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CARDIOSCOPIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG A principal causa de parada cardiorespiratória em adultos submetidos a
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO – HUAC anestesia são alterações cardiovasculares, sendo as síndromes
ANESTESIOLOGIA – Dr. Sidartha coronarianas as principais alterações dentre estas. É um evento comum o
MONITORIZAÇÃO ANESTÉSICA paciente infartar após o ato anestésico.
Geralmente, Dr. Sidartha antes de uma raquianestesia faz uma leve sedação,
devido a incômoda sensação do procedimento. A raquianestesia provoca
A anestesia subdivide-se: vasodilatação, diminuindo a resistência vascular sistêmica e a PA. Dessa
Geral forma, diminui-se também a perfusão coronariana que pode ser crítico em um
Regional paciente previamente com alterações coronarianas. Faz-se, então um opióide
Bloqueio de neuroeixo: (Fentanil) e um benzodiazepínico. O fentanil é 80-100 vezes mais potente do
Raquianestesia: espaço raquidiano, subaracnóideo, que a Morfina e se o paciente infartar não sentirá dor. O idoso e o diabético
liquorico ou intratecal. podem não sentir dor ao infartar (infarto silente)
Anestesia peridural: não ultrapassam a dura-máter. A monitorização cardiovascular mais utilizada é a cardioscopia (ECG): permite
a escolha de derivações a serem monitoradas. Sendo a síndrome coronariana
Bloqueios periféricos: bloqueio de plexos sacral ou braquial. a principal alteração cardiovascular que leva a parada cardiorrespiratória no
perioperatório, deve-se monitorar o segmento ST. A cardioscopia é um exame
Qual é o melhor monitor que existe? O anestesiologista. Não adianta o monitor rápido, de fácil disponibilidade, interpretação e baixo custo. Destina-se a
extremamente moderno se o médico não está ao lado do paciente. observação de três principais intercorrências relacionadas a anestesia:
A primeira cirurgia realizada sob anestesia geral com éter em 1846 pelo Frequência cardíaca e Ritmo cardíaco
dentista William Thomas Green Morton. Distúrbios de condução/alterações eletrolíticas: visualização de
O monitoramento possibilita aos anestesiologistas reagir a mudanças ou alterações na onda T para detecção de hipo/hipercalemia, por exemplo.
tendências fisiológicas diversas antes que elas resultem em danos Isquemia miocárdica
irreversíveis.
OBS: Extrassístoles ventriculares isoladas não possuem maiores repercussões.
A incidência de eventos adversos em anestesia, atualmente, é baixa, mas é Quando essas extrassistoles passam a ser sustentadas forma um padrão em
de alto risco, pois lida-se com situações em que primeiro, deve-se diagnosticar bigeminismo (extrassístole alternando com batimento normal). Isso é um preditor de
precocemente, depois intervir rapidamente. que o paciente fará uma TV e FV.
Maior causa de morbimortalidade no perioperatório: eventos cardiovasculares
Arteriopatas e cardiopatas:
Idosos: fazem parte de um grupo de pacientes onde a doença No monitor, podem ser escolhidas 2 derivações a serem exibidas. Geralmente,
aterosclerótica é mais comum. Dr. Sidartha utiliza DII e V5. A derivação que melhor vê o ritmo cardíaco é DII
Cirurgia de emergência: é um fator de risco independente, pois o e V5 é a derivação que, isoladamente, possui maior sensibilidade na detecção
anestesista não conhece as condições prévias do paciente. Ou seja, de isquemia aguda (supradesnível, infradesnível e alteração na onda T), 75%.
mesmo sendo um indivíduo jovem, o fato de estar sendo submetido a Quando associadas, DII e V5 mostram sensibilidade de 85% na detecção de
uma cirurgia de emergência já o configura como fator de risco para isquemia aguda.
Monitorização anestésica | Emerson Casimiro 2018.2 2
A cardioscopia, no entanto, não é o padrão-ouro para detecção de isquemia relativamente constante sob intervalos de alteração de pressão arterial média,
miocárdica aguda é a ecodopplercardiograma a beira do leito. No entanto, é pois são órgãos de extrema demanda metabólica. Esse fenômeno é
um exame que demanda conhecimento técnico, nem sempre está disponível denominado centralização.
e nem todo paciente possui indicação. Quando a PAM atinge valores extremamente baixos, esse mecanismo
A segunda principal causa de parada cardiorrespiratória e a primeira em compensatório não é suficiente para manter constante o fluxo para tais órgãos
crianças é a hipóxia, por isso a monitorização da saturação de oxigênio pela podendo ocorrer sofrimento renal, cardíaco e por último sofrimento cerebral,
hemoglobina também deve ser instituída. nessa ordem.
