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Aristóteles - Ética a Nicômaco - Livros 1 ao 4

Por Angelo Amaral

Virtude
Hábito
(areté)
Eudaimonia

Condições preliminares: Mediedade


* bem viver (estar bem)
* modo de viver (viver bem) Viver bem, em que
* agir bem (eupraxia) consiste? Quais os
elementos necessários?

De que modo deve ser


concebida e alcançada a A Ética/Política parte
eudaimonia? de um entendimento
comum e o incorpora.

Toda atividade
orienta-se para um bem que
lhe é próprio. Ética e Política não se
dissociam.

Os bens podem A existência humana


ser hierarquizados e os almeja a felicidade como fim,
bens de atividades-fim mas o que é felicidade difere
são os melhores. muito entre as pessoas.

Dianoéticas:
* a arte ou technè
Éticas:
* a ciência ou epistéme
* as virtudes referentes
* a sabedoria prática ou frónesis
ao caráter do homem
* a sapiência ou sofia
* o intelecto ou noús

"A virtude é, portanto, uma disposição de escolher por deliberação,


consistindo em uma mediedade relativa a nós, disposição delimitada pela razão, isto
é, como a delimitaria o prudente."

EN. II. 1106b36 - 1107a2.

Atividade da alma segundo a virtude e o fim a que visam todas as ações.


Virtude
Eudaimonia Hábito
(areté)

A virtude ocupa um papel


central na felicidade e se Mediedade
relaciona diretamente com a
razão.

Exercício Atividade
Razão Virtude ética
da razão humana

Yes

Ato
virtuoso?

O saber Desejo
conta pouco Qualificado;
ou nada. Educado;
Reto.

Desejo educado
Escolhe por
deliberação pelas coisas O desejo não é
mesmas; portando-se de negado, mas afirmado. O
modo firme e inalterável. desejo educado é o alvo quando
a razão aconselha o desejo
como pai ou amigo. Não é natural,
para Aristóteles.

No caso da artes,
o saber basta. Eupraxia
(agir bem)

Age bem aquele


que age segundo a
O virtuoso é A éticas das
inclinação qualificada,
aquele cuja parte virtudes é a
educada.
desejante acompanha promessa de se
de bom grado o que alcançar a
a razão recomenda. eudaimonia.

Continente
Por Angelo Amaral

Acrático

Virtuoso
Faz o que a razão
Não recomenda mas não
consegue fazer o sem incômodos.
que a razão
recomenda por
falta de hábito. Eudaimonia
Aqui começa a jornada
do virtuoso.
Disposição

Escolha Delimitada pela


deliberada razão

Não há Mediedade Delimitada pela


excesso ou falta relativa a nós prudência
do meio-termo.

Ação!
Virtude
De que tipo?

Os virtuosos
possuem seus
próprios Hábito
parâmetros.

Eudaimonia

Ação Ação Ação


Razão
voluntária involuntária não-voluntária

O princípio da O princípio da O princípio da


Não é soberana!
ação está no ação está fora do ação está fora do
agente agente agente

Desejo / emoção
Ação deliberada
Por ignorância, Por ignorância
em busca do belo, Há coisas sobre
com sem demonstrar
do bom, do as quais o homem
arrependimento. arrependimento.
louvável. não governa.

O homem não
A
Nunca delibera-se possui arbítrio
ação deliberada Persuasão
sobre o fim, mas sobre as
dá-se na ausência de
sobre os meios. previsibilidade, na emoções.
obscuridade própria do
objeto. O objeto de
Por Angelo Amaral

A relação entre os deliberação é aquilo que Desejo / emoção


é possível e está em
fins e os meios
nosso poder.
não é de natureza
instrumental, É
qualifcada. Ética das virtudes
O princípio da O princípio da
ação está no ação está fora do
agente agente

Ação Ação Ação


voluntária involuntária não-voluntária

Age por
Age por querer ignorância ou
forçadamente

Age justificado Arrepende-se Não se arrepende

Pode refletir;
Ação deliberada Aristóteles
mudar
parece não
considerar a
possibilidade de
fingimento.
Delibera-se sobre
os meios em vista
do fim

Obediência
Caráter;
Os fins definem e
qualificam os Virtude
Busca do belo, do meios
bom, do louvável
em si mesmo,
sem pensar

O fim melhor é o
Não busca o bem e o bem é o
agradável nem o ápice Eudaimonia
penoso

A felicidade é objeto do desejo orientado


pela razão. Os meios, como tais, não existem
separadamente dos fins.
Por Angelo Amaral
CASTRO, Susana de. Ética dos apetites.
ANAIS DE FILOSOFIA CLÁSSICA, vol. 13, nº 25, 2019, ISSN 1982-5323.

