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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL

GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL

LÍVIA DE MORAES SILVA

LONAS CULTURAIS MUNICIPAIS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO:

DESAFIOS E POTENCIALIDADES

NITERÓI

2014
2

LÍVIA DE MORAES SILVA

LONAS CULTURAIS MUNICIPAIS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO:

DESAFIOS E POTENCIALIDADES

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em


Produção Cultural da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para obtenção do
Grau de Bacharel.

Aprovada em 5 de junho de 2014

BANCA EXAMINADORA

Prof. Ms. Aline Portilho – Orientadora


Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. Luiz Augusto Fernandes Rodrigues


Universidade Federal Fluminense

Prof. Dra. Marina Bay Frydberg


Universidade Federal Fluminense
3

LÍVIA DE MORAES SILVA

LONAS CULTURAIS MUNICIPAIS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO:

DESAFIOS E POTENCIALIDADES

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em


Produção Cultural da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para obtenção do
Grau de Bacharel.

Orientadora: Prof. Ms. ALINE PORTILHO


4

AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade concedida.


A minha mãe pelo exemplo de coragem e determinação.
A meus irmãos pelo convívio cotidiano.
A meu pai, sempre solícito.
Aos demais familiares pelo alicerce.
Aos poucos e bons amigos pelo companheirismo.
Ao Colégio Pedro II Unidade Realengo pela formação acadêmica e cidadã, e assim me permitir
chegar à Universidade.
Aos entrevistados que contribuíram para esta pesquisa.
À minha orientadora Aline Portilho pelo acompanhamento durante a confecção deste trabalho.
5

RESUMO

O presente trabalho investiga as Lonas Culturais dos bairros Bangu, Campo Grande,
Realengo e Santa Cruz (inauguradas entre 1993 e 2004) a fim de compreender a forma como são
geridas, os grupos que as administram e suas respectivas programações. Essa pesquisa foi
realizada a partir de entrevistas e leituras. Objetivou-se discutir o Projeto Lonas Culturais
enquanto política cultural inserida em regiões não centrais da cidade do Rio de Janeiro, e debater
as possibilidades que têm enquanto equipamento cultural, considerando o contexto no qual estão
inseridas. A partir disso, concluiu-se que as Lonas, se melhor administradas (tanto internamente
quanto a nível municipal), seriam espaços muito mais ricos para as comunidades que as abrigam.

Palavras-chave: Lona Cultural; política cultural; cidadania cultural.


6

ABSTRACT

This project reports the study of the so called "Lonas Culturais" from the districts of
Bangu, Campo Grande and Santa Cruz (inaugurated between the years 1993 and 2004) with the
purpose of understanding the way they are managed, the groups that organize them and their
respective events. This research was conducted based on interviews and readings. The aim was to
discuss the "Lonas Culturais" Project and debate the possibilities they have as cultural means,
considering the context in which they exist. Upon these findings, it was concluded that the
"Lonas", if better managed (not only internally, but also at a local level), would be far more
attractive entertainment areas for the communities in which they are inserted.

Key words: "Lona Cultural"; cultural politics; cultural citizenship.


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................8

1 AS LONAS CULTURAIS E SEUS ANTECEDENTES......................................................... 10


1.1 MARGINALIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE ESPAÇOS.................................................. 10
1.2 FORMAÇÃO DA ZONA OESTE E DOS BAIRROS PESQUISADOS............................... 12
1.3 DIVISÃO ADMINISTRATIVA E DESIGUALDADES....................................................... 15
1.3.1 Distribuição de equipamentos culturais............................................................................. 17
1.4 A ORIGEM DAS LONAS...................................................................................................... 20

2 CONJUNTURA ATUAL DAS LONAS .................................................................................24


2.1 ATIVIDADES E CONTRUÇÃO DA PAUTA........................................................................24
2.2 DIFICULDADES.....................................................................................................................28
2.3 GESTÃO..................................................................................................................................32

3 AS LONAS CULTURAIS ENQUANTO POTENCIALIDADE ...........................................35


3.1 A CIDADE: CENTRAL E MÚLTIPLA................................................................................. 35
3.2 POLÍTICA E CIDADANIA................................................................................................... .37
3.2.1 Diretrizes democráticas.......................................................................................................39
3.2.2 Construindo redes ..............................................................................................................41
3.3 POR UMA GESTÃO COMPARTILHADA........................................................................... 43

CONCLUSÃO ...............................................................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................49
APÊNDICE....................................................................................................................................52
8

INTRODUÇÃO

A cidade do Rio de Janeiro é mundialmente conhecida pela bela paisagem natural,


população amigável, entre outros fatores. Mas, por trás do cartão postal e dos estereótipos, existe
uma realidade muito mais complexa. A desigualdade é uma realidade, mas que a grande mídia
não faz questão de exibir.
As Lonas Culturais Municipais surgem no Rio de Janeiro periférico, desconhecido até
mesmo por alguns cariocas. Tornaram-se conhecidas pela característica lona verde e branca,
semelhante a de um circo, onde há, no interior, uma arquibancada quase sempre circular, como
um teatro de arena. Esses espaços, que começaram a surgir em 1993, abrigam shows, peças
teatrais e outros eventos, além de oficinas artísticas e esportivas. Foram criadas Lonas nos
seguintes bairros, respectivamente: Campo Grande, Bangu, Realengo, Vista Alegre, Anchieta,
Guadalupe, Santa Cruz, Maré, Jacarepaguá e Ilha do Governador. Sendo assim, são cinco Lonas
na Zona Oeste e cinco na Zona Norte.
O presente trabalho se concentra nas Lonas da Zona Oeste, por ser localidade mais
familiar para a autora e a área mais carente considerando-se a qualidade de vida. Infelizmente a
Lona Cultural Jacob do Bandolim (em Jacarepaguá) foi excluída da pesquisa por ser resistente
em colaborar com a confecção desta monografia. A ideia inicial era entrevistar os gestores dessas
Lonas para ter uma visão interna de cada uma delas. Porém, o gestor da Lona Cultural Hermeto
Pascoal, em Bangu, foi de difícil acesso. Substituindo a entrevista do gestor, foi entrevistado um
ex-funcionário do espaço que trouxe à tona um ponto de vista bastante diferenciado.
Os objetivos traçados, anteriormente à realização da pesquisa, eram avaliar o Projeto
Lonas Culturais enquanto política cultural, discutir maneiras de implementar novos programas
nas Lonas e promover material para pesquisas posteriores a respeito desse tema. São abordados
os conceitos de marketing urbano, política cultural, cidadania cultural e espaço cultural.
O primeiro capítulo aborda rapidamente a formação da cidade do Rio de Janeiro para
iniciar uma argumentação a respeito da desigualdade entre regiões da cidade. Essa história, junto
a história da Zona Oeste, mostra como diferentes origens geram características locais que
persistem mesmo séculos depois.
Essas características estão presentes nos Índices apresentados: Índice de
9

Desenvolvimento Social (IDS) e o Indicador de Desenvolvimento e Acesso Cultural (IDAC). O


primeiro demonstra quanto as Áreas de Planejamento e Regiões Administrativas diferem entre si
quanto à qualidade de vida, o que está ligado, como mencionamos, a história dessas localidades.
Conforme o conhecimento empírico do carioca já aponta, as Áreas de Planejamento
correspondentes a Zona Oeste possuem IDS mais baixo, enquanto as Áreas correspondentes a
Zona Sul têm IDS mais alto, demonstrando maior qualidade de vida desta com relação àquela. O
mesmo se dá no caso do IDAC: a Zona Oeste apresenta menos equipamentos culturais
comparando às Zonas Sul e Central. O surgimento das Lonas Culturais está ligado a essa
realidade do subúrbio carioca, onde há carências sociais e escassez de espaços voltados para a
arte e a cultura. Dentro de catorze anos são inauguradas dez Lonas: cinco na Zona Oeste e cinco
na Zona Norte. Elas são administradas em um sistema de cogestão, no qual a Secretaria
Municipal de Cultura age em conjunto com ONGs locais.
As quatro Lonas Culturais estudadas – dos bairros Bangu, Realengo, Campo Grande e
Santa Cruz – têm características próprias: oferecem diferente programação, diferentes maneiras
de interagir com o público, diferentes histórias e diferentes obstáculos, como atraso nos repasses
da Prefeitura, falhas na administração (tanto por parte da Secretaria quanto internamente) e
dificuldade para custear projetos.
Na gestão do prefeito Eduardo Paes, iniciada em 2009, surgem as Arenas Culturais, cujo
funcionamento é muito parecido com o das Lonas, mas com uma estrutura melhor. Essas
questões são tratadas no segundo capítulo.
Finalmente, o terceiro capítulo traz à tona o conceito de Cidadania Cultural, proposto
por Marilena Chauí, discutindo como as Lonas Culturais podem se afinar a este modo de gestão
que prioriza a transparência e a democracia. Trata também das potencialidades das Lonas
enquanto espaços inseridos em áreas periféricas.
10

AS LONAS CULTURAIS E SEUS ANTECEDENTES

1.1 MARGINALIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE ESPAÇOS

A cidade do Rio de Janeiro se destaca dentre outras cidades brasileiras enquanto grande
centro urbano e cidade histórica. Sua ligação com a história do Brasil se faz presente desde o seu
início, primeiro como capital da colônia, depois como Distrito Federal e hoje como “capital
cultural”1. Entretanto, em meio a tantas características de centralidade, o Rio de Janeiro tem em si
suas margens: vista de fora, com uma visão geral, a cidade é una; vista de dentro, sabe-se que
existe uma periferia destoante - mas que pulsa, viva.

A marginalização vem sendo construída há muitas décadas, e até hoje se pode observar
consequências de políticas públicas excludentes do século XVIII em diante. Em 1799, quando o
Rio de Janeiro possuía cerca de 43.746 habitantes, sendo pouco mais de 34% escravos, já se
formavam zonas periféricas ao núcleo inicial e valorização de certas áreas em detrimento de
outras, além da separação entre ricos e pobres.

1
Título concedido pela União das Cidades Capitais Íbero-Americanas (UCCI) por ocasião da XII Reunião do Comitê
de Cultura realizada em Havana, em 1997 (FERRAN; SILVEIRA, 2001, p. 1691).
11

As edificações destinadas à moradia das classes altas concretizavam essa segregação,


observada em dois aspectos. O primeiro verificou-se já no século XVII, quando se
evidenciavam trechos da cidade destinados aos moradores ricos, localizados próximos às
edificações governamentais. Assim, em torno do morro do Castelo residia a elite, e junto
ao morro de São Bento, a população mais pobre. O segundo aspecto expressou-se a
partir de meados do século XVIII, com a construção de moradias de fim de semana em
chácaras que mais tarde tornaram-se residências definitivas.2

Nessa época, até meados do século XIX, o centro urbano era basicamente o que
conhecemos hoje como Centro, da orla da Baía de Guanabara até a Rua Uruguaiana. A área
periférica era ocupada por fazendas e sítios.

No século XX o Brasil cresce como país capitalista, e, por isso, precisa vestir-se como
tal. Formam-se bairros residenciais e industriais distantes da área central. Em 1889 o Rio de
Janeiro se torna capital da República, e vê-se a necessidade de reestruturar a cidade. O presidente
Rodrigues Alves, junto ao prefeito e engenheiro Francisco Pereira Passos e o sanitarista Oswaldo
Cruz, se coloca a frente desse projeto.

