Você está na página 1de 44

A) HISTÓRIA DA ARTE II

AUTORA
ROSEMARA SATUB DE BARROS
História da arte II

Introdução Introdução

Caro cursista,
Palavras do autor
É com grande satisfação que apresentamos o material impresso
da disciplina História da Arte II. Esta disciplina é continuidade da disciplina
história da Arte I que você teve a oportunidade de estudar no período
anterior de estudos.
Na primeira unidade, apresentaremos o Renascimento, um longo
período importante da História, em que o homem passa a ser o centro do
conhecimento em oposição ao período anterior, a Idade Média, em que o
centro das especulações se constituía nos ditames da Igreja.
Na segunda unidade, o Barroco e o Rococó serão abordados a partir
das suas principais características artísticas e arquitetônicas européias.
Você obterá informações necessárias para a leitura e apreciação de uma
obra barroca tanto das artes visuais quanto da música e da arquitetura.
A terceira unidade trata do período Moderno, em que
trabalharemos historicamente, a partir do final século XIX até a primeira
metade do século XX. Neste período, surgem vários movimentos artísticos
e literários que você terá a oportunidade de estudar.
A quarta unidade trata ainda, dos movimentos artísticos oriundos
do modernismo europeus, entretanto, na América do Norte outras poéticas
artísticas são desenvolvidas, como a Op Art e a Pop Art.
É importante esclarecer que os períodos históricos nos auxiliam
a localizar quando e onde ocorreram as manifestações artísticas,
entretanto, ressaltamos que estas poéticas artísticas possuem entre si um
fio condutor que ultrapassam as datas históricas. As leituras e análises
que queremos que você faça podem esclarecer que o uso dos elementos
das linguagens artísticas (as cores, a linha, texturas, entre outras) está
presente em quaisquer manifestações artísticas independentemente de
seu período histórico.

Palavras do professor autor


Estimado estudante,
Os conteúdos da disciplina História da Arte estão “programados”,
em seu curso, em quatro disciplinas: História da Arte I, História da Arte II,
Historia da Arte no Brasil I e História da Arte no Brasil II.
É com satisfação que apresento os conteúdos da disciplina
História da Arte II, para os quais você necessitará dos conteúdos da disciplina
História da Arte I, a fim de complementar as informações históricas e dar
continuidade aos estudos.

9
História da arte II

Orientações para
Neste material impresso, os conteúdos históricos e artísticos
estudo
aqui apresentados vão desde o Renascimento europeu (século XII) até o
Ementa final do século XX. Quanto aos conteúdos que dizem respeito ao Brasil serão
abordados nas disciplinas História da Arte no Brasil I e História da Arte no
Brasil II, no entanto, você encontrará aqui, conteúdos que contribuirão
para que você possa, desde agora, fazer as conexões com a produção
artística brasileira.
Desejamos um excelente aproveitamento.
Rosemara Staub de Barros

Orientações para estudo


Nosso maior desejo é que você possa encontrar, neste caderno,
as informações necessárias para a aquisição do conhecimento científico a
respeito da História da Arte. Elas precisam ser lidas para que, então, as
atividades sejam realizadas.
Este caderno contém quatro unidades. A primeira unidade
traz um panorama do homem e da arte renascentista, bem como suas
principais características, além da consequente evolução da produção
artística europeia deste período.
A segunda unidade apresenta os movimentos que sucederam o
renascimento, isto é, o barroco e o rococó, bem como suas manifestações
artísticas européias e brasileiras.
A terceira unidade é dedicada à arte do Mundo Moderno marcado
por grandes transformações.
A quarta unidade traz as poéticas do modernismo e pós-
modernismo, a fim de aproximá-lo das tendências da pós modernidade.
Atenção: Leia atentamente todas as informações que estão
na coluna de indexação. Nela existem informações que completam o
texto e, também, várias atividades de pesquisa e propostas de atividades
integradas no ambiente virtual de aprendizagem.
Bom trabalho!

Ementa
Estudo do desenvolvimento das linguagens artísticas a partir da Renascença
até a Contemporaneidade, inclusive no Brasil, abordando os principais
estilos e temáticas predominantes nas diferentes épocas.

10
História da arte II

Objetivos de ensino-aprendizagem Unidade 1


Renascimento
1. Descrever as principais características de uma obra de arte;
2. Analisar uma obra de arte;
3. Comparar estilos, temas, materiais, técnicas e demais
elementos constantes da composição de uma obra.

Unidade 1 Renascimento

Síntese: nesta unidade, você descobrirá o período Renascentista da


história da arte europeia.

1.1 Renascimento: conceitos e caracterizações

“O homem é a medida de todas as coisas”.


Protágoras

O renascimento é um movimento cultural europeu ocorrido


entre 1300 a 1650. O renascimento italiano estendeu-se do final do século
XIV até o século XVI e o renascimento flamenco surgiu no século XVI.
O pensamento medieval, dominado pela religião, cedeu lugar a
uma cultura voltada para os valores do indivíduo. Os artistas inspiraram-se
no legado clássico grego e buscaram dimensões ideais da figura humana e
a representação fiel da realidade.
Graças ao racionalismo e ao espírito científico do homem
renascentista, buscou-se aplicar as leis da matemática ao utilizar as
principais figuras geométricas na composição; ao observar diretamente
a natureza, obtendo o realismo visual nas representações artísticas; bem
como ao utilizar a grande descoberta - a representação do espaço e do
tempo pela perspectiva e pelo claro-escuro nas pinturas.
Esse período, denominado de renascimento, corresponde
à Baixa Idade Média e início da Idade Moderna (do século XIII ao XVI),
podendo ser dividido em: Duocentto (1200 a 12990, Trecentto (1300 a
1399), Quatrocentto (1400 a 1499) e Cinqüecentto (1500 a 1599).

Duocentto e Trecentto
No século XIII, o Gótico começa a dar lugar para uma arte que
resgata os valores humanistas. Neste período, Duocentro e Trecento,
surgem as primeiras manifestações do que, mais tarde, se chamaria
Renascimento.

11
História da arte II

Unidade 1
Renascimento

Figura 1 - La Sainte-Chapelle, Sec. XIII.

Figura 2 - Catedral de Notre-Dame, Séc. XII Figura 3 - Vitral rosácea, sec. XII

A principal característica dessa mudança é o surgimento da


ilusão de profundidade nas obras. Em Siena, Duccio da Buoninsegna e, em
Florença, Cimabue e, sobretudo seu aluno Giotto são os pioneiros desse
novo mundo.
Nos afrescos de Giotto, na Igreja de Santa Croce, em Florença,
por exemplo, podem-se ver figuras mais sólidas do que as góticas, situadas
em ambientes arquitetonicamente precisos, dando a impressão de
existência concreta: é o nascimento do Naturalismo.
No século XIV, escultores como Donatello (o “Michelangelo” do
Trecento) aprimoram a técnica.
Giotto da Bondone (1266? -1337?), pintor e arquiteto italiano.
Nasceu em Florença, estudou com o pintor Cimabue, com quem trabalhou
também em Roma. Tornou-se um dos principais artistas da época. Os
afrescos de Santa Croce e a torre do Duomo são suas principais obras.
Revolucionou a arte, ao conseguir dar expressão e profundidade às figuras
humanas.

12
História da arte II

Unidade 1
Renascimento

Figura 4 - São Francisco pegando pássaros, obra de Giotto, 1296. Figura 5 - O beijo, Giotto, 1302-1305

Figura 6 Anunciação de Santa Ana, Giotto, 1302-1305.

Quatrocentto
No século XV, Pierro della Francesca, nos afrescos na catedral
de Arezzo desenvolveu uma pintura impessoal, misturando figuras
geométricas e cores intensas.

1.2 O Progresso científico e artístico


Podemos apontar algumas características principais para a evo-
lução tanto da ciência quanto das produções artísticas deste período a
partir do racionalismo e do espírito científico próprios do homem renas-
centista:
• Leis matemáticas;
• Princípios geométricos na composição artística;
• Realismo visual – observação direta da natureza;
• Perspectiva;
• Claro-escuro.

1.3 Estilo, temática e elementos da composição plástica


Na Idade Média, os estilos românico e bizantino tinham como
principal técnica os afrescos e seu principal tema eram os acontecimentos
narrados pela Bíblia.

• Arquitetura
O principal arquiteto renascentista foi Filippo Brunelleschi

13
História da arte II

Unidade 1 (1377-1446), criador da cúpula do Duomo de Florença. Brunelleschi


Renascimento
concebeu a perspectiva, artifício geométrico que criou a ilusão de
tridimensionalidade numa superfície plana.
Defendeu a técnica e seus princípios matemáticos em tratados.
A ela aderiram artistas como Paolo Ucello (Batalha de São Romano -
pintura), Sandro Boticelli (Nascimento de Vênus - pintura), Leonardo da
Vinci (Mona Lisa - pintura), Rafael Sanzio (Madona e o menino - pintura) e
Michelangelo (Davi; Moisés e Pietá - esculturas; teto e parede da Capela
Pesquise a pintura Sistina, no Vaticano - pintura; projeto da cúpula da Basílica de São Pedro
São Jorge e o Dragão
(cerca de 1455) de - arquitetura).
Paolo Uccello.

Figura 7 - Zimbório da Catedral, (c. 1420-36) Brunelleschi. Figura 8 - O tempietto, 1502, Donato Bramante.

Pintura
No período renascentista, a principal técnica de pintura é aquela
com o aperfeiçoamento do uso da pintura a óleo. As tintas provinham de
pigmentos que eram dissolvidos, por exemplo, no óleo de linhaça.
O estudo da perspectiva, de acordo com os princípios da
Pesquise a obra A
matemática e da geometria, permitiu um estilo pessoal de pintar a partir
Primavera (cerca de do uso do claro escuro.
1478) de Boticelli e
compare e descreva Paolo Uccello (1397-1475) em suas pinturas procurava criar uma
as principais carac-
terísticas entre as
atmosfera realista com base nos princípios matemáticos de sua época
três pinturas obser- atados a sua imaginação e fantasias com temas mitológicos e lendários.
vadas.
Piero della Francesca (1410-1492) não se preocupava em
representar o realismo de um acontecimento em suas pinturas, pois
buscava antes a composição geométrica.
Sandro Botticelli (1445-1510) é o pintor que, à época, mais
conseguiu transparecer o ritmo nas figuras representadas em seus quadros,
traçando as linhas dos corpos e tecidos transparentes e esvoaçantes e
transmitindo-nos, nessas representações, a energia temporal.
Veja que você pode observar na Figura 9 Zéfiro soprando a brisa,
junto à mulher Clóris, e o movimento tanto do corpo, quanto dos cabelos
de Vênus, bem como o panejamento da roupa de Hora, que representa as
estações do ano e o pano com o qual quer cobrir a nudez de Vênus. Na figura
10, nota-se o movimento das Graças, as três mulheres à esquerda, Aglaia,
Tália e Eufrónsina; na estrema esquerda o deus Hermes; Vênus está no

14
História da arte II

meio e Cupido, seu filho, acima, pronto para lançar sua flecha envenenada Unidade 1
Renascimento
nas Graças e ao lado direito desse outro quadro, novamente Zéfiro agarra
sua mulher Clóris, que se transforma em Flora, deusa que enfeita com
flores a estação da Primavera. O movimento é claro na alegoria.

