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em
discussão, como fica evidenciado nas críticas da maioria dos que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global
autores do acervo a atitudes mais conservadoras da sociedade. dos seres humanos.
Alguns dados empíricos apresentados apontam para a A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a
possibilidade de mudanças, sendo cada vez mais valorizada a partir das possibilidades individuais e de sua interação com o
fala da pessoa com deficiência mental, mesmo diante da meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra,
dificuldade encontrada para a coleta de informações. aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em
Como os artigos pesquisados demonstram, a construção da seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças
sexualidade do adolescente com deficiência mental se dá de recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou
diferentes formas pelos familiares, pois assim como alguns “julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado
pais os julgam inocentes sexualmente, outros acham que eles de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer,
têm a sexualidade exacerbada. Estas diferenças talvez se o que comporá a sua vida psíquica.
associem a variações de idade e gênero, à saúde física ou Nessa exploração do próprio corpo, na observação do
mental além das influências dos valores e representações corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a
socioculturais. criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina.
Predomina nos artigos estudados a observação de que Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre
existe um silêncio sobre a sexualidade dos indivíduos com os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as
deficiência mental, seja dentro da família ou com outros expressões que caracterizam o homem e a mulher. A
adultos com quem convivem. Outro tema de destaque é em construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo
relação aos comportamentos considerados socialmente tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive
inadequados e o abuso sexual nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos
Como revela a literatura, um grande número de padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino.
adolescentes com deficiência mental apresenta um Esses padrões são oriundos das representações sociais e
comprometimento intelectual que não impede a participação culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos
na discussão sobre sexualidade, se esta se der sem sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a
subterfúgios, de forma explícita. denominação de relações de gênero. Essas representações
Desta forma, torna-se um desafio modificar a visão sobre absorvidas são referências fundamentais para a constituição
os projetos do exercício da sexualidade dos que têm da identidade da criança.
deficiência mental, geralmente abordados pela sociedade a
partir de uma visão negativa e pessimista. É preciso valorizar As formulações conceituais sobre sexualidade infantil
os aspectos positivos e otimistas decorrentes da prática sexual datam do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas
destes adolescentes, em detrimento dos preconceitos relativos ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de
ao exercício de sua sexualidade, contribuindo para enriquecer crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são
sua existência. seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a
expressar, e as manifestações da sexualidade infantil possuem

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a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se aluno tirar (ou não) uma conclusão sobre o tema virgindade
deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no naquele momento, não sendo necessário explicitá-la para o
entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da grupo. Já no espaço doméstico o mesmo tema, quando aborda-
existência e da importância da sexualidade para o do, suscita expectativas e ansiedades dos pais, questões muito
desenvolvimento de crianças e jovens. diferentes das discutidas em sala de aula.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem Assim, propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela
alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de escola aborde as repercussões de todas as mensagens
excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade, com as
masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das crianças e os jovens. Trata-se de preencher lacunas nas
descobertas e experimentações em relação à atração e às informações que a criança já possui e, principalmente, criar a
fantasias sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação possibilidade de formar opinião a respeito do que lhe é ou foi
com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do
pares amorosos entre os adolescentes. ponto de vista científico e explicitar os diversos valores
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais
todos os profissionais da educação a postura a ser adotada, existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver
dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade atitudes coerentes com os valores que ele próprio elegeu como
dos alunos. Daí, a presente proposta de trabalho, que legitima seus.
o papel e delimita a atuação do educador neste campo. Experiências bem-sucedidas com Orientação Sexual em
escolas que realizam esse trabalho apontam para alguns
A orientação sexual na escola resultados importantes: aumento do rendimento escolar
(devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da
A partir da conceituação da sexualidade e do sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito entre
reconhecimento de sua importância no desenvolvimento os alunos. Quanto às crianças menores, os professores relatam
global, serão apontados as possibilidades e os limites da que informações corretas ajudam a diminuir a angústia e a
atuação nesse campo para os educadores. agitação em sala de aula.
A sexualidade é primeiramente abordada no espaço
privado, pelas relações familiares. Assim, de forma explícita ou Postura do educador
implícita, são transmitidos os valores que cada família adota
como seus e espera que as crianças assumam. O educador deve reconhecer como legítimo e lícito, por
De forma diferente, cabe à escola abordar os diversos parte das crianças e dos jovens, a busca do prazer e as
pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade para curiosidades manifestas acerca da sexualidade, uma vez que
auxiliar o aluno a encontrar um ponto de auto referência por fazem parte de seu processo de desenvolvimento.
meio da reflexão. Nesse sentido, o trabalho realizado pela O professor transmite valores com relação à sexualidade
escola, denominado aqui de Orientação Sexual, não substitui no seu trabalho cotidiano, na forma de responder ou não às
nem concorre com a função da família, mas antes a questões mais simples trazidas pelos alunos. É necessário
complementa. Constitui um processo formal e sistematizado então que o educador tenha acesso à formação específica para
que acontece dentro da instituição escolar, exige planejamento tratar de sexualidade com crianças e jovens na escola,
e propõe uma intervenção por parte dos profissionais da possibilitando a construção de uma postura profissional e
educação. consciente no trato desse tema. O professor deve então entrar
O trabalho de Orientação Sexual na escola é entendido em contato com questões teóricas, leituras e discussões sobre
como problematizar, levantar questionamentos e ampliar o as temáticas específicas de sexualidade e suas diferentes
leque de conhecimentos e de opções para que o aluno, ele abordagens; preparar-se para a intervenção prática junto dos
próprio, escolha seu caminho. A Orientação Sexual não- alunos e ter acesso a um espaço grupal de supervisão dessa
diretiva aqui proposta será circunscrita ao âmbito pedagógico prática, o qual deve ocorrer de forma continuada e sistemática,
e coletivo, não tendo portanto caráter de aconselhamento constituindo, portanto, um espaço de reflexão sobre valores e
individual de tipo psicoterapêutico. Isso quer dizer que as preconceitos dos próprios educadores envolvidos no trabalho
diferentes temáticas da sexualidade devem ser trabalhadas de Orientação Sexual.
dentro do limite da ação pedagógica, sem serem invasivas da Ao atuar como um profissional a quem compete conduzir
intimidade e do comportamento de cada aluno. Tal postura o processo de reflexão que possibilitará ao aluno autonomia
deve inclusive auxiliar as crianças e os jovens a discriminar o para eleger seus valores, tomar posições e ampliar seu
que pode e deve ser compartilhado no grupo e o que deve ser universo de conhecimentos, o professor deve ter
mantido como uma vivência pessoal. Apenas os alunos que discernimento para não transmitir seus valores, crenças e
demandem atenção e intervenção individuais devem ser opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas. O
atendidos separadamente do grupo pelo professor ou professor, assim como o aluno, possui expressão própria de
orientador na escola e, dentro desse âmbito, poderá ser sua sexualidade que se traduz em valores, crenças, opiniões e
discutido um possível encaminhamento para atendimento sentimentos particulares. Não se pode exigir do professor uma
especializado. isenção absoluta no tratamento das questões ligadas à
sexualidade, mas a consciência sobre quais são os valores,
A escola deve informar e discutir os diferentes tabus, crenças, opiniões e sentimentos que cultiva em relação à
preconceitos, crenças e atitudes existentes na sociedade, sexualidade é um elemento importante para que desenvolva
buscando, se não uma isenção total, o que é impossível de se uma postura ética na sua atuação junto dos alunos. O trabalho
conseguir, uma condição de maior distanciamento pessoal por coletivo da equipe escolar, definindo princípios educativos, em
parte dos professores para empreender essa tarefa. Por muito ajudará cada professor em particular nessa tarefa.
exemplo, na discussão sobre a virgindade entre um grupo de
alunos de oitava série com seu professor abordam- se todos os Para um bom trabalho de Orientação Sexual, é necessário
aspectos e opiniões sobre o tema, seu significado para meninos que se estabeleça uma relação de confiança entre alunos e
e meninas, pesquisam- se suas implicações em diferentes professor. Para isso, o professor deve se mostrar disponível
culturas, sua conotação em diferentes momentos históricos e para conversar a respeito das questões apresentadas, não
os valores atribuídos por distintos grupos sociais emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e
contemporâneos. Após essa discussão é uma opção pessoal do responder às perguntas de forma direta e esclarecedora.

