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São Cristóvão
2015
JURANDIR VANZELLA DE GODOI
São Cristóvão
2015
AGRADECIMENTOS
Aos professores: Maria Madalena, Etelci, Adriana, Jane, Terezinha Papim, Marinez,
Marcia, Ivan, Sonia, Aparecida, Rejane Harder, Mackely Ribeiro Borges, Christian
Lisboa, Eduardo Conde, Priscila Gambary, Marcus Ferrer, Yuri Barreto, Hermógenes
Araujo, João Liberato, Ezequiel Oliveira, Daniel Nery, Marcos Balieiro, Everaldo de
Oliveira, Maicon Barbosa, Rivaldo Savio, Perolina Teles, Jairo Brandão, James
Bertisch, Antonio Chagas e todos aqueles cujo nome não consegui lembrar.
Aos professores de violino: Olício Machado, Elier, Aldo Villani, Augusto Conde e
Marcio Rodrigues.
Aos meus colegas da Universidade que tanto me ensinaram, mais do que uma teoria, o
significado do companheirismo.
Ao meu pai, Jurandir Gomes de Godoi, meu primeiro professor de música, e minha
mãe, Maria Cristina Vanzella, sem a qual não teria a vida. Aos meus queridos irmãos
Juliano Vanzella, Julie Aline Vanzella, Julio Vanzella, que sempre estarão em meu
coração.
A minha querida namorada, Amanda Araujo, que tem tanta paciência comigo.
RESUMO
Uma revisão bibliográfica é utilizada para a realização deste trabalho. Este tem como
objetivo mostrar a necessidade de uma melhor observação para ensino de alunos alto
habilidosos/superdotados, mostrando ainda a necessidade do educador musical ter o
efetivo conhecimento desta área. Foram utilizados na pesquisa diversos materiais, como
livros, revistas, artigos, dissertações, vídeos, recurso oferecidos pelo meio virtual entre
outros. Ao final da pesquisa foi concluído que: de fato é necessário ajudar os indivíduos
alto habilidosos/superdotados a explorar todo o seu potencial, não esquecendo que, por
mais que os superdotados tenham uma capacidade intelectual superior, são pessoas e
precisam de atenção, ensino e de vivência social.
1. INTRODUÇÃO
É difícil imaginar que o famoso físico Albert Einstein esteve em uma escola, foi
colega de classe de alguém e precisou de um professor? Que provavelmente este grande
cientista já esteve ansioso pelo momento em que o “sinal” batesse para o “recreio”, ou
que já levou uma chamada de atenção do professor porque estava conversando na sala
de aula ou mesmo brincando com os colegas enquanto o mestre explicava? E talvez esta
comunidade da escola (ou até mesmo ele próprio) não imaginavam que este aluno traria
inovações no campo da física que o deixariam famoso no mundo todo e ainda depois de
sua morte seria célebre, lembrado e respeitado? O que está escrito acima está no campo
da especulação, entretanto, tem o intento de mostrar que alto habilidoso/superdotado
termo utilizado, pela maioria dos autores consultados nesta pesquisa(ALENCAR,
DELOU, et al., 2007; ARANHA, 2002; FLEITH, 2007; VIRGOLIM, 2007, entre
outros), para designar indivíduos que possuem habilidades acima da média em
determinadas áreas do conhecimento, que passaremos a denominar daqui em diante com
as siglas AH/SD – não são seres iluminados, intocados, que não existem na escola
comum estudando como qualquer pessoa normal. Eles existem em nosso meio sem que
muitos percebam. Na opinião de Virgolim (2007):
No entanto, chama-se a atenção, nos dias atuais, para o fato de que essas
mentes extraordinárias, a despeito de suas potencialidades genéticas, não
nasceram inteiramente prontas. Não há uma separação absoluta entre tais
pessoas e os seres humanos “comuns” como eu e você (VIRGOLIM, 2007, p.
9).
Entretanto, de acordo com Fleith (2007, p. 9), isto tem mudado. Esta autora
aponta que a preocupação de se estimular estes indivíduos vem crescendo, mostrando
que, em 2005, foram criados núcleos de altas habilidades em todos os estados
brasileiros (FLEITH, 2007, p. 9). Esta ação visa a criação de modelos de ensino
específico para AH/SD. Também tenta dar suporte a formação de professores para que
haja profissionais experientes que possam interagir com os AH/SD na infância, pois
quanto mais cedo este são identificados, melhor serão aproveitadas as potencialidades
destas pessoas, inclusive poderá haver um melhor direcionamento quanto à preparação
social tanto dos AH/SDs como dos indivíduos que estão a sua volta.
Este trabalho vem trazer à tona esta discussão, de quem são os AH/SD, como
identificá-los,como seria uma estratégia pedagógica (no caso deste trabalho na área de
música), entre outros.
1
Para Virgolim (2007, p. 27) gênio seria aquelas pessoas que deram uma grande contribuição original
para o mundo ou que mudaram o rumo ou da história ou da humanidade como Platão, Beethoven, entre
outros. Portadores de Altas Habilidades seria aquele sujeito que se enquadram dentro dos três anéis de
Renzulli: habilidade acima da média, motivação, criatividade.
9
2. O QUE É SUPERDOTAÇÃO?
O que não se pode confundir são pessoas que, por meio do esforço, obtém bons
resultados com as pessoas superdotadas, pois esses dois perfis de indivíduos até certo
ponto são parecidos. É provável que se dermos o mesmo material a um AH/SD e a uma
pessoa considerada mediana pelo senso comum, o primeiro terá, normalmente, uma
possibilidade maior de fornecer uma resposta mais criativa e, possivelmente, as
soluções dos problemas seguirão por um caminho completamente incomum em relação
ao que seria tomado por uma pessoa dita “normal”. A esse respeito, Francis Heylighen,
professor da Vrije Universiteit Brusse em Bruxelas, no seu artigo Gifted People and
their Problems(s/d, p. 1) afirma que AH/SD possuem normalmente ideias inovadoras
que outras pessoas, às vezes, não compreendem, pois algumas soluções fogem a
maneira do que é comum de ser pensado. Quem sabe isso ocorra devido à complexidade
do pensamento do AH/SD e talvez até por isso Francis Heylighen (s/d, p. 2) também
aponte: “minha preferência pelo complexo às vezes me leva a subestimar a resposta
simples” (tradução nossa)2, ou seja, quando a resposta é simples, essa acaba passando
despercebida. Essa mesma ação também pode ocorrer com algumas atividades, que, se
2
“My preference for complex can fool me into underestimating the simple answer”.
10
forem simples, acabam sendo pouco interessantes e por isso o alto-habilidoso não se
dedica, ou simplesmente não é participativo.
Todas estas questões levaram a diversas pesquisas, entretanto, quem deu início
ao estudo mais importante realizado sobre AH/SD, de acordo com Alencar (1986, p.27),
foi Termam3. Seu estudo se baseou em acompanhar crianças superdotadas por toda a
vida, investigando traços físicos, intelectuais, personalidade e que tipo de adultos estas
crianças se tornaram (Alencar, 1986, p. 27).
3
Lewis Madison Terman, USA, iniciou na década de 20 (1920) um dos estudos mais importante sobre
superdotados, publicou vários livros tais como: Traços Mentais e Físicos de 1000 Crianças superdotadas,
1925; Traços Mentais Precoces de 300 Gênios, 1926; A Promessa da Juventude, 1930; A Criança
Superdotada após o crescimento, 1947 (ALENCAR, 1986, p.27).