Pesquise três artistas


italianos: Giotto,
Figura 9 - Nascimento de Venus (c. 1485) Figura 10 - Primavera (c. 1478) Paolo Ucello e San-
dro Boticelli compare
o período artístico e
histórico e suas prin-
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi artista, arquiteto, inventor cipais contribuições
artísticas. Faça uma
e escritor italiano. Nasceu em Florença, tornou-se aprendiz de Andrea síntese e poste no
amiente virtual.
Verrochio e recebeu a proteção de Lorenzo de Medici. Entre 1482 e 1499
viveu em Milão, onde pintou o afresco da Última Ceia.

Compare e descreva
as cenas da pintura
Figura 11 - A Última Ceia, de Da Vinci, 1495-1498. Mona Lisa e os estu-
dos anatomicos de
Leonardo da Vinci.
Leonardo da Vinci viveu também em Roma, entre 1513 e 1517, Descreva em um es-
boço a sobreposição
onde se envolveu nas intrigas do Vaticano, razão pela qual decidiu juntar- dos planos nas pintu-
ras de Rafael. Poste
se à corte do rei francês Francisco I. no ambiente virtual
Nos estudos científicos, prenunciou a invenção de peças
modernas como o escafandro, o helicóptero e o pára-quedas. Seu Tratado
sobre pintura é um dos livros mais influentes da história da arte.

Figura 12 - Mona Lisa, de da Vinci, 1503-1505 Figura 13 - Estudos anatômicos (laringe e perna), 1510
Óleo sobre madeira, 77 x53 cm 26 x 1, 96, cm, pena, tinta marrom e aguada sobre giz
preto em papel.

15
História da arte II

Unidade 1 Rafael Sanzio (1483-1520) é o pintor renascentista que mais


Renascimento
utilizou os ideais clássicos da antiga Grécia. A beleza, harmonia e
regularidade das formas e cores são as suas principais marcas.
A organização das cenas em seus quadros é distribuída em
sobreposição de planos simétricos. Esta característica deu a ele o modelo
para o ensino acadêmico clássico das futuras escolas de pintura.

Figura 14 - Esponsais de Maria, Rafael, 1504.

Figura 15 - Escola de Atenas, rafael, 1509-1511 Figura 16 - A Ninfa Galatéia, rafael, (c. 1512-14)

Michelangelo Buonarroti (1475-1564) foi escultor, poeta, e


arquiteto. Nasceu em Caprese, estudou em Florença e ganhou a proteção
de Lorenzo de Medici. Em Roma, aos 23 anos, iniciou a Pietá. De volta a
Florença, esculpiu Davi e pintou a Sagrada Família.

Figura 17 - Teto da Capela Sistina (1508-1512) Figura 18 - Perspectiva da Capela Sistina.


Nas paredes, afrescos de Michelangelo.

Em 1508, sozinho, Michelangelo começou a pintar a parede do


teto da Capela Sistina. Oito anos depois, projetou a cúpula da Basílica de
São Pedro. Ao mesmo tempo, retomou a Pietá e esculpiu a Pietá Palestrina
e a Pietá Rondanini.

16
História da arte II

Unidade 1
Renascimento

Figura 19 - Davi (mármore), de Michelangelo. Figura 20 - Moisés (250x334), de Michelangelo.

Figura 21 - Pietá (1,74 m), 1497-1500

Donatto di Bardi, conhecido como Donatello (1386? -1466),


nasceu em Florença e começou sua vida profissional como ourives; aos 17
anos aprendeu a esculpir em mármore; iniciou como assistente nas portas
do batistério de Florença e realizou uma obra imensa.
Esculturas como Davi, Madalena e São Jorge estão entre as
mais marcantes, pelo poder de produzir tensão emocional.

Figura 22 - São Jorge (c.145-16), de Donatello.

Renascimento na Alemanha e nos Países Baixos


Na Bélgica e na Holanda, surgiram os
representantes do Renascimento flamenco como Jan
van Eyck, Hans Memling e Rogier van der Weyden, que
desenvolveram a pintura a óleo.

Figura 23 - Os esponsais dos Arnolfini, 1434, de Jan Van Eyck.

17
História da arte II

Unidade 1 1.4 Maneirismo – século XVI


Renascimento

O maneirismo é a expressão artística da crise que convulsiona


toda a Europa ocidental no século XVI e que se estende a todos
os campos da vida política, econômica e cultural (HAUSER,
2000, p.376).

Como estilo artístico, o maneirismo ajustou-se a uma concepção


dividida da vida que, não obstante, propagou-se uniformemente
por toda a Europa ocidental. O maneirismo como o gótico, foi
um fenômeno europeu universal, ainda que estivesse limitado
a círculos muito mais estreitos do que a arte cristã da Idade
Media (HAUSER, 2000, p.442).

• Cinqüecentto
Em Veneza, no século XVI, pintores como Tintoretto, com
sua grandiosidade, Ticiano com seu uso de cores e seu senso espacial,
e Giorgione, com sua expressividade, dão início à última fase do
Renascimento, o cinqüecentto. Abandonam a primazia da forma sobre a
cor e a perspectiva rigorosa.
Pouco se sabe sobre a vida do pintor italiano Jacopo Robusti
Tintoretto (1518-1594), mas há registros de que nasceu em Veneza. Em
1564, pintou cenas do Velho Testamento no teto da irmandade de San
Rocco, da qual foi membro. Influenciado por Michelangelo e Ticiano,
experimentou a forma narrativa, modificando a hierarquia
clássica das histórias religiosas.
Antônio Allegri nasceu em Correggio,
aproximadamente em 1439 e faleceu em 1530. Correggio,
assim que se tornou conhecido, passou a ser considerado
não só um pintor maneirista, mas, sobretudo, o anunciador
da pintura barroca. Sua pintura adota a mitologia como
principal temática, atrelada ao Romantismo.

Figura 24 - Júpiter e Io, c.1530, Correggio.

Na Espanha, influenciado por Tintoretto,


El Greco (pseudônimo de Domenico Theotokopoulos)
alonga as figuras, usa cores mais expressivas e contrastes
dramáticos de luz e sombra. O enterro do Conde de
Orgaz é uma das suas obras primas. Encontra-se em
Toledo na Espanha.

Figura 26 - Abertura do quinto selo do apocalipse, de El grecco, 1608-14.

18
História da arte II

Na França, além do Maneirismo (o Naturalismo levado ao Unidade 1


Renascimento
máximo de detalhes e efeitos) da escola de Fontainebleau, destacam-se
os retratos alegóricos de François Clouet (Diana).
Na Holanda, Hieronymus Bosch (1450-1516) pintou figuras
oníricas, em cenários fantásticos, repletos de simbolismo (O Jardim das
Delícias Terrenas), Pieter Bruegel (1525-1569) criou uma rica pintura
narrativa, documentando costumes de época.

Discuta no fórum da
sala de aula: Como
era a relação do
homem renascentista
com Deus e com a
Ciência?

Figura 27 - Paraíso e inferno, de Bosch, (c. 1510). Figura 28 - Casamento aldeão, (c. 1568), Bruegel.

Na Alemanha surge uma pintura mais clássica, próxima do


Renascimento romano-florentino. O grande mestre é Albrecht Dürer (1471-
1528).
Na Inglaterra, Lucas Cranach, Albrecth Altdorfer, Matthias
Grünewald e os dois Hans Holbein, pai e filho são os principais artistas
que representam o maneirismo inglês. Mas o maneirismo não se revela
artisticamente só nas artes plásticas. Na arte literária, ele é um estilo
marcante de muitos escritores e dramaturgos.
Segundo Hauser (2000), na literatura, o escritor Shakespeare
foi o principal representante do estilo maneirista inglês. Sua obra equilibra
padrões e estilos dialéticos e contrastantes e trágicos numa convivência
capaz somente no universo da linguagem. Para Hauser, nas obras de
Shakespeare verifica-se:

A continua mistura de motivos trágicos e cômicos, a natureza


mista dos tropos, o flagrante contraste do concreto e do
abstrato, os elementos sensuais e intelectuais da linguagem,
o freqüentemente forçado padrão ornamental da composição,
como por exemplo a repetição do motivo de ingratidão infantil
em Lear, a ênfase sobre o alógico, o insondável e o contraditório
na vida, a idéia da qualidade teatral e onírica, as compulsões
e restrições da vida humana – tudo isso são argumentos para
adotar o maneirismo como o ponto de partida da análise (2000,
p.441).

O maneirismo encerra e ao mesmo tempo anuncia um novo


período histórico e artístico. Os padrões estilísticos clássicos são rompidos,
dando a liberdade para a criação de novas propostas ainda nunca realizadas
anteriormente.

19
História da arte II
Unidade 2
Barroco e Rococó
A arte plástica renascentista explorou a perspectiva, os planos
e a geometria, o barroco explorará a dialética entre as cores e a luz. A
capacidade criativa de explorar as linhas, formas e volumes na dialética
para além do claro-escuro.

Unidade 2 Barroco e Rococó

Síntese: nesta unidade exploraremos as características da produção


artística barroca e rococó.

2.1 O Barroco na Itália


O barroco surgiu na primeira metade do séc. XVII, na Itália.
Devido a mudanças econômicas, religiosas e sociais ocorridas na Europa.
Encerou-se nos meados do século XVIII.
Barroco, do espanhol “barrueco”, designa pérola de formação
irregular e defeituosa. Este nome foi dado a toda produção artística
européia do final do séc. XVI, até quase metade do séc.XVIII, por ser
considerada inferior às obras características do Renascimento.
Os artistas renascentistas tinham como objetivos a linha e o
desenho. Preferiam tratar os planos e as suas superfícies. Já os barrocos
procuravam o pictórico, as cores, a profundidade e o volume. Os
renascentistas procuravam a harmonia, e os barrocos, a emoção.
Pesquise sobre A Igreja teve seu poder enfraquecido pela Reforma e pelo
as principais
características
humanismo característico do Renascimento. Como efeito da Reforma
das pinturas de ocorreu a fragmentação da Cristandade em várias formas de religiões
Pozzo, Caravaggio e
Tintoretto. cristãs, o protestantismo, por exemplo. Para reconquistar o seu prestígio
Faça uma síntese de
sua investigação e
e poder, a Igreja organizou a Contra-Reforma. A Companhia de Jesus foi
poste no ambiente. estabelecida como milícia espiritual do papado, para difundir a fé católica
entre os povos não-cristãos. Foram edificadas igrejas grandiosas, a fim de
solidificar a fé na Eucaristia. As Igrejas barrocas foram construídas com
uma arquitetura riquíssima, justamente para abrigar a Eucaristia, artigo
da fé católica negado pelo protestantismo.
Da construção e decoração dessas igrejas, nasceu a arte
barroca. Esplendorosas construções que têm o propósito de converter os
não cristãos.
Da Itália, essa arte chega a outros países europeus e ao
continente americano, através dos colonizadores espanhóis e portugueses.
No renascimento, as figuras apresentam forma estática, como

20
História da arte II

poses de retratos. No barroco, elas são teatrais, dando a impressão de Unidade 2


Barroco e Rococó
movimento. Os efeitos de luz dão maior dramaticidade à cena formando
uma composição em diagonal.
A simetria e o equilíbrio entre arte e ciência, objetivos buscados
pela renascença, agora, cedem lugar a temas religiosos. O Barroco foi um
fenômeno artístico e cultural, ligado à Contra-Reforma.
A religiosidade constituiu um dos seus aspectos predominantes,
combinada, porém, ao sensual e místico. O sagrado e o profano. Renovou
a iconografia e as formas nas artes sacras. Constitui-se também de uma
arte voltada para a corte.
Caracterizou-se pela assimetria, noção de espaço infinito e pelo
desejo de tocar os sentidos e despertar emoções - efeitos de luz, curvas e
contracurvas, esquemas formais repetidos, figuras aladas, composição em
diagonal na pintura.
Na música surgiram os gêneros cantata, concerto e oratório,
fruto da genialidade de Vivaldi, J. S. Bach, Hendel e
outros.