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APOSTILAS OPÇÃO

Informações corretas do ponto de vista científico ou séries iniciais visa permitir ao aluno encontrar na escola um
esclarecimentos sobre as questões trazidas pelos alunos são espaço de informação e de formação, no que diz respeito às
fundamentais para seu bem-estar e tranquilidade, para uma questões referentes ao seu momento de desenvolvimento e às
maior consciência de seu próprio corpo e melhores condições questões que o ambiente coloca.
de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, O objetivo deste documento está em promover reflexões e
gravidez indesejada e abuso sexual. discussões de técnicos, professores, equipes pedagógicas, bem
Na condução desse trabalho, a postura do educador é como pais e responsáveis, com a finalidade de sistematizar a
fundamental para que os valores básicos propostos possam ação pedagógica no desenvolvimento dos alunos, levando em
ser conhecidos e legitimados de acordo com os objetivos conta os princípios morais de cada um dos envolvidos e
apontados. Em relação às questões de gênero, por exemplo, o respeitando, também, os Direitos Humanos.
professor deve transmitir, pela sua conduta, a equidade entre
os gêneros e a dignidade de cada um individualmente. Ao ORIENTAÇÃO SEXUAL
orientar todas as discussões, deve, ele próprio, respeitar a 1ª PARTE
opinião de cada aluno e ao mesmo tempo garantir o respeito e
a participação de todos. Justificativa

Relação escola-família A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no


currículo das escolas de primeiro e segundo graus tem se
O trabalho de Orientação Sexual proposto por este intensificado a partir da década de 70, por ser considerada
documento compreende a ação da escola como complementar importante na formação global do indivíduo. Com diferentes
à educação dada pela família. Assim, a escola deverá informar enfoques e ênfases há registros de discussões e de trabalhos
os familiares dos alunos sobre a inclusão de conteúdos de em escolas desde a década de 20. A retomada contemporânea
Orientação Sexual na proposta curricular e explicitar os dessa questão deu-se juntamente com os movimentos sociais
princípios norteadores da proposta. O diálogo entre escola e que se propunham, com a abertura política, a repensar sobre o
família deverá se dar de todas as formas pertinentes a essa papel da escola e dos conteúdos por ela trabalhados. Mesmo
relação. assim não foram muitas as iniciativas tanto na rede pública
Por entender que a abordagem oferecida acontece a partir como na rede privada de ensino.
de uma visão pluralista de sexualidade e o papel da escola é A partir de meados dos anos 80, a demanda por trabalhos
abrir espaço para que essa pluralidade de concepções, valores na área da sexualidade nas escolas aumentou devido à
e crenças possa se expressar, não compete à escola, em preocupação dos educadores com o grande crescimento da
nenhuma situação, julgar como certa ou errada a educação que gravidez indesejada entre as adolescentes e com o risco da
cada família oferece. Antes, caberá à escola trabalhar o contaminação pelo HIV (vírus da AIDS) entre os jovens. A
respeito às diferenças, a partir da sua própria atitude de princípio, acreditava-se que as famílias apresentavam
respeitar as diferenças expressas pelas famílias. A única resistência à abordagem dessas questões no âmbito escolar,
exceção refere-se às situações em que haja violação dos mas atualmente sabe-se que os pais reivindicam a orientação
direitos das crianças e dos jovens. Nessa situação específica, sexual nas escolas, pois reconhecem não só a sua importância
cabe à escola posicionar-se a fim de garantir a integridade para crianças e jovens, como também a dificuldade de falar
básica de seus alunos — por exemplo, as situações de abertamente sobre esse assunto em casa. Uma pesquisa do
violência sexual contra crianças por parte de familiares devem Instituto DataFolha, realizada em dez capitais brasileiras e
ser comunicadas ao Conselho Tutelar (que poderá manter o divulgada em junho de 1993, constatou que 86% das pessoas
anonimato do denunciante) ou autoridade correspondente. ouvidas eram favoráveis à inclusão de Orientação Sexual nos
currículos escolares.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS As manifestações de sexualidade afloram em todas as
faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas
ORIENTAÇÃO SEXUAL mais habituais dadas pelos profissionais da escola. Essas
práticas se fundamentam na ideia de que o tema deva ser
Apresentação tratado exclusivamente pela família. De fato, toda família
realiza a educação sexual de suas crianças e jovens, mesmo
Ao tratar do tema Orientação Sexual, busca-se considerar aquelas que nunca falam abertamente sobre isso. O
a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos, no
expressa desde cedo no ser humano. Engloba o papel social do tipo de “cuidados” recomendados, nas expressões, gestos e
homem e da mulher, o respeito por si e pelo outro, as proibições que estabelecem são carregados de determinados
discriminações e os estereótipos atribuídos e vivenciados em valores associados à sexualidade que a criança apreende.
seus relacionamentos, o avanço da AIDS e da gravidez O fato de a família ter valores conservadores, liberais ou
indesejada na adolescência, entre outros, que são problemas progressistas, professar alguma crença religiosa ou não e a
atuais e preocupantes. forma como o faz determina em grande parte a educação das
A primeira parte deste documento justifica a importância crianças. Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto,
de se incluir Orientação Sexual como tema transversal nos que a criança recebe com maior intensidade as noções a partir
currículos, isto é, discorre sobre o papel e a postura do das quais construirá sua sexualidade na infância.
educador e da escola, descrevendo, para tanto, as referências A criança também sofre influências de muitas outras
necessárias a melhor atuação educacional ao se tratar do fontes: de livros, da escola, de pessoas que não pertencem à
assunto, trabalho que se diferencia do tratamento da questão sua família e, principalmente, nos dias de hoje, da mídia. Essas
no ambiente familiar. Aborda ainda, por meio dos objetivos fontes atuam de maneira decisiva na formação sexual de
gerais, as capacidades a serem desenvolvidas pelos alunos no crianças, jovens e adultos. A TV veicula propaganda, filmes e
ensino fundamental. novelas intensamente erotizados. Isso gera excitação e um
A segunda parte, constituída pelos blocos de conteúdos, incremento na ansiedade relacionada às curiosidades e
critérios de avaliação e orientação didática geral, refere-se à fantasias sexuais da criança. Há programas
especificação do trabalho direcionada às primeiras quatro jornalísticos/científicos e campanhas de prevenção à AIDS que
séries do ensino fundamental, que é de natureza bastante enfocam a sexualidade, veiculando informações dirigidas a um
distinta das demais séries. O tratamento da sexualidade nas público adulto. As crianças também os assistem, mas não

