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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

UNIDADE REGIONAL DE DIREITO BANCÁRIO DA COMARCA DE xxx/xx.

Autos nº: xxxx

Autor: xxxxx

Réu: xxxxxx

xxxx, já devidamente qualificado nos autos, por suas procuradoras, advogadas


regularmente inscritas na Ordem dos Advogados do Brasil, ambas com escritório
profissional em xxx/xx, na Avenida xxx, nº xx, Bairro xxx, CEP xxxx, endereço
eletrônico: xxxx, onde recebem intimações nos termos da rocuração anexa, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 335, III, do Código
de Processo Civil, apresentar a presente

CONTESTAÇÃO

na ação que lhe move xxxx, também já devidamente qualificada nos autos em epígrafe,
aduzindo e requerendo o que adiante segue, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

I - DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, imperioso ressaltar que o réu não possui condições de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e da sua família.
Isso porque, Excelência, atualmente está desempregado, não percebendo nenhuma renda
mensal, como se pode auferir da CTPS anexa, na qual consta que o mesmo laborou até
o dia xxx, como motorista, cujo salário mensal era de R$ 1.612,00 (um mil seiscentos e
doze reais), razão pela qual faz jus ao benefício da justiça gratuita.

II - SÍNTESE DA INICIAL

A autora ajuizou ação de busca e apreensão em desfavor do réu, aduzindo que concedeu
a este um financiamento no valor de R$ 31.152,00 (trinta e um mil cento e cinquenta e
dois reais), o qual seria restituído através de 48 (quarenta e oito) parcelas mensais no
valor de R$ 649,00 (seiscentos e quarenta e nove reais), cujo vencimento final se daria
no dia 21/09/2020, conforme consta da Cédula de Crédito Bancário celebrada no dia
15/09/2016.

Afirmou, ainda, que o réu cedeu, em garantia das obrigações assumidas, o automóvel
Chevrolet Celta Super, ano xxx, chassi xxx, placa xxx, cor branco. Ademais, sustentou
que o réu deixou de realizar o pagamento das prestações, a partir da parcela nº 11, cujo
vencimento se deu em xxx de 2017, incorrendo em mora desde então.

Por tal razão, salientou que até o dia xxx/2018, o débito vencido do réu importava o
valor de R$ 5.288,05 (cinco mil duzentos e oitenta e oito reais e cinco centavos) e o
valor total para fins de purgação da mora, seria R$ 22.023,13 (vinte e dois mil e vinte e
três reais e treze centavos).
Por fim, pugnou pela concessão de liminar para a busca e apreensão do referido veículo,
com a expedição de Ofício ao DETRAN para retirada de quaisquer ônus e à Secretaria
da Fazenda Estadual, comunicando a transferência da propriedade. Requereu, ainda, a
inclusão da presente ação junto ao RENAVAM, bem como a citação do réu para,
querendo, em 05 (cinco) dias pagar a integralidade da dívida e, não ocorrendo o
pagamento, a consolidação da propriedade com a posse plena do veículo em seu favor,
dentre outros pedidos comuns à espécie da ação.

Destarte, às fls. 21-22, o MM. Juiz deferiu a liminar e determinou a expedição de


mandado de busca e apreensão, o qual foi cumprido pela Sra. Oficial de Justiça no dia
xxx /2018, nos termos da Certidão acostada às fls. 26 dos autos.

Ocorre, Excelência, que tais argumentos, ao menos em parte, não merecem prosperar,
pelas razões que serão adiante elencadas.

III - PRELIMINARMENTE

III.I – DO VALOR EQUIVOCADO ATRIBUIDO À CAUSA

Excelência, inicialmente, é imprescindível discorrer que o valor atribuído à causa, pela


autora, não está de acordo com a realidade dos fatos.

Nesse viés, versa o art. 293, do Código de Processo Civil:

Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à


causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o
caso, a complementação das custas.

Isso porque, é crível que o valor dado à causa pela autora, no valor de R$ 31.152,00
(trinta e um mil cento e cinquenta e dois reais), é o valor da TOTALIDADE do
financiamento concedido ao réu, como a própria autora afirma na sua inicial (fls. 15),
quando deveria corresponder apenas as PARCELAS VENCIDAS E VINCENDAS, o
verdadeiro proveito econômico da demanda.

Nesse viés, tem-se o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa


Catarina, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA DE VEÍCULO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DA
PARTE RÉ. [...] CAUSA VALORADA COM AMPARO NO IMPORTE TOTAL DO
CONTRATO. REDUÇÃO QUE SE IMPÕE. NOVO VALOR EM CONSONÂNCIA
COM O SALDO DEVEDOR DA RÉ, O QUAL CORRESPONDE AO PROVEITO
ECONÔMICO DA DEMANDA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. [...]. (TJSC, Apelação Cível n. 0301498-75.2015.8.24.0006, de Jaraguá do
Sul, rel. Des. Tulio Pinheiro, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 26-10-2017).
(grifei).

Frisa-se que, em que pese determinada a retificação do valor atribuido à causa, pelo
MM. Juiz, na decisão de fls. 21-22, no mandado de BUSCA E APREENSÃO expedido
às fls. 25, constou valor equivocado (total do contrato) e não o valor de R$ 22.023,13
(vinte e dois mil e vinte e três reais e treze centavos), como deveria ser.

