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Responsabilidade Civil – ProfEessora.

Cristiane Gribel

Programação das Aulas:

Unidade I - INTRODUÇÃO

1.1 -Noção de Responsabilidade


1.2 -Conceito de Responsabilidade Civil
1.3 -Responsabilidade Contratual e Extracontratual
1.4 - Responsabilidade Civil e Penal
1.5 Responsabilidade Subjetiva e Objetiva
1.6 Teorias sobre Responsabilidade Civil

Unidade II – PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 - Ação ou Omissão do Agente


2.2 - Estudo Completo da Culpa
2.3 - Estudo Completo do Dano
2.4 - Estudo Completo do Nexo Causal

Unidade III – EXCLUDENTES (OU NÃO) DA RESPONSABILIDADE

Unidade IV – RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL

4.1 - Responsabilidade por Fato Próprio

4.2 - Responsabilidade por Fato da Coisa

4.3 - Responsabilidade por Fato de Animais

4.4 - Responsabilidade por Fato de Outrem

Unidade V – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL

4.1 - Responsabilidade por atividade profissional

4.2 - Responsabilidade nos transportes terrestres

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Bibliografia Indicada:

Sérgio Cavalieri Filho - Programa de Responsabilidade Civil


Flávio Tartuce
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald
Sílvio de Salvo Venosa - Volume IV - Responsabilidade Civil
Carlos Roberto Gonçalves – Responsabilidade Civil
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
Rui Stoco – Tratado de Responsabilidade Civil
Caio Mário da Silva Pereira – Responsabilidade Civil
Aguiar Dias – Responsabilidade Civil – Editora Renovar

UNIDADE I - INTRODUÇÃO

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1.1 – NOÇÃO DE RESPONSABILIDADE

1.1.1. É uma situação jurídica que impõe a um sujeito o dever de assumir as


conseqüências danosas dos seus atos (que pode ser uma ação ou
omissão). ou de determinado evento.

1.1.2. Está ligada ao dever jurídico em ter que assumir as conseqüências do


seu ato, (baseada no dever jurídico de ninguém poder prejudicar terceiros,
sob pena de ser responsabilizado).
a) dever jurídico originário e dever jurídico sucessivo;
b) distinção entre obrigação e responsabilidade
c) posicionamento da responsabilidade na Teoria Geral do Direito (esquema
abaixo):

Naturais
(independem da De acordo com
vontade humana) o Direito

Capazes de produzir
efeitos jurídicos
Atos Lícitos

Fatos Voluntários
Jurídicos (dependem da
vontade humana) Contrários ao
Direito
Civis
Atos Ilícitos
Penais

1.1.3. Noções de Responsabilidade segundo alguns doutrinadores:

Segundo Silvio de Salvo Venosa:


O termo responsabilidade, embora com sentidos próximos e semelhantes, é
utilizado para designar várias situações no campo jurídico.
A responsabilidade, em sentido amplo, encerra a noção em virtude da qual
se atribui a um sujeito o dever de assumir as conseqüências de um evento ou de
uma ação. Assim, diz-se, por exemplo, que alguém é responsável por outrem, como o
capitão do navio pela tripulação e pelo barco, o pai pelos filhos menores, etc. *Da
mesma forma diz que um sujeito é responsável por determinado ato ou fato.
A noção de responsabilidade, como gênero, implica sempre exame de conduta
voluntária violadora de um dever jurídico. Sob tal premissa, a responsabilidade pode ser
de várias naturezas, embora ontologicamente o conceito seja o mesmo.

Segundo Pablo Stolze Gagliano:


Responsabilidade, para o Direito, nada mais é do que uma situação jurídica
que impõe ao infrator a obrigação de assumir as conseqüências danosas do seu

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ato. Para ele, a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a VIOLAÇÃO DE


UMA NORMA JURÍDICA PREEXISTENTE.

Segundo Sergio Cavalieri Filho:


O principal objetivo da ordem jurídica, afirmou o grande San Tiago Dantas, é
proteger o lícito e reprimir o ilícito. Vale dizer: ao mesmo tempo em que ela se empenha
em tutelar a atividade do homem que se comporta de acordo com o Direito, reprime a
conduta daquele que o contraria.
Desta forma, a idéia de responsabilidade está intimamente ligada ao dever
jurídico geral imposto pelo Direito Positivo de um sujeito não prejudicar a
ninguém, sob pena de ter que reparar os danos causados.

1.2 – CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL

1.2.1. Conceitos:
É a obrigação de indenizar decorrente da violação de um dever jurídico
preexistente que deriva da atuação danosa do agente (ação e omissão) violando uma
norma contratual ou legal

Segundo PABLO STOLZE GAGLIANO, a noção jurídica de responsabilidade


pressupõe a VIOLAÇÃO DE UMA NORMA JURÍDICA PREEXISTENTE. Trazendo
esse conceito para o âmbito do Direito Privado, e seguindo essa mesma linha de
raciocínio, diríamos que a responsabilidade civil deriva da ATUAÇÃO DANOSA DO
AGENTE, QUE COM SEU AGIR, VIOLA UMA NORMA CONTRATUAL OU LEGAL
PREEXISTENTE.

Segundo SAVATIER, responsabilidade civil consiste na “obrigação que pode


incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou
por fato de pessoas ou coisas que dela dependem”.

Segundo SÉRGIO CAVALIERI FILHO, em sentido jurídico, o vocábulo


responsabilidade, designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da
violação de um outro dever jurídico. Em apertada síntese, responsabilidade civil é um
dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação
de um dever jurídico originário. Só se cogita responsabilidade civil onde houver
violação de um dever jurídico e dano. Responsável é a pessoa que deve ressarcir o
prejuízo decorrente da violação de um precedente dever jurídico. A responsabilidade
pressupõe um dever jurídico preexistente, uma obrigação descumprida. Daí ser
possível dizer que toda conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa
"OBRIGAÇÃO" 1 "OBRIGAÇÃO" 2
prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil (dever jurídico sucessivo).
Realizar uma prestação Obrigação de indenizar
1.2.2. Aspectos Gerais - Distinção entre obrigação
(dar, fazer ou não fazer) (violação da “obrigação 1”)
1.2.2.1. Distinção entre obrigação (ou dívida ou débito) e responsabilidade
1.2.2.2. Obrigação Responsabilidade
= =

Dever Jurídico Originário Dever Jurídico Sucessivo

= 4 =

OBRIGAÇÃO RESPONSABILIDADE
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Obs.: Nos quadros acima, podemos verificar a distinção entre obrigação e


responsabilidade, o que já foi objeto de questionamento em concurso público
para ingresso na Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
Alois Brinz fez essa importante distinção entre obrigação e
responsabilidade, quando visualizou dois momentos distintos na relação
obrigacional: a do débito (shuld), consistente na obrigação de realizar uma
prestação e dependente da ação ou omissão do devedor; e o da
responsabilidade (haftung), na qual se faculta ao credor atacar e executar o
patrimônio do devedor a fim de obter a correspondente indenização pelos
prejuízos causados em virtude de descumprimento da obrigação originária
(débito).
Daí surgiu a imagem de Larenz, ao dizer que “a responsabilidade é a sombra
da obrigação”. Da mesma forma que não há sombra sem corpo físico,
também não há responsabilidade sem a correspondente obrigação, em regra.
No entanto, excepcionalmente, podem existir hipóteses em que uma pessoa
possa sofrer a responsabilidade, isto é, ter o seu patrimônio atacado para
satisfazer o direito do credor, sem que seja o devedor. Como exemplos,
podemos indicar o caso do fiador, que é garantidor, e não devedor, pois pode
ser constrangido a responder por uma dívida que não contraiu (conforme o
posicionamento majoritário), o sócio, com os seus bens particulares, por
dívidas contraídas pela sociedade, etc. Da mesma forma, podem existir casos
de obrigação sem responsabilidade, como por exemplo nas obrigações
naturais.

1.2.2.3. Características da obrigação de indenizar:


a) É legal (imposta por lei - art. 927 c/c art. 186, c/c art. 187, do
CC)
b) Sucessividade (= dever jurídico sucessivo), decorrente da
violação de um dever jurídico preexistente (= dever Jurídico
Originário).

1.2.2.4. Existência de duas premissas de suporte doutrinário:

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a) Não haverá obrigação de indenizar sem a violação de um dever


jurídico preexistente.
b) Para sabermos quem é o responsável pela obrigação de
indenizar basta caracterizarmos o dever jurídico violado e o
sujeito que o violou.

1.2.2.5. Ato Ilícito


Definido nos arts. 186 e 187, do CC.
A regra geral é que a responsabilidade civil decorre da prática de
um ato ilícito.
O art. 188 define o que não é considerado ilícito.
Em nosso estudo, verificaremos mais adiante que,
excepcionalmente, haverá responsabilidade civil decorrente da prática
de ato lícito.

1.3 - REPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

4.1 Esta divisão vai depender da natureza da norma jurídica violada pelo
agente causador do dano, subdividindo-a em contratual e extracontratual
Esta divisão não é obstáculo, porém, ao dever de indenizar, pois muitas
vezes é difícil definir se é ou não contratual a relação, e ainda estaremos
diante de muitas situações em que mesmo existindo vínculo jurídico entre as
partes envolvidas, o autor do dano também viola preceito legal. Desta forma,
a divisão entre culpa contratual e extracontratual pode existir por questão de
conveniência legislativa, mas nada impediria a sua unificação, uma vez que a
culpa é una, pois ela resulta sempre de uma obrigação preexistente, seja
previamente estabelecida pelas partes, seja estabelecida em Lei, e cuja
violação impõe o dever de reparar o prejuízo causado.
Segundo Sérgio Cavalieri Filho, quem infringe dever jurídico lato sensu,
de que resulte dano a outrem fica obrigado a indenizar. Esse dever, passível
de violação, pode ter como fonte uma relação jurídica obrigacional
preexistente, isto é, um dever oriundo de um contrato, ou por outro lado, pode
ter por causa geradora uma obrigação imposta por preceito geral de Direito,
ou pela própria lei. É com base nessa dicotomia que a doutrina divide a
responsabilidade civil em contratual e extracontratual, isto é, de acordo com a
qualidade da violação.

4.1.1. Contratual (ocorrência de uma violação de norma pré estabelecida pelas


partes)
A responsabilidade civil contratual é aquela derivada de uma relação
jurídica preexistente estabelecida pelas partes, de um contrato, onde teremos
a existência de um vínculo obrigacional. Assim, sempre que uma das partes
deixar de cumprir uma cláusula prevista no contrato, aquele que deu causa
ao inadimplemento ficará obrigado a reparar o dano.

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Ou seja, se entre as partes envolvidas já existia norma jurídica contratual


que as vinculava, e o dano decorre do descumprimento de obrigação
pactuada pelas partes, estaremos diante de uma situação de
responsabilidade civil contratual.
Vale ressaltar que muitas vezes, pelo fato de existir uma relação jurídica
pré-estabelecida pelas partes, e ao analisarmos o seu descumprimento
(responsabilidade civil contratual), verificamos que também ocorreu uma
violação de um dever jurídico imposto pela Lei (responsabilidade civil
extracontratual), ou seja, estaremos diante, simultaneamente, de uma
responsabilidade contratual e extracontratual.
Por este motivo, os adeptos da teoria unitária ou monista, criticam esta
divisão, por entenderem que pouco importam os aspectos dos deveres
jurídicos violados (contrato ou lei), já que os efeitos são os mesmos,
uniformes (responsabilidade civil – obrigação de indenizar). Contudo, em
vários países, inclusive no Brasil, tem sido acolhida a tese dualista ou
clássica, dando importância a classificação da responsabilidade civil em
contratual e extracontratual.
O Código de Defesa do Consumidor, como veremos, superou esta
clássica distinção entre responsabilidade contratual e extracontratual no
tocante à responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços. O CDC
concentra a disciplina de todas as relações de consumo, contratuais e
extracontratuais. Ao equiparar ao consumidor todas as vítimas do acidente de
consumo (art. 17, CDC), submeteu a responsabilidade do fornecedor a um
tratamento unitário, tendo em vista que o fundamento dessa responsabilidade
é a violação do dever de segurança – o defeito do produto ou serviço lançado
no mercado e que, numa relação de consumo, contratual ou não, dá causa a
um acidente de consumo, surgindo a obrigação do fornecedor de reparar os
danos causados.

4.2 Extracontratual (ocorrência de uma violação de um dever jurídico imposto


pela lei).
A responsabilidade civil extracontratual surge quando alguém viola
uma norma imposta pela lei, não havendo a necessidade de uma relação
jurídica preexistente entre as partes (negócio jurídico), para que surja a
obrigação de indenizar.
Se o prejuízo decorre diretamente da violação de um mandamento legal,
por força da atuação ilícita (ou excepcionalmente lícita) do agente infrator,
estaremos diante da responsabilidade civil extracontratual.

4.3 Assim, tanto na responsabilidade contratual, como na extracontratual, existe


a violação de um dever jurídico preexistente, sendo que:

Contratual  Se a transgressão decorre da violação de um dever


jurídico decorrente de um negócio jurídico.
Inadimplemento da obrigação prevista no contrato
(violação de norma anteriormente fixada pelas partes)
Extracontratual  Se a transgressão decorre da violação de um dever
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jurídico, imposto pela lei.
(violação de uma norma prevista em lei)
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Contratual  Exemplos: Arts. 389 e segs. E 395 e segs. do CC/02


Extracontratual  Exemplos: Arts. 186 a 188 e 927 e segs. do CC/02.
1.4 - REPONSABILIDADE CIVIL E PENAL

1.4.1. No ILÍCITO CIVIL, a norma violada é de Direito Privado, as condutas


consideradas menos gravosas serão sancionadas pela lei civil. Na
responsabilidade civil visa-se impor a determinada pessoa a obrigação de
reparar o dano causado à vítima em função de um comportamento humano
violador de um dever legal ou contratual.

1.4.2. No ILÍCITO PENAL, o agente infringe uma norma penal de Direito


Público. As condutas consideradas mais graves, onde são atingidos bens
sociais de maior relevância, serão sancionadas pela lei penal. Na
responsabilidade penal deve o agente sofrer a aplicação de uma
cominação legal, através de pena privativa de liberdade, restritiva de
direitos ou multa (art. 91, I, CP; art. 63, CPP, art. 584, I e II, CPC; art. 64,
CPP e art. 935, CC).

1.4.3. A ilicitude jurídica é uma só, do mesmo modo que um só, na sua essência,
é o dever jurídico. Sob um certo aspecto, existe até uma coincidência
entre o ilícito civil e o ilícito penal, pois ambos constituem uma violação da
ordem jurídica, uma violação de um dever jurídico originário imposto pelo
ordenamento jurídico, acarretando, em conseqüência, um estado de
desequilíbrio social. Ambos constituem uma violação de um dever jurídico.
Porém, no ilícito penal, devido a sua gravidade ou intensidade, a sanção
adequada é a imposição da pena, enquanto que no ilícito civil, por ser
menor a extensão da perturbação social, são suficientes as sanções civis,
dentre estas a obrigação de reparar os prejuízos suportados pela vítima
(responsabilidade civil). O artigo 935 do CC estabelece que a
responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal, o
que confirma a independência das jurisdições, e o reflexo da jurisdição
penal no juízo cível.

1.5 - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA

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1.5.1 Responsabilidade Civil Subjetiva é aquela em que se estrutura o nosso


Código Civil e funda-se, essencialmente, na Teoria da Culpa. Tem-se como
elemento essencial que gera o dever de indenizar o elemento culpa,
entendido em sentido amplo (dolo ou culpa em sentido estrito). Ausente tal
elemento, não há que se falar em responsabilidade civil.
O Código Civil de 1916 tratou da responsabilidade civil dentro do conceito
de culpa ou dolo, conforme se depreende da leitura do seu artigo 159:
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano." De
acordo com este artigo, eram necessários os seguintes elementos para gerar
o dever de indenizar: ação ou omissão, culpa ou dolo, dano e nexo de
causalidade.
A noção básica da responsabilidade civil, dentro da doutrina subjetiva, não
modificou com o advento do Novo Código Civil, que é o princípio segundo o
qual o sujeito responderá pela sua conduta culposa. Neste caso, a obrigação
de reparar o dano fica condicionada a “ação ou omissão voluntária,
negligência, ou imprudência” do agente, em conformidade com o art. 186 do
CC.
Três são os pressupostos da responsabilidade subjetiva, que estão
elencados no art. 186 do Novo Código civil, qual seja: a conduta culposa do
agente (conduta + culpa), o nexo de causalidade e o dano.
Esses pressupostos serão aplicados nas responsabilidades tanto
contratuais quanto extracontratuais, sendo que no caso da primeira, a culpa
deverá ser comprovada nos limites da relação jurídica preexistente, devendo
ser demonstrada que a prestação contratada foi descumprida, que houve
uma inexecução do contrato.
Na verificação da culpa, deverá ser observado se na conduta do agente
causador do dano ocorreu uma das formas de sua manifestação, ou seja:
Negligência é a falta de observância de um dever de cuidado, por
omissão. Ex: Médico que após uma cirurgia não faz o acompanhamento pós
operatório necessário da paciente.
Imprudência é o enfrentamento desnecessário do perigo, é a falta de
observância de um dever de cuidado, por uma conduta positiva do agente
(ação). Ex: Médico que realiza uma cirurgia mesmo sabendo do risco da
paciente vir a falecer em decorrência da mesma, com base nos seus exames
clínicos.
Imperícia é a falta de aptidão ou habilidade específica para a realização de
atividade técnica ou científica. Ex: Médico que realiza uma cirurgia sem ter a
habilitação específica necessária para o exercício desta atividade.
Na responsabilidade subjetiva o principal pressuposto é a culpa, pois
segundo a teoria que lhe deu origem, ninguém poderá sofrer um juízo de
reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir.
Obs: Na próxima Unidade do Programa, estudaremos detalhadamente
cada um dos pressupostos da responsabilidade civil subjetiva.

