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Autor: xxxxx
Réu: xxxxxx
CONTESTAÇÃO
na ação que lhe move xxxx, também já devidamente qualificada nos autos em epígrafe,
aduzindo e requerendo o que adiante segue, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:
I - DA JUSTIÇA GRATUITA
Inicialmente, imperioso ressaltar que o réu não possui condições de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e da sua família.
Isso porque, Excelência, atualmente está desempregado, não percebendo nenhuma renda
mensal, como se pode auferir da CTPS anexa, na qual consta que o mesmo laborou até
o dia xxx, como motorista, cujo salário mensal era de R$ 1.612,00 (um mil seiscentos e
doze reais), razão pela qual faz jus ao benefício da justiça gratuita.
II - SÍNTESE DA INICIAL
A autora ajuizou ação de busca e apreensão em desfavor do réu, aduzindo que concedeu
a este um financiamento no valor de R$ 31.152,00 (trinta e um mil cento e cinquenta e
dois reais), o qual seria restituído através de 48 (quarenta e oito) parcelas mensais no
valor de R$ 649,00 (seiscentos e quarenta e nove reais), cujo vencimento final se daria
no dia 21/09/2020, conforme consta da Cédula de Crédito Bancário celebrada no dia
15/09/2016.
Afirmou, ainda, que o réu cedeu, em garantia das obrigações assumidas, o automóvel
Chevrolet Celta Super, ano xxx, chassi xxx, placa xxx, cor branco. Ademais, sustentou
que o réu deixou de realizar o pagamento das prestações, a partir da parcela nº 11, cujo
vencimento se deu em xxx de 2017, incorrendo em mora desde então.
Por tal razão, salientou que até o dia xxx/2018, o débito vencido do réu importava o
valor de R$ 5.288,05 (cinco mil duzentos e oitenta e oito reais e cinco centavos) e o
valor total para fins de purgação da mora, seria R$ 22.023,13 (vinte e dois mil e vinte e
três reais e treze centavos).
Por fim, pugnou pela concessão de liminar para a busca e apreensão do referido veículo,
com a expedição de Ofício ao DETRAN para retirada de quaisquer ônus e à Secretaria
da Fazenda Estadual, comunicando a transferência da propriedade. Requereu, ainda, a
inclusão da presente ação junto ao RENAVAM, bem como a citação do réu para,
querendo, em 05 (cinco) dias pagar a integralidade da dívida e, não ocorrendo o
pagamento, a consolidação da propriedade com a posse plena do veículo em seu favor,
dentre outros pedidos comuns à espécie da ação.
Ocorre, Excelência, que tais argumentos, ao menos em parte, não merecem prosperar,
pelas razões que serão adiante elencadas.
III - PRELIMINARMENTE
Isso porque, é crível que o valor dado à causa pela autora, no valor de R$ 31.152,00
(trinta e um mil cento e cinquenta e dois reais), é o valor da TOTALIDADE do
financiamento concedido ao réu, como a própria autora afirma na sua inicial (fls. 15),
quando deveria corresponder apenas as PARCELAS VENCIDAS E VINCENDAS, o
verdadeiro proveito econômico da demanda.
Frisa-se que, em que pese determinada a retificação do valor atribuido à causa, pelo
MM. Juiz, na decisão de fls. 21-22, no mandado de BUSCA E APREENSÃO expedido
às fls. 25, constou valor equivocado (total do contrato) e não o valor de R$ 22.023,13
(vinte e dois mil e vinte e três reais e treze centavos), como deveria ser.
Dessa forma, o réu requer, desde já, seja retificado o valor dado à causa, bem como
requer, posteriormente, seja retificado tal valor de toda a documentação acostada aos
autos, inclusive nos mandados expedidos, para que passe a constar apenas o VALOR
DO SALDO DEVEDOR do réu devidamente atualizado, que à época do ajuizamento da
ação era de R$ 22.023,13 (vinte e dois mil e vinte e três reais e treze centavos).
Excelência, o processo sequer deveria estar prosseguindo. Isso porque, sabe-se que se
tratando de processo eletrônico, diante do Princípio da Cartularidade que envolve os
títulos de créditos vinculados aos contratos de financiamento, tem-se que tais títulos
devem ser apresentados em Cartório para a vinculação junto ao processo judicial
eletrônico, dispensando-se o depósito, sob pena de extinção.