Pintura Italiana
Entre outros são grandes nomes da pintura
italiana podemos citar: Andréa Pozzo (1642-1709),
Michelangelo Merisi de Caravaggio (1573-1610) e
Tinttoretto (1518-1594).

Figura 29 - A crucificação de São Pedro, 1600-1601, Caravaggio, 2,31 x 1,74 m.

Escultura italiana
Gian L. Bernini (1598-1680) foi artista da corte papal e de
Roma. Suas obras principais foram: Apolo e Dafne; Davi; e Êxtase de Santa
Teresa. Suas esculturas barrocas decoravam as portas e interiores das
Igrejas, palácios, outras construções e fontes.
Observe na Figura 30 o modo como
Bernini esculpiu no mármore, as dobras dos tecidos.
Observe o movimento e a leveza empregada em
um material tão duro e resistente.
É importante destacar que o estilo
maneirista procurava intensificar os sentimentos,
contrastando com a leveza nos mais resistentes Figura 30 - Êxtase de Santa
materiais. Tereza, Bernini, 1652.

21
História da arte II
Unidade 2
Barroco e Rococó
Arquitetura Italiana
Bernini (1598-1680) também é considerado um dos principais
arquitetos italianos renascentistas. A Praça de São Pedro (1657-1666) é
uma das principais representações da Igreja Católica construída na Itália
do século XVII. É uma praça elíptica cercada de 284 colunas, sobre as quais
estão 162 estátuas de 2,70 metros de altura. Afirmam os estudiosos que
sua intenção era o do abraço da Igreja Católica a toda Humanidade, por
isso a praça é formada de dois segmentos de colunas que partem da Igreja
até o fim da praça.

Barroco na Espanha
O barroco espanhol influenciado pelo
Barroco italiano é dominado pelo realismo, observado
na arquitetura em entalhes de portas e edifícios.

Pintura espanhola
Os pintores El Greco (1541-1614) e Diego
Velásquez (1599-1660) - (maior pintor do período)
têm a luz e sombra como principal característica. Figura 31 - Las meninas,
Velásquez, 1656.
Os retratos da realeza e o cotidiano das pessoas 3,17 x 2,76 m.

humildes dominam a temática dessa época.

Barroco holandês
Nos Países Baixos, a austeridade e
praticidade, descrição e realismo são as principais
características da temática das cenas do cotidiano.
Peter Paul Rubens (1577-1640) é o principal
pintor flamenco. Sua principal característica é a Figura 32 - As três graças,
intensificação das linhas dos corpos nus e as cores Rubens, 1639.

vibrantes: o vermelho, o verde e o amarelo.

Rembrandt (1606-1669) é maior


representante da escola holandesa. As suas
principais temáticas e características são:
predominância da dramaticidade, fortes efeitos
de luz nunca antes vistos. Os retratos, cenas Figura 33 - A lição de anatomia
o Doutor Tulp, Rembrandt,
mitológicas, religiosas, naturezas-mortas e 1632.
desenho são também os principais temas.
Vermeer (1632-1675) grande pintor que também trabalhou com
as cenas mitológicas e do cotidiano. Diferentemente de Rembrandt, o uso
dos tons claros dá a sensação do direcionamento da luz, que na Figura 34

22
História da arte II

vem de uma janela ao lado esquerdo da pintura e na figura 35, sugerindo Unidade 2
Barroco e Rococó
também vir de uma janela situada do mesmo lado, iluminando toda a cena
do quadro.

Figura 34 - A leiteira, Vermeer, (1658-1660). Figura 35 - A mulher lendo uma carta, Vermeer (cerca de 1665). Participe da discussão
do fórum de sua sala
de aula virtual esobre
as caracteristicas da
Os recursos utilizados pela arte barroca para expressar os pintura barroca.
sentimentos humanos podem ser sintetizados em:
• Predomínio da emoção;
• Colorido intenso;
• Contrastes entre claro-escuro.

Barroco na França
A escola barroca francesa, nos séculos XVII e XVIII, utilizou-se
de um estilo ornado que influenciou toda a Europa.
Na literatura, estilo pomposo, predomínio de jogos de palavras,
possibilidades fonéticas, etc. Nas artes plásticas, os temas são variados
que vão desde os temas religiosos, mitológicos retratos.

2.2 Rococó
A palavra rococó, do francês rocaille, significa conchas
(incrustações). Praticado entre os séculos XVII e XVIII, ficou conhecido
como “estilo Luís XIV e Luís XV”. Este estilo buscava o belo, o requintado e
a alegria, bem como o fantástico, o bizarro, o afeto e as danças saltitantes.
Para o historiador Arnold Hauser (2000) a arte rococó é o estilo
determinante do movimento, iniciado no renascimento e encerrado no
rococó. Para ele, ainda:

O rococó representa realmente a ultima fase do desenvolvimento


que começa com a renascença, na medida em que leva à
vitória o princípio dinâmico determinante e libertador com o
qual esse desenvolvimento se inicia e que tinha de afirmar-se
repetidamente contra o principio estático, do convencional
e do típico. Somente com o rococó os objetivos artísticos
da renascença lograram finalmente estabelecer-se; agora,
a representação objetiva das coisas atinge a exatidão e o
desembaraço que o naturalismo moderno propunha alcançar
(2000, p.527).

A ornamentação é sinuosa, luminosa e assimétrica em oposição

23
História da arte II
Unidade 2
Barroco e Rococó
ao Barroco. Busca a elegância e a adequação, considerando que os
banqueiros e comerciantes faziam parte da corte de Luís XV.
Na arquitetura, os interiores das construções eram ornamentados
com pinturas e elementos decorativos, como flores e laços em estuque.
As fachadas eram simples, com texturas suaves e numerosas janelas. A
decoração saía das igrejas para as residências, retratando a alegria das
expressões e das cores, a nobreza e suas futilidades. Usavam-se as cores
de tons leves, entre elas: branco, rosa, azul e verde.
Segundo Hauser, o rococó demonstra o talento e a individualidade
dos artistas. Ainda:

[...] o rococó é o último estilo universal da Europa Ocidental;


um estilo que não apenas é universalmente reconhecido e
atua no âmbito de um sistema geralmente uniforme em toda
a Europa, mas é também universal no sentido de constituir a
propriedade comum de todos os artistas de talento, poder ser
aceito por eles sem reservas (2000, p.529).

Dentre os principais pintores destacamos Antoine Watteau


(1684-1721) e Jean-Baptiste Siméon Chardin (1699-1779); já os escultores
que merecem destaque são Jean Antoine Houdon, François Boucher,
Étienne Maurice Falconet e Nicolas Lancret.

Numa “segunda fase” do rococó, outra


característica soma-se à primeira: a sensualidade.
Observe na figura 36 a obra “O Balanço” (1768) de J.
Fragonard (1732-1806), o prazer expresso no embalo,
na alegria da brincadeira, da vida fácil. Nos seus
trabalhos, natureza, figura humana e volume se fundem
à “exuberância da vegetação”. Figura 36 - O balanço,
Fragonard, 1768.
Assista ao filme Outro fator importante a destacar é quanto
“Amadeus”,
à decoração: móveis, estatuetas, espelhos, tapeçarias,
relacionando-o com
o conteúdo estudado porcelanas e outros utensílios domésticos são muito decorados e, por sua
nesta unidade. Poste
suas considerações vez, decoram abundantemente o mundo doméstico.
em seu ambiente
Nas esculturas e pinturas há o abandono de temas e proporções
virtual.
grandiosas por outros de pequenas dimensões, valorizando as “artes
menores”.
A Escultura é menos rígida, de modo a atender os objetivos de
cada construção interior e exterior, com tratamentos diferenciados.
O Belo sendo fruto de coerência das partes com o objetivo final
e não em padrões e regras estabelecidas a priori. Ordens arquitetônicas
abolidas, janelas simplificadas, esculturas reduzidas, colunas isoladas,
meias colunas.

24
História da arte II

A partir da segunda metade do século XVIII até o inicio do século Unidade 3


Mundo Moderno
XIX, surgiria uma nova classe social que exigiria novos padrões, tanto para
a criação artística, quanto para a apreciação. A arte perde seus principais
mecenas: a igreja e a aristocracia. O artista é um proletário e sua arte é
do povo e para o povo. Este período é marcado pelas revoluções políticas
e sociais.
Vale à pena avançar sua leitura. Conheça o universo moderno!
Faça uma síntese da
unidade 2.

Unidade 3 Mundo Moderno

Síntese: esta unidade trata das grandes transformações artísticas que


estavam por vir: o neoclassicismo – meados do século XVIII até início do
XIX, o romantismo – fins do sec. XVIII a meados de XIX e o Realismo –
meados XIX, Impressionismo, Pontilhismo e a Art nouveau.

3.1 Panorama sócio-histórico


A partir da Revolução Francesa, em 1789, sobe ao poder uma nova
classe social, a burguesia. Com ela, os artistas deixaram de ter a Igreja
como o grande mecenas; e a liberdade social os tornou autônomos e
engajados na luta por sua arte e sua profissão. Para Hauser:

A revolução e o movimento romântico marcam o fim de uma


época cultural em que o artista recorria a uma “sociedade”,
a um grupo mais ou menos homogêneo, a um público cuja
autoridade ele reconhecia, em princípio, de maneira absoluta.
A arte deixa de ser uma atividade social guiada por critérios
objetivos e convencionais, e torna-se uma atividade de
auto-expressão a criar seus próprios padrões, numa palavra,
converte-se no veiculo através do qual o indivíduo singular fala
a indivíduos singulares (2000, p.651).