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5.1.1. Responsabilidade Civil Objetiva, por sua vez, tem como característica
determinante, o fato de que o elemento culpa não é necessário para o
surgimento do dever de indenizar, estando amparada na Teoria do risco, pois
aquele que, por meio de sua atividade expõe em risco de danos, terceiros,
fica obrigado a repará-lo, ainda que o seu comportamento seja isento de
culpa. O Novo Código Civil inovou neste aspecto, ao inserir a regra contida
na parte final do parágrafo único do art. 927, ampliando as hipóteses de
aplicação da responsabilidade civil objetiva além das hipóteses
expressamente previstas em Lei, conforme estabelecia a Lei revogada.
Assim, a responsabilidade objetiva está fundada na teoria do risco, aonde
o agente causador do dano irá repará-lo independentemente de culpa, sendo
os seus pressupostos, portanto, a conduta do agente (ação ou omissão), o
dano e o nexo de causalidade necessário entre a conduta e o dano. Assim, o
elemento culpa passa a ser irrelevante, na medida que o autor da conduta
assume o risco de dano que emerge do simples exercício de sua atividade.
A responsabilidade objetiva ocorre quando é suprimido o elemento culpa,
ou seja, não é necessária a conduta antijurídica expressa pela culpa ou dolo,
bastando o nexo de causalidade, ou seja, a existência do fato causador do
mal sofrido, no dizer de Caio Mário, para atribuir-se o dever de reparar.
Além da responsabilidade objetiva do Estado, já prevista na Constituição
Federal de 1988, as demais hipóteses de responsabilização objetiva sempre
foram restritas às hipóteses expressamente previstas em lei. O próprio
Código de 1916 tratava da responsabilidade objetiva em situações
especificas, como a do artigo 1.529, que impunha a obrigação de indenizar,
sem análise de culpa ou dolo, àquele que habitar uma casa, pelas coisas que
dela caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Algumas outras leis especiais também consagraram a teoria do risco,
admitindo a responsabilização do ofensor, independentemente da prova de
culpa ou dolo, tais como o Decreto 2.681/12 (responsabilidade das estradas
de ferro por danos causados aos proprietários marginais), Lei 6.938/81
(relativa a danos causados no meio ambiente), além do Código de Defesa do
Consumidor, que reconhece a responsabilidade objetiva do fornecedor do
produto ou serviço pelos danos causados ao consumidor (Arts. 12 e 14).
O novo Código Civil, ao lado da responsabilidade subjetiva (fundada na
culpa ou no dolo), admitiu também a responsabilidade objetiva,
expressamente prevista no parágrafo único de seu artigo 927:
"Artigo 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a
outrem, é obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de
reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".
Desta forma, o novo Código Civil inovou, pois em duas situações
específicas será aplicada a responsabilidade civil objetiva, quais sejam:
I- Nos casos especificados em lei; e
II- Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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A primeira hipótese não traz novidade, já que existia na vigência do


Código Civil anterior outras leis e dispositivos legais do próprio Código que
previam a responsabilidade objetiva. Desta forma, sempre que nos
confrontarmos nos textos legais com a expressão “independentemente de
culpa”, ou expressões afins, estaremos diante da responsabilidade civil
objetiva. Basta para tanto procurar os casos de responsabilidade objetiva na
legislação extravagante infraconstitucional ou na Constituição, como, por
exemplo, o Código de Defesa do Consumidor (Lei no. 8.078/90),
Responsabilidade Civil das Estradas de Ferro, (Decreto 2.681/1912),
Responsabilidade Civil por danos nucleares (Lei nº 6.453, de 17 de
outubro de 1977 e Decreto 911/19993), Responsabilidade Civil do Estado
nos limites do art. 37, §6º da CF/88, etc...
Por exemplo, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, o
fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos (art.
12); e, por outro plano, o fornecedor de serviços também responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos (art. 14), porém a responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais (médicos, por exemplo) será apurada mediante a verificação de
culpa (§ 4° do art. 14).
Também, exemplificativamente, será exclusiva do operador da instalação
nuclear, nos termos da Lei n o. 6.453/77, independentemente da existência
de culpa, a responsabilidade civil pela reparação de dano nuclear causado
por acidente nuclear: I - ocorrido na instalação nuclear; Il - provocado
por material nuclear procedente de instalação nuclear, quando o
acidente ocorrer: a) antes que o operador da instalação nuclear a que se
destina tenha assumido, por contrato escrito, a responsabilidade por
acidentes nucleares causados pelo material; b) na falta de contrato, antes
que o operador da outra instalação nuclear haja assumido efetivamente o
encargo do material; III - provocado por material nuclear enviado à
instalação nuclear, quando o acidente ocorrer: a) depois que a
responsabilidade por acidente provocado pelo material lhe houver sido
transferida, por contrato escrito, pelo operador da outra instalação nuclear; b)
na falta de contrato, depois que o operador da instalação nuclear houver
assumido efetivamente o encargo do material a ele enviado.
Já a segunda hipótese traz um conceito absolutamente novo, que
demandará interpretação de nossos tribunais acerca de quais atividades ou
categorias de agentes estariam englobados por essa norma, pois neste caso
o juiz poderá reconhecer o dever de indenizar do agente causador do
dano sem indagação de culpa ou dolo, em casos não expressos em lei,

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que já estão englobados pela regra inserida na primeira parte do


parágrafo único do artigo 927, que estabelece: “nos .
.
A possível interpretação extensiva do parágrafo único do artigo 927 com
certeza representa um perigo. Dirigir veículos ou transportar produtos
químicos constitui atividade de risco? Estas e outras dúvidas podem surgir
dado ao conceito aberto expresso no novo Código Civil. O Código Civil
Italiano prevê norma com redação semelhante, sendo que os tribunais
daquele país utilizam como parâmetro os índices de sinistralidade das
seguradoras. A distribuição de gás, atividades pirotécnicas, transporte e
estocagem de combustíveis e construção civil são alguns exemplos de
atividades que estariam englobadas como atividades consideradas "de risco",
de acordo com a jurisprudência italiana.
Assim, será que simples fato de dirigir um veículo em via pública é uma
atividade de risco? Se levarmos em conta que o veículo, o automóvel,
caminhão ou ônibus é um instrumento mortal, sim. Mas isso será suficiente
para que o juiz defina que o acidente de trânsito é uma atividade de risco e
que será possível aplicar a responsabilidade objetiva nos acidentes de
trânsito, isentando a vítima de provar em Juízo o e elemento culpa para que
surja a obrigação de indenizar?
Trata-se em um dispositivo novo e polêmico, sendo certo que ficará a
cargo da jurisprudência a sua verdadeira aplicação na prática, sendo certo
que ainda não houve tempo hábil de vigência do novo código para uma
interpretação consolidada.
As interpretações da norma em análise pela doutrina de nenhuma forma
são pacíficas e unânimes, já que até hoje não se chegou a um consenso.
Para alguns, a parte final do parágrafo único do artigo 927, seria baseado
na teoria do "risco-proveito", já que, ao utilizar o advérbio "normalmente", teria
pretendido o legislador referir-se a agentes que, em troca de determinado
proveito, exerçam atividade potencialmente nociva ou danosa aos direitos de
terceiros. Somente essas atividades e agentes estariam englobadas pela
responsabilidade objetiva. Esse entendimento excluiria, por exemplo, a
aplicação da responsabilidade objetiva aos motoristas não profissionais, já
que, desta atividade não decorre qualquer proveito econômico. Assim, pela
Teoria do Risco Proveito, seria necessário que a atividade de risco seja
capaz de angariar um proveito real e concreto de natureza econômica, ou
com finalidade lucrativa ou pecuniária, pois conforme ALVINO LIMA: “a
teoria do risco não se justifica desde que não haja proveito para o agente
causador do dano, porquanto, se o proveito é a razão de ser justificativa
de arcar o agente com os riscos, na sua ausência, deixa de ter
fundamento a teoria” (LIMA, Alvino. Culpa e Risco. Editora RT - no mesmo
sentido: GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo, em Novo
Curso de Direito Civil, Editora Saraiva).
Para outros, este dispositivo legal seria baseado na teoria do “risco-
criado”, com a qual me filio, pela qual o causador do dano deve suportar
incontinenti os riscos que advêm de sua atividade, quando esta expõe

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terceiros a risco de dano, eliminando-se assim o expediente probatório da


culpa, que por vezes se revela impossível de ser demonstrado pela vítima
nas ações de reparação de danos que lotam a Justiça do nosso país,
trazendo graves injustiças sociais, já que sem a prova do elemento culpa,
torna-se impossível o Julgador tutelar o direito da vítima que ingressa em
Juízo postulando indenização. A teoria do risco criado dispensa a
caracterização da finalidade lucrativa ou pecuniária da atividade
desenvolvida.
Como já afirmado, a teoria que mais se aplica ao art. 927 é a chamada
teoria do risco criado, porque é genérica, ou seja, simplesmente aponta que
toda atividade que expõe outrem ao risco torna aquele que a realiza
responsável, sem considerações maiores sobre o benefício ou proveito que
dela tire. Como dito, a jurisprudência deverá esclarecer o sentido da
expressão “atividade normalmente desenvolvida” disposta no art. 927, ou
seja, se refere à pessoa, incidindo em profissionalidade ou habitualidade, ou
se o desenvolvimento normal diz respeito às características da própria
atividade. Seja qual for a interpretação, entendo que e é independente do
proveito que lhe confira a mesma, apesar dos entendimentos em sentido
contrário.
A única interpretação concreta que temos do referido dispositivo legal é o
Enunciado n.º 38 aprovado na Jornada de Direito Civil promovida pelo
Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do Conselho da Justiça Federal no
período de 11 a 13 de setembro de 2002, sob a coordenação científica do
Ministro Ruy Rosado, do STJ, que estabelece o seguinte: “Art. 927: a
responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na
segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil,
configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos
demais membros da coletividade.”
Com percebemos, o enunciado não contribui muito para o entendimento
da aplicação prática do dispositivo legal em análise.
Demonstra ainda a intenção do legislador em ampliar o acesso a Justiça
para todos os cidadãos, o fato de que foram ampliadas no novo Código Civil
as possibilidades de responsabilização objetiva previstas em Lei, como nos
casos de dano causado por ato de terceiro (artigo 932 e 933), e os
decorrentes da guarda da coisa ou do animal (artigos 936 a 938).

1.6 - TEORIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL

Conduta (ação ou omissão)


1.6.1 Subjetiva Nexo Causal
Dano
Culpa (ou Dolo)

Conduta (ação ou omissão)

13
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

1.6.2 Objetiva Nexo Causal


Dano

O princípio gravitador da Responsabilidade Civil Subjetiva é o elemento


culpa (falta de diligência na observância da norma de conduta, violação de um
dever de cuidado). Seria, com base na maioria dos doutrinadores, a regra geral
inserida no Código Civil nos arts. 186 e caput do art. 927.
Na Responsabilidade Civil Objetiva, o elemento culpa é desconsiderado,
ou seja, é irrelevante para que surja a obrigação de indenizar. O seu fundamento
é a Teoria do Risco, e suas bifurcações, mas que sua base comum é que o
agente deve ser responsabilizado pelos riscos que sua atuação promove, ainda
que coloque toda diligência necessária para evitar o dano. A responsabilidade é
objetiva nos casos expressamente previstos em lei, ou quando a atividade
habitual do agente colocar em risco os direitos da vítima, conforme o art. 927,
parágrafo único, do CC.

1.7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS


Abaixo, podemos verificar um esquema das principais classificações da
responsabilidade civil acima estudadas, sendo que os exemplos citados não
esgotam todos os campos de incidência da responsabilidade civil que serão objeto
de estudo.

Com culpa provada


Subjetiva
(art. 186 e 927, Com culpa presumida
caput, CC)

- Fato da Atividade
(atividade de risco)
(art. 927, par. único, CC)
- Fato do produto
Extracontratual (art. 931, CC)
- Fato de outrem
(arts. 932 e 933, CC)
Objetiva - Fato da coisa
Responsabilidade (arts. 937 e 938, CC)
Civil - Fato do animal
(art. 936, CC)
- Responsabilidade Civil
do Estado (art. 37, §6º, CF)
- Responsabilidade Civil
nas Relações de Consumo
(arts. 12 a 14, CDC)

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Com obrigação de meio


Subjetiva
(arts. 389 e 475) Com obrigação de
resultado
Contratual
Responsabilidade do
Objetiva Transportador em
Relação aos Passageiros
(art. 730, CC)

1.8 –JURISPRUDÊNCIAS APLICÁVEIS NO ESTUDO DA PRIMEIRA UNIDADE DO


PROGRAMA (Todas recentes e do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro):

1.8.1 – RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL SUBJETIVA

1) PROCESSO: 2004.001.09553
CIRURGIA DE LIGADURA DE TROMPAS
ARGUICAO PELA PARTE
ESQUECIMENTO DE CORPO ESTRANHO NO ORGANISMO DO PACIENTE
LAUDO PERICIAL
IMPROCEDENCIA DO PEDIDO
"RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA CONTRATUAL. DANO MORAL. NÃO COMPROVAÇÃO DO
EVENTO DANOSO E DO NEXO CAUSAL. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Operação cesariana. Fato
narrado nos autos ocorrido em data anterior à entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor.
Impossibilidade de inversão do ônus probandi com base na Súmula nº 341 do STF pois a
responsabilidade do empregador por ela mencionada pressupõe a culpa do preposto, no caso o
médico que realizou o ato cirúrgico. A prova constante dos autos não estabelece ligação entre as
dores que a parte Autora alega ter sofrido durante vários anos e a operação realizada pelo preposto da
Ré. O dano, mesmo que evidenciado pelo próprio fato acoimado de ilícito, como no caso do dano moral,
é indispensável para que se busque a responsabilização civil de alguém. Além disso, é necessário
que haja um nexo entre ele e a conduta do agente apontado como causador . No caso sub examem,
o conjunto probatório não se mostrou apto a confirmar ambos os requisitos, motivo por que não
há conto se atribuir ao Apelante a obrigação de indenizar. Recurso provido in totum, nos termos do
voto do Desembargador Relator."

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.09553
Data de Registro : //
Órgão Julgador: SETIMA CAMARA CIVEL
Des. DES. RICARDO RODRIGUES CARDOZO
Julgado em 31/08/2004

2) PROCESSO: 2004.001.18376
ADMINISTRACAO DE IMOVEL
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL
INOCORRENCIA
NAO RECONHECIMENTO DO DIREITO A INDENIZACAO

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Apelação - Ação de responsabilidade civil contratual de natureza subjetiva. - Não demonstrado a


violação do dever jurídico preexistente no contrato de prestação de serviços, comprovado-se,
contudo, que a autora deu causa à rescisão contratual, mister se faz a improcedência do pedido. - Prova
obtida por meio de gravação por quem participou da conversa gravada. - Prova lícita a teor do artigo 383
do Código de Processo Civil, independendo a admissibilidade de referida prova do conhecimento de sua
formação pela outra parte. - Inexistência de relação de consumo Sentença que se mantém - Nega-se
provimento ao recurso.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.18376
Data de Registro : //
Órgão Julgador: SEGUNDA CAMARA CIVEL
Des. DES. HELDA LIMA MEIRELES
Julgado em 04/08/2004

3) PROCESSO: 2003.001.25701
RESPONSABILIDADE CIVIL
HONORARIOS DE ADVOGADO
MA EXECUCAO DOS SERVICOS CONTRATADOS
PEDIDO DE RESTITUICAO DA QUANTIA PAGA
PROVIMENTO PARCIAL
Responsabilidade civil. Contrato de prestação de serviços advocatícios. Profissional liberal. Relação de
consumo. Fato do serviço. Danos materiais e morais. Responde o prestador de serviços pelos danos
causados ao consumidor, se estes não lhe são prestados com a eficiência e a segurança que dele se
deveria esperar. Responsabilidade de natureza subjetiva, cabendo ao autor a prova da ação ilícita e
culposa do profissional contratado. Demonstrado, nos autos, que o réu recebeu honorários para atuar
em determinado processo, nada realizando, para fazer jus ao pagamento ajustado, correta a decisão que
determina que o valor seja restituído à consumidora dos serviços, com a correção monetária e juros
contados da data do respectivo desembolso da quantia respectiva. Os danos morais, nos ilícitos
contratuais, são devidos apenas quando extrapolam o âmbito do descumprimento do contrato e
atingem direitos personalíssimos do lesado, afrontando os íntimos sentimentos da parte. Recurso
provido, em parte, apenas para afastar a condenação pelos danos morais.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2003.001.25701
Data de Registro : //
Órgão Julgador: QUARTA CAMARA CIVEL
Des. DES. FERNANDO CABRAL
Julgado em 30/03/2004

4) PROCESSO: 2003.001.11334
RESPONSABILIDADE CIVIL DE LABORATORIO
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DE MEDICO
CULPA
AUSENCIA DE COMPROVACAO
Responsabilidade civil medica. Responsabilidade subjetiva pessoal do cirurgiao não comprovada.
Responsabilidade objetiva do laboratório presente ao ato cirurgico. Relação consumerista
decorrente da prestação de serviço. 1- Embora contratual, a responsabilidade do cirurgião que
realizou o ato confiando no resultado laboratorial, e' subjetiva. Não se comprovando a culpa,
inexiste dever indenizatorio. 2- No caso concreto o medico foi prudente e agiu com cautela. Sua
conduta esta' dentro dos parâmetros de cautela esperados e desejados de qualquer profissional. 3-
Responde objetivanemte o laboratorio que durante o ato cirurgico confirma a malignidade do tecido
submetido a exame, constatando-se posteriormente a benignidade. 4- Aplicabilidade do art. 14 do Codigo

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

de Defesa do Consumidor. 5- Danos materiais não comprovados. 6- Danos morais evidenciados pela dor,
angustia e sofrimento a que se viu submetida a Autora que teve esvaziamento axilar. Valor condizente
com o principio da razoabilidade e que indica o juizo de reprovação. Ambos os recursos improvidos, nos
termos do voto do Des. Relator.

Ementário: 32/004 - N. 19 - 19/02/2004


Tipo da Ação: APELACAO CIVEL
Número do Processo: 2003.001.11334
Data de Registro : //
Comarca de Origem: CAPITAL
Órgão Julgador: SETIMA CAMARA CIVEL
Votação : Unanime
Des. DES. RICARDO RODRIGUES CARDOZO
Julgado em 12/08/2003

1.8.2 – RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL OBJETIVA

1) PROCESSO: 2004.001.07818
RESPONSABILIDADE CIVIL
ACIDENTE DE TRANSITO
COLISAO DE VEICULOS
PROCEDIMENTO SUMÁRIO. Responsabilidade civil contratual. Transporte de passageiro,
lesionado face à colisão de coletivos. Responsabilidade objetiva, de sorte que a liberação do
transportador só ocorre se este provar força maior, caso fortuito ou culpa exclusiva da vítima. Prova da
condição de passageiro, do nexo e dos danos. Em se tratando de ilícito civil e não penal, de natureza
contratual, os juros são devidos a partir da citação. Não se presta a taxa SELIC como indexador. A
correção monetária, simples recomposição do principal, é devida da mesma data dele. Os danos morais
arbitrados em R$ 24.000,00 não consideraram, devidamente, o princípio do grau de fortuna das partes, a
idade da autora, aos 73 anos e sua sobrevida provável, mas, principalmente o punitivo-pedagógico.
Recurso parcialmente provido para reduzi-lo ao justo valor.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.07818
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL
Des. DES. HENRIQUE MAGALHAES DE ALMEIDA
Julgado em 10/11/2004

2) PROCESSO: 2004.001.21592
RESPONSABILIDADE CIVIL DE BANCO
SAQUE BANCARIO COM CARTAO MAGNETICO
DANOS CAUSADOS POR TERCEIRO
DEVOLUCAO DE CHEQUE
DANO MORAL
APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. SAQUES INDEVIDOS COM
CARTÃO MAGNÉTIVO "CLONADO". CHEQUES DEVOLVIDOS EM RAZÃO DOS SAQUES INDEVIDOS.
Primeiro recurso que não pode ser conhecido, por não ter vindo acompanhado do respectivo preparo,
sendo certo que o segundo recurso interposto pelo mesmo recorrente, já após a decisão proferida nos
embargos de declaração, com idênticas razões, sanou a carência, vindo regularmente preparado.
Decisão de inversão do ônus da prova que restou preclusa e não ofendeu os princípios constitucionais da
ampla defesa e do contraditório, já que cabia à instituição demonstrar que os saques foram efetuados
pela própria correntista, em face de que é a única que detém as fitas de segurança dos caixas
eletrônicos. A responsabilidade contratual do banco é objetiva, por força art. 3º, §2º do CDC. Falta de

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

prova da ocorrência de culpa concorrente ou exclusiva da correntista do banco. Danos morais que devem
considerar o curto período de inclusão no rol de inadimplentes e a ausência de nova negativação por
força do provimento antecipatório. Inexistindo circunstância especial que justifique a condenação em
patamar superior aos parâmetros que essa Corte vem usualmente aplicando para casos desse jaez,
cabível a sua redução. Dano material devido ante a falta de prova do estorno total da cobrança indevida
das parcelas de financiamento não contratado, a ser apurada em liquidação de sentença. NÃO
CONHECIMENTO DO PRIMEIRO RECURSO. PROVIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO RECURSO.
PROVIMENTO DO TERCEIRO RECURSO.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.21592
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL
Des. DES. CELIA MELIGA PESSOA
Julgado em 05/10/2004

3) PROCESSO: 2004.001.22732
RESPONSABILIDADE CIVIL DE BANCO
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
INDENIZACAO
APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS -
CODECON - INCIDÊNCIA - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DESNECESSIDADE DE INVERSÃO
DO ÔNUS PROBATÓRIO - DEVER DE CAUTELA E DILIGÊNCIA ÍNSITOS À RELAÇÃO JURÍDICA EM
QUESTÃO QUE IMPÕE A RESPONSABILIZAÇÃO PELOS DANOS EXPERIMENTADOS, INCLUSIVE
MORAIS - Estando devidamente comprovada a relação consumerista entre o autor e o Banco-réu, bem
como o dano decorrente deste liame jurídico, despiciendo se torna perquirir provas quanto à culpo do réu
haja vista a inafastabilidade da responsabilização antevista pelo art. 14 da Lei 8078/90. Uma vez objetiva
a responsabilidade não pode se dar o Banco-réu ao direito de esperar expressamente decisão que
defira a inversão do ônus probatório, porquanto a relação contratual instaurada, para efeito de surtir
a obrigação de reparar o dano não carece de prova de culpa strictu senso, bastando a
comprovação do nexo de cousalidade entre o evento danoso e a conduta contratual.
Desprovimento insofismável a aflição anímica e experimentada pelo Apelante, denotada esta pelas
vicissitude encetadas em seu comportamente psicológico tornar-se imperiosa a indenização a titulo de
dano moral. Apelo conhecido e provido, condenando o Apelado a indenizar o Apelante ante no montante
de R$ I5.000,00 (quinze mil reais), corrigidos desde a publicação do julgado, e juros de mora desde a
data do evento, mais custas e honorários advocaticios de 20% sabre o valor da causa.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.22732
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL
Des. DES. MARIO GUIMARAES NETO
Julgado em 29/09/2004