Verificação da estabilidade hemodinâmica: é fundamental e é feita através de
PRESSÃO ARTERIAL INVASIVA (PAI)
monitorização periódica da pressão arterial não invasiva.
Em outras situações é preciso monitorizar a fração expirada de CO2 através
do capinógrafo Imagine uma situação de choque, onde a PA cai a ponto de o manguito na
O tipo de monitorização depende das condições do paciente e do tipo de pressão arterial não invasiva não conseguir realizar a leitura dos níveis
cirurgia: pressóricos, por má perfusão periférica. No ACLS, pulso periférico não
palpável é indicador de PAS < 90 mmHg.
PRESSÃO ARTERIAL NÃO INVASIVA (PIN)
A pressão arterial invasiva traduz valores de pressão arterial mais fidedignas
quando comparada ao método não invasivo e consiste na colocação de um
cateter em uma artéria periférica (geralmente radial) que é conectado a um
sistema transdutor e um mostrador.
Indicações:
Durante circulação extracorpórea
Quando grandes oscilações na pressão arterial são esperadas e
controle rigoroso da pressão arterial é necessário: cirurgias de grande
porte com grande previsibilidade de sangramento ou instabilidade
hemodinâmica (cirurgia torácica, cardíaca, vascular de grande porte,
intracraniana)
Quando há necessidade de múltiplas análises de medições de gases no
sangue arterial: Permite coleta seriada de amostras de sangue para
É o método que geralmente é utilizado: um esfigmomanômetro através dos realização de gasometria e hemoglobina, pois em cirurgias de grande
sons de Korotkoff avalia através do primeiro e quinto sons as pressões sistólica porte é essencial controle ácido-básico dada a frequência de
e diastólica, respectivamente. complicações hidroeletrolíticas.
Conhecendo-se as pressões arteriais sistólica e diastólica, podemos calcular
a pressão arterial média, que mais nos interessa e é obtida através da fórmula: Locais para monitoramento da Pressão Arterial Sistêmica com Cateter
(𝑃𝐴𝑆 + 2𝑃𝐴𝐷) Permanente:
𝑃𝐴𝑀 =
3 Artéria radial
Artéria braquial
onde, PAS = Pressão Arterial Sistólia
PAD = Pressão Arterial Diastólica Artéria axilar
Artéria femoral
A Pressão Arterial Média é importante pois os órgão ditos nobres (cérebro, Artéria pediosa
coração, pulmões, rim e fígado), através de mecanismos de
vasocontrição/vasodilatação, mantém um fluxo sanguíneo individual
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OBS: Não pode ser colocado cateter de monitorização de PAI nas artérias carótidas, PRESSÃO VENOSA CENTRAL (PVC)
pois trata-se de um sítio não compressível que na presença de uma coagulopatia ou
acidente pode ocorrer hematoma e compressão da traqueia, configurando iatrogenia.
É um método de baixa fidedignidade, mas ainda assim é muito utilizada.
A pressão arterial média permanece aproximadamente a mesma É feito um acesso através de uma veia central, podendo ser feito pela veia
independente do local de canulação arterial: a medida que a onda de pressão jugular, subclávia e até mesmo pela femoral, de modo a permitir a
distancia-se do coração, o pico sistólico é mais alto e o mínimo diastólico mais cateterização da veia cava superior. Se o paciente não for cardiopata, tiver
baixo. função sistólica de VD e VE boa, fração de ejeção > 50%, não tiver
Teste de Allen: hipocontratilidade do VD, valvopatia obstrutiva ou insuficiência, a pressão na
A artéria radial é a mais cateterizada para monitoração de pressão veia cava superior é igual a pressão no átrio direito. Quando as valvas
arterial invasiva devido o fácil acesso, localização e principalmente em atrioventriculares estão abertas as pressões entre as câmaras ipsilaterais se
virtude de junto a artéria ulnar proverem o suprimento sanguíneo da igualam, isto é, a pressão no átrio direito se torna igual a pressão no ventrículo
mão. Isto é, na presença de alguma complicação (trombose) decorrente direito. Quando a artéria pulmonar está aberta a pressão no ventrículo direito
da cateterização da artéria radial, a artéria ulnar continuará fornecendo retrata a pressão capilar pulmonar. Ou seja, através da PVC é possível estimar
suprimento sanguíneo a mão. a pressão no átrio direito, ventrículo direito e pulmonar.
