Características de Exu:
Exu é um orixá que conhece o íntimo do ser humano porque foi criado do mesmo material que
nós. Quando Olodumare juntou Ilé (terra) e Omi (água) e modelou o primeiro ser, soprando-lhe
vida, nasceu Exu Yangi, por isso deve ser louvado 1º em todos os cultos. Ele sabe tudo o que
nós precisamos para viver, como trabalho, dinheiro, moradia, amor, sexo, etc. Ele está
intimamente ligado a nós e ao nosso protetor; por isso, em determinadas situações e problemas,
nós podemos recorrer diretamente a Exu, para que ele nos abra as portas e limpe nosso caminho
dos obstáculos. Ele é o nosso elo de ligação entre o Ayê (Terra) e o Orun (Céu/além), nossos
pedidos são encaminhados por ele a Olodumare e os Orixás, e caso ele não esteja pleno em sua
satisfação poderá conduzir indevidamente nossas solicitações, gerando desencontros naquilo que
pretendemos de Olodumare ou dos Orixás. Pela sua relação direta com o ser humano, Exu
assimila dele muito de suas características e formas de pensar, como o agrado pela barganha,
não fazendo nada sem a devida troca, não esquecendo nunca de cobrar as promessas que lhe
foram feitas.
Exu é um orixá ou um "ebora" de múltiplos e contraditórios aspectos e formas de manifestações,
o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar
disputas. Entretanto se tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e
prestativo. Se, pelo contrario, as pessoas se esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas,
podem esperar todas as catástrofes. É o mais sutil e o mais astuto de todos os Orixás. Ele
aproveita-se de suas qualidades para provocar discussões entre as pessoas ou para preparar-lhe
armadilhas. Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar, numa peneira, o
óleo que comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente! Exu
pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje! Èsù é o princípio reparador
do Sistema Nagô. É o controlador rígido de todos os sacrifícios. Inspetor geral, segundo Idowu
(1962); "oficial de polícia imparcial", segundo Abimbola (1969:393) que diz: "a ação de Èsù é a
de... punir os contraventores, particularmente aqueles que negligenciaram fazer o sacrifício
prescrito".
Assim, com o devido respeito; começamos por saudar ao Imole Exu:
Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida. Há,
antes de qualquer coisa, a discussão se Exu é um Orixá ou apenas uma Entidade diferente,
que ficaria entre a classificação de Orixá e Ser Humano. Sem dúvida, ele trafega tanto pelo
mundo material (ayé), onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos,
como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam Orixás, Entidades afins e as Almas
dos mortos (eguns).
Esse Orixá (ou Entidade) não deve ser confundido com os eguns, apesar de transitar na
mesma Linha das Almas (uma das três linhas independentes) sendo o seu dia a segunda-feira;
ficando sob o seu controle e comando, os Kiumbas (espíritos atrasadíssimos na evolução). Exu é
figura de status entre os Orixás, que apesar de ser subordinado ao poder deles, constitui uma
figura tão poderosa que freqüentemente desafia as próprias divindades. Sua função e condição
de figura-limite entre o astral e a matéria, se revelam em suas cores, o negro e o vermelho,
sendo esta última a vibração de menor freqüência no espectro do olho humano, abaixo do qual
tudo é negro, há ausência de luz.
Seus aspectos contraditórios também podem ser analisados sob outro ponto de vista: o negro
significa em quase todas as teologias o desconhecido; o vermelho é a cor mais quente, a forte
iluminação em oposição à escuridão do negro. Até em suas cores, Exu é o símbolo das grandes
contradições, do amplo terreno de atuação.
Os Exus são considerados entidades poderosas, mas nem sempre conscientes dessa força,
desconhecendo seus limites e suas conseqüências ao envolver os seres humanos vivos. Assim ao
utilizar-se de suas vibrações, um iniciado precisa tomar cuidado para não permitir que Exu,
mesmo com o propósito de ajudá-lo, provoque um descontrole energético que possa ser
prejudicial ao ser humano.
Sua função mítica é a de mensageiro - é o que leva os pedidos e oferendas dos homens aos
Orixás, já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento
da incorporação, quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu
Orixá pessoal (quando a consciência de quem carrega o Orixá desaparece). É Exu quem
traduz as linguagens humanas para a das divindades. Por isso, é imprescindível para a
realização de qualquer ritual, porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão (ayé
ou orum) o que está acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem
dos locais onde estão sendo cultuados.
Tem um caráter suscetível, violento, irascível, astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente.
Exu polêmica divindade é um Ebora, ou seja, um Orixá Gerado o único Orixá que trabalha em
todas as energias, fogo, terra, ar e água. Exu foi o primeiro Ebora Gerado no Ayê (terra),
princípio da matéria diferenciada, Exu multiplica-se para assumir o aspecto de Bára (guardião do
Corpo), tudo que tem vida tem seu Bára. Esú Elépo Pupa (dono do Azeite de dendê) Esú Eleedu
(Exu dono do carvão) e assim por diante dai a multiplicação deste Orixá, mas a cabeça da cabaça
é apenas uma Exu Baba Exu.
O Mensageiro:
As funções de Exu são muitas, e todas de extrema importância para o equilíbrio do universo,
como, por exemplo, estabelecer a comunicação entre nós, seres humanos, e o nosso orixá ou
protetor particular. Todos nós temos um Exu, que é individualizado, com suas formas, ou
qualidades, bem definidas.