4) PROCESSO: 2004.001.18343
RESPONSABILIDADE CIVIL DE ESTABELECIMENTO HOSPITALAR
INDENIZACAO POR MORTE
DANO MORAL
DANO MATERIAL
RESPONSABILIDADE CIVIL DE CASA DE SAÚDE. Falha na prestação do serviço, culminando com a
morte da vítima, ao permitir que pessoas, sem qualificação profissional, realizassem o parto daquela,
resultando na sua morte e do feto. Sendo a responsabilidade objetiva, a prova do fortuito é ônus do
réu. Inexistência de prova dele. Não adstrição ao laudo pericial. Sentença baseada em outros elementos
dos autos, dentre eles a condenação de representante da ré pelo CREMERJ, que reconheceu falhas na

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

condução do parto da vítima. Verba compensatória corretamente fixada. Verba do dano material reduzida.
Sendo a relação contratual, os juros contam da citação. Correção monetária. Aplicação da taxa SELIC,
o que afasta, a partir de sua aplicação, a incidência daquela. Verba honorária reduzida ao patamar de
15%, eis que inexiste fato excepcional, que justifique sua fixação no percentual máximo. Recurso
parcialmente provido.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.18343
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL
Des. DES. CARLOS EDUARDO PASSOS
Julgado em 28/09/2004

5) PROCESSO: 2004.001.05012
RESPONSABILIDADE CIVIL DE ESTABELECIMENTO HOSPITALAR
ERRO MEDICO
SEGURO SAUDE
RESPONSABILIDADE SOLIDARIA
DANO MORAL
Responsabilidade civil. Erro médico. Erro de diagnóstico e de procedimento. Relação de consumo.
Responsabilidade objetiva. Ação movida contra o estabelecimento hospitalar e contra o Plano de
Saúde ao qual o mesmo se encontrava vinculado. Legitimidade das partes. Responsabilidade
solidária, por parte da operadora do plano, em relação aos danos causados pelo estabelecimento
por ela credenciado. Inocorrência de litispendência entre esta ação e outra movida contra o Plano de
Saúde, visando à reparação por danos materiais e morais, com base em eventos diversos e, por
conseqüência, com causas de pedir diferentes. Comprovada, pela prova testemunhal, a evidente falha na
prestação dos serviços devidos ao consumidor, com o péssimo atendimento ao paciente, cujo diagnóstico
restou incompleto e equivocado, e o tratamento necessário e adequado deixou de lhe ser ministrado,
durante o período de internação, recebendo alta médica sem qualquer prescrição para o futuro, o que
contribuiu, de forma efetiva, para o agravamento de seu quadro clínico, que era grave, com prejuízos à
sua saúde, responde o hospital pelos danos causados ao consumidor, principalmente, se não se
incumbiu de produzir qualquer prova no sentido de demonstrar que os serviços foram prestados com a
eficiência e a segurança devidas e sem os defeitos alegados. Do mesmo modo, a prestadora de
serviços de plano de saúde é responsável, concorrentemente, com o estabelecimento hospitalar
por ela credenciado, pela qualidade dos serviços e do atendimento prestados aos seus
associados. No entanto, em se tratando de responsabilidade concorrente e solidária não há que falar
em condenação autônoma à nova verba indenizatória, pois o dano é um só. O erro de diagnóstico, com o
tratamento inadequado, causando ao paciente o agravamento de seu estado de saúde, compromete o
seu equilíbrio psicológico, bem assim, o de sua esposa e companheira de longos anos, dando ensejo ao
dano moral, reparável pela via financeira. Verbas indenizatórias bem fixadas, observando os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, levando em consideração a gradação do sofrimento de cada uma
das partes. Juros de mora que se contam da citação, por se tratar de relação contratual e de danos
decorrentes do fato de serviço. Provimento parcial do recurso dos autores e desprovimento dos recursos
das rés.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.05012
Data de Registro : //
Órgão Julgador: QUARTA CAMARA CIVEL
Des. DES. FERNANDO CABRAL
Julgado em 24/08/2004

6) PROCESSO: 2003.001.36617
RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

DANO MORAL
VALOR DA INDENIZACAO
MAJORACAO
JUROS MORATORIOS
AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. CONSTRANGIMENTO SOFRIDO PELA AUTORA AO
SAIR DO ESTABELECIMENTO DA RÉ. A AUTORA FOI CHAMADA DE LADRA E REVISTADA DUAS
VEZES DE FORMA GROSSEIRA PELOS SEGURANÇAS DA EMPRESA. SENTENÇA PROCEDENTE.
APELAÇÕES. Não resta dúvida que se trata de hipótese de responsabilidade civil contratual, uma vez
que entre as partes há uma relação jurídica consumerista, como bem observado pela douta Magistrada.
Diante disto, comprovada a falha do serviço, por si só, caracteriza a responsabilidade objetiva, a
qual não foi elidida pela ré, tendo em vista que não trouxe qualquer prova a seu favor. Os depoimentos
testemunhais acostados aos autos comprovaram que o segurança da empresa ré chamou a autora de
ladra, revistando-a duas vezes, com o objetivo de encontrar os produtos supostamente furtados. O
constrangimento e a humilhação sofrida pela autora ressaltam aos olhos de qualquer pessoa, estando
devidamente configurados os danos morais, surgindo para ré o dever de indenizá-los. Verba indenizatória
deve ser majorada para o valor de R$ 13.000,00, visando a perfeita consonância com os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade. Juros moratórias devem ser alterados, devendo seguir a norma
contida no art. 406 do novo Código Civil c/c art. 161, parágrafo único do CTN, a partir do dia 12/01/2003,
tendo em vista a regra do art. 2035, do referido diploma. Honorários advocatícios mantidos tendo em
vista a observância do art. 20, §3º, incisos do CPC. RECURSOS CONHECIDOS. PROVIMENTO
PARCIAL DO 1º RECURSO, PARA MODIFICAR OS JUROS MORATÓRIOS E MAJORAR O VALOR DA
INDENIZAÇÃO DEVIDA A TÍTULO DE DANOS MORAIS. IMPROVIMENTO DO 2º APELO.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2003.001.36617
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL
Des. DES. FERDINALDO DO NASCIMENTO
Julgado em 17/08/2004

7) PROCESSO: 2004.001.14277
RESPONSABILIDADE CIVIL DE FABRICANTE
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
SUCUMBENCIA
PROVIMENTO PARCIAL
RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE. Ausência de Caracter em Chassis de Automóvel. Inaptidão
para Licenciamento do Veículo Junto ao Detran. Vício do Produto Caracterizado (CDC, art. 18).
Responsabilidade Contratual Objetiva. Desnecessidade de Prova da Culpa Máxime pela Aplicação
da Pena de Confissão (CPC, 343, §2º). Danos Materiais e Morais Devidos. Manutenção da Sentença.
DESPESAS PROCESSUAIS e HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Distinção Entre Sucumbência
Recíproca (CPC, 21, caput) e Sucumbência Parcial (CPC, 21, p. único). Reforma parcial da sentença.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.14277
Data de Registro : //
Órgão Julgador: SEGUNDA CAMARA CIVEL
Des. DES. SERGIO CAVALIERI FILHO
Julgado em 21/07/2004

1.8.3 – RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA

1) PROCESSO: 2004.001.14550
RESPONSABILIDADE CIVIL

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

ACIDENTE DE TRANSITO
INDENIZACAO POR MORTE
DANO MORAL
DANO MATERIAL
RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE
TRÂNSITO FATAL. COLISÃO DE VEÍCULOS. EXISTÊNCIA DO DANO, DO NEXO CAUSAL E DA
CULPA. DANOS MORAIS E MATERIAIS VERBA A TÍTULO DE LUTO E FUNERAL. JUROS. A
obrigação de indenizar, na responsabilidade civil extracontratual subjetiva depende da prova do
dano, do nexo causal e da culpa. A colisão de veículos em via pública, objeto da reparação de danos
morais e materiais pleiteada pelos descendentes da vítima, e pelo proprietário do veículo avariado,
necessita da configuração conjunta destes pressupostos. Considerando todos os elementos
probantes coligidos, tais como o Laudo do Local de Acidente de Trânsito com Vítima Fatal e a prova
testemunhal colhida, verifica-se que restaram comprovados os três elementos supracitados,
ensejando a obrigação de indenizar por parte da empresa ré. E neste raciocínio, afigura-se justo o
quantum fixado na sentença, de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), a título de danos morais, sendo
metade para cada filha da vítima, com os acréscimos legais. No que concerne ao pedido de indenização
por danos morais para o 3º autor, proprietário do veículo que colidiu com o da ré, não se vislumbra tal
lesão de ordem subjetiva, na medida que o mesmo, não se encontrava no automóvel, reconhecidamente
conduzido por terceiro. Destarte, aquele somente suportou danos materiais decorrentes da avaria do seu
veículo, cuja reparação foi coerentemente fixada no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ante a prova
coligida nos autos, de que o automóvel não havia sido consertado até a data da prolação da sentença. O
ressarcimento das despesas atinentes ao luto e funeral é devido, posto que, como regra de experiência
comum, é cediço que o enterro de pessoas não é mera faculdade, e sim imposição social, não sendo
permitido que o corpo permaneça insepulto. Portanto, tal verba deve ser arbitrada dentro da
razoabilidade, no valor de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), incidindo sobre o mesmo, correção
monetária e juros a partir da data do óbito. Com relação aos juros deve ser respeitada a legislação
vigente nas épocas próprias, de modo que serão devidos juros legais de 0,5% (meio por cento) ao mês,
consoante o artigo 962 do Código Civil/1916, a partir da data do evento até 10.01.2002, após o que, os
juros serão de 1% (um por cento) ao mês, com fulcro no artigo 406 do Novo Código Civil c/c o artigo 161,
§ 1º do Código Tributário Nacional, valendo destacar, que a norma prevista no apontado artigo 2037 do
Novo Código Civil, não se adequa ao fim colimado pela ré. Por derradeiro, a verba honorária de
sucumbência deve ser suportada, integralmente, pela ré, na base de 10% (dez por cento) sobre o valor
da condenação corrigido, aplicando-se o disposto no artigo 21, parágrafo único do Código de Processo
Civil. Recursos conhecidos e parcialmente providos.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.14550
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL
Des. DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES
Julgado em 29/09/2004

2) PROCESSO: 2004.001.21847
ACIDENTE DE TRANSITO
CONSTITUICAO FEDERAL DE 1988
ANTERIORIDADE
RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL
DESCABIMENTO DE PERDAS E DANOS
Civil. Acidente de trânsito. Colisão entre ônibus e motocicleta em cruzamento disciplinado por sinal
luminoso. Fato ocorrido antes da promulgação da CF em vigor. Impossibilidade de aplicação de
seu art. 37, parág. 6°. Responsabilidade, portanto, extracontratual subjetiva. Inexistência de prova
de culpa do condutor do coletivo. Pedido de indenização rejeitado. Recurso desprovido.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.21847

21
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL
Des. DES. NAMETALA MACHADO JORGE
Julgado em 20/09/2004

3) PROCESSO: 2003.001.31657
ACIDENTE DE TRANSITO
ATROPELAMENTO
INDENIZACAO
Responsabilidade Civil subjetiva. Atropelamento. Lesão Corporal Grave. Tratando-se de
responsabilidade extracontratual subjetiva, é indispensável, para que tenha lugar a obrigação de
indenizar, a comprovação da culpa do Réu, cabendo ao Autor o ônus da prova ex-vi do disposto no
artigo 333, I do Código de Processo Civil. Atropelamento ocorrido em local de alta periculosidade para
pedestres, Culpa não comprovada do Réu em contraste com fortes indícios de culpa da vítima, sendo
certo que esta, aliás, só haveria que ser sopesada no trato da responsabilidade objetiva e, não sendo
este o caso, torna-se imprescindível o pressuposto basilar da responsabilidade aquíliana, qual
seja, o elemento subjetivo culpa. Recurso conhecido e não provido.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2003.001.31657
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL
Des. DES. MARIO ROBERT MANNHEIMER
Julgado em 24/08/2004

4) PROCESSO: 2004.001.17661
RESPONSABILIDADE CIVIL
ACIDENTE DE TRANSITO
ATROPELAMENTO
DANO MATERIAL
AUSENCIA DE COMPROVACAO
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ACIDENTE DE TRÂNSITO ATROPELAMENTO
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA CULPA NÃO COMPROVADA. DANO MATERIAL NÃO
COMPROVADO. Na responsabilidade civil extracontratual e subjetiva é necessária a comprovação
inequívoca do fato, bem como do dano, da culpa e do nexo de causalidade. Não há que se falar em
dever de indenizar quando a autora não comprova os danos materiais que foram pleiteados na sua inicial.
Manutenção do julgado.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.17661
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL
Des. DES. RUDI LOEWENKRON
Julgado em 11/08/2004

1.8.4 – RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL OBJETIVA

1) PROCESSO: 2004.005.00142
RESPONSABILIDADE CIVIL DE CONCESSIONARIA DE SERVICO PUBLICO
EMPRESA DE TRANSPORTE
ATROPELAMENTO
RESPONSABILIDADE OBJETIVA

22
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

"EMBARGOS INFRINGENTES. VOTO VENCIDO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE


SERVIÇO PÚBLICO. ATROPELAMENTO. 1. A responsabilidade civil do transportador pode ser
examinada por três aspectos: em relação aos seus empregados, em relação aos seus passageiros e
em relação a terceiros. 2. O § 6º, do art. 37, da Carta Magna transformou em objetiva a
responsabilidade civil do Estado, fundada no risco administrativo, estendendo-a às pessoas
jurídicas de direito público prestadoras de serviços públicos. 3. O transporte coletivo é serviço
público concedido, permitido ou autorizado. 4. A responsabilidade civil do transportador em relação a
terceiros é afastada peias causas que excluem o nexo etiológico: fato exclusivo da vitima, caso fortuito
ou força maior e fato exclusivo de terceiro. 5. O art. 14 do Código de Defesa do Consumidor atribuiu
responsabilidade objetiva ao fornecedor de serviços. 6. O art. 17 equiparou todas as vítimas do
evento, ainda que estranhas à relação contratual, superando a clássica dicotomia entre a
responsabilidade contratual e a extra-contratual. 7. Desta forma, com as modificações introduzidas
pelas normas de defesa do consumidor, a responsabilidade civil nas relações de serviço e de consumo
está submetida a uma única disciplina. 8. Provimento dos embargos infringentes."

Tipo da Ação: EMBARGOS INFRINGENTES


Número do Processo: 2004.005.00142
Data de Registro : //
Órgão Julgador: OITAVA CAMARA CIVEL
Des. DES. LETICIA SARDAS
Julgado em 09/09/2004

2) PROCESSO: 2004.001.26125
ACIDENTE DE TRANSITO
MOTOCICLISTA
ONIBUS
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL. PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO.
TRANSPORTE PÚBLICO. APLICABILIDADE DO ARTIGO 37, § 6° CRFB. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. COMPROVAÇÃO DO NEXO CAUSAL. DANO DE
ORDEM MORAL E MATERIAL. DEVER DE INDENIZAR. ARBITRAMENTO DA INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS OBSERVANDO OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
MANTENÇA DO QUANTUM ARBITRADO NA SENTENÇA. REQUERIMENTO DE LUCROS
CESSANTES CONSTANTES DAS RAZÕES DE APELADO. IMPOSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DO
PRINCÍPIO DO TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APPELATUM. VINCULAÇÃO DO TRIBUNAL AS
RAZÕES RECURSAIS CONSTANTES DA APELAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.26125
Data de Registro : //
Órgão Julgador: SEGUNDA CAMARA CIVEL
Des. DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Julgado em 03/11/2004

3) PROCESSO: 2004.001.12293
AÇÃO ORDINÁRIA. Cartão de crédito. Responsabilidade civil extracontratual. Relação de consumo
e responsabilidade objetiva. Prática comercial abusiva resultando em injusta anotação em cadastro
restritivo de crédito, já que o produto não foi solicitado pelo pretenso adquirente. Dano que está in re ipsa.
Arbitramento que bem ponderou os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade como os princípios
norteadores da intensidade da ofensa, sua repercussão no íntimo da vítima, o grau de fortuna das partes,
e o punitivo-pedagógico. Recurso não provido.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL

23
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Número do Processo: 2004.001.12293


Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL
Des. DES. HENRIQUE MAGALHAES DE ALMEIDA
Julgado em 22/09/2004

4) PROCESSO: 2004.001.05834
ACAO DE INDENIZACAO
ACIDENTE DE TRANSITO
NEXO DE CAUSALIDADE
AUSENCIA DE COMPROVACAO
NEGADO PROVIMENTO
PROCEDIMENTO SUMÁRIO. Responsabilidade civil extracontratual. Abalroamento de automóvel por
outro veículo. A responsabilidade objetiva do patrão exige prova da ação culposa do preposto. Na
responsabilidade civil, mister é que concorram a ação culposa, o nexo e dano, de sorte que
faltando um deles não haverá o dever de reparar. Prova a cargo do autor, não desempenhada, no
caso, sendo contraditório um depoimento e nada esclarecedor o outro. Fotos que só provam o local e não
o fato. Sentença de improcedência. Recurso não provido.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.05834
Data de Registro : //
Órgão Julgador: DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL
Des. DES. HENRIQUE MAGALHAES DE ALMEIDA
Julgado em 04/08/2004

5) PROCESSO: 2004.001.18708
RESPONSABILIDADE CIVIL DE FERROVIA
NEXO DE CAUSALIDADE
FALTA DE PROVA
APELAÇÃO. Dano moral. Responsabilidade civil extracontratual objetiva, em que se não cogita do
elemento subjetivo culpa, bastando à vítima comprovar o dano e o nexo de causalidade . Dano
consubstanciado na morte do filho e irmão dos autores. Nenhuma prova foi ministrada quanto a ser a
vítima passageira de composição ferroviária de propriedade da ré e que dela teria caído, vindo a ser
atropelada. O fato de o corpo haver sido encontrado nos trilhos da linha férrea não se mostra suficiente
para imputar à ré a responsabilidade pela morte. À falta de comprovação de que a ré houvesse dado
causa ao resultado, nenhum é o seu dever reparatório. Provimento do recurso, para julgar
improcedentes os pedidos, invertida a sucumbência, com observância do art. 12 da Lei n° 1.050/60.

Tipo da Ação: APELACAO CIVEL


Número do Processo: 2004.001.18708
Data de Registro : //
Órgão Julgador: SEGUNDA CAMARA CIVEL
Des. DES. JESSE TORRES
Julgado em 04/08/2004

Unidade II – PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 - Ação ou omissão do agente

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

 Na Responsabilidade Objetiva:
Ação (atividade positiva)

Conduta ou comportamento do sujeito atividade negativa


Omissão =
abstenção

DEVER JURÍDICO ORIGINÁRIO


=
OBRIGAÇÃO

Norma estabelecida no contrato Norma estabelecida em lei


(contratual) (extracontratual)

DEVER JURÍDICO SUCESSIVO


=
DÉBITO
=
RESPONSABILIDADE

Violação do dever jurídico originário Violação do dever jurídico originário


estabelecido no contrato estabelecido na lei
(Responsabilidade Civil Contratual) (Responsabilidade Civil Extracontratual)

Ação do Agente Omissão do Agente


(Conduta ou Comportamento (Conduta ou comportamento negativo,
positivo) uma abstenção violadora de um
dever de agir, imposto pela lei ou
pelo contrato)

Responsabilidade Subjetiva Responsabilidade Objetiva


= =
Conduta Culposa Conduta

GERA A OBRIGAÇÃO DE REPARAR OS DANOS

Conduta culposa
 Na Responsabilidade Subjetiva ou

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Comportamento culposo

Conduta: é o comportamento humano voluntário que se exterioriza, produzindo


conseqüências jurídicas, e pode ser através de uma ação ou de uma
omissão do agente.

Ação: é um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo violador


de um dever jurídico imposto pelo contrato (Responsabilidade Civil
Contratual) ou violador de um dever jurídico, imposto pela lei
(Responsabilidade Civil Extracontratual).