Dessa forma, o réu requer, desde já, seja retificado o valor dado à causa, bem como
requer, posteriormente, seja retificado tal valor de toda a documentação acostada aos
autos, inclusive nos mandados expedidos, para que passe a constar apenas o VALOR
DO SALDO DEVEDOR do réu devidamente atualizado, que à época do ajuizamento da
ação era de R$ 22.023,13 (vinte e dois mil e vinte e três reais e treze centavos).

III.II – DA AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DA CÉDULA DE CRÉDITO


ORIGINAL

Excelência, o processo sequer deveria estar prosseguindo. Isso porque, sabe-se que se
tratando de processo eletrônico, diante do Princípio da Cartularidade que envolve os
títulos de créditos vinculados aos contratos de financiamento, tem-se que tais títulos
devem ser apresentados em Cartório para a vinculação junto ao processo judicial
eletrônico, dispensando-se o depósito, sob pena de extinção.

Nestes casos, assim é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa


Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DETERMINAÇÃO
DE EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL (CORREÇÃO DO VALOR DA CAUSA E
APRESENTAÇÃO DO ORIGINAL DA CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO EM
CARTÓRIO).DESATENDIMENTO. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
QUE SE IMPUNHA. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 321 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. DESNECESSIDADE DA INTIMAÇÃO PESSOAL DA
PARTE, SENDO SUFICIENTE A DO SEU PROCURADOR. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0302416-
82.2016.8.24.0026, de Jaraguá do Sul, rel. Des. Jânio Machado, Quinta Câmara de
Direito Comercial, j. 08-02-2018). (grifei).

Ocorre que o respeitável Magistrado, ao analisar a inicial para a concessão da liminar,


não determinou que a autora apresentasse o original da Cédula de Crédito Bancário em
cartório, tão somente para a vinculação no processo. Dessa forma, a decisão de fls. 21-
22 restou equivocada, uma vez que não foram preenchidos todos os pressupostos para o
deferimento da medida liminar.

Desse modo, verificada a ausencia de pressupostos de constituição e desenvolvimento


válido e regular do processo, nos termos do art. 485, IV, do Código de Processo Civil,
não ocorrerá a resolução do mérito. Veja-se:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


[...]
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo;
[...].
Nesse viés, a lide em tela deve ser extinta sem resolução do mérito, tendo em vista a
falta da constituição em mora, pressuposto, este, essencial para o trâmite da ação de
busca e apreensão.

IV - DO MÉRITO

IV. I – DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA EM RAZÃO DA ABUSIVIDADE


DOS ENCARGOS CONTRATUAIS

Caso Vossa Excelência entenda por não extinguir o processo sem resolução do mérito,
nos termos mencionados anteriormente, o réu passa, então a discorrer o mérito.

É importante mencionar, anteriormente, que existe a possibilidade de revisar cláusulas


contratuais na Contestação, inclusive de requerer a repetição de valores, nos termos do
entendimento jurisprudencial do Egrégio Tribunal de Justiça. Veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. PEDIDO REVISIONAL NA


CONTESTAÇÃO. SENTENÇA IMPROCEDENTE. INSURGÊNCIA DA PARTE
AUTORA. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. CONTRATO FIRMADO APÓS
A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.963/2000. PACTUAÇÃO EM
PERIODICIDADE DIÁRIA. VEDAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
POR MENSAL. SENTENÇA MANTIDA. "Por certo que permitir a capitalização diária
dos juros incidentes na dívida configuraria onerosidade excessiva para qualquer
devedor. Aliás, essa prática está em profunda discrepância com a atualidade econômica
brasileira, e deve ser rechaçada do sistema. [...]" (TJSC, Apelação Cível n.
2011.006278-1, de Indaial. Relator: Des. Volnei Celso Tomazini. Julgada em
08/03/2012).
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. ENCARGO PROVENIENTE DA MORA.
VERBA QUE ENGLOBA OS JUROS REMUNERATÓRIOS E OS MORATÓRIOS
(JUROS MORATÓRIOS E MULTA). IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM
OS DEMAIS ENCARGOS DE MORA. BIS IN IDEM. RECURSO ESPECIAL N.
1.092.428-RS. CLÁUSULA EXPRESSA. POSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA. [...]
"É admitida a incidência de comissão de permanência desde que pactuada e não
cumulada com juros remuneratórios, juros moratórios, correção monetária e/ou multa
contratual". (Recurso Especial n. 1.092.428-RS) REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
CABIMENTO. EXISTÊNCIA DE ENCARGOS ABUSIVOS. DEVER DE
PROMOVER A DEVOLUÇÃO DOS VALORES COBRADOS INDEVIDAMENTE,
NA FORMA SIMPLES, DIANTE DE ENGANO JUSTIFICÁVEL DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. MORA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MORA DESCARACTERIZADA, SEGUNDO A
ORIENTAÇÃO 02 DO STJ. MULTA MANTIDA. "ORIENTAÇÃO 2 -
CONFIGURAÇÃO DA MORA a) O reconhecimento da abusividade nos encargos
exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização)
descarateriza a mora; b) Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação
revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os
encargos inerentes ao período de inadimplência contratual." SUCUMBÊNCIA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n.
0304058-88.2015.8.24.0038, de Joinville, rel. Des. Guilherme Nunes Born, Primeira
Câmara de Direito Comercial, j. 25-01-2018). (grifei).
O Superior Tribunal de Justiça também já se manifetou no sentido de ser sim cabível a
discussao acerca da legalidade das cláusulas contratuais em sede de busca e apreensão,
ainda que apresentada como matéria de defesa, vejamos:

CONTRATO BANCÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. INOVAÇÃO RECURSAL.