"Ainda que possamos dizer que as ações (práxeis) visam o bem e que há bens que são mais ou menos
consensuais, compartilhados, a política trata de ações individuais, particulares, realizadas por indivíduos
singulares. Não há uma receita de bolo que diga como cada um deve agir em cada situação, pois as
situações não se repetem. Os contextos mudam em cada ação, por isso o agente é obrigado a analisar
as circunstâncias caso a caso, antes de tomar uma decisão e agir. Em Aristóteles, a política é a arte
suprema, pois ela trata do bem maior, aquele que é um bem em si, a saber, a felicidade (eudaimonía)."

"A felicidade é maior quando alcançada por toda a cidade e não apenas por uma só pessoa. A arte da
felicidade é uma arte política que ensina cada cidadão a conduzir a sua vida e a de seus filhos de modo
a que suas ações sejam belas e justas [?? ?? ???? ??? ?? ??????, EN., 1094b 14]. Como fazemos para
nos colocar em uma disposição para realizar ações justas e belas?"

"Não há apenas a ação da produção de objetos ou a ação da habilidade de tocar um instrumento, a


ação ética é a ação que molda o caráter. Quanto mais predisposto a buscar o justo e o belo em suas
ações mais o agente consolidará em si uma predisposição para o bem em si, o bem que não almeja, por
exemplo, a honra ou a riqueza meros meios para a felicidade."

"Essa racionalidade que planeja o futuro com respeito aos impactos das ações, em grande medida
imprevisíveis, é a racionalidade ética. Um fator muito importante de orientação são os exemplos de
figuras públicas notoriamente sábias. Aprendemos nos espelhando nas ações de homens nobres, diz
Aristóteles."

"O tema maior de suas preleções são as chamadas virtudes éticas, aquelas que estão ligadas aos
apetites, pois enquanto as virtudes intelectuais dependem de aprendizagem, as virtudes éticas
dependem da prática. O ser humano é um animal político, isto é, um animal que vive na cidade. Além
disso, o que nos diferencia dos outros seres vivos é a capacidade de modificar comportamentos através
do hábito."

"Além de aptidões e capacidades naturais, aprendemos através da razão um número grande de


conteúdo, mas o agir certo não é um conteúdo que se adquire do exterior para o interior, nem algo
natural, mas uma disposição de caráter que se consolida através da prática e do exercício."

"Assim como cada órgão tem uma função, Aristóteles se pergunta qual é a função do ser humano. Na
sua visão, essa função (érgon) é a atividade ética guiada pela razão (lógos). Diferente dos animais, o
ser humano adquire a capacidade de planejar as suas ações, pensar no seu impacto com relação aos
outros, e, principalmente não ceder aos impulsos dos apetites, mas sim conter os desejos e apetites, e
moldar o comportamento por um desejo deliberado, refletido. Se cedêssemos sempre aos nossos
desejos e apetites, como o fazem as crianças, nos tornaríamos seres absolutamente egoístas e
incapazes da convivência e da construção de um projeto coletivo, como uma cidade e suas leis."

"O fim do ser humano, aquilo que o diferencia dos demais seres vivos é o ?estar-em-trabalho?da alma de
acordo com a virtude [EN, 1098a15-17]."
Por Angelo Amaral
CASTRO, Susana de. Ética dos apetites.
ANAIS DE FILOSOFIA CLÁSSICA, vol. 13, nº 25, 2019, ISSN 1982-5323.

"No caso da ação virtuosa, para alguém ser chamado de virtuoso, é preciso, por exemplo, que aja
justamente, ou belamente, mas para agir justamente não é preciso a pessoa ser justa? Neste caso,
como justificar que a pessoa age justamente, se para ser justa ela precisa antes fazer ações justas?"

