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CIDADES SUSTENTÁVEIS: Desafio da Administração Pública

1 INTRODUÇÃO

A ocupação das cidades tem sido alvo de ampla discussão neste início de século. Não somente em
razão do significado do termo não ser unívoco, mas, sobretudo, em virtude do abundante deslocamento de
pessoas para as áreas urbanas nos últimos tempos e da maneira como este tem ocorrido, gerando diversas
consequências ambientais, sociais, legais, políticas e culturais. Essa realidade produziu um novo repensar na
sociedade, voltado para a promoção e construção da chamada Cidade Sustentável, iniciativa esta que recebeu o
apoio da UNO.
O Programa das Nações Unidas para Cidade Sustentável estabelece que cidade sustentável seja uma
cidade onde as realizações no desenvolvimento social, econômico e físico são feitos para durar. Pois, uma
cidade sustentável tem uma fonte duradoura dos recursos naturais dos quais depende o seu desenvolvimento.

2 DESENVOLVIMENTO

O termo ‘cidades sustentáveis’ encontra-se atualmente em grande ascensão, sendo focalizado pela
mídia e seus vários suportes, bem como no contexto acadêmico, suscitando várias pesquisas e debates.
Um estudo realizado por Leite e Awad (2012), mostra que as expressões ‘cidades sustentáveis’ e
‘assentamentos humanos sustentáveis’ passaram a ser utilizadas com grande frequência a partir do ‘Habitat II’,
que foi a segunda Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos, realizada em Istambul, no
final de junho de 2006.
Posteriormente, na Conferência Rio + 20, discutiu-se a ideia de que os projetos urbanos ainda são
baseados no modelo do século XX, que, em geral, resultam em espraiamento das cidades, produzindo
segregação e congestionamento. Desta forma, percebe-se que as cidades precisam adotar novas estratégias
holísticas de planejamento urbano, ou seja, integrando ao desenvolvimento urbano, moradias acessíveis,
infraestrutura, melhoria nos bairros mais pobres, renovação urbana, resultando em cidades mais compactas e
menos desiguais, o levaria à sustentabilidade urbana.
Menegat e Almeida (2004) destacam que não existe unanimidade no conceito de ‘cidades
sustentáveis’, dada a vasta diversidade de metas ambientais, sociais, econômicas, políticas e culturais, isto é,
tanto os governos quanto as agências internacionais apenas oferecem contribuições para o desenvolvimento.
Acolhido esse entendimento, a cidade sustentável não existe completamente. O que se tem são apenas
tentativas de atingir uma sustentabilidade maior em alguns casos.
Acrescentam ainda Menegat e Almeida (2004) que as cidades sustentáveis podem obter uma maior
sustentabilidade em relação a outras cidades em detrimento de outras áreas, ou seja, havendo uma transferência
de impactos ambientais.
É importante destacar que o desenvolvimento de cidades sustentáveis deve passar pelo uso eficiente da
água, pela previsão de saneamento, educação, cuidados com a saúde, melhor coleta e destinação do lixo,
conservação de energia e transportes públicos (LEITE; AWAD, 2012).
Nesse sentido, um estudo realizado por Rech (2016), indica cinco categorias gerais de ação ambiental
no compromisso do desenvolvimento sustentável. São eles: controle de doenças contagiosas e parasitárias;
redução dos perigos químicos e físicos no lar, no trabalho e na cidade em geral; universalização de um
ambiente urbano de boa qualidade para todos; minimização da transferência de custos ambientais para os
habitantes e ecossistemas em torno da cidade e, incentivo ao consumo sustentável.
Na opinião de Jacobi (2006), a sustentabilidade urbana deve conciliar justiça social, qualidade de vida,
equilíbrio ambiental e desenvolvimento. Ainda, há alguns temas relacionados a essa sustentabilidade, como
enchentes, qualidade do ar, contaminação, perda de biodiversidade e cobertura vegetal, transporte, saneamento,
planejamento e uso do solo etc.
A ideia de uma cidade sustentável, como destaca Cortese; Kniess, e Maccar (2017), representa
medidas para promover maior qualidade de vida aos seus cidadãos e, como parte disso, a preocupação em
proteger as áreas verdes e, ainda, ampliar esses espaços urbanos para todos os bairros da cidade, inclusive os de
baixa renda.
Cabe ressaltar a importância do planejamento urbano por parte do Estado, pois muitas vezes, o poder
público torna-se criador privilegiado de escassez, estimulando a especulação imobiliária e fomenta a
preocupação de espaços vazios, dentro das cidades. Além disso, é incapaz de resolver o problema da habitação,
empurrando a maioria da população para as periferias, aumentando a desigualdade social (SANTOS, 2009).
No entanto, o que se observa, no Brasil, em geral, é a insustentabilidade urbana, que caracteriza grande
parte das nossas cidades, à medida que há uma “prevalência de expansão e ocupação dos espaços intraurbanos
que, na maior parte dos casos configura uma dramática realidade: baixa qualidade de vida a parcelas
significativas da população” (JACOBI, 2006, p. 115).
Contudo, é esta população que está mais suscetível aos impactos das inundações. Por outro lado,
deves-se destacar que no Brasil, a cidade sustentável é um direito materializado constitucionalmente e, também,
legalmente, mas que encontra sérios obstáculos para se concretizar.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e, posteriormente, o Estatuto das Cidades,
em atendimento a um histórico de reivindicações populares relacionadas à moradia em condições dignas,
reúnem normas que versam sobre a Política Urbana. Há de se registrar que, anteriormente a essas normativas,
foi sancionada a Lei 6.766/1979, que dispôs sobre o parcelamento do solo e que por muito tempo foi a única
normativa considerada para fins urbanos. O advento desses regramentos, contudo, não impediu que o processo
de urbanização brasileiro permanecesse fora do controle das autoridades e o direito subjetivo social de moradia
digna e da cidade sustentável não fosse assegurado.

