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Qualidade e reúso de água na agropecuária
2. CONSUMO DA ÁGUA
Como recurso natural e de valor econômico, estratégico e social, essencial a existência
e bem estar do homem e a manutenção do meio ambiente, a água é um bem, ao qual
toda a humanidade tem direito.
Durante milênio a água foi considerada um recurso infinito. A generosidade da
natureza fazia crer em inesgotáveis mananciais, abundantes e renováveis. Hoje, o mau
uso, aliado à crescente demanda, vem preocupando especialistas e autoridades no
assunto, pelo evidente decréscimo nas reservas de água limpa em todo o planeta.
Alem de satisfazer as necessidades biológicas, ela serve ao meio ambiente, à geração
de energia, ao saneamento básico, agricultura, pecuária, industrial, navegação,
aqüicultura, entre outros.
Conforme a intenção de uso, as características de qualidade da água podem variar,
sendo, para isto, fixado um padrão mínimo relativo à sua aplicação.
O gerenciamento dos recursos hídricos de uma região, além do quesito qualidade, é
responsável pelo controle do volume de água direcionado a cada objetivo, que varia de
uma para outra atividade, com base nos conceitos de sustentabilidade das tecnologias
aplicadas em cada caso.
O consumo da água por atividade distingue-se em três atividades distintas: a
agricultura, a indústria e a urbano domesticas.
A Tabela 1 mostra a evolução do consumo de água ao longo do tempo em âmbito
mundial. Com a avaliação destes dados, visualiza-se a necessidade crescente de fontes
alternativas como garantia da condição sustentável para populações futuras.
Tabela 1 – Evolução do consumo de água em âmbito mundial (km3 ano-1)
Evolução ao longo do tempo
Tipos de Uso
1900 1920 1940 1960 1980 2000* 2020**
Domestico - - - 30 250 500 850
Industrial 30 45 100 350 750 1.350 1.900
Agrícola 50 705 1.000 1.580 2.400 3.600 4.300
Total 530 750 1.100 1.960 3.400 5.450 7.050
(-) Sem dados (*) Estimativa (**) Previsão
Fonte: Padilha (1999)
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a) Consumo doméstico
A qualidade da água destinada ao abastecimento publico deve obedecer,
rigorosamente, às normas de potabilidade de regulamentação nacional. Para os cálculos
do consumo de água de abastecimento urbano devem ser considerados o sistema de
fornecimento e cobrança, a qualidade da água fornecida, o custo operacional, a pressão
da rede distribuidora, a existência da rede de esgoto e os tipos de aplicação.
A Tabela 2 Expõe o consumo de água nas diferentes atividades domésticas, no Brasil.
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Qualidade e reúso de água na agropecuária
A qualidade da água da água aplicada ao setor industrial pode variar conforme estudos
de causas e efeitos da impureza nela contidas e o custo beneficio de cada tipo de
aplicação.
Uma indústria se abastece de água potável e de outras qualidades para o seu processo
industrial, o que determina a quantidade e variedades diferentes de água para cada setor
de produção. Do tipo de impureza da água decorrem modificações de suas propriedades,
e sua qualificação para ser usada em outro setor se dará sob o prisma econômico, ou seja,
benefício x manutenção x segurança x custo de purificação.
O grande volume de água gasto nos segmentos industriais vem chamando a atenção
da economia mundial. Dessa forma buscam-se o melhor controle das operações de
demanda hídrica nessa área, e esta demanda varia de acordo coma exigência de cada
aplicação. A Tabela 3 exemplifica o consumo percentual de alguns setores industriais na
demanda por aplicação, demonstrando o volume de água degradada.
Tabela 3 – Consumo médio de água nas industrias
Indústria Unidade de Produção Consumo por unidade de produção ( L unid.-1)
Açúcar kg 100
Álcool Litro 20 a 30
Cervejas Litro 15 a 25
Conservas kg 10 a 50
Curtumes kg 50 a 60
Laticínios kg 15 a 20
Fonte: Tomaz (2000)
c) Consumo na agricultura
Considerando-se as variações das condições climáticas e a dimensão territorial, na
agricultura o consumo de água é largamente afetada pela prática da irrigação. Em regiões
secas que apresentam períodos de estresse hídrico prolongado, o emprego da irrigação é
essencial para se conseguir uma boa produtividade agrícola.
Com o investimento em modernas técnicas de irrigação, o agricultor consegue o
aumento da produtividade agrícola, podendo obter até duas ou mais colheitas por ano.
Ao mesmo tempo em que consegue otimizar o desperdício, otimiza a demanda, o que
resultará na aplicação de área irrigada e na disponibilidade de água para outros fins.