A Reforma Passos, que se desenrola entre 1902 e 1906, intensifica o processo de


marginalização. É a chamada haussmanização, ou seja, a reconstrução da cidade segundo o
modelo parisiense do Barão de Haussmann, prefeito responsável pela reforma da capital francesa.
Constrói-se uma nova imagem urbana, que busca o belo e o “higiênico”.

As demais reformas urbanas radicais implementadas pelo poder público no decorrer do


século XX, também se manifestaram no seu viés segregador de espaços urbanos.
Viabilizadas mediante um discurso embasado no saneamento, embelezamento e
modernização das cidades, estas e outras ações do poder público construíram, na prática,
um meio de “depuração sócio-espacial.”3

Assim torna-se presente a gentrificação, ou seja, a tentativa de tornar nobre uma


localidade antes popular.

Com o surgimento das ferrovias e das linhas de bonde, a cidade se expande ainda mais,
ativando o processo de urbanização: “Regra geral, as áreas servidas por ferrovia foram povoadas
por populações de baixa renda, as camadas de população mais abastada deram preferência às

2
Ibidem, p. 1695.
3
Idem.
12

áreas servidas apenas por linhas de bonde”. 4 A cidade começa a se desenhar como a conhecemos
atualmente, e suas regiões vão assumindo características e funções próprias.

A antiga cidade irá se transformando no ‘centro’, local dos negócios e da administração,


a função residencial se deslocava para bairros e subúrbios. Num segundo momento, as
atividades econômicas também se difundirão pela cidade. Na era do automóvel, a partir
dos anos 60, as atividades econômicas se adensarão em muitas áreas fora do centro
tradicional, e a chamada Zona Sul se tornará espécie de ‘extensão do centro’.5

1.2 FORMAÇÃO DA ZONA OESTE E DOS BAIRROS PESQUISADOS

Com a fundação da cidade do Rio de Janeiro, no século XVI, a então recém-nascida


cidade tem seu território dividido em sesmarias para que o seu desenvolvimento fosse fomentado.
As sesmarias correspondentes a atual Zona Oeste – anteriormente chamada de Sertão Carioca e
Zona Rural6 – se transformaram em áreas rurais, de fazendas, sítios e engenhos.

A sesmaria que hoje é o bairro de Santa Cruz foi doada a Companhia de Jesus, e assim
originou-se a fazenda de Santa Cruz, em 1589. Os jesuítas foram responsáveis pelo
desenvolvimento da região nos anos seguintes. Ligaram a fazenda de Santa Cruz a São Cristóvão
(o Caminho Imperial) e criaram uma ponte para regularizar o fluxo do rio Guandu em 1752 (a
Ponte dos Jesuítas, tombada pelo Patrimônio Histórico em 1938), por exemplo. Ocuparam-se
também com a criação de gados e produção de açúcar, entre outras plantações.

Em 1808, com a chegada da Família Real, acaba a era jesuítica. D. João VI escolhe
Santa Cruz como local de descanso, e a fazenda torna-se Fazenda Real de Santa Cruz. Quando D.
João VI retorna às terras lusitanas e deixa o Brasil sob o comando de D. Pedro I, a fazenda torna-
se Imperial. D. Pedro II, já no poder, inaugura obras em Santa Cruz, como o Matadouro, o
Colégio Imperial (hoje Hospital Municipal Pedro II) e a estrada de ferro.

4
GEIGER, s.d.
5
Idem.
6
WENCESLAU, 2004, p. 79.
13

A Estrada de Ferro D. Pedro II foi inaugurada em 29 de março de 1858. A princípio,


ligava a Corte à povoação de Queimados. Já havia a estação de Sapopemba (hoje Deodoro), mas
que era apenas uma parada. Posteriormente, foi “promovida” e tornou-se uma estação muito
importante para a urbanização da Zona Oeste.

Quando a Lei do Império, nº 2670 de 20 de outubro de 1875, no seu artigo 18, dispôs
sobre o prolongamento de um ramal para servir ao matadouro de Santa Cruz,
Sapopemba assumiu um importante papel como entroncamento ferroviário. As primeiras
estações do ramal Sapopemba-Matadouro, Realengo, Campo Grande e Santa Cruz,
foram inauguradas no mesmo dia 2 de outubro de 1878, três anos após a assinatura
daquela lei.7

Assim como Santa Cruz e outros bairros, Campo Grande teve origem rural, integrando o
“sertão oeste” carioca. A região de Campo Grande (diferente do bairro de mesmo nome) ocupava
grande parte do que hoje é a Zona Oeste e da Zona Norte, das “terras de Irajá” (onde hoje existe o
bairro Irajá) até as terras da Companhia de Jesus (hoje Santa Cruz). Na região se desenvolveram
monoculturas: cana-de-açúcar, café e laranja, respectivamente.

No século XVII foi fundada a Igreja Matriz de Campo Grande, a Igreja Nossa Senhora
dos Desterros. A presença da igreja aponta o início de uma ocupação e posterior urbanização da
localidade, que também é favorecida com a inauguração da estação ferroviária, que motivou a
denominação do bairro.

Semelhante a Campo Grande, Bangu originou-se da fazenda de mesmo nome. Sua


urbanização está fortemente ligada à criação da Fábrica Bangu, ligada à produção têxtil, cujas
atividades se iniciaram em 1893. A grande projeção da fábrica transformou o bairro em um polo
de produção de moda. Ruas foram nomeadas fazendo referência à fábrica, como Rua dos
Tintureiros, Rua dos Tecelões e Rua da Fiação, que mantém os nomes originais. Assim Bangu se
desenvolve como um bairro proletário, até as atividades da Fábrica decaírem e por fim se
encerrarem, em 2002. Hoje, o prédio da antiga fábrica abriga um shopping center.

Realengo, da mesma forma que Bangu, tem uma história fortemente ligada à indústria,
no caso, militar.

7
FRÓES, 2004, p. 24.
14

Sua principal praça, em princípios chamada de Campo de Marte, era o seu ponto
principal e onde foi construída a estação ferroviária, a Escola de Tiro para uns, Escola
Preparatória ou de Artilharia e Engenharia para outros, para ser a Escola Militar de
Realengo e a Fábrica de Munições. 8

Dessa forma, Realengo deixou de ser uma região rural para tornar-se moradia de
militares e industriários. Da mesma maneira que Realengo, outras áreas da Zona Oeste foram
utilizadas para instalação de bases militares, como a criação da Vila Militar, em Deodoro, e as
bases áreas de Santa Cruz e Campo dos Afonsos. Nos anos 1960, foram criados distritos
industriais que ocuparam pontos da Zona Oeste, em Santa Cruz e em Campo Grande.

Outro fator importantíssimo para a ocupação da Zona Oeste foram as remoções de


comunidades para esta região:

Grande parte da população da Zona Oeste foi constituída de pessoas removidas de outras
regiões da Cidade do Rio de Janeiro. Essa imigração verificou-se na década de 40. Em
quantidade, a Zona Oeste tem a maior população migratória do país. Foi uma população
que formou a Vila Aliança, a Vila Kennedy, Conjuntos habitacionais Dom Jaime de
Barros Câmara, Conjunto Dom Pedro I, Conjunto do IAPI, Conjunto Presidente Costa e
Silva, Conjunto Senador Camará (Viegas), Conjunto Ubaldo de Oliveira, Conjunto
Miguel Gustavo, Fundação da Casa Popular (em Realengo e Deodoro). 9

A Era das Remoções, como denomina Mário Brum, tem seu auge na década de 1960.
Nesse período foram removidos moradores das áreas centrais para terrenos vazios periféricos, a
quilômetros de suas moradias originais e de seus empregos. As favelas eram consideradas por
alguns uma “patologia urbana” e, portanto, deveriam ser erradicadas, pois seus habitantes
estavam à parte da civilização. Para outros, elas eram apenas indesejáveis, mas ainda assim
deveriam sofrer intervenções a fim de reordenar a cidade. 10

Mais uma vez a marginalização e a gentrificação se fazem presentes como processos


presentes na história da cidade, buscando a valorização (tanto simbólica quando imobiliária) das
áreas centrais.

8
Ibidem, p. 24.
9
WENCESLAU, 2004, p. 27.
10
BRUM, 2011.
15

1.3 DIVISÃO ADMINISTRATIVA E DESIGUALDADES

Hoje, segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), a cidade do Rio de Janeiro


é agrupada em cinco Áreas de Planejamento. Dentro delas, dezesseis Regiões de Planejamento,
trinta e duas Regiões Administrativas e cento e sessenta bairros.

Em 2008 foi publicado pela SMU o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) de todas
essas microrrealidades urbanas da cidade. O IDS baseou-se no Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) proposto pela ONU. Tem como critérios: acesso a saneamento básico, qualidade
habitacional, grau de escolaridade e disponibilidade de renda. Conforme o esperado para quem
circula pela cidade, os maiores IDSs dentre as Regiões Administrativas, correspondem à Zona
Sul:

O IDS das 32 Regiões Administrativas variou entre 0,786 e 0,446. Cinco regiões ficaram
acima de 0,7 (16,10 % da população da Cidade); vinte e uma, a grande maioria, portanto,
entre 0,5 e 0,7 (53,95 % da população da Cidade) e apenas seis abaixo de 0,5 (11,71 %
da população da Cidade). As RA’s de maior IDS foram: Lagoa (0,786), Copacabana
(0,753) e Botafogo (0,752). As de menor IDS, Complexo do Alemão (0,474), Rocinha
(0,458) e Guaratiba (0,446), esta última ainda com característica marcadamente rurais.11

As Regiões Administrativas que abrigam os bairros das lonas culturais estudadas


(Realengo, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz) estão, respectivamente, mas posições 20, 24, 25
e 29. Seus IDS são 0,553; 0,520; 0,506 e 0,478. A RA de Jacarepaguá está na posição 14, com
IDS 0,585.

O relatório da SMU calcula também o IDS de cada um dos 158 bairros presentes no
Censo 2000 (ainda não existiam os bairros de Vasco da Gama e Gericinó). Lagoa, Leblon e
Ipanema ocupam os primeiros lugares, com IDS 0,854; 0,809 e 0,801, respectivamente. Grumari
ocupa o último lugar, com índice 0,277. Os bairros das lonas estudadas (Realengo, Bangu,
Campo Grande e Santa Cruz) ocuparam as posições 116, 125, 129 e 147, com índices 0,545;
0,525; 0,518 e 0,476. Jacarepaguá está na posição 148, com IDS 0,476. Há controvérsias sobre a
localização da Lona de Jacarepaguá pois, segundo moradores da região, estaria no bairro da

11
CAVALLIERI; LOPES, 2008, p. 7.
16

Freguesia (XVI RA), que está na posição 39, com IDS 0,651.

Os pesquisadores concluem:

De modo geral Zona Oeste obteve os IDS mais baixos (com exceção de Campo dos
Afonsos e Jardim Sulacap). A Zona Sul apresenta IDS elevado com exceção dos bairros
do Alto da Boa Vista, Rocinha e Vidigal, com IDS baixo. Na Zona Norte, temos
predominância de IDS médios e baixos, com algumas ilhas de IDS elevado, como os
bairros do Méier, Rocha, Ribeira e Jardim Guanabara na Ilha do Governador.12

Ao analisarmos esses dados, observamos, estatisticamente, a desigualdade social entre as


regiões da cidade do Rio de Janeiro, onde algumas áreas são muito mais valorizadas que outras,
considerando-se a qualidade de vida. Esta desigualdade é construída historicamente e
naturalizada, conforme exposto no início deste capítulo.