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podem compreender por completo o significado dessas abordagem da prevenção às doenças sexualmente
mensagens e muitas vezes constroem conceitos e explicações transmissíveis/AIDS.
errôneas e fantasiosas sobre a sexualidade. O trabalho de Orientação Sexual também contribui para a
Todas essas questões são trazidas pelos alunos para prevenção de problemas graves como o abuso sexual e a
dentro da escola. Cabe a ela desenvolver ação crítica, reflexiva gravidez indesejada. As informações corretas aliadas ao
e educativa. trabalho de autoconhecimento e de reflexão sobre a própria
Não é apenas em portas de banheiros, muros e paredes que sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados
se inscreve a sexualidade no espaço escolar; ela “invade” a necessários para a prevenção desses problemas.
escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e da Finalmente pode-se afirmar que a implantação de
convivência social entre eles. Por vezes a escola realiza o Orientação Sexual nas escolas contribui para o bem-estar das
pedido, impossível de ser atendido, de que os alunos deixem crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e
sua sexualidade fora dela. futura.
Há também a presença clara da sexualidade dos adultos
que atuam na escola. Pode-se notar, por exemplo, a grande Concepção do tema
inquietação e curiosidade que a gravidez de uma professora
desperta nos alunos. A sexualidade tem grande importância no
A escola, querendo ou não, depara com situações nas quais desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
sempre intervém. Seja no cotidiano da sala de aula, quando independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
proíbe ou permite certas manifestações e não outras, seja se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres
quando opta por informar os pais sobre manifestações de seu humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo
filho, a escola está sempre transmitindo certos valores, mais inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento
ou menos rígidos, a depender dos profissionais envolvidos até a morte, de formas diferentes a cada etapa do
naquele momento. desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída
Muitas escolas, atentas para a necessidade de trabalhar ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela
com essa temática em seus conteúdos formais, incluem história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e
Aparelho Reprodutivo no currículo de Ciências Naturais. sentimentos, expressando-se então com singularidade em
Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução cada sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo da
humana, com informações ou noções relativas à anatomia e sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como
fisiologia do corpo humano. Essa abordagem normalmente Antropologia, História, Economia, Sociologia, Biologia,
não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, pois Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é
enfoca apenas o corpo biológico e não inclui as dimensões expressão biológica que define um conjunto de características
culturais, afetivas e sociais contidas nesse mesmo corpo. anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), a
Sabe-se que as curiosidades das crianças a respeito da sexualidade é, de forma bem mais ampla, expressão cultural.
sexualidade são questões muito significativas para a Cada sociedade cria conjuntos de regras que constituem
subjetividade na medida em que se relacionam com o parâmetros fundamentais para o comportamento sexual de
conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber. cada indivíduo. Nesse sentido, a proposta de Orientação Sexual
A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo considera a sexualidade nas suas dimensões biológica,
de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não psíquica e sociocultural.
satisfação gera ansiedade e tensão. A oferta, por parte da
escola, de um espaço em que as crianças possam esclarecer Sexualidade na infância e na adolescência
suas dúvidas e continuar formulando novas questões contribui
para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as
aprendizado dos conteúdos escolares. primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências
Se a escola que se deseja deve ter uma visão integrada das sensuais de vida e de prazer não são essencialmente
experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indivíduo,
prazer pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil
desempenha um papel importante na educação para uma se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se
sexualidade ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem estar, manifestando de forma diferente em cada momento da
que integra as diversas dimensões do ser humano envolvidas infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em
nesse aspecto. que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global
O trabalho sistemático e sistematizado de Orientação dos seres humanos.
Sexual dentro da escola articula-se, portanto, com a promoção A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a
da saúde das crianças e dos adolescentes. A existência desse partir das possibilidades individuais e de sua interação com o
trabalho possibilita também a realização de ações preventivas meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra,
às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS de forma mais aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em
eficaz. Diversos estudos já demonstraram os parcos resultados seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças
obtidos por trabalhos esporádicos sobre a questão. Inúmeras recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou
pesquisas apontam também que apenas a informação não é “julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado
suficiente para possibilitar a adoção de comportamentos de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer,
preventivos. o que comporá a sua vida psíquica.
Reconhece-se, portanto, como intervenções mais eficazes Nessa exploração do próprio corpo, na observação do
na prevenção da AIDS as ações educativas continuadas, que corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a
oferecem possibilidades de elaboração das informações criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina.
recebidas e de discussão dos obstáculos emocionais e culturais Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre
que impedem a adoção de condutas preventivas. Devido ao os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as
tempo de permanência dos jovens na escola e às expressões que caracterizam o homem e a mulher. A
oportunidades de trocas, convívio social e relacionamentos construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo
amorosos, a escola não pode se omitir diante da relevância tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive
dessas questões, constituindo local privilegiado para a nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos
padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino.

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Esses padrões são oriundos das representações sociais e A escola deve informar e discutir os diferentes tabus,
culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos preconceitos, crenças e atitudes existentes na sociedade,
sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a buscando, se não uma isenção total, o que é impossível de se
denominação de relações de gênero. Essas representações conseguir, uma condição de maior distanciamento pessoal por
absorvidas são referências fundamentais para a constituição parte dos professores para empreender essa tarefa. Por
da identidade da criança. exemplo, na discussão sobre a virgindade entre um grupo de
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil alunos de oitava série com seu professor abordam-se todos os
datam do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas aspectos e opiniões sobre o tema, seu significado para meninos
ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de e meninas, pesquisam-se suas implicações em diferentes
crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são culturas, sua conotação em diferentes momentos históricos e
seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a os valores atribuídos por distintos grupos sociais
expressar, e as manifestações da sexualidade infantil possuem contemporâneos. Após essa discussão é uma opção pessoal do
a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se aluno tirar (ou não) uma conclusão sobre o tema virgindade
deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no naquele momento, não sendo necessário explicitá-la para o
entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da grupo. Já no espaço doméstico o mesmo tema, quando
existência e da importância da sexualidade para o abordado, suscita expectativas e ansiedades dos pais, questões
desenvolvimento de crianças e jovens. muito diferentes das discutidas em sala de aula.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem Assim, propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela
alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de escola aborde as repercussões de todas as mensagens
excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade, com as
masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das crianças e os jovens. Trata-se de preencher lacunas nas
descobertas e experimentações em relação à atração e às informações que a criança já possui e, principalmente, criar a
fantasias sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação possibilidade de formar opinião a respeito do que lhe é ou foi
com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do
pares amorosos entre os adolescentes. ponto de vista científico e explicitar os diversos valores
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais
todos os profissionais da educação a postura a ser adotada, existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver
dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade atitudes coerentes com os valores que ele próprio elegeu como
dos alunos. Daí, a presente proposta de trabalho, que legitima seus.
o papel e delimita a atuação do educador neste campo. Experiências bem-sucedidas com Orientação Sexual em
escolas que realizam esse trabalho apontam para alguns
A Orientação Sexual na Escola resultados importantes: aumento do rendimento escolar
(devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da
A partir da conceituação da sexualidade e do sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito entre
reconhecimento de sua importância no desenvolvimento os alunos. Quanto às crianças menores, os professores relatam
global, serão apontados as possibilidades e os limites da que informações corretas ajudam a diminuir a angústia e a
atuação nesse campo para os educadores. agitação em sala de aula.
A sexualidade é primeiramente abordada no espaço
privado, pelas relações familiares. Assim, de forma explícita ou Postura do educador
implícita, são transmitidos os valores que cada família adota
como seus e espera que as crianças assumam. O educador deve reconhecer como legítimo e lícito, por
De forma diferente, cabe à escola abordar os diversos parte das crianças e dos jovens, a busca do prazer e as
pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade para curiosidades manifestas acerca da sexualidade, uma vez que
auxiliar o aluno a encontrar um ponto de auto referência por fazem parte de seu processo de desenvolvimento.
meio da reflexão. Nesse sentido, o trabalho realizado pela O professor transmite valores com relação à sexualidade
escola, denominado aqui de Orientação Sexual, não substitui no seu trabalho cotidiano, na forma de responder ou não às
nem concorre com a função da família, mas antes a questões mais simples trazidas pelos alunos. É necessário
complementa. Constitui um processo formal e sistematizado então que o educador tenha acesso à formação específica para
que acontece dentro da instituição escolar, exige planejamento tratar de sexualidade com crianças e jovens na escola,
e propõe uma intervenção por parte dos profissionais da possibilitando a construção de uma postura profissional e
educação. consciente no trato desse tema. O professor deve então entrar
O trabalho de Orientação Sexual na escola é entendido em contato com questões teóricas, leituras e discussões sobre
como problematizar, levantar questionamentos e ampliar o as temáticas específicas de sexualidade e suas diferentes
leque de conhecimentos e de opções para que o aluno, ele abordagens; preparar-se para a intervenção prática junto dos
próprio, escolha seu caminho. A Orientação Sexual não- alunos e ter acesso a um espaço grupal de supervisão dessa
diretiva aqui proposta será circunscrita ao âmbito pedagógico prática, o qual deve ocorrer de forma continuada e sistemática,
e coletivo, não tendo portanto caráter de aconselhamento constituindo, portanto, um espaço de reflexão sobre valores e
individual de tipo psicoterapêutico. Isso quer dizer que as preconceitos dos próprios educadores envolvidos no trabalho
diferentes temáticas da sexualidade devem ser trabalhadas de Orientação Sexual.
dentro do limite da ação pedagógica, sem serem invasivas da Ao atuar como um profissional a quem compete conduzir
intimidade e do comportamento de cada aluno. Tal postura o processo de reflexão que possibilitará ao aluno autonomia
deve inclusive auxiliar as crianças e os jovens a discriminar o para eleger seus valores, tomar posições e ampliar seu
que pode e deve ser compartilhado no grupo e o que deve ser universo de conhecimentos, o professor deve ter
mantido como uma vivência pessoal. Apenas os alunos que discernimento para não transmitir seus valores, crenças e
demandem atenção e intervenção individuais devem ser opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas. O
atendidos separadamente do grupo pelo professor ou professor, assim como o aluno, possui expressão própria de
orientador na escola e, dentro desse âmbito, poderá ser sua sexualidade que se traduz em valores, crenças, opiniões e
discutido um possível encaminhamento para atendimento sentimentos particulares. Não se pode exigir do professor uma
especializado. isenção absoluta no tratamento das questões ligadas à
sexualidade, mas a consciência sobre quais são os valores,