IV - DO MÉRITO
Caso Vossa Excelência entenda por não extinguir o processo sem resolução do mérito,
nos termos mencionados anteriormente, o réu passa, então a discorrer o mérito.
Da analise do contrato objeto da presente, verifica-se que não existe previsão acerca do
método de amortização utilizado no referido instrumento, impossibilitando o réu, ora
consumidor, do acesso à informação que lhe é devida e, até mesmo, de escolher o
método mais favorável.
Para estes casos, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 47 prevê que:
Através dela, percebe-se que, ao aplicar os juros simples, com as mesmas taxas e
condições estipuladas no contrato, o valor deste reduziu de R$ 31.152,00 (trinta e um
mil, cento e cinquenta e dois reais) para R$ 29.302,99 (vinte e nove mil, trezentos e dois
reais e noventa e nove centavos), vejamos:
(anexar tabela)
E ainda:
Nesse sentido, o réu repisa que sequer teve ciência da contratação do mencionado
serviço de seguro junto com o financiamento, ficando caracterizada assim, além de
venda casada, uma abusividade da instituição financeira.
Ademais, nota-se que tal cobrança fere o direito de informação preconizado no Código
de Defesa do Consumidor, pois não existe no contrato qualquer informação, de forma
clara e adequada, sobre a destinação de tais encargos. Neste sentido, já julgou o Egrégio
TJ/SC, vejamos:
Desta forma, caso não seja apresentada a referida apólice de seguro devidamente
assinada pelo réu, deve ser excluída a cobrança do contrato em questão e reconhecida a
abusividade em tela.
V – DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO
Nesse ponto, surge a necessidade da restituição dos valores pagos a maior pelo réu.
Ademais, cumpre invocar aqui a incidência do Código de Defesa do Consumidor, o qual
também prescreve em seu artigo 42, § único:
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Apesar do seu lacônico teor, é clara a intenção do Tribunal ao querer proteger pelo
manto do referido Código todos que firmam relações com instituições financeiras.
" aceita-as, em bloco, ou não as aceita " (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
Comentado pelos Autores do Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004,
p. 622).
Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
Assim, considerando que a maior parte das cláusulas dispostas nos contratos bancários
são estipuladas de forma unilateral pelas instituições financeiras, a Lei nº 8.078/90, em
seu Capítulo VI, estabeleceu algumas regras para controlar a liberdade contratual e
coibir eventuais abusividades.
A partir disso, o artigo 6º do CDC é aplicado aos contratos bancários como forma de
exceção e relativização ao princípio "pacta sunt servanda", o qual constitui regra geral
no sentido de que o contrato, logo depois de firmado, possui natureza vinculativa entre
as partes.
Já em relação a inversão do ônus da prova a favor do réu, esta se faz necessária, visto
que nos termos do artigo 6º, VIII, da Lei nº 8.078/90, um dos direitos básicos do
consumidor é:
[...] a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo covil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Dessa forma, um contrato que traz uma onerosidade excessiva a uma das partes não está
cumprindo o seu papel sociológico, necessitando de revisão pelo órgão judicante.
Ademais, em se tratando de contrato de adesão, resta cristalino que a única opção da
parte ré - no que se refere às cláusulas estabelecidas -, diz respeito apenas entre se aceita
ou não o conteúdo da avença, pois certo que ao consumidor não é permitido nenhuma
ingerência sobre sua elaboração, restando-lhe somente a opção entre aderir ou não às
condições ali elencadas.
Ademais, outro ponto que merece destaque, MM. Juiz, é o tamanho da fonte utilizada
no contrato de adesão entabulado pela autora.
Destaca-se que no presente caso, o contrato deverá ser considerado nulo de pleno
direito, pois está em desconformidade com os preceitos legais, além de confuso, sem
clareza e pelo fato de que o tamanho da letra utilizado na redação impede o
entendimento, visto que foi usada letra muito pequena. Os termos do parágrafo 3º do
artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor estabelecem que o tamanho da letra deva
ser no mínimo no tamanho 12 (doze), vejamos:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.
[...]
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de
modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.
[...] (grifei).
Pelo exposto até então, o réu impugna todos os fatos trazidos pela autora, devendo
ser julgada integralmente improcedente a presente ação.
c) Caso este Juízo não acolha as preliminares acima mencionadas, pugna-se pela
improcedência da presente ação, acolhendo os pedidos revisionais contidos na
contestação, cuja possibilidade encontra respaldo jurisprudencial, para:
Local, data.
OAB/xxxx