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Fenômenos de Transporte

aula 1

Introdução aos
Fenômenos de Transporte

formador autor  Prof. Dr. ​L uiz Roberto Terron


1
Fenômenos de
Transporte — aula 1
Introdução aos
Fenômenos de Transporte

1.1. Heráclito de Éfeso1, o aforismo2 “Panta


Rei” e os Fenômenos de Transporte3
Os Fenômenos de Transporte, como será visto adiante,
trata de movimento. E, na natureza, desde a antiguidade
sabe-se que tudo se movimenta tal como propôs Herá-
clito de Éfeso mais de cinco séculos antes de Cristo. Para
esse filósofo tudo no Universo se baseia na tese do fluxo
universal dos seres “Tudo Flui”, ou, em grego “Panta rei”
(πάντα ρεĩ).
Então, para começo, trate-se de definir o que significa
o termo “Fenômenos de Transporte”, que dá nome a esta
disciplina. Recorram-se aos dicionários: segundo o Aurélio
(Buarque de Holanda Ferreira, 2004) e o Houaiss (2002),
a palavra “Fenômeno” (substantivo masculino), tem o se-
guinte significado (definições unificadas e adaptadas):

Fato, aspecto, ocorrência ou evento de interesse científico passível


de observação. Tudo o que se observa na natureza que pode ser
descrito e explicado cientificamente.

Já a palavra “Transporte” (substantivo masculino) quer


dizer:
Ato, efeito ou operação de transportar; transportação, transportamento.

Frente a isso, pode-se, resumidamente, dizer que “Fenômenos de Trans-


porte” são:

Fatos da natureza de interesse científico que podem ser observados, descritos e expli-
cados cientificamente, nos quais algo é transportado.

Resta saber o que é esse “algo” a ser transportado e é transportado para


“onde” e “como”. Mas não resta dúvida que tais fenômenos estão inseri-
dos na concepção filosófica, anteriormente comentada, de que “Panta Rei”
ou “Tudo Flui”.
Desde as grandes galáxias, sóis, planetas até as extremamente minús-
culas partículas subatômicas se movimentam. Esse movimento poderia
cessar totalmente? O Universo estancar, “parar tudo”? Sabe-se que em
temperaturas próximas a 0 K, praticamente todo movimento molecular
cessa e a variação da entropia é nula para qualquer processo adiabático4.
Pode-se cessar todo o movimento? Atingir-se o 0 K? Recentemente, em
2012, foram feitos experimentos onde foi possível ultrapassar o zero ab-
soluto, uma coisa que até então se acreditava ser impossível5.
Bem, nos processos industriais, não se trabalha a tão baixas tempera-
turas, por isso os materiais envolvidos em tais processos (matérias pri-
mas, produtos, equipamentos, etc.) terão suas moléculas em movimento.
Nos Fenômenos de Transporte, o que é transportado são energia ou
matéria/massa (o “algo”), de um corpo para outro, de um espaço para
outro, de um ponto para outro (o “onde”) e o “como” depende da ener-
gia a ser transportada. Os tipos de energia transportados são a energia
mecânica (quantidade de movimento), a energia térmica e a massa (uma
quantidade determinada de matéria). Por isso costuma-se dividir o estudo
dos Fenômenos de Transporte em três partes:

1. Transporte (ou Transferência) de Quantidade de Movimento, ou


Transporte de Fluídos, ou, ainda, Mecânica (ou Dinâmica) dos Fluí-
dos;
2. Transporte (ou Transferência) de Calor;
3. Transporte (ou Transferência) de Massa.

Nestas aulas vão ser usados, indistintamente os termos “Transporte” ou


“Transferência”, ocasionalmente, usar-se-á o termo “troca”, como: troca de
calor, troca de massa, etc.

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Podem-se apresentar alguns exemplos passíveis de serem estudados e
explicados pelas teorias dos Fenômenos de Transporte:

1. Transporte de Quantidade de Movimento:

→→ A movimentação das águas de rios ou dos mares;


→→ O escoamento da água de uma represa pelas turbinas geradoras
de energia elétrica;
→→ O fluir da água por uma torneira;
→→ O vento fluindo através de moinhos eólicos;
→→ O escoamento de uma fração de petróleo pelas tubulações de
uma refinaria.