Omissão: a omissão adquire relevância jurídica no momento em que o sujeito tem


um dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado,
dever esse que pode advir de um contrato (Responsabilidade Civil
Contratual) ou da lei (Responsabilidade Civil Extracontratual). O sujeito,
nesta hipótese, coopera na realização do evento danoso, com uma atitude
negativa, deixando de movimentar-se ou não impedindo que o resultado
se concretize.

 Responsabilidade Civil Direta


É aquela decorrente de um fato próprio, ou seja, decorrente de um fato pessoal
(de uma conduta pessoal do próprio causador do dano).
Responsabilidade Por Fato Próprio (por conduta própria)
Ex.: Colisão de veículo em que o condutor causa dano a outrem (art. 186, do
CC);

 Responsabilidade Civil Indireta


É aquela responsabilidade vinculada ao responsável indiretamente, em virtude
de sua ligação com o sujeito (terceiro que causou o dano), como também, em
virtude de sua ligação com coisas ou animais que estejam sob a sua guarda e
que venham a causar prejuízo.
 Responsabilidade por Fato de Outrem (art. 932, I a V, do CC)  Prevista em
lei
I os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
alberguem por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
 Responsabilidade por Fato da Coisa

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Arts. 937 e 938, do CC.


 Responsabilidade por Fato de Animais
Art. 936, do CC.

RESPONSABILIDADE INDIRETA (POR FATO DE OUTREM - SOLIDARIEDADE) ≠


CO-PARTICIPAÇÃO OU CO-AUTORIA (SOLIDARIEDADE)

RESPONSABILIDADE INDIRETA (POR FATO DE OUTREM - SOLIDARIEDADE)

A A B = Responsabilidade Civil Objetiva


(independe de culpa)

B C = Responsabilidade Civil
(conduta direta – com culpa – na
Responsabilidade Civil Subjetiva)

A Responde indiretamente pelos prejuízos


causados a C, independente de culpa.
B C
CONDUTA

Legenda:
A = pai; tutor; curador; empregador ou comitente; os donos de hotéis, hospedarias,
casas ou estabelecimentos onde se alberguem por dinheiro

B = filho menor; pupilo; curatelado; empregados, serviçais e prepostos; hóspedes,


moradores e educandos

C = "vítima" da conduta de B
Exemplo:
B = empregado
A = empregador de "B", que responderá indiretamente pelos danos causados a
"C", independente da culpa.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

B e A = RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, sendo que A responde


INDIRETAMENTE, por fato de outrem (art. 942, parágrafo único do CC/02)

CO-PARTICIPAÇÃO OU CO-AUTORIA (SOLIDARIEDADE)

Respondem solidariamente pelos danos causados a


A "C", pois ambos, com suas condutas diretas causam
A prejuízos e, por este motivo, ficam obrigados a reparar
os danos
CONDUTA

e Exemplo: B= sujeito de 18 anos de idade

A= sujeito de 18 anos de idade


B
C= vítima dos danos causados por
"A" e "B" lesões corporais
praticadas por ambos / "A" e
"B" respondem solidariamente
pelos prejuízos causados à vítima
B C
CONDUTA

A = sujeito
B = sujeito
C = "vítima"

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

.2 - Estudo Completo da Culpa

2.2.1 - Noções Gerais

CULPA DOLO

Não existe a intenção de produzir o Existe a intenção de produzir o


resultado danoso. resultado danoso.

Conduta voluntária do agente que Conduta voluntária do agente, sendo


nasce lícita, tornando-se ilícita na que a conduta já nasce ilícita porque a
medida em que se desvia dos padrões vontade se dirige à concretização de
socialmente adequados. um resultado anti-jurídico, abrangendo
a conduta e o efeito lesivo dele
resultante.

O agente só quer a ação, vindo a O agente quer a ação e o resultado.


atingir o resultado por desvio acidental
da conduta decorrente de uma falta de
cuidado.

Encontra-se o fator inadimplemento,


porém, despido da consciência da Encontra-se o fator inadimplemento.
violação. A ação é voluntária no que
diz respeito à materialidade do ato
gerador das conseqüências danosas.

- O artigo 186 preceitua que a ação ou omissão seja voluntária ou que haja, pelo
menos, negligência ou imprudência. Portanto, é necessário que o agente tenha agido
com culpa.
- Na responsabilidade subjetiva, a culpa é elemento indispensável para a
obrigação de indenizar.
- Agir com culpa significa merecer a reprovação do direito por ter faltado com o
dever de cuidado que o agente podia conhecer e observar. O dever de cuidado consiste
em agir com a cautela necessária na prática de atos comuns visando não causar danos

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

a bens ou a direitos alheios. Exige-se, portanto, que o agente esteja atento ao modo de
agir adequado para realizar seus objetivos.
- Para verificação do procedimento mais adequado, compara-se a ação do agente
à ação esperada do homem médio, do qual se espera uma diligência cuidadosa e
sensata, que poderá ser comparável àquele caso concreto.
- Se o agente não observar o dever de cuidado estará agindo com culpa, pois
estará infringindo uma primeira norma de convívio social que é o dever de não causar
danos a outrem. Se ele devia e podia ter agido de forma diferente e não o fez, terá
agido com culpa.
- Se, para alcançar seu objetivo o agente resolver agir de forma imprópria, mesmo
para alcançar um fim lícito, incorrerá em um erro de conduta, que também é
caracterizador da culpa, pois há o dever de se escolher o meio mais adequedo para a
prática de cada ação.

- Culpa em Sentido Amplo  leva em consideração a culpa e o dolo.

- Culpa em Sentido Estrito  leva em consideração apenas a culpa.

2.2.2 - Conceitos de Culpa

A conceituação da culpa é bastante variável na doutrina.


Para Aguiar Dias: “a culpa é a falta de diligência na observância da norma de
conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la,
com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na
consideração das conseqüências eventuais de sua atitude”.
Caio Mário diz que “pode-se conceituar culpa como um erro de conduta,
cometido pelo agente que, procedendo contra direito, causa dano a outrem, sem a
intenção de prejudicar, e sem a consciência de que seu comportamento poderia causa-
lo”.
Sérgio Cavalieri Filho, menciona a noção de culpa como “conduta voluntária,
contrária ao dever de cuidado imposto pelo Direito, com a produção de um evento
danoso involuntário, porém previsto ou previsível”.
Para Carlos Roberto Gonçalves, “a culpa implica a violação de um dever de
diligência, que se afere em comparação do comportamento do homem médio, com o do
agente causador do dano”.

2.2.3 - Culpa Lato Sensu e Culpa Stricto Sensu


Podemos afirmar, com base nos ensinamentos de parte da doutrina, que na
culpa estariam presentes os seguintes requisitos para sua configuração: a culpa lato
sensu , que abrange o dolo e, a culpa stricto sensu.
A culpa lato sensu, ou culpa em sentido amplo, abrange todo o comportamento
contrário ao direito, ou seja, abrange o dolo e a culpa propriamente dita.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Há doutrinadores que não vêem relevância na distinção entre dolo e culpa em


face da Responsabilidade Civil, visto que o objetivo desta é a reparação do dano e não
a punição do agente, que é função do direito penal.
O novo código civil inovou neste sentido através da regra expressa no parágrafo
único do artigo 944, pois permite ao julgador a avaliação do grau da culpa do agente
para a determinação do montante a ser indenizado.
Na verdade, o efeito trazido por esta norma é que a Responsabilidade Civil não
mais poderá ter o condão de servir como uma punição na esfera civil ao agente
causador do dano, especialmente quando este tiver agido com culpa leve ou levíssima.
Observa-se, portanto, que o dispositivo é bastante claro, abrangendo apenas os casos
de ação com culpa. Assim, se o agente agiu com dolo não há que se valer deste
benefício legal (Sérgio Cavalieri, Programa de Resp. Civil, Ed. Malheiros, Pág. 49).
A culpa stricto sensu ou em sentido estrito, também chamada culpa aquiliana,
é a culpa propriamente dita. Caracteriza-se pela falta de intenção do resultado, embora
pudesse ser previsto. Manifesta-se pela negligência, imprudência ou imperícia.

2.2.4 - Elementos da Culpa

 Voluntariedade do comportamento do agente (da conduta)


(expresso no art. 186, do CC)
 Previsibilidade (do resultado)
Só se pode apontar a culpa se o resultado era previsível. Se for de forma
imprevisível, não há porque se falar em culpa.
 Violação de um dever de cuidado

No que tange a voluntariedade, exige-se que a conduta do agente seja voluntária


para que possa ser caracterizada a culpabilidade, mas esta voluntariedade estará
desprendida do resultado obtido, que é inesperado. Observa-se que não há a intenção
de provocar o dano. Se houver, o agente estará agindo com dolo. É o erro de conduta,
a má escolha da maneira adequada para a ação que proporciona o resultado
inesperado. Se não há voluntariedade não há que se falar em culpa.
Outrossim, só haverá culpa se o prejuízo experimentado pela vítima pudesse ser
previsto no tempo da ação. Previsível é aquilo que tem certo grau de probabilidade, de
forma que, segundo as regras da experiência, é razoável prevê-lo (Cavalieri, pág. 55).
Para se auferir se o resultado era previsível, é necessário que se considere, além dos
fatos em si, as condições pessoais do sujeito, bem como as circunstâncias do momento
de sua ação, devendo ser considerados, sua idade, sexo, condição social, grau de
instrução, etc. Se não for possível a previsibilidade, entraremos na seara do fortuito,
que é causa de excludente da culpabilidade.
A violação de um dever de cuidado é a essência da culpa. Constitui-se pela falta
de cuidado, cautela, diligência ou atenção no exercício de uma atividade.
Em suma, os elementos da conduta culposa se entremeiam. A violação de um dever
de cuidado é o complemento dos demais, visto que sem ele não haveria culpa, não
haveria o dano e consequentemente não haveria o dever de indenizar.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

2.2.5 - Formas da Culpa

Imprudência  falta de cuidado decorrente de uma ação. É a ação do agente sem


a cautela necessária, ou seja, quando arrisca desnecessariamente
a enfrentar o perigo, quando é previsível o resultado danoso.
Ex.: dirigir em alta velocidade

Negligência  falta (inobservância do dever) de cuidado decorrente de uma


omissão.
Ex.: não trocar um pneu "careca", ou não consertar uma lanterna
traseira, provocando grave acidente

Imperícia  falta de aptidão para aquela atividade técnica. Inaptidão técnica ou


falta de conhecimento para a ação praticada. Embora não esteja
expressa no artigo 186 do Novo Código civil, está implícita, visto
que a imperícia pode ser considerada uma espécie de negligência
técnica ou profissional.
Ex.: É o caso do erro médico, do advogado que não interpõe um
recurso cabível, daquele que dirige um veículo sem ser habilitado e
provoca um acidente, entre outros. “Michele em Curvelo!”

2.2.6 - Graus e Formas de Manifestação da Culpa em Sentido Estrito

Examinada em sua gravidade, a culpa se triparte em culpa grave, leve e


levíssima.
A culpa grave é a violação mais séria do dever de diligência, por isso ao dolo se
equipara. É também chamada culpa consciente. É a falta de cuidado extrema por parte
do agente, um descuido anormal. Difere do dolo eventual do Direito Penal pelo fato de
que nesta o agente acredita que o evento danoso não ocorrerá e no dolo eventual ele
se arrisca sabendo da possibilidade de ocorrência do dano.
A culpa leve é a falta que podia ser evitada com atenção ordinária. Quando o
indivíduo não adotou as cautelas comuns ao homem médio.
A culpa levíssima verifica-se quando a atenção para evitar o dano seria
extraordinária, não podendo ser comparada, nem mesmo, à atenção esperada do
homem médio, o bonus pater família. Somente poderia se esperar de uma pessoa
muito atenta, dotada de conhecimento especial que pudesse ser aplicado naquele caso
concreto.

Assim:
Culpa Grave  Embora não intencional, o comportamento do agente demonstra
que ele atuou como se tivesse intenção do resultado. É grave
quando imprópria ao comum dos homens. É a modalidade que mais
se assemelha ao dolo. É decorrente de uma violação mais séria do

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

dever de diligência que se exige do homem mediano. Ex:Ocorre na


responsabilidade civil automobilística, em casos de excesso de
velocidade, de ingresso em cruzamentos com o semáforo fechado,
de direção em estado de embriaguez, etc.

Culpa Leve  Falta de diligência de um homem normal.

Culpa Levíssima É a falta que apenas um homem diligentíssimo, não cometeria.

Observação:
Na responsabilidade aquiliana, a mais ligeira culpa produz obrigação de
indenizar – in lege aquilia et levíssima culpa venit (Carlos Roberto Gonçalves). A regra
geral determina que, independentemente do grau da culpa, a indenização será medida
pela extensão do dano.
Diante do Código Civil anterior (1916), parte da doutrina considerava irrelevante
a graduação da culpa, mas à luz do Novo Código Civil de 2002, tornou-se questão
indispensável frente ao que dispõe o parágrafo único do artigo 944. A mensuração do
quantum indenizatório da Responsabilidade Civil poderá depender também do grau da
culpa do agente causador do dano. A extensão do dano deixou de ser o único
parâmetro para a determinação e quantificação da indenização. Aliado à ela, o grau da
culpa, quando se tratar de culpa leve ou levíssima, toma posição para proteger também
os interesses do agente quando houver uma desproporção entre sua ação e o dano
consequente dela.

Questionamento:
O Grau de culpa pode influenciar no valor da indenização?
Resposta: Inovação do C.C – Art. 944 (caput) - a indenização deve ser fixada
baseada na extensão do dano (não havendo influencia do grau de culpa). “A
indenização mede-se pela extensão do dano”.
Art. 944, parágrafo único do C.C. – inovação, pois o juiz poderá reduzir
eqüitativamente o valor da indenização quando houver desproporção entre a gravidade
de culpa (grau) e a extensão do dano. Tem que haver uma desproporção entre o grau
da culpa e a extensão do dano. “Se houver excessiva desproporção entre a gravidade
da culpa e op dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização”.
A primeira parte do dispositivo legal consagra o principio tradicional de que,
desde que haja culpa, a obrigação de indenizar, a cargo do agente, é sempre a mesma.
A cobertura dos danos causados deve ser integral. Entretanto, o parágrafo único
confere ao juiz o poder de agir eqüitativamente, com base no grau de culpa e a
extensão do dano.

2.2.7 - Espécies de Culpa

33
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Direta  conduta do agente está diretamente ligada ao evento


danoso.

Indireta  responde, indiretamente, por atos de terceiros ligados ao


evento danoso.

Culpa Contratual  quando a conduta do agente viola uma disposição contratual,


gerando a obrigação de reparar os prejuízos.

Culpa Extracontratual  quando a conduta do agente viola um dispositivo legal,


gerando a obrigação de reparar os prejuízos.

Culpa in Contraendo  culpa em função da situação do contrato.

Culpa in Comittendo  decorre de uma ação.

Culpa in Omittendo  decorre de uma omissão.

Culpa Presumida  Não pode ser confundida com a responsabilidade objetiva,


pois esta prescinde de culpa. Na culpa presumida o que há é
a inversão do ônus da prova, porém, localiza-se na esfera da
responsabilidade subjetiva. Entretanto, a presunção é
relativa, iuris tantun, e pode ser elidida por prova em
contrário.

Culpa Concorrente  A conduta do agente e a conduta da vítima concorrem para o


resultado danoso. Na falta de uma das ações o resultado não
se produziria. Nestes casos em que é reconhecida a
participação da vítima, a jurisprudência e a doutrina
recomendam que a indenização seja repartida, assumindo
cada parte a proporção de sua culpa, dividindo assim o
prejuízo verificado, assim como o Novo Código Civil trouxe
regra expressa neste sentido no seu artigo 945: “

Culpa in Concreto  Aquela examinada na conduta específica sob exame.

Culpa in Abstrato  Aquela conduta de transgressão avaliada pelo padrão do


homem médio.

Culpa in Vigilando  Ligada ao dever de vigiar. Decorrente da ausência de


fiscalização, falta de atenção ou cuidado com o procedimento
de outrem que esteja sob a guarda ou responsabilidade do
agente. Ocorre, por exemplo, em relação aos pais que
respondem pelos atos dos filhos menores

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Culpa in Eligendo  Ligada a eleição, má escolha. É a que decorre da má


escolha do representante. Com base na Súmula n. 341 do
STF, a culpa do patrão é presumida pelo ato culposo do
empregado ou preposto.

Culpa in Custodiendo  Culpa em função da custódia ou da guarda (coisa e animal).

Observação:
Com o advento do Novo Código Civil de 2002, que adotou expressamente a
responsabilidade objetiva em seu artigo 933, as culpas in eligendo, in vigilando e in
custodiendo foram abrangidas e não mais se tratará de culpa presumida nestes casos,
pois a responsabilidade objetiva impõe que, a obrigação de indenizar ocorra
independentemente de culpa

2.2.8 - Imputabilidade (Regra Geral - art. 186, do CC)

Imputar é atribuir à alguém, a responsabilidade pela prática de um ato.

Imputabilidade é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente


capacidade para responder pelas conseqüências de uma conduta contrária a um
dever jurídico.

Imputável é o sujeito que podia e devia ter agido de algum modo e que, diante de
sua conduta lesiva, é obrigado a reparar os danos causados. Ter capacidade de
discernimento de seus atos.

Elementos da Imputabilidade: maturidade (desenvolvimento mental) e sanidade


(higidez).

Os menores de 16 anos não são responsáveis porque são incapazes, nos termos
do art. 3º, I, do Código Civil, pois falta-lhes maturidade.

São igualmente irresponsáveis os que, por enfermidade ou deficiência mental, não


tiverem necessário discernimento para a prática de atos da vida civil. Na doutrina
são chamados de “amentais”. A inimputabilidade dos loucos decorre da falta de
higidez mental, insanidade de todo o gênero.

Na Jornada de Direito Civil promovida pelo CEJ foi aprovado o Enunciado n.º
40, com a seguinte redação: “o incapaz responde pelos prejuízos que causar de
maneira subsidiária ou excepcionalmente, como devedor principal, na hipótese do
ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais, nos
termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das
medidas sócio-educativas ali previstas.”

Na Jornada de Direito Civil promovida pelo CEJ também foi aprovado o


Enunciado n.º 39, com a seguinte redação: “A impossibilidade de privação do

35
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização


eqüitativa, informando pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da
pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e curadores serão
beneficiários pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a
passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os
recursos do responsável, mas quando reduzidos estes ao montante necessário a
manutenção de sua dignidade.”

Responsabilidade Civil dos Incapazes: O Código Civil optou por um critério


mitigado e subsidiário em seu art. 928 no que diz respeito a responsabilidade do
incapaz. Responderá o incapaz pelos prejuízos que causar se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de faze-lo ou não dispuserem de meios
suficientes. Aduz o parágrafo único desse artigo: “A indenização, que deverá se
eqüitativa, não terá lugar se ela privar do necessário o incapaz ou as pessoas que
dele dependem.”
Como o art. 928 refere-se ao incapaz de forma geral, abrange não só os
amentais, mas também os menores de 18 anos.

2.3 - Estudo Completo do Dano

Noções Gerais
Objetivo  reparar os danos (materiais e morais) causados a terceiros.

Reparatória - danos material - retornar ao status quo


Natureza
Compensatória - danos morais

Não haverá responsabilidade se não houver dano. A ilicitude do ato é que


proporciona sua repercussão na órbita jurídica e sem a prova do dano, ninguém
pode ser responsabilizado civilmente.
Em sentido amplo, dano é a lesão a qualquer bem jurídico e em sentido estrito, é
a lesão ao patrimônio. Daí resulta que o dano pode ser moral e material.
Ressalta-se a necessidade de frisar que a reparação do dano não deverá jamais
ser fonte de lucro ou enriquecimento, mas deverá ser exata e justa no sentido de
atender ao princípio regulador da responsabilidade civil, que é o restituo in
integrun, ou seja, recolocar a vítima na situação que se encontrava anteriormente
à ocorrência do dano.

Requisitos para a existência do dano

 Destruição ou diminuição do patrimônio do lesado e/ou ofensa com


repercussão moral;

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

 Causalidade ("relação de causa e efeito");

 Legitimidade da vítima em ser ressarcida;


 Efetividade e certeza do dano;
Tem que ser provado, efetivo e certo.

 Ausência de causas excludentes da responsabilidade.