A desigualdade apontada por esta pesquisa é intensificada o processo de marketing


urbano (ou city marketing) pelo qual a cidade vem passando, em função dos grandes eventos
internacionais que estão por vir. Essa vertente do marketing tem como objetivo tornar uma cidade
vendável, o que inclui encaixá-la em um modelo pré-determinado para que seja reconhecível
enquanto produto, pronto para ser comprado.

Efetivamente, o processo de produção do espaço social é ao mesmo tempo objetivo e


subjetivo. Como parte da nova racionalidade do capitalismo, capaz de potencializar a
eficiência econômica e a reorganização territorial, são introduzidas formas modernas de
dominação e técnicas de manipulação cultural (BOURDIEU, 1998; SANTOS, 2000).
Deste modo, o espaço toma forma também através de representações e imagens
adequadas, o que explica a importância que vem adquirindo o city marketing como
instrumento das políticas urbanas.13

O marketing urbano intensifica no Rio de Janeiro a marginalização já há séculos


existente na cidade, ao ratificar o diferente valor simbólico (e consequentemente econômico) das
áreas da cidade. Os bairros correspondentes a Região de Planejamento Zona Sul, por exemplo,
cujos índices de desenvolvimento social são mais elevados, representam a imagem principal deste

12
Ibidem, p. 11.
13
SANCHÉZ, 2001, p. 32.
17

“produto urbano”, mantida intacta para atrair investidores. É a imagem-síntese, como denomina
Fernanda Sánchez.

As imagens-síntese oficiais, aquelas que se impõem como dominantes em cada cidade


onde opera um projeto de modernização urbana definido e explicitado, não deixam
margem para dúvidas ou interpretações diversas sobre a informação que veiculam; não
oferecem alternativas à sua decodificação. Organizam, a seu modo, a cidade, tornando-a
simbolicamente eficiente, uma espécie de publicidade que concretiza o modo de
reconhecê-la e avaliá-la. Leituras oficiais da cidade, que configuram imagens, costumam
ser mostradas com aparência de objetividade, apresentando fatos sociais como
inquestionáveis. Entretanto, são uma das linguagens do poder, convenção social e
política questionável (DUNCAN & LEY, 1993; MASSEY, 1993). Seu aparente realismo
é, em essência, ideológico, pois passa como natural aquilo que é um fato cultural.14

O Rio de Janeiro, ao ser nomeado para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014 e os
Jogos Olímpicos de 2016, se torna uma cidade-evento, onde o entendimento de produção cultural
passa a estar bastante ligado ao entretenimento.15 A ênfase nos espetáculos em detrimento de
ações culturais de maior durabilidade está ligada à política do marketing urbano, cuja intenção é
atrair olhares para a cidade-produto, supervalorizando sua imagem-síntese. E a efervescência
cultural da cidade se concentra nas localidades que formam essa imagem-síntese.

1.3.1 Distribuição de equipamentos culturais

A criação de equipamentos culturais institucionalizados na cidade tem o início datado


em 1808, com a vinda da Família Real e da corte portuguesa, que fugiam da invasão de Napoleão
às terras lusitanas. A partir disso, D. João VI implementa medidas que visam o enriquecimento
cultural da colônia.

14
Ibidem, p. 34-35.
15
MELO; PERES, 2006.
18

Desde então, a capital é beneficiada com uma série de equipamentos de cunho cultural
como o Real Teatro São João, a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico, dentre outros.
O ensino de belas artes, assim como a vinda da missão artística francesa complementou
o quadro de ações culturais implantado pela realeza.16

O imperador também cria instituições de cunho educacional, como as Faculdades de


Medicina e Direito, e ligadas à memória, como o Arquivo Nacional.

Além disso, durante o processo de haussmanização anteriormente citado, novos


equipamentos são ativados, como a Escola Nacional de Belas-Artes (hoje Museu Nacional de
Belas Artes), o Theatro Municipal e a Biblioteca Nacional. Nesse período, também houve uma
concentração de cinemas ao longo da Avenida Central (hoje Avenida Rio Branco), especialmente
na Cinelândia, área de glamour da cidade. Dessa forma, os espaços culturais começam a se
concentrar numa região específica – concentração esta que ainda hoje é visível.

O Indicador de Desenvolvimento e Acesso Cultural (IDAC), de 2006, foi proposto por


Fabio Peres e Victor Melo e calcula o número de equipamentos culturais no Rio de Janeiro de
acordo com as Áreas de Planejamento e as Regiões Administrativas, utilizando como base seções
específicas de jornais de grande circulação (Jornal O Globo e Jornal do Brasil). Os autores
consideram equipamentos culturais: museus, bibliotecas, centros culturais, parques e florestas,
teatros e salas de cinema.

De acordo com a pesquisa, de um total de 440 equipamentos, a Área de Planejamento 1


(que inclui as Regiões Adinistrativas Paquetá, Centro, Rio Comprido, São Cristóvão, e Santa
Teresa) abrigava 105, ou seja, 23,9% do total. A Área de Planejamento 2 (que inclui as Regiões
Botafogo, Copacabana, Lagoa, Tijuca, Vila Isabel e Rocinha) possuía 185 equipamentos, o que
representa 42%. A Área de Planejamento 5 (Regiões Administrativas Bangu, Campo Grande,
Santa Cruz e Guaratiba), onde se localizam as lonas culturais tratadas neste trabalho, incluía 20
equipamentos culturais, ou seja, 4,5%. As Áreas de Planejamento 3 e 4 abrigavam,
respectivamente, 13,6% e 15,9% dos espaços.

Os espaços dedicados à cultura na cidade concentram-se ainda nas regiões de onde


começaram a se disseminar inicialmente, desde as medidas adotadas por D. João VI em 1808. Os
autores do IDAC apontam:

16
COLOMBIANO, 2007, p.50.
19

Identificamos, de fato, uma grande desigualdade na distribuição destes equipamentos,


indicando que a diferenciação sociocultural se revela também espacialmente. Isto, por
sua vez evidencia não apenas os desafios que os agentes/animadores culturais encontram
quando pretendem dinamizar sua intervenção pedagógica no âmbito da cultura, como
também a necessidade de pensarmos em um processo de redistribuição e
desconcentração cultural para a cidade do Rio de Janeiro.17

Essa realidade divergente no que tange às atividades culturais no Rio de Janeiro, traz à
tona o debate sobre democratização e democracia culturais. No ano 2000, quando a cidade recebe
o título de “capital ibero-americana de cultura” pela União das Cidades Capitais Íbero-
Americanas (UCCI), a Secretaria Municipal de Cultura adota como diretriz a “democratização
cultural”, tendo como carro-chefe o Projeto Lonas Culturais, iniciado na década anterior.18

O conceito de democratização cultural provoca algumas discussões e deve ser


problematizado, pois pressupõe que existe uma cultura superior a ser difundida para todos, a fim
de que todos sejam “iluminados”. Sendo assim, adotar uma política cultural que priorize a
democratização poderia tratar-se de possibilitar que a cultura produzida nos grandes centros
chegasse à periferia, ignorando o fato desta possuir sua própria produção.

Isaura Botelho colabora para essa discussão ao diferenciar o termo “democratização


cultural” de “democracia cultural”. O primeiro trata, segundo ela, de um

movimento de cima para baixo capaz de disseminar, a um número cada vez maior de
indivíduos, essa herança feita de práticas e representações que, pela sua universalidade,
compõem um valor maior em nome do qual se formulam as políticas culturais na área da
cultura.19

A democracia cultural, entretanto, considera a existência de diversos públicos e a


“inexistência de um paradigma único para a legitimação das práticas culturais”. 20

O Projeto Lonas Culturais surgiu de um ideal democrático – por parte da sociedade, não
da prefeitura –, em que cada comunidade seria responsável pela gestão de seu espaço de acordo
com suas peculiaridades. A prefeitura, por sua vez, trazia o discurso da democratização.

17
MELO; PERES, 2006.
18
FERRAN; SILVEIRA, 2001.
19
BOTELHO In NUSSBAUMER (org.), 2007, p. 172.
20
Ibidem, p. 173.
20

1.4 A ORIGEM DAS LONAS

Segundo Márcia Ferran, o público das Lonas Culturais de Bangu e Campo Grande
ultrapassava o público da toda a rede municipal de teatros entre os anos 1996 e 2000,
demonstrando o sucesso dos espaços, cujo processo de fundação iniciou-se alguns anos antes.21
Em 1992, ocorreu no Rio de Janeiro a Eco-92, conferência que reuniu chefes de Estado
para discutir questões relacionadas à ecologia e ao meio ambiente. Nesse evento foram utilizadas
estruturas de lona, onde se realizaram reuniões. O Projeto Lonas Culturais foi uma das formas
escolhidas para reutilizar esse material e teria sido ideia de Ricardo Macieira, chefe de gabinete
da RioArte (Instituto Municipal de Arte e Cultura) órgão da Secretaria Municipal de Cultura a
época.

O projeto Lonas Culturais foi criado em 1993, partindo de uma ideia simples que
atendeu em cheio as prioridades da Secretaria das Culturas de promover a transformação
social e o desenvolvimento da cidade. O projeto, de autoria do arquiteto Ricardo
Macieira, então diretor executivo do Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte), foi
inspirado na estrutura das tendas em lona implantadas no Parque do Flamengo durante a
Eco-92, conferência de cúpula que reuniu no Rio de Janeiro delegados de todo o mundo
para o debate da questão ambiental. As Lonas Culturais surgiram do mesmo conceito
plástico, mas com outra função: levar arte e cultura aos espaços carentes de iniciativas
do gênero.22

Essa versão da história, porém, não é unânime. Ives Macena, gestor da Lona Cultural
Elza Osborne (Campo Grande) afirma que a ideia da reutilização das lonas da Eco-92 para a
cultura partiu dele, quando passou pelo Aterro do Flamengo e viu as estruturas abandonadas. O
fato de Macieira ser apontado como autor do projeto teria motivado conflitos entre Macena e a

21
FERRAN, 2000.
22
COM as lonas, a democratização da cultura no Rio de Janeiro, 2005, p. 4.
21

Secretaria Municipal de Cultura, segundo o próprio.23

Há ainda uma terceira versão, relatada por A. D. 24, ex-funcionário da Lona Cultural
Hermeto Pascoal (Bangu). Segundo ele, o projeto partiu do MACACO (Movimento de Arte e
Cultura da Vila Kennedy), grupo da Vila Kennedy, que iniciou o movimento Bangu Pede a Lona
solicitando uma das lonas da Eco-92 para ser instalada em Bangu.25

Desde 1993, dez lonas culturais foram criadas: Lona Cultural Elza Osborne, em Campo
Grande (1993), Lona Cultural Hermeto Pascoal, em Bangu (1994), Lona Cultural Gilberto Gil,
em Realengo (1998), Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre (1999), Lona Cultural Carlos
Zéfiro, em Anchieta (1999), Lona Cultural Terra, em Guadalupe (2000), Lona Cultural Sandra de
Sá, em Santa Cruz (2004), Lona Cultural Herbert Vianna, na Maré (2005), Lona Cultural Jacob
do Bandolim, em Jacarepaguá (2007) e Lona Cultural Renato Russo, na Ilha do Governador
(2007).

