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ARTIGO / ARTICLE

Religião e Cura: Algumas Reflexões Sobre a Experiência


Religiosa das Classes Populares Urbanas 1
Religion and Cure: Some Thoughts on the Religious Experience
of Urban Popular Classes

Miriam Cristina Rabelo 2

RABELO, M. C. Religion and Cure: Some Thoughts on the Religious Experience of Urban
Popular Classes. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 316-325, jul/sep, 1993.
The importance of religious cults in providing healing services for Brazil’s urban poor is now
widely acknowledged. This study focuses on a poor neighbourhood in Salvador and the history
of the illness of a young woman who resorted to several religious therapies beginning at the
time of onset of her disease. The article seeks to contribute to an understanding of the ways in
which the world views and healing projects of various religions are actually incorporated into
the experience of ill individuals and their family members.
Key words: Religion; Cure; Therapies; Culture and Illness; Urban Brazil

INTRODUÇÃO comunidade percebem o problema (Turner,


1967; Levi-Strauss, 1967, 1975; Kapferer, 1979;
O estudo da religiosidade das classes popula- Comaroff, 1980; Kleinman, 1980; Csordas,
res urbanas tem apontado para o papel central 1983). Perpassando tais estudos está o argumen-
dos cultos religiosos, enquanto agências tera- to central de que as terapias religiosas curam ao
pêuticas (Monteiro, 1977; Montero, 1985; impor ordem sobre a experiência caótica do
Greenfield, 1992). Em bairros populares de sofredor e daqueles diretamente responsáveis
Salvador, a pluralidade de cultos que oferecem por ele. Na maioria dos casos, as terapias
serviços de cura salta aos olhos, levantando a religiosas são abordadas sob a perspectiva do
importante questão de se compreender como os culto enquanto campo organizado de práticas e
indivíduos se utilizam de tais serviços para lidar representações, ao interior do qual o especialista
com a experiência da aflição. Este trabalho visa religioso manipula um conjunto dado de símbo-
levantar algumas questões acerca da experiência los para produzir a cura. Para que os símbolos
religiosa de habitantes de um bairro pobre de religiosos funcionem, isto é produzam cura, é
Salvador, o Nordeste de Amaralina, enquanto preciso que sejam compartilhados pelo curador,
experiência que é, em grande medida, construí- o doente e sua comunidade de referência;
da em termos de busca de solução para proble- usualmente, toma-se como pressuposto este
mas de doença e aflição. compartilhar de símbolos e significados entre os
Vários estudos têm-se voltado para uma participantes do processo de cura. Aqui pre-
análise das diferentes estratégias pelas quais as tende-se examinar os tratamentos religiosos sob
religiões reinterpretam a experiência da doen- a perspectiva do paciente e daqueles direta-
ça e modificam a maneira pela qual doente e mente responsáveis por ele. Muitas das histórias
que contam sobre casos de doença revelam um
percurso complexo entre diferentes serviços
1
Trabalho apresentado no XVI Encontro Anual da terapêuticos, tentativas — nem sempre bem
ANPOCS, GT - Religião e Sociedade. sucedidas — de lidar com visões conflitantes do
2
Centro de Estudos Etnoepidemiológicos e Sócio-
Antropológicos da Saúde (Cesame), Departamento de
problema e incertezas, quanto à causa da doen-
Sociologia da Universidade Federal da Bahia. Rua Padre ça e o resultado dos vários tratamentos procura-
Feijó 29, 4º andar, Salvador, BA, 40110-170, Brasil. dos.

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Religião e Cura

O fato de que no Nordeste de Amaralina as Nordeste. Mexe-Mexe vagueia pelas ruas do