3 CONCLUSÃO

Para a consolidação de uma cidade sustentável, onde todos esses aspectos sejam contemplados,
adequados e trazidos ao contexto brasileiro, deve haver um projeto, a fim de que as políticas públicas sejam
delineadas e, posteriormente, implementadas, tornando-se efetivas e abarcando, assim, as necessidades e os
anseios da população com soluções adequadas, eficazes e atuais.
Esse modelo de cidade, em que pese fazer parte da atual pauta da Sociedade e dos governantes, não é
algo de fácil definição. Poderia, entretanto, ser de mais simples realização se gestores se desvinculassem do
antropocentrismo, observassem normas de política urbana e canalizassem os recursos públicos para fins que
não fossem diversos do interesse público, privilegiando realmente o desenvolvimento e a aplicação de soluções
urbanas ambiental, social e economicamente sustentáveis. E, nesse contexto deve ser anotado que, enquanto a
ética antropocentrista imperar na relação do homem com a natureza, resultará, sempre, em um ambiente
desequilibrado e desfavorável ao próprio ser humano.
Tem-se que reconhecer que existe governantes sensíveis à causa ambiental. Mas, a grande maioria não
consegue implementar as suas promessas de campanha em prol do bem-estar da comunidade pela qual foram
eleitos, em razão da falta de planejamento urbano concreto e eficaz, calcado em normas atuais e em ações que
respeitem o meio ambiente e que, acima de tudo, privilegiem a qualidade de vida do seres humanos que ali
habitam.

4 REFERÊNCIAS

CORTESE, Tatiana T. P.; KNIESS, Claudia T.; MACCARI, Emerson A. (orgs.) Cidades inteligentes e
sustentáveis. Barueri, SP: Manole, 2017.
JACOBI, Pedro. Dilemas socioambientais na gestão metropolitana: Do risco à busca da sustentabilidade
urbana. Política & Trabalho, Revista de Ciências Sociais, n. 25, CURITIBA: UFPR, out. 2006, p. 115-134.
LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes:
desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
MENEGAT, Rualdo; ALMEIDA, Gerson. Desenvolvimento sustentável e gestão ambiental nas cidades:
Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2004, p. 131-169.
RECH, Adir Ubaldo; RECH, Adivandro. Cidade sustentável, direito urbanístico e ambiental: instrumentos
de planejamento. Caxias do Sul, RS: Educs, 2016.
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2009, 5 ed., 2. reimp.

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