Consiste na palpação da artéria radial, medial ao flexor ulnar do carpo, Parece uma ferramenta excelente, mas se o paciente possui alguma
e a artéria ulnar (de mais difícil palpação), manda fechar a mão e após cardiopatia perde-se a fidedignidade da mensuração da PVC e por isso, é
5-15s de compressão dessas artérias com o dedo médio e o índice, pouco utilizado. É mais utilizado na monitorização do paciente séptico, pois
respectivamente, espera-se que mão esteja pálida. Libera-se então os PVC entre 8-12 é estabelecida como uma meta nesses pacientes. A PVC
pulsos, um de cada vez, observando se na compressão de uma das fisiológica é entre 3-8, mas na sepse almeja-se uma PVC maior.
artérias a outra não comprimida é capaz de fornecer suprimento A pressão de enchimento é usada como um indicador de volume cardíaco com
sanguíneo para a mão. o entendimento de que os volumes adequados irão gerar contratilidade
cardíaca ideal (Lei de Franklin Starling). PVC baixa, significa que tem pouco
Por fornecer monitoramento contínuo da pressão arterial é mais seguro no sangue e o paciente vai responder a volume.
manejo de complicações que exijam rápido diagnóstico e intervenção. No choque cardiogênico, a PVC está alta, mas não por excesso de sangue e
Diferente da pressão arterial não invasiva em que o manguito infla sim por deficiência no bombeamento de sangue.
automaticamente em intervalos de tempo predeterminados, 10 min, por O cateter permite coleta para gasometria venosa. Junto com o resultado da
exemplo. Sendo assim, na PAI, vê-se em tempo real as ondas de pulso gasometria arterial é possível calcular a diferença arteriovenosa de oxigênio
sistólica e diastólica: (diferença entre a saturação arterial e venosa de O2). Se estiver maior que
25% significa que o organismo está captando muito O 2 por alta demanda (o
OBS: A onda de pulso maior é a sistólica. A onda de pulso menor é a siastólica. organismo está precisando) e pelo baixo aporte sanguíneo.
Descida sistólica = pressão de platô.
A forma de onda da PVC é constituída por três formas de ondas positivas
chamadas a, c e v e duas inclinações negativas chamadas de depressões x e
y:
A: representa o aumento da pressão do átrio direito durante a fase de
contração atrial (no 1/3 final da diástole)
C: Causada pelo abaulamento da válvula tricúspide fechada em direção
ao átrio direito durante o início da sístole ventricular.
X: Ocorre durante a sístole ventricular e corresponde ao relaxamento
atrial.
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Pressão arterial divergente: paciente precisa de volume (ex: abaixo de 13% o problema não está no conteúdo (volume) e sim
120x40 mmHg) no continente (RVP) devendo aumentar a resistência vascular
Pressão arterial convergente: paciente precisa de droga periférica por meio de Noradrenalina, por exemplo. O cálculo é
vasoativa (ex: 100x86 mmHg) feito da seguinte forma:
Valvuloplastias >25%: o paciente está precisando mais do que está ofertando. Deve-se ofertar
com sangue ou vasoconstritor enquanto recebe o sangue.
E porque fazer? Nessas situações não se pode fazer PVC, o swan ganz não
diminui mortalidade, deve-se avaliar o gradiente transvalvar...
CAPINOGRAFIA
OXÍMETRO DE PULSO
É um gráfico do CO2 expirado.
Permite avaliar frequência cardíaca, perfusão periférica, ritmo cardíaco e No gráfico a seguir, vemos que na expiração ocorre um ascenço expiratório
saturação. É de fácil instalação e fácil interpretação e deve ser instituído em que gera um platô expiratório com consequente descenço inspiratório e
toda anestesia. subsequente vale inspiratório.
Há um delay entre a leitura e fornecimento da leitura em torno de 60-90s. A PCO2 na gasometria arterial situa-se entre 35-45 mmHg. Há diferença de até
O oxímetro de pulso típico ilumina a amostra de tecido com dois comprimentos 3 entre o CO2 expirado e o da gasometria. Se o expirado está 35, na
de onda da luz: vermelha (bem absorvida oxi-hemoglobina) e a infravermelha gasometria está 32.
(bem absorvida pela desoxi-hemoglobina).
É uma avaliação indireta do transporte de oxigênio.
MONITORIZAÇÃO DO TRANSPORTE DE O2
DC = VS x FC
CaO2 = (Hb x SpO2 x 1,34) + (0,003 x PaO2)