pessoas, freqüentemente, transitam por diferen- bairro, entrando nas casas sem ser convidada e
tes cultos de cura mostra claramente que doen- jogando pedra em qualquer um que cruze o seu
ça e cura são realidades construídas intersub- caminho. Sua chegada é logo anunciada pelos
jetivamente, não apenas no sentido de que o gritos desafiadores das crianças. Em sua própria
terapeuta religioso deve agir sobre as percep- casa, Adelice não parece ser a maluca Mexe-
ções do doente e de seus familiares, mas tam- Mexe de que tanto se fala. É quieta e reservada.
bém porque estes estão continuamente negoci- Segundo Benedita é a provocação das crianças
ando significados tanto ao interior dos cultos do bairro que a torna violenta.
como fora deles. Neste sentido, a cura não é o Segundo me conta Benedita, a doença de
resultado direto de medidas terapêuticas, reali- Adelice começou quando tinha quinze anos. A
zadas ao interior do culto mas uma realidade partir de então passa a ser vítima de ataques
por vezes bastante frágil que precisa ser con- freqüentes: cai no chão se debatendo, o corpo
tinuamente negociada e confirmada no cotidiano enrijece, a língua embola. Seus gritos parecem
do doente e dos membros de suas redes de os urros de um animal. Com o tempo o proble-
cuidado e apoio. Esta idéia da cura enquanto ma se agrava. Enquanto na adolescência se
realidade processual é vividamente expressa nas exige das moças que mantenham certa distância
histórias sobre casos de doenças, produzidas com relação ao mundo da rua, Adelice habitua-
pelos habitantes do Nordeste de Amaralina. se a fazer incursões constantes e diárias pelo
Estas histórias fornecem uma chave importante bairro, sem nenhum motivo aparente. Força sua
para a compreensão das formas pelas quais as entrada nas casas sem ser convidada. Mais sério
visões de mundo e projetos de cura de vários ainda, desenvolve comportamento violento
cultos religiosos são, de fato, incorporados à durante seus passeios. Freqüentemente ela
experiência cotidiana de doentes e seus familia- mesma é agredida: certa vez, me conta Benedita
res. chocada, deram-lhe uma chicotada no rosto
como se ela fosse um animal.
Embora os seus ataques só tiveram início
A CONSTRUÇÃO DA DOENÇA quando fez quinze anos, Adelice sempre fora
diferente. Quando criança era excessivamente
Aqui proponho examinar o caso de doença de quieta, não brincava com outras crianças e
uma jovem moradora do Nordeste de Amarali- estava sempre se escondendo pelos cantos. Mais
na. Adelice, conhecida no bairro como Mexe- tarde mostra-se “rude nos estudos”, não con-
Mexe, sofre de problemas mentais desde a seguindo acompanhar a lição da escola. Moça
adolescência. Sua mãe, Benedita, tem recorrido grande e desajeitada, chateiam-na por ter jeito
a uma série de serviços terapêuticos, incluindo de homem. Reinterpretando o passado sob a luz
diferentes cultos religiosos, em busca de uma do estado atual de sua filha, Benedita agora vê
solução para a doença. Embora tratando-se de nestes eventos sinais dos problemas que ainda
um caso de doença mental, a história de Adeli- estavam por vir. De fato, embora a eclosão da
ce é bem ilustrativa de uma trajetória que liga doença de Adelice possa ser situada em um
membros das classes populares a cultos religio- momento específico de sua biografia, uma série
sos. Utilizo essa história para compreender de eventos parece ligar passado e presente,
como interagem, em contextos concretos, antes e após o início da doença em termos de
símbolos religiosos e práticas sociais. uma imagem de alteridade: Adelice sempre foi
A Adelice tem 28 anos e mora com sua mãe, rude, as pessoas ridicularizam-na por seus
padrasto e irmãos em uma ruela estreita do modos masculinos, ela urra como um animal
Nordeste. Diferentemente das outras ruas do durante os ataques e é espancada no rosto como
bairro, nesta a maioria das casas tem grades — se fora um animal. Expresso nestes eventos esta
segundo me foi explicado trata-se de medida de sua identidade ambígua e problemática: uma
proteção contra os ataques constantes da louca criança que não aprende (e cuja rudeza nos
Mexe-Mexe, uma das mais temidas malucas do estudos talvez a aproxime dos animais), uma

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Rabelo, M. C.