A Lona de Campo Grande está relacionada a outro equipamento cultural, há anos


presente no bairro: o Teatro de Arena, inaugurado em 1958. Foi um presente da engenheira Elza
Osborne para o grupo teatral Teatro Rural do Estudante, iniciado na mesma década.

Elza Pinho Osborne foi uma das primeiras mulheres a integrar o quadro de engenheiros
do então Distrito Federal. Era responsável pela administração da região, compreendendo
de Deodoro a Santa Cruz. Responsável pela construção do Teatro de Arena, foi
descoberta como dramaturga pelo grupo do Teatro Rural do Estudante, que encenou um
de seus textos.26

O produtor Ives Macena junto a sua esposa, a atriz Regina Pierini (uma das fundadoras
do Teatro Rural do Estudante), após a Eco-92, idealizaram utilizar uma das lonas para melhorar a
estrutura já existente do Teatro de Arena, por anos desativado. Após longos processos
burocráticos, a lona foi finalmente doada para a dupla. Hoje, devido a sua história, a Lona
Cultural Elza Osborne identifica-se mais com a denominação de Teatro de Arena, tanto por parte
da administração como dos antigos moradores do bairro.

A Lona Cultural Hermeto Pascoal, segundo A. D., tem origem no movimento Bangu

23
MACENA. Comunicação pessoal à autora em 16 out. 2013.
24
Optou-se por não revelar a identidade do entrevistado, para preservar sua integridade.
25
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26 out. 2013.
26
COM as lonas, a democratização da cultura no Rio de Janeiro, 2005, p. 6.
22

Pede a Lona, através do qual o grupo MACACO solicitou umas das lonas inutilizadas, antes
mesmo da Lona Cultural Elza Osborne ser implantada. Entretanto, por Campo Grande já ter a
estrutura do Teatro de Arena pronta, recebeu a lona primeiro.

A ideia inicial era levar uma dessas lonas pra Vila Kennedy, mas como a Vila Kennedy
tinha o Teatro Mário Lago, achou-se por bem pedir uma lona pra Bangu, que era um
lugar de centro. E a gente saiu pelo Calçadão de Bangu com um monte de manifestação
artística pedindo a lona. E foi assim que a gente conseguiu, com um movimento circular.
A Lona tem vários pais, mas os pais mesmo são várias pessoas ligadas a nossa região
aqui.27

A Lona Cultural Gilberto Gil foi inaugurada em 1998 como Lona Cultural da Capelinha
e reinaugurada em 1999 com o nome atual. Segundo Vicente de Paula, gestor da lona, ela estava
abandonada quando ele foi convidado a administrá-la, por ser fundador da escola de samba mirim
Estrelinha da Mocidade e desenvolver trabalhos relacionados ao Carnaval na região:

Existia uma lona aqui jogada, toda rasgada na praça, e acontecia de tudo... Aí eu fui
convidado pela subprefeitura de Bangu pra assumir, pra fazer algum trabalho, porque os
moradores queriam queimar [a Lona], tirar daqui, porque acontecia de tudo.28

A Lona Cultural Sandra de Sá, segundo o gestor Márcio França, foi implantada em
Santa Cruz por determinação da Secretaria Municipal de Cultura, por tratar-se de um bairro
“carente”. De acordo com ele, o nome foi escolhido pelos moradores da comunidade do Guandu,
que anteriormente residiam na comunidade César Maia, em Jacarepaguá. Em 1996, a César Maia
foi atingida por uma enchente e recebeu ajuda da cantora Sandra de Sá. Por essa razão, optou-se
por batizar a Lona com o nome da artista.29

As Lonas Culturais são resultado da demanda por atividades de cunho artístico-cultural


em regiões onde ações nesse quesito são escassas, em contraposição a outras áreas, como o
Centro e a Zona Sul, que se tornaram privilegiadas ao longo da história da cidade e recebem
muito mais investimento, tanto nesse campo quanto em outros. Essa realidade, possivelmente

27
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26 out. 2013.
28
PAULA. Comunicação pessoal à autora, em 15 out. 2013.
29
FRANÇA. Comunicação pessoal à autora, em 25 out. 2013.
23

vista de forma natural por muitos, é fruto de uma construção histórica, na qual a marginalização
se tornou método de limpeza. A princípio ocorrida no velho Rio de Janeiro, em proporções
menores, e em seguida a nível municipal, no qual a população é “varrida” no sentido Centro-
Oeste.

O próximo capítulo tem como foco a gestão das Lonas pesquisadas, além de apontar as
dificuldades enfrentadas em relação à forma de administração, envolvimento do poder público e
participação das comunidades contempladas.
24

CONJUNTURA ATUAL DAS LONAS

2.1 ATIVIDADES E CONSTRUÇÃO DA PAUTA

A programação das lonas é independente uma das outras e da Secretaria Municipal de


Cultura. Em geral, elas possuem uma programação fixa de oficinas e uma programação variada
de espetáculos. Além disso, existe uma agenda gratuita solicitada pela Prefeitura.

A Lona Cultural Gilberto Gil, em Realengo, oferece oficinas de ioga, teatro, jazz,
ginástica, balé clássico, dança de salão, capoeira e violão. Capoeira, ginástica, violão e dança de
salão são gratuitas. Teatro possui mensalidade de 35 reais; balé, jazz e ioga estão a 30 reais
mensais. A Lona de Realengo, nos seus primeiros anos, tinha como diferencial uma oficina de
escultura com legumes, que foi encerrada.

A programação de espetáculos inclui shows de ritmos variados e espetáculos teatrais,


inclusive infantis. Ao ser perguntado sobre a abertura de espaço para artistas locais, o gestor
Vicente de Paula afirma que isso é feito sempre que possível, mas a falta de recursos é um
empecilho. Torna-se necessário que o artista se ocupe em levar o próprio público para que não
haja prejuízo relacionado à bilheteria, caso contrário, abrir espaço para ele seria oneroso para a
Lona.
25

Não adianta abrir espaço e não ter público. Tem que eles que sabem onde está o público
deles ir buscar pra poder botar aqui dentro [sic]. Porque é completamente diferente de
trazer um artista que está em mídia, como uma Alcione ou outro qualquer, que sabe que
na hora que colocar a placa ali, vai começar a procura. Um artista que não é conhecido é
muito complicado. Só ele sabe onde está o público dele. [...] A exigência é que ele se
empenhe, porque ele sabe onde está o público dele. 30

A comunidade influencia na programação na medida em que faz pedidos de atrações que


gostariam de ver. Segundo o gestor, no entanto, os pedidos muitas vezes não podem ser atendidos
em função do custo de produção necessário para a realização desses shows, em geral de músicos
renomados, principalmente por causa do cachê para o artista.

A Lona está aberta a receber projetos de produtores, que serão discutidos e analisados.
Mas, mais uma vez, a falta de recursos é um obstáculo: “A gente não tem é verba pra bancar isso.
Tem que ser parceria. A gente dá o mecanismo pra que ele [produtor] consiga viabilizar isso. [...]
Bancar a gente não tem como bancar não. Não existe verba pra isso”.31

A Lona Cultural Elza Osborne, em Campo Grande, oferece oficinas de violão, flauta,
canto coral, artes visuais, teatro e capoeira. Todas as oficinas são gratuitas, com exceção da de
teatro, cuja mensalidade é 50 reais. Há, porém, uma turma gratuita de teatro para estudantes da
rede pública. Assim como a Lona Gilberto Gil, a Lona Elza Osborne tem em sua programação
shows e espetáculos teatrais. O teatro – fortemente ligado à história dessa Lona – continua forte,
embora não tanto quanto a 60 anos atrás. Mesmo assim, ainda é a oficina mais procurada, por
todas as faixas etárias.

A Lona cultiva uma relação com as escolas municipais da região acolhendo seus
eventos, como o Teatro de Arena também fazia. O gestor Ives Macena ressalta que grande parte
do público do espaço é de estudantes. Os artistas locais também são bem recebidos: utilizam a
Lona tanto para ensaiar quanto para apresentações, abrindo shows para artistas famosos.

Segundo o gestor, a Lona Elza Osborne está aberta a receber projetos e propostas que
serão avaliados sob alguns critérios.

Ver primeiro quem está produzindo, o perfil do trabalho, a quem direciona, se está
dentro do próprio perfil da Lona... Nós somos muito voltados para teatro, dança e música
– mas música, música! De qualidade. Não é qualquer tipo de música. E outra coisa que é

30
PAULA. Comunicação pessoal à autora, em 16 out. 2013.
31
Idem.
26

importante é ver se essa sociedade, esse artista, está organizado. 32

Ao afirmar que a Lona Cultural não abriga “qualquer tipo de música”, o gestor deixa
implícito que determinados estilos de música não são bons o suficiente para entrar naquele
espaço, o que levanta a questão a respeito da hierarquização da cultura, ou seja, há uma cultura
digna de fomento e uma indigna do mesmo. Segundo Antônio Rubim, “toda política cultural traz
embutida, de modo explícito ou não, uma concepção a ser privilegiada de cultura”.33 Ao manter
essa conduta na sua gestão, Ives Macena pode deixar de atender uma demanda da população de
Campo Grande e assim limitar o papel da Lona de espaço democratizante.

A Lona Cultural Sandra de Sá, em Santa Cruz, está em obras, então o espaço da lona em
si não está sendo utilizado. Porém, segundo o gestor Márcio França, são realizados pequenos
eventos no espaço chamado por ele de Varandão e as oficinas estão funcionando no prédio anexo.
São elas: Teatro, balé infantil, street dance, capoeira, dança do ventre, reforço escolar, modelo e
manequim e lambaeróbica. No campo adjunto da Lona ocorrem as oficinas esportivas: Jiu-jítsu,
taekwondo e futebol. Todas as atividades são gratuitas.

A Lona Cultural Hermeto Pascoal, segundo o site, oferece oficinas de bateria, percussão,
teatro adulto, teatro infantil e teclado, com mensalidade de 10 reais; capoeira, cavaquinho, dança
de salão, desenho, modelo e violão, a 25 reais por mês. Porém, não há nenhum evento ocorrendo
na Lona há meses, desde que ela teve a estrutura danificada por uma tempestade. Segundo A.D.,
atualmente só funciona a oficina de Teatro. Ele afirma também que a Lona costumava abrigar
artistas locais, mas ao mesmo tempo não se preocupava em auxiliá-los. A divulgação precária
resultava em apresentações vazias.

A oportunidade de desenvolver atividades ligadas às artes é um ponto a favor da


democracia cultural, segundo Isaura Botelho. Ao se aproximar de uma prática artística, forma-se
um público cada vez mais exigente e crítico. Além disso, há os benefícios individuais, como
incentivo à criatividade e autoestima.

Sabe-se que uma das mais importantes maneiras de se formar um público é a partir da
experiência vivida pelos indivíduos, ou seja, ter a possibilidade de fazer dança, teatro ou
música é uma maneira de aprofundar a relação com as artes que incide sobre as formas
de fruição de um indivíduo. Se as linguagens artísticas são incluídas na formação de

32
MACENA. Comunicação pessoal à autora, em 16 out. 2013.
33
RUBIM In: NUSSBAUMER (org.), 2007, p. 149.
27

cada um, este é um passo importante para alterar o padrão de relacionamento com as
artes; ou seja, sair de uma fruição apenas de entretenimento para uma prática na qual
este se desdobra num processo de desenvolvimento pessoal. 34

É importante ressaltar que, além de estarem próximas às comunidades, as oficinas


oferecidas pelas Lonas possuem um preço bastante acessível – quando não são totalmente
gratuitas – tornando o acesso ainda melhor, ainda que este não seja um fator determinante. Os
espetáculos oferecidos contribuem para essa característica de “trazer para perto”. Ao oferecerem
eventos diversos, seja de artistas conhecidos ou não, um público que muitas vezes não poderia se
deslocar para o Centro, para a Zona Sul ou para a Barra da Tijuca (pela distância ou pelo valor
dos ingressos), é atendido.