O poder de comunicar e ligar confere a ele também o oposto; a possibilidade de desligar e
comprometer qualquer comunicação. Se possibilitar a construção, também permite a destruição.
Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas, passagens, os
diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas
entradas e saídas. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum, o Orixá da guerra, ser
considerado o senhor dos caminhos. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (que
são irmãos, de acordo com as lendas), Ogum é responsável pelo desbravamento, pelo desmatar
e o criar de novos caminhos, pela expansão do reino, enquanto Exu é o senhor da força que
percorre esses caminhos.
Exu, segundo a mitologia, adora inverter a ordem estabelecida, como, por exemplo, a mulher
trabalhar fora de casa e o homem gerar as crianças e cuidar de todas as atividades do lar. Isso
serve para incentivar mudanças e desenvolvimento. Além disso, ele é muito irreverente, adorando
resolver e propor enigmas. Caminha no tempo e espaço com tranqüilidade, buscando coisas no
passado, presente e futuro; por isso, é o detentor do oráculo divinatório, juntamente com
Orunmilá.
As diferenças físicas que existem entre todos os seres, principalmente os humanos, são atributos
de Exu; caso contrário, seríamos exatamente iguais. A impossibilidade de comunicação entre os
povos num mesmo idioma também se deve a Exu.
Exu é o 1º nascido da existência e, como tal, o símbolo do elemento procriado. Mensageiro dos
orixás, elemento de ligação entre as divindades e os homens, a um tempo mais próximo do
mundo terreno e mais perto do elevadíssimo espaço celeste por onde transita Òrúnmìlà, é um
orixá, é sempre a primeira divindade a receber as oferendas, justamente para que atue como um
aliado e não como um rival que perturbe os procedimentos místicos desenvolvidos durante os
rituais. Coerente com seu lugar mítico privilegiado é ele que abre esse "corpus mito-poético".
Cada ser vivo, elemento e localidade têm seu Èsù próprio. Ifá diz:
“Se alguém não tivesse seu Èsù em seu corpo, não poderia existir, não saberia que estava vivo,
porque é compulsório que cada um tenha seu Èsù individual”.
"Ntori pé Èsù bí Olódùmarè é ti mòó sí, ni pé irú ònà nkan gbogbo tó jé isée rè, enikéni ti Èsù bá
sì wá pèlú rè, Èsù yi, ò n láti móo se àwon isé yí ni ònà tí ó jé ìrànwó ati àgbéga orúko àti agbára
gbogbo fún Olúwaa rè".
"Em virtude da maneira que Èsù foi criado por Olódùmarè, ele deve resolver tudo o que possa
aparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suas obrigações. Cada pessoa tem seu próprio
Èsù; o Èsù deve desempenhar seu papel, de tal modo que ajude a pessoa para que ela adquira
um bom nome e o poder de desenvolver-se".
"Olódùmarè fez Èsù como se fosse um medicamento de poder sobrenatural próprio para cada
pessoa. Isso quer dizer que cada pessoa tem à mão seu próprio remédio de poder sobrenatural
podendo utilizá-lo para tudo o que desejar. Èsù exerce as mesmas funções para todos os ebora.
Só os seres humanos não podem ver seu Èsù pessoal. Os ebora, os Òrìsà e todos os Irúnmalè
podem ver-se a si próprios, acompanhados de seu Èsù, fato que lhes permite executar tudo o
que têm necessidade, de acordo com as maneiras específicas e os deveres de seu Èsù".
Èsù está relacionado em várias passagens de Ifá e dentro do rito ao número 1; isto se refere
que a adição de uma unidade ao número redondo (200) evoca a continuação, o número redondo,
ao contrário, marca uma paralisação na numeração, logo, por analogia, uma paralisação das
relações sociais das partes, um limite.
Todo o sistema Afro está interligado à condição da oferenda (ebó) com a finalidade de restituição
de energia, redistribuindo o axé, é o único meio de conservar a harmonia entre os diversos
componentes do sistema, entre os dois planos da existência, e de garantir a continuidade da
mesma. É Èsù quem faz cumprir esse processo para o equilíbrio de tudo que existe.
É a devolução que permite a multiplicação e o crescimento; é como se um processo vital
equilibrado, impulsionado e controlado por Èsù, fosse baseado na absorção e na restituição
constantes de matéria.
Nesse princípio de restituir que Èsù está ligado com o destino individual, tendo o poder sobre òna
burúkú (caminhos condutores de elementos negativos) e òna rere (condutores das boas coisas,
tanto no òrun como no àiyé).
Local:
Èsù fica à esquerda do caminho e daí controla a entrada e a saída de todo o tráfego, mas é a
encruzilhada de três caminhos (orita), donde os caminhos se encontram e repartem seu local
preferido.
Essa imposição de Èsù controlar tudo nos caminhos, de fechar e abrir os caminhos, não está
ligada ao fato de que façam o gosto de Èsù como muitos pensam, e sim pelo fato que Èsù cobra
para permitir salvaguardar e desenvolver a existência individualizada, a de cada ser a quem Èsù
acompanha e representa.
Olorum
Assim como Olódùmarè representa o princípio da existência genérica Èsù é o princípio da
existência diferenciada.
Princípio dinâmico e princípio da existência individualizada, Exu não pode ser isolado ou
classificado em nenhuma das categorias. Ele é como o axé (que ele representa e transporta),
participa forçosamente de tudo. Segundo Ifá cada um tem seu próprio exu e seu próprio
Olorum em seu corpo. O nome de exu é conhecido, invocado e cultuado junto ao orixá. E é Ifá
quem revela e permite-nos sabê-lo.