mulher a quem falta feminilidade (e cuja liga- A EXPERIÊNCIA AO INTERIOR


ção estreita com o mundo da rua a aproxima do DAS TERAPIAS RELIGIOSAS
universo masculino), uma pessoa tratada como
se fora um animal (e cujo desrespeito a normas A explicação oferecida pelo espiritismo ao
de sociabilidade talvez a aproxime dos anima- problema de Adelice repousa em uma distinção
is). bastante comum entre doenças materiais (or-
A trajetória de Benedita por vários serviços gânicas) a serem tratadas por médicos e doen-
de cura é, também, uma busca de meios para ças espirituais pertencentes à esfera de com-
lidar com essa identidade ambígua de Adelice. petência dos especialistas religiosos. No caso de
Apegando-se ao diagnóstico médico de foco — Adelice esta distinção parece bem definida:
que foi atribuído a Adelice em um dos hospitais Adelice tem uma desordem física (foco) que
onde se tratou — Benedita procura contrapor-se provoca os ataques e uma desordem espiritual
às visões da comunidade para quem Adelice é que a compele à rua. Na prática, entretanto, os
louca. Incorporado ao discurso popular sobre limites que separam estas duas ordens de afli-
doença mental, foco é tido como uma doença ção tendem a se dissolver e especialistas religi-
da cabeça, assim como, por exemplo, pneumo- osos são, freqüentemente, chamados a lidar com
nia é doença dos pulmões. Para Benedita isso os mesmos sintomas que os médicos. Assim,
significa que o problema de Adelice é seme- embora pacientes e terapeutas populares, cons-
lhante a qualquer outra doença física: afeta uma tantemente, se refiram às fronteiras entre doen-
parte do seu corpo (como comprovam os exa- ça de médico e doença espiritual não há uma
mes médicos) e pode ser tratado com o uso nosologia popular ou religiosa que classifique
constante de remédios (os ataques de Adelice doenças de acordo com a base física ou espiri-
são, de fato, controlados com o uso de medica- tual dos sintomas: a questão é sempre sujeita a
ção). Sob essa perspectiva, se Adelice deve contínua revisão.
ocupar o papel de doente, ela não merece o Para resolver o problema de Adelice, Benedi-
estigma de louca. ta recorreu a serviços psiquiátricos, a oito casas
Enquanto Benedita reduz o problema de de candomblé, a uma igreja pentecostal e a um
Adelice aos ataques (que os médicos diagnos- centro espírita. As terapias religiosas não impli-
ticam como foco), a comunidade ressalta suas caram abandono de tratamento com os médicos:
constantes e violentas romarias pelo bairro. São segundo Benedita todos os especialistas religio-
estas que lhe valem o estigma de maluca. sos que consultou concordaram, quanto à neces-
Contra as visões da comunidade, Benedita sidade de tratamento paralelo com médicos. De
procura mostrar uma lógica por trás do compor- fato, pacientes e líderes religiosos populares
tamento violento de Adelice: trata-se de uma negociam continuamente com o poder da medi-
reação à perseguição das crianças locais. Entre- cina moderna de modo a garantir para si um
tanto, precisa ainda justificar as constantes espaço próprio de práticas e representações.
saídas de Adelice, que por si só constituem um Invocando a ação de diferentes entidades na
problema. causação da doença, terapeutas religiosos colo-
A ânsia que tem Adelice de ir para a rua não cam-se em uma posição bastante conveniente:
é vista por sua mãe como, simplesmente, mais não apenas afirmam dividir responsabilidade
um sintoma de sua doença; por vezes Benedita com a medicina moderna, mas julgam intervir
dá a entender que se trata de problemas distin- onde esta revela-se incapaz. Enfatizando a
tos. No centro espírita oferecem-lhe uma expli- importância do diagnóstico e tratamento médico
cação para a doença de Adelice que combina ao longo do caso de Adelice, Benedita con-
disfunção orgânica e intervenção espiritual: segue garantir a sua filha acesso a um papel de
onde o corpo está fraco, os espíritos tendem a doente socialmente legitimado.
pairar. Se os ataques de Adelice são um resul- A primeira religião que Benedita buscou para
tado direto do foco, a sua vida na rua advém da resolver o problema de sua filha foi o can-
ação de espíritos que se “aproveitam” de um domblé; durante anos ela transitou por vários
problema médico inicial. terreiros dentro e fora do bairro. A relutância