Hauser (2000) coloca ainda que, no mundo moderno, começa


a não haver distinção entre o trabalho de homens, mulheres e crianças;
surge uma nova classe social, denominada proletária. Ele acrescenta:

[...] nasce uma nova estrutura social: um novo estrato


capitalista (os modernos empregadores), uma nova burguesia
urbana, ameaçada de extinção (os herdeiros dos pequenos
e médios comerciantes e fabricantes), e uma nova classe
trabalhadora o (moderno proletariado industrial). A sociedade
perde a antiga diferenciação de tipos profissionais e, sobretudo
nos graus inferiores, o processo de nivelamento é assustador.
Artesãos, ganha-dinheiros, camponeses sem terra, operários

25
História da arte II
Unidade 3 especializados e mão-de-obra não-qualificada, homens,
Mundo Moderno
mulheres crianças, todos se convertem em meros braçais de
uma enorme fábrica que funciona mecanicamente nos moldes
de um quartel [...] (HAUSER, 2000, p. 553).

Este período é marcado pela individualidade que provocou no


artista a busca em intensificar sua intenção pessoal artística e os seus
próprios meios de expressão.

[...] “Depois do rococó não existe mais tal cânone da forma,


tal tendência artística universalmente válida. Do século XIX
em diante, as intenções de cada artista tornam-se tão pessoais
que cabe a ele lutar por seus próprios meios de expressão e
Assista ao filme não pode continuar aceitando soluções prontas; considera toda
“Tempos Modernos” forma preestabelecida mais um estorvo do que uma ajuda” [...]
de Charles Chaplin. (HAUSER, 2000, p. 530).
Faça uma reflexão
crítica a respeito da
revolução industrial
e sua implicações Falemos um pouco da arte musical, ainda dependente das
com as produções
artísticas da época. encomendas da Igreja ou dos príncipes.
Deposite sua síntese Toda a produção musical até o século XVII era escrita para
no ambiente.
ocasiões especificais, tais como: encomendadas pela Igreja para as missas
e oratórios; celebrações fúnebres, que também eram encomendadas
por príncipes e reis. A tarefa era entreter a sociedade palaciana. Os
compositores eram músicos contratados pela corte ou pela Igreja e suas
atividades concentravam-se em cumprir os deveres relacionados ao
exercício do cargo.
A burguesia não tinha oportunidade de assistir a apresentações
das orquestras a serviço da nobreza e da corte. Segundo Hauser:

A burguesia torna-se a principal consumidora de música e a


música, a arte favorita da burguesia, a forma em que pode
expressar sua vida emocional mais diretamente e com menos
dificuldades do que qualquer outra (2000, p.578).

Em meados no século XVII foram criadas as sociedades de


concertos nas cidades – os Collegia musica. Com esta iniciativa, que a
principio eram apresentações musicais privadas, a burguesia passou a
usufruir, através de aluguéis de salões e os músicos pagos para a platéia
assistir aos concertos musicais.
Segundo Hauser (2000), o público daquela época ainda não
possuía comportamento e conhecimento musicais para apreciar a produção
artística musical. O público:

“[...] que assistia aos concertos públicos diferia, em muitos


aspectos essenciais, daquele para quem eram organizados

26
História da arte II

espetáculos musicais na corte; em primeiro lugar, era menos Unidade 3


Mundo Moderno
versado na critica da música escrita por amor à música e não
com uma finalidade religiosa qualquer; era um público que
pagava para ouvir sua música, concerto após concerto e,
portanto, tinha de ser satisfeito e atraído constantemente;
reunia-se simplesmente para deleitar-se com a música pela
música. (2000, p.577).

3.2 Academismo. Neo-Classicismo


O neo-Classicismo surgiu nos fins do século XVIII e princípios
do século XIX. A estética Neoclássica foi defendida pelo alemão Joaquim
Winckalmann (1717-1768), um apaixonado pela antiguidade grega.
Os artistas neoclássicos passaram a inspirar-se nas obras da
antiguidade clássica e da renascença italiana.
Veja nas Figuras 37 e 38, o sentimento expressado no assassinato
de Marat, bem como o movimento dos corpos nus em o Rapto de Sabina
em Jacques-Louis David (1748-1825), o principal pintor neoclássico.

Figura 37 - A morte de Marat, David, 1793. Figura 38 - O rapto de Sabina, David, 1799.

O estilo neoclássico na arquitetura tornou-se o estilo do Império


e as academias assumiram a função de ensinar arte a estudantes.
Vejamos, em poucas linhas, como se deu a influência européia
na arte em nossa terra no século XIX e sua importância para nossa cultura.
Em 1816, a Missão Francesa, chefiada pelo polígrafo e historiador
Joaquim Le Breton, foi a equipe de artistas e técnicos contratada por D.
João VI para implantar o ensino acadêmico de artes, no Brasil.
O pintor Jean Baptiste Debret estava na equipe e sua obra é o
principal registro dos fatos e costumes dos negros escravos, indígenas e
europeus que aqui viviam.
A pintura no Brasil Colônia era feita exclusivamente para as
igrejas, por artistas autodidatas nascidos no Brasil, sem formação técnica
regular. Os temas eram influenciados pelas gravuras religiosas estrangeiras,
geralmente espanholas e italianas, no estilo barroco.
Antonio Francisco Lisboa (1730 - 1814), mais conhecido como
Aleijadinho, foi o principal escultor religioso brasileiro, cuja temática
era as cenas religiosas centralizadas nas cidades mineiras, sobretudo,
em Outro Preto, Congonhas do Campo e Mariana. Aleijadinho nasceu e

27
História da arte II
Unidade 3
Mundo Moderno
morreu na cidade de Vila Rica, em Minas Gerais. As
atividades artísticas, no Brasil dessa época, ficavam
centralizadas nos centro coloniais da Igreja Católica:
Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O mercado consumidor de arte era reduzido às
irmandades religiosas e os artistas autodidatas eram
mineiros, cariocas e baianos, com pouquíssimo contato
Figura 39 - Os profetas,
direto com a Europa. No século XIX, a Missão Francesa, de Aleijadinho, em
Congonhas do Campo,
ao contrário, trazia pintores com sólida formação Minas Gerais.
artística.

3.3 Romantismo
O Iluminismo, ou época das Luzes, é o período histórico-
filosófico que se fundamenta na crença do poder da razão humana, tendo
sido decisivo para a ocorrência da Revolução Francesa em 1879.
Segundo Chauí (2006, p.49, 50), os itens, a seguir, resumem o
pensamento deste período:
• Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a
felicidade social e política;
• Pela razão, é capaz de aperfeiçoamento e progresso, e o
homem é um ser perfectível. A perfectibilidade consiste em liberar-se dos
preconceitos religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e
do medo ao avanço das ciências, das artes e da moral;
Em oposição ao neoclassicismo, o romantismo trouxe a
liberdade de expressão individual acima das regras e normas acadêmicas.
E, para Graça Proença (2003), além das características de valorização
dos sentimentos e da imaginação e também o sentimento do presente,
o nacionalismo e a valorização da natureza, foram características do
movimento nas artes chamado de Romantismo.

A pintura francesa
Jean Auguste Dominique Ingres (1780-1867)
teve o ponto culminante de sua produção pictórica no
século XVIII e foi o principal pintor conservador francês
dessa época. Foi aluno de David e também admirava a arte
antiga. Entretanto renovou a arte em alguns aspectos,
como a leve distorção no corpo da banhista (FIG. 40). Figura 40 - A banhista
de Valpinçon, Ingres,
Eugène Delacroix (1798-1863) é o primeiro 1808,
grande representante da pintura romântica francesa e,
ao mesmo tempo, já anuncia a pintura do século XIX.

28
História da arte II

Leia com atenção as palavras do historiador Arnold Hauser (2000) Unidade 3


Mundo Moderno
a respeito do homem racional do século XVIII e o homem experiencial do
século XIX, ou seja, aquele que extrai da sua experiência com a realidade
e sua reprodução.

[...] Os homens do século XVIII empenham-se em extrair de


todas as coisas, até mesmo do seu próprio emocionalismo e
irracionalismo, uma doutrina e uma visão de mundo claramente
definíveis; são sistematizadores, filósofos e reformadores que
se decidem a favor ou contra determinada causa, alternam-se
freqüentemente entre apoio e oposição, mas conhecem o lugar
que ocupam, obedecem a princípios e são guiados por um plano
para melhorar a vida e o mundo. Os representantes intelectuais
do século XIX, por outro lado, perderam a fé em sistemas e
programas, e vêem o significado e o propósito da arte uma
capitulação passiva perante a vida, numa captação dos próprios
ritmos da vida, na preservação de sua atmosfera e disposição;
sua fé consiste numa afirmação irracional e instintiva de vida
e sua moralidade, numa aceitação resignada da realidade. Não
querem sistematizar nem superar a realidade; querem vivenciá-
la e reproduzir essa vivência tão direta, fiel e perfeitamente
quanto lhes seja possível. HAUSER (2000, p. 718-719).

A obra de Delacroix na Figura 41


exemplifica o pensamento acima.
O espírito romântico do final do
século XVIII mudou a concepção da pintura
nos temas clássicos. Dos pintores de
paisagens e jardins: Joseph Mallord Willian
Turner (1775-1851) e Jonh Contable (1776-
Figura 41 - A liberdade para o povo,
1837) passaram a ser conhecidos pela Delacroix, 1830.
exatidão que davam à visão da realidade.

Segundo Gombrich (2006,


p.492), Turner “também teve visões
de um mundo fantástico, banhado de
luz e resplandecente de beleza; mas,
em vez de calmo, o seu era um mundo
cheio de movimento, em vez de
harmonias singelas, exibia aparatoso
Figura 42 - A carroça de feno,Turner, 1821. deslumbramento”. O movimento
demonstrado nas pinturas de Turner
irá, tal como em Delacroix, anunciar a pintura de Claude Monet, no século
XIX - uma pintura marcada pelas pinceladas rápidas com nuances de cores
e movimentos acelerados.
Leia as palavras de Gombrich (2006) a respeito da vivência da

29
História da arte II
Unidade 3
Mundo Moderno
realidade anunciada pelo romantismo do século XVIII e faça comparações
com as pinturas de Delacroix (FIG. 41) e Turner (FIG. 42).

[...] Quase sentimos a arremetida do vento e o impacto das


ondas. Não temos tempo de olhar detalhes. Elas são absorvidas
pela ofuscante luz e as sombras espessas da nuvem de tormenta.
Ignoro se uma tempestade no mar tem realmente esse
aspecto. Mas por certo é uma tormenta desse tipo assustador e
empolgante que imaginamos ao ler um poema romântico ou ao
escutar uma música inspiradora. Em Turner, a natureza reflete e
expressa sempre as emoções do homem. Sentimo-nos pequenos
e esmagados em face de poderes que não podemos controlar,
e somos compelidos a admirar o artista que tinha as forças da
natureza sob seu domínio. GOMBRICH (2006, p. 494).

A pintura espanhola representada pelo


pintor Francisco José Goya (1746-1828), rejeitou os
temas clássicos, uma vez que se sentia livre com suas
visões pessoais. Ao contrário de Turner, Goya pintou as
Faça comparações
entre a pintura de figuras da sua imaginação. Figura 43 - Vapor numa tempestade de
Goya e Turner. neve, Turner, 1842.