VEDAÇÃO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DISCUSSÃO ACERCA DA
LEGALIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS NO ÂMBITO DA DEFESA.
POSSIBILIDADE. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. PRESSUPOSTO
EVIDENCIADO. JUROS REMUNERATÓRIOS ABUSIVOS. 1. É inviável a análise
de matéria não suscitada no recurso especial e trazida posteriormente, como inovação
recursal. 2. Em ação de busca e apreensão, é cabível a discussão acerca da
legalidade das cláusulas contratuais como matéria de defesa. 3. Evidenciada a
abusividade de encargos contratuais questionados e afastada a mora do devedor
fiduciante, impõe-se a manutenção da improcedência do pedido de busca e apreensão. 4.
Agravo regimental desprovido. (AgRg no Resp n. 1170182/RS, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j em 1/8/2011) (grifei).

Assim sendo, Excelência, sabe-se que a cobrança de encargos ilegais e abusivos


contidos no contrato, descaracteriza a mora do devedor e a própria ação de busca e
apreensão. E é exatamente esse o caso dos autos. Tem-se, nesse sentido, o entendimento
jurisprudencial do TJ/SC:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS.


ABERTURA DE CONTA CORRENTE E CONTRATOS VINCULADOS.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DO BANCO. [...]. MORA
AFASTADA EM RELAÇÃO A ALGUNS CONTRATOS. ABUSIVIDADE DOS
ENCARGOS PREVISTOS PARA A NORMALIDADE CONTRATUAL.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. I- JUROS - O Superior
Tribunal de Justiça, em sede recurso repetitivo (Resp. N. 1.061.530) sedimentou que é
admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais,
contanto que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade fique cabalmente
demonstrada. II- CONFIGURAÇÃO DA MORA - No julgamento do recurso repetitivo
Resp. 1.061.530-RS o Superior Tribunal de Justiça sedimentou que o reconhecimento
da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros
remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora. [...] (TJSC, Apelação Cível n.
2014.051612-8, de Chapecó, rel. Des. Hildemar Meneguzzi de Carvalho, Câmara
Especial Regional de Chapecó, j. 09-05-2016). (grifei).

Dessa forma, passamos às ilegalidades presentes no contrato em comento:

IV. II – DA INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL DE SISTEMA DE


AMORTIZAÇÃO – APLICAÇÃO DE MÉTODO MAIS FAVORÁVEL AO
CONSUMIDOR

Da analise do contrato objeto da presente, verifica-se que não existe previsão acerca do
método de amortização utilizado no referido instrumento, impossibilitando o réu, ora
consumidor, do acesso à informação que lhe é devida e, até mesmo, de escolher o
método mais favorável.
Para estes casos, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 47 prevê que:

“As cláusulas contratuais serão interpretadas da maneira mais favorável ao


consumidor.”

Da análise do contrato, das cláusulas e condições gerais, verifica-se que inexiste


qualquer previsão acerca do sistema de amortização da dívida. Excelência, em momento
algum o réu foi informado pela autora sobre qual sistema de amortização foi utilizado
no instrumento pactuado entre as partes.

Assim, há que se interpretar o contrato de maneira mais favorável ao réu, utilizando-se


da integração contratual, a fim de substituir o sistema de amortização utilizado pela
autora para o sistema constante de amortização – Juros Simples -, método que se
constatou ser o sistema de amortização mais benéfico e mais favorável ao consumidor,
como bem demonstra a planilha que segue anexa.

Através dela, percebe-se que, ao aplicar os juros simples, com as mesmas taxas e
condições estipuladas no contrato, o valor deste reduziu de R$ 31.152,00 (trinta e um
mil, cento e cinquenta e dois reais) para R$ 29.302,99 (vinte e nove mil, trezentos e dois
reais e noventa e nove centavos), vejamos:

(anexar tabela)

Assim, constatada a omissão no instrumento contratual acerca do método de


amortização da dívida, necessário se faz a substituição do sistema utilizado pela autora,
pois representa um fator de desequilibrio entre os contratantes.

IV. III – DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DAS TARIFAS


ADMINISTRATIVAS – TARIFA DE AVALIAÇÃO DO BEM, TAXA DE
REGISTRO E PAGAMETOS AUTORIZADOS

A respeito das tarifas administrativas, representada pela “tarifa de avaliação do bem”,


“taxa de registro” e “pagamentos autorizados”, embora expressas, não há cabimento
para tal exigência.

Nas palavras do Desembargador Saul Steil,

[...] "constitui-se em aumento de juros de forma transversa, violando o disposto no art.


51, inciso IV, do Código de Defesado Consumidor, na medida que estabelece obrigação
sem a contraprestação, colocando o financiado em desvantagem exagerada,
incompatível com a boa-fé e a equidade" (Ap. Cív. n. 2009.001353-0, de Chapecó, rel.
Des. Subst. Saul Steil, j. em 16-10-2009).