11
Outro mito é o de que não se deve falar ao AH/SD que ele é mais capacitado que
as outras crianças. Um dos argumentos usados para defender este ponto de vista é que o
AH/SD “poderia passar a rejeitar os seus colegas e isto poderia gerar tensões”
(ALENCAR, 1986, p. 42). Muitas vezes, em razão de um argumento como este, a
criança não é informada de seu potencial e nem lhe são dadas as oportunidades para seu
desenvolvimento e rendimento, o que impede que esta, no momento certo, possa dar
uma importante contribuição intelectual à sociedade ou ao seu meio. Talvez não
explicar para a criança sobre sua verdadeira capacidade seja a alternativa mais fácil,
porque normalmente a educação em escolas de ensino regular não se baseia na
criatividade e sim na reprodução do que já se conhece e quase sempre com o objetivo
que o aluno passe no vestibular. De acordo com Alencar:
Outro ponto que Alencar (1986, p.42) aponta é que ao discutir com professores
do primeiro grau sobre a produção criativa, este recebe a seguinte resposta: “[...]
criatividade é algo que deve ser uma preocupação do professor de arte [...]”
(ALENCAR, 1986, p. 42). Com isto se percebe que, para alguns, não é interessante
ensinar o estudante a pensar, ou a ser criativo, ou mesmo identificar o potencial de cada
aluno. Segundo Pereira (2007, p.24), no Brasil a pedagogia de formação dos docentes
não é voltada para o desenvolvimento criativo e isto tem seu reflexo na sala de aula,
pois, nas aulas, lembrando que existem as exceções, normalmente não há uma troca de
13
informação e sim, o professor fala e o aluno escuta. Devido a tais limitações do sistema
de ensino, nem sempre o AH/SD será o melhor aluno da sala, mesmo tendo habilidades
superiores. Isto acontece, muitas vezes, devido à má adaptação não só do aluno de
grande potencial, como da própria escola. Esta é projetada para ajudar os que têm
dificuldades, o que a torna limitada para o aluno com intelecto superior. Alencar (1986,
p. 45) aponta que várias razões contribuem para uma possível má adaptação do aluno
AH/SD à escola, seja a causa desta não adequação os métodos de ensino, ou ensino
mais lento, ou mesmo aulas monótonas.
talento, mas também pelo esforço e por isto desde cedo estimularam as habilidades
destas crianças.
(...) uma jovem estudante que havia passado 18 anos acreditando que ela não
era inteligente porque ela questionava mais do que os outros na sala de aula.
Mais tarde, na universidade, na classe de Clark, quando as características dos
AH/SD estavam sendo discutidas, a jovem ficou tão comovida que ela
decidiu dizer que ela se identificava com os AH/SD, embora ela não fosse
superdotada. Ela ficou tão emocionada que naquela noite ela ligou para seus
pais. Durante a conversa com estes, a jovem estudante descobriu que ela
possuía um QI de 165, mas, os funcionários da escola haviam aconselhado
seus pais a não conversar com ela sobre seu QI extraordinário. E isto resultou
em baixa autoestima acadêmica e a auto-concepção ridícula de ser estúpida!
(HEYLIGHEN, s/d, p.6) (tradução nossa).4
Existem casos em que o professor possui um aluno AH/SD em sua sala, mas,
está completamente despreparado para isto. Esta combinação pode chegar a extremos,
pois neste caso tanto o aluno quanto o professor podem criar aversão um pelo outro,
4
“(...) young female student who had spent 18 years believing she was not intelligent because she asked
more questions than the others in class. Later, in Clark's university class, when the characteristics of the
gifted were discussed, the woman was so moved that she decided to say that she identified with the gifted
even though she knew she was not gifted. She was so stirred by the class that later that evening she called
her parents. During a conversation with them, the woman student found out that she has a measured IQ of
165. School personnel had advised her parents not to discuss her extraordinary IQ with her. This resulted
in a low level of academic self-esteem and the ridiculous self-conception of being stupid!”
15
Outro tipo de conflito comum no superdotado segundo Heylighen (s/d, p.9), são
os conflitos internos. O alto-habilidoso enfrenta com frequência o dilema a respeito de
quem ele realmente é e no que pode se tornar. Heylighen (s/d, p.9), explica que, apesar
destes conflitos parecerem degenerativos, na realidade não o são. Tais conflitos, na
verdade, são processos de desenvolvimento, que fazem com que o superdotado substitua
modos mais comuns de pensar por outros de níveis mais elevados. De acordo com
Heylighen (s/d, p.9), este tipo de tensão impulsiona a vida da pessoa criativa. O autor
salienta ainda que, quando um terapeuta trabalha com a população superdotada, deve ter
em mente estes processos internos para que não cause maior dano psicológico à mesma.
Heylighen ainda cita que:
5
“Get bored with routine tasks; Resist changing away from interesting topics or activities; Be overly
critical of self and others, impatient with failure, perfectionist; Disagree vocally with others, argue with
teachers; Make jokes or puns at times adults consider inappropriate; Be so emotionally sensitive and
empathetic that adults consider it over-reaction, may get angry, or cry when things go wrong or seem
unfair; Ignore details, turn in messy work; Reject authority, be non-conforming, stubborn; Dominate or
withdraw in cooperative learning situations; Be highly sensitive to environmental stimuli such as lights or
noises.”
16
6
“When working with the gifted, a therapist must address the following intrapersonal issues: the internal
stress of being gifted; the emotional trauma of rapid development; the effects of introversion, intensity,
perfectionism and extraordinary sensitivity on self and other; the recognition of the symptoms of
insufficient mental engagement; the importance of interacting with other gifted persons, and channeling
and focusing an abundance of physical, sensual, intellectual and emotional energy.”
7
“A real friend is a place you go when you need to take off the masks. You can say what you want to
your friend because you know that your friend will really listen and even if he doesn’t like what you say,
he will still like you. You can take off your camouflage with a real friend and still feel safe.”
8
Conferir o original em anexos figura 1 na p. 67.
17
Altamente curioso. Muitos interesses Inicia muitos projetos - talvez não os acabe,
pois quando os conceitos ja foram
assimilados o trabalho torna-se tedioso. Pode
não funcionar bem em um grupo.
Propôem soluções excêntricas sempre Fica frustrado por não ser compreendido. Os
tem opiniões fortes. outros podem considerá-lo uma criança
estranha.
Persistente e guiado por metas. Outros podem ver isso como teimosia e
não cooperação.
Pensa em termos abstratos muito cedo na Pode estar preocupado com a morte ou com
vida. o significado da vida. Pode rejeitar detalhes
em favor de conceitos que podem ser vistos
como desrespeitosos por outros - por
exemplo, crença ateísta.
3. CARACTERÍSTICAS DE UM AH/SD
9
Pessoas descritas sendo muito emotivas, muito enérgicas, manipuladoras, sedutoras, impulsivas,
inconstantes e exigentes, necessitando constantemente de atenção, com exagerado comportamento
dramático. (cf. http://oficinadepsicologia.com/perturbacoes-de-personalidade/histrionico-2).
10
Acontecendo, não exclusivamente, na infância e na adolescência, trata-se de um estado depressivo
crônico de pelo menos dois anos (entre os sintomas, perda ou aumento do apetite, insônia ou hipersonia,
falta de energia ou fadiga entre outros). Quando manifestado na idade adulta é mais frequente nas
mulheres. (cf. http://saude.umcomo.com.br/articulo/como-reconhecer-um-transtorno-distimico-
3799.html)
11
Trata-se de um transtorno que apresenta ânimo flutuante, vai de euforia até a tristeza profunda, se
desenvolve lentamente até se tornar crônico. (cf. http://saude.umcomo.com.br/articulo/como-reconhecer-
o-transtorno-ciclotimico-3895.html)
12
É um transtorno grave de personalidade, que pode ir desde a normalidade até surtos psicóticos,
dificuldades de se relacionar, alteração de humor, impulsividade entre outros. (cf.
http://www.tuasaude.com/sindrome-de-borderline/)
13
Histrionic, dysthymic, cyclothymic, borderline, narcissistic, ADHD (Attention Deficit Hyperactivity
Disorder) or ADD (Attention Deficit Disorder) are a few of the diagnostic labels mistakenly used to
describe normative stages of positive disintegration. The results of this type of misdiagnosis can range
from benign neglect to misguided counseling strategies that invalidate and attempt to ‘normalize’ the
complex inner process of the gifted.