Figura 44 - Saturno devorando um de seus filhos, Goya, Figura 45 - Três de maio de 1808.
1820-1823.

3.4 O Realismo
Para Hauser (2000), o naturalismo é um estilo artístico e o
realismo é uma atitude filosófica oposta ao romantismo e seu idealismo.
No entanto, em arte, o realismo é uma continuação direta da abordagem
romântica e o naturalismo representa uma luta constante com o espírito
romântico.
O naturalismo deriva do empirismo das ciências naturais
e, segundo Hauser (2000, p.797), baseia-se na verdade psicológica, no
principio da causalidade, na eliminação do acaso e milagres. A descrição
de qualquer fenômeno natural se dá pela indução e dedução do método
de observação científica, cuja tendência era ater-se aos fatos, com o fim
dos ideais e utopias.
Na arte, o movimento naturalista inicia-se com o proletariado
artístico, ou seja, pela classe artística que vem do povo. Courbet torna-se
o representante principal desta nova classe de artistas.

30
História da arte II

Em 1855, o pintor Gustave Courbet (1819-1877) abriu uma Unidade 3


Mundo Moderno
exposição individual num barraco em Paris, intitulado Le Réalisme.
Segundo Gombrich (2006) era uma exposição que buscava a provocação
contra o academicismo presente naquele período.

Courbert pretendia que seus quadros fossem uns protestos


contra as convenções aceitas do seu tempo, que “chocassem
a burguesia” para obrigá-la a sair de sua complacência, e
proclamassem o valor da intransigente sinceridade artística
contra a manipulação hábil de clichês tradicionais. (GOMBRICH,
2006, p.511).

Os fatos históricos não são lineares, vão se produzindo à medida


que avançam nos planos da evolução científica, filosófica, social e artística.
Muitas vezes, a arte esteve à frente de seu tempo.
Como exemplo, destacamos as atitudes de Courbet que saía
de seu ateliê para observar o que de fato ocorria com a luz na natureza,
como prenúncio do que, mais tarde seria o movimento impressionista na
pintura moderna.
Leia as palavras de Courbet em uma carta escrita em 1854:

Carta de Courbet em 1854: espero sempre ganhar a vida com


minha arte, sem me desviar um milímetro dos meus princípios,
sem ter mentido à minha consciência nem por um único
momento, sem pintar sequer o que pode ser coberto pela
palma da mão só para agradar a alguém ou para vender mais
facilmente. (GOMBRICH, 2006, p.511).

Diante das reflexões realizadas por você, continue neste caminho


e observe as Figuras 46 e 47, duas pinturas de Courbet que demonstram
situações distintas, no entanto, com as mesmas preocupações: a luz ao ar
livre, a projeção da sombra e o ateliê do artista. Em comparação, observe
que, na tela O ateliê (FIG. 47), o pintor está exposto na própria tela,
pintando uma paisagem. Ao seu lado, o grande modelo clássico da escola
acadêmica da época.

Figura 46 - Bonjour Monsieur Courbet, 1854. Figura 47 - O ateliê, 1854-55

31
História da arte II
Unidade 3
Mundo Moderno
Além do pintor Courbet, os pintores Millet e Daumier lutavam
contra a sociedade vigente. Em suas telas estão retratados trabalhadores
e camponeses, homens e mulheres na sua faina diária.

Figura 48 - As respigadeiras, Daumier, 1857.

A evolução artística deste período que você está estudando,


que vai desde meados do século XVIII até final do século XIX, revela-
nos um período marcado pelas revoluções políticas e transformações
sociais. A Academia era a responsável pela centralização e propagação do
conhecimento.
No entanto, a arte sempre procurou estar à frente de seu tempo
disposta a quebrar regras e paradigmas. As inovações não eram fáceis
de aceitar. Nas exposições oficias de Arte, o que não se enquadrasse era
excluído dos grandes salões.
Édouard Manet (1832-1883) foi um grande renovador e propositor
de uma nova estética. Em 1863, na exposição de pintura oficial francesa
– o Salon - os conservadores recusaram expor suas obras, no entanto, as
autoridades foram obrigadas a expor todas as obras excluídas, em outro
salão denominado de Salão dos Recusados.
A pintura de Manet é marcada pela junção de modelos
acadêmicos, mas com a utilização de novas nuances de cores e tonalidades.
Tal como Courbet, sua paisagem é realista. Utiliza pinceladas
rápidas para flagrar as nuances da luz solar e descreve a realiade tal como
ela é percebida e não como ela é padronizada pelo modelo acadêmico. A
cor é o principal tema na pintura de Manet.
Na Figura 49 retrata seu amigo
Claude Monet pintando em seu barco. Também
é uma ironia, pois sair do ateliê é a maneira
mais rebelde de enfrentar a academia clássica
da arte. A fugacidade da luz e as nuances
das cores já preanunciavam o movimento
impressionista.
Figura 49 - Monet trabalhando em seu barco, 1874.

32
História da arte II

3.5 Impressionismo Unidade 3


Mundo Moderno
Em 15 de abril de 1874, no Boulervard des Capucines, 54 em
Paris, um grupo de jovens pintores inauguraram uma Exposição coletiva,
no salão do fotógrafo Felix Tournachon Nadar (1820-1910). Entre os
expositores estavam: Auguste Renoir (1840-1919), Edgar Degas (1834-
1917), Paul Cézanne (1839-1906), Camile Pissaro (1831-1903), Alfred
Sisley (1839-1899), Berthe Morisot (1841-1895), Claude Monet (1841-1926)
e outros.
Poucos visitantes passaram pela Exposição e, após um mês,
foi encerrada, pois os visitantes intelectuais e críticos consideravam
os referidos artistas falsos pintores, pois ignoravam a beleza, as regras
tradicionais da pintura e os princípios da arte.
Vale a pena você ler o trecho a seguir, referente à crítica de
Albert Wolff publicada no jornal Le Figaro, ao chamar os artistas de
malucos:

A Rua Le Peletier não tem sorte. Depois do incêndio da


Ópera, eis um novo desastre que se abate sobre o bairro.
Acabam de abrir na Durand – Ruel uma exposição que dizem
ser de pintura. O transeunte desprevenido (...) entre e aos
seus olhos espantados oferece-se um espetáculo cruel; cinco
ou seis malucos, entre os quais uma mulher, um grupo de
infelizes atingidos da doença da ambição, reuniram-se para
expor as suas obras. Albert Wolff apud CAVALVANTI (1981,
p.72).

Paul Mantz escreveu no jornal Le Temps que havia uma


perturbação na visão dos pintores da exposição:

Diante das obras de certos membros do grupo, fica-se


tentado de acreditar numa perturbação física do olhar, em
singularidades da visão que fariam a alegria dos especialistas
em oftalmologia e o terror das famílias (CAVALVANTI, 1981).

O grupo de pintores passou a


ser denominado “impressionistas” devido
ao quadro Impression soleil levant do
pintor Claude Monet, mostrado também na
referida exposição. Desta forma, é batizado
de movimento impressionista a maneira de
tratar a luz nas pinceladas rápidas.
Figura 50 - Impression soleil levant, Monet, 18...

Os princípios básicos da pintura impressionista segundo


Cavalcanti (1981, p. 81) são:

33
História da arte II
Unidade 3
Mundo Moderno
- A cor não é uma qualidade permanente na natureza. As
tonalidades das cores estão mudando constantemente;
- A linha não existe na natureza;
- As sombras não são pretas ou escuras, mas luminosas e
coloridas;
- Aplicação dos reflexos luminosos ou dos contrastes das cores
baseados na lei das complementares; e,
- A dissociação das tonalidades ou a mistura ótica das cores.
Os pintores Claude Monet (1840-1946), Pierre Auguste Renoir
(1841-1919) e Edgar Degas (1834-1917) são os principais pintores que
desenvolveram técnicas de flagrar a luz e sua transformação na natureza.

Figura 51 - A catedral de Rouen (série), Monet, 1894.

Participe da discussão
do fórum da unidade.

Figura 52 - Le moulin de La Galette, Renoir, 1876.

3.6 Neo-Impressionismo: Pontilhismo e Simbolismo


Em 1884, Georges Seurat (1859-1891), Paul Signac (1863-1935)
e Maximilien Luce (1858-1941) e alguns outros pintores, se uniram com a
intenção de ultrapassar o Impressionismo. Opunham-se ao Impressionismo
romântico em prol de um Impressionismo cientifico.
Segundo Argan (2000), o Neo-impressionismo, na virada
do século, resgatou a pintura na sua condição de inferioridade para o
desenvolvimento contemporâneo das tecnologias científicas industriais,
sobretudo, com a nova descoberta, a fotografia.
Leia com atenção a citação a seguir. Trata da origem da

34
História da arte II

composição dos pontos de luz. Recurso, até hoje utilizado nas imagens de Unidade 3
Mundo Moderno
grande formato, fotográficos analógicos e digitais.

Chevreul, Rood e Sutton cientistas que pesquisaram as leis ópticas


da visão, principalmente, dos “contrastes simultâneos” ou das
cores complementares, os neo-impressionistas instauraram a
técnica do pontilhismo (pontillisme), que consiste na divisão
dos tons em seus componentes, isto é, várias pequenas manchas
de cores puras reunidas entre si de modo a recompor, na visão
do observador, a unidade do tom (luz-cor) sem as inevitáveis
impurezas do empaste que anula e confunde as cores (ARGAN,
2000, p.82).

Para Argan (2000), o caráter científico do neo-Impressionismo


não consiste no recurso a leis ópticas. Não se pretende fazer uma pintura
científica, mas instituir uma ciência da pintura, colocar a pintura em uma
ciência em si.
Leiamos, ainda, resumidamente a pintura como ciência em si:

1. que a análise da visão esteja presente no procedimento


técnico;
2. que, decompondo a sensação visual, reconheça-se que ela
não é uma simples impressão, mas tem uma estrutura e se
desenvolve através de um processo;
3. que o quadro seja construído com a matéria-cor e que esta
tenha um caráter funcional, como os elementos de sustentação
de uma arquitetura;
4. que o quadro não seja mais considerado como uma tela
onde se projeta a imagem, e sim como um campo de forças em
interação que formam ou organizam a imagem (ARGAN, 2000,
p. 82).

Observe atentamente, a construção dos pontos na pintura de


Seurat, na Figura 53.

Figura 53 - A ponte de Courbevoie, Seurat, 1866-67.

Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o primeiro artista que deu


importância ao gênero artístico tipicamente urbano – a publicidade.
Segundo Argan (2000), com Toulouse-Lautrec a atividade do artista não
mais tende a se concluir num objeto acabado, o quadro, mas desdobra-se
na série ininterrupta das pinturas, das gravuras, dos desenhos, no álbum
de esboços que folheamos.