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crenças, opiniões e sentimentos que cultiva em relação à Por outro lado, os valores que se atribuem à sexualidade e
sexualidade é um elemento importante para que desenvolva aquilo que se valoriza são também produtos socioculturais.
uma postura ética na sua atuação junto dos alunos. O trabalho Como nos demais Temas Transversais, diferentes códigos de
coletivo da equipe escolar, definindo princípios educativos, em valores se contrapõem e disputam espaço. A exploração
muito ajudará cada professor em particular nessa tarefa. comercial, a propaganda e a mídia em geral têm feito um uso
Para um bom trabalho de Orientação Sexual, é necessário abusivo da sexualidade, impondo valores discutíveis e
que se estabeleça uma relação de confiança entre alunos e transformando-a em objeto de consumo.
professor. Para isso, o professor deve se mostrar disponível Assim, como indicam inúmeras experiências pedagógicas,
para conversar a respeito das questões apresentadas, não a abordagem da sexualidade no âmbito da educação precisa
emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e ser explícita, para que seja tratada de forma simples e direta;
responder às perguntas de forma direta e esclarecedora. ampla, para não reduzir sua complexidade; flexível, para
Informações corretas do ponto de vista científico ou permitir o atendimento a conteúdos e situações diversas; e
esclarecimentos sobre as questões trazidas pelos alunos são sistemática, para possibilitar uma aprendizagem e um
fundamentais para seu bem-estar e tranquilidade, para uma desenvolvimento crescentes.
maior consciência de seu próprio corpo e melhores condições A presente proposta de Orientação Sexual caracteriza-se
de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, por trabalhar o esclarecimento e a problematização de
gravidez indesejada e abuso sexual. questões que favoreçam a reflexão e a ressignificação das
Na condução desse trabalho, a postura do educador é informações, emoções e valores recebidos e vividos no
fundamental para que os valores básicos propostos possam decorrer da história de cada um, que tantas vezes prejudicam
ser conhecidos e legitimados de acordo com os objetivos o desenvolvimento de suas potencialidades. Ressalta-se a
apontados. Em relação às questões de gênero, por exemplo, o importância de se abordar a sexualidade da criança e do
professor deve transmitir, pela sua conduta, a equidade entre adolescente não somente no que tange aos aspectos biológicos,
os gêneros e a dignidade de cada um individualmente. Ao mas também e principalmente aos aspectos sociais, culturais,
orientar todas as discussões, deve, ele próprio, respeitar a políticos, econômicos e psíquicos dessa sexualidade.
opinião de cada aluno e ao mesmo tempo garantir o respeito e No trabalho de Orientação Sexual são muitas as questões
a participação de todos. às quais se deve estar atento. Em primeiro lugar, trata-se de
temática muito associada a preconceitos, tabus, crenças ou
Relação escola-família valores singulares. Para que o trabalho de Orientação Sexual
possa se efetivar de forma coerente com a visão pluralista de
O trabalho de Orientação Sexual proposto por este sexualidade aqui proposta, é necessário que as diferentes
documento compreende a ação da escola como complementar crenças e valores, as dúvidas e os questionamentos sobre os
à educação dada pela família. Assim, a escola deverá informar diversos aspectos ligados à sexualidade encontrem espaço
os familiares dos alunos sobre a inclusão de conteúdos de para se expressar. Será por meio do diálogo, da reflexão e da
Orientação Sexual na proposta curricular e explicitar os possibilidade de reconstruir as informações, pautando-se
princípios norteadores da proposta. O diálogo entre escola e sempre pelo respeito a si próprio e ao outro, que o aluno
família deverá se dar de todas as formas pertinentes a essa conseguirá transformar e/ou reafirmar concepções e
relação. princípios, construindo de maneira significativa seu próprio
Por entender que a abordagem oferecida acontece a partir código de valores.
de uma visão pluralista de sexualidade e o papel da escola é Para isso, optou-se por integrar a Orientação Sexual nos
abrir espaço para que essa pluralidade de concepções, valores Parâmetros Curriculares Nacionais, por meio da
e crenças possa se expressar, não compete à escola, em transversalidade, o que significa que tanto a concepção quanto
nenhuma situação, julgar como certa ou errada a educação que os objetivos e conteúdos propostos por Orientação Sexual
cada família oferece. Antes, caberá à escola trabalhar o encontram-se contemplados pelas diversas áreas do
respeito às diferenças, a partir da sua própria atitude de conhecimento. Dessa forma, o posicionamento proposto pelo
respeitar as diferenças expressas pelas famílias. A única tema de Orientação Sexual, assim como acontece com todos os
exceção refere-se às situações em que haja violação dos Temas Transversais, estará impregnando toda a prática
direitos das crianças e dos jovens. Nessa situação específica, educativa. Cada uma das áreas tratará da temática da
cabe à escola posicionar-se a fim de garantir a integridade sexualidade por meio da sua própria proposta de trabalho. Ao
básica de seus alunos — por exemplo, as situações de violência se apresentarem os conteúdos de Orientação Sexual, serão
sexual contra crianças por parte de familiares devem ser explicitadas as articulações mais evidentes de cada bloco de
comunicadas ao Conselho Tutelar (que poderá manter o conteúdo com as diversas áreas.
anonimato do denunciante) ou autoridade correspondente. Além disso, o trabalho de Orientação Sexual implica o
tratamento de questões que nem sempre estarão articuladas
Orientação Sexual como tema Transversal com as diversas áreas do currículo — seja porque se trata de
questões singulares que necessitam, então, de um tratamento
As questões referentes à sexualidade não se restringem ao específico, seja porque permeiam o dia-a-dia na escola das
âmbito individual. Pelo contrário, muitas vezes, para mais diferentes formas, surgindo de maneira emergente e
compreender comportamentos e valores pessoais é necessário exigindo, do professor, flexibilidade, disponibilidade e
contextualizá-los social e culturalmente. É nas relações sociais abertura para trabalhar essas questões. As manifestações da
que se definem, por exemplo, os padrões de relação de gênero, sexualidade, diferentes em cada etapa do desenvolvimento,
o que homens e mulheres podem e devem fazer por serem são um exemplo disso. Muitas vezes o professor encontrará aí
homens e mulheres, e, principalmente, quais são e quais excelente oportunidade para desenvolver um trabalho
deverão ser os direitos de cidadania ligados à sexualidade e à extraprogramação. A sexualidade provoca nas crianças uma
reprodução. O alto índice de gravidez indesejada na grande variedade de sentimentos, sensações, dúvidas, etc.
adolescência, abuso sexual e prostituição infantil, o Todas essas manifestações são objetos de trabalho do tema
crescimento da epidemia de AIDS, a discriminação salarial das Orientação Sexual. Embora não sejam passíveis de serem
mulheres no mercado de trabalho, são algumas das questões programadas, elas acontecem inevitavelmente e, para isso, o
sociais que demandam posicionamento em favor de professor deverá estar preparado: deverá se planejar para
transformações que garantam a todos a dignidade e a trabalhar essas situações no momento em que elas
qualidade de vida previstas pela Constituição brasileira. acontecerem. A atitude do professor de acolhimento a essas