Ademais, nota-se que tais cobranças ferem o direito de informação preconizado no


Código de Defesa do Consumidor, pois não existe no contrato qualquer informação
acerca do conteúdo e da origem para cobrança dessas tais tarifas. Neste sentido, já
julgou o Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL - REVISÃO DE CONTRATO - CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO COM GARANTIA FIDUCIÁRIA - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
- RECURSO DO AUTOR – [...] - TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO -
ILEGALIDADE, CASO INEXISTENTES INFORMAÇÕES DE SEU
CONTEÚDO E ORIGEM - REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES -
RECONHECIMENTO - READEQUAÇÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL -
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. [...] II - Não havendo no contrato
qualquer informação acerca da cobrança da denominada tarifa de "registro de
contrato", mostra-se ilegal a sua exigência, uma vez que ofende os princípios da
informação e da boa-fé contratual, previstos nos arts. 6º, III, e 51, IV e § 1º, do
CDC. III - Estabelece o art. 42, § único, da Lei n. 8.078/90, que o consumidor cobrado
em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, acrescido de correção
monetária e juros legais. (TJSC, Apelação Cível n. 2015.006042-8, de Chapecó, rel.
Des. Luiz Antônio Zanini Fornerolli, Câmara Especial Regional de Chapecó, j. 28-09-
2015). (grifei)

E ainda:

APELAÇÃO CÍVEL - REVISÃO DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM


GARANTIA FIDUCIÁRIA - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA -
RECURSO DO RÉU - CONTRATAÇÃO DE "SEGURO AUTO" - DEVER DE
EXIBIÇÃO DO CONTRATO MANTIDO - TARIFA DE SERVIÇOS DE TERCEIRO,
DE CADASTRO, DE ABERTURA DE CRÉDITO E DE EMISSÃO DE CARNÊ -
SENTENÇA QUE NÃO REPRESENTOU PREJUÍZO AO APELANTE NESTES
PONTOS - AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL - TARIFA DE "REGISTRO
DE CONTRATO" - ILEGALIDADE [...] - REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA
FORMA SIMPLES - CONDENAÇÃO MANTIDA - READEQUAÇÃO DO ÔNUS
SUCUMBENCIAL - RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSE
ÂMBITO, PROVIDO EM PARTE. [...] III - A cobrança da intitulada tarifa de
"registro de contrato" se mostra ilegal, uma vez que não autorizada pela norma de
regência (Resolução n. 3.919/2010 do Bacen), além de inexistir no pacto qualquer
informação acerca de seu conteúdo e origens, o que ofende os princípios da
informação e da boa-fé contratual, previstos nos arts. 6º, III, e 51, IV e § 1º, do
CDC. [...] IV - O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da
normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora. V -
A descaracterização da mora torna inviável a inscrição ou a permanência do nome do
consumidor nos serviços de proteção ao crédito, bem como a adoção de medidas
judiciais pela casa bancária para retomar os bens dados em garantia. VI - Estabelece o
art. 42, § único, da Lei n. 8.078/90, que o consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, acrescido de correção monetária e juros legais. (TJSC,
Apelação n. 0300322-64.2014.8.24.0081, de Xaxim, rel. Des. Luiz Antônio Zanini
Fornerolli, Câmara Especial Regional de Chapecó, j. 04-07-2016). (grifei)

Ademais, há de ser mencionada a tarifa denominada de “Pagamentos Autorizados”


constante no contrato entabulado entre as partes, a qual é equivalente ao montante de R$
1.024,90 (um mil, vinte e quatro reais e noventa centavos). Excelência, inegável que a
cobrança da mesma é absolutamente ilegal, uma vez que ausente especificação sobre a
sua origem e quais os serviços que compreende, onerando duplamente o consumidor,
porquanto já contabilizado o custo efetivo do contrato.
Ainda que prevista expressamente a referida taxa, percebe-se nitidamente que o
consumidor não pode ser onerado por encargo indeterminado, mas que de forma
indevida, lhe é repassado, uma vez que não lhe traz nenhum benefício.

Neste sentido, verificando que os custos efetivos já foram contabilizados no contrato,


até mesmo com a incidência de tarifas, encargos moratórios e compensatórios, não se
pode exigir outro encargo sem especificação onerando duplamente o consumidor, ora
réu.

Sob outro enfoque, a cláusula atenta contra os princípios do Código de Defesa do


Consumidor, mais precisamente aqueles previstos nos artigos 46 e 51, inciso IV, da
referida norma, que impõem ao fornecedor o dever de clareza na redação dos contratos
e obstam o estabelecimento de obrigações incompatíveis com a boa-fé.

A cláusula contratual que prevê a cobrança de “Pagamentos Autorizados”, embora


expressamente prevista no contrato e no valor de R$ 1.024,90 (um mil, vinte e quatro
reais e noventa centavos), não esclarece de forma específica quais os serviços que
seriam subsidiados. Portanto, a exigência do encargo contratado é abusiva.

Diante desse contexto, este Egrégio Tribunal se posiciona no sentido de considerar


abusiva a cláusula contratual que prevê a cobrança do encargo de “Pagamentos
Autorizados” ou outra denominação como mesmo fato gerador, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.


FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA.
RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA. CONTRATO DE
ADESÃO. PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA MITIGADO. APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR À RELAÇÃO JURÍDICA FORMADA
ENTRE AS PARTES. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DAS CLÁUSULAS
CONTRATUAIS, SEM QUE ISSO IMPLIQUE EM VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO
PERFEITO E À BOA-FÉ CONTRATUAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 6º E 54
DO CDC. APELO NÃO PROVIDO NESSE ASPECTO. TARIFA BANCÁRIA.
SERVIÇOS DE TERCEIROS E OUTROS SERVIÇOS ("PAGAMENTOS
AUTORIZADOS"). PACTO QUE NÃO ESCLARECE, DE FORMA
ESPECÍFICA, QUAIS SERIAM OS SERVIÇOS PRESTADOS. OFENSA AOS
ARTIGOS 46 E 51, IV, DO CDC. ABUSIVIDADE NA CONTRATAÇÃO DO
ENCARGO. SENTENÇA MANTIDA NESSA PARTE. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
PEDIDO DE INVERSÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. MANUTENÇÃO DA
DISTRIBUIÇÃO DA VERBA SUCUMBENCIAL DISPOSTA NA SENTENÇA.
ADMITIDA A COMPENSAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA (SÚMULA N. 306 DO
STJ). RECURSO DESPROVIDO, NO TÓPICO. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2015.085042-5, de Caçador, rel. Des. Soraya
Nunes Lins, Quinta Câmara de Direito Comercial, j. 04-02-2016). (grifei)

Assim, reconhecida a ilegalidade destas cobranças e comprovado através do contrato em


questão que as mesmas foram feitas, merecem estas também serem excluídas do
contrato para seu recálculo.

IV. IV – DA ILEGALIDADE NA CONTRATAÇÃO DO SEGURO DE


PROTEÇÃO FINANCEIRA
No contrato, ainda estava previsto, dentre outras disposições, a contratação de Seguro
Prestamista, no valor de R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais), conforme se pode
auferir no respectivo item no contrato anexo. Contudo, o réu nunca foi informado sobre
a referida contratação e sequer tinha ciencia do mencionado seguro.

Nesse sentido, o réu repisa que sequer teve ciência da contratação do mencionado
serviço de seguro junto com o financiamento, ficando caracterizada assim, além de
venda casada, uma abusividade da instituição financeira.

Ademais, nota-se que tal cobrança fere o direito de informação preconizado no Código
de Defesa do Consumidor, pois não existe no contrato qualquer informação, de forma
clara e adequada, sobre a destinação de tais encargos. Neste sentido, já julgou o Egrégio
TJ/SC, vejamos:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO E AÇÃO DE BUSCA


E APREENSÃO. DEMANDAS CONEXAS. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA E DE EXTINÇÃO, RESPECTIVAMENTE. IRRESIGNAÇÃO DO
AGENTE FINANCEIRO EM AMBOS OS FEITOS. REVISIONAL. RECURSO
PRINCIPAL DA FINANCEIRA. PACTO QUE PREVIA A POSSIBILIDADE DA
CONTRATAÇÃO DE SEGUROS NAS CLÁUSULAS 18 E 19. AUSÊNCIA DE
PACTUAÇÃO EFETIVA. [...] CUSTO COM REGISTRO DO CONTRATO E
COM SERVIÇOS DE TERCEIROS. EXIGÊNCIA INDEVIDA. VIOLAÇÃO AO
ART. 51, INC. IV, DO CDC. AUSENTE, ADEMAIS, INFORMAÇÃO CLARA E
ADEQUADA SOBRE A DESTINAÇÃO DE TAIS ENCARGOS. AFRONTA AO
DIRETO DE INFORMAÇÃO PRECONIZADO NO INC. III DO ART. 6º DO
CDC. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. NÃO CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE
NÃO PREVISTA NA SENTENÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL.
MINORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS.
INVIABILIDADE. QUANTUM ARBITRADO RAZOAVELMENTE E EM
SINTONIA COM OS DITAMES DO § 4º DO ART. 20 DO CPC. [...] RECURSO
PRINCIPAL INTERPOSTO NA AÇÃO DE REVISÃO PARCIALMENTE
CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE E RECURSO ADESIVO EM PARTE
CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE. RECURSO INTERPOSTO NA
AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC,
Apelação Cível n. 2012.043262-0, de Criciúma, rel. Des. Altamiro de Oliveira, Segunda
Câmara de Direito Comercial, j. 16-02-2016). (grifei)

Outrossim, caso este Juízo tenha entendimento diferente, pela possibilidade da


contratação do seguro junto com o financiamento bancário (cédula de crédito), há de se
considerar que ao réu não foi disponibilizada qualquer cópia da obrigatória apólice de
seguro.

Nesse sentido, manifestou-se o próprio Tribunal de Justiça Catarinense:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO DE ABERTURA DE


CRÉDITO PARA FINANCIAMENTO DE BENS E/OU SERVIÇOS. PARCIAL
PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. RECURSO DA RÉ. 1.3. SEGURO PRESTAMISTA.
FACULDADE DE CONTRATAÇÃO QUE ATENDE AO INTERESSE DE
AMBAS AS PARTES. AUSÊNCIA DA APÓLICE ASSINADA PELO
CONTRATANTE. INEXISTÊNCIA DE EFETIVA COMPROVAÇÃO DO
SERVIÇO REMUNERADO. ABUSIVIDADE DA COBRANÇA IDENTIFICADA.
RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PARCIALMENTE ACOLHIDO.
(TJSC, Apelação Cível n. 2015.010043-0, de Xaxim, rel. Des. Luiz Felipe Schuch, j.
09-05-2016). (grifei)

Desta forma, caso não seja apresentada a referida apólice de seguro devidamente
assinada pelo réu, deve ser excluída a cobrança do contrato em questão e reconhecida a
abusividade em tela.

V – DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Por oportuno, após devidamente comprovada a abusividade dos encargos durante a


normalidade contratual, há de se admitir que durante todo o período que estava
adimplindo “corretamente” o contrato, o consumidor/ financiado sempre recolheu a
mais do que o devido para a instituição financeira. Por conseguinte, resta comprovado o
enriquecimento ilícito às custas do cliente/ financiado.

Nesse ponto, surge a necessidade da restituição dos valores pagos a maior pelo réu.
Ademais, cumpre invocar aqui a incidência do Código de Defesa do Consumidor, o qual
também prescreve em seu artigo 42, § único:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Consoante a jurisprudencia pacificada no Superior Tribunal de Justiça e neste Tribunal


Catarinense, é dever da instituição financeira restituir em dobro os pagamentos
indevidos, independentemente de comprovação do erro.

Vejamos, então, o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. PEDIDO REVISIONAL NA


CONTESTAÇÃO. SENTENÇA IMPROCEDENTE. INSURGÊNCIA DA PARTE
AUTORA. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. CONTRATO FIRMADO APÓS
A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.963/2000. PACTUAÇÃO EM
PERIODICIDADE DIÁRIA. VEDAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
POR MENSAL. SENTENÇA MANTIDA. [...] REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
CABIMENTO. EXISTÊNCIA DE ENCARGOS ABUSIVOS. DEVER DE
PROMOVER A DEVOLUÇÃO DOS VALORES COBRADOS INDEVIDAMENTE,
NA FORMA SIMPLES, DIANTE DE ENGANO JUSTIFICÁVEL DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. MORA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MORA DESCARACTERIZADA, SEGUNDO A
ORIENTAÇÃO 02 DO STJ. MULTA MANTIDA. "ORIENTAÇÃO 2 -
CONFIGURAÇÃO DA MORA [...] SUCUMBÊNCIA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0304058-88.2015.8.24.0038,
de Joinville, rel. Des. Guilherme Nunes Born, Primeira Câmara de Direito Comercial, j.
25-01-2018). (grifei).
A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça assim expressou:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS


À EXECUÇÃO. CONTRATOS BANCÁRIOS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
POSSIBILIDADE DE COBRANÇA SEM CUMULAÇÃO COM OUTROS
ENCARGOS MORATÓRIOS. REPETIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO.
APLICAÇÃO DA SÚMULA 83 DO STJ. [...] 2. É cabível a repetição do indébito,
quando verificada a cobrança de encargos ilegais, tendo em vista o princípio que
veda o enriquecimento sem causa do credor, independentemente da comprovação
do equívoco no pagamento. [...] (AgRg no AREsp 182.141/SC, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 12/05/2015, DJe 19/05/2015).
(grifei)

In casu, uma vez que ocorre a incidência do Código de defesa do Consumidor, a


restituição dos valores pagos a maior devem se dar em dobro, nos termos do artigo 42
do CDC, com o fim de evitar o enriquecimento ilícito da autora.

VI – DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


E NECESSÁRIA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O entendimento esmagador de todos os Tribunais, inclusive o STJ, é de que aos


contratos bancários se faz plenamente aplicável as disposições do Código de Defesa do
Consumidor. Nesse sentido, restou editada a Súmula 297 do STJ, que assim prescreve:
“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.”

Apesar do seu lacônico teor, é clara a intenção do Tribunal ao querer proteger pelo
manto do referido Código todos que firmam relações com instituições financeiras.

Nesse sentido, a instituição bancária, ora autora, está submetida às disposições do


Código de Defesa do Consumidor. Não porque ela seja fornecedora de um produto, mas
porque presta um serviço consumido pelo cliente final e seus direitos devem ser
igualmente protegidos como o de qualquer outro, especialmente porque nas relações
bancárias há difusa utilização de contratos de massa e onde, com mais evidência, surge
desigualdade de forças e a vulnerabilidade do usuário, que não tem conhecimentos
técnicos financeiros para contestar.

Corroborando com o assunto, extrai-se do entendimento jurisprudencial do Tribunal de