2.3.1 Dano Patrimonial


(dano emergente + lucro cessante)
PREJUÍZO MATERIAL RAZOABILIDADE
Previsão legal  art. 402, do CC (razoabilidade)
Art. 186, do CC (definição de ato ilícito)
Dano no Código de Defesa do Consumidor - Lei nº 8.078/90
Art. 42, parágrafo único repetição de indébito por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso.

2.3.2 Dano Moral - Estudo Completo


O conceito de dano moral varia de acordo com o ponto de vista. Segundo Savatier
(citado por Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, 5 a ed.
Malheiros, SP – 2003), “dano moral é qualquer sofrimento que não é causado por
uma perda pecuniária”. Para os que utilizam-se do critério de exclusão, dano
moral seria aquele que não tem caráter patrimonial. Mas o que se mostra mais
completo e abrangente é o conceito posto por Sérgio Cavalieri Filho em Programa
de Responsabilidade Civil, 5 a ed. Malheiros, SP – 2003: “dano moral é a lesão de
um bem integrante da personalidade; violação de um bem personalíssimo, tal
como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade psicológica, causando dor,
vexame, sofrimento, desconforto e humilhação à vítima.
Considerando ser o dano moral irreparável, a condenação pecuniária nestes
casos, age como uma consolação, um lenitivo para a dor. Possui também um
caráter punitivo, devendo ser um desestímulo ao lesante, levando-se em conta
sua situação econômica para o arbitramento do valor da indenização.

1) Previsão Legal  art. 5º, incisos V e X, da CF/88


art. 186, CC
art. 6º, inciso VI e VII, do CDC

2) Possibilidade de Cumulação de Pedidos :Súmula n.º 37 do STJ

Natureza compensatória
Violação do direito à dignidade -
agressão (CF/88)
Conseqüências da violação: dor,
3) Configuração do Dano Moral sofrimentos, humilhação, etc:
Gera dever de indenizar

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Conseqüências da violação:
chateação, aborrecimento, etc:
Não gera dever de indenizar

4) Dano Moral e Inadimplemento Contratual


Só é cabível quando há violação da dignidade.
Ex.: Uma pessoa contrata uma festa em um hotel de 5 estrelas e,
na hora da festa não há salgados e bebidas para servir.

5) Dano Moral e Exercício Regular de um Direito


Se a conduta é permitida pelas normas não há o que se falar em
dano moral, entretanto, se houve excesso na conduta, verifica-se o
Exercício Irregular de um Direito, Abuso de um Direito, sendo neste
caso, passível de indenização por danos morais.
Desta forma, o indivíduo, no exercício de seu direito, deve conter-se
no âmbito da razoabilidade. Se o excede e, embora exercendo-o,
causa um mal desnecessário ou injusto, equipara o seu
comportamento ao ilícito e, ao invés de excludente de
responsabilidade, incide o dever ressarcitório.
Cabe, portanto ao Juiz, com o seu bom senso, distinguir o exercício
regular do direito, do abuso de direito, que muitas vezes são
separados por uma barreira muito tênue, para no caso concreto,
excluir ou não a responsabilidade do autor pelos danos morais
causados.

6) A Prova do Dano Moral


Necessário, apenas, provar a ofensa, o ato ofensivo, pois o
sofrimento de alguém é impossível provar.

7) Transmissibilidade do Dano Moral aos Herdeiros.


Se já existe um processo, dar-se-á a sucessão processual (art. 43,
do CPC);
Se não existe um processo, há divergência na doutrina:
Cavalieri entende que é facultado aos herdeiros a propositura de
ação de reparação por danos morais se o ofendido tiver falecido em
data próxima ao fato, pois, se o fato aconteceu a um prazo
relativamente longo ficaria demonstrado o seu desinteresse em
pedir a reparação judicial. Seria um tipo de preclusão lógica.
Outros doutrinadores entendem que a ação de perdas e danos é
personalíssima e com o falecimento do ofendido, falece o direito à
propositura da ação.

8) Dano Moral e Pessoa Jurídica


É plenamente aceito a existência de dano moral para a pessoa
jurídica, podendo ser proposta a competente ação reparatória.
(Súmula n.º 227 do STJ)

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

9) Dano Moral e Morte do Filho


Alguns doutrinadores entendem ser possível a cumulação de ação
de danos morais e de danos materiais em caso de morte de filho,
no nascimento ou nos primeiros anos de vida. Entretanto, este
entendimento é minoritário, pois, os pais não teriam o condão de
saber o que seria o filho quando chegasse a idade adulta,
inexistindo, desta forma, o dano material, representado pelos lucros
cessantes. Esta hipótese só é admitida no caso em que os pais já
fizeram investimentos no filho e este estava próximo de entrar no
mercado de trabalho, configurando-se, dessa forma, a existência de
lucro cessante.

10) Dano Estético


Possibilidade de cumulação com os danos morais e materiais, pois
assim tem se posicionado a Jurisprudência – há vários
entendimentos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e
do STJ neste sentido.
Divergência doutrinária e jurisprudencial: O dano estético pode ser
deformidade física grave (ex:perda de perna) ou comprometimento
do sujeito com o dano ocorrido {arranhão, etc}.
Para alguns doutrinadores, o dano estético estaria
incorporado na indenização por danos morais (Sérgio Cavalieri e
Caio Mário da Silva Pereira).
Para outros, o dano estético seria uma terceira espécie de dano, ao lado
do dano patrimonial (ou material) e moral. Neste sentido se firmou o STJ e o
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (que entendem pela
possibilidade de cumulação dos danos estéticos com os danos morais e
materiais).
Exemplo: Gisele Bundchen que fica com marcas no rosto devido a
uma batida em seu carro. Neste caso especifico pode ocorrer
indenização pelos 3 danos.

11) Dano à Imagem


 Bem personalíssimo (art. 20, do CC)
 Dano Patrimonial
Dano Emergente

Sem autorização da vítima

Lucro Cessante
 Dano Moral
 Valor da Indenização
 Dano causado por empresa jornalística (LIBERDADE DE
INFORMAÇÃO X INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA)
Equilíbrio na informação publica  não gera dano à imagem

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Sensacionalismo ou deturpação de notícia  pode gerar danos


à imagem.
Exemplo: Foto da Xuxa “sem trajes” publicada em jornal de
grande circulação sem a sua autorização. Pode ocorrer, neste
caso especifico, dano emergente, lucro cessante e danos
morais.
OBS: Nem sempre vai haver indenização por todas as
espécies de dano.
Com Reflexos Morais: Ofensa a sua dignidade, a sua honra
subjetiva.
Com Reflexos Patrimoniais: Danos Materiais: Dano emergente
(dano presente) e Lucro Cessante (dano futuro).

2.4 - Estudo Completo do Nexo Causal

2.4.1 Conceito
É a relação de causalidade entre a conduta e o resultado (dano).
Na responsabilidade civil subjetiva, é a relação de causalidade entre a
conduta culposa e o dano.
Na responsabilidade objetiva, é a relação de causalidade entre entre a
conduta e o dano.
A determinação do nexo causal deve ser avaliada no caso concreto, sendo
o pressuposto da responsabilidade civil mais difícil de ser determinado no
estudo do caso concreto, principalmente nos eventos de causalidade
múltipla.
Para o estudo do liame de causalidade, concorrem três principais teorias,
que aqui serão mencionadas para efeitos didáticos, sem que seja dada
maior reflexão ao tema, tendo em vista que nenhuma teoria oferece
soluções prontas para todos os problemas envolvendo nexo causal.
Como teorias, apenas nos fornece uma base, um roteiro básico a ser
seguido para apontarmos no caso concreto qual foi a conduta apta a
produzir o resultado. Nos fornece um raciocínio lógico a ser desenvolvido
para a melhor solução do caso concreto em exame.
As principais teorias explicativas do nexo causal são, resumidamente:
Teoria da equivalência das condições ou dos antecedentes, onde toda
e qualquer circunstância que haja concorrido para o resultado é
considerada uma causa apta a produzi-lo; Teoria da causalidade
adequada, que considera causadora do dano a condição que por si só foi
apta a produzi-lo, ou seja, a mais adequada a produzi-lo; a Teoria dos
danos diretos e imediatos (ou causalidade direta e imediata), que
pressupõe que todo dano relacionado a uma causa é indenizável, mesmo
que a causa seja remota, desde que haja a ligação necessária (nexo
causal) entre a conduta e o dano produzido, fazendo surgir a obrigação de
indenizar.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Como muito bem esclarece Sérgio Cavalieri Filho, o nexo causal é o


pressuposto onde se registra o maior número de divergências entre os
julgadores de todos os graus.
É importante salientar ainda que também existe divergência na doutrina
quanto a qual das teorias explicativas do nexo causal é adotada pelo
Código Civil Brasileiro. Enquanto a maioria entende ser a Teoria da
Causalidade Adequada (Sérgio Cavalieri Filho, dentre outros), sendo que
Cavalieri, em sua renomada obra, somente discorre sobre a Teoria da
Equivalência dos Antecedentes e Teoria da Causalidade Adequada
Condições; outra parte da doutrina entende que é a Teoria da Causalidade
Direta e Imediata a predominante no Direito Brasileiro, e seria esta a teoria
adotada pelo Código Civil Brasileiro (conforme os entendimentos de Pablo
Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho e Carlos Roberto Gonçalves).
Vale mencionar que o único dispositivo do Código Civil aplicável ao estudo
do nexo causal é o art. 403 do Código Civil.
Divergências à parte, uma coisa é certa: A teoria que mais vem sendo
aplicada pela jurisprudência é a Teoria da Causalidade Adequada.

2.4.2 Estudo Individualizado das Teorias

Teoria da Equivalência das Condições (ou Antecedentes)


Elaborada pelo jurista alemão Von Buri.
Esta teoria não diferencia os antecedentes do resultado danoso, de forma
que tudo aquilo que concorre para o evento, ou seja, para o resultado
danoso, será considerado causa.
Desta forma, com base nesta teoria, se várias condições concorrem para
o mesmo resultado, todas tem o mesmo valor, a mesma relevância, pois
todas se equivalem, ou seja, todas as causas, sem distinção, são
consideradas como aptas a produzir o resultado danoso (o dano).
Sem aplicação no Direito Civil, pode nos levar a uma aplicação infinita das
causas ditas como aptas para produzir o dano.
Por esta razão, é afastada no Direito Civil, por ter levado muito longe as
implicações da responsabilidade ao atribuir a um dano um número infinito
de causas. Ela, se aplicada, tenderia a tornar cada homem responsável
por todos os males que atingem a humanidade.
Exemplo: Ação de Reparação de Danos ajuizada pelos herdeiros de
vítima de homicídio – Poderíamos a chegar ao absurdo de que teriam a
obrigação de reparar os danos o autor de disparo, o fabricante da arma, o
fabricante da bala, o fabricante da matéria prima da arma e da bala, o
fornecedor da matéria prima, etc... sem os quais não teria ocorrido a
morte da vítima.

Teoria da Causalidade Adequada (adotada por grande parte dos


civilistas, como Sérgio Cavalieri Filho e pela maioria da Jurisprudência)
Elaborada pelo filósofo alemão Von Kries.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Para esta teoria, a causa é apenas o antecedente abstratamente


adequado e idôneo à produção do dano. Responde o autor (ou autores)
da conduta (ou condutas) mais apta, mais adequada a produzir o
resultado, o dano causado a vítima.
Esta teoria leva em consideração somente a causa mais adequada (ou
causas) a produzir o resultado.
Assim, para esta teoria, o problema da relação de causalidade é uma
questão científica de probabilidade. Dentre os antecedentes do dano, há
que se destacar aquele que está em condições de necessariamente tê-lo
produzido.
Com base nela, em toda ação de reparação de danos, o Juiz tem que
eliminar fatos menos relevantes, que possam figurar entre os
antecedentes do dano, sendo aqueles que seriam indiferentes a sua
efetivação. O critério de eliminação seria em estabelecer que, mesmo na
sua ausência, o dano ocorreria. Após esta eliminação, resta alguma causa
(ou causas) que, “no curso normal das coisas”, é capaz de provocar o
dano.
Responderá o sujeito (ou sujeitos) que, através da sua conduta (ou
condutas), foi efetivamente capaz de produzir o resultado, ou seja, a
causa mais eficiente para produzi-lo.
Exemplo1: Vítima de Atropelamento grave que vem a falecer no hospital,
e que teve sua situação agravada em virtude de omissão de socorro de
outro individuo. Como definiríamos a responsabilidade civil no caso
concreto?
Exemplo2: Questão envolvendo a queda de muro de uma casa,
citado por de Sérgio Cavalieri Filho.
Havendo várias causas que tenham contribuído para a queda do muro,
aquelas que não forem preponderantes, eficazes a, por si só, produzirem
o resultado, deverão ser desconsideradas, devendo responder somente o
Autor da causa (ou causas) que efetivamente causaram o dano (queda do
muro).

Autor A Autor B
Causa 1 Causa 2
Vítima

Autor C Autor D*
Causa 3 Causa 4

Observação:
Vale ressaltar que, havendo mais de uma causa no evento capaz de
produzir o resultado (dano), todos os seus autores responderão
solidariamente, conforme art. 942 c/c 403 do CC.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Teoria da Causalidade Direta e Imediata Para esta teoria, seria apenas


o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao
resultado danoso, determinaria como conseqüência sua, direta e imediata.
O Autor da conduta somente responde pelo danos diretos e imediatos que
a sua conduta causou. Para os doutrinadores que discorrem sobre esta
Teoria (Carlos Roberto Gonçalves e Pablo Stolze Gagliano e Sérgio
Pamplona Filho), esta seria a teoria adotada pelo Código Civil, levando-se
em consideração o disposto no art. 403 do Novo Código Civil.
Teoria adotada por Pablo Stolze Gagliano e Carlos Roberto Gonçalves.
Estes dizem que esta é a majoritária, ou seja, é a efetivamente adotada
pelo C.C., de acordo com o art. 403 do C.C., posicionamento este que não
concordo.
Exemplo: Atropelamento + Ambulância = Resultado Morte. O 1º sujeito
(o que atropelou e causou lesões leves) responde somente por lesão
corporal leve e o 2º sujeito (motorista da ambulância – que provocou a
morte da vítima, uma vez que dirigia embriagado, ocasionando um
acidente com a ambulância e, conseqüentemente, com a vítima) responde
por homicídio, pois cada um responde até o limite do seu resultado.

Autor A Autor B
lesão leve morte
Vítima

2.4.3 Causas Concorrentes


São as causas concomitantes ao comportamento do autor, realizadas pela
vítima, que contribui, efetivamente, para o resultado, razão pela qual a
indenização será reduzida proporcionalmente à participação da vítima.
Trata-se de um comportamento concorrente da vitima, também chamado
de causa concorrente ou culpa concorrente, e que também contribui para
o dano por ela (vítima) experimentado.
O juiz fixará o valor da indenização confrontando a causa concorrente
(culpa concorrente) da vítima e, a conduta do autor do dano.
Tecnicamente, o mais correto é tratarmos a mesma como causa
concorrente, tendo em vista a possibilidade de responsabilidade civil
objetiva, independentemente de culpa, apesar do Código Civil (art. 945),
mencionar o elemento culpa.
Desta forma, quando estivermos diante de uma causa concorrente, O juiz
fixará o valor da indenização confrontando a causa concorrente da vítima
e, a conduta do autor do dano, e que também foi apta a produzir o dano
(art. 945 do CC).
Exemplos:
Uma pessoa dirige um veículo, a noite, em alta velocidade e com os
apagados e abalroa uma moto que transitava em sua frente,
levando na garupa uma pessoa sem capacete e em razão do
acidente, a pessoa veio a falecer pelo traumatismo craniano que
sofreu.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Houve ou não concorrência da vítima (não utilização do capacete)


para que o fato ocorresse?
Possibilidade de Divergência: Para quem entende que a causa que
foi apta a produzir o resultado morte da vítima foi somente a
conduta do motorista que dirigia em alta velocidade e com os faróis
apagados, não aplicará a causa da vítima (falta de capacete) para
reduzir proporcionalmente o valor da indenização com base na sua
contribuição no resultado (responsabilidade plena do motorista),
sendo este o posicionamento do Sérgio Cavalieri Filho, que foi voto
vencido no recurso interposto. Porém, para quem entende que a
falta de capacete da vítima também foi causa de sua morte, já que
se ela estivesse com capacete poderia até sobreviver ao acidente,
aplicará a causa concorrente no caso concreto, hipótese em que o
valor da indenização será fixado levando-se em consideração a sua
causa (falta de capacete) em confronto com a causa do autor do
dano (motorista do veículo)

2.4.4 Concausas
São causas que juntamente com a causa principal, concorrem para o
resultado. Podem somente reforçar o resultado, interromper o nexo causal
ou excluí-lo.
São causas antecedentes ou pré-existentes, concomitantes ou
supervenientes que podem servir para agravar a causa principal, ou que
podem contribuir eficazmente para o resultado, para o dano suportado
pela vítima.
Podem ocorrer antes, concomitante ou posteriormente a causa principal.
Se for adequada a produzir o resultado, o autor da conduta responde,
juntamente com o autor da “causa principal”, solidariamente.
Se não for adequada, por si só, a produzir o dano, o autor da conduta não
responde, respondendo somente o autor da conduta que foi mais
adequada a produzir o dano.

Ex.: Uma pessoa hemofílica sofreu um acidente (atropelamento) e veio


a falecer por causa dos ferimentos e da não coagulação do sangue.
A causa principal foi o acidente (antecedentes ou pré-existentes)
Ex.: Uma mulher esta dando a luz a um bebê quando deu-se o
rompimento de um aneurisma cerebral vindo a falecer. A causa
principal foi o rompimento do aneurisma, não tendo o que se falar
em erro médico por causa do parto (concomitantes)
Ex.: Uma pessoa sofre um acidente e por demora no atendimento veio a
falecer. A causa principal foi o acidente (superveniente).

 Concausa Antecedente:
Ocorre antes da causa principal.
Ex: Pessoa hemofílica (causa antecedente) que vem a ser atropelada e
morre posteriormente. A concausa antecedente (doença) não rompe o

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

nexo causal, logo o sujeito responderá pelo resultado morte,


independentemente da doença pré-existente que vítima possui.

 Concausa Concomitante:
É a causa que acontece junto à causa principal.
Ex: Mãe que morre na hora do parto (concausa) devido a um aneurisma
que ela possui e que se rompe no momento em que vai dar a luz.
Ninguém responde pelo fato.

 Concausa Superveniente:
Ocorre depois, posteriormente à causa principal.
Ex: sujeito que é vítima de um atropelamento grave, e pela demora no
socorro, tem uma hemorragia e vem a falecer. Quem responde é o sujeito
que atropelou, pois o fato da demora do socorro não rompe o nexo causal,
pois neste caso simplesmente o reforçou, já que não foi causa adequada a
produzir o resultado morte.

2.4.5 Co-Participação - Solidariedade


Ambos os autores da ação contribuem efetivamente para o resultado.
Sendo responsáveis solidariamente, a vítima poderá acionar qualquer um
dos co-autores ou a sua totalidade. Ao co-autor acionado cabe o direito de
regresso contra os demais co-autores.
Trata-se de hipótese de Solidariedade resultante da lei (art. 942 do C.C).

2.4.6 Causa de Omissão


Dever de agir  responde pela omissão.

2.4.7 Causas Excludentes do Nexo Causal (segundo a doutrina


tradicional), que serão objeto de estudo nas próximas unidades,
dentre outros
 Caso fortuito ou força maior;
 Fato exclusivo da vítima (ou culpa exclusiva da vítima, para alguns); e
 Fato de terceiros.

UNIDADE III – EXCLUDENTES (OU NÃO) DA RESPONSABILIDADE

3.1 Introdução
- Causas Excludentes do Nexo Causal:
 Caso fortuito e força maior;
 Fato exclusivo da vítima (ou culpa exclusiva da vítima, para alguns); e
 Fato de terceiro.

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- A relação de causalidade (nexo causal) é condição e pressuposto da obrigação de


indenizar tanto na hipótese de responsabilidade subjetiva como objetiva

3.1 Caso fortuito e força maior

5.1.1 Art. 393 e parágrafo único


Art. 393 - O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir.

3.1.2 Discussão doutrinária se há distinção entre caso fortuito e força maior


O Código Civil não faz distinção, no seu art. 393, entre caso fortuito e força maior, pois
considera ambos como sendo fatos necessários cujos efeitos não era possível evitar
ou impedir. Porém tanto a doutrina como a jurisprudência faz distinção entre força
maior e caso fortuito, cuja diferença terá muita relevância para as hipóteses de
responsabilidade civil subjetiva e objetiva.