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expressões e de disponibilidade para ouvir e responder a a inadequação de tal comportamento às normas do convívio
questões é fundamental para o trabalho que aqui se propõe. escolar. Não se trata portanto de julgar tais manifestações, mas
O trabalho de Orientação Sexual deverá, portanto, se dar apenas de delimitar a inadequação do espaço da escola para
de duas formas: dentro da programação, por meio dos sua efetivação. Cabe ao educador compreender, então, que não
conteúdos já transversalizados nas diferentes áreas do se trata de aberração que justifique informar os pais sobre tais
currículo, e extraprogramação, sempre que surgirem questões fatos, devendo a própria escola estabelecer diretamente com
relacionadas ao tema. seus alunos os limites para o que pode ou não ocorrer dentro
A partir da quinta série, além da transversalização já dela. A chamada dos pais só se justifica quando forem práticas
apontada, a Orientação Sexual comporta também uma muito recorrentes e estejam interferindo nas possibilidades de
sistematização e um espaço específico. Esse espaço pode aprendizagem do aluno.
ocorrer na forma de uma hora-aula semanal para os alunos É comum nesses ciclos a curiosidade sobre concepção e
(dentro ou fora da grade horária existente, a depender das parto, relacionamento sexual ou AIDS. Muitas vezes a
condições de cada escola). Da quinta série em diante os alunos curiosidade se expressa de forma direta. Outras vezes surge
já apresentam condições de canalizar suas dúvidas ou encoberta em brincadeiras erotizadas, piadas, expressões
questões sobre sexualidade para um momento especialmente verbais, músicas, etc. Observa-se também que as crianças
reservado para tal, com um professor disponível. Isso porque, reproduzem manifestações de sexualidade adulta vistas na TV
a partir da puberdade, os alunos também já trazem questões ou presenciadas. Cabe ao educador identificar essas
mais polêmicas em sexualidade, já apresentam necessidade e manifestações como curiosidades acerca dos aspectos
melhores condições de refletir sobre temáticas como aborto, relacionados à sexualidade e intervir pontualmente,
virgindade, homossexualidade, pornografia, prostituição e permitindo que as dúvidas possam ser colocadas e o assunto
outras. Se antes os alunos se informavam sobre o aborto, possa ser tratado de forma explícita e direta. Essa intervenção
nessas séries surge a discussão sobre as complexas questões deve esclarecer as dúvidas do(s) aluno(s) e, se o tema for de
que ele envolve. Se antes os alunos recebiam mensagens sobre interesse geral, o professor deve oferecer espaço para
os valores associados à sexualidade, agora vão discutir, discussão e esclarecimento.
questionar e configurar mais claramente seus próprios
valores. É importante que a escola possa oferecer um espaço Comunidade Escolar
específico dentro da rotina escolar para essa finalidade.
O trabalho de Orientação Sexual pode ser planejado com Ao definir o trabalho com Orientação Sexual como uma de
maior detalhamento, tendo como ponto de partida a suas competências, a escola estará incluindo-o no seu projeto
montagem do programa feita por cada turma. Cabe então ao educativo. Isso implica uma definição clara dos princípios que
educador responsável a organização dos temas (a partir das deverão nortear o trabalho de Orientação Sexual e sua
questões trazidas pelos alunos), a inclusão de tópicos explicitação para toda a comunidade escolar envolvida no
essenciais por vezes não levantados pelos jovens (prevenção processo educativo dos alunos. Esses princípios determinarão
às doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo) e o desde a postura que se deve ter em relação às questões
estabelecimento de regras necessárias para o trabalho. Essas relacionadas à sexualidade e suas manifestações na escola, até
regras devem garantir a privacidade de cada um, o respeito às a escolha de conteúdos a serem trabalhados junto com os
posições divergentes, a construção de um clima de grupo alunos. A coerência entre os princípios adotados e a prática
amistoso e acolhedor onde possa ocorrer o diálogo. cotidiana da escola deverá pautar todo o trabalho.
Ao questionar e criticar os tabus e preconceitos ligados à Para garantir essa coerência ao tratar de tema associado a
sexualidade e trabalhar com conhecimentos e informações que tão grande multiplicidade de valores, a escola deverá estar
visam a promoção do bem-estar e da saúde, esse trabalho se consciente da necessidade de se abrir um espaço para reflexão
entrelaça com objetivos e conteúdos contemplados também como parte do processo de formação constante de todos os
em outros temas, principalmente Ética e Saúde. envolvidos no processo educativo.

Manifestações da sexualidade na escola Objetivos gerais de Orientação Sexual para o Ensino


Fundamental
As manifestações da sexualidade infantil mais frequentes
acontecem na realização de carícias no próprio corpo, na O objetivo do trabalho de Orientação Sexual é contribuir
curiosidade sobre o corpo do outro, nas brincadeiras com para que os alunos possam desenvolver e exercer sua
colegas, nas piadas e músicas jocosas que se referem ao sexo, sexualidade com prazer e responsabilidade. Esse tema
nas perguntas ou ainda na reprodução de gestos e atitudes vincula-se ao exercício da cidadania na medida em que, de um
típicos da manifestação da sexualidade adulta. lado, se propõe a trabalhar o respeito por si e pelo outro, e, por
No espaço doméstico, os familiares atribuem seus próprios outro lado, busca garantir direitos básicos a todos, como a
valores a essas manifestações, por meio das mais variadas saúde, a informação e o conhecimento, elementos
posturas. Alguns reconhecem como legítimo o desejo da fundamentais para a formação de cidadãos responsáveis e
criança, outros o consideram nocivo. conscientes de suas capacidades.
Essas manifestações também acontecem no âmbito escolar Assim, o tema Orientação Sexual deve se organizar para
e é necessário que a escola, como instituição educacional, se que os alunos, ao fim do ensino fundamental, sejam capazes
posicione clara e conscientemente sobre referências e limites de:
com os quais irá trabalhar as expressões de sexualidade dos • respeitar a diversidade de valores, crenças e
alunos. Se é pertinente ao espaço da escola o esclarecimento comportamentos existentes e relativos à sexualidade, desde
de dúvidas e curiosidades sobre a sexualidade, é importante que seja garantida a dignidade do ser humano;
que a escola contribua para que a criança discrimine as • compreender a busca de prazer como uma dimensão
manifestações que fazem parte da sua intimidade e saudável da sexualidade humana;
privacidade das expressões que são acessíveis ao convívio • conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde como
social. condição necessária para usufruir de prazer sexual;
As manifestações mais frequentes nos ciclos iniciais são a • reconhecer como determinações culturais as
manipulação curiosa dos genitais e as brincadeiras que características socialmente atribuídas ao masculino e ao
envolvem contato corporal nas regiões genitais. A intervenção feminino, posicionando-se contra discriminações a eles
do educador nessas situações deve se dar de forma a apontar associadas;

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• identificar e expressar seus sentimentos e desejos, Blocos de conteúdos


respeitando os sentimentos e desejos do outro;
• proteger-se de relacionamentos sexuais coercitivos ou A partir dos critérios descritos, os conteúdos foram
exploradores; organizados em três blocos:
• reconhecer o consentimento mútuo como necessário • Corpo: matriz da sexualidade.
para usufruir de prazer numa relação a dois; • Relações de gênero.
• agir de modo solidário em relação aos portadores do HIV • Prevenção às Doenças Sexualmente
e de modo propositivo na implementação de políticas públicas Transmissíveis/AIDS.
voltadas para prevenção e tratamento das doenças Os conteúdos de Orientação Sexual podem e devem ser
sexualmente transmissíveis/AIDS; flexíveis, de forma a abranger as necessidades específicas de
• conhecer e adotar práticas de sexo protegido, ao iniciar cada turma a cada momento. Como decorrência, podem-se
relacionamento sexual. encontrar programas de Orientação Sexual bastante
• evitar contrair ou transmitir doenças sexualmente diversificados que incluem tópicos como pornografia,
transmissíveis, inclusive o vírus da AIDS; prostituição, abuso sexual, métodos contraceptivos, desejo
• desenvolver consciência crítica e tomar decisões sexual, transformações do corpo na puberdade, iniciação
responsáveis a respeito de sua sexualidade; sexual, masturbação e muitos outros mais. A definição dos três
• procurar orientação para a adoção de métodos blocos de conteúdo da presente proposta de Orientação Sexual
contraceptivos. responde à necessidade de eleger tópicos que devem ser
necessariamente trabalhados e relacionados aos eleitos pelos
alunos e sempre devem estar presentes em qualquer
ORIENTAÇÃO SEXUAL programa de Orientação Sexual, de forma a garantir
2ª PARTE informações e discussões básicas sobre sexualidade. Esses
conteúdos devem possibilitar a abordagem dos diferentes
Os conteúdos de orientação sexual para o primeiro e assuntos, que variam de acordo com a faixa etária, cultura
segundo ciclos regional e fatos contemporâneos veiculados pela mídia ou
vividos por uma dada comunidade. O desafio que se coloca é o
Os trabalhos já existentes de Orientação Sexual nas séries de dar visibilidade a esses aspectos, considerados
iniciais do primeiro grau (primeira a quarta séries) indicam fundamentais; porém, há uma estreita ligação entre eles, o que
que as questões trazidas pelos alunos são predominantemente forma uma unidade coerente com a concepção de sexualidade
ligadas à compreensão de informações sobre sexualidade. A adotada.
curiosidade gira em torno da tentativa de compreender o que Os blocos (Corpo: matriz da sexualidade, Relações de
é o relacionamento sexual, como ele ocorre, as transformações gênero e Prevenção às Doenças Sexualmente
no corpo durante a puberdade e os mecanismos da concepção, Transmissíveis/AIDS) foram definidos para os quatro ciclos do
gravidez e parto. Todas essas curiosidades são importante de ensino fundamental, ao passo que os conteúdos especificados
serem contempladas pelo professor, assim como ação em cada bloco referem-se aos dois primeiros ciclos e já se
reflexiva quanto aos preconceitos em relação aos encontram transversalizados, isto é, contemplados pelas
comportamentos ligados às meninas e aos meninos. Além áreas. Estão destacados para garantir a compreensão do tema
dessas questões, é comum que a curiosidade acerca de outros de forma integral e favorecer a reflexão e a articulação do
fatos e informações se expresse. Questões como “o que é trabalho de Orientação Sexual. Por exigirem um tratamento
aborto?”, por exemplo, são comuns e deverão ser respondidas diferenciado daquele dado aos conteúdos das áreas e por
e tratadas de forma direta. poderem ser abordados em ambos os ciclos de forma mais ou
menos aprofundada e abrangente, os conteúdos do tema
Critérios de seleção Orientação Sexual obedecerão à lógica interna de cada área no
que se refere à sua divisão por ciclos.
A vivência da sexualidade em cada indivíduo inclui fatores
oriundos de ordens distintas: aprendizado, descoberta e Corpo: Matriz da Sexualidade
invenção. Um bom trabalho de Orientação Sexual deve se
nortear pelas questões que pertencem à ordem do que pode Para a compreensão da abordagem proposta no trabalho
ser apreendido socialmente, preservando assim a vivência de Orientação Sexual, deve-se ter em mente a distinção entre
singular das infinitas possibilidades da sexualidade humana, e os conceitos de organismo e corpo. O organismo se refere ao
pelas pertinentes à ordem do que pode ser prazerosamente aparato herdado e constitucional, a infraestrutura básica
aprendido, descoberto e/ou inventado no espaço da biológica dos seres humanos. Já o conceito de corpo diz
privacidade de cada um. Assim, buscou-se selecionar os respeito às possibilidades de apropriação subjetiva de toda
conteúdos segundo os seguintes critérios: experiência na interação com o meio. O organismo
• relevância sociocultural, isto é, conteúdos que atravessado pela inteligência e desejo se mostrará um corpo.
correspondam às questões apresentadas pela sociedade no No conceito de corpo, portanto, estão incluídas as dimensões
momento atual; da aprendizagem e todas as potencialidades do indivíduo para
• consideração às dimensões biológica, psíquica e a apropriação das suas vivências.
sociocultural da sexualidade, buscando contemplar uma visão A partir dessa diferenciação, vê-se que a abordagem sobre
ampla e não- reducionista das questões que envolvem a corpo deve ir além das informações sobre sua anatomia e
sexualidade e o seu desenvolvimento no âmbito pessoal; funcionamento, pois os órgãos não existiriam fora de um corpo
• possibilidade de conceber a sexualidade de forma que pulsa e sente. O corpo é concebido como um todo
saudável, prazerosa e responsável. integrado, de sistemas interligados e inclui emoções,
Tais conteúdos foram elencados não apenas em seus sentimentos, sensações de prazer/desprazer, assim como as
aspectos conceituais, que garantem as informações transformações nele ocorridas ao longo do tempo. Há que se
pertinentes, mas sobretudo por seus aspectos procedimentais considerar, portanto, os fatores culturais que intervêm na
e atitudinais. construção da percepção do corpo, esse todo que inclui as
dimensões biológica, psicológica e social.
O que se busca é construir noções, imagens, conceitos e
valores a respeito do corpo em que esteja incluída a