Quem delegou esse poder a exu foi Olorum ao entregar-lhe o àdó-iràn, a cabaça que contém a
força que se propaga. Esta cabaça está presente em seus "assentos", é uma cabaça de pescoço
grande, e basta exu apontá-la a algo para transmitir seu axé.
Exu é um orixá muito importante e foi o terceiro elemento criado diretamente por Olorum, com
a mesma matéria que seria usada, mais tarde, para a criação da Terra e das criaturas. Nasceu
para ser um comunicador, fazendo a ligação entre todos os orixás e os seres criados.
Èsù é o líder dos Òrìsà, o primogênito do Universo, o primeiro elemento a ser criado. A criança
querida de Olódùmarè.
Exu é muito importante no oráculo de Ifá, revelando os mistérios de cada Odu e de todos os
orixás. Orunmilá, que recebeu dele o oráculo divinatório, é um orixá funfun, e a ele está
intimamente ligado, com muita harmonia. Portanto, não existe "quizila" (espécie de
incompatibilidade) entre os orixás funfun (branco) e Exu, ou com os orixás que carregam o
vermelho ou o preto. O que existe é um respeito com as interdições de cada um.
Òrìsà são energias da natureza condutores desta energia, inclusive de nossa energia mental,
como é também o caso de Èsù. Sendo assim, recebemos tão somente aquilo que merecemos e
produzimos. Se tivermos um presente de desequilíbrio, não sabendo como utilizarmos a própria
natureza em sua abundância, teremos um futuro em desgraças e miséria. Se não repormos aquilo
que utilizamos, nossa espécie estará condenada a extinção. É nesse item que Èsù cumpre seu
papel, cobrando a reposição para a continuidade, equilibrando assim Òrun (o Além) e o Aiyê (o
mundo).
Representações:
Exu por ser resultado da interação de um par, é o portador mítico do sêmen e do útero ancestral
e como princípio de vida individualizada ele sintetiza os dois, É por isso que freqüentemente, e, é
representado pela forma de um par, uma figura masculina e uma feminina, unidos por fileiras de
búzios.
Exu está profundamente ligado à atividade sexual. Representados por um falo (pênis), ou suas
representações simbólicas como: os penteados de forma fálica, sua arma, o ogó - bastão em
forma de pênis - sua lança; já as cabacinhas representam seus testículos.
Exu também está representado com objetos à sua boca; dedo, cachimbo e principalmente
flauta, que vem representar a atividade sexual, como absorção e expulsão, ingestão e restituição,
com a flauta Exu chama seus descendentes. Portanto símbolo por excelência da fecundidade.
Exu jamais toma a forma de procriador.
Exu é cultuado tanto como lésè-égún, como lésè-orixá, e apenas por seu intermédio é possível
cultuar os orixás e as Iyami (mãe ancestre).
Exu fica à esquerda dos caminhos. O elemento procriado é a prova do poder das Iyami, é o
pássaro, o Elèye.
Não é apenas Òjisé-ebo, mas principalmente Òjisé, o mensageiro, fazendo a comunicação entre
tudo que é oposto.
Com efeito, a relação entre Exu e Ifá, é indiscutível, e Exu está representado em um dos
principais emblemas característicos do culto a Ifá, o òpón, onde Exu tem sua representação em
forma de rosto, de triângulos e losangos. É no seu papel de princípio dinâmico, de princípio de
vida individual e de Òjisé ou elemento de comunicação, que Exu Bara está indissoluvelmente
ligado à evolução e ao destino de cada indivíduo. Como tal ele também é senhor dos caminhos
Exu Olònà, e ele pode abri-los ou fechá-los.
Exu foi o primeiro a usar ekódide (pena de uma espécie de papagaio) na cabeça, e foi isto que
o tornou decano de todos os orixás. Alguém que coloca ekódide na cabeça sem necessidade
provoca a cólera de Exu.
Uma característica marcante de Exu é ser o detentor e o transmissor da fertilidade e da
fecundação. Esse orixá cuida da parte sexual dos seres vivos e de seus órgãos de reprodução.
Nas diversas formas de representar esse orixá, como estátuas e ferramentas, vemos em destaque
a genitália masculina e feminina. Algumas esculturas de Exu exibem uma forma fálica (pênis) no
alto de sua cabeça. Isso, longe de ser obsceno, é uma forma de exibir a extrema fertilidade de
Exu.
Na concepção africana, a fertilidade é importantíssima, não só para a procriação, mas em todos
os planos da existência, como na agricultura, por exemplo. A fertilidade existente no ser humano
possibilita o seu desenvolvimento físico e mental, aguçando a sua criatividade e poder realizador.
Um outro aspecto de Exu é a expansão constante e infinita, que se traduz na própria evolução
dos seres vivos, do planeta e do universo. Por esse motivo, a espiral é sua melhor representação.
A abertura dos caminhos também é de sua responsabilidade, sendo, por isso, constantemente
evocado. Ogum, que também é o dono dos caminhos, é muitas vezes comparado a Exu, por
suas particularidades. A diferença está na criação desses orixás. Exu foi o terceiro elemento
criado diretamente por Olorum, e Ogum nasceu de outros dois orixás, sendo um eborá (orixá
filho).
Sua atuação está diretamente relacionada com as finanças, a sexualidade, o poder de fertilização
e a força transformadora das coisas. (...) Portanto, é a rebeldia aos padrões e convenções da
sociedade, sem limites éticos e morais.