2. Transporte de Calor:

→→ O aquecimento das paredes externas de uma casa pelos raios so-


lares transferindo o calor para o interior da residência;
→→ O isolamento térmico de ambientes;
→→ A operação de ferver água com a finalidade de cozinhar alimentos;
→→ Soprar sobre uma xícara de café, cujo líquido esteja extremamen-
te quente, para que seja possível sorver o café;
→→ Tempera de aço.

3. Transporte de Massa:

→→ Dissolução de sólidos em líquidos. Por exemplo: ao adoçar uma


xícara de café coloca-se açúcar e, com uma colher, agita-se o líqui-
do para dissolver o material sólido;
→→ Secagem de grãos antes de serem armazenados para evitar de-
terioração;
→→ Obtenção de sal da água do mar.

1.2. Mecanismos dos Fenômenos de Transporte


O conceito de Fenômenos de Transporte foi sendo desenvolvido na pri-
meira metade do século XX, a partir do estudo das Operações Unitárias,
assunto característico da Engenharia Química, que trata dos fenômenos
ocorrentes em equipamentos industriais, sua escolha, projeto e dimensio-
namento (Destilação, Extração, Filtração Industrial, Secagem, Agitação de
Líquidos, entre outros). O que se entende por Fenômenos de Transporte foi

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consolidado em 1960 pela obra seminal lançada por Bird e colaboradores
(Bird et al., 1960), agora na sua segunda edição (Bird et al., 2004)6.
Pode-se classificar os Fenômenos de Transporte de várias maneiras,
como visto na Tabela 1-1.

Tabela 1-1.  fenômenos de transporte – classificação por tipo de1


Classificação dos
Fenômenos de o que é transferido dependência nível de
mecanismo
Transporte. (Transporte de:)2 com o tempo escala

• Quantidade de Movimento • Molecular • Estado • Macroscópico


(energia mecânica) permanente
• Convectivo • Microscópico
• Calor • Estado
• Por radiação • Molecular
transiente
• Massa3

1
Esta tabela estabelece as possíveis modalidades dos transportes escolhendo-se um elemento de cada coluna para
caracterizar uma modalidade. Por exemplo, “Transporte de calor por convecção em estado transiente” é uma modalidade
de transporte de calor.
2
O transporte ocorre por causa de diferenças (gradientes) das grandezas entre dois pontos, por exemplo: diferença
de pressão (transporte de quantidade de movimento), diferença de temperatura (transporte de calor) e diferença de
concentração (transporte de massa).
3
Deve-se lembrar, neste caso, da equação da equivalência massa-energia, proposta por Albert Einstein: E  =  mc2,
onde E = energia, m = massa e c = velocidade da luz no vácuo. Devido as características dos processos industriais, nos
estudos dos Fenômenos de Transporte não será necessário realizar esse tipo de conversão, a massa será tratada como
tal. Mas fica aqui essa nota para vermos que a inclusão da massa, entre os Fenômenos não destoa das outras partes,
explicitamente energias. Ver, também: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Equival%C3%AAncia_massa-energia>.

A seguir serão dadas algumas explicações sobre os elementos citados na


Tabela 1-1, tomando como base o transporte de calor. Comentários deta-
lhados para os outros tipos de transportes serão vistos em aulas futuras.
No caso da escala, tomemos o exemplo de uma ave sendo assada em
um espeto, como mostrado na Figura 1-1.

Figura 1-1. 
Ave sendo assada
em um espeto.

Se for considerado o sistema ave + espeto + meio ambiente (ar, solo, etc.)
+ fonte de aquecimento (fogueira) para um estudo sobre os fenômenos
que ocorrem enquanto a ave está assando, a escala seria macroscópica;
caso o objeto do estudo fosse uma parcela da carne da ave, a escala é mi-
croscópica; o comportamento das moléculas dos fluídos (sucos) da carne
corresponde à escala molecular.

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O transporte molecular ocorre quando se tem interação direta entre
uma molécula e outra, ou seja, uma molécula “transfere” sua energia para
a outra diretamente, por contato, choque, vibração, etc. No caso con-
vectivo, existem movimentações de fluído promovendo o transporte de
energia. Nos processos físicos de transferência sempre ocorrem os dois
tipos (molecular e convectivo), mas, num determinado caso, um tipo de
modalidade pode prevalecer sobre outro. Por exemplo, se num processo
a transferência de energia ocorrer mais por convecção do que por trans-
porte molecular, considera-se que o tal processo ocorra por convecção
somente, desprezando-se os efeitos moleculares; isso fica mais evidente
no transporte de calor e no transporte de massa.
O transporte de calor, ou transporte de energia, ou ainda, transporte
de energia térmica ocorre pelos três mecanismos seguintes:

→→ Condução;
→→ Convecção;
→→ Radiação.