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sexualidade como algo inerente, saudável, necessária e diferenciados nos meninos e nas meninas e amadurecimento
desejável da vida humana. As ideias e concepções veiculadas das potencialidades sexuais e reprodutivas. O
pelas diferentes áreas (Língua Portuguesa, Matemática, aprofundamento deve ser feito de forma a detalhar as
Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física) questões já vistas, complementando-as com novas
contribuem para a construção dessa visão do corpo por meio informações (por exemplo, no estudo da anatomia do corpo
da explicitação das dimensões da sexualidade nos seus humano, incluir o estudo dos órgãos internos do aparelho
conteúdos. Por exemplo, a inclusão de conhecimentos a reprodutor e seu funcionamento, a amamentação, etc.). O
respeito de como a sexualidade é vivida em diferentes educador, coerentemente com a abordagem proposta, não
culturas, em diferentes tempos, em diferentes lugares e como deve descuidar da vivência dessas mudanças pelos alunos.
se expressa pelo vestuário, cuidados pessoais, regras, Propõe-se, portanto, que o professor acolha a necessidade de
interdições e valorização de comportamentos (o hábito discussão dos medos provocados por essas mudanças, o ritmo
presente em algumas culturas de as mulheres tomarem banho e o tempo em que elas ocorrem, que variam bastante de jovem
vestidas, a nudez e a liberdade entre as crianças indígenas para jovem, as mudanças gestuais e posturais que se dão em
brasileiras, etc.). A Educação Física, que privilegia o uso do consequência do crescimento rápido; enfim, a acomodação
corpo e a construção de uma “cultura corporal” (ver o necessária a esse novo corpo que muda. São também
documento dessa área), é um excelente espaço onde o abordadas as mudanças socialmente estabelecidas e
conhecimento, o respeito e a relação prazerosa com o próprio relacionadas à idade e sua repercussão nas relações familiares
corpo podem ser trabalhados. Da mesma forma, a dança e o e sociais.
teatro, na área de Arte. Essa abordagem deve facilitar às crianças maior contato,
Em Ciências, ao ser abordado o corpo (infantil e adulto, do conhecimento e consequentemente a apropriação de seu
homem e da mulher) e suas anatomias interna e externa, é próprio corpo; a partir daí, propiciar a extensão desse
importante incluir o fato de que os sentimentos, as emoções e conhecimento para o corpo em transformação do adolescente
o pensamento se produzem a partir do corpo e se expressam e o corpo do adulto, destacando então as potencialidades
nele, marcando-o e constituindo o que é cada pessoa. A reprodutivas.
integração entre as dimensões físicas, emocionais, cognitivas e O educador pode utilizar diferentes materiais para essa
sensíveis, cada uma se expressando e interferindo na outra, finalidade (didáticos, científicos, artísticos, etc.), analisando e
necessita ser explicitada no estudo do corpo humano, para que comparando a abordagem dada ao corpo pela ciência e pela
não se reproduza a sua concepção de conjunto fragmentado de propaganda, por exemplo; discutindo e questionando o uso de
partes. Com o mesmo cuidado devem necessariamente ser um certo padrão estético veiculado pela mídia. Pode também
abordados as transformações do corpo que ocorrem na incentivar a produção (coletiva e individual) das
puberdade, os mecanismos da concepção, gravidez e parto, representações que as crianças têm sobre o corpo, por meio de
assim como a existência de diferentes métodos contraceptivos desenhos, colagens, modelagem, etc.
e sua ação no corpo do homem e da mulher. Todos esses itens Nas atividades relacionadas com este bloco é importante
são trabalhados de forma que, ao mesmo tempo que se que nenhum aluno se sinta exposto diante dos demais. Um
referem a processos corporais individuais de uma pessoa, se recurso possível para evitar que isso aconteça é o da
possa pensar sobre eles também na relação com outras criação/adoção de um personagem imaginário pelo grupo de
pessoas, enfatizando o aspecto dos vínculos estabelecidos ao crianças. Por intermédio desse persongem podem-se
longo de toda a vida. trabalhar dúvidas, medos, informações e questões das crianças
Dessa forma podem ser trabalhadas questões ligadas ao corpo, de forma a ninguém se sentir ameaçado ou
fundamentais ligadas à sexualidade, como gostar e cuidar do invadido em sua intimidade. Com relação à linguagem a ser
corpo que se tem, respeitá-lo tanto no aspecto físico como utilizada para designar partes do corpo, o mais indicado é
psicológico. O respeito a si próprio, ao seu corpo e aos seus acolher a linguagem utilizada pelas crianças e apresentar as
sentimentos é a base para haver possibilidade de um denominações correspondente adotadas pela ciência.
relacionamento saudável com o outro. O questionamento da Ao iniciar o trabalho relativo às mudanças do corpo ou às
imposição de certos padrões de beleza veiculados pela mídia, potencialidades reprodutivas, é importante investigar o
principalmente a propaganda, se faz pertinente na medida em conhecimento prévio que os alunos têm sobre o assunto. Em
que interferem na autoimagem das crianças e jovens. geral, mesmo quando não têm informações objetivas, as
O conhecimento do corpo e de seu funcionamento propicia crianças imaginam algo a respeito, pois são questões muito
uma maior conscientização da importância da saúde e da significativas, que mobilizam nelas uma grande curiosidade e
necessidade de ações não só curativas mas também ansiedade. A explicitação dessas informações/fantasias a
preventivas. A escola deve, então, atuar de forma integrada respeito da reprodução possibilita abordar o assunto de modo
com os serviços públicos de saúde da região. claro, diminuir a ansiedade, e assimilar noções corretas do
Num trabalho inicial, ou com crianças menores, o estudo ponto de vista científico.
do corpo infantil e adulto deve incluir os órgãos envolvidos na O educador deve estar atento para a necessidade de repetir
reprodução e zonas erógenas privilegiadas, em sua anatomia o mesmo conteúdo já abordado. As crianças vivem suas
externa. Deve também favorecer a percepção das relações curiosidades e interesses na área da sexualidade em
existentes entre sentimentos e expressões corporais; reações momentos próprios e diferentes umas das outras, ocorrendo
corporais diante de diferentes estimulações sensoriais; e muitas vezes estudo e a discussão de um tema com pouca
observação das características do próprio corpo. Deve ainda apropriação desse conhecimento para algumas. A retomada é
abordar a participação diferenciada do homem e da mulher no importante e deve ser feita sempre que as questões trazidas
processo da fecundação, estabelecer a comparação no pelos alunos apontarem sua pertinência.
processo reprodutivo de diferentes espécies animais, gestação Conteúdos a serem trabalhados:
e nascimento. • as transformações do corpo do homem e da mulher nas
A continuidade do trabalho se dá pela retomada desses diferentes fases da vida, dentro de uma perspectiva de corpo
conteúdos de forma ampliada e aprofundada. A ampliação integrado, envolvendo emoções, sentimentos e sensações
deste bloco de conteúdos é feita com a inclusão do estudo ligadas ao bem-estar e ao prazer do autocuidado;
sobre as transformações globais da puberdade. Estas devem • os mecanismos de concepção, gravidez e parto e a
ser vistas no plano corporal e no aspecto relacional/social. As existência de métodos contraceptivos;
transformações do corpo consistem em: aceleração do • as mudanças decorrentes da puberdade:
crescimento, surgimento dos caracteres sexuais secundários amadurecimento das funções sexuais e reprodutivas;