Ao discorrer sobre as políticas culturais em Portugal, Maria de Lourdes Lima dos Santos
destaca três de seus objetivos: Descentralizar, alargar a participação e promover a criatividade. 35
Tanto as oficinas quanto a abertura de espaço para artistas locais cooperam para esses objetivos.
Incentivar os artistas locais é uma maneira de fomentar a oferta e a demanda culturais nessas
regiões. As oficinas ligadas ao esporte, por sua vez, cooperam para o bem-estar físico e mental
dos participantes, e aproximam os moradores do espaço, mantendo-o vivo e ativo.

Entretanto, há o risco de as Lonas serem vistas como uma solução para moradores em
situação de vulnerabilidade social, que assim têm outras alternativas para “ocupar seu tempo” e
então não se envolvem com a criminalidade. Esse discurso pode ser prejudicial para o
desenvolvimento de políticas culturais, pois vê a cultura apenas como ferramenta, não como fim
em si mesma. Dessa forma as políticas públicas são hierarquizadas e a cultura é posta em
segundo (ou terceiro, ou quarto) plano.

Em regra, quando existente, o investimento estatal em cultura nas periferias vem


sobrecarregado da ideia de “transformação social” como se o campo cultural pudesse
sozinho dar conta de problemas complexos e transversais, tais como inserções no
mercado de trabalho e melhorias na educação, sociabilidade e violência.36

O investimento em cultura não substitui o investimento em outras áreas, ainda que haja

34
BOTELHO In: NUSSBAUMER (org.), 2007, p. 179.
35
SANTOS In: NUSSBAUMER (org.), 2007, p. 161.
36
MOURA, 2012, p. 5.
28

relação entre cultura, educação, saúde, segurança pública. A cultura em si tem suas
particularidades, entre elas fortalecer a identidade cultural, o pensamento crítico, a criatividade –
atribuições estas que são capazes de tornar os cidadãos mais conscientes politicamente e aptos
para causarem modificações profundas e significativas na sociedade em que vivem.

2.2 DIFICULDADES

Dentre as dificuldades citadas pelos entrevistados, foram mencionados descaso por parte
da Prefeitura, falta de recursos, má administração interna e até mesmo corrupção.

As Lonas recebem mensalmente um repasse da Prefeitura, que, segundo A.D., era de R$


22.5 mil com previsão para chegar a R$ 25 mil. Segundo os entrevistados, o repasse é
insuficiente para as despesas, que incluem custos de produção, reparos, pagamento de serviços e
remuneração de funcionários. Além disso, o repasse não é sempre assíduo. Segundo Ives Macena,
a Lona Elza Osborne já ficou nove meses sem recebê-lo. A.D. relata que em Bangu isso também
já ocorreu.

Segundo Macena e A.D. as Lonas pagam impostos para a Prefeitura, o que eles
consideram uma incoerência: “Recebe dinheiro da Prefeitura para investir em cultura e tem que
pagar imposto desse dinheiro. É um negócio totalmente maluco, não dá pra entender”. 37

A falta de manutenção por parte do poder público é ainda uma fonte de gastos para os
gestores. “A gente aqui não espera muito pelo poder público, a gente toca mesmo. [...] Pra não
fechar, a gente tem que ir fazendo essas coisas, através, de novo, de amigos, empresários locais
que acreditam, que ajudam”.38 Vicente afirma também que existem promessas de que as Lonas
serão melhoradas em breve, mas até agora nenhuma mudança foi vista.

Particularmente com relação à Lona Cultural Elza Osborne, houve uma dificuldade de
relacionamento com a Secretaria Municipal de Cultura relacionada à autoria do Projeto Lonas
Culturais. “A ideia das Lonas Culturais nasceu aqui, comigo. A primeira Lona foi implantada

37
MACENA. Comunicação pessoal à autora, em 16 out. 2013.
38
PAULA. Comunicação pessoal à autora, em 15 out. 2013
29

aqui em Campo Grande. Quem teve a ideia de aproveitar essa lona fui eu. [...] Não foi ele
[Ricardo Macieira] o idealizador disso”. 39 Essa disputa gerou uma indisposição pessoal entre
Macena e a Secretaria, mas nada que acarretasse em grandes consequências para a Lona em si. A
contestação a respeito da origem do Projeto poderia representar uma “disputa de território”,
implícita na maior identificação com o título de Teatro de Arena do que com o de Lona Cultural.
O Teatro foi fruto de um trabalho da comunidade apenas, ao contrário da Lona, fruto de uma
parceria. Contestar a autoria, seria, portanto, uma disputa de poder sobre o espaço.

Outra situação que ocorre em Campo Grande, segundo o gestor, é o fato de a Lona ter
projetos culturais aprovados em leis de incentivo à cultura das três esferas, mas sem conseguir
captar os recursos aos quais os projetos têm direito. Ele atribui isso a ignorância dos comerciantes
locais e ao fato de eles preferirem esquivar-se de qualquer avaliação de suas administrações por
parte do poder público.

O empresariado daqui não tem hábito de investir. Nem sabem que existem leis que
permitem que ele invista na cultura. Muitos deles não sabem, a verdade é essa. Era
preciso que se fizesse um congresso – que é a coisa mais difícil reunir esse pessoal num
congresso – para explicar que eles podem fazer, que eles podem ajudar, que eles podem
participar e tirar disso grandes benefícios.40

A.D., ex-funcionário da Lona Cultural Hermeto Pascoal, aponta graves problemas no


funcionamento das Lonas de modo geral. De acordo com ele, muitos dos gestores dos espaços só
ocupam esses cargos por conta de acordos políticos, e não por serem profissionais da área
cultural. A falta de habilidades administrativas dos responsáveis de muitas das Lonas seriam uma
das razões para dívidas e falta de estrutura. Essas dívidas seriam também consequência dos
impostos caros sob os quais as Lonas estão subjugadas. A má administração interna, para ele, foi
uma das grandes motivações para o afastamento dos moradores de Bangu da Lona Cultural, pois
ela, com o passar dos anos, deixou de corresponder às expectativas da comunidade.

A corrupção também é comum, segundo A.D.. Parte do repasse das Lonas já teria sido
utilizada para financiar campanhas políticas, e ocorrem outros desvios que se dão pela falta de
fiscalização por parte da Prefeitura e pelos atrasos nos repasses da mesma.

39
MACENA. Comunicação pessoal à autora, em 16 out. 2013.
40
Idem.
30

Eu tenho certeza absoluta que essa má administração, essa falta de dinheiro, acontece em
todas as Lonas. Porque eles atrasam os repasses de todas as Lonas. A partir do momento
que a Prefeitura atrasa o repasse, ela te dá brecha pra colocar naquela prestação de conta
uma série de coisas que não aconteceram, então as pessoas forjam calendários... Muitas
vezes o dinheiro chegava e você pagava tanto de imposto que não sobrava dinheiro pra
você pagar funcionário. Isso também acontece pra caramba. O atraso da Prefeitura
prejudica quem quer trabalhar direito.41

Essas falhas administrativas, que fazem parte de um sistema que para A.D. “foi feito
para ser burlado”, fariam com que os gestores não queiram abandonar seus cargos e continuem se
beneficiando a partir dessas lacunas.

A burocracia foi citada pelos entrevistados como grande obstáculo para as ONGs
gestoras das Lonas Culturais. Em verdade, atribuir problemas ligados à administração pública à
burocracia, tornou-se uma espécie de bordão. Perante o senso comum, dizer que algo é
burocrático e o quase o mesmo que dizer que é enfadonho ou lento. Mas, deixando de lado o
modismo de tratar da burocracia como sendo justificativa para todos os males, ela é, de fato, um
obstáculo para a democracia, incluindo a democracia cultural. Marilena Chaui afirma que a
burocracia opera sobre três princípios: hierarquia, segredo e rotina.

Hierarquia porque existe uma escala de poder; segredo porque não se sabe quem ocupa
qual cargo e quem cumpre qual função nessa escala; e rotina porque o processo administrativo é
o mesmo, não importa do que se trata. “Produzir uma ópera, comprar livros, contratar um
bailarino, realizar um seminário ou um colóquio, comprar tijolos, lâmpadas, papel higiênico e
sabonete são atos burocráticos e administrativamente idênticos”. 42

Ainda segundo a autora, esses princípios se opõem a características da democracia:


Igualdade de direitos, transparência e inovação. Em um meio democrático não há distinções
hierárquicas; todos fruem da circulação de informação e podem ser sujeitos nesse fluxo; e a
inovação é incentivada. No que diz respeito às atividades culturais, esses princípios são
fundamentais.

No entanto, a burocracia não é “cega” como pode parecer, nem movida a automatismos.
Esses falsos atributos acabam se tornando uma excelente desculpa para processos lentos e
ineficientes. Ela é, na verdade, uma forma de seleção do que é ou não importante dentre os
processos da administração pública.

41
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26 out. 2013.
42
CHAUI, 2006, p. 76.
31

A burocracia não é uma “máquina administrativa” e sim um sistema de poder movido


por gente, e no qual a vontade dos indivíduos-burocratas é mais determinante e
imperiosa do que as leis e os procedimentos. Os hábitos burocráticos operam para a
manutenção de mando e poderes e não para a proteção efetiva da coisa pública. Assim,
sob a máscara da impessoalidade racional (tão louvada por Weber), imperam vontades
pessoais e personalizadas, que representam grupos e interesses políticos, sociais e
econômicos.43

Ou seja, é um sistema que não prejudica não somente as Lonas ou a área da cultura: vai
bem além disso. Envolve qualquer área ou órgão que dependa de repasses e trâmites de
instituições estatais. Além da burocracia, outra questão influencia no descaso com relação às
Lonas Culturais: a já conhecida descontinuidade das políticas públicas.

O Projeto Lonas Culturais surgiu durante a primeira gestão do prefeito César Maia
(1993-1996) e teve seu apogeu nos anos seguintes, que corresponderam ao mandato de Luiz
Paulo Conde (1997-2000). Até o ano de 2007 – ano em que César Maia estava em seu terceiro e
último mandato (2005-2008) – houve o surgimento de novas Lonas Culturais. O prefeito Eduardo
Paes, cuja gestão iniciou-se em 2009, optou por apostar em outro modelo de espaço cultural: as
Arenas Cariocas. Depois da “nova” criação, aparentemente deixou de lado o projeto implantando
por seus antecessores e adversários políticos.

Noto até que houve um certo desinteresse por esse projeto ter nascido na outra gestão, do
outro prefeito e tal. A gente percebe que nessa gestão eles congelaram, colocaram na
geladeira o Projeto Lonas Culturais. Estão implantando as Arenas Culturais com a
intenção de transformar as Lonas em Arenas Culturais, mas até agora não aconteceu
nada.44

Luís Milanesi discorre sobre essa descontinuidade administrativa, e alerta para o


desperdício de espaços e construção de “elefantes brancos”.

