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MINORIAS ÉTNICAS RELIGIOSAS E LINGÜÍSTICASGilson Leite / Oni Fadaká (1)Ogã Alabê D’Ogum da Casa Fanti-Ashanti / São Luís-MAIntrodução
A última década do culo XX tornou-se palco das atençõesmundiais, voltadas aos problemas críticos vivenciados pelo mundo, conferindovisibilidade pela ONU quando convocou as diversas conferências, a saber:Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992); Direitos Humanos (Viena,1993); População e Desenvolvimento (Cairo 1994); Desenvolvimento Social(Copenhague 1995); Mulher Desenvolvimento e Paz (Beijing, 1995); Habitação(Istambul, 1996). À nível mundial se avalia como positivo, o peso dessas conferenciasno sentido da visibilidade internacional das queses emergencialmentelevantadas, as recomendações e proposições encaminhadas às nações para asreferidas minimizações e equacionamentos.Dentro do contexto da próxima conferencia mundial de combate ao“Racismo, Discriminação, Xenofobia e outras formas de intolerância”. Adiscussão sobre “minorias étnicas religiosas e lingüísticas” merece reflexõesarticuladas mundialmente considerando a conjuntura internacional e nacionaldos povos vulneráveis as ações de intolerâncias racistas, discriminatórias exenófobas comungadas com a focalização de estratégias práticas voltadas aconcretização de atitudes a serem recomendadas no arcabouço desse processoque se constituirá desde agora com seus múltiplos desdobramentos e que seestenderão até e depois da África do Sul em 2001.
Sobre a questão das terminologias identificatórias “minorias étnicas”
Ao longo da existência humana as palavras e seus códigos nas maisdiferentes experiências culturais dos povos e suas sociedades, estabeleceramconceitos emblemáticos, forjaram perfis identificarios a partir dasintencionalidades, portanto construtoras de imagens.As sistematizações antropológicas voltadas para a construção decategorias de conceito e classificações objetivando o mapeamento dos povos esuas experiências levaram a elaboração de códigos lingüísticos que muito dasvezes não traduziram a real natureza e todo conjunto de valores presentes nasindividualidades dos sujeitos e suas totalidades coletivas. Diante dasconsiderações e por questões de entendimento diferenciado, gostaria de colocar que não me sinto à vontade para trabalhar a terminologia “minorias étnicas”,
 
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(1)Professor nível médio de ética e cidadania Militante do Grupo Consciência Negra do Maranhão / GRUCON/MA Atua na área de educação e reconstrução étnico cultural com crianças e adolescentes através do  projeto Zambelê / GRUCON-MA. -
 
 por discordar da mesma, por entender que a referida terminologia propicia umentendimento pouco edificante ao se referenciar as populações étnicas emsituações de risco. Alem de estar conjugada com a negação da cultura doracismo que tenta disfarçar a sua natureza perversa, usando determinadostermos que escamoteiam, ou melhor, promovem uma conferencia invisível aeste enquanto valor e ação disfarçando ou mesmo maquiando a sua realestampa.Segundo Frederico W. Nietzche
“as palavras sempre foraminventadas pelas classes superiores e, assim não indicam um significado, masimpõem uma interpretação”,
 ou seja, a linguagem cria referências e referenciaisconstroem identidades e memória histórica baseada em toda umaintencionalidade (a verdade expressiva) que da vida e sustenta os códigoslingüísticos.Ao usarmos determinadas terminologias sem a devida criticidade doimpacto que estas vão exercer frente ao imaginário social e na totalidade doinconsciente coletivo corremos o risco de fortalecer idéias ou reproduzir valoresque venham postular superioridade de um grupo étnico sobre os demais. Por isso me disponho a tentar contribuir na refleo proposta usando asterminologias “etnias subjugadas”, “etnias subalternizadas” ou “povosvulneráveis” às ações racistas, discriminatórias, xenófobas e outras formasconexas, objetivando ensaiar outras linguagens que possam mesmo num estadosubalternizado em que se encontram todos os povos que não fazem parte do padrão estético branco ocidental e cristão de desenvolvimento, conferir autoridade junto a estes povos e ao conjunto do imaginário social.
O Século XX e a Formação do Mundo Globalizado
O Século XX foi marcado por diversos fatos históricos que abalaram oconjunto das nações do mundo: Como as grandes guerras mundiais, a ascensãodo nazi-facismo, a perseguição dos judeus, a guerra do Vietnã, as rebeliões juvenis da década de 60, a ida do homem a lua, as revoluções científicas etecnológicas que possibilitaram muitas transformações. No centro dessecontexto o mundo presenciou a construção do socialismo real, fato este quetrouxe avanços às sociedades que postularam esse tipo de Regime Político. Noentanto a burocracia, o “centralismo democrático” na gestão do Poder, aminimização econômica no tocante aos equacionamentos dos problemas sociaisconjugados com certa indiferença e/ou desprezo a cerca das questões dasliberdades individuais, das identidades nacionais, étnico-raciais e culturais, dasautonomias dos povos e suas fronteiras, como o respeito às expresesreligiosas e lingüísticas vieram instaurar uma crise generalizada, ocasionando a
 
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queda dos regimes comunistas no Leste Europeu e a desintegração da UniãoSoviética.O referido fato provocou a imigração em massa das populações desses paises para os paises ricos, em busca de empregos e oportunidades.Situão idêntica se repetiu numa outra conjuntura provocada pela pauperização cada vez maior dos paises pobres localizados nos continentes periféricos do globo como América Latina, África e Ásia, historicamenteexploradas desde o peodo do colonialismo pelos paises ricos do Norte,contribuiu também para a imigração principalmente de jovens em grandesescalas para os países do 1° mundo em busca também de emprego e novasoportunidades: moradia, melhores condições de vida, assistência médica,odontológica e acesso a educação.Por outro lado no bloco capitalista, as mudanças e as transformações docapital advindas do seu atual esgio de superestrutura, m provocandoalterações nas relações de mercado principalmente no tocante aos paises doseixos Norte/Sul, na determinação das condições de empregabilidade (baseadana alta especialização para pequenos setores da população, ficando grandes parcelas alijadas do mercado), na mundialização da economia dominantecompetitiva, visivelmente entre EUA, Japão e Alemanha convergindo para umanova revolução tecnológica baseada na cibernética, na rotica e naconstituição da sociedade de automação.Todo esse contexto se traduz no reordenamento mundial da economia eno desenho de uma nova geo-política aonde os paises ricos se fortalecem e sefecham e os paises periféricos se enfraquecem.
A Globalização e as Etnias Subalternizadas
Pontuações como estas desenham a nova cara da modernidade articuladamundialmente sob a égide da globalização que vem provocando alterações nocotidiano sócio-político das sociedades humanas. Alterações estas conduzidas por ditames autoritários que não levam em consideração as fronteiras já que umdos seus pilares é a quebra de barreiras nacionais à expansão comercial e dosistema produtivo em escala planetária, como também o respeitam asespecificidades peculiares de cada povo e suas particularidades culturais ereligiosas, dentro de um contexto nivelado por um único prisma estético. No desenrolar de seu processo a globalização vem aniquilando asexpressões culturais regionais e nacionais em nome de uma homogeneização daaldeia global, provocando com isso a partir da destruão de identidadesculturais coletivas, desequilíbrios psicológicos e comportamentais dos sujeitosem escalas expressivas de manifestações contribuindo assim para multiplicaçãode patologias sociais como a violência em diferentes níveis.
 
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