1.2.1. Aspectos descritivos do transporte


de calor por condução
A condução que ocorre em um corpo é a transferência de energia das
partículas/moléculas mais energéticas7 desse corpo para as menos ener-
géticas, como resultado da interação entre essas partículas. A condução
pode ocorrer nos corpos sólidos, líquidos ou gasosos. Em gases e líquidos
a condução é devida às colisões e difusões de moléculas durante seu mo-
vimento randômico. Em sólidos a condução é devida à combinação de vi-
brações das moléculas e a energia transportada por elétrons livres, como
esquematizado na Figura 1-2.

Figura 1-2.  gás líquido sólido


Esquema mostrando colisão molecular colisão molecular vibrações do retículo cristalino
a condução em gases, difusão molecular difusão molecular fluxo de elétrons livres
líquidos e sólidos.

Muitas vezes a movimentação de eletros livres em sólidos é insignifican-


te e, daí considera-se somente a vibração das moléculas (o sólido pode

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ser amorfo não havendo, assim, retículo cristalino). Nesse caso, o trans-
porte de calor por condução ocorre somente por transporte molecular.
Considere-se um tijolo contendo medidores de temperatura instalados
em duas faces opostas e, também, introduzidos em seu interior (veja a
Figura 1-3). Se uma das faces desse tijolo for aquecida (Figura 1-3b), após
um tempo a face oposta àquela que está sendo aquecida também vai ter
a temperatura aumentada, assim como pontos intermediários no interior
do tijolo (Figura 1-3b a d). Desde que a fonte de calor (fonte de energia
térmica, a chama, no caso da Figura 1-3b a e) mantenha suas condições
de atuação, pode ocorrer uma situação de equilíbrio onde ambas as faces
do tijolo apresentem a mesma temperatura (Figura 1-3e).

Figura 1-3. Esquema θ = 0   T = Tamb


de tijolo sendo
aquecido em
medidor de
uma das faces. face a ser aquecida temperatura

tijolo

(a)

θ=1 θ=2
Tface 1 T1 T2 T3 Tface 2 Tface 1 T'1 T'2 T'3 T'face 2

Taq Taq

chama T'1 > T1  ,  T'2 > T2  ,  T'3 > T3  ,  T'face 2 > Tface 2

(b) (c)

θ=3 θ = θequil
Tface 1 T''1 T''2 T''3 T''face 2 Tface 1 Tface 1 Tface 1 Tface 1 Tface 1

depois de
certo tempo
Taq Taq

T''1 > T'1  , T''2 > T'2  , T''3 > T'3  , T''face 2 > T'face 2 < Tface 1

(d) (e)

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O transporte de calor para o tijolo ocorre devido à crescente movimen-
tação das moléculas do material (veja bem: movimentação das moléculas,
não escoamento de moléculas) conforme vai se aquecendo.

1.2.2. Aspectos descritivos do transporte


de calor por convecção
Convecção é o modo de transporte de energia entre um determinado ele-
mento e um fluído a ele adjacente. Um desses elementos pode ser uma
superfície sólida. Para que ocorra a convecção o elemento (a superfície
sólida) deve estar mais aquecido do que o fluído, ou vice versa. Em linhas
gerais, a convecção é normalmente a forma dominante de transferência
de calor em líquidos e gases, exatamente pela mobilidade destes. Tome-
-se como exemplo uma esfera aquecida (a superfície) em contato com ar
(o fluído), conforme mostrado na Figura 1-4.