Fazendo o proibido passar a ser permitido.
Cada pessoa tem o seu Òrìsà Ori / Santo de Cabeça - Anjo da Guarda - e também o seu Èsù,
como parte da constituição de seu caráter. Ele é o momento de raiva que acomete o motorista no
trânsito ao receber uma fechada de um outro veículo, que pode levar a um acidente ou a uma
briga com grave final; é a força que gera no interior do ser, ao ver-se ofendido e o leva a
agressões; são as garras que surgem na mãe, que enfurece ao ver seu filho agredido, esteja ele
certo ou errado; é o impulso que a emoção cria e que faz a razão ser ignorada. Senhor das ruas,
esquinas e estradas o faz por momentos confundido com Ògún, seu irmão, porém o seu domínio
sobre o Asé / energia vital, como controlador e propulsor, como intérprete e acionador dos
mecanismos litúrgicos de cada divindade, que cabe somente a Èsù, os diferencia. (...) Um dos
instrumentos é o ògò, bastão com forma de falo, enfeitado com pequenas àdó/cabaças, onde
dentro esconde os pós-mágicos dos seus segredos.(...) Encontra Èsù nas feiras livres e mercados
tudo o que lhe dá prazer: gritos para que se efetue a troca através das vendas; a possibilidade de
se passar o comprador para trás, vendendo-se gato por lebre; o movimento gerado pelo dinheiro;
o aglomerado de pessoas circulando; a energia vital que os alimentos ali emanam. (...) Esta
grande importância consagrada à relação Èsù/feira está também comprovada quando ocorrem
os festejos do nascimento das crianças Yorubás. Elas são apresentadas para a multidão nas feiras
e, no caso de serem gêmeas, a mãe deve comprar a maior variedade de comidas, colocar em
uma cabaça e apresentar como oferenda no momento dos sacrifícios do festejo. Também os
mortos, antes de serem enterrados debaixo de suas casas, no terceiro ou sétimo dia após o
falecimento, são apresentados à feira, acompanhados de músicos que cantam fatos ocorridos em
sua vida.(...) Seu número é o 1, que representa o início, a ação, o movimento, a continuidade e o
progresso. Dentre os elementos terra, água, ar e fogo, Èsù é o ìna/fogo. Sabemos que o fogo é
símbolo da transformação que purifica, ele é a renovação. No período da Inquisição, aqueles que
se negavam ao Catolicismo eram tidos como feiticeiros e levados às chamas das fogueiras da
purificação.
(*) Ctoniano= Do grego Chton, a Terra. São divindades subterrâneas que, embora relacionadas
com o mundo superior, representam a vida manifestada no subsolo. Personificam a terra-mãe e
fecunda. Atingindo regiões profundas, era tida como divindades infernais. Surgiram
principalmente nas seitas órficas, pelas idéias da imortalidade e da ressurreição.
O Diabo:
Muitos tentam deturpar os ritos Afros atacando a figura de Èsu, querendo relacioná-lo com a
maldade e a figura do Diabo, sabendo-se que esse elemento inexiste na cultura Yorubana, sendo
o Diabo um elemento criado, inventado pela cultura Cristã e adotado pelos novos Néo-
evangélicos como elemento de pressão para seus fiéis.
Enganosamente ou mal intencionados, os primeiros missionários que chegaram à África,
compararam-no ao diabo, por algumas de suas formas, artimanhas e poderes atribuídos. Ele tem
as qualidades dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, havendo mesmo pessoas na África que
usam orgulhosamente nomes como Èxúbíyìí (concebido por exu), ou Èxùtósìn (Exu merece ser
adorado).
Os primeiros missionários, espantados com tal conjunto, assimilaram-no ao diabo e fizeram dele o
símbolo de tudo que é maldade, perversidade, abjeção e ódio, em oposição à bondade, pureza,
elevação e amor a Deus. Mas Esù de provocar acidentes e calamidades p úblicas e privadas,
desencadear brigas, dissensões e mal-entendidos, se ele é o companheiro oculto das pessoas e as
leva a fazer coisas insensatas, se excita e atiça os maus instintos, tem igualmente seu lado bom e,
nisso, Esù revela-se e, talvez, o mais humano dos Òrìsà, nem completamente bom, nem
completamente mal. Trabalha tanto para o bem como para o mal, é o fiel mensageiro daqueles
que o enviam e que lhe fazem oferendas. Esù tem as qualidades de seus defeitos, é dinâmico e
jovial. Foi ele também quem revelou a arte da adivinhação aos humanos.
Nenhum outro orixá causa tanta polêmica quanto Exu. Existe muita desinformação e falta de
conhecimento a seu respeito, inclusive por parte de muitos babalorixás do Candomblé.
O sincretismo entre os orixás e santos católicos é impossível, pois essa associação ocorreu numa
época em que as pessoas foram impossibilitadas de cultuar seus orixás, devido à proibição da
classe dominante. Os escravos escondiam os assentamentos embaixo das imagens católicas,
numa tentativa de preservar as suas tradições. Por isso, a associação de Exu com o diabo, que
existe em outros cultos, é uma forma ridícula de tentar denegrir a imagem desse orixá.
Como, então, essa imagem de menino brincalhão, mesmo que imprudente, se coaduna com a
imagem popular que associa Exu ao Diabo? Mesmo em cultos de Umbanda (alguns) Exu é
freqüentemente considerado um representante do mal, das forças perigosas e não totalmente
recomendáveis.