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com a qual Benedita hoje fala do candomblé Benedita tenha sido capaz de identificar seu
parece, de certa forma, refletir o status marginal irmão como o parente morto referido na estória
do culto na sociedade mais ampla: os poderes da mãe de santo significou que se produziu um
invocados no candomblé são essencialmente afinamento de vozes e discursos: Benedita re-
ambíguos e, portanto, potencialmente maléficos. significou a aflição de sua filha de acordo com
Benedita agora avalia suas idas ao candomblé o modelo oferecido pela mãe-de-santo, um
como perda de tempo e dinheiro, motivadas modelo que, em certa medida, foi capaz de
pelo seu desespero frente à agonia de Adelice. prover uma confirmação poderosa e autoritária
No desespero, justifica, segue-se qualquer a algumas de suas próprias suspeitas.
conselho. Segundo este modelo, a lógica subjacente ao
Apesar do seu descaso atual pelo candomblé, comportamento estranho de Adelice reside não
ao explicar a fonte da aflição de Adelice, nela mesma mas no outro invisível que se
Benedita ainda mantém a versão construída em apega a ela e que impõe seus hábitos masculi-
um dos terreiros a que recorreu. Lá, a mãe de nos sobre o seu corpo. A incapacidade de
santo ofereceu-lhe uma explicação “espírita” Adelice de permanecer em casa (como devem
para o sofrimento de Adelice: tratava-se de as mulheres direitas quando fora do trabalho) é
aflição causada pelo espírito de um parente expressão do gosto que tinha seu tio pela vida
morto, que por gostar demais de Adelice, na rua. A partir dessa perspectiva, a identidade
prende-se ao seu corpo após a morte. Benedita ambígua e problemática de Adelice é vista
não demorou a descobrir a identidade do espíri- como resultado da superposição de duas iden-
to malfeitor: é seu irmão mais novo que durante tidades distintas: a do seu tio e a dela própria.
algum tempo morou em sua casa e que ela O tratamento visa colocar Adelice em uma
julga ter estado apaixonado por Adelice. O posição protegida e vantajosa para melhor
jovem tio de Adelice tinha uma predileção relacionar-se com as forças e poderes imprevis-
especial pela rua, paixão que Adelice agora tos do meio. Envolve uma série de medidas
manifesta, e sua morte antecede imediatamente para limpar o corpo de Adelice (banhos, fumi-
à eclosão da doença da sobrinha. gação), bem como negociação necessária com
A interpretação é dimensão central do can- Exu (que para Benedita não é nada mais que o
domblé onde pais e mães-de-santo são tidos diabo), através de despachos.
como possuidores de poder para descobrir as Benedita não viu resultado no tratamento de
causas ocultas da aflição dos seus clientes Adelice nas oito casas de candomblé a que
(Williams, 1979; Alves, 1990; Rabelo, 1990). recorreu, embora permanecesse apegada à
Ao consultar um pai-de-santo, o indivíduo explicação que lhe foi dada por uma mãe-de-
espera prover o mínimo de informação possível santo. Segundo me conta, os sintomas de Adeli-
sobre seu caso; é o especialista religioso que ce persistiam sem que os terapeutas do can-
deve falar, provando seu conhecimento do domblé fossem capazes de reverter ou ao
quadro de relações (visíveis e invisíveis) que menos de justificar o quadro. É nesse contexto
compõem o contexto da doença. que recebe a visita de missionários pentecostais
No candomblé, interpretar a aflição é elaborar interessados em expandir sua influência no
uma narrativa que reconstitua a cadeia de Nordeste e acaba por tornar-se freqüentadora do
eventos que levaram o indivíduo a doença e que culto.
aponte para a direção do tratamento e da cura. Na Igreja Universal do Reino de Deus, a
Se, neste sentido, podemos dizer que cabe à doença de Adelice é re-significada de acordo
mãe-de-santo organizar a experiência caótica do com um modelo que opõe radicalmente bem e
sofredor e daqueles diretamente envolvidos no mal. A doença é provocada por forças de
caso, é preciso também considerar que o suces- Satanás que devem ser expulsas do corpo. A
so da atividade divinatória depende largamente cura marca o início de um processo pelo qual,
da capacidade destes últimos de se reconhecer liberto do mal, o sofredor entra no mundo dos
na narrativa do especialista e, assim, encaixar fiéis.
sua própria versão dos eventos naquela constru- No culto pentecostal ao qual se filia Benedita,
ída pelo adivinho (Rabelo, 1990). O fato de que a cura é encenada como uma batalha na qual o

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Rabelo, M. C.