3.1.3 Definição: fato necessário, cujos efeitos não era possível ser evitado pelo
autor da conduta.

3.1.4 Fortuito interno x fortuito externo


Entende-se por fortuito interno o fato, o acontecimento que se liga à
organização da empresa, que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida
pelo agente. O estouro de um pneu do ônibus, o incêndio do veículo, o mal súbito do
motorista, são exemplos do fortuito interno, por isso que, não obstante
acontecimentos imprevisíveis, estão ligados à organização do negócio explorado pelo
agente transportador, que responde pelos danos causados.
O fortuito externo é o fato, o acontecimento estranho à organização do
negócio. É fato que não guarda nenhuma ligação com o risco assumido pelo agente,
com a empresa, como fenômenos da natureza. Duas, portanto, são as características
do fortuito externo: autonomia em relação aos riscos da empresa e inevitabilidade,
razão pela qual alguns autores o denominam força maior, e neste exclui a
responsabilidade.

3.1.5 Imprevisibilidade x inevitabilidade

3.1.6 Fato humano x fato da natureza

3.1.7 Exemplos práticos


Caso fortuito = guerra, revolução, greve, etc.
Força maior = terremoto, enchente, etc.

CASO FORTUITO FORÇA MAIOR


FORTUITO INTERNO FORTUITO EXTERNO
IMPREVISIBILIDADE INEVITABILIDADE
FATO HUMANO FATO DA NATUREZA
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3.2 Fato exclusivo da vítima (para alguns: culpa exclusiva da vítima)

3.2.1 Definição: o agente, aparente causador do dano, é mero instrumento do


evento.

3.2.2 CDC - Lei nº 8.078/90, art. 12, § 3º, III e art. 14.

3.2.3 Distinção para culpa concorrente (ou causa concorrente) – art. 945:

“Art. 945 – Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa com a do autor
do dano.”

3.2.4 Exemplos:
Vinha prudentemente dirigindo um veículo, quando uma pessoa se projeta na frente
do carro - culpa exclusiva da vítima
Dirigia um veículo a 150 km p/h e alguém se projeta na frente do carro - culpa
concorrente.

4.3 Fato de terceiro

4.3.1 Definição: é causa excludente da responsabilidade, em regra, porque a


conduta de terceiro exclui e interrompe o nexo causal entre a conduta do autor
aparente e o dano.

4.3.2 Exemplo:
Carro 1, em alta velocidade, bate no carro 2, que transitava na sua frente. Face a este
acontecimento, o carro 2 colide com o carro 3 que estava na sua frente. Neste caso,
quem responde é o condutor do carro 1, pois foi ele quem deu causa ao acidente
entre os carros 2 e 3.

4.3.3 Não é excludente da responsabilidade do transportador, conforme art. 735


do CC, e nos casos em que for equiparado ao fortuito interno na responsabilidade
objetiva, ou seja, acontecimento que guarda relação com o risco assumido pelo
agente, que não afasta a sua obrigação de indenizar.

4.4 Estado de necessidade (excludente de ilicitude penal, mas não isenta o


agente da obrigação de reparar o dano civil)

4.4.1 Art. 188, II e parágrafo único/arts. 929 e 930, do CC.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

4.4.2 Consiste na deterioração ou destruição de coisa alheia, para a remoção


de perigo emitente.
Ex.: Um condutor de um veículo, dirigindo de forma prudente, para evitar atropelar
uma pessoa que atravessa a rua na frente de seu carro, desvia e bate num veículo
estacionado e causa severos danos no automóvel. O condutor do veículo responderá
pelo dano (art. 929, do CC), embora tenha direito de regresso contra o causador do
acidente, ou seja, daquele que deu causa ao estado de necessidade (art. 930, do
CC).

4.5 Legítima defesa e Exercício regular de um direito

4.5.1 Art. 188, I e parágrafo único/arts. 929 e 930 e parágrafo único, do CC.

4.5.2 Na legítima defesa, o agente reage, justificadamente, repelindo uma


agressão injusta. (Reação proporcional da vítima).

4.5.3 Exercício regular de um direito é quando o agente age em consonância


com os limites impostos pelo ordenamento jurídico, pelo seu fim econômico ou social,
pela boa fé ou pelos bons costumes. É o contrário do abuso direito.

4.6 Cláusula de não indenizar (cláusula de irresponsabilidade).

4.6.1 Definição: cláusula contratual que isenta de indenização o dano causado.


Existe a responsabilidade, só não existe a obrigação de reparação, em caso de
inadimplência. Aplica-se, em regra, na Responsabilidade Civil Contratual.

4.6.2 Denominação: Cláusula de Irresponsabilidade e Cláusula Excludente de


Responsabilidade são equivocadas, uma vez que o que se exclui é apenas a
obrigação de indenizar, permanecendo a responsabilidade pela conduta.

4.6.3 Fundamento: liberdade de contratar, autonomia de vontade.

4.6.4 Limites:
- Ordem pública  não pode haver violação da ordem pública;
- Dolo e Culpa grave  gera a instabilidade na relação jurídica, sendo nula de pleno
direito.
- Elemento essencial do contrato  se atinge elemento essencial do contrato, é
nula de pleno direito.
- CDC - art. 51  nula de pleno direito as cláusula contratadas relativas ao
fornecimento de produtos e serviços, constantes nos incisos I a XVI.

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UNIDADE IV – RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL

INTRODUÇÃO: CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:

 Responsabilidade Civil Direta


É aquela decorrente de um fato próprio, ou seja, decorrente de um fato pessoal
(de uma conduta pessoal do próprio causador do dano).
Responsabilidade Por Fato Próprio (por conduta própria)
Ex.: Colisão de veículo em que o condutor causa dano a outrem (art.
186, do CC);

 Responsabilidade Civil Indireta


É aquela responsabilidade vinculada ao responsável indiretamente, em virtude
de sua ligação com o sujeito (terceiro que causou o dano), como também, em
virtude de sua ligação com coisas ou animais que estejam sob a sua guarda e
que venham a causar prejuízo.
 Responsabilidade por Fato de Outrem (art. 932, I a V, do CC)  São também
responsáveis pela reparação civil:
VI os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
VII o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
VIII o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IX os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
alberguem por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
X os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
Obs.:Vide artigo 933 (responsabilidade objetiva das pessoas indicadas nos
incisos I a V do art. 932, pelos atos praticados pelos terceiros citados no
mesmo dispositivo legal)
Vide artigo 934 (possibilidade de ação regressiva para aquele que
ressarcir o dano causado por outrem, salvo se o causador do dano foi
descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz)
 Responsabilidade por Fato da Coisa
Arts. 937 e 938, do CC.
 Responsabilidade por Fato de Animais
Art. 936, do CC.

4.1 RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO

3.1.1 Responsabilidade em caso de calúnia, difamação e injúria (art. 953, caput


e parágrafo único do CC).

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

A indenização consistirá na reparação integral do dano que foi causado ao


ofendido. Se o ofendido não provar o prejuízo material, o valor da
indenização será fixado eqüitativamente pelo Juiz, com base nas
circunstâncias do caso concreto. Apesar da redação do dispositivo legal, a
indenização deve ser integral.

3.1.2 Responsabilidade por abuso de direito


 O Art. 187 do CC considera ilícito o ato praticado por abuso de direito,
ou seja, aquele em que o titular de um direito excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou
pelos bons costumes;
 Trata-se de responsabilidade objetiva, ou seja, independe da prova do
elemento culpa daquele que excedeu os limites impostos, que deverão
ser considerados no aspecto objetivo;
 Abuso de direito X Exercício regular de direito
Excede os limites impostos pela lei... Age dentro dos limites impostos pela lei
 Reparação: O prejudicado pelo ato praticado com abuso de direito
poderá:
- fazer cessar as interferências do ato abusivo, se contínuo, e sendo
possível;
- ser indenizado dos danos causados (morais e materiais).
 Exemplo:
Art. 1277, do CC - Uso anormal da propriedade;
 Reparação: O prejudicado pelo ato praticado com abuso de direito
poderá:
- fazer cessar as interferências do ato abusivo, se contínuo;
- ser indenizado dos danos causados (morais e materiais).

3.1.3 Responsabilidade em caso de usurpação ou esbulho (art. 952, caput e


parágrafo único do CC).
 Reparação  Restituição da coisa esbulhada, se ainda existente;
Pagamento referente ao valor das suas deteriorações
(dano emergente);
Pagamento referente aos lucros cessantes;
Se não mais existir a coisa esbulhada, a indenização
será correspondente ao seu valor, que será estimado
com base no seu preço ordinário (de mercado) e de
afeição.

3.1.4 Responsabilidade solidária de todos os autores (co-autores) diretos do


dano (art. 942, caput, do CC)

3.2 RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

3.2.1 Noções Gerais


 Abrangência - As coisas em geral (objetos, máquinas e aparelhos) de
modo geral estão ligadas a uma pessoa que é seu proprietário e/ou
possuidor. Esses objetos podem servir de instrumento causador de
danos a terceiros. Há um dever de guarda da coisa e sua
inobservância acarreta a responsabilidade para seu titular.
 Situações expressamente previstas no Código Civil (arts. 937 e 938)
- Responsabilidade pela Ruína do Edifício ou Construção
- Responsabilidade por Coisas Caídas ou Lançadas do Prédio
 Noção de guardião da coisa
 Responsabilidade atribuída àquele que tem, de fato, o poder de
comando sobre a coisa (guarda ou guardião da coisa).
 Proprietário da coisa  Guardião presumido - presunção relativa - é
possível prova em sentido contrário - caberá ao juiz examinar se a
responsabilidade será atribuída ao proprietário ou à pessoa para
qual foi transferida a guarda da coisa.
 Responsabilidade pelo fato da coisa X Responsabilidade pelo fato
do animal X Responsabilidade pelo fato próprio X Responsabilidade
por fato de outrem.

3.2.2 Responsabilidade Civil Automobilística


3.2.2.1 Tanto a doutrina como a jurisprudência aplicam, em certos casos, a
responsabilidade civil pelo fato da coisa em acidentes envolvendo
veículos automotores.
3.2.2.2 Responsabilidade em caso de furto ou roubo de veículo
Somente na hipótese de o proprietário não ter tido a cautela
necessária em relação à guarda de seu veículo, que ele responderá
concorrentemente com o autor do roubo ou furto, pelos danos
causados (co-autoria), podendo neste caso, ser acionado qualquer
um dos co-autores, restando ao outro, o direito de regresso contra o
não acionado;
3.2.2.3 Responsabilidade em caso de veículo emprestado
O entendimento que predomina no STJ é que respondem
solidariamente o proprietário e a pessoa a quem foi emprestado o
veiculo, e que o conduzia no momento do acidente;
3.2.2.4 Responsabilidade em caso de veículo alienado não transferido
junto ao DETRAN: O entendimento majoritário aplica a Súmula n.º
132 do STJ, que estabelece que: “A ausência de registro de
transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário
por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado”.
3.2.2.5 Responsabilidade das empresas locadoras de veículos
O entendimento majoritário, firmado nos tribunais superiores, é pela
aplicação da Súmula n.º 492 do STF, que estabelece que: “A
empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente, com
o locatário, pelos danos por este causado a terceiros, no uso do
carro locado”.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

3.2.2.6 Responsabilidade das empresas de Leasing pela coisa arrendada


Pelo contrato de leasing, também chamado de arrendamento
mercantil, ocorre a transferência da posse direta do bem arrendado,
conferindo ao arrendatário a opção de compra do bem pelo seu
preço residual, quando findo o contrato.
O entendimento majoritário é que a arrendadora não é responsável
pelos danos causados pelo arrendatário a terceiros, não devendo
ser aplicada a Súmula n.º 492 do STF, pois não se confundem o
contrato de locação com o contrato de leasing.

3.2.3 Responsabilidade pela Ruína do Edifício ou Construção (art. 937)


3.2.3.1 A ruína de edifício ou construção causada por falta de reparos pode
gerar responsabilidade para o proprietário, para a incorporadora ou
construtora.
A ruína pode ainda causar dano para o proprietário do edifício,
para o seu ocupante (locatário, comodatário, possuidores em geral,
detentores) e para terceiros (vizinhos e transeuntes). No caso de
dano causado ao proprietário, por motivos claros, a indenização
não poderá ser pleiteada com base no dispositivo em exame. A
ação terá que ser proposta contra o construtor do prédio com
fundamento no artigo 618 do Código Civil, tenha sido construída por
empreitada ou não. Estando configurada uma relação de consumo,
tendo em vista que o construtor é um prestador de serviços, a
indenização poderá ser pleiteada com base nos arts. 12 e 14 dp
CDC.
3.2.3.2 A Responsabilidade pela ruína do edifício ou construção, em
relação ao construtor pelos danos causados ao dono da obra ou
proprietário do imóvel (art. 618, do CC e arts. 12 e 14, do CDC);
Responsabilidade objetiva do construtor, levando-se em
consideração o que estabelece o Código de Defesa do Consumidor
nos seus respectivos dispositivos legais;
Haverá esta responsabilidade sempre que for verificado qualquer
defeito de construção, manifesto ou oculto;
3.2.3.3 A Responsabilidade pela ruína de edifício ou construção causada
por engenheiro civil como profissional liberal (art. 14, parágrafo 4º
do CDC);
Neste caso não existe nenhum empresário incorporador ou
construtor que possa ser responsabilizado objetivamente pelos
danos;
A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa. Portanto, se a vítima provar em
Juízo a culpa do engenheiro, ele será responsável por indenizar-lhe
os prejuízos, nos termos da legislação tutelar dos consumidores
(art. 14, parágrafo 4º e 17 do CDC).
3.2.3.4 Responsabilidade pela ruína do prédio ou construção em relação
ao proprietário, dono do edifício ou construção (art. 937, do CC)

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

 O art. 937 aplica-se nos casos de ruína do prédio ou construção;


 Divergência doutrinária: Responsabilidade objetiva ou
responsabilidade subjetiva com culpa presumida?
 Para os que entendem que a Responsabilidade é Subjetiva com
culpa presumida, alegam que na responsabilização do dono do
prédio pela ruína decorrente de defeito manifesto de
manutenção, presume-se a culpa. Cabe ao prejudicado provar a
existência dos pressupostos para que haja a obrigação de
indenizar do proprietário. Por sua vez, o proprietário somente se
livra desta responsabilidade provando que o defeito era de
construção e não de manutenção, ou que este era oculto,
transferindo desta forma a responsabilidade para o construtor, já
que ele, como proprietário, realizou no prédio todos os reparos
cuja necessidade era manifesta. Desta forma, para os que assim
se posicionaram, o dono do edifício ou construção pode elidir a
presunção de sua provando que a ruína não decorreu de falta
de reparos, ou que a falta de reparos não era manifesta.
 Para os que entendem que a Responsabilidade é Objetiva,
alegam que esse entendimento é mais compatível com a teoria
da guarda, pois o proprietário é o guardião da coisa, no caso o
prédio, e daí decorre o seu dever de manutenção e segurança
do prédio. Esta seria a interpretação mais correta inspirada no
Mestre Aguiar Dias. Para ele, essa responsabilidade não está
rigorosamente na culpa do proprietário. É resultante da relação
de causa e efeito entre a ruína do edifício e a falta de
conservação. Seria a responsabilidade fundada na presunção
de causalidade (não presunção de culpa).
 Ainda na vigência do Código Anterior, já que o art. 937 é
reprodução fiel do antigo art. 1.528 do CC/1916, prevaleceu o
entendimento de que existe uma presunção de responsabilidade
do dono do edifício, e não mera presunção de culpa. Seria caso
de responsabilidade objetiva, com base na teoria da guarda, e
não subjetiva, com culpa presumida, como ainda entende parte
da doutrina (entendimento minoritário).
 Ruína parcial ou total
Ruína parcial = queda de uma janela, queda de marquise,
queda de varanda.
Ruína total = ruína de todo o edifício
3.2.3.5 Responsabilidade pela ruína do prédio ou construção, em relação
aos vizinhos - Direito de Vizinhança (arts. 1.277, 1.280, 1.281 e
1.299, do CC).
Essa responsabilidade independe de culpa do proprietário ou do
construtor, uma vez que não se origina da ilicitude do ato de
construir, mas sim da lesividade do fato da construção. a
Jurisprudência tem se firmado, na hipótese de danos causados aos
vizinhos, na responsabilidade objetiva e solidária do construtor e do

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

proprietário, dispensando a prova da culpa pelo evento danoso ao


vizinho. Basta ao lesado demonstrar em Juízo a lesão (dano), e o
nexo de causalidade entre a construção vizinha e o dano, para
surgiu a responsabilidade solidária de quem ordenou e de quem
executou a obra lesiva ao vizinho.

3.2.4 Responsabilidade por Coisas Caídas ou Lançadas do Prédio (art. 938)


3.2.4.1 A responsabilidade civil é atribuída ao habitante do prédio.
Desta forma, podem responder pelos danos causados a terceiros o
proprietário, locatário, comodatário, usufrutuário, detentor, etc,
sempre que for possível identificar a unidade de prédio de onde a
coisa caiu ou foi lançada.
3.2.4.2 Responsabilidade pelas coisas caídas do prédio em relação ao
condomínio.
Quando não for possível identificar no prédio de onde as coisas
caíram ou foram lançadas, o condomínio é parte ilegítima para
figurar no pólo passivo da ação.
3.2.4.3 Responsabilidade objetiva ou culpa presumida?
Responsabilidade objetiva.

3.3 RESPONSABILIDADE PELO FATO DO ANIMAL

Responsabilidade pelo fato de animais (art. 936)


3.3.1 Dono ou detentor do animal
Quem tem a guarda é que responde pelos danos causados pelo animal.
3.3.2 Dono do animal (guardião presumido)
O dono do animal é sempre o guardião presumido, cabendo a ele provar
que o animal estava sob a guarda de outra pessoa na ocasião do dano,
tendo a mesma sido transferida.
3.3.3 Exclusão de responsabilidade do dono do animal
Culpa exclusiva da vítima ou força maior.
3.3.4 Responsabilidade objetiva ou culpa presumida?
Responsabilidade objetiva.

3.4 RESPONSABILIDADE PELO FATO DE OUTREM


3.4.1 Responsabilidade objetiva (art. 932, I a V c/c art.933)
A vítima necessita provar a conduta culposa, o nexo causal e o dano
causado pelos autores diretos citados no art. 932, para que haja a
responsabilidade civil indireta e objetiva dos terceiros citados no referido
dispositivo legal, cuja culpa, neste caso, é irrelevante para que sejam
civilmente responsáveis pelo fato de outrem.
3.4.2 Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos (Art. 932, I, do CC):
Que estiverem sob a autoridade dos pais em sua companhia, diante do poder
de direção que deve ter sobre eles.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

3.4.3 Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos (Art. 932, I, do CC):
3.4.4 Responsabilidade dos tutores, curadores, pelos atos dos pupilos,
curatelados (Art. 932, II, do CC):
Que estiverem sob a autoridade dos mesmos, em sua companhia, diante do
poder de direção que deve ter sobre eles.
3.4.5 Responsabilidade dos empregadores ou comitentes, pelos atos dos
empregados, serviçais e prepostos (Art. 932, III, do CC):
Que estiverem no exercício do trabalho, ou em razão dele;
Responsabilidade Objetiva do Terceiro e Subjetiva do causador direto do
dano;
Fundamento: Teoria da Substituição: o causador direto do dano é a longa
manus do empregador;
Campo de incidência do dispositivo legal.
3.4.6 Responsabilidade dos donos de hotéis, hospedarias, casas ou
estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos (Art. 932, IV, do
CC):
Campo de incidência deste dispositivo legal ficou muito restrito com o
advento do Código de Defesa do Consumidor (art. 14, caput, do CDC)
3.4.7 Responsabilidade dos que houverem participado, gratuitamente, nos
produtos do crime (Art. 932, V, do CC):
O dispositivo legal em análise terá aplicação no caso do sujeito que tiver
participado nos produtos do crime, e não proveito do mesmo, o que significa
dizer que poderá ser compelido a restituir a própria res furtiva.
3.4.8 Ação de Regresso, exceto no caso do descendente (art. 934, do CC)
3.4.9 Responsabilidade solidária das pessoas designadas no art. 932 do CC
(art. 942, parágrafo único do CC)
3.4.10 Responsabilidade do incapaz (art. 928, do CC)
Responde com seu patrimônio, se o seu responsável não tiver obrigação
de fazê-lo ou não tiverem meios para o mesmo fim, levando-se em
consideração o disposto no art. 928 do CC, sem artigo correspondente no
Código Civil revogado (1916).
Há divergência se a responsabilidade do incapaz é subsidiária ou solidária
com o seu representante legal, tendo em vista a contradição existente
entre o art. 942, parágrafo único do CC, que fala em solidariedade, e o art.
928 do CC (sem artigo correspondente no CC/1916), que pela sua leitura,
deixa muito claro que esta responsabilidade é subsidiária, sendo este o
meu posicionamento, levando-se ainda em consideração os enunciados
abaixo citados.
3.4.11 Enunciados referente à responsabilidade civil do incapaz aprovados na
Jornada de Direito Civil promovida pelo CEJ (Centro de Estudos
Judiciários do Conselho da Justiça Federal), sob coordenação científica
do Ministro Ruy Rosado, do STJ:
Enunciado n.º 39: “Art. 928: a impossibilidade de privação do necessário
à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização eqüitativa,
informando pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e


curadores serão beneficiários pelo limite humanitário do dever de
indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não
quando esgotados todos os recursos do responsável, mas quando
reduzidos estes ao montante necessário a manutenção de sua dignidade.”
Enunciado n.º 40: “Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que
causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente, como devedor
principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que
praticarem atos infracionais, nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança
e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas”.
Enunciado n.º 41: “Art. 928: a única hipótese em que poderá haver
responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido
emancipado nos termos do art. 5º , parágrafo único, inc. I, do novo Código
Civil.