Qual a visão está correta? A rigor, ambas ou nenhuma delas. Exu realmente brinca e se
diverte, possibilitando brincadeiras e prazeres aos seres humanos. Também mexe com forças
terríveis, provoca acontecimentos dramáticos, causando o mal.
Em termos históricos, as culturas africanas que cultuam os Orixás - muito diversificadas,
conseqüência evidente de uma sociedade dividida em raças, tribos, muito pouco centralizada para
os parâmetros ocidentais - são muito mais antigas que as que conhecemos. Há lendas de Orixás
que se explicam como respostas socialmente criativas a acontecimentos perdidos num longínquo
passado, como a substituição do matriarcado pelo patriarcado, o surgimento do primeiro conceito
de sociedade agrária, em oposição a uma cultura nômade e caçadora.
Assim, como encontrar uma figura que representa o mal numa cultura onde não existe a
dicotomia bem-mal? A moralidade ou imoralidade, portanto, não está nas figuras dos Orixás,
nem principalmente em Exu, mas sim nas interpretações que nós, ocidentais, fazemos a respeito
de seus desígnios.
Para a cultura africana, politeísta, onde os deuses brigam entre si, cada um tomando atitudes
radicalmente opostas às dos outros, não existe um certo e um errado, mas vários. Cada ser
humano é filho de dois Orixás e, para ele, suas atitudes serão as mais corretas, enquanto um
filho de outro Orixá deverá manter postura diferente, mas adaptada ao arquétipo de
comportamento associado ao seu próprio Orixá.
Outra razão de confusão vem do fato de os negros terem chegado ao Brasil na condição de
escravos, tratados como subumanos e sem os mínimos direitos.
Nenhuma hipótese havia, portanto, para que Exu e outras figuras míticas do Candomblé e
Umbanda, fossem aceitas como independentes: os negros tinham de ser convertidos ao Deus
Único, aos mitos cristãos.
Uma divindade africana ao ser capturada pelas explicações católicas teria no máximo o status
de santo, divindade menor, praticamente humana, na teologia cristã.
Como precisavam de um Diabo, os jesuítas encontraram na figura de Exu, o Orixá que poderia,
meio forçadamente, vestir a sua roupa, provavelmente porque sendo o mais humano dos Orixás,
a ele se pede interferência nas questões mais mundanas e práticas, o que resulta que a maior
parte das oferendas do culto vá, para ele.
Exatamente por isso, Exu era a divindade que protegia, na medida do possível, os negros dos
repressivos senhores. Era para Exu que pediam desgraças para seus senhores.
Dois outros fatores associam Exu ao Demônio; o fogo - elemento do Diabo e também
freqüente nos cultos e oferendas para o mensageiro dos Orixás africanos - e o sexo, território
considerado tabu pelos católicos, e o prazer - em geral, as atividades favoritas de Exu. A
sensualidade desenfreada costuma ser atribuída à influência de Exu, que significa a paixão pelo
gozo, sendo freqüentemente representado em estatuetas, como figura humana sorridente,
debochada.
Para completar os tabus que marcavam Exu como uma figura que subvertia o conceito de faça o
bem e será recompensado, faça o mal e será punido - já que ele podia fazer qualquer coisa e
alterar qualquer resultado - mas um fator fez com que fosse não só usado como o Diabo, mas
reconhecido como sua própria encarnação por parte dos jesuítas: Exu gosta de sangue.
É costume que, em oferendas, o sangue de animais seja o último ingrediente.
Como, porém, essa base filosófica africana foi esquecida na prática pelos brasileiros, existe certo
temor e preconceito com relação a Exu. Isso se revela no temor que os babalorixás (sacerdotes
que dirigem a Umbanda ou um Candomblé) têm em identificar alguém como filho de Exu, ou
seja, como pessoas cuja energia básica é a mesma do mensageiro dos deuses. Reforçam-se
assim, os mitos de desgraça que ronda a figura de Exu.
A Pomba-gira, figura comum nos cultos de Umbanda e presente em diversos Candomblés, dada
a grande intercomunicação entre as duas vertentes, não passa, de um Exu Feminino, onde
estão em destaque o senso de humor debochado, a voluptuosidade e sensibilidade desenfreada,
usando cabelos soltos, saias rodadas e vaidosas flores na cabeça. Sua dança é uma gira frenética,
desenfreada, violenta até, com quase nenhum controle - sem compostura, de acordo com a visão
ocidental.
Ao mesmo tempo em que estas Divindades ou Entidades são coisas distintas, possuem um
caráter e forma de agir e pensar parecidas, seja na forma de Culto dos Orixás, Quimbanda,
Umbanda etc... Quem desperta sua força ou faz amizade com esta Divindade ou entidade, sua
proteção é incomparável, e ai daquele que dever obediência, e não o cumprir. Exu é Exu em
todo lugar, na encruza, no cemitério, no templo em todo lugar ele é Rei. Pode estar aqui ou lá ao
mesmo tempo, pode ser homem ou mulher, branco ou preto. Acho que são todos amigos ou
irmãos, primos parentes ou coisa parecida.
Será que é uma mesma legião?
Candomblé:
Èsù é o síwájú (o primeiro a ser cultuado), ele é o primeiro Òrìsà a ser cultuado em qualquer
rito.