pastor, suas obreiras e o círculo de fiéis em ao espiritismo permeia, tanto sua proposta
oração juntam suas forças contra as entidades específica de prática social (voltada para pro-
do mal alojadas no corpo do doente. Colocando gramas assistenciais, de educação e distribuição
suas mãos sobre a parte doente do corpo o de alimentos aos pobres, por exemplo), como
pastor comanda Satanás e comparsas a sair. Sua sua proposta de cura via educação ou persuasão
voz ríspida e desafiadora gradativamente se das entidades causadoras do mal (Warren, 1984;
mistura às vozes das obreiras e demais par- Greenfield, 1992). No centro espírita que fre-
ticipantes, cada qual enunciando sua própria qüentou Benedita, os espíritos que provocam a
oração. A atmosfera é tensa, da confusão de doença são tratados com gentileza como se
vozes e orações pode-se ouvir as palavras “Sai, fossem crianças que precisam ser ensinadas a se
sai, sai” que marcam o fim de cada oração, o comportar de maneira apropriada e motivadas a
momento em que o pastor retira bruscamente substituir a ação destrutiva, causadora da doen-
suas mãos do doente. O processo é repetido ça, por uma ação construtiva e benéfica. Os
algumas vezes até que se produza consenso “obsessores” que causam a doença são espíritos
quanto aos resultados benéficos da oração. menos desenvolvidos, para cujo progresso
Mudanças no comportamento do paciente — moral os médiuns podem contribuir. A metáfora
choro, tremor, ataques — são altamente valori- da batalha que orienta a cura no culto pentecos-
zadas como sinais de que as entidades do mal tal e que justifica a atitude agressiva do pastor
foram atingidas e finalmente forçadas a se frente aos espíritos é substituída pela imagem
manifestar. do ensinamento dedicado: a cura é essencial-
Estranhamente, ao falar do tratamento de mente uma tarefa pedagógica pela qual espíritos
Adelice na igreja pentecostal, Benedita enfatiza menos desenvolvidos são conduzidos a estágios
as similaridades entre esta última e o candom- superiores de existência.
blé. Segundo ela, em ambos os cultos o diabo O ensinamento no espiritismo se dá em dois
é o foco principal das atenções. Benedita tam- níveis principais. No primeiro, doentes e famili-
bém queixa-se do barulho — o pastor grita no ares se reúnem para ouvir as pregações do
microfone — e da rudeza com a qual o pastor presidente do centro: livretos contendo os
trata os espíritos. O fato de que Adelice não principais ensinamentos do culto são também
tenha sofrido melhora após as sessões de cura distribuídos. No segundo nível, a ação é dirigi-
na igreja, nem tampouco tenha exibido sinais da da aos espíritos mesmos responsáveis pela
manifestação dos espíritos supostamente aloja- doença. Em tais ocasiões, o doente e seus
dos em seu corpo, sugere que a visão pentecos- acompanhantes são conduzidos a um encontro
tal de doença como resultante da invasão de mais privado com médiuns do centro. A sessão
entidades do mal pode levar à imputação de se inicia quando um dos médiuns é manifestado
uma identidade negativa sobre o próprio doente. do espírito que se aloja no corpo do doente;
Caso a aflição persista e o demônio causador da então passa a desenrolar-se um diálogo entre
doença não se revele, então a entidade maléfica especialistas religiosos e espírito cujo conteúdo
e seu hospedeiro tendem a tornar-se um. Repe- é claramente pedagógico: o espírito deve ser
tidamente dirigindo insultos e desafios aos persuadido a mudar de conduta, de modo a
espíritos no corpo de Adelice, o pastor gradati- permitir uma reorientação mesma da conduta do
vamente impõe uma imagem negativa sobre a doente em cujo corpo se aloja. Assim, diferen-
própria Adelice. Não é raro que tendo falhado temente do pentecostalismo, onde o paciente
em produzir uma mudança na maneira pela qual vivencia de maneira crítica a manifestação do
o doente percebe seu estado (isto é não obtendo outro em seu corpo, no espiritismo ele torna-se
sucesso na expulsão do mal) os terapeutas um espectador passivo de um diálogo entre seu
pentecostais reorientem seu discurso e passem duplo e o terapeuta. Embora as exortações dos
a enfatizar a condição de pecado do doente médiuns sejam dirigidas ao espírito que visam
como obstáculo à cura. instruir, o sucesso do ritual depende de sua
Benedita critica candomblé e pentecostalismo, capacidade de instruir o doente e membros do
segundo a perspectiva do culto espírita ao qual seu círculo de apoio a reorientarem seu com-
se filiou. A ideologia de caridade que é central portamento, de acordo com as mudanças que

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observam se verificar no contexto mais amplo situacionais e, portanto, relativas. O mundo é