19
No AH/SD este processo pode ser rápido ou pode ser muito lento dependendo da
complexidade do assunto, e isto, em alguns casos, faz com que o AH/SD fique irritado
com interferências externas, e por isto este se isole, ou fique horas sem dormir
procurando soluções, deixando toda sua rotina cotidiana de lado. Mais à frente serão
demonstradas com maior profundidade estas características, que devem ser observadas
atentamente para evitar possíveis enganos, ou diagnósticos errados. Basicamente
Alencar (1986), Kirk e Gallagher (1996), Heylighen (s/d) e outros autores estudados
durante o desenvolvimento deste trabalho mostram características do AH/SD de forma
semelhantes. Por exemplo, todos estes citam que o AH/SD tem boa memória, são
líderes, gostam de desafios, gostam de discussões, entretanto optei por mostrar as de
Heylighen (s/d) por estarem, ao meu ver, melhor organizadas. Este divide as
características do AH/SD da seguinte forma: cognitivas, percepção/emoção,
motivação/valores, atividade, relações sociais.
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original, unusual ideas, creativity, connects seemingly unrelated ideas; superior abilities to reason,
generalize or problem solve, high intelligence; vivid and rich imagination; extensive vocabulary, verbal
ability, fascinated by words, learns new things rapidly; excellent long term memory; grasps
mathematical/scientific concepts readily, advanced comprehension, insightful; avid reader; complex and
deep thoughts, abstract thinker; runs mind on multiple tracks at the same time, fast thinker.
20
tarefa que esteja executando não tenha nada ver com o conhecimento aprendido
anteriormente. O aluno AH/SD consegue relacionar os conteúdos aprendidos em
diferentes disciplinas (física com português, matemática com história, entre outras).
Acreditamos que seja talvez esta, a característica que mais otimiza o processo de
aprendizado do alto habilidoso, pois no sentido de compreensão de determinado
conteúdo esta característica vai dar suporte para uma rápida absorção. Como, também
apontado por Heylighen (s/d p. 1), o AH/SD também tende a procurar padrões naquilo
que o rodeia (no que aprende, observa, entre outros), estas duas habilidades tendem a
dar suporte uma a outra.
Acreditamos que ter estes tipos de habilidades favorece o AH/SD porque toda a
experiência de aprendizado já vivida é aproveitada, pois este cruza estas informações já
adquiridas. Podemos até especular que estes conhecimentos que são “cruzados” não
vêm só do estudo acadêmico, como também das experiências oriundas de outros meios.
Isto talvez possa ser percebido na sala de aula quando o aluno usa argumentos, ou
métodos de memorização, de uma disciplina em outra. Por exemplo, usar poemas que se
aprende na aula de português para decorar fórmulas matemáticas, inventar frases para
decorar a tabela periódica, entre outros.
Podemos pensar que esta habilidade de conexão também contribui para que
quando o AH/SD quando forma suas ideias, acabe englobando nestas várias
informações das diversas áreas, assim prevalecendo nas discussões (HEYLIGHEN, s/d,
p. 10). Com isto a ideia, quando avaliada por pessoas que não entendem este processo,
pode ser julgada como simplista, devido a agilidade de tempo de resposta e em outros
casos como criativa e original (o que, talvez, sob o ponto de vista do AH/SD pode não
ser necessariamente verdade, pois este sabe que a ideia formulada não passa de uma
“colcha de retalhos”) e em alguns momentos, como nos aponta Heylighen (s/d, p. 1),
como incomum. Isto, talvez, porque as pessoas consideradas medianas pelo senso
comum nem sempre conseguem ver a ideia sob todas as perspectivas do AH/SD e com
isto acham que a ideia não vai funcionar, ou que esta é um absurdo ou ilógica.
Pode-se supor então que esta habilidade está ligada a condicionar informações
de forma que elas tenham a ver uma com a outra, com isto facilitando generalizá-las,
otimizando o raciocínio, tornando este mais rápido e eficiente principalmente na
resolução de problemas. É como, talvez, se o conhecimento fosse um quebra-cabeça e o
21
AH/SD tivesse a capacidade ver que estas peças, que formam as novas aprendizagens,
já estão dentro de sua cabeça (vinda de outros conhecimentos já adquiridos), e no
momento que fosse lhe apresentado um novo saber estas peças começassem a se juntar.
Como nos aponta Heylighen (s/d, p. 1), a imaginação do AH/SD é muito rica, e
até por isto este se torna um leitor ávido, pois a leitura talvez seja um meio acessível de
estimular a imaginação, trazer o alcance do conhecimento e ajuda ainda na absorção de
vocabulário, que no alto-habilidoso, segundo Heylighen (s/d, p. 1), já é naturalmente
extenso.
E também, por fim, também citado por Heylighen (s/d, p. 1), o AH/SD faz várias
atividades ao mesmo tempo (exemplo, assiste televisão, escreve no computador, ouve
música). Acreditamos que por ter esta postura pode parecer que o AH/SD não consegue
ficar parado e por isto esta habilidade poderá, em alguns casos, ser confundida com
hiperatividade.
3.2 PERCEPÇÃO/EMOÇÃO
Podemos dizer que, por mais racional que o ser humano possa ser, ainda em
cada momento estamos lidando com diversas cargas emocionais. Estamos nos
apaixonando, nos enraivecendo, administrando decepções, enfrentando a morte de
pessoas queridas, entre outros. Enfim, as emoções fervilham inevitavelmente em nosso
corpo e mente. Segundo Virgolim (2007, p. 44) os AH/SDs têm uma capacidade de
captação emocional maior do que são capazes de administrar.
uma exclusividade deste grupo neste trabalho estudado, entretanto, pode ser que nos
AH/SD seja mais difícil administrar cargas emocionais intensas e por isto acreditamos
ser necessário que estes tenham boas experiências neste quesito para possuir um bom
desempenho social, caso contrário, talvez, haja mais possibilidade do AH/SD fracassar
socialmente do que uma pessoa dita mediana. Por exemplo, se o AH/SD nasceu em um
lar cujos pais têm um casamento bem construído terá maior possibilidade de possuir
uma boa administração emocional do que um AH/SD que nasceu em um lar onde os
pais são separados, ou onde os progenitores têm constantes brigas. Dentro desta ótica
Heylighen aponta as seguintes características:
15
highly sensitive; excellent/unusual sense of humor; very perceptive, good sense of observation;
passionate, intense feelings; sensitive to small changes in environment; introverted; aware of things that
others are not, perceive world differently; tolerance for ambiguity & complexity; can see many sides,
considers problems from a number of viewpoints; childlike sense of wonder; openness to experience;
emotional stability, serenity.
23
no AH/SD podem ocorrer também porque muitas vezes há uma confusão entre
inteligência e maturidade. Uma coisa é a pessoa ser muito inteligente, outra ela ser
madura, “[...] o fato de ter altas habilidades em várias áreas não garante maturidade na
área pessoal e/ou social” (ARANHA, 2002, p. 25).
Com Heylighen (s/d, p. 1-2) aponta os AH/SDs têm muita imaginação, sonham e
se maravilham como se fossem crianças. Reparamos que isto é algo que a maioria das
pessoas perdem conforme vão atingindo a vida adulta. Lewis, escritor de “Crônicas de
Nárnia” fala em três maneiras de escrever para crianças:
Talvez esta capacidade criativa venha de passar a vida toda adquirindo o saber e
gostos, preservando o conhecimento, mesmo aqueles aprendidos na tenra infância e não
24
trocando estes por outros como fazem as outras pessoas. Talvez seja esta capacidade
que propicie ao AH/SD não ter medo de tornar seus sonhos em projetos e estes projetos
em realidade.
3.3 MOTIVAÇÕES/VALORES
à capacidade de trabalhar horas sem descansar (tema que será melhor abordado no
subtítulo “Atividade”), entre tantas outras capacidades e talvez assim seja possível
poder imaginar o resultado de ter todas estas habilidades juntas funcionando
sincronizadas. Se pudermos imaginar isto, então poderemos ter um vislumbre do
potencial que um trabalho realizado por um AH/SD pode atingir.