35
História da arte II
Unidade 3
Mundo Moderno
A arte para Toulouse-Lautrec não
é contemplação e sim comunicação. Segundo
Argan (2000) Toulouse pinta a sociedade não para
contemplar-se a si mesma, pois se vive dentro dela
Figura 54 - O começo da quadrilha,
e, em seu interior, só é possível comunicar-se com os Toulouse-Lautrec, 1892.
outros, que como nós, fazem parte dela.
Toulouse-Lautrec através desta nova
atitude pinta os cartazes dos cabarés parisienses,
Pesquise a vida
e as obras dos uma mistura en dimensão metafísica.
pintores Matisse e Auguste Rodin (1840-1917) é o escultor que
Van Gogh. Procure
observar as principais buscou o equilíbrio da monumental escultura italiana
caracteristicas de
sua pintura. Boa
aos materiais industrializados da modernidade.
pesquisa! Ao contrário do pensamento que afirma: Figura 55 - A dança no Moulin Rouge,
Toulouse-Lautrec, 1889-1890.
da matéria se constroi a forma, na escultura de Rodin
observamos o movimento das relações atmosféricas
e luminosas, ou seja, o espaço fragmentado
compreendido pelo objeto.
Observe as figuras 56 e 57. Veja que a
imagem está aprisionada na matéria.

Figura 56 - A mão de Deus, Rodin, 1898.


3.7 Art Nouveau
No final do século XIX, a arquitetura foi
o alvo das críticas dos artistas descontentes com
o método da arte. Os engenheiros construíam os
prédios de apartamentos, fábricas e edifícios públicos
das cidades com rapidez, no entanto, sobre estas
estruturas colocavam uma camada de “Arte”, na
forma de ornamentos de “estilos históricos”. Segundo
Gombrich (2000), o público exigia essas colunas, pilastras, cornijas
Figura 57 - O e 1880.
pensador, Rodin,

molduras.
Com a Revolução Industrial, o artesanato em geral fora
substituído pelas imitações ornamentais produzidas pelas máquinas, que
no passado tiveram grande significado.
Jonh Ruskin e William Morris, segundo Gombrich, (2000)
sonhavam com uma “Nova Arte”, com base numa nova sensibilidade para
o desenho e para as possibilidades inerentes em cada material.
Na década de 1890, os arquitetos experimentaram novos tipos
de materiais e novos tipos de ornamentos, surgindo daí, o Art Nouveau.
O principal arquiteto foi o belga Victor Horta (1861-1947) que
explorou o efeito das curvas sinuosas da arte oriental nas estruturas de
ferro dos edifícios, escadas, postes de iluminação, entre outros objetos.

36
História da arte II

É importante ressaltar que o ferro fazia parte Unidade 4


Poéticas artísticas do
Séc. XX
das estruturas internas de sustentação dos edifícios
desta época. O propósito de Victor Horta foi a utilizar o
ferro em ornamentações.
Figura 58 - Escada
Voltemos novamente ao Brasil.
da Rue Turin, 12, Em 1816, com a chegada da Missão
Bruxelas, 1893.
Francesa ao Brasil, a arte brasileira continuou com o
tradicionalismo clássico. Somente no final do século XIX
é que surgiram as tendências românticas e realistas no Brasil, destacando-
se o pintor Almeida Junior e Pedro Veiga.
A pintura neoclássica ficou representada por Pedro Américo,
Vitor Meirelles, Oscar Pereira da Silva, Zeferino da Costa e Rodolfo Amoedo.
À época, a arquitetura e a escultura neoclássica brasileira são Faça uma síntese
ecléticas, pois misturam os estilos neoclássicos europeus e os materiais, desta unidade.

tais como, o mármore, pedra sabão, o ferro e o gesso.

Figura 59 - Teatro Amazonas.

Unidade 4 Poéticas Artísticas do Séc. XX

Síntese: esta última unidade da disciplina História da Arte II trata dos


principais movimentos artísticos do século XX e as tendências que deram
início ao novo caminho da arte.

4.1 Expressionismo
O expressionismo teve origem entre 1904 e 1905, na Alemanha.
Inspirou-se em Van Gogh e no pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944). É
importante ressaltar que a intensidade dos sentimentos foram características
expressionistas desde a Idade Média, quando expressavam os sentimentos
religiosos. No entanto, alguns artistas, tais como, Bosch, El Greco e Goya
são considerados precursores do Expressionismo do Século XX.

37
História da arte II

Unidade 4
Poéticas artísticas do
Séc. XX

Figura 60 - O grito, Munsh,1893. Figura 61 - O grito, 1895, litogravura

As manifestações expressionistas tiveram início na cidade de


Dresden, na Alemanha, com vários jovens pintores: Ernest Ludwig Kirchner,
Eric Heckel, Karl Schmidt Rottluff, Max Pechstein e Emil Nolde. O grupo de
pintores Die Brücke (A Ponte) utilizava esta denominação para simbolizar
a ponte entre o visível e o invisível.
Mais tarde, receberam a denominação ‘expressionistas’,
dada por Herwarth Walden, poeta e editor da revista Der Stürmer (A
Tempestade). As principais características expressionistas:
• Seu conhecimento e interpretação do mundo se dão pelos
sentimentos e não pelas sensações;
• Diante da natureza e do homem surgem as interrogações
espirituais repassadas de amarguras e pessimismo, valores éticos e crítica
política e social;
• Não representam visualmente as aparências da natureza ou
imagens exteriores;
• Utilizam das aparências para expressar
suas realidades interiores de modo direto e intenso;
• Dada a veemência dos sentimentos dos
artistas expressionistas, a pintura é deformadora
das imagens da realidade. A deformação é a
característica mais geral da pintura expressionista.
O artista expressionista, além de viver Figura 62 - Necessidade, K. Kollwitz,
1893-1901 (litogravura).
seu drama individual de ser humano, vive o drama
da sociedade e explora os seguintes temas: os
preconceitos, as injustiças, os vícios e hipocrisias
sociais. As preferências dos temas sociais são: a
prostituição, exploração do trabalho, miséria e
infância infeliz.
Veja duas imagens impressionistas nas
Figuras 62 e 63.
Figura 63 - O profeta, Emil Nolde, 1912 (xilogravura).

38
História da arte II

4.2 Fauvismo Unidade 4


Poéticas artísticas do
Séc. XX
Em 1905, no Salão de Pintura em Paris,
alguns jovens pintores, entre eles Henri Matisse,
Raoul Dufy, Albert Marquet e Maurice Vlaminck
ocuparam uma sala da exposição em que também
Figura 64 - Trigal com cipestre, Van
estava exposta uma pequena estátua de Cupido, Gogh,1889.
em estilo renascentista, que lembrava as obras do
escultor Donatello.
O crítico Louis Vauxcelles, ao passar por
esta sala, escreveu que Donatello estava em uma
verdadeira “cage aux fauves”, ou seja, em uma
Figura 65 - Van Gogh: Quarto do
jaula de feras. Dada a ferocidade utilizada por artista em Arles, Van Gogh, 1889.
aqueles pintores no uso das cores. Cores de tons
puros, sem misturas.
No entanto, este comentário fez sucesso
e universalizou-se para designar aqueles pintores
que se atreviam na utilização das cores puras.
Segundo Cavalcanti (1981), o fauvismo Figura 66 - Arearea, Gaugin,1892.
teve diretamente influência das cores de Vincent
Willem van Gogh (1853-1890) e do primitivismo de Paul Gaugin (1848-
1903).

De Van Gogh, a exasperação, os paroxismos líricos e a veemência


passional das cores, que exagerava para melhor exprimir seus
sentimentos tão intensos. De Gaugin, a visão elementar da
natureza, o primitivismo que encontramos nas suas obras,
mesmo naquelas onde certas intenções decorativas podem
insinuar a presença de sensibilidade cultivada pela contemp
lação das artes eruditas do passado. CAVALCANTI (1981, p.121).

A cor negra era uma cor que não pertencia à paleta dos pintores
impressionistas, no entanto, para os fauvistas, todas as cores, inclusive a
preta, pertenciam às suas paletas, mas não a misturavam, muitas vezes,
os tubos de tintas eram colocados diretamente na tela.
Leia o texto de Cavalcanti (1981) que exprime com clareza as
intenções da pintura fauvista na utilização da cor pura.

A cultura, melhor dizendo, o apuro intelectual é que mata


no homem o amor instintivo da cor. O homem sempre amou a
cor. No tempo das cavernas pintava as pedras, os seus corpos
vivos, os corpos dos seus mortos. Pintava o defunto e o chão
da sepultura. Não há primitivo ou ser humano mais próximo da
natureza, como as crianças e as mulheres que não adore a cor.
Nascemos coloristas e as mulheres gostam da cor, de vermelho,
verde, amarelo que gritam. Não é primarismo, nem barbarismo,
é vida. A educação é que nos afasta desse amor natural, que
ainda ontem considerávamos bárbaro e os fovistas revelaram

39
História da arte II

Unidade 4 à sensibilidade moderna. A mulher, mais instintiva ou intuitiva,


Poéticas artísticas do o conserva. Os doidos também. Que seria deste mundo se
Séc. XX
não houvesse cor, raiz de suas belezas? Damos cor às nossas
sensações, sentimentos, idéias. Ficamos brancos de raiva ou
de medo, negros de tristeza, amarelos de inveja. (CAVALCANTI,
1981, p.123).

Henry Matisse (1869-1954) foi o principal pintor fauvista, cujas


pinturas e cores usadas podem ser observadas a seguir. Perceba que há
uma distinção entre forma e conteúdo. Agora, a cor é o protagonista da
obra e não mais os objetos e suas representações.


Figura 67 - Studio vermelho, Matisse. Figura 68 - Dança, Matisse, 1910.

4.3 Cubismo
Em 1908, o Cubismo é a terceira tendência
da arte do século XX. No entanto, inicialmente, o
pintor Paul Cézanne (1839 - 1906) teve a preocupação
de simplificar as formas geométricas nas suas pinturas
Figura 69 - Pommes et oranges, Cézane.
ainda no final do século XIX.

As principais características do Cubismo são:


• Decomposição da estrutura dos objetos;
• Sugestão, na totalidade, da visão total e simultânea da
estrutura dos objetos;
• Decomposição em ângulos, quadrados, retângulos, que se
cruzam, entrecruzam e interpenetram;
• Decomposição sem obediência ou fidelidade à estrutura do
objeto representado, mas conforme a imaginação ou as exigências da
sensibilidade do artista.
Para Cavalcanti (1981, p.129), o pintor cubista tem em vista, não
mais imitar, reproduzir ou copiar a forma do objeto, mas sim, estimulado
pela forma do objeto, criar ritmos plásticos, combinações de linhas e
cores, que não possuam mais relação direta com a imagem do objeto.
Para a compreensão do cubismo, a decomposição foi tratada
em duas fases: o cubismo analítico e o cubismo sintético.
Veja as principais características de cada um:
Cubismo analítico
• Desintegração das formas e fixação das preocupações da
forma;

40
História da arte II

• Pouca preocupação com as cores, uso dos tons terrosos, Unidade 4


Poéticas artísticas do
Séc. XX
cinzentos e marrons;

Cubismo sintético
• Mantidas as características do cubismo
Analítico;
• Negação do realismo visual;
• Sentimento da cor;
• Uso de proporções matemáticas e
articulações lógicas;
Figura 70 - Le
• Ordenação e unidade na diversidade das demoiselles d’Avignon,
Picasso, 1907.
formas e cores;
O período do cubismo analítico foi de 1909 a
1911 e o cubismo sintético, de 1911 a 1914. Pesquise sobre
o movimento
A partir de 1914, são introduzidas nas pinturas abstracionista na
as letras tipográficas, bem como a utilização de papier ou collage, ou Europa. Levante
suas princiapis
seja, introduzir materiais estranhos. Pablo Picasso (1881-1973), Georges características,
seus artistas e as
Braque (1882-1963) e Juan Gris (1887-1927) colocaram pedaços de jornal, produções. Faça sua
papel colorido e depois, madeira, metal e outros materiais. síntese e deposite no
ambiente virtual.