"O agente para ser virtuoso precisa agir sabendo o que está fazendo, escolhendo o curso da ação e
estando em um estado de alma decidido, inabalável. Há, portanto, todo um percurso de
aperfeiçoamento cognitivo, deliberativo e volitivo da alma, para que o agente consiga a estabilidade da
alma característica da pessoa virtuosa. Aristóteles diz claramente que a virtude não é sentimento (pâthe)
ou capacidade (dýnamis), mas sim um estado habitual, isto é, uma condição ativa (héxis). Trata-se de
uma característica exclusivamente humana."

"O livro II da EN inicia-se com a diferenciação entre dois tipos de virtudes, as virtudes intelectuais e as
virtudes de caráter, ou éticas, e três tipos de ?génesis?, por educação, por condição ativa, ou por
natureza. As primeiras virtudes são frutos da educação, enquanto as segundas, da ?condição ativa?."

"Apesar de diferenciadas entre si, as virtudes éticas, ou de caráter, estão calcadas em um mesmo
princípio de ação, a escolha (proaíresis). A escolha do homem virtuoso, o homem que será elogiado por
suas ações, é fruto de ?desejo deliberativo?(bouleutikê órexis). Em outras palavras, o homem de
excelência de caráter, o spoudaíos, pauta o seu princípio volitivo, o desejo, não pelos afetos, mas sim
pela razão. Isso não significa, porém, que sua ação seja desprovida de prazer."

"O controle dos impulsos é um tema central da ética, visto que para Aristóteles agimos de modo vicioso
ou ruim por causa do prazer, e, por outro lado, é por temermos a dor que evitamos agir bem. Aristóteles
concorda com Platão que a grande tarefa da educação é fazer com que esse padrão de comportamento
seja invertido, ou seja, que o jovem sinta prazer em agir bem, e dor ao agir mal."

"A virtude ou excelência do ser humano caracteriza-se, assim, pela excelência do seu trabalho, de seu
érgon, daquilo que lhe é próprio, isto é, de sua capacidade de avaliar qual é a boa ação antes de agir, de
deliberar sobre a ação correta antes de agir. Esse alvo da ação correta é difícil de ser atingido, pois é a
exata justa medida entre dois extremos. Na melhor das hipóteses, somos capazes de nos aproximarmos
desse ponto de equilíbrio entre os extremos da deficiência e do exagero. A virtude é o meio entre os dois
vícios."

"[...] como Aristóteles diz, ninguém se torna justo através do conhecimento, isto é, teorizando sobre o
modo correto de agir, mas sim agindo, interagindo com o meio político e social, avaliando as variáveis e
circunstâncias particulares."

"No caso das ações virtuosas, pautadas por um desejo deliberativo, elas provocam um prazer especial.
Diz Aristóteles: ?A vida dessas pessoas ativas é prazerosa em si mesmo? [1099a, 6-7]. A vida é
prazerosa para o homem prudente porque ele já não age por hábito em oposição às inclinações."

"A virtude é uma condição ativa da alma. Tornamos-nos justos, agindo de modo justo de forma
frequente. Quando associamos nossa capacidade desiderativa, ou volitiva, à nossa capacidade
deliberativa, estamos, na visão de Aristóteles, nos aproximando mais na nossa natureza primária, e do
nosso érgon."
Por Angelo Amaral
Vício por Vício por
Virtude
falta excesso

Extremo Mediedade Extremo

Aristóteles [recurso eletrônico] : a ética à Nicômaco / Richard Kraut ... [et al.] ; tradução de Alfredo
Storck ... [et al.]. Porto Alegre : Artmed, 2009. Editado também como livro impresso em 2009.
ISBN 978-85-363-2078-6

A ação escolhida,
(I.1.1094a1-3) ? A concepção do bem como um fim. ?Toda arte e toda assim como a arte,
investigação sistemática [methodos] e, similarmente, toda ação e escolha são visa a algum bem
tomadas como visando a algum bem particular? (cf. I.7.1097a15-22). que é o seu fim ?
que é ?o seu bem?.

Aristóteles observa ainda que


onde há fins ou produtos
distintos das atividades, eles
(I.1.1094a3-6): os fins de uma são simplesmente atividades; os fins são melhores do que as
da outra são produtos provenientes e distintos das suas atividades. atividades. Entendo isso como
Porém, essa diferença é irrelevante para o principal ponto em exemplo de um princípio geral
questão (cf. P5: I.1.1094a16-18). de valorização da ?finalidade?:
se X existe em vista de Y, Y é
melhor ou é mais digno de
escolha racional do que X.