É sabido que na administração pública brasileira, comprometida fortemente com a


política partidária (quando muda o partido no poder, o que a sigla anterior construiu

43
Ibidem, p. 77.
44
MACENA. Comunicação pessoal à autora em 16 out. 2013.
32

corre o sério risco de perder o seu valor), raramente há continuidade dos projetos.45

De acordo com Márcio França, gestor da Lona Cultural Sandra de Sá, as Arenas
surgiram, indiretamente, a partir das Lonas: “As Arenas são as Lonas melhoradas. Foram
implantadas a partir de algumas reivindicações nossas, como a cúpula de alvenaria, climatização
e tratamento acústico”.46As adequações para transformar as Lonas em Arenas, segundo ele,
devem ocorrer em 2014. Entretanto, o mandato de Paes já caminha para o fim e nenhuma
mudança foi vista.

As Lonas, além de serem resquícios dos encargos dos prefeitos anteriores, estão bem
distantes das prioridades do governo atual, tanto geograficamente quanto hierarquicamente. “A
Secretaria de Cultura não está nem aí pras Lonas. Cobra das Lonas quando tem o repasse. [...] Pra
Prefeitura as Lonas é só uma maneira de eles fazerem média. A verdade é essa. Se houvesse
cobrança, as Lonas funcionariam direito”.47

O que se estabeleceu como mais importante, no momento, é, conforme dito


anteriormente, adequar a cidade do Rio de Janeiro para os grandes eventos vindouros.

2.3. GESTÃO

A gestão das Lonas Culturais é compartilhada entre ONGs e a Secretaria Municipal de


Cultura. A cessão do espaço para as organizações ocorre sob a Lei 8666/93, que rege as
licitações. As modalidades de licitação previstas pela lei são: concorrência, tomada de preço,
convite, leilão e concurso. Segundo A.D., a licitação era para ocorrer a cada dois anos podendo
ser prorrogada por mais dois anos, mas em Bangu esse limite já foi ultrapassado.

Alguns dos entrevistados têm considerações e críticas a esse modelo de gestão.

45
MILANESI, 1991, p. 41.
46
FRANÇA. Comunicação pessoal à autora em 25 out. 2013.
47
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26 out. 2013
33

O papel do poder público é esse: criar espaços. Deixa com a comunidade, deixa com os
artistas [...] que eles conseguem dar conta da administração. O que eu acho que não vale
a pena é criar espaços e deixar na própria administração pública. Não funciona. Vários
exemplos dos teatros que estão aí. São públicos, estão entregues a maus funcionários e
não funcionam. [...] Esse esquema que é estabelecido hoje das Arenas e das Lonas
Culturais é perfeito.48

Para A.D., o envolvimento da iniciativa privada no Projeto faria com que as Lonas
fossem mais bem administradas e com melhor estrutura:

Eu acho que eles deveriam estabelecer parcerias... Cada Lona tá numa área. Então
poderia pegar empresas da área [...] e essa cogestão ser dinheiro privado e dinheiro
público. E você ter um administrador pra fazer isso. [...] O certo seria você pegar essa
iniciativa privada do entorno, dar algum tipo de benefício pra aquela iniciativa pra ela
ser o cogestor. Pra ela ser a segunda parte do dinheiro que entraria pras Lonas.49

As ONGs que gerem as Lonas de Campo Grande, Bangu, Realengo e Santa Cruz são,
respectivamente: União de Grupos e Artista de Teatro da Zona Oeste, Subúrbio Carioca,
Associação Cultural Amigos do Agito (Agito Cultural Rio) e Associação Via Cultural Brasil.
Todas essas ONGs, com exceção da Subúrbio Carioca, administram suas Lonas desde sua
implantação. De acordo com A.D., a Lona Cultural Hermeto Pascoal foi administrada por uma
organização chamada Associação de Amigos da Lona Cultural Hermeto Pascoal, originada do
grupo MACACO, que encabeçou o movimento Bangu Pede a Lona.

Desses grupos, a Associação Via Cultural Brasil, a Agito Cultural Rio e a Subúrbio
Carioca desenvolvem atividades além da Lona Cultural. A Associação faz parte de diversos
projetos:

A Associação foi formada em 2003 por ativistas culturais da Vila Kennedy, envolvidos
na Lona de Bangu, e ela está envolvida em cultura em projetos no Morro do Chaves, em
Barros Filho, Morro Dourado, em Cordovil, Favela da Mundial em Honório Gurgel, na
Lona de Santa Cruz e é parceira das entidades que atuam nas Lonas da Ilha, Vista

48
MACENA. Comunicação pessoal à autora, em 16 out. 2013.
49
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26 out. 2013.
34

Alegre, e Guadalupe.50

A Agito Cultural Rio gere também a Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira. A
Subúrbio Carioca, por sua vez, administrava o Espaço Cultural Jorge Ben Jor, em Realengo, que
foi demolido em 2011 para a construção de um viaduto e está sendo reconstruído no mesmo
bairro. O Espaço ainda não tem previsão de reinauguração. Nenhuma dessas organizações está
com suas informações claras disponíveis para pesquisa, o que é mais um elemento que dificulta a
transparência administrativa.

As Lonas, advindas de um ideal de descentralização, após passarem por um momento de


apogeu no qual foram amplamente frequentadas logo após suas inaugurações, encontram-se,
muitas delas, embrenhadas em dificuldades administrativas que prejudicam o seu desempenho de
maneira plena. Mas são espaços ricos em potencialidades, conforme veremos a seguir.

50
FRANÇA. Comunicação pessoal à autora, em 25 out. 2013.
35

AS LONAS CULTURAIS ENQUANTO POTENCIALIDADE

3.1 A CIDADE: CENTRAL E MÚLTIPLA

As Lonas Culturais, enquanto equipamentos incluídos em uma política pública de


âmbito municipal, provocam reflexões acerca da cidade como centro de relações interpessoais e
desenvolvimento.

As cidades, mais do que o país ou a região, são os núcleos centrais de todo o acontecer
social e concentram em si as práticas de investigação sociológica, econômica e cultural
mais precisas. São espaços de sociabilidades múltiplas e de intensas relações
multiculturais. Populações e arquiteturas híbridas espalham-se e concentram-se
espacialmente em constelações de quarteirões, bairros, serviços e redes diversas de
circulação.51

Além disso, as cidades são núcleos de produção cultural. Segundo Luís Milanesi, as
cidades desenvolvem identidades culturais particulares como herança de uma época em que a
troca de produtos artísticos entre diferentes regiões (geralmente das cidades maiores para as
menores) era lenta, em função das limitações dos transportes e dos meios de comunicação. O
“isolamento” era, portanto, um fator a favor do desenvolvimento das particularidades.

Como a importação do bem cultural também era reduzida e vagarosa, a produção própria
supria em parte essa carência, cada cidade e vilarejo recriando a sua própria expressão.
Assim, por menor que fosse a localidade havia a banda, a orquestra do cinema, os grupos

51
RODRIGUES In CURVELLO, 2009, p. 76.
36

de teatro, a abundância de poetas e de jornais.52

As cidades, além de serem núcleos, são múltiplas no que tange às realidades e às práticas
culturais que abrigam, como demonstra o Índice de Desenvolvimento e Acesso Cultural exposto
no primeiro capítulo.
Um risco que se corre, quando se trata de políticas públicas de cultura para grandes
cidades como o Rio de Janeiro, é a tentativa de reunir essa multiplicidade sob um mesmo rótulo
de “carioca”, e isto ocorre quando se trata de city marketing. A mídia é uma ferramenta utilizada
nessa construção, segundo Fernanda Sanchéz.

Ela [a mídia] produz signos de bem-estar e satisfação no consumo dos espaços de lazer,
cria comportamentos e estilos de vida e promove a valorização de lugares, bem como os
usos considerados “adequados”. Em outras palavras, celebra os novos lugares
transformando-os em espetáculo.53

A autora cita como exemplo o “curitibano típico”, personagem que permeou as


mudanças na capital paranaense ligadas ao marketing urbano:

na leitura oficial da cidade, aquele cidadão que frequenta parques, bosques ou os


edifícios culturais e de lazer mais emblemáticos da modernização urbana da última
década, como a Rua 24 Horas, as Ruas da Cidadania, o Jardim Botânico ou o Memorial
da Cidade.54

As Lonas Culturais tem em sua essência a resistência ao personagem do “carioca típico”,


que mora à beira da praia e frequenta as regiões mais ricas da cidade. Trazem à tona o carioca
que reside às margens da imagem-síntese, e que tem suas demandas próprias, sem ser menos
carioca por isso. Portanto, a cidade enquanto centro favorece a articulação entre as diferenças,
não a uniformização.

A ideia de cidade como fenômeno cultural poderia ser traduzida e sintetizada através da
ideia de centralidade. Pensar a cidade como centralidade leva também a pensá-la como a
possibilidade de encontro, de aproximação, de simultaneidade, de reunião, de
intercâmbio e de relações. Então, a cidade como fenômeno cultural é, sobretudo, uma

52
MILANESI, 1991, p. 20.
53
SANCHÉZ, 2001, p. 36.
54
Idem.
37

cidade que centraliza as criações humanas. 55

O encontro que a centralidade das cidades possibilita está ligada aos conceitos de
“lugar” e “não lugar” relembrados por Luiz Augusto Rodrigues. O primeiro é espaço de contato e
vivência, com carga afetiva. O segundo é desprovido de identidade e de apropriação, ao contrário
daquele. As Lonas Culturais, enquanto espaços culturais periféricos, têm grande potencial de se
tornarem lugares na acepção de pontos de convivência para as comunidades, incentivando o
encontro e o desenvolvimento da vida pública: “A vida pública enseja a convivência com aquele
que não conhecemos, mas que não excluímos”. 56
A convivência na vida pública favorece o capital social e a criação de redes sociais,
conceitos também aproveitados por Rodrigues, e que estão relacionados à interação entre
indivíduos.

O capital social é que gera as condições para que uma sociedade crie e desenvolva seus
próprios fins, com governança e participação, considerando que os projetos coletivos
necessitam do engajamento de muitos e que isso será alcançado se respaldado pela
confiança coletiva e esta, pela capacidade de inclusão do outro como parceiro.57

Além disso, as Lonas têm como diferencial poderem ser agentes a favor da vida pública
em locais que necessitam do engajamento dos moradores para conquistarem direitos básicos.
Espaços culturais centrais, por sua vez, reúnem grupos com menos identificação entre si, por
serem de diferentes localidades. Isso demarca a diferença dos públicos em espaços periféricos e
em espaços centrais.

Os espaços culturais quase sempre estão localizados nos centros das cidades. No entanto,
o homem periférico não vai ao centro, exceto a lugares que ele possa tomar e sentir
como seu, como uma praça pública, onde não é discriminado. Nesse sentido, o centro de
cultura passa a receber um público específico, com um perfil determinado que não é,
exatamente, o das populações periféricas.58

3.2 POLÍTICA E CIDADANIA

55
SERPA, 2010, p. 36.
56
RODRIGUES In CURVELLO, 2009, p. 14.
57
Ibidem, p. 13.
58
MILANESI, 1991, p. 135.
38

O Projeto Lonas Culturais, em si, é visionário enquanto política cultural pública, por
buscar atender comunidades com escassez de equipamentos culturais e por colocar esses espaços
sob a gestão de representantes das próprias comunidades. Porém, as dificuldades apontadas no
capítulo anterior são obstáculos para o bom funcionamento do projeto.
Essas dificuldades, ou pelo menos boa parte delas, podem ser fruto do descaso com a
área da cultura de modo geral. Segundo Luís Milanesi, “cultura raramente faz parte de um projeto
de desenvolvimento do município. É mais um atestado de bom gosto e civilidade, portanto algo
cosmético” 59. Ainda segundo Milanesi, o discurso de que a cultura é um campo de investimento
menos importante que os demais parte de uma interpretação limitada do que cultura de fato
significa e de suas implicações.