4.4 Abstracionismo
O abstracionismo informal é expresso na obra de Wassily
Kandinsky (1866-1944) e o abstracionismo geométrico, na obra de Piet
Mondrian (1872-1974)

Abstracionismo Informal ou Sensível


Esta forma de abstracionismo é mais instintiva e impulsiva. As
cores e as formas são criações livres, obedecendo ao sentimento do artista.

Abstracionismo Geométrico
Neste tipo de Abstracionismo, as formas são mais geometrizadas,
retilíneas e curvilíneas, conforme expressão da obra de Piet Mondrian
(1872-1974).
As tendências abstratas são: suprematismo (1913), raionismo
(1913), orfismo (1912) e neoplasticismo ou concretismo (1917).

Suprematismo (1913)
Criado pelo russo Casemiro Malevitch (1878-1935) o
suprematismo é a supremacia da pura sensibilidade na arte. O objeto em
si nada significa para o artista. A sensibilidade é a expressão pura sem
representação. Segundo Cavalcanti (1981):

41
História da arte II

Unidade 4 Malevitch era um místico e as suas composições possuem


Poéticas artísticas do o mínimo de plasticidade, forma e cores, para que possam
Séc. XX
exprimir o máximo de experiências ou projeções espirituais,
verdadeiras transfigurações simbólicas ou iluminações. Tanto
que para o fim, mesmo nas composições geométricas coloridas,
evitava a impressão de opacidade e de peso das próprias tintas.
Fluidificava as cores, preferindo aquelas intelectualizadas,
capazes de sugerir imaterialidade, ao mesmo tempo em que
sutilizava o desenho. (CAVALCANTI,1981, p.158).

Figura 71 - Peinture suprématiste, Malevitch, 1917-1918. Figura 72 - Peinture suprématiste, Malevitch,


1920-1925.

Raionismo e Orfismo
Vale à pena, ainda destacar o movimento Der Blaue Reiter (O
cavalheiro azul), fundado por Vassili Kandinsky que, segundo Argan (2002),
foi uma renovação necessária

[...] formula a renovação necessária da arte como a vitória do


irracionalismo oriental sobre o racionalismo artístico ocidental;
portanto, também sobre o Cubismo, que realmente se apresenta
como uma revolução, mas uma revolução no interior do sistema,
visando, ao fim e ao cabo, a consolidá-lo e generaliza-lo.
(ARGAN, 2002, p.316).

Os principais pintores do Blaue Reiter são: Kandinsky, o russo


Jawlensky (1867-1941), o austríaco A. Kubin (1877-1916), F. Marc (1880-
1916), A. Macke (1887-1914) e Paul Klee (1879-1940).

4.5 Futurismo
Alguns fatos históricos marcam o
aparecimento do futurismo, como movimento
artístico: o Manifesto Futurista do poeta e escritor
italiano Filippo Tommaso Marinetti, foi lançado em
1909; em 1910, em Milão, outro manifesto futurista Figura 73 - Intonarumori, Luigi Russolo.
é lançado com os pintores: Umberto Boccioni, Carlo
Carrá, Luigi Russolo, Giacomo Balla e Gino Severini; em 1914, o pintor e
compositor Russolo reconstituiu paisagens sonoras inteiras, sons de guerra
e da cidade.

42
História da arte II

Marinetti: Unidade 4
Poéticas artísticas do
Declaramos que o esplendor do mundo foi aumentado por uma Séc. XX
nova beleza: a beleza da velocidade. Um carro de corrida,
sua carroceria ornamentada por grandes tubos que parecem
serpentes com respiração explosiva... um automóvel estridente
que parece correr como uma metralha é mais belo do que a
Vitória Alada de Samotrácia [a famosa escultura helenística
no Louvre...] A beleza agora só existe na luta. Uma obra que
não seja de caráter agressivo não pode ser uma obra-prima...
Queremos glorificar a guerra – a única higiene do mundo -, o
militarismo, o patriotismo, o ato destrutivo dos anarquistas,
as belas idéias pelas quais um indivíduo morre, o desprezo
pelas mulheres. Queremos destruir os museus, as bibliotecas
e as academias de todas as espécies, e combater o moralismo,
o feminismo e todas as torpezas oportunistas e utilitárias.
Cataremos as grandes multidões excitadas pelo trabalho, o
prazer ou os motins, as marés multicoloridas e de milhares
de vozes de revolução em capitais modernas. Cantaremos a
incandescência noturna e vibrante de arsenais e estaleiros,
refulgindo em violentas luas elétricas, as vorazes estações
devorando suas fumegantes serpentes... as locomotivas de
Figura 74 - Estátua de peitorais robustos que escavam o solo de seus trilhos como
bronze, Marinetti, 1913. enormes cavalos de aço que têm por arreios poderosas bielas
motrizes, e o vôo suave dos aviões, suas hélices açoitadas pelo
vento como bandeiras e parecendo bater palmas de aprovação,
qual multidão entusiástica. Lançamos da Itália para o mundo
este nosso manifesto de violência irrefável e incendiária, com
o qual fundamos hoje o Futurismo, porque queremos libertar
esta terra do fétido câncer de professores, arqueólogos, guias e
antiquários STANGOS (1991, p.72).

Trecho do Manifesto Técnico Futurista de Boccioni:

Tudo se movimenta, tudo corre, tudo gira rapidamente. Uma


figura nunca é estacionária diante de nós, mas aparece e
desaparece incessantemente. Através da persistência das
imagens na retina, as coisas em movimento multiplicam-se e
são distorcidas, sucedendo-se uma às outras como vibrações
no espaço através do qual se deslocam. Assim, um cavalo a
galope não tem quatro patas: tem vinte, e o movimento delas
é triangular... Por vezes, na face de uma pessoa com quem
estamos falando na rua, vemos um cavalo passar a distancia.
Os nossos corpos penetram nos sofás em que nos sentamos, e
os sofás penetram em nós, como também o bonde que corre
entre as casas nelas entra, e elas, por sua vez, arremessam-se
para ele e fundem-se com ele... Queremos reentrar na vida.
Que a ciência de hoje negue o seu passado, isto corresponde
às necessidades materiais do nosso tempo. Do mesmo modo, a
arte, negando o seu passado, deve corresponder às necessidades
intelectuais do nosso tempo. STANGOS (1991, P.72).

4.6 Dadaísmo
O movimento dadá surgiu como movimento literário contra a
guerra de 1914-1918. O poeta húngaro, Tristan Tzara abriu aleatoriamente
o dicionário e deixou cair o dedo na palavra dada, que na linguagem
francesa infantil, quer dizer cavalinho – automatismo psicológico que
permitiu o surgimento do Surrealismo.

43
História da arte II

Unidade 4 4.7 Surrealismo


Poéticas artísticas do
Séc. XX O surrealismo foi um movimento da
literatura e das Artes Plásticas que começou na
França, em 1924, com o escritor André Breton.
Salvador Dali (1904-1989) é o principal artista
surreal, ao lado de, Marc Chagal (1887-1985) e Figura 75 - Aparição de rosto e fruteira
numa praia, Dali, 1938.
Joan Miró (1893-1983).

Figura 76 - O violoncelista, Chagal, 1939 Figura 77 - Constelações, Miró, 1940-41 IV.

Figura 78 - Painting, Miró, 1950.

René Magritte (1898 -1967), Yves Tanguy,


Francis Picabia, Marcel Duchamp, Max Ernest e Hans
Arp são alguns artistas que uniram o surrealismo e o
futurismo em suas obras e abriram frente às novas
tendências da segunda metade do século XX: pintura
metafísica, o minimalismo, art pop, op art e arte
conceitual.
Figura 79 - Nú descendo a escada nº 2, Duchamp,1912-16.

Em oposição ao Futurismo, entre 1916 a 1920, a obra de Giorgio


de Chirico (1888-1978) constituiu, nas palavras de Argan (2002), um
verdadeiro fato novo na arte européia.
Desde 1910, De Chirico opunha-se ao futurismo. Para ele, a
arte não mantém qualquer relação com o mundo presente. A arte é pura
metafísica, portanto, não possui vínculos com qualquer realidade natural
ou histórica, nem mesmo para transcendê-la. Para De Chirico, a arte não

44
História da arte II

representa, não interpreta nem altera a realidade - coloca-se como outra Unidade 4
Poéticas artísticas do
realidade, metafísica e meta-histórica (ARGAN, 2002, p.372). Séc. XX

Novamente no Brasil.
Os primeiros artistas modernos do Brasil foram
Eliseu Visconti (1876-1944) e Lasar Segal (1882-1957).
A Semana de Arte Moderna, em 1922, foi um
marco para a cultura artística brasileira. Artistas e escritores
marcaram, com suas obras, as mais modernas tendências Figura 80 - Abapuru,
Tarsila do Amaral, 1928.
artísticas européias, através de suas obras com temáticas
brasileiras.

Figura 81 - Antropofagia, Tarsila do Amaral, 1929. Figura 82 - O mestiço, Portinari, 1935.

Figura 83 - Café, Portinari, 1935.

Pesquise as
4.8 Pop-Art e Op-Art diferenças entre
Op-art vem do inglês (optical art) – arte óptica. Sua principal ready-made e
minimalismo.
preocupação é com o processo físico e psicológico da visão. Seu precursor
foi Victor Vasarely (1908 - 1997).
A Pop Art começou em Londres na metade da década de 1950,
mas a produção artística, desde o início, era baseada, em grande parte,
na mídia norte-americana em Londres, após a Segunda Guerra Mundial
(1944).
Minimalismo –
[...] ao contrário do Dadaísmo, a Pop Art não é motivada pelo repetição gradual e
desespero ou animosidade contra a civilização atual; considera modular de estrutu-
a cultura comercial sua matéria-prima, uma fonte inesgotável ras mínimas.
de material pictórico, mais do que um mal a ser combatido.
(JANSON, 2001, p.395).

Na América do Norte, o pintor mais importante foi Jasper Johns


(1930 - ?? ).

Figura 84 - Três Bandeiras, Johns, 1968.