Figura 1-4.  T∞
Esquema de uma T
esfera aquecida em
TW  = temperatura da parede
contato com o ar. TW da esfera
Corrente de ar
aquecido ascendente
T∞  = temperatura do ar
longe da esfera

TW > T > T∞

A parede da esfera está com uma temperatura TW e o ar ao longe da es-


fera tem temperatura T∞. O ar próximo da esfera se aquece a uma tem-
peratura T, sendo que TW > T > T∞. Se o ar estivesse mais aquecido que a
esfera, esta é que seria aquecida. Massas de fluído mais aquecidas do
que outras também podem trocar calor entre si. Pode, também, existir
convecção no interior de corpos, ou seja, uma convecção interna como
a que ocorre quando o fluido é delimitado por uma fronteira sólida; esse
tipo de convecção ocorreria como no caso anterior da esfera, que se fosse
oca, tendo a parede exterior aquecida e com ar em seu interior, o fluído
(ar) seria aquecido também por convecção.
A convecção é classificada em três tipos:

→→ Convecção forçada;
→→ Convecção natural (ou livre);
→→ Convecção com mudança de fase

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Quando a movimentação do fluído ocorre somente pela diferença de
densidade, diz-se que é convecção natural (como é o caso do exemplo
acima). Quando, além da movimentação do fluído por diferença de den-
sidade, tem-se a ação de uma fonte externa de movimentação (ventilado-
res, agitadores, bombas, etc.), criam-se correntes de convecção induzidas
artificialmente e, nesse caso, tem-se convecção forçada.
Considere-se este exemplo de transporte de calor por convecção natu-
ral: imagine-se o contato do ar com uma superfície sólida aquecida (veja a
Figura 1-5). O ar entra em contato com a superfície aquecida e sua tempe-
ratura aumenta. Conseqüentemente as moléculas do ar dilatam-se (dila-
tação térmica) e sua densidade diminui (a massa da molécula é a mesma,
mas o volume aumenta). As moléculas aquecidas tendem a subir e as
frias, a descer. Por sua vez, as moléculas frias se aquecem e sobem, as
que estavam quentes se esfriam e descem, formando um processo con-
tínuo de aquecimento e resfriamento, de subida e descida, de moléculas
de ar (veja a Figura 1-5a). A esse movimento dá-se o nome de corrente de
convecção (veja a Figura 1-5c). Então, o transporte de calor convectivo, ou
transporte de calor por convecção é a transferência de energia térmica
de um lugar para outro pelo movimento de um fluido (ascendente-des-
cendente no caso do ar do exemplo tomado), ou seja, por causa de seu
escoamento.
Ampliando o exemplo anterior, se no ambiente onde ocorre esse fenô-
meno existir um ventilador, além da movimentação do fluído pela diferença
de densidades do ar haverá a movimentação extra do fluído e diz-se, daí,
que se tem convecção forçada: mais vento, mais atua a convecção forçada,
menos vento mais influente será a convecção natural (veja a Figura 1-5b).

Convecção forçada +
Figura 1-5. Esquema Convecção natural Corrente de convecção
convecção natural
de ar sendo aquecido
em uma superfície Ar frio Ar frio
por convecção. Movimentação do ar por Fluido mais
Ar quente convecção natural frio desce

Movimentação
do ar induzida Fluido mais
pelo ventilador quente sobe

Ts = temperatura da superfície Ts Ts

(a) (b) (c)

Esse exemplo do ar aquecido por uma superfície aquecida pode ser usado
para explicar o efeito óptico chamado de miragem ou espelhismo, co-
mum em dias ensolarados, especialmente sobre rodovias, em paisagens
desérticas, ou também em alto-mar (efeito Fata Morgana). A miragem é

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uma imagem causada pelo desvio da luz refletida, ou seja, é um fenôme-
no físico real (ilusão de óptica) ocasionado pelas diferentes propriedades
do ar participante da corrente de convecção. No caso da estrada devido
à miragem, o asfalto aparentemente está “molhado” e, acima dele parece
existir um tipo de movimentação do ar, ocasionado pelo ar mais aquecido
que ascende e ar menos aquecido que desce.
Quando o faz-se o aquecimento de um líquido e este passa para o estado
de vapor, ou o caso contrário, quando o vapor condensa e passa para a fase
líquida, houve, nos dois casos, mudança de fase e o transporte de calor é por
convecção com mudança de fase. É o que acontece, por exemplo, no aque-
cimento de água em uma panela aberta (veja a Figura 1-6): a água, em conta-
to com o fundo da panela aquecida (superfície sólida aquecida) primeiramen-
te tem sua temperatura aumentada e o transporte de calor é por convecção
natural; quando a temperatura da água atinge sua temperatura de saturação
na pressão ambiente do local, o líquido ferve e formam-se bolhas de vapor
d’água: tem-se, daí, transporte de calor por convecção com mudança de fase.
Se, durante o aquecimento, a água sofrer movimentações (proporcionada
por uma colher, por exemplo) o aquecimento (até o levantamento da fervura)
ocorre por transporte de calor por convecção forçada.