Justiça de Santa Catarina, in verbis:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO. FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DO BANCO AUTOR. APELANTE QUE REQUER
A CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO, POR APLICAÇÃO DO
ART. 558 DO CPC/73. RELEVANTE FUNDAMENTAÇÃO E RISCO DE LESÃO
GRAVE E DE DIFÍCIL REPARAÇÃO NÃO DEMONSTRADOS. AVENTADO
JULGAMENTO ULTRA PETITA. ALEGADA IMPOSSIBILIDADE DO PEDIDO
DE REVISÃO DO CONTRATO. TESE ARREDADA. CABIMENTO DA
DISCUSSÃO ACERCA DA LEGALIDADE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS
EM SEDE DE BUSCA E APREENSÃO, AINDA QUE APRESENTADA COMO
MATÉRIA DE DEFESA. CONTRATO BANCÁRIO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR À RELAÇÃO JURÍDICA FORMADA ENTRE AS
PARTES. ARTS. 2º E 3º DO CDC. SÚMULA 297 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA MITIGADO. POSSIBILIDADE
DE REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS, SEM QUE ISSO IMPLIQUE
EM VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO E À BOA-FÉ CONTRATUAL.
INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 6º E 54 DO CDC. PLEITO DESPROVIDO NO
PONTO. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS EM PERIODICIDADE DIÁRIA.
PRÁTICA QUE É VEDADA, PORQUE IMPORTA EM ONEROSIDADE
EXCESSIVA AO CONSUMIDOR. SENTENÇA MANTIDA NESSA PARTE. JUROS
REMUNERATÓRIOS. TAXAS NÃO MODIFICADAS PELA SENTENÇA. FALTA
DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO NÃO CONHECIDO NESTE TÓPICO.
MORA. ALEGADA CARACTERIZAÇÃO. INSURGÊNCIA
ACOLHIDA.COBRANÇA DE ENCARGO ABUSIVO QUE, POR SI SÓ, NÃO
AFASTA A MORA. EMPRESA DEVEDORA QUE PAGARAM APENAS TREZE
DAS SESSENTA PARCELAS PACTUADAS. INADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO. AUSÊNCIA DE DEPÓSITO INCIDENTAL DO
VALOR INCONTROVERSO. MORA CARACTERIZADA. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO ACOLHIDO, NO PONTO. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
PEDIDO DE INVERSÃO. ACOLHIMENTO. REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS
SUCUMBENCIAL. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NESTA,
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2016.023675-2, de Laguna,
rel. Des. Soraya Nunes Lins, Quinta Câmara de Direito Comercial, j. 02-06-2016).
(grifei)

É consabido, ademais, que os contratos bancários são tipicamente de adesão, inserindo-


se no conceito do artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor. A conclusão decorre
do fato de que as cláusulas foram estabelecidas unilateralmente pela instituição
financeira, sem possibilidade do consumidor discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.

Nas palavras de Nelson Nery Júnior, o consumidor

" aceita-as, em bloco, ou não as aceita " (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
Comentado pelos Autores do Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004,
p. 622).

A propósito, é a dicção do artigo 54 do CDC:

Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Acerca do tema, Carlos Alberto Bittar leciona:

A massificação da produção e a comercialização em grande escala, pelos mecanismos


de distribuição existentes (revendedoras, concessionárias, licenciadas), geram a
estandardização dos contratos para a colocação de produtos e de serviços no mercado,
com a prévia estipulação, pelo disponente, das cláusulas e das condições
correspondentes, em que se inserem regras protetivas dos grandes complexos
empresariais que extrapolam os limites impostos pela comutatividade exigida nas
relações contratuais.
[...]
Considera-se de adesão o contrato que, nascido por força do dirigismo econômico e da
concentração de capitais em grandes empresas, em especial nos campos de seguros,
financiamentos bancários, vendas de imóveis, de bens duráveis e outros, tem a
participação volitiva do consumidor reduzida à aceitação global de seu contexto,
previamente definido e impresso, em modelos estandardizados, com cláusulas dispostas
pelos fornecedores ou resultantes de regulamentação administrativa, ou da sua
combinação (Direito do Consumidor: Código de Defesa do Consumidor. 6. ed. rev.
atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 61/62).

Assim, considerando que a maior parte das cláusulas dispostas nos contratos bancários
são estipuladas de forma unilateral pelas instituições financeiras, a Lei nº 8.078/90, em
seu Capítulo VI, estabeleceu algumas regras para controlar a liberdade contratual e
coibir eventuais abusividades.

A partir disso, o artigo 6º do CDC é aplicado aos contratos bancários como forma de
exceção e relativização ao princípio "pacta sunt servanda", o qual constitui regra geral
no sentido de que o contrato, logo depois de firmado, possui natureza vinculativa entre
as partes.

A finalidade dessa relativização, necessário que se diga, não é a de modificar livremente


as cláusulas e não observar a autonomia das vontades, mas unicamente de resguardar a
função social do contrato e a boa-fé objetiva, com vistas à manutenção do equilíbrio
contratual.

Nesse sentido, extrai-se da doutrina de Cláudia Marques:

O Código de Defesa do Consumidor inova consideravelmente o espírito do direito das


obrigações, e relativa à máxima pacta sunt servanda. A nova lei vale reduzir o espaço
antes reservado para autonomia de vontade, proibindo que se pactuem determinadas
cláusulas, vai impor normas imperativas, que visam proteger o consumidor,
reequilibrando o contrato, garantindo as legítimas expectativas que depositou no vínculo
contratual.
A proteção do consumidor, o reequilíbrio contratual vem a posteriori, quando o contrato
já está perfeito formalmente, quando o consumidor já manifestou sua vontade, livre e
refletida, mas o resultado contratual ainda está inequiquativo. As normas proibitórias de
cláusulas abusivas são normas de ordem pública, normas imperativas e inafastáveis pela
vontade das partes. Estas normas do CDC aparecem como instrumento do direito para
restabelecer o equilíbrio, para restabelecer a força da vontade, das expectativas
legítimas, do consumidor, compensando, assim, sua vulnerabilidade fática. (Contratos
no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 4.ed., São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 766).