UNIDADE V – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL

5.1 RESPONSABILIDADE NOS CONTRATOS EM GERAL –(arts. 389 e segs do


CC)

INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES – PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES (arts.


389 a 393, do CC)

I. Conceitos
O não cumprimento de uma obrigação acarreta a responsabilidade por perdas e
danos. Neste sentido, estabelece o art. 389, do CC, que: “Não cumprida a
obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado”.
A responsabilidade contratual estabelece-se em terreno definido e limitado e
consiste, segundo Savatier, “na inexecução previsível e evitável, por uma parte ou
seus sucessores, de obrigação nascida de contrato, prejudicial à outra parte ou
seus sucessores”.
É infração a um dever especial estabelecido pela vontade do contratante, por isso
decorrente de relação obrigacional preexistente.
Nas hipóteses de não cumprimento da obrigação e de cumprimento imperfeito,
com inobservância da forma, do tempo e do lugar convencionados, a
conseqüência é a mesma: o nascimento da obrigação de indenizar os danos
causados ao credor.

II. Ilícito Extracontratual e Ilícito Contratual


a) Ilícito extracontratual = Responsabilidade extracontratual

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Prevista nos art. 186 e 927, do CC.


Quando o ato ilícito consiste na violação de um dever jurídico preexistente
estabelecido no ordenamento jurídico, na lei.
O ato causa danos a uma pessoa a quem não se está ligado por nenhuma
relação jurídica obrigacional. Não existe vínculo negocial entre o lesante e o
lesado.
Ex.: acidente de carro.
b) Ilícito contratual = Responsabilidade contratual
Prevista no art. 389, do CC.
Pressupõe o inadimplemento de uma obrigação decorrente do contrato
celebrado pelas partes. Ocorre o inadimplemento de uma das partes,
denominando-se responsabilidade contratual.

III. Obrigatoriedade dos Contratos e as Conseqüências do Inadimplemento


a) Obrigatoriedade dos contratos
A obrigação cria um vínculo jurídico entre o credor e o devedor, devendo este
último cumprir a prestação devida para a satisfação do credor, com base na
obrigatoriedade das cláusulas ajustadas.
b) Conseqüências do inadimplemento
O devedor responde por (art. 389, do CC):
1) Perdas e danos Pleiteadas
2) Juros (remuneração pela utilização do dinheiro do credor)
3) Atualização monetária (atualização do dinheiro) conjuntamente.
4) Honorários do advogado

IV. Inadimplemento nas Obrigações Negativas – Momento de sua Ocorrência


(art. 390, do CC)
O devedor é tido como inadimplente desde o dia em que executou o ato de que
devia se abster. Exemplos:
1. Obrigação dos profissionais de guardar segredo do cliente (advogado);
2. Obrigação de não construir além de determinados andares;

V. Patrimônio como Garantia dos Credores (art. 391, do CC)


O patrimônio do devedor responde pelo inadimplemento da obrigação. Serve como
garantia dos credores do seu titular.
Os credores podem garantir a satisfação do seu crédito agredindo o patrimônio de
seu devedor.
Todos os bens do devedor que integram o seu patrimônio respondem pelos
débitos do seu titular (exceto os bens que não estão sujeitos a penhora, conforme
art. 648, do CPC, que excetua da execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis).
Ex.: bem de família; o anel nupcial e os retratos de família; seguro de vida; etc.

VI. Responsabilidade – Culpa e Dolo

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

1. Culpa Lato Sensu  abrange toda espécie de comportamento contrário ao


direito, seja intencional, como caso de dolo, ou não intencional, como no caso
de culpa (em sentido estrito – Stricto Sensu).
2. Dolo  pressupõe a intenção do agente. Ele deseja voluntariamente o
inadimplemento da obrigação. Age com má-fé, com vontade consciente de
prejudicar. É a vontade conscientemente dirigida à produção de um resultado
lícito.
3. Culpa em sentido estrito (Stricto Sensu)  a conduta do agente não é
intencional, mas apesar disso, em virtude de sua negligência, imprudência ou
imperícia, viola o contrato, lesando a outra parte. Tem por essência o
descumprimento de um dever de cuidado, que o agente podia conhecer e
observar.

VII. Contratos Benéficos e Contratos Onerosos – Responsabilidade Contratual


a) Contratos benéficos ou gratuitos são aqueles em que apenas um dos
contratantes aufere benefício ou vantagem.
A obrigação de uma das partes não corresponde uma contraprestação da
outra.
É um ato de liberalidade, o sujeito age em favor do outro sem interesse, não
visa obter proveito ou benefício do ato realizado.
Ex.: doação, comodato.

Parte Beneficiada – responde por simples culpa e dolo


Responsabilidade
Parte não Beneficiada - responde somente por dolo

b) Contratos onerosos são aqueles em que ambas as partes contratantes obtêm


proveito, vantagem, benefício.
É aquele em que a obrigação de uma parte corresponde uma contraprestação
da outra. Nestes existe a intenção das partes de obter lucro, vantagem ou
benefício de ordem econômica.
Ex.: compra e venda, locação.

Responsabilidade  cada uma das partes contratantes responde por culpa, em


igualdade de condições, salvo as exceções previstas em lei.

VIII. Caso Fortuito e Força Maior – Exclusão da Responsabilidade (art. 393, do


CC)
São excludentes da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, pois
rompem o nexo de causalidade.
Caso Fortuito ou Força Maior, verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir.
É lícito às partes convencionar que a indenização será devida em qualquer
hipótese de inadimplemento contratual, ainda que decorrente de caso fortuito ou
força maior.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

O Código não distingue caso fortuito de força maior, porém a doutrina faz
distinção, havendo porém grande divergência entre os doutrinadores. O
entendimento ao qual me filio, seguindo a doutrina de Sérgio Cavalieri Filho,
estabelece que:
 Caso Fortuito é empregado para designar fato ou ato alheio à vontade das
partes, como greve, motim ou guerra.
 Força Maior empregado para os fenômenos naturais, como raio, tempestade,
terremoto, etc.
O traço característico das referidas excludentes é a inevitabilidade, é estar o fato
acima das forças humanas, não sendo possível evitar ou impedir as suas
consequências.
Requisitos para sua configuração;
1) Ausência de culpa por parte do devedor, em virtude da inevitabilidade do fato
(caso fortuito e força maior);
2) Inevitabilidade do evento;
3) Superveniência do fato irresistível, o fato deve ser irresistível, fora do alcance
do poder humano.

IX. Pressupostos da Responsabilidade Contratual (Com base nos ensinamentos


de Sérgio Cavalieri Filho)
1) Existência de contrato válido
É indispensável, em primeiro lugar, a existência de um contrato válido entre o
devedor e o credor.
O contrato não produzirá efeitos se for nulo, isto é, se padecer de algum vício
de origem e afetar-lhe a validade, como por exemplo, a incapacidade absoluta
de qualquer das partes, a impossibilidade do objeto.
A nulidade posiciona-se entre as causas de invalidade do contrato
contemporâneas à sua formação, impedindo que ele chegue a produzir efeitos.
2) Inexecução do contrato
 Absoluta
 Relativa (mora)
Será necessária a inexecução do contrato, no todo ou em parte, com a
ocorrência do ilícito contratual, que se materializa através do inadimplemento
ou da mora.
A regra fundamental é que o devedor está obrigado a efetuar a prestação
devida de um modo completo, no temo e lugar determinados na obrigação.
Haverá responsabilidade contratual sempre que a inexecução do contrato
decorrer de fato imputável ao devedor. A responsabilidade contratual é também
um dever sucessivo decorrente da violação de um primário (originário)
estabelecido no contrato.
A responsabilidade do contraente está no fato de não ter cumprido o contrato,
total ou parcialmente, o que dá causa a sua rescisão.
Rescindir significa cortar, romper. Tecnicamente, o termo indica o rompimento
do contrato por culpa do devedor. Neste sentido, estabelece o art. 475, do CC
que “a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato,

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,


indenização por perdas e danos”.
3) Dano e nexo causal
Art. 403, do CC.

5.2 RESPONSABILIDADE POR ATIVIDADE PROFISSIONAL

I) Definição da Responsabilidade: Como regra, é contratual e subjetiva, levando-


se em consideração o disposto nos artigos 951 do CC e 14, parágrafo 4º do CDC.

II) Distinção entre obrigação de meio e obrigação de resultado


Sendo a responsabilidade por atividade profissional contratual, o importante é
distinguir a obrigação de meio da obrigação de resultado.
Quando a obrigação do contrato for de resultado, a culpa é presumida, e quando
a obrigação for de meio, como regra, a culpa deve ser provada pela vítima,
havendo a possibilidade de inversão do ônus da prova, a critério do Juiz, quando
preenchidos os requisitos estabelecidos no art. 6º inc. VIII do CDC.
Nos contratos que regulam obrigações de meios, o contratado se obriga
meramente a empregar toda a sua habilidade e perícia para desempenhar uma
determinada atividade, sem se vincular à consecução de um resultado prático
previamente ajustado. Vale dizer: o contrato não se considera descumprido
meramente porque o fim almejado não foi atingido. O inadimplemento contratual
somente ocorre se o profissional não empregou na execução da atividade
contratada, a melhor técnica possível. Podem-se citar como exemplos, no campo
médico, a intervenção cirúrgica em situações nas quais não é possível garantir a
cura do paciente, ou, fora do campo médico, a obrigação assumida por um
advogado que defende a parte em uma demanda judicial. Nessas duas
hipóteses, entre outras, não se pode exigir êxito do profissional. O cirurgião que
promove uma intervenção de urgência não pode garantir a sobrevivência do
paciente, mas se obriga atuar da melhor forma possível na cirurgia, de modo que
as chances de melhora sejam maximizadas.
Já os contratos que regulam obrigações de resultado são aqueles em que o
objeto da contratação é um determinado bem jurídico, ou a execução de dado
serviço. O inadimplemento desses contratos se verifica automaticamente pela
não obtenção do resultado. Podem-se citar como exemplos obrigações de
transporte ou de empreitada. Com efeito, se uma determinada encomenda
postada nos correios não chega a seu destino, o contrato resta automaticamente
inadimplido; da mesma forma, quando se contrata um empreiteiro para realizar
uma obra, o inadimplemento é automático com a falta de entrega da obra.
Essa distinção gera conseqüências no que diz respeito à distribuição do ônus da
prova. Nos contratos que regulam obrigações de meio, a responsabilidade pela
falta de obtenção do resultado almejado somente pode ser atribuída ao
profissional caso ele tenha colaborado para o insucesso com culpa. O ônus para
a comprovação dessa culpa, salvo inversão determinada por lei, compete à
vítima. Já os contratos que regulam uma obrigação de resultados, compete ao

60
Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

prestador de serviços comprovar que o insucesso decorreu de fatores alheios à


sua vontade, e que não poderiam ser contornados (como, por exemplo, caso
fortuito ou de força maior). À vítima não é necessário promover qualquer
comprovação da culpa.
Assim, é fundamental a distinção entre responsabilidade civil subjetiva com culpa
presumida e responsabilidade subjetiva com culpa provada (apesar da
possibilidade de inversão do ônus da prova pelo Juiz, com base no art. 6, inc.
VIII, do CDC).
Há entendimento, no sentido de que, quando o profissional assume obrigação de
resultado, estaríamos diante de responsabilidade objetiva, posicionamento este
que não deve ser considerado quando estivermos diante da aplicação da
responsabilidade pessoal de um profissional liberal, pois o parágrafo 4º do art. 14
do CDC estabelece expressamente que a responsabilidade dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa, não fazendo qualquer
distinção entre a natureza da obrigação do profissional, ou seja, se de meio ou
de resultado.
Assim, por expressa previsão legal, a responsabilidade dos profissionais liberais
depende de culpa, sendo uma exceção à regra quanto da responsabilidade civil
objetiva prevista do CDC (art. 12 e 14, caput).

III) Responsabilidade Civil dos Advogados


Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art.
14, parágrafo 4º do CDC.
Como regra, é obrigação de meio, sendo que há entendimentos no sentido que,
excepcionalmente, pode configurar obrigação de resultado, como no caso de
elaboração de um contrato ou parecer.
Responderá, portanto o advogado, quando causar prejuízo ao seu cliente quanto
faltar a uma audiência, perder prazos no curso do processo, desistir de prova
indispensável para o sucesso da demanda, etc.
Responsabilidade pela não interposição de recurso – fundamento: perda de uma
chance. Somente não responderá quando tratar-se de recurso meramente
protelatório, sem qualquer probabilidade de êxito com base nos entendimentos
jurisprudenciais a cerca do assunto em discussão.

IV) Responsabilidade Civil dos Dentistas


Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art.
14, parágrafo 4º do CDC.
Prevalece o entendimento de que a regra é de que os dentistas assumem uma
obrigação de resultado, como regra, qualificando a natureza da responsabilidade
em contratual subjetiva com culpa presumida, levando-se em consideração de
que os tratamentos dentários são mais regulares, com técnicas mais específicas,
porém mais comuns colocadas à disposição dos profissionais. Apesar de este
ser o posicionamento majoritário, há entendimentos no sentido de imputar ao
dentista à mesma regra da responsabilidade dos médicos, ou seja, ou seja, de
que assumem obrigação de meio, em regra, e excepcionalmente a obrigação de
resultado, quando para fins estéticos.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

V) Responsabilidade Civil dos Farmacêuticos


São freqüentes os casos de farmacêuticos indicarem tratamentos e
medicamentos, atividade esta que é prerrogativa dos médicos.
No caso concreto, se o farmacêutico agir com culpa, causando danos ao cliente,
ficará obrigado a indenizá-los.
Nada impede de responsabilizar o empregador, em relação ao qual o
farmacêutico é empregado, seja com fundamento no art. 932, inc. III, do CC,
segundo alguns doutrinadores, seja com base nos arts. 12 e 14, caput, do CDC,
segundo outros.

VI) Responsabilidade Civil dos Médicos


Trata-se de responsabilidade contratual subjetiva, em conformidade com o art.
14, parágrafo 4º do CDC.
Como regra, os médicos têm obrigação de meio, como os clínicos em geral, e
quanto a finalidade for estética, assumem obrigação de resultado, com base no
entendimento majoritário.
Assim, quando se tratar de cirurgia estética, a responsabilidade do profissional é
subjetiva com culpa presumida, cabendo ao médico ilidir a sua responsabilidade
demonstrando que não agiu com culpa.
Porém, nas demais hipóteses, dentre estas as cirurgias reparadoras, não
assume o médico a obrigação de curar o paciente, e sim a de prestar o serviço
com todo o zelo que a profissão requer, devendo proporcionar ao paciente todo o
cuidado e informação a cerca dos métodos empregados, não assumindo perante
o paciente uma obrigação de resultado, mas sim de meio.
Tem o médico, acima de todos os demais membros da coletividade, o dever de
prestar socorro.
Da mesma forma o paciente, na qualidade de consumidor dos serviços prestados
pelo médico, tem o direito de invocar os benefícios do CDC ao seu favor, dentre
estes o direito a informação, referente aos tratamentos empregados, bem como
todos os seus riscos.
Direito à vida X Direito à liberdade religiosa, previstos na Constituição Federal.
Questão da transfusão de sangue em testemunhas de Jeová.

VII) Responsabilidade Médica Empresarial – Hospitais, Clínicas e Casas de


Saúde
Trata-se de responsabilidade contratual objetiva, em conformidade com o art. 14,
do CDC, que surge quando for imputada a responsabilidade pessoal subjetiva do
médico vinculado à empresa, como também nas hipóteses de falha da prestação
de serviço do hospital, como no caso de infecção hospitalar, por exemplo. É o
que o CDC chama de fato do serviço, devendo se entender como tal o
acontecimento ocorrido no mundo físico que causa danos ao consumidor,
decorrentes de um defeito do serviço prestado ao mesmo.

VIII) Responsabilidade Civil das Empresas de Planos de Saúde

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

Trata-se de responsabilidade contratual objetiva, em conformidade com o art. 14,


do CDC, pela má escolha dos profissionais e hospitais credenciados colocados a
disposição dos segurados em livros de credenciamento.
Esclarece Sérgio Cavalieri, entretanto, que: “nos planos de saúde privados,
comumente chamados de seguro de saúde, alguns operam em regime de livre
escolha de médicos e hospitais e reembolso das despesas médico-hospitalares
(é o seguro de saúde propriamente dito), outros mediante atendimento em
hospitais próprios, credenciados ou por um sistema misto, que inclui serviços
próprios e rede credenciada. No primeiro caso – médicos e hospitais de livre
escolha – a responsabilidade será direta do hospital ou do médico, nada tendo a
ver a seguradora de saúde com a eventual deficiência da atuação deles. No
segundo caso – médicos e hospitais próprios ou credenciados – a
responsabilidade será também da seguradora. Se escolheu mal o preposto ou
profissional que vai prestar o serviço médico, responde pelo risco da escolha. A
empresa locadora direta de serviços médicos hospitalares, credenciando
médicos e hospitais para suprir as deficiências de seus próprios serviços,
compartilha da responsabilidade civil dos profissionais e estabelecimentos que
leciona.”

5.3 RESPONSABILIDADE NOS TRANSPORTES TERRESTRES

I) CONCEITO – CARACTERÍSTICAS – DISPOSIÇÕES GERAIS NO CÓDIGO


CIVIL (ARTS. 730 A 733, CC)
Preceitua o art. 730 do Código Civil: “Pelo contrato de transporte alguém se
obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou
coisas”.
Elemento essencial é a transladação, ou trasladação. Quer dizer, é preciso que haja
transferência de um lugar para outro, ainda que não se exija o percurso entre dois
pontos geográficos, como adverte Pontes de Miranda, porque posso transportar de
um andar para outro, da rua para dentro da casa, da base para o cume, e assim por
diante. O que deve haver sempre é a transladação.
O contrato de transporte gera, para o transportador, obrigação de resultado, ou
seja, a de transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria, sem avarias, ao seu
destino. A não-obtenção desse resultado importa o inadimplemento das obrigações
assumidas e a responsabilidade pelo dano ocasionado. Não se eximirá da
responsabilidade provando ausência de culpa. Incumbe-lhe o ônus de demonstrar que
o evento dano se verificou por culpa exclusiva da vítima ou força maior, Assim, deve
ser demonstrado que não há nexo de causalidade entre a conduta do transportador e
o dano suportado pelo passageiro. Denomina-se cláusula de incolumidade a
obrigação tacitamente assumida pelo transportador de conduzir o passageiro
incólume ao local do destino.

II) ESPÉCIES
Em relação ao que é transportado (objeto), pode ser:
- Transporte de pessoas;

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

- Transporte de coisas.
Em relação ao meio empregado, pode ser:
- Transporte Terrestre;
- Transporte Marítimo ou Fluvial;
- Transporte Aéreo.