da doença (isto é na atitude dos espíritos que fluxo contínuo de trocas, de modo que para se
definem tal contexto em termos de saúde ou beneficiar de poder sagrado o adepto do can-
doença). domblé deve sempre manter uma balança
Benedita recorda-se de como foram violentas favorável entre favores recebidos e retribuições
as primeiras manisfestações do espírito no prestadas. O esforço contínuo de travar e man-
corpo da médium: xingava, gritava e recusava- ter alianças, é fundamental para garantir uma
se ao diálogo. A mudança gradativa de tal posição vantajosa frente ao meio.
comportamento nas sessões subseqüentes, Pentecostalismo, espiritismo e candomblé são
serviu-lhe de prova de que Adelice começara a religiões voltadas para a satisfação de demandas
trilhar o caminho da cura, embora não se verifi- pessoais (diferenciam-se, neste sentido, do
cassem mudanças correspondentes no estado de catolicismo das CEBs que privilegia as deman-
Adelice. Neste sentido, podemos dizer que a das coletivas). A satisfação de demandas,
eficácia do culto residiu não no fato de ter entretanto, não é vista da mesma forma pelos
produzido uma reorientação do comportamento três cultos. No pentecostalismo a resolução de
de Adelice — o que de fato não se verificou problemas ou aflições individuais deve levar a
—, mas em ter levado a uma reorientação da uma reorientação do comportamento, segundo
postura dos outros — neste caso de Benedita — padrões morais: o fiel pentecostal não bebe, não
frente a tal comportamento. A atitude do centro fuma, não vai a festas etc. O culto, na verdade,
frente aos espíritos responsáveis pela doença, oferece um espaço alternativo que substitui os
marcada pela tolerância e compaixão, permite a “prazeres do mundo” pelo prazer das práticas e
Benedita aceitar a identidade ambígua e proble- celebrações religiosas. Visa constituir-se, assim,
mática de Adelice de maneira igualmente em um subuniverso de ordem contraposto ao
tolerante, enquanto identidade processual em meio circundante.
curso de desenvolvimento. A satisfação de demandas ao interior do
espiritismo busca persuadir o indivíduo a reori-
entar seu comportamento, segundo uma ética de
OS PROJETOS RELIGIOSOS DE CURA caridade, da qual deve resultar um modo par-
ticular de estar no mundo. O espiritismo não se
O percurso de Benedita através de candom- propõe a transformar o meio nem tampouco a
blé, pentecostalismo e espiritismo — bem como contrapor-se a ele (como o fazem os cultos
as mudanças que se produzem, ao longo deste pentecostais). De seu comprometimento com a
percurso, em sua postura frente a doença de promoção do progresso moral dos indivíduos,
Adelice — pode ser melhor entendido, quando entretanto, decorre uma proposta implícita de
consideramos os distintos modos de ordenar o ação sobre o meio social tipicamente expressa
mundo que marcam estas religiões. no desenvolvimento de práticas assistenciais e
A visão de mundo pentecostal se assenta de caridade.
sobre uma oposição rígida entre bem e mal; No candomblé, por sua vez, a satisfação de
tratam-se, em última instância, de planos des- demandas pode levar a que o indivíduo venha
contínuos e irreconciliáveis. Assim, o fiel só a assumir determinadas obrigações rituais em
compartilha do poder sagrado monopolizado um contexto de negociação. O candomblé não
pelo culto ao se aliar definitivamente ao bem visa modificar nem o indivíduo nem o seu
(Brandão, 1980; Fernandes, 1982). A doutrina meio, segundo princípios éticos religiosos;
espírita elabora a oposição entre bem e mal, propõe-se a fortalecer o indivíduo frente a um
segundo um viés evolucionista — no quadro de meio de constantes ambigüidades e incertezas.
uma linha contínua de evolução, o mal cor- Assim, as alianças travadas com os orixás
responde aos níveis inferiores de existência. É visam equipar o individuo para realizar seus
através de um processo de desenvolvimento propósitos pessoais no mundo (Prandi, 1991).
pessoal que o fiel ganha acesso a poder sagrado Destes três quadros (Tabela 1), resultam
(Warren, 1984; Droogers, 1989; Greenfield, maneiras distintas de entender e tratar a doença.
1992). No candomblé, bem e mal são realidades Para os pentecostais, a doença é resultante de

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Rabelo, M. C.

entidades do mal que invadem o corpo. En- trilharem o caminho do progresso moral. En-
quanto expulsão do mal, a cura se processa quanto ação pedagógica, a cura deve constituir-
através de luta. Ao produzir a passagem da se também em instância para o desenvolvimento
aflição à cura, o ritual visa mover o indivíduo moral do doente e familiares. No candomblé, a
através de um espaço ético: libertar-se da doença resulta da ação prejudicial de outros
doença é deixar o plano do mal e transportar-se homens e/ou entidades sobrenaturais; se o
para o universo ordenado dos fiéis. Para os indivíduo se abate como conseqüência desta
espíritas, grande parte das doenças resulta da ação é também porque seu corpo está aberto,
ação de obsessores ou espíritos menos desen- vulnerável ao meio. A cura envolve essencial-
volvidos (Greenfield, 1992). O ritual recria mente dinâmica de negociação, visando for-
atividade pedagógica: visa instruir os espíritos talecer o indivíduo através de alianças com
obsessores a deixarem o corpo do doente e a poderes do sagrado.