Desse modo, é possível a revisão do contrato bancário quando a parte indicar as


cláusulas e práticas comerciais que considera abusiva. Importante anotar que o art. 6º,
incisos IV e V, do CDC disciplina ser direito básico do consumidor a proteção contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos ou serviços,
assim como a modificação das que estabeleçam prestações desproporcionais, ou a sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

Já em relação a inversão do ônus da prova a favor do réu, esta se faz necessária, visto
que nos termos do artigo 6º, VIII, da Lei nº 8.078/90, um dos direitos básicos do
consumidor é:

[...] a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo covil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.

O CDC inseriu a regra de que mesmo uma simples onerosidade excessiva ao


consumidor, decorrente de fato superveniente, poderá ensejar a chamada revisão
contratual, como bem preceitua o seu artigo 6º, V, in verbis:

Art. 6.º São direitos básicos do consumidor:


[...]
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabelecem prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas.
[...] (grifei).

Dessa forma, um contrato que traz uma onerosidade excessiva a uma das partes não está
cumprindo o seu papel sociológico, necessitando de revisão pelo órgão judicante.
Ademais, em se tratando de contrato de adesão, resta cristalino que a única opção da
parte ré - no que se refere às cláusulas estabelecidas -, diz respeito apenas entre se aceita
ou não o conteúdo da avença, pois certo que ao consumidor não é permitido nenhuma
ingerência sobre sua elaboração, restando-lhe somente a opção entre aderir ou não às
condições ali elencadas.

Ademais, outro ponto que merece destaque, MM. Juiz, é o tamanho da fonte utilizada
no contrato de adesão entabulado pela autora.

Destaca-se que no presente caso, o contrato deverá ser considerado nulo de pleno
direito, pois está em desconformidade com os preceitos legais, além de confuso, sem
clareza e pelo fato de que o tamanho da letra utilizado na redação impede o
entendimento, visto que foi usada letra muito pequena. Os termos do parágrafo 3º do
artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor estabelecem que o tamanho da letra deva
ser no mínimo no tamanho 12 (doze), vejamos:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.
[...]
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de
modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.
[...] (grifei).

Assim, estando o contrato em desconformidade com os preceitos legais, deverá ser


considerado nulo de pleno direito. Todavia, em caso de improcedência do reequilíbrio
econômico financeiro do contrato, requer sucessivamente seja declarada sua nulidade.

Igualmente, resta mais do que evidente a necessidade da aplicação do Código de Defesa


do Consumidor, bem como a inversão do ônus da prova no contrato em questão, uma
vez que o réu é totalmente leigo em relação ao direito bancário, bem como sua
vulnerabilidade técnica e economica é nítida e deve ser reconhecida.

Pelo exposto até então, o réu impugna todos os fatos trazidos pela autora, devendo
ser julgada integralmente improcedente a presente ação.

VII – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A concessão do benefício da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de


Processo Civil, tendo em vista que não possui condições de arcar com os honorários e
as custas processuais;

b) Sejam acolhidas as preliminares suscitadas, para inicialmente retificar o valor dado a


causa e, posteriormente, extinguir a ação sem resolução do mérito em razão da ausência
de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo
(ausência da apresentação da cédula de crédito original), conforme artigo 485, IV, CPC,
revogando-se a liminar concedida e retirando o nome do réu dos Órgãos de Proteção ao
Crédito;

c) Caso este Juízo não acolha as preliminares acima mencionadas, pugna-se pela
improcedência da presente ação, acolhendo os pedidos revisionais contidos na
contestação, cuja possibilidade encontra respaldo jurisprudencial, para:

· reconhecer a descaracterização da mora em razão da abusividade dos encargos no


período da normalidade contratual;

· determinar a aplicação de método de amortização mais favorável ao consumidor, o


qual no presente caso são os “juros simples”, conforme o cálculo juntado;

· decretar a nulidade da cobrança das tarifas administrativas denominadas de “Taxa de


registro”, “Tarifa de Avaliação do Bem” e “Pagamentos Autorizados”, determinando-se
a exclusão de tais cobranças do contrato, pois caracteriza enriquecimento ilícito do
banco autor;

· reconhecer a abusividade da contratação do “Seguro Prestamista”, por se tratar de


venda casada, determinando, também, a sua exclusão do contrato;

· reconhecer que a autora cobrou valores indevidos e excessivos do réu, condenando-a a


restituir o valor pago indevidamente, em dobro, como bem preceitua o artigo 42 do
CDC;
· revogar a liminar concedida, retirar o nome do réu dos Órgãos de Proteção ao Crédito
e, sucessivamente, decretar o contrato nulo de pleno direito;

d) Seja aplicado o Código de Defesa do Consumidor, com a consequente inversão do


ônus da prova, em favor do réu;

e) A produção de todos os meios de provas em direito admitidas, para provar o alegado;

f) A condenação da autora no pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios;

g) Que todas as intimações relativas ao presente processo sejam endereçadas as


procuradoras xxx, inscrita na OAB/SC sob o nº xxx e xxx, inscrita na OAB/SC sob o nº
xxx, sob pena de nulidade.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Local, data.

OAB/xxxx

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