(I.2.1094a22-4): ?Não terá o seu conhecimento [o conhecimento do bem, isto é, do melhor] um impacto
grande e real nas nossas vidas e, assim como arqueiros que têm um alvo, não seremos mais capazes
de alcançar o que devemos [to deon]??

(1094a24-6): O que é esse bem absolutamente último? Qual disciplina (episteme) ou habilidade
(dunamis) o tem como objeto próprio?

Por Angelo Amaral


ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W.
D. Rosá. Col. Os pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973.

?Como no homem que dorme ou que permanece inativo; mas a atividade virtuosa, não: essa deve
necessariamente agir, e agir bem". EN I, 8 ? 1099 a

?O homem feliz parece necessitar também dessa espécie de prosperidade; e por essa razão, alguns
identificam a felicidade com a boa fortuna, embora outros a identifiquem com a virtude" EN I, 8-1099 b

?(? ) os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo seus instrumentos. Da
mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos" E.N. II, 1 ? 1103 b

?Tanto a deficiência como o excesso de exercício destróem a força; e da mesma forma, o alimento e a
bebida que ultrapassam determinados limites, tanto para mais como para menos, destróem a saúde" EN
II, 2 ?1104 a

?Mas a maioria dos homens não procede assim. Refugiam-se na teoria e pensam que estão sendo
filósofos e se tornarão bons dessa maneira. Nisso se portam como enfermos que escutassem
atentamente seus médicos, mas não fizessem nada do que estes lhe prescrevem" E.N. II, 4 ? 1105 b

* "O objeto da escolha é algo que está em nosso alcance e este é desejado após a deliberação. A
escolha é, portanto, um desejo deliberado. Mas como o fim é aquilo que desejamos e o meio aquilo que
deliberamos e escolhemos, as ações devem concordar com a escolha e serem voluntárias. O exercício
da virtude diz respeito aos meios, logo, a virtude está em nosso poder de escolha. Em outras palavras,
podemos escolher entre a virtude e o vício, porque se depende de nós o agir, também depende o não
agir. Depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, ou então, depende de nós sermos virtuosos ou
viciosos: "(? ) O homem é um princípio motor e pai de suas ações como o é de seus filhos"". Ética a
Nicômaco de Aristóteles ? Resumo e Análise, Josemar Lorenzetti.
* - Não é citação direta.

"Podemos supor o caso de um homem que seja enfermo voluntariamente, por viver na incontinência e
desobedecer os seus médicos. Nesse caso, a princípio dependia dele o não ser doente, mas agora não
sucede assim, porquanto virou as costas à sua oportunidade. Tal como para quem arremessou uma
pedra, já não é possível recuperá-la; e contudo, estava em nosso poder não arremessar, visto que o
princípio motor encontrava-se no agente" E.N. III, 5 ? 1114 a 15

Por Angelo Amaral


Vício por carência Virtude morais Vício por excesso No texto

E.N. III 6-9; 1115a /5 ?


Covardia Coragem Temeridade
1117b/ 20

E.N. III, 10-12; 1117b/


??? Temperança Intemperança
25 ? 1119b/ 20

E.N. IV 1; 1119b/ 15 ?
Avareza Liberalidade Prodigalidade
1122a/ 15

E.N. IV 2; 1122a/ 20 ?
Mesquinhez Magnificência Vulgaridade
1123a/ 30

E.N. IV 3; 1123a/35 ?
Humildade indébita Justo orgulho Vaidade oca
1125a /35

E.N. IV 4; 1125b /1 ?
Desambição Anonimato Ambição
1125b /25

E.N. IV 5; 1125b /30 ?


Pacatez Calma Irascibilidade
1126b /10

E.N. IV 7-8; 1127a /15 ?


Falsa modéstia Veracidade Jactância
1128b /5

Rusticidade Aprazibilidade Chocarrice E.N. II 7; 1108a / 25

Obsequiosidade /
Mal humor Amabilidade E.N. II 7; 1108a / 30
Lisonja

Despudor Modéstia Pudor / Acanhamento E.N. II 7; 1108a / 35

E.N. II 7; 1108a / 35 ?
Despeito Justa indignação Inveja
1108b / 5

EN, V 1-11; 1129a / 5 ?


Justiça
1138b / 15

Por Angelo Amaral

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