TABELA 1. Projetos Religiosos de Cura

Pentecostalismo Espiritismo Candomblé


Visão de Mundo • Mundo ordenado, • Mundo ordenado • Mundo é fluxo contínuo
segundo oposição rígida segundo oposição entre de trocas entre homens e
entre bem e mal, bem e mal, entendidos seres sobrenaturais.
entendidos como como universos contínuos • Oposição entre bem e mal
universos descontínuos. em uma escala evolutiva. é relativizada.
Relação com o • Acesso a poder sagrado • Acesso a poder sagrado • Acesso a poder
Sobrenatural se dá através de aliança se dá através de processo sagrado se dá,
definitiva com os poderes de desenvolvimento através de alianças pessoais
do bem. pessoal, via auxílio de com entidades
espíritos mais sobrenaturais.
desenvolvidos.
Relação com o Social • Proposta de satisfação de • Proposta de satisfação de • Proposta de satisfação de
demandas individuais. demandas individuais. demandas individuais. Pode
Deve levar a uma clara Deve levar a uma levar a determinadas
reorientação do reorientação do obrigações no contexto de
comportamento, segundo comportamento segundo uma dinâmica de
determinados padrões ética de caridade. negociação.
morais. • Proposta implícita de • Proposta de fortalecimento
• Proposta social de agir sobre o meio via do indivíduo frente a um
construção de um promoção de meio de incertezas e
subuniverso de ordem desenvolvimento pessoal ambigüidades.
contraposto ao meio (assistência, educação).
circundante.
Visão da Doença • Doença causada pela • Doença causada pela • Doença causada pela ação
invasão ou intrusão de interferência ou obsessão prejudicial de homens e/ou
entidades do mal. de espíritos menos entidades sobrenaturais.
desenvolvidos.
Cura • Envolve expulsão • Envolve educação dos • Envolve o firmar de
pública do mal. espíritos menos alianças para garantir
• Ritual recria dinâmica de desenvolvidos. proteção ao indivíduo.
luta. • Ritual recria atividade • Ritual recria dinâmica de
pedagógica. negociação.

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Religião e Cura

O ITINERÁRIO TERAPÊUTICO ra radicalmente diferente: no final das contas


acaba por concluir que, tanto candomblé, quan-
Se a compreensão dos universos distintos do to pentecostalismo reservam tempo e espaço
pentecostalismo, espiritismo e candomblé nos privilegiados ao diabo. Contraposto a ambos
fornece uma chave para entender a história de está o centro espírita, onde acredita ter encon-
doença de Adelice, é preciso ter em conta que trado a solução potencial para a doença de
Benedita não mergulha nestes universos distin- Adelice. Os símbolos de cura do espiritismo lhe
tos de forma passiva: ela busca a cura de são persuasivos; como parte do tratamento de
Adelice e, constantemente, (re)avalia os projetos Adelice, gradativamente se instrui na doutrina
de cada culto, de acordo com seus objetivos. do culto.
Benedita ingressa no candomblé sob a orien- O desfecho da história de Benedita, entretan-
tação de amigos e vizinhos, entre os quais to, não foi a conversão. Após um ano de trata-
parece existir um consenso quanto ao poder do mento no centro espírita, Adelice é tida como
culto para lidar com problemas mentais. Susten- curada. Benedita é informada pelo presidente do
tada por este consenso, freqüenta oito terreiros centro de que doravante a manutenção do
diferentes; o fracasso de um tratamento não estado de Adelice depende apenas de sua par-
invalida a crença na eficácia do culto. Sempre ticipação continuada no culto espírita. Não
que deixa um terreiro, Benedita o faz com certa inteiramente satisfeita com o diagnóstico (uma
precaução: uma vez que os poderes manipula- vez que a persistência dos sintomas não a
dos pelos especialistas são essencialmente convence quanto a finalização do tratamento),
ambíguos é preciso evitar despertar a raiva das Benedita deixa de freqüentar o centro espírita e
mães-de-santo cujas casas abandona. Benedita passa a investir no sucesso do tratamento
deixa definitivamente o universo ambíguo do psiquiátrico que Adelice nunca abandonou.
candomblé para ingressar no mundo bem or- Quanto à Adelice, ela agora freqüenta, não mais
denado do pentecostalismo; o contato com acompanhada de sua mãe, um novo templo da
pregadores pentecostais influi para minar o Igreja Universal. Aí já não ocupa o papel de
consenso sob o qual se assenta sua opção paciente a ser curada, mas garante para si um
terapêutica pelo candomblé. Para os pentecos- espaço de aceitação parcial. Diverte-se memori-
tais deixar o candomblé significa sair do plano zando trechos da Bíblia.
do mal. Entretanto, dos terreiros que freqüen- A história de doença de Adelice coloca
tou, Benedita leva consigo o “diagnóstico” que questões importantes acerca da função terapêuti-
lhe foi dado por uma mãe-de-santo. ca dos cultos religiosos. Em linhas gerais nos
No pentecostalismo, o processo diagnóstico mostra que o sucesso de um determinado
insere-se no ritual público de cura; depende da projeto religioso de cura, depende da interação
manifestação da entidade maléfica causadora da de uma série de fatores — incluindo o próprio
doença. No candomblé, ao contrário, constitui curso natural da doença — que compõe o
processo claramente separado do tratamento, contexto sobre o qual agem os indivíduos,
um encontro privado que visa reconstituir a participando do evento da doença. Se as visões
cadeia de eventos que produz a aflição. Ao de mundo que informam o projeto de cura do
explicar a doença, o especialista do candomblé candomblé, do pentecostalismo e do espiritismo
elabora uma lógica narrativa que permite ao modificam a maneira pela qual Benedita per-
cliente relacionar fatos e sentimentos de sua cebe o problema de Adelice, resignificando o
experiência cotidiana. O fato de que Benedita contexto da aflição, elas mesmas são modifica-
retenha a explicação da mãe-de-santo atesta das ao serem apropriadas — e por vezes tam-
para a força da estratégia interpretativa do bém descartadas — por Benedita.
candomblé. Talvez mais importante, mostra-nos
que, em sua prática, Benedita mescla e reelabo-
ra elementos de sistemas distintos que ora CONCLUSÃO
aproxima, ora distancia.
Ao deixar a Igreja Universal do Reino de Em trabalho agora clássico, Clifford Geertz
Deus Benedita aproxima o que antes lhe parece- define a religião como “um sistema de símbolos

Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 316-325, jul/set, 1993 323
Rabelo, M. C.

que atua para estabelecer poderosas, penetran- RESUMO


tes e duradouras disposições e motivações nos
homens, através da formulação de conceitos de RABELO, M. C. Religião e Cura: Algumas
uma ordem de existência geral, e vestindo essas Reflexões Sobre a Experiência Religiosa
concepções com tal aura de fatualidade que as das Classes Populares Urbanas. Cad. Saúde
disposições e motivações parecem singular- Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 316-325, jul/set,
mente realistas” (1978:104-105). Analisando a 1993.
trajetória de Adelice e Benedita, através de A importância dos cultos religiosos enquanto
distintas religiões, percebemos que, diferen- agências terapêuticas entre as classes
temente do que afirma Geertz, a relação entre populares urbanas tem sido amplamente
símbolos religiosos e vida social não é definida reconhecida. A partir de análise da história de
a priori por propriedades e significados ineren- doença de uma jovem de bairro pobre de
tes aos símbolos, mas estabelecida no curso de Salvador — que recorreu a uma série de
eventos concretos nos quais os indivíduos se agências religiosas desde a eclosão do seu
apropriam, confrontam e reinterpretam os problema — o presente trabalho busca
símbolos à luz de determinados fins e interes- contribuir para o entendimento das formas
ses. Se estes últimos são por vezes modificados pelas quais as visões de mundo e projetos de
e moldados pela religião, também determinam, cura de diferentes cultos são de fato
em grande medida, a maneira pela qual os incorporados à experiência cotidiana de
projetos religiosos são incorporados ao cotidia- doentes e seus familiares.
no dos indivíduos. Palavras-Chave: Religião; Cura; Terapias;
Entender a religiosidade das classes populares Cultura e Doença; Brasil Urbano
urbanas, segundo o modelo de Geertz, é tarefa
árdua. A freqüência e aparente facilidade com
que membros das classes populares se movi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mentam entre diferentes cultos questionam,
fortemente, a idéia de uma convergência neces- ALVES, P. C. B., 1990. Medical Culture System:
sária entre projetos religiosos e práticas sociais. The Social Dimension of Sickness. Tese de Dou-
Isso significa que os modelos que utilizamos torado, Liverpool: University of Liverpool.
para entender o universo religioso dessas clas- BRANDÃO, C. R., 1980. Os Deuses do Povo. São
ses devem permitir-nos problematizar as rela- Paulo: Brasiliense.
ções mesmas entre os símbolos de uma religião COMAROFF, J., 1980. Healing and the cultural
e as práticas de seus adeptos. Trata-se, fun- order: the case of the Barolong boo Ratshidi.
damentalmente, de abordar a religião sob a American Ethnologist, 7: 637-657.
CSORDAS, T., 1983. The rhetoric of transformation
perspectiva da experiência religiosa, isto é, das
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formas pelas quais seus símbolos são viven-
chiatry, 7: 333-375.
ciados e continuamente re-significados, através
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de processos interativos concretos entre in-
that Heals: Signification in an Urban Spiritist
divíduos e grupos.
Healing Group. Annual Meeting of the American
Anthropological Association, Washington D.C.
(Mimeo.)
AGRADECIMENTOS FERNANDES, R. C., 1982. Os Cavaleiros do Bom
Jesus. São Paulo: Brasiliense.
Gostaria de agradecer a Paulo César Alves e GEERTZ, C., 1978. A Interpretação das Culturas.
Iara Souza pela leitura e comentário crítico do Rio de Janeiro: Zahar.
texto. GREENFIELD, S. M., 1992. Spirits and spiritist
therapy in southern Brazil: a case study of an in-
novative, syncretic, healing group. Culture, Med-
icine and Psychiatry, 16: 23-52.
KAPFERER, B., 1979. Entertaining demons. Social
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