O desperdício de água na irrigação provém da precária manutenção do sistema já
implantados e da não implantação de projetos adequados, que justifiquem o tipo de
irrigação ao tipo de cultura. Muitos agricultores confundem excesso de água com
aumento de produtividade agrícola. Dessa forma os usuários da água devem se
conscientizar de que a água de qualidade para a irrigação é um recurso finito e que seu
uso deverá ser feito de maneira racional, a fim de evitar desperdícios e contaminação de
mananciais,
Uma vez que a irrigação é a principal atividade humana consumidora de água,
considerando-se o aumento dos custos com energia e a concorrência pelos recursos
hídricos e energéticos entre os setores industrial, urbano e agrícola, torna-se necessário
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definir quando e quanto irrigar, visando atender às necessidades hídricas das plantas de
maneira racional.
Assim, o manejo da irrigação deve ser efetuado de forma a proporcionar à cultura,
condições de disponibilidade hídrica, que permitam externar o seu potencial genético de
produtividade; logo, é extremamente importante identificar o momento oportuno de
aplicação da água (quando irrigar) e quantificar o quanto aplicar (quanto irrigar), não
proporcionando condições para que as plantas sofram por estresse ou excesso hídrico.
3. QUALIDADE DA ÁGUA
Quando se define a qualidade de um produto, entende-se que ele esteja dentro de um
conceito normativo, aprovado para um determinado fim e seja capaz de satisfazer a uma
necessidade. Para isso são reconhecidas as suas características e especificadas suas
aplicações, sua qualificação e quantificação assim como sua viabilização e manutenção.
Fica estabelecido, portanto, que de acordo com sua aplicação, pode definir sua
qualidade, ou seja, a condição de uso. Dessa forma, o controle de qualidade objetiva o
limite aceitável de impureza em conformidade com o produto de uma determinada
aplicação.
È necessário ainda a relação qualidade/aplicação contenha o conceito de
sustentabilidade considerando sua viabilização técnica, econômica, política e ambiental.
A água, considerada um dos melhores solventes existentes, nunca é encontrada num
estado de absoluta pureza. Possui uma extraordinária capacidade de dissolução e
transporte das mais variadas formas de matérias, em solução ou suspensão,
representando, dessa forma, um veículo para os mais variados tipos de impureza.
A água sofre alterações de propriedades nas condições naturais do ciclo hidrológico,
assim como manifesta características alteradas pelas ações diretas do homem. Assim, a
qualidade da água esta diretamente ligada ao seu uso. Dessa forma, quando se faz
analises de água deve-se associar tal uso aos requisitos mínimos exigidos para cada tipo
de aplicação. Na Tabela 4 destacam-se essas associações de forma sucinta.
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• Esteticamente agradável.
Água entra em contato
• Variável com o produto.
com o produto
Água não entra em
contato com o produto • Baixa dureza
(ex. refrigeração)
• Isenta de substâncias químicas
Hortaliças e produtos prejudiciais a saúde;
ingeridos crus ou com • Isenta de organismos prejudiciais a
casca saúde;
Irrigação
• Baixa salinidade.
• Isenta de substancias químicas
Demais plantações prejudiciais ao solo e as plantações;
• Baixa salinidade.
• Isenta de substâncias químicas
Dessedentação prejudiciais a saúde dos animais;
-
de animais • Isenta de organismos prejudiciais a
saúde dos animais.
• Variável com os requisitos ambientais
Preservação da
- da flora e da fauna que se deseja
flora e fauna
preservar.
• Isenta de substâncias químicas
prejudiciais a saúde;
Contato primário ou
• Isenta de organismos prejudiciais a
direto (ex. natação, esqui,
saúde;
Recreação e etc..)
• Baixo teores se sólidos em suspensão
lazer
e óleos e graxas.
Contato secundário ou
sem contato direto (ex. • Aparência agradável.
navegação, pesca, etc..)
Usinas hidrelétricas • Baixa agressividade
Geração de
Usinas nucleares ou
energia • Baixa dureza
termoelétricas
• Baixa presença de material grosseiro
Transporte - que possa por em risco as
embarcações.
Fonte: Von Sperling (1996)
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5. TRATAMENTO DE EFLUENTES
Um sistema de tratamento de efluentes se resume na busca eficiente da remoção dos
poluentes nele contidos. Baseia-se em parâmetros normativos e varia de acordo com o
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6. REUSO DA ÁGUA
A reciclagem ou reúso de água não é um conceito novo na história do nosso planeta. A
natureza, por meio do ciclo hidrológico, vem reciclando e reutilizando a água há milhões
de anos, e com muita eficiência. Cidades, lavouras e indústrias já se utilizam, há muitos
anos, de uma forma indireta, ou pelo menos não planejada de reúso, que resulta da
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utilização de águas, por usuários de jusante que captam águas que já foram utilizadas e
devolvidas aos rios pelos usuários de montante. Milhões de pessoas no mundo todo são
abastecidas por esta forma indireta de água de reúso.