Entretanto, aqui é necessária certa cautela, pois isto não quer dizer que todo o
AH/SD terá estas características, que será justo, ou o “politicamente correto”, pois isto
dependerá da construção social: família, escolas, entre outros aspectos.
Em nossa opinião, uma das características que deve receber melhor atenção
tanto dos pais, quanto dos professores, é em relação à quantidade de interesses. Por
exemplo, a criança “A” quer aprender tocar violino, então, vê um colega, uma criança
“B”, aprendendo piano. A criança “A” vai querer aprender piano também e assim vai
acontecendo, de tarefa em tarefa, e se os pais permitirem este acúmulo porque a
“criança tem que gastar energia”, a criança “A” pode acabar ficando sobrecarregada de
afazeres e e talvez não consiga um bom desempenho em nenhuma destas atividades,
podendo até mesmo desistir de tudo o que está fazendo. Este evento pode ser transferido
para vida escolar. Como? A criança acaba ficando tão acostumada a fazer tantas coisas,
que quando precisa concentrar em uma única coisa não consegue. Por exemplo, a
professora está explicando um assunto e o aluno está pensando em várias outras coisas e
não somente no conteúdo apresentado. Sobre isso Heylighen(s/d) aponta o seguinte:
Podemos também especular que um pouco desta falta de foco do AH/SD está na
sua grande facilidade de assimilação, por quê? Isto ocorre, como já apontado acima por
Heylighen (s/d), porque o AH/SD aprende mais rápido. Isto pode ser uma vantagem,
mas há um problema, aprender rápido, as vezes, também faz com que o AH/SD não
chegue ao fim dos processos de aprendizagem de determinados conteúdos. Pois, uma
vez que começa determinada atividade e já entendeu o conceito desta, o AH/SD não tem
paciência de estudar ou fazer esta tarefa até o fim e logo quer passar para outra. Por
exemplo, na área de música, o professor passa para o aluno estudar um concerto ou uma
sonata (de piano, violino, viola, trompete, ou de qualquer outro instrumento) que, no
geral, mas nem sempre, tem três movimentos. Uma vez que ele aprendeu o movimento
do concerto/sonata que ele gosta, este aluno poderá não ter paciência para estudar os
outros movimentos restantes, pois já perdeu o interesse pela peça. Logo, começa a pegar
outros concertos para estudar e com isto fica estudando muitas peças ao mesmo tempo e
acaba por não fazer nenhuma dessas obras direito. Este é outro exemplo de que como
esta busca, por realizar muitas atividades ao mesmo tempo, pode levar o alto habilidoso
a perder em produtividade, pois o AH/SD acaba gastando mal o seu tempo com
conteúdos que, naquele momento, não são relevantes. Por isso mais uma vez reiteramos
a importância de um bom direcionamento, tanto em casa, como na escola.
17
In the classroom, a gifted child's perceived inability to stay on task is likely to be related toboredom,
curriculum, mismatched learning style, or other environmental factors. Gifted children may spend from
one-fourth to one-half of their regular classroom time waiting for others to catch up -- even more if they
are in a heterogeneously grouped class.
28
3.4 ATIVIDADE
O AH/SD em geral tem muita energia, principalmente quando está fazendo uma
atividade que é de seu interesse. É como uma criança que ganha um videogame ou um
brinquedo novo e esquece tudo: de comer, de dormir, descansar. Seu pensamento fica
exclusivamente direcionado ao assunto de interesse, pesquisa até esgotar as fontes que
tem acesso e, enquanto as pessoas de inteligência considerada mediana talvez se
entediassem neste processo todo, o AH/SD trabalha até o ponto da fadiga, ultrapassando
os limites do corpo e todo este mecanismo de aprendizagem acaba por fazê-lo, em nome
do saber, isolar todo o resto, entrando quase em um estado meditativo. Virgolim (2007)
aponta que:
18
may need less sleep.
19
great deal of energy; long attention span, sustains concentration on topics of interest, persistent; cannot
stop thinking, work myself to exhaustion; needs periods of contemplation, solitude; spontaneity.
29
Talvez seria quase desnecessário apresentar esta característica, uma vez que esse
trabalho todo gira em torno de encaixar o AH/SD em um mundo mais lento, onde este
está acima do que o senso comum denomina como mediano. Entretanto, é necessário
atentar que não se pode esperar que uma maioria das pessoas se adaptem a esta minoria
aqui apresentada. Porém, ao contrário do que se pensa, pessoas superdotadas podem sim
ter um bom ajuste social, mas isto pode depender do grau de superdotação que esta
pessoa possui. Alencar et al. (2007):
Contrário a essa ideia, inúmeros estudos têm indicado que muitos alunos com
altas habilidades/superdotação caracterizam-se não apenas por uma
inteligência superior, mas também por um melhor ajustamento social e
emocional. Entretanto, aqueles que apresentam uma inteligência
excepcionalmente elevada tendem a enfrentar maior número de situações que
poderão ter um impacto negativo no seu ajustamento sócio-emocional
(ALENCAR et al., 2007, p. 19).
Como dito anteriormente, todo este aspecto do bom ajuste social não depende
exclusivamente de uma habilidade superior, mas, do meio de convivência, da estrutura
cultural ensinada pela família e de como o AH/SD adapta esta cultura familiar na
escola, trabalho e outros ambientes. Quando há desajustes sociais, esses podem ocorrer
devido à própria falta de conhecimento do AH/SD da sua capacidade superior e do
excesso de sinceridade que este geralmente possui, o que o impede de guardar suas
opiniões, expressando estas sem nenhum constrangimento, em alguns casos ofendendo
as pessoas que estão a sua volta. Heylighen aponta que o AH/SD:
Estar sozinho é um fardo grande a ser carregado pelo AH/SD. Esse pode
entender a perspectiva de muitos, entretanto, a recíproca não é verdadeira, porque ele
não consegue que as pessoas entendam sua forma de pensar e acaba, na visão das outras
pessoas, sendo taxado (como dito anteriormente) como o que tem ideias absurdas, ou “o
que sempre é diferente”, ou “o do contra”. No ambiente de trabalho nem sempre o
AH/SD consegue esconder suas capacidades, até porque estamos tratando de uma
pessoa muito espontânea e criativa e isso talvez possa vir assustar as pessoas que o
lideram, seja por essas, talvez, possuírem medo de perder seu cargo para uma pessoa
mais capacitada, ou pelo fato do AH/SD questionar muito e nesses questionamentos
deixa à mostra a ignorância de seus chefes (ou das pessoas que o cercam) o que dentro
de uma empresa não é visto com bons olhos. Por outro lado, pode se esperar do AH/SD
sentimentos de amizade, amor, empatias mais intensos, pois a percepção deste, neste
sentido, é ampliada também.
20
Questions rules or authority, asks embarrassing questions, non-conforming; feels different, out of step
with others, sense of alienation and loneliness; very compassionate; empathy: feels along with others,
helps them understand themselves.
31
4. VISÕES PEDAGÓGICAS
O ensino dos AH/SDs deve ser pensado, bem estudado e específico. A estratégia
pedagógica deve surgir do bom entendimento sobre a condição e habilidades desse
indivíduo e a esse não deve ser negado o atendimento especial, garantindo assim o
atendimento de suas necessidades. Lembrando que tomaremos como exemplo o sistema
de ensino brasileiro. A respeito da importância de programas específicos para alunos
AH/SDs, Sabatella et al. (2007) apontam que:
Neste sentido, este capítulo será dividido em duas partes. No tópico 4.1 e seus
subtópicos, serão apresentados, com base nas características do AH/SD mostradas neste
trabalho, algumas das abordagens pedagógicas para atendimento das necessidades do
alto habilidoso. Entretanto de forma alguma negamos que estas atividades servirão tanto
para os alunos tidos como medianos como para o AH/SD. Então qual a diferença?