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aparecimento de caracteres sexuais secundários; variação de A abordagem das relações de gênero com as crianças
idade em que inicia a puberdade; transformações decorrentes dessas faixas etárias, convém esclarecer, é uma tarefa delicada.
de crescimento físico acelerado; A rigor, pode-se trabalhar as relações de gênero em qualquer
• o respeito ao próprio corpo e ao corpo do outro; situação do convívio escolar. Elas se apresentam de forma
• o respeito aos colegas que apresentam desenvolvimento nítida nas relações entre os alunos e nas brincadeiras
físico e emocional diferentes; diretamente ligadas à sexualidade. Também estão presentes
• o fortalecimento da autoestima; nas demais brincadeiras, no modo de realizar as tarefas
• a tranquilidade na relação com a sexualidade. escolares, na organização do material de estudo, enfim, nos
comportamentos diferenciados de meninos e meninas. Nessas
Relações de Gênero situações, o professor, estando atento, pode intervir de modo
a combater as discriminações e questionar os estereótipos
Desde muito cedo, são transmitidos padrões de associados ao gênero. Os momentos e as situações em que se
comportamento diferenciados para homens e mulheres. O faz necessária essa intervenção são os que implicam
conceito de gênero diz respeito ao conjunto das discriminação de um aluno em seu grupo, com apelidos
representações sociais e culturais construídas a partir da jocosos e às vezes questionamento sobre sua sexualidade. O
diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao professor deve então sinalizar a rigidez das regras existentes
atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o nesse grupo que definem o que é ser menino ou menina,
desenvolvimento das noções de “masculino” e “feminino” apontando para a imensa diversidade dos jeitos de ser.
como construção social. O uso desse conceito permite Também as situações de depreciação ou menosprezo por
abandonar a explicação da natureza como a responsável pela colegas do outro sexo demandam a intervenção do professor a
grande diferença existente entre os comportamentos e lugares fim de se trabalhar o respeito ao outro e às diferenças.
ocupados por homens e mulheres na sociedade. Essa diferença A proposição, por parte do professor, de momentos de
historicamente tem privilegiado os homens, na medida em que convivência e de trabalho com alunos de ambos os sexos pode
a sociedade não tem oferecido as mesmas oportunidades a ajudar a diminuir a hostilidade entre eles, além de propiciar
ambos. Mesmo com a grande transformação dos costumes e observação, descobertas e tolerância das diferenças. Essa
valores que vêm ocorrendo nas últimas décadas ainda convivência, mesmo quando vivida de forma conflituosa, é
persistem muitas discriminações, por vezes encobertas, também facilitadora dessas relações, pois oferece
relacionadas ao gênero. oportunidades concretas para o questionamento dos
Todas as diferenças existentes no comportamento de estereótipos associados ao gênero.
homens e mulheres refletem-se na vivência da sexualidade de É igualmente importante que se eleja um (ou mais)
cada um, nos relacionamentos a dois e nas relações humanas momento(s) em que esse tema seja diretamente abordado,
em geral. como trabalho planejado e sistematizado. Leitura e análise de
A discussão sobre relações de gênero tem como objetivo notícias ou de obras literárias são boas formas de informar e
combater relações autoritárias, questionar a rigidez dos promover discussões a respeito de valores e atitudes ligados à
padrões de conduta estabelecidos para homens e mulheres e questão. No estudo dos conteúdos de História, podem ser
apontar para sua transformação. A flexibilização dos padrões trabalhados os comportamentos diferenciados de homens e
visa permitir a expressão de potencialidades existentes em mulheres em diferentes culturas e momentos históricos, o que
cada ser humano que são dificultadas pelos estereótipos de auxilia os alunos a entenderem as determinações da cultura
gênero. Como exemplo comum pode-se lembrar a repressão em comportamentos individuais.
das expressões de sensibilidade, intuição e meiguice nos Conteúdos a serem trabalhados:
meninos ou de objetividade e agressividade nas meninas. As • a diversidade de comportamento de homens e mulheres
diferenças não devem ficar aprisionadas em padrões em função da época e do local onde vivem;
preestabelecidos, mas podem e devem ser vividas a partir da • a relatividade das concepções tradicionalmente
singularidade de cada um, apontando para a equidade entre os associadas ao masculino e ao feminino;
sexos. • o respeito pelo outro sexo, na figura das pessoas com as
Ao se observar o comportamento diferenciado dos alunos quais se convive;
dos primeiros ciclos, veem-se inúmeras situações que dizem • o respeito às muitas e variadas expressões do feminino e
respeito à questão dos gêneros. No primeiro ciclo, geralmente do masculino.
ocorre o agrupamento espontâneo das crianças por sexo,
sendo mais dificultado o relacionamento entre meninos e Prevenção às Doenças Sexualmente
meninas. Esse movimento pode e deve ser respeitado, desde Transmissíveis/AIDS
que não implique a desvalorização do outro. Trata-se de um
movimento que se relaciona com a construção da identidade Os conteúdos principais a serem trabalhados neste eixo
de cada criança, em que primeiramente é preciso afirmar-se são as informações sobre a existência de doenças sexualmente
como menino ou como menina a partir das semelhanças e transmissíveis (colocadas genericamente, não sendo
afinidades de interesse típicas da idade e sexo. Veem-se então necessário enumerar as mais conhecidas), em especial a AIDS,
os “clubes do bolinha” ou “da luluzinha” e também as amizades incluindo esclarecimentos sobre os fatos e os preconceitos a
exclusivas entre pares. Já no segundo ciclo costuma haver, ela associados.
espontaneamente também, uma aproximação entre eles, Se, de uma maneira geral, o trabalho de Orientação Sexual
revelando-se mais claramente a curiosidade pelas diferenças. visa desvincular a sexualidade dos tabus e preconceitos,
Com a puberdade há maior entrosamento e atração entre afirmando-a como algo ligado ao prazer e à vida, na discussão
meninos e meninas. Essa aproximação não se dá sem conflitos, das doenças sexualmente transmissíveis/AIDS o enfoque deve
medos e por vezes agressões de diferentes intensidades. ser coerente com os princípios gerais e não deve acentuar a
Muitas vezes o professor é chamado a intervir nesses conflitos ligação entre sexualidade e doença ou morte. As informações
ao mesmo tempo em que pode propor situações de trabalho sobre as doenças devem ter sempre como foco a promoção de
em conjunto como estratégia de facilitação das relações entre condutas preventivas, enfatizando-se a distinção entre as
meninos e meninas. formas de contato que propiciam risco de contágio daquelas
Para os conteúdos deste bloco as articulações privilegiadas que, na vida cotidiana, não envolvem risco algum.
são com as áreas de História, Educação Física e todas as Particularmente em relação à AIDS, o tratamento que esse
situações de convívio escolar. tema deve ter em Orientação Sexual é o oposto ao que foi dado