Durante muitos anos este sistema funcionou de forma amplamente satisfatória, o que
contudo não acontece mais em muitas regiões, face ao agravamento das condições de
poluição, basicamente pela falta de tratamento adequado de efluentes urbanos, quando
não pela sua total inexistência. Evoluiu-se, então, para uma forma denominada direta de
reúso, que é aquela em que se trata um efluente para sua reutilização em uma
determinada finalidade, que pode ser interna ao próprio empreendimento, ou outra
externa, para uma finalidade distinta da primeira, como por exemplo, a prática de reúso
de efluentes urbanos tratados para fins agrícolas.
A forma direta ou planejada utiliza tecnologias e práticas de renovação e reúso de
água, que atravessaram uma série de fases nos últimos duzentos anos. A primeira fase foi
motivada por uma vertente baseada no conceito conservacionista em que os dejetos da
sociedade deveriam ser conservados e utilizados para preservar a fertilidade dos solos,
enquanto a outra, numa abordagem mais pragmática, era direcionada para a eliminação
da poluição dos rios.
Na segunda fase, que se pode considerar até o final dos anos noventa, o principal
enfoque foi basicamente a necessidade de se conservar e reusar água em zonas áridas.
Verificou-se grandes esforços de reúso de água para o desenvolvimento agrícola em
zonas áridas dos Estados Unidos, como Califórnia e Texas, e em países como a África do
Sul, Israel e Índia. Em Israel, por exemplo, o reúso de águas residuárias tornou-se uma
política nacional em 1955. O plano nacional de águas incluía reúso dos principais sistemas
de tratamento de efluentes das cidades no programa de desenvolvimento dos limitados
recursos hídricos do país.
A terceira fase, na qual nos encontramos atualmente, acabou se sobrepondo à
segunda, e é baseada na urgente necessidade de se reduzir a poluição dos rios e lagos.
Como as exigências ambientais foram se tornando cada vez mais restritivas, os
planejadores concluíram que dados os altos investimentos requeridos para o tratamento
dos efluentes, se torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes ao invés de lançá-los de
volta aos rios.
Os benefícios ambientais decorrentes da adoção da prática do reuso de água são:
• Redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d’água, possibilitando
melhorar a qualidade das águas interiores das regiões mais industrializadas;
• Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma situação
ecológica mais equilibrada;
• Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como abastecimento
público, hospitalar, etc.
Os benefícios econômicos do reúso são:
• Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais estabelecidos,
possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos mercados internacionais;
• Mudanças nos padrões de produção e consumo;
• Redução dos custos de produção;
• Aumento da competitividade do setor;
• Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrança
pelo uso da água.
Os benefícios sociais do reuso são:
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conjunto das atividades humanas, cada vez mais diversificado, associado ao
crescimento demográfico, vem exigindo atenção maior às necessidades de uso de água
para as mais diversas finalidades.
Essas necessidades cobram seus tributos tanto em termos quantitativos quanto
qualitativos, e se evidenciam principalmente, em regiões com características de maior
desenvolvimento humano, industrial e agrícola. No entanto, há de destacar a existência
de regiões onde a escassez e a má distribuição de água tornam-se limitantes ao seu
próprio processo de desenvolvimento.
Em todas essas situações, uma questão chave aparece: Como enfrentar a relação
demanda/oferta de água? E a resposta passa invariavelmente pela necessidade de serem
estabelecidas políticas adequadas e implementados sistemas de gestão efetivos.
Diversos são os instrumentos, os mecanismos e as tecnologias a serem empregados no
tratamento dessa questão, porém vários deles carecem de estudos e investigações que
auxiliem o seu melhor emprego e produzam sanitários, ambientais e econômicos
satisfatórios.
Uma alternativa que se tem apontado para enfrentamento do problema é o REUSO DE
ÁGUA, importante instrumento de gestão ambiental do recurso água e detentor de
tecnologias já consagradas para sua adequada utilização.
Parte integrante de um sistema de gestão, a adoção de tecnologias de reúso de água
depende do tipo de reúso. Pela importância do reúso de água na agricultura, envolvendo
a aplicação de águas residuárias agroindustriais e salinas no solo, aumento da
disponibilidade hídrica e de nutrientes e mesmo recuperação de solos em processos de
degradação.
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9. REFERENCIAS
HESPANHOL, I. Esgotos Domésticos como Recursos Hídricos – Parte I – Dimensões
Políticas, Institucionais, Legais, Econômico-financeiras e Sócio-culturais. Revista
Engenharia, São Paulo, n. 523, p. 45-58, 1997.
MANN, J.G.; LIU, Y.A. Industrial Water Reuse and Wastewater Minimization. New York :
McGraw-Hill, 1999. 523p.
TOMAZ, P. Previsão do consumo de água. São Paulo: Hermano & Bugelli, 2000.
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