Se a cultura for uma prova de erudição, uma capa de bom gosto, não há por que estender
essa capa nos ombros esquálidos daqueles que não tem o que comer e, muito menos,
oportunidade de trabalhar. No entanto, se ela foi uma forma de desvelamento da
realidade, uma possibilidade de permitir e estimular o acesso ao conhecimento, deixa de
ser identificada como um enfeite de perdulários e passa a ser um investimento uma vez
que a informação, ninguém discute isso, é um elemento essencial ao desenvolvimento da
sociedade. A ignorância é excelente para o atraso.60

Esta visão de cultura está relacionada ao conceito de cidadania cultural, proposto por
Marilena Chauí, conceito este desenvolvido durante sua gestão como secretária de cultura na
cidade de São Paulo – cidade que, como o Rio de Janeiro, possui os extremos da carência e do
privilégio, segundo afirma a autora.
A cidadania cultural parte do princípio que esses extremos não devem existir. A cultura
é direito: direito de produzir, direito de usufruir, direito à informação. Está, portanto, distante de
três outras concepções de política cultural: a do Estado como produtor de cultura, em que o poder
público impõe seu poder de maneira autoritária; a tradição populista, na qual “pretende que o
órgão público de cultura tenha um papel pedagógico sobre as massas populares, apropriando-se
da cultura popular para, depois de transformá-la, devolvê-la em sua ‘verdadeira forma’ ao
‘povo’”61; e, por fim, a posição neoliberal, que submete a cultura às lógicas de mercado.

59
MILANESI, 1991, p. 13.
60
Ibidem, p. 82.
61
CHAUÍ, 2006, p. 67.
39

Entre três escolhas possíveis – a oficial autoritária, a populista e a neoliberal – fizemos


uma quarta: aquele que restringe o Estado à condição de assegurador público de direitos,
prestador sociopolítico de serviços e estimulador-patrocinador das iniciativas da própria
sociedade, enfatizando a natureza de classe da nossa sociedade e a obrigação de uma
política, se quiser ser moderna e democrática, de garantir direitos, quebrar privilégios,
fazer ser público o que é público, abrir-se para conflitos e para inovações. 62

Nessa quarta escolha, o Estado garante a liberdade de criação e fruição. Dessa forma, a
cultura perde o caráter de instrumento, ou seja, não é utilizada para fins de convencimento,
marketing ou agregação de status. Em vez disso, a cultura é fonte (e construção) de
conhecimento, troca de experiências, livre inspiração – e é para esse fim que as políticas culturais
deveriam convergir. O Projeto Lonas Culturais dá um passo nessa direção, ao promover a
implantação de espaços com escassez de equipamentos culturais que poderiam garantir esses
direitos.

3.2.1 Diretrizes democráticas

Para que a cultura seja um instrumento de transformação social e pessoal, de maneira


democrática e cidadã, é necessário que as políticas culturais, especialmente as públicas, tenham
diretrizes claras. No caso das Lonas Culturais, a programação poderia ser traçada nesse sentido.
O que se observa hoje é uma programação de espetáculos e oficinas, que tem seu valor, mas que
pode ser aprimorada.
Segundo Luís Milanesi, o centro cultural deve ser uma alternativa. Deve ser um espaço
onde o que se oferece é diferente do que temos acesso em nosso cotidiano, que é regido,
principalmente, pela cultura de massa, transmitida pelos grandes meios de comunicação.

Assim, não sendo um espaço de reforço ao estabelecido, deverá ser uma alternativa.
Nada deverá ser recebido como quem assiste passivamente a um programa de televisão.
Isso é próprio das atividades de manutenção e conservação culturais e do processo de
mão única (emissor/receptor) como se conhece. 63

Ao tentar escapar da facilidade de apostar em elementos da cultura de massa para ver a

62
Ibidem, p. 102.
63
MILANESI, 1991, p. 137
40

casa cheia e propor algo diferente, o gestor esbarra em outra questão: o que o público quer ver.
Ou seja, ao defender uma atração distante da moda corrente, o espaço pode ser acusado de não
levar em consideração a preferência dos frequentadores. Esta foi uma das dificuldades
enfrentadas por Marilena Chauí durante sua gestão de secretária na cidade de São Paulo:

Nossa primeira dificuldade foi a qualidade das demandas culturais: sufocadas pela mídia
e pela indústria cultural, as demandas tendiam a ser aquelas determinadas pela própria
mídia, como consagração do consagrado e reiteração de modismo e como imitação dos
programas e eventos realizados pela mídia. [...] As demandas iniciais passavam longe da
ideia de Cidadania Cultural, seja como direito à informação e à fruição, seja como
trabalho de criação do novo.64

Quanto a esta questão, Milanesi se posiciona de maneira categórica: “Se o espaço


informativo atender à demanda existente, reforçará o fluxo viciado da circulação do
conhecimento circunscrito ao universo da indústria cultural. O que os indivíduos querem? O que
aprenderam a querer”.65
Há de se considerar, porém, as particularidades de cada espaço. As Lonas têm como
diferencial aproximar artistas de públicos que têm dificuldade de se deslocar para outros locais
mais providos de casas de espetáculo. Portanto, é importante que os pedidos sejam atendidos na
medida do possível, mas que se ofereça, além dos espetáculos, algo além do óbvio, como a
possibilidade de discutir o que foi visto. Para que isso ocorra, se faz necessário que o grupo
responsável pela gestão tenha sensibilidade e que as diretrizes de trabalho sejam discutidas junto
à população e ao município: “As realidades culturais – e todas o são – precisam ser
diagnosticadas segundo ‘escutas precisas e desprendidas de ideias pré-concebidas”.66
Informar, discutir e criar – estes são os verbos que devem permear as atividades de um
centro cultural, segundo Milanesi.
Informar, primeiramente, para, mais uma vez, ir além dos meios de comunicação
massiva, que iludem ao se colocarem como transmissores de todas as informações necessárias e
corretas. Sob essa perspectiva, o centro cultural teria o papel de mostrar o outro lado que muitos
nem supõem existir. Isso pode ser feito, por exemplo, através da construção de acervos: de livros,
revistas, filmes e outras produções. Discutir as informações é o segundo ponto, buscando
conflitos de ideias e gerando a vontade de buscar outros conhecimentos. A memória é outra
64
CHAUÍ, 2006, p. 83
65
MILANESI, 1991, p. 147
66
RODRIGUES, 2009, p. 3
41

questão importante a ser abraçada e discutida.

Os temas serão aqueles que o momento indicar, unindo o cotidiano da cidade e de seus
habitantes ao universo de informação, resultando daí os conflitos necessários e o salto
qualitativo. Dados sobre a vida municipal e a sua história poderão resultar numa reflexão
sobre o esforço de preservar a memória e a identidade.67

A criação, por sua vez, se refere ao incentivo pela expressão pessoal, através de qualquer
registro ou linguagem artística, de forma livre. Os bens produzidos podem passar a integrar o
acervo do espaço, alimentando o ciclo: “A criação permanente é o objetivo de um centro de
cultura. Ele deve ser o gerador contínuo de novos discursos e propostas”. 68
Embora as propostas do autor para o ideal de espaço cultural sejam bastante enfáticas e
um pouco rígidas, podem ser adaptadas à realidade das Lonas Culturais, considerando suas
características próprias.

3.2.2 Construindo redes

As Lonas Culturais, considerando que se tratam de espaços em diversos localidades, mas


com características semelhantes, têm a possibilidade de costurar redes entre si, instituindo uma
integração entre elas mesmas e com outros serviços. Essa construção é importantíssima para que
as Lonas se tornem potencializadoras na região, sendo lugares de fomento para as artes e para a
cidadania.
Atualmente já ocorre de um mesmo artista, por estar na cidade do Rio de Janeiro, fazer
shows em mais de uma Lona, como em uma pequena turnê. A mesma circulação pode ocorrer
com outros produtos, incluindo bens produzidos em atividades dentro das próprias Lonas
Culturais. Os próprios frequentadores poderiam ser estimulados a circular entre os espaços, a fim
de conhecer como funcionam e como interagem com as demais comunidades.
Outra importante relação a ser estabelecida é com as escolas, especialmente escolas da
rede pública. É o que acontece de certa forma na Lona Cultural Elza Osborne, em Campo

67
MILANESI, 1991, p. 148
68
Ibidem, p. 149
42

Grande, segundo o gestor Ives Macena. Conforme citado no capítulo anterior, lá há uma turma de
teatro gratuita para esses estudantes e o espaço é muitas vezes cedido para a utilização de eventos
escolares. A relação com a escola está ligada à questão da formação de público e,
simultaneamente, à oportunidade de se frequentar um evento de cunho cultural que talvez não se
frequentasse em outra oportunidade:

A relevância da instituição escolar vem do fato que ela oferece a oportunidade mais
sistemática de socialização precoce dos indivíduos no que se refere à arte a à cultura,
permitindo, inclusive, compensar ou corrigir as desigualdades advindas de um ambiente
familiar pouco afeito a essas práticas. 69

Para Luís Milanesi, as escolas são instituições limitantes para o conhecimento, pois
incentiva a repetição de discursos em vez da criatividade:

As escolas públicas, que por definição seriam um centro de criatividade, um exercício


permanente de invenção, transformaram-se em geradoras de conhecimento em série,
reproduções ao infinito do currículo escolar. Nesse quadro não foi e não é possível
vicejar o trabalho cultural, que vive unicamente de sua contínua transformação.70

Considerando esse ponto de vista, ao ter atividades em conjunto com um espaço


cultural, os alunos poderiam vivenciar outra forma de aprendizado em paralelo à tradicional.
Além desse contato entre Lonas e escolas, é possível ainda que as Lonas Culturais sejam
um ponto de contato com outros serviços. É o que acontece na Lona Cultural Sandra de Sá, em
Santa Cruz, segundo o gestor Márcio França. De acordo com ele, a Lona é, para os moradores da
região, um polo de contato com a Prefeitura, pois busca parceria com a Comlurb, com a Rioluz e
outros órgãos para manutenções no entorno.
Luís Milanesi aponta que os centros culturais deveriam ter, além das informações
contidas em acervo, outras informações “utilitárias”, como horários de atendimento de
repartições públicas, telefones de contato, endereços, e outros dados públicos; e ainda números de
farmácias ou avisos sobre vagas de emprego. É uma forma de se manter atento às necessidades da
população, criar vínculos e estimular a cidadania.

Para que se consiga que uma casa de cultura ajude a promover uma cidadania ativa entre
a população que atinge, seu potencial de comunicação e atração da população deve ser

69
BOTELHO In: NUSSBAUMER (org.), 2007, p. 176
70
MILANESI, 1991, p. 74
43

utilizado para auxiliar em processos de formulação e implantação de políticas públicas.