45
História da arte II

Unidade 4 Foi Roy Lichtenstein (1923-1997) quem melhor representou a


Poéticas artísticas do
Séc. XX Pop Art, pois recorreu às historias em quadrinhos convencionais.

Figura 85 - Moça afogada, Lichtenstein, 1963.

Participe das Andy Warhol (1930-1987) foi um artista


discussões do fórum que trabalhou com os personagens ilustres.
em sua sala de aula
virtual Entretanto, sua técnica se deu a partir dos
elementos repetitivos. Uma técnica minimalista.
O crítico Stangos (1991, p.180) dá uma
simples definição para o conceito minimalista:
Figura 86 - The six Marilyn,
“estrutura modular – repetição de elementos Warhol, 1962.
mínimos e a mudança gradual de pequenos
motivos ao longo de diferentes fases”.
Veja a Figura 86. É uma serigrafia
com técnicas diversas de misturas de cores, no
entanto, a repetição da forma se mantém.
Figura 87 - Um universo,
Alexander Calder (1898-1976) foi um Moore, 1934.

artista que modificou o conceito de escultura.


Suas criações são móbiles que buscam a leveza
e o movimento.
Henri Moore (1898-1986) também
foi um escultor que transformou a escultura
Figura 88 - Figura reclinada,
moderna. Trabalhos com diversos materiais, tais Moore, 1938.
como, bronze, ferro e mármore.

4.9 Minimalismo
A tendência artística minimalista é uma atitude ética dos
Pesquise as principais
características e artistas pós-modernos. O choque, o rompimento de padrões de ordem,
diferenças entre é a principal meta. A arte não está a serviço dos referentes e sim da sua
os reday-made e
o minimalismo. própria construção, mesmo que sua aparência possa ser horrível.
faça sua síntese
e deposite no O padrão de beleza grega foi abandonado já no final do século
ambiente virtual. XIX. A aparência da arte é encontrar as relações da sua estrutura interna,
o seu modo de fabricação, ou seja, as cores, linhas, planos entre outros
elementos.
Nas palavras do pintor Malevitch, apud Stangos (1991), a arte
existe em si mesma, deixando de lado a preocupação de servir ao Estado
e à religião.

46
História da arte II

A ética minimalista, segundo Stangos, buscava propor a queda Unidade 4


Poéticas artísticas do
Séc. XX
das funções dos objetos. Procurava sensibilizar e educar o olhar do homem
sobregarregado pela força ética capitalista.

[...] está no relacionamento com o modo como os ready-


mades, de Marcel Duchamp, desafiaram o prestígio, em nosso
pensamento estético, da nossa noção de traballho como
ingrediente essencial em arte. Ao propor um urinol e um
porta-garrafas como exemplo de arte ready-made, Duchamp
tinha minimizado o papel da mão do artista, bem como o
valor da perícia artística. Ele atribuiu valor estético a objetos
puramente funcionais por uma simples escolha mental e não
através de qualquer exercício de habilidade manual. O que ele
quis demonstrar foi que a produção de arte podia baser-se em
outros termos que não o arranjo arbitrário e apurado da forma
(STANGOS,1991, p.177).

Na Figura 89, Marcel Duchamp desafia


o olhar e provoca no público o estranhamento, o
inadimissível e o possível. A proposta era colocar
uma roda de bicicleta sobre um banquinho e nos
educar para novas propostas de suporte e, também,
exercitar o olhar para observar as linhas, o círculo e
as formas geométricas na composição da roda.
Nesta atitude, a roda deixou de ter seu
caráter funcional e pasou para o lado da arte. O lado
Figura 84 - Roda de
que não possui regras e leis definidas. Esta é a arte bicicleta, Duchamp,
1913.
do século XX.

4.10 Arte conceitual

E, depois temos aquele movimento artístico de um só homem,


Marcel Duchamp – para mim, um movimento verdadeiramente
moderno porque subentende que cada artista pode fazer o
que pensa que deve fazer – um movimento para cada pessoa e
aberto a todos (Willem de Kooning apud STANGOS, 1991).

Após a construção dos reade-mades de Duchamp, as atitudes


artísticas na década de 70, do século XX, tornaram-se muito próximas dos
sistemas linguísticos, ou seja, a arte concreta utilizada não só na pintura,
mas nas estruturas mínimas do código linguístico.

A maior parte da atividade conceitual estava unida por uma


ênfase quase unânime sobre a linguagem ou sobre sistemas
linguisticamente análogos, e por uma convicção – farisaica e
puritana em alguns setores – de que a linguagem e as idéias
eram verdadeira essência da arte, de que a experiência visual e
o deleite sensorial eram secundários e não-essenciais, quando
não francamente irracionais e imorais. (STANGOS, 1991, p. 185).

47
História da arte II

Unidade 4 Para a arte conceitual, as relações de significação estão na


Poéticas artísticas do
Séc. XX linguagem; uma atitude que não era possível nos períodos anteriores.
Joseph Kosouth escreveu - “a “condição artística” da arte é um estado
conceitual”. E, para Lawrence Weiner, “sem linguagem não existe arte”.
Os artistas que iniciaram a arte conceitual foram: Robert Barry
(1936 - ?), Kosuth Joseph (1945 - ?) e Mel Bochner (1940 - ? ).
Ao longo dos períodos da História da Arte, você constatou que
as principais matérias utilizadas pelos artistas foram as telas, têmperas,
afrescos, o mármore, o ferro, o vidro entre outros.

A arte conceitual também fez um uso inteiramente novo da


fotografia em arte, assim como do filme e do vídeo, que se
tornou amplamente acessível, pela primeira vez, na década de
1960, com o resultado de que, em todo o movimento, a imagem
visual não-única é quase tão preponderante quanto à linguagem
(STANGOS, p.185).

Na década de 60 e 70, do século XX, a reprodução em papéis


foi altamente difundida e utilizada pela arte. Vários artistas conceituais
realizaram suas obras em papel offset e máquina de escrever. Outros
utilizaram a sobreposição de tintas sobre jornal.

Jornais, revistas, publicidade, o correio, telegramas, livros,


catálogos, fotocópias, tudo se converteu em novos veículos
e, ocasionalmente, novos tópicos de expressão, oferecendo
inúmeros caminhos para os artistas conceituais comunicarem
sua arte. (STANGOS, 1991, p.185).

Atualmente, a arte conceitual utiliza todas as tecnologias


disponíveis da modernidade: o sistema analógico, as fotografias, o cinema,
luzes ópticas e sistema digital.

4.11 Performática
A performance é uma atitude urbana. Os artistas abandonam
os suportes artísticos e fazem das ruas e espaços públicos espaços de
criação e produção artísticas. Uma tendência conhecida com o conceito
de intervenção.

[...] a performance é fazer uso da linguagem usada em conjunto


com seus corpos ou vidas, é comunicada num nível muito
mais pessoal, face a face, de vários modos desconcertantes,
divertidos ou chocantes. (STANGOS, 1991, p. 189).

Argan (2002) faz uma crítica a este respeito:

A arte “pobre”, em sentido amplo, é a que não dispõe de uma


técnica própria e não procede a uma seleção de materiais

48
História da arte II

“artísticos”, mas utiliza tudo o que constitui matéria da Referências


realidade (panos, tubos, pedaços de madeira, etc.) ou nem
mesmo utiliza material algum, mas toma como tal o ambiente
ou até a pessoa física do artista (ARGAN, 2002, p. 587).

Parabéns! Você foi capaz de concluir sua leitura e chegar ao


final do curso.
Você já deve ter observado que a história da arte que estudamos
até aqui, demonstrou a evolução não só dos modos de utilização dos
materiais, mas também, demonstrou que a arte e a ciência sempre faça a sua
estiveram próximas. Em todos os períodos artísticos o artista se beneficiou autoavaliação e
envie-a através do
das tecnologias e das experiências científicas em suas produções artísticas. ambiente.
E você o que pensa? A arte se modificou ou ainda é a mesma?
Você consegue compreendê-la?
Afinal, o que é arte?

Referências
Arte nos Séculos. 8 Volumes. São Paulo: Abril Cultural, 1969.
ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
BATTISTONI FILHO, D. Pequena história da arte. Campinas: Papirus, 2004.
CAVALCANTI, C. Como entender a pintura moderna. Rio de Janeiro: Rio,
1985.
CD-ROM – Enciclopédia multimídia da arte universal. Alphabetum Edições,
Multimídia.
COLEÇÃO Os grandes artistas. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
CONTI, F. Como reconhecer a arte do renascimento. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
GOGH, V. V. Cartas a Théo. Porto Alegre: L&PM, 2002.
GOMBRICH, E. A história da arte. Rio de Janeiro: LCT, 2000.
HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
JANSON, H. W. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
______. Historia geral da arte - Renascimento e Barroco. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
______. Historia geral da arte - O Mundo Moderno. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
KARL, F. R. O Moderno e o Modernismo. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
LIONELLO, V. História da crítica de arte. São Paulo: Almedina, 2007.
PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2007.

49
História da arte II

Glossário ______. Descobrindo a história da arte. São Paulo: Ática, 2005.


STANGOS, N. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Currículo da autora
Editor, 1991.
WÖLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da historia da arte. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
ZAGO, R. S. B. Tentativas de ver e de ouvir os vazios da significação e
do poético. Dissertação (Mestrado em Artes)--Universidade Paulista “Julio
de Mesquita Filho” – UNESP, São Paulo, 1996.

Glossário
Abstracionismo – teoria que trata da representação da realidade, partin-
do dos elementos intrínsecos da obra.
Acadêmico ou academicista - uso das normas do período Clássico.
Claro-escuro – pintura distribuída entre luzes e sombras em variações
tonais.
Estilo artístico – conceito que pode ter vários significados. Dentre eles
destacamos: a) técnica ou método utilizado para criar uma manifestação
artística. A exemplo o estilo artístico pontilhismo utiliza a técnica de
aproximação dos pontos de cor para dar o efeito desejado; b)Forma ou
expressão utilizada pelo artista para demonstrar seu trabalho; C) Conjunto
especial de trabalhos artísticos que indicam determinada época ou gênero.
Movimento artístico – tendência ou estilo da arte calcado em uma filosofia
ou objetivos comuns, entre grupos de artistas restritos a determinado
período histórico.

Currículo da professora autora


Rosemara Staub de Barros é doutora em Comunicação e Semiótica pela
Pontifícia Universidade Católica – PUCSP (2002), Mestre em Artes pelo
Instituto de Artes do Planalto da Universidade Paulista “Julio de Mesquita
Filho” – IA/UNESP (1996), graduada em Educação Artística – Música
pela Faculdade de Artes Santa Marcelina – FASM - São Paulo (1982). É
professora adjunto III e coordenadora do curso de Artes Plásticas e Música
do Departamento de Artes do Instituto de Ciências Humanas e Letras da
Universidade Federal do Amazonas em Manaus-AM. Tem experiência na
área de música, artes visuais e arte-educação. Atua principalmente nos
seguintes temas: processos de criação na arte, música, artes visuais,
cultura, ensino da arte, história da arte, semiótica, comunicação e
linguagem.

50

Você também pode gostar