Vapor d'água
Figura 1-6. Esquema
de ar sendo aquecido
em uma superfície
por convecção.

Vapor d'água Água líquida fervente

Alimento
Fonte de calor

1.2.3. Aspectos descritivos do transporte


de calor por radiação
Outro tipo de transporte de calor é o que ocorre devido à radiação térmi-
ca. A radiação, de um modo geral, é a energia emitida pela matéria na for-
ma de ondas eletromagnéticas como resultado das mudanças nas confi-
gurações eletrônicas dos átomos ou moléculas. Ao contrário da condução
e da convecção, o transporte de calor por radiação não exige a presença
de um meio (sólido, líquido ou gasoso) que, de certa forma, conduza o
calor. No estudo dos Fenômenos de Transporte, está-se interessado so-
mente em um tipo de radiação, a radiação térmica, aquela emitida pelos
corpos devido a sua temperatura. Todo corpo a uma temperatura acima

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do zero absoluto emite radiação térmica. Um caso mais típico é o aqueci-
mento da Terra pelo Sol (veja a Figura 1-7).

Figura 1-7. Esquema
do Sol aquecendo a
Radiação Solar
Terra por transporte
de calor por radiação.

Terra

Calor

Sol Tsol > TTerra

1.2.4. Aspectos descritivos do transporte de


calor em regime permanente e transiente
Volte-se ao caso do tijolo sendo aquecido visto anteriormente. Tenha-se,
agora, como objeto de estudo esse tijolo tendo somente um dos medido-
res de temperatura instalado em seu interior (veja a Figura 1-8). Durante o
aquecimento a temperatura do ponto k, Ti , irá variar com o tempo, qi (veja
a Figura 1-8a), até que seja atingido o equilíbrio (a temperatura das faces
e dos pontos interiores sejam as mesmas). Anotando-se as temperaturas
no transcorrer do tempo, pode-se construir um gráfico de Ti = f(qi), como
mostrado na Figura 1-8b. Do início do aquecimento até o tempo onde o
equilíbrio ser atingido, o calor será transferido ao tijolo por transporte de
calor em regime transiente (a temperatura varia com o tempo). Após o
equilíbrio, continuando-se o aquecimento do tijolo, o transporte de calor
será por regime permanente (a temperatura não varia com o tempo). O
regime permanente é chamado, também, de regime estacionário.

Figura 1-8. Esquema Tamb θi Ti T


do aquecimento Taq
de um tijolo por
transporte de calor Taq

por condução em
regime transiente. k
Tamb

θeq θ
(a) (b)

1.3. Importância dos Fenômenos de


Transporte para as Engenharias
Para se ter uma visão da importância dos Fenômenos de Transporte, de-
ve-se observar como essa matéria se coloca frente os outros tópicos das
Engenharias.

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Em indústrias trabalham engenheiros de diversas modalidades e, para
haver diálogo e entendimento entre os diversos tipos de profissionais, há
necessidade de embasamento comum entre eles. Na Figura 1-9 mostra-se
o encadeamento das matérias básicas, ou disciplinas, até que se atinja o
nível das matérias específicas.

de física
Figura 1-9. Relação
entre as diversas ciência dos
matérias das materiais
Engenharias.
física resistência dos
materiais