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por algumas campanhas de prevenção veiculadas pela mídia: Espera-se que o aluno conheça as diferenças físicas
“AIDS mata”. Essa mensagem contribui para o aumento do externas e internas do corpo humano e as transformações
medo e da angústia, desencadeando reações defensivas. A físicas, sociais e emocionais da puberdade como algo
mensagem fundamental a ser trabalhada é “AIDS previne-se”. intrínseco ao desenvolvimento. Espera-se também que o aluno
O trabalho com esse tema, ao mesmo tempo que fornece note que reações corporais são efeitos de uma combinação
informações sobre AIDS, possibilita a explicitação dos medos e entre sentimentos e estímulos externos.
angústias suscitados e a abordagem dos diferentes mitos e • Respeitar as diferenças na relação com as pessoas de
obstáculos emocionais e culturais que impedem a mudança de ambos os sexos
comportamento necessária à adoção de práticas de sexo Espera-se que o aluno aja sem discriminações em relação
seguro. Dentre os obstáculos emocionais vale destacar os ao comportamento dos outros, não depreciando atitudes e
mecanismos de onipotência e de negação entre os formas de expressão assumidas por pessoas do outro sexo.
adolescentes, que demandam um espaço contínuo de • Relacionar as diferentes formas de inserção social de
discussão para que possam vir à tona e modificar-se. homens e mulheres nas sociedades e grupos sociais estudados
Deve-se discutir a discriminação social e o preconceito de e nas diferentes épocas e situações históricas
que são vítimas os portadores do HIV e os doentes de AIDS , Espera-se que o aluno considere a diferença de atribuições
por intermédio dos direitos de cidadania e da proposição da e expectativas em relação ao homem e à mulher nas diferentes
adoção de valores como a solidariedade, o respeito ao outro e sociedades, bem como no grupo social a que pertencem e note
a participação de todos no combate aos preconceitos, as transformações dessas atribuições ao longo da história.
apresentando como contraponto os direitos individuais e • Saber o que são doenças sexualmente
sociais existentes e explicitando a importância desses valores transmissíveis/AIDS e suas formas de prevenção
para a manutenção da vida nas pessoas contaminadas. Espera-se que o aluno tenha informações básicas e
A maioria das crianças a partir de sete anos já entrou em corretas sobre doenças sexualmente transmissíveis/AIDS,
contato de alguma forma com a existência da AIDS, inclusive suas formas de contágio e, de posse dessas informações, possa
porque nos últimos anos intensificaram-se as campanhas assumir atitudes de autocuidado. Com relação a pessoas
preventivas veiculadas pela mídia. Essas campanhas doentes de AIDS ou portadoras do HIV, espera-se que o aluno
priorizam os públicos adolescente e adulto ao enfatizar as desenvolva atitudes de respeito e solidariedade e não de
formas de prevenção como o uso de preservativo (proteção discriminação.
necessária para inibir o contágio por contato sexual). Dada a
idade das crianças dos primeiros ciclos, deve-se abordar a Orientações Didáticas
repercussão dessas informações, esclarecer e informar sobre
a doença e tratar da prevenção por contato sanguíneo, essa sim Para o trabalho de Orientação Sexual deve-se levar sempre
passível de ocorrer com crianças dessa faixa etária. em conta a faixa etária com a qual se está trabalhando, pois, em
Esses conteúdos articulam-se principalmente com as áreas geral, as questões da sexualidade são muito diversas a cada
de Ciências Naturais e Língua Portuguesa (por meio dos textos etapa do desenvolvimento. Na puberdade, por exemplo, um
escolhidos). ano pode significar uma imensa transformação pessoal em
O momento mais propício para se abordar esse tema é todos os sentidos. É importante que o professor aborde as
quando algo a ele referente é trazido pelos próprios alunos ou questões dentro do interesse e das possibilidades de
é vivido por aquela comunidade escolar. Se isso não ocorrer, o compreensão próprias da idade de seus alunos, respeitando os
professor deve abordar a questão. Também aqui se faz medos e as angústias típicos daquele momento.
particularmente importante o levantamento do conhecimento É bastante comum que o mesmo tema surja como de
prévio dos alunos sobre as doenças sexualmente interesse em diferentes momentos para cada aluno (ou grupo),
transmissíveis e sobre a AIDS, pois constata-se a existência de o que não significa que já não tenha sido bem trabalhado. Isso
um grande volume de informações errôneas e equivocadas se dá porque, a cada momento, as questões relativas a esse
sobre elas. tema se ampliam e se conectam com outras dúvidas e
Também deve-se retomar a discussão sobre o corpo e os preocupações, demandando portanto a sua retomada.
cuidados oferecidos pelos serviços de saúde. O professor deve O professor deve também estar atento às diferentes formas
basear-se nas proposições gerais do tema Saúde, ou seja, o de expressão dos alunos. Muitas vezes a repetição de
enfoque deve ser para a saúde e não para a doença. brincadeiras, apelidos ou paródias de músicas alusivos à
Conteúdos a serem trabalhados: sexualidade podem significar uma necessidade não
• o conhecimento da existência de doenças sexualmente verbalizada de discussão e de compreensão de algum tema.
transmissíveis; Deve-se então atender a esse pedido.
• a compreensão das formas de prevenção e vias de Outro ponto a ser considerado para as intervenções do
transmissão da AIDS; professor nas situações de manifestação de sexualidade de
• a comparação entre as formas de contato que propiciam seus alunos em sala de aula é o referente aos valores a ela
contágio e as que não envolvem riscos; associados. O professor não deve emitir juízo de valor sobre
• recolher, analisar e processar informações sobre a AIDS, essas atitudes, e sim contextualizá-las. O mesmo vale para as
por meio de folhetos ilustrados, textos e artigos de jornais e respostas que oferece às perguntas feitas por seus alunos. Por
revistas; exemplo, se o professor disser que uma relação sexual é a que
• o conhecimento e a adoção dos procedimentos acontece entre um homem e uma mulher após o casamento
necessários em situações de acidente ou ferimentos que para se ter filhos, estará transmitindo seus valores pessoais
possibilitem o contato sanguíneo; (sexo somente após o casamento com o objetivo da
• o repúdio às discriminações em relação aos portadores procriação). É necessário que o professor possa reconhecer os
de HIV e doentes de AIDS; valores que regem seus próprios comportamentos e orientam
• o respeito e a solidariedade na relação com pessoas sua visão de mundo, assim como reconhecer a legitimidade de
portadoras do vírus HIV ou doentes de AIDS. valores e comportamentos diversos dos seus. Sua postura deve
ser pluralista e democrática, o que cria condições mais
Critérios de Avaliação favoráveis para o esclarecimento e a informação sem a
imposição de valores particulares.
• Conhecer as características e transformações de seu O trabalho pedagógico é feito principalmente por meio da
próprio corpo e do outro sexo atitude do professor e de suas intervenções diante das

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APOSTILAS OPÇÃO

manifestações de sexualidade dos alunos na sala de aula,


visando auxiliá-los na distinção do lugar público e do privado
para as manifestações saudáveis da sexualidade
correspondentes à sua faixa etária. É a partir dessa percepção
que a criança aprenderá a satisfazer sua necessidade de prazer
em momentos e locais onde esteja preservada a sua
intimidade.
Os conteúdos trabalhados devem também favorecer a
compreensão de que o ato sexual e intimidades similares são
manifestações pertinentes à sexualidade de jovens e de
adultos, não de crianças.
Com relação às brincadeiras a dois ou em grupo que
remetam à sexualidade, é importante que o professor afirme
como princípios a necessidade do consentimento e a
aprovação sem constrangimento por parte dos envolvidos.
Para a prevenção do abuso sexual é igualmente importante o
esclarecimento de que essas brincadeiras em grupo são
prejudiciais quando envolvem crianças/jovens de idades
diferentes ou quando são realizadas entre adultos e crianças.
Ao mesmo tempo que oferece referências e limites, o
professor deve manifestar a compreensão de que as
manifestações da sexualidade infantil são prazerosas e fazem
parte do desenvolvimento saudável de todo ser humano. É
necessário cuidado para não humilhar ou expor os alunos: tais
manifestações não devem ser condenadas ou julgadas segundo
doutrinas morais. Dessa forma o professor contribui para que
o aluno reconheça como lícitas e legítimas suas necessidades e
desejos de obtenção de prazer, ao mesmo tempo que processa
as normas de comportamento próprias do convívio social.

Anotações

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