Isso se explica devido ao seu papel de energia condutora, propulsora, recapacitadora e
reconstituidora. Exu é sempre reverenciado em primeiro lugar, antes de qualquer outro orixá,
para que todas as oferendas e obrigações cheguem ao seu destino. Sua função é a de
intermediário, ou elemento de transição, entre o céu (orun) e a Terra (aiyê). É ele quem carrega
todos os ebós para os lugares designados, mas isso, ao contrário de ser uma função subalterna, é
essencial para promover a limpeza de toda energia negativa. De nada adianta oferecer um
banquete completo para um determinado orixá, se Exu não for devidamente reverenciado para
ser o portador da mensagem que está contida na oferenda.
É graças à energia de Èsù que o sangue circula em nossas veias, que o ar se movimenta, que
caminhamos, que falamos; enfim sem Èsù tudo estaria paralisado, estagnado, sem
desenvolvimento. É a Esù que devem ser feitas a primeira louvação e oferenda. A isso se chama,
no Brasil, "despachar" Esù, com um duplo objetivo, o de despacha-lo como mensageiro para
chamar e convidar os Òrìsà para a cerimônia e também de despacha-lo, envia-lo para longe, a fim
de que ele não venha a perturbar a boa ordem da festa por meio de gracejos de mau gosto.
Os fios de conta das pessoas protegidas por ele são vermelhos e pretos e a segunda-feira é o
dia que lhe é consagrado. Dizem na Bahia que existem vinte e um Esù; outros falam de sete, ou
de vinte, vinte e uma vez vinte e um, mas ele é ao mesmo tempo múltiplo e uno. (2)
Como Èsù é a interação de todos elementos, suas cores representativas deixam isso bem claro: o
preto, o vermelho e o branco.
Nas Ilés Òrìsà, cada Òrìsà possui seu Bara pessoal, o nome de cada Èsù acompanhante é
conhecido, invocado e cultuado junto ao Òrìsà, como elemento indestrutivelmente ligado a este.
Ifá nos relata no Odù Ogbè-Ìretè; que Èsù deve fazer parte de tudo o que existe: "Odù Ifá
explica tudo que concerne aos vários Èsù individual. Todos ebora e os Òrìsà, que são os
irúnmalè, cada um deles tem seu próprio Èsù à parte. Da mesma forma, todos os animais, cada
um, têm seu próprio Èsù de acordo com a espécie. Olódùmarè criou Èsù como um ebora todo
especial de maneira tal que ele deve existir com tudo e residir com cada pessoa. Em virtude de
suas competências e poder de realização, de sua inteligência e natureza dinâmica, o Èsù de cada
um deverá dirigir todos os seus caminhos na vida. É Ifá quem fala e revela para nos permitir
sabê-lo".
Seu lugar de origem é impreciso. O lugar consagrado a Exu entre os iorubas é constituído de um
pedaço de pedra porosa, chamada "yangi", ou por um montículo de terra grosseiramente
modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios; ou então ele é
representado por uma estátua, enfeitada com fileiras de búzios, tendo em suas mãos pequenas
cabaças, contendo pós por ele utilizados em seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa
trança, que cai para trás e forma em cima uma crista para esconder a lâmina de faca que ele tem
no alto do crânio". (1)
Divindade sempre erradia, Exu tem o seu assento no quintal, fora da casa do candomblé. Sua
morada fica comumente perto da entrada principal, numa casinhola com cerca de metro e meio
de altura.
A pequena porta da casinhola costuma ser fechada a cadeado, evitando que Exu possa sair em
horas impróprias, fazendo suas estripulias.
Pode existir, no entanto, o Exu doméstico de um candomblé, que mora por vezes no interior da
casa.
É o Compadre, nome carinhoso e expressivo, sabendo-se que, para o povo, o compadrio
estabelece laços muito íntimos, com força de familiares.
Todos têm Exu, mesmo aqueles que o tratam como demônio. Sem ele, não existiria vida,
evolução, movimento, crescimento, dinamismo; enfim, estaríamos completamente estagnados e
sem rumo. Não apenas os seres humanos, mas todos os seres vivos do mundo, têm o seu Exu,
assim como todos os orixás (com exceção de Iroko), e todos os presságios, ou Odu’s do jogo
de Ifá, e até mesmo Exu, têm seu próprio Exu.
Exu é o guardião de todas as passagens, inclusive entre o céu e a Terra, e das porteiras que
existem em nosso mundo. É muito importante que ele fique guardando a entrada, para não
deixar passar influências negativas e pessoas maléficas que possam nos prejudicar. Alguns
babalorixás evocam o orixá Exu para render-lhe homenagem, mas, logo em seguida, pedem que
ele vá embora para não atrapalhar as cerimônias sagradas. O que se deve fazer é pedir que ele
fique guardando a porta de entrada do barracão para impedir a entrada de eguns e das
oxorongá’s.
Toda casa de Candomblé reserva determinados dias por ano para prestar obrigações a esse orixá,
tanto para o Exu de nação, como o do babalorixá e o de cada iniciado que já tiver assentado o
seu. Nessas ocasiões, deve-se dar corretamente as oferendas sagradas para cada uma das formas
ou qualidades de Exu reinantes nesses terreiros, ou seja, não realizar uma única oferenda para
todos os Exu’s coletivamente, como fazem muitos babalorixás. Cada um tem sua preferência, ou,
como dizemos no Candomblé, cada Exu come de uma determinada maneira. Portanto, não se
pode dar uma comida comunitária para essas qualidades do mesmo orixá. Isso causa muita
"quizila" nas casas que agem desta forma, desencadeando um processo inevitável de
desagregação do axé (força, poder), além de uma crescente desunião entre os participantes,
devido à falta de comunicação e harmonia. É preciso ter muito conhecimento sobre esse orixá
para alcançar suas graças e não desrespeitá-lo a todo o momento.