disciplinas
matemática termodinâmica termodinâmica química específicas

química propriedades das


substâncias

fenômenos de
outros assuntos outros assuntos
transporte

ciências básicas I ciências básicas II disciplinas fundamentais

Segundo a figura citada, podem-se classificar as matérias das Engenharias


em quatro grupos: Ciências básicas I e II, Disciplinas fundamentais e
Disciplinas específicas (para cada ramo da Engenharia: Química, Mecâ-
nica, Civil, Produção, da Computação, de Minas, Metalúrgica, etc.).
No primeiro grupo, Ciências básicas I, têm-se a Matemática, a Física, a
Química e outros assuntos (Biologia, por exemplo). No grupo das Ciências
básicas II, encontram-se a Termodinâmica, a Ciência dos Materiais/Resis-
tência dos Materiais e outros assuntos tais como Cinética Química, Ele-
troquímica, Propriedades Coligativas e Fenômenos de Superfície. Como
pode ser visto, mesmo no estágio básico devem ser estudados diversos
assuntos específicos a uma ou mais modalidades da Engenharia.
Note que o grupo das Ciências básicas I dá os conceitos primários para
os outros grupos seguintes – as Ciências básicas II, as Disciplinas Funda-
mentais e as Disciplinas específicas. Nas Disciplinas Fundamentais estão
a Termodinâmica Química (com uma subdivisão para as Propriedades das
Substâncias), os Fenômenos de Transporte.
Os conceitos da Matemática incluem aspectos básicos (conceitos de Ge-
ometria, Álgebra, etc.) e indispensáveis (Cálculo Diferencial e Integral, Equa-
ções Diferenciais, etc.), estendendo-se aos avançados (Métodos Estatísticos

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e de Otimização). A Matemática irá fornecer, igualmente, elementos para
o entendimento dos modelos8 da Física (Mecânica, Termodinâmica, etc.),
da Química e das matérias dos outros grupos. Outros modelos da Física
resultarão, junto a conceitos que serão explicados mais adiante (o conceito
de fluxo, por exemplo), nos Fenômenos de Transporte.
A Química (Inorgânica e Orgânica) entra, principalmente, com conceitos
moleculares e com a caracterização das substâncias (substâncias apola-
res, polares, tipo de ligação entre as moléculas, etc.), elementos que exer-
cerão influências em vários modelos avançados da Termodinâmica Quí-
mica e dos Fenômenos de Transporte.

1.4. Nomenclatura

símbolo grandeza unidades


F Força MLT-2
L Dimensão comprimento –
M Dimensão massa –
M Massa molecular M/mol
P Pressão (MLT-2)L-2
Pc Pressão crítica (MLT-2)L-2
R Constante Universal dos Gases (FL-2)L3M-1q
S Parâmetro de equação de estado cúbica Adim
T Dimensão tempo –
T Temperatura q
Tc Temperatura crítica q
V Volume L3

a Parâmetro de equação de estado cúbica Adim


b Parâmetro de equação de estado cúbica Adim
m Massa M
n Número de moles  =  m/M mol
~
v volume molar  = V/n L3mol-1

letras gregas
a Parâmetro de equação de estado cúbica Adim
ρ Densidade ML-3
q Dimensão temperatura –
q Tempo T

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Nota de fim
1 Heráclito de Éfeso (nascido aproxima- 3 Algumas vezes também chamado de Fenô-
damente em 535 a.C. e falecido aproxi- menos de Transferência.
madamente em 475 a.C.) foi um filósofo 4 Ver <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zero_
pré-socrático considerado o "Pai da dialé- absoluto>.
tica". Ver <https://pt.wikipedia.org/wiki/ 5 Ver <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zero_
Her%C3%A1clito>. absoluto>.
2 Aforismo (Buarque de Holanda Ferreira, 6 Veja também: <https://en.wikipedia.org/
2004; Houaiss, 2002): substantivo masculino wiki/Transport_Phenomena_(book)>.
1. máxima ou sentença que, em poucas pa- 7 As moléculas possuindo as seguintes formas
lavras, explicita regra ou princípio de alcance de energia: vibracional, translacional, rota-
moral; apotegma, ditado 1.1 texto curto e cional, etc.
sucinto, fundamento de um estilo fragmen- 8 O conceito de modelo matemático será abor-
tário e assistemático na escrita filosófica, dado na próxima seção.
ger. relacionado a uma reflexão de natureza
prática ou moral.

Bibliografia
Bird, R. B.; Lightfoot, E. N.; Stewart, W. E. Curitiba, Brasil, Positivo Informática Ltda.,
Fenômenos de Transporte. Rio de Janeiro, 2004.
RJ, Brasil, LTC/GEN/Grupo Editorial Nacio- Houaiss, A.  Dicionário Eletrônico da Lingua
nal, 2004 Portuguesa. Versão 1.0.5, Rio de Janeiro,
Bird, R. B.; Lightfoot, E. N.; Stewart, W. E.  Brasil, Editora Objetiva, 2002.
Transport Phenomena. Hoboken, NJ, USA, Terron, L. R.  Termodinâmica química apli-
John Wiley & Sons, 1960. cada. São Paulo, SP, Brasil, Manole, 2009.
Buarque de Holanda Ferreira, A. Novo Di-
cionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0,

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