A casa de cultura, por exemplo, pode ser usada na divulgação e nos debates de processos
de elaboração participativa do orçamento municipal. É importante que ela seja um ponto
de referência da organização da população e de seu contato com o poder público
municipal.71

3.3 POR UMA GESTÃO COMPARTILHADA

As Lonas Culturais são regidas pelo sistema de cogestão, no qual a Secretária de Cultura
do município e uma ONG atuam em conjunto. Essa é uma das razões que tornam o projeto
diferenciado. A gestão compartilhada é um modelo tido como ideal, por unir Estado e sociedade
de modo a discutir pontos de vista e traçar diretrizes.

Se o agente da cultura for exclusivamente o Estado, a tendência é desenvolver políticas


culturais marcadas por um ‘patrimonialismo estadista’ ou por um ‘dirigismo estatal’. Se
o agente for exclusivamente o mercado, culminaria em um ‘mercantilismo cultural’ ou
na ‘privatização da vida cultural’.72

É importante para um espaço cultural público ter sua própria dinâmica e autonomia.73
No caso das Lonas, as ONGs nomeadas têm o papel de coadministrar as Lonas representando os
moradores locais.
O processo de licitação desses espaços começou a ser realizado em 2010, mais de dez
anos depois do Projeto Lonas Culturais ser iniciado, pela então Secretária de Cultura no
município Jandira Feghali (PCdoB). A questão veio à tona através de uma polêmica envolvendo a
licitação da Lona Cultural Gilberto Gil, em Realengo.
Na ocasião, o Instituto Pertença ganhou a licitação, o que acarretaria no afastamento da
Associação Cultural Amigos do Agito, grupo que iniciou os trabalhos na Lona em questão.
Porém, a ONG fundadora encontrou falhas no processo, entre elas a presença de um funcionário
público do município na equipe do Instituto, o que é proibido pela Lei das Licitações. 74

71
VAZ, 1995.
72
RODRIGUES, 2009.
73
VAZ, 1995.
74
FERNANDES, 2010.
44

Há pouco mais de duas semanas, a mídia passou a veicular informações a respeito do


processo licitatório para co-gestão [sic] das Lonas Culturais. Não seria nada demais se as
notas fizessem referência apenas à licitação (processo absolutamente legal e
democrático). O problema é que esse processo encontra-se sob suspeita de fraude. A
Lona Cultural Municipal Gilberto Gil, localizada em Realengo, foi e tem sido o ponto de
partida para os últimos acontecimentos. Após doze anos à frente da administração da
Lona Gilberto Gil, a Associação Cultural Amigos do Agito (Agito Cultural-Rio) está
sendo pressionada a deixar a direção do equipamento. A instituição fundou a Lona junto
com a comunidade e foi a responsável pela construção do espaço contando com o apoio
de comerciantes locais e de agentes culturais comunitários. Nada mais justo que lutar por
sua permanência à frente da Lona Gilberto Gil, que nesses doze anos de atividade
desenvolveu atividades que fazem jus ao nome de seu patrono. 75

A Associação Amigos do Agito tem a seu favor, além do tempo de permanência, um


Termo de Cessão de Uso de Espaço concedido pelo prefeito Luiz Paulo Conde em 29 de
dezembro de 2000. Mas, segundo alegou a época o então subsecretário de Gestão de Projetos e
Integração de Projetos da Secretaria Municipal de Cultura Mário Del Rey, o Termo concedido
não é um fator determinante:

Não há qualquer irregularidade. Isso é chororô de quem perdeu a licitação. Há um grupo


específico que tem contestado e resistido, que é o que administra a Lona Cultural
Gilberto Gil, em Realengo. Eles tinham um Termo de Cessão de Uso do Espaço de
caráter precário, ou seja, a prefeitura poderia reavê-lo no momento que bem entendesse.
Assim foi feito. Revogamos o termo mesmo após a licitação concluída, assim que
tomamos ciência do fato. O pessoal do Gilberto Gil omitiu esse fato da gente. Cabe
ressaltar que é um critério do prefeito de prorrogar ou não a permanência dos grupos nos
espaços do município.76

A conclusão da polêmica não veio a público, mas, de qualquer forma, a Associação


Cultural Amigos do Agito continua a frente da Lona de Realengo. A.D., ex-funcionário de uma
das Lonas, afirma ainda que o gestor da Lona de Realengo Vicente de Paula resistiu à frente da
Lona protegido por conchavos políticos.

Quando acabou a concessão, ele [Vicente de Paula] falou que não ia sair [da Lona] com
a licitação; falou que não ia sair e não saiu. Por que que [sic] você acha que ninguém
tirou ele de lá? O cara já teve [sic] com polícia, com mandato na mão pra tirar e ele não
saiu; falou que não ia sair, fechou a Lona e não saiu. Por quê? Todo mundo tem um rabo
preso muito grande.77

Para a solução deste impasse por vias democráticas (considerando que as ONGs que

75
LIMA, 2010.
76
DEL REY, Mário apud FERNANDES, Vagner. Op. cit.
77
A.D.. Comunicação pessoal à autora, em 26. out. 2013.
45

administram esses espaços representam suas comunidades), a população local deveria ser
consultada e convidada a acompanhar os processos de licitação, que são democráticos, desde que
sejam claros para todos. Nesses processos, não deve haver nenhuma forma de protecionismo a
qualquer grupo, seja ele fundador ou não.
Este é um risco indicado por Marilena Chauí: grupos se tornarem “sócios” dos órgãos
públicos. É mais um fator indicativo de que não há democracia cultural e, portanto, não há
cidadania cultural. Mais uma vez a burocracia é um elemento prejudicial, por ocultar detalhes de
trâmites que deveriam ser transparentes.

Nossa segunda dificuldade foi o hábito clientelista: como não há pleno desenvolvimento
da cidadania, isto é, dos direitos e deveres dos cidadãos, os agentes e criadores culturais
tendem a procurar os órgãos públicos de cultura com demandas que podem tornar-se
relações de favor e clientela, com risco de privatizar o que é público, impedindo a
autonomia e a participação culturais.78

Outro ponto mencionado nas entrevistas foi a dificuldade de as Lonas Culturais se


sustentarem financeiramente, mencionando ainda atrasos e insuficiência dos repasses. Estes
podem ser frutos do descaso com a área da cultura, conforme falamos anteriormente. Mas, apesar
disso, faltam aos gestores ferramentas de sustentabilidade financeira, e essas ferramentas é papel
da Prefeitura fornecer.
O conhecimento das leis de incentivo é fundamental, e poderia ser transmitido a ONGs
ligadas à cultura e demais gestores por meio de congressos e fóruns. Foi citado pelo gestor da
Lona Cultural Elza Osborne, Ives Macena, que os comerciantes locais desconhecem essas leis e
por isso não a utilizam em seu favor. Sendo assim, comerciantes e industriários poderiam estar
presentes nesses eventos explicativos. Dessa forma a iniciativa privada poderia contribuir – não
desinteressadamente – mas de forma a impulsionar o funcionamento das Lonas.
Além disso, A.D. relata casos de corrupção e desvios, motivados pela falta de rigidez na
fiscalização mais rígida para ambas as partes (Secretaria de Cultura e Lonas). Este pode ser mais
um indicativo de descaso com a área da cultura.
As Lonas Culturais têm a potencialidade de serem grandes pontos nodais na rede
cultural local na região na qual surgiram. As dificuldades que envolvem seu funcionamento, no
entanto, impedem que funcionem em sua plena capacidade enquanto equipamentos culturais para

78
CHAUÍ, 2006, p. 84.
46

um público necessitado de ofertas e de novas demandas.


47

CONCLUSÃO

As Lonas Culturais surgiram a partir de um movimento espontâneo de lideranças


comunitárias, que identificaram uma oportunidade de suprir uma carência construída através da
história da cidade: a de equipamentos culturais, ou simplesmente de espaços que possibilitassem
o lazer e algumas práticas artísticas. Essa carência, assim como outras, é resultado de uma
desigualdade construída e mantida há séculos na cidade do Rio de Janeiro, além de ser legitimada
por políticas públicas excludentes, como a reforma liderada pelo Prefeito Pereira Passos e, mais
recentemente, a Era das Remoções.

Esse movimento foi abraçado pela Prefeitura, e esta se colocou como autora, surgindo
então o nome de Ricardo Macieira como idealizador. O Projeto Lonas Culturais foi um grande
chamariz para a Secretaria de Cultura da época. Essa apropriação, por um lado, possibilitou que
as Lonas fossem a frente e fossem instaladas não só na Zona Oeste, onde surgiram, como também
na Zona Norte. Por outro lado, o não reconhecimento das lideranças originais é uma falta de
estímulo a projetos autônomos e de surgimento livre por parte de quem vive de fato as
necessidades, não só cultural como de outros direitos.

A parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e os grupos gestores das Lonas


poderia ser muito eficiente, mas não funciona. E não funciona porque, na prática, não existe. A
Secretaria não acompanha de perto as Lonas, não fiscaliza com rigidez o destino dos repasses
(que muitas vezes atrasam), e os gestores, por sua vez, talvez não queiram esse acompanhamento
tão próximo, mas que evitaria dúvidas com relação à transparência desses trâmites. Além disso, a
proximidade da Secretaria poderia ajudar a evitar falhas administrativas internas de cada Lona e a
melhor capacitar os gestores e trabalhadores desses espaços.

Uma boa alternativa para as Lonas seria o fortalecimento enquanto grupo, como rede.
De forma colaborativa, as gestões poderiam propor atividades conjuntas, circuitos de atrações,
intercâmbio de dinamizadores e frequentadores, enfim, há uma infinidade de possibilidades. Seria
uma maneira de gerar e compartilhar público e de troca de experiências entre os grupos gestores.

Considerando às propostas de Luís Milanesi anteriormente citadas – informar, discutir e


criar – é possível traçar uma programação para as Lonas que amplie sua capacidade
48

transformadora.
Para informar, Milanesi recomenda a construção de acervos. No caso das Lonas
Culturais, considerando o espaço das mesmas, talvez não haja espaço físico para abrigar esses
itens, mas a circulação da informação poderia ser estimulada pelo incentivo a troca de
exemplares, por exemplo.
A estrutura da Lona, com arquibancada e palco, favorece a realização de eventos de
debate, como mesas redondas, o que possibilita a discussão e troca de conhecimento. Resgatar a
história dos bairros nos quais as Lonas foram implantadas e debatê-la seria uma forma de
desenvolver uma visão crítica para aquelas realidades, identificar problemas e buscar melhorias.
Isso poderia ser realizado através de passeios turísticos, exposições e resgate da história oral com
mestres griôs. A criação, por sua vez, já existe nas oficinas oferecidas, mas sempre pode ser
ampliada com novas modalidades, como criação literária, artes plásticas, etc.

As Lonas Culturais têm a seu favor a flexibilidade. O espaço, às vezes restrito,


dependendo da Lona, é multifuncional e pode ser aproveitado de várias formas. Para isso, sua
administração necessita ampliar seu olhar para novas possibilidades, incentivando não só a
criatividade dos frequentadores como a dela própria.
49

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52

APÊNDICE

1. Lona Cultural Elza Osborne 79

2. Lona Cultural Hermeto Pascoal80

79
Disponível em <http://culturaemfocorj.blogspot.com.br/2012/10/lona-cultural-de-campo-grande-oferece.html> .
Acesso em 5 de julho de 2014.
80
Disponível em < http://pijornalismoucb.blogspot.com.br/2013/05/lonas-culturais-um-misto-de-shows.html> .
Acesso em 5 de julho de 2014.
53

2. Lona Cultural Gilberto Gil81

81
Idem.

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