Èsù é um Òrìsà de grande importância entres os Yorùbá. Por ser muito corajoso e esperto, é
considerado maior do que os outros Òrìsà, e nunca é esquecido por seus cultuadores que, a fim
de aplacar sua ira, fazem-lhe as oferendas de alimentos sempre em primeiro lugar. Pode ser
maldoso a qualquer momento, sendo por isso chamado de Buruku (qualificação maligna).
Os Yorùbá acreditam que ele sempre carrega um objeto chamado Agongo Ogo, com o qual
realiza suas maldades. A imagem de Èsù é feita de um conjunto de pedras (Yangi). Fazem-lhe
sacrifícios para mantê-lo em frente de casa, mas sua imagem jamais é mantida no interior do lar,
sob pena de amaldiçoar a família.
É comum oferecer a Èsù, entre outros, bodes (Òbúko), azeite-de-dendê (Epò Púpà), galos
(Àkùko), caracóis (Ìgbín), acaçá e Obí. Sobre sua imagem (Ère) colocam-se azeite-de-dendê (Epò
Púpà) e sangue de animal (Èjè), simbolizando seu banho por essas substâncias. Èsù é inimigo de
alguns Òrìsà. A fim de incitá-lo à maldade contra alguém, coloca-se sobre sua imagem (Ère) um
óleo denominado adí e um bilhete contendo o nome da pessoa contra quem se pratica o feitiço.
Pessoas pedem também fecundidade a esse Òrìsà. Conseguindo-a, dão a seus filhos nomes que
incluem o de Èsù, tais como Èsùtosin (É bom cultuar Èsù), Èsùbìyí (Nascido de Èsù), etc. Èsù
possui também outros nomes, como Elégbára, Elégbáa, Leégbá.
As cidades onde se cultua Èsù são: Ondo, Ilesa, Ijebu, Abeokuta e Ekiti. Há cem anos atrás se
costumava sacrificar seres humanos em homenagem a Èsù, pratica hoje abandonada.
EXÚ ou ÈSÙ
NOTA: As duas formas de escrever o nome do Orixá estão corretas; na língua Yorubá não existe
a letra "x", usa-se a letra "s" com um ponto embaixo que tem o som de *xi*.
As dezesseis formas mais conhecidas desse orixá, que me foram passadas em meu período de
aprendizado, são: Yangí, Àgbá, Igbá Ketá, Odarâ, Osijê, Oba Babá, Enú Gbarijó,
Elégbará, Bará, Okôtô, Elérù, Odusô, L’onan, Ol’Obé, El’Ebó e Alafiá.
ESU E O EGAN
Nos ensina Osetura que Esú foi o primeiro Orisa a usar o Egan, e por isso tornou-se o decano dos
Orisa por toda a eternidade. Tornando-se então o Egan o símbolo máximo dos iniciados.
Se o Egan é o símbolo máximo da iniciação, porque seu portador Esú não deve ser considerado
como o primeiro iniciado.
No Brasil essa questão, ao meu ver, subjetiva, tem vindo à baila insistentemente sem muita razão
de ser, vejamos.
Na África, é comum pessoa iniciada em Esú (Os Orisa de Verger) entre outros documentos, em
Cuba apesar do sincretismo, muita gente é iniciada em Elegba, no Brasil o sincretismo mais forte
e massacrante e a assimilação deste criou o impasse, Esú/demônio.
Por fim, Esú não pode ser entendido de forma maniqueísta, como a civilização cristã e européia
tende a fazer, pois, segundo a teologia yorubá, Esú se comporta como o executor da vontade
divina, como o fiscalizador dos atos dos Orisa. Nada parecido com o demônio cristão, referência
européia para Esú.
Durante muitos anos conviveu-se com uma pretensa superioridade cultural, racial, religiosa na
África e na região dos Yorubá que provocou guerras étnicas, fato que repercute ainda nos dias de
hoje.
A suposta ação evangelizadora desarticulou sofisticadas estruturas religiosas, imprimindo aspectos
negativos e demoníacos à imagem de Esú que, ainda hoje, habitam o universo religioso e pratico
dos mais renomados Baba/Iyá.
A perda dos valores primais africanos foi causada, sobretudo, pela escravidão, e posteriormente
pela miscigenação com as seitas espíritas cristãs, permitindo assim que os mais sérios seguidores
do Orisa ressaltem os aspectos negativos dos demônios, referindo-se a Esú como:
Exu Lúcifer, Exu Tranca Rua das Almas, Exu sete poeiras do inferno, Exu Rei das sete
encruzilhadas, ou mudam seu sexo, Exu Pomba Gira ou Exu Maria Padilha.
Os nomes e atributos deste importante Orisa do panteão Yorubá não permitem interpretações
errôneas como as perpetuadas pela inércia e ignorância de pseudo-s expert em cultura Yorubá.
Isto posto, resta muito pouco a discutir. Se olharmos no passado os referenciais dos nossos
ancestrais veremos que a historia oral nos legou alguns nomes de pessoas altamente
recomendáveis feitas de Esú, mas Esú e não demônios, (tranca ruas da vida ou pomba giras).
Falo isto porque é comum encontrar nos dias de hoje pessoas feitas desse tipo de entidade, e sua
afirmações condizem com a sua realidade ou de seu ( pai de Santo ). È comum ouvirmos de um
"Pai" a seguinte afirmação, "tenho um/a filho/a feito de Esú. E olha que ele é muito bom veio da
Umbanda é exu molambo ou então era marabô e assim por diante. Isso mostra a ignorância dos
tais "pais ". Uma outra afirmação nos leva ao xis do problema, é comum afirmações do tipo " eu
trabalho com magia negra e meu exu é batata, na magia ele não falha. É comum e notório nos
programas sensacionalistas da Tv vermos o exu lúcifer de pai Fulano, fazendo trabalhos nos
cemitérios cariocas se denominando exu. Essas afirmações têm levado as pessoas serias a
retrairem-se quando vêem no jogo que o Orisa da pessoa é realmente ESU.
Voltando a oralidade vamos ver que Tio Cassiano, tio carnal de D. Menininha era feito de Esú e
chamava-se ESU BIY.
Dois casos são interessantes o caso de Cafire e de Djalma de Lalu.
No primeiro segundo relatos ela teria entrado pra fazer santo e faria Ogun depois de muitos ebós
e varias conferencias com o Babalorisa chamado para resolver o "problema" foi assentado e ficou
combinado que OGUN seria o Orisa feito, e para evitar qualquer problema ele não saiu junto no
barco, ficou por ultimo em separado, e na hora que cantou a cantiga da saída (ela) teria corrido
na frente dos iawo tirando a ação do Babalorisa em questão e na hora do nome falou bem alto
ESU IKÉTÉ e sua digina ficou Cafire.
No caso de Djalma que conheci pessoalmente o finado Tata Fumutinho o recolheu para fazer
Oxossi, também depois de muito ebó e conferencias com o exu rebelde que queria ser feito, o
caso foi resolvido com uma conversa de Tata e Esú que afirmou ir embora se Tata fizesse um ebó
especial, o que foi feito e Esú se foi conforme combinado, no dia do nome Oxossi saiu e na hora
falou bem alto Bára ceji Lona.
Esses dois casos nos mostram que se é ESU será Esú, mas é difícil ser Esú.
A meu ver a questão é que a umbandização e a cardesização, ambas de matriz cristã tem levado
a melhor, é melhor ter um grande demônio em casa, Lúcifer, Belzebu, que são valorizados pelo
nome de origem grego-romana, que um simples EXU de origem africana que não solta fogo pela
boca nem usa o tridente do deus dos infernos, tornando-se no Maximo o compadre tão falado,
cachaceiro, mulherengo e amigo nas horas vadias.
Mas ESU é um Orisa a ser iniciado, e como todos os outros tem seus preceitos especiais, pouco
divulgados, conservados em segredo e espero que continuem assim.
Algumas observações sobre Esú Orisa:
Esú não pode ser feito em cabeça de mulher.
Esú é sempre feito sozinho.
Existem pessoas especiais para fazer parte de uma iniciação de Esú.
Muito embora as folhas de Esú sejam em sua maioria urticante, na iniciação não são essas as
folhas do omi éró.
Por enquanto é só, Laroiye.
ÈSÙ
A palavra Èsù em yorubá significa "esfera" e, na verdade, Exu é o orixá do movimento.
De caráter irascível, ele se satisfaz em provocar disputas e calamidades àquelas pessoas que
estão em falta com ele.
No entanto, como tudo no universo, possui de um modo geral dois lados, ou seja: positivo e
negativo. Exu também funciona de forma positiva quando é bem tratado. Daí ser Exu
considerado o mais humano dos orixás, pois o seu caráter lembra o do ser humano que é de um
modo geral muito mutante em suas ações e atitudes.
Conta-se na Nigéria que Exu teria sido um dos companheiros de Odudua quando da sua
chegada a Ifé e chamava-se Èsù Obasin. Mais tarde tornou-se um dos assistentes de Orunmilà
e ainda Rei de Kêtu, sob o nome de Èsù Alaketú.
Mas, o que significa a palavra elegbara?
A palavra elegbara significa "aquele que é possuidor do poder (agbará)” e está ligado à figura
de Exu.
Um dos cargos de Exu na Nigéria, mais precisamente em Oyó, é o cargo denominado de Èsù
Àkeró ou Àkesán, que significa "chefe de uma missão", pois este cargo tem como objetivo
supervisionar as atividades do mercado do rei.
Exu praticamente não possui ewós ou quizilas. Aceita quase tudo que lhe oferecem.
É o dono de muitas ervas e entre elas aquela denominada de "vassourinha de Exu", que tanto
serve para efetuar atos de limpeza, como também é utilizada como sabão, para lavar roupas de
santo, como se faziam antigamente. A sua frutinha é pequenina e amarelada podendo também
ser comida.
Os yorubás cultuam Exu em um pedaço de pedra porosa chamada Yangi, ou fazem um montículo
grotescamente modelado na forma humana com olhos, nariz e boca feita de búzios. Ou ainda
representam Exu em uma estatueta enfeitada com fileiras de búzios tendo em suas mãos
pequeninas cabaças onde ele, Exu, carrega diversos pós de elementais da terra utilizados de
forma bem precisa, em seus trabalhos.
Exu tem a capacidade de ser o mais sutil e astuto de todos os orixás. E quando as pessoas
estão em falta com ele, simplesmente provoca mal entendidos e discussões entre elas e prepara-
lhes inúmeras armadilhas. Diz um orìkì que: "Exu é capaz de carregar o óleo que comprou no
mercado numa simples peneira sem que este óleo se derrame".
E assim é Exu, o orixá que faz: O ERRO VIRAR ACERTO E O ACERTO VIRAR ERRO.