III) NATUREZA JURÍDICA


a) Consensual, pois basta o consenso da partes para a conclusão do contrato. Ele
se estabelece mediante o simples acordo de vontades, o que significa que para o
aperfeiçoamento do contrato tem que haver a manifestação do transportador no
sentido de aceitar transportar a passoa ou a coisa, da mesma forma em que deve
haver a manifestação de vontade da pessoa ou do remetente da coisa, na celebração
do contrato de transporte;
b) Oneroso, na medida em que assiste ao transportador direito ao recebimento de
remuneração, conforme estabelece o art. 730 do CC. Há muito a maioria dos juristas
no Brasil, entre eles Orlando Gomes, sustenta que realmente a onerosidade é da
essencialidade do contrato de transporte, ou seja, sempre deverá haver a retribuição;
c) Não solene, independe de forma expressa ou prescrita em lei, pois o código não
exigiu nenhuma forma especial para sua eficácia.
d) Bilateral, na medida em que gera obrigações para ambas as partes, porque as
prestações e as contraprestações são dadas em co-respectividade, isto é, umas em
função das outras, havendo reciprocidade entre a prestação e a contraprestação.
Sendo um contrato bilateral permite, portanto, a resolução pelo descumprimento do
contrato e também exige a equivalência entre as prestações.
e) Comutativo, isto é, desde logo se sabe, no momento da celebração, quais as
prestações e contraprestações de ambas as partes, ou seja, qual a atribuição que se
dá a um e a outro dos participantes do contrato: da parte do transportador, a
obrigação de prestar o serviço da trasladação e o direito de receber o preço; do lado
do transportado, no transporte de pessoas, o direito de ser transportado e o dever de
pagar o preço, e do lado do remetente, no transporte de coisas, o direito de ser
indenizado em caso de acidente com a coisa transportada imputada ao transportador
e o dever de pagar o frete.

IV) TRANSPORTE DE PESSOAS (ARTS. 734 A 742, CC)


A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários,
itinerários, não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua
bagagem de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados,
responsabiliza-se pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
E tanto é de resultado essa sua obrigação, que no caso de haver uma
interrupção nesse transporte, ele é obrigado a completar o transcurso com outro
veículo, que há de ser colocado à disposição do transportado. Fica, assim, bem
caracterizada a obrigação de resultado.
E além de uma obrigação de resultado, há também uma obrigação de garantia.
Isto é, o transportador responde pela incolumidade do transportado.
Como já exposto, o contrato de transporte se consuma pelo acordo de vontade
entre as partes, apesar de entendimentos que de que sua natureza seja real.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

O pagamento da passagem não é necessário para a celebração do contrato de


transporte, tendo em vista que, em muitos casos, o pagamento somente se realiza no
curso ou no final da viagem, ou até mesmo depois, como no caso do pagamento da
passagem em prestações. Assim, o pagamento da passagem já é fase de execução
da obrigação assumida pelo passageiro.
Com base nos ensinamentos do Mestre Sergio Cavalieri Filho, o início do
contrato de transporte, principalmente no tocante à obrigação do transportador, “tem
lugar quando se inicia a viagem”. Para o Mestre “a partir daí, torna-se operante a
cláusula de incolumidade, que persiste até o final da viagem”. Assim, mesmo que
consideremos que basta o consenso entre as partes para a efetivação do contrato
entre as partes, é imprescindível que a execução do contrato já tenha se iniciado para
que possa ser imputada a responsabilidade do transportador por acidente com o
passageiro. Cumpre ressaltar, com base nos ensinamentos de Segio Cavalieri Filho
que, “ a responsabilidade contratual decorre da inexecução, da quebra do contrato, do
inadimplemento. O indivíduo pode ter adquirido uma passagem de ônibus, digamos,
para São Paulo, e morrer quando ia para a estação rodoviária. A toda evidência, a
empresa de ônibus que haveria de transportá-lo para São Paulo nada terá a indenizar,
porque o acidente ocorreu antes de ser iniciar a execução do contrato”.
As regras dispostas no código civil disciplinam, principalmente, a
responsabilidade do transportador em relação aos seus passageiros, sendo certo que
tais questões serão abordadas com maior profundidade no tópico referente a
responsabilidade do transportador.
O art. 734 do novo diploma manteve a responsabilidade objetiva do transportador
“pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de
força maior”, proibindo qualquer cláusula de não indenizar. Considerando que, em
outros dispositivos, o Código refere-se conjuntamente ao caso fortuito e à força maior,
pode-se inferir, da leitura do aludido dispositivo, que o fato de ter sido mencionada
somente a força maior revelaria a intenção do legislador de considerar excludentes da
responsabilidade do transportador somente os acontecimentos naturais, como raio,
inundação, terremoto, etc., e não os fatos decorrentes da conduta humana, alheios à
vontade das partes, como greve, motim, guerra, etc.
Vale ressaltar que a jurisprudência e a doutrina moderna têm considerado com
base na lição de Agostinho Alvim, a distinção entre “fortuito interno” (ligado à pessoa,
ou à coisa, ou à empresa do agente) e “fortuito externo” (força maior). Somente o
fortuito externo, isto é, a causa ligada à natureza, ou qualquer outra estranha à
pessoa do agente e à máquina, excluirá a responsabilidade deste em acidente de
veículos. O fortuito interno, não. Prescreve o art. 735 do novo Código: “A
responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é
elidida pro culpa de terceiro, contra a qual tem ação regressiva”. O novo Código Civil
reproduz, no aludido art. 735, o texto da Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal,
com a mesma redação.
Por outro lado, prescreve o art. 738 do novo Código: “A pessoa transportada
deve sujeitar-se ás normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou
afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo
ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a
execução normal do serviço”. Não se pode, assim, considerar que o usuário é

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

dispensado de velar pela própria segurança. A responsabilidade do transportador


pode ser ilidida se o acidente proveio de culpa do usuário. Assim, o passageiro deve
atender às determinações do transportador. Tem de se sujeitar às normas e
regulamentos do transporte, pagar o preço, apresentar-se no momento da partida,
não assumir conduta que prejudique os demais passageiros, ou que afete a boa
execução do serviço.
Aduz o parágrafo único do aludido art. 738: “Se o prejuízo sofrido pela pessoa
transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o
juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver
concorrido para a ocorrência do dano”. Verifica-se, assim, que a culpa concorrente da
vítima constitui causa de redução do montante da indenização pleiteada, em
proporção ao grau de culpa comprovado nos autos.
O passageiro tem o direito de rescindir o contrato antes do início da viagem,
desde que avise o transportador em tempo para que este possa vender a passagem a
um terceiro, ou seja, renegociar o mesmo bilhete, e uma vez feito esse comunicado a
tempo, ele tem o direito de obter a restituição do valor da passagem. O passageiro
poderá ainda desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, e se provar
que outra pessoa foi transportada em seu lugar após a sua desistência, terá direito a
restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado. Quando ele não avisa e
não comparece antes de iniciada a viagem, poderá obter a restituição do valor pago,
desde que demonstre que houve o repasse desse lugar para um terceiro, isto é, se o
transportador recuperou a perda decorrente da desistência. Em todos estes casos,
sendo cabível a restituição do valor, até 5% (cinco por cento) deste há de ser retido a
título de multa compensatória devida ao transportador (art. 740, CC)

V) TRANSPORTE GRATUITO E APARENTEMENTE GRATUITO


O atual Código Civil define o contrato de transporte como aquele pelo qual
“alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro,
pessoas ou coisas” (art. 730, CC). Logo adiante, preceitua: “Não se subordina às
normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”. E o
parágrafo único complementa: “Não se considera gratuita o transporte quando,
embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas” (art. 736,
CC).
Assim, o Código, depois de definir o contrato de transporte como sendo aquele
feito mediante retribuição, mais adiante, no art. 736, exclui do âmbito de sua
regulação apenas o transporte feito por amizade, o chamado contrato benévolo. Daí
por que é possível estabelecer uma diferença.
Há o transporte mediante retribuição, que corresponde a um contrato oneroso, e
há o transporte gratuito, que se dá quando o transportado não tem nenhuma
obrigação de satisfazer pagamento de preço ou de passagem. No gênero “transporte
gratuito”, podemos ver duas espécies e distingui-las: aquele no qual o transportador
não tem nenhum interesse, não aufere benefício algum, que é o prestado por
amizade, ou meramente para favorecer o transportado, de um lado, e aquele outro
que, embora sendo gratuito, isto é, sem cobrança de passagem, de algum modo
interessa ao transportador.

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

No primeiro tipo de transporte gratuito (transporte tipicamente gratuito), desse que é


feito por simples amizade, e para benefício exclusivo do transportado, chamado de
transporte benévolo, esse não configura um contrato de transporte.
No segundo tipo de transporte gratuito (transporte aparentemente gratuito),
embora feito sem contraprestação direta, nele existe, de algum modo, interesse do
transportador: neste caso há contrato de transporte, e aplicamos a ele a legislação
própria do contrato de transporte. Isso acontece, por exemplo, quando uma
companhia de turismo põe gratuitamente um ônibus à disposição dos turistas, o que
também é feito no interesse dela, em manter, ampliar e aperfeiçoar os seus serviços,
angariando clientela. Nesse caso, há também o contrato de transporte, embora seja
um contrato gratuito. O STJ julgou um processo em que uma companhia de petróleo
transportava para uma plataforma alguns jornalistas, e o transporte era gratuito. Era
gratuito porque os jornalistas não pagaram a passagem, mas havia interesse em fazer
esse transporte, por parte da companhia, porque visava à divulgação das notícias que
seriam editadas por tais jornalistas. O transporte era gratuito, mas havia um contrato
de transporte, e a responsabilidade de quem presta o transporte gratuito é a mesma
da de quem fornece transporte oneroso.
No transporte benévolo, há, de qualquer modo, uma relação entre o
transportador e o transportado, e com base no posicionamento majoritário, somente
se reconhece a responsabilidade do transportador quando agir com culpa grave ou
dolo, conforme a Súmula 145 do STJ que estabelece que: “No transporte
desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável
por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.”
Porém, existe uma outra corrente, apesar de minoritária, mais defendida por
respeitáveis doutrinadores, dentre estes Sérgio Cavalieri Filho, que por achar que
seria injusto que o transportado gratuitamente somente seja indenizado em caso de
dolo ou culpa grave do transportador, deveria ser aplicada a regra geral da
responsabilidade extracontratual prevista no art. 186 c/c com o caput do art. 927 do
CC, ou seja, que o transportador deve ser responsabilizado independetemente do
grau de culpa, ou no caso de dolo.

VI) RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR


O art. 734 trata da responsabilidade pelos danos causados às pessoas
transportadas, e a regra principal é a de que a transportadora responde pelos danos
sofridos pelo transportado desde que se inicia o transporte, até o seu destino, a se
entender como início do transporte terrestre o momento em que a pessoa se faz
passageiro, não aquele em que compra a passagem, nem quando está na parada do
ônibus, mas sim quando ingressa no ônibus, e termina quando desce do veículo,
sendo este o melhor posicionamento, apesar de entendimentos em sentido contrário.
Quando a estação de embarque faz parte da empresa de transporte, como no caso do
metrô, pode ser considerada a estação como início do contrato de tranporte. Assim,
em certos meios de transporte distinguem-se perfeitamente o momento da celebração
do contrato e o de sua execução. Nas viagens aéreas, por exemplo, é comum a
passagem ser comprada com antecedência. Nestes casos, a responsabilidade do
transportador só terá início com a execução da avença. No transporte rodoviário,
tendo em vista que a estação não pertence à transportadora, a execução se inicia

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

somente com o embarque do passageiro, e só termina com o desembarque. Se o


passageiro vem a se ferir em razão de queda ocorrida durante o embarque, porque o
ônibus movimentou-se abruptamente, por exemplo, configura-se responsabilidade do
transportador, porque já se iniciara a execução do contrato, e do mesmo modo se a
queda ocorrer por ocasião do desembarque. No caso das estradas de ferro, a
responsabilidade do transportador tem início quando o passageiro passa pela roleta e
ingressa na estação de embarque. Daí por diante, estará sob a proteção da cláusula
de incolumidade, também atribuída pela responsabilidade decorrente do vício ou
defeito do serviço, respondendo a ferrovia pelos acidentes ocorridos com o
passageiro durante a vigência do contrato. Remetemos ainda o leitor aos pontos
referentes ao transporte de pessoas e coisas como complementação do estudo sobre
a responsabilidade do transportador.
A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários,
itinerários, não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua
bagagem de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados,
responsabiliza-se pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
A única exclusão permitida no Código é a da força maior. A lei não mais faz
referência a caso fortuito, nem à culpa da vítima, mas à força maior, isto é, àquele fato
inevitável, que se reconhece quando o transportador demonstrar que tudo fez para
evitar o acidente e o conseqüente dano. Se for assim, o fato era inevitável, e por esse
é que haverá a exclusão da responsabilidade. Fora daí, o transportador deve
responder.
Há uma regra que permite a redução dessa indenização por culpa da vítima (art.
738, parágrafo único), quando esta age contra o regulamento. Demonstrado que a
vítima concorreu para o resultado, nas hipóteses enunciadas no parágrafo único, a
indenização será eqüitativamente reduzida. Vale ressaltar que a previsão do Código é
apenas para reduzir a indenização. É de se perguntar: se, porventura, a culpa for
exclusiva da vítima, é possível excluir, também, a responsabilidade? Essa situação
não está prevista no código. Porém, tanto a doutrina como a jurisprudência têm
entendido que, se o fato acontece por culpa exclusiva da vítima, falta a relação causal
entre o dano e a ação da transportadora, pelo que o resultado somente pode ser
atribuído a quem lhe deu causa, isto é, à própria vítima. Portanto, a culpa concorrente
da vítima pode determinar a redução da indenização, e a culpa exclusiva dela, a
exclusão da responsabilidade do transportador por falta de nexo de causalidade entre
a conduta do transportador e o dano. Por essa razão, por exemplo, o Superior
Tribunal de Justiça vem decidindo, em caso de queda de trem por praticante de
“surfismo ferroviário”, que descaracteriza o contrato de transporte a atitude da vítima,
que, podendo viajar no interior do trem, se expõe voluntariamente a grave risco,
optando injustificadamente por viajar no teto.
A responsabilidade por acidente não se exclui por culpa de terceiro (art. 735,
CC), situação que ordinariamente ocorre quando o descuido causador do dano é do
outro motorista, caso em que a transportadora responde pela reparação do dano
sofrido pelo seu passageiro. A súmula nº 187 do Colendo Supremo Tribunal Federal
enveredou-se pelo mesmo caminho, ao enunciar: "A responsabilidade contratual do
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro,
contra o qual tem ação regressiva". Neste caso o transportador indeniza o passageiro

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Responsabilidade Civil – ProfEessora. Cristiane Gribel

e move, depois, ação regressiva contra o terceiro culpado pelo acidente. Porém,
quando há uma situação de dolo, como acontece no assalto ou outros atos de
violência, temos de nos remeter para a situação geral da força maior, do fato
inevitável, e pesquisarmos se essa ação do terceiro se inclui ou não na situação da
força maior. Conforme já esclarecido anteriormente, a doutrina moderna denomina-o
como fortuito externo o fato que não guarda nenhuma relação com a atividade do
transportador, com a organização da empresa, e que por esta razão exclui a sua
responsabilidade, pois não tem meios de evitar ou impedir o acontecimento,
equiparando-se a força maior. Este não pode ser considerado fortuito interno porque,
além de absolutamente imprevisível e inevitável, não guarda nenhuma ligação com os
riscos do transportador; é fato estranho à organização do seu negócio, pelo qual não
pode responder. Por isso, a melhor doutrina caracteriza o fato doloso de terceiro, vale
dizer, o fato exclusivo de terceiro, como fortuito externo. Ele exclui o próprio nexo
causal, equiparável à força maior, que, por via de conseqüência, exonera da
responsabilidade o transportador. Já o fortuito interno, ou seja, aquele fato que tem
alguma relação com a atividade exercida pelo transportador, com a organização de
sua impresa, sendo uma situação que pode evitar, não terá o condão de excluir a sua
responsabilidade. Assim, na hipótese do assalto, a regra de que o transportador
responde, mesmo por culpa de terceiro, não servirá para resolver o caso em que o
terceiro assaltante agiu com dolo, devendo ser a questão solucionada à luz da
possibilidade da exclusão pela ‘força maior’, ou fortuito externo, e não propriamente
pela culpa do terceiro. Vale ressaltar, entretanto, que apesar deste ser o
posicionamento majoritário tanto da doutrina como da jurisprudência, inclusive do
STJ, existem posicionamentos (minoritários) de que o assalto poderia ser evitado
pelas empresas de tranporte com a instalação de câmeras, detector de metais,
seguranças, etc., sendo uma hipótes de fortuito externo, e que por esta razão não
exclui a responsabilidade do transportador. Assim, apesar da existência de
divergência, o assalto à mão armada em interior de ônibus, embora se pudesse ter
hipoteticamente meios de evitá-lo, constitui, segundo o posicionamento dominante,
causa estranha ao transporte, que isenta de responsabilidade o transportador, ao
fundamento, especialmente, de que o dever de prestar segurança pública, inclusive
aos passageiros, é do Estado, conforme art. 144 da Constituição Federal, não se
podendo transferi-lo ao transportador.
A responsabilidade pelo dano causado a um terceiro que não seja passageiro,
como no caso de atropelamento de pedestre, é extracontratual e objetiva, podendo
ser aplicado o art. 17 do CDC para esta definição, pois equipara-se a consumidor para
efeitos de aplicação do referido código todas as vítimas do acidente de consumo,
sendo este o posicionamento defendido por Sergio Cavalieri Filho em seu
imprescindível livro “Programa de Responsabilidade Civil”, e podemos aplicar também
neste caso o art. 37, parágrafo 6º da CF.
Em relação aos seus funcionários, como por exemplo o cobrador ou o motorista,
a sua responsabilidade será baseada no art. 7, inc. XXVIII, da CF, já que estaremos
diante de um acidente de trabalho, sendo cabível ação de reparação de danos em
face do empregador (empresa de transporte), quando este incorrer em dolo ou culpa,
independetemente da indenização cabível junto ao INSS decorrente do acidente, por
força do seguro contratado para esta cobertura.

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5.4 RESPONSABILIDADE POR DEMANDAS DE DÍVIDAS

5.4.1 Demanda de dívida não vencida (arts. 939 e 941, do CC)


 Requisitos  Dolo e má fé do credor,
O dolo e a má fé do credor seriam exigíveis porque,
com base nos ensinamentos do Mestre Silvio
Rodrigues, a pena é tão severa que a jurisprudência é
quase pacífica no sentido de somente admitir que a
penalidade seja devida, quando houver malícia do
devedor (má-fé), que para o referido doutrinador,
significa comportamento doloso do autor da lide. Desta
forma, é como se nestes casos aplicássemos as
expressões dolo e má-fé como equivalentes.
Para ser exigível, não pode haver previsão legal que
permita a cobrança antecipada da dívida no caso
concreto, como nos casos do art. 333 do CC;
O ônus da prova incumbe ao devedor;
Reconvenção ou ação própria para a cobrança da
“multa” prevista no art. 939.
 Reparação  Obrigação de esperar o tempo que faltava para o
vencimento;
Obrigação de descontar os juros, mesmo que
convencionados;
Obrigação de pagar a multa prevista no art. 939, ou
seja, o valor das custas em dobro, imposta pelo direito
material;

5.4.2 Demanda de dívida já paga, total ou parcialmente ou de valor


superior ao devido (arts. 940 e 941, do CC)
 Requisitos  Dolo e má-fé do credor;
(Vide observações acima);
O ônus da prova incumbe ao devedor;
Reconvenção ou ação própria para a cobrança da
“multa” prevista no art. 940.
 Reparação  Obrigação de pagar a multa prevista no art. 940, ou
seja, o dobro do que houver cobrado, em caso de
dívida já paga, ou o valor equivalente ao que cobrou a
mais, no caso de cobrança superior ao valor da dívida,
imposta pelo direito material;
 Observação  Se a cobrança indevida se insere numa relação de
consumo, e baseada no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa
do Consumidor, há um pressuposto específico para imposição da

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indenização: o consumidor deve efetivamente ter pago o indébito. Se o


consumidor não efetuar o pagamento do que foi cobrado
excessivamente, não incide a norma de responsabilidade prevista no
referido dispositivo legal. No entanto, não existe a mesma exigência
quanto ao pagamento para a indenização prevista nos arts. 939 a 941
do C.C;

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