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Foucault presente no pensamento sobre a fotografia

Creio que foi no ano passado, andei pedindo referências e conselhos por aqui sobre o uso de Michel
Foucaut em um "campo" chamado 'Teorias da fotografia'. Minha intenção, meu projeto, faria um uso de
parte do pensamento de Foucault bem diferente dos usos de Foucault que já vi até aqui no pensamento
relativo à fotografia. Um desses usos interessantes é o de Geoffrey Batchen. Vejam uma passagem de
seu 'Arder em deseos, la concepción de la fotografía':

"Inspirado en la obra de Michel Foucault, este libro se centra no tanto en el logro de la invención de la
fotografía como en la aparición de un deseo de fotografiar. Se presta una especial atención a las
condiciones generales que hicieron posible que una persona cualquiera concibiera la idea de una
fotografía. Esto desplaza la historia de sus orígenes a los primeros años del siglo xix y suscita
interrogantes acerca de las fechas de inicio de la fotografía." (BATCHEN; Geoffrey. 'Arder em deseos, la
concepción de la fotografía'. Barcelona: Gustavo Gili, 2004, p.8)

A quem se interessar por reflexões sobre o fotográfico, estou aberto a interlocução. E a quem se
interessar por reflexões sobre o fotográfico que passam por Foucault, eu peço uns semestres de prazo ou
alguma santa paciência.

A minha questão, o meu quase mote, vinha do fato de que tanto se debateu sobre dispositivo (creio que
como um conceito diverso do veiculado pelo mesmo termo em Foucault) e as relações da tecnologia com
o poder, com o corpo e a psique submetidos a este poder; tudo isto dentro das teorias do cinema, da
fotografia e das artes visuais e da imagem em geral. Quando li partes do livro 'O homem pós-orgânico', de
Paula Sibilia, me deparei com um enorme vácuo, desde as teorias das artes plásticas (pintura
especialmente) até as da imagem vetorial (chamadas estranhamente teorias do virtual) e do hipertexto
(enfim, "novas tecnologias" como eram chamadas nos anos 1990 e 2000), ninguém usou as questões do
biopoder -- como a sacada de Foucault do relógio agindo sobre o corpo; não que eu conheça, sendo que
me dedico mais ao pensamento sobre a fotografia e, um pouco, sobre o cinema, onde é impossível não
ter conhecimentos de teorias da arte.

Há duas semanas falei sobre as limitações do meu opúsculo, 'Achados de Assis: a fotografia em Dom
Casmurro'. Escrito em 2010, quase completando uma década de idade, com tempo de produção muito
restrito pelo certame no qual foi contemplado (XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia), ele atende
às necessidades do momento e deixa mil portas abertas. A imagem na segunda metade do século XIX,
tema que Foucault abordou diretamente. Como esse relógio que faz imagens terá afetado a vida de
Bento? Como terá feita parte na ópera que, independentemente da existência ou não da traição, como
coloca tão bem Antônio Cândito, terá destruído sua vida e sua casa? A casa, o relógio, a aritmética, o
seminário; quantas deixas para o uso de Foucault. Mas a minha vida não me tem permitido os mergulhos
necessários para verificar a viabilidade e força desse uso do bisturi foucaultiano, ou melhor, de tantos
bisturis e outras ferramentas foucaultianas.

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