Segundo Heylighen (s/d, p. 8) um AH/SD chega a ficar até metade do tempo de uma
aula esperando os outros colegas “normais” aprenderem um novo conteúdo. Então a
principal diferença talvez seria que o tempo de resposta do AH/SD seria melhor, o que
talvez justificasse separar este indivíduo dos considerados medianos pelo senso comum.
No tópico 4.2 e seus subtópicos, serão apresentadas/sugeridas atividades dentro dá área
de música.
33
Para um grupo tão seleto como esse estudado, se faz necessário mudanças no
sistema de ensino tradicional, valendo-se de que o AH/SD são pessoas aceleradas em
um mundo mais lento, possuem sua própria forma de aprendizado e um jeito
diferenciado de se interessar por algum assunto. Uma boa estratégia de escolha e
aplicação do conteúdo poderá ser o que definirá o sucesso ou o fracasso do AH/SD.
Pensando nisso, em alguns casos, acreditamos na impossibilidade de se fazer em
algumas disciplinas a inclusão de alunos AH/SDs em sala de pessoas ditas medianas
pelo senso comum, havendo assim a necessidade, talvez, de ambientes diferentes de
aprendizado. Vejamos agora algumas sugestões que, baseadas nas características
apresentadas anteriormente que seriam de importância para o ensino do alto habilidoso.
Acreditamos ser necessário mostrar ao AH/SD que nem tudo pode ser realizado,
que há tarefas/atividades que não podem ser possíveis em determinados momentos, por
mais inteligente ou capacitado que o indivíduo seja.
Outro sentido em que talvez este tipo de exigência poderá ser explorada é em
relação a este aluno ter contato com o fracasso e ver que não é possível ser perfeito
sempre (já comentado no tópico 3.3) e com isto saber, talvez, melhor administrar as
frustrações.
Acreditamos que este tipo de atividade ajudará o AH/SD a perceber que apesar
de suas habilidades irem além da média, ele assim como as pessoas medianas, tem
limitações e falhas e por isto ele não deve ser excessivo em suas cobranças com as
outras pessoas e nem achar que é o melhor.
Acreditamos ser necessário abrir uma discussão sobre as sensações e pontos que
impossibilitaram a execução da atividade, assim como as limitações encontradas no
aluno, apontadas pelo próprio, para a execução do trabalho proposto.
Como explicado, neste tipo de dinâmica de grupo, seria talvez melhor separar os
AH/SD do ditos “normais”, uma vez que será necessário explicar para aqueles sobre
suas próprias habilidades, para que talvez, eles possam também ter melhor
desenvolvimento em sua vida social. Entretanto, o AH/SD não é o único que deve ser
preparado para o ajustamento social, principalmente no caso de separar este grupo dos
demais alunos. Sabatella aponta que:
35
Virgolim (2007, p. 18), aponta que, apesar de nos últimos cinco anos o
pensamento sobre a pedagogia de ensino ao AH/SD ter evoluído, ainda há problemas
que poderiam ser classificados como primários, como falta de um profissional com a
especialização na área das altas habilidades, materiais pedagógicos, currículos
diferenciados, entre outros.
Neste caso exemplificado, não se pode esperar que a população deste país no
qual você está vivendo se adapte à sua cultura, e tão pouco esperar que eles irão
entender os modos de um brasileiro agir. Entretanto, vamos supor que nesta cidade que
você foi morar exista uma comunidade brasileira, com comida, músicas, festividades,
entre tantas outras coisas vindas da cultura do Brasil. Agora perguntamos, em qual meio
você vai interagir melhor ou vai preferir interagir: com os estrangeiros ou com os
brasileiros? Caso esta comunidade brasileira não exista, um brasileiro vivendo ali vai
estar separados de seus pares.
Isto talvez ocorra com os AH/SDs que não tem a oportunidade de estar com
pessoas semelhantes. E talvez este é um dos fatores que mostram a necessidade da
implantação de um modelo específico de atendimento. Segundo Sabatella et al. (2007,
p.70), existe diversos modelos de atendimento, entretanto, existem várias dificuldades
para por estas estratégias pedagógicas em ação. Isto, segundo a autora há pouco citada,
ocorre devido à dificuldade de seleção. Por exemplo, como formar os grupos dos alto
habilidosos?
Acreditamos que uma alternativa melhor seria separar os AH/SDs dos medianos.
Por que a insistência nisso? Primeiro, porque talvez, poderiam ser evitados todos
aqueles transtornos causados em sala já explicados no tópico 2.2. Segundo, porque, em
alguns casos, poderá ser feito um trabalho mais especializado. Acreditamos, neste caso
que, o professor conseguirá explorar as habilidades desses indivíduos, levando a aula a
um nível mais elevado do que se talvez estivesse em um ambiente convencional. Assim,
dependendo da situação, o mestre poderia elaborar desafios apropriados, abrindo
discussões acaloradas, aumentando o nível de exigência e de preparo do AH/SD em
avaliações e outros trabalhos. E terceiro poderá ser dado ao AH/SD a oportunidade de
interagir com seus pares, assim então, os alunos de maior potencial terão chances de se
relacionar com pessoas que entendem melhor sua visão e, por sua vez, não se sentirem
sozinhos no mundo. Entretanto, esta alternativa de forma alguma anula o fato de que o
AH/SD deve interagir com as outras pessoas fora do seu “grupo especial”, até porque
37
quando se é a minoria não se pode esperar com que a maioria se adéque ao grupo
menor. Sabatella et al. (2007) aponta que:
A escolha de conteúdos para esse grupo deve ser um processo aberto, com
atividades baseadas, em grande parte, nos interesses e preferências dos
próprios alunos. Uma prática sensata associa as necessidades dos alunos com
as oportunidades do programa, passando por uma avaliação periódica, tanto
do aluno quanto do programa. (SABATELLA et al., 2007, p. 72)
Novamente é importante frisar, que acreditamos que para este tipo de atividade e
proposta, que a melhor alternativa talvez seja separar o AH/SD dos medianos, porque os
desafios difíceis serão feitos, possivelmente, apaixonadamente pelos primeiros,
enquanto para os segundos, talvez, não o serão, e também devido ao tempo de
realização do trabalho, que, em alguns casos, será mais rápida para os AH/SDs do que
talvez seja para os demais. E se o objetivo é que os alto habilidosos explorem suas
habilidades ao máximo, não há tempo para espera dos colegas que talvez não sejam tão
eficientes.
Outro tipo de atividade que acreditamos que possa ser realizada é que o aluno
escolha um assunto de seu interesse e traga pesquisas deste para a sala de aula para
serem discutidas com os demais colegas. Esta pesquisa não deve ser feita como no
39
21
Ouvido absoluto é quando uma pessoa consegue ouvir um som e distinguir a frequência, por exemplo,
a pessoa escuta um determinado som e diz: “esta é a nota dó”.
40
treine o raciocino rápido, em alguns casos adaptando-se nas diversas situações, além de
fazer com que o discente pense sobre outro ponto de vista, o do colega. Isto, talvez,
ajudará principalmente no desenvolvimento da criatividade e no respeito pela opinião de
outras pessoas.
Talvez os acúmulos de regras que devem ser seguidas acabam por condicionar o
indivíduo a prosseguir de forma igual/ordenada a dos outros. Então o professor, talvez
para grande parte dos alunos, passa a ser a verdade, sendo assim não há sentido para o
aluno questionar este ou aquele tipo de ensino.
As regras são importantes, mas estas não são infalíveis, ou únicas. Acreditamos
que é importante o aluno entendê-las e saber onde estas devem ser questionadas, onde
as normas não fazem sentido e devem ser trocadas, ou inovadas. É importante que o
aluno não só questione alguma regra, mas que ele tenha uma solução para esta norma
que não funciona bem, alterando assim preceitos que se mantém através da tradição.
Fazer o aluno parar de pensar que só suas opiniões estão corretas é fundamental,
em alguns casos, para que tanto o aluno respeite seus colegas, como também, este
discente desenvolva a capacidade de absorver e aceitar o conhecimento que talvez
naquele determinado momento, por falta de maturidade, não ache correto.
As estratégias apresentadas não têm como objetivo fazer com que o aluno fique
dependente ou que aceite que o conhecimento passado pelo mestre ou outros colegas
sempre estará correto. Aranha (2002, p. 29) mostra que é importante o aluno ser
incentivado a buscar e a assimilar o conhecimento por conta própria também.
42
Pode também fazer com que o conhecimento passado pela escola, que antes
talvez fosse meramente superficial devido ao tempo, se tornar um aprendizado mais
aprofundado e mais consistente, por assim dizer mais especializado.
Este tipo de aprendizado não deve de forma alguma tirar a função do professor
do ensino, pois a este cabe o direcionamento do melhor material a ser consultado, para
que o aluno não fique indo pelo método “acerto e erro”.
Isto talvez possa dar o tempo necessário para aprofundamento nos três
assuntos, poderá incentivará a pesquisa, o aprendizado independente e a aplicação
prática, fazendo com que o aluno, ao apresentar o trabalho aprenda ensinando.
Estimular, também, que cada aluno amplie cada vez mais o detalhamento das
soluções que tenha proposto. Estimular que alunos que apresentam altas
habilidades em matemática, por exemplo, criem quebra-cabeças, e outros
instrumentos que exijam o raciocínio (SILVERMAN apud ARANHA, 2002,
p. 32).
Por fim, pode se deixar parte do período de curso para que os alunos possam dar
suas contribuições à disciplina. O professor deve deixar o aluno livre para trazer
propostas que se encaixem na sua matéria. Por exemplo, o aluno está estudando violão
erudito, entretanto este veio da música popular. Porque não deixar que o discente em
questão traga para a sala a música popular e fazer com que ele use uma “roupagem”
erudita neste estilo mais comum à ele? Ou mesmo em uma aula de análise harmônica,
deixar com que o aluno crie composições com base no que ele está estudando. Pois se o
discente somente analisa o acorde alemão, por exemplo, e não entende sobre a aplicação
deste, de nada serve para esta pessoa possuir este conhecimento. Talvez dentro da área
de música, um dos projetos mais fácies de incentivo à criatividade está na criação de
novas músicas. Neste caso o professor pode até sugerir que se crie jingle de séries de
televisão, ou mesmo de filmes, ou comercial para um determinado tipo de comércio, ou
para qualquer assunto que o aluno goste. Enfim, este tipo de atividade se converterá em
uma fonte abundante de prazer e criatividade. No final da proposta o professor deve
fazer cada aluno mostrar resultado final para que haja sentido na criação.
ou novas estratégias de debate (o que talvez servirá de grande estimulação para este
perfil de aluno).
Isto levará o aluno a pensar e buscar informações que apóiem seu ponto de vista.
É importante o professor não perder a calma, mesmo se a este os argumentos estiverem
faltando. Quanto mais calma tiver o profissional do ensino, melhor ele irá lidar com este
aluno de alta capacidade. Os debates deixarão as aulas estressantes tanto para o aluno
como para o professor.
Ensinar pessoas comuns requer muito carinho e dedicação, no caso dos AH/SD
talvez será necessário muito mais destas características para que o professor se
mantenha firme a frente da sala, pois assim como os alunos, em alguns casos, o mestre
estará sendo testado em toda aula. Até por estas questões, talvez o ideal, dentro do que é
possível ser feito, que os professores destes alunos também fossem alto habilidosos,
46
uma vez que professores medianos possam ter maior dificuldades em trabalhar com
alunos AH/SDs pela falta de experiência de ver o mundo de uma forma diferente.
Agora passaremos a uma parte mais prática. Com base em toda a teoria já
apresentada nesse trabalho, passaremos à sugestão de uma atividade/aula. Esta será
pensada de forma que os alunos já tenham conhecimento prévio de música, sendo mais
específico, conhecimento de notação musical, harmonia, condução de vozes, entre
outros.
Este exercício ocorrerá da seguinte forma, com base na partitura de Der Spiegel
(The Mirror duet, figura 2 anexo p.69) atribuída ao compositor Mozart. Neste dueto de
violino ocorre o seguinte: dois violinistas ficam um de frente com o outro e uma única
folha de partitura no meio. Então é como se um músico estivesse tocando a partitura de
ponta cabeça em relação ao outro, entretanto, as duas melodias se encaixam formando
assim o dueto. Isto também pode ser conhecido como palíndromo22.
22
Palíndromo: é quando uma palavra ou numero pode ser lido em direções opostas com o mesmo
resultado. Por exemplo, 2002 ou Ana. Lendo estas na direção esquerda para direita ou direita para
esquerda, o significado é o mesmo.
47
para o qual o arranjo deve ser escrito. Este deve conter duas páginas de música,
entretanto, não duas folhas, ou mesmo frente e verso. A segunda folha será o seguinte,
quando o músico chegar ao final da página aquele deve virar esta de cabeça para baixo e
assim a música deve continuar e ter seu fim.
Discutir isto em sala é importante, pois para o aluno deve ficar claro que
independente do que planeje criar, este ato não sofrerá preconceito da parte do professor
e isto também, talvez, ajudará o docente a melhor direcionar o discente, saber o que este
pensa e discutir estas ideias, e ainda propor os possíveis planejamentos para que o
trabalho seja executado da melhor forma possível.
Uma vez feito isto, o professor deve dar um prazo para que esta atividade seja
feita e de forma alguma o mestre deve abandonar o seu discípulo. É importante que o
docente acompanhe e dê assistência no processo de construção da tarefa, pois como já
frisado em vários pontos deste trabalho, o fato do aluno ter facilidade não quer dizer que
o aluno tenha que aprender sozinho e assistência é fundamental para que aprendizado
seja bem direcionado. Entretanto, o professor deve ter cautela para não invadir a
“privacidade” do aluno do ponto de vista da construção do dever, ou seja, orientar não é
ajudar fazer.
Uma vez o trabalho realizado, o aluno deve apresentar os dois trabalhos, tanto o
que ele compôs para o quarteto de cordas, como o que será executado pelos seus
companheiros. Cabe então ao aluno ensaiar e gravar em casa (hoje existem vários
programas para computador de gravação de mídia que são oferecidos gratuitamente) e
48
• Caso a resposta da questão acima seja sim, como o aluno se sente ao lidar com
esta situação de impotência?
• Como é saber que assim como as pessoas medianas, o aluno, ainda que AH/SD,
tem limites em suas habilidades e como isto pode ser relacionado em seu meio social e
na sua paciência com as pessoas não tão capacitadas?
Uma vez feito isto, é importante que os alunos, para aqueles que conseguiram a
realização, publiquem seus trabalhos para que os demais colegas possam apreciá-lo, seja
através de mídias sociais, ou mesmo através de apresentações na escola/faculdade. Vale
ressaltar que o aluno não deve apenas apresentar o trabalho, e sim expor este de forma
profundo, explicando ao público desde como foi o processo de criação até os resultados
finais apresentados. Com isto o docente poderá interagir com as críticas de colegas de
outros meios sociais que possuem outras perspectivas e outras vivências. E depois disso
o aluno deverá escrever um relatório sobre toda esta experiência, ressaltando pontos
positivos e negativos, ainda fazendo alguma sugestão de como ele, o docente, gostaria
que esta atividade fosse realizada. Analisando de outra perspectiva esta aula, podemos
perceber que, muitas coisas foram exploradas nesta atividade:
• Desafio lógico.
• Interação social
• Auto-percepção e auto-avaliação.
Estas são apenas algumas das possibilidades que poderiam ser exploradas nesta
atividade, levando em consideração que esta é uma ideia hipotética e teórica baseada no
que foi explicado durante todo o trabalho e que em uma situação real muito mais
poderia ser explorado, melhorado e adaptado. Cabe então ao professor ser criativo e
criar atividades que estejam a altura de uma intelectualidade superior, para que se possa
tirar o melhores frutos destas árvores com tanto potencial.
Ao pensar neste tipo de tarefa com cooperação do aluno, esta atividade necessita
vir do espaço que o professor deve abrir neste processo de ensino, para que o discente
possa contribuir com a disciplina. Haverá algum assunto dentro da matéria de música ou
mesmo relacionado a esta, que vai chamar atenção do aluno. Este tipo de interesse
demonstrado pelo docente não deve de forma alguma ser ignorado, e ao contrário disto,
deve ser explorado pelo o mestre. O docente ao incentivar estes interesses do aluno, e
fazer com que este trabalhe sobre este assunto, fará com que o aluno tenha o contato
com o fazer o que lhe dá prazer e com isto obter uma oportunidade de estar pesquisando
algo que goste. Isto pode ser confirmado pelo modelo de enriquecimento escolar tipo I
citado no livro Altas Habilidades/Superdotação Encorajando Potenciais:
dedicar mais tempo a este conteúdo escolhido, como é sugerido por Renzulli &
Reis(1997; 2000 apud VIRGOLIM, 2007), no enriquecimento escolar tipo III:
Agora todo este esforço e trabalho do aluno não devem ficar presos no papel,
guardados em um fundo de um armário na escola, isto principalmente na esfera do
ensino médio, período escolar o qual não tem como interesse a publicação de trabalhos
de seus educandos. Isto é improdutivo. É necessário que estes trabalhos floresçam para
algo maior, talvez até para uma pesquisa mais séria que terá seu ápice quando o aluno
esteja já na esfera de ensino superior e pós-graduações. Para isto é necessário que o
discente exponha seu trabalho e que tenha o seu devido reconhecimento. E isto esta de
acordo com que Virgolim (2007, p. 64-65) mostra sobre as atividades de
Enriquecimento de Tipo III, que consiste em o aluno “aplicar seus interesses,
conhecimentos, ideias criativas e motivação em um problema ou área de estudo de sua
escolha,” também em “adquirir um conhecimento avançado a respeito do conteúdo e
metodologia próprios a uma disciplina, área de expressão artística ou estudos
interdisciplinares em particular,” fazendo assim o aluno “desenvolver produtos
autênticos com o objetivo de produzir determinado impacto em uma audiência pré-
selecionada,” isto ajudará o educando a “desenvolver habilidades de planejamento,
organização utilização de recursos, gerenciamento de tempo toma da de decisões e auto-
avaliação” e também a “desenvolver motivação/ envolvimento com a tarefa,
autoconfiança e sentimentos de realização criativa” sem falar na “habilidade de interagir
efetivamente com outros alunos, professores e pessoas com níveis avançado de interesse
e conhecimento em uma área comum de envolvimento”
Tudo isto exposto acima trata de indicar o valor de um trabalho criado a partir da
própria iniciativa do aluno. Tudo isto para mostrar que uma atividade tipo seminário
onde o discente terá a oportunidade de propor ideias sobre um tema que gosta, pode ser
transformada em uma tarefa prazerosa e de imenso valor, tanto para o aluno quanto para
os colegas. Estes poderão ter contato com um assunto que vai estar sendo tratado de
forma especializada e profunda.
52
discente por mais que estes recursos sejam acessíveis. Então é importante o professor
saber improvisar e buscar tirar o melhor do que se tem em mãos.
54
Dentro das áreas artísticas, talvez, seja o melhor lugar para a identificação dos
AH/SDs devido a uma estrutura de regras que regem estas áreas. Muitos considerados
“gênios” nasceram nos campos artísticos. Por exemplo, Leonardo da Vinci na pintura e
que também tinha um talento científico no campo da anatomia, Beethoven que mudou o
rumo da música erudita, e tantos outros que poderíamos citar.
Quando vamos estudar uma matéria no campo artístico estamos estudando uma
ideia que levou alguns séculos para se desenvolver. E estas ideias vêm contribuindo
para o desenvolvimento não somente de artistas, mas também de outros conhecimentos
ou outras habilidades não ligadas propriamente a das artes. Ou seja, nem todo mundo
que estuda a pintura ou qualquer outra manifestação artística, necessariamente seguirá
esta profissão.
Entretanto, estudar arte não serve somente para desenvolver habilidades nesta
área, mas também para ajudar a desenvolver conhecimentos não artísticos. Tratando
especificamente de música, podemos mostrar várias habilidades não-musicais que são
desenvolvidas através do estudo da música. Segundo Foxton et al. (apud RODRIGUES,
2012, p. 15) existe um certa lógica em afirmar a colaboração da música com tarefas não
musicais.
O raciocínio espacial, por exemplo, poderia ser beneficiado uma vez que a
notação musical, em si, é espacial – a indicação de altura envolve
posicionamentos específicos em uma série de linhas e espaços. Já a melhora
do raciocínio matemático poderia ser devida à necessidade de
reconhecimento de padrões e entendimento dos conceitos de proporção,
fração e subdivisão para a compreensão da notação rítmica. As capacidades
verbais, por outro lado, poderiam ser aumentadas tendo em vista que tanto o
processamento musical quanto o linguístico requerem a capacidade de
segmentação de fluxos sonoros em unidades perceptuais menores (Overy,
2003), além de o processamento linguístico envolver o reconhecimento de
padrões globais de altura (entonação) na linguagem falada (FOXTON ET
AL., 2003 apud RODRIGUES, 2012, p. 15).
Dentro desta perspectiva intelectual podemos ver vários movimentos como, por
exemplo, a Semana da Arte Moderna que ocorreu no Brasil. Outra coisa a se notar é
sobre a própria execução do trabalho, seja pintando, esculpindo, ou tocando. Vendo esta
última, vejamos a quantidade de atributos que se fazem necessário para tocar um
instrumento. Veja que não estamos falando de tocar bem um instrumento, e sim de
apenas tocar. Notamos algumas características necessárias para a execução: o
conhecimento auditivo, para que se possa entender o que se toca e discernir se o que
está sendo executado é realmente a música pretendida.
Mesmo para os músicos que não sabem ler partitura (tocam de ouvido) vai haver
um processo semelhante apenas trocando o sentido da visão pelo da audição. Estas são
apenas algumas atribuições de um conjunto de exigências que são necessários para
tocar.
interesse da criança por sons musicais desde tenra idade”(WINNER, 1998 apud
VIRGOLIM, 2007, p. 35).
Deve-se aqui entretanto, mais uma vez, alertar sobre o cuidado para que não se
confunda a criança que é muito estimulada ou mesmo excessivamente cobrada pela
família e por isto atinge bons resultados, com o aluno que de fato é AH/SD. Este
cuidado é necessário para que o educador não engane, pensando que um discente é
AH/SD quando na verdade se trata de um estudante “normal”.
Além disto, a percepção do que é perfeito acaba por ser ampliada e com isto a
auto cobrança aumenta. Por exemplo, o aluno quando começa a estudar um instrumento,
58
o sonho deste é tocar tão bem quanto professor, entretanto quando o discente vai
aprendendo passa a desejar ser igual a outro músico superior, uma vez que seu professor
já não é mais modelo do que é perfeito, ou mesmo satisfatório. Vale lembrar que hoje,
com o acesso fácil à boas gravações e bons músicos, esta idealização da boa execução é
quase que imediata (mal o aluno começa a estudar determinado instrumento já lhe é
apresentado os grandes músicos da área de performance).
23
I focus on giftedness in two academic areas, language and mathematics, and two artistic areas, visual
arts and music. It is in these four areas that childhood giftedness has most often been noted and studied.
One reason for finding gifted children in these domains is that these areas are appealing to children.
59
A citação acima, mostra outras duas áreas que também facilitam a identificação
dos AH/SDs, então, porque argumentamos que nas áreas artísticas, principalmente em
música, os altos habilidosos podem ser encontrados com mais facilidade? Este
argumento pode ser estabelecido a partir dos seguintes pensamentos. Podemos ver como
nos mostra Rodrigues(2012) estas áreas apontadas por Winner(1996) como preferências
para o identificação de AH/SD então relacionadas, ou seja, então contidas uma dentro
das outras. Explicando melhor isso Rodrigues (2012, p. 14) citando os trabalhos de
Rauscher et al.(1997), Vaughn (2000) e Piro e Ortiz (2009), mostra que existem
“associações positivas entre treinamento musical e capacidades cognitivas pertencentes
ao domínio não-musical, como raciocínio visual-espacial, matemático e verbal”.
Como pode se ver, aqui está uma das boas razões que corrobora com o
argumento anterior sobre a ideia de que o educador musical deve entender sobre
superdotação, uma vez que estas outras áreas(visual, matemático e verbal) estão
diretamente ligadas à disciplina de música. Sendo assim o aluno pode ao aprender a
divisão rítmica da música estar aprendendo matemática, entretanto o oposto disto não é
verdadeiro. Poderia até ser alegado, mas quando o aluno está aprendendo a somar isto
não está colaborando para que ele entenda melhor as divisões musicais? Sim, entretanto
saber divisão musical não faz o aluno tocar. Como já dito anteriormente é necessário
várias habilidades para que um indivíduo toque um instrumento, e, neste caso
especifico, a matemática pode oferecer o cálculo, mas, por exemplo, não pode fornecer
a sensibilidade auditiva. Com isto podemos perceber que o conhecimento musical
inserido dentro dos outros conhecimentos é apenas parte do que se é necessário saber
para tocar(estas relações entre verbal, matemático e visual, estão demonstradas na
primeira citação no início deste capítulo), enquanto a música engloba todos eles de uma
vez.
Another reason is that these areas are rule-governed and highly structured, making it possible to ferret out
the underlying regularities. Unlike areas such as law or medicine, they do not require vast accumulations
of knowledge and can be mastered when one understands a relatively small set of formal principles.
60
Talvez não sejam identificados tantos AH/SD em música por uma questão de
nomenclatura. Winner (1996, p. 8) mostra: “[...] as crianças com altas habilidades na
arte ou música são chamados de talentoso [...]”(tradução nossa)24, isto mostra que
dentro da música, as palavras AH/SD e talentoso, tem o mesmo significado, entretanto,
quase sempre, há a prevalência da palavra talentoso.
Existem outros fatores pertinentes, que talvez, fazem com que o caminho erudito
se torne um atrativo ao AH/SD, seja pelos desafios encontrado nas obras de difícil
execução, como já explicado os AH/SD adoram ser desafiados, ou mesmo pelo fator
perfeição que este meio exige. Apesar da música clássica conduzir a uma caminhada
longa, com várias horas de estudos diários (segundo Rodrigues (2012, p. 13) um
violinista que deseja ser solista, antes de completar 21 anos de idade já atingiu uma
média de 10.000 horas de estudo de violino) isto acaba por satisfazer o interesses dos
AH/SDs pois faz de certa forma transparecer certas características comuns a este perfil
de aluno, como persistências, grau de concentração elevados em áreas de interesse,
entre outras já descritas em capítulos anteriores.
24
[…] children with high ability in art or music are called talented, not gifted […]
61
estudar a música na sua categoria erudita (ou clássica como comumente é conhecida)
estudando neste caso, teoria musical e aprendendo ler partitura.
Observa-se também, segundo Teruya (2013, p.5) que, o fato de toda esta
organização e disciplina que é exigida para estudar a música erudita, acaba por fazer
com que este aluno “aprenda” a estudar não só música, mas também outros tipos de
conteúdos otimizando assim o aprendizado em outras áreas e se destacando assim
também na academia. Ainda podemos citar a ampliação da capacidade de raciocínio e
memorização que o aluno da música erudita adquire devido a ter que memorizar muitas
obras e também por ter que compreender e não só lembrar de muitas formas e estilos,
datas relevantes, história da vida dos compositores, entre outros.
Entretanto, de forma alguma estas questões fazem o trabalho do aluno que não
pertence ao mundo erudito inferior. Apesar de não possuírem as mesmas características
do grupo citado acima, dentro da área de música, são tão competentes quanto os
anteriores, pois neles, o grupo de músicos que tocam de ouvido, outras qualidades se
sobressaem. Teruya (2013) aponta que:
quando é conveniente, pois não estão presos a partitura, esta que estabelece o que e
como deve ser executada a obra/música, não deixando espaço (pelo menos a grande
maioria) para floreios, ou ornamentações ao bel prazer do músico, sendo preferível que
este execute o que está escrito à risca, fazendo o mínimo de alteração possível. Winner
(apud TERUYA, 2013, p. 5-6) explica que os músicos que tocam de ouvido possuem
um QI menos elevado se comparado aos musicistas que adotam a música
erudita/clássica, entretanto afirma que esta diferença não influi na competência da
realização do trabalho musical. Podemos especular que o fato de uma pessoa ter
doutorado em música não lhe garante de nenhuma forma que esta pessoa toque bem, da
mesma forma que muitas vezes encontramos músicos que nunca aprenderam a ler
partitura e executam muito bem seus instrumentos, mas não vamos mais nos deter neste
assunto.
6. CONCLUSÃO
Sentir-se excluído não é bom para ninguém, vivemos em sociedade desde cedo,
na família, com os vizinhos e tantos outros. Somos educados desde crianças a viver
desta forma, interagindo com o outro e isto se faz possível porque apesar de todas as
nossas diferenças temos coisas em comum.
Pense, se somos tão diferentes, como que tantas pessoas conseguem gostar do
mesmo cantor, da mesma música, do mesmo livro, da mesma novela? Note que em
vários casos a mídia usa uma programação que já possui uma “forma” que agrada a
grande massa. Então, neste aspecto, apesar de todas as individualidades e singularidades
do “eu”, ainda há semelhanças que nos unem.
Outro ponto é que, quanto mais estes indivíduos forem incentivados a explorar
suas potencialidades, melhor será o retorno para a sociedade. Não que todo AH/SD será
um Stephen Hawking, ou um Leonardo da Vinci, ou um Beethoven, entretanto, quanto
mais altos habilidosos forem estimulados, maiores são as possibilidades de termos
pessoas iguais a estas há pouco citadas.
Como já dito na introdução deste trabalho, “gênios” não nascem prontos, eles
são frutos de um meio que proporciona um ambiente que os faz crescer. Não podemos
64
plantar uma semente de maçã em um deserto árido e esperar que esta árvore cresça,
floresça e dê frutos saborosos. O que isto quer dizer? Que não adianta identificar o
AH/SD e não ter uma estrutura para recebê-lo. Como, por exemplo, não ter professores
especializados em superdotação, não ter aulas especificas, não ter uma proposta
pedagógica direcionada e pensada para estes indivíduos.
Assim, com base em tudo que estudamos e lemos durante a elaboração deste
trabalho concluímos:
Por fim, este trabalho mostra a necessidade de começar a observar esta classe
esquecida; de se fazer um trabalho direcionado a eles e não deixá-los de lado porque
aprendem mais rápido, ou porque perturbam a aula com questionamentos excessivos.
Lembramos que, para que uma rosa floresça bela e perfumada, é necessário cuidado,
carinho, e amor e nisso se resume a profissão de ensinar. Professor é o cultivador, o
jardineiro, e por isto deve conhecer bem a propriedade de cada flor que planta, para
melhor distribuir a luz, os nutrientes, a quantidade de água necessária, para que um belo
jardim cresça e essas flores exalem seu perfume por todo o lugar por onde passarem.
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONA, P. Método Musical. São Paulo : Indústria Gráfica e Editora Augusto Ltda.,
2002.
THE Big Bang Theory. Direção: James Burrows. Produção: Chuck Lorre e Bill Prady.
Intérpretes: Jim Parsons, Kaley Cuoco, Simon Helberg, Kunal Nayyar Johnny Galecki.
[S.l.]: Sitcom. 2007.
WINNER, E. Gifted Children: Myths and Realities. New York: Basic Books, 1996.
68
Anexos
